Prévia do material em texto
EaD 1 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETINGUNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 Jorge Oneide Sausen INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 2 2009, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: editora@unijui.edu.br www.editoraunijui.com.br Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Designer Educacional: Jociane Dal Molin Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí S259i Sausen, Jorge Oneide. Inovação e criatividade em marketing / Jorge Oneide Sausen. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 54 p. – (Coleção edu- cação a distância. Série livro-texto). ISBN 978-85-7429-746-0 1. Marketing. 2. Criatividade nas organizações. 3. Ino- vação nas organizações. 4. Gestão das organizações. I. Título. II. Série. CDU : 65.011.8 658.8 EaD 3 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING SumárioSumárioSumárioSumário APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................5 CONHECENDO O PROFESSOR .................................................................................................7 UNIDADE 1 – A MUDANÇA DE PARADIGMA NA NOVA ERA ...........................................9 Seção 1.1 – Paradigma da Modernidade Versus Paradigma da Pós-Modernidade ..............10 Seção 1.2 – A Multidimensionalidade do Ser Humano ...........................................................13 Seção 1.3 – Espaços da Convivência Humana .........................................................................15 UNIDADE 2 – O SISTEMA CEREBRAL E A RELAÇÃO COM A CRIATIVIDADE ...........19 Seção 2.1 – Os Hemisférios Cerebrais .........................................................................................23 Seção 2.2 – O Modelo Decisório Racional da Economia Clássica ........................................30 Seção 2.3 – Uma Visão Mais Completa do Sistema Cerebral .................................................37 UNIDADE 3 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES ..............................41 Seção 3.1 – Definições de Criatividade .......................................................................................41 Seção 3.2 – A Inovação e a Criatividade como Recursos Gerenciais Estratégicos na Gestão das Organizações ............................................................45 REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................53 EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 4 EaD 5 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação Mudança é a palavra que melhor define o momento atual em que vivemos. Ela apare- ce como um das principais características do mundo contemporâneo. Mudar é um verbo inevitável no cotidiano das pessoas e das organizações. Talvez em nenhum outro momento da História a sociedade tenha passado por tantas transformações como nestes últimos anos. O trabalho, os negócios, as organizações e a forma de gestão dessas organizações são, nes- tas últimas décadas, totalmente diferente de tudo que existiu em qualquer outro período. A verdade é que nós e o mundo precisamos cada vez mais de idéias novas. Já não há mais como sobreviver em meio a tanta competição e a tanta transformação sem inovar. O tempo da criação é cada vez mais curto e mais frágil. As novidades têm pouco tempo de vida útil. E permanecem pouco tempo nessa condição. O nosso universo particular já não com- porta mais longos tempos. A vida, em conseqüência, ficou mais rápida e a cada instante alguma novidade surge impondo novos comportamentos, atitudes e desafios. No mundo das organizações freqüentemente surgem problemas e turbulências que exigem criatividade para a sua solução e superação de obstáculos que o contexto organizacional impõe. A abordagem proposta neste livro-texto procura discutir o tema criatividade nas orga- nizações a partir de um entendimento mais amplo dos elementos e pressupostos que dão origem e sustentam o processo criativo no ser humano. Entender a criatividade como um recurso estratégico no contexto das organizações e como direcionar esforços pessoais e gerenciais no desenvolvimento deste recurso é, certa- mente, o grande desafio que esta proposta traz. As diferentes temáticas abordadas, que integram os capítulos e seções do presente livro -texto, procuram, ao mesmo tempo, apresentar os fundamentos conceituais sustentadores para o entendimento do tema criatividade, numa perspectiva epistemológica, como também indicar procedimentos técnicos e exercícios práticos de como trabalhar a criatividade na vida das pessoas e das organizações, numa visão mais pragmática. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 6 Pretende-se que o conhecimento e a prática do que aqui está escrito satisfaça suas necessidades acadêmicas e profissionais. Temos a consciência que um livro como este nun- ca termina, tanto pela amplitude e complexidade do tema, quanto pelo próprio avanço do conhecimento. EaD 7 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Jorge Oneide Sausen É natural de Ijuí (RS), onde cursou primário, ginásio e cien- tífico. Bacharel em Administração de Empresas pela Unijuí (1984), mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Gran- de do Sul (1992) e doutor em Engenharia da Produção pela Uni- versidade Federal de Santa Catarina (2002). Ingressou na carreira acadêmica em 1986, atuando como docente do Departamento de Estudos da Administração da Unijuí, local em que desenvolve suas atividades docentes até o presente momento. Atua também, desde 2002, no Programa de Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí, na linha de pesquisa em Gestão de Organizações para o Desenvolvimento. No período de janeiro/ 2005 a maio/2008 foi coordenador geral deste Programa de Mestrado. Atua em vários cursos de Pós-Graduação na Unijuí e em vá- rias universidades do Estado e país. Em trabalhos de consultoria empresari al atua nas áreas de estratrégia e mudança organizacional, recursos humanos, planejamento e estruturação organizacional. No campo da pesquisa, destaque especial para atuação nas áreas de estratégia, mudança e adaptação organizacional e de- senvolvimento local e regional. Em função dessa atividade, possui várias publicações em forma de livro, capítulos de livros, artigos em periódicos e congressos científicos. Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 8 Descendente de imigrantes alemães, é casado com Eleda Passinato Sausen, administradora, que também atua na Unijuí. Pai de Fabiane Passinato Sausen e Jordan Passinato Sausen. Toda a família torce para o Internacional, com muito orgulho. No mais, o currículo lattes, disponível no site http:// www.cnpq.br/, é uma boa referência. EaD 9 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1 A MUDANÇA DE PARADIGMA NA NOVA ERA Nesta primeira unidade procurarei mostrar que explorar a criatividade como recurso gerencial estratégico nos processos de gestão das organiza- ções pressupõe compreender o fenômeno da mudançae as razões que le- vam as pessoas à resistência diante das novas atitudes e comportamento que este processo exige na dinâmica de gestão das organizações. A atual era em que vivemos, denominada “das incertezas” ou da “descontinuidade”, exige dos administradores uma mente voltada a criar e pôr em prática estratégias criativas. Segundo Kenichi Ohmae (1991), em seu livro “A mente do estrategista”, as estratégias eficazes não resultam somente da análise específica, mas antes de um determinado estado de espírito, um estado no qual as visões e o conseqüente impulso para a realização, em geral levado a um senso de missão, alimentam um processo de raciocínio que é basicamente cria- tivo e intuitivo, e não racional. Os estrategistas não rejeitam análises. Na verdade, quase não conseguem viver sem elas. Usam-nas, porém, apenas para estimular o processo criativo, para testar as idéias que surgem, para elaborar suas implicações estratégicas, ou para asse- gurar a execução bem-sucedida de idéias “loucas”, de alta potencialidade, que de outra forma poderiam nunca ser efetivadas. As grandes estratégias, assim como as grandes obras de arte ou as grandes descobertas científicas, requerem mestria técnica na hora de elabora- ção, mas originam-se de visões que estão muito além do alcance da análise consciente. Essa assertiva de Kenichi Ohmae nos impele a entender a diferença essencial entre os distintos modos do conhecimento racional – que é experimentado, e o conhecimento criati- vo-intuitivo – que é experienciado. Então, vamos lá? 1 1 Imagem disponível em: <www.beraldideveloper.com>. Acesso em: 4 nov. 2008. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 10 Seção 1.1 Paradigma da Modernidade Versus Paradigma da Pós-Modernidade Para melhor compreender as diferentes lógicas destas duas orientações (modernidade e pós-modernidade), cabe uma sucin- ta caracterização dos seus pressupostos: Quadro 1 – Paradigmas da Modernidade e Pós-Modernidade Fonte: Adaptado das obras de Marques (1993) e Bauer (1999). A partir destas duas grandes referências que revelam visões diferentes de compreender o mundo e as relações que se estabele- cem entre os indivíduos, em termos da natureza da condição hu- mana e do comportamento dos sujeitos, mister se faz entender como os pressupostos destas duas visões aparecem na racionalidade dos processos de gestão das organizações e nos espaços de convivência humana. Modernidade Pós-Modernidade Forma grega de pensar: cultura aristocrática Pensamento pós-moderno: cultura dialética Lógica binária: disfunção entre afirmação/negação, falso/verdadeiro, sujeito/objeto Lógica da argumentação: relação comunicativa e as interações entre sujeitos – entendimento Busca do que é permanente, regulado, metódico, normatizado Consideração do mundo objetivo, do subjetivo e do social das normas Visão mecanicista/reducionista Visão orgânica/sistêmica Polarização Multipolarização Autoridade centralizada/autocrática Autoridade facilitadora/democrática Aversão ao risco/regulamentação Experimentação/criatividade/inovação Exploração racional/materialismo Nova física/espiritualidade Exploração predatória da natureza Visão ecológica Aprender é ligar os fatos à memória dos princípios – repetir e memorizar Aprender é interagir, criar, construir, trocar idéias Educar é inserir o educando na ordem do mundo Educar é alcançar horizontes intelectuais, relacionais e expressivos Lógica binária Maneira de raciocinar a partir da consideração de apenas dois elementos de análise. Visão mecanicista Percepção restrita ou reduzida dos fatos que privilegia o entendimento isolado de um fenômeno, sem estabelecer outras inter-relações. Visão orgânica Percepção mais ampla dos fatos que privilegia o entendi- mento das inter-relações decorrentes de uma ação ou fenômeno. Polarização Concentração para dois lados distintos. Autocrática Autoridade soberana, absoluta, centralizadora. EaD 11 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING A AÇÃO ADMINISTRATIVA NO CAMPO DAS ORGANIZAÇÕES No definir-se ação administrativa, segundo Guerreiro Ramos (1983), é necessário levar em conta alguns aspectos do conhecimento, dentre os quais salienta-se os seguintes: 1) o entendimento de que o âmbito das técnicas administrativas não coincide com o da sociedade global, ou seja, é preciso compreender que os estatutos normativos do trabalho são diferentes dos estatutos normativos da vida humana em geral, embora uns e outros se relacionem; 2) a percepção de que eficiência e produtividade são aspectos que devem ser entendidos numa dimensão não apenas unidimensional, mas concernentes ao equilíbrio entre a per- sonalidade dos indivíduos e a organização; 3) a consciência de que é necessário conhecer de modo sistemático a influência do ambiente externo sobre as organizações. Outro entendimento necessário para compreender a ação administrativa, segundo Guerreiro Ramos (1983), é compreender dois pares conceituais de origem weberiana: “racionalidade instrumental-racionalidade substantiva” e “ética da responsabilidade e éti- ca da convicção”. A racionalidade instrumental ou funcional é o processo organizacional que visa a al- cançar objetivos prefixados, ou seja, é uma razão com relação a fins na qual vai predominar a instrumenalização da ação social dentro das organizações. Este predomínio é centraliza- do na formalização mecanicista das relações sociais, que encontra justificativa na prática administrativa no contexto de um sistema social organizado. A racionalidade substantiva, por outro lado, é a percepção individual-racional da interação de fatos em determinado momento. É um ato intrinsecamente inteligente, basea- do no conhecimento lúcido e autônomo do indivíduo. Trata-se de uma ação que atesta a 2 2 Imagem disponível em: <http://www.alissonml.blogspot.com>. Acesso em: 11 nov. 2008. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 12 transcendência do ser humano, sua qualidade criativa dotada de razão. O que significa dizer que o ator social dentro das organizações (administradores e administrados) deveria desenvolver suas relações de forma a produzir segundo a sua maneira particular de perceber a ação racional com relação a fins. Isso, no entanto, não ocorre devido a “razões” que só a razão funcional procura explicar (Tenório, 2004). A racionalidade que a tecnologia e a industrialização difundem, quando entregues a um processo cego, é a que submete o homem a critérios funcionais, de simples operacionalização, antes que substanciais, de entendimento e compreensão. A integração do indivíduo na organização, em função da complexidade e da processualidade das tarefas, tende a ser obtida mediante a deliberada auto-racionalização da conduta, em alto nível de consciência e compreensão. Aparece, então, a ética da respon- sabilidade com muita evidência. Esta ética, da responsabilidade, corresponde à ação racional referida a fins com obje- tivos previamente definidos. Seu critério fundamental é a racionalidade funcional ou “prag- mática”. A ética da convicção está implícita em toda a ação referida a valores. A ação administrativa, portanto, é uma modalidade de ação social, dotada de racionalidade funcional e que supõe estejam os seus agentes, enquanto a exercem, sob a vigência predominante da ética da responsabilidade. A razão da ação administrativa é a eficácia, a operação produtiva de uma combina- ção de recursos e meios, tendo em vista o alcance de objetivos pré-determinados. Ou seja, o espaço organizacional está mais estruturado para o exercício da ética da responsabili- dade (o que esperam que você faça) do que da ética da convicção(o que você gostaria de fazer). Nessa perspectiva, é importante ressaltar que a organização não ocupa e jamais ocu- pará todo o espaço existencial do homem. Resta, para a expressão livre da personalidade, o espaço da existência humana, em que predomina a ética da convicção. EaD 13 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Neste sentido é preciso, pois, delimitar o âmbito específico dos espa- ços da organização e do existencial humano que lhe corresponde. A ques- tão que aparece nesta análise é a dúvida sobre se é possível tratar estes espaços (organizacional e existencial) enquanto locais diferentes, na medida em que as razões instrumental e substantiva fazem parte de um mesmo processo, ou seja, quando define-se um fim, um objetivo específi- co, quaquer que seja a ação, ocorre um juízo de valor subjacente, porque há pessoas envolvidas. Perceba que estamos diante do desafio de considerar e gerenciar o espaço organizacional também como espaço da existência humana. E não poderia ser diferente, uma vez que a organização é constituída de pessoas e estas pessoas têm convicções, aspira- ções e motivações que buscam alcançar no seu local de trabalho. Seção 1.2 A Multidimensionalidade do Ser Humano Chanlat (1993), ao criticar a ênfase exagerada da racionalidade instrumental na soci- edade, que tem definido uma imagem fragmentada do ser humano, propõe, mediante aquilo que denomina de “uma antropologia da condição humana nas organizações”, uma recupe- ração da especificidade do ser humano enquanto um ser multidimensional e único. Essa antropologia que o autor sugere considera um conjunto de dimensões funda- mentais do ser humano, que o tornam esse ser multidimensional, pelas seguintes razões: 1) o ser humano é, ao mesmo tempo, genérico e singular – uma pessoa que se define por pertencer à espécie humana, pelas características que são sua conseqüência (pensamento, linguagem) e encarna sempre em um ser concreto (homem ou mulher, adulto ou criança); 3 3 Imagem disponível em: marcelao.wordpress.com . Acesso em: 10 nov. 2008. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 14 2) o ser humano, um ser ativo e reflexivo – é dotado de capacidade de pensar e agir; 3) o ser humano, um ser da palavra – o uso da linguagem como possibilidade para desvendar as condutas, as ações e as deci- sões, na busca da identidade individual e coletiva; 4) o ser humano, um ser de desejo e pulsão – sente prazer e dor, satisfaz ou não seus desejos e pulsões; 5) o ser humano, um ser simbólico – produz uma represenação do mundo que lhe confere significado (imagens, metáforas, sím- bolos, alegorias); 6) o ser humano, um ser espaço-temporal – é originário de deter- minado lugar, desenvolveu-se em um meio particular, ocupa uma posição profissional, trabalha em determinada organiza- ção e desaparece algum dia em algum lugar. Isso tudo lhe con- fere uma determinada identidade pessoal e coletiva; 7) o ser humano, objeto e sujeito de sua ciência – a consideração do homem enquanto ator, sujeito, e não apenas mero objeto de domínio organizacional. Os postulados explicitados até aqui nos permitem concluir que o ser humano é um: SER POLÍTICO → Razão (instrumental e substantiva) SER SOCIAL → Convivência SER FÍSICO/BIOLÓGICO → Natureza Pulsão Movimentação por meio de impulso. Metáforas Atribuição de sentidos figurados para designar alguma coisa ou objeto. Alegorias Ficção que representa uma coisa para dar idéia de outra. EaD 15 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Seção 1.3 Espaços da Convivência Humana Na seção anterior aprendemos que o homem é um ser multidimensional, portanto é um ser político, dotado de razão, tanto instrumental quanto substantiva; é também um ser social, que convive socialmente em comunidades; e ainda, se constitui num ser físico/biológico que precisa suprir suas necessidades fisio- lógicas de alimentação, saúde, higiene, etc. Resta, agora, compreendermos quais são os espaços de con- vivência deste ser multidimensional e a relação de tudo isso com o assunto criatividade. Ramos (1981), ao propor um modelo multidimensional para a análise e formulação dos sistemas sociais, apresenta um esbo- ço de um paradigma que nomina como “paradigma paraeconômico”. Neste paradigma há três categorias conceituais delimitadoras que podem explicar os espaços da convivência hu- mana, quais sejam: O espaço fenonômico é um espaço iniciado e dirigido por um indivíduo, ou por um pequeno grupo, e que permite a seus membros o máximo de opção pessoal e um mínimo de subordina- ção a prescrições operacionais formais. Constitui-se como um ambiente necessário às pessoas para a l iberação de sua criatividade, sob formas e segundo maneiras escolhidas com ple- na autonomia. A automotivação é o guia condutor das ações. ESPAÇOS DA CONVIVÊNCIA HUMANA FENONOMIA = EU ISONOMIA = NOSSO ECONOMIA = FÍSICO/PRODUUTIVO Paradigma Modelo, padrão de referência a partir de um entendimento. Concepção que direciona determinado pensamento. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 16 O espaço isonômico é um espaço que pode ser definido como um contexto em que todos os membros são iguais. A polis, tal como a concebeu Aristóteles – uma associação de iguais, em que todos decidem em função do bem comum. Idéia de comunidade, em que a autoridade é atribuída por deliberação de todos. O indi- víduo é membro de uma comunidade e tem responsabilidade com o coletivo. O espaço econômico traduz-se em um contexto organizacional altamente ordenado, estabelecido para a produ- ção de bens e serviços. Sua sobrevivência é uma função da eficiên- cia e da produtividade com que produz os bens e presta os servi- ços aos clientes. As pessoas têm papéis e responsabilidades e os membros são detentores de emprego e são avaliados pelas suas qualidades. Com a delimitação destes espaços de convivência humana, percebe-se que as condições para o exercício da criatividade es- tão postas no espaço fenonômico do ser humano. É neste espaço que os indivíduos fazem as suas opções pessoais, desvinculadas de prescrições que restringem a ato de conceber novas idéias. A autonomia e a liberdade são forças-guia para a criatividade. A racionalidade substantiva do indivíduo aparece com maior clari- vidência e encontra campo pleno de expressão. O ser humano, contudo, também é membro de uma comu- nidade e, como tal, deve proceder de acordo com as deliberações desse ambiente coletivo. Nesse espaço, da isonomia, a sua liber- dade fica condicionada aos preceitos que coletivamente foram definidos para a perfeita convivência social num ambiente demo- craticamente estabelecido em termos de padrões, condutas e res- ponsabilidades. Não se pode fazer tudo o que se pensa ou se tem vontade, mas aquilo que é aceito pelo coletivo instituído. Clarividência Qualidade do que que se vê com clareza. EaD 17 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Assim, se é no espaço fenonômico que o indivíduo pode fazer uso irrestrito de sua criatividade, é no espaço econômico que ele busca os recursos e estabelece as relações para a satisfação das suas necessidades fisiológicas. É preciso trabalhar e ser produtivo para viver e conviver na sociedade. O espaço econômico é antes de tudo um ambiente organizado e planejado para fins produtivos e, como tal, precisa ser também estruturado no contexto de uma lógica racional instrumental, por força dos objetivos a serem atingidos. Nesse sentido, a pergunta que se apresenta é como o ser humano cria, inova, realiza rotinas, faz movimen- tos automatizados? Na próxima Unidade vamos em busca dessas respostas. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING18 EaD 19 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2 O SISTEMA CEREBRAL E A RELAÇÃO COM A CRIATIVIDADE Retomemos agora a noção de um ser humano integral, multidimensional conforme explicado na Unidade 1. A Medicina clássica, reducionista como as demais ciências, admitia apenas a fisiologia e a sensorialidade como vinculadas ao organismo. Fa- tores psicológicos, tais como a razão, as emoções, a intuição e a criatividade seriam de natureza inorgânica. Recentemente, po- rém, diversas pesquisas em neurofisiologia não apenas demons- tram o contrário, como também chegam a identificar quais regiões cerebrais estariam predominantemente associadas a cada fator psicológico. Tudo o que se faz depende do cérebro ou das atividades mentais. Quando alguém se habitua a determinados comporta- mentos, o cérebro passa a reproduzir as condições que favorecem a repetição desses comportamentos conhecidos, dificultando, por outro lado, o surgimento de comportamentos novos. A progra- mação anterior do cérebro determina o desabrochar ou o inibir dos talentos. Essa programação, contudo, é mera programação: ela pode ser desativada e modificada. Uma pessoa sadia tem a flexibilidade e o poder de alterar a programação de seu cérebro conforme a sua vontade, al imentando, dessa forma, a reformatação mental. Antes de darmos continuidade à explicação do funciona- mento do nosso sistema cerebral e a relação deste com a criatividade, sugerimos um pequeno teste que servirá como um Fisiologia Parte da Biologia que investiga as atividades vitais, como o crescimento, a nutrição, a respiração, etc. Sensorialidade Relativo às sensações dos indivíduos. Inorgânica Não pertencente ao organismo. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 20 exercício pedagógico que ajudará a entender as funções desta fantástica máquina chamada cérebro que todos nós carregamos. Trata-se de um teste de raciocínio, que exige rapidez na resolução das perguntas e sugere apenas uma ação mental, sem a ajuda de equipamentos e/ ou outras fontes de pesquisa. Então, seja rápido e objetivo e procure responder ao teste sem olhar na página seguinte, que faz a análise do seu teste. Vamos lá? TESTE DE RACIOCÍNIO: • Faça um círculo; • Coloque um ponto dentro deste círculo; • Separe o círculo em duas partes; • Escreva o nome de uma flor qualquer em uma das partes do círculo e o nome de outra flor, na outra parte do círculo; • Pense um número (faça a opção por um número baixo para facilitar a matemática); • Multiplique esse número por nove (9); • Some as partes desse número (resultado da multiplicação) até chegar a um número só (por ex. 24; 2 + 4 = 6); • Deste número final que você chegou, subtraia 5; • Com essa subtração você tem um novo número. Agora ache a letra no alfabeto correspon- dente ao número que você achou ( por ex. 1 = A; 2 = B; 3 = C; e assim sucessivamente); • Pense no nome de um país que comece com a letra que você achou; • Pegue a letra imediatamente seguinte no alfabeto à que você achou anteriormente e pense no nome de um animal que comece com esta nova letra. Pois bem, agora vamos analisar as respostas do seu teste, na página seguinte. � EaD 21 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING RESPOSTAS DO TESTE DE RACIOCÍNIO: 1) Provavelmente você fez um círculo e colocou o ponto no centro dele, certo? 2)Separou o círculo em duas partes iguais, não é? 3)Escreveu, certamente, ROSA e MARGARIDA, no que tange às flores solicitadas, certo? 4) Pensou DINAMARCA com relação ao país. 5) E pensou num ELEFANTE, na questão do animal, não é? Se estas são as suas respostas, você apresenta um bom desempenho em termos de raciocínio lógico e um fraco desempenho em termos de criatividade. Vamos à explicação desta constatação: EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 22 1) o desafio era colocar um ponto dentro do círculo. Em nenhum momento foi orientado para colocar um ponto no centro do círculo. Acontece que, numa perspectiva lógica, a tendência é colocar esse ponto no centro do círculo; 2) a terceira questão solicitava a separação do círculo em duas partes, não em duas partes iguais. A visão dualista do paradigma da racionalidade, porém, nos incita a olhar para as coisas de uma maneira igual, de equilíbrio. Sem admitir e imaginar possibilidades dife- rentes. É possível ter divisão de partes não iguais; 3) bom, quando desafiados a imaginar flores, não precisamos pensar muito para concluir que rosa e margarida são as primeiras lembranças que aparecem na nossa mente. É ver- dade que existem várias outras alternativas (cravo, orquídea, violeta, copo de leite, etc.), mas estas duas espécies são as mais conhecidas, senso comum; 4) lembrar de um país cujo nome inicia com a letra “D”, surge logo no nosso pensamento Dinamarca. Dificilmente lembramos de Dubai ou Dibuti, que também são países que se iniciam com a letra “D”. Esse país, Dinamarca, é mais conhecido e, portanto, a lógica determina que lembremos dele; 5) no contexto deste mesmo raciocínio lógico, se encontramos a letra “E” para definir um animal, pensamos logo no elefante. Trata-se de um animal conhecido por todos, pelo seu tamanho e exuberância. Muitas outras opções existem (esquilo, eqüino, etc.), mas exigi- ria pensar alternativas não tão óbvias, não é? Por que essa propensão de raciocinarmos mais pela lógica e, portanto, pela adoção de um comportamento mais racional do que criativo e intuitivo? É isso que vamos descobrir a partir de agora, com o conhecimento dos nossos hemisfé- rios cerebrais. EaD 23 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Seção 2.1 Os Hemisférios Cerebrais Roger Sperry e Robert Ornstein, dois neurologistas america- nos, ganharam o prêmio Nobel em 1981 graças à teoria dos hemisfé- rios cerebrais. Estruturalmente, o cérebro está dividido em duas partes distintas: o hemisfério cere- bral direito e o hemisfério cerebral esquerdo. Esses dois hemisférios processam as informa- ções de modo distinto. Essa teoria admite que cada pessoa tem uma preferência por um hemisfério ou por outro. Experimentos a respeito desses dois hemisférios demonstram que eles são responsáveis por maneiras diferentes de apreensão da realidade. O quadro a seguir mostra as diferenças entre os estilos de pensamento dos hemisférios direito e esquerdo. Quadro 2 – Funções dos Hemisférios Cerebrais Fonte: adaptado de Bauer (1999) e Cunha e Ferla (2002) Hemisfério Esquerdo do Cérebro (HE) (coordenação motora do lado direito do corpo) Hemisfério Direito do Cérebro (HD) (coordenação motora do lado esquerdo do corpo) Racional Intuitivo e sentimental Lógico Analógico Objetivo Subjetivo Convergente Divergente Linear Imaginativo Controlado Emotivo Analítico Criativo Matemático Simbólico Intelectual Artístico Verbal Sensual Olha para as partes Olha para o todo EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 24 A maioria das pessoas tem uma preferência clara por um desses estilos de pensamento. Algumas, no entanto, conseguem uma síntese dos dois hemisférios. O HE foca mais o pen- samento lógico, a análise e a exatidão. O HD concentra preocupações mais estéticas, dá importância aos sentidos e à criatividade. Ambos os hemisférios são importantes e trabalham simultaneamente. O HD está liga- do, por exemplo, ao processo de aprendizagem e ao ato de escrever. É ele que deve ser estruturado para dar partida à inspiração sobre o que vai ser escrito. Por seu turno, o HE está intimamente ligado ao ato de editar. A análise final do texto, a coerência, a correção ortográfica e a ordenação gramatical são suas atribuições (Cunha; Ferla,2002). Agora que sabemos mais sobre as funções predominates em cada hemisfério cerebral, antes de prosseguir no estudo sobre o sistema cerebral e a relação com a criatividade, tema desta Unidade, faça o teste a seguir para descobrir qual é a sua tendência em termos de preponderância da sua utilização dos hemisférios cerebrais. Dinsmore e Jacobsen (1985) concluíram que o estilo decisório do administrador é for- temente influenciado pela forma com que ele processa seus pensamentos. Isto é, se ele é mais “destro” ou “canhoto” na análise de problemas e na tomada da decisão consequente. O teste a seguir, elaborado por estes autores, procura identificar o estilo de processo decisório de cada indivíduo. Então, siga as instruções: Charge disponível em: blogdaelaine.blogspot.com/2008/04/amor-x-dio.html. Acesso em 10 nov. 2008. EaD 25 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING INSTRUÇÕES: Os itens a seguir são configurados em pares (a e b) e cada item do par representa uma preferência. Avalie sua preferência para cada item, dando-lhe um escore de 0 a 5 – ZERO significa que você se sente contrário a ele ou muito inclinado ao lado oposto; CINCO signi- fica que você prefere fortemente o item ou rejeita o outro item do par. Os escores para a e b em cada item devem somar 5 (0 e 5; 1 e 4; 2 e 3; etc.). Não use frações como 2.1/2. Sempre trabalhe com números inteiros. Exemplo: Eu prefiro: 1a. 4 pensar sozinho e em silêncio. 2b. 1 interagir e passar meu tempo com pessoas. A soma dos números escolhidos deve ser sempre igual a 5, como no exemplo acima (4+1=5). QUESTIONÁRIO: Eu prefiro. . . 1a. � pensar sozinho. 1b. � interagir e passar meu tempo com pessoas. 2a. � que me vejam como um sujeito imaginoso e intuitivo. 2b. � que me considerem objetivo, preciso e voltado para os fatos. 3a. � tirar conclusões por meio da lógica e da análise cuidadosa do problema. 3b. � examinar a situação a partir do que sinto e acredito das pessoas. 4a. � planejar, na medida das necessidades, pouco antes da implementação. 4b. � programar, em detalhes e com antecedência, baseado em previsões feitas. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 26 5a. � obter os dados das pessoas e dos registros feitos, pensar e decidir imediatamente. 5b. � conversar livre e demoradamente com as pessoas, parar, refletir e resolver o problema mais tarde. 6a. � tornar efetivos os planos detalhados e elaborados com precisão. 6b. � imaginar e desenvolver planos sem necessariamente executá-los. 7a. � aplicar minha habilidade na análise de situações-problema. 7b. � vivenciar situações, discussões em grupo, participando em movimentos com outras pessoas. 8a. � evitar prazos fatais ou compromissos rígidos. 8b. � estabelecer uma programação e ater-me a ela. 9a. � esmiuçar os fatos, situações e problemas comigo mesmo e depois relatar minhas con- clusões aos demais 9b. � discutir uma nova questão ou problema com todos, exaustivamente, principalmente com o grupo de pessoas envolvidas ou interessadas no assunto. 10a. � questões abstratas e teóricas. 10b. � questões concretas, reis e objetivas. 11a. � pessoas lógicas, articuladas e sensatas. 11b. � pessoas sensíveis, emotivas, inusitadas e até originais. 12a. � iniciar reuniões quando todos tiverem chegado e estiverem confortavelmente insta- lados. 12b. � iniciar reuniões no horário estabelecido. 13a. � usar métodos já testados e efetivos na realização de tarefas. 13b. � pensar em criar um novo método para realizar as tarefas. EaD 27 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 14a. � ajudar os outros a usarem seus sentimentos. 14b. � auxiliar as pessoas a tomarem decisões lógicas e sensatas. 15a. � imaginar possibilidades, fantasiar alternativas, mesmo que não funcionem. 15b. � lidar com realidades, fixar-me nos fatos. 16a. � ser livre para fazer as coisas no impulso do momento. 16b. � conhecer bem e antecipadamente o que é esperado de minha pessoa. AVALIAÇÃO DO TESTE E COMENTÁRIOS: Assim como as pessoas têm formas diferentes dos pés e dos dedos, também possuem diversas formas de personalidade e “estilos” de apreender a realidade, analisar e solucionar problemas. Assim como o formato do pé de uma pessoa não é certo ou errado, da mesma maneira o estilo de ninguém pode ser definido como certo ou errado. O propósito deste teste é dar-lhe um quadro do tipo de sua preferência de trabalho mental. VAMOS AOS SEUS RESULTADOS? Preencha as duas colunas a seguir, transcrevendo os escores do seu teste anterior. Lembre-se que cada par (a e b) têm sempre que somar CINCO. Além disso, os totais das duas colunas da série terão, também, sempre que somar OITENTA. Assim, após preencher as séries, verifique se esses dois requisitos foram atendidos. . . EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 28 TRANSCREVA OS ESCORES DO SEU TESTE PARA AS COLUNAS A SEGUIR: Tabela 1 – Escores do Teste sobre os Hemisférios Cerebrais Note bem: os totais HE e HD têm que somar 80. Fonte: Dinsmore e Jacobsen (1985) Hemisfério Esquerdo Hemisfério Direito 1a _____ 2b _____ 3a _____ 4b _____ 5a _____ 6a _____ 7a _____ 8b _____ 9a _____ 10b _____ 11a _____ 12b _____ 13a _____ 14b _____ 15b _____ 16b _____ 1b _____ 2a _____ 3b _____ 4a _____ 5b _____ 6b _____ 7b _____ 8a _____ 9b _____ 10a _____ 11b _____ 12a _____ 13b _____ 14a _____ 15a _____ 16ª _____ Total ______ ( HE ) Total ______ ( HD ) EaD 29 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Agora você já tem os totais das colunas HE e HD. Quanto maior for seu escore numa delas, tanto mais você tenderá a utilizar o hemisfério correspondente. Veja a seguir uma interpretação-síntese dos seus escores: Tabela 2 – Interpretação dos Escores do Teste dos Hemisférios Cerebrais Fonte: Dinsmore e Jacobsen (1985) Agora já conhecemos o funcionamento do nosso sistema cerebral pela estrutura dos hemisférios cerebrais. Sabemos que o nosso senso de lógica e racionalidade está situado no hemisfério esquerdo do cérebro. Por outro lado, toda nossa capacidade criativa e intuitiva localiza-se no hemisfério direito do cérebro. Falta, agora, entendermos porque temos mais facilidade em responder aos estímulos lógicos e racionais do que aos processos criativos e intuitivos. Você tem alguma idéia sobre esse fato? ESCORES TOTAIS HD HE INTERPRETAÇÃO – SÍNTESE De 0 a 9 De 20 a 34 De 35 a 45 De 46 a 60 De 61 a 80 De 80 a 61 De 60 a 46 De 45 a 35 De 34 a 29 De 19 a 0 Você utiliza predominantemente seu hemisfério esquerdo, abordando lógica e racionalmente os problemas que enfrenta. A visão criativa é sensivelmente pouco aplicada. Ligeira predominância da abordagem racional. A criatividade encontra-se presente, porém bloqueada. Você provavelmente utiliza com equilíbrio seus dois hemisférios, procurando o lado lógico e as alternativas criativas e originais do problema. Ligeira predominância da abordagem criativa, sensorial, intuitiva. A lógica, o conceito, a racionalidade, estão em segundo plano. Seus amigos provavelmente acham você um “cara” de idéias originais. A criatividade predomina, com sacrifício da racionalidade das decisões. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 30 Pois bem, saiba que ao longo da História, a estruturação da sociedade e, por conseqü- ência, a estruturação dos sistemas organizacionais, tiveram grande influência dos pressu- postos do modelo da racionalidade da economia clássica. No campoda administração, teó- ricos como Chester Barnard e Herbert Simon trataram de explicar a influência deste modelo na racionalidade dos processos de tomada de decisão nas organizações. Passemos agora, então, a apresentar as bases do modelo decisório racional da econo- mia clássica, que teve influência decisiva na formação de várias gerações de indivíduos. Seção 2.2 O Modelo Decisório Racional da Economia Clássica Motta e Vasconcelos (2006), ao discorrerem sobre os pressupostos desse modelo, têm afirmado que a economia clássica baseia-se em uma concepção absoluta de racionalidade, de modo que em todo o processo decisório o tomador de decisões tem conhecimento total de todas as opções disponíveis de ação, basta avaliar estas opções e fazer a escolha da melhor, a opção “ótima”, de acordo com os critérios e objetivos por ele determinados. Este modelo conduz à idéia de que a organização é algo ordenado, em que as decisões são decorrentes de um processo racional e predeterminado. Esquematicamente, de acordo com esse modelo, o processo decisório ocorre da seguinte maneira: • identificação e definição de problemas a partir da análise de oportunidades e ameaças do ambiente; • elaboração de diversas soluções possíveis, a partir de informações existentes; • comparação das alternativas, seleção e decisão de instituição da decisão “ótima” de acor- do com os critérios previamente definidos; • ocorre sempre num processo seqüencial. EaD 31 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Podemos associar esse procedimento de tomada de decisão à definição da “melhor maneira” (one best way), proposta por Taylor em seu método da Administração Científica. Na sua opinião, entretanto, sempre é possível identificar a “melhor maneira”? DEFEITOS E INSUFICIÊNCIAS DO MODELO DA RACIONALIDADE O Modelo da Racionalidade, embora muito difundido, principalmente na sociedade moderna, demonstrou ser frágil por ignorar a ambigüidade e a incerteza típicas dos proces- sos decisórios nas organizações. Pressupõe que quem toma a decisão necessariamente sabe- rá definir e escolher a melhor solução possível e ignora aspectos como a existência de confli- tos e jogos de poder no processo de tomada de decisão nas organizações. O componente analítico e seqüencial está fortemente presente, ou seja, possui uma ten- dência conservadora intrínseca. Adotar uma postura racionalista estreita significa ser simplista. A experimentação e a contemplação de possibilidades sob outros pontos de vista são menosprezadas, uma vez que a sua lógica está estruturada para evitar o erro e o engano. Por conseqüência, leva a um excesso de complexidade e a uma total inflexibilidade na me- dida em que é contra a informalidade. A racionalidade é importante nas nossas vidas, é um elemento necessário na dinâmica de gestão das organizações, contudo não se pode privilegiar exclusivamente os aspectos racionais se quisermos estar preparados para a administração na era da descontinuidade, das incertezas, da velocidade e das mudanças, características dos novos tempos. Charge disponível em: <ontologias.files.wordpress.com>. Acesso em: 10 nov. 2008. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 32 Exercício sobre o Paradigma da Racionalidade Faça a leitura do texto a seguir e estabaleça a relação da história do menino com o paradigma da racionalidade e as funções dos hemisférios cerebrais, discutidos nesta Unidade. THE LITLE BOY Psychology 533 Excepcional Children (Helen E. Buckley) Era uma vez um menino que ia à escola. Ele era bastante pequeno. E ela era uma grande escola. Mas quando o menininho descobriu que podia ir à sua sala sozinho, caminhando através da porta da rua, ele ficou feliz. E a escola não mais parecia tão grande quanto antes. Verbos do Modelo da Racionalidade: Verbos dos Processos Informais de Administração analisar interagir Planificar testar dar ordens experimentar especificar falhar controlar manter contato formalizar apreender codificar... mudar de rumo adaptar-se modificar ver... 1 Imagem disponível em: <www.construirnoticias.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2008. 1 EaD 33 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Uma manhã, quando o menininho estava na escola, a professora disse: “hoje nós iremos fazer um desenho”. “Que bom! Pensou o menino. Ele gostava de fazer desenhos. Ele podia fazê-los de todos os tipos: leões, tigres, galinhas e vacas, trens e barcos e ele pegou uma caixa de lápis e começou a desenhar. Mas a professora disse: “esperem, ainda não é a hora de começar”. Ela esperou até todos estarem prontos. “Agora”, disse a professora, “nós iremos desenhar flores”. “Que bom”! pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores. E ele começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul. Mas a professora disse: “esperem”! “Vou mostrar como fazer”. A flor era vermelha, com o caule verde. “Assim” , disse a professora. “Agora vocês podem começar”. O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Ele gostava mais da sua flor. Mas não podia dizer isto. Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora. Era vermelha com o caule verde. Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse: “hoje iremos fazer alguma coisa com o barro”. “Que bom!” pensou o menininho. Ele gostava de barro. Ele podia fazer todos os tipos de coisas com o barro: elefantes e camundongos, carros e caminhões, e ele começou a amassar o barro. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 34 Mas a professora disse: “esperem, não é hora de começar”. E ela esperou até todos estarem prontos. “Agora”, disse a professora, “nós iremos fazer um prato”. “Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos. E começou a fazer pratos de todas as formas e tamanhos. A professora disse: “esperem, vou mostrar como fazer”. E ela começou a mostrar a todos como fazer um prato fundo. “Assim”, disse a professora. “Agora vocês podem começar”. O menininho olhou para o prato da professora. Então olhou para o próprio prato. Ele gostava mais do seu próprio prato do que o da professora. Mas ele não podia dizer isso. Ele amassou o seu barro numa grande bola novamente e fez um prato igual o da profes- sora. Era um prato fundo. Mais cedo o menininho aprendeu a esperar, a olhar e a fazer coisas exatamente como as da professora, e muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio. Então aconteceu que o menino e sua família mudaram-se para outra casa, em outra cidade, e o menininho tinha que ir a outra escola. A escola era ainda maior do que a outra. Não havia porta da rua para a sua sala. Ele tinha que subir grandes degraus, até a sua sala. E no primeiro dia, ele estava lá. A professora disse: “hoje nós vamos fazer um desenho”. “Que bom!”, pensou o menininho, e ele esperou que a professora dissesse o que fazer. E a professora não disse nada. Ela apenas andava pela sala. EaD 35 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Quando ela veio até o menininho, disse: “você não quer desenhar?” “Sim”, disse o menininho, “o que nós vamos fazer?” “Eu não sei até que você o faça”, disse a professora. “Como eu posso fazê-lo? Perguntou o menino. “Da maneira que você gostar”, disse a professora. “E de que cor”? perguntou o menininho. “Se todo mundo fizer o mesmo desenho, e usar a mesma cor, como eu posso saber quem fez o quê, qual o desenho de cada um”? “Eu não sei”, disse o menininho. E ele começou a fazer uma flor vermelha com um caule verde. Fez a leitura? O que você pode concluir a respeito desta história? Qual a relação do comportamento do menino com o paradigma da racionalidade, com as funçõesdos hemisfé- rios cerebrais e com o teste que você fez no início da Unidade 2? Resposta: EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 36 EaD 37 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Seção 2.3 Uma Visão Mais Completa do Sistema Cerebral Agora que conhecemos os nossos dois hemisférios cerebrais podemos ampliar o nosso conhecimento sobre as outras partes do cérebro. O cérebro humano é mais do que os dois hemisférios, ele reúne outros dois sistemas, que se juntam ao sistema dos hemisférios cere- brais, cada um com uma função específica, dando a configuração completa do que chama- mos de cérebro humano. Nelson Spritzer (1997), no seu livro O Novo Cérebro, ao fazer referência ao doutor Paul MacLen, do “Brain Evolution For The National Institute of Mental Healht”, descreve o chamado cérebro triúnico, três cérebros em um. Para este autor, o cérebro humano se estru- tura em três sistemas fisiologicamente independentes, cada um funcionando de forma semi- autônoma e simultânea junto com os outros. O primeiro sistema é denominado Cérebro Reptiliano, que segundo Spritzer (1997), é a parte mais interna do sistema nervoso, o tronco cerebral e boa parte do início da medula, locais onde ocorrem os padrões automáticos, os hábitos, as rotinas, especialmente aquelas destinadas à sobrevivência (reação instantânea). O segundo é o Sistema Límbico, área mais intermediária do cérebro, logo abaixo dos dois hemisférios cerebrais e acima do tronco central. Responde pelas nossas emoções e sentimentos. É neste sistema que são criados e fermentados os medos, as raivas, as pai- xões, as tristezas, as fobias, as ansiedades, as angústias, a busca do prazer e o afastar-se da dor. Por fim, o neocórtex, a chamada parte mais externa do sistema nervoso, onde apare- cem os dois hemisférios cerebrais, o direito e o esquerdo. Zona densa em neurônios altamen- te especializados e capazes de múltiplas tarefas simultâneas. Sede da nossa inteligência e capacidade de raciocínio lógico e abstrato. A Figura a seguir mostra os três sistemas inte- grados. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 38 Figura 1: O cérebro triúnico Fonte: Spritzer (1997) Agora sabemos mais sobre o nosso sistema cerebral, mas o que esses sistemas nervosos tem a ver com o nosso dia-a-dia? O que eles explicam no nosso comportamento? É isso que vamos procurar explicar na seqüência desta seção. Segundo a explicação de Spritzer (1997), o sistema reptiliano funciona como um mecanismo de emergência. Ele entra em ação nas situações mais críticas e quando está em função inibe os centros superiores. É a expressão das reações instintivas das pessoas, cuja ação não está amparada no raciocínio lógico ou inteligente, mas em atos de reflexo ou de instintos de sobrevivência. Por exemplo, pular de um andar na iminência de um incêndio; desviar de um obstáculo quando estamos dirigindo. São situações em que agi- mos sem pensar. O sistema límbico, por sua vez, é o vulcão das emoções. Quando não há uma situa- ção de risco imediato e, portanto, o sistema reptiliano não está mais ativado, o próximo sistema a dar resposta é o límbico. Ele é responsável pelas respostas fisiológicas que nós conhecemos, como medo, ansiedade, paixão e outros fatores ligados aos nossos sentimen- tos. Para esse sistema não há diferença entre o real e o imaginário, ele responde com emo- ções tanto aos estímulos do mundo exterior como aos da nossa mente. Por exemplo: nos EaD 39 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING emocionamos e até choramos vendo um filme, mesmo sabendo que se trata de uma ficção; algumas pessoas têm fobia de elevador ou medo de andar de avião, que ninguém consegue explicar, mas simplesmente o medo existe. Outro exemplo é o de pessoas apaixonadas, que muitas vezes adotam comportamentos totalmente irracionais, inexplicáveis sob o ponto de vista de uma análise consciente. Por que isso acontece? Porque o sistema límbico detona a ação pela emoção, não pela razão. Para ele tudo é real. O neocórtex apresenta os dois hemisférios que já discutimos exaustivamente nas se- ções anteriores, em que mostramos que o cérebro direito é mais intuitivo, criativo e artístico. De uma forma bem simplista, poder-se-ia afirmar que uma boa parte do que hoje chamamos de inconsciente ou intuição poderia estar no hemisfério direito e o que chamamos de cons- ciente ou razão estaria no hemisfério esquerdo. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 40 EaD 41 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Nas Unidades anteriores procurou-se reunir um conjunto de informações e conheci- mentos que pudessem permitir a você a compreensão de alguns pressupostos que podem ajudar a entender a natureza e a forma como a criatividade é trabalhada na mente humana. Nesta última Unidade pretendemos definir o que realmente é a criatividade e como ela pode e deve ser trabalhada no ambiente das organizações. Associamos o conceito de inovação juntamente ao de criatividade porque entendemos que existe uma íntima relação entre ambos e eles aparecem como recursos estratégicos no novo contexto competitivo das organizações. Então, vamos lá! Seção 3.1 Definições de Criatividade Na percepção de Edward de Bono (1994), a criatividade é um assunto desordenado e confuso, que aparentemente abrange desde a criação de uma nova tampa para um tubo de creme dental até a composição da Quinta Sin- fonia por Beethoven. Grande parte da dificuldade se origina diretamente das palavras “criativo” e “criatividade”. No nível mais simples, para este mesmo autor, “criação” significa fazer existir algo que não existia anteriormente. Assim, prossegue ele, em certo sentido, “criar uma confusão” é um exemplo de criatividade. A confusão não existia antes e foi provocada. A seguir, atribuí- mos algum valor ao resultado; portanto, a coisa “nova” precisa ter um valor. 1 1 Imagem disponível em: <www.documentotupiniquim.com>. Acesso em: 10 nov. 2008. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 42 De Bono (1994) reforça que o resultado da criação não deve ser “óbvio” ou “fácil”, devendo apresentar algum aspecto único ou raro. Prefere ver a criatividade como um mistério. Idéias novas e brilhantes são produzidas sem que se saiba ao certo como elas aparecem. DEFINIÇÕES DE CRIATIVIDADE DE ALGUNS PENSADORES FAMOSOS (Extraídas da obra de Galvão, 1992) “Criatividade é uma forma de loucura.” (Platão) “A criatividade nasce de um impulso do id visando a solucionar um conflito. O indivíduo criativo sabe afrouxar o ego, fazendo com que os impulsos che- guem aos umbrais da consciência.” (Freud) “Inspiração divina”. (Sócrates) “É o processo de produção pelo qual uma pessoa produz um maior numero de idéias, pontos de vista, hipóteses, soluções, opiniões originais e eficazes do que as demais pessoas, num espaço mais curto de tempo.” (Osborn) “Além da experiência, criatividade é auto-realização.” (Rogers) Id Parte mais profunda da psique, receptáculo dos impulsos instintivos dos indivíduos. Ego O eu de qualquer indivíduo. EaD 43 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING “Poucas pessoas pensam mais de uma ou duas vezes por ano. Eu criei uma reputação internacional como pensador, por pensar uma ou duas vezes por semana.” (Bernard Shaw) “Processo natural que obedece a leis imprevisíveis.” (Kant) “Criatividade é fruto de conhecimento, imaginação e avaliação.” (Sidney Parnes) “É a descoberta e a expressão de algo que é tanto uma novidade para o cria- dor quanto uma realização para si mesmo.” (George F. Kneller) “O processo todo é uma linha consistente de pensamento. Não é uma adição deoperações díspares, agregadas. Nenhum passo é arbitrário, de função co- nhecida. Pelo contrário, cada um deles é dado com visão de toda a situação.” (Max Wertheimer) “A mais bela coisa que podemos experimentar é o misterioso. Esta é a fonte de toda arte e ciência verdadeira. Aquele para quem esta emoção é estranha, e que não pode mais parar para admirar e extasiar-se, é como se estivesse morto; sua mente e seus olhos estão fechados. A mera formulação de problemas é muito mais importante que a solução, que poderá ser simplesmente uma questão de habilidade matemática ou experi- mental. Levantar novas questões, novas possibilidades, ou considerar proble- mas antigos sob um novo ângulo, requerem imaginação criativa e marcam avanços reais na ciência.” (Albert Einstein) “Cessar de viver de forma criadora é pouco diferente de cessar de viver” (Benjamin Franklin) EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 44 “Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qual- quer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse novo, de novas coerências que se estabelecem na mente humana.” (Fayga Ostrower) “A criatividade se baseia na conexão de sistemas de referência (bissociação), da fusão (criatividade científica), da justaposição (arte), da colisão (humor).” (Koestler) “O homem cria para estabelecer uma relação com o mundo exterior.” (Schachtel) “Atividade mental organizada, visando obter soluções originais para satisfação de necessidades e desejos.” (Maslow) “A vida é criativa porque se organiza e regula a si mesma e porque está conti- nuamente originando novidades.” (Sinnot) “Produção abundante e original de conteúdo associativo. Atitude lúdica e permissiva perante a tarefa.” (Getzels e Jackson) Definições de Criatividade de alguns pensadores desconhecidos “Pensar diferente da maioria das pessoas sobre um mesmo problema.” “É utilizar a imaginação através da inteligência.” “É tirar do nada, é fazer do velho novo.” EaD 45 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING “Criatividade é um estado permanente de insatisfa- ção quanto ao status quo” “É a capacidade que o homem tem de não se sentir ridicularizado.” “Processo pelo qual o homem rompe bloqueios mentais” “Criatividade é uma questão de sensibilidade.” “É a abertura para respostas que vêm do interior.” “Criatividade é a fantasia ordenada.” “Criatividade é um estado de espírito.” Como você viu, é impossível definir com exatidão o termo criatividade, porém, é mais fácil reconhecê-la quando nos deparamos com ela. Para que tenhamos profissionais criativos, no entanto, tam- bém é preciso criar um ambiente organizacional que estimule, possi- bilite e reconheça a criatividade, como veremos na próxima seção. Seção 3.2 A Inovação e a Criatividade como Recursos Gerenciais Estratégicos na Gestão das Organizações O texto a seguir, produzido a partir da obra Gestão Con- temporânea: A ciência e a arte de ser dirigente, de Paulo Roberto Motta (1995), procura mostrar que a a inovação e a criatividade são recursos gerenciais estratégicos e que precisam ser gerenciados no ambiente das organizações. Status quo O estado em que se achava anteriormente certa situação ou questão. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 46 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE: Recursos Gerenciais Estratégicos Inovação e criatividade traduzem-se em conceitos positivos, significando que algo novo e melhor vai acontecer. No mundo organizacional a inovação e a criatividade constituem-se em recursos gerenciais estratégicos, uma vez que alteram crenças, hábitos e interesses sedimentados de indivíduos e grupos. O ato de criar e inovar não é privilégio específico de pessoas inteligentes ou superdotadas, é atributo de qualquer pessoa, desde que se ofereçam condições favoráveis. Essas condições são criadas no meio organizacional. Os meios favoráveis ou desfavoráveis é que mostram o alcance ou a importância do desejo criador e motivador. A inovação pressupõe que algo foi inventado, descoberto e projetado, por antecedên- cia, o que indica uma criatividade prévia, sem, entretanto, significar que o processo criativo anteceda sempre, numa lógica seqüencial, o processo de inovação. A criatividade e a inova- ção são processos organizacionais contínuos e concomitantes, que prosseguem durante todas as fases de introdução e uso de idéias novas. Inovar é, antes, aplicar o incomum, o novo, é uma espécie de solução criativa para problemas que vão sendo detectados. Não há fórmula prévia para se inovar, porque a inovação faz parte de um processo que descobre suas próprias regras. Assim, para inovar, não há que estabelecer uma lógica seqüencial determinista entre inventar ou descobrir. A inovação é, antes de tudo, conseqüência de um processo individual de dissociação mental. A produção de idéias não depende de uma técnica lógica, depende sim, de estímulo à criatividade individual. Esses estímulos são indispensáveis porque as organizações geralmente levam seus mem- bros mais à conformidade e proteção das condições existentes do que à busca da novidade. É preciso criar um espaço organizacional para que os profissionais possam exercitar a criatividade, possam utilizar mais o hemisfério direito do cérebro, sede da intuição, do tem- peramento analítico, da capacidade imaginativa, local onde os sonhos se desenvolvem em sua amplitude fabulativa e a invenção encontra sua origem e desenvolvimento pleno. EaD 47 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING Ainda pertencemos a uma geração que age e raciocina preponderantemente com o hemisfério esquerdo no cérebro, sede do raciocínio lógico, da racionalidade, do conhecimen- to matemático, das palavras e do senso de comparação. A geração de idéias novas é essencialmente uma questão individual e requer estímulos gerenciais à criatividade individual. A aceitação das idéias, contudo, é um processo coleti- vo. Por isso considera-se a inovação um processo organizacional, na qual idéias individu- ais, únicas, precisam ser coletivizadas e institucionalizadas. A instituição de idéias novas corresponde à alteração nas condições organizacionais existentes; exige mobilização de todos os recursos organizacionais no sentido de criar con- dições favoráveis, superar resistências e transformar a organização. Motta (1995), ao reforçar a tese de que a inovação é um processo organizacional, apresenta um esquema explicativo (Quadro 3) que reflete as correspondências entre as eta- pas da inovação e os processos gerenciais. Quadro 3 – Inovação como Processo Organizacional de Gerenciar Idéias Novas Fonte: Motta, P. R. A Ciência e a Arte de ser Dirigente. Rio de Janeiro: Record, 1991. Etapas do Processo de Inovação (por dissociação mental) Etapas correspondentes no processo gerencial de idéias novas 1. Desenvolvimento da idéia � 2. Aceitação � 3. Implantação 1. Estímulo à criatividade individual � 2. Coletivização de idéias � 3. Mudanças nas condições organizacionais EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 48 A seguir vamos entender cada uma dessas etapas e sua inter-relação. 1 – Desenvolvimento de Idéias Novas: Estímulos à Criatividade A criatividade é uma característica presente em todos os indivíduos em maior ou menor grau. Constitui-se num potencial humano e, portanto, num recurso altamente disponível no meio organizacional, à espera de desenvolvimento e uso. Desenvolver as habilidades criativas de todos os membros de uma organiza- ção é mais importante do que institucionalizar grupos de pensa- dores sofisticados para desenvolverem habilidades criativas. O interesse organizacional em enfrentar a inovação é, na verdade, umdos fatores de sua causalidade. A mudança surge quando, por diferentes fatores organizacionais, existe algum tipo de mobilização gerencial que provoca e facilita o uso de recursos de criatividade já existentes em cada indivíduo, membro da organização. 2 – Aceitação e Coletivização de Idéias Novas A transformação da criatividade em inovação é, em gran- de parte, um processo de transformar ideais individuais em ideais coletivos. As idéias novas não são, por si sós, suficien- tes para produzir inovações, é preciso que elas ultrapassem os limites do desejo individual e se tornem preocupações coleti- vas no contexto organizacional. O processo de coletivização de idéias é árduo e difícil, e mais ainda quando se trata de inovação, pois a mudança desestabiliza valores, concepções e formas de agir dos indivíduos. A inovação obriga as pessoas a reavaliarem os seus próprios valores, atitudes e comportamen- tos, bem como as condições organizacionais em que atuam. Assim sendo, a inovação requer um processo de realinhamento de valores e critérios consensuais, a partir de propostas indivi- duais de mudança. Por definição, a ação organizacional implica substancialmente uma ação de coordenação, ou seja, de harmonização de interesses, percepções e tarefas diversas. EaD 49 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING A coletivização de idéias significa, assim, um processo organizacional político, ou seja, de articulação e agregação de novos interesses. 3 – Implantação de Idéias Novas: Das Condições Organizacionais e Gerenciais Sendo um processo coletivo, que envolve mudanças individuais, grupais e estruturais, a inovação constitui-se essencialmente num processo organizacional estratégico de criar condições que levem às mudanças desejadas. A efetivação de idéias novas en- volve, assim, a compreensão do contexto organizacional no qual ocorre a mudança, bem como das ações gerenciais que a favorecem. A idéia de inovar não se resume à simples prática de estabelecer idéias novas. Envolve um processo organizacional de mudanças e adaptações decorrentes das propriedades sistêmicas da organização e cujas etapas não podem ser previstas integralmente desde o início. Exige, portanto, habilidades gerenciais de decisão e integração de diversos subsistemas organizacionais. O processo de inovação é também um processo cultural de mudança organizacional. Antes de ser um processo técnico ou simples arranjo organizacional, consiste essencialmen- te em um processo cultural de alterar valores. Na gerência da mudança não se pode adotar a perspectiva inocente ou simplista de pensar que, introduzida a alteração organizacional – produto, serviço ou procedimento –, a organização naturalmente irá adaptar-se a ela. A mudança é, sobretudo, um processo de aculturação e aprendizado e não somente um pro- cesso tecnológico. Vale lembrar que inovação não é fruto do acaso; ela exige um sentido de direção e uma intenção predeterminada de mudar o estado organizacional existente. A inovação resulta tanto da motivação para gerar e pôr em prática idéias novas quanto da decisão gerencial de superar obstáculos, melhorar o desempenho e mobilizar recursos para conduzir a mudança aos objetivos desejados. Por esse motivo é que se considera a função gerencial cada vez mais a função da inovação. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 50 É importante não esquecer também que a inovação é um processo criativo e adaptativo ao mesmo tempo que é destrutivo. A construção do novo envolve a destruição do velho. E essa transição não é necessariamente tranqüila ou desprovida de ônus. Será preciso admi- nistrar o conflito entre as forças de estabilidade e as de mudanças. Do ponto de vista estritamente gerencial, entender inovação é compreender os fatores que facilitam ou inibem a geração e instituição de idéias novas no contexto organizacional. Na perspectiva comportamental, a teoria organizacional moderna é fundamentalmente baseada na premissa de que são as organizações e não os indivíduos os grandes responsá- veis pela ineficácia que se pode constatar no ambiente organizacional. Essa responsabilida- de é diretamente vinculada à falha das organizações em proporcionar aos seus funcionários oportunidades razoáveis de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional. Nesse propósito, é preciso estimular a ação de criar espaços e condições organizacionais à inova- ção e à criatividade, e isso depende fundamentalmente de uma ação gerencial. EXERCÍCIO SOBRE O TEXTO INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE: Recursos Gerenciais Estratégicos A partir da provocação que o texto sugere, procure elencar quais são os grandes empe- cilhos existentes nas organizações, de um modo geral, que têm dificultado o desenvolvimen- to da inovação e da criatividade no espaço organizacional. EaD 51 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 52 EaD 53 INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING ReferênciasReferênciasReferênciasReferências BAUER, Ruben. Gestão da mudança – caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999. DE BONO, Edward. Criatividade levada a sério – como gerar idéias através do pensamento lateral. São Paulo: Pioneira, 1994. CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização – dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1993. CUNHA, Cristiano J. C. de Almeida; FERLA, Luiz Alberto. Manual do moderador – facili- tando a aprendizagem de adultos. Florianópolis: IEA-Instituto de Estudos Avançados, 2002. DINSMORE, Paul Campbell; JACOBSEN, Paulo. Processo decisório: da criatividade à siste- matização. Rio de Janeiro: COP Ed., 1985. GALVÃO, Marcelo. Mente criativa. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1992. MARQUES, Mario Osorio. Conhecimento e modernidade em construção. Ijuí: Ed. Unijuí, 1993. MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS, Isabella F. Gouveia. Teoria geral da admi- nistração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. Rio de Janeiro: Record, 1995. OHMAE, Kenichi. Mind of the strategist – the art of japanese business. McGraw-Hill, 1991. RAMOS, Alberto Guerreiro. A nova ciência das organizações – uma reconceituação da ri- queza das nações. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getulio Vargas, 1981. RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e contexto brasileiro: esboço de uma teoria geral de administração. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getulio Vargas, 1983. SPRITZER, Nelson. O novo cérebro – como criar resultados inteligentes. Porto Alegre: L&PM, 1997. TENÓRIO, Fernando Guilherme. Tem razão a administração? Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. EaD INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE EM MARKETING 54