Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
METEOROLOGIA E CLIMATOLOGIA Mário Adelmo Varejão-Silva Versão digital 2 – Recife, 2006 88 pigmentada e revestida por pelos mais curtos, finos e menos abundantes; a epiderme torna-se espessa, enquanto a derme se atrofia. Tais fatos revelam a adaptação dos animais ao clima, mediante o desenvolvimento de caracteres que lhe asseguram um intercâmbio mais eficiente de energia com o ambiente. A influência da temperatura é tão importante para certas espécies de aves, por exem- plo, que as obriga a migrar de suas regiões preferenciais, buscando temporariamente outras termicamente mais agradáveis, mesmo que situadas a consideráveis distâncias. A temperatura do ar exerce influência decisiva no crescimento das plantas. Como foi dito, à medida que a temperatura se afasta da faixa específica ótima, a elongação é inibida, chegando a cessar completamente quando certo limite (máximo ou mínimo) é atingido. Tam- bém o desenvolvimento de muitas espécies vegetais está intimamente relacionado com a tem- peratura ambiente. O surgimento dos órgãos de reprodução muitas vezes não depende apenas da amplitude térmica à qual está submetida a planta, mas da alternância de sua exposição a certos valores de temperatura. Essa alternância é chamada termoperíodo. Há espécies que necessitam de um termoperíodo anual, bem definido, que lhes possibilitem entrar em fase de repouso vegetativo, sem o que não conseguem iniciar a floração. Outras exigem um certo ter- moperíodo diário, tornando-se a temperatura mínima mais importante que o comportamento térmico observado durante o fotoperíodo. É clássico o exemplo do tomate, para o qual, se a temperatura noturna não estiver dentro de determinada faixa (cerca de 15 a 20 oC) na época propícia, a floração e a frutificação são inibidas. A couve, a cenoura, a beterraba e a cebola, dentre outras, precisam de um termoperíodo com temperaturas noturnas baixas para desenca- dear a fase de floração. Com a alface, dá-se exatamente o contrário: o florescimento é favore- cido quando o termoperíodo diário local envolve temperaturas elevadas (entre de 21 e 27 oC, aproximadamente, dependendo da cultivar). A adaptação de cultivares e de raças a faixas de oscilação térmica diferentes daquelas observadas em seu ambiente de origem (normalmente aceitas pelos indivíduos), constitui uma difícil e paciente tarefa de aclimatação, a cargo de melhoristas e geneticistas. Em alguns casos têm sido desenvolvidas raças e cultivares tolerantes. No Brasil, dentre as culturas de maior expressão econômica, o exemplo da soja é, talvez, o mais recente: trazida de regiões mais frias, foi sendo adaptada ao clima tropical brasileiro e hoje sua exploração expande-se para o norte, ganhando o Planalto Central e penetrando no Nordeste. Quando a aclimatação for impraticável e a lucratividade compensar o investimento, pode-se apelar para o controle artificial da temperatura, melhorando o nível de conforto térmi- co, quer utilizando sistemas de aquecimento ou arrefecimento ambiental, quer explorando de forma inteligente os recursos naturais do meio. O cultivo em casas de vegetação, o sombrea- mento de culturas e pastagens, as técnicas para prevenir geadas ou minimizar seus efeitos, a escolha da encosta mais apropriada ao cultivo sob o ponto de vista térmico, a orientação de estábulos, pocilgas e outras instalações para animais, assim como a adequação de sua arqui- tetura, ilustram a possibilidade de tornar o meio, em certas circunstâncias, termicamente mais condizente com as exigências dos seres vivos. No que se refere ao gênero humano, a temperatura também está intimamente associa- da à sensação de conforto físico. Sabe-se que sob temperaturas elevadas as pessoas normal- mente tendem a diminuir a atividade motora e intelectual. Uma razoável parte do consumo mundial de energia, debitada aos processos de climatização de ambientes, constata o esforço do Homem para melhorar as condições reinantes em recintos fechados.