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: ESTRATEGIA EMPRESARIAL ■ ( ■ X. i ■ BRUNO HENRIQUE ROCHA FERNANDES LUIZ HAMILTON BERTON V ■ v . .,Y-, ■'V? •'Y : ;V-\ ’ ,~Y Administração Estratégica la . Ediçâo/2005 ■ ’ -v Bruno Henrique Rocha Fernandes Luiz Hamilton Berton Capítulos ‘ - Fundamentos*da Administração Estratégica - Objetivos e Estratégias Gerais c - Objetivos e Estratégias Funcionais . - - Integração Estratégica 'JL 'f.. Editora Saraiva ..• ■ - :: ' 9 'É A - ■ ' i - v,:; ' - ' ■ : Saraiva http://www.editorasaraiva.com.br ISBN 9788502051140 PíídiM iSSÕÉí Fundamentos da Administração Estratégica 1.1 C o n c e it o d e E stratégia O estudo de estratégias empresariais está fundamentado historicamente nos conceitos militares sobre como vencer os inimigos. Cari von Clausewicz, pai da estratégia militar moderna, definia três alvos para vencer o ini migo. O primeiro relacionava-se à avaliação das forças do inimigo; o segundo, a avaliar os recursos do inimigo; e o terceiro alvo dizia respeito à sua disposição para lutar. Assim, Clausewicz enfatizava os fatores psicológicos da guerra, os fatores acidentais e, por fim, o caráter situacional das estratégias. Essas definições foram, após á Segunda Guerra, incorporados aos métodos de gestão, quando se tratava de estabelecer as estra tégias para.vencer na batalha por mercado. Entretanto, o conceito transposto à arena empresarial não se ocupa apenas de “competição” e “vencer inimigos”. Amplia-se no sentido de concreti zar uma situação futura desejada, tendo em conta as oportunidades que o mercado oferece, por um lado, e os recursos de que a organização dispõe, por outro. Drucker e Ansoff, autores conceituados no meio acadêmico e empre sarial, ao levarem o conceito para a área empresarial, alertam para um as pecto da estratégia: a ideia de mapear as futuras direções da organização a partir dos recursos qüe possui. No entanto, não basta um propósito ou uma boa disposição para concretizar uma situação futura desejada. É necessário elaborar planos, TÓPICOS Conceito de estratégia e usos associados à palavra estratégia: • estratégico/tático e operac onal • estratégia como meio. Administração e planejamento estratégico. Estratégia corporativa, estratégia de negócios é estratégias funcionais. Visões da estratégia: • estratégia emergénte ve rsu s deliberada; s • análise da indústria v e rs u s visão da empresa baseada em recursos. Processo estratégico: integração dás visões. Grupos envolvidos na estratégia. Importância da estratégia. ;r. hrm fã í'/3 !! f í i? ?V-' • V sí:1 9 -« s:; i; ji f f • Parte I - O Processo Estratégico: Análise ‘few to para Ws€w*5->jt Competição, Estratégia e Estratégia Competitiva, Segundo Henderson Para Henderson, a competição já existia muito antes da estratégia. Come çou com o aparecimento da prôpna vidd, Quando duas espécies quais quer competiam por um recurso essencial, mais cedo ou mais tarde, uma delas deslocava a outra e, na ausência de recursos compensadores que mantivessem um equilíbrio estável, proporcionando a cada uma das espé cies uma vantagem em seu próprio território, somente uma das duas sobreviveria,y . . . . . . . . . . . > ‘ Assim como na natureza, no mundo moderno, principalmente no.empresarial, duas ou mais empresas competem entre sí por um recurso essencial: os clientes que lhe gerem recursos parà sua sobrevivência e continuidade. O. que diferencia .os concorrentes pode ser o preço de venda, as funções, a utilização do tempo ou a vantagem da localização. Ou pode não ser nada disso, mas apenas a percep ção que o cliente tem de um produto e de seu fornecedor. E, sem dúvida alguma, a per cepção é frequentemente a ünica base de comparação entre as alternativas semelhantes. E é por isso que a propaganda pode ser valiosa. Uma vez que as empresas podem combinar esses fatores de muitas maneiras, sempre existirão diversas possibilidades de coexistência competitiva, como também muitas pos sibilidades para que cada competidor amplie a margem de,vantagens, mudando aquilo que o diferencia de seus rivais. Daí surge a questão: pode-se então planejara evolução de uma empresa? É exatamente para. isso que. existe a estratégia. De acordo com Henderson, o termo estratégia pode ser definido da seguinte maneira: Éstratégia é a busca deliberada de um plano de ação' para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa. Para qualquer empresa; a busca é um processo interativo que começa com o reconhecimento de quem somos-e do que temos nesse momento. Seus competidores mais perigosos são os que mais se parecem com você. As diferenças entre você e seus competidores são a base de sua vantagem. Se você participa do mercado e é autossuficiente, pode já ter uma vantagem competitiva, não importa se pequena ou. sutil. De outra forma, já estaria perdendo gradualmente os clientes mais ra pidamente do que ganhando. 0 objetivo deve ser aumentar o escopo de sua vantagem, ' o que só pode acontecer se alguém perder com isso. u , Logo, os elementos básicos da competição estratégica são os seguintes: —^ .capacidade de.compreender o comportamento competitivo co.mo.um sistema no qual os'competidores, os clientes, o dinheiro, as pessoas e os recursos interagem continuamente; \ . . . -"V1 capacidade de usar essa compreensão para dizer como determinado movimento ‘ “ estratégico vai alterar o equilíbrio competitivo; -“ v 1 recursos que possam sef permanentemente investidos em novos usos, mesmo que os benefícios sejam :de longo prazo; ' ' capacidade de prever riscos e lucros com exatidão e certeza suficientes para'justi ficar o investimento correspondente; ~*>> disposição para agir. Esta pode parecer apenas uma lista de requisitos básicos para se fazet um investimento qualquer. Só que estratégia não é tão simples assim. Ela envolve tudo e requer comprometi-' mento e dedicação.por parte de toda a organização. A incapacidade de qualquer competidor í«JSf j e. rvO í f i ' 1 ! 'i í ’"•J *^i i.)íNj £ :■ rft O ■ £ f « S i - f i . &n \ :. sY t-i U ‘ P íh. Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica • 7 I 9 ----- -^-----------------------------—----------------:--------------- <-------------:------------------ :y - m i ::i 0 !.:> , « è Mf & ^ 1 - Y‘ L : rí =::i tí estabelecer políticas, definir caminhos a serem percorridos, efetivar ações para ví «j viabilizar esses desejos. : . '-i Todos os elementos citados reunidos permitem uma definição do que é a estratégia empresarial: em reagir, reorganizar e alocar seus próprios recursos contra um movimento estratégico dê um rival pode atrapalhar todo o relacionamento competitivo. E'.é por isso'que a competição estra tégica comprime, o tempo,  competição natural não tem nénhuma dessas característica^,; A estratégia é, planejada e ponderada, comprimindo o tempo e* causando, mudanças radi cais. A competição natural é evolutiva. A estratégica é revolucionária. Estratégia empresarial é o conjunto dos grandes propósitos, dos objetivos, das metas, das políticas e dos planos para concretizar uma situação futura^ ('n Is y' desejada, considerando as oportunidades oferecidas pelo ambiente e os s recursos da organização. ’ MJ 5 è: jf g A definição traz uma primeira aproximação, mas, ao mesmo tempo, enu mera uma série de termos que merecem esclarecimento. O que é “ambiente”? O que se entende por “recursos organizacionais”? Essas questões são abordadas ^ na sequência deste livro. A definição também demarca o caminho ou método para formular uma estratégia. Em primeiro lugar, analisamos o cenário externo; í; a seguir, os recursos possuídos, e aí, então, definimos as metas e as ações para * II atingir esses objetivos. Ji ^ No entanto, qüando se trata de estratégia empresarial, há uma verdadei- ra “sopa” terminológica utilizada* por diferentes autores da área. Por exemplo, ; o utilizam-se diferentes expressões para caracterizar a mesma ideia, ou usa-se a * n; mesma palavra para conceitos absolutamente distintos/Ainda, a confusão não vem apenas de diferentes termos e expressões usadas, mas da própria maneira de conceber a estratégia. Assim, antes de entrar no processo estratégico, convém y esclarecer um pouco essas diversas concepções. Vale destacar, porém, que não „ Jl há consenso universal para as definições empregadas na área de estratégia, e é possível encontrar visões alternativas às propostas a seguir. 1.1.1 Estratégico, Tático e Operacional O uso comum da palavra estratégia está associado às grandes decisões tomadas em uma empresa, normalmente pelo grupo diretivo - o presidente e seus direto- " . res. Fala-se de “decisões estratégicas”. Constituem exemplos de decisões estraté- gicas: construir uma nova fábrica, iniciar operações em outro país, montar uma ^ : ^ a r r ^ s c m . £ . 8 • Parte I - O Processo Estratégico: Análise «5 —— - ------------------------------------ ---- - .— .- lía «ri & 1í:iiO u.. i-j- ii 8 S'f« " l i r\ü W , , í"& iíX: 1 o c ;.:i P4 «M m <ç> aliança com um concorrente, vender parte do negócio, adquirir outra empresa. 5 - Caracterizam-se por ter influência no longo prazo e por impactar a organização como um todo.;•¥.< = ? » I0 1 M As decisões estratégicas são contrapostas às decisões táticas e operacionais. | ó As decisões táticas se dão normalmente no nível gerencial e geralmente consistem i| em decisões para operacionalizar as grandes decisões estratégicas tomadas pela B fí direção da organização. Assim, se comprar uma nova empresa é uma decisão estratégica, definir a nova linha de produtos das empresas combinadas ou a nova ; i «j estrutura organizacional pode ser decisões táticas. Ou ainda, no caso de construir * " uma nova fábrica, escolher o processo produtivo e o grau de terceirização são <■■} " exemplos de decisões táticas. Caracterizam-se por um impacto de médio prazo e a; sua extensão reduz-se a ura conjunto de áreas ou setores da organização. As decisões operacionais, de certa forma, representam a materialização das m ^ decisões estratégicas e táticas. São decisões cotidianas e seu impacto, em teoria, , ' reduz-se no curto prazo. São exemplos: a decisão de se comprar um determinado fornecedor, a adoção de uma política de descontos em uma curta temporada para diminuir estoques ou contratar um nòvo funcionário. Sua extensão afeta uma área ou um setor específico. Se na teoria essa distinção é clara, na aplicação os limites se confundem. Por ■o j 1 exemplo, para uma grande empresa, contratar um vendedor costuma ser uma de- cisão operacional; já para uma pequena empresa, a decisão pode ser estratégica, considerando que a nova aquisição representará impacto significativo nos custos do negócio, mas pode alavancar significativamente a receita. A implantação de » um novo software pode ser uma decisão operacional e cotidiana - como instalar um r; novo software para procedimentos contábeis no departamento financeiro - ou fl pode ser fortemente estratégica, se o novo software implicar uma revolução no f s modo de se fazer e de se conceber o negócio, como no caso de introduzir o sis- ® tema de custos baseado em atividades (ABC costing). A Figura 1.1- apresenta ; 12 uma maneira clássica de se conceber esses três níveis de decisão. %V-J .,.{ •s 5CO Estratégia como Meio ■ “f Jg A palavra estratégia também pode ser entendida como úm meio para se chegar a um fim. A estratégia nunca é um fim em si, mas um caminho. Diz respeito aos \ 1; métodos e recursos utilizados para se chegar a um objetivo. O problema nesse T tipo de interpretação é que, em uma sucessão de eventos encadeados, um obje- í ; t i v o pode ser uma etapa para se atingir um segundo objetivo. E esse segundo t^ ■ * objetivo pode ser uma ponte para se alcançar um terceiro, e assim por diante. Por ;;5 exemplo, uma empresa pode investir em treinamento para aumentar a qualifi- | cação de seu quadro. Ao aumentar a qualificação de séu quadro, alcança maior o satisfação dos clientes. Ao obter clientes mais satisfeitos, incrementa níveis de iHlMllâsÕiK Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica • 9 lealdade e impulsiona suas vendas. Nessa sequência, o que é objetivo e o que é estratégia? Na prática, os conceitos não são fáceis de distinguir. 1. 1.3 Administração Estratégica Outra expressão frequentemente encontrada é administração estratégica. Tam bém aqui não existe um consenso. Segundo Certo, a administração estratégica é definida como um processo contínuo e interativo que visa manter uma organiza ção como um conjunto apropriadamente integrado com o seu ambiente. Por sua vez, Oliveira (1991a) define a administração estratégica como o estabelecimento de providências a serem tomadas pelo administrador para que a situação futura seja diferente da situação passada. O conceito de administração estratégica a ser adotado neste livro procura juntar a noção de administração à ideia de estratégia, conforme explicada ante- riomente. Desde o tempo de Fayol,1 a administração vem sendo definida como o processo de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. A lista pode variar de autor para autor mas, de forma geral, esses processos vêm inspirando milhares de escritores da área. Outra divisão clássica no estudo da administração é concebê-la a partir de suas áreas funcionais, como o marketing, as operações, as pessoas e as finanças. O Quadro 1.1 detalha essa divisão. Juntando os processos administrativos e as áreas da administração, pode-se ter uma compreensão mais abrangente da administração estratégica: A administração estratégica é o processo de planejar, executar e controlar, conduzindo a organização por meio de uma estratégia ampla, abrangendo as áreas de marketing, de operações, de pessoal e de finanças. 1 O livro de Fayol foi publiçado primeiramente na França, em 1916, sob o título de Administration Industriell» et Générale, mas só ganhou notoriedade após sua tradução e publicação para o inglês, em 1949. 10 • Parte I - O Processo Estratégico: Análise Quadra 1,1 Áreas Funcionais da Administração: o Marketing, as Operações, as Pessoas e as Finanças Toda organização, lucrativa ou não/ possui clientes e um mercado a atender. Seus clientes constituem, de alguma maneira, a razão de ser da organização. Ao atendê-los, justifica sua existência e obtém recur sos para sobreviver. Em uma empresa privada, essa lógica é imediata: a empresa vende seus produtos e serviços aos consumidores, que, se satisfeitos, voltarão a comprar e a recomendarão a terceiros. Mas, mesmo quando se considera uma organi zação não governamental, essa lógica é revestida de maior complexidade, uma vez que se multiplicam os clientes: aqueles para os quais os serviços são prestados ou os que conso mem os produtos nem sempre são os que trazem recursos à organizaçãç. Uma associação que cuida de crianças com problemas renais tem, como clientes imediatos, as crianças e seus familiares, mas também os contribuintes dessa associação são seus clientes. Atender, satisfazer e gerar a lealdade desse grupo constitui a finalidade da área de marketing. Toda organização também possui operações ou procedimentos que agregam valor a seus clientes. Em indústrias, esses procedimentos são bem visíveis e costúma-se utilizar o nome de produção ou administração da produção. Assim, mediante uma série de ativi dades, a madeira, os estofados, os tecidos e os parafusos cõnvertem-se em um sofá ou plástico e componentes eletrônicos transformam-se em um computador. Nessè processo, é natural que o resultado obtido seja mais valioso que os insumos iniciais. A ideia de produção ou operações também se estende a serviços. Por exemplo, em uma cadeia de fast-food há uma série de procedimentos estruturados para converter pão e hambúrguer em sanduíche. Do mesmo modo, um cabeleireiro ou uma empresa de consul toria também possuem (ou deveriam possuir) um método estruturado para atender a seus clientes dentro de determinados padrões de qualidade. Esses métodos, em geral, estão associados a alguma expertise técnica. Os clientes externos e as operações internas não esgotam o conceito de organização. Um aspecto essencial são as pessoas que a constituem, que fazem a organização e que lhe dão vida. Essas pessoas têm suas expectativas, seus sonhos e suas ambições, e é necessário que os objetivos propostos pela organização de alguma maneira respondam a seus proje tos pessoais. Em outras palavras, a organização deve desenvolver mecanismos para alinhar o comportamento das pessoas aos seus objetivos e, ao mesmo tempo, ser instrumento para seu desenvolvimento pessoal. A área financeira, por fim, constitui elemento critico. Em organizações privadas, essa área representa um dos principais objetivos (se não o principal), que é gerar lucro para que possa ser reinvestido no negócio e trazer retorno aos proprietários. Em organizações não lucrativas, por exemplo, a Lei de Responsabilidade Fiscal demonstra como o gestor público deve manusear seus recursos financeiros. Uma ONG, ainda que não foque o retorno finan ceiro como uma prioridade, rião pode se descuidar de sua gestão, sob pena de comprome- -ter sua sobrevivência em longo prazo. 1.1.4 Administração Estratégica e Planejamento Estratégico Na área de estratégia, esses dois termos são muito utilizados. Há diferença entre eles? Como nas situações anteriores, também não existe consenso. De fato, alguns autores consideram os termos idênticos. Outros procuram estabelecer diferenças P W if- r» » á ' Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica •11 sutis. Por exemplo, alguns consideram a administração estratégica como um ad ministrar olhando para a estratégia, sem a obrigação de formalizar planos de ação. Nessa linha,, a administração estratégica se aproximaria de um “pensamento es tratégico” presente nas ações da empresa. Por sua vez, o planejamento estratégico busca sistematizar o pensamento estratégico, formalizando processos e procedimentos para que a empresa saiba exatamente os caminhos a seguir. Ansoff vê o planejamento estratégico como “uma abordagem essencialmente cartesiana”, “uma estrutura mais amarrada, presa ao que foi definido pelo planejamento e documentado nos planos da em presa”. Entretanto, lembra a continuidade entre planejamento e ação, adaptando a frase do filósofo René Descartes, “planejo, logo, realizo”, sinalizando como o ato de planejar orienta a ação subsequente. Outros autores tiram a importância da questão do plano de ação ao tratar do planejamento estratégico. Vasconcelos destaca que o principal fator do planeja mento estratégico é o processo de planejar e não o produto final, o plano de ação propriamente dito. Nessa linha, mais uma vez, administração e planejamento se aproximam, o planejamento se transforma em uma reflexão que orienta a ação, ou seja, é “pensamento estratégico”. Para estabelecer os limites entre os conceitos, este livro retoma as ideias de administração com seus processos e- suas áreas. Pode-se entender a administração estratégica como um processo mais amplo, que envolve planejar, executar e con trolar. O planejamento, nessa concepção, refere-se unicamente ao primeiro proces so, planejar, Assim, considerando o roteiro que inspira este livro (Figura 1, p. 3), o planejamento avança até o segundo item (análise e formulação), mas o processo de implantação não estaria propriamente coberto pela ideia de planejamento. Evi dentemente, isso não significa que a implementação seja indiferente ao processo de planejar. Quando se formula um plano, também se deve encaminhar as questões referentes a como esse plano será implementado, o que deverá ser monitorado. Mas o “fazer”, efetivamente, até por razões semânticas, já não é mais planejar.2 1.1.5 Estratégia Corporativa, Estratégia de Negócio e Estratégias Funcionais Alguns escritores distinguem as ideias de estratégia corporativa, estratégia de negócio e estratégia funcional (Hax e Majluf, 1991; Certo, 1993; Wright et al, 2000). A distinção é particularmente útil no caso de grandes corporações di versificadas, mas também pode ser estendida a organizações de menor porte. 2 Planejar algo é antecipar ações e resultados. Ora, quando se consuma a ação, já não se está mais na esfera do planejar. O argumento, porém, não exclui a possibilidade de replanejar ou reajustar o planejamento a partir dos resultados da ação. Esse é o papel da caixa aprendizagem, ilustrada na Figura I . 12 • Parte I - 0 Processo Estratégico: Análise Basicamente, a estratégia corporativa responde à questão “em que negócios esta mos e em que negócios deveríamos estar?”. Por exemplo, a questão se aplicaria a um grupo na área de comunicação, atuante no setor de televisão, considerando se entra ou não na área de Internet ou imprensa escrita. Segundo Certo, “formular estratégias de negócios envolve a tomada de de cisões na divisão ou na unidade de negócios. Naturalmente, essas estratégias devem ser consistentes com a estratégia global da organização para aquela linha específica de negócios”. Os negócios em uma organização podem ser analisados por intermédio de algumas abordagens distintas. Essas abordagens permitem identificar a partici pação que uma linha de nçgócios ou produto possui na fojrmação dos rendimen tos de uma empresa ou a posição que essa linha de produtos ocup^, no mercado. A estratégia de negócios foca unidades específicas, com produtos e serviços concebidos e vendidos para um grupo definido de clientes e com concorrentes conhecidos. Seu nível de análise são as chamadas unidades estratégicas de ne gócio. De acordo com Wright et al., enquanto a questão corporativa é: “em que negócios ou setores deveríamos atuar?”, a questão adequada na unidade de negó cio é: “como devemos competir no setor ou negócio escolhido?” A estratégia funcional refere-se às ações adotadas em áreas particulares da ad ministração, conforme citadas anteriormente. Assim, fala-se em estratégias de mar keting, estratégias de operações/produção, estratégias de recursos humanos ou es tratégias financeiras. Nesse caso, as estratégias funcionais são o detalhamento da estratégia mais ampla (corporativa" ou de negócio) para as áreas funcionais. En tretanto, esse conceito pode ser adaptado às especificidades do negócio e, assim, pode-se falar em estratégias de qualidade, de pesquisa e de desenvolvimento etc. 1 ,2 Visões da E s tra té g ia A falta de uniformidade na área da estratégia não se aplica apenas à ausência de consenso sobre os termos. Os escritores da área tendem a assumir diferentes pontos de vista a respeito de como a estratégia ocorre de fato nas organizações. Um dos autores que vêm dedicando mais energia a essa discussão é Henry Mintzberg, da McGill University, do Canadá. No seu livro Safári de Estratégia, escrito em parceria com Ahlstrand e Lampel, é feita uma revisão dos trabalhos na área e se constata dez diferentes visões ou “escolas” no entendimento da es tratégia em organizações: — a escola do desenho: a formação da estratégia como um processo de concepção; a escola do planejamento: a formação da estratégia como um pro- Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica • 13 a escola do posicionamento: a formação da estratégia como um processo analítico; a escola do empreendedorismo: a formação da estratégia como um pro cesso visionário; —> a escola cognitiva: a formação da estratégia como um processo mental; a escola do aprendizado: a formação da estratégia como um processo emergente; —p a escola do poder: a formação da estratégia como um processo de nego- ciâção; — a escola cultural: a formação da estratégia como um processo coletivo; —£ a escola ambiental: a formação da estratégia como um processo reativo; \ —£> a escola da configuração: a formação da estratégia como um processo de transformação. Não se pretende aqui aprofundar a classificação. Os interessados são convi dados a consultar a obra mencionada. Porém, dessas concepções, algumas serão evidenciadas por estarem alinhadas ao enfoque adotado neste livro. São elas: a ideia da estratégia como um processo emergente (escola do aprendi zado) versus a estratégia como processo formal e deliberado (escola do desenho e do planejamento); a estratégia concebida a partir.de uma análise dó ambiente e da indústria (escola do posicionamento) versus a visão da empresa (e da estratégia) baseada em recursos (escola cultural e do aprendizado). 1.2.1 Um Processo Emergente ou um Processo Formol e Deliberado? A distinção dessas duas formas de conceber a estratégia foi bastante discutida também por Mintzberg et al (2000). A essência dessa distinção refere-se a quanto uma estratégia pode ser delineada racionalmente apriori ou quanto é algo que acon tece em um processo de tentativa e erro e aprendizado. A primeira abordagem, cha mada prescritiva, examina “onde estamos agora” e, a seguir, concebe as estratégias para o futüro. Os principais objetivos são estabelecidos antes de se iniciar a ação. Considerando as três etapas do processo estratégico que este livro propõe - análise, formulação e implantação - , elas são ligadas e sequenciais. Entretanto, muitos autores são extremamente críticos em relação a essa visão sequencial e independente da administração estratégica. Alegam que a es tratégia é algo que não pode ser concebida em um escritório - ou em um labora- tório - , distante das operações da empresa e depois empurrada para os escalões 14 • Parte I - 0 Processo Estratégico: Análise hierárquicos inferiores para ser implantada. Até porque essa visão reforça a divi são do trabalho entre “aqueles que planejam” e “aqueles que executam”. Vários são os inconvenientes dessa postura. Em primeiro lugar, porque simplesmente não costuma funcionar. “Os que executam”, em geral, enxergam as metas pro postas como irrealistas, ditadas por quem não conhece a fundo o negócio (e frequentemente eles têm razão). Além disso, não enxergam a iniciativa como própria e não a assumem. “Os que planéjam”, diante do fracasso da estratégia (que normalmente sucede as estratégias assim formuladas), atribuem o problema à execução e não à concepção (“a estratégia era perfeita, mas não foi executada direito”). Assim, os acadêmicos, consultores e executivos hoje concordam que o melhor é que a estratégia seja concebida, dentro do possível, por aqueles que executam, ou aqueles que planejam também devem executar. Uma abordagem alternativa para entender o processo estratégico é con- cebê-lo de forma emergente, como um processo evolutivo e incrementado ao longo do tempo. Nessa visão, os objetivos finais não são claros e vão sendo desenvolvi dos à medida que a estratégia vai sendo implantada. Essa abordagem enxerga as três etapas do processo estratégico como intercorrelacionadas. Entretanto, não se trata de escolher uma ou outra abordagem. As duas ofere cem sua contribuição e não são exclusivas. Na prática, pode ser interessante con duzir a análise antes, mas não inteiramente dissociada da formulação, enquanto a formulação deve ter certa sobreposição com a implantação, experimentando alternativas e corrigindo-as. (Lynch, 2000) Ainda, muitas vezes a formulação pode propor (ou prescrever) estratégias em um sentido amplo, deixando espaço para o aprendizado no que se refere aos detalhes - outra maneira de conciliar as abordagens. A Figura 1.2 ilustra o argumento. Imagine uma indústria de alimentos que definiu a estratégia de aumen tar sua receita vendendo para grandes cadeias de supermercados por represen tar um mercado maior. Por outro lado, os vendedores da empresa acham mais fácil vender para pequenas redes e dedicam mais energia a esse segmento, procu rando atingir as mesmas metas propostas. Como consequência, a receita pode até aumentar, conforme prescrito no plano, mas não exatamente da forma prevista, pois o crescimento se daria nas redes de menor porte. O exemplo ilustra um caso típico do aparecimento de uma estratégia emergente. 1.2.2 A Estratégia de Fora para Dentro ou de Dentro para Fora? Essa dicotomia aponta para quanto uma estratégia deve resultar de um estudo do mercado, da identificação de oportunidades e da ocupação de espaços ou deve ser construída a partir da análise de seus principais recursos. R4.0í-;rs:yíM Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica • 15 Michael Porter, da Harvard University, escreveu Competiiive Strategy (1980, traduzido para o português como Estratégia Competitiva, em 1986), que é considerado um majco nos estudos sobre estratégia. Em linhas gerais, o autor propõe que a estratégia consiste em identificar uma posição em um mer cado competitivo, em que haja como se defender da competição atual e futura. Ao fazer isso, a empresa conseguiria maximizar sua rentabilidade de longo prazo. Esse tipo de visão dominou a área de estratégia nos anos 1980. No outro extremo estão os autores que concebem a estratégia como um processo que parte de dentro para fora. Esse enfoque tem sua origem na cha mada Visão da Empresa Baseada em Recursos (VBR), cujos princípios foram estabelecidos por Edith Penrose, em seu livro The Theory o f the Growth o f the Firm (Teoria do Crescimento da Empresa). Nessa obra, a autora sugere que as di ferenças no controle dos recursos das empresas constituem a base para maior ou menor sucesso na estratégia. Por recurso entende-se algo que a empresa possui ou algo a que ela tem acesso, ainda que temporariamente. São exemplos de recur sos: prédios, equipamentos, localização, capital financeiro, grau de treinamento e experiência da administração e dos trabalhadores, estrutura formal, sistemas de planejamento, controle e coordenação formais e informais, cultura, reputação, relações formais e informais. A VBR ganha destaque a partir de 1990, com o artigo de C. K. Prahalad e Gary Hamel, pubicado na Harvard Business Review (1990), denominado “The Core Competence of the Corporations” (A Competência Essencial das Corpora ções). No artigo, os autores introduzem a ideia de competências organizacionais como recursos especiais que as organizações podem desenvolver e que estãoz-na base de estratégias bem-sucedidas. 16 • Parte I - 0 Processo Estratégico: Análise 1 .3 P rocesso E stratégico : I n t e g r a n d o as A bo rdagens n a P rática O processo estratégico apresentado na Figura 1.2 busca conciliar as quatro visões: estratégia prescritiva e deliberada, estratégia “de fora para dentro” e “de dentro para fora”. De um lado, ao recomendar, uma reflexão estruturada na definição de estratégia, o processo não exclui a possibilidade do aprendizado e, desde já, vale insistir que a distinção em etapas sequenciais é mais didática que real. Na prática, devem-se analisar oportunidades e definir ações, mas sempre mantendo a abertura para corrigir rumos e reformular objetivos. O processo também considera a necessidade de confrontar os resultados apreendidos do ambiente com as conclusões da avaliação.dos recursos. Nessa medida, integrar a avaliação do ambiente com a análise da organização. Qu&dvoia Processo Estratégico: Integrando as Abordagens na Prática Na Internet, você pode encontrar diversos sites com modelos de planos de negócio - documentos que sumarizam o.processo estratégico.ou, em muitos casos, representam o produto final do planejamento. Confira alguns: www.strategis.gc.ca www.crp.com.br www.planodenegocios.com.br www.rn.sebrae.com.br 1 .4 G r u po s E n v o lv id o s n a E stratégia Wright et al. definem cqmo principal propósito da administração estrategica a criação de riqueza para os proprietários das empresas por meio da satisfação das necessidades e expectativas dos stakeholders. Entende-se por stakeholders todos aqueles com algum grau de relacionamento com a organização, incluindo o con junto dos administradores e funcionários, os seus proprietários (ou acionistas), fornecedores, clientes, credores e membros da comunidade. Dessa forma, a determinação dos rumos estratégicos de uma organização resulta do equilíbrio entre os anseios dos vários players (pessoas-chave dentro da organização) da estrutura empresarial. Ou ainda, poderíamos afirmar que a deter minação dos rumos estratégicos de uma empresa resulta da média de desejos de cada nm rio« vtnkvhnlrlprx haseadn no noder aue cada um deles detém na organização. Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica * 1 7 A Figura 1.3 procura sanar os anseios dos diversos stakeholders e sugere que o processo de delineamento da estratégia deve surgir de um processo intera tivo, com os diversos grupos da organização assumindo diferentes papéis. A participação de diversos grupos é interessante, pois provê uma base mais rica para enxergar novas alternativas à organização, além de minimizar a resis tência por ocasião da implantação, como será visto no Capítulo 10. Figura 1.3 Metodologia com Grupos Participantes no Processo Estratégico Grupo de Coordenação Coordena os trabalhos (metodologia e cronograma) \ Diretoria Valida o encaminhamento e define a estratégia de implementação Grupo de Modelagem Constrói o conteúdo do processo Grupo de Consulta Fornece expectativas e informações para o processo O grupo de coordenação entra com o referencial metodológico, o aporte teórico, a definição da agenda de trabalho e as informações de mercado, entre outros, conforme o caso. A diretoria estabelece a estratégia em suas linhas gerais e valida os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de modelagem. O grupo de mo delagem é que realmente constrói a estratégia em seus detalhes. Os grupos de consulta são constituídos por aqueles que são chamados a participar do processo em momentos pontuais, seja para opinar sobre os trabalhos desenvolvidos até determinado momento, seja para prover o processo de mais informações. Esse grupo pode incluir outros stakeholders da organização. Entretanto, a organiza ção deve tomar cuidado ao envolver grupos externos, para que sua estratégia não venha a parar nas mãos dos concorrentes. /r E evidente que esse processo deve ser customizado para cada empresa, de acordo com seu setor, seu mercado, sua cultura, sua estrutura e seu porte, porém, sua flexibilidade permite que seja utilizado nas mais diversas circunstâncias. / .5 I m p o r t â n c ia da E stratégia Para finalizar este capítulo introdutório, comentaremos por que as empresas e os administradores devem dedicar tempo para criar, adaptar e reformular as estratégias. 18 • Parte I - O Processo Estratégico: Análise --- ---------------- *----------- -----—----------- Assumir o controle sobre o destino. Imagine uma pequena embarcação lançada em um mar agitado, sem clareza sobre aonde ir e sem instrumentos de orientação e navegação. Não é difícil imaginar seu colapso iminente. A administração estra tégica estabelece objetivos, meios e instrumentos de controle para encaminhar a organização à sua meta. Enxergar as oportunidades. Quando focamos apenas as atividades operacionais ■ do dia a dia, a tendência é continuarmos a fazer as coisas que sempre fizemos, talvez com pequenas mudanças incrementais. O pensamento estratégico sinaliza as oportunidades de negócio quando nos convida a olhar além: o que acontece no mundo, na sociedade, na nossa cidade. A Hewlett Packard, quando come- i çou a fabricar calculadoras em uma garagem alugada, em 1939, provavelmente não imaginava que um dia fabricaria impressoras, equipamentos médicos e uma ampla variedade de equipamentos eletrônicos. Transformar ameaças em oportunidades. Na maior parte dos setores, as novi dades tecnológicas estão surgindo a cada momento. Sem dúvida, uma delas vai substituir ou pelo menos aperfeiçoar os produtos ou serviços que nossas empre sas oferecem hoje. Se as organizações assistirem passivamente a esse movimen to, como Nero vendo Roma incendiar-se, talvez seu destino seja as cinzas. Outra possibilidade é assumir e incorporar as iniciativas mais promissoras, tais como a Microsoft fez com a Internet no começo dos anos 1990. Definir novos rumos para a organização. Relacionado aos anteriores, este motivo destaca a importância de um esforço ativo para romper a inércia de re petir e repetir-se no modo de fazer negócios. Sem uma estratégia, mesmo que implícita, talvez o Grupo Pão de Açúcar ainda fosse um confeitaria em uma movimentada rua de São Paulo, ou O Boticário, uma farmácia de manipulação no centro de Curitiba. Introduzir a disciplina de pensar a longo prazo. Talvez um dos grandes méritos da administração e, particularmente, do planejamento estratégico, é que, quando sistematizado, incute na organização o hábito de pensar a organização no longo prazo. Do contrário, o dia a dia absorve toda a energia dos gestores. Em uma organização na qual um dos autores deste livro desenvolveu um trabalho de con sultoria, constatou-se que, antes do projeto, os gestores dedicavam menos de 1% de seu tempo para pensar no futuro. Desenvolver um processo educacional e incentivar a interação e a negocia ção. Quem sabe um dos maiores benefícios em pensar e envolver vários níveis da organização na concepção de uma estratégia esteja em desenvolver com- --------- -----— çou »ntí=vnrlimp>ntn onmnarti 1 h an d o os Capítulo 1 - Fundamentos da Administração Estratégica » 1 9 objetivos organizacionais e incentivando o pensamento alternativo em sintonia com os propósitos gerais. Entretanto, esse processo deve ser aberto para que as pessoas com diferentes perspectivas possam colocar suas opiniões e apresentar seus interesses, propiciando um quadro mais abrangente do negócio. Sob esse enfoque, é possível afirmar que um dos maiores “produtos” do planejamento não é o “plano” em si, mas o próprio processo de planejamento. Mobilizar recursos pára objetivo comum. A estratégia ajuda a unificar os es forços da organização. Sem uma estratégia comum, entendida e compartilhada, cada área enfatizará seu interesse particular e parcial. Os vendedores insistirão nos produtos mais fáceis de vender e não nos de maior rentabilidade. O pessoal da fábrica tenderá a produzir produtos de menor complexidade e maior produti vidade. O departamento de desenvolvimento buscará os projetos de maior desafio técnico, não necessariamente os de maior apelo comercial, e assim por diante. Promover a mudança. Para envolver todos em uma mudança, é importante pro por o plano de ação e sensibilizar cada componente da importância da estratégia. Sem uma proposta concreta, é pouco provável que consigamos o engajamento das pessoas. Uma proposta clara para desenvolver a organização, com metas, ações, res ponsabilidades e recompensas definidas possui maior chance de ser implantada. Vender ideias. A apresentação de uma reflexão estruturada, baseada em análise cuidadosa do mercado e da organização tem maior poder de persuasão do que a simpatia ou insistência. Vender ideias é de especial interesse aos líderes interes sados em alcançar a adesão de grupos importantes para a implantação da estra- r tégia. E o caso, por exemplo, de um empreendedor que busca financiamento para seus projetos, ou de um profissional que procura sensibilizar a alta administração para a viabilidade de suas ideias. 1 .6 R e s u m o Trabalhamos o conceito de estratégia, distinguindo seus limites, suas diferentes acepções e conceitos correlatos. Ao mesmo tempo, foram apresentadas diferen tes concepções que vários escritores têm do processo de formação de estraté gia. De um lado, analisamos ,o processo prescritivo e o processo emergente; de outro, comparamos a visão baseada na análise da indústria e a visão baseada em recursos. O capítulo também demonstrou que o processo estratégico estrutura- /* do nesta obra procura conciliar as quatro perspectivas. Lembramos, ainda, a 2 0 • Parte I - O Processo Estratégico; Análise ^ necessidade de considerar os diversos grupos de influência aò se pensar a es tratégia. Para finalizar, destacamos algumas ideias que fazem da estratégia um tópico importante e atual: assumir controle sobre o destino; enxergar as opor tunidades; transformar ameaças em oportunidades; definir novos rumos para a organização; introduzir a disciplina de pensar a longo prazo; desenvolver um processo educacional e incentivar a interação e a negociação; mobilizar recursos para objetivo comum; promover a mudança; e vender a ideia. A > : i-, lí -~t I3)K O lr!!:;5S O !i Capí!11 Objetivos e Estratégias Gerais Uma empresa sem estratégia é como um avião voando em plena tempestade, sendo jogado para cima e para baixo, açoitado pelo vento, perdido entre relâmpagos. Se os relâmpagos ou os ventos não o destruírem, simplesmente ficará sem combustível. • A lv in To ffle r TOPICOS Definição de objetivos. Características dos objetivos. Vantagens de formular objetivos. Estratégias e tipologias estratégicas. 7. 1 O bjetivos e E stratégias O r g a n iza c io n a is Analisar cenários, diagnosticar o próprio perfil e definir a missão (e visão) constituem algumas etapas importantes, mas, sob certa medida, filosófi cas, no sentido que não acarretam, imediatamente, ações práticas e não re sultam em mudança alguma. A empresa precisa caminhar para ações mais tangíveis, mais palpáveis; do contrário^ tòdo o processo de planejamento - que até essa altura já terá consumido um esforço considerável - cairá em descrédito. O próximo passo para a dado é. traçar objetivos. A ideia de objetivos entrou fortemente na área de gestão na década de 1960, principalmente por influência de Peter Drucker (1970). Segundo Drucker, a essência da administração deveria ser focada em definir objeti vos e concentrar as energias da organização para alcançá-los. Desde esse momento, criar e concretizar objetivos tornou-se rotina na vida empresarial. Este capítulo procura trazer esse conceito para o plano da administração estratégica. Em primeiro lugar, procuramos definir a noção de objetivos. A seguir, discorremos sobre suas características. Como veremos, os objetivos de uma organização são formulados em diversos níveis: os objetivos gerais que envolvem a organização como um todo, e os objetivos específicos, que constituem desdobramentos dos 160 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação Figura 7.1 ANÁLISE DO AMBIENTE Macroambiente Setorial Econômico Modelo de Porter Social Atratividade Político Ciclo de vida' Tecnológico Concorrência Objetivos i gerais / I Ameaças e t oportunidades ______ Ambiente Negócio I x I__ -I Organização \ Missão e Visão Marketing Produção/ operações Estratégias gerais i Pontos fortes I Pontos fracos Recursos humanos ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO Cadeia de valor Estratégias genéricas Competências Pontos fortes ^ Pontos fracos Finanças I } Análise Form u lação 1 M A 1 P P N I R T L C E E c M N G D *■ ' ► £ R N 1 A y t Z Ç A A à G 0 ç à E M 0 Im p lan taçã o M Administração por Objetivos Grande modismo da década de 1960, a administração por objetivos prescreve que uma empresa siga gerida por meio de metas. Primei ro, as metas abrangentes, para todo o negócio. Essas metas seriam, a seguir, subdivididas em metas menores, para as áreas e os indivíduos. Elas seriam representadas por etapas a serem cumpridas para se atingir aos objetivos ela borados. As metas possuem a característica de curto prazo e o seu detalhamento está especificado nos planos de ação, que são alvos de acompanhamento e controle, propor cionando aos gestores da empresa a.identificação dos pontos de estrangulamento para a consecução dos objetivos preestabelecidos. objetivos gerais. Também veremos que a noção de objetivos é complementada pela estratégia (ou, ao menos, um dos conceitos que se costuma atribuir à estra tégia: a noção de estratégia como meio, conforme visto no Capítulo 1, item 1.1.2). As noções de objetivos e estratégia se complementam. Os objetivos mostram aonde se quer chegar; a estratégia, como chegar lá. Capítulo 7 - Objetivos e Estratégias Gerais • 161 Este capítulo trata de objetivos e estratégias gerais, aqueles que se referem ao negócio como um todo. O próximo capítulo enfocará como esses objetivos e estratégias são divididos em objetivos e estratégias específicos da organização. 7.2 D e f in iç ã o d e O bjetivos O que são objetivos? São os diversos resultados que a organização se propõe a alcançar, com um prazo definido para que aconteçam. Vasconcelos (1992) define os objetivos como resultados quantitativos e qualitativos que a empresa precisa alcançar em prazo determinado, no contexto de seu ambiente, para cumprir sua missão. Por sua vez, Certo (1993) define os objetivos organizacionais como metas para as quais a organização direciona seus esforços. Os objetivos são projeções de situações futuras desejadas. Entretanto, para serem copsideradas como objetivos, essas projeções não podem ser muito vagas nem muito distantes - nesse caso, seria melhor enquadrá-las como missão ou visão. Para serem transformadas em objetivos, as projeções precisam ser mais concretas; devem estar associadas a descrições precisas, se possível, quantitati vas; precisam ganhar uma data até a qual devem acontecer. Resumindo, têm de atender a algumas características que são objeto do próximo tópico. 7.3 C aracterísticas d o s O bjetivos Para formular bons objetivos, o gestor precisa ter em mente algumas características: quantificar e definir prazos para os objetivos da organização, levando em consideração os diversos stakeholders;/ comunicar claramente os objetivos e alinhá-los à missão e aos valores da empresa; detalhá-los. em diversos níveis, sabendo desafiar as pessoas sem desa nimá-las; e , —> manter a flexibilidade. 7.3. / Quantificação e Definição de Prazos Os objetivos devem ser qualificados, quantificados e definidos com tempo deter minado, para evitar ambiguidade entre as pessoas na hora de buscá-los. Assim, o objetivo “aumentar a participação de mercado” seria pouco preciso (e menos 162 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação consistente) que o objetivo “aumentar em 10% nossa participação de mercado no segmento de ventiladores domésticos até o final de 2004”. No exemplo anterior, não só a quantificação diminui a ambiguidade, mas também o fato de se colocar uma data precisa. De fato, crescer 10% em um ano é bem diferente de aumentar os mesmos 10% em cinco anos. 7.3.2 Objetivos e Stakeholders Outro ponto a ser considerado é que os objetivos organizacionais são fundamen tados nos objetivos das pessoas que dirigem ou influenciam a tomada de deci são na organização - os stakeholders. Wright et al. (2000) afirmam que vários stakeholders terão objetivos gerais diferentes para a empresa, cabendo à alta administração conciliar e satisfazer essas' necessidades. Os clientes querem que a empresa apresente produtos com a máxima qualidade e com os menores preços possíveis. Os fornecedores gostariam que a empresa garantisse compras siste máticas e com valores que possibilitassem boa margem de lucro. Os acionistas, por sua vez, gostariam que ela garantisse altos retornos aos seus investimentos. Wright et al. (2000) argumentam que “se os proprietários procuram aumentar os retornos financeiros, a empresa deve ser orientada para os clientes”. Além disso, afirma que “a literatura de marketing estratégico enfatiza a necessidade de as empresas manterem uma adaptabilidade estratégica com base em mudanças nos desejos dos clientes”. Isso realça mais ainda a necessidade de se definir objetivos com base em desejos de mais de um stakeholder, caso contrário, corre-se o risco de encaminhar a empresa para uma estrutura desequilibrada entre seus vários setores e seus vários interesses. É essencial perceber que estabelecer objetivos é também uma tarefa políti ca. Nela se manifestam diferentes visões, interesses e, provavelmente, valores. Os objetivos propostos serão sempre produtos de uma conciliação entre as visões ou a expressão do ponto de vista de algum grupo ou indivíduo de maior poder, em determinado momento. Entretanto, isso pode acontecer sem que ocorra necessariamente uma visão “ganha-perde”. 7.3.3 Objetivos e Comunicação É importante que todos saibam aonde a empresa quer chegar e qual o caminho a ser seguido. Assim, os objetivos devem ser bem comunicados. O primeiro passo para isso pode ser o envolvimento de vários grupos (ou stakeholders) para definir os objetivos. Com isso não queremos dizer que os objetivos devam ser produzidos em assembleia; a participação pode ser propor cional à capacidade de contribuição de cada um. rM lS S O lR Capítulo 7 - Objetivos e Estratégias Gerais • 163 Eles também devem ser claros, explícitos e concisos, de forma que todos entendam e executem sem falhas o que se espera dentro da empresa e contri buam para o seú destino no mercado. Nesse sentido, é conveniente transmitir os objetivos por escrito. A comunicação não se restringe a anunciar os objetivos. Tão ou mais im portante é comunicar os resultados conforme forem acontecendo, para que os envolvidos possam ajustar suas ações. Porém, conhecer objetivos e resultados não basta. É fundamental que as pes soas acreditem neles. Dessa forma, é preferível elaborar poucos objetivos a propor uma quantidade enorme, para evitar a dispersão dos esforços da organização. 7.3.4 Objetivos e Missão Os objetivos detalham a missão especificando-os, portanto, eles estão “pendura dos” nela. Pode-se argumentar, inclusive, que o conjunto dos objetivos constitui uma forma palpável de tornar a missão real. Assim, um objetivo que não esteja de alguma forma ajudando a organização a realizar sua missão está sobrando. 7.3.5 Níveis de Objetivos Após as análises anteriores, pode-se perceber que os objetivos se apresentam em diversos níveis, Uma primeira divisão é aquela que separa os objetivos gerais, mais próximos da missão da empresa, dos objetivos específicos, que são versões mais restritas e normalmente quantificadas dos objetivos gerais. Os objetivos devem estar em todos os níveis da empresa, como apresenta do no Quadro 7.2. No nível mais estratégico da organização estão os objetivos gerais, de caráter mais amplo, que refletem diretamente os princípios e a missão da empresa, fornecendo aos funcionários uma visão de onde se pretende chegar em curto, médio e longo prazos. Por sua vez, os objetivos funcionais - para cada área específica da organização - têm características mais de curto e médio prazos e serão mais detalhados, porém sempre procurando seguir o rumo estabelecido pelos objetivos gerais da empresa. Podem ser quebrados por departamentos, com objetivos elaborados para cada setor da empresa, e mesmo metas individuais. Normalmente, os objetivos são definidos para as diversas áreas funcio nais da empresa (marketing, operações/produção, finanças e recursos humanos, por exemplo). Porém, podem também ser definidos segundo outros recortes, de acordo com as necessidades da empresa: inovação, exportação, qualidade, produtividade etc. Mas desdobrar os objetivos maiores em objetivos menores não significa só segmentar objetivos gerais em objetivos funcionais ou áreas de negócio. Por 164 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação Quadro 7 Exemplos de Níveis de Objetivos Área de objetivos gerais: —^ aumentar o faturamento de R$ 3,5 milhões, em 2009, para R$ 4 milhões, em 2010; — aumentar o lucro líquido de R$ 200 mil, em maio, para R$ 250 mil,, em junho de 2010; aumentar o índice de qualidade percebida do produto X de boa para ótima - de 57% em 15/2/2010 para 80% até 15/7/2010. Área de operações/produção: —f> aumentar a produção, de 300 mil peças em maio, para 350 mil peças em junho de 2010; reduzir as perdas de matéria-prima de 10% no. primeiro semestre para 6% no'segundo semestre de 2010. Área de finatiças: —*> liquidar o passivo bancário até 30/6/2010; —*>> reduzir a inadimplência, de R$ 18 mil, para menos de R$ 3 mil até 30/6/2010. exemplo, outra divisão poderia ser fragmentar o faturamento anual em metas de faturamentos mensais que, por sua vez, sejam divididos em faturamentos sema nais, e assim por diante. 7.3.6 Coerência dos Objetivos Dentro de uma organização, os objetivos são diversos, mas, sem dúvida, eles devem ser consistentes entre si e com os objetivos maiores. Uma maneira de isso acontecer é sempre checar a sua coerência com a missão da empresa. Se uma empresa busca a inovação tecnológica constante, é natural que existam, entre seus objetivos funcionais, metas associadas a certo número de lançamentos a cada período. Porém, não basta o alinhamento de alguns objetivos funcionais com os ob jetivos maiores: é necessário que exista equilíbrio. Assim, se um banco busca aumentar suas receitas em 15% por meio de vendas cruzadas (vender mais pro dutos e serviços para a mesma base de clientes), é de se esperar o lançamento de vários objetivos na área de treinamento (área de RH) e propaganda (área de marketing), por exemplo. Outro nível de coerência está entre a realidade da empresa e a do mercado. Não faria sentido uma empresa de tratores propor, como objetivo, introduzir má- nuínac Hp rprnlher neve no mercado nordestino! A y " A A A PiKOfii::^ àOfi4 ’ - - Capítulo 7. - Objetivos e Estratégias Gerais • 165 A coerência também deve existir ao longo do tempo. Consolidar uma marca demora. São anos de investimentos e esforços para que se crie uma imagem as sociada à empresa na mente do consumidor. Dessa maneira, uma empresa qué posissionasse um mesmo produto ora no mercado de luxo, ora no segmento po pular, ciclicamente, estaria desperdiçando energia. O mesmo se poderia dizer de uma empresa que focasse todos os seus objetivos no curto prazo e descuidasse do longo prazo - por exemplo, postergando seus investimentos em novos produtos para não sacrificar o lucro presente. De certa forma, a administração estratégica ocupa-se precisamente com isto: estabelecer objetivos, de forma consistente, com uma missão maior e ali nhados entre si. 7.3.7 Objetivos Desafiantes, mas Realistas r E próprio da condição humana o desejo de superação. Porém, devè haver uma proporcionalidade entre o tamanho do desafio e a capacidade de empreendê-lo. Objetivos extremamente difíceis desanimam, extremamente fáceis são despre zados - além de, provavelmente, terem pouco valor para o negócio. Estabelecer objetivos requer um equilíbrio entre o “muito fácil” e o “difícil demais”. O bom gestor sabe encontrar esse ponto intermediário. Uma maneira concreta para estabelecer objetivos factíveis e desafiadores é partir da situação atual, dos objetivos do ano anterior e, a partir daí, olhar para a situação futura desejada. 7.3.8 Objetivos Flexíveis Objetivos não podem ser uma camisa-de-força. Ao defini-los, os gestores devem ter em mente as variáveis que podem ocorrer ao longo do exercício para o qual os objetivos estão sendo pensados. Por exemplo, a concorrência pode sair com um novo produto; um evento pode disparar uma nova crise econômica mun dial (como os atentados de 11 de setembro de 2001); alguma pessoa-chave pode sair da empresa, entre outros fatores. Esses eventos devem ser monito rados sempre e, conforme o caso, novos objetivos devem ser formulados e comunicados à equipe. 7.3.9 Vantagens das Organizações Administradas por Objetivos Definir objetivos que obedeçam às características anteriores acarretam algumas Vantagens à organização. Concentrar esforços: bons objetivos ajudam a organização a concentrar esforços nos resultados, o que de fato interessa à empresa, evitando, 166 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação . portanto, desperdícios. Em outras palavras, ajuda a concentrar energia nos fins e não nos meios. / — Prover indicadores e controle: objetivos claros pressupõem muitas vezes a existência de um bom sistema de indicadores de gestão. E o con trário também é verdadeiro: a organização pode ser levada a reformular seus indicadores a partir da definição de novos objetivos. Propiciar o aprendizado: os objetivos fornecem um parâmetro para as ações da empresa. Ao final de determinado período, deve ser possível confrontar o que foi planejado com o que foi atingido e analisar os moti vos que levaram a se atingir, superar ou ficar abaixo do planejado. Esse exercício leva ao aprendizado e à melhora da qualidade no estabeleci mento dos objetivos futuros. Firmar uma base para as estratégias: os objetivos servem de base para a formulação das estratégias que norteiam as ações da empresa. 7.4 E stratégias Conforme vimos, a palavra estratégia, quando aplicada a organizações, possui diversas acepções possíveis. Aqui consideramos a estratégia como meio para atingir um objetivo. A formulação de estratégias envolve a determinação de cursos de ação apropriados para se alcançar os objetivos estabelecidos pela em presa. O processo de formulação de estratégias envolve análise, planejamento e seleção para que se aumentem as possibilidades de alcance desses objetivos. Embora a formulação da estratégia seja algo único e requeira criativida de, existem algumas tipologias que podem auxiliar os gestores a desenhar uma estratégia. O assunto é abordado a seguir. 7.4. / Tipologia de Estratégias Organizacionais As estratégias organizacionais são divididas, conforme Certo (1993), em quatro grandes grupos: estratégia de concentração, de estabilidade, de crescimento e de redução de despesas. A) Estratégia de Concentração “A estratégia de concentração é aquela em que uma empresa se concentra numa única linha de negócios.” (Certo, 1993) Ela é usada para se obter vanta gem competitiva por intermédio do conhecimento especializado e eficiente em Capítulo 7 - Objetivos e Estratégias Gerais • 167 ______________ \____________________ determinado setor. Porém, essa estratégia apresenta o risco de eliminação da em presa caso o mercado tenha um comportamento agressivo por parte de grandes competidores. Os exemplos mais conhecidos desse tipo de estratégia são: McDonald’s e Holiday fnn, que concentraram seus negócios na indústria de alimentação rápida e na indústria de hospedagem, respectivamente. B) Estratégia de Estabilidade A estratégia de estabilidade, para uma empresa que atua em mais de um setor, corresponde à manutenção do atual conjunto de empresas. Para uma empresa que está inserida em um único setor, ela refere-se à manutenção de quase as mesmas operações, sem buscar um crescimento significativo nas receitas ou no tamanho da empresa. (Wright et al., 2000) A estratégia de estabilidade costuma ser muito utilizada em organizações de grande porte e que dominam seu mercado. Qualquer movimento de expansão costuma ser dispendioso demais e não traz resultados consideráveis em termos de lucratividade. Assim, é melhor manter o s tatus quo atual. No entanto, é importante observar que, com o passar do tempo, a empresa poderá abandonar a estratégia de estabilidade e, em circunstâncias favoráveis, voltar a adotar uma das estratégias de crescimento ou, em condições menos fa voráveis, uma das estratégias de redução. \ C) Estratégias de Crescimento Quando se fala em crescimento de uma organização, refere-se a três principais fatores: o lucro, as vendas ou a participação no mercado. A estratégia de cres- cimento pode ser obtida com recursos distintos, tais como: crescimento interno, integração vertical, integração horizontal, diversificação ou até mesmo por meio de fusões e alianças estratégicas. (Wright et al., 2000) O crescimento interno é conseguido por meio do aumento das vendas, da capacidade de produção e da força de trabalho. Algumas empresas acreditam que o crescimento interno preserve melhor sua cultura organizacional, eficiên cia, qualidade e imagem. Porém, suas maiores desvantagens são os aumentos nos custos burocráticos e de coordenação, que geralmente o acompanham. Portanto, apenas se devem criar novos negócios quando os benefícios excedem os custos, uma vez que a análise custo-benefício, em um determinado contexto estratégico, envolve importantes componentes decisórios, difíceis de quantificar. Segundo Wright et al. (2000), vale observar ainda que o crescimento interno não inclui apenas o crescimento do mesmo negócio, mas também a criação de novos negócios, seja em direção horizontal ou vertical. py,nr is í ,;í "í. 168 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação O crescimento interno horizontal pode envolver a criação de novas empre sas que operam em negócios relacionados ou não relacionados. No crescimento que foca a integração vertical, a empresa cresce pela aquisição de outras organi zações em um canal de distribuição, isto é, adquirindo empresas que suprem as necessidades em termos de distribuição, colocando-a mais próxima do usuário final. Essa integração é usada para se obter maior controle sobre uma determina da linha de negócios, possibilitando o aumento do lucro ou o volume de vendas. O vertical refere-se a criar negócios, relacionados ou não, dentro do canal vertical de distribuição, criando um relacionamento fornecedor/cliente mais forte. A integração horizontal ocorre quando a empresa adquire concorrentes em uma mesma linha de negócios. Essa aquisição proporciona o aumento no porte da empresa no mercado; dessa forma aumentando também suas vendas, seus lucros e sua participação no mercado. Essa situação ocorre principalmente em indústrias de bebidas. , A diversificação proporciona o crescimento em outras linhas de negócios, por meio da aquisição de outras indústrias de ramos correlatos ao seu negócio principal ou até mesmo de ramos totalmente distintos. Quando o crescimento se dá peladiversificação em ramos de negócios semelhantes, ela está, claramente, disposta a aumentar sua eficiência no mercado por meio de recursos comparti lhados. Quando o crescimento ocorre em linhas de negócios não relacionados ao atual ramo da empresa, ela busca maior proteção no mercado, por meio de uma diluição de riscos em mais de um negócio, ou até mesmo quando a empresa possui excesso de caixa e prefere investir em setores de crescimento rápido, bus cando aumentar o lucro em um curto prazo. As fusões e alianças estratégicas buscam parcerias externas para melhorar sua posição no mercado. De acordo com Wright et al. (2000), “uma fusão ocorre quando duas ou mais empresas, em geral de portes semelhantes, combinam-se com uma permuta de ações”. As fusões visam à partilha ou transferência de recur sos e ganho em força competitiva. As alianças estratégicas são parcerias em que duas ou mais empresas realizam um projeto específico ou cooperam em determi- íiada área do negócio, podendo ser temporariamente. Essas empresas partilham os custos, os riscos e os benefícios em explorar e arriscar novas oportunidades de negócios. Essas alianças podem ser; joint ventures, acordos de franquia/licencia mento, P&D conjuntos, operações conjuntas, acordos conjuntos para fornecimen to de longo prazo, acordos de marketing, conjuntos e consórcios. D) Estratégias de Redução de Despesas - A estratégia de redução de despesas é usada quando a sobrevivência de uma organização está ameaçada e ela não está competindo com eficiência. Para fazer frente a isso, existem três tipos básicos de redução de despesas: a reviravolta (turnnmundV o desinvestimento ou a liquidação. (Wright et al., 2000) Capítulo 7 - Objetivos, e Estratégias Gerais • 169 No caso da reviravolta, a empresa procurará se tornar mais enxuta e eficaz, livrando-se de produtos não lucrativos, diminuindo ativos, reduzindo a força de trabalho e os canais de distribuição. A estratégia de desinvestimento envolve vender unidades de negócios ou, ainda, defini-los como organização separada, melhorando a posição financeira da organização. O desinvestimento geralmente ocorre quando a unidade de negócio está tendo um desempenho ruim ou deixa de se adequar ao perfil estratégico da empresa. Quanto à estratégia de liquida ção, implica encerrar um negócio e vender seus ativos. Organizações grandes, diversificadas, normalmente usam várias combi nações, conforme a carteira de negócios que possuem. Também é importante salientar que as estratégias definidas anteriormente podem ser adaptadas a em presas que possuem apenas uma linha de negócio ou até mesmo uma linha de produtos, apesar de o modelo ser desenvolvido para as organizações com maior porte e com boa participação no mercado. A análise das condições de mercado e dos fatores internos à organização representa o ponto de partida para a determinação da melhor estratégia para uma empresa. A escolha das estratégias deve ser realizacfa com base em um processo amplo de discussão em grupo e no grau de sensibilidade de cada grupo em rela ção ao mercado. O processo de sua formulação depende do nível de criatividade, bom senso e espírito crítico. Apontar saídas para as empresas, em qualquer nível ou tamanho, representa o ponto principal do estudo realizado. A formulação das estratégias passará, primeiramente, pela análise das estratégias gerais, para então se discutirem os demais fatores estratégicos de uma organização. 7 .5 R e s u m o O presente capítulo avançou no sentido de detalhar a estratégia organizacional. Iniciamos argumentando a necessidade de concretizar a missão e a visão para podermos mobilizar a organização para atingir os resultados propostos. Isso acontece mediante o estabelecimento de estratégias, que são os meios para atin gir os objetivos-fim da organização. Para serem bem-sucedidos, esses objetivos devem cumprir algumas caracte-' rísticas, como sua mensúração ou quantificação, a definição de datas para acon tecer, a articulação dos interesses dos vários stakeholders, boa comunicação, o alinhamento com a missão e com os outros objetivos organizacionais, o caráter de safiador, porém viável, e a flexibilidade. Quando assim estabelecidos, os objetivos trazem algumas vantagens à empresa, como ajudar a concentrar esforços, prover indicadores de controle, gerar aprendizado e fornecer uma base para a geração de estratégias. Objetivos e Estratégias Funcionais 8 . 1 D e O bjetivos e E stratégias G eràis a O bjetivos e E stratégias F u n c io n a is Os objetivos e as estratégias gerais servem de base para uma concepção mais detalhada e específica. Em geral, são elaborados por áreas funcionais da empresa, daí serem de nominados objetivos e estratégias funcionais - embora necessariamente não sejam elabo rados dessa forma. Essa estratégias gerais devem estar em concordância ou amarradas às estratégias de negócios ou às estratégias gerais da empresa. No seu conjunto, descre vem tarefas específicas que devem ser executadas para se implementar à estratégia da empresa, ficando garantida a consistência entre as estratégias gerais e funcionais dessa empresa. O capítulo anterior anunciou essa pormenorização de objetivos e es tratégias gerais em funcionais. Agora vamos explorar essa questão. Um comentário prévio, porém, deve ser feito. Embora tenhamos dis tinguido conceitualmente objetivos de estratégias - o primeiro apontando para fins e a segunda, para meios -y agora trataremos conjuntamente os dois termos, uma vez que as organizações estabelecem seus objetivos pa ralelamente a suas estratégias funcionais. Ou seja, se, na teoria, os termos se diferenciam, na prática, se misturam. 8 .2 O bjetivos e E stratégias F u n c io n a is De acordo com Wright et al. (2000), objetivos e estratégias funcionais tomKám A o i íoi-õ r \ cívfA/ir n o r a mip» r»c p»nr>íirrp(TflHnç rlp PílHa SPitnr form ulam TÓPICOS • De objetivos e estratégias gerais a objetivos e estratégias funcionais, • Objetivos e estratégias de compras e materiais. • Objetivos e estratégias dé pesquisa e desenvolvimento. • Objetivos e estratégias de . operações/produção. • Objetivos e estratégias financeiras • Objetivos e estratégias de marketing. ' • Objetivos e estratégias de recursos humanos. • Objetivos e estratégias de sistemas de informações. 172 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação ações para atingir os objetivos gerais da empresa. Dessa forma, as ações ema nadas do processo de gestão de uma organização devem, sempre, primar pelo equilíbrio e pela harmonia entre as partes envolvidas no processo. Essa estrutura remete ao início do texto, ao argumento de que a empresa deveria ser vista como um sistema integrado e interdependente, no qual todos os setores somente sobre vivem se estiverem interligados e afinados nas siias ações. As principais estratégias funcionais normalmente elaboradas são aquelas que se relacionam às seguintes áreas da empresa: compras e materiais, produção/ operações, finanças, pesquisa e desenvolvimento, recursos humanos, sistemas de informações e marketing. O próximo item comenta esses objetivos e estraté gias, tendo em conta algumas tipologias de estratégias já apresentadas. 8.2.1 Objetivos e Estratégias de Compras e Materiais Todas as organizações têm um departamento de compras que varia segundo a estratégia genérica adotada pela unidade de negócio. De acordo com Wright et al. (2000), as empresas que utilizam a estratégia de nicho-custos baixos ou a de custos baixos enfatizam as compras com o menor custo possível. As que utilizam a estratégia de nicho-diferenciação ou a de dife renciação valorizam insumos de alta qualidade;, mesmo que eles custem mais caro Capítulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais' • 173 que outras ofertas alternativas. Já as que focam em nicho-custos baixos/diferen ciação, a de custos baixos-diferenciaçãò ou as estratégias múltiplas utilizam uma mescla dessas estratégias no planos de compras. Vale ressaltar que a função de compras é o primeiro passo do processo de administração de materiais, sendo seguida pelas funções de armazenamento e controle de estoque. Wright et al. afirmam ainda que a última tendência em administração de materiais, o sistema de estoque just-in-time (JIT) - sistema popularizado pelos japoneses, em que os fornecedores entregam peças no mo mento exato em que elas tornam-se necessárias para o processo de produção da organização compradora - une essas três funções. Qim é o I.1 Importância em Saber Comprar O Grupo Matarazzo foi um dòs maiores conglomerados do mundo, com cerca de 200 fábricas, hidrelétricas, banco, fazénda e outros negócios que, no seu auge, chegou a empregar 30 mil pessoas, na época em- que o Brasil contava com pouco menos de 25 milhões de habitantes. O patrimônio acumulado pelo conglomerado chegou, em valores atuais, à casa dos US$ 20 bilhões. Seu fundador, Francesco Matarazzo, tinha como máxima para seus negócios que saber comprar é ainda mais importante que vender. Essa regra demonstra quanto o estabelecimento de estratégias bem formuladas para a área de compras de uma empresa pode ser fundamental para seu crescimento. . Fonte: O maior do Brasil, um dos maiores do mundo. Revista Exame. 27 out. 2004. 8.2.2 Objetivos e Estratégias de Pesquisa e Desenvolvimento A área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) atua em duas frentes: de pro dutos/serviços e de processos. O primeiro refere-se aos esforços que, em última instância, levam a melhorias ou ino vações nos resultados da empresa. O segundo tem como objetivo reduzir os custos de operações e também torná-las mais eficientes. Quanto mais dinâmico for o ambiente, mais importantes se tornarão os esforços de P&D dos dois tipos. (Wright et al., 2000) As unidades de negócio que competem com a estratégia de nicho-custos baixos ou com a de custos baixos enfatizam P&D de processos no intuito de reduzir seus custos operacionais. As que utilizam a estratégia de nicho-diferenciação ou a de diferenciação dão máis importância a P&D de produtos/serviços. E as que adotam a estratégia de nicho-custos baixos/diferenciação, a de custos baixos-diferencia- ção ou estratégias múltiplas enfatizam ao mesmo tempo os dois tipos de P&D. As organizações com esses departamentos eficazes estão, em essência, re duzindo seus riscos e tornando-se mais competitivas. P&D de produtos/serviços Vincf n a onmnftitividade de mercado, enauanto a de orocessos, a competitividade 174 • Parte II - 0 Processo'Estratégico: Formulação / nos custos. Mas ambos enfocam, também, riscos de outro tipo. As inovações em processos, por exemplo, podem ser tecnologicamente sofisticadas demais para que possam ser implementadas com eficácia, ou podem não ser utilizadas. Já com relação às inovações em produtos/serviços, observa-se que, uma vez lança dos, novos produtos ou serviços podem encontrar pouca demanda de mercado. Assim sendo, as ações estratégicas do setor de pesquisa e desenvolvimento devem estar afinadas com a filosofia da empresa no que se refere à agressividade no mercado. A opção por desenvolver novos produtos deve levar em conta que essa opção é mais adequada para empresas com alta capacidade de financiamento, uma vez que envolve grande montante de recursos para o desenvolvimento de pro dutos, além de ser considerado de alto risco. Somente um em cada sete novos produtos criados é efetivamente lançado no mercado e cerca de 35% dos novos pro dutos lançados fracassam. Portanto, de um lado, há o risco elevado, mas, de outro, evidentemente, caso o novo produto consiga conquistar os consumidores, ele tam bém proporcionará elevados rendimentos para a empresa. Outra estratégia que pode ser desenvolvida nesse setor da empresa é a de imi tação, com ou sem melhoria. Nesse caso, o sçtor de pesquisa e desenvolvimento da empresa usa como estratégia a cópia dos produtos lançados pelos concorrentes e, se possível, desenvolve melhorias. Em alguns casos, pode, inclusive, propor cionar maiores rendimentos em relação à empresa que criou e lançou o produto. Essa estratégia foi, por anos, a preferida na indústria japonesa, que se destacou por copiar a tecnologia norte-americana e desenvolver melhorias para diminuir custos com produção e aumentar a qualidade, melhorando significativamente sua posição competitiva. Outra estratégia desse setor é a manutenção dos produtos já existentes e co mercializados, porém desenvolvendo novos processos de produção para se obter redução de custos e vantagem competitiva. Podem-se desenvolver os mesmos produtos com maior qualidade e criar um diferencial para os consumidores. Ainda, podem-se buscar formas de agregar valor ao produto, ampliando os ser viços e benefícios oferecidos, diferenciando-o em relação ao mercado. Por fim, vale enfatizar, como Peter Druçker (1970), “a importância tanto de P&D de processos quanto de P&D de produtos”. Ele insiste em dizer que as empresas japonesas “abandonam” seus novos produtos assim que eles chegam ao mercado. “Essa decisão de minimizar o ciclo de. vida de cada produto força os japoneses a desenvolver outro imediatamente para substituir os que estão atual mente no mercado”. (Wright et al., 2000) 5.2.3 Objetivos e Estratégias de Operações/Produção Embora a administração de produção/operações esteja mais frequentemente asso ciada a processos de produção, a administração de operações é crucial para todos os tipos de empresas. (Wright et al., 2000) Capitulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais *1 7 5 As decisões estratégicas das empresas, quando se trata de processo de pro dução, se relacionam ao planejamento da utilização da capacidade instalada, com os processos de manufatura e produção e com as necessidades de estoques. Outro fator estratégico importante a ser considerado é a estrutura e controle dos custos industriais. Cada um desses tópicos representa a possibilidade de se obter vanta gens mais competitivas no mercado. A utilização da capacidade instalada é fator estratégico essencial no ganho de produtividade da organização, quando os processos produtivos são elabora dos e estruturados -de forma planejada e adequada às necessidades da empresa e dos clientes. A produtividade, em última instância, é fator fundamental para a diminuição dos custos industriais e, em consequência, do preço praticado. As empresas que operam com ia utilização plena de sua capacidade podem diminuir desperdícios e repassar aos consumidores os produtos com maior qualidade e com menores preços. Outro fator a considerar é que o ganho de produtividade pode ser obtido com a utilização de modernas técnicas de produção, principal mente aquelas baseadas em modelos japoneses de manufatura, como o kanban, o kaizen e o just-in-íime, essenciais para o melhor desempenho das indústrias modernas. Essas técnicas, aliadas ao desenvolvimento tecnológico, que permite maior capacidade produtiva, fazém que as empresas consigam vantagens signifi cativas, melhorando a sua competitividade. A aliança com os fornecedores de matéria-prima também passou a ser con siderada fator estratégico da produção nas empresas modernas. Aquelas que conseguem sensibilizar seus parceiros comerciais sobre a importância de buscar insumos de maior qualidade, e com menor preço, obtêm vantagens significati vas para fabricar seus produtos com qualidade garantida - fator essencial para a sobrevivência no mercado com reduzido tempo de produçãò e entrega e, ainda, diminuição da necessidade de estoques de segurança. Em consequência, cai também a necessidade de recursos para o giro das operações, diminuindo outros fatores essenciais no processo de produção, que, ao final, são transfor mados em custos. , ' Vale salientar ainda que uma das principais considerações de qualquer es tratégia de administração de produção/operações é a qualidade dos produtos ou serviços. As empresas que já agregaram qualidade à própria produção, e podem abrir mão da inspeção sistematizada, são capazes de incrementar a produtivida de e também a lucratividade. (Wright et al., 2000) Esses fatores, como afirma Certo (1993), podem significar a diferença entre o fracasso e o sucesso de ações estratégicas voltadas ao desenvolvimento da empresa e à continuidade de crescimento e desenvolvimento da organização em mercados altamente competitivos. 176 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação 8.2.4 Objetivos e Estratégias Financeiras No ambiente de negócios de hoje, mutável e frequentemente desconcertan te, os sistemas formais de planejamento estratégico tornaram-se uma das principais ferramentas da alta gerência para avaliar e enfrentar as incerte zas. (Rappaport, 1998) Embora a dinâmica organizacional e a satisfação do processo de planejamento estratégico variem muito entre as empresas, o processo quase invariavelmente culmina na projeção de resultados financeiros, criando valor para os acionistas. De acordo com Rappaport (1998), a abordagem do planejamento estratégico com base no valor para o acionista envolve as seguintes etapas: —> a estimativa do menor tempo possível para o retorno operacional gerar aumento nas vendas e para criar valor para os acionistas; /• — a comparação das taxas mínimas aceitáveis de retorno; —í> a estimativa de contribuição (valor) para o acionista e de estratégias al ternativas tanto corporativa como para as unidades de negócio; a avaliação do plano corporativo; a autoavaliação financeira das unidades de negócios e em nível cor porativo. Segundo Certo (1993), os especialistas financeiros são responsáveis pela pre visão e pelo planejamento das finanças, pela avaliação de propostas de investi mento, pela garantia de acesso ao capital externo e pelo controle dos recursos de capital. Assim, as estratégias financeiras dizem respeito, essencialmente, às de cisões acerca das melhores formas de captação de recursos junto ao mercado, de como investir esses recursos para melhorar a organização, na obtenção de lucro suficiente para seu desenvolvimento e garantia de retorno do capital investido. A função de finanças, de acordo com Wright et al. (2000), abrange não só a administração do caixa, como também a utilização do crédito e das deci sões sobre os investimentos de capital. Uma empresa recorre a empréstimos de fundos quando as decisões estratégicas exigem dinheiro acima do que pode ser gerado por suas operações. As decisões de investimento de capital a longo prazo focalizam a alocação de recursos e, assim, ligam-se de forma óbvia às,estratégias no âmbito empresarial e no de negócio. As unidades de negócio competem estar utilizando a estratégia financeira de acordo com as estratégias da empresa. Se o foco está em nicho-custos baixos ou em custos baixos, o departamento busca estratégias com o intuito de reduzir seus custos nessa área. As empresas que adotam a estratégia de nicho-difefen- ciacão OU a de diferenciacão desenvolvem estratécrias finanr.eiras mie anniam a Capítulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais • 777 melhoria da qualidade. E as empresas que utilizam a estratégia de nicho-custos baixos/diferenciação, a de custos baixos-djferenciação ou estratégias múltiplas utilizam sua função financeira para, ao mesmo tempo, reduzir custos e promover a melhoria da qualidade. Na prática, a empresa pode utilizar-se de uma estratégia voltada para a gera ção de lucro pelos rendimentos obtidos via volume de vendas ou por intermédio de uma parcela maior de lucro por unidade comercializada. Pode ser definida, também, a estratégia da empresa quanto à concessão de créditos aos consumidores. Mas a grande contribuição em termos estratégicos que o setor financeiro das organizações pode prestar é no controle do resultado obtido pelas estratégias e atividades de todos os setores da empresa. O controle dos resultados acaba por evidenciar a estyutura de gestão praticada pela empresa em geral. Nesse aspecto, o setor financeiro desenvolve um papel estratégico como gerador de informa ções aos demais setores da empresa e como orientador de suas ações em busca de resultados. Com as empresas voltando-se muito mais ao atendimento das necessida des do mercado, o resultado financeiro não é o único objetivo a ser perseguido pela organização. Não se pode subestimar a importância de se atingir os resultados financei ros, mas também é fato que a sua influência é bem menor no momento de se d e - ' terminarem as estratégias da empresa. Nesse caso, o papel do setor financeiro de uma empresa deve ser alterado, voltando-se mais ao assessoramento no processo decisório. Também é estratégica a função de captação de recursos em busca de alguma vantagem em termos de diminuição dos seus encargos. 8.2.5 Objetivos e Estratégias de Marketing Quando a empresa está voltada ao mercado, ela busca vantagens competitivas para poder crescer e se perpetuar. A atenção, cada vez maior, às necessidades dos seus clientes, aponta para a importância que o departamento de marketing possui na relação empresa-cliente-mercado. Do departamento de marketing vem o fundamento das ações estratégicas de uma organização. Esse setor pode ser considerado o coração da organização e representa a linha que distingue o suces so e o fracasso das empresas. Antes de abordar as estratégias de marketing propriamente ditas, convém fazer uma consideração. De acordo com Kotler (1999), existe um alto grau de equí voco a respeito do que é o marketing e do que ele pode fazer por uma empresa. Há duas idéias muito frequentes, porém equivocadas, sobre o marketing, a saber: M arketing é vender. Essa visão de que marketing e vendas' são a mesma — ---- ------ ^ tanto nor narte do público em /* A T A ü. í: “ 1 Hi «ij & ■!P % * . y-- o ti - SÍ3 st f 3 r . ) í>í ■:,-‘i Pu ‘ •’ ;?3 = &: o «’> Li > •< ■ tà v . ; ■ 5 H « n> is2 :■■•. > ! ■'•■■ ! l : i , X 5 \ i « í> . / , S ' ? < M: ia fi O «í ft ov>.»r5 fí "i a'?S v 5 /.•,* o r*iV< W?i. -• . M S ’ft ti ' }f $ < 'hi * s l fi S i . ' . J ■a s- : m £ 8 »: f ? H P^OfilSMOk 178 • Parte I I - O Processo Estratégico: Formulação Ü u ad v o U Caso Lojas Arapuã A Arapuã foi eleita em 1997 a melhor empresa de varejo do ano. Nesse período, a empresa obteve um crescimento de quase 50% em seu fa turamento, chegando à casa dos R$ 2 bilhões e lucro liquido de R$ 114 milhões. Suas ações eram negociadas em bolsa de valores, no mês de junho de 1997, por cerca de R$ 37 o lote de mil ações. No entanto, a grande questão que envolvia essa rede era que, operacionalmente, a empresa não tinha grandes resultados, sendo seu rendimento fruto de receitas financeiras, obtidas nas compras a prazo de seus clientes. A estratégia financeira era lógica, captar recursos a uma determinada taxa de juros e repassar ao mercado, via venda parcelada de produtos, a uma taxa maior. Essa condição, porém, deixou-a com elevado grau de risco financeiro e o pior aconteceu. As taxas de cap tação aumentaram e o nível de inadimplência explodiu. No mesmo ano em que foi eleita a melhor empresa de varejo veio a crise, que mais tarde tornou-se insustentável e acabou com uma marca tradicional desse setor. Por sinal, no final do ano de 1997, a empresa tinha suas ações ofertadas na bolsa de valores, sem que ninguém demonstrasse interesse em comprá-las, a cerca de R$ 1,30. Azar do mercado e daqueles que apostaram suas econo: mias na empresa. - . ■ Fonte: Revista Exame, "Maiores e Melhores", 1997. geral, como também de muitos profissionais da área administrativa. No entanto, o marketing abrange muito mais do que vendas. A tarefa de marketing é descobrir as necessidades não atendidas e fornecer soluções satisfatórias para essas necessidades. -*> Marketing é, acima de tudo, um departamento. Essa visão é limitada e considera o marketing, em essência, apenas um dos departamentos da empresa. Se as atividades e o trabalho de marketing se localizassem apenas nesse departamento, a empresa acabaria muito mal. Conforme Kotler (1999), David Packard, cofundadpr da Hewlett-Packard, afirmou com muita sabedoria: “o marketing é importante demais para ficar por conta apenas do departamento de marketing”. Afinal, vários contratem pos podem acontecer quando todos os departamentos não se dedicam a satisfazer o cliente. As empresas avançadas buscam fazer que todos os seus departamentos sejam orientados para o cliente, ou mesmo que funcionem em função deles. Portanto, em mercados altamente competitivos, todos os departamentos têm de se concentrar na conquista da preferência do cliente. Com relação às estratégias de marketing, pode-se dizer que não existe um caminho certo para o enriquecimento. Como afirma Kotler (1999), “em vez de se fiar em um único grande fator de diferenciação ou em uma única investida, uma empresa precisa tècer uma tapeçaria singular de qualidades e atividades de marketing”. Capítulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais • 179 -------------------------------- ---------------------------------------------------------------------- : . — - . - Se uma empresa desempenha as mesmas atividades que seus concorrentes, simplesmente um pouco melhor, ela não tem, de fato, uma estratégia, apenas é mais eficaz em termos operacionais. No entanto, ser operacionalmente excelente não é o mesmo que ter uma estratégia robusta: uma empresa tem uma estratégia robusta quando tem pontos fortes que a diferenciam da estratégia dos concorren tes. (Porter, 1992; Kotler, 1999) Vê-se que é de suma importância a elaboração de um plano de marketing para a empresa e para cada uma das principais áreas de ação, implicando em seis tipos de planos: planos de marketing da marca; por categoria de produto; para novos produtos; por segmento de mercado; por mercado geográfico e por cliente. Em cada caso, são necessários, na verdade,, dois planos: um estratégico de longo prazo e outro anual. Todos esses planos têm de ser sincronizados e dçpen-, dentes uns dos outros. Portanto, são necessárias informações sobre os planos por produto e por área, antes de se recomendar as ofertas e estratégias mais adequa das para seus segmentos específicos. Vale observar ainda que, segundo Kotler (1999), todo plano de marketing deve ser simples e direto, devendo conter as seções descritas a seguir. Análise situacional. Inclui quatro componentes: uma descrição da situa ção atual do produto; uma análise SWOT, com uma lista das forças e , fraquezas, e outra lista com as principais oportunidades e ameaças da empresa; uma descrição dos principais problemas que a empresa enfren ta; e, por último, as principais previsões para o futuro. -*>> Objetivos e metas de marketing. Devem-se estabelecer os objetivos mais amplos a serem alcançados no período seguinte, tais como: aumentar a margem de lucro, aparticipação de mercado e a satisfação do cliente. Então, os objetivos devem ser convertidos em metas mensuráveis para que possam fornecer orientação e dados para controle. -*> Estratégia de marketing. A estratégia deve estar preparada para atin gir as metas da empresa, podendo ser descrita em seis linhas: mer- cadò-alvo, posicionamento central, posicionaménto de preço, proposta total do valor, estratégia de distribuição e estratégia de comunicação. —p Plano de ação de marketing. — Controle de marketing. De acordo com Oaj (1995), os especialistas em marketing se concentram na determinação dos mercados apropriados para as ofertas dos produtos e no de senvolvimento do mix de marketing efetivo, que inclui quatro elementos: preço, íis' r- AÍ TW: y n s. m í :3 íí .*i» ■■■ • i ? •' , fr.m !j> >.? A ?- i A í; o PIVW ÍiSSO lR C)*v: v?... •< 1 11íí [■. lli -!t f 1 n , i*j ;i g I? t: > o •; ; j ■ r s 3*5f ) j- !:) n fíl J ! í?3 í ? o-Oi tj < 'S k i?í P - ST.! U <:> > Ç | l ' lá l i« í? T !S 3n ■ «s ÍM o ■;. \;í «o 8 S« f i1 v ] ' * 5 „•• í ■«> K-; »..$Ks<V '•-, II.irs > ’-’:•} ’i.f - £■ ■ Eí í* ‘i .■» v í 'Tis ^ V.: r ; ,v-, • / . ? í v - j lâ f i ■ ll p : .ro 7S0 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação Assim, as ações estratégicas da função marketing podem ser relacionadas a esses quatro elementos básicos. Cada um desses elementos pode refletir uma ou mais ações estratégicas. Com relação ao preço, em um primeiro momento, pode-se até entender que a formulação de preço de uma empresa é função do departamento financeiro. Em tempos passados, essa concepção era verdadeira, mas, em função do alto grau de concorrência apresentado na maioria dos produtos e serviços disponibi lizados aos consumidores, a formulação de preços passou a constar como uma função de marketing. O preço, hoje, é determinado pelo mercado e aí repassado para os processos internos da organização, que terão de estudar a melhor forma de produzir um determinado bem ou serviço ao preço de mercado, com a quali dade exigida pelos consumidores e, ainda, gerar lucro suficiente para cobrir os investimentos futuros da empresa. O departamento de marketing é responsável por determiar qual o preço de mercado que vai satisfazer a todas as condições apresentadas ou apresentar uma estratégia capaz de agregar valor a um deter minado produto ou serviço que faça os consumidores ficarem dispostos a pagar mais por ele. Quanto ao elemento produto, cabe ao setor de marketing definir, estrategi camente, a condição de qualidade e utilidade dos produtos da organização, além de definir como os consumidores vão distinguir sua utilidade. Também é essen cial a determinação estratégica de quais serão os mercados a serem atingidos por uma determinada linha de produtos e quais são os segmentos de mercado que fazem parte do interesse da empresa. A definição de quais produtos deverão ser retirados do mercado e em que época, qual a aceitação dos consumidores por determinadas linhas ou, ainda, qual o grau de satisfação dos clientes em relação aos produtos da empresa e aos serviços prestados por ela são funções estratégicas do departamento de marke ting das organizações. O fator promoção envolve a estratégia de seu posicionamento no mercado, i além de estruturar a forma de divulgação dos produtos e da marca da empresa.' Dessa forma, faz parte das funções de marketing determinar desde a em balagem até como será a sua relação com o mercado e os canais de divulga ção. A comunicação eficiente com o consumidor pode ser fator fundamental para o desenvolvimento da empresa. Pelos canais de comunicação utilizados é que o público-alvo terá contato com a empresa. ' A estratégia de escolha dos melhores canais de distribuição dos produtos também é algo sentido diretamente pelos consumidores e.representa importante fator para posicionar a empresa em relação a seus concorrentes. A determina ção do ponto de venda vai validar a estratégia de crescimento de uma empresa. Capítulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais • 181 A expansão dos pontos de venda pode ser extremamente onerosa, mas funda mental para aqueles que possuem a perspectiva de crescer e atingir maior parcela do mercado, tanto em termos de expansão geográfica quanto de novos segmen tos de mercado. 8.2.6 Objetivos e Estratégias de Recursos Humanos As principais atividades na administração de recursos humanos são o planeja mento de necessidades futuras de recursos humanos, o recrutamento de funcio nários, a atribuição de cargos e compensações, as avaliações de desempenho, o desenvolvimento eficiente das qualidades pessoais necessárias e a melhoria do ambiente de trabalho. Conforme Wright et al. (2000), em termos gerais, o objetivo do RH é formar uma força de trabalho que possibilite à organização atingir seus objetivos. Além disso, essa função pode facilitar o desenvolvimento e a utilização das competên cias organizacionais. Segundo Oliveira (1991b), as estratégias funcionais de recursos humanos são de grande importância devido a sua abrangência na empresa. Os principais aspectos considerados na elaboração dessas suas estratégias são a capacitação de seus colaboradores e o desenvolvimento técnico e de habilidades gerenciais necessárias. Outro fator estratégico é a determinação de uma política de remune ração e benefícios aos funcionários. A gestão de pessoas tem um papel essencial na geração de competências da empresa. São as pessoas que, mediante seu trabalho, enriquecem o patrimô nio de conhecimentos e ferramentas da empresa; são elaS que enxergam novas oportunidades, desenvolvem novos processos, criam novos produtos para a pompanhia e entregam seus serviços. Pessoas motivadas e sintonizadas com os objetivos do negócio fazem a diferença para a execução bem sucedida das estratégias empresariais. É importante observar que organizações eficazes administram sua função de recursos humanos de modo a manter uma força de trabalho forte e competitiva. Esse objetivo exige que se dê atenção às necessida des dos funcionários e ao desenvolvimento de estratégias que fortaleçam o compromisso com a organização e com o desempenho no trabalho. (Wright et al., 2002) Portanto, a fim de atingir seus objetivos, uma organização deve não somente formular, mas também implementar efetivamente suas estratégias. Se uma dessas tarefas for mal realizada, é provável que o resultado seja uma falha na estraté- V)) v jÜ i . . >V. m iff ''•••- a/J»' * '■' !ÍV,<•/ {-’t o ^ k li fí *íi3« r 4 í ••» í.i - í ' * > ÍS 2 • Parte 11-0 Processo Estratégico: Formulação • u •, i nji50 lr.‘J U ~í j j i :?} iii Í ft! .?í'- ■ ív (.)• -íli' p:'} ■ Ihsr.vá C.V3 l' «3 •• -1,5': ‘5 i P « :::0 <> . <« 8 l, ■tj «■-,• >-■; .. | íIi5 ^ K Ki :< ■ssN ft i: ar>** ?.c t à - - 1 'li; J t í :'í 51 W: Si ríÍÍS ,... 5'-. - - • f t Q C B f' s>' íi <1 i :*5 'i'X kZ âvT i ! JíS: Kfi 8.2.7 Objetivos e Estratégias de Sistemas de Informações Um sistema de informações bem projetado pocle trazer benefícios para todas as áreas funcionais de uma unidade de negócio. Um sistema computadorizado de apoio a tomadas de decisões pode permitir que cada área funcional acesse as infor mações de que necessita e também que se comunique eletronicamente com outros departamentos funcionais, aumentando, assim, a coordenação interdepartamental. Esse tipo de sistema pode, ainda, cortar custos internos, e promover, ao mesmo tempo, a diferenciação e a qualidáde por meio de uma resposta mais rápida às necessidades do mercado. De fato, como afirmam Wright et al. (2000), algumas empresas devem seu ótimo desempenho a seus sistemas de informação. Porém, em virtude das rápidas mudanças na tecnologia de informações, algumas empresas estão, cada vez mais, terceirizando esses sistemas. Embora existam outras áreas funcionais - como as de marketing, recursos humanos ou administração de produção/operações - , que podem ser terceirizadas, a admi nistração de sistemas de informação é a mais comum, não apenas porque as empresas não conseguem se manter atualizadas com as frequentes mudanças tecnológicas nessa área, mas também porque assim podem reduzir seus custos. Portanto, seja operado na empresa ou terceirizado, um sistema de informa ções não é eficaz por sua natureza sofisticada, mas porque ajuda a empresa a implementar sua estratégia. Q m d v o U ' Inovação e Geração de Estratégias Deperidem de Pessoas O professor e consultor Vicente Falconi afirmou em entrevista para a revista Exame em 2003 que as empresas e o País poderão pagar um alto preço por não investir suficientemente na formação'das pessoas. O ambiente de negócios exige das empresas uma enorme capacidade de reinventar-se constantemente para se adequar às novas exigências dos clientes, da tecno logia e da voracidade dos concorrentes. O processo de inovação e empreendedorismo nas organizações é uma 'das formas pelas quais as empresas conseguirão manter-se no merca do, mesmo diante de todas as adversidades. A era do capital foi substituída pela era do co nhecimento e as pessoas passam a ter muito mais significância no sucesso das empresas do que se presumia há tempos. Em recente pesquisa divulgada, ficou mais evidente a relação direta entre os resultados financeiros das empresas e o ambiente saudável de trabalho. Os resultados das empresas que adotam boas práticas em relação à gestão de pessoas é cerca de 40% superior à média dos resultados obtidos por empresas que não têm as mesmas políticas finr/relação às boas práticas de recursos humanos. Fontes: Falta administrar o óbvio. Revista Exame. 11 jun. 2003. Otimize as pessoas. Revista Exame. 4 fev. 2004. Um pegócio bom para os dois. Reyista Exame. 15 jul. 2004. mor-TSSok / Capítulo 8 - Objetivos e Estratégias Funcionais • 183 ■$«3 R e s u m o • rs#-»,. / Este capítulo tratou da necessidade de se transformarem os objetivos e as estra tégias gerais em objetivos e estratégias por áreas de negócio ou áreas funcio nais. Detalhamos ideias e modelos de estratégia para várias áreas funcionais, verificando como esses objetivos e estratégias devem ser adaptados conforme o tipo estratégico da empresa. As áreas cobertas foram as de compras e materiais, pesquisa e desenvolvimento, operações/produção, finanças, marketing, recursos humanos e sistemas de informação. i' A r-.-: A t> O p m M im m . Integração Estratégica Uma vez que a empresa já despendeu tanta energia para analisar o ambiente, para fazer um autodiagnóstico e definir seus objetivos e estratégias, amplos e funcionais, seria uma pena que deixasse todo esse empenho morrer. E é precisamente isso o que pode aconte cer se ela não definir, juntamente com seus objetivos e suas estratégias, quais serão os mecanismos específicos para acompanhar o alcance dos objetivos. Quais são os padrões de desempenho/performance esperados? O que distinguirá um bom de um mau desempenho? Sem um sistema de ava liação de desempenho e controle de gestão, a organização caminhará às cegas. . Assim que a empresa tenha clareza com relação às suas estratégias, algumas questões devem ser colocadas na mesa: TOPICOS Avaliação e controle de desempenho. Modelos de avaliação de desempenho/performance. Orçamento como base de avalia ção de desempenho, Balanced scorecard. Análise financeira tradicional. Análise financeira dinâmica. Avaliação de ativos intangíveis. V ‘ : 5w , o =v- :s ' . £fs O -■£ í «V.r- i'Vi \i ; ii f: ÚH % f-m Vi % : i —^ quais atividades devem ser desenvolvidas para atingir os objeti vos propostos? qual o cronograma dessas atividades? como monitorar e controlar o progresso dessas atividades? Este capítulo trata dessas, questões. Entretanto, a palavra escolhida para dar nome ao capítulo é “integração”, não “controle” ou mesmo “avalia ção de performance”. A razão dessa escolha é que um sistema de avaliação de performance não se presta somente para o controle. Se bem utilizado, é uma forma valiosa para integrar e conciliar os objetivos com as diversas áreas organizacionais; para comunicar de forma integrada quais são as orioridades a serem buscadas: Dara sinalizar nne tino de mmnnrtamentn 185 186 • Parte IIV O Processo Estratégico: Formulação . Figura 9.1 ANÁLISE DO AMBIENTE Macroambiente Setorial Econômico Modelo de Porter Social Atratividade Político Ciclo de vida Tecnológico Concorrência / Negócio \ Ameaças e oportunidades Ambiente x Organização i Pontos fortes' I Pontos fracos ANÁLISE DA ORGANIZAÇAO Cadeia de valor •Estratégias genéricas Competências Pontos fortes Pontos fracos Objetivos gerais Missão e Visão Marketing 1 N Produção/ T operaçoes E í -Recursos R humanos A Ç Finanças / à 0 I M P L E M E N T A Ç Ã 0 A P R E N D I Z A G E M Análise Formulação Implantação é esperado dás pessoas; para a organização receber feedback de suas ações e aprimorar sua eficácia. Assim, os tópicos que este capítulo trata são: a elaboração de orçamentos, como a maneira mais elementar de buscar a integração das diversas áreas de objetivo; -*i> a ideia (mais ampla) de mensuração da performance, com os modelos de avaliação de desempenho; e —£ um sistema específico para mensuração da performance, o balanced scorecard. Por fim, uma palavra de esclarecimento: este capítulo considera equiva lentes as expressões desempenho e performance, e ambas, salvo menção em contrário, referem-se ao plano organizacional. 9.Í M o delo s d e A valiação d e P er fo r m a n c e e C o n t r o l e d e G estão O arande questionamento feito no momento da definição dos processos e pa- ' — »’noi i Ita rir* p> &y/S5 :: StíCM Capítulo 9 - Integração Estratégica • 187 esperado. Responder o que se espera da empresa tem a ver com seus objetivos, mas essencialmente tem a ver com a correta determinação do que é estratégico para a empresa. Uma organização pode controlar uma série de indicadores, que podem ir do simples número de acesso às instalações da empresa até o valor gerado para a remuneração dos acionistas da empresa. Resta a ela definir, com clareza, o que é mais importante em termos de resultado desejado para montar um sistema de controle de desempenho adequado aos objetivos. O que se devé controlar é a questão, a mais importante no momento, de se definirem os padrões de controle de uma organização. Normalmente, a empresa adota sistemas de controle e medição de desempenho que pouco se relacionam com sua postura estratégica ou que não indicam se as ações propostas no plane jamento estratégico estão se desenvolvendo a contento. Segundo Wright et al. (2000), o controle estratégico consiste em determi nar em que medida as estratégias da organização são eficazes para atingir seus objetivos. Mas as organizações se debatem na criação de sistemas de controle pouco flexíveis e pouco àtrelados às concepções estratégicas. Adotam-se sistemas padronizados de controle, voltados essencialmente para os processos internos, e não sistemas dinâmicos, que possam efetivamente avaliar a eficácia das ações empreendidas pela empresa. . \ Normalmente, os sistemas de controle e geração de informações estão re lacionados ao ponto final do processo de gestão. Wright et al. (2000) afirmam que “o controle é discutido com mais frequência no contexto dos orçamentos [...] sendo que a ênfase recai sobre as operações internas, e a ação corretiva é geralmente posta em prática depois que o período de elaboração do orçamento estiver acabado”. Interessa controlar o orçamento, os resultados financeiros e até a partici pação de mercado, mas raramente os sistemas de controle são desenvolvidos para avaliar o desempenho da organização quanto ao seu posicionamento es tratégico ou, ainda, quanto à geração de ativos intangíveis da empresa. Pode-se até imaginar que as organizações se preocupam em controlar sua sobrevivência financeira, mas preocupam-se em relação ao curto e médio prazos e em menor grau, sobre seu desempenho econômico, do que ao relacionado à perpetuidade da organização. O processo de controle estratégico deve estar entrelaçado ao desenvolvi mento claro dos padrões ou indicadores de controle. Controlar a execução do que foi planejado - os resultados dessas ações estratégicas, as decisões e, fundamen talmente, o diagnóstico - é um dos desafios dos sistemas de controle de gestão. Se, para formular estratégias, são necessárias informações sistemáti cas sobre o ambiente, os mercados, os clientes e não clientes, a tecnologia do setor e, muitas vezes, sobre a economia e as finanças mundiais, fica eviden te que os sistemas de avaliação e controle estratégicos também devem refletir essas condições. ' ' 188 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação Os modelos geralmente utilizados de avaliação e controle de desempenho empresarial são apresentados de forma estática, como se a dinâmica dos negócios ou dos processos de gestão pudessem, efetivamente, ser divididos conforme mo delos lineares e simetricamente intercalados e implementados. A realidade e o cotidiano empresaria] não permitem que a dinâmica seja subjugada, uma vez que a implantação das estratégias ocorre quase instantaneamente após o desenvolvi mento das ações. Por sua vez, a avaliação e o controle dos resultados esperados devem seguir os mesmos passos e a mesma velocidade de reaçao da organização à implantação das ações. Da mesma forma que a empresa não pode ter sua dinâmica de funcionamen to “cortada” em determinado tempo para a análise dos resultados, os modelos de avaliação e controle de desempenho não podem ficar restritos a indicadores tjadicionais de desempenho, como liquidez, endividamento e rentabilidade, ba seados exclusivamente nas informações contidas em balanços patrimoniais, que tendem a ser muito limitados. Primeiro, porque esses indicadores não demons tram os resultados da empresa conforme sua dinâmica de funcionamento; se gundo, porque esses indicadores não apresentam a inter-relação entre os diversos segmentos da empresa e nem desses com ó ambiente. Pode-se dizer que os modelos tradicionais dé avaliação e controle do de sempenho empresarial mostram o processo de entropia organizacional, más não demonstram diretamente como fatores externos e intangíveis influenciam os re sultados da empresa. Uma das maiores barreiras para o sucesso da implantação de melhoria do desempenho organizacional nas empresas brasileiras é a falta de sistemas de medição do desempenho adequados a essas estratégias. A dificuldade cultural de mudar as práticas de medição existentes, para incluir dados de dimensões qualitativas, constitui um dos principais 'entraves à adoção desses sistemas de forma mais coerente. Faltam também metodologias adequadas para a medição de informações puramente qualitativas, que possam ser utilizadas pelos vários stakeholders. Para Martins, a resposta para a questão da informação prestada para vários usuários parece estar posicionada entre os seguintes extremos: 1. elaborar vários ponjuntos de relatórios para atender aos usuários que exigem e têm poder para conseguir as informações que desejam; ou 2. elaborar um relatório com grande variedade de informações, capaz de atender às necessidades de quase todos os interessados. Existem inúmeras formas de avaliar uma empresa, mas é preciso considerar o propósito dessa avaliação e as características diferenciadas de cada empresa. Essas técnicas podem ser classificadas em: técnicas comparativas de mercado; técnicas que têm como base ativos e passivos contábeis ajustados; e técnicas Capítulo 9 - Integração Estratégica • 189 baseadas no desconto de fluxos futuros, normalmente o fluxo de caixa. Dentro dessas categorias, existem as subdivisões em vários modelos.. Para a empresa que vai utilizá-los, o maior problema é escolher qual o modelo mais apropriado. Por exemplo, os modelos que têm como base o mercado devem buscar conferir o valor da empresa a partir da comparação com outras empresas que trabalham no mesmo ramo. Isso significa possuir uma gama considerável de informações de seus concorrentes, o que não é uma tarefa muito fácil. O modelo que tem como base os ativos e passivos contábeis e atribui o valor da empresa baseando-se na conversão para o valor de mercado de alguns itens que fazem parte das demonstrações contábeis sofre da defasagem inicial da pondera ção do custo de oportunidade, além de não atribuir valor à capacidade de geração de recursos da empresa. Os modelos que descontam os fluxos futuros de benefícios têm comci base que o valor da empresa deve ser feito a partir da sua potencialidade de geração de riqueza. Diante desse quadro, interessam, especialmente, as decisões tomadas com base em fatos e dados concretos e objetivos. A rede que contém essas informa ções será chamada sistema de medição. Com os seus dados, a organização terá Critérios mais realistas para corrigir erros e continuar a investir na melhoria con tínua. Será capaz ainda de verificar se todos os objetivos estão alinhados com as metas gerais da organização, criando sinergia. Ela poderá conhecer os desejos de seus clientes antecipadamente e trabalhar para satisfazê-los e superá-los. Enfim, a prática da medição é uma poderosa arma para a organização do futuro, pois significa monitorar a informação. Cabe ressaltar que existe uma tendência mundial de dar crescente impor tância à questão da medição de desempenho, utilizando grupos de ferramentas denominadas indicadores. Esses indicadores podem ser definidos como funções que permitem obter informações sobre as medidas relacionadas a um produto, um processo, um sistema ou a uma grandeza ao longo de um tempo determinado. Segundo Macedo-Soares e Ratton (1999), o conceito de sistema de medição de desempenho é o conjunto de pessoas, processos, métodos e ferramentas que, conjunta mente, geram, analisam, expõem, descrevem, avaliam e revisam dados e informações sobre as múltiplas dimensões do desempenho nos níveis individual, grupai, operacional e geral da organização, em seus diversos elementos constituintes. ' Sendo assim, o desenvolvimento de um sistema de medição, de forma consis tente com os objetivos estratégicos,.deverá contribuir de maneira decisiva para a efetiva implementação e consolidação de estratégias de melhoria do desempfenho 190 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação -V organizacional, impulsionando as necessárias mudanças, inclusive, promovendo uma mudança crítica da cultura organizacional, quando for o caso. No entanto, para ser realmente eficaz, o sistema de medição deve ter alguns atributos, cabendo destacar: o alinhamento, ou seja, o grau no qual as medi das empregadas pelos diversos indivíduos e grupos focam objetivos dispostos linearmente com os objetivos gerais da' organização; a visibilidade do sistema em todos os níveis e para todos os interessados; o balanceamento dos critérios de medição; a adaptabilidade do sistema às necessárias mudanças nos obje tivos de medição; e a abrangência do sistema. (Macedo-Soares e Ratton, 1999) Enfim, vale ressaltar que o Brasil não figura como criador de tecnologias de gestão no quadro geral da globalização. Com isso, é possível entender por que as organizações multinacionais costumam transferir as decisões de planejamen to estratégico e medição do desempenho para as matrizes no exterior. Essas or ganizações utilizam modelos desenvolvidos academicamente e, posteriormente, implementados nas empresas, como o balancedscorecard, ou criam modelos pró prios, adequados às suas necessidades. Assim, as empresas nacionais buscam esses mesmos modelos no exterior, tornando os efeitos semelhantes para ambas. Porém, tanto o balanced scorecard como os demais modelos existentes pos suem suas limitações, reconhecidas pelos próprios autores. Logo, as adaptações devem ser feitas localmente, com axonjugação de vários modelos ou o desenvol vimento de soluções próprias. De acordo com Macedo-Soares e Ratton (1999), um novo sistema de medi ção deve ser espelhado em um modelo como o balanced scorecard. Deve possuir metodologias associadas para não somente identificar e medir, de forma relati- i vãmente fácil, indicadores, em todos os níveis, mas também agregar, no nível macro, em algumas medidas-chave de desempenho geral, os resultados dessas medições. E, além desses requisitos, deve possuir ainda mecanismos de previsão e ferramentas para lidar com os problemas de motivação e aceitação do novo sistema, adaptados às contingências do setor e do País. 9 J .I Orçamento Uma das maneiras mais tradicionais da organização de buscar a integração de seus objetivos e, ao mesmo tempo, controlar seu alcance, é consolidá-lo sob a forma de um orçamento. O orçamento é peça importante, porém operacional, no planejamento estratégico da empresa. O orçamento procura traduzir em valo res tudo aquilo que a empresa pretende colocar em prática em um determinado período. O orçamento nada mais é do que, a partir da previsão das vendas da empre- ■ * a, mflntos í\ realizar. O P R O F E S S O R Capítulo 9 - Integração Estratégica • 191 ■ processo mais valioso não está na élaboração do orçamento, mas na construção dos objetivos estratégicos da empresa, traduzindo-os em volume de fendas. O volume de vendas e a consequente obtenção de receitas é reflexo de uma estratégia adotada pela empresa e não simplesmente de uma previsão baseada em séries de vendas passadas. Se a empresa adota uma postura genérica de cres cimento por meio da liderança de custos, o volume de vendas deve ser alto o suficiente para gerar, a preços inferiores, lucro condizente com a remuneração mínima exigida pelos sócios da empresa. Se, por sua vez, a empresa adota como fundamento estratégico crescer em determinada área ou segmento de mercado, o orçamento deve demonstrar os resultados possíveis de serem obtidos com a pos tura estratégica e os objetivos estabelecidos. Porém, via de regra, o orçamento não deve ser utilizado como parâmetro de avaliação de performance. Sua utilização restringe-se ao controle do que se obtém de receitas e do que se gasta na empresa. Uma vez aprovado o orçamento, a empresa deve procurar seguir à risca aquilo que ali foi determinado. Isso não pode ser encarado, de forma alguma, como algo negativo na empresa, afinal de contas, o controle é uma das principais funções administrativas. Mas, dizer que orçamento serve, de fato, como um modelo preciso e fundamental para a avalia ção da performance da empresa também não é possível. Como foi dito'anteriormente, o orçamento inicia-se a partir da previsão de vendas da empresa, que, após ser estimada, servirá de base para a construção dos demais itens do orçamento, conforme vemos na Figura 9.2. Figura 9.2 Estrutura Geral de Orçamento -Previsão de vendas ............. t..........................“... Previsão de produção ......... ;..*............................. Previsão de consumo de matéria-prima T Previsão de compra de matéria-prima T Duplicatas Previsão de MOD a pagar Estoque Balanço do período corrente r ----------------------- Previsão de CÍF ....... ..... f ................... .. Previsão de despesas operacionais ..... t ................ Projeção DRE ' Projeção balanço. Custo dos produtos fabricados Plano investimento Capital j*- Orçamento de caixa J Caixa ~f Duplicatas a receber Financiamento a curto prazo Fonte: Gitman,^004. 192 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação Com base no que foi estabelecido em termos de previsão de vendas, a em presa poderá planejar todas as demais necessidades da sua operação, desde o planejamento da produção até as compras de insumos necessários à produção. Ao final do processo orçamentário, a empresa tem condições de avaliar, de ante mão, os resultados que poderão ser alcançados se a empresa conseguir conquis tar o que foi planejado. Muitas empresas estabelecem o orçamento como a única fonte de acom panhamento de performance, principalmente no que diz respeito aos resultados financeiros obtidos em determinado período. Mas o próprio esquema de elabo ração do processo orçamentário deixa claro que no orçamento não são apresen tados os graus de satisfação de clientes, por exemplo. Assim, conclui-se que o orçamento servp somente para avaliar a performance de uma empresa em relação i aos seus aspectos financeiros. QwesIfoSJ Usar o Orçamento como Base para a Distribuição de Bônus pode ser Prejudicial à sua Empresa Em artigo publicado na revista Exame, o professor da Harvard Business School, Michael C. Jensen, apresentou alguns casos em que os execu tivos mentiam e trapaceavam, para forjar resultados positivos nas em presas em que eles eram dirigentes, para conseguir atingir suas metas orçamentárias e fazer jus ao bônus por resultado. Segundo o professor, a vinculaçãò de bônus'com -o cumprimento de metas orçamentárias faz com que a empresa entre-em processo de estagnação e os executivos adotem a prática de emprestar resultados do futuro da empresa para satisfazerem às suas necessidades do presente. A saída; segundo o professor, é a criação de um sistema de avaliação que envolva resultados financeiros e não firíanceirós, equilibrando os indicadores de crescimento de curto e longo prazos. Fonte: Orçamento não funciona. Vamos consertá-lo. Revista Exame/Harvard Business Review. 2004 9. / .2 Balanced Scorçcard (BSC) Basicamente, o balanced scorecard (BSC) é uma ferramenta que busca traduzir a visão dia empresa em um conjunto coerente de medidas de desempenho. Muitas empresas possuem declarações de missão inspiradoras, que fornecem energia e motivação aos funcionários. Mas a questão-chave é: mesmo entendendo a in tenção da missão, o que se deve fazer diariamente? É aí que se percebe o vazio existente entre a declaração de missão e as ações cotidianas dos funcionários. De acordo com Kaplan e Norton (1997), o BSC traduz a missão e a estraté gia em objetivos e medidas, organizadas segundo quatro perspectivas diferentes: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. T Tm m aior detalhamento dessas perspectivas será feito posteriormente. y Capítulo 9 - Integração Estratégica • 193 O BSC procura criar uma estrutura, uma linguagem para comunicar a missão e a estratégia, utilizando indicadores de desempenho para informar os funcionários sobre os vetores do sucesso'atual e futuro. Ao articularem os resul tados desejados pela empresa com os vetores desses resultados, os executivos es peram canalizar as energias, as habilidades e os conhecimentos específicos das pessoas na empresa como um todo, a fim de alcançar as metas de longo prazo. A) Balanced Scorecard como Sistema Gerencial A Figura 9.3 apresenta o escopo do balanced scorecard visto como sistema geren cial e trata dos processos críticos da gestão de empresas. Como se pode observar, o BSC procura desenvolver um senso comum no processo de gestão, definindo seus critérios em variáveis fundamentais para a perfeita harmonia entre os se tores e níveis decisórios da empresa e facilitar o processo de comunicação entre esses níveis, por meio do esclarecimento e tradução da visão e missão da empre sa, bem como da estratégia adotada. Figura 9.3 Processos Críticos de Gestão e o Balanced Scorecard Esclarecendo e traduzindo a visão e a estratégia Comunicando e estabelecendo vinculações BSC Feedback e aprendizado estratégico Planejamento e estabelecimento de metas ✓ Fonte: Kaplan e Norton. Vale observar que um dos fundamentos básicos do processo de planejamen to estratégico, segundo Vasconcelos e Machado (1982), é a gestão participativa, pela qual todos na empresa devem ter total clareza e opinião sobre as decisões tomadas, as metas estabelecidas e, consequentemente, que todos se sintam parte integrante da empresa, sabendo aonde a organização pretende chegar e quais são os princípios a serem seguidos. Por outro lado, por ser, segundo seus idealizadores, uma ferramenta de fácil leitura, possibilita a comunicação dos objetivos da empresa e garante que eles sejam entendidos, avaliados, controlados e, fundamentalmente, que todoS ela borem seus DlartOS e suas metas individuais ou de em iin es He enlaboraHnres He i ' A ■« ™ A P ” V M icm ssoR. 194 •'Parte H - 0 Processo Estratégico: Formulação Parceiros Voluntários A Parceiros Voluntários é uma ONG criada em 1997, no Rio Grande do Sul, que tem por objetivo incentivar o trabalho voluntário (de pessoas físicas/jurídicas e instituições de ensino) e, paralelamente, encaminhar esses voluntários de acordo com as necessidades da sociedade. A orga nização sempre buscou medir seu desempenho e acabou ,por adotar o balanced scorecard. Assim, a ONG teve condições de enfatizar sua missão e seus valores e, paralelamente, mensurar seus indicadores de performance e aprimorá-los. Seu desempenho acabou tor nando-a modelo dentro do terceiro setor. Fontes: ONG gaúcha exporta modelo dè voluntariado para vizinhos. Gazeta Mercantil. 29 dez. 2003. http://www.parceirosvoluntarios.org.br/ Http://www.symnetics.com.br/artigos/detalhe.asp?id=43 forma alinhada e coerente com os objetivos organizacionais. Isso possibilita o total comprometimento dos setores e colaboradores da empresa com os obje tivos traçados. Por consequência, o processo de aprendizado organizacional fica facilita do na medida em que o feedback constitui um forte instrumento de melhoria e passa a permear toda a estrutura da empresa, não havendo mais a necessida de de grandes aparatos organizacionais para proceder o controle dos proces sos. Mas o fundamental é que o BSC provoca na organização a necessidade de buscar o consenso dos objetivos e estratégias, a inovação como ação cotidiana, a cultura dq feedback e a educação dos componentes da empresa em busca de objetivos comuns. Dessa forma, o BSC pode ser uma ferramenta adequada para avaliar e con trolar a execução dos objetivos-traçados para a empresa, mas, primordialmente, é um instrumento para provocar mudança e tornar a empresa mais flexível e mais transparente. Apesar das evidentes vantagens dessa ferramenta no processo de gestão es tratégica das empresas, sua adoção requer um comprometimento da organização * em adotá-la como um sistema de gestão. Além do comprometimento das pessoas envolvidas com a organização, cabe também comentar que o consenso é algo praticamente impossível de se obter. O que se consegue, normalmente, é a aceita ção de alguns em detrimento da vontade dos demais componentes da empresa. B) Perspectivas do Balanced Scorecard O balanced scorecard é representado por quatro diferentes perspectivas, que representam as principais variáveis que, em equilíbrio, asseguram as condições iFfeOS ÎS S Ô R Capítulo 9 - Integraçao ^stratégi.ca • 195 Figura 9.4 Balanced Scorecard Perspectiva dos clientes Metas Indicadores Perspectiva financeira Metas I Indicadores I Balanced Perspectiva dos processos internos Scorecard t Metas j Indicadores Perspectiva de aprendizado e crescimento Metas f Indicadores Fonte: Kaplan e Norton. para os gestores nos processos de planejamento e controle das ações estratégi cas. As quatro perspectivas são apresentadas na Figura 9.4. Como se pode observar, o BSC trabalha com o estabelecimento de metas e com a construção de indicadores capazes de proporcionar aos gestores o acompanhamento das ações da empresa e dos resultados obtidos. É importante ressaltar que essa ferramenta do planejamento estratégico trabalha com o es tabelecimento dos objetivos e das metas, bem como com outras variáveis que possam ser controladas pela organização. Nesse caso, não há grandes novidades na utilização do BSC. O que de fato ocorre é que o BSC apresenta a simplifica ção do processo de estabelecimento de metas e seu controle e, essencialmente, a comunicação clàra e transparente dos objetivos estabelecidos e do equilíbrio entre os setores da empresa. Outro fato importante é que o BSC procura desenvolver metas e indicadores de desempenho atrelados à agregação de valor aos clientes da empresa, aos seus acionistas e ao desenvolvimento interno da organização. Isto é, tem-se uma mudan ça significativa nos critérios utilizados para análisar o plano e as ações estratégicas da empresa. Essa mudança poderá ser claramente observada com o detalhamento das perspectivas de análise. A adoção do BSC como ferramenta gerencial implica à empresa desenvolver uma série de indicadores para avaliar seu desempenho. Esses indicadores pro curam valorizar o princípio de agregação de valor e de autodesenvolvimento da organização, em busca de maior poder de competitividade de mercado. Os pró prios indicadores já representam desafios e inovações nos processos de gestão da corporação, auxiliando para melhorar o nível de aprendizagem da empresa. 196 • Parte II - O Processo Estratégico: FormulaÇão C) Perspectiva Financeira A primeira perspectiva de que trata o BSC corresponde aos aspectos financeiros da organização, principalmente no que diz respeito aos impactos das decisões estratégicas da empresa nos indicadores e metas estabelecidos nesse campo. Os principais indicadores e metas estabelecidos pela empresa no campo fi nanceiro dizem respeito ao crescimento é à composição do mix de receita, à rela ção de custos, à melhoria de produtividade e à administração dos riscos. Nota-se que os indicadores de desempenho são o somatório dos modelos tradicionais contábeis com outras variáveis de análise do desempenho da empresa, enfati zando a necessidade do gestor de possuir o maior leque possível de instrumentos para a tomada de decisão. Conforme Kaplan e Norton, quando se trata de indicadores sobre cresci mento e mix de receita, o mais importante é a avaliação do crescimento da receita em função de novos produtos ou novos clientes e mercados conquistados, sendo o principal a .capacidade estratégica de uma empresa, de quanto de receita ela é capaz dè gerar com novos produtos e clientes. Essa condição, aliada ao indicador de capacidade de manter o nível de faturamento com antigos clientes, demonstra os caminhos seguidos pela empresa em busca da obtenção de vantagens competi tivas, por meio do processo de inovação e autodesenvolvimento. Os indicadores que tratam dos aspectos relacionados aos custos e à melho ria de produtividade financeira devem buscar sair do lugar comum no controle financeiro e na produtividade. Em primeiro lugar, a empresa necessita desenvol ver indicadores que apresentem custos relacionados às atividades e aos processos da empresa e não exclusivamente voltados aos produtos ou serviços. Em segundo lugar, os indicadores devem representar a relação existente entre a geração de custos e o nível de produtividade da empresa, isto é, o pro blema não é a geração de custos, mas saber se esses custos estão gerando receita ou produtividade. D) Perspectiva dos Clientes Em relação à perspectiva dos clientes, o BSC apresenta alguns critérios comuns de avaliação das ações estratégicas e alguns mais específicos e inovadores, sempre norteados pelas características de equilíbrio entre os setores da empresa. Os indicadores mais utilizados na perspectiva dos clientes dizem respeito à participação de mercado, à satisfação de clientes e à intensidade que cada uni dade de negócios possui em termos de captação e retenção de clientes. Outro fator importante na construção do BSC é a criação de indicadores que meçam a lucratividade gerada por clientes ou segmentos de mercado. O conhecimento específico da lucratividade gerada por um cliente ou por 1 — 1~ "•»" líin n i' iim o íictrotfícriíi vo ltada nara pim m ;í :SSO(k: Capítulo 9 - Integração Estratégica • 197 melhorar sua posição competitiva ou, ainda, a opção de desinvestimento nesse segmento. Enfim, o mais importante na mensuração e no monitoramento desses indicadores é o fato de procurar o equilíbrio entre os setores da empresa, em busca de um denominador comum entre participação de mercado e lucratividade. E) Perspectiva dos Processos Internos Com relação à perspectiva dos processos internos da empresa, o modelo do BSC busca avaliar o grau de inovação nos processos ,de gestão que a empresa possui e o nível de qualidade das suas operações. Cabe à organização avaliar o grau de eficiência produtiva e dos serviços de entrega de produtos aos clientes bem como os serviços, de pós-vendas que são realizados pela empresa como serviço agregado ou, ainda, os processos que re fletem no gerenciamento da marca e na qualidade de produção. Os indicadores não correspondem aos processos normais de avaliação da capacidade produtiva da empresa ou dos procedimentos operacionais que a or ganização mantém. O nível de eficiência da empresa passa a ser determinado em função de atividades que realmente auxiliem no desenvolvimento de maior capacidade competitiva no mercado. F) Perspectiva de Aprendizado e Crescimento Funcional A quarta perspectiva corresponde à capacidade que a empresa possui de manter seu capital intelectual com elevado grau de motivação, satisfação interna e produtividade. Essa perspectiva é usada para avaliar o nível de criatividade e alinhamento estratégico dos colaboradores em busca de racionalização de pro cessos, de agregação de valor aos produtos, serviços e clientes da empresa. ' Essa perspectiva ganha maior importância uma vez que os recursos huma nos são verdadeiros representantes da capacidade de gerar novas: estratégias e novos produtos para a empresa. Em consequência, essa capacidade proporciona o aumento do poder de competitividade. A empresa estabelece metas e desen volve indicadores que medem o grau de satisfação dos funcionários, de desenvol vimento pessoal e de condições ideais de trabalho. O nível de retenção dos funcionários também é um fator importante para se medir, uma vez que os investimentos em recursos humanos são, normalmente, significativos, e uma organização eficiente não pode se dar ao luxo de perder seus valores. Além disso, a produtividade por funcionário, medida comum em outras empresas, também deve fazer parte dos indicadores. O BSC pode ser estendido dos níveis estratégicos para os diversos níveis corporativos, inclusive para as equipes operacionais de trabalho ou, até mesmo, , para os níveis individuais. Em uma situação como essa, é importante que a empresa meça o nível de alinhamento dos objetivos e das jnetas individuais com 198 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação os da organização, desenvolvendo indicadores capazes de identificar desvios de rota entre o que a empresa pensa estrategicamente e o grau de receptividade por parte dos mais baixos escalões da empresa. Esse sistema pode significar um grande avanço também no campo da co municação interna da empresa e no nível de qualidade dos sistemas de informa ção, sendo inegáveis seus benefícios para os processos decisórios. Também não devemos negar que a construção do BSC é sua perfeita im plementação têm um custo muito elevado para as empresas. E esse custo não se refere, exclusivamente, aos gastos financeiros ocasionados por essa ferramenta, mas (e talvez seja o custo mais elevado nesse processo) aos desgastes ocasiona dos à estrutura organizacional e cultural qüe a empresa deve adotar para poder tirar o melhor proveito possível. A implantação plena do BSC por qualquer empresa pressupõe adotar modelos de gestão descentralizada em vez de sistemas hierárquicos de gestão. Isto é, a empresa deve iniciar o desenvolvimento de um processo de gestão descentralizado e matricial ou por processos. Isso é fundamental para que se possa medir e controlar o efeito financeiro causado por uma deficiência em seu QumI k i S J Exemplos de Indicadores Usados no Balanced Scorecard Para cada dimensão do balanced scorecard, existem algumas sugestões de indicadores que podem ser utilizados. São eles: Perspectiva Financeira Crescimento e m ix de receita, novos produtos e serviços, novos clientes e mercados, novas relações de venda, nova estratégia de preços, relação custo/melhoria de produtividade, produtividade da receita e do funcionário, redução de custos e despesas operacionais, ciclo e giro de caixa, melhoria da utilização dos ativos, medidas da adminis tração de riscos, lucro por empregado, valor agregado por empregado, e.v.a, m.v.a (ver item 9.1.5), tesouraria e indicadores dinâmicos. Perspectiva de C lientes Participação de mercado, número de clientes, clientes por empregado, captação de clien tes, retenção de clientes, clientes perdidos, satisfação, lealdade, imagem da marca, lucro por cliente ou por segmento, custo do cliente ou do segmento. Perspectiva de Processos Internos Porcentual de vendas gerado por novos produtos, lançamento de novos produtos versus lançamento da concorrência, inovações no processo de gestão, tempo de desenvolvimento de novos produtos, entrega eficiente de produtos, serviço de pós-venda, operações inter nas, gerenciamento da marca, qualidade de produção. Perspectiva de Aprend izado e Crescim ento Satisfação dos funcionários, retenção dos funcionários, produtividade dos funcionários, reciclagem da força de trabalho, capacidade dos sistemas de informação, motivação, em pow erm ent e alinhamento, sugestões apresentadas e implementadas, medidas de alinha mentos individuais e organizacionais, medidas do desempenho de equipe. Fonte: Olve, 2001. Capítulo 9 - Integração Estratégica • 199 sistema de gestão do conhecimento ou de competências. Mais que isso, a empre sa deve estar muito convicta de que, se não possuir esses sistemas, poderá ver seu resultado financeiro despencar em determinados períodos. É essa mudança de mentalidade e de visão que, talvez, seja o maior dos empecilhos para a adoção do BSC como uma ferramenta efetiva de gestão. 9.1.3 Análise Financeira Tradicional Conforme Hoji (1999), “a técnica de análise por meio de índices consiste em rela cionar contas e grupos de contas para extrair conclusões sobre tendências e situa ção econômico-financeira da empresa”. Por mais que os indicadores tradicionais, de forma geral, representem efetivamente pouco na análise do desempenho da empresa, principalmente pelo fato de esses indicadores representarem, exclusi vamente, os ativos tangíveis da empresa e se referirem ao desempenho passado, não podem ser totalmente descartados no processo de análise de uma organiza ção. De fato, eles servirão sempre de referência, mas não podem ser usados com exclusividade. Os principais indicadores tradicionais são apresentados a seguir. r A) índices de Liquidez Os índices de liquidez medem a capacidade dá empresa de quitar suas dívidas com terceiros em determinado período. Esses indicadores de liquidez são: liqui dez corrente, liquidez geral, liquidez seca e capital circulante líquido. r B) índices de Rentabilidade Os indicadores de rentabilidade avaliam a capacidade da empresa de gerar re sultados. São alguns indicadores de rentabilidade: a margem bruta, a margem líquida e o retorno sobre o patrimônio líquido. w _ C) índices de Estrutura e Endividamento Os indicadores de estrutura e endividamento determinam a composição do ca- . pitai total da empresa, levando em consideração a participação de capitais de terceiros e, por conseguinte, calculam o grau de endividamento da empresa. Os principais indicadores de estrutura e endividamento são os seguintes: endivida mento geral, participação de capitais de terceiros, composição de endividamen to, imobilização do patrimônio líquido e imobilização dos recursos. D) Alavancagem A alavancagem estabelece a capacidade que a empresa possui de usar seus ativos fixos em busca de resultados para a empresa. A alavancagem pode ser operacio nal, financeira ou total (financeira mais operacional). IpfòMÉSÓlK ' . ' 200 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação Maiores e Melhores Empresas Anualmente a revista Exame e o jornal O Valor publicam um ranking com os nomes das melhores empresas do ano anterior. A classificação dessas empresas é feita.com base na análise de indicadores financeiros tradicionais. A revista Exame considera o faturamento, o lucro líquido, o valor total do patrimônio, a rentabilidade, o capital circulante líquido, a liquidez geral, o en dividamento geral e de longo prazo, a riqueza criada, o número de empregados e o EBITDA (earnings before interests and taxes ~ ganhos antes de juros e impostos, medida financeira utilizada por empresas para aferir seus resultados sem considerar políticas de depreciação e formas de financiamento). O jornal O Valor, por meio de sua revista Valor 1000, além dos itens considerados pela revista Exame, leva em conta a receita líquida, a margem líquida, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, o lucro operacional e financeiro, a liquidez cor rente, o grau de endividamento e o índice de crescimento sustentado. Fonte: Revista Exame Melhores e Maiores - www.exame.com.br Revista Valor 7 0 0 0 -www.valoronline.com.br E) Outros Indicadores Tradicionais São indicadores geralmente utilizados para medir o desempenho de empresas, entre os quais podemos citar: fator de insolvência de Kanitz e retorno sobre o ativo (sistema DuPont). 9 .1.4 Análise Financeira Dinâmica De acordo com Brasil e Brasil (1991), “a empresa é um organismo vivo, que gira em um ambiente em constante mudança. Cresce, desenvolve-se e aumenta seu valor patrimonial, criando, portanto, riqueza para o país e emprego para os cida dãos”. Logo, faz-se necessário acompanhar, permanentemente, a sua saúde eco- nômico-financeira, sendo importante ter um instrumental que permita conduzir a organização com relativa segurança ou, pelo menos, ter condições dè avaliar os riscos envolvidos para tomar, a tempo, as medidas corretivas necessárias. . No processo de análise, várias ferramentas são utilizadas para alcançar o objetivo almejado, tais como: os próprios mapas de análise, os índices, quocien tes e coeficientes, a análise de suficiência de capital de giro, o fluxo de fundos, entre outras. Porém, isso não significa que se devam usar todas as ferramentas sempre, ou seja, em todos os casos e momentos. É importante que se tenha um instrumental de análise adequado para o alcance de resultados satisfatórios. Esse instrumental pressupõe um enfoque dinâmico da contabilidade, com ênfase nos aspectos financeiros de liquidez, privilegiando-se, em função disso, mais as análises dos equilíbrios dos fluxos íp ' ' ■ . Pitòi i í.sOiK. . Capítulo 9 - Integração Estratégic^ • 201 monetários. Isso implica tornar a contabilidade funcional e dar a esta um enfo- * que sistêmico. (Brasil e Brasil, 1991) A) N ecessidade de Capital de Giro (NCG) Quando, no ciclo financeiro, as saídas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa, a operação da empresa cria uma necessidade de aplicação permanente de ! fundos que se evidencia no balanço por uma diferença positiva entre o valor das contas cíclicas do ativo e das contas cíclicas do passivo. De acordo com Fleuriet et al. (1980), essa aplicação permanente de fundos denomina-se necessidade de capital de giro e vai medir a defasagem de tempo e valor entre as operações que y v as contas representam, refletindo-se, portanto, na gestão da empresa. • ' , í ? :< i W ' 1 ) | B) Capital de Giro (CDG) ■i>y Segundo Fleuriet et al. (1980): O CDG apresenta-se razoavelmente estável ao longo do tempo. O CDG diminui quando a empresa realiza novos investimentos em bens do ativo permanente (aumento do ativo permanente). Esses investimentos são, em geral, realizados por meio de autofinanciamento,1 empréstimos de longo prazo e aumentos de capital (em dinheiro), que, por sua vez, aumentam o CDG (aumento do passivo permanente), compensando aproximadamente a diminuição provocada pelos novos investimentos. ST' k ; ; n n ' r.»; • ’ i v 1 "1 C3 lií-*. . * C) Saldo de Tesouraria De acordo com Brasil e Brasil (1991), “pelo método das diferenças, chega-se ao conceito de saldo de tesouraria. O saldo de tesouraria representa um valor resi- dual correspondente à diferença entre o CDG e a NCG”. Se o CDG for insuficiente para financiar a NCG (admitindo-se CDG ( ' > 0 e NCG > 0), o saldo de tesouraria será negativo, indicando ser a empresa O CDG possui o mesmo valor que o capital de giro líquido (CGL), definido, no sentido financeiro clássico, como a diferença entre o ativo e o passivo circu lantes. Somente seu cálculo é realizado de maneira diferènte. Segundo Fernandes (1994), o CGL representa o valor líquido dos ativos circulantes, uma vez que são deduzidas as dívidas de curto prazo. O CDG é um conceito econômico-financeiro e não uma definição legal, e constitui uma fonte de fundos permanente, utilizada para financiar a necessidade de capital de giro da empresa. > '■ï-' in !■; v ; - \ V * ‘ V, . ï s i ! ; v \ u ~ > iK « íV ' H > 'V.. 1 Refere-se aos fundos gerados pelas operações da empresa cujo valor pode ser calculado, aproximadamente,«dicio- nando-se as depreciações ao lucro líquido do período, após provisão para pagamento de IR. j:: A 7’ .•'» ^ P iiiO in iS S O R 202 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação financiadora de parte da NCG e/ou ativo permanente com fundos de curto prazo, aumentando, portanto, seu risco de insolvência. No entanto, se o saldo de tesouraria for positivò, a empresa disporá de fundos de curto prazo que poderão, por exemplo, ser aplicados em títulos de liquidez ime diata, aumentando, assim, a sua margem de segurança financeira. Vale observar que um saldo de tesouraria positivo e elevado não significa, necessariamente, uma condição desejável para as empresas; pelo contrário, pode significar que a empresa não esteja aproveitando as oportunidades de investimentos propiciadas por sua estrutura financeira, caso que o saldo de tesouraria “engorda” por falta de uma estratégia dinâmica de investimentos. É de suma importância o acompanhamento, pelas empresas, da evolução do saldo de tesouraria, a fim de evitar que este permaneça constantemente negativo e crescente. (Fleuriet et al., 1980) v \ / 9.1.5 Economic Value Added (EVA®) e Market Value Added (MVA®) O Economic Value Added (E VA®) e o Market Value Added (MVA®) são exemplos de indicadores de mensuração de valor. Em seu nível mais básico, o EVA®, uma sigla para valor econômico agregado, 4>é uma medida de desempenho empresa rial que difere da maioria das demais medidas ao incluir uma cobrança sobre o lucro pelo custo de todo o capital que uma empresa utiliza”. (Ehrbar, 1999) Para Martins (2001), o EVA® é compreendido como ‘“uma resposta à neces sidade de medidas de desempenho que expressem a adequada criação de riqueza por um empreendimento. Esse conceito foi desenvolvido durante a década de 1980 e amplamente divulgado pela obra de Stewart”. Além de representar uma medida de desempenho empresarial, o EVA® é visto como uma estrutura para um sistema completo de gerência financeira e remuneração variável. De acordo com Ehrbar (1999), “o valor de mercado não diz absolutamente nada sobre a criação de riqueza. Diz o valor de uma empresa, porém despreza aquele assunto vital de quanto capital a empresa investiu para alcançar tal valor”. Logo, a criação de riqueza é determinada não pelo valor de mercado de uma empresa, mas, sim, pela diferença entre o valor de mercado e o capital que inves tidores comprometeram naquela empresa. Martins (2001) comenta que o MVA®, por representar as expectativas do mercado sobre os resultados da empresa, está ligado ao futuro. Já o EVA®, mais voltado para a avalia ção de desempenho da gestão e comunicação dos resultados alcançados, relaciona-se com o passado. A h ri PROB-SSQ k - - . ■ ' ' - Capítulo 9 - Integração Estratégica • 203 Quadro Oxiteno No processo de reestruturação ocorrido em 2000, a Oxiteno (que atende a diversos segmentos de mercado, entre eles os de tintas e vernizes, alimentos, agroquímicos, detergentes, cosméticos, fios e filamentos de poliéster, fluidos para freios e petróleo), e que é uma das empresas do Grupo Ultra, decidiu implementar o balanced scorecard e o EVA® com o objetivo de ter ferramentas gerencjais que fornecessem um mapa dos indicadores da organização e possi bilitassem a divulgação dos objetivos e resultados esperados a todos da organização. Fontes: Os conselhos do pai do balanced scorecard. Revista Exame. 10 out. 2003. http://www.oxiteno.com.br/PO/index.htm http://www.symnetics.com.br/artigos/detalhe.asp?id=45 Entretanto, o MVA® sofre a influência, entre outros fatores, das comunica ções levadas ao mercado pela empresa, podendo ser o EVA® uma das medidas mais significativas., 9. / .6 Avaliação de Ativos Intangíveis Durante um processo de avaliação de performance de uma organização, faz-se necessário observar alguns pontos essenciais para a análise, os quais foram apre sentados sob a forma de check-list por Martins (2001). 1. Analisar a performance histórica: a) revisar as demonstrações contábeis dos últimos cinco anos; b) calcular a taxa de crescimento das vendas, dos lucros e do capital- -base, bem como a taxa de retorno do capital investido; c) analisar a saúde financeira da empresa; e d) desenvolver uma perspectiva histórica integrada. . ' I " 2. Projetar a performance: ; a) entender o posicionamento estratégico; b) identificar os componentes relevantes do fluxo de caixa livre; c) projetar individualmente cada componente; d)' determinar as premissas para projeções e os cenários; e) decidir a duração da projeção; 2 0 4 • Parte II - 0 Processo Estratégico: Formulação f) desenvolver cenários; g) projetar os fluxos de caixa livres; e h) conferir a adequação e a consistência dos resultados projetados. 3. Estimar o custo do capital: a) definir a estrutura de capital, as dívidas e quase dívidas e o capital próprio; b) estimar o custo do capital próprio e de terceiros; e c) usar modelos para determinar a taxa de risco e o prêmio de risco de mercado. < 4. Estimar a perpetuidade: a) escolher a técnica adequada; b) decidir o horizonte da projeção; c) estimar os parâmetros; e d) descontar a perpetuidade para a obtenção de seu valor presente. 5. Interpretar e testar os resultados em função do tipo de decisão: a) calcular e interpretar os resultados; e b) checar os resultados. Normalmente, a avaliação de uma empresa limita-se à análise de suas de monstrações contábeis, as quais, geralmente, não refletem seu valor econômico. Entende-se, nesse caso, como valor econômico, o valor que os diversos agentes do' mercado estariam dispostos a pagar pela empresa ou por uma ação dessa empresa. Nesse valor, considera-se o prêmio pago por ativos não declarados nos demonstrativos contábeis da empresa e valores de reavaliação patrimonial. O valor econômico diferencia-se do valor contábil exatamente por esse último se restringir a valorar a empresa com base no patrimônio constituído por seus de monstrativos contábeis. Existem alguns aspectos que dificultam a utilização das demonstrações contábeis para calcular o valor econômico aproximado de uma empresa. Essas dificuldades ocorrem pelo fato de que os relatórios contábeis, normalmente, têm como base os custos históricos, os quais são afastados do valor corrente. As contas que a empresa tem a receber constam como valor futuro, quando deveriam cons tar como valor presente. Existe uma subestimativa dos ativos e muitas operações relevantes que não são registradas, ou seja, os ativos e passivos não registrados IPROÈ1 S S O k Capítulo 9 - Integração Estratégica • 205 (off-balance sheet, como, por exemplo, goodwill, garantias etc.) são mais expres sivos que os divulgados (on-balance sheet). Pode-se dizer que as empresas deixam de evidenciar, em seus relatórios contábeis, itens importantes e que fazem parte da sua riqueza. Em virtude desse fato, Sveiby (1998) propôs um novo grupo de itens patrimoniais para serem incluídos nos relatórios contábeis, pois, segundo ele, na empresa, a contabi lidade concentra-se somente em dados referentes aos capitais físicos e monetá rios, deixando de lado um importante componente que gera grandes lucros: o capital intelectual. A Figura 9.5 serve de ilustração para evidenciar os conceitos de Sveiby (1998) sobre o balanço patrimonial visível e invisível. Figura 9.5 Balanço Patrimonial V isível e Invisível Circulante ATIVOS VISÍVEIS PASSIVOS VISÍVEIS Circulante Exigível a longo prazo Patrimônio líquido Realizável a longo prazo Permanente 1 Competência pessoal Estrutura externa Estrutura interna > Patrimônio líquido' invisível ATIVOS PASSIVOS INVISÍVEIS INVISÍVEIS Fonte: Martins, 2001. A partir dessa figura, pode-se verificar que o autor atribui aos sócios (patri mônio líquido) o capital intelectual (competência das pessoas, estrutura interna e externa) e que, para ele, esse valor constitui-se como a diferença entre o valor contábil tradicional e o efetivo valor econômico da empresa. Sendo assim, “o ca pital intelectual não registrado seria financiado por uma espécie de retenção de lucros pelos sócios, fato normalmente carente de transparência” (Martins, 2001). Por causa desse fato, pode-se observar que as demonstrações contábeis podem ser, geralmente, consideradas inadequadas para verificar o valor econômico de uma empresa. Se acreditarmos que o valor de uma empresa não está restrito aos seus ativos tangíveis, mas à soma do patrimônio físico da empresa ao seu patrimôni(5 não V ' ‘ ■fíS v> *'s* -ia ^' 'tr.. P} áj Kr i j n«» '- r i i j - &6 i r ? <« r? If e r i C s $ y ' í . í.í M > i.vj l i % - ‘ 5 (M «■: /r, I ;=i p> {■. s í p h ■ ' f t í V ... ,■ . , e* :.:3 i rrf m , ■■5-, ■• “ "r f^ ,5. -5 . ' > 1 ^ ü Si íS V.Üy: r«i >» vr> .. > ö S • , . . , :< v . 3 K s; ->■• «i n PkOlí í :ííSCiK 206 • Parte II - O Processo Estratégico: Formulação registrado contabilmente, como é o caso do capital humano, por exemplo, então teremos de admitir que avaliar o desempenho da empresa em função somente dos resultados financeiros obtidos é tão falho quanto perigoso, na medida em que a empresa pode obter resultados favoráveis no curto prazo e cair em desgraça no longo prazo. Assim, medir 0 desempenho de uma empresa deve ser uma tarefa já esta belecida no processo de planejamento estratégico e, de forma nenhuma, deve condicionar-se exclusivamente a medir os resultados financeiros, como se mos trou ao longo deste capítulo. O Quadro 9.6 apresenta sistemas de medição (ou de mensuração da perfor mance) possíveis para empresas na área de telecomunicações. Mensuração da Performance em Empresas de Telecomunicações 1) Como as performances das companhias de telecomunicações podem ser mensuradas e comparadas? , Uma primeira alternativa é medir o retorno e a rentabilidade, como va'ntagem de trabalhar diretamente com as medidas que determinam o valor da empresa. Teoricamente, o valor da empresa corresponde ao valor presente de seu futuro fluxo de caixa. Porém, muitas empresas ainda operam em prejuízo devido a grandes investimentos anteriormente realizados. Uma segunda alternativa é medir a performance do preço da ação. O problema dessa alternativa é que o preço da ação determina muito mais a expectativa dos investidores do que propriamente a performance da empresa. Uma terceira alternativa é captar medidas de performance que afetam diretamente os ganhos e a lucratividade: a) vendas - pode-se argumentar que, se as vendas estiverem crescendo, há perspecti va de se obter maior lucratividade no futuro. Isso, porém, pode significar uma tem porária falta de competição que, quando surgir, poderá prejudicar a lucratividade; b) capacidade da rede - podendo ser medida pela extensão da malha de fibra óptica, capacidade de rede, prédios conectados etc. Apresenta a desvantagem de ser en viesada para o lado do fornecedor, não considerando a demanda, a competição e a habilidade da empresa em trazer e manter os consumidores; c) habilidade em satisfazer o mercado - a Tabela 9.1, proposta pela Oftel (agência re guladora do governo inglês), apresenta um conjunto de fatores a serem medidos. Capítulo 9 - Integração Estratégica • 207 Tabela 9.1 Fatores para Medir a Performance em Telecomunicações INDICADOR Provimento de serviço Falhas reportadas por consumidores Reparos de falhas Tratamento de reclamações B illin g , 0 QUE É MEDIDO A habilidade da companhia em cumprir suas promessas de prover serviços. A confiabilidade da rede da empresa. A habilidade de reparar falhas dentro de um dado tempo. Quão prontamente as reclamações^ são tratadas. A percepção do consumidor da precisão da informação da conta. Fonte: Fransma, 2004. Tmto pára Dtaussão 9.1 Planejamento Estratégico, Controle Financeiro e Controle Estratégico Dé acordo com Goold (1998), existem três estiIos'bem-sucedidos de con dução de estratégia, denominados; planejamento estratégico, controle financeiro e controle estratégico. O segredo da escolha entre os três tipos - reside em definir o que melhor se adapta às circunstâncias e, depois,- . :- /f : > manter-se atento para os pontos fracos que sempre aparecem. ■ O planejamento estratégico caracterizá-se por estratégias mais arrojadas e decisões mais lentas. Esse estilo apresenta alguns pontos fortes, tais como: montar mecanismos de verificação e equilíbrio dentro dos processos que determinam a estratégia de cada unidade de negócio; encorajar estratégias perfeitamente integradas às várias unidades de negócio; estimular a criação de estratégias de negócio ambiciosas, sendo/esse o seu ponto mais forte. As empresas que usam esse estilo são mais eficazes em ajudar as unidades de negócios a lutar para ganhar uma vantagem sobre os concorrentes. As empresas, que praticam planejamento estratégico experimentam maior expansão em suas unidades de negócio existentes do que aquelas que praticam ,o controle estraté gico ou o controle financeiro, mostrando-se também capazes de fazer mais investimentos com prazos de pagamento mais dilatados. O planejamento estratégico é mais eficaz, portanto, em organizações que buscam uma estratégia ampla e integrada para o desenvolvimento das unidades de negócios, nas quais a atenção está focalizada sobre a vantagem competitiva a longo prazo. Porém, esse estilo de gerência apresenta algumas falhas. A maior delas é o problema da desmotívação, que, com. frequência, ataca os gerentes de linha cujas propostas de es tratégia foram rejeitadas ou alteradas. Com tantas pessoas envolvidas no planejamento, tentando deixar a sua marca, o processo pode-se tornar^pesado, frustrante e caro. 208 • Parte II - '0 Processo Estratégico: Formulação A perda da flexibilidade é outra fraqueza, pois o extenso processo de tomada de deci sões inibe a capacidade da empresa de reagir rapidamente a alterações no mercado ou nas condições ambientais. Logo, as empresas que empregam.esse estilo sustentam estratégias perdedoras por períodos excessivamente longos. O controle financeiro, segundo Goold (1998), caractériza-se por apreséntar melhorës controles financeiros e menos inovações, A responsabilidade pela estratégia recai*quase totalmente nos gerentes das.unidàdes de négócios. A sede da corporação, em vez de rever os planejamentos estratégicos, exerce sua influência pòr meio de úm controle orçamentá rio a curto prazo. . ,0 grande valor desse estilo é a motivação que criapara os gerentes melhorarem seus desempenhos financeiros imediatamente, hão os protegendo de pressões financeiras. 'Com isso, as empresas de controle financeiro têm, em média,, índices de lucratividade mais elevados. , Outros pontos fortes desse estilo são ménos óbviòs, tais como: dispõe-se de meios para forçar os gerentes a abandonar estratégias ineficientes^é eficiente na formação de executivos; e( por fim, é eficaz em corporações com carteira muito diversificada. • Um ponto fraco desse sistema é seu preconceito contra as estratégias e os investi mentos com grandes antecipa'çôes nos gastos e longas esperas por resultados. Outra des vantagem è a dificuldade apresentada por estratégias descentralizadas ha exploração de sinergias potenciais entre as unidades de'negócios. Frequentemente/essas unidades se concentram na exploração de nichos ou de setores de mercado e evitam estratégias inte gradas, abrangendo ampla área de negócios. Para finalizar, os rigorosos sistemas de controle limitam a flexibilidade das organizações nâ'àrea financeira. Ò controle estratégico é a mescla dos dois estilos, procurando aprovei tar as vantagens e, ao mesmo tempo, evitar os seus pontos fracos, caracterizando-se pelo maior equilíbrio e pela maior clareza. (Goold, 19-98) 0 sistema dé controle estratégico consegue acomodar tanto a necessidade de se cons- . truir uma empresa quanto a necessidade de se maximizar o desempenho financeiro. A responsabilidade pela estratégia pertence aos gerentes das empresas subsidiárias e aos gerentes das divisões.. As estratégias, entretanto, têm de ser aprovadas pela sede da corpo ração. Para se atingir esse objetivo, existe um processo elaborado de planejamento. Um dos benefícios desse estilo é que os gerentes das unidades de negócios ficam m o tivados em função da liberdade e da responsabilidade que recebem, e outra vantagem é que ele pode lidar com a diversidade. . • ' No entanto, vale ressaltar que a principal desvantagem do controle estratégico é que os Objetivos financeiros e estratégicos e as metas a longo e a curto prazo tornam a definição das responsabilidades menos exatas e criam ambiguidades. Essa ambiguidade se combina ■com a dificuldade de se estabelecerem metas estratégicas. As únicas medidas reais de desempenho passam a ser as financeiras. Portanto, observa-se, a existência de pelo menos três maneiras diferentes de se dividir a responsabilidade entre os executivos da corporação e os gerentes de únidades de ne gócios. Praticamente todos os executivos desejam uma forte liderança central, estratégias -coordenadas que contribuam com uma variedade de pontos de vista, análise cuidadosa das decisões, raciocínio voltado para'longo prazo e flexibilidade. Mas, ao mesmo tempo, '4k o n ssf 'm Capítulo 9 - Integração Estratégica • 209 também desejam autonomia para os perentes de unidades de negócios, definição clara de responsabilidades, liberdade para reagir de forma empreendedora às oportunidades que se apresentam, excelentes resultados a curto prazo e controles rígidos. Esses dois conjuntos de intenções são contraditórios, mas as corporações de sucesso fazem compensações entre essas opções ese fixam na combinação que melhor se adapta às empresas em carteira. 9.2 R e s u m o Este capítulo tratou dos mecanismos específicos para acompanhar o alcafice (ou não) dos objetivos, dos padrões de desempenho/performance, temas incluídos no sistema de avaliação de desempenho e controle de gestão. Principiou argumen tando sobre a necessidade da avaliação e do controle de performance. A seguir, tratou do orçamento como base de avaliação de performance. Depois, lidou com os modelos de avaliação de desempenho, apresentando o balanced scorecard, a análise financeira tradicional, a análise financeira dinâmica e a ideia de avalia ção de ativos intangíveis.