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Direito do Consumidor 1º semestre de 2013 28/02/2013 – Prof. Ana Maria Nusdeo (DEF) Surgimento do Direito do Consumidor – etapas históricas 1 – Capitalismo liberal Atomização (mercados específicos – muitos agentes) Produtos homogêneos Informações necessárias sobre os produtos Ausência de externalidades (não é uma característica relevante para o Direito do Consumidor) A demanda do consumidor define a atuação dos comerciantes – “o consumidor é rei” Várias mudanças (avanços tecnológicos, crescimento de comerciantes mais talentosos, falência de outros, etc) levam à passagem para o cenário 2 2 - Sociedade de produção em massa Concentração (começa a existir um desequilíbrio entre comerciante e consumidor, alguns agentes tem poder de influenciar preços, etc.) Diferenciação de produtos – as informações ficam mais complexas, assim como as condições de concorrência Assimetria de informações entre consumidor e fornecedor Nesse cenário que se justifica a proteção do consumidor. A economia é formada por dois grupos, sendo que um é mais vulnerável que o outro (vulnerabilidade não só do ponto de vista econômico, mas também quanto à posição contratual desvantajosa) Propaganda e direcionamento das necessidades/da demanda Movimento consumerista: todos os movimentos e esforços historicamente realizados em todas as áreas (jurídica, administrativa, política) no sentido de proteger o consumidor – nascem nos EUA 1ª linha: econômica – manutenção de mercado competitivo e melhores preços – se aproxima do controle concorrencial 1959 – Molony Committee (Inglaterra) 2ª linha: abrangente – preocupação com os riscos à saúde e à segurança (década de 1960) Ampliação da responsabilidade (civil e penal) do fornecedor Formação de uma burocracia especializada em direito do consumidor Ampliação do papel da Justiça (1ª e 2ª instâncias) 3 – Cenário contemporâneo (a partir dos anos 1990) Serviços Contratos relacionais (saúde, serviços educacionais, previdência privada...) O nosso CDC lida com relações de curta duração (típicas do cenário 2), seriam necessárias algumas regras próprias para tratar de relações continuadas Serviços privatizados mediante regulação (agências) Serviços públicos – modicidade de preços, qualidade, cortesia OCDE A CF traz a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica (art. 170) 07/03/2013 - continuação – Prof. Ana Maria Nusdeo (DEF) Conceito de consumidor: art. 2º, CDC Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Equiparações legais à figura do consumidor: Art. 2º, parágrafo único Art. 17 Art. 29 -> proteção coletiva Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. Limites da figura do consumidor: Pessoa jurídica como consumidora Idéia do “destinatário final” – aquele que coloca um fim na cadeia produtiva Há duas escolas: Subjetiva ou finalista: o uso de bens e serviços para o exercício de atividades econômicas descaracteriza o requisito de consumidor destinatário final – só o uso pessoal e familiar é considerado destinatário final Argumentos: circulação econômica não se esgota Empresa não é vulnerável Essa escola não é aplicada no direito brasileiro, já que o CDC expressamente prevê a hipótese de PJ ser consumidora Objetiva ou maximalista: independente de quem venha a ser o consumidor, seja pessoa física ou jurídica, os fornecedores devem seguir as normas de proteção ao consumidor “Destinatário final fático”: retirada do produto do mercado, sem transformação posterior, mesmo que seja para uso na sua atividade econômica. Ex: escritório de advocacia compra máquina de xerox. – tirar cópias não é sua atividade fim, mas é atividade meio, de apoio, para sua realização. Outra tentativa de resposta: José Reinaldo de Lima Lopes - necessidade de dois elementos não explicitados no CDC: Bens devem ser de consumo, não de capital Deve haver um desequilíbrio entre fornecedor e consumidor (não necessariamente econômico) Posição do STJ – chegou quase até o maximalismo (corrente do “finalismo aprofundado”) e retorna a um certo finalismo Interpretação finalista aprofundada – relativização do finalismo de forma a permitir uma análise subjetiva do consumidor e resolver “casos difíceis” Pequenas empresas: insumos para sua produção mas não na sua área de expertise (= atividade fim, incorporar o bem como matéria prima) – bem que não se incorporar diretamente ao processo de produção, transformação, beneficiamento, montagem ou revenda – caracterização de relação de consumo. Posição da 3ª Turma (até meados de 2004) Crítica: ênfase muito forte no destinatário final fático A hipossuficiência se caracteriza pela dependência do produto, natureza adesiva do contrato imposto, pelo monopólio da produção do bem ou sua qualidade insuperável Após 2004 – “destinação final fática e econômica” Incremento da atividade empresarial afasta CDC Como o bem ou serviço será empregado no desenvolvimento da atividade lucrativa, a circulação econômica não se encerra nas mãos da pessoa natural ou jurídica que o utilize Pacificação do entendimento – superados os precedentes da 3ª Turma Posição finalista, mas ainda incorporando PJ como consumidor – ex: empresa que compra marmita para o almoço de seus empregados ainda é consumidor Noção de fornecedor Art. 3º, CDC. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Produto – qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3º, §1º). Obs: produtos imateriais normalmente envolvem serviços. Serviço – qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, salvo as relações de caráter trabalhista. Obs: gratuidade – remuneração direta/indireta ESTUDAR PARA A PROVA: ADI 2591/DF (STF) – Votos Eros Grau e Carlos Velloso 14/03/2013 – Prof. Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer (DCO) Responsabilidade civil no CDC O CDC adota, de forma geral, a responsabilidade objetiva, fundamentada na vulnerabilidade do consumidor Também se adota a responsabilidade solidária – o consumidor pode não saber exatamente qual o problema e/ou de qual agente é a culpa O objetivo é levar as empresas a investirem em medidas de proteção Art. 11 a 20 Espécies de vícios (“falhas”) De qualidade por insegurança – pode causar danos físicos (é o tipo mais grave) De qualidade por inadequação – não funciona para o fim esperado (expectativa legítima). É possível se ter diversos graus de inadequação. De quantidade Parte da doutrina identifica como “defeitos” apenas os vícios de qualidade por insegurança. Há outros que tratam vício e defeito como sinônimos. Art. 8º a 17 – Proteção da integridade física do consumidor (saúde e segurança) Art. 18 a 25 – Proteção da integridade econômica do consumidor (patrimônio) Art. 6º, VI - dever de reparação ampla (independente do tipo de vício) – reparação integral dos danos materiais e morais Art. 8º e 9º - periculosidade inerente ao produto - o fornecedor deve prover informações quanto ao uso correto e adequado do produto. Periculosidade adquirida – defeito. A ausência de informação adequada é um vício também. Não é vedado vender produtos perigosos (ex: facas), desde que com as devidas informações. É vedado, contudo, vender um produto que a empresa já tinha conhecimento prévio de que tem um defeito. Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 21/03/2013 – continuação - Prof. Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer (DCO) Recall – obrigação do fornecedor, num momento posterior à colocação do produto no mercado, ao tomar conhecimento de vício que aumente a periculosidade, de avisar a autoridade competente (Secretaria de Defesa do Consumidor) e realizar campanhas publicitárias para convocar os consumidores para realizar os reparos necessários Obs: se o fornecedor tiver conhecimento prévio do problema, deverá receber multa, pois não deveria ter colocado o produto no mercado Regulamentação do recall: Portaria do MJ 789/2001 Art. 12 – responsabilidade pelo fato do produto (vício de qualidade por insegurança/defeito) Exceção quanto à responsabilidade solidária (especialmente no caso de comerciante, excluído da cadeia de responsabilidade) §1º - expectativa legítima Discussão quanto ao §1º, III – “época em que foi colocada em circulação” – aplica-se princípio da precaução? § 2º - o produto não é defeituoso só porque existe outro melhor no mercado Espécies de defeito: Concepção: projeto, design Fabricação – defeitos mais comuns Informação – ex: não informar a voltagem do aparelho elétrico Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Responsabilidade civil no fato do produto Responsáveis: Reais: fabricante, produtor e/ou construtor Presumido: importador Aparente: comerciante (apenas nas hipóteses do art. 13) Hipóteses em que o comerciante pode ser responsabilizado: impossibilidade de identificar fabricante, importador, etc.; má conservação de produtos alimentícios perecíveis Parágrafo único: direito de regresso (não só quanto ao comerciante; qualquer um dos agentes) – bem pacificado na doutrina Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. Excludentes de responsabilidade: Culpa exclusiva de terceiro Culpa exclusiva do consumidor Inexistência do defeito A empresa não colocou o produto no mercado (principal caso: contrafação; outro exemplo: furto de lote experimental) Não explícitos no CDC, mas reconhecidos por doutrina e jurisprudência: caso fortuito e força maior A jurisprudência admite também culpa concorrente Art. 14 – Responsabilidade civil por fato do serviço Responsável: fornecedor do serviço §4º - responsabilidade dos profissionais liberais depende de culpa – é uma exceção à regra de responsabilidade objetiva do CDC Na jurisprudência, o que mais aparece é o caso de serviços médicos – obrigação de meio e não de resultado (exceção para procedimentos puramente estéticos) Há bastante discussão quanto à aplicação ou não do CDC ao serviço advocatício Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. 04/04/2013 – continuação - Prof. Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer (DCO) Vícios do produto/serviço por inadequação Regime da reparação dos vícios de qualidade por inadequação (obs: embora haja um esforço em diferenciar os regimes de responsabilidade pelo fato do produto e pelos vícios de inadequação, prevalece a idéia da reparação integral, ou seja, o consumidor pode buscar as duas reparações) Conceito de vício de qualidade por inadequação: qualquer falha que torne o produto inadequado ou diminua seu valor Obs: é possível que o produto tenha vício de informação, informando que o preduto é/faz mais do que a realidade – nesse caso, também se caracteriza o vício por inadequação, se o produto é inadequado em relação ao que o comerciante divulga A obrigação primária do fornecedor é a REPARAÇÃO do produto (art. 18) O fornecedor tem 30 dias para sanar o vício (prazo contado após o fornecedor ser acionado pelo consumidor) Após esses 30 dias, o consumidor poderá escolher entre: Substituição por outro produto da mesma espécia, em perfeitas condições Restituição da quantia paga, atualizada, sem prejuízo de perdas e danos Abatimento proporcional do preço § 6º - conceito de impropriedade para o consumo Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Art. 19 – vícios de quantidade do produto Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. Art. 20 – vício de qualidade do serviço (vícios que o tornem impróprio ou diminuam o seu valor) Escolha do consumidor: Reexecução, sem custo e quando cabível Restituição da quantia paga Abatimento proporcional Obs: o CDC não trata expressamente de vícios de quantidade de serviço, mas eles podem existir Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Impossibilidade de exoneração contratual da responsabilidade do fornecedor Art. 1º - CDC é de ordem pública Art. 51 – “cláusulas abusivas” – inciso I permite uma possível limitação da responsabilidade quando o consumidor for pessoa jurídica (embora pela teoria finalista isso seja muito difícil de ocorrer) – de qualquer modo, a lei permitiria, no máximo, limitação da responsabilidade, não exoneração Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; Art. 26 – Decadência (período de “garantia”) – para vícios aparentes Se não houver definição contratual diversa, valem os seguintes prazos: 30 dias – produtos não duráveis e serviços 90 dias – produtos duráveis Vícios redibitórios: 90 dias a partir do conhecimento do vício Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Art. 27 – Prescrição – 5 anos Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Parágrafo único. (Vetado). Desconsideração da personalidade jurídica O CDC é bastante criticado pelos comercialistas neste ponto, pois abre demais o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. Tanto o CDC quanto a legislação ambiental ampliam bastante as hipóteses de desconsideração. Hipóteses clássicas, comercialistas: fraude e abuso. Art. 50, CC Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Hipóteses do CDC: art. 28 – abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da PJ provocados por má administração. Obs: a jurisprudência não costuma analisar muito essa questão da má administração, é praticamente presumido que a insuficiência de recursos decorre de má administração. Para o professor, seria uma boa defesa para o fornecedor comprovar que houve, por exemplo, força maior (crise econômica). Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. § 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 11/04/2013 – Prof. Silmara Juny de Abreu Chinellato (DCV) Princípio da boa fé objetiva: ampara todas as relações contratuais, incluindo as de consumo. Comportamento de lealdade, cooperação e colaboração. Difere da boa fé subjetiva, que não é aferível. Art. 4º, III, CDC Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; Direitos básicos do consumidor: art. 6º, CDC Princípio da vulnerabilidade do consumidor (não é hipossuficiência. Só alguns consumidores são hipossuficientes, mas todos são vulneráveis) A interpretação deve ser favorável a parte mais fraca (consumidor), mas não a qualquer custo O rol de práticas abusivas (art. 39) não é taxativo, nem o rol de cláusulas abusivas (art. 51) Art. 6º, V – desequilíbrio contratual decorrente de fatos supervenientes. Não se trata da teoria da imprevisibilidade, o fato não precisa ser imprevisível, mas deve haver um desequilíbrio contratual superveniente Art. 6º, VI – danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos – há inovação no reconhecimento de direitos coletivos e difusos. A competência para exigi-los segue a lei da Ação Civil Pública. A hipossuficiência não é sempre econômica, pode ser de informação. Ex: relação médico/paciente (ressaltando que o médico que é profissional liberal responde por culpa – o consumidor deve pedir a inversão do ônus da prova, cabendo ao médico provar que não há culpa) Há uma lei paulista de defesa dos usuários de serviços públicos Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Proteção contratual Não se refere apenas a contratos de adesão, a proteção é para todos os tipos de contrato (paritários ou de adesão) As cláusulas serão interpretadas da forma mais favorável ao consumidor 18/04/2013 – continuação - Prof. Silmara Juny de Abreu Chinellato (DCV) Prof. Convidado – Marco Antonio Zanellato (Procurador de Justiça) Para o professor, o Direito do Consumidor se encontraria muito mais na área do Direito Privado do que do Direito Público, mas é um direito transversal, envolve as duas áreas O CC/02 protege relações civis em que as partes encontram-se em situação de igualdade; já o CDC protege relações desequilibradas (o consumidor é mais fraco, não só economicamente, mas principalmente pela falta de informações) O dever de informar é da empresa – o consumidor pode até buscar informar-se, mas o dever de fornecer as informações é da empresa. Muitas vezes, inclusive, o consumidor sequer possui conhecimento técnico suficiente para saber quais informações deveria perguntar. Evolução do contrato: Modelo liberal ou clássico: autonomia da vontade, pacta sunt servanda, Estado não intervém Quando surge o contrato de adesão houve discussão se seria de fato um contrato – uma parte impõe sua vontade à outra Com o tempo, a aplicação do pacta sunt servanda é abrandada – no Brasil, isso ocorre principalmente a partir do CDC Cláusulas abusivas: são cláusulas gerais do contrato de adesão, não negociadas, que impliquem em prejuízo do consumidor No Brasil, ao contrário de outros países, não há uma lei específica que regule essas cláusulas gerais, o controle é feito com base no CDC Há dois tipos de controle: Controle de inclusão ou de incorporação: consumidor deve ter conhecimento prévio da inclusão das cláusulas; as cláusulas devem ser compreensíveis. (Requisitos de cognoscibilidade e compreensibilidade) Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Controle de conteúdo – abusividade Se a cláusula for abusiva, o consumidor poderá denunciar a empresa; o MP fará inquérito civil e, comprovada a abusividade, será tentada a celebração de um TAC para que a empresa deixe de aplicar/incluir a cláusula Art. 51 – lista exemplificativa de cláusulas abusivas (“lista negra” – ocorreu a hipótese, a cláusula é nula, não cabe ao juiz valorar, são cláusulas nulas de pleno direito) Em outros países, existe a “lista cinza”, cláusulas relativamente abusivas, que cabe ao juiz analisar Em matéria contratual, equidade é o equilíbrio entre prestação e contraprestação Art. 51, IV – critério geral e residual de controle – cláusula geral da boa fé objetiva, da equidade e desvantagem -> o juiz utiliza esse inciso quando a cláusula abusiva não se encaixar nas demais hipóteses do artigo, dá margem para a interpretação pelo juiz (obs: o juiz deve tomar cuidado ao utilizar esse inciso, é preciso ponderação) Art. 51, § 1º - critério para caracterização da desvantagem exagerada Consequências da nulidade de pleno direito: a nulidade pode ser declarada de ofício pelo juiz Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. § 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes. § 3° (Vetado). § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes. Meios de controle das cláusulas abusivas Controle judicial: projeção processual dos controles de inclusão e de conteúdo. É um controle concreto e repressivo, a nulidade é reconhecida apenas em relação àquele contrato discutido no processo individual em questão Controle judicial abstrato: controle a priori, antes da incorporação das condições gerais em contratos singulares O projeto do CDC previa que o MP deveria analisar e aprovar todas as condições gerais antes de elas serem oferecidas no mercado – esse dispositivo não foi aprovado no texto final No entanto, o MP ainda realiza um certo tipo de controle abstrato: quando o MP toma conhecimentos de uma cláusula abusiva nas condições gerais de um contrato (normalmente, através de reclamação de consumidores), há a instauração de um inquérito civil (de ofício ou por representação, dependendo do caso) para investigar. Há uma tentativa de negociar com a empresa para que deixe de aplicar a cláusula nos contratos já celebrados e para que retire a cláusula das condições gerais dos contratos futuros, podendo resultar no TAC. Caso não seja possível o TAC, o MP prosseguirá para mover uma ACP. Obs: O TAC deve ser muito bem feito ou poderá resultar num salvo conduto para que a empresa continue violando a lei. Por isso, os TACs estão sujeitos ao controle do Conselho Superior do MP. ACP na hipótese de cláusula abusiva – pedidos: Declaração de nulidade (art. 51, CDC) Não aplicação nos contratos celebrados (interesse coletivo) Não inserção nos contratos futuros (interesses difusos) Condenação genérica a indenizar os prejuízos (interesses individuais homogêneos)