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Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * História dos meios: jornal e rádio História da Comunicação (RP e PP) Profa. Dra. Ana Luiza Coiro Moraes * * * A empresa jornalística Após 1830, a transformação tecnológica exigiria da empresa jornalística a capacidade financeira de auto-sustentação com pesados pagamentos periódicos, separando a imprensa puramente política (doutrinária, ideológica) da imprensa como empreendimento capitalista. O impacto da mecanização oriunda dos avanços tecnológicos que surgiam na esteira da Revolução Industrial não atingia apenas a atividade especificamente fabril. * * * A sociedade sob o impacto da Revolução Industrial O funcionamento da sociedade foi afetado: no desenvolvimento de sistemas para intensificar a produção e comercialização em grande escala de objetos manufaturados; na proporção do ócio que os setores operários passaram a usufruir; no surgimento de um vasto mercado consumidor (e de estratégias para estimular o consumo), integrado pela maioria esmagadora da população, cujo apetite se voltaria aos mais variados artigos: objetos e artefatos, mas também produções culturais e artísticas. Além disso, houve alfabetização em massa no oitocentos europeu. * * * A empresa jornalística e o seu público Os jornais organizavam-se para atender à demanda desse mercado crescente. A partir de 1850, a indústria editorial, já dotada de recursos técnicos (de impressão e de fabricação de papel) e contando com verbas de publicidade, competia pelo público emergente da pequena burguesia que se formava nas cidades: operários, tecelãs, balconistas. Nesse contexto, surgiria o folhetim: longas narrativas publicadas em episódios semanais, no rodapé dos jornais vendidos a preços baixos e com grande tiragem. A receita do sucesso editorial estava pronta, faltando-lhe apenas uma pitada de fait divers... * * * A empresa jornalística e a busca por seu público: sensacionalismo (o fait divers) A pitada de fait divers foi acrescentada por Le Petit Journal, que funcionava por venda avulsa a um tostão. Conta Meyer (1996, p. 97) que em 1866 o jornal ganhou um suplemento dominical, com ilustrações em cores, unindo ao folhetim um noticiário romanceado de acontecimentos extraordinários (a “realidade com enredo”). Angrimani (1995, p. 22) cita o World, de Nova York, que publicava aos domingos uma história em quadrinhos, cujo protagonista era um menino desdentado, sorridente e orelhudo, vestido com uma camisola amarela, onde vinham escritas suas falas. Por isso, ele ficou conhecido como Yellow Kid. O personagem passou a simbolizar o sensacionalismo, daí o termo imprensa amarela (no Brasil, marrom). * * * Fait divers Muito identificado com o sensacionalismo, o fait divers é o principal, mas não o único “nutriente” do tipo de noticiário em tom espalhafatoso, de credibilidade discutível, que denuncia os abusos sofridos por pessoas comuns, por exemplo (tornando o repórter um cruzado a serviço do consumidor). * * * O rádio no jornal "postos receptores para pequenos e grandes comprimentos de ondas, que garantem a recepção do serviço de imprensa transmitida pelas principais rádios da Europa e da América". A publicação não inclui o receptor do Diário de Notícias, pois a imagem não chegou a horas. De notar que o aparelho ainda não tinha uma caixa, deixando ver as válvulas eletrônicas [um perigo], enquanto o alto-falante é exterior, embora o operador tenha auscultadores. Há ainda um conjunto de botões, o que significa a difícil sintonia dos receptores naquele tempo. http://industrias-culturais.blogspot.com.br/2005_10_01_archive.html Diz a legenda da revista TSF em Portugal (cerca de 1925) * * * Definição de rádio Podemos afirmar que o rádio, assim como o conhecemos atualmente, é um formidável instrumento de difusão de sons, veiculados por ondas eletromagnéticas emitidas de uma estação central para um número praticamente ilimitado de receptores. Contudo, esta é uma aplicação social da radiodifusão que não foi prevista pelos inventores do instrumento tecnológico rádio e que se desenvolveu no decorrer de decênios, a partir do século XIX, através de várias tentativas levadas a cabo sobretudo pelas indústrias de transmissores e de aparelhos receptores. * * * A Primeira Guerra Mundial [1914/1918] marca uma mudança decisiva no campo radiofônico: antes de mais nada, o conflito comporta um esforço produtivo imenso de aparelhagens receptoras-transmissoras sob encomenda bélica, bem como o controle direto da atividade radiotelefônica por parte das autoridades governamentais e militares. Nos Estados Unidos, a Marinha intervém diretamente junto às maiores indústrias de aparelhagens radiofônicas e de válvulas a fim de pôr fim à guerra das patentes, que impedia o desenvolvimento da radiofonia militar. Na realidade, a briga entre as corporations ameaçava entravar a máquina produtora. A sociedade britânica Marconi detinha os direitos sobre o diodo de Fleming e tinha conseguido o reconhecimento por parte da Corte distrital de Nova Iorque (1916) de que o áudion de Forest era um derivado aperfeiçoado da primeira invenção inglesa; ao mesmo tempo, não podia utilizar de maneira autônoma a invenção de Forest sem o consentimento da ATT, detentora dos direitos. A concorrência industrial cessou durante as operações bélicas, mas a guerra das patentes ressurgiu imediatamente após o conflito mundial. * * * A expansão comercial do rádio No pós-guerra, o problema das indústrias é resolver o excesso de capacidades produtivas causado pelas encomendas militares anteriores. Portanto, faz-se necessário criar um novo mercado e um modo novo e lucrativo de utilizar o rádio. É nesse período, então, que o rádio parte em busca de uma identidade própria. Os milhares de aparelhos receptores, que se difundem num ritmo inacreditável, constituem a base de um mercado muito interessante: em 1921 havia 50 mil radioamadores; em 1922 já eram 600 mil; em 1925 alcançam os 4 milhões e; finalmente, em 1927, os 6 milhões. * * * A utilização comercial do rádio Já antes da guerra, De Forest tinha utilizado as emissões radiofônicas pára fazer propaganda da venda de seus aparelhos. Em 1920, a estação KIDKA, da Westinghouse, transmite ao vivo a eleição presidencial de Harding, candidato republicano, antecipando os resultados que os jornais noticiariam no dia seguinte. Em 1921, para emoção e entusiasmo geral dos torcedores esportivos possuidores de aparelhos de rádio, a RCA transmite ao vivo a luta de boxe entre Dempsey e Carpentier. David Sarnoff, presidente da RCA e personagem-chave na história dos mass media nos Estados Unidos, já tinha intuído há muito tempo que o futuro do rádio estava na comunicação de massa. O que ainda não estava claro era como tornar realmente lucrativas as emissoras radiofônicas até então administradas com prejuízo por instituições educativas e culturais, por diletantes apaixonados ou, em menor escala, por indústrias e por lojas de aparelhagens radiofônicas interessadas em incrementar as vendas. * * * Publicidade Quem teve uma ótima ideia foi a ATT: resolveu alugar os estúdios e os transmissores a usuários que desejassem fazer publicidade de seus produtos. A primeira experiência foi realizada com sucesso pela estação nova-iorquina WEAF, a 28 de agosto de 1922. Uma imobiliária ofereceu, pelo rádio, aos compradores em potencial, uma série de apartamentos, que foram imediatamente vendidos. O método aperfeiçoou-se e as estações de rádio começaram a oferecer programas nos quais os usuários publicitários pudessem inserir sua oferta: a própria ATT teve a ideia de pagar uma comissão de 15 % às agências publicitárias que fizessem publicidade através do novo meio de comunicação. O que permaneceu inalterado até hoje é o modelo comercial implícito desde aquela primeira experiência. A partir daí, de fato, o objetivo do rádio comercial é fundamentalmente conquistar o maior público possível (o índice máximo de audiência) e vender aos anunciantes publicitários a atenção e o tempo que o público dedica às transmissões radiofônicas. * * * Condições para o sucesso comercial Após o sucesso obtido pela WEAF de Nova York, ainda faltavam essencialmente três condições para o sucesso definitivo do rádio como meio publicitário e do modelo radiofônico norte-americano baseado na publicidade: uma maior penetração dos aparelhos receptores; uma regulamentação do éter [todo o espaço do universo através do qual se propagariam as ondas] que sancionasse a privatização do broadcasting e estabelecesse normas relativas ao uso das frequências; um relacionamento estreito entre patrocinadores e radiodifusores a fim de garantir os financiamentos constantes necessários para as emissões. Estas condições foram amadurecendo paulatinamente durante a década de 20. * * * 1) Uma maior penetração dos aparelhos receptores Aconteceu graças à sempre crescente simplificação dos aparelhos receptores: assiste-se neste período à passagem do rádio metálico com fones para um único ouvinte ao rádio com móvel de madeira, sintonizador e alto-falante para a sala de visitas; e ao seu preço sempre decrescente: o rádio passa a ser um eletrodoméstico indispensável às famílias. Em 1921, as vendas de aparelhos receptores alcançaram a cifra de 5 milhões de dólares e em 1928 passaram para 650 milhões de dólares. * * * 2) A situação caótica do éter não foi nada fácil de solucionar: de um lado, a insuficiente legislação (a única lei vigente era o Radio Act de 1912, que concedia a licença para transmitir a qualquer cidadão norte-americano que tivesse autorização para tanto); por outro lado, continuava a crescer enormemente o número de estações transmissoras (578, em 1925, e 732, em 1927) que, sobretudo nas maiores cidades, se sobrepunham criando interferências contínuas. Uma legislação totalmente nova, o Radio Act de 1927, conseguiu pôr fim a esse caos. A nova lei instituiu uma comissão pública, a Federal Radio Commission (FRC), cujos membros eram nomeados pelo presidente e cuja função era determinar a regulamentação das frequências. A criação da FRC solucionou gradativamente o problema da garantia de continuidade das transmissões em favor dos investidores em potencial do meio radiofônico. * * * 3) relacionamento entre patrocinadores e radiodifusores (p/garantir os financiamentos necessários às emissões): as redes O terceiro elemento que levou definitivamente as empresas a se servirem do rádio como veículo publicitário foi a criação de redes de alcance nacional, outro alicerce do modelo radiofônico (e televisivo) norte-americano que mais tarde se consolidou em todos os países onde surgiram rádios comerciais. Através das redes, as estações locais coligadas transmitem, mediante pagamento, uma cota diária de transmissões patrocinadas, fornecidas pelas estações matrizes. O sistema convém às estações locais porque, mesmo permitindo-lhes liberdade de programação em plano local, assegura-lhes arrecadações suplementares e uma programação de qualidade (importante especialmente nas horas de maior audiência) fornecidas pela rede à qual pertence. Às estações matrizes, o sistema garante a possibilidade de transmitir anúncios publicitários a nível nacional, sem que precisem ser proprietárias diretas das estações afiliadas. * * * Redes radiofônicas A primeira rede radiofônica foi criada pela ATT. A partir de 1924, aproveitando a onda do sucesso da sua primeira estação publicitária, a WEAF, a ATT ligou via cabo telefônico 26 estações emissoras de costa a costa, algumas de sua propriedade, outras independentes, fornecendo-lhes programas patrocinados. Dois anos depois, cedeu a sua atividade radiofônica à RCA, conseguindo em troca a exclusividade da ligação via cabo das emissoras da futura rede. Nascia, assim, a National Broadcasting Corporation (NBC), com o controle de duas redes, a Red Network, com uma programação mais leve, e a Blue Network, mais cultural. Em 1928, teve origem uma rede concorrente da NBC, a Columbia Broadcasting System (CBS), com 16 estações afiliadas. Finalmente, após a crise de Wall Street (1929), em plena época da Grande Depressão e do New Deal, a NBC foi alvo das leis antimonopolistas apoiadas pelo governo e pela FRC; foi obrigada a ceder uma das suas duas redes nacionais. * * * O que se transmitia pelo rádio, ou seja, quais eram os programas? As primeiras emissões amadoras transmitiam simples canções, pequenos recitais e o som dos discos fonográficos. O primeiro tipo de programação era totalmente aleatório quanto aos conteúdos e aos horários de transmissão, e entregue à iniciativa espontânea dos diversos tipos de administradores das emissoras. Depois do Radio Act de 1927 e da regulamentação das frequências, as transmissões começaram a ter um caráter regular. Finalmente, com a consolidação da publicidade na programação radiofônica, teve origem o conceito do grade de programação, ou seja, uma cadeia de programas com horários preestabelecidos segundo os vários tipos do gênero. * * * A publicidade A publicidade teve, desde, o início, uma influência penetrante sobre o rádio, claramente direcionando sua programação para o divertimento. Intimamente ligada ao consumismo e à promoção de uma nova e moderna ética do prazer, a publicidade endereçou o formato de programação radiofônico norte-americano para a música popular e leve. As emissoras comerciais foram gradativamente elaborando programas mais próximos às características próprias do rádio e aos gostos mais exigentes dos ouvintes. Na área da informação, multiplicaram-se as transmissões ao vivo, que aproveitavam a peculiaridade do meio eletrônico. Já em 1931, a CBS transmitia 415 programas ao vivo, contra os 256 da NBC. * * * Os gêneros dos programas de rádio O rádio criou gêneros totalmente novos: o programa de variedades; o de perguntas e respostas; no campo literário, a radionovela, baseada exclusivamente na força das palavras, capaz de, sem o apoio das imagens e da cena teatral, desencadear a máxima participação emotiva do ouvinte. A brincadeira feita por Orson Welles, que em 1938, na sua Guerra dos Mundos, simulou estar transmitindo ao vivo a invasão dos marcianos na terra, causando o pânico entre a população, é o exemplo mais clamoroso do desenvolvimento que o novo gênero solicitava e da respeitabilidade que o rádio conquistava no seu período áureo. * * * O rádio e a política O rádio logo se tornou um instrumento de participação política (ou, se quisermos, de criação do consenso), um formidável alto-falante do mundo político, com o qual as redes tinham obviamente interesse em manter boas relações. Em 1931 foram transmitidos 288 discursos presidenciais, 37 mediações de membros do governo e 71 entrevistas com senadores e deputados só na NBC, e o mesmo acontecia na CBS. O Presidente Roosevelt foi, talvez, o primeiro político a captar todas as potencialidades do novo meio de comunicação, aproveitando-se do rádio nas suas conversas semanais no gabinete para dialogar com a nação de modo quase familiar. * * * Em 1938, o governo de Getúlio Vargas cria o programa Hora do Brasil (hoje Voz do Brasil). Através do rádio a fala do presidente Getúlio Vargas era divulgada e amplificada para os segmentos populares, colaborando com a propaganda governamental. Hitler, com a ajuda de seu super-ministro Goebbels, usou o rádio para a propaganda política do regime nazista. * * * O lugar central do rádio Especialmente depois dos anos trinta, época da grande crise, na qual o rádio, junto com o cinema, assumiu um importante papel confortador e serviu como meio de fuga diante das misérias da realidade, enquanto, economicamente, também funcionava como um estímulo formidável para o consumo e, conseqüentemente, como instrumento essencial do renascimento econômico, o rádio conquistou uma posição central na vida das famílias norte-americanas, e na maneira como passam o tempo. a importância do rádio aumentou ainda mais durante a Segunda Guerra Mundial, sendo ele um instrumento informativo fundamental, elementar e direto das frentes de batalha, até o advento da televisão, que modificará substancialmente o seu espaço e suas funções dentro do sistema das mídias. * * * Referências bibliográficas ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006. MEYER, Marlyse. O folhetim: uma história. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. ROMAIS, Astomiro. Mídia, democracia e esfera pública. In JACKS, Nilda. Tendências na comunicação. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 44-55. SARTORI, Carlo. O rádio, um veículo para todas as ocasiões. In: GIOVANNINI, Giovanni. Evolução na comunicação: do sílex ao silício. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p.213-245. Blog Indústrias culturais. Disponível em http://industrias-culturais.blogspot.com.br/2005_10_01_archive.html. Acesso em 16.mai.2012.