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norma de desempenho de edificações

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MMÓÓDDUULLOO CONCEITOS E METODOLOGIA ABRANGIDOS NAS
NORMAS TÉCNICAS DE DESEMPENHO PARA EDIFÍCIOS
HABITACIONAIS DE ATÉ CINCO PAVIMENTOS
ABNT NBR 15575:2008
Eng. Civil Francisco Cláudio Morato Leite
Londrina - 2010
2
CONCEITOS E METODOLOGIA ABRANGIDOS NAS
NORMAS TÉCNICAS DE DESEMPENHO PARA EDIFÍCIOS
HABITACIONAIS DE ATÉ CINCO PAVIMENTOS
ABNT NBR 15575:2008
SUMÁRIO
 ASSUNTO PÁG.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 03
2 OBJETIVO ............................................................................................. 03
3 NOÇÕES SOBRE O SISTEMA BRASILEIRO DE NORMALIZAÇÃO
TÉCNICA ............................................................................................... 04
4 DA OBRIGATORIEDADE EM CUMPRIR AS NORMAS TÉCNICAS ... 05
5 BREVE HISTÓRICO ............................................................................. 06
6 ESCOPO ............................................................................................... 08
7 ESTRUTURA ........................................................................................ 08
8 CONCEITOS E METODOLOGIA ENVOLVIDOS ................................. 11
8.1 A ABORDAGEM DE DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES ........................... 11
8.2 NORMA PRESCRITIVAS versus NORMAS DE DESEMPENHO ................... 13
8.3 METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO .......................... 14
8.4 OS NÍVEIS DE DESEMPENHO ...................................................................... 21
8.5 DURABILIDADE E VIDA ÚTIL ........................................................................ 23
8.6 PRAZOS DE GARANTIA ................................................................................ 26
8.7 INCUMBÊNCIAS DOS INTERVENIENTES .................................................... 28
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 29
10 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 30
3
1 INTRODUÇÃO
Há novas Normas Técnicas vigendo e que deverão impactar de modo significativo a
cadeia produtiva e as nossas atividades profissionais, compelindo-nos à inovação no
processo produtivo e refletindo diretamente na qualidade de nossos serviços no que se
refere ao desempenho dos edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.
Estas novas Normas Técnicas são as seis partes que compõem a ABNT NBR
15575:2008 e que trazem conceitos maturados ao longo de aproximadamente três
décadas no Brasil; acompanhando a tendência dos países de maior desenvolvimento
tecnológico e econômico em empregar, na prática, a abordagem de desempenho nas
edificações, ou seja, em estabelecer um desempenho funcional e não em prescrever
como elas são construídas.
Em face disto, as Normas Técnicas de desempenho são um divisor de águas, pois
nos obriga a pensar em termos de fins (os atributos desejados pelos usuários) e não de
meios (soluções técnicas).
Entretanto, a abordagem de desempenho nas edificações é inédita para grande
parte do setor e o conhecimento atual das novas Normas Técnicas de desempenho é
ainda baixo (BORGES, 2008).
Acrescente-se ainda a cultura de descumprimento das Normas Técnicas em nossos
projetos e na execução de obras. É importante ressaltar que muitos dos requisitos de
desempenho estabelecidos nestas novas Normas Técnicas de desempenho são
considerados atendidos se forem cumpridas outras Normas Técnicas em vigor.
A partir deste contexto e considerando a construção civil sujeita a obrigação de
resultados e não apenas à intenção, se justifica o conteúdo tratado nesta apostila.
2 OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é apresentar os principais conceitos e a metodologia
abrangidos nas partes que compõem a ABNT NBR 15575:2008 – Edifícios habitacionais
de até cinco pavimentos – desempenho, a fim de iniciar o seu estudo e auxiliar na
detecção de ajustes nas atividades desenvolvidas pelos profissionais responsáveis
4
quanto à entrega de imóveis que atendam aos requisitos e critérios de desempenho ora
estabelecidos.
Portanto, não serão apresentados em minúcias tais requisitos e critérios de
desempenho, assim como os métodos de avaliação, pois a abrangência e a complexidade
dos mesmos não nos permitiriam discorrer em espaço tão curto; o que deve ser remetido
às Normas Técnicas de desempenho adquiridas pelo leitor.
3 NOÇÕES SOBRE O SISTEMA BRASILEIRO DE NORMALIZAÇÃO
TÉCNICA
No Brasil temos muitas e boas Normas Técnicas para a construção civil, como por
exemplo, a NBR 6118 (ABNT, 2004b) considerada pela ISO1 como referência
internacional na elaboração de projetos de estruturas de concreto armado.
Todavia, é fato que em nosso país não se tem, em geral, a cultura de cumpri-las,
como anteriormente citamos; o que nos obriga a conhecer alguns aspectos do sistema de
Normalização Técnica Brasileira nesta seção, já que trataremos nesta apostila de uma
das Normas Técnicas.
O Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial –
SINMETRO – que formula e executa a política nacional de metrologia, normalização e
certificação de qualidade de produtos industriais no Brasil têm como órgão normativo o
CONMETRO2 e, como secretaria executiva o INMETRO3. A Resolução n° 07/9214/83 do
CONMETRO considera a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT4 – o Foro
Nacional de Normalização.
A ABNT não elabora as nossas Normas Técnicas. O conteúdo das Normas Técnicas
 
1
 ISO – International Organization for Standardization, organização internacional em que o Brasil é membro
desde a sua fundação em 1947, representado pela ABNT.
2
 CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial é um colegiado
interministerial, portanto, composto pelo Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da
Ciência e Tecnologia; da Saúde; do Trabalho e Emprego; do Meio Ambiente; das Relações Exteriores; da
Justiça; da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento; da Defesa; o Presidente do INMETRO e os
Presidentes da ABNT, da Confederação Nacional da Indústria - CNI, da Confederação Nacional do
Comércio - CNC e do Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC.
3
 INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.
4
 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, fundada em 1940, com sede no Rio de Janeiro/RJ.
Acesse-a pelo site www.abnt.org.br.
5
Brasileiras é de responsabilidade dos Comitês Brasileiros – ABNT/CB, dos Organismos
de Normalização Setorial – ABNT/NOS – e das Comissões de Estudo Especiais –
ABNT/CEE – orientados pela ABNT, sendo que estes constituem Comissões de Estudo –
CE – para elaborá-las.
As CE são compostas por representantes dos setores envolvidos, participando de
forma voluntária e não remunerada, podendo ser classificados em três categorias: os
produtores – para o caso das novas Normas Técnicas de desempenho, por fabricantes de
materiais, construtoras, projetistas, etc., os agentes neutros – por exemplo, os
laboratórios, as universidades, os institutos de pesquisa, etc. e, finalmente, pelos
consumidores – para o exemplo das novas Normas Técnicas de desempenho, a CEF, as
companhias de habitação, etc.
Após discussões públicas e busca de consenso em reuniões plenárias, a Comissão
de Estudo apresenta, ao final, um Projeto de Norma Técnica que é levado à consulta
nacional para ser votado por associados da ABNT e interessados.
Com relação às Normas Técnicas em vigor, elas podem ser revisadas e atualizadas
seguindo o fluxo apresentado, ou mesmo canceladas, com consulta, em geral, a cada
cinco anos.
O SECOVI-SP (2006) levantou, em junho de 2006, em torno de 457 Normas
Técnicas da ABNT aplicáveis às habitações, tratando
desde os procedimentos de projeto,
especificações de materiais, componentes e elementos de construção, instalações e
execução até as duas únicas, dentre todas estas, que abordam a manutenção de
edificações.
Esta quantidade de Normas Técnicas apontada pelo SECOVI-SP obviamente deve
ter sido alterada até a data de hoje; o que merece atenção e acompanhando contínuo por
parte dos profissionais, pois elas são indispensáveis para a aplicação das Normas
Técnicas de desempenho, que não as substitui, mas complementa-as.
4 DA OBRIGATORIEDADE EM CUMPRIR AS NORMAS TÉCNICAS
Inicialmente, é preciso esclarecer que as Normas Técnicas não são leis, pois não
foram elaboradas seguindo o rito previsto no processo legislativo para a aprovação das
6
leis, assim como não foram estabelecidas por órgãos competentes para a edição de leis
(DEL MAR, 2007).
Contudo, entende-se que as Normas Técnicas têm status legal, ou seja, que o seu
cumprimento tem caráter obrigatório se considerado, principalmente quando caracterizada
uma relação de consumo, o artigo 39, inciso VIII, do Código de Proteção e Defesa do
Consumidor5 – CDC – que a seguir transcreve-se:
“É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas: (...) VIII – colocar no mercado de consumo,
qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas
expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas
específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO”.
Há outros casos em que o cumprimento às Normas Técnicas é obrigatório, como é o
caso da NBR 9050 (ABNT, 2004c), devido à imposição da Lei n° 10.098, de 19/12/2000,
que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção de acessibilidade das
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Ou, ainda, para a contratação das obras públicas que se submete à Lei n° 8.666, de
21/06/1993, se considerados os seguintes artigos:
“Art. 6°. Para os fins desta lei considera-se: (... ) X – Projeto
executivo – o conjunto dos elementos necessários e suficientes à
execução completa da obra, de acordo com as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)” e;
“Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de obras e
serviços, serão considerados principalmente os seguintes requisitos:
(...) VI – adoção das normas técnicas adequadas”.
5 BREVE HISTÓRICO
 
5
 Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei n° 8 .078 de 11/09/1990.
7
A intenção em se dispor de uma metodologia para avaliar o desempenho de
edificações habitacionais não é recente no Brasil.
Em 1981, o extinto BNH6 contratou o IPT7 para elaborar critérios que propiciassem a
avaliação de desempenho de sistemas construtivos inovadores para edifícios de pequeno
porte por ele financiados; sendo este um dos primeiros documentos técnicos no país a se
basear no conceito de desempenho (GONÇALVES et al., 2003).
O BNH foi extinto em 1986 e a CEF8 assumiu o papel de principal agente público
financeiro para edificações habitacionais.
Em 1997, a CEF contratou novamente o IPT para revisar os trabalhos realizados na
década anterior, assim como financiou, a partir do ano 2000 e com o apoio da FINEP9, o
projeto de pesquisa intitulado “Normas Técnicas para Avaliação de Sistemas Construtivos
Inovadores para Habitações”.
Em 2000, foi constituída a Comissão de Estudos de Desempenho de Edificações
(CE-02.136.01) junto ao Comitê Brasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-02) para
elaborar o projeto das Normas Técnicas de desempenho a partir destes e de outros
trabalhos desenvolvidos; funcionando durante aproximadamente oito anos.
Ao final, o projeto das novas Normas Técnicas de desempenho circulou em consulta
nacional de 28/09/2007 até 27/11/2007 e, após aprovado, veio a ser publicado em
12/05/2008 pela ABNT. Com um período de carência de dois anos, as novas Normas
Técnicas de desempenho passaram, então, a vigorar em 12/05/2010.
Apesar de estarem vigorando, as Normas Técnicas de desempenho começam a ser
exigidas para os edifícios habitacionais com projetos protocolados nos órgãos
competentes após seis meses em relação à data de entrada em vigor, ou seja, a partir de
12/11/201010.
 
6
 BNH – Banco Nacional da Habitação.
7
 IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
8
 CEF – Caixa Econômica Federal.
9
 FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos.
10
 Até o fechamento da redação desta apostila, o Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-02) havia
decidido por reativar a Comissão de Estudo de Desempenho de Edificações, atendendo a uma solicitação
formulada por diversas entidades ligadas ao setor da construção civil. Portanto, a data estabelecida poderá
ser prorrogada.
8
6 ESCOPO
Os requisitos, critérios e métodos de avaliação de desempenho estão estabelecidos
nas Normas Técnicas de desempenho para os sistemas que compõem edifícios
habitacionais de até cinco pavimentos como um todo integrado, e que podem ser
avaliados de forma isolada para um ou mais sistemas específicos.
As Normas Técnicas de desempenho não se aplicam às demais classes de
edificações como, por exemplo, as institucionais (escolas, bibliotecas, hospitais, etc.),
escritórios, industriais, dentre outros. Também não se aplicam a obras de reformas nem
de “retrofit”.
Quanto ao número de pavimentos, os requisitos e critérios ora estabelecidos podem
ser aplicados em edifícios com mais do que cinco pavimentos; neste caso, quando não
estiver envolvido o efeito da altura. Por exemplo, o desempenho das paredes internas e
dos pisos internos não depende de altura, portanto, o atendimento aos requisitos e
critérios de desempenho ora estabelecidos poderá ser exigido.
7 ESTRUTURA
As Normas Técnicas de desempenho estão divididas em seis partes, conforme
apresentado no Quadro 1, que podem ser adquiridas separadamente junto a ABNT11.
A parte 1 trata de apresentar os conceitos, as disposições gerais e em estabelecer
os requisitos e critérios de desempenho que se aplicam ao edifício como um todo
integrado; ou seja, considerando as diversas interações e interferências entre os sistemas
que compõem o edifício habitacional. Acompanham, ainda:
 
11
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9
Nº TÍTULO
NBR 15575-1:2008 Parte 1 - Requisitos Gerais
NBR 15575-2:2008 Parte 2 - Requisitos para os Sistemas Estruturais
NBR 15575-3:2008 Parte 3 - Requisitos para Sistemas de Pisos Internos
NBR 15575-4:2008 Parte 4 - Requisitos para os Sistemas de Vedações Verticais Internas e Externas
NBR 15575-5:2008 Parte 5 - Requisitos para os Sistemas de Cobertura
NBR 15575-6:2008 Parte 6 - Requisitos para os Sistemas Hidrossanitários
QUADRO 1 – Normas Técnicas de desempenho de edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos
- ANEXO A (informativo) – que discorre sobre os procedimentos para a avaliação de
desempenho térmico de edificações por meio de simulação computacional e por medição;
- ANEXO B (normativo) – fixa os procedimentos de avaliação de desempenho
lumínico;
- ANEXO C (informativo) – traz as considerações sobre a durabilidade e vida útil;
- ANEXO D (informativo) – dá as diretrizes para o estabelecimento dos prazos de
garantia;
- ANEXO E (informativo) – recomenda os níveis de desempenho e;
- ANEXO F (informativo) – com a bibliografia recomendada.
As demais cinco partes complementam a primeira; tratando, cada uma, dos demais
sistemas que compõem o edifício habitacional: estrutural, piso interno, vedações verticais
internas
e externas, cobertura e hidrossanitário. Estas partes também possuem anexos de
caráter normativo ou informativo.
Quanto aos sistemas elétricos dos edifícios habitacionais, as Normas Técnicas de
desempenho não estabelecem requisitos e critérios de desempenho, considerando que
10
estes sistemas fazem parte de um conjunto mais amplo de Normas Técnicas com base na
NBR 5410 (ABNT, 2004a).
As exigências do usuário foram traduzidas de modo técnico, derivadas das diretrizes
da Norma ISO 6241 (1984), por meio dos seguintes fatores agrupados em:
a) Segurança:
• Segurança estrutural;
• Segurança contra o fogo;
• Segurança no uso e na operação.
b) Habitabilidade:
• Estanqueidade;
• Desempenho térmico;
• Desempenho acústico;
• Desempenho lumínico;
• Saúde, higiene e qualidade do ar;
• Funcionalidade e acessibilidade;
• Conforto tátil e antropodinâmico.
c) Sustentabilidade:
• Durabilidade;
• Manutenibilidade;
• Impacto ambiental.
Para efeito de aplicação, cada um destes fatores foi representado por um ou mais
requisitos (qualitativos), com respectivos critérios (quantitativos ou premissas) e métodos
de avaliação de desempenho.
11
8 CONCEITOS E METODOLOGIA ABRANGIDOS
As novas Normas Técnicas de desempenho trazem, em síntese, a prática da
abordagem de desempenho no edifício habitacional de até cinco pavimentos para
qualquer sistema construtivo, seja ele inovador ou mesmo o tradicional, cujos principais
conceitos e a metodologia abrangidos passaremos a apresentar.
8.1 A ABORDAGEM DE DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
Inicialmente, vamos definir o termo desempenho para discutirmos, após, a
abordagem do desempenho e a sua aplicação em edificações.
Como relatado por Souza (1988), a palavra desempenho, que significa
comportamento em utilização, foi escolhida pelo CIB12 para caracterizar o fato de que um
produto deve apresentar certas propriedades que o capacitem a cumprir sua função
quando sujeito a certas influências, durante a sua vida útil.
Para tanto, a habitação é entendida como um produto que tem como função
satisfazer as exigências dos usuários.
Nesse mesmo sentido acompanham as Normas Técnicas de desempenho
brasileiras, cujo significado para o mesmo termo está relacionado com o comportamento
em uso do edifício habitacional e de seus sistemas, com base nas exigências do usuário.
O foco está, portanto, no atendimento às exigências do usuário para o edifício e
seus sistemas, quanto ao seu comportamento em uso e não na prescrição de como os
sistemas são construídos (ABNT, 2008b).
Deve ficar claro que a abordagem de desempenho nas edificações é voltada para se
pensar em termos de fins (as exigências dos usuários) antes que em meios (soluções
técnicas), ou seja, em estabelecer um desempenho funcional e não em prescrever como
elas são construídas.
Em síntese, os projetistas podem selecionar materiais e componentes de
construção, constituindo elementos construtivos de um sistema que apresente um
 
12
 CIB - Conseil International du Bâtiment
12
comportamento em uso satisfatório frente às exigências dos usuários; considerando,
ainda, a interação deste com os demais sistemas que compõem a edificação.
O sistema é a maior parte funcional do edifício, como definido na NBR 15575-1
(ABNT, 2008b). É o conjunto de elementos e componentes de construção destinados a
cumprir com uma macrofunção que a define. Por exemplo: fundação, estrutura, vedações
verticais, instalações hidrossanitárias, cobertura. A Figura 1 representa hierarquicamente
as partes de uma edificação por função, para melhor compreensão.
FIGURA 1 – Representação hierárquica das partes de uma edificação classificada por
função
Quanto ao executor de obra, este deve seguir rigorosamente ao que foi projetado,
detalhado e especificado pelos projetistas, bem como em empregar boa técnica
construtiva.
Fica evidente que o momento ideal para pensarmos em desempenho refere-se às
fases de planejamento, elaboração de estudos e projetos, em que se têm maior
potencialidade para influenciar custos e funcionalidade se considerarmos o ciclo de vida
dos empreendimentos na construção civil como representado na Figura 2.
13
FIGURA 2 – Ciclo de vida de um empreendimento
8.2 NORMAS PRESCRITIVAS versus NORMAS DE DESEMPENHO
As Normas Técnicas brasileiras aplicáveis à construção civil são, em sua maioria, de
caráter prescritivo. Uma Norma Técnica prescritiva estabelece um conjunto de requisitos e
critérios para um produto ou um procedimento específico, com base na consagração do
uso ao longo do tempo.
Como, por exemplo, a NBR 15270-1 (ABNT, 2005e) que define termos técnicos e
estabelece requisitos para os blocos cerâmicos para alvenaria de vedação, cujos formatos
mais conhecidos estão representados na Figura 3.
FIGURA 3 – Blocos cerâmicos para alvenarias
14
Esta Norma Técnica fixa, dentre outros requisitos, o índice de absorção de água
entre 8% até 22%. Para o caso de se empregar blocos cerâmicos que se enquadram
nesta prescrição, aliado a conformidade de outros materiais e a boa técnica construtiva,
presume-se, conseqüentemente, que será baixa a probabilidade de ocorrência de falhas
nas alvenarias no que se refere à estanqueidade à água.
Portanto, uma Norma Técnica prescritiva tem como característica principal descrever
produtos e serviços para, então, levar a atender às exigências do usuário de modo
indireto.
Por sua vez, uma Norma Técnica de desempenho estabelece um conjunto de
requisitos e critérios com base nas exigências do usuário, independentemente da sua
forma ou dos materiais constituintes.
Como exemplo deste tipo de Norma Técnica em vigor tem-se a NBR 1082113 (ABNT,
2000) que trata do desempenho de caixilhos – janelas – para edificações de uso
residencial e comercial, dentre outras. Esta Norma Técnica não estabelece qual o material
predominante para compor uma janela, nem seu perfil, acabamento ou tipo de
movimentação, mas o desempenho mínimo quanto à permeabilidade ao ar,
estanqueidade à água, resistência às cargas uniformemente distribuídas e às operações
de manuseio; sendo estas as exigências do usuário para o componente.
As novas Normas Técnicas de desempenho têm o mesmo caráter da acima
comentada para as janelas, porém não são aplicadas tão somente a um componente
construtivo, mas no edifício habitacional como um todo integrado e em suas partes.
Cabe salientar que se uma Norma Técnica prescritiva contiver exigências
suplementares às novas Normas Técnicas de desempenho, elas devem ser integralmente
cumpridas.
8.3 METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
 
13
 Até o fechamento da redação desta apostila, o projeto de revisão da NBR 10821:2000 encontrava-se em
consulta pública.
15
Na abordagem de desempenho a metodologia para a avaliação compreende uma
investigação sistemática fundamentada em métodos consistentes, capazes de produzir
uma interpretação objetiva sobre o comportamento esperado do sistema ou processo nas
condições de uso definidas (ABNT, 2008b).
Para tanto, a metodologia pode ser assim resumida, de acordo com Mitidieri Filho e
Helene (1998):
a) A identificação das exigências do usuário a serem satisfeitas;
b) A identificação das condições de exposição a que estão submetidos o edifício e
suas partes;
c) A definição dos requisitos e critérios de desempenho a serem atendidos pelo
edifício, seus elementos e componentes e;
d) A definição dos métodos de avaliação a serem adotados.
Esquematicamente a metodologia pode ser representada como na Figura 4.
Figura 4 – Esquema da metodologia para aplicação da avaliação de desempenho em
edificações
Por exigências do usuário entende-se um conjunto de necessidades a serem
satisfeitas pelo edifício habitacional (e seus sistemas), de modo a cumprir com suas
funções.
Disso resulta uma lista enorme que, para efeito de aplicação das Normas
Técnicas de desempenho, foram estabelecidas aquelas relacionadas à segurança,
habitabilidade e sustentabilidade, como previamente apresentado na seção 7 desta
16
apostila e organizado na Figura 5.
Figura 5 – Representação das exigências do usuário quanto ao desempenho funcional do
edifício habitacional e suas partes nas novas Normas Técnicas de desempenho
brasileiras
Quanto às condições de exposição, devem ser consideradas como sendo um
conjunto de ações atuantes sobre o edifício habitacional, incluindo cargas gravitacionais,
ações externas e ações resultantes da ocupação.
Como por exemplo, as condições em que se está exposta a edificação para efeito da
análise do seu desempenho térmico. Na NBR 15220-3 (ABNT, 2005d), o Brasil está
dividido em oito zonas bioclimáticas, como apresentado na Figura 6. Portanto, um edifício
projetado para ser implantado em uma determinada região do país pode não se comportar
satisfatoriamente se apenas replicado e implantado em outra.
17
FIGURA 6 – Zoneamento bioclimático brasileiro, de acordo com a NBR 15220-3 (ABNT,
2005d)
Ou ainda se considerarmos a velocidade básica do vento segundo o gráfico das
isopletas contido na NBR 6123 (ABNT, 1988) e apresentado na Figura 7.
FIGURA 7 – Velocidade básica do vento de acordo com a NBR 6123 (ABNT, 1988)
A partir da lista de exigências do usuário do edifício habitacional, como organizado
na Figura 5, foram estabelecidos os requisitos e critérios de desempenho nas seis partes
que compõem as Normas Técnicas de desempenho. Para efeito de aplicação, cada uma
18
das exigências do usuário foi representada por um ou mais requisitos, critérios e métodos
de avaliação de desempenho.
Os requisitos de desempenho são atributos expressos em termos qualitativos. Por
exemplo, um dos requisitos relacionados à segurança no uso dos pisos internos14 pelo
usuário é a resistência ao escorregamento.
Os critérios de desempenho são as especificações quantitativas dos requisitos.
Assim, do exemplo do parágrafo anterior, a resistência ao escorregamento dos pisos
internos pode ser medida por meio do coeficiente de atrito.
Os métodos de avaliação para cada critério de desempenho são realizados por meio
de ensaios em laboratórios, ensaios de tipo, ensaios em campo, inspeções em protótipos
ou em campo, simulações por meio de softwares (modelos matemáticos) e análises de
projeto.
Em sendo atendidos, pelo edifício habitacional, os requisitos e critérios de
desempenho estabelecidos na Norma Técnica de desempenho considera-se, para todos
os efeitos, que estejam satisfeitas as exigências do usuário; sendo que todas as
verificações devem ser realizadas com base nas condições do meio físico na época do
projeto e da execução do empreendimento.
Vamos tomar como exemplo para entendimento da aplicação da metodologia o
desempenho lumínico estabelecido no item 13 da NBR 15575-1 (ABNT, 2008b) para os
ambientes internos do edifício habitacional.
As dependências da habitação devem receber iluminação natural conveniente
durante o dia e, para o período noturno o sistema de iluminação artificial deve
proporcionar condições internas satisfatórias para a ocupação dos recintos e circulação
nos ambientes com conforto e segurança. Portanto, os requisitos de desempenho são a
iluminação natural e a artificial.
Os respectivos critérios de desempenho estabelecidos para os níveis de
iluminamento geral para o dia (iluminação natural) e a noite (artificial) estão dispostos na
 
14
 A segurança no uso dos sistemas de pisos internos, conforme o item 9 da ABNT NBR 15575-3:2008, é
traduzida pelos requisitos de desempenho: resistência ao escorregamento, segurança na circulação e
segurança no contato direto.
19
Tabela 1 e 2.
TABELA 1 – Níveis de iluminamento natural, de acordo com a NBR 15575-1:2008
NOTA 1 – Para os edifícios de multipiso admitem-se para as dependências situadas no
pavimento térreo ou em pavimentos abaixo da cota da rua níveis de iluminamento
ligeiramente inferiores aos valores especificados nesta Tabela (diferença máxima de 20%
em qualquer dependência).
NOTA 2 – Os critérios desta Tabela não se aplicam às áreas confinadas ou enclausuradas
(por exemplo, banheiros) que não tenham iluminação natural.
TABELA 2 – Níveis de iluminamento artificial, de acordo com a NBR 15575-1:2008
O método de avaliação de desempenho, ou seja, a verificação ao atendimento aos
DEPENDÊNCIA
ILUMINAMENTO 
GERAL PARA O 
NÍVEL MÍNIMO DE 
DESEMPENHO
Sala de estar, dormitório, 
copa/cozinha, banheiro, área de 
serviço
≥ 100 lux
Corredor ou escada interna à 
unidade, Corredor de uso comum 
(prédios), Escadaria de uso 
comum (prédios), 
Garagens/estacionamentos
≥ 50 lux
20
requisitos e critérios de desempenho lumínico envolve a análise de projeto15 ou a
inspeção em protótipo utilizando um dos métodos propostos16 a seguir:
Método de cálculo
De acordo com a NBR 15215-3 (ABNT, 2005c), simulando o nível de iluminamento para o
plano horizontal sempre a 0,75 m acima do nível do piso, nas seguintes condições:
• No período noturno, simulações sem nenhuma entrada de luz externa (portas, janelas
e cortinas fechadas);
• No período noturno, supor a iluminação artificial do ambiente totalmente ativada,
considerando a tensão nominal da rede e as potências nominais de luminárias, lâmpadas,
reatores e outros dispositivos de iluminação;
• Simulações para o centro dos ambientes;
• Simulações nos pontos centrais de corredores internos ou externos à unidade;
• Para escadarias, simulações nos pontos centrais dos patamares e a meia largura do
degrau central de cada lance.
Medição in loco
Realização de medições no plano horizontal a 0,75 m acima do nível do piso, com o
emprego de luxímetro portátil com erro máximo de ± 5% do valor medido, nas seguintes
condições:
• No período noturno, medições sem nenhuma entrada de luz externa (portas, janelas e
cortinas fechadas);
• No período noturno, medições realizadas com a iluminação artificial do ambiente
 
15
 Para os níveis de iluminamento natural, a análise de projeto é realizada em face das seguintes premissas
de projeto:
a) disposição dos cômodos;
b) orientação geográfica da edificação;
c) dimensionamento e posição das aberturas;
d) tipo de janela e de envidraçamento;
e) rugosidade e cor de paredes, tetos e pisos;
f) poços de ventilação e iluminação;
g) domus de iluminação;
h) influência de interferências externas (construções vizinhas, por exemplo).
21
totalmente ativada, sem a presença de obstruções opacas (como roupas estendidas nos
varais);
• Medições no centro dos ambientes;
• Medições nos pontos centrais de corredores internos ou externos à unidade;
• Para escadarias, medições nos pontos centrais dos patamares e a meia largura do
degrau central de cada lance.
8.4 OS NÍVEIS DE DESEMPENHO
Para atender as necessidades básicas de segurança, saúde, higiene e de economia
os requisitos para os sistemas vêm estabelecidos nas novas Normas Técnicas de
desempenho pela obrigatoriedade de atendimento mínimo, assim considerado como o
nível mínimo (M) de desempenho.
Porém, a partir de uma análise de valor da relação custo/benefício dos sistemas e,
considerando a possibilidade de melhoria da qualidade do edifício, podem ser adotados
outros níveis de maior desempenho.
Ou seja, o nível mínimo é obrigatório para todos os requisitos estabelecidos, sendo
que os demais níveis de desempenho – intermediário (I) e superior (S) são facultativos.
Para entendermos melhor, tomemos como exemplo o desempenho térmico para o
edifício habitacional e consideremos como critério de desempenho os valores máximos e
mínimos da temperatura do ar interno para a condição de verão e inverno,
respectivamente, a fim de enquadramento nos níveis de desempenho sugeridos no
ANEXO E da parte 1.
As Tabelas 3 e 4 trazem os valores para o nível mínimo (M) obrigatório e as
recomendações quanto aos níveis intermediário (I) e superior (S); que se referem ao
maior conforto dos usuários dos recintos de permanência prolongada, como por exemplo,
nas salas e dormitórios, tomando como referência os dias típicos de verão e inverno.
 
16
 Os procedimentos de avaliação do desempenho lumínico estão descritos no ANEXO B da ABNT NBT
15575-1:2008.
22
Tabela 3 – Critérios para avaliação de desempenho térmico em condições de verão
Onde:
Ti,max é o valor máximo diário da temperatura do ar no interior da edificação (°C);
Te,max é o valor máximo diário da temperatura do ar exterior à edificação (°C);
Ti,min é o valor mínimo diário da temperatura do ar no interior da edificação (°C);
Te,min é o valor mínimo diário da temperatura do ar exterior à edificação (°C);
NOTA: zonas bioclimáticas de acordo com a NBR 15220-3 (ABNT, 2005d).
Tabela 4 – Critérios para avaliação de desempenho térmico em condições de inverno
Onde:
Ti,min é o valor mínimo diário da temperatura do ar no interior da edificação (°C);
Te,min é o valor mínimo diário da temperatura do ar exterior à edificação (°C);
NOTA: zonas bioclimáticas de acordo com a NBR 15220-3 (ABNT, 2005d).
Os níveis de desempenho estão indicados nos ANEXOS E das partes 1 e 2, nos
ANEXOS F da parte 3 e 4 e no ANEXO I da parte 5 das Normas Técnicas de
desempenho.
Como apontado na NBR 15575-1 (ABNT, 2008b, p. 49), recomenda-se que o
construtor ou incorporador informem o nível de desempenho dos sistemas que compõem
o edifício habitacional, quando exceder o nível mínimo (M).
23
8.5 DURABILIDADE E VIDA ÚTIL (VU)
Dentre os conceitos que as Normas Técnicas de desempenho trazem, aqueles que
envolvem a durabilidade e a manutenibilidade das edificações devem provocar mudanças
importantes no processo de produção de edificações, principalmente com relação aos
projetistas. Trataremos nesta seção em discutir, em síntese, apenas quanto à durabilidade
e a vida útil, por entender que estes demandarão mais informações, por ora, por parte dos
nossos profissionais.
A durabilidade do edifício e seus sistemas pode ser definida como sendo a
capacidade de desempenhar suas funções ao longo do tempo e sob condições de uso e
manutenção especificadas, até um estado limite de utilização. A durabilidade é entendida,
ainda, como uma exigência econômica do usuário, ligada diretamente ao custo global17 da
edificação (ABNT, 2008b).
A vida útil (VU) é a medida temporal da durabilidade, ou o período de tempo
compreendido entre o início de operação e uso de um produto até o momento em que o
seu desempenho deixa de atender às exigências do usuário.
Portanto, a vida útil está diretamente influenciada pelas atividades de manutenção
do edifício e suas partes constituintes, e pode ser prolongada como representado na
Figura 8 extraída da NBR 15575-1 (ABNT, 2008b).
No momento da elaboração dos projetos, o conceito relacionado à vida útil de
projeto (VUP) será adotado como sendo o período estimado de tempo em que um
sistema é projetado para atender aos requisitos de desempenho estabelecido nas Normas
Técnicas de desempenho; obviamente desde que cumprido o programa de manutenção
previsto no manual de operação, uso e manutenção. Ou seja, VU ≥ VUP.
 
17
 Custo global: custo total de um edifício ou de seus sistemas determinado considerando-se, além do custo
inicial, os custos de operação e manutenção ao longo da vida útil.
24
Figura 8 – Desempenho ao longo do tempo - Fonte: ANEXO C da NBR 15575-1:2008.
A VUP é, na prática, uma decisão tomada pelo projetista ou pela integração entre
projetos e projetistas, que baliza toda a produção da edificação, podendo ser a opção pela
melhor relação custo global versus o seu tempo de usufruto.
O projeto do edifício deve especificar a VUP para cada um dos sistemas que os
compõem, porém não inferiores aos estabelecidos na NBR 15575-1 (ABNT, 2008b) e
apresentados na Tabela 5, devendo ser elaborado para que os sistemas tenham uma
durabilidade potencial compatível com a VUP.
Mínimo Superior
Estrutura ≥ 40 ≥ 60
Pisos internos ≥ 13 ≥ 20
Vedação vertical externa ≥ 40 ≥ 60
Vedação vertical interna ≥ 20 ≥ 30
Cobertura ≥ 20 ≥ 30
Hidrossanitário ≥ 20 ≥ 30
VUP (anos)SISTEMA
Tabela 5 – Vida útil de projeto (VUP)
25
Para a verificação do atendimento quanto à vida útil, toma-se como início para a
contagem do prazo a da data de conclusão do edifício habitacional, a qual, para efeitos
das Normas Técnicas de desempenho, é a data de expedição do Auto de Conclusão de
Edificação (Habite-se), documento legal que atesta a conclusão das obras. E, a análise é
realizada no projeto pela utilização da metodologia proposta pelas ISO 15686-1 a 15686-3
e 15686-5 a 15686-7.
Quanto à avaliação ao atendimento do critério durabilidade, que deve ser compatível
com a VUP, pode ser realizada por:
• através da verificação do cumprimento das exigências estabelecidas em Normas
Técnicas brasileiras que estejam relacionadas com a durabilidade dos sistemas do
edifício, como por exemplo, a NBR 6118 (ABNT, 2004b), NBR 8800 (ABNT, 2008a), NBR
9062 (ABNT, 2006), dentre outras;
• pela comprovação da durabilidade dos elementos e componentes dos sistemas,
bem como de sua correta utilização, conforme as Normas Técnicas a elas associadas que
tratam da especificação dos elementos e componentes, sua aplicação e métodos de
ensaios específicos, como por exemplo a NBR 6136 (ABNT, 2007), NBR 13281 (ABNT,
2005a), NBR 15210-1 (ABNT, 2005b), dentre outras, conforme o caso;
• na inexistência de Normas Técnicas brasileiras, através do cumprimento das
exigências em Normas estrangeiras específicas e coerentes com os componentes
empregados na construção e sua aplicação;
• por análise de campo do sistema através de inspeção em protótipos e edificações,
que possibilite a avaliação da durabilidade por conhecimento das características do
sistema obedecendo ao tempo mínimo de dois anos para comprovar a durabilidade e
considerando a vida útil pretendida;
• pela análise dos resultados obtidos em estações de ensaios de durabilidade do
sistema, desde que seja possível comprovar sua eficácia.
Diante disso, é possível afirmar que as Normas Técnicas de desempenho devem
levar, dentre outros aspectos envolvidos, a uma quebra de paradigma, pois obrigam,
principalmente os projetistas, a considerarem a vida útil e a análise do custo global ainda
26
na fase de concepção do projeto do edifício habitacional. E, quanto aos profissionais
envolvidas na execução, o uso das Normas Técnicas para receber e aceitar materiais e
componentes de construção, bem como aquelas relacionadas com técnicas, métodos e
procedimentos que levem ao atendimento da VUP.
8.6 PRAZOS DE GARANTIA
O prazo de garantia vem definido na NBR 15575-1 (ABNT, 2008b) como o período
de tempo em que é elevada a probabilidade de que eventuais vícios ou defeitos em um
sistema, em estado de novo, venham a se manifestar, decorrentes de anomalias que
repercutam em desempenho inferior àquele previsto.
O manual de operação, uso e manutenção deve atender ao disposto na NBR 14037
(ABNT, 1998), com explicitação pelo menos dos prazos de garantia aplicáveis ao caso,
previstos pelo construtor e pelo incorporador. Assim como, recomenda-se que os prazos
de garantia estabelecidos no manual, ou documento similar, sejam iguais ou maiores que
os apresentados no ANEXO da NBR 15571-1 (ABNT, 2008b), que a seguir transcrevemos
em parte na Tabela 6.
27
Tabela 6 – Alguns dos prazos de garantia sugeridos, conforme
o ANEXO D da NBR
15575-1:2008
Para os níveis de desempenho, há recomendação na NBR 15575-1 (ABNT, 2008b,
p. 46) para acrescentar nos prazos de garantia em 25% ou mais para se atingir ao
intermediário (I) e, 50% ou mais para o superior (S).
Vale ressaltar que a contagem dos prazos de garantia inicia, conforme o item D.3.2.1
da NBR 15575-1 (ABNT, 2008b) a partir da expedição do “Habite-se”.
28
8.7 INCUMBÊNCIAS DOS INTERVENIENTES
A NBR 5671 (ABNT, 1990) definia uma série18 de intervenientes e estabelecia
responsabilidades e prerrogativas dos intervenientes nos serviços e obras de engenharia
e arquitetura, porém sob um enfoque mais contratual e de escopo de trabalho.
Na NBR 15575-1 (ABNT, 2008b) os intervenientes e suas responsabilidades são
claramente definidos em projetistas e contratante, construtor e incorporador e o usuário,
como representado na Figura 9.
Figura 9 – Intervenientes no empreendimento habitacional e seu ciclo de vida
Aos projetistas, em comum acordo com o contratante e com o usuário, quando for o
caso, devem estabelecer a vida útil de projeto (VUP) para cada sistema que compõe o
edifício habitacional, com base na vida útil total.
O incorporador, seus prepostos e/ou projetistas envolvidos de acordo com suas
respectivas competências, tem como incumbência, salvo convenção escrita, identificar os
riscos previsíveis19 na época do projeto, devendo o incorporador, neste caso, providenciar
os estudos técnicos requeridos e alimentar os diferentes projetistas com as informações
necessárias.
 
18
 São os intervenientes num empreendimento na construção civil: proprietário, contratante, firma projetista,
autor do projeto, financiador, executante, fiscal, empreiteiro técnico, subempreiteiro, consultor técnico,
tecnólogo, fabricante de materiais e/ou equipamentos, fornecedor, concessionário de serviço público,
corretor, adquirente, usuário, outros.
29
São os construtores e incorporadores os responsáveis em elaborar o manual de
operação, uso e manutenção atendendo a NBR 14037 (ABNT, 1998), que deve ser
entregue ao proprietário da unidade habitacional quando da disponibilização da mesma
para uso, assim como elaborar o manual das áreas comuns que deve ser entregue ao
condomínio. Lembrando que o manual deve conter, ainda, os prazos de garantia
aplicáveis ao caso.
Quanto ao usuário ou seu preposto cabe realizar as atividades de manutenção, de
acordo com o que estabelece a NBR 5674 (ABNT, 1999) e o manual de operação, uso e
manutenção, ou documento similar.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Logicamente que o assunto aqui apresentado não se esgota em si mesmo, devendo
o leitor adquirir as novas Normas Técnicas de desempenho, estudá-las minuciosamente e
passar, então, a cumpri-las, seja na fase de estudos e elaboração de seus projetos ou na
execução de seus edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.
Fica evidente que a utilização da abordagem de desempenho nas edificações
fomenta o desenvolvimento da tecnologia da construção, favorecendo o progresso dessa
indústria com indução à melhoria da qualidade e sustentabilidade, regulando-o e tornando
a concorrência mais saudável; cabendo, contudo, uma parcela de responsabilidade a
cada um dos intervenientes neste processo.
Para finalizar, é importante realçar os pontos positivos decorrentes da aplicação das
novas Normas Técnicas de desempenho para o setor, de acordo com Borges (2008, p.
122), como:
• Criação de um ambiente técnico mais definido, com estímulo a concorrência mais
saudável, baseada não apenas em preço, mas também em requisitos técnicos;
• Clara definição da incumbência Técnica de cada interveniente para a obtenção
do desempenho com a sua conseqüente responsabilidade legal;
 
19
 Exemplos de riscos previsíveis: presença de aterro sanitário na área de implantação do empreendimento,
contaminação do lençol freático, presença de agentes agressivos no solo e outros riscos ambientais.
30
• Estímulo a uma nova metodologia de projeto, em função da obrigatoriedade de
que os projetos concebam e definam o desempenho mínimo requerido ao longo de uma
vida útil;
• Uma maior proteção aos usuários de imóveis, que terão melhores condições de
avaliar o desempenho dos produtos que adquirem e fazer as suas escolhas dentro de
critérios mais técnico, a partir da análise de valor do desempenho;
Para o mesmo autor, advêm os riscos ou as preocupações levantados
principalmente pelas construtoras, que merecem ser melhor analisados pelo leitor em
suas atividades profissionais, como:
• Aumento de custo das construções populares para atender ao desempenho
mínimo, pois o enfoque histórico das concorrências públicas é o preço mínimo, sem a
definição de um padrão de qualidade;
• Tendência do Poder Judiciário de considerar o prazo de vida útil como um período
de garantia, gerando um risco jurídico e financeiro para as construtoras e para o setor
produtivo durante um longo período.
10 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410. Instalações elétricas
de baixa tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004a. 209 p.
____. NBR 5671. Participação dos intervenientes em serviços e obras de engenharia e
arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1990. 10 p.
____. NBR 5674. Manutenção de edificações - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT,
1999. 6 p.
____. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto armado – Procedimento. Rio de
Janeiro: ABNT, 2004b. 221 p.
____. NBR 6123. Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1988.
66 p.
____. NBR 6136. Blocos vazados de concreto simples para alvenaria - Requisitos. Rio de
Janeiro: ABNT, 2007. 9 p.
____. NBR 8800. Projetos de estrutura de aço e de estruturas mistas de aço e concreto
de edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 2008a. 237 p.
____. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004c. 97 p.
31
____. NBR 9062. Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de
Janeiro: ABNT, 2006. 59 p.
____. NBR 10821. Caixilhos para edificações – Janelas. Rio de Janeiro: ABNT, 2000. 37
p.
____. NBR 13281. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005a. 7 p.
____. NBR 14037. Manual de operação, uso e manutenção de edificações – Conteúdo e
recomendações para elaboração e apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 1998. 5 p.
____. NBR 15210-1. Telha ondulada de fibrocimento sem amianto e seus acessórios.
Parte 1: classificação e requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005b. 12 p.
____. NBR 15215-3. Iluminação natural. Parte 3: procedimento de cálculo para a
determinação da iluminação natural em ambientes internos. Rio de Janeiro: ABNT,
2005c. 36 p.
____. NBR 15220-3. Desempenho térmico de edificações. Parte 3: zoneamento
bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de
interesse social. Rio de Janeiro: ABNT, 2005d. 30 p.
____. NBR 15270-1. Componentes cerâmicos. Parte 1: blocos cerâmicos para alvenaria
de vedação – terminologia e requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005e. 11 p.
____. NBR 15575-1. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 1: requisitos gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2008b. 52 p.
____. NBR 15575-2. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 2: requisitos para os sistemas estruturais. Rio de Janeiro: ABNT, 2008c. 29 p.
____. NBR 15575-3. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 3: requisitos para os sistemas de pisos internos. Rio de Janeiro: ABNT,
2008d. 37 p.
____. NBR 15575-4. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 4: sistemas de vedações verticais
externas e internas. Rio de Janeiro: ABNT,
2008e. 51 p.
____. NBR 15575-5. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 5: requisitos para sistemas de coberturas. Rio de Janeiro: ABNT, 2008f. 54 p.
____. NBR 15575-6. Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – desempenho.
Parte 6: sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro: ABNT, 2008g. 28 p.
BORGES, Carlos A. de M. O conceito de desempenho de edificações e a sua
importância para o setor da construção civil no Brasil. Dissertação (Mestrado)
– Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2008. 263 p.
DEL MAR, Carlos P. Falhas, responsabilidades e garantias na construção civil –
Identificação e conseqüências jurídicas. São Paulo: PINI, 2007. 366 pp.
GONÇALVES, Orestes M.; JOHN, Vanderley M.; PICCHI, Flávio A,; SATO, Neide M. N.
Normas técnicas para a avaliação de sistemas construtivos inovadores para
habitações. Coletânea HABITARE. Normalização e certificação na construção civil.
32
v. 3. Porto Alegre: ANTAC, FINEP, CEF, 2003. p. 42-53.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 6241. Performance
standards in buildings: principles for their preparation and factors to be considered.
London, 1984. 12 p.
____. ISO 15686-1. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 1:
General principles.
____. ISO 15686-2. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 2:
Service life prediction procedures.
____. ISO 15686-3. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 3:
Performance audits and reviews.
____. ISO 15686-5. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 5: Life
cycle costing.
____. ISO 15686-6. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 6:
Procedures for considering environmental impacts.
____. ISO 15686-7. Buildings and constructed assets – Service life planning – Part 7:
Performance evaluation for feedback of service life data from practice.
MITIDIERI FILHO, Cláudio V.; HELENE, Paulo R. L. Avaliação de desempenho de
componentes e elementos construtivos inovadores destinados a habitações.
Proposições específicas à avaliação do desempenho estrutural. BT/PCC/208.
São Paulo: PCC/EPUSP, 1998. 38 p.
SECOVI-SP – SINDICATO DA EMPRESAS DE COMPRA, VENDA, LOCAÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS DE SÃO
PAULO. Principais normas Técnicas da habitação em vigor – ABNT. São Paulo:
SECOVI, 2006. 13 p.
SOUZA, Roberto de. A avaliação de desempenho aplicada a novos componentes e
sistemas construtivos para habitação. Tecnologia de Edificações. São Paulo:
PINI/IPT, 1988. p. 529-532.
Currículo resumido do autor
Engenheiro civil formado pela Universidade Estadual de Londrina – UEL, em 1990.
Especialista em Engenharia de Avaliação de Bens e Perícias pelo Centro Universitário
Filadélfia – UNIFIL, IBAPE-PR e IBAPE-SP, em 2003. Mestre em Engenharia de
Edificações e Saneamento pela UEL, em 2007. Professor assistente junto ao
Departamento de Construção Civil, do CTU/UEL, desde 1993. Atua na realização e
desenvolvimento de ensaios no Laboratório de Materiais de Construção do Centro de
Tecnologia e Urbanismo da UEL.

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