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Patofisiologia da lesão celular e adaptação – prof. Roberto Wagner – 24/02/12 – aluno: Pedro Randal Interações entre células e seu ambiente Microrganismos Nutrientes essenciais Agentes físicos Agentes químicos Imunológicos Metabólicos Tudo isso pode ser resumido em 2 mecanismos importantes de lesão celular: Hipóxia tecidual (diminuição da quantidade de oxigênio que chega à célula) Radicais livres Obs: hipóxia produz lesão ou adaptação celular. Anóxia produz morte celular. A patologia celular Um processo patológico possui quatro aspectos a serem destacados: Causa Patogenia Alterações estruturais (morfológicas) induzidas nas células e nos tecidos pela doença Consequências funcionais das alterações morfológicas, que são observadas clinicamente. A mitocôndria constituiu uma grande vantagem evolutiva para os eucariotos, entretanto, também é responsável por um dos mecanismos de morte celular. Stress fisiológico/patológico Estado funcional da célula modificado Modificação da homeostase Stress fisiológico excessivo /estímulo patológico adverso – adaptação/suporta uma lesão celular reversível/morte celular Sistemas que podem ser afetados por stress funcional/estímulo patológico Controle de íons potássio e sódio – realizado pela bomba sódio-potássio ATPase na membrana celular Sistema de fosforilação oxidativa (mitocondrial) Sistema de síntese, transporte e armazenamento de proteínas Sistema de detoxificação enzimático Sistema de replicação/divisão celular Causas de lesão celular Falta ou diminuição de oxigênio para a célula hipóxia em decorrência de isquemia ou oxigenação inadequada incapacidade de transporte adequado de substâncias. Agentes físicos: trauma, calor, irradiação, choque elétrico Agentes químicos e drogas terapêuticas (acetaminofen, venenos, chumbo, álcool) Vírus, bactérias, fungos e parasitas Reações imunológicas Distúrbios genéticos e nutricionais Mecanismos de lesão celular Há cinco temas bioquímicos envolvidos na lesão celular independentemente do agente que a inicia: Diminuição da síntese de ATP e depleção de ATP Radicais livres derivados do oxigênio Perda da homeostasia do cálcio e aumento do cálcio intracelular Defeitos na permeabilidade da membrana Lesão mitocondrial irreversível ISQUEMIA – HIPÓXIA – ANÓXIA Tipo de lesão mais comum na prática clínica Lesão celular reversível Lesão celular irreversível Alteração bioquímica alteração funcional alteração morfológica ao microscópio eletrônico alteração morfológica ao microscópio óptico. Alterações ultraestruturais nas células com lesão Alterações reversíveis: Dispersão de ribossomos Retículo dilatado Marginalização da cromatina Tumefação mitocondrial Alterações irreversíveis: Floculação da matriz mitocondrial Ruptura de lisossomos Ruptura da membrana celular Cariólise O primeiro mecanismo relacionado à morte celular relatado foi o da tumefação celular: Redução de O2 ↓ da respiração mitocondrial ↓ do ATP ↓ atividade da bomba de Na/K, com ↑ Na+ e H2O e ↓ K + (tumefação celular) ↓ síntese e ceciclagem de fosfolípides perda de fosfolípides e da integridade da membrana com ↑ Ca2+ e ativação de enzimas líticas – fosfolipases, proteases, ATPases e endonucleases ↑ respiração anaeróbica, com ↑ de lactatos e ↓ pH (acifodilia citoplasmática com perda dos grânulos da matriz, condensação da cromatina nuclear) Lesão celular induzida por radicais livres Espécies instáveis e altamente reativas que interagem com proteínas, lipídios e carboidratos da membrana Absorção de energia radiante (luz UV e raios X) Metabolismo enzimático de substâncias químicas ou drogas exógenas Reações de redução-oxidação Metais de transição Óxido nítrico Lesão por radicais livres Peroxidação lipídica das membranas (ataque por OH) Lipídios + radicais produzem peróxidos que promovem reação em cadeia que se propaga para organelas e mesmo toda a célula A vitamina E pode capturar o radical livre terminando a reação Modificação oxidativa das proteínas Os RL oxidam a cadeia lateral dos resíduos de aminoácidos, formam ligações cruzadas entre proteínas mediadas por sulfidrila Oxidam e fragmentam o arcabouço proteico Lesões no DNA Mecanismos de remoção de radicais livres A maioria sofre decomposição espontânea Sistema anti-oxidante (vitaminas E e A lipossolúveis; ácido ascórbico e glutationa no citosol) Ligação de formas reativas do ferro e cobre com a molécula de transporte (transferrina, ferritina, lactoferrina e ceruloplasmina) Enzimas atuam como sistema de eliminação de radicais degradando peróxido de hidrogênio e ânion superóxido Catalase Superóxido-dismutase (mitocôndria e citosol) Glutationa-peroxidase Lesão química Mecanismos de lesão por substâncias químicas Ação direta (ao se ligar a algum componente que é vital na célula) – cloreto de mercúrio liga-se a grupos S-H da membrana aumentando a permeabilidade e inibindo a produção de ATP Conversão de metabólitos tóxicos reativos que se ligam de forma covalente com as proteínas e lipídios da membrana ou formando radicais livres Dois modelos de lesão química 1. Tetracloreto de Carbono – utilizado na indústria para lavagem à seco, que no retículo liso do hepatócito se transforma em CCl3 pela ação do complexo de enzimas p-450. Há a peroxidação de lipídios e reações que causam diminuição da síntese de proteínas. Há redução da capacidade de exportação de lipídios da célula hepática, com acumulação de lipídios. A alteração gordurosa é intracelular; o processo que se segue é de tumefação celular progressiva, lesão da membrana plasmática e morte celular. 2. Lesão por Acetaminofen (Tylenol) – analgésico amplamente utilizado e que é metabolizado no fígado por sulfação e glicuronidação. No sistema citocromo P450 o acetaminofen é transformado em um metabólito tóxico que liga-se com proteína e ácido nucleico, resultando em necrose hepatocelular Modelo dominante de lesão celular: tumefação celular Ultraestrutura da célula lesada: Em resposta a uma lesão podemos ter uma variedade de alterações em estruturas subcelulares, organelas e mesmo no citoesqueleto celular. Nos lisossomos – fusão formando os fagolisossomos. Indução de REL – a ingestão crônica de certas drogas estimula a hipertrofia do REL (via P450) – resulta em maior tolerância e aumento da capacidade de detoxificação de outras drogas Alteração do número e da forma das mitocôndrias Aumento ou redução de mitocôndrias nas células – hipertrofia e atrofia Formação de mitocôndrias gigantes e anormais (alcoolismo) Anormalidades do citoesqueleto Microtúbulos, filamentos de actina e miosina e classes de filamentos intermediários Defeito do funcionamento da célula, locomoção e movimento de organelas intracelulares Síndrome de Kartagener (defeito na organização dos microtúbulos que resultam na imobilidade dos cílios) Acúmulos intracelulares de material fibrilar produzindo alterações citoplasmáticas eosinofilicas (corpúsculos Mallory) – oriunda de filamentos intermediários Esteatose hepática Formação de vacúolos de gordura (intracelulares) Acúmulo de triglicerídeos dentro da célula hepática Esteatose pode ocorrer em vários órgãos– é mais comum no fígado É reversível, podendo evoluir para cirrose. Etiologia: Abuso de álcool Desnutrição proteica Diabetes mellitus Obesidade Hepatotoxinas Outras drogas Patogenia: Entrada excessiva de ácidos graxos no fígado Inanição e uso de corticosteroides Aumento da síntese de ácidos graxos Diminuição da oxidação de ácidos graxos Aumento da esterificação de ácidos graxos em triglicerídeos por aumento do alfa-glicerofosfato (caso do álcool) Redução da síntese de apoproteína (CCl4) Redução da secreção de lipoproteínas do fígado (álcool) A esteatose pode ser grave e fatal como nos casos de esteatose maligna e síndrome de Reygne*****) Hipóxia: Processos patológicos como aterosclerose Insuficiência cardíaca Choque cardiogênico Torção vascular Compressão vascular Isquemia: resulta na redução do fluxo sanguíneo para os tecidos, acarretando hipóxia. Atrofia Infarto tecidual Disfunção orgânica Outras causas de lesão celular: Anormalidades na hemoglobina Defeito ou desacoplamento na fosforilação oxidativa Shunt atrioventricular LESÃO DE REPERFUSÃO: Se o reestabelecimento de fluxo sanguíneo atingir miócitos que já sofreram lesão no tecido subendocárdico necrose tipo banda de contração devido ao cálcio citossólico. A neutralização de RL de superóxido não limita o tamanho do infarto depois da reperfusão. Acúmulos celulares: Resultado de excesso de um produto que normalmente existe na célula (melanina) Excesso de um produto não degradável (pigmento de antracose) Acúmulo de substrato alterado em doenças genéticas (doenças de armazenamento) Acúmulos extracelulares: Amiloide Curpúsculos de Russel Gotas de hialina Arteriosclerose hialina (parede vascular) Cálcio: Calcificação distrófica após processos inflamatórios, por exemplo. Calcificação metastática distúrbio na concentração de cálcio e fósfoto – patologias de paratireoide, por exemplo. Alteração do crescimento e desenvolvimento: Agenesia (sem desenvolvimento) – aplasia (mesmo sentido de agenesia, porém utilizado para estruturas de alta proliferação) – hipoplasia Atrofia – hipertrofia (aumento do tamanho devido ao aumento de cada célula) – hiperplasia (aumento do tamanho devido ao aumento do número de células) RESPOSTAS ADAPTATIVAS CELULARES: Implicam em um novo estado de funcionamento das células com finalidade de um equilíbrio dinâmico A resposta adaptativa inclui acúmulo intracelular e armazenamento de produtos em quantidades anormais São também incluídas como alterações do crescimento e da diferenciação das células. Hiperplasia: aumento do número de células em determinado órgão ou tecido; em geral se acompanha de hipertrofia. Só ocorre nas células com capacidade de síntese de DNA (células epiteliais, da hematopoiese e do tecido conjuntivo). As células nervosas, cardíacas e do músculo esquelético tem pouca ou nenhuma capacidade de sofrer crescimento hiperplásico; quando estimuladas por estímulos de carga ou hormonais, podem sofrer hipertrofia. Fisiológica: - Hormonal proliferação do endométrio por ação estrogênica - Compensatória hiperplasia do fígado após hepatectomia Para que ajam as proliferações celulares comuns à hiperplasia, é necessário o papel de fatores de crescimento (HGF) e TGF-alfa e EGF (fator de crescimento epidérmico) e citocinas TNF-alfa e IL-6. Hiperplasia patológica: Estimulação excessiva por hormônios. Ex: hiperplasia do endométrio. Fatores de crescimento produzidos localmente em resposta a injúrias atuando sobre célula-alvo (proliferação de epitélio por ação viral ou de conjuntivo na cicatrização de feridas) A noção de campo potencial de proliferação celular. Hipertrofia: Aumento do número de organelas (ex: miofilamentos) aumento no tamanho da célula pode ser fisiológico ou patológico Causas e mecanismos da hipertrofia: Aumento da demanda funcional – hipertrofia dos músculos estriados em pessoas que praticam musculação (fisiológica) e hipertrofia ventricular esquerda (patológica) Estimulação hormonal específica uterina, aumento das mamas na gravidez. PONTOS PRINCIPAIS DA AULA: Hipóxia tecidual e presença de radicais livres são os dois principais causadores de lesão celular. Processo patológico: etiologia, patogenia, alterações morfológicas e manifestações clínicas Alteração bioquímica alteração funcional alteração morfológica ao microscópio eletrônico alteração morfológica ao microscópio óptico. Alterações ultraestruturais reversíveis: dispersão de ribossomos, retículo dilatado, marginalização da cromatina, tumefação mitocondrial. Alterações ultraestruturais irreversíveis: floculação da matriz mitocondrial, ruptura de lisossomos, ruptura da membrana celular, cariólise.