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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS ICH – INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS Disciplina: Cultura Religiosa I Prof. Arnon de Miranda Gomes Curso: ___________ Nome: _______________________________ Mística e religião Todas as coisas têm seu outro lado. Captar o outro lado das coisas e dar-se conta de que o visível é parte do invisível: eis a obra da mística. Que é mística? Ela deriva de mistério. Mistério não é o limite do conhecimento. É o ilimitado do conhecimento. Conhecer mais e mais, entrar em comunhão cada vez mais profunda com a realidade que nos envolve, ir para além de qualquer horizonte é fazer a experiência do mistério. Tudo é mistério: as coisas, cada pessoa, seu coração e o inteiro universo. O mistério não se apresenta aterrador, como um abismo sem fundo. Ele irrompe como voz que convida a escutar mais e mais a mensagem que vem de todos os lados, como apelo sedutor para se mover mais e mais na direção do coração de cada coisa. O mistério nos mantém sempre na admiração até o fascínio, na surpresa até a exaltação. Que há de mais misterioso que a pessoa amada? Que mais profundo que o olhar inocente de um recém-nascido? Que mais majestático que o céu estrelado nas noites escuras de inverno ou do cerrado do Brasil Central? Mística significa, então, a capacidade de se comover diante do mistério de todas as coisas. Não é pensar as coisas, mas sentir as coisas tão profundamente que percebemos o mistério fascinante que as habita. Mas a mística revela a profundidade de sua significação, quando captamos o elo misterioso que une e re-une, liga e re-liga todas as coisas fazendo que sejam um Todo ordenado e dinâmico. É a Fonte originária da qual tudo promana e que os cosmólogos chamam com o nome infeliz de ''vácuo quântico''. As religiões ousaram chamar de Deus a essa realidade fontal. Não importam os mil nomes, Javé, Pai, Tao, Olorum. O que importa é sentir sua atuação e celebrar a sua presença. Mística não é, portanto, pensar sobre Deus, mas sentir Deus em todo o ser. Mística não é falar sobre Deus, mas falar a Deus e entrar em comunhão com Deus. Quando rezamos, falamos com Deus. Quando meditamos, Deus fala conosco. Viver essa dimensão no cotidiano é cultivar a mística. Ao traduzirmos essa experiência inominável, elaboramos doutrinas, inventamos ritos, prescrevemos atitudes éticas. Nascem então as muitas religiões. Atrás delas e nos seus fundamentos há sempre a mesma experiência mística, o ponto comum de todas as religiões. Todas elas se referem a esse mistério inefável que não pode ser expresso adequadamente por nenhuma palavra que esteja nos dicionários humanos. Cada religião possui sua identidade e o seu jeito próprio de dizer e celebrar a experiência mística. Mas como Deus não cabe em nenhuma cabeça, pois desborda de todas elas, podemos sempre acrescentar algo a fim de mais bem captá-lo e traduzi-lo para a comunicação humana. Por isso as religiões não podem ser dogmáticas e sistemas fechados. Quando isso ocorre, surge o fundamentalismo, doença freqüente das religiões, seja no cristianismo seja no islamismo. A mística nos permite viver o que escreveu o poeta inglês William Blake (+1827): ''Ver um mundo num grão de areia, um céu estrelado numa flor silvestre, ter o infinito na palma de sua mão e a eternidade numa hora''. Eis a glória: mergulhar naquela Energia benfazeja que nos enche de sentido e alegria. Referência: BOFF, Leonardo. Mística e religião. 06.ago.2006. Disponível em http://leonardoboff.com/site/lboff.htm. Acesso: em 25. ago. 2010.