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1. INTRODUÇÃO 
 
O meio ambiente do trabalho envolve as instalações físicas do local (ventilação, 
iluminação natural ou artificial, ruídos, móveis, maquinário etc.) que devem oferecer 
um ambiente saudável para a prestação do serviço, bem como deve ser minimizada a 
possibilidade de contato com qualquer agente químico ou biológico que traga riscos à 
saúde do trabalhador. Um meio ambiente de trabalho sadio proporciona a manutenção 
da saúde do trabalhador, por sua vez, um meio ambiente de trabalho agressivo leva ao 
surgimento de doenças profissionais e, conseqüente, perda da capacidade laborativa 
deste trabalhador. 
O art.3º, I, da Lei 6.938/81, definiu meio ambiente como "o conjunto de 
condições, leis, influências e interações de ordem física, que permite, abriga e rege a 
vida em todas as suas formas. Posteriormente, com base na Constituição Federal de 
1988, passou-se a entender também que o meio ambiente divide-se em físico ou 
natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio ambiente físico ou natural é constituído 
pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc, incluindo os ecossistemas (art. 225, §1º, 
I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio cultural, artístico, 
arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares etc (art.215, §1º e §2º). 
Meio ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, 
principalmente urbanas (art.182, art.21,XX e art.5º, XXIII) e meio ambiente do 
trabalho é o conjunto de condições existentes no local de trabalho relativos à qualidade 
de vida do trabalhador (art.7, XXXIII e art.200). 
 Podemos, ainda, conceituar meio ambiente do trabalho como "o conjunto de 
fatores físicos, climáticos ou qualquer outro que interligados, ou não, estão 
presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa". Apesar desta definição 
aparentar certo individualismo, isto não acontece pois ante a importância da proteção 
dos trabalhadores e o interesse e obrigação do Estado de protegê-los, como 
demonstrado na legislação constitucional, o conceito extrapola na prática o aparente 
individualismo, tomando conotações de um direito transindividual ao mesmo tempo 
que difuso. 
 Como dito nossa Constituição Federal incluiu entre os direitos dos trabalhadores 
o de ter reduzido os riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, 
higiene e segurança (art.7º, XXII), e determinou que no sistema de saúde o meio 
ambiente do trabalho deve ser protegido (art.200, VIII), mostrando uma moderna 
posição com relação ao tema, de forma que as questões referentes ao meio ambiente 
do trabalho transcendem a questão de saúde dos próprios trabalhadores, extrapolando 
para toda a sociedade. 
Também a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) trata da segurança e saúde 
do trabalhador no art.154 e seguintes do Tít. II, Cap.V e no Tít. III (Normas Especiais 
de Tutela do Trabalho, além das Portarias do Ministério do Trabalho e a Lei Orgânica 
da Saúde (Lei 8.080/90). Há ainda o Programa de Controle Médico e de Saúde 
Ocupacional e o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, sem contar a 
obrigatoriedade das empresas terem que instituir as CIPAs – Comissões Internas de 
Prevenção de Acidentes (art.163,CLT). Tudo visando a preservação da qualidade 
ambiental do local de trabalho. 
 Conforme colocado o meio ambiente sadio do trabalho é um direito 
transindividual por ser um direito de todo trabalhador, indistintamente, e reconhecido 
 
 
como uma obrigação social constitucional do Estado, ao mesmo tempo em que se trata 
de um interesse difuso, ou mesmo coletivo quando se tratar de determinado grupo de 
trabalhadores. Em sendo assim, o meio ambiente do trabalho enquadra-se nos casos 
protegidos pela Lei 7.347/85, que em seu art.1º, I, estabelece a adequação da ação 
civil pública na proteção do meio ambiente e em seu inciso IV inclui também o caso de 
danos causados a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, de forma que é 
plenamente viável falarmos na existência da Ação Civil Pública para resguardar os 
direitos dos trabalhadores terem um ambiente de trabalho sadio e ecologicamente 
equilibrado como preceituado no art.225 da Constituição Federal. Assim, estão 
legitimados para propor a ação civil pública acidentária trabalhista as pessoas de 
diretito público e as entidades elencadas no art.5ºda Lei 7.347/85, dentre elas os 
sindicatos e o Minis tério Público. 
 Aliás, até há pouco tempo discutia-se quanto a competência para julgar tal 
ação, se era da Justiça do Trabalho ou da Justiça Estadual, porém decidiu o Superior 
Tribunal de Justiça que a competência é da Justiça Estadual (Conflito de competência 
16243-São Paulo- Rel.Min.Ari Pargendler,DOU,P.21.435,nº115,17.06.96-J.22.05.96); 
por conseguinte o Ministério Público estadual é que deve ser a parte legítima ativa e 
não o Ministério Público do Trabalho. O próprio Conselho Superior do Ministério Público 
de São Paulo em sua Súmula 15, entendeu que cabe ao Ministério Público estadual 
ajuizar esta ação; neste sentido encontramos também Rodolfo de Camargo Mancuso 
(Ação Civil Pública Trabalhista: Análise de alguns pontos controvertidos, Rev. dos Trib. 
nº 732, pg.11-37). 
 De fato, se observarmos o art.109 da Constituição Federal vamos ver que a 
matéria referente a acidentes do trabalho está excluída da competência dos juizes 
federais. Além disso, a matéria também não faz parte do rol da competência da Justiça 
do Trabalho nos termos do art.114 também da Carta Magna. Dessa forma, 
demonstrado está que as questões jurídicas relativas ao meio ambiente do trabalho 
estão na esfera de competência da Justiça Estadual, consequentemente legitimado 
está o Ministério Público estadual para ajuizar a ação pública referida. 
 Evidentemente que antes de se ajuizar a ação civil pública em questão poderá o 
membro do MP chamar a empresa para tentar solucionar a questão mediante 
compromisso de ajustamento, mas antes ainda poderá requisitar vistoria de 
engenharia e médica do trabalho para verificar as condições inclusive solicitar dos 
peritos quais as medidas técnicas para sanar as irregularidades; requisitar documentos 
como laudos ambientais, relação dos CATs (Comunicação de Acidentes do Trabalho) e 
atas das CIPAs (Comissão Interna de Prevenção de Acidente) e com esses documentos 
tentar o compromisso de ajustamento. Pelo que se sabe as promotorias de Acidentes 
do Trabalhos das comarcas de São Paulo têm conseguido acordos com resultados 
positivos na quase totalidade dos inquéritos civis nesta área. 
 Portanto, o empregador que por inobservância das normas de segurança do 
trabalho não fornecer aos seus empregados um ambiente de trabalho sadio e, 
consequentemente, vier a causar-lhes danos poderá sofrer ação civil pública para que 
adapte seu estabelecimento e/ou pague multa, bem como poderá ter seu 
estabelecimento fechado judicialmente, além de poder responder criminalmente. 
Estará ainda sujeito a multas administrativas (art.201,CLT), interdição do 
estabelecimento ou equipamento (art.161, CLT). Sem contar que poderá responder por 
indenização, em se constando sua culpa e dano ao trabalhador, apuráveis através da 
respectiva ação de indenização (art.7º,XXVIII, CF e art.159, Código Civil). 
 
 
 Ante o exposto, podemos concluir que o conceito de meio ambiente evoluiu 
abrangendo atualmente além do fator natural e físico, o cultural, o artificial e meio 
ambiente do trabalho. Quanto a este último em especial, constata-se que tomou 
conotação transindividual e de interesse difuso, possibilitando a sua proteção por meio 
da ação civil pública com fulcro na Lei 7.347/85, tornando-se um importante direito de 
todos os trabalhadores e da sociedade como um todo, além de um dever do Estado de 
protegê-lo. 
 Por conseguinte,isto certamente levará as empresas a dar mais atenção ao 
ambiente de suas instalações como escritórios e parques industriais, adequando-os aos 
novos anseios mundiais de desenvolvimento e de qualidade de vida, o que só trará 
vantagens diretas aos trabalhadores e indiretamente à toda sociedade. 
 
 
2. TUTELA JURISDICIONAL 
Qualquer ação pode ser utilizada para efetivação da tutela do meio ambiente do 
trabalho. É importante, no entanto, ressaltar algumas com sede constitucional: 
2.1 Ação popular 
 O constituinte de 1988 ampliou o âmbito de aplicação da ação popular, 
conforme se depreende o artigo 5º, inciso LXXIII: 
Art. 5º. (…) 
(…) 
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a 
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, 
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da 
sucumbência (…). 
Até o advento da Constituição Federal, nos termos da Lei n. 4.717/65, a ação 
popular tinha como finalidade precípua a nulidade de ato lesivo ao patrimônio público. 
Desde 1988, no entanto, sua finalidade alcança atos lesivos à moralidade 
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Logo, 
observados os pressupostos típicos dessa ação, poderá ser utilizada para a 
salvaguarda do meio ambiente do trabalho. 
2.2 Mandado de Segurança Coletivo 
 O constituinte de 1988 criou uma nova forma de impetração do mandado de 
segurança coletivo, conforme se verifica do artigo 5º, inciso LXX: 
Art. 5º. (…) 
(…) 
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional; 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída 
e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus 
membros ou associados (…). 
Como as relações de trabalho podem envolver os sindicatos, essas organizações 
estariam perfeitamente habilitadas para defender, através de mandado de segurança 
coletivo, o meio ambiente do trabalho, já que este está incluído no grupo de matérias 
de “interesse de seus membros e associados”. 
 
 
2.3 Mandado de Injunção 
 Também no artigo 5º, agora no inciso LXXI, o constituinte assegura o mandado 
de injunção, nos seguintes termos: 
Art. 5º. (…) 
(…) 
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e 
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (…). 
Na hipótese da existência de alguma norma constitucional de eficácia limitada 
(normalmente programática), protetora direta ou indiretamente do meio ambiente do 
trabalho, poderá ser impetrado mandado de injunção, para dar-lhe aplicabilidade 
plena. Afinal, toda a matéria relacionada com o meio ambiente, como já visto, abrange 
os direitos e liberdades constitucionais. 
2.4 Ação Civil Pública 
Majoritariamente, a tutela jurisdicional do meio ambiente do trabalho é 
efetivada através da ação civil pública, prevista na legislação infraconstitucional pela 
Lei n. 7.347/85 e elevada ao nível constitucional pela Carta Magna de 1988, que no 
seu artigo 129, III estipula o seguinte: 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
(…) 
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do 
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e 
coletivos (…). 
O aparecimento de referida ação decorreu da constatação da insuficiência da 
clássica ciência processual, pautada no liberalismo individualista, típico das 
codificações do século XIX. Em virtude desse reconhecimento, fez-se imprescindível e 
necessário o surgimento de um processo diferenciado, que possibilitasse aos cidadãos 
reclamar do Estado um provimento jurisdicional justo e efetivo, também para este 
novo tipo de lesão envolvendo os interesses difusos. 
Nesse sentido, ensina a Professora Ada Pellegrini Grinover, "a solução 
macroscópica de tais conflitos, por intermédio de processos em que a lide seja 
resolvida, de uma vez por todas, com relação a todos os titulares dos interesses em 
conflito, significa a acolhida de novas formas de participação, pela ação de corpos 
intermediários". 
 Também José Joaquim Gomes Canotilho afirma que "o direito a um 
procedimento justo implicará hoje a existência de procedimentos colectivos 
(Massenverfahren na terminologia alemã), possibilitadores da intervenção colectiva 
dos cidadãos na defesa de direitos econômicos, sociais e culturais de grande relevância 
 
 
para a existência colectiva (exemplo: 'procedimentos de massas', para a defesa do 
ambiente, da saúde, do patrimônio cultural, dos consumidores)". 
Por isso, no Brasil foi promulgada a Lei n. 7.347/85, instituidora da ação civil 
pública, exatamente para suprir as necessidades do processo moderno, próprio do 
século XX. E esse diploma legal trouxe muitas vantagens. 
Em primeiro lugar, soluciona os problemas relacionados com a admissibilidade 
em juízo: 
a) faz prevalecer o princípio da universalidade do acesso à justiça, já que o 
artigo 5º considera legitimados ativos o Ministério Público, a União, os Estados, os 
Municípios, as autarquias, as empresas públicas, as fundações, as sociedades de 
economia mista e as associações (incluindo-se os sindicatos); 
b) supera o problema das barreiras econômicas. Ainda que os cidadãos 
atingidos por uma macrolesão não possam se socorrer do Judiciário, por falta de 
assistência jurídica especializada ou por conta do alto custo do processo — que, na 
maioria das vezes, exige a realização de complicadas perícias —, os legitimados ativos, 
além de possuírem corpo jurídico especializado, têm maiores possibilidades de efetuar 
convênios com órgãos, estatais ou não, habilitados para a realização de provas 
técnicas; 
c) sana o problema da desinformação dos cidadãos atingidos pela macrolesão, 
tanto sobre o direito pretendido, como sobre a forma de acesso à justiça; e 
d) resolve o problema do descrédito em relação ao Judiciário, pois a tutela 
concedida será muito mais eficaz, já que atingirá todas as pessoas envolvidas no 
conflito. 
Em segundo lugar, a Lei n. 7.347/85 encontra solução para a problemática da 
coleta de provas, pois o seu artigo 2º estipula que as ações civis públicas devem ser 
propostas no foro do local onde ocorrer o dano, facilitando a instrução probatória. A 
grande vantagem dessa determinação é fazer com que o juiz que julgará a causa fique 
próximo da questão social envolvida, para melhor dimensioná-la e entendê-la. 
Em terceiro lugar, há maior utilidade das decisões. A sentença proferida em 
sede de ação civil pública tem eficácia erga omnes, atingindo todas as pessoas que 
estejam naquela situação (art. 16, primeira parte). Ademais, a coisa julgada é 
secundum eventum litis (art. 16, segunda parte), ou seja, só restará caracterizada em 
função do resultado da lide, pois se a ação civil pública for julgada improcedente por 
deficiência de provas, não haverá configuração da res judicata. Essa medida protege a 
questão social e impede que as pessoas atingidas por uma macrolesão sejam 
prejudicadas, se o legitimado ativo não as defender bem. 
Em quarto lugar, está o objetivo principal da ação, que é a reconstituição do 
bem lesado (art. 13). Além disso, a decisão pode, também, ter caráter preventivo ou 
cominatório (art. 11), ou seja, o legislador preocupou-se com a efetividade da solução 
dada pelo Estado-juiz. Em outras palavras, a lei privilegia a reconstituição do bem 
lesado ou a prevenção da macrolesão, e não apenas a mera re paração pecuniária. 
 
 
Em quinto lugar, a Lei n. 7.347/85 faz imperare prevalecer o princípio da 
economia processual. Com a utilização das ações civis públicas, há um gasto mínimo 
de tempo e de energia de toda a máquina do Poder Judiciário, pois evita-se a 
propositura de diversas ações individuais sobre uma mesma matéria. Evita-se, ainda, a 
existência de sentenças contraditórias para lides praticamente idênticas. 
É possível perceber que a Lei n. 7.347/85 muda a concepção de diversos 
institutos processuais clássicos, como por exemplo, a legitimidade ativa e a coisa 
julgada. 
O objetivo dessas mudanças é alcançar a efetividade do processo, fazendo com 
que este seja, realmente, instrumento de atuação da jurisdição. Isso porque, em 
última instância, todo direito me taindividual poderá sempre ser visto como uma 
"pequena causa", mas o que se busca, na verdade, é um provimento jurisdicional 
efetivo, que alcance de uma só vez todas as "pequenas causas", garantindo-se o 
acesso à justiça e a efetividade da decisão. 
Por não ser um fim em si mesmo, o processo não pode, em hipótese alguma, 
dissociar-se do direito material. Trata-se, assim, de adequar o processo às relações de 
massa que atingem novos tipos de interesses, ou seja, os interesses metaindividuais. 
A Carta Política de 1988 acompanhou essa evolução, deixando incontestável a 
preocupação do constituinte em assegurar a tutela dos interesses acima mencionados. 
E como o processo deve servir ao direito material, deixa de ser uma ciência neutra, 
para acompanhar a opção polít ica e ideológica do constituinte. Em virtude dessa 
preocupação, o constituinte deu status constitucional à ação civil pública, antes 
prevista apenas na legislação ordinária, como já mencionado acima. 
Depois disso, em 1990, a Lei n. 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, 
veio aperfeiçoar a tutela jurisdicional coletiva, traçando regras processuais, no seu 
Título III, que podem ser aplicadas a quaisquer processos que envolvam direitos 
metaindividuais e não apenas aqueles atinentes às relações de consumo. Além de 
“complementar” a Lei da Ação Civil Pública, o CDC dirimiu polêmicas doutrinárias, 
particularmente no que diz respeito à sistematização do interesses metaindividuais, 
conforme se verá adiante. 
Esses dois diplomas legais, Leis ns. 7.347/85 e 8.078/90, informam o moderno 
processo coletivo, criando novos institutos processuais e reformulando outros já 
existentes, para que o processo acompanhe a evolução das relações sociais. 
No que diz respeito à tutela do meio ambiente do trabalho, o objeto precípuo da 
ação civil pública é preventivo. Trata-se de tentar evitar a ocorrência de acidente, com 
a observância das normas de segurança e medicina do trabalho. Nessas ações, é 
incontestável a natureza trabalhista, pois há conexão direta com as condições de 
trabalho, que, por sua vez, integram o próprio contrato de trabalho (art. 114 da 
Constituição Federal). 
Por tal motivo, a Justiça Especializada Laboral é o órgão do Poder Judiciário com 
competência para julgar tais ações; e o Ministério Público do Trabalho, o ramo do 
Parquet com legitimidade para propô-las. Esse é o entendimento que vem 
prevalecendo na Justiça do Trabalho, conforme se depreende das seguintes ementas: 
 
 
Ação Civil Pública. Normas de Higiene e Segurança. Competência. A 
Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar ação civil pública, 
proposta pelo Ministério Público do Trabalho, quando o objeto da ação for 
norma de higiene e segurança não observada pela empresa. Tais normas 
advêm do contrato de trabalho. Seu não cumprimento fere o caráter 
sinalagmático da relação contratual. (TRT-15ª Região – Ac. n. 16.814/93 – rel. 
Juíza Eliana Felippe Toledo – DOESP, de 30.11.96). 
Justiça do Trabalho. Competência. Tratando-se da defesa de interesses 
coletivos e difusos no âmbito das relações laborais, a competência para 
apreciar ação civil pública é da Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, da 
Constituição Federal/88, que estabelece idoneidade a esse ramo do Judiciário 
para a apreciação, não somente dos dissídios individuais e coletivos entre 
trabalhadores e empregadores, mas também de outras controvérsias 
decorrentes da relação de trabalho. Recurso de Revista não conhecido quanto 
ao tema, porque não demonstrada a vulneração ao art. 114 da Carta Política 
ou a qualquer outro dispositivo legal, mas conhecido e provido quanto aos 
honorários advocatícios, nos termos do inciso VIII, do Enunciado 310/TST. 
(TST - 5ª Turma – rel. desig. Min. Thaumaturgo Cortizo – DJU, de 7.8.98, Seç. 
1, p. 895). 
Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal, intérprete máximo do Texto 
Constitucional, posicionou-se igualmente, afastando, de forma definitiva, qualquer 
polêmica sobre a eventual competência das Varas de Acidente de Trabalho, como 
pode-se notar a seguir: 
Compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação civil pública que tenha por 
objeto a preservação do meio ambiente trabalhista e o respeito irrestrito às normas de 
proteção do trabalho. Com esse entendimento, a Turma julgou procedente recurso 
extraordinário, para reformar Acórdão do STJ que, ao dirimir conflito negativo de 
competência estabelecido entre a 4ª Junta de Conciliação e Julgamento de Juiz de Fora 
e o Juízo de Direito da Fazenda Pública, assentava a competência da Justiça comum 
para o julgamento da ação civil pública, entendendo ser esta uma verdadeira aç ão de 
acidente do trabalho. Trata-se, na espécie, de ação civil pública proposta pelo 
Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra vinte e um bancos, em que se 
busca o cumprimento da legislação trabalhista diante da precariedade das condições e 
do ambiente do trabalho oferecidas pela rede bancária de Juiz de Fora, quais sejam, a 
extrapolação da jornada de trabalho e o conseqüente aparecimento de lesões pelo 
esforço repetitivo — LER. (STF – RE n. 206.220-1-MG – Ac. 2.ª T. – 16.3.1999 – rel. 
Min. Marco Aurélio – Revista LTr 63-5/628-630). 
Assim, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal, não cabe mais 
discussão sobre qual órgão do Poder Judiciário é competente para julgar as ações que 
tratem da proteção do meio ambiente do trabalho: nos termos do artigo 114 da Carta 
Magna, a competência é da Justiça do Trabalho. 
Conseqüentemente, como ramo do Ministério Público que tem por função 
defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais 
indisponíveis, no âmbito da Justiça Laboral, caberá ao Ministério Público do Trabalho 
propor as respectivas ações civis públicas (art. 128, inciso III combinado com o art. 
129, inciso III, da Constituição Federal). 
 
 
 
2.5 As constituições estaduais 
Voltando aos artigos 23, 24 e 30 da Constituição da República, verifica-se que: 
a) No art. 23 - competência material comum entre União, Estados, Distrito 
Federal e Municípios - o inciso II determina que todos estes entes federados cuidem da 
saúde da população e o inciso VI, preconiza que devem proteger o meio ambiente e 
combater a poluição em qualquer de suas formas. 
b) No art. 24 - competência legislativa concorrente entre União, Estados e 
Distrito Federal - o inciso VI permite que legislem sobre a proteção do meio ambiente 
e controle da poluição, o inciso VIII que disciplinem adequadamente a responsabilidade 
por dano ao meio ambiente e o inciso XII que estabeleçam normas acerca da proteção 
e defesa da saúde. 
c) No art. 30, I e II, resta estabelecida a competência dos Municípios para 
legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar as legislações federal e 
estadual. 
Como ficou dito acima, o bem jurídico tutelado pelas normas ambientais, no 
meio em que a pessoa humana desenvolve suas atividades produtivas, é a saúde e 
não o trabalho subordinado. A competência para legislar sobre trabalho, regido por 
contrato próprio, é da União, consoante dispõe o art. 22, I, da Carta Magna. Referida 
competênciaengloba apenas os aspectos contratuais, pecuniários e processais 
relativos ao exercício do trabalho subordinado. 
Entretanto, quando se trata de proteger a vida, a saúde e a dignidade da 
pessoa que trabalha, em relação direta com a influência proveniente do meio ambiente 
em que esta se ativa, a competência tanto material como legislativa diz respeito ao 
meio ambiente e à saúde, competindo aos demais entes federados, além da União, 
como prevêem os artigos 23. 24 e 30, da Lei Maior, acima aludidos, zelar pela 
proteção do meio em que o trabalhador exerce suas atividades, bem como buscar a 
preservação da saúde humana. 
Retomando aquilo que inicialmente foi dito sobre o movimento transversal do 
Direito Ambiental, presente nos mais diversos diplomas legais, perpassando todo o 
ordenamento jurídico, verifica-se que a Consolidação das Leis do Trabalho, no Capítulo 
V, do Título II, que cuida da segurança e medicina do trabalho, não contém apenas 
normas endereçadas àquele que está sob contrato de trabalho, em sentido estrito, mas 
normas ambientais relacionadas à prática de qualquer trabalho, em defesa da saúde, 
ao buscar a manutenção de um meio ambiente propício à incolumidade física do 
obreiro. 
Releva notar que o art. 154, da CLT, prevê não bastar obediência ao disposto 
no Capítulo V, mas determina que o empregador ou todo aquele que se utiliza, a 
qualquer título, da força de trabalho humana cumpra as disposições relativas à matéria 
concernente à saúde do trabalhador, no meio ambiente laboral, incluídas em códigos 
de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios, em que se situem 
seus estabelecimentos. 
 
 
O Professor Doutor Celso Antônio Pacheco Fiorillo assevera que " ...jamais se 
deve restringir a proteção ambiental trabalhista a relações de natureza unicamente 
empregatícia"(...) " O que interessa é a proteção ao meio ambiente onde o trabalho 
humano é prestado, seja em que condição for....". 
Valentin Carrion admite expressamente que: "União, Estados e Distrito Federal 
podem legislar concorrentemente sobre proteção e defesa da saúde(CF, art. 24, XII);" 
E os Estados vêm legislando sobre matéria de saúde no trabalho, inserindo normas 
de observância obrigatória, em seus territórios, nas respectivas Constituições. 
A seguir, são mencionadas disposições específicas sobre a matéria, constantes 
de algumas Constituições Estaduais, que primaram na elaboração de normas atinentes 
à saúde do trabalhador, no meio ambiente em que este exerce suas atividades. 
1. Constituição do Estado de São Paulo. 
O artigo 220, § 1°, presente na Seção II, do Capítulo II, do Título VII, ao cuidar 
da Saúde, estabelece: "As ações e os serviços de preservação da saúde abrangem o 
meio ambiente natural, os locais públicos e de trabalho." 
Significativas são as disposições presentes no art. 223 ao determinar ao 
sistema único de saúde: a) no inciso II, a identificação e controle dos fatores 
determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, mediante ações 
referentes à saúde do trabalhador, de acordo com previsão contida na alínea "c"; b) no 
inciso VI, a colaboração na proteção do meio ambiente, incluindo o do trabalho, a 
partir de atuação no processo produtivo para garantir o acesso dos trabalhadores às 
informações respeitantes a atividades que comportem riscos à saúde e a métodos de 
controle e adoção de medidas preventivas de acidentes e doenças do trabalho. 
Em decorrência desse espectro de proteção conferido ao meio ambiente do 
trabalho, a Constituição Paulista estipula, no art. 229 § 3°, que o Estado atuará para 
garantir a saúde e a segurança dos empregados no ambiente de trabalho. 
O §4°, deste mesmo artigo, assegura a cooperação dos sindicatos de 
trabalhadores nas ações de vigilância sanitária desenvolvidas no local de trabalho e o 
§ 2° garante a interrupção de atividades que coloquem em risco a integridade 
do trabalhador, o que equivale à garantia de paralisação do trabalho, para a 
manutenção da salubridade do meio ambiente, como meio de defesa, sem a 
necessidade do cumprimento das exigências procedimentais, especialmente de prazos, 
estabelecidas pela Lei 7.783/89, que disciplina a greve, tendo em vista a expressa 
autorização constitucional de paralisação do trabalho na defesa de bem indispensável à 
manutenção da vida e de sua sadia qualidade: a saúde. 
2. Constituição do Estado do Rio de Janeiro. 
O art. 290, inciso X, estabelece na alínea "c" o "controle e fiscalização dos 
ambientes e processos de trabalho nos órgãos e empresas públicas e privadas, 
incluindo os departamentos médicos", na alínea "d" assegura "direito de recusa ao 
trabalho em ambientes sem controle adequado de riscos, assegurada a 
permanência no emprego" e na línea "h" determina a "intervenção, 
interrompendo as atividades em local de trabalho em que haja risco iminente 
ou naqueles em que tenham ocorrido graves danos à saúde do trabalhador. " 
 
 
Oferece, por conseguinte, ao trabalhador dois importantes meios de defesa da 
higidez do meio ambiente do trabalho: a paralisação das atividades em casos de riscos 
não controlados, sem maiores óbices ou exigências legais, e a intervenção estatal no 
sentido de interromper atividades em locais de trabalho com acentuado risco à saúde 
humana. 
3. Constituição do Estado do Amazonas. 
O § 2°, do artigo 229, da Constituição do Amazonas, consagra taxativamente, a 
proteção ao meio ambiente do trabalho, pois, se no caput do artigo dispõe que: " 
Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade devida, 
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo", no 
§2° já aludido especifica: " Esse direito estende-se ao ambiente de trabalho, ficando 
o Poder Público obrigado a garantir essa condição contra qualquer ação nociva à saúde 
física e mental do trabalhador". 
4. Constituição do Estado da Bahia. 
O art. 218 desta Constituição Estadual dispõe expressamente: " O direito ao 
ambiente saudável inclui o ambiente de trabalho, ficando o Estado obrigado a garantir 
e proteger o trabalhador contra toda e qualquer condição nociva à sua saúde física e 
mental." 
O art. 239 determina às empresas que submetam, periodicamente, seus 
empregados expostos a substâncias químicas, tóxicas ou radioativas a exames 
médicos individuais . 
 
 
 
 
3. ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE VERSUS HIGIDEZ DO 
MEIO AMBIENTE DE TRABALHO: ESSA “LUTA” QUEM DEVE VENCER? 
Algumas atividades profissionais são extremamente perniciosas para quem as 
desenvolve, ou porque lhes é inerente um determinado risco - como ocorre com as 
atividades nucleares - ou porque, embora originariamente inofensivas, o meio em que 
se desenvolvem não dispõe de condições razoáveis de salubridade ou segurança - é o 
caso de um escritório onde as pessoas passam o dia todo sentadas em cadeiras 
anatômicas, à mercê de mofo, ruídos insuportáveis, escassa iluminação e insuficiente 
ventilação. 
Parecerá ao mais desavisado que, ainda assim, ou seja, ainda que o trabalhador 
permaneça exposto a agentes agressores de sua saúde físico-psíquica, por oito (ou 
mais) horas diárias, a situação não lhe é de todo prejudicial, já que a Consolidação das 
Leis do Trabalho (CLT) - diploma paternalista, para alguns - garante àqueles que 
desempenham seu mister num ambiente insalubre ou perigoso um adicional de 
insalubridade ou de periculosidade, de - pasmem!! - 10% a 40% do salário mínimo 
da região, no primeiro caso, ou de 30% do salário, sem os acréscimos resultantes de 
gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa, na segunda hipótese. 
O indivíduo vai perder um dedo ou um braço, vai perder a visão, vai ficar surdo, 
vais sofrer distúrbios mentais e contrair doenças irremediáveis, mas, 
em"compensação", vai ficar uns trocados mais rico (ou uns trocados menosmiserável). 
É bem verdade que CLT indica várias formas de atenuar ou eliminar, do meio 
ambiente de trabalho, males de tal jaez. Demonstra, inclusive, que prefere tais 
procedimentos ao pagamento dos adicionais. Todavia, forçoso é reconhecer que a lei, 
ainda assim, permite ao empregador OPTAR - é o que se depreende do art. 189 e ss. - 
por uma de duas alternativas absurdamente distintas: ou zelar pela saúde do 
empregado ou, se não o fizer, pagar-lhe uma quantia irrisória como compensação por 
ele sofrer agressões, às vezes irreversíveis, em sua integridade físico-psíquica. 
Colocada a questão sob esse prisma, - e não é preciso ser versado nas ciências 
jurídicas para perceber -, a complacência da lei em permitir que o empregador escolha 
o adicional de insalubridade ou periculosidade, quando possível eliminá-las, em 
detrimento da garantia da saúde do trabalhador, parece-nos nada razoável. Muito pelo 
contrário, um verdadeiro paradoxo. 
Por conta disso é que o quadro descrito merece ser interpretado com mais 
rigor, À LUZ DA CARTA CONSTITUCIONAL DE 1988. 
A Constituição da República, lei das leis, demonstra, em várias oportunidades, 
profunda preocupação com a qualidade de vida do ser humano (art. 225, caput), com 
sua saúde físico-psíquica (art. 6º, caput) e com a dignidade de vida (art. 1º, inc. III), 
determinando a tutela desses bens em primeiro lugar. 
Ocupa-se também de prover a ampla e necessária tutela do equilíbrio do meio 
ambiente, considerado este sob quatro facetas: meio ambiente natural (art. 225), 
 
 
meio ambiente artificial (art. 182 e ss.), me io ambiente cultural (art. 215 e 216) e 
meio ambiente do trabalho (art. 200, inc. VIII). 
Isso não bastasse, o art. 7º, inc. XXII consagra como direito básico do 
trabalhador, a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de 
saúde, higiene e segurança ”. 
Visto isso, como se admitir, diante da Lei Maior, que a saúde, direito 
fundamental de todos, inclusive do trabalhador, possa ser “barganhada” dessa forma ? 
Como assentir que, em troca de míseros 40, 50 reais ou até menos, um trabalhador se 
veja privado da salubridade e segurança necessárias ao meio ambiente do trabalho e 
das condições indispensáveis à sua qualidade de vida ? Como aceitar que o empresário 
possa incrementar o próprio patrimônio (ou ao menos impedir que ele diminua) à 
custa da falência física e psíquica de seus empregados ? 
Sim, porque é certo que o empregador, via de regra, preferirá pagar o ínfimo 
adicional aos seus subordinados do que investir em medidas mitigadoras ou 
extirpadoras das insalubres ou perigosas condições do meio, tais como o investimento 
em avançados equipamentos de segurança, que evitariam trágicos acidentes, alguns 
dos quais fatais, ou a aquisição de máquinas mais modernas e pouco ruidosas, que 
impediriam irreversíveis problemas auditivos nos trabalhadores. 
É óbvio que a Constituição não compactua com essa situação, de modo que a 
política dos adicionais estabelecida, há algumas décadas, pela CLT, deve ser revisitada 
e adaptada aos valores jurídico-sociais predominantes no momento histórico atual, no 
qual a saúde, vista não apenas como a ausência de doença, mas bem estar físico e 
emocional, contínuo e permanente (OMS), é direito fundamental da pessoa humana, 
do qual não se pode dispôr. Equivale dizer, nessa linha, que a opção outrora dada ao 
empregador pela CLT - ou extirpar a insalubridade ou pagar o adicional - cedeu espaço 
para a obrigatoriedade de eliminar os agentes predadores da saúde humana, já que, 
acentua com maestria Antônio Lopes Monteiro, Promotor de Justiça de Acidentes do 
Trabalho do Ministério Público de São Paulo,"não há adicional que pague um 
ambiente sadio "("Insalubridade: Um Direito ou um Mal Necessário ?", in Tribuna do 
Direito, abril de 1996, p. 8) 
Não queremos defender, todavia, a absoluta inconstitucionalidade dos 
adicionais supra mencionados. Não. Os adicionais de insalubridade, periculosidade e 
penosidade (criado pela CF/88), inclusive, encontram respaldo na própria Constituição, 
em seu art. 7º, inc. XXIII. Mas não é por conta disso que persiste para o empregador a 
combatida “ escolha ” entre pagá-los ou extirpar suas causas do ambiente de trabalho. 
Entendemos, isso sim, que o adicional poderá existir apenas quando tais condições 
NÃO FOREM PASSÍVEIS DE ELIMINAÇÃO, dada a precária tecnologia da época ou 
motivos que o valham, e se, aliado a isso, a atividade, nada obstante a inafastável 
insalubridade, periculosidade ou penosidade, FOR REALMENTE IMPERIOSA PARA O 
ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES DA COLETIVIDADE. 
A esse respeito, a lição de Daniela Câmara Ferreira e Guilherme Purvin de 
Figueiredo é providencial e, por essa razão, não podemos deixar de comenta-la e 
transcrever alguns de seus trechos. Afirmam que, consoante o comando constitucional, 
o Estado não tolerará atividade que ponha em, risco a vida, a integridade física e a 
segurança dos indivíduos. Mas, de outro lado, assumem que a exposição ao risco é 
indissociável a certas profissões em nosso aual estágio de desenvolvimento 
 
 
tecnológico, situação essa que não deve ser desconsiderada pelo legislador, por 
óbvio... 
E continuam: 
“Os eletricitários estão diuturnamente expostos ao perigo para que todos 
tenhamos o conforto do fornecimento de energia, necessária, por exemplo, para o 
funcionamento normal de hospitais e ambulatórios (...) Os médicos, enfermeiros e 
analistas de laboratórios clínicos arriscam-se ao contágio das mais variadas doenças, 
sempre em prol da saúde da população. 
Há uma lista infindável de profissões insalubres e perigosas. O legislador não 
pode, simplesmente, proibir tais atividades, ignorando o fato de que certos produtos e 
serviços são imprescindíveis para a implementação do disposto no próprio art. 225, 
caput. Em contrapartida, ele não pode ser conivente com a livre agressão à saúde do 
trabalhador. 
(...) 
A simples percepção do adicional nada resolve. Nenhum adicional reparará a 
morte, perda ou redução da capacidade de trabalho. Sabe-se que os trabalhos 
perigosos e insalubres são, na maioria das vezes, de baixa remuneração, de forma que 
os valores são calculados sobre salários muito pequenos, resultando em acréscimos 
ínfimos nos salários dos trabalhadores expostos ao risco. Poder-se-ia dizer que vinte 
por cento de acréscimo sobre um salário mínimo é dinheiro suficiente para indenizar 
um eventual acidente ? Este valor recompensará a ausência de um meio ambiente de 
trabalho saudável e seguro ? 
Não se pode dizer também que o pagamento do adicional é um estímulo para a 
introdução de tecnologias que contribuam para a diminuição do risco. Apesar da 
legislação infraconstitucional tentar fazê-lo ao desobrigar o empregador do pagamento 
do adicional quando da extinção do risco, este não é realmente um fator decisivo. 
Muitos empresários preferem continuar pagando os costumeiros adicionais a investir 
em equipamentos mais seguros (porém mais caros) e reformular seus velhos métodos 
de produção. 
A percepção do adicional não extingue o risco. O empregador deve, de todas as 
formas possíveis, buscar minimizar os riscos existentes de fato em sua atividade 
econômica, fornecendo o material de proteção necessário, investindo segurança e 
treinamento. Ele deve, como forma de concretizar o direito do empregado à 
integridade física, provê-lo de toda a técnica existente e capaz de afastar o risco, posto 
que esta redução é uma previsão constitucional. O pagamento do acréscimo não 
desobriga o empregador da busca de meios eficazes para a diminuição do risco. 
(...) 
O direito à percepção do adicional não deve ser entendido isoladamente, como 
uma barganha ou indenização. Ele deve, em suma, ser interpretado conjuntamente 
com o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, como uma forma de alcançar 
estaredução, garantindo assim a efetividade do direito à vida e integridade física ” 
(Direito Constitucional ao Meio Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável. In: Temas de 
Direito Ambiental e Urbanístico. São Paulo: Max Limonad, 1998, p.109-15) 
 
 
O risco a que alguns empregadores submetem a saúde e segurança de seus 
empregados só se justifica, portanto, se, diante da comprovada impossibilidade de 
elidi-lo, houver um interesse (verdadeiramente) maior que o reclame. E sendo assim, 
ou seja, sendo inevitável que algumas pessoas enfrentem a insalubridade, a 
periculosidade e a penosidade do meio ambiente do trabalho, para o bem da 
coletividade, que ao menos sejam “gratificados” pela coragem desse proceder (que, 
admitamos, está mais para falta de opção do que para coragem propriamente dita) e 
pela “ disposição ” de um de seus bens mais caros, a sua integridade físico-psíquica. 
 
 
 
 
 
4. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS 
CAUSADOS AO TRABALHADOR 
A entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2002) trouxe consigo 
promessas e desafios. No campo da responsabilidade civil, a redação do artigo 927, 
par. único, do NCC entreabriu uma porta dilargada para que o intérprete identificasse, 
no cruzamento dos dados da realidade com o arcabouço legislativo, ensejos inéditos 
para a aplicação da teoria do risco, onde se plasma a responsabilidade civil objetiva. 
No universo juslaboral, esse assunto ganhou interesse no campo da 
infortunística do trabalho, notadamente após a edição da Súmula n. 736 do STF e, 
mais recentemente, com a alteração do artigo 114 da CRFB pela EC n. 45/2004, à qual 
se seguiu a inteligência do Excelso Pretório no Conflito de Competência n. 7.204-1/MG, 
rel. Min. Ayres Britto (fixação da competência da Justiça do Trabalho para o processo e 
o julgamento das ações de responsabilidade civil movidas pelo empregado em face do 
empregador). 
Em se tratando de meio ambiente do trabalho, a Constituição Federal de 1988 
apresenta ao menos duas antinomias aparentes. Uma delas deflui do cotejo entre as 
normas constitucionais dos incisos XXII e XXIII do artigo 7º da Constituição Federal. O 
primeiro estabelece, como direito dos trabalhadores urbanos e rurais, a redução dos 
riscos inerentes ao trabalho; o segundo, ao revés, contrapõe ao risco o direito ao 
adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas (= 
monetização do risco). Outra antinomia aparente contrapõe o artigo 7º, XXVIII, da 
CRFB ? que parece vincular o direito de indenização do acidentado frente ao 
empregador à culpa ou dolo deste último (na esteira da Súmula n. 229 do STF, 
parcialmente superada) ? e o artigo 225, §3º, da CRFB ? que, sem aludir ao 
elemento subjetivo da conduta, destaca a obrigação do responsável à reparação dos 
danos de natureza ambiental a que der causa (o que deve incluir, por força do artigo 
200, VIII, in fine, os danos relacionados ao meio ambiente do trabalho, derivados da 
inobservância das normas de segurança, higiene e saúde no trabalho). E, com efeito, o 
artigo 14, §1o, da Lei n. 6.938/81 dispõe, em matéria ambiental, que "é o poluidor 
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar os danos 
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade". São, portanto, 
normas contraditórias? Aparentemente, sim; concretamente, não. 
Quanto à primeira antinomia, resolve-se-a com a idéia de que a exposição ao 
risco é intrínseca a certas profissões no atual estágio de desenvolvimento tecnológico 
("Risikogesellschaft"). Haverá, sempre, trabalho penoso, insalubre ou perigoso, que 
poderá ser empreendido, à luz dos princípios insculpidos no artigo 170 da CRFB (livre 
iniciativa e livre concorrência), ou mesmo que deverá ser empreendido, à mercê do 
interesse público primário (e.g., as atividades de geração e transmissão de energia 
elétrica, potencialmente perigosas ? v ide Lei n. 7.369/85). Assim, se a redução 
máxima do agente prejudicial, i.e., a sua eliminação, é o primeiro propósito da lei 
(propiciando, inclusive, a supressão do adicional ? Súmula n. 80 do C.TST), a 
Constituição transige com a realidade, estipulando o pagamento de adicionais para as 
atividades insalubres, perigosas e penosas, enquanto o atual estado da técnica não 
permitir, em determinadas atividades econômicas, a eliminação ou sequer a redução 
do elemento perverso a níveis toleráveis para a saúde humana. Nem por isso se 
haverá de proibir aquela dada atividade, seja por sua necessidade social, seja em 
respeito ao primado da livre iniciativa. Para esses casos, estão previstos os adicionais 
 
 
de remuneração. Por outro lado, se o estado atual da técnica permitir a eliminação dos 
riscos sem comprometimento cabal da atividade econômica, o trabalho perverso deve 
ser sumariamente eliminado; e, para tanto, poderão os trabalhadores e/ou o sindicato 
recorrer às instâncias do Poder Judiciário. Tal interpretação, sobre coordenar 
habilmente as duas normas constitucionais (e, por conseqüência, os dois princípios 
contrapostos ? direito ao meio ambiente do trabalho são e equilibrado e livre iniciativa 
econômica), realiza, no plano hermenêutico, a aplicação dos princípios da máxima 
efetividade e da força normativa da Constituição, que devem inspirar todos os 
esforços exegéticos no plano dos direitos humanos fundamentais. 
Quanto à segunda antinomia, há que distinguir entre as causas do dano 
experimentado pelo trabalhador no ambiente de trabalho. Haverá causas diretamente 
ligadas ao desequilíbrio do meio ambiente de trabalho, atraindo a norma do artigo 225, 
§3º, da CRFB e, com ela, a regra do art igo 14, §1º, da Lei n. 6.938/81. E outras 
haverá que não terão natureza sistêmica, devendo-se antes a circunstâncias 
imponderáveis como o ato negligente, as paixões ou o pendor criminoso. Com efeito, o 
conceito lato de poluição introduzido pelo artigo 3o, III, da Lei n. 6.938/81 permite 
reconhecer a figura da poluição labor-ambiental, que não se atém aos quadros de 
afetação da biota ou das condições estéticas e sanitárias do meio ambiente (artigo 3o, 
III, "c" e "d") ? como se dá com os agentes químicos, físicos e biológicos em níveis de 
intolerância ? , alcançando ainda os contextos de aguda periculosidade ou penosidade 
(artigo 3º, III, "b": "criem condições adversas às atividades sociais e econômicas"). 
É princípio informador do Direito Ambiental que "os custos sociais externos que 
acompanham a produção industrial (como o custo resultante da poluição) devem ser 
internalizados, isto é, levados à conta dos agentes econômicos em seus custos de 
produção" princípio do poluidor-pagador. Também os custos difusos do sistema de 
seguridade social com a legião brasileira de mutilados e desvalidos são, nesse sentido, 
externalidades a serem internalizadas. E, nesse encalço, a identificação do poluidor no 
meio ambiente do trabalho não oferece qualquer dificuldade: será, em geral, o próprio 
empregador, que engendra as condições deletérias da atividade econômica ou se 
omite no dever de arrostá-las; mas também poderá ser o tomador de serviços, 
quando a organização dos meios de produção e/ou do ambiente de trabalho deflagrar 
desequilíbrio sistêmico em prejuízo da saúde, segurança e bem-estar dos 
trabalhadores. Conseqüentemente, a aplicação do princípio do poluidor-pagador às 
hipóteses de danos pessoais (físicos ou psíquicos) derivados do desequilíbrio labor-
ambiental sistêmico permite entrever que a responsabilidade pela internalização dos 
custos sociais externos e, "a fortiori", a obrigação de indenizar ("Schuld") com 
responsabilidade objetiva ("Haftung"), favorecem não apenas o empregado (= 
trabalhador subordinado), mas todo trabalhador inserido na organização empresarial, 
na acepção lata do artigo 114, I, da CRFB. Essa compreensão atende melhor ao 
princípio insculpido no artigo1º, III, da CRFB, uma vez que, do ponto de vista dos 
direitos humanos de primeira e terceira geração, não se justifica a distinção entre 
empregados, avulsos, autônomos e eventuais. E, na mesma ensancha, inviabiliza a 
tese da natureza contratual da responsabilidade civil do empregador pelos acidentes de 
trabalho (uma vez que, se tal responsabilidade dimanasse de cláusula implícita de 
integridade inerente aos contratos de emprego, não poderia ser imputada aos 
tomadores de serviços em geral). 
Conseqüentemente, quando o artigo 7o, XXVIII, da CRFB estabelece, como 
direito dos trabalhadores urbanos e rurais, o "seguro contra acidentes de trabalho, a 
cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando 
incorrer em dolo ou culpa", não se refere às hipóteses de acidentes do trabalho 
 
 
(artigos 19 e 21 da Lei n. 8.213/91), moléstias profissionais (artigo 20, I, da Lei n. 
8.213/91) ou doenças do trabalho (artigo 20, II, da Lei n. 8.213/91) desencadeadas 
por distúrbios sistêmicos do meio ambiente laboral. Se o acidente ou a moléstia é 
concreção dos riscos inerentes à atividade (vide artigo 22, II, da Lei n. 8.212/91), ou 
se não guarda relação causal adequada com tais riscos, a indenização, calcada no 
instituto da culpa aquiliana "lato sensu" (artigos 186 e 927, caput, do NCC), dependerá 
de prova do elemento subjetivo (dolo ou culpa), usualmente ao encargo do 
empregador ou tomador (inversão do ônus da prova). Assim é, p. ex., se o descuido 
de um supervisor culminar com a explosão de uma caldeira (riscos inerentes à 
atividade de caldeiras, fornos e recipientes sob pressão); ou, ainda, se o empregador 
dolosamente sabota equipamentos de proteção individual para provocar o acidente em 
detrimento do empregado desafeto (atividade criminosa, desvinculada dos riscos da 
atividade). 
Por outro lado, se o acidente ou a moléstia configuram dano labor-ambiental, 
desencadeado pelo incremento dos riscos inerentes ou pela criação de riscos atípicos 
em virtude da organização dos meios de produção e/ou dos elementos materiais do 
espaço laboral, a norma de regência é a do artigo 225, §3º, da CRFB e, por ela, a 
regra do artigo 14, §1o, da Lei n. 6.938/81. Aliás, são os riscos agravados ou atípicos 
que justificam, da mesma forma, a regra do artigo 927, par. único, do NCC. 
Usualmente, a evidência do desequilíbrio labor-ambiental está na sucessão de 
acidentes ou moléstias que acometem trabalhadores de uma mesma seção ou linha de 
produção (denotando a inadequação física, química, biológica, ergonômica ou 
psicológica do meio ambiente de trabalho). Mas, malgrado seja circunstancialment e 
usual, o caráter "coletivo" não está na essência da responsabilidade civil objetiva 
labor-ambiental. 
 
 
 
5. ACIDENTES DO TRABALHO. 
 RESPONSABILIDADES RELATIVAS AO MEIO AMBIENTE LABORAL 
Os acidentes do trabalho rememoram das primeiras atividades do homem 
voltadas à sua sobrevivência: a caça e a coleta. Os primitivos ancestrais do homem 
passavam por toda forma de penúria para conseguirem seu sustento. As caçadas eram 
atividades perigosas e extremamente arriscadas, com risco tanto de apanhar e matar 
uma presa quanto de serem, eles próprios, devorados. As coletas também exigiam, 
não raro, habilidades para escalar em árvores de grande porte, sem qualquer 
proteção... 
 Desde a Idade da Pedra, há mais de 2,5 milhões de anos os seres humanos já 
fabricavam e utilizavam instrumentos para facilitar a execução de seus trabalhos. Eram 
manuseados instrumentos cortantes ou perfuro -cortantes, o que confirma as 
habilidades intelectuais dos seres primitivos. Mas tais instrumentos, por certo, eram 
causas de diversos acidentes. 
 Na medida em que se deu a evolução dos processos de produção aumentaram 
os riscos de acidentes do trabalho. Todavia, foi a partir da Revolução Industrial – 
século XVIII, que se verificou a intensificação da degradação do meio ambiente natural 
e humano (artificial, cultural e do trabalho). A exposição dos seres humanos aos riscos 
do trabalho aumentou desde então. E atualmente, em plena época da globalização, 
embora algumas empresas tenham implantado e implementado com sucesso as 
normas de segurança e medicina do trabalho, o índice de acidentes ainda é altíssimo e 
aviltante. 
 O conceito legal de acidente do trabalho está definido no artigo 19 da Lei nº 
8.213 de 1991 nos seguintes termos: 
 Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da 
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 
11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte 
ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 
 Depreende-se pois, que para a Lei Previdenciária, o acidente do trabalho 
somente ocorre com trabalhadores, os quais, no exercício de suas atividades, prestam 
serviço à empresa: o segurado empregado ou empregado avulso, bem como com o 
segurado especial, cujos efeitos provocam lesão corporal ou perturbação funcional 
suficientes para causar a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da 
capacidade para o trabalho. 
 Ficam excluídos os empregados domésticos e os contribuintes individuais e 
facultativos, os quais não receberão o benefício de auxílio -acidente. 
 Contudo, consoante as lições ministradas pelo Professor Sebastião Alves da 
Silva Filho, há que se discordar do conceito que trata acidente como fato inesperado, 
imprevisível. Isto porque... 
 ...para os conceitos modernos de engenharia de segurança do trabalho, todo 
acidente de trabalho pode ter suas causas previamente levantadas. É possível 
 
 
determinar as probabilidades de ocorrências de falhas que podem gerar os acidentes. 
Mesmo porque do ponto de vista preventivo, é preferível considerar o acidente de 
trabalho como uma cadeia de eventos que freqüentemente tem como ponto de partida 
um incidente, uma perturbação do sistema no qual estão inseridos o trabalhador e sua 
tarefa, e que, após uma série mais ou menos longa de ocorrências, termine por 
determinar ou não uma lesão ao indivíduo. 
 Conclui-se, por conseguinte, o conceito de acidente do trabalho, pode ser visto 
sob dois prismas: a) o da Previdência Social, que ao conceituar acidente de trabalho, 
inclui a necessidade de lesão, com fito de dar ao cidadão acidentado o tratamento 
físico, emocional e material, bem como sua reinserção no mercado de trabalho; b) o 
do Ministério do Trabalho e Emprego, no sentido de que a ocorrência de acidente 
independe da existência de vítima, visto que tal órgão tem por escopo a prevenção e a 
fiscalização (segundo nos informou o Professor e Subdelegado da Subdelegacia do 
Trabalho em Uberlândia – MG, Sebastião Alves da Silva Filho) 
 Além do acidente laboral propriamente dito, também as doenças ocupacionais 
são consideradas como acidente do trabalho, nos termos do artigo 20 da lei 
previdenciária de nº 8.213/91: 
 Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as 
seguintes entidades mórbidas: 
 I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo 
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva 
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; 
 II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em 
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione 
diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. 
 O parágrafo 1º desse artigo, de plano, exclui das referidas listagens as 
seguintes doenças: a) doença degenerativa; b) doença inerente a grupo etário; c) 
doença que não produza incapacidade laborativa; d) a doençaendêmica adquirida por 
segurado habitante de região em que ela se desenvolva. 
 O parágrafo 2º do mesmo artigo determina que mesmo eventuais doenças não 
relacionadas nas listas elaboradas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mas que 
resultem das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se 
relaciona diretamente, deverão ser consideradas como acidente do trabalho pela 
Previdência Social. A exceção abrange também as doenças endêmicas que, 
comprovadamente, resultem da exposição ou contato direto determinado pela 
natureza do trabalho (§ 1º, "d", parte final). 
 Com fito de ampliar o rol dos acidentes de trabalho e amparar o trabalhador 
desvalido, o legislador enumera outras situações diversas das condições específicas 
determinadas pela natureza do trabalho. Equiparam, pois, ao acidente do trabalho, 
para efeitos da citada lei previdenciária em seu artigo 21 e seus incisos: 
 I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, 
haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua 
 
 
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua 
recuperação; 
 II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em 
conseqüência de: 
 a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou 
companheiro de trabalho; 
 b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa 
relacionada ao trabalho; 
 c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de 
companheiro de trabalho; 
 d) ato de pessoa privada do uso da razão; 
 e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes 
de força maior; 
 III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no 
exercício de sua atividade; 
 IV - o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de 
trabalho: 
 a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da 
empresa; 
 b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar 
prejuízo ou proporcionar proveito; 
 c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada 
por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, 
independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade 
do segurado; 
 d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, 
qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. 
 Esta lei previdenciária esclareceu, ainda, nos parágrafos 1º e 2º desse artigo 
que: 
 § 1º. Nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da 
satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o 
empregado é considerado no exercício do trabalho. 
 § 2º. Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a 
lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às 
conseqüências do anterior. 
 
 
 Em síntese, a legislação brasileira considera acidente do trabalho os eventos 
ocorridos pelo exercício do trabalho, que causem lesão corporal ou perturbação 
funcional, morte e perda ou redução da capacidade para o trabalho, bem como as 
doenças profissionais e outras formas de acidentes vinculados ao trabalho: 1) aqueles 
ocorridos no local do trabalho decorrentes de atos intencionais ou não de terceiros ou 
de companheiros do trabalho; 2) os acidentes oriundos de casos fortuitos ou de força 
maior; 3) as doenças provenientes de contaminação acidental no exercício da 
atividade; 4) os acidentes ocorridos no percurso residência/local de trabalho/residência 
e nos horários das refeições. 
5.1 Diferenças entre acidentes de trabalho e doenças ocupacionais 
 Acidente do trabalho propriamente dito, segundo a legislação previdenciária, é 
um evento casual danoso, capaz de provocar lesão corporal ou perturbação funcional, 
perda ou redução da capacidade para o trabalho ou morte da vítima. Geralmente é 
previsível e evitável, oriundo de alguma ação inapta ou descuidada por parte do 
indivíduo (vítima ou agressor), seja por descumprir as normas de segurança e higiene 
do trabalho, ou seja, por não estar integrado em uma planificação preventiva de 
acidentes oferecida pela empresa. E raramente decorre de algum fato inevitável como 
de caso fortuito, de força maior ou fato de terceiro. Classifica-se em acidente-tipo – 
aquele que ocorre a serviço da empresa (dentro ou fora da sede), e acidente de 
trajeto, quando a ocorrência se dá durante o deslocamento do trabalhador para o local 
de trabalho ou vice-versa ou nos horários das refeições. 
 As doenças ocupacionais são doenças que ocorrem pela exposição cotidiana do 
trabalhador a agentes nocivos de qualquer natureza, presentes no ambiente de 
trabalho. São espécies dessas doenças: as doenças do trabalho e as doenças 
profissionais. As primeiras estão associadas a fatores relacionados ao trabalho, porém, 
não estão ligadas ao exercício de determinada profissão. À guisa de exemplo cita-se a 
aquisição de DORT (exposição continuada ou não de movimentos repetitivos). As 
doenças associadas à profissão são aquelas cuja atividade, por sua natureza, atua na 
incapacitação para o trabalho, doença ou morte, como é o caso dos mineradores em 
lavra subterrânea, propensos à silicose – doença profissional. 
 A importância dessa classificação é de interesse do Instituto Nacional de 
Seguridade Social (INSS), que reconhece automaticamente a existência da relação de 
causa e efeito quando o cidadão que busca sua assistência é portador de doença 
profissional. Contudo, para os casos de doenças do trabalho o nexo causal deverá ser 
comprovado por meio de laudo técnico competente emitido pelo engenheiro de 
segurança ou médico do trabalho. 
5.2 Causas de acidentes de trabalho 
 As causas de acidentes de trabalho observadas sob a ótica restrita ou imediata 
são apontadas como atos ou condições inseguros, como por exemplo: a) contato da 
pessoa com um objeto, uma substância ou com outra pessoa; b) exposição do 
indivíduo aos riscos que envolvam objetos, substâncias químicas ou outras pessoas ou 
condições; etc. 
 Em acepção ampla e mediata verifica-se que as causas acidentárias, quase 
sempre estão intrinsecamente ligadas ao incrível crescimento tecnológico 
experimentado pela humanidade nos últimos tempos e ao excessivo aumento da 
 
 
produção. É lamentável, mas em pleno início do século XXI, os empreendimentos 
econômicos, ainda, são voltados para os lucros imediatos em detrimento dos 
investimentos em programas e equipamentos adequados à proteção coletiva, que são 
meios eficazes de combate a acidentes do trabalho. Prefere-se equipamentos paliativos 
de proteção individual, aos equipamentos de proteção grupal ou outras a tomar 
medidas preventivas coletiva, por julgá-los mais onerosos, o que caracteriza o 
desinteresse pelo meio ambiente laboral salutar. 
 Identificam-se, pois, como causas indiretas do aumento dos casos de doenças 
de origem psíquica e física e dos acidentes do trabalho, dentre outras: a complexidade 
das máquinas, a automação e a informatização, a crescente exposição aos ruídos, 
calor e substâncias tóxicas (condições insalubres, perigosas e penosas), ausência de 
efetividade das normas protetoras do ambiente laboral, a preferência apenas pela 
redução à eliminação dos riscos, deficiência no sistema de inspeção do trabalho, 
excesso de horas extras (que é uma das principais causas mediatas de acidentes 
laborais e do aumento do índice do desemprego), sistemainadequado de compensação 
de quadro de horários e dos turnos de revezamento, ausência de conscientização, a 
desmotivação, as exigências rigorosas nos processos de seleção combinada com 
deficiência de formação profissional, as dificuldades para atualizar os conhecimentos e 
acompanhar o desenvolvimento tecnológico para assegurar o direito ao trabalho digno, 
o temor do desemprego, a precarização dos direitos dos trabalhadores, o trabalho 
informal, a fadiga física e a tensão mental do trabalhador. 
 O Professor Sebastião Alves da Silva Filho ensina que: 
 Com a chegada ao país das tecnologias de engenharia de perdas e árvore de 
causas para os acidentes houve uma mudança no antigo enfoque dado às análises de 
acidentes graves e ou fatais. Hoje tais análises se prendem muito mais a refazer o 
conjunto de causas que geraram o acidente. Assim sendo, perdeu totalmente a 
importância avaliar unicamente e de forma simplória se houve ato [do trabalhador] ou 
condição [ambientais] insegura. Isso justifica também pelo fato de que dificilmente se 
encontraria um acidente onde atos ou condições inseguras se apresentariam 
isoladamente, ou seja, sem que a outra situação também estivesse presente. 
 Segundo o raciocínio supra, conclui-se que está nas causas mediatas ou 
indiretas, o alicerce para o direcionamento da prevenção dos acidentes laborais, uma 
vez que são as causas básicas do índice estarrecedor de acidentes do trabalho, 
demonstrado pela estatística mundial. Desse modo, para prevenção e redução desse 
número, é imprescindível fazer um levantamento amplo e específico sobre a ocorrência 
de acidentes, como os fatos agressores mediatos e imediatos causadores do evento, o 
local, as condições de trabalho, etc. Assim, além de possibilitar a implementação de 
programas de prevenção de acidentes de trabalho pelos atores do ambiente laboral, 
aponta os locais em que a fiscalização deve ser realizada com mais rigor. 
 Pode-se perceber, pelos estudos e pesquisas feitos com intuito de conhecer e 
dissertar sobre o tema que, as estatísticas oficiais, deixam a desejar, pois não revelam 
a realidade de acidentes laborais. 
 No órgão previdenciário os acidentes de trabalho são registrados para fins de 
levantamentos estatísticos apenas em bloco de números de benefícios concedidos: 
auxílio-doença ou auxílio-acidente, pensão por morte, sem determinar a origem do 
sinistro (as causas específicas, o local do trabalho, etc.). Se não bastasse, percebe-se, 
 
 
com base na experiência forense, que há relutância, por parte do INSS, em reconhecer 
as doenças profissionais e do trabalho, diagnosticando-as, muitas vezes, como 
doenças normais, negando, conseqüentemente, o benefício respectivo. 
 Não se pode esquecer que os processos acidentários trabalhistas são iniciados 
pelo órgão previdenciário somente após a comunicação do fato sinistro a partir da CAT 
(Comunicação de Acidente de Trabalho), documento relativo apenas aos empregados 
registrados em carteira da empresa, cujo número é reduzido em relação aos 
trabalhadores autônomos e informais. 
 Outra realidade lastimável ocorre nos hospitais ou clínicas médicas, onde os 
prontuários médicos deveriam registrar informações mais abrangentes sobre os 
trabalhadores/pacientes que ali buscam consulta ou internamento (como a profissão, a 
origem (local) e a causa mediata e imediata dos acidentes, doenças e morte destes, ou 
seja, dados mais específicos de um eventual acidente/doença do trabalho), mas não o 
fazem, geralmente, limitam-se apenas em constar os sintomas físicos ou mórbidos 
apresentados pelo paciente. 
 Diferentes não são os atestados médicos de óbito, que também, na sua 
maioria, somente constam as causas letais físic as, dos quais originam os registros de 
óbito – instrumento formal, exigido pela Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73, 
arts. 77 e ss.). 
 Como se vê, os trabalhadores que não têm vínculo com a Previdência Social 
estão alijados das estatístic as oficiais, especialmente das estatísticas de tal órgão. 
Portanto, embora possa verificar uma redução significativa do número de sinistros 
trabalhistas sofridos pela massa de segurados da Previdência Social, segundo o quadro 
de estatísticas de acidente do trabalho no Brasil – 1970/2000 (em anexo), não se pode 
dizer que o referido quadro retrata a realidade brasileira, porquanto, de acordo com o 
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1991 e 1996, o percentual 
de trabalhadores sem carteira assinada passou de 40% para 47% no conjunto de seis 
regiões metropolitanas pesquisadas. Depois de se manter estável entre 1996 e 1997, a 
informalidade no mercado de trabalho brasileiro voltou a crescer no final da década de 
90, como reflexo da crise da economia brasileira, até chegar a 50% no final de 1999 e 
ultrapassar os 60% em 2003. 
5.3 Conseqüências dos acidentes do trabalho 
 Os efeitos dos acidentes do trabalho são inúmeros e extremamente negativos 
e onerosos. Curialmente o trabalhador acidentado e sua família sofrem os maiores 
prejuízos (mutilação, incapacidade para o trabalho, morte, dor pelos danos físicos, 
psíquicos e morais, marginalização social, pobreza, etc.). Além deles, outros prejuízos 
sócio -econômicos são detectáveis. Os custos sociais da Previdência Social são 
altíssimos, considerando os gastos com benefícios: aposentadorias antecipadas 
(especiais e por invalidez), auxílios-doença, pensão por morte, auxílio-acidente, 
reabilitação e readaptação do segurado-acidentado, gastos com saúde. As empresas 
também perdem grandes somas e credibilidade social com os acidentes. Por um lado, 
precisam arcar com despesas imediatas com o acidentado (atendimento médico-
ambulatorial, transporte, medicamentos, pagamento às vítimas de diárias 
correspondentes ao valor proporcional de seu salário-base até o 15º de afastamento, 
sem isenção dos encargos sociais relativos. Por outro lado, há queda na produção (pela 
perda e eficiência do processo, contratação de substituto ou necessidade de horas 
 
 
extras), inutilização de máquinas, insumos, produtos, necessidade de reposição de 
material inutilizado. etc. Além destes prejuízos, a empresa, a longo prazo, poderá ser 
obrigada a fazer a reinserção do acidentado pelo período de estabilidade adquirido, 
etc.), arcar com despesas advocatícias, judiciais, indenizatórias, multas 
administrativas, ter perdas negociais (multas contratuais por atraso de produção, 
rescisão de contratos), perda de certificados de gestão de qualidade, de gestão 
ambiental, etc. 
 Ademais, vale lembrar que a fadiga física e mental dos demais trabalhadores, 
gerada pela ocorrência do sinistro, implica em absenteísmo, rotatividade de mão-de-
obra, novos acidentes entre outras perdas. 
 Dado o altíssimo índice mundial de acidentes do trabalho, a Organização 
Internacional do Trabalho (OIT), com fito de reduzi-lo, lançou em 1976, o programa 
para o melhoramento das condições e do meio ambiente do trabalho (PIACT), 
mediante a implantação e implementação de medidas de segurança e higiene laboral, 
cujo início se deu na América Latina. Após o lançamento desse programa, 
especialmente no Brasil, notou-se a efetiva queda dos índices dos infortúnios do 
trabalho entre os operários segurados pela Previdência Social, segundo estatísticas 
oficiais. Observou-se, também que além de evitar os conhecidos prejuízos sociais e 
humanos, as empresas que implementaram esse programa tiveram significativa 
diminuição dos prejuízos econômicos (continuidade e elevação da qualidade da 
produção, eliminação de desperdícios, etc.). 
 Entretanto, verificou-se a partir dos noticiários da imprensa falada e escrita e 
da doutrinas estudadas, que embora haja diminuído a ocorrência dos infortúnioslaborais no Brasil, o país ainda é palco de um dos maiores índices de acidentes do 
trabalho do mundo. 
 As informações obtidas no sítio da Campanha Nacional de Saúde e Segurança 
no Trabalho – 2002, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e 
coordenado pela Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes (ABPA) – www.sst-
cni-sesi.org.br – confirmam as benesses da prevenção de acidentes do trabalho. Ficou 
demonstrado que as empresas que implantaram e implementaram as medidas 
prevencionistas de acidentes laborais conseguiram a redução destes e dos prejuízos 
econômicos. 
 É oportuno evidenciar que, ao participar da solenidade de lançamento da 
Campanha Nacional da Indústria para a Prevenção de Acidentes no Trabalho 2002 (em 
22 de agosto de 2002), o Presidente da Associação Brasileira para Prevenção de 
Acidentes (ABPA), Mauro Daffre – Coordenador da Campanha – declarou que um dos 
pontos básicos do novo conceito sobre a segurança no trabalho é a preservação da 
vida do trabalhador. E disse ainda que: 
Isso gera lucro para o empresário e vantagem para a sociedade. É importantíssimo 
investir na saúde e segurança dos trabalhadores, o que é um fator de competitividade 
para as exportações que geram os empregos de que o Brasil precisa. 
 Na mesma ocasião, o então Presidente da Confederação Nacional da Indústria 
(CNI), Moreira Ferreira falou sobre a relevância da prevenção acidentária para a 
economia das empresas ao afirmar que: 
 
 
 Investir em prevenção, além da questão humana da perda de um ente 
querido, representa uma vantagem extraordinária e uma grande economia de recursos 
que são despendidos no pagamento de acidentes por invalidez e despesas hospitalares 
e, também, do tempo que o trabalhador fica fora de seu posto de trabalho. Isso obriga 
as empresas a contratarem mão-de-obra supletiva e todos esses custos, somados, 
aumentam o Custo Brasil, que precisa ser reduzido porque senão as empresas perdem 
a competitividade e, perdendo a competitividade, o número de empregos acaba 
reduzido. 
 No dia anterior (21/08/02), em entrevista concedida ao Caldonews Jornal, 
Moreira Ferreira lembrou que após várias décadas de atuação prevencionista e das 
campanhas nacionais de prevenção desenvolvidas pelo sistema CNI/SESI/SENAI/IEL, 
iniciadas em 1997, houve uma significante a redução dos números catastróficos 
acidentários da década de 70, se comparados proporcionalmente em relação à massa 
trabalhadora daquela época e a atual. Mas, acrescentou que "ainda há muito para ser 
feito: apenas 3% das empresas no País contam com um serviço adequado em 
segurança do trabalho" 
 Das assertivas supra e da leitura das diversas obras pesquisadas percebe-se 
que muitas empresas desconhecem ou ainda não estão convencidas da importância 
dos investimentos em prevenção acidentária como meio de evitar desperdícios e de 
torná-las mais competitivas. 
 No Brasil ainda há o ranço da "monetização do risco", isto é, há uma opção 
pelo aumento da remuneração para compensar o maior desgaste do trabalhador, 
mediante pagamento de adicionais de periculosidade, de insalubridade, de horas 
extraordinárias, aposentadorias especiais, etc. Essa é uma estratégia traiçoeira que 
inibe a luta dos trabalhadores e sindicatos por melhores condições de trabalho. 
Estimula-os a acreditarem que é melhor obter um ganho imediato (aumento dos 
minguados salários e antecipação da aposentadoria) do que correr o risco de perder o 
emprego. Ficam inertes. Deixam de reivindicar a implantação e implementação das 
normas de higiene e segurança do trabalho. Parece que preferem expor a saúde, sem 
pensarem, de fato, nas nefastas e irreversíveis conseqüências das mutilações e 
doenças ocupacionais para o resto de suas vidas, a trabalharem por longos anos e com 
salário menor, mas com vigor. 
 Por fim, muitas empresas desinformadas ou negligentes, quando adotam 
algumas medidas preventivas dos acidentes laborais, escolhem as paliativas, como o 
uso de equipamentos de proteção individual e/ou pagamento dos referidos adicionais e 
deixam de implantar medidas de proteção coletiva, mais eficazes na eliminação ou 
redução dos riscos do ambiente do trabalho, por julgarem as últimas mais onerosas ou 
por simples desinteresse. Agem em desacordo com os estudos das organizações 
governamentais (FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e 
Medicina do Trabalho) ou privadas (CNI - Confederação Nacional da Indústria, ABPA - 
Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes, etc.) e violam as exigências da 
legislação trabalhista que impõe ao empreendedor a obrigação de, primeiramente, 
eliminar os riscos do trabalho ou, se impossível, no mínimo, procurar reduzi-los 
(Convenções da OIT nº 148, arts. 9 e 10 e nº 155, art. 4.2; CLT, art. 166 c/c NR-4, 
item 4.12, "a"). 
 
 
 Uma das funções primaciais da lei é anular o desequilíbrio das partes, vindo 
em socorro dos mais fracos; assim se procede no próprio terreno contratual onde há a 
livre manifestação da vontade. 
 Com mais força de razão, quando as circunstâncias da vida, múltiplas, 
imprevisíveis, inexoráveis, colocam os homens mais a mercê uns dos outros, justifica-
se, sobremaneira, o amparo da lei na proteção da vítima. 
 
 
 
6. RESPONSABILIDADES INERENTES AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E 
SEUS FUNDAMENTOS LEGAIS 
No Brasil, foi criado um conjunto de normas de segurança e medicina do 
trabalho, o qual foi positivado na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto-lei 
nº 5.452/1943), Título II, Capítulo V, artigos 154 e seguintes, com alterações feitas 
pela Lei nº 6.514/77 e complementado pelas Normas Regulamentadoras (NRs) 
aprovadas pelas Portarias de nº 3.214/78 (relativas à regras gerais e ao trabalhador 
urbano) e nº 3.067/88 (inerentes ao trabalhador rural), ambos os regramentos 
expedidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego nos termos da previsão legal contida 
nos artigos 190 e 193 da CLT. Todas as normas supra visam a preservação da 
qualidade ambiental do local de trabalho. 
 O sistema acima é formado por subsistemas que, providos de recursos e 
regras mínimas, atuam entre si e com outras áreas jurídicas e visam, através do 
planejamento e desenvolvimento de ações, prevenir acidentes do trabalho, doenças 
ocupacionais e incidentes críticos em todas as atividades de uma empresa, de modo a 
satisfazer às necessidades da própria empresa no aspecto da integridade física e da 
qualidade de vida de seus trabalhadores e clientes. 
 As normas de segurança e medicina do trabalho dividem-se em dois aspectos: 
por um lado, visam a prevenção contra acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e 
outras formas de acidentes equiparados, isto é têm por finalidade tornar seguro meio 
ambiente laboral. E de outro lado, objetivam a saúde física e psíquica e a higiene do 
trabalhador enquanto indivíduo e parte da coletividade. Entretanto, pelo fato de 
convergirem para o mesmo fim, segurança e saúde do trabalho, em várias situações se 
entrelaçam e são interdependentes. 
 Sob o ponto de vista da segurança no trabalho, as normas celetistas visam 
interação do trabalhador e o seu meio ambiente artificial de trabalho, ao considerar as 
prováveis fontes de riscos a serem extintas ou ao menos reduzidas. Assim prevêem 
que as edificações deverão ser implantadas observados requisitos técnicos (de 
engenharia, biomédicos etc.) que garantam a segurança e higiene como: a) iluminação 
uniforme, geral e difusa; b) conforto térmico com ventilação natural ou artificial, uso 
de roupas apropriadas em casos de condições térmicas desconfortáveis; c) pisos 
antiderrapantes, sem saliências ou depressões ou aberturas, apropriados à circulação, 
sem riscos de quedas de pessoas ou objetos; d)instalações elétricas instaladas e 
operadas por profissional, etc. (CLT, art. 170 e seguintes). 
 No artigo 193 a lei trabalhista conceitua as atividades perigosas e define no 
artigo 197 algumas regras para transporte e manipulação de materiais e substâncias 
perigosas ou nocivas à saúde, como: uso de rótulos de identificação, símbolo padrão 
de perigo, avisos de advertências, etc. Também estipula regras relativas às máquinas 
e equipamentos, os quais deverão ser adaptados para reduzir a fadiga física e mental 
do trabalhador e não sacrificá-lo em prol do aumento da produção. Estipula regras 
sobre a movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, instalação, 
manutenção e uso de máquinas (CLT, art. 182 a 188). 
 Sob a ótica da higiene e saúde do trabalho a Consolidação das Leis 
Trabalhistas tece algumas regras voltadas para medidas preventivas para impedir 
danos à saúde física e psíquica do ser humano oriundos do trabalho, como: a exigência 
de serviços especializados em medicina do trabalho (art. 162); a obrigatoriedade de 
 
 
exame médico admissional e demissional, periódicos e complementares conforme 
capacidade física e mental do trabalhador em relação aos riscos de sua atividade (art. 
168). Conceitua as atividades insalubres (art. 189) e determina que sejam tomadas 
medidas de proteção da saúde do trabalhador, preferencialmente, pela adoção de 
medidas coletivas que eliminem ou neutralizem a insalubridade, ou distribuição de 
equipamentos de proteção individual (EPIs), para reduzir o agente agressor a níveis 
toleráveis (par. único do art. 190 e art. 191). Exige que sejam mantidos, nos 
estabelecimentos de trabalho, os materiais próprios para prestação de primeiros 
socorros médicos (art.168, § 4º). E nos artigos 198 e 199 determina algumas regras 
sobre ergonomia, com fito de prevenir a fadiga, como, por exemplo: a) o peso máximo 
a serem removidos pelo trabalhador; b) a necessidade de assentos adequados para 
assegurar a postura correta; etc. 
 A obrigação de proteger e defender o meio ambiente e torná-lo sustentável é 
de todos. Todavia, no que tange ao ambiente laboral, que deve ser livre de agressões 
à saúde do trabalhador, impende ao empregador maior responsabilidade, haja vista 
ser este (a empresa, individual ou coletiva), que assume os riscos da atividade 
econômica (CLT, art. 2º). 
 Dessa forma a lei laboral determina uma série de obrigações para as 
empresas, a seguir expostas de forma exemplificativa. 
 O estabelecimento da empresa deve estar de acordo com as exigências legais 
e esta não pode iniciar suas atividades sem a prévia inspeção e aprovação de suas 
instalações pela autoridade da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego e deverá 
requerer-lhe nova inspeção quando houver alterações substanciais no mesmo. E por 
uma questão de economia poderá solicitar deste órgão a prévia aprovação dos projetos 
a serem implantados (CLT, art. 160 e §§). 
 De acordo com o número de empregados e grau de riscos de acidentes nas 
empresas, estas deverão instituir e manter órgãos internos com fito de evitar 
infortúnios. Isto é, deverão manter um quadro de serviços especializados em 
segurança e medicina do trabalho - SESMT (engenheiro e técnicos em segurança do 
trabalho, médico, enfermeiro e técnico em enfermagem do trabalho), implantar, 
obrigatoriamente, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), nos 
temos dos artigos 162 e seguintes e em conformidade com as normas expedidas pelo 
Ministério do Trabalho e Emprego. 
 A empresa também está obrigada a: a) tomar, preferencialmente, medidas de 
segurança coletiva para proteção contra agressões à integridade física de seus 
empregados, ou na impossibilidade de eliminar os riscos, fornecer-lhes, gratuitamente, 
equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, em perfeito estado de 
conservação e funcionamento (art.166); b) pagar adicional de insalubridade ou de 
periculosidade aos empregados sujeitos a agentes nocivos à sua saúde ou a contato 
permanente com inflamáveis, explosivos, radiações ionizantes ou substâncias 
radiotivas, energia elétrica, em condições de risco acentuado (CF/88, art. 7º, inc. XXIII 
(25) c/c CLT, arts. 192; 193 §§ 1º e 2º; 194 e 196); c) arcar com as despesas dos 
exames médicos obrigatórios e comunicar seus resultados ao empregado segundo a 
ética médica (CLT, art. 168); d) comunicar a ocorrência de doenças ocupacionais ou 
acidente do trabalho (CAT), à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao 
da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena 
de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, 
 
 
sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência 
Social (CLT, art. 169. c/c NR 7, item 7.4.8 e art. 22 da Lei previdenciária nº 8.213/91). 
 E, enfim, a empresa deve facilitar a fiscalização do estabelecimento pelo órgão 
competente, cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho 
definidas nos códigos de sanitários e seus regulamentos, nas normas celetistas e 
regulamentos expedidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego e normas coletivas de 
trabalho, mediante orientações aos empregados sobre as medidas necessárias para 
evitar acidente do trabalho (ordem de serviço, cursos de prevenção acidentária, 
qualificação profissional para utilização das máquinas,etc.) e por meio de fiscalização e 
exigência da conduta precavida dos trabalhadores, como o uso dos equipamentos de 
proteção individual fornecidos pela empresa (CLT, art. 154 e 157). Caso a empresa 
descumpra as referidas obrigações, ela suportará o ônus das multas administrativas e, 
eventualmente, responsabilidade civil e penal, além de ser obrigada a pagar os salários 
dos empregados durante o período de paralisação das atividades impostas pelo órgão 
competente (CLT, arts. 161 e 201). 
 É importante assinalar que uso dos equipamentos de proteção individual pelo 
empregado sujeito a riscos ambientais, é essencial para eliminar ou reduzir o potencial 
do agente agressivo. Portanto, ao empregador, a quem impende zelar pela 
incolumidade de seus operários, cabe fornecer e exigir o uso desses equipamentos de 
proteção individuais, sob pena de sofrer autuações e multas impostas pelos fiscais da 
Delegacia Regional do Trabalho e Emprego e ser obrigado ao ônus de continuar 
devendo os adicionais de insalubridade (En. 289/TST). 
 Em contrapartida, também os trabalhadores têm suas obrigações, visto que 
são os maiores interessados em usufruir um meio ambiente adequado ao trabalho e 
em manter a integridade da própria saúde. Deverão, pois, observar e colaborar com a 
empresa para a efetividade das normas de segurança e medicina do trabalho, por meio 
da participação dos cursos oferecidos, implementação das orientações recebidas como: 
tomar as precauções necessárias e usar os equipamentos de proteção individual, sob 
pena de dispensa por justa causa ou sofrer as conseqüências de sinistro indesejado 
(CLT, art. 158, par. único, "b" c/c art. 482, "h"). 
 Ao Poder Público, por sua vez, compete, a edição, execução e fiscalização da 
observância das normas de segurança e medicina do trabalho. 
 Os entes federados, o Ministério Público do Trabalho, o Sistema Único da 
Saúde e órgãos da vigilância sanitária têm obrigação de proteger e defender um 
ambiente laboral salutar, segundo as normas constitucionais e legais. Mas o Ministério 
do Trabalho e Emprego e seus órgãos regionais (Delegacias Regionais do Trabalho e 
Emprego – DRTE) são especialmente competentes pela execução das normas de 
segurança e medicina do trabalho (CLT, arts. 154; 155 e156). 
 Ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e medicina 
do trabalho(hoje, o Ministério do Trabalho e Emprego, órgão, cuja função é, 
eminentemente, executiva: como organizar, orientar, controlar e supervisionar a 
fiscalização da execução das normas ambientais do trabalho) foram delegados pela lei, 
amplos poderes para estabelecer atos normativos sobre a matéria (CLT, arts. 155, 
caput ; 162; 163; par. único; 168, caput, §§1º e terceiro; 169; 174; 175; 178; 179; 
182;186; 187, par. único; 190; 193; 194; 195 e 200). 
 
 
 Entende Amauri Mascaro Nascimento que: 
 [A delegação de tais poderes] trata-se de um fenômeno geral, característico 
do Estado moderno. O direito atual reconhece o poder de interferência do Executivo no 
processo legislativo, a sua liderança na legislação, a iniciativa de projetos, o veto, a 
possibilidade de fixar prazos fatais para a manifestação do Legislativo e, até mesmo, o 
poder de editar atos com força de lei. 
 É lastimável, mas muitas normas não têm eficácia plena, ainda que seu 
cumprimento seja essencial ao exercício cabal do direito à vida, como é o caso das 
normas protetoras do meio ambiente do trabalho. Há por parte de muitas empresas o 
interesse apenas no lucro em detrimento do bem-estar de seus trabalhadores e do 
meio ambiente. Até mesmo muitos trabalhadores têm conduta desinteressada pelas 
referidas normas, ou preferem retornos financeiros imediatistas, como o recebimento 
dos irrisórios e execráveis adicionais de periculosidade, insalubridade, de horário 
extraordinário, aposentadoria especial a exigirem condições mais salutares em seus 
ambientes de trabalho, a cultivarem regras de vida mais saudáveis. Porém, é 
importante evidenciar que na maioria dos casos, os operários não têm meios de 
vindicar seus direitos a melhores condições de trabalho, haja vista estar em jogo, o 
próprio direito de trabalhar e de sobrevivência. Há um verdadeiro temor do fantasma 
do desemprego que ronda seus lares. 
 Então, com fito de dar efetividade à defesa e proteção desses direitos, 
designadamente, às Delegacias Regionais do trabalho compete, no limite de sua 
respectiva jurisdição, fiscalizar o cumprimento das referidas normas. Além dessa 
função devem também orientar e impor que sejam adotadas as medidas necessárias 
para evitar acidentes de trabalho. Para tanto têm, como atribuição, o poder de polícia 
para autuar, multar, interditar estabelecimento, setor de serviço, máquina ou 
equipamento, embargar obras edificadas sem observância dos requisitos legais, 
quando estes ofereçam grave e eminente risco para o trabalhador. Entretanto, 
segundo o devido processo legal, é assegurado o direito de recurso administrativo aos 
interessados para o órgão competente, em âmbito nacional, em matéria de segurança 
e medicina do trabalho (CLT, art. 155, inc. III). 
 
 
7. NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS) – PORTARIAS Nº 3.214/78 E Nº 
3.067/88 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO 
 O cerne do sistema de segurança e medicina do trabalho são as normas ínsitas 
na CLT em seus artigos 154 a 201. Interessante salientar que estas normas tratam de 
matéria complexa e de evolução dinâmica, razão porque ensejam regulamentação 
específica, propensa a sofrer alterações necessárias segundo as regras de experiência. 
 Dessa forma, a lei trabalhista determinou que o órgão competente para a 
matéria em âmbito nacional – o Ministério do Trabalho – expedisse instruções 
específicas e complementares às normas gerais já estabelecidas com fito de executá-
las. Para dar cumprimento às atribuições autorizadas pela referida lei o Ministério do 
Trabalho expediu as Portarias de nº 3.214/78 e nº 3.067/88, nas quais estão 
consubstanciadas as Normas Regulamentadoras (NRs) dos preceitos básicos do 
sistema de segurança e medicina do trabalho. 
 Destarte, foram definidas e aprovadas até o momento 30 (trinta) normas 
regulamentadoras (NRs). 
 A NR-1 trata de disposições gerais; a NR-2, de inspeção prévia; a NR-3 de 
embargo ou interdição, a NR-4, de Serviç os Especializado em Engenharia de 
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT); a NR-5, das Comissões Internas de 
Prevenção de Acidentes (CIPA); a NR-06 de equipamentos de proteção individuais 
(EPIs); a NR-7, de Programa d Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR-
8, de edificações, a NR-9, de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA); a 
NR-10, de instalações sanitárias, a NR-11, de transporte e movimentação de 
materiais; a NR-12, de máquinas e equipamentos; a NR-13, de caldeiras e vasos de 
pressão; a NR-14, de fornos; a NR-15, de insalubridade; a NR-16, de periculosidade; a 
NR-17, de ergonomia; a NR-18, de meio ambiente da construção civil; a NR-19, de 
explosivos; a NR-20, de líquidos combustíveis e inflamáveis; a NR-21, de trabalhos a 
céu aberto; a NR-22, de trabalhos de mineração; a NR-23, de combate a incêndios; a 
NR-24, de condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho; a NR-25, de 
resíduos industriais; a NR-26, de sinalização de segurança; a NR-27, de registro 
profissional; a NR-28, de fiscalização e penalidades; a NR-29, de segurança e saúde no 
trabalho portuário e a NR-30 de segurança e saúde no trabalho aquaviário. 
 Verifica-se a partir do título de cada norma regulamentadora a finalidade que 
ela propõe, qual seja: possibilitar o desenvolvimento do trabalho com o menor risco de 
lesões ao trabalhador e efetivar uma gama de medidas que protejam o meio ambiente 
laboral. 
 Quanto à prevenção contra acidentes de trabalho é interessante salientar, o 
conteúdo de algumas das Normas Regulamentadoras: 
 a) NR-1 – esta NR tem por fim complementar o artigo 157 da CLT. Dispõe 
sobre a implementação da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes (itens 1.3 e 
1.4) e especifica as condutas básicas a serem tomadas pelo empregador e empregado, 
com fito de evitar acidentes de trabalho (itens 1.7 e 1.8). 
 b) NR-2 – nesta norma define-se a finalidade da inspeção prévia (CLT, 160) e 
do Certificado de Aprovação de Instalações, como elementos capazes de assegurar que 
o estabelecimento está iniciando as atividades conforme os requisitos legais e técnicos 
 
 
apropriados à garantia da perfeita segurança aos que nele trabalham, isto é, livre de 
riscos de acidentes ou doenças ocupacionais (item 2.6). 
 c) NR-3 - conceitua risco grave e eminente como toda condição ambiental de 
trabalho que possa causar acidente do trabalho ou doença profissional com lesão grave 
à integridade física do trabalhador e regulamenta as regras sobre a interdição do 
estabelecimento ou embargos das obras, consideradas como todo e qualquer serviço 
de engenharia de construção, montagem, instalação, manutenção e reforma (itens 
3.1.1 e 3.3.1 c/c CLT, art. 161). 
 d) NR-4 – esta NR, nos termos do artigo 162 da CLT, instituiu a classificação 
nacional de atividades econômicas com seus respectivos graus de risco (conforme 
Quadro I em anexo). Definiu exigências quanto à manutenção obrigatória pelas 
empresas de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do 
Trabalho (SESMT), de acordo com o número de empregados e grau de risco da 
atividade empresarial, para a promoção e proteção da saúde e integridade do 
trabalhador no local de trabalho (item 4.1). 
 Assim, as empresas (sejam elas privadas ou públicas, e mesmo os órgãos 
públicos da administração direta e indireta dos poderes legislativo e judiciário) que se 
enquadrem, por exemplo, no grau de risco 3 (três) e contam com um quadro de 
empregados que varia entre 50 a 100 indivíduos, não serão obrigadas a manter o 
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho 
(SESMT). Porém, se tiverem um quadro de empregados de 3.501 a 5000 pessoas, 
deverão manter o quadro completo do SESMT e deverão contratar como empregadospelo menos: a) oito técnic os de segurança do trabalho, dois engenheiros de segurança 
do trabalho, um auxiliar de enfermagem no trabalho, um enfermeiro do trabalho e dois 
médicos do trabalho (item 4.2). 
 Vale ressaltar que para a NR-4 se a empresa tem vários estabelecimentos 
(mesmo que instalados em lugares diversos) e se mais de 50% de seus empregados 
trabalharem em setor, cuja atividade tenha gradação de risco superior ao da atividade 
principal, deverão dimensionar o SESMT em função do maior grau de risco. Inclusive, 
se apenas um de seus estabelecimentos se enquadrar no Quadro II (anexo que trata 
do dimensionamento dos SESMT), deverá prestar serviços especializados aos 
empregados do estabelecimento que não se enquadrou (itens. 4.2.2 e 4.2.4). 
 E mais, no item 4.5 e seus subitens, a NR-4 define a responsabilidade da 
empresa, cujos estabelecimentos se enquadram no Quadro II e que, normalmente, 
contratam serviços terceirizados. 
 Ressalta-se, o comando desse item é de suma importância para evitar as 
forma s dissimuladas de burlar a efetivação das regras de segurança e medicina do 
trabalho, mediante a terceirização. Por um lado, determina que a empresa contratante 
deverá estender a assistência de seus Serviços Especializados em Engenharia de 
Segurança e em Medicina do Trabalho aos empregados da(s) contratada(s), sempre 
que o número de empregados desta(s), exercendo atividade naqueles 
estabelecimentos, não alcançar os limites previstos no Quadro II, devendo, ainda, a 
contratada cumprir o disposto no subitem 4.2.5. E também deverão ser estendidos a 
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, no teor do item 1.1.1 da NR-1. Por 
outro lado, o subitem 4.5.1 estabelece que se a empresa contratante e as demais 
empresas por ela contratadas, consideradas individualmente, não se enquadrarem no 
 
 
Quadro II anexo, devem ser consideradas em conjunto, desde que atuem no mesmo 
no estabelecimento. E, se assim, atingirem o número total de empregados conforme os 
limites dispostos no referido quadro, deverá ser constituído um Serviço Especializado 
em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho comum, nos moldes do item 
4.14. 
 E para as empresas que não se enquadram no Quadro II anexo à NR-4 é 
facultado dar assistência, na área de segurança e medicina do trabalho, a seus 
empregados por meio de Serviços especializados em Engenharia de Segurança e em 
Medicina do Trabalho (SESMT), organizados em comum pelo sindicato ou associação 
da categoria econômica correspondente ou pelas próprias empresas interessadas (item 
4.14). 
 Outro ponto que merece destaque é o item 4.12 da NR-4 que traça 
competências ao SESMT. Dentre elas sobressaem as obrigações de: 
 1) definir, primeiramente, que sejam utilizados todos os meios conhecidos 
para a eliminação do risco e, se o agente agressor persistir, ainda que de forma 
reduzida, depois de esgotadas todas as medidas possíveis para extingui-lo, o segundo 
passo é determinar a utilização, pelo trabalhador, de equipamentos de proteção 
individual (EPI), de acordo com as regras da NR-6, desde que a concentração, a 
intensidade ou característica do agente assim o exija; 
 2) "responsabilizar-se, tecnicamente, pela orientação quanto ao cumprimento 
do disposto nas NR aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou seus 
estabelecimentos"; 
 3) "promover a realização de atividades de conscientização, educação e 
orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho e doenças 
ocupacionais, tanto através de campanhas quanto de programas de duração 
permanente"; 
 4) "esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e 
doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção"; 
 5) "manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de 
suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5; 
etc". 
 e) NR-5 – esta NR regulamentou amplamente, as atribuições, o 
funcionamento, a composição das Comissões Internas de Prevenções de Acidentes 
(CIPA) e estipulou a obrigatoriedade de sua instalação também de acordo com os 
graus de risco das atividades empresarias combinado com o número de empregados 
(conforme o dimensionamento previsto no Quadro I em anexo). 
 As empresas, cujos estabelecimentos, independentemente do grau de riscos, 
tenham somente até 20 (vinte) empregados, não são obrigadas a instalar e manter a 
CIPA. Apenas deverão indicar um responsável pelo cumprimento dos objetivos desta 
NR, podendo ser adotados mecanismos de participação dos empregados através de 
negociação coletiva (item 5.6.4). 
 
 
 Para termos uma visão mais abrangente sobre o dimensionamento do referido 
Quadro I, a proporção entre o número de empregados e o grau de risco, que obriga a 
empresa a instalar a CIPA, segundo seu enquadramento no Quadro I desta NR, 
observe o exemplo abaixo: 
 Atividades de menor grau de risco (grau de risco 1), como é o caso das 
prestadoras de serviço pertencentes ao grupo C-29 (atividades de organizações 
profissionais, de organizações políticas, associativas de modo geral), somente serão 
obrigadas a implantar as CIPAs, se tiverem um contingente de empregados superior a 
300 (trezentas) pessoas, sendo que será exigível apenas um titular e um suplente para 
representar cada grupo (empregados e empregadores), se esse número for inferior a 
501 (quinhentos e um) indivíduos. 
 Mas se a atividade exercida pela empresa tem grau de risco elevado, como 
indústrias de artigos de borracha e plástico, pertencentes ao grupo C-11 (fabricação de 
pneumáticos e de câmaras-de-ar de grau de risco 4); ou atividades de comércio de 
produtos perigosos – grupo C-22 (comércio e varejo de combustíveis de grau de risco 
3), a empresa deverá instituir a CIPA a partir da existência de 20 (vinte) empregados. 
 Aplica-se a referida norma às empresas privadas, públicas, sociedades de 
economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, 
associações recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam 
trabalhadores como empregados e aos trabalhadores avulsos (item 5.2). 
 Deve ser salientado que a constituição da CIPA não é por empresa, mas por 
estabelecimento, segundo seja enquadrada nos requisitos de obrigatoriedade de 
mantê-la em regular funcionamento. E estas deverão garantir a integração das CIPA e 
dos designados, se possuírem no mesmo município dois ou mais estabelecimentos, 
com fito de harmonizar as políticas de segurança e saúde no trabalho (item 5.2 c/c 
5.4). 
 Contudo, não basta constituir a CIPA, é preciso dar eficiência a este órgão. 
Então, à empresa cabe promover treinamento para os membros da CIPA, titulares e 
suplentes, antes da posse (item 5.32), exceto se for o primeiro mandato da CIPA, cujo 
prazo de realização será de no máximo trinta dias, contados a partir da data da posse 
(item 5.32.1). 
 Segundo o item 5.33 da NR-5, o treinamento para a CIPA deverá contemplar, 
no mínimo, os seguintes itens: 
 a)estudo do ambiente, das condições de trabalho, bem como dos riscos 
originados do processo produtivo; 
 b)metodologia de investigação e análise de acidentes e doenças do trabalho; 
 c)noções sobre acidentes e doenças do trabalho decorrentes de exposição aos 
riscos existentes na empresa; 
 d)noções sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS, e medidas 
de prevenção; 
 
 
 e)noções sobre as legislações trabalhista e previdenciária relativas à 
segurança e saúde no trabalho; 
 f)princípios gerais de higiene do trabalho e de medidas de controle dos riscos;g)organização da CIPA e outros assuntos necessários ao exercício das 
atribuições da Comissão. 
 A NR-5 traçou como objetivos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 
– CIPA: a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a 
tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a 
promoção da saúde do trabalhador o que revela a sua relevância (item 5.1). 
 Nesse sentido, convém salientar algumas atribuições da CIPA (item 5.16, 
alíneas a, c, d, f, h, i, j, l, o, respectivamente): 
 - identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, 
com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT, 
onde houver; 
 - participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de 
prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de 
trabalho; 
 - realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho 
visando a identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e 
saúde dos trabalhadores; 
 - divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no 
trabalho; 
 - requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de 
máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde 
dos trabalhadores; 
 - colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de 
outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho; 
 - divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras, bem 
como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à segurança e 
saúde no trabalho; 
 - participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador 
da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de 
solução dos problemas identificados; 
 - promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana 
Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho - SIPAT; etc. 
 Destarte, diante da importância das atribuições dos integrantes da CIPA, os 
titulares da representação dos empregados receberam a concessão de estabilidade 
 
 
provisória no emprego a partir de 1977, com a alteração do artigo 165, da CLT, pela 
Lei nº 6.514. Tal comando foi ratificado pelo artigo 10 das Disposições Transitórias, 
inciso II, "a", que vedou a dispensa arbitrária ou sem justa causa do empregado eleito 
para o cargo de direção da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), desde 
o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato. 
 A CIPA é um órgão paritário de suma importância para a proteção do meio 
ambiente do trabalho, cuja efetividade depende da franca desenvoltura de seus 
dirigentes. Seu Presidente é indicado, anualmente, pelo empregador dentre seus 
representantes e o Vice-Presidente eleito pelos empregados (CLT, art. 164, § 5º). 
Portanto, a estabilidade provisória no emprego ao dirigente da CIPA, visa garanti-lo 
contra a insatisfação e eventual retaliação do empregador (ante a resistência de 
algumas empresas em investir em segurança e medicina do trabalho), óbice ao livre 
desempenho de sua árdua tarefa de vindicar e defender um dos mais relevantes 
interesses coletivos: o direito de obter melhores condições de trabalho no meio 
ambiente laboral. 
 A garantia de estabilidade não foi estendida ao dirigente da CIPA, indicado 
pela empresa, o que se mostra injustificável, pois ambos os dirigentes – Presidente e 
Vice-Presidente – necessitam de garantia contra as eventuais pressões do meio 
patronal. Ora, inobstante o Presidente da CIPA, ocupe um cargo de confiança do 
empregador (posição que naturalmente o inibe e o força a atuar de forma 
tendenciosa), deve também, devido à proeminência da sua função, atuar sem 
constrangimentos e medo de dispensa coercitiva, ser livre para cuidar e zelar por um 
ambiente laboral seguro e adequado e, inclusive, para sugerir e solicitar ao 
empregador que sejam tomadas as medidas preventivas necessárias à redução e 
eliminação de riscos à saúde dos trabalhadores, ainda que estas sejam dispendiosas. 
 Ademais, ao empregador compete o dever de garantir que seus indicados 
tenham a representação necessária para a discussão e encaminhamento das soluções 
de questões de segurança e saúde no trabalho analisadas na CIPA (NR-5, item 5.10). 
 Outrossim, segundo a NR-5 o empregador deve garantir a todos os membros 
da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), condições que não 
descaracterizem suas atividades normais na empresa, sendo vedada a transferência 
para outro estabelecimento sem a sua anuência, ressalvado o disposto nos parágrafos 
primeiro e segundo do artigo 469, da CLT (item 5.9). 
 As CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) são órgãos 
essenciais na defesa e prevenção do meio ambiente do trabalho, pois seus membros 
vivenciam diária e diretamente todas as situações potenciais de lesão aquele meio. 
 Infelizmente, embora criadas, legalmente, à quase trinta anos, no Brasil, 
muitas empresas que se enquadram nas exigências dessa norma a desrespeitam, não 
constituindo as CIPAs ou não garantindo a efetividade daquelas já formalizadas em 
seus estabelecimentos. Muitos são os casos, salvo raras exceções, em que a atuação 
das CIPAs é medíocre. Eis a denúncia vigorosa de Raimundo Simão de Melo, atuante 
Procurador Regional do Trabalho, cotado na 15ª Região: 
 No Brasil, se de um lado a fiscalização do Estado não atua a contento - 
ressalvadas honrosas exceções – por inúmeras razões, entre elas a falta de estrutura 
oferecida (ou não oferecida) pelo Estado, de outro, o diálogo social tem sido ausente 
 
 
na maioria dos casos e a criação dos órgãos paritários também não tem surtido os 
efeitos desejados, pois se por lei existe a obrigação de constituição de CIPAS 
(Comissões Internas de Prevenção de Acidentes), nas empresas com mais de 50 
empregados, essas comissões, também ressalvadas honrosas exceções, não cumprem 
realmente o seu papel, que é de defesa do meio ambiente adequado e seguro e da 
prevenção de acidentes de trabalho, pelo simples motivo de que são, na maioria, 
vinculadas e curvadas ao interesse patronal e os seus membros usam da importante 
estabilidade consagrada pela Constituição como um direito individual e pessoal, 
quando esse direito é muito mais da categoria que o elegeu. 
 O Ilustre Procurador pondera com veemência e convoca aos interessados, 
especialmente aos membros das CIPAs, que dêem eficácia a sua atuação, pois 
somente assim e será possível regredir os estarrecedores acidentes havidos no meio 
laboral. 
 A finalidade das comissões internas de prevenção de acidentes é cuidar e zelar 
por adequadas e seguras condições nos ambientes de trabalho, observando e 
relatando condições de risco, solicitando ao empregador medidas para reduzi-los e 
eliminá-los, bem como para prevenir a ocorrência de acidentes e doenças, e ainda, 
orientar os trabalhadores quanto à prevenção de tais eventos. (...) Urge, pois, que 
esses importantes órgãos de representação dos trabalhadores e empregadores nos 
locais de trabalho passem a cumprir o seu papel, inclusive com o apoio e em harmonia 
com os sindicatos, que é a única forma de serem realmente atuantes. 
 f) NR-6 – esta NR aprova quais são os equipamentos de proteção individual 
que deverão ser utilizados (item 6.3), e define que as normas técnicas para fabricação 
e ensaio dos equipamentos de proteção serão baixadas pela SSMT (Secretaria de 
Segurança e Medicina do Trabalho, em portarias específicas (item 6.12). Reitera a 
gratuidade do fornecimento dos mesmos pela empresa e a obrigação desta de 
promover,prioritariamente, a implementação de medidas ou equipamentos de 
segurança e proteção coletiva (CLT, art. 166, in fine). 
 Determina, pois, no item 6.3, que a empresa é obrigada a fornecer aos 
empregados, gratuitamente, equipamentos de proteção individual (EPIs) adequado ao 
risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes 
circunstâncias: 
 a) sempre que as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis 
ou não oferecerem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou 
de doenças profissionais e do trabalho; 
 b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; 
 c) para atender a situações de emergência. 
 A NR-6 impõe no item 6.8.6, responsabilidade ao fabricante de equipamentos 
de proteção individual, pela manutenção da mesma qualidade dos equipamentos de 
proteção individual (EPIs) padrão que deu origem ao Certificado de Aprovação (CA). 
 g) NR-7 – Esta NR, considerando que todos os trabalhadores devem ter o 
controle de sua saúde de acordo com os riscos a que estão expostos, exigência legal 
prevista no artigo 168 da CLT, respaldada na Convenção 161 da Organização 
 
 
Internacional do Trabalho (OIT), aprovou o Programa de Controle Médico de Saúde 
Ocupacional (PCMSO) com o escopo de promover e preservar a saúde do conjunto dos 
trabalhadores. 
 A elaboração e implementação do PCMSO devem respeitar princípios éticos, 
morais e técnicos e é obrigatória a todos os empregadores e instituições que admitam 
trabalhadores como empregados. As empresas deverão arcar com todos os custos dos 
procedimentos (incluindo avaliações clínicas e exames complementares, etc.) e 
garantir a eficácia desse programa. 
 Outrossim, toda empresa deverá informar sobre os riscos que envolvem sua 
atividade aos seus empregados, bem como a eventuais empresas contratadas para 
prestar serviços em seu local de trabalho. E, como são responsáveis, ainda que 
subsidiariamente, pelo cumprimento das obrigações trabalhistas da empresa 
contratada, deverão auxiliá-las na elaboração e implementação do PCMSO (item 
7.1.3). 
 E para coordenar o PCMSO a empresa deverá indicar um médico do trabalho 
do seu quadro de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina 
do Trabalho – SESMT; ou caso esteja desobrigada de manter médico do trabalho, de 
acordo com a NR-4, deverá contratar e indicar médico do trabalho autônomo ou 
contratar médico de outra especialidade, caso inexista médico do trabalho na 
localidade, o empregador poderá contratar médico de outra especialidade (item 7.3.1). 
 O médico coordenador é competente e responsável, pelas seguintes funções 
dentre outras: 
 a) realizar os exames obrigatórios comuns ou complementares segundo o grau 
de risco da atividade; 
 b) Emitir, para cada exame médico realizado, o Atestado de Saúde 
Ocupacional – ASO, segundo os requisitos mínimos exigidos no item 7.4.4.3, em duas 
vias, uma para o empregado e outra para ser arquivada no local de seu trabalho; 
 c) Se constatar a ocorrência ou agravamento de doenças profissionais, através 
dos referidos exames médicos; ou sendo verificadas alterações que revelem qualquer 
tipo de disfunção de órgão ou sistema biológico, deverá nos termos do item 7.4.8: 
 - solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho - 
CAT; 
 - indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição ao 
risco, ou do trabalho; 
 - encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento de nexo 
causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta previdenciária em relação ao 
trabalho; 
 - orientar o empregador quanto à necessidade de adoção de medidas de 
controle no ambiente de trabalho. 
 
 
 d) Arquivar os prontuários individuais de cada paciente/trabalhador por no 
mínimo 20 (vinte) anos e transferi-los para eventual sucessor; 
 e) Coordenar a implementação do PCMSO, o qual deverá obedecer a um 
planejamento em que estejam previstas as ações de saúde a serem executadas 
durante o ano; 
 f) Fazer o relatório anual do programa, e apresentar e discutir na CIPA, se 
existente na empresa, a qual receberá e arquivará cópia em sua ata, etc. 
 Entretanto, ficarão dispensadas de apresentar o referido relatório as empresas 
desobrigadas de indicar o médico coordenador do PCMSO (item 7.4.6.4). São elas, 
conforme estabelecido nos itens 7.3.1.1; 7.3.1.1.1 e 7.3.1.1.1: 
 a) Empresas de grau de risco 1 e 2, com até 25 (vinte e cinco) empregados, 
bem como as empresas enquadradas no grau de risco 3 e 4, com até 10 (dez), 
segundo verifica-se no Quadro I da NR-4. 
 b) As primeiras empresas, acima mencionadas, se tiverem um contingente 
entre 25 (vinte e cinco) e 50 (cinqüenta) empregados, poderão se desobrigar desse 
encargo mediante negociação coletiva. Aquelas de grau de ris co 3 e 4, com um quadro 
de empregados que varie de 10 (dez) até 20 (vinte) pessoas também poderão se 
desobrigar de tal ônus em decorrência de negociação coletiva, porém, com a 
assistência de profissional do órgão regional competente em segurança e saúde no 
trabalho. 
 Contudo, vale ressaltar que, quaisquer empresas poderão ter a 
obrigatoriedade de indicação de médico coordenador, quando suas condições 
representarem potencial de risco grave aos trabalhadores, desde que verificado em 
parecer técnico conclusivo da autoridade regional competente em matéria de 
segurança e saúde do trabalhador, ou se assim for determinado em convenção coletiva 
ou, ainda, quando findar os efeitos normativos da convenção coletiva concedente da 
desoneração (Item 7.3.1.1.3) 
 O programa (PCMSO) deve incluir, entre outros, a realização obrigatória dos 
exames médicos nas seguintes ocasiões, segundo o item 7.4.1 desta NR: 
 a) na admissão do empregado, a ser realizado antes que o trabalhador 
assuma suas atividades; 
 b) periodicamente (bienal, anual ou com intervalos menores para hipóteses de 
trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho que impliquem o 
desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional, ou, ainda, para aqueles 
que sejam portadores de doenças crônicas, podendo ser incluídos exames 
complementares); 
 c) na data do retorno ao trabalho (em caso retorno de trabalhador ausente por 
período igual ou superior a trinta dias por motivo de doença ou acidente, de natureza 
ocupacional ou não, ou parto, deverá ser realizado, obrigatoriamente, no dia da volta 
ao trabalho); 
 
 
 d) de mudança de função (assim entendida se ocorrer alteração do risco a que 
o trabalhador ficará exposto, visto que poderá ocorrer troca de função na empresa sem 
mudança de risco). Será obrigatória sua realização antes da data da mudança. 
 e) no término do contrato (exame demissional). 
 Pelo exposto, resta evidente que à empresa cabe o ônus de implementar o 
PCMSO, segundo orientações do médico coordenador. Mas a este impende a 
responsabilidade técnica. Assim ambos são responsáveis pelo controle ambiental no 
local de trabalho e prevenção de doenças ocupacionais. E caso ocorra um sinistro, a 
primeira poderá ser culpada por não fornecer meios necessários à elaboração e 
implantação do PCMSO, ou ainda, ter culpa in eligendo. Mas se comprovar que 
implementou todas as medidas indicadas pelo médico coordenador, terá direito 
regressivo contra ele, na hipótese desse ter agido com negligência, imperícia, 
imprudência ou mesmo, com dolo (negativo, positivo ou eventual). 
 Para o controle ambiental realizado pelos órgãos internos da empresa, além de 
seobservar as determinações do Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional – 
PCMSO, também se faz essencial elaborar e implantar, de forma articulada com este 
programa o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais). O PPRA visa à 
preservação da saúde e a integridade dos trabalhadores, através da antecipação, do 
reconhecimento, da avaliação e do conseqüente controle da ocorrência de riscos 
ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em 
consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Daí, sua 
obrigatoriedade aos empregadores e inst ituições que admitam trabalhadores como 
empregados (NR-9, itens 9.1.1 e 9.1.3). 
 h) NR-9 – Esta NR criou o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, que 
deverá ser elaborado e implantado pelo empregador com a colaboração dos seus 
empregados (item 9.1.2). 
 Definiu parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados na 
execução do PPRA e caracterizou como riscos ambientais os agentes físicos, químicos e 
biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, 
concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à 
saúde do trabalhador e exemplificou alguns desses agentes (item 9.1.5), cujas 
alterações poderão ser baixadas pela Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, 
conforme necessidade e experiência (art. 2º da Portaria nº 3.214/78), que sempre 
surgem ante rápida evolução e aumento dessas espécies de agente sejam naturais ou 
artificiais. 
 De acordo com os itens 9.2.1, 9.2.2, o PPRA deverá estar descrito num 
documento-base, cuja estrutura mínima deverá conter: 
 a) planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e 
cronogramas [cujos prazos para o desenvolvimento das etapas e cumprimento das 
metas do PPRA deverão ser claros]; 
 b) estratégia e metodologia de ação; 
 c) forma do registro, manutenção e divulgação dos dados; 
 
 
 d) periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA. 
 O Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do 
Trabalho - SESMT (ou a pessoa ou equipe de pessoas que, a critério do empregador, 
sejam capazes de desenvolver as disposições da NR-9) deverá elaborar, implementar, 
acompanhar a implantação do PPRA, bem como efetuar, anualmente ou sempre que se 
fizer necessário, uma análise global do mesmo para avaliar seu desenvolvimento e 
realizar os ajustes necessários e estabelecimentos de novas metas e prioridades (itens 
9.2.1.1 e 9.3.1.1). 
 O documento-base e suas alterações e complementações deverão ser 
apresentados e discutidos na CIPA, que deverá anexar sua cópia ao seu livro de atas 
(item 9.2.2.1), bem como deverão estar disponíveis de modo a proporcionar o 
imediato acesso às autoridades competentes (item 9.2.2.2). 
 Estão previstas no item 9.3.1 da NR-9, as seguintes etapas a serem incluídas 
no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais: 
 a) antecipação e reconhecimento dos riscos; 
 b) estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle; 
 c) avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores; 
 d) implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia; 
 e) monitoramento da exposição aos riscos; 
 f) registro e divulgação dos dados. 
 Entretanto, para as empresas cujas atividades, não ofereçam riscos 
ambientais, haja vista não terem sido identificados nas fases de antecipação ou 
reconhecimento, o PPRA poderá resumir-se às etapas previstas nas alíneas "a" e "f" 
desse subitem, conforme se depreende do item 9.1.2.1. 
 Deve-se reiterar a prioridade da implementação pelo empregador de medidas 
de proteção coletiva. E somente quando ele comprova a inviabilidade técnica da 
adoção dessas medidas, ou quando estas não forem suficientes ou se encontrarem em 
fase de estudo, planejamento ou implantação, ou ainda em caráter complementar ou 
emergencial, deverão ser adotadas outras medidas, obedecendo-se a seguinte 
hierarquia conforme o item 9.3.5.4: 
 a) medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho; 
 b) utilização de equipamento de proteção individual - EPI. 
 Enfim, segundo o item 9.4 da NR-9 tanto o empregador quanto os 
trabalhadores serão responsáveis pela eficácia do Programa de Prevenção de Riscos 
ambientais. Estes são obrigados colaborar e participar na implantação e execução do 
PPRA; seguir as orientações recebidas nos treinamentos oferecidos dentro do PPRA; 
informar ao seu superior hierárquico direto ocorrências que, a seu julgamento, possam 
 
 
implicar riscos à saúde dos trabalhadores. E de acordo com o item 9.6.3 da referida 
NR, em se tratando de situação de grave e iminente risco para um ou mais 
trabalhadores, esses poderão interromper, de imediato, as suas atividades e, somente 
após a interrupção, comunicar o fato ao superior hierárquico direto para que sejam 
tomadas as devidas providências. 
 Ao empregador cabe garantir-lhes esse direito, mesmo porque já está 
obrigado a estabelecer, implementar e assegurar o cumprimento do PPRA, como 
atividade permanente da empresa ou instituição. E se vários empregadores realizarem, 
simultaneamente, atividades no mesmo local de trabalho terão o dever de executar 
ações integradas para aplicar as medidas previstas no PPRA visando à proteção de 
todos os trabalhadores expostos aos riscos ambientais gerados (item 9.6.1). 
 Os programas acima apresentados (PCMSO e PPRA) são indubitavelmente, de 
natureza preventiva. E toda prevenção depende do conhecimento das causas, dos 
agentes causadores do evento do qual se deve e se quer precaver. Em se tratando de 
prevenção de acidentes de trabalho, há vários fatores de riscos a serem detectados e 
conhecidos para que sejam traçadas as suas dimensões e os meios para evitá-los. 
 Primeiro deve-se ponderar que em qualquer atividade pode acontecer um 
infortúnio ao trabalhador, então deve estar cercada de todos os cuidados necessários à 
sua execução, a começar da edificação, instalações de máquinas e outros móveis e, 
principalmente, da orientação dos usuários e executores das tarefas, por mais singelas 
que sejam como, por exemplo, fazer o velho e gostoso cafezinho. 
 Mas a ocorrência desses infortúnios, óbvio, aumenta quando as atividades, por 
sua própria natureza ou condições de trabalho, são insalubres ou perigosas. Arrisca-se, 
portanto, a vida e a integridade física nesses ambientes laborais. E ainda hoje, seja 
nas atividades industriais ou seja nas extrativas, é quase inevitável o trabalho em 
condições insalubres ou perigosas a serem precavidas. 
 Então, para eliminar ou reduzir a margem de riscos existentes nesses 
ambientes laborais, é preciso, pois, detectar quais são os fatores de risco, os agentes 
insalubres ou operações perigosas. 
 Inclusive, nos termos do artigo 191 da CLT, a insalubridade pode ser 
eliminada ou neutralizada, para tanto esse dispositivo determinou ao Ministério do 
Trabalho e Emprego a incumbência de aprovar o quadro das atividades e operações 
insalubres, adotar normas sobre os critérios para caracterizá-las, os limites de 
tolerância aos agentes agressivos (tempo máximo de exposição) e meios de proteção 
aos empregados, sejam coletivos ou individuais. 
 i) NR-15 – Para cumprir o comando do artigo 190 da CLT, o Ministério do 
Trabalho e Emprego aprovou a NR-15, que trata das atividades e operações insalubres, 
com base em estudos da FUNDACENTRO (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de 
Segurança e Medicina do Trabalho). 
 Esta NR é integrada por quatorze anexos e formada por sete itens nos quais 
entreoutras regras: a) conceituam limite máximo de tolerância humana em relação ao 
ambiente insalubre (cuja previsão está contida nos anexos nº 1, 2, 3, 5, 11 e 12); b) 
definem as atividades e operações insalubres como sendo aquelas estão acima dos 
referidos limites de tolerância (subitem 15.1.1), as definidas nos anexos 6, 13 e 14 
 
 
(subitem 15.1.3), bem como aquelas determinadas nos anexos 7, 8, 9 e 10 (subitem 
15.1.4), além de confirmar as disposições da CLT que trata das atividades insalubres e 
perigosas. 
 Os 14 anexos trazem impressionante conteúdo técnico, ao: 
 a) definir regras e tabelas de limites de tolerância para: a) ruídos contínuos, 
intermitentes e de impacto (Anexo 1); b) exposição ao calor (Anexo 3); c) trabalho 
sob radiações ionizantes (Anexo 5); d) exposição a agentes químicos (Anexo 11); e e) 
limites de tolerância para poeiras minerais (Anexo 12); 
 b) ao estabelecer normas sobre as condições insalubres do trabalho sobre 
pressões hiperbáricas (trabalhos sob ar comprimido e trabalhos submersos) 
determinadas nas tabelas de descompressão e para recompressão terapêutica e 
estabelecer instruções para seu uso e, ainda, as medidas de segurança e restrições 
para o exercício das atividades sob estas condições (anexo 6); 
 c) determinar as atividades e operações insalubres que utilizam agentes 
químicos (diversos daqueles dos anexos 11 e 12) como: cádmio e seus compostos, 
arsênico, carvão, chumbo, cromo, fósforo, hidrocarbonetos e outros compostos de 
carbono, mercúrio, silicatos e estipular os seus respectivos graus de insalubridade 
(máximo, médio ou mínimo), bem como definir as substâncias cancerígenas (4-amino 
difenil ou p-xenilamina, benzidina, beta-naftamina, 4-nitrodifenil) e proibir o contato 
ou exposição, por qualquer via, do trabalhador com o carcinogênico, (Anexo 13) e 
estabelecer as medidas de segurança e proibições ao exercício das atividades ou 
operações com produtos comprovadamente cancerígenos – o benzeno (Anexo 13-A); 
 d) definir a relação de atividades insalubres que envolvem agentes biológicos 
(contatos com substâncias infecto-contagiosas nos trabalhos em hospitais, 
ambulatórios, laboratórios de análise clínica e histopatologia, clínica veterinária, 
esgotos, etc.), cujo grau de insalubridade pode ser máximo ou médio (anexo 14); 
 e) determinar também, que poderão ser consideradas insalubres, conforme 
laudo de inspeção ou perícia do local de trabalho (segundo subitem 15.1.4), as 
atividades ou operações que exponham os trabalhadores à radiações não ionizantes 
(conceituadas como sendo somente as microondas, ultravioletas e laser), ao frio ou à 
umidade e à vibrações (Anexos 7, 8, 9 e 10). 
 Conforme se infere do subitem 15.1.3 da NR-15, as atividades ou operações 
que exponham os trabalhadores aos fatores ou aos agentes agressivos indicados nos 
itens "b", "c" e "d" relacionados anteriormente são, por sua própria natureza, 
insalubres. 
 É interessante registrar que a caracterização da insalubridade das atividades e 
operações com agentes biológicos é determinada pela avaliação qualitativa, ou seja, 
basta o simples contato com o agente agressivo para determinar esta situação (Vide 
preâmbulo do anexo 14). Já para as atividades em que há incidência dos agentes 
agressivos listados no item "a", a avaliação é qualitativa e quantitativa. Nesse caso, 
haverá insalubridade somente para os trabalhadores, cuja exposição aos agentes 
agressivos ultrapassar os limites de tolerância fixados nas tabelas ínsitas nos anexos 1, 
2, 3, 5, 11 e 12 da NR-15. É o que se depreende do dispositivo do item 15.1.5 da NR-
15, que estabelece que tais limites estão definidos segundo a concentração ou 
 
 
intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição 
ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. 
 Quanto aos agentes relacionados no item "e", no caso das atividades e 
operações que exponham os empregados, sem qualquer proteção, à vibrações 
localizadas ou de corpo inteiro, a insalubridade somente será caracterizada a partir de 
perícia realizada no local de trabalho, que terá por base os limites de tolerância 
definidos pela Organização Internacional para a Normalização (ISO), conforme suas 
normas ISO 2.631 e ISO/DIS 5.349 ou suas sucessoras. Já para a caracterização das 
atividades sujeitas à radiações não ionizantes, frio ou umidade, como sendo 
insalubres, basta o laudo de inspeção no local de trabalho que defina a inexistência de 
eliminação da insalubridade (anexos 7, 8, 9 e 10). 
 Vale lembrar que a insalubridade poderá ser eliminada ou reduzida à 
patamares suportáveis, a partir da implementação de medidas de proteção coletiva ou 
do uso de equipamentos de proteção individual. 
 O conhecimento das atividades consideradas insalubres serve para prevenção 
dos riscos próprios do meio ambiente laboral agressivo, bem como para poder 
compensar o trabalhador, pelo exercício de trabalho em condições de insalubridade, 
garantindo-lhe o direito de receber um adicional a sua remuneração, cujos percentuais 
são fixados proporcionalmente ao grau de intensidade do agente agressor no seu 
ambiente de trabalho. Se o grau é mínimo, médio ou máximo, o empregado faz jus ao 
adicional de 10%, 20 ou 40%, respectivamente, sobre o valor do salário mínimo (CLT, 
art. 192 c/c item 15.2). E na hipótese, da função do empregado abranger mais de um 
nível de agressão, receberá somente o adicional referente ao grau mais elevado (NR-
15, item 15.3). E, naturalmente, cessado o trabalho insalubre, cessa o direito ao 
recebimento do adicional de insalubridade. 
 O contato com esses agentes pode ser: permanente, intermitente, eventual 
(ou esporádico). Somente este último não gera direito ao recebimento do adicional de 
insalubridade, tendo em vista que o exercício de trabalho em contato com agente 
insalubre não é corriqueiro, é imprevisível. 
 Em virtude dessas considerações, verifica-se que são pressupostos da 
legislação voltada para o meio ambiente laboral: a inevitabilidade do trabalho em 
condições insalubres para algumas atividades, a possibilidade de eliminá-las ou reduzi-
las por meio de medidas de proteção coletiva ou individual, ou mesmo a 
impossibilidade de fazê-lo, o que culmina com alguma medida compensatória para o 
trabalhador que se sujeita aos ris cos da atividade insalubre. Em suma, as normas que 
definem as causas, efeitos e prevenção da insalubridade são preventivas e 
compensatórias. 
 Ademais, vale ressaltar que somente as atividades insalubres elencadas nos 
referidos anexos, geram efeitos jurídicos. 
 Há tentativas de acompanhar o desenvolvimento tecnológico, por parte do 
órgão competente (Ministério do Trabalho e Emprego), mediante alterações dos 
quadros de atividades e operações insalubres, para complementar a NR-15. 
Entretanto, ainda existem muitas situações, no meio ambiente laboral, arriscadas e 
agressivas à saúde dos trabalhadores que não são contempladas pela referida norma 
regulamentadora. Se não bastasse, mesmo as normas existentes de caráter 
 
 
preventivo, eliminatório ou compensatório não são devidamente observadas por todas 
as empresas. Ademais, há deficiência de fiscalização tanto por parte dos sindicatos 
quanto, dos órgãos públicos competentes. Se esta fosse eficaz, coagiria aos 
empreendedores de atividades agressivas a cumprirem suas obrigações e tratar com 
mais humanidade e dignidade os seus trabalhadores. 
 Cumpre examinar, nesse passo, os riscos inerentes ao meio ambiente laboral, 
relativos à atividades perigosas ou, potencialmente, produtoras de efeitos perigosos. 
 Para a CLT, segundo dispositivo do artigo 193, somente serãoconsideradas 
atividades ou operações perigosas aquelas determinadas em regulamentos aprovados 
pelo Ministério do Trabalho e Emprego, desde que por sua natureza ou métodos de 
trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em 
condições de risco acentuado. 
 j) NR-16 – Em cumprimento a esta determinação o Ministério do Trabalho e 
Emprego, baixou a Portaria nº 3.214/78 e aprovou a NR-16, que regulamenta e define 
quais são as atividades perigosas em seus sete itens e dois anexos. Estes tratam das 
atividades e operações perigosa com explosivos (Anexo 1) e com produtos inflamáveis 
(Anexo 2). 
 Vale salientar que embora não esteja regulamentada nesta NR, também as 
atividades exercidas por empresas que exploram a energia elétrica são previstas como 
perigosas, nos termos da Lei nº 7.369/85. Esta lei também determina o recebimento 
pelos empregados deste setor (eletricitários) do adicional de periculosidade. 
 Outrossim, outra profissão regulamentada, a de técnico em radiologia foi 
definida como atividade perigosa pela Lei nº 7.394/85. Após esta lei, o Ministério do 
Trabalho e Emprego baixou a Portaria n° 3.393/87, para acrescentar o anexo, que 
define como atividades e operações perigosas aquelas relacionadas à radiações 
ionizantes ou substâncias radiotivas, incluso o setor de radiologia. 
 Segundo se infere dos quadros e determinações da NR-16 e do artigo 193 da 
CLT, o direito ao recebimento do adicional de periculosidade, pelo empregado das 
empresas que exercem as atividades regulamentadas, somente é gerado se aquele 
trabalha na área definida como de risco e tenha contato permanente (contínuo ou 
intermitente) com o fator ou agente perigoso. Portanto, não recebe o referido adicional 
o empregado que fortuitamente, eventualmente, entre na área de risco. E também 
deixará de recebê-lo, se parar de exercer a função perigosa e se afastar da área que 
ofereça os riscos. 
 A simples redução dos riscos inerentes ao trabalho por medidas de segurança, 
obrigatória às empresas, conforme ordem constitucional (CF/88, art. 7º, inc. XXII), 
não desobriga o empregador de pagar o referido adicional, vez que as atividades tidas 
como perigosas pela lei ou NR-16, sempre oferecem perigo em potencial. 
 As normas que tratam das atividades perigosas são de natureza 
compensatória, visto que determinam o pagamento de adicional de periculosidade no 
percentual de 30%, a ser calculado sobre o salário-base (sem outros acréscimos 
resultantes de gratificações, prêmios, etc.) a todo empregado que fique sujeito aos 
efeitos da periculosidade, por trabalhar em local cuja área é delimitada como de risco, 
 
 
independentemente de exercer ou não função em atividades legalmente consideradas 
perigosas. (CLT, 193, § 1º) 
 E na hipótese, que não é rara, do empregado ficar exposto, simultaneamente, 
ao perigo e à insalubridade, ser-lhe-á facultado optar entre o recebimento do adicional 
de periculosidade ou insalubridade, vez que não lhe é permitido receber ambos ao 
mesmo tempo. (CLT, 193, § 2º). 
 Algumas empresas brasileiras têm dado a merecida importância à Saúde e 
Segurança Ocupacional. Não se trata apenas de puro humanismo, mas de estratégia 
para obterem condições de concorrer no mercado global, que é muito exigente, 
especialmente no que tange à questão ambiental. Portanto, cumprir as normas de 
segurança e medicina do trabalho faz parte da essência da vida das empresas, cujas 
atividades são voltadas para o comércio exterior. Por essa razão, atualmente, estas, 
além de se preocuparem em conseguir o certificado da Norma ISO 9000 (Qualidade 
Total) e Norma ISO 14000 (Proteção ao Meio Ambiente), já estão antecipando a 
implantação da possível Norma ISO 18000 (Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde 
no Trabalho), que ainda se encontra em estudo. 
 Convém mencionar que tais empresas, geralmente, estão em evidência e 
sofrem maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais, inclusive, das Delegacias 
Regionais do Trabalho e Emprego, que exigem a implantação do Plano de Controle 
Ambiental (PCA). Ademais, visam também aplacar as pendências judiciais relacionadas 
a acidentes do trabalho (processos de criminais por lesões corporais, processos 
indenizatórios para reparação por danos materiais e morais, processos previdenciários 
regressivos) tendentes a complicar a vida empresarial, visto que ameaçam a 
estabilidade moral e econômica das empresas, podendo até mesmo impedir a 
viabilidade econômica daquelas de menor porte. 
 Deduz-se, pelo enorme índice de acidentes laborais ocorridos neste país, 
segundo informações obtidas em sala de aula que, provavelmente, muitas empresas 
ainda não estão convictas dessa importância financeira, não percebem que é lucrativo 
investir em medidas de prevenção dos riscos de infortúnios no meio ambiente do 
trabalho. E muito menos estão imbuídas de ética humanista para implementá-las. 
Inclusive, sabe-se que algumas empresas procuram regularizar sua documentação 
conforme é exigido pelas normas de segurança e medicina do trabalho, mas esta fica 
engavetada, apenas para ser apresentada a algum fiscal desatento. Não implantam 
nem implementam as medidas preventivas, muitas vezes sob a alegação de 
impossibilidade de fazê-lo devido aos altos custos. 
7.1 As normas previdenciárias e suas regras para seguridade do trabalhador 
acidentado ou sujeito aos riscos inerentes ao meio ambiente agressivo. 
Lei nº 8.212/91 
 Esta lei dispõe sobre os objetivos da Previdência Social e sobre o plano de 
custeio. No seu artigo 1º, define que Seguridade Social compreende um conjunto 
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a 
assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social. E completa 
em seu artigo 2º que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos. 
 
 
 A lei previdenciária impõe no artigo 22, inciso II, a contribuição obrigatória da 
empresa para financiar o benefício relativo à aposentadoria especial e dos demais a 
serem concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa 
decorrente dos riscos ambientais do trabalho. E, também define que a contribuição 
deverá ser paga segundo o grau de risco de acidentes do trabalho de cada atividade. 
Assim, será de 1% (um por cento), se atividade preponderante for de risco leve; de 
2% (dois por cento) se médio e 3% (três por cento) se grave, cujo percentual terá 
como base de cálculo o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do 
mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos. Ainda quanto ao 
financiamento da aposentadoria especial, a lei de plano de custeio (Lei nº 8.212/91) é 
complementada pelo parágrafo 6º do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 que estabelece o 
seguinte: 
 O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes 
da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 
1991, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, 
conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a 
concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de 
contribuição, respectivamente. 
Lei nº 8.213/91 
 Como já informado é esta lei que conceitua o acidente do trabalho (art. 19), 
define as características das doenças ocupacionais consideradas acidente de trabalho 
(art. 20) e estabelece outras formas de sinistros equiparados a acidentes do trabalho 
(art. 21). 
 A. Responsabilidades de natureza previdenciária do empregador 
 A lei nº 8.213/91 também determina nos parágrafos1º, 2º e 3º do artigo 19 
algumas das responsabilidades da empresa. O teor desses dispositivos, além de coagir 
a empresa a cumprir as normas de segurança e saúde do trabalho, tem por finalidade 
resguardar o poder-dever da Previdência Social de multar as empresas violadoras das 
referidas normas, bem como de receber a indenização dos valores despendidos com o 
beneficiário acidentado (empregado ou avulso que presta serviço à empresa), em 
eventual ação regressiva contra a empresa, na hipótese de haver nexo de causalidade 
entre o acidente de trabalho e a culpa ou dolo desta (art. 120). 
 Para tanto, reitera a determinação a respeito da obrigação da empresa de 
adotar o uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do 
trabalhador e de prestar informações pormenorizadas sobre os riscos operacionais de 
sua atividade, inclusive, do manuseio de produtos agressivos à saúde. Estipula, logo a 
seguir, a responsabilidade penal para a empresa que deixar de cumprir as normas de 
segurança e higiene do trabalho, definindo tal conduta como contravenção penal, 
punível com multa. 
 A Lei 8.213/91 também impõe à empresa a responsabilidade pela 
comunicação de acidente do trabalho (CAT) a ser feita à Previdência Social, cujo prazo 
é até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência do sinistro e, em caso de morte do 
segurado, a comunicação deverá ser imediata à autoridade competente, sob pena de 
multa, independente da iniciativa de outrem dar a informação (art. 22, caput c/c § 3º) 
 
 
 Define como dia do acidente oriundo das doenças ocupacionais (doença 
profissional ou do trabalho), a data do início da incapacidade laborativa para o 
exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que 
for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro (art. 23). 
 Determina, ainda, que seja fornecida cópia fiel da comunicação de acidente do 
trabalho (CAT) ao acidentado ou a seus dependentes e ao sindicato da categoria (art. 
22, § 1º). 
 E, na ausência da emissão da CAT pela empresa, faculta ao próprio 
acidentado, aos seus dependentes, à entidade sindical competente, ao médico 
assistente ou qualquer autoridade pública, formalizar a comunicação sem 
determinação do prazo (art. 22, § 2º). 
 A lei nº 8.213/91 ainda estipula outras obrigações para a empresa 
empregadora, vejamos: 
 a) durante o período de afastamento do empregado segurado, a empresa 
arcará com o pagamento do salário integral do empregado durante os primeiros quinze 
dias de afastamento da atividade, por motivo de doença ou invalidez (art. 42, § 2º e 
art. 60 § 3º); 
 b) A empresa, para fins da aposentadoria especial, deverá: 
 - manter laudo técnico das condições ambientais do trabalho (LTCAT) 
atualizado, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho 
nos termos da legislação trabalhista, que comprove a efetiva exposição de seus 
trabalhadores aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho, sob pena de 
multa (arts. 58 e 133); 
 - no referido laudo técnico deverão constar informação sobre a existência ou 
não de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade do 
agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo 
estabelecimento respectivo (art. 58, § 2º); 
 - elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico, abrangendo as atividades 
desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de 
trabalho, cópia autêntica desse documento. (art. 58, § 4º). 
 c) A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a 
seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período de 
afastamento por motivo de doença, somente devendo encaminhar o segurado à perícia 
médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias (art. 
60, § 4º). 
 d) A empresa financiará a aposentadoria especial, a partir da contribuição 
prevista no artigo 22 desta lei, acrescida das alíquotas de doze, nove ou seis pontos 
percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa 
permita a concessão da aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco 
anos de contribuição, respectivamente. 
 
 
 e) A empresa que garantir ao segurado licença remunerada ficará obrigada a 
pagar-lhe durante o período de auxílio -doença a eventual diferença entre o valor deste 
e a importância garantida pela licença, visto que o segurado empregado em gozo de 
auxílio-doença será considerado pela empresa como licenciado (art. 63). 
 f) Impôs à empresa a garantia de estabilidade, ao segurado que sofreu 
acidente do trabalho, pelo prazo mínimo de doze meses, após a cessação do auxílio-
doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente (art. 118). 
 Para dar efetividade ao cumprimento das normas padrão de segurança e 
higiene do trabalho indicadas para proteção coletiva e individual do trabalhador, 
voltadas a prevenção do meio ambiente laboral (art. 19, § 4º), a Lei nº 8.213/91 
incumbe os Ministérios do Trabalho e Emprego da Previdência Social de fiscalizá-las, 
bem como encarrega aos sindicatos e entidades representativas de classe pelo 
acompanhamento da implementação dessas medidas preventivas. E no seu artigo 120, 
a lei supra estabelece que nas hipóteses do descumprimento dessas normas pela 
empresa e, naturalmente, de ocorrência de algum sinistro em razão da negligência 
desta, à Previdência Social cabe propor ação regressiva contra os responsáveis. 
 E, por fim, a lei previdenciária realça a independência das indenizações 
previdenciárias, da reparabilidade do direito comum ao determinar que "o pagamento, 
pela Previdência Social, das prestações por acidente do trabalho não exclui a 
responsabilidade civil da empresa ou de outrem" (art. 121). 
7.2 Responsabilidade objetiva da Previdência Social e os direitos do 
empregado acidentado 
 É oportuno ratificar que compete à Previdência Social, a responsabilidade 
objetiva de indenizar o trabalhador vítima de acidente do trabalho. À Previdência 
Social, independenteme nte, da culpa do empregador cabe dar cobertura aos danos 
resultantes de acidente do trabalho, visto que se trata de um direito social do 
trabalhador, assegurado constitucionalmente. 
 Assim, o empregado acidentado, ainda que a sua empresa empregadora não 
tenha recolhido as contribuições devidas à Previdência Social, dependendo dos efeitos 
do acidente que o acometeu, terá direito de receber, sem que lhe seja exigido 
qualquer prazo de carência: 
 a)o auxílio-doença acidentário equivalente a 91% (noventa e um por cento) da 
média aritmética simples dos maiores dos salários-de-contribuição correspondentes a 
80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo (garantido o salário mínimo) a 
partir do 16º (décimo sexto) dia de afastamento da atividade, pelo período necessário 
para restabeleça a saúde e volte ao trabalho ou se aposente por invalidez, se seu caso 
for irrecuperável (art. 59 e ss); 
 b)o auxílio-acidente correspondente a 50% (cinqüenta por cento) do salário-
benefício a ser recebido logo após a cessação do auxílio-doença, a título de 
indenização, se as lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem 
seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho o qual exercia 
habitualmente, independente do recebimento de salário ou outro benefício, exceto o de 
aposentadoria (art. 86 e ss); 
 
 
 c)aposentadoria por invalidez, correspondente a 100% (cem por cento) do 
salário-de-benefício, se for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para oexercício de atividade que lhe garanta a subsistência. Esta ser-lhe-á paga apenas 
enquanto permanecer nesta condição. O direito do segurado acidentado pode iniciar-
se, conforme o caso: a) a partir do décimo sexto dia do afastamento da atividade; b) 
desde a data da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a entrada do 
requerimento decorrerem mais de trinta dias; c) ou a partir da cessação do auxílio-
doença. E ainda, terá o direito de acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento), se 
necessitar da assistência permanente de outra pessoa (art. 42 e ss); 
 d)a assistência para reabilitação profissional e serviço social. 
 Outrossim, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que 
prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 
(vinte e cinco) anos, caberá o direito à aposentadoria especial equivalente a 100% 
(cem por cento) do salário-de-benefício, desde que cumprida a carência legal (art. 57). 
 Mas, se o acidente resultar em morte do segurado, seus dependentes 
receberão, em conjunto, a pensão por morte correspondente ao valor de 100% (cem 
por cento) do salário-de-benefício (art. 74. e ss). 
 É preciso vencer o dano, inimigo comum, fator de desperdício e de 
insegurança, lançando mão de todos os meios preventivos e repressivos sugeridos pela 
experiência, sem desmantelar e desencorajar as atividades úteis. Para tal conseguir 
não nos devemos encastelar dentro de princípios abstratos, ou de preceitos 
envelhecidos para a nossa época, só por amor à lógica dos homens, à vaidade das 
concepções, ou à intransigência de moralistas de gabinete. 
 
 
 
8. DANOS ORIUNDOS DE ACIDENTES DO TRABALHO E A RESPONSABILIDADE 
DE REPARÁ-LOS 
8.1 Teorias norteadoras da responsabilidade civil de repara r os danos 
provocados à vítima de acidente do trabalho 
 A importância do equilíbrio e da harmonização social, a partir da reparação dos 
danos, torna o tema da responsabilidade civil ou penal um dos mais relevantes para as 
ciências humanas, espec ialmente para a jurídica. Portanto, aquele que por sua conduta 
ou exercício de atividade produz uma modificação negativa no mundo exterior, 
violando direitos de outrem, deverá responder pelos seus atos com fito de satisfazer 
não só o lesado, mas principalmente, visando a paz social. Mesmo porque "o anseio de 
obrigar o agente, causador do dano, repará-lo inspira-se no mais elementar 
sentimento de justiça". 
 Os imensuráveis e estarrecedores casos de acidentes do trabalho, na sua 
grande maioria oriundos do descaso dos empregadores em manter um meio ambiente 
laboral salutar e outras vezes pelos riscos próprios da atividade econômica das suas 
empresas, afrontam o princípio constitucional da dignidade humana e da integridade 
física, psíquica e moral do trabalhador. 
 O acidente de trabalho é evento danoso tanto para a vítima quanto para seus 
dependentes e, em muitos casos, é irreparável, devido à extensão de seus efeitos. Mas 
se o direito à vida e à integridade física do trabalhador é violado pela ocorrência de 
sinistro relacionado ao meio ambiente laboral, ocasionando-lhe perda parcial ou total, 
temporária ou permanente da sua capacidade para trabalhar ou até mesmo a morte, 
tal dano deverá ser reparado, ao menos pelo seguro social, independent emente de 
culpa do empregado ou empregador, ainda que tal indenização apenas mitigue o mal 
sofrido. É imperiosa, portanto, a reparação do dano causado a outrem para, na medida 
do possível, desfazer seus efeitos funestos e restituir statu quo ante aquele que sofreu 
o prejuízo. 
 Nos dizeres de Maria Helena Diniz "o interesse em restabelecer o equilíbrio 
violado pelo dano é fonte geradora da responsabilidade civil", independentemente de 
que a causa da lesão ao bem material ou moral, seja ato ilícito ou lícito. Porque 
também as atividades permitidas legalmente, mas que por sua natureza, impliquem 
em risco para os direitos de outrem, cria o dever de indenizar, bastando haver nexo de 
causalidade entre o dano e atividade de risco desenvolvida, sem levar em conta a 
existência de culpa do criador do risco (CCB, art. 927, par. único). 
 Por sua natureza social, a responsabilidade civil decorrente de acidente do 
trabalho funda-se em norma cogente de caráter público elevado à categoria 
constitucional. 
 A nossa Carta Magna assegura ao trabalhador, com base nos princípios da 
valorização do trabalho e da dignidade humana, o direito ao meio ambiente laboral 
salutar e entre outros direitos o "seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do 
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em 
dolo ou culpa" (CF/88. art. 7º, inc. XXVIII). E determina que a Previdência Social 
atenderá, em concorrência com o regime de seguro privado, a cobertura dos riscos de 
acidente do trabalho, inclusos eventos de doença, invalidez ou morte (CF/88, art. 201, 
inc I e § 10). 
 
 
 Mas no que tange à reparação a lesão ao meio ambiente, inclusive, ao meio 
ambiente do trabalho, a Constituição, cujo bem maior protegido é a vida, determina 
também, em seu parágrafo 3º, artigo 225 que: 
 As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
 Na combinação desses dispositivos está delimitada a fundamentação legal e 
teórica para as normas infraconstitucionais relativas à reparação acidentária laboral, 
seja de cunho civil, administrativa ou penal. E, infere-se das normas mencionadas que 
a responsabilidade civil poderá ter natureza contratual ou extracontratual, cujos 
pressupostos básicos são: a ocorrência de dano, nexo causal entre o evento danoso e 
o dano e a causa oriunda de ato ilícito ou não. 
 Sendo assim, o tema está compreendido tanto pelas teorias civilistas (teoria 
da culpa civil ou da responsabilidade subjetiva) quanto pelas teorias publicistas (teoria 
do risco ou da responsabilidade objetiva). 
8.2 Teoria da culpa civil ou da responsabilidade subjetiva 
 A ânsia de obter a reparação do dano é tão antiga quanto a origem do 
homem. Com fulcro na Lei de Talião, surgiu a justiça privada. Impunha-se a regra 
"olho por olho, dente por dente", ou seja, reparava-se o mal pelo mal. Inclusive, 
sequer verificava-se a existência ou não de culpa. Inúmeros abusos foram cometidos 
em nome da reparação do dano, que de reparação nada tinha, mas caracterizava como 
mera vingança e dano em dose dupla (da vítima e do ofensor). 
 Percebeu-se que a vingança privada era contraproducente. Optou-se, pois, 
pela exceção do dispositivo da lei 11ª, tábua VII, ínsita na Lei das Doze Tábuas, cuja 
determinação era que "se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se 
existiu acordo " 
 Assim, a composição das partes para reparar o dano, mediante pecúnia, 
transferia ao patrimônio do agressor que agira com culpa, o ônus da reparação. 
 Entrou em vigor, nova lei romana – a Lex Aquilia de damno – que introduziu a 
culpa do agente como fundamento da sua obrigação de reparar o dano, mediante 
prestação de pena pecuniária. 
 Surgiu a clássica teoria da culpa, cujo pressuposto básico para a concessão da 
reparação impõe que "o respectivo fato gerador seja moralmente imputável ao seu 
autor, isto é que se origine de sua vontade determinada ou de sua atividade 
consciente". Porque, "pela teoria da responsabilidade subjetiva ou da culpa (...) a 
obrigação de reparar o dano decorre do juízo de reprovação ao comportamento do 
agente". 
 Segundo essa teoria, a obrigação de indenizar pressupõe a existência do 
elementosubjetivo: dolo (culpa latu sensu), em que o agente tem pleno conhecimento 
do mal e intenção de praticá-lo; ou a culpa stricto sensu, advinda da negligência, 
imprudência ou imperícia do agressor, que viola o dever de conhecer e agir de modo a 
 
 
não prejudicar outrem. Além de tal pressuposto, também são requisitos indispensáveis 
para configurar a responsabilidade civil subjetiva, a existência do dano contra o direito 
tutelado e o nexo causal entre o dano e o fato imputável ao sujeito agressor. 
 Assim, se alguém pela sua conduta culposa, viola direito de outrem e causa-
lhe prejuízo ou dano, tem o dever de indenizar. 
 A tradicional teoria da culpa ainda é o principal fundamento da 
responsabilidade civil, vez que ninguém será obrigado a indenizar se não houver agido 
culposamente, salvo nos casos especificados em lei ou quando sua atividade seja 
perigosa e implique em risco para os direitos de outrem (CCB, art. 927, par. único). 
 Exceto raras exceções, como na hipótese do dispositivo do parágrafo acima 
mencionado, que determina a responsabilidade objetiva, o nosso Código Civil acolhe a 
responsabilidade civil subjetiva e, em parte, adota o princípio gera l do processo civil, 
que incumbe a quem alega, o ônus de provar o seu direito e os fatos que o fundam, ou 
seja, cabe ao lesado provar a culpa do agressor. 
 Contudo, em determinados casos, a teoria da culpa aproxima-se da teoria da 
responsabilidade objetiva ao aceitar a culpa presumida. 
 Deveras, muitas são as hipóteses em que praticamente fica impossível ao 
lesado provar a culpa do responsável pela violação do seu direito. Uma delas é o que 
acontece nos casos de acidente do trabalho decorrente de culpa ou dolo do 
empregador (CF/88, art. 7º, inc. XXVIII). Em tais situações, como regra, se não 
houver a inversão do ônus da prova, dificilmente o lesado poderá provar a 
culpabilidade do empregador. 
 Houve uma evidente evolução na teoria da responsabilidade civil nos últimos 
tempos, uma busca de socialização dos riscos. A aplicação pura da teoria da culpa, 
definitivamente, não se mostrou suficiente para atender às transformações sócio-
econômicas da nossa época. Ratifica essa assertiva os dizeres de Maria Helena Diniz: 
 A insuficiência da culpa para cobrir todos os prejuízos, por obrigar a 
perquirição do elemento subjetivo na ação, e a crescente tecnização dos tempos 
modernos, caracterizado pela introdução de máquinas, pela produção de bens em 
larga escala e pela circulação de pessoas por meio de veículos automotores, 
aumentando assim os perigos à vida e à saúde humana, levaram a uma reformulação 
da teoria da responsabilidade civil dentro de um processo de humanização. 
 O primeiro passo foi admitir a presunção da culpa. Ardorosos defensores da 
culpa como fundamento da responsabilidade civil, os irmãos Mazeud, numa concepção 
moderna, ante as dificuldades encontradas para efetivar a reparação do dano, criaram 
a teoria da culpa sem imputabilidade moral, mediante o artifício da presunção juris et 
de jure, que na verdade foi uma transição para aceitar as novas teorias do risco, 
defendidas por Saleiles e Josserand, precursores da objetivação da responsabilidade 
civil, segu idos no Brasil, dentre outros, por Alvino Lima, Orozimbo Nonato, Aguiar Dias. 
 Segundo Alvino Lima, para os aguerridos defensores da culpa como princípio 
moral basilar da responsabilidade civil, dentre eles Ripert, as teorias de presunção da 
culpa, na verdade, são mentiras jurídicas criadas para não dar o verdadeiro nome às 
coisas, para acobertar as novas tendências. 
 
 
 Enfim, como assinalou o próprio Ripert, a tendência atual do direito, que a 
cada dia se concretiza mais, inclusive no direito positivo brasileiro, manifesta-se no 
sentido de substituir a idéia da culpa pela idéia do risco, a responsabilidade subjetiva 
pela responsabilidade objetiva, tudo em prol da socialização dos riscos. 
Teoria do risco ou da responsabilidade objetiva 
 A impossibilidade de concretizar reparação dos danos oriundos de acidentes, 
especialmente, do trabalho, cujo número cresceu assustadoramente nos últimos 
tempos (com alguma redução no quadro do mercado de trabalho formal), determinou 
a insuficiência responsabilidade subjetiva. O operário hipossuficiente e vulnerável ou 
seus dependentes, sempre se encontraram em irrefragável desvantagem em relação 
ao poderio do empregador. Como provar a culpa deste? A lei que por um lado tutelava 
o direito à integridade física e a reparação dos danos ocorridos com a violação desse 
direito, praticamente, negava o efetivo direito de ação, ao dificultar (quase 
impossibilitar) a prova da culpa do empregador. Conceder o direito à reparação do 
dano aos lesados, mas negar-lhes, ainda que indiretamente, instrumentos para provar 
o direito, equivale à negação do direito. 
 Surgiu a teoria do risco como fundamento da responsabilidade objetiva, ante a 
necessidade de amparar as vítimas de acidentes e tendo em vista os problemas sociais 
deles originados, principalmente, para o operário e sua família, cuja sobrevivência 
depende do trabalho. Esta teoria vem, portanto, como resposta aos anseios de ordem 
sócio -econômica. 
 Como bem esclarece o árduo defensor da teoria do risco em nosso país, Alvino 
Lima, "a necessidade imperiosa de se proteger a vítima, assegurando-lhe a reparação 
do dano sofrido, em face da díspar entre as empresas poderosas e as vítimas 
desprovidas de recursos, (...) [torna] imprescindível, pois, rebuscar um novo 
fundamento à responsabilidade extracontratual, que melhor resolvesse o grave 
problema da reparação dos danos, de molde a se evitarem injustiças que a consciência 
jurídica e humana repudiavam". 
 Para Saleiles, o precursor das bases de sustentação para a nova doutrina, 
desenvolvida por Josserand e seus seguidores "a teoria objetiva é uma teoria social 
que considera o homem como fazendo parte de uma coletividade e que o trata como 
atividade em confronto com as individualidades que o cercam". 
 Segundo Sérgio Cavalieri Filho, a teoria do risco foi embasada sob vários 
prismas e podem ser identificadas em diversas modalidades a seguir expostas: 
 a)Teoria do risco-proveito – funda-se essa teoria na idéia de que aquele 
que tira proveito da atividade danosa é responsável pela reparação do dano. Porém, 
aplica-se somente aos exploradores de atividades econômicas, e ao lesado impende 
provar a existência do proveito. 
 b)Teoria do risco criado – por essa teoria "aquele que, em razão de sua 
atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, 
salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas de evitá-lo" Dessa elucidação 
do Mestre Caio Mário se infere, que prescinde a prova do proveito da atividade. 
 
 
 c)Teoria do risco profissional – esta teoria foi desenvolvida especificamente 
para justificar a reparação dos prejuízos advindos de acidentes do trabalho, e sustenta 
ser suficiente a lesão, seja em decorrência da atividade ou da profissão do lesado. 
 d)Teoria do risco excepcional – voltada para responsabilizar exploradores 
de atividades de riscos coletivos (exploração de energia nuclear, materiais radioativos, 
ect.), que podem lesar até mesmo terceiros alheios a estas atividades. 
 e)Teoria do risco integral – para esta teoria basta haver o dano para 
caracterizar o dever de indenizar. Não admite quaisquer causas excludentes da 
responsabilidade (culpa exclusiva da vítima, de terceiros, caso fortuito ou forç a maior). 
 Cavalieri afirma que, em qualquer das modalidades, a teoria do risco se 
resume na seguinte afirmação: "Todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autore 
reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido com culpa ". 
 Por conseguinte, para assegurar o ressarcimento ao prejudicado, cabe verificar 
se ocorreu o evento e dele emanou o dano, não se cogitando da imputabilidade ou 
antijuridicidade do fato danoso. É satisfatória a relação de causalidade entre o prejuízo 
e aquele que materialmente o causou, isto é, basta o nexo causal entre o dano e o fato 
gerador. O agente deve ser responsabilizado pelo simples fato da ocorrência do fato 
danoso prejudicial a outrem, relacionado à atividade exercida, visto que aquele 
assumiu, ao explorá-la, todos os riscos a ela inerentes. 
8.3 Responsabilidade civil: subjetiva ou objetiva e seus elementos 
 Conforme o fundamento teórico adotado, a responsabilidade civil se 
apresentará como: subjetiva ou objetiva. 
 Maria Helena Diniz afirma que "o dever ressarcitório pela prática de atos 
ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou censurabilidade da conduta do 
agente (...) Portanto, o ato ilícito qualifica-se pela culpa. Não havendo culpa, não 
haverá, em regra, qualquer responsabilidade". (grifou-se). 
 A culpa é elemento subjetivo moralmente imputável ao agente, conforme seja 
sua conduta reprovável, a partir o juízo de valor feito a respeito de sua capacidade 
intelectiva e volitiva (capacidade mental para ter consciência e vontade de praticar o 
ato). Daí, a responsabilidade civil sob o fundamento da culpa é conhecida como 
responsabilidade subjetiva. 
 No direito civil brasileiro a norma fundamental da responsabilidade civil está 
gravada nos artigos 186 e 187 (parte geral) combinado com o artigo 927, caput, 
(parte especial) do Código Civil nos seguintes termos: 
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito. 
 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
 
 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo. 
 Conforme se deduz dos dispositivos acima, especialmente do artigo 186, a 
responsabilidade civil, a princípio, está intimament e ligada à existência de um ato 
ilícito (que pressupõe a culpa), cujos elementos constitutivos são: 
 a)a conduta culposa (dolo ou culpa stricto sensu) – violação de dever jurídico 
preexistente (contratual ou legal), imputável a alguém (agente ou responsável legal) 
que por ato comissivo (intencional) ou omissivo (ausência do cuidado exigível) causou 
dano a outrem; 
 b)o dano – é a lesão ao direito patrimonial ou moral da vítima causado pela 
conduta culposa do agente, ressarcível mediante pecúnia; e 
 c)nexo causal – é a relação de causalidade entre o dano e a conduta do 
agente. 
 Toda regra tem exceção. As exceções existem como forma de equilibrar, 
harmonizar situações fáticas e dar respostas aos anseios de justiça e paz social. 
 A responsabilidade com base na culpa se tornou insuficiente para solucionar 
questões complexas em torno de eventos danosos oriundos dos riscos de 
determinadas atividades econômicas, especialmente dos eventos sinistros ocorridos no 
ambiente laboral. 
 Como bem esclarece Maria Helena Diniz: 
 ...a crescente tecnização dos tempos modernos, caracterizado pela introdução 
de máquinas, pela produção de bens em larga escala e pela circulação de pessoas por 
meio de veículos automotores, aumentando assim os perigos à vida e à saúde 
humana, levaram a uma reformulação da teoria da responsabilidade civil dentro de um 
processo de humanização. Este representa uma objetivação da responsabilidade, sob a 
idéia de que todo risco deve ser garantido, visando a proteção jurídica à pessoa 
humana, em particular aos trabalhadores e às vítimas de acidentes, contra a 
insegurança material, e todo dano deve ter um responsável. 
 Surge, então, a responsabilidade com fundamento nos riscos da atividade 
(responsabilidade objetiva), cujos pressupostos são apenas a existência do prejuízo e a 
relação entre este e o evento danoso que o causou (nexo causal). 
 O nosso atual código civil abre exceção ao instituto da responsabilidade 
subjetiva, mediante norma genérica ao determinar no parágrafo único do artigo 927, 
que: 
 Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo 
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
(Destacou-se) 
 
 
 Logo, o dever de reparar, em determinadas hipóteses, independe da 
existência ou não de ato ilícito, de conduta culposa. Basta o dever legal de indenizar ou 
que a atividade, por sua natureza, cause riscos aos direitos de outrem, segundo 
fundamento da responsabilidade objetiva. 
 Nos próximos itens, serão expostas as características mais detalhadas dos 
elementos constitutivos das duas espécies de responsabilid ade civil – subjetiva ou 
objetiva – e sobre a aplicabilidade de ambas na solução dos danos advindos de 
acidentes do trabalho. 
Reparação das lesões acidentárias laborais e a responsabilidade civil 
subjetiva do empregador 
 A responsabilidade civil subjetiva do empregador, além da previsão 
constitucional do artigo 7º, inciso XXVIII, última parte, encontra-se regulada nos 
artigos 186 e 187 combinado com o artigo 927, caput , do atual Código Civil. Com 
efeito, rezam esses novos comandos que, in verbis: 
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito. 
 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes. 
 Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é 
obrigado a repará-lo. 
 Os dois primeiros dispositivos conceituam ato ilícito. Uma norma conceitua o 
ato ilícito comissivo ou omissivo, doloso ou culposo (art. 186) e a outra ato ilícito por 
abuso de direito (art.187). O comando da cabeça do artigo 927 evidencia que a 
espécie de responsabilidade civil adotada é a subjetiva, pois é imprescindível a 
existência de ato ilícito que por sua vez é indissociável da idéia de culpa (elemento 
constitutivo do ato ilícito). 
 Ato ilícito se resume, segundo Sérgio Cavalieri, em "ato voluntário e 
consciente do ser humano que transgride um dever jurídico". 
 Maria Helena Diniz ensina que ato ilícito é aquele, "praticado culposamente em 
desacordo com a norma jurídica, destinada a proteger interesses alheios. É o que viola 
direito subjetivo individual, causando prejuízo a outrem, criando o dever de reparar tal 
lesão". 
 Portanto, o dever de reparar do empregador, segundo a teoria da 
responsabilidade subjetiva, pressupõe conduta ilícita (comissiva ou omissiva, dolosa ou 
culposa), dele ou de seu preposto, contrário a um dever jurídico, que viole o direito à 
segurança, à incolumidade de seus empregados, no ambiente laboral, lhes causando 
prejuízos (danos físicos ou psíquicos). 
 
 
 
8.5 Pressupostos da responsabilidade civil subjetiva 
 Deduz-se do item anterior, que são pressupostos básicos da responsabilidade 
civil subjetiva: o ato ilícito (conduta dolosa ou culposa); imputabilidade; dano e relação 
de causalidade entrea conduta e o dano. 
 A. Conduta humana (dolosa ou culposa) 
 A conduta humana exigida para caracterizar o ato ilícito é voluntária e 
consciente (aspecto psicológico, subjetivo), se exterioriza (aspecto físico ou objetivo) 
em uma ação ou omissão, em desacordo com um dever legal, isto é transgridem a lei 
preexistente. A ação ou conduta comissiva viola um dever geral de abstenção 
enquanto a conduta omissiva infringe o dever de agir. Ambas produzem conseqüências 
jurídicas ante a culpabilidade do autor. A culpa pode ser lato sensu, abrangendo o dolo 
(vontade consciente de violar o direito, dirigida à consecução do fim ilícito), ou culpa 
stricto sensu (violação de um dever que o agente podia conhecer e acatar, mas por 
ausência de cuidado não o fez). 
 É importante assinalar que tanto o ato ilícito penal como o civil tem o mesmo 
fundamento moral: transgressão a uma obrigação jurídica preexistente (definida em 
lei) e a conseqüente imputação moral à consciência do agente (porque agiu 
deliberadamente com intenção de causar o dano ou porque não teve a cautela exigida 
para evitá-lo). 
 O ilícito penal se configura quando a conduta infringe norma imprescindível à 
existência harmoniosa da sociedade, portanto consiste em ofensa à ordem social. 
Ocorre ilícito civil quando o ato viola direito subjetivo privado. Porém, o ilícito poderá 
ter natureza dúplice – civil e penal, se violação for atentatória de direito do particular e 
da sociedade concomitantemente. 
 Não se pode olvidar que nos casos de acidentes do trabalho, mesmo que não 
haja dolo, os resultados advindos da exposição da vida ou da integridade física dos 
empregados a perigo (CP, arts. 132, 250, § 2º; 251, § 3º; 252, par. único; 271, par. 
único); quase sempre implicam em lesão (CP, art. 129, § 6º) ou morte da vítima (CP, 
art. 121, § 3º). Destarte, pode-se afirmar que nessas hipóteses, se for tipificada a 
conduta e não houver nenhuma excludente da antijuridicidade, o empregador 
responderá penal e civilmente. 
 Contudo, a responsabilidade civil não está jungida à responsabilidade penal. 
Mesmo que ocorra a absolvição do réu por falta de prova de culpabilidade penal, é 
possível responsabilizar o empregador civilmente, visto que na esfera cível, basta a 
culpa levíssima. 
 a) Conduta dolosa 
 Pela conduta dolosa, a ação ou omissão do autor, origina de vontade 
consciente e deliberada de violar o direito de outrem e causar-lhe prejuízos. 
 O dolo se caracteriza quando o agente ao omitir-se ou agir, tem a 
representação do fato e a vont ade de causar o resultado. Isto é, o agente tem a 
previsão do resultado e consciência da ilicitude de sua conduta e quer o resultado (dolo 
 
 
determinado) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual), ficando indiferente se 
ocorrerá ou não o resultado danoso. 
 b) Conduta culposa 
 O agente que se conduz de modo contrário à conduta esperada do ser humano 
prudente e produz resultado indesejado, mas moralmente imputável, tem erro de 
conduta ou conduta culposa. É a culpa estrita que se origina de ação ou omissão 
voluntária do agente, o qual não previu (porém, deveria prever) e nem quis o 
resultado danoso, 
 Então, segundo o clássico conceito de Planiol, "a culpa é a violação de uma 
obrigação preexistente", é a produção involuntária do resultado, por inobservância do 
cuidado objetivo (negligência, imprudência ou imperícia) e ausência de previsão 
objetiva (possibilidade de antever o resultado). 
 São, portanto, elementos da culpa: 
 a) conduta voluntária – vontade de fazer ou não fazer, porém, sem intenção 
de causar resultado danoso; 
 b) previsibilidade objetiva – possibilidade de antevisão do resultado, porque 
a imprevisibilidade é causa excludente da culpa (caso fortuito ou força maior); 
 c) ausência de previsão – o resultado poderia ter sido representado 
mentalmente, ter sido previsto segundo capacidade mental do homem comum, mas 
não o foi (é a imprevisão do previsível); 
 d) falta de cuidado objetivo – exterioriza-se pela: 1) imprudência (é a 
conduta comissiva em desacordo com a cautela exigida, é a falta involuntária de 
observância de medidas de precaução e segurança, de conseqüências previsíveis, que 
se faziam necessárias no momento para se evitar um mal ou a infração da lei); 2) 
negligência (é conduta omissiva, é a omissão voluntária de diligência ou cuidado, 
falta ou demora no prevenir. O agente deixa de fazer algo imposto pela lei) e; 3) 
imperícia (é a falta de aptidão, habilidade, ou experiência, ou de previsão, ou de 
conhecime nto ou de prática do agente no exercício de sua atividade técnica); 
 e) resultado involuntário – o agente não quis nem assumiu o risco de 
causar resultado danoso; 
 f) nexo causal – relação de causalidade entre a conduta culposa e o resultado 
danoso. 
 g) Imputabilidade – é o elemento constitutivo da culpa, relativa à 
consciência e vontade do agente. A imputabilidade pressupõe ação livre, consciente e 
capaz do agente. São excludentes de imputabilidade: a menoridade, a demência, 
anuência da vítima, exercício normal de um direito (o manifesto excesso implica em 
abuso de direito), legítima defesa e estado de necessidade. 
 
 
 
 A.1 Classificação da culpa 
 Segundo disposição didática de Maria Helena Diniz a culpa se desdobra em 
diversas modalidades, conforme: 
 a) a natureza do dever violado – pode ser culpa contratual (violação de 
obrigação jurídica preexistente relativa a um contrato) ou culpa extracontratual ou 
aquiliana (se o dever violado for estabelecido em preceito genérico de direito, ou seja, 
princípio geral de direito que manda respeitar as pessoas e bens). 
 b) a sua graduação – classifica-se em: grave ou lata (quando o agente atuar 
com grosseira falta de cautela; é a conduta injustific ável se comparado ao bom senso 
do ser humano normal; se aproxima do dolo); leve (quando a lesão poderia ser 
evitada por medidas de cautela ordinária, própria do homem comum) e levíssima 
(caracteriza-se pela falta de atenção extraordinária, ou especial habilidade e 
conhecimento singular). 
 c) quanto ao seu conteúdo – existem as espécies: in commitendo (conduta 
comissiva, positiva, como imprudência e imperícia); in omittendo (conduta omissiva, 
negativa, negligência); in eligendo (oriunda da má escolha do representante ou 
preposto); in vigilando (ausência de fiscalização por parte do patrão das coisas e do 
exercício de atividade de seus operários); in custodiendo (ausência de cautela em 
relação à pessoa, coisa ou animal, que se encontravam sob os cuidados do agente). 
 d) quanto ao conteúdo de sua apreciação – pode ser: culpa in abstrato (o 
agente atua sem a atenção própria do homem normal, em relação aos seus negócios 
fazendo uso da inteligência de que foi dotado), culpa in concreto (ausência da 
diligência necessária às pessoas em relação as suas próprias coisas, segundo as suas 
faculdades, aptidões ou dos seus defeitos psíquicos) 
 e) culpa concorrente – é hipótese de concorrência de causas. A vítima, 
paralelamente à conduta culposa do autor do dano, concorre com atitude, também 
culposa (se fosse dolosa excluiria a ilicitude), para a ocorrência do evento sinistro. 
Nesses casos a jurisprudência consagra a redução da indenização da vítima. 
 Sérgio Cavalieri Filho ainda cita mais duas espécies de culpa: a culpa 
presumida e a culpa contra a legalidade. Aquela decorre do próprio fato (in re ipsa), é 
presumida a partir das "próprias circunstâncias em que se dá o evento", bastando que 
o lesado prove o dano e a relação de causalidade entre este e a condutado agente. 
Ocorre culpa contra a legalidade quando a conduta é contrária a um dever expresso 
em dispositivo legal. 
 B. Dano 
 O dano é elemento essencial ou determinante da responsabilidade civil, seja 
objet iva ou subjetiva. Sem a ocorrência de prejuízo não há o que reparar. Imputar a 
alguém o dever de indenizar sem restar caracterizada a existência do dano (ainda que 
presumido), se traduz em ofensa ao princípio geral de direito que veda o 
enriquecimento sem causa. 
 
 
 Por conseguinte, se o ato ilícito for de mera conduta, sem resultado (isto é, 
sem dano patrimonial ou extrapatrimonial, físico ou psíquico), poderá haver 
responsabilidade penal, mas não civil. 
 Segundo Jorge Bustamante, existem danos justificados e danos 
ressarcíveis. Estes são os danos patrimoniais e extrapatrimoniais. Aqueles são os 
danos advindos de atos lesivos, que não acarretam o dever de indenizar. O dano pode 
ser justificado pela lei, como são as hipóteses de exclusão da ilicitude, legítima defesa, 
exercício regular do direito, estado de necessidade próprio ou de terceiro (se o dono da 
coisa lesada foi o culpado do perigo). Outrossim, as excludentes de causalidade (caso 
fortuito ou força maior, culpa exclusiva da vítima) justificam os danos. 
 Contudo, há de convir que mesmo os danos justificados não deixam de violar 
as esferas patrimonial e/ou moral, apenas não são reparados por causa das 
excludentes acima citadas. 
 Portanto, dano é uma lesão, um prejuízo oriundo de algum evento, que afeta 
um bem jurídico de uma pessoa (patrimonial ou moral), que poderá ser reparado ou 
não. 
 B.1 Requisitos dos danos ressarcíveis 
 O prejuízo ou dano deve ter requisitos próprios para exigir-se a indenização. O 
dano que dá ensejo à reparação é aquele que: 
 a) Implica em diminuição ou destruição de um bem jurídico patrimonial 
ou extrapatrimonial da pessoa. Enquanto o primeiro gera prejuízo material econômico, 
passível de reparação, o segundo é insuscetível de apreciação pecuniária, por se tratar 
de lesão a bem integrante da personalidade humana. Mas, ambos são passíveis de 
reparação, pois evidenciam prejuízos reais. 
 b) Deve ser certo, real e efetivo (salvo nos casos de dano presumido). Não 
basta ser eventual, não pode ser hipotético. O dano certo deve ser atual e 
determinado ou futuro e determinável (a conseqüência posterior do ato ilícito é o 
prolongamento do dano atual – é potencial. Por exemplo: A lesão de uma perna pode 
implicar na imediata amputação da mesma e em posterior necessidade de colocação 
de prótese). 
 c) Deve ser comprovada sua existência em face do evento e a repercussão 
sobre o bem jurídico da pessoa lesada (nexo causal). Poderá ser direto (neste "há 
uma relação imediata entre a causa destacada pelo direito e a perda sofrida pela 
pessoa") ou indireto (conhecido como dano reflexo ou por ricochete, pois consiste 
"numa conseqüência da perda mediatamente sofrida pelo lesado, representando uma 
repercussão ou efeito da causa noutros bens que não diretamente atingidos pelo fato 
lesivo"). 
 d) Deve ser subsistente – é aquele que ainda não foi reparado pelo 
responsável. Se a vítima ou terceiro reparou o dano, este ainda subsiste em relação ao 
seu responsável. O terceiro sub-roga nos direitos do prejudicado. 
 
 
 e) Deve ser pessoal – o autor da ação de indenização deve ser titular do 
direito lesado (a vítima ou seus beneficiários, nas hipóteses legais de dano indireto, 
conforme dispõe artigo 948 do Código Civil Brasileiro e casos análogos). 
 Assim, o dano ressarcível é aquele que provoca a diminuição ou destruição do 
direito patrimonial ou moral, experimentada pelo lesado, contra a sua vontade; que é 
subsistente, atual e determinado ou futuro e determinável e o agente ou responsável 
pelo evento danoso não está acobertado por qualquer forma de exclusão de ilicitude ou 
causalidade. 
 B.1.2 Dano patrimonial 
 O dano patrimonial é a afetação dos bens de uma pessoa, que lhe são 
economicamente úteis, o que, por conseguinte, lhe ocasiona perdas materiais. 
 Para Maria Helena Diniz "o dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que 
afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou 
deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível 
de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável". 
 A mestra, embasada na lição de Aguiar Dias, aponta como lesões que 
constituem danos patrimoniais: "a privação do uso da coisa, os estragos nela 
causados, a incapacitação do lesado para o trabalho, a ofensa a sua reputação 
quando tiver repercussão na sua vida profissional ou em seus negócios" (grifou-se). 
 O acidente do trabalho, por conseguinte, além de redundar em dano ao corpo 
do operário vitimado e ao seu patrimônio moral (porque o dano à vida, em todas as 
suas nuances, é desmedido e pode afetar os sentimentos do lesado), pode atingir, 
simultaneamente, a esfera patrimonial da vítima e de seus beneficiários, visto que 
dependem economicamente do trabalho executado pelo corpo agredido para viver. 
Frise-se, a vida não tem valor econômico em si mesma, é imensurável, mas as 
atividades intelectuais, as habilidades técnicas, o próprio corpo representam 
irrefutáveis meios de aquisição econômica. 
 Quanto aos danos patrimoniais advindos de lesões ou morte do trabalhador, 
este ou seus dependentes têm direito à indenização dos prejuízos efetivos – de lucros 
emergentes – e os prejuízos com base no que, razoavelme nte, o lesado deixou de 
ganhar – lucros cessantes. (CCB, arts. 402 e 403 c/c 948, 949 e 950). 
 Desta forma, nos termos do artigo 949 do Código Civil, se do acidente laboral 
resultar lesões corporais – ofensa à integridade corporal e à saúde da vítima – que 
diminua ou incapacite o exercício do trabalho, sem deixar seqüelas, o empregador 
somente será responsabilizado pela indenização das despesas do tratamento e dos 
lucros cessantes até ao fim da convalescença do lesado, salvo se este provar que 
sofrera algum outro prejuízo, como o dano moral, por exemplo. 
 Todavia, se do acidente emanar defeito ou diminuição da capacidade ou 
incapacidade total pelo qual o empregado não possa exercer a sua profissão ou tenha 
diminuído o valor do seu trabalho, a indenização abrangerá uma pensão 
correspondente à importância do trabalho, no todo ou em parte (dependendo do grau 
de depreciação sofrida), além de todas despesas do tratamento físico e psíquico 
(valores inerentes às despesas médicas, de enfermagem, medicamentos, exames, 
 
 
próteses, etc.) e lucros cessantes até o fim da convalescença (CCB, art. 950). A 
indenização relativa à pensão a ser arbitrada judicialmente, poderá ser exigida de uma 
só vez, se assim o prejudicado preferir (CCB, art. 950, par. únic o). 
 Vale ressaltar que quando a deformidade física oriunda do acidente for 
puramente estética, o que a priori enseja apenas danos morais, poderá também 
ocasionar danos patrimoniais, pois poderá repercutir nas possibilidades econômicas da 
vítima (quando esta tiver suas chances de trabalho reduzidas ou mesmo 
impossibilitada). Um exemplo clássico, é o caso da modelo publicitária, cuja profissão 
está intimamente ligada à beleza do corpo. Também outros profissionais, lesados 
esteticamente, que dependem da aparência física para exercer o trabalho, deverão ser 
ressarcidos com fulcro no dano patrimonial, além do dano moral. 
 Deve-se evidenciar que as lesões corporais ou à saúde advindas do meio 
ambiente de trabalho inadequado não são apenas as físicas, podendo ser também de 
cunho psíquico (traumas, fobias, psicoses, etc.).Corrobora essa posição, Bento de Faria em seu comentário ao artigo 129 do 
Código Penal o qual dispõe sobre lesões corporais, ao asseverar que "o dano ao corpo 
ocorre quando a lesão determina qualquer prejuízo à integridade do conjunto orgânico 
da pessoa. Dano à saúde é a desordem causada às atividades psíquicas ou ao 
funcionamento regular do organismo". 
 Dessa forma, as doenças psíquicas ou neurológicas se relacionadas ao 
trabalho, equiparam-se a acidentes do trabalho e podem atingir tanto os bens 
patrimoniais quanto os morais. Portanto, deverão ser indenizadas. Por exemplo, se o 
trabalhador devido às agressões físicas ou psíquicas (atividades de risco, extenuantes, 
etc.) sofridas no ambiente laboral, desenvolve alguma fobia, ou algum outro distúrbio 
mental, que o incapacita, parcial ou totalmente, para o exercício de sua profissão ou 
de qualquer outro trabalho, deverá ser indenizado. 
 Se o acidente do trabalho ceifou a vida da vítima, presume-se que houve 
prejuízo de cunho moral para seus familiares (que normalmente, sentem a perda do 
ente querido), visto que os sentimentos afetivos são bens de valor inestimável. Porém, 
para os dependentes, aquela vida humana igualmente tem valor econômico, uma vez 
que era fonte de possibilidades econômicas. O dano, sob este prisma é patrimonial. 
 Por essa razão, o legislador definiu mais um caso de dano indireto a ser 
indenizado, ao dispor no artigo 948 do atual Código Civil que: 
 No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: 
 I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o 
luto da família; 
 II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-
se em conta a duração provável da vida da vítima. 
 Em síntese, o prejuízo ao patrimônio decorre da comparação entre o estado 
patrimonial de alguém antes da ocorrência do ilícito e depois da sua prática. E, a 
 
 
reparação material da vítima deverá se mostrar capaz de restituir-lhe ao status quo 
ante, da forma mais adequada possível. 
 B.1.3 Dano extrapatrimonial 
 O dano moral, em sua acepção ampla, é a lesão de interesses não 
patrimoniais do ofendido. É ofensa aos direitos personalíssimos: os sentimentos 
afetivos, a própria imagem, a intimidade e o decoro, o bom nome, a privacidade, a 
integridade física e psíquica, a honra, a vida, a dignidade da pessoa humana, a 
liberdade, a capacidade, e outros mais cuja ofensa causem angústia, aflição, dor, 
aviltamento, vexame à vítima. 
 A reparação pecuniária dessa espécie de dano, por serem esses bens da vida 
inestimáveis, é mais uma mitigação do sofrimento, uma satisfação, do que uma 
indenização propriamente dita. 
 Como bem afirma Maria Helena Diniz, não se dá preço à dor, aos 
sentimentos... Razão porque "a reparação pecuniária teria, no dano moral, uma função 
satisfatória ou compensatória". 
 Exatamente por essa espécie de dano não se sujeitar à apreciação pecuniária 
e estar intimamente ligado à ética, muitos doutrinadores refutavam sua reparabilidade. 
 Porém, tal espécie de dano sempre foi indenizável, pois no sistema jurídico 
brasileiro além das leis esparsas, o Código Civil de Beviláqua (Lei nº 3.071/16), já 
previa em seu artigo 159, 1.537, 1.538, genericamente, a reparação do dano moral e, 
especificamente, o dano contra a honra nos dispositivos dos artigos 1.547, 1.548, 
1.550. 
 A Constituição Federal de 1988 pôs fim à interminável discussão sobre o 
cabimento ou não da reparação do dano moral. Nossa Carta Magna determinou, de 
forma explícita, a reparabilidade do dano moral e, inclusive, permitiu a cumulação 
desta com a indenização do dano patrimonial (CF/88, art. 5º, V e X). 
 E, agora, o novo Código Civil, em seu artigo 186 (correspondente ao artigo 
159 do Código de 1916), estipulou, explicitamente, a reparação do dano moral, com a 
seguinte disposição: 
 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
 Enfim, à luz do disposto nos artigos 1º, III, 4º, II, e 5º, V e X do nosso Texto 
Maior, o "direito mais fundamental do ser humano, que é o respeito a seus 
sentimentos mais nobres, cresce e toma a dimensão esperada e necessária". 
 As relações de trabalho, por sua própria natureza (devido à desigualdade entre 
os pólos da relação: a supremacia diretiva e econômica do empregador e a 
hipossuficiência e vulnerabilidade do empregado) é campo fértil para acontecimentos 
ofensivos à personalidade humana e, via de conseqüência, é onde se propagam os 
danos morais – fonte de intranqüilidade social. 
 
 
 A vida humana, por sua natureza ética, é bem de natureza não patrimonial. É 
um direito da personalidade amparada como bem maior pela ordem jurídica, vez que a 
existência humana é essencial às demais categorias de direito. Portanto, qualquer 
ofensa aos direitos a ela inerentes, como à incolumidade física e psíquica, à saúde, 
implica em ofensa moral direta, por ser imensurável. 
 Dessa forma, os eventos sinistros ao meio ambiente de trabalho, que causam 
dano à integridade física e à saúde dos operários, afetam, conforme o que 
ordinariamente acontece, a esfera moral, do lesado. É causa de dano moral direto. 
Embora, como já afirmamos anteriormente, também possa ensejar dano material 
reflexo. Daí, resultar em cumulação de reparabilidade por dano moral direto e dano 
patrimonial indireto. 
 Assim, com base no artigo 186 combinado com os artigos 948, 949 e 950 do 
Código Civil, todos centrados na citada norma constitucional (CF/88, art. 5º, inc. V e 
X), a vítima de acidente de trabalho poderá pleitear, cumulativamente, a indenização 
por danos patrimoniais e morais. 
 É presumível o prejuízo resultante da dor imputada à pessoa da vítima que 
sofreu aleijão e redução ou incapacidade para realizar seu ofício. Essa presunção se 
alicerça nas condições psíquicas do ser humano comum em relação às conseqüências 
do dano corporal, pois, comumente, uma lesão corporal ofende o espírito do lesado, 
seus sentimentos, provocando-lhe tristeza, mágoa ou atribulações na esfera interna 
pertinente à sua sensibilidade. 
 Observa-se, pelas pesquisas feitas sobre as decisões dos nossos tribunais, que 
há uma tendência em acatar a presunção do dano moral. Em regra, basta que o autor 
prove a existência do dano material, o nexo de causalidade imputável ao agente ou 
responsável pelo evento danoso para imputar-lhe também a obrigação de ressarcir o 
dano moral. Impende a este o difícil ou quase impossível ônus de provar a inexistência 
de ofensa aos sentimentos do lesado ou outra excludente de sua responsabilidade. 
 Mas, se o dano à incolumidade física não acarretar seqüelas físicas ou 
neurológicas, o dano moral deverá ser provado, segundo se infere da última parte do 
artigo 949 do Código Civil. 
 Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o 
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da 
convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver 
sofrido. 
 Nada impede ao lesado de pleitear a reparação por dano moral (a não ser sua 
própria convicção ética), visto que a incolumidade física é parte integrante do direito à 
personalidade, cuja natureza é extrapatrimonial. 
 Se o acidente do trabalho resultar em morte da vítima, os ofendidos serão 
sempre indiretos (os beneficiários). Porém, os danos sofridos serão próprios (iure 
hereditatis) e por isso diretos. Segundo Bustamante, trata-se do prejuízo de afeto 
(pretium affectionis), provocado pela morte da pessoa querida. 
 É sabido que a morte causa uma diminuição no patrimônio do(s) 
dependente(s) da vítima, além dos gastos com tratamento médico, se houver, e 
 
 
funeral. Há a frustração da possibilidade de continuar recebendo os alimentos por um 
futuro determinável e tudo mais que o de cujus poderia ter adquirido pelo seu trabalho 
durante o período estimativo de sobrevida que teria. Conseqüentemente, enseja 
indenização por dano patrimonial, nos termos do artigo 948 do Código Civil. 
 Outrossim, é inquestionável que o homicídio é um dano à vida, e 
ordinariamente, viola o direito personalíssimo de seus entes queridos, aflige-os no 
âmago de seus espíritos. Por conseguinte, dá azo ao ressarcimento por dano moral, 
sendo prescindível a sua prova por parte do autor da ação indenizatória, pois esta é 
presumida, conforme tem admitido a jurisprudência pátria. Ocorre a inversão do ônus 
da prova, devendo o agente comprovar alguma causa excludente da sua 
responsabilidade ou mesmo a ausência do direito do autor, por falta de interesse de 
agir. 
 Necessário registrar que, excepcionalmente, os parentes da vítima não sofrem 
com a sua perda. Embora seja comum o amor familiar, há casos em que os pais ou 
filhos da vítima nunca conviveram com a mesma, nem nutriram algum sentimento por 
ela, ou em algumas situações lhe têm, até mesmo, rancor e ódio. Conseqüentemente, 
nestes casos, não há que se falar em dor, nem em prejuízo de afeto, muito menos em 
dano moral. 
 Evidenciou-se que, na maioria das hipóteses de danos procedentes de 
acidente de trabalho, raramente verifica-se o dano moral puro (aquele que se esgota 
na lesão à personalidade, como é, por exemplo, o caso de injúria, que não extrapola a 
esfera íntima da pessoa ofendida para lesar o seu patrimônio). 
 Entretanto, é possível, embora a probabilidade seja mínima, cogitar ao menos 
um caso de dano moral puro, advindo de acidente do trabalho. É o dano puramente 
estético, sem repercussão patrimonial (considerando-se a inexistência de gastos com 
assistência médica ou que estes sejam ínfimos, o que é difícil ocorrer). Nesta hipótese, 
seriam as cicatrizes ou mutilações que não incapacitam ou reduzem a capacidade para 
o trabalho, mas aflige o espírito da vítima e é capaz de provocar compreensível 
diminuição da sua auto-estima. Portanto, verific ar-se-ia apenas um prejuízo de 
sofrimento psíquico, que constitui modalidade de dano moral puro ressarcível. 
 Mas, não se pode olvidar que a lesão puramente estética, além de acarretar 
complicações psicológicas e íntimas de convivência com o ale ijão, extrai da vítima as 
chances de ascensão profissional e até mesmo pessoal, em face da sua baixa auto-
estima e, geralmente, da conhecida repulsa preconceituosa do meio social em relação 
às pessoas que apresentem alguma deformidade. 
 Conclui-se que, de ordinário, o acidente de trabalho provocará, 
cumulativamente, dano material e moral, o que impõe ao agente ou seu responsável o 
dever de indenizar ambos, uma vez comprovada a culpa (subjetiva ou objetiva) pelo 
sinistro, o dano e o nexo causal entre o dano e o evento danoso. 
 C. Nexo de causalidade 
 A relação de causalidade entre o dano e a ação ou omissão que o produziu é 
também elemento essencial para obrigar o agente ou responsável pelo dano a repará -
lo, seja fundado na culpa objetiva ou subjetiva. Porque é somente mediante a 
existência de nexo causal entre o resultado danoso e a conduta ilícita, que tornará 
 
 
possível concluir quem foi o causador do prejuízo e quem deverá repará-lo ou se o 
lesado deverá suportá-lo sozinho. 
 Como bem afirma Sérgio Cavalieri Filho, "só há dever de indenizar onde 
houver dano. Ninguém, entretanto, pode responder por um dano a que não tenha 
dado causa". E conceitua, logo a seguir, o nexo causal como elemento "decorrente das 
leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o 
resultado". 
 Maria Helena Diniz esclarece que nexo de causalidade é: 
 O vínculo entre o prejuízo e a ação (...), de modo que o fato lesivo deverá ser 
oriundo da ação, diretamente ou como sua conseqüência previsível. Tal nexo 
representa, portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação que o 
produziu, de tal sorte aqui esta é considerada como sua causa. Todavia, não será 
necessário que o dano resulte apenas imediatamente do fato que o produziu. Bastará 
que se verifique que o dano não ocorreria se o fato não tivesse acontecido. Este 
poderá não ser a causa imediata, mas, se for condição para a produção do dano, o 
agente responderá pela conseqüência. 
 Conforme esse ensinamento da ilustre mestra, adota-se a teoria da 
equivalência das causas ou conditio sine qua non para precisar se houve ou não 
relação de causalidade entre o dano e a conduta ilícita. 
 Pela teoria enunciada, todos os elementos que não puderem ser excluídos da 
linha de desdobramento causal são relevantes antecedentes causais do resultado. 
Utiliza-se do procedimento hipotético de eliminação de Thyrén. Para compreender esse 
procedimento, Damásio Evangelista de Jesus ensina que: 
 O importante é fixar que excluindo-se determinado acontecimento o resultado 
não teria ocorrido "como ocorreu": a conduta é causa quando, suprimida mentalmente, 
o evento in concreto não teria ocorrido no momento em que ocorreu. 
 É interessante salientar que, não raro, as causas de um dano são múltiplas, o 
que dificulta a definição do agente responsável pela sua reparação. Pode haver causas 
concorrentes provenientes da vítima e do agente. Também existem as concausas: 
preexistentes, concomitantes ou supervenientes ao evento danoso, que podem ser 
absoluta ou relativamente independentes em relação à conduta do agente. 
 Nas hipóteses da existência de concausas, pela teoria equivalência dos 
antecedentes causais, as causas absolutamente independentes da conduta do sujeito 
apontado como responsável pelo evento danoso excluirão o nexo causal entre a 
conduta deste e o dano. porque "se a causa, preexistente, concomitante ou 
superveniente, produz por si mesma o resultado, não se ligando de forma alguma com 
a conduta, em relação ao evento ela é uma não-causa", uma vez que não se encontra 
na "linha de desdobramento físico" do comportamento do agente. 
 Também a causa superveniente relativamente independente, entendida como 
aquela que produz o resultado por si só, mas em face da conduta anterior, exclui a 
causalidade entre esta e o dano posterior. 
 
 
 Um exemplo clássico dessa excludente de causalidade é o episódio do 
trabalhador que foi obrigado a usar uma escada em más condições, razão porque caiu 
e quebrou a perna. Internou-se no hospital para os procedimentos necessários ao 
tratamento médico e morreu vítima de um incêndio em seu quarto. A interdependência 
das causas existe porque se o operário não tivesse quebrado a perna não teria sido 
vítima do incêndio. Nesse caso, se adotada a teoria conditio sine qua non, o 
empregador responde apenas pela prática dos atos anteriores, mas não quer dizer que 
não tenha dado causa ao resultado morte. 
 Caso contrário, se é a conduta do empregador, causa superveniente 
relativamente independente, ele ou o seguro social responderá pela indenização, 
conforme o evento ocorrido. É o que se depreende da lei acidentária (Lei nº 8.213/91 
art. 20, inc. II), cuja norma estabelece que se causas posteriores, relacionadas às 
condições inadequadas do meio ambiente laboral, desencadeiam ou agravam uma 
doença pré-existente, ainda que tais causas sejam relativamente independentes, elas 
têm o condão de impor à Previdência Social a obrigaçãode indenizar a vítima, e se a 
conduta do agente (preposto ou empregador) foi culposa este deverá reembolsar o 
Seguro Social. 
 Já as causas preexistentes e concomitantes relativamente independentes não 
excluem o resultado, segundo informa Damásio. 
 Sérgio Cavalieri Filho assegura, no entanto, que os melhores doutrinadores, 
dentre eles o reverenciado civilista Aguiar Dias – "papa em responsabilidade civil", 
sustentam que a teoria da equivalência dos antecedentes elaborada por Von Buri, 
embasado nas idéias de Stuart Mill, tem ampla aplicação no Direito Penal de muitos 
países, inclusive no Brasil, mas na órbita do Direito Civil, a teoria acolhida por nosso 
sistema civilista é a teoria da causalidade adequada de autoria de Von Kries. E, diz 
também, que embora nosso Código Civil não adote, expressamente, nenhuma delas, 
faz uma referência à teoria da causa adequada (CCB, art. 403), ao determinar que "as 
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela 
direto e imediato", ou seja, somente a causa mais apropriada, mais direta e imediata 
é relevante para imputar o causador do dano. (Grifou-se) 
 Aguiar Dias, citado por Cavalieri Filho, enfatiza sua defesa da aplicabilidade da 
teoria da causa adequada, para melhor solucionar as questões de responsabilidade civil 
nos seguintes termos: 
 Consideramos em culpa quem teve não a last chance, mas a melhor 
oportunidade, e não a utilizou. Isso é exatamente uma consagração da causalidade 
adequada, porque, se alguém tem a melhor oportunidade de evitar o evento e não a 
aproveita, torna o fato do outro protagonista irrelevante para a sua produção (...)". 
"Em lugar de se apurar quem teve a última oportunidade (como sustenta a teoria 
norte-americana – last clear chance), o que se deve verificar é quem teve a melhor ou 
mais eficiente, isto é, que estava em melhores condições de evitar o dano; de quem foi 
o ato que decisivamente influiu para o dano. 
 Por esta teoria, somente o fato, a condição mais adequada, mais idônea para 
determinar o evento danoso é a causa deste. 
 Existem muitas teorias visando dar a solução mais apropriada para definição 
da causa ou causas do dano na busca de sua justa reparação. Mas, de acordo com as 
 
 
doutrinas estudadas para a execução deste trabalho, as duas teorias citadas são as 
mais importantes. 
 Percebe-se que Sérgio Cavalieri Filho é tendente a se posicionar mais 
favoravelmente à aplicabilidade da teoria da causalidade adequada, porém, ele afirma 
com sensatez, pela sua experiência na magistratura, que: 
 ...forçoso é reconhecer que o problema da causalidade não encontra solução 
numa fórmula simples e unitária, válida para todos os casos. (...) E assim é porque 
esta ou aquela teoria fornece apenas um rumo a seguir, posto que a solução do caso 
concreto sempre exige do julgador alta dose de bom senso prático e da justa relação 
das coisas..." 
 Outro ponto que não poderia deixar de ser abordado neste trabalho refere-se 
à causalidade da omissão, tendo em vista que o maior número dos acidentes do 
trabalho é proveniente das omissões dos empregadores. 
 O nexo causal é analisado segundo as leis naturais e, normalmente, diz 
respeito aos elementos objetivos, porém, quando se trata de omissão esta não pode 
ser analisada apenas sob a ótica física ou natural, por ser uma ausência de 
comportamento. Daí o jargão: "do nada, nada surge". Para elucidar esse 
entendimento, mais uma vez, transcreve-se a sucinta e clara explicação de Damásio: 
 ....a estrutura da conduta é essencialmente normativa, não naturalística. A 
causalidade não é formulada em face de uma relação entre a omissão e o resultado, 
mas entre este e a conduta que o sujeito estava juridicamente obrigado a realizar e 
omitiu. Ele responde pelo resultado não porque causou com a omissão, mas porque 
não o impediu realizando a conduta a que estava obrigado. 
 Ante o exposto, chega-se a duas conclusões: 1) se o empregador cumpre com 
desvelo seu dever jurídico de zelar pelo meio ambiente laboral, torna efetivas as 
normas de higiene e segurança do trabalho, provando que não houve de sua parte, a 
mais leve culpa, não pode ser acusado de omissão e, portanto, não poderá ser 
obrigado a indenizar, se eventualmente, houver um acidente do trabalho; 2) se não 
houver regra geral ou específica que determine "um dever jurídico de agir, a omissão 
não terá relevância causal e, conseqüentemente, nem jurídica". 
 Ressalvam-se as hipóteses, em que, eventualmente, os jurisconsultos acolham 
a responsabilidade fundada na teoria do risco da atividade econômica, ao considerar a 
natureza perigosa do empreendimento. Neste caso, o nexo causal liga o prejuízo ao 
evento danoso, cuja culpa do empreendedor é presumível, uma vez que este assume 
os eventuais riscos de sua atividade. Inclusive, assume a possível a ocorrência de 
sinistros, pois tem ou deveria ter consciência de que mesmo sendo tomadas as 
medidas obrigatórias de segurança e higiene do trabalho, não está completamente 
livre dos acidentes de trabalho, dado o grau de perigo da atividade exercida. (CLT, art. 
2º c/c CCB, art. 927, par. único, última parte). 
 Dessa forma, é conveniente aos empresários que se ocupam de atividades 
econômicas lícitas, porém, perigosas, a contratação de seguro privado complementar 
ao seguro social, vez que assumem os riscos da atividade. Ademais, enfatiza-se, nos 
casos de responsabilidade subjetiva, basta que haja culpa levíssima do empregador 
para obrigá-lo a reparar o dano. 
 
 
 Enfim, tanto o nexo causal como o dano são pressupostos indispensáveis para 
imputar ao agente ou responsável, a obrigatoriedade de indenizar o lesado, seja com 
fulcro na culpa objetiva ou subjetiva. E por essa razão, pelas obras dos doutrinadores e 
jurisprudências pesquisadas, verifica-se que, ao autor da ação indenizatória impende 
provar pelo menos esses dois elementos. 
 Já no que tange a comprovação da culpa, poderá haver a inversão do ônus da 
prova, se a culpa for in vigilando ou presumida, segundo a teoria da responsabilidade 
subjetiva. E pela responsabilidade objetiva, a culpabilidade é indiferente, basta que o 
lesado comprove o dano e o nexo causal. 
Presunção de culpa do empregador e a inversão do ônus da prova – valioso 
instrumento de efetivação da eqüidade e justiça processual 
 Segundo Alvino Lima a culpa presumida é o artifício da presunção juris et de 
jure. Tratam de "mentiras jurídicas" sustentadas pelos defensores da culpa como 
fundamento para responsabilidade civil (Irmãos Mazeud, De Page, Pirson, Harven e 
outros). Ante a insuficiência da teoria pura da culpa para solucionar, com justiça, 
algumas questões complexas oriundas de eventos danosos, estes doutrinadores 
sustentam a culpa sem imputabilidade moral, chamada culpa objetiva, ou a culpa legal 
("criada pelo legislador, por necessidades de ordem econômica ou social"). Qualquer 
dessas espécies de presunção de culpa (legal ou objetiva) pressupõe a inversão do 
ônus da prova, em que o agente ou responsável pelo evento danoso só se exime de 
reparar o prejuízo se provar alguma das excludentes de responsabilidade: culpa 
exclusiva da vítima, culpa de terceiro, caso fortuito ou força maior. 
 Uma vez consagrada, em nosso direito pátrio, a culpa subjetiva do 
empregador nos casos de acidentes do trabalho, muitas foram e ainda continuam 
sendo as injustiças cometidas pelas decisões judiciais, que tratam das ações 
reparatórias civis referentes aos prejuízos originados por eventos sinistros no ambiente 
laboral, ante a ausência de provas nos autos processuais. 
 Ora, é conhecida a hipossuficiência e vulnerabilidade dos operáriosfrente o 
poderio sócio-econômico dos seus empregadores. Tanto é que um dos princípios que 
orientam o direito do trabalho é o princípio protetor, que visa igualar juridicamente, 
empregadores e trabalhadores. 
 A bem da verdade, ignorando esse princípio, a norma processual trabalhista 
segue a regra geral do processo, determinando que a prova das alegações incumbe à 
parte que as fizer (CLT, art. 818). 
 Mas convém salientar que para toda regra há exceções, com fito de dar o 
equilíbrio social aspirado por muitas consciências ávidas de justiça. Razão porque em 
hipóteses análogas de hipossuficiência e vulnerabilidade, como é o caso do 
consumidor, já se encontra positivada a inversão do ônus da prova, conforme está 
explícito no inciso VIII, do artigo 6º do código consumerista. 
 São direitos básicos do consumidor: 
 VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for 
 
 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências; 
 Tal regra pode e deve servir como base para interp retação analógica com a 
finalidade de sustentar a inversão do ônus da prova, em hipóteses de acidente do 
trabalho, visto que os empregados, sequer, têm acesso às documentações que 
comprovem a efetivação das medidas de segurança e medicina do trabalho e, 
geralmente, não têm condições financeiras para pagar a perícia técnica exigida nesses 
casos. 
 Na realidade, no dizer sempre preciso de Sérgio Cavalieri, "a prova da culpa, 
em muitos casos, é verdadeiramente diabólica, erigindo-se em barreira intransponível 
para o lesado". 
 Observa-se, que alguns doutrinadores e jurisconsultos, com o escopo de 
solucionar eqüitativamente, as ações indenizatórias civis a cargo do empregador, 
utilizam-se do artifício da culpa presumida. Sustenta-se a tese vestuta, mas justa, de 
que se o empregador tem o dever contratual-legal de velar pela segurança, higidez e 
incolumidade de seus trabalhadores, de zelar pelo meio ambiente laboral, mediante a 
implementação das normas de segurança e medicina do trabalho, de documentar 
esses procedimentos, a ele cabe comprovar que cumpriu as determinações legais. 
 Assim, na ocorrência de acidente do trabalho, presume-se a culpa do 
empregador, sobretudo se a atividade empreendida por ele é de natureza perigosa, 
isto é, oferece riscos para incolumidade física e psíquica de seus trabalhadores. 
Inverte-se, pois, o ônus da prova. O empregador é responsável a menos que comprove 
que tomou realmente todas as medidas de segurança necessárias ou a existência de 
uma causa excludente da responsabilidade: caso fortuito, força maior ou culpa 
exclusiva da vítima ou de terceiro. 
 Ao autor da ação basta provar o dano acidentário e o nexo causal. 
 Igualmente, há decisões, que argumentam ser a responsabilidade civil 
presumida, baseada na culpa in vigilando, pois, o empregador tem o dever de vigiar, 
fiscalizar as coisas (maquinários, produtos, etc.) e as atitudes de seus empregados. 
Então, aquele será responsável, salvo se provar que cumpriu o dever de vigilância ou 
outra excludente de sua responsabilidade. 
 Vale lembrar que, ao deixar o empregador de cumprir as determinações legais 
ou regulamentares do sistema de segurança e saúde do trabalho, este foi negligente. 
E, se dessa negligência decorreu o acidente (nexo causal), incorre o empregador, só 
por este fato, em culpa, conhecida como culpa contra a legalidade. 
Causas excludentes da responsabilidade subjetiva por culpa presumida 
 O empregador exime-se da responsabilidade civil por culpa presumida, se 
comprovar a interrupção da relação de causalidade quando: 
 a) Houver culpa grave e exclusiva da vítima – a guisa de exemplo: 1) a 
própria vitima provoca o acidente intencionalmente (presença de dolo); 2) a vítima 
trabalhava em ambiente adequado, em conformidade com as exigências legais, sob 
 
 
condições comuns, sem causas extenuantes das forças físicas e psíquicas, mas se 
acidentou, porque mesmo tendo sido advertida, desacatou às orientações e exigências 
de cautela dadas pelo empregador ou preposto (presença de descaso intencional ou de 
culpa consciente). 
 b) Força maior – É um acontecimento previsível ou não, mas inevitável e 
estranho à vontade das partes, proveniente de eventos da natureza: como um raio, 
uma tempestade, etc. 
 c) Caso fortuito – É imprevisível e inevitável, proveniente de ato humano, de 
terceiro alheio ao ambiente laboral, que não tenha sequer ligação indireta com o 
empregador. Portanto, é causa estranha à atividade e vontade deste. Por exemplo: 1) 
o descarrilamento de um trem, nas imediações da fábrica, provoca uma explosão, 
sinistro que deu causa à morte do empregado; 2) Falha da Administração Pública, pela 
ausência de serviços de limpeza dos bueiros e galerias de águas pluviais, causa da 
enchente que vitimou o empregado. 
Responsabilidade civil objetiva para reparação de acidentes do trabalho 
 A infortunística, matéria legal que trata dos riscos das atividades econômicas, 
especialmente dos riscos de acidentes do trabalho e doenças profissionais, tem por 
fundamento a teoria do risco. Por essa razão as leis acidentárias do sistema jurídico de 
vários países, inclusive no Brasil, para dar respaldo aos anseios dos cidadãos ávidos 
por justiça, consagraram a aplicação da responsabilidade objetiva para a reparação 
dos danos às vítimas de infortúnios relacionados ao meio ambiente do trabalho. 
 Vale ressaltar que em nosso país, o dever da Previdência Social de indenizar 
por acidente do trabalho tem fulcro na teoria do risco integral. Basta o obreiro ou seus 
dependentes provar a relação de emprego e que o dano foi decorrente de uma 
situação relacionada ao seu trabalho. Não afastam seus direitos as tradicionais causas 
excludentes ou atenuantes da responsabilidade: culpa exclusiva da vítima, força maior, 
caso fortuito ou fato de terceiro. 
 Assim, como já está previsto no sistema jurídico pátrio, a responsabilidade 
para indenizar sem culpa, advém de determinação legal. Várias legislações (Decreto 
Legislativo nº 3.724/19, Decreto nº 24.637/34, Decreto nº 7.036/44, Decreto-lei nº 
293/91, Lei nº 5.316/67, Lei nº 6.367/76) trataram da infortunística. Hoje a lei 
acidentária (Lei nº 8.213/91), que é obrigatória e impositiva, estipula em dois prismas 
a responsabilidade objetiva para assegurar a relaç ão jurídica do seguro social e o 
direito de reparação da vitima de acidente. Por um lado, impõe ao empregador 
responsabilidade objetiva de natureza previdenciária – o ônus de arcar com a 
manutenção do seguro coletivo para reparação dos danos decorrentes de acidente do 
trabalho, haja ou não ocorrência de sinistros relativos ao seu empreendimento, além 
obrigá-lo a arcar com a responsabilidade de natureza trabalhista de pagar os primeiros 
quinze dias de afastamento do empregado e de garantir-lhe a estabilidade acidentária 
de um ano, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de 
percepção de auxílio-acidente, conforme previsão nos artigos 29 e 118, 
respectivamente, da Lei 8.213/91. Por outro lado, impõe à Previdência Social, a 
responsabilidade objetiva de dar cobertura à vítima que provar sua relação de 
emprego e o nexo causal entre o acidente e a atividade profissional exercida, 
indenizando-a, independente desta ter recebido as parcelas do seguro do empregador, 
cabendo-lhe cobrar deste as contribuições previdenciárias devidas. 
 
 
 Entretanto, não se pode esquecer que embora o empregador se responsabilize 
objetivamente pela manutenção do seguro social, esteou os seus prepostos não 
estarão livres de ressarcir à Previdência Social dos gastos inerentes a cobertura 
indenizatória, se foram negligentes quanto à implementação das normas de higidez e 
segurança do trabalho. À Previdência Social foi assegurado o direito de regresso, 
contra eventuais responsáveis pelo acidente do trabalho, nos termos do artigo 120 da 
Lei nº 8.213/91. 
 A função teleológica da lei acidentária é assegurar o mínimo ao trabalhador 
acidentado e evitar que a vitima de sinistro trabalhista fique desamparada, caso não 
obtenha a reparação do dano sofrido segundo as normas do direito comum. Outra 
finalidade, também de cunho social, é impedir o fim de pequenas empresas que não 
suportariam o ônus da indenização. Razões porque buscou-se a socialização dos riscos, 
mediante a seguridade social. 
 Vale evidenciar que a extensão da reparação do infortúnio é definida nos 
limites previstos na lei. Assim, se fica assegurado ao lesado o direito de indenização, 
em contrapartida, o seguro social não cobre todos os prejuízos causados pelo acidente, 
sendo o ressarcimento menor do que aquele que poderia ser conseguido segundo as 
normas gerais de indenização, embasadas na culpa do causador do dano. 
 Mas Helvécio Lopes diz que há uma compensação tanto para o empregador 
quanto para o empregado. Este sempre será indenizado, embora com valor menor, 
sem necessitar provar a culpabilidade daquele. O empregador, por sua vez, é obrigado 
a custear o seguro social, independentemente da ocorrência de acidente, mas se 
livrará de pagar uma indenização maior se houver o sinistro e a ação reparatória. 
Para Washington de Barros Monteiro, "tudo se resolve, pois, sob a égide do risco 
profissional; o exercício de sua atividade expõe o operário a vários acidentes; é justo 
que esse risco seja compartilhado pelas duas partes, pelo patrão e pelo empregado". 
 Depreende-se, dessas afirmações, que o mestre entende como razoável e 
normal que o risco de acidente do trabalho seja partilhado entre empregador e 
empregado. Aquele cabe pagar o seguro social e garantir a estabilidade no emprego 
por doze meses, enquanto este corre o risco de se acidentar e ter redução de suas 
habilidades para o trabalho e, na maioria das vezes, receber os valores de auxílio-
doença ou da aposentadoria por invalidez ou especial inferiores à remuneração que 
receberia se não fosse vítima de acidente, haja vista ser a indenização compatível com 
o salário-contribuição e não com o salário real. 
 Mas tal situação é inaceitável, ao se considerar a superioridade do valor da 
vida humana e que a maioria dos operários não tem opção de querer este ou aquele 
trabalho. Ademais, legalmente, é o empreendedor que se responsabiliza pelos riscos 
de sua atividade (CLT, art. 2º, Lei nº 9.477/97, art. 2º, § 4º). E segundo impõe norma 
constitucional, a empresa deve cumprir sua função social (CF/88, art. 170, inc. III). 
 Maria Helena Diniz justifica que o empregado terá a priori o direito a reparação 
previdenciária e "terá direito a uma reparação civil somente se ficar provado que 
houve dolo ou culpa do empregador no evento que lhe foi danoso, pois este já indeniza 
o empregado, que exerce atividade perigosa, mensalmente, com o adicional de 
periculosidade". 
 
 
 Há de se esclarecer que os adicionais (periculosidade, insalubridade e 
penosidade) embora aparentem ter natureza indenizatória, têm caráter salarial, são 
complementos de salário. Segundo ensina Mascaro, baseado na lição do tão festejado 
economista Adam Smith, a taxa salarial sofre as influências das condições em que é 
prestado, ou seja, os salários variam de acordo com a facilidade ou dificuldade, 
limpeza ou sujeira, dignidade ou indignidade do emprego. Assim, os adicionais de 
periculosidade e insalubridade integram o salário e repercutem no preço médio da 
força do trabalho, embora sejam compulsórios. 
 Corroboram essa assertiva as palavras de nosso Professor César. Machado Jr.: 
"Os adicionais também são parcelas de natureza salarial concedidos em vista da 
execução de serviços em situações mais desfavoráveis ou gravosas." 
 Salário é uma contraprestação do serviço executado, que obriga o 
empregador. A obrigação é um dever jurídico originário, enquanto a responsabilidade 
de indenizar é um dever derivado ou sucessivo. Esta surge a partir da violação do 
dever originário. 
 Expostas essas definições, com o devido respeito pela nossa ilustre catedrática 
civilista, não se pode concordar que a natureza dos adicionais de periculosidade seja 
indenizatória. E ainda que fosse, não seria justificativa para impedir que a vítima de 
acidente laboral tenha respaldo na teoria do risco para exigir indenização do seu 
empregador, mas se restrinja apenas à teoria da responsabilidade subjetiva. Ao 
contrário, muitas vezes pagar tais adicionais já evidenciam o risco da atividade e nem 
sempre se comprova que foram tomadas todas as medidas necessárias para redução 
ou eliminação dos elementos nocivos à integridade física dos trabalhadores, conforme 
impõem as normas de segurança e saúde do trabalho. 
 O único e intransponível obstáculo para o uso indiscriminado da teoria da 
responsabilidade objetiva do empregador, já consagrada em matéria de infortunística é 
de cunho constitucional, conforme se infere do Texto Maior em seu artigo 7º, inciso 
XXVIII, que estipula o dever do empregador de indeniz ar apenas quando ficar 
comprovado que este agiu com dolo ou culpa para a ocorrência do acidente. 
 Ao analisar as várias doutrinas e jurisprudências, observou-se que é 
predominante o entendimento quanto às questões acidentárias trabalhistas, que a 
reparação do dano implica em responsabilidade objetiva da Previdência Social e 
subjetiva do empregador. Também verificou-se, que a teoria da culpa como 
fundamentação da reparabilidade do dano decorrente de acidente do trabalho, por 
parte do empregador, não é satisfatória. Porquanto, a reparação de natureza 
previdenciária, em muitos casos, não mitiga os infortúnios dos lesados. Outrossim, 
ainda que tivessem natureza indenizatória os adicionais de periculosidade, 
especialmente, os irrisórios adicionais de insalubridade, não compensam as mutilações 
e doenças profissionais adquiridas em ambiente laboral inadequado. 
8.9 Clamores pela responsabilidade objetiva do empregador pelos riscos de 
sua atividade e a barreira constitucional. 
 A partir da insatisfação com a responsabilidade objetiva parcial do empregador 
(que responde objetivamente, segundo a lei previdenciária, pelos encargos do seguro 
social) e, principalmente, ante o descaso de inúmeras empresas no que tange a 
efetivação das normas de segurança e higiene do trabalho e dos princípios da 
 
 
valorização do trabalho e da dignidade humana e do conseqüente aumento 
estarrecedor dos números de acidentes laborais, muitos operadores do direito 
passaram a defender teses para impor ao empregador a responsabilidade objetiva de 
indenizar diretamente ao empregado, ao menos nos valores que não são cobertos pelo 
seguro social. 
 Em artigo da Revista Consultor Jurídico a advogada Nadia Demoliner Lacerda 
afirma terem os defensores da responsabilidade objetiva total do empregador nas 
hipóteses de acidentes laborais, festejado a determinação do parágrafo único, do 
artigo 927 do atual Código Civil, que prevê responsabilidade objetiva do 
empreendedor, para a reparação dos danos ocasionados ao trabalhador lesado, 
advindos da atividade, por aquele exercida, cuja natureza é perigosa e oferece riscos 
para os direitos de outrem. Diz, ainda, que estes doutrinadores estão equivocados ao 
interpretarem, sob a égide desse comando, que o empregado acidentado ou seus 
beneficiários conseguiriam a condenaçãodo empregador ao pagamento de indenização 
sem a necessidade de provar a sua culpa. Afirma também, que esta interpretação é 
inconstitucional (conforme aplicação do critério hierárquico lex superior derogat 
inferiori, para verificar a validade e eficácia da norma), pois, em regra, a 
responsabilidade do empresário com fulcro no risco do empreendimento (CCB, art. 
927, par. único), pode ser aplicada a outros casos e não às hipóteses de indenização 
dos danos procedentes de acidentes do trabalho, sob pena de inconstitucionalidade. 
 Concorda-se, em parte, com a autora, visto que a Constituição Federal 
consagrou no inciso XXVIII do artigo 7º, a responsabilid ade subjetiva do empregador 
para reparar os danos oriundos de acidentes do trabalho, salvo a exceção 
constitucional do parágrafo 3º do artigo 225. Contudo, a norma civilista refutada por 
ela, ao menos, serve de respaldo para a presunção da culpa do empreendedor que 
assume os riscos de sua atividade, inclusive de eventuais sinistros laborais, o que 
pressupõe a inversão do ônus da prova. 
 Vale lembrar que a indenização por acidente do trabalho, embasada na 
responsabilidade objetiva em matéria de infortunística, é exigida porque há um risco 
potencial na atividade empresarial desenvolvida pelo empregador. Logo, por esta 
mesma razão este tem o dever de assumir os riscos dela provenientes, 
independentemente de culpa (CF/88, art. 7º, inc. XXVIII c/c CLT, art. 2º e CCB, art. 
927, par. único), e deverá arcar com os ônus do seguro social e também demonstrar 
que tomou todas as medidas necessárias e possíveis para evitar a ocorrência do 
sinistro, sob pena de responder civil e penalmente (CF/88, art. 225, § 3º c/c Lei nº 
6.938/81, art. 14, § 1º e Lei nº 8.213/91, art. 120). 
 Frise-se, embora o preceito do parágrafo único do artigo 927 não se aplique 
diretamente a todos os casos de acidentes laborais, ele enseja a presunção da culpa do 
empregador. Para evidenciar a culpa presumida nesses casos com fundamento do 
referido dispositivo, é conveniente registrar que este guarda relação com a lei penal, 
que estabelece como conduta culposa, o simples fato de "expor a vida ou a saúde de 
outrem a perigo direto e iminente" (CP, art. 132), para configurar o crime de perigo. É 
desnecessária a ocorrência de qualquer dano, porque se dessa exposição resultar lesão 
ou morte, a conduta do agente será enquadrada nos tipos: lesões corporais ou 
homicídio (CP, arts. 121 e 129). É clarividente que se da exposição aos riscos da 
atividade resultar danos para outrem, presume-se a culpa do agente, por se tratar de 
uma presunção fática. Assim, seja na área penal, ou seja, na área civil, somente será 
 
 
possível ao agente ou responsável pelo dano, se eximir da imputação, caso este 
demonstre alguma excludente da ilicitude ou da culpabilidade. 
 Poder-se-ia conceber o seguinte silogismo lógico: age com dolo eventual o 
agente que prevê a possível ocorrência do resultado danoso, mas assume o risco de 
produzi-lo. Existem atividades que por sua natureza, podem implicar em riscos para 
outrem. Logo se o empregador é aquele que assume os riscos da atividade 
empreendida, inclusive, a ocorrência de eventuais acidentes do trabalho, sua conduta 
caracteriza dolo eventual. 
 Tal silogismo é falso, ao considerar que mesmo as atividades perigosas são 
lícitas, com escopo de satisfazer as necessidades da população humana. Entretanto, a 
licitude da atividade empresarial pressupõe a implementação das medidas de 
segurança e higiene laboral, ante a preexistência de norma jurídica que impõe ao 
empreendedor a obrigação de, primeiramente, eliminar os riscos do trabalho ou, se 
impossível, no mínimo, procurar reduzi-los (CLT, art. 166 c/c NR-4, item 4.12, "a"). 
Então, verificar-se-á a culpabilidade da conduta do empreendedor, se este agir de 
forma contrária a este comando. 
 Um exemplo clássico da conduta típica do artigo 132 do Código Penal, o qual 
trata do crime de simples exposição a perigo, é o caso do empreiteiro que, para 
poupar-se ao dispêndio com medidas técnicas de prudência, na execução da obra, 
expõe o operário ao risco de grave acidente. Ressalte-se, basta a exposição da pessoa 
ao risco, para configurar a culpa do agente e este deverá provar sua inimputabilidade 
para não cumprir a pena. E se dessa exposição resultar dano à vítima, ela deverá ser 
indenizada. 
 Interessante dizer que a finalidade do comando do artigo 132 do Código Penal 
é proteger a indenidade física e psíquica das pessoas, principalmente do trabalhador. 
E, por sua vez, o dispositivo do parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, visa a 
reparação do dano e a proteção do indivíduo, ao qual cabe provar os fatos e não a 
culpa do agente ou responsável pela atividade. Esta se presume pela da simples 
evidência fática ante os riscos inerentes ao empreendimento do empregador, que 
poderá ser arredada se este provar as causas excludentes da sua responsabilidade. 
Enfim, estes preceitos objetivam a pacificação social e não a simples punição do 
agente. Ademais, "se o patrão é quem recolhe os benefícios da produção; logo, há de 
ser ele quem suporte não só os riscos da perda de materiais, como os [riscos] 
resultantes dos acidentes sofridos pelos operários". 
 Dessa inferência, conclui-se que os infortúnios laborais oriundos da ausência 
de cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho, seja por dolo 
eventual ou culpa stricto sensu, é uma ofensa social e por conseguinte implica em 
punibilidade penal e civil. 
 É verdade que a "socialização dos riscos" e a moderna forma de cobertura das 
indenizações ligadas à infortunística deixam a desejar, mas é forçoso dizer que, na 
inexistência de emenda constitucional que revogue a última parte do inciso XXVIII do 
artigo 7º da Constituição, prevalece como regra geral a responsabilidade civil subjetiva 
do empregador (cujos pressupostos são a imputabilidade e a culpabilidade), 
ressalvados os casos de responsabilidade objetiva relacionados a acidentes do trabalho 
originários de danos ambientais, nos termos do parágrafo 3º, do artigo 225 do Texto 
 
 
Maior combinado com os dispositivos do parágrafo 1º, do artigo 14 da Lei nº 6.938/81 
e do artigo 120 da Lei nº 8.213/91. 
 Por conseguinte, têm razão os doutrinadores ambientalistas (que desejam 
fazer cumprir as normas ambientais de segurança e medicina do trabalho) ao 
defenderem a aplicabilidade do parágrafo 3º do artigo 225 da Constituição Federal 
combinado com o parágrafo 1º do artigo 14 da Lei nº 6.938/81 com escopo de obrigar, 
objetivamente, os empreendedores responsáveis por danos ao ambiente laboral, 
inclusos os prejuízos individuais de seus empregados, vítimas de acidentes do 
trabalho. 
 Celso Antônio Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, ambientalistas de renome 
nacional, são categóricos ao afirmarem que a tutela ao meio ambiente, 
especificamente ao meio ambiente do trabalho, bem como os princípios da valorização 
do trabalho e da dignidade humana têm como meta prioritária tutelar o bem maior – o 
direito à vida. Destarte, "o que se procura, salvaguardar é, pois, o homem trabalhador, 
enquanto ser vivo, das formas de degradação e poluição do meio ambiente onde 
exerce o seu labuto, que é essencial à sua vida. Trata-se, pois, de um direito difuso". 
 A proteção da qualidade ambiental em todas as suas modalidades, cuja 
finalidade é antropocêntrica, visto que o homem está inserido no ecossistema, tem 
como objetos básicos de tutela: a saúde, a segurança e o bem-estar da população e da 
biota. E devido à magnitude desse direito, para efetivar a sua tutela, o parágrafo 3º do 
artigo 225 da Constituição, regulamentado nos termos do parágrafo 1º, do artigo 14 
da Lei nº 6.938/81, prevê a responsabilidade civilobjetiva, para a reparação dos danos 
ambientais, inclusos os danos ao ambiente laboral ao estipular que: 
 § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
 A lei ambiental nº 6.938/81, em seu parágrafo 1º, define que: 
 § 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o 
poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou 
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua 
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor 
ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente. 
 Portanto, qualquer conduta ou atividade, lícita ou ilícita, culposa ou não, desde 
que lese o meio ambiente, implica em obrigação do autor de reparar o dano ambiental 
e os prejuízos causados a terceiros, inclusive, a integridade física destes. 
 Trata-se, nitidamente, de responsabilidade civil objetiva daquele que violar 
direito difuso ou coletivo, ao provocar dano ambiental. 
 Assim, com base nas normas mencionadas, se uma pessoa alheia à atividade 
de determinada fábric a, ali entrar, no momento de uma explosão, e tiver amputado 
uma parte do corpo em razão daquele sinistro, deve ser indenizada com base na teoria 
do risco, sendo obrigada apenas provar o nexo causal. 
 
 
 Pergunta-se: E se um empregado, devido à mesma explosão, tiver sido 
mutilado, somente será indenizado se provar a culpa do empregador? Não é tratar o 
bem da vida sob duas medidas? Há que se concordar com Washington de Barros 
Monteiro, que para esse caso aplica-se a teoria do risco profissional, em que 
empregado e empresa assumem juntos o risco da atividade? 
 Então, estamos diante de um aparente conflito de normas constitucionais 
entre o art. 7º, XXVIII e o § 3º do artigo 225. 
 Segundo Kelsen, "tal conflito de normas surge quando uma norma determina 
uma certa conduta como devida e outra norma determina também como devida uma 
outra conduta, inconciliável com aquela". 
 Ao analisar o conflito de normas do mesmo escalão, Kelsen ensina que quando 
numa mesma lei se encontram duas disposições, em que uma limita a validade da 
outra parcialmente, implica em exceção. Mas, para ele, não existe qualquer norma 
objetivamente válida. Porque quando o legislativo põe 
 ...atos cujo sentido subjetivo é um dever-ser e que, quando este sentido é 
também pensado (interpretado) com o seu sentido objetivo, quando esses sentidos 
são considerados como normas, estas normas entram em conflito umas com as outras. 
 Embora o ato tenha sido posto em harmonia com a norma 
fundamental,...[esta] não empresta a todo e qualquer ato o sentido objetivo de uma 
norma válida, mas apenas ao ato que tem um sentido, a saber o sentido subjetivo de 
que os indivíduos se devem conduzir de determinada maneira. 
 Assim, a norma fundamental torna possível interpretar (pensar) o material que 
se apresenta ao conhecimento jurídico como um todo com sentido, o que quer dizer, 
descreve-lo em proposições que não são logicamente contraditórias. 
 Como já foi afirmado o bem maior assegurado pela Constituição é a vida. Isto 
é, todos os comandos constitucionais têm como norma fundamental a tutela da vida. 
Até mesmo as normas organizacionais do Estado, somente têm sentido se forem para 
dar dignidade ao ser humano. Ora, o Estado Democrático Brasileiro foi instituído com o 
destino de "assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores 
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na 
harmonia social e comprometida, na ordem internacional, com a solução pacífica das 
controvérsias" (CF/88, preâmbulo). E por outro lado a República Federativa do Brasil 
tem por fundamentos o valor social do trabalho e a dignidade humana (art. 1º, incs. 
III e IV), razão porque estes princípios são também as primícias da ordem econômica 
e social (art. 170 e 193). 
 Sebastião Geraldo de Oliveira, de forma lapidar, dá brilho a este entendimento 
ao dizer: 
 Aquele que não considerar os princípios constitucionais estará lidando apenas 
na periferia do Direito, ignorando as íntimas conexões do ramo específico com o seu 
tronco de sustentação, sua causa primeira. Avistando o continente sem captar o 
conteúdo, atento ao detalhe mas distraído do conjunto, não perceberá a irradiação da 
 
 
seiva tonificante, transitando do núcleo constitucional para abastecer e vitalizar toda a 
extensão que a ciência jurídica abarca. (...) 
 A primazia do trabalho sobre a ordem econômica e social privile gia o 
trabalhador antes de avaliar sua atividade; valoriza o trabalho do homem em 
dimensões éticas que não ficam reduzidas a mera expressões monetárias. (...) 
 Lançadas as premissas básicas da dignificação do trabalho, poderemos 
apreender, com maior profundidade, o significado e a extensão do direito à saúde do 
trabalhador, o direito ao meio ambiente de trabalho saudável e a redução dos riscos 
inerentes ao trabalho. 
 Conclui-se, portanto, que, numa exegese sistemática e teleológica dos 
princípios e normas constitucionais, deve-se acatar o comando da parte final do inciso 
XXVIII do artigo 7º da Constituição, que define a responsabilidade subjetiva do 
empregador em casos de acidente do trabalho, apenas como confirmação da regra 
geral, que institui a culpa como fundamento responsabilidade civil, adotada pelo nosso 
ordenamento jurídico. O parágrafo 3º do art. 225 combinado com o dispositivo do 
parágrafo 1º do artigo 14 da Lei Ambiental nº 6.938/81 (recepcionada pela Carta 
Maior) deve ser vis lumbrado como exceção a esta regra ao impor a reparação dos 
danos ambientais, inclusive dos danos ao ambiente laboral, objetivamente. Esclarece-
se: aplica-se a responsabilidade subjetiva do empregador, única e exclusivamente, se 
as hipóteses de acidente laboral não advier de dano ao ambiente do trabalho. 
 Como bem nos ensinou Kelsen, a interpretação da norma fundamental não 
pode levar à preposições contraditórias. E, segundo o princípio da igualdade, se uma 
empresa, cuja atividade causou, por alguma razão, irrefutável dano ambiental em 
sentido amplo (coletivo ou difuso) e, conseqüentemente, afetou qualquer pessoa, 
ainda que seja seu empregado, e acarretou-lhe prejuízos físicos ou não, deverá 
reparar todos os danos (ambiental ou individual), com base na teoria da 
responsabilidade objetiva, segundo o princípio do poluidor-pagador. 
 Mas, se houve um acidente laboral, independentemente da ocorrência de dano 
ambiental, a princípio, ao empregado cabe demonstrar a culpa do empregador. 
 Nessa linha de raciocínio, com brilhantismo e grande sensatez, Fábio Aurélio 
da Silva Alcure, em seu artigo Meio ambiente de trabalho e Perda Auditiva. 
Responsabilidade Objetiva do Empregador. dá a seguinte interpretação sistemática e 
teleológica dos artigos 7º, inc. XXVIII e 225, § 3º da Constituição quanto a 
aplicabilidade da responsabilidade civil dos danos causados ao ambiente laboral. 
 Assim, em relação aos acidentes de trabalho, são dois os regimes existentes 
quanto ao dever de indenizar por parte do empregador. Se o acidente sofrido pelo 
empregado não tem qualquer relação com uma agressão ao meio ambiente de 
trabalho, o empregador só tem o dever de indenizar se tiver agido com dolo ou culpa. 
Como exemplo, se um empregado cai de uma escada e vem fraturar um dos braços, o 
empregador só éobrigado a indenizar se a escada não estava em condições de uso ou 
se não foi exigido do trabalhador a utilização de equipamento de segurança; não se 
pode responsabilizar o empregador se não houve culpa de sua parte. Agora, se o 
acidente de trabalho guarda um nexo de causalidade com uma lesão ao meio ambiente 
como um todo, não há que se analisar de quem é a culpa pelo acidente; neste caso, o 
empregador deve responder civilmente pelo danos decorrentes do acidente. A perda 
 
 
auditiva, dano reflexo do dano ao meio ambiente de trabalho causado pelo ruído, 
talvez seja o melhor exemplo dessa última espécie de acidente de trabalho. A 
responsabilidade subjetiva do empregador relaciona-se ao direito individual do 
empregado de ver-se indenizado dos prejuízos sofridos em decorrência de acidente de 
trabalho para o qual concorreu culposamente. Já a sua responsabilidade objetiva 
fundamenta-se no direito difuso (quando se considera a totalidade dos trabalhadores) 
ou coletivo (quando se tem em vista um grupo determinado de trabalhadores) a um 
meio ambiente de trabalho ecologicamente equilibrado. O direito individual do 
empregado acidentado de pleitear indenização, neste caso, é decorrência da violação 
de direito difuso ou coletivo preexistente. 
 O bom senso não permitiria que fosse diferente. As lesões experimentadas 
pelos empregados, em decorrência de lesões ao meio ambiente de trabalho, costumam 
ser mais graves do que os prejuízos reflexos de terceiros pelos danos ao meio 
ambiente como um todo. Enquanto estes, normalmente, têm prejuízos econômicos, 
aqueles são vítimas de acidentes que lhes comprometem a integridade física, bem de 
muito maior valor. Atribuir responsabilidade civil aos empregadores, nestes casos, 
apenas quando provada a sua culpa, estabelecendo regimes diferentes de 
responsabilidade se os danos são ao meio ambiente domo um todo ou ao meio 
ambiente de trabalho específico, é destruir os pilares constitucionais da República 
Federativa do Brasil, que, fundada no valor social do trabalho (art. 1º, IV) e tendo na 
valorização do trabalho humano e no primado deste as bases de ordens econômica e 
social (art. 170 e 193), pretende-se um Estado Democrático de Direito. 
 Enfim, as referidas normas constitucionais apenas apresentam conflito 
aparente, mas na verdade cada uma tem sua finalidade, conforme o caso concreto a 
ser analisado. Portanto, o dispositivo da parte final do inciso XXVIII do artigo 7º da 
Carta Magna não impede a aplicabilidade da objetivação da culpa empregador nos 
casos de reparação por acidentes do trabalho advindos de lesão ao ambiente laboral. 
 Entretanto, é imperioso dizer que, a imposição constitucional da 
responsabilidade subjetiva do empregador para solucionar os demais casos de 
infortúnios sofridos pelos operários em razão de seu lavor, contraria o princípio 
protetor trabalhista. Não se pode esquecer que são notórios os obstáculos encontrados 
pelo trabalhador hipossuficiente e vulnerável para comprovar a culpabilidade do 
empregador. Para arredar esses percalços de uma vez por todas, seria de suma 
importância a aplicabilidade do parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, ao 
menos para as hipóteses de sinistros trabalhistas inerentes às atividades, que por sua 
natureza, são perigosas. Mas o referido comando constitucional torna inaplicável esse 
dispositivo e, portanto, os empregadores, ainda que desempenhem, habitualmente, 
atividades de risco, estão livres da responsabilidade objetiva, o que impõe ao lesado, 
em eventuais as ações de indenização por acidente de trabalho, provar sua culpa, 
ressalvada a possibilidade de inversão do ônus da prova. E, por ser óbvio, tal situação 
somente é passível de mudança mediante emenda da Constituição, visto que as 
normas infraconstitucionais não podem ser instrumentos de afronta à Lei Maior, face 
ao princípio da supremacia da ordem constitucional. 
 Destarte, na maioria dos casos acidentários laborais, as dificuldades do 
empregado, vítima de acidente do trabalho ou de seus beneficiários, para provar a 
culpa do empregador ainda persistem. Mas poderão ser contornadas se os operadores 
do direito analisarem o acidente do trabalho, como conseqüência de dano ambiental, 
ou se assim não o fizer, ao menos optarem pela culpa presumida, que dá ensejo à 
 
 
inversão do ônus da prova, porque é o empregador que tem condições reais para 
provar se implantou e implementou ou não, todas as medidas necessárias para a 
segurança e higidez de seus trabalhadores, que são de sua estrita responsabilidade. 
ANEXOS - Estatísticas de acidentes do trabalho no Brasil – 1970/2000, 
conforme fonte do MPAS e dados fornecidos pela ABRASEG - Associação Brasileira dos 
Distribuidores de Produtos e Equipamentos de Segurança e Proteção ao Trabalho. 
Disponível em: http://abraseg.com.br/feedback.htm 
 ano massa segurada Típicos 
 De 
trajeto doenças total 
 total 
de óbitos 
 1970 7.284.022 1.199.672 14.502 5937 1.220111 2232 
 1971 7.553.472 1.308.335 18.138 4050 1330.523 2587 
 1972 8.148.987 1.479.318 23.389 2016 1.504.723 2854 
 1973 10.956.956 1.602.517 28.395 1784 1.632.696 3173 
 1974 11.537.024 1.756.649 38.273 1839 1.796.761 3833 
 1975 12.996.796 1.869.689 44.307 
 
 1976 14.945.489 1.692.833 48.394 2598 1.743.825 3900 
 1977 16.589.605 1.562.957 48.780 3013 1.614.750 4445 
 1978 16.638.799 1.497.934 48.511 5016 1.551.461 4342 
 1979 17.637.127 1.388.525 52.279 3823 1.444.627 4673 
 1980 18.686.355 1.404.531 55.967 3713 1.464.211 4824 
 1981 19.188.536 1.215.539 51.722 3204 1.270.465 4808 
 1982 19.476.362 1.117.832 57.874 2766 1.178.472 4496 
 1983 19.671.128 943.110 56.989 3016 1.003.115 4214 
 1984 19.673.915 901.238 57.054 3233 961.525 4508 
 1985 21.151.994 1.010.340 63.515 4006 1.077.861 4384 
 1986 22.163.827 1.129.152 72.693 6014 1.207.859 4578 
 1987 22.617.787 1.065.912 64.830 6382 1.137.124 5738 
 1988 23.661.579 927.424 60.284 5029 992.737 4616 
 1989 24.486.553 825.081 58.424 4838 888.343 4554 
 1990 23.198.656 632.012 56.343 5217 693.5725355 
 1991 23.004.264 587.560 46.679 6281 640.520 4464 
 1992 22.272.843 490.916 33.299 8299 532.514 3634 
 1993 23.165.027 374.167 22.709 15417 412.293 3110 
 1994 23.667.241 350.210 22.824 15270 388.304 3129 
 1995 23.755.736 374.700 28.791 20646 424.137 3967 
 1996 23.830.312 325.870 34.696 34.889 395.455 4488 
 1997 24.104.428 347.482 37.213 36.648 421.343 3469 
 1998 24.491.635 347.738 36.114 30.489 414.341 3793 
 1999 24.993.265 326.404 37.513 23.903 387.820 3896 
 2000 --- 287.500 37.362 19.134 343.996 3094 
 
 
 
 
 
Jurisprudências 
Ementas de julgados que acolhem a culpa presumida do empregador, nas 
hipóteses de acidente do trabalho 
 As normas e princípios que orientam a aplicabilidade do direito existem para 
dar a melhor solução para cada caso concreto. É conveniente lembrar que na aplicação 
da lei sempre cabe ao juiz atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências 
do bem comum". (LICC, art. 5º). Portanto, ante a vulnerabilidade do empregado, 
vítima de acidente do trabalho, ou de seus beneficiários, a exigência da comprovação 
de culpa, por parte do autor da ação, é uma demasia, mormente quando o infortúnio 
tem origem presumida no próprio fato inerente à atividade exercida, é essencial 
inverter o ônus da prova. Verifica-se que, sensatamente, parte dos nossos Tribunais ao 
decidirem pela reparabilidade ou não dos danos acidentários, pleiteada segundo o 
direito comum, adotam a culpa in vigilando, como fundamento da responsabilidade 
civil do empregador, impondo-lhes a obrigação de provar sua inimputação. A seguir 
transcrevem-se algumas ementas nesse sentido: 
 APELAÇÃO CÍVEL – INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRABALHO – 
ACIDENTE OCORRIDO NAS DEPENDÊNCIAS DA EMPRESA APELANTE – MOTOR 
SE DESGOVERNA DURANTE TRANSPORTE E ATINGE EMPREGADO – 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR – CULPA PRESUMIDA – 
TEORIA DO RISCO – SENTENÇA DO JUÍZO A QUO DETERMINANDO 
PAGAMENTO I. O acervo probatório contido nos autos configura a 
responsabilidade civil do empregador, conduzindo à presunção iuris 
tantum de culpa in vigilando do mesmo. II. Recurso conhecido e 
improvido. (TJMA – AC 010243/98 – (29202) – 4ª C.Cív. – Rel. Des. 
Raymundo Liciano de Carvalho – DJMA 10.02.2000) 
 RESPONSABILIDADE CIVIL . ACIDENTE DE TRABALHO. FUNCIONÁRIO DE 
EMPRESA ATINGIDO POR DISPARO DE COLEGA DE TRABALHO. VIGILANTE 
PRESTADOR DE SERVIÇO TERCEIRIZADO. VINCULO DE PREPOSIÇÃO. 
RECONHECIMENTO. CULPA PRESUMIDA DA PREPONENTE. INEXISTÊNCIA DE 
PROVA EM CONTRÁRIO PELA RÉ. CULPA IN ELIGENDO E CULPA IN 
VIGILANDO. RECURSO PROVIDO. APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE. 
FIXAÇÃO DA CONDENAÇÃO. 
 I - Na linha da jurisprudência deste Tribunal, "para o reconhecimento 
do vínculo de preposição não é preciso que exista um contrato típico de 
trabalho; é suficiente a relação de dependência ou que alguém preste serviço 
sob o interesse e o comando de outrem". 
 II - Nos termos do enunciado nº 341 da súmula/STF, "é presumida a 
culpa do patrão ou do comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto". 
 III - Além de não ter a ré cuidado de afastar referida presunção, 
os fatos registrados no acórdão revelam a ocorrência de culpa in eligendo e in 
vigilando. 
 (RESP 284586/RJ; Recurso Especial nº: 2000/0109781-4, Rel. Min. 
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma – STJ, DJ - 28/04/2003) 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL. HÓSPEDE DE HOTEL QUE LESIONA O GERENTE. 
CULPA PRESUMIDA DO DONO DO ESTABELECIMENTO. ART. 1.521, IV, DO 
CC. INEXISTÊNCIA DE DISSÍDIO COM A SÚMULA 229/STF. 
 1. Segundo a jurisprudência desta Corte, a partir da edição da Lei 
6.367/76, não mais prevalece o enunciado da Súmula 229/STF, bastando a 
culpa leve do empregador para embasar a sua responsabilidade. 
 2. A lei presume a culpabilidade do hoteleiro por ato do seu hóspede. 
Cabe ao estabelecimento tomar todas as medidas de segurança e precaução, 
por cuja falta ou falha é responsável. 
 3. Em sede de recurso especial não se reexamina matéria probatória. 
(Súmula 07/STJ). 
 4. "Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somente são 
devidos por aquele que praticou o crime" (Súmula 186/STJ). 
 Recurso especial conhecido, em parte, e provido. 
 (RESP 69437/SP; Recurso Especial nº:1995/0033667-7. Rel. Min. 
Barros Monteiro, Quarta Turma – STJ, DJ: 14/12/1998) 
Ementas de julgados que acolhem a culpa objetiva do empregador, nas 
hipóteses de acidente do trabalho 
 Embora, segundo pesquisas realizadas, seja raro, há decisões que condenam o 
empregador a reparar o dano advindo de acidente do trabalho com fulcro na teoria do 
risco, e por esta razão, declara de plano a sua responsabilidade objetiva. Abaixo 
transcreve-se ementa nesse sentido: 
 ACIDENTE DO TRABALHO - RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR - 
em matéria de acidente do trabalho, já se consagrou a teoria do risco 
profissional, segundo a qual o empregador é objetivamente 
responsável pela situação de perigo gerada pelas máquinas e demais 
instrumentos de produção contidos nas dependências da empresa, 
devendo indenizar o dano físico decorrente da exposição de seu empregado ao 
referido foco de risco. E isto em razão da dupla circunstância de ser o 
empregador, como organizador da atividade produtiva, o gerador de tais 
riscos, além de ser o maior beneficiário do empreendimento, do qual extrai o 
lucro. A responsabilidade do empregado pelo acidente só se configura nas 
hipóteses em que tenha agido com manifesto dolo ou culpa grave, buscando 
voluntariamente a ocorrência do evento lesivo ou agindo sem cautela mínima. 
 (RO 01 nº: 02970227104, Acórdão nº: 02980291646, Relatora Juíza 
Wilma Nogueira de Araujo Vaz da Silva, 8ª Turma - TRT 2ªRegião 
data:01/06/1998) 
 RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR ACIDENTE DO TRABALHO - 
RESSARCIMENTO DE DESPESAS MÉDICAS - RESPONSABILIDADE 
OBJETIVA DO EMPREGADOR - DANOS/LESÕES EMOCIONAIS - Provado nos 
autos de forma inquestionável que no curso do contrato o(a) empregado(a) 
sofreu acidente do trabalho do qual resultaram lesões de ordem emocional, é 
devido o ressarcimento das despesas médicas havidas com o tratamento. Não 
é indenização por culpa. O ressarcimento de despesas médicas 
 
 
decorrentes de tratamento de acidente do trabalho ou doença 
profissional a ele equiparada é responsabilidade objetiva do 
empregador e não responsabilidade subjetiva, para a qual exige-se a culpa, 
além do dano e nexo causal. Não se pode negar que a saúde do ser humano 
está relacionada ao seu estado físico e mental. As seqüelas emocionais de um 
acidente são muitas vezes mais marcantes do que as cicatrizes e lesões 
manifestamente visíveis. As primeiras também deixam marcas, embora nem 
sempre vistas. 
 (TRT 3ª R - 6ª Turma - RO/4201/03 - Rel. Juíza Nanci de Melo e Silva 
- DJMG 29/05/2003 - P. 13). 
Ementas de julgados que acolhem a culpasubjetiva do empregador, nas 
hipóteses de acidente do trabalho – culpa levíssima 
 É mais comum os julgados que adotam a responsabilidade subjetiva do 
empregador. Porém, a culpa, ainda que levíssima, justifica a condenação do 
empregador a reparar os danos causados ao empregado oriundos de infortúnios 
laborais, principalmente, quando o empreendimento oferece, por sua natureza riscos. 
Abaixo um exemplo de jurisprudência que segue essa linha de raciocínio: 
 EMENTA - ACIDENTE DO TRABALHO - RISCOS AMBIENTAIS - 
DIREITO DE INFORMAÇÃO - OMISSÃO DO EMPREGADOR - 
RESPONSABILIDADE CIVIL - A preocupação com a saúde e segurança do 
trabalhador no Brasil, talvez motivada pela expectação diuturna de imenso 
número de vítimas fatais em acidente do trabalho, motivou o legislador 
constituinte a alçar a nível constitucional as normas de saúde, higiene e 
segurança do trabalho, obrigando o patrão a adotar medidas tendentes a 
garantir a integridade física do trabalhador. Desta forma, cabe ao 
empregador, mormente aquele que explora atividade que oferece risco 
à saúde e segurança do empregado, como no caso da reclamada, 
informar seus empregados dos riscos a que estão expostos e sobre as 
formas de prevenção, oferecendo-lhe o treinamento adequado para o 
desenvolvimento de seus misteres dentro da empresa. Aliás, o direito à 
informação dos empregados sobre os riscos da operação que realizam e de 
sua participação nos mecanismos de proteção contra acidentes foi objeto de 
várias Convenções da OIT ratificadas pelo Brasil, dentre elas as de nos. 148, 
155 e 161, encontrando, também, previsão na NR 9, da Portaria 3214/78 do 
MTb. E demonstrando que o assunto é deveras preocupante, foi instituído em 
1992, o Mapa de Riscos Ambientais, em que a CIPA, em colaboração com o 
SESMT, após ouvir os trabalhadores de todos os setores, elabora o referido 
mapa de riscos, identificando os existentes em cada local de trabalho, o qual 
deve ser afixado de forma visível e de fácil acesso para o trabalhadores, onde 
deverão ser descritos os riscos, físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de 
acidente, tendo sido instituído, em 1994, o Programa de Prevenção de Riscos 
Ambientais, tudo com objetivo de resguardar a saúde e a integridade física 
dos trabalhadores. Inobstante a existência de todas estas normas, o que se 
verifica dos autos é que a reclamada não está muito afinada com os avanços 
na área de segurança do trabalho e, muito menos, com a obrigação que a 
constituição e a lei lhe atribuíram no particular. Explorando a empresa-ré 
atividade de risco à saúde do trabalhador, tanto que culminou com a morte 
prematura do autor (19 anos de idade), a ela incumbia implementar meios de 
reduzir os riscos de acidente do trabalho, propiciando a seus empregados 
trabalharem em condições dignas, saudáveis e seguras. No entanto, a prova 
dos autos revela justamente o contrário, pois no local onde foi encontrada 
morta a vítima não havia qualquer sinalização sobre o perigo de asfixiamento 
por flocos de espuma moída, demonstrando ainda a prova oral que no local 
 
 
onde ocorreu o acidente havia espuma na altura de três metros, tornando a 
operação arriscada, mesmo porque não possuía o compartimento janelas ou 
portas, mas pequenas aberturas, o que, sem dúvida, dificultou o salvamento 
do "de cujus" ou mesmo o pedido de socorro. Neste contexto, nota-se que a 
reclamada agiu com culpa no infortúnio sofrido pelo autor e ainda que se 
argumente sua ocorrência em grau leve, sua responsabilização impõe-se, 
considerando que até a culpa levísssima gera responsabilização civil. Confira-
se, a propósito, a lição do ilustre magistrado Sebastião Geraldo de Oliveira em 
sua brilhante obra Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador, 3a. edição, LTR, 
pág. 228/229: Como se vê, foi ampliado consideravelmente o entendimento da 
Súmula 229/STF, que só deferia indenização no caso de dolo ou culpa grave. 
Agora, havendo culpa do empregador ou de outrem, de qualquer grau, 
mesmo na culpa levíssima, o acidentado faz jus à reparação. 
 (RO NUM: 8666/2000, Rel. Juíza Maristela Íris da Silva Malheiros, 2ª 
Turma, TRT – 3ª Região, 24/04/2001) 
Ementas de julgados que acolhem a culpa concorrente entre empregador e 
empregado 
 Ocorrem algumas hipóteses, que fica provado que tanto o empregador quanto 
o empregado tiveram condutas culposas que culminaram com o acidente laboral. 
Trata-se da culpa concorrente. A seguir um julgado do Superior Tribunal de Justiça, 
que decide pela culpa concorrente das partes: 
 RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA 
CONCORRENTE. REEXAME DE PROVAS. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ. 
CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. ART. 602, CPC. SUBSTITUIÇÃO. INCLUSÃO EM 
FOLHA DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE. EMPRESA IDÔNEA. INCAPACIDADE 
PARA A FUNÇÃO QUE EXERCIA. PERMANÊNCIA NA EMPRESA, EM OUTRA 
FUNÇÃO, COM A MESMA REMUNERAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA CONSIDERADA NA 
FIXAÇÃO DA PENSÃO. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. DATA DO EVENTO. 
ENUNCIADO N. 54 DA SÚMULA/STJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 
 I - Fixada a culpa concorrente com base na análise das provas dos 
autos, entender diversamente não prescindiria do revolvimento de matéria 
fática, procedimento vedado em sede de recurso especial, a teor do enunciado 
n. 7 da súmula/STJ. 
 II – A norma do art. 1.539 do Código Civil traz a presunção de que o 
ofendido não conseguirá exercer outro trabalho, pelo que a pensão, em 
princípio, seria devida no mesmo valor que recebia a vítima. Por outro lado, 
evidenciado que esta continuou a trabalhar, e, no caso na mesma empresa, 
ainda que em atividade distinta, a pensão deve levar em consideração tal 
circunstância. 
 III – Assentado pelo acórdão impugnado a idoneidade e solvabilidade 
da empresa condenada, é admissível, em substituição à constituição de capital 
prevista no art. 602, CPC, a inclusão do vencedor na folha de pagamento da 
empresa. 
 IV - Tratando-se de indenização pelo direito comum, relativa a 
acidente de trabalho, contra empregador que agiu com culpa, a hipótese é 
de responsabilidade extracontratual, de sorte que os juros moratórios fluem a 
partir do evento danoso (enunciado n. 54 dasúmula/STJ). 
 
 
 (RESP 401474/SP; Recurso Especial nº: 2001/0184733-7 Rel. Min. 
Sálvio De Figueiredo Teixeira - Quarta Turma/STJ DJ 15/04/2002) 
Ementas de julgados que acolhem a culpa objetiva das pessoas jurídicas de 
direito público ou de direito privado prestadoras de serviços públicos 
 Em se tratando de pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, 
prestadoras de serviços públicos, a maioria das decisões tem adotado o instituto da 
responsabilidade civil objetiva como fundamento da reparação por acidentes do 
trabalho, com base no parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição Federal de 1988. 
Nesse sentido, transcreve-se algumas decisões abaixo: 
 RESPONSABILIDADE CIVIL – ACIDENTE DO TRABALHO – 
INDENIZAÇÃO – DIREITO COMUM – LITISCONSÓRCIO PASSIVO – PESSOA 
JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO COM PESSOA JURÍDICA DE DIREITO 
PÚBLICO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA COM BASE NO RISCO 
ADMINISTRATIVO – ADMISSIBILIDADE – A coleta de lixo urbano é 
considerada serviço público desempenhado por delegação. A responsabilidade 
civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito 
privado prestadoras de serviço público é objetiva, com base no risco 
administrativo. 
 (2º TACSP – AI 604.940-00/2 – 10ª C. – Rel. Juiz Irineu Pedrotti – J. 
10.11.1999) 
 ACIDENTE DE TRABALHO – TRANSPORTE COLETIVO – 
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS REMUNERADOS POR ÔNIBUS NÃO LICENCIADO – 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA – Sumária. Acidente de trânsito. Coletivo 
denominado de "pirata". Destinação ao transporte de passageiros. Equiparação 
a prestador de serviçode utilidade pública. Responsabilidade objetiva. Onus 
probandi do réu. Prejuízo comprovado. Improvimento do recurso. 
 (LCR) (TJRJ – AC 15084/1999 – (20032000) – 9ª C.Cív. – Rel. Des. 
Renato Simoni – J. 14.12.1999) 
 DIREITO CIVIL – ACIDENTE DE TRABALHO – 
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA – SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA 
– CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO – LOCAL DE DESENPENHO DA 
ATIVIDADE LABORATIVA DO EMPREGADO – DESCUIDO COM AS CONDIÇÕES 
DE SEGURANÇA – PRESUNÇÃO DE CULPA, POR OMISSÃO, DA EMPRESA 
EMPREGADORA – PENSÃO DEVIDA AOS FILHOS E À VIÚVA – LIMITAÇÃO 
TEMPORAL – I – Responsabilidade civil da sociedade de economia mista, 
quando concessionária de serviço público, é objetiva. II – Estando 
sobejamente evidenciado que o fato acarretador da morte do empregado foi 
propiciado por comportamento omissivo da empresa empregadora, que 
descuidou das condições de segurança no local em que aquele desempenhava 
o trabalho que lhe competia, prevalece a presunção de culpa desta, com a 
conseqüente obrigação de indenizar, mormente se a atividade laboral, exercida 
pelo vitimado, qualificava-se como sendo de ''alta periculosidade''. III. É 
devida, pela empresa empregadora, pensão às filhas de empregado morto em 
acidente de trabalho, até que complete 21 anos, e à viúva, até o tempo em 
que a vítima completaria 65 anos. IV – Apresenta-se de grande oportunidade 
que, ao prestar a jurisdição, preveja, o julgador, a possibilidade de prorrogar a 
prestação da pensão até que as filhas do empregado falecido completem 24 
anos se, alcançada a idade de 21 anos, estejam, as mesmas, matriculadas em 
curso superior, hipótese em que se presume contariam ainda com o amparo do 
 
 
genitor. V – A fixação do quantum para indenização de dano moral há de 
considerar as peculiaridades de cada caso, não se prestando, tal 
ressarcimento, como fonte de enriquecimento ilícito, mas não podendo, por 
outro lado, ser inexpressivo. Dar parcial provimento. Unânime. 
 (TJDF – APC 4765098 – 2ª T.Cív. – Relª Desª Nancy Andrighi – DJU 
02.02.2000 – p. 16) 
 APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. 
ACIDENTE COM MORTE SOFRIDO POR EMPREGADO DE EMPRESA 
CONTRATADA PARA OBRAS EM ORGANIZAÇÃO MILITAR. 
RESPONSABILIDADE DA UNIÃO. FIXAÇÃO DOS VALORES. LEGITIMIDADE DA 
COMPANHEIRA. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS. 
- A União é responsável por acidente de trabalho ocorrido dentro de 
Organização Militar, independentemente de cláusula contratual em que a 
empresa contratada se responsabilize, pois tal cláusula não gera efeitos sobre 
terceiros, ressalvado o direito de regresso em caso de dolo e culpa, a teor do 
art. 37, § 6º da CF-88. 
 - Embora não haja como tarifar a dor sofrida pelos próximos do de 
cujus, reduzo a indenização por dano moral a R$ 60.000,0 (sessenta mil reais) 
para a filha e a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) à companheira, por entender 
que este valor atinge o objetivo de minorar as penas dos atingidos, sem que 
seja caracterizada situação de enriquecimento sem causa, e também para 
melhor se harmonizar com as decisões desta Turma. 
 - Inocorrência de nulidade da sentença por ultra -petita, pois os juros e 
a correção monetária devem ser incluídos na condenação independente de 
pedido, embasados na Súmula 254 do STF e art. 1º da Lei 6.899/81. 
 (TRF4 SC, Quarta Turma - AC, processo nº 200204010133819, data 
de publicação -31/07/2002) 
 É oportuno registrar abaixo uma das raras decisões em sentido contrário, 
conforme pesquisa realizada, que se aplica o princípio da responsabilidade subjetiva 
para as concessionárias de serviços públicos nas hipóteses de reparação de danos: 
 34005481 – INDENIZAÇÃO – ACIDENTE DO TRABALHO – 
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO CULPA – Não se aplica o princípio 
da responsabilidade objetiva a indenização de direito comum em 
acidente de trabalho sofrido pelo empregado de concessionária de 
serviço público, devendo-se perquirir a culpa do empregador. 
 (TAMG – Ap 0190106-6 – 3ª C.Cív. – Rel. Juiz Wander Marotta – J. 
27.09.1995) 
 
 
 
9. O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO E AS MICROS E PEQUENAS 
EMPRESAS 
 O Perfil Profissiográfico Previdenciário-PPP está previsto no artigo 58 da Lei 
8.213/91, com redação dada pela Medida Provisória n.º 1.523/96 e convertida na Lei 
9.528, de 10 de dezembro de 1997. Sua regulamentação se deu pela Instrução 
Normativa nº 78 de 18 de julho de 2002, do Ministério da Previdência Social. 
 Trata-se de um documento histórico-laboral dos trabalhadores, apresentado 
em formulário próprio, que conterá um grande nº de informações detalhadas, sobre 
suas atividades, exposição a agentes nocivos à saúde, resultados de exames médicos e 
outras informações de caráter administrativo. 
 O principal objetivo do PPP é apresentar, em um só documento, o resumo de 
todas as informações necessárias à fiscalização do gerenciamento de riscos e 
existência de agentes nocivos no ambiente de trabalho, além de ser o documento que 
orienta o processo de reconhecimento de aposentadoria especial do trabalhador. 
Pretende-se também uma dificultação das fraudes em aposentadorias especiais, mas 
às expensas do segmento empresarial. 
 A empresa passa a ter a obrigação de elaborar e manter atualizado o perfil 
profissiográfico de cada trabalhador, descrevendo as atividades que os mesmos 
desenvolvem. Ressalte-se que os trabalhadores tem direito de deter cópia autêntica de 
tal documento, substanciando-se em obrigação a cessão do mesmo pelo empregador. 
 As fontes de informação do PPP são o Laudo Técnico de Condições Ambientais 
do Trabalho (LTCAT), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o 
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), todas estas obrigações 
vigentes para o empresariado em geral, mas, via de regra, descumpridas pelas MPE, 
pelo custo e pela burocracia que representam. 
 Na realidade, há inúmeras empresas de medicina do trabalho que realizam tais 
obrigações, contratadas pelas empresas. 
 Para uma maior didática, passemos a descrever, sucintamente, todas essas 
obrigações. 
 - LTCAT - Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho - deve ser 
expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Trata-se de 
documento que retrata as condições do ambiente de trabalho de acordo com as 
avaliações dos riscos. Seu custo varia pelo nº de funcionários e tamanho do 
estabelecimento. Temos como base um custo de R$ 2,00 por empregado, com um 
mínimo de R$ 100,00/ano, para empresas que não apresentam nenhum risco 
aparente. Se o houver riscos, esse valor sobe em muito, chegando a uma média R$ 
500,00. 
 - PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – Trata-se de um 
programa de ação contínua e não apenas um documento. O LTCAT pode ser um dos 
documentos que integram o PPRA. Este é uma exigência da legislação trabalhista e 
aquele da legislação previdenciária. Visa à preservação da saúde e da integridade dos 
 
 
trabalhadores, pela antecipação, pelo reconhecimento, pela avaliação e, 
conseqüentemente, pelo controle da ocorrência de riscos ambientais relativos à 
iluminação, ergonometria, agentes químicos, ruídos, etc.. 
 - PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – Tem por 
objeto a promoção e preservação da saúde dos trabalhadores, a ser elaborado e 
implementado pela empresa, a partir do PPRA e do PCMAT, com o caráter de promover 
prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos danos à saúde relacionados ao 
trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou 
danos irreversíveis à saúde. Um bom exemplo é a lesão por esforços repetitivos. 
Consiste em exames clínicosocupacionais de admissão, periódico, troca de função e 
demissional, além da emissão dos atestados de saúde ocupacional. Seu valor varia de 
R$ 5,00 a R$ 10,00 por empregado/mês, condicionado a um mínimo de 
R$120,00/mês. 
 O Ministério da Previdência e Assistência Social havia prorrogado para 1 de 
novembro 2003 a exigência do Perfil Profissiográfico Previdenciário. Ocorre que, devido 
ao descontentamento do empresariado (principalmente de micro e pequeno porte, 
além daqueles que, em condições normais, não oferecem riscos à atividade laboral) o 
MPAS já garantiu nova prorrogação para 1º de janeiro de 2.004. A partir desta data, a 
obrigatoriedade da apresentação do Laudo Técnico de Condições Ambientais (LTCAT) 
será dispensada. No entanto, este documento deverá permanecer disponível na 
empresa e ficar à disposição da Previdência Social pelo prazo de 20 anos. 
 Com base nisso, a exigibilidade do PPP foi postergada de 1° de novembro de 
2003 para 1° de janeiro de 2004, por força da Instrução Normativa do INSS, de nº 96, 
de 23 de outubro, publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira, 27 de 
outubro. 
 A grande novidade imposta IN 96/03 é que essa obrigação passa a ser exigida 
apenas para empresas cujos empregados estejam expostos a riscos físicos (como 
excesso de calor, som e vibração), químicos (benzeno, amianto, sílica e chumbo, por 
exemplo) e biológicos (como parasitas, vírus e bactérias infecto-contagiosas). 
 Não obstante, a IN dispõe que após 1º de janeiro, a partir do momento em 
que a Previdência Social implantar o PPP "em meio magnético", o documento passará a 
ser exigido de todas as empresas, independente do ramo de atividade exercida e dos 
agentes nocivos a que o trabalhador esteja exposto. Não há qualquer esclarecimento 
sobre prazos ou forma desse "PPP em meio magnético". 
 É bom lembrar que o LTCAT, o PCMSO e o PPRA servirão de base para o 
preenchimento do PPP, uma vez que trazem informações relativas às condições 
ambientais da organização e às condições do trabalhador. O PPP já trará a conclusão 
do laudo técnico e a descrição das atividades desenvolvidas pelo trabalhador, a 
existência de agentes prejudiciais à sua saúde ou integridade física e o caráter 
permanente ou não da exposição aos riscos. 
 O PPP deve ser mantido atualizado magneticamente ou por meio físico com a 
seguinte periodicidade: 
 I – anualmente, na mesma época em que se apresentar os resultados da 
análise 
 
 
 global do desenvolvimento do PPRA, do PGR, do PCMAT e do PCMSO e 
 II – nos casos de alteração de "layout" da empresa com alterações de 
exposições 
 de agentes nocivos. 
 A não manutenção de Perfil Profissiográfico Previdenciário atualizado e o não 
fornecimento do mesmo ao empregado, por ocasião do encerramento do contrato de 
trabalho ensejará aplicação de multa de R$ 991,03 à R$ 99.102,12. 
 As microempresas e empresas de pequeno porte não têm quaisquer benefícios 
ou tratamento diferenciado no que tange ao PPP, até mesmo as optantes pelo 
SIMPLES. Há um forte movimento que defende o tratamento diferenciado para as MPE, 
assim como para as empresas cuja atividade não oferece risco para os empregados. 
Quanto aos últimos, a demanda já foi correspondida, pelo menos provisoriamente, até 
que o INSS crie o PPP "em meio magnético", O MPAS acena com a criação desse 
tratamento, conforme tem se visto em declarações à imprensa. 
 
 
 
10. FISCALIZAÇÃO DO TRABALHO AQUAVIÁRIO 
 O Decreto No 3.129, de 9 de agosto de 1999, aprova a estrutura 
regimental do Ministério do Trabalho e Emprego e, com fonte no artigo 14, 
incisos I e II, atribui à Secretaria de Inspeção do Trabalho formular e propor as 
diretrizes da inspeção do trabalho, inclusive do trabalho portuário, priorizando o 
estabelecimento de política de combate ao trabalho forçado e infantil, bem como a 
todas as formas de trabalho degradante; e formular e propor as diretrizes e normas de 
atuação da área de segurança e saúde do trabalhador. 
 Essa Secretaria expediu a Instrução Normativa nº 19, de 27 de setembro de 
2000, traçando a competência das Unidades Regionais de Inspeção do Trabalho 
Portuário e Aquaviário, destacando a fiscalização das condições do trabalho, segurança 
e saúde e de vida a bordo de embarcação comercial, nacional ou estrangeira, utilizada 
na navegação marítima, fluvial e lacustre. 
 Conceitua este at o normativo as condições de trabalho e de vida a bordo, 
considerando, entre outras, as relativas às normas de manutenção e limpeza das áreas 
de alojamento e trabalho a bordo, a idade mínima, os contratos de engajamento, a 
alimentação e o serviço de quarto, o alojamento da tripulação, a contratação, a 
lotação, o nível de qualificação, as horas de trabalho, os atestados médicos, a 
prevenção de acidentes de trabalho, os cuidados médicos, os pagamentos em caso de 
acidente ou doença do trabalho, o bem estar social e questões afins e a repatriação. 
 Como se percebe, nada escapa ao controle, visto que essa enumeração não é 
exaustiva e outras poderão ocorrer, de modo que a proteção legal é rigorosa, 
abrangendo qualquer tipo de embarcação comercial, ainda que estrangeira. 
 O auditor fiscal do trabalho deve atuar, em se tratando de embarcação 
comercial nacional, de conformidade com as normas da Convenção 147 e seus anexos, 
da CLT, da legislação complementar respectiva, dos acordos e convenções coletivas de 
trabalho e as normas de segurança e saúde do trabalho específicas para o trabalho 
aquaviário. 
 Também deverá observar as diretrizes sobre procedimentos de inspeção das 
condições de trabalho a bordo de embarcações, aprovadas pela Reunião Tripartite de 
Peritos, convocada pela OIT, em 1989. 
 Frise-se que, nas hipóteses que propiciarem repatriação, como as de contratos 
de engajamento vencidos ou de outras causas arroladas no artigo 2º da Convenção 
166 da OIT, ratificada pelo Decreto 2670, de 15 de julho de 1998, deverá o referido 
servidor comunicar, por ofício, à Superintendência da Polícia Federal e tomar as 
demais providências mencionadas nesta Instrução. 
 Uma medida de significativa importância diz respeito à mediação do conflito, 
pela fiscalização do trabalho, se a tripulação se encontrar em greve ou strike, 
garantindo os direitos dos trabalhadores e ainda o próprio direito à greve dos 
envolvidos. 
 
 
 A Unidade Regional iniciará ação fiscal, se se tratar de embarcação comercial 
estrangeira, que estiver operando em águas jurisdicionais brasileiras, em virtude de 
contrato de afretamento ou de prestação de serviços ou de risco, celebrado com 
empresa estrangeira, e houver queixa de indício de irregularidade apresentada por 
membro de tripulação, de sindicato ou por qualquer pessoa ou organização interessada 
nas condições de trabalho ou ainda atendendo ao planejamento da Unidade Especial de 
Inspeção do Trabalho Portuário e Aquaviário. 
 Cabe-lhe, também, entre outras atividades, verificar, no diário de navegação 
ou nos controles da autoridade marítima, se a embarcação está em águas nacionais, 
há mais de noventa dias e foram contratados tripulantes dos três níveis técnicos - 
oficiais, graduados e não graduados, para as atividades de navegação ( convés e de 
máquinas ), tendo em vista as RNs 31/98 e 46/2000. Dispõem essas regras que a 
embarcação estrangeira deverá contratar seis tripulantes brasileiros. Esse número 
poderá ser reduzido, se o cartão de lotação mínima da embarcação não utilizar algum 
desses níveis técnicos, como no caso de apoio marítimo. 
 Trata-se, pois, de notável documento, distinguindo nosso País, entre os que se 
preocupam com as condições de trabalho,segurança e saúde de vida a bordo de 
embarcação comercial, em homenagem aos princípios fundamentais, insertos na 
Constituição Federal, da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do 
trabalho. 
 
 
 
 
11. INSPEÇÃO DO TRABALHO POR AUTORIDADE ESTADUAL OU MUNICIPAL: 
INCONSTITUCIONALIDADE. ENTENDIMENTO DO STF 
 
 Tivemos oportunidade de visualizar, em várias oportunidades, a atuação de 
autoridades estaduais, integrantes das secretarias de saúde, na inspeção e fiscalização 
do meio ambiente de trabalho das empresas, fazendo exigências e, por muitas vezes, 
chegando a lavrar multas, indicando como fundamento legal dispositivos da CLT e das 
Normas Regulamentadoras (NR’s), editadas pelo Ministério do Trabalho. 
 Por outro lado, vê-se alguns entes da federação (Estados e Municípios) a 
legislar sobre o tema, impondo novas obrigações além daquelas constantes na 
legislação federal, sob pena pecuniária, bem como suas autoridades fiscalizatórias 
exigirem das empresas o cumprimento de tais obrigações inovadoras da legislação 
federal, sob a ameaça da imposição de autos de infração. 
 Sem querer exaurir o tema neste artigo, é mister que se faça uma análise da 
legalidade de tais procedimentos, para que se conclua por seu cabimento ou não, em 
face do que dispõe a Constituição da República. 
11.1 DOS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS REGULADORES DA INSPEÇÃO 
DO TRABALHO 
 Iniclalmente é de se citar o que preceitua o art. 21, XXIV, da Constituição 
Federal : 
 Art. 21 . Compete à União: 
 ...................... 
 XXIV – organizar, manter e executar a inspeção do trabalho 
Em seu art. 200, II e VIII, preceitua: 
 Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos 
termos da lei: 
 .................. 
 II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de 
saúde do trabalhador. 
 VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do 
trabalho. 
 Assim sendo, dispõe a Constituição da República sobre a inspeção do trabalho 
em duas passagens, uma ao definir a competência da União, outra, em definir a 
competência do SUS (sistema único de saúde). 
 
 
 O SUS, como preceitua o art. 198 da Constituição e seus incisos, se constitui 
em rede hierarquizada e regionalizada, tendo direção única em cada esfera de 
governo. 
 Em princípio, pois, (este o principal argumento das autoridades fiscalizadoras), 
todas as esferas de governo têm competência para a fiscalização e inspeção do 
trabalho, haja vista que, como se disse, o SUS tem descentralização, atividade e 
direção em cada esfera da federação. 
 Uma melhor análise, porém, mostrará não ser esta a melhor interpretação. 
11.2 DA NATUREZA DA COMPETÊNCIA ATRIBUÍDA À UNIÃO EM MATÉRIA DE 
INSPEÇÃO DO TRABALHO 
 Conforme esmerada doutrina, em termos de competência constitucional, deve-
se fazer a distinção entre competências privativas e exclusivas. 
 A competência privativa, não obstante o nome, seria aquela que, conferida a 
determinado ente federativo prioritariamente, não obsta que o ente beneficiado a 
delegue a outro, nos limites e forma permitidos na Constituição. 
 Já a competência exclusiva, ao contrário da anterio r, não permite ao ente 
agraciado delegar de qualquer forma sua competência a outro congênere. 
 Essa a lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA (Curso de Direito Constitucional 
Positivo, Ed. Malheiros, 16a Edição, pg. 480) para quem: "...A diferença que se faz 
entre competência exclusiva e competência privativa é que aquela é indelegável e 
esta é delegável. Então, quando se quer atribuir competência própria a uma entidade 
ou a um órgão com possibilidade de delegação de tudo ou de parte, declara-se que 
compete privativamente a ele a metéria indicada. Assim, no art. 22 se deu 
competência privativa (não exclusiva) à União para legislar sobre: [...], porque 
parágrafo único faculta à lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre 
questões específicas das matérias relacionadas nesse artigo. No art. 49, é indicada a 
competência exclusiva do Congresso Nacional. O art. 84 arrola a matéria de 
competência privativa do Presidente da República, porque seu parágrafo único permite 
delegar algumas atribuições ali arroladas..". 
 Como se vê, diante de uma competência constitucional, teremos duas 
possibilidades: será ela privativa ou exclusiva, conforme a Carta Magna possibilite ou 
não a delegação. 
 Assim, vejamos. 
 A Constituição, ao contrário do que faz em seu art. 22, parágrafo único, não 
possibilita, em qualquer passagem de seu art. 21, a delegação de competências. 
 Assim pensa MICHEL TEMER (Elementos de Direito Constitucional, Ed. 
Malheiros, 15a Ed., pg. 77): "...Dos arts. 21 e 22 se extrai que a União tem 
competências expressas e enumeradas. São também exaustivas, pois exaurem, pela 
enumeração, as matérias que lhe cabem". 
 
 
 Não é outro o pensamento de IVES GANDRA DA SILVA MARTINS , ao comentar 
a Constituição Federal (Comentários à Constituição do Brasil, Ives Gandra da Silva 
Martins e Celso Ribeiro Bastos, Ed. Saraiva, pg. 2/3): "..O art. 21 é dedicado à 
competência de atribuições da União ...". 
 Assim, temos pela frente claro caso de competência constitucional 
exclusiva sendo vedada a delegação. 
 Por outro lado, igualmente deve-se fixar propriamente as competências 
legislativas e administrativas. 
 Como se sabe, grande parte da doutrina sapara tais competências, afirmando 
que a competência legislativa, como o nome diz, dá a prerrogativa de legislar e a 
administrativa de atuar naquele âmbito específico de competência. 
 Não obstante, preferimos concordar com IVES GANDRA DA SILVA MARTINS (op. 
cit., pg. 3), para quem: "A dificuldade, todavia, que se coloca é que, regido o país pelo 
princípio da legalidade, nenhuma entidade federativa pode agir, sem ter legislação 
anterior que a autorize, de tal forma que tanto o art. 21 quanto o art. 22 cuidam, em 
verdade, de competência para legislar sobre aquelas matérias. O mesmo se pode dizer 
no que concerne à competência comum e/ou concorrente, visto que a ação é sempre 
precedida de legislação..." 
 Assim sendo, somente podendo a Administração agir quando previamente 
autorizada por lei, a diferença entre competência legislativa e administrativa fica muito 
reduzida de conteúdo, porquanto a ação administrativa sempre será necessariamente 
precedida de legislação. 
 Portanto, conclui-se correto afirmar que a competência para agir deve 
corresponder igualmente à competência para legislar sobre a matéria. 
 A primeira conclusão que se extrai é que, em sendo a competência do art. 21 
exclusiva, somente a União poderá organizar, manter e inspecionar o trabalho. 
Em sendo a competência para agir (competência administrativa) corolário lógico e 
necessário da competência para legislar (competência legislativa), conclui-se que 
somente a União poderá legislar sobre organização, manutenção e inspeção 
do trabalho. 
 Aliás, a matéria de organização, segurança e meio ambiente do trabalho é 
componente do Direito do Trabalho. 
 Esse o pensamento de SÉRGIO PINTO MARTINS (Direito do Trabalho, 3a Edição, 
Ed, Malheiros, pg. 43/44), que, adotanto as orientações do Prof. OTÁVIO BUENO 
MAGANO, preceitua a divisão da disciplina do Direito do Trabalho na seguinte forma: 
"Preferimos adotar a divisão utilizada pelo Prof. Magano, ao falar de Direito Individual 
do Trabalho, Direito Tutelar do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho" 
 E prossegue: "No Direito Tutelar do Trabalho versaremos sobre regras que 
tratamda proteção do trabalhador, como as normas de segurança e medicina 
do trabalho, regras sobre a jornada de trabalho, sobre os repousos do trabalhador, 
sobre a fiscalização trabalhista, etc." 
 
 
 Vê-se, pois que o Direito Tutelar do Trabalho é parte do Direito do Trabalho. 
 Ora, conforme o art. 22, I , da CF é privativa da União a competência para 
legislar sobre Direito do Trabalho. 
 Logo, repita-se: somente a União poderá legislar criando obrigações relativas ao 
meio ambiente do trabalho, bem como somente ela poderá fiscalizar o cumprimento de 
tais obrigações. 
11.3 DO ÂMBITO DE COMPETÊNCIA DO SUS 
 Em se afirmando a competência exclusiva da União para legislar e agir em 
matéria de medicina, segurança, inspeção e meio ambiente do trabalho em geral, resta 
ainda fixar, dentro das normas constitucionais, o âmbito correto de competência do 
SUS (sistema único de saúde). 
 Diz a Constituição Federal que o SUS, sendo um conjunto hierarquizado e 
descentralizado de ações mantidas pelo Poder Público, nos diversos níveis de governo, 
terá as competências de: 
 Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos 
termos da lei: 
 .................. 
 II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de 
saúde do trabalhador. 
 VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do 
trabalho. 
 Analisemos, pois, tal competência, nos termos postos pela Constituição Federal. 
 Inicialmente diz a Constituição que caberá ao SUS: 1) executar as ações de 
vigilância sanitária e epidemiológica; 2) executar ações relativas à saúde do 
trabalhador. 
 Logo após, diz caber ao SUS colaborar na proteção do meio ambiente, nele 
compreendido o do trabalho. 
 Assim, tem-se que o SUS deve inicialmente realizar ações diversas relativas à 
saúde do trabalhador. Ora, nehuma competência lhe atribuiu a Constituição Federal 
para INSPECIONAR ou FISCALIZAR o meio ambiente do trabalho, mas sim para que 
tenha ações diversas em prol da saúde do trabalhador, dentre as quais, v.g., a 
pesquisa de novas técnicas para a melhoria das condições de saúde do trabalho, a 
realização de exames médicos periódicos, etc, dentre as quais não está, de forma 
nehuma incluída a inspeção do trabalho. 
 No mesmo sentido, colaborar na proteção do meio ambiente não significa dar 
atribuições ao SUS de inspecioná-lo ou fiscalizá-lo. Ora, quem colabora atua em 
 
 
conjunto, em participação secundária, que obviamente não poderá ser a inspeção, 
atividade primordial. 
 Logo, nenhuma atribuição constituicional tem o SUS para inspecionar o meio 
ambiente do trabalho, sendo inconstitucional qualquer lei que venha a conferir tal 
atribuição a este órgão. 
 Vejamos, agora, o que diz a legislação ordinária. 
 Dada a descentralização do sistema, o SUS terá direções e atribuições diversas 
conforme o ente federativo a que pertencer e conforme definir a lei (pois a Carta 
Magna expressamente delega à lei a fixação das competências do SUS). 
 É o SUS disciplinado pela Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 que 
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a 
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 
 Diz referido diploma em seu art. 9o : 
 Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o 
inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo 
pelos seguintes órgãos: 
 I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; 
 II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de 
Saúde ou órgão equivalente; e 
 III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão 
equivalente. 
 Fica claro, assim, as atribuições dos órgãos para o exercício das atribuições do 
SUS. No âmbito federal, será competente o Ministério da Saúde. Nos Estados e 
Municípios as respectivas secretarias de saúde. 
 Veja-se, agora, a competência deferida pela lei a cada esfera governamental 
(os grifos não constam no original). 
 Seção II 
 Da Competência 
 Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete: 
 ............... 
 II - participar na formulação e na implementação das políticas: 
 .............. 
 
 
 c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho; 
 V - participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle 
das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do 
trabalhador; 
 Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete: 
 IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços: 
 a) de vigilância epidemiológica; 
 b) de vigilância sanitária; 
 c) de alimentação e nutrição; e 
 d) de saúde do trabalhador; 
 VII - participar das ações de controle e avaliação das condições e dos 
ambientes de trabalho; 
 Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete: 
 III - participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às 
condições e aos ambientes de trabalho; 
 IV - executar serviços: 
 a) de vigilância epidemiológica; 
 b) vigilância sanitária; 
 c) de alimentação e nutrição; 
 d) de saneamento básico; e 
 e) de saúde do trabalhador; 
 Percebe-se, pois, que, em nehuma passagem a lei atribuiu ao SUS a inspeção 
do meio ambiente do trabalho, pois, participar de políticas, executar serviços ou 
coordená-los em caráter complementar não significa poder de polícia 
fiscalizatório. 
 Ao contrário, competirá a inspeção do trabalho, em âmbito federal, ao 
MINISTÉRIO DO TRABALHO e não ao SUS (vinculado e exercido pelo Ministério da 
Saúde), conforme dispõe a CLT, em seu art. 626: 
 Art. 626. Incumbe às autoridades competentes do Ministério do Trabalho, ou 
àquelas que exerçam funções delegadas, a discalização do fiel cumprimento das 
normas de proteção ao trabalho. 
 
 
11.4 DO POSICIONAMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 Instado a se manifestar, o plenário do Supremo Tribunal Federal, através do 
julgamento da liminar na ADIMC-1893/RJ – Rel. Min. Marco Aurélio, fixou, por 
unanimidade, o posicionamento do Pretório Excelso sobre a matéria. 
 Por unanimidade, foi conferida liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade, 
movida pela Confederação Nacional da Indústria, nos seguintes termos: 
 ADIMC-1893 / RJ 
 ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - MEDIDA CAUTELAR 
 Relator 
 Ministro MARCO AURELIO 
 Publicação 
 DJ DATA-23-04-99 PP-00002 EMENT VOL-01947-01 PP-00141 
 Julgamento 
 18/12/1998 - Tribunal Pleno 
 Ementa 
 SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA. 
Ao primeiro exame, cumpre à União legislar sobre parâmetros alusivos à 
prestação de serviços - artigos 21, inciso XXIV, e 22, inciso I, da Constituição 
Federal. O gênero "meio ambiente", em relação ao qual é viável a competência 
em concurso da União, dos Estados e do Distrito Federal, a teor do disposto no 
artigo 24, inciso VI, da Constituição Federal, não abrange o ambiente de 
trabalho, muito menos a ponto de chegar -se à fiscalização do local por 
autoridade estadual, com imposição de multa. Suspensão da eficácia da Lei nº 
2.702, de 1997, do Estado do Rio de Janeiro. 
 ObservaçãoVotação: Unânime. 
 Resultado: Deferida. 
 N.PP.:(13). Análise:(RCO). Revisão:(AAF). 
 Inclusão: 06/05/99, (MLR). 
 Partes 
 REQTE. : CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI 
 ADVDOS. : LEONARDO GRECO E OUTROS 
 REQDO. : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 REQDA. : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 O mesmo pronunciamento parece ter fundamentado o acórdão 
noticiado no Informativo 142 do STF: 
 Informativo 142 – STF 
 Saúde do Trabalhador e Competência 
 Por aparente ofensa ao art. 22, I, da CF, que determina a competência 
privativa da União para legislar sobre direito do trabalho, o Tribunal, em ação 
direta proposta pela Confederação Nacional da Indústria-CNI, por maioria, 
deferiu, em parte, o pedido de medida cautelar para, dando interpretação 
conforme a CF, suspender relativamente aos empregados celetistas, sem 
redução de texto, a alínea b do inciso III do art. 3º da Lei 2.586/96 do Estado 
 
 
do Rio de Janeiro, que estabelece normas de prevenção das doenças e critérios 
de defesa da saúde dos trabalhadores em relação às atividades que possam 
desencadear lesões por esforços repetitivos - LER. Vencido, em parte, o Min. 
Marco Aurélio que, dando interpretação conforme a CF, suspendia 
relativamente aos empregados celetistas, sem redução de texto, toda a Lei nº 
2.586/96. Vencidos ainda, em parte, os Ministros Néri da Silveira, relator, e 
Carlos Velloso que indeferiam integralmente o pedido. ADInMC 1.862-RJ, rel. 
Min. Néri da Silveira, 18.3.99. 
 Muito bem andou a Corte Suprema ao fixar o posicionamento constitucional 
sobre a matéria, em linhas simples e sóbrias, evitando a superfetação de entes 
fiscalizatórios, incompetentes para tanto, em voracidade fiscal demasiada e, muitas 
vezes, a exigência ilegal por parte de fiscais inescrupulosos, como se está a ver nos 
noticiários televisivos. 
 
 
 
 
12. NOVOS ASPECTOS JURÍDICOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR 
ACIDENTE OU DOENÇA DO TRABALHO 
 
12.1 Responsabilidade da empresa e da Previdência Social no infortúnio no 
trabalho- Distinções 
 Por primeiro, não se deve confundir a responsabilidade do empregador em 
indenizar o obreiro (responsabilidade civil), com a obrigação previdenciária a cargo do 
Estado (responsabilidade acidentária-previdenciária), representado aqui pelo Instituto 
Nacional do Seguro Social – INSS. 
 Com efeito, ocorrido o acidente, três hipóteses poderão existir, conforme o 
caso concreto: 1) ambos (empregador e INSS) estarão obrigados a reparar os danos 
sofridos pelo trabalhador, cada qual a sua forma; 2) apenas o INSS terá 
responsabilidade pelo fato; 3) não haverá obrigação de qualquer deles. A primeira 
hipótese será factível quando houver culpa do empregador. A segunda, quando 
inexistir negligência patronal. A terceira, quando além de não haver culpa, também 
não for devida a prestação de benefício (p.ex.: ato fraudulento do empregado). 
 Referidas responsabilidades, portanto, são autônomas e estanques, não 
havendo influência ou compensação de quantias pagas. Assim, não é lícito ao 
empregador abater da indenização que deve ao empregado pelo infortúnio ocorrido o 
montante recebido por este último dos órgãos de Previdência. 
 Em outras palavras: a indenização por responsabilidade civil a cargo da pessoa 
jurídica ou empresa individual é cumulável com o recebimento de benefício(s) 
previdenciário(s) pagos ao obreiro. 
 Nesse sentido a jurisprudência é pacífica: 
 Superior Tribunal de Justiça 
 "Agravo regimental. Recurso especial não admitido. Indenização. 
Acidente do trabalho. 1. O Acórdão recorrido está devidamente fundamentado, 
no sentido de que a culpa no trágico acidente foi exclusivamente da ora 
recorrente, estando, também, caracterizados os danos, inclusive morais, sofridos 
pela vítima, sendo o valor da pensão fixado com base nos elementos de prova 
constantes dos autos. Não há como ultrapassar os fundamentos do Acórdão sem 
adentrar o exame de matéria probatória, o que não se admite em sede de 
recurso especial. Inevitável a aplicação da Súmula nº 07/STJ. 2. Cabível é a 
cumulação da indenização do direito comum com o benefício previdenciário, 
sendo o pagamento da indenização devido desde a data do evento danoso. 3. A 
indenização por dano moral não exige a ocorrência de dolo no evento danoso. 4. 
Dissídio jurisprudencial afastado, em face da incidência da Súmula nº 83/STJ. 5. 
Agravo regimental improvido." RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO 
MENEZES DIREITO FONTE: DJ DATA: 31/05/1999 PG: 00148 ACÓRDÃO: AGA 
213226/PR (199800868291) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE 
INSTRUMENTO DATA DA DECISÃO: 20/04/1999 ORGÃO JULGADOR: - TERCEIRA 
TURMA 
 
 
 Analisemos, pois, as diferenças entre as responsabilidades respectivas. 
 A pessoa jurídica ou empresa individual, como veremos melhor a seguir, 
somente estará obrigada a reparar o obreiro em relação ao dano derivado de acidente 
do trabalho se restar evidenciada sua negligência no cumprimento das disposições de 
proteção ao trabalho. O mesmo, entretanto, não ocorre com o a responsabilidade 
estatal a cargo do INSS, que estará obrigado à prestação do benefício cabível na 
espécie, ainda que o acidente não decorra de culpa de qualquer pessoa, ou mesmo que 
decorra de culpa exclusiva do trabalhador segurado. 
 Em outros termos: a responsabilidade do empregador é de natureza subjetiva 
(dependente de prova de culpa), enquanto a responsabilidade do INSS é de natureza 
objetiva (independente de prova de culpa). 
 Além disso, a responsabilidade do empregador abrange a indenização por 
aquilo que o trabalhador perdeu com o acidente (dano emergente), bem como por 
aquilo que deixou de ganhar (lucro cessante), além de outras verbas (danos morais, 
estéticos, etc), não havendo qualquer teto ou limite para seu valor, salvo o montante 
do dano sofrido. 
 Já o INSS não presta ao obreiro uma reparação de danos, mas sim um 
benefício acidentário (auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez, 
etc) que não visa à manutenção do padrão remuneratório percebido pelo trabalhador, 
mas sim a garantir-lhe um mínimo para que possa sobreviver dignamente, tendo seu 
valor limitado a patamares definidos na legislação. 
 A indenização devida pela empresa não pressupõe incapacidade do obreiro, 
mas sim a comprovação do dano, o que é conceitualmente distinto [01]. Já o pagamento 
de benefício previdenciário pressupõe a incapacitação do trabalhador. 
 Há ainda diferenças de menor monta, como a existência de ações distintas 
para que o trabalhador pleiteie seu direito em juízo (ação de indenização contra a 
empresa e ação acidentária contra o INSS). 
 O quadro sinótico a seguir facilitará o entendimento das distinções: 
 Espécie de responsabilidade pelo infortúnio do trabalho 
 Pressupostos 
 Verbas devidas 
 Limitação de valor 
 Incapacidade 
 Responsabilidade civil da pessoa jurídica ou empresa individual 
 Necessita de prova de culpa (responsabilidade subjetiva) 
 
 
 Inclui o que o empregado perdeu (dano emergente) e o que deixou de ganhar 
(lucro cessante), além de outras verbas 
 Não há limite para a indenização, ressalvado o valor do dano ocasionado 
 Não se exige prova de incapacidade, mas sim prova do dano 
 Responsabilidade do INSS 
 Não necessita de prova de culpa (responsabilidade objetiva) 
 Benefícios acidentários (auxílio-doença, auxílio acidente, aposentadoria por 
invalidez, pensão pormorte) 
 Há limite legal para a o valor do benefício 
 Exige-se prova da incapacidade 
 Vejamos um exemplo concreto para que possamos fixar a responsabilidade 
por determinado acidente: imaginemos um empregado que após sair de seu local de 
trabalho na direção de seu automóvel venha a se acidentar no trânsito, no trajeto do 
trabalho para sua casa, daí resultando lesão corporal incapacitante. 
 Trata-se de claro acidente de trabalho (acidente de trajeto ou in itinere). 
Responderá por ele o INSS? E o empregador? 
 Claramente, o órgão previdenciário (INSS) estará obrigado à prestação de 
benefícios ou serviç os, uma vez que sua responsabilidade independe da perquirição de 
culpa. Dessa forma, ainda que a culpa pelo acidente referido seja atribuível ao 
trabalhador (culpa exclusiva da vítima) haverá a obrigação mencionada. 
 No entanto, o empregador não contribuiu culposamente para o acontecimento 
mencionado, uma vez que não influiu mediante negligência, imprudência ou imperícia 
no resultado ocorrido. Diante disso, não será responsabilizada pelo evento. 
 Nesse sentido: 
 Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo 
 RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DO TRABALHO - 
INDENIZAÇÃO - DIREITO COMUM - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E 
OBJETIVA - DIFERENÇAS - PROVA QUANTO À CULPA - AUSÊNCIA - 
DESCABIMENTO 
 As ações de indenização por ato ilícito propostas em face das 
empregadoras não se confundem com aquelas propostas em face do INSS; 
nestas últimas, sendo o réu segurador obrigatório, basta a comprovação do 
mal e do nexo; nas primeiras, além do mal e do nexo, deve ficar sobejamente 
comprovada a culpa. 
 Ap. c/ Rev. 603.743-00/6 - 12ª Câm. - Rel. Juiz ROMEU RICUPERO - J. 
19.4.2001 (quanto a acidente-tipo) ANOTAÇÃO No mesmo sentido: - quanto a 
 
 
acidente-tipo: Ap. c/ Rev. 608.523-00/8 - 8ª Câm. - Rel. Juiz ORLANDO 
PISTORESI - J. 31.5.2001 - quanto a acidente: AI 715.900-00/6 - 5ª Câm. - 
Rel. Juiz LUIZ DE CARVALHO - J. 29.8.2001 - quanto a doença profissional: 
Ap. c/ Rev. 482.838-00/0 - JTA (LEX) 168/425 Ap. c/ Rev. 510.097-00/5 - 3ª 
Câm. - Rel. Juiz ACLIBES BURGARELLI - J. 17.3.98 Ap. c/ Rev. 517.824-00/0 - 
3ª Câm. - Rel. Juiz ACLIBES BURGARELLI - J. 2.6.98 Ap. c/ Rev. 588.454-00/0 
- 2ª Câm. - Rel. Juiz FELIPE FERREIRA - J. 9.10.2000 Ap. c/ Rev. 596.215-
00/9 - 3ª Câm. - Rel. Juiz FERRAZ FELISARDO - J. 5.2.2002 - quanto a 
acidente ´in itinere´: AI 693.042-00/0 - 5ª Câm. - Rel. Juiz LUÍS DE 
CARVALHO - J. 29.8.2001 
 Feitas as distinções iniciais, passemos as questões mais polêmicas a respeito 
do tema. 
 
12.2 A competência para exame da matéria 
 Com o advento na Emenda Constitucional 45/2004, reinou alguma 
controvérsia na jurisprudência do pretório Excelso quanto à definição da Justiça 
competente para o processo e julgamento das ações por responsabilidade civil 
derivadas de acidentes ou doenças ocupacionais, discutindo-se então se tocariam à 
Justiça do Trabalho ou à Justiça Comum. 
 Historicamente, a matéria sempre esteve submetida ao crivo da Justiça 
Comum. Seguindo essa linha, pouco antes da entrada em vigor da Emenda 
Constitucional 45/2004, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a questão, 
declarando a competência deste último ramo do Poder Judiciário, conforme decisão 
que transcrevemos a seguir. 
 Supremo Tribunal Federal 
 RE 349160 / BA - BAHIA 
 RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
 Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE 
 Órgão Julgador: Primeira Turma 
 Publicação: DJ DATA-19-03-2003 PP-00040 EMENT VOL-02102-04 PP-
00864 
 Ementa 
 EMENTA: I. Recurso extraordinário: prequestionamento: Súmula 356. 
O que, a teor da Súm. 356, se reputa carente de prequestionamento é o ponto 
que, indevidamente omitido pelo acórdão, não foi objeto de embargos de 
declaração; mas, opostos esses, se, não obstante, se recusa o Tribunal a 
suprir a omissão, por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da 
parte, permitindo-se-lhe, de logo, interpor recurso extraordinário sobre a 
matéria dos embargos de declaração e não sobre a recusa, no julgamento 
deles, de manifestação sobre ela. II. Competência: Justiça comum: ação de 
indenização fundada em acidente de trabalho, ainda quando movida contra o 
 
 
empregador. 1. É da jurisprudência do STF que, em geral, compete à Justiça 
do Trabalho conhecer de ação indenizatória por danos decorrentes da relação 
de emprego, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do direito 
comum e não do Direito do Trabalho. 2. Da regra geral são de excluir-se, 
porém, por força do art. 109, I, da Constituição, as ações fundadas em 
acidente de trabalho, sejam as movidas contra a autarquia seguradora, sejam 
as propostas contra o empregador. 
 Apesar da orientação do STF, vários acórdãos da Justiça do Trabalho haviam 
se posicionado em sentido diverso afirmando a competência do Judiciário Trabalhista 
para resolver a questão, mantendo intensa controvérsia. 
 A matéria, entretanto, veio a se pacificar no Supremo Tribunal Federal após 
certo período de indecisão, confirmando finalmente o Pretório Excelso que as causas 
referentes à responsabilização civil ainda não julgadas serão de competência da Justiça 
do Trabalho, enquanto aquelas que já possuírem sentença permanecerão na Justiça 
Comum. 
 Essa foi a decisão tomada no CC 7204/MG (*acórdão publicado no DJU de 
9.12.2005), cujo teor de um dos votos transcrevemos a seguir: 
 Supremo Tribunal Federal 
 EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM RAZÃO DA 
MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS 
DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO, PROPOSTA PELO EMPREGADO 
EM FACE DE SEU (EX-)EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO 
TRABALHO. ART. 114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR À 
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSOS EM CURSO NA JUSTIÇA COMUM 
DOS ESTADOS. IMPERATIVO DE POLÍTICA JUDICIÁRIA. 
 Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta de 
Outubro, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização 
por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, ainda 
que movidas pelo empregado contra seu (ex-)empregador, eram da 
competência da Justiça comum dos Estados-Membros. 
 2. Revisando a matéria, porém, o Plenário concluiu que a Lei 
Republicana de 1988 conferiu tal competência à Justiça do Trabalho. Seja 
porque o art. 114, já em sua redação originária, assim deixava transparecer, 
seja porque aquela primeira interpretação do mencionado inciso I do art. 109 
estava, em boa verdade, influenciada pela jurisprudência que se firmou na 
Corte sob a égide das Constituições anteriores. 
 3. Nada obstante, como imperativo de política judiciária — haja vista o 
significativo número de ações que já tramitaram e ainda tramitam nas 
instâncias ordinárias, bem como o relevante interesse social em causa —, o 
Plenário decidiu, por maioria, que o marco temporal da competência da Justiça 
trabalhista é o advento da EC 45/04. Emenda que explicitou a competência da 
Justiça Laboral na matéria em apreço. 
 4. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça 
comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito. É dizer: as 
ações que tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de 
 
 
mérito anterior à promulgação da EC 45/04, lá continuam até o trânsito em 
julgado e correspondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi 
apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se 
encontram,com total aproveitamento dos atos praticados até então. A medida 
se impõe, em razão das características que distinguem a Justiça comum 
estadual e a Justiça do Trabalho, cujos sistemas recursais, órgãos e instâncias 
não guardam exata correlação. 
 5. O Supremo Tribunal Federal, guardião-mor da Constituição 
Republicana, pode e deve, em prol da segurança jurídica, atribuir eficácia 
prospectiva às suas decisões, com a delimitação precisa dos respectivos 
efeitos, toda vez que proceder a revisões de jurisprudência definidora de 
competência ex ratione materiae. O escopo é preservar os jurisdicionados de 
alterações jurisprudenciais que ocorram sem mudança formal do Magno Texto. 
 6. Aplicação do precedente consubstanciado no julgamento do 
Inquérito 687, Sessão Plenária de 25.08.99, ocasião em que foi cancelada a 
Súmula 394 do STF, por incompatível com a Constituição de 1988, ressalvadas 
as decisões proferidas na vigência do verbete. 
 7. Conflito de competência que se resolve, no caso, com o retorno dos 
autos ao Tribunal Superior do Trabalho. 
 Relatório: Trata-se de conflito negativo de competência, suscitado pelo 
Tribunal Superior do Trabalho em face do recentemente extinto Tribunal de 
Alçada do Estado de Minas Gerais. 
 2. Por meio dele, conflito, discute-se a competência para processar e 
julgar ação indenizatória por danos morais e patrimoniais decorrentes de 
acidente do trabalho, quando tal ação é proposta por empregado contra o seu 
empregador. Donde a controvérsia: competente é a Justiça comum estadual, 
ou a Justiça especializada do trabalho? 
 3. Pois bem, o fato é que Vicente Giacomini Peron ajuizou, na Justiça 
do Trabalho e contra o então Banco do Estado de Minas Gerais/BEMGE, ação 
de indenização por motivo de doença profissional. O que levou a Junta de 
Conciliação e Julgamento de Ubá/MG a se dar por incompetente e determinar a 
remessa dos autos a uma das Varas Cíveis daquela mesma Comarca. Pelo que 
a Justiça estadual julgou o pedido parcialmente procedente, resultando daí a 
interposição de recurso de apelação pelo Banco demandado. 
 4. Acontece que, ao apreciar o apelatório, o Tribunal de Alçada de 
Minas Gerais declinou de sua competência e determinou a devolução dos autos 
à Junta de Conciliação e Julgamento de Ubá/MG. Esta última, agora sim, 
aceitou o processamento da ação e, também ela, julgou parcialmente 
procedente o pedido do autor. Fato que ensejou a interposição de recurso 
ordinário — apenas parcialmente provido pelo TRT/3ª Região — e, 
posteriormente, recurso de revista. 
 5. Foi quando, na análise desta última impugnação, a 5a Turma do 
egrégio Tribunal Superior do Trabalho reconheceu a incompetência da Justiça 
especial, de maneira a suscitar o presente conflito negativo de competência 
(tendo em vista a recusa anteriormente externada pelo Tribunal de Alçada de 
Minas Gerais). 
 
 
 6. Prossigo neste relato para consignar que o Ministério Público 
Federal opinou pela procedência da suscitação, em parecer assim ementado: 
 "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. QUINTA TURMA DO TST E 
TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR 
DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO. 
ART. 109, INCISO I, DA CF, E ART. 114, DA CF, COM A NOVA REDAÇÃO DADA 
PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004. REMANESCE A COMPETÊNCIA 
DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA JULGAR AÇÃO INDENIZATÓRIA FUNDADA EM 
ACIDENTE DE TRABALHO. PRECEDENTES. PARECER PELO CONHECIMENTO DO 
CONFLITO, PARA QUE SE DECLARE COMPETENTE A JUSTIÇA COMUM 
ESTADUAL". 
 7. É o relatório, que submeto ao egrégio Plenário desta Casa (RI/STF, 
art. 6º, inciso I, "d"). 
 Voto: Conforme visto, a questão que se põe neste conflito consiste em 
saber a quem compete processar e julgar as ações de reparação de danos 
morais e patrimoniais advindos do acidente do trabalho. Ações propostas pelo 
empregado em face de seu empregador, de sorte a provocar o seguinte 
questionamento: a competência é da Justiça comum estadual, segundo 
concluiu o órgão suscitante (TST), ou é da Justiça Obreira, como entendeu o 
suscitado (antigo Tribunal de Alçada de Minas Gerais)? 
 9. Começo por responder que a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal proclama a competência da Justiça trabalhista para o conhecimento 
das ações indenizatórias por danos morais decorrentes da relação de emprego. 
Pouco importando se a controvérsia comporta resolução à luz do Direito 
Comum, e não do Direito do Trabalho. Todavia, desse entendimento o STF 
vem excluindo as ações reparadoras de danos morais, fundadas em acidente 
do trabalho (ainda que movidas pelo empregado contra seu empregador), para 
incluí-las na competência da Justiça comum dos Estados. Isso por conta do 
inciso I do art. 109 da Constituição Republicana. Foi o que o Tribunal Pleno 
decidiu, por maioria de votos, quando do julgamento do RE 438.639, sessão 
do dia 09/03/2005, na qual fiquei vencido, como Relator, na companhia do 
eminente Ministro Marco Aurélio. 
 10. Nada obstante, valendo-me do art. 6º do Regimento Interno da 
Casa, trago o presente conflito ao conhecimento deste colendo Plenário para 
rediscutir a matéria. É que, a meu sentir, a norma que se colhe do inciso I do 
art. 109 da Lei das Leis não autoriza concluir que a Justiça comum estadual 
detém competência para apreciar as ações que o empregado propõe contra o 
seu empregador, pleiteando reparação por danos morais ou patrimoniais 
decorrentes de acidente do trabalho. É dizer: quanto mais reflito sobre a 
questão, mais me convenço de que a primeira parte do dispositivo 
constitucional determina mesmo que compete aos juízes federais processar e 
julgar "as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública 
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou 
oponentes...". Mas esta é apenas a regra geral, plasmada segundo o critério 
de distribuição de competência em razão da pessoa. Impõe-se atentar para a 
segunda parte do inciso, assim vocalizada: "...exceto as de falência, as de 
acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho". E 
esta segunda parte, como exceção que é, deve ser compreendida no contexto 
significante daquela primeira, consubstanciadora de regra geral. Em discurso 
quiçá mais elucidativo: à luz da segunda parte do inciso I do art. 109 da 
Constituição Federal, tem-se que as causas de acidente do trabalho em que a 
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas, na 
 
 
condição de autora, ré, assistente ou oponente, não são da competência dos 
juízes federais. 
 11. Remarque-se, então, que as causas de acidente do trabalho, 
excepcionalmente excluídas da competência dos juízes federais, só podem ser 
as chamadas ações acidentárias. Ações, como sabido, movidas pelo segurado 
contra o INSS, a fim de discutir questão atinente a benefício previdenciário. 
Logo, feitos em que se faz presente interesse de uma autarquia federal, é 
certo, mas que, por exceção, se deslocam para a competência da Justiça 
comum dos Estados. Por que não repetir? Tais ações, expressamente excluídas 
da competência dos juízes federais, passam a caber à Justiça comum dos 
Estados, segundo o critério residual de distribuição de competência. Tudo 
conforme serena jurisprudência desta nossa Corte de Justiça, cristalizada no 
enunciado da Súmula 501. 
 12. Outra, porém, é a hipótese das ações reparadoras de danos 
oriundos de acidente do trabalho, quando ajuizadas pelo empregado contra o 
seu empregador. Não contra o INSS. É que, agora, não há interesse da União, 
nem de entidade autárquica ou de empresa pública federal, a menos, claro, 
que uma delas esteja na condição de empregadora. O interesse, reitere-se,apenas diz respeito ao empregado e seu empregador. Sendo desses dois 
únicos protagonistas a legitimidade processual para figurar nos pólos ativo e 
passivo da ação, respectivamente. Razão bastante para se perceber que a 
regra geral veiculada pela primeira parte do inciso I do art. 109 da Lei Maior — 
definidora de competência em razão da pessoa que integre a lide — não tem 
como ser erigida a norma de incidência, visto que ela não trata de relação 
jurídica entre empregados e empregadores. Já a parte final do inciso I do art. 
109 da Magna Carta, segundo demonstrado, cuida é de outra coisa: 
excepcionar as hipóteses em que a competência seria da própria Justiça 
Federal. 
 13. Deveras, se a vontade objetiva do Magno Texto fosse excluir da 
competência da Justiça do Trabalho matéria ontologicamente afeita a ela, 
Justiça Obreira, certamente que o faria no próprio âmbito do art. 114. Jamais 
no contexto do art. 109, versante, este último, sobre competência de uma 
outra categoria de juízes. 
 14. Noutro modo de dizer as coisas, não se encaixando em nenhuma 
das duas partes do inciso I do art. 109 as ações reparadoras de danos 
resultantes de acidente do trabalho, em que locus da Constituição elas 
encontrariam sua específica norma de regência? Justamente no art. 114, que 
proclama a competência da Justiça especial aqui tantas vezes encarecida. 
Competência que de pronto se define pelo exclusivo fato de o litígio eclodir 
entre trabalhadores e empregadores, como figura logo no início do texto 
normativo em foco. E já me antecipando, ajuízo que a nova redação que a EC 
nº 45/04 conferiu a esse dispositivo, para abrir significativamente o leque das 
competências da Justiça Laboral em razão da matéria, só veio robustecer o 
entendimento aqui esposado. 
 15. Com efeito, estabelecia o caput do art. 114, em sua redação 
anterior, que era da Justiça do Trabalho a competência para conciliar e julgar 
os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, além 
de outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho. Ora, um acidente 
de trabalho é fato ínsito à interação trabalhador/empregador. A causa e seu 
efeito. Porque sem o vínculo trabalhista o infortúnio não se configuraria; ou 
seja, o acidente só é acidente de trabalho se ocorre no próprio âmago da 
relação laboral. A possibilitar a deflagração de efeitos morais e patrimoniais 
 
 
imputáveis à responsabilidade do empregador, em regra, ora por conduta 
comissiva, ora por comportamento omissivo. 
 16. Como de fácil percepção, para se aferir os próprios elementos do 
ilícito, sobretudo a culpa e o nexo causal, é imprescindível que se esteja mais 
próximo do dia-a-dia da complexa realidade laboral. Aspecto em que avulta a 
especialização mesma de que se revestem os órgãos judicantes de índole 
trabalhista. É como dizer: órgãos que se debruçam cotidianamente sobre os 
fatos atinentes à relação de emprego (muitas vezes quanto à própria 
existência dela) e que por isso mesmo detêm melhores condições para 
apreciar toda a trama dos delicados aspectos objetivos e subjetivos que 
permeiam a relação de emprego. Daí o conteúdo semântico da Súmula 736, 
deste Excelso Pretório, assim didaticamente legendada: "Compete à Justiça do 
Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento 
de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos 
trabalhadores". 
 17. Em resumo, a relação de trabalho é a invariável matriz das 
controvérsias que se instauram entre trabalhadores e empregadores. Já a 
matéria genuinamente acidentária, voltada para o benefício previdenciário 
correspondente, é de ser discutida com o INSS, perante a Justiça comum dos 
Estados, por aplicação da norma residual que se extrai do inciso I do art. 109 
da Carta de Outubro. 
 18. Nesse rumo de idéias, renove-se a proposição de que a nova 
redação do art. 114 da Lex Maxima só veio aclarar, expletivamente, a 
interpretação aqui perfilhada. Pois a Justiça do Trabalho, que já era 
competente para conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre 
trabalhadores e empregadores, além de outras controvérsias decorrentes da 
relação trabalhista, agora é confirmativamente competente para processar e 
julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da 
relação de trabalho (inciso VI do art. 114). 
 19. Acresce que a norma fundamental do inciso IV do art. 1o da 
Constituição Republicana ganha especificação trabalhista em vários 
dispositivos do art. 7o, como o que prevê a redução dos riscos inerentes ao 
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII), e o 
que impõe a obrigação do seguro contra acidente do trabalho, sem prejuízo, 
note-se, da indenização por motivo de conduta dolosa ou culposa do 
empregador (inciso XXVIII). Vale dizer, o direito à indenização em caso de 
acidente de trabalho, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa, vem 
enumerado no art. 7o da Lei Maior como autêntico direito trabalhista. E como 
todo direito trabalhista, é de ser tutelado pela Justiça especial, até porque 
desfrutável às custas do empregador (nos expressos dizeres da Constituição). 
 20. Tudo comprova, portanto, que a longa enunciação dos direitos 
trabalhistas veiculados pelo art. 7o da Constituição parte de um pressuposto 
lógico: a hipossuficiência do trabalhador perante seu empregador. A exigir, 
assim, interpretação extensiva ou ampliativa, de sorte a autorizar o juízo de 
que, ante duas defensáveis exegeses do texto constitucional (art. 114, como 
penso, ou art. 109, I, como tem entendido esta Casa), deve-se optar pela que 
prestigia a competência especializada da Justiça do Trabalho. 
 21. Por todo o exposto, e forte no art. 114 da Lei Maior (redações 
anterior e posterior à EC 45/04), concluo que não se pode excluir da 
competência da Justiça Laboral as ações de reparação de danos morais e 
patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho, propostas pelo empregado 
 
 
contra o empregador. Menos ainda para incluí-las na competência da Justiça 
comum estadual, com base no art. 109, inciso I, da Carta de Outubro. 
 22. No caso, pois, julgo improcedente este conflito de competência e 
determino o retorno dos autos ao egrégio Tribunal Superior do Trabalho, para 
que proceda ao julgamento do recurso de revista manejado pelo empregador. 
 É o meu voto. 
 Essa linha, aliás, já vinha sendo adotada pelo STF quando da 
elaboração da Súmula 736, publicada no DJ de 09/12/2003, com o seguinte 
texto: "Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa 
de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, 
higiene e saúde dos trabalhadores", que dizia respeito particularmente ao 
ajuizamento de ações civis públicas para obrigar os empregadores ao 
cumprimento de normas de segurança e saúde ocupacional. 
 O Superior Tribunal de Justiça acabou também por acolher o 
entendimento supracitado, afirmando competir à Justiça do Trabalho processar 
e julgar ações de indenização por dano moral decorrentes de acidente de 
trabalho, desde que ainda não prolatada sentença na Justiça comum (art. 114 
da CF/1988 com nova redação a partir da EC n. 45/2004) no julgamento do 
AgRg no CC 53.744-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/11/2005. 
 Diante disso, podemos dizer que a competência para julgamento das ações de 
responsabilidade civil movidas pelo empregado em face do empregador tendo como 
causa de pedir a ocorrência de acidente ou doença do trabalho está praticamente 
pacificada. Restará à Justiça do Trabalho formar novos entendimentos sobre a matéria 
(ou acompanhar aqueles anteriormente fixados pela Justiça Estadual). 
12.3 Responsabilidade civil. É ainda necessáriaa existência de culpa do 
empregador? 
 A responsabilidade civil se consubstancia na obrigação de reparar o dano, por 
todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, imprudência, negligência ou 
imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem. 
 Doutrinariamente, até sob o ponto de vista histórico e ressalvadas algumas 
exceções pontuais, sempre se reconheceu no ordenamento jurídico pátrio que seria 
necessária à responsabilização civil em geral a presença dos seguintes pressupostos: 
 1.Ação ou omissão do empregador ou responsável técnico; 
 2.Existência de dolo (intenção) ou culpa (não observância de um 
dever de cuidado imposto em norma) na ação ou omissão supracitadas; 
 3.Resultado lesivo ao empregado (dano); 
 4.Nexo de causalidade entre a ação ou omissão do empregador 
ou responsável técnico e o resultado lesivo ocorrido; 
 Porém, o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002) inovou a 
matéria, suscitando dúvidas sobre a necessidade da culpa para a indenização em 
 
 
matéria de infortúnio do trabalho, havendo alguns intérpretes favoráveis à adoção da 
responsabilidade objetiva (sem culpa) para tais casos. 
 A polêmica foi inaugurada com a redação de referido diploma legal, que em 
seu art. 927 e parágrafo único, dispõe: 
 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar 
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
 Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando 
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por 
sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 Nos termo s do dispositivo supracitado, considerando que a atividade 
empresarial causa riscos ao empregado, argumentam alguns que a responsabilidade 
no caso seria objetiva (independente de culpa), ou mesmo que haveria uma presunção 
de culpa do empregador no infortúnio, consubstanciando uma inversão do ônus 
probatório. 
 É o caso do ilustre doutrinador Sebastião Geraldo de Oliveira, em recente 
obra, na qual, visualizando as futuras tendências da questão ora abordada e citando a 
doutrina anterior, argumenta: "[...] Conforme se depreende do exposto, entendemos 
perfeitamente aplicável a teoria do risco na reparação civil por acidente do trabalho 
[...] Se um autônomo ou um empreiteiro sofrer acidente, o tomador dos serviços 
responde pela indenização, independente da culpa, com apoio na teoria do risco; no 
entanto, o trabalhador permanente, com os devidos registros formalizados, não tem 
assegurada essa reparação! Se um bem ou equipamento de terceiros for danificado 
pela atividade empresarial, haverá indenização, considerando os pressupostos da 
responsabilidade objetiva, mas o trabalhador, exatamente aquele que executa a 
atividade, ficará excluído[...]". 
 Muito embora enalteçamos o ilustre doutrinador, ousamos divergir de referido 
posicionamento. 
 Primordialmente, há aqui uma questão relativa à hierarquia das normas, uma 
vez que o art. 7o, XXVIII, da Constituição, preceitua serem direitos dos trabalhadores 
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: 
 XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do 
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, 
quando incorrer em dolo ou culpa; (grifos nossos). 
 Assim, entendemos que se a Constituição da República exige a existência de 
culpa para a responsabilização, não poderá a legislação ordinária dispensá-la, pena de 
se tornar inconstitucional. 
 Ao depois, não concordamos que a teoria do risco venha a se aplicar a 
autônomos ou a empreiteiros, pois será também exigível em tais casos, por 
similaridade de circunstâncias, a existência de culpa para fundamentar a 
responsabilização. 
 
 
 Por fim, entendemos que a mera ocorrência de risco na atividade não é 
suficiente e nem constitui o princípio basilar por trás da responsabilização objetiva. 
 Como ressalta Fábio Ulhoa Coelho, o fundamento primeiro da existência da 
responsabilização sem culpa (responsabilidade objetiva) não é meramente a existência 
de risco ou a vontade de praticar determinada atividade à qual o risco seja inerente, 
mas sim a possibilidade de que o custo de determinada atividade venha a ser 
repassado à sociedade como um todo. 
 Segundo este último, "A doutrina costuma apontar o risco, 
inerente ao exercício de determina atividade, como o fundamento da 
responsabilidade objetiva (Savatier, 1945; Lima, 1960; Dias, 1979: 
passim). O fabricante de fármacos assume forçosamente um risco, 
inerente à exploração de qualquer atividade econômica, que é o de 
produzir e comercializar algumas unidades com defeitos. Pois bem, seria 
tal risco o fundamento valorativo para as normas jurídicas 
estabelecedoras da responsabilidade objetiva: da opção de o assumir 
decorreria, segundo tal formulação, a justeza da imputação do dever de 
indenizar. No final, não se livram os partidários dessa doutrina de algum 
apego à noção clássica da vontade do devedor como fonte da obrigação. 
De fato, ao se tomar o risco de determinada atividade por fundamento 
da responsabilidade objetiva, considera-se o demandado responsável 
pelo dano, em última análise, em razão de ter ele querido dedicar-se à 
atividade [...] Não é esse, contudo, o melhor enfoque a ser emprestado 
à matéria. Na verdade, o fundamento axiológico e racional para a 
responsabilidade objetiva não são propriamente os riscos da atividade, 
mas a possibilidade de se absorverem as repercussões econômicas 
ligadas ao evento danoso, por meio da distribuição do correspondente 
custo entre as pessoas expostas ao mesmo dano ou, de algum modo, 
beneficiárias do evento. É o mecanismo da socialização da das 
repercussões econômicas do dano, que torna justa a imputação da 
responsabilidade aos agentes em condições de o acionar. Note-se que o 
Estado pode responder objetivamente pelos danos causados por seus 
funcionários, porque tem meios para distribuir entre os contribuintes – 
mediante criação e cobrança de tributos – os encargos derivados de sua 
responsabilização. Por outro lado, o fornecedor pode ter 
responsabilidade objetiva por acidentes de consumo, na medida em que 
consegue incluir na composição de seus preços um elemento de custo 
correspondente às indenizações por aqueles acidentes[...]" 
 Verifica-se, porém, que, para o Direito do Trabalho o conceito de empregador 
abrange não só aquele que exerce a atividade empresarial, mas também aqueles que 
se equiparam a empregador (art. 2º, §1º, da CLT), sendo enquadrados nesta última 
categoria os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações 
recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores 
como empregados. 
 A situação econômica e financeira dessas últimas categorias é muito diferente 
daquela inerente aos empregadores praticantes de atividade empresarial em sentido 
estrito. 
 
 
 Poderá, por exemplo, o profissional liberal, acionado por seu empregado em 
virtude de uma doença do trabalho adquirida no ambiente laboral e sendo obrigado a 
repará-lo (embora não tenha a ele dado causa culposamente), repassar tais custos à 
coletividade? 
 Sabe-se bem que dificilmente se conseguirá essa proeza. Se até mesmo as 
grandes empresas nos dias de hoje têm enormes dificuldades em repassar seus custos 
aos preços diante de condições maiores ou menores de elasticidade de demanda, mais 
ainda terão as instituições sem fins lucrativos, as associações e os profissionais 
liberais. 
 Ademais, dizer que a responsabilidade da pessoajurídica ou empresa 
individual é objetiva, independendo da prova de culpa, além de afrontar diretamente o 
texto constitucional, torna a empresa obrigada a reparar eventos infortunísticos em 
que facilmente se constata a injustiça da responsabilização. Basta para tanto 
verificarmos três tipos de infortúnios do trabalho que ocorrem com razoável freqüência 
na prática, sem qualquer concurso culposo do empregador: 
 - Acidente de trajeto ou in itinere: como vimos anteriormente, o acidente 
ocorrido com o empregado quando no trajeto casa-trabalho, trabalho-casa é 
conceituado como acidente do trabalho pela Lei 8.213/91, fato este que ocorre em 
regra sem qualquer intervenção do empregador. Não obstante, caso aplicada a teoria 
da responsabilidade civil objetiva, a empresa estará obrigada a indenizar o empregado 
ou a família deste por fato ocorrido sem sua intervenção culposa (mas sim por culpa 
de terceiro ou do próprio empregado, p.ex.: abuso de velocidade, embriaguez, etc). 
Será justo responsabilizar o empregador por tal fato, fazendo-o desembolsar quantias 
que podem superar vultosa quantia? 
 - Hipersuscetibilidade individual do empregado: há casos práticos de 
empregados que são hipersuscetíveis a determinados agentes existentes no ambiente 
de trabalho, ou mesmo a materiais que não representam risco algum. Verifique-se, por 
exemplo, o caso de empregado que adquire dermatose ocupacional de natureza 
alérgica pelo uso de equipamentos de proteção individual (luvas, máscara ou bota), ou 
mesmo daquele empregado que por sua excepcional suscetibilidade vem a contrair 
perda auditiva, mesmo em ambiente de trabalho cujos níveis de ruído foram mantidos 
abaixo do nível de ação (metade da dose - norma NR-9). Seria justo que o 
empregador respondesse pela hipersuscetibilidade do empregado? Cremos que não 
- Culpa exclusiva do empregado no acidente: Suponhamos o caso do 
empregado que, mesmo treinado e advertido pelo empregador, vem a retirar as 
proteções de uma determinada máquina para dar-lhe maior produtividade, vindo 
posteriormente a se acidentar em referido equipamento. E nem se argumente que a 
culpa exclusiva exclui o nexo causal, como querem alguns doutrinadores, pois que em 
tal caso é indiscutível a presença de tal vínculo com o trabalho, tanto assim que é 
indubitável a obrigação de reparar o infortúnio a cargo do INSS (cuja responsabilização 
é de natureza objetiva) pelo pagamento de benefício acidentário em caso de culpa 
exclusiva da vítima. Seria justo responsabilizar o empregador pelo fato? Mais uma vez 
entendemos pela negativa 
 Daí porque concordamos com RUI STOCO no que preceitua: "Há intérpretes 
que visualizaram, a partir da vigência do Código Civil de 2002, a possibilidade de os 
acidentes do trabalho serem enquadrados como intercorrências que ensejam 
 
 
responsabilidade objetiva ou independente de culpa do empregador, com supedâneo 
no referido art. 927, parágrafo único, quando o empregador exerça atividade perigosa 
ou que exponha a riscos, como, por exemplo, Henrique Gomes Batista (Código Civil 
altera indenizações. Valor Econômico – Caderno de Legislação, 19.02.2002). Não 
vemos essa possibilidade, pois a responsabilidade civil, nas hipót eses de acidente do 
trabalho com suporte na culpa (lato sensu) do patrão está expressamente prevista na 
Constituição Federal". 
 Argumentam ainda alguns que a responsabilidade pelo dano ambiental é 
objetiva (art. 14, §1º, da Lei 6.938/81) e que assim também deveria ser o regime de 
responsabilização pelos acidentes e doenças do trabalho. 
 Também não chegam a convencer os argumentos citados. Com efeito, quando 
a legislação impõe a responsabilidade objetiva do poluidor ambiental está visando 
prioritariamente àquele que exerce atividade industrial em larga escala e cuja 
atividade prejudica a coletividade como um todo (p.ex.: atividades extrativas, 
mineração, etc). Tem ele, em regra, a estruturação empresarial e poderá repassar 
seus riscos ao consumidor por intermédio de seus preços. 
 Não ocorre a mesma situação com os acidentes e doenças do trabalho, que, 
além de não ocorrerem somente em atividades de maior porte, são individualizados 
por trabalhador ou pequenos grupos de trabalhadores, não afetando a coletividade 
como um todo, salvo se considerarmos os efeitos indiretos de tais eventos. 
 Assim sendo, para que haja responsabilidade civil do empregador é preciso 
que este, por si ou por intermédio de seus representantes, atue ou se omita dolosa 
(intencionalmente) ou culposamente (sem intenção, mas deixando de observar, por 
negligência, imprudência ou imperícia, um dever de cuidado imposto em norma). 
 Caso inexistam tais pressupostos (dolo ou culpa), nem por isso o infortúnio 
restará não de alguma forma reparado, pois que ficará a cargo dos órgãos estatais 
previdenciários a prestação de benefícios ao obreiro. No entanto, não haverá 
indenização a ser paga por parte do empregador. 
 Cabe salientar, por fim, que a jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho 
de São Paulo, após o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, parece se manter 
firme na linha ora defendida, qual seja, a necessidade, mesmo após a superveniência 
do Código Civil, da existência de culpa do empregador, para a existência da 
responsabilidade civil por acidente ou doença do trabalho. 
 Nesse sentido: 
 Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região 
 DOENÇA PROFISSIONAL - Indenização por danos materiais e morais - 
Requisitos: prática de ato ilícito (por ação ou omissão, decorrente de dolo ou 
culpa), verificação de prejuízo e nexo causal entre ação e dano - Trata-se de 
responsabilidade subjetiva do empregador, dependente de aferição de culpa ou 
dolo - A responsabilidade objetiva restringe-se ao órgão previdenciário, cuja 
obrigação nasce da mera constatação do infortúnio. TRT/SP - 
01187200204802008 - RO - Ac. 7ªT 20050595177 - Rel. CATIA LUNGOV - 
DOE 09/09/2005 
 
 
 Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região 
 ACÓRDÃO Nº: 20060136957 Nº de Pauta:025 
 PROCESSO TRT/SP Nº: 01321200307802003 
 RECURSO ORDINÁRIO - 78 VT de São Paulo 
 RECORRENTE: CARLOS ROBERTO OLIVEIRA 
 RECORRIDO: INSTITUTO CRIANÇA CIDADÃ 
 EMENTA 
 A indenização por acidente do trabalho só é devida na hipótese de 
culpa do empregador, nos termos do art. 186 e 927 do Código Civil. 
 Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região 
 Danos materiais e morais. Redução da capacidade auditiva. Culpa da 
empresa não evidenciada. Nexo causal não estabelecido. Pedido improcedente. 
Prova documental e testemunhal que revela ter a empresa observado, com 
rigor, as normas de medicina e segurança do trabalho, especialmente quanto 
ao fornecimento e fiscalização do uso do protetor auricular. Hipótese em que o 
próprio autor foi integrante da CIPA, durante dois anos. Prova (confissão) a 
indicar que o autor exerceu, antes, atividade que o expunha a níveis 
excessivos de ruído, sem proteção. Exames médicos que já indicavam trauma 
acústico no período inicial do contrato de trabalho. Circunstâncias que, 
somadas, afastam a idéia de culpa do empregador e o próprio nexo etiológico. 
Pedido improcedente. Sentença mantida. TRT/SP - 00860200608902001 - RO 
- Ac. 11ªT 20060286380 - Rel. EDUARDO DE AZEVEDO SILVA - DOE 
19/05/2006. 
 Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região 
 ACÓRDÃO NUM: 20050887968 DECISÃO: 06 12 2005TIPO: RO01 
NUM: 00714 ANO: 2004 NÚMERO ÚNICO PROC: RO01 - 00714-2003-302-02-
00RECURSO ORDINÁRIOTURMA: 10ª ÓRGÃO JULGADOR - DÉCIMA TURMA 
FONTEDOE SP, PJ, TRT 2ª Data: 17/01/2006 PG: 
 RELATOR: EDIVALDO DE JESUS TEIXEIRA 
 REVISOR(A):RILMA APARECIDA HEMETÉRIO 
 EMENTA 
 DANO MATERIAL E MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DO 
TRABALHO. NECESSIDADE DE PROVA DA CULPA DO EMPREGADOR. A culpa, 
nessa hipótese, não se presume. Necessária a existência de prova apta a 
demonstrar que o empregador, por omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, tenha dado causa à eclosão do acidente de trabalho (artigos 7º, 
XXVIII, CF, 159, CC/1916, 186 e 927 CC/2002). Veja-se que a norma regente 
relaciona a responsabilidade do agente à prática de ato ilícito, ou seja, 
contrário à ordem jurídica vigente. Como destaca Caio Mario "a iliceidade da 
 
 
conduta está no procedimento contrário a um dever preexistente". O ato ilícito, 
segundo a doutrina, pode ser comissivo ou omissivo. O primeiro, se 
materializa quando o agente orienta sua ação num sentido contraveniente à 
lei; o segundo eclode quando o agente se abstém de atuar e, com sua inércia, 
viola um direito predeterminado. Inexistente prova de que a empresa tenha 
agido em desconformidade com o ordenamento jurídico, evidente a 
inexistência do dever de indenizar. 
Diferem as responsabilidades do empregador e do órgão previdenciário estatal (INSS) 
na ocorrência de infortúnios laborais. Ao primeiro, caberá a indenização do obreiro em 
caso de procedimento negligente patronal. Ao segundo, incumbirá, independentemente 
da prova de culpa, a prestação do benefício cabível na espécie; 
Pacificou-se na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a competência da Justiça 
do Trabalho para o processo e julgamento das ações envolvendo responsabilidade civil 
de empregador decorrente de acidente do trabalho ou doença ocupacional; 
Com o advento do novo Código Civil (Lei 10.406/2002) alguns doutrinadores entendem 
que a responsabilidade do empregador por acidentes ou doenças do trabalho passou a 
ser objetiva (sem a exigência de prova de culpa), posição com a qual não concordamos 
pelos seguintes motivos: 1) diante da redação do art. 7º, XXVIII, da Constituição 
Federal, subsiste a necessidade de culpa; 2) em face da impossibilidade de distribuição 
das perdas à coletividade de todos os empregadores sujeitos a tal regime; 3) referida 
disciplina poderá levar a sérias injustiças nos casos concretos. 
 
 
13. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO SETOR RURAL 
Se, no geral, o Brasil registra marcas preocupantes com relação aos acidentes 
do trabalho, no setor ru ral a situação é muito pior. Enquanto na área rural um índice 
de 1,29% dos acidentes terminam com morte, no campo esse percentual aumenta 
para 2,57%, além do que é na área agrícola que o número de acidentes não-
registrados é muitíssimo maior do que nos centros urbanos, porque, naturalmente, lá o 
índice de trabalhadores sem registro em carteira é consideravelmente maior, a ponto 
de a OIT - Organização Internacional do Trabalho - afirmar que os trabalhadores 
agrícolas correm, pelo menos, o dobro de riscos de morrer no local de trabalho do que 
os empregados dos demais setores ("O Globo", pág. 25, de 17.2.98). Afirma, ainda, 
aquela organização, que a situação é mais grave nos países em desenvolvimento, 
devido aos baixos índices educacionais. 
Lamentavelmente, no meio rural brasileiro, em especial, temos os ma iores 
índices de analfabetismo, falta de instrução e alto índice de miséria, que contribuem 
para a manutenção das precárias condições de trabalho desses irmãos brasileiros que 
produzem o feijão e o arroz da mesa de milhões de brasileiros. As principais causas de 
acidentes no campo são a falta de treinamento para lidar com maquinário, com 
agrotóxicos e, ainda, inexistência, em muitos casos, de equipamentos adequados de 
proteção individual e coletiva. Segundo Eduardo Garcia, engenheiro agrônomo e 
pesquisador da FUNDACENTRO, os maiores problemas com intoxicação ocorrem nas 
culturas de melancia, soja, batata, algodão e tomate (entrevista no jornal "O Globo”, 
de17.02.98). 
 
 "Dados de pesquisa entre produtores e trabalhadores rurais mostram o alto 
risco do uso de agrotóxicos na agricultura paulista, que pode estar trazendo sérios 
prejuízos à saúde pública e ao meio ambiente. O levantamento é o primeiro resultado 
de um convênio assinado no ano passado, entre a FUNDACENTRO e a Secretaria da 
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para implementação do Programa 
de Segurança e Saúde do Trabalhador Rural" (Revista da FUNDACENTRO, ano II, nº 7, 
pág.23). 
Conforme essa pesquisa, o Brasil consome 1/5 de todo o agrotóxico utilizado 
pelo terceiro mundo, dado esse alarmante, levando-se em conta que, entre 1995 e 
1996, houve um aumento de 16,7%, o que ensejou o seguinte comentário do já 
mencionado engenheiro agrônomo da FUNDACENTRO : "A falta de orientação e controle 
sobre o uso de agrotóxico, além da carência de informações sobre outras técnicas de 
manejo fitossanitário, que reduzam a necessidade do produto, têm impacto direto na 
saúde e segurança dos trabalhadores rurais, no meio ambiente e na qualidade dos 
alime ntos que são levados à mesa do consumidor". 
O pior é que o uso de agrotóxicos vem aumentando no campo, sem controle. 
Além dos adultos, vem sofrendo suas conseqüências também os menores que 
manuseiam com a mais absoluta normalidade qualquer tipo de defensivo agrícola, 
conforme temos constatado em Inquéritos Civis Públicos que apuram irregularidades 
do trabalho do menor e do meio ambiente do trabalho - irregularidades essas 
mostradas vez por outra pelas redes de televisão do país. 
As conseqüências do uso dos agrotóxicos pelos trabalhadores rurais podem 
acompanhá-los pelo resto de suas vidas. Como prova disso, lembramos que o país 
inteiro foi tomado por comoção nacional, quando da morte de Leandro, integrante de 
 
 
uma das mais conceituadas duplas sertanejas. Acometido por um tumor cancerígeno, 
de espécie rara, veio a óbito, cujas causas estão sendo hoje discutidas na classe 
médica, com, inclusive, suspeitas de que o mal tenha sido gerado quando ele 
trabalhava na lavoura do tomate, em meio a intensivo uso de agrotóxicos, segundo 
veiculado no dia 1º.7.98, pela jornalista Marília Gabriela, no Programa SBT-Repórter. 
Mas, se a falta de cultura e instrução do trabalhador rural contribuem para o 
aumento dos acidentes de trabalho, por outro lado, patrões inconseqüentes têm 
colocado em risco a saúde e segurança de milhares de bóias-frias catadores de laranja, 
"pulverizando-os", antes de entrarem nas fazendas, com um agrotóxico chamado 
QUATERMON, cuja autorização pelo Ministério da Saúde destina-se apenas à 
pulverização da lavoura, veículos e equipamentos agrícolas e, jamais, do ser humano. 
Esse tipo de atitude descabida e desumana tem rendido ensejo à instauração de 
Inquéritos Civis Públicos pelo Ministério Público do Trabalho, com embasamento na 
atuação fiscalizatória do Ministério do Trabalho e até o ajuizamento de Ações Civis 
Públicas para coibi-las, como ocorreu no processo nº 1925/97, da 2ª JCJ de 
Araraquara, quando, liminarmente, foi determinada, mediante cominação de multa, a 
suspensão dos "banhos" de defensivos agrícolas que vinham tomando os trabalhadores 
pela manhã, antes de adentrarem os pomares de laranja, como se instrumentos 
fossem. 
Merecem também registro os acidentes, não raros, sofridos por trabalhadores 
rurais no transporte para o trabalho, muitas vezes em razão das péssimas condições 
de uso dos velhos e inadequados veículos utilizados quase sempre pelos "gatos" que 
estão a serviço dos donos do capital e que também correm risco de vida, como 
recentemente noticiou a imprensa ("O Estado de São Paulo", cad. 6-6, de 23.6.98) a 
morte de mais 12 bóias-frias, em Olímpia, região de São José do Rio Preto, em São 
Paulo. Também em 6.11.97, no município de Macatuba-SP, outros 19 trabalhadores 
rurais foram vitimados por um acidente rodoviário, quando se dirigiam para o trabalho, 
cuja apuração, peloMinistério Público do Trabalho (Procedimento Investigatório nº 
999/97-5), constatou que os mesmos sequer tinham registro em carteira, o que levou 
à responsabilização dos tomadores dos serviços pelas indenizações devidas - o que é 
pouco, pois é urgente que se aplique o Código Penal a quem coloca em risco a vida de 
trabalhadores. 
 
 Nos últimos tempos, tem sido decisivo, para o aumento dos acidentes de 
trabalho e degradação das condições de trabalho e vida dos trabalhadores rura is, o 
implemento de cooperativas de trabalho fraudulentas, que, a pretexto de criar 
empregos, na verdade vêm substituindo antigos postos de trabalho regidos pela CLT, 
por trabalho precarizado, sem qualquer garantia e segurança para o cidadão que 
trabalha no campo. Neste caso, dificulta-se a fiscalização do meio ambiente do 
trabalho porque, segundo a expressão usual, os "cooperados" são trabalhadores 
autônomos - ou anônimos como os próprios assim se denominam - e desta forma os 
tomadores e beneficiários da mão-de-obra se dizem isentos de qualquer 
responsabilidade pelo cumprimento das normas de segurança e higiene no trabalho. E, 
no final, a sociedade inteira paga a conta! Aliás, não é só no setor rural que vem 
ocorrendo essa situação de risco, pois com a onda de desregulamentação atual do 
Direito Laboral, como pregam os neoliberais radicais e vêm aplicando os capitalistas 
inconseqüentes, daqui há pouco talvez nem mais se tenha Direito do Trabalho para 
preocupar os senhores tecnocratas da economia globalizada. E tudo volta ao que era 
antes. 
 
 
 
13.1 NORMAS REGULAMENTADORAS SOBRE O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO 
RURAL 
 
A Lei nº 5.889/73 - Estatuto do Trabalhador Rural - estabeleceu, no artigo 13, 
que nos locais de trabalho rural serão observadas as normas de segurança e higiene 
estabelecidas em Portaria do Ministério do Trabalho e Previdência Social. 
 
 Assim, em 1988, o MTb baixou a Portaria nº 3.067 que aprovou Normas 
Regulamentadoras Rurais – NRRs – relativas à Segurança e Higiene do Trabalho Rural. 
 
 São cinco NRRs que tratam de: Disposições Gerais (NRR- 1); Serviços 
Especializados em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural – SEPATR (NRR-2); 
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural – CIPATR (NRR-3); 
Equipamentos de Proteção Individual – EPI (NRR-4) e de Produtos Químicos (NRR-5). 
Essas normas, evidentemente, não afastam a aplicação de outras que tratem da 
matéria, quando compatíveis, como, por exemplo, as NRs baixadas pela Portaria nº 
3.214/78. Alguns itens dessas NRRs merecem destaque. 
No item 1.7 estabeleceu-se que cabe ao empregador rural: a) cumprir e fazer 
cumprir as NRRs; b) expedir e divulgar ordens de serviço sobre segurança e higiene do 
trabalho rural, tendo em conta os riscos genéricos e específicos do estabelecimento e 
de cada atividade; c) orientar os trabalhadores sobre técnicas prevencionistas a serem 
adotadas, objetivando evitar acidentes do trabalho e doenças profissionais; d) 
determinar os procedimentos que deverão ser adotados em caso de acidentes do 
trabalho rural; e) colaborar com as autoridades na adoção de medidas que visem à 
proteção dos trabalhadores rurais. 
Item 1.8 – Cabe ao trabalhador rural: a) cumprir as NRRs, bem como as ordens 
de serviço que forem estabelecidas para o desempenho de suas funções; b) usar, 
obrigatoriamente, os EPIs. 
Item 1.9 – Constitui falta grave a recusa injustificada do empregado ao 
cumprimento das disposições das NRRs. 
Item 1.10 – Constituem direitos dos trabalhadores: a) conhecer os riscos de 
suas atividades; b) promover a correção dos riscos; c) denunciar à autoridade 
competente a existência de atividades em condições de riscos graves e iminentes. 
Item 1.11 – Nos cursos e treinamentos de formação profissional rural 
promovidos pelo Serviço de Formação Profissional Rural – SENAR, serão incluídos 
tópicos sobre prevenção de riscos e acidentes do trabalho de acordo com as 
peculiaridades da atividade. 
 
 Item 1.12 – Além das NRRs, aplicam-se ao trabalho rural, no que couber, as 
seguintes Normas Regulamentadoras – NRs aprovadas pela Portaria nº 3.214, de 08 
de junho de l978, observadas as alterações posteriores: a) NR-7 - Exame médico; b) 
NR-15 – Atividades e operações insalubres; c) NR-16 – Atividades e operações 
perigosas. 
 
 
Item 3.1 – O empregador rural que mantenha a média de 20 ou mais 
trabalhadores fica obrigado a organizar e manter em funcionamento, por 
estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho Rural 
– CIPATR. 
Item 3.5 – O mandato dos membros da CIPATR será de 2 anos, permitida uma 
recondução. 
 
13.2 PREVENÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO RURAL 
Como consta da Portaria 3.067/88 e de outras normas legais, cabe ao Ministério 
do Trabalho, através dos seus órgãos, coordenar, orientar e fiscalizar sobre o 
cumprimento das normas legais sobre o meio ambiente do trabalho rural, no âmbito 
administrativo, usando, se for o caso, do poder de polícia, autuando e aplicando multas 
aos infratores das normas atinentes. Mas é certo que nem sempre essa atuação surte 
os efeitos desejados, mesmo esgotando o Ministério todos os seus recursos. Daí, surge 
a atuação do Ministério Público do Trabalho, como instituição que tem por dever 
defender a ordem jurídica como um todo e os interesses indisponíveis da sociedade. 
Com a Constituição de 1988, que priorizou e incentivou a questão da prevenção 
de acidentes e alterou substancialmente as atribuições do Ministério Público do 
Trabalho, novas ações passaram a ser ajuizadas, agora buscando-se obrigar o 
empregador a cumprir as normas de segurança e higiene e prevenir efetivamente o 
meio ambiente do trabalho. Estas são as novas Ações Civis Públicas, conforme 
tratamos no nosso "Segurança e meio ambiente do trabalho: uma questão de ordem 
pública", in Genesis - Revista de Direito do Trabalho, nº 37. 
Entretanto, dúvida tem surgido sobre qual o juízo competente para apreciar e 
julgar tais ações envolvendo o meio ambiente do trabalho: o comum ou o trabalhista? 
Uns defendem a competência da Justiça Comum dos Estados, por entender que 
se trata de uma questão entre o Estado que tem o dever de garantir o direito à saúde 
e à segurança do trabalhador, e um estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. 
A este argumento, acrescenta-se aquele de que as questões acidentárias são sempre 
da competência da Justiça Comum, como previam as Constituições da República, antes 
da Carta de 1988 (in "Meio Ambiente do Trabalho: Prevenção e Reparação. Juízo 
Competente", Revista do Ministério Público do Trabalho, Brasília, nº 14, 9/1997), cujo 
preceito a respeito tinha o seguinte teor: "Os dissídios relativos a acidentes do trabalho 
são da competência da Justiça Ordinária". 
A partir da análise dos comandos constitucionais que vêm tratando da questão 
desde 1946 e, sobretudo, com base nos artigos 109 e 114, ambos da atual 
Constituição, forma -se outro entendimento pela competência da Justiça do Trabalho, 
do qual compartilhamos. 
 
 
"É que, como sustentamos em outros trabalhos a respeito da 
matéria, o conteúdo do contrato de trabalho não é composto 
apenas de salários, férias, 13º salário, aviso prévio, mas nele se 
inclui, como um dos primeiros direitos do empregado, o meio 
ambiente do trabalho seguro e adequado. 
 
 
Com efeito, o empregado, ao colocar à disposição de outrem a 
sua força de trabalho, mediante contrato de trabalho celebrado, 
tem como correspondência inúmeros direitos, além do 
pagamento de salários. E um deles, dos mais importantes, é a 
prestação dos serviços em local salubre e com adequadas 
condições ambientais, a fim de que possa manter rigidez física 
apta ao desempenho das funções para as quais foi contratado. E 
isto faz parte, sem sombra de dúvida, e como preleciona De LaCueva, do contrato de trabalho, como obrigação patronal que, se 
descumprida (art. 157 e incisos da CLT), autoriza o empregado, 
entre outras providências, a dar por rescindido o contrato de 
trabalho (art. 483, "d", da CLT) e pleitear as indenizações devidas 
perante a Justiça laboral. Da mesma forma, é nessa especializada 
que se discute sobre condições e meio ambiente do trabalho, 
porquanto, sendo obrigação do Estado fazer cumprir, 
administrativamente, normas sobre segurança do trabalho - e 
também todas as demais normas trabalhistas - não havendo 
êxito nesta tarefa, cabe, a quem legitimado, bater às portas do 
Judiciário (art. 5º, XXXV/CF) " – ibidem. 
É da Justiça comum estadual a competência para apreciar e julgar apenas as 
ações decorrentes de acidentes do trabalho que tenham como objeto o pedido de 
indenização de responsabilidade do órgão previdenciário, como, por exceção, constou na 
Constituição Federal (artigos 109, I, e § 3º e 201). Nesse sentido já decidiu o STJ, 
apreciando conflito positivo de competência suscitado pelo Ministério Público do Trabalho 
em ação civil pública sobre meio ambiente do trabalho, verbis: 
 
 
EMENTA: "CONFLITO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO DE NATUREZA TRABALHISTA - 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPECIALIZADA. 
1) A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações 
tipicamente trabalhistas. 
2) Conflito conhecido e provido para declarar competente a 13ª Junta de 
Conciliação e Julgamento de Porto Alegre para julgar as duas ações propostas. 
 
ACÓRDÃO 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira 
Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas 
taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar 
competente a Décima Terceira Junta de Conciliação e Julgamento de Porto 
Alegre-RS, suscitada. Votaram com o Relator os Ministros Demócrito Reinaldo, 
Gomes de Barros, Milton Pereira, César Rocha, Pádua Ribeiro, José de Jesus, 
Garcia Vieira e Hélio Mosimann. 
 
 
 
VOTO 
 
 
O EXMO. SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (RELATOR) 
Adoto, em linhas gerais, o parecer do douto representante do Ministério 
Público Federal, Dr. José Arnaldo da Fonseca. Não há menor dúvida de que as 
pretensões deduzidas, na fase em que se encontram, são tipicamente 
trabalhistas. Posteriormente, na eventualidade dos trabalhadores sofrerem 
lesões decorrentes da agressão sofrida no ambiente de trabalho poderão, 
individualmente, ingressar com ações próprias no Juiz competente. Isto posto, 
dou provimento ao conflito suscitado para declarar a 13ª Junta de Conciliação 
e Julgamento de Porto Alegre competente para apreciar e julgar as duas ações 
propostas." (STJ - Conflito de Competência nº 3.639-I, DOU de 23.03.93). 
Também pela competência da Justiça do Trabalho, na espécie, decidiu o E. 
TRT/15ª Região, nos seguintes termos: 
 
 
EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - NORMAS DE HIGIENE E SEGURANÇA - 
COMPETÊNCIA - A Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar 
ação civil pública, proposta pelo Ministério Público do Trabalho, quando o 
objeto da ação for norma de higiene e segurança não observada pela empresa. 
Tais normas advêm do contrato de trabalho. Seu não cumprimento fere o 
caráter sinalagmático da relação contratual (TRT/15ªR, Ac. Nº 16.814/93, 
DOESP de 30/11/96, Rel. Juíza Eliana Felippe Toledo; decisão unânime). 
Da mesma forma, reconhece a competência da Justiça do Trabalho para as 
questões envolvendo o meio ambiente do trabalho, o renomado Rodolfo de Camargo 
Mancuso ("Ação Civil Pública Trabalhista: Análise de alguns pontos controvertidos", 
Revista do Ministério Público do Trabalho, nº 12, setembro/96, págs.59/60), verbis: 
 
 
"O meio ambiente laboral há de ser assegurado, segundo 
pensamos, de três maneiras: a) numa instância primária, pelo 
próprio obreiro, quando ele mesmo obtém e maneja os 
instrumentos adequados à sua atividade, organiza seu local de 
trabalho, enfim, provê por conta própria os meios pelos quais 
pretende levar a bom termo seu empreendimento: o trabalhador 
autônomo, o profissional liberal, o hoje chamado 
microempresário, o homem de negócios; b) num outro plano, a 
implementação do adequado meio ambiente de trabalho passa a 
depender de atividade alheia, seja o dono da obra, o empresário 
que, auferindo a vantagem do negócio deve arcar com o ônus 
correspondente (os chamados custos sociais da mão-de-obra), 
seja o próprio o Sindicato, enquanto entidade encarregada da 
defesa e representação institucional de uma certa categoria 
laboral, seja, enfim, o Estado-fiscalizador, através de seus órgãos 
voltados à segurança e higiene do trabalho; c) numa instância 
substitutiva ou supletiva, o meio ambiente laboral haverá de ser 
assegurado, impositivamente, pela Justiça do Trabalho, quando, 
 
 
no exercício da jurisdição coletiva em sentido largo, ou ainda no 
âmbito de seu poder normativo (dissídios coletivos, "ações de 
cumprimento"), estabelece novas condições para o exercício do 
trabalho de certas categorias".... 
 
 
Em nível doutrinário parece já estar assegurada a autonomia conceitual do meio 
ambiente do trabalho, uma subespécie do meio ambiente artificial ou construído, ou 
seja, o "habitat" laboral, onde o homem deve encontrar os meios com que haverá de 
prover sua existência digna, projetada por nosso constituinte. Em nível legislativo esse 
termo também já encontrou guarida, seja expressamente, como por exemplo na antes 
citada Lei Orgânica do Município de São Paulo, art. 190, ou ainda implicitamente, como 
no Estatuto do Ministério Público da União (Lei Complementar n. 75, de 20.5.1993), 
cujo art. 83 comete ao Ministério Público do Trabalho competência para promover a 
ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho (inciso III), texto esse que deve ser 
lido de forma integrada com o disposto na Lei Orgânica Nacional do MP (8.625, de 
12.2.93), cujo art. 25, IV, permite o ajuizamento dessa ação: a) para proteção, 
prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente; dessa exegese 
sistemática resulta, dada a competência específica da Justiça do Trabalho (CF, art. 
114) que ali se trata, naturalmente, do meio ambiente do trabalho, já que é este 
último qualificativo que enseja a propositura da ação civil pública nessa Justiça 
especializada "ratione materiae". Aliás, outro dispositivo constitucional - o art. 200, 
VIII - refere-se, expressamente, ao meio ambiente do trabalho. 
 
 
Com efeito, se o meio ambiente do trabalho seguro constitui direito social dos 
trabalhadores, constitucionalmente assegurado, e, ao Ministério Público do Trabalho 
compete, perante à Justiça do Trabalho, ajuizar ação civil pública para defesa de 
interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente 
garantidos (art. 83 e inciso III da Lei Complementar 75/93), dúvida não pode mais 
existir sobre a competência trabalhista no tocante à prevenção do meio ambiente do 
trabalho. Aliás, entendimento contrário levaria ao inadequado esvaziamento das 
atribuições do Ministério Público do Trabalho na defesa do cumprimento da legislação 
do trabalho, pois, embora existam outros legitimados para a propositura de ação civil 
pública, esta, ordinariamente, vem sendo utilizada é pelo "Parquet" trabalhista, 
principalmente em razão de ser ele o único legitimado para instaurar inquérito civil 
público destinado não só à colheita de provas, mas também à busca de adequação 
legal do indiciado (conforme ainda o nosso MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: 
PREVENÇÃO E REPARAÇÃO. JUÍZO COMPETENTE). 
Do exposto, decorre claramente para nós que condições seguras e higiênicas de 
trabalho constituem importantes direitos indisponíveis dos trabalhadores, cujo 
descumprimento legitima aqueles, por si ou por quem os substitua legalmente, a 
buscar um comando judicial perantea Justiça do Trabalho, cujo litígio decorre, 
induvidosamente, da relação de emprego (art. 114/CF). Outrossim, não existe mais 
nenhuma disposição constitucional ou legal atribuindo essa competência à Justiça 
Comum, razão essa que tem passado desapercebida pela maioria dos operadores do 
direito. 
 
 
 
 
13.3 RESPONSABILIDADES DECORRENTES DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO 
INADEQUADO 
 
 As responsabilidades decorrentes do trabalho em condições inadequadas e em 
ambientes insalubres ou perigosos ou em razão de acidentes do trabalho (incluídas as 
doenças profissionais e do trabalho), podem ser caracterizadas como de natureza 
trabalhista, previdenciária, civil e penal. 
 
 a) De natureza trabalhista: são o pagamento de adicionais de insalubridade e 
de periculosidade e a estabilidade provisória do empregado acidentado. De acordo com 
o artigo 189 da CLT, serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas 
que, por sua natureza, condições ou método de trabalho, exponham os empregados a 
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza 
e da intensidade do agente e do tempo máximo de exposição do empregado aos seus 
efeitos, conforme quadro aprovado pelo Ministério do Trabalho, que, no caso, é a NR-
15, da Portaria nº 3.214/78. Já as atividades e operações perigosas, também de 
acordo com regulamentação do MTb, são aquelas que por sua natureza ou método de 
trabalho impliquem o contato permanente do empregado com inflamáveis e explosivos 
(art. 193, da CLT) ou com energia elétrica (Lei 7.369/85). Não eliminados ou 
neutralizados os efeitos dos agentes insalubres ou perigosos, tem direito o empregado 
a receber os respectivos adicionais na base de 10%, 20% ou 40% sobre o salário 
mínimo legal e de 30% sobre o salário real. 
 
 Os adicionais de insalubridade, como se vê, são absolutamente irrisórios, 
porque conforme jurisprudência conservadora dominante, são calculados com base no 
salário mínimo legal, mesmo recebendo o empregado salário mínimo profissional 
negociado entre patrões e empregados, o que representa um retrocesso injustificado 
com relação à jurisprudência anterior que os reconhecia sobre o salário normativo da 
categoria (ex-Enunciado 17/TST). 
 
 O trabalho penoso, que é bem próprio da atividade do trabalhador rural, na 
maior parte, até hoje não foi regulamentado e, por isso, não é remunerado. De 
qualquer forma, é de se salientar que ao trabalhador rural, no tocante aos adicionais 
de insalubridade e de periculosidade, aplicam-se as regras atinentes ao trabalhador 
urbano, desde que expostos aos agentes respectivos, sendo certo que, não obstante 
isso, poucos são os processos perante a Justiça do Trabalho em que se discute tais 
pleitos em favor do trabalhador, o que serve de alerta para os senhores advogados dos 
reclamantes. 
 
 O outro item de natureza trabalhista de grande importância e alcance social é a 
estabilidade provisória ou garantia de emprego do acidentado. Essa garantia é devida, 
pela Lei 8.213/91, art. 118, ao trabalhador acidentado que se afastar do emprego e 
receber auxílio-doença acidentário, pelo prazo de 12 meses após a cessação do 
referido auxílio. Essa garantia poderá ter maior amplitude e prazo de duração, se 
negociada em instrumentos normativos, como vem ocorrendo com relação às 
categorias profissionais mais organizadas. Seja de uma forma ou de outra, é 
importante que os trabalhadores rurais também pleiteiem esse direito perante a 
Justiça do Trabalho, quando demitidos antes do prazo legal ou convencional. 
 
 
 
 
b) De natureza previdenciária: são o auxilio-doença acidentário, na base de 
92% do salário-de-benefício ou do salário de contribuição, o que for maior, a partir do 
16º dia de afastamento e enquanto permanecer afastado o empregado segurado (art. 
29, da lei 8.213/91); aposentadoria por invalidez, na base de 100% do salário-de-
beneficio ou de contribuição, o que for mais vantajoso, ao empregado segurado que se 
tornar incapacitado para o trabalho, acrescida de 25%, no caso de necessidade 
permanente de assistência de outra pessoa ao aposentado (arts. 44 e 45, da Lei 
8.213/91); auxílio-acidente, correspondente a um pagamento mensal de 50% do 
salário-de-benefício, devido ao empregado segurado que se tornar parcialmente 
incapacitado para o serviço, valor esse que não mais se acumulará com qualquer outro 
tipo de aposentadoria (art. 86 e parágrafos da Lei 8.213/91, recentemente alterados); 
pensão por morte, equivalente a 100% do salário-de-benefício, paga mensalmente ao 
conjunto de dependentes do segurado falecido (art. 74 e seguintes, da Lei 8.213/91). 
 
 c) De natureza civil/reparatória: De conformidade com a Constituição Federal de 
1988 (art. 7º e inciso XXVIII), são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de 
outros que visem à melhoria de sua condição social, ... "seguro contra acidente do 
trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, 
quando incorrer em dolo ou culpa" (grifamos). 
 
 Antes, essa indenização era assegurada ao empregado acidentado, em caso de 
dolo ou culpa grave do empregador, conforme orientação jurisprudencial cristalizada 
na Súmula nº 229 do STF, nos seguintes termos: "A indenização acidentária não exclui 
a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador". 
 
 Referida indenização, oriunda do direito civil (art. 159, do Código Civil 
Brasileiro), independe das outras indenizações devidas pelo órgão previdenciário, pela 
chamada culpa objetiva. Nesta, o que se analisa é a existência da seqüela após o 
acidente do trabalho sofrido pelo empregado e a ocorrência de dolo ou mera culpa do 
empregador (negligência, imprudência e/ou imperícia), como causa do infortúnio. Essa 
indenização, de acordo com o artigo 1.059, do Código Civil Brasileiro, engloba não só o 
que o acidentado perdeu – dano emergente -, como também o que razoavelmente 
deixou de ganhar – lucro cessante. Desta forma, se do acidente resultar defeito ou 
diminuição da capacidade de trabalho pelo qual o empregado não possa exercer a sua 
profissão ou tenha diminuído o valor do seu trabalho, a indenização abrangerá uma 
pensão correspondente à importância do trabalho, no todo ou em parte, conforme o 
caso, além das despesas do tratamento e lucros cessantes. 
 
 Para ilustrar, mencionemos o caso real de um trabalhador, ajudante geral, que 
ao operar uma prensa, sem a devida instrução, teve um dos seus braços decepado, 
quando tinha apenas 19 anos de idade. Ajuizada a correspondente ação de reparação, 
o juiz, entendendo que aquele jovem estava no início da carreira profissional e poderia, 
na área da metalurgia, que era a atividade da empresa, chegar a ferramenteiro, 
condenou-a no pagamento de uma indenização mensal correspondente ao salário de 
ferramenteiro, até a idade de 65 anos. 
 
 Também é cabível indenização por dano moral, em caso de acidente do 
trabalho, conforme as circunstâncias, atividade desenvolvida pelo empregado, dano 
causado, etc. 
 
 
 
 
Mas como essa indenização é de natureza civil, embora paga pelo empregador 
porque decorrente da relação de emprego, discute-se no momento, qual o juízo 
competente para apreciá-la: o do trabalho ou o comum? 
 
 As Constituições anteriores diziam expressamente que os dissídios relativos a 
acidentes do trabalho eram da competência da Justiça Ordinária, razão por que 
ninguém ousava querer atribuí-la à Justiça do Trabalho, a não ser de "lege ferenda". 
 
 Porém, a partir de 1998, com clareza, a Constituição atual, nos artigos 109 e 
114, tratou da competência da Justiça do Trabalho e da competência residual da 
Justiça Comum, não mais atribuindo a esta, com exclusividade e como ocorreu nas 
Constituições de 1946, 1967 e 1969, a competência para as questõesacidentárias. 
 
 Agora, essa competência foi dividida entre a Justiça Comum e a do Trabalho. A 
competência é da Justiça do Trabalho quando o pleito de indenização acidentária 
(artigo 7º, inciso XXVIII/CF) for dirigido ao empregador, que tenha, por dolo ou culpa, 
causado o infortúnio - culpa subjetiva. 
A competência é da Justiça Comum, quando os pedidos de indenização, 
auxílios-doença e acidentário, aposentadoria por invalidez e pensão, forem dirigidos ao 
órgão previdenciário - culpa objetiva, como decorre do disposto no artigo 109, inciso 
XI, § 3º, combinado com o artigo 114, "caput", todos da Constituição Federal. 
O artigo 109, inciso 1, estabelece a competência dos juízes federais para as 
causas em que forem rés, assistentes ou oponentes, a União e entidades autárquicas 
ou empresa pública federal, excetuando-se, por exemplo, as de acidentes do trabalho, 
que são aquelas causas em que os segurados ou beneficiários acionam a instituição 
previdenciária. Nessas causas, como estabelece o § 3º, do mesmo artigo 109, a 
competência é da Justiça Comum Estadual, mesmo sendo parte entidade pública 
federal. A essa conclusão, também chegaram JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO 
("Processo Trabalhista de Conhecimento", 3ª edição, São Paulo, LTr Editora, 1996, 
pág. 113), VALDIR FLORINDO ("Dano Moral e o Direito do Trabalho", LTr Editora, São 
Paulo, 1995, págs. 90/98), VANDER ZAMBELI VALE, em artigo intitulado Acidente de 
Trabalho - Culpa do Empregador - Indenização - Competência da Justiça do Trabalho 
(Revista LTr, 60-08/1069) e SEBASTIÃO GERALDO DE OLIVEIRA ("Proteção Jurídica à 
Saúde do Trabalhador", São Paulo, LTr Editora, 1996, págs. 199-201), entre outros 
autores de nomeada, cujo resumo tomo a liberdade de fazer, com as palavras do 
insígne professor José Augusto Rodrigues Pinto: "Considerando não haver na 
Constituição atual nenhuma norma conservando essa exclusão da competência 
trabalhista para conhecer de dissídios de acidentes no trabalho, parece-nos fora de 
dúvida que eles devem passar a ser julgados pelos órgãos da Justiça do Trabalho, em 
harmonia com a regra geral e natural da competência em razão da matéria". 
 
 Como se vê, a competência da Justiça Comum para resolver sobre o acidente 
do trabalho, prevista nos dispositivos em comento, restringiu-se às causas em que 
uma das partes seja entidade pública federal, como seguradora, contra quem são 
propostas as ações decorrentes de acidentes do trabalho. 
 
 As demais demandas, mesmo que de natureza civil, se decorrentes da relação 
de emprego e contra o empregador, são de competência da Justiça do Trabalho, como 
já decidiu o E.STF: 
 
 
"A determinação da competência da Justiça do Trabalho não importa que 
dependa a solução da lide de questões de direito civil, mas sim, no caso, que a 
promessa de contratar, cujo alegado conteúdo é o fundamento do pedido, 
tenha sido feita em razão da relação de emprego, inserindo-se no contrato de 
trabalho." (Ac. Pleno; Conflito de Jurisdição nº 6.959 - Rel. Min. Sepúlveda 
Pertence, in DJU de 22.5.91, pág.1.259). 
 
d) De natureza penal: os acidentes do trabalho podem caracterizar, ainda, os 
crimes de homicídio, lesões corporais ou de perigo comum, previstos nos artigos 250 a 
259, do Código Penal, por conduta dolosa ou culposa do empregador ou dos 
responsáveis. A culpa ocorre quando o agente der causa ao resultado por imprudência, 
negligência ou imperícia (Sebastião Geraldo de Oliveira, obra citada, pág.210). 
 
 E a responsabilidade criminal, que é pessoal, do empregador, do preposto, do 
membro da CIPA, etc., será caracterizada não só pelo acidente do trabalho, quando 
agindo com dolo ou culpa, mas também pelo simples fato de não se cumprir normas 
de segurança e higiene do trabalho, expondo-se a risco e perigo a vida de outrem, 
como preceitua o Código Penal e a Lei 8.213/91, esta, no art. 19, § 2º, timidamente 
dizendo que constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de 
cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho. Enquanto isso, tramita perante 
o Congresso Nacional projeto de lei mais rigoroso no seguinte sentido: "Deixar o 
tomador de serviços ou seus prepostos de cumprir as normas sanitárias, de segurança 
ou de duração do trabalho, estabelecidas pela Lei ou pelas autoridades competentes, 
expondo a perigo a vida ou a saúde dos trabalhadores: PENA - Detenção, de um a três 
anos e multa. Parágrafo único: A pena é aumentada de metade se da omissão resulta 
lesão corporal de natureza grave, e triplicada se resulta morte". 
Essa alteração legislativa, que incrimina o tomador ou preposto simplesmente 
pelo não-cumprimento das normas de segurança, é muito importante, enquanto que, 
pelas normas existentes, a criminalização só existe efetivamente depois que o 
trabalhador acidentou-se ou faleceu, o que na prática não tem surtido o efeito 
desejado, que é o de prevenir a ocorrência de acidentes.