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Análise da Constituição de1934

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Chefe do Governo Provisório, com a Revolução de 30, Getúlio convocou à
Constituinte que, ao fim de seus trabalhos, em julho de 1934, o elegeu
Presidente, por 4 anos. Mas o golpe e a Constituição outorgada de 11 de
novembro de 1937 prorrogavam seu mandato
CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1934
Mesa Diretora
Biênio 2003/2004
Senador José Sarney
Presidente
Senador Paulo Paim
1º Vice-Presidente
Senador Eduardo Siqueira Campos
2º Vice-Presidente
Senador Romeu Tuma
1º Secretário
Senador Alberto Silva
2º Secretário
Senador Heráclito Fortes
3º Secretário
Senador Sérgio Zambiasi
4º Secretário
Suplentes de Secretário
Senador João Alberto Souza Senadora Serys Slhessarenko
Senador Geraldo Mesquita Júnior Senador Marcelo Crivella
Conselho Editorial
Senador José Sarney
Presidente
Joaquim Campelo Marques
Vice-Presidente
Conselheiros
Carlos Henrique Cardim
João Almino
Carlyle Coutinho Madruga
Raimundo Pontes Cunha Neto
O Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em
31 de janeiro de 1997, buscará editar, sempre, obras de valor histórico e cultural e
de importância relevante para a compreensão da história política, econômica e social
do Brasil e reflexão sobre os destinos do País.
CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
VOLUME III
RONALDO POLETTI
SENADO FEDERAL
CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CEE/MCT
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA- ESAF/MF
SENADO FEDERAL
SENADOR JADER BARBALHO
MINISTÉRIO DA FAZENDA
MINISTRO PEDRO SAMPAIO MALAN
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
MINISTRO RONALDO MOTA SARDENBERG
COLEÇÃO CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
PROFESSOR WALTER COSTA PORTO (organizador)
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA - ESAF/MF
PROFESSORA MARIA DE FÁTIMA PESSOA DE MELLO CARTAXO
CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CEE/MCT
PROFESSOR CARLOS HENRIQUE CARDIM
Coordenação Geral de Ensino a Distância e Documentação - CEE/MCT
Professora Elaine Rose Maia
Endereço para correspondência:
CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CEE/MCT
SPO, Área 5, Quadra 3, Bloco A
70610-200-Brasília-DF
Fax: (Oxx6l) 411-5198/5199
Http://www.rnct.gov.br
e-mail: cee@mct.gov.br
Baleeiro, Aliomar.
Constituições Brasileiras : 1891 / Aliomar Baleeiro. - Brasília : Senado Federal e
Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001,
121 p. : il.; 23 cm. - (Coleção, Constituições Brasileiras; v. 2)
1. Constituição - Brasil. 2. Constituição Brasileira - Comentários. 3. Brasil -
História. I. Título. II. Coleção.
I. Ministério da Ciência e Tecnologia, Ccntro de Estudos Estratégicos. II. Coleção
Constituições Brasileiras.
341.2481 CDD
342.4(81) CDU
2a edição
A COLEÇÃO
"CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS"
A elaboração da Constituição Bra-
sileira de 1988 se deu sob condições fun-
damentalmente diferentes daquelas que
envolveram a preparação das Cartas ante-
riores.
Em primeiro lugar, foi, de modo
extraordinário, alargado o corpo eleito-
ral no país: 69 milhões de votantes se
habilitaram ao pleito de novembro de
1986. O primeiro recenseamento no
Brasil, em 1872. indicava uma popula-
ção de quase dez milhões de habitantes,
mas, em 1889, eram somente 200.000
os eleitores. A primeira eleição presi-
dencial verdadeiramente disputada en-
tre nós, em 1910, a que se travou entre
as candidaturas de Hermes da Fonseca
e Rui Barbosa, contou com apenas
700.000 eleitores, 3% da população, e
somente na escolha dos constituintes de
1946 é que, pela primeira vez, os eleitores
representaram mais de 10% do contin-
gente populacional.
Em segundo lugar, há que se des-
tacar o papel dos meios de comunicação
- da televisão, do rádio e dos jornais -,
tornando possível a mais vasta divulga-
ção e a discussão mais ampla dos even-
tos ligados à preparação do texto
constitucional.
Desses dois fatores, surgiu uma
terceira perspectiva que incidiu sobre o
relacionamento entre eleitores e eleitos
da maíor participação popular e do dilata-
do conhecimento da elaboração legislati-
va resultou que a feitura de nossa atual
Constituição foi algo verdadeiramente
partilhado; e que o "mandato representa-
tivo", que estabelecia uma dualidade en-
tre eleitor e eleito, teve sua necessária
correção, por acompanhamento, e uma
efetiva fiscalização por parte do corpo
eleitoral, com relação às ideias e aos pro-
gramas dos partidos.
O conhecimento de nossa trajetó-
ria constitucional, de como se moldaram,
nesses dois séculos, nossas instituições
políticas, é, então, indispensável para
que o cidadão exerça seu novo direito, o
de alargar, depois do voto, seu poder de
caucionar e orientar o mandato outorga-
do a seus representantes.
A reedição deste curso sobre as
Constituições Brasileiras pelo Centro de
Estudos Estratégicos/MCT, pelo Senado
Federal e pela Escola de Administração
Fazendária/MF faz, portanto, parte de
um programa que, à distância, visa a um
melhor respaldo à cidadania e à maior
qualificação de nosso diálogo político.
Walter Costa Porto
SUMÁRIO
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
Ronaldo Poletti
I- A OPORTUNIDADE DO TEMA
Grandes transformações
pág.16
Semelhanças e diferenças
pág. 18
II - A COMISSÃO DO ITAMARATY
pág. 21
III - O ANTEPROJETO
pág. 24
A Federação
pág. 26
O Poder Judiciário
pág. 27
O Poder Legislativo
pág. 30
O Social
pág. 34
IV - A CONSTITUINTE
pág. 40
V - A CONSTITUIÇÃO DE 1934
pág. 44
O Executivo
pág. 44
A reação clerical
pág. 45
A matéria não constitucíonal
pág. 46
A questão eleitoral
pág. 47
A segurança nacional
pág. 48
O Senado
pág. 49
O controle da constitucionalidade das leis
pág. 50
A representação classista
pág. 51
O Judiciário
pág. 52
Revisão e emenda da Constituição
pág. 54
Avaliação final
pág. 54
IDÉIAS-CHAVE
pág. 59
QUESTÕES ORIENTATIVAS PARA AUTO-AVALIAÇÃO
pág. 61
LEITURA RECOMENDADA
pág. 63
ANTEPROJETO DA CONSTITUIÇÃO DE 1934
pág. 65
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS
DO BRASIL, DE 16 DE JULHO DE 1934
pág. 115
DECRETO LEGISLATIVO Nº 6, DE 18 DE
DEZEMBRO DE 1935
pág. 187
CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES
pág. 189
BIBLIOGRAFIA
pág. 191
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
pág. 193
A CONSTITUIÇÃO DE 1934
RONALDO POLETTI
Não bastasse a importância histórica da Constituição de
1934, fruto de nossa terceira Constituinte, a justificar a atenção da
Ciência do Direito Constitucional, o cotejo da sua situação histórica,
com a dos nossos dias, é suficiente para demonstrar a oportunidade de
seu estudo.
A semelhança repousa em vários pontos. Antes, como agora, se
fala em Constituinte, desaguadouro natural dos anseios gerais e necessida-
de impostergável. Assim foi no início dos anos 30, A Constituinte e a nova
Carta nasceram de duas revoluções, a de 30 e a de 320). A primeira tinha
um ideário liberal em política, embora os acontecimentos posteriores a
transformassem num projeto socíaldemocrático e, em seguida, na causa
eficiente de uma ditadura bajuladora do fascismo europeu. Já o heroísmo
paulista de 1932 pode ter tido causas econômicas não identificadas na
época (reação política dos fazendeiros de café contra a ameaça de sua he-
gemonia pulas novas forças da economia, situadas na cidade e na indús-
tria), ou motivos políticos sediados no regionalismo (a política do
café-com-leite) desalojado do poder pela revolução vitoriosa, mas, inobs-
tante isso, o movimento de São Paulo foi cunhado de revolução constitu-
cionalista e as multidões, que nas ruas carregavam entusiasmadas as suas
bandeiras, não sabiam das discutíveis conclusões, fornecidas pelas futuras
análises históricas. Na verdade, imbuído de ideais pela Constituição, o
povo paulista ergueu-se em armas e ofereceu o sangue de sua mocidae
1 - Cf. Waldemar Ferreira, História é Direito Constitucional Brasileiro, Max Limonad. 1954; sobre a Revolução
 de 30 e seus reflexos constitucionais, ef. também Araújo Castro,
A Nova Constituição Brasileira, Freitas
 Bastos, 1935, p. 27 e segs., onde e se faz menção, ainda, aos documentos do Governo Provisório,
 preparatórios da Constituinte.
14 • RonaldoPoletti
em holocausto à Pátria. Debalde foi o esforço da propaganda gover-
namental em acoimar o movimento da terra de Piratininga como separatista (2).
Improcedente o argumento de que a revolução paulista atrasou a constitu-
cionalizaçao, porque posterior ao ato do Governo que fixava a data para a
realização das eleições à Assembléia Constituinte e criava a Comissão para
elaborar anteprojeto da futura Constituição. O decreto do Governo
Provisório foi de maio de 1932, quando os sucessos de São Paulo já ocor-
riam há meses. Foram eles que forçaram o Governo a criar a Comissão e a
anunciar as eleições. A rigor desde a vitória em 1930, foi colocada a ques-
tão da necessidade quase imediata da convocação de uma Constituinte.
Um ilustre alagoano, Sampaio Dóría, Professor da Faculdade de Direito
de São Paulo, que tão importante papel iria desempenhar na luta de 32, as-
sinalara, já em 1930, que, realizada a tarefa preparatória de estabelecer as
condições da nova legalidade, a Constituinte haveria de ser convocada
como solenemente prometido, não sendo razoável prolongai-se, além do
estritamente indispensável, o regime dos poderes discricionários(4).
Eduardo Espíndola faz análise objetiva do episódio:
"Se há uma idéia, se há um sentimento, que a parte esclarecida de nossa
população cultua com acendrado vigor, é o da liberdade do indivíduo cm
face do Estado, assegurada por uma Constituição democrática.
Cf. Hamilton Leal, História das Instituições Políticas do Brasil, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, 1962,
onde à página 467 está escrito:
"Não cabe fazer-se a história desse glorioso movimento - o que um dia certamente será feito - mas,
apenas dizer que São Paulo deu tudo quanto tinha e podia pelo bem do Brasil: o ouro do seu povo; a
conversão e improvisação de sua indústria de guerra; o esforço heróico de suas mulheres; o sangue
generoso de sua mocidade. Tudo; tudo num gesto inédito na nossa vida!
Estava, porém, escrito que teria de lutar só e, pior, sofrer o insulto daqueles que lhe faziam guerra,
principalmente do comandante-em-chefe das forças ditatoriais, General Pedro Aurélio de Góis Monteiro
que num esforço ridículo de propaganda, dizia tratar-se o movimento constitucionalista de São Paulo de
uma revolução separatista.
Durante quase três meses o povo de São Paulo e as suas forças militares lutaram brava e heroicamente
pela conquista do ideal de reconstitucionalização, resistindo a um cerco de ferro e fogo. Para vencê-lo
leve a ditadura que rnobilizar todos os seus elementos armados de terra, mar e ar, inclusive tropas d;
reserva e forças irregulares. Não fosse o colapso e a apostasia do comando da força pública do Estado -
que negociou armistício em separado com o inimigo - a guerra teria continuado por muito tempo ainda."
3 Cf. Afonso Arinos de Melo Franco, Um Estadista da República (Afrânio de Mello Franco e seu Tempo). Nova
Aguilar, Rio, 1976.
4 Cf. Sampaio Dória, A Revolução de 30, preleção, São Paulo, 1930, apud PedroCalmon, Ed. José O-
lympio, Rio, 1963, p. 2279.
A Constituição de 1934 • 1 5
O despotismo e a ditadura, os regimes totalitários, a despeito dos desvios
de imitadores irrefletidos e da propaganda deletéria de elementos
estranhos, são repelidos e condenados intransigentemente pela opinão
nacional.
O movimento revolucionário de São Paulo em 1932 é uma bem
significativa demonstração dessa convicção dsmocrática.
Julgando-se retardada a promessa de se estabelecer no País regime
constitucional, pois mais de um ano decorrera, sem qualquer
empreendimento para tal fim, agitou-se a classe culta do grande Estado,
apoiada por elementos políticos, conquistando e apaixonando
profundamente a grande massa popular, com extensa repercussão em
outros Estados.
É verdade que o Código Eleitoral da República fora já decrctado (a 24 de
fevereiro de 1932) e que um decreto de maio de 1932 fixara o dia 3 de
maio de 1933 para as eleições à Assembléia Constituinte. Mas a impaciên-
cia dos que reclamavam a imediata restauração do regime constitucional
do País, e a desconfiança de uma dilatação indeterminada dos poderes dis-
cricionários do Governo Provisório, tornaram irrefreável a reação que em-
polgara todas as camadas sociais do Estado, determinando a grande revo-
lução de 9 para 10 de julho, em que não faltaram inequívocas demonstra-
ções de sinceridade cívica e heróicos sacrifícios"(5).
O próprio Afonso Arinos, defensor da idéia de que São Paulo
retardou o processo de integração do País no regime constitucional, con-
sidera a relatividade dessa assertiva, para admitir a possibilidade de a rebe-
lião paulista haver "contribuído dramaticamente para apressar o
movimento legalista, tirando força moral ao Governo vitorioso, para con-
tra o mesmo movimento resistir"(6).
Assim sendo, as idéias mestras, que governaram os espíritos
dos homens com influência nos trabalhos constituintes, eram, de um lado,
o binômio da propaganda da Revolução de 30: justiça e representação; de
outro, a constitucionalização do País, cobrada por uma revolução derrota-
da pelas armas, mas cuja força espiritual iria marcar de forma indelével a
política nacional.
____________
5 Cf . Eduardo Espíndola, A Nova Constituição do Brasil. Direito Político e Constitucional Brasileiro, Freitas Bastos,
Rio, 1946, pp. 69 a 70.
6 Cf. Afonso Arinos de Melo Franco, Curso de Direito Constitucional Brasileiro, vol. II, Formação
Constitucional do Brasil, Rio, 1960, p. 176.
16 • Ronaldo Poletti
Falava-se, na época, em República Velha e República Nova.
Para que a República Nova se efetivasse, era preciso uma Constituição fiel
aos novos tempos, capaz de ser a síntese das aspirações nacionais.
O mundo vinha de grandes transformações. O século XX nascera
ero meio ao otimismo da técnica e da ciência. Colocados de lado os valores da
Cultura e da Filosofia, não tardou que a Primeira Grande Guerra, e suas terrí-
veis consequências, deitassem por terra as esperanças do cientificismo. O
mundo do Estado liberal começara a ruir. A Constituição de Weimar insti-
tucionalizara a socialdemocracia, procurando conciliar a liberdade individu-
al com a necessidade de um Estado, cuja função não ficaria restrita à
produção das normas jurídicas, mas estenderia a sua atuação de maneira que
se transformasse num Estado não meramente de direito, mas também um
Estado político e administrativo. A revolução soviética, por sua vez, impu-
sera a presença organizada da massa de trabalhadores no poder, através de
um partido disciplinado e coeso na sua doutrina ideológica, o qual, toman-
do posse cia máquina estatal, seria fiel aos desígnios de planejamento total
em matéria de economia e aos de vivenciar, a seu favor, os defeitos que
apontava no mesmo Estado, quando em poder da burguesia e dócil às de-
terminações da estrutura capitalista de produção. De repente, o mundo to-
mara consciência de situações dramáticas que iriam pôr em risco a felicidade
imaginada por abstrações liberais. Não! O mundo não vai por si só! Não é
possível deixar fazer e assistir á passagem da vida. O Estado precisa intervir.
Impõe-se ao homem a direção da História. A fome representa um fantas-
ma, também, para as sociedades capitalistas mais prósperas. O Direito não
há de apenas garantir a liberdade, porque esta gera quase sempre a escravi-
dão em face das desigualdades naturais. "Entre o rico e o pobre, o patrão e o
operário, o forte e o fraco, é a liberdade que escraviza e é o Direito que liber-
ta" (Lacordaire). Para contrabalançar os ideais de uma democracia voltada
para os aspectos sociais, as ideias do fascismo progrediam e iriam precipitar
o maior de todos os conflitos.
A República Velha, no entanto, era dominada pelo bacharelis-
mo do Direito Privado. Eram
todos civilistas e comercialistas. Este era o
A Constituição de 1934 • 17
Direito que importava. Nada de Direito Público, o qual, não tendo o pres -
tígio das academias jurídicas, também não merecia o respeito devido pelos
governantes. Havia Rui Barbosa, com o gigantismo de sua palavra e de sua
vida política, mas ele era também desiludido com a República e apontava
os desvios da política em relação ao ideário dos republicanos históricos.
Rui estaria, também, na oposição à República Velha. O Direito Público
nas mãos da oligarquia era mais um instrumento para a utilização do po-
der, do que a condição necessária para o seu exercício(7). Essa é a explica-
ção do fato de como, em uma República dominada pelos bacharéis, havia
tanta fraude nus eleições, tanto desvirtuamento das instituições, o clima,
enfim, que levou ao ciclo revolucionário, cujo epílogo está em 1930. Ou
prosseguiu e, talvez, ainda prossiga.
Embora não tenhamos qualquer perspectiva histórica para urna
avaliação de nossa contemporaneidade, parece fora de dúvida que tam-
bém estamos diante de grandes transformações mundiais. A automação
altera sobremaneira as relações de produção e indica uma revolução mais
aguda do que a decorrente da invenção da máquina a vapor e do corolário
na industrialização. A cibernética e a informática subvertem todos os pla-
nos do conhecimento. O fantasma da guerra atómica atemoriza o mundo
inteiro e a Segunda Guerra Mundial fez aflorar a desgraça dos preconcei-
tos e o vazio de um Direito meramente formal. O Estado parece, mais
ama vez, tudo açambarcar. O comunismo soviético matou o nato do
Estado evanescenre. A idéia de plane jamento total esboroou na catástrofe
da diminuição da produtividade. O problema dos conflitos entre países,
ou entre grupos deles, vern passando a ser equacionado não mais em fun-
ção das posições ideológicas e políticas, mas ern razão ou da posição estra-
tégica e geopolíica ou, como decorrência do grau de desenvolvimento
que une as nações, pela semelhança de suas dificuldades. A questão social
adquiriu uma dimensão incomensurável. Já não é suficiente o Estado polí-
tico-administrativo, como não o era o Estado de direito; agora se espera
um Estado de justiça que sirva ao homem, incluindo a proteção da sua li-
berdade e de mínima intervenção estatal. É o grande paradoxo: um
Estado forte e eficiente, mas que intervenha pouco. As idéias socialistas se
fortaleceram dentro de um esquema democrático e postergaram o regime
__________
7 Sobre uma influência do Direito Privado e o menosprezo do Direito Público, cf. Afonso Arinos, Um
Estadista..., cit.
18 • Ronaldo Poletti
de igualdade fundado na ausência de liberdade. Querem o planejamento e
a liberdade,
Semelhanças e Diferenças
É lógico que as situações pré-constitucionais são sempre seme-
lhantes, mas mudando o que deve ser mudado, a nossa contemporaneida-
de tem um sabor comum ao do clima da Constituição de 1934. Reclama-se
da falta de justiça, não apenas a social; pede-se por participação e questio-
na-se a legitimidade da representação; deseja-se a Constituição, como apa-
nágio de um Estado de direito democrático, tido como ausente nos
últimos anos. E, no entanto, tal coroo os homens da primeira República,
também os responsáveis pelos governos revolucionários pós-64 julgam
haver feito o melhor c não ter se distanciado dos vaiores jurídicos e políti-
cos democráticos, tanto quanto as circunstâncias lhes possibilitaram. Se
na primeira República, o Direito Público não era forte na formação dos
governantes, sobretudo quanto à forma escorreita c ética na sua aplicação,
os anos recentes representaram notável concessão ao materialismo eco-
nômico, fazendo tudo depender do fato económico que se desejava con-
trolar com categorias econômicas, sem qualquer consideração com as de
caráter jurídico e mesmo cultural.
A grande diferença, porém, reside que, cm 1930, estávamos
prontos pata o debate, enquanto agora a discussão sobre a Constituinte
sobrepujou em muito a temática da própria Constituição. Tanto a Comis-
são que elaborou o anteprojeto como a Constituinte prornulgadora do
novo texto constitucional refletem o alto nível das ideias em jogo. Nível
não somente intelectual e cultural, como também patriótico. Os temas
abordados indicavam fórmulas novas e colocações não ortodoxas. Na-
quele momento, não se poderia dizer, como nos últimos anos, que nos-
sos constitucionalistas estão abraçados com cadáveres de idéias
mortas. Em relação a essas novidades da Lei Maior, originária da nossa
terceira Constituinte, considerando que elas ainda estão em pauta, é
que se pode afirmar, ainda uma vez, a oportunidade do estudo da
Constituição de 1934, Afonso Arinos, referindo-se aos trabalhos da
Comissão, chega a afirmar que "muito do bom e muito do mau da orga-
A Constituição de 1934 • 19
nização política brasileira, desde então até a lei vigente, tem a sua origem
nos debates daquela Comissão(8).
Do ponto de vista formal, inspiraram-se os estadistas de então
na Constituição de Weimar, de 1919, e na Constituição Republicana espa-
nhola, de 1931. A Lei de 1934 foi elaborada de acordo com o pensamento
jurídico da época, o qual, nascido depois da Primeira Grande Guerra, bus-
cava a racionalização do poder(9). Tal era a tônica de um livre muito divul-
gado no Brasil, de então: As Novas Tendências do Direito Constitucional, de
autoria de Mirkine Guetsévitch, tradução de Cândido Motta Filho e apre-
sentação de Vicente Ráo. A então nova Constituição espanhola vem tra-
duzida no volume(10).
Sobre essa obra, há trecho de discurso de Carlos Maximiliano
que, além de constituinte, foi membro da Comissão claboradora do ante-
projeto- A passagem merece, transcrição, pois revela o clima da época e,
ainda, se reveste de atualidade:
"Há um escritor que, hoje, está em voga. No Brasil tudo é moda, até
mesmo celebridade científica. Aqui a moda domina, desde os lugares em
que se faz footing na cidade, até as idéias e livros que se procuram e
preferem. :
Quando se reuniu a Comissão de 91, um livro de título impressionante,
LA Politique Experimentale, de Léon Domat, dominava as ruas e o recinto
das Assembléias. Era um livro bomt medíocre, entretanto, que apenas
vulgarizava idéias que não eram de seu autor; mas produzia sempre,
porém, a vantagem de dar um tom um pouco mais prático ao excesso de
romantismo dominante no momento. Agora, é Mirkine_Guetsévitch, parai
a direita e para a esquerda. Esse senhor, como todos os indivíduos de sua
raça, tem uma grande facilidade para línguas, maneja vários idiomas.
Traduziu ele, pois, as Constituições, realizou trabalho que, naturalmente,
lhe deu grande renda, mas no qual dele existe somente um pequeno
prefácio, em geral bem fcito. Traduziu obras notáveis de Hans Kelsen c
outros. E, enfim, um vulgarizador inteligente, e mais nada.
Ora exatamente como ele publicou os textos das Constituições do
mundo, vejo nos bondes, nos hotéis, nos ônibus, os livros dele em todas
8 Idem, ibidem, p.1045.
9 Cf. Afonso Arinos, Algumas Instituições Políticas no Brasil e nos Estados Unidos, Forense, Rio, 1975, p. 58 e
segs.
10 Cf. B. Mirkine-Guetsévitch, As Novas Tendências do Direito Constitucional, Cia. Editora Nacional, São Paulo,
1933.
20 • Ronaldo Polleti
as mãos e as Constituições alemã e austríaca, e que sei, reboam nos
ouvidos da gente de manhã até a noite.
Senhor Presidente, o Brasil é talvez o único país do mundo, em que os
homens cultos ainda sustentam a velha e erradíssima parêmia inclaris cessat
interpretatio. Por isso mesmo, um texto desta natureza, correndo entre
todas as mãos, st; serve, pára alguns, de uma gula útil, de momento para
outro, ao contrário, faz tomar o caminho errado.
Se saber Direito fosse simplesmente colecionar textos, felizes de nós,
estudiosos dessa ciência. Toda a nossa biblioteca caberia numa mala
inglesa de viagem, porque os códigos, em geral, são impressos em
pequenos volumes de papel da China, de maneira que se traria a legislação
dos povos cultos em pequeno espaço. Uma economia enorme de dinheiro
e tempo; um saber fácil de impressionar e baratíssimo de adquirir. O erro
vem de longe. Há alguns anos, quando se começou a ver o valor
extraordinário do Direito Comparado, como meio, como auxiliar paca
interpretação construtora das leis, no Brasil se criou, nas academias, aulas
de Legislação Comparada cm que se cansava a memória dos rapazes com
a obrigação de, depois de um texto, declarar qual o número
correspondente do Código Francês, Espanhol, etc. Caíram logo em si,
verificando que isso era um erro: o auxiliar não é a legislação, porém o
Direito Comparado. A inovação não tinha fundamentos nem na própria
ciência jurídica tradicional, porque scire legis non est verba e arum teneres sed vim
ac potestatem.
Não bastava conhecer os tortos: o principal eca conhecer s sua forca, o
seu poder, o seu alcance, a sua história, a sua aplicabilidade. Essas aulas
felizmente desapareceram. Vai-se, como se devia ir, à proporção que se
expõe uma doutrina, um capítulo, acompanhando com o Direito
Comparado; não com a legislação comparada; nesse terreno, Mirkine
Guetsévitch nos servirá muito pouco. Será necessário procurar os
comentadores das constituições hodiernas, o que é mais penoso, porque
as mais novas nem comentários têm. Não são traduzidas do alemão, uma
língua de que quase ninguém gosta e pela qual tive a ingenuidade de me
apaixonar muito cedo. Dessas consultas apressadas, simplesmente aos
textos, resulta um mal formidável, que já tenho apurado nos numerosos
projetos de constituições integrais ou parciais, que me chegaram ç estão
chegando às mãos todos os dias.
O Brasil é o país em que todo mundo sabe Direito, todo mundo discute
Direito, todo mundo fala sobre Direito. Eu recebi projetos integrais de
constituições, escritos por militares, engenheiros, médicos, farmacêuticos e
advogados. Ontem, ainda recebi dois. Todos os dias me chegam ãs mãos.
Vejo que são exatamente tantas vítimas de Mirkine Guetsévitch"(11).
11 In Hélio Silva, 1934. A Constituinte, Civilização Brasileira, Rio, 1969, pp. 62 a 64.
A Constituição de 1934 • 21
O Decreto nº 21.402, de 14 de maio de 1932, do Governo Provi-
sório, fixou o dia 3 de maio de 1933 para a realização das eleições à Assem-
bléia Constituinte e criou a Comissão para elaborar o anteprojeto da futura
Constituição. O ato foi assinado por Getúlio Vargas, Francisco Campos, José
Fernandes Leite de Castro, Oswaldo Ara-
nha, Protógenes P. Guimarães, Afrânio de
Mello Franco, Joaquim Pedro Salgado Fi-
lho, Mário Barbosa Carneiro (como encar-
regado do expediente do Ministério da
Agricultura, na ausência do Ministro), Fer-
nando Augusto D'Almeida Brandão (en-
carregado do expediente, na ausência co
Ministro da Viação e Obras Públicas). Seus
consideranda referiam-se, em face da consti-
tuição dos Tribunais Eleitorais, ao início da
fase de alistamento dos cidadãos para a es-
colha de seus representantes à Assembléia
Constituinte; à conveniência em prefixar-se
 Getúlio Vargas prazo para que se habilitem os cidadãos ao
direito de voto; à utilidade de abrir-se em debate nacional em torno das ques-
tões fundamentais da organização políticado País. A Comissão, sob a presi-
dência do Ministro da Justiça, seria composta de tantos membros quantos
fossem necessários à elaboração do texto e de maneira tal que estivessem nela
"representadas as correntes organizadas de opinião e de classe, a juízo do
Chefe do Governo"(12).
Em 1º de novembro de 1932, editou o Governo o Decreto
nº 22.040, que regulava os trabalhos da Comissão, confessando a necessidade
de apressar o seu funcionamento. O diploma fixava o quorum de 1 /3 de seus
membros para a instalação de suas reuniões e de maioria absoluta psra as
deliberações; estabelecia as atribuições do seu Presidente, o Ministro da
Justiça, dentre cias a de "designar um segundo Presidente, que terá, quando
em exercício, todas as funções e direitos do efetivo" e a de "nomear, para
_______________
12 Verificar conteúdo do cit. decreto in José AffonsO Mendonça de Azevedo, Elaborando a Constituição
Nacional, Belo Horizonte, 1933, p.257.
22 • Ronaldo Poletti
formar um projeto de Constituição, que sirva de base às deliberações do
plenário, uma subcomissão, composta de ura terço dos membros da Co-
missão, compreendidos obrigatoriamente neste
número os Ministros de Estado a ela presen-
tes". Nomeada a subcomissão deveria receber
ela, no prazo de quinze dias, sugestões dos
membros, "bem como de quaisquer institui-
ções culturais, sindicatos, associações científi-
cas, academias, tribunais judiciários e órgãos
representativos de correntes de opinião". O de-
creto, cm tela, disciplinava ainda o trâmite dos
trabalhos até o envio de sua conclusão ao Chefe
do Governo Provisório(13).
A subcomissão reuniu-se, pela pri-
meira vez, no dia 11 de novembro de 1932, na Afrânio de Mello Franco
residência do presidente, de fato, dos trabalhos, que foi Afrânio de Mello
Franco, Ministro das Relações Exteriores, Antunes Maciei, o Ministro da
Justiça, transferiu-lhe, na prática, o encargo(14). Integraram a subcomissão:
Mello Franco (presidente), Assis Brasil, Antônio Carlos Prudente de Mo-
raes Filho, João Mangabeira, Carlos Maximiliano, Arthur Ribeiro, Agenor
de Rourc, José Américo, Oswaldo Aranha, Oliveira
Vianna, Goés Monteiro e Themístocles Cavalcanti
(secretário da comissão geral).
Reuniu-se a subcomissão cinquenta e uma
vezes, encerrando-se seu trabalho a 5 de maio do ano
seguinte. Dela se retiraram antes do término, Arthur
Ribeiro, José Américo e Oliveira Vianna; outros,
posteriormente a seu início, prestaram a sua colabora-
ção: Castro Nunes e Solano Cunha. As atas das
sessões foram coligidas por José Affonso Mendonça
de Azevedo em. um volume, onde constam também
outros documentos interessantes(15)
. Assis Brasil
_____ ___________
 13 Cf. Idem, ibidem, pp. 258 e 259.
 14 Cf. idem, ibidem, ata da 1ª Sessão, p. 263 e Afonso Arinos, Um Estadista da República, cit.
 15 Cf. ob. cit. de José Affonso Mendonça de Azevedo.
A Constituição de 1934 • 23
A primeira questão colocada foi sobre qual seria o documento
que serviria de base para os trabalhos. Embora reconhecidos alguns
pontos altamente benéficos da Constituição de 1891, foi ela afastada.
Carlos Maximiliano, eleito Relator-Geral, teria como primeira tarefa a de
apresentar um esquema com as linhas gerais da futura Carta a discutir-se,
Foi o que ele apresentou, na forma de um índice e dos primeiros vinte e
dois artigos, na segunda sessão, no dia 15 de novembro. Nessa reunião, foi
feita uma distribuição de temas: Conselho Nacional — Mello Franco, José
Américo e Prudente de Moraes; Família, Educação, Ordem Económica e
Social -José Américo, João Mangabeira e Oliveira Vianna; Defesa Nacional,
Organização das Forças Armadas e Policiais dos Estados - Góes Monteiro;
Poder Judiciário - Arthur Ribeiro e Antônio Carlos; Política Econômica e
Financeira — Antônio Carlos, Agenor de Roure e Oswaldo Aranha;
Direitos e Deveres Fundamentais e Cidadania -Mello Franco e Themís-
tocles Cavalcanti.
A Comissão reuniu-se, no início de seus trabalhos, na residên-
cia, em Copacabana, do seu presidente Mello Franco. Mais tarde, deslo-
cou-se pana o Palácio do Itamaraty, donde o nome que lhe foi consagrado:
Comissão do Itamaraty.
Uma primeira intervenção de João Mangabeira, na segunda ses-
são, logo após a apresentação do documento elaborado por Carlos Maxi-
miliano, marca bem o tom dos
debates e preocupação, até aquele
momento, inédita na condução histórica dos nossos assuntos de governo.
Está registrado na ata:
"O Sr. João Mangabeira salienta que todas as Constituições modernas têm
como orientação acabar com as desigualdades sociais. Se a Constituição
brasileira não marchar na mesma direção, deixará de ser revolucionária
paca se tornar reacionária"(16).
Não será difícil, a partir dos nomes da Comissão, desenhar o
conteúdo ideológico dos debates, que poderiam ir desde uma inclinação
fascista, presente nos espíritos revolucionários mais jovens, até uma pos-
tura fortemente esquerdista, roas de feição democrática, na presença de
João Mangabeira, jurista, orador brilhante c cultor de Rui Barbosa. Góes
Monteiro exprimia um nacionalismo militarista, desconfiado das tradições
liberais e da técnica da democracia clássica. Oliveira Vianna, discípulo de
___________
16 Idem, ibidem, p. 274.
24 • Ronaldo Poletti
Alberto Torres, vinha impregnado de concepções sociológicas de cunho
aristocrático e autoritário e revelava uma grande crítica à República, cuja
Constituição lhe parecera distante da realidade nacional(17); como Alberto
Torres, era também um desiludido com a formia adotada pela República.
José Américo e Oswaldo Aranha tinham aspirações a uma justiça social
fundada num estudo forte, à moda européia. António Carlos indicava o
equilíbrio, que de forma candente iria manifestar-se na presidência tia Cons-
tituinte. Themístocles Cavalcanti estava no inicio de sua brilhante carreira,
como cultor do Direito Público. Arthur Ribeiro era magistrado, membro
do Supremo Tribunal Federal. Carlos Maximiliano, nome que dispensa
qualquer comentário, já havia sido Consultor-Geral da República e era urna
grande expressão da ciência do Direito no Brasil. Mais tarde, à Comissão
vieram integrar-se Castro Nunes, Agenor de Roure e Oto Prazeres.
O anteprojeto, elaborado pela Comissão do Itamaraty, conteve
linhas revolucionárias, muitas não-aproveitadas na futura Constituição
que, apesar de rotulada de progressista, acabou por prender-se aos princí-
pios republicanos tradicionais(18. É verdade que a Constituição introdu-
ziu matérias seguindo o modelo de Weimar, até então consideradas
estranhas ao Direito Constitucional, mas as grandes inovações vieram do
anteprojeto, além daquelas que, presentes nesse, não integrariam aquela.
O anteprojeto adotava o unicameralismo, a eleição indireta do
Presidente da República, um Conselho Supremo, a unidade no processo
judiciário e, em parte, da Magistratura; estabelecia amplas garantas sociais
e preconizava a socialização de empresas; possibilitava a adjudicação aos
posseiros da terra produtiva que, por cinco anos, ocupassem; tornava im-
penhorável a propriedade domiciliar; restringia o direito de herança à linha
direta ou entre cônjuges; tratava da liberdade sindical e da expropriação do
latifúndio, da assistência aos pobres e do salário mínirr.o; criava o manda-
do de segurança. Além disso, obrigava os Estados a usarem o símbolos
17 Cf. Oliveira Vianna, 0 idealismo na Constituição, in coletânea de Vicente Licínio Cardozo, À Margem da
História da República, Ed. Universidade de Brasília, 1981.
18 Cf. Pedro Calmon, ob. c i t . , p. 2294 e segs..
A Constituição de 1934 • 25
nacionais e proibia-lhes de tê-los; integrava na legislação brasileira as nor-
mas de Direito Internacional universalmente aceitas; criava uma Comis-
são Permanente para representar a Assembléia Nacional nos intervalos de
suas sessões; instituía uma justiça Eleitoral; traçava normas sobre o orça-
mento e a administração financeira; cuidava da defesa nacional e criava
territórios nacionais nas regiões fronteiriças, quando não possuíssem elas de-
terminada densidade demográfica;- fixava a capacidade eleitoral em 18 anos
para ambos os sexos, tornando obrigatório o voto pára os homens; permitia o
serviço religioso nas expedições militares, hospitais, penitenciárias ou "outros
estabelecimentos públicos", punha a família sob a proteção do Estado e de-
clarava a indissolubilidade do vínculo matrimonial; prescrevia normas para o
ensino e cultura e tratava com ênfase da ordem económica e social(19).
A defesa do anteprojeto que, sem dúvida, eta bastante inova-
dor, foi feita por João Mangabeira, através de artigos publicados na im-
prensa e que, posteriormente, se transformaram era livro muito
interessante e valioso repositório de ideias novas pata a época e ainda hoje
suscetíveis de apreciação(20).
Mangabeira começa por refutar a crítica de que o anteprojeto,
pelas diferentes tendências que o influenciaram e pelos interesses nele
confluentes, não guardava a unidade necessária para uma Carta política.
Para ele, as Constituições espelham invariavelmente um ecletismo decor-
rente das transigências e da conciliação, feitas pelas pessoas que a elabora-
ram. Foi assim na Constituição americana, como na de Weimar, onde o
autor do seu projeto, Preuss, fez muitas concessões, como o fizeram os
socialdemocratas. Constituição sem ecletismo somente ocorre através de
fortes revoluções sociais, como acontecera na Revolução Comunista de
1917. No movimento de 1930, no Brasil, havia uma variação grande de
tendências, "em cujo leito desaguavam correntes partidas de pontos opos-
tos, em cujo bojo se abrigava.m os interesses mais antagónicos, em cujas
fileiras se atropelavam ideias mais adversas numa escala cromática, que se
distendia do vermelho das reivindicações marxistas ao negro da reação
clerical"(21).
19 Sobre as novidades do anteprojeto, cf. Pedro Calmon, ibidem e Hamilton Leal, ob. cit., p. 478.
20 Cf. J o ã o Mangabeira, Em Torno da Constituição, Cia Editora Nacional, São Paulo, 1941.
21 ldem, ibidem, p. 13.
26 • RonaldoPoletti
Um dos pontos cruciais da discussão constitucional, que viria a
refletir no anteprojeto e na futura Constituição, era o da Federação. O
tema era antigo. Desde os primórdios da República, quando os seus pro-
pagandistas a tornaram inseparável dos ideais federalistas, discutia-se, no
País, o grau, a forma, a substância que deveria ter a nossa Federação.
Desde o inicio da era republicana, procurou-se evitar o ultrafe-
deralismo. Na verdade, as transformações económicas e sociais do mundo,
com implicações nas funções do Estado, acarretavam o distanciamento do
federalismo dualista para o menor rigor de um cooperativismo federal. Até
nos Estados Unidos da América ocorriam essas transformações, que a juris-
prudência da Suprema Corte refletia e provocava.
No Brasil, a República padecia do mal de um federalismo que
não se ajustava à realidade nacional. Como consequência, tínhamos uma
espécie de falta de solidariedade constitucional para uma ajuda aos estados
pobres e padecíamos de uma política dos governadores, contra a qual, en-
fim, se fizera a Revolução.
A Reforma Constitucional de 1926 não resolvera o problema.
Muito do anteprojeto se explica por essa preocupação em alterar a Federação.
O anteprojeto aumentava consideravelmente os casos de inter-
venção federal (art. 13), incluindo entre eles a hipótese de a intervenção vi-
sar a garantir o respeito a determinados princípios constitucionais, que os
Estados deveriam observar na soa organização (art. 81).
Proclamava incumbir a cada Estado prover, a expensas próprias,
necessidades de seu governo e administração; estabelecia, no entanto, a
possibilidade de o Estado receber da União suprimento financeiro, se por
insuficiência de renda não provesse, de maneira efetiva, aquelas necessida-
des. Em tal caso, a União interviria na administração estadual, fiscalizando
ou avocando o serviço a que o auxílio se destinasse ou suspendendo a au-
tonomia do Estado (art. 12).
Procurou, também, o anteprojeto dar força às sentenças,
conferindo ao Supremo Tribunal e ao Superior Tribunal Eleitoral a
competência de requisitarem a intervenção para cumprimento das
decisões e ordens da Justiça
(art. 13, e, § 3º).
O anteprojeto considerava nacionais certos interesses locais,
como a instrução primária, a saúde pública e a viação férrea, bem como a
A Constituição de 1934 • 27
radiotelegrafia, a navegação aérea, a circulação de automóveis, assuntos
logo regulados por convenções internacionais(27).
Golpeava de morte, ainda, os impostos interestaduais e os in-
termunicipais, vedando-os (art. 17).
Sintomático, ainda, o dispositivo projetado que determinava
obrigatório nos Estados o uso da bandeira, do hino e das armas nacionais,
vedando-lhes ter símbolos ou hinos próprios (art. 6º).
Enfim, o anteprojeto procurava coibir os excessos do ultrafedera-
lismo e buscava fortalecer a União, submetendo-lhe às polícias militares, que
se constituíam em famosos exércitos policiais, organizados peios Estados à
revelia do Poder Centra), que sobre elas nenhuma autoridade exercia(23).
Enfim, o anteprojeto era fruto do ideário da Revolução, que
reagia contra a Carta de 91, de inspiração individualista e, por isso, na ex-
pressão de Mangabeira, código "tão amado por todos os inimigos, desco-
bertos ou mascarados, das reivindicações do trabalho e dos direitos da
pobreza"(24).
O Poder Judiciário
Outro ponto notável do anteprojeto residia na proposta de uni-
dade da Magistratura.
Na Comissão, Mangabeira e Themístocles Cavalcanti defende-
ram a idéia da unidade. 
O anteprojeto terminava com o sistema dualista da Constitui-
ção de 1891, estabelecendo que "o Poder judiciário será exercido por tri-
bunais e juizes distribuídos pelo Pais; e o seu órgão supremo terá por
missão principal manter, pela jurisprudência, a unidade do direito, e inter-
pretar conclusivamente a Constituição em todo o território brasileiro"
(art. 47). Proclamava como órgãos do Poder Judiciário, além do Supremo,
o Tribunal de Reclamações, com sede na Capital da União, e os Tribunais
de Relação, nas capitais dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal.
________
22 Idem, ibidem, p. 17.
23 Idem, ibidem, pp. 18 e 19.
24 CF. idem, ibidem, p. 20.
28 • Ronaldo Poletti
A justiça reger-se-ia por uma lei orgânica, votada pela Assembléia Nacio-
nal (art. 49) e os Estados fariam sua divisão judiciária, cabendo-lhes nome-
ar os juizes que neles tiverem jurisdição, mas deveriam os Estados
observar as prescrições ditadas pela Lei Maior. Esta era a novidade, além
da criação da Justiça Eleitoral.
Prevalecera, na Comissão, a tese da unidade, que cairia na
Constituinte.
Não era uma unidade radical, mas mitigada pela subordinação
dos Estados a preceitos constitucionais.
Caberia a Mangabeíra, mais uma vez, fazer a defesa do projeto.
Sustenta que todo o mundo jurídico do País, pelas suas instituições, se ma-
nifestava pela unidade, com exceção dos tribunais
estaduais dos Estados fortes. São Paulo, Rio
Grande do Sul e Minas Gerais. Rui a defendera
na campanha civilista e no programa do Partido
liberal. A lógica parece, de fato, indicar que a
unidade da Magistratura decorre da unidade do
Direito; era sentido contrário, apenas a duali-
dade do direito material, como nos Estados
Unidos da América, justificaria a existência de
uma Magistratura em cada Estado-Membro.
Além de Rui, outros grandes nomes do Direito Rui Barbosa
brasileiro defendiam a unidade, dentre eles, Clóvis Bevilacqua e João
Monteiro.
A unidade não implicava ferir a Federação. A própria Consti-
tuição austríaca, aliás, federal, elaborada pelo gênio de Kelsen, traduzia
uma unidade: "Toda jurisdição emana da Federação; a legislação fede-
ral fixará a organização e a competência dos tribunais". Logo, não era
impossível a unidade de Magistratura em um Estado Federal. A resis-
tência à ideia da unificação parecia vir' das oligarquias estaduais, que
buscavam no federalismo absoluto a justificativa doutrinária para a du-
alidade. Mas a Revolução era em parte contra os exageros do ultrafede-
ralismo, como o de Campos Salles, defensor da soberania dos
Estados-Membros.
Tese sofisticada na defesa da dualidade era a de João Mendes,
que sustentava a unidade de jurisdição, na dualidade da Justiça.
A Constituição de 1934 • 29
O anteprojeto, em relação ao Judiciário,trazia ainda novidades
expressivas quanto ao controle da constitucionalidade das leis. Deixava
claro competir ao Supremo "interpretar conclusivamente a Constituição,
em todo o território brasileiro", com o que se evitaria qualquer resistência
nesse sentido, como se ensaiaram no Brasil e existira nos Estados Unidos
da América. O anteprojeto estabelecia, também, que a inconstitucionali-
dade somente poderia ser decretada por votos de dois terços dos Minis-
tros do Supremo. Aliás, trazia algumas interessantes inovações sobre o
tema da ínconstitucionalidade, valorizando a presunção em favor do Le-
gislativo e dos atos das autoridades. Assim proclamava que a declaração
definitiva de decisão de qualquer tribunal ou juiz que não aplicasse uma lei
federal ou anulasse um ato do Presidente da República (art. 57, § 2º). Jul-
gados inconstitucionais qualquer lei ou ato do Poder Executivo, as pesso-
as que estivessem nas condições do litigante vitorioso estariam amparadas
pelo mandado de segurança (art. 57, § 3º), também objeto de proposta de
criação do anteprojeto.
Paralelamente à questão da constitucionalidade, o problema da
aplicação e da interpretação da lei, que não podiam contraditar o interesse
coletivo (art. 58).
A grande inovação do anteprojeto com reflexo no Judiciário,
e atinente aos direitos individuais, consolidava o que já era uma evolu-
ção jurisprudencial, extremando a garantia do habeas corpus para somen-
te o direito de ir e vir, e criando o mandado de segurança. Dizia o art.
102, §21: 
"Quem tiver um direito certo e incontestável ameaçado ou violado por
aro manifestamente ilegal do Poder Executivo poderá requerer ao juiz
competente um mandato de segurança. A lei estabelecerá processo
sumaríssimo que permita ao juiz, dentro de cinco dias, ouvida neste prazo,
por 72 horas, a autoridade coatora, resolvei o caso, negando o mandado
ou, se o expedir, proibindo-a de praticar o ato, ou ordenando-lhe
restabelecer integralmente a situação anterior, até que, em última instância,
se pronuncie o Poder Judiciário. Não será concedido o mandado, se o
requerente tiver, há mais de 30 dias, conhecimento do ato ilegal, ou se a
questão for sobre impostos, taxas ou multas fiscais. Nestes casos, caberá
ao lesado recorrer aos meios normais."
Prosseguindo na demonstração de criatividade, pouco comum
no pensamento constitucional brasileiro, o anteprojeto, além de dispensar
30 • RonaldoPoletti
os tribunais regionais, criava, como já foi referido, o Tribunal das Recla-
mações, visando diminuir o trabalho do Supremo Tribunal Federal. São
temas e objetivos, passado meio século, ainda atuais.
Estabelecia o júri, com a organização e as atribuições que a lei
ordinária lhe desse, atribuindo-lhe, porém, desde logo, o julgamento dos
crimes de imprensa e os políticos, exceto os eleitorais (art. 62). Esse
tema, também, é muito atual. Antes dos crimes dolosos contra a vida, os
de imprensa e os crimes políticos, com maior razão, merecem ser julga-
dos pelos cidadãos. O júri popular é que pode dar a medida da antijuridi-
cidade dos fatos, quando se trata de violação perpetrada através da
imprensa; ou em condições de avaliar a real motivação política de atos
delituosos. Por outro lado, atribuindo a organização do júri à lei ordinária,
permitia o júri técnico.
No tocante ao Ministério Público, o anteprojeto regia contra a
República Velha, onde o chefe do parquet era designado pelo Presidente da
República, dentre os membros do Supremo Tribunal Federal. Ainda é atu-
al a projeção do anteprojeto.
"O Procurador-Geral será nomeado pela mesma forma e com os mesmos
requisitos dos Ministros do Supremo Tribunal e terá os mesmos venci-
mentos; só perderá o cafgo por sentença, ou mediante
decreto fundamen-
tado do Presidente da República, aprovado por dois terços da Assembléia
Nacional..." (art. 63, § 3°).
Por último, sempre voltado pata a questão social, o anteprojeto
assegurava aos pobres a gratuidade da Justiça (art. 64).
O Poder Legislativo
A Comissão elaboradora do anteprojeto optou pelo sistema
unicameral: "O Poder Legislativo será exercido pela Assembléia Nacional
com a sanção do Presidente ca República" (art. 20). Era a tese vitoriosa de
Mangabeira. Contra ela, apenas se manifestou a voz de Arthur Ribeiro,
que, aliás, também se opusera à unificação da Magistratura e que se retirara
da Comissão em face da aprovação da emenda instituidora da federaliza-
A Constituição de 1934 • 31
ção da organização judiciátia(25). O Senado seria suprimido. Em seu lugar
criado o Conselho Supremo:
"O Conselho Supremo será órgão técnico consultivo e deliberativo, com fun-
ções políticas e administrativas, manterá a continuidade administrativa nacio-
nal; auxiliará, com o seu saber e experiência, os órgãos do Governo e os
Poderes Públicos, por meio de pareceres, mediante consulta; deliberará e resol-
verá sobre os assuntos de sua competência fixada nesta Constituição" (art. 68).
O Conselho Supremo já havia sido objeto de proposta de Arnolfo
Azevedo em 1912. Com a supressão do Senado, a ideia adquiria extraordiná-
rio relevo. Suas funções, como se vê, seriam amplas, diversificadas e comple-
xas. Reminiscência tardia, talvez, do Conselho do Império, o grande órgão
constitucional do antigo regime, suprimido em 1834 pelo Ato Adicional e
restaurado em 1843, cujas atas são repositório de saber e de espírito público.
Seria o Conselho Supremo composto de 35 conselheiros mais os
ex-Presidentes da República, que houvessem exercido o cargo durante pelo
menos três anos. Deveriam eles ser brasileiros natos, maiores de 35 anos, es-
tar no exercício dos direitos políticos, com reconhecida idoneidade moral, re-
putação de notável saber ou ter exercido cargos superiores de administração
ou da Magistratura ou se salientado no Poder Legislativo nacional, ou, de ou-
tro modo, por sua capacidade técnica ou científica (art. 67, § lº). Os conselhei-
ros gozariam das imunidades asseguradas aos deputados à Assembléia
Nacional (art. 67, § 5º) e exerceriam o múnus por sete anos, podendo ser ree-
leitos ou nomeados para ura novo setênio (§ 4º). Seriam escolhidos por crité-
rios variados e algo sofisticados, embora de evidente sentido representativo:
"a) vinte e um, sendo um por Estado e um pelo Distrito Federal,
mediante eleição pela Assembléia Legislativa local; b) três, por eleição de
segundo grau, pelos delegados das universidades da República, oficiais ou
reconhecidas pela União; c) cinco representantes dos interesses sociais de
ordem administrativa, moral e econômica, por eleição em segundo grau,
designando a lei as entidades a que incumbe tal representação e o modo
de escolha; d) seis nomeados pelo Presidente da República em lista de 20
nomes, organizada por uma comissão composta de sete deputados, eleitos
pela Assembléia Nacional, por voto secreto, e sete Ministros do Supremo
Tribunal, eleitos por este, pela mesma forma" (§ 3º).
Verifica-se, por aí, embora mitigada, a questão da representa-
ção corporativa. O anteprojeto fazia a Assembléia Nacional composta
__________
25 Cf. Afonso Arinos, Um Estadista da República, cit.
32 • Ronaldo Poletti
por deputados eleitos mediante sistema proporcional e sufrágio direto,
igual e secreto, dos maiores de 18 anos, alistados na forma da lei (art. 22).
Mas abria, embora de forma tênue, a perspectiva da representação cor-
porativa no Conselho Supremo, com os representantes de interesses so-
ciais de ordem econômica, moral e administrativa.
Interessante anotar, ainda, que o Conselho se reuniria em ses-
são plena, sob convocação do Presidente da República, em graves emer-
gências da vida nacional, tomando assento na reunião, e votando, os
membros do Conselho Superior da Defesa Nacional, o Presidente da
Assembleia Nacional, o do Supremo Tribunal e o Procurador-Geral da
República (art. 68, § 2º).
Poderia, também, o Presidente da República convocar o
Conselho Supremo para ouvi-lo diretamente acerca de assuntos rele-
vantes de natureza política ou administrativa (art. 68, § 3a). As consul-
tas, pot sua vez, poderiam ser formuladas pelo Presidente da
República; pela Mesa da Assembléia ou pela Comissão Permanente
(outra inovação do anteprojeto); pelos presidentes dos Estados; pelas
Mesas das Assembléias dos Estados ou dos Conselhos municipais (art.
68, § 3º).
Algumas das atribuições do Conselho Supremo são, de fato,
notáveis: autorizar a intervenção nos Estados, quando esta for da com-
petência exclusiva do Presidente da República; aprovar, ou não, a nome-
ação dos Ministros de Estado e do Prefeito do Distrito Federal; elaborar
qüinqüenalmente, projeto de lei
"destinado a conciliar os respectivos interesses econômicos e tributários,
impedindo a dupla tributação; propor à Assembléia Nacional modificar a
uniformidade dos impostos federais; resolver sobre a conveniência de
rnanter-se detenção política por mais de 30 dias, ordenada na vigência
do estado de sítio; decidir dos recursos interpostos nos casos de censura;
propor à Assembléia projetos de lei; convocar extraordinariamente a
Assembleia Nacional; representar perante a Assembléia contra o Presi-
dente da República e os Ministros de Estado, no sentido de lhes ser ins-
taurado o processo de responsabilidade, reunindo para esse fim os ele-
mentos úteis à acusação" (art. 69).
Assim, do ponto de vista do Legislativo, o anteprojeto suscita-
va duas novidades básicas: o unicameralismo e a revivência de um Con-
selho Supremo.
AConstituição de 1934 • 33
Mangabeira faz a defesa, mais uma vez, do anteprojeto(26). O
anteprojeto seguia o modelo de inúmeras Constituições do após-guerra.
Nos países bicamerais, a tendência sempre foi paia o predomínio de uma
das Câmaras, sendo que a Câmara Alta indicava, de forma invariável, um
resquício da aristocracia do patriciado. Nos Estados Unidos da América,
até o predomínio do Senado não parece representar um bem, antes um
mal, sintoma de uma oligarquia. Afinal, qual a razão de uma segunda Câ-
mara? Revisora? Qual o fundamento disto? Na verdade, o Senado é des-
necessário. Mais ainda: é prejudicial. Aos que argumentam com a
Federação, Mangabeira opõe que o precedente americano tem mais auto-
ridade do que razão. O sistema bicameral não é peculiar à Federação. Em
inúmeros países do Estado Federal, as unidades federativas se represen-
tam desigualmente: o Império alemão, o Canadá, a República alemã, a
Áustria. Há, em contrapartida, Estados unitários com duas Câmaras; "O que
caracteriza o Estado Federal é sua coexistência com Estados constitucional-
mente autônomos, dentro das raias que a Constituição Federal lhes traça, e a
impossibilidade de modificação desta por lei ordinária da Assembléia Nacio-
nal"(27). A época da votação por Estados passou. Isto era o que ocorria entre
nós. As bancadas votavam de acordo com a opinião política ou econômica
das regiões. As leis, no entanto, interessam à Nação. Não há razão para o Se-
nado interferir no .processo legislativo. Quanto aos direitos dos Estados,
como os da União, "quem os assegura contra possíveis usurpações é o Su-
premo Tribunal, como guarda e intérprete máximo da Constituição"(28).
O Senado seria substituído, com vantagens, pelo Conselho Su-
premo, o qual, de certa maneira, repercutia a idéia de poder coordenador,
projetada por Alberto Torres(29).
Na parte do Legislativo, inovava o anteprojeto quanto à iniciati-
va das leis, que pertenceria: a) à Assembléia Nacional, por qualquer de
seus mernbros ou de Comissões; b) ao Presidente da República; c) ao
Conselho Supremo; d) às associações culturais e às profissionais devida-
mente reconhecidas (art. 34).
Na última parte, verifica-se, mais
uma vez, a influência corpora-
tivista, desta vez salutar. Os representantes das corporações, profissionais
e culturais, não integram uma Câmara, mas têm eles a iniciativa da lei.
________
26 Cf. João Mangabeira, ob. cit. p. 52 e segs..
27 Idem, ibidem, p. 61.
28 Idem, ibidem, p. 63..
29 Cf. Alberto Torres, A Organização Nacional, Cia. Editora Nacional e Ed. Universidade de Brasília, 1982.
34 • Ronaldo Poletti
Ura dos pontos polêmicos do anteprojcto consistia na eleição
presidencial. Far-se-ia ela por escrutínio secreto e maioria de votos da
Assembléia Nacional, presente a maioria absoluta de seus membros. Não
haveria vice-presidente. Os substitutos eventuais seriam o Presidente da
Assembléia e do Supremo Tribunal, Havendo vaga, proceder-se-ia sem-
pre a nova eleição (art. 37).
Nesse ponto, como se vê, também o anteprojeto, além de mo-
derno, apresenta questões à nossa contemporaneidade!
O interessante está em que a temática da eleição direta foi coloca-
da perante a Comissão. Em um extremo, o sufrágio popular, com as críticas
de sempre, agravadas até cinquenta anos pelas nossas deficiências em co-
municação, e, no outro lado, a eleição pela Assembleia. No meio dessas po-
sições, a ideia de Mangabeira.' um colégio eleitoral, composto da Assembléia
e do Conselho Supremo; dos membros do Supremo Tribunal, do Tribunal
de Contas e do Tribunal Militar; dos generais e almirantes efetivos, represen-
tando as Forças Armadas; dos governadores, dos presidentes das Assemblei-
as e dos Tribunais de Apelação dos Estados; do prefeito e dos presidentes do
Conselho e do Tribunal de Apelação do Distrito Federal; dos diretores das fa-
culdades de ensino superior130'. Veri£cou-se, portanto, o tema da eleição dire-
ta, o da indireta e, curiosamente, o daquela feita por um colégio eleitoral, a
qual Mangabeira, critico das duas primeiras, não qualificava como indireta,
Onde, todavia, o anteprojeto anunciava marcantes novidades
era na parte social. Trazia, como já foi referido, matérias até então consi-
deradas não-constitucionais (p. ex. funcionários públicos, religião, família,
cultura e ensino, ordem econômica e social). Deve decorrer daí a tendên-
cia nacional de inserir na Carta Política dispositivos materialmente
não-compreendidos pelo Direito Constitucional, Por isso, o texto proje-
tado era mais extenso que o normal (135 artigos mais as disposições tran-
sitórias), embora não chegasse a ser uma enciclopédia. Afinal, perderia
para as nossas futuras Cartas (a atual tem 217 artigos).
30 Cf.João Mangabeira, ob. cit, p 130..
. A Constituição de 1934 • 35
Alguns mandamentos do anteprojeto merecem destaque:
"A União poderá expulsar do território nacional os estrangeiros perigosos à or-
dem pública ou nocivos aos interesses do País, salvo se forem casados há mais
de três anos com brasileiras ou tiverem filhos menores brasileiros" (art. 102, §
31 - a novidade estava na restrição humanitária ao instituto da expulsão).
"A União exige de brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil o cumpri-
mento de deveres, expresses nos seguintes termos:
§ lº Todo indivíduo tem o dever de defender esta Constituição e de se
opor às ordens evidentemente ilegais (art. 103).
§ 2º Todo indivíduo tem o dever de prestar os serviços que, em benefício
da coletividade, a lei determinar, sob pena de perda dos direitos políticos,
além de outras que ela prescrever."
O anteprojeto cuidava da família, que merecia a proteçâo espe-
cial do Estado, repousando sobre o casamento e a igualdade jurídica dos
sexos. O matrimônio seria indissolúvel (arts. 107 e 108).
Incumbiria ao Estado, nos termos da lei:
"a) velar pela pureza, sanidade e melhoramento da família; b) facilitar aos pais
o cumprimento de seus deveres de educação e instrução dos filhos; c) fiscali-
zar o modo pelo qual os pais cumprem seus deveres para com a prole e cum-
pri-los subsidiariamente; d) amparar a maternidade e a infância; e) socorrer as
famílias de prole numerosa; f) proteger a juventude contra toda a exploração,
bem como contra o abandono físico, moral e intelectual" (art. 110).
A proteção das leis quanto ao desenvolvimento físico e espiri-
tual dos filhos ilegítimos não poderia ser diferente da instituída para os le-
gítimos. Faculta-se ao filho ilegítimo a investigação da paternidade ou da
maternidade (art, 109).
No título Da Cultura e do Ensino, o anteprojeto era pródigo em
normas programáticas de grande alcance social:
"O ensino pnmário é obrigatório, podendo, ser ministrado no lar domésti-
co e em escolas oficiais ou particulares" (art. 111, § 2º).
"É gratuito o ensino nas escolas públicas primárias. Nelas será fornecido
gratuitamente aos pobres o material escolar" (idem § 3º).
Acenava com bolsas de estudo para os estudantes pobres. Pro-
clamava-se que a admissão de estudantes nas escolas públicas, de todos os
níveis, levaria em conta somente o merecimento, nada influindo a condição
dos pais (idem, § 5º). Garantia a liberdade de cátedra, mas proibia ao profes-
sor ferir os sentimentos dos que pensassem de forma diversa (§ 6º). Torna-
36 • Ronaldo Poletti
va obrigatórios nas escolas primárias, secundárias, profissionais ou normais,
o ensino cívico, a educação e o trabalho manual. (§ 7º). Fazia da religião uma
matéria facultativa de ensino nas escolas públicas, primárias, secundárias,
profissionais ou normais, subordinada à confissão religiosa dos alunos (§
8º). Vê-se que não eta absoluta a vitória da reação clerical.
Assim, o anteprojeto era revolucionário e notável, sobretudo
no cotejo com a primeira Carta Republicana de 1891. Tais qualidades aflo-
ravam nas projeções da ordem econômica c social.
"A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justi-
ça e as necessidades da vida nacional, de modo que assegure a todos uma
existência digna do homem. Dentro desses limites é garantida a liberdade
econômica" (art. 113).
O direito de propriedade tem o limite de lei e a propriedade tem
uma função social, não podendo ser exercida contra o interesse coletivo
(art. 114, § 1º). Prevê-se a desapropriação por utilidade pública ou interes-
se social, "mediante prévia e justa indenização paga em dinheiro, ou por ou-
tra forma estabelecida em lei especial aprovada por maioria absoluta dos
membros da Assembléia.
Nacionalismo: as concessões para a exploração de minas e que-
das d'água seriam possíveis, mas somente a brasileiros ou empresas orga-
nizadas no Brasil e com capital nele integralizado (art. 115).
Usucapião pro labore: "Aquele que, por cinco anos ininterruptos,
sem oposição, sem reconhecimento de domínio alheio, possui um trecho
de terra que tornou produtivo pelo trabalho, adquire por isto mesmo a
plena propriedade do solo, podendo requerer ao juiz que assim o declarou
por sentença" (att. 116).
Admite a prescrição aquisitiva de terras públicas devolutas:
"Ficarão proprietários gratuitos das terras devolutas, onde têm benfeitorias,
seus atuais posseiros, se forem nacionais" (art. 116, § 1º).
Proíbe a usura e a define (art. 117).
Humaniza as execuções e as falências, desde que
não-fraudulentas, não se podendo reduzir à miséria o devedor. "A lei, ou
na sua falta o juiz, providenciará a tal respeito" (art. 118, caput). "Será im-
penhorável a casa de pequena valia que servir de morada ao devedor e sua fa-
mília, se ele não tiver outros haveres" (§ lº). Em iguais termos, a propriedade
rural, destinada a prover a subsistência do devedor e sua família (§ 2º).
A Constituição de 1934 • 37
Permite a socialização de empresas econômicas, mediante con-
dições que estipula (art. 120). Faculta à União e aos Estados, através de lei
federal, intervir na administração das empresas econômicas, inclusive para
coordená-las, quando assim o exigir o interesse público (§ lº).
Reconhece a herança exclusivamente na linha reta ou entre cônju-
ges. O imposto de transmissão seria progressivo (art. 122). Garante
a liberdade
de associação para a defesa das condições do trabalho e da vida econômica.
Proclama, ainda:
"A lei estabelecerá as condições do trabalho na cidade e nos campos, e in-
tervirá nas relações entre o capital e o trabalho para os colocar no mesmo
pé de igualdade, tendo em vista s proteção social do trabalhador e os inte-
resses econômicos do País" (art. 124).
Estabelece os princípios a serem observados na legislação so-
bre o trabalho: "a trabalho igual corresponderá igual salário, sem distinção
de idade ou sexo", "a lei assegurará nas cidades e nos campos um salário mí-
nimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessi-
dades normais da vida de um trabalhador chefe de família", a jornada de
trabalho será de oito horas, e nas indústrias insalubres, de seis horas, salvo
o pagamento de horas extras; garantia ao trabalhador da necessária assis-
tência em caso de enfermidade, bem como à gestante operária, podendo a
lei instituir o seguro obrigatório contra a velhice, a doença, o desemprego,
os riscos e acidentes do trabalho e em favor da maternidade; criação pelas
empresas de um fundo de reserva do trabalho capaz de assegurar aos ope-
rários, ou empregados, o ordenado ou salário de um ano, se por qualquer
motivo a empresa desaparecer; obrigação de as empresas industriais ou
agrícolas, com mais de cinquenta empregados, manterem, pelo menos,
uma escola primária para o ensino gratuito de seus empregados, trabalha-
dores e seus filhos (origem do salário educação); obrigação de aquelas em-
presas providenciarem a assistência médica; "a legislação agrária
favorecerá a pequena propriedade, facultando ao poder público expropri-
ar os latifúndios, se houver conveniência de os parcelat em benefício do
cultivador, ou de os explorar sob forma cooperativa".
Prescrevia o anteprojeto que o Ministério Público velaria pela
aplicação das normas protetoras do trabalhador urbano ou rural, bem
como prestar-lhes-ia assistência gratuita.
Assegurava a assistência aos pobres (art. 125).
38 • Ronaldo Poletti
Criava uma espécie de contribuição de melhoria e de forma
drástica:
"A valorização resultante dos serviços públicos ou do progresso social,
sem que o proprietário do imóvel para isso tenha concorrido, pertencerá,
pelo menos em metade, à Fazenda Pública" (art. 127).
Programava a política agrária
"no sentido da fixação do homem nos campos, a bem do desenvolvimento
das forças econômicas do País. Para isto, a lei federai estabelecera um plano
geral de colonização e aproveitamento das terras públicas, sem prejuízo das
iniciativas locais, coordenadas com as diretrizes da União. Na colonização
dessas terras serão preferidos os trabalhadores nacionais" (art. 128).
Finalmente, um dispositivo interessante sobre a reforma cons-
titucional:
"Art. 135. A Constituição poderá ser reformada mediante proposta de uma
quarta parte, pelo menos, dos membros da Assembléia Nacional, ou de dois
terços dos Estados, no decurso de um ano, representado cada um deles pela
maioria de sua Assembléia. No primeiro caso, a reforma considerar-se-á
aprovada, se aceita, mediante três discussões, por dois terços de votos dos
membros presentes da Assembléia e do Conselho Supremo, em dois anos
consecutivos. No segundo caso, se aceita mediante três discussões, por dois
terços de votos dos membros presentes da Assembléia, no ano seguinte à
proposta dos Estados.
Parágrafo único. A reforma aprovada incorporar-se-á no texto da Consti-
tuição, que será, sob a nova forma, publicada com a assinatura dos mem-
bros da Mesa da Assembléia.''
Esse breve repassar pelo anteprojeto, parece ser suficiente para
demonstrar a sua importância na história do Direito Constitucional brasilei-
ro, sobretudo na alta criatividade nela resultante. Um dos problemas da
Constituição de 1934 foi, sem dúvida, o fato de os constituintes nào have-
rem absorvido bem a proposta, no fundo, bastante revolucionária. A Cons-
tituição, ao contrário do anteprojeto, pautou-se por uma desconfiança
diante do Executivo. Condicionando tudo ao Legislativo, que daria a última
palavra, a Carta de 34, por motivos transversos, preparou o golpe de Estado
de 37.
Houve na relação do anteprojeto de Constituição idas e vindas.
Exemplo disso foi a questão da representação classista, de que eram parti-
dários, na Comissão do Itamaraty, João Mangabeira., Góes Monteiro,
A Constituiçãode 1934 39
Oswaldo Aranha, José Américo, Oliveira Vianna, Themistocles Cavalcan-
ri. E contra, os vitoriosos no debate: Prudente de Moraes, Carlos Maximi-
liano, Antônio Carlos e Mello Franco.
Estávamos no auge da discussão da representação política, até
hoje o nó górdio de qualquer teoria constitucional democrática, e era na-
tural que a legislação, consideradas as circunstâncias tio avanço dos traba-
lhadores e suas corporações, tratasse do problema,
A representação classista caiu na Comissão do Itamataty, mas
foi reintroduzida pela Constituinte ³.
Mangabeira era partidário da representação profissional. Jnda-
gaâo sobre ela, em entrevista â imprensa, responde:
"As assembléias não se podem compor exclusivamente de representantes
do povo, escolhidos por um eleitorado formado segundo o critério demo-
gráfico. Não porque o Estado não se compõe somente de indivíduos, mas
de indivíduos e corporações. Estas devem ter voz, nas questões que lhes
interessam e dizem, sobretudo, respeito á produção, O ponto delicado é
ver como se representa. As Assembleias políticas devem exercer sobretu-
do a função política. Na minha opinião, deveríamos ter apenas uma Câ-
mara, não muito grande para não enfraquecer, nem rruito pequena para
nào se corromper, As Assembléias muito numerosas dificilmente se orga-
nizam e resistem; as muito reduzidas facilmente se corrompem c cedem.
Acho que nos bastaria uma Assembleia de mais ou
menos a metade àa Câmara dos Deputados dissolvida.
Seria mais económico para o Tesouro e mais útil e efi-
ciente para o País. Mas, uma Assembléia que funcio-
nasse, salvo deliberação própria, o ano inteiro, Porque,
sendo sua grande função a política, deveria sempre
estar, presente para controlar o Executivo. Dizia-se o
diabo do antigo Congresso, comentava-se, em todos
os tons, a sua subserviência; mas rodos, todos os presi-
dentes, só desejavam vê-lo pelas costas e todos os
grandes golpes de arbítrio se guardavam para o inter-
valo das sessões. Porque o grande papel da Assem-
bléia política é o de fiscalização e de propaganda, é o
de pulmões - por onde respiram os partidos políti-
cos A voz de um deputado de oposição basta, muita
 José Américo de Almeida vez, para evitar um abuso, impedir uma violência, ou
 fulminar um atentado. Mas a lei exige uma técni-
31 Cf. Afonso Arinos, Um Essadista...cit, sobre os prós e contras à representação profissional, no plano
doutrinário, cf. Araújo Costa, ob. cit. p. 155 e segs..
40 • RonaldoPoletti
ca para a qual uma assembléia não tem, nem pode ter o preparo especiali-
zado e indispensável. A função da Câmara deveria ser discutir e aceitar
ou rejeitar as leis que as comissões técnicas fizessem. Competiria à
Assembléia política votar, por exemplo, pró ou contra o divórcio, por-
que não se trataria aí de um problema técnico-jurídico, mas social, polí-
tico, religioso, se o quiserem, cue qualquer homem decidirá de acordo
com as suas convicções, seus sentimentos ou sua religião. Mas uma lei de
divórcio exige uma técnica, na qual um engenheiro, um militar ou um padre,
geralmente não podem ser peritos. Em resumo, uma Assembléia política deli-
bera e vota questões políticas ou sociais; mas não resolve, acertadamete,
problemas de especialização ou de técnica"(32).
IV - A CONSTITUINTE
A Constituinte reuniu-se em assembléia no dia 15 de novembro
de 1933, no Palácio Tiradentes.
Para entendê-la, é mister remontar não apenas às Revolu-
ções
de 30 e 32, como ao ordenamento jurídico eleitoral que a prece-
deu.
Na verdade, não somente o ideário de 30 estava imprecado do
tema eleitoral, como a Constituinte seria marcada pela presença emocio-
nante da bancada paulista(33).
Tais eram as condicionantes dos trabalhos: a revolução e sua le-
gislação; e o espírito de desconfiança contra o Governo Provisório. Eram
esses, também, o seu limite ou suas limitações.
O Código Eleitoral havia sido baixado pelo Decreto nº 21.076,
de 24 de fevereiro de 1932. Afonso Arinos o qualifica de notável(34). Criava
ele o voto secreto, a Justiça Eleitoral, a representação proporcional, o su-
frágio feminino e buscava a verdade da representação. Editado pelo Go-
verno Provisório, ensejava a exclamação de Pedro Calmon:
"Representação (quando houvesse!)"(35).
O antepenúltimo artigo do diploma decretal estabelecia:
32 Cf. João Mangabeira, OB. cit.
33 Cf. Hélio Silva, ob. cit.
34 Cf. Afonso Arinos, Curso... cit., vol. II, p. 187.
35 Cf. Pedro Calmon, ob. cit.
A Constituição de 1934 • 41
"Art. 142. No decreto em que convocar os eleitores para a eleição de re-
presentantes à Constituinte, o Governo determinará o número de repre-
sentantes nacionais que a cada Estado caiba eleger, bem como o modo e
as condições de representação das associações profissionais.
Parágrafo único. Cada Estado, o Distrito Federal e o Território do Acre
constituirá uma região eleitoral."
Assim, bem antes do início dos trabalhos da Comissão do an-
teprojeto, já se decidira a representação profissional para a Constituinte.
As categorias profissionais deveriam estar presentes na Assembléia
Constituinte, não necessariamente na representação política determina-
da pela futura Constituição, embora ela, mitigada, prevalecesse também
na futura Carta.
Veio o Decreto nº 22.653, de abril de 1933, que fixou o número
e estabeleceu o modo de escolha dos representantes de associações profis-
sionais que participariam da Assembléia Constituinte. De fato, dela fatiam
parte 40 deputados classistas, ao lado de 214 representantes eleitos.
Somados o Código Eleitoral e o Decreto Eleitoral da participação
classista, o Governo avançava no condicionamento da futura Constituinte.
Mas, as limitações impostas pelo Governo Provisório à Assem-
bléia Constituinte não ficaram por ali. Do ponto de vista político, é lógico, os
revolucionários paulistas não puderam participar da Constituinte. Do prisma
jurídico, o Decteto n- 22.621, de 7 de abril de 1933, editou o Regimento
Interno da Assembléia Nacional Constituinte. E este era, de fato, uma limita-
ção à Constituinte, a par de ser uma intromissão injustificada nos trabalhos da
Assembléia. Determinava o Decreto até os pormenores da instalação e a lei-
tura do projeto de Constituição remetido pelo Governo Provisório (art 15);
tratava das emendas (art. 17); dispunha sobre a Comissão Constitucional in-
cumbida de dar parecer sobre o projeto (art. 19). O Presidente da Assembleia
podia recusar o recebimento de emendas ao projeto constitucional (art. 33).
Os Ministros de Estado poderiam ser convocados, mas tinham o direito de
comparecer e de participar dos debates, sempre que o entendessem necessá-
rio ou quando fossem destacados pelo Chefe do Governo (art. 53).
A competência da Assembléia Constituinte se restringia à Cons-
tituição, à eleição do Presidente da República e à aprovação dos atos do Go-
verno Provisório. Não detinha, portanto, qualquer Poder Legislativo.
O Chefe do Governo Provisório compareceu à sessão inaugural.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada foi o Presidente da Assem-
bléia, nela desempenhando ura grande papel.
O líder do Governo na Constituinte foi Oswaldo Aranha, que
era ministro e por isso tinha assento nos traba-
lhos. Era mais uma intromissão, porque não era
deputado, mas homem do Governo revolucio-
nário.
Renunciou, todavia, logo à função c
foi substituído por Medeiros Neto.
Na Comissão Constitucional, os es-
tadistas tinham representação e seu Presidente
foi Carlos Maximiliano, o Vice, Levy Carneiro,
e o Reiator-Geral, Raul Fernandes.
Havia na Constituinte grandes no-
mes da política e do constitucionalismo, al-
guns deles se destacariam muito no
desdobramento dos acontecimentos naciona-
is(36).
OswaldoAranha
Uma novidade era a presença dos socialistas, uns na qualidade
de representantes classistas, outros eleitos pelo Partido Socialista de São
Paulo.
Outro aspecto relevante foi a exis-
tência, até então inédita, de certo pluriparti-
darismo, refletindo correntes nacionais de
opinião, independentemente das bancadas
dos Estados.
Afonso Arinos anota oue o pare-
cer do Relator-Geral, Raul Fernandes, veio a
indicar as principais diferenças entre o subs-
titutivo e o projeto do Itamaraty.
"Em primeiro lugar, o substituto ate-
nua, consideravelmentc, ao capítulo da
Organização Federal, a centralização
considerada excessiva que marcava o
projeto e restaura, em setores irnpor- Afonso Arinos
36 Cf. Afonso Arinos, Curso... cit., p. 189.
A Constituição de 1934 • 43
tantes, a tradição do nosso federalismo. Recusa a limitação do número de
Deputados para os grandes Estados. Restabelece o Senado, suprimindo o
Conselho Supremo, embora dando àquele uma posição fora do legislati-
vo. Aceita a participação de congressistas no Ministério. Concorda com a
eleição indireta do Presidente da República, porém com um eleitorado es-
pecial, não apenas limitado ao Legislativo, Aliás, neste ponto, o parecei re-
conhece que se trata de simples providência temporária, pois o Plenário
ainda não se tinha firmado quanto ao importante assunto. Aceita, tam-
bém, as chamadas emendas religiosas, do casamento indissolúvel e do ca-
samento e ensino religioso. O capítulo refente à ordem econômica e social
foi aceito com a inclusão das suas relevantes inovações, que procuravam
nacionalizar e democratizar a economia, bem como proteger o trabalha-
dor. Foram igualmente mantidos os capítulos dedicados às novas maté-
rias constitucionais, como a educação, a família, o funcionalismo, a se-
gurança nacional, a Justiça Eleitoral e outras, com algumas modifica-
ções secundárias"(37).
Documento importante sobre os trabalhos da Constituinte,
incluindo um quadro comparativo entre o projeto do Itamaraty, o
Substitutivo da Comissão Constitucional, a redação final e a Constitui-
ção promulgada, está no livro de Levy Carneiro, Pela Nova Constitui-
ção.(38)
Processados os trâmites legislativos, o texto da nova Constitui-
ção foi votado entre 7 de maio a 9 de junho. A promulgação se deu em 16
julho de 1934. Houve grande entusiasmo.
Em cumprimento ao art. 1º das Disposições Transitórias, a
Assembléia Nacional Constituinte elegeu, no dia imediato à promulgação,
o Presidente da República para o primeiro quadriênio constitucional. O
eleito tomou posse em sessão solene no dia 20 de julho, lendo juramento:
"Prometo manter e cumprir com lealdade a Constituição Federal, promo-
ver o bem geral do Brasil, observar as suas leis, sustentar-lhe a união, a in-
tegridade e a independência". Em 1937, foi perjuro.
A Assembléia transformou-se em Câmara dos Deputados e
acumulou as funções do Senado, até a organização de ambos os casos, em
eleições, noventa dias depois de promulgada a Constituição.
37 Idem, ibidem, p. 191.
38 Cf. Levy Carneiro, Pela Nova Constituição. Ed. Coelho Branco, Rio, 1936; o livro de Antônio Marques dos
Reis, Constituição Federal Brasileira de 1934, Ed. Coelho Branco, Rio, 1934, contém também um quadro
comparativo da Carta de 1891 e do anteprojeto de 33.
44 • RonaldoPoletti
As Assembléias Constituintes dos Estados elegeriam os gover-
nadores e os respectivos representantes no Senado. A representação pro-
fissional na Câmara deveria ocorrer em janeiro de 1935.
O fruto da Constituinte, a Carta de 1934, deixou de absorver
muitas das linhas do anteprojeto que lhe fora submetido, Es:e
era, na ver-
dade, revolucionário. Como já foi dito, "as influênciss da República Ve-
lha, as repercussões do movimento revolucionário paulista e a
desconfiança pelos constituintes do Executivo, fizeram-se valer.
A ideia era conter o Executivo. Isto, como a história demons-
trou, não evitou em 1937.
Competia ao Presidente decretar o estado de sítio (ait. 56, nº
13). Mas quem lhe autorizava a medida era o Poder Legislativo (art. 175,
caput). Se não estivessem reunidos a Câmara e o Senado, o Presidente da
República deveria obter aquiescência prévia da sessão permanente do Se-
nado e, nessa hipótese, as Casas se reuniriam dentro de trinta dias, inde-
pendentemente de convocação (art, 175, § 7º). Reunido o Poder
Legislativo deliberaria a propósito, podendo revogar o sítio (art. 175, § 8º).
Havia, também, várias restrições à execução da medida e o Presidente da
República c demais autoridades seriam responsabilizados, civil e criminal-
mente, pelos abusos que cometessem.
De igual maneira, competia ao Presidente da República intervir
nos Estados ou neles executar a intervenção (art. 56, nº 12). No entanto, a
intervenção para garantir a observância dos princípios constitucionais se-
ria decretada "por lei federal, que lhe fixará a amplitude e a duração, pror-
rogável por nova lei" (art. 12, §1º).
Sempre o Legislativo dava a última palavra39
Apesar de certa polêmica, a eleição do Presidente da Repú-
blica seria por sufrágio universal, direto, secreto e maioria de votos (art.
A Constituição de1934 • 45
52, § 1º). Essa eleição nunca houve. Quando ia ocorrer, aconteceu o
golpe de 37. Mas, promulgada a Constituição, a Assembléia Constituinte
elegeu, nos termos do art. 1º- das Disposições Transitórias, o Presidente da
República para o primeiro quadriénio constitucional. O eleito foi o Chefe
do Governo Provisório, o fururo ditador.
Não havia vice-presidente. Se o Chefe da Nação não assu-
misse ou ocorresse vaga, haveria sempre nova eleição salvo se a vacân-
cia ocorresse no último semestre do quadriênio, quando se aplicaria a
regra da substituição, sucessivamente, pelo Presidente da Câmara, pelo
do Senado e pelo da Corte Suprema (o novo nome do Supremo Tribu-
nal).
A Constituição de 34 dispôs pela primeira vez sobre os Minis-
tros de Estado, estabelecendo requisitos para a sua nomeação c definindo
suas atnbuiçõcs. A Carta de 1891 não tratava do a s sun to .
Contra o laicismo da Constituição de 1891, a referência à divin-
dade volta ao preâmbulo: "Nós, os representantes do povo brasileiro,
pondo a nossa confiança em Deus,... "A invocação do nome de Deus,
ietnbra-nos Araújo Castro veio a atender aos sentimentos religiosos da
quase totalidade do povo brasileiro.
Vedava-se, no entanto, às pessoas jurídicas de direito público
interno, mais ou menos na forma tradicional, "estabelecer, subvencionar
ou embaraçar o exercício de cultos religiosos" e "ter relação de aliança ou
dependência com qualquer culto, ou igreja, sem prejuízo da colaboração
recíproca em prol do interesse coletivo" (art. 17,II e III).
Era mantida, porérr., e de forma expressa a representação di-
plomática junto à Santa Sé (art. 176).
39 Cf. Euclides de Mesquita, 0 Estado e as Constituições Replubicanas no Brasil Ministério da Justiça e Negócios
Interiores. Serviço de Documentação, 1965, p. 27 e segs.
40 A propósito da discussão sobre a fornia de eleição do Presidente da Republica, çf. Araújo Castro, ob. çit..
p. 211 e segs.
41 Idem, ibidem. p, 233 e segí.
42 Cf. Araújo Castro, ob. cit-, p 56.
46 • Ronaldo Poletti
Ninguém poderia ser privado de seus direitos por motivo de
convicção filosófica, política ou religiosa, salvo "pela isenção de ónus ou
serviço que a lei imponha aos brasileiros" (art, 113, nº 4 e 111, b).
Garantia-se a liberdade de culto. As associações religiosas ad-
quiririam personalidade jurídica nos termos da lei civil (art. 113, n- 5).
Sempre que solicitada, seria permitida a assistência religiosa nas expedi-
ções militares, nos hospitais, nas penitenciárias e em outros estabeleci-
mentos oficiais (art. 113, nº 6),
Os cemitérios teriam caráter secular. Livres neles os cultos religio-
sos. As associações religiosas poderiam manter cemitérios particulares sujei-
tos, porém, à fiscalização das autoridades competentes, sendo-lhes proibida a
recusa de sepultura onde não houvesse cemitério secular (art. 113, nº 7).
A família, constituída pelo casamento indissolúvel, estava sob a pro-
teção do Estado. A lei civil determinaria os casos de desquite e de anulação de
casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito suspensivo (art 144).
O casamento seria civil, mas o religioso produziria efeitos jurí-
dicos, desde que presentes certas condições estabelecidas constitucíonal-
mente (art. 146).
Mas havia, também, uma preocupação higiênica e étnica, moti-
vada quem sabe pelos fantasmas da sífilis: "A lei regulará a apresentação
pelos nubentes de prova de sanidade física e mental, tendo em atenção as
condições regionais do Pais" (art. 145).
A Constituição manteve a linha do anteprojeto no tocante a
constitucionalizar matéria não-constitucional, e o fez, como reiterada-
mente temos afirmado, em consonância com o espírito da época e com o
exemplo de Weimar e de outros códigos políticos em v o g a .
A motivação dessa infiltração foi, por certo, de cunho social,
mas de lá a esta data as pressões têm logrado inserir no texto da Lei Maior
43 É sintomática existência de um pequeno livro, editado em 1932. pela Pigner ec Cia., Editores, Rua Frei
Cantio, 43. intitulado 0 Momento Constitucional, contendo a tradução dass Constituições americanas dos
Estados Unidos do Brasil, da Alemanha, dos Estados Unidos da América, da Espanha, dos listados
Unidos do Méxicoo e da República Oriental do Uruguai,
A Constituição de1934 • 47
mandamentos de pouca, ou nenhuma, natureza constitucional. Destina-
das a garantir situações, não raro privilegiadas, terminam por transformar
a Carta Magna não em um instrumento do Governo para proporcionar o
desenvolvimento nacional, notadamente na sua perspectiva jurídica, im-
pedidas de aprimorarem-se através da legislação ordinária.
Assim, além da matéria de Direito Civil (familia e casamentos) e
de Direito Administrativo (cemitérios), já referidas, houve também o Ti-
tulo VII (arts. 168/173) sobre os funcionários públicos, matéria típica da
administração. ,
Fruto, ainda, da questão social, havia normas sobre a ordem
econômica, garantida a sua liberdade, dentro dos limites da justiça e as
necessidades da vida nacional, "de modo que possibilite a todos exis-
tência digna". "Os Poderes Públicos verificarão, periodicamente, o pa-
drão de vida nas várias regiões do País" (art. 115). Seguia, aí, as pegadas
do anteprojeto. E, em geral, na parte da ordem social, económica, na
atinente à educação, cultura, trabalho e previdência (arts. 121/123,
148/158).
Manteve a Constituição a idéia do sufrágio universal, igual e direto
(art. 23) para os representantes na Câmara dos Deputados, salvo quanto aos
eleitos pelas organizações profissionais na forma que a lei viesse a indicar.
Na eleição presidencial, embora para o primeiro mandato,
como já referido, tenha sido pela própria Assembléia Constituinte, o
sufrágio, além de universal c direto, seria também secreto (art. 52, §1º).
O sufrágio feminino vinha assegurado: "São eleitores os brasileiros de
um e de outro sexo, maiores de 18 anos, cue se alistarem na forma da
lei" (art. 108). Aliás, a Declaração dos Direitos e Garantias Individuais,
ao estabelecei a igualdade perante a lei, vedava quaisquer privilégios,
distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias
ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas
(art. 115, nº1
A questão do sufrágio, na perspectiva política, ficou um tanto
prejudicada. Primeiro, porque, nos termos da Constituição, a eleição para
48 • Ronaldo Poletti
presidente não houve, salvo a indireta pela Assembléia Constituinte; se-
gundo, porque os membros do Senado e os governadores, da primeira e
única leva, foram eleitos, também, de forma indireta, pelas Assembléias
Constituintes dos Estados (att, 3º, das Disposições Transitórias).
Enquanto o anteprojeto havia tratado da defesa nacional, a
Constituição de 34 fala, pela primeira vez, em segurança nacional (Título
VI, arts. 159 e segs). As questões a ela ligadas seriam estudadas e coorde-
nadas pelo Conselho Superior de Segurança Nacional, presidido pelo Pre-
sidente da República e pelos Ministros de Estado, bem como pelos chefes
do Estado-Maior do Exército e da Armada (art. 159),
Havia, assim, o Conselho de Segurança Nacional.
Os dispositivos refletiam também nessa parte, a preocupa-
ção dos revolucionários de 30 e de seus antecedentes militares. A dire-
ção política da guerra ficaria com o Presidente, mas as operações
militares a cargo do Comandante-em-Chefe do Exército das Forças
Navais (art. 160).
Surgia, de igual maneira, a definição clássica das Forças
Armadas; "instituições nacionais permanentes, e, dentro da lei, essen-
cialmente obedientes aos seus superiores hierárquicos. Destinam-se a
defender a Pátria e garantir os poderes constitucionais, a ordem e a lei"
(art. 162).
Exaltava-se o serviço militar (art 163) e obrigava a todo brasileiro
o juramento à Bandeira nacional (idem), mas avançava para declarar que
"o serviço militar dos eclesiásticos seria prestado sob forma de assistência
espiritual e hospitalar às Forças Armadas" (art. 163, § 3º).
O título de Segurança Nacional é extenso e importante, nele
tudo, ou quase tudo, acabou por se transformar em permanente em nos-
sas Constituições.
Anote-se, por último, e com reflexos na Federação, art. 167:
"As polícias militares são consideradas reservas do Exército e gozarão das
mesmas vantagens a este atribuídas, quando mobilizadas ou a serviço da
União".
A Constituição de 1934 • 49
O problema do Conselho Supremo, tal como conhecido no an-
teprojeto, teve desdobramento curioso no texto constitucional aprovado.
A solução foi um pouco híbrida. Não vingou o unicameralismo.
Mas, do Conselho projetado se fez o Senado, como órgão colaborador da Câ-
mara, a qual, esta sim, deveria exercer o Poder Legislativo (ver art. 22).
Mas o Senado guardou a função do Poder Coordenador, atri-
buída, antes, ao Conselho Supremo projetado. A ele incumbiria promo-
ver a coordenação dos poderes federais entre si, manter a continuidade
administrativa, velar pela Constituição e colaborar na feitura das leis
(art. 8 8 ) .
A competência legislativa do Senado vinha mitigada. O texto da
Lei Maior enumerava os casos em que o Senado colaboraria com a Câma-
ra na elaboração legislativa: estado de sítio, sistema eleitoral e de represen-
tação, organnização judiciária federal, tributos e tarifas, mobilização,
declaração de guerra, celebração de paz e passagem de forças estrangeiras
pelo território nacional, tratados e convenções com as nações estrangei-
ras, comércio internacional e interestadual, regime de portos, navegação
de cabotagem e, nos rios e lagos, o domínio da União, vias de comunica-
ção interestadual, sistema monetário e de medidas, banco de emissão, so-
corro aos Estados (art. 91). Na competência legislativa, uma importante: a
de rever os projetos de código e de consolidação de leis, que devessem ser
aprovados em globo pela Câmara (art. 91, VII).
Como se vê, avultava em sua competência legislativa a matéria
concernente à Federação ou com implicações na política federativa.
Eram atribuições privativas do Senado: a aprovação prévia das
nomeações de determinados magistrados e dos chefes de missões diplo-
máticas no exterior; a autorização para empréstimos esternos dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios;, a autorização para a
intervenção federal nos Estados, no caso de aquela visar pôr termo i guer-
ra civil; iniciativa das leis sobre intervenção federal, e em geral das que in-
teressem determinadamente a um ou mais Estados; a suspensão de
44 Sobre a idéia do Senado, como órgão coordenador dos poderes e a contradição disto com o principio da
hamonia e igualdade entre aqueles, ef. Araújo Castro, ob. cil., p. 302 e segs.
50 • RonaldoPoletti
concentração de força federal nos Estados, quando as necessidades de or-
dem pública não a justiãquem (art. 90).
Competência curiosa do Senado, reminiscência talvez da idéia
do Poder Coordenador ou Moderador consistia em fiscalizar a legalidade
dos regulamentos expedidos pelo Poder Executivo, suspendendo a exe-
cução dos dispositivos ilegais (art, 91, II). Aí, a função era política, mas
também jurisdicional. Política e de cunho fiscalizador era a de propor ao
Executivo, mediante reclamação fundamentada nos interessados, a revo-
gação de ato das autoridades administrativas, quando praticados contra a
lei ou eivados de abuso de poder (art. 91, III).
Reminiscência, ainda, da ideia do Conselho Supremo, projeção
originária do anteprojeto, era a competência de organizar, com a colabora-
ção dos Conselhos Técnicos, ou dos Conselhos Gerais em que eles se
agruparem, os planos de solução dos problemas nacionais (att. 91, V).
Os Conselhos Técnicos foram criados para prestar assistência
aos ministérios. Podiam agrupar-se em Conselhos Gerais, órgãos consul-
tivos da Câmara e do Senado. A composição, o funcionamento e a com-
petência dos Conselhos seriam regulados pela lei ordinária, mas a Constitui-
ção determinava que metade de seus membros seriam pessoas especializadas,
estranhas aos quadros do funcionalismo do respectivo ministério e vedada
aos Ministros tomarem deliberação, em matéria da sua competência exclusi-
va, contra o parecer unânime do respectivo Conselho (art. 1 0 3 ) .
Passou o Senado a ter uma notável competência, no tocante ao
controle da constitucionalidade das leis, consistente em suspender a exe-
cução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regula-
mento, quando declarados inconstitucionais pelo Poder Judiciário.
Aliás, a Constituição de 34, nas pegadas do anteprojeto, trouxe
nnuitas contribuições a esse tema do controle da constitucionalidade).
De fato, estabeleceu o recurso extraordinário das decisões das
causas decididas pelas justiças locais em única ou última instância, quando
45 Sobre os Conselhos Técnicos cf. Araújo Castro, ob., cit., p. 323. A sua justificativa, perante a Assembléia
Constituite, foi feita pelo major Juarez Távora.
46 Cf", o rneu Controle da Constitucionalidade das leis Forense, Rio, 1935, p 91; e na Consumição de 34, ob. cit.,
de Araújo Castro, p. 241 e segs.
A Constituição de 1934 • 51
se questionasse sobre a vigência ou validade de lei federa] em face da
Constituição (art. 76, III).
Determinava, ainda, que só por maioria absoluta de votos da
totalidade dos seus juizes, poderão os tribunais declarar a inconstituciona-
lidade de lei ou ato do Poder Público (art. 179).
Mas, a mais importante inovação estava na citada competência
do Senado. Era a maneira de solucionar um dos mais graves problemas do
controle da constitucionalidade. A ausência da regra do stare decisis implica
que os juizes não estão obrigados a deixar de aplicar a lei, declarada in-
constitucional peto Supremo. A solução da Constituição permitia dar efei-
tos erga omnes a uma decisão num caso concreto. Além disso, atenuava-se o
problema da quebra de harmonia e equilíbrio entre os poderes, pois reme-
tia a um órgão do Poder Legislativo a atribuição de suspender a execução
da lei declarada inconstitucional.
Outra importante inovação foi a obrigatoriedade de os Esta-
dos-Membros se constitucionalizarem com a observância de determina-
dos princípios, sob pena de intervenção federal. Esta dependeria de o
Procurador-Geral da República provocar o exame do Supremo sobre a
constitucionalidade da lei violadora
do pressuposto. Criava-se, assim, a
ação direta de inconstitucionalidade.
A Constituição de 34 contribuiu, ainda, para o controle da
constitucionalidade, ao arrolar, dentre os direitos individuais, o mandado
de segurança, possibilitando que os atos das autoridades fossem impugna-
dos, desde que fundados em lei inconstitucional.
Prevaleceu na Constituição a idéia da representação classista, A
Câmara dos Depurados compor-se-ia de representantes do povo, eleitos
mediante sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de re-
presentantes eleitos pelas organizações profissionais (art. 23).
Dispunha, ainda, a Lei Maior que os deputados das profissões seriam
eleitos na forma da lei ordinária por um sufrágio indireto das associações
profissionais, reunidas nos seguintes grupos: lavoura e pecuária; indústria;
comércio e transportes; profissões liberais e funcionários públicos
(art. 23, § 3º .
52 • Ronaldo Poletti
O total dos deputados das três primeiras categorias seria no míni-
mo de seis sétimos da representação profissional, distribuídos igualmente en-
tre elas, dividindo-se cada uma em círculos correspondentes ao número de
deputados que lhe caiba, dividido por dois, a fim de garantir a representação
igual de empregados e empregadores. O número de círculos da quarta catego-
ria corresponderia ao dos seus deputados (art. 23, § 4º).
Com excecção da quarta categoria, haveria em cada círculo pro-
fissional dois grupos eleitorais distintos: um, das associações de emprega-
dores, outro, das associações de empregados (art. 23, § 5º).
Seriam os grupos constituídos de delegados das associações,
eleitos mediante sufrágio secreto, igual ou indireto por graus sucessivos.
Na discriminação dos círculos, a lei deveria assegurar a representação das
atividades econômicas e culturais do País. Ninguém poderia votar em
mais de uma associação profissional. Os estrangeiros não votariam (art,
23, §§ 6º a 9º).
As novidades mais importantes sobre o Poder Judiciário fica-
ram por conta da criação da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar.
Prevaleceu a tese da dualidade, vencida a proposta unitária, que
federalizava toda a Justiça, da Comissão. Arthur Ribeiro, Ministro do Su-
premo Tribunal e que saíra da Comissão por não concordar com o unita-
rismo, viu a sua opinião vitoriosa na Constituinte, sobretudo porque
sustentada pelos representantes originários dos Estados mais fortes, e ri-
cos da Federação(47),
A Constituição cuidou dos tribunais e juizes federais.
O dualismo vinha temperado, não tanto como no anteprojeto,
que idealizara lei orgânica a reger a Justiça como um todo. Os dispositivos
da Constituição Federal influenciavam a constitucionalização dos Esta-
dos, que haveriam de respeitar os princípios relativos às "garantias do Po-
der Judiciário e do Ministério Público" (art. 7º, I, e),
47 Ainda sobre a unidade da magistratura, ef. Arsújo Castro, ob. cit., pp. 248 e 249°, onde se transcreve
famoso lesto de Rui, defensor da ideia, em sua plataforma de 1910
A Constituição de 1934 • 53
Quanto às garantias da irredutibilidade, o texto pretendeu(!?)
resolver o problema do Imposto de Renda incidente sobre os vencimen-
tos dos magistrados. São eles vencimentos irredutíveis, "ficam, todavia,
sujeitos aos impostos gerais" (art. 64, c).
O texto, de maneira sintomática, estabelecia restrições aos ma-
gistrados e ao Poder Judiciário. O juiz, mesmo em disponibilidade, sob
pena de perda do cargo não poderia exercer qualquer outra função públi-
ca, salvo o magistério (att. 65). Vedava-se-lhe, ainda, a atividade políti-
co-partidária (art. 67); e ao Judiciário, "conhecer as questões
exclusivamente políticas".
Mantinha-se, na trilha do anteprojeto, a instituição do júri com
a organização e as atribuições que a lei lhe desse (art. 72). Abria-se, portan-
to, a perspectiva de um maior sentimento democrático para o júri.
Depois de alguma discussão (houve substitutivo que propôs lista
quíntupla de múltiplas origens), prevaleceu a ideia de que os ministros da
Corte Suprema (nome dado ao Supremo Tribunal Federal, de hoje) seriam
nomeados, com aprovação do Senado, dentre brasileiros natos de notável
saber jurídico e reputação ilibada, não devendo ter, "porém", salvo os ma-
gistrados, menos de 35, nem mais de 65 anos de idade (art. 74). Sábio o li-
mite máximo! Impedia a nomeação por pouco tempo de juizes para a mais
alta Corte do Pais. Evitava-se, assimfque a sua contribuição fosse por um
prazo mínimo, já que a aposentadoria compulsória as colhia como agora,
numa determinada idade.
Uma criação interessante da Constituição de 34 era o Tribunal
Especial, presidido pelo Presidente da Suprema Corte e composto de
nove juizes, três dessa última Corte, três senadores e três deputados, com
competência para julgar os crimes de responsabilidade do Presidente da
República, dos Ministros da Suprema Corte, dos Ministros de Estado,
quando em conexão com os do Presidente da República (art. 58, § 7o). A
Constituição delegava à lei a criação de tribunais federais quando assim o
exigirem os interesses da Justiça (art. 78). Criava, todavia, um tribunal (se-
ria o nosso Tribunal Federal de Recursos), cuja denominação e a organiza-
ção a lei estabelecia, composto de juizes nomeados pelo Presidente da
República, com iguais requisitos dos da Suprema Corte (art. 79).
Havia, porém, interessante dispositivo atinente á nomeação de
juizes federais, escolhidos pelo Presidente da República, em lista quíntu-
pla, dentre os indicados por escrutínio secreto pela Suprema Corte (art.
80, parágrafo único).
54 • Ronaldo Poletti
Já o anteprojeto trazia novidade valiosa para o processo de re-
forma constitucional, mas o texto da Carta foi magistral, recriando uma
ideia da Constituição do Império que restringia o que devesse ser conside-
rado constitucional.
O art. 178 estabeleceu a distinção entre emenda e revisão.
No caso de modificação da estrutura política do Estado, da or-
ganização ou competência dos poderes da soberania, segundo dispositi-
vos que menciona, seria revisão. Fora essas hipóteses, seria emenda.
Para a emenda, o procedimento mais simples, incluindo a inicia-
tiva; na revista, haveria maior rigidez.
A ideia era pertinente porque compatibilizava a extensão do
texto constitucional, invasor de matérias impróprias, com a possibilidade
de maior ou menor rigidez, consoante a natureza intrínseca dos dispositi-
vos.
A Constituição de 34, qualificada por Pontes de Miranda, como
"a mais completa, no momento, das Constituições americanas"48', não foi
revista, nem emendada, mas rasgada pelo golpe de 37.
Seu pequeno tempo de vigência não afasta, ou elimina, a sua
importância histórica. Ela, embora durasse pouco, projetou, e ainda o faz,
sua influência sobre o tempo do futuro. De certa forma, ressurgiu em 46.
E não será difícil correlacionar muitas de suas disposições com as inseri-
das na Lei Maior, de 67 até os dias de hoje. Algumas de suas inclinações
têm aparecido no debate nacional, apesar de, na aparência, estarem supe-
radas. No entanto, o seu significado não se refere, tão-somente, a um ideá-
rio formal, cuja origem está na correlação entre o anteprojeto da
Comissão do Itamaraty e o texto aprovado pela Constituinte mas em sua
experiência. Pouco importa seu diminuto tempo de vigência e eficácia.
Soubemos, depois dela, da insuficiência das Cartas constitucionais, sobre-
____________
48 Cf. Pomes de Miranda, Comentários á Constituição da República dos E. U. do Brasil, Ed. Guanabara, Rio 1934.
A Constituição de 1934 • 55
tudo para a realização do regime democrático. Elas não bastam a isto.
Encerram em si apenas alguns dos elementos necessários à democracia,
A Constituição de 34 representou um progresso na direção do
realismo constitucional, no cotejo com o idealismo de 1891, Não obstante
tenha se perdido em normas programáticas, as quais, embora de valor
ideológico,
resultaram em ineficácia. Foram sonhos irrealizados. Em face
disso, a socialização ou a socialdemocracia, apesar de permanecerem his-
toricamente nos textos constitucionais, continuam na dependência da rea-
lização econômica da sociedade e do desenvolvimento cultural do povo.
De qualquer forma, em 34, pudemos realizar a convivência dos
fatores políticos (a Revolução) com a inteligência constitucional brasileira
(a Comissão do Itamaraty e os ilustres da Constituinte) para a elaboração
da Carta. Fomos capazes, também, de conciliar tendências as mais varia-
das no ambiente político nacional, sem perda do conteúdo e da eficiência
técnico-jurídica.
Assim sendo, a Constituição de 34 vale pelas idéias revolucio-
nárias que absorveu e até pelas que rejeitou. Sua experiência não foi a de
um triênio, mas justamente a de, apesar de seus engenhosos dispositivos,
não ter impedido a derrocada de 37. Ficará ela, todavia, para sempre como
um repositório valioso de temas constitucionais e como um marco rele-
vante de nosso constitucionalismo republicano.
O Autor
RONALDO REBELLO DE BRITO POLETTI nasceu em
Bauru, no Estado de São Paulo. Formou-se em Direito pela Faculdade de
Direito da USP. Integrante do Ministério Público de seu Estado, foi Con-
sultor Jurídico do Ministério da Justiça, Diretor-Geral da Secretaria do
Supremo Tribunal Federal, Consultor Jurídico do Ministério da Ae-
ronáutica e Consultor-Geral da República. Professor da Faculdade de.Di-
reito da Universidade de Brasília, dirige o Centro de Estados de Direito
Romano e Sistemas Jurídicos e a revista Notícia do Direito Brasileiro, dessa
faculdade. É autor, entre outras obras, de Da Constituição à Constituinte
(Ed. Forense, 1986), Controle da Constitucionalidade das Leis (Ed. Forense, 2ª
ed., 1994), Introdução ao Direito (Ed. Saraiva, 3ª ed., 1996) e Elementos de Di-
reito Romano, Púbico e Privado (Ed. Brasília Jurídica, 1997).
• As idéias mestras que governaram os espíritos dos ho-
mens com influência nos trabalhos constituintes de 1933 eram, de
um lado, o binômio da propaganda da Revolução de 1930 - justiça e
representação; de o u , a constitucionalização do Pais, cobrada
por uma revolução, a de 1932, derrotada, mas cuja força espiritua
ria marcar, de forma indelével, a política nacional.
• Do ponto de vista formal, inspiraram-se os estadistas de
então na Constituição de Weimar, de 1919, e na Constituição repu-
licana espanhola de 1931,
• O anteprojeto de 1933 adotava o unicameralismo, a eleição
ndireta do Presidente da República, um Conselho Supremo, a unida-
de do processo judiciário e, em parte, da Magistratura; tratava da liber-
dade sindical e da expropriação do latifúndio, da assistência aos
pobres e do salário mínimo; instituía uma Justiça Eleitoral.
• Um dos pontos cruciais da discussão constitucional
que viria a se refletir no anteprojeto c na futura Constituição, era o
da Federação. O projeto aumentava consideravelmente os casos de
intervenção federal, proclamava incumbir a cada Estado prover, a
expensas próprias, as necessidades de seu governo e administração'
golpeava de morte os impostos interestaduais e intermunicipais, pro-
curava coibir, em suma, os excessos do ultrãfederalismo e buscava
fortalecer a União, submetendo-lhe as policias militares, organiza-
nas pelos Estados à revelia do Poder Central, que sobre elas nenhu-
ma autoridade exercia.
• Não vingou, na Constituição, o unicameralismo previsto
no anteprojeto mas se deu ao Senado a função de Poder Coordenador,
atribuída antes ao Conselho Supremo projetado. Ao Senado in-
cumbiria promover a coordenação dos poderes federais entre si-
manter a continuidade administrativa, velar pela Constituição e
colaborar na feitura das leis. Competência curiosa, do Senado, re-j
rniniscência, talvez, da idéia do Poder Moderador, consistia em
fiscalizar a legalidade dos regulamentos expedidos pelo Poder
Executivo, suspendendo a execução dos dispositivos ilegais, fun-
dação politica mas, ambém jurisdicional.
QUESTÕES ORIENTATIVAS PARA AUTO-AVALIAÇÃO
1. Quais as limitações e condicionamentos impostos, segundo c
autor, pelo Governo Provisório à Assembleia Constituinte de
1933?
2. Como o autor rebate o argumento de que a revolução paulista
de 1932 retardou a constitucionalização do País?
3. Quais os principais itens do anteprojeto, elaborado pela Comissão
do Itamaraty, não aproveitados na Constituição de 1934?
4. Quais as inovações do anteprojeto de 1933 com reflexo no Judi-
ciário e no Legislativo?
5. Como a Constituição alemã da Weimar e a Constituição espa-
nhola de 1931 prepararam o advento de nossa Constituição de
1934?
6. Por que, segundo o autor, apesar de sua tão curta vigência,
manteve a Constituição de 1934 sua importância?
7. Qual a distinção feita pela Constituição de 1934 entre emenda e re-
visão?
Obra indispensável ao conhecimento
da Constituição de 1934 é Em Torno da Cons-
tituição, de João Mangabeira, editada naquele
ano pela Cia, Editora Nacional. Mangabeira,
um dos maiores vultos do Direito brasileiro,
fora o Relator-Geral do anteprojeto gover-
namental apresentado à Assembleia Nacio-
nal Constituinte de 1933 e, parlam entar elei-
to para aquela Assembléia, teve a oportuni-
dade de fazer a defesa do texto nas páginas
do Diário Carioca:
O livro reúne os artigos que conden-
sam suas ideias sobre a Federação, a inter-
venção nos Estados, o sistema unicamerai, a
dualidade da Magistratura, a inconstituciona-
lidade das leis. '
Para Mangabeira, uma Constituição,
exceto na hipótese da vitória de uma revolu-
ção social, seria sempre uma fórmula de
equilíbrio e transação entre idéias, correntes
e interesses, que atuam num meio social de-
terminado.
Constituição sem cletismo, expressão
total e absoluta de um sistema, somente seria
possível, para ele, quando, após uma revolu-
ção social triunfante, uma grande personalida-
de impusesse ao seu partido vitorioso o pre-
domínio indiscutível de sua inteligência, seu
prestígio e sua vontade.
ANTEPROJETO DA CONSTITUIÇÃO DE 1934
ELABORADO PELA COMISSÃO NOMEADA
PELO CHEFE DO GOVERNO PROVISÓRIO
"Nós, os representantes do povo brasileiro, reunidos em
Assembléia Nacional Constituinte, para o fim de estabelecer um regime
democrático, destinado a garantir a liberdade, assegurar a justiça, engran-
decer a Nação e preservar a paz, decretamos e promulgamos a seguinte
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil:
TÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO FEDERAL
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º A Nação brasileira mantém como forma de governo,
sob o regime representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de
novembro de 1889, e constituída pela união perpétua e indissolúvel dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Art. 2º O território nacional, irredutível em seus limites, é o que
atualmente lhe pertence e resulta de posse histórica, leis, tratados, conven-
ções internacionais e laudos de arbitramento, salvos os direitos que tenha
ou possa vir a ter sobre qualquer outro.
Art. 3º As unidades federativas atuais são os Estados, que con-
tinuarão a existir com os mesmos nomes.
Art. 4º São declarados legais, para todos os efeitos, os limites de
direito, ou de fato, ora vigentes entre os Estados, extintas, desde logo, to-
das as questões a tal respeito.
Parágrafo único. O Poder Executivo decretará as providências
necessárias para o reconhecimento, a descrição e a demarcação desses li-
mites.
Art. 5º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se
ou desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos Esta-
66 • Anteprojeto
dos, mediante aquiescência das respectivas Assembléias Legislativas, era
duas sessões ordinárias sucessivas e aprovação da Assembléia Nacional.
Art. 6º A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais são de
uso obrigatório nos Estados, sendo-lhes vedado ter símbolos ou hinos
próprios.
Art.
7º Somente a União poderá ter correios, telégrafos, alfân-
degas, moeda e bancos de emissão.
Art. 8º A União poderá estabelecer, por lei, títulos oficiais, uni-
formes para os órgãos e funcionários federais, estaduais e municipais.
Art. 9º As leis da União, os atos e as decisões das suas autoridades
serão executados, em todo o País, por funcionários federais, podendo aos
funcionários estaduais ser todavia, em casos especiais, confiada a execução.
Art. 10. Consideram-se integradas na legislação brasileira as
normas de Direito Internacional universalmente aceitas.
Art. 11. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são limi-
tados, e, entre si, harmônicos e independentes.
Art. 12. Incumbe a cada Estado prover, a expensas próprias, às
necessidades de seu governo e administração.
Parágrafo único. O Estado que, por insuficiência de renda, não
prover, de maneira efetiva, tais necessidades, poderá, para este fim, rece-
ber da União suprimento financeiro. Em tal caso poderá ela intervir na ad-
ministração estadual, fiscalizando ou avocando o serviço a que o auxílio se
destinar, ou suspendendo a autonomia do Estado.
Art. 13. A União só intervirá em negócios peculiares aos Esta-
dos nos seguintes casos: a) para repelir invasão estrangeira, ou de um Esta-
do em outro; b) para manter a integridade nacional; c) para fazer respeitar
os princípios constitucionais enumerados no art. 81; d) pata garantir o li-
vre exercício de qualquer dos poderes públicos estaduais, por solicitação
dos seus legítimos representantes, e para, independente disso, pôr termo
à guerra civil, respeitada a existência das autoridades do Estado; e) para
tornar efetiva a aplicação mínima de 10% dos impostos estaduais e munici-
pais no serviço de instrução primária e 10% no da saúde pública; f) para re-
organizar as finanças do Estado, cuja incapacidade para a vida autónoma
se demonstre pela cessação de pagamentos de sua dívida fundada, por
mais de dois anos; g) para impedir a violação dos preceitos estatuídos no
art 17; h) para dar cumprimento às leis federais; i) para assegurar a exe-
A Constituição de 1934 • 67
cução das decisões e ordens da Justiça e o pagamento dos vencimentos de
qualquer juiz, em atraso por mais de três meses de um exercício financeiro.
§ 1º Compete privativamente à Assembléia Nacional, nos casos
das letras c e f, decretar a intervenção.
§ 2º Compete ao Presidente da República: a) executar a inter-
venção decretada pela Assembléia ou requisitada pelo Supremo Tribunal
ou pelo Superior Tribunal Eleitoral; b) intervir quando qualquer dos po-
deres públicos estaduais o solicitar, e, independentemente de provocação,
nos outros casos deste artigo.
§ 3º Compete privativamente ao Supremo Tribunal, nos casos
da letra i, requisitar a intervenção do Presidente da República. A mesma
competência cabe ao Tribunal Superior para fazer cumprir as decisões da
Justiça Eleitoral.
§ 4º É vedado ao Presidente da República, quando a iniciativa
da intervenção lhe competir, efetuá-la sem prévia aquiescência do Conse-
lho Supremo.
Art. 14. É da competência exclusiva da União decretar:
lº) impostos de consumo, de importação, de exportação, bem
como o global de renda, e o de entrada, saída e estadia de navios e aerona-
ves, sendo livre o comércio de cabotagem às mercadorias nacionais, e às
estrangeiras quites com a alfândega;
2º) taxas de telégrafo, correio e selo, salvo a restrição do art.
15, nº 2.
§ 1ºa Os impostos de importação e exportação apenas poderão
incidir sobre mercadoria vinda de país estrangeiro ou a ele destinada. O
imposto de exportação não poderá exceder de 5% ad valorem.
§ 2º Os impostos federais serão uniformes para todos os Esta-
dos, salvo o caso previsto no art. 33, nº 20.
Art. 15. É da competência exclusiva dos Estados decretar:
lº) impostos de transmissão de propriedade inter vivos e causa mortis
de indústria e profissões, bem como o cedular de renda e o territorial;
2º) taxa de selo, quanto aos atos emanados dos seus governos e
negócios da sua economia.
Parágrafo único. Mediante acordo com os Estados, poderá a ar-
recadação de todos ou de qualquer dos seus tributos ser feita pela União,
nos termos que a lei federal determinar.
68 • Anteprojeto
Art. 16. É vedado aos Estados tributar bens e tendas federais,
ou serviços a cargo da União, e reciprocamente.
Art. 17. São vedados os impostos interestaduais e os intermuni-
cípais. É proibido criar imposto de trânsito, barreira tributária ou qualquer
obstáculo que, no território dos Estados e no dos Municípios, ou na pas-
sagem de um para outro, embarace a livre circulação dos produtos nacio-
nais, ou estrangeiros, quites com a alfândega, bem como dos veículos que
os transportarem.
Art. 18. Além das fontes de receita aqui discriminadas, é lícito à
União, como aos Estados, criar outras quaisquer, não contravindo o dis-
posto nos artigos anteriores.
§ lº O Conselho Supremo, de cinco em cinco anos, depois de
ouvidos o Ministro da Fazenda e os presidentes dos Estados, elaborará,
para ser apresentado à Assembléia Nacional, um projeto de lei que harmo-
nize os interesses econômicos e tributários federais e estaduais, coorde-
nando-os e evitando de qualquer modo, mesmo sob denominações
diversas, a dupla tributação.
§ 1º O Imposto de Renda poderá incidir sobre os juros de qual-
quer título de dívida pública, seja qual for a época de sua emissão.
Art. 19. Pertencem ao domínio exclusivo da União: a) os bens de
sua propriedade pela legislação atual, exceto as margens dos rios e lagos nave-
gáveis; b) as terras devolutas nos territórios; c) as ilhas do oceano e as fluviais
das zonas fronteiriças; d) as riquezas do subsolo e as quedas d'água, se estas
ou aquelas ainda inexploradas; e) as águas dos rios e lagos navegáveis. Perten-
cem ao domínio exclusivo dos Estados: a) os bens da sua propriedade pela le-
gislação atual, com as restrições deste artigo; b) as margens dos rios e lagos
navegáveis, ressalvado à União o direito de legislar sobre elas, e as terras devo-
lutas, quando conveniente aos interesses nacionais.
SEÇÃO I
Disposições Gerais
CAPÍTULO I
DO PODER LEGISLATIVO
Art. 20. O Poder Legislativo será exercido pela Assembléia Na-
cional, com a sanção do Presidente da República.
A Constituição de 1934 • 69
Art. 21. Independente de convocação, a Assembleia Nacional
reunir-se-á na Capital da União, a 3 de maio de cada ano, salvo se a lei de-
signar outro dia; e funcionará durante seis meses, podendo ser extraordi-
nariamente convocada pelo seu presidente, pela maioria dos deputados,
pela Comissão Permanente, pelo Conselho Supremo, ou pelo Presidente
da República.
Art. 22. A Assembléia Nacional compor-se-á de deputados do
povo brasileiro, eleitos por quatro anos, mediante sistema proporcional e
sufrágio direto, igual e secreto, dos maiores de 18 anos, alistados na forma
da lei.
§ lº O número de deputados será proporcional à população de
cada Estado, não podendo todavia nenhum eleger mais de 20 e menos de
quatro representantes. O quociente será calculado dividindo-se por 20 o
número de habitantes do Estado mais populoso.
§ 2º A Assembléia poderá decenalmente alterar o número de re-
presentantes de cada Estado, tendo em vista o aumento da população,
mas obedecendo às prescrições do parágrafo anterior.
§ 3º O Território do Acre elegerá dois representantes. A lei pro-
videnciará, quando oportuno, sobre os outros Territórios.
§ 4º São condições para eleição de deputado: ser brasileiro nato,
estar no exercício dos direitos políticos; ter mais de 25 anos.
Art. 23. É incompatível com o cargo de deputado:
lº) ter contratos com o Poder Executivo, da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal, dos Territórios ou dosMunicípios, ou dele rece-
ber comissão ou emprego remunerado, salvo missão diplomática de
caráter transitório e mediante prévia licença da Assembléia;
2º) ser diretor
de sociedade ou empresa que goze dos seguintes
favores, da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios ou dos
Municípios: a) garantia de juros ou quaisquer subvenções; b) privilégios de
qualquer natureza; c) isenção ou redução de impostos ou taxas; d) contra-
tos de tarifas, ou concessões de terras;
3º) exercer qualquer função pública durante a legislatura, salvo
as exceções do nº 1 deste artigo e do § 4º do art. 27, ou não se exonerar de
cargo demissível ad nutum.
Parágrafo único. A infração de qualquer das proibições acima
enumeradas importará na perda do cargo, decretada pela Assembléia, me-
70 • O Anteprojeto
diante parecer do seu presidente, que o deverá dar ex officio, ou provocado
por qualquer deputado ou cidadão. Neste caso, o parecer será dado dentro
de oito dias após a reclamação. Se o presidente não se pronunciar, dentro
do prazo, perderá a presidência, para a qual não poderá ser reeleito, e a
Assembléia deliberará independente de parecer.
Art. 24. Os deputados perceberão uma ajuda de custo anual e
um subsídio mensal fixados na legislatura anterior, descontadas as faltas
que excederem de cinco.
Parágrafo único. O funcionário civil ou militar, que tomar pos-
se do lugar de deputado, não perceberá dos cofres públicos, durante a le-
gislatura, outro vencimento além do subsídio, nem contará tempo, nem
terá acesso, promoção, ou outro qualquer proveito, do cargo que ocupava;
e, passando seis anos fora do seu exercício, será aposentado ou reforma-
do, com as vantagens que teria por lei, quando se investiu na função legis-
lativa.
Art. 25. Em caso de vaga, sucederá ao deputado que lhe deu ori-
gem, o candidato não eleito e a ele imediato em votos na mesma chapa elei-
toral. Se não houver suplente, nem for o último ano da legislatura,
mandar-se-á proceder a nova eleição.
Parágrafo único. A ausência do deputado às sessões por mais
de seis meses consecutivos importa em renúncia do cargo, e o Presidente
da Assembléia declarará incontinenti aberta a vaga e providenciará sobre o
seu preenchimento.
Art. 26. No exercício do cargo, os deputados serão invioláveis
por suas opiniões, palavras e votos.
§ 1º A inviolabilidade não se estenderá às palavras que o depu-
tado proferir, ainda mesmo em sessão da Assembléia, desde que se não re-
lacionem ao exercício do cargo.
§ 2º A inviolabilidade estender-se-á, porém, a tudo quanto o
deputado disser ou publicar fora da Assembléia, ou do seu órgão oficial
mas a serviço da mesma, ou no exercício do cargo.
Art. 27. Desde que tiverem recebido diploma, os deputados
não poderão ser presos nem processados criminalmente sem prévia licen-
ça da Assembléia, salvo flagrância em crime inafiançável. Neste caso, en-
cerrada a formação da culpa, o processo será, sem perda de tempo,
remetido ao Presidente da Assembléia, cabendo a esta resolver definitiva-
A Constituição de 1934 • 71
mente sobre o merecimento das provas e a procedência da acusação, bem
como se ao interesse nacional convém a libertação temporária do deputado
para o exercício do seu cargo.
§ 1º O deputado, preso em flagrante, poderá optar pelo julga-
mento, independente de audiência da Assembléia, sem prejuízo de outros
acusados, de prisão mais antiga. '
§ 2º No intervalo das sessões, a Comissão Permanente exercerá
as funções conferidas neste artigo à Assembléia.
§ 3º A imunidade, salvo flagrância em crime inafiançável, prote-
gerá o deputado contra qualquer prisão, civil ou militar; estender-se-á a
quaisquer infrações anteriores às eleições, e o exonerará de depor como
testemunha, ou de ser interrogado, sobre assunto de qualquer modo con-
cernente ao exercício do seu cargo.
§ 4º Em tempo de guerra, os deputados pertencentes às Forças
Armadas, bem como os deputados civis que lhes incorporarem, ficarão
sujeitos às leis e obrigações militares.
Art. 28. O deputado, cujo procedimento se tornar incompatível
com a ordem ou o decoro da Assembléia, ficará sujeito à suspensão ou
perda do cargo, proposta pelo presidente e aprovada por três quartos dos
membros presentes. Em caso nenhum a opinião doutrinária do deputado
poderá determinar a imposição de qualquer dessas penas.
Art. 29. A Assembléia elegerá uma Comissão Permanente de 15
membros, que a representará no intervalo das sessões e terá as atribuições
que a lei e o regimento lhe conferirem. O presidente desta Comissão será
o da Assembléia.
§ 1º A Assembléia poderá criar comissões de inquérito; e fá-lo-á
sempre que o requerer um quarto dos seus membros.
§ 2º Aplicar-se-ão a esses inquéritos a regras do processo penal.
As autoridades judiciais e administrativas procederão às diligências que es-
sas comissões solicitarem e lhes fornecerão os documentos oficiais que re-
clamarem.
§ 3º Todas as Comissões das Assembléias serão eleitas por voto
secreto e sistema proporcional. .
Art. 30. A Assembléia poderá funcionar desde que estejam pre-
sentes 10 deputados; e não funcionará quando a presença não atingir este
número. As deliberações, porém, salvo os casos especificados nesta Cons-
72 • Anteprojeto
tituição, serão tomadas por maioria de votos presentes e, pelo menos, me-
tade e mais um dos membros da Assembléia.
Art. 31. A Assembléia, desde que o requeira um quarto de seus
membros, ou uma de suas Comissões, convidará o Ministro mencionado
no requerimento a comparecer perante ela, a fim de lhe dar, sobre assun-
tos ministeriais, em dia e hora designados no convite, as explicações nele
pedidas.
§ 1º A feita de comparência do Ministro, sem a devida escusa,
importa em crime de responsabilidade.
§ 22 Qualquer Ministro poderá pedir à Assembleia, ou às suas
Comissões, designação de dia e hora, a fim de solicitar providências legis-
lativas necessárias ao seu ministério, ou dar esclarecimentos sobre assun-
tos a ele referentes.
CAPÍTULO II
DAS ATRIBUIÇÕES DA ASSEMBLÉIA NACIONAL
Art . 32. É da competência exclusiva da Assembléia Nacional:
a) organizar seu Regimento Interno e eleger sua Mesa e suas
Comissões; b) adiar e prorrogar as sessões; c) fixar ajuda de custo e o sub-
sídio de seus membros, bem como o do Presidente da República; d) regu-
lar o serviço de polícia interna; e) nomear, licenciar e demitir os
empregados de sua secretaria, respeitados os princípios estabelecidos nes-
ta Constituição; f) decretar a intervenção nos Estados, nos casos das letras
c e f do art. 13; g) tomar as contas de receita e despesa de cada exercício fi-
nanceiro; h) resolver definitivamente sobre os tratados e convenções com
as nações estrangeiras; i) autorizar o Presidente da República a decretar a
mobilização e a desmobilização; a permitir a passagem de forças estrangei-
ras pelo território nacional; a declarar guerra, se não couber ou se malograr
o arbitramento, e a fazer a paz ad referendum da Assembléia; j) comutar e
perdoar as penas impostas por crime de responsabilidade; k) aprovar ou
rejeitar as nomeações que dependam do seu voto; l) declarar em estado de
sítio um ou mais pontos de território nacional e aprovar ou suspender o sí-
tio decretado, em sua ausência, pelo Presidente da República; m) dar ou
negar assentimento aos empréstimos externos dos Estados ou Municí-
pios; n) conceder anistia; o) aprovar ou rejeitar as deliberações das Assembléias
A Constituição de 1934 • 73
Legislativas, concernentes a incorporação, subdivisão ou desmembra-
mento de Estados.
Art. 33. Observadas as prescrições do art. 35, compete privati-
vamente à Assembléia legislar sobre:
lº) a receita e a despesa, anualmente, orçando a primeira e fi-
xando a segunda, prorrogando o orçamento vigente quando, até 31 de de-
zembro, o vindouro não estiver sancionado;
2º) operações de crédito a serem feitas pelo Poder Executivo;
3º) a dívida pública e os meios de seu pagamento;
4º) a arrecadação e a distribuição das rendas federais;
5º) o comércio exterior e interior, podendo estabelecer ou auto-
rizar as limitações exigidas pelo bem público; o alfandegamento de portos;
a criação ou supressão de entrepostos;
6º) navegação de cabotagem e dos rios e lagos do País, podendo
permitir a liberdade da primeira se assim o exigir o interesse público; por-
tos; viação férrea, rodoviária, aérea e respectivas organizaçõesde terra; co-
municações postais, telefônicas, telegráficas, radiotelegráficas ou
radiotelefônicas ou outras quaisquer; circulação de automóveis;
7º) o sistema monetário e regime de bancos, bolsas e peso e me-
didas;
8º) o sistema eleitoral;
9º) direito civil, comercial, criminal, processual, penitenciário e
organização judiciária;
10º) naturalização, imigração, passaportes e expulsão de estran-
geiros;
11º) o trabalho, o capital e a produção, podendo estabelecer ou
autorizar as restrições que o bem público exigir;
12º) licenças, aposentadorias e reformas, não as podendo con-
ceder nem alterar por leis especiais;
13º) as medidas necessárias a facilitar entre os Estados a repres-
são do crime;
14º) as medidas necessárias ao exercício dos poderes da União e
à execução completa desta Constituição;
15º) todos os assuntos concernentes à defesa nacional e à segu-
rança interna da Nação e de suas instituições, fixando periodicamente, em
leis especiais, as organizações e os efetivos do tempo de paz e os contin-
74 • Anteprojeto
gentes a serem fornecidos pelas unidades da Federação; indústria e comér-
cio de material de guerra de qualquer natureza e sua aplicação; requisições
militares;
16º) o regime especial a que devam ser submetidos os trechos
do território brasileiro necessários à defesa nacional, inclusive a ocupação
ou utilização transitória ou permanente dos mesmos;
17º) o plano e as normas essenciais ao regime sanitário e ao da
educação, bem como os meios de inspecionamento de tais serviços,
cabendo aos Estados a legislação complementar; a criação de institutos federais
de educação, de qualquer natureza, em todo o País;
18º) empregos públicos federais, e criação, supressão e venci-
mentos dos cargos das secretarias da Assembléia Nacional, do Conselho
Supremo, dos Tribunais Judiciários e dos Eleitorais, bem como do Tribu-
nal de Contas e do Tribunal Militar;
19º) pesca nas águas da União e floresta;
20º) modificações à uniformidade dos impostos federais, medi-
ante proposta do Conselho Supremo, e para atender às condições peculia-
res de certos Estados, quando o exigirem os interesses gerais de suas
populações; subsídios aos Estados, no caso do art. 12: elevação de Terri-
tório a Estado;
21º) organização municipal do Distrito Federal e serviços nele
reservados à União.
CAPÍTULO III
DAS LEIS
Art. 34. A iniciativa das leis pertence: a) à Assembléia Nacional,
por qualquer de seus membros ou de suas Comissões; b) ao Presidente da
República; c) ao Conselho Supremo; d) às Assembléias Legislativas dos
Estados; e) às associações culturais e às profissionais devidamente reco-
nhecidas.
Parágrafo único. À Assembléia ou ao Presidente da República
cabe, privativamente, a iniciativa das leis de orçamentos, empréstimos,
impostos, ou das relativas ao comércio exterior e à defesa nacional.
Art. 35. O projeto de lei aprovado pela Assembléia Nacional
será enviado ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
A Constituição de 1934 • 75
§ lº Se, porém, o julgar, no todo ou em parte, inconstitucional
ou contrário aos interesses nacionais, vetá-lo-á, total ou parcialmente den-
tro de 20 dias úteis, a contar daquele em que o recebeu, devolvendo-o, nesse
prazo, à Assembléia, com os motivos do veto. O silêncio presidencial, du-
rante o vintídio, importa na sanção; e, no caso de ser esta negada na
ausência da Assembléia, o Presidente dará publicidade às razões do veto.
§ 2º Devolvido o projeto à Assembléia, aí se sujeitará a uma dis-
cussão e a votação nominal, considerando-se aprovado se obtiver o voto
da maioria absoluta dos deputados. Neste caso, será remetido como lei ao
Presidente da República, para a formalidade da promulgação.
§ 3º Prevalecerá definitivamente o veto não-rejeitado pela
Assembléia no semestre seguinte da sessão ordinária.
§ 4º A sanção e a promulgação efetuam-se por estas fórmulas:
1º) "A Assembléia Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
lei;"
2º) "A Assembléia Nacional decreta e eu promulgo a seguinte
lei."
§ 5º No caso do § 2º, se, dentro de 48 horas, o Presidente da Re-
pública não promulgar a lei, o da Assembléia, ou seu vice-presidente em
exercício, a promulgará, mediante a fórmula seguinte: "F" ...., presidente
(ou vice-presidente) da Assembléia Nacional, faço saber aos que a presen-
te virem que esta Assembléia decreta e promulga a seguinte lei".
§ 6º Os projetos vetados não poderão ser renovados na mesma
sessão legislativa,
SEÇÃOII
Do Poder Executivo
CAPÍTULO I
DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 36. O Poder Executivo será exercido pelo Presidente da
República.
Art 37. O Presidente será eleito por um quadriênio e não pode-
rá ser reeleito senão seis anos depois de terminado o seu período presiden-
cial.
76 • Anteprojeto
§ 1º A eleição presidencial far-se-á por escrutínio secreto e maioria
de votos da Assembléia Nacional, presente a maioria absoluta de seus
membros, 30 dias antes de terminado o quadriênio, ou 30 dias depois de
aberta a vaga.
§ 2º São condições para eleição de Presidente da República: ser
brasileiro nato; estar no exercício dos direitos políticos; ter mais de 35
anos.
§ 3º Não poderá ser eleito Presidente da República o cidadão
que exercer a sua atividade política, ou qualquer outra, no mesmo Estado
em que exercia o Presidente que estiver no poder, ou desse estado seja fi-
lho, ou ali resida ou tenha domicílio legal.
§ 4º Em caso de empate, será considerado eleito o mais velho.
§ 5º Decorridos 60 dias, se o Presidente não puder, por qual-
quer motivo, assumir o cargo, proceder-se-á a nova eleição, para a qual
será inelegível.
§ 6º Em caso de vaga, o sucessor será eleito para completar o
quadriênio, salvo se ela ocorrer no último ano da legislatura. Neste caso, a
Presidência será exercida, até o fim do quadriénio, de acordo com o pará-
grafo seguinte.
§ 7º No impedimento ou na falta do Presidente, serão chama-
dos sucessivamente a exercer a Presidência o Presidente da Assembléia
Nacional e do Supremo Tribunal.
§ 8º Os substitutos eventuais do Presidente não poderão ser
eleitos para o preenchimento da vaga, ainda quando se exonerarem dos
cargos que ocupavam.
Art. 38. Ao empossar-se no cargo, o Presidente pronunciará,
em sessão da Assembléia Nacional e, se ela não estiver reunida, ante o
Supremo Tribunal, esta afirmação: "Prometo manter e cumprir com
perfeita lealdade a Constituição Federal, promover o bem geral da Re-
pública, observar as suas leis, sustentar-lhe a união, a integridade e a in-
dependência".
Art. 39. O Presidente perceberá o subsídio fixado pela Assem-
bléia, no período presidencial antecedente.
Art 40. O Presidente, sob pena de perder o cargo, não poderá
sair do território nacional sem permissão da Assembléia, ou da Comissão
Permanente, se aquela não estiver funcionando.
A Constituição de 1934 •77
CAPÍTULO II
DAS ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 41. Compete privativamente ao Presidente da República:
1º) Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis da Assembleia
Nacional;
2º) expedir decretos, instruções e regulamentos para a fiel exe-
cução das leis, ouvido previamente o Conselho Supremo;
3º) nomear, dependente de aprovação do Conselho Supremo,
os Ministros de Estado e o Prefeito do Distrito Federal, e demiti-los livre-
mente;
4º) perdoar e comutar as penas impostas por quaisquer crimes,
salvos os de responsabilidade;
5º) dar conta anualmente da situação do País à Assembléia Na-
cional, indicando-lhe, no dia da sua abertura, as providências e reformas
que lhe
parecerem necessárias; 
6º) manter as relações com os Estados estrangeiros;
7º) celebrar convenções e tratados internacionais, sempre ad re-
ferendum da Assembléia Nacional, e aprovar os que os Estados celebrarem,
na conformidade desta Constituição;
8º) decretar, depois de autorizado pela Assembléia Nacional, a
mobilização e a desmobilização;
9º) declarar guerra, depois de autorizado pela Assembleia Nacio-
nal, ou, se esta não estiver funcionando, decretar imediatamente o estado
de guerra, em caso de invasão estrangeira;
10º) fazer a paz, ad referendum da Assembléia Nacional;
11º) permitir, mediante autorização da Assembléia Nacional, a
passagem de forças estrangeiras pelo território brasileiro;
12º) intervir nos Estados e neles executar a intervenção, nos
termos do § 2º do art. 13; 
13º) decretar o estado de sítio, na ausência da Assembléia, de
acordo com o § 1º do art. 131;
14º) prover os cargos federais, salvo as restrições expressas nesta
Constituição, dependendo, todavia, da aprovação da Assembléia Nacional,
as nomeações dos Ministros do Supremo Tribunal e dos Tribunais de Re-
clamações e de Contas, bem como as dos chefes efetivos das Missões Di-
plomáticas.
78 • Anteprojeto
CAPÍTULO III
DA RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE
Art. 42. Depois que a Assembléia Nacional declarar procedente
a acusação, o Presidente da República ficará suspenso das funções e será
processado e julgado, nos crimes comuns, pelo Supremo Tribunal, e nos
de responsabilidade pelo Tribunal Especial, composto dê nove juizes,
presididos pelo Presidente do Supremo Tribunal. Deles, três serão eleitos
pelo Supremo Tribunal, dentre os seus membros, um mês antes de se ini-
ciar o quadriênio presidencial; e, nas mesmas condições, três pelo Conse-
lho Supremo e três pela Assembléia Nacional.
Parágrafo único. O Tribunal Especial só poderá aplicar penas
de perda do cargo e inabilitação, até o máximo de cinco anos, para exercer
qualquer função pública sem prejuízo da ação criminal e civil contra o
condenado.
Art. 43. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da
República que atentarem contra; a) a existência da União; b) a Constituição
ou a forma de Governo Federal; c) o livre exercício dos poderes políticos;
d)o gozo ou o exercício legal dos direitos políticos, sociais ou individuais;
e) a segurança interna do País; f) a probidade da administração; g) a guarda
ou emprego dos dinheiros públicos; h) as leis orçamentárias do País, quan-
to aos atos que tiverem a sua assinatura e aos praticados por ordem sua,
dada por escrito, aos Ministros de Estado; i) contra a liberdade de impren-
sa devidamente regulada em lei.
CAPÍTULO IV
DOS MINISTROS DE ESTADO
Art. 44. O Presidente da República será auxiliado pelos Minis-
tros de Estado, presidindo cada qual um dos ministérios em que se dividir
a administração federal.
Parágrafo único. São condições para nomeação de Ministro: ser
brasileiro nato; estar no exercício dos direitos políticos; ter mais de 25
anos.
Art. 45. A lei fixará as atribuições dos Ministros. Caber-lhes-á,
sempre, todavia, referendar os atos do Presidente da República, nomear
os funcionários subalternos e os contratados dos respectivos ministérios,
A Constituição de 1934 • 79
apresentar ao Presidente da República relatórios anuais, distribuídos por
todos os membros da Assembléia, e a ela prestar, anualmente, contas da
execução orçamentária. Ao Ministro da Fazenda competirá organizar a
proposta do orçamento.
Art 46. São crimes de responsabilidade os atos ministeriais
atentatórios das disposições orçamentárias, respondendo cada Ministro
pelas despesas de sua pasta, e o da Fazenda, além disto, pela arrecadação
da receita.
Parágrafo único. A lei definirá os crimes de responsabilidade
quanto aos outros atos de competência dos Ministros e lhes regulará o
processo e julgamento pelo Tribunal Especial.
SEÇÃO III
Do Poder Judiciário
Art. 47. O Poder Judiciário será exercido por tribunais e juizes
distribuídos pelo País; e o seu órgão supremo terá por missão principal
manter, pela jurisprudência, a unidade do direito, e interpretar conclusiva-
mente a Constituição em todo o território brasileiro. 
Art. 48. São órgãos do Poder Judiciário: a) o Supremo Tribunal,
na Capital da União; b) o Tribunal de Reclamações, na Capital da União; c)
os Tribunais da Relação, nas. capitais dos Estados e nas dos Territórios e
no Distrito Federal; d) os juizes de Direito, nas sedes de comarcas e no
Distrito Federal; e) os juizes de Termo, nas respectivas sedes; í) os juizes e
tribunais que a lei ordinária criar.
Art. 49. A Justiça reger-se-á por uma lei orgânica, votada pela
Assembléia Nacional.
§ 1º Caberá, porém, aos Estados fazei sua divisão judiciária e no-
mear os juizes que neles tiverem exclusivamente jurisdição, observadas as
seguintes prescrições: a) concurso para a investidura nos primeiros graus,
sendo a nomeação feita pelo presidente do Estado, mediante proposta do
Tribunal da Relação, enviada em lista tríplice, salvo se os candidatos apro-
vados forem menos de três; b) acesso, na proporção de dois terços por an-
tiguidade e um terço por merecimento, procedendo, neste caso, lista
tríplice enviada pelo Tribunal da Relação ao presidente do Estado; c)
remoção, exclusivamente a pedido, ou por determinação do Tribunal da
Relação, quando, neste caso, assim exigir o serviço público, ou por acesso,
80 • Anteprojeto
se o juiz o aceitar; d) inalterabilidade da divisão judiciária antes de cinco
anos contados da última lei, salvo motivo imperioso, verificado mediante
proposta do Tribunal da Relação, aprovada por dois terços da Assembléia
Legislativa; e) composição do Tribunal da Relação, na proporção de dois
terços dos desembargadores escolhidos entre os juizes de Direito, sendo
um terço por antiguidade e outro por merecimento, mediante lista tríplice,
enviada em cada caso pelo tribunal ao presidente do estado, e o terço res-
tante composto de juristas de notório saber e reputação ilibada, mediante
lista tríplice, enviada em cada caso pelo tribunal ao presidente do Estado,
podendo ser nela também incluído um juiz; í) fixação, por lei federal, do
vencimento mínimo que, em cada estado e de acordo com as suas condi-
ções peculiares, perceberão os desembargadores e juizes.
§ 2º Quando o Tribunal da Relação, por três quartos pelo me-
nos de seus membros, resolver que o juiz mais antigo não deva ser promo-
vido, indicará o imediato cm antiguidade c aquele será aposentado.
§ 3º A organização judiciária só poderá ser modificada por lei
especial da Assembléia, aprovada por dois terços dos deputados presen-
tes.
Art. 50. Os juizes togados de todos os graus gozarão das se-
guintes garantias: a) vitaliciedade, não perdendo o cargo senão em virtude
de sentença, exoneração a pedido, aposentadoria voluntária, ou compul-
sória no caso do § 2º do artigo anterior, ou aos 70 anos para os Ministros
do Supremo Tribunal e do Tribunal de Reclamações; aos 68 para os de-
sembargadores e membros dos outros tribunais; aos 65 para os demais jui-
zes; b) inamovibilidade, salvo o caso da letra c do artigo anterior; c)
irredutibilidade de vencimentos sujeitos, todavia, aos impostos gerais.
Art. 51. A função judiciária é absolutamente incompatível com
outra qualquer de caráter público. A violação deste preceito importa para
o magistrado na perda do cargo judicial.
Art. 52. É da competência exclusiva dos tribunais organizar seus
regimentos internos e suas secretarias, propondo à Assembléia Nacional ou
às Legislativas a criação ou supressão de emprego, respeitados, quanto à
nomeação, licença e exoneração, os princípios estabelecidos nesta Consti-
tuição.
§ lº Competirá aos presidentes dos tribunais nomear, licenciar
e demitir os funcionários de suas secretarias.
A Constituição de 1934 • 81
§ 2º Os tribunais elegerão seus presidentes e vice-presidentes
pelo prazo de
dois anos, vedada, porém, a reeleição, e poderão ser dividi-
dos em câmaras.
Art. 53. O Supremo Tribunal compor-se-á de 11 Ministros, no-
meados pelo Presidente da República, dentre os brasileiros natos, de notá-
vel saber jurídico e reputação ilibada, maiores de 35 anos e no exercido
dos direitos políticos. Só depois de aprovada pela Assembléia Nacional,
em sessão e votos secretos, a nomeação ficará definitiva.
§ 1º O número de Ministros poderá ser aumentado até 15, por
proposta do Supremo Tribunal, aprovada em lei ordinária; todavia não
será mais reduzido.
§ 2º Os Ministros do Supremo Tribunal serão substituídos, em
seus impedimentos, pelos do Tribunal de Reclamações, na ordem de anti-
guidade; e estes, do mesmo modo, pelos desembargadores do Distrito Fe-
deral. A lei de organização judiciária proverá às outras substituições.
§ 3º Nos crimes de responsabilidade, os Ministros do Supremo
Tribunal, depois que a Assembléia declarar procedente a acusação, serão
processados e julgados pelo Tribunal Especial e pelo mesmo processo es-
tabelecido para o Presidente da República.
Art. 54. Compete, privativamente, ao Supremo Tribunal:
lº) processar e julgar originariamente: a) o Presidente da Repú-
blica, os Conselheiros, os Ministros de Estado, os do Supremo Tribunal e
o Procurador-Geral, nos crimes comuns; b) os membros de todos os ou-
tros tribunais superiores do País, inclusive o Eleitoral, o de Contas e o Mi-
litar, bem como os embaixadores e ministros 'diplomáticos, nos crimes
comuns e nos de responsabilidade; c) as questões entre outras nações e a
União ou os Estados; d) as questões entre a União e os Estados ou destes
entre si; e) os conflitos entre os tribunais, ou entre juizes com jurisdição
em Estados diversos; f) os habeas corpus ou mandados de segurança quando
os coatores forem o Presidente da República, os Ministros de Estado ou
qualquer tribunal; g) as ações rescisórias de seus acórdãos; h) a extradição
de criminosos e a homologação de sentenças estrangeiras;
2º) julgar em grau de recurso: a) as questões em que alguma das
partes fundar a ação ou a defesa em dispositivo da Constituição Federal;
ou em tratados ou convenções internacionais, ou princípio de direito in-
ternacional; b) as questões de direito marítimo ê navegação; c) as questões
82 • Anteprojeto
relativas a minas, força hidráulica, terras devolutas ou polícia de estran-
geiros; d) as questões movidas por estrangeiros fundadas em contrato
com a União, ou qualquer entidade de direito público; e) as questões en-
tre um Estado e habitantes de outro; ou entre nação estrangeira e brasile-
ira; ou de espólio de estrangeiros, se a espécie não estiver prevista de
modo diverso em convenção ou tratado; f) as questões que versarem so-
bre a aplicabilidade de tratados ou leis federais, quando a decisão judicial
de última instância lhes for contrária; g) as questões sobre vigência ou
validade de leis federais em face da Constituição, quando a decisão judi-
cial de última instância lhes negar aplicação; h) as questões sobre valida-
de de leis ou atos dos governos locais em face da Constituição e das leis
federais, quando a decisão judicial de última instância julgar válidos as
leis ou atos impugnados.
Parágrafo único. Compete, ainda privativamente, ao Supremo
Tribunal: a) rever a favor dos condenados os processos findos em matéria
criminal, nos casos e pela forma que a lei determina. A revisão, que se esten-
de aos processos da Justiça Militar, poderá ser requerida pelo sentenciado
ou por qualquer pessoa, competindo ao Ministério Público fazê-lo sempre
que for o caso; b) decidir, firmando a unidade do direito, quando divergi-
rem na interpretação da mesma lei federal dois ou mais tribunais, ou qual-
quer deles e o Supremo Tribunal. Este recurso poderá ser interposto por
qualquer tribunal, pelas partes ou pelo Ministério Público; c) julgar os re-
cursos interpostos das decisões de última instância referentes a habeas corpus
ou mandados de segurança.
Art. 55. O Tribunal de Reclamações compor-se-á de nove Mi-
nistros, nomeados com os mesmos requisitos e pelo mesmo processo dos
membros do Supremo Tribunal.
Parágrafo único. Competirá ao Tribunal de Reclamações jul-
gar em grau de recurso: a) as questões em que for parte a União, ou em-
presa, sociedade ou instituição, em cuja administração intervir, salvo as
do n2 2 do art. 54; b) os crimes contra a administração federal ou a Fa-
zenda da União. O recurso, nos casos de letra a, poderá também ser di-
retamente interposto de decisões administrativas, nos termos que a lei
determinar.
Art. 56. A competência dos outros tribunais e dos juizes será fi-
xada na lei de organização judiciária, que poderá estabelecer alçadas.
A Constituição de 1934 • 83
§ 1º Caberá, todavia, privativamente aos Tribunais da Relação
o processo e julgamento dos juizes inferior, nos crimes comuns e nos de
responsabilidade.
§ 2º Os Estados poderão manter ou criar a Justiça de Paz eleti-
va, cabendo à lei de organização judiciária fixar-lhe a competência.
Art. 57. Não se poderá argüir de inconstitucional uma lei federal
aplicada sem reclamação por mais de cinco anos.
§ 1º O Supremo Tribunal não poderá declarar a inconstitucio-
nalidade de uma lei federal, senão quando nesse sentido votarem pelo me-
nos dois terços de seus Ministros.
§ 2° Só o Supremo Tribunal poderá, declarar definitivamente
a inconstitucionalidade de uma lei federal ou de um ato do Presidente
da República. Sempre que qualquer tribunal ou juiz não aplicar uma lei
federal, ou anular um ato do Presidente da Republica, por inconstitucio-
nais, recorrerá ex officio, e com efeito suspensivo, para Supremo Tri-
bunal.
§ 3º Julgados inconstitucionais qualquer lei ou ato do Poder
Executivo, caberá a todas as pessoas, que se acharem nas mesmas condi-
ções do litigante vitorioso, o remédio judiciário instituído para garantia de
todo direito certo e incontestável.
Art. 58. A lei não poderá ser interpretada ou aplicada contra o
interesse coletivo.
Art. 59. Nenhum recurso judiciário é permitido contra a inter-
venção nos Estados, declaração de estado de sítio, eleição presidencial, ve-
rificação de poderes, reconhecimento, posse, e perda de cargos públicos
eletivos, tomada de contas pela Assembléia e outros atos essencial e exclu-
sivamente políticos, reservados por esta Constituição ao arbítrio de outro
poder.
Parágrafo único. Os juizes e tribunais apreciarão os atos dos
outros poderes somente quanto à legalidade, excluídos os aspectos de
oportunidade ou conveniência das medidas.
Art. 60. Nenhum juiz poderá deixar de garantir ò direito de al-
guém sob fundamento de não haver remédio processual para o caso. Se
assim ocorrer, aplicará as regras de analogia ou equidade, resolvendo
como se legislador fosse.
84 • Anteprojeto
Art. 61. Sob responsabilidade criminal e nulidade absoluta do
ato, nenhum juiz, por motivo algum, poderá funcionar em processo no
qual seja diretamente interessado, ou que diga respeito à sociedade de
que seja acionista, ou se refira a imposto que recaia sobre título ou bem
de qualquer natureza, idêntico a outros de que seja proprietário. Igual-
mente não poderá funcionar quando credor ou devedor de algumas das
partes.
Parágrafo único. Até o segundo grau, o parente natural, civil ou
afim do juiz não poderá advogar perante ele ou tribunal de que faça parte.
O impedimento estende-se aos advogados sócios do impedido.
Art. 62. O júri terá a organização e as atribuições que a lei ordi-
nária lhe der. Será, porém, de sua competência o julgamento dos crimes de
imprensa e dos políticos, exceto os eleitorais.
Art. 63. O Ministério Público será organizado, na União, por
uma lei da Assembleia Nacional e, nos Estados, pelas respectivas Assem-
bleias Legislativas.
§ 1º O Ministério Público é o órgão da lei e da defesa social,
§ 2º O chefe do Ministério Público Federal é o Procura-
dor-Geral da República, podendo, porém, o Ministério da Justiça dar-lhe
instruções e defender pessoalmente a União perante o Supremo Tribunal,
quando conveniente, ou evocar o conhecimento de qualquer caso.
§ 3º O Procurador-Geral será nomeado pela mesma forma e
com os mesmos requisitos dos Ministros do Supremo Tribunal e terá os
mesmos vencimentos; só perderá o cargo por sentença, ou mediante de-
creto fundamentado do Presidente da República, aprovado por dois ter-
ços da Assembléia Nacional; e nos crimes de responsabilidade será
processado e julgado pelo Tribunal Especial.
§ 4º Os membros do Ministério Público Federal só perderão os
cargos por sentença ou decreto fundamentado do Presidente. da Repúbli-
ca, precedendo proposta do Procurador-Geral e processo administrativo
em que serão ouvidos.
§ 5º Os membros do Ministério Público estadual, desde que se-
jam formados em Direito, terão, asseguradas pelo Estado, garantias análo-
gas às que constam dos parágrafos anteriores.
Art. 64. É assegurada aos pobres a gratuidade da Justiça.
A Constituição de 1934 • 85
SEÇÃO IV
Da justiça Eleitoral
Art. 65. Fica instituída a Justiça Eleitoral, tendo por órgãos: o
Tribunal Superior, na Capital da União; um Tribunal Regional, na capital
de cada Estado, nas dos Territórios que a lei designar e no Distrito Federal;
juizes eleitorais nas comarcas e nos termos judidiários. A lei fixará o núme-
ro dos juizes desses tribunais, sendo o Superior presidido pelo vi-
ce-presidente do Supremo Tribunal e os Regionais, pelos vice-presidentes
dos Tribunais da Relação.
§ 1º O Tribunal Superior, além do seu presidente, compor-se-á
de juizes efetivos e substitutos, escolhidos do modo seguinte: a) um terço
sorteado dentre os Ministros do Supremo Tribunal; b) outro terço sortea-
do dentre os desembargadores do Distrito Federal; c) o terço restante no-
meado pelo Presidente da República, dentre os cidadãos de notável saber
jurídico e reputação ilibada, domiciliados no Distrito Federal, e que nào
forem funcionários públicos demissíveis ad nutum, nem administradores
de sociedade ou empresa que tenha contrato com os poderes públicos ou
isenção, favores ou privilégios.
§ 2º Os Tribunais Regionais compor-se-ão por processo idênti-
co, sendo um terço dentre os desembargadores da respectiva sede, outro
dentre os juizes de Direito da mesma c o restante nomeado pelo Presiden-
te da República.
Art. 66. Os magistrados vitalícios terão as funções de juizes elei-
torais, segundo a lei determinar. Caberá, porém, à Justiça Eleitoral: a) fazer
o alistamento; b) resolver sobre inelegibilidade e proceder à apuração dos
sufrágios e à proclamação dos eleitos; c) processar e julgar os delitos elei-
torais; d) conceder habeas corpus em matéria eleitoral; e) tomar e propor as
providências necessárias para que as eleições se realizem no tempo e na
forma determinados em lei.
§ lº Aos magistrados eleitorais serão asseguradas as garantias
da Magistratura togada.
§ 2° Haverá recurso para o Tribunal Superior de qualquer deci-
são final em matéria de alistamento, inelegibilidade, apuração ou procla-
mação de eleitos. A decisão do Tribunal Superior é definitiva, salvo
quando se tratar de inconstirucionalidade, habeas corpus, ou mandado de se-
gurança, casos em que haverá recurso para o Supremo Tribunal.
86 • Anteprojeto
SEÇÃO V
Do Conselho Supremo
Art. 67. Fica instituído, na Capital da União, o Conselho Supre-
mo, composto de 35 Conselheiros efetivos, e mais tantos extraordinários
quantos forem os cidadãos sobreviventes, depois de haverem exercido
por mais de três anos a Presidência da República.
§ 1º São condições para escolha ou nomeação de Conselheiro:
ser brasileiro nato e maior de 35 anos; estar no exercício dos direitos polí-
ticos; ter reconhecida idoneidade moral e reputação de notável saber ou
exercido cargos superiores da administração ou da Magistratura, ou se sa-
lientado no Poder Legislativo nacional, ou, de outro modo, por sua capa-
cidade técnica ou científica.
§ 2° Os Conselheiros terão residência obrigatória na Capital da
União e um subsídio igual ao dos deputados.
§ 3º Os Conselheiros efetivos serão escolhidos: a) vinte e um,
sendo um por Estado e um pelo Distrito Federal, mediante eleição pela
Assembléia Legislativa local; b) três, por eleição de segundo grau, pelos
delegados das universidades da República, oficiais ou reconhecidas pela
União; c) cinco representantes dos interesses sociais de ordem administra-
tiva, moral e econômica, por eleição em segundo grau, designando a lei as
entidades a quem incumbe tal representação e o modo da escolha; d) seis
nomeados pelo Presidente da República em lista de 20 nomes, organizada
por uma comissão composta de sete deputados, eleitos pela Assembléia
Nacional, por voto secreto, e sete Ministros do Supremo Tribunal eleitos
por este, pela mesma forma.
§ 4º Os Conselheiros servirão por sete anos, podendo ser reelei-
tos ou renomeados. Em caso de vaga, o sucessor será eleito ou nomeado
para um novo setênio.
§ 5º Os Conselheiros gozarão das imunidades asseguradas aos
deputados à Assembleia Nacional.
§ 6º Os crimes de responsabilidade dos Conselheiros serão de-
finidos em lei, que lhes regulará o processo e o julgamento pelo Tribunal
Especial.
Art. 68. O Conselho Supremo será órgão técnico consultivo e
deliberativo, com funções políticas e administrativas; manterá a continui-
dade administrativa nacional; auxiliará, com o seu saber e experiência, os
A Constituição de 1934 • 87
órgãos do Governo e os poderes públicos, por meio de pareceres, medi-
ante consulta; deliberará e resolverá sobre os assuntos de sua competên-
cia, fixada nesta Constituição.
§ 1º O Conselho Supremo funcionará permanentemente, c di-
vidir-se-á em seções, pelo modo que o regimento interno prescrever.
§ 2º Em graves emergências da vida nacional, poderá o Conselhei-
ro reunir-se em sessão plena, sob convocação do Presidente da República, e
sob sua presidência, tomando assento na reunião, e votando, os membros do
Conselho Superior da Defesa Nacional o Presidente da Assembléia Nacio-
nal, o do Supremo Tribunal e o Procurador-Geral da República.
§ 3º Poderá também o Presidente da República convocar o
Conselho, sempre que lhe parecer conveniente ouvi-lo diretamente acerca
de assuntos relevantes de natureza política ou administrativa, cabendo,
nessas reuniões, também àquele a presidência.
§ 4º As consultas poderão ser enviadas ao Conselho: a) pelo
Presidente da República; b) pela Mesa da Assembléia Nacional ou pela
Comissão Permanente; c) pelos presidentes dos Estados; d) pelas Mesas
das Assembleias dos Estados ou dos Conselhos municipais.
§ 5º As consultas serão respondidas pelas respectivas seções,
mas as resoluções só poderão ser tomadas em sessão do Conselho e por
maioria de votos, presente a maioria absoluta dos Conselheiros.
Art. 69. Compete privativamente ao Conselho Supremo:
1º) organizar o seu regimento interno e a sua secretaria, pro-
pondo à Assembleia Nacional a criação ou a supressão de empregos, res-
peitados quanto à nomeação, licença e exoneração os princípios
estabelecidos nesta Constituição;
2º) autorizar ou não a intervenção nos Estados, quando ela
competir exclusivamente ao Presidente da República;
3º) opinar previamente sobre os decretos, as instruções e os re-
gulamentos que o Presidente ou seus Ministros houverem de expedir para
a execução das leis;
4º) aprovar ou não a nomeação dos Ministros de Estado, e do
prefeito do Distrito Federal;
5º) eleger três membros do Tribunal Especial;
6º) elaborar, de cinco em cinco anos, quando oportuno, e depois
de ouvidos o Ministro da Fazenda e os presidentes dos Estados, um proje-
88 • Anteprojeto
to de lei, destinado a conciliar os respectivos interesses econômicos e tri-
butários, impedindo a dupla tributação;
7º) propor à Assembléia Nacional modificar a uniformidade
dos impostos federais, no caso do nº 20 do art. 33;
8º) resolver sobre a conveniência de manter-se ou não, por
mais de 30 dias, a detenção política, ordenada na vigência do estado de sí-
tio;
9º) decidir sobre os recursos interpostos nos casos de censura
imerecida;
10º) fazer e publicar anualmente o relatório dos seus trabalhos,
que será acompanhado dos pareceres, deliberações e resoluções adotados
no período anual anterior.
Parágrafo único. Compete ainda ao Conselho Supremo:
lº) propor à Assembléia os projetos de lei que julgar oportunos;
2º) convocar extraordinariamente a Assembléia Nacional;
3º) representar a Assembléia Nacional contra o Presidente da
República e os Ministros de Estado, no sentido de lhes ser instaurado o
processo de responsabilidade, reunindo para esse fim os elementos úteis à
acusação.
SEÇÃO VI
Do Orçamento e da Administração Financeira
Art. 70. No orçamento é obrigatório incluir na receita, além dos
impostos e taxas, o produto de operações de crédito de qualquer natureza,
bem como os saldos de depósitos e fundos especiais; e na despesa, a apli-
cação a se dar aos dinheiros públicos de qualquer procedência.
§ lº Só depois de votado em lei especial, se incluirá no orça-
mento qualquer tributo novo ou agravação do existente.
§ 2º O orçamento da despesa dividir-se-á em duas partes, uma
fixa e outra variável, não podendo aquela ser alterada senão em virtude de
lei anterior. A parte variável obedecerá a rigorosa especialização, proibido
o estorno de verba.
§ 3º O Presidente da República enviará à Assembléia, dentro do
primeiro mês da sessão anual, a proposta do orçamento.
§ 4º A lei do orçamento não conterá dispositivo estranho à re-
ceita prevista e à despesa fixada para os serviços anteriormente criados.
A Constituição de 1934 • 89
Não se inclui nesta proibição: a) a autorização para a abertura de créditos
suplementares e para operações de crédito como antecipação da receita;
b) o modo de empregai o saldo do exercício, ou de cobrir o déficit.
Art. 71. É vedado à Assembléia conceder créditos ilimitados.
§ 1º Nenhum crédito especial, ou suplementar, se abrirá sem
expressa autorização legislativa. Os créditos extraordinários, porém, po-
derão ser abertos em qualquer mês do exercício, de acordo com a legisla-
ção ordinária, para despesas urgentes e imprevistas, em caso de
calamidade pública, rebelião ou guerra.
§ 2º Salvo disposição expressa em contrário, nenhum crédito
decorrente de autorização orçamentária se abrirá senão no segundo se-
mestre do exercício, e mediante demonstração de que o aumento no
primeiro semestre, da receita arrecadada sobre a orçada, comporta esse
crédito.
§ 3º Será sujeito ao registro prévio do Tribunal de Contas qual-
quer ato da administração pública que importe pagamento a ser feito pelo
Tesouro Nacional, ou à sua conta por estabelecimento bancário.
§ 4º Quando o Tribunal de Contas for contrário ao ato do Exe-
cutivo e o Presidente da República insistir em praticá-lo, o registro far-se-á
sob protesto, comunicado o fato à Assembléia Nacional.
§ 5º Os contratos que, por qualquer forma, digam respeito à re-
ceita ou à despesa, não serão definitivos, sem o prévio registro do Tribu-
nal de Contas. A recusa do registro suspende a execução dó contrato, até o
pronunciamento da Assembléia.
§ 6º Não se criará nenhum encargo novo para o Tesouro, sem
que a Assembléia tenha autorizado a abertura do crédito ou consignado a
respectiva verba no orçamento.
Art. 72. Os Ministros do Tribunal de Contas serão nomeados
pelo Presidente da República com aprovação da Assembléia Nacional, e
terão as mesmas garantias dos Ministros do Supremo Tribunal.
Parágrafo único. O Tribunal de Contas terá, quanto à organiza-
ção de seu regimento interno e de sua secretaria, as mesmas atribuições
dos Tribunais Judiciários.
Art. 73. As contas do Presidente da República, em matéria or-
çamentaria, compreenderão exclusivamente os atos por ele assinados e os
resultantes de suas ordens escritas aos Ministros.
90 • Anteprojeto
§ lº A prestação anual de contas do Presidente e dos Ministros
de Estado será apresentada ao tribunal, que a enviará, com o seu parecer, à
Assembléia Nacional. Se até um mês depois da abertura da sessão legislati-
va anual a prestação de contas do exercício anterior não houver sido reme-
tida ao tribunal, fará este a devida comunicação à Assembléia, para que
tome as providências necessárias.
§ 2º O Tribunal de Contas acompanhará, dia a dia, diretamente
ou por intermédio de suas delegações, a execução orçamentária, de modo
que nenhuma despesa se realize sem o prévio registro do ato de empenho
e da ordem de pagamento.
§ 3º Caberá igualmente ao tribunal, depois de organizados os
respectivos processos, o julgamento das tomadas de contas dos responsá-
veis por dinheiros e bens públicos.
Art. 74. As dívidas provenientes de sentença judiciária serão pa-
gas na ordem rigorosa da antiguidade dos precatórios, dentro dos créditos
orçamentários abertos para esse fim.
SEÇÃO VII
Da Defesa Nacional
Art. 75. O Presidente da República é o chefe supremo de todas
as forças militares da União e as administrará por intermédio dos órgãos
do alto comando.
§ 1º Todas as questões relativas à defesa nacional serão estuda-
das e coordenadas pelo Conselho Superior da Defesa Nacional e pelos ór-
gãos especiais criados para atender às necessidades da mobilização
nacional.
§ 2º O Conselho será presidido pelo Presidente da República e
dele farão parte os Ministros de Estado, o chefe do Estado-Maior do
Exército e o chefe do Estado-Maior da Armada.
§ 3º A organização, o funcionamento e a competência do Con-
selho Superior serão regulados em lei.
Art. 76. O Brasil não se empenhará em guerra de conquista, di-
reta ou indiretamente, por si ou aliado a outras potências.
§ 1- Incumbirá ao Presidente da República e à Assembléia Na-
cional a direção política da guerra, sendo as operações militares da compe-
A Constituição de 1934 • 91
tência e responsabilidade do comandante-em-chefe do Exército em
campanha e das forças navais.
§ 2º A declaração do Estado de guerra implicará suspensão das
garantias constitucionais que possam prejudicar direta ou indiretamente a
segurança nacional.
Art. 77. As Forças Armadas sào instituições nacionais perma-
nentes, destinadas a garantir a segurança externa da Nação e a defesa inter-
na das instituições constitucionais e das leis.
§ 1º As Forças Armadas são essencialmente obedientes, dentro
dos limites da lei, aos seus superiores hierárquicos.
§ 2º Nenhuma Força Armada será organizada no território bra-
sileiro sem consentimento do Presidente da República, ouvido o Conse-
lho Superior da Defesa Nacional. Compete privativamente à União
estabelecer em lei especial as condições gerais da organização das forças
não-federais, e sua utilização, em caso de guerra ou de mobilização, bem
como os limites de seu efetivo, a natureza da instrução a lhes ser dada, e a
discriminação do seu material bélico. Considera-se Força Armada qual-
quer agrupamento de indivíduos subordinados a uma organização e hie-
rarquia c dispondo de meios de combate, mesmo simulados.
Art. 78. Todo brasileiro é obrigado, na forna da lei, ao serviço mi-
litar e a outros encargos necessários à defesa da Pátria e das instituições, e, em
caso de mobilização, pode-se lhe dar o destino que melhor convenha às suas
aptidões, quer nas Forças Armadas, quer nas organizações do interior,
§ 1º Nenhum brasileiro poderá exercer direitos políticos ou
função pública, sem provar que se não recusou às obrigações estaduais em
lei para com a defesa nacional.
§ 2º O militar em serviço ativo das Forças Armadas não poderá
exercer qualquer profissão a elas estranha, nem fazer parte de agremiações
políticas.
§ 3º O militar, em serviço ativo das Forças Armadas, que aceitar
cargo público permanente a elas estranho,
será, com as vantagens deste,
transferido para a reserva.
§ 4º O militar em serviço ativo das Forças Armadas, que aceitar
cargo público temporário, de nomeação ou eleição, e não-privativo da
qualidade militar, será considerado agregado ao respectivo quadro, sem
contar quaisquer vantagens, inclusive tempo de serviço, exceto para refor-
92 • Anteprojeto
ma. Aquele que permanecer em tal situação por mais de seis anos, contí-
nuos ou não, será transferido para a reserva, com as vantagens que lhe
couberem por lei.
Art. 79. As patentes são garantidas em toda a plenitude aos ofi-
ciais da ativa, da reserva ou reformados, na forma da lei.
§ 1º Os oficiais das Forças Armadas só perderão suas patentes e
seus postos por condenações superiores a dois anos, passadas em julgado;
ou quando, por tribunais militares competentes, e de caráter permanente,
forem, nos casos especificados em lei, declarados indignos do oficíalato ou
com ele incompatíveis. No primeiro caso, poderá o Tribunal Militar compe-
tente, atendendo à natureza, às circunstâncias do delito e aos serviços do
oficia], decidir que seja reformado com as vantagens da sua patente.
§ 2º O acesso na hierarquia militar obedecerá a condições es-
tabelecidas em lei, fixando-se o valor mínimo a realizar para o exercício
das funções relativas a cada grau ou posto e as preferências de caráter
profissional para a promoção. A simples consideração de serviços pres-
tados e a antiguidade são requisitos para a promoção, porém não a tor-
nam obrigatória.
§ 3º Os títulos e postos militares são privativos do militar em
atividade ou na reserva.
§ 4º Os militares, de conformidade com as prerrogativas ine-
rentes ao posto, são responsáveis pelas ações, omissões, abusos e erros
que cometerem ou tolerarem no exercício de suas funções. Os que lhes
são subordinados ficarão isentos de responsabilidade, pelos atos que pra-
ticarem, por ordem expressa de seus superiores hierárquicos.
Art. 80. Os militares e assemelhados terão foro especial nos de-
litos militares definidos cm lei.
§ 1º Este foro compor-se-á de um Tribunal Militar de Apela-
ção, cujos membros serão na maioria militares profissionais, e dos con-
selhos e juízos necessários para o processo e julgamento dos crimes. A
lei determinará a organização e a competência desse tribuaal, caben-
do-lhe, porém, quanto a regimento interno e secretaria as mesmas atribui-
ções dos outros tribunais.
§ 2º A legislação especial para o tempo de guerra fixará a com-
petência dos tribunais militares com aplicação de sua jurisdição aos civis e
à aplicação da pena de morte nos crimes contra a segurança nacional.
A Constituição de 1934 • 93
§ 3º Os membros do Tribunal Militar de Apelação só perderão
os seus cargos por sentença.
§ 4º Os auditores só poderão ser removidos a pedido, ou medi-
ante proposta ou prévia audiência do Tribunal Militar de Apelação, quan-
do assim o exigir o serviço militar. 
§ 5º Nas transgressões disciplinares não terá cabida o habeas corpus.
TÍTULO II
DOS ESTADOS
Art. 81. Os Estados organizar-se-ão de acordo com a Constituição
e as leis que adotarem, respeitados os seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana representativa; b) independência e harmo-
nia dos poderes; c) temporariedade das funções eletivas, não podendo o
seu período exceder o dos cargos federais análogos; d) Poder Legislativo
unicameral; e) autonomia dos municípios; f) garantias do Poder Judiciário;
g) direitos políticos, individuais e sociais, assegurados nesta Constituição;
h) não-reeleição dos presidentes dos Estados e dos prefeitos municipais; i)
possibilidade de reforma constitucional e competência da Assembleia
para decretá-la; j) normas financeiras e prescrições relativas aos funcioná-
rios púbbcos, estabelecidos nesta Constituição, e restrições nela impostas
aos poderes dos Estados.
§ lº A especificação dos princípios acima enumerados não ex-
clui a observância de qualquer preceito explícito ou implícito nesta Cons-
tituição.
§ 2º É facultado aos Estados, mediante aprovação do Presidente
da República, celebrar entre si ajustes e convenções, sem caráter público.
§ 3º Os Estados não poderão recusar fé aos documentos públi-
cos, de qualquer natureza da União ou de outro Estado.
§ 4º Os Estados e os municípios não poderão contrair emprés-
timo externo sem a prévia aquiescência da Assembleia Nácional.
TÍTULO III
DO DISTRITO FEDERAL
Art 82. A Capital da União é a residência das autoridades nacionais
e o território do seu distrito será sempre federalizado, nele, exercendo-se
em toda a sua plenitude, a jurisdição daquelas, sem prejuízo da competên-
94 • Anteprojeto
cia dos poderes locais para os assuntos de interesse exclusivamente distri-
tal.
§ 1º As funções dos poderes locais do Distrito Federal serão
executivas e deliberantcs.
§ 2º As executivas serão exercidas por um prefeito de livre esco-
lha do Presidente da República e cuja nomeação será submetida à aprova-
ção do Conselho Supremo.
§ 3º As deliberantes serão exercidas por um Conselho Muni-
cipal, cujo número de membros se poderá elevar até 30, dos quais até
seis serão os maiores contribuintes brasileiros dos impostos de indús-
tria e profissão predial; até 12, eleitos pelos sindicatos e associações de
classe e pelas corporações representativas dos interesses sociais, em to-
dos os seus aspectos de ordem administrativa, moral, cultural e econô-
mica; até 12, eleitos, mediante sistema proporcional, por sufrágio igual,
direto e secreto.
§ 4º Caberá ao Conselho Municipal resolver sobre os vetos do
prefeito, que só poderão ser rejeitados por dois terços dos Conselhos.
§ 5º O Poder Judiciário será o da União.
Art. 83. A Lei Orgânica do Distrito Federal, votada pela
Assembléia Nacional e somente reformável de três em três anos, discrimi-
nará os serviços a cargo do mesmo e os custeados pela União.
Art. 84. As fontes de receita do Distrito Federal serão os tribu-
tos, cuja decretação é da competência exclusiva dos Estados ou dos Muni-
cípios.
TÍTULO IV
DOS TERRITÓRIOS
Art. 85. As regiões fronteiriças com países estrangeiros, insufi-
cientemente cultivadas e de população inferior a um habitante por quiló-
metro quadrado, ou desabitadas, constituirão Territórios, cujos limites
serão fixados na lei que os organizar.
§ lº Os Territórios, logo que tiverem população suficiente e
meios de vida próprios bastantes, serão, por lei especial, erigidos em Esta-
do, ou, mediante plebiscito, incorporados a Estados limítrofes.
§ 2º A União dará aos Estados que auferirem rendas líquidas
dos territórios deles desmembrados a compensação que a lei fixar, sob a
A Constituição de 1934 • 95
forma de encampação de dívidas públicas, cujos juros correspondam ao va-
lor daquelas, ou de indenização equivalente à receita por aqueles ali arreca-
dada,
Art. 86. Até 100 quilômetros para dentro da linha fronteiriça
nenhuma concessão de terra, ou exploração industrial, comercial, agrícola,
ou de comunicação, transportes, fontes de energia e usinas será feita sem
audiência do Conselho Superior da Defesa Nacional e do Conselho Su-
premo, assegurado o predomínio de capitais e trabalhadores nacionais.
§ 1º Nenhuma via de comunicação, penetrante ou de orienta-
ção sensivelmente normal à fronteira, se abrirá sem que fiquem assegura-
das ligações interiores, necessárias à segurança dás zonas por ela servida.
§ 2º Até 100 quilômetros para dentro da linha fronteiriça, as au-
tonomias estadual e municipal sofrerão, além das restrições deste artigo,
as que a lei considerar necessárias à defesa nacional.
TÍTULO V
DOS MUNICÍPIOS
Art. 87. Os Estados organizarão seus Municípios, asseguran-
do-lhes por lei, e de acordo com o desenvolvimento econômico-social
dos mesmos, um regime de autonomia em tudo quanto lhes disser respei-
to ao privativo interesse.
§ 1º Os Municípios de mais de dois mil contos
de renda e cujas se-
des tiverem mais de cinquenta mil habitantes, e os que forem capitais de Esta-
do, terão carta municipal própria, de acordo com os princípios gerais,
estabelecidos peias Assembléias Legislativas, e submetida ao seu referendum.
§ 2º Os Estados poderão constituir em região, com a autono-
mia, as rendas e as funções que a lei lhe atribuirá um grupo de Municípios
contíguos, unidos pelos mesmos interesses econômicos. O prefeito da re-
gião será eleito pelos Conselheiros dos Municípios regionais e o Conselho
Regional compor-se-á dos prefeitos destes Municípios.
§ 3º Nenhum Município poderá ser constituído ou mantido
sem renda suficiente para o custeio de um serviço regular de instrução pri-
mária, saúde pública e conservação de estradas e ruas.
§ 4º Os Municípios só perderão a autonomia, podendo então
ser supressos, nos seguintes casos: a) incapacidade para prover às necessi-
dades normais de sua vida, de acordo com as regras estabelecidas pela
96 • Anteprojeto
Constituição de cada Estado; b) déficit orçamentário de um terço ou mais
de sua receita, durante três anos consecutivos; c) falta de pagamento de
sua dívida fundada por mais de dois anos consecutivos.
§ 5º A fusão, ou o desmembramentos municipal por lei do
Estado, dependerá do referendum popular dos Municípios interessados.
Art. 88. Os Conselhos municipais poderão ser constituídos me-
diante representação de classe. O Poder Executivo, porém, será exercido
por um prefeito, eleito por sufrágio igual, direto e secreto.
Art. 89. E da exclusiva competência dos municípios decretar
impostos prediais e de licenças, bem como taxas de serviços municipais,
além de outros que as leis estaduais lhes atribuírem.
TÍTULO VI
DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
Art. 90. Os cargos públicos são acessíveis a todos os brasileiros,
observadas as condições que a lei estatuir. Excepcionalmente, um estran-
geiro poderá ser contratado para desempenho de função técnica.
§ 1º Ninguém será nomeado para função pública administrativa
sem prévia demonstração de capacidade intelectual, mediante concurso.
§ 2º A primeira nomeação será interna, tornando-se efetiva seis
meses depois de exercício ininterrupto e verificada pelo Ministro respecti-
vo, precedendo informação dos chefes de serviço, a idoneidade moral do
nomeado e seu devotamento ao desempenho do cargo.
§ 3º Independem de concurso os cargos de confiança, os de ca-
ráter transitório e os inferiores, que a lei excetuar.
Art. 91. A Assembléia Nacional votará o Estatuto do Funcioná-
rio Público, obedecendo às seguintes bases, desde já em vigor: a) o quadro
dos funcionários compreenderá todos quantos exerçam cargo público
permanente, seja qual for a forma do seu pagamento; b) o funcionário efe-
tivo só perderá o cargo por condenação judicial, ou processo administrati-
vo, regulado por lei, e no qual será ouvido; c) as promoções serão feitas
metade por antiguidade e metade por merecimento, apurado pelo órgão
que a lei criar; d) a idade máxima para a aposentadoria ou a reforma com-
pulsórias será de 68 anos, salvo as exceções desta Constituição; e) a invali-
dez para o exercício do cargo determinará a aposentadoria ou a reforma; f)
a inatividade nunca poderá ser mais remunerada do que a atividade; g) sal-
A Constituição de 1934 • 97
vo as exceções da lei militar, todo funcionário terá direito a um recurso
contra a decisão disciplinar e a possibilidade de revisão perante o órgão
que a lei criar e nos termos que ela prescrever; h)o funcionário é responsá-
vel pelos abusos ou omissões em que incorrer no exercício do seu cargo; i)
o funcionário tem o dever de servir à coletividade e não a nenhum partido,
sendo-lhe, porém, garantida a liberdade de associação e opinião política; j)
o funcionário que usar de sua autoridade em favor de um partido, ou exer-
cer pressão partidária sobre os seus subordinados, será punido com a per-
da do cargo, se provado, em processo administrativo ou judiciário, que
agiu por essa forma.
Art. 92. Nenhum emprego poderá ser criado, nem vencimento
algum, civil ou militar, estipulado ou alterado, senão por lei ordinária espe-
cial.
Art. 93. O serviço de polícia civil é considerado carreira admi-
nistrativa; e o funcionário policial, formado em Direito, gozará de todas
as garantias asseguradas neste título.
Art. 94. Nas causas propostas contra a União, os Estados, o
Distrito Federal, os Territórios e os Municípios por lesão praticada por
funcionário, este será sempre citado e sua responsabilidade apurada no
curso da ação.
Parágrafo único. A execução poderá ser promovida contra ele,
caso condenado, ou contra a entidade de que era funcionário. Nesta hipó-
tese, será promovida execução regressiva.
Art. 95. É vedada a acumulação de cargos remunerados na
União, nos Estados e nos Municípios, quer se trate de cargos exclusiva-
mente federais, estaduais e municipais, quer de uns e outros simultanea-
mente.
§ 1º Excetuam-se os de natureza técnica e científica, que não
envolvam função ou autoridade administrativa, judicial ou política, e os de
ensino.
§ 2º As pensões também não poderão ser acumuladas, salvo se,
reunidas, não excederem o limite máximo fixado por lei, ou resultarem de
cargas cuja acumulação é permitida.
§ 3º Não se considera acumulatório o exercício de comissão
temporária ou de confiança, decorrentes do próprio cargo ou da mesma
natureza deste.
98 • Anteprojeto
§ 4º A aceitação de cargo remunerado importa na perda dos
vencimentos da inatividade. Quando se tratar de cargo eletivo, ficará sus-
pensa integralmente a percepção dos vencimentos da inatividade, se o
subsídio daquele for anual, ou durante as sessões, se estipendiado exclusi-
vamente enquanto das durarem.
TÍTULO VII
DA NACIONALIDADE E DA CIDADANIA
SEÇÃO I
Dos Brasileiros
Art. 96. São brasileiros: a) os nascidos no Brasil; b) os filhos de bra-
sileiros, ou brasileiras, nascidos fora do Brasil, se nele estabelecerem domicí-
lio; c) os filhos de brasileiro, ou brasileira, noutro país a serviço do Brasil,
embora neste não venham domiciliar-se; d) os estrangeiros que, achando-se
no Brasil a 15 de novembro de 1889, não declararam, seis meses depois de ter
entrado em vigor a Constituição de 1891, o animo de conservar a nacionalida-
de de origem; e) os estrangeiros por outro modo naturalizados.
Art. 97. Perde-se a nacionalidade: a) por naturalização em país
estrangeiro; b) por aceitação, sem licença do Presidente da República, de
pensão, emprego ou comissão de país estrangeiro; c) por cancelamento da
naturalização, provando-se que o naturalizado dela se tomou indigno.
SEÇÃO II
Dos Cidadãos
Art. 98. São cidadãos os brasileiros alistáveis como eleitores, ou
que desempenhem ou tenham desempenhado legalmente função pública.
§ lº São eleitores os brasileiros de qualquer sexo, maiores de 18
anos, alistados na forma da lei,
§ 2º Não podem ser alistados: a) os analfabetos; b) as praças de
pré, salvo os alunos das escolas militares de ensino superior; c) os que esti-
verem com a cidadania suspensa, ou a tiverem perdido.
Art. 99. O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para
os homens, sob as sanções que a lei determinar.
Parágrafo único. A lei providenciará para que o eleitor possa
votar, quando for do país, ou em viagens no território nacional.
A Constituição de 1934 • 99
Art. 100. A cidadania suspende-se ou perde-se unicamente nos
casos aqui particularizados.
§1º Suspende-se: a) por incapacidade física ou.moral; b) por
condenação criminal, passada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
§ 2º Perde-se: a) pela perda da nacionalidade; b) por alegação de
qualquer motivo, feita com o fim de se isentar de ônus que a lei imponha
aos brasileiros; c) por aceitação de título nobiliário.
§ 3º A lei estabelecerá as condições de requisição da cidadania.
SEÇÃO III
Dos Inelegíveis.
Art. 101. São inelegíveis:
lº) em todo
o território da União: a) o Presidênte da República,
os presidentes e interventores dos Estados, o prefeito do Distrito Federal,
os governadores dos Territórios e os Ministros de Estado, até seis meses
depois de cessadas definitivamente as respectivas funções b) os membros
do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Justiça Eleitoral, dos Tribu-
nais de Apelação Militar e de Contas e os chefes e subchefes do Esta-
do-Maior do Exército e da Armada; c) os parentes naturais, civis ou afins,
em 1º e 2º graus, do Presidente da República, até seis meses depois de ha-
ver este deixado definitivamente as suas furnções, salvo para a Assembléia
Nacional, se, em época anterior à eleição do mesmo, tiverem sido deputados,
ou o forem quando ela se realizar; e) os inalistáveis como eleitor;
2º) nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios: a) os se-
cretários de Estado e os chefes de Policia, até seis meses depois de cessa-
das definitivamente as respectivas funções; b) os comandantes de forças
do Exercito, da Armada ou da Polícia ali existente; c) os parentes naturais,
civis ou afins, em 1º e 2º graus, dos presidentes e interventores dos Esta-
dos, do prefeito do Distrito Federal e dos governadores dos Territórios,
até seis meses depois de cessadas definitivamente as respectivas funções,
salvo, relativamente às Assembleias Legislativas ou à Nacional, à exceção
da letra c do nº1;
3º) nos municípios: a) os prefeitos; b) as autoridades policiais; c)
os funcionários do fisco; d) os parentes naturais, civis ou afins, em 1º e 2º
graus, dos prefeitos, até seis meses depois de cessadas definitivamente as
100• Anteprojeto
respectivas funções, salvo, relativamente aos Conselhos municipais e às
Assembléias Legislativas ou à Nacional, à exceção da letra c do nº 1.
TÍTULO VIII
DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS E DEVERES
Art. 102. A União assegura a brasileiros e estrangeiros residen-
tes no Brasil a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à se-
gurança individual e à propriedade, nos seguintes termos:
§ 1º Todos são iguais perante a lei, sem privilégio de nascimen-
to, sexo, classe social, riqueza, crenças religiosas e idéias políticas, desde
que se não oponham às da Pátria.
§ 2º A República não reconhece foros de nobreza nem criará tí-
tulos nobiliários.
§ 3º Ninguém poderá ser obrigado a fazer ou não fazer alguma
coisa, senão em virtude de lei.
§ 4º A exceção de flagrante delito, ninguém poderá ser preso,
senão nos casos determinados em lei, e mediante ordem escrita da autori-
dade competente.
§ 5º Toda pessoa detida ou presa será, dentro de 24 horas, apre-
sentada ao juiz competente, que, em 72 horas, no máximo, porá o paciente
em liberdade, transformará a detenção em prisão ou manterá esta, dando
incontinênti ao preso uma nota judicial com o motivo da coaçào e o nome
das testemunhas, se for o caso. Para apresentação dos detidos ou presos
nos distritos rurais, o |uiz competente, rendo em conta as distâncias e as
dificuldades do transporte, fixará bienalmente, por ato geral, o prazo rela-
tivo a cada uma dessas circunscrições. Este parágrafo não se aplica às pri-
sões de caráter militar.
§ 6º Ninguém poderá ser conservado em prisão se prestar fian-
ça idônea, nos casos que a lei determinar. A fiança não poderá ser em di-
nheiro ou bens.
§7º Aos réus será assegurado na lei a mas ampla defesa, com
todos os meios e recursos que lhe são essenciais,
§ 8º Ninguém será sentenciado senão pela autoridade compe-
tente por lei anterior ao crime e na forma por ela declarada.
§ 9º Ninguém poderá ser punido por fato não-criminoso quando
praticado, nem ter maior pena que a prescrita por lei na época do crime.
A Constituição de 1934 • 101
§ 10. A lei penal retroagirá em beneficio do delinquente.
§ 11. Não haverá prisão por dívidas, multas ou custas.
§ 12. Somente a autoridade judiciária poderá ordenar, e por pra-
zo não maior de três dias, a incomunicabilidade do preso.
§ 13. Em todos os assuntos é livre a manifestação do pensa-
mento pela imprensa ou outra qualquer maneira sem dependência de cen-
sura respondendo cada um pelos abusos que praticar, nos casos e pela
forma que a lei prescrever, Não é permitido o anonimato. É assegurado o
direito de resposta.
§ 14. O aparecimento de livro ou periódico independe de licen-
ça de qualquer autoridade, limitando-se a lei exclusivamente a tomar me-
didas quanto à publicação, espetáculos ou representações imorais.
§ 15. Em caso nenhum serão apreendidos livros ou periódicos,
senão por mandato judicial, ouvidos previamente os autores, diretotes ou
editores dos mesmos.
§ 16. Somente os brasileiros poderão exercer a imprensa políti-
ca ou noticiosa, ou nelas ter ingerência.
§ 17. Nenhum imposto gravará diretamente o livro, o periódico
nem a profissão de escritor ou jornalista. Não se inclui nesta proibição o
Imposto de Renda.
§ 18. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente.
§ 19. É vedada aplicação de pena perpétua, de banimento, ou de
morte, ressalvadas, quanto a esta, as disposições da legislação militar, em
tempo de guerra.
§ 20. Dar-se-á o habeas corpus sempre que alguém sofrer, ou se
achar em iminente perigo de sofrer, em sua liberdade, violência ou coação
por ilegalidade ou abuso de poder,
§ 21. Quem tiver um direito certo e incontestável ameaçado ou
violado por ato manifestamente ilegal do Poder Executivo poderá reque-
rer ao juiz competente um mandado de segurança. A lei estabelecerá pro-
cesso sumaríssimo que permita ao juiz, dentro de cinco dias ouvida neste
prazo, por 72 horas, a autoridade coatora, resolver o caso, negando o
mandado ou, se o expedir, proibindo-a de praticar o ato, ou ordenan-
do-lhe restabelecer integralmente a situação anterior, até que, cm última
instância, se pronuncie o Poder Judiciário. Não será concedido o manda-
do, se o requerimento tiver, há mais de 30 dias, conhecimento do ato ile-
102 • Anteprojeto
gal, ou se a questão for sobre impostos, taxas, ou multas fiscais. Nestes
casos, caberá ao lesado recorrer aos meios normais.
§ 22. Salvo as causas que, por sua natureza, pertençam a juízos
especiais, não haverá foro privilegiado, nem tribunais de exceção.
§ 23. A casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém podendo
aí penetrar, de noite, sem consentimento do morador, senão para acudir as
vítimas de crimes ou desastres, nem de dia, senão nos casos e pela forma
prescritos em lei.
§ 24. É inviolável o sigilo da correspondência, salvo a censura,
em caso de guerra ou Estado de sítio.
§ 25. A todos os brasileiros é lícito reunirem-se livremente, e
sem armas, não podendo a Polícia intervir senão para manter a ordem per-
turbada ou garantir o trânsito público. Com este fim poderá designar o lo-
cal onde a reunião deve realizar-se, contanto que isto não importe em
impossibilitá-la ou frustrá-la.
§ 26. É permitido a quem quer que seja representar, mediante
petição, aos poderes públicos e denunciar abusos das autoridades.
§ 27. É garantido a quem quer que seja o livre exercício de qual-
quer profissão, com as limitações que a lei impuser, por motivo de interes-
se público.
§ 28. Nenhum tributo se cobrará senão em virtude de lei.
§ 29. Em tempo de paz, salvo a exigência de passaporte conce-
dido por autoridade federal, qualquer indivíduo poderá entrar no territó-
rio nacional, ou dele sair.
§ 30. Nem mesmo em Estado de guerra, o brasileiro poderá ser
deportado ou expulso do território nacional.
§ 31. A União poderá expulsar do território os estrangeiros perigo-
sos à ordem pública ou nocivos aos interesses do País, salvo se forem casados
há mais de três anos com brasileiros ou tiverem filhos menores brasileiros.
Art. 103. A União exige de brasileiros e estrangeiros residentes
no Brasil o cumprimento de deveres, expressos nos seguintesj termos:
§ 1º. Todo indivíduo, salvo impossibilidade Ssica, tem o dever
de trabalhar.
§ 2º. Todo
indivíduo tem o dever de prestar os serviços que, em
benefício da coletividade, a lei determinar, sob pena de perda dos direitos
políticos, além de outras que ela prescrever.
A Constituição de 1934 • 103
§ 3º Todo indivíduo tem o dever de defender esta Constituição
e de se opor às ordens evidentemente ilegais.;
Art. 104. A especificação dos direitos e deveres expressos nesta
Constituição não exclui outros, resultantes da forma de governo que ela ado-
ta, do regime político-social que estabelece e dos princípios que consigna.
TÍTULO IX
DA RELIGIÃO
Art. 105. Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial,
nem terá relação de dependência ou aliança com os poderes públicos.
Parágrafo único. A representação diplomática do Brasil junto à
Santa Sé não implica violação deste princípio.
Art. 106. É inviolável a liberdade de consciência e de crença.
Nos termos compatíveis com a ordem pública e os bons costumes, é ga-
rantido o livre exercício dos cultos.
§ lº Independe da crença e do culto religioso o exercício dos di-
reitos individuais, sociais e políticos.
§ 2º É garantida a liberdade de associação religiosa.
§ 3º As associações religiosas adquirem a capacidade jurídica
nos termos da lei civil.
§ 4] Não se poderá recusar, aos quê pertençam às classes arma-
das, o tempo necessário à satisfação de seus deveres religiosos, sem prejuí-
zo dos serviços militares.
§ 5º Sempre que a necessidade do serviço religioso se fizer sen-
tir nas expedições militares, nos hospitais, nas penitenciárias ou outros es-
tabelecimentos públicos, será permitida a celebração de atos cultuais,
afastados, porém, qualquer constrangimento; ou coação, e sem ónus para
os cofres públicos,
§ 6º Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados
pela autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos a prá-
tica dos respectivos ritos em relação aos seus crentes.
TÍTULO X
DA FAMÍLIA
Art. 107. A família está sob a protçção especial do Estado e re-
pousa sobre o casamento e a igualdade jurídica dos sexos; a lei civil, po-
104 • Anteprojeto
rém, estabelecerá as obrigações da chefia da sociedade conjugal e do pátrio
poder, e regulará os direitos e deveres dos cônjuges.
Art. 108. O casamento legal será o civil, cujo processo e cele-
bração serão gratuitos.
§ 1º O casamento é indissolúvel. A lei civil determinará os casos
de desquite e de anulação do casamento.
§ 2º Haverá sempre apelação ex officio, e com efeito suspensivo,
das sentenças anulatórias de casamento.
§ 3º A posse do estado de casado não poderá ser contestada por
terceiro, contra as pessoas que nela se encontrem, os seus filhos, senão
mediante certidão extraída do registro civil, pela qual se prove que alguma
delas é ou era legalmente casada com outra.
Art. 109. A proteção das leis quanto ao desenvolvimento físico
e espiritual dos filhos ilegítimos não podeíá ser diferente da instituída para
os legítimos.
Parágrafo único. É facultada aos filhos ilegítimos a investiga-
ção da paternidade ou da maternidade.
Art. 110. Incumbe à União como aos Estados e aos Municípios,
nos termos da lei federal: a) velar pela pureza, sanidade e melhoramento
da família; b) facilitar aos pais o cumprimento de seus deveres de educa-
ção e instrução dos filhos: c) fiscalizar o modo por que os pais cumprem
os seus deveres para com a prole e cumpri-los subsidiariamente; d) ampa-
rar a maternidade e a infância; e) socorrer as famílias de prole numerosa;
f) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o aban-
dono físico, moral e intelectual.
TÍTULO XI
DA CULTURA E DO ENSINO
Art. 111. São livres a arte, a ciência, e o seu ensino.
§ 1º Incumbe á União, aos Estados e aos Municípios dar-lhes
proteção e favorecer-lhes o desenvolvimento.
§ 2º Gozam de amparo e solicitude dos poderes públicos os
monumentos artísticos, bem como os históricos e os naturais.
§ 3º Cabe à União impedir a emigração do patrimônio artístico
nacional.
A Constituição de 1934 • 105
Art 112. O ensino será público ou particular, cabendo àquele,
concorrentemente à União, aos Estados e aos Municípios, O regime do
ensino, porém, obedecerá a um plano geral traçado pela União, que esta-
belecerá os princípios normativos da organização escolar e fiscalizará, por
funcionários técnicos privativos, a sua execução.
§ lº Para o efeito de concederem diplomas, poderá a União oficia-
lizar ou equiparar às suas as escolas particulares, cujo programa e professora-
do forem equivalente aos dos estabelecimentos oficiais congêneres.
§ 2º O ensino primário é obrigatório, podendo ser ministrado
no lar doméstico e em escolas oficiais ou particulares.
§ 3º É gratuito o ensino nas escolas públicas primárias. Nelas
será fornecido gratuitamente aos pobres o material escolar.
§ 4º Para lhes permitir o acesso ás escolas secundárias e superio-
res, a Uniáo, os Estados e os Municípios estabelecerão cm seus orçamen-
tos verbas destinadas aos alunos aptos para tais estudos e sem recursos
para neles se manterem. O auxílio será dado até o fim do curso, sempre
que o educando demonstrar aproveitamento.
§ 5º Para admissão de um candidato em escola pública, profissio-
nal, secundária ou superior, levar-se-á em conta somente o merecimento,
nada influindo a condição dos pais.
§ 6º Fica reconhecida e garantida a liberdade de cátedra, não po-
dendo, porém, o professor, ao ministrar o ensino, ferir os sentimentos
dos que pensam de modo diverso.
§ 7º O ensino civico, a educação física e o trabalho manual são ma-
térias obrigatórias nas escolas primárias, secundárias, profissionais ou normais.
§ 8º A religião é matéria facultativa de ensino nas escolas públi-
cas, primárias, secundárias, profissionais ou normais, subordinadas à con-
fissão religiosa dos alunos.
TÍTULO XII
DA ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL
Art. 113. A ordem económica deve ser organizada conforme os
princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que asse-
gure à todos uma existência digna do homem. Dentro desses limites é ga-
rantida a liberdade econômica.
Art. 114. É garantido o direito de propriedade, com o conteúdo
e os limites que a lei determinar.
106 • Anteprojeto
§ 1º A propriedade tem, antes de tudo, uma função social e não
poderá ser exercida contra o interesse coletívo.
§ 2º A propriedade poderá ser expropriada, por utilidade públi-
ca ou interesse social, mediante prévia e justa indenização paga em dinhei-
ro, ou por outra forma estabelecida em lei especial aprovada por maioria
absoluta dos membros da Assembleia.
Art. 115. As riquezas do subsolo e as quedas d'água, se umas e
outras inexploradas, ficarão sob o regime da lei ordinária, a ser votada pela
Assembléia Nacional.
Parágrafo único. A União poderá fazer concessões para explo-
ração de minas e quedas d'água, mas somente a brasileiros ou empresas
organizadas no Brasil e com capital nele integralizado. A lei regulará o re-
gime das concessões, fixando prazos e estipulando cláusulas de reversão.
Art 116. Aquele que, por cinco anos ininterruptos, sem oposi-
ção, nem reconhecimento de domínio alheio, possui um trecho de terra e
a tornou produtiva pelo trabalho, adquire por isto mesmo a plena proprie-
dade do solo, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença.
§ lº Ficarão proprietários gratuitos das terras devolutas, onde
têm benfeitorias, seus atuais posseiros, se forem nacionais.
§ 2º Somente as pessoas jurídicas de direito público interno po-
derão dar aforamento. Nos contratos anteriormente celebrados entre par-
ticulares, o foreiro poderá, a qualquer tempo, resgatar o aforamento pelo
preço de trinta anuidades pagas de uma vez.
§ 3º A plantação, o edifício e todo produto do trabalho incorporado
ao solo, se valerem pelo menos metade deste, serão legalmente considerados o
principal, cabendo ao proprietário do terreno a justa indenização do seu
valor,
Art 117. É proibida a usura. Considera-se usura a cobrança de
juros, inclusive comissões, que ultrapassem o dobro da taxa legal. A lei es-
tabelecerá as penas deste crime. Nos contratos vigentes, o devedor não
será obrigado a pagar juro além do dobro da taxa legal, ainda quando esti-
pulem o contrário.
Art. 118. Na execução, ou na falência não-fraudulenta, não se
poderá reduzir à miséria o devedor. A lei, ou na sua falta o juiz, providen-
ciará a tal respeito.
§ lº Será impenhorável a casa da pequena valia que servir de
morada ao devedor e sua família, se ele não tiver outros haveres.
A Constituição de 1934 • 107
§ 2º Nos mesmos termos, será também impenhorável a proprie-
dade rural, destinada a prover à subsistência do devedor e sua família.
Art. 119. Todas as dívidas, inclusive as fiscais, prescreverão em
cinco anos, quando a lei não fixar menor prazo.
Att. 120. É permitida a socialização de empresas económicas,
quando, levada a efeito sobre o conjunto de uma indústria ou de um ramo
de comércio é resolvido por lei federal. Pata esse fim, poderão ser transfe-
ridas ao domínio público, mediante indenização e pagamento nos termos
do § 2º do art. 114.
§ lº A União e os Estados poderão, por lei federal, intervir na
administração das empresas econômicas, inclusive para coordená-las,
quando assim exija o interesse público.
§ 2º Nenhuma lei de socialização será votada sem audiência
prévia do Conselho Supremo e dos conselhos técnicos nacionais ou esta-
duais, legalmente reconhecidos, que tenham, pela sua especialização e atri-
buições, interesse direto na medida.
Art. 121. A lei federal determinará o modo e os meios pelos
quais o Governo intervirá em todas as empresas ou sociedades que de-
sempenhem serviços públicos, no sentido de limitar-lhes o lucro ã justa
retribuição do capital, pertencendo o excesso, em dois terços, à União, aos
Estados, ou aos Municipios.
Art. 122. Será reconhecida a herança exclusivamente na linha
direta ou entre cônjuges. As heranças até dez contos de réis serão livres de
qualquer imposto, que daí por diante será progressivo. Os legados paga-
rão imposto progressivo.
Art. 123. É garantida a cada indivíduo e a todas as profissões a
liberdade de união, para a defesa das condições do trabalho e da vida eco-
nómica.
§ lº As organizações patronais e operárias, bem como as con-
venções que celebrarem, serão reconhecidas ,nos termos da lei.
§ 2º Nenhuma associação poderá ser dissolvida senão por sen-
tença judicial.
Art. 124. A lei estabelecerá as condições do trabalho na cidade e
nos campos, e intervirá nas relações entre o capital e o trabalho para os
colocar no mesmo pé de igualdade, tendo em vista a proteção social do
trabalhador e os interesses econômicos do País.
108 • Anteprojeto
§ 1º Na legislação sobre o trabalho serão observados os seguin-
tes preceitos, desde ]á em vigor, além de outras medidas úteis àquele duplo
objetivo:
1º) a trabalho igual corresponderá igual salário, sem distinção
de idade ou de sexo;
2º) a lei assegurará nas cidades e nos campos um salário mínimo
capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessidades
normais da vida de um trabalhador chefe de família;
3º) o dia de trabalho não excederá de oito horas e nas indústrias
insalubres, de seis. Em casos extraordinários, poderá ser prorrogado até
por três horas, vencendo o trabalhador em cada hora o duplo do salário
normal. A prorrogação não poderá ser feita consecutivamente por mais de
três dias, e não será permitida nas indústrias insalubres, nem aos que tive-
rem menos de 18 anos;
4º) será garantida ao trabalhador a necessária assistência em
caso de enfermidade, bem como à gestante operária, podendo a lei instituir o
seguro obrigatório contra a velhice, a doença, o desemprego, os riscos e
acidentes do trabalho e em favor da maternidade;
5º) toda empresa comercial ou industrial consumirá, paralela-
mente com o fundo de reserva do capital, e desde que este lance uma re-
muneração justa, nos termos do art. 121, um fundo de reserva de trabalho,
capaz de assegurar aos operários ou empregados o ordenado ou salário de
um ano, se por qualquer motivo a empresa desaparecer;
6º) toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros escola-
res, e onde trabalharem mais de cinquenta pessoas, será obrigada a man-
ter, pelo menos, uma escola primária para o ensino gratuito de seus
empregados, trabalhadores e seus filhos. Providenciará igualmente sobre
a assistência médica;
7º) legislação agrária favorecerá a pequena propriedade, fa-
cultado ao poder público expropriar os latifúndios, se houver conve-
niência de os parcelar em benefício do cultivador, ou de os explorar sob
forma cooperativa.
§ 2º Caberá ao Ministério Público da União e dos Estados velar
pela estrita aplicação dás normas protetoras do trabalhador urbano, ou ru-
ral, bem como prestar-lhes assistência gratuita, sem prejuízo das atribui-
ções pertencentes aos órgãos especiais que a lei criar paia tal fim.
A Constituição de 1934 • 109
Art. 125. A assistência aos pobres é assegurada pela União e pe-
los Estados na forma que a lei determinar.
Art. 126. A empresa jornalística, noticiosa ou política não poderá
revestir a forma de sociedade anônima de ações ao portador, nem dela poderá
ser proprietária ou acionista nenhuma pessoa jurídica. A Assembléia Nacio-
nal votará numa lei de organização da imprensa, na qual, além de outras medi-
das, garantirá a situação de seu operariado e de seus redatores.
Art. 127. A valorização resultante de serviços públicos ou do
progresso social, sem que o proprietário do imóvel para isso tenha con-
corrido, pertencerá, pelo menos em metade, à Fazenda Pública.
§ 1º O produto desta valorização, como o do imposto de trans-
missão causa mortis e dos bens que passarem ao Estado por falta de herdei-
ros, serão aplicados exclusivamente nos serviços de instrução primária e
assistência social.
§ 2º Nos municípios em que as necessidades dos serviços sani-
tários não esgotarem ã quota de 10% do artigo 13, o saldo será aplicado
também nestes serviços.
Art. 128. A lei orientará a política rural no sentido da fixação do
homem nós campos, a bem do desenvolvimento das forças económicas
do País. Para isto, a lei federal estabelecerá um plano geral de colonização
e aproveitamento das terras públicas, sem prejuízo das iniciativas locais,
coordenadas com as diretrizes da União. Na colonização dessas terras se-
rão preferidos os trabalhadores nacionais.
§ 1º A defesa contra a seca será permanente e os respectivos
serviços custeados pela União.
§ 2º A lei federal poderá proibir, limitar ou favorecer a imigra-
ção e a emigração, tendo em vista os interesses nacionais.
§ 3º Os serviços de vigilância sanitária vegetal e animal serão fe-
derais, podendo a União proibir, condicionar bu limitar a entrada das es-
pécies prejudiciais, reservada aos Estados a legislação complementar.
TÍTULO XIII
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 129. É vedado a qualquer dos três Poderes delegar as suas
atribuições.
110 • Anteprojeto
Parágrafo único. Ninguém poderá ser investido em função de
mais de um dos três Poderes, em ter mais de um cargo eletivo.
Art. 130. A lei brasileira determina a capacidade, o regime dos
bens e as relações jurídicas de todas as pessoas domiciliadas ou residentes
no Brasil.
Art 131. Na emergência de agressão estrangeira ou verificada
inssurreição armada do povo ou da tropa, a Assembléia Nacional poderá
declarar em estado de sítio qualquer ponto do território nacional, median-
te as seguintes prescrições:
lº) o sítio não será primitivamente decretado por mais de 60
dias, podendo ser prorrogado, uma ou mais vezes, por igual prazo;
2º) o sítio, além da censura à correspondência de qualquer natu-
reza, limitar-se-á a restringir a liberdade de locomoção, reunião, tribuna e
imprensa. Mas a circulação dos livros,
jornais ou de quaisquer publiçida-
des não será de modo nenhum embaraçada, desde que seus autores, dire-
tores ou editores os submetam à censura. A suspensão de um período por
inobservância da censura efetuar-se-á, por mandado judicial, a pedido do
Ministério Público e ouvido o diretor daquele, tudo no prazo máximo de
72 horas;
3º) nenhum detido do sítio será, sob motivo algum, recolhido a
edifício ou local destinado a réu de crime comum, nem desterrado para
trechos desertos ou insalubres do território nacional, ou distantes mais de
mil quilômetros do ponto onde a detenção se efetuar;
4º) a prisão não será acumulada com o desterro, nem este trans-
formado em degredo;
5º) ninguém será, em virtude do sítio, detido ou conservado em
custódia, senão por necessidade dá defesa nacional, em caso de agressão es-
trangeira, ou por autoria ou cumplicidade na insurreição, ou fundados moti-
vos de nela vir a participar. Dentro de 30 dias após a detenção, o Ministro da
Justiça enviará ao Presidente do Conselho Supremo uma nota comprobató-
ria das razões de ordem pública que determinam manter em custódia o deti-
do. O Presidente do Conselho fará publicar no jornal oficial a nota
recebida, e o Conselho decidirá, dentro de oito dias, sobre a conveniência
de manter a detenção, ou relaxá-la;
6º) o sítio não se estenderá aos membros da Assembleia Nacional,
do Supremo Tribunal, do Conselho Supremo, do Tribunal Superior, do
A Constituição de 1934 •111
Tribunal de Contas e do Tribunal Militar de Apelação, bem como aos pre-
sidentes dos Estados e membros das respectivas Assembléias Legislativas,
dentro das respectivas circunscrições;
7º) cessado o estado de sírio, cessam ipso facto os seus efeitos,
§ 1º Na ausência da Assembleia e obedecidas as prescrições
deste artigo, poderá o sítio ser decretado pelo Presidente da República, an-
tecedendo aquiescência da Comissão Permanente. Neste caso, o voto da
Comissão Permanente importa na convocação automática da Assembleia
para se reunir extraordinariamente 30 dias depois. 
§ 2º Reunida a Assembléia, o Presidente da República, dentro
de três dias, em mensagem especial, relatará, motivando-as, as medidas de
exceção que houverem sido tomadas, e remeterá os inquéritos e todos os
documentos que a elas se refiram. A Assembléia aprovará, então, ou sus-
penderá o sítio decretado.
§ 3º As autoridades que tenham ordenado tais medidas, serão
civil e criminalmente responsáveis pelos abusos; cometidos.
§ 4º Durante o sítio, o Presidente da República determinará,
por decreto, o objeto e os limites da censura, que não se exercerá senão
nos termos estritos desse ato. Não será censurada a publicação de atos
oficiais de qualquer dos Poderes da República; salvo as medidas de na-
tureza militar. Da censura imerecida, caberá! recurso do prejudicado
para o Conselho Supremo, que, dentro de setenta e duas horas, ouvida
a autoridade coatora, decidirá sobre a publicação do editorial censu-
rado. '
§ 5° A inobservância das prescrições deste artigo tornará ilegal a
coação, e permitirá aos pacientes recorrerem ao Poder Judiciário. Não
será, todavia, sujeita ao exame judicial a declaração do sitio pela Assem-
bleia ou a decretação do mesmo pelo Presidente da República se neste
caso anteceder a aquiescência da Comissão Permanente.
§ 6º Uma lei especial, considerada adicional a esta Consdtuição,
regulará o estado de sírio em caso de guerra.
Art. 132. Sempre que esta Constituição ou a lei prescreverem o
voto secreto, a votação se fará por processo que o tome absolutamente ín-
devassável.
112 • Anteprojeto
Art. 133. A Assembléia Nacional, por lei especial, votada por
dois terços dos deputados e somente reformável por este número, poderá
estabelecer os casos de destituição dos cargos detivos.
Art. 134. A Assembléia poderá criar a bandeira comercial dife-
rente da de guerra e modificar esta, mantidas, porém, as cores atuais.
Art. 135. A Constituição podetá ser reformada mediante pro-
posta de uma quarta parte, pelo menos, dos membros da Assembléia Na-
cional, ou de dois terços dos Estados, no decurso de um ano representado
cada um deles pela maioria de sua Assembléia. No primeiro caso, a refor-
ma considerar-se-á aprovada, se aceita, mediante três discussões, por dois
terços de votos dos membros presentes da Assembléia e do Conselho Su-
premo, em dois anos consecutivos. No segundo caso, se aceita, mediante
três discussões, por dois terços de votos dos membros presentes da
Assembléia, no ano seguinte à proposta dos Estados.
Parágrafo único. A reforma aprovada íncorporar-se-á no texto
da Constituição, que será, sob a nova forma, publicada com a assinatura
dos membros da Mesa da Assembléia.
Art. 136. Continuam em vigor as leis que explícita ou implicita-
mente não contrariarem as disposições desta Constituição.
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
I. Fica transferida a Capital da União para um ponto central do
Brasil- O Presidente da República, logo que esta Constituição entrar em
vigor, nomeará uma comissão que, sob as instruções do Governo, pro-
cederá a estudos de várias localidades adequadas à instalação da Capi-
tal. Concluídos tais estudos, serão apresentados à Assembléia
Nacional, que escolherá o local e tomará, sem perda de tempo, as provi-
dências necessárias à mudança. Efetuada esta, o atual Distrito Federal pas-
sará a constituir o Estado da Guanabara.
II. A Assembléia Nacional votará em sua primeira sessão ordi-
nária as leis que regulem: a) o processo e julgamento perante o Tribunal
Especial; b) as atribuições dos Ministros de Estado; c) as funções, os deve-
res e a responsabilidade dos interventores; d) o Estatuto dos funcionários
públicos; e) a organização judiciária; t) a organização e a liberdade da im-
prensa.
A Constituição de 1934 • 113
III. Os recursos existentes no Supremo Tribunal, sobre ques-
tões que não forem de sua competência, a menos que estejam em grau de
embargos, baixarão aos tribunais a que esta Constituição deu atribuição
para julgá-los.
IV. Os juizes, serventuários de justiça e demais funcionados cujos
cargos, em virtude desta Constituição, forem supressos, ficarão em dispo-
nibilidade, com os ordenados atuais, c contando tempo de serviço até que
sejam aproveitados em postos de iguais vencimentos e categoria, ou apo-
sentados de acordo com a lei.
V. Os vinte e um membros do primeiro Conselho Supremo da
República, representantes dos Estados e do Distrito Federai, serão elei-
tos no mesmo dia e pela mesma forma por que o forem os deputados à
primeira Assembléia Nacional ordinária.
VI. Serão, para todos os efeitos, válidos os casamentos religio-
sos, desde que seja efetuado o registro civil perante o oficial competente,
no prazo de três anos, a contar da promulgação da presente Constituição,
salvo o caso do art. 108, § 3º.
VII. Praticados os atos para que foi convocada, a Assembléia
Constituinte dissolver-se-á inontinenti; e a eleição da primeira Assem-
bleia Nacional ordinária realizar-se-á noventa aias depois.
VIII. Esta Constituição será promulgada pela Mesa da Assem-
bléia e assinada pelos deputados presentes.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL,(1)
DE 16 DE JULHO DE 1934
TÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO FEDERAL
CAPITULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1° A Nação brasileira, constituída pela união perpétua e
indisssolúvel dos Estados, do Distrito Federalje dos Territórios em Esta-
dos Unidos do Brasil, mantém como forma de governo, sob o tegime
tepresentativo, a República Federativa proclamada em 15 de novembro
de 1889.
Art. 2- Todos os poderes emanam; do povo, e em nome dele
são exercidos.
Art. 3- São órgãos da sobetania nacional, dentro dos limites
constitucionais, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, indepen-
dentes e coordenados entre si.
§ lº É vedado aos poderes constitucionais delegar as suas atri-
buições.
(1) Diário Oficial União
de 16-7-1934. Em consequência das Emendas de nº' 1, 2 e 3, aprovadas pelo
Decreto Legislativo nº 6. de 18 de dezembro de 1935, o texto integral desta Constituição foi
republicado em 19-12-1935.
Nós, os representantes do povo brasileiro, pondo a nossa con-
fiança em Deus, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para or-
ganizar um regime democrático que assegure à Nação a unidade, a
liberdade, a justiça e o bem-estar social c económico, decretamos e pro-
mulgamos a seguinte Constituição: 
116 • A Constituição de 1934
§ 2º O cidadão investido na função de um deles não poderá
exercer a de outro.
Art. 4º O Brasil só declarará guerra se não couber ou malo
grar-se o recurso do arbitramento; e não se empenhará jamais em guerra
de conquista, direta ou indiretamente, por si ou em aliança com outra na-
ção.
Art. 5º Compete privativamente à União:
I — manter relações com os Estados estrangeiros, nomear os
membros do corpo diplomático e consular e celebrar tratados e conven-
ções internacionais;
II - conceder ou negar passagem a forças estrangeiras pelo ter-
ritório nacional;
III - declarar a guerra e fazer a paz;
IV - resolver definitivamente sobre os limites do território na-
cional;
V - organizar a defesa externa, a polícia e segurança das frontei-
ras e as Forças Armadas;
VI — autorizar a produção e fiscalizar o comércio de material de
guerra de qualquer natureza;
VII — manter o serviço de correios;
VIII - explorar ou dar em concessão os serviços de telégrafos,
radiocomunicação e navegação aérea, inclusive as instalações de pouso,
bem como as vias férreas que liguem diretamente portos marítimos a
fronteiras nacionais, ou transponham os limites de um Estado;
IX - estabelecer o plano nacional de viação férrea e o de estra-
das de rodagem e regulamentar o tráfego rodoviário interestadual;
X - criar e manter alfândegas e entrepostos;
XI - prover aos serviços da polícia marítima e portuária, sem
prejuízo dos serviços policiais dos Estados;
XII - fixar o sistema monetário, cunhar e emitir moeda, instituir
banco de emissão;
XIII - fiscalizar as operações de bancos, seguros e caixas eco-
nómicas particulares;
XIV - traçar as diretrizes da educação nacional;
XV - organizar defesa permanente contra os efeitos da seca
nos Estados do Norte;
A Constituição de 1934 • 117
XVI - organizar a administração dos Territórios e do Distrito
Federal e os serviços neles reservados à União;
XVII - fazer o recenseamento geral da população;
. XVIII - conceder anistia;
XIX - legislar sobre:
a) direito penal, comercial, civil, aéreo e processual; registros
públicos e juntas comerciais;
b) divisão judiciária da União, do Distrito Federal e dos Territó-
rios e organização dos juízos e tribunais respectivos;
c) normas fundamentais do direito rural, do regime penitenciá-
rio, da arbitragem comercial, da assistência social, da assistência judiciária
e das estatísticas de interesse coletivo;
d) desapropriações, requisições civis e militares, em tempo de
guerra;
e) regime de portos e navegação de cabotagem, assegurada a ex-
clusividade desta, quanto a mercadorias, aos navios nacionais;
J) matéria eleitoral da União, dos Estados e dos Municípios, in-
clusive alistamento, processo das eleições, apuração, recursos, proclama-
ção dos eleitos e expedição de diplomas;
g) naturalização, entiada e expulsão de estrangeiros, extradição;
emigração e imigração, que deverá ser regulada e orientada, podendo ser
proibida, totalmente, ou em razão da procedência;
h) sistema de medidas;
i) comércio exterior e interestadual, instituições de crédito,
câmbio e transferência de valores para fora do País; normas gerais sobre o
trabalho, a produção e o consumo, podendo estabelecer limitações exigi-
das pelo bem público;
j) bens do domínio federal, riquezas do subsolo, mineração,
metalurgia, águas, energia hidroelétrica, florestas, caça e pesca e a sua ex-
ploração;
k) condições de capacidade pata o exercício de profissões libe-
rais e técnico-científicas, assim como do jornalismo; .
/) organização, instrução, justiça e garantias das forças policiais
dos estados, e condições gerais da sua utilização em caso de mobilização _
ou de guerra;
m) incorporação dos silvícolas à comunhão nacional.
118 • A Constituição de 1934
§ 1º Os atos, decisões e serviços federais serão executados em
todo o País por funcionários da União, ou, em casos especiais, pelos dos
Estados, mediante acordo com os respectivos governos.
§ 2º.Os Estados terão preferência para a concessão federal, nos
seus territórios, de vias férreas, de serviços portuários, de navegação aérea,
de telégrafos e de outros de utilidade pública, e bem assim para a aquisição
dos bens alienáveis da União. Para atender às suas necessidades adminis-
trativas, os Estados poderão manter serviços de radiocomunicação.
§ 3º A competência federal para legislar sobre as matérias dos
n°s XIV e XIX, letras cei, in fine, e sobre registros públicos, desapropria-
ções, arbitragem comercial, juntas comerciais e respectivos processos; re-
quisições civis e militares, radiocomunicação, emigração, imigração e
caixas económicas; riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, águas,
energia hidroelétrica, floresta, caça e pesca e a sua exploração, não exclui a
legislação estadual supletiva ou complementar sobre as mesmas matérias.
As leis estaduais, nestes casos, poderão, atendendo às peculiaridades locais,
suprir as lacunas ou deficiências da legislação federal, sem dispensar as
exigências desta.
§ 4º As linhas telegráficas das estradas de ferro, destinadas ao
serviço do seu tráfego, continuarão a ser utilizadas no serviço público em
geral, como subsidiárias da rede telegráfica da União, sujeitas, nessa utili-
zação, às condições estabelecidas em lei ordinária.
Art. 6º! Compete também, privativamente, à União:
I - decretar impostos:
a) sobre a importação de mercadorias de procedência estrangei-
ra;
b) de consumo de quaisquer mercadorias, exceto os combustí-
veis de motor à explosão;
c) de renda e proventos de qualquer natureza, excetuada a renda
cédula r de imóveis;
d) de transferência de fundos para o exterior;
t) sobre atos emanados do seu governo, negócios da sua econo-
mia e instrumentos de contratos ou atos regulados por lei federal;
J) nos Territórios, ainda, os que a Constituição atribui aos Estados;
II - cobrar taxas telegráficas, postais e de outros serviços federais;
de entrada, saída c estadia de navios e aeronaves, sendo livre o comércio de
A Constituição de 1934 • 119
cabotagem às mercadorias nacionais, e às estrangeiras que já tenham pago
imposto de importação.
Art. 7º Compete privativamente aos Estados:
I — decretar a Constituição e as leis por que se devam reger, res-
peitados os seguintes princípios:
a) forma republicana representativa;
b) independência e coordenação de poderes;
c) tetnporariedade das funções eletivas, limitada aos mesmos
prazos dos cargos federais correspondentes, e proibida a reeleição de go-
vernadores e prefeitos para o período imediato;
d) autonomia dos Municípios;
ej garantias do Poder Judiciário e do Ministério Público locais;
J) prestação de contas da administração;
g) possibilidade de reforma constitucional e competência do
Poder Legislativo para decretá-la;
h) representação das profissões;
II — prover, a expensas próprias, às necessidades da sua admi-
nistração, devendo, porém, a União prestar socorro ao Estado que, em
caso de calamidade pública, os solicitar;
III — elaborar leis supletivas ou complementares da legislação
federal, nos termos do art. 5º, § 3°;
IV - exercer, em geral, todo é qualquer poder ou direito que
lhes não for negado explícita ou implicitamente por cláusula expressa des-
ta Constituição.
Parágrafo único. Podem os Estados,1 mediante acordo com o
Governo da União, incumbir funcionários federais de executar
leis e servi-
ços estaduais e atos ou decisões das suas autoridades.
Art, 8º Também compete privativamente aos Estados:
I — decretar impostos sobre:
a) propriedade territorial, exceto a urbana;
b) transmissão de propriedade causa mortis;
c) transmissão de propriedade imobiliária; inter vivos,
inclusive a sua incorporação ao capital de sociedade;
d) consumo de combustíveis de motor à explosão;
120 •A Constituição de 1934
e) vendas e consignações efetuadas por comerciantes e produ-
tores, inclusive os industriais, ficando isenta a primeira operação do pe-
queno produtor, como tal definido na lei estadual;
j) exportação das mercadorias de sua produção até o máximo de
dez por cento ad valorem vedados quaisquer adicionais;
g) indústrias e profissões;
h) atos emanados do seu governo e negócio da sua economia,
ou regulados por lei estadual;
II — cobrar taxas de serviços estaduais.
§ 1º O imposto de vendas será uniforme, sem distinção de pro-
cedência, destino ou espécie dos produtos.
§ 2° O imposto de indústrias e profissões será lançado pelo
Estado e arrecadado por este e pelo Município em partes iguais.
§ 3º Em casos excepcionais, o Senado Federal poderá autorizar,
por tempo determinado, o aumento do imposto de exportação, além do li-
mite fixado na letra/ de número I.
§ 4º O imposto sobre transmissão de bens corpóreos cabe ao
stado em cujo território se achem situados; e o de transmissão causa mor-
as de bens incorpóreos, inclusive de títulos e créditos, ao Estado onde se
tiver aberto a sucessão. Quando esta se haja aberta no exterior, será devi-
do o imposto ao Estado em cujo território os valores da herança forem li-
quidados, ou transferidos aos herdeiros.
Art. 9º É facultado à União e aos Estados celebrar acordos para a
melhor coordenação e desenvolvimento dos respectivos serviços e, especial-
mente, para a uniformização de leis, regras ou práticas, arrecadação de impos-
tos, prevenção e repressão da criminalidade e permuta de informações.
Art. 10º. Compete concorrentemente à União e aos Estados:
I — velar na guarda da Constituição e das leis;
II — cuidar da saúde e assistência públicas;
III — proteger as belezas naturais e os monumentos de valor
histórico ou artístico, podendo impedir a evasão de obras de arte;
IV — promover a colonização;
V - fiscalizar a aplicação das leis sociais;
VI - difundir a instrução pública em todos os seus graus;
VII - criar outros impostos, além dos que lhes são atribuídos
privativamente.
A Constituição de 1934 • 121
Parágrafo único. A arrecadação dos impostos a que se refere o nº-
VII será feita pelos Estados, que entregarão, dentro do primeiro trimestre
do exercício seguinte, trinta por cento à União e vinte por cento aos Muni-
cípios de onde tenham provindo. Se o Estadoj faltar ao pagamento das
quotas devidas à União ou aos Municípios, o lançamento e a arrecadação
passarão a ser feitos pelo Governo Federal, que atribuirá, nesse caso, trin-
ta por cento ao Estado e vinte por cento aos municípios.
Art. 11. E vedada a bítributação, prevalecendo o imposto decreta-
do pela União quando a competência for concorrente. Sem prejuízo do re-
curso judicial que couber, incumbe ao Senado Federal, exo fficio ou mediante
provocação de qualquer contribuinte, declarar a existência da bitributação e
determinar a qual dos dois tributos cabe a prevalência.
Art. 12. A União não intervirá em negócios peculiares aos Esta-
dos, salvo:
I - para manter a integridade nacional;
II - para repelir invasão estrangeira, ou de um Estado era outro;
III - para por termo .à guerra civil;
IV - para garantir o livre exercício de qualquer dos poderes pú-
blicos estaduais;
V - para assegurar a observância dos princípios constitucio-
nais especificados nas letras a e h do art. 7º, nº 1, e a execução das leis
federais;
VI - para reorganizar as finanças do Estado que, sem motivo
de força maior, suspender, por mais de dois an'os consecutivos, o serviço
da sua dívida fundada;
VIl - para a execução de ordens e decisões dós juizes e tribu-
nais federais
§ lº Na hipótese do n- VI, assim corno para assegurar a obser-
vância dos princípios constitucionais (art. 7º, nº I). a intervenção será de-
cretada por lei federal, que lhe fixará a amplitude e a duração, prorrogável
por nova lei. A Câmara dos Deputados poderá eleger o Interventor, ou
autorizar o Presidente da República a nomeá-lo.
§ 2º Ocorrendo o primeiro caso do nº V, à intervenção só se efetu-
ará depois que a Corte Suprema, mediante provocação do Procurador-Gera!
da República, tomar conhecimento da lei que á tenha decretado a lhe de-
clarar a constitucionalidade.
122 • A Constituição de 1934
§ 3º- Entie as modalidades de impedimento do livre exercício
dos poderes públicos estaduais (n2 IV), se incluem: a) o obstáculo à execu-
ção de leis e decretos do Poder Legislativo e às decisões e ordens dos jui-
zes e tribunais; b) a falta injustificada do pagamento, por mais de três
meses, no mesmo exercício financeiro, dos vencimentos de qualquer
membro do Poder Judiciário.
§ 4º A intervenção não suspende senão a lei estadual que a te-
nha motivado, e só temporariamente interrompe o exercício das autorida-
des que lhe deram causa e cuja responsabilidade será promovida.
§ 5º Na espécie do a- VII, e também para garantir o livre exercí-
cio do Poder Judiciário local, a intervenção será requisitada ao Presidente
da República pela Corte Suprema, ou pelo Tribunal Superior de Justiça
Eleitoral, conforme o caso, podendo o requisitante comissionar o juiz que
torne efetiva ou fiscalize a execução da ordem ou decisão.
§ 6º Compete ao Presidente da República:
a) executar a intervenção decretada por lei federal ou requisita-
da pelo Poder Judiciário, facultando ao Interventor designado todos os
meios de ação que se façam necessários;
b) decretar a intervenção: para assegurar a execução das leis
federais; nos casos dos nº I e II; no do nº III, com prévia autorização
do Senado Federal; no do n- IV, por solicitação dos Poderes Legislati-
vo ou Executivo locais; submetendo em todas as hipóteses o seu ato à
aprovação imediata do Poder Legislativo, para o que logo o convocará.
§ 7º Quando o Presidente da República decretar a intervenção, no
mesmo ato lhe fixará o prazo e o obieto, estabelecerá os termos em que
deve ser executada, e nomeará o Interventor, se for necessário.
§ 8º No caso do nº IV, os representantes dos poderes estadu-
ais eletivos podem solicitar intervenção somente quando o Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral lhes atestar a legitimidade, ouvindo este,
quando for o caso, o tribunal inferior que houver julgado definitiva-
mente as eleições.
Art. 13. Os Municípios serão organizados de forma que lhes fi-
que assegurada a autonomia em tudo quanto respeite ao seu peculiar inte-
resse, e especialmente:
I - a eletividade do prefeito e dos vereadores da Câmara Muni-
cipal, podendo aquele ser eleito por esta;
A Constituição de 1934 • 123
II - a decretação dos seus impostos e taxas, c a arrecadação e
aplicação das suas rendas;
III - a organização dos serviços de sua competência.
§ lº O prefeito poderá ser de nomeação do Governo do Estado
no Município da capital e nas estâncias hídrominerais.
§ 2º-Além daqueles de que participam, Lvwdos artigos 82, § 2-, c
10, parágrafo único, e dos que lhes forem transferidos pelo Estado, per-
tencem aos Municípios:
I - o imposto de licenças;
II — os impostos predial e territorial urbanos, cobrado o primei-
ro sob a forma de décima ou de cédula de renda;
III — o imposto sobre diversões públicas;
IV - o imposto cedular sobre a renda de imóveis rurais;
V — as taxas sobre serviços municipais.
§ 3º- É facultado ao Estado a criação de um órgão de assistência
técnica à administração municipal e fiscalização das suas finanças.
§ 4º Também lhe é permitido intervir tios Municípios, a fim de
lhes regularizar
as finanças, quando se verificar impontualtdade nos servi-
ços de empréstimos garantidos pelo Estado, ou falta de pagamento da sua
dívida fundada por dois anos consecutivos, observadas, naquilo em que
forem aolícáveis, as normas do art. 12.
Art. 14 Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se
ou desmembrar-se, para se anexar a outros ou formar novos Estados, me-
diante aquiescência das respectivas Assembleias; Legislativas em duas le-
gislaturas sucessivas e aprovação por lei federal.!
Ari. 15. O Distrito Federal será administrado poi um prefeito,
de nomeação do Presidente da República com a aprovação do Senado Fe-
deral, e demissível ad nutum, cabendo as funções deliberativas a uma Câ-
mara Municipal eletiva. As fontes de receita dó Distrito Federal são as
mesmas que competem aos Estados e Municípios, cabendo-lhe todas as
despesas de caráter locai.
Art. 16. Além do Acre, constituirão Territórios nacionais ou-
tros que venham a pertencer à União, por qualquer título legítimo.
§ lº Logo que tiver 300.000 habitantes e recursos suficientes
para manutenção dos serviços públicos, o Território poderá ser, por lei es-
pecial, erigido em Estado.
124 • A Constituição de 1934
§ 2º A lei assegurará a autonomia dos Municípios em que se di-
vidir o território.
§ 3º O Território do Acre será organizado sob o regime de pre-
las autónomas, mantida, porém, a unidade administrativa territorial,
por intermédio de um delegado da União, sendo prévia e equitativamente
distribuídas as verbas destinadas às administrações locais e geral.
Art. 17. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I - criar distinções entre brasileiros natos ou preferências em
favor de uns contra outros Estados;
II - estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cul
tos religiosos;
III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto
ou igreja, sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse co-
letivo;
IV - alienar ou adquirir imóveis, ou conceder privilégio, sem lei
especial que o autor12 e;
V — recusar fé aos documentos públicos;
VI - negar a cooperação dos respectivos funcionários, no inte-
resse dos serviços correlativos;
VII — cobrar quaisquer tributos sem lei especial que os auto-
rize ou fazê-los incidir sobre efeitos já produzidos por atos jurídicos
perfeitos;
VIII — tributar os combustíveis produzidos no País para moto-
res à explosão;
IX — cobrar, sob qualquer denominação, impostos interestaduais,
intermunicipais, de viação ou de transporte, ou quaisquer tributos que, no ter-
ritório nacional, gravem ou perturbem a livre circulação de bens ou pessoas e
dos veículos que os transportarem;
X - tributar bens, rendas e serviços uns dos outros, estenden-
do-se a mesma proibição as concessões de serviços públicos, quanto aos
próprios serviços concedidos e ao respectivo aparelhamento instalado e
utilizado exclusivamente para o objeto de concessão.
Parágrafo único. A proibição constante do n- X não impede a co-
brança de taxas remunetatórias devidas pelos concessionários de serviços
públicos.
AConstituição de1934 • 125
Art.-18, É vedado à União decretar (impostos que não sejam
uniformes em todo o território nacional, ou que importem distinção em
favor dos portos de uns contra os de outros Estados. '
Art. 19. É defeso aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
pios:
I - adotar, para funções públicas idênticas, denominação dife-
rente da estabelecida nesta Constituição;
II - rejeitar a moeda legal em circulação;
III — denegar a extradição de criminosos, reclamada de acordo
com as leis da União, pelas justiças de outros Estados, do Distrito Federal
ou dos Territórios;
IV - estabelecer diferença tributária, em razão da procedência,
entre bens de qualquer natureza;
V - contrair empréstimo externo semiprévia autorização do Se-
nado Federal.
Art, 20. São do domínio da União:
I - os bens que a esta pertencem, nos termos das leis atualmen-
te em vigor;
II - os lagos e quaisquer correntes em' terrenos do seu domínio,
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países
ou se estendam a território estrangeiro;
III - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas fronteiriças.
Art. 21. São do domínio dos Estados:
I — os bens da propriedade destes pela legislação atualmente cm
vigor, com as restrições do artigo antecedente;
II - as margens dos rios e lagos navegáveis destinadas ao uso
público, se por algum titulo não forem do domínio federal, municipal ou
particular.
CAPÍTULO 11
DO PODER LEGISLATIVO .
SEÇÃO I
Disposições Preliminares:
Art, 22. O Poder Legislativo é exercido pe'a Câmara dos Depu-
tados, com a colaboração do Senado Federal.
126 • A Constituição de 1934
Parágrafo único. Cada legislatura durará quatro anos.
Art. 23. A Câmara dos Deputados compõe-se de representan-
tes do povo, eleitos mediante sistema proporcional e sufrágio universal,
igual e direto, e de representantes eleitos pelas organizações profissionais,
na forma que a lei indicar.
§ 1º- O número de Deputados será fixado por lei; os do povo,
proporcionalmente à população de cada Estado e do Distrito Federal, não
podendo exceder de um por 150 mil habitantes, até o máximo de vinte, e,
deste limite para cima, de um por 250 mil habitantes; os das profissões, em
total equivalente a um quinto da representação popular. Os Territórios
elegerão dois Deputados.
§ 2° O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral determinará, com
a necessária antecedência, e de acordo com os últimos cômputos oficiais
da população, o número de Deputados do povo que devem ser eleitos em
cada um dos Estados e no Distrito Federal.
§ 3º- Os Deputados das profissões serão eleitos na forma da lei
ordinária, por sufrágio indireto das associações profissionais, compreen-
didas para esse efeito, com os grupos afins respectivos, nas quatro divi-
sões seguintes: lavoura e pecuária; indústria; comércio e transporte;
profissões liberais e funcionários públicos.
§ 4º O total dos Deputados das três primeiras categorias será,
no mínimo, de seis sétimos da representação profissional, distribuídos
igualmente entre elas, dividindo-se cada uma em círculos correspondentes
ao número de Deputados que lhe caiba, dividido por dois a fim de garantir
a representação igual de empregados e de empregadores. O número de
círculos da quarta categoria corresponderá ao dos seus Deputados.
§ 5º- Excetuada a quarta categoria, haverá em cada círculo pro-
fissional dois grupos eleitorais distintos: um, das associações de emprega-
dores, outro, das associações de empregados.
§ 6º- Os grupos serão constituídos de delegados das associações,
eleitos mediante sufrágio secreto, igual e indireto, por graus sucessivos.
§ 7º- Na discriminação dos círculos, a lei deverá assegurar a re-
presentação das aúvidades económicas e culturais do País.
§ 8º- Ninguém poderá exercer o direito de voto em mais de uma
associação profissional.
ACanstituição de 1934 • 127
§ 9° Nas eleições realizadas em tais associações, não votarão os
estrangeiros.
Art. 24. São elegíveis para a Câmara dos Deputados os brasilei-
ros natos, alistados eleitores e maiores de 25 anos; os representantes das
profissões deverão, ainda, pertencer a uma associação compreendida na
classe e grupo que os elegerem.
Art. 25. A Câmara dos Deputados reúne-se anualmente, no dia
3 de maio, na Capital da República, sem dependência de convocação, e
funciona durante seis meses, podendo ser convocada extraordinariamente
por iniciativa de um terço dos seus membros, pela Seção Permanente do
Senado Federal ou pelo Presidente da República.
Art. 26. Somente à Câmara dos Deputados incumbe eleger a
sua Mesa, regular a sua própria polícia, organizar a sua Secretaria, com ob-
servância do art. 39, n- 6, e o seu Regimento Interno, no qual se assegura-
rá, quanto possível, em todas as Comissões,
a representação proporcional
das correntes de opinião nela definidas.
Parágrafo único. Compete-lhe também resolver sobre o adiamen-
to ou a prorrogação da sessão legislativa, com a colaboração do Senado
Federal, sempre que estiver reunido. 
Ari. 27. Durante o prazo das suas sessões a Câmara dos Depu-
tados funcionará todos os dias úteis, com a presença de um décimo pelo
menos dos seus membros, e, salvo se resolver o contrário, em sessões pú-
blicas. As deliberações, a não ser nos casos expressos nesta Constituição,
serão tomadas por maioria de votos, presente a metade 'e mais um dos
seus membros.
Parágrafo único. Nenhuma alteração (regimental será aprovada
sem proposta escrita, impressa, distribuída em avulsos é discutida pelo
menos em dois dias de sessão.
Art. 28. A Câmara dos Deputados reunir-se-á 'em sessão con-
junta com o Senado Federal, sob a direção dà Mesa deste, para a inaugura-
ção solene da sessão legislativa, para elaborar o Regimento Comum,
receber o compromisso do Presidente da República e eleger o Presidente
substituto, no caso do art. 52, § 3º.
Art. 29. Inaugurada a Câmara dos Deputados, passará ao exame
e julgamento das contas do Presidente da República, relativas ao exercício
anterior.
128 • A Constituição de 1934
Parágrafo único. Se o Presidente da República não as prestar, a
Câmara dos Deputados elegerá uma Comissão para organizá-las; e, con-
forme o resultado, determinará as providências para a punição dos que fo-
rem achados em culpa.
Art. 30. Os Deputados receberão uma ajuda de custo por sessão
legislativa e durante a mesma perceberão um subsídio pecuniário mensal, fi-
xados uma e outro no último ano de cada legislatura para a seguinte.
Art. 31. Os Deputados são invioláveis por suas opiniões, pala-
vras e votos no exercício das funções do mandato.
Ari. 32. Os Deputados, desde que tiverem recebido diploma
até a expedição dos diplomas para a legislatura subsequente, não poderão
ser processados criminalmente, nem presos, sem licença da Câmara, salvo
caso de flagrância em crime inafiançável. Esta imunidade é extensiva ao
suplente imediato do Deputado em exercício.
§ lº A prisão em flagrante de crime inafiançável será logo co-
municada ao Presidente ca Câmara dos Deputados, com a remessa do
auto e dos depoimentos tomados, para que ela resolva sobre a sua legitimi-
dade e conveniência, e autorize, ou não, ?. formação da culpa.
§ 2º- Em tempo de guerra, os Deputados, civis e militares, incor-
porados às Foiças Armadas por licença da Cámaia dos Deputados, fica-
rão sujeitos às leis e obrigações militares.
Art. 33. Nenhum Deputado, desde a expedição do diploma,
poderá:
1) celebrar contrato com a administração pública federal, esta-
dual ou municipal;
2) aceitar ou exercer cargo, comissão ou emprego público re
munerados, salvo as exceções previstas neste artigo e no art. 62.
§ lº Desde que seja empossado, nenhum Deputado poderá:
1) ser diretor, proprietário ou sócio de empresa beneficiada
com privilégio, isenção ou favor, em virtude de contrato com a adminis
tração pública;
2) ocupar cargo público, de que seja demissivel
adnutum;
3) acumular um mandato com outro de carater legislativo, federal,
estadual ou municipal;
4) patrocinar causas contra a União, os Estados ou Municípios.
A Constituição de1934 • 129
§ 2º - É permitido ao Deputado, mediante licença prévia da Câ-
mara, desempenhar missão diplomática, não prevalecendo neste caso o
disposto no art. 34.
§ 3º Durante as sessões da Câmara, o Deputado, funcionário ci-
vil ou militar, contará, por duas legislaturas, no máximo, tempo para pro-
moção, aposentadoria ou reforma, e só receberá dos cofres públicos ajuda
de custo e subsídio, sem outro qualquer provento do posto ou cargo que
ocupe, podendo, na vigência do mandato, ser promovido unicamente por
antiguidade, salvo os casos do art. 32, § 2º.
§ 4º No intervalo das sessões, o Deputado poderá reassumir as
suas funções civis, cabendo-lhe então as vantagens correspondentes à sua
condição, observando-se, quanto ao militar, o disposto no art. 164, pará-
grafo único.
§ 5º- A infração deste artigo e seu parágrafo 1º importa a perda
do mandato, decretada pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, medi-
ante provocação do Presidente da Câmara dos Deputados, de Deputado
ou de eleitor, garantindo-se plena defesa ao interessado.
Art. 34. Importa renúncia do mandato a ausência cio Deputado
às sessões durante seis meses consecutivos.
Art. 35. Nos casos dos arts, 33, § 2º-, e 62, e no de vaga por perda
do mandato, renúncia ou morte do Deputado, será convocado o suplente
na forma da lei eleitoral. Se o caso fot de vaga e não houver suplente, pto-
ceder-se-á à eleição, salvo se faltarem menos de três meses para se encet-
rar a última sessão da legislatura.
Art. 36. A Câmara dos Deputados criará comissões de inquéri-
to sobre fatos determinados, sempre que o requerer a terça parte, pelo me-
nos, dos seus membros.
Parágrafo único. Aplicam-se a tais inquéritos as normas do pro-
cesso penal, indicadas no Regimento Interno.
Art. 37. A Câmara dos Deputados pode convocar qualquer Mi-
nistro de Estado para perante ela prestar informações sobre questões pré-
via e expressamente determinadas, atinentes a assuntos do respectivo
Ministério. A falta de comparência do Ministro, sem justificação, importa
crime de responsabilidade.
§ 1º- Igual faculdade, e nos mesmos termos, cabe às suas Comis-
sões.
130 • A Constituição de 1934
§ 2º A Câmara dos Deputados, ou as suas Comissões, designa-
rão dia e hora para ouvir os Ministros de Estado, que lhes queiram solicitar
providências legislativas ou prestar esclarecimentos.
Art. 38, O voto será secreto nas eleições e nas deliberações so-
bre vetos e contas do Presidente da República.
SEÇÀO II
Das Atribuições do Poder Legislativo
Ari. 39, Compete privativamente ao Poder Legislativo, com a
sanção do Presidente da República:
1) decretar leis orgânicas para a completa execução da Constituição;
2) votar anualmente o orçamento da receita e da despesa, e, no
início de cada legislatura, a lei de fixação das Forças Armadas da União, a
qual, nesse período, somente poderá ser modificada por iniciativa do Pre-
sidente da República;
3) dispor sobre a dívida pública da União e sobre os meios de pa-
gá-la; regular a arrecadação e a distribuição das suas rendas; autorizar emis-
sões de papel-moeda de curso forçado, abertura e operações de crédito;
4) aprovar as resoluções dos órgãos legislativos estaduais sobre
incorporação, subdivisão ou desmembramento de Estado, e qualquer
acordo entre estes;
5) resolver sobre a execução de obras e manutenção de serviços
da competência da União;
6) criar e extinguir empregos públicos federais, fixar-lhes e alte-
m l h e s os vencimentos, sempre por lei especial;
7) transferir temporariamente a sede do Governo, quando o
exigir a segurança nacional;
8) legislar sobre:
a) o exercício dos poderes federais;
b) as medidas necessárias para facilitar, entre os Estados, a pre-
venção e repressão da criminalidade e assegurar a prisão e extradição dos
acusados e condenados;
t) a organização do Distrito Federal, dos Territórios e dos servi-
ços neles reservados à União;
d) licenças, aposentadorias e reformas, não podendo por dispo-
sições especiais concedê-las, nem alterar as concedidas;
A Constituição ás 1934 • 13 1
e) todas as matérias de competência da União, constantes do
art. 5º, ou dependentes de lei federal, por força da Constituição.
Art. 40. E da competência exclusiva do Poder Legislativo:
a) resolver definitivamente sobre tratados c convenções com as
nações estrangeiras, celebrados pelo Presidente da República, inclusive os
relativos à paz;
b) autorizar o Presidente da República a declarar a guerra, nos
termos do art. 4º, se não couber ou malograr-se o recurso do arbitramen-
to, e a negociar a
paz;
c) julgar as contas do Presidente da República;
d) aprovar ou suspender o estado de sítio, e a intervenção nos
Estados, decretados no intervalo das suas sessões;
e) conceder anistia;
jf prorrogar as suas sessões, suspendê-las e adiá-las;
g) mudar temporariamente a sua sede;
h) autorizar o Presidente da República a auseritar-se para país
estrangeiro;
i) decretar a intervenção nos Estados, na hipótese do art. 12, § lº;
j) autorizar a decretação e a prorrogação do estado de sítio;
k) fixar a ajuda de custo e o subsídio dos membros da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal e o subsídio do Presidente da República.
Parágrafo único. As leis, decretos c resoluções da competência ex-
clusiva do Podet Legislativo setão promulgados c mandados publicar peio
Presidente da Câmara dos Deputados.
SEÇÃOIII
 Das Leis
Art. 41. A iniciativa dos projetos de lei, guardado o disposto
nos parágrafos deste artigo, cabe a qualquer membro ou Comissão da Câ-
mara dos Deputados, ao Plenário do Senado Federal e ao Presidente da
República; nos casos em que o Senado colabora com a Câmata, também a
qualquer dos seus membros ou Comissões.
§ lº Compete exclusivamente à Câmara dos Deputados e ao
Presidente da República a iniciativa das leis de fixação das Forças Arma-
das, e, em geral, de todas as leis sobre matéria fiscal e financeira.
132 • A Constituição de 1934
§ 2º- Ressalvada a competência da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, quanto aos respectivos serviços administrativos, pertence
exclusivamente ao Presidente da República a iniciativa dos projetos de lei
que aumentem vencimentos de funcionários, criem empregos em serviços
já organizados ou modifiquem, durante o prazo da sua vigência, a lei de fi-
xação das Forças Armadas.
§ 3º- Compete exclusivamente ao Senado Federal a iniciativa das
leis sobre a intervenção federal, e, em geral, das que interressem determi-
nadamente a um ou mais Estados.
Art. 42. Transcorridos sessenta dias do recebimento de um
projeto de lei pela Câmara, o Presidente desta, a requerimento de qualquer
Deputado, mandá-lo-á incluir na ordem do dia, para ser discutido e vota-
do, independentemente de parecer.
Art. 4º. Aprovado peia Câmara dos Deputados, sem modifica-
ções, o projeto de lei iniciado no Senado Federal, ou o que não dependa da
colaboração deste, será enviado ao Presidente da República, que, aquies-
cendo, o sancionará e promulgará.
Parágrafo único. Não tendo sido o projeto iniciado no Senado Fe-
deral, mas dependendo da sua colaboração, ser-lhe-á submetido, remeten-
do-se, depois de por ele aprovado, ao Presidente da República, para os
fins da sanção e promulgação.
Art. 44. O projeto de lei da Câmara dos Deputados ou do Sena-
do Federal, quando este tenha de colaborar, se emendado pelo órgào revi-
sor, volverá ao iniciador, o qual, aceitando as emendas, enviá-lo-á
modificado, nessa conformidade, ao Presidente da República.
§ 1º No caso contrário, volverá ao órgão revisor, que só as po-
derá manter por dois terços dos votos dos membros presentes, devolvcn-
do-o ao iniciador. Este só as poderá rejeitar definitivamente por igual
maioria, se for a Câmara dos Deputados, ou por dois terços dos seus
membros, se o Senado Federal.
§ 2º O projeto, no seu texto definitivamente aprovado, será
submetido à sanção.
Art. 45. Quando o Presidente da República julgar um projeto
de lei, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário aos interesses
nacionais, o vetará, total ou parcialmente, dentro de dez dias úteis, a con-
tar daquele em que o receber, devolvendo nesse prazo, e com os motivos
do veto, o projeto, ou a parte vetada, à Câmara dos Deputados.
A Constituição de 1934 • 133
§ 1º- O silêncio do Presidente da República, no decêndio, im-
porta à sanção.
§ 2º- Devolvido o projeto à Câmara dos Deputados, será submeti-
do, dentro de trinta dias do seu recebimento, ou da reabertura dos trabalhos,
com parecer ou sem ele, à discussão única, considerando-se aprovado se obti-
ver o voto da maioria absoluta dos seus membros. Neste caso, o projeto será
remetido ao Senado Federal, se este houver nele colaborado, e, sendo aprova-
do pelos mesmos trâmites e por igual maioria, será enviado, como lei, ao Pre-
sidente da República, para a formalidade da promulgação. 
§ 3º No intervalo das sessões legislativas, o veto será comunicado à
Seção Permanente do Senado Federal, e esta o publicará, convocando extra-
ordinariamente a Câmara dos Deputados para sobre ele deliberar, sempre que
assim considerar necessário aos interesses nacionais.
§ 4º A sanção e a promulgação efetuam-se por estas fórmulas:
1) "O Poder Legislativo decreta e eu sanciono à seguinte lei".
2) "O Poder Legislativo decreta e eu promulgo a.seguinte lei".
Art. 46. Não sendo a lei promulgada dentro de 48 horas pelo
Presidente da República, nos casos dos §§ 1º- e 2º- do artigo 45, o Presiden-
te da Câmara dos Deputados a promulgará, usando da seguinte fórmula:
"O Presidente da Câmara dos Deputados faz saber que o Poder Legislati-
vo decreta e promulga a seguinte lei".
Art. 47. Os projetos rejeitados não poderão ser renovados na
mesma sessão legislativa.
Ari. 48. Podem ser aprovados em globo os projétos de código e
de consolidação de dispositivos legais, depois de revistos pelo Senado Fe-
deral e por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, quando esta
assim resolver por dois terços dos membros presentes.
Art. 49. Os projetos de lei serão apresentados com a respectiva
emenda, enunciando, de forma sucinta, o seu objetivo, e não poderão
conter matéria estranha ao seu enunciado.
SEÇÃO IV
Da Elaboração do Orçamento 
Art. 50. O orçamento será uno, incorporando-se obrigatoria-
mente à receita todos os tributos, rendas e suprimentos dos fundos, e in-
134 •AConstituição de1934
cluindo-se discnminadamente na despesa todas as dotações necessárias ao
custeio dos serviços públicos.
§ lº O Presidente da República enviará à Câmara dos Deputados,
dentro do primeiro mês da sessão legislativa ordinária, a proposta de
orçamento.
§ 2º- O orçamento da despesa dividir-se-á em duas partes,
uma fixa e outra variável, não podendo a primeira ser alterada senão
em virtude de lei anterior. A parte variável obedecerá a rigorosa espe-
cialização.
§ 3º- A lei de orçamento não conterá dispositivo estranho à re-
ceita prevista e à despesa fixada para os serviços anteriormente criados.
Não se incluem nesta proibição:
a) a autorização para a abertura de créditos suplementares e
operações de créditos por antecipação de receita;
b) a aplicação de saldo, ou o modo de cobrir o déficit.
§ 4º É vedado ao Poder Legislativo conceder créditos ilimi-
tados.
§ 5° Será prorrogado o orçamento vigente se até 3 de novembro
o vindouro não houver sido enviado ao Presidente da República para a
sanção.
CAPÍTULO III
DO PODER EXECUTIVO
SEÇÃO I
Do Presidente da Ripública
Art. 51. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Re-
pública.
Art. 52. O período presidencial durará um quadriênio, não
podendo o Presidente da República ser reeleito senão quatro anos
depois de cessada a sua função, qualquer que tenha sido a duração
desta.
§ lº A eleição presidencial far-se-á em todo o território da Re-
pública, por sufrágio universal, direto, secreto e maioria de votos, cento e
vinte dias antes do término do quadriénio, ou sessenta dias depois de aber-
ta a vaga, se esta ocorrer dentro dos dois primeiros anos.
A Constituição de 1934 • 135
§ 2º- Em um e outro caso, a apuração realizar-se-á, dentro de
sessenta dias, pela Justiça Eleitoral, cabeado ao seu Tribunal Superior pro-
clamar o nome do eleito.
§ 3º Se a vaga ocorrer nos dois últimos anos do período, a Câ-
mara dos Deputados e o Senado Federal, trinta dias após, em sessão con-
junta, com a presença da maioria dos seus membros, elegerão o Presidente
substituto, mediante escrutínio secreto e por
maioria absoluta de votos. Se
no primeiro escrutínio nenhum candidato obtiver essa maioria, a eleição
se fará por maioria relativa. Em caso de empate, considerar-se-á eleito o
mais velho.
§ 4º O Presidente da República, eleito na forma do parágrafo
anterior e da última parte do § lº, exercerá o cargo pelo tempo que restava
ao substituído.
§ 5- São condições essenciais para ser eleito Presidente da Repú-
blica: ser brasileiro nato, estar alistado eleitor e ter mais de 35.anos de idade.
§ 6º- São inelegíveis para o cargo de Presidente da República:
a) os parentes até o 3- grau, inclusive os afins, do Presidente que
esteja em exercido, ou não o haja deixado pelo menos um ano antes da
eleição;
b) as autoridades enumeradas no art. 112, nº 1, letra a, durante o
prazo nele previsto, e ainda que licenciadas um ano antes Ida eleição, e as
enumeradas na letta b do mesmo artigo;
c) os substitutos eventuais do Presidente da República que te-
nham exercido o cargo por qualquer tempo, dentro dos seis meses ime-
diatamente anteriores à eleição.
§ 7- Decorridos sessenta dias da data fixada para a posse, se o
Presidente da República, por qualquer motivo, não houver assumido o
cargo, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral declarará a vacância deste, e
providenciará logo para que se efetue nova eleição.
§ 8º Em caso de vaga no último semestre do quadriênio, assim
como nos de impedimento ou falta do Presidente da República, serão cha-
mados sucessivamente a exercer o cargo o Presidente ida Câmara dos
Deputados, o do Senado Federal e o da Corte Suprema..
Art. 53. Ao empossar-se, o Presidente da República pronuncia-
rá, em sessão conjunta da Câmara dos Deputados com o Senado Federal,
ou, se não estiverem reunidos, perante a Corte Suprema, este compromis-
136 • A Constituição ds 1934
so: "Prometo manter e cumprir com lealdade a Constituição Federal, pro-
mover o bem geral do Brasil, observar as suas leis, sustentar-lhes a união, a
integridade e a independência".
Art. 54. O Presidente da República terá o subsídio fixado pela
Câmara dos Deputados, no último ano da legislatura anterior à sua eleição.
Art. 55. O Presidente da República, sob pena de petda do car-
go, não poderá ausentar-se para país estrangeiro sem permissão da Câma-
ra dos Deputados, ou, não estando esta reunida, da Seção Permanente do
Senado Federal.
SEÇÃO II
Das Atribuições do Pnesidente da República
Art, 56. Compete privativamente ao Presidente da República;
1) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, e expedir decre-
tos e regulamentos para a sua fiel execução;
2) nomear e demitir os Ministros de Estado e o Prefeito do Dis-
trito Federal, observando, quanto a este, o disposto no art. 15;
3) perdoar e comutar, mediante proposta dos órgãos compe-
tentes, penas criminais;
4) dar conta anualmente da situação do País à Câmara dos
Deputados, indicando-lhe, por ocasião da abertura da sessão legislativa, as
providências e reformas que julgue necessárias;
5) manter relações com os Estados estrangeiros;
6) celebrar convenções e tratados internacionais, ad referendum
do Poder Legislativo;
7) exercer a chefia suprema das forças militares da União, admi-
nistrando-as por intertnédio dos órgãos do alto comando;
8) decretar a mobilização das Forças Armadas;
9) declarar a guerra, depois de autorizado pelo Poder Legislati-
vo, e, em caso de invasão ou agressão estrangeira, na ausência da Câmara
dos Deputados, mediante autorização da Seção Permanente do Senado
Federal;
10) fazer a paz, ad referendum do Poder Legislativo, quando por
este autorizado;
11) permitir, após autorização do Poder Legislativo, a passagem
de forças estrangeiras pelo território nacional;
A Constituição de 1934 • 137
12) intervir nos Estados ou neles executar a intervenção, nos
termos constitucionais;
13) decretar o estado de sítio, de acordo com o artigo 175, § 7°;
14) prover os cargos federais, salvo as exccções previstas na
Constituição e nas leis;
15) vetar, nos termos do art. 45, os projetos de lei aprovados
pelo Poder Legislativo;
16) autorizar brasileiros a aceitarem pensão, emprego ou co-
missão remunerados de governo estrangeiro.
SEÇÃO III
Da responsabilidade do Presidente da República
Art. 57. São crimes de responsabilidade os atos: do Presidente
da República, definidos cm lei, que atentarem contra:
a) a existência da União;
b) a Constituição e a forma de governo federal
c) o livre exercício dos poderes políticos;
d) o gozo ou o exercício legal dos direitos políticos, sociais ou
individuais;
e) a segurança interna do País;
f) a probidade da administração;
g) a guarda ou emprego legal dos dinheiros públicos;
b) as leis orçamentarias;
i) o cumprimento das decisões judiciárias.
Art. 58. O Presidente da República será processado e julgado,
nos crimes comuns, pela Corte Suprema, e, nos de responsabilidade, por
um Tribunal Especial, que terá como Presidente o da referida Corte e se
comporá de nove juizes, sendo três Ministros da Corte-Suprema, três
membros do Senado Federal, e três membros da Câmara dos Deputados.
O Presidente terá apenas voto de qualidade. 
§ lº Far-se-á a escolha dos juizes do Tribunal Especial por sor-
teio, dentro de cinco dias úteis, depois de decretada a acusação, nos ter-
mos do § 4º, ou no caso do § 5º deste artigo.
§ 2º A denúncia será oferecida ao Presidente da Corte Suprema,
que convocará logo a Junta Especial de Investigação, composta de um Mi-
nistro da referida Corte, de um membro do Senado Federale de um repre-
138 • A Constituição de 1934
sentante da Câmara dos Deputados, eleitos anualmente pelas respectivas
corporações.
§ 3º A Junta procederá, a seu critério, à investigação dos fatos
arguidos e, ouvido o Presidente, enviará à Câmara dos Deputados um re-
latório com os documentos respectivos.
§ 4º Submetido o relatório da Junta Especial, com os documen-
tos, à Câmara dos Deputados, esta, dentro de trinta dias, depois de emiti-
do parecer pela comissão competente, decretará, ou não, a acusação, e, no
caso afirmativo, ordenará a remessa de todas as peças ao Presidente do
Tribunal Especial, para o devido processo e julgamento.
§ 5º Não se pronunciando a Câmara dos Deputados sobre a
acusação no prazo fixado no § 4º, o Presidente da Junta de Investiga-
ção remeterá cópia do relatório e documentos ao Presidente da Corte
Suprema, para que promova a formação do Tribunal Especial, e este
decrete, ou não, a acusação, e, no caso afirmativo, processe e julgue a
denúncia.
§ 6) Decretada a acusação, o Presidente da República ficará,
desde logo, afastado do exercício do cargo.
§ 7º- O Tribunal Especial poderá aplicar somente a pena de per-
da do cargo, com inabilitação até o máximo de cinco anos para o exercício
de qualquer função pública, sem prejuízo das ações civis e criminais cabí-
veis na espécie.
SEÇÃO IV
Dos Mimstros de Estado
Art, 59. O Presidente da República será auxiliado pelos Minis-
tros de Estado.
Parágrafo único. Só o brasileiro nato, maior de 25 anos, alistado
eleitor, pode ser Ministro.
Art. 60. Além das atribuições que a lei ordinária fixar, competirá
aos Ministros:
a) subscrever os atos do Presidente da República;
b) expedir instruções para a boa execução das leis e regulamen-
tos;
e) apresentar ao Presidente da República o relatório dos servi-
ços do seu Ministério no ano anterior;
A Constituição de 1934 • 139
d) comparecer à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal
nos casos e para os fins especificados na Constituição:
e) preparar as propostas dos orçamentos respectivos.
Parágrafo único. Ao Ministro da Fazenda compete mais:
1) organizar a proposta geral do orçamento da receita e despesa,
com os elementos de que dispuser e os fornecidos pelos outros ministérios;
2) apresentar, anualmente, ao Presidente da República para ser
enviado à Câmara dos Deputados, com o parecer do
Tribunal de Contas,
o balanço definitivo da receita e despesa do último exercício,
Art. 61. São crimes de responsabilidade, além do previsto no
art. 37, infim, os atos definidos em lei, nos termos do art. 57, que os Minis-
tros praticarem ou ordenarem; entendendo-se que, no tocante às leis orça-
mentarias, cada Ministro responderá pelas despesas do seu ministério, e o
da Fazenda, além disso, pela arrecadação da receita.
§ 1º- Nos crimes comuns e nos de responsabilidade, os Minis-
tros serão processados e julgados pela Corte Suprema, e nos crimes cone-
xos com os do Presidente da República, pelo Tribunal Especial.
§ 2º Os Ministros são responsáveis pelos atos que subscreve-
rem, ainda que conjuntamente com o Presidente da República, ou pratica-
rem por ordem deste.
Ari. 62. Os membros da Câmara dos Deputados, nomeados
Ministros de Estado, não perdem o mandato, sendo substituídos, enquan-
to exerçam o cargo, pelos suplentes respectivos.
CAPÍTULO IV
DO PODER JUDICIÁRIO
SEÇÃO I
Disposições Preliminares
Art. 63. São órgãos do Poder Judiciário:
a) a Corte Suprema;
b) os juizes e tribunais federais;
c) os juizes e tribunais militares;
d) os juizes e tribunais eleitorais.
Art. 64. Salvo as restrições expressas na Constituição, os juizes
gozarão das garantias seguintes:
140 • A Constituição de 1934
a) vitalidadade, não podendo perder o cargo senão cm virtude
de sentença judiciária, exoneração a pedido, ou aposentadoria, a qual será
compulsória aos 75 anos de idade, ou por motivo de invalidez comprova-
da, e facultativa em razão de serviços públicos prestados por mais de trinta
anos, e definidos em lei;
b) inamovibilidade, salvo remoção a pedido, por promoção aceita,
ou pelo voto de dois terços dos juizes efetivos do tribunal superior compe-
tente, em virtude de interesse público;
c) irredutibilidade de vencimentos, os quais ficam, todavia, sujei-
tos aos impostos gerais.
Parágrafo único. A vitaliciedade não se estenderá aos juizes cria-
dos por lei federal, com funções limitadas ao preparo dos processos e à
substituição de juizes julgadores.
Art. 65. Os juizes, ainda que em disponibilidade, não podem
exercer qualquer outra função pública, salvo o magistério e os casos pre-
vistos na Constituição. A violação deste preceito importa a perda do cargo
judiciário e de todas as vantagens correspondentes.
Art. 66. É vedada ao juiz atividade político-partidána.
Art., 67. Compete aos tribunais:
a) elaborar os seus regimentos internos, organizar as suas secre-
tarias, os seus cartórios e mais serviços auxiliares, e propor ao Poder Le-
gislativo a criação ou supressão de empregos e a fixação dos vencimentos
respectivos;
b) conceder licença, nos termos da lei, aos seus membros, aos
juizes e serventuários que lhes são imediatamente subordinados;
c) nomear, substituir e demitir os funcionários das suas secre-
tarias, dos seus cartórios e serviços auxiliares, observados os preceitos
legais.
Art. 68. É vedado ao Poder Judiciário conhecer de questões ex-
clusivamente políticas,
Art. 69. Nenhuma percentagem será concedida a magistrado
em virtude de cobrança de dívida.
Art. 70. A Justiça da União e a dos Estados não podem recipro-
camente intervir em questões submetidas aos tribunais e juizes respecti-
vos, nem lhes anular, alterar ou suspender as decisões, ou ordens, salvo os
casos expressos na Constituição.
A Constituição de 1934 • 141
§ lº Os juizes e tribunais fedetais poderão, todavia, dcprecat às
Justiças locais competentes as diligências que se houverem de efetuar fora
da sede do juízo deprecante.
§ 2º As decisões da Justiça Federal serão executadas pela autori-
dade judiciária que ela designar, ou por oficiais judiciários privativos. Em
todos os casos, a força pública estadual ou federal prestará o auxílio requi-
sitado na forma da lei.
Art. 71. A incompetência da ]ustiça Federal, oalocal, para co-
nhecer do feito, não determinará a nulidade dos atos processuais probató-
rios e ordinatóríos, desde que a parte não a tenha arguido. Reconhecida a
incompetência, serão os autos remetidos ao juízo competente, onde pros-
seguirá o processo.
Art. 72. É mantida a instituição do júri, com a organização e as
atribuições que lhe der a lei.
SEÇÃO II
Da Corte Suprema
Art. 73. A Corte Suprema, com sede na Capital da República e
jurisdição em todo o território nacional, compõe-se de onze Ministros.
§ 1º Sob proposta da Corte Suprema, pode o número de Minis-
tros ser elevado por lei até dezesseis, e, em qualquer caso, é irreduzível.
§ 2º- Também, sob proposta da Corte Suprema, poderá a lei di-
vidi-la em câmaras ou turmas, e distribuir entre estas ou aquelas os julga-
mentos dos feitos, com recurso ou não para o tribunal pleno, respeitado o
que dispõe o art. 179.
Art. 74, Os Ministros da Corte Suprema serão nomeados pelo
Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, dentre brasi-
leiros natos de notável saber jurídico e reputação ilibada, alistados eleito-
res, não devendo ter, salvo os magistrados, menos de 35, nem mais de 65
anos de idade.
Art. 75. Nos crimes de responsabilidade, os Ministros da Corte
Suprema serão processados e julgados pelo Tribunal Especial, a que se re-
fere o art. 58.
Art, 76. A Corte Suprema compete:
1) processar e julgar originariamente:
142 • A Constituição de 1934
a) o Presidente da República e os Ministros da Corte Suprema,
nos crimes comuns;
b) os Ministros de Estado, o Procurador-Geral da República, os
juizes dos tribunais federais e bem assim os das Cortes de Apelação dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, os Ministros do Tribunal
de Contas e os Embaixadores e Ministros Diplomáticos, nos crimes co-
muns e nos de responsabilidade, salvo, quanto aos Ministros de Estado, o
disposto no final do § lº do art. 61;
c) os juizes federais e os seus substitutos, nos crimes de respon-
sabilidade;
d) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, ou entre estes;
e) os litígios entre nações estrangeiras e a União ou os Estados;
f) os conflitos de jurisdição entre juizes ou tribunais federais,
entre estes e os dos Estados, e entre juizes ou tribunais de Estados dife-
rentes, incluídos, nas duas últimas hipóteses, os do Distrito Federal e os
dos Territórios;
g) a extradição de criminosos, requisitada por outras nações, e a
homologação de sentenças estrangeiras;
h) o habeas corpus, quando for paciente, ou coator, tribunal, fun-
cionário ou autoridade, cujos atos estejam sujeitos imediatamente à juris-
dição da Corte; ou quando se tratar de crime sujeito a essa mesma
jurisdição em única instância; e, ainda, se houver perigo de se consumar a
violência antes que outro juiz ou tribunal possa conhecer o pedido;
i) o mandado de segurança contra atos do Presidente da Repú-
blica ou de Ministro de Estado;
j) a execução das sentenças, nas causas da sua competência ori-
ginária, com a faculdade de delegar atos do processo a juiz inferior;
2) julgar:
I — as ações rescisórias dos seus acórdãos;
II — em recurso ordinário:
a) as causas, inclusive mandados de segurança, decididas por juizes
e tribunais federais, sem prejuízo do disposto nos arts.78 e 79;
b) as questões resolvidas pelo Tribunal Superior de Justiça Elei-
toral, no caso do art. 83, § lº;
c) as decisões de última ou única instância das Justiças locais e as
de juizes e tribunais federais, denegatórias de habeas corpus;
A Constituição de 1934 • 143
III — em recurso extraordinário, as causas decididas pelas Justi-
ças locais em única ou última instância:
a) quando a decisão for contra literal disposição de tratado ou
lei federal, sobre cuja aplicação se haja questionado;
b) quando se questionar sobre a vigência ou a validade de lei fe-
deral em face da Constituição, c a decisão do tribunal locai negai aplicação
à lei impugnada;
c) quando se contestar a validade de lei ou ato dos governos
lo-
cais em face da Constituição, ou de lei federal, e a decisão dó tribunal local
julgar válido o ato ou a lei impugnados;
d) quando ocorter diversidade de interpretação definitiva de lei
federal entre Cortes de Apelação de Estados diferentes, inclusive do Dis-
trito Federal ou dos Territórios, ou entre um destes tribunais e a Corte Su-
prema, ou outro tribunal federal;
3) rever, em benefícios dos condenados, nos casos e pela forma
que a lei determinar, os processos findos em matéria criminal, inclusive os
militares e eleitorais, a requerimento do réu, do Ministério Público ou de
qualquer pessoa.
Parágrafo único. Nos casos do nº 2, III, letra d, o recurso poderá
também set interposto pelo presidente de qualquer dos tribunais ou pelo
Ministério Público.
Art. 77, Compete ao Presidente da Corte Suprema conceder
exequtar às cartas rogatórias das Justiças estrangeiras.
SEÇÃO III
Dos juizes e Tribunais Federais 
Art. 78. A lei criará tribunais federais, quando assim o exigirem
os interesses da Justiça, podendo atribuir-lhes o julgamento final das revi-
sões criminais, excetuadas as sentenças do Supremo Tribunal Militar, e
das causas referidas no art. 81, letras d,g, h, i e k assim como os conflitos de
jurisdição entre juizes federais de circunscrição cm que esses tribunais te-
nham competência. 
Parágrafo único. Caberá recurso para a Corte Suprema, sempre
que tenha sido controvertida matéria constitucional e, ainda, nos casos de
denegação de habeas corpus.
144 • A Constituição de 1934
Art. 79. É criado um tribunal, cuja denominação e organização
a lei estabelecerá, composto de juizes, nomeados pelo Presidente da Re-
pública, na forma e com os requisitos determinados no art. 74.
Parágrafo único. Competirá a esse tribunal, nos termos que a lei
estabelecer, julgar privativa e definitivamente, salvo recurso voluntário
para a Corte Suprema nas espécies que envolveram matéria constitucio-
nal:
1) os recursos de atos e decisões definitivas do Poder Executi-
vo, e das sentenças dos juizes federais nos litígios em que a União for par-
te, contanto que uns e outros digam respeito ao funcionamento de
serviços públicos, ou se tejam, no todo ou em parte, pelo direito adminis-
trativo;
2) os litígios entre a União e os seus credores, derivados de con-
tratos públicos.
Art. 80. Os juizes federais serão nomeados dentre brasileiros
natos de reconhecido saber jurídico e reputação ilibada, alistados eleitores,
e que não tenham menos de 30, nem mais de 60 anos de idade, dispensado
este limite aos que fotem magistrados.
Parágrafo único. A nomeação será feita pelo Presidente da
República dentre cinco cidadãos, com os requisitos acima exigidos,
e indicados, na forma da lei, e por escrutínio secreto, pela Corte Su-
prema.
Art. 81. Aos juizes federais compete processar e julgar, em pri-
meira instância:
a) as causas em que a União for interessada como autora ou ré,
assistente ou opoente;
b) os pleitos em que alguma das partes fundar a ação, ou a defe-
sa, diteta e exclusivamente em dispositivo da Constituição;
c) as causas fundadas em concessão federal ou cm contrato cele-
brado com a União;
d) as questões entre um Estado e habitantes de outro, ou domi-
ciliados em país estrangeiro ou contra autoridade administrativa federal,
quando fundadas em lesão de direito individual, por ato ou decisão da
mesma autoridade;
e) as causas entre Estado estrangeiro e pessoa domiciliada no
Brasil;
A Constituição.de 1934 • 145
f) as causas movidas com fundamento em contrato ou tratado
do Brasil com outras nações;
g) as questões de direito marítimo e navegação no oceano ou
nos rios e lagos do País, e de navegação aérea;
h) essas questões de direito internacional privado ou penal;
i) os crimes políticos, e os praticados em prejuízo de serviços ou
interesses da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral ou Mili-
tar;
j) os habeos corpus, quando se tratar de crime de competência da
Justiça Federal, ou quando a coação provier de autoridades federais, não
subordinadas imediatamente à Corte Suprema;
k) os mandados de segurança contra atos de autoridades federais,
excetuado o caso do art. 76, I , letra i;
l) os crimes praticados contra a ordem social, inclusive o de re-
gresso ao Brasil de estrangeiro expulso.
Parágrafo único. O disposto no presente artigo, letra a, não exclui
a competência da Justiça local nos processos de falência e outros em que a
Fazenda Nacional, embora interessada, não intervenha como autora, ré,
assistente ou opoente.
SEÇÃO IV
Da Justiça Eleitoral
Art. 82. A Justiça Eleitoral terá por órgãos: o Tribunal Superior
de Justiça Eleitoral, na Capital da República; um Tribunal Regional na ca-
pital de cada Estado, na do Território do Acre e no Distrito Federal; e jui-
zes singulares nas sedes e com as atribuições que a lei designar, além das
juntas especiais admitidas no art. 83, § 3-.
§ lº O Tribunal Superior será presidido pelo Vice-Presidente da
Corte Suprema, e os Regionais pelos Vice-Presidentes das Cortes de Ape-
lação, cabendo o encargo ao - Vice-Presidente nos tribunais onde houver
mais de um.
§ 2º O Tribunal Superior compor-se-á do Presidente e de juizes
efetivos e substitutos, escolhidos do modo seguinte:
a) um terço, sorteado dentre os Ministros da Corte Suprema;
b) outro terço, sorteado dentre os desembargadores do Distrito
Fedcral
146 • A Constituição de 1934
c) o terço restante, nomeado peio Presidente da República, den-
tre seis cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados
pela Corte Suprema, e que não sejam incompatíveis por lei.
§ 3º Os tribunais regionais compor-se-ão de modo análogo: um
terço, dentre os desembargadores da respectiva sede; outro, do juiz federal
que a lei designar e de juizes de direito com exercício na mesma sede; e os de-
mais serão nomeados pelo Presidente da República, sob proposta da Corte de
Apelação. Não havendo na sede juizes de direito em número suficiente, o se-
gundo terço será completado com desembargadores da Corte de Apelação,
§ 4º Se o número de membros dos tribunais eleitorais não for
exatamente divisível por ttês, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral de-
terminará a distribuição entre as categorias acima discriminadas, de sorte
que caiba ao Presidente da República a nomeação da minoria.
§ 5º Os membros dos tribunais eleitorais servirão obrigatoriamen-
te por dois anos, nunca, porém, por mais de dois biénios consecutivos.
Para esse fim, a lei organizará a rotatividade dos que pertence-
rem aos tribunais comuns.
§ 6º Durante o tempo em que servirem, os órgãos da Justiça
Eleitoral gozarão das garantias das letras b e c do art. 64, e, nessa qualidade,
não terão outras incotnpatibilidades senão as que forem declaradas nas
leis orgânicas da mesma Justiça.
§ 7º Cabem a juizes locais vitalícios, nos termos da lei, as fun-
ções de juizes eleitorais, com jurisdição plena.
Art. 83. À Justiça Eleitoral, que terá competência privativa para o
processo das eleições federais, estaduais e municipais, inclusive as dos re-
presentantes das profissões, e excetuada a de que trata o art. 52, § 3º, caberá:
a) organizar a divisão eleitoral da União, dos Estados, do Distri-
to Federal e dos Territórios, a qual só poderá alterar quiinquenalmente, sal-
vo cm caso de modificação na divisão judiciária ou administrativa do
Estado ou Território e em consequência desta;
b) fazer o alistamento;
c) adotar ou propor providências para que as eleições se reali-
zem no tempo e na forma determinados em lei;
d) Exar a data das eleições, quando não determinada nesta Cons-
tituição ou nas dos Estados, de maneira que se eferuem, em regra, nos três
últimos ou nos três primeiros meses dos períodos governamentais;
A Constituição de 1934 • 147
e) resolver sobre as arguições de inelegibilidade e incompatibilidade;
J) conceder habias corpus e mandado
de segurança em casos per-
tinentes a matéria eleitoral;
g) proceder à apuração dos sufrágios e proclamar os eleitos;
h) processar e julgar os delitos eleitorais e os comuns que lhes
forem conexos;
i) decretar perda do mandato legislativo, nos casos estabeleci-
dos nesta Constituição e nas dos Estados.
§ lº As decisões do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral são ir-
recorriveis, salvo as que pronunciarem a nulidade, ou invalidade, de ato ou
de lei em face da Constituição Federal, e as que negarem habeàs corpus. Nes-
tes casos haverá recurso para a Corte Suprema.
§ 2º Os tribunais regionais decidirão, em última instância, sobre
eleições municipais, exceto nos casos do §1º, em que cabe recurso direta-
mente para a Corte Suprema, e no do § 5º. 
§ 3º A lei poderá organizar juntas especiais de três membros,
dos quais dois, pelo menos, serão magistrados, para a apuração das elei-
ções municipais.
§ 42 Nas eleições federais e estaduais, inclusive a de Governa-
dor, caberá recurso para o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral da deci-
são que proclamar os eleitos.
§ 5º Em todos os casos, dar-se-á recurso da decisão do Tribunal
Regional para o Tribunal Superior, quando não observada a jurisprudên-
cia deste.
§ 6º Ao Tribunal Superior compete regular a forma e o proces-
so dos recursos de que lhe caiba conhecer.
SEÇAOV
Da justiça Militar
Art. 84. Os militares e as pessoas que lhes são assemelhadas te-
rão foro especial nos delitos militares, Este foro poderá ser estendido aos
civis, nos casos expressos em lei, para a repressão de crimes contra a segu-
rança externa do País, ou contra as instituições militares.
Art. 85. A lei regulará também a jurisdição dos juizes militares e
a aplicação das penas da legislação militar, em tempo de guerra, ou na zona
de operações durante grave comoção intestina.
148 • A Constituição de 1934
Art. 86. São órgãos da Justiça Militar o Supremo Tribunal Mili-
tar e os tribunais e juizes inferiores, criados por lei.
Art. 87. A inamovibilidade assegurada aos juizes militares não
exclui a obrigação de acompanharem as forças junto às quais tenham de
servir.
Parágrafo único. Cabe ao Supremo Tribunal Militar determinar a
remoção de juizes militares, de conformidade com o art. 64, letra b.
CAPÍTULO V
DA COORDENAÇÃO DOS PODERES
SEÇÃO I
Disposições preliminares
Art. 88. Ao Senado Federal, nos termos dos arts. 90,91 e 92, in-
cumbe promover a coordenação dos poderes federais entre si, manter a
continuidade administrativa, velar pela Constituição, colaborar na feitura
de leis e praticar os demais atos da sua competência.
Art. 89. O Senado Federal compor-se-á de dois representantes
de cada Estado e do Distrito Federal eleitos mediante sufrágio universal,
igual e direto, por oito anos, dentre brasileiros natos, alistados eleitores e
maiores de 35 anos.
§ 1- A representação de cada Estado e do Distrito Federal, no
Senado, renovar-se-á pela metade, conjuntamente com a eleição da Câma-
ra dos Deputados.
§ 2- Os Senadores têm imunidades, subsídios e ajuda de custo
idênticos aos dos Deputados e estão sujeitos aos mesmos impedimentos e
incompatibilidades.
SEÇÃO II
Das Atribuições do Senado Federal
Art. 90. São atribuições privativas do Senado Federal:
a) aprovar, mediante voto secreto, as nomeações de magistra-
dos, nos casos previstos na Constituição; as dos Ministros do Tribunal de
Contas, a do Procurador-Geral da República, bem como as designações
dos chefes de missões diplomáticas no exterior;
A Constituição de 1934 • 149
b) autorizar a intervenção federal nos Estados, no caso do art
12, n- III, e os empréstimos externos dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios; 
c) iniciar os projetos de lei, a que se refere o art. 41, § 3º;
d) suspendei, exceto nos casos de intervenção decretada, a con-
centração de força federal nos Estados, quando as necessidades de ordem
pública não a justifiquem.
Art, 91, Compete ao Senado Federal:
I — colaborar com a Câmara dos Deputados na elaboração de
leis sobre:
a) estado de sítio;
b) sistema eleitoral e de representação;
c) organização judiciária federal;
d) tributos e tarifas; 
e) mobilização, declaração de guerra, celebração de paz e passa-
gem de forças estrangeiras pelo território nacional;
f) tratados e convenções com as nações estrangeiras;
g) comércio internacional e interestadual;
h) regime de portos; navegação de cabotagem nos rios e lagos
do domínio da União;
i) vias de comunicação interestadual;
j) sistema monetário e de medidas; banco de emissão;
k) socorros aos Estados;
l) matérias em que os Estados têm competência legislativa sub-
sidiária ou complementar, nos termos do att. 5º, § 3º; 
II — examinar, em confronto com as respectivas leis, os regula-
mentos expedidos pelo Poder Executivo, e suspender a execução dos dis-
positivos ilegais;
III — propor ao Poder Executivo, mediante reclamação fun-
damentada dos interessados, a revogação de atos das ,autoridades
administrativas, quando praticados contra a lei ou elevados de abuso de
poder,
IV - suspender a execução, no todo ou em parte; de qualquer
lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajar. sido declarados in-
constitucionais pelo Poder Judiciário;
150 • A Constituição de 1934
V — organizar, com a colaboração dos Conselhos Técnicos, ou
dos Conselhos Gerais em que eles se agruparem os planos de solução dos
problemas nacionais;
VI - eleger a sua Mesa, regular a sua própria policia, organizar o
seu Regimento Interno e a sua Secretaria, propondo ao Poder Legislativo
a criação ou supressão de cargos e os vencimentos respectivos;
VII - rever 03 projetos de código e de consolidação de leis, que
devam ser aprovados em globo pela Câmara dos Deputados;
VIII - exercer as atribuições constantes dos arts. 8º, § 3º, 11 e
130.
Art, 92. O Senado Federal pleno funcionará durante o mesmo
período que a Câmara dos Deputados. Sempre que a segunda for convo-
cada para resolver sobre matéria em que o primeiro deva colaborar, será
este convocado extraordinariamente pelo seu Presidente, ou pelo Presi-
dente da República.
§ lº No intervalo das sessões legislativas, a metade do Senado
Federal, constituída na forma que o Regimento Interno indicar com re-
presentação igual dos Estados e do Distrito Federal, funcionará como Se-
ção Permanente, com as seguintes atribuições:
I - velar na observância da Constituição, no que respeita às
prerrogativas do Poder Legislativo;
II — providenciar sobre os vetos presidenciais, na forma do art.
45, § 3º;
III - deliberar, ad referendum da Câmara dos Deputados, sobre o
processo e a prisão de Deputados e sobre a decretação do estado de sítio
pelo Presidente da República;
IV - autorizar este último a se ausentar para país estrangeiro;
V — deliberar sobre a nomeação de magistrados e funcionários,
nos casos de competência do Senado Federal;
VI — criar comissões de inquérito, sobre fatos determinados,
observando o parágrafo único do art. 36;
VII- convocar extraordinariamente a Câmara dos Deputados.
§ 2º Achando-se reunida a Câmara dos Deputados em sessão
extraordinária, para a qual não se faça mister a convocação do Senado Fe-
deral, compete à Seção Permanente deliberar sobre prisão e processo de
Senadores, e exercer as atribuições do nº V do parágrafo anterior.
A Constituição de 1934 • 151
§ í- Na abertura da sessão legislativa a Seção Permanente apre-
sentará à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal o relatório dos tra-
balhos realizados no intervalo.
§ 4º Quando no exercício das suas funções na Seção Permanen-
te, terão os membros desta o mesmo subsídio que lhes compete durante
as sessões do Senado Federal.
Art. 93. Os Ministros de Estado prestarão, pessoalmente ou
por escrito, ao Senado Federal, as informações por este solicitada.
Art. 94. O Senado Federal, por deliberação do seu Plenário, po-
derá
propor à consideração da Câmara dos Deputados projetos de lei so-
bre matérias nas quais não tenha de colaborar.
CAPÍTULO VI
DOS ÓRGÃOS DE COOPERAÇÃO
NAS ATIVIDADES GOVERNAMENTAIS
Art. 95. O Ministério Público será organizado na União, no
Distrito Federal e nos Tetritórios por lei federal, e, nos Estados, pelas leis
locais.
§ lº O Chefe do Ministério Público Federal nos juízos comuns
é o Procurador-Geral da República, de nomeação do Presidente da Repú-
blica, com aprovação do Senado Federal, dentre cidadãos com os requisi-
tos estabelecidos para os Ministros da Corte Suprema. Terá os mesmos
vencimentos desses Ministros, sendo, porém, demissível ad nutum.
§ 2º Os chefes do Ministério Público no Distrito Federal e nos
Territórios serão de livre nomeação do Presidente da República dentre ju-
ristas de notável saber e reputação ilibada, alistados eleitores e maiores de
30 anos, com os vencimentos dos desembargadotes.
§ 3º Os membros do Ministério Público criados por lei federal e
que sirvam nos juízo comuns setão nomeados mediante concurso e só
perderão os cargos, nos termos da lei, por sentença judiciária, ou processo
administrativo, no qual lhes será assegurada ampla defesa.
Art. 96. Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional
qualquer dispositivo de lei ou ato governamental, o Procurador-Geral da
152 • A Constituição de 1934
República comunicará a decisão ao Senado Federal, pata os fins do art. 91,
nº IV, e bem assim à autoridade legislativa ou executiva, de que tenha ema-
nado a lei ou o ato,
Art. 97. Os chefes do Ministério Público na União e nos Esta-
dos não podem exercer qualquer outra função pública, salvo o magistério
e os casos previstos na Constituição, A violação deste preceito importa a
peida do cargo.
An. 98. O Ministério Público, nas Justiças Militar e Eleitoral,
será organizado por leis especiais, e só terá, na segunda, as incompatibili-
dades que estas prescreverem.
SEÇÃO II
Do Tribunal de Contas
Art. 99. É mantido o Tribunal de Contas, que, diretamente, ou
por delegações organizadas de acordo com a lei, acompanhará a execução
orçamentaria e julgará as contas dos responsáveis por dinheiros ou bens
públicos.
Art. 100. Os Ministros do Tribunal de Contas serão nomeados
pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, e terão
as mesmas garantias dos Ministros da Corte Suprema.
Parágrafo único. O Tribunal de Contas terá, quanto à organização
do seu Regimento Interno e da sua Secretaria, as mesmas atribuições dos
tribunais judiciários.
Art. 101. Os contratos que, por qualquer modo, interessarem
imediatamente à receita ou á despesa, só se reputarão perfeitos e acabados
quando registrados pelo Tribunal de Contas. A recusa do registro suspen-
de a execução do contrato até o pronunciamento do Poder Legislativo.
§ lº Será sujeito ao registro prévio do Tribunal de Contas qual-
quer ato de administração pública, de que resulte obrigação de pagamento
pelo Tesouro Nacional, ou por conta deste.
§ 2º Em todos os casos, a recusa do registro, por falta de saldo
no crédito ou por imputação a crédito impróprio, tem caráter proibitivo;
quando a recusa tiver outro fundamento, a despesa poderá efetuar-se após
despacho do Presidente da República, registro sob reserva do Tribunal de
Contas e recurso exo offiicio para a Câmara dos Deputados.
A Constituição de 1934 • 153
§ 3º A fiscalização financeira dos serviços autônomos será feita
pela forma prevista nas leis que os estabelecerem.
Art. 102. O Tribunal de Contas dará parecer prévio, no prazo
de trinta dias, sobre as contas que o Presidente da República deve anual-
mente prestar à Câmara dos Deputados. Se estas não lhe forem enviadas
em tempo útil, comunicará o fato à Câmara dos Deputados, para os fins
de direito, apresentando-lhe, num ou noutro caso, minucioso relatório do
exercício financeiro terminado.
SEÇÃO III
Dos Conselhos Técnicos
Art. 103. Cada Ministério será assistido por um ou mais Conse-
lhos Técnicos, coordenados, segundo a natureza dos seus 'trabalhos, em
Conselhos Gerais, como órgãos consultivos da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal.
§ 1º A lei ordinária regulará a composição, o funcionamento c a
competência dos Conselhos Técnicos e dos Conselhos Gerais.
§ 2º Metade, pelo menos, de cada Conselho será composta de
pessoas especializadas, estranhas aos quadros do funcionalismo do res-
pectivo Ministério.
§ 3º Os membros dos Conselhos Técnicos não perceberão ven-
cimentos pelo desempenho do cargo, podendo, porém, vencer uma diária
pelas sessões a que comparecerem.
§ 4º É vedado a qualquer Ministro tomar deliberação, em maté-
ria da sua competência exclusiva, contra o parecer unânime do respectivo
Conselho.
TÍTULO II
DA JUSTIÇA DOS ESTADOS, DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Art. 104, Compete aos Estados legislar sobre a sua divisão e or-
ganização judiciárias e prover os respectivos cargos, observados os precei-
tos dos arts. 64 a 72 da Constituição, menos quanto à requisição de força
federal, e ainda os princípios seguintes:
154 • A Constituição de 1934
a) investidura, nos primeiros graus, mediante concurso, organi-
zado pela Corte de Apelação, fazendo-se a classificação, sempre que pos-
sível, em lista tríplice;
b) investidura, nos graus superiores, mediante acesso por anti-
guidade de classe, e por merecimento, ressalvado o disposto no §6º
c) inalterabilidade da divisão e organização judiciárias, dentro de
cinco anos da data da lei que a estabelecer, salvo proposta motivada da
Corte de Apelação;
d) inalterabilidade do número de juizes da Corte de Apelação, a
não ser por proposta da mesma Corte;
e) fixação dos vencimentos dos desembargadores das Cortes de
Apelação, em quantia não inferior à que percebam os secretários de Esta-
do; e os dos demais juizes, com diferença não excedente a trinta por cento
de uma para outra categoria, pagando-se aos da categoria mais retribuída
não menos de dois terços dos vencimentos dos desembargadores;
f) competência privativa da Corte de Apelação para processo e
julgamento dos juizes inferiores, nos crimes comuns e nos de responsabi-
lidade.
§ lº Em caso de mudança da sede do juízo, é facultado ao juiz
remover-se com ela, ou pedir disponibilidade com vencimentos integrais.
§ 2º Nos casos de promoção por antiguidade, decidirá prelimi-
narmente a Corte de Apelação, em escrutínio secreto, se deve ser propos-
to o juiz mais antigo; e, se três quartos dos votos dos juizes efetivos forem
pela negativa, proceder-se-á à votação relativamente ao imediato em anti-
guidade, e assitn por diante, até se fixar a indicação.
§ 3º Para promoção por merecimento, o tribunal organizará lis-
ta tríplice por votação em escrutínio secreto.
§ 4º Os Estados poderão manter a Justiça de Paz Eletiva, fixan-
do-lhe a competência, com ressalva de recurso das suas decisões para a
Justiça Comum.
§ 5º O limite de idade poderá ser reduzido até 60 anos para a
aposentadoria compulsória dos juizes, e até 25 anos para a primeira nome-
ação.
§ 6º Na composição dos tribunais superiores, scrào reservados
lugares, correspondentes a um quinto do número total, para que sejam
preenchidos por advogados, ou membros do Ministério Público, de noto-
A Constituição de 1934 • 155
rio merecimento e reputação ilibada, escolhido de lista tríplice, organizada
na forma do § 3º.
§ 7º- Os Estados poderão criar juizes com investidura limitada a
certo tempo e competência para julgamento das causas de pequeno valor,
preparo das excedentes da sua alçada e substituição dos juizes vitalícios.
Art. 105. A Justiça do Distrito Federal e a dos Territórios serão
organizadas por lei federal, observados os preceitos do artigo precedente,
no que lhes forem aplicáveis, e o disposto no parágrafo único do art. 64.
TÍTULO III
DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 106. São brasileiros:
a) os nascidos r.o Brasil, ainda que de pai estrangeiro, não resi-
dindo este a serviço do governo do seu país;
b) os filhos de brasileiro, ou brasileira, nascidos jem país estran-
geiro, estando os seus pais a serviço público e, fora deste caso, se, ao atin-
girem a maioridade, optarem pela nacionalidade brasileira;
c) os que já adquiriram a nacionalidade brasileira, em virtude do
art. 69, nº 4 e 5, da Constituição de 24 de fevereiro de 1891;
d) os estrangeiros por outro modo naturalizados.
An. 107. Perde a nacionalidade o brasileiro; 
a) que, por naturalização voluntária, adquirir outra nacionalida-
de;
b) que aceitar pensão, emprego ou comissão remunerados de
governo estrangeiro, sem licença do Presidente da República;
c) que tiver cancelada a sua naturalização, por exercer atividade
social ou política nociva ao interesse nacional, provado o fato por via judi-
ciaria, com todas as garantias de defesa.
Art. 108. São eleitores os brasileiros de um ou de outro sexo,
maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.
Parágrafo único. Não se podem alistar eleitore
a) os que não saibam ler e escrever;
156 • A Constituição á 1934
b) as praças de pré, salvo os sargentos do Exército e da Armada
e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas milita-
res de ensino supetior e os aspirantes a oficial;
c) os mendigos;
d) os que estiverem, temporária ou definitivamente. privados
dos direitos políticos-
Ari. 109. O alistamento e o voto são obrigatórios para os ho-
rr.ens, e para as mulheres, quando esras exerçam função pública remune-
rada, sob as sanções e salvo as exceções que a lei determinar.
Art. 110. Suspendem-se os direitos políticos:
a) por incapacidade civil absoluta;
b) pela condenação criminal, enquanto durarem os seus efeitos.
Art. 111. Perdem-se os direitos políticos.
a) nos casos do art. 107;
b) pela isenção de ônus ou serviços que a lei imponha aos brasi-
leiros, quando obtida por motivo de convicção religiosa, filosófica ou po-
lítica;
c) pela aceitação de título nobiliárquico, ou condecoração es-
trangeira, quando esta importe restrição de direitos ou deveres para com a
República.
§ 1º A perda dos direitos políticos acarreta simultaneamente,
para o indivíduo, a do cargo por ele ocupado.
§ 2º A lei estabelecerá as condições de reaquisição dos direitos
políticos.
Art. 112. São inelegíveis:
1) em todo o território da União: a) o Presidente da República,
os Governadores, os Interventores nomeados nos casos do art. 12, o Pre-
feito do Distrito Federal, os Governadores dos Territórios e os Ministros
de Estado, até um ano depois de cessadas definitivamente as respectivas
funções; b) os chefes do Ministério Público, os membros do Poder Judi-
ciário, inclusive os das Justiças Eleitoral e Militar, os Ministros do Tribu-
nal de Contas, e os chefes e subchefes do Estado-Maior do Exército e da
Armada; c) os parentes, até o 3º grau, inclusive os afins, do Presidente da
República, até um ano depois de haver este definitivamente deixado o car-
go, salvo, para a Câmara dos Deputados e o Senado lederal, se já tiverem.
A Constituição de l934 • 157
exercido o mandato anteriormente ou forem eleitos simultaneamente
com o Presidente; d) os que não estiverem alistados eleitores;
2) nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios: a) os Se-
cretários de Estado e os Chefes de Polícia, até um ano após a cessação de-
finitiva das respectivas funções; b) os comandantes de forças do Exército,
da Armada ou das Polícias ali existentes; c) os parentes, até o 3º grau, inclusi-
ve os afins, cos Governadores e Interventores dos Estados, do Prefeito do
Distrito Federal e dos Governadores dos Territórios, até um ano após defi-
nitiva cessação das respectivas funções, salvo quanto à Câmara dos Depu-
tados, ao Senado Federal e às Assembléias Legislativas, à exceção da letra c
do nº 1;
3) nos Municípios: a) os Prefeitos; b) as autoridades policiais; c)
os tuncionários do Fisco; d) os parentes, até o 3º grau, inclusive os afins,
dos Prefeitos, até um ano após definitiva cessação das respectivas fun-
ções, salvo, relativamente às Câmaras Municipais, às Assembléias Legisla-
tivas e à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, à exceção da letra c
do nº 1.
Parágrafo único. Os dispositivos deste artigo se aplicam por
igual aos titulares efetivos e interinos dos cargos designados.
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS E DAS GARANTIAS INDIVIDUAIS
Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros e a Estrangeiros re-
sidentes no País a invioiabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à
subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
1) Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem
distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou
dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideias políticas.
2) Ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa,
senão em virtude de lei.
3) A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
a coisa julgada.
4) Por motivo de convicções filosóficas, políticas ou religiosas,
ninguém será privado de qualquer dos seus direitos. salvo o caso do art.
111, letra b.
158 • A Constituição de 1934
5) É inviolável a liberdade de consciência e de crença, e garanti-
do o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à
ordem pública e aos bons costumes. As associações religiosas adquirem
personalidade jurídica nos termos da lei civil.
6) Sempre que solicitada, será permitida a assistência religiosa
nas expedições militares, nos hospitais, nas penitenciárias e em outros es-
tabelecimentos oficiais, sem ônus para os cofres públicos, nem constran-
gimento ou coação dos assistidos. Nas expedições militares a assistência
religiosa só poderá ser exercida por sacerdotes brasileiros natos.
7) Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados
pela autoridade municipal, sendo livre a todos os cultos religiosos a prática
dos respectivos ritos em relação aos seus crentes. As associações religiosas
poderão manter cemitérios particulares, sujeitos, porém, á fiscalização das
autoridades competentes. É-lhes proibida a recusa de sepultura onde não
houver cemitério secular.
8) É inviolável o sigilo da correspondência.
9) Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento,
sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões pú-
blicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela
forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato. É assegurado o
direito de resposta. A publicação de livros e periódicos independe de li-
cença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra
ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social.
10) É permitido a quem quer que seja representar, mediante pe-
tição, aos poderes públicos, denunciar abusos das autoridades e protr.o-
ver-lhes a responsabilidade.
11) A todos é lícito se reunirem sem armas, não podendo inter-
vir a autoridade senão para assegurar ou restabelecer a ordem pública.
Com este fim, poderá designai o local onde a reunião se deva realizar, con-
tanto que isso não a impossibilite ou frustre.
12) É garantida a liberdade de associação para fins lícitos. Ne-
nhuma associação será compulsoriamente dissolvida senão por sentença
judiciária.
13) E livre o exercício de qualquer profissão, observadas as
condições de capacidade técnica e outras que a iei estabelecer, ditadas pelo
interesse público.
A Constituição deá 1934 • 159
 
14) Em tempo de paz, salvo as exigências de passaporte quanto
à entrada de estrangeiros, e às restrições da lei, qualquer pessoa pode en-
trar no território nacional, nele fixar residência ou dele sair.
15) A União poderá expulsar do território nacional os estrangeiros
perigosos à ordem pública ou nocivos aos interesses
do País.:
16) A casa é o asilo inviolável do indivíduo. Nela ninguém po-
derá penetrar, de noite, sem consentimento do morador, senão para acu-
dir a vítimas de crimes ou desastres, nem de dia, senão nos casos e pela
fotma prescritos na lei.
17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser
exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determi-
nar.
A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á
nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização. Em caso de perigo
iminente, como guerra ou comoção intestina, poderão as autoridades
competentes usat da propriedade partícular até onde o bem público o exi-
ja, ressalvado o direito a indenização ulterior,
18) Os inventos industriais pertencerão aos seus autores, aos
quais a lei garantirá privilégio temporário, ou concederá justo prémio,
quando a sua vulgarização convenha à coletividade.
19) É assegurada a propriedade das marcas de indústria e co-
mércio e a exclusividade do uso do nome comercial.
20) Aos autores de obras literárias, artísticas e científicas é asse-
gurado o direito exclusivo de reproduzi-las. Esse direito transmitir-se-á
aos seus herdeiros pelo tempo que a lei determinar.
21) Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por or-
dem escrita da autoridade competente, nos casos expressos em lei. A pri-
são ou detenção de qualquer pessoa será imediatamente comunicada ao
juiz competente, que a relaxará, se não for legal, e promoverá, sempre que
de direito, a responsabilidade da autoridade coatora.
22) Ninguém ficará preso, se prestar fiança idônea, nos casos
por lei estatuídos.
23) Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer, ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade, por ile-
galidade ou abuso de poder. Nas transgressões disciplinares não cabe o
habeas corpus.
160 • A Constituição de 1934
24) A lei assegurará aos acusados ampla defesa, com os meios e
recursos essenciais a esta.
25) Não haverá foro privilegiado nem tribunais de exceção; ad-
mitem-se, porém, juízos especiais em razão da natureza das causas.
26) Ninguém será processado, nem sentenciado, senão pela au-
toridade competente, em virtude de lei anterior ao fato, e na forma por ela
prescrita.
27) A lei penal só retroagirá quando beneficiar o réu.
28) Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente.
29) Não haverá pena de banimento, morte, confisco ou de caná-
ter perpétuo, ressalvadas, quanto à pena de morte, as disposições da legis-
lação militar, em tempo de guerra com país estrangeiro.
30) Não haverá prisão por dívidas, multas ou custas.
31) Não será concedida a Estado estrangeiro extradição por cri-
me político ou de opinião, nem, em caso algum, de brasileiro.
32) A União e os Estados concederão aos necessitados assis-
tência judiciária, criando para este efeito órgãos especiais, e assegurando a
isenção de emolumentos, custas, taxas e selos.
33) Dar-se-á mandado de segurança para a defesa de direito,
certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente in-
constitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mes-
mo do habeas corpus, devendo ser sempre ouvida a pessoa de direito
público interessada- O mandado não prejudica as ações petitótias
competentes.
34) A todos cabe o direito de prover a própria subsistência e a
da sua família, mediante trabalho honesto. O Poder Público deve ampa-
rar, ca forma da lei, os que estejam em indigência.
35) A lei assegurará o rápido andamento dos processos nas
repartições públicas, a comunicação aos interessados dos despachos
proferidos, assim como das informações a que estes se refirair., a expe-
dição das certidões requeridas para a defesa de direitos individuais, ou
para o esclarecimento dos cidadãos acerca dos negócios públicos, ressal-
vados, quanto às últimas, os casos em que o interesse público imponha se-
gredo, ou reserva.
36) Nenhum imposto gravará diretamente a profissão de escri-
tor, jornalista ou professor.
A Constituição de1934 • 161
37) Nenhum juiz deixará de sentenciar por motivo de omissão
na lei. Em tal caso, deverá decidir por analogia, pelos princípios gerais de
direito ou pot equidade.
38) Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a declara-
ção de nulidade ou anulação dos atos lesivos do património da União, dos
Estados ou dos Municípios.
Art. 114. A especificação dos direitos e garantais expressos nes-
ta Constituição não exclui outros, resultantes do regime e dos princípios
que ela adota.
TÍTULO IV
DA ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL
Art 115. A ordem econômica deve ser organizada conforme os
princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que pos-
sibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liber-
dade econômica.
Parágrafo único. Os poderes públicos verificarão, periodicamen-
te, o padrão de vida nas várias regiões do País.
Art. 116. Por motivo de interesse público e autorizada em lei es-
pecial, a União poderá monopolizar determinada indústria ou atividade
econômica, asseguradas as indenizaçõcs devidas, conforme o art 112, nº
17, c ressalvados os serviços municipalizados ou de competência dos po-
deres locais.
Art. 117. A lei promoverá o fomento da economia popular, o
desenvolvimento do crédito e a nacionalização progressiva dos bancos de
depósito. Igualmente providenciará sobre a nacionalização das empresas
de seguro em todas as suas modalidades, devendo constituir-se em socie-
dade brasileira as estrangeiras que atualmente operam no País.
Parágrafo único. É proibida a usura, que será punida na forma da
lei.
Art. 118. As minas e demais riquezas do subsolo, bem como as
quedas d'água, constituem propriedade distinta da do solo para o efeito de
exploração ou aproveitamento industrial. 
Art. 119. O aproveitamento industrial das minas e das jazidas
minerais, bem como das águas e da energia, hidráulica, ainda que de pro-
162 • A Constituição de 1934
priedade privada, depende de autorização ou concessão federal, na fortna
da lei.
§ 1º As autorizações ou concessões serão conferidas exclusi-
vamente a brasileiros ou a empresas organizadas no Brasil), ressalvada
ao proprietário preferencia na exploração ou co-participação nos lu-
cros.
§ 2º O aproveitamento de energia hidráulica, de potência redu-
zida e para uso exclusivo do proprietário, independe de autorização ou
concessão.
§ 3º Satisfeitas as condições estabelecidas em lei, entre as quais a
de possuírem os necessários serviços técnicos e administrativos, os Esta-
dos passarão a exercer, dentro dos respectivos Territórios, a atribuição
constante deste artigo.
§ 4º A lei regulará a nacionalização progressiva das minas, ja-
zidas minerais e quedas d'água ou outras fontes de energia hidráulica,
julgadas básicas ou essenciais à defesa econômica ou militar do País.
§ 5º A União, nos casos prescritos em lei tendo em vista o inte-
resse da coletividade, auxiliará os Estados no estudo e aparelhamento das
estâncias minero-medicinais ou termo-medicinais.
§ 6º Não dependem de concessão ou autorização o aproveita-
mento das quedas d'água já utilizadas industrialmente na data desta Cons-
tituição, e, sob esta mesma ressalva, a exploração das minas em lavra,
ainda que transitoriamente suspensa.
Art. 120. Os sindicatos e as associações profissionais serão re-
conhecidos de conformidade com a lei.
Parágrafo único. A lei assegurará a pluralidade sindical e a comple-
ta autonomia dos sindicatos.
Art. 121. A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá
as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a prote-
ção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.
§ 1º A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos,
além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:
a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho,
por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;
b) salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições
de cada região, as necessidades normais do trabalhador;
A Constituição de 1934 • 163
c) trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas
só prorrogáveis nos casos previstos ctn lei;
d) proibição de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho no-
turno a menores de 16; e em indústrias insalubres, a menores de 18 anos e
a mulheres;
e) repouso hebdomadário, de preferência aos domingos;
f) férias anuais remuneradas;
g) indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa;
h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante,
assegurado a esta descanso, antes e depois do parto, sem prejuízo do
salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribui-
ção igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice,
da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes do trabalho ou
de morte;
i) regulamentação do exercício de todas as profissões;
j) reconhecimento das convenções coletivas de trabalho.
§ 2º Para o efeito deste artigo, não há distinção entre o trabalho
manual e o trabalho intelectual ou técnico, nem entre os profissionais res-
pectivos.
§ 3º Os serviços de amparo à maternidade e à infância, os refe-
rentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como a fiscalização e a orienta-
ção respectivas, serão incumbidos de preferência a mulheres habilitadas.
§ 4º O trabalho agrícola será objeto de regulamentação especial,
em que se atenderá, quanto possível, ao disposto neste artigo. Procurar-se-á
fixar o homem no campo, cuidar da sua educação rural d assegurar ao tra-
balhador nacional a preferência na colonização e aproveitamento das ter-
ras públicas.
§5º A União promoverá, em cooperação corri os Estados, a or-
ganização de colônias agrícolas, para onde serão encaminhados os habi-
tantes da zonas empobrecidas, que o desejarem, e os sem trabalho.
§ 6º A entrada de imigrantes no território nacional sofrerá as
restrições necessárias à garantia da integração étnica e capacidade física e
civil do imigrante, não podendo, porém, a corrente imigratona de cada
país exceder, anualmente, o limite de dois por cento sobre o número to-
tal dos respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cin-
quenta anos.
164 • A Constituição de 1934
§ 7º É vedada a concentração de imigrantes em qualquer ponto
do território da União, devendo a lei regular a seleção, localização e assi-
milação do alienígena.
§ 8º Nos acidentes do trabalho em obras públicas da União, dos
Estados e dos Municípios, a indenização será feita pela folha de pagamen-
to, dentro de quinze dias depois da sentença, da qual não se admitirá re-
curso ex officio.
Art. 122. Para dirimir questões entre empregadores e emprega-
dos, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho, à
qual não se aplica o disposto no Capítulo IV, do Título I.
Parágrafo único. A constituição dos Tribunais do Trabalho e das
Comissões de Conciliação obedecerá sempre ao princípio da eleição de
seus membros, metade pelas associações representativas dos empregados,
e metade pelas dos empregadores, sendo o presidente de livre nomeação
do Governo, escolhido dentre pessoas de experiência e notória capacida-
de moral e intelectual.
Art. 123. São equiparados aos trabalhadores, para todos os efei-
tos das garantias e dos benefícios da legislação social, os que exercem pro-
fissões liberais.
Art. 124. Provada a valorização do imóvel por motivo de obras
públicas, a administração, que as tiver efetuado, poderá cobrar os benefi-
ciados contribuição de melhoria.
Art. 125. Todo o brasileiro que, não sendo proprietário rural
ou urbano, ocupar por dez anos contínuos, sem oposição nem reco-
nhecimento de domínio alheio, um trecho de terra até dez hectares,
tornando-o produtivo por seu trabalho e tendo nele a sua morada, ad-
quirirá o domínio do solo, mediante sentença declaratória devidamen-
te transcrita.
Art. 126. Serão reduzidos de cinqüenta por cento os impostos
que recaiam sobre imóvel rural, de área não superior a cinquenta hectares
e de valor até dez contos de réis, instituídos em bem de família.
Art. 127. Será regulado por lei ordinária o direito de preferência
que assiste ao locatário para a renovação dos arrendamentos de imóveis
ocupados por estabelecimento comercial ou industrial.
Art. 128. Ficam sujeitas a imposto progressivo as transmissões
de bens por herança ou legado.
A Constituição de 1934 • 165
Art. 129. Será respeitada a posse de terras de silvícolas que nelas
se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado
aliená-las.
Art. 130. Nenhuma concessão de terras de superfície superior a
dez mil hectares poderá ser feita sem que, para cada caso, preceda autori-
zação do Senado Federal.
Art. 131. É vedada a propriedade de empresas jornalísticas polí-
ticas ou noticiosas a sociedades anônimas por ações ao portador e estran-
geiros. Estes e as pessoas jurídicas não podem ser acionistas das
sociedades anônimas proprietárias de tais empresas. A responsabilidade
principal e de orientação inteiectual ou administrativa da imprensa polí-
tica ou noticiosa só por brasileiros natos pode ser exercida; A lei orgâni-
ca de imprensa estabelecerá regras relativas ao trabalho dos redatores,
operários e demais empregados, assegurando-lhes estabilidade, férias e
aposentadoria.
Art. 132. Os proprietários, armadores e comandantes de navios
nacionais, bem como os tripulantes na proporção de dois terços, pelo me-
nos, devem ser brasileiros natos, reservando-se também a estes a pratica-
gem das barras, portos, rios e lagos.
Art. 133. Excetuados quantos exerçam legitimamente profis-
sões liberais na data da Constituição, e os casos de reciprocidade interna-
cional admitidos em lei, somente poderão exercê-las os brasileiros natos
e os naturalizados que tenham prestado serviço militar ao Brasil; não
sendo permitida, exceto aos brasileiros natos, a revalidação de diplomas
profissionais expedidos por institutos estrangeiros de ensino.
Art. 134. A vocação para suceder em bens de estrangeiros exis-
tentes no Brasil será regulada pela lei nacional em benefício do cônjuge
brasileiro e dos seus filhos, sempre que não lhes seja mais favorável o esta-
tuto do de cujus,
Art. 135. A lei determinará a percentagem de empregados brasi-
leiros que devam ser mantidos obrigatoriamente nos serviços públicos da-
dos em concessão, e nos estabelecimentos de determinados ramos de
comércio e indústria.
Art. 136. As empresas concessionárias ou os contratantes, sob
qualquer título, de serviços públicos federais, estaduais ou municipais, de-
verão:
166 • A Constituição de1934
a) constituir as suas administrações com maioria de diretores
brasileiros, residentes no Brasil, ou delegar poderes de gerência exclusiva-
mente a brasileiros;
b) conferir, quando estrangeiras, poderes de representação a
brasileiros em maioria, com faculdade de subestabelecimento exclusiva-
mente a nacionais.
Art. 137. A lei federal regulará a fiscalização e a revisão das tari-
fas dos serviços explorados por concessão, ou delegação, para que, no in-
teresse coletivo, os lucros dos concessionários, ou delegados, não
excedam a justa retribuição do capital, que lhes permita atender normalmente
às necessidades públicas de expansão e melhoramento desses serviços.
Art. 138. Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos
termos das leis respectivas:
a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializa-
dos e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar;
b) estimular a educação eugênica;
c) amparar a maternidade e a infância;
d) socorrer as famílias de prole numerosa;
e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como con-
tra o abandono físico, moral e intelectual;
f) adotar medidas
legislativas e administrativas tendentes a res-
tringir a mortalidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impe-
çam a propagação das doenças transmissíveis;
g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos
sociais.
Art. 139. Toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros
escolares, e onde trabalharem mais de cinquenta pessoas, perfazendo es-
tas e os seus filhos, pelo menos, dez analfabetos, será obrigada a lhes pro-
porcionar ensino primário gratuito.
Art. 140. A União organizará o serviço nacional de combate às
grandes endemias do País, cabendo-lhe o custeio, a direção técnica e ad-
ministrativa nas zonas onde a execução do mesmo exceder as possibilida-
des dos governos locais.
Art. 141. É obrigatório, em todo o território nacional, o amparo
à maternidade e à infância, para o que a União, os Estados c os Municípios
destinarão um por cento das respectivas rendas tributárias.
AConstituição 1934 • 167
Art. 142. A União, os Estados e os Municípios não poderão dar
garantia de juros a empresas concessionárias de serviços públicos.
Art. 143. A lei providenciará para concentrai, sempre que pos-
sível, em um só ministério, o projeto e a execução das obras públicas, ex-
cetuadas as que interessem diretamente à defesa nacional.
TITULO V
DA FAMÍLIA, DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA
CAPÍTULO I
DA FAMÍLIA
Art. 144. A família, constituída pelo casamento indissolúvel,
está sob a proteção especial do Estado.
Parágrafo único. A lei civil determinará os casos de desquite e
de anulação do casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito
suspensivo.
Art. 145. A lei regulará a apresentação pelos nubentes de prova
de sanidade física e mental, tendo em atenção as condições regionais do
País.
Art. 146. O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O
casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa, cujo rito não
contrarie a ordem pública ou os bons costumes, produzirá, todavia, os
mesmos efeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade ci-
vil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no
processo da oposição, sejam observadas as disposições da lei civil e seja
ele inscrito no Registro Civil. O registro será gratuito e obrigatório. A lei
estabelecerá penalidades para a transgressão dos preceitos legais atinentes
à celebração do casamento.
Parágrafo único. Será também gratuita a habilitação para o ca-
samento, inclusive os documentos necessários, quando o requisitarem os juizes
criminais ou de menores nos casos de sua competência, em favor de
pessoas necessitadas.
Art. 147. O reconhecimento dos filhos naturais será isento de
quaisquer selos ou emolumentos, e a herança, que lhes caiba, ficará sujeita
a impostos iguais aos que recaiam sobre a dos filhos legítimos.
168 • A Constituição de 1934
CAPÍTULO II
DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA
Art. 148. Cabe á União, aos Estados e aos Municípios favorecer
e animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura
em geral, proteger os objetos de interesse histórico e o patrimônio artísti-
co do País, bem como prestar assistência ao trabalhador intelectual.
Art. 149. A educação c direito de todos e deve ser ministrada
pela família e pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a
brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite
eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num
espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana.
Art. 130. Compete à União:
a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino
de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscali-
zar a sua execução, em todo o território do País;
b) determinar as condições de reconhecimento oficial dos esta-
belecimentos de ensino secundário e complementar deste e dos institutos
de ensino superior, exercendo sobre eles a necessária fiscalização;
c) organizar e manter, nos Territórios, sistemas educativos
apropriados aos mesmos;
d) manter no Distrito Federal ensino secundário e complemen-
tar deste, superior e universitário;
e) exercer ação supletiva, onde se faça necessária por deficiência
de iniciativa ou de recursos, e estimular a obra educativa em todo o País,
por meio de estudos, inquéritos, demonstrações c subvenções.
Parágrafo único. O Plano Nacional de Educação constante de lei
federal, nos termos dos arts. 5º, nº XIV, e 39, nº 8, letras a e e, só se poderá
renovar em prazos determinados, e obedecerá às seguintes normas:
a) ensino primário integral gratuito e de frequência obrigatória,
extensivo aos adultos;
b) tendência a gratuidade do ensino educativo ulterior ao primá-
rio a fim de o tornar mais acessível;
c) liberdade de ensino em todos os graus e ramos, observadas as
prescrições da legislação federal e da estadual;
d) ensino, nos estabelecimentos particulares, ministrado no
idioma pátrio, salvo o de línguas estrangeiras;
A Constituição de 1934 • 169
e) limitação da matrícula à capacidade didática do estabeleci-
mento e seleção por meio de provas de inteligência e aproveitamento, ou
por processos objetivos apropriados à finalidade do curso;
f) reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino
somente quando assegurem aos seus professores a estabilidade, enquanto
bem servirem, e uma remuneração condigna.
Art. 151. Compete aos Estados e ao Distrito Federal organizar
e manter sistemas educativos nos Territórios respectivos, respeitadas as
diretrizes estabelecidas pela União.
Art. 152. Compete precipuamente ao Conselho: Nacional de
Educação, organizado na forma da lei, elaborar o Plano Nacional de Edu-
cação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as
medidas que julgar necessárias para a melhor solução dos problemas edu-
cativos, bem como a distribuição adequada dos fundos especiais.
Parágrafo único. Os Estados e o Distrito Federal na forma das leis
respectivas, e para o exercício da sua competência na matéria, estabelecerão
Conselhos de Educação com funções similares às do Conselho Nacional de
Educação c departamentos autônomos de administração do ensino.
Art. 153. O ensino religioso será de freqüência facultativa e mi-
nistrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, ma-
nifestada pelos pais ou responsáveis, e constituirá matéria dos horários
nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais.
Art. 154. Os estabelecimentos particulares de educação gratuita
primária ou profissional, oficialmente considerados idôneos, serão isentos
de qualquer tributo.
Art. 155. É garantida a liberdade de cátedra.
Art. 156. A União e os Municípios aplicarão nunca menos de
dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por
cento, da renda resultante dos impostos, na manutenção e no desenvolvi-
mento dos sistemas educativos.
Parágrafo único. Para a realização do ensino nas zonas rurais, a
União reservará, no mínimo, vinte por cento das quotas destinadas à edu-
cação no respectivo orçamento anual.
Art. 157. A União, os Estados e o Distrito Federal reservarão
uma parte dos seus patrimônios territoriais para a formação dos respecti-
vos fundos de educação.
170 • A Constituição de 1934
§ lº As sobras das dotações orçamentárias, acrescidas das doa-
ções, percentagens sobre o produto de vendas de terras públicas, taxas es-
peciais e outros recursos financeiros, constituirão, na União, nos Estados
e nos Municípios, esses fundos especiais, que serão aplicados exclusiva-
mente em obras educativas determinadas em lei.
§ 2º Parte dos mesmos fundos se aplicará em auxílios a alunos
necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas
de estudo, assistência alimentar, dentária e médica, e para vilegiaturas.
Art. 158. É vedada a dispensa do concurso de títulos e provas
no provimento dos cargos
do magistério oficial, bem como, em qualquer
curso, a de provas escolares de habilitação, determinadas em lei ou regula-
mento.
§ 1º Podem, todavia, ser contratados, por tempo certo, profes-
sores de nomeada, nacionais ou estrangeiros.
§ 2º Aos professores nomeados por concurso para os institutos
oficiais cabem as garantias de vitaliciedade e de inamovibilidade nos car-
gos, sem prejuízo do disposto no Título VII. Em caso de extinção da ca-
deira, será o professor aproveitado na regência de outra em que se mostre
habilitado.
TÍTULO VI
DA SEGURANÇA NACIONAL
Art. 159. Todas as questões relativas à segurança nacional se-
rão estudadas e coordenadas pelo Conselho Superior de Segurança Na-
cional e pelos órgãos especiais criados para atender às necessidades da
mobilização.
§ lº O Conselho Superior de Segurança Nacional será presidido
pelo Presidente da República e dele farão parte os Ministros de Estado, o
Chefe do Estado-Maior do Exército e o Chefe do Estado-Maior da
Armada.
§ 2º A organização, o funcionamento e a competência do Con-
selho Superior serão regulados em lei.
Art. 160. Incumbirá ao Presidente da República a direção políti-
ca da guerra, sendo as operações militares da competência e responsabili-
dade do Comandante-em-Chefe do Exército ou dos Exércitos em
campanha e do das Forças Navais.
A Constituição de 1934 • 171
Art. 161. O estado de guerra implicará a suspensão das garantias
constitucionais que possam prejudicar direta ou indiretamente a segurança
nacional.
Art. 162. As Forças Armadas são instituições nacionais perma-
nentes, e, dentro da lei, essencialmente obedientes aos seus superiores hie-
rárquicos. Destinam-se a defender a Pátria e a garantir, os poderes
constitucionais, a ordem e a lei.
Art. 163. Todos os brasileiros são obrigados, na forma que a lei
estabelecer, ao serviço militar e a outros encargos necessários à defesa da
Pátria, e, em caso de mobilização, serão aproveitados conforme as suas
aptidões, quer nas Forças Armadas, quer nas organizações do interior. As
mulheres ficam excetuadas do serviço militar.
§ 1º Todo brasileiro é obrigado ao juramento à bandeira nacio-
nal, na forma e sob as penas da lei.
§ 2º- Nenhum brasileiro poderá exercer função pública, uma vez
provado que não está quite com as obrigações estatuídas em lei para com a
segurança nacional.
§ 3º- O serviço militar dos eclesiásticos será prestado sob a for-
ma de assistência espiritual e hospitalar às Forças Armadas,
Art. 164. Será transferido para a reserva todo militar que, em
serviço ativo das Forças Armadas, aceitar qualquer cargo público perma-
nente, estranho à sua carreira, salvo a exceção constante do art. 172, § 1º—.
Parágrafo único. Ressalvada tal hipótese, o oficial em serviço
ativo das Forças Armadas, que aceitar cargo público temporário, de no-
meação ou eleição, não privativo da qualidade de militar, será agregado ao
respectivo quadro. Enquanto perceber vencimentos ou subsídio pelo de-
sempenho das funções do outro cargo, o oficial agregado não terá direito
aos vencimentos militares; contará, porém, nos termos do art. 33, § 3º,
tempo de serviço e antiguidade de posto, e só por antiguidade poderá ser
promovido enquanto permanecer em tal situação, sendo transferido para
a reserva aquele que, por mais de oito anos contínuos ou doze
não-contínuos, se conservar afastado da atividade militar.
Art. 165. As patentes e os postos são garantidos em toda a plenitu-
de aos oficiais da ativa, da reserva e aos reformados do Exército e da Armada.
§ lº O oficial das Forças Armadas só perderá o seu posto e pa-
tente por condenação, passada em julgado, a pena restritiva de liberdade
172 • A Constituição de 1934
por tempo superior a dois anos, ou quando, por tribunal militar compe-
tente e de caráter permanente, for, nos casos especificados por lei, declara-
do indigno do oficialato ou com ele incompatível. No primeiro caso,
poderá o tribunal, atendendo à natureza e às circunstâncias do delito e a fé
de ofício do acusado, decidir que seja ele reformado com as vantagens do
seu posto.
§ 2º O acesso na hierarquia militar obedecerá a condições estabe-
lecidas em lei, fixando-se o valor mínimo a realizar para o exercício das fun-
ções relativas a cada grau ou posto e as preferências de caráter profissional
para promoção.
§ 3º Os títulos, postos e uniformes militares são privativos do
militar em atividade da reserva ou reformado, ressalvadas as concessões
honoríficas efetuadas em ato anterior às exceções da lei militar.
§ 4º Aplica-se aos militares reformados o preceito do art. 170,
nº 7.
Art. 166. Dentro de uma faixa de cem quilômetros ao longo das
fronteiras, nenhuma concessão de terras ou de vias de comunicação e
abertura destas se efetuarão sem audiência do Conselho Superior da Segu-
rança Nacional, estabelecendo este o predomínio de capitães e trabalha-
dores nacionais e determinando as ligações interiores necessárias à defesa
das zonas servidas pelas estradas de penetração.
§ 1º Proceder-se-á do mesmo modo em relação ao estabeleci-
mento, nessa faixa, de indústrias, inclusive de transportes, que interessem
à segurança nacional.
§ 2º O Conselho Superior da Segurança Nacional organizará a
relação das indústrias acima referidas, que revistam esse caráter, podendo,
em todo o tempo, rever e modificar a mesma relação, que deverá ser por
ele comunicada aos governos locais interessados.
§ 3º O Poder Executivo, tendo em vista as necessidades de
ordem sanitária, aduaneira e da defesa nacional, regulamentará a utili-
zação das terras públicas, em região de fronteira, pela União e pelos
Estados, ficando subordinada à aprovação do Poder Legislativo a sua
alienação.
Art. 167. As polícias militares são consideradas reservas do
Exército e gozarão das mesmas vantagens a este atribuídas, quando mobi-
lizadas ou a serviço da União.
A Constituição de1934 • 173
TÍTULO VII
DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
Art. 168. Os cargos públicos são acessíveis a todos os brasilei-
ros, sem distinção de sexo ou estado civil, observadas as condições que a
lei estatuir.
Art. 169. Os funcionários públicos, depois de dois anos, quan-
do nomeados em virtude de concurso de provas, e, em geral, depois de
dez anos de efetivo exercício, só poderão ser destituídos em virtude de
sentença judiciária ou mediante processo administrativo, regulado por lei,
e no qual lhes será assegurada plena defesa.
Parágrafo único. Os funcionários que contarem menos de dez
anos de serviço efetivo não poderão ser destituídos dos seus cargos, senão
por justa causa ou motivo de interesse público.
Art. 170. O Poder Legislativo votará o Estatuto dos Funcioná-
rios Públicos, obedecendo às seguintes normas, desde já em vigor:
1) o quadro dos funcionários públicos compreenderá todos os
que exerçam cargos públicos, seja qual for a forma do pagamento;
2) a primeira investidura nos postos de carreira das repartições
administrativas, e nos demais que a lei determinar, efetuar-se-á depois de
exame de sanidade e concurso de provas ou títulos;
3) salvo os casos previstos na Constituição, serão aposentados
compulsoriamente os funcionários que atingirem 68 anos de idade;
4) a invalidez para o exercício do cargo ou posto determinará a
aposentadoria ou reforma, que, nesse caso, se contar o funcionário mais
de trinta anos de serviço público efetivo, nos termos da lei, será concedida
com os vencimentos integrais;
5) o prazo para a concessão da aposentadoria com vencimentos
integrais, por invalidez, poderá ser excepcionalmente reduzido nos casos
que a lei determinar;
6) o funcionário que se invalidar em consequência de acidente
ocorrido no serviço, será aposentado com vencimentos integrais, qual-
quer que seja o seu tempo de serviço; serão também aposentados os ataca-
dos de doença contagiosa ou incurável, que os inabilite pára o exercício do
cargo;
7) os proventos da aposentadoria
ou jubilação não poderão ex-
ceder os vencimentos da atividade;
174 • A Constituição de 1934
8) todo funcionário público terá o direito a recurso contra a de-
cisão disciplinar, e, nos casos determinados, a revisão de processo em que
lhe imponha penalidade, salvo as exceções da lei militar;
9) o funcionário que se valer da sua autoridade em favor de par-
tido político, ou exercer pressão partidária sobre seus subordinados, será
punido com a perda do cargo, quando provado o abuso em processo judi-
ciário;
10) os funcionários terão direito a férias anuais, sem desconto, e
a funcionária gestante, a três meses de licença com vencimentos integrais.
Art. 171. Os funcionários públicos são responsáveis solidaria-
mente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por quaisquer
prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso no exercício dos
seus cargos.
§ 1º Na ação proposta contra a Fazenda Pública, e fundada em
lesão praticada por funcionário, este será sempre citado como litisconsor-
te.
§ 2º Executada a sentença contra a Fazenda, esta promoverá
execução contra o funcionário culpado.
Art. 172. É vedada a acumulação de cargos públicos remunera-
dos da União, dos Estados e dos Municípios.
§ 1º Excetuam-se os cargos do magistério e técnico-científicos,
que poderão ser exercidos cumulativamente, ainda que por funcionário
administrativo, desde que haja compatibilidade dos horários de serviço.
§ 2º As pensões de montepio e as vantagens da inatividade só
poderão ser acumuladas se, reunidas, não excederem o máximo fixado,
por lei, ou se resultarem de cargos legalmente acumuláveis.
§ 3º É facultado o exercício cumulativo e remunerado de co-
missão temporária ou de confiança, decorrente do próprio cargo.
§ 4º A aceitação de cargo remunerado importa a suspensão de pro-
ventos da inativídade. A suspensão será completa, em se tratando de cargo
eletivo remunerado com subsídio anual; se, porém, o subsídio for mensal,
cessarão aqueles proventos apenas durante os meses em que for vencido.
Art. 173. Invalidado por sentença o afastamento de qualquer
funcionário, será este reintegrado em suas funções, e o que houver sido
nomeado em seu lugar ficará destituído de plano, ou será reconduzido ao
cargo anterior, sempre sem direito a qualquer indenização.
TÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 174. A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais de-
vem ser usados em todo o território do País nos termos que a lei determi-
nar.
Art. 175. O Poder Legislativo, na iminência de agressão estran-
geira, ou na emergência de insurreição armada, poderá autorizar o Presi-
dente da República a declarar em estado de sítio qualquer parte do
território nacional, observando-se o seguinte:
1) o estado de sítio não será decretado por mais de noventa
dias, podendo ser prorrogado, no máximo, por igual prazo de cada vez;
2) na vigência do estado de sítio, só se admitem estas medidas
de exceção:
a) desterro para outros pontos do território nacional, ou deter-
minação de permanência em certa localidade;
b) detenção em edifício ou local não destinado a réus de crimes
comuns;
c) censura da correspondência de qualquer natureza, e das pu-
blicações em geral;
d) suspensão da liberdade de reunião e de tribuna;
e) busca e apreensão em domicílio.
§ 1ºA nenhuma pessoa se imporá permanência em lugar deser-
to ou insalubre do território nacional, nem desterro para tal lugar, ou para
qualquer outro, distante mais de mil quilômetros daquele em que se acha-
va ao ser atingida pela determinação.
§ 2º Ninguém será, em virtude do estado de sítio, conservado
em custódia, senão por necessidade da defesa nacional, em caso de agres-
são estrangeira, ou por autoria ou cumplicidade de insurreição, ou funda-
dos motivos, e vir a participar nela.
§ 3º Em todos os casos, as pessoas atingidas pelas medidas res-
tritivas da liberdade de locomoção devem ser, dentro de cinco dias, apre-
sentadas, pelas autoridades que decretaram as medidas, com a declaração
sumária dos seus motivos, ao juiz comissionado para esse fim, que as ou-
virá, tomando-lhes, por escrito, as declarações. 
§ 4º As medidas restritivas da liberdade de locomoção não atin-
gem os membros da Câmara dos Deputados, do SenadoFederal, da Corte
176 • A Constituição de 1934
Suprema, do Supremo Tribunal Militar, do Tribunal Superior de Justiça
Eleitoral, do Tribunal de Contas, e, nos Territórios das respectivas cir-
cunscrições, os Governadores e Secretários de Estado, os membros das
Assembleias Legislativas e os dos tribunais superiores.
§ 5º Não será obstada a circulação de livros, jornais ou de quais-
quer publicações, desde que os seus autores, diretores ou editores os sub-
metam a censura.
§ 6º Não será censurada a publicação dos atos de qualquer dos
poderes federais, salvo os que respeitem a medidas de caráter militar.
§ 7° Se não estiverem reunidos a Câmara dos Deputados e o Se-
nado Federal, poderá o estado de sítio ser decretado pelo Presidente da
República, com aquiescência prévia da Seção Permanente do Senado Fe-
deral. Nesse caso se reunirão aqueles trinta dias depois, independente-
mente de convocação.
§ 8º Aberta a sessão legislativa, o Presidente da República rela-
tará, em mensagem especial, os motivos determinantes do estado de sítio,
e justificará as medidas que tenha adotado, apresentando as declarações
exigidas pelo § 3º, e mais documentos necessários. O Poder Legislativo
passará, em seguida, a deliberar sobre o decreto expedido, revogando-o,
ou não, podendo também apreciar, desde logo, as providencias trazidas ao
seu conhecimento, e autorizar a prorrogação do estado de sítio nos ter-
mos do nº 1 deste artigo.
§ 9º Proceder-se-á na conformidade dos parágrafos preceden-
tes, quando se haja de prorrogar o estado de sítio.
§ 10. Decretado este, o Presidente da República designará, por
ato publicado oficialmente, um ou mais magistrados para os fins do § 3º,
assim como as autoridades que tenham de exercer as medidas de exceção,
e estabelecerá as normas necessárias para a regularidade destas.
§ 11. Expirado o estado de sítio, cessam, desde logo, todos os
seus efeitos.
§ 12. As medidas aplicadas na vigência do estado de sítio, logo
que ele termine, serão relatadas pelo Presidente da República, em mensa-
gem à Câmara dos Deputados, com as declarações prestadas pelas pessoas
detidas e mais documentos necessários pata que ela as aprecie.
§ 13. O Presidente da República e demais autoridades serão res-
ponsabilizados, civil e criminalmente, peios abusos que cometerem.
A Contituição de 1934 • 177
§ 14. A inobservância de qualquer das prescrições deste artigo
tornará ilegal a coação, e permitirá aos pacientes recorrerem ao Poder Ju-
diciário.
§ 15. Uma lei especial regulará o estado de sítio em caso de
guerra, ou de emergência de guerra.
Art. 176. É mantida a representação diplomática junto à Santa
Sé.
Art. 177. A defesa contra os efeitos das secas nos Estados do
Norte obedecerá a um plano sistemático e será permanente, ficando a car-
go da União, que despenderá, com as obras e os serviços de assistência,
quantia nunca inferior a quatro por cento da sua receita tributária sem
aplicação especial.
§ 1º Dessa percentagem, três quartas partes serão gastas em
obras normais do plano estabelecido, e o restante será depositado em cai-
xa especial, a fim de serem socorridas, nos termos do art. 7º, nº II, as po-
pulações atingidas pela calamidade.
§ 2º O Poder Executivo mandará ao Poder Legislativo, no pri-
meiro semestre de cada ano, a relação pormenorizada dos trabalhos termi-
nados e em andamento, das quantias despendidas com material e pessoal
no exercício anterior, e das necessárias para a continuação das obras.
§ 3° Os Estados e Municípios compreendidos na área assolada
pelas secas empregarão quatro por cento da sua receita tributária, sem
aplicação especial,
na assistência econômica à população respectiva.
§ 4º Decorridos dez anos, será por lei ordinária revista a percen-
tagem acima estipulada.
Art. 178. A Constituição poderá ser emendada, quando as altera-
ções propostas não modificarem a estrutura política do Estado (arts, lº a 14,
17 a 21); a organização ou a competência dos poderes da soberania (Capítulos
II, III e IV, do Título I; o Capítulo V, do Título I; o Título II; o Título III; e os
arts. 175, 177 e 181, e este mesmo art. 178); e revista, no caso contrário.
§ 1º Na primeira hipótese, a proposta deverá ser formulada de
modo preciso, com indicação dos dispositivos a emendar, e será de inicia-
tiva: a) de uma quarta parte, pelo menos, dos membros da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal; b) de mais da metade dos Estados, no
decurso de dois anos, manifestando-se cada uma das unidades federativas
pela maioria da Assembléia respectiva.
178 • A Constituição de 1934
Dar-se-á por aprovada a emenda que for aceita, em duas discussões,
pela maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em
dois anos consecutivos.
Se a emenda obtiver o voto de dois terços dos membros com-
ponentes de um desses órgãos, deverá ser imediatamente submetida ao
voto do outro, se estiver reunido, ou, em caso contrário, na primeira ses-
são legislativa, entendendo-se aprovada, se lograr a mesma maioria.
§ 2º Na segunda hipótese, a proposta de revisão será apresenta-
da na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, e apoiada, pelo me-
nos, por dois quintos dos seus membros ou submetida a qualquer desses
órgãos por dois terços das Assembleias Legislativas, em virtude de delibe-
ração da maioria absoluta de cada uma destas. Se ambos, por maioria de
votos, aceitarem a revisão, proceder-se-á, pela forma que determinarem, à
elaboração do anteprojeto. Este será submetido, na legislatura seguinte, a
três discussões e votações em duas sessões legislativas, numa e noutra
Casa.
§ 3º A revisão ou emenda será promulgada pelas Mesas da Câ-
mara dos Deputados e do Senado Federal. A primeira será incorporada e a
segunda anexada, com o respectivo número de ordem, ao texto constitu-
cional, que, nesta conformidade, deverá ser publicado com as assinaturas
dos membros das duas Mesas.
§ 4º Não se procederá à reforma da Constituição na vigência do
estado de sítio.
§ 5º Não serão admitidos, como objeto de deliberação, projetos
tendentes a abolir a forma republicana federativa,
Art. 179. Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos
seus juizes, poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou
de ato do Poder Público.
Art. 180. Nenhum Estado terá na Câmara dos Deputados re-
presentação inferior à que houver tido na Assembléia Nacional Consti-
tuinte.
Art. 181. As eleições para a composição da Câmara dos Depu-
tados, das Assembléias Legislativas Estaduais e das Câmaras Municipais
obedecerão ao sistema da representação proporcional e voto secreto, ab-
solutamente indevassável, mantendo-se, nos termos da lá, a instituição de
suplentes.
A Constituição de 1934 • 179
Art. 182. Os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, em vir-
tude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de apresentação dos preca-
tórios e à conta dos créditos respectivos, sendo vedada a designação de
caso ou pessoas nas verbas legais.
Parágrafo único. Esses créditos serão consignados pelo Poder
Executivo ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias ao cofre
dos depósitos públicos. Cabe ao Presidente da Corte Suprema expedir as
ordens de pagamento, dentro das forças do depósito, e, a requerimento do
credor aue alegar preterição da sua precedência, autorizar o sequestro da
quantia necessária para o satisfazer, depois de ouvido o Procurador-Geral
da República.
Art. 183. Nenhum encargo se criará ao Tesouro sem atribuição
de recursos suficientes para lhe custear a despesa.
Art. 184. O produto das multas não poderá ser atribuído, no
todo ou em parte, aos funcionários que a impuserem ou confirmarem.
Parágrafo único. As multas de mora por falta de pagamento de
impostos ou taxas lançados não poderão exceder de dez por cento sobre a
importância em débito.
Art. 185. Nenhum imposto poderá ser elevado além de vinte
por cento do seu valor ao tempo do aumento.
Art. 186. O produto de impostos, taxas ou quaisquer tributos
criados para fins determinados não poderá ter aplicação diferente. Os sal-
dos que apresentarem anualmente serão, no ano seguinte, incorporados à
respectiva receita, ficando extinta a tributação, apenas alcançado o fim
pretendido.
§ 1º A abertura de crédito especial, ou suplementar, depende de
expressa autorização da Câmara dos Deputados; a de créditos extraordi-
nários poderá ocorrer, de acordo com a lei ordinária, para despesas urgen-
tes e imprevistas em caso de calamidade pública, rebelião ou guerra.
§ 2º Salvo disposição expressa em contrário, nenhum crédito
não decorrente de autorização orçamentária se abrirá, a não ser no segun-
do semestre do exercício.
§ 3° É proibido o extorno de verbas.
Art. 187. Continuam em vigor, enquanto não revogadas, as leis
que, explícita ou implicitamente, não contrariarem as disposições desta
Constituição.
180 • A Constituição de 1934
Art. 1º Promulgada esta Constituição, a Assembléia Nacional
Constituinte elegerá, no dia imediato, o Presidente da República para o
primeiro quadriênio constitucional.
§ lº Essa eleição far-se-á por escrutínio secreto e será, em pri-
meira votação, por maioria absoluta de votos, e, se nenhum dos votados a
obtiver, por maioria relativa, no segundo turno.
§ 2º Para essa eleição não haverá incompatibilidades.
§ 3º O Presidente eleito prestará compromisso perante a
Assembleia, dentro de quinze dias da eleição, e exercera o mandato até 3
de maio de 1938.
§ 4º Findará na mesma data a primeira legislatura.
Art. 2º Empossado o Presidente da República, a Assembléia
Nacional Constituinte se transformará em Câmara dos Deputados e exer-
cerá cumulativamente as funções do Senado Federal, até que ambos se or-
ganizem nos termos do art. 3º, § 1º. Nesse intervalo elaborará as eis
mencionadas na mensagem do Chefe do Governo Provisório, de 10 de
abril de 1934, e outras porventura reclamadas pelo interesse público.
Art. 3º Noventa dias depois de promulgada esta Constituição,
realizar-se-ão as eleições dos membros da Câmara dos Deputados e das
Assembléias Constituintes dos Estados. Uma vez inauguradas, estas últi-
mas passarão a eleger os Governadores e os representantes dos Estados,
no Senado Federal, a empossar aqueles e a elaborar, no prazo máximo de
quatro meses, as respectivas Constituições, transformando-se, a seguir,
em Assembléias ordinárias, providenciando, desde logo, para que seja
atendida a representação das profissões.
§ lº O número de representantes do povo na Câmara dos Depu-
tados, na primeira legislatura, será de um por 150 mil habitantes, até o máxi-
mo de vinte, e, deste limite para cima, de um por 250 mil habitantes,
observado o disposto no artigo 180; o de membros das Assembléias Consti-
tuintes dos Estados, igual ao dos antigos Deputados Estaduais, eleitos por
sufrágio universal, igual e direto, pelo sistema proporcional; o dos Vereado-
res da primeira Câmara Municipal do atual Distrito Federal, o mesmo dos
antigos Intendentes.
A Constituição de 1934 • 181
§ 2º A eleição da representação ptofissional na Câmara dos
Deputados se realizará em janeiro de 1935.
§ 3º No mesmo prazo deste artigo serão realizadas as eleições
para a Câmara Municipal do Distrito Federal, que elegerá o Prefeito e os
representantes do Senado Federal.
§ 4º O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral convocará os elei-
tores para as eleições de que trata este artigo, efetuando-se simultanea-
mente a da Câmara dos Deputados e a das Assembléias Constituintes dos
Estados, e realizando-se todas pela forma prescrita na legislação
em vigor,
com os suplementos que o mesmo tribunal julgar necessários, observados
os preceitos desta Constituição.
§ 5º Diplomados os Deputados às Assembléias Constituintes
Estaduais, reunir-se-ão, dentro de trinta dias, sob a presidência do Presi-
dente do Tribunal Regional Eleitoral, por convocação deste, que promo-
verá a eleição da Mesa.
§ 6º O Estado que, findo o prazo deste artigo, não houver de-
cretado a sua Constituição, será submetido, por deliberação do Senado
Federal, à de um dos outros que parecer roais conveniente, até que a refor-
me pelo processo nela determinado.
§ 7º Para as primeiras eleições dos órgãos de qualquer poder,
não prevalecerão inelegibilidades, nem se exigirão requisitos especiais, ex-
ceto as qualidades de brasileiro nato e gozo dos direitos políticos.
§ 8º A qualidade de Interventor no Distrito Federal não torna
inelegível, para a primeira eleição de Prefeito, o titular do cargo, nos ter-
mos do art. 112, nº1 , letra a, e nº 2.
Art. 4º Será transferida a Capital da União para um ponto cen-
tral do Brasil. O Presidente da República, logo que esta Constituição en-
trar em vigor, nomeará uma comissão que, sob instruções do Governo,
procederá a estudos de várias localidades adequadas à instalação da Capi-
tal. Concluídos tais estudos, serão presentes à Câmara dos Deputados,
que escolherá o local e tomará, sem perda de tempo, as providências ne-
cessárias à mudança. Efetuada esta, o atual Distrito Federal passará a
constituir um Estado.
Parágrafo único. O atual Distrito Federal será administrado por um
Prefeito, cabendo as funções legislativas a uma Câmara Municipal, ambos
eleitos por sufrágio direto, sem prejuízo da representação profissional na
182 • A Constituição de 1934
forma que for estabelecida pelo Poder Legislativo Federal na Lei Orgânica.
Estendem-se-lhe, no que lhe forem aplicáveis, as disposições do art. 12. A
primeira eleição pata Prefeito será feita pela Câmara Municipal em escrutí-
nio secreto.
Art. 5º A União indenizará os Estados do Amazonas e Mato
Grosso dos prejuízos que lhes tenham advindo da incorporação do Acre
ao território nacional. O valor fixado por árbitros, que terão em conta os
benefícios oriundos do convênio e as indenizações pagas à Bolívia, será
aplicado, sob a orientação do Governo Federal, em proveito daqueles
Estados.
Art. 6º A discriminação de rendas estabelecida nos artigos 6º,8º
e 13, § 2º, só entrará em vigor a lº de janeiro de 1936.
§ 1º O excesso do imposto de exportação, cobrado atualmente
pelos Estados, será reduzido automaticamente, a partir de 1º de janeiro de
1936, e à razão de dez por cento ao ano, até atingir aquele limite.
§ 2º À mesma redução ficam sujeitos os impostos que os Esta-
dos e os Municípios cobrem cumulativamente, constantes dos seus orça-
mentos para 1933, e que lhes não sejam atribuídos por esta Constituição.
§ 3º As taxas sobre exportação, instituídas para a defesa de pro-
dutos agrícolas, continuarão a ser arrecadadas, até que se liquidem os en-
cargos a que elas sirvam de garantia, respeitados os compromissos
decorrentes de convénios entre os Estados interessados, sem que a im-
portância da arrecadação possa, no todo ou em parte, ter outra aplicação; e
serão reduzidas, logo que se solvam os débitos em moeda nacional, a tanto
quanto baste para o serviço de juros e amortização dos empréstimos con-
traídos cm moeda estrangeira.
Art. 7º O mandato do representante menos votado do Distrito
Federal e de cada Estado no Senado Federal terminará com a primeira le-
gislatura. Em caso de votação igual, o órgão eleitor escolherá, por sorteio,
aquele cujo mandato terminará com a primeira legislatura.
Art. 8º O Senado Federal, com a colaboração dos ministérios,
especialmente o da Fazenda, elaborará um anteprojeto de emenda consti-
tucional dos dispositivos concernentes à divisão das rendas, o qual será
publicado para a respeito representarem, dentro cm seis meses, os pode-
res estaduais, as associações profissionais e os contribuintes em geral.
A Constituição de 1934 • 183
Parágrafo único. O anteprojeto, definitivamente elaborado no
prazo de dois anos, servirá de base para a emenda dos referidos dispositi-
vos; e, mesmo na sua falta, poderá a emenda ser feita, observando-se, num
e noutro caso, excepcionalmente, o processo do ait. 178, § lº.
Art. 9º O Supremo Tribunal Federal, com os seus atuais Minis-
tros, passará a constituir a Corte Suprema.
Parágrafo único. Os recursos pendentes, cuja decisão não mais
couber à Corte Suprema em virtude da criação dos novos tribunais previs-
tos na Constituição, baixarão aos tribunais competentes, a menos que se
acham em grau de embargos.
Art. 10. Logo que funcione o tribunal de que trata o art. 79, ces-
sará a competência dos outros juizes e tribunais federais para julgar os re-
cursos de que trata o § 1º do mesmo artigo.
Art. 11. O Governo, uma vez promulgada esta Constituição, no-
meará uma comissão de três juristas, sendo dois Ministros da Corte Supre-
ma e um advogado, para, ouvidas as Congregações das Faculdades de
Direito, as Cortes de Apelação dos Estados e os Institutos de Advogados,
organizar, dentro em três meses, um projeto de Código do Processo Cvil e
Comercial, e outra para elaborar um projeto de Código do Processo Penal.
§ lº O Poder Legislativo deverá, uma vez apresentados esses
projetos, discuti-los e votá-los imediatamente.
§ 2º Enquanto não forem decretados esses códigos, continua-
rão em vigor, nos respectivos Territórios, os dos Estados.
Art. 12. Os particulares ou empresas que ao tempo da promul-
gação desta Constituição explorarem a industria, de energia hidroelétrica
ou de mineração, ficarão sujeitos às normas de regulamentação que forem
consagradas na lei federal, procedendo-se, para este efeito, à revisão dos
contratos existentes.
Art. 13. Dentro de cinco anos, contados da vigência desta
Constituição, deverão os Estados resolver as suas questões de limites, me-
diante acordo direto ou arbitramento.
§ 1º Findo o prazo e não resolvidas as questões, o Presidente da
República convidará os Estados interessados a indicarem árbitros, e, se es-
tes não chegarem a acordo na escolha do desempatador, cada Estado indi-
cará Ministros da Corte Suprema em número cortespondente à maioria
absoluta dessa Corte, fazendo-se sorteio dentre os indicados.
184 • A Constituição de 1934
§ 2º Recusado o arbitramento, o Presidente da República no-
meará uma comissão especial para o estudo e a decisão de cada uma das
questões, fixando normas de processo, que assegurem aos interessados a
produção de provas e alegações.
§ 3º As Comissões decidirão afinal, sem mais recurso, sobre os
limites controvertidos, fazendo-se a demarcação pelo Serviço Geográfico
do Exército.
Art. 14. Na organização da Secretaria do Senado Federal serão
obrigatoriamente aproveitados os funcionários da sua antiga Secretaria.
Art. 15. Fica o Governo autorizado a abrir o crédito de
300.000$000, para a ereção de um monumento ao Marechal Deodoto da
Fonseca, proclamador da República.
Art. 16. Será imediatamente elaborado um plano de reconstru-
ção econômica nacional.
Art. 17. Salvo cancelamento nos casos da lei, o alistamento para
a eleição da Assembléia Nacional Constituinte prevalecerá para as eleições
 subseqüentes.
Art. 18. Ficam aprovados os atos do Governo Provisória, dos
interventores federais nos Estados e mais delegados do mesmo Governo, e
excluída qualquer apreciação judiciária dos mesmos atos e dos seus efeitos.
Parágrafo único. O Presidente da República organizará, oportu-
namente, uma ou várias comissões presididas por magistrados federais vi-
talícios que, apreciando, de plano, as reclamações dos interessados,
emitirão parecer sobre a conveniência do aproveitamento destes nos car-
gos ou funções públicas que exerciam e de que tenham sido afastados peio
Governo Provisório, ou
seus Delegados, ou em outros correspondentes,
logo que possível, excluído sempre o pagamento de vencimentos atrasa-
dos ou de quaisquer indenizações.
Art. 19. É concedida anistia ampla a todos quantos tenham
cometido crimes políticos até a presente data.
Art. 20. Os professores dos institutos oficiais de ensino superior,
destituídos dos seus cargos desde outubro de 1930, terão garantidas a
inamovibilidade, a vitaliciedade e a irredutibilidade dos vencimentos.
Art. 21. O preceito do art. 132 não se aplica aos brasileiros
naturalizados que, na data desta Constituição, estiverem exercendo as
profissões a que ele se refere.
A Constituiçãode 1934 • 185
Art. 22. As disposições do art. 136 aplicam-se aos atuais contra-
tantes e concessionários, ficando impedidas de funcionar no Brasil as em-
presas ou companhias nacionais ou estrangeiras que, dentro de noventa
dias após a promulgação da Constituição, não cumprirem ás obrigações
nela prescritas.
Art. 23. São mantidas as gratificações adicionais, por tempo de
serviço, de que estavam em gozo os funcionários públicos, desde as datas
dos decretos do Governo Provisório nºs 19.565, de 6 de janeiro de 1931
(art. 2º), e 19.582, de 12 do mesmo mês e ano (art. 6°).
Art. 24. O subsídio do primeiro Presidente da Republica será fi-
xado pela Assembléia Nacional Constituinte, em projeto de resolução.
Art. 25. O Governo Federal fará publicar em avulso esta Cons-
tituição para larga distribuição gratuita em todo o País, especialmente aos
alunos das escolas de ensino superior e secundário, e promoverá cursos e
conferências para lhe divulgar o conhecimento.
Art. 26. Esta Constituição, escrita na mesma ortografia da de
1891 e que fica adotada no País, será promulgada pela Mesa da Assem-
bléia, depois de assinada pelos Deputados presentes, e entrará em vigor na
data de sua publicação.
Mandamos, portanto, a todas as autoridades a quem o conheci-
mento desta Constituição pertencerem, que a executem e façam executar
e observar fiel e inteiramente como nela se contém.
Publique-se e cumpra-se em todo o território da Nação.
Sala das Sessões da Assembléia Nacional Constituinte, na cidade
do Rio de Janeiro, em dezesseis de julho de mil novecentos e tinta e quatro.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Presidente. — Thomaz d e Olivei-
ra Lobo, 1º Secretário, com restrições quanto ao preâmbulo. — Manoel do
Nascimento Fernandes Távora, 2º Secretário. — Clementina de Almeida Lisboa, 3º
Secretário. — Waldemar de Araújo Motta, 4º Secretário.
DECRETO LEGISLATIVO Nº 6
DE 18 DE DEZEMBRO DE 1935
Emendas à Constituição Federal
Nós, Presidentes e Secretários da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, promulgamos e mandamos publicar, na forma do § 3° do
art. 178 da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, as
Emendas nºs 1, 2 e 3 a essa Constituição.
EMENDA N° 1
"A Câmara dos Deputados, com a colaboração do Senado Fe-
deral, poderá autorizar o Presidente da República a declarar a comoção in-
testina grave, com finalidades subversivas das instituições políticas e
sociais, equiparada ao estado de guerra, em qualquer parte do território
nacional, observando-se o disposto no art. 175, nº 1 §§ 7º, 12 e 13, e de-
vendo o decreto de declaração da equiparação indicar as garantias consti-
tucionais que não ficarão suspensas."
EMENDA Nº 2
"Perderá patente e posto, por decreto do Poder Executivo, sem
prejuízo de outras penalidades e ressalvados os efeitos da decisão judicial que
no caso couber, o oficial da ativa, da reserva ou reformado, que praticar ato
ou participar de movimento subversivo das instituições políticas e sociais."
EMENDA Nº 3
"O funcionário civil, ativo ou inativo, que praticar ato ou parti-
cipar de movimento subversivo das instituições políticas e sociais, será
188 • Emendas
demitido, por decreto do Poder Executivo, sem prejuízo de outras pena-
lidades e ressalvados os efeitos da decisão judicial que no caso couber."
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1935. — Antônio Carlos Ribeiro
deAndrada, Presidente da Câmara — José Pereira Uma, lº Secretário da Câ-
mara — Manoel Caldeira Alvarenga, 4º Secretário da Câmara, servindo de 2º
Secretário — Edmar da Silva Carvalho, servindo de 3º Secretário da Câmara —
Claro Augusto Godoy, servindo de 4º Secretário— Antônio Garcia de Medeiros
Netto, Presidente do Senado Federal — Leopoldo Tavares da Cunha Mello, 1º
Secretário do Senado — José Pires Rebelo, 2º Secretário do Senado.
CRÉDITO DAS ILUSTRAÇÕES
Referendas das ilustrações por ordem de entrada;
Coleção História do Brasil, Rio de Janeiro, Bloch Ed. SA.; 1976, Vol. III, p. 704
(Getútio Vargas, capa). 
Coleção Nosso Século, São Paulo, Ed. Abril Cultural, 1980, Vol. 4, p. 126 (Getúlio
Vargas, foto).
Chagas, Carmo. Política. Arte de Minas. São Paulo, Ed. Carthago Fortes, 1994,
215 (Afrânio de Mello Franco, foto).
Brossard, Paulo. Joaquim Francisco de Assis Brasil, Ed. Senado Federal, RJ, Funda-
ção Casa de Rui Barbosa, 1989 (Assis Brasil, foto).
Lima, Herman, História da Caricatura Brasileira Rio de Janeiro, Ed. Livraria José
Olímpia, 1963, p. 71 (Rui Barbosa, caricatura por Alvarus).
Silva, Hélio. A Constituinte-1934, Ed, Civilização Brasileira, Coleção Documentos
da História Contemporânea, 1969, p 262 (José Américo de Almeida, caricatura por
Alvarus).
Silva, Hélio. A Constituinte-1934, Ed. Civilização Brasileira, Coleção Documentos
da História Contemporânea, 1969, p. 70 (Oswaldo Aranha, caricatura por Alvarus).
Chagas, Carmo.Política:Arte de Minas. São Paulo, Ed. Carthago & Fones, 1994,
p. 217 (Afonso Arino, foto).
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PINTO SERVA, Mário. Diretrizes Constitucionais; Estudos para a Constituição de 1933, São
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REIS, Trajano Furtado. A Constituição Federal e a Navegação Aérea, Rio de Janeiro,
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TENORIO, Oscar Accioly. O Problema Imigratório e a Constituição de 1934, Rio de Janei-
ro, Artes Gráf. C. Mendes Júnior, 1935.
O Volume III da Coleção Constituição Brasileiras (1934). 2ª edi-
ção, foi composto em Garamond. corpo 12, e impresso em
papel ofsete 75g/m², nas oficinas da SEEP (Secretaria Especial
de Editoração e Publicações), do Senado Federal, em Brasília.
Acabou-se de imprimir em agosto de 2001, de acordo com o
programa editorial e projeto gráfico do Conselho Editorial
do Senado Federal.

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