Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
1 INTRODUÇÃO O estudo do meio ambiente sempre foi chamado de “ecologia”, palavra criada a partir das expressões gre- gas oikos (casa) e logia (estudo), resultando na idéia de “estudo da casa”. Essa palavra é utilizada des- de o século XIX, como ramo da Bio- logia. Já o estudo do meio ambien- te, em termos legais, é bem recen- te. Até pouco tempo atrás sequer havia lei que tratasse do Direito Am- biental. No plano mundial, o primeiro gran- de marco dessa preocupação foi a Conferência de Estocolmo (1972), na qual foi feita a “Declaração do Meio Ambiente” e asseverou-se a importância de compatibilizar o desenvolvimento com a proteção ambiental, dando início ao estudo do princípio do desenvolvimento sustentável e a disseminação de leis ambientais nas legislações es- trangeiras. Em 1992, o Brasil sediou a segunda grande conferência mundial sobre o meio ambiente (a Rio-92), conferên- cia que resultou na “Declaração do Rio”, que consagrou o princípio do desenvolvimento sustentável. Na ocasião fi cou acordada a aprova- ção de um documento com compro- missos para um futuro sustentável, a Agenda 21. Em 2002, a África do Sul sediou a terceira conferência mundial sobre o meio ambiente (a Rio+10). Dela resultou uma declaração política, “O Compromisso de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentá- vel”, e um plano de implementação, cujos objetivos maiores são erradi- car a pobreza, mudar os padrões insustentáveis de produção e con- sumo, e proteger os recursos naturais. No plano interno, apenas em 1981 apareceu uma lei preocupada com a proteção ambiental em geral, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81). De lá para cá, como se verá em capítulo próprio, diversas leis cuidaram do assunto. Não adotamos uma visão ecocêntrica, ou seja, a de que todas as formas de vida devem ser preservadas. Adotamos uma visão antropocêntrica, ou seja, a de que o homem é o centro da preo- cupação ambiental. Todavia, há hoje uma evolução da visão adotada, com a idéia de antropocentrismo alargado ou holístico, para o fi m de reconhecer o valor intrínseco do meio ambiente, in- dependente do valor que ele tem para o ser humano. CONCEITOS BÁSICOS 1. Meio Ambiente. 1.1. Conceito. O meio ambiente pode ser conceito como o conjunto de condições, leis, in- fl uências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas . Este é o conceito trazido no art. 3o, I, da Lei 6.938/81. Note que o conceito engloba tanto os elementos vivos ou não da natureza, como também aque- les que abrigam qualquer tipo de vida, o que inclui espaços artifi ciais, ou seja, espaços criados pelo homem. 1.2. Espécies de bens ambientais. O meio ambiente não se limita aos re- cursos naturais. O meio ambiente en- globa também todos aqueles elemen- tos que contribuem para o bem-estar e a felicidade humana Assim, os bens ambientais podem ser de três espé- cies: a) meio ambiente natural (ou físico), que consiste nos elementos que existem mesmo sem infl uência do homem. Ex.: solo, água, ar, fau- na e fl ora. b) meio ambiente artifi - cial, que consiste no espaço cons- truído pelo homem, na interação com a natureza. Ex.: edifi cações e espaços públicos abertos. c) meio ambiente cultural, que consiste no espaço construído pelo homem, na interação com a natureza, mas que detém um valor agregado especial, por ser referência ligada à memória, aos costumes ou aos marcos da vida humana. Ex.: patrimônio histó- rico, arqueológico, artístico, paisa- gístico e cultural. d) meio ambiente do trabalho, que consiste lugar onde o ser humano exerce suas atividades laborais. Pode ser tanto um lugar aberto, como um prédio. A idéia, aqui, é preservar a saúde, a segurança e o bem-estar do traba- lhador no seu ambiente de trabalho. 1.3. Natureza do bem ambiental: Para fi ns processuais, o meio am- biente ecologicamente equilibrado é um bem difuso. Já quanto à titularidade, pode ser bem público ou privado. Quando a Constituição dispõe que o meio ambiente ecologicamente equilibra- do é bem de uso comum do povo, não está dizendo que é um bem público, mas que Estado e povo têm direito de exigir sua proteção (e o dever de protegê-lo) e de usá-lo direta ou indiretamente, na medida em que dependemos dele para nos- sa sobrevivência. 2. Poluição e degradação do meio ambiente. Há dois conceitos que devem ser diferenciados. São os de degra- DIREITO AMBIENTAL 2 dação da qualidade ambiental e de poluição. Enquanto a primeira consiste na alteração adversa do meio ambiente, a segunda signifi ca a mesma alteração, mas provocada por uma atividade, vale dizer, por uma conduta humana (art. 3º, II e III). Já o poluidor, de acordo com a lei, pode ser tanto uma pessoa física como uma pessoa jurídica, pública ou privada, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causa- dora de degradação ambiental (art. 3º. IV). DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1. Proteção geral do meio am- biente. A CF/88 traz verdadeira regra ma- triz da proteção ambiental. Confi ra as regras nela expressas: a) o meio ambiente ecologicamente equili- brado é tanto um direito como um dever de todos, inclusive do Estado; as futuras gerações também têm esse direito; b) o poder público tem deveres específi cos de proteção, como restaurar processos ecoló- gicos essenciais, prover o manejo ecológico, preservar a integridade do patrimônio genético, fi scalizar a manipulação de material genético, defi nir espaços de conservação es- pecialmente protegidos, exigir estu- dos prévios de impacto ambiental, controlar determinadas atividades, promover a educação ambiental etc. c) a responsabilidade civil é objetiva; a reparação do dano deve importar na recuperação do bem violado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, não sendo sufi ciente a mera conversão da obrigação em perdas e danos; d) os causadores de danos ambientais também pode- rão responder na esfera penal; as pessoas jurídicas também poderão responder na esfera criminal; e) as responsabilidades civil, administra- tiva e criminal são independentes; f) a Floresta Amazônica, a Mata Atlân- tica, a Serra do Mar, o Pantanal Ma- to-Grossense e a Zona Costeira são patrimônios nacionais especialmente protegidos; repare que o Cerrado e a Caatinga são ecossistemas que não foram considerados, pela Constitui- ção, como patrimônio nacional; g) são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à prote- ção dos ecossistemas naturais; h) as usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização defi nida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. O tratamento constitucional do meio ambiente está nos seguintes pontos: a) na tutela geral do meio ambiente (art. 225); b) no princípio da função so- cial da propriedade (arts. 5º, XXIII, 182 e 186); c) na enumeração dos bens da União (art. 20, II); d) na divisão de compe- tência entre os entes federativos (arts. 21, XIX, 23, III, VI e VII, e 24, VI, VII e VIII); e) na possibilidade de instaurar inquérito civil e ação civil pública para a proteção do meio ambiente (art. 129, III); f) na regulamentação da ordem econômica (art. 170, VI); g) na atribui- ção do sistema único de saúde de co- laborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (art. 200, VIII); h) na proteção do patrimônio cultural (art. 216); i) nas restrições às propagandas (art. 220, § 3º, II); j) na defi nição das terras ocupadas pelos ín- dios (231, § 1º). 2. Proteção do patrimônio cultural. A Constituição tratou, de modo espe- cial, da proteção do meio ambiente cultural. De acordo com o caput do dispositivo, constituem patrimônio cultural brasi- leiro os bens de natureza material ou imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da socie- dade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão (ex: música, teatro e literatura); II - os modos de criar, fazer e viver (ex: costumes indígenas ou de uma comu- nidade de pescadores); III - as criações científi cas, artísticas e tecnológicas (obs: repare que essas criações, além da proteção empre- sarial, são patrimônio cultural brasi- leiro); IV - as obras, objetos, documentos, edifi cações e demais espaços des- tinados às manifestações artístico- culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artís- tico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científi co. O legitimado para a promoção e a proteção desse patrimônio é o Po- der Público, em colaboração com a comunidade (art. 216, § 1º, CF). E os instrumentos para a promo- ção e a proteção desse patrimônio são os seguintes: registros (ex: de criações científi cas), vigilância, tombamento (ex: do Pelourinho) e desapropriação, e outras formas de acautelamento e preservação” (art. 216, § 1º, CF). LINK ACADÊMICO 1 COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL A Constituição também traça a com- petência em matéria ambiental, que se divide em competência legislati- va e administrativa. Comecemos com a competência administrativa (que, por óbvio, de- pende da edição de leis para que seja exercida), em que se confere o dever-poder de agir na matéria meio ambiente a todos os entes da fede- ração. Segundo o art. 23 da Cons- tituição, é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger e preservar o meio ambiente. Assim, em matéria de fi scalização, por exemplo, são competentes para a imposição de sanções agentes públicos de todos os entes federa- tivos. Pode um agente municipal, portanto, aplicar sanção prevista em lei federal ambiental (por ex., na Lei 9.605/98). Já quanto à competência legislati- va, temos, num primeiro momento, competência concorrente entre a União (que edita leis gerais) e os Estados e o Distrito Federal (que suplementam a legislação federal). 3 Na falta de norma geral da União, os Estados exercerão a competên- cia legislativa plena para atender a suas peculiaridades. Porém, a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a efi cácia da lei estadual, no que contrariar. Por fi m, ainda no plano legislati- vo, vale lembrar que o Município poderá legislar sobre matéria am- biental (a princípio, competência da União, dos Estados e do Distrito Federal) em questões de interesse peculiar ao respectivo ente, vale di- zer, em questões de interesse local, específi co daquele Município, sem prejuízo da edição de leis que visem suplementar a legislação federal e estadual, no que couber, ou seja, quanto a questões de interesse lo- cal (art. 30, I e II, da CF). PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 1. Princípio do desenvolvimento sustentado: é aquele que determi- na a harmonização entre o desen- volvimento econômico e social e a garantia da perenidade dos recur- sos ambientais. Tem raízes na Car- ta de Estocolmo (1972) e foi consa- grado na ECO-92. 2. Princípio do poluidor-pagador: é aquele que impõe ao poluidor tan- to o dever de prevenir a ocorrência de danos ambientais, como o de reparar integralmente eventuais da- nos que causar com sua conduta. O princípio não permite a poluição, conduta absolutamente vedada e passível de diversas e severas san- ções. Ele apenas reafi rma o dever de prevenção e de reparação inte- gral por parte de quem pratica ativi- dade que possa poluir. 3. Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal: é aquele que impõe ao Estado o dever de garantir o meio ambiente ecologica- mente equilibrado para as presen- tes e futuras gerações. O princípio impõe ao poder público a utilização de diversos instrumentos para pro- teger o meio ambiente, que serão vistos em capítulo próprio. 4. Princípio da participação coletiva ou da cooperação de todos: é aque- le que impõe à coletividade (além do Estado) o dever de garantir e participar da proteção do meio ambiente. O prin- cípio princípio cria deveres (preservar o meio ambiente) e direitos (participar de órgãos colegiados e audiências pú- blicas, p. ex.). 5. Princípio da responsabilidade objetiva e da reparação integral: é aquele que impõe o dever de qualquer pessoa responder integralmente pelos danos que causar ao meio ambiente, independentemente de prova de cul- pa ou dolo. Perceba que a proteção é dupla. Em primeiro lugar, fi xa-se que a responsabilidade é objetiva, o que impede que o causador do dano deixe de ter a obrigação de repará-lo sob o argumento de que não agiu com culpa ou dolo. Em segundo lugar, a obriga- ção de reparar o dano não se limita a pagar uma indenização, mas impõe que a reparação seja específi ca, isto é, deve-se buscar a restauração ou recuperação do bem ambiental lesado, procurando, assim, retornar à situação anterior. 6. Princípio da prevenção: é aquele que impõe à coletividade e ao poder público a tomada de medidas prévias para garantir o meio ambiente ecologi- camente equilibrado para as presentes e futuras gerações. A doutrina faz uma distinção entre este princípio e o prin- cípio da precaução. O primeiro incide naquelas hipóteses em que se tem cer- teza de que dada conduta causará um dano ambiental. O princípio da preven- ção atuará de forma a evitar que o dano seja causado, impondo licenciamentos, estudos de impacto ambiental, refor- mulações de projeto, sanções adminis- trativas etc. A idéia aqui é eliminar os perigos já comprovados. Já o segundo incide naquelas hipóteses de incerteza científi ca sobre se dada conduta pode ou não causar um dano ao meio am- biente. O princípio da precaução atua- rá no sentido de que, na dúvida, deve- se fi car com o meio ambiente, tomando as medidas adequadas para que o suposto dano de fato não ocorra. A idéia aqui é eliminar que o próprio perigo possa se concretizar. 7. Princípio da educação ambien- tal: é aquele que impõe ao poder público o dever de promover a edu- cação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pú- blica para a preservação do meio ambiente. Perceba que a educação ambiental deve estar presente em todos os níveis de educação (infan- til, fundamental e médio). 8. Princípio do direito humano fundamental: é aquele pelo qual os seres humanos tem direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com o meio ambiente. De acordo com o princípio, as pessoas tem direito ao meio ambiente ecolo- gicamente equilibrado. 9. Princípio da ubiqüidade: é aquele pelo qual as questões am- bientais deve ser consideradas em todas atividades humanas. Ubiqüi- dade quer dizer existir concomitan- temente em todos os lugares. De fato, o meio ambiente está em todos os lugares, de modo que qualquer atividade deve ser feita com respei- to a sua proteção e promoção. 10. Princípio do usuário-pagador: é aquele pelo qual as pessoas que usam recursos naturais devem pa- gar por tal utilização. Esse princípio difere do princípio do princípio do poluidor-pagador, pois o segun- do diz respeito a condutas ilícitas ambientalmente, ao passo que o primeiro a condutas lícitas am- bientalmente. Assim, aquele que polui (conduta ilícita), deve reparar o dano, pelo princípio do poluidor- pagador. Já aquele que usa água (conduta lícita) deve pagar pelo seu uso, pelo princípio do usuário- pagador. A idéia é que o usuário pague com o objetivo de incentivar o uso racional dos recursos natu- rais, além de fazer justiça, pois há pessoas que usam mais e pessoas 4 que usam menos dados recursos naturais. 11. Princípio da informação e da transparência das informações e atos: é aquele pelo qual as pesso- as têm direito de receber todas as informações relativas à proteção, preventiva e repressiva, do meio ambiente. Assim, pelo princípio, as pessoas têm direito de consultar os documentos de um licenciamento ambiental, assim como têm direito de participar de consultas e de audi- ências públicas em matéria de meio ambiente. 12. Princípio da função sócio-am- biental da propriedade: é aquele pelo qual a propriedade deve ser utilizada de modo sustentável, com vistas não só ao bem-estar do pro- prietário, mas também da coletivi- dade como um todo. 13. Princípio da eqüidade geracio- nal: é aquele pelo qual as presentes e futuras gerações tem os mesmos direitos quanto ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Assim, a utilização de recursos naturais para a satisfação das necessidades atuais não deverá comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem suas necessidades. O princípio impõe, também, eqüi- dade na distribuição de benefícios e custos entre gerações, quanto à preservação ambiental. LINK ACADÊMICO 2 POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (PNMA) A Política Nacional do Meio Ambien- te (PNMS) pode ser conceituada como aquela que tem por objetivo a preservação, melhoria e recupe- ração da qualidade ambiental pro- pícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimen- to sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2o da Lei 6.938/81). Para que a PNMA fosse implemen- tada, foi criado um sistema, denomi- nado de Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que pode ser conceituado como o conjunto articu- lado de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental (art. 6º da Lei 6.938/81). A estrutura do SISNAMA é a seguinte: a) Órgão Superior: é o Conselho de Governo - CG, que tem a função de as- sessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais. b) Órgão Consultivo e Deliberativo: é o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que tem a fi nalidade de assessorar, estudar e propor ao CG diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais, e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões ambientais. c) Órgão Central: é o Mi- nistério do Meio Ambiente, que tem a fi - nalidade de planejar, coordenar, super- visionar e controlar a política nacional e as diretrizes governamentais fi xadas para o meio ambiente. d) Órgão Exe- cutor: é o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA, autarquia federal que tem a fi nalidade de executar e fazer execu- tar, como ente federal, a política e di- retrizes governamentais fi xadas para o meio ambiente. e) Órgãos Seccio- nais: são os órgãos ou entidades esta- duais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fi scalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. Ex.: Secretarias Estaduais do Meio Am- biente, Conselhos Estaduais do Meio Ambiente, dentre outros. f) Órgãos locais: são os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fi scalização dessas atividades, nas suas respectivas circunscrições. Ex.: Secretaria Municipal do Meio Ambien- te. Tem papel de destaque no SISNAMA o CONAMA. Destacam-se na sua competência as atribuições de expedir normas acerca de padrões ambientais (trata-se quase de uma “legislação” sobre padrões ambientais a serem seguidos em diversas atividades que utilizam recursos ambientais), de estabelecer normas para o licen- ciamento ambiental e o estudo de impacto ambiental, e de servir de última instância administrativa nos recurso sobre penas impostas pelo IBAMA. O CONAMA expede reso- luções. Confi ra os instrumentos legais colocados à disposição dos órgãos do SISNAMA: a) licenciamento e revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; b) avaliação de impactos ambien- tais; c) criação de espaços terri- toriais especialmente protegidos pelo poder público federal, esta- dual e municipal; d) zoneamento ambiental; e) utilização de instru- mentos econômicos, como con- cessão fl orestal, servidão am- biental, seguro ambiental e ou- tros; f) normatização de padrões de qualidade ambiental; g) tom- bamento; h) responsabilidade ambiental de natureza civil, ad- ministrativa e penal; i) incentivos à produção e instalação de equipa- mentos e à criação voltados para a melhoria ambiental; manutenção de um sistema nacional de informa- ções sobre o meio ambiente; ma- nutenção do Cadastro Técnico Fe- deral de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, bem como de Cadastro Técnico de atividades po- tencialmente poluidoras; instituição do Relatório de Qualidade Ambien- tal do Meio Ambiente, a ser divulga- do anualmente pelo IBAMA. Os oito instrumentos grifados serão analisados um a um nos próximos capítulos. LINK ACADÊMICO 3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL O licenciamento ambiental pode ser conceituado como o ato unilateral do Poder Público, que faculta pre- viamente ao interessado a constru- ção, instalação, ampliação e fun- cionamento de estabelecimentos e 5 atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados capazes de causar degradação ambiental (art. 10 da Lei 6.938/81). Assim, toda vez que uma determinada ati- vidade puder causar degradação ambiental, além das licenças admi- nistrativas pertinentes, o responsá- vel pela atividade deve buscar a ne- cessária licença ambiental também. A regulamentação do licenciamen- to ambiental compete ao CONA- MA, que expede normas e critérios para o licenciamento. A Resolução nº 237 do órgão traz as normas gerais de licenciamento ambiental. Há também sobre o tema o Decreto 99.274/90. Já a competência para executar o licenciamento ambiental é assim dividida: a) impacto nacional e regional: é do IBAMA, com a cola- boração de Estados e Municípios. O IBAMA poderá delegar sua compe- tência aos Estados, se o dano for de regional, por convênio ou lei. Assim, a competência para o licenciamento ambiental de uma obra do porte da transposição do Rio São Francisco é do IBAMA. b) impacto em dois ou mais muni- cípios (impacto microrregional): é dos estados-membros. Por exem- plo, uma estrada que liga 6 municí- pios de um dado estado-membro.c) impacto local: é do Município. Por exemplo, o licenciamento para a construção de um parque temático. A Resolução n. 237 permite que, por convênio ou lei, os Municípios recebam delegação dos estados para determinados licenciamentos, desde que tenha estrutura para tan- to. Há três espécies de licencia- mento ambiental (art. 19, Decreto 99.274/90): a) Licença Prévia (LP): é o ato que aprova a locali- zação, a concepção do empreen- dimento e estabelece os requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases; trata-se de licença ligada à fase preliminar de planeja- mento da atividade, já que traça di- retrizes relacionadas à localização e instalação do empreendimento. Por exemplo, em se tratando do pro- jeto de construir um empreendimento imobiliário na beira de uma praia, esta licença dirá se é possível o empreendi- mento no local e, em sendo, quais os limites e quais as medidas que deve- rão ser tomadas, como construção de estradas, instalação de tratamento de esgoto próprio etc. Essa licença tem validade de até 5 anos. b) Licença de Instalação (LI): é o ato que autoriza a implantação do empreendimento, de acordo com o projeto executivo aprova- do. Depende da demonstração de pos- sibilidade de efetivação do empreendi- mento, analisando o projeto executivo e eventual estudo de impacto ambien- tal. Essa licença autoriza as interven- ções no local. Permite que as obras se desenvolvam. Sua validade é de até 6 anos. c) Licença de Operação (LO): é o ato que autoriza o início da ativi- dade e o funcionamento de seus equi- pamentos de controle de poluição, nos termos das licenças anteriores. Aqui, o empreendimento já está pronto e pode funcionar. A licença de operação só é concedida se for constado o respeito às licenças anteriores, bem como se não houver perigo de dano ambiental, independentemente das licenças ante- riores. Sua validade é de 4 a 10 anos. É importante ressaltar que a licença ambiental, diferentemente da licença administrativa (por ex., licença para construir uma casa), apesar de nor- malmente envolver competência vin- culada, tem prazo de validade defi nida e não gera direito adquirido para seu benefi ciário. Assim, de tempos em tempos a licença ambiental deve ser renovada. Além disso, mesmo que o empreendedor tenha cumprido os re- quisitos da licença, caso, ainda assim, tenha sido causado dano ao meio am- biente, a existência de licença em seu favor não o exime de reparar o dano e de tomar as medidas adequadas à re- cuperação do meio ambiente. O licenciamento ambiental, como se viu, é obrigatório para todas as ativida- des que utilizam recursos ambientais, em que há possibilidade de se causar dano ao meio ambiente. Em processos de licenciamento ambiental é comum se proceder a Avaliações de Impacto Ambiental (AIA). Há, contudo, ativi- dades que, potencialmente, podem causar danos signifi cativos ao meio ambiente, ocasião em que, além do licenciamento, deve-se proceder a uma AIA mais rigorosa e detalha- da, denominada Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que será consubs- tanciado no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O EIA pode ser conceituado como o estudo prévio das prováveis con- seqüências ambientais de obra ou atividade, que deve ser exigido pelo Poder Público, quando estas forem potencialmente causadoras de sig- nifi cativa degradação do meio am- biente (art. 225, § 1o, IV, CF). Destina-se a averiguar as altera- ções nas propriedades do local e de que forma tais alterações po- dem afetar as pessoas e o meio ambiente, o que permitirá ter uma idéia acerca da viabilidade da obra ou atividade que se deseja realizar. O Decreto 99.274/90 conferiu ao CONAMA atribuição para traçar as regras de tal estudo. A Resolução 1/86, desse órgão, traça tais dire- trizes, estabelecendo, por exem- plo, um rol exemplifi cativo de ativi- dades que devem passar por um EIA, apontando-se, dentre outras, a implantação de estradas com duas ou mais faixas de rolamento, de ferrovias, de portos, de aterros sanitários, de usina de geração de eletricidade, de distritos industriais etc. O EIA trará conclusões quanto à fau- na, à fl ora, às comunidades locais, dentre outros aspectos, devendo ser realizado por equipe multidisci- plinar, que, ao fi nal, deverá redigir um relatório de impacto ambiental (RIMA), o qual trará os levantamen- tos e conclusões feitos, devendo o órgão público licenciador receber o relatório para análise das condições do empreendimento. O empreendedor é quem escolhe os componentes da equipe e é quem arca com os custos respectivos. Os profi ssionais que farão o trabalho terão todo interesse em agir com correção, pois fazem seus relatórios 6 sob as penas da lei. Como regra, o estudo de impacto ambiental e seu relatório são públicos, podendo o interessado solicitar sigilo industrial, fundamentando o pedido. O EIA normalmente é exigido antes da licença prévia, mas é cabível sua exigência mesmo para empreendi- mentos já licenciados. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - UCs Unidade de conservação é o es- paço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivo de conservação e limites defi nidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (art. 2º, I, Lei 9.985/00). São órgãos gestores do SNUC: a) Órgão Consultivo e Delibera- tivo: CONAMA, que acompanha a implementação do sistema. b) Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente, que coordena o sistema. c) Órgãos Executores: IBAMA, órgãos estaduais e municipais, que implementam o sistema, subsidiam as propostas de criação e adminis- tram as unidades de conservação nas respectivas esferas de atuação. São categorias de unidades de conservação: a) Unidades de Pro- teção Integral: são os espaços que buscam a preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso indi- reto dos seus recursos naturais, salvo exceções legais. No caso de recaírem sobre bem particular, este deve ser desapropriado, salvo se a unidade criada for monumento na- tural ou refúgio de vida silvestre, caso em que poderá ser mantida a propriedade particular. O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto das seguintes categorias de unidade de conservação: a1) Estação Ecológica: tem por obje- tivo a preservação e a realização de pesquisas científi cas. a2) Reserva Biológica: tem por objetivo a pre- servação integral da biota e demais atributos, sem interferência humana direta ou modifi cações ambientais, sal- vo medidas de recuperação e manejo necessárias para preservar a área. a3) Parque Nacional: tem por objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e bele- za cênica, possibilitando a realização de pesquisas e atividades de educa- ção, recreação e turismo ecológico. a4) Monumento Natural: tem por ob- jetivo a preservação dos sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Se o proprietário da área não concordar com as limitações propostas pelo Poder Público, a área será desa- propriada. a5) Refúgio de Vida Silves- tre: tem por objetivo a proteção de am- bientes naturais com o fi m de garantir existência e reprodução de espécies da fl ora ou fauna. Se o proprietário da área não concordar com as limitações propostas pelo Poder Público, a área será desapropriada. b) Unidades de Uso Sustentável: são espaços que buscam a preservação da natureza, sendo admitido o uso direto da coisa, mas com restrições que assegurem a sustentabilidade do uso dos recur- sos naturais. b1) Área de Proteção Ambiental: área extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos naturais importantes, que deve ser protegida, disciplinando-se a ocupação e o uso sustentável. Pode ser constituída por terra particular. b2) Área de Relevante Interesse Eco- lógico: área em geral pequena, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordi- nárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, que tem como objeti- vo manter o ecossistema local a partir da disciplina de seu uso admissível. Pode ser constituída por terra particu- lar. b3) Floresta Nacional: área com cobertura fl orestal de espécies predo- minantemente nativas. A área deve ser desapropriada, se for privada. Objeti- vos: uso sustentável da fl oresta nativa e pesquisa. b4) Reserva Extrativista: área utilizada por populações extrati- vistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo, e, de forma complementar, na agricultura e na cria- ção de animais de pequeno porte. Ob- jetivos: proteger os meios de vida e cultura do povo, bem como o uso sustentável. Área de domínio pú- blico, com uso concedido às popu- lações; ou, se particulares, devem ser desapropriadas. b5) Reserva de Fauna: área natural com popu- lações animais de espécies nativas adequadas para pesquisas sobre seu manejo econômico. A área deve ser desapropriada, se for privada. b6) Reserva de Desenvolvimen- to Sustentável: área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência se dá pela exploração sustentável dos recursos naturais, com conhecimentos que devem ser valorizados e aperfeiçoados, sendo área de domínio público, ou que pode ser desapropriada. Se for necessário, a área deve ser desa- propriada, caso seja privada. b7) Reserva Particular do Patrimônio Natural: área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. Faz-se termo de compromisso a ser averbado no Cartório. As unidades são criadas por ato do Poder Público (decreto ou lei específi ca), devendo – a criação - ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública (esta, para permitir identifi car a localização, a dimensão e os limites mais ade- quados para a unidade). A consul- ta pública não é obrigatória para a criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica É possível transformar uma unida- de de uso sustentável em unidade de proteção integral (majorar), ou ampliar os limites de unidade de conservação (sem mudança de ca- tegoria), por meio de ato do mesmo nível daquele que criou a unidade. É também necessário estudos téc- nicos e consulta pública, sem ex- ceções. Já a desafetação ou redução dos limites de uma unidade só pode se dar mediante lei específi ca. Por fi m, é importante ler os concei- tos básicos que aparecem no art. 2º da Lei 9.985/00, pois eles vêm apa- recendo nas provas. 7 LINK ACADÊMICO 4 OUTROS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE 1. Espaços especialmente prote- gidos. Um dos instrumentos de proteção ao meio ambiente é a criação de espaços especialmente protegidos. Eles podem ser específi cos (ex: uma unidade de conservação) ou genéricos, ou seja, espaços prote- gidos em todas propriedades com dadas características (ex: áreas de proteção especial, de preservação permanente e de reserva legal). Confi ra as quatro espécies de espa- ços especialmente protegidos. 1.1. Unidades de Conservação (Lei 9.985/00 – Lei das UCs). Vis- tas no capítulo anterior. 1.2. Áreas de Proteção Especial (Lei 6.766/79 – Lei de Parcela- mento do Solo Urbano). De acordo com a Lei 6.766/79 (art. 13), são áreas de proteção espe- cial aquelas de interesse especial, tais como as de proteção aos ma- nanciais ou ao patrimônio cultural, histórico, paisagístico e arqueoló- gico, assim defi nidas por legisla- ção estadual ou federal. O Estados defi nirão, por decreto, as áreas de proteção especial e as normas que elas deverão seguir quando for exe- cutado um projeto de loteamento ou de desmembramento. Caberão aos Estados o exame e a anuência prévia para a aprovação, pelos Mu- nicípios, de loteamento e desmem- bramento localizados nessas áreas de interesse especial. 1.3. Áreas de Preservação Perma- nente - APP (Lei 4.771/65 – Códi- go Florestal). O Código Florestal trata da prote- ção das fl orestas (vegetação cerra- da, constituída de árvores de gran- de porte, cobrindo grande extensão de terras) e das demais formas de vegetação, reconhecidas de utilida- de às terras que revestem. A APP é defi nida pela lei como a área, coberta ou não por vegeta- ção nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fl uxo gênico de fauna e fl ora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (art. 1º, § 2º, II). O art. 2º do Código traz um rol de áre- as consideradas de preservação per- manente, pelo só efeito da lei, ou seja, independente de qualquer declaração do Poder Público. Por exemplo, são APPs as fl orestas e demais formas de vegetação natural situadas nas faixas ao longos dos rios e ao redor das lago- as, lagos ou reservatórios d’agua, bem como as situadas nas nascentes, no topo de morros, montes, montanhas e serras, nas restingas (como fi xadoras de dunas ou estabilizadoras de man- gues), dentre outras. Já o art. 3º do Código traz rol de áreas que podem ser declaradas pelo Poder Público como de preservação perma- nente, tais como as fl orestas e demais formas de vegetação natural destina- das a atenuar a erosão das terras, a fi xar as dunas, a formar faixas de pro- teção ao longo de ferrovias e rodovias, e a asilar exemplares da fauna e da fl ora ameaçados de extinção. As áreas de preservação permanente, como o próprio nome diz, não podem ser suprimidas. Mas há exceções. Quanto às fl orestas, admite-se supres- são para atividades de utilidade pública ou interesse social, mediante autoriza- ção de autoridade federal (ex: para a passagem de uma rodovia). Quanto às demais formas de vegetação natu- ral, admite-se supressão também em caso de utilidade pública ou interesse social, mediante autorização de autori- dade estadual. Se a área for urbana e o município possuir conselho do meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor, a autoridade municipal competente dará a autorização, me- diante autorização prévia da autorida- de estadual. Por fi m, vale lembrar que o Código Flo- restal estabelece que qualquer árvore poderá ser declarada imune ao corte, mediante ato do Poder Público, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes. 1.4. Reserva Legal (Lei 4.771/65 – Código Florestal). A Reserva Florestal Legal (RFL) é defi nida pela lei como a área loca- lizada no interior de uma proprieda- de ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessá- ria ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabili- tação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e fl ora nativas. Perceba que há duas característi- cas marcantes. A primeira é que a reserva legal está sempre em pro- priedade ou posse rural. A segunda é a reserva sempre existe nessas propriedades, independentemente das características do local, e con- siste numa percentagem da área cujo corte raso está vedado. O percentual de reserva legal na propriedade segue as seguintes re- gras: a) na Amazônia Legal: 80% da propriedade rural situada em área de fl oresta e 35% da propriedade rural situada em área de cerrado; no último caso, pelo menos 20% deve estar na propriedade e 15% pode estar na forma de compensação em outra área, desde que localizada na mesma microbacia; b) no Resto do País: 20% da propriedade rural situada em área de fl oresta, outras formas de vegetação nativa e nos campos gerais. Uma vez defi nido o local da reserva legal, a indicação da área deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no Registro de Imóveis competente. Quando se estiver diante de mera posse, a reserva legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta, fi rmado pelo possuidor com o órgão ambiental estadual ou federal com- petente. 1.5. Proteção Especial na Mata Atlântica (Lei 11.428/06). A Lei 11.428/06 estabelece regras adicionais ao Código Florestal (art. 1º da Lei). Seu objetivo é regula- mentar a conservação, a proteção, a regeneração e a utilização do Bio- ma Mata Atlântica, que é patrimônio nacional, de acordo com a Consti- 8 tuição. A lei estabelece que o corte, a su- pressão e a exploração da vegeta- ção do Bioma Mata Atlântica far-se- ão de maneira diferenciada, confor- me se trate de vegetação primária ou secundária, nesta última levan- do-se em conta o estágio de rege- neração. A exploração eventual, sem propósito comercial direto ou indireto, de espécies da fl ora nativa, para consumo nas propriedades ou posses das populações tradicionais ou de pequenos produtores rurais, independe de autorização dos ór- gãos competentes, conforme regu- lamento. Já as demais formas de exploração, quando cabíveis (há diversas vedações de cortes e su- pressões no art. 11 da Lei), depen- dem de autorização da autoridade competente. A lei também cria hipóteses de obri- gatoriedade de realização de EIA/ RIMA, trata de incentivos econômi- cos para a proteção do Bioma, cria o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica e estabelece novas penalidades de natureza criminal e administrativa. 2. Zoneamento ambiental; O zoneamento ambiental pode ser defi nido como a delimitação geo- gráfi ca de áreas territoriais com o objetivo de estabelecer regimes especiais de uso, gozo e fruição da propriedade. A idéia é organizar a utilização de espaços territoriais, para que não haja confl itos entre as zonas de conservação do meio am- biente, de produção industrial, de habitação das pessoas, dentre ou- tras. São exemplos de zoneamento: a) Zoneamento Urbano (na cidade; previsto nas leis locais): por exem- plo, com divisão da cidade em zo- nas residenciais, mistas, industriais etc; b) Zoneamento Costeiro (Lei 7.661/88); c) Zoneamento Agrícola (Lei 4.504/64 – Estatuto da Terra); d) Zoneamento Ecológico-Econô- mico - ZEE (Decreto 4.297/02): é o instrumento utilizado para organizar o processo de ocupação sócio-eco- nômico-ambiental de uma Região, de um Estado ou de um Município; o Poder Público federal faz o ZEE na- cional; o estadual, o ZEE estadual; e o municipal, o Plano Diretor. Tema interessante em matéria de zo- neamento ambiental é a discussão so- bre a possibilidade de alguém invocar a “pré-ocupação” de um dado local, para não ter que se submeter a um novo zo- neamento para o local. Como o licen- ciamento ambiental é concedido por prazo certo, essa alegação não pode prevalecer. Já na hipótese de a licença ainda estiver em curso, pode o Poder Público cancelá-la, desde que indenize o licenciado pelos prejuízos que teria até a data em que produziria efeitos a licença que detinha. 3. Instrumentos econômicos: servi- dão ambiental e concessão fl orestal. 3.1. Servidão ambiental. Servidão ambiental consiste na renun- cia voluntária pelo proprietário rural, em caráter permanente ou temporário, total ou parcialmente, do direito de uso, exploração ou supressão de recursos naturais existentes na sua proprieda- de. Trata-se de novidade trazida na Lei 11.284/06. A servidão ambiental deve ser averbada no registro de imóveis competente. Por que um proprietário instituiria uma servidão ambiental? Porque teria vantagens econômicas. Por exem- plo, aquele que institui uma servidão ambiental do tipo servidão fl orestal tem direito de emitir Cota de Reserva Florestal – CRF, título representativo da vegetação nativa sob regime de servidão fl orestal (art. 44-B do Código Florestal), títulos que, mediante regu- lamentação, poderão ser vendidos em bolsa. 3.2. Concessão Florestal. A Lei 11.284/02, que trata da gestão de fl orestas pertencentes ao Poder Público, permite que essa gestão se dê diretamente pelo Poder Público, ou por meio de concessão fl orestal para o particular. A lei prevê opções de gestão para fl o- restas públicas. A primeira consiste em criar e manter unidades de conserva- ção de uso sustentável ou em dar con- cessões de uso para reforma agrária, destinadas ao uso familiar ou comu- nitário. A segunda, esgotada a op- ção anterior para uma determinada região, consiste em realizar contra- tos de concessão fl orestal. A concessão fl orestal é conceitua- da pela lei como a delegação one- rosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo fl ores- tal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e de- monstre capacidade para seu de- sempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado. O prazo dos contratos de conces- são fl orestal será de, no máximo, 40 anos. O prazo dos contratos de concessão exclusivos para explo- ração de serviços fl orestais será de, no mínimo, 5 e, no máximo, 20 anos. Além da fi scalização ordiná- ria, as concessões serão subme- tidas a auditorias fl orestais, de ca- ráter independente, em prazos não superiores a 3 anos. 4. Padrões de qualidade ambien- tal; Nesse tema, destacam-se os pa- drões de qualidade do ar, da água e dos ruídos. Quanto à qualidade do ar, a Resolução CONAMA n. 05/89 estabelece o Programa Na- cional de Controle de Qualidade do Ar – PRONAR, que trata do controle e do monitoramento da poluição do ar, e estabelece os limites nacionais para as emissões. No plano interna- cional, temos o Protocolo de Quioto (de 1997), tratado internacional que tem por objetivo estabilizar a emis- são de gases de efeito estufa para a atmosfera, reduzindo o aquecimen- to global e seus possíveis impactos. Os países industrializados devem buscar a diminuição das emissões de forma direta e utilizar, de manei- ra acessória, outros mecanismos para tornar menos onerosa sua atu- ação. Nesse sentido, destaca-se a possibilidade de adquirir créditos de carbono. 9 5. Tombamento (Dec.-Lei 25/37). O tombamento pode ser conceitua- do como o ato do Poder Público que declara de valor histórico, artístico, paisagístico, turístico, cultural ou científi co, bens ou locais, para fi ns de preservação. O tombamento pode alcançar imó- veis individualmente considerados (um prédio histórico), conjuntos arquitetônicos (o Pelourinho, em Salvador), um bairro (o Centro do Rio de Janeiro), uma cidade (Ouro Preto) e até um sítio natural. Pode também alcançar móveis, como a mobília de Santos Dumont, por exemplo. A instituição do tombamento pode ser voluntária (por requerimento do próprio dono da coisa) ou con- tenciosa. A última impõe a notifi ca- ção do proprietário, para, no prazo de 15 dias, impugnar, se quiser, a intenção do Poder Público de tom- bar a coisa. Uma vez concluído pelo tombamento, este será feito mediante inscrição do ato num dos quatro Livros do Tombo (Paisagís- tico, Histórico, Belas Artes e Artes Aplicadas). Em se tratando de imó- vel, o ato também deve ser registra- do no Registro de Imóveis. É importante ressaltar que, com a notifi cação do proprietário, ocorre o tombamento provisório, que já limita o uso da coisa por seu dono. Além de poder ser instituído por ato administrativo, o tombamento tam- bém pode advir de lei ou de decisão judicial. No segundo caso, o juiz, diante de uma ação coletiva (ex: ação popular ou ação civil pública), determina a inscrição do tomba- mento no Livro do Tombo. Quanto aos efeitos do tombamento, temos os seguintes: a) o proprietá- rio deverá conservar a coisa (se não tiver recursos, deve levar ao conhe- cimento do Poder Público, que fi ca autorizado legalmente a executar a obra); b) o proprietário não pode reparar, pintar ou restaurar a coisa, sem prévia autorização especial do Poder Público; c) os vizinhos não podem reduzir a visibilidade da coisa tombada, nem colocar anúncios, sem prévia autorização especial; d) os entes políticos têm direito de pre- ferência na aquisição da coisa, caso o proprietário queira aliená-la; e) o pro- prietário do bem tombado tem direito de ser indenizado, caso sofra restrição especial que o prejudique economica- mente. A Constituição traz uma norma espe- cial sobre o tombamento do patrimônio cultural, ao dispor que “fi cam tombados todos os documentos e os sítios deten- tores de reminiscências históricas dos antigos quilombos” (art. 216, § 5º). LINK ACADÊMICO 5 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL 1. Responsabilidade objetiva. A responsabilidade objetiva pode ser conceituada como o dever de respon- der por danos ocasionados ao meio ambiente, independentemente de cul- pa ou dolo do agente responsável pelo evento danoso. Essa responsabilidade está prevista no § 3º do art. 225 da CF, bem como no § 1° do art. 14 da Lei 6.938/81 e ainda no art. 3º da Lei 9.605/98. Quanto a seus requisitos, diferente- mente do que ocorre com a responsa- bilidade objetiva no Direito Civil, onde são apontados três requisitos para a confi guração da responsabilidade (conduta, dano e nexo de causalida- de), no Direito Ambiental são necessá- rios apenas dois. A doutrina aponta a necessidade de existir um dano (evento danoso), mais o nexo de causalidade, que o liga ao poluidor. Aqui não se destaca muito a conduta como requisito para a responsabilida- de ambiental, apesar de diversos au- tores entenderem haver três requisitos para sua confi guração (conduta, dano e nexo de causalidade). Isso porque é comum o dano ambiental ocorrer sem que se consiga identifi car uma conduta específi ca e determinada causadora do evento. Quanto ao sujeito responsável pela reparação do dano, é o poluidor, que pode ser tanto pessoa física como jurí- dica, pública ou privada. Quando o Poder Público não é o responsável pelo empreendimento, ou seja, não é o poluidor, sua res- ponsabilidade é subjetiva, ou seja, depende de comprovação de culpa ou dolo do serviço de fi scalização, para se confi gurar. Assim, o Poder Público pode responder pelo dano ambiental por omissão no dever de fi scalizar. Nesse caso, haverá res- ponsabilidade solidária do poluidor e do Poder Público. Em se tratando de pessoa jurídica, a Lei 9.605/98 estabelece que esta será responsável nos casos em que a infração for cometida por decisão de seu representante legal ou con- tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Essa responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. A Lei 9.605/98 também estabelece uma cláusula geral que permite a desconsideração da personalida- de jurídica da pessoa jurídica, em qualquer caso, desde que destina- da ao ressarcimento dos prejuízos causados à qualidade do meio am- biente. Segundo o seu art. 4º, po- derá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personali- dade for obstáculo ao ressarcimen- to dos prejuízos causados à quali- dade do meio ambiente. Adotou-se, como isso, a chamada teoria menor da desconsideração, para a qual basta a insolvência da pessoa ju- rídica, para que se possa atingir o patrimônio de seus membros. No direito civil, ao contrário, adotou-se a teoria maior da desconsideração, teoria que exige maiores requisitos, no caso, a existência de um desvio de fi nalidade ou de uma confusão patrimonial para que haja desconsi- deração. 2. Reparação integral dos danos. A obrigação de reparar o dano não se limita a pagar uma indenização; ela vai além: a reparação deve ser específi ca, isto é, ela deve buscar a restauração ou recuperação do bem ambiental lesado, ou seja, o 10 seu retorno à situação anterior. As- sim, a responsabilidade pode envol- ver as seguintes obrigações: a) de reparação natural ou in specie: é a reconstituição ou recuperação do meio ambiente agredido, cessando a atividade lesiva e revertendo-se a degradação ambiental. É a primei- ra providência que deve ser ten- tada, ainda que mais onerosa que outras formas de reparação; b) de indenização em dinheiro: consiste no ressarcimento pelos danos cau- sados e não passíveis de retorno à situação anterior. Essa solução só será adotada quando não for viável fática ou tecnicamente a reconsti- tuição. Trata-se de forma indireta de sanar a lesão. c) compensação ambiental: consiste em forma al- ternativa à reparação específi ca do dano ambiental, e importa na ado- ção de uma medida de equivalente importância ecológica, mediante a observância de critérios técnicos especifi cados por órgãos públicos e aprovação prévia do órgão ambien- tal competente, admissível desde que seja impossível a reparação específi ca. 3. Dano ambiental. Não é qualquer alteração adversa no meio ambiente causada pelo homem que pode ser considerada dano ambiental. Por exemplo, o simples fato de alguém inspirar oxi- gênio e expirar gás carbônico não é dano ambiental. O art. 3º da Lei 6.938/81 nos ajuda a desvendar quando se tem dano ambiental, ao dispor que a poluição é a degrada- ção ambiental resultante de ativida- des que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às ati- vidades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em de- sacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Quanto aos atingidos pelo dano am- biental, este pode atingir pessoas indetermináveis e ligadas por circuns- tâncias de fato (ocasião em que será difuso), grupos de pessoas ligadas por relação jurídica base (ocasião em que será coletivo), vítimas de dano oriundo de conduta comum (ocasião em que será individual homogêneo) e vítima do dano (ocasião em que será individual puro). De acordo com o pedido formulado na ação reparatório é que se saberá que tipo de interesse (difuso, coletivo, indi- vidual homogêneo ou individual) está sendo protegido naquela demanda. Quanto à extensão do dano ambiental, a doutrina reconhece que este pode ser material (patrimonial) ou moral (extra- patrimonial). Será da segunda ordem quando afetar o bem-estar de pesso- as, causando sofrimento e dor. Há de se considerar que há decisão do STJ no sentido que não se pode falar em dano moral difuso, já que o dano deve estar relacionado a pessoas vítimas de sofrimento, e não a uma coletividade de pessoas. De acordo com essa deci- são pode haver dano moral ambiental a pessoa determinada, mas não pode haver dano moral ambiental a pessoas indetermináveis. 4. A proteção do meio ambiente em juízo. A reparação do dano ambiental pode ser buscada extrajudicialmente, quan- do, por exemplo, é celebrado termo de compromisso de ajustamento de conduta com o Ministério Público, ou judicialmente, pela propositura da ação competente. Há duas ações vocacionadas à defesa do meio ambiente. São elas: a ação civil pública (art. 129, III, da CF e Lei 7.347/85) e a ação popular (art. 5º, LXXIII, CF e Lei 4.717/65). A primeira pode ser promovida pelo Ministério Pú- blico, por entes da Administração Públi- ca ou por associações constituídas há pelo menos um ano, que tenham por objetivo a defesa do meio ambiente. Já a segunda é promovida pelo cidadão. Também são cabíveis em matéria am- biental o mandado de segurança (art. 5º, LXIX e LXX, da CF e Lei 1.533/51), individual ou coletivo, preenchidos os requisitos para tanto, tais como prova pré-constituída, e ato de autoridade ou de agente delegado de serviço público; o mandado de injunção (art. 5º, LXXI, da CF), quando a falta de norma regulamentadora tor- ne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona- lidade, à soberania e à cidadania; as ações de inconstitucionalida- de (arts. 102 e 103 da CF e Leis 9.868/99 e 9.882/99); e a ação ci- vil de responsabilidade por ato de improbidade administrativa em matéria ambiental (art. 37, § 4º, da CF, Lei 8.429/92 e art. 52 da Lei 10.257/01). RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL A responsabilidade administrativa ocorre quando alguém pratica uma infração administrativa. A infração administrativa é assim conceitua- da pela lei (arts. 70 e seguintes da Lei 9.605/98): considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurí- dicas de uso, gozo, promoção, pro- teção e recuperação do meio am- biente. O Decreto 6.514/08 adensa o conceito acima, estabelecendo uma séria de tipos administrativos que ensejam a aplicação de san- ções administrativas. São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambien- tal e instaurar processo administra- tivo os funcionários de órgãos am- bientais integrantes do SISNAMA, designados para as atividades de fi scalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos. O rito do processo administrativo punitivo segue o seguinte trâmite: uma vez lavrado o auto de infração, o infrator terá 20 dias para oferecer defesa ou impugnação, contados da ciência da autuação; apresentada ou não a defesa ou a impugnação, a autoridade competente terá 30 dias para julgar o autor da infração; se o julgamento importar em decisão condenatória, o infrator terá 20 dias para recorrer à instância superior do 11 SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas do Ministério da Marinha; o pagamento da multa deverá ser feito em 5 dias, contados da data do recebimento da notifi cação. As sanções serão aplicadas obser- vando: a) a gravidade do fato; b) os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação am- biental; e c) a situação econômica do infrator, no caso de multa. Além disso, o aplicador deverá ob- servar as disposições do Decreto 6.514/08, que especifi ca as san- ções cabíveis para cada tipo admi- nistrativo lá previsto, principalmente quanto ao valor da multa cabível para cada tipo. Se o infrator come- ter, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas. A Lei 9.605/98 estabe- lece as seguintes sanções: a) Ad- vertência: será aplicada pela ino- bservância das disposições da le- gislação em vigor, sem prejuízo das demais sanções abaixo; b) Multa simples: será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: i) não sanar as irregularidades no pra- zo estabelecido na advertência; ii) opuser embaraço à fi scalização dos órgãos ambientais; c) Multa diária: será aplicada sempre que o cometi- mento da infração se prolongar no tempo. Obs: As multas variam de R$ 50 a R$ 50 milhões; o pagamen- to de multa imposta pelos Estados e Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência; d) Apreensão dos animais, pro- dutos e subprodutos da fauna e fl ora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; e) Destruição ou inuti- lização do produto; f) Suspensão de venda e fabricação do produ- to: será aplicada quando o produto não obedecer às prescrições legais ou regulamentares; g) Embargo de obra ou atividade: será aplica- do quando a obra ou atividade não obedecer às prescrições legais ou regulamentares; h) Demolição de obra: será aplicada quando a obra não obedecer às prescrições legais ou re- gulamentares; i) Suspensão total ou parcial de atividades: será aplicada quando a atividade não obedecer às prescrições legais ou regulamentares; j) Restritiva de direitos: são sanções desse tipo: suspensão ou cancelamen- to de registro, licença ou autorização, perda ou restrição de incentivos ou be- nefícios legais, perda ou suspensão de linhas de fi nanciamento ofi ciais, e proi- bição de contratar com o poder público por até 3 anos. O infrator pode se insurgir contra a apli- cação da sanção administrativa na via judicial. A defesa pode se dar por ação anulatória de débito fi scal (no caso de aplicação de multa, em que ainda não houve oportunidade de oferecer embargos à execução fi scal), embar- gos à execução fi scal (também no caso de multa), mandado de seguran- ça contra a sanção aplicada (a ação pode ser promovida contra a aplicação de quaisquer das sanções administrati- vas, mas reclama direito líquido e cer- to, ou seja, direito cujos fatos possam ser comprovados de plano, com prova pré-constituída) ou outra ação de co- nhecimento, em que o autor poderá questionar qualquer sanção, inclusive com a possibilidade de fazer pedido cautelar ou de tutela antecipada, res- peitados os requisitos dessas medidas contra o Poder Público. RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL 1. Responsabilidade penal ambien- tal das pessoas físicas: As pessoas físicas autoras, co-autoras ou partícipes de um crime ambiental, ainda que ajam em nome de pessoas jurídicas, serão responsabilizadas cri- minalmente. Além disso, respondem também criminalmente o diretor, o ad- ministrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta cri- minosa de outrem, deixa de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Às pessoas físicas são aplicá- veis as seguintes penas: 1.1. Privação da liberdade (detenção ou reclusão): estas poderão ser substituídas por penas restritivas de direito quando se tratar de crime culposo ou for aplicada pena priva- tiva de liberdade inferior a 4 anos, desde que a substituição seja sufi - ciente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. 1.2. Multa: será calculada segundo os critérios do Código Penal; se se revelar inefi caz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser au- mentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômi- ca auferida. 1.3. Restritivas de direito: podem ser de: a) prestação de serviços à comunidade; b) interdição temporá- ria de direitos; c) suspensão parcial ou total de atividades; d) prestação pecuniária; e) recolhimento domici- liar. 2. Responsabilidade penal am- biental das pessoas jurídicas. As pessoas jurídicas serão respon- sabilizadas nos casos em que a infração penal for cometida por de- cisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegia- do, no interesse ou benefício da sua entidade. Às pessoas jurídicas são aplicáveis isolada, cumulativa ou al- ternativamente as seguintes penas: 2.1. Multa: será calculada segundo o Código Penal; se se revelar ine- fi caz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. 2.2. Restritivas de direito: que po- derão ser de: a) suspensão parcial ou total da atividade, em caso de infração a leis ou a regulamentos ambientais; b) interdição temporária de esta- belecimento, obra ou atividade, em caso de funcionamento sem au- torização ou em desacordo com a concedida ou a lei; c) proibição de contratar com o Poder Público ou dele receber benefícios, que não poderá exceder o prazo de 10 anos. 2.3. Prestação de serviços à co- munidade: que poderão ser de: a) custeio de programa e de projetos 12 ambientais; b) execução de obras de recuperação de áreas degrada- das; c) manutenção de espaços pú- blicos; d) contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. 2.4. Liquidação forçada da pes- soa jurídica: a pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponde- rantemente, com o fi m de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime ambiental terá decretada sua liqui- dação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento de crime e perdido em favor do Fundo Peniten- ciário Nacional. 3. Crimes Ambientais. A Lei 9.605/98 traz, nos arts. 25 ao 69-A, diversos tipos penais, que devem ser lidos. 4. Processo penal. A ação penal quanto aos crimes previstos na Lei 9.605/98 é pública incondicionada. A composição do dano ambiental é: a) atenuante da pena; b) requi- sito para a transação penal; c) re- quisito para a extinção do processo na hipótese da suspensão do pro- cesso de que trata o art. 89 da Lei 9.099/95. A perícia de constatação do dano penal será realizada para efeitos de prestação de fi ança, cálculo da mul- ta e fi xação do valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, podendo ser aproveitada a perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível, instaurando-se o contraditório. Transitada em jul- gado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor nela fi xado, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido. A competência para julgar os cri- mes ambientais é da Justiça Es- tadual, ressalvado o interesse da União, suas autarquias ou empre- sas públicas, quando será da Jus- tiça Federal (art. 109, CF). O rito a ser observado é o previs- to no CPP, admitindo-se transa- ção penal (art. 27 da Lei 9.605/98 e arts. 74 e 76 da Lei 9.099/95), suspensão condicional do processo (art. 28 da Lei 9.605/98 e art. 89 da Lei 9.099/95) e suspensão condicional da pena (art. 16 da Lei 9.605/98 e arts. 77 a 82 do Código Penal) LINK ACADÊMICO 6 LEI DE BIOSSEGURANÇA (LEI 11.105/05) A chamada Lei de Biossegurança es- tabelece normas de segurança e me- canismos de fi scalização sobre os or- ganismos geneticamente modifi cados (OGM) e seus derivados. A Lei criou dois órgãos de suma im- portância, o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS e a Comissão Técnica de Nacional de Biosseguran- ça - CTNBio. O primeiro é órgão de assessoramento superior do Presi- dente da República, e é composto de Ministros de Estado. Já o segundo, é instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo. A CTNBio estabelece normas técnicas de segurança e dá pareceres técnicos para autorização de atividades que en- volvam pesquisa e comércio de OGM e derivados. A lei traz uma permissão bastante po- lêmica, que é a possibilidade, para fi ns de pesquisa e terapia, da utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embri- ões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação da Lei, ou que, já congelados na data da publicação da Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos geni- tores. A questão da possibilidade de utili- zação desses embriões para fi ns de pesquisa e terapia é polêmica. De um lado, há pessoas que defendem a in- constitucionalidade da autorização, por considerarem que tais células estão protegidas pelo “direito à vida”. A tese contrária entende que não há vida nes- sa fase e que os embriões em ques- tão, melhor do que serem descartados, devem ser aproveitados para salvar vidas e melhorar as condições de vida de pessoas portadoras de cer- tas doenças. O MPF ajuizou ação de inconstitu- cionalidade do art. 5º e §§ da Lei de Biossegurança. A ADI levou o nú- mero 3.510 no STF, que não julgou procedente a ação. A Lei proíbe expressamente a clo- nagem humana. A Lei também esta- belece responsabilidades civil, ad- ministrativa e penal pela prática de atos que violem seus dispositivos. A responsabilidade civil por danos da- nos ao meio ambiente e a terceiros tem as seguintes características: a) é objetiva; b) impõe reparação inte- gral; c) e é solidária, entre todos os responsáveis (art. 20). LINK ACADÊMICO 7 A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida dos estudos das disciplinas dos cursos de graduação, devendo ser complementada com o material disponível nos Links e com a leitura de livros didáticos. Direito Ambiental – 1ª edição - 2010 Autor: Wander Garcia, Professor e Palestrante, Autor de mais de 10 obras na área jurídica, Mestre e Doutorando em Direito pela PUC/ SP, Procurador do Município de São Paulo e Advogado. A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da Memes Tecnologia Educacional Ltda. São Paulo-SP. Endereço eletrônico: www.memesjuridico.com.br Todos os direitos reservados. É terminante- mente proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio ou pro- cesso, sem a expressa autorização do autor e da editora. A violação dos direitos autorais caracteriza crime, sem prejuízo das sanções civis cabíveis. 13