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...História daJ'rVlédicinanà\Í3rElsiI<, . ~ ~ •., :t.:.. .! ", • ., '," .•• '-. '. \' " . ~ • i" A·saúde pública no Brasil pratica-. mente inexistiu nos tempos de colônia. Um país colonizado, basica- mente, por degredados e aventureiros, desde o descobrimento até a instalação do Império, não dispunha de nenhum modelo de atenção à saúde da popu- lação e nem mesmo do interesse, por parte do governo colonizador (Portu- gal), em criá-lo. Deste modo, a atenção à saúde limi- tava-se aos próprios recursos da terra (plantas e ervas) e àqueles que, por co- nhecimentos empíricos (curandeiros), desenvolviam as suas habilidades na arte de curar. A vinda da família real ao Brasil, em 1808, criou a necessidade da organiza- ção de uma estrutura sanitária mínima, capaz de dar suporte ao poder que se . instalava na cidade do Rio de Janeiro. A carência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme. Para se ter uma idéia, no Rio de Janeiro, em 1789, só existiam qua- tro médicos exercendo a profissão. Em outros estados brasileiros eram inexis- tentes. A falta de uma assistência médica estru- turada fez com que proliferassem pelo país os boticários (farmacêuticos). A eles cabia a manipulação das fórmulas prescritas pelos médicos, mas a verdade é que eles próprios tomavam a iniciativa de indicá-los, Não dispunham de um aprendizado acadêmico, o processo de habilitação na função consistia tão somente em acompanhar, durante um certo período, o serviço de uma botica estabelecida. Ao fim deste período, prestavam exame perante a fisicatura e, se aprovado, o Gravura de hospital público do século XIX candidato recebia a "carta de habilita- ção" e estava apto a instalar sua própria botica. As necessidades da corte forçaram a criação das duas primeiras escolas de medicina do país. Em 1808, Dom João VI fundou, na Bahia, o Colégio Médico - Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador. No mês de novem- bro do mesmo ano, foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao real Hospital Militar. Até 1850, as atividades de saúde públi- ca estavam limitadas à delegação das atribuições sanitárias, às juntas muni- cipais e ao controle de navios e saúde dos portos. Verifica-se que o interesse primordial estava limitado ao estabele- cimento de um controle sanitário míni- mo da capital do Império, tendência que se alongou por quase um século. 7 E foram essas as únicas medidas gover- namentais relativas à saúde pública até a República. Medidas sanitaristas Foi no governo de Rodrigues Alves 0902-1906) que houve a primeira me- dida sanitarista no país. O Rio de Janeiro não tinha nenhum saneamento básico, e assim várias doenças graves, como varí- ola, malária, febre amarela e até a peste bubônica, espalhavam-se facilmente. O presidente então nomeou o médico Oswaldo Cruz para sanar o problema. O sanitarista convocou 1.500 pessoas para ações que invadiam as casas dos cidadãos, queimavam roupas e col- chões. Sem nenhum tipo de ação edu- cativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição de uma vacinação anti-va- rlola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz aca- bou afastado. Apesar do fim conflituoso, o sanitarista. conseguiu resolver parte dos problemas e colher informações que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma campanha rotineira de ação e edu- cação sanitária. Assistência médica para a população pobre Pouco foi feito em relação à saúde depois desse período. Apenas com a chegada dos imigrantes europeus, que formaram a primeira massa de operários do Brasil, começou-se a discutir, obviamente com fortes formas de pressão, como greves e manifestações, um modelo de assis- tência médica para a população pobre. Assim, em 1923, surge a lei Eloy Cha- ves. criando as Caixas de Aposentadoria e Pensão. Essas instituições eram mantidas pe- las empresas, que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União não participava das caixas. A pri- meira delas foi a dos ferroviários. Elas tinham entre suas atribuições, além da assistência médica ao funcionário e à família, concessão de preços especiais para medicamentos, aposentadorias e 8 pensões para os herdeiros. Detalhe: es- sas caixas só valiam para os funcioná- rios urbanos. Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas toma o poder. É criado o Ministé- rio da Educação e Saúde e as caixas são substituídas pelos Institutos de Aposen- tadoria e Pensões (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, pas- .sam a ser dirigidos por entidades sin- dicais e não mais por empresas, como as antigas caixas. Suas atribuições são muito semelhantes às das caixas, pre- vendo assistência médica. O primeiro IAP foi o dos marítimos. A União conti- nuou se eximindo do financiamento do modelo, que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período getulista. O Ministério da Educação e Saúde to- mou medidas sanitaristas, como a cria- ção de órgãos de combate a endernias e normativos para ações sanitaristas. Vinculando saúde e educação, o minis- tério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos irrisórios. Dos anos 1940 a 1964, início da di- tadura militar no Brasil, uma das dis- cussões sobre saúde pública brasileira se baseou na unificação dos IAPs como forma de tornar o sistema mais abran- gente. É de 1960 a Lei Orgânica da Previdência Social, que unificava os IAPs em um regime único para todos os trabalhadores regidos pela Conso- lidação das Leis Trabalhistas (CLT), o que excluía trabalhadores rurais, em- ! ; • i , '. ! . . pregados' domésticos e funcionários públicos. É a primeira vez que, além da contribuição dos trabalhadores e das empresas, se definia efetivamente uma contribuição do Erário Público. Mas tais medidas foram ficando no pa- pel. A efetivação dessas propostas só aconteceu em 1967, pelas mãos dos militares, com a unificação de IAPs e a conseqüente criação do Instituto Na- cional de Previdência Social (INPS). Surgiu, então, uma demanda muito maior que a oferta. A solução encontrada pelo' goveúià foi pagar a rede privada pe- los serviços prestados à população. Mais complexo, a estrutura foi se mooificando e acabou por criar o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (lnarnps),em 1978, que ajudou no trabalho de intermediação dos repas- ses para a iniciativa privada. Um pouco antes, em 1974, os militares já haviam criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvi- mento Social (FAS), que ajudou a remo- delar e ampliar a rede privada de hospi- tais, por meio de empréstimos com juros subsidiados. Toda essa política acabou proporcionando um verdadeiro boom na rede privada. De 1969 a 1984, o nú- mero de leitos privados cresceu cerca de 500%. De 74.543, em 1969, para 348.255, em 1984. O modelo criado pelo regime militar era pautado pelo pensamento da medicina curativa. Poucas medidas de prevenção e sanitaristas foram tomadas. A mais importante foi a criação da Superinten- dência de Campanhas da Saúde Pública (Sucarn), Durante a transição democrática, final- mente a saúde pública passa a ter uma fiscalização da sociedade. Em 1981, ainda sob a égide dos militares, é criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp). Com o fim do regime militar, surgem outros órgãos que incluem a participação da sociedade civil, como o Conselho Na- cional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conaserns). Sistema privado de saúde Se de um lado a sociedade civil co- meçou a ser mais ouvida, do outro, o sistema privado de saúde, que havia se beneficiado da política anterior, teve que arranjar outras alternativas. É nesse período que se começa a era dos con- vênios médicos. Surgem cinco modali- dades diferentes de assistência médica suplementar: medicina de grupo, coo- perativas médicas, auto-gestão, seguro- saúde e plano de administração. A classe média, principal alvo destes grupos, adere rapidamente, responden- do contra as falhas da saúde pública. O crescimento dos planos é vertiginoso. Em 1989, já contabilizavam mais de 31 mil brasileiros, ou 22% da popula- ção, faturando US$ 2,4 bilhões. Ao lado dessas mudanças, os consti- tuintes da transição democrática come- çaram a criar um novo sistema de saú- de, que mudou os parâmetros da saúde pública no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS). Saúde no campo o trabalhador rural ficou por séculos excluído de qualquer auxílio sistemático à saúde. Somente em 1963 foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que começa a prever aposentadoria e assistência médica. Tal negligência é historicamente explicada. Na criação das caixas de assistência, a elite cafeicultora e canavieira pressionou para que a novidade fosse limitada aos centros urbanos. Além disso, a rnobili- zação social no interior sempre sofreu revezes com a falta de articulação. Com a criação do SUS, eles foram finalmente incluídos como cidadãos no sistema de saúde. SUS O SUS foi criado pela Constituição Fe- deral de '1988 para que toda a popu- lação brasileira tenha acesso ao atendi- mento público de saúde. Anteriormente, a assistência médica estava a cargo do Inamps, extinto em 27 de julho de 1993, ficando restrita aos empregados que contribuíssem com a previdência social. Os demais eram considerados indigentes e eram atendidos apenas em serviços filantrópicos. Do SUS fa- zem parte os centros e postos de saúde, hospitais - incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de fundações e institutos de pesquisa, como a Fundação Oswaldo . Cruz e o Instituto Vital Brazil. Apesar do SUS ter sido definido pela Constituição de 1988, somente foi re- gulamentado em 19 de setembro de 1990, através da Lei 8.080. Esta lei define o modelo operacional do SUS, propondo a sua forma de organização e de funcionamento. O SUS é concebido como o conjunto de ações e serviços de saúde, presta- dos por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. A iniciativa privada poderá participar do SUS em caráter complementar. Pela abrangência dos objetivos propos- tos e pela existência de desequilíbrios socio-econômicos regioniais, a implan- . tação do SUS não tem sido uniforme em todos os estados e municípios bra- sileiros, pois para que isto ocorra é ne- cessário uma grande disponibilidade de recursos financeiros, de pessoal qualifi- cado e de uma efetiva política a nível federal, estadual e municipal para viabi- lizar o sistema. Não é nada fácil administrar e pensar a saúde pública num país continental como o Brasil. Mas se os desafios são; grandes, as vitórias também podem ser, basta vontadern Referências Bibliográficas · ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena hls- lórln du tonuuçao soclnl orasuotra. Hlo cio Janolro. Graal, 1981, 728 p. ed. · CAMPOS, Francisco E.; OLIVEIRA, Mozart; TO- NON, Lidia M. Planejamento e gestão em saúde. Belo Horizonte: Coopmed, 1998.102 p. (Cadernos de saúde, 2) i . _ i · GUIMARAES, Reinaldo. Saúde e Medicina no Bra- sil: contribuições para um debate. 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