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1 6ª. Apostila de Sociologia Jurídica A Sociedade e o Direito I – A Sociedade 1. A cultura 1.1. Conceito Existem diferentes significados para cultura. De acordo com o pensamento antropológico, sociológico e histórico, cultura é entendida como o conjunto de modos de vida criados e transmitidos de uma geração para outra, abrangendo crenças, artes, normas, costumes, linguagem. É tudo que o ser humano produz ao construir sua existência. Toda cultura tem seus valores e sua própria verdade e lógica. 1.2. Características da cultura: � Criação dos seres humanos � Duradoura e múltipla � Transforma-se segundo as normas e a compreensão do mundo da sociedade � É adquirida pela aprendizagem e não herdada pelos instintos � Transmitida de geração para geração por meio da linguagem O ser humano é cultural e histórico, isso significa dizer que os seres humanos variam de acordo com as condições sociais, econômicas, políticas e históricas em que vivem. Todos os seres humanos possuem cultura e não existe uma cultura superior a outra. Cultura é tudo que é produzido pelo ser humano – material e imaterial, é construída e compartilhada pelos membros da sociedade, manifesta-se por meio de diversos sistemas de valores, normas, condutas O ser humano é uma síntese de características biológico e cultural, melhor dizendo, possui aspectos herdados biologicamente e outros adquiridos pela cultural. Por meio da cultura o ser humano cria um mundo novo, diferente do cenário natural originalmente encontrado – natureza. Essa construção se dá pelos conhecimentos e realizações desenvolvidas pelos diferentes grupos sociais. 2 2. O processo de Socialização: o ser humano como ser social Socialização é o processo pelo qual o indivíduo adquire as maneiras de agir, pensar, sentir do grupo, da sociedade e da civilização em que vive. É o processo pelo qual se transmite e absorve a cultura, ou seja, os valores e os costumes. Os homens aprendem que viver em grupo é a melhor maneira de superar os outros animais, de se defender, de trabalhar e produzir mais. A sobrevivência se torna mais fácil em sociedade. Eles passam a interagir, surgem as instituições, organizações e fenômenos sociais. Ao nascer o homem encontra um grupo estruturado com normas valores e costumes – a família. Assim, a sociedade precede o indivíduo. A família faz parte de um grupo maior, que dotará o indivíduo com os mesmo traços sociais dos outros membros. Ser social significa a capacidade do ser humano se relacionar e interagir, adquirir hábitos, se identificar com o grupo, intervindo na realidade, transformando-a. � As interações sociais ocorrem quando os seres humanos se relacionam e se comunicam, influenciam e sofrem influência, modificam e são modificados em seu convívio social. São as ações recíprocas de idéias, atos ou sentimentos entre pessoas e grupos. � Os processos sociais básicos são a interação de padrões de comportamento que se repetem na vida social. São eles: a) Cooperação: processo social em que os indivíduos trabalham por um fim é comum. b) Competição: processo social, consciente ou inconsciente, em que os indivíduos disputam bens e vantagens limitadas. c) Conflito: processo social, consciente, pelo qual as pessoas procuram recompensas para eliminação ou enfraquecimento do oponente. É tenso, periódico. d) Acomodação: processo social em que os indivíduos aceitam uma determinada situação de conflito sem modificarem suas atitudes e idéias. Não elimina o conflito. É aparente. Pode ter vários graus: coerção, tolerância, acordo (arbitramento e mediação) e conciliação. 3 e) Assimilação: processo social em que os indivíduos modificam atitudes e valores a fim de se integrarem ao meio social em que vive. Garante a solução de conflitos. � Por meio do processo socialização, o indivíduo vai ocupar várias posições na sociedade: � Status: posição ocupada por um indivíduo na sociedade. É a posição social ou o status que determina o comportamento ou papel social do indivíduo, as normas de conduta a seres seguidas. A cada status corresponde um conjunto de direitos e deveres. Ex: ministro, magistrado, procurador, advogado. � Papel social: cada posição social, status, corresponde a um papel social, que é um comportamento socialmente esperado de um indivíduo que ocupa certo status. É conjunto de direitos, obrigações e expectativas culturalmente definidas. É por meio do processo de socialização que se aprende o significado das coisas na sociedade em que se está inserido: os valores e os costumes. 3. Sociedade e Controle social Toda sociedade estabelece regras de convivência entre seus membros, sem as quais seria impossível a convivência social – o controle social. O controle social se dá por meio das normas, que são as obrigações sociais e podem ser informais ou formais. As normas estão baseadas em valores que a sociedade considera essenciais para o seu funcionamento. As normas, ou seja, as obrigações sociais, são interiorizadas pelos indivíduos e os conduzem em sua vida social. O controle social, portanto, está baseado em valores relacionados com cada sociedade particular. 4. Valores sociais Um valor, segundo Agnes Heller, é tudo que orienta nossa vida e contribui para o enriquecimento das qualidades que nos caracterizam como seres humanos. Os valores impõem-se ao indivíduo como algo absoluto, inquestionável. Os valores variam entre as civilizações e as posições sociais, e variam, também, em função do tempo. 4 Os valores quando interiorizados passam a ser vistos como naturais e se organizam de tal modo na sociedade que se impõem aos seus membros, orientando os atos e pensamentos. Quando os valores se transformam em normas e costumes, asseguram a regulamentação da vida dos indivíduos em sociedade. 5. Costumes e normas Os hábitos e os costumes são aprendidos socialmente. São essenciais para o funcionamento da sociedade e por isso são institucionalizados para garantir que sejam seguidos. A partir dos hábitos e costumes se estabelecem as normas. As normas têm força coercitiva e podem ser: � Formais: codificadas pelo Direito e sancionadas pelo Poder Público. � Informais: costumes e comportamentos ritualizados. I - Direito O Direito estuda as normas expressas que regulam o comportamento social, estabelecendo direitos e obrigações entre as partes, solucionando conflitos, por meio de um sistema legislativo específico em cada sociedade. 1. Direito e a realidade social O Direito condiciona a realidade social e ao mesmo tempo é resultado dessa realidade. O fenômeno jurídico é, assim, reflexo da realidade social e também fator condicionante dessa realidade. O Direito influencia a política, ciência, educação, ética, arte, tecnologia, ao senso comum, religião, pois através da legislação favorece ou não, limita ou estimula, reforça, modifica, enfraquece algum aspecto da sociedade. O comportamento social se transforma de acordo com o momento histórico e as sociedades, daí resulta a variabilidade do direito. Do tipo de sociedade depende a sua ordem jurídica, destinada a satisfazer as necessidades dos grupos sociais, dirimir possíveis conflitos de interesses, assegurar a sua continuidade, atingir as suas metas e garantir a paz social. O Direito não é apenas um modo de resolver conflitos, pois além de prevenir e solucioná-los, ele vai além e condiciona, direta e indiretamente, o comportamento. 5 2. Direito, valores e costumes A ordem jurídica é fato constatável em qualquer sociedade complexa. O aparecimento de um grupo social com instituições próprias corresponde ao surgimento de um determinado sistema jurídico – contendo as normas aprovadas e desaprovadas, o meio de coação que garantam a obediência àquelas normas de conduta. Isso acontece porque em todos os grupos humanos existe a valoração de situações, coisas e idéias. A cada valor se estabelece uma conduta, definindo o justo e injusto, certo e errado, permitido e proibido. São valores que ao estabelecer regras de conduta garantem a sobrevivência do grupo. O costume como parte dessa realidade social tem enorme força na formação do Direito. O costume reflete práticas úteis, aprovadas e ajustadas à sociedade e, com o tempo, adquirem autoridade própria. Em grande número de casos, o costume se transformou em Direito Positivo. 3. O Direito e as normas A norma contém o princípio ideal de obrigatoriedade e do qual os indivíduos podem estar conscientes ou não. Os símbolos, os valores e a as normas dão um sentido e orientam as ações dos indivíduos, que buscam a satisfação de suas necessidades. A aplicação das normas varia em função da posição da pessoa no sistema social. Existem normas que são universalmente aplicadas a todos os membros do grupo. Outras normas valem apenas para algumas pessoas. As normas podem • Implícitas: são transmitidas pela tradição e comportamento, e podem ter um alto poder de coerção, pois implicam em sentimentos de obrigatoriedade. São valores interiorizados, dos quais os indivíduos não têm muita consciência. • Explicitas: são registradas no nível da consciência pelas declarações verbais e também pelo sentimento de obrigatoriedade. 4. O Direito e o Controle social Controle social é qualquer meio de levar as pessoas a se comportarem de forma socialmente aprovada. O meio básico de controle social é a socialização, por 6 meio da assimilação de valores, crenças e normas. A socialização é o processo de aprendizagem e de interiorização dos elementos socioculturais, normas, valores do grupo social que estruturam o indivíduo. A eficiência do controle social se dá quando as pessoas orientam suas ações segundo as recompensas e as punições (sanções positivas e negativas) previstas em relação ao cumprimento ou infração das normas sociais, e, também acreditam na legitimidade das regras impostas. Isso é possível porque as pessoas interiorizam valores e crenças que fundamentam as normas. O controle social não funciona apenas por desejo de recompensas ou o medo de punição, ou seja, as pessoas não obedecem a uma norma por desejo de recompensa ou medo da punição, mas é o significado subjetivo da recompensa e da punição dado pelo grupo social. O homem tem uma necessidade básica de ser aceito socialmente, e é essa necessidade universal que é a fonte psíquica do desejo e de gratificação e temor às punições. As sanções positivas e negativas e a socialização são os instrumentos universais de controle social. As sanções negativas são mais evidentes que as positivas e podem ser informais ou formais e ritualizadas. As sanções negativas informais são aplicadas pela própria sociedade, por pressão social, gerando castigo, perda de privilégios, desprezo, sentimento de culpa. As sanções negativas formais são os códigos legais. O direito é uma forma controle social que exerce coerção efetiva sobre os indivíduos e trata dos fatores normativos do comportamento social. A norma jurídica é o instrumento mais institucionalizado e importante de controle social. O controle jurídico invadiu áreas antes guardadas a outros tipos de controle social, por exemplo a competição na sociedade moderna. Controle social e o controle jurídico são interdependentes. Conclusão: O Direito é o instrumento institucionalizado de grande importância para o controle social. Desde o início das sociedades organizadas manifestou-se o fenômeno jurídico, como sistema de normas de conduta a que corresponde uma 7 coação exercida pela sociedade, segundo certos princípios aprovados e obedientes a formas predeterminadas. A norma jurídica é resultado da realidade social. A norma jurídica emana da sociedade e por seus instrumentos e instituições destinadas a formular o Direito, reflete as crenças, os valores e os objetivos da sociedade. Isso pode ser amplamente observado ao se encontrar uma variedade de sistemas e normas em diferentes culturas. Realidades sociais diferentes condicionam ordens jurídicas diferentes. O Direito surge e evolui em um contexto social e histórico, em resposta às necessidades dos homens. O Direito e a sociedade se inter-relacionam, transformando-se. As relações sociais permitem o surgimento do evento jurídico como uma das expressões sociais mais significativas. O Direito vigente é, exatamente, aquele que obtém aplicação eficaz na realidade social, o que se imiscuiu na conduta dos homens em sociedade, e não o que simplesmente se contém lei, sem ter conseguido força real suficiente para impor-se aos indivíduos e grupos sociais. A eficácia social diz respeito à relação entre norma jurídica e sociedade. Considera-se eficaz a norma jurídica que for adequada à realidade social e aos seus valores, sendo assim aplicada, respeitada e obedecida. Bibliografia CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Sociologia Jurídica . 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. DIAS, R. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson, 2010. LARAIA. R. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. LEMOS FILHO, Arnaldo (et al.). Sociologia Geral e do Direito. Campinas: Editora Alínea, 2008. ROSA, F. A. M.. Sociologia do Direito: o fenômeno jurídico como fato social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.