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Centro Universitário da Cidade UniverCidade Escola de Ciências Jurídicas Curso de Direito Súmulas de Aulas HISTÓRIA do DIREITO De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos. (Confúcio) Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente, temos de saber o que somos para saber o que seremos. (Paulo Freire) Autores: Edvaldo Lopes de Araújo Tainá de Araújo Pinto 2011 2 A P R E S E N T A Ç Ã O Este trabalho é um resumo das noções básicas para o estudo da História do Direito, baseada nas obras de grandes cultores da História, que são: Césara Cantú, John Gilissen, Walter Vieira do Nascimento, Flávia Lages Castro, Paulo Dourado Gusmão, Rosalina Corrêa de Araújo, José Carlos Moreira Alves, Jânio Quadros, Therezinha de Castro, José Ferreira da Costa. Ele é uma síntese básica de uma das disciplinas propedêuticas do Direito sem a qual não é possível o estudo e o entendimento da nossa ciência. É importante lembrar que ela não foi elaborada para mestres, nem para os teóricos de Direito, mas sim, para os estudantes que estão iniciando a longa caminhada no mundo da mais importante das ciências históricas culturais, que é o Direito. Têm objetivos práticos e didáticos, afastando-se propositadamente do teorismo e das teorias obsoletas, bem como das questões bizantinas inaplicáveis à nossa realidade. É uma contribuição para os aos alunos do Curso de Direito da nossa UniverCidade que devem seguir a risca a lição de Pavlov. ―... Aprendam o ABC da ciência antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão – no entanto, ela, inevitavelmente, arrebenta e nada fica além da confusão.‖ Rio de Janeiro, agosto de 2011. Edvaldo Lopes de Araújo Tainá de Araújo Pinto 3 PRIMEIRA PARTE NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DA HISTÓRIA DO DIREITO 1 – Definição e Importância da História do Direito 1.1 – Conceito de História do Direito. Estudo cronológico do Direito como fato empírico e social, resultante da interação humana, ou seja, o estudo das experiências jurídicas do passado, para que possamos viver o presente e planejar o futuro da sociedade. 1.2 – Espécies de História do Direito (Leibniz) 1 . a) História Externa é a história das Fontes do Direito, ou seja, ela estuda as fontes jurídicas, o papel que elas desempenharam na formação de cada Direito. Estuda, também, a influência das leis, dos costumes e da interpretação jurídica. P.Ex: História da Formação do Direito Romano. b) História Interna é a história das Instituições do Direito, Ela estuda as regras do Direito que emanaram de cada instituição, indagando como surgiram, porque fases passaram como desapareceram e que influências elas tiveram nas instituições jurídicas do mundo atual. P.Ex: A Família, A Propriedade, A Herança, O Contrato, O Comércio, etc. 1.3 – Objeto da História do Direito é a interpretação histórica dialética do fenômeno jurídico e seu dimensionamento em função do tempo. Ensina H. de Page: A história do direito é muitas vezes trarada com um condescendente desdém, por aqueles que entendem ocupar-se apenas de direito positivo. Os juristas que se interessam por ela, quase sempre com investigações muito longas e muito laboriosas, são frequentemente acusados de pedantismo... Uma apreciação deste género não beneficia aqueles que a formulam. Quanto mais avançamos no direito civil, mais constatamos que a História, muito mais do que a Lógica ou a Teoria, é a única capaz de explicar o que as nossas instituições são as que e porque é que são as que existem.2 O Direito, como manifestação social, constitui o mais importante dos instrumentos disciplinadores de toda a atividade humana. Como processo de adaptação social, o Direito deve, sempre, acompanhar as mobilidades sociais, sendo indispensável que ele seja o Ser Atuante e o Ser Atualizador, criando procedimentos novos e eficazes na garantia do equilíbrio e da harmonia da Sociedade. Todavia é importante não esquecer que, mesmo estando o Direito sujeito a um processo permanente de evolução, ele é capaz de resistir, por muito tempo, às mudanças sociais, funcionando em determinados momentos como Freio social, estabelecendo, sempre uma relação entre o presente e o passado. Ensina Walter Vieira do Nascimento 3 que “há de se tomar o presente como uma extensão do passado. Donde se pode acrescentar que uma visão mais ampla do atual só é possível se precedida da visão que se tenha do antigo‖. A esse respeito, também, encontramos o seguro ensinamento de Clóvis Bevilóqua em sua obra ―Lições de Legislação Comparada‖: 1 LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm von (Leipzig, 1 de julho de 1646 — Hanôver, 14 de novembro de 1716) foi um filósofo, jurista, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. 2 H. DE PAGE, Trai té de droit civil helge, t. Vi, Bruxeíles 1942, 806. 3 NASCIMENTO, Walter Vieira do – Lições de História do Direito. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1990. 4 Se o historiador jurídico pode reatar os elos principais da evolução do direito, acompanhando as pegadas que ela foi gravando através da história, dos costumes e das instituições, é porque se deu um desdobramento natural, e lógico das instituições primitivas, é porque os estágios sucessivos se prendem uns aos outros procedem os mais recentes dos mais remotos. 2 – A Palavra Direito e Suas Acepções. 2.1 – Origem da Palavra Direito: a) No baixo latim ou latim popular - junção de ―dis‖ (muito intenso) mais ―rectum‖ (reto) = disrectum, Directum, que significa o que é reto ou o que é justo; b) No latim clássico – ―Jus‖, provavelmente originária do sânscrito 4 – Iás (recinto sagrado onde se ministrava a Justiça – Jus, significa o ordenado, o sagrado, o consagrado etc.) (―jus‖ – justo, justiça, júri, jurisconsulto, jurisprudência etc.) 3 – A Gênese ou Nascimento do Direito O homem, ao interferir no processo de formação do Direito, tem que obedecer, obrigatoriamente, às regras predeterminadas, desvinculando-se de qualquer concepção arbitrária, pois, se assim não fizer poderá ter, que enfrentar a revolta da opinião pública, 5 o que fatalmente levará a não aplicação da lei, ou a sua reformulação. É um engano exagerar o fator volitivo na gênese do Direito, pois o Direito não pode ser concebido como um ato isolado, mas, sim, como um conjunto das circunstâncias sociais e de motivos axiológicos 6 que cerca aquele que tem de legislar. Mesmo quando Jhering,7 em sua obra ―a Luta pelo Direito‖, afirma que o Direito é ―uma luta dos povos, dos governos, das classes, dos indivíduos‖, ele não está estabelecendo como gênese exclusiva do Direito a luta, mas, sim, afirmando que o Direito não resulta de um processo exclusivo de formação voluntária, mas de uma “conjugação de forças e circunstâncias provenientes de uma ação simultaneamente espontânea e elaborada. Acreditamos que para distinguir o momento da formação e elaboração do Direito é necessário e oportuno examinar, primeiramente, as principais correntes filosóficas que buscam a origem do conhecimento humano, já que o homem é um animal histórico que, por excelência, conhece. 3.1 – Origem do Conhecimento Humano A) Empirismo - afirma que todo e qualquer conhecimento encontra o seu fundamento na experiência. Ensina Miguel Reale 8 que o Direito ―brota dos fatos e que existe em função dos fatos, cujas relações não nos é dado ultrapassar. Resumindo, podemos afirmar que dentro da concepção empírica a fonte primeira do Direito é a experiência, cuja 4 SÂNSCRITO – antiga língua sagrada da Índia: o sânscrito é a mais antiga das línguas indo-européias. 5 FATOR VOLITIVO – fator que diz respeito à volição ou à vontade. 6 AXIOLOGIA – ciência dos valores teve seu início no princípio do séc. XX e tem suas origens próximas na ética de Brentano e na Filosofia Fenomenológica. 7 JHERING, Rudolf Von – jurista Alemão (1818-1892). Opôs-se à formação espontânea do Direito, defendida pela Escola Histórica. Admite a evolução impulsionada por conflitos de interesses. Obras principais: ―O Espírito do Direito Romano‖, ―A Luta pelo Direito‖ e ―O Fim no Direito‖. 8 REALE, Miguel – Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Ed. Saraiva, 1998. 5 existência só é possível no Direito Positivo, pois só ele permite observar o resultado prático e palpável dessa experiência O Direito Positivo parte dos fatos para formular as leis (normas) que se destinam a determinar a conduta dos indivíduos‖. B) Racionalismo - (do latim ―ratio‖, razão) vê, não na experiência, mas no pensamento a fonte principal do conhecimento, o Racionalismo reconhece as realidades empíricas, cuja explicação só é possível por meio da razão; sem refutar o Direito Positivo, o Racionalismo o situa ao lado do Direito Natural, ideal ou racional, que subordinou a si o Direito Positivo, por ser um Direito permanente, imutável e universal, expressão necessária da própria natureza do homem e condicionante universal de toda a vida prática, sendo, assim, o fundamento do Direito Positivo. C) Criticismo - segundo o Criticismo a razão não comporta idéias inatas, mas certas formas ou ―categorias A Priori, puras, condicionadoras da experiência, manifestando-se em função delas‖. Se não existissem as Categorias, não poderia haver conhecimento humano, a não ser o empírico. Para Kant 9 o Direito Natural é um só, porque se fundamenta em postulados da razão humana, de nada dependendo. Todavia a aplicação desse direito pode variar, refletindo-se no Direito Positivo ou de cada povo. O Direito Positivo varia de povo para povo, de acordo com as circunstâncias de tempo, de lugar, de momento histórico e cultura, mas todas as legislações se baseiam num mesmo conjunto de princípios. Para o Criticismo, o direito que se processa historicamente é resultado de uma experiência. ―Esta, porém, só se torna possível por meio de formas a priori transcendentais‖. SEGUNDA PARTE II - HISTÓRIA DO DIREITO NAS PRIMEIRAS GRANDES CULTURAS. 1 – Tempos Primitivos. Mesmo renunciando a formulação de uma trajetória unívoca e retilínea para as instituições sociais de todos os povos, acreditamos que os homens primitivos eram nômades e a associação humana era determinada pelas relações individuais e pelos laços de parentesco. Nesse período, temos a horda, o clã e a tribo. Mais tarde, o homem se fixa ao solo e o vínculo social vai lentamente se transformando de individual para territorial. A vida sedentária provoca o aparecimento de aglomerações mais densas formando as cidades, que unidas entre si formam a Nação, e esta institucionaliza o Estado, como máquina político-administrativa, cuja finalidade maior é garantir o Bem Comum e a Segurança Pública da população que vive em seu Território. Ensina Ludwick Gumplowicz 10 (Précis de Sociologie, Paris, 1896) que o Estado tem como primeira ação constitutiva a subjugação de um grupo social por outro grupo e no estabelecimento, pelo primeiro de uma organização que lhe permita dominar o outro: “O Estado é um conjunto de instituições que tem por fim a dominação de certo número de homens sobre outros homens e essa dominação é sempre exercida por uma minoria sobre a maioria”. O Direito, que só pode formar-se no Estado é a expressão de desigualdade dos grupos sociais, não existe um Direito Natural, nem direitos inatos do cidadão. 9 KANT, IMMANUEL – o ―primeiro dos filósofos modernos‖, nasceu em Königsber em 1724, onde viveu e morreu (1804). Sua vida foi um modelo de equilíbrio, simplicidade e honradez. Apesar de racionalista, reagiu ao dogmatismo, desconhecedor de limites da Razão. As suas obras fundamentais são: a ―Crítica da Razão Pura‖ (1781), a ―Crítica da Razão Prática‖ (1788) e a ―Crítica do Juízo‖ (1790). Para o Direito sua principal obra foi os ―Fundamentos da Metafísica dos Costumes‖ (1785). 10 LUDWIG GUMPLOWICZ, escritor e jurista austríaco de origem polonesa que defendia um estado baseado na luta de classes superiores em detrimento das inferiores. Os homens lutam para satisfazer suas necessidades materiais. A desigualdade entre 6 Mesmo aceitando a exposição de Gumplowicz como cientificamente brilhante, preferimos asseverar que os povos primitivos eram nômades e tinham uma organização primária e uma disciplina débil. Mais tarde, os homens fixaram-se a terra, formando clãs, tribos, cidades e finalmente o Estado. Não podemos esquecer que, nesse processo de evolução da sociedade humana, ―a família como primeiro vínculo natural unem em si todos os fins da vida e é a fonte de todas as formações social posterior; está claro que o Direito tem nela também a sua origem‖. Com o aparecimento do Estado, o Direito recebe uma posterior extensão e caráter especial de normalizador de todas as diferenças e relações da vida social. 2. O Direito nas Primeiras Grandes Culturas. (Egípcios, Babilônios, Hebreus, Hindus, Árabes). As primeiras grandes culturas desenvolvidas no Oriente apresentaram, no dizer de Alfredo Weber 11 , um verdadeiro ―consórcio entre o magismo primitivo e a primeira organização racional da Economia, da Sociedade e do Estado. O estrato social dominante, detentor dos segredos mágicos, impunha sua dominação sobre as camadas inferiores, pela Religião unificada com o Direito”. O Direito era então uma tradição sagrada mantida pelos sacerdotes, que foram os primeiros juízes. Secreto era o conhecimento do Direito, guardado pelos sacerdotes ou pelos mais velhos. Com o tempo, o Direito tornou-se o conjunto de decisões judiciais que, sendo ininterruptamente repetidos, tornaram-se costumes 12 . Então, das sentenças surge os costumes e dos costumes as leis, ou melhor, o Direito. Afirma o Prof. Paulo Dourado de Gusmão (Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro, Forense, 1999), que “o Direito primitivo era respeitado religiosamente, não só pelo temor as suas sansões draconianas 13 e desumanas, como também, por medo da ira dos deuses que poderia se manifestar por epidemias, secas, chuvas, etc., como acreditavam os povos das primeiras culturas”. No estudo do Direito oriental notamos que a maioria dos legisladores declarava ter recebido o Direito ou as leis das mãos de seu Deus. Nesse Direito primitivo não há distinção entre os diversos ramos da árvore jurídica, ou seja, o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito Administrativo etc, estavam todos inseridos na mesma legislação. 11 ALFRED WEBER, Alemão. Sociólogo, economista e teórico da cultura. (nascido em 30 de julho de 1868 em Erfurt – morreu em 2 de maio de 1958 em Heidelberg) na Alemanha. De 1907 a 1933 foi professor na Universidade de Heidelberg até a sua demissão Na sequência das críticas do hitlerismo. Ele foi restabelecido em 1945 e continuou no cargo até 1958, ano de sua morte. 12 COSTUMES são as regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica. 13 DRÁCON OU DRACONTE (em grego: Δράκων, transl. Drákōn) foi um legislador ateniense (século VII a.C.) Deve-se a Drácon o começo de um importante princípio do Direito Penal: a diferença entre o homicídio involuntário, voluntário e legítima defesa. Tanto o furto como o assassinato recebiam a mesma punição: a morte. Essa severidade fez que o adjetivo draconiano (do francês draconien) chegasse à posteridade como sinônimo de desumano, excessivamente rígido ou drástico. Um político de 4 a.C. gracejou que Drácon não escreveu suas leis com tinta, mas com sangue. 7 2.1 – O Direito Egípcio. Na Civilização Egípcia predominou um Estado Teocrático 14 , vinculado ao regime de castas. A primeira camada da sociedade era formada pelos sacerdotes e pelos guerreiros, abaixo vinham os pastores, os agricultores e os artesãos. Os negros formavam a última classe. A história de rei e sacerdote, no Egito, é diferente da história da Babilônia 15 , pois os Reis da Suméria 16 e da Assíria 17 , eram sacerdotes que se tinham tornado reis. O Faraó do Egito não parece ter seguido esta direção. H. G. Wells, em sua História Universal, vol. II, afirma que nos mais antigos documentos ou registros, o Faraó tem poder e importância superior ao de qualquer sacerdote. Não sabemos como o (Faraó) chegou a tal posição. Nenhum monarca da Suméria ou da Babilônia ou da Assíria, poderia ter induzido seu povo a fazer por ele o que os grandes construtores das pirâmides 18 , os 14 TEOCRACIA é o sistema de governo em que as ações política, jurídica e policial são submetidas às normas de alguma religião. O poder teocrático pode ser exercido direta ou indiretamente pelos clérigos de uma religião : os governantes, juízes e demais autoridades podem ser os próprios líderes religiosos (tal como foi Justiniano) ou podem ser cidadãos leigos submetidos ao controle dos clérigos (como ocorre atualmente no Irã, onde os chefes de governo, estado e poder judiciário estão submetidos ao Aiatolá e ao conselho dos clérigos). Sua forma corrupta é também denominada clerocracia. 15 BABILÔNIA foi a capital da antiga Suméria e Acádia, no sul da Mesopotâmia (hoje no moderno Iraque, localiza-se a aproximadamente 80 km ao sul de Bagdá). O nome (Babil ou Babilu em babilônico) significa "Porta de Deus", mas os judeus afirmam que vem do Hebraico Antigo Babel, que significa "confusão". Essa palavra semítica é uma tradução do sumério Kadmirra. 16 A SUMÉRIA (ou Shumeria, ou Shinar; na bíblia, Sinar; egípcio Sangar; ki-en-gir na língua nativa), geralmente considerada a civilização mais antiga da humanidade, localizava-se na parte sul da Mesopotâmia (apesar disto os proto-sumérios surgiram no Norte da Mesopotamia, no atual Curdistão, tal como não eram originalmente semitas, mas sim invadidos por eles via sul proto-árabe), apropriadamente posicionada em terrenos conhecidos por sua fertilidade, entre os rios Tigre e Eufrates. Evidências arqueológicas datam o início da civilização suméria em meados do quarto milénio a.C. Duas importantes criações atribuídas aos sumérios são a escrita cuneiforme, que provavelmente antecede todas as outras formas de escrita, tendo sido originalmente usada por volta de 3500 a.C.; e as cidades-estado 17 ASSÍRIA foi uma entidade política da Antiguidade, centrada na região do alto rio Tigre, na Mesopotâmia (atual Iraque), e que acabou por dominar impérios regionais por diversas vezes ao longo da história, iniciando esse longo processo na tomada da Babilônia. 18 PIRÂMIDES DO EGITO, denominadas como pirâmides de Gizé, localizam-se no planalto de Gizé, na margem esquerda do rio Nilo, próximo à cidade do Cairo, no Egito. São as únicas remanescentes das Sete maravilhas do mundo antigo. Constituem-se em estruturas monumentais construídas em pedra e, como o nome também indica, apresentam uma base retangular e quatro faces triangulares (por vezes trapezoidais, nas pirâmides egípcias mais antigas, denominadas como mastabas) que convergem para um vértice. No total foram identificadas cerca de 80 pirâmides em todo o país, embora a sua maior parte esteja reduzida a montículos de terra. As pirâmides no planalto de Gizé foram erguidas pelo faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos 8 Faraós da quarta dinastia, levaram seu povo a fazer naquelas vastas construções. Os Faraós anteriores eram, provavelmente, considerados como encarnações do deus dominante. O deus-falcão Horus acha-se por traz da cabeça da grande estátua de Quefren. Ramses III ainda é representado no seu sarcófago usando os símbolos distintivos de três grandes deuses do sistema egípcio. Traz os dois cetros de Osiris, o deus do Dia e da Ressurreição; sobre a sua cabeça estão os cornos da vaca-deusa Halhar e ainda a bola do Sol e as penas do Amon-Ra. Não está apenas usando os símbolos desses deuses, como um devoto babilônio usaria os símbolos de Bel-Marduk, ele é esses três deuses em um‖. As pirâmides Quéops, Quéfren e Miquerinos Segundo Césare Cantu (História Universal vol. II). ―O Faraó era escolhido de entre os guerreiros. O seu poder passava para seu filho mais velho e, à falta deste, às filhas, aos irmãos ou irmãs, conservando, todavia as formas eletivas... Na sua qualidade de descendente dos deuses, recebe nomes e honras quase divinos.‖ Nesse sistema eminentemente teocrático, o Faraó era, a um só tempo, governante, sacerdote, juiz e guerreiro, ou seja, ele detinha todos os poderes do Estado. No estudo do Direito Egípcio é muito grande a dificuldade para a identificação das instituições, pois são muito precárias as fontes. Faltam documentos jurídicos como textos de leis ou editos e os chamados documentos da prática, como sentenças, testemunhos diretos e originais da máquina administrativa e judiciária. Dos documentos que desafiaram os séculos, o mais antigo que se conhece é o Papiro de Berlim 19 , da IV dinastia, escrito em hierática 20 . PAPIRO DE BERLIM RESTAURADO ESCRIBA A ESCRITA HIERÁTICA 19 PAPIRO DE BERLIM data, aproximadamente, de 1800 a.C. e encontra-se no Museu Staatliche, em Berlim. O papiro de Berlim foi comprado por A. H. Rhind, em Luxor, em 1850, na mesma altura que o papiro de Rhind, mas encontrava-se em muito mau estado e só foi analisado e restaurado cerca de 50 anos mais tarde por Schack-Schackenburg. O papiro de Berlim encontra-se, ainda assim, parcialmente estragado. Neste papiro aparece pela primeira a solução de uma equação do 2.º grau 20 HIERÁTICO (do grego γράμματα ἱερατικά - grámata hiératiká - escrita sacerdotal) é a qualidade relativa às coisas sacerdotais, sagradas ou religiosas. Na arte, o hieratismo é estilo que obedece aos parâmetros religiosos do tema sempre com acentuada majestade e rigidez. Na literatura, diz-se hierática a escrita de difícil compreensão porque destinada ao leitor iniciado ou da classe sacerdotal. no Antigo Egito permitia aos escribas escrever rapidamente, simplificando os hieróglifos quando o faziam em papiros, e estava intimamente relacionada com a escrita hieroglífica. 9 Mesmo com essas deficiências, sabe-se que as terras eram propriedades do Faraó, podendo as castas privilegiadas usufruí-las, pagando altíssimos tributos à Coroa. No casamento, uma forma de contrato, a mulher mantinha a propriedade de seus bens. Era facultado o casamento entre irmãos e irmãs e, por isso, muitos estudiosos acreditam que a instituição judaica do levirato 21 teve sua origem na cultura egípcia. Os atos jurídicos eram realizados com observância de formulários preestabelecidos e os atos solenes eram celebrados por escribas 22 (funcionários), na presença de testemunhas e autenticados com o selo estatal. Os tribunais, cujos juízes eram os dignitários (geralmente sacerdotes) locais, julgavam em nome do Faraó. Ensina Césare Cantu 23 no vol. I de sua História Universal: ―A justiça era administrada pelos sacerdotes. Trinta dentre eles, escolhidos por Tebas, Heliópolis e Mênfis, capitais das três grandes partes do Egito, e amplamente recompensados, formavam um Tribunal Superior. Ao entrarem no exercício de suas funções, eles juravam não obedecer ao Faraó, todas as vezes que ele ordenasse uma coisa injusta. O seu presidente era escolhido por eles no seu grêmio, e trazia ao pescoço uma cadeia de ouro, com a imagem da deusa Salé, ou a Verdade. As defesas e as acusações faziam-se por escrito a fim de evitar os prestígios da eloquência; e depois de um maduro exame das razões alegadas pelas partes, o presidente voltava-se para o que tinha ganho o processo, com a esfinge suspensa ao pescoço.‖ O homem culpado de adultério levava mil açoites e a mulher cortava-lhe o nariz. O que acusava falsamente sofria o castigo que o acusado caluniado teria suportado. Cortavam as mãos aos que falsificavam as escrituras ou as moedas. O homicídio, mesmo de um escravo, era punido com a morte e era igual ao assassínio todo aquele que, podendo salvar um homem em perigo, o não fazia. A cidade mais próxima era obrigada a fazer à pessoa assassinado um custoso funeral, a fim de que tomasse mais cuidado em conservar a segurança das estradas. Para o furto, escravidão do ladrão ou mutilação. As penas mais usadas no Direito Penal Egípcio eram: bastonadas, mutilações (ablações das orelhas, do nariz, da língua ou das mãos), exílio, lançamento à fogueira, etc. Estudiosos afirmam que o Direito Internacional Público teve sua pré-história no Egito, com um tratado de aliança e paz celebrado entre Ramsés II e o rei hitita Hattusibis III (séc. XII a.C.). Finalizando o nosso trabalho sobre o Direito Egípcio resolvemos tratar dos Hieróglifos e da Pedra de Roseta, pois acreditamos que após a decifração do sistema de escrita dos hieróglifos egípcios, em 1822, por Jean François Champollion, o chamado "Pai da Egiptologia" a nossa Civilização passou melhor entender a cultura milenar dos egípcios. 24 21 LEVIRATO é o costume, observado entre alguns povos, que obriga um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quando este não deixa descendência masculina, sendo que o filho deste casamento é considerado descendente do morto. Este costume é mencionado no Antigo Testamento como uma das leis de Moisés. O vocábulo deriva da palavra "levir", que em latim significa "cunhado". 22 ESCRIBAS. No Egito Antigo, os escribas tinham uma importante função e ocupavam lugar de destaque na sociedade egípcia, pois eram conhecedores da escrita demótica e dos hieróglifos. Eram eles que escreviam sobre a vida dos faraós, registravam a cobrança de impostos e copiavam textos sagrados. Os escribas usavam o papiro para escrever dados e textos ou registravam nas paredes internas das pirâmides. 23 CESARE CANTÙ (Brivio, 5 de dezembro de 1804 — Milão, 15 de março de 1895) foi um historiador, escritor e importante intelectual italiano. Autor da obra História Universal em 72 volumes, inspirada nos ideais do catolicismo liberal.. 24 PEDRA DE ROSETA é um texto do Antigo Egito escrito em hieróglifos, grego e demótico egípcio num grande bloco de granito, facilmente confundido com basalto. Esse texto foi descoberto em 1799 por homens sob o comando de Napoleão Bonaparte enquanto cruzavam a região de Roseta, Egito. Esse texto foi fundamental para a compreensão dos hieróglifos atualmente. Ele foi compreendido pela primeira vez por Jean François Champollion em 1822 e por Thomas Young em 1823, comparando a versão em hieróglifos com a em 10 Pedra de Roseta Escritas Egípcia 2.2 – O Direito Babilônico As primeiras civilizações do mundo resultam do aparecimento das cidades (4000 – 3100 a.C.) em regiões, que podiam garantir regularmente o alto rendimento agrícola necessário, ao consumo de grandes populações. Essas civilizações, com suas Cidades-Estados nasceram às margens de rios com vales e planícies de grande fertilidade. No vale do rio Nilo temos a Civilização Egípcia, com as cidades de Mênfis, Heliópolis e Tebas; no vale do rio Indo temos a Civilização da Índia, com as cidades de Harappa e Mohenjo-Daro; no vale do rio Amarelo surgui a Civilização Chinesa, com as cidades de Cheng-Chou, Na-Yong, Hao e Lo-Yong; nos vales dos rios Tigre e Eufrates, temos a Mesopotâmia, com as Civilizações da Suméria e da Assíria e as cidades de Mari, Assur, Uruk, Erida e a grande Babilônia. Na Mesopotâmia 25 , onde ficava a Babilônia, foi criada a escrita, provavelmente para ajudar os mercadores a fazer seus contatos. ―Em Tell Brak foram encontradas as mais antigas inscrições escritas do mundo (3200 a.C.), feitas em tábuas de argila. Ao redor de 2800 a.C., as inscrições tinham se reduzido a símbolos convencionais, em forma de cunha, feitos em tábuas de argila batida. Estes elementos receberam o nome de escrita cuneiforme. Logo esta escrita começou a ser usada na Suméria e em outras partes, com outros objetivos já fora do interesse comercial: para conservar tradições religiosas, que logo passaram a constituir os livros sagrados; para registrar costumes sociais e códigos legais e para transmitir mitos e histórias, que geraram a História e a Literatura‖. (in Atlas da História Universal – The Times, Rio de Janeiro: Editora O Globo, 1995). grego, sendo que ambos eram profundos conhecedores da língua grega. Ela refere-se à um decreto de Ptolemeu V Epifânio, do Egito ptolomaico. Hoje, a pedra encontra-se no Museu Britânico, Londres, sendo que foi cedida às autoridades militares britânicas em 1801, graças ao Tratado da Capitulação. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hier%C3%B3glifo). 25 MESOPOTÂMIA — nome grego que significa "entre rios" (meso - pótamos) - é uma região de interesse histórico e geográfico mundial. Trata-se de um planalto de origem vulcânica localizado no Oriente Médio, delimitado entre os vales dos rios Tigre e Eufrates, ocupado pelo atual território do Iraque e terras próximas. Os rios desembocam no Golfo Pérsico e a região toda é rodeada por desertos. 11 MAPA DA MESOPOTÂMIA Na Babilônia após a morte do rei Shamshi Adad, seu filho, o sacerdote Hammurabi, contemporâneo de Abraão, funda a primeira dinastia (1792 – 1595 a.C.), criando o Império da Babilônia, que serviu de modelo e centro de gravidade para todo o Oriente Médio. Das tantas realizações deste Rei-Sacerdote, para nós que estudamos o Direito, a mais importante, sem sombra de dúvidas, foi a criação do código de leis que tomou o seu nome – CÓDIGO DE HAMMURABI – 1965 a.C. O Código de Hammurabi está gravado em um enorme bloco cilíndrico de pedra negra (dorita), de 2,25 m de altura, com 2 m de circunferência, encontrado em 1901, por uma missão francesa chefiada por Jacques de Morgan, nos arredores da cidade islamita de Susa, na Pérsia, para onde fora levado, por volta de 1175 a.C. como despojo de guerra. O Código de Hammurabi ou a estela (28) de Hammurabi encontra-se no museu do Louvre. Acreditavam os babilônios ter Hammurabi recebido esse código do deus Sol (Shamash). A própria estela, no alto, contém um relevo representando essa transmissão, onde o deus Sol o teria confiado a Hammurabi, tornando-o Rei do Direito, com a missão de decidir com equidade e disciplinar os maus e os mal- intencionados e impedir que o forte oprima o fraco. O Código de Hammurabi, não é o mais antigo do mundo como se supunha, pois com a descoberta em 1952 da ―tabuinha de Istambul‖,(30) encontrou-se um código bem mais antigo, o Código de Ur-Namu, também da Mesopotâmia de 2050 a.C. Mais antigos também são: o Código de Lipit-Istar de 1900 a.C. – Suméria e o Código de Bilalama de 1970 a.C. – Babilônia. Mesmo o Código de Hammurabi não sendo o mais antigo, ele é o mais famoso. (LER O ANEXO – 01) Código de Lipit-Ishtar Código de Ur-Namu Código de Hammurabi Começa ele com um prólogo de grande beleza literária, onde existem as qualidades, as virtudes, o poder e a glória do rei. Não é um código especializado, pois contém todo o ordenamento jurídico da cidade. 12 É, assim, Código Civil, Código Penal, Código de Processo, Código Comercial e de Organização Judiciária, com 282 artigos. Não tem ordem sistemática, pois é uma coletânea de julgados ou de hipóteses acompanhadas de decisões. O Código de Hammurabi consagrava as disposições jurídicas sob forma de presságios ou previsões. O casuísmo caracteriza-o, sendo muito minucioso no que concerne às punições, que normalmente são de um rigor terrível, o que deixa parecer que ―o homem daquele tempo só se atemorizava mesmo diante de consequências drásticas, terríveis. Daí a necessidade de serem estabelecidas penas rigorosas, pois não se pode aceitar a ideia de que os legisladores de Então fossem insensíveis e tão cruéis, como pode parecer à primeira vista‖. (Ralph Lopes Pinheiro – História Resumida do Direito – Rio de Janeiro: Thex Editora, 2000). 2.2.1 - História Externa da Babilónia Hammurabiana 2.2.1.1) - Sociedade e Economia da Babilónia Hammurabiana 26 A Sociedade da Babilónia da época de Hammurabi é dividida, conforme indica o próprio Código, em três camadas sociais: Os "awilum": o homem livre, com todos os direitos de cidadão. Este é o maior grupo da sociedade hammurabiana e compreendia tanto ricos quanto pobres desde que fossem livres. Os "muskênum": fazem parte de uma camada que ainda suscita muita dúvida pelos estudiosos. Parecem ter sido uma camada intermediária entre os awilum e os escravos, formada por funcionários públicos, com direitos e deveres específicos. Os wardum escravos: eram a minoria da população, geralmente, prisioneiros de guerras.( wardum para escravos e amtum para escravas). 2.1.2.2) – Algumas Instituições do Código de Hammurabi - (Consultar o Código Anexo - 01): Pena de Talião (O Código de Hammurabi utiliza muito esse princípio no tocante aos danos físicos, chegando a aplicá-lo radicalmente mesmo quando, para conseguir a equivalência, penaliza outras pessoas que não o culpado. Talião não contava quando os danos físicos eram aplicados a escravos à medida que estes podem ser definidos como bens alienáveis - Arts. 196, 229 e 230); Falso Testemunho (O falso testemunho é tratado com severidade pelos povos antigos, porque provas materiais eram mais difíceis; assim sendo, contavam na maior parte dos processos - somente com testemunhas. O Código separa uma causa de morte de uma causa que envolve pagamento. Nesta última, o ônus do falso testemunho é o pagamento da pena do processo. Em outros casos, a sanção para falso testemunho era a Pena de Morte – Arts. 03 e 04); Roubo e Receptação (O Código Hammurabiano penaliza tanto o que roubou ou furtou, quanto o que recebeu a mercadoria roubada - Art. 22 e 06); Estupro (O estupro sem pena alguma para a vítima era previsto nesse Código somente para ―virgens casadas‖ (como na legislação mosaica), ou seja, mulheres que, embora tenham o contrato de casamento firmado, ainda não coabitavam com os maridos – Art. 130); Família (O sistema familiar da Babilónia Hammurabiana era patriarcal, e o casamento, monogâmico, embora fosse admitido o concubinato. Essa aparente discrepância era resolvida pelo fato de uma concubina jamais ter o status ou os mesmos direitos de esposa. O casamento legítimo era somente válido se houvesse contrato O casamento era no que chamamos hoje "Regime de Comunhão de Bens" – 128 e 175); Escravos (Havia duas maneiras básicas de se tornar escravo não somente na Babilónia, mas também na Antiguidade como um todo. Como prisioneiro de guerra ou por não conseguir pagar 26 CASTRO, Flávia Lages, ―História do Direito – Geral e Brasil”, 8ºed. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2010, p 15. 13 dívidas e assim ter que se entregar, entregar a esposa ou aos filhos, mas Hammurabi (assim como os Hebreus posteriormente) vai limitar o tempo dessa escravidão por dívida – 117 e 146); Divórcio (O marido podia repudiar a mulher nos casos de recusa ou negligência em "seus deveres de esposa e dona-de-casa". Qualquer dos dois cônjuges podia repudiar o outro por má con- duta, mas, nesse caso, a mulher para repudiar o homem deveria ter uma conduta ilibada – Art. 142); Adultério (Somente a mulher cometia crime de adultério, o homem era, no máximo, cúmplice. Dessa forma, se um homem saísse com uma mulher casada, ela seria acusada de adultério, e ele de cúmplice de adultério, e se a mulher fosse solteira, não comprometida, não havia crime nem cumplicidade, mesmo porque este é um povo que admite concubinato. Quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida, entretanto o Código prevê o perdão do marido – Art. 129); Adoção (Essa sociedade foi bastante humana no tocante à adoção, veja: Se uma criança fosse adotada logo após seu nascimento, não poderia mais ser reclamada; Se a criança fosse adotada para aprender um ofício, e o ensinamento estivesse sendo feito, ela não poderia ser reclamada. Caso esse ensino não estivesse sendo feito, o adotado deveria voltar à casa paterna; Se a criança, ao ser adotada, já tivesse mais idade e reclamasse por seus pais, tinha que ser devolvida; Em outros casos, se o adotado renegasse sua adoção, seria severamente punido; se o casal, após adotar, tivesse filhos e desejasse romper o contrato de adoção, o adotado teria direito a uma parte do património deles a título de indenização – Art. 185); Herança (No caso da divisão da herança, a sociedade hammurabiana não previa a primogenitura, ou seja, os bens não ficavam somente com o filho mais velho, entretanto, este poderia, na hora da partilha, ser o primeiro a escolher sua parte. A tendência era sempre dividir em partes iguais indiferentemente de quem era a mãe da criança, bastava o reconhecimento do pai. Estavam excluídas da herança as filhas já casadas, pois estas já haviam recebido o dote. As filhas solteiras, quando casassem, receberiam seu dote das mãos dos irmãos. Mas os filhos, mesmo reconhecidos, ou frutos de casamento, podiam ser deserdados, mas para isso deveria haver um exame por parte dos juizes – Arts. 170, 183,184 e 168); Processo (As leis babilónicas dessa época permitem e prevêem a mistura do sagrado e do profano no julgamento, embora a justiça leiga tenha tido maior importância que a sacerdotal à época de Hammurabi. Um juiz podia ser um leigo, um sacerdote e até forças da natureza, como neste caso onde quem "julga" é o rio – Arts. 02 e 05 ); Trabalho (O Código aborda leis sobre trabalho. Ele, por exemplo, prevê e pune o erro médico Ao mesmo tempo, esse Código é o primeiro que conhecemos indicar não somente o pagamento que um médico deve ter, mas também o pagamento de inúmeros profissionais, como lavradores, pastores, tijoleiros, alfaiates, carpinteiros etc – Arts. 218, 215, 217, 257, 261, 271, 273 e 274 ); Defesa do Consumidor. (Na Babilónia de Hammurabi, havia leis que protegiam os cidadãos do mau prestador de serviços, pelo menos em alguns casos pode-se atestar essa ideia já no parágrafo 108 - o que trata da taberneira – Arts. 233 e 235) etc. 27 2.3 – O Direito Hebreu. O historiador deve mesmo pondo de parte a fé, uma atenção particular ao povo hebreu, que une a missão religiosa à missão política de conservar o passado e preparar o futuro, para civilizar, pelas suas crenças, a maior parte do mundo. Eles introduziram a monolatria 28 universal que os sublimou, sob o ponto de vista ético-religioso, através da derrota e do cativeiro. O Direito Hebreu (1400 a 1300 a.C.) ou Lei Mosaica encontra-se condensado na Torah 29 . Nele se nota a influência do Direito Babilônico, pois se comparados, eles revelam 27 CASTRO, Flávia Lages, “História do Direito – Geral e Brasil”, 8ºed. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2010, p 17/25. 28 - MONOLATRIA – Prática em que determinados personagens, Bíblicos, embora admitindo a existência de outros deuses, eram devotos de Javé, seja por temor ou fidelidade, seja por outro motivo qualquer. Depois dessa fase inicial o culto hebreus evolui para a prática monoteísta, em que os demais deuses são considerados falsos, inexistentes. 29 - TORAH - A Torá ou Pentateuco, de acordo com os judeus, é considerado o livro sagrado que foi revelado diretamente por Deus. Fazem parte da Torá : Gênesis, o Êxodo, o Levítico, os Números e o Deuteronômio. TALMUDE é o livro que reúne muitas tradições orais e é dividido em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e Comentários. 14 grandes analogias fazendo supor que o Código de Hammurabi tenha exercido, 500 anos depois, grande influência sobre as Leis Mosaicas. Neste sentido distinguem-se semelhanças de conceito quanto ao Talião, à escravidão, à servidão voluntária, ao trabalho rural, ao direito de propriedade, aos testemunhos, etc. Carl Grimberg, em sua História Universal vol. I, afirma que ―sob muitos aspectos, as leis de Hammurabi apresentam uma semelhança surpreendente com a lei de Moisés, aparecida cinco séculos mais tarde: a lei de Hammurabi tem um caráter puramente jurídico, enquanto a lei mosaica apresenta caráter religioso e insiste claramente no aspecto ético do Direito‖. MOISÉS SELO DE SALOMÃO MENORÁH TORAH O Direito Hebreu era considerado de origem divina e não continha apenas matéria jurídica, contendo, também, preceitos morais e religiosos. Há controvérsias sobre o autor dessa grandiosa obra; muitos acreditam que teria sido Moisés o responsável pelos cinco primeiros tomos do Antigo Testamento, que os gregos chamaram de Pentateuco e os hebreus de TORÁ, ou seja, a lei, nome tomado da matéria central. A respeito do Codificador Moisés, que nasceu e foi educado no Egito, de onde retirou o seu povo do longo cativeiro para levá-lo à terra prometida a Abraão, Isaac e Jacó, ensina Césare Cantu em sua História Universal, vol. I, pg. 273: Moisés foi, com efeito, o maior homem que a história conhece. Foi conjuntamente poeta e profeta insigne, o primeiro dos historiadores, legislador, profundo político e libertador. Como acontece, que haja exposto, há tantos séculos, doutrinas que a física e a geologia só há pouco verificaram? Se fora um impostor, por que razão se contentava de recordar simplesmente fatos cuja inteligência não estava preparada? Não se poderá dizer que somente escreveu o que lhe ditaram e sem que ele mesmo compreendesse tudo perfeitamente? As suas próprias leis supõem uma ciência de tal sorte antecipada, que pareceria um milagre. Sem ambição, não procurou o poder para si, nem para seu irmão; porém quis, do estado de hordas vagabundas, elevar o seu povo ao grau de Nação estável, constituindo-a nas três grandes unidades de Jeová, de Israel e da Tora, isto é, um Deus, um povo e uma lei. Os Códigos modernos limitam-se, quase unicamente, a proteger a possessão e a transmissão da propriedade e a impedir o mal, esquecendo a família e os cidadãos. Os antigos legisladores prescreviam, alem disso, o bem e desciam às mais minuciosas particularidades do culto, da polícia e da solubilidade. Assim, o de Moisés abraçou desde as mais altas combinações da política até aos costumes domésticos tendo sempre em vista a estabilidade do caráter nacional e da moralidade. 15 A Lei Mosaica tinha um objetivo certo: proteger o povo eleito. Por isso, proibiu o casamento com estrangeiros. Vedava o empréstimo a juros entre compatriotas, porém permitiu-o ao estrangeiro. A sua lei dos contratos previa a compra-e-venda, o empréstimo, a locação das coisas e serviços e o depósito. Disciplinou o direito de vizinhança, o direito família e o direito de primogenitura. Prevê o levirato, ou seja, a obrigação da viúva sem filhos casar-se com o irmão do marido, para poder dar descendência ao morto. A Legislação Mosaica abrandou a pena o Talião, no caso de homicídio culposo, hipóteses em que o culpado era apenas desterrado e criou a Legítima Defesa, para as situações em que a ação pudesse ser justificada. A testemunha era de grande importância nos feitos jurídicos, mas tratou com o rigor da época, o falso testemunho. No que diz respeito às sanções, não havia distinção entre ricos e pobres, todos a eles estavam sujeitos. O Código Hebreu está contido no Pentateuco, mais precisamente no quinto livro que é o Deuteronômio, palavra de origem grega, e que significa exatamente segundas leis. Ele foge às narrações e fixa os princípios básicos de conduta, as normas a serem seguidas e as sanções. O Pentateuco, primeira parte do velho testamento, divide-se em cinco livros: Gênese, Êxodo, Números, Levíticos e Deuteronômio. Em todos os livros existem inúmeros preceitos, que vieram a ser repetidos no Deuteronômio, que encerra a última fase legislativa do estadista bíblico. É uma legislação ampla, bem inspirada, humana, o que justifica a sua notável influência nas legislações modernas. Algumas Instituições da lei Mosaica: (Consultar o Deuteronômio, (LER O ANEXO -02): Justiça - (Deut. 1,16-17 e 16,18-19); Processo – (Deut. 13, 13-16 e 17, 2-5); Pena Talião(Deut. 19, 21); Individualidade das Penas (Deut. 24,16); Lapidação (Deut. 17, 5-7 e 21, 18 e 19); Cidade de Refúgio (Deut. 19,1-3); Homicídio Involuntário e Homicídio (Deut. 19,1-3-4- 6-11-12-15); Testemunhas (Deut. 19, 15-16); Matrimônio; Adultério(Deut. 22,22); Divórcio (Deut. 24,1); Concubinato (Deut. 22,15 e Lev. 18,18); Estupro (Deut. 22,23-27); Herança e Primogenitura (Deut. 21, 15-17); Defloração (Deut. 22, 28 e 29); Escravos ( Deut. 15,12-14-16 e 17); Caridade (Deut. 15,7 e 8); Governo (Deut. 17,14 e 15- Samuel I e II e Reis I,II); Fraude Comercial e Juros ( Deut. 23,20 e 21); Fauna e flora (Deut. 20,19 e 22,6-7). Etc. 2.4 – O Direito Hindu A Civilização Hindu teve seu primeiro florescimento por volta de 2500 a.C. no noroeste, aonde o Rio Indo e seus afluentes atravessam uma ampla planície. Estas terras baixas, aluviais e férteis foram colonizadas, a princípio, por grupos de agricultores que ali se instalaram aproximadamente há 3500 a.C. Da época do florescimento são conhecidos perto de uma centena de assentamentos que resultaram em sítios maiores como as cidades de Harappa e Mohenjo- Daro. Quase todas as casas que foram encontradas nessas cidades eram de tijolo cozido, de um tamanho padrão: 24x17x7 cm. Muitas das casas eram do tipo sobrado e as ruas e passagens principais, tinham esgoto cobertos com tijolos e abertura para inspeções periódicas. As casas individuais tinham banheiros e privadas que se esvaziavam em um recipiente de cerâmica ou diretamente no esgoto da rua. Essas cidades eram habitadas por um povo de pele escura e baixa estatura, os Dravídicos, Dravidianos ou Dasyus. Posteriormente ali apareceu um povo de raça ariana, cuja origem exata é desconhecida, e dominou aquela gente, mas depois se acabou misturando – vencedor e vencidos – aparecendo o Hinduísmo. . 16 MOHENJO DARO MAPA DA ÍNDIA HARAPPA ARIANO DRAVIDIANO Os pontos principais da civilização hindu são a divisão por castas 30 e a Metempsicose 31 uma envolvida na outra e derivando-se ambos da interpretação da queda das almas e da sua futura reabilitação. A Metempsicose eternizou a distinção das raças, fazendo-a continuar mesmo depois da morte. Segundo Césara Cantu (História Universal, vol. I, pag. 353) “Brahma, deus, ou grande sábio, gerou primeiro quatro filhos, Brâmane, Xátria, Vásia e Sucha; o primeiro da boca, o segundo do braço direito, o terceiro da coxa direita, o quarto do pé direito. Deles nasceram as quatro raças (Castas), entre as quais Brahma proibiu toda a mistura; ele escreveu na testa de todos os homens o que lhe devia suceder do nascimento até a morte”. 30 CASTAS, em sociologia, são sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de estratificação, ao abrigo da lei ou da prática comum, com base em classificações tais como a raça, a cultura, a ocupação profissional, etc.Varna, a designação sânscrita original para "casta", significa "cor". 31 METEMPSICOSE (do grego: meta: mudança + en: em + psiquê: alma) é o termo genérico para transmigração da alma, de um corpo para outro, seja este do mesmo tipo de ser vivo ou não. É usualmente denominada de metacomorfose. Essa crença não se restringe à reencarnação humana, mas abrange a possibilidade da alma humana encarnar em animais ou vegetais. Era uma crença amplamente difundida na Pré-história e na Antiguidade, sendo encontrada entre os egípcios, gregos, romanos, chineses e na Índia, etc,. Entre os budistas tibetanos essa migração é possível, embora muito rara (os budistas descrevem várias formas de reencarnação, sob vários contextos diferentes). Os esquimós e outros povos atuais considerados "primitivos" mantém a mesma convicção. 17 Das quatro castas as três primeiras são distintas pela cor, provavelmente descendentes dos invasores arianos: A Casta dos Brâmanes, formada pelos sacerdotes e pelos sábios, talvez saída de uma tribo Semita que tinha conservado melhor a tradição das ciências e das crenças patriarcais; A Casta dos Xátrias que compreende os guerreiros e os magistrados; A Casta dos Vásias, formada pelos negociantes, artistas e cultivadores, sendo mais numerosa que as outras castas; A Casta dos Sudras, provavelmente, descendentes dos Dravidianos, era formada por servos dos brâmanes, dos guerreiros e dos comerciantes. Existiam ainda na Índia, os Párias, que viviam separados de todas as castas e eram excluídos do culto dos deuses nacionais. As outras castas recusam-lhes até a simpatia, que concediam aos animais irracionais. UMA INTOCÁVEL - (PÁRIA) Todo o conhecimento hindu é concentrado em três grandes setores fundamentais: Dharma-Sastra (lei sagrada da Índia antiga); Artha-sastra (ciência da economia, da utilidade); e Kama-Sutra (ciência do prazer). Sendo toda a atividade humana baseada na tríade – Darma, Artha e Kama. Dos livros sagrados da Índia, para o nosso estudo, os mais importantes são os Dharmasastra e entre eles o Código de Manu (Manu-smrti) que se divide em Religião, Moral e Leis civis. Os hindus consideram Manu como progênie de Brahma e como o mais antigo legislador do mundo; a data de promulgação de seu Código não é certa, alguns estudiosos calculam que seja aproximadamente entre os anos 1300 e 800a.C. Lembramos que o Código de Hammurabi é mais antigo que o de Manu em pelo menos 1000 a. Porém, não é um verdadeiro código no sentido técnico da palavra, mas uma coletânea de normas que o abrange vários assuntos e preceitos A tradução mais difundida desse Código foi feita do sânscrito para o francês, em 1850 por A. Loiseleur-Deslongchamps em sua obra ―Lois de Manu‖. No Brasil temos desde 1924 a tradução do francês para o português feito pelo Prof. Hersílio de Souza na sua obra “Novos Direitos e Velhos Códigos”, onde encontramos esse precioso resumo: ―O código de Manu – Manava-Dharma Sastra –‖Livro das Leis de Manu – além das matérias de que trata ordinariamente um código, contém ainda um a sistema de cosmogonia , idéias metafísicas, preceitos determinantes da conduta do homem nos diversos períodos de sua existência, numerosas regras relativas a deveres religiosos, a cerimônia do culto, a observância religiosa e à expiação, regras de purificação e de abstinência, máximas de moral, noções de política, de arte militar e de comércio, um exposto das penas e das recompensas depois da morte, assim como das diversas Transmigração da alma e dos meios de chegar à beatitude. O Código foi redigido em forma poética e imaginosa, as normas são expostas em versos. Cada norma ou regra consta de dois versos cuja metrificação é atribuída a um Santo eremita chamado Valmiki. Existem estudos indicando que originalmente o Código era composto por mais de 18 cem mil dísticos (grupo de dois versos) e que, através, de manipulações e cortes feitos em diferentes épocas chegou ao nosso tempo com 2685 dísticos ou artigos, distribuídos em 12 livros, dos quais para o mundo jurídico os que interessam são os Livro Oitavo e o Livro Nono. No Direito Hindu os contratos de compra-e-venda, decorridos três dias, tornavam-se irrevogáveis. O credor podia escolher entre chamar o devedor relapso a Juízo ou transformá-lo em escravo. A usura não era proibida. Como meio de prova se admita o ordálio 32 e a prova testemunhal. A mulher era venerada, mas sua posição social era sempre subordinada ao homem, se solteira, estava sob a autoridade do pai; se casada, sob a do marido, e se viúva, sob a do filho mais velho e não tinha direito ao divorcio. Todavia prescreva o Código de Manu: “Não se bate em uma mulher nem mesmo com uma flor, qualquer que seja a falta por ela cometida‖. No campo sucessório, só o filho mais velho herdava os bens. Alguns Institutos Importantes do Código de Manu (LER O ANEXO 03): Testemunhas (Arts. 13, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 62, 97, 98 e 99); Falso Testemunho (arts. 67, 74, 78, 79 e 89) ; Casamento (Arts. 505 e 511); Divórcio (494, 496, 497, 498 e 499) ; Mulheres (Arts. 419, 420, 422, 428, 444 e 611); Adultério e Tentativa de Adultério (Arts. 518, 349, 350, 353, 354, 355, 356, 368, 369, 371, 374 e 376; Defloração(Arts. 364, 365, 366, e 367; Herança (Arts. 27, 28, 521, 522, 523, 573 e 633); Adoção e Outros Meios Legais de Continuação da Linhagem (Art. 543, 475,476, 477, 479 e 480); Juros (Arts. 140e 149); Contratos (art. 161); Limites de Propriedade(Arts. 242 e 253); Fraude (Art. 397); Fraude Quanto à Casta a que Pertence (Art. 278); Injúrias (Arts. 264, 265, 266, 267,268 e 269); Ofensas Físicas (Arts. 276, 277e 280); Furto e Roubo (Art.329); Homicídio e Autodefesa (Arts.347 e348). 2.5 – O Direito Árabe. Maomé O Direito Mulçumano ou Direito Árabe é o Direito da comunidade religiosa Islâmica, ou seja, o direito que rege todos os adeptos da religião islâmica, onde quer que eles se encontrem. Como o Direito hindu, o Direito Mulçumano é o Direito de um grupo religioso, e não o direito de um povo ou de um país. O Islam é uma cultura que implica na criação de uma sociedade teocrática. Nele mistura-se o corporal com o religioso, o Direito com a religião e com a moral. O lícito e o ilícito são definidos pela religião, a sua nota dominante é uma profunda religiosidade e um arraigado espírito de conservadorismo. A palavra mulçumano provém de ―Islam‖, que significa a submissão à Alá. Mulçumanos são os povos que aceitaram a religião revelada, no Corão ou Alcorão, por Mahomet. Mahomet (Muhammad) ou Maomé nasceu em Meca aproximadamente em 570 dC. E morreu em 8 de junho de 632 dC. Quando tinha 25 anos casou-se com a rica viúva Khadidja de 32 ORDÁLIO - Prova judiciária destinada a inocentar ou inculpar um acusado. (O ordálio, também chamado juízo de Deus, foi muito usado nos primeiros séculos da Idade Média. Consistia em submeter à prova do fogo ou da água o acusado, que, se dela saísse salvo, era em geral declarado inocente). 19 quem era empregado, como supervisor das caravanas comerciais para Meca. Anos depois do casamento Maomé começou a receber as revelações da Alá. Julgando-se louco, procurou a esposa, que dispersou suas dúvidas e foi a primeira pessoa a converter-se ao Islamismo. Após a morte de Khadidja o profeta entrou em vários casamentos dos quais o mais célebre foi com Aisha que após a morte do esposo, passou a ser consultada sobre pontos importantes da religião, da política e principalmente da conduta do profeta. Isso porque o Alcorão é um tratado ético e o Mestre não teve tempo de regulamentar os princípios que deveriam reger o cotidiano dos convertidos. Os resultados das consultas são conhecidos como Hadith, que juntos formam a Sunna, ou seja, a tradição maior. Maomé Alcorão Caaba A religião islâmica, que é uma adaptação do Judaísmo e do Cristianismo ao espírito e aos meios árabes, surgiu na Arábia no século VII d.C. Maomé, comerciante que após receber as revelações de Alá, se tornou pregador, luta contra o politeísmo e os velhos ídolos árabes da Caaba 33 ; perseguido, teve de fugir da cidade santa de Meca, em 622 para Iaterb que passou a chamar-se de Medina, cidade do Profeta. A data dessa migração, ou Hégira em árabe, o 16 de julho de 622, marca o começo do Islão e, portanto, do calendário mulçumano. Em 630- Dc, como chefe é profeta de seu grupo, Maomé reconquista Meca pela "guerra santa" e elimina os ídolos, transformando a Caaba no ponto central do Islamismo. O Alcorão ou Corão é o livro sagrado do Islam (LER O ANEXO – 04). É constituído por revelações de Alá, transmitidas à humanidade pelo seu enviado, Maomé. De fato, o Alcorão foi escrito cerca de vinte anos depois da morte de Maomé por um de seus discípulos, Zaîd, sendo formado por cerca de 5000 versículos agrupados em 114 Suratas ou capítulos. “O corão não procura definir a verdade e a justiça: apenas afirma que certo ato, realizado em tais circunstâncias, é bom ou mau, justo ou injusto. O Corão é completado pela Sunna, relatos piedosamente conservados, da conduta do Profeta”. Alaah é o único Deus, não existe a divina Trindade e Mahomet foi o último profeta. Antes dele vieram Adão, Noé, Abraão, Moisés, David e Jesus. O Corão e a Sunna formam a Lei, isto é a rota, o caminho a ser seguido. A ordem legal do Islamismo foi definida por dois legisladores: Mahomet com o Corão e a Sunna de seus seguidores e os Mudjtahdid, juristas teólogos dotados do poder de criação da norma jurídica correspondentes as fontes (Idajmâ) racionais derivadas do Corão e da Sunna. O antigo Direito Árabe também utilizava os costumes e a jurisprudência e um Regulamento Admistrativo (Kanun). 34 33 A CAABA ou Kaaba (também conhecido como Ka'bah ou Kabah) é uma construção que é reverenciada pelos muçulmanos, na mesquita sagrada de Al Masjid Al-Haram em Meca, e é considerado pelos devotos do islã como o lugar mais sagrado do mundo. (Wikipédia, a enciclopédia livre). 34 O KANUN é uma prática paralela ao poder oficial, um rito, no qual o Estado não possui autoridade e força para vencê-lo. (Wikipédia, a enciclopédia livre). http://cultcultura.com.br/?tag=kanun 20 Os atos jurídicos são criadores, como a compra e venda, informadores, como o testemunho ou dogmáticos, como os atos de crença. A personalidade e a capacidade do homem são objeto de amplas considerações. Toda pessoa é fonte de direitos e é dotada de dhimma para fazer o que tem direito ou o que está obrigada. O Direito Mulçumano substituiu a tetragamia pela poligamia, situou a mulher em posição subordinada e concedeu ao homem o direito de desposar quatro mulheres e de repudiá-las a seu critério, não sendo permitida a adoção. O casamento, o concubinato e o dote foram minuciosamente disciplinados. A doutrina dos contratos baseia-se no Corão – ―cumpri vossas obrigações‖ – e a Judicatura é confiada ao Cadi , representante do Califa 35 . É importante ressaltar que a primeira criação do Direito Árabe foi o conceito jurídico de pessoa não-corpórea que se desenvolveu com a criação das Comunidades Religiosas que reuniam os fiéis da mesma religião em uma unidade de vontade e de ação, passando a ser um ente coletivo com o propósito de tomar resoluções e aceitar responsabilidades. Diferentemente dos povos ocidentais onde as organizações do Estado se dão com base nas leis ou Constituições, o povo mulçumano fundamenta sua unidade e organização com base no Alcorão. O Islam é um governo que tem origem em Alá. O Tesouro Público é o tesouro de Alá, o exército é o exército de Alá e até os funcionários públicos são empregados de Alá. Mapas do Islamismo no Mundo Quem viola ou Alcorão, não só comete um pecado como infringe a ordem legal. A obediência a essa "lei" é, além de um dever de fé, um dever social. Ordem jurídica e religião, lei e moral são aspectos da mesma vontade, da qual deriva a existência e a trajetória da comunidade islâmica. Daí a influência que tem sido o Alcorão até os dias de hoje, em todos os países do Islam que não se deram ao trabalho de instituir uma constituição ou códigos, e que têm todas as aspirações reguladas pelas palavras do Profeta. TERCEIRA PARTE III - OS DIREITOS CLÁSSICOS: 35 CALIFA - título que se atribuía ao chefe supremo do islamismo, durante o período de expansão do Império Árabe (entre os séculos VIII e XV). O califa era considerado o sucessor de Maomé e possuía vários poderes relacionados à justiça, economia, ações militares e ações religiosas. 21 DIREITO GREGO 1 – Introdução O Direito Ocidental é filho das experiências das Cidades-Estado mediterrânicas antigas. Surge na polis gregas e em suas origens, não era escrito, e de conhecimento exclusivo de aristocratas-juízes e só mais tarde foi codificado. Desenvolve-se diferentemente na Civita romana, conforme as peculiaridades políticas das culturas helênica e romana. Devemos dizer que o Direito Público Ocidental é filho da polis, na qual se viveu uma experiência intelectual, política e jurídica que alterou completamente, na história, os modelos de relação entre o poder constituído do Estado e a população por este governada. 2 – Origem e Formação do Povo Grego. No século VIII a.C., as comunidades da Jônia, na costa ocidental da Ásia Menor, estimuladas pela localização geográfica que lhes facilitava o contato com outros povos, desenvolveram o comércio, o artesanato e a navegação. Houve também, entre 800 e 750 a.C, o reaparecimento da escrita, derivada do alfabeto semítico utilizado pelos fenícios, provavelmente porque estes utilizavam a via marítima para o comércio e tinham contatos com os gregos. Foi na Jônia que pela primeira vez ocorreu à fusão de várias aldeias em uma só, dando origem a polis (cidade-estado), num processo denominado sinecismo, que posteriormente se estendeu por outros territórios da Grécia. O território das polis era reduzido e o solo não muito fértil. Em cada uma havia a Acrópole, colina fortificada e centro religioso; a Ágora, local central onde situava os edifícios públicos, o mercado e a praça, onde os cidadãos se reuniam para formar a Eclésia (assembléia política); o porto e o território rural. A população se aglomerava em volta da Acrópole ou se espalhava na área rural, constituindo, entretanto, campo e cidade, uma só unidade. As Cidades de Esparta e Atenas representam o tipo clássico de cidades, respectivamente oligárquica e democrática. Em Esparta, o poder permaneceu sempre nas mãos dos cidadãos proprietários de terras os esparcistas. Em Atenas, as lutas políticas levaram a extensão da cidadania a todos os atenienses livres, tornado-os, pois, democratas, apesar da existência de grande numero de escravos estrangeiros. A pobreza do solo que não produzia alimento suficiente para população em crescimento, a escravidão por dividas e a concentração cada vez maior das terras nas mãos da aristocracia foi fatores que levaram a um amplo movimento migratório dos gregos durante os séculos VIII a VI a.C., em direção aos mares Negro e Mediterrâneo. Em função das transformações econômicas e expansão da riqueza, os gregos foram abandonado às tradições e mitos gentílicos e desenvolveram uma mentalidade individualista, racional e criativa, que já transparece claramente nas obras dos cientistas e filósofos jônios do século VI a.C., como Tales, Anaximandro, Anaxímenes da escola de Mileto. Criaram a lógica e a matemática, afirmando serem os sentidos e a razão os verdadeiros critérios para compreensão das leis que regem o universo. 3- Mitologia, Filosofia e Direito. O homem aprisionado nos vínculos do pensamento, sempre recorre aos meios de expressão sensíveis, para criar personificações e forjar símbolos capazes de exprimirem o abstrato do espírito. Essa criação é o que chamamos de plástica da idéia. A idéia mitológica e abstrata de Justiça teve sua representação plástica entre gregos e romanos, nas figuras de '‖Thêmis" e "Dike", idealizadas por Homero e Hesíodo e seus poemas, A Ilíada e a Teogonia. Themis (a deusa da justiça com vistas à ―norma agendi‖), plasticamente, é a Justiça álgida, inflexível, severa, arrasadora, o “fiat Justítia et pereat mundus‖ e Dike (a deusa da justiça com vistas à 22 ―facultas agendi‖) é a concórdia, a conciliação, a benevolência, ou seja, a equidade apaziguadora em face da justiça estrita e não moldável. A Teoria do Direito Natural é muito antiga, vem da época mitológica da Civilização Grega e está presente, entre nos, desde o nascimento da Civilização Européia. O Direito natural seja expressão da natureza humana, seja dedutível dos princípios da razão, sempre foi considerado como superior ao Direito Positivo. Da mitologia e da literatura nos vem a lenda de Antígona, na qual o gênio de seu autor - o dramaturgo grego Sófocles, no séc. V a.C. - colocou, sob cores trágicas, um dos problemas fundamentais do Direito, na vida humana. “Antígona dá sepultura ao seu irmão Polínice, morto em guerra contra Tebas, e o faz contra a lei baixada pelo rei Creonte, que proibia o sepultamento. Interrogada pelo rei porque desobedecera à lei, respondeu Antígona: „Porque não foi Zeus quem a fez; e a Justiça, que mora com os deuses abscônditos, jamais promulgou tal lei para os homens. E eu não creio que a tua lei tenha tanta força que possa impelir um mortal a transgredir as leis não-escritas e irrefragáveis dos deuses. Pois estas não são de hoje ou de ontem, mas de toda a eternidade, e ninguém sabe desde quando existem”. Antígona pagou com a vida a essa opção, heroína eterna da lei natural (Maritain L„Homme et l‟Etat. Paris, 1953: PUF. P. 78)‖. 3.1- Os Grandes Filósofos de Atenas. Sócrates o maior filosofo, nascido em Atenas, foi professor de Platão, responsável pela organização e sistematização do estudo da Filosofia. Platão deixou 28 Diálogos, dos quais dois são importantes para o Direito: A República e A Lei. O primeiro trata do Estado Ideal e o segundo do Estado Real. Escreveu na República, sobre a forma ideal de Estado, parte do conceito de justiça. Reduziu as formas de governos em apenas duas: Monarquia e Democracia, sustentando que ideal seria a unificação dos dois sistemas. Propôs que o Estado surja por um acordo entre os homens. Esses ensinamentos irão, século depois, inspirar a corrente Contratualista. Aristóteles, discípulo de Platão foi sem sombra de dúvidas o maior dos filósofos gregos. Para a história do Direito a Política é a obra mais importante do príncipe eterno dos verdadeiros filósofos, como lhe chamou Augusto Comte. Nela, Aristóteles estuda a organização da polis, diversas constituições e distingue três formas legítimas de governo: Monarquia, Aristocracia e a Democracia. ―Enquanto Platão, mais poeta e escritor do que homem de ciência e filósofo, construiu um sistema de grande beleza pelas ficções que criou e pela forma primorosa de que as revestiu, Aristóteles, ao contrário, mais cientista do que literato, uniu da maneira mais harmoniosa o gênio indutivo ao dedutivo e ergueu um edifício enciclopédico que só no século XIX encontraria similar no de Augusto Comte‖. 36 3.2 - Os Grandes Legisladores. De modo geral, a tradição apresenta Zaleuco de Locros (Século VII a.C.) como o primeiro legislador grego a escrever leis, todavia a maioria dos estudiosos da História do Direito apresenta 37 como os grandes legisladores: Licurgo, Drácon e Sólon. 36 - CÉSARA CANTÚ, História Universal, vol II,São Paulo, Editora das Américas,1958. 37 ARISTÓTELES, A Política, Introdução de Ivan Lins, da ABL, Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica,1987 23 Licurgo Drácon Sólon. a) Licurgo viveu entre os anos 1000 e 850 a.C. É considerado o legislador mítico de Esparta, ―não escrevia coisa alguma e suas leis consistiam em máximas e sentenças (rêtrai) que de viva voz se transmitiam.... O fim de Licurgo foi perpetuar a liberdade do pequeno número, tanto no sentido moral como no político, destruindo as inclinações vis e conservando o antigo governo patriarcal. Aconselhando-lhe alguém que estabelecesse em Esparta a democracia, ele lhe respondeu: Então comece por estabelecê-la em tua casa‖. b) Drácon e Sólon foram os dois mais importantes legisladores de Atenas, surgiram depois de várias manifestações dos elementos enriquecidos do povo, no século VI a.C., contra os aristocratas em busca de reformas. Drácon viveu mais ou menos em 600 a.C. apenas escreveu leis que até então seguiam a tradição oral, esse fato foi importante porque retirou o poder de justiça das mãos dos eupátridas, 38 transferindo-o para o Estado; as leis pelo menos teoricamente passaram a ser reconhecida por todos através da legislação escrita. As leis estabelecidas eram muito duras e severas, prevendo até a escravidão por dívidas, por isso ficaram conhecidas como draconianas. Sólon por volta do ano 500 a.C. foi o legislador que de fato estabeleceu algumas reformas moderadas e mais justas procurando atender as duas classes. Terminou com a escravidão por dividas; devolveu as terras perdidas por dividas, aos camponeses; limitou a extensão da propriedade e fez uma divisão baseada na renda dos indivíduos da sociedade. A sociedade ateniense ficou dividida em 4 camadas, estratificada de acordo com a renda anual. Nessa divisão estavam todos os cidadãos, isto é, aqueles que tinham direito de participação política. Fora dessa estratificação, portanto sem nenhum direito político ficaram os estrangeiros e os escravos. 3.3 - As Instituições Gregas. a) Governo. As principais instituições políticas de governo das Cidades-Estados eram: Assembléia (ekklêsia,) composta por todos os cidadãos acima de 20 anos e de posse dos direitos políticos (aprox. 6000). Órgão de maior autoridade, que representava a soberania popular, com atribuições legislativas, executivas e judiciárias. A ekklêsia exercia o controle e a fiscalização do poder executivo, nomeava e fiscalizava os magistrados. O Conselho (boulê), composto por 500 cidadãos (50 de cada tribo), com idade superior a 30 anos e escolhidos por sorteio a partir de candidatura prévia e renovada a cada ano, tinham dedicação exclusiva mediante remuneração. O Conselho funcionava como um parlamento moderno preparava projetos que seriam submetidos à Assembléia,, controlava tesoureiros, recebia os embaixadores, examinava os futuros conselheiros e os futuros magistrados e investigava as acusações da alta traição. 38 EUPÁTRIDAS de Atenas eram aqueles considerados bem nascidos , ou seja, filhos da elite. Formavam a aristocracia governante e eram os proprietários de terras e escravos. 24 Os Prítanes (comitê diretor do boulê) era o comitê formado pelos epistatês, presidentes de cada um dos 10 grupos (um para cada tribo) e cada grupo exercia a pritania durante um décimo de ano. O presidente de cada Pritania era escolhido por sorteio e designado por Epístata dos Prítanes. Este apenas exercia as suas funções por um dia, não podendo repetir o seu mandato. Ao Epístata eram confiadas as chaves do tesouro público e a chancela do Estado. Eram eles os responsáveis pela tomada de decisões urgentes, encaminhavam as investigações e convocavam o Conselho e a Assembléia (presidindo às sessões). Eram também eles que podiam requerer a intervenção da força policial. Os Estrategos foram instituídos em 501 a.C. eram em numero de 10, sendo eleitos pela Assembléia e reeleitos indefinidamente. Para o exercício da função o eleito tinha de ser cidadão nato de Atenas, casado legitimamente e possuir propriedades que assegurasse a sua subsistência, pois a atividade não era remunerada. Tinham entre suas atividades principais o comando do exército, a distribuição do imposto de guerra, a direção da polícia e a defesa nacional. Eram embaixadores oficiais no exterior para negociarem tratados. Os Magistrados eram sorteados dentre candidatos eleitos, renovados anualmente, não podendo ser reeleitos para evitar a continuidade política. Entres os magistrados os Arcontes eram os mais importantes. Entre outros cargos os magistrados instruíam os processos, ocupavam-se dos cultos e exerciam as funções municipais. b) Justiça e Tribunais. 39 A administração da Justiça, no processo evolutivo da civilização, é papel primordial do Estado, constituindo a cidade-estado de Atenas a grande exceção, pois nela em respeito a soberania popular, ao povo e somente a ele cabia administra a justiça e resolver conflitos através de instituições populares, tais como: No campo da justiça civil: Os Juízes dos Demos percorriam as aldeias (demos) e resolviam de forma rápida os litígios que não ultrapassem certo valor (10 dracmas ou 20 salários diários). Nos processos mais importantes, eram incumbidos das investigações preliminares; Os Arbritos: privados, escolhidos pelas partes, funcionavam como os atuais mediadores, não cabendo apelação das decisões: públicos, escolhidos por sorteio, processo rápido e menos custoso, cabendo apelação da sentença. A Heliaia, tribunal que permitia que a maior parte dos processos fossem julgados por grandes júris populares, compostos por 6000 heliastas, escolhidos por sorteio dentre os cidadãos com mais de 30 anos Juizes dos tribunais marítimos (nautodikai) tratavam dos assuntos concernentes ao comercio e marinha mercante e das acusações contra estrangeiros que usurpavam o titulo de cidadão. 39 Cf. RAQUEL DE SOUZA, O Direito Grego Antigo – Fundamentos de História de Direito, Org. por Antonio Carlos Wolkmer, Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 88 e 89. 25 No campo da justiça criminal: O Areópago era o mais antigo tribunal de Atenas, originalmente aristocrático com amplos poderes como corte de justiça e como conselho político Com as reformas, a partir do IV Séc.a.c. esvaziado politicamente passou a julgar os casos de homicídios premeditados ou voluntários, de incêndio e de envenenamento. Tribunal dos Efetas, composto por quatro tribunais especiais (Pritaneu, Paládio, Delfínio e Freátis) com 51 pessoas com mais de 50 anos, designados por sorteio, cuidavam dos casos de homicídio involuntários ou justificáveis, conforme diferenciação estabelecida por Drácon. 3.4 - O Direito Grego. Direito da Grécia jamais se reuniu em um todo harmônico, como o Direito Romano, permanecendo disperso tal como as Cidades-Estados. O melhor seria falarmos em Direito de Esparta, Direito de Atenas, ou seja, Direitos das Cidades Gregas e não Direito Grego. Originalmente esses Direitos sofreram influências de Mimos, de Micenas, da Mesopotâmia e do Egito. Para a época o Direito das Cidades Gregas não só foi um Direito evoluído que influenciou o Direito Romano, mas um Direito que legou a Ciência Jurídica Moderna, termos (como sinalagmático, quirografário, enfiteuse, anticrese, hipoteca, etc), conceitos (como primado da lei, justiça, etc) e práticas (como júri popular, mediação, arbitragem, a figura do advogado na forma embrionária do logógrafo, etc). O Direito das Cidades Gregas construiu tipos embrionários de contratos e aperfeiçoou o contrato de permuta dos egípcios e dos babilônicos. Disciplinou a propriedade privada, construiu a teoria da pena. Neste Direito a mulher, era incapaz, tinha uma condição inferior, tal qual no Direito Hindu, submetida á autoridade do pai, depois de casada, à do marido, e quando viúva, à do filho mais velho. O divórcio era admitido, mas só os homens dele se beneficiavam e em termo de sucessão só herdavam os descendentes, primeiro os filhos, pois as filhas só herdavam na se não houvesse varão. Finalizando afirmamos que o forte do Direito das Cidades Gregas, principalmente da cidade de Atenas não foi o Direito Privado, mas o Direito Público. Os atenienses lançaram as bases da democracia e o princípio do primado da lei, pois para eles a lei promulgada, impunha- se a todos, fossem governantes ou governados. DIREITO ROMANO. 1 - Introdução. O Direito Romano é grande divisor entre os Direitos Antigos, sagrados, consuetudinários, de conhecimento exclusivo dos anciões e sacerdotes e o Direito Ciência, completamente separado da Religião e da Moral. Os romanos no seu processo evolutivo ascendente só adquiriram a supremacia no campo do Direito, por haver ―criado uma ciência e uma arte do direito‖. 40 40 Cf. J. DECLAREUIL, Roma y la Organización Del Derecho, trad. de Ramón Garcia Redruello, Barcelona: Ed. Cervantes, 1928. 26 A história do Direito Romano é uma história de mais de vinte e dois séculos, do séc. VII a.C. até o séc. XV. No Ocidente, a ciência jurídica romana teve a partir do século XII um renascimento que influenciou todos os sistemas romanistas de Direito da Europa medieval e moderna, deixando até os nossos dias uma presença marcante, sobretudo no campo do Direito Privado, pois foi neste campo que o Direito Romano atingiu o nível mais elevado e influenciou e ainda influencia os sistemas jurídicos que seguiram os seus ensinamentos. Rômulo e Remo Roma, cuja fundação é de origem lendária, atribuída a Rômulo e Remo, cuja existência Moreira Alves41 atribui à simbologia da representação dos dois grupos etruscos rivais, que disputavam o poder naquela área. Muitos historiadores sustentam que no meado do século VIII a.C, os etruscos, fundaram a cidade de Roma em duas etapas: na primeira secaram os pântanos entre as colinas para o desenvolvimento da agricultura; na segunda etapa criaram a primeira organização política da cidade. As fases históricas da Civilização Romana e de suas instituições correspondem a quatro etapas cronológicas inteiramente delimitadas, que são: Período de Realeza (vai das origens de Roma à queda da realeza em 510 a.C.); Período Republicano (de 510 a 27 a.C; Período do Principado (de 27 a.C. a 285 d.C.) e Período do Dominato (de 285 d.c a 565 d.C.). 2 - Período de Realeza Na fase da Realeza surgem às primeiras instituições político-jurídicas das quais destacamos as seguintes: a) O Rei, seu poder era absoluto, vitalício e irresponsável, sendo ao mesmo tempo chefe político, jurídico, religioso e militar; b) O Senado é o conselho do Rei, sendo seus membros denominados senatores. O Senado tinha posição subordinada ao Rei, e sua competência com relação a ele era consultiva, embora não fosse obrigado a seguir seu conselho; c) Os Comícios eram assembléias convocadas pelo Rei. Não se sabe como a vontade do povo era apurada nesses comícios, que aprovavam ou rejeitavam uma proposta, sem ter possibilidade de discussão após uma decisão deste gênero. 2.1 - O Povo e sua Organização. O mundo romano era constituído por várias camadas sócias, cujo status político se foi modificando com o decorrer dos tempos: os patrícios, os clientes, os plebeus, os peregrinos e os escravos. a) Os Patrícios eram os cidadãos romanos no gozo da plenitude dos direitos políticos e civis. Formavam o status patrício os Quirites, os Patres, os Patricii, que compunham, na origem, com exclusividade, o populus romanus b) Os Clientes eram uma espécie de vassalagem, que se sujeitavam à dependência de um cives ou patronus (jus patronatus), recebendo sua proteção, ou seja, era uma 41 Cf. JOSÉ CARLOS Moreira Alves. Direito Romano, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 8. 27 troca, na qual os clientes deviam obediência e prestação de serviços ao patronus, mas estes deviam proteção a assistência aos clientes. A clientela era composta por estrangeiros vencidos na guerra, ou ainda escravos libertos. c) Os plebeus formavam um grupo a parte de Roma, eram cidadãos de cidades latinas, vizinhas a Roma, bem como seus descendentes. Estes, a princípio, não possuíam direitos civis e políticos. Assistia-lhes apenas a liberdade e o commercium. d) Os Peregrinos eram homens livres, mas excluídos da civitas, cidadãos de Estados independentes de Roma ou povos submetidos a Roma que não houvessem obtido a cevitas. e) Os Escravos (servi) não eram considerados pessoa, mas coisa res muncipi. Havia escravos por nascimento, por perda dos direito civis e os prisioneiros de guerra. 2.2 - O Direito da Realeza Como todos os outros povos da antiguidade Roma teve seu direito iniciado pelos costumes, sendo a jurisprudência monopólio dos pontífices, cabendo a eles todo o conhecimento do direito. O historiador francês Fustel de Coulanges estudando o caráter jurídico dessa época, assim o apresenta: ―(...) em que a religião é a senhora absoluta da vida privada e da vida jurídica, o Estado uma comunidade religiosa; o rei, um pontífice; o magistrado, um sacerdote; a lei, uma fórmula sagrada; o patriotismo, piedade; o exílio, excomunhão. O homem vê-se submetido ao Estado pela alma, pelo corpo e pelos bens. É obrigatório o ódio ao estrangeiro, pois a noção do direito e do dever, da justiça e da afeição, não ultrapassa os limites da cidade (...)‖ 42 3 - O Período da República. Segundo os autores modernos, a passagem da realeza para a república não se fez de jato, por meio de revolução, mas obedeceu a processo lento, desenrolado entre 510 e 367 a.C. Por volta 501 a.C., com a Lex Valeria criou-se a magistratura da ditadura, pela qual era concedido pelo Senado, um Patrício o poder absoluto para no prazo máximo de seis meses, restabelecer a Ordem e a Segurança em Roma. Acreditam alguns historiadores que a partir do começo do séc. IV a.C., após uma ditadura, Roma passou a ser governada por dois cônsules que são os únicos magistrados, com atribuições militares, administrativas e judiciárias. Assim, comandam o exército; velam pela segurança pública: procedem ao recenseamento da população; tomam medidas várias com vista ao bem público; gerem o erário; administram a justiça criminal; e exercem a jurisdição voluntária e contenciosa. 3.1 - A luta da Plebe. A plebe que não tinha acesso à magistratura e, revoltada com o arbítrio dos magistrados patrícios, liderada por um plebeu chamado Gaius Terentiliussai propôs em 462 a.C. a compilação e publicação de um código legal oficial, de modo que os plebeus pudessem conhecer a lei e não ser pegos de surpresa pela sua execução. Em 494 a.C., a plebe não atendida em seus pleitos resolveu sair de Roma, e se dirige ao Monte Sagrado, com o objetivo de fundar ali uma nova cidade. Os patrícios, em face disso, resolvem compor e a plebe retorna, após obter a criação de 42 Cf. FUSTEL DE COULANGES, Apud. Jenny Magnani de O. Nogueira, A Instituição da Família em a Cidade Antiga – Fundamentos de História de Direito, Org. por Antonio Carlos Wolkmer, Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 111. 28 duas magistraturas plebéias: o tribunato da plebe e a edilidade da plebe. Seguiu-se a luta da plebe para obtenção de leis escritas, o que acabaria com a incerteza do direito e daria mais segurança aos plebeus. Conseguiram os plebeus que uma comissão de dez membros, patrícios, fosse até a Grécia, onde estudariam as leis de Sólon, que gozavam de enorme prestígio, visando aproveitar o que fosse cabível para a realidade romana. Os decênviros escreveram de início dez tábuas. Não atingiram o objetivo dos plebeus, vindo a serem escritas outras duas, completando o número correto. O texto original das Doze Tábuas perdeu-se quando os gauleses incendiaram Roma em 390 a.C. Nenhum outro texto oficial sobreviveu, mas apenas versões não-oficiais. O que existe hoje são fragmentos e citações de outros autores, como: Cícero, Aulu Gélio, Labeo ,Gaio, etc. Fragementos conhecidos: TÁBUA PRIMEIRA – Do chamamento do Juízo (contém 11 itens) Ex: 1- Se alguém é chamado a Juízo, compareça. 2 – Se não comparecer, aquele que o citou tome testemunhas e o prenda. TÁBUA SEGUNDA – Dos julgamentos e dos furtos (contém 11 itens) Ex: 4 – Se o furto ocorre durante o dia o ladrão é flagrado, que seja fustigado e entregue como escravo à vítima. Se é escravo, que seja fustigado e precipitado do alto da rocha Tarpéia. 11 – A coisa furtada nunca poderá ser adquirida por usucapião. TÁBUA TERCEIRA – Dos Direitos de Crédito (contém 9 itens) Ex: 9 – Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quanto sejam os credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre. TÁBUA QUARTA – Do pátrio poder e do casamento (contém 4 itens) Ex: 1 – É permitido ao pai matar o filho que nasce disforme, mediante o julgamento de cinco vizinhos. 3 – Se o pai vender o filho 3 vezes, que esse filho não recais mais sobre o poder paterno. TÁBUA QUINTA – Das Heranças e Tutelas (contém 8 itens) Ex: 5 – Que as dívidas ativas e passivas sejam divididas entre os herdeiros, segundo o quinhão de cada um. TÁBUA SEXTA – Do Direito de Propriedade e da Posse (contém 9 itens) Ex: 6 – as terras serão adquiridas por usucapião depois de dois anos de posse, as coisas móveis, depois de um ano TÁBUA SÉTIMA – Dos Delitos (contém 18 itens) Ex: 11 – Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver acordo. 16 – Se alguém profere um falso testemunho, que seja precipitado da rocha Tarpéia. TÁBUA OITAVA – Dos Direitos Prediais (contém 13 itens) Ex: 1 – À distância entre as construções vizinhas deve ser de dois pés e meio. 10 – Se caem frutos sobre o terreno vizinho, o proprietário da arvore tem o direito de colher esses frutos. TÁBUA NONA – Do Direito Público (contém 7 itens) Ex: 7 – Se alguém insuflou o inimigo contra a sua Pátria ou entregou um concidadão ao inimigo, que seja morto. TÁBUA DÉCIMA – Do Direito Sacro (contém 16 itens) Ex: 16 – Que o vestíbulo de um túmulo jamais possa ser adquirido por usucapião, assim como o próprio túmulo. TÁBUA DÉCIMA PRIMEIRA – Sem títulos (contém 3 itens, muito fragmentados) Ex: 2 – Não é permitido casamento entre patrícios e plebeus. TÁBUA DÉCIMA SEGUNDA – Também sem título (contém 4 itens) Ex: 4 – Se um escravo comete um furto,ou causa algum dano, sabendo-o o patrono, que seja obrigado, esse patrono a entregar o escravo, como indenização, ao prejudicado. A (Lex Duodecim Tabularum) Lei das XII Tábuas, elaborada em 450 e 449 a.C é considerado o primeiro documento legal escrito do Direito Romano, pedra angular onde se 29 basearam praticamente todos os corpos jurídicos do Ocidente. Ela separou o Direito da Religião criando a Ciência do Direito. Ensina John Gilissen: ―No conjunto, a Lei das XII Tábuas revela um estágio da evolução do direito público e privado comparável ao que é conhecido em Atenas pelas leís de Drácon e de Sólon. A solidariedade familiar é abolida, mas a autoridade quase ilimitada do chefe de família é mantida; a igualdade jurídica é reconhecida teoricamente; são proibidas as guerras privadas e instituído um processo penal; a terra, mesmo a das gentes, tornou-se alienáveí; é reconhecido o direito de testar‖. 43 3.2 - A República e sua Organização. As Magistraturas. Os Cônsules, magistratura que era exercida por dois cônsules, titulares do poder de imperium, dispõem do comando militar e do governo da cidade; presidem as assembléias, podem propor leis e tiveram talvez no início um poder de jurisdição criminal. Os Pretores, magistrados judiciais; organizam o processo e designam os juízes. Houve outros magistrados, tais como os edis curuis, os tribunos, os questores, os censores, etc. As características fundamentais das magistraturas republicanas são: a temporalidade, a colegialidade, a gratuidade e a irresponsabilidade do magistrado. As Assembléias. Eram múltiplas, sendo as mais importantes a centuriata comitia, que formava a assembléia popular mais importante durante a república e a concilia plebis, assembléia própria da plebe que elegia os tribunos da plebe e votava os plebiscitos. Havia ainda a curiata comitia, e a tributa comitia. Senado romano reunido na cúria O Senado (Senatus populusque Romanus – S P Q R). Na república, o Senado se torna o verdadeiro centro do governo, pois os magistrados tinham interesse em consultá-lo em seguir o seu conselho, antes de tomarem deliberações mais importantes, uma vez que, sendo o Senado órgão permanente, ficavam eles resguardados de possíveis incriminações quando retornassem à qualidade de simples cidadãos. Graças a isso, o Senado, além de enfeixar em suas mãos a direção da política externa de Roma, atuava nos setores da Administração Pública. 3.3 - O Direito na República. Na república, as fontes de direito são quatro: o costume, a lei e os editos magistratos e o jus praetorium ou jus honorarium. 43 - JOHN GILISSEN, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p 87. 30 a) - O Costume é a fonte preponderante do direito privado, graças à atividade dos jurisconsultos. Os juristas republicanos não formularam doutrina sobre o costume como fonte de direito, o que somente foi realizado pelos jurisconsultos do principado. b) - A Lei em Roma apresenta-se sobre duas modalidades: lex rogata e lex data. A mais importante lei na república é uma lex data: a Lei das XII Tábuas, o primeiro monumento legislativo dos romanos. c) - O Edito dos Magistrados. Os magistrados romanos tinham a faculdade de promulgar editos, dos quais os mais importantes, para a formação do direito, foram as dos magistrados com função judiciária. Os magistrados judiciários, no direito romano, não podiam atribuir direitos a ninguém, mas, sim, conceder ou negar ações d) - jus praetorium ou jus honorarium. Era formado pelos éditos do praetor urbanus, competente para apreciar litígios entre cidadãos romanos, “que a pretexto de interpretar a Lei das XII Tábuas, a corrigiu, a ampliou e a simplificou, tornando-a menos formalista e menos obscura”. 44 O que resultou no jus civile ou direito do cidadão romano, enquanto dos éditos do praetor peregrinus, competente para apreciar litígios entre estrangeiros e entre estes e os romanos, nasceu um novo direito, fruto do Direito Natural e da equidade, que foi o jus gentium. 4– O Período do Principado ou Alto Império. 4.1 – Antecedentes Alguns acontecimentos ocorridos durante o séc. I d.C. acabaram indicando que a república não poderia subsistir muito tempo. ―Segue-se o período em que se projetam dois homens: Pompeu e Júlio César. Ambos tentavam assumir o poder supremo, mas por métodos diversos: Pompeu, provavelmente, pretendia alcançar suas aspirações galgando o poder com o consentimento do Senado republicano (instaurar-se-ia assim o principado em Roma); Júlio César, ao contrário visava ao mesmo fim a implantação da monarquia absoluta (o que mais tarde ocorreria no dominato) ”45 . Com tais diferenças os conflitos entre Pompeu e Júlio César eram constantes e inevitáveis. César vence Pompeu e em 44 a.C. foi assassinado. Com a morte de César há uma série de agitações, a qual surge o triunvirato formado por Otaviano, Marco Antônio e Lépido. Com a desistência de Lépido e a derrota de Marco Antônio por Otaviano Em 13 de janeiro de 27 a.C., surge o principado. Otaviano já vinha obtendo prerrogativas que lhe preparavam caminho para a implantação do regime pessoal em Roma. Em 30 foi-lhe conferida a tribunicia potestas que reconhecia num peblicito o direito de administrar a justiça. Em 29 foi confirmado pelo Senado Imperator, em 28, recebeu o título de Princeps Senatus. O principado é o período histórico que vai do reinado de Augusto (Otaviano) até a morte de Diocleciano. Otaviano que, também, recebeu do Senado o título de Augusto ocupa a posição de Princeps, pois tinha o comando geral dos exércitos Romanos e com a tribunicias Protestas, tinha a inviolabilidade pessoal e o veto às decisões dos magistrados republicanos. 44 Cf. PAULO DOURADO de Gusmão, Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.298. 45 Cf. JOSÉ CARLOS Moreira Alves. Direito Ro mano, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 29. 31 4.2 – O Principado e sua Organização. O principado apresenta dupla faceta: em Roma, é ele uma monarquia mitigada, pois o príncipe é apenas o primeiro cidadão que respeita as instituições políticas da república; nas províncias imperiais é verdadeira monarquia absoluta, porque o príncipe tem, ai poderes discricionários. Presume-se que o principado é um regime de transição da república à monarquia absoluta, ou seja, encaminha-se para o absolutismo. O Senado. Em 18 a.C., foi reduzido o número dos senadores para que o senado funcionasse realmente. Durante o principado, o Senado manteve-se aparentemente em posição de destaque, porém sua atividade foi inspirada e orientada pelo Imperador. No principado, o Senado perde, em favor do príncipe, os poderes fundamentais que detinha na república. 4.3 – O Direito no Alto Império. O regime Imperial foi o grande período do Direito Romano clássico e apresenta as seguintes fontes principais: o costume, a lei, os senatosconsultos, os editos dos magistrados, as constituições imperiais e as respostas dos prudentes. a) – Costume. Alguns juristas clássicos consideram o costume como um fato não o incluindo assim na relação das fontes do direito, porém sua importância com relação a esse período é menor do que os anteriores, pois ao formar-se um costume, o pretor podia acolhê-lo em seu edito, dando-lhe o caráter de lei honorarium. b) – Leis Comiciais As leis comiciais eram uma série de leis propostas por Augusto com base em sua potestas tribunicia. Depois de Augusto, no entanto, a legislação comicial entra em decadência. Sob Tibério e Cláudio, encontramos ainda algumas leis votadas pelos comícios. Do tempo do imperados Nerva data a última lei comicial. c) – Edito dos Magistrados Os editos eram as mais importantes fontes de direito na república, pois tinham o poder de indiretamente criar direitos por meio da elaboração de seu edito. Com o passar do tempo os pretores, na prática se limitavam, a copiar os editos de seus antecessores. No reinado do imperador Adriano (séc. II d.C.) o jurisconsulto Sálvio Juliano foi encarregado de empreender a codificação dos editos perpétuos do Pretor Urbano. A publicação do Edictum Perpetuum de Juliano imobilizou a legislação pretoriana, mas por outro lado, “deu origem à floração enorme de comentários, salientando-se, entre estes os de Ulpiano e Paulo”. 46 d) – Senatoconsultos (Senatus - Consultum) Senatoconsultos são medidas de ordem legislativa que emanam do Senado, ou seja, aquilo que o Senado ordena e constitui. No início do Principado, porém os Senatoconsultos passam a ser feitos a pedido do Príncipe, por iniciativa deste e o Senado aprova por subserviência, sem mesmo discuti-las. Mesmo assim, no Principado, encontra-se vários Senatus – Consultum de grande importância para o direito privado, como o Senatus – Consultum Tertuliano a respeito de Sucessão hereditária. e)–Constituições Imperiais Ao Príncipe jamais foi atribuída expressamente a faculdade de legislar, mas em decorrência dos poderes que absorveu das magistraturas republicanas e da ―auctoritas principis‖ que lhe reconhecia esse poder, as constituições imperiais se tornaram cada vez mais abundantes. Ulpiano reconhece que a Constituição Imperial tem a mesma autoridade que a Lei. Elas distinguiam-se em quatro categorias: Edicta (Éditos) - normas gerais aplicáveis a todo o Império; Mandata (Mandatos)- instituições que o Príncipe 46 Cf. J. CRETELLA JÚNIOR. Curso de Direito Romano.13ª ed.,Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 56. 32 transmitia dos funcionários imperiais, principalmente aos governadores e funcionários das províncias; Rescripta (Restritos)- respostas que o imperados dava, sobre questões judiciais, a particularidades, ou a magistrados e a juizes; Decreta (Decretos)- eram sentenças prolatadas pelo Príncipe em litígios a eles submetidos em primeira instancia ou em grau de recurso. As constituições imperiais mais importantes para o direito privado se apresentavam sob o tipo de decreto ou rescripta. f)–―Responsa Prudentium‖(Respostas dos Prudentes) são as sentenças e opiniões daqueles (jurisconsulto) a quem era permitido fixar o direito Antes de Augusto, os jurisconsultos, respondiam as consultas das partes litigantes, dos magistrados ou dos juizes, sem autorização do Estado. Augusto, no entanto deu as consultas força de lei, introduzido o ―jus publice respondendi ex auctoritate prudentium‖ ou seja, o direito de responder oficialmente às consultas que lhes são formuladas”. 47 Nessa época florescem, em Roma, os mais notáveis jurisconsultos da antiguidade, tendo adquirido fama os pertencentes as escolas dos Sabinianos 48 e dos Proculianos 49 . Dos notáveis jurisconsultos que remodelaram o Direito Romano e criaram a ciência jurídica, neste período, podemos destacar os seguintes: Gaius (Gaio), deixou mais de 500 fragmentos, cuja obra máxima, as Institutas, em 4 livros, que serviram de modelo para as Institutas de Justiniano. Gaio, também é autor das Res cottidianae sive aureae; Gaio ou Gaius Papinianus (Papiniano), denominado o ―príncipe dos jurisconsultos‖, deixou perto de 600 fragmentos, cheios de sabedoria jurídica. ―Sempre que se verificava empate entre opiniões de Gaio, Paulo, Ulpiano e Modestino, o parecer de Papiniano é que prevalecia, nesse verdadeiro tribunal dos mortos, invocado na chamada Lei das citações, da época dos imperadores Teodósio II e Valentiniano III‖; 50 Papiniano Ulpianus (Ulpiano), autor da obra Regularum Libre e da clássica divisão do Direito em Público e Privado, é colocado logo após Papiniano por sua grande cultura, clareza e precisão; Ulpiano. 47 Cf. J. CRETELLA JÚNIOR. Curso de Direito Romano.13ª ed.,Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 58. 48 SABINIANOS – conservadores e inspirados nos filósofos estóicos – Capito, Sabino, Cássio, Javoleno e Sálvio Juliano. 49 PROCULEIANOS - inovadores e inspirados nos filósofos aristotélicos – Labeão, Próculo, Celso e Nerácio. 50 Cf. J. CRETELLA JÚNIOR. Curso de Direito Romano.13ª ed.,Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 61. 33 Paulus (Paulo), autor das Sententiae, um dos remodeladores do Direito Romano pelos seus comentários dos textos legislativos e pela sua maneira de resolver as lacunas do Direito; Paulus Paulus Modestino, autor de várias obras e comentários jurídicos, último dos jurisconsultos clássicos, viveu no século III d.C. Modestino 5– O Período do Dominato ou Baixo Império. 5.1 – O Dominato e sua Organização. Aos poucos, os imperadores romanos vão firmando seu poder absoluto em Roma. Como ocorrera com o Principado que já se mostrava nos fins da república, o mesmo aconteceu com o Dominato. O Dominato ou Baixo Império vai de Diocleciano até a morte de Justiniano, ou seja, de 284 d.C. a 565 d.C. “O imperador já não é mais o princeps, mas o dominus, o senhor do Império. O seu poder é absoluto e divinizado‟ 51 . Após a morte de Alexandre Severo, no século III d.C., grande crise eclodiu no Império Romano. Durante aproximadamente 50 anos vários imperadores sucederam-se no poder. Com a posse de Diocleciano, essa crise terminou. O novo governante deixou de lado a política usada pelos seus antecessores e até mesmo a constituição republicana. Implantou a monarquia absoluta e deu nova organização ao império. Constantino, que o sucedeu no poder, completou essa organização. Devido ao tamanho do Império temos como conseqüência uma série de problemas políticos, administrativos e, também, a necessidade de criação de sistema sólido para a sucessão dos imperadores, Diocleciano achou melhor dividir o Império Romano em Oriente e Ocidente, onde o governo seria exercido por um ―Augustus‖, auxiliado por um ―Caesar‖. 52 No governo de Constantino os Impérios fundiram-se, outra vez, tendo a capital do mesmo sido instalada em Bizâncio, que passou a chamar-se Constantinopla. O Cristianismo uma das mais importantes religiões do mundo ocidental, monoteísta, messiânica e profética, difundiu-se por todo Império Romano, após o martírio estóico e a fé inquebrantável dos seguidores de Cristo. Em 313 d.C. Constantino assinou o Edito de Milão, 51 Cf. WILSON DEMO. Manual de História do Direito, Florianópolis: OAB/SC, 2000, p. 78-79. 52 AUGUSTUS, governante maior , o Imperador. - Caesar, lugar tenente do Augusto e seu substituto natural. 34 permitindo a liberdade de culto aos cristãos e em 380, o Imperador Teodósio converteu-se ao cristianismo e por fim em 391, oficializou-o como religião oficial do Império. A Igreja organiza-se a partir daí no quadro político e administrativo do Império Romano. Com a morte de Teodósio I, a divisão volta acontecer, agora de modo definitivo. O Império Romano do Ocidente ficou com Honório e o Império Romano do Oriente com Arcádio 53 O Império Romano do Ocidente, foi invadido pelos povos bárbaros em 476 e o Império do Oriente foi tomado pelos turcos otomanos comandados por Maomé II, em 1453. 5.2 – O Direito no Baixo Império. Nessa fase somente uma fonte era atuante as Constituições Imperiais até então chamadas leges, todavia, continua firme o costume, como fonte espontânea do direito, que se limitava a preencher as lacunas das constituições, sendo que para o direito privado, sua importância era muito pouca. Não há grandes juristas, mas sim, práticos, a decadência da jurisprudência é notória. As normas tornam-se conhecidas através das obras dos jurisconsultos clássicos. Ao lado das constituições imperiais (leges) vigorava também o Direito. 54 Os imperadores tentaram, combater através das constituições imperiais, o uso abusivo do Direito pelos advogados, que muitas vezes, confundiam os juízes. Teodésio II e Valentinano III, através da ―lei das citações‖, estabeleciam que somente poderiam ser invocados em juízo, os escritos dos jurisconsultos, Gaio, Papiniano, Ulpiniano, Paulo e Modestino, desde que houvesse concordância da maioria, caso contrario o juiz seguia a orientação que lhe parecesse melhor. Antes de Justiniano, para solucionar vários problemas, foi elaborada uma série de compilações, chamadas ―Compilações Pré-Justinianéias‖, para melhor diferenciá-las das elaboradas por ordem do imperador Justiniano. Entre essas codificações devemos distinguir os Códigos: Gregoriano, Hermogeniano, Teodasiano (dois primeiros elaborados por particulares, restaurando poucas informações); de grande importância e o Código Teodosiano, elaborado por ordem do Imperador Teodósio II e tornado obrigatório no Ocidente por Valentiniano III, distingue-se por ser a primeira codificação oficial do Império Romano. 55 Antes de Justiniano temos duas Leis Romanas dos Bárbaros que merecem ser destacadas: A Lex romana Wisigothorum ou Breviário de Alarico e a: A Lex romana Borgundionum ou Lei dos Borgúndios, são compilação de leis romanas feitas pelos Bárbaros, pois eles respeitavam os costumes dos povos vencidos e por isso, organizaram os vencedores um código que ofereceram aos vencidos. 5.3 – A Figura de Justiniano. Por ironia da vida, o grande Imperador Justiniano, o homem que deu o mais alto valor aos estudos e à sistematização do Direito Romano, não nascera em Roma, não era culto e 53 Os dois impérios mantiveram, apesar de divididos, uma unidade ideal, quando um dos imperadores morria, até que fosse escolhido um novo governante, o poder era dilatado por todo o império. 54 Direito contido nas obras dos jurisconsultos clássicos, que fazia a posição as leges. 55 RATIFICOU o código Gregoriano e o Hermogeniano, compilou varias constituições imperiais, a partir de Constantino, parte de sua obra chegou até nós. 35 mal sabia enunciar as primeiras letras. 56 O Imperador foi um homem dotado de grande conhecimento empírico, incrível capacidade de trabalho e um profundo amor ás artes, ás ciências e ao Direito, casa-se com Teodora, ambiciosa, corajosa, considerada por muitos como a alma e esteio do governo de Justiniano. 57 Justiniano governou de 527 a 548 da era cristã. Foi o último Imperador do Baixo Império e o primeiro dos Imperadores Bizantinos. No século VI, o estudo do direito volta a florescer devido as escolas do Império Romano da Oriente dentre elas, destacando-se a de Constantinopla, cujos juristas auxiliaram a Justiniano a empreender e sistematizar, reunindo em uma só obra o seu Corpus Júris. No século XII, glosadores da Escola de Bolonha, passaram a denominar a obra de Justiniano de Corpus Júris Civilis, para distinguir do denominado Corpus Júris Canonici. 58 Após assumir o governo, Justiniano formou uma comissão de dez membros, para compilar as constituições imperiais vigentes; entre esses membros, encontrava-se Triboniano e Teófilo grandes jurisconsultos. Sob a presidência de Triboniano a comissão deveria refundir os códigos anteriores – Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano e acrescentar-lhes as constituições recentes. Esse primeiro Codex (529) não chegou até nós, sendo substituído por outro em 534. A obra de Justiniano, ou seja, Corpus Júris Civilis que chegou até nos consta de quatro partes: 1ª - Digesto (compilação dos jura); 2ª - Institutas (manual escolar); 3ª - Código (compilação das leges); 4ª - Novelas (reunião das constituições). Digesto, feita a compilação da leges (Codex Vetus – 529, hoje perdido), faltava agora compilar os juras; projeto que ficou a cargo de Triboniano que formou uma comissão de professores de direito e advogados, entre os quais se inscreviam Constantino, Teófilo e Cratino de Constantinopla, Doroteu, Isidoro e Anatólio, da Universidade de Berito que concluíram o trabalho em trás anos (governo calculou dez anos), era o Digetos ou Pandectas. Na Constituição ―Deo auctore de conceptione Digestorum‖, de 15/12/530, Justiniano expôs seu programa referente à obra, que se diferenciava do Código, por não ter havido anteriormente trabalho do mesmo gênero. A massa da jurisprudência era enorme, foram pesquisados mais de 1500 livros escritos por jurisconsultos da época clássica Ao todo o trabalho forma um texto de 150 000 linhas. O Digesto teve um terço tirado das obras de Ulpiano, um sexto das de Paulo. Já em 426 a Lei das Citações tinha dado força de lei aos escritos de cinco dos juristas da época clássica: Gaio, Papiniano, Paulo, Ulpiano e Modestino O Digesto continua a ser a principal fonte para o estudo e aprofundamento do Direito Romano, o compreendem 50 livros, distribuídos em 7 partes. Os livros são divididos em títulos, os títulos em fragmentos estes em principium e parágrafos. Os fragmentos são numerados e indicam o nome do jurisconsulto que os redigiu, bem como o livro da obra originária. 59 As Institutas ou Institutiones Justiniani ou Elementa formam um Manual de Direito Privado Romano, destinado ao ensino do Direito em Constantinopla. As Institutas tiveram 56 O Imperador Codificador sucedeu o seu tio Justino, que o adotara, mudando o seu nome eslavo Upranda para o de Jutiniano. 57 TEODORA, mulher arrancada de um antro de degradação, era prepotente, ambiciosa, e extremamente corajosa, conta-se que por ocasião da revolta de Nike (532), Justiniano, julgando-se perdido, prepara-se para abandonar o Governo, mas toma-se de brios e volta ao ouvir Teodora exclamar: ―Vai, César, se queres fugir. Os navios te esperam. Eu fico. A púrpura é uma bela mortalha‖. 58 Alguns historiadores atribuem ao romanista francês Dionísio Gotofredo a expressão Corpus Júris Civilis, que teria sido usada em 1583 na edição feita por aquele erudito jurista. 59 Cf. J. CRETELLA JÚNIOR. Curso de Direito Romano. 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 71. 36 por modelo os Comentários de Gaio. Obra muito mais clara e sistemática que o Digesto, foi redigida por dois professores, Doroteu e Teófilo, sob a orientação de Triboniano. Em 533 Justiniano aprovou o texto e deu-lhe força de lei. O Novo Código ou Segundo Código tornou-se necessário, por que entre a publicação do Codex Vetus e o Digesto, várias novas constituições foram publicadas. Esse segundo Código foi publicado em 534, seguindo o mesmo sistema do anterior é dividido em 12 livros, subdivididos em títulos e estes em constituições. O Código começa por uma invocação a Cristo, afirmando a fé de Justiniano. Os outros Títulos do Livro I são consagrados às fontes do Direito, ao direito de asilo a às funções públicas. O Livro II trata do processo. Os Livros III a VIII trata do direito privado, o Livro IX cuida do Direito Penal e os Livros X a XII tratam de Direito Administrativo e Fiscal. As Novelas ou Autênticas são formadas por um conjunto de novas Constituições Imperiais, decretadas por Justiniano, entre 535 e 565. A maioria foi escrita em língua grega e contém reformas importantes, no direito hereditário e matrimonial. Elas foram registradas e conservadas nos arquivos do palácio, sendo divulgadas, mais tarde em coleção sem o cunho oficial. Entre essas coleções se distingue a elaborada por Juliano, professor de Constantinopla. Essa é a mais antiga coleção acompanhada de 125 novelas intitulada Juliani Novellarum Epítome, e a organizada por João de Antioquia. Merece destaque, também, o Corpus Authenticarum, tanto na versão latina como na grega, pois respeita integralmente a letra e o espírito das novelas de Justiniano. As Novelas latinas e gregas, acrescidas de outros elementos, passaram a fazer parte do Corpus Juris com o nome de Authenticae seu Novellae Constitutiones Divi Justiniani. As Interpolações. Ensina o mestre Moreira Alves: 60 ―Também chamadas de Tribonianismos. Foram criadas para que os iuras a as leges constantes no Corpus Iuris Civilis pudessem ter aplicações praticas. Constavam de substituições, supressões ou acréscimos nos fragmentos dos jurisconsultos clássicos ou nas constituições imperiais. Dessas interpolações, destacamos os glosemas denominações, de modo geral, dos erros dos copistas ou alterações introduzidas nas obras dos juristas clássicos, antes de Justiniano, como o que aconteceu no Código Teodosiano. O estudo das interpolações só foi realmente desenvolvido pelos glosadores 61 na Renascença, quando jurisconsultos da Escola Culta procuraram restauram o direito clássico romano, em sua forma mais pura‖. 6 - A Influência do Cristianismo no Direito Romano Em 313, o imperador Constantino convertido ao Cristianismo fez publicar o Édito de Milão, que instituía a tolerância religiosa no império, beneficiando principalmente os cristãos Tornando-se, o cristianismo, religião oficial do Império. 62 Em 391, Teodósio I oficializou o cristianismo nos territórios romanos e perseguiu os dissidentes. ―Saindo da sua semiclandestinidade, a Igreja torna-se assim uma instituição do Estado. A sua organização territorial é estabelecida de acordo-com o modelo de administração do 60 Cf. JOSÉ CARLOS Moreira Alves. Direito Ro mano, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 61. 61 -OS GLOSADORES tinham conhecimento das interpolações e procuraram usa-las. 62 - 28 de outubro 312 Constantino vence Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, o que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: I hoc signo vinces "Sob este símbolo vencerás" 37 Império Romano. E, aliás, graças à Igreja que alguns vestígios desta administração subsistirão em plena Idade Média. Em cada província romana, havia um arcebispo; em cada civitas (que se tornará diocese ou episcopado), um bispo, que tinha sob a sua dependência o clero das paróquias. A competência do bispo era muito extensa; ele era auxiliado, no domínio religioso, por padres e no domínio laico (nomeadamente para a administração dos bens da Igreja.) por arquidíáconos e diáconos‖. 63 Cristograma de Constantino Autores medievais afirmaram que graças as idéias cristãs o Direito Romano teve um grade desenvolvimento, ―principalmente no direito da família, quanto à escravidão (que não foi extinta, mas melhorou muito a vida do escravo) e aos direitos patrimoniais‖ 64 DIREITO GERMÂNICO 1 - Introdução. Para falar de Direito Germânico é o importante estudo do Direito na Idade Média, pois as instituições e os sistemas jurídicos existentes nas diversas nações bárbaras de origem teutônica que se apossaram da Europa após a queda do Império Romano do Ocidente, no ano 476. Predominava entre os invasores o direito de origem costumeira, particularista, rudimentarmente desenvolvido e fortemente impregnado de sentido comunitário. Os usos da tribo ascendiam à categoria de lei mediante sua definição pelo órgão judicial, a assembléia, no julgamento dos casos concretos. As decisões constituíam precedentes e se aplicavam com força legal. O direito era, ao mesmo tempo, de origem popular e judicial, conservado pela tradição oral. Ensina Paulo Dourado: ―Caracteriza-se a Idade Média pelo pluralismo de ordens jurídicas: direito romano vulgar (sul da França, Itália), direito consuetudinário (Inglaterra), direito bárbaro, direito romano vulgar (Sul da França), direito dos senhorios, direito das corporações de mercadores ou de ofícios, direito das cidades e o direito canónico, vigentes muitas vezes no mesmo território. Pluralismo resultante da política jurídica adotada pelos gcnnanos impondo o princípio da personalidade das leis, segundo o qual a "nacionalidade" da pessoa determina o seu estatuto jurídico: germanos, direito germânico; latinos, direito romano vulgar, e clérigos, direito da Igreja‖. 65 1.1 - Sistema Feudal É importante uma breve nota sobre o, que muito consideram como um sistema desumano e completamente afastado do Direito, muito pelo contrario ele é apoiado no Direito e tem tudo a ver com a luta da sobrevivência pelas armas e pela alimentação. Ensina - John Gilissen: O feudalismo é caracterizado por um conjunto de instituições das quais as principais são a vassalagem e o feudo. Nas relações feudo- vassálicas, a vassalagem é o elemento pessoal: o vassalo é um homem livre comprometido para com o seu senhor por um contrato solene pelo qual se submete ao seu poder e se obriga a ser-lhe fiel e a dar-lhe ajuda e 63 - JOHN GILISSEN, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p136 64 Cf. JOSÉ CARLOS Moreira Alves. Direito Ro mano, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 65. 65 Cf. PAULO DOURADO de Gusmão, Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.300. 38 conselho (consilium et auxiliam), enquanto o senhor lhe deve protecção e manutenção. A ajuda é geralmente militar, isto é, o serviço a cavalo, porque a principal razão de ser do contrato vassálico para o senhor é poder dispor duma força armada composta por cavaleiros. O feudo é o elemento real nas relações feudo-vassálicas; consiste numa tenência, geralmente uma terra, concedida gratuitamente por'um senhor ao seu vassalo, com vista a garantir-lhe a manutenção legítima e dar-lhe condições para fornecer ao seu senhor o serviço requerido. 66 2 - Direito Germânico Importante característica do direito germânico era a chamada personalidade das leis. O direito romano, pelo menos depois que o império atingiu a expansão máxima, no século II, consagrava, ainda que com exceções, o princípio da territorialidade, segundo o qual o direito aplicável às pessoas que se acham no território do estado é o direito do próprio estado, independentemente da condição nacional ou da origem étnica de seus habitantes. O direito germânico, ao contrário, principalmente depois que se generalizou à convivência com a população romana, nos séculos IV e V, considerava que o estatuto legal da pessoa era uma prerrogativa desta, determinada por sua procedência ou nacionalidade. A coexistência entre romanos e bárbaros tornou-se ameaçadora para as instituições e os costumes jurídicos destes últimos, ante o impacto de uma civilização mais avançada. Por outro lado, com o curso do tempo e a ocorrência de freqüentes migrações, com casamentos entre pessoas de nacionalidades diferentes e o nascimento de descendentes dessas uniões, a aplicação do direito foi-se tornando problema dos mais difíceis. Alguns reis bárbaros mandavam compilar os direitos de seu povo e os dos povos vencidos, pelo sistema romano de codificação, o que contribuiu para que, aos poucos, se firmasse o princípio da territorialidade das leis. As leis bárbaras ordenaram os usos e costumes das tribos na forma escrita, recolhendo a influência de princípios do direito romano, mediante compilações do período pós- clássico, das constituições imperiais e da jurisprudência. Nessas codificações, as leis ou a jurisprudência romana podiam aparecer justapostas, sem modificações, ou resumidas, modificadas e intercaladas. Como resultados do sistema de leis pessoais adotados pelos germanos, citam-se entre outros estes estatutos: Lex Romana Wisigothorum, Lex Romana Burgundiorum e Edictum Theodorici: a) - A Lex Romana Wisigothorum, elaborada por determinação de AlaricoII, vigorou entre o ano 506 e 654 para ser aplicada aos latinos do reino visigótico na França, Itália, Espanha e Portugal, Em seu conteúdo, distinguem-se extratos dos códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano, além de um resumo das sentenças de Paulo, das institutas de Gaio e das respostas de Pepiniano. Essa codificação ficou ainda conhecida por Breviarium Alarici. A Lex Romana Wisigothorum vigiu até 654 quando entrou em vigor o ―Libre Judiciorum,‖ que era uma consolidação do Direito Germânico, Direito Romano e Direito Canônico, tento exercida profunda influência na formação do Direito da Espanha e de Portugal. b) - A Lex Romana Burgundiorum, promulgada por Gondebaldo provavelmente no ano 517, aplicava-se aos súditos romanos da Borgonha. Com exceção das respostas de Pepiniano, suas fontes são as mesmas da Lex Romana Wisigothorum. 66 - JOHN GILISSEN, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p198 39 c) - O Edictum Theodorici foi promulgado por Teodorico entre os anos 500 e 506. Esse estatuto abrange um resumo do direito aplicável aos romanos e aos ostrogodos no reino que estes fundaram na Itália. Ensina o mestre Paulo Dourado: O pluralismo jurídico resultante dos direitos das cidades, dos direitos feudais e dos direitos consuctudinários constituía grave ameaça para a unidade política do que restava de reinos, artificialmente divididos, e de nações em gestação. Casualmente, foi encontrada a solução para esse problema com a descoberta, no século XI, em Amalfi, no sul da Itália, de um texto completo do Digesto (Pandecta) de Justi-niano. Era o direito que faltava à Europa medieval, para organizar a vida social em bases mais estáveis. Irnério, gramático erudito da Universidade de Bolonha, que viveu na segunda metade do século XI, entregou-se ao estudo desse texto, formulando interpretações (glosas) do mesmo. Glosas que, no século XII, eram numerosas, formuladas nas entrelinhas do texto (glosa iníerlinear), e depois, à margem dos mesmos (glosa marginal) adaptando-o ao mundo medieval. Inicia-sc, então, com os Glosadores de Bolonha, o renascimento do direito romano na Idade Média. De- ve-se esse ressurgir aos juristas das Universidades italianas, principalmente a Accursius (1184-1263) e Bártolo (1313-1357), fundadores da ciência jurídica romanizada e da Escola de Comentadores. Do trabalho dos glosadorcs resultou novo direito romano adaptado à sociedade medieval cristianizada, que, na Idade Moderna, se transformou em direito comum por ser vigente em toda a Europa. Vigiu até o fim do século XIX, como ratio scripla (razão escrita), ou seja, direito por excelência. 67 O DIREITO CANÔNICO 1 – Introdução. O Direito Canônico surgiu e desenvolveu-se na Idade Média é o direito da comunidade religiosa dos cristãos, mais especialmente o direito da Igreja Católica Apostólica Romana. O termo cânon vem do termo grego (Kanoon= regula, regra), empregado nos primeiros séculos da igreja para designar as decisões dos concílios. Na doutrina cristã a noção de Direito é conhecida e reconhecida, enquanto que nos Mulçumanos e nos Hindus, o Direito se confunde com um conjunto de regras do comportamento religioso, ritual e moral. 1.1 – Fontes do Direito Canônico. a) – Direito Divino (ius divinum) é formado por regas extraídas da Sagrada Escritura, bem com dos das explicações dos Apóstolos, e Doutores da Igreja; b) - A Legislação Canônica - (fonte viva), formada pelas decisões das autoridades eclesiásticas, como os decretos dos concílios e as decretais (constituições) dos Papas; c) – Os costumes (jus non scriptum) – de pouco uso no Direito Canônico em razão da abundância de regras escritas (ser seguido a mais de 30 anos, ser razoável e ser conforme o Direito Divino,não contrariando A Legislação Canônica.); d) – Princípios recebidos do Direito Romano – Após o Édito de Constantino o Direito Romano passou a sofrer influência dos valores Cristãos e, também, influenciar o incipiente Direito Canônico. ―O direito romano constituiu o direito supletivo do direito canónico. A Igreja católica desenvolveu-se no império Romano; depois da queda do Império do Ocidente, ela continuou a viver segundo o direito romano. Aplica-o na medida ern que ele não é 67 - Cf. PAULO DOURADO DE GUSMÃO, Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.303. 40 contrário ao ius divinum e aos decretos e decretais. Assim, o direito canónico recebe do direito romano uma grande parte da sua teoria das obrigações e os elementos essenciais do seu processo civil‖. 68 A Igreja admitiu (quase sempre) a dualidade de dois sistemas jurídicos: o Direito religioso e o Direito laico. Cristo tinha estabelecido o princípio que o seu ―reino não é deste mundo‖ (evangelho segundo São João, XVIII, 36); ―Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus‖ (evangelho segundo São Mateus, XXII, 15-22); A Igreja pretende ocupar-se apenas das almas, deixa ao poder temporal, aos soberanos dos Estados, o cuidado de regulamentar o comportamento dos homens na medida em que este não interessa à salvação das almas. A influência do direito canônico sobre o direito laico será, de resto, função das relações entre a Igreja e o Estado e da extensão da competência dos tribunais eclesiásticos. 69 Do século VII ao séc. XV a Igreja Católica Apostólica Romana, por ter o seu Direito escrito, estudado e comentado foi sem sombra de dúvidas a instituição mais poderosa do período, influenciando os outros Direitos e criando uma verdadeira confusão entre o poder temporal e o espiritual aumentando o seu poder jurisdicional sobre leigos. Embora se destinando a disciplinar os assuntos eclesiásticos, o Direito canônico abrangia os assuntos pertinentes ao casamento, aos testamentos, aos contratos, aos processos, além de outros. Em síntese, o direito canônico estendia-se a todos os problemas jurídicos que interessavam de certa maneira à disciplina e à moral católicas, sendo vários de seus preceitos aplicáveis não só pelos tribunais eclesiásticos como também pelos tribunais laicos. A influência do direito canônico perdurou, mesmo após a separação do Estado e da Igreja, sobretudo em matérias de direito civil e de direito processual (processo romano-canônico). Com a confusão entre o poder temporal e o espiritual os tribunais eclesiásticos passaram e ser utilizados como instrumentos poderosos contra as pessoas que contrariavam os interesses dos governantes. O maior exemplo que podemos citar foi o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, que com o seu processo atrelado a queixa e as provas irracionais, com todas as formas de torturas tais como: ferro em brasa, água fervente, julgamento da cruz e formas de ordálio. 70 Foram vitimas deste tribunal Joana D‘ Arc e centenas de judeus da Península Ibérica. 2 - Evolução Histórica: Cronologicamente, podem distinguir-se três períodos ou fases na história do Direito canônico nas suas relações com o Direito laico: 1º - Período ou fase ascendente: dos séculos III a XI; 2º - Período ou fase do apogeu: nos séculos XII e XIII; 3º - Período ou fase da decadência: a partir do século XIV, mas, sobretudo a partir do século XVI na seqüência da Reforma e da laicização dos Estados e, portanto do Direito, da Europa Ocidental. 2.1 - Primeiro Período - (séculos III a XI). Fase ascendente de formação do Direito Canônico; 2.2 - Segundo Período - (séculos XII a XIII). Fase do apogeu do Direito Canônico que tem marco inicial com o Decreto de Graciano, o Decretum de Gratianus, Concordantia discordantium canonum. Trata-se de coleção elaborada antes de 1150, reunindo e harmonizando textos canônicos de diversas épocas. Após o Decreto de Graciano os Papas e os concílios continuaram a legislar. Estes novos textos eram acrescidos ao Decretum, constituindo as 68 - Cf. P. LEGENDRE, Apud. John Gilissen, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa, 1986, p 145. 69 - JOHN GILISSEN, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p135. 70 - ORDÁLIO OU JUÍZO DE DEUS tipo de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. 41 constituições extravagantes. Entre 1230 e1234, após vários estudos o Papa Gregório IX mandou publicar suas Decretais que tinham por objeto o processo, o casamento, os delitos e o clero. Em 1298, Bonifácio VIII fez compor coletânea de textos promulgados desde 1234, essa coletânea ficou conhecida como Líber sextus decretalium e formou a terceira parte do Corpus Júris Canonici. A quarta parte foi constituída em 1313 por coletânea análoga, elaborada por Clemente V. No inicio XVI temos as Extravagantes do Papa João XXII. O Corpus Júris Canonici constituiu a base do Direito Canônico até 27/05/1917, ano em que o trabalho iniciado com Pio X e concluído com Benedito XV é promulgado tendo sido promulgado no dia, ano em que o Papa publicou o código moderno de Direito Canônico, ou seja, o Codex Júris Canonici. 2.3 - Terceiro Período ou fase da decadência: a partir do século XIV, mas, sobretudo a partir do século XVI na seqüência da Reforma e da laicização dos Estados e, portanto do Direito, da Europa Ocidental. 3 – Direito Canônico Atual. O atua Código Canônico foi promulgado pela Constituição apostólica (Sacrae disciplinae leges) de 25 de janeiro de 1983 no quinto ano do Pontificado de João Paulo II e atualizado com a Carta Apostólica sob a forma de Motu Próprio Ad Tuendam Fidem de 18 de maio de 1998. O Código de Direito Canónico está ordenado em cânones(1752) que cumprem funções similares aos artigos nos textos legislativos civis e divide-se em sete livros: 1. Livro Primeiro: Das normas gerais 2. Livro Segundo: Do Povo de Deus 3. Livro Terceiro: Da função de ensinar da Igreja 4. Livro Quarto: Da função de santificar a Igreja 5. Livro Quinto: Dos bens temporais da Igreja 6. Livro Sexto: Das sanções na Igreja 7. Livro Sétimo: Dos processos IV - OS PRINCIPAIS SISTEMAS JURIDICOS CONTEMPORÂNEOS 1 – Conceito - Sistema jurídico é o conjunto de normas jurídicas interdependentes, reunidas segundo um princípio unificador, ou seja, a unidade lógica das regras, conceitos princípios jurídicos que regem a aplicação do Ordenamento Jurídico de um país. O professor Canotilho ensina que o sistema jurídico deve ser visto como um sistema normativo aberto de regras e princípios: ―a) - É um sistema jurídico porque é um sistema dinâmico de normas; b) - É um sistema aberto porque tem uma estrutura dialógica {Caliess} traduzida na disponibilidade e ‗capacidade de aprendizagem‘ das normas constitucionais para captarem a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da ‗verdade‘ e da ‗justiça‘; c) - É um sistema normativo, porque a estruturação das expectativas referentes a valores, programas, funções e pessoas, é feita através de normas; 42 d) - É um sistema de regras e de princípios, pois as normas do sistema tanto podem revelar-se sob a forma de princípios como sob a sua forma de regras‖. 71 Cada país tem o seu sistema, mas levando em conta os princípios informadores dos sistemas e os conceitos dos vários países. Eles podem ser estudados em sistemas cujas unidades lógicas apresentam similitudes, como exemplo citamos: Sistema Romano-Germânico ou Continental (Civil Law) Sistemas mistos com o Civil Law Sistema anglo-saxônico ou Common Law Sistemas mistos com o Common Law Sistema Consuetudinário Sistemas mistos com o sistema consuetudinário Sistema Mulçumano etc. 2 - Os Sistemas Jurídicos Contemporâneos. Dos sistemas citados estudaremos o Sistema Romano-Germânico ou Continental (Civil Law) e o Sistema anglo-saxônico ou Common Law: a) - Sistema Romano-Germânico ou Continental (Civil Law) - Notabiliza-se o sistema germânico pela observância da lei, extraindo-se dela definições e princípios gerais de maior ou menor abstração que subsidiam a interpretação a ser dada para o caso concreto. O juiz também pode se valer da analogia. O costume é fonte legal, porém acessória de aplicação do direito, na Alemanha. A doutrina não é propriamente considerada uma fonte de direito, mas é muito respeitada e suas teses são objetos de discussão em processos judiciais. A jurisprudência só possui a mesma força que uma norma legal quando oriunda do Tribunal Constitucional Federal. Predominância do direito escrito. O marco mais importante para a consolidação do Sistema Romano-Germânico foi o início da sistematização ordenada, unificando as normas em um código garantindo a partir daí a segurança do Direito. O movimento codificador europeu que provocou uma verdadeira luta entre os corifeus da Escola Histórica, principalmente Savigny e os juristas franceses liderados por Thibaut . Com a codificação napoleônica em 1804 foi vencida resistência dos romanistas. Em 1° de janeiro de 1900 entrou em vigoro Código Civil alemão, conhecido pela sigla BGB. Ensina Paulo Dourado de Gusmão: ―Dessas codificações resultou o que se convencionou chamar de sistema continental, por dominar no continente europeu, também conhecido por sistema de direito codificado ou, ainda, civil-law, cujas raízes encontram-se no direito romano e no direito consuetudinário germânico. Daí ser também denominado Sistema Romano-germânico. Compreende o grupo francês, tendo por ponto de referencia o Código Civil francês, e o grupo alemão, cuja fonte c influência é o Código Civil alemão. Característica desses sistemas é ser a lei a fonte principal do direito, sendo subsidiárias as demais fontes. Fora isso, a presença neles do direito romano, do direito canónico e dos direitos germânicos‖ 72 . Pertencem à família romano-germânica os direitos de toda a América Latina, de toda a Europa continental, de quase toda a Ásia (exceto partes do Oriente Médio) e de cerca de metade da África. 71 - Cf. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4. ed. Coimbra : Almedina, 2000, p. 1123 72 - Cf. PAULO DOURADO de Gusmão, Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.307. 43 LEI A FONTE PRINCIPAL Sistema Romano-Germânico ou Continental (Civil Law) mais de 87 países b) - Sistema Anglo-Saxônico, Common Law ou Sistema Anglo-Americano. O Common Law é o sistema jurídico elaborado na Inglaterra a partir do Século XII, em que o Direito se desenvolveu por meio das decisões dos tribunais, e não mediante atos legislativos ou executivos como no Sistema Romano-Germânico. O Common Law é o Direito criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros. Ensina John Gilissen: ―O common law é um judge-made-law, um direito jurisprudencial, elaborado pelos juizes reais e mantido graças à autoridade reconhecida aos precedentes judiciários. Salvo na época da sua formação, a leí não desempenha qualquer papel na sua evolução. Mas, em consequência, o common law não é todo o direito inglês; o statute law (direito dos estatutos, isto é, das Leis promulgados pelo legislador) desenvolveu-se à margem do common law e retomou, sobretudo no século XX, uma importância primordial, Anteriormente aos séculos XV e XVI, tinha-se desenvolvido ao lado do common law, considerado então demasiado arcaico, um outro conjunto de regras jurídicas, as de equity, aplicadas pelas jurisdições do Chanceler; o common law conseguiu no entanto resistir à influência da equity e mesmo dominá-la no século XVÍI; mas o direito inglês conservou uma estrutura dualista até 1875, quando os dois sistemas foram mais ou menos fundidos por uma reforma da organização judiciária. O direito inglês moderno é por consequência muito mais ―histórico‖ que os direitos dos países da Europa Continental; não houve ruptura entre o passado e o presente, como a que a Revolução de 1789 provocou em França e noutros países. Os juristas ingleses do século XX invocam ainda leis e decisões judiciárias dos séculos XIII e XIV‖. 73 Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo um precedente. O conjunto de precedentes é chamado de common law e vincula todas as decisões futuras. O precedente judicial (sentença-padrão), fundado no princípio de dever haver julgamento similar quando análogos forem os casos (ride ofprecedeni), é a fonte principal do Direito em que a lei (statute law) desempenha papel secundário. Um precedente e vinculará os tribunais futuros com base no princípio do stare decisis. Esse é o cerne de todos os sistemas de common law. 73 -Cf. John Gilissen, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p208. 44 O sistema de common law foi adotado por diversos países do mundo, especialmente aqueles que herdaram da Inglaterra o seu sistema jurídico, como o Reino Unido, a maior parte dos Estados Unidos e do Canadá e as ex-colônias do Império Britânico. PRINCIPAL FONTE - PRESEDENTE JUDICIAL Sistema Anglo-Saxônico, Common Law ou Sistema Anglo-Americano – mais de 43 países QUARTA PARTE UNIDADE 4: Idade Moderna (século XV ao século XVIII) Os séculos XV e XVI marcam o começo de um período histórico chamado Idade Moderna, que se estende até o final do século XVIII. Os grandes acontecimentos se destacam nesse período são: a Expansão Marítima, o Absolutismo Monárquico o Renascimento a Reforma Protestante, o Novo Cristianismo e Jusnaturalismo 4.1) - Expansão Marítima - A Expansão Marítima européia é o processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, contribuindo para que a Europa superasse a crise dos séculos XIV e XV, mas principalmente para a formação embrionária dos Estados Nacionais e das Monarquias Absolutistas, que ocorreram não de forma linear, mas sim, sempre respeitando as peculiaridades de cada povo. ‖Os Estados Nacionais evidenciaram características próprias no seu processo de construção e se consolidaram em tempos diferenciados. Enquanto a França e a Inglaterra em meados do século XV possuíam fronteiras definidas e governo próprio, a Itália e a Alemanha ainda eram fragmentadas, só vindo a se construir como unidade política no terceiro quartel do século XIX. As bases de formação dos Estados Modernos remontam ainda à Época Medieval, no período conhecido como Baixa Idade Média (séculos XI-XV)‖. 74 Expansão Marítima Portuguesa 74 - http://meuartigo.brasilescola.com/historia/formacao-dos-modernos-estados-nacionais.htm 45 4.2) - Absolutismo Monárquico – O Absolutismo monárquico é a primeira forma de Estado Nacional, burocrático e centralizado, em que o rei avoca a si as funções executiva, legislativa e judiciária, fazendo prevalecer um só direito sobre as dispersas normas consuetudinárias locais. Absolutismo é uma teoria política que defende que uma pessoa (em geral, um monarca) deve obter um poder absoluto, isto é, independente de outro órgão, seja ele judicial, legislativo, religioso ou eleitoral. Os teóricos de relevo associados ao absolutismo incluem autores como Maquiavel, Jean Bodin, Jaime I de Inglaterra, Bossuet e Thomas Hobbes. Esta idéia tem sido algumas vezes confundida com a doutrina protestante do "Direito Divino dos Reis", que defende que a autoridade do governante emana diretamente de Deus, e que não podem ser depostos a não ser por Deus, defendido por alguns absolutistas como Jean Bodin, Jaime I e Jacques Bossuet. 75 Luis XIV símbolo do absolutismo europeu 4.3) - Renascimento - Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos usados para identificar o período da História da Europa em que ela sai da época das trevas para a retomada da cultura humana que por séculos ficou aprisionada nos mosteiros da Igreja Católica Apostólica Romana. O Renascimento apesar destas transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, ela é a maior careceteritica da transição do feudalismo para o capitalismo Em resumo podemos afirmar que o O Renascimento cultural firmava novos valores e princípios, contestando os valores medievais e feudais. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento) do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Resumo e Esquema do Contexto e Características 75 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Absolutismo 46 4.4) - Reforma Protestante foi o movimento político sob disfarce religioso, ou seja, luta das classes abastadas, principalmente os novos proprietários rurais capitalistas, contra os monopólios altamente lucrativos da Igreja Católica Apostólica Romana. Durante a Reforma Protestante O homem renascentista, começava a ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Surgem as nações-estados. A Europa começa a se fragmentar em países independentes politicamente uns dos outros. Surgem países como a Inglaterra, França, Espanha, Portugal, etc. Com isso é natural o desejo de cada governante de sentir-se livre de um poder central e dominador que era o papado. No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram próprios da realeza. E o resultado foi a nascimento do Direito desligado das imposições centralizadas do Papado e o aparecimento de um direito laico e tipicamente nacional, pois a missão central do governante era manter a segurança e a paz. Maquiavel sustentava que a virtú (a força criativa) do governante era a chave para a manutenção da sua posição e o bem-estar dos súditos. 4.5) – Novo Cristianismo. A Igreja até o séc. XVIII era favorável à monarquia absoluta, oferecendo a ideologia que sustentava a tese da origem divina do poder. Já o cristianismo primitivo, ao contrario, continha uma mensagem de libertação do homem na sua afirmação da ―dignidade eminente da pessoa humana‖. A doutrina do Direito Natural dos séculos XVII e XVIII, fundada na natureza racional do homem, sustentava as teses dos direitos inatos, ou seja, direitos comuns a todos os homens, situados no plano dos valores absolutos, universais e intemporais. O conceito de dignidade da pessoa humana, como categoria espiritual, como subjetividade, que possui valor em si mesmo, como ser de fins absolutos, e que, em conseqüência, é possuidor de direitos subjetivos ou direitos fundamentais e possui dignidade, surge da idéia de Igualdade Humana, ensinada inicialmente pelos Estóicos 76 e aprofundada por Paulo que em sua carta aos gálatas afirma: ―não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um só em Jesus Cristo‖. 77 Da idéia da igualdade humana o Cristianismo, desenvolveu com maior profundidade e força a teoria da dignidade da pessoa humana com a chamada filosofia patrística 78 e posteriormente com a escolástica 79 . 76 - O Estoicismo foi fundado no século III a.C., por Zenão de Cítio, é uma doutrina filosófica que propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece a lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo. A ética estóica influencior o pensamento ético cristão nos seus primórdios. 77 Cf. PAULO, Apóstolo de Jesus, Bíblia Sagrada - Novo Testamento, (GL. 3.28). 78 - A Patrística, termo que designa a filosofia cristã nos primeiros séculos da nossa era, ou seja, o período do pensamento cristão que se seguiu à época neotestamentária, e chega até ao começo da Escolástica: isto é, os séculos II-VIII da era vulgar. Este período da cultura cristã é designado com o nome de Patrística, porquanto representa o pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica, guias, mestres da doutrina cristã. Portanto, se a Patrística interessa sumamente à história do dogma, interessa assaz menos à história, em que terá importância fundamental a Escolástica. 79 - A Escolástica, pode ser definida como o conjunto de doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos séc. IX ao XVII, caracterizadas, sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão, problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana, à teologia cristã. Desenvolveram-se na escolástica inúmeros sistemas que se definem, do ponto de vista estritamente filosófico, pela posição adotada quanto ao problema dos universais e dos quais se destacam os sistemas de Santo Anselmo (anselmiano), de São Tomás (tomismo) e de Guilherme de Occam (occamismo). 47 Ensina D. Eusébio Oscar Scheid, Arcebispo do Rio de Janeiro que: ―A dignidade de pessoa é inerente ao homem. Todo ser humano, independentemente de suas características físicas e psíquicas, de suas crenças e de sua conduta, é um valor em si mesmo que, portanto, não pode ser utilizado nem instrumentalizado, transformado em objeto ou em meio para se atingir qualquer finalidade”.80 4.6) – O Jusnaturalismo. A Teoria do Direito Natural é muito antiga, vem da civilização grega e está presente entre nós desde o nascimento da civilização européia. O Direito Natural, seja expressão da natureza humana, seja dedutível dos princípios da Razão, sempre foi considerado como superior ao Direito Positivo. Direito Natural é o Direito concebido sob a forma abstrata, correspondendo a uma ordem de justiça; não é criação do homem, pois independe de ato de vontade. O Direito Natural pode ser considerado como a Gênese do Direito, por refletir exigências sociais de natureza humana e servir de paradigma em que se deve inspirar o legislador, ao editar suas normas, pois é nele que o Estado, a coletividade e o próprio homem vão buscar os princípios fundamentais de respeito à vida, à liberdade e aos seus desdobramentos lógicos. “O Direito Natural é revelado pela conjugação da experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável”. 81 O Direito Natural tem influenciado reformas jurídicas e políticas, que mudaram os rumos da humanidade, como, por exemplo, é o caso da Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776); Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Revolução Francesa (1789); Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, da OEA (1948); e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU (1948). Do exposto, poderemos concluir que o jusnaturalismo é a mais tradicional corrente do pensamento jurídico, sustentando sempre a existência de um Direito Natural, superior ao Direito Positivo. Apesar das várias crises e críticas, ela tem-se mantido fiel ao princípio de que o ―Direito Natural, como direito justo por natureza, independente da vontade do legislador, derivado da natureza humana (jusnaturalismo) ou dos princípios da razão (jusracionalismo), sempre presente na consciência de todos os homens‖ e superior ao Direito Positivo. 4.7 Condições, Objetivas e Subjetivas que Propiciaram a Formulação dos Direitos Fundamentais e Estatais 82 80 Cf., D. Eusébio Oscar Scheid, Cardeal Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Voz do Pastor, 05 de Julho de 2005. 81 Cf. PAULO Nader, Introdução ao Estudo do Direito, , op. Cit. p. 77. 82 - ESQUEMA baseado na obra de José Afonso da Silva,. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p159. 48 4.7.1) - Condições Objetivas (materiais, reais ou históricas) - a evolução do capitalismo, que primeiramente apoiou o Estado Absolutista do séc. XVII e em seguida (séc. XVIII), se revoltou contra ele; a contradição entre uma superestrutura atrofiada do Estado e a sociedade progressista resultante do capitalismo, posteriormente, a Revolução Industrial e a Convocação dos Estados Gerais, ou seja, a monarquia feudal convidando o terceiro estado (povo) para colaborar com o governo. a) - Evolução do capitalismo - O sistema capitalista nasceu das transformações por que passou a Europa feudal a partir, sobretudo do século XII, mas foi a partir do século XV com as Grandes Navegações e a inserção de novas terras no sistema capitalista de produção. Desenvolveu-se então a fase do chamado capitalismo comercial. O crescimento e o aumento do número de cidades favoreceram o desenvolvimento de relações mercantis e propiciaram a diversificação e a mobilidade social até então praticamente inexistentes Mas o sistema capitalista só iria se consolidar definitivamente no século XVIII, com a substituição da manufatura pelas máquinas a vapor, iniciadas nas indústrias têxteis da Inglaterra. A mecanização imprimiu um novo ritmo à produção de mercadorias, e o trabalhador que antes produzia sua mercadoria individualmente e de modo artesanal agora ia para as linhas de produção, onde se reunia a centenas de outros operários que se tornaram assalariados É esse período representaram a verdadeira Revolução Industrial. trazendo profundas transformações socias e econômicas dos associadas ―Nos século XVIII e XIX, o capitalismo florescia na forma de pequenas e numerosas empresas que competiam por uma fatia do mercado, sem que o Estado interferisse na economia. Nessa fase, denominada capitalismo liberal, ou concorrencial, predominava a doutrina de Adam Smith (1723-1790), segundo a qual o mercado deve ser regido pela livre concorrência, baseada na lei da oferta e da procura: quando a oferta é maior que a procura, os preços se elevam, Refletindo o otimismo científico-tecnológico característico do período, Smith acreditava que o mercado atingiria um equilíbrio natural por si só e que o progresso constante conduziria a humanidade à condição ideal, na qual não haveria escassez e tudo seria bem-estar‖.83 Adam Smith b) Revolução Industrial - Com o término da servidão e da forma produção artesanal que dominou Idade Média, tem início no século XVIII, na Inglaterra a Revolução Industrial com a mecanização dos sistemas de produção. A Inglaterra pelas suas peculiaridades possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas e as locomotivas à vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada neste período. A mão-de-obra disponível em abundância (desde a Lei dos Cercamentos de Terras). A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Também podemos apontar o crescimento populacional, que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias. As fábricas do início da Revolução Industrial não apresentavam o melhor dos ambientes de trabalho. Eram ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os salários recebidos pelos trabalhadores eram muito baixos e chegava-se a empregar o trabalho infantil e feminino. Os empregados chegavam a trabalhar até 18 horas por dia e estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões. Não havia direitos trabalhistas como, por exemplo, férias, décimo terceiro salário, auxílio doença, descanso semanal remunerado ou qualquer outro benefício. Quando desempregados, ficavam na miséria absoluta. 83 - http://www.algosobre.com.br/geografia/capitalismo-o.html 49 Em reação os trabalhadores se organizaram para lutar por melhores condições de trabalho. Os empregados das fábricas formaram as trade unions (espécie de sindicatos) com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos empregados. Houve também movimentos mais violentos como, por exemplo, o ludismo. Também conhecidos como "quebradores de máquinas", os ludistas invadiam fábricas e destruíam seus equipamentos numa forma de protesto e revolta com relação a vida dos empregados. O cartismo foi mais brando na forma de atuação, pois optou pela via política, conquistando diversos direitos políticos para os trabalhadores. Segundo Karl Marx e vários outros pensadores como Ricardo e Proudhon, a luta de classes seria a força motriz por trás das grandes revoluções na história. Ela teria começado com a criação da propriedade privada dos meios de produção. A partir daí, a sociedade passou a ser dividida entre proprietários (burguesia) e trabalhadores (proletariado), ou seja, possuidores dos meios de produção e possuidores unicamente de sua força de trabalho. Na sociedade capitalista, a burguesia se apodera da mercadoria produzida pelo proletariado, e ao produtor dessa mercadoria sobra apenas um salário que é pago de acordo apenas com o valor necessário para a sobrevivência desse. Os trabalhadores são forçados a vender seu trabalho por uma fração mísera do real valor da mercadoria que produzem, enquanto os proprietários se apoderam do restante. Outra característica importante do capitalismo é o conceito criado por Karl Marx da mais-valia. A mais-valia consiste basicamente dessa porcentagem a mais que os capitalistas retiram da classe do proletariado. Essa porcentagem pode ser atingida, por exemplo, aumentando o tempo de trabalho dos operários e mantendo o salário 84 Poderíamos afirmar que a luta iniciada entre a burguesia e o proletariado no século XVIII não acabou, pois ela é parte da eterna luta da sociedade humana entre a liberdade e a iguldade, pois esse embate que atravesou todo século XX, já chegou à atualidade com a questão da igualdade tanto no Reino Unido, como em Israel, sempre pedindo um Estado focado mais no bem estar social. c) - Convocação dos Estados Gerais. Estando a França vivendo uma violenta crise econômica e social, provocada, principalmente, pela arbitrariedade e pela opressão jurídica das classes privilegiadas, o Rei Luiz XVI, orientado por Necker, resolveu convocar os Estados Gerais para colaborarem com o governo. Em maio de 1789 os representantes dos três estados reuniram-se em Versalhes, o que não acontecia desde 1614. Durante os trabalhos os representantes do terceiro estado, formado pelo povo (burguesia) que era a enorme maioria da nação, pretenderam que as votações se fizessem pelo número de votantes ou ―por cabeças‖, com o que não concordaram os representantes da nobreza e do clero, pois recusaram-se a votar em comum com os deputados do povo, alegando que a votação sempre foi por classe (estado). Luiz XVI, irritado, ordenou aos representantes do terceiro estado que separassem; estes desobedeceram e apoiado por membros do clero e da nobreza erigiram-se, então, em Assembléia Nacional e juraram não se separarem antes de dar à França uma Constituição. O monarca teve que ceder reconhecendo, assim, um novo poder que limitava o seu. A partir deste momento não existia mais, de fato, a monarquia absoluta na França, que sucumbia à soberania popular. 4.7.2 - Condições Subjetivas (ideais ou lógicas). a) - O pensamento cristão - a Igreja até o séc. XVIII era favorável à monarquia absoluta, oferecendo a ideologia que sustentava a tese da origem divina do poder. Já o 84 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Luta_de_classes 50 cristianismo primitivo, ao contrario, continha uma mensagem de libertação do homem na sua afirmação da ―dignidade eminente da pessoa humana b) - A doutrina do Direito Natural dos séculos XVII e XVIII, fundada na natureza racional do homem, sustentava as teses dos direitos inatos, ou seja, direitos comuns a todos os homens, situados no plano dos valores absolutos, universais e intemporais. Fórmula capital, do jusnaturalismo, para uma nova legislação do poder político, capaz de situar determinadas esferas da convivência humana por cima das arbitrariedades de quem detém o poder. c) - Pensamento Iluminista surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. 4.7.3 - Processo Histórico-Dialético das Condições Econômicas - o aparecimento do proletariado, sujeito ao domínio da burguesia, deu novas condições materiais para fundamentar a origem dos ―Direitos Sociais e Econômicos‖. Essas novas fontes de Direitos Públicos e, principalmente, os Direitos Fundamentais são: a) - Manifesto Comunista e as doutrinas marxistas - crítica ao capitalismo burguês e ao sentido puramente formal dos direitos do homem (séc. XVIII), postulando liberdade e igualdade material. O Manifesto do Partido Comunista ou o Manifesto Comunista foi editado em Londres em 1848. Podemos considerar que o texto está, certamente, entre os mais úteis e belos produzidos na sociedade humana. Ele é a mais profunda das analisa entre os oprimidos e os opressores e não foi diferente dos que incendiaram os corações e mentes na luta contra a escravidão clássica, contra a servidão medieval, contra o obscurantismo religioso e contra todas as formas de opressão Ensina Norberto. Bobbio: ―interpretação marxista. — Houve dois processos históricos — a Revolução industrial de onde se originou o Proletariado moderno, por um lado, e os movimentos de liberdade e os movimentos socialistas da primeira metade do século XIX, por outro — que transformaram radicalmente a conotação sociológica e política de ambos os grupos. Foram transformações que a obra de Karl Marx reflete e teoriza com grande vigor e profundidade. Com base em específicas noções de trabalho e exploração, nela o Proletariado é definido não tanto como uma condição social, quanto como algo que assenta numa relação sócia! de produção, historicamente determinada, em que ele se insere como um dos pólos, sendo o outro a burguesia. A distinção entre Proletariado e burguesia tende, na obra de Marx, a associar-se ou alternar-se com a de operários e capital. "Na mesma medida em que se alternar-se com a de operários e capital. Na mesma medida em que se desenvolve a burguesia, ou seja, o capital, cresce também o Proletariado, a classe dos operários modernos" 85 b) - Doutrina Social da Igreja ou Pensamento Social Cristão é o conjunto de idéias baseadas nos valores do cristianismo procurando fundamentar uma ordem mais justa ao capitalismo. A igreja vendo seu prestígio decair entre os fieis mais pobres, principalmente, os 85 - Norberto.Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Dicionário de Política. trad. Carmem C. Varriale. 11ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.p 1016 51 trabalhadores assalariados, ou seja, os operários das indústrias, afligidos por uma indigna miséria e explorados em todas as suas articulações sociais e políticas resolve o Papa Leão XIII em 1891 baixar encíclica Rerum Novarum, sobre a questão operária, que se constituiu na verdade na carta magna da atividade cristã no campo social, em busca de uma ordem social justa. À vista dos problemas resultantes da revolução industrial que suscitaram o conflito entre capital e trabalho aquele documento enumera de modo preciso e atualizado a doutrina católica sobre o trabalho, o direito de propriedade, o princípio da colaboração em contraposição à luta de classes, sobre o direito dos mais fracos, sobre a dignidade dos pobres e as obrigações dos ricos, o direito de associação e o aperfeiçoamento da justiça pela caridade Os operários das indústrias na Inglaterra do séc. XIX Leão XIII que promulgou a encíclica Rerum novarum em 15 de maio de 1891 Baseado na Rerum Novarum ensina Norberto. Bobbio: "Embora, pois, o operário e o patrão estabeleçam, de comum acordo, um pacto e, nomeadamente, o valor do salário, entra aí sempre un elemento de justiça natural, anterior e superior à livre vontade dos contraentes, o de que a quantia do salário não deve ser inferior à do sustento do operário, frugal, entende-se, e de bons costumes. Se este, obrigado pela necessidade ou por medo de pior, aceita acordos mais pesados, que, sendo impostos pelo proprietário ou pelo empresário, hão de ser aceitos de bom ou de mau grado, isso é sofrer violência contra a qual a justiça protesta" (Rerum novarum, n.° 27). Este texto pode ser considerado como momento original do pensamento social cristão. O conteúdo do contrato é visto em função de um quid indeterminado, mas determinável, que é o "sustento do operário frugal". Aqui o Papa se opõe tanto à concepção liberalista da concorrência como medida única do preço do trabalho, ou de qualquer outro preço, quanto ã tese marxista do decrescimento necessário do salário. O tema fundamental é de que o lucro não pode ser tido como único critério para a fixação do salário. A fórmula é, evidentemente, assaz moderada e parece lembrar a fórmula marxista sobre a reprodução da força- trabalho: a medida social do salário é "o sustento" do operário, portanto a mera existência, e, além disso, O operário que faz regra há de ser "frugal e de bons costumes". Não parece que tais palavras pudessem impedir a exploração. Mas o importante era que a Igreja se declarava, em princípio, se bem que de forma mínima, a favor da reforma social, tomando posições contra as teses liberalistas. No plano teórico, surgia a ideia de que o interesse social 52 qualificava os interesses individuais e impunha suas regras à autonomia de cada um, independentemente dos vínculos das leis positivas. Revelava-se a ideia fundamental do Pensamento social cristão, que era justamente a da inserção do homem num todo social que tinha por fim a plenitude da vida individual‖. 86 Norberto.Bobbio c) - O Intervencionismo Estatal – reconhecendo ao Estado o direito de atuar no meio econômico e social, protegendo as classes menos favorecidas. Unidade 5 A ASCENSÃO E A CONSOLIDAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA- POLÍTICA BURGUESA do século XVII ao Século XX - (Estado de Natureza Contrato Social O Iluminismo Estado Liberal Declarações de Direitos, Movimento de Codificação O Constitucionalismo e a Intervenção do Estado Nas Questões Sociais e Econômicas ocorridas ao Longo dos Séculos XIX E XX) 5.1 – Estado de Natureza e Estado de Direito: a) - O Estado de Natureza ou Estado Natural - para vários autores é apenas uma construção teórica, nunca existiu, mas que era preciso fazer essa construção para entender a formação da Sociedade Civil. Com o aparecimento dos Estados Nacionais as pessoas, apenas, eram submetidas à Lei da Natureza, pois elas eram dotadas de razão e como ensina Locke, pelos princípios do Direito Natural o ser humano tem direito sobre sua vida, liberdade e bens. Visando a permanente proteção do Estado eles abdicam dos seus Direitos Naturais em beneficio do Bem Comum e mutuamente á formarem uma comunidade única e constituir um único corpo político. É importante obeservarmos que desde o século XVII temos luminares da inteligencia humana defendendo o estabelecimento de Estados Ditatoriais e Estados Democraticos, entre eles citamos: Thomas Hobbes, partidário do absolutismo político, em 1651 publica o ―Leviatã defendendo o Estado absolutista ditatorial. LEVIATÃ, Segunda Parte – DO ESTADO: ―Portanto não é de admirar que seja necessária alguma coisa mais, além de um pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo: ou seja, um poder comum que os mantenha em respeito, e que dirija suas ações no sentido do benefício comum ...realizada por um pacto de cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas açoes. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. É esta a geração daque- lê grande Leviata, ou antes (para falar em termos mais 86 - Norberto.Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Dicionário de Política. trad. Carmem C. Varriale. 11ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.p 919. 53 reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos‖. 87 John Locke, partidário da entrega do poder à burguesia, ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico, em 1690 publica o ―segundo tratado sobre o governo ―obra fudamental do liberalismo politico. SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO ―Dos Fins da Sociedade Política e do Governo Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se è senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a fruição do mesmo é muito incerta e está constantemente exposta à invasão de terceiros porque, sendo todos reis tanto quanto ele, todo homem igual a ele, e na maior parte pouco observadores da equidade e da justiça, a fruição da propriedade que possui nesse estado é muito insegura, muito arriscada. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade ...O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunida des, colocando-se eles sob governo, é a preservação da propriedade. Para este objetivo. muitas condições faltam no estado de natureza ...Primeiro, falta uma lei estabelecida, firmada, conhecida, recebida e aceita mediante consentimento comum, como padrão do justo e injusto e medida comum para resolver quaisquer controvérsias entre os homens; porque, embora a lei da natureza seja evidente e inteligível para todas as criaturas racionais, entretanto os homens, sendo desviados pelo interesse bem como ignorantes dela porque não a estudam, não são capazes de 87 - Thomas Hobbes, 1588-1679. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil / Thomas Hobbes de Malmesbury ; tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. — 2. ed. — São Paulo : Abril Cultural, 1979 (Os pensadores), p 105 e 106. 54 reconhecê-la como lei que os obrigue nos seus casos particulares. ...O objetivo do governo é o bem dos homens. E o que é melhor para eles? Ficar o povo exposto sempre à vontade ilimitada da tirania, ou os governantes terem algumas vezes de sofrer oposição quando exorbitem no uso do poder e o empreguem para a destruição e não para a preservação das propriedades do povo?‖ 88 b) - O Estado de Direito - Estado de Direito é aquele em que o poder exercido é limitado pelo Ordenamento Jurídico. É enfim uma fórmula prestigiosa usada para definir a própria imagem da civilização ocidental e para contrapô-la às outras civilizações, por isso mesmo, é vista por várias culturas, principalmente as orientais como uma pretensão universalística de inspiração neocolonial. O Estado, assim, não poderá impor suas vontades que não tiverem fixado em lei, e nem poderá atuar contra as leis existentes. Dessa forma, o Estado deverá, além de acatar as leis, proteger sua população, concedendo-lhe segurança, e sendo eficiente na busca do bem comum. Ensina José Afonso da Silva: ― Na origem, como é sabido, o Estado de Direito era um conceito tipicamente liberal; daí falar-se em Estado Liberal de Direito, cujas características básicas foram: a) submissão ao imperio da lei, que era a nota primária de seu conceito, sendo a lei considerada como ato emanado formalmente do Poder Legislativo, composto de representantes do povo, mas do povo- cidadão; b) divisão de poderes, que separe de forma independente e harmónica os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, como técnica que assegure a produção dasleis ao primeiro e a independência e imparcialidade do último em face dos demais e das pressões dos poderosos particulares; enunciado e garantia dos direitos individuais. Essas exigências continuam a ser postulados básicos do Estado de Direito, que configura uma grande conquista da civilização liberal. A concepção liberal do Estado de Direito servira de apoio aos direitos do homem, convertendo os súditos em cidadãos livres, consoante nota Ver-dú, a qual, contudo, se tornara insuficiente, pelo que a expressão Estado de Direito evoluíra, enriquecendo-se com conteúdo novo. Houve, porém, concepções deformadoras do conceito de Estado de Direito, pois é perceptível que seu significado depende da própria ideia que se tem do Direito. Por isso, cabe razão a Cari Schmitt quando assinala que a expressão "Estado de Direito" pode ter tantos significados distintos como a própria palavra "Direito" e designar tantas organizações quanto as a que se aplica a palavra "Estado". Assim, acrescenta ele, há um Estado de Direito feudal, outro estamental, outro burguês, outro nacional, outro social, além de outros conforme com o Direito natural, com o Direito racional e com o Direito histórico. Disso deriva a ambiguidade da expressão Estado de Direito, sem mais qualificativo que lhe indique conteúdo material. Em tal caso a tendência é adotar-se a concepção formal do Estado de Direito à maneira de Forsthoff, ou de um Estado de Justiça, tomada a justiça como um conceito absoluto, abstrato, idealista, espiritualista, que, no fundo, encontra sua matriz no conceito hegeliano do Estado Ético, que fundamentou a concepção do Estado fascista: totalitário e ditatorial em que os direitos e liberdades humanas ficam praticamente anulados e totalmente submetidos ao arbítrio de um poder político onipotente e incontrolado, no qual toda participação popular é sistematicamente negada em benefício da minoria (na verdade, da elite) que controla o poder político e económico‖. 89 5.2 - Do Iluminismo á Ação Concreta e Criadora do Direito Publico. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. Entre os principais filósofos do Iluminismo 88 - John Locke, 1632-1704. Carta acerca da tolerância ; Segundo tratado sobre o governo ;Ensaio acerca do entendimento humano / John Locke ; tradução de Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. — 2. ed. — São Paulo : Abril Cultural, 1978. (Os pensadores). P 82 89 - José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p103. 55 podemos citar: John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica a intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático que garanta igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; O Iluminismo atingiu o seu apogeu no século XVIII, que passou a ser conhecido como o Século das Luzes. Ele foi mais intenso na França, onde influenciou a Revolução Francesa através de seu lema: Liberdade, igualdade e fraternidade. Também teve influência em outros movimentos sociais como na independência das colônias inglesas na América do Norte e na Inconfidência Mineira, ocorrida no Brasil. Com suas idéias sobre a ordem natural, a exaltação às liberdades e a crença nos valores individuais do homem acima dos valores sociais. a) - Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em1762: Publica O Contrato Social, sua Magnum opus 90 , que ―cuntribuiu para maior justiça e igaldadereinassem entre os homens‖. Defendia a idéia de um estado democrático que garanta igualdade para todos; ... temos de: "Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associação de qualquer força comum, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si mesmo, ficando assim tão livre como dantes. Tal é o problema fundamental que o Contrato Social soluciona‖. 91 b) - Montesquieu (1689-1755), Charles-Louis de Secondatt, ou barão de La Brède e de Montesquieu. Defendeu a divisão do poder político (Tricotomia do Poder Político) em Legislativo, Executivo e Judiciário, considerado por muitos com o criador do Poder Judiciário. Sua principal obra foi o Espírito Das Leis. DO ESPÍRITO DAS LEIS, II CAPÍTULO VI, Da Constituição da Inglaterra ―Há, em cada Estado, três espécies de poderes: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o executivo das que dependem do direito civil. Pelo primeiro, o príncipe ou magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-roga as que estão feitas. Pelo segundo, faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, estabelece a segurança, previne as inva- sões. Pelo terceiro, pune os crimes ou julga as, querelas dos indivíduos. Chamaremos este último o poder de julgar e, o outro, simplesmente o poder executivo do Estado. A liberdade política, num cidadão, é esta tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um possui de sua segurança; e, para que se tenha esta liberdade, cumpre que o governo seja de tal modo, que um cidadão não possa temer outro cidadão. 90 - Magnum opus, em latim, significa grande obra. Refere-se à melhor, mais popular ou renomada obra de um artista ou escritor 91 - Jean- Jacques Rousseau, O Contrato Social – Princípios de Direito Político, tradução de Antônio de P. Machado, EDIOURO, P35. 56 Quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente. Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse ligado ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis. o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos‖. 92 Montesquieu 5.3 – Liberalismo. O liberalismo foi teoricamente defendido em 1689 por John Locke em sua obra clássica, ―Dois Tratados sobre Governo‖, ensinava que o Estado foi criado para servir ao povo, e ―não para servir-se do povo‖. Os liberais consideram o exercício da liberdade individual como algo intrinsecamente bom, ou seja, um modo de entender a natureza humana e uma proposta destinada a possibilitar que todos alcancem o mais alto nível de prosperidade de acordo com seu potencial, condição insubstituível para alcançar níveis ótimos de progresso. Consideram, também, que a liberdade de possuir bens (o direito à propriedade privada) parece-lhes fundamental, já que sem ela o indivíduo se encontra permanentemente à mercê do Estado. Outro expoente do liberalismo foi o escocês Adam Smith (1723-1790) que no seu famoso trabalho, A Riqueza das Nações (1776), tentou explicar como o mercado com certas precondições naturalmente se auto-regularia por intermédio da agregação das decisões individuais e produziria muito mais eficientemente do que os pesados mercados regulados pelo Estado. Alguns defendem que foi Adam Smith o verdadeiro criador do Liberalismo Econômico, ou seja, a Economia de Livre Mercado. Mas não podem esquecer que foi John Locke o criador das bases doutrinárias do Liberalismo Político que, inquestionavelmente, inclui o Liberalismo Econômico 5.4 – Estado Liberal de Direito. Ele nasce no mundo das idéias da filosofia política do liberalismo, preconizada por John Locke (1632 – 1704), barão de Montesquieu (1689 – 1755) e Immanuel Kant (1724 – 1804) e cuidou de salvar a liberdade decompondo a soberania na pluralidade dos poderes. A teoria tripartida dos poderes, como princípio de organização do Estado constitucional, é uma contribuição de Locke e Montesquieu. O Estado Liberal de Direito apresenta três caractristicas básica que são: 92 -Montesquieu (1689-1755), Charles-Louis De Secondatt, Ou Barão De La Brède E De Montesquieu. Do Espírito das Leis ; Tradução De Anoar Aiex E E. Jacy Monteiro. — 1. Ed. — São Paulo : Abril Cultural, 1973. (Os Pensadores). P 156 e 157. 57 Submissão ao imperio da lei, que era a nota primária de seu conceito, sendo a lei considerada como ato emanado formalmente do Poder Legislativo; Divisão de poderes, que separe de forma independente e harmónica os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; Enunciado e garantia dos direitos individuais. Essas exigências continuam a ser postulados básicos do Estado de Direito, que configura uma grande conquista da civilização liberal 5.5 – Estado Social de Direito e Estado Democrático de Direito. Pela peculiaridade do nosso trabalho, resumidamente, trataremos desses tipos de Estados, pois os consideramos como uma evolução natural da Codificação do Direto Publico, principalmente do Direito Constitucional. a) - Estado Social de Direito. O Estado Liberal de Direito, debaixo das pressões sociais e ideológicas do marxismo não sucumbiu, mas se transformou no Estado Social de Direito, onde o qualificativo social refere-se à correção do individualismo clássico liberal pela afirmação dos chamados direitos sociais e realização de objetivos de justiça social, isto é, compatibilizar, em um mesmo sistema dois elementos básicos: o capitalismo, como forma de pro- dução, e a consecução do bem estar social geral, servindo de base ao neocapitalismo, típico do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) ou Estado-Providência. b) - Estado Democrático de Direito é o estágio mais avançado da evolução do Estado de Direito, ele tem a legitimidade justa (ou Estado de Justiça material), fundante de uma sociedade democrática qual seja a que instaure um processo de efetiva incorporação de todo o povo nos mecanismos do controle das decisões, e de sua real participação nos rendimentos da produção. Poderiamos afirmar que Estado Democrático de Direito garante não somente a proteção aos direitos de propriedade, mais que isso, defende através das leis todo um rol de garantias fundamentais, baseadas no chamado "Princípio da Dignidade Humana‖ Ensina José Afonso da Silva: “A configuração do Estado Democrático de Direito não significa apenas unir formalmente os conceitos de Estado Democrático e Estado de Direito, Consiste, na verdade, na criação de um conceito novo, que leva em conta os conceitos dos elementos componentes, mas os supera na medida em que incorpora um componente revolucionário de transformação do status quo. E aí se entremostra a extrema importância do art.l 0 da Constituição de 1988, quando afirma que a República Federativa do Brasil se constitui em Estado Democrático de Direito, não como mera promessa de organizar tal Estado, pois, a Constituição aí já o está proclamando e fundando.‖ 93 Principios básico do Estado Democrático de Direito: Democracia como processo de convivência numa sociedade livre, justa e solidária; Soberania popular em que todo poder emana do povo, que deve ser exercido em proveito do povo, diretamente ou por representantes eleitos; Direitos Fundamentais como um ―processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos indi - viduais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições económicas suscetíveis de favorecer o seu pleno exercício”. 94 93 - José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p103. 94 - José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. Cit., p. 109 58 ESQUEMA DIDATICO-PEDAGÓGICO PARA MELHOR ENTENDIMENTO DA EVOLUÇÃO DO ESTADO E CODIFICAÇÂO DO DIREITO PÚBLICO 5.6 - Declarações de Direitos. A positivação dos Direitos Fundamentais do Homem nas Declarações do séc. XVIII foi, sem sombra de dúvida, um passo importante na evolução do Direito Público e conquista dos direitos essenciais ao reconhecimento e á proteção da dignidade da pessoa humana. 5.6.1 – Formas: a) - Inicial - inicialmente as declarações não passavam de proclamações solenes em que se enunciam os Direitos Humanos b) - Atual - Passaram a integrar os ordenamentos nacionais, adquirindo o caráter concreto de ―normas jurídicas positivas constitucionais‖. 59 5.6.2 – Evolução das Declarações de Direitos Sabemos que a primeira Declaração de Direitos Fundamentais, em sentido moderno, foi A Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia de 1776, inspirada na crença da existência de direitos naturais e imprescritíveis do homem. Contudo a mais importante das declarações do séc. XVIII foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembléia Constituinte Francesa de 1789. A Declaração de Virgínia é um documento concreto e preocupado com a situação particular das colônias inglesas na América, enquanto que a ―Declaração Francesa é mais abstrata, mais universalizante e apresenta como caracteres básicos: o intelectualismo, o mundialismo e o individualismo‖. a) - Antecedentes Formais - o voto do tribuno da plebe, contra ações injustas dos patrícios em Roma; lei de Valério Publícola, proibindo penas corporais contra cidadãos; ―Interdicto de Homine Libero Exhibendo‖ e os Forais de Leon e Castela de 1188, anteriores, portanto, à Magna Carta (1215 - 1225), que já preceituavam corretamente as garantias dos mais importantes direitos das pessoas. 5.6.2.1) -Cartas e Declarações Inglesas - Não são declarações no sentido moderno, pois estas só apareceram no séc. XVIII, com as Revo1uções Americana e Francesa: a) - Magna Carta (1215 - 1225), assinada em 1215, mas tornada definitiva em 1225, longe de ser a carta das liberdades nacionais, é, sobretudo, uma carta para proteger os privilégios dos arcebispos, bispos, abades, priores, condes, barões e os homens livres (muito poucos). A Magna Carta Libertatum, embora incompleta, tornou-se um símbolo das liberdades públicas e, principalmente, o esquema básico do desenvolvimento constitucional inglês; 60 b) - A Petição de Direitos (Petition of Rights - 1628) - documento em que o Parlamento solicita do Rei a observância de direitos e liberdades já reconhecidos na própria Magna Carta; c) - O ―Habeas Corpus Act‖ 1679 - reforçou as reivindicações de liberdade, traduzindo-se na mais sólida garantia da liberdade individual, suprimindo as prisões arbitrárias; d) - A Declaração dos Direitos (Bill of Rights - 1688) - documento que decorreu da Revolução de 1688, pelo qual se firmara a supremacia do Parlamento. Surge daí, a monarquia constitucional inglesa, submetida à soberania popular, que teve como seu principal teórico J. Locke e que serviu de inspiração ideológica para a formação das democracias liberais da Europa e da América. 5.6.2.2) - Declarações Americanas – são primeiras declarações de Direitos Fundamentais, em sentido moderno: a) - Declaração da Virgínia ou Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia (12/01/1776) - inspirada nas teorias de Locke, Rousseau e Montesquieu, versada especialmente nos escritos de Jefferson e Adams. A Declaração da Virgínia consubstanciava as bases de Direitos Humanos, tais como: - Todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes; - Todo o poder está investido no povo e, portanto, dele deriva, e os magistrados são seus depositários e servos; - O governo é, ou deve ser, instituído para o comum benefício, proteção e segurança do povo, nação ou comunidade; - Os poderes Executivo e Legislativo do Estado deverão ser separados e distintos do Judiciário; - As eleições do representante do povo devem ser livres; - Assegurado o direito de defesa nos processos criminais; - A liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da liberdade; - “A milícia bem regulada, composta de elementos do povo, com prática das armas, constitui a defesa própria, natural e segura de um Estado livre: (...) os exércitos permanentes, em tempo de paz, devem ser evitados, como perigosos para a liberdade; e (...), em todos os casos, o militar deve ficar sob rigorosa subordinação ao poder civil e por ele governado”; - Todos os homens têm igual direito ao livre exercício da religião com os ditames da consciência, etc.(Preocupação com a estrutura de um governo democrático, com um sistema de limitação de poderes); Thomas Jefferson 61 b) - Declaração de Independência (4/7/1776) - posterior à Declaração de Virgínia, é de autoria de Jefferson e teve maior repercussão que esta. Destaca-se nela o seguinte: “todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis; que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade; que afim de assegurar esses direitos, instituem-se entre os homens os governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados” (Jefferson, por esta Declaração, foi considerado o Apostolo Paulo das Américas); (LER O ANEXO – 05) Declaração de Independência c) - Constituição dos Estados Unidos da América (1787) - aprovada na Convenção de Filadélfia, não continha inicialmente uma declaração dos Direitos Fundamentais do Homem, o que motivou a exigência de varias ex-colônias, transformadas em Estados-membros, de só ratificarem a Constituição com a introdução de uma Carta de Direitos, em que se garantissem os Direitos Fundamentais do Homem. Imposição atendida segundo o enunciado elaborado por Thomas Jefferson e James Madison, dando origem às dez primeiras Emendas à Constituição Americana (Bill of Rights do povo americano). Entre estes direitos podemos destacar: - Liberdade de religião e culto, de palavra, de imprensa, de reunião pacífica e direito de petição (1 EC); - Inviolabilidade da pessoa, da casa, de papéis e posse de objetos (4ª EC); - Direito de defesa e de um julgamento por juiz natural e de acordo com o devido processo legal, isto é, com garantias suficientes (5ª EC); - Garantia do direito de propriedade; e - Violação de exigências de fiança e multas excessivas, bem como de infligência de penas cruéis ou inusitadas (8ª EC) etc. 5.6.3 - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão - alguns autores costumam ressaltar a influência que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembléia Constituinte Francesa, sofreu da Revolução Americana e principalmente, da Declaração de Virgínia. Na verdade, não foi assim, pois os revolucionários franceses já vinham preparando o advento do Estado Democrático ao longo de todo o século XVIII. A Declaração de Virgínia é mais concreta e preocupada com a situação particular que afligia aquelas comunidades, enquanto a Declaração Francesa, de 1789, é mais abstrata, é mais universalizante, ―considerando que seus três caracteres fundamentais são: intelectualismo, mundialismo e individualismo”. 62 José Afonso da Silva, citando Duverger em seu ―Curso de Direito Constitucional Positivo‖, ensina que: ―O texto da Declaração de 1789 é de estilo lapidar, elegante, sintético, preciso e escorreito, que em dezessete artigos, proclama os princípios da liberdade, da igualdade, da propriedade e da legalidade e as garantias individuais liberais que ainda se encontram nas declarações contemporâneas, salvas as liberdades de reunião e de associação que ela desconhecera, firmada que estava numa rigorosa concepção individualista‖. 95 Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão França, 26 de agosto de 1789 (LER O ANEXO – 06) 5.6.4 - Declaração dos Direitos do século XX - No século XX, há de se reconhecer a ―Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado‖, aprovada em janeiro de 1918 pelo Terceiro Congresso Panrusso dos Sovietes; a ―Declaração Universal dos Direitos do Homem”, aprovada em dezembro de 1948 na terceira sessão ordinária da Assembléia Geral da ONU; e a ―Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem”, aprovada pela IX Conferência Internacional Americana em abril de 1948. São expressivos também, o ―Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos‖ e o “Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais‖, aprovados pela ONU em 1966. a) Declaração Universal dos Direitos do Homem - A Declaração Universal dos Direitos do Homem contém trinta artigos precedidos de um preâmbulo com sete considerandos. Reconhece solenemente a dignidade da pessoa humana, como base da liberdade, da justiça e da paz; o ideal democrático com fulcro no progresso econômico, social e cultural; o direito de resistência à opressão; finalmente, a concepção comum desses direitos. Constitui o Preâmbulo com a proclamação pela Assembléia Geral da ONU, da referida Declaração, o cerne do ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações. Assembléia Geral da ONU 95 - Cf. JOSÉ AFONSO da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p 145. 63 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (LER O ANEXO – 07) Atualmente, a ONU e seus organismos passaram a denominar de Declaração Internacional dos Direitos Humanos a junção da Declaração Universal dos Direitos Humanos com o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP – 1966) e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC – 1966). b) Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (LER O ANEXO – 08)- É importante ressaltar que a ―Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem‖ é anterior à maioria dos documentos internacionais e multinacionais, antecedendo, assim, à da ONU em cerca de oito meses. Aprovada na Conferência de Bogotá adotou uma declaração formal que detalhava os direitos essenciais do homem e seus correspondentes deveres. O preâmbulo explica que direitos e deveres estão inter-relacionados em toda a atividade social e política do homem, que, enquanto os direitos enaltecem a liberdade individual, os deveres expressam a dignidade daquela liberdade. A lista de direitos inclui os tradicionais direitos políticos da Carta de Direitos dos Estados Unidos, juntamente com direitos econômicos e sociais característicos de constituições latino-arnericanas recentes, a saber: o direito à educação, ao trabalho e à justa remuneração, e o direito à segurança social. Os deveres enumeram, entre outros, os do cidadão para com a sociedade, dos pais para com os filhos, o de votar, obedecer à lei, pagar imposto e trabalhar. 5.7– O Constitucionalismo O constitucionalismo, ou movimento político constitucionalista, teve como objetivo dotar todos os Estados de constituições escritas, com a formulação jurídica da separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e, principalmente, da técnica da liberdade, pela qual é ―assegurado aos cidadãos o pleno exercício de seus direitos individuais e, ao mesmo tempo, coloca o Estado em condições de não os poder violar‖. 64 Segundo Paulino Jacques, esses diplomas: Como antecedentes históricos do Constitucionalismo podemos citar os diplomas constitucionais dos tempos antigos, como os de Creta, Esparta, Atenas, Cartago, Roma etc. ―Eram mais instituições que constituições, documentos escritos, códigos políticos. Não escritos, consuetudinários, e, por isso mesmo, plásticos, podiam ser modificados sem outra formalidade além do simples ato de modificação. Não se conheciam, ainda, o poder constituinte, de onde emanam as constituições escritas, mas tão-só o poder legiferante ordinário‖. Nesta mesma linha, podemos afirmar que, após a fragmentação do Império Romano do Ocidente, os conquistadores germânicos vão pouco a pouco fortalecendo o feudalismo e a Igreja Católica. Isto provocou o enfraquecimento da instituição estatal e tornou cada vez mais sólido e atuante o Papado medieval, que passou a orientar o Direito Constitucional. Este passou a ser considerado não mais o resultado da vontade do governante, mas no um acordo entre governantes e governados, surgindo daí a idéia de Contrato Social, desenvolvida e consolidada nos séculos XVII e XVIII. Ainda como antecedente histórico, podemos citar o desenvolvimento constitucional na Inglaterra, que tem como o mais relevante fato a célebre Magna Carta de 1215, que limitou em plena Idade Média, os poderes reais e confirmou a liberdade individual e a inviolabilidade da propriedade privada. É importante registrar que os ingleses levaram quatro séculos no aprimoramento das práticas constitucionais, cujo desfecho foi a votação pelo Parlamento, do Bill of Right em 1688 (Declaração de Direitos do Povo Inglês), restringindo os poderes do rei em matérias como a aplicação, execução e suspensão das leis, a cobrança de impostos e a manutenção de exército permanente sem autorização do Parlamento, estabelecendo, assim, a monarquia constitucional inglesa, submetida à soberania popular. O Constitucionalismo foi um movimento dos séculos XVIII e XIX, que tinha como cerne o jusnaturalismo e as aspirações burguesas de limitar o poder absoluto do Estado e de seus governantes, através de um documento escrito que delineava os Direitos Fundamentais das pessoas. Esses direitos, uma vez inseridos em uma Constituição, tornam-se indisponíveis, não podendo ser colocados de lado pelo governante, seja por ação, seja por omissão, cabendo ao Estado defender, exigir o cumprimento ou dar efetividade aos Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais do Homem. Daí a afirmativa de que o Constitucionalismo foi a pedra de toque para a positivação e subjetivação dos Direitos Humanos, ou seja, foi a grande vitória dos cidadãos na luta contra o perigo de maiores abusos por parte dos governantes e do Estado. As primeiras Constituições escritas do mundo moderno foram a dos Estados Unidos da América (1787) e a Francesa (1791), ambos já consagravam a doutrina do Contrato Social, as teses iluministas do séc. XVIII e as teorias expostas por Montesquieu. Segundo Norberto Bobbio, a definição mais conhecida de Constitucionalismo é a que o identifica com a divisão ou separação dos poderes e, a partir do século XIX, juntou-se a essa definição as teorias das garantias dos Direitos Fundamentais. Em relação à separação dos poderes ele ensina: ―A favor desta identificação existe um precedente assaz respeitável, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que tão grande influência havia de ter nas mudanças constitucionais de Europa no século XIX, preceituava no artigo 16 ―toda sociedade, em que não for assegurada a garantia dos direitos e determinada a separação dos poderes não tem Constituição‖. De acordo com tal definição, ainda hoje é habitual, na ciência jurídica como política, identificar o 65 Constitucionalismo com a separação dos poderes, como o sistema de freios e contrapesos e com a balança dos diversos órgãos‖. 96 No tocante às garantias individuais, ensina o mestre italiano: ―Ao princípio da separação dos poderes, ou melhor, as duas versões que dele apresentaram Monstequieu e Kant, se juntaram no século XIX duas teorias que hoje é freqüente identificar com o Constitucionalismo: referimo- nos à teoria das garantias, na França e ao Estado do Direito ou Rechtsstaat, na Alemanha.‖ 97 Em resumo, podemos afirmar que o Constitucionalismo, após uma longa luta, garantiu a positivação dos Direitos Humanos nas Constituições modernas. Nelas o homem tem a garantia de ter sua dignidade preservada e os seus direitos respeitados pelo Estado e por seus governantes. 5.8 – Codificação - Ela é uma necessidade de ordenações que reuna os preceitos vigentes, possui muitos significados paralelos e aceitáveis: pode ser a globalidade ordenada que contém o núcleo, até a generalidade, das regras jurídicas. Já na Antiguidade, quando a sociedade era menos complexa e os problemas sociais de menor alcance, manifestava-se a necessidade de ordenações que reunissem os preceitos vigentes. Assim foi que surgiu o Código de Hamurabi, a Legislação Mosaica, a Lei das XII Tábuas e vários outros. Com o passar dos tempos o poder de fazer leis passa progressivamente dos senhores e das cidades para os soberanos e depois para a nação. A partir dos séculos XV e XVI, a maior parte das cidades (salvo na Alemanha) e numerosos senhores perdem, no todo ou em parte, o poder de legislar. O poder legislativo torna-se um atributo dos soberanos, reis ou grandes príncipes territoriais ―A intervenção dos governados não fica, em todo o lado, completamente excluída; corpos representativos das ordens políticas e sociais (nobreza, clero, burguesia) reunidos em Estados Gerais (França, Países Baixos), Parlamento (Inglaterra) ou Cortes (Espanha) actuam sobre os governantes, designadamente no domínio fiscal. Em Inglaterra, o Parlamento adquire definitivamente o papel principal na actividade legislativa a partir do fim do século XVII. Em França, o poder legislativo passado rei para a Nação na sequência da Revolução de 1789. Desde então, em todo o Ocidente, a soberania nacional e a democracia tendem a sobrepor-se ao poder pessoal dos reis e príncipes. Assim, a lei tornou-se, rios séculos XIX e XX, a expressão da vontade nacional; é formulada por órgãos chamados legislativos, escolhidos pelos cidadãos do Estado. Cada Estado tem o seu próprio sistema jurídico, baseado em leis adoptadas pelos órgãos do poder. O direito tornou-se nacional: quantos Estados, quantos sistemas jurídicos‖. 98 5.8.1 - Codificação do Direito Público- segundo os ideais dos filósofos iluministas, o liberalismo e as Declarações de Direitos surge no século XVIII a Codificação do Direito Público, principalmente com as Constituiçães Americana de 1787 e a Francesa, de 1791 ―indicadas por Edgar de Godói da Mata-Machado como "os primeiros documentos responsáveis pelo prestígio da lei, como génese do jus scriptunf.‖ 5.8.2 - Codificação do Direito Privado – Para completara chamada era da Codificação e atender, principalmente, a necessidade de se garantir a unidade política dos Estados foram criados códigos, para promover a unificação do Direito, aumentando os vínculos sociais e morais dentro do território. 96 - BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, trad. Carmem C. Varriale. 11ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 248. 97 - BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Op.cit,p.250. 98 - JOHN GILISSEN, ―Introdução Histórica do Direito” Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa,1986, p 206. 66 5.8.3 - Os Primeiros Códigos Modernos O primeiro O Código Civil formulado em base científica, foi o Código Civil da Prússia, que entrou em vigor em 01.06.1794 e o segundo foi Código Civil Francês ou Código Napoleão de 1804, que viria a ser considerado o mais importante do mundo. 5.8.4 – As Grandes Codificações do Direito Civil. a) – Código de Napoleão de 1804, entrou em vigor em 21/03/1804, traduziu uma aspiração nacional. Com a Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte no poder, iniciou-se, em 1800, o trabalho de elaboração do código, marco da era da codificação, não apenas por seu significado histórico, mas também por seu valor intrínseco. A redação do código coube a uma comissão de quatro juristas: Tronche, Bigot de La Préameneu, Maleville e Portalis. O projeto foi discutido no Conselho de Estado, com a participação de Napoleão Bonaparte que não se limitou a constituir a Comissão, mas acompanhou os seus estudos e participou de algumas discussões, sobretudo quando os assuntos eram de interesse do Estado. ―Através dos ensinamentos desses mestres do pensamento jurídico francês, nos séculos XIX e XX, o Código de Napoleão, explicado, comentado, criticado passou a ser, em todo o mundo civilizado, o ponto de convergência de atenção dos legisladores e juristas, que lhe sofrem a irresistível atração, ainda os que se apartaram de sua técnica e do seu espírito‘ 99 . b) - Código Civil Alemão de 1896 O Código Civil alemão (Burgertich Gesetzbuch, abreviadamente BGB), promulgado em 1896, entrou em vigor no dia 1° de janeiro de 1900. O BGB, que tanto inspirou o nosso Código Civil de 1916 divide-se em duas partes: uma geral e a outra especial. A parte geral compreende o direito das pessoas, dos bens, e os negócios jurídicos, em preceitos comuns a todo o Direito Civil. A parte especial distribuiu-se em quatro livros, na seguinte ordem: direito das obrigações; direitos reais; direito de família; direito hereditário. Concomitantemente ao BGB elaborou-se uma Lei de Introdução, que compreende preceitos de Direito Privado internacional, normas sobre as relações entre o Código Civil e as leis nacionais, o direito local, e as disposições transitórias A polêmica entre Thibaut e Savigny Anton Friedrich Justus Thibaut Friedrich Carl von Savigny 99 - ORLANDO GOMES, Introdução ao direito civil, Direito civil. I. Título, Rio de Janeiro, Forense, 1998. "Obra premiada pelo Instituto dos Advogados da Bahia." P.64. 67 Anton Friedrich Justus Thibaut influenciado pelas idéias legislativas da Revolução Francesa e pelas codificações napoleônicas defendeu em um brilhante trabalho - Sobre a necessidade de um Direito Civil Geral para a Alemanha - a elaboração e adoção de um Código Civil para toda a nação alemã O grande mérito desse trabalho foi o reconhecimento da importância política de uma codificação única para os territórios de língua alemã. Friedrich Carl von Savigny defendia em seu trabalho - Da vocação da nossa época para a legislação e a jurisprudência - que o direito não era revelado ao legislador, mas sim, pelo costume, ou seja, o direito é produto espontâneo da cultura, que se origina do espírito do povo (Volksgeist), manifestado nos usos e costumes e no trabalho dos jurisconsultos. Savigny afirma que a codificação promove o engessamento do direito, paralisando-o no tempo. A vitória foi creditada, aos pandectistas alemães, pela história, ou seja a Thibaut, de vez, que em 1900, entrava em vigor o Código Civil Alemão, o famoso B. G. B. (Burgerlisches Gesetzbuch). Para muitos, contudo, a vitória foi parcial, pois o Código somente entrou em vigor após a morte de Savigny e não seguiu o plano idealizado por Thibaut. Este havia sugerido que o texto apresentasse duas partes, uma que reunisse o antigo ordenamento e da outra constando as inovações . 100 5.9 - Intervenções do Estado nas Questões Sociais e Econômicas ocorridas ao Longo dos Séculos XIX E XX As Intervenções do Estado Nas Questões Sociais e Econômicas seguem paralelamente ao desenvolvimento da democracia e do constitucionalismo, pois estão ligadas diretamente a luta humana pela liberdade e igualdade que são entidades, básicas da humanidade. . As doutrinas liberais do século XVIII, de abstenção total do Estado no domínio económico sofreram profundas transformações que abalariam, no século XIX e notadamente no século XX, a partir da década de 30, o quadro geral da atividade econômica liberal. Embora defendendo o liberalismo económico, Smith reconheceria em seu ''Wealth of Nations" que o Estado cuidasse da ordem pública, da defesa das instituições e da salvaguarda da nação contra agressões estrangeiras, interferindo no domínio económico apenas nos setores que não apresentassem qualquer interesse à iniciativa particular. Dentro dessa ordem de ideias, o liberalismo puro jamais existiu, notando-se já a partir do século XIX um grau de interferência do Estado no domínio económico bem mais amplo que o pretendido pelos pensadores do século XVIII. Com o Estado Social de Direito temos no séc. XIX a correção do individualismo clássico liberal pela afirmação dos chamados direitos sociais e realização de objetivos de justiça social, isto é, compatibilizar, em um mesmo sistema dois elementos básicos: o capitalismo, como forma de produção, e a consecução do bem estar social geral, servindo de base ao neocapitalismo, típico do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) ou Estado-Providência. A articulação do econômico e do social parecia ter encontrado uma solução satisfatória o bastante para que fosse considerada definitiva. Com Estado Liberal cria os chamados "direitos de primeira geração", que decorrem da própria condição de indivíduo, de ser humano, situando-se, desta feita, no plano do ser, de conteúdo civil e político, que exigem do Estado uma postura negativa em face dos oprimidos, compreendendo, dentre outros, as liberdades clássicas, tais como, liberdade, propriedade, vida e segurança, denominados, também, de direitos subjetivos materiais ou substantivos. No desenvolvimento do Estado Social de Direito surge os "direitos de segunda geração", que se situam no plano do ser, de conteúdo econômico e social, que almejam melhorar as 100 - PAULO NADER, Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2000. p. 212. 68 condições de vida e trabalho da população, exigindo do Estado uma atuação positiva em prol dos explorados, compreendendo, dentre outros, o direito ao trabalho, à saúde, ao lazer, à educação e à moradia. Na atualidade com o Estado Democrático de Direito temos a garantia de intervenção nas funções econômicas nas condições abaixo: ―Funções Econômicas – intervindo mais ou menos numa economia moderna, espera-se do Estado que: Estabilize a economia e garanta o seu bom funcionamento; Defina as regras jurídicas que regulamentam a vida econômica; Promova o crescimento e o desenvolvimento econômico Para exercer a função econômica o Estado dispõe de vários instrumentos. Pode recorrer à intervenção direta, produzindo bens e serviços para satisfazer necessidades coletivas ou para serem comercializados, ou pode socorrer-se de políticas econômicas. Outro instrumento importante é o planejamento da atividade econômica, articulando diferentes políticas com vista a permitir não só o crescimento econômico, mas, sobretudo o desenvolvimento global da sociedade ― 101 . QUINTA PARTE FORMAÇÃO DO DIREITO BRASILEIRO. De modo genérico, podemos dizer que quanto ao conteúdo o nosso Direito e em especial o nosso Direito Privado, através do Direito Português, sofreu a influência do Direito Romano, do Direito Canônico, do Direito Germânico, da Moral Cristã e do Capitalismo. A fonte primordial de nosso Direito Privado é o Direito Romano. Embora os nossos juristas tenham colhido grande número de suas soluções nas Ordenações do Reino, na legislação portuguesa e brasileira anterior à publicação do CCB, no Código Napoleônico de 1804 e no Código Alemão de 1896 (BGB), ―sua verdadeira fonte é a legislação Justinianéia, fonte principal, também, destes monumentos legislativos citados, pois bem sabemos que o Código Civil Francês e Código Civil Alemão, não são senão a acomodação escrita do direito Romano à civilização moderna‖. 102 Os Primeiro Documentos Jurídicos: Mesmo antes de Cabral tomar posse das terras do Brasil, o nosso território já era alvo de uma grande disputa entre Portugal e Espanha que estavam iniciando o ―Ciclo das Grandes Navegações.‖ O que resultou historicamente nos três primeiros documentos sobre o que mais tarde seria o Brasil: Tratado de Toledo de 6 de março de 1480, que dava a Portugal a exclusividade de águas e terras ao sul das Canárias. 1492 Colombo realiza seu sonho de explorar os mares, com o consentimento dos Reis Católicos de Aragão e Castela – Fernando II e Isabel I, Colombo chega às terras que hoje formas as Américas o que levou a um serio estremecimento entre Portugal e Espanha; 101 - http://aprenderestado.blogspot.com/ 102 Cf. RENÉ DAVID, Apud. Silvio Rodrigues, Direito Civil-Parte Geral, São Paulo: Saraiva, 2002, p.10. 69 a Bula Inter Coetera - Isabel e Fernando, os Reis Católicos da Espanha, para se defenderem recoreram ao Papa Alexandre VI que em 4 de maio de 1493 expediu a Bula Inter Coetera dando domínio exclusivo de todas as ilhas e terras firmes, já descobertas ou que se viessem a descobrir situadas a ocidente de uma linha meridiana traçada de polo a polo que passasse cem léguas a oeste de qualquer das ilhas dos Açores e Cabo Verde, contanto que estas ilhas e terras não fossem possuídas por algum príncipe cristão antes do Natal de 1492; Tratado de Tordesilhas embora a demarcação da bula Bula Inter Coetera tenha salvaguardado as rotas portuguesas do Atlântico Sul. D. João II recusou-se a aceitar a e pressionou a Espanha o que resultou no Tratado de Tordesilhas de junho de 1494, o acordo que deu fim a longas negociações entre as duas coroas. Conforme a principal cláusula do diploma as duas monarquias estabeleciam o meridiano traçado a 370 léguas a oeste das Ilhas Cabo Verde, tudo o que estivesse a oeste seria espanhol, a leste de Portugal. Folha de rosto do Tratado de Tordesilhas (1494) 70 Não podemos deixar de reconhecer que a mais influente fonte do nosso Direito Privado foi o Direito Português e principalmente as Ordenações do Reino. 1 – Ordenações do Reino. A Ordem Jurídica Portuguesa encontrava-se nas Ordenações do Reino, que, resumidamente, compreenderam: 1.1 - Ordenações Afonsinas (1446 – 1514), aparecidas no séc. XV no reinado de Afonso V o Africano sendo seus compiladores João Mendes, Ruy Fernandes Lopo Vasques, Luiz Martins e Fernão Rodrigues e foi resultado do esforço do lendário jurista João das Regras que desejou libertar Portugal dos últimos vínculos com a Espanha. Compunham-se de cinco livros, versando sobre as seguintes matérias: Livro I – Organização Judiciária e Competência; Livro II – Direito Dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos Estrangeiros; Livro III – Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Comercial; Livro V – Processo Penal e Direito Penal. Túmulo de João das Regras (século XV) na Igreja de S. Domingos de Benfica. Ordenações Afonsinas As Ordenações Afonsinas foram a primeira compilação eminentemente portuguesa tendo como fonte de inspiração os Direitos: Germânico, Romano,Canônico e até o Mulçumano (vindicta privada) “Segundo Flávia Lages103 a Estrutura Judiciária colocada pelas Ordenações Afonsinas era formada por Magistrados Singulares e Tribunais Colegiados de segundo e terceiro graus de jurisdição, além de magistrados com funções específicas postos acima dos Tribunais Colegiados. Os Magistrados Singulares eram: Os Juizes Ordinários: estes não eram bacharéis em direito, eram eleitos pelos "homens-bons" da Câmara Municipal. Os Juizes de Fora: bacharéis em direito, nomeados pelo rei, podiam substituir os juizes ordinários. Os Juizes de Órfãos: sua competência era o julgamento de causas referentes aos interesses de menores, inventários e tutorias. 103 -CF. CASTRO, Flávia Lages, ―História do Direito – Geral e Brasil”, 8ºed. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2010, p. 273 e 274. 71 Os Juizes de Vintena: eram os juizes de paz nas localidades com até vinte famílias. Os Almotacéis: que passaram a ter por função a apreciação de litígios sobre servidão urbana e crimes praticados por funcionários corruptos. Os Juizes de Sesmaria: cuja função era o julgamento de questões envolvendo terras. Os Juizes Alvazis dos Avençais e dos Judeus: que tinham por obrigação dirimir questões havidas entre funcionários régios e entre judeus. Os Tribunais Colegiados - Segundo Grau de Jurisdição eram assim compostos: Desembargo do Paço: tinha por objetivo apreciar questões cíveis relativas à liberdade do indivíduo, tais corno graça, perdão, indulto, privilégios etc. Conselho da Fazenda: a sua função precípua era a de solucionar litígios acerca de arrecadação de tributos. Mesa da Consciência e Ordem: responsável pela apreciação dos recursos dos demais juizes. O Tribunal Colegiado - 3a grau de jurisdição Casa de Suplicação, que era a terceira e última instância da justiça portugua com competência delimitada. Era do rei o mais alto cargo da Justiça, visto que ele era Governador da Casa da Justiça na corte, que era o mais alto e principal Ofício da Justiça. Seu papel era a distribuição dos Desembargadores, definição dos dias de trabalho destes e do Juiz dos feitos, do Procurador, do Corregedor da Corte e dos Ouvidores”. 1.2 - Ordenações Manuelinas – (1514 – 1603) – Compilação determinada pela existência de vultuoso número de leis e atos modificadores das Ordenações Afonsinas. Foram feitas e promulgadas no reinado de D. Manoel I o Venturoso, e contem as mesmas matérias das Ordenações anteriores. No reinado de D. Sebastião, essas Ordenações sofreram grandes modificações, nos livros de Direito Civil e Processo Civil, atendendo as Resoluções do Concílio de Trento e ao Direito Canônico. Devem-se essas modificações a Duarte Nunes Leão, ficando elas, conhecidas na história, como Código Sebastiânico ou Código de D. Duarte (1569); 1.3 - Ordenações Filipinas (1603 – 1916) – Com a morte de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578, o rei da Espanha, Filipe II, neto de D. Manuel I, após vários entreveros, unificou em 1581 os dois reinos, dando início ao Domínio Espanhol, que vai de 1581 até 1640. Nesse período passaram a vigorar no Brasil as Ordenações Filipinas ou Código Filipino, que, também, era composto de cinco livros, regulando as mesmas matérias das Ordenações, mas modificou a estrutura judiciária criando novos cargos, tais como: Juiz das Casas da índia, Mina, Guiné, Brasil e Armazéns: que seriam responsáveis pelas questões ultramarinas relativas à arrecadação fiscal; O Chanceler das Sentenças: que era o responsável pelo selo das sentenças e cartas expedidas por alguns outros juizes singulares; O Corregedor da Comarca: era quem deveria vigiar os membros da Justiça exercendo a correição na comarca, podendo ser auxiliado por tabeliães do local, com o objetivo cie apurar as culpas, querelas e estados destas pessoas; O Ouvidor da Comarca: que exercia as mesmas funções do Corregedor e contra seus atos caberia agravo para o Corregedor 72 Essas Ordenações foram revalidadas, após o Domínio Espanhol, em 1643 por D. João IV e, no que diz respeito ao Direito Civil, vigoraram no Brasil até 1º de janeiro de 1917, quando entrou em vigência o Código Civil Brasileiro de 1916. É importante esclarecer que as Ordenações do Reino não eram códigos no sentido atual, mas compilações de leis, atos e costumes, ao lado das quais, funcionam como fontes subsidiárias, o Direito Consuetudinário, o Direito Romano e o Direito Foralício (cartas forais, com as quais o rei concedia terras). 1.4 – Do Período Colonial. 1.4.1 - As Capitanias Hereditárias. Ameaçado por nações como a França e a Inglaterra que buscavam os lugares onde Portugal e Espanha não tinham ainda tomado posse (uti possidetis). Portugal, sem condições financeiras e humanas para empreender uma posse em um território tão vasto quanto era o Brasil, resolveu criar as Capitanias Hereditárias, esse sistema já havia logrado sucesso nas ilhas do norte da África. As terras eram doadas em usufruto hereditário. Os indivíduos escolhidos para donatários recebiam as Cartas de Doação que indicavam a condição de posse de sua capitania. Recebiam também os forais, que indicavam seus direitos (recebimento de taxas, distribuição de terras, nomeação de autoridades administrativas e juizes) Eles tinham o privilégio de exercer a justiça, nomeando um Ouvidor para exercer a juris- dição civil e criminal, mas isto não era arbitrário ou de forma isolada, eram obrigados a seguir as leis do Reino e as Cartas Forais que delimitavam suas funções. As Capitanias Hereditárias, enquanto sistema de colonização, foram um fracasso considerável, somente duas, a de Pernambuco e São Vicente conseguiram obter êxito montando um esquema produtivo baseado em fortuna própria e ajuda financeira de grupos mercantis estrangeiros. 1.4.2 - O Governo-Geral. Mesmo com o fracasso do sistema de Capitanias foram lançadas as bases para a ocupação efetiva da terra fazendo surgir, ainda que a princípio de forma dispersa, aldeia povoados, vilas. Em seguida foram, gadativamente, transladados para a colónia os princípios de administrativos através modelo municipal português. Com a criação do Governo-Geral em 1548 e sua posterior implantação no ano seguinte demonstram essa mudança de rumo. Enquanto com a Capitanias Hereditárias os donatários recebiam poderes soberanos, o Governadores estariam, ao mesmo tempo, sujeitos diretamente a poder metropolitano e sujeitando a colónia a esse controle. 73 Com o Governo-Geral foram instituídos três cargos, cada qual com Regimento próprio: O Provedor Mor da Fazenda que cuidava de organizar a cobrança de impostos e prover cargos; Capitão-Mor da Costa com atribuições de defesa Ouvidor-Mor, com função jurídica administrativa. Este último situava-se como a maior autoridade da justiça. Obs: 1 - O segundo e terceiro Graus de jurisdição eram funcionavam na Corte. (órgão máximo era a Casa de Suplicação, com sede em Lisboa; Desembargo do Paço, Mesa de Consciência e Ordens, Conselho Ultramarino, Junta de Comércio, Conselho do Almirantado, Tribunal da Junta dos Três Estados, Régio Tribunal ou Fazenda e o Tribunal do Santo Ofício). 2 – Legislação das Minas (Código Mineiro de 1603 , 1618 e o Regimento de 1702) 1.5 – O Período Pombalino e as Leis Extravagantes: Como as Ordenações não atendiam as necessidades de desenvolvimento do Reino e das Colônias, várias leis extravagantes foram promulgadas das quais podemos destacar: Leis sobre Câmbio Marítimo (1609); Leis sobre Letras de Câmbio (1672); Lei sobre seguros (1684). Em 1750 o rei de Portugal, D. José I, escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo - conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal - para ocupar o cargo de primeiro- ministro. Decorridos 27 anos, Pombal talvez tenha sido o principal ministro e homem forte do governo. Em sua obra reformista combinou elementos contraditórios, como mercantilismo e iluminismo, buscando fortalecer o Estado. As reformas pombalinas constituíram uma violenta reação antijesuítica. Após viver séculos sob a ideologia jesuítica, Portugal percebeu seu distanciamento tanto econômico como ideológico das novas idéias que se disseminavam pela Europa. Na busca de recompor o atraso, Portugal, na pessoa de Pombal, faz dos jesuítas os responsáveis por todos os seus males passados e presente reformou os Estatutos das Universidades, criou a Intendência Geral de Polícia, mas o que chama mais a atenção para a História do Direito foi a Lei da Boa Razão (1769), que era uma norma de hermenêutica, ou seja, uma lex legum (norma sobre norma) que estabelecia regras para interpretação das leis e mandava aplicar, no caso de lacuna, o Direito Romano, desde que compatível com a ―boa razão‖. 1.6 - Brasil Reino e a Independência do Brasil. Em novembro de 1807 a França invadiu Portugal, com o apoio de dois corpos de exército espanhóis, sendo o corpo de exército francês comandado por Jean-Andoche Junot, que conquistou Lisboa na manhã de 30 de novembro. O Príncipe-regente D. João abondonou a corte em 36 navios .A esquadra levantou âncora completamente lotada. Além de 15.000 pessoas, levava tudo o que pudesse ter algum valor: jóias, quadros, móveis, roupas, prataria e metade do dinheiro 74 circulante em Portugal foi trazido para o Brasil. A corte chegou em Salvador em 22 de janeiro de 1808 e em 28 de janeiro de 1808, decretou a abertura dos portos às nações amigas - entre as quais, evidentemente, a Inglaterra. Tendo sido aconselhado por José da Silva Lisboa, que mais tarde fará visconde de Cairu, pondo fim ao Pacto Colonial Em março, D. João transferiu-se para o Rio de Janeiro, transformando a cidade em sede da monarquia. Formou o seu ministério, aboliu a proibição da criação de indústrias, fundou escolas, a biblioteca real, o jardim botânico etc. Principais medidas tomadas no Brasil por D. João: Liberação da atividade industrial em 1808; Criação do Banco do Brasil em 12 de outubro de 1808; Criação da Divisão Militar da Guarda Real da Polícia da Corte (DMGRP) em 13 de maio de 1809; Permissão de ter imprensa; Fundação da academia militar, da marinha e de um hospital militar; Criação da Fábrica de Pólvora (Rio de Janeiro); Criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Criação da Academia Imperial de Belas Artes; Criação da Academia de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, criada em 1808; Criação da Escola de Cirurgia, em Salvador; Criação da primeira Junta de Comércio, a Real Junta do Comércio; Criação da Biblioteca Real no Rio de Janeiro cujo acervo foi quase todo trazido de Portugal; Criação dos Correios; Criação do Museu Real; Criação de linhas diretas marítimas entre o Rio de Janeiro e outras capitais do mundo.; Criação da Academia Real Militar (ou Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. 16 de dezembro de 1815 o Príncipe-regente D. João elevou o Brasil a categoria de ―Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves‖ e em 20 de março de 1816, morta D. Maria I, assumiu a coroa como D. João VI, o 27º Rei de Portugal. Posteriormente, o Reino Unido se transformou num inconveniente a Portugal como metrópole. Quando a corte retornou a Europa, e tentou fazer com que o Brasil retornasse à condição de colônia, esta situação gerou tamanho descontentamento que provocou a 7 de setembro de 1822 a proclamação da independência pelo herdeiro da coroa portuguesa, o futuro D. Pedro I no Brasil e D. Pedro IV em Portugal, filho do próprio D. João VI. Brazão Do Reino Unido Bandeira Do Príncipe Regente Do Brasil 2 – Elaboração do Direito Brasileiro. 2.1 – Direito Constitucional. 75 A Constituição de 1824. Com a nossa Independência em 1822, passamos a enfrentar, entre outros, o problema da nossa estruturação jurídica. Em maio 1823, temos a primeira medida concreta, a convocação de uma Assembléia Constituinte, que logo elaborou um Projeto de Constituição, o qual teve como principal redator Antônio Carlos, um dos irmãos Andradas (Jose Bonifácio, Martins Francisco e Antônio Carlos). O Projeto de 1823 era composto de 272 artigos e tinha como princípios fundamentais: -Monarquia constitucional e representativa; -Liberdades e Garantias constitucionais (liberdade religiosa, e de pensamento, liberdade de locomoção, liberdade individual, liberdade de imprensa e inviolabilidade da propriedade); -Divisão dos Poderes em: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Executivo exercido pelo Imperador auxiliado por Ministros e um Conselho Privado; o Legislativo exercido em conjunto pelo Imperador e pela Assembléia Geral, formada pela Câmara dos Deputados e Senado e o Judiciário exercido por ―juízes letrados‖ e jurados. A respeito da Constituinte de 1823 o historiador Armitage emite as seguintes palavras: ―A maioria formava-se quasi exclusivamente de magistrados, juizes de primeira instancia, jurisconsultos, e altas dignidades da igreja, sendo pela mór parte homens quinquagenarios, de noções acanhadas, e inclinados á realeza............... a maioria da camara compunha-se de membros possuidos de conhecimento curto, os quaes, se o ministerio tivesse sido dotado de algum talento administrativo, poderia ter subordinado á preponderancia da auctoridade suprema..........Do outro lado estavam os Andradas hábeis, destemidos, sagazes, intimamente conhecedores das fórmas parlamentares, com certa eloquencia declamatoria, mais efficaz pela novidade do que por merito intrinseco‖. 104 Em novembro de 1823, D. Pedro em conflito com a Constituinte (principalmente com os irmãos Andradas), que acusava o Poder Imperial de limitar os trabalhos dos constituintes, avocando o direito de julgar a dignidade ou não da Constituição, tomou uma drástica medida dissolvendo a Assembléia e nomeando a chamada Comissão dos Dez para elaborar um novo Projeto de Constituição que foi promulgado em 25 de março de 1824 pelo Imperador. 105 A nossa primeira Lei Fundamental foi do tipo conhecido como Constituição outorgada, tinha 104 Cf. Armitage, Apud. Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello, Barão. A Constituinte Perante A História, edição fac-similar do Senado Federal. 1996, Rio de janeiro: Typ. Da Actualidade, 1863, p. 2. 105 Decreto de Dissolução da Assembléia Constituinte de 1823. ―Havendo eu convocado, como tinha direito de convocar, a assembléa geral constituinte e legislativa, por decreto de tres de junho do anno proximo passado, afim de salvar o Brasil dos perigos que lhe estavam imminentes: E havendo esta assembléa perjurado ao tão solemne juramento que prestou á nação de defender a integridade do imperio, sua independencia e a minha dynastia: Hei por bem, como Imperador e defensor perpetuo do Brasil, dissolver a mesma assembléa, e convocar já uma outra na fórma das instrucções feitas para convocação desta, que agora acaba, a qual deverá trabalhar sobre o projeto de constituição que eu lhe hei de em breve apresentar, que será duplicadamente mais liberal do que a extincta assembléa acabou de fazer. Os meus ministros e secretarios de estado de todas as differentes repartições o tenham assim entendido, e façam executar a bem da salvação do imperio. Paço, dose de novembro de mil oitocentos e vinte e tres, segundo da independencia e do imperio – com a rubrica de sua Magestade Imperial. Clemente Ferreira França. José de Oliveira Barbosa”. 76 179 artigos e apresentava as seguintes peculiaridades: Poder Moderador, exercido pelo Imperador que tinha a faculdade de dissolver a Câmara dos Deputados; Poder Executivo, exercido pelo Imperador e seus Ministros de Estado; Poder Legislativo, composto da Câmara dos Deputados (eletiva e temporária) e do Senado (vitalício e nomeado pelo Imperador); Poder Judiciário, formado de tribunais, juízes singulares e jurados; Conselho de Estado, nomeados pelo Imperador. . A Constituição do Império de 1824 foi à primeira Constituição no mundo a subjetivar e positivar os direitos do homem, dando-lhes concreção jurídica efetiva. Ela, contudo, não trazia a rubrica Declaração de Direitos. Todavia no art. 179 (último da Constituição) estabelecia: “A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinteSeguem-se 35 parágrafos dedicados aos direitos e garantias individuais. Em resumo poderíamos dizer que a Constituição do Império era impregnada de um centralismo autocrático que investia o Imperador de poderes absolutistas a ponto de Itaboraí ter dito que aqui ―o Rei reinava, governava e administrava, ao contrário do sistema inglês, onde vigia e vige o princípio de que o Rei reina, mas não governa‖. 106 CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO DE 1824 A Constituição de 1891 é conhecida como a nossa primeira Constituição republicana ou Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada no dia 24/2/1891. Estabeleceu um sistema de governo presidencialista e adotou a federação como forma de Estado, passando às antigas províncias a condição de Estados autônomos, formadores da União perpétua e indissolúvel do nosso território. A grande figura da Constituinte foi o jurista Rui Barbosa a quem faltou sensibilidade política e sociológica para pressentir que um arcabouço formal baseado no modelo constitucional norte-americano, completado com disposições das Constituições Argentina e Suíça não atenderia a nossa cultura, pois lhe faltava vinculação com a nossa realidade. Rui Barbosa Foi abandonada a divisão quadripartita vigente no Império, de inspiração do francês Benjamin Constant e adotada a doutrina tripartita de 106 Cf. JOSÉ AFONSO da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p. 78. 77 Montesquieu, estabelecendo no art 15 como ―órgão da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo, e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si‖. Firmara a autonomia dos Estados-Membros o que resultou na ―política dos Governadores‖ e conseqüentemente no coronelismo, que dominou e foi uma das principais causas da queda da Primeira República. A Constituição de 1891 abria a seção II do Título IV, enunciando uma Declaração de Direitos, onde assegurava aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança e à propriedade . Promulgação da Constituição de 1891 Em 1926 a Constituição foi emendada, para adequá-la à realidade o que não impediu a revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas A Constituição de 1934. Com a revolução de 1930, Getúlio Vargas (1930 – 1946) chega ao poder como líder civil do movimento, investido na função de Presidente Provisório da República. Dissolve o Congresso e passa a governar por Decretos, intervém nos Estados, liquidando a ―política dos governadores” e procura afastar a influência dos coronéis. Vargas inclina-se para a questão social criando os Ministérios do Trabalho, Educação e Saúde, Industria e Comércio. Designa Francisco Campos para a pasta da Educação, que a muito estava entorpecida e desalentada e Lindolfo Color para a do Trabalho, época em que foi criada a base de nossa Legislação Trabalhista. Reforma o sistema eleitoral e institui a Justiça Eleitoral para julgar a validade das eleições. Pelo decreto de 3/5/32 Getulio marca eleições à Assembléia Constituinte para 3/5/33. Em 9 de julho estoura a Revolução Constitucionalista em São Paulo, cujo lema foi, ―Tudo pela Constituição‖, chefiada pelo General Isidoro Dias Lopes, cujo imediato foi o coronel Euclides de Figueiredo, durou 70 dias e foi vencida pelo Ditador que manteve o Decreto de convocação das eleições. Organizada a Assembléia Constituinte, presidida por Antonio Carlos, ela nos dá em 16 de julho de 1934 a segunda Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, marco inicial de Segunda República. A nova Constituição manteve os princípios formais e fundamentais da anterior, mas trouxe um vasto conteúdo novo, principalmente de influência da Constituição alemã de Weimar: Ampliou os poderes da União; dispôs sobre os poderes concorrentes entre a União e os Estados- Membros; rompeu com o bicameralismo, atribuindo o exercício do Poder Legislativo apenas à Câmara dos Deputados, transformando o Senado em órgão de colaboração desta; criou a Justiça Eleitoral, como órgão do Poder Judiciário; adotou o voto feminino; estabeleceu ao lado de representação política tradicional, a representação corporativa inspirada na ―Carta Del Lavoro‖ da Itália fascista; Ao lado da clássica Declaração de Direitos, abriu um título especial, nele inscrevendo o titulo ―Da Ordem Econômica e Social‖ e outro ―a Família, a Educação e a Cultura‖. Reconhecendo, ainda que, de maneira pouco eficaz, os direitos econômicos e sociais do homem; etc. 78 Constituição de 1937. Com o impacto das ideologias que grassavam no mundo após a 1ª Grande Guerra, surge no Brasil um barulhento e virulento partido fascista – a Ação Integralista Brasileira, cujo chefe, Plínio Salgado, se preparava para empolgar o Poder; reorganiza-se o Partido Comunista, aguerrido e altamente disciplinado, cujo chefe, Luís Carlos Prestes, também aspirava ao Poder. Vargas, em 10 de novembro de 1937 alegando o perigo antidemocrático dessas ideologias, dá um golpe de Estado, dissolve a Câmara e o Senado, revoga a Constituição de 1934 e outorga a Carta Constitucional de 10/11/37, criando o Estado Novo ou Estado Nacional. AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA LUÍS CARLOS PRESTES VARGAS A Constituição de 1937 é ditatorial na forma, no conteúdo e na aplicação: fortalece o Poder Executivo que pode governar por Decretos-Leis; confere ao Estado a função de orientador e coordenador da economia nacional; nacionaliza certas atividades e fontes de riquezas; etc. A Carta de 1937, apesar de conter no art. 122 uma Declaração de Direitos e Garantias Individuais, o Governo primou pelo total desrespeito aos direitos do homem, especialmente os concernentes às relações políticas. A Constituição de 1946. Após a 2ª Grande Guerra começaram os movimentos para a redemocratização do Brasil, culminando com a deposição em 29 de outubro de 1945 de Getulio Vargas e a instauração da Terceira República. O Poder foi entregue pelos militares a José Linhares, Presidente do Supremo Tribunal Federal que governou como Presidente da Republica até 31 de janeiro de 1946, quando transferiu o Poder para o General Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1961), eleito democraticamente pelo povo. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946, não foi elaborada a partir de um projeto preordenado, que oferecesse subsídios à Constituinte. A Assembléia teve como presidente o mineiro Fernando Melo Viana. Os constituintes serviram-se das fontes formais do passado, ou seja, das Constituições de 1891 e 1934, o que constituiu um grande erro, pois daí ―nasceu de costas para o futuro”. a Constituição de 1946. 107 Ela não atendeu as necessidades básicas ao desenvolvimento da sociedade brasileira, gerando sucessivas crises políticas, que culminaram na Revolução de 1964. 107 Cf. José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p. 86. 79 Promulgação da Constituição de 1946 Constituição de 1946 Em linhas gerais a Constituição de 1946 estabeleceu o seguiste; o Senado volta ao Legislativo; desaparece a representação classista; o Tribunal de Contas passa a ser regulado pelo Poder Legislativo, como órgão de fiscalização orçamentária deste; reorganizou a discriminação das rendas entre a União, Estados e Municípios; restringiu a autonomia dos Municípios e “partindo do princípio filosófico Kantiano de que o Estado não é um fim em si mesmo, mas meio para o fim. Este fim seria o homem. O Estado deveria fazer convergir seus esforços precipuamente para elevar material, física, moral e intelectualmente o homem‖. 108 Eurico Gaspar Dutra Em seu título IV sobre a Declaração dos Direitos, continha dois capítulos: um sobre a Nacionalidade e a Cidadania e outro sobre Direitos e Garantias Individuais. O ―Caput‖ do art. 141, sobre os direitos e garantias individuais, não incluía o direito à subsistência; em seu lugar, colocava o ―direito à vida‖. No Titulo V, trata da ―Da Ordem Econômica e Social‖ e no VI ―Da Família, da Educação e da Cultura‖. A Constituição de 1967. Após o Governo do General Dutra, volta ao Poder, democraticamente, Getúlio Vargas (1951 – 1954), que premido pela conjuntura foi obrigado a demitir-se em 24 de agosto de 1954 e no mesmo dia, suicida-se, deixando uma carta-testamento. Com relação à Carta-testamento de Vargas ensina Afonso Arinos: (LER O ANEXO – 09) .―Esta é a conclusão a que leva a análise histórica do documento, assim redigido: À sanha dos meus inimigos deixo o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter feito pelos humildes tudo aquilo que desejava”. 109 Assume o Poder o Vice-Presidente João Café Filho (1954 – 1955), que adoece e a Presidência passa para o Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, que governa por 48 horas, sendo deposto por um movimento militar liderado pelo general Teixeira Lott, que também impede a volta de Café Filho. Assume o Presidente do Senado, o Senador Nereu Ramos, que 108 Cf. ALIOMAR BALEEIRO e Barbosa Lima Sobrinho. Coleção Constituições Brasileiras: 194 6, Brasília: Senado Federal, MCT e CEE, 1999, p. 18. 109 Cf. JÂNIO QUADROS e de Afonso Arinos Melo Franco. História do Povo Brasileiro, 1ª ed. São Paulo: J. Quadros Editores Culturais. 1967, p. 148, 149 e 150. 80 entrega a Presidência a Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 – 1961), eleito democraticamente e que governa com o lema: ―Transporte, energia, alimentação‖; constrói Brasília, para onde transfere a capital em 21 de abril de 1960. No governo de Juscelino espocam rebeliões golpistas, mas não impediram que concluísse o seu mandato. Lideres Políticos após a morte de Getúlio Vargas João Café Filho Carlos Luz Teixeira Lott Nereu Ramos Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 – 1961), eleito democraticamente e que governa com o lema: “Transporte, energia, alimentação”; Posse no Catete Inauguração de Brasília Elege-se Jânio Quadros, para o quarto qüinqüênio, empossado em 31 de janeiro de 1961, renunciou em agosto de 1961 e o cargo passou ao Presidente da Câmara dos Deputados. A 2 de setembro de 1961 votou-se um Ato Adicional, que instituiu o regime parlamentarista. Jânio Quadros Presidente João Goulart e o Primeiro Ministro Tancredo Neves. 81 Tendo voltado da China o Vice-Presidente João Goulart (1961 – 1964) assume o cargo de Chefe de Estado, já que o Chefe de Governo era o Primeiro Ministro Tancredo Neves. Nesse período temos ainda na função de Primeiro Ministro, Brochado da Rocha e Hermes Lima. Em 6 de janeiro de 1963, um plebiscito restabeleceu o regime Presidencialista, mas o Presidente Goulart, despreparado, instável, inseguro, perde o estribo do Poder e sem prestar atenção aos mais sensatos é deposto no dia 1° de abril de 1964, pelo Movimento Revolucionário instaurado no dia anterior. O Comando Militar Revolucionário domina o Poder e efetua prisões políticas dos simpatizantes do governo anterior. Em 9 de abril expediu-se o Ato Institucional n° 1, desaparecendo a democracia e iniciando uma nova ditadura, o que pode ser comprovado pelo preâmbulo do AI.1: ―Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do congresso. Este é que recebe deste ato institucional, resultante do poder constituinte, inerente a todas as revoluções, a sua legitimação‖. 110 O Ato Institucional n° 1, manteve a Ordem Constitucional vigente, mas impôs várias cassações de mandatos e a suspensão de direitos políticos. Elege-se em 11 de abril de 1964 o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1964 – 1969), para a função de Presidente da República. Novas crises e novos Atos, AI 2, AI 3 e finalmente o AI 4, convocando extraordinariamente o Congresso Nacional, que estava em recesso imposto por manu militari, para a votação e promulgação de um novo projeto de Constituição elaborado pelo governo, já que a de 1946 não atendia às exigências nacionais e só ―uma nova Constituição poderia assegurar a continuidade da obra revolucionária‖-(AI.4). CASTELO BRANCO TOMA POSSE EM ABRIL DE 64 Constituição de 1967. A Constituição de 1967, conhecida, apenas, como Constituição do Brasil, 111 foi promulgada em 24 de janeiro de 1967 e entrou em vigor no dia 15 de março, quando assumia a Presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva (1967 – 1969) A nossa Carta Política de 1967 sofreu forte influência da Constituição de 1937, cujos constitutivos básicos assimilou. Entre suas características podemos destacar: preocupação fundamental com a segurança nacional; os poderes Presidenciais e os da União foram enormemente acrescidos; reformula o sistema tributário; reduz a autonomia individual, permitindo a suspensão de direitos e garantias constitucionais; estabelece a eleição indireta para o Executivo, por meio de um colégio eleitoral formado por representantes federais e estaduais. ―O que na verdade se criou foi uma oligarquia juridicamente amparada. Oligarquia tendente a manter o predomínio das classes armadas no poder‖. 112 110 Cf. JÂNIO QUADROS e de Afonso Arinos Melo Franco. História do Povo Brasileiro, 1ª ed. São Paulo: J. Quadros Editores Culturais. 1967, p. 285. 111 Cf. JOSÉ AFONSO da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995, p. 88. 112 Cf. JÂNIO QUADROS e de Afonso Arinos Melo Franco. História do Povo Brasileiro, 1ª ed. São Paulo: J. Quadros Editores Culturais. 1967, p. 306. 82 No Titulo II, estabelece uma Declaração de Direitos Com quatro capítulos: Da Nacionalidade; Dos Direitos Políticos; Dos Partidos Políticos e Dos Direitos e Garantias Individuais. Nos Títulos III e IV trata da ―Da Ordem Econômica e Social‖ e ―Da Família, da Educação e da Cultura‖. Empossado em 15 de março de 1967, na presidência da república, o Marechal Arthur da Costa e Silva suporta varias crises e em 13 de dezembro de 1968 edita o AI. 5, rompendo totalmente com a Ordem Constitucional e mergulhando o país num dos períodos mais lúgubre e antijurídico da nossa história constitucional , suspendendo o ―habeas-corpus‖ nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular. Ato Institucional Nº5 ou AI-5. Redigido pelo ministro da justiça Luís Antônio da Gama e Silva levou o Movimento de 1964 a perder o que ainda restava de legetimidade. (LER O ANEXO – 10). A Emenda Constitucional n° 1 à Constituição do Brasil de 1976. Impedido o Marechal Costa e Silva de governar por uma moléstia insidiosa, o Poder Executivo é atribuído provisoriamente (30/8/69 – 31/10/69) a uma junta militar, formada pelos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, respectivamente, o Almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald, o General Aurélio Lyra Tavares e o Marechal do Ar. Marcio de Souza e Mello, que outorgaram em 17 de outubro de 1969 a EC nº 1 com o nome de Constituição da República Federativa do Brasil. MARECHAL ARTHUR DA COSTA E SILVA Teórica e tecnicamente a EC nº 1, de 1969, não é uma emenda, mas sim uma nova Constituição que tinha por finalidade, o predomínio das oligarquias dominantes. No Titulo II, tal qual a Constituição de 1967, estabelece uma Declaração de Direitos, com quatro capítulos: Da Nacionalidade; Dos Direitos Políticos; Dos Partidos Políticos e Dos Direitos e Garantias Individuais. Nos Títulos III e IV trata da ―Da Ordem Econômica e Social‖ e ―Da Família, da Educação e da Cultura‖. JUNTA MILITAR GARRAZTAZU MÉDICE ERNESTO GEISEL 83 Constituição do Brasil de 1988. O Regime Militar de 1964 durou até 15 de janeiro de 1985 e ainda teve os governos dos Generais Emílio Garraztazu Médice (1969 – 1974), que primou pela violação dos Direito Fundamentais, General Ernesto Geisel (1974 – 1979) que orientado pelo General Golberi do Couto e Silva, deu início a um processo de abertura política ―lento e gradual‖. O que foi seguido por seu sucessor o General João Batista de Figueiredo (1979 – 1985) que após 20 anos de regime autocrático, entregou o governo para José Sarney (1985 – 1990) que inicia a Nova República. GENERALFIGUEIREDO A luta pela redemocratização e pela conquista do Estado Democrático de Direito começara com o golpe de 1964 e notadamente após o famigerado AI 5. A partir de 1984 intensificara- se o movimento para a eleição direta do Presidente da República, contudo o governo frustrou essa grande esperança o que não desanimou as forças democráticas que apresentaram a candidatura do Governador de Minas Tancredo Neves para concorrer pela via indireta no Colégio Eleitoral com o propósito de derrotar o candidato governista. JOSÉ SARNEY Eleito Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985, falece antes da posse e assume o seu Vice José Sarney que nomeia uma Comissão de estudos Constitucionais para preparar um anteprojeto que seria enviado, como mera colaboração, à Assembléia. Convocada a Assembléia Nacional Constituinte, ou melhor, o Congresso Nacional Constituinte a Constituição foi democraticamente promulgada em 5 de outubro de 1988 com o nome de Constituição da República Federativa do Brasil, até dezembro de 2001 ela recebeu trinta e cinco Emendas, sempre procurando atualizá-la as necessidades históricas, sem com tudo desvirtuá-la da sua feição democrática, pois o Poder Constituinte Originário estabeleceu as cláusulas pétreas (forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os Direitos e garantias individuais), proibindo o Poder Constituinte Derivado de submetê-las a qualquer tipo de modificação. A Carta Constitucional de 1988 ou ―Constituição Cidadã‖ como foi chamada por Ulysses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional Constituinte que a produziu é um Pacto Constitucional altamente democrático é de estrutura diferente das anteriores, tendo um Preâmbulo seguido de nove Títulos e um Ato das Disposições Transitórias. A Constituição de 1988 adota técnica mais moderna, inicia-se com um Título sobre os Princípios Fundamentais, e logo no Título II introduz a Declaração dos “Direitos e Garantias Fundamentais”, dividida em cinco capítulos: ULYSSES GUIMARÃES I - “Os Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”; II - “Os Direitos Sociais”; III - “Os Direitos da Nacionalidade”; e IV - “Os Direitos Políticos”. No Título VII ela trata da “Ordem Econômica e Financeira” e no Título VIII, “Da Ordem Social”. 84 2.2 – Codificação das Leis Ordinárias. A Primeira Constituição utilizando-se do instituto da recepção mandou aplicar no Brasil, como nosso Direito Positivo, as Ordenações Filipinas, e determinou em seu art. 179, nº XVIII, que se organizasse, quanto antes, um Código Civil e um Código Criminal, fundado na justiça e na eqüidade. 2.2.1- Código Criminal do Império O Código Criminal do Império, de Bernardo Pereira de Vasconcelos, teve sua elaboração iniciada 1827 sendo concluída e transformada em lei, em 16 de dezembro de 1830, passando o novo estatuto a vigorar nesse mesmo ano, revogando as Ordenações Filipinas, no tocante em matéria penal. O Código Criminal de 1830, no dizer de Nélson Hungria, foi “o primeiro Código autônomo da América Latina. É inegável que, dentro de sua época, foi obra notável de legislação, devendo notar- se que, como assinala o ilustre penalista Ladislau Thot, exerceu influência sobre quase toda a legislação penal latino-americana, através dos Códigos espanhóis de 1848, 1850 e 1870, que em muitos pontos se inspiraram no padrão brasileiro e, por sua vez, serviram de modelo, em torna-viagem, aos códigos dos países de língua espanhola da América‖. 113 BERNARDO DE VASCONCELOS No tocante ás fontes de formação, há varias controvérsias do aludido estatuto, entretanto preferimos a posição de Basileu Garcia que rebate afirmativamente, que a fonte imediata de tal código foi o de Louisiana (EEUU) de autoria de Livingston, segundo se deduz de uma passagem de Silva Lisboa, contida em ―discurso proferido na sessão do Senado, de 23 de novembro de 1830‖. 114 È importante registrar que o Código Criminal do Império se forjou nas melhores idéias difundidas à época da sua elaboração. Das quais, devemos destacar o princípio basilar de que ―não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal‖ (nullum crimen sine lege, nulla poena sine praevia lege) e manteve o princípio da proporcionalidade entre o crime e a pena, tornando-a exclusiva do condenado e, portanto, só a ele endereçada. 2.2.2 - Código de Processo Criminal do Império. Com a vigência do Código Criminal do Império, tornou-se necessário a criação das normas processuais, necessárias à aplicação da matéria penal material. Em 29 de novembro de 1832 revogou-se a matéria processual das Ordenações Filipinas e promulgou-se o Código de Processo Criminal de Primeira Instância de autoria de Manuel Alves Branco, reformado pela Lei nº 216 de 3 de dezembro de 1841, com o nome de Código de Processo Criminal do Império. O legislador do Código de Processo Criminal, inspirado nos processos inglês e francês, criou um sistema misto, combinando o sistema acusatório dos ingleses com o sistema inquisitório dos franceses. 113 Cf. NÉLSON HUNGRIA. Comentários ao Código Penal, 4ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 1958, pp. 39-40. 114 Cf. BASILEU GARCIA. Apud. Walter Vieira do Nascimento. Lições de História do Direito, 13ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 217. 85 O Código Criminal, humanitário e liberal, foi uma reação contra as monstruosas leis portuguesas, acolheu o princípio do jurisconsulto romano Paulo: ―Incumbit probatio, qui dicit non qui negat‖ (Incumbe provar àquele que afirma e não quem nega) e instituiu entre nós o ―Habeas Corpus‖. 2.2.3 - Código Comercial do Império do Brasil. O Código Comercial do Império do Brasil, foi promulgado pela Lei n º 556 em 25 de junho de 1850, cujo projeto foi de José Clemente Pereira, para atender as necessidades resultantes da criação da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. O Código Comercial e os Regulamentos de nº 737 e 738 encerram o ciclo das grandes codificações do Império. O Regulamento nº 737 disciplinou o processo, a execução e os recursos e o Regulamento nº 738 dispôs sobre os Tribunais de Comércio e o processo das falências. O Código Comercial do Império foi obra pioneira do Continente Americano, neste gênero e teve como fontes os Códigos da França, Espanha e Portugal. Carvalho de Mendonça a ele se refere como um “trabalho original‖, que “não era cópia servil de nenhum deles” e, ao contrário, “apresentava cunho singular, respeitando a tradição jurídica e mostrando adiantamento notável sobre os seus modelos”.115 O Código de 1850, embora já bastante mutilado, principalmente depois da revogação de sua Parte Primeira pelo Código Civil de 2002, ainda está em vigor. A longevidade desse Estatuto prova o seu adiantamento notável. Pela técnica jurídica utilizada pelo nosso legislado ele serviu de modelo a vários códigos sul-americanos, notadamente o da Argentina de 1862 e o do Uruguai de 1865. Originariamente ele se compôs de três partes e de um título único, a saber: Parte I – Do comércio em geral; Parte II – D o comércio marítimo; Parte III – Das quedas; Título único – Da Administração da justiça nos negócios e causas comerciais. 2.3 - Código Civil Brasileiro. As tentativas foram muitas, mas a demora foi mais longa do que o esperado. De fato, em que pese termos editado o Código Criminal em 1830 e o Código Comercial em 1850, a nossa codificação civil virou uma verdadeira ―via crucis‖ e um complicado cipoal, levando o Barão de Penedo, em 1845, afirmar no Instituto da Ordem dos Advogados que a ―situação em que se encontrava o nosso país, ainda regido pelas Ordenações e leis posteriores estabelecidas em Portugal, por leis denominadas extravagantes promulgadas no Brasil, após a Independência, formando um emaranhado indigesto e obscuro‖. 116 2.3.1 - Elaboração do Código Civil Brasileiro de 1916. Mas o primeiro passo, partindo da autoridade pública, só se efetivou em 1855 quando o insigne jurista baiano Augusto Teixeira de Freitas, preparou a Consolidação das Leis Civis, monumental trabalho de compilação e sistematização que depois de aprovado pelo Governo Imperial, passou a resolver boa parte das dificuldades do nosso Direito Civil. Em 115 Cf. CARVALHO MENDONÇA. Apud. Walter Vieira do Nascimento. Lições de História do Direito, 13ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 219. 116 Cf. MIGUEL MARIA de Serpa Lopes, Curso de Direito Civil, Rio de Janeiro: Freitas Basto, 2000, p. 9. 86 1858 o Ministro da Justiça, Nabuco de Araújo, pelo Decreto Nº 2.318/58 resolveu confiar a Augusto Teixeira de Freitas 117 o encargo de preparar um projeto de Código Civil. Este, quase um lustro depois, ofereceu seu projeto, que ele mesmo denominou de Esboço, contendo 1.702 artigos, que mesmo não adotado no Brasil, constituiu um colosso legislativo e fonte de inspiração de vários Códigos das Américas, principalmente o Código Civil Argentino, como confessou com honestidade o jurista argentino Vélez Sarsfield Ainda no Império um jurisconsulto mineiro Joaquim Felício dos Santos, posteriormente senador no Primeiro Congresso da República, apresentou em 1881, seus ―Apontamentos para o projeto do Código Civil Brasileiro‖, que foi submetido a uma comissão, que acabou opinando contrariamente. Augusto Teixeira de Freitas No início da República, pelo decreto de 1890, o Ministro da Justiça Campos Salles, incumbia o jurista Coelho Rodrigues, antigo professor da Faculdade de Recife, de preparar um projeto, que como os demais, não foram convertidos em lei. Campos Salles, já Presidente da República designou seu antigo colega de Congregação da Faculdade de Direito de Recife, Clóvis Beviláqua, professor de Direito Comparado, para elaborar um novo projeto aproveitando tanto quanto possível o de Coelho Rodrigues. No mesmo ano de 1899 o eminente jurisconsulto apresentou o seu projeto, o qual, depois de 15 anos de debates, se converteu na Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916. - O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO -, promulgado a 1º de janeiro de 1916, entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917. De fato, merecem registro as emendas de Ruy Barbosa e o debate intelectual que ele travou com Carneiro Ribeiro. A respeito ensina Sílvio Venosa: CLÓVIS BEVILÁQUA, ―Numerosas foram as reuniões para críticas e emendas até ser encaminhado à Câmara dos Deputados, onde a chamada ‗Comissão dos 21‘ redige oito volumes de atas. Em 1902, a câmara aprova o Projeto e remete ao Senado. Ruy Barbosa é o Relator da comissão e redige em três 117 AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS, o Jurisconsulto das Américas, o Maior Codificador Brasileiro, filho do Barão de Itaparica, foi o mais importante jurista brasileiro do séc. XIX. Nasceu na cidade de Cachoeiro província da Bahia a 19 de agosto de 1816 e faleceu no Rio de Janeiro a 12 de dezembro de 1883. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Olinda. Aos 29 anos já era um jurista de invejado renome. A Consolidação e o Esboço, pelo seu método e doutrina, foram suficientes para apontá-los ao mundo como uma nona vertente do Direito, contrapondo-se ao Código de Napoleão, influenciou os Códigos Sul-Americanos, Europeus e Asiáticos. Teixeira de Freitas passou a brilhar entre os mais notáveis juristas da época, colocando-se ao lado de Andrés Bello e Josef Story, como um dos três maiores juristas das Américas. 87 dias o seu parecer, que se prende mais ao ponto de vista da forma que de fundo. Seguiu-se energética discussão sobre a matéria, ficando famosa a Réplica de Ruy, na porfia com Carneiro Ribeiro, que redige a erudita Tréplica. Carneiro Ribeiro tinha sido antigo professor de Ruy Barbosa no Liceu Baiano‖. 118 A respeito do Código Civil de 1916, ensina o eminente jurista Silvio Rodrigues: ―Estupendo monumento da cultura jurídica. o Código Civil Brasileiro representava, ao tempo de sua feitura, aquilo que de mais completo se conhecia no campo do direito. Seu defeito, se tem algum, é o de ter sido elaborado ao fim do século XIX e representar a cristalização da cultura de uma época, porventura desadaptada à evolução que se seguiu‖ 119 . 2.3.2 - Elaboração do Código Civil de 2002. O atual Código Civil Brasileiro a despeito de suas manifestas qualidades e aceitáveis inovações já nasceu defasado da nossa realidade social por conta de mais de vinte anos de tramitação no Congresso Nacional. Acreditamos que a melhor solução teria sido a da reforma e atualização do monumento jurídico de Clóvis Beviláqua, cuja espinha dorsal, tal qual o Código vigente, é a mesma do Esboço de Teixeira de Freitas. A primeira tentativa de reforma do Código de 1916 deu-se no início da década de quarenta quando surgiu o Anteprojeto de Código de Obrigações, de autoria dos insignes juristas Orozimbo Nonato, Philadelpho Azevedo e Hahnemann Guimarães, que se prendeu apenas à Parte Geral das Obrigações, resultando em uma frustrada tentativa de reforma Entre a primeira e segunda tentativa, (nas décadas de sessenta e setenta), de reformar o Código de 1916, assistimos o surgimento de numerosas leis extravagantes que alteraram de modo fundamental o conteúdo do Código Civil vigente, dais quais podemos citar: Lei nº 883 / 49 (reconhecimento de filhos adulterinos); Lei nº 2.437 / 55 (prazo de prescrição); Lei nº 3.113 / 57 (alterou o instituto da adoção); Lei nº 4.121 / 62 (situação jurídica da mulher casada) e a Lei nº 6.515 / 77 (institui o divórcio). A segunda tentativa de reforma, que também não logrou êxito, ocorreu por meio de anteprojetos dos renomados juristas Caio Mario da Silva Pereira, responsável pelo Direito de Obrigações e Orlando Gomes, encarregado do restante da matéria civil. Os trabalhos desses renomados professores resultaram nos Projetos de Código Civil e do Código de Obrigações. A respeito desse período ensina Silvio Rodrigue. ―Já então não eram poucos os opositores a uma reforma integral do Código Civil, e uma opinião muito difundida, da qual este expositor participava, era a de que as excelentes inovações, trazidas pelos projetos, poderiam ser introduzidas em nossa legislação, e mesmo nos quadros do Código Civil, sem sacrifício de sua estrutura e sem 118 Cf. SÍLVIO SALVO Venosa. Direito Civil: Parte Geral, vol 1. São Paulo, Atlas, 2001, p. 131 e 132. 119 Cf. SILVIO RODRIGUES, Direito Civil-Parte Geral,São Paulo: Saraiva, 1999, p. 12. 88 se proceder à derrubada daquele imponente edifício erguido pelo talento pátrio‖. 120 Em 1967, o Ministro da Justiça, Luiz Antônio da Gama e Silva, cria uma nova Comissão, sob a supervisão do sábio Prof. Miguel Reale, para rever o Código Civil, que, entretanto, prefere elaborar um novo Código em vez de emendar o antigo. Daí surgindo em 1972 o Anteprojeto de Código Civil, da lavra dos ilustres Profs. José Carlos Moreira Alves, Agostinho de Arruda Alvim, Sylvio Marcondes, Ebert Chamoum, Clóvis do Couto e Silva e Torquato Castro. O Anteprojeto apresentado procurou manter a estrutura do Código de 1916, reformulando os modelos normativos à luz dos novos valores éticos e sociais. Uma segunda edição, revisada, foi apresentada em 1973, que após nova revisão e numerosíssimas modificações transformou-se no Projeto do Código Civil, que apresentado ao Poder Executivo, foi enviado ao Congresso Nacional pela Mensagem nº 160 / 75, onde foi transformado no Projeto de Lei nº 634 / 75. Depois de muitos anos de debates, esquecimentos e atualizações nas Casas Legislativas do Congresso Nacional, período no qual podemos destacar as lúcidas relatorias do Senador Josaphat Marinho e do Deputado Ricardo Fiúza, o PLC nº 118 / 84 foi aprovado e em solenidade realizada no Palácio do Planalto, sancionado, sem vetos, pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso e convertido na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro 2002 – O Novo Código Civil Brasileiro. 2.3.3 - Sinopses Estruturais e Comparativas dos Códigos de 1916 e 2002. Livro I – Das Pessoas Parte Geral Livro II – Dos Bens Livro III – Dos Fatos Jurídicos Código Civil 1916 Livro I – Do Direito de Família Livro II – Do Direito das Coisas Parte Especial Livro III – Do Direito das Obrigações Livro IV – Do Direito das Sucessões Livro I – Das Pessoas Parte Geral Livro II – Dos Bens Livro III – Dos Fatos Jurídicos Código Civil 2002 Livro I – Do Direito das Obrigações Livro II – Do direito de Empresa Parte Especial Livro III - Do Direito das Coisas Livro IV – Do Direito de Família Livro V - Do Direito das Sucessões Livro Complementar – Disposições Finais e Transitórias 120 Cf. SILVIO RODRIGUES, Direito Civil-Parte Geral, São Paulo: Saraiva, 1999, p. 13. 89 Visualizando as sinopses comparativas dos Códigos Civis, notamos que a estrutura básica, Parte Geral e Parte Especial, foi mantida atendendo os requisitos de uma boa codificação preconizados por Savigny no método científico-racional. A Parte Geral, apesar das objeções de alguns grandes juristas 121 , é de grande utilidade por conter normas com conceitos, categorias e princípios aplicáveis à Parte Especial e com reflexo em todo o ordenamento jurídico. Tomando como exemplo a relação jurídica notamos que a Parte Especial contém, apenas, normas relativas ao vínculo entre sujeitos e objeto é a Parte Geral que estabelece as normas, os conceitos e os princípios relacionados ao sujeito, ao objeto e a forma de criar, modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação pela Parte Especial. Na Parte Geral do Novo Código contemplam-se as Pessoas que são os sujeitos de direito (pessoa natural e pessoa jurídica dos arts. 1° a 69 e as questões do domicílio dos arts. 70 a 78); os Bens Jurídicos formando os objetos do direito (bens imóveis dos arts. 79 a 81, bens móveis dos arts. 82 a 84, bens fungíveis e consumíveis arts. 85 e 86, bens divisíveis arts. 87 e 88, bens singulares e coletivos dos arts. 89 a 91, bens reciprocamente considerados dos arts. 92 a 97 e bens públicos dos arts. 98 a 103) e os Fatos Jurídicos que são as causas produtoras dos Direitos Subjetivos (negócio jurídico dos arts.104 a 184, ato jurídicos lícitos art 185, atos ilícitos dos arts. 186 a 188, prescrição e decadência dos arts.189 a 211 e prova dos arts. 212 a 232). A Parte Especial com sua função operacional preocupa-se com a aplicabilidade do Direito das Obrigações (arts. 233 a 965); Direito de Empresa (arts.966 a 1.195); Direito das Coisas (arts.1.196 a 1.510); Direito de Família (arts.1.511 a 1.783); Direito das Sucessões (arts. 1.784 a 2.027) e o Livro Complementar com as disposições transitórias (arts. 2.028 a 2.046). 3 - Fundação dos Cursos Jurídicos. ( LER O ANEXO – 11). O Imperador D. Pedro I criou, por ―Lei de 11 de agosto de 1827‖. redigido por José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de S. Leopoldo, os Cursos Jurídicos e Sociais, sendo um em Olinda e outro em São Paulo. O curso de Olinda instalou-se, em 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento e em 1854 transferiu-se para Recife, dando origem a famosa Escola do Recife, modelada segundo a cultura germânica por Tobias Barreto. Destacam-se na cultura jurídica de nosso país os seguintes luminares oriundos da centenária Escola do Recife: Tobias Barreto, Sylvio Romero, Augusto Teixeira de Freitas (o grande codificador brasileiro), Clóvis Beviláqua ( grande civilista e codificador), Pontes de Miranda (constitucionalista, civilista e processualista de grande renome), João Barbalho (constitucionalista e Ministro do STF) A Escola de São Paulo começou suas atividades em 1 de março de 1828, no Convento de São Francisco e em 1936, transfere-se para o largo de São Francisco. Essa grande Escola é conhecida como Academia de São Paulo ou Arcadas e foi palco de grandes movimentos políticos dos quais destacamos: o da Abolição da Escravatura e a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Nos seus primórdios destacaram-se entre seus professores o Conselheiro Joaquim Ignácio Ramalho (desempenhou importante papel na formação do pensamento processualista brasileiro) e José Bonifácio, o moço (destacado como pensador e ativista político). Das Arcadas saíram: estadistas como, Joaquim Nabuco, Ferreira Viana, Rodrigues Alves, Campo Salles e Prudente de Morais; jurisconsultos como, Ruy Barbosa, Pimenta Bueno (Direito Público Brasileiro), Lafayette Rodrigues Pereira (Direito das Coisas), Pedro Lessa (Ministro do STM, conhecido como Marshall brasileiro) e processualistas como Eulálio de Breno 121 Entre os nossos grandes juristas contrários a existência da Parte Geral podemos citar: Hahnemann Guimarães, Orlando Gomes e Washington de Barros Monteiro. 90 Vidigal, Alfredo Buzaid, Moacir Amaral dos Santos, Aguiar Dias, José Frederico Marques, HélioTornaghi, Martinho Garcez Neto, etc. Pertence também a Escola do Largo de São Francisco, o grupo realeano, criado na década de 50 em torno de Miguel Reale, para estudo e defesa da Teoria Tridimencional do Direito. 4 - Administração da Justiça 4.1 – Evolução Histórica do Poder Judiciário. O Poder Judiciário, enquanto função dos três Poderes foi consagrado após várias transformações sofridas no curso dos diversos cenários políticos da história da humanidade como um Poder independente e autônomo. Alguns doutrinadores passam a idéia de ser o Judiciário o Poder mais antigo, o que nos parece contestável, pois embora a função de julgar seja tão primitiva quanto a própria sociedade, nos tempos remotos, era desempenhada pela função executiva, o que nos leva crer que o Poder Executivo é o mais antigo. No Estado antigo, em que imperava o regime autocrático, com a concentração de poder nas mãos de uma só pessoa ou grupo de pessoas, o direito de julgar era exercido pelo chefe do Estado ou seu agente. Em Atenas havia tribunais de justiça com atribuições específicas, embora as assembléias populares, órgãos de legislação e de administração, também eram incumbidas de julgar certos crimes. Em Roma, a magistratura era desempenhada pelos pretores, cuja função era aplicar a justiça; em certas ocasiões tais funções eram atribuídas ao Senado e ao próprio Cônsul. Na Idade Média o panorama não sofre grandes alterações, até o advento do Estado de Direito, os condes e barões aplicavam a justiça em nome do soberano. Em algumas ocasiões o próprio rei a aplicava. O Poder Judiciário eclode como justiça independente na Inglaterra no século XVII, e na França com a Revolução Francesa; deixando de ser um favor real para ser um órgão da soberania. 4.2 – O Poder Judiciário - da Colônia as Constituições Brasileiras Na história constitucional brasileira, verifica-se a existência de um Estado unitário, sob a égide da Constituição política do Império, outorgada por D. Pedro I em 1824, reconhecendo em seu artigo 2º a divisão e a harmonia dos poderes políticos, explicita em seu artigo 10: ―Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Brasil são quatro: o Poder Legislativa, o Poder Moderador, o Poder Executivo e o Poder Judicial‖. Estabelecia, concernente ao Judiciário uma tríplice divisão, que se manteve com a reforma judiciária de 1832, introduzindo apenas algumas modificações, que apresentavam as seguintes características: 1º) considerava-se um duplo grau de jurisdição, sendo a primeira instância constituída de juízes singulares e a segunda por juízes colegiados. 2) A tricotomia completava-se com um órgão jurisdicional superior ou também chamado tribunal de cúpula, esta organização dava a idéia da existência de uma terceira instância, mas não era, tendo em vista a expressa vedação na própria Constituição vigente a época. 4.2.1- Juízes Singulares – da Colônia ao Império No período Colonial, os juízes singulares da primeira instância eram divididos em categorias: a) Juízes de Vintena: eram nomeados pelas Câmaras Municipais, competia-lhes julgar causas com alçada até 300 réis, em aldeias com menos de 50 moradores, até 600 réis em aldeias de menos de 100 moradores, até 900 réis em aldeias com menos de 150 moradores e até 1.200 réis em aldeias de maior número de moradores; não tinham competência para decidir causas imobiliárias; julgavam infrações cometidas contra as posturas municipais e prendiam criminosos. As sentenças por eles proferidas eram irrecorríveis. b) Almotacés: eram escolhidas por sorteio, suas competências eram de: apreciar litígio acerca de servidões e nunciação de obra nova; apresentar ao juiz competente os casos de conchavo para retirada de multas. Suas sentenças eram passíveis de recurso. 91 c) Juízes Ordinários: estes juízes eram eleitos, competia-lhes: processar e julgar com os vereadores as injúrias verbais, os furtos praticados por escravos até a quantia de 1.200 réis, conhecer das decisões dos almotacés. d) Juízes de Fora: tinham que ser bacharéis, para que pudessem ser nomeados por carta régia; suas atribuições eram as mesmas dos juízes ordinários, dos quais eram substitutos eventuais. e) Juízes de Órfãos: podiam ser eleitos ou nomeados, tinham as mesmas funções dos juízes já citados, como também era de sua alçada processar e julgar inventários, cujas partes fossem menores; nomear tutores e curadores e cuidar da subsistência dos menores órfãos. f) Juízes Alcaides: estavam encarregados da guarda e da polícia das vilas e cidades. g) Juízes de Sesmaria: nomeado pela mesa do Desembargo do Paço ou por governadores, cabendo-lhes decidir acerca de medição e demarcação de terras, nas hipóteses em que as partes litigantes não optassem pela justiça ordinária. h) Ouvidores da Comarca: sua nomeação era feita por carta régia, dentre suas várias atribuições podemos mencionar, que era esse magistrado responsável para decretar a prisão de criminosos, inspecionar as prisões, fazer observar os forais de cada local, etc. 4.2.2- Segunda Instância – da Colônia ao Império (Juízes Colegiados e Tribunal de Cúpula) Neste período, os juízes colegiados compunham a instância superior que se dividia em: a) Desembargo do Paço: competente para apreciar matéria sobre liberdade, adoção, legitimação, emancipação, reintegração de posse e censura as obras literárias. b) Mesa da Consciência e Ordem: tratava de provimento de benefício, administração de comendas e dos negócios relativos a interditos, ausentes e defuntos. c) Conselho da Fazenda: cuidava da fiscalização das arrecadações tributária e os bens da Coroa. d) Tribunal da Relação: este Tribunal merece destaque, pois deu origem aos Tribunais de Justiça dos Estados, seus membros eram denominados de desembargadores e suas decisões, acórdãos. Em 1808, por um ato de D. João VI, foi criado um Tribunal de Cúpula, a Casa de Suplicação do Brasil, com a mesma alçada da Casa de Suplicação de Lisboa considerada como um Superior Tribunal de Justiça, dividia-se em: a) Duas Mesas: uma para julgar matéria cível e outra para matéria criminal. b) Grande Mesa: reunia-se uma vez por semana para conhecer das decisões das Mesas. A primeira e segunda instância sofreram alterações quanto às suas estruturas, com a reforma constitucional de 1832. Consoante o primeiro grau de jurisdição, os Juízes de primeira instância foram modificados da seguinte forma: Juízes de Direito de Comarca, Juízes de Órfãos, Juízes Municipais, Juízes de Paz e Juntas de Paz. Os Tribunais de segunda instância eram os seguintes: Juntas de Fazenda e Tribunais de Justiça. O Tribunal de Cúpula passou a se denominar Supremo Tribunal de Justiça, mais tarde em 1890 passou a Supremo Tribunal Federal, com as mesmas atribuições. Com a outorga da Constituição Imperial de 1824, o Judiciário ficou formalmente independente, porém, em relação aos seus membros, a independência era relativa, pois seus cargos eram perpétuos, mas não gozavam da prerrogativa da inamovibilidade e ainda podiam ser suspensos pelo Imperador. 92 4.2.3- Período da República No final do século XIX, início da República, fato importante se deu em relação ao Judiciário, o surgimento de uma justiça federal distinta da estadual, fato este que levantou discussão, Rui Barbosa foi um dos que resistiu à idéia, sendo combatido por outros que sustentavam ser necessária a dualidade, tendo em vista o regime federativo adotado. O coroamento do sistema se deu com o Supremo Tribunal Federal, com sede na capital da República. Os cargos de juízes e tribunas federais foram criados somente nas capitais dos Estados. Cada Estado Membro da Federação organizou sua justiça e seu Tribunal de Apelação. Os juízes federais era nomeados, sem concurso, pelo Presidente da República ou Governadores dos Estados Membros e formavam três categorias: Juízes seccionais, um por Estados e dois para o DF; Juízes substitutos, um por secção; Juízes suplentes, três por secção. A Constituição de 1934 manteve a dualidade de justiça e instituiu a unidade do processo. A Carta de 1937 corroborou a idéia de uma unidade do processo, e direcionou-se para a unificação da justiça, o que levou ao fim a Justiça Federal de primeira instância. Com o advento da Magna Carta de 1946, a Justiça Federal, como na Constituição anterior, foi eliminada, criando-se o Tribunal Federal de Recursos e como justiças especializadas federais, instituiu-se a Justiça Militar, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Mais tarde com a Constituição de 1967, resgatou-se a primeira instância da Justiça Federal, suprimida pela Carta anterior, conservando as justiças especializadas, apenas ampliando a esfera de abrangência da Justiça Militar. A nossa atual Constituição representa um marco no que concerne à aquisição de direitos e deveres coletivos e difusos, bem como os direitos individuais elevados à categoria de direitos e garantias fundamentais, criando instrumentos processuais para torná-los eficazes. E requalificou o Judiciário, dotando-lhe de instrumentos próprios para avaliar juridicamente complexidades políticas e sociais. A este respeito ensina Rosalina Corrêa de Araújo: ―Com a promulgação da Constituição de 1988, podemos afirmar que o Brasil se desvencilhou das forças dominantes do período constitucional anterior e o Poder Judiciário, articuladamente com o Poder legislativo, recuperou a sua órbita de competência, deixando ao Poder Executivo os poderes administrativos e de implementação do Estado. Acompanhando as modernas tendências dos direitos, a nova Constituição, além de redimensionar as relações jurídicas, ampliando o seu conceito para alcançar as demandas oriundas da sociedade atual, 93 como aquelas referentes aos interesses coletivos e difusos, também representou uma verdadeira revolução na definição dos instrumentos processuais e políticos utilizáveis na proteção desses direitos‖. 122 4.2.4- O Nosso Atual Poder Judiciário É impossível entendermos um verdadeiro Estado Democrático de Direito sem a existência de um Poder Judiciário autônomo e independente para que exerça sua função de guardião das leis. Daí a Constituição prevê, (entre outras), como garantias da magistratura: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos. A organização do Poder Judiciário é prevista no art. 92 da Constituição Federal, que estabelece os seguintes órgãos: ● Supremo Tribunal Federal;● Superior Tribunal de Justiça; ● Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;● Tribunais e Juízes do Trabalho; ● Tribunais e Juízes Eleitorais; ● Tribunais e Juízes Militares; ● Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. 4.3 – O Ministério Público. O Ministério Público (MP) tem suas raízes no Egito, em um funcionário real chamado magiai, que tinha por função castigar os rebeldes, reprimir os violentos e proteger os cidadãos pacíficos. Modernamente coube à França a criação do MP, que no Brasil passou a ter a sua existência real com o Código Criminal do Império, de 1832. Entretanto, não poucas atribuições, que hoje cabem ao Ministério Público no processo civil, que no regime das Ordenações Filipinas eram confiadas a juízes Municipais e juízes de Direito. Já no regime da Consolidação de Ribas, de 1876, em segunda instância, os interesses dos incapazes eram defendidos, na conformidade das Ordenações Filipinas, por procuradores da lide. C f. ROSALINA Corrêa de Araújo, O Estado e o Poder Judiciário no Brasil, Rio de Janeiro: Editora Lúmen Jures, 2000, p.503 Supremo Tribunal Federal Superior Tribunal de Justiça Tribunal Superior do Trabalho Superior Tribunal Militar Tribunal Superior Eleitoral Tribunal de Justiça Estadual Tribunal Regional Federal Juízes Estaduais Juízes Federais Tribunal Regional do Trabalho Varas Conciliação e Julgamento Tribunal de Justiça Militar Juízes Militares Tribunal Regional Eleitoral Juízes Eleitorais Poder Judiciário 94 4.3.1 – O Ministério Público no Brasil Colônia. Mesmo antes de 1832, ainda que de forma superficial, já se fazia sentir a presença do Ministério Público no sistema do processo penal brasileiro, O próprio Código Filipino, no seu Livro I, Título XV, como já referido mais atrás, dispunha sobre as funções de promotor público na Casa da Suplicação. Com a criação do Tribunal da Relação da Bahia em 1609, o alvará que o instituiu fazia menção ao Procurador da Coroa, Fazenda e Fisco. Tratava-se evidentemente de autoridade que defendia os interesses do soberano português, mas, como ocorrera com lês gens du roi, na França, nesse procurador, sem dúvida, podemos distinguir outra fonte do Ministério Público no sistema brasileiro. 4.3.2 – O Ministério Público no Brasil Império. No Império, muito embora, como Procuradores da Coroa e Promotores de Justiça, não passavam os membros do Ministério Público de ―meros agentes de confiança do Governo e demissíveis ad nutum, tinham eles as seguintes atribuições: denunciar os crimes públicos e acusar os delinqüentes; solicitar a prisão e punição dos criminosos; promover a execução de sentenças e mandados judiciais e dar parte às autoridades competentes das negligências, omissões e prevaricações dos empregados na administração da justiça‖. 123 4.3.3 – O Ministério Público na República. Apesar do primoroso projeto elaborado em 1866 por Nabuco de Araújo, dispondo sobre a organização do Ministério Público, o seu desenvolvimento, tanto no processo criminal como no processo civil, teve no Brasil longa e demorada trajetória. Somente com o Decreto nº 1.030, de 14 de novembro de 1891, é que esse órgão de justiça, ainda assim nos limites da área federal, tomou os contornos de uma instituição. O verdadeiro marco estrutural dessa importante instituição foi a Constituição de 1934 que no seu art. 95, sob a epígrafe “Dos órgãos de cooperação nas atividades governamentais”, dispunha o referido diploma legal: “O Ministério Público será organizado na União, no Distrito Federal e nos territórios, por lei federal e, nos Estados, pelas leis locais”. A seguir, a Constituição de 1937 não estabeleceu qualquer norma com vistas ao MP. Todavia na Constituição de 1946, o ―Parquet‖ recebeu tratamento condigno e maiores garantias. Na área federal ele se organizaria ―junto à justiça comum, à militar, à eleitoral e à do trabalho (art. 125), mediante concurso, obedecido o princípio da vitaliciedade e da inamovibilidade (art. 127). Na área estadual, adotar-se-ia o mesmo critério, além do ―princípio de entrância a entrância‖ (art. 128). A atual Constituição dispensa ao MP tratamento especial, não como o quarto poder do Estado, como querem alguns, mas colocando o MP a salvo de ingerências dos outros Poderes, assegurando aos seus membros, na qualidade de agentes políticos, independência no exercício de suas funções, o que é afirmado pelos princípios institucionais da unidade, da indivisibilidade e da independência e assegurando-lhes, ainda, a autonomia administrativa e as prerrogativas da vitaliciedade, da inamovibilidade e da irredutibilidade de vencimentos. Segundo o art. 127 da C. Federal o “Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. As funções institucionais do MP estão relacionadas no art. 129, em que ele aparece como: titular da ação penal, da ação civil 123 Cf. WALTER VIEIRA do Nascimento. Lições de História do Direito, 13ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 237. 95 pública e da ação direta da inconstitucionalidade genérica e interventiva; garantidor do respeito aos Poderes Públicos; defensor dos direitos e interesses das populações indígenas, além do controle externo da atividade policial, de requisição de diligências investigatórias e de instauração de inquérito policial. A estrutura orgânica do Ministério Público , segundo o art. 128 abrange: Ministério Público da União, que compreende: o Ministério Público Federal; o Ministério Público do Trabalho; o Ministério Público Militar; o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios; Ministério Público dos Estados (obs: a Constituição admite, também, um MP especial, junto os Tribunais de Contas) O Ministério Público da União é chefiado pelo Procurador-Geral da República. O Ministério Público nos Estados é chefiado pelo Procurador-Geral da Justiça. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PARA APROFUNDAMENTO ARAUJO, Edvaldo Lopes. Os Direitos Fundamentais do Homem e suas Garantias Ativas. Rio Janeiro: Revista Aspirante – ESFO – PMERJ, 1997. ARAUJO, Edvaldo Lopes e Tainá de Araujo de Pinto Súmula de aulas de Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro: UniverCidade, http://www.univercidade.edu/uc/cursos/graduacao/direito/sumulasdeaulas.asp, 2110. ARAUJO, Edvaldo Lopes e Tainá de Araujo de Pinto Súmula de aulas de Teoria Geral de Direito Civil, Rio de Janeiro: UniverCidade, http://www.univercidade.edu/uc/cursos/graduacao/direito/sumulasdeaulas.asp, 2110. ARAÚJO, Rosalina Corrêa de. O Estado e o Poder Judiciário no Brasil, Rio de Janeiro: Editora Lúmen Jures, 2000. AZEVEDO, José Affonso Mendonça de. Elaborando a Constituição Nacional Atas da Subcomissão elaboradora do Anteprojeto 1932/1933, Brasília: Senado Federal, SET, 1993. BALEEIRO, Aliomar e LIMA SOBRINHO, Barbosa. 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Quadros Editores Culturais. 1967. REALE, Miguel – Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Ed. Saraiva, 1998. ----------------------- Filosofia do Direito. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996. RODRIGUES, Silvio. Direito Civil-Parte Geral, São Paulo: Saraiva, 1999 ROUSSEAU, Jean- Jacques, O Contrato Social – Princípios de Direito Político, tradução de Antônio de P. Machado, EDIOURO. SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de Direito Civil, Rio de Janeiro: Freitas Basto, 2000. SIDOU. J. M. Othon. Habeas Corpus, Mandado de Segurança, Ação Popular - As Garantias Ativas dos Direitos Coletivos 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1992. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10ª ed, Rio de Janeiro, Malheiros Editores, 1995. VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil: Parte Geral, vol 1. São Paulo, Atlas, 2001. 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Hammurabi, governador escolhido por Bel, sou eu, eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Durilu; o que deu vida à cidade de Uruk; o que supriu água com abundância a seus habitantes;... o que tornou bela a cidade de Borssipa;... o que enceleirou grãos para a poderosa Urash;... o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anunit‖. CAP. I - SORTILÉGIOS, JUÍZO DE DEUS, FALSO TESTEMUNHO, PREVARICAÇÃO DE JUÍZES *1º - Se alguém acusa um outro, lhe imputa um sortilégio, mas não pode dar a prova disso, aquele que acusou, deverá ser morto. (Denunciação Caluniosa). 2º - Se alguém avança uma imputação de sortilégio contra um outro e não a pode provar e aquele contra o qual a imputação de sortilégio foi feita, vai ao rio, salta no rio, se o rio o traga, aquele que acusou deverá receber em posse à sua casa. Mas, se o rio o demonstra inocente e ele fica ileso, aquele que avançou a imputação deverá ser morto, aquele que saltou no rio deverá receber em posse a casa do seu acusador. *3º - Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de acusação e, não prova o que disse, se o processo importa perda de vida, ele deverá ser morto. (Falso Testemunho). *4º - Se alguém se apresenta como testemunha por grão e dinheiro, deverá suportar a pena cominada no processo. (Suborno ou Corrupção de Testemunha). *5º - Se um juiz dirige um processo e profere uma decisão e redige por escrito a sentença, se mais tarde o seu processo se demonstra errado e aquele juiz, no processo que dirigiu, é convencido de ser causa do erro, ele deverá então pagar doze vezes a pena que era estabelecida naquele processo, e se deverá publicamente expulsá-lo de sua cadeira de juiz. Nem deverá ele voltar a funcionar de novo como juiz em um processo. (Prevaricação de Juízes). II - CRIMES DE FURTO E DE ROUBO, REIVINDICAÇÃO DE MÓVEIS *6º - Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu dele a coisa furtada também deverá ser morto. (Crime Contra o Patrimônio (Furto) e Receptação) 7º - Se alguém, sem testemunhas ou contrato, compra ou recebe em depósito ouro ou prata ou um escravo ou uma escrava, ou um boi ou uma ovelha, ou um asno, ou outra coisa de um filho alheio ou de um escravo, é considerado como um ladrão e morto. 8º - Se alguém rouba um boi ou uma ovelha ou um asno ou um porco ou um barco, se a coisa pertence ao Deus ou a Corte, ele deverá dar trinta vezes tanto; se pertence a um liberto, deverá dar dez vezes tanto; se o ladrão não tem nada para dar, deverá ser morto. *9º - Se alguém, a quem foi perdido um objeto, o acha com um outro, se aquele com o qual o objeto perdido é achado, diz: - "um vendedor mo vendeu diante de testemunhas, eu o paguei" - e o proprietário do objeto perdido diz: "eu trarei testemunhas que conhecem a minha coisa perdida" - o comprador deverá trazer o vendedor que lhe transferiu o objeto com as testemunhas perante às quais o comprou e o proprietário do objeto perdido deverá trazer testemunhas que conhecem o objeto perdido. O juiz deverá examinar os seus depoimentos, as testemunhas perante as quais o preço foi pago e aquelas que conhecem o objeto perdido 99 devem atestar diante de Deus reconhecê-lo. O vendedor é então um ladrão e morrerá; o proprietário do objeto perdido o recobrará, o comprador recebe da casa do vendedor o dinheiro que pagou. (Crime de Apropriação de Coisa Achada) 10º - Se o comprador não apresenta o vendedor e as testemunhas perante as quais ele comprou, mas, o proprietário do objeto perdido apresenta um testemunho que reconhece o objeto, então o comprador é o ladrão e morrerá. O proprietário retoma o objeto perdido. 11º - Se o proprietário do objeto perdido não apresenta um testemunho que o reconheça, ele é um malvado e caluniou; ele morrerá. 12º - Se o vendedor é morto, o comprador deverá receber da casa do vendedor o quíntuplo. 13º - Se as testemunhas do vendedor não estão presentes, o juiz deverá fixar-lhes um termo de seis meses; se, em seis meses, as suas testemunhas não comparecerem, ele é um malvado e suporta a pena desse processo. 14º - Se alguém rouba o filho impúbere de outro, ele é morto. 15º - Se alguém furta pela porta da cidade um escravo ou uma escrava da Corte ou um escravo ou escrava de um liberto, deverá ser morto. 16º - Se alguém acolhe na sua casa, um escravo ou escrava fugidos da Corte ou de um liberto e depois da proclamação pública do mordomo, não o apresenta, o dono da casa deverá ser morto. 17º - Se alguém apreende em campo aberto um escravo ou uma escrava fugidos e os reconduz ao dono, o dono do escravo deverá dar-lhe dois siclos. 18º - Se esse escravo não nomeia seu senhor, deverá ser levado a palácio; feitas todas as indagações, deverá ser reconduzido ao seu senhor. 19º - Se ele retém esse escravo em sua casa e em seguida se descobre o escravo com ele, deverá ser morto. 20º - Se o escravo foge àquele que o apreendeu, este deve jurar em nome de Deus ao dono do escravo e ir livre. *21º - Se alguém faz um buraco em uma casa, deverá diante daquele buraco ser morto e sepultado. (Crime de Violação de Domicílio ou Violação a Vida Privada) *22º - Se alguém comete roubo e é preso, ele é morto. (Crime de Roubo) *23º - Se o salteador não é preso, o roubado deverá diante de Deus reclamar tudo que lhe foi roubado; então a aldeia e o governador, em cuja terra e circunscrição o roubo teve lugar, devem indenizar-lhe os bens roubados por quanto foi perdido. (Responsabilidade Civil Pública) 24º - Se eram pessoas, a aldeia e o governador deverão pagar uma mina aos parentes. 25º - Se na casa de alguém aparecer um incêndio e aquele que vem apagar, lança os olhos sobre a propriedade do dono da casa, e toma a propriedade do dono da casa, ele deverá ser lançado no mesmo fogo. III - DIREITOS E DEVERES DOS OFICIAIS, DOS GREGÁRIOS E DOS VASSALOS EM GERAL, ORGANIZAÇÃO DO BENEFÍCIO 26º - Se um oficial ou um gregário que foi chamado às armas para ir no serviço do rei, não vai e assolda um mercenário e o seu substituto parte, o oficial ou o gregário deverá ser morto, aquele que o tiver substituído deverá tomar posse da sua casa. 27º - Se um oficial ou um gregário foi feito prisioneiro na derrota do rei, e em seguida o seu campo e o seu horto foram dados a um outro e este deles se apossa, se volta a alcançar a sua aldeia, se lhe deverá restituir o campo e o horto e ele deverá retomá-los. 28º - Se um oficial ou um gregário foi feito prisioneiro na derrota do rei, se depois o seu filho pode ser investido disso, se lhe deverá dar o campo e horto e ele deverá assumir o benefício de seu pai. 29º - Se o filho é ainda criança e não pode ser dele investido, um terço do campo e do horto deverá ser dado à progenitora e esta deverá sustentá-lo. 30º - Se um oficial um ou gregário descura e abandona seu campo, o horto e a casa em vez de gozá-los, e um outro toma posse do seu campo, do horto e da casa; se ele volta e pretende seu campo, horto e casa, não lhe deverão ser dados, aquele que deles tomou posse e os gozou, deverá continuar a gozá-los. 31º - Se ele abandona por um ano e volta, o campo, o horto e a casa lhe deverão ser restituídos e ele deverá assumi-los de novo. 32º - Se um negociante resgata um oficial, ou um soldado que foi feito prisioneiro no serviço do rei, e o conduz à sua aldeia, se na sua casa há com que resgatá-lo, ele deverá resgatar-se; se na sua casa não há com que resgatá-lo, ele deverá ser libertado pelo templo de sua aldeia; se no templo de sua aldeia não há com que resgatá-lo, deverá resgatá-lo a Corte. O seu campo, horto e casa não deverão ser dados pelo seu resgate. 33º - Se um oficial superior foge ao serviço e coloca um mercenário em seu lugar no serviço do rei e ele parte, aquele oficial deverá ser morto. 34º - Se um oficial superior furta a propriedade de um oficial inferior, prejudica o oficial, dá o oficial a trabalhar por soldada, entrega o oficial em um processo a um poderoso, furta o presente que o rei deu ao oficial, aquele deverá ser morto. 35º - Se alguém compra ao oficial bois ou ovelhas, que o rei deu a este, perde o seu dinheiro. 100 *36º - O campo, o horto e a casa de um oficial, gregário ou vassalo não podem ser vendidos. (Raiz do Bem de Família) 37º - Se alguém compra o campo, o horto e a casa de um oficial, de um gregário, de um vassalo, a sua tábua do contrato de venda é quebrada e ele perde o seu dinheiro; o campo, o horto e a casa voltam ao dono. *38º - Um oficial, gregário, ou vassalo não podem obrigar por escrito nem dar em pagamento de obrigação à própria mulher ou à filha o campo, o horto e a casa do seu benefício. (Proibição de Compra e Venda entre Cônjuges e Filhos) 39º - O campo, o horto e a casa, que eles compraram e possuem (como sua propriedade) podem ser obrigados por escrito e dadas em pagamento de obrigação à própria mulher e à filha. 40º - Eles podem vender a um negociante ou outro funcionário do Estado, seu campo, horto e casa. O comprador recebe em gozo e campo, o horto e a casa que comprou. 41º - Se alguém cercou de sebes o campo, o horto e a casa de um oficial, de um gregário ou de um vassalo e forneceu as estacas necessárias, se o oficial, o gregário ou o vassalo voltam ao campo, horto ou casa, deverão ter como sua propriedade as estacas que lhes foram dadas. IV - LOCAÇÕES E REGIMEN GERAL DOS FUNDOS RÚSTICOS, MÚTUO, LOCAÇÃO DE CASAS, DAÇÃO EM PAGAMENTO 42º - Se alguém tomou um campo para cultivar e no campo não fez crescer trigo, ele deverá ser convencido que fez trabalhos no campo e deverá fornecer ao proprietário do campo quanto trigo exista no do vizinho. 43º - Se ele não cultiva o campo e o deixa em abandono, deverá dar ao proprietário do campo quanto trigo haja no campo vizinho e deverá cavar e destorroar o campo, que ele deixou ficar inculto e restituí-lo ao proprietário. 44º - Se alguém se obriga a por em cultura, dentro de três anos, um campo que jaz inculto, mas é preguiçoso e não cultiva o campo, deverá no quarto ano cavar, destorroar e cultivar o campo inculto e restituí-lo ao proprietário e por cada dez gan pagar dez gur de trigo. 45º - Se alguém dá seu campo a cultivar mediante uma renda e recebe a renda do seu campo, mas sobrevem uma tempestade e destrói a safra, o dano recai sobre o cultivador. 46º - Se ele não recebe a renda do seu campo, mas o dá pela terça ou quarta parte, o trigo que está no campo deverá ser dividido segundo as partes entre o cultivador e o proprietário. 47º - Se o cultivador, porque no primeiro ano não plantou a sua estância, deu a cultivar o campo, o proprietário não deverá culpá-lo; o seu campo foi cultivado e, pela colheita, ele receberá o trigo segundo o seu contrato. *48º - Se alguém tem um débito a juros, e uma tempestade devasta o seu campo ou destrói a colheita, ou por falta d'água não cresce o trigo no campo, ele não deverá nesse ano dar trigo ao credor, deverá modificar sua tábua de contrato e não pagar juros por esse ano. (Força Maior, eximindo o devedor) 49º - Se alguém toma dinheiro a um negociante e lhe concede um terreno cultivável de trigo ou de sésamo, incumbindo-o de cultivar o campo, colher o trigo ou o sésamo que aí crescerem e tomá-los para si, se em seguida o cultivador semeia no campo trigo ou sésamo, por ocasião da colheita o proprietário do campo deverá receber o trigo ou o sésamo que estão no campo e dar ao negociante trigo pelo dinheiro que do negociante recebeu, pelos juros e moradia do cultivador. 50º - Se ele dá um campo cultivável (de trigo) ou um campo cultivável de sésamo, o proprietário do campo deverá receber o trigo ou o sésamo que estão no campo e restituir ao negociante o dinheiro com os juros. 51º - Se não tem dinheiro para entregar, deverá dar ao negociante trigo ou sésamo pela importância do dinheiro, que recebeu do negociante e os juros conforme a taxa real. 52º - Se o cultivador não semeou no campo trigo ou sésamo, o seu contrato não fica invalidado. 53º - Se alguém é preguiçoso no ter em boa ordem o próprio dique e não o tem em conseqüência se produz uma fenda no mesmo dique e os campos da aldeia são inundados d'água, aquele, em cujo dique se produziu a fenda, deverá ressarcir o trigo que ele fez perder. 54º - Se ele não pode ressarcir o trigo, deverá ser vendido por dinheiro juntamente com os seus bens e os agricultores de quem o trigo foi destruído, dividirão entre si. *55º - Se alguém abre o seu reservatório d'água para irrigar, mas é negligente e a água inunda o campo de seu vizinho, ele deverá restituir o trigo conforme o produzido pelo vizinho. (Inundação Culposa – Ressarcimento) 56º - Se alguém deixa passar a água e a água inunda as culturas do vizinho, ele deverá pagar-lhe por cada dez gan dez gur de trigo. 57º - Se um pastor não pede licença ao proprietário do campo para fazer pastar a erva às ovelhas e sem o consentimento dele faz pastarem as ovelhas no campo, o proprietário deverá ceifar os seus campos e o pastor que sem licença do proprietário fez pastarem as ovelhas no campo, deverá pagar por junto ao proprietário vinte gur de trigo por cada dez gan. 58º - Se depois que as ovelhas tiverem deixado o campo da aldeia e ocupado o recinto geral à porta da cidade, um pastor deixa ainda as ovelhas no campo e as faz pastarem no campo, este pastor deverá 101 conservar o campo em que faz pastar e por ocasião da colheita deverá responder ao proprietário do campo, por cada dez gan sessenta gur. 59º - Se alguém, sem ciência do proprietário do horto, corta lenha no horto alheio, deverá pagar uma meia mina. 60º - Se alguém entrega a um hortelão um campo para plantá-lo em horto e este o planta e o cultiva por quatro anos, no quinto, proprietário e hortelão deverão dividir entre si e o proprietário do horto tomará a sua parte. 61º - Se o hortelão não leva a termo a plantação do campo e deixa uma parte inculta, dever-se-á consignar esta no seu quinhão. 62º - Se ele não reduz a horto o campo que lhe foi confiado, se é campo de espigas, o hortelão deverá pagar ao proprietário o produto do campo pelos anos em que ele fica inculto na medida da herdade do vizinho, plantar o campo cultivável e restituí-lo ao proprietário. 63º - Se ele transforma uma terra inculta num campo cultivado e o restitui ao proprietário, ele deverá pagar em cada ano dez gur de trigo por cada dez gan. 64º - Se alguém dá o horto a lavrar a um hortelão pelo tempo que tem em aluguel o horto, deverá dar ao proprietário duas partes do produto do horto e conservar para si a terça parte. 65º - Se o hortelão não lavra o horto e o produto diminui, o hortelão deverá calcular o produto pela parte do fundo vizinho. * * * LACUNAS DE CINCO COLUNAS; CALCULAM EM 35 PARÁGRAFOS Pertencem à lacuna os seguintes parágrafos deduzidos da biblioteca de Assurbanipal: 1 - Se alguém toma dinheiro a um negociante e lhe dá um horto de tâmaras e lhe diz: - "as tâmaras que estão no meu horto tomei-as por dinheiro": e o negociante não aceita, então o proprietário deverá tomar as tâmaras que estão no horto, entregar ao negociante o dinheiro e juros, segundo o teor de sua obrigação; as tâmaras excedentes que estão no jardim deverá tomá-las o proprietário. *2 - Se um inquilino paga ao dono da casa a inteira soma do seu aluguel por um ano e o proprietário, antes de decorrido o termo do aluguel, ordena ao inquilino de mudar-se de sua casa antes de passado o prazo, deverá restituir uma quota proporcional à soma que o inquilino lhe deu. (Rescisão de Contrato Antes do Vencimento do Prazo locatício e Indenização do Locatário). *3 - Se alguém deve trigo ou dinheiro e não tem trigo ou dinheiro com que pagar, mas, possui outros bens, deverá levar diante dos anciãos o que está à sua disposição e dá-lo ao negociante. Este deve aceitar sem exceção. (Dação em Pagamento) V - RELAÇÕES ENTRE COMERCIANTES E COMISSIONÁRIOS *100º - Com os juros do dinheiro na medida da soma recebida, deverá entregar uma obrigação por escrito e pagar o negociante no dia do vencimento. (Comissão Mercantil). *101º - Se no lugar onde foi não fechou negócio o comissionário, deverá deixar intato o dinheiro que recebeu e restituí-lo ao negociante. (Comissão Mercantil). 102º - Se um negociante emprestou dinheiro a um comissionário para suas empresas e ele, no lugar para onde se conduz, sofre um dano, deverá indenizar o capital ao negociante. 103º - Se, durante a viagem, o inimigo lhe leva alguma coisa do que ele conduz consigo, o comissionário deverá jurar em nome de Deus e ir livre. 104º - Se um negociante confia a um comissionário, para venda, trigo, lã, azeite, ou outras mercadorias, o comissionário deverá fazer uma escritura da importância e reembolsar o negociante. Ele deverá então receber a quitação do dinheiro que dá ao mercador. 105º - Se o comissionário é negligente e não retira a quitação da soma que ele deu ao negociante, não poderá receber a soma que não é quitada. 106º - Se o comissionário toma dinheiro ao negociante e tem questão com o seu negociante, este deverá perante Deus e os anciãos convencer o comissionário do dinheiro levado e este deverá dar três vezes o dinheiro que recebeu. 107º - Se o negociante engana o comissionário pois que este restituiu tudo que o negociante lhe dera, mas, o negociante contesta o que o comissionário lhe restituiu, o comissionário diante de Deus e dos anciãos deverá convencer o negociante e este, por ter negado ao comissionário o que recebeu, deverá dar seis vezes tanto. VI - REGULAMENTO DAS TABERNAS (TABERNEIROS PREPOSTOS, POLÍCIA, PENAS E TARIFAS) 108º - Se uma taberneira não aceita trigo por preço das bebidas a peso, mas toma dinheiro e o preço da bebida é menor do que o do trigo, deverá ser convencida disto e lançada nágua. 109º - Se na casa de uma taberneira se reúnem conjurados e esses conjurados não são detidos e levados à Corte, a taberneira deverá ser morta. 110º - Se uma irmã de Deus, que não habita com as crianças (mulher consagrada que não se pode casar) abre uma taberna ou entra em uma taberna para beber, esta mulher deverá ser queimada. 102 111º - Se uma taberneira fornece sessenta já de bebida usakami deverá receber ao tempo da colheita cinqüenta ka de trigo. VII - OBRIGAÇÕES (CONTRATOS DE TRANSPORTE, MÚTUO) PROCESSO EXECUTIVO E SERVIDÃO POR DÍVIDAS *112º - Se alguém está em viagem e confia a um outro prata, ouro, pedras preciosas ou outros bens móveis e os faz transportar por ele e este não conduz ao lugar do destino tudo que deve transportar, mas se apropria deles, dever-se-á convencer esse homem que ele não entregou o que devia transportar e ele deverá dar ao proprietário da expedição cinco vezes o que recebeu. (Contrato de Transporte – Responsabilidade do Transportador). 113º - Se alguém tem para com um outro um crédito de grãos ou dinheiro e, sem ciência do proprietário, tira grãos do armazém ou do celeiro, ele deverá ser convencido em juízo de ter tirado sem ciência do proprietário grãos do armazém ou do celeiro e deverá restituir os grãos que tiver tirado e tudo que ele de qualquer modo deu, é perdido para ele. 114º - Se alguém não tem que exigir grãos e dinheiro de um outro e fez a execução, deverá pagar-lhe um terço de mina por cada execução. 115º - Se alguém tem para com outro um crédito de grãos ou dinheiro e faz a execução, e o detido na casa de detenção morre de morte natural, não há lugar a pena. 116º - Se o detido na casa de detenção morre de pancadas ou maus tratamentos, o protetor do prisioneiro deverá convencer o seu negociante perante o tribunal; se ele era um nascido livre, se deverá matar o filho do negociante, se era um escravo, deverá pagar o negociante um terço de mina e perder tudo que deu. 117º - Se alguém tem um débito vencido e vende por dinheiro a mulher, o filho e a filha, ou lhe concedem descontar com trabalho o débito, aqueles deverão trabalhar três anos na casa do comprador ou do senhor, no quarto ano este deverá libertá-los. 118º - Se ele concede um escravo ou escrava para trabalhar pelo débito e o negociante os concede por sua vez, os vende por dinheiro, não há lugar para oposição. 119º - Se alguém tem um débito vencido, e vende por dinheiro a sua escrava que lhe tem dado filhos, o senhor da escrava deverá restituir o dinheiro que o negociante pagou e resgatar a sua escrava. VIII - CONTRATOS DE DEPÓSITO *120º - Se alguém deposita o seu trigo na casa de outro e no monte de trigo se produz um dano ou o proprietário da casa abre o celeiro e subtrai o trigo ou nega, enfim, que na sua casa tenha sido depositado o trigo, o dono do trigo deverá perante Deus reclamar o seu trigo e o proprietário da casa deverá restituir o trigo que tomou, sem diminuição, ao seu dono. (Depósito Mercantil) *121º - Se alguém deposita o trigo na casa de outro, deverá dar-lhe, como aluguel do armazém, cinco ka de trigo por cada gur de trigo ao ano. (Pagamento de Depósito). 122º - Se alguém dá em depósito a outro prata, ouro ou outros objetos, deverá mostrar a uma testemunha tudo o que dá, fechar o seu contrato e em seguida consignar em depósito. 123º - Se alguém dá em depósito sem testemunhas ou contrato e no lugar em que se fez a consignação se nega, não há ação. 124º - Se alguém entrega a outro em depósito prata, ouro ou outros objetos perante testemunhas e aquele o nega, ele deverá ser convencido em juízo e restituir sem diminuição tudo o que negou. 125º - Se alguém dá em depósito os seus bens e aí por infração ou roubo os seus bens se perdem com os do proprietário da casa, o dono desta, que suporta o peso da negligência, deverá indenizar tudo que lhe foi consignado em depósito e que ele deixou perder. Mas, o dono da casa poderá procurar os seus bens perdidos e retomá-los do ladrão. 126º - Se alguém, que não perdeu seus bens, diz tê-los perdido e sustenta falsamente seu dano, se ele intenta ação pelos seus bens, ainda que não tenham sido perdidos e pelo dano sofrido perante Deus, deverá ser indenizado de tudo que pretende pelo seu dano. IX - INJÚRIA E DIFAMAÇÃO 127º - Se alguém difama uma mulher consagrada ou a mulher de um homem livre e não pode provar se deverá arrastar esse homem perante o juiz e tosquiar-lhe a fronte. X - MATRIMÔNIO E FAMÍLIA, DELITOS CONTRA A ORDEM DA FAMÍLIA. CONTRIBUIÇÕES E DOAÇÕES NUPCIAIS SUCESSÃO *128º - Se alguém toma uma mulher, mas não conclui um contrato com ela, esta mulher não é esposa. (Concubinato). *129º - Se a esposa de alguém é encontrada em contato sexual com um outro, se deverá amarrá-los e lançá- los nágua, salvo se o marido perdoar à sua mulher e o rei a seu escravo. (Adultério e Perdão). 103 *130º - Se alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá ser morto, a mulher irá livre. (Sedução ou Estupro). 131º - Se a mulher de um homem livre é acusada pelo próprio marido, mas não surpreendida em contato com outro, ela deverá jurar em nome de Deus e voltar à sua casa. 132º - Se contra a mulher de um homem livre é proferida difamação por causa de um outro homem, mas não é ela encontrada em contato com outro, ela deverá saltar no rio por seu marido. 133º - Se alguém é feito prisioneiro e na sua casa há com que sustentar-se, mas a mulher abandona sua casa e vai a outra casa; porque esta mulher não guardou sua casa e foi a outra, deverá ser judicialmente convencida e lançada nágua. 134º - Se alguém é feito prisioneiro de guerra e na sua casa não há com que sustenta-se e sua mulher vai a outra casa, essa mulher deverá ser absolvida. 135º - Se alguém é feito prisioneiro de guerra e na sua casa não há de que sustenta-se e sua mulher vai a outra casa e tem filhos, se mais tarde o marido volta e entra na pátria, esta mulher deverá voltar ao marido, mas os filhos deverão seguir o pai deles. 136º - Se alguém abandona a pátria e foge e depois a mulher vai a outra casa, se aquele regressa e quer retomar a mulher, porque ele se separou da pátria e fugiu, a mulher do fugitivo não deverá voltar ao marido. 137º - Se alguém se propõe a repudiar uma concubina que lhe deu filhos ou uma mulher que lhe deu filhos, ele deverá restituir àquela mulher o seu donativo e dar-lhe uma quota em usufruto no campo, horto e seus bens, para que ela crie os filhos. Se ela criou os seus filhos, lhe deverá ser dado, sobre todos os bens que seus filhos recebam, uma quota igual a de um dos filhos. Ela pode esposar o homem do seu coração. 138º - Se alguém repudia a mulher que não lhe deu filhos, deverá dar-lhe a importância do presente nupcial e restituir-lhe o donativo que ela trouxe consigo da casa de seu pai e assim mandá-la embora. 139º - Se não houve presente nupcial, ele deverá dar-lhe uma mina, como donativo de repúdio. 140º - Se ele é um liberto, deverá dar-lhe um terço de mina. 141º - Se a mulher de alguém, que habita na casa do marido, se propõe a abandoná-la e se conduz com leviandade, dissipa sua casa, descura do marido e é convencida em juízo, se o marido pronuncia o seu repúdio, ele a mandará embora, nem deverá dar-lhe nada como donativo de repúdio. Se o marido não quer repudiá-la e toma outra mulher, aquela deverá ficar como serva na casa de seu marido. 142º - Se uma mulher discute com o marido e declara: "tu não tens comércio comigo", deverão ser produzidas as provas do seu prejuízo, se ela é inocente e não há defeito de sua parte e o marido se ausenta e a descura muito, essa mulher não está em culpa, ela deverá tomar o seu donativo e voltar à casa de seu pai. 143º - Se ela não é inocente, se ausenta, dissipa sua casa, descura seu marido, dever-se-á lançar essa mulher nágua. 144º - Se alguém toma uma mulher e esta dá ao marido uma serva e tem filhos, mas o marido pensa em tomar uma concubina, não se lhe deverá conceder e ele não deverá tomar uma concubina. 145º - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos e ele pensa em tomar uma concubina, se ele toma uma concubina e a leva para sua casa, esta concubina não deverá ser igual à esposa. 146º - Se alguém toma uma esposa e essa esposa dá ao marido uma serva por mulher e essa lhe dá filhos, mas, depois, essa serva rivaliza com a sua senhora, porque ela produziu filhos, não deverá sua senhora vendê-la por dinheiro, ela deverá reduzi-la à escravidão e enumerá-la ente as servas. 147º - Se ela não produziu filhos, sua senhora poderá vendê-la por dinheiro. *148º - Se alguém toma uma mulher e esta é colhida pela moléstia, se ele então pensa em tomar uma segunda, não deverá repudiar a mulher que foi presa da moléstia, mas deverá conservá-la na casa que ele construiu e sustentá-la enquanto viver. (Proibição de Separação como Remédio). 149º - Se esta mulher não quer continuar a habitar na casa de seu marido, ele deverá entregar-lhe o donativo que ela trouxe da casa paterna e deixá-la ir se embora. 150º - Se alguém dá à mulher campo, horto, casa e bens e lhe deixa um ato escrito, depois da morte do marido, seus filhos não deverão levantar contestação: a mãe pode legar o que lhe foi deixado a um de seus filhos que ela prefira, nem deverá dar coisa alguma aos irmãos. 151º - Se uma mulher que vive na casa de um homem, empenhou seu marido a não permitir a execução de um credor contra ela, e se fez lavrar um ato; se aquele homem antes de tomar mulher tinha um débito, o credor não se pode dirigir contra a mulher. Mas, se a mulher, antes de entrar na casa do marido, tinha um débito, o credor não pode fazer atos executivos contra o marido. 152º - Se depois que a mulher entra na casa do marido, ambos têm um débito, deverão ambos pagar ao negociante. *153º - Se a mulher de um homem livre tem feito matar seu marido por coisa de um outro, se deverá cravá-la em uma estaca. (Homicídio Qualificado por Motivo Torpe). *154º - Se alguém conhece a própria filha, deverá ser expulso da terra. (Incesto Paterno). 155º - Se alguém promete uma menina a seu filho e seu filho tem comércio com ela, mas aquele depois tem contato com ela e é colhido, deverá ser amarrado e lançado na água. 104 156º - Se alguém promete uma menina a seu filho e seu filho não a conhece, se depois ele tem contato com ela, deverá pagar-lhe uma meia mina e indenizar-lhe tudo que ela trouxe da casa paterna. Ela poderá desposar o homem de seu coração. 157º - Se alguém, na ausência de seu pai, tem contato com sua progenitora, dever-se-á queimá-la ambos. 158º - Se alguém, na ausência de seu pai, é surpreendido com a sua mulher principal, a qual produziu filhos, deverá ser expulso da casa de seu pai. 159º - Se alguém, que mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e deu o presente nupcial, volve o olhar para outra mulher e diz ao sogro: "eu não quero mais tomar tua filha", o pai da rapariga poderá reter tudo quanto ele mandou levar. 160º - Se alguém mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e pagou o donativo nupcial, se depois o pai da rapariga diz: "eu não quero mais dar-te minha filha", ele deverá restituir sem diminuição tudo que lhe foi entregue. 161º - Se alguém mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e pagou o donativo nupcial, se depois o seu amigo o calunia e o sogro diz ao jovem esposo: "tu não desposarás minha filha". ele deverá restituir sem diminuição tudo que lhe foi entregue e o amigo não deverá desposar a sua noiva. *162º - Se alguém toma uma mulher e ela lhe dá filhos, se depois essa mulher morre, seu pai não deverá intentar ação sobre seu donativo; este pertence aos filhos. (Dote). 163º - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos, se depois essa mulher morre, e o sogro lhe restitui o presente nupcial que ele pagou à casa do sogro, o marido não deverá levantar ação sobre o donativo daquela mulher, este pertence à casa paterna. 164º - Se o sogro não lhe restitui o presente nupcial, ele deverá deduzir do donativo a importância do presente nupcial e restituir em seguida o donativo à casa paterna dela. *165º - Se alguém doa ao filho predileto campo, horto e casa e lavra sobre isso um ato, se mais tarde o pai morre e os irmãos dividem, eles deverão entregar-lhe a doação do pai e ele poderá tomá-la; fora disso se deverão dividir entre si os bens paternos. (Doação). 166º - Se alguém procura mulher para os filhos que tem, mas não procura mulher ao filho impúbere e depois o pai morre, se os irmãos dividem, deverão destinar ao seu irmão impúbere, que ainda não teve mulher, além da sua quota o dinheiro para a doação nupcial e procurar-lhe uma mulher. 167º - Se alguém toma uma mulher e esta lhe dá filhos, se esta mulher morre e ele depois dela toma uma segunda mulher e esta dá filhos, se depois o pai morre, os filhos não deverão dividir segundo as mães; eles deverão tomar o donativo de suas mães mas dividir os bens paternos ente si. 168º - Se alguém quer renegar seu filho e declara ao juiz: "eu quero renegar meu filho", o juiz deverá examinar as suas razões e se o filho não tem uma culpa grave pela qual se justifique que lhe seja renegado o estado de filho, o pai não deverá renegá-lo. 169º - Se ele cometeu uma falta grave, pela qual se justifique que lhe seja renegada a qualidade de filho, ele deverá na primeira vez ser perdoado, e, se comete falta grave segunda vez, o pai poderá renegar-lhe o estado de filho. 170º - Se a alguém sua mulher ou sua serva deu filhos e o pai, enquanto vive diz aos filhos que a serva lhe deu: "filhos meus", e os conta entre os filhos de sua esposa; se depois o pai morre, os filhos da serva e da esposa deverão dividir conjuntamente a propriedade paterna. O filho da esposa tem a faculdade de fazer os quinhões e de escolher. 171º - Se, porém, o pai não disse em vida aos filhos que a serva lhe deu: "filhos meus", e o pai morre, então os filhos da serva não deverão dividir com os da esposa, mas se deverá conceder a liberdade à serva e aos filhos, os filhos da esposa não deverão fazer valer nenhuma ação de escravidão contra os da serva; a esposa poderá tomar o seu donativo e a doação que o marido lhe fez e lavrou por escrito em um ato e ficar na habitação de seu marido; enquanto ela vive, deverá gozá-la, mas deverá vendê-la por dinheiro. A sua herança pertence aos seus filhos. 172º - Se o marido não lhe fez uma doação, se deverá entregar-lhe o seu donativo e, da propriedade de seu marido, ela deverá receber uma quota como um filho. Se seus filhos a oprimem para expulsá-la da casa, o juiz deverá examinar a sua posição e se os filhos estão em culpa, a mulher não deverá deixar a casa de seu marido. 172º - Se a mulher quer deixá-la, ela deverá abandonar aos seus filhos a doação que o marido lhe fez, mas tomar o donativo de sua casa paterna. Ela pode desposar em seguida o homem de seu coração. 173º - Se esta mulher lá para onde se transporta, tem filhos do segundo marido e em seguida morre, o seu donativo deverá ser dividido entre os filhos anteriores e sucessivos. 174º - Se ela não pare de segundo marido, deverão receber o seu donativo os filhos do seu primeiro esposo. 175º - Se um escravo da Corte ou o escravo de um liberto desposa a mulher de um homem livre e gera filhos, o senhor do escravo não pode propor ação de escravidão contra os filhos da mulher livre. 176º - Mas, se um escravo da Corte ou o escravo de um liberto desposa a filha de um homem livre e depois de tê-la desposado, esta, com um donativo da casa paterna, se transporta para a casa dele, se ele tem posto sua casa, adquirido bens e em seguida aquele escravo morre, a mulher nascida livre poderá tomar o seu donativo e tudo que o marido e ela, desde a data do casamento, adquiriram deverá ser dividido em duas 105 partes: uma metade deverá tomá-la o senhor do escravo, a outra metade a mulher livre para os seus filhos. Se a mulher livre não tinha um donativo, deverá dividir tudo que o marido e ela desde a data do casamento adquiriram em duas partes: metade deverá tomá-la e senhor do escravo, a outra a mulher livre para os seus filhos. 177º - Se uma viúva, cujos filhos são ainda crianças, quer entrar em uma outra casa, ela deverá entrar sem ciência do juiz. Se ela entra em uma outra casa, o juiz deverá verificar a herança da casa do seu precedente marido. Depois se deverá confiar a casa do seu precedente marido ao segundo marido e à mulher mesma, em administração, e fazer lavrar um ato sobre isto. Eles deverão ter a casa em ordem e criar os filhos e não vender os utensílios domésticos. O comprador que compra os utensílios domésticos dos filhos da viúva perde seu dinheiro e os bens voltam de novo ao seu proprietário. 178º - Se uma mulher consagrada ou uma meretriz, às quais seu pai fez um donativo e lavrou um ato sobre isso, mas no ato não ajuntou que elas poderiam legar o patrimônio a quem quisessem e não lhe deixou livre disposição, se depois o pai morre, os seus irmãos deverão receber o seu campo e horto e na medida da sua quota dar-lhe o trigo, azeite e leite e de modo a contentá-las. Se seus irmãos não lhes dão trigo, azeite e leite na medida de sua quota e a seu contento, dever-se-á confiar o campo e horto a um feitor que lhes agrade e esse feitor deverá mantê-las. O campo, o horto e tudo que deriva de seu pai deverá ser conservado por elas em usufruto enquanto viverem, mas não deverão vender e ceder a nenhum outro. As suas quotas de filhas pertencem a seus irmãos. 179º - Se uma mulher consagrada ou uma meretriz, às quais seu pai fez um donativo e lavrou um ato e acrescentou que elas poderiam alienar a quem lhes aprouvesse o seu patrimônio e lhes deixou livre disposição; se depois o pai morre, então elas podem legar sua sucessão a quem lhe aprouver. Os seus irmãos não podem levantar nenhuma ação. 180º - Se um pai não faz um donativo a sua filha núbil ou meretriz e depois morre, ela deverá tomar dos bens paternos uma quota como filha e gozar dela enquanto viver. A sua herança pertence a seus irmãos. 181º - Se um pai consagra a Deus uma serva do templo ou uma virgem e não lhes faz donativo, morto o pai, aquelas receberão da herança paterna um terço de sua quota de filha e fruirão enquanto viverem. A herança pertence aos irmãos. 182º - Se um pai não faz um donativo e não lavra um ato para sua filha, mulher consagrada a Marduk de Babilônia, se depois o pai morre, ela deverá ter designada por seus irmãos sobre a herança de sua casa paterna um terço da sua quota de filha, mas não poderá ter a administração. A mulher de Marduk pode legar sua sucessão a quem quiser. 183º - Se alguém faz um donativo à sua filha nascida de uma concubina e a casa, e lavra um ato, se depois o pai morre, ela não deverá receber parte nenhuma da herança paterna. 184º - Se alguém não faz um donativo a sua filha nascida de uma concubina, e não lhe dá marido, se depois o pai morre, os seus irmãos deverão, segundo a importância do patrimônio paterno, fazer um presente e dar-lhe marido. XI - ADOÇÃO, OFENSAS AOS PAIS, SUBSTITUIÇÃO DE CRIANÇA *185º - Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado. (Adoção). *186º - Se alguém adota como filho um menino e depois que o adotou ele se revolta contra seu pai adotivo e sua mãe, este adotado deverá voltar à sua casa paterna. (Dissolução da Adoção por Ingratidão). 187º - O filho de um dissoluto a serviço da Corte ou de uma meretriz não pode ser reclamado. 188º - Se o membro de uma corporação operária, (operário) toma para criar um menino e lhe ensina o seu ofício, este não pode mais ser reclamado. 189º - Se ele não lhe ensinou o seu ofício, o adotado pode voltar à sua casa paterna. 190º - Se alguém não considera entre seus filhos aquele que tomou e criou como filho, o adotado pode voltar à sua casa paterna. 191º - Se alguém que tomou e criou um menino como seu filho, põe sua casa e tem filhos e quer renegar o adotado, o filho adotivo não deverá ir-se embora. O pai adotivo lhe deverá dar do próximo patrimônio um terço da sua quota de filho e então ele deverá afasta-se. Do campo, do horto e da casa não deverá dar-lhe nada. 192º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai adotivo ou a sua mãe adotiva: "tu não és meu pai ou minha mãe", dever-se-á cortar-lhe a língua. 193º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz aspira voltar à casa paterna, se afasta do pai adotivo e da mãe adotiva e volta à sua casa paterna, se lhe deverão arrancar os olhos. 194º - Se alguém dá seu filho a ama de leite e o filho morre nas mãos dela, mas a ama sem ciência do pai e da mãe aleita um outro menino, se lhe deverá convencê-la de que ela sem ciência do pai e da mãe aleitou um outro menino e cortar-lhe o seio. 195º - Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as mãos. XII - DELITOS E PENAS (LESÕES CORPORAIS, TALIÃO, INDENIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO) *196º - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho. (Talião). 106 *197º - Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso. (Talião). 198º - Se ele arranca o olho de um liberto, deverá pagar uma mina. 199º - Se ele arranca um olho de um escravo alheio, ou quebra um osso ao escravo alheio, deverá pagar a metade de seu preço. *200º - Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter partidos os seus dentes. (Talião). 201º - Se ele partiu os dentes de um liberto deverá pagar um terço de mina. 202º - Se alguém espanca um outro mais elevado que ele, deverá ser espancado em público sessenta vezes, com o chicote de couro de boi. 203º - Se um nascido livre espanca um nascido livre de igual condição, deverá pagar uma mina. 204º - Se um liberto espanca um liberto, deverá pagar dez siclos. 205º - Se o escravo de um homem livre espanca um homem livre, se lhe deverá cortar a orelha. 206º - Se alguém bate um outro em rixa e lhe faz uma ferida, ele deverá jurar : "eu não o bati de propósito", e pagar o médico. 207º - Se ele morre por suas pancadas, aquele deverá igualmente jurar e, se era um nascido livre, deverá pagar uma meia mina. 208º - Se era um liberto, deverá pagar um terço de mina. *209º - Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez siclos pelo feto. (Pena Pecuniária). *210º - Se essa mulher morre, se deverá matar o filho dele. (Talião). 211º - Se a filha de um liberto aborta por pancada de alguém, este deverá pagar cinco siclos. 212º - Se essa mulher morre, ele deverá pagar meia mina. 213º - Se ele espanca a serva de alguém e esta aborta, ele deverá pagar dois siclos. 214º - Se esta serva morre, ele deverá pagar um terço de mina. XIII – MÉDICOS E VETERINÁRIOS; ARQUITETOS E BATELEIROS (SALÁRIOS, HONORÁRIOS E RESPONSABILIDADE) CHOQUE DE EMBARCAÇÕES *215º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o cura ou se ele abre a alguém uma incisão com a lanceta de bronze e o olho é salvo, deverá receber dez siclos. (Honorários). *216º - Se é um liberto, ele receberá cinco siclos. (Honorários). 217º - Se é o escravo de alguém, o seu proprietário deverá dar ao médico dois siclos. *218º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o mata ou lhe abre uma incisão com a lanceta de bronze e o olho fica perdido, se lhe deverão cortar as mãos. (Punição – Erro Médico). 219º - Se o médico trata o escravo de um liberto de uma ferida grave com a lanceta de bronze e o mata, deverá dar escravo por escravo. 220º - Se ele abriu a sua incisão com a lanceta de bronze o olho fica perdido, deverá pagar metade de seu preço. *221º - Se um médico restabelece o osso quebrado de alguém ou as partes moles doentes, o doente deverá dar ao médico cinco siclos. (Honorários). 222º - Se é um liberto, deverá dar três siclos. 223º - Se é um escravo, o dono deverá dar ao médico dois siclos. *224º - Se o médico dos bois e dos burros trata um boi ou um burro de uma grave ferida e o animal se restabelece, o proprietário deverá dar ao médico, em pagamento, um sexto de siclo. (Honorário do Veterinário). *225º - Se ele trata um boi ou burro de uma grave ferida e o mata, deverá dar um quarto de seu preço ao proprietário. (Indenização por Erro). 226º - Se o tosquiador, sem ciência do senhor de um escravo, lhe imprime a marca de escravo inalienável, dever-se-á cortar as mãos desse tosquiador. 227º - Se alguém engana um tosquiador e o faz imprimir a marca de um escravo inalienável, se deverá matá- lo e sepultá-lo em sua casa. O tosquiador deverá jurar : "eu não o assinalei de propósito", e irá livre. *228º - Se um arquiteto constrói uma casa para alguém e a leva a execução, deverá receber em paga dois siclos, por cada sar de superfície edificada. (Honorários). *229º - Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente e a casa que ele construiu cai e fere de morte o proprietário, esse arquiteto deverá ser morto. (Talião por Erro). 230º - Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o filho do arquiteto. 231º - Se mata um escravo do proprietário ele deverá dar ao proprietário da casa escravo por escravo. 232º - Se destrói bens, deverá indenizar tudo que destruiu e porque não executou solidamente a casa por ele construída, assim que essa é abatida, ele deverá refazer à sua custa a casa abatida. 233º - Se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não a leva ao fim, se as paredes são viciosas, o arquiteto deverá à sua custa consolidar as paredes. 234º - Se um bateleiro constrói para alguém um barco de sessenta gur, se lhe deverá dar em paga dois siclos. 107 235º - Se um bateleiro constrói para alguém um barco e não o faz solidamente, se no mesmo ano o barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro deverá desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa; o barco sólido ele deverá dá-lo ao proprietário. 236º - Se alguém freta o seu barco a um bateleiro e este e negligente, mete a pique ou faz que se perca o barco, o bateleiro deverá ao proprietário barco por barco. 237º - Se alguém freta um bateleiro e o barco e o prevê de trigo, lã, azeite, tâmaras e qualquer outra coisa que forma a sua carga, se o tabeleiro é negligente, mete a pique o barco e faz que se perca o carregamento, deverá indenizar o barco que fez ir a pique e tudo de que ele causou a perda. 238º - Se um bateleiro mete a pique o barco de alguém mas o salva, deverá pagar a metade do seu preço. 239º - Se alguém freta um bateleiro, deverá dar-lhe seis gur de trigo por ano. *240º - Se um barco a remos investe contra um barco de vela e o põe a pique, o patrão do barco que foi posto a pique deverá pedir justiça diante de Deus, o patrão do barco a remos, que meteu a fundo o barco a vela, deverá indenizar o seu barco e tudo quanto se perdeu. (Responsabilidade e Indenização – Dano Causado). XIV - SEQUESTRO, LOCAÇÕES DE ANIMAIS, LAVRADORES DE CAMPO, PASTORES, OPERÁRIOS. DANOS, FURTOS DE ARNEZES, DÁGUA, DE ESCRAVOS (AÇÃO REDIBITÓRIA, RESPONSABILIDADE POR EVICÇÃO, DISCIPLINA) 241º - Se alguém seqüestra e faz trabalhar um boi, deverá pagar um terço de mina. 242º - Se alguém aluga por um ano um boi para lavrar, deverá dar como paga, quatro gur de trigo. 243º - Como paga do boi de carga três gur de trigo ao proprietário. 244º - Se alguém aluga um boi e um burro e no campo um leão os mata, isto prejudica o seu proprietário. 245º - Se alguém aluga um boi e o faz morrer por maus tratamentos ou pancadas, deverá indenizar ao proprietário boi por boi. 246º - Se alguém aluga um boi e lhe quebra uma perna, lhe corta a pele cervical, deverá indenizar ao proprietário boi por boi. 247º - Se alguém aluga um boi e lhe arranca um olho, deverá dar ao proprietário uma metade do seu preço. 248º - Se alguém aluga um boi e lhe parte um chifre, lhe corta a cauda, e lhe danifica o focinho, deverá pagar um quarto de seu preço. 249º - Se alguém aluga um boi e Deus o fere e ele morre, o locatário deverá jurar em nome de Deus e ir livre. 250º - Se um boi, indo pela estrada, investe contra alguém e o mata, não há motivo para indenização. 251º - Se o boi de alguém dá chifradas e se tem denunciado seu vício de dar chifradas, e, não obstante, não se tem cortado os chifres e prendido o boi, e o boi investe contra um homem e o mata, seu dono deverá pagar uma meia mina. 252º - Se ele mata um escravo de alguém, dever-se-á pagar um terço de mina. 253º - Se alguém aluga um outro para cuidar do seu campo, lhe fornece a semente, lhe confia os bois, o obriga a cultivar o campo, se esse rouba e tira para si trigo ou plantas, se lhe deverão cortar aos mãos. 254º - Se ele tira para si a semente, não emprega os bois, deverá indenizar a soma do trigo e cultivar. 255º - Se ele deu em locação os bois do homem ou rouba os grãos da semente, não cultiva absolutamente o campo, deverá ser convencido e pagar por cento de gan, sessenta gur de trigo. 256º - Se a sua comunidade não paga por ele, dever-se-á deixá-lo naquele campo, ao pé dos animais. 257º - Se alguém aluga um lavrador de campo lhe deverá dar anualmente oito gur de trigo. 258º - Se alguém aluga um guarda de bois, seis gur de trigo por ano. 259º - Se alguém rouba do campo uma roda d'água, deverá dar ao proprietário cinco siclos. 260º - Se alguém rouba um balde para tirar água ou um arado deverá dar três siclos. 261º - Se alguém aluga um pastor para apascentar bois e ovelhas, lhe deverá dar oito gur de trigo por ano. 262º - Se alguém aluga um boi ou uma ovelha para ... 263º - Se ele é causa da perda de um boi ou de uma ovelha, que lhe foram dados, deverá indenizar o proprietário boi por boi, ovelha por ovelha. 264º - Se um pastor a quem são confiados bois e ovelhas para apascentar, o qual recebeu sua paga, segundo o pacto e fica satisfeito, reduz os bois e as ovelhas, diminui o acréscimo natural, deverá restituir as acessões e o produto segundo o teor de sua convenção. 265º - Se um pastor a quem foram confiados bois e ovelhas para apascentar, tece fraude, falseia o acréscimo natural do rebanho e o vende por dinheiro, deverá ser convencido e indenizar o proprietário dez vezes bois e ovelhas. 266º - Se no rebanho se verifica um golpe de Deus ou um leão os mata, o pastor deverá purgar-se diante de Deus e o acidente do rebanho deverá ser suportado pelo proprietário. 267º - Se o pastor foi negligente e se verifica um dano no rebanho, o pastor deverá indenizar o dano, que ele ocasionou no rebanho em bois ou ovelhas e dar ao proprietário. 268º - Se alguém aluga um boi para debulhar, a paga é vinte ka de trigo. 269º - Se alguém aluga um burro para debulhar, a paga e vinte ka de trigo. 108 270º - Se alguém aluga um animal jovem para debulhar, a paga é dez ka de trigo. 271º - Se alguém aluga bois, carros, e guardas, deverá dar cento e oitenta ka de trigo por dia. 272º - Se alguém aluga um carro apenas, deverá dar quarenta ka de trigo por dia. 273º - Se alguém aluga um lavrador mercenário, lhe deverá dar do novo ano ao quinto mês seis se por dia; do sexto mês até o fim do ano lhe deverá dar cinco se por dia. *274º - Se alguém aluga um operário, lhe deverá dar cada dia: (Salário Mínimo de Operários). cinco se, de paga, pelo ... cinco se, pelo tijoleiro. cinco se, pelo alfaiate. cinco se, pelo canteiro. quatro se, pelo carpinteiro. quatro se, pelo cordoeiro. quatro se, pelo ... quatro se, pelo pedreiro. 275º - Se alguém aluga um barco a vela deverá dar seis se por dia como paga. 276º - Se ele aluga um barco a remos, dois se e meio por dia. 277º - Se alguém aluga um barco de sessenta gur, deverá dar um sexto de siclo, por dia em paga. 278º - Se alguém compra um escravo ou uma escrava e, antes que decorra um mês, eles são feridos do mal benu, ele deverá restituí-los ao vendedor e o comprador receberá em seguida o dinheiro que pagou. 279º - Se alguém compra um escravo ou uma escrava e outro propõe ação sobre eles, o vendedor é responsável pela ação. 280º - Se alguém em país estrangeiro compra um escravo ou uma escrava, se volta à terra e o proprietário reconhece o seu escravo ou a sua escrava, se o escravo ou escrava, são naturais do país, ele deverá restituí- los sem indenização. 281º - Se são nascidos em outro país, o comprador deverá declarar perante Deus o preço que ele pagou e o proprietário deverá dar ao negociante o dinheiro pago e receber o escravo ou a escrava. *282º - Se um escravo diz ao seu senhor: "tu não és meu senhor", será convencido disso e o senhor lhe cortará a orelha. (Disciplina). (POSFÁCIO) ―As justas leis de Hammurabi, o sábio rei, estabeleceu e (com as quais) deu base estável ao governo... Eu sou o governador guardião... Em meu seio trago o povo das terras de Sumer e Acad;... em minha sabedoria eu os refreio, para que o forte não oprima o fraco e para que seja feita justiça à viúva e ao órfão... Que cada homem oprimido compareça diante de mim, como rei que sou da justiça. Deixai-o ler a inscrição do meu monumento. Deixai-o atentar nas minhas ponderadas palavras. E possa o meu monumento iluminá-lo quanto à causa que traz, e possa ele compreender o seu caso. Possa ele folgar o coração (exclamando) ―Hammurabi é na verdade como um pai para seu povo‖;... estabeleceu a prosperidade para sempre e deu um governo puro à terra. Quando Anu e Enlil (os deuses de Uruk e Nippur) deram-me a governar as terras de Sumer e Acad, e confiaram a mim este cetro, eu abri o canal. Hammurabi-nukhush-nish (Hammurabi-a-abundância-do-povo) que traz água copiosa para as terras de Sumer e Acad. Suas margens de ambos os lados eu as transformewi em campos de cultura; amontoei montes de grãos, provi todas as terras de água que não falha... O povo disperso se reuniu; dei-lhe pastagens em abundância e o estabeleci em pacíficas moradias‖. Como podemos notar, deste breve resumo, o Código de Hammurabi é, sem sombra de dúvidas, o mais importante trabalho de codificação jurídica da antiguidade. Mesmo não sendo um sistema jurídico, pois é, antes de tudo, uma ―coletânia de julgadas ou de hipóteses acompanhadas de decisões‖, ele tem no decorrer dos séculos inspirado os legisladores na criação de novas e modernas instituições do Direito. Encontramos nele as raízes do Bem de Família (adotado na legislação dos Estados Unidos em 1839), da Responsabilidade Civil Pública e até a grande conquista social dos tempos modernos que é o Salário Mínimo. Concluindo, afirmamos que esse Código revela uma civilização adiantadíssima para a Babilônia da época e como ensina Jaime de Altavila em sua obra “Origens dos Direitos dos Povos” é um Código com muita punição e muito rigor, mas há, também, nele, preciosas e humanas disposições que bem revelam o senso humano do grande legislador que foi Hammurabi. 109 ANEXO -02 - CÓDIGO DE MÓSEIS - A BÍBLIA Livros do Antigo Testamento O PENTATEUCO124 INTRODUÇÃO ―Nos relatos do Antigo Testamento presenciamos a história do povo hebreu durante quase dois mil anos, desde a vinda de Abraão à Palestina até a instalação da dinastia dos Hasmoneus (cerca dos séc. XX- a.c): história essa em conexão, ora maior ora menor, ora direta ora indiretamente, com a dos povos vizinhos, sobretudo dos grandes impérios, entre os quais a Palestina jazia como ponte: ao sul, o Egito; ao norte, sucessivamente, Babilônia, a Assíria, a Pérsia e a Síria. Constituíam eles outros tantos centros de civilização, que se irradiava entre os povos submetidos ou vizinhos, formando uma vasta unidade cultural. No meio dessa civilização comum movia-se o povo de Israel, sofrendo a sua influência. Nas artes e na, indústria, Israel jamais desenvolveu uma civilização própria; ficou devedor ao estrangeiro, como também a sua língua e literatura trazem o cunho da origem comum ou do prestígio de outros povos socialmente mais evoluídos. No entanto, a ausência de originalidade e independência de civilização material, põe em muito maior relevo o valor das instituições religiosas e morais, elementos básicos da civilização genuína e completa que foram glória exclusiva desse povo eleito.‖ O PENTATEUCO O primeiro lugar de ordem e de honra entre os livros do Antigo Testamento ocupa-o aquele que os, gregos chamaram Pentateuco, isto é, obra em cinco tomos. Para os hebreus é a "tora," ou seja, a lei, nome tomado da matéria central. Também os hebreus o dividiram nos mesmos cinco livros que os gregos, distinguindo-os com a palavra inicial. Nós usamos exclusivamente os nomes impostos pelos gregos, que de maneira graciosa lhes caracterizaram o conteúdo: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. De fato, o Gênesis narra as origens do universo e do gênero humano até à formação paulatina do povo de Israel na sua estada no Egito. O Êxodo narra a saída dos israelitas do Egito, conduzidos por Moisés aos pés do Sinai, para aí receberem de Deus a sua lei religiosa e civil e se constituírem, por meio de um pacto sagrado ("testamento"), em peculiar "povo de Deus (Javé)." O Levítico regula o culto religioso à maneira de ritual, dirigido especialmente aos levitas, que formavam o clero consagrado ao serviço do santuário. Os Números recebem o nome dos recenseamentos do povo contidos na primeira parte, estendendo-se, depois, em referir fatos e providências legislativas correspondentes a cerca de quarenta anos de vida nômade no deserto da península sinaítica. No Deuteronômio, ou segunda lei, emanada pelo fim da jornada no deserto, Moisés retoma a legislação precedente para adaptá-la às novas condições de vida sedentária, em que o povo viria a se encontrar com a conquista iminente da Palestina. Pelas peculiaridades do nosso estudo trataremos apenas de Êxodo, ou seja, da chamada primeira Lei e de Deuteronômio ou segunda Lei ÊXODO O segundo livro do Pentateuco toma o nome de Êxodo da saída dos hebreus do Egito, onde, depois dos bons tempos de José, passaram a sofrer a mais dura escravidão. Esse acontecimento, porém, nada mais foi do que o prelúdio de fatos muito mais importantes na vida dos filhos de Israel, os quais, de um conglomerado de famílias que eram, recuperando a liberdade, conquistaram verdadeira unidade de nação independente e receberam uma legislação especial, uma forma de vida moral e religiosa, pelas quais se distinguiram de todos os outros povos da terra. 124 (Estudo Resumido, baseado no trabalho do Editor: Bishop Alexander (Miliant) – http://fatheralexander.org/booklets/ portuguese/biblia_sept_2.htm) 110 Com toda facilidade compreender-se-á a importância deste livro, sobretudo em se pensando que, se a história civil das nações, mormente as antigas, acha-se intimamente vinculada à religião e essa à moral, isto jamais foi tão verídico como a respeito dos hebreus. As leis contidas no Êxodo formam a essência da vida civil e religiosa do povo eleito. CAPÍTULO 20 Os Dez Mandamentos ou Decálogo Ver. 1 - Então Deus pronunciou todas estas palavras: Ver. 2 - Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Ver. 3 - Não terás outros deuses diante de minha face. Ver. 4 - ―Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Ver. 5 - Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, Ver. 6 - mas uso de misericórdia até á milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. Ver. 7 - Não pronunciarás o nome de JAVÉ, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro. Ver. 8 - Lembra-te de santificar o dia de sábado. Ver. 9 - Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. Ver. 10 - Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro de teus muros. Ver.11 - Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo que contêm, e repousou no sétimo dia; e por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou. Ver 12 - Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus. Ver. 13 - Não matarás. Ver. 14 - Não cometerás adultério. Ver. 15 - Não furtarás. Ver. 16 - Não levantarás falso testemunho contra teu próximo. Ver. 17 - Não cobiçarás a casa do teu próximo: não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence. Ver. 18 - Diantes dos trovões, das chamas, da voz da trombeta e do monte que fumegava, o povo tremia e conservava-se à distância. Ver. 19 - E disseram a Moisés: ―Fala-nos tu mesmo, e te ouviremos; mas não nos fale Deus, para que não morramos‖. Ver. 20 - Moisés respondeu-lhe: ―Não temais; porque é para vos provar que Deus veio, e para que o seu temor, sempre presente aos vossos olhos, vos preserve de pecar‖. Ver. 21 - E o povo conservou-se à distância, enquanto Moisés se aproximava da nuvem onde se encontrava Deus. Divisão dos Dez Mandamentos por religião/denominação 125 Mandamento Judaico Anglicano, Presbiteriano, e Outras Cristãs Ortodoxa Católico- Romano, Luterano* Adventista do Sétimo dia Eu Sou o SENHOR, o teu Deus 1 Prefácio 1 1 Prefácio Não terás outros deuses além de mim 2 1 1 Não farás para ti nenhum ídolo 2 2 2 Não tomarás em vão o nome do SENHOR, o teu Deus 3 3 3 2 3 Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo 4/sábado 4/domingo** 4/domingo** 3/domingo** 4/sábado Honra teu pai e tua mãe 5 5 5 4 5 Não matarás 6 6 6 5 6 Não adulterarás 7 7 7 6 7 Não furtarás*** 8 8 8 7 8 Não darás falso testemunho contra o teu próximo 9 9 9 8 9 Não cobiçarás (a mulher do teu próximo) 10 10 10 9 10 Não cobiçarás (nada do que pertença a teu próximo) 10 125 http://pt.wikipedia.org/wiki/Dez_Mandamentos#Os_dez_mandamentos 111 Deuteronômio O quinto e último livro do Pentateuco foi chamado Deuteronômio, isto é, "segunda lei," talvez porque assim tenha sido traduzida. No entanto, convém-lhe perfeitamente esse nome. O livro não é uma simples repetição da legislação contida nos livros precedentes, mas além de leis novas, oferece complementos, esclarecimentos e modificações às primeiras. É, de certo modo, uma segunda lei, promulgada no fim da longa peregrinação dos israelitas, paralela á lei dada no Sinai e destinada a regular mais de perto a vida do povo escolhido, no solo da Terra Prometida à qual eles estavam para chegar e dela tomar posse definitiva. Não é, porém, simples enumeração de leis e determinações; o que caracteriza esse livro, o que lhe constitui a alma, é um ardente sabor oratório. O hagiógrafo nos faz ouvir um Moisés que exorta, encoraja, invectiva; inculca á observância das leis, a começar dos grandes princípios morais; apela para os mais poderosos motivos, evoca a glória do passado, a missão histórica de Israel, os triunfos do porvir. Na mente do autor sagrado temos o testamento definitivo, que o grande guia e legislador deixa ao povo de Deus às vésperas da sua morte. Pelo estilo, o Deuteronômio é um discurso, ou melhor, vários discursos, dirigidos por Moisés aos israelitas. Deduz-se daí a divisão do livro em cinco partes. I – PRIMEIRO DISCURSO DE MOISÉS (Cap. 1 a 4) Justiça - (Deut. 1,16-17) 1,16 - E no mesmo tempo ordenei a vossos juízes, dizendo: Ouvi as causas entre vossos irmãos, e julgai com justiça entre o homem e seu irmão, ou o estrangeiro que está com ele. 1,17 - Não fareis acepção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que vos for difícil demais, a trareis a mim, e eu a ouvirei II – SEGUNDO DISCURSO DE MOISÉS (Cap. 4 a 11) III – CÓDIGO DEUTERONÔMIO (Resumo) CAPÍTULO 12 Lei do Santuário Único CAPÍTULO 13 Castigos dos Idólatras Processo – (Deut. 13, 13-16) 13,13 - alguns malvados saíram do meio de vós e seduziram os habitantes de sua cidade, dizendo: vamos servir outros deuses - deuses que vós não conheceis 13,16- Juntarás em seguida no meio da praça todo o seu espólio, e queimá-lo-ás juntamente com a cidade em honra do Senhor, teu Deus: ela será para sempre um montão de ruínas que se não reconstruirá mais. CAPÍTULO 14 Proibição de Rito Pagão – Leis Acerca das Carnes - Dízimo Ver. 3 - Não comerás coisa alguma abominável. Ver. 4 - Eis os animais que comereis: o boi, o cordeiro, a cabra, a gazela, Ver. 5 - corça, o gamo, o antílope, o búfalo e a cabra montês. Ver. 6 - Comereis de todos os animais que têm a unha e o pé fendidos, e que ruminam... ver. 9 - Dentre os animais que vivem nas águas, eis os que podereis comer Comereis tudo o que têm barbatanas e escamas... Ver 22 - Porás à parte o dízimo de todo o fruto de tuas semeaduras, de tudo o que o teu campo produzir cada ano... Ver. 28 - No fim de três anos, porás de lado todos os dízimos da colheita desse (terceiro) ano, e depô-los-ás dentro de tua cidade, Ver. 29 - para que o levita que não tem como tu partilha nem herança, o estrangeiro, o órfão e a viúva que se encontram em teus muros, possam comer á saciedade, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe todas as obras de tuas mãos... CAPÍTULO 15 O Ano da Remissão Escravos ( Deut. 15,12-14-16 e 17) Caridade (Deut. 15,7 e 8) 112 Ver. 7 - Quando entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; Ver. 8 - Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. Ver. 12 - Quando teu irmão hebreu ou irmã hebréia se vender a ti, seis anos te servirá, mas no sétimo ano o deixarás ir livre. Ver. 13 - E, quando o deixares ir livre, não o despedirás vazio. Ver. 14 - Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR teu Deus te tiver abençoado lhe darás. Ver. 15 - E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o SENHOR teu Deus te resgatou; portanto hoje te ordeno isso. Ver. 16 - Porém se ele te disser: Não sairei de ti; porquanto te amo a ti, e a tua casa, por estar bem contigo; Ver. 17 - Então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha à porta, e teu servo será para sempre; e também assim farás à tua serva. Ver. 18 - Não seja duro aos teus olhos, quando despedi-lo liberto de ti; pois seis anos te serviu em equivalência ao dobro do salário do diarista; assim o SENHOR teu Deus te abençoará em tudo o que fizeres. CAPÍTULO 16 As Três Grandes Festas – A Justiça Local Justiça - (Deut. 16,18-19) Ver. 18 - Estabelecerás juizes e notários em todas as cidades que o Senhor, Deus, te tiver dado, em cada uma das tribos, para que julguem o povo com eqüidade. Ver. 19 - Não farás curvar a justiça, e não farás acepção de pessoas não aceitarás presentes, porque os presentes cegam os olhos do sábio e destróem a causa dos justos. Ver. 20 - Deves procurar unicamente a justiça, para que vivas e possuas a terra que te dá o Senhor, teu Deus... CAPÍTULO 17 Os Julgamentos – O Direito do Rei Processo – (Deut. 17,2-5) Governo - (Deut. 17,14 e 15- Samuel I e II e Reis I,II); Ver. 2 - Se se encontrar no meio de ti, em uma das cidades que te dá o Senhor, teu Deus, um homem ou uma mulher que faça o que é mau aos olhos do Senhor, teu Deus, violando sua aliança, Ver. 3 - Indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus - o que eu não mandei -, se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa. Ver. 4 - Se for verdade o que se disse, se verificares que realmente se cometeu tal abominação em Israel, Ver. 5 - farás conduzir às, portas da cidade o homem ou a mulher que cometeu essa má ação, e os apedrejarás até que morram.( Lapidação). Ver. 7 - A mão das testemunhas será a primeira a feri-lo para matá-lo, depois a mão de todo o povo. Assim extirparás o mal do meio de ti. .(Lapidação). Ver. 8 - Se aparecer uma questão cujo juízo te seja muito difícil de fazer, assassinato, disputa, ferida, um processo qualquer em tua cidade, terás o dever de subir ao lugar escolhido pelo Senhor, teu Deus. Ver. 9 - Irás ter com os sacerdotes da linhagem de Levi e o juiz que estiver em exercício nesse momento, consultá-los-ás, e eles te dirão a sentença (a pronunciar)... Ver. 12 - Aquele que, por orgulho, recusar ouvir o sacerdote que estiver nesse tempo ao serviço do Senhor, teu Deus, ou o juiz, esse homem será punido de morte... Ver. 14 - Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, e tiveres tomado posse dela, e nela te estabeleceres, se disseres: Quero ter um rei sobre mim, como o têm as nações que me cercam Ver. 15 - elegerás aquele rei que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido, e este será um de teus irmãos: não poderás escolher para rei de Israel um estrangeiro que não seja teu irmão... Ver. 17 - Guarde-se também o rei de multiplicar suas mulheres, para que não suceda que seu coração se desvie (de Deus). Tampouco ajuntará ele grande quantidade de prata e ouro... Lapidação (Deut. 17, 5-7 e 21, 18-21) CAPÍTULO 18 Direitos dos Sacerdotes Levíticos Ver. 1 - Os sacerdotes levíticos e toda a tribo de Levi não terão parte nem herança com Israel: alimentar- se-ão dos sacrifícios feitos pelo fogo ao Senhor, que é sua parte. Ver. 2 - Não terão herança entre seus irmãos: o Senhor mesmo é a sua herança, ele lhes disse... CAPÍTULO 19 As Cidades de Refúgio – Os Limites - Testemunhas Pena Talião (Deut. 19,21) Cidade de Refúgio (Deut. 19,1-3) Testemunhas (Deut. 19, 15-16 113 Ver. 1 - Quando o Senhor, teu Deus, tiver exterminado as nações cuja terra te dá, quando as tiveres despojado e te tiveres estabelecido em suas cidades e habitações, Ver. 2 - reservarás três cidades no meio da terra cuja posse o Senhor, teu Deus, te dá. Ver. 3 - Farás estradas que conduzam a elas e dividirás em três partes a terra que te dá o Senhor, teu Deus, a fim de que todo o homicida possa encontrar refúgio nessas cidades... Ver. 4 - Eis a regra a seguir para o homicida que ali se refugiar, procurando salvar sua vida. Se matou o seu próximo por inadvertência, sem ódio prévio Ver. 6 – De outra forma, o vingador do sangue, no ardor de sua cólera, perseguir o homicida e, se o caminho fosse muito longo, atingi-lo para dar-lhe o golpe mortal. Entretanto, esse homem não merece a morte, pois que ele não tinha ódio da vitima... Ver. 11 – Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, Ver. 12 – Então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra. Ver. 14 – Não removerás os marcos de teu vizinho, que teus predecessores fixaram na herança que te couber na terra, cuja posse te há de dar o Senhor, teu Deus. Ver. 15 – Não será admitido contra um homem somente uma testemunha, qualquer que seja o crime, falta ou delito. Só se tomará a coisa em consideração sobre o depoimento de duas ou três testemunhas... Ver. 16 – Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de transgressão Ver. 18 – Depois de uma cuidadosa investigação feita pelos juizes, se se verificar que se trata de um falso testemunho, e que a testemunha fez contra o seu irmão uma falsa deposição... Ver. 21 - Não terás compaixão: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. CAPÍTULO 20 Leis Acerca da Guerra, Fauna e Flora (Deut. 20,19 e 22,6-7) Ver. 1 - Quando saíres à guerra contra teus inimigos e vires cavalos, carros e um exército mais numeroso que o teu, não tenhas medo, porque o Senhor, teu Deus, que te tirou do Egito, está contigo... Ver. 10 - Quando te aproximares para combater uma Cidade, oferecer-lhe-ás primeiramente a paz... Ver. 19 - Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, colocando nele o machado, porque dele comerás; pois que não o cortarás (pois o arvoredo do campo é mantimento para o homem), para empregar no cerco. CAPÍTULO 21 Homicidas Desconhecidos – Direito de Primogenitura – Filhos Incorrigíveis Lapidação (Deut. 21, 18-21) Herança e Primogenitura (Deut. 21, 15-17) Ver. 15 - Se um homem tiver duas mulheres, uma que ele ama, outra ele desdenha, e lhe tiverem dado filhos, tanto a que é amada como a que é desdenhada, se o filho desta última for o filho primogênito. Ver. 16 - este homem, no dia em que repartir os seus bens entre os seus filhos, não poderá dar o direito de primogenitura ao filho da que é amada, em detrimento do primogênito, filho da mulher desdenhada... Ver. 17 - Mas ao filho da desprezada reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele. Ver. 18 - Se um homem tiver um filho indócil e rebelde, que não atende ás ordens de seu pai nem de sua mãe, permanecendo insensível ás suas correções, Ver. 19 - seu pai e sua mãe tomá-lo-ão e o levarão aos anciãos cidade, à porta da localidade onde habitam, Ver 20 - e lhes dirão: Este nosso filho é indócil e rebelde; não nos ouve, e vive na embriaguez e na dissolução. Ver. 21 – Então, todos os homens da cidade o apedrejarão até que ele morra. Assim, tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel, ao sabê-lo, será possuído de temor... CAPÍTULO 22 Leis Diversas – Leis Acerca do Casamento Adultério (Deut. 22,22) Concubinato (Deut. 22,15 e Lev. 18,18) Defloração (Deut. 22, 28 e 29) Fauna e Flora (Deut. 20,19 e 22,6-7) Ver. 5 - A mulher não se vestirá de homem, nem o homem se vestirá de mulher: aquele que o fizer, será abominável diante do Senhor, teu Deus... Ver. 6 - Quando encontrares pelo caminho um ninho de ave numa árvore, ou no chão, com passarinhos, ou ovos, e a mãe posta sobre os passarinhos, ou sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhotes; Ver. 7 - Deixarás ir livremente a mãe, e os filhotes tomarás para ti; para que te vá bem e para que prolongues os teus dias. Ver. 13 - Se um homem, depois de ter desposado uma mulher e a ter conhecido, vier a aborrecê-la, Ver. 14 - e, imputando-lhe faltas desonrosas, se puser a difamá-la, dizendo: Desposei esta mulher, e, ao aproximar-me dela, descobri que ela não era virgem, 114 Ver. 15 - então o pai e a mãe da donzela tomarão as provas de sua virgindade e as apresentarão aos anciãos da cidade, á porta. Ver. 16 - O pai dirá aos anciãos: Dei minha filha por mulher a este homem, mas porque ele lhe tem aversão, Ver. 17 - eis que agora lhe imputa faltas desonrosas, pretendendo não ter encontrado nela as marcas da virgindade. Ora, eis aqui as provas da virgindade de minha filha. E estenderão diante dos anciãos da cidade a veste de sua filha... Ver. 22 - Quando um homem for achado deitado com mulher que tenha marido, então ambos morrerão, o homem que se deitou com a mulher, e a mulher; assim tirarás o mal de Israel. Ver. 23 - Quando houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela, Ver. 24 - Então trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram; a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo; assim tirarás o mal do meio de ti. Ver. 25 - E se algum homem no campo achar uma moça desposada, e o homem a forçar, e se deitar com ela, então morrerá só o homem que se deitou com ela; Ver. 26 - Porém à moça não farás nada. A moça não tem culpa de morte; porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo, e lhe tira a vida, assim é este caso. Ver. 27 - Pois a achou no campo; a moça desposada gritou, e não houve quem a livrasse. Ver. 28 - Se um homem encontrar uma jovem virgem, que não seja casada, e, tomando-a, dormir com ela, e forem apanhados, Ver. 29 - este homem dará ao pai da jovem cinqüenta siclos de prata, e ela tornar-se-á sua mulher. Como a deflorou, não poderá repudiá-la em todos os dias de sua vida... CAPÍTULO 23 Leis Diversas Fraude Comercial e Juros ( Deut. 23,20 e 21) Ver. 15 - Não entregarás ao seu senhor o escravo fugitivo que se refugiar em tua casa. Ver. 16 - Ele ficará contigo, em tua terra, no lugar que tiver escolhido numa de tuas cidades, onde melhor lhe parecer, e não o molestarás. Ver 17 - Não haverá mulher cortesã nem prostituta entre as filhas ou entre filhos de Israel... Ver 19 - A teu irmão não emprestarás com juros, nem dinheiro, nem comida, nem qualquer coisa que se empreste com juros. Ver 20 - Ao estranho emprestarás com juros, porém a teu irmão não emprestarás com juros; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em tudo que puseres a tua mão, na terra a qual vais a possuir. Ver 21 - Quando fizeres algum voto ao SENHOR teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Ver. 24 - Quando entrares na vinha do teu próximo, poderás comer livremente quantas uvas quiseres, mas não as levarás contigo em tua cesta. Ver. 25 - Quando entrares na seara de trigo do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, mas não usarás a foice.... CAPÍTULO 24 Lei Acerca do Divórcio e Leis Diversas Individualidade das Penas (Deut. 24,16) Divórcio (Deut. 24,1); Ver. 1 - Se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela, e vier a aborrecê-la por descobrir nela qualquer coisa inconveniente, escreverá uma letra de divórcio, lha entregará na mão, e a despedirá de sua casa... Ver 6 - Não se tomarão como penhor as duas pedras do moinho, nem que seja somente a pedra móvel, porque seria tomar como penhor a própria vida... Ver. 10 - Se fizeres ao teu próximo um empréstimo qualquer, não entrarás em sua casa para tomar (algum) penhor. Ver. 11 - Esperarás fora; é ali que o teu devedor te trará esse penhor... Ver. 14 - Não prejudicarás o assalariado pobre e necessitado, quer seja um de teus irmãos, quer seja um estrangeiro que mora numa das cidades de tua terra. Ver. 15 - Dar-lhe-ás o seu salário no mesmo dia, antes do pôr do sol, porque é pobre e espera impaciente mente a sua paga. Do contrário clamaria contra ti ao Senhor, e culpado de um pecado, Ver. 16 - Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais. Cada um morrerá pelo seu próprio pecado... CAPÍTULO 25 Lei do Levirato e Leis Diversas ver. 5 - Se alguns irmãos habitarem juntos, e um deles morrer sem filhos, a mulher do defunto não se casará fora com um estranho: seu cunhado a desposará e se aproximará dela, observando o costume do levirato. Ver. 13 - Não terás em tua bolsa duas espécies de pesos, uma pedra e uma pequena. Ver. 14 - Não terás duas espécies de efás, um grande e um pequeno. 115 Ver. 15 - Tuas pedras serão um peso exato e justo, para que prolongados os teus dias na terra que te dá o Senhor, teu Deus... IV – DISCURSOS COMPLEMENTARES (Cap. 27 a 30) V – ADEUS E MORTE DE MOISÉS (Cap. 31 a 34) ANEXO - 03 - MANUSRTI – CÓDIGO DE MANU (Estudo Resumido) Livro Primeiro Descreve a apresentação e o pedido das leis compiladas pelos Maharqui (os dez santos eminentes) dirigido a Manu; a criação do mundo; a hierarquia celeste e humana; a divisão do tempo; o alternar-se da vida e da morte, em cada ser criado; e, a explicação das regras para que possam ser difundidas. Livro Segundo Institui quais sejam os deveres que devem cumprir os homens virtuosos, os quais são inatacáveis tanto pelo ódio quanto pelo amor, e as obrigações e a vida prescrita para o noviciado e a assunção dos sacramentos para os Brâmanes, sacerdotes, membros da mais alta casta hindu. Livro Terceiro Estipula normas sobre o matrimônio e os deveres do chefe da família; trazendo descrições minuciosas sobre os inúmeros costumes nupciais; o comportamento do bom pai frente à mulher e aos filhos; a obrigação de uma vida virtuosa; a necessidade de excluir pessoas indesejáveis, como, por exemplo, os portadores de doenças infecciosas, os ateus, os que blasfemam, os vagabundos, os parasitas, os dançarinos de profissão, etc. do meio familiar; as oblações que devem ser feitas aos deuses, etc. Livro Quarto Ratifica, como de fundamental importância, o princípio de que qualquer meio de subsistência é bom se não prejudica, ou prejudica o menos possível, os outros seres humanos, e ensina de que maneira, honesta e honrosa, se pode procurar como e do que viver. Livro Quinto Indica quais os alimentos que devem ser preferencialmente consumidos para ter uma vida longa e quais normas de existência devem ser seguidas para a purificação do corpo e do espírito; eleva simbolicamente a função do trabalho e determina normas de conduta para as mulheres, que devem estar sempre submetidas ao homem (pai, marido, filho ou parente e, na falta, ao soberano). Livro Sexto 116 Regula a vida dos anacoretas (religioso contemplativo) e dos ascetas (praticantes); de como tornarem-se, conhecendo as escrituras, cumprindo sacrifícios e abandonando as paixões humanas. Livro Sétimo Determina os deveres dos reis e confirma as normas de sua conduta, que deve ter como objetivo proteger com justiça todos aqueles que estão submetidos ao seu poder. O Código se ocupa não só das relações internas, como também das externas, e dita regras de diplomacia para os embaixadores do rei e da arte da guerra quando for preciso recorrer às armas. O principio romano ―se queres a paz prepara-te para a guerra‖ (si vis pacem para bellum), já é aplicado aqui, quando diz que o rei, cuja armada mantém-se eficiente e constantemente em exercício, é temido e respeitado pelo mundo inteiro. Livro Oitavo ( RESUMO) I - DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA DO OFÍCIO DOS JUIZES Art.1º - Um rei, desejoso de examinar os negócios judiciais, deve comparecer à Corte de Justiça em um porte humilde, sendo acompanhado de Brâmane e de Conselheiros experimentados... Art.10 - Que esse Brâmane examine os negócios submetidos à decisão do rei; acompanhado de três assessores, que ele se dirija ao tribunal mais eminente e aí se mantenha sentado ou de pé. Art. 11 - Qualquer que seja o lugar em que sentam três Brâmanes versados nos Vedas presidido por um Brâmane muito sábio, escolhido pelo rei, essa assembléia é chamada pelos sábios, a Corte de Brama de quatro faces... Art. 13 - É preciso ou não vir ao Tribunal ou falar segundo a verdade: o homem que nada diz, ou profere uma mentira, é igualmente culpado... Art. 17 - A justiça é o único amigo que acompanha os homens depois da morte; porque qualquer outro afeto é submetido à mesma destruição que o corpo... Art. 27 - O bem por herança de um menor sem protetor, deve ficar sob a guarda do rei até que ele termine seus estudos ou saia da infância, isto é, até os seus 16 anos. Art. 28 - A mesma proteção deve ser concedida às mulheres estéreis, aquelas que não têm filhos, às mulheres sem parentes, àquelas que são fiéis a seu esposo ausente, às viúvas e às mulheres atingidas por uma moléstia Art. 30 - Um bem qualquer, cujo dono não é conhecido, deve ser proclamado ao som do tambor, depois conservado em depósito pelo rei durante três anos; antes da expiração dos três anos, o proprietário pode retoma-lo; depois desse termo, o rei pode abjudicá-lo a si. Art. 31 - O homem que vem dizer: ―Isto é meu‖, deve ser interrogado com cuidado; somente depois que ele tenha declarado a forma, o número, e os outros sinais, é que ao proprietário deve ser restituída a posse do objeto em questão. Art. 32 - Aquele que não pode indicar perfeitamente o lugar e o tempo em que o objeto foi perdido, assim como a cor, a forma e a dimensão desse objeto, deve ser condenado a uma multa do mesmo valor... Art. 35 - Quando um homem vem dizer com verdade: ―esse tesouro me pertence‖ e quando ele prova o que alega, o tesouro tendo sido achado, quer por esse homem quer por outro, o rei deve ter dele a sexta ou a duodécima parte, segundo a qualidade desse homem... Art. 37 - Quando o Brâmane instruído vem a descobrir um tesouro outrora enterrado, ele pode toma-lo integralmente, porque ele é senhor de tudo que existe. Art. 38 - Mas, quando o rei acha um tesouro antigamente depositado na terra e que não tem dono, que ele dê a metade dele aos Brâmanes e deixe entrar a outra metade em seu tesouro. Art. 39 - O rei tem direito à metade dos antigos tesouros e dos metais preciosos que a terra contém, por sua qualidade de protetor e porque ele é o senhor da terra... II - DOS MEIOS DE PROVA Art. 47 - Eu foi fazer conhecer, com testemunhas, os credores, e os outros litigantes devem produzir nos processos, assim como a maneira porque essas testemunhas devem declarar a verdade... 117 Art. 49 - Devem-se escolher como testemunhas, para as causas, em todas as classes, homens dignos de confiança, conhecendo todos os seus deveres, isentos de cobiça, e rejeitar aqueles cujo caráter é o oposto a isso. Art. 50 - Não se devem admitir nem aqueles que um interesse pecuniário domina, nem amigos, nem criados, nem inimigos, nem homens cuja má-fé seja conhecida, nem doentes, nem homens culpados de um crime... Art. 51 - Não se pode tomar para testemunha nem o rei, nem um artista de baixa classe, como um cozinheiro, nem um ator, nem um hábil teólogo, nem um estudante, nem um ascético afastado de todas as relações mundanas .Art. 52 - Nem um homem inteiramente dependente, nem um homem mal afamado, nem o que exerce um ofício cruel, nem o que se entrega a ocupações proibidas, nem um velho, nem uma criança, nem um homem só, nem um homem pertencente a uma classe misturada, nem aquele cujos órgãos estão enfraquecidos Art. 53 - nem um infeliz desanimado pelo pesar, nem um ébrio, nem um louco, nem um sofrendo fome ou sede, nem fatigado em excesso, nem o que está apaixonado de amor, ou em cólera, ou um ladrão Art. 54 - Mulheres devem prestar testemunho para mulheres; Dvija da mesma classe para Dvijas, Sudras honestos para pessoas da classe servil; homens pertencentes às classes misturadas para os que nasceram nessas classes. Mas, se se trata de um fato acontecido nos aposentos interiores ou em uma floresta, ou de um assassinato, aquele, quem quer que seja, que viu o fato, deve dar testemunho entre as duas partes. Art. 55 - Em tais circunstâncias, na falta de testemunhas convenientes, pode-se receber o depoimento de uma mulher, ou de uma criança, de um ancião, de um discípulo, de um parente, de um escrava ou de um criado... Art. 62 - O testemunho isolado de um homem isento de cobiça, é admissível em certos casos; enquanto que o de um grande número de mulheres, ainda que honestas, não o é (por causa da inconstância do espírito delas) como não o é o dos homens que cometeram crimes. Art. 66 - A testemunha que diz a verdade, fazendo seu depoimento, chega às supremas moradas e obtém neste mundo a mais alta fama; sua palavra é honrada por Brahma... Art. 67º Aquele que presta um testemunho falso, cai nos laços de Veruna , sem poder opor nenhuma resistência, durante cem transmigrações (8); deve-se, por conseguinte, dizer só a verdade Art. 68 - Uma testemunha é purificada declarando a verdade; a verdade faz prosperar a justiça; é por isto que a verdade deve ser declarada pelas testemunhas de todas as classes.... Art. 74 - As moradas de tormentos reservadas ao assassino de um Brâmane, ao homem que mata uma mulher ou uma criança, ao que faz mal ao seu amigo e ao que paga com o mal o bem, são igualmente destinadas à testemunha que dá depoimento falso Art. 78 - Nu e calvo, sofrendo fome e sede, privado da vida, aquele que tiver prestado falso testemunho, será reduzido a mendigar sua subsistência, com uma xícara quebrada, na casa de seu inimigo Art. 79 - Com a cabeça para baixo será precipitado nos abismos mais tenebrosos do inferno, o celerado que, interrogado em um inquérito judicial, der um depoimento falso. Art. 89 - Todas as vezes que a declaração da verdade poderia causar a morte de um Sudra, de um Vaisya, de um Ksatriya ou de um Brâmane, quando se trata de uma falta cometida num momento de alucinação e não de um crime premeditado, como roubo, arrombamento, é preciso dizer uma mentira; e, nesse caso, é preferível à verdade. Art. 92 - O homem que, sem estar doente, não vem ao decurso das três semanas seguintes a uma citação prestar testemunho em um processo sobre uma dívida, será condenado ao pagamento da divida toda e, alem disso, a uma multa do décimo... Art. 95 - Que um homem sensato não faça nunca um juramento em vão, mesmo para uma coisa de pouca importância, porque aquele que faz um juramento em vão, está perdido no outro mundo e neste... Art. 97 - Que o juiz faça jurar um Brâmane por sua veracidade; um Ksatriya, por seus cavalos, seus elefantes ou suas armas; um Vaisya, por suas vacas, seu trigo, seu ouro; um Sudra, por todos os crimes Art. 98 - Ou então, segundo a gravidade do caso, que ele faça tomar o fogo com a mão àquele que ele quer experimentar ou que ele mande mergulhá-lo na água ou lhe faça tocar separadamente a cabeça de cada um de seus filhos e de sua mulher Art. 99 - Aquele a quem a chama não queima, a quem a água não faz sobrenadar, ao qual não sobrevém desgraça prontamente, deve ser considerado como verídico em seu juramento Art.102 - Um depoimento feito por cobiça, por erro, por temor, por amizade, por concupiscência, por cólera, por ignorância e por imprudência, é declarado inválido. Art.103 - Eu vou enumerar na ordem as diversas espécies de punições reservadas àquele que dá um falso testemunho por um desses motivos... Art.112 - Um rei que pune os inocentes, que não inflige castigo aos que merecem ser punidos, se cobre de ignomínia e vai para o inferno depois de sua morte... III - DAS MOEDAS Art.115 - As diversas denominações aplicadas ao cobre, a prata e ao ouro em peso, usadas comumente neste mundo para as relações comerciais dos homens, eu vou explicar-vos sem omitir coisa 118 alguma... Art.119 - Quatro suvarnas de ouro fazem uma pala; dez palas um dharana; um mashaka de prata deve ser reconhecido como sendo o valor de dois krishnalas reunidos. PARTE ESPECIAL IV - DAS DÍVIDAS Art. 123 - Quando um credor reclama perante o rei a restituição de uma soma emprestada que o devedor retém, que o rei faça o devedor pagar, depois que o credor fornecer a prova da divida... Art. 125 - Por meios conforme ao dever moral por demanda, pela astúcia pela ameaça e, enfim, pelas medidas violentas, pode um credor se fazer pagar da soma que lhe devem. Art. 126 - O credor que força seu devedor a lhe restituir o que lhe emprestou, não deve ser censurado pelo rei por haver retomado o seu bem... Art. 140 - Que ele receba dois por cento de juro, por mês (porém nunca mais) de um Brâmane, três de um Ksatriya, quatro de um Vaisya e cinco de um Sudra, segundo a ordem direta das classes. Art. 143 - Um penhor e um depósito não podem ser perdidos para o proprietário por efeito de um lapso de tempo considerável; eles devem ser recuperados, ainda que tenham ficado muito tempo em poder do depositário... Art. 149 - O juro de uma soma emprestada, recebida de uma só vez, e não por mês ou por dia, não deve ultrapassar o duplo da dívida, isto é, não deve subir além do capital que se reembolsa ao mesmo tempo; e para grãos, fruta, lã ou crina, animais de carga, emprestados para serem pagos em objetos do mesmo valor, o juro deve ser no máximo bastante elevado para quintuplicar a dívida Art. 150 - Um juro que ultrapassa a taxa legal e que se afasta da regra precedente, não é válido; os sábios o chamam processo usurário; o mutuante não deve receber no máximo senão cinco por cento. Art. 151 - Que um mutuante por um mês ou por dois ou três, a um certo juro, não receba o mesmo juro além do ano, nem nenhum juro desaprovado, nem juro de juro, por convenção anterior, nem um juro mensal que acabe por exceder o capital, nem um juro extorquido de um devedor em um momento de aflição, nem os lucros exorbitantes de um penhor, cujo gozo está no lugar do juro... Art. 161 - Todo contrato feito por uma pessoa ébria ou louca ou doente, ou inteiramente dependente, por um menor, por um velho ou por uma pessoa que não tem autorização, é de nenhum efeito... V - DOS DEPÓSITOS Art. 178 - Qualquer que seja o objeto e de qualquer maneira que ele seja depositado nas mãos de uma pessoa, deve se reaver esse objeto da mesma maneira; assim depositado, assim restituído... Art. 191 - Aquele, que por falsas ofertas de serviço, se apodera do dinheiro alheio, deve suportar publicamente, assim como seus cúmplices, diversas espécies de suplícios, segundo as circunstâncias, e mesmo a morte... VI - DA VENDA DE COISA ALHEIA Art. 197 - Uma doação ou uma venda feita por um outro que não o verdadeiro proprietário, deve ser considerada como não feita; tal é a regra estabelecida nos processos... Art. 201 - Não se deve vender nenhuma mercadoria de má qualidade como boa, nem uma mercadoria de um peso mais fraco que o convencionado, nem uma coisa afastada, nem uma coisa de que se tem escondido os defeitos... VII - DAS EMPRESAS COMERCIAIS Art. 209 - Quando vários homens se reúnem para cooperar, cada um por seu trabalho, em uma mesma empresa, tal é a maneira porque deve ser feita a distribuição das partes. VIII- DA REIVINDICAÇÃO DA COISA DOADA Art. 210 - Quando tem sido dado ou prometido dinheiro por alguém a uma pessoa, que o pediu para consagra-lo a um ato religioso; a doação será de nenhum efeito, se o ato não for cumprido... IX - DO NÃO PAGAMENTO DO ORDENADO OU DO SALÁRIO Art. 213 - O homem assalariado que, sem estar doente, recusa por orgulho fazer a obra convencionada, será punido com uma multa de oito krishnalas de ouro e seu salário não lhe deve ser pago. Art. 214 - Mas, de depois de ter estado doente, quando se restabelece, faz sua obra conforme a convenção anterior, deve receber sua paga, ainda mesmo um grande lapso de tempo... 119 X - DO INADIMPLEMENTO EM GERAL DAS OBRIGAÇÕES Art. 217 - Que o rei expulse do seu reino aquele que, tendo feito com mercadores e outros habitantes de uma aldeia ou de um distrito, uma convenção, à qual se tenha comprometido por juramento, falte por avareza às suas promessas. XI - DA ANULAÇÃO DE UMA COMPRA E VENDA Art. 220 - Aquele que, tendo comprado ou vendido uma coisa, a qual tem um preço fixo e não é perecível, como uma terra ou metais, se arrepende, durante dez dias pode restituir ou reaver essa coisa. Art. 221 - Mas, passado o décimo dias, ele não pode mais restituir nem forçar a lhe restituírem; e aquele que retoma por força ou obriga a restituição, deve ser punido pelo rei com uma multa de seiscentos panas... XII - QUESTÕES ENTRE PATRÕES E SERVOS Art. 229 - Quando um animal se perde, é morto pelos répteis ou por cães, ou cai em um precipício e isso por negligência do guarda, ele é obrigado a dar outro... Art. 232 - Quando um rebanho de cabras ou de ovelhas é assaltado por lobos e o pastor não corre, e o lobo pega uma cabra ou uma ovelha e a mata, a culpa é do pastor... XIII – DAS QUESTÕES SOBRE LIMITES Art. 242 - Quando se levanta uma contestação sobre limites entre duas aldeias, que o rei escolha os meses de maio e junho para determinar os limites, sendo então mais fáceis de distinguir, porque o ardor do sol tem dessecado inteiramente a erva Art. 243 - Os limites sendo estabelecidos, devem se plantar as grandes árvores e árvores abundantes de leite... Art. 253 -