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FORMAÇÃO ECONOMICA
PRIMEIRA PARTE
FUNDAMENTOS ECONOMICOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL
1. DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA
_ A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa.
Contexto:
O comercio interno europeu, em intenso crescimento a partir do sec. XI, havia alcançado um elevado grau de desenvolvimento no sec. XV, quando as invasões turcas começaram a criar dificuldades crescentes às linhas orientais de abastecimento de produtos de produtos de alta qualidade, inclusive manufaturas.
_O restabelecimento dessas linhas, contornando o obstáculo otomano constitui uma das maiores realizações dos europeus na segunda metade do sec. XV. 
_ O interesse da primeira etapa da ocupação foram os metais preciosos. 
_Quando os boatos sobre a riqueza na América correm a Europa, a ocupação desta deixa de ter interesse puramente comercial: intervêm nela fatores políticos. 
_A Espanha tratará de transformar seus domínios em uma imensa cidadela. 
A ocupação do território brasileiro passa por interesses políticos:
_As demais nações europeias só reconheciam o direito sobre terras efetivamente ocupadas.
_ O esforço por parte de Portugal implicava desviar recursos de empresas muito mais produtivas no Oriente. 
_Portugal contava com poucos recursos para efetivar a ocupação. A Espanha contava com recursos bem superiores e mesmo assim passou por dificuldades. 
_ Os traços de maior relevo do primeiro século de historia americana estão ligados a essas lutas em torno de terras de escassa ou nenhuma utilização econômica. Espanha e Portugal se creem com direito a totalidade dessas terras, o que é contestado pelas nações com mais rápida expansão comercial da Europa: Holanda, França e Inglaterra. 
Necessidade da agricultura tropical:
_Para cobrir os gastos com a defesa de seu território, Portugal promove a exploração da agricultura das terras brasileiras. 
De simples empresa espoliativa e extrativa a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu. 
_Por essa época nenhum produto agrícola era objeto de comércio em grande escala na Europa. O principal produto, o trigo, era plenamente atendido pela produção interna. Os transportes tinham custos elevadíssimos. 
2. FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
_ O pioneirismo dos portugueses no cultivo da cana, em grande escala, em ilhas do Atlântico, permitiu a solução de problemas técnicos com a produção do açúcar e o desenvolvimento de equipamentos para os engenhos açucareiros. 
_ A significação maior da experiência das ilhas do Atlântico estava no campo comercial. Tudo indica que o açúcar português inicialmente entrou nos canais tradicionais controlados pelos comerciantes das cidades italianas.
_Uma das maiores consequências da entrada da produção portuguesa (que viria a se tornar praticamente única) no mercado foi a quebra do monopólio que os venezianos mantinham do acesso às fontes de produção. 
_A contribuição dos flamengos para a grande expansão do mercado do açúcar constitui, na segunda metade do sec. XVI, um fator fundamental do êxito da colonização do BR. 
_Os holandeses eram especializados no comércio intra-europeu e financiavam boa parte deste. Eram o único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um novo produto, como era o açúcar. 
_Além da importância comercial, há uma relação no que concerne ao financiamento. Este não se limita ao refinamento e a comercialização, mas também à produção de cana, inclusive viabilizando a importação de mão-de-obra. 
_Mas não bastam a experiência técnica dos portugueses na fase produtiva e a capacidade comercial e o poder de financiamento dos holandeses para tornar viável a empresa colonizadora agrícola das terras do Brasil. Havia o problema da mão-de-obra. 
Porque o trabalho livre mostrava-se inviável:
_Necessidade de um grande contingente, o que não era disponível a Portugal;
_As condições de trabalho só atraiam mão-de-obra mediante altos salários;
_ A viabilidade da produção estava na concentração de capital, a qual muitos colonos não possuíam. 
_Um fator que facilitou a solução desse problema foi o conhecimento de Portugal sobre o mercado de escravos. 
_ Por trás desses problemas (técnica de produção, criação de mercado, financiamento, mão-de-obra) havia o desejo e o empenho do governo português de conservar a parte que lhe cabia.
_O êxito da grande empresa agrícola do sec. XVI constitui a razão da continuação da presença dos portugueses em terras tão extensas.
3. RAZÕES DO MONOPÓLIO
_ Mesmo diante dos resultados positivos da ocupação agrícola do BR, a Espanha continuava centrando suas atividades na extração de metais. A politica espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos, sempre que possível autossuficientes e produtores de um excedente liquido (na forma de metais preciosos), que se transferia periodicamente para a metrópole. 
_ A decadência da Espanha prejudicou muito as colônias americanas. Fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econômica de envergadura chegou a ser encetada. As exportações agrícolas de toda a região não encontraram importância significativa em três séculos do império colonial. 
_ O abastecimento de manufaturas das grandes massas de população indígenas continuou a basear-se no artesanato local, o que retardou a transformação das economias de subsistência preexistentes na região. 
_ O consumo de manufaturas europeias pelas densas populações da meseta mexicana e do altiplano andino teria criado a necessidade de uma contrapartida de exportações de produtos locais, seja para consumo na Espanha, seja para a reexportação. 
_ Um intercambio desse tipo provocaria necessariamente transformações nas estruturas arcaicas das economias indígenas e possibilitaria maior penetração de capitais e técnicas europeias.
_”Houvesse a colonização espanhola evoluído nesse sentido, muito maiores teriam sido as dificuldades enfrentadas pela empresa portuguesa para vencer”. 
_A abundancia de terras de melhor qualidade para produzir açúcar de que dispunha (terras mais próximas de Europa), a barateza de uma mão-de-obra indígena mais evoluída do ponto de vista agrícola, bem como o enorme poder financeiro concentrado em suas mãos, tudo indica que os espanhóis podiam ter dominado o mercado de produtos tropicais (particularmente o de açúcar) desde o sec. XVI. 
_ A principal razão para isso não ter acontecido deve-se a decadência da Espanha, a qual se deve à descoberta precoce dos metais preciosos. 
_ Não existindo um fator politico por trás, como ocorreu em Portugal, o desenvolvimento das linhas de exportação de produtos agrícolas americanos teria que ser provocado por grupos econômicos poderosos, interessados em vender seus produtos nos mercados coloniais.
_ O esperado é que os produtores de manufaturas liderassem esse movimento, se não fosse a decadência em que entrou esse setor na etapa das grandes importações de metais preciosos e da concentração de renda nas mãos do Estado espanhol.
4. DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
_O quadro político-econômico dentro do qual nasceu e progrediu a empresa agrícola realizada com a colonização do BR foi profundamente modificado pela absorção de Portugal na Espanha.
_ A guerra das Províncias Unidas com a Espanha promoveu a Holanda. No começo do séc. XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus realizados por mar.
_ Era necessário seu apoio e pagar quantias consideráveis para que pudesse distribuir o açúcar no continente. 
_ A luta pelo controle do açúcar torna-se uma das razoes de ser da guerra que promoveram os holandeses contra a Espanha.
_ E um dos episódios dessa guerra foi a ocupação pelos batavos, durante um quarto de século, de grande parte da região produtora de açúcar no BR.
_As consequências da ruptura do sistema
cooperativo anterior será muito mais duradouras que a ocupação militar.
_ Durante sua permanência no BR, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira.
_ Esse conhecimento vai constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe.
_ Rompe-se, então, o monopólio de três séculos que se assentava na identidade de interesses entre produtores portugueses e os grupos financeiros holandeses que controlavam o comercio europeu. 
_ A etapa de máxima rentabilidade da empresa agrícola-colonial portuguesa havia sido ultrapassada. 
_Há indícios de que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto do que havia sido em sua melhor época. A depreciação da moeda portuguesa observada nessa época é de proporção similar, o que indica a enorme importância para o balanço de pagamentos de Portugal que tinha o açúcar brasileiro. 
_ Como Portugal era o principal abastecedor da colônia, essa desvalorização significaria uma importante transferência de renda real para o núcleo colonial. Como o BR se abastecia principalmente de manufaturas que os portugueses recebiam de outros países e como os artigos de produção interna que Portugal exportava para o BR eram, via de regra, os mesmos que exportava para outras partes, o mais provável é que seus preços estivessem fixados em ouro. Sendo assim, as transferências de renda provocadas pela desvalorização revertiam principalmente em beneficio dos exportadores metropolitanos portugueses. 
5. AS COLONIAS DE POVOAMENTO DO HEMISFERIO NORTE
_O principal acontecimento da história americana no sec. XVII foi, para o BR, o surgimento de uma poderosa economia concorrente no mercado de produtos tropicais. 
_ A debilidade militar da Espanha, principalmente em função dos enfrentamentos pela Holanda, França e Inglaterra.
_ Franceses e ingleses se empenhavam, no início do sec. XVII em concentrar nas Antilhas importantes núcleos de população europeia, na expectativa de um assalto em larga escala, concentrados nas Antilhas, na expectativa de conquistar os domínios da grande potencia enferma deste século. 
_ Essa colonização, por objetivos políticos, era baseada na pequena propriedade.
_ As Antilhas inglesas se povoaram com maior rapidez que as francesas e com menos assistência financeira, provavelmente pela disponibilidade dos colonos britânicos. 
_O sec. XVII foi uma etapa de grandes transformações sociais e de profunda intranquilidade política e religiosa nessas ilhas britânicas. Migração populacional.
_ Somente com fins militares o governo inglês tomará a seu cargo o financiamento das migrações.
_ Ao contrário do que ocorrera com a Espanha e Portugal, que se viram afligidos por uma permanente escassez de mão-de-obra quando iniciaram a ocupação da América, A Inglaterra do sec. XVII apresentava um considerável excedente de população, graças às profundas modificações em sua agricultura iniciadas no século anterior.
_A busca de artigos capazes de criar mercados em expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais.
_ A necessidade de artigos que pudessem ser produzidos em pequenas propriedades. 
_ Em tais condições, os núcleos situados na região norte da América encontraram dificuldades para criar uma base econômica estável. 
Fatores que explicam o lento desenvolvimento dessas colônias:
_ As companhias que financiaram esse processo tiveram prejuízos.
_ O que podia se produzir na Nova Inglaterra era aquilo que se produzia na Europa, onde os salários estavam determinados por um nível de subsistência extremamente baixo.
_ Custo do transporte deixava insignificante qualquer vantagem. 
Condições climáticas:
As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de alguns artigos que era compatíveis com o regime da pequena propriedade agrícola e permitiam que as companhias colonizadoras realizassem lucros substanciais, ao mesmo tempo que os governos das potencias expansionistas (França e Inglaterra) viam crescer suas milícias. 
6. CONSEQUENCIAS DA PENETRAÇÃO DO ACUCAR NAS ANTILHAS
- Com a transformação em êxito comercial da agricultura tropical, principalmente do fumo, as dificuldades com a mão-de-obra começaram a surgir. 
_Introdução da mão-de-obra escrava africana (nas regiões de grandes propriedades).
_ Surge uma situação nova no mercado de produtos tropicais: uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão-de-obra escrava de grandes propriedades produtivas e regiões de pequenas propriedades de população europeia.
_ As plantações com utilização de mão-de-obra escrava mostravam-se mais lucrativas.
_ A baixa dos preços ocorridas nos mercados internacionais cria sérias dificuldades às populações antilhanas e demonstram a fragilidade desse sistema de colonização de povoamento. 
_ A partir desse momento se modifica o curso da colonização antilhana, e essa modificação será de importância fundamental para o Brasil.
_Primeiramente, o açúcar não era produzido por ser incompatível com o sistema de pequena propriedade.
_Os primeiros objetivos políticos da França e da Inglaterra para os grupos de população europeia na América são abandonados em função dos novos objetivos econômicos. 
_Essa modificação da economia antilhana ocorreu de modo mais rápido em função da expulsão dos holandeses do Brasil.
_Senhores da técnica de produção e aparelhados para a fabricação de equipamentos para a indústria açucareira, os holandeses se empenharam em criar fora do Brasil um importante núcleo produtor de açúcar. 
_A situação que encontram nas Antilhas com os franceses e ingleses é tão favorável que preferem se juntar aos colonos, a tentar conquistar novas terras.
_Na Martinica, as dificuldades causadas pelo baixo preço do fumo eram muitas, o que facilitou a aproximação holandesa.
_Nas Antilhas inglesas as dificuldades econômicas, intensificadas pela guerra civil nas Ilhas Britânicas e pelo isolamento em relação à metrópole, também facilitavam a aproximação holandesa. 
_Os holandeses forneceram, além da ajuda técnica, o crédito para compra de equipamentos, terras e escravos.
_ Em pouco tempo se constituíram nas ilhas poderosos grupos financeiros que controlavam grandes quantidades de terras e possuíram engenhos açucareiros de grandes proporções.
_Passa a operar um concorrente ao Brasil com equipamentos novos e uma melhor posição geográfica. 
_ A valorização das terras provocada pela introdução do açúcar agiu inexoravelmente, destruindo em pouco tempo a colonização de povoamento das regiões tropicais da América. No entanto, foi esta produção que viabilizou as colônias inglesas no norte do continente.
_Os membros dessas colônias que sobreviveram às vicissitudes da etapa de instalação empenhavam-se em criar uma economia auto-suficiente, suplementada por algumas atividades comerciais que lhes permitiam atender a um mínimo indispensável de importações. Essas colônias pareciam fadadas a um lento desenvolvimento, quando o advento da economia açucareira antilhana, no começo da metade do sec. XVII, veio abrir-lhes outras perspectivas.
_ A introdução do açúcar acabou por expulsar parte dos colonos e a economia de subsistência se extinguiu. As ilhas passaram a importar todas as suas necessidades. 
Modelo centro-periferia: “e não ficou só na exportação de bens de consumo a importante corrente comercial que se formou entre os dois grupos de colonas inglesas”.
_Não dispondo de força hidráulica as ilhas dependiam de animais de tiro das primeiras.
_A madeira necessária para fazer as caixas para o transporte do açúcar também vinham dos colonos da Nova Inglaterra.
_Esse comércio se efetuava em navios dos colonos da Nova Inglaterra, o que veio a fomentar a indústria de construção naval dessa região. 
_Nas Antilhas francesas foi desenvolvida a indústria de bebidas destiladas. Estas, no entanto, estavam impedidas de usar a matéria-prima de que dispunham para não fazer concorrência à indústria de bebidas francesa.
Os colonos do norte se prevaleciam dessa vantagem, conseguindo lucros superiores às Antilhas Inglesas. 
_ Assim, as colônias do norte dos EUA se desenvolveram na segunda metade do sec. XVII e primeira do sec. XVIII como parte integrante de um sistema maior, no qual os elementos dinâmicos são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais.
_ Isso faz com que os capitais gerados no conjunto do sistema (das Antilhas e EUA) não tenham sido canalizados exclusivamente para a atividade açucareira, que era a atividade mais lucrativa.
_A viabilidade da atividade agrícola na ocupação econômica da América marca uma nova etapa desta:
_A primeira etapa consistia na exploração da mão-de-obra preexistente com vistas a criar um excedente líquido de produção de metais preciosos.
_ A segunda se concretizaria na produção de artigos agrícolas tropicais por meio de grandes empresas que usam intensivamente mão-de-obra escrava importada.
_ A terceira etapa surgia de uma economia similar à da Europa contemporânea, dirigida de dentro para fora, produzindo principalmente para o mercado interno, sem uma separação fundamental entre as atividades destinadas à exportação e aquelas ligadas ao mercado interno. Uma economia desse tipo estava em flagrante contradição com os princípios da política colonial e somente graças a um conjunto de circunstancias favoráveis pôde se desenvolver. 
_ Um dos fatores que possibilitou o aproveitamento das vantagens antilhanas, por parte dos colonos da Nova Inglaterra, foi a guerra civil pela qual passava a Inglaterra.
_ Além disso, a legislação protecionista naval que no último quartel desse século excluiu os holandeses do comércio das colônias foi um forte alicerce das exportações da Nova Inglaterra, e também para a indústria naval. 
_ A demanda também teve seu papel primordial: o prolongado período de guerras que a Inglaterra manteve com a Franca tornou precário o abastecimento das Antilhas com gêneros europeus, criando para os colonos do norte a situação favorável de abastecedores regulares das ilhas inglesas e ocasionais das francesas. 
_ Os ingleses tentaram romper esse comércio: ocorre o primeiro choque de interesses entre os grupos. 
_ Com a supremacia inglesa e a expulsão dos franceses, a Inglaterra pretendeu, na segunda metade do sec. XVIII, questionar a concorrência praticada pelas colônias à metrópole. As medidas legislativas se sucederam, mas serviram apenas para aumentar a tensão e pôr à mostra o profundo desencontro de interesses, precipitando a separação.
_Defesa da distribuição de renda como meio para a criação do mercado interno: “Essas colônias de pequenos proprietários, em grande parte auto-suficientes, constituem comunidades com características totalmente distintas das prósperas colônias agrícolas de exportação. Nelas há uma menor concentração de renda. Em consequência, o padrão médio de consumo era elevado, relativamente ao nível de produção per capita”. 
A essas diferenças de estrutura econômica teriam necessariamente de corresponder grandes disparidades de comportamento dos grupos sociais dominantes nos dois tipos de colônia. 
_ Nas Antilhas Inglesas os grupos dominantes estavam intimamente ligados a poderosos grupos financeiros da Metrópole e tinham influência no parlamento britânico. 
_ Esse entrelaçamento de interesses inclinava os grupos que dirigiam a economia antilhana a considera-la como parte integrante de empresas inglesas. 
_ Já os grupos das colônias do norte tinham interesses próprios, não raro divergentes da metrópole, ou estavam ligados a população rural que também não tinha afinidade com os interesses da metrópole. 
_A independência dos grupos dominantes vis-à-vis da metrópole seria um fator de fundamental importância para o desenvolvimento da colônia, pois significava que nela haviam órgãos políticos capazes de interpretar seus verdadeiros interesses, ao invés de apenas refletir as ocorrências do centro econômico dominante.
7 – ENCERAMENTO DA ETAPA COLONIAL
_ A história da colônia portuguesa na América está ligada ao rumo que Portugal teve como potência colonial. 
 _ Na época em que estava ligado a Espanha, perdeu um dos seus melhores entrepostos comerciais, ao mesmo tempo em que a melhor parte da colônia americana era ocupada pelos holandeses.
_Ao recuperar sua independência, Portugal encontrou-se em uma posição extremamente débil, uma vez que a Espanha, que não reconhecia sua independência, representava uma ameaça.
_Em uma época de intensa atividade imperialista, sem o comércio oriental e com a desorganização do mercado de açúcar, Portugal tinha dificuldades para resguardar suas posses.
_ Para tanto, devia ligar-se a uma grande potencia, o que significava alienar parte de sua soberania. 
_ Os acordos firmados com a Inglaterra em 1642-54-61 estruturaram essa aliança que marcará profundamente a vida política e econômica de Portugal e do Brasil durante os dois séculos seguintes.
_Assim como é importante para a explicação do êxito da empresa açucareira o vinculo com o capital holandês, é necessário para a explicação da persistência do pequeno e empobrecido reino como grande potência colonial na segunda metade do sec. XVII e sua recuperação no sec. XVIII a situação de semi-dependência que aceitou o governo português como forma de soberania.
_ Os privilégios conseguidos pelos comerciantes ingleses em Portugal fizeram com que estes passassem a constituir um grupo influente sobre o governo. 
_Nos dois decênios que se seguiram a independência, os tratados entre os países visavam concessões econômicas por parte de Portugal e a Inglaterra pagava com promessas ou garantias políticas. 
_ A garantia de sobrevivência das colônias portuguesas tinha como problema fundamental a decadência da própria colônia, decorrente da desorganização do mercado de açúcar. 
_ A decadência da colônia faz as dificuldades do reino se agravarem e refletem nas desvalorizações monetárias. 
_No último quartel do sec. XVII há consciência da necessidade de reconsiderar a política econômica do país. 
_ A ideia de encontrar solução para as dificuldades da balança comercial nos produtos coloniais de exportação não parece mais suficiente. 
_ Pensa-se em reduzir as importações, fomentando a produção interna no setor manufatureiro. Essa política deu resultado por dois decênios, mas não amadureceu plenamente. 
_Produção do ouro no Brasil.
_ O acordo comercial celebrado com a Inglaterra em 1703 desempenhou papel fundamental no curso dos acontecimentos. Esse acordo significou para Portugal renunciar a todo desenvolvimento manufatureiro e implicou transferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no Brasil.
_ Graças a esse acordo, porém, Portugal conservou uma sólida posição política em uma etapa que resultou ser fundamental para a consolidação definitiva do território de sua colônia americana. 
_ Em uma perspectiva ampla, a economia luso-brasileira do sec. XVIII se configurava como uma articulação do sistema econômico mais dinâmico da Europa: o inglês. 
_O ciclo do ouro constitui um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a Portugal a posição secundária de simples entreposto. Portugal sentiu uma riqueza aparente. 
_ Ao Brasil, o ouro permitiu financiar uma grande expansão demográfica, que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua população, na qual os escravos passavam a constituir minoria, sendo a maioria de origem europeia. 
_ Para a Inglaterra, o ciclo do ouro trouxe um forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concentração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa. 
_ O último quartel do sec. XVIII veria a decadência da mineração do ouro no Brasil. A Inglaterra já havia entrado na Revolução Industrial.
_ A necessidade de expansão do mercado para as suas manufaturas faz a Inglaterra lutar contra o protecionismo e as demais práticas mercantilistas.
PROCESSO DE INDEPENDENCIA: a peculiar forma como se processou a independência da América portuguesa teve consequências fundamentais para o seu desenvolvimento. 
_Transferindo-se o governo português para o Brasil sob a proteção inglesa e operando-se a independência da colônia sem descontinuidade na chefia do governo, os primeiros privilégios econômicos de que se beneficiava a Inglaterra em Portugal passaram automaticamente para o Brasil independente. 
_ Mesmo separando-se de Portugal em 1822, o Brasil necessitou de vários decênios para livrar-se da tutela inglesa, bem construída por uma serie de acordos (que garantiam pagamentos econômicos em troca de favores políticos). 
_Tudo indica que negociando esses acordos o governo português tinha estritamente em visrta a continuidade da casa reinante em Portugal, enquanto os ingleses se preocupavam em firmar-se definitivamente na colônia, cujas perspectivas comerciais eram bem mais promissoras que as de Portugal. 
_Do ponto de vista militar a independência foi um processo simples, mas não do ponto de vista diplomático. 
_ Portugal era dependente politicamente da Inglaterra.
_Se fosse interpretado a independência do Brasil como m ato de agressão a Portugal, a Inglaterra teria que intervir. 
_ O importante era garantir junto ao novo governo brasileiro a continuidade dos privilégios conseguidos sobre a colônia. Assim, de uma posição excepcionalmente forte, pode o governo inglês negociar o reconhecimento da independência da América portuguesa.
_Pelo tratado de 1827, o governo brasileiro reconheceu para a Inglaterra a situação de potência privilegiada, autolimitando sua própria soberania econômica. 
_A primeira metade do sec. XIX constitui um período de transição durante o qual se consolidou a integridade territorial e se firmou a independência política.
_Na segunda metade do sec., com o aumento da importância do café dentro da economia brasileira, as relações com os EUA se ampliam. 
_Em 1842, quando expira o último acordo firmado com a Inglaterra, o país passa a ter como principal parceiro os EUA.
_O passivo político da colônia estava liquidado, mas do ponto de vista econômico, o Brasil na diferia muito do que fora nos três séculos anteriores: estrutura econômica baseada no trabalho escravo, ausência de tensões internas (o que ajudava a explicar o atraso relativo da industrialização). 
_Mas a expansão cafeeira da segunda metade do sec. XIX ajuda a modificar as bases do sistema econômico. 
**É das tensões internas da economia cafeeira em sua etapa de crise que surgirão os elementos de um sistema econômico autônomo, capaz de gerar o seu próprio impulso de crescimento, concluindo-se defitivamente a etapa colonial da economia brasileira. 
Anotações de aula – FEB – Profª Ana Monteiro Costa

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