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Aulas 43 e 44 - Geografia Política - 2012-02

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História de um Futuro: 
Projeções Geopolíticas para o Século XXI feitas em começos da 
década de 1990
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Por ALEXANDER MARTINS VIANNA
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O fim da Guerra Fria trouxe novas questões e 
evidenciou antigas que permaneceram em segundo 
plano no contexto da bipolaridade ideológica e 
geopolítica que marcou a segunda metade do século 
XX. O começo da década de 1990 foi marcado pela 
crise econômica recessiva dos EUA e a emergência 
econômica, no norte, do Japão e da Alemanha como 
pólos concorrentes mundiais, fazendo com que se 
questionasse o quanto o poder dissuasivo do 
potencial bélico nuclear continuaria a ocupar posição 
de proa nas relações de força da geopolítica 
mundial. A decadência econômica da URSS e a 
recessão nos EUA davam a entender que a fase dos 
“Estados-guerreiro” seria sucedida por aquela dos “Estados-mercador”.(LELLOUCHE, 1992: 
213-254) No entanto, não poderia ser esquecido o fato de que o mundo dos “mercadores” 
também tem o seu duplo: a contingente miserável – e a pressão demográfica pouco controlável 
– do Sul.(Idem, Ibidem: 261-305) Nesse sentido, no começo da década de 1990, o conflito 
leste/oeste seria substituído pelo tensa relação norte/sul, que teria perdido o sentido de 
cooperação – que a esquerda européia tentava manter desde a década de 1960 como 
condição de superação dos “atrasos” e da formação de “um só mundo” – em favor de uma 
ideologia que agrava a divisão entre o “norte civilizado” e os “novos bárbaros”.(RUFIN, 1991: 
117-121) 
A pobreza – celeiro para o terrorismo e ressentimentos integristas anti-Ocidente – e a pressão 
demográfica do sul em relação ao norte, particularmente no caso da Europa, vulnerável pelo 
Mediterrâneo e pelo sudoeste da Ásia, foram apresentados, em 1992, por Pierre Lellouche 
como preocupações estratégicas centrais que o “norte” deveria ter e, por isso, reivindicava que 
as potências do norte não tratassem com indiferença (ou como atavismo) os problemas da 
pobreza do sul – principalmente no caso Africano –, caso contrário, o “sul” forçaria a sua porta 
e deixaria de ser um problema de política externa. Portanto, para além da questão moral da 
solidariedade com os menos favorecidos e da preservação ambiental, romper com a 
indiferença seria um modo de também garantir a segurança das instituições e do modo de vida 
democrático-liberal. 
No entanto, segundo Lellouche – e com ele Jean-Christopher Rufin –, lidar com a questão da 
pobreza revelou ser bem menos simples do que nos deixavam entender tanto as teorias 
dependentistas terceiro-mundistas (seja pelo viés da abertura regulada ao comércio exterior e 
às exportações, seja pelo viés da substituição de importações), ancoradas basicamente na 
noção de imperialismo marxista-leninista, quanto as teorias demográficas liberais 
(transicionistas) e malthusianas. Além disso, não se deve esquecer que o arcabouço ideológico 
e econômico do complexo industrial-militar da Guerra Fria fez com muitos experts norte-
americanos e soviéticos pensassem soluções meramente tecnológicas para complexos 
problemas sociais e políticos do planeta. 
 
1 Publicado em: Revista Espaço Acadêmico - nº 44 - Janeiro de 2005 - mensal - ISSN 
1519.6186 – Ano IV. 
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 Doutorando do PPGHIS-UFRJ; Prof. de História Moderna e Contemporânea do Departamento 
de História da FEUDUC-RJ. 
 
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Explicar, por exemplo, a pobreza do “sul” como um mero descompasso entre bocas a alimentar 
e recursos (tecnológicos) disponíveis seria criminoso e isentaria o “norte” de responsabilidade; 
por outro lado, não se poderia esperar que todos os países do “sul” tivessem o mesmo 
compasso histórico-demográfico do “norte” tão logo iniciassem seus processos de 
industrialização e urbanização; da mesma forma, não se poderia isentar muitos governos do 
“sul” do desperdício de recursos (internos e externos), do mal planejamento e da corrupção 
administrativa, que justificariam a indiferença ou desinteresse de investimento do “norte” no 
decorrer da década de 1980.(LELLOUCHE, 1992: 213-254) Assim, uma vez quebradas as 
lentes analíticas da bipolaridade da Guerra Fria, os problemas políticos, econômicos e sociais 
do mundo pareciam bem menos simples. Justamente por isso, em começos da década de 
1990, Lellouche(1992) e Rufin(1991) lembravam que tais problemas não seriam resolvidos com 
um simples fechamento ideológico de fronteiras. 
Durante a Guerra Fria, foi inegável o interesse dos EUA e da URSS em controlar áreas no 
Terceiro Mundo para a manutenção de sua estratégia dissuasiva. No entanto, como aponta 
Rufin, os agentes locais destas áreas eram bem menos manipuláveis pelas superpotências de 
outrora do que se imaginava: as apropriações ideológicas e os jogos de interesses eram 
pragmáticos e filtrados por múltiplos localismos. Foi isso que o mundo pós-Guerra Fria revelou: 
com o abandono de muitas dessas áreas pelos EUA e pela URSS no começo da década de 
1990, juntamente com a retórica ideológica da bipolaridade, os atores locais passaram a agir 
sem qualquer peso de uma “regulação ideológica externa” e fizeram seus próprios potentados 
às custas do aliciamento forçado, clientelismo e do terror contra as populações locais; as 
retóricas ideológicas (nacionalistas, religiosas ou indigenistas) e os interesses “locais” 
substituíram (melhor seria dizer, deixaram de se associar com) o arcabouço ideológico da 
Guerra Fria. Todo este “vazio” ou “desordem” criou, segundo Lellouche, novos desafios a 
serem superados antes que se possa falar efetivamente na existência de uma nova ordem 
mundial. Nesse sentido, as singularidades locais deveriam ser levadas em conta antes de se 
trabalhar com um planejamento unificado para lidar com o problema da pobreza, pois isso 
gerou e gera uma avaliação equivocada dos “efeitos negativos” das soluções 
desenvolvimentistas ocorridas no “sul”, que ora pende para uma visão estreita “econômico-
tecnicista” (até a década de 1980), ora para uma visão estreita “culturalista”(década de 1990 e 
depois). 
 
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Quais cenários geopolíticos eram projetados em começos da década de 1990 com o 
esmorecimento da bipolaridade “leste/oeste”? 
Ora, sem a máscara ideológica da Guerra Fria e de seus dispositivos de segurança 
supranacionais, a relação “norte/sul” parecia definir-se em termos de mercado, distribuição 
de riqueza e pressão demográfica – com o aparente desarmamento do Norte e o 
armamento do sul com armas convencionais e nucleares –; por isso mesmo, Lellouche não 
conseguia ver bem delineado um pólo que pudesse dar um mínimo de regulação às relações 
de força entre as nações, donde a sua tese de que viveríamos um momento de “desordem 
das nações”. Nesse sentido, seria passageira e ilusória a posição dos EUA como 
superpotência e “herói do mundo livre”. A sensação de Lellouche de que o mundo estava à 
deriva não parecia sem sentido na virada para a década de 1990, vejamos porquê: 
(1) depois do alvoroço inicial com a “queda” de muro de Berlin (9 de novembro de 1989), a 
celebrada vitória da “democracia-liberal” sobre o “totalitarismo” era bem menos simples do 
que se imaginava, já que a Alemanha teria um aumento súbito de sua taxa de desemprego 
e grande pressão tributária para “reestruturar o leste”, cujos efeitos positivos para a 
economia nacional somente seriam sentidos a médio ou longo prazo, enquanto que o efeito 
imediato foi o recrudescimento político de grupos de extrema-direita; 
(2) a invasão do Kuwait pelo Iraque (2 de agosto de 1990) desdobrou-se em uma 
confrontação cultural e estratégica entre “dois mundos” (Ocidente rico, triunfante, mas em 
declínio demográfico contra o mundo árabe-muçulmano, superpovoado, miserável e a 
trazer consigo os “condenados da terra” fortalecidos ideologicamente pela busca de sua 
dignidade e singularidade após vários séculos de humilhação)
e demonstrou que a arma 
nuclear de efeito destrutivo de longa escala seria politicamente inútil, ou seja, não teria 
efeito dissuasivo num conflito periférico em que foi desafiado o direto internacional e 
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desrespeitada a soberania de um país, devendo-se, pois, aceitar o desafio de reformulação 
do parque bélico para munições (nucleares ou não) com menor efeito de destruição e, 
compensativamente, com vetores de maior precisão; 
(3) o putsch estalinista de 20-21 de agosto de 1991 na URSS parecia demonstrar os 
riscos de um retrocesso para a perestroika, justamente quando esta tomou a clara 
conotação de transição para o capitalismo em vez de reforma do comunismo. 
Entre um marco e outro, Lellouche teve o cuidado de demonstrar que, malgrado os EUA 
permanecessem com o papel de superpotência militar do mundo, isso seria apenas uma das 
expressões geopolíticas de poder no mundo pós-Guerra Fria e, portanto, outros fatores 
conjunturais deveriam ser considerados para relativizar a hegemonia norte-americana: 
(1) o boom armamentista do governo Reagan (1981-1988) – com sua receita republicana 
de sustento do aparato de defesa com corte em gastos sociais e aumento da emissão 
de moeda sem ampliação da base tributária (reaganomics) – apenas serviu para 
aumentar a dívida externa, desequilibrar a balança de comércio e aumentar a hegemonia 
do Japão como parceiro comercial e principal financiador da dívida pública norte-
americana; 
(2) Alemanha e Japão, as duas potências derrotadas durante a II Guerra Mundial (1939-
1945), tornaram-se pontas econômicas e tecnológicas – embora não comparativamente 
militares – na Europa e na Ásia, respectivamente, devido aos financiamentos dos EUA 
como parte de sua estratégia de contenção da heartland soviético e chinesa durante a 
Guerra Fria; 
(3) a dívida norte-americana forçara o governo Bush (1989-1993) a reduzir os gastos 
militares (na verdade, descartar setores e pessoal tornados obsoletos) em relação ao 
governo Reagan e, contra a ortodoxia anterior, ampliar a base tributária; 
(4) a URSS mostrava toda a sua fragilidade econômica e política, com o pipocar das 
nacionalidades e os riscos potenciais da divisão de seu parque bélico-militar entre as 
repúblicas, incluindo também o perigo do sucateamento de recursos materiais e humanos 
de seu complexo industrial-militar para países e grupos interessados da Ásia (Irã, China e 
Índia), seja por transação formal ou não. Isto efetivamente aconteceu durante a década de 
1990, impulsionado, em parte, pelo desinteresse da Europa e dos EUA em investir ou fazer 
empréstimos a Gorbatchev (URSS) e a Yeltsin (Federação Russa). 
Frente a tal quadro, Lellouche projetou em sua análise geopolítica uma relação dos desafios 
para o século XXI: 
(1) a formação de um mundo tendencialmente pós-nuclear no norte e nuclear no sul, sem 
que haja neste último os entraves ideológicos dissuasivos da ordem mundial advinda da 
Conferência de Yalta (4-11 de fevereiro de 1945); 
(2) a ameaça terrorista (biológica, química, convencional ou nuclear) e o desafio da 
inserção equilibrada de bilhões de muçulmanos na lógica do mundo desenvolvido; 
(3) a concorrência desordenada no norte, como no mundo pré-Yalta, por domínios 
econômicos com justificativas ideológicas que partem de pulsões nacionalistas; 
(4) a dificuldade de adaptação do setor militar soviético para as necessidades civis devido 
ao enorme fosso que havia entre a sua alta sofisticação tecnológico-militar e o atraso nos 
demais setores da economia; 
(5) a crise econômica soviética (russa) a forçar o país buscar reservas com a venda 
descontrolada de seu aparato militar (humano e material) para compradores do Terceiro 
Mundo; 
(6) a marginalização ou isolamento técnico-econômica do sul, que adquiriu uma dimensão 
definitivamente estratégica no mundo pós-Guerra Fria; 
(7) o decréscimo e envelhecimento da população do norte e o crescimento e 
empobrecimento galopante da população do sul, com sua conseqüente pressão migratória 
sobre o norte, que tem como resultado o fechamento ideológico integrista, marcado pela 
violência e pela militarização. 
 
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3 
A diversidade de fatores ligados ao desenvolvimento e a variedade de situações locais não 
deveriam levar o norte industrializado ao desinteresse pelo crescimento econômico do sul. Os 
excessos da militância neofascista e dos “anti-racistas” na Europa, ambos centrados no “direito 
à diferença”, mas com alvos e métodos distintos, levam igualmente a um bloqueio de diálogo 
sobre as questões da pobreza do sul e da imigração como peças de interesse geopolítico para 
o norte. Ora, segundo Lellouche, sendo a pobreza terreno propício para a violência, para o 
integrismo e para a militarização das relações interpessoais, serão os fatores econômicos e 
sociais, mais do que os políticos e ideológicos, que farão surgir novas zonas de insegurança 
regionais e globais. Dependendo de cada região, a pressão demográfica do sul vai modificar 
profundamente a situação geopolítica dos países desenvolvidos. Como observação geral, 
Lellouche apontava em 1992: 
(1) distantes das zonas de alta pressão africana, asiática e médio-oriental, os EUA são 
uma “ilha” que permanece relativamente isolada dos fluxos migratórios da América Latina, 
e o México tende a funcionar como um “Estado-tampão” à medida que é integrado 
economicamente aos EUA, que aumentaram seus investimentos no país; 
(2) a Europa e a Rússia, por sua vez, estão mais vulneráveis, visto que estão cercadas 
por um vasto cinturão de população em plena expansão demográfica, pobre e 
sobressaltada do ponto de vista religioso; 
(3) o Japão, mais fechado à imigração e em vias de envelhecimento, deverá decidir se 
pretende pertencer ao “mundo” dos EUA e da Europa, ou àquele de sua própria região e da 
China – a mesma consideração vale para a Austrália e a Nova Zelândia. 
Portanto, a relação entre território, população e poder (econômico ou militar-estratégico 
dos Estados) no mundo pós-Guerra Fria tornou-se mais complexa do que deixavam ver as 
escolas de pensamento geopolítico centradas em preocupações da “contenção” da “heartland” 
soviética pela “rimland” norte-americana. Em 1992, Lellouche afirmava que cada “coração” do 
mundo rico – EUA, Europa e Japão – teria preso a si um pedaço do Terceiro Mundo (pobre, 
superpovoado e desesperado) geograficamente contíguo: os EUA teriam a América Latina; o 
Japão teria a China e o Sudeste Asiático; a Europa teria a África e o Oriente Médio (e, em 
menor grau, a Ásia do Sudoeste). Segundo suas projeções, cada um desses “corações” do 
mundo rico ficaria dividido de acordo com os efeitos das seguintes escolhas estratégicas: 
acolher em seu próprio território todos os miseráveis que fugirem para o norte, ou 
atenuar as pressões migratórias favorecendo o desenvolvimento econômico dessas 
zonas. Mais do que uma questão de moral ou de justiça, trata-se, pois, de um cálculo 
estratégico necessário: criar emprego nos países-apêndice para fixar sua população 
dentro de seus respectivos territórios. Em face da importância da população, de sua 
distribuição nos territórios e do desenvolvimento econômico e tecnológico (principalmente 
no domínio da informática e dos meios de telecomunicações) como expressões de poder em 
cada país ou região, Lellouche fez uma projeção geral que o mundo novo do século XXI seria 
marcado pelo fim da hegemonia do mundo branco, dominante desde o século XIV, e a 
emergência de um pólo asiático em torno de Japão e China.(LELLOUCHE, 1992: 124) 
Assim, se nenhum dos “corações” do mundo rico conseguiu estruturar uma ordem mundial pós-
Guerra Fria, isso se devia ao fato de nenhum deles ter reunido sozinho todas as expressões do 
poder característicos desta nova configuração geopolítica, quais sejam: pressão demográfica, 
tecnologia, força
armada, poder econômico e financeiro, ideologia fortalecida por 
certezas messiânicas ou integristas. Deste modo, no começo da década de 1990, o quadro 
geral que Lellouche considerava ter diante de seus olhos era o seguinte: 
(1) nações militarmente poderosas, mas economicamente enfraquecidas (EUA e Rússia); 
(2) gigantes econômicos emergentes, mas incertos do ponto de vista militar na política 
mundial (Alemanha e Japão); 
(3) grandes massas demográficas subdesenvolvidas (China, subcontinente indiano e 
África); 
(4) uma vasta zona de turbulências (o mundo árabe muçulmano) fortemente militarizada, 
tentada pelo integrismo e vital para o planeta por seus recursos petrolíferos. 
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Contudo, no presente, o que podemos observar de convergente ou divergente a respeito do 
horizonte de espera projetado por Lellouche em 1992? Vejamos então: 
(1) os EUA saíram da recessão, mas associando crescimento econômico e redução do 
desemprego com o aumento interno da diferença entre pobre e rico (em 2001, 
correspondia aos índices da década de 1940), “terceiromundializando” internamente 
determinados setores das relações sociais de trabalho; 
(2) as questões de segurança relativas à imigração e ao narcotráfico agravaram-se nos 
EUA e na Europa; 
(3) os conflitos raciais aumentaram nos EUA e na Europa, havendo a emergência política 
da direta e da extrema-direita; 
(4) Japão entrou em recessão econômica ao passo que a China alcançou um índice de 
crescimento anual de 10%, confirmando sua tendência de transição para a economia de 
mercado e fortalecendo-se como potência regional (e, portanto, não subordinada ao 
Japão), ao mesmo tempo que fortaleceu e renovou o seu parque industrial-militar; 
(5) Paquistão e Índia confirmaram a sua entrada no clube dos países que dominam a 
tecnologia nuclear para fins militares; 
(6) a Rússia teve a sua situação econômica agravada e seu complexo industrial-militar foi 
degradado e dilapidado, além de ter mantido desgastante guerra com milicianos 
chechenos no Cáucaso, que evidenciaram a truculência do novo regime e sua inoperância 
militar em guerras de baixa intensidade da resistência islâmica chechena; 
(7) os EUA renovaram e atualizaram seus meios de defesa em face à degradação militar 
da Rússia, ao fortalecimento econômico-militar da China e às ameaças terroristas 
(islâmicas ou não) aos seus interesses estratégicos internos e externos; 
(8) o leste europeu, visto inicialmente como centro das atenções econômicas da Europa e, 
por isso mesmo, concorrente de investimentos com o Terceiro Mundo, tornou-se uma 
incógnita econômica (e migratória) a desafiar os planos da Unificação Européia; 
(9) América Latina e Ásia atraíram mais investimentos europeus e japoneses, ao passo 
que a África continuou basicamente “inexistente” no mapa financeiro, recebendo 
basicamente ajudas humanitárias; 
(10) cresceu no mundo muçulmano a ação de grupos terroristas fundamentalistas anti-
Israel, anti-EUA e anti-Federação Russa; 
(11) dentro e fora dos EUA, ganhou força a explicação de viés culturalista na interpretação 
dos complexos problemas sociais e econômicos que envolvem as relações norte/sul nos 
termos das idéias de desenvolvimento/atraso. 
Todas essas mudanças, entretanto, não alteraram a atualidade da tese central de Lellouche, 
ou seja, não há ainda algo que se possa chamar de uma “ordem entre as nações”, assim 
como continua atual a idéia de Rufin de que, para muitos países fracos do ponto de vista 
econômico e militar-tecnológico, a pressão imigracionista tem se tornado uma expressão 
alternativa de poder em suas negociações com os países centrais, principalmente aqueles que 
sofrem influxos de ex-colônias (Europa) ou dividem vasta fronteira de seu território com tais 
zonas de pressão (EUA). 
 
 
Referências Bibliográficas: 
HARRISON, Lawrence E.; HUNTINGTON, Samuel P.. A Cultura Importa: os valores que 
definem o progresso humano. Rio de Janeiro: Record, 2002. 
LELLOUCHE, Pierre. Le Nouveau Monde: de l’ordre de Yalta au désordre des nations. Paris: 
Bernard Grasset, 1992. 
RUFIN, Jean-Christopher. O Império e os Novos Bárbaros. Rio de Janeiro: Record, 1991. 
6 
 
SILVA, Francisco C. T.(org.). Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX – As 
Grandes Transformações do Mundo Contemporâneo: Conflitos, Cultura e Comportamento. Rio 
de Janeiro: Campus, 2004. 
VIANNA, Alexander M.. “A Anti-Metafísica de Voltaire: Um alento de Modernidade Crítica para 
as Identidades Contemporâneas”. In Revista Diálogo, vol.8. Maringá: UEM-Departamento de 
História, 2004. pp.131-147 
 
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/044/44cvianna.htm

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