Logo Passei Direto
Buscar

Tese Professor titular Crocco

User badge image

Enviado por Juliane S. Moreira Borges em

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Categoria:  1 
 
Proponente: Marco Aurélio Crocco Afonso  Código: 674  Protocolo: f0cb6bd 
Título:   MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO: UMA LEITURA KEYNESIANA E SUA APLICAÇÃO AO CASO 
BRASILEIRO 
 
Resumo: 
 Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes 
transformações e distintos períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos sobre o papel da 
moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões 
para este ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, todos com implicações territoriais 
importantes: i) as profundas transformações tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como também que volumes enormes de recursos financeiros 
fossem transferidos de um lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo de liberalização 
financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a 
totalidade das crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu interior.  
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em economia regional ou geografia econômica a necessidade de se 
entender melhor o papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. 
O objetivo desta tese é contribuir para a discussão acima mencionada, através de uma revisão teórica crítica dos autores seminais 
das teorias de desenvolvimento regional e urbano, procurando analisar, a partir do referencial Keynesiano, como a moeda foi 
tratada nestes trabalhos e quais as suas principais limitações. Além disto, efetua‐se uma investigação empírica sobre o Brasil, 
procurando mostrar que a atuação dos bancos é diferenciada no território, sendo um elemento fundamental para o entendimento 
das desigualdades regionais.  
 
Descrição: 
 Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes 
transformações e distintos períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos sobre o papel da 
moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões 
para este ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, todos com implicações territoriais 
importantes: i) as profundas transformações tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como também que volumes enormes de recursos financeiros 
fossem transferidos de um lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo de liberalização 
financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a 
totalidade das crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu interior.  
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em economia regional ou geografia econômica a necessidade de se 
entender melhor o papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. Diversas linhas de investigação 
foram desenvolvidas, ao ponto de Martin (1999) afirmar, ao final dos anos 1990, que uma nova sub‐disciplina da geografia 
econômica havia surgido. 
No entanto, apesar deste ressurgimento, durante os anos 2000 este interesse nesta nova sub‐disciplina se estabilizou, sem 
conseguir torná‐la central na discussão sobre desenvolvimento regional e urbano. Apenas após a crise mundial do final dos anos 
2000 é que esta temática volta a ter força, tendo em vista as evidentes implicações espaciais desta crise. Apesar de sua extensão 
mundial, esta última de forma alguma foi neutra espacialmente, mesmo porque a sua origem (os empréstimos sub‐prime no 
mercado imobiliário norte americano) também foi espacialmente localizada. 
A presente tese se encaixa no esforço de tornar central a discussão sobre as relações entre moeda e território dentro do debate 
sobre desenvolvimento regional e urbano. No entanto, diferentemente de boa parte da literatura sobre o tema, parte‐se de 
premissa de que o correto entendimento das relações entre moeda e território e de suas implicações de política só poderá emergir 
a partir da construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. Para tanto, é necessário que se tenha 
uma concepção teórica sobre a moeda que permita a esta afetar o comportamento das variáveis reais da economia, tanto no curto, 
quanto no longo prazo. Esta concepção é encontrada nos escritos de Keynes.  
Neste contexto, a presente tese busca realizar três contribuições básicas: 
i. Incorporar uma concepção de moeda, que seja capaz de afetar as variáveis reais da economia, no contexto teórico do 
desenvolvimento regional e urbano, de forma a contribuir para a construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento 
Regional e Urbano; 
ii. Aprofundar o diálogo entre a contribuição Pós‐Keynesiana para a teoria do desenvolvimento regional, de forma a estender este 
diálogo à teorias do desenvolvimento urbano, notadamente a Teoria do Lugar Central; e 
iii. Pesquisar, empiricamente, os desenvolvimentos teóricos propostos a partir de uma base de dados única no Brasil, copilada pelo 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe) do CEDEPLAR / UFMG. 
 
Para atingir estes objetivos a tese foi estruturada em duas partes. Na Parte I, toda a discussão teórica é efetuada. No capítulo 1 
desta Parte, o referencial teórico Pós‐Keynesiano, que serve de base para toda a tese, é detalhado. Nos três capítulos seguintes, 
este referencial é utilizado para uma re‐leitura crítica dos principais autores da Teoria do Desenvolvimento Regional, da Teoria do 
Desenvolvimento Urbano e da Geografia Econômica. Deve ficar claro, que o objetivo desta tese é estabelecer um diálogo com estes 
autores seminais. Esta opção se baseia no fato destas contribuições ainda serem extremamente atuais, mesmo decorrido mais de 
50 anos do surgimento de algumas delas. Na medida da necessidade, alguns trabalhos mais recentes foram incorporados na 
análise. Assume‐se aqui que a tarefa de tornar a moeda um elemento importante na análise do desenvolvimento regional e urbano 
deve, necessariamente, começar com uma reflexão crítica dos autores seminais. 
Encerrando a Parte I, uma reflexão crítica sobre a interpretação Pós‐Keynesiana é efetuada e as contribuições originais deste autor 
são apresentadas. 
A Parte II da tese consiste na investigação empírica do tema, onde procura‐se contrastar as contribuições teóricas desenvolvidas na 
Parte I com dados da economia brasileira. Desta forma, esta Parte começa com uma breve discussão das transformações por que 
passou o sistema financeiro do Brasil nas últimas duas décadas. Este contexto serviu de base para o desenvolvimento dos dois 
capítulos seguintes, que analisaram os comportamentos, regional e urbano, do sistema bancário brasileiro.  
A tese se encera com o detalhamento das suas principais conclusões. 
 
Justificativa: 
 O objetivo central desta tese foi contribuir para a construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. 
Acredita‐se que este objetivo só possa ser atingido se se considera a moeda como não‐neutra; vale dizer, a moeda, em suas várias 
dimensões, é capaz de interferir nas decisões dos agentes e, conseqüentemente, afetar o lado real da economia. Dito de outra 
forma, só é possível falar em Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano, se a moeda possuir a capacidade de afetar 
o volume de produção de uma região ou espaço urbano, tanto no curto quanto no longo‐prazo. Caso isto não seja
possível não 
existiria sentido teórico falar em uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. Esta é uma premissa fundamental 
da tese. 
Para tanto, partiu‐se do entendimento da economia capitalista enquanto uma Economia Monetária de Produção, tal como 
proposto por Keynes (1979). Os elementos fundamentais desta concepção da economia capitalista, tal como visto no Capítulo 1 da 
Parte I, dão à moeda um papel chave, na medida em que ela pode interferir no lado real da economia.  
Frente a um mundo onde a incerteza em relação ao futuro é um condicionante da atividade econômica, tornando esta última uma 
atividade por natureza especulativa, a capacidade da moeda em ser reserva de valor e, por definição, ser o ativo mais líqüido na 
sociedade, faz com que sempre exista a possibilidade de ocorrência de deficiências de demanda efetiva. O conceito de preferência 
pela liqüidez é, portanto, fundamental em uma sociedade capitalista e, quando aplicado ao sistema financeiro, abre a possibilidade 
do processo de finance e funding não ocorrer.  
 
 
 
 
 
 
MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO: UMA 
LEITURA KEYNESIANA E SUA APLICAÇÃO AO CASO BRASILEIRO 
 
 
 
 
Marco Aurélio Crocco Afonso 
 
 
 
Tese submetida ao Concurso de Professor Titular 
Departamento de Ciências Econômicas 
Universidade Federal de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
 
Abril 2010 
 
 
 
 
ii
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Fabiana e Elene
 
 
iii 
 
SUMÁRIO 
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. 3 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 6 
PARTE I - MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO EM UMA PERSPECTIVA 
TEÓRICA .............................................................................................................................. 9 
I.1 MOEDA E SISTEMA FINANCEIRO NA TEORIA PÓS-KEYNESIANA: DEFININDO O MARCO TEÓRICO ......... 13 
I.1.1 Economia Monetária de produção e seus Fundamentos ....................................... 13 
I.1.2 O Debate Sobre Exogeneidade e Endogeneidade da Oferta de Moeda .................. 22 
I.1.3 Poupança, Finance e Funding .................................................................................... 30 
I.2 AS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MOEDA ............................................................ 36 
I.2.1 A primeira geração: O Enfoque Keynesiano ............................................................. 37 
I.2.1.1 Teoria do Desenvolvimento Desigual ............................................................................................... 38 
I.2.1.2 Big Push ............................................................................................................................................. 49 
I.2.1.3 Teoria dos Pólos de Crescimento ..................................................................................................... 51 
I.2.1.4 Teorias da Base de Exportação ......................................................................................................... 55 
I.2.2 O Enfoque da Competitividade ................................................................................. 57 
I.3 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO E A MOEDA .......................................................... 64 
I.3.1 A Teoria do Lugar Central .......................................................................................... 64 
I.4 A MOEDA E A GEOGRAFIA ECONÔMICA: UMA ANÁLISE CRÍTICA.................................................... 80 
I.5 ELEMENTOS PARA UMA TEORIA MONETÁRIA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO............. 88 
I.5.1 Preferência pela Liquidez, Centralidade e Hieraquia urbana e a construção do 
espaço ................................................................................................................................. 94 
PARTE II - DUAS INVESTIGAÇÕES EMPÍRICAS: MOEDA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL E 
HIERARQUIA URBANA NO BRASIL .................................................................................... 101 
II.1 EVOLUÇÃO RECENTE DO SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ....................................................... 102 
II.2 ATUAÇÃO REGIONAL DO SISTEMA BANCÁRIO .......................................................................... 107 
II.2.1 Indicadores de Escala do Sistema Bancário ............................................................ 110 
II.2.2 Indicadores de Gestão do Ativo ............................................................................. 112 
II.2.2.1 Preferência Pela Liqüidez das Agências Bancárias ......................................................................... 115 
II.2.2.2 Distribuição Regional de Crédito, Quociente Regional de Crédito e Racionamento de Crédito .. 117 
II.2.2.3 Lucratividade das Agências Bancárias ............................................................................................ 122 
II.2.2.4 Crédito Total sobre Ativo, Títulos e Valores Mobiliários sobre Ativo e Créditos em Liquidação 128 
II.2.3 Indicadores de Gestão do Passivo ........................................................................... 131 
II.2.4 Conclusão ................................................................................................................ 134 
II.3 HIERARQUIA URBANA E SISTEMA FINANCEIRO NO BRASIL ........................................................ 136 
II.3.1 Hierarquia e Estratégia Bancária ........................................................................... 151 
II.4 ESTRATÉGIAS BANCÁRIAS COMPARADAS: REGIÃO E HIERARQUIA ............................................... 153 
II.4.1 Análise de Componente Principal para as Regiões Administrativas .................... 154 
II.4.2 Análise de Componente Principal por Hierarquia do Sistema Financeiro ............ 157 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 161 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 167 
 
 
3
 
AGRADECIMENTOS 
 
Esta tese é o resultado de uma trajetória de pesquisa que se inicia dois anos 
após o meu retorno da Inglaterra, onde realizei o meu doutoramento. Desde esta 
época, várias pessoas contribuíram, de diversas formas, para que esta trajetória 
terminasse na elaboração da presente tese. Neste momento, gostaria de agradecer 
‘as suas colaborações. 
Começo por aqueles que participaram da criação e desenvolvimento do 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe), grupo de pesquisa 
alocado no CEDEPLAR e por mim coordenado. Este grupo é, sem dúvida alguma, a 
minha melhor experiência como docente e pesquisador. Experiência única, que me 
fez aprender todo o significado de ser um professor. Através deste grupo, não 
somente desenvolvi toda a visão de economia regional expressa nesta tese, mas 
também acompanhei o desenvolvimento pessoal e profissional de uma série de 
alunos. Foram vários os alunos de iniciação científica deste grupo que assisti 
formarem, tornarem-se assistentes de pesquisa, alunos de mestrado e doutorado, 
e, professor universitário. Assim sendo, gostaria de agradecer o empenho, 
paciência, contribuição e, principalmente, de terem “vestido a camisa” deste 
projeto a Bruno, Vanessa, Melissa, Anderson, Mateus, Mara, Raquel, Tininha, 
Aninha, Wallace, Pedro Amaral, João Prates, Márcio Amaral, Breno, Eduardo, Iara, 
Cláudio, Carla, Ana Teresa, Fernanda, Rubens, Teófilo, Luiz Paulo e Luciana.
Vários professores e pesquisadores também contribuíram para o 
desenvolvimento do LEMTe, quer seja por um engajamento mais constante, quer 
seja por trabalhos específicos e esporádicos. Desta forma, gostaria de agradecer a 
Adriana Amado, Ana Hermeto, Fabiana Santos, Frederico Gonzaga e Gustavo 
Rocha. 
Nesta trajetória de reflexão sobre os aspectos monetários do 
desenvolvimento regional, os cursos oferecidos na Pós-Graduação do CEDEPLAR 
foram de fundamental importância. Organizados na forma de seminários, estes 
 
 
4
cursos se constituíram em um ambiente profícuo de discussão acerca desta 
temática. Assim sendo, gostaria de agradecer a todos os alunos da pós graduação 
do CEDEPLAR que assistiram aos cursos de Moeda e Território e de Sistema 
Financeiro e Desenvolvimento. 
No processo de preparação da tese algumas pessoas foram essenciais. Em 
primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Colegiado de Curso do Programa de Pós 
Graduação do CEDEPLAR. Durante a elaboração da tese tive que, praticamente, me 
ausentar das tarefas relacionadas ao meu cargo de Coordenador do Programa de 
Pós Graduação. Esta ausência foi compensada com uma maior participação no dia a 
dia da Pós dos demais membros do Colegiado. Por isto agradeço a Ana Hermeto, 
Fred, Hugo e Rodrigo. Em especial, deixo registrado o meu agradecimento à Ana 
Hermeto, minha companheira na direção da Pós. Aninha assumiu prontamente 
minhas funções da coordenação assim que o concurso para titular foi anunciado. 
Sem esta colaboração, a elaboração da tese teria sido muito mais difícil. 
Também no processo de elaboração da tese, a contribuição da Carol foi 
inestimável. Carol me ajudou muito além do que as suas tarefas determinavam. 
Além de tomar conta de minhas atribuições profissionais, Carol foi de fundamental 
importância na montagem de meu currículo. Fica aqui o meu agradecimento a uma 
amiga. 
Uma pessoa em particular merecer um agradecimento especial: Clélio 
Campolina. Um mestre que se tornou um grande amigo. Com Campolina fui aluno, 
assistente de pesquisa, colega de departamento, companheiro de direção de 
faculdade e co-autor em vários trabalhos. Durante toda esta trajetória profissional, 
Campolina sempre foi um orientador, estimulador e companheiro. Ao meu “chefe” 
fica um agradecimento especial. 
Gostaria também de agradecer a três pessoas de meu círculo pessoal. Ao 
Luigi, meu irmão mais velho. Durante estes últimos seis anos, companheiro das 
tardes de domingo torcendo pelo Botafogo, Luigi tem sido muito mais que um 
irmão. Amigo e conselheiro, pessoal e profissional, agradeço todo o estímulo e 
paciência com aquele que nunca deixou de se portar como o irmão mais novo. 
 
 
5
Henrique e Léo têm sido muito mais do que sobrinhos. São dois grandes 
pequenos amigos que ganhei nesta vida. Estar perto deles, quer seja jogando X-
Box, futebol, montando legos ou lutando, me faz lembrar como a vida pode ser 
mais simples e sincera. Meu enorme agradecimento ao carinho destas duas 
pessoas maravilhosas. 
 
Chegar até este ponto de minha trajetória profissional não teria sido 
possível sem a Fabiana. Tentar expressar em palavras o significado que ela tem em 
minha vida é uma tarefa impossível. Qualquer coisa que eu diga, e escreva, sempre 
ficará aquém do real sentimento e significado que sua presença tem em minha 
vida. Nada disto teria acontecido sem o seu carinho, amor, e apoio incondicional. 
Obrigado por tudo, principalmente por me deixar te amar. Por isto tudo, esta tese é 
dedicada a você. 
Por fim, gostaria de agradecer a Elene. Em seus dois meses de vida, sua 
presença nesta reta final de elaboração da tese foi fundamental. Vê-la, me fazia 
esquecer o cansaço e me dava a alegria necessária para terminar a tese. Muito 
obrigado, filha. 
 
 
6
INTRODUÇÃO 
 
Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e 
desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes transformações e distintos 
períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos 
sobre o papel da moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios 
vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões para este 
ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, 
todos com implicações territoriais importantes: i) as profundas transformações 
tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como 
também que volumes enormes de recursos financeiros fossem transferidos de um 
lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo 
de liberalização financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro 
do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a totalidade das 
crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu 
interior. 
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em 
economia regional ou geografia econômica a necessidade de se entender melhor o 
papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. 
Diversas linhas de investigação foram desenvolvidas, ao ponto de Martin (1999) 
afirmar, ao final dos anos 1990, que uma nova sub-disciplina da geografia 
econômica havia surgido. 
No entanto, apesar deste ressurgimento, durante os anos 2000 este 
interesse nesta nova sub-disciplina se estabilizou, sem conseguir torná-la central 
na discussão sobre desenvolvimento regional e urbano. Apenas após a crise 
mundial do final dos anos 2000 é que esta temática volta a ter força, tendo em vista 
as evidentes implicações espaciais desta crise. Apesar de sua extensão mundial, 
esta última de forma alguma foi neutra espacialmente, mesmo porque a sua origem 
(os empréstimos sub-prime no mercado imobiliário norte americano) também foi 
espacialmente localizada. 
 
 
7
A presente tese se encaixa no esforço de tornar central a discussão sobre as 
relações entre moeda e território dentro do debate sobre desenvolvimento 
regional e urbano. No entanto, diferentemente de boa parte da literatura sobre o 
tema, parte-se de premissa de que o correto entendimento das relações entre 
moeda e território e de suas implicações de política só poderá emergir a partir da 
construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. 
Para tanto, é necessário que se tenha uma concepção teórica sobre a moeda que 
permita a esta afetar o comportamento das variáveis reais da economia, tanto no 
curto, quanto no longo prazo. Esta concepção é encontrada nos escritos de Keynes. 
Neste contexto, a presente tese busca realizar três contribuições básicas: 
i. Incorporar uma concepção de moeda, que seja capaz de afetar as 
variáveis reais da economia, no contexto teórico do desenvolvimento 
regional e urbano, de forma a contribuir para a construção de uma 
Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano; 
ii. Aprofundar o diálogo entre a contribuição Pós-Keynesiana para a 
teoria do desenvolvimento regional, de forma a estender este diálogo 
à teorias do desenvolvimento urbano, notadamente a Teoria do 
Lugar Central; e 
iii. Pesquisar, empiricamente, os desenvolvimentos teóricos propostos a 
partir de uma base de dados única no Brasil, copilada pelo 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe) do 
CEDEPLAR / UFMG. 
 
Para atingir estes objetivos a tese foi estruturada em duas partes. Na Parte I, 
toda a discussão teórica é efetuada. No capítulo 1 desta Parte, o referencial teórico 
Pós-Keynesiano, que serve de base para toda a tese, é detalhado. Nos três capítulos 
seguintes, este referencial é utilizado para uma re-leitura
crítica dos principais 
autores da Teoria do Desenvolvimento Regional, da Teoria do Desenvolvimento 
Urbano e da Geografia Econômica. Deve ficar claro, que o objetivo desta tese é 
estabelecer um diálogo com estes autores seminais. Esta opção se baseia no fato 
destas contribuições ainda serem extremamente atuais, mesmo decorrido mais de 
50 anos do surgimento de algumas delas. Na medida da necessidade, alguns 
 
 
8
trabalhos mais recentes foram incorporados na análise. Assume-se aqui que a 
tarefa de tornar a moeda um elemento importante na análise do desenvolvimento 
regional e urbano deve, necessariamente, começar com uma reflexão crítica dos 
autores seminais. 
Encerrando a Parte I, uma reflexão crítica sobre a interpretação Pós-
Keynesiana é efetuada e as contribuições originais deste autor são apresentadas. 
A Parte II da tese consiste na investigação empírica do tema, onde procura-
se contrastar as contribuições teóricas desenvolvidas na Parte I com dados da 
economia brasileira. Desta forma, esta Parte começa com uma breve discussão das 
transformações por que passou o sistema financeiro do Brasil nas últimas duas 
décadas. Este contexto serviu de base para o desenvolvimento dos dois capítulos 
seguintes, que analisaram os comportamentos, regional e urbano, do sistema 
bancário brasileiro. 
A tese se encera com o detalhamento das suas principais conclusões. 
 
 
9
PARTE I - MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E 
URBANO EM UMA PERSPECTIVA TEÓRICA 
 
A discussão teórica acerca dos aspectos regionais do sistema financeiro tem 
recebido tratamento diferenciado de economistas regionais, geógrafos econômicos 
e especialistas em sistemas financeiros. De uma forma geral, a literatura de 
economia regional tem dado pouca atenção para o papel desempenhado pela 
moeda e pelo sistema financeiro no desenvolvimento regional. A maioria destes 
trabalhos assume que o sistema financeiro é neutro em relação à sua capacidade 
de interferir no desempenho econômico de regiões. 
A literatura mainstream sobre desenvolvimento financeiro, por exemplo, 
tem focado, nos últimos 30 anos ou mais, no denominado “nexus finanças – 
crescimento”. A ênfase, neste contexto, é centrada na correlação entre variáveis 
financeiras (e o grau de desenvolvimento do sistema financeiro) e crescimento 
econômico. A maioria dos economistas vinculados a esta corrente de pensamento 
afirma que a direção de causalidade na relação citada vai no sentido do primeiro 
para o segundo, embora evidências empíricas irrefutáveis ainda não tenham sido 
fornecidas. Nesta literatura, aspectos regionais do desenvolvimento do sistema 
financeiro têm sido virtualmente negligenciados. De fato, em uma revisão extensa 
das contribuições mais relevantes desta linha de pesquisa, efetuada por Levine 
(2004), a palavra “regional” aparece apenas uma vez nas cento e dezoito páginas 
do artigo; a palavra “região” apenas uma e a palavra geografia nenhuma. Existe 
apenas um trabalho revisado por Levine que foca sua análise em regiões de um 
país especifico. Este artigo – escrito por Guiso et al. (2002), mostra que as 
condições de financiamento locais influenciam o desempenho econômico de 
distintas regiões da Itália. A conclusão mais importante desses autores é o 
reconhecimento de que sistemas financeiros nacionais e regionais possuem um 
papel importante a desempenhar a despeito da crescente integração financeira 
internacional. 
É possível, contudo, encontrar na literatura importantes contribuições que 
mostram a não neutralidade da moeda e do sistema financeiro em termos de seus 
 
 
10
impactos no lado real da economia, e, desta forma, no desenvolvimento regional, 
como pode ser observado na literatura Novo – Keynesiana1 e Pós-Keynesiana. 
De uma forma geral, as principais áreas de pesquisa dentro da vertente 
Novo-Keynesiana estão relacionadas à investigação sobre: 
i. a existência ou não de sistemas financeiros regionais (Amos e Wingender 
1993; Bias 1992); 
ii. como falhas de mercado – i.e. assimetria de informação e custos de 
transação e informação sensíveis à escala – afetam a eficiência do sistema 
financeiro na alocação de crédito (e, portanto, o desempemho das variáveis 
reais) entre regiões de um país (Koo and Moon 2004, Miyakoshi and 
Tsukuda 2004); 
iii. em que medida a distribuição de diferentes tipos de bancos pelas regiões de 
um país (a existência sistemas bancários locais) explica as disparidades no 
crescimento econômico regional (Usai and Vannini 2005; Ozyildirim and 
Older 2008; Valverde and Fernández 2004); 
iv. em que medida condições econômicas locais/regionais têm impacto sobre o 
desempenho de bancos locais/regionais (Meyer and Yeager 2001; Yeager 
2004; Emmons et al. 2004; Furlong and Kreiner 2007; Daly et al. 2008); 
v. como a diversificação geográfica afeta o desempenho dos bancos (Demsetz 
and Strahan 1997; Morgan and Samolyk 2005); e 
vi. como a distância entre agências e sedes2 ou entre credores e devedores3 
influencia ambos a alocação e a disponibilidade de crédito (Alessandrini 
 
1 Os primeiros trabalhos que procuraram identificar os fatores que podem determinar a ocorrência de 
racionamento de crédito em mercados regionais foram Roberts e Fishkind (1979) e Moore e Hill (1982). 
Recentemente, autores Novo Keynesianos como por exemplo, Faini et al. (1993) e Samolyk (1994), exploraram 
a hipótese de assimetria de informação em mercados regionais para explicar o racionamento de crédito. 
2 Também conhecida como “distância funcional”. Esta significa a distância entre níveis dentro de uma 
organização bancária. De acordo com Alessandrini et al. 2009 (p. 5), 
by functional distance we refer to the distance between a local branch, where information is 
collected and lending relationships are established, and its headquarter, where lending policies 
and ultimate decisions are typically taken. From a theoretical point of view, the importance of 
functional distance for the lending policies of local branches has its roots in (i) the asymmetric 
distribution of information and the costs of communication within an organisation, and (ii) the 
economic, social and cultural differences across communities. 
3 Também entendida como “distância operacional” (Alessandrini et al. 2008) 
 
 
11
and Zazzaro 1999; Berger and DeYoung 2001; Carling and Lundenberg 
2005; Brevoot and Hannan 2006; Alessandrini et al 2008). 
De forma similar a esta última linha de investigação, porém com uma 
abordagem teórica próxima à geografia econômica, Martin (1999) e Klagge e 
Martin (2005) fornecem evidências empíricas acerca da assimetria na alocação de 
crédito entre regiões centrais e periféricas, o que contribui para um padrão de 
desenvolvimento regional desigual. Estes autores apontam a existência de uma 
relação não-neutra entre os lados real e financeiro do sistema econômico. De 
acordo com eles, o sistema financeiro não funciona em uma “estrada espacialmente 
neutra”. Dito de outra forma, sistemas financeiros não são perfeitamente 
integrados entre as regiões de um país, de forma que o investimento em uma dada 
região é dependente da poupança local; a demanda local por financiamento é 
constrangida pela oferta; e os residentes (firmas e indivíduos) não podem acessar 
fundos de outras regiões do país. Ou seja, a proximidade geográfica de centros 
financeiros importa. O resultado seria a concentração de instituições financeiras 
em localizações centrais e hiatos locacionais de financiamento entre o centro e a 
periferia. 
Uma característica comum às visões teóricas acima citadas é o fato dos 
determinantes dos impactos da moeda e do sistema financeiro
sobre as regiões 
estarem associadas a falhas de mercado. Ou seja, não são as características da 
moeda e da forma de operação do sistema financeiro que permitem uma 
construção teórica onde tais fatores afetam o desenvolvimento regional, mas sim 
as falhas de mercado. Caso estas não existissem, não haveria a possibilidade 
teórica da moeda e o sistema financeiro interferirem na construção e ampliação 
das desigualdades regionais. 
 A perspectiva teórica defendida nesta tese discorda veementemente desta 
abordagem ao creditar às características intrínsecas da moeda e da forma de 
operação do sistema financeiro os determinantes de seus impactos sobre as 
disparidades regionais. Vale dizer, mesmo em um mundo onde não existissem 
imperfeições de mercado, estas características intrínsecas garantiriam a 
possibilidade do lado financeiro interferir, tanto no curto, quanto no longo prazo, 
na ocorrência de disparidades regionais. 
 
 
12
No restante desta Parte I será apresentada, de forma crítica, esta 
abordagem. Para tanto, inicia-se com a discussão dos fundamentos teóricos mais 
gerais que sustentam a teoria Pós-Keynesiana, notadamente a sua interpretação 
sobre o papel desemplenhado pela moeda em economias capitalistas, como a que 
conhecemos hoje. Esta base teórica é utilizada para uma re-leitura crítica dos 
clássicos da literatura sobre desenvolvimento regional e urbano, buscando 
entender como tais teorias incorporaram a moeda em suas formulações. Após esta 
revisão, conclui-se esta parte com uma análise critica da contribuição da teoria 
Pós-Keynesiana à economia regional. 
 
 
13
 
I.1 MOEDA E SISTEMA FINANCEIRO NA TEORIA PÓS-KEYNESIANA: 
DEFININDO O MARCO TEÓRICO 
O objetivo desta seção é destacar os princípios teóricos essenciais para o 
entendimento da abordagem Pós-Keynesiana para economia regional. Não se 
pretende aqui fazer uma discussão detalhada desta corrente de pensamento, mas 
apenas analisar aqueles elementos que são necessários à elaboração da 
“Perspectiva Pós Keynesiana de Economia Regional”. 
Nesse sentido, entende-se que três questões são fundamentais: i) o conceito 
de Economia Monetária de Produção, o qual expressa, claramente, como Keynes e 
os Pós Keynesianos entendem o funcionamento da economia capitalista, tendo a 
moeda como elemento central; ii) a discussão sobre a oferta de moeda, 
fundamental para o entendimento tanto dos limites de atuação das autoridades 
monetárias, como também do papel desempenhado pelo sistema bancário; e iii) as 
relações entre poupança, finance e funding, essencial para o entendimento do 
processo de investimento, variável-chave na discussão do conceito de demanda 
efetiva. Nas próximas seções analisaremos, em detalhe, cada uma destas questões. 
 
I.1.1 ECONOMIA MONETÁRIA DE PRODUÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS 
É amplamente reconhecido que Keynes, no período em que escrevia a 
Teoria Geral (Keynes 1973 [1937]), tinha a convicção de que o que estava 
escrevendo seria uma grande ruptura com a teoria ortodoxa vigente a época. 
Apesar disto, Keynes optou, na versão final da Teoria Geral, por não aprofundar o 
provável confronto com economistas ortodoxos. Assim sendo, embora tenha 
desenvolvido, nos rascunhos da Teoria Geral, uma análise detalhada do que 
entendia ser os fundamentos de uma economia capitalista de produção, ele optou 
por iniciar a sua obra mais importante aceitando, em parte, alguns fundamentos da 
escola clássica, de forma a mostrar que a sua principal conclusão – a possibilidade 
de equilíbrio com desemprego involuntário - se sustentaria. 
 
 
14
No entanto, como ficou evidente nos anos seguintes à publicação da Teoria 
Geral, esta estratégia não alcançou os resultados esperados, gerando não apenas 
interpretações equivocadas de sua obra, como também um grande desconforto no 
próprio Keynes em relação à forma que ele expôs suas críticas à teoria clássica nos 
dois capítulos iniciais da Teoria Geral. Nestes capítulos, Keynes expõe o que 
considera ser o cerne da economia clássica que pretende negar e tenta mostrar que 
os dois postulados centrais da teoria clássica – o primeiro definindo que a salário 
nominal seria igual à produtividade marginal do trabalho e o segundo definindo 
que a utilidade marginal do salário, dado o volume de trabalho empregado, sempre 
se iguala à desutilidade marginal deste trabalho – deveriam ser entendidos como 
um caso especial e não uma regra geral. 4 
Por volta de 1939, o descontentamento de Keynes com esta abordagem já 
era claro: 
If the falling tendency of real wages in periods of rising demand is 
denied … it would be possible to simplify considerably the more 
complicated version of my fundamental explanation which I have 
expounded in my General Theory – particularly in Chapter 2, which is 
the portion of my book which most needs to be revised (Keynes 1973b, 
p. 401) 
Embora Keynes não tenha revisto seu livro, foi possível inferir qual seria o 
caminho que ele tomaria quando veio a público a publicação de seus Collected 
Writings em 1973. Nesta coletânea encontram-se versões preliminares da Teoria 
Geral nas quais ele mostra, claramente, sua oposição aos fundamentos da Teoria 
Clássica, bem como o seu entendimento dos princípios de uma Economia 
Monetária de Produção. (Keynes 1979). 
Nos rascunhos da Teoria Geral, Keynes diferenciou os ‘modelos’ de 
economia que sustentavam a teoria econômica Clássica, dominante a época, e a sua 
 
4 “Paradoxically, Keynes’s attempt in Chapter 2 to differentiate his new theory from the old has resulted in 
complete misunderstanding of the fundamental difference between The Genera Theory and pre-Keynesian 
economics and has paved the way for neoclassical revival. His uncritical acceptance of the first postulate 
(diminishing marginal productivity of labour in the short period) without emphasizing that in his system the 
postulate does not give us the demand schedule for employment, together with his arguments concerning the 
stickyness of money-wages and the inability of labour as whole to reduce its real wage, led many to believe 
that all Keynes’s theory amounted to was an, admittedly realistic, critique of the imperfect operation of the 
labour market. The cure for unemployment was to bring about supply-side improvements to increase the 
(downward) flexibility of money and real wages – the neoclassical solution. (Brothwell 1997, p. 4) 
 
 
15
nova teoria. Tais ‘modelos’ foram denominados por ele de Economia Co-operativa 
(ou Economia de Trocas Reais), no caso da economia clássica, e de Economia 
Empresarial (ou Economia Monetária de Produção), no caso de sua teoria. Dentre 
os vários elementos que diferenciavam tais modelos, o papel desempenhado pela 
moeda se destaca. Nas palavras de Keynes, a diferença básica entre a teoria 
ortodoxa e a por ele preconizada estaria no fato de sua teoria lidar com 
an economy in which money plays a part of its own and affects motives and 
decisions and is, in short, one of the operative factors in the situation, so that 
the course of events cannot be predicted, either in the long period or in the 
short, without a knowledge of the behavior of money between the first state 
and the last. And it is this which we ought to mean when we speak of a 
monetary economy (Keynes, 1973 CW XII, 408-9) 
Uma Economia de Troca seria constituída por produtores e consumidores 
independentes que trocariam os excedentes de suas produções acima de suas 
necessidades. Esta troca poderia ocorrer de forma direta (ou seja, mercadoria por 
mercadoria) ou por algum meio de pagamento, sendo que, no entanto, sempre 
existiria um mecanismo que assegurasse que toda renda gerada
no processo 
produtivo retornasse ao mercado sob a forma de demanda por produtos 
produzidos. No agregado, sempre existiria um mecanismo que asseguria que o 
valor nominal das rendas dos fatores de produção seria igual no agregado ao valor 
da produção. 
Esta seria uma economia onde a lei de Say predominaria. Nas palavras de 
Carvalho, 
economies of the cooperative type admit sectoral disequilibria, local 
imbalances between supply and demand, but aggregate imbalances are ruled 
out. There are no disequilibrium-amplifying income effects, even if it is not for 
the precise basket of goods that is available. This kind of imbalance is removed 
by the operation of the price system in which relative scarcities and excess 
supplies are signalled by disparities between market and natural (or long-
period equilibrium normal) prices. (Carvalho 1992, p. 39) 
Nesta economia, a moeda é apenas um conveniente meio para efetuar 
intercâmbios, sendo sua função transitória e neutra em seus efeitos. Em outras 
palavras, ela não é capaz de afetar (modificar) os motivos e decisões dos 
integrantes desta economia: 
The distinction which is normally made between a barter economy and a 
monetary economy depends upon the employment of money as a convenient 
means of affecting exchanges, as an instrument of great convenience, but 
 
 
16
transitory and neutral in its effect […] an economy, which uses money but uses 
it merely as a neutral link between transactions in real things are real assets 
and does not allow it to enter into motives or decisions might be called – for 
want of a better name – a real-exchange economy (Keynes 1973a, p. 408 ) 
Em uma clara oposição a este tipo de “Economia” Keynes via a economia em 
que vivemos como uma Economia Monetária de Produção onde a moeda, além de 
meio de troca, desempenharia um papel próprio afetando decisões. Para tanto, ela 
é vista não somente como meio de troca, mas também como reserva de valor, o que 
faz com que o curso dos eventos não possa ser previsto, seja no curto ou no longo – 
prazo, sem o conhecimento do comportamento da moeda. 
O conceito de Economia Monetária de Produção pode ser melhor entendido 
através da análise de seis princípios, tal como formulado por Carvalho (1992): i) 
produção; ii) dominância estratégica; iii) temporalidade da atividade econômica; 
iv) não ergodicidade; v) não pré-conciliação de planos; e vi) propriedades da 
moeda. No que se segue são expostos estes princípios.5 
i. Princípio da Produção 
A firma é vista como um agente que possui interesses e objetivos próprios, 
distintos dos objetivos das famílias. Basicamente, a preocupação central de uma 
firma não seria atender as necessidades dos consumidores, mas sim gerar riqueza 
em sua forma mais geral, ou seja, moeda – poder de compra em sua forma 
universal. Seria através da obtenção de uma maior quantidade de moeda, o que 
possibilitaria à firma uma maior flexibilidade para aproveitar as chances que 
pudessem surgir para ampliar esta mesma riqueza monetária. 
É importante notar que não é o fato de existir uma necessidade da 
população não atendida que faz com que o empresário inicie o processo produtivo, 
mas sim, a expectativa de acumular riqueza com o atendimento desta necessidade. 
Assim, o objetivo da firma é atingido quando ela é capaz de aumentar o seu 
comando sobre a riqueza em sua forma mais líquida, isto é a firma aplica dinheiro 
para obter mais dinheiro. 
 
5 Uma observação faz-se necessária. Como se sabe, Keynes não apresentou seu entendimento do que seria uma 
economia monetária de produção na forma de princípios. No entanto, como salienta Carvalho (Carvalho 1992), 
a leitura dos rascunhos da Teoria Geral permite concluir que o significado destes princípios faziam parte do 
raciocínio de Keynes. No presente trabalho, segue-se a formalização de princípios feita por Carvalho (1992) 
que, por sua vez, é um desenvolvimento da proposição feita anteriormente por Davidson. 
 
 
17
Várias são as citações de Keynes que explicitam este princípio: 
An entrepreneur is interested not in the amount of product, but in the amount 
of money which will fall to his share. He will increase his output if by doing he 
expects to increase his money profit, even though this profit represents a 
smaller quantity of product than before (…) 
The choice before him in deciding whether or not to offer employment is a 
choice between using money in this way or not using it at all (Keynes 1979, p. 
82) 
ii. Princípio da Dominância Estratégica 
Este princípio refere-se à hierarquia existente nas relações econômicas de 
uma sociedade capitalista e é uma decorrência do primeiro princípio. Segundo o 
princípio da dominância estratégica, a capacidade de trabalhadores e firmas 
determinarem a dinâmica da economia é distinta, sendo que o poder de decisão 
não é distribuído de forma igualitária, pendendo claramente em favor das firmas: 
Both the amount of employment and of savings depend of the decisions 
of firms to produce and to invest. Labours and savers adapt themselves 
to the firms’ decisions even if they do not realize it and part of the 
innovative content of The General Theory is to show how this takes 
place. (Carvalho 1992, p. 45) 
O que garante este poder nas mãos das firmas é o fato do capital ser 
“escasso” em relação ao trabalho, lembrando sempre que esta escassez é 
organizada pelo próprio sistema.6 A firma, neste contexto, detém a iniciativa tanto 
no mercado de trabalho (demanda por trabalho) como no mercado de capitais (a 
decisão de investir precede a criação da poupança). Isto significa dizer que a 
famosa, e de fundamental importância para a teoria ortodoxa, tesoura Marshaliana, 
onde oferta e demanda se encontram em igualdade de condições, não se observa 
em uma Economia Monetária de Produção. 
Vale salientar que este princípio é ainda mais evidente quando se considera 
que o processo produtivo somente tem início se houver financiamento disponível. 
Em outras palavras, mesmo que exista mão de obra disposta a trabalhar ao salário 
em vigor ou talvez até menor, o processo de produção só ocorrerá caso os bancos 
forneçam o crédito e os empresários avaliem que o processo de produção permite 
 
6 O conceito marxista de exército industrial de reserva neste contexto é extremamente útil. 
 
 
18
à firma valorizar a sua riqueza de uma melhor forma do que em outras 
alternativas. 
 
iii. Princípio da Temporalidade da Atividade Econômica 
Este terceiro princípio pode ser resumido na expressão: em uma economia 
monetária de produção a produção é realizada para a venda no mercado. Apesar de 
parecer trivial, esta é uma expressão com fortes implicações, sendo, a mais 
importante, o fato da decisão de produzir preceder a produção, que por sua vez 
precede a venda. Isto significa dizer que a firma produz sob o comando, ou sob a 
expectativa, da demanda. Esta última característica é fundamental por dar às 
expectativas em relação ao futuro comportamento da demanda uma dimensão 
causal, conferindo à atividade produtiva um caráter inevitavelmente especulativo. 
Nas palavras de Chick, 
The time consuming nature of production takes place upon producers the 
necessity to make decisions based on an estimate, a forecast, of the demand for 
their product: the goods must be placed on the market before people can buy 
them, and thus before demand can be known. The existence of money can 
enhance the difficulty of making that estimate, for when people save for future 
purchases, they need not place specific orders even if they know what they 
will want and when. They can hold Money instead, or one of
the many claims 
on future Money that a developed financial system provides. This action gives 
producers no clue as to their future plans (Chick 1983, p. 5) 
iv. Princípio da Não-Ergodicidade 
A definição técnica de ergodicidade classifica um sistema como sendo 
ergódigo se o processo estocástico é tal que as médias de tempo e espaço 
coincidem após infinitas realizações.7 Ou seja, se um processo estocástico se repete 
infinitamente, as médias de tempo (tomando-se os resultados em diferentes 
momentos do tempo) e espacial (no mesmo tempo, porém em locais distintos) 
tendem a convergir. 
Como conseqüência, se determinado processo é ergódigo, o dado obtido de 
observações passadas fornecem uma regra segura para a tomada de decisões sobre 
 
7 Nas palavras de Davidson: “Space averages refer to a fixed time point and are formed as averages over the 
universe of realisations … Time averages … refer to a fixed realisation and are formed as averages over na 
indefinite time space” (Davidson 1982-1983, p. 185). 
 
 
 
19
o futuro (Davidson 1982-1983, p. 185). Desta forma, sistemas econômicos 
governados por processos ergódigos possuirão relações ahistóricas e imutáveis. 
Analogamente, se as médias não convergem o sistema será classificado como não 
ergódigo, e neste caso, o dado obtido de observações passadas não fornecem uma 
regra segura para a tomada de decisões sobre o futuro 
Vale salientar que o conceito de não-ergodicidade implica em entender o 
tempo como histórico em oposição ao conceito de tempo lógico incorporado na 
teoria ortodoxa. No tempo histórico, o passado precede o presente que, por sua 
vez, precede o futuro, não sendo possível ir ao futuro e retornar ao presente. Não é 
possível reverter decisões presentes sem que se incorra em custos. O conceito de 
tempo lógico é o expresso em termos tais como t, t+1, t+2, etc, amplamente 
utilizado em modelos econômicos ortodoxos. Nestes últimos, o agente sabe, ou 
possuí uma distribuição de probabilidades (objetivas ou subjetivas) sobre o que irá 
acontecer no tempo t+1, de forma que o agente sempre age com um determinado 
grau de certeza, mesmo que probabilística. É como se fosse possível ir ao futuro e 
voltar ao presente, para se tomar uma decisão, com pelo menos uma certeza 
probabilística. 
A irreversibilidade do tempo, determinada pelo entendimento do tempo 
como histórico, faz com que decisões não possam ser repetidas. Ou seja, a 
irreversibilidade do tempo implica em assumir a existência de decisões cruciais, 
não-vazias (Shackle 1959). Uma decisão vazia é mera solução formal para um 
problema também formal. É a situação na qual o indivíduo possui conhecimento 
completo e certo acerca de todas as possíveis escolhas, bem como de todos os 
possíveis resultados de cada escolha. É uma ação mecânica e inevitável (Shackle 
1959, p. 291).8 
Em contraste, uma decisão crucial (não-vazia) implica na impossibilidade 
desta decisão ser repetida, 
 
8 Nas palavras de Crocco, 
When one looks at Shackle’s definition of “decision”, one realises that empty decisions are not 
true “decisions” in his account. He argues for an understanding of “decision” as a commitment 
to the first step in an action of choosing among a plurality of rival and mutually exclusive 
hypotheses about which it is impossible to know the relevant consequences (Shackle 1958, p. 
35). Obviously, this is far from a situation of complete knowledge and deterministic actions as in 
the case of empty decisions. (Crocco 2002, p. 15) 
 
 
20
because its very performance destroys forever the conditions in which 
it was undertaken, which form an essential part of it (Shackle 1970, p. 
109). 
É uma decisão única que cria novas informações “which agents will need to 
take into account in the future courses of action” (Andrade, 1997, p. 13). Alguns 
exemplos de decisões cruciais são investimento, acumulação de riqueza e 
financiamento. Como tais decisões não podem ser repetidas, inclusive devido ao 
fato da própria decisão destruir os condicionantes sobre os quais ela foi elaborada, 
não existe um processo de aprendizado. Na visão de Shackle, quando decisões 
cruciais são tomadas não existe conhecimento disponível. 
Uma implicação importante do princípio da não-ergodicidade é o fato dele 
determinar o surgimento da incerteza.9 Este conceito é de fundamental 
importância tanto para Keynes quanto para os autores Pós-Keysianos. Uma longa 
literatura tem tratado deste tema com riqueza de detalhes. No entanto, detalhar tal 
discussão fugiria ao tema deste trabalho, para o qual o conceito de incerteza 
utilizado será aquele em que se considera uma situação onde é impossível 
estabelecer uma distribuição de probabilidades (objetiva ou subjetiva) em relação 
aos eventos futuros, ou seja, uma situação onde a incerteza não é mensurável.10 
 
v. Princípio da não Pré-Conciliação dos Planos 
Este princípio afirma que em uma economia monetária de produção não 
existem instituições de comando que determinem às firmas o que e quanto 
produzir. Neste contexto, ela tem que decidir com base em expectativas, não 
sabendo com exatidão o quanto será demandado e o quanto será ofertado em 
conjunto. 
Este é o princípio que abre espaço para as expectativas e de formas 
institucionais de se lidar com a incerteza. Tais instituições têm por objetivo central 
socializar perdas e reduzir o risco para cada agente individual. Dentre tais 
 
9 Vale salientar que é a não-ergodicidade que cria a incerteza e não a temporalidade das decisões. Se o mundo 
fosse ergódigo, o fato da produção anteceder a venda (princípio da temporalidade das atividades econômicas) 
não implicaria em processo especulativo uma vez que o futuro seria um espelho do passado. 
10 Para uma discussão detalhada sobre o tema ver Rundle (1993), Davidson (1994), Dow e Hillard (1994), e 
Crocco (1999), entre outros. 
 
 
21
instituições talvez a mais importante seja o contrato futuro denominado em 
moeda. Neste momento é válida uma longa citação de Carvalho 
A contract reduces uncertainty by establishing flows of resources, real and 
financial, their timing and their terms, assuring producers of the availability of 
inputs, on the one hand, and of the existence of outlets for their products, on 
the other. It serves, as a cost-controlling device for entrepreneurs and as the 
basis for the calculation of relative rewards that are the field of application of 
entrepreneurial rationality. Not all flows of goods can be defined in forward 
contracts (in particular, consumption goods are not produced ‘to order’), so 
uncertainty cannot disappear completely. But time-consuming productive 
processes that would be too risky otherwise can be organized on the basis of a 
system of contracts that ensures its continuity, at least in the face of 
predicable contingences. (Carvalho 1992, p. 48) 
 
vi. Princípio das Propriedades da Moeda 
 Este princípio está fortemente relacionado com o anterior, pois para que 
um contrato, denominado em moeda, possa servir de instituição coordenadora em 
um ambiente não – ergódigo se faz necessário que a moeda possua propriedades 
que garantam a sua estabilidade no tempo. Esta estabilidade se faz necessária, 
pois, caso contrário, ela não poderia ser aceita como unidade de conta em 
contratos. Estas propriedades são duas: elasticidades de produção e substituição 
nulas ou próximas de zero. 
A elasticidade de produção próxima de zero implica dizer que um aumento 
da demanda por moeda não gera um aumento em sua produção e, 
conseqüentemente, um aumento da sua
disponibilidade. Já a elasticidade de 
substituição da moeda próxima de zero implica dizer que as funções da moeda não 
podem ser exercidas por outro ativo. Tais características, em conjunto, garantem a 
função de reserva de valor da moeda e, conseqüentemente, sua liquidez, sua 
capacidade de liquidar dívidas e a sua transformação em poder de compra em sua 
forma mais geral. Nas palavras de Keynes, 
The attribute of ‘liquidity’ is by no means independent of the presence of these 
two characteristics. It is unlikely that an asset, of which the supply can be 
easily increased or the desire for which can be easily diverted by a change in 
relative price, will possess the attribute of ‘liquidity’ in the minds of owners of 
wealth. Money itself rapidly loses the attribute of ‘liquidity’ if its future supply 
is expected to undergo sharp changes (Keynes 1973 [1936], p. 241n) 
 
 
22
Os seis princípios listados acima permitem a caracterização da economia 
capitalista como sendo uma economia onde a moeda não é neutra no longo prazo, 
podendo o seu comportamento afetar as variáveis reais da economia. Em situações 
onde o futuro é incerto, o capitalista pode decidir ou não valorizar sua riqueza, 
mantendo-a em sua forma mais líquida (moeda) ou valorizá-la em ativos cuja 
reprodução não demande a contratação significativa de mão-de-obra (circuito 
financeiro). 
É justamente o refúgio encontrado na liquidez da moeda que faz com que 
ocorra a possibilidade de ocorrência de desemprego involuntário, mesmo em 
situações onde existam trabalhadores dispostos a trabalhar em troca de salários 
menores. Isto ocorreria porque a combinação de futuro incerto e a propriedade de 
conservar de valor por parte da moeda faz com que o nível de demanda efetiva seja 
abaixo daquele que garantiria o pleno emprego. Neste contexto, enquanto as 
expectativas em relação ao futuro não se alterarem positivamente, o nível de 
demanda efetiva será insuficiente para garantir a plena utilização dos fatores de 
produção. 
I.1.2 O DEBATE SOBRE EXOGENEIDADE E ENDOGENEIDADE DA OFERTA DE 
MOEDA 
Feita a análise dos fundamentos da concepção Keynesiana de uma 
Economia Monetária de Produção, passa-se agora para a discussão do segundo 
ponto teórico necessário para a construção de uma interpretação Pós-Keynesiana 
de economia regional, qual seja o debate acerca da endogeneidade da oferta de 
moeda. Como será visto mais a frente, esta discussão está no centro da 
interpretação Keynesiana de economia regional, pois é através dela que a moeda 
pode interferir na criação, manutenção e ampliação dos desequilíbrios regionais. 
O debate acerca da endogeneidade ou exogeneidade da oferta de moeda 
tem no seu cerne a discussão sobre a capacidade das autoridades monetárias em 
controlar a base monetária de uma economia. Neste contexto, três interpretações 
se consolidaram na literatura sobre teoria monetária: i) a vertente neoclássica 
verticalista; ii) a vertente Keynesiana horizontalista; e iii) a vertente Keynesiana 
estruturalista. 
 
 
23
A visão verticalista, fortemente apoiada pelos chamados monetaristas, 
considera a oferta de moeda completamente controlada pela autoridade 
monetária. Esta hipótese é de fundamental importância para a validação da Teoria 
Quantitativa da Moeda, marco central da corrente monetarista. 
 Basicamente, esta visão baseia-se em dois pilares: 
1. determinação da base monetária pelo Banco Central, que seria 
efetuada, essencialmente, por três tipos de operações do Banco 
Central, a saber: a fixação da taxa de reservas; a realizações de 
operações de redesconto ou empréstimo de liquidez; e, por fim, 
realização de operações de mercado aberto; e 
2. o entendimento de que o controle da base monetária pelo Banco 
Central o permite controlar o processo de expansão do crédito. Neste 
processo as preferências do público e as estratégias bancárias 
são consideradas estáveis. 
Implícito, nesta concepção, está o fato da quantidade ofertada de moeda ser 
fixada de maneira independente da demanda. É a decisão da autoridade monetária, 
em última instância, que determina a quantidade de moeda não importando o nível 
de atividade econômica e a demanda por moeda, conseqüentemente. A taxa de 
juros, nesta concepção, é um mero resultado da decisão sobre as metas quanto aos 
agregados monetários, não se constituindo em instrumento de política econômica. 
A vertente endogenista discorda fortemente deste entendimento, 
notadamente quanto à possibilidade da autoridade monetária ter controle sob a 
oferta de moeda. No entanto, esta vertente se subdivide em duas, denominadas de 
horizontalista e estruturalista. 
Os chamados horizontalistas possuem em Kaldor (1982) e Moore (1988) 
seus principais representantes. Esta corrente aceita a distinção entre moeda-
mercadoria e moeda-creditícia elaborada por Hicks (1967). Segundo este autor, a 
exogeneidade da oferta de moeda seria uma conceptualização apropriada para 
uma economia com moeda metálica e com pequeno ou nenhum desenvolvimento 
do sistema de crédito. Supondo uma economia fechada e sem crédito, a ampliação 
da renda nominal depende do aumento da quantidade de moeda. Não é possível 
 
 
24
gastar mais, em termos monetários, do que a quantidade de moeda que se dispõe a 
cada período. 
No entanto, com o desenvolvimento do sistema financeiro a moeda bancária 
passou a ser o principal meio de pagamentos, possibilitando a ocorrência de uma 
dependência da oferta de moeda em relação à demanda de crédito. Em um sistema 
de crédito, não existe uma oferta de moeda creditícia independente da demanda. 
Uma redução de demanda por crédito resulta na anulação da moeda creditícia e, 
portanto, uma redução do estoque de moeda existente. Simetricamente, quanto 
ocorre um aumento na demanda por crédito, o sistema bancário pode ampliar a 
oferta de moeda. 
O desenvolvimento da teoria da endogeneidade da moeda é datado 
historicamente, fruto do desenvolvimento tanto da forma de atuação dos bancos, 
como também das autoridades monetárias. 
Para melhor entender esta evolução, utiliza-se o arcabouço desenvolvido 
por Chick (1992 [1986]) e Dow (1999) de estágios de desenvolvimento bancário.11 
12 Este arcabouço se mostra extremamente útil uma vez que explicita as mudanças 
de processos causais na forma de operar dos bancos e como tais mudanças afetam 
a escolha da teoria mais apropriada para interpretá-los em cada estágio (Dow e 
Rodriguez-Fuentes, 1997). 
São seis os estágios de desenvolvimento bancário. No primeiro estágio, os 
bancos são numerosos e pequenos; os débitos em contas bancárias não são 
utilizados como forma de pagamento, isto é, os pagamentos são feitos em moeda 
mercadoria; os bancos são, principalmente, receptores de poupanças. Os depósitos 
são basicamente poupanças privadas, cuja oferta é exógena ao sistema bancário. 
 
11 Vale notar que o arcabouço desenvolvido por Chick não pretende ser uma teoria de desenvolvimento 
bancário a ser aplicado de forma generalizada para todo e qualquer sistema bancário nacional. Sua aplicação 
deve ser adaptada a cada sistema nacional, uma vez que ele foi elaborado tendo-se em mente o sistema inglês 
(e posteriormente, britânico). Feita esta ressalva, acredita-se que ele possa ser de grande ajuda neste trabalho, 
não somente para ajudar a explicar o processo de endogenia da oferta de moeda, mas também, como será visto 
mais adiante, para desenvolver a contribuição Pós-Keynesiana para a teoria de economia regional (para uma 
visão alternativa, porém não necessariamente contraditória, do processo de evolução dos bancos ver Kregel 
1997). 
12 Em seu trabalho original, Chick (1992
[1986]) descreve cinco estágios de desenvolvimento bancário. Dow 
(1999) incorpora um sexto estágio. No presente trabalho será utilizada a versão de Dow. 
 
 
25
These features implied that an expansion of lending would entail a substantial 
loss of reserves even to the system as a whole. Banks are thus dependent of 
deposits for reserves and on reserves for lending capacity (Chick 1992 [1986], 
p. 194) 
Nesse cenário, a poupança determina o investimento. A capacidade de 
fornecer crédito está condicionada pela capacidade dos bancos em captar 
poupanças. Estas, por sua vez, estão condicionadas pela quantidade de moeda 
ofertada (high-powered money) não demandada pelo público na forma de cash ou 
por mudanças na preferência do público entre dinheiro vivo e depósitos bancários. 
Fundamental neste contexto é o fato do montante emprestado não retornar aos 
bancos sob a forma de depósitos, significando a existência de risco na atividade de 
concessão de empréstimo. 
No segundo estágio, o sistema bancário já possui a confiança do público, 
significando que os depósitos bancários podem ser usados como moeda. Além 
disso, esta possibilidade é ampliada pela consolidação de acordos de compensação 
entre bancos e pelo aumento do número de agências. Isto possibilita uma mudança 
radical no significado dos depósitos, uma vez que passam a representar toda a 
renda, seja ela destinada ao consumo ou não (poupança). 
Este desenvolvimento é de fundamental importância para a operação 
bancária, uma vez que o sistema não perde depósitos com empréstimos. Neste 
sentido, os bancos são encorajados a emprestar “dinheiro que não possuem” (além 
das reservas). Nas palavras de Dow, 
This development is crucial to the development of banking as opposed to 
financial intermediation. Now that there is less call on the intermediary’s 
reserves of coin, funds may be lent out without a prior matching deposit. The 
intermediary can generate what we now know as the ‘bank multiplier’. Deficit 
units can be financed without prior saving elsewhere in the system. The 
intermediary, now a bank, can itself create deposits as the counterpart to new 
lending which add to the local money supply and provide the basis for further 
financial intermediation (Dow 1999, p. 37) 
O multiplicador dos depósitos bancários é a teoria relevante: o sistema 
bancário pode emprestar um valor que é um múltiplo das reservas (sujeito à 
manutenção de um patamar mínimo de reservas). Nesse cenário, depósitos são 
uma conseqüência do processo de concessão de crédito. O sistema financeiro 
possui a capacidade de desenvolver os mecanismos para aumentar o estoque de 
depósitos bancários. O investimento pode preceder a poupança. 
 
 
26
O estágio III é caracterizado pelo desenvolvimento de mecanismos de 
empréstimos inter-bancários, fato este que potencializa o uso das reservas, 
fazendo com que o multiplicador de depósitos bancários atue de forma ainda mais 
intensa. Como pode ser notado, este estágio é um aprofundamento do estágio 
anterior. 
O quarto estágio marca uma mudança significativa na forma de operação do 
sistema bancário, e, conseqüentemente na teoria necessária para analisá-lo. Este é 
o estágio onde a atuação dos bancos centrais sofre uma mudança significativa: ele 
passa a atuar como emprestador de última instância para qualquer banco que 
esteja em crise, mesmo que isoladamente.13 
Under these circumstances, the supply of reserves has become endogenous, 
subject to the influence of the banks themselves. In turn, banks can now 
respond to the demand for loans, rather than being constrained by an 
exogenous stock of reserves (Dow 1993, p. 38) 
Neste estágio o banco central assume totalmente a responsabilidade pela 
manutenção da estabilidade do sistema bancário. 
No quinto estágio os bancos desenvolvem a administração do passivo, 
buscando atrair, ou reter, como depósitos, poupanças que poderiam ser mantidas 
em outras instituições financeiras. Esta é uma conseqüência do aumento da 
competição por depósitos dos bancos com instituições financeiras não-bancárias. 
The banks are forced to become much more pro-active, seeking lending 
opportunities and the deposits to match them, that is, to engage in 
liability management. This is where financial expansion starts to take on 
a life of its own, driven by the banks’ concern over market share rather 
than the financing needs of borrowers in the productive sector. There 
will always be demand for credit to finance speculation. (Dow 1999 
[1986], p. 38 -9) 
O sexto e último estágio representa uma resposta às conseqüências da 
expansão do sistema financeiro ocorrida durante o estágio anterior, que não 
necessariamente tiveram rebatimentos positivos no setor produtivo. Como visto 
acima, a estratégia de gestão de passivos, através de uma busca constante por 
reservas, levou à expansão dos depósitos, facilitando o aumento tanto de 
 
13 De acordo com Chick, (1992 [1986]) a atuação do banco central enquanto emprestador de última instância 
já havia sido defendida há bastante tempo atrás por Bagehot (1873). No entanto, tal intervenção ocorreria 
apenas quando ocorresse uma crise generalizada do sistema. No estágio IV, discutido acima, esta atuação 
ocorreria mesmo quando uma crise de liquidez afetasse apenas um único banco. 
 
 
27
atividades em mercados especulativos, quanto ao aumento da taxa de juros. Estas 
duas últimas conseqüências significaram um abandono do financiamento de 
atividades produtivas enquanto estratégia central dos bancos em busca de 
lucratividade. 
Assim sendo, observa-se um esforço, por parte das autoridades monetárias, 
em controlar este processo especulativo e a oferta de reservas através de regras de 
adequação de capital. A resposta do sistema bancário foi o desenvolvimento da 
securitização. 
Banks turned existing loans into marketable securities and developed the 
provision of financial services in securities markets, facilitating borrowing by 
means of issuing securities, rather than lending directly themselves. At the 
same time, they encouraged the development of markets in derivative 
products which offered banks profit-making opportunities off the balance 
sheet, and thus not subject to capital requirements (although the 
requirements have since been changed to try to capture exposure to off – 
balance sheet risk). (Dow 1999, p. 39) 
 
É no contexto do quarto estágio de desenvolvimento bancário, acima 
descrito, que a teoria da endogenia da oferta de moeda emerge. Dito em outras 
palavras, este desenvolvimento teórico se situa em um contexto institucional 
relativo à forma de atuação do sistema bancário. Neste sentido é uma teoria datada 
no tempo. 
Além do quadro institucional em vigor, a situação em que os bancos se 
encontravam ao final da II Guerra também favoreceu o desenvolvimento desta 
teoria, que pode ser entendida através da evolução dos balanços dos bancos. 
Pelo lado do ativo, observa-se que os sistemas bancários possuíam um 
grande volume de títulos públicos devido à necessidade de financiamento dos 
custos de guerra. Este fato determinou o surgimento de uma grande liquidez, uma 
vez que estes títulos possuíam uma grande aceitação. Com o crescimento 
econômico do pós-guerra, os bancos passaram gradativamente a trocar os títulos 
públicos (resgate dos governos) por títulos e créditos junto ao setor privado, 
diminuindo a liquidez dos bancos (títulos com menor aceitação). Pelo lado do 
passivo, observou-se o desenvolvimento do mercado internacional de divisas e o 
surgimento de uma série de inovações financeiras que facilitavam a obtenção de 
 
 
28
fundos por parte dos bancos. Com isto ocorreu uma
redução progressiva na 
proporção de reservas mantidas em caixa. 
Neste contexto, ficou mais difícil para os Bancos Centrais constrangerem os 
bancos por meio de limitações de reservas sem pôr em risco o sistema. Isto os 
levou a, na prática, socorrer todo e qualquer banco em situação de restrição de 
liquidez, dando ao sistema como todo a garantia de que os bancos poderiam 
emprestar o quanto desejassem, uma vez que o banco central os socorreria sempre 
que necessário. Nas palavras de Dow, 
Kaldor’s strongest argument for the passivity of the monetary authorities in 
the face of expanding credit is that this is what inspires the confidence in the 
financial system which allows it to flourish; if the authorities were to 
contemplate refusing to supply reserves on demand, the entire financial 
system would be threatened by a crises of confidence. (Dow 1999, p. 70) 
A teoria da endogenia da oferta de moeda teve implicações profundas no 
debate entre Keynesianos e Monetaristas acerca da eficácia da política monetária 
no que concerne ao controle das autoridades monetárias sobre a quantidade de 
moeda na economia. 
Como visto, na visão verticalista (monetarista), a autoridade monetária 
controla plenamente a oferta de moeda, sendo assim possível determinar a 
quantidade de moeda na economia. Como, para esta vertente de pensamento, a 
quantidade de moeda determina o nível de preços (via teoria quantitativa da 
moeda), deriva-se, então, que a política monetária se torna o instrumento principal 
no combate a inflação.14 
Já os adeptos da endogenia da moeda preconizam que a autoridade 
monetária, ao atuar como emprestador de última instância, teria perdido a sua 
capacidade de controlar a oferta de moeda, limitando-se a definir a taxa de juros 
que seria cobrada aos bancos em caso de socorro de liquidez. No entanto, afirmam 
os horizontalistas, os bancos determinariam uma taxa de juros para a concessão de 
crédito através de um mark-up sobre esta taxa e, desde que o demandante de 
empréstimo estivesse disposto a pagar esta taxa, o empréstimo seria efetuado. Nas 
palavras de Moore, 
 
14 Esta interpretação fundamentou as políticas de metas de agregados monetários (precursora do regime de 
metas de inflação) adotado pelos governos Reagan e Thatcher no final dos anos setenta. 
 
 
29
The Federal Reserve retains the power to set interest rate at which it will 
provide lender of last resort liquidity. But it has very limited ability to 
constrain quantitatively the amount of reserves provided below the demand 
for them (Moore 1988, p. 39) 
 Ou seja, mesmo que as reservas sejam adquiridas a uma taxa de juros mais 
alta, os bancos poderão expandir os empréstimos caso a expansão seja rentável 
(rentabilidade marginal dos empréstimos comparadas aos custos marginais da 
aquisição das reservas adicionais junto ao Banco Central). A oferta de moeda, 
nesse caso, acaba se tornando completamente endógena à demanda: uma reta 
horizontal. 
A versão horizontalista da oferta de moeda, no entanto, não é unânime na 
literatura Pós – Keynesiana. Autores como Davidson (1972), Kregel (1984-5), 
Rousseas (1986), Jarsulic (1989), Dow e Dow (1989), Wray (1990), Pollin (1991), 
Carvalho (1992), entre outros questionam a hipótese de que os bancos sempre 
validariam a demanda por crédito. Basicamente, estes autores analisam a atuação 
dos bancos em termos de sua própria preferência pela liquidez. Portanto, é através 
da análise da escolha de portfólio por parte dos bancos que a questão da endogenia 
da moeda deve ser tratada. Assim sendo, para qualquer política adotada pelas 
autoridades monetárias, a criação real de moeda dependerá do comportamento 
dos bancos. Estes irão procurar fazer suas decisões de portfólio combinando 
lucratividade e liquidez: 
For any given policy of the monetary authorities, the actual creation of money 
will depend on the behaviour of banks. The portfolio choices of banks are 
oriented by the need to combine profitability with liquidity. According to the 
conditions in which existing asset possibilities offer those two attributes, 
banks will choose an investment policy which will ultimately determine the 
money supply. (Carvalho 1992, p. 111) 
Dessa forma, a análise estruturalista fundamenta-se na análise de dinâmicas 
monetárias centradas nas estruturas financeiras, envolvendo estratégias de 
valorização das instituições financeiras, o que permite questionar a estabilidade do 
multiplicador dos meios de pagamento e, conseqüentemente, da estabilidade da 
velocidade de circulação de moeda. A causa de uma falha de demanda efetiva 
poderá, então, ocorrer devido tanto ao fato de as firmas preferirem ativos líquidos 
à produção de bens de capital, quanto ao fato de os bancos escolherem direcionar 
seus recursos para o circuito financeiro ao invés do circuito industrial: 
 
 
30
In a sense this approach suggests that the very dichotomy between demand 
and supply of money is too narrow. It is the same fundamental factor that is in 
operation in both sides of the market: liquidity preference (Carvalho 1992, p. 
112) 
É importante notar que o sentido de endogenia da oferta de moeda ainda se 
mantém presente na abordagem estruturalista, embora de forma distinta da 
observada entre os horizontalistas. Enquanto nestes últimos, a oferta de moeda é 
endógena à expectativas do setor privado não bancário, nos primeiros a endogenia 
é garantida e determinada pelo setor bancário exclusivamente. A principal crítica 
aos horizontalistas é o não reconhecimento da possibilidade de os bancos optarem 
por alocar seus ativos na circulação financeira. 
Por fim vale salientar que, como será visto mais a frente, a abordagem 
estruturalista de oferta de moeda que dá as bases para a interpretação Pós-
Keynesiana de desenvolvimento regional. As duas outras interpretações 
(verticalista e horizontalista) não possuem espaço para que a moeda seja 
entendida como uma variável importante na dinâmica regional. 
 
I.1.3 POUPANÇA, FINANCE E FUNDING15 
Uma das mais importantes rupturas com a teoria ortodoxa introduzida por 
Keynes está na relação entre poupança e investimento. Enquanto que para a teoria 
clássica estas duas variáveis são faces da mesma moeda, intermediada pela taxa de 
juros, Keynes estabeleceu teoricamente uma clara distinção entre poupança e 
investimento. 
Nas palavras de Carvalho, 
It is a fundamental proposition of Keynesian economics in any of its forms that 
the savings decision should be studied separately from the choice as to the 
form in which saved income should be stored. (Carvalho 1992, p. 147). 
Keynes argumentava que o ato de poupar era um escolha inter-temporal 
relacionada com preferências intertemporais e, principalmente, à precaução ante 
um futuro incerto. Uma vez decido o quanto poupar, uma segunda decisão deve ser 
tomada: em que forma devem ser mantidos os recursos poupados. Esta segunda 
 
15 A descrição do processo de poupança, finance e funding aqui apresentado baseia-se em Carvalho (1992). 
 
 
31
decisão, de acordo com a visão ortodoxa, expressa na conhecida Teoria dos Fundos 
Emprestáveis, seria a obrigatória transformação destes recursos em investimento. 
Para Keynes, no entanto, esta relação direta não se estabelece, sendo a 
transformação em investimento apenas uma das opções existente. Esta decisão 
seria, em última instância, determinada pela preferência pela liquidez dos 
poupadores. 
Além de diferenciar poupança de investimento, Keynes também introduziu 
dois conceitos fundamentais para entender a dinâmica do investimento, quais 
sejam: finance
e funding 
Finance seria o processo de criação de moeda para sustentar qualquer gasto 
planejado. É a criação de um volume de moeda necessário para tornar possível um 
plano de gasto. 
As stressed by Keynes and Post Keynesians, it is nothing but a bookkeeping 
operation by which a bank buys an asset (the claim against the borrowing 
firm) by creating a liability against itself (the demand deposits that the firm 
will use to make its purchase) (Carvalho 1992, p. 149) 
Importante salientar que neste processo nenhum recurso real é envolvido. 
Nenhuma poupança participa deste processo. O finance é uma operação que 
precede no tempo a compra ou mesmo a produção do bem de capital que será 
demandado. Como a produção ainda não começou, a renda ainda não foi gerada e 
então a poupança, que é uma alocação da renda corrente, ainda não pode existir 
(Carvalho 1992). 
A definição de finance discutida acima permite uma clara diferenciação com 
poupança. Enquanto o primeiro é o processo de criação de moeda por parte das 
instituições que detém poder de fazê-lo (bancos ou autoridades monetárias), a 
poupança é o processo de alocação de renda recebida pelo público em geral. São 
dois processos com origens e implicações distintas. 
Além disso, é evidente na explicação acima que o finance precede qualquer 
atividade produtiva. Uma vez obtido o finance, ele é alocado no processo produtivo, 
que, por sua vez, gera renda. Fica clara a causalidade inversa daquela prevista pela 
 
 
32
teoria neoclássica (S ex-ante = I ex-post). Esta última só tem validade em 
economias de troca, onde não existe o sistema bancário.16 
Uma característica essencial do finance está no fato deste se caracterizar 
por ser empréstimos de curto prazo, que são fornecidos pelos bancos para projetos 
e produção de bens de capital. Ele começa o processo de investimento, mas não o 
sustenta: 
When Banks create finance, they are accepting becoming temporarily illiquid. 
Banks typically issue short-term liabilities, such as demand deposits, or 
certificates of time deposits. Their assets have to be correspondingly short-
lived in order to guarantee their safe operation. When a loan to an investing 
firm is made, the bank is assuming a speculative position by absorbing an 
asset, the loan, that ultimately supported by an illiquid asset, the investment 
bought by the firm. (Carvalho 1992, p. 150) 
Vale notar que o retorno do investimento se dá a longo - prazo, enquanto 
que finance é obtido com títulos de curto prazo. Assim sendo, se faz necessário 
trocar as obrigações de curto prazo por obrigações de longo prazo. Este processo é 
chamado de funding. 
The entrepreneur when decides to invest has to be satisfied in two points: 
firstly, that he can obtain sufficient short-term finance during the period of 
producing the investment; and secondly, that he can eventually fund his short-
term obligations by a long-term issue on satisfactory conditions (Keynes 1973, 
p. 217) 
Neste ponto vale a pena ilustrar o processo de finance e funding de forma a 
melhor esclarecê-los. 17 Suponha um investidor que decida adquirir um novo bem 
de capital. Assim sendo, procura um produtor deste bem e o encomenda. O 
produtor do bem de capital aceita a encomenda e combina um valor X a ser pago 
no momento da entrega do respectivo bem de capital. 
O produtor do bem de capital agora se vê diante da necessidade de 
contratar trabalhadores, engenheiros, comprar insumos etc, para produzir o bem. 
Para fazê-lo, procura um banco para financiar esta produção solicitando o mesmo 
valor X.18 O banco fornece o empréstimo para ser pago logo após a entrega do 
 
16 Em uma economia de trocas, é necessário poupar milho para investir na produção adicional de milho, por 
exemplo. 
17 Este exemplo é baseado em Davidson (1986) 
18 Neste exemplo o produtor antecipa seus lucros que estavam embutidos no valor X combinado. 
 
 
33
produto ao investidor. Este empréstimo é o finance. Uma obrigação adquirida junto 
aos bancos antes do processo produtivo começar efetivamente. 
De posse do finance o produtor do bem de capital emprega trabalhadores e 
compra insumos. Este processo injeta recursos na economia, que, via efeito 
multiplicador, gera uma renda superior ao investimento efetivamente feito. Esta 
renda aumentada terá uma parte consumida e a outra poupada de acordo com a 
preferência pela liquidez do público em geral. Desta forma, o finance gerou um 
processo no qual ao seu final, uma nova poupança foi gerada em igual valor ao 
finance. 
Paralelamente a este processo, o investidor que encomendou o bem de 
capital está à procura de financiamentos cuja maturidade seja compatível com o 
fluxo de receita futuras provenientes de utilização do bem de capital 
encomendado. Estes recursos serão encontrados na nova poupança que foi gerada 
pelo finance, desde que o sistema financeiro gere os mecanismos necessários para 
compatibilizar as respectivas preferências pela liquidez (poupadores e 
investidores). Neste momento, o funding é formado. 
De posse deste funding, o investidor paga ao produtor do bem de capital no 
ato de sua entrega. Este último, por sua vez, salda as suas obrigações de curto-
prazo junto aos bancos, encerrando todo o processo. 
Neste ponto ficam evidentes as diferenças entre o finance e o funding no 
processo de investimento. O investidor necessita de funding, enquanto o produtor 
necessita de finance. A necessidade de finance pode ser atendida pelos bancos, que 
emitem empréstimos de curto prazo, ficando menos líquidos, pois aumentam em 
seus portfólios empréstimos que são garantidos por ativos ilíquidos. O investidor 
não pode “financiar” o investimento com este tipo de título, pois ele é incompatível 
com as características do ativo que está adquirindo. O candidato ideal para o 
funding são os agentes que possuem um volume de poupança além do desejado, 
volume este que foi criado pelo processo do multiplicador desencadeado pelo 
gasto do finance. 
Por fim, vale salientar que não existem garantias que os detentores desta 
nova poupança queiram preservar, no tempo, sua nova riqueza da mesma forma 
 
 
34
que os investidores desejam “fundar” suas dívidas. Isto significa que a preferência 
pela liquidez dos agentes poupadores pode inviabilizar o processo de funding19. A 
solução para problemas de compatibilidade entre a preferência pela liquidez dos 
poupadores e a necessidade de funding do investidor está no desenvolvimento das 
instituições financeiras. 
 
O objetivo deste capítulo foi discutir os fundamentos teóricos a partir dos 
quais se fará uma releitura dos clássicos do desenvolvimento regional e urbano 
nos dois capítulos seguintes. Na discussão anterior ficou evidente a importância da 
moeda e do sistema financeiro em uma economia onde a incerteza é uma condição 
permanente. A moeda atua como reserva de valor, servindo de refúgio, por ser 
riqueza em sua forma mais liquida. É esta característica fundamental da moeda, 
aliado aos princípios que norteiam uma Economia Monetária de Produção, que 
permite que o conceito de preferência pela liqüidez se torne central, possibilitando 
à moeda desempenhar um papel chave afetando preferências e decisões. 
Além disto, a aplicação deste entendimento ao processo de operação do 
sistema bancário, como expresso na visão estruturalista da oferta de moeda, da a 
este último um papel chave no processo de desenvolvimento de uma economia 
capitalista, a partir do seu poder em afetar o processo de geração tanto do finance, 
quanto do funding. 
Dessa forma, o sistema financeiro passa a ter um papel ativo no 
desenvolvimento econômico superando a visão
clássica que o enxerga apenas 
como intermediário entre poupadores e investidores. O conceito de funcionalidade 
do sistema financeiro, neste contexto, se torna crucial para a superação desta visão 
clássica, pois consegue combinar o conceito de preferência pela liquidez, a função 
de intermediação financeira do banco, e possibilidade de risco sistêmico de uma 
economia capitalista. 
É a partir desta compreensão do papel da moeda e suas implicações que, no 
capítulo seguinte, os autores clássicos do desenvolvimento regional e urbano serão 
analisados. Procurar-se-á investigar em que medida a concepção de moeda 
 
19 Vale lembrar que a poupança é aqui vista como precaução contra incerteza. 
 
 
35
adotada em cada autor interfere em suas principais conclusões e em que medida 
uma nova concepção poderia modificar tais conclusões. 
 
 
 
36
 
I.2 AS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MOEDA 
 
Uma revisão do atual estado das artes de teorias de desenvolvimento 
regional e urbana mostra uma clara divisão temporal nas concepções teóricas de 
desenvolvimento regional e nas conseqüentes políticas de desenvolvimento 
regional e urbano daí derivadas. Este marco temporal é datado dos anos setenta, 
onde a economia mundial vivenciou crises simultâneas e as mudanças do 
paradigma e do padrão tecnológico: os choques do petróleo de 1973 e 1979, e seus 
impactos em termos de crescimento econômico; a crise do Estado Keynesiano de 
Bem Estar Social; crise urbana e; o novo padrão tecnológico, liderado pelo 
paradigma micro-eletrônica, informática e telecomunicações. 
É nesse contexto que ser observa uma clara transição no que diz respeito à 
estrutura das políticas regionais utilizadas. Até meados dos anos 1970 observam-
se políticas regionais Top-Down, com ênfase na demanda e na correção das 
disparidades interregionais, caracterizadas como políticas keynesianas. Após este 
período o desenho de políticas regionais centra-se na estrutura Botton-up, de 
caráter descentralizado e focado na produtividade endógena das economias 
regionais e locais, aqui denominadas de enfoque na competitividade. 
Essa mudança de concepção de política tem sua origem em uma gama 
variada de fatores, que podem ser sintetizados em três grandes blocos: a) 
mudanças teóricas e ideológicas na concepção e no papel do Estado, criticando a 
excessiva intervenção do mesmo e advogando sua retirada; b) críticas teóricas e 
empíricas ao pequeno alcance social das políticas regionais, resgatando a questão 
das classes sociais nos padrões de desenvolvimento capitalista; e c) desafio dos 
novos fenômenos não explicados pela teoria anterior, a exemplo dos processos de 
desindustrialização e crise dos padrões fordistas de organização produtiva, das 
mudanças na divisão internacional do trabalho e da emergência dos NIC´s (New 
 
 
37
Industrialised Countries), da emergência de novos padrões tecnológicos e novas 
regiões produtivas (Diniz 2002)20 
No que segue, faz-se uma discussão das teorias de desenvolvimento 
regional tendo como referencial temporal a discussão feita acima. 
I.2.1 A PRIMEIRA GERAÇÃO: O ENFOQUE KEYNESIANO 
 
Os anos de 1950 e 1960 experimentaram o que foi chamado por alguns 
autores de primeira geração de políticas regionais (Maillat 1998; Helmsing 1999; 
Jiménez 2002, entre outros). Tais políticas foram formuladas em um ambiente 
teórico fortemente influenciado pelo keynesianismo. Como se sabe, esta corrente 
de pensamento coloca em questionamento a hipótese de existência de mecanismos 
automáticos de correção dos mercados e, portanto, defende a necessidade de uma 
intervenção externa na economia. Entre os mercados que não se ajustam 
automaticamente estaria o de trabalho, de longe o mais importante nesta 
abordagem. O não ajustamento automático desse mercado significa admitir a 
existência de equilíbrio com desemprego involuntário, hipótese esta negada tanto 
pela escola clássica como pela corrente neoclássica. A principal conseqüência, em 
termos das políticas econômicas da abordagem Keynesiana, é colocar a obtenção 
do pleno emprego como objetivo central da política macroeconômica. Atuação do 
Estado na economia seria, portanto, necessária para a obtenção do pleno emprego. 
Esta concepção macroeconômica mais geral influenciou várias 
interpretações teóricas acerca do desenvolvimento regional e das políticas 
necessárias para combater os desequilíbrios existentes. Tais teorias postulavam 
que o desenvolvimento de uma região estaria condicionado pela posição ocupada 
por esta região em um sistema hierarquizado e assimétrico de regiões, cuja 
dinâmica estava, em grande medida, fora dela própria. A seguir discutem-se os 
trabalhos mais importantes desta primeira geração. 
 
 
20 Para um balanço da crise da economia regional e de suas perspectivas, veja a coletânea de artigos publicada 
nos volumes 17 (3) e 18 (2), da International Regional Science Review, ambos publicados em 1995. 
 
 
38
 
 
I.2.1.1 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DESIGUAL 
 
Conforme interpretações baseadas na economia neoclássica, as quais viam o 
processo de desenvolvimento quer seja com uma tendência ao equilíbro, quer seja 
como um processo de evolução natural baseado em etapas (Rostow), o período 
Keynesiano de políticas regionais presenciou o surgimento de uma série de teorias 
que tinham, no centro de sua contribuição, a ativa idéia de que o processo de 
desenvolvimento seria necessariamente desigual. Dentre estes autores, três se 
destacam e serão aqui analisados: Myrdal, Hirschman e Kaldor. 
Myrdal tornou-se um dos autores seminais na discussão de 
desenvolvimento regional desigual pelo seu livro “Economic theory and under-
developed regions” (Myrdal 1965). Neste trabalho, inicia sua discussão sobre 
desigualdades regionais, a partir do conceito de circulo cumulativo mostrando que 
ele serve tanto para explicar um circulo ascendente quanto descendente. De 
acordo com o autor, o círculo vicioso seria explicado por 
um homem pobre não possui o bastante para comer, assim se torna fraco, 
assim trabalha menos, assim será mais pobre ... (Myrdal 1965, p. 32). 
O mesmo círculo pode ser ascendente (círculo virtuoso): “Aquele que é rico, 
se alimenta bem, assim trabalha melhor e assim se torna mais rico” (idem). Desta 
constatação chega a sua primeira afirmativa relevante no livro “... percebe-se que o 
processo acumulativo opera em ambas as direções. Revela-se também a compreensão 
do fato,...,de que o processo acumulativo, quando não controlado, promoverá 
desigualdades crescentes.” (Myrdal 1965 /1957, p. 33). 
Myrdal recusa-se a aceitar a hipótese de equilíbrio estável, no qual sempre 
existem forças atuando no sentido de recondução ao equilíbrio sempre que este 
seja afetado, como um arcabouço teórico relevante para explicar a realidade social. 
Para este autor, a idéia de processo circular cumulativo seria o mais adequado para 
explicar os processos econômicos e sociais que resultam no desenvolvimento e no 
subdesenvolvimento. Em suas palavras: 
 
 
39
 O sistema não se move, espontaneamente, entre forças, na direção de um 
estado de equilíbrio, mas, constantemente, se afasta desta posição. Em geral, 
uma transformação não provoca mudanças compensatórias, mas, antes, as que 
sustentam e conduzem o sistema, com mais intensidade, na mesma direção da 
mudança original. Em virtude dessa causação circular, o processo social tende 
a tornar-se cumulativo e, muitas vezes, a aumentar, aceleradamente, sua 
velocidade. (Myrdal 1965 /1957, p. 34)21 
A única possibilidade de retorno ao
equilíbrio seria através de mudanças 
exógenas com direção e força necessária para esta restauração. No entanto, afirma 
que este novo equilíbrio, de maneira alguma, é estável, uma vez que qualquer 
mudança exógena iniciará, por sua vez, um novo processo cumulativo. Finalmente, 
afirma que seria possível atingir uma posição estável mediante interferências 
políticas planejadas. 
O importante no conceito de causação circular cumulativa de Myrdal é o 
entendimento de que, uma vez rompida uma situação de equilíbrio, o sistema 
tende a se distanciar cada vez mais desta posição. Isto decorreria da 
interdependência entre os elementos que compõem o sistema no qual o equilíbrio 
está ocorrendo. Desta forma, durante o processo de causação circular cumulativa a 
mudança de qualquer variável causa mudanças em outras, que por sua vez, 
fortificam as primeiras e assim sucessivamente. Ou seja, a reação à primeira 
mudança não ocorre, como previsto pela teoria mainstream tradicional, no sentido 
inverso ao da primeira mudança, mas sim no mesmo sentido, gerando assim um 
processo cumulativo. Este processo só poderia ser interrompido se forças 
exógenas atuassem no sentido oposto ao inicial. 
Uma conseqüência natural da aceitação da hipótese da causação circular 
cumulativa é a impossibilidade de se buscar um fator básico a partir do qual tudo 
se desencadearia. A interdependência inerente a este processo impediria este 
procedimento metodológico na elaboração do pensamento científico.22 
É interessante ressaltar que é através deste processo causação cumulativa 
que a interdependência entre regiões se estabelece. Neste sentido, o autor 
 
21 Segundo Amado (1997), o princípio da causação circular cumulativa é fortemente oposto à predição 
ortodoxa de que as diferenças regionais e internacionais seriam solucionadas através de mecanismos de 
comércio e migração de fatores e produtos. 
22 É importante notar que, em determinada medida, esta é uma interpretação metodológica muito próxima ao 
que hoje é denominada de open system (Chick e Dow 2005). 
 
 
40
desenvolve os conceitos de backwash effects e de spread effects. Os primeiros são 
os efeitos regressivos de uma localidade em outras, seriam os efeitos negativos em 
uma localidade menos desenvolvida, derivados do processo de causação 
cumulativa positiva em uma localidade mais desenvolvida. Ou seja, é o processo de 
dinamismo da primeira que cria as condições para o atraso da segunda, 
amplificando desta forma as disparidades regionais já existentes. Já os spread 
effects seriam o transbordamento positivo do desenvolvimento de uma região em 
outra. Há de se ressaltar, no entanto, que não existe, segundo Myrdal, razões para 
pressupor que os dois efeitos se anulariam gerando uma situação de equilíbrio. 
O autor defende que existe um processo cumulativo determinado por 
economias externas e internas crescentes, que determinaria uma tendência de 
concentração das atividades em regiões já desenvolvidas, fazendo com que o 
processo de desenvolvimento seja cada vez mais desigual e caminhando sempre no 
sentido de reforçar esta desigualdade. Três seriam os fatores determinantes para 
explicar o processo de causação circular cumulativa: migração; movimento de 
capital e comércio. 
Especificamente ao que interessa nesta tese, o movimento do capital, o 
autor diz: 
 Nos centros de expansão, o aumento da demanda dará um impulso ao 
investimento que, por sua vez, elevará as rendas e a procura, e causará um 
segundo fluxo de investimentos, e assim por diante. A poupança aumentará em 
decorrência das rendas mais altas, mas tenderá a ficar inferior ao investimento, 
no sentido de que a oferta de capital teria de satisfazer uma demanda ativa. Nas 
outras regiões, a falta de novo impulso expansionista tem como conseqüência o 
fato de a demanda de capital permanecer relativamente fraca, mesmo quando 
comparada ao volume de poupanças, que será pequeno, porque as rendas 
também o são e tendem a declinar. Estudos em muitos países revelam como o 
sistema bancário, quando não controlado para operar de maneira diferente, 
tende a transformar-se em instrumento que drena as poupanças das regiões 
mais pobres para as mais ricas e mais progressistas, onde remuneração do 
capital é mais alta. (Myrdal 1965, p. 54, grifo nosso) 
O autor considera explicitamente que o sistema bancário tem uma função 
nos desequilíbrios regionais, ao funcionar como um elemento que reforça os 
backwash effects.23 No entanto, duas observações merecem ser feitas. Em primeiro 
 
23 Este aspecto da obra de Myrdal também foi observado por Martin, 
 
 
41
lugar, fica a impressão de uma visão convencional tanto da moeda quanto do 
sistema financeiro, muito próxima à abordagem dos “fundos emprestáveis”. Isto 
pode ser observado quando o autor salienta a possibilidade de existir um excesso 
de demanda por fundos na região desenvolvida em quantidade superior à oferta de 
poupança. Por mais que esta possa ser uma realidade, ao sugerir que este excesso 
será suprido com o excesso de poupança de regiões mais atrasadas, Myrdal nega a 
capacidade do sistema bancário em criar moeda, podendo-se supor a existência de 
uma abordagem verticalista24 da oferta de moeda. Neste sentido, o sistema 
bancário estaria apenas realocando fundos emprestáveis entre regiões de acordo 
com as regras de controle sobre o seu funcionamento. Dito de outra forma, o 
sistema financeiro não estaria sendo funcional. 
Neste ponto é relevante ter em mente a perspectiva teórica aqui adotada. 
Como descrito no Capitulo 1 da Parte I, desta tese, existe uma diferença entre 
finance e funding que é de fundamental importância para o entendimento do 
argumento aqui apresentado. Como dito anteriormente, o finance, que é o recurso 
necessário ao início de qualquer processo de investimento, sempre existirá desde 
que a preferência pela liquidez dos bancos assim o permita. Ou seja, desde que o 
banco avalie que os riscos e remunerações envolvidos neste processo sejam 
compensatórios, eles sempre criarão moeda para atender as demandas de curto 
prazo de investimento. Isto, no entanto, não significa que a poupança formada por 
este processo de finance se transformará automaticamente no funding necessário 
para o financiamento de longo prazo deste investimento. Isto nos leva à segunda 
observação. 
O papel do sistema financeiro, e especialmente do sistema bancário, nesta 
abordagem é eminentemente passivo, funcionando como um mero intermediário 
financeiro, não possuindo preferência pela liquidez. De acordo com a perspectiva 
 
Gunnar Myrdal (1957) directed attention to the question of regional financial flows in his 
theory of cumulative, uneven regional development. He included the drainage of regional funds 
through a nation banking system as one of backwash effects which have a negative impact on 
peripheral areas in an economy. However, unfortunately, although Myrdal’s cumulative 
causation model of uneven regional development was subsequently to have a significant 
influence on both regional economics and economic geography, the financial aspect of his 
argument was not taken up. (Martin 1999, p. 4) 
24 A vertente verticalista da oferta de moeda considera que esta é completamente controlada pelas autoridades 
monetárias, podendo desta forma ser representada por uma reta vertical. 
 
 
42
teórica adotada nesta tese, só com o entendimento do sistema financeiro como 
tendo
preferência pela liquidez é possível admitir a possibilidade deste em não 
atender à necessidade de funding das empresas localizadas em regiões mais 
desenvolvidas. Isto porque todo investimento gera a poupança necessária para 
financiá-lo (funding). 
A questão que se coloca é se o sistema financeiro está ou não disposto a 
transformar esta poupança, criada pelo processo de investimento, em funding. 
Neste sentido, do ponto de vista teórico, a escassez de funding só ocorrerá devido a 
dois fatores: um vazamento dele para outra região, fato este impossível, segundo o 
modelo de causação circular cumulativa, dentro de uma região desenvolvida; ou 
devido à preferência pela liquidez do sistema financeiro. Esta segunda opção não é 
incorporada na formulação teórica de Myrdal, o que faz com que o modelo seja 
incompleto de acordo com a perspectiva teórica aqui adotada. 
Vale salientar que a adoção desta perspectiva não implica na negação do 
processo de causação circular cumulativa, mas sim a adição de mais um elemento, 
que nos dias atuais se torna cada mais importante, entre aqueles que podem 
causar o cessamento do processo ascendente da causação circular cumulativa. Nas 
palavras de Myrdal, 
haverá fatores, inerentes à situação de um centro de expansão econômica, que 
tendem a retardar ou, quanto tiver alcançado certo nível de desenvolvimento, 
a fazer reverter o processo cumulativo ... (Myrdal 1965, p. 64) 
 Entre tais fatores salienta a expansão dos salários e o aumento na 
remuneração de outros fatores de produção, entre outras “deseconomias 
externas”. Na perspectiva teórica aqui utilizada, poder-se-ia afirmar que o sistema 
financeiro poderia funcionar como um elemento que restringiria o 
desenvolvimento do processo acumulativo de crescimento. Isto poderia ocorrer 
devido a um comportamento “a la Minsky” (Minsky 1986) do sistema financeiro, 
onde após um grande ciclo de expansão passaria a reduzir a oferta de funding, 
dado um aumento de sua preferência pela liquidez.25 
 
25 Vale lembrar que no modelo de Minsky, os bancos, após um período de euforia, tendem a reduzir a oferta de 
funding devido ao fato do lado do ativo de seu balanço se tornar excessivamente ilíquido. Ou seja, devido ao 
aumento de empréstimos realizados no período de boom, a proporção de ativo líquidos e ilíquidos passa a 
 
 
43
 
O segundo autor aqui discutido, que também argumenta em favor de uma 
teoria de desenvolvimento não equilibrado, é Albert Hirschman. Em sua obra 
seminal The Strategy of Economic Development ele expõe sua argumentação que, 
em sua essência, é complementar à desenvolvida por Myrdal. 
Dois pontos são fundamentais em sua análise. Em primeiro lugar, 
Hirschman deixa claro que o subdesenvolvimento não pode ser explicado pela 
ausência ou escassez quer seja de fatores de produção, quer seja de personagens 
humanas, tais como empresários. Geralmente, vários destes fatores são 
encontrados em países subdesenvolvidos, não sendo, no entanto, utilizados. Em 
suas palavras: 
 Thus, while we were at first discouraged by the long list of resources and 
circumstances whose presence has been shown to be needed for economic 
development, we now find that these resources and circumstances are not so 
scarce or so difficult to realize, provided, however, that economic development 
itself first raises its head (grifos do autor; Hirschman 1958. p. 5) 
Fica evidente pela citação acima que, para Hirschman, o processo de 
desenvolvimento é caracterizado por um mecanismo de círculo virtuoso, pois 
... once economic development has started, the circle is likely to become na 
upward spiral as all the prerequisites and conditions for development are 
brought into being. (Hirschman 1958) p. 5 
Além disto, segundo autor, o problema do desenvolvimento não dependeria 
somente de se encontrar a combinação ótima de recursos e fatores de produção 
dados. Uma vez que estes fatores estariam presentes em economias 
subdesenvolvidas, eles emergiriam sempre que o desenvolvimento ocorresse. 
O importante a ser ressaltado aqui é que esta abordagem permite modificar 
a forma de como se analisa o processo de desenvolvimento. Ao invés de se 
concentrar na discussão da existência ou não de fatores de produção ou recursos 
naturais, o que se torna necessário seria 
 to focus on the essential dynamic and strategic aspects of the development 
process. Instead of concentrating exclusively on the husbanding of scarce 
resources such as capital and entrepreneurship, our approach leads us to look 
 
tender excessivamente para o segundo. Esta situação levaria os bancos a interromperem o processo de 
concessão de empréstimos, levando ao encerramento do ciclo de expansão. 
 
 
44
“pressures” and “inducement mechanisms” that will elicit and mobilize the 
largest possible amounts of these resources. (Hirschman 1958, p. 6) 
Neste sentido, segundo o autor, o planejamento do desenvolvimento 
constituiria essencialmente na constante construção de “pacing devices”. 
Em segundo lugar, Hirschman descarta veementemente a hipótese segundo 
a qual o processo de desenvolvimento ocorreria de forma equilibrada, na qual os 
vários setores da economia deveriam crescer pari passu de forma a se evitar 
desequilíbrios estruturais. Ao contrário, segundo o autor, o desenvolvimento 
deveria ser visto como uma cadeia de desequilíbrio. Este desequilíbrio, usualmente 
gerado por diferencial de lucratividade entre setores, deveria ser mantido: 
In other words, our aim must be to keep alive rather than to eliminate the 
disequilibria of which profits and losses are symptoms in a competitive 
economy. If the economy is to be keep moving ahead, the task of development 
policy is to maintain tensions, disproportions, and disequilibria. […] 
Therefore, the sequence that ‘leads away from equilibrium’ is precisely an 
ideal pattern of development from our point of view: for each move in the 
sequence is induced by a previous disequilibrium and in turn creates a new 
disequilibrium that requires a further move. This is achieved by the fact that 
the expansion of industry A leads to economies external to A but appropriable 
by B, while the consequent expansion of B brings with it economies external to 
B but subsequently internal to A (or C for that matter), and so on (Hirschman 
1958, p. 66-67). 
A citação anterior é importante, pois ela deixa bem claro o processo 
cumulativo existente no processo de desenvolvimento demonstrando, assim, as 
similaridades existente entre Hirschman e Myrdal. Tais similaridades não são 
apenas em relação à existência de um processo cumulativo, mas também em 
relação aos rebatimentos deste processo nas relações inter-regionais e 
internacionais. Hirschman explicitamente reconhece que as diferenças regionais 
internas a um país são explicadas pelos mesmos fatores que foram salientados por 
Myrdal, tendo as economias de escala um papel fundamental na explanação do 
porque do desenvolvimento se concentrar em apenas alguns pontos do espaço. Nas 
suas palavras: 
Whatever the reason, there can be little doubt that an economy, to lift itself to 
higher income levels, must and will first develop within itself one or several 
regional centers of economic strength. This need for the emergence of 
“growing points” or “growth poles” in the course of the development process 
means that international and interregional inequality of growth is an 
inevitable concomitant and condition of growth itself. (Hirschman 1958, p. 
183-84). 
 
 
45
Além disso, os
mecanismos através dos quais este processo de 
desenvolvimento desigual aumenta ou reduz são conceitualmente idênticos. 
Segundo Hirschman, o que Myrdal chamou de backwash e spread effects possuem o 
mesmo significado que os conceitos de polarization e trickling-down effects por ele 
propostos. 
Além destas similaridades, existe uma forte semelhança também na 
maneira com que a moeda e o sistema financeiro são entendidos e representados. 
São inúmeras as passagens onde fica claro o entendimento da oferta de moeda 
sendo completamente exógena e o sistema financeiro funcionando apenas como 
um intermediário financeiro, sem nenhum papel na explicação das desigualdades 
regionais. A seguir, algumas citações: 
In other words, development is held back primarily by the difficulties of 
channeling existing or potentially existing savings into available productive 
investment opportunities, i.e., by a shortage of the ability to make and carry 
out development decisions. (Hirschman 1958, p. 36); 
…whether or not the distribution of income is very uneven, it is likely that 
total mobilizable savings in such economy exceed total investing capacity 
(Hirschman 1958, p. 36); 
During the subsequent phase, foreign capital is needed as capital. The 
entrepreneurial and managerial abilities are there, but the community now 
does not produce a sufficient amount of savings to employ these abilities fully 
(Hirschman 1958, p. 39) 
 
O título de uma seção do capítulo 2 diz textualmente: The supply of savings 
as a ceiling for the growth path. Neste momento, Hirschman argumenta que em 
uma segunda fase de crescimento de uma economia, a habilidade de investir deixa 
de ser o principal fator de restrição ao desenvolvimento. Neste momento, a oferta 
total de poupança se torna o obstáculo mais importante a ser superado: 
Inasmuch as savings set an effective ceiling to the amount of investment that 
an economy can actually undertake, they have been considered a necessary 
condition for investment activity to take place. (Hirschman 1958, p 40) 
Quando discute as escolhas de investimentos a serem feitas durante o 
processo de desenvolvimento, afirma: 
The limitation of resources, be they savings available for investment or our 
‘ability to invest’ compels a choice among these projects (Hirschman 1958, p. 
76) 
 
 
46
Aceitar teoricamente que a poupança é prévia e determina o investimento 
implica na impossibilidade de dar ao sistema financeiro um papel relevante no 
desenvolvimento de uma região, o qual sempre fornece o montante de poupança 
necessária, desde que existente, para que o investimento seja realizado - ou seja, 
um sistema financeiro passivo. 
Apesar desta clara noção de que o sistema financeiro não exerce uma 
função determinante no processo do desenvolvimento, é importante salientar que 
Hirschman não necessariamente iguala toda poupança ao investimento, apesar de 
definir um teto para este último. Pelo contrário, para o autor poupança e 
investimentos são consideradas variáveis independentes. Em suas palavras, 
But because of the independence of savings and investment decisions, savings 
do not by themselves call forth investment activity ... (Hirschman 1958, p. 40) 
A decisão de investimento estaria relacionada à capacidade de uma 
sociedade em querer se desenvolver e em querer descobrir e criar oportunidades 
de investimentos. A existência ou não de poupança prévia determinaria a 
viabilidade deste investimento: 
 Exaggerating a little, we may describe this concept [investment] in the 
following terms: at any time, capitalist economies dispose of an ample supply 
of entrepreneurs who are specially trained in the art of perceiving and 
ferreting out economic opportunity; who know how to rank all available 
opportunities according to their profitability; and who can perform or procure 
everything that is needed to transform the projects into reality, provided only 
that “finance” is available to them at appropriate terms and conditions 
(Hirschman 1958 p. 34; grifo adicionado) 
Vale salientar que apesar desta última passagem dar margem para uma 
possível atuação mais ativa do sistema financeiro, definindo os termos e as 
condições do financiamento disponível para investimento, isto não é levado 
adiante. Como já mostrado, em nenhuma outra passagem esta possibilidade é 
aprofundada, o que nos leva a crer que o que define a disponibilidade, termos e 
condições do financiamento seja o volume de poupança. 
Por sua vez, a origem desta poupança estaria relacionada a capacidade de 
não consumir de uma sociedade. Falando sobre a possibilidade de conflito entre 
objetivos e meios no processo de superação do subdesenvolvimento, ele afirma: 
“to achieve higher per capita incomes, current consumption must be reduced” 
(Hirschman 1958, p. 10). Esta é uma afirmativa somente aceita em uma abordagem 
 
 
47
teórica onde a poupança determina o investimento. Dito de outra forma, para 
aumentar a renda per capita, seria necessário reduzir o consumo, pois, assim, 
ocorreria um aumento da poupança disponível para que o investimento fosse 
realizado, que, por sua vez, geraria um aumento da renda. Observa-se claramente o 
papel passivo do sistema financeiro nesta afirmativa. 
Também é interessante notar que Hirschman tinha claro para si o conceito 
de preferência pela liquidez. Ao discutir como a própria idéia de mudança pode 
adiar as transformações necessárias, Hirschman argumenta que poderiam ocorrer 
situações onde as expectativas muito otimistas – em comparação com as 
expectiativas acerca de projetos atuais - acerca de futuros projetos – ainda não 
existentes, mas presumíveis – poderiam fazer com que empresários preferissem 
alocar seus recursos em ativos mais líquidos de forma a esperar a oportunidade 
para projetos futuros se concretizasse. Ou seja, ocorreria uma redução de 
investimentos em projetos hoje, em favor de projetos futuros, reduzindo assim o 
nível de atividades hoje. Em outras palavras, 
[Investors] hold money or easily realized assets because they expect the profit 
rate on tomorrow’s ventures to be higher than that on today’s ventures, just as 
according to liquidity preference theory some investors are holding money 
because they anticipate higher interest rates (Hirschman 1958, p . 20) 
Apesar de admitir e aceitar o conceito de preferência pela liquidez para os 
capitalistas, Hirschman não estende o mesmo conceito para os bancos, 
determinando assim um papel passivo, não somente do sistema financeiro, mas da 
própria moeda. 
 
O terceiro autor a ser analisado é Kaldor (1970). Este inicia sua discussão 
sobre política regional negando a validade tanto da teoria neoclássica quanto da 
teoria de localização clássica (baseada nos custos de transporte) para explicar os 
determinantes que levam uma região específica a apresentar um desenvolvimento 
industrial significativo. Segundo este autor, tanto os recursos naturais quando os 
custos de transportes seriam explicações plausíveis apenas para land based 
activities, tais como agricultura e extração mineral. 
 
 
48
A explicação para as desigualdades regionais estaria relacionada à 
existência de retornos crescentes de escala, em atividades industriais. Nas palavras 
de Kaldor, 
This is nothing else but the existence of increasing returns to scale – using that 
in the broadest sense – in processing activities. These are not just the 
economies of large-scale production, commonly considered, but the 
cumulative advantages accruing from the growth of industry itself – the 
development of skill and know-how; the opportunities for easy 
communication of ideas and experience; the opportunity of ever-increasing 
differentiation of process and of specialization in
human activities (Kaldor 
1970, p. 340) 
 Segundo Kaldor, a demanda oriunda de fora de uma região específica, ou 
seja, suas exportações determinaria a taxa de crescimento desta região. O 
mecanismo funcionaria através de um acelerador derivado da taxa de crescimento 
das exportações, que determinaria a taxa de crescimento da capacidade industrial 
e do consumo. 
O processo de causação circular cumulativa, nesse contexto, seria 
determinado pela Lei de Verdoom, que afirma existir uma forte correlação positiva 
entre a taxa de crescimento da produtividade e a taxa de crescimento da economia 
como um todo. Desta forma, dada uma vantagem competitiva inicial de uma região 
especifica, que é refletida na sua produtividade relativa, produzirá taxas de 
crescimento diferenciadas favoráveis à esta região, ampliando ainda mais a 
vantagem inicial, determinando o surgimento de um processo cumulativo que 
resultaria na ampliação das desigualdades regionais. 
Vale a pena notar que não existe restrição monetária para que tanto o 
aumento da capacidade quanto do consumo sejam efetuados. Isto só é possível em 
duas situações: uma, onde todo o investimento e/ou consumo é financiado por 
recursos próprios ou, outra, onde o sistema financeiro valida todas as decisões de 
investimentos e/ou consumo. Este segundo caso é a posição de Kaldor (Kaldor, The 
new moneatrism, 1978) em relação à oferta de moeda. Ou seja, uma visão 
horizontalista da oferta de moeda. 
Nessa visão, como visto, desde que o Banco Central passou a ter a função de 
emprestador de última instância, o sistema financeiro sempre validará as decisões 
de investimento toda vez que os demandantes de empréstimos aceitarem pagar a 
 
 
49
taxa de juros por ele estabelecida. Esta taxa será definida através de um 
mecanismo de mark-up sobre a taxa cobrada pelo Banco Central para fazer 
empréstimos de liquidez para o sistema bancário. Desta forma, é a expectativa de 
lucratividade dos demandantes de empréstimos que, em última instância, 
determinará a oferta de moeda. Toda vez que esta expectativa for superior à taxa 
de juros cobrada pelo sistema financeiro, o empréstimo será solicitado e o sistema 
bancário validará esta demanda. Em outras palavras, a oferta de moeda é 
endogenamente determinada pelo lado real da economia. 
As conseqüências desta interpretação para a questão regional é direta. Nas 
palavras de Amado (1997,p. 20) 
It is assumed that the interest rate is fixed by the Central Bank and that at this 
level the credit supply is infinitely elastic to all regions; thus the financial 
market is neutral in relation to the uneven pattern of development. Therefore, 
the unique source on inequality between regions is found in the real side of 
the economy. 
Em outras palavras, apesar da oferta de moeda ser considerada endógena, o 
que é um avanço em relação à abordagem verticalista a atuação do sistema 
financeiro continua sendo tratado com neutra em termos regionais. Nesse caso, 
apenas as variáveis reais determinaria desequilíbrios regionais. 
 
I.2.1.2 BIG PUSH 
Rosenstein-Rodan em seu artigo de 1943 propôs, como forma de 
desenvolvimento de regiões atrasadas, o que ficou conhecido como Big-Push. Este 
seria um conjunto de investimentos, a serem realizados simultaneamente em 
várias indústrias complementares nestas regiões, de forma a gerar um crescimento 
balanceado. Somente através destes investimentos complementares que o 
processo de industrialização em larga escala poderia acontecer. Nas palavras de 
Rosenstein-Rodan: 
The planned creation of such a complementary system reduces the risk of not 
being able to sell, and, since risk can be considered as cost, it reduces costs. It 
is in this sense a special case of external economies. (Rosenstein-Rodan 1943, 
p.206) 
Todo o processo de desenvolvimento, decorrente deste volume de recursos 
investidos, seria estimulado através dos efeitos de encadeamentos e economias 
 
 
50
externas decorrentes. Dessa forma, um ambiente favorável ao investimento seria 
criado, estimulando o crescimento industrial daí decorrente. O próprio autor 
reconhece, contudo, as dificuldades do sistema financeiro privado em prover 
recursos, no montante e com o custo desejável, para tamanha empreitada, uma vez 
que este seria um padrão de financiamento bem distinto do observado até então. 
Nesse caso, 
the alternative is for governments in creditor countries to guarantee the loans, 
or to lend the funds themselves (Rosenstein-Rodan 1943, p. 210) 
Para tanto, propõe a criação de um fundo, o qual denominou Eastern 
European Industrial Trust (E.E.I.T.). Através de participações na administração 
deste fundo, os governos superariam as desconfianças iniciais relacionadas tanto a 
gestão, quanto ao ressarcimento dos empréstimos: 
If they have sufficient control on the board of E.E.I.T. they will be able to give 
the guarantee at no cost or risk to them-selves, since the real risk of the whole 
enterprise is very much lower than the risks relating to parts of the whole 
would be. (Rosenstein-Rodan 1943, p. 209) 
Apesar de solucionar o problema do financiamento tornando-o uma decisão 
política, Rosenstein-Rodan não atribuiu qualquer papel ao sistema financeiro neste 
estágio inicial. Em duas passagens da obra seminal do autor, pode-se inferir uma 
concepção de moeda e sistema financeiro na qual este último não desempenha 
papel ativo no desenvolvimento de uma região atrasada. Em um primeiro 
momento, quando discute porque não seria desejável que um país realizasse um 
processo de superação do atraso através de uma industrialização completa e 
vertical, ele diz: 
That would imply the construction of all stages of industry, heavy industry, 
machine industry, as well as light industry, with the final result of a national 
economy built like vertical industrial concern. This way presents several grave 
disadvantages: (a) It can only proceed slowly, because capital must be 
supplied internally at the expense of a standard of life and consumption which 
are already at a very low level. (Rosenstein-Rodan 1943, p. 203). 
A frase anterior deixa claro o papel desempenhado pela poupança prévia no 
processo de investimento. Não existe a possibilidade de o sistema financeiro criar 
moeda a partir do finance. Ou seja, somente com a redução do consumo corrente é 
que o volume necessário de capital para realizar os investimentos necessários 
seriam realizados. 
 
 
51
Em segundo lugar, não existe consideração alguma acerca do papel do 
sistema financeiro no processo de crescimento posterior a este Big-Push inicial. 
Isto só poderia ser explicado por duas suposições: ou o próprio E.E.I.T. continuaria 
a suprir os fundos necessários para os investimentos; ou o sistema financeiro local 
faria isto, a partir da captação poupança gerada a partir do crescimento da renda 
derivada deste grande volume de investimentos iniciais. Nesta segunda hipótese, 
fica mais uma vez evidente o papel passivo desenvolvido pelo sistema financeiro. 
 
I.2.1.3 TEORIA DOS PÓLOS DE CRESCIMENTO 
 
A Teoria dos Pólos de Crescimento tem sua formulação inicial desenvolvida 
por Perroux (1967 [1964]), em sua obra A Economia do Século XX. Durante as 
décadas seguintes tornou-se, talvez, a mais difundida Teoria de Desenvolvimento 
Regional, sendo a base teórica que sustentou inúmeras políticas de 
desenvolvimento regional. Como salienta Parr, 
A newcomer to the field at that time could have been excused for 
thinking that no matter what the nature of the regional problem, it 
could be most effectively overcome by the adoption of a growth-pole 
strategy (Parr 1999a, p. 1195). 
Em sua aplicação prática, a estratégia de pólos de crescimento foi
utilizada 
para: i) revigorar de áreas deprimidas; ii) estimular à desconcentração regional; 
iii) alterar um sistema urbano nacional específico; iv) atenuar desequilíbrios 
regionais. A sua difusão como base para políticas de desenvolvimento regional foi 
tamanha que levou a Luklinski a afirmar: 
Sometimes the judgment is expressed that growth-pole theory is the 
closest approximation to the general theory of regional development 
(Luklinski 1978, p. 21). 
 
 O ponto de partida da análise de Perroux foi o entendimento de que o 
processo de crescimento e desenvolvimento não é equilibrado, ou homogêneo, 
entre os setores e/ou regiões. Em suas palavras, 
O facto, rudimentar mas consistente, é este: o crescimento não surge em 
toda a parte ao mesmo tempo; manifesta-se com intensidades variáveis, 
 
 
52
em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se, segundo vias 
diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto da economia 
(Perroux 1967 [1964], p. 164). 
Neste cenário o conceito de indústria motriz é de fundamental importância, 
pois seria através de sua posição chave em um esquema de insumo – produto, que 
ela seria capaz de estimular o crescimento de outras industriais: 
Conceba-se uma indústria que tenha a propriedade de, mediante o 
aumento do volume de produção (e de compra de serviços produtivos), 
aumentar o volume de produção (e de compra se serviços) de outras ou 
várias indústrias. Designemos de momento (segundo esta acepção 
determinada) a primeira indústria como motriz e a segunda (ou 
segundas) como movida (1967 [1964], p. 172) 
Fica evidente na citação acima que o fator propagador do crescimento é o 
volume de produção induzido pela indústria motriz. A este fenômeno ele 
denominou de economias externas, aqui entendido como o fato da produção de 
uma indústria depender da produção de outra. Esta concepção de economias 
externas é, de fato, uma contraposição do autor à concepção teórica de 
concorrência perfeita, segundo a qual o aumento do volume de produção de uma 
empresa estaria relacionada à capacidade desta em reduzir o seu custo, fato este 
que por si só determinaria um aumento da produção. Ao definir economias 
externas como descrito acima, Perroux tenta demonstrar que a interligação entre 
empresas, expressa na capacidade da indústria motriz em estimular a produção de 
outras indústrias: 
 Em vez de se formarem em resultado das decisões de cada empresa 
relativamente ao seu volume de produção e compra de serviços, os 
lucros são induzidos pelo volume de produção e compra de sérvios de 
outra empresa, Na medida em que o lucro é o motor da expansão e 
crescimento capitalistas, a ação motriz não decorre já da prossecução e 
realização de lucro por cada empresa individual, apenas ligada às 
outras pelo preço, mas sim da prossecução e realização de lucro por 
empresas individuais que singularmente sofrem as conseqüências do 
volume de produção, do volume de compras de serviços e da técnica 
praticada pelas outras (Perroux 1967 [1964], p. 167 -8) 
A partir deste conceito de indústria motriz, Perroux chega ao conceito de 
complexos industrias, que permite ao autor tecer implicações sobre 
desenvolvimento regional. Três seriam os elementos componentes de um 
complexo industrial: i) a indústria chave; ii) o regime concorrencial do complexo; e 
 
 
53
iii) o fato dele se concentrar espacialmente. Indústria chave seria aquela que 
possuiria a capacidade de estimular um conjunto muito superior de outras 
indústrias, um país por exemplo: 
O fato decisivo é que, em toda e qualquer estrutura duma economia 
articulada existem indústrias que constituem pontos privilegiados de 
aplicação das for;cãs ou dinamismo de crescimento. Quando estas forças 
provocam um aumento do volume de vendas duma indústria chave, 
provocam também a forte expansão e crescimento dum conjunto mais 
amplo (Perroux 1967 [1964], p. 173) 
O regime concorrencial do complexo de indústria é importante para 
Perroux pois nele está a ação destabilizadora que estimula o crescimento e 
desenvolvimento do complexo. Isto porque Perroux considera o complexo como 
um conjunto de indústrias oligopolistas que interagem entre si. Nas palavras do 
autor: 
A luta oligopolística, conflitos de eliminação, conflitos visando a 
subordinação duma parte à outra, o acordo, são conseqüências 
possíveis – e de fato freqüentemente observadas – destas situações. A 
acção ‘instabilizadora` de cada um destes regimes isoladamente 
considerado é fator de crescimento quando, a longo-prazo, a empresa 
dominante eleva a produtividade da indústria e realiza uma acumulação 
de capital eficiente superior à aquela que resultaria duma indústria 
sujeita a um regime de maior concorrência. (Perroux 1967 [1964], p. 
173) 
Por fim, o complexo industrial seria também caracterizado pela 
concentração territorial de suas atividades, que também teriam efeitos 
cumulativos para o crescimento derivados de economias de diversificação. Perroux 
é muito claro a este respeito quando diz que a concentração industrial propiciaria 
o surgimento de consumidores diferenciados, gerando assim efeitos cumulativos 
para o crescimento. Além disto, a concentração determinaria o surgimento de 
demanda de serviços como alojamento, transportes e serviços públicos, fazendo 
com que surjam rendas de localização ( Perroux 1967 [1964], p. 174). 
É neste contexto que surge os rebatimentos regionais, ao incorporar os 
efeitos de disparidades regionais: 
Geograficamente concentrado, o pólo industrial complexo transforma o 
seu meio geográfico imediato e, se tem poder para tanto, toda a 
estrutura da economia nacional em que se situa. Centro de acumulação 
 
 
54
e concentração de meios humanos e de capitais fixos e fixados, chama à 
existência outros centros de acumulação e concentração de meios 
humanos e de capitais fixos e fixados [...] O crescimento do mercado no 
espaço, quando resultante da entrada em comunicação de pólos em 
atividades e, mais geral, de pólos de atividades territorialmente 
concentrados situa-se nos antípodas dum crescimento igualmente 
distribuído: opera-se pela concentração de meios em pontos de 
crescimento no espaço onde irradiam em seguida feixes de troca 
(Perroux 1967 [1964], p. 175). 
 
 Como pode ser visto na pequena resenha sobre o mecanismo de Pólos de 
Crescimento sugerido por Perroux, não existe referencia alguma à moeda ou ao 
sistema financeiro. Embora em outras partes de seu livro ele fale em capital, 
crédito sistema financeiro, juros, etc., estes não possuem relação alguma com o 
mecanismos de propagação de crescimento derivados do pólo. Ou seja, o conceito 
de pólo de crescimento é uma categoria estritamente relacionada ao lado real da 
economia, não tendo a moeda, em suas diversas dimensões, papel algum a 
desempenhar. 
Este quadro só é possível em duas situações: ou o sistema financeiro é 
completamente passivo, funcionando como um mero intermediário entre 
poupadores e investidores, como preconizado pela Teoria dos Fundos 
Emprestáveis, ou, de acordo com a perspectiva horizontalista de oferta de moeda, 
o sistema financeiro sempre valida as demandas do setor empresarial. 
É interessante notar que esta falta de função do sistema financeiro na 
dinâmica dos pólos de crescimento também é observada em autores mais recentes. 
Isto pode ser visto, por exemplo, na longa e minuciosa avaliação feita por Parr 
(1999a e 1999b) das estratégias de desenvolvimento regional baseadas em pólos 
de crescimento. Em nenhum momento, tanto para explicar sucesso ou fracasso 
destas experiências, o sistema financeiro foi uma variável a ser considerada. 
No entanto, a partir da concepção de moeda apresentada nesta tese é 
possível admitir teoricamente papel importante
para o sistema financeiro, quer 
seja facilitando o desenvolvimento dos pólos e de seus efeitos indutores, quer seja 
restringindo-os. 
 
 
 
55
I.2.1.4 TEORIAS DA BASE DE EXPORTAÇÃO 
 
A teoria da Base de Exportação desenvolvida por North (1955) diz que o 
fator determinante para o desenvolvimento de uma região seria a sua capacidade 
de gerar produtos com capacidade de exportação. Nas palavras do autor, 
It is evident that this growth is closely tied to the success of its exports and 
may take place either as a result of the improved position of existing exports 
relative to competing areas or as a result of the development of new exports. 
(North 1955, p. 251). 
Esta indústria de exportação seria importante para a região por diversos 
fatores: i) proporcionar aumento de renda e, conseqüentemente, de demanda para 
as indústrias locais; ii) permitir a ligação da economia local com a economia de 
outras regiões, podendo, dessa forma, incorporar a variações de renda de outras 
regiões; iii) permitir o surgimento e fortalecimento de centros nodais que 
proporcionem a oferta de serviços não somente para a indústria exportadora como 
também para a indústria local; e iv) treinar de mão-de-obra, determinando, 
inclusive, atitudes sociais desta força de trabalho.26 
A vital importância da base de exportação na teoria de North pode ser 
avaliada através da citação abaixo, retirada das conclusões finais de seu artigo 
seminal: 
The importance of the export base is a result of its primary role in determining 
the level of absolute and per capita income in a region, and therefore in 
determining the amount of residentiary secondary and tertiary activity that 
will develop. The export base has also significantly influenced the character of 
subsidiary industry, the distribution of population and pattern of 
urbanization, the character of the labor force, the social and political attitudes 
of the region, and its sensitivity to fluctuations of income and employment 
(North 1955, p. 257) 
Da mesma forma que os demais autores aqui analisados, o papel 
desempenhado pelo sistema financeiro ou pela moeda de uma forma mais geral 
não é destacado em nenhum momento. Seguindo a metodologia aqui empregada, a 
 
26 Nas palavras de Lemos (1989), na teoria da base exportação, as exportações desempenham o papel de 
variável exógena ou autônoma, característica de modelos keynesianos. Em suas palavras, 
Como uma situação limite, a proposição de North poderia ser tomada como um modelo onde as 
exportações cumpririam o papel atribuído ao investimento [nos modelos de demanda efetiva] 
(Lemos 1989, p. 432) 
 
 
56
análise de algumas citações retiradas da obra do autor permite que se infira qual é 
a concepção de moeda por ele empregada. Basicamente, existem apenas duas 
referências em relação a esta temática: quando se refere à necessidade de capital 
externo para a realização de investimento e quando se discute como proceder para 
que um aumento da poupança se realize. Nas palavras do autor, 
Capital is typically imported into new regions in the development of the 
export staple industries. Indeed, until a region develops sufficient income to 
provide a substantial share of its own investment capital, it must rely upon 
outside sources. External suppliers of capital tend to invest primarily in 
existing export industry rather than in new, untried enterprises. (North 1955 
p. 248 -49) 
With the growth of population and income, indigenous savings will increase. 
Both indigenous savings and the reinvested capital can pour back into the 
export industries only up to a point, and then the accumulated capital will 
tend to overflow into other activity (North 1955, p. 255) 
As a region's income grows, indigenous savings will tend to spill over into new 
kinds of activities. At first, these activities satisfy local demand, but ultimately 
some of them will become export industries. This movement is reinforced by 
the tendency for transfer costs to become less significant. As a result, the 
export bases of regions tend to become more diversified, and they tend to lose 
their identity as regions. Ultimately, we may expect with long-run factor 
mobility more equalization of per capita income and a wider dispersion of 
production. (North 1955, p. 258) 
As três citações acima não deixam dúvidas quanto a um entendimento 
ortodoxo do papel desempenhado pela moeda. Ao afirmar a necessidade de um 
prévio crescimento da renda para que a região possa então fornecer o capital para 
investimento, está evidente uma concepção muito próxima à dos fundos 
emprestáveis. Isto pode ser dito de outra forma: a poupança derivada da renda é 
que forneceria o capital necessário. Esta interpretação é reforçada pelas duas 
citações finais, onde o papel da poupança prévia é mais uma vez destacado. Como 
já mostrado anteriormente, este entendimento da relação entre poupança e 
investimento dá ao sistema financeiro uma papel passivo no processo de 
determinação da renda, fazendo com que o investimento, e o crescimento da 
região, como conseqüência, seja determinado por fatores reais exclusivamente. 
 
 
 
 
 
57
I.2.2 O ENFOQUE DA COMPETITIVIDADE 
 
A década dos 1970 é um marco na história econômica tanto em termos das 
teorias vigentes, como também das políticas implementadas. O período que vai dos 
anos 1950 até o início dos anos 1970 ficou conhecido na literatura como os Anos 
Dourados (Golden Age) do capitalismo. A economia mundial apresentou taxas de 
crescimento significativas, até hoje não superadas. Aliado a este crescimento, e, em 
certa medida, em função deste, construiu-se o chamado sistema de Bem-Estar 
Social. 
No entanto, este crescimento foi, no seu final, acompanhado por fortes 
pressões inflacionárias. Isto, aliado à crise do petróleo, gerou uma séria crise para 
a economia mundial como um todo. A resposta a ela foi variada, mas pode-se 
observar o surgimento de uma série de questionamentos quanto à eficácia tanto da 
teoria, quanto dos instrumentos de política econômica Keynesianos. Ou seja, o 
enfoque da demanda e a sua conseqüente política intervencionista passam a não 
desfrutar do consenso anterior. Em termos da produção teórica em economia, este 
é o período do ressurgimento de concepções que entendiam que os mecanismos de 
mercado eram capazes de garantir o crescimento a longo prazo de forma 
sustentada, como na Escola Novo-Clássica. Nesse contexto, as intervenções do 
Estado na economia só serviriam para desviar, de forma não sustentável, a 
economia de sua trajetória natural, resultando, no longo-prazo, em mais inflação. 
Esta inflexão teórica tem sua contrapartida, em termos de política 
econômica, na emergência de políticas denominadas Supply-Side. Em uma clara 
contraposição com o período anterior, o crescimento deveria ser obtido, não 
através do estímulo à demanda, mas sim da melhoria das condições de oferta, 
como por exemplo, a flexibilização do mercado de trabalho, redução significativa 
dos encargos pagos pelas empresas, aumento do capital humano, etc. Em termos 
macroeconômicos, o paradigma passa a ser a busca da estabilidade monetária a 
qualquer custo. No campo político, torna-se majoritário o entendimento de que o 
Estado deve se retirar da economia, ficando apenas com suas funções básicas, 
determinadas pelo chamado Estado Mínimo. Este processo de mudança contínua é 
 
 
58
aprofundado durante os anos 1980, determinando um processo de abertura 
comercial e financeira sem precedentes e processos de reestruturação econômica e 
internacionalização da produção. Estas transformações tiveram o seu rebatimento 
no espaço geográfico, determinando
a perda de dinamismo de regiões afetadas 
pela reestruturação produtiva e o surgimento de novas regiões de crescimento, 
como, por exemplo, os chamados novos distritos industriais da Terceira Itália. 
Todo este processo também repercute na elaboração teórica e de políticas 
de desenvolvimento regional. Em um primeiro momento, dois elementos centrais 
se destacam: a especialização flexível e os distritos industriais. Estes dois 
elementos tornaram-se a base do que ficou conhecido como políticas de 
desenvolvimento regional de segunda geração (Helmsing 1999, Jiménez 2002). 
Nas palavras de 7(Helmsing 1999) 
Una diferencia importante con las políticas de la primera generación es que el 
gobierno ya no está en el centro de la política. Más bien el desarrollo industrial 
endógeno enfatiza los roles de la cooperación entre firmas, de los gremios 
industriales, de los sindicatos de trabajadores y de gobierno para desarrollar 
en conjunto las habilidades, los recursos y las `reglas del juego'. La política 
pública sigue siendo importante pero en forma diferente. (Helmsing 1999, p. 
7) 
De forma semelhante, Maillat afirma que no cerne destas novas políticas de 
desenvolvimento regional endógeno está o objetivo de 
to bring a region up to a development capacity such that it could take up the 
challenge of international competition and new technology by mobilizing or 
developing its specific resources and its own innovations by mobilizing or 
developing its specific resources and its own abilities (Maillat 1998, p. 7) 
 Neste novo contexto, existe um claro entendimento de que, em uma 
sociedade crescentemente dominada pelo conhecimento, as vantagens 
comparativas estáticas ou ricardianas, baseadas em recursos naturais, perdem 
importância e ganham destaque as vantagens construídas e criadas, cuja base está 
exatamente na capacidade diferenciada de gerar conhecimento e inovação. Em 
uma sociedade informacional, torna-se cada vez mais difícil para as empresas ou 
agentes produtivos reterem a exclusividade dos conhecimentos técnicos. A 
generalização desses os transforma em ubiqüidades, as quais destroem as 
vantagens comparativas diferenciadas e pré-estabelecidas e, portanto, a 
capacidade de competição. A manutenção dessas exigem a criação de novas etapas 
 
 
59
do conhecimento e da capacitação, realimentando o processo inovativo (Maskel et 
al. 1999). 
Nesse sentido, a luta competitiva e o processo de inovação inerente abrem 
“janelas de oportunidade” (Dosi 1984), que são também “janelas locacionais” 
(Storper e Walker 1989), no sentido de que os agentes produtivos e sua vinculação 
territorial geram efeitos de diferenciação regional ou local do desenvolvimento. 
Isto significa que a capacidade de atração de cada região ou localidade passa a 
depender, cada vez mais, do conjunto de elementos locais, naturais, econômicos, 
sociais, culturais e políticos, complementares ou sistêmicos. 
A melhor expressão deste novo arcabouço de política regional está na 
tentativa de se reproduzir a experiência dos chamados distritos industriais 
italianos. Estes últimos são caracterizados pela proximidade geográfica, 
especialização setorial, predominância de pequenas e médias empresas, 
cooperação interfirmas, competição interfirmas determinada pela inovação, troca 
de informações baseada na confiança socialmente construída, organizações de 
apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público local. É 
neste sentido que este formato de distrito se enquadra bem no conceito 
evolucionista de sistema local de inovação (Johnson e Lundvall 2000),27 pois o seu 
dinamismo inovativo decorre do fato de ser um tipo de arranjo institucional 
específico e localizado, capaz de estabelecer o aprendizado coletivo interativo. 
(Santos et al 2002). 
Dada a predominância de pequenas e médias empresas nestes ambientes, a 
perspectiva de redes acabou por se tornar referência nestes estudos, 
possibilitando a incorporação do conceito de proximidade geográfica enquanto 
elemento importante para a competitividade. 
Importante neste contexto foi a incorporação de elementos institucionais, 
tais como cultura, redes sociais, entre outros enquanto elementos fundamentais no 
processo de geração de inovação e, conseqüentemente, competitividade. Nas 
palavras de Santos et al., 
 
27 Segundo esses autores, os sistemas nacionais de inovação estão enraizados em subsistemas nacionais, na 
medida em que a região e o local são, juntamente com as firmas, os principais portadores de conhecimento 
tácito na era da economia do aprendizado. 
 
 
60
Alguns autores, entretanto, afirmam que estas redes devem estar “imersas” 
(embbedded) em um “ambiente local” (milieu) que atue como facilitador e 
estimulador das “interações coletivas” e que faça a ligação entre um sistema 
de produção e uma cultura tecnológica particular. Vale notar que o conceito de 
“imersão social” (embeddedness) não significa a existência de uma precedência 
do ambiente local sobre as redes (interações coletivas), mas, ao contrário, 
ressalta a interdependência entre os dois. O ambiente local é criado e recriado 
através das redes de relações interpessoais e interfirmas e de insumo-produto 
(definidas por Storper [1995] como, respectivamente, “untraded 
interdependencies” e “traded interdependencies”). Estas interdependências, por 
sua vez, requerem a proximidade cognitiva e física para que possam ser 
realizadas plenamente e dêem origem a processos de aprendizado coletivo e 
de difusão do conhecimento tácito e codificado entre as empresas. Em suma, 
nas palavras de Coffey e Bailly (1996), “the milieu is a ‘created space’ that is 
both a result of and a precondition for learning — an active resource rather 
than a passive surface” (Santos et. al. 2002, p. 152-53). 
Nessa perspectiva, as regiões ou localidades tornam-se pontos de criação de 
conhecimento e aprendizado, na era do capitalismo intensivo em conhecimento. 
Florida (1995) diz que “regiões devem adotar os princípios de criação de 
conhecimento e aprendizado contínuo; elas devem, com efeito, se tornar regiões 
que aprendem”. Para isto, as regiões devem se preparar para prover infra-
estruturas específicas, que possam facilitar o fluxo de conhecimento, idéias e 
aprendizado e que, ao mesmo tempo, tenham capacidade de governança local. 
Como o processo de inovação possui fortes componentes tácitos, cumulativos e 
localizados, os atributos regionais tornam-se decisivos. Como o sucesso econômico 
depende da existência de atributos próprios e de meios inovadores (Albagli 1999), 
surge a discussão do papel da inovação no desenvolvimento regional. 
É importante ressaltar que em um primeiro momento, o entendimento da 
importância da região e do local como fatores fundamentais para o processo de 
geração de tecnologia fez com que os instrumentos de política regional fossem 
padronizados e aplicados igualmente em distintas regiões. Em outras palavras, 
adotam-se políticas regionais one model fits all (Tomaney 2009 e Ashem 1996). 28 
A principal conseqüência do caráter horizontal destas novas políticas 
regionais é a dificuldade inerente às mesmas para tratar disparidades regionais. 
Políticas de aplicação generalizada no espaço desconhecem a heterogeneidade 
deste, o que tende a reforçar a desigualdade regional. Um exemplo deste fato é o 
 
28 Para uma discussão especifica sobre a possibilidade de reprodução da experiência dos distritos industriais 
italianos em outros espaços, notadamente, o periférico, ver Santos et. al. 2002. 
 
 
61
chamado paradoxo da inovação regional (Oughton et al 2001). Segundo este 
paradoxo,
é amplamente reconhecido que se, por um lado, o principal mecanismo 
de superação do atraso econômico de regiões deprimidas é a construção de 
capacitações tecnológicas maiores e mais eficazes; por outro, é justamente a falta 
destas capacitação que faz com que estas regiões estejam menos habilitadas a 
conseguirem os fundos disponíveis para o desenvolvimento tecnológico. Na 
maioria das vezes, são as regiões mais desenvolvidas que são mais bem-sucedidas 
na obtenção de tais fundos. A horizontalidade da política faz com que desiguais 
compitam de forma igual pelos fundos de desenvolvimento, determinando um 
processo que reforça a mesma desigualdade que se deveria combater. 
Por fim, é possível falar em uma terceira geração de políticas regionais, que 
se inicia no final dos anos 1990, fruto de avaliações das políticas de 
desenvolvimento endógeno. A partir do entendimento de que o processo de 
globalização significa que a competição não ocorre apenas entre firmas, mas 
também entre sistemas industriais regionais, entende-se que as políticas de 
desenvolvimento regional não podem ser exclusivamente locais, mas que devem 
atuar em múltiplas escalas. 
Além disto, é claramente questionado o potencial de políticas bottom-up em 
combater as forças centralizadoras das políticas liberalizantes em vigor 
(centralização do sistema financeiro e integração produtiva). Dito de outra forma, 
qual seria a real possibilidade de agentes locais controlarem forças que podem 
afetar diretamente as ações locais e que possuem uma dimensão trans-territorial, 
tais como: regras de comércio; padrões de funcionamento do sistema bancário, 
etc? 
 Nesse sentido, a coordenação horizontal de vários atores deve ser 
complementada com a coordenação vertical entre os diversos níveis de ação. 
Devem também ser levado em consideração tanto o posicionamento econômico 
dos sistemas regionais de produção no contexto global, quanto as políticas e 
contextos setoriais e (inter) nacionais. Nas palavras de Helmsing, 
Las políticas de tercera generación se basan en el reconocimiento de que la 
nueva orientación no necesariamente requiere más recursos, sino de 
aumentar `la racionalidad sistémica' en el uso de los recursos y programas 
 
 
62
existentes. La tercera generación en cierta forma supera la oposición entre 
políticas del desarrollo exógeno y endógeno.( Helmsing 1999, p. 30) 
Talvez a principal contribuição teórica desta nova linhagem de políticas de 
desenvolvimento regional seria o fato de se entender claramente que a 
competitividade de um sistema local não depende exclusivamente das firmas e da 
provisão de serviços ali localizados, mas também de fatores localizados fora de seu 
controle imediato, tais como a ação de firmas multinacionais e a integração de 
cadeias produtivas globais 
 
A longa discussão acima mostra que, do ponto de vista da abordagem aqui 
adotada nesta tese, a moeda não desempenharia qualquer papel na emergência, 
ampliação e manutenção das desigualdades regionais. Quer seja nas políticas 
centradas no desenvolvimento endógeno e local, quer seja nas políticas que 
trabalham em múltiplas escalas (local, regional, nacional e global), o papel da 
moeda no desenvolvimento regional tem sido amplamente ignorado. 
É interessante notar que esta negligência ocorre apesar da incorporação do 
conceito de sistema nacional (regional) de inovação no debate. Este conceito 
introduz uma visão sistêmica do processo de geração e difusão de inovação, 
incluindo dimensões antes não consideradas, como por exemplo, o processo de 
financiamento do esforço inovativo. No entanto, a literatura de desenvolvimento 
regional, na sua grande maioria, não internalizou este elemento em suas 
discussões.29 
Em alguns poucos textos sobre o desenvolvimento dos distritos industriais 
italianos a questão dos bancos locais é discutida (Schmitz e Musyck, 1994; Pyke, 
1992 e 1994), ressaltando a importância destes derivada do fato de possuírem um 
melhor conhecimento das firmas locais – comparativamente aos bancos nacionais 
e internacionais. De qualquer forma, estas poucas referências, embora de 
fundamental importância, não se colocam no centro do debate. 
 
29 Vale ressaltar que mesmo a literatura sobre tecnologia e inovação, apesar de incorporar o conceito de 
sistema nacional de inovação, possui um discussão bastante pobre e elementar acerca do papel da moeda 
neste processo. 
 
 
63
Em certa medida, pode ser dito que existe até um retrocesso em relação ao 
período anterior. Como visto, embora discordante do enfoque aqui apresentado, 
existia na literatura de desenvolvimento regional discussões sobre a moeda. No 
presente ela é claramente ignorada. 
 
 
 
64
I.3 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO E A MOEDA 
I.3.1 A TEORIA DO LUGAR CENTRAL 
Dentre as diversas teorias de desenvolvimento urbano, talvez a que tenha 
tido o maior impacto na literatura tanto de economia regional quanto de geografia 
econômica foi a denominada Teoria do Lugar Central.30 Seus autores seminais 
foram Christaller 1966 [1933] e Löasch (1967 [1939]), embora vários outros 
tenham desenvolvido esta teoria.31 No âmbito do presente trabalho, apenas estes 
dois autores seminais serão discutidos. 
Segundo Richardson (1975 [1969]), a grande vantagem da teoria do lugar 
central estaria no fato de ela não se propor a analisar o crescimento de uma cidade 
isolada, mas sim de um sistema de cidades no nível regional e/ou nacional. Isto fica 
claro na introdução da obra de Christaller (1966) quando ele explicita qual questão 
pretende investigar: quais são as leis que determinam o número, distribuição e 
tamanho de cidades? Ele claramente discorda que seriam os fatores geográficos 
que determinariam o tamanho e a distribuição de cidades, apesar de também 
considerá-los relevantes. No entanto, existiriam fatores econômicos que 
possuiriam um maior peso na explicação deste fenômeno, de tal forma que 
acreditava que tais diferenças entre cidades deveriam ser explicadas por leis 
econômico – geográficas especiais. 
A “centralidade” de um lugar central seria derivada de sua capacidade em 
ofertar bens e serviços centrais. Em outras palavras, um lugar central 
desempenharia o papel de locus de oferta de serviços e bens centrais, tanto para si 
mesmo, como para a sua vizinhança imediata ou área complementar. O que é 
importante salientar aqui é o fato da definição de lugar central não ser apenas 
geográfica. Nas palavras de Christaller 
But in our sense, a place deserves the designation center only when it actually 
performs the function of a center. It performs this function if the inhabitants 
have professions which are bound by necessity to a central location. These 
professions will be called central professions. The goods being produced at the 
 
30 Para uma revisão acerca da literatura sobre desenvolvimento urbano ver Goldstein e Moses (1973). 
31 Nesta lista destacam-se os trabalhos de Berry (1964), Berry e Pred (1961), Beckmann (1968), Parr (1997) e 
Bennett e Graham (1998), entre outros. 
 
 
65
central place, just because it is central, and the services offered at the central 
place, will be called central goods and central services. Similarly, we shall 
speak of dispersed goods and dispersed services in reference to goods which 
are produced or offered at dispersed places and of indifferent goods and 
indifferent services in reference to goods which are not necessarily produced 
or offered centrally or dispersedly” (Christaller 1966, p. 19) 
Além disso, de acordo com Christaller, seria possível diferenciar entre bens
centrais de maior ou menor ordem. Os bens centrais de maior ordem seriam 
produzidos e ofertados nos lugares centrais de maior ordem. Já os de bens centrais 
de ordem inferior seriam produzidos em lugares centrais de ordem inferior e 
ofertados tanto em lugares centrais de maior quanto de menor ordem. Exemplos 
de serviços centrais são: comércio, atividade bancária, administração pública, 
serviços culturais e religiosos, organizações empresariais e profissionais etc. 
Outra definição importante para o desenvolvimento da teoria do lugar 
central seria a de região complementar. Esta seria a região para a qual o lugar 
central é o centro. De forma semelhante à definição de lugar central, também 
ocorreriam regiões complementares de distintas ordens, dependendo da 
hierarquia do lugar central a que se relaciona. Embora a dimensão de uma região 
central seja considerada estável, uma vez que ela é delimitada pela distância até 
um lugar central de ordem superior ou igual, a sua demarcação exata é 
considerada difícil, uma vez que o seu tamanho irá variar de acordo com o tipo de 
bem ou serviço transacionado. 
Fica evidente das definições acima que o conceito de lugar central não é 
absoluto, mas sim relativo tanto à sua área complementar quanto aos demais 
lugares centrais. Nas palavras de Richardson: 
A função primordial da cidade é atuar como centro de serviços para o interior 
imediatamente próximo a ela (denominado região complementar), fornecendo 
bens e serviços centrais como comércio atacadista e varejista, serviços 
bancários, organizações de negócios, serviços administrativos, facilidades de 
educação e diversão. Esses serviços centrais podem ser classificados em 
ordens superiores e inferiores, obtendo-se uma hierarquia de centros de 
acordo com a ordem de serviços que fornecem. (Richardson 1975 [1969], p. 
162) 
Também, nas palavras de Christaller: 
Those places which have central functions that extend over a larger region, in 
which other central places of less importance exist, are called central places of 
a higher order. Those which have only local central importance for the 
 
 
66
immediate vicinity are called, correspondingly, central places of a lower and of 
the lowest order. Smaller places which usually have no central importance and 
which exercise fewer central functions are called auxiliary central places. 
(Christaller 1966, p. 17) 
Para completar sua discussão teórica, Christaller utiliza o conceito de limite 
crítico de demanda e de alcance de um bem. O limite crítico seria o nível mínimo de 
demanda que permite a uma firma obter lucros normais. O alcance de um bem 
seria entendido como sendo a maior distância que uma população dispersa é capaz 
de percorrer de forma a comprar um bem que é oferecido em uma área central. 
Estes fatores, em conjunto, determinariam a área de mercado de um bem central e, 
através deles, seria possível determinar a hierarquia de um lugar central. 
Vários são os elementos que afetam tanto o limite crítico da demanda, 
quanto o alcance de um bem, sendo quase todos eles relacionados ou às economias 
de escala na produção de bens e prestação de serviços ou às economias de 
aglomeração derivadas da co-localização de serviços. Entre tais elementos, 
destacam-se: 
a. Distribuição da população: quanto maior a população concentrada no lugar 
central, maior o alcance deste produto. Nas palavras do autor: 
Central goods offered at a large central place have a larger range than do the 
same goods offered at a smaller central place because the determination of 
prices in the larger place is different from the smaller. […] The fact that a 
central place is larger or smaller has an immediate influence on the range of a 
central good, because more types of central goods are offered at a central 
place of a higher order than at a central place of a lower order (Christaller 
1966, p. 50) 
 
b. Estrutura da população, definida de forma a incluir as condições de renda, 
as estruturas sociais, profissionais e culturais. Os costumes e as demandas especiais da 
população, por sua vez, determinariam o montante de recursos destinados ao consumo de 
bens centrais, o que Christaller chamou de price-willingness do consumidor: 
 
Densely populated regions generally have a higher consumption of central 
goods. The fact that the people live closely together causes more frequent 
social contacts. Subjectively, these contacts result in higher estimation of 
central goods and greater consumption of them – frequently of a collectivist 
nature. Objectively, this greater consumption enables the denser population to 
establish a greater degree of labor specialization, by which many goods, 
otherwise produced dispersedly, are now centrally produced. And finally, the 
dense population enables a greater use of the capital necessary for the 
production of central goods. Thus the product itself becomes cheaper, and an 
increased consumption of the cheaper goods results. Hence, whether this 
 
 
67
dense population is equally distributed over the region or is concentrated at 
single places with thin distribution in the country affects the amount of 
consumption of central goods. (Christaller 1966, p. 33)32 
O autor também afirma que quanto maior a renda de uma região maior será o consumo de 
bens centrais, posto que, depois do consumo mais imediato, sobrariam recursos para 
serem gastos em bens centrais de ordem superior. Desta forma, em regiões de maior 
renda é mais provável a ocorrência do desenvolvimento de lugares centrais. 
 
c. Distância econômica: vantagens e desvantagens de transporte expressos 
em valores monetários ou em valores que expressem decisões conscientes em relação aos 
custos de transportes, gasto de tempo, segurança e conveniência (p. 52); 
A partir das definições de limite da demanda e do alcance de um bem é 
possível determinar a área de mercado de um bem, sendo esta condicionada pelo 
limite inferior (limite da demanda) e pelo alcance do bem (limite superior). O anel 
daí derivado se configuraria na projeção espacial do lucro líquido obtido pela 
venda do bem central ou pela prestação do serviço central. 
Na construção de seu argumento, Christaller discute como o 
desenvolvimento de um lugar central está relacionado com as características da 
oferta e demanda de um bem central. Especificamente, o autor analisa se a 
quantidade ofertada e o preço do bem são fixos ou não. Toda esta discussão é feita 
de forma a analisar os efeitos sobre a renda gerada pela comercialização deste bem 
central. Uma maior ou menor quantidade desta renda é que determinaria, em uma 
relação direta, um maior ou menor desenvolvimento do lugar central produtor 
deste bem em relação a um outro lugar central. 
O autor também mostra que a quantidade ofertada de bens centrais em um 
lugar central também afetaria o desenvolvimento comparativo deste lugar central 
em relação aos demais, devido a maior renda gerada pelo consumo deste bem. Em 
suas palavras: 
This means that in an area the central places of which offer several kinds of 
central goods, the total consumption of central goods is higher than in an area 
which offers only one or a few kinds of central goods. As a central place at 
 
32 Segundo Ablas (1982), Christaller ao discutir a importância de um lugar central, caracterizada pelo fato da 
cidade ser “progressiva”, “florescente” ou “significante”, conclui que o autor relaciona a importância do lugar 
central com a capacidade deste em gerar economias de escala ao nível da cidade como um todo. Nas palavras 
de Ablas, 
A idéia fica clara quando ele [Christaller] diz que o que caracteriza a cidade diferenciando-a do 
simples burgo rural é a presença na primeira de atividades cooperativas
no sentido de que tais 
atividades seriam caracterizadas pela divisão do trabalho o que somente será possível a partir 
de um determinado tamanho da cidade (Ablas 1982, p. 260 
 
 
68
which several kinds of central goods are offered in an important central place, 
one can also say that in an area with and important central place, relatively 
more central goods are consumed than in an area with less important central 
place. (…) The central place of a higher order or situated at a great distance 
from its neighbors has, therefore, a higher significance of importance, because 
the consumption of central goods of higher in its own area, and the demand of 
the neighboring area has to be covered. (Christaller 1966, pp. 42 – 43) 
São estes conceitos que permitiriam a Christaller naõ somente responder à 
questão inicial (quais são as leis que determinariam o número, distribuição e 
tamanho de cidades?) mas também propor a existência de uma hierarquia de 
lugares centrais. Nas palavras de Richardson, 
A hierarquia dos lugares centrais não resulta de fatores acidentais ou 
arbitrários, e sim de relações definidas, baseadas no tamanho e nas funções 
dos centros e nas distâncias interrurbanas. (Richardson 1975 [1969], p. 163) 
O segundo autor seminal em importância no desenvolvimento da teoria do 
lugar central foi August Lösch em seu livro “The Economics of Location”, publicado 
em 1954, embora o original em alemão tenha sido escrito em 1939, ou seja seis 
anos após a publicação do livro de Christaller. A preocupação inicial de Lösch em 
seu trabalho era explicar a localização da atividade humana de forma geral e da 
atividade industrial, em particular. Ao tratar desta temática, ele acaba por abordar 
a distribuição das aglomerações no espaço a partir de uma lógica de decisão 
individual da firma. 
Um conceito fundamental para Lösch é de “área de mercado”. Esta é 
derivada a partir da determinação da curva de demanda de um consumidor 
individual transportado para o espaço e considerando o custo de transporte (Ablas 
1982, p. 65). A partir deste exercício, é possível determinar a área de mercado de 
um bem. Na definição final desta área de mercado existiriam elementos que 
trabalhariam no sentido de sua expansão, tais como especialização e produção em 
larga escala, e outros no sentido de sua dispersão, tais como custo de transporte. 
Como salientam Parr e Budd a grande contribuição de Lösch (1941) foi mostrar 
que 
with a dispersed pattern of demand, the spatial structure of supply was 
dependent on the interaction of economies of scale (discouraging the 
proliferation of supply points) and transport costs (encouraging their 
proliferation). The work of Christaller (1933), very much the co-founder of 
central place theory, was of a more inductive nature, and placed considerable 
 
 
69
emphasis on the hierarchical differentiation of places (Parr e Budd 2000, p. 
594) 
Usando os argumentos básicos de economia marginalista (neoclássica), a 
curva de demanda indicaria a quantidade máxima que um produtor poderia 
vender de seu produto, que seria definido pelo preço que garantiria a obtenção do 
lucro normal (com custo de transporte igual a zero) e o ponto a partir do qual a 
venda seria igual a zero. Este último seria aquele ponto onde o preço final do 
produto, aqui compreendendo o custo de produção e o custo de transporte, não 
incentivaria ao consumidor comprar o respectivo produto. Segundo Ablas, nesta 
definição de área de mercado é possível identificar a similaridade com os conceitos 
de Christaller. Nas palavras do autor: 
Se se efetua uma comparação entre esse raciocínio e as proposições 
desenvolvidas por Christaller percebe-se que, na essência, todas as conclusões 
tiradas por Lösch estavam presentes na análise de Christaller, sendo possível 
identificar no exemplo dos médicos dado por este último, o custo de 
transporte, o ponto máximo a ser atingido pela mercadoria a ser vendida e 
mesmo a limitação dada pelo custo de produção à venda do produto (limite 
inferior na obra de Christaller). ( Ablas 1982, p. 69) 
A noção de escala e especialização é marcante no raciocínio de Lösch. Isto 
fica claro ao mostrar que um centro que possa aglomerar um grande número de 
bens diferentes será, sem dúvida um centro mais importante. Nas palavras de 
Ablas (1982, p. 82) 
Quanto maior for a acumulação de indústrias em um centro, tanto maior será 
o preço médio de venda dos bens aí produzidos. O preço prevalecente na 
metrópole será então o mais baixo do sistema, aumentando à medida que se 
passa para centros menos importantes. Por outro lado, na parte menos 
desenvolvida dos setores irá prevalecer um preço mais elevado, pois aí haverá 
coincidência de centros diferentes. 
Um outro elemento a ser considerado numa análise mais ampla seria aquele 
relacionado à construção de centralidades em regiões periféricas e seu 
rebatimento na formação do espaço urbano neste tipo de região. Esta é uma 
discussão feita em detalhe por Santos et. al (2002 e 2006 ) e será reproduzida a 
seguir. 
A discussão anterior deixa evidente que o processo de construção de uma 
hierarquia urbana produz um desenvolvimento desigual entre regiões de um 
mesmo país, determinando o surgimento de regiões polarizadoras e regiões 
polarizadas. Para entender este processo de desenvolvimento regional desigual em 
 
 
70
ambientes periféricos é necessário entender que tal processo é essencialmente 
delimitado pela dimensão da renda de um país e a desigualdade de sua distribuição 
no espaço. Quanto maior e melhor a distribuição espacial desta renda, maior é a 
possibilidade do surgimento de vários centros polarizadores. Desta forma, 
comparativamente aos países centrais, é de se esperar que, dada a dimensão e a 
desigualdade na distribuição da renda em países periféricos, a possibilidade do 
surgimento de aglomerações urbanas necessárias para a expansão plena do setor 
de serviços seja evidentemente menor nestes últimos. Este é o fator que explicaria 
a existência de inúmeros núcleos urbanos incompletos, no sentido de não serem 
capazes de incorporarem um setor de serviços complexo, e poucas aglomerações 
urbanas completas na periferia. Assim, a baixa diversificação de serviços, 
especialmente os modernos baseados em tecnologias da informação e ligados à 
produção, característica da maioria dos centros urbanos na periferia, não é capaz 
de alimentar e sustentar os retornos crescentes de aglomerações locais lideradas 
por determinada indústria. 
Associado ao aspecto anterior da pouca densidade urbana, é importante 
ainda considerar o fato de que, em condições periféricas, o entorno de um núcleo 
urbano é geralmente de subsistência quando a região no contexto nacional é 
retardatária. Neste caso, o processo de concentração e centralização do terciário 
não segue uma hierarquia urbana contígua territorialmente, ocorrendo uma forte 
segmentação desta hierarquia no entorno regional, principalmente pela ausência 
de centros urbanos de médio porte capazes absorver atividades industriais 
complementares sustentadas pela oferta de serviços do centro urbano central. Isto 
significa que existe uma baixa complementaridade produtiva entre o centro e seu 
entorno e que a imersão social é muito frágil. Por esta razão, o núcleo urbano não é 
capaz de desaglomerar atividades econômicas complementares para seu entorno e 
criar um mercado de trabalho local dinâmico. 
Por fim, uma outra característica periférica estaria relacionada à porosidade 
da demanda local de tais aglomerações, que resulta em uma área de mercado 
regional geograficamente extensa, mas com uma baixa intensidade da demanda 
por unidade de distância. Assim, a escala de produção reduzida restringiria
a 
divisão de trabalho dentro da aglomeração e dificultaria o surgimento de 
 
 
71
economias externas de aglomeração. Este é um problema básico para a expansão 
da área de mercado. No modelo loschiano clássico, a área de mercado de uma 
aglomeração produtiva se expande à medida que os retornos crescentes de escala 
possibilitam a redução do preço de produção no local da aglomeração e, 
consequentemente, o preço de mercado a distâncias cada vez maiores. Ou seja, a 
expansão da demanda no espaço ou ampliação do raio de consumo da produção do 
aglomerado local dependeria do aumento das economias de escala localizadas, 
especialmente as externas. No entanto, a condição para este processo ser 
deflagrado, na esfera da oferta, seria o tamanho do mercado regional que imporia, 
sob uma perspectiva smithiana, os limites para a divisão intra-regional do trabalho 
e o crescimento da produtividade através de ganhos de escala da aglomeração 
local. 
 
A discussão até aqui efetuada deixa claro a pequena relevância dada pelos 
autores acima discutidos acerca do papel da moeda na construção de teoria do 
lugar central. Em Christaller a referência à moeda aparece em três momentos: 
primeiro, ao citar a atividade bancária como exemplo de serviços central (p. 20); 
segundo, ao discutir as implicações da densidade e da estrutura da população 
sobre o desenvolvimento de um lugar central (ele afirma que um lugar central com 
densidade populacional maior possibilitaria um maior uso do capital necessário à 
produção de bens centrais) (p. 33)33; e finalmente, ao admitir a possibilidade de 
custos de capital (taxas de juros) diferenciados no espaço. 
Apesar de Christaller não expor sua concepção teórica sobre a moeda, as 
citações anteriores permitem inferir qual seja ela. A primeira referência é a mais 
simples pois não possui nenhuma conotação teórica. Citar o sistema financeiro 
como um bem central implica apenas em dizer que esta atividade econômica 
possui uma demanda dispersa e um padrão de oferta relacionado ao padrão de 
demanda. 
 
33 “And finally, the dense population enables a greater use of the capital necessary for the production of central 
goods” (Christaller 1966, p. 33) 
 
 
72
Já as demais citações permitem inferências mais conclusivas. A segunda, 
relativa à possibilidade de um maior uso de capital em áreas densamente 
povoadas, expressa claramente a concepção clássica de fundos emprestáveis. Isto 
pode ser visto de duas formas. Em primeiro lugar, como mostrado anteriormente, 
uma região mais densamente povoada permitiria um maior consumo de bens 
centrais e, conseqüentemente, uma maior renda auferida. É justamente esta última 
que poderia fornecer a poupança necessária para um maior uso de capital. Ou seja, 
o maior uso se relacionaria a uma maior poupança. Em segundo lugar, o maior uso 
também poderia ser resultado da existência de maiores oportunidades de 
utilização, dada a diversidade produtiva decorrente. No entanto, este maior uso só 
pode ser assegurado se o sistema bancário for passivo, no sentido de que é um 
mero intermediador entre poupadores e investidores. Ou seja, a função clássica de 
sistema bancário na teoria dos fundos emprestáveis. 
Por fim a última citação é a que merece mais destaque por permitir 
interpretações distintas do ponto de vista da teoria monetária. 
Uma primeira observação que merece destaque esta no fato do diferencial 
de taxa de juros ser tratado apenas do ponto de vista dos custos de produção. Para 
Christaller, estes últimos são importantes na medida em que determinam o preço 
do bem central, e este pode interferir na renda auferida no lugar central. A renda 
de um lugar central, por sua vez, seria o fator mais importante na dinâmica deste 
lugar central. Assim sendo, discutir custos de produção significa discutir potencial 
de desenvolvimento do lugar central, bem como a definição do limite crítico da 
demanda necessária a produção do bem. Em outras palavras, podem interferir na 
área de mercado de um bem central e, desta forma, no tamanho e na distribuição 
de lugares centrais. 
No entanto, a possibilidade de controvérsia ocorre quando se discutem as 
causas das variações nos custos de capital. De acordo com Christaller, 
Only in the interest rate is there any strong variation, due to the coverage of 
risk. On the local level, this element of uncertainty causes a higher cost, as can 
happen, for example, in border areas […]. A high interest rate for capital 
means higher production costs and, therefore, higher prices for variables cost 
goods, or lesser profits for goods of fixed supply. Therefore, central places in 
such areas must sell their goods at higher prices, which, as a rule, lead to a 
migration of consumption to neighboring central places (with higher 
 
 
73
centrality) where prices are lower. Near unstabilized borders, the central 
places will have, therefore, small complementarity areas and will show limited 
development. (Christaller 1966, pp. 95 - 96) 
O ponto central aqui é determinar como a incerteza afeta a taxa de juros. 
Isto não fica claro na discussão feita por Christaller. Por um lado, seria possível 
interpretar esta incerteza exclusivamente do ponto de vista dos produtores. Ou 
seja, em regiões de conflito, como é o caso de regiões de fronteira, o risco de 
inadimplência seria maior, o que levaria os bancos a elevarem as taxas de juros. 
Por outro lado, também seria possível interpretar esta incerteza do ponto de vista 
da teoria da preferência pela liquidez. Vale dizer, as decisões relativas às formas 
alternativas de valorização e manutenção da riqueza por parte dos bancos 
levariam a uma menor disposição em emprestar em regiões com maior grau de 
incerteza, fato este expresso através do diferencial da taxa de juros. Embora 
possam parecer similares, estas duas interpretações possuem conteúdos teóricos 
claramente distintos e com implicações diferentes do ponto de vista da teoria 
monetária. Como visto, admitir a teoria da preferência pela liquidez por parte dos 
bancos significa dar a estes um papel ativo na gestão de seu ativo e, 
conseqüentemente, na dinâmica de uma região. Isto é completamente distinto da 
mera incorporação do risco de inadimplência ao cálculo da taxa de juros. Neste 
caso, os bancos são passivos, sendo que os juros mais elevados é resultado de 
fatores estruturais da economia (lado real exclusivo) e não comportamentais dos 
bancos.34 
Lösch (1967 [1939]) aborda a questão da moeda de forma similar a 
Christaller, ou seja, através dos impactos sobre os custos de produção. Porém, o faz 
mais explicitamente, em uma seção inteira (18 páginas) do capítulo 26 de seu livro, 
através do estudo de diferenciais de taxa de juros. Naquela seção do livro, ele 
elenca estatísticas que mostram, para os Estados Unidos, que as taxas de juros 
tendem a ser mais altas quanto mais distantes as agências bancárias estiverem de 
 
34 Para uma discussão mais detalhada da comparação entre efeitos estruturais e comportamentais sobre a taxa 
de juros ver Rodriguez-Fuentes (2006). 
 
 
74
um centro financeiro, notadamente Nova York, caindo à proporção que se 
aproximam de um outro centro financeiro competidor. 35 
Para explicar tais fatos estilizados, o autor se utiliza da teoria dos fundos 
emprestávies e de falhas de mercado. Isto fica evidente já no momento em que ele 
formula a questão a ser respondida após a análise estatistica: “Porque a oferta e a 
demanda por capital é equilibrada somente a um alto preço?” (Lösch 1967 [1939], 
p. 468) A pergunta acima formulada tem
como hipótese básica o fato da taxa de 
juros ser o “preço” que equilibraria a oferta e a demanda por capital, hipótese esta 
central na teoria dos fundos emprestáveis. 
As respostas fornecida por Lösch a esta pergunta seriam duas: 
i) a formação de capital (poupança) em regiões mais afastadas e menos 
desenvolvidas seria inferior à demanda aí existente. Os motivos que 
explicariam tal fato estariam relacionados aos fatores que afetam o processo 
de formação e alocação de poupança, tais como, lucros menores devido às 
caracteríticas da estrutura produtiva (maior peso da agricultura); maior 
necessidade dos bancos em manterem reservas, o que implicaria em menor 
volume de poupança disponível para empréstimos, entre outras; 
 
ii) existiria uma conexão imperfeita com mercados de capitais em 
regiões mais desenvolvidas, onde a situação seria inversa (demanda inferior 
a oferta). Em outras palavras, imperfeições de mercado impediriam uma 
livre movimentação de capital entre regiões mais desenvolvidas para menos 
desenvolvidas. Entre os fatores que impediriam esta livre movimentação 
estariam: dificuldade de obter informação sobre os tomadores de 
empréstimos; excesso de intermediação – fato este que elevaria o custo da 
movimentação e o “risco da distância”: 
He [o emprestador da região central] does not know men and conditions from 
his own experience and cannot keep in touch with further developments, 
which in pioneer regions particularly may be stormy and uncertain. 
Information and credit bureaus may compensate partly for this lack of 
personal knowledge, but they cannot make up for it enterely” (Lösch 1967 
[1939], p. 472)36 
 
35 Em relação à Lösch, Martin (1999, p. 6) afirma que a história da geografia econômica poderia ter sido 
diferente caso este autor tivesse completado a seqüência de seu livro The Economics of Location. De acordo 
com Martin, Löasch tinha a intenção de escrever um outro trabalho que lidasse, exclusivamente, com a relação 
entre moeda e localização e, de fato, o fez em um trabalho (Theorie der Wahrung, 1949) que nunca foi 
traduzido do alemão e, por isto, teve pouco impacto. Neste trabalho, o autor tinha como foco central estudar 
hierarquias de formas de moeda - desde moedas locais à moedas globais - e teorizar sobre o processo de 
criação de crédito (Martin 1999, p. 285). 
36 Estes argumentos são bastante similares ao conceito de distância operacional discutido por autores novo 
keynesianos (Alessandrini 2007) 
 
 
75
Esta forma de incorporar a moeda, através dos custos de produção, com 
especial foco na teoria da localização, e com enfoque claramente Novo – 
Keynesiano foi recentemente desenvolvida. Entre os autores que assim o fizeram 
vale destacar o tratamento dado por Dicken e Loyd (1990). Para estes, moeda é 
tratada como capital e assume-se que este possa variar no espaço determinando, 
assim, variações nos custos de produção. No entanto, deve ficar claro que, apesar 
deste avanço, o entendimento do significado da moeda ainda é restrito, com uma 
clara abordagem Novo-Keynesiana baseada em imperfeições de mercado. Tomem-
se, como exemplo, as seguintes passagens: 
The market for capital thus consists of a complex, interlocking network of 
financial institutions – banks, finance corporations, insurance companies, 
government agencies, and so on – that serves to accumulate savings and 
disburse investment capital to would be hires of the factor. (Dicken and Loyd 
1990, p. 162) 
We can therefore look at the locational impact of capital in terms of the spatial 
disparity between supply and demand for the factor and its mobility in 
matching the two at different locations. (Dicken and Loyd 1990, p. 162) 
The accumulation of capital within an economic system depends on the level 
of savings, the willingness of savers to invest, and the level of net capital 
inflows from the outside. This represents broadly the supply side of the 
situation. On the demand side we must take into account the level of actual or 
expected profits in the system and the relationship to profit levels in other 
systems to which capital might flow (Dicken and Loyd 1990, p. 164) 
Nas passagens acima descritas fica evidente a confusão entre finance e 
funding, principalmente ao tratar bancos e outras instituições do sistema 
financeiro de forma idêntica. Características históricas e setoriais de distintas 
regiões determinariam diferenciais tanto de acumulação de poupanças quanto de 
demanda de investimentos, podendo tais funções não serem idênticas. Além disto, 
a mobilidade do capital seria, nesse contexto, mais afeita ao capital monetário, que 
teoricamente poderia ser considerado como plenamente móvel: 
Within the same currency area, trading block, or nation, monetary capital is 
assumed to be highly, or even perfectly, mobile – free to move at no 
perceptible cost from place to place. (Dicken and Loyd 1990, p. 165) 
No entanto, os autores consideram que “descontinuidades” sociais, políticas 
e econômicas tendem a impedir esta livre movimentação: 
The most significant of all these discontinuities is that between the advanced 
and underdeveloped nations. Even within homogeneous systems, however, 
the free flow of monetary capital cannot be said to be “perfect” mobile either 
 
 
76
sectorally or spatially. In some sense it is – for large, well-known corporations, 
funds may be easy as the nearest telephone. But for the small firm or the 
nonstandard capital accumulation, there may be no effective mobility, 
spatially or otherwise, in the factor. Finally, governments these days exert a 
powerful impact on the flow of capital for development, regulating its overall 
levels by policy instrument and making it more readily available in some areas 
than others. (Dicken and Loyd 1990, p. 167) 
A conclusão lógica deste argumento é aceitar a hipótese de que o custo do 
capital, aqui expresso através das taxas de juros, seria diferenciado no território. 
De fato, os autores mostram vários trabalhos, principalmente do início do século 
XIX, que demonstram a ocorrência de taxas de juros diferenciadas nos EUA. 
Inclusive, os autores citam Lösch na discussão deste tema. 
Finalmente, ainda comentando o trabalho de Lösch, os autores discutem as 
afirmativas de que fatores como distância e pouco conhecimento das instituições 
ajudariam a explicar a pouca mobilidade de capital. Apesar de reconhecerem o 
desenvolvimento, tanto da regulação financeira quanto da tecnologia, os autores 
afirmam que tais conclusões continuam válidas nos dias atuais. Para tanto se 
baseiam nos trabalhos de Estall (1972) e Gertler (1984): 
... as both Estall (1972) and Gertler (1984) suggest, it is not necessarily cost 
per se that is important. Interest rate – the cost of capital – may not vary a 
great deal geographically within countries like United States, but the 
willingness of finance capital institutions to lend money for development is 
certain to vary, as anyone who has ever sought an overdraft or a bank loan 
will know. 
Citando Estall (1972) os autores concluem: 
We conclude that capital funds are an important geographical variable in the 
internal location problem. Capital is nor equally available at all locations, given 
identical risks and opportunities; and the constraints that operate to impede 
its equal availability must, by extension, act also as constraints upon location 
(Estall 1972, pp. 197 – 198) P. 169 
Apesar da visão de Lösch e de autores mais recentes deverem ser destacas 
no sentido de terem se preocupado em incorporar a dimensão da moeda em sua 
discussão, não se pode negar que o referencial teórico utilizado para tanto não dá à 
moeda papel relevante, uma vez que são as variáveis reais que determinam tanto a
escassez ou não de poupança (pequena lucratividade da agricultura, por exemplo) 
quanto a restrição à livre mobilidade de capital (assimetria de informação, por 
exemplo). 
 
 
77
Uma discussão distinta, mas igualmente importante, é feita por Parr e Budd 
(2000). Neste trabalho, os autores explicitamente procuram relacionar a teoria do 
lugar central com a estrutura espacial do sistema financeiro, analisando o caso do 
Reino Unido. Dado que esta é uma abordagem que dialoga diretamente com o 
objeto desta tese, faz-se necessário uma análise mais detalhada do argumento 
apresentado. 
De acordo com os autores, para utilizar a teoria do lugar central para 
explicar a localização de serviços bancários seria necessário alterar algumas 
hipóteses desta, notadamente em relação ao tratamento dado para os insumos. 
Como se sabe, no modelo proposto por Lösch todos os insumos são ubíquos no 
espaço. Porém, de acordo com os autores, 
in the case of financial services, inputs costs in their broadest sense display a 
significant variation over space, and cannot be excluded from the analysis. 
Related to this is the fact that financial-service activities operate across an 
established urban system, in which costs may vary substantially, both within a 
hierarchical level and (more dramatically) among levels.( Parr e Budd 2000, 
p. 594); 
A primeira observação em relação ao trabalho de Parr e Budd (2000) 
refere-se à caracterização de sistema financeiro. Em um longo parágrafo eles 
dizem: 
The financial system consists of a multitude of flows, organized around two 
types of end-user. The first type comprises primary or ultimate lenders, who 
are drawn from individuals (saving out of their income), industrial and 
commercial companies, governments, and financial firms acting on their own 
account (‘proprietary trading’). The second type of end-user concerns ultimate 
borrowers, who invest in real or tangible assets that are used in the 
production of goods and services. Such end-users include firms which issue 
stock or bonds, governments which issue bonds and individuals who acquire 
mortgages to fund house purchases, for example. The financial system links 
the two types of end-user. It mediates the relationship between savings and 
investment (the savings-investment identity in national-income accounts). 
This relationship involves the difference between the change in assets and the 
change in the net acquisition of financial liabilities. When savings increase, the 
increase in financial assets is greater than the increase in financial liabilities. 
In terms of a country’s national accounts, this results in a net financial surplus. 
Conversely, when savings decrease, the increase in financial liabilities is 
greater than the increase in financial assets, the result being a net financial 
deficit. (p 597) 
Três observações emergem a partir da leitura da citação anterior. Em 
primeiro lugar, a concepção de sistema financeiro apresentada por Parr e Budd é 
 
 
78
centrada em interpretações neoclássicas e novo-keynesianas. Em segundo lugar, e 
derivado da primeira observação, o sistema financeiro é visto meramente como 
um intermediador entre poupadores e investidores, ou seja, nos termos do 
referencial teórico aqui adotado, o sistema só faria a função de funding, sendo 
negligenciada a função de finance. Em segundo lugar, e ligada a esta primeira, esta 
é concepção clássica de fundos emprestáveis, onde a poupança é prévia ao 
investimento. Vale salientar que a concepção teórica aqui adotada não desconhece 
a identidade entre poupança e investimento nas contas nacionais. No entanto, a 
partir do momento em que é dado um sentido de causalidade a esta identidade, 
esta deixa de ser identidade e passa a ser uma teoria. Na citação, a teoria passa a 
existir quando os autores condicionam as ocorrências de superávit e déficit 
financeiro líquido às alterações no nível de poupança. 
Uma característica dos mercados financeiros destacada pelos autores 
refere-se à existência de atores denominados market-makers. Estes seriam 
definidos pela desempenho de quatro funções: 
First, to act as auctioneers in organizing transactions, handling client orders 
and participating in trading; secondly, to act as price stabilizers, buying at low 
prices and selling at high prices, so that those prices oscillate around a mean, 
which establishes market efficiency; thirdly, to act as information processors 
and contribute to the price-discovery process, so that the price of a security 
approximates its true price; fourthly, to supply ‘immediacy’ – i.e. to match 
immediately a buy order with a sell order in order to avoid ‘execution risk’ or 
the delay in waiting for another end-user to agree to a transaction (Demsetz 
1968, p. 598) 
Ao exercer tais funções, consideradas pelos autores como essenciais para o 
bom funcionamento do mercado de capitais, os market-makers procuram auferir 
lucros através da diferença de preços nas atividades de compra e venda de títulos e 
ações. Os autores procuram mostrar que este spread estaria condicionado à 
melhor ou pior possibilidade dos market-makers em exercerem as quatro funções 
listadas. Esta possibilidade, por sua vez, estaria condicionada pelas características 
do território onde se desempenhariam tais funções. Em mercados maiores, tanto a 
velocidade quanto o volume de informações são maiores, devido às economias de 
aglomeração existentes, fazendo com que o spread dos market-makers seja 
diminuído: 
 
 
79
In other words, external economies of scale are realized because traders 
receiving a given price signal cannot insulate this from the market, owing to 
the scale and rapidly of transmission of price information. In this connection, 
it was noted by Demsetz (1968) that the spreads on individual stocks traded 
on the New York Stock Exchange were negatively related with trading 
volumes, suggesting that the concentration of dealing in individual stocks at a 
large exchange is based on the presence of external economies of scale. (Parr e 
Budd 2000, p. 604) 
A discussão anterior deixa evidente que, para os autores, existe uma relação 
entre a atividade do sistema financeiro e a centralidade de uma região. Além do 
enfoque baseado no spread, os autores também exploram outra faceta da relação 
entre centralidade e sistema financeiro, qual seja, as economias de aglomeração. 
Uma importante característica na discussão de lugar central relaciona-se à 
interdependência locacional entre firmas, que na abordagem tradicional é tratada 
através de atividades de varejo e na provisão de serviços. No caso específico dos 
serviços financeiros, é possível identificar a ocorrência tanto de economias de 
escala quanto de escopo externas a firma que permitiriam justificar o processo 
aglomerativo destas atividades, fato este que contribuiria para o fortalecimento da 
centralidade de determinados locais. Esta ocorrência seria determinada pelo fato 
das atividades financeiras também apresentarem economias de localização, 
urbanização e de atividades complexas. 
As economias de localização estariam presentes tanto através do aumento 
de receitas em virtude das economias de escala de screening dos potenciais clientes 
(uso compartilhado de cadastro, por exemplo) e especializações produtivas, 
quanto através da reduções de custo (como, por exemplo, através da existência de 
disponibilidade de mão de obra especializada, entre outros). Dentre as economias 
urbanas, dais quais o setor financeiro poderia usufruir, estariam 
The availability of well-developed transport and communication facilities and 
municipal services […] the availability of specialized business services not 
specific to a particular activity, as well as the advantage of urban
amenity 
(broadly defined) and the derived or indirect advantage of a pool of qualified 
labor. (Parr e Budd 2000, p. 603) 
 Como as economias de urbanização tendem a aumentar com o aumento do 
tamanho da concentração urbana, pode-se inferir que firmas que forneçam 
serviços financeiros tendem a se localizar em grandes cidades ou centros 
metropolitanos. 
 
 
80
Finalmente, as economias de atividades complexas estariam presentes no 
setor financeiro principalmente através dos custos de transação, particularmente 
os relacionados à aquisição de informação. Isto ocorreria, por exemplo, em centros 
que possuíssem, simultaneamente, no seu interior atividades de gestão de 
portfólios, derivativos e câmbio. 
 
 
I.4 A MOEDA E A GEOGRAFIA ECONÔMICA: UMA ANÁLISE CRÍTICA 
Após anos merecendo um tratamento secundário, a discussão acerca dos 
vários aspectos da relação entre moeda e território voltou a ganhar destaque entre 
os geógrafos econômicos a partir da segunda metade dos anos 1980. De lá para cá, 
uma profusão de trabalhos relacionados a esta temática surgiu, analisando suas 
várias dimensões. Leyshon (1995), ao fazer uma revisão da literatura sobre 
geografia da moeda e das finanças, afirma que, por volta do início da segunda 
metade dos anos 1990, já existia um conjunto de produção científica na área 
suficiente para caracterizar o que chamou de “o fim do início”. Ou seja, o 
tradicional isolamento desta área de pesquisa, quer seja entre os economistas 
regionais, quer seja entre os geógrafos econômicos, foi superado a ponto de Martin 
(1999) afirmar que a geografia da moeda e das finanças podem ser considerada 
uma subdisciplina da geografia econômica. 
A comprovação do ressurgimento do interesse pode ser exemplificada pela 
constatação, já em 2000, da existência de vários trabalhos destinados a realizarem 
uma revisão da literatura sobre o tema (Leyshon 1995, 1997, 1998 e 2000; Dow e 
Rodrigues-Fuentes 1997; Martin 1999 e Tickell 2000). 
Várias são as explicações para a moeda ter ficado em segundo plano nos 
estudos sobre geografia econômica (Leyshon 1995, 2000; Martin 1999) e, entre 
elas, pode-se apontar o fato da maioria dos pesquisadores apoiar-se no arcabouço 
teórico neoclássico no qual a moeda é neutra no longo prazo. Além disto, entre os 
geógrafos, o foco preponderante da investigação em pontos fixos de produção, 
caracterizados por serem tangíveis e estáticos, também relega a moeda a uma 
posição secundária. Assim sendo, não é de se estranhar o fato de que estudos sobre 
 
 
81
as várias dimensões da moeda não sejam habitualmente encontrados na literatura 
de desenvolvimento regional.37 
Este quadro se manteve até o início da década de 1980 quando surgem 
trabalhos que começam a analisar o funcionamento do sistema financeiro e seus 
impactos espaciais. O ressurgimento do interesse sobre esta temática estaria 
relacionado basicamente a dois fatores. De um lado, a ocorrência de crises 
econômicas e políticas que sempre apresentavam uma dimensão financeira 
marcante, de tal forma que, como salienta Leyshon, 
nobody can any longer be immune to the ways in which the financial system 
holds sway over the trajectory of people’s life(Leyshon 1995, p. 531) 
De outro, o profundo processo de reestruturação pelo qual o sistema 
financeiro passou neste período - caracterizado por uma ampla liberalização dos 
mercados financeiros e uma grande transformação tecnológica relacionada à 
geração, transmissão e armazenamento de dados e informação - determinou um 
processo de aprofundamento de integração financeira nunca visto 
anteriormente.38 
É possível identificar distintas abordagens teóricas e empíricas sobre o 
tratamento da moeda e finanças no espaço. A primeira relaciona-se com o lugar e a 
dinâmica urbana das finanças e tem em David Harvey (1973, 1982, 1989) a 
contribuição seminal. Usando um referencial marxista, este autor procura mostrar 
como a lógica do processo de acumulação capitalista dentro do sistema financeiro 
determina o desenvolvimento desigual no interior de estruturas urbanas. Usando o 
exemplo de Baltimore, Harvey tenta mostrar como a lógica capitalista das 
instituições financeiras faz com que existam áreas super povoadas, de baixa renda, 
com oferta de imóveis a serem vendidos a baixo preço e a população sem acesso ao 
crédito para comprar tais imóveis. Isto porque a lógica capitalista do sistema 
financeiro faz com que o empréstimo a este tipo de agente se torne uma atividade 
 
37 Martin (1999, p. 7) aponta quatro dimensões relacionadas ao que chamou de “circuito geográfico do sistema 
financeiro”: a localização espacial de instituições financeiras; as diferenças institucionais no espaço; os 
espaços regulatórios; e, finalmente, o gasto público através da sociedade, regiões e localidades. Estas quatro 
geografias do sistema financeiro – a locacional, a institucional, a regulatória e a pública – moldam os fluxos 
monetários através do espaço. 
38 Por integração completa do sistema financeiro entende-se uma situação onde um agente pode obter uma 
determinada quantia de crédito a um custo determinado, independentemente de onde ele se encontra. 
 
 
82
mais arriscada. Pode-se afirmar que tais estudos são os precursores da temática da 
exclusão financeira, altamente em voga nos dias atuais. 
Na seqüência destes estudos, outros também procuraram explicar os 
processos de “exclusão financeira” (Leyshon e Thrift 1997) para descrever os 
procedimentos através dos quais classes sociais menos favorecidas e minorias 
sociais têm o acesso aos serviços financeiros tradicionais negado.39 O importante 
desta discussão está no fato de que esta gama de excluídos é aquela que enfrenta 
formas diversas de privações. Assim sendo, a forma de operação do sistema 
financeiro contribuiria para aprofundar tais privações. Este processo, por sua vez, 
tem rebatimentos espaciais uma vez que a população de excluídos tende a se 
concentrar em áreas específicas dentro das cidades ou em áreas rurais. É 
importante notar que esta linha de pesquisa expande as investigações iniciais de 
Harvey, uma vez que não se concentra apenas na questão do financiamento 
habitacional. O que está em discussão é a possibilidade de uma parcela significativa 
da população ser excluída de serviços financeiros básicos como conta bancária, 
acesso ao crédito, uso de cartão de crédito e cheques, (Leyshon e Thhrift, 1996 e 
1997; Dymsky and Veitch 1996). Esta questão possui uma relação direta com o 
processo de concentração de agências bancárias, vivenciado não apenas no Brasil 
mas também nos EUA e no Reino Unido, com impactos territoriais bem claros. Nas 
palavras de Leyshon, 
closures in Britain and the USA were spatially uneven, with branches 
closing fastest in areas of social and economic deprivations, particularly 
inner cities with large ethnic minority populations. ( Leyshon 2000, p. 
437) 
Um segundo grupo de estudos seria formado por aqueles preocupados em 
discutir tipos específicos de instituições financeiras, serviços e mercados, tais 
como fundos de pensão, venture capital, reestruturação de serviços bancários e 
 
39 Os processos de exclusão financeira mais conhecidos seriam o racionamento de crédito, redlines e 
blockbusting. Os dois primeiros: 
“…reinforce the class and ethnic segregation of the city by denying credit to individuals and 
families within certain parts of the city, and at times prevents class and ethnic mixing by 
directing certain groups away from areas to retain the “character” of the neighbourhood. 
Blockbusting encouraged ethnic mixing in the anticipation
of the movement of ethnic minorities 
into particularly inactive local house markets would generate turnover as middle-class families 
left in a flight to new suburban areas (Leyshon 2000, p. 436). 
 
 
83
exclusão financeira (Clark 1993; Leyshon and Thrift 1996; Martin e Minns 1995; 
entre outros). 
Uma terceira abordagem compreende trabalhos que se concentram na 
natureza e dinâmica dos grandes centros financeiros internacionais. Tais trabalhos 
se destacam por incorporarem análises econômicas, culturais e sociais para 
explicar a evolução e, principalmente, a persistência destes centros financeiros 
(como a City de Londres, por exemplo) frente ao processo de globalização. Embora 
o processo de liberalização financeira generalizada, em conjunto com o 
desenvolvimento tecnológico acima descrito, tenha permitido um maior e mais 
rápido fluxo financeiro no mundo como um todo - o que Harvey (1989) chamou de 
“compressão dos horizontes de tempo e espaço” - os centros financeiros mundiais 
mostraram-se capazes de resistir a este processo, fazendo com que o sistema 
financeiro mundial continuasse apresentando uma forte concentração espacial. A 
explicação para este fenômeno pode ser encontrada no benefício que as 
externalidades geradas neste tipo de concentrações podem gerar, especialmente 
aquelas associadas às informações (Thrift 1994, 1996). 
No entanto, se este processo de reestruturação do sistema financeiro 
(liberalização e desenvolvimento tecnológico) não foi capaz de alterar a localização 
espacial de grandes centros financeiros, gerou um forte efeito concentrador da 
atividade bancária. Isto seria derivado do profundo processo de integração 
financeira, que ocorreu de duas formas. Em primeiro lugar, uma “integração por 
fluxos”, onde a distinção entre bancos regionais e nacionais desaparece. Este 
processo é tanto mais intenso quanto menores forem os custos de transação e as 
barreiras de informação. No entanto, não obstante sua intensidade, a integração 
por fluxos encontra limites determinados por fatores como preferência pela 
liquidez, assimetrias de informação, entre outros. Nesse contexto, o processo de 
concentração bancária encontra limites, tornando a agência local um elemento 
importante para o mercado de crédito. A segunda forma de integração financeira 
seria a “integração por estruturas”, exemplificada pelo amplo processo de fusões e 
aquisições pelo qual o sistema financeiro mundial passou nas últimas duas décadas 
e pela entrada de novos bancos em áreas anteriormente restritas, como é o caso 
 
 
84
dos bancos estrangeiros o Brasil na década dos 1990. No caso das fusões e 
aquisições, o impacto sobre a concentração bancária é imediato. 
Este processo de concentração bancária, entre outras características, 
contribuiu para o aprofundamento da exclusão financeira, não somente de 
indivíduos, mas também de áreas inteiras. Isto permitiu o surgimento de esquemas 
alternativos de acesso a serviços financeiros, tais como cooperativas de crédito, 
microfinanças e os chamados Sistemas de Troca e Comércio Locais (Local Exchange 
and Trading Systems - LETS em inglês). Este último esquema, por exemplo, 
responde pela utilização de um sistema de moeda local para a realização de trocas 
e empréstimos, cuja origem está no processo de resposta local aos problemas 
econômicos e sociais oriundos do nível de atividade econômica baixo. De acordo 
com Williams (1999), em 1999 existiam cerca de 1300 Sistemas de Troca e 
Comércio Locais operando em 15 países pelo mundo.40 
Uma outra abordagem é aquela que Leyshon (1995) chamou de “Economia 
Geopolítica das Finanças”. Esta, fortemente influenciada pela chamada “Nova 
Economia Política Internacional” (Strange 1988; Murphy and Tooze 1991), 
apresenta três linhas de investigação. A primeira relaciona-se com a teoria da 
estabilidade hegemônica. De acordo com esta teoria, um Estado poderoso tentaria 
impor ordem ao sistema financeiro internacional de acordo com seus interesses e, 
desta forma, propiciaria uma base sobre a qual o processo de acumulação de 
capital poderia prosseguir. Este seria o arcabouço para estudar a hegemonia, tanto 
do sistema financeiro Britânico durante o período da pax Britannica, quanto a atual 
supremacia americana, dentro do contexto de apogeu e crise do sistema de Bretton 
Woods. Uma segunda linha de investigação concentra suas atenções nas 
implicações sobre o comportamento das corporações e o desenvolvimento de 
economias nacionais e regionais no surgimento de um sistema financeiro mais 
volátil, fruto do colapso de Bretton Woods. Finalmente, a literatura neo-
gramsciana de hegemonia vem discutindo a mudança de poder dos Estados e 
governos para os interesses transnacionais das elites sociais, particularmente 
 
40 Para uma leitura detalhada sobre este tema ver Bowring (1998); Lee (1996); North (1999); Purdue et al., 
(1997); Thorne (1996); Williams (1998) e Williams (1999). 
 
 
85
aquelas associadas ao capital global e, especialmente, o capital financeiro global 
(Leyshon 1995). 
A última abordagem estuda a relação entre sistemas e fluxos financeiros 
regionais e desenvolvimento industrial regional. Como Martin (1994) mostra, 
embora tenha ocorrido após a liberalização do sistema financeiro mundial um 
movimento no sentido da equalização das taxas de juros (pelo menos entre os 
países centrais), tal processo não se observou em relação às taxas de lucros. Vale 
dizer, o sistema financeiro internacional apresenta características bem distintas no 
espaço. Embora se possa afirmar que créditos e débitos possuem uma crescente 
circulação global, os meios de pagamentos continuam baseados em moedas 
validadas por Estados–Nações definidas territorialmente. Isto permite concluir que 
as configurações de sistemas financeiros variam de país para país (ou mesmo de 
região para região), determinando um papel importante a ser desempenhado pela 
moeda. Para usar a terminologia de Storper (1993), é possível falar da existência 
de distintos “mundos econômicos” governados por distintas configurações de 
relações sociais e de racionalidades econômicas, distribuídas diferentemente sobre 
o espaço e com profundas implicações territoriais. Obviamente, nestes mundos 
econômicos diversos, a forma como a moeda e o sistema financeiro operam 
também são condicionados por relações sociais e racionalidades econômicas 
diversas. 
É este entendimento que permite associar distintos processos de 
industrialização a distintos arcabouços financeiros, como mostra Zysman (1983) 
em relação aos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Japão. Nos dois 
primeiros, a relevância do mercado de capitais no padrão de financiamento 
determinou uma racionalidade econômica específica e se mostrou compatível com 
um processo de industrialização gradual. Os dois últimos, por sua vez, vivenciaram 
um processo de industrialização retardatária e intensa, com um sistema financeiro 
baseado fortemente no crédito bancário. Do ponto de vista da economia regional, o 
importante aqui é ressaltar que a superação do atraso industrial e regional de 
alguns países se deu com uma configuração específica do sistema financeiro, o que 
determinou estruturas de financiamento de empresas também específicas. 
 
 
86
 Além disto, pode-se também observar o papel desempenhado pelo sistema 
financeiro regionalizado italiano no processo de desenvolvimento da chamada 
Terceira Itália, através do fornecimento de crédito barato e de longo–prazo 
(Becattini 1990, Carnevali 1996; Alessandrini e Zazzaro 1999; Li et al. 2001; e 
Russo e Rossi 2001). Nesse caso, as fortes relações locais entre bancos e tomadores
de empréstimos permitiriam uma maior cumplicidade em termos de objetivos, 
superação da assimetria de informação existente entre credores e tomadores de 
empréstimos, surgimento de uma cultura de confiança e “moeda paciente”. Ou seja, 
poder-se-ia afirmar que existiria uma forte relação entre a configuração do sistema 
financeiro (que é distinto no espaço) e a forma de seu relacionamento com a 
estrutura produtiva, em um processo de influências recíprocas entre ambas 
esferas. Existiriam, assim, distintas formas de articulação entre a esfera produtiva 
e a esfera financeira, com distintos impactos sobre a configuração dos espaços 
econômicos nos quais tais articulações estão inseridas.41 
 
Apesar da discussão sobre a influência da moeda no desenvolvimento 
regional estar mais enraizada entre os geógrafos econômicos a ponto de ser 
considerada uma sub-disciplina, não é possível afirmar que esta linha de 
investigação fornece os instrumentos analíticos necessários para um real 
entendimento do papel da moeda e do sistema financeiro na configuração das 
disparidades regionais. A razão para isto, no entendimento deste autor, é o fato dos 
geógrafos econômicos, de uma forma geral, não incorporarem como instrumento 
de sua análise uma teoria monetária adequada. 
Como pode ser notado na revisão acima, os efeitos que a moeda tem sobre o 
território estariam ligados não às características da moeda, mas sim a falhas de 
mercado relacionadas ao processo de concessão de crédito e ao funcionamento do 
sistema financeiro. Embora não se possa desconsiderar tais elementos como 
importantes para entender dinâmicas econômicas diferenciadas entre regiões, eles 
não são suficientes para colocar a moeda como elemento importante na explicação 
 
41 Para uma análise mais detalhada dos impactos regionais da globalização financeira em relação à sua 
integração, regulamentação e, principalmente, o enfraquecimento de sistemas regionais de financiamento ver 
Martin 1999; Tickell 2000; Wójcik 2003; Klegg e Martin 2005. 
 
 
 
87
das disparidades regionais. Isto porque, seriam as “falhas de mercado” que 
definiriam as características dos impactos. Uma vez eliminadas as “falhas de 
mercado”, a influência da moeda sobre o desenvolvimento regional desapareceria. 
Pode-se dizer que a abordagem Novo-Keynesiana, em última instancia não 
incorpora a moeda, uma vez que as “falhas de mercado” são fenômenos localizados 
no “lado real” da economia. 
 
 
 
88
I.5 ELEMENTOS PARA UMA TEORIA MONETÁRIA DE 
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO 
A revisão crítica efetuada anteriormente evidenciou os limites das teorias 
de desenvolvimento regional e urbano de acordo com a perspectiva Pós 
Keynesiana aqui adotada em relação ao papel desempenhado pela moeda. Vale 
notar que, embora não se possa negar uma clara conotação keynesiana centrada na 
demanda efetiva nos modelos de desenvolvimento não ortodoxos analisados, estas 
limitações estão presentes ao considerarem a moeda neutra em seus efeitos. Nas 
palavras de Amado, 
some models do not have a well specified monetary framework. Other models 
follow the orthodox characterization of finance as representing saving, and 
thus, present a monetary theory which is in essence orthodox. Finally, some 
models assume absolute endogeneity of the money supply and so see money 
merely as accommodation variable. These models find causes for different 
patterns of regional development only among real elements. Therefore, even 
among the heterodoxy we have a “real” bias in the analysis of regional 
development. (Amado 1999, p. ix). 
Além disto, fica claro que a perspectiva Keynesiana, embora simpática aos 
geógrafos econômicos, perdeu espaço no debate, não sendo capaz de se tornar 
referência e, assim sendo, influencia-ló. 
No que se segue, é apresentada uma “contribuição” Pós Keynesiana para o 
entendimento das disparidades regionais. O termo “contribuição” foi coloca entre 
aspas porque no entendimento do autor desta tese, como será mostrado a seguir, 
não é possível dizer que exista uma “Teoria Pós Keynesiana de Desenvolvimento 
Regional”. Isso porque na literatura Pós Keynesiana não há uma concepção clara de 
“região”e de seus elementos constitutivos. Pode-se afirmar, portanto, que existe 
uma agenda de pesquisa em aberto para pesquisadores desta tradição teórica. Em 
certa medida, esta tese é uma contribuição a esta agenda. 
Apresenta-se, a seguir, o atual estágio de desenvolvimento de uma Teoria 
Pós-Keynesiana de Desenvolvimento Regional e realiza-se algumas reflexões sobre 
ela. 
Como visto, o papel desempenhado pela moeda em uma economia 
monetária de produção pode ser considerado um elemento diferenciador da 
abordagem Pós-Keynesiana frente às demais correntes de pensamento econômico, 
 
 
89
notadamente aquelas que compartilham a matriz teórica clássica (monetaristas, 
neoclássicos, Novo-Clássicos e, em determinada medida, Novos Keynesianos). No 
cerne desta diferenciação está a não neutralidade da moeda. 
Como se sabe, a neutralidade das variáveis financeiras é assumida pelo 
mainstream em economia, significando que a renda real depende apenas de fatores 
reais. A moeda é vista como um véu que facilita as trocas e ajusta o nível geral de 
preços. Os bancos, por sua vez, são também considerados neutros, pois alocam 
poupanças disponíveis entre projetos alternativos. Regionalmente, o sistema 
bancário somente afetará o desempenho das variáveis reais quando falhar na 
alocação do crédito nacional entre diferentes regiões em virtude de falhas de 
mercado, tais como informação imperfeita ou assimétrica, ou de barreiras à sua 
atuação, como custos de transação. Assumindo que nenhum destes problemas 
ocorrer o mercado de crédito regional atuará de forma apropriada e equilibrará o 
fluxo financeiro interregional, fazendo com que as regiões se deparem com uma 
curva de oferta de crédito perfeitamente elástica. 
Embora as raízes de diferenças de renda regionais possam ser atribuídas a 
fatores estruturais, variáveis monetárias podem contribuir para a manutenção e 
ampliação destas diferenças, quando se adota uma abordagem na qual a moeda e 
os bancos são não-neutros para o desenvolvimento regional. 
Uma abordagem Pós-Keynesiana, além de considerar a oferta de moeda 
endógena ao funcionamento do sistema econômico, também se distingue das 
demais por abordar de forma integrada a oferta e a demanda no mercado de 
crédito regional. Para estes autores, a oferta e a demanda de crédito são 
interdependentes e afetadas pela preferência pela liquidez, vinculada às 
expectativas que os agentes formam em um ambiente de incerteza. Do ponto de 
vista dos bancos, a preferência pela liquidez afetará negativamente a sua 
disposição em emprestar na região, caso possuam expectativas pessimistas ou 
pouco confiáveis sobre ela. No lado da demanda por crédito, a preferência pela 
liquidez do público afetará suas respectivas decisões de portfólio. Quanto maior a 
preferência pela liquidez, maior as posições em ativos líquidos destes agentes e 
menor sua demanda por crédito. 
 
 
90
A partir destes conceitos teóricos e utilizando-se de elementos das teorias 
da Causação Cumulativa e da Dependência, Dow (1982 e 1987) apresenta alguns 
modelos em que o sistema financeiro, juntamente com o lado real da economia, 
pode promover padrões de desenvolvimento regional desiguais. Dow (1982) tenta 
traduzir os argumentos de liquidez para um contexto espacial. Assim, economias 
contemporâneas com igual base monetária possuiriam multiplicadores monetários 
mais elevados quanto mais otimistas forem as expectativas sobre os preços locais
dos ativos, mais líquidos os mercados locais destes ativos, maior o grau de 
desenvolvimento financeiro e mais favorável seu resultado comercial com outras 
regiões. 
Dois casos extremos de regiões diferentes em suas características são 
considerados: uma região central e uma periférica. O centro seria uma região 
próspera, com mercados ativos e sofisticação financeira. A periferia seria uma 
economia estagnada, com tênues mercados e um menor grau de sofisticação 
financeira. Como resultado destas características, a preferência pela liquidez seria 
maior na periferia, a liquidez de qualquer ativo seria maior no centro do que na 
periferia e, no longo prazo, o multiplicador bancário seria maior no centro. Da 
mesma forma, a contextualidade espacial permitiria que o agente poderia manter, 
simultaneamente, ativos de economias de várias regiões, implicaria não só 
endogeneização espacial da base monetária, como também reforçando o caráter 
distinto das ofertas de moeda regionais. Além disto, o fato de instituições 
financeiras tenderem a ter escritórios localizados na região central implica um 
distanciamento das demandas por investimento na região periférica e dificuldade 
na concessão de crédito. Haveria, portanto, uma separação entre o local do 
investimento e o local de controle e, desta maneira, a forma como este 
investimento se realiza é que assegura a dependência e o subdesenvolvimento. 
O centro é definido como um local que apresenta uma estrutura produtiva 
historicamente dominada pela indústria e pelo comércio e onde se situa o centro 
financeiro. A periferia, por sua vez, concentra suas atividades no setor primário e 
nas manufaturas de baixa tecnologia, com uma dinâmica econômica centrada na 
exportação para o centro, sendo as receitas de suas vendas sensíveis à conjuntura 
no centro e, conseqüentemente, altamente voláteis. O centro possui spread effects 
 
 
91
sobre a periferia não apenas nas suas demandas de produtos, mas também na 
difusão de tecnologia, mão-de-obra qualificada e serviços através de suas filiais, 
promovendo uma dependência entre centro e periferia. 
Estas características implicam que a preferência pela liquidez será maior na 
periferia para os seus residentes, sejam bancos, empresários ou o público. As 
razões para isso seriam o alto risco de perda de capital para os bancos, 
relacionados ao risco de default dos empréstimos; a mudança da eficiência 
marginal do investimento para as empresas, que é afetada pela menor 
disponibilidade de empréstimos e maiores juros bancários; e a incerteza na 
obtenção de renda percebida pelo público, ambos ligados à volatilidade da 
economia. 
O resultado é que bancos nacionais podem emprestar menos para a 
periferia dada sua estrutura econômica e o remoto controle sobre as suas filiais. 
Bancos específicos da periferia, por sua vez, preferirão manter um nível de 
reservas mais alto e restringir os empréstimos locais, colocando-se em uma 
posição de desvantagem relativa e encorajando a concentração bancária no centro. 
Além disso, a maior preferência pela liquidez do público na periferia se traduziria 
em maior parcela de depósitos a vista sobre depósitos a prazo, o que poderia 
obrigar os bancos a diminuírem o prazo de seus empréstimos para ajustar ao 
menor prazo dos depósitos, gerando menos recursos de longo prazo para a região. 
(Chick and Dow 1988; Dow 1996, 1999). 
Vale salientar que mesmo considerando o atual estágio de desenvolvimento 
bancário, onde as operações off balance, e a oferta de serviços e não crédito 
ganham peso, o sistema bancário continua desempenhando um papel chave no 
desempenho econômico de distintas localidades. 
 
Algumas reflexões emergem da análise da contribuição Pós-Keynesiana ao 
desenvolvimento regional. Em primeiro lugar, é importante salientar que o 
trabalho de Dow (1996, 1999) e Chick e Dow (1988) não são trabalhos 
eminentemente de economia regional e/ou geografia econômica. Ou seja, não 
utilizam em suas análises conceitos clássicos destes campos de investigação. Por 
 
 
92
exemplo, os conceitos de espaço e região não são considerados e integrados. O que 
fazem é empregar conceitos macroeconômicos à regiões. Em determinada medida, 
pode-se afirmar que, na essência, o que as autoras fazem é uma macroeconomia 
sem taxa de câmbio. 
Esta constatação não invalida a teoria apresentada, apenas a contextualiza 
e, desta forma, permite o seu desenvolvimento. Isto é fundamental, pois permite 
entender esta contribuição não como uma teoria completa de desenvolvimento das 
regiões, como uma referencia para o entendimento do papel do sistema financeiro 
neste desenvolvimento. É por esta razão que a contribuição Pós-Keynesiana não 
possui uma sentido de causalidade claro entre bancos e regiões, devendo ser 
entendida uma um relação sinérgica entre ambos. Esta teoria não permite, por 
exemplo, afirmar que a origem das disparidades regionais está nos 
comportamentos dos bancos, mas sim afirmar que os bancos possuem um papel 
central na perpetuação e ampliação destas disparidades. 
Em segundo lugar, deve ficar evidente que esta é uma contribuição ao 
entendimento das disparidades regionais que só pode existir a partir da aceitação 
da versão estruturalista da oferta de moeda. Ou seja, o impacto da moeda nas 
regiões ocorre fundamentalmente através da preferência pela liquidez dos bancos. 
Caso a teoria monetária adotada fosse a horizontalista, não haveria espaço para um 
papel da moeda, pois os bancos sempre validariam a demanda por moeda. Neste 
contexto, as disparidades regionais somente ocorreriam devido à fatores reais e o 
impacto destes sobre o investimento. Não é por outro motivo que, como foi visto, a 
interpretação de Kaldor de desenvolvimento regional (modelo de causação 
circular cumulativa) não dá ao sistema bancário papel algum. Como visto 
anteriormente, Kaldor foi um dos expoentes da visão horizontalista da oferta de 
moeda. 
Em terceiro lugar, e derivado da análise anterior, deve ficar claro que é 
justamente a preferência pela liquidez mais alta em regiões menos desenvolvidas 
que faz com que o circuito, finance, poupança, funding, não ocorra de forma 
integral. O rompimento deste circuito pode ocorre em dois momentos. Um 
primeiro, quando o banco, devido à sua preferência pela liquidez mais elevada, não 
fornece o finance. Neste caso, o circuito não se inicia. A interpretação estruturalista 
 
 
93
de oferta de moeda é determinante para que este resultado teórico seja obtido. Ao 
recusar fornecer o finance, o sistema bancário não permite o surgimento de um 
circulo virtuoso de crescimento em regiões menos desenvolvidas. O segundo 
momento de ruptura do circuito é na realização do funding. Ou seja, supondo que o 
sistema bancário forneça o finance, o circuito romperia no momento de 
transformação da poupança gerada pelo finance em funding. As razões seria 
preferência pela liquidez do público em relação a ativos de regiões menos 
desenvolvidas. Este fato dificultaria a tarefa do sistema bancário em compatibilizar 
as necessidades de liquidez de investidores e poupadores. Isto poderia ser feito 
apenas a custos muito elevados tanto para os bancos, quanto para os investidores. 
Finalmente, não restam dúvidas que o trabalhos seminais de Dow e Chick 
foram um marco para a literatura Pós Keynesiana ao afirmar que preferência pela 
liquidez não é um conceito que flutua sobre o território. Este entendimento se 
configura como a porta de entrada para a afirmativa de que a moeda é 
fundamental para o entendimento dos mecanismos geradores das disparidades 
regionais. 
O alcance desta contribuição não é pequeno, pois fornece tanto aos 
economistas regionais
quanto aos geógrafos econômicos a ferramenta teórica 
necessária para que possam introduzir as variáveis financeiras dentro da análise 
regional. Entretanto, esta possibilidade não é passível de ocorrer com o referencial 
teórico Novo Clássico e Neoclássico, e é apenas parcial dentro da perspectiva Novo 
Keynesiana, tendo em vista a teoria monetária partilhada por tais correntes de 
pensamento. 
O ponto central a discutir neste momento, então, é entender porque a 
contribuição Pós-Keynesiana não consegue se firmar entre os economistas 
regionais e, principalmente, entre os geógrafos. 
A resposta sugerida nesta tese é que, embora as concepções de preferência 
pela liquidez e de centro / periferia sejam importantes, um melhor entendimento 
do que seja um território se faz necessário para que esta “contribuição” se 
transforme em teoria. O território deve ser visto como um construto social (social 
construct), cujas características influenciam as condições econômicas que 
 
 
94
determinam a preferência pela liquidez das regiões. Alguns destas características 
são: centralidade; região complementar; hierarquia urbana; polarização; escala 
urbana; área de mercado; economias de aglomeração e urbanização, entre outros. 
Estas características devem dialogar com o conceito de preferência pela 
liquidez para que a contribuição Pós-Keynesiana passe a ter uma maior 
penetração entre economistas regionais e, principalmente, geógrafos econômicos. 
Nesta tese, procura-se, de forma ainda incipiente, desenvolver, teórica e 
empiricamente, as ligações existentes entre preferência pela liquidez regional e 
centralidade e hierarquia. 
I.5.1 PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ, CENTRALIDADE E HIERAQUIA URBANA E 
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO 
Como foi visto anteriormente, embora no desenvolvimento da teoria do 
lugar central a discussão acerca da moeda venha crescentemente sendo 
incorporada, a teoria monetária adotada não permite um maior entendimento 
desta relação. Assim sendo, o que se pretende nesta seção é discutir as abordagens 
sobre desenvolvimento urbano analisadas anteriormente sob a ótica da teoria de 
preferência pela liquidez de Keynes, exposta no primeiro capítulo desta tese. 
Partindo da Teoria do Lugar Central, uma centralidade elevada implica em 
uma grande oferta de bens centrais, que, por sua vez, estimula a diversificação dos 
setores industriais e de serviços. Esta diversificação abre maiores possibilidades 
de investimentos por parte dos bancos, uma vez que eles podem diversificar seus 
portfólios, não somente entre ativos líqüidos e ilíqüidos, como também em relação 
a uma maior gama de ativos ilíqüidos, com distintos graus de maturidade, 
diferentes setores, parcela de mercado, etc. Esta é uma diferença fundamental 
entre um lugar-central e sua vizinhança. Além disso, as economias de aglomeração 
derivadas de economias de escala, economias de localização e urbanização 
associadas ao processo de diversificação dos setores industrial e de serviços 
introduzem um outro incentivo à redução da incerteza na região. Este mecanismo 
foi salientado por Jacobs (Jacobs 1968) com o nome de sistema econômico de 
reciprocidade (economic reciprocating system), que nada mais é do que um 
processo de diversificação do sistema produtivo associado à introdução de novos 
 
 
95
produtos em distintos setores. Este processo é possível devido ao desenvolvimento 
do setor de exportação e permite à cidade aumentar seu crescimento econômico, o 
que, por sua vez, permite o aumento da exportação de serviços e bens. Este 
processo atrairá firmas de diferentes setores para a cidade, aumentando as 
externalidades do local, tornando a região mais atrativa. 
Do ponto de vista do sistema financeiro, não somente os seus custos serão 
reduzidos devido às externalidades geradas pelas economias de aglomeração, 
como também aumentarão as oportunidades de investimento para os diversos 
setores industriais e de serviços. Desta forma, pode-se argumentar que quanto 
maior a centralidade, menor a preferência pela liquidez dos bancos e maior a 
disposição destes em ofertar crédito para diferentes tipos de projetos. Em outras 
palavras, existiria uma maior disposição dos bancos em ofertar o finance para o 
desenvolvimento dos projetos de investimento. Isto desencadearia um círculo 
virtuoso entre economias de aglomeração e oferta e demanda por crédito, 
reforçando o processo de concentração da oferta de crédito em lugares centrais. 
Além disto, o sistema financeiro procuraria aumentar o número de agências e 
provisão de serviços em lugares centrais tanto porque suas operações estão 
sujeitas a economias de escala e escopo, e transbordamento (spillovers) de 
informações, quanto devido ao fato de seus principais custos (informação, 
coordenação e transação) serem sensíveis à escala de operação. 
Esta relação da centralidade com o sistema bancário também se faz 
presente na gestão do passivo deste. Como mostra a literatura (Chick 1992, Dow 
1999), uma característica atual do sistema bancário seria a capacidade deste em 
gerenciar seu passivo de forma mais ativa (liability management). Isto implicaria 
em uma política ativa tanto de marketing, como também, e fundamental para a 
discussão aqui realizada, de oferta de produtos variados buscando aumentar a 
captação de recursos. Nas palavras de Dow, 
The expansion of the banking system, facilitated by the enhanced confidence 
and the enlarged supply of reserves, in turn fuels a much greater expansion of 
non-banking financial intermediation with bank deposits as its base. At the 
fifth stage (which is characterized the British banking system in the 1970s), 
banks find themselves facing fierce competition for financial services from 
new non-bank’s finance intermediaries. This competition has been the 
product of the bank’s success. The banks are forced to become much more 
 
 
96
productive, seeking lending opportunities and the deposits to match them, 
that is, to engage in liability management. (Dow 1999, p. 38 - 39) 
 O papel da centralidade de uma região, determinada pelo tamanho de sua 
população, renda e da diversidade de sua estrutura industrial e de serviços, neste 
processo é essencial para o desenvolvimento desta atividade bancária. Esta 
diversidade determina a existência de uma gama de potenciais clientes para os 
bancos com distintas preferências pela liquidez, significando necessidades de 
formas diferenciadas para preservar e ou aumentar suas riquezas. Isto 
possibilitaria aos bancos a criação de inovações financeiras diversas de forma a 
oferecer produtos padronizados para estas distintas necessidades. 
As implicações deste processo são amplas. De um lado, isto possibilita um 
aumento significativo das reservas bancárias. Embora na perspectiva aqui adotada 
a oferta de crédito não seja restrita pelo volume de reservas, este por sua vez é 
fundamental a todo o desenvolvimento do sistema financeiro. Nas palavras de 
Dow, 
although traditional banking is declining in relative importance within the 
financial system in terms of volume of traditional banking business [illiquid 
assets and liabilities-used-as-money], it nevertheless retains its pivotal 
importance in providing the money base on which the rest of the system is 
built. This is turn continues to allow banks to play their distinctive role in 
providing direct loans to borrowers as an alternative to borrowing in 
securities markets. […] The different spatial characterization of potential 
borrowers means that bank finance be more important in some regions than 
others. Similarly, portfolio behavior on the asset side (particularly the desire 
for liquidity) may differ from one region to another. (Dow 1999, p. 40). 
Por outro
lado, isto permitiria a ampliação do funding. Como mostrado 
anteriormente, o processo de investimento, segundo a abordagem aqui utilizada, é 
iniciado através do finance, que é a obtenção de recursos financeiros de curto – 
prazo junto aos bancos. Este processo só é finalizado a partir do momento em que 
a poupança gerada através deste investimento é transformada em funding: 
The process of transformation of short-term into long-term liabilities is called 
funding. To be feasible, a funding operation requires the existence of wealth 
holders desiring permanent abodes of wealth, in contrast of banks which, 
when creating finance, are only searching for short-lived commitments 
(Carvalho 1992, 151) 
É possível argumentar que em regiões com pequena centralidade apenas o 
finance ocorre integralmente, sendo que o processo de funding é apenas 
 
 
97
parcialmente internalizado, criando dificuldades ainda maiores para os 
investidores ali localizados. Isto ocorreria devido ao fato da liquidez dos ativos das 
regiões serem menores, fazendo com que a poupança gerada pelo processo de 
investimento seja transferida para regiões mais centrais. Além disso, deve ser 
destacado o fato de que o grau de desenvolvimento do sistema financeiro é 
determinante para o sucesso da transformação do finance em funding: 
The more sophisticated and diversified the financial system is, in terms of 
types of financial instruments and duration of commitments, the more 
efficient it will be to intermediate resources between savers and investors. 
(Carvalho 1992, 152) 
Este processo se torna mais importante nos dias atuais tendo em vista que 
os bancos passaram a utilizar massivamente o processo de securitização. Este seria 
o sexto estágio bancário proposto por Chick (1992) e Dow (1999). De acordo com 
Dow, 
... to attempt to sell off assets in order to reduce their capital requirements and 
to increase banks’ appeal in equity markets. At the same time, the banks 
sought to avoid a recurrence of this situation of being caught with illiquid 
assets of dubious value. The outcome was the development of securitization 
(Gardener, 1988). Banks turned existing loans into marketable securities and 
developed the provision of financial services in securities markets, facilitating 
borrowing by means of issuing securities, rather than lending directly 
themselves. At the same time, they encouraged the development of markets of 
derivative products which offered banks profit-making opportunities off the 
balance sheet, and thus not subject to capital requirements (although the 
requirements have since been changed to try to capture exposure to off-
balance sheet risk). (Dow, 1999, pp. 38 -39) 
Desta forma, é possível argumentar que firmas localizadas em regiões mais 
centrais possuem melhores alternativas para buscar funding inclusive no mercado 
de securities ao invés de buscar estes recursos diretamente nos bancos. Já firmas 
pequenas e médias, localizadas em regiões de vizinhança à central ou com 
centralidades menores, teriam apenas a possibilidade de recorrer ao sistema 
bancário para a obtenção dos recursos necessários para o seu investimento. Ou 
seja, o impacto da centralidade na configuração do sistema bancário determinaria 
vantagens competitivas, em termos de acesso ao financiamento, para as firmas ali 
localizadas.42 
 
42 Uma comprovação empírica da relação entre centralidade e funding pode ser encontrado em Wójick (2009). 
Este artigo mostra que firmas localizadas em centros financeiros tem maiores probabilidades de se 
financiarem via emissão de ações no mercado de capital do que firmas localizadas na periferia. 
 
 
98
Neste ponto os dois lados do processo de investimento se juntam. Pode ser 
argumentado que não somente a preferência pela liquidez dos bancos é afetada 
pela centralidade, mas também a do público de uma forma geral. Isto, por sua vez, 
levaria a um maior demanda por crédito. Ou seja, dado que a centralidade 
implicaria em maiores economias externas e de escala, pode-se afirmar que o 
ambiente econômico em regiões centrais seria menos incerto e, portanto, levaria as 
firmas a terem uma maior disposição em investir. Assim, quanto maior a 
centralidade maior também a demanda por crédito. Além disto, como visto acima, 
esta maior disposição a se endividar encontraria formas mais variadas de ocorrer 
em regiões centrais, podendo ser desse o tradicional endividamento junto aos 
bancos, quanto a emissão de debêntures, ações, dentro outras. 
Além da demanda por crédito, a preferência pela liquidez também afeta a 
disposição do púbico em geral em manter seus ativos em forma mais ou menos 
liquida. Isto implica em escolher entre manter seus recursos na forma de depósitos 
a vista (mais liquido) ou outras formas de aplicações financeiras, tais como 
depósitos a prazo (mais ilíquidos). Desta forma, se o grau de centralidade 
influencia o grau de incerteza de uma região, e conseqüentemente a preferência 
pela liquidez, é possível argumentar que quanto maior a centralidade, menor a 
preferência pela liquidez do publico, menor a propensão a reter ativos mais líquido 
e, portanto, maiores as possibilidades do sistema bancário em ter um passivo mais 
ilíquido, no sentido de maiores prazos de maturação. 
A centralidade de um região é importante para determinar a decisão dos 
bancos quanto à localização de suas agências e headquarters. Como salientado por 
Martin (Martin 1999), no caso de bancos de varejo, a decisão sobre onde localizar 
uma nova agência é positivamente influenciada pelo nível de renda e pelo tamanho 
da população de uma região. Como a centralidade ajuda a concentrar pessoas e 
aumenta a renda de uma região, é possível argumentar que quanto maior a 
centralidade, maior será a possibilidade do banco decidir instalar uma agência 
nesta região. 
No entanto, como já salientado, o sistema financeiro não é passivo em 
relação ao desenvolvimento da região. A preferência pela liquidez dos bancos 
pode facilitar o desenvolvimento de uma região, na medida em que ela permite ao 
 
 
99
banco se tornar mais propenso a ofertar crédito naquela região. Porém, pela 
mesma razão, este processo contém fortes elementos que reforçam as 
disparidades regionais. 
De um lado, é possível argumentar que quanto maior a centralidade de uma 
região maior será a preferência pela liquidez de sua vizinhança (relativamente ao 
lugar central) uma vez que esta última não possui os serviços ofertados pelo centro 
e, desta forma, se tornará menos atrativa tanto para indústria quanto aos bancos. 
Isto tornará mais difícil para a vizinhança diversificar seus setores industriais e de 
serviços, reforçando aqui sua posição de hierarquia inferior. 
Por outro lado, as condições periféricas deverão se reproduzir, uma vez que 
estas estão vinculadas à centralidade do centro. A lógica de reprodução do sistema 
nesta região é condicionada e reforçada pela lógica do sistema de produção do 
centro. A questão não é ser desenvolvido ou subdesenvolvido em termos de dois 
estágios distintos e seqüenciais. O que se discute é a lógica de reprodução (e 
acumulação) do capital no espaço. Desta forma, lugares centrais não são 
distribuídos igualmente pelo espaço devido ao fato de que o processo de 
acumulação e reprodução do capital no setor terciário implica na existência de 
hierarquia entre centros urbanos. 
Assim, o resultado da livre movimentação das forças de mercado resulta em 
um desenvolvimento regional desigual. Neste sentido, é possível argumentar que 
desenvolvimento regional também significa distribuição de centralidades ou a 
construção de muitas centralidades através do espaço. O que
é aqui sugerido é que 
o sistema financeiro desempenha um papel crítico neste processo. 
Por fim, caberia discutir como a moeda se relaciona com o processo de 
construção de centralidades em espaços periféricos. Como visto anteriormente, 
existem três fatores que tornam o território mais desigual em regiões periféricas, a 
saber: i) a pequena densidade urbana determinada pela pior distribuição espacial 
desta renda; ii) entorno do núcleo urbano geralmente de subsistência, significando 
que o núcleo urbano não é capaz de desaglomerar atividades econômicas 
complementares para seu entorno; e, iii) porosidade da demanda local, que resulta 
 
 
100
em uma área de mercado regional geograficamente extensa, mas com baixa 
intensidade da demanda por unidade de distância. 
Todas estas caracteríscas determinam a construção de um espaço 
fortemente fragmentado em regiões atrasadas, com uma estrutura urbana 
fortemente hierarquizada. É possível, portanto, argumentar que quanto mais 
hierarquizada for uma estrutura urbana, maior será o diferencial de preferência 
pela liquidez entre as regiões. Ou seja, em regiões periféricas, o diferencial de 
preferência pela liquidez entre regiões é significativamente maior devido à 
fragmentação do espaço, fazendo com que este diferencial se torne cada vez maior. 
Além disso, a distribuição espacial do sistema financeiro também se torna 
extremamente fragmentada, não só com grandes diferenciais entre regiões na 
concessão de crédito, como também na oferta de serviços bancários. Nas palavras 
de Dow 
As financial systems develop, the non-bank financial intermediaries expand 
relative to the banks; […] Together, the banks and the non-banks financial 
intermediaries provide financial services to non-financial bussines. The 
nature, terms and availability of these services are the fundamental economic 
significance. To the extent that these services and their availability differ from 
one locality to another, the economic development of these localities is bound 
to be affected. These differences can arise from the local character of financial 
institutions, and from the degree to which local bussiness is dependent on 
such local financial institutions (Chick and Dow, 1988) (Dow 1999, p. 43 -44), 
 
 
 
101
 
PARTE II - DUAS INVESTIGAÇÕES EMPÍRICAS: MOEDA, 
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E HIERARQUIA URBANA 
NO BRASIL 
 
Nesta parte da tese procurar-se-á subsidiar a discussão teórica efetuada na 
Parte I com uma investigação empírica acerca do comportamento do sistema 
bancário brasileiro, a partir da perspectiva Pós Keynesiana discutida 
anteriormente. Duas abordagens de investigação serão desenvolvidas. O primeiro 
recorte será o regional, através da divisão político – administrativa, do Brasil 
(grandes regiões). Como mostrado, a abordagem Pós Keynesiana para economia 
regional tem como elemento central a hipótese da existência de preferências pela 
liqüidez diferenciadas no território, determinada pelas características econômicas 
das regiões. Neste sentido, a investigação empírica a ser realizada pode ser 
considerado um contribuição para a validação ou não desta teoria a partir da 
utilização de dados do Brasil. 
 O segundo recorte será urbano, através da hierarquia do tipos de serviços 
financeiros oferecidos no país. Neste caso, procura-se contribuir para suprir uma 
deficiência da abordagem Pós Keynesiana apontada na Parte I, qual seja, o diálogo 
com categorias típicas tanto da economia regional quanto da geografia econômica. 
Neste caso, a categoria seria a centralidade. Assim, como será visto, procura-se 
analisar a relação entre preferência pela liqüidez e distinto níveis de centralidade. 
Além disto, buscando aprofundar a discussão acerca das relações entre moeda e 
desenvolvimento urbano, ao final uma pequena análise é efetuada tendo como 
recorte a escala urbana. 
Vale salientar aqui uma contribuição que esta tese traz: o banco de dados 
utilizado. Serão utilizado dados relativos aos balancetes das agencias bancárias 
copilados pelo Laboratório de Estudos em Moeda e Território – LEMTe -, do Centro 
de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da UFMG. A fonte 
primária destes dados é o Sistema de Informações Contábeis do Sistema Financeiro 
(COSIF), Desde 1988 o Banco Central do Brasil tornou obrigatório para cada 
 
 
102
agência bancária no país enviar ao Banco Central o balancete mensal de sua 
contabilidade. Estas informações são disponibilizadas de forma agregada por 
município. O LEMTe coletou, tabulou e deflacionou tais informações para todos os 
municípios do Brasil.43 Este banco é único no Brasil, sendo que somente o Banco 
Central do Brasil possuí um banco similar. Vale ressaltar que esta instituição não 
disponibiliza tais dados de forma agregada, razão pela qual o LEMTe se dedicou 
nos últimos cinco anos na montagem deste banco de dados. 
Uma forma de avaliar o ineditismo e a importância deste banco de dados 
são os prêmios recebidos por trabalhos que o utilizaram. Até o momento, foram 
dois primeiros lugares no Prêmio IPEA / Caixa (derivados de uma monografia de 
conclusão de curso e uma dissertação de mestrado); melhor trabalho categoria 
profissional do último Encontro de Economia do Nordeste (ANPEC – Nordeste), e 
melhor trabalho de iniciação científica (UFMG – 2008). 
Esta Parte da tese está assim estruturada. Na próxima seção, uma breve 
revisão da evolução recente do sistema financeiro brasileiro é efetuada. Busca-se 
aqui contextualizar o ambiente macroeconômico e seus rebatimentos sobre o 
sistema financeiro brasileiro. A seção seguinte trata da investigação empírica com 
o recorte regional. Finalmente, a última seção trata do recorte urbano. 
II.1 EVOLUÇÃO RECENTE DO SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO 
Para entender a recente evolução do sistema financeiro no Brasil, com 
atenção especial ao seu gerenciamento, é necessário retornar no tempo ao início 
dos anos 80. A resposta do sistema financeiro ao meio ambiente macroeconômico 
daquele período teve repercussões sobre o seu comportamento, com implicações 
que se estenderam até a década seguinte. 
Como é amplamente conhecido, os anos 1980 começam sob a influência de 
choques externos, que determinaram alterações significativas nas condições 
internas, associadas com a crise da dívida, que se traduziram no fenômeno 
 
43 Para se ter uma idéia da dimensão do banco de dados utilizados, basta lembrar que cada balancete mensal 
possui cerca de 140 informações. Foram coletadas informações de cerca de 3500 municípios que possuíram 
pelo menos uma agência bancária durante todo o período. Assim sendo, mensalmente foram armazenadas 
cerca de 490.000 informações. Se considerarmos o período de 21 anos, atingem-se a marca de 123.480.000 
informações disponíveis no banco de dados. 
 
 
103
denominado estaginflação (inflação com pequeno crescimento econômico) e na 
drástica deterioração das contas públicas. Adicionalmente, a industrialização por 
substituição de importações passou a ser duramente criticada. De acordo com a 
ortodoxia neoliberal – baseada nas diretrizes do Consenso de Washington – a 
liberalização econômica era considerada a política apropriada para enfrentar a 
crise, promover a estabilidade e a competitividade internacional e, em decorrência, 
restaurar o crescimento econômico. A liberalização financeira, em particular, era 
considerada condição sine qua non para superação das dificuldades enfrentadas 
pelo país. 
Apesar da crise econômica, o sistema financeiro foi capaz de sustentar uma 
alta lucratividade relativamente a outros agentes econômicos. Essa lucratividade 
foi, principalmente,
garantida por: provisão de serviços financeiros pelos bancos 
aos indivíduos e empresas, de forma a garantir o valor de seus depósitos em face 
da hiperinflação; apropriação do imposto inflacionário; e os elevados ganhos com 
títulos públicos. Neste caso, além do retorno elevado, outros mecanismos foram 
adotados visando elevar a liquidez desses ativos, com destaque para o mecanismo 
de “zeragem automática”: o Banco Central se comprometia a recomprar 
diariamente títulos do governo em mãos dos agentes do sistema financeiro, caso 
apresentassem eventuais déficits de reserva. A compra de títulos governamentais 
tornava-se, assim, uma atividade sem risco. Com isso, os bancos encontraram uma 
forma de manter elevada sua lucratividade, por meio de alterações na composição 
de seus ativos, nas quais a redução da oferta de crédito foi compensada com 
aplicações financeiras de baixo risco e alta lucratividade. 
É verdade, entretanto, que as condições prevalecentes nos anos 1980 
levaram a um processo de desintermediação financeira e perda de funcionalidade 
do sistema financeiro em termos de sua capacidade de prover finance e funding 
para investimentos produtivos. Paradoxicalmente, o sistema manteve (e até 
mesmo incrementou) sua lucratividade e capacidade de crescer e competir, sendo 
esta última baseada, primordialmente, na automação bancária, uma das mais 
avançadas do mundo, e na redução dos custos de mão de obra. 
No fim da década de 1980, iniciou-se o maior processo de reforma bancária 
desde a reforma do sistema financeiro de 1964 e 1967. Seguindo a tendência em 
 
 
104
vigor na economia mundial, esse processo se caracterizou pela contínua tentativa 
de liberar e desregulamentar o sistema financeiro. Nesse sentido, foram tomadas 
medidas que mudaram as regras para as operações de não residentes no mercado 
de capitais brasileiro e a atuação dos fundos estrangeiros de capital, a autorização 
de emissão de ações de empresas brasileiras no mercado externo e a criação de 
incentivos para a operação de investidores institucionais no mercado de capitais. 
Além disso, foram tomadas medidas no sentido de reconfigurar o SFB, por 
exemplo, por meio da criação dos bancos múltiplos e da eliminação da necessidade 
de carta patente para a abertura de agências. 
Nos anos 1990s, as reformas liberalizantes foram aceleradas, muito 
influenciadas pelo consenso neoliberal internacional em torno da necessidade de 
se criar uma nova arquitetura financeira mundial, a partir da reforma financeira 
dos mercados emergentes, principalmente. Os cenários macroeconômicos mundial 
e nacional propiciaram um ambiente favorável à atividade financeira. No contexto 
internacional, verificou-se um aumento da liquidez e a reinserção da América 
Latina nos fluxos internacionais de moeda. Isso possibilitou um novo acesso ao 
mercado externo, tanto por instituições financeiras como por não financeiras. No 
âmbito interno, o sucesso da estabilização monetária, com a adoção do Plano Real, 
em 1994, e a retomada do crescimento no momento imediatamente posterior, 
criou um ambiente favorável à atividade de intermediação financeira. Nos anos 
seguintes, houve aumento das operações de crédito e redução das operações de 
títulos. 
Com a estabilização monetária pós-1994, acreditou-se que o sistema 
bancário pudesse exercer a sua função central de financiamento da atividade 
produtiva, uma vez que era esperado que o setor público não mais necessitaria 
financiar seu déficit, que diminuiria pela emissão de títulos com rentabilidade 
elevada. De fato, observou-se, no início do Plano Real, um aumento significativo 
nas operações de crédito no ativo dos balanços dos bancos. Porém, a crise 
mexicana e, posteriormente, as contagiadas economias emergentes explicitaram as 
fragilidades do arcabouço macroeconômico na década de 1990, com a liberalização 
e desregulamentação do sistema financeiro e o desmantelamento dos mecanismos 
de controle de capital. Em resposta a esse contexto, reinstalou-se a política 
 
 
105
monetária de juros elevados para evitar a saída de capitais, fato que voltou a 
proporcionar aos bancos uma aplicação financeira mais rentável e menos arriscada 
do que a concessão de crédito. 
Paralelamente, aprofundou-se o processo de reestruturação do SFB, com a 
adoção de providências – como as Medidas Provisórias 1.179 e 1.182, ambas de 
novembro de 1995 – que estimularam o processo de fusões e aquisições, visando 
aumentar a concentração bancária pela eliminação dos agentes financeiros que se 
mostraram incapazes de operar lucrativamente em um ambiente não inflacionário. 
Em novembro de 1995, criou-se o Programa de Estímulo à Reestruturação 
do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que consistia numa linha especial de 
assistência financeira com o objetivo de financiar reorganizações administrativas, 
operacionais e societárias de instituições financeiras envolvidas em fusões e 
aquisições dos agentes financeiros anteriormente referidos. Tal programa 
possibilitou que três dos dez maiores bancos brasileiros desaparecessem na pós-
estabilização sem que o sistema fosse colocado em risco. 
Ademais, dando prosseguimento ao processo de abertura do SFB, em 1995, 
tanto a Exposição de Motivos 311 (que determinava ser de interesse do país a 
entrada e/ou aumento da participação de instituições estrangeiras no sistema 
financeiro) como a Resolução 2.212 (que estipulava o aumento do capital mínimo 
para a abertura de novos bancos, desestimulando esse procedimento) 
consolidaram definitivamente o interesse do governo brasileiro na entrada de 
instituições financeiras estrangeiras para operarem no mercado interno. Esperava-
se, com isso, uma maior competição dentro do setor, maior eficiência e um 
aumento das operações de crédito. No entanto, não somente o setor bancário 
nacional se mostrou capaz de competir com os bancos internacionais que entraram 
no mercado, como também esses bancos se adaptaram às condições 
macroeconômicas internas, passando a reproduzir as práticas já existentes no 
mercado. 
Esse resultado é decorrente do arcabouço macroeconômico e institucional 
construído ao longo da década de 1990. Com a estabilização monetária pós-1994, 
acreditou-se que o sistema bancário pudesse exercer a sua função central de 
 
 
106
financiamento da atividade produtiva, uma vez que era esperado que o setor 
público não mais necessitaria financiar seu déficit, que diminuiria pela emissão de 
títulos com rentabilidade elevada. De fato, observou-se, no início do Plano Real, um 
aumento significativo nas operações de crédito no ativo dos balanços dos bancos. 
Porém, a crise mexicana e, posteriormente, as contagiadas economias emergentes 
explicitaram as fragilidades do arcabouço macroeconômico na década de 1990, 
com a liberalização e desregulamentação do sistema financeiro e o 
desmantelamento dos mecanismos de controle de capital. Em resposta a esse 
contexto, reinstalou-se a política monetária de juros elevados para evitar a saída 
de capitais, fato que voltou a proporcionar aos bancos uma aplicação financeira 
mais rentável e menos arriscada do que a concessão de crédito. 
De acordo com algumas estimativas, o PROER e o PROES absorveram quase 
10% do PIB, fecharam 76 bancos e privatizaram 6 bancos públicos44. 
Apesar do sistema financeiro, que emergiu deste processo de 
reestruturação, ser mais internacionalizado, concentrado (em termos do número 
de instituições operando no país e dos ativos totais) e competitivo (em termos de 
lucratividade), ele continuava funcionalmente subdesenvolvido, na medida em que 
estava menos preocupado com a provisão de créditos para investimentos de longo 
prazo do que com ganhos
nas transações com títulos. Em outras palavras, os 
bancos assumiram posturas mais especulativas ao apresentarem um alto nível de 
preferência pela liquidez (Crocco e Figueiredo 2008). 
O sistema financeiro nacional no início dos anos 2000s era composto de 164 
bancos universais, 4 bancos de desenvolvimento públicos e 20 bancos de 
investimentos. O número de agências aumentou de quase 15 mil em 1990 para 17 
mil em 2003, concentradas nas regiões mais ricas do país – 75% das agências 
estavam localizadas nas regiões Sul e Sudeste (Crocco e Figueiredo 2008). A maior 
parte das operações de crédito eram de curto prazo ou dirigidas para o consumo. 
Além disso, no caso dos bancos privados domésticos e estrangeiros, havia uma 
clara preferência por títulos de curtíssimo prazo (respectivamente 67.7% e 43% 
do investimento em títulos), enquanto no caso dos bancos públicos, sua 
 
44 Estes programas levaram a eliminação de praticamente todos os bancos regionais. Uma das consequencias 
foi o agravamento das restrições de crédito para as regiões mais pobres do país. 
 
 
107
preferência era menor (26%). Ambos os indicadores explicitam a natureza 
especulativa dos bancos privados no Brasil e sua elevada preferência pela liquidez 
(Crocco and Santos 2006). Considerando o crédito total como uma percentagem do 
PIB, Brasil apresentava um das mais baixas relações no mundo (em torno de 35% 
em 2005), enquanto a mesma relação para os Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul 
e Chile atingia, respectivamente, 249,2%; 99,5%; 98,2% e 63,1% no mesmo ano 
(World Development Indicators 2006). No caso brasileiro, 48% do crédito de 
longo-prazo para investimentos produtivos é oferecido pelo BNDES, enquanto 
34% por bancos privados nacionais e 19% por bancos estrangeiros. 
II.2 ATUAÇÃO REGIONAL DO SISTEMA BANCÁRIO 
Tendo como pano de fundo a reestruturação do sistema bancário brasileiro 
descrito acima, passa-se agora a uma análise da atuação regional do sistema 
bancário brasileiro no período que vai de 1994 até o presente.45 
Um primeiro efeito do processo de reestruturação descrito foi o 
fechamento, fusões e aquisições de bancos concomitante com a redução do número 
total de agências e a realocação espacial de várias destas em detrimento das áreas 
mais pobres do país. Como mostra a Tabela 1, entre 1994 e 2008, o número de 
bancos em operação no país caiu de 246 para 159, significando uma redução de 
36%. 
Ano Número Ano Número
1994 246 2002 167
1995 242 2003 165
1996 231 2004 164
1997 217 2005 161
1998 203 2006 159
1999 193 2007 156
2000 192 2008 159
2001 182 - -
Fonte: Banco Central do Brasil
Eevolução do Número de Bancos no Brasil
1990-2008
Tabela 1
 
 
45 O ano final do período a ser considerado será 2008. No entanto, algumas análises serão efetuadas para 
períodos que se encerram em 2006 ou 2007, tendo em vista a disponibilidade de informações para algumas 
variáveis utilizadas, tais como o PIB municipal, entre outros. 
 
 
108
A Tabela 2, por sua vez, fornece a perspectiva regional deste processo de 
reestruturação. Embora tenha ocorrido um aumento no número absoluto de 
agências bancárias, existiu uma clara tendência de concentração de agências na 
região Sudeste, a mais desenvolvida do país. Durante o período em análise, a 
participação relativa desta região no total de agências cresceu às custas das demais 
regiões particularmente do Nordeste. 
É importante notar que o processo de reestruturação bancária 
praticamente eliminou os bancos regionais, que eram aqueles mais vulneráveis 
financeiramente. Como será visto adiante, em decorrência deste fato, em várias 
regiões ocorreu um aumento da restrição de credito com sérias conseqüências 
para o seu desenvolvimento. 
Dessa forma, embora possa ser identificada uma estratégia mais geral, 
comum a todos os bancos, como resposta ao processo de reestruturação, o impacto 
regional desta estratégia foi heterogêneo. A hipótese aqui defendida é que esta 
heterogeneidade é o resultado de distintas estratégias regionais dos bancos, como 
será mostrado à diante. 
Para capturar estas estratégias diferenciadas no território, doze indicadores 
foram utilizados nesta tese. Para facilitar o entendimento de cada um destes, a 
análise foi efetuada a partir do agrupamento deles em 4 categorias: peso do 
sistema bancário na economia local; gestao do ativo; gerenciamento do passivo; e, 
por fim, comportamento do público e exclusão financeira. 
 
 
109
Tabela 2: 
Distribuição Regional das Agências no Brasil 1994-2008 
 
Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil Valor % Reg. % Brasil
DF 202 16,04 1,31 227 17,37 1,38 245 20,64 1,55 257 21,60 1,58 288 22,88 1,70 303 23,25 1,76 313 23,17 1,74 326 22,94 1,72
GO 517 41,06 3,34 559 42,77 3,41 528 44,48 3,34 510 42,86 3,13 540 42,89 3,18 543 41,67 3,15 566 41,89 3,14 583 41,03 3,07
MS 266 21,13 1,72 277 21,19 1,69 212 17,86 1,34 215 18,07 1,32 218 17,32 1,28 223 17,11 1,29 227 16,80 1,26 233 16,40 1,23
MT 274 21,76 1,77 244 18,67 1,49 202 17,02 1,28 208 17,48 1,28 213 16,92 1,25 234 17,96 1,36 245 18,13 1,36 279 19,63 1,47
Centro-Oeste 1.259 100,00 8,14 1.307 100,00 7,96 1.187 100,00 7,50 1.190 100,00 7,31 1.259 100,00 7,41 1.303 100,00 7,57 1.351 100,00 7,50 1.421 100,00 7,48
AL 130 5,25 0,84 148 5,71 0,90 108 4,62 0,68 106 4,57 0,65 112 4,69 0,66 123 4,93 0,71 125 4,88 0,69 147 5,27 0,77
BA 801 32,32 5,18 781 30,13 4,76 727 31,12 4,60 724 31,22 4,45 725 30,33 4,27 745 29,86 4,33 761 29,74 4,22 805 28,88 4,24
CE 328 13,24 2,12 359 13,85 2,19 329 14,08 2,08 321 13,84 1,97 339 14,18 2,00 359 14,39 2,08 369 14,42 2,05 425 15,25 2,24
MA 264 10,65 1,71 267 10,30 1,63 244 10,45 1,54 241 10,39 1,48 247 10,33 1,45 225 9,02 1,31 226 8,83 1,25 245 8,79 1,29
PB 162 6,54 1,05 176 6,79 1,07 148 6,34 0,94 147 6,34 0,90 151 6,32 0,89 170 6,81 0,99 173 6,76 0,96 204 7,32 1,07
PE 425 17,15 2,75 470 18,13 2,86 408 17,47 2,58 411 17,72 2,52 433 18,12 2,55 470 18,84 2,73 480 18,76 2,66 514 18,44 2,71
PI 101 4,08 0,65 109 4,21 0,66 108 4,62 0,68 101 4,36 0,62 105 4,39 0,62 113 4,53 0,66 116 4,53 0,64 121 4,34 0,64
RN 111 4,48 0,72 128 4,94 0,78 122 5,22 0,77 124 5,35 0,76 130 5,44 0,77 134 5,37 0,78 148 5,78 0,82 158 5,67 0,83
SE 156 6,30 1,01 154 5,94 0,94 142 6,08 0,90 144 6,21 0,88 148 6,19 0,87 156 6,25 0,91 161 6,29 0,89 168 6,03 0,88
Nordeste 2.478 100,00 16,02 2.592 100,00 15,79 2.336 100,00 14,77 2.319 100,00 14,25 2.390 100,00 14,07 2.495 100,00 14,49 2.559 100,00 14,20 2.787 100,00 14,67
AC 39 6,04 0,25 36 5,49 0,22 23 4,17 0,15 24 4,74 0,15 25 4,31 0,15 31 4,82 0,18 35 4,98 0,19 36 4,93 0,19
AM 124 19,20 0,80 124 18,90 0,76 119 21,60 0,75 120 23,72 0,74 130 22,41 0,77 132 20,53 0,77 147 20,91 0,82 156 21,37 0,82
AP 16 2,48 0,10 16 2,44 0,10 14 2,54 0,09 13 2,57 0,08 16 2,76 0,09 23 3,58 0,13 27 3,84 0,15 29 3,97 0,15
PA 272 42,11 1,76 268 40,85 1,63 246 44,65 1,56 247 48,81 1,52 251 43,28 1,48 272 42,30 1,58 299 42,53 1,66 309 42,33 1,63
RO 94 14,55 0,61 94 14,33 0,57 72 13,07 0,46 23 4,55 0,14 74 12,76 0,44 88 13,69 0,51 89 12,66 0,49 92 12,60 0,48
RR 19 2,94 0,12 20 3,05 0,12 13 2,36 0,08 13 2,57 0,08 14 2,41 0,08 17 2,64 0,10 19 2,70 0,11 19 2,60 0,10
TO 82 12,69 0,53 98 14,94 0,60 64 11,62 0,40 66 13,04 0,41 70 12,07 0,41 80 12,44 0,46 87 12,38 0,48 89 12,19 0,47
Norte 646 100,00 4,18 656 100,00 4,00 551 100,00 3,48 506 100,00 3,11 580 100,00 3,41 643 100,00 3,73 703 100,00 3,90 730 100,00 3,84
ES 266 3,40 1,72 300 3,57 1,83 279 3,32 1,76 282 3,17 1,73 306 3,28 1,80 319 3,43 1,85 369 3,76 2,05 384 3,73 2,02
MG 1.632 20,87 10,55 1.823 21,68 11,11 1.764
20,97 11,15 1.770 19,89 10,87 1.848 19,83 10,88 1.831 19,69 10,63 1.857 18,94 10,31 1.914 18,60 10,08
RJ 1.303 16,66 8,43 1.388 16,51 8,46 1.415 16,82 8,94 1.554 17,46 9,55 1.658 17,79 9,76 1.618 17,40 9,40 1.700 17,34 9,44 1.779 17,29 9,37
SP 4.620 59,07 29,88 4.897 58,24 29,84 4.956 58,90 31,33 5.292 59,47 32,51 5.508 59,10 32,42 5.530 59,48 32,11 5.877 59,95 32,62 6.211 60,37 32,70
Sudeste 7.821 100,00 50,58 8.408 100,00 51,23 8.414 100,00 53,19 8.898 100,00 54,66 9.320 100,00 54,85 9.298 100,00 53,99 9.803 100,00 54,41 10.288 100,00 54,17
PR 1.223 37,52 7,91 1.258 36,46 7,66 1.224 36,75 7,74 1.243 36,94 7,64 1.272 36,96 7,49 1.246 35,78 7,24 1.284 35,65 7,13 1.340 35,58 7,06
RS 1.301 39,91 8,41 1.398 40,52 8,52 1.332 39,99 8,42 1.341 39,85 8,24 1.368 39,74 8,05 1.407 40,41 8,17 1.463 40,62 8,12 1.530 40,63 8,06
SC 736 22,58 4,76 794 23,01 4,84 775 23,27 4,90 781 23,21 4,80 802 23,30 4,72 829 23,81 4,81 855 23,74 4,75 896 23,79 4,72
Sul 3.260 100,00 21,08 3.450 100,00 21,02 3.331 100,00 21,06 3.365 100,00 20,67 3.442 100,00 20,26 3.482 100,00 20,22 3.602 100,00 19,99 3.766 100,00 19,83
Brasil 15.464 100,00 16.413 100,00 15.819 100,00 16.278 100,00 16.991 100,00 17.221 100,00 18.018 100,00 18.992 504,30 100,00
Fonte: LEMTe/CEDEPLAR
2006 20082002 20041998 20001994 1996
 
110 
 
 
Antes de proceder a análise, uma consideração deve ser feita em relação aos 
dados da região Centro-Oeste. Como se sabe, esta região abriga no seu interior a 
capital do país, Brasília. Este fato impacta os dados coletados por razões políticas 
que devem ser consideradas. Em primeiro lugar, a sede dos dois maiores bancos 
públicos do país estão ali localizadas, a saber, Banco do Brasil e Caixa Econômica 
Federal. Em segundo lugar, todas as operações bancárias relacionadas à 
administração federal estão concentradas nesta cidade. Estes dois fatores 
interferem nos balancetes das agências bancárias ali localizadas, fazendo com que 
os indicadores desta região sejam influenciados não apenas por fatores 
econômicos, mas também pelo fator político. Em função disto, na análise que se 
segue os dados relativos à região Centro-Oeste serão apresentados sem a cidade de 
Brasília. 
 
II.2.1 INDICADORES DE ESCALA DO SISTEMA BANCÁRIO 
 
Dois indicadores de escala do sistema financeiro na economia local são 
utilizados, a saber: 
• Ativo Total / PIB: este indicador mede o tamanho relativo do sistema 
bancário em relação à economia local; 
• Ativo Total / População: possui o mesmo significado do anterior, 
porém utiliza a população como medida do tamanho de uma região; 
Como mostrado anteriormente, existe uma extensa literatura que estuda a 
relação entre sistema financeiro e crescimento econômico, o chamado nexo 
finanças – crescimento (finance-growth nexus). Entre os vários indicadores usados 
para mensurar este nexo, os dois acima citados são comumente utilizados e 
considerados como proxies do grau de desenvolvimento do sistema financeiro, 
principalmente na literatura Novo – Keynesiana (Levine 2004, entre outros). No 
entanto, a perspectiva aqui adotada difere deste porque entende que o 
 
111 
 
desenvolvimento do sistema financeiro deve ser medido não pelo seu tamanho, 
mas sim por sua funcionalidade. Esta última pode ser definida como a capacidade 
do setor financeiro em suprir as necessidades de financiamento do setor real da 
economia sem se colocar em risco (Studart 1999) 46. Esta não é uma diferença 
pequena, pois é possível que o sistema bancário possua um total de ativo elevado 
em relação ao PIB, mas que parcela significativa deste ativo esteja alocada no 
circuito financeiro e não no circuito produtivo. Ou seja, é possível admitir que este 
indicador seja uma proxy não do desenvolvimento, mas sim do aprofundamento 
(deepening) do sistema bancário, i.e. de sua escala e/ou escopo. 
Os dados mostram um padrão muito claro: o peso do sistema bancário é 
relativamente maior em regiões mais desenvolvidas em comparação com as menos 
desenvolvidas (Tabela 3). A região Sudeste teve o maior valor deste indicador 
durante todo o período. Por outro lado, a região mais pobre, Norte, apresentou o 
menor resultado no mesmo período. As regiões Sul e Nordeste alternaram seus 
respectivos ranqueamentos durante os anos. Até 1997 o peso da região Nordeste 
era maior que o observado para a região Sul, após 1998, a situação se inverte. A 
redução do valor do indicador para a região Nordeste ocorreu devido à brusca 
redução do valor do total dos ativos bancários, refletindo o processo de 
reestruturação do sistema bancário durante os anos 1990s. Como pode ser visto na 
Tabela 2, a redução no número de agências bancárias na região Nordeste foi muito 
mais acentuada do que a observada para a região Sul. 
Do que foi dito anteriormente, pode-se afirmar que a região Sudeste foi, de 
longe, a grande beneficiada, em termos da relação Ativo Total / PIB, com o 
processo de reestruturação do sistema bancário no Brasil 
O processo de concentração bancária no SE também é observado quando se 
utiliza o indicador Ativo Total / População. De fato, o referido processo fica ainda 
mais evidente, uma vez que o valor obtido por esta região, fica cerca de 20 vezes 
maior que o observado para a região Norte, a menos desenvolvida (Tabela 4). 
 
 
46 Ver Studart (1999) para uma discussão detalhada sobre funcionalidade do sistema financeiro. 
 
112 
 
Tabela 3 
Ativo Total / PIB, 1994-2006 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Brasil
1994 2,43 0,49 0,57 0,23 1,42 1,14
1995 9,48 0,81 0,84 0,63 1,58 1,76
1996 6,61 1,49 1,12 0,56 1,48 1,58
1997 5,28 0,79 1,12 0,61 1,70 1,65
1998 3,16 0,47 0,62 0,36 2,14 2,04
1999 3,09 0,51 0,62 0,46 1,67 1,41
2000 3,48 0,73 0,62 0,44 1,71 1,46
2001 3,46 0,48 0,68 0,50 1,96 1,64
2002 2,73 0,42 0,66 0,52 1,85 1,55
2003 2,56 0,35 0,58 0,43 1,71 1,42
2004 2,56 0,34 0,55 0,36 1,69 1,40
2005 2,33 0,37 0,56 0,31 1,78 1,45
2006 2,41 0,36 0,52 0,30 1,76 1,44
2007 2,82 0,28 0,51 0,32 2,57 1,89
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
Tabela 4 
Ativo Total / População, 1994-2007 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 19014,86 3046,14 2185,87 1359,60 16549,73 5464,14 9862,30
1995 81228,00 5606,01 3672,69 3848,56 21132,94 8738,95 17061,29
1996 60826,19 10872,56 5214,60 3547,88 20278,97 9257,95 15853,13
1997 50500,55 5815,85 5365,54 3753,63 24179,94 10096,77 17023,46
1998 32884,68 3532,69 2962,67 2217,55 30189,33 34137,16 21175,84
1999 30391,03 3897,17 3013,01 2825,76 23678,48 9093,02 14583,83
2000 37919,71 5898,41 3140,64 2868,05 24938,13 9567,26 15755,59
2001 39009,87 4037,45 3456,58 3344,21 28502,07 11389,89 17754,64
2002 41695,89 4478,01 3738,19 3801,94 29841,26 12657,92 18823,09
2003 39525,99 3917,50 3170,41 3108,21 26877,68 11494,42 17035,21
2004 41933,07 4023,41 3196,86 2831,51 27991,84 12254,19 17785,91
2005 37746,35 4212,14 3397,77 2500,37 30464,55 13038,63 18697,43
2006 39940,79 4062,24 3336,87 2507,93 31777,25 13157,25 19421,09
2007 51719,03 3675,54 3520,64 2772,18 50668,76 11771,22 28079,48
Fonte: LEMTe/CEDEPLAR 
A primeira conclusão a que se chega é que o processo de reestruturação 
bancária dos anos 1990s e 2000s significou um aumento do aprofundamento do 
sistema bancário (banking deepening) para as regiões mais desenvolvidas e uma 
redução deste nas regiões menos desenvolvidas. 
II.2.2 INDICADORES DE GESTÃO DO ATIVO 
O segundo conjunto de indicadores aqui analisado busca captar em que 
medida a forma de gestão do ativo das agências bancárias é influenciada por 
questões regionais. Para esta análise são utilizados sete indicadores, a saber: 
• Preferência pela Liquidez das Agências Bancárias (PLB): ela mede a
disposição da agência bancária em se tornar mais ilíquida, através do 
fornecimento do crédito, sendo calculada através da razão entre o 
 
113 
 
item do passivo mais liquido (depósitos a vista) e o mais ilíqüido 
item do ativo (crédito concedido). Quanto maior este indicador, 
maior a preferência pela liqüidez da agência bancária (ou menor a 
disposição em emprestar e se tornar mais ilíqüido) (Crocco et al 
2005-6).47 
• Lucro sobre ativo: é a razão entre o total de lucro auferido pela 
agência bancária em relação ao total do ativo desta agência. Ele 
indica a capacidade do sistema bancário em transformar seus ativos 
em lucro; 
Seis outros indicadores procuram medir o peso dos diferentes tipos de créditos 
concedidos em relação ao total do ativo. É esperado que distintas características 
econômicas das regiões determinem a predominância de distintos tipos de crédito. 
Estes indicadores são: 
• Distribuição regional do crédito: Considera a participação relativa de 
cada região no crédito total do Brasil; 
• Quociente Regional de Crédito: É a razão entre a participação relativa da 
região no total de volume de crédito concedido no país e a participação 
relativa da mesma região no total do PIB do pais. 48 Se esta razão for 
maior do que 1, a concessão de crédito na região é maior do que se 
poderia esperar em função do seu PIB; 
• Racionamento de Crédito: Estima o volume de crédito que uma região 
necessitaria de ter a mais para que a sua participação relativa no total 
de crédito do país seja igual à participação sua participação relativa no 
PIB. 
 
47 O fato da abordagem aqui adotada em relação à oferta de moeda afirmar que a concessão de crédito não é 
limitada pelo volume das reservas (visão estruturalista da oferta de moeda), não significa dizer que não 
existem custos para o banco se tornar ilíqüido. Assume-se que existe um custo, quer seja em recorrer ao Banco 
Central para a obtenção de empréstimos de liquidez (no caso de um banco como um todo), quer seja em 
recorrer à matriz para um socorro de tesouraria (no caso de uma agência bancária). O indicador de preferência 
pela liquidez proposto capta justamente em que medida a agência bancária está disposta a incorrer neste 
custo. 
48 Este indicador é uma versão modificada do quociente locacional, amplamente utilizado na literature de 
economia regional. 
 
114 
 
• Crédito Total / Ativo total: mede a proporção do crédito concedido em 
relação ao total do ativo. É de se esperar que quanto maior a preferência 
pela liquidez das agências menor o valor deste indicador; 
• Títulos e Valores Imobiliários / Ativo Total: este indicador capta o total 
de operações das agências bancárias com títulos e valores imobiliários 
sobre o total do ativo. Como este tipo de ativo é de elevada liquidez, 
quando comparado com a concessão de crédito, é esperado que uma 
maior preferência pela liquidez dos bancos em uma região implique em 
um maior peso de títulos e valores mobiliários em relação ao total de 
ativos. 
• Provisão para Créditos em Liquidação / Crédito Total e Créditos em 
Liquidação / Crédito Total: É a medida da qualidade do crédito em uma 
região específica. É a razão entre o total de dinheiro que as agências 
devem reservar em função da expectativa de inadimplência e o total do 
crédito concedido. Quanto menor este indicador melhor a qualidade do 
crédito concedido.49 
O valor comparativo destas variáveis pode indicar se o sistema bancário 
possui ou não uma administração de ativo funcional. Vale lembrar que o termo 
“funcional”aqui significa que o sistema bancário atende a demanda de crédito das 
atividades produtivas sem por em risco o sistema como um todo. Este seria o caso 
para todos os tipos de crédito, com exceção de Títulos e Valores Mobiliários. Da 
mesma forma, valores elevados do indicador Quociente Regional de Crédito, em 
conjunto com baixos valores de Preferência pela Liquidez e Provisão para Créditos 
em Liquidação, também indicam a existência de um gerenciamento do ativo 
funcional. 
 
 
 
 
49 Até o ano de 2000 a medida contábil de qualidade do crédito concedido exigida pelo Banco Central do Brasil 
era denominada Provisão para Devedores Duvidosos. Após o ano de 2000, o BACEN muda a regulamentação e 
esta medida passa a ser denominada Créditos em Liquidação. 
 
115 
 
II.2.2.1 PREFERÊNCIA PELA LIQÜIDEZ DAS AGÊNCIAS BANCÁRIAS 
A Preferência Pela Liquidez das Agências Bancárias (PLB) mede a 
disposição de uma agência em conceder crédito e se colocar em uma posição mais 
ilíqüida. A Tabela 5 abaixo mostra a evolução deste indicador para o período em 
análise. 
 
TABELA 5 
Preferência pela Liquidez dos Bancos, 1994-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 0,06 0,07 0,08 0,23 0,05 0,06 0,06
1995 0,07 0,06 0,07 0,21 0,06 0,05 0,06
1996 0,07 0,06 0,11 0,03 0,05 0,06 0,06
1997 0,06 0,06 0,12 0,12 0,08 0,11 0,09
1998 0,07 0,13 0,18 0,15 0,09 0,11 0,10
1999 0,06 0,16 0,16 0,27 0,09 0,12 0,10
2000 0,09 0,18 0,16 0,31 0,10 0,13 0,11
2001 0,12 0,20 0,19 0,35 0,10 0,16 0,12
2002 0,19 0,25 0,27 0,47 0,11 0,19 0,14
2003 0,17 0,21 0,27 0,42 0,12 0,18 0,14
2004 0,18 0,20 0,27 0,41 0,13 0,18 0,15
2005 0,15 0,18 0,29 0,38 0,13 0,17 0,15
2006 0,15 0,17 0,27 0,36 0,13 0,16 0,15
2007 0,15 0,18 0,27 0,35 0,12 0,17 0,14
2008 0,14 0,17 0,25 0,33 0,10 0,14 0,12
Fonte: LEMTe/CEDEPLAR 
A Tabela permite duas conclusões. Em primeiro lugar, ela confirma a 
hipótese Pós-Keynesiana, formulada por Dow (1993), segundo a qual, a 
preferência pela liqüidez tende a ser maior em regiões menos desenvolvidas. Por 
outro lado, nas regiões mais desenvolvidas as agências bancárias demonstram uma 
maior disposição em conceder crédito. Tanto a maior diversificação da estrutura 
produtiva (e, dessa forma, as oportunidades de negócios), quanto o nível de renda 
mais elevado (associado com uma menor preferência pela liqüidez do público) 
ajudam a explicar o comportamento observado das agências bancárias. A tabela 
mostra que a região Norte – a menos desenvolvida – apresenta a mais alta 
preferência pela liqüidez e a região Sudeste a menor. 
Em segundo lugar, como mostra o Gráfico 1, o indicador apresenta uma 
trajetória similar em todas as regiões. A partir de 1994, quando o plano de 
estabilização foi lançado, até 1999, quando a âncora monetária deixa de existir 
devido à crise do balanço de pagamentos daquele ano, o gráfico mostra dois 
padrões distintos: uma queda inicial da PLB de curto período, associado os efeitos 
 
116 
 
renda / riqueza do processo de estabilização monetária; e, de 1996 em diante, uma 
reversão desta tendência, refletindo não somente as dificuldades experimentada 
pelos bancos durante a crise Mexicana, mas também as medidas de 
regulamentação e reestruturação imposta pelo governo. Como discutido 
anteriormente, as estratégias bancárias se alteram neste período, tornando-se 
mais avessas ao risco, focada na eficiência de curto-prazo e na lucratividade. 
Além disso, o PROES e o PROER determinaram um alinhamento das 
estratégias bancárias de uma forma geral. Em primeiro lugar, a maioria dos bancos 
regionais e de desenvolvimento públicos foram privatizados ou fechados, 
enquanto que aqueles que sobreviveram tiveram que aderir às normas e padrões 
de desempenho dos bancos privados. Em segundo lugar, a combinação de taxas de 
juros elevadas com sobrevalorização cambial (até 1999) e a considerável 
instabilidade econômica, atestada pelas crises cambiais dentro e fora do Brasil até 
2003, determinaram um comportamento de aversão ao risco por
parte dos bancos, 
que preferiram se refugiar em títulos governamentais, lucrativos e de baixo risco, 
do que desempenhar a função, essencial para o desenvolvimento do pais, de 
fornecedor de crédito de investimento de longo – prazo. 
 
GRÁFICO 1 
 
117 
 
 
Somente em 2003, esta trajetória é alterada com a PLB declinando pari 
passu com a estabilidade econômica e os vários estímulos para o crescimento e 
expansão do crédito. Esta tendência de inflexão da preferência pela liqüidez foi 
observada principalmente nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste, embora com 
menor intensidade. Este movimento pode ser atribuído à melhoria dos indicadores 
econômicos (como as taxas de crescimento do PIB, menor nível de desemprego e 
elevação de renda, por exemplo) que foram observados a partir de 2004. 
 
II.2.2.2 DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DE CRÉDITO, QUOCIENTE REGIONAL DE 
CRÉDITO E RACIONAMENTO DE CRÉDITO 
O próximo indicador analisado é a distribuição regional do crédito, 
mostrada na Tabela 6. Como pode ser visto, a característica mais marcante 
observada é o elevado grau de concentração desta distribuição. Durante todo o 
período considerado a participação relativa da região Sudeste esteve acima de 
60%. Entre 1994 e 1998, observa-se que esta participação relativa flutuou entre 
62% e 67%. Entre 1998 e 2002, evidencia-se uma clara tendência de concentração, 
com a participação relativa máxima de 74%. Deste ano em diante, o grau de 
concentração apresenta uma leve redução, caindo para 71,8% em 2008. Como era 
esperado, as demais regiões apresentaram um comportamento oposto. Deve ser 
salientado o fato das participações relativas das regiões Norte e Nordeste nunca 
terem ultrapassados a marca dos 10%. 
A concentração da distribuição do crédito também é analisada por Crocco e 
Santos (2006). Estes autores chamam a atenção para o fato de que o processo de 
industrialização em regiões periféricas foi amplamente estimulada por incentivos 
governamentais. Devido a este fato, muitas filiais de firmas industriais, cujas sedes 
estão originalmente localizadas em regiões centrais (principalmente Sudeste), 
foram direcionadas para estas regiões. Este padrão reforça a concentração de 
crédito, dado que as operações de empréstimos normalmente acontecem na região 
onde se localizam as matrizes. 
 
 
118 
 
TABELA 6 
Distribuição Relativa do Crédito 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 10,80 3,81 8,74 1,28 66,58 12,60 100
1995 11,00 4,63 9,90 1,13 61,82 16,15 100
1996 9,35 4,11 6,91 8,45 63,84 11,44 100
1997 14,81 6,61 9,13 2,77 63,20 10,09 100
1998 15,84 3,53 7,84 2,62 62,12 11,58 100
1999 16,24 2,76 7,76 1,30 63,03 11,68 100
2000 13,37 2,76 8,10 1,29 65,82 11,42 100
2001 10,91 2,79 7,30 1,22 69,56 11,02 100
2002 8,31 2,83 6,07 1,11 73,67 10,84 100
2003 9,48 3,43 5,94 1,21 71,52 11,85 100
2004 9,42 3,78 6,11 1,33 70,31 12,82 100
2005 10,10 3,94 5,97 1,49 69,55 12,89 100
2006 9,98 3,80 6,00 1,55 69,57 12,90 100
2007 8,66 3,46 5,47 1,49 72,48 11,90 100
2008 8,88 3,31 5,44 1,41 71,81 12,47 100
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
Pode ser argumentado que os resultados descritos acima apenas seguem o 
peso econômico de cada região na estrutura produtiva brasileira. De fato, é 
esperado que a maior parcela na distribuição do crédito esteja alocada em regiões 
que possuam um maior peso no PIB do país, tendo em vista a maior demanda de 
crédito destas regiões. 
No entanto, duas considerações devem ser feitas. Em primeiro lugar, as 
tabelas 3 e 6 acima, quando analisadas em conjunto, descortinam uma importante 
característica acerca da funcionalidade do sistema bancário brasileiro. Como pode 
ser observado, o peso do setor bancário na região Sudeste é entre uma e meia e 
duas vezes maior comparativamente às demais regiões. Por outro lado, a 
participação relativa da região Sudeste na distribuição do crédito é mais do que 
cinco vezes maior do que o observado nas demais regiões. Esta comparação 
enfraquece o argumento de que a distribuição espacial do crédito seria um mero 
espelho da estrutura produtiva. 
Em segundo lugar, para clarear esta discussão e analisá-la mais 
adequadamente foi construído um outro indicador denominado Quociente 
Regional de Crédito (Crocco e Santos, 2006), definido de acordo com a equação 
abaixo:. 
 
119 
 
QRCi =
CREDi
CREDbr
PIBi
PIBbr
 (I) 
onde: QRCi = É o quociente regional de crédito da região i; 
 iCRED = crédito para a região “i”; 
 brCRED = o crédito total do Brasil; 
 iPIB = o PIB50 da região “i” 
 brPIB = o PIB do Brasil. 
A evolução do QRC é mostrada na Tabela 7 abaixo. É evidente que, durante 
todo o período analisado, as regiões Norte, Nordeste e Sul apresentaram uma 
participação relativa na distribuição do crédito inferior às suas respectivas 
contribuições ao PIB51. Por outro lado, o contrário pode ser observado para a 
região Sudeste e Centro-Oeste. 
 
TABELA 7 
Quociente Regional de Crédito 1994-2007 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 1,77 0,92 0,68 0,26 1,16 0,67 1,00
1995 1,84 1,18 0,77 0,25 1,05 0,90 1,00
1996 1,54 1,04 0,52 1,90 1,10 0,63 1,00
1997 2,37 1,67 0,70 0,66 1,08 0,57 1,00
1998 2,32 0,86 0,60 0,61 1,07 0,66 1,00
1999 2,52 0,66 0,59 0,31 1,08 0,66 1,00
2000 1,92 0,65 0,62 0,29 1,14 0,65 1,00
2001 1,51 0,63 0,56 0,27 1,22 0,62 1,00
2002 0,95 0,57 0,47 0,26 1,30 0,64 1,00
2003 1,05 0,65 0,47 0,28 1,28 0,67 1,00
2004 1,03 0,69 0,48 0,29 1,26 0,74 1,00
2005 1,14 0,77 0,46 0,33 1,23 0,78 1,00
2006 1,15 0,77 0,46 0,33 1,23 0,79 1,00
2007 0,98 0,68 0,42 0,32 1,28 0,71 1,00
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
Estes fatos permitem argumentar que a concentração de crédito é também 
resultado de estratégias bancárias diferenciadas territorialmente, influenciadas 
por distintas preferências pela liqüidez entre as regiões. Nas menos desenvolvidas, 
em virtude da menor dinâmica da economia local, as agências bancárias estão 
 
50 Os dados relativos ao PIB dos municípios foram extraídos do site http://www.ipeadata.gov.br e foram 
elaborados pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 
51 A única exceção é a região Norte em 1997. Este dado pode ser explicado por fatos isolados, como, por 
exemplo, a privatização da Cia Elétrica do Pará e os investimentos em mineração em Carajás. 
 
120 
 
menos dispostas a fornecer crédito resultando em uma concentração de suas 
operações de crédito em regiões mais desenvolvidas. 
Vale notar também que mesmo entre as regiões que apresentaram um valor 
para o QRC menor que 1 existe uma grande diferença nos valores observados. A 
região Norte apresentou valores que giraram em torno de 0,3 (com as exceções dos 
anos de 1996, 1997 e 1998). Já para a região Sul estes valores giraram em torno de 
0,7. O resultado perverso deste quadro é o agravamento das disparidades 
regionais. 
O uso do QRC permite que se tenha uma dimensão do tamanho do 
Racionamento de Crédito em cada região. Para se chegar a este valor calculou-se 
primeiramente o montante de crédito necessário para que determinada região 
receba um volume de crédito exatamente proporcional ao peso do seu PIB em 
relação ao Brasil. Sendo assim assumimos o componente da Equação I iCRED 
como uma variável (
^
iCRED ), e igualamos o iIRC a 1 (um) formando, assim, a 
Equação II: 
1
^
=
br
i
i
PIB
PIB
CRED
CRED
br (II) 
Com o cálculo do iCRED
∧
, podemos mensurar o Racionamento de Crédito 
Regional (RCR) para cada região,
sendo o mesmo a diferença entre o iCRED
∧
e o 
iCRED . 
 
RCRi = CREDi − CRE
∧
Di (III) 
Os valores do Racionamento de Crédito Regional são mostrados na Tabela 8 
abaixo, Como pode ser observado, todas as regiões apresentam racionamento de 
crédito, com exceção da região Sudeste. Algumas observações fazem-se 
necessárias. 
Em primeiro lugar, a despeito do fato da região Norte ser a menos 
desenvolvida, ela não apresenta os maiores valores de racionamento de crédito. 
 
121 
 
Para o período analisado o racionamento médio foi de R$ 14.648.000,00. Este valor 
médio de racionamento é bastante inferior aos apresentados pelas regiões 
Nordeste e Sul (34.788,88 e 31.387,69 mil reais, respectivamente). Este resultado 
pode ser explicado pelo própria dimensão das respectivas economias regionais. 
Como a dinâmica econômica da região Norte é menor, então as oportunidades de 
investimentos seriam menores e, não sendo atendidas, o racionamento de crédito 
menor. Por outro lado, como as regiões Nordeste e Sul apresentam estruturas 
produtivas maiores, então o racionamento de crédito será maior. 
 
TABELA 8 
Racionamento de Crédito Regional 1994-2007 (R$ 1. 000,00) 
 
Em segundo lugar, para todas as regiões existe um padrão similar de 
comportamento bancário no decorrer dos anos. Se dividirmos o período em 
análise em três (1994 – 1999; 2000 – 2002 e 2003 - 2007) este padrão fica claro. 
Entre o primeiro e o segundo sub-períodos ocorre uma diminuição do 
racionamento, enquanto que entre o segundo e o terceiro sub-período ocorre um 
aumento. No caso da região Sudeste ocorre uma redução do superávit de crédito 
em um primeiro momento e um aumento num segundo. 
 
122 
 
É interessante notar que o primeiro e o terceiro sub-períodos acima 
destacados foram de taxas de crescimento da economia superiores à do segundo 
sub – período. Ou seja, em períodos de crescimento econômico no país, o 
racionamento de crédito nas regiões menos desenvolvidas tendem a aumentar, 
enquanto que o superávit aumenta para a região Sudeste. Este resultado é 
interessante, pois evidencia como o crescimento econômico no Brasil é 
concentrador e perverso regionalmente. A hipótese aqui defendida é que este fato 
decorre também de uma ação deliberada do sistema bancário em função do 
comportamento de sua preferência pela liqüidez. 
Finalmente, o QRC e o indicador de Racionamento de Crédito sugerem a 
existência de um paradoxo no desenvolvimento regional associado à 
disponibilidade de crédito, vale dizer, aquelas regiões que mais necessitam de 
crédito para realizar o cathing-up são as mais discriminadas pelo sistema bancário 
na concessão de crédito. 
 
II.2.2.3 LUCRATIVIDADE DAS AGÊNCIAS BANCÁRIAS 
 
O próximo indicador analisado é o Lucro / Ativo Total. Sua evolução 
regional é mostrada na Tabela 952. A análise da mostra que o indicador 
Lucro/Ativo para a região Sudeste apresentou uma relativa estabilidade durante o 
período analisado. A região Sul, por sua vez, experimentou acentuadas flutuações 
até 2002, porém com uma clara tendência de crescimento depois de 1998. Nas 
demais regiões, uma tendência positiva pode ser observada, particularmente após 
1998. Este movimento de crescimento destes anos pode ser parcialmente 
explicado pela crise cambial, que começa em 1998 e levou a aumentos na taxa de 
juros dos títulos governamentais até 45% a.a. no ano de 1999. A política monetária 
estimulou os bancos a investirem nestes títulos. Como será visto mais adiante, a 
aquisição de títulos governamentais pelas agências bancárias aumentou a taxas 
crescentes a partir de 1999, ajudando a melhorar os resultados financeiros, 
particularmente das agências localizadas no Norte e no Nordeste. 
 
52 Para facilitar o entendimento, os valores obtidos na razão Lucro / Ativo Total foram multiplicados por 1.000. 
 
123 
 
 
TABELA 9 
Lucro sobre Ativo Total 1994-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 (3,29) 32,93 2,11 3,80 (0,39) 9,81 0,29
1995 (1,31) 13,69 2,61 0,19 (0,30) 3,48 (0,15)
1996 (2,03) 2,42 0,15 0,25 0,38 0,66 (0,24)
1997 0,49 2,41 (0,06) (0,25) 0,04 0,69 0,18
1998 3,05 5,82 (0,99) 1,67 (0,39) (0,46) (0,05)
1999 2,46 3,46 1,37 1,00 (0,05) 1,38 0,54
2000 1,93 2,32 0,53 0,46 (0,16) (0,13) 0,24
2001 (4,75) 6,66 1,21 3,07 0,45 2,39 (0,08)
2002 (0,19) 5,51 2,01 2,40 0,74 0,71 0,69
2003 (1,01) 7,69 2,17 3,43 0,65 1,49 0,58
2004 (0,66) 8,62 2,64 3,86 0,39 1,85 0,52
2005 (0,12) 9,21 2,62 4,96 0,43 1,83 0,65
2006 (0,28) 9,43 2,90 5,30 0,44 2,21 0,68
2007 (1,24) 10,93 2,64 5,76 0,78 2,65 0,73
2008 (1,62) 9,27 0,51 5,25 0,17 2,26 0,19
Fonte: LEMTe/CEDEPLAR
 
Durante o período em consideração e, principalmente, após a crise cambial 
de 1998-99, as agências bancárias localizadas em regiões menos desenvolvidas 
(Norte e Nordeste) foram relativamente mais lucrativas do que as agências 
localizadas na região Sudeste, a mais desenvolvida. Esta lucratividade mais elevada 
foi não obstante as regiões Norte e Nordeste terem uma participação relativa na 
distribuição do crédito bastante inferior ao seus respectivos pesos no PIB 
brasileiro (QRC) e também apresentarem uma elevada preferência pela liqüidez 
das agências bancárias e do público em geral. Dessa forma, pode-se concluir o 
pequeno peso da intermediação financeira observado em regiões periféricas não 
restringe a capacidade das agências bancárias em gerar lucros.53 Duas razões 
parecem explicar esta característica. Em primeiro lugar, pode-se argumentar que 
em regiões periféricas, devido à sua limitada dinâmica econômica, as agências 
bancárias utilizam critérios mais rigorosos para a concessão de crédito. Desta 
forma, apenas clientes com históricos muito bons de crédito obtém novos 
financiamentos. Com isto, a taxa de inadimplência nestas regiões seria pequena, 
aumentando, portanto, o lucro obtido. Além disso, é esperado que o spread da taxa 
de juros em regiões menos desenvolvidas seja maior devido à tentativa das 
agências bancárias em compensar os riscos envolvidos em conceder crédito nestas 
regiões. 
 
53 É importante notar que as operações de crédito e investimentos em títulos e valores mobiliários não são as 
únicas fontes de lucro para um banco. Nos dias atuais, parcela significativa da receita bancária é oriunda das 
taxas e comissões sobre serviços bancários. No entanto, esta informação não está disponível por região. 
 
124 
 
Em segundo lugar, pode ser argumentado que os custos de operação de 
agências bancárias em regiões menos desenvolvidas são menores 
comparativamente aos das agências localizadas em regiões centrais, em razão da 
demanda menos sofisticadas de produtos. Assim, a demanda local por serviços 
bancários pode ser satisfeita tanto com menor quantidade de pessoal, como com 
mão de obra menos qualificada (ou treinada). 
Este indicador, quando cotejado com os demais já mostrados 
anteriormente, claramente indica a existência de distintas estratégias bancárias em 
cada região. Além disto, ele permite indagar sobre em que medida a eficiência 
microeconômica das agências bancárias está relacionada com a eficiência 
macroeconômica. A hipótese implícita no mainstream econômico é que a eficiência 
microeconômica leva automaticamente tanto a uma alocação ótima de recursos 
quanto à eficiência macroeconômica (Carvalho et. al. 2002). No entanto, como 
mostram os dados, o sistema bancário brasileiro é um exemplo de que este não é o 
caso. Um sistema bancário que é eficiente no nível micro não garante,
por 
definição, grandes volumes de crédito, uma melhor alocação deste, ou um aumento 
na provisão de fundos para as regiões menos favorecidas. Bancos definem suas 
estratégias (operações de empréstimos, investimento em títulos entre outras 
opções) buscando otimizar a relação rentabilidade / liqüidez de seus portfólios. 
Esta decisão é influenciada pelas expectativas em relação ao futuro, que irão 
determinar o grau de preferência pela liqüidez. Desta forma, a lucratividade não é 
associada diretamente à elevados volumes de empréstimos. 
Um melhor entendimento da discussão anterior pode ser obtido quando se 
analisam conjuntamente os indicadores Preferência pela Liqüidez, Racionamento 
de Crédito e Lucro / Ativo. Os gráficos 2, 3, 4 e 5 abaixo mostram esta comparação 
separadamente por região. 54 
 
 
 
 
54 As escalas dos indicadores Lucro / Ativo e Racionamento de Crédito foram alteradas para permitir uma 
melhor comparação entre os indicadores. Além disto, por problemas de escala também não é a apresentado o 
gráfico para a região Centro –Oeste. 
 
125 
 
Gráfico 2 
Região Norte 
Preferência pela Liqüidez, Racionamento de Crédito e Lucro / Ativo 
 
Gráfico 3 
Região Nordeste 
Preferência pela Liqüidez, Racionamento de Crédito e Lucro / Ativo 
 
 
 
126 
 
Os gráficos relativos às regiões Norte e Nordeste, mostram claramente que 
existe uma relação direta entre o comportamento do indicador Lucro / Ativo – que 
mostra uma tendência de crescimento – e os indicadores Preferência pela Liqüidez 
e Racionamento de Crédito – que também crescem. Dito de outra forma, os gráficos 
indicam que quanto menor a disposição em conceder crédito (alta preferência pela 
liqüidez) e maior o racionamento de crédito (fruto também da maior preferência 
pela liqüidez) maior o lucro/ativo das agências bancárias. Isto explicita a não 
funcionalidade do sistema bancário nestas regiões. Além disso, estes dados 
confirmam o argumento acima apresentado de que a eficiência microeconômica 
dos bancos não é sinônimo de eficiência macroeconômica.55 
Já o gráfico 4 abaixo mostra a mesma comparação para a região Sul. A 
mesma relação pode ser encontrada, embora com menor intensidade. Este último 
fato pode ser creditado à maior diversidade da estrutura produtiva que faz com 
que o racionamento de crédito, embora existente, não seja tão intenso. 
 
Gráfico 4 
Região Sul 
Preferência pela Liqüidez, Racionamento de Crédito e Lucro / Ativo 
 
 
 
 
 
55 O termo eficiência macroeconômica é aqui entendido como sinônimo de funcionalidade. Desta forma, ambas 
expressões serão utilizadas de forma alternada. 
 
127 
 
Gráfico 5 
Região Sudeste 
Preferência pela Liqüidez, Racionamento de Crédito e Lucro / Ativo 
Por fim, o Gráfico 5 mostra a evolução destes indicadores para a região 
Sudeste. Neste caso, é possível visualizar duas relações. Em primeiro lugar, a 
relação entre Preferência pela Liqüidez e Racionamento de Crédito continua sendo 
válida. Ou seja, ambas andam na mesma direção. A observação a ser feita, no 
entanto, refere-se ao fato da região Sudeste apresentar superávit de crédito em 
relação ao peso de seu PIB no PIB brasileiro. Desta forma, acréscimos na 
Preferência pela Liqüidez são acompanhados por decréscimos no valor deste 
superávit. Em segundo lugar, a relação entre Lucro / Ativo e Racionamento de 
Crédito é direta. Ou seja, ambos tendem a aumentar simultaneamente. Isto parece 
indicar que somente na região Sudeste o sistema bancário consegue ser funcional. 
O que fica evidente na discussão feita até o momento é o fato do sistema 
bancário no Brasil ter uma atuação diferenciada no território que desempenha um 
papel chave no entendimento da dinâmica regional brasileira. Este papel é um 
forte elemento tanto na consolidação, quanto na ampliação das disparidades 
regionais existentes. 
 
 
 
128 
 
 
II.2.2.4 CRÉDITO TOTAL SOBRE ATIVO, TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 
SOBRE ATIVO E CRÉDITOS EM LIQUIDAÇÃO 
 
Passa-se agora à análise de três indicadores fundamentais dentro da 
estratégia de gerenciamento do ativo de uma agência bancária, a saber: a 
proporção do crédito total concedido no total do ativo; a proporção dos Títulos e 
Valores Mobiliários no total do ativo; e, a proporção da Provisão para devedores 
duvidosos e dos Créditos em Liquidação em relação ao total do crédito concedido. 
Os dois primeiros indicadores permitem entender melhor a funcionalidade do 
sistema bancário de uma região e o último indicador a qualidade do crédito 
concedido. 
Iniciando pelo peso do Crédito Total no total do ativo, observa-se, pela 
Tabela 10, que este indicador apresenta valores comparativamente mais elevados, 
no período de análise, para as regiões menos desenvolvidas (NE e N). Este 
resultado deve ser analisado com cuidado pois pode levar à falsa impressão de que 
nestas regiões o sistema bancário é mais funcional, pois aloca a maior parte de 
seus recursos em operações de crédito. Embora esta última observação seja 
correta (o sistema bancário nas regiões menos desenvolvidas aloca 
proporcionalmente mais recursos para o crédito do que regiões mais 
desenvolvidas), este resultado antes de refletir uma estratégia mais funcional nas 
regiões menos desenvolvidas, reflete uma peculiaridade do sistema bancário 
brasileiro. Este, como será mostrado adiante, é extremamente centralizado, 
concentrando nas sedes todo o recurso destinado às outras aplicações que não a 
concessão de crédito. Dito de outra forma, as agências das regiões menos 
desenvolvidas possuem apenas a liberdade de ofertar crédito. Os demais tipos de 
aplicações do ativo são concentrados nas sedes. O ativo bancário nas regiões 
menos desenvolvidas é extremamente simplificado. Isto explicaria o fato das 
regiões NE e N apresentarem valores para este indicador superior aos valores 
observados na região Sudeste. 
 
129 
 
TABELA 10 
Crédito Total sobre Ativo Total, 1994-2008 
 
TABELA 11 
Títulos e Valores Mobiliários sobre Ativo Total, 1994-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 0,04 0,01 0,04 0,03 0,06 0,04 0,06
1995 0,03 0,00 0,03 0,01 0,07 0,08 0,05
1996 0,03 0,00 0,05 0,01 0,08 0,08 0,07
1997 0,07 0,02 0,04 0,01 0,08 0,09 0,07
1998 0,17 0,04 0,05 0,02 0,08 0,03 0,08
1999 0,24 0,06 0,09 0,04 0,11 0,09 0,13
2000 0,20 0,03 0,09 0,05 0,12 0,09 0,13
2001 0,24 0,03 0,09 0,05 0,11 0,07 0,13
2002 0,33 0,01 0,10 0,09 0,11 0,06 0,13
2003 0,35 0,00 0,10 0,09 0,09 0,06 0,13
2004 0,31 0,01 0,11 0,09 0,08 0,05 0,12
2005 0,33 0,03 0,10 0,09 0,09 0,06 0,12
2006 0,32 0,01 0,08 0,09 0,11 0,06 0,13
2007 0,13 0,00 0,06 0,09 0,12 0,07 0,12
2008 0,12 0,00 0,01 0,09 0,03 0,07 0,03
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
 
Já a Tabela 11 acima mostra a proporção de Títulos e Valores Mobiliários 
sobre o total do ativo. Como esperado, dada as características do sistema bancário 
brasileiro, a região Sudeste apresentou os maiores valores para este indicador em 
todo o período, com a exceção de apenas quatro anos. No entanto, também vale 
notar que os valores observados para as regiões menos desenvolvidas apresentam 
um aumento do peso destas aplicações no ativo total posterior à 1999 (que 
corrobora a redução do peso do crédito no total do ativo). Este fato apenas 
fortalece a pouca funcionalidade da gestão das agencias bancárias em regiões 
menos desenvolvidas. 
 
130 
 
As Tabelas 12 e 13 abaixo tentam captar a qualidade do crédito concedido 
em termos da probabilidade de não ressarcimento por parte dos tomadores de 
crédito. Dois
indicadores são utilizados refletindo a mudança na legislação. 
Existem dois padrões muito evidentes. Até o ano de 2000, a região Sudeste 
apresentou os menores valores comparativamente às demais regiões. As regiões 
menos desenvolvidas apresentaram os maiores valores, podendo indicar 
problemas de avaliação de risco nos procedimentos de concessão de crédito. 
TABELA 12 
Provisão para Créditos em Liquidação 1994-2000 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 (0,02) 0,01 (0,00) (0,00) (0,01) 0,00 (0,01)
1995 (0,09) 0,02 0,00 0,04 (0,00) 0,01 (0,01)
1996 (0,26) 0,07 0,03 0,01 0,01 0,04 (0,01)
1997 (0,21) 0,05 0,04 0,03 0,01 0,05 (0,02)
1998 (0,29) 0,10 0,07 0,06 0,01 0,03 (0,03)
1999 (0,22) 0,16 0,08 0,09 0,00 0,03 (0,02)
2000 (0,09) 0,09 0,05 0,06 0,00 0,02 (0,00)
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
TABELA 13 
Créditos em liquidação sobre Crédito Total 2000-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
2000 0,06 0,03 0,08 0,06 0,04 0,05 0,04
2001 0,07 0,03 0,07 0,05 0,04 0,05 0,05
2002 0,10 0,02 0,10 0,05 0,04 0,04 0,05
2003 0,12 0,01 0,05 0,04 0,05 0,05 0,06
2004 0,15 0,01 0,04 0,03 0,05 0,03 0,05
2005 0,15 0,01 0,03 0,03 0,05 0,03 0,06
2006 0,18 0,01 0,04 0,03 0,05 0,03 0,06
2007 0,15 0,01 0,04 0,02 0,04 0,02 0,05
2008 0,13 0,01 0,04 0,02 0,04 0,02 0,04
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
Após o ano de 2000, observam-se dois fatos. Em primeiro lugar, ocorre uma 
diminuição tanto no diferencial de valores entre regiões, como também uma redução nos 
valores absolutos. Em segundo lugar, os valores observados na região Sudeste passam a 
ser os maiores comparativamente, junto com a região Nordeste. Duas podem ser as 
explicações para estes fatos. Primeiramente, como visto, o processo de reestruturação 
ocorrido nos anos 1990 praticamente eliminou os bancos regionais, concentrando as 
sedes dos bancos nacionais na região Sudeste. Como parte dos empréstimos, 
principalmente os de grandes volumes, são efetuados diretamente nas sedes dos bancos, 
então a contabilização dos créditos em liquidação também apresenta uma concentração na 
 
131 
 
região Sudeste. Em segundo lugar, a mudança de legislação tornou mais rigorosa a 
classificação dos riscos das operações, fazendo com que ocorresse um processo de 
homogeneização de procedimentos. 
 
II.2.3 INDICADORES DE GESTÃO DO PASSIVO 
Um terceiro conjunto de indicadores analisados está relacionado à gestão 
do passivo. Como já salientado, a partir de um determinado momento de sua 
evolução, o sistema bancário passou a ter uma postura ativa em relação ao seu 
passivo, notadamente na obtenção de reservas. Este seria o sexto estágio da 
tipologia oferecida por Chick (1992). Esta estratégia de gestão de passivo seria 
caracterizada pela oferta de uma grande variedade de inovações financeiras, que 
teriam o objetivo tanto de aumentar, quanto de estabilizar o volume de reservas. 
Para tentar captar esta dimensão da atuação dos bancos, três indicadores foram 
elaborados: 
• Depósitos à Vista / Total do Passivo: Os depósitos à vista representam a 
obrigação mais líqüida que o banco possui em seu passivo. Assim, quanto 
maior for este indicador, maior a necessidade do banco possuir reservas. 
Embora as agências bancárias sempre possam recorrer às suas respectivas 
sedes para o suprimento de reservas quando necessário, assume-se neste 
trabalho que esta não é uma opção desejável, uma vez que ela pode indicar 
um mal gerenciamento; 
• Depósitos à prazo / Passivo Total: Os depósitos à prazo representam um 
tipo de depósito que supostamente não será retirado do sistema bancário 
no curto-prazo, uma vez que normalmente existe alguma renumeração 
associada com o tempo com que o depósito fica no banco. Assim, ele 
representa um tipo de passivo com baixo grau de liqüidez, significando que 
os bancos não precisam manter uma elevada proporção de reservas de 
precaução para fazer frente a possíveis retiradas pelos depositantes. No 
caso brasileiro, esta conta representa todas as formas de investimentos 
financeiros feito pelo público, tais como, ações, títulos governamentais, 
fundos de investimentos, etc.; 
• Poupança / Passivo total: Comparativamente com os depósitos à vista e à 
prazo, a poupança pode ser considerada o mais ilíqüido dos itens do 
 
132 
 
passivo, uma vez que ele representa a parcela de recursos da população 
destinada a fazer frente ou a situações inesperadas ou a aumento futuro do 
consumo. Especialmente no caso brasileiro, a poupança é basicamente a 
única forma de investimento financeiro para a população mais pobre, uma 
vez que não requer valor mínimo de recursos necessária para investir. 
Entretanto, comparativamente com outras formas de investimento 
financeiro captados na conta Depósitos a Prazo, a remuneração da 
Poupança e muito baixa. 
Estes três indicadores constituem proxies do gerenciamento do passivo por 
parte da agência bancária. Considera-se que quanto menor o indicador Depósitos a 
vista / Passivo total e quanto maior os outros dois indicadores mais bem sucedido 
está sendo o gerenciamento do passivo da agência, uma vez que tornam menos 
líqüido o passivo. Esta situação será aqui denominada de “forte gerenciamento do 
passivo”. Situações contrárias serão denominadas “fraco gerenciamento do 
passivo”. 
As Tabelas 14, 15 e 16 abaixo mostram a evolução destes indicadores. 
TABELA 14 
Depósito a vista Privado / Passivo Total 1994-2008 
Ano Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 0,01 0,03 0,02 0,06 0,01 0,02 0,01
1995 0,00 0,02 0,02 0,02 0,01 0,02 0,01
1996 0,00 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01
1997 0,01 0,03 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02
1998 0,01 0,06 0,04 0,05 0,01 0,01 0,01
1999 0,01 0,06 0,04 0,04 0,02 0,03 0,02
2000 0,01 0,05 0,04 0,05 0,02 0,03 0,02
2001 0,01 0,08 0,04 0,05 0,02 0,03 0,02
2002 0,02 0,08 0,04 0,05 0,02 0,03 0,02
2003 0,02 0,09 0,05 0,05 0,02 0,03 0,02
2004 0,02 0,10 0,05 0,06 0,02 0,04 0,02
2005 0,02 0,09 0,05 0,08 0,02 0,04 0,02
2006 0,02 0,09 0,06 0,09 0,02 0,04 0,03
2007 0,02 0,13 0,06 0,10 0,02 0,05 0,02
2008 0,02 0,12 0,01 0,10 0,00 0,05 0,01
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
 
 
A Tabela 14 mostra a evolução do indicador Depósitos à Vista / Passivo 
Total. Como pode ser notado, a região Sudeste apresentou durante todo o período 
analisado o menor valor para este indicador. Por outro lado, os maiores valores 
foram observados para as regiões, Norte e Nordeste, respectivamente. Este fato 
demonstra que as regiões menos desenvolvidas não apresentam problemas 
 
133 
 
significativos de captação de reservas e que a tendência do público é manter os 
recursos na forma mais liquida, demonstrando sua maior preferência pela liquidez. 
 
TABELA 15 
Depósitos à Prazo / Passivo Total 1994-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 0,06 0,03 0,11 0,04 0,09 0,11 0,09
1995 0,06 0,02 0,08 0,05 0,11 0,11 0,09
1996 0,04 0,02 0,10 0,05 0,09 0,09 0,08
1997 0,07 0,04 0,09 0,06 0,08 0,09 0,08
1998 0,08 0,09 0,13 0,13 0,07 0,03 0,07
1999 0,09 0,07 0,12 0,11 0,09 0,11 0,09
2000 0,05 0,05 0,10 0,12 0,08 0,11 0,08
2001 0,06 0,07 0,09 0,11 0,07 0,08 0,07
2002 0,05 0,06 0,11 0,08 0,08 0,09 0,08
2003 0,05 0,07 0,12 0,09 0,08 0,10 0,08
2004 0,05 0,07 0,11 0,09 0,09 0,10 0,08
2005 0,07 0,08 0,12 0,11 0,09 0,11 0,09
2006 0,08 0,10 0,14 0,12 0,10 0,13 0,10
2007 0,07 0,13 0,14 0,12 0,07 0,17 0,08
2008 0,09 0,16 0,04 0,13 0,02 0,18 0,03
Fonte:LEMTe/CEDEPLAR 
 
 
TABELA 16 
Depósitos de Poupança sobre Passivo Total 1994-2008 
Anos Centro-Oeste Centro-Oeste sem DF Nordeste Norte Sudeste Sul Brasil
1994 0,03 0,06 0,07 0,07 0,06 0,09 0,06
1995 0,01 0,05 0,07 0,04 0,06 0,09 0,05
1996 0,01 0,02
0,04 0,04 0,06 0,07 0,04
1997 0,01 0,06 0,05 0,06 0,07 0,09 0,06
1998 0,02 0,12 0,12 0,10 0,06 0,03 0,05
1999 0,02 0,12 0,13 0,09 0,08 0,13 0,08
2000 0,02 0,08 0,13 0,09 0,07 0,12 0,07
2001 0,02 0,12 0,12 0,08 0,06 0,10 0,06
2002 0,02 0,12 0,12 0,07 0,05 0,10 0,06
2003 0,02 0,12 0,13 0,08 0,05 0,10 0,06
2004 0,02 0,13 0,13 0,09 0,05 0,10 0,05
2005 0,02 0,12 0,13 0,11 0,05 0,09 0,05
2006 0,02 0,12 0,14 0,11 0,04 0,09 0,05
2007 0,02 0,18 0,15 0,13 0,03 0,12 0,04
2008 0,02 0,19 0,03 0,14 0,01 0,12 0,01
Fonte: LEMTe/CEDEPLAR 
 
Um outro aspecto a ser destacado é o fato do indicador apresentar 
tendência de crescimento entre 1994 e 2008, notadamente para as regiões Norte, 
Nordeste e Centro – Oeste (sem DF). Isto fato pode ter duas explicações: pode 
indicar um esforço maior de bancarização nas regiões menos desenvolvidas como 
também maiores dificuldades nestas regiões no gerenciamento do passivo. 
É interessante comparar este resultado com a Tabela 6 discutida 
anteriormente. Como pode ser visto, estas mesmas regiões que apresentam um 
aumento do peso dos Depósitos à vista no passivo total, apresentam uma redução 
do Quociente Regional de Crédito. Ou seja, o aumento da captação não é 
 
134 
 
acompanhado por um aumento no volume de empréstimos, denotando a pequena 
funcionalidade do sistema bancário destas regiões. 
Este mesmo padrão é observado na Tabela 15 (Depósitos à Prazo / Passivo 
Total). A região Sudeste apresenta o menor valor para este indicador, sendo que as 
regiões Norte e Nordeste apresentam os maiores. Além disso, nota-se que os 
valores para este indicador são superiores àqueles observados para o indicador 
Depósitos à vista / Passivo Total. Estes resultados também reforçam o 
entendimento de que existe um forte gerenciamento do passivo pelas agências 
bancárias de uma forma generalizada, mas principalmente nas regiões menos 
desenvolvidas. 
Finalmente a Tabela 16 confirma a conclusão acima ao mostrar que o 
indicador Poupança / Passivo Total apresenta valores superiores aos observado 
para o indicador Depósitos à Vista / Passivo Total. 
A anàlise anterior permite concluir que, diferentemente do que observado 
para indicadores que captam o gerenciamento do ativo, não existe um padrão 
regional diferenciado quando o gerenciamento do passivo é analisado. De uma 
forma geral, todas regiões apresentaram um padrão semelhante, diferenciando-se 
apenas na intensidade da estratégia de gerenciamento. 
II.2.4 CONCLUSÃO 
A investigação aqui efetuada sugere claramente que é possível argumentar 
que o território, aqui expresso através do recorte político – administrativo, é um 
elemento importante na definição do comportamento do sistema bancário. Além 
disto, ficou evidente que não são apenas os elementos estruturais, ligados ao lado 
real da economia, que influenciam este comportamento. A moeda, aqui captada 
pela PLB, também possuí um papel chave na definição deste comportamento. 
No caso brasileiro, a investigação anterior deixou claro que, por escolha 
própria, o sistema bancário apresenta um comportamento ativo que tem grandes 
conseqüências para a configuração das disparidades regionais no pais. Esta 
conclusão, comprovada no estudo empírico aqui realizado, lança luzes sobre uma 
 
135 
 
grande lacuna das políticas de desenvolvimento regional, qual seja, o 
financiamento. 
Na maioria das vezes, este tema é abordado apenas pela ótica da demanda 
efetiva. Ou seja, qual será a fonte que irá prover os recursos monetários 
necessários para que uma política seja implementada e projetos desenvolvidos. 
Normalmente, a resposta a esta pergunta tem sido o Estado, integral ou 
parcialmente. O que a abordagem aqui adotada tenta mostrar é que esta concepção 
é insuficiente, pois desconsidera que a moeda pode ser considerada não somente 
como meio de pagamento, mas também como reserva de valor frente às incertezas. 
Assim sendo, não basta injetar recursos em uma região, mas é fundamental 
garantir que estes fiquem na referida região e que circule no circuito industrial e 
não no financeiro. Para que isto ocorra, é necessário que a política de 
desenvolvimento esteja munida de instrumentos que possam lidar com este fato 
no nível regional. Para tanto, se faz necessário uma regulamentação do sistema 
bancário que atenda a esta necessidade. 
 
 
136 
 
 
II.3 HIERARQUIA URBANA E SISTEMA FINANCEIRO NO BRASIL 
 
Feita a análise tendo em vista o corte regional, passa-se agora para a 
investigação da relação entre o sistema bancário e a construção de centralidades 
no Brasil. O objetivo é fornecer alguns elementos que permitam a construção de 
uma ponte entre estudos sobre o comportamento da moeda na perspectiva Pós 
Keynesiana e uma temática chave, tanto para economistas regionais, quanto para 
geógrafos: a centralidade urbana. 
Como amplamente discutido na Parte I desta tese, o sistema financeiro, de 
uma forma geral, sempre foi considerado um bem central e, portanto, um elemento 
fundamental na construção de uma hierarquia urbana. No entanto, o sistema 
financeiro não é necessariamente homogêneo no espaço, significando que as suas 
características internas irão determinar capacidades de influenciar a construção de 
centralidades e, conseqüentemente, de hierarquias urbanas distintas, 
principalmente em países periféricos como o Brasil. Assim sendo, procura-se, nesta 
seção, hierarquizar os municípios brasileiros de acordo com as características do 
sistema financeiro ali instalados. 
A metodologia adotada para estabelecer a hierarquia baseou-se na 
diversidade de tipos de instituições financeiras existentes em cada município 
brasileiro. Assume-se que instituições financeiras amplamente distribuídas no 
território realizam funções menos centrais. Por outro lado, instituições pouco 
difundidas realizam funções mais centrais. Assim, a hierarquia da instituição 
financeira será definida pela sua distribuição espacial. 
Tomou-se como base a CNAE e os dados obtidos pela RAIS para o ano de 
2007. Desta forma, foram considerados 36 tipos de instituições financeiras, 
listadas no quadro abaixo. 
 
 
 
137 
 
 
QUADRO 1 
 
 
 
 
138 
 
A partir desta definição de tipos de instituições financeiras, foram coletados 
os dados relativos à quantidade de cada tipo em cada município brasileiro. 
Procedeu-se então à verificação da dispersão no território brasileiro de cada uma 
das atividades listadas acima. Ou seja, observou-se em quantos municípios (de uma 
amostra de 3.837) cada tipo de atividade está presente. Como dito, a hipótese aqui 
adotada é que as atividades centrais são menos difundidas no território. Os 
resultados estão mostrados na Tabela 17, abaixo. 
TABELA 17 
Hierarquia de Tipos de Instituições Financeiras 
 
 
139 
 
Como pode ser visto, instituição financeira “Fundos de Investimento”era a 
mais central no Brasil, em 2007, estando presente em apenas 5 dos 3.837 
municípios da amostra. Na outra ponta estão os “Bancos Múltiplos, com carteira 
comercial e Bancos Comerciais”, presentes em 90% dos municípios da amostra. 
Para cada tipo de atividade um peso foi atribuído de acordo com o seu respectivo 
grau de centralidade. 
Para hierarquizar os municípios, procedeu-se à multiplicação da quantidade 
de cada tipo de instituição pelo peso a ela atribuído e foram somados aos 
resultados obtidos por município. 
A partir desta hierarquização os municípios brasileiros que possuíam 
agências bancárias em 2008 foram classificados em quatro grupos.56 Os resultados 
obtidos estão mostrados na Tabela 18 abaixo. 
A primeira observação derivada da análise da Tabela 18 é a extrema 
desproporção, em
termos de escopo e escala, na distribuição dos tipos de 
instituições financeiras entre os municípios brasileiros. O cluster 1 possui no seu 
interior cerca de 99% dos municípios da amostra (3.800) com um valor ponderado 
médio de cerca de 79. O cluster 2, por sua vez, é formado por 31 cidades, 
representado cerca de 0,81% dos municípios, com um valor ponderado médio de 
7.886, ou seja, um valor médio quase mil vezes superior ao observado no cluster 
anterior. Já o cluster 2 é composto por apenas 5 municípios, porém com um valor 
ponderado médio de 56.684,8 (cerca de 7 vezes maior que o cluster 2). Por fim, o 
cluster 4 é composto por um único município (São Paulo) e com um valor 
ponderado de 260.774 (quase 5 vezes o valor do cluster 3). 
As Tabelas 19 e 20, por sua vez, ajudam a entender melhor os fatores que 
caracterizam cada cluster. A Tabela 20 mostra o peso de cada atividade em cada 
cluster específico. Como pode ser observado, o cluster 1 apresenta uma forte 
concentração do peso das atividades financeiras em apensa dois tipos de 
instituições: Bancos Comerciais e Caixa Econômica. Estes dois tipos de instituições 
 
56 O método de agrupamento utilizado foi o não hierárquico. Neste caso, o número de clusters é definido 
anteriormente e o programa define em qual cluster cada município é alocado. A alternativa a este método é o 
agrupamento hierárquico, no qual o próprio programa define o número de clusters final. No entanto, este 
procedimento foi descartado devido ao fato do presente exercício utilizar um número elevado de indivíduos 
(3837 municípios) e de variáveis (36 tipos de atividades financeiras). 
 
140 
 
respondem por 55% do total do valor ponderado da hierarquia. O total de 80% do 
peso ponderado acumulado é obtido com sete tipos de instituições. 
TABELA 18 
Agrupamento Município Participação Relativa 
no Total de Municípios Valor Ponderado
Cluster 4 São Paulo 260.774
Número Total de Múnicípios e Valor 
Ponderado Médio 1 0,03 260.774
Cluster 3 Rio de Janeiro 118.929
Brasilia 49.640
Porto Alegre 39.866
Belo Horizonte 39.602
Curitiba 35.387
Número Total de Múnicípios e Valor 
Ponderado Médio 5 0,13 56.685
Cluster 2 Salvador 18.630
Recife 16.709
Fortaleza 15.627
Belem 14.185
Campinas 12.912
Goiania 12.651
Osasco 11.903
Vitoria 10.993
Barueri 10.659
Florianopolis 10.590
Ribeirao Preto 7.830
Sao Jose do Rio Preto 7.513
Manaus 6.159
Campo Grande 6.115
Cuiaba 5.777
Natal 5.457
Teresina 5.433
Sao Bernardo do Campo 5.061
Joao Pessoa 5.060
Londrina 4.921
Santos 4.903
Guarulhos 4.860
Sao Jose dos Campos 4.849
Bauru 4.819
Aracaju 4.635
Santo Andre 4.578
Maceio 4.566
Sao Luis 4.540
Uberlandia 4.485
Niteroi 4.088
Sorocaba 3.971
Número Total de Múnicípios e Valor 
Ponderado Médio 31 0,81 7.886
Cluster 1 Demais municípios brasileiros (3.800)
Número Total de Múnicípios e Valor 
Ponderado Médio 3.800 99,04 79
Agrupamentos dos Municípios Brasileiros Segundo tipo de Instituição Financeira 
Fonte: Elaboração Própria, 2010 
 
141 
 
TABELA 19 
Distribuição dos Tipos de Instituições Financeiras por Cluster 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
142 
 
TABELA 19 
Distribuição dos Tipos de Instituições Financeiras por Cluster (Cont.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
143 
 
TABELA 19 
Distribuição dos Tipos de Instituições Financeiras por Cluster (Cont.) 
 
144 
 
 
A Tabela 20 ajuda a visualizar o escopo da atuação dos tipos de instituições 
financeiras por cluster. Como é visto, 91% dos municípios do cluster 1 possuem 
pelo menos uma agência de Banco Comercial no seu interior. Esta é, sem dúvida 
alguma, a grande característica deste cluster. Depois deste tipo de atividade, a que 
se destaca são as instituições de Crédito Cooperativo, presentes em 30% dos 
municípios do cluster (1.151). Em seguida, tem-se as Caixas Econômicas, com 
presença em 27%. 
Quando os resultados das Tabelas 19 e 20 são comparados com os da 
Tabela 17, observa-se claramente que este cluster só possui, tanto em escala, 
quanto em escopo, oferta de instituições financeiras hierarquicamente inferiores. 
Além disso, como mostra a Tabela 21, entre os quinze tipos de atividades mais 
importantes deste cluster, sete estão no último quartil em termos de hierarquia 
(Tabela 17) e todos os quinze tipos nos dois últimos quartis inferiores. Este cluster 
será, portanto, denominado de Sistema Financeiro Básico. 
O Cluster 2, por sua vez, tem suas duas atividades de maior peso (Bancos 
Comercial e Caixa Econômicas) representando cerca de 56% do total do valor 
ponderado médio do cluster. No entanto, ele apresenta uma maior diversificação, 
quer seja de escala, quer seja de escopo. A marca de 80% do valor ponderado 
médio é obtida com o somatório das nove atividades mais importantes, mais do 
que o dobro observado para o cluster 1. Além disso, doze tipos de instituições 
estão presentes em todos os municípios do cluster, vinte e dois tipos estão 
presentes em mais de 50% dos município. A Tabela 21, também mostra que entre 
os quinze tipos de atividades mais importantes, seis estão no último quartil e doze 
nos dois últimos quartis, como mostrado na Tabela 17. Este cluster será 
denominado Sistema Financeiro Diversificado. 
O cluster 3, composto por cinco cidades apenas (todas elas capitais de 
estados) apresenta uma composição de tipos de centro financeiro quase que 
completa, deixando de ter, no seu interior, apenas dois tipos de instituição 
financeira. As duas instituições financeiras mais importantes representam 41% do 
 
145 
 
valor ponderado total do cluster. A marca de 80% do valor ponderado total do 
cluster é alcançado com o somatório dos doze principais tipos de instituições. 
 
TABELA 20 
Peso do Tipo de Atividade em cada Cluster 
 
 
146 
 
TABELA 21 
Tipos de Instituições Financeiras mais Importantes por Cluster 
 
 
Além disso, dos trinta e cinco tipos de instituições listadas, vinte e cinco 
estão presentes em todos os cinco municípios, sete estão presente em mais de 50% 
dos municípios, e duas em menos que 50% (além das duas atividades 
completamente ausentes). 
Dos quinze tipos de atividades mais importantes (Tabela 21), cinco estão no 
último quartil, cinco no terceiro quartil, quatro no segundo quartil e uma no 
primeiro (Tabela 17). Dada esta composição, este cluster será denominado Centro 
Financeiro de Segunda Ordem. 
O último cluster analisado é o localizado no ponto mais alto da hierarquia. 
Composto apenas pelo município de São Paulo, ele não possuí apenas um tipo de 
atividade no seu interior. As duas instituições financeiras mais importantes 
representam 44% do valor ponderado total do cluster. A marca de 80% do valor 
ponderado total do cluster é alcançado com o somatório dos doze tipos de 
instituições de maior peso. 
 
147 
 
Vale salientar que apesar deste cluster apresentar uma diversificação de 
tipos de atividade no seu interior muito similar à observada no cluster Centro 
Financeiro de Segunda Ordem, a sua escala é muito superior à observada no cluster 
4. De fato, o valor ponderado médio de cada tipo de instituição deste cluster é 
superior aos valores observados nos demais tipos. 
Entre os quinze tipos de atividades mais importantes (Tabela 21), quatro 
estão no último quartil, seis no terceiro quartil, dois no segundo quartil e duas no 
primeiro (Tabela 17). Dada esta composição, este cluster será denominado Centro 
Financeiro de Primeira Ordem. 
Um ponto mais geral a ser destacado surge da observação da Tabela 20
acima: o tipo de instituição com maior peso em todos os clusters é justamente a de 
menor nível hierárquico, ou seja, Bancos Comerciais e Múltiplos. Isto pode ser 
explicado pelas características do sistema bancário no Brasil, caracterizado pela 
dominância de grandes bancos nacionais, com agências espalhadas pelas regiões. 
Ou seja, é basicamente pela agência bancária que o brasileiro tem acesso ao 
sistema financeiro como um todo. Ademais, é na agência bancária que os serviço 
básicos de um banco são ofertados e demandados, tais como abertura de conta 
corrente, pagamento de dívidas etc. Estes dois aspectos fazem das agências 
bancárias de bancos comerciais e múltiplos, espalhados pelo território, o tipo de 
instituição financeira menos central e presente em todos os clusters. 
As Tabelas 22 e 23, por sua vez, ajudam a entender a distribuição das 
atividades pelos clusters. Todas as atividades classificadas como mais centrais e, 
conseqüentemente, localizadas no primeiro quartil da hierarquização feita 
anteriormente (Tabela 17), possuem sua maior participação relativa no cluster 
Centro Financeiro de Primeira Ordem, reforçando claramente a sua condição de 
lugar central. 
 
 
148 
 
 
TABELA 22 
Distribuição de Tipos de Atividades por Cluster 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
149 
 
TABELA 23 
 
de primeira ordem para o sistema financeiro brasileiro.57 Adicionalmente, das doze 
atividades cujas maiores participações relativas estão cluster, cinco estão 
localizadas no primeiro quartil da hierarquia, quatro no segundo e três no terceiro 
(Tabela 17). 
O Centro Financeiro de 2o Ordem, por sua vez, abriga dez atividades cujas 
respectivas participações relativas são maiores dentro deste cluster. Destas, três 
estão localizadas no primeiro quartil da hierarquia, cinco no segundo e duas no 
terceiro. 
 
57 A única exceção é a atividade Fundo de Investimento, que não está presente neste cluster. No entanto, vale 
salientar que esta atividade também é efetuada por outros tipos de instituição, tais como, Bancos Comerciais. 
 
150 
 
Finalmente, os dois últimos clusters – Sistema Financeiro Diversificado e 
Sistema Financeiro Básico – abrigam atividades cujas participações relativas são 
maiores nos respectivos clusters que estão localizadas exclusivamente no terceiro 
quartil – para o caso do cluster Sistema Financeiro Diversificado – e no último 
quartil - para o caso do cluster Sistema Financeiro Básico. 
O que fica evidente da análise anterior é a hierarquização do sistema 
financeiro brasileiro com poucos centros oferecendo serviços financeiros mais 
sofisticados e uma gama enorme de municípios atendidos pelos serviços básicos. 
Dito em outras palavras, os resultados mostram uma grande fragmentação na 
hierarquia urbana brasileira, com poucos pólos de ordem superior que prestam 
serviços mais complexos, como os apontados no caso do setor financeiro. 
A Tabela 24 abaixo, que mostra a distribuição dos municípios de cada cluster 
entre as grandes regiões. 
TABELA 24 
Distribuição Regional dos Clusters 
 
 
 
 
 
 
Como pode ser visto, existe uma forte concentração regional dos clusters 
analisados. Nas regiões menos desenvolvidas – Norte e Nordeste – os clusters de 
maior nível hierárquico não possuem nenhuma cidade no seu interior. Ou seja, os 
Centro Financeiros de 1a e 2a Ordens localizam-se em regiões mais desenvolvidas. 
Estes clusters são caracterizados por possuírem um maior financial deepening, 
revelado através da maior diversidade de tipos de instituições financeiras no seu 
interior e da escala das atividades. Estes resultados corroboram as conclusões 
apresentadas na parte teórica desta tese, segundo a qual o sistema financeiro 
brasileiro contribui para o quadro atual de disparidades regionais no Brasil. 
 
151 
 
II.3.1 HIERARQUIA E ESTRATÉGIA BANCÁRIA 
 
Como visto na Parte I desta tese, existe uma relação entre o grau de 
centralidade de uma determinada região e o grau de preferência pela liqüidez das 
agências bancárias ali instaladas: quanto maior a centralidade, menor seria a 
preferência pela liqüidez. A decorrência desta argumentação seria a existência de 
estratégias diferenciadas espacialmente de gerenciamento bancário de acordo com 
a preferência da liqüidez das agências bancárias. No que se segue, esta hipótese é 
analisada com a ajuda da Tabela 25. 
Como pode ser observado, fica evidente a existência de estratégias 
diferenciadas de acordo com o grau de centralidade. Iniciando pelo peso do 
sistema bancário na região, observa-se um padrão já esperado, ou seja, o sistema 
bancário apresenta maior escala nos municípios de maior centralidade. O que 
chama a atenção, no entanto, são as diferenças entre os clusters, muito superiores 
às diferenças observadas quando a análise foi realizada por regiões (Tabelas 3 e 4). 
O gerenciamento do ativo também mostra uma evidente diferenciação das 
estratégias bancárias. Em primeiro lugar, observa-se que os municípios dos 
clusters de menor nível hierárquico apresentam uma maior Preferência pela 
Liqüidez, menores Quocientes Regionais de Crédito e maiores indicadores de 
lucratividade. Ou seja, apesar de não existir especialização no fornecimento de 
serviços para os municípios localizados nos clusters de níveis hierárquicos mais 
baixos, o sistema bancário aí localizado consegue auferir lucratividade maior. 
Ademais, fornece crédito abaixo do que poderia ser esperado tendo em vista o 
peso destes municípios nos seus respectivos PIBs. 
Vale notar também o peso que tanto a concessão de crédito e a aplicação em 
títulos e valores mobiliários (TVM) possuem em cada cluster. Como era de se 
esperar, os Centros Financeiros, de 1a e 2a ordem apresentam, relativamente, 
maiores valores para o peso das aplicações de TVM sobre o total do ativo do que os 
Sistemas Financeiros Básicos e Diversificados. Isto seria derivado da própria 
diversidade de tipos de instituições financeiras existentes nos Centros Financeiros. 
Destaca-se ainda o fato de no Centro Financeiro de 1a Ordem, o peso das aplicações 
 
152 
 
de TVM no total do ativo das agências ser maior do que o peso do total de crédito 
concedido. 
 
TABELA 25 
Indicadores de Gestão Bancária por Cluster 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
153 
 
Por outro lado, nos municípios que possuem Sistemas Financeiros de menor 
nível hierárquico o peso da concessão de crédito sobre o ativo é maior do que o 
observado nos Centros Financeiros. Isto seria explicado pelo fato dos municípios 
destes clusters servirem como captadores de reservas a serem transferidas para os 
Centros Financeiros para que estes operem no mercado de TVM. Assim, a forma 
essencial das agências bancárias de sistemas financeiros menos centrais de buscar 
lucratividade se resumiria à concessão de crédito – embora em menor proporção 
do que seria esperado dada a estrutura produtiva local (vide o valor do QRC) – e à 
cobrança de taxas de serviços bancários. 
Por fim, o indicador de qualidade do crédito mostra que ele vai piorando 
quando se passa do cluster menos hierárquico para clusters de níveis superiores. 
Este resultado pode ser interpretado de duas formas. Em primeiro lugar, como, 
proporcionalmente, o volume de empréstimos concedidos é maior nos Centros 
Financeiros, deve ser esperado que uma maior quantidade de empréstimos com 
problemas de pagamento também ocorra nos Centros Financeiros. Em segundo 
lugar, dado que a preferência pela liqüidez é maior nos clusters
de menor nível 
hierárquico, estes resultados podem refletir uma maior aversão ao risco destes 
clusters. Esta aversão faz com que não somente o volume de crédito concedido seja 
proporcionalmente menor (QRC), como também a qualidade deste seja melhor. Em 
outras palavras, concede-se pouco crédito e somente para clientes com evidente 
capacidade de pagamento. 
 
II.4 ESTRATÉGIAS BANCÁRIAS COMPARADAS: REGIÃO E 
HIERARQUIA 
 
A análise empírica desenvolvida nesta tese procurou investigar a atuação do 
sistema bancário brasileiro a partir dos recortes regional e urbano. Para uma 
melhor comparação dos resultados obtidos em cada recorte procede-se a três 
exercícios de Análise de Componente Principal (ACP), nos quais os indivíduos 
variam de acordo com o recorte adotado, mantendo-se constante as variáveis a 
 
154 
 
serem analisadas. Objetiva-se, com isto, identificar sob qual recorte (urbano ou 
regional) o sistema bancário brasileiro mais se diferencia. 
Assim sendo, decidiu-se por realizar as ACPs com três recortes: região 
administrativa; grau de centralidade financeira e escala urbana. Procura-se, dessa 
forma, assim captar e comparar três dimensões do espaço e suas relações com a 
forma de atuação do sistema bancária brasileiro. As variáveis utilizadas em todas 
as ACPs são: 
 
• Atpib06 – Ativo / PIB de 2006; 
• Atpop - Ativo / População; 
• Credtotat – Crédito Total / Ativo; 
• Crelict – Crédito em Liquidação / Crédito Total; 
• Lucrat – Lucro / Ativo; 
• Tvmat – TVM / Ativo; 
• PLB – Preferência pela liquidez; 
• QRC06 – QRC referente ao ano de 2006; 
• Deprapass – Depósitos à prazo / Passivo; 
• Depvipass –Depósitos à vista privado / Passivo; 
• Poupass – Poupança / Passivo; 
 
II.4.1 ANÁLISE DE COMPONENTE PRINCIPAL PARA AS REGIÕES 
ADMINISTRATIVAS 
 
Os resultados obtidos na ACP para regiões58 são mostrados abaixo. Como 
pode ser visto, as onze variáveis foram reduzidas a quatro componentes, sendo 
que o primeiro explica a 67% da variação da nuvem dos pontos, o segundo vinte, o 
terceiro nove e o quarto e último componente, quatro (Tabela 26). 
Tabela 26 
Importância Relativa dos Componentes Principais 
Componente 1 Componente 2 Componente 3 Componente 4
Desvio-padrão 2,72 1,47 1,00 0,65
Proporção da Variância 0,67 0,20 0,09 0,04
Poporção cumulativa 0,67 0,87 0,96 1,00
Fonte: Elaboração Própria, 2010 
 
58 Por razões expostas anteriormente, a região Centro-Oeste foi considerada sem a participação de Brasília. 
 
155 
 
A Tabela 27 mostra, por sua vez, o peso de cada variável para cada 
componente. Assim sendo, no caso do recorte por regiões administrativas, os 
indicadores de estratégias bancárias que mais se destacaram para explicar 67% da 
variação da amostra (componente 1) foram atpib06; atpop , tvmat e crelict de um 
lado, e lucrat, poupass, depvipass e credtotal do outro. Ou seja, no primeiro 
componente, as regiões se diferenciam entre aquelas que apresentam valores 
acima da média para o tamanho do sistema financeiro (atpib06 e atpop), a 
proporção das aplicações dos títulos e valores mobiliários no seu ativo (tvmat) e 
provisão para créditos em liquidação, e regiões com valores acima da média para 
lucratividade (lucrat), gerenciamento do passivo (poupass e devipasss), e 
proporção do crédito nas operações ativas. Como mostra o gráfico 6 abaixo, no 
primeiro grupo estaria a região Sudeste e, em menor medida, a região Sul e no 
segundo grupo das demais regiões. 
Tabela 28 
Coeficientes dos Componentes Principais 
Componente 1 Componente 2 Componente 3 Componente 4
lucrat -0,318 0,273 -0,27 0,197
tvmat 0,313 -0,263 -0,115 0,512
PLB -0,186 -0,56 -0,198 0,23
QRC06 0,255 0,486
deprapass -0,208 0,812
depvipass -0,352 -0,214 0,221
poupass -0,354 0,174 -0,303
atpib06 0,31 0,198 0,347 0,449
atpop 0,35 0,204
credtotat -0,295 0,401
crelict 0,321 -0,219 -0,544
Loadings
Fonte: Elaboração Própria, 2010 
 
De uma forma geral, pode-se denominar este primeiro componente de financial 
deepening (aprofundamento financeiro). Isto estaria captado, fundamentalmente, 
pelos indicadores de escala do sistema financeiro e pela proporção de títulos e 
valores imobiliários no total do ativo. Assim, o componente capta, de um lado, as 
regiões com relativamente elevado grau de financial deepening, e, de outro, regiões 
 
156 
 
com maior lucratividade, porém concentrado na atuação básica do sistema 
bancário de concessão de crédito 
. 
Gráfico 6 
 
Comp.1
Co
m
p.
2
-0.5 0.0 0.5
-
0.
5
0.
0
0.
5
CO sem DF
NE
N
SE
S
-2 -1 0 1 2
-
2
-
1
0
1
2
lucrat
tvmat
PLB
QRC06
deprapass
depvipass
poupass
atpib06atpop
credtotat
crelict
 
O segundo componente, por sua vez, contrapõe, de um lado, regiões que 
apresentam valores de Preferência pela Liqüidez acima da média e, de outro, 
regiões que apresentam elevados valores para o Quociente Regional de Crédito e 
proporção de crédito sobre ativo. Pode-se denominar este componente de 
funcionalidade. No primeiro grupo encontram – se as regiões menos desenvolvidas 
(NE e N) e no segundo as demais (Gráfico 6). 
Por fim, o terceiro componente, apesar de contribuir com apenas 9% da 
explicação total, destaca claramente o papel do gerenciamento do passivo. O peso 
da variável Depósito à Prazo no Passivo Total (variável que mede a capacidade do 
banco em alongar o perfil de suas obrigações) neste componente foi de 0,812, o 
maior de toda a análise. Neste componente se contrapõem, de um lado, as regiões 
Sul e NE, e, de outro, as demais regiões (Gráfico 7). 
 
157 
 
 
 
Gráfico 7 
 
II.4.2 ANÁLISE DE COMPONENTE PRINCIPAL POR HIERARQUIA DO SISTEMA 
FINANCEIRO 
 
Os resultados da ACP com os clusters hierárquicos são mostrados nas 
tabelas 28 e 29, bem como no gráfico 8 abaixo. 
 
 
 
 
 
158 
 
Tabela 29 
Importância Relativa dos Componentes Principais 
Componente 1 Componente 2 Componente 3
Desvio-padrão 3,12 1,05 0,40
Proporção da Variância 0,89 0,10 0,01
Poporção cumulativa 0,89 0,99 1,00
Fonte: Elaboração Própria, 2010 
Tabela 30 
Coeficientes dos Componentes Principais 
Componente 1 Componente 2 Componente 3
lucrat 0,310 0,233 -0,145
tvmat -0,301 0,230 0,601
PLB 0,318 0,106
QRC06 -0,305 0,259 0,330
deprapass 0,204 -0,724 0,348
depavipass 0,311 0,171 0,392
poupass 0,302 0,314 0,159
atpop -0,312 0,217
atpib06 -0,315 -0,398
credtotat 0,317 0,126 -0,184
crelict 0,303 0,306
Loadings
Fonte: Elaboração Própria, 2010 
A primeira observação que salta aos olhos na análise destes resultados é o 
percentual de explicação atribuído ao componente 1 (Tabela 28). Este valor foi de 
89%, muito superior ao observado na ACP por grandes regiões (67%, Tabela 26). 
Este pode ser um indicador de que, no recorte por hierarquia, as diferenças entre o 
comportamento das agências bancárias é muito mais intensa do que pelo recorte 
por grandes regiões. O segundo componente, por sua vez, explicaria 10% da 
variação total. 
 A Tabela 30 acima mostra o peso de cada variável na composição de cada 
componente. No caso do componente 1, observa-se que ele separa, de um lado, os 
clusters com valores acima da média para a escala do sistema financeiro, 
proporção de TVM sobre o ativo e QRC, e de outro, clusters com valores elevados 
para PLB, credtot, lucratividade e gerenciamento do passivo. Como mostra o 
Gráfico 8 abaixo, no primeiro grupo está o cluster 4 (composto unicamente pelo 
município de São Paulo) e no segundo o restante dos clusters. 
 
159 
 
Gráfico 8 
 
Vale salientar que as variáveis definidoras deste primeiro
componente são 
similares às definidoras do primeiro componente na ACP de grandes regiões. Isto 
permite também classificar o primeiro componente da ACP de Hierarquia 
Financeira novamente como financial deepening. No entanto, como o Gráfico 8 
mostra, no caso da ACP por cluster o papel destas variáveis na determinação do 
componente é muito mais intensa e clara. Ou seja, embora tanto na análise por 
regiões quanto por hierarquia as diferenças relacionada ao “aprofundamento 
financeiro” sejam determinantes para explicar o comportamento das agências 
bancárias, no caso das hierarquias estas diferenças são muito mais intensas devido 
ao próprio tipo de recorte adotado. É por este motivo que o componente separa o 
cluster mais hierárquico (Centro Financeiro de 1a Ordem), dos demais (Centro 
Financeiro de 2a, Sistema Financeiro Diversificado e Sistema Financeiro Básico). 
Comp.1
Co
m
p.
2
-0.5 0.0 0.5
-
0.
5
0.
0
0.
5
Cluster1
Cluster2
Cluster3
Cluster4
-1 0 1
-
1
0
1
Lucrattvmat
plb
QRC06
deprapass
depavipass
poupass
atpop
atpib06 credtotat
crelict
 
160 
 
Também é importante ressaltar o fato de que a Preferência pela Liqüidez 
passar a ter, no primeiro componente, um papel relevante. Ou seja, quando o 
recorte privilegia a hierarquia do sistema financeiro, a PLB aumenta a sua 
relevância na explicação das diferenças de comportamento entre as agências 
bancárias. 
O segundo componente, por sua vez, é definido basicamente pelo 
gerenciamento do passivo através do peso da variável Depósito à Prazo sobre o 
Passivo Total. É interessante notar que, neste caso, a separação entre os clusters 
isola de um lado os clusters intermediários (Centro Financeiro de 2a Ordem e 
Sistema Financeiro Diversificado), com elevado valor para esta variável e, de outro 
lado, os clusters extremos (Centro Financeiro de 1a Ordem e Sistema Financeiro 
Básico) com valores baixo para esta variável. 
 
Concluindo esta seção, os dados mostram uma clara diferença no 
comportamento das variáveis de acordo com o recorte adotado. Isto mostra que os 
componentes urbanos são muito mais relevantes, comparativamente ao de 
grandes regiões, para explicar os diferenciais de estratégias bancárias no 
território. 
A explicação para tal fato está na configuração espacial do território 
periférico, como é o caso do Brasil. Este território, como visto, é extremamente 
fragmentado, composto por um conjunto pequeno de núcleos urbanos completos e 
uma vasta maioria de núcleos urbanos incompletos, com entornos caracterizados 
por serem de subsistência. Este fato faz com que os componentes urbanos sejam 
mais relevantes para determinar diferenciações no comportamento das agências 
bancárias. Alem disso, a grande diferença no comportamento do sistema bancário 
brasileiro, determinada por estas características urbanas, faz com que a 
capacidade de polarização dos distintos centros regionais no Brasil seja também 
extremamente diferenciada. Isto em determinada medida, homogeniza, por baixo, 
as áreas polarizadas, determinando, assim, um menor grau de diferenciação de 
atuação bancária, quando o recorte é regional. 
 
161 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O objetivo central desta tese foi contribuir para a construção de uma Teoria 
Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. Como ressaltado, acredita-se que 
este objetivo só possa ser atingido se se considera a moeda como não-neutra; vale 
dizer, a moeda, em suas várias dimensões, é capaz de interferir nas decisões dos 
agentes e, conseqüentemente, afetar o lado real da economia. Dito de outra forma, 
só é possível falar em Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano, se a 
moeda possuir a capacidade de afetar o volume de produção de uma região ou 
espaço urbano, tanto no curto quanto no longo-prazo. Caso isto não seja possível 
não existiria sentido teórico falar em uma Teoria Monetária do Desenvolvimento 
Regional e Urbano. Esta é uma premissa fundamental da tese. 
Para tanto, partiu-se do entendimento da economia capitalista enquanto 
uma Economia Monetária de Produção, tal como proposto por Keynes (1979). Os 
elementos fundamentais desta concepção da economia capitalista, tal como visto 
no Capítulo 1 da Parte I, dão à moeda um papel chave, na medida em que ela pode 
interferir no lado real da economia. 
Frente a um mundo onde a incerteza em relação ao futuro é um 
condicionante da atividade econômica, tornando esta última uma atividade por 
natureza especulativa, a capacidade da moeda em ser reserva de valor e, por 
definição, ser o ativo mais líqüido na sociedade, faz com que sempre exista a 
possibilidade de ocorrência de deficiências de demanda efetiva. O conceito de 
preferência pela liqüidez é, portanto, fundamental em uma sociedade capitalista e, 
quando aplicado ao sistema financeiro, abre a possibilidade do processo de finance 
e funding não ocorrer. 
Este arcabouço teórico foi utilizado como referencial para a re-leitura de autores 
clássicos do desenvolvimento regional e urbano. O primeiro grupo foi dividido, 
temporalmente, em dois sub-grupos. O primeiro, caracterizado aqui como 
proponente de uma Teoria do Desenvolvimento Regional Keynesiana, entende a 
 
162 
 
questão das disparidades regionais como um problema de demanda efetiva 
insuficiente. Assim sendo, a solução para esta questão seria o estímulo do gasto 
autônomo através, principalmente, do gasto público em investimento. Por mais 
que se reconheça que a deficiência de demanda efetiva seja um problema de fato 
em regiões atrasadas, a concepção de moeda utilizada por estes autores faz com 
que tais teorias sejam incompletas. Como visto, estes autores ou utilizaram uma 
concepção baseada na Teoria dos Fundos Emprestáveis, na qual a poupança é 
prévia ao investimento e a moeda é um mero meio de troca, ou adotaram (como no 
caso de Kaldor) uma abordagem horizontalista de oferta de moeda. Em qualquer 
destas duas opções, o conceito de preferência pela liqüidez, fundamental em uma 
Economia Monetária de Produção, foi negligenciado e, dessa forma, implicou que 
tanto a moeda, quanto o sistema financeiro não tinham papel a desempenhar na 
explicação das disparidades regionais. 
Vale salientar que mesmo o conceito de demanda efetiva empregado nestas 
teorias não foi feito corretamente. Isto porque não é possível apreender toda a 
dimensão teórica do conceito de demanda efetiva sem um entendimento do 
conceito de preferência pela liqüidez. Estes dois conceitos são duas faces de uma 
mesma moeda. Este argumento reforça o problema já apontado nas Teorias 
Keynesianas de Desenvolvimento Regional aqui analisadas, relativo ao fato delas 
não possuírem uma concepção de moeda capaz incorporar os efeitos do 
comportamento desta na explicação das disparidades regionais. 
 O segundo grupo de autores clássicos do desenvolvimento regional, aqui 
definidos como o Enfoque da Competitividade, também apresentou uma concepção 
de moeda frágil, incapaz de lidar com as dimensões de uma Economia Monetária de 
Produção. Apesar do sistema financeiro ser mencionado como elemento 
constitutivo do Sistema Nacional (Regional ou Local) de Inovação, não foi possível 
detectar um maior desenvolvimento desta perspectiva para além da constatação 
de sua importância. 
De forma semelhante, a Teoria de Desenvolvimento Urbano (Teoria do 
Lugar Central) e seus desenvolvimentos apresentaram deficiências no que tange à 
concepção de moeda adotada, comprometendo, dessa forma, o alcance destas 
teorias. Os autores clássicos, como Christaller e Lösch, embora tenham, 
 
163 
 
explicitamente, a preocupação em incorporar em suas respectivas
teorias o 
funcionamento do sistema financeiro, principalmente através do impacto do 
diferencial de juros nos custos de produção, se baseiam em concepções clássicas da 
moeda (principalmente Christaller, que escreve sua obra antes da publicação da 
Teoria Geral de Keynes). Isso limita a possibilidade de uma integração entre as 
esferas monetária e real da economia, e mesmo da apreensão de toda a 
importância da moeda na construção de um lugar central. 
Mesmo os desenvolvimentos mais recentes, tais como Parr e Budd (2000), 
por exemplo, carecem de uma teoria monetária apropriada. Como visto, 
incorporam elementos de falhas de mercado do sistema financeiro. No entanto, ao 
basearem-se em falhas de mercado para sustentar um papel para a moeda/sistema 
financeiro, acabam por, de fato, negar papel à moeda. Como já amplamente 
discutido, as falhas de mercado, tais como assimetria de informação e custos de 
transação, têm sua origem em fatores reais da economia e não em fatores 
monetários. Pela perspectiva Novo Keynesiana de falhas de mercado, uma vez 
sanada tais falhas, não haveria espaço para a moeda exercer papel algum. 
Perspectiva completamente distinta resulta quando o conceito de 
preferência pela liquidez é adotado. Neste caso, mesmo que as falhas de mercado 
sejam corrigidas, tais como assimetria de informação, distintas preferências pela 
liquidez podem surgir, desde que a incerteza esteja presente. 
É esta fundamentação em uma concepção de moeda incompleta que faz com 
que, tanto nos autores clássicos, quanto nos autores mais recentes, a moeda não 
seja capaz de interagir sinergeticamente com a Teorias de Desenvolvimento 
Regional e a Teoria do Lugar Central, de forma a desempenhar um papel ativo na 
configuração das regiões e do lugar central. Esta re-leitura crítica das Teorias de 
Desenvolvimento Regional e da Teoria do Lugar Central e seus 
desenvolvimentos pode ser considerada a primeira contribuição original desta 
tese. 
Crítica similar foi feita na breve revisão das contribuições da geografia 
econômica. Diferentemente dos economistas regionais, os geógrafos econômicos 
possuem maior facilidade para tentar incorporar a moeda em seus respectivos 
 
164 
 
arcabouços teóricos. Isto é facilmente comprovado na re-leitura efetuada. No 
entanto, não se pode afirmar que a moeda esteja, de fato, incorporada como 
elemento crucial nos estudos de geografia econômica. A razão para isto é a mesma 
apontada para a discussão da Teoria do Lugar Central, qual seja: a teoria monetária 
utilizada, baseada no arcabouço Novo Keynesiana de falhas de mercado. Como já 
dito, esta teoria não é capaz de oferecer aos pesquisadores de economia regional e 
urbana uma concepção de moeda, que considere as suas principais características 
e, por conseguinte, a sua influência sobre a dimensão real da economia. 
A partir desta re-leitura crítica das principais contribuições para as Teorias 
de Desenvolvimento Regional e Urbano, foram discutidos os elementos essenciais 
para a elaboração de uma Teoria Monetária de Desenvolvimento Regional e Urbano. 
O ponto de partida para a consecução deste objetivo foi a discussão crítica da 
contribuição Pós-Keynesiana de desenvolvimento regional. O escolha deste ponto 
de partida se deveu ao fato desta contribuição possuir uma concepção de moeda 
que permite a esta desempenhar, de fato, papel na criação, manutenção e/ou 
ampliação das desigualdades regionais. 
No entanto, mesmo nesta contribuição existem limitações teóricas que 
restringiram a sua difusão, principalmente entre os geógrafos econômicos. A 
principal delas é o fato desta contribuição não possuir uma concepção de 
território, entendido como construto social cujas características podem (e devem) 
dialogar com o conceito de preferência pela liqüidez. Em última instância, pode-se 
afirmar que esta contribuição Pós-Keynesiana é uma aplicação de conceitos 
macroeconômicos a regiões, onde não existe taxa de câmbio. Apontar esta 
limitação, bem como a sugestão de linhas de investigação para complementá-
la, é a segunda contribuição original desta tese. 
Neste sentido, foi mostrado que a Teoria de Preferência da Liquidez pode 
dialogar com a Teoria de Desenvolvimento Urbano, particularmente com a Teoria 
do Lugar Central. Foi também mostrado que centralidade e preferência pela 
liquidez são características do espaço urbano que interagem sinergicamente, 
fazendo com que a preferência pela liquidez seja influenciada pelo grau de 
centralidade e vice-versa, interferindo na construção desta, principalmente através 
de seu impacto sobre o processo de finance e funding. O desenvolvimento desta 
 
165 
 
relação é considerada a terceira contribuição original desta tese, ao fornecer 
elementos chave para o desenvolvimento de uma Teoria Monetária do 
Desenvolvimento Regional e Urbano. 
Por fim, as duas investigações empíricas realizadas procuraram aplicar 
estes desenvolvimentos para o caso brasileiro. Vale salientar que investigação 
empírica similar, notadamente para o caso do desenvolvimento regional, já havia 
sido feita anteriormente, principalmente no trabalho seminal de Amado (1997). No 
entanto, se trabalhos anteriores já mostravam que a contribuição Pós-Keynesiana 
de desenvolvimento regional é válida para entender a dinâmica regional brasileira, 
a presente tese se diferencia destes estudos ao superar, parcialmente, uma séria 
lacuna, qual seja: um banco de dados com informações bancárias municipalizadas. 
Neste sentido, a utilização do banco de dados elaborado pelo Laboratório de 
Estudos em Moeda e Território (LEMTe) também pode ser considerada uma 
contribuição original desta tese. Como já salientado, além do LEMTe, somente o 
Banco Central do Brasil possui este banco de dados e, infelizmente, não o 
disponibiliza. 
Os resultados apresentados confirmaram o entendimento de que a 
preferência pela liqüidez diferenciada pelas regiões é um elemento fundamental a 
ser considerado no processo de explicação das desigualdades regionais e urbanas 
no Brasil. Além disso, ficou demonstrado que as disparidades urbanas, aqui 
caracterizadas pelas diferenças da hierarquia financeira, são um fator importante 
na construção, manutenção e ampliação das desigualdades regionais, mais do que 
o recorte regional tradicional. 
Esta diferença hierárquica financeira é um elemento chave para entender o 
processo de configuração territorial brasileiro, caracterizado pela presença de 
poucos pólos completos, com grande capacidade de polarização de sua área 
complementar, e uma enorme gama de pólos incompletos, com fraca capacidade de 
polarização. Ou seja, o que a investigação empírica desta tese demonstrou é que 
não se pode discutir a fragmentação territorial brasileira (porosidade da demanda, 
entorno de subsistência, etc.) sem que a dimensão financeira seja considerada. 
 
166 
 
Por fim, deve ficar claro que esta tese é apenas uma contribuição em uma 
agenda de pesquisa bem maior, que ainda está em seus estágios iniciais. 
 
167 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ABLAS, L. A teoria do lugar central: bases teóricas e evidêncisa empíricas. São 
Paulo: USP, 1982. 
ALBAGLI, S. Globalização e espacialidade: O novo papel do local. In: CASSIOLATO, 
José Eduardo, LASTRES, Helena M.M.(ed). Globalização & inovação 
localizada: Experiências de sistemas locais no Mercosul. Brasília: 
IBICT/MCT, 1999. p 181-198 
ALESSANDRINI, P. et al. Bank Size or Distance: what hampers innovation adoption 
by SMEs?, Working Papers, 304, Universitá Politecnica delle Marche, 
Dipartimento di Economia, 2007. 
ALESSANDRINI, P. et al. Banks, Distances and Firms’ Financing Constraints, Review 
of Finance, v. 13, n.2, p.261-307,2009.
ALESSANDRINI, P.; ZAZZARO, A. A ‘possibilist’ approach to local financial systems 
and regional development: the Italian experience. MARTIN. R. (Ed.) Money 
and the Space Economy. New York: John Wiley, 1999. 
ANDRADE, R. Theories of Uncertainty: Affinity and Uniqueness, mimeo, 1997, 
AMADO, A. Disparate Regtional Development in Brazil: a monetary produtction 
approach. Brookfield: Ashgate Publishing Company. 1997. 
AMADO, Adriana. A questão regional e o sistema financeiro no Brasil: uma 
interpretação pós-keynesiana. Estudos econômicos, v.27, n.3, p.417-40, 
1997. 
AMOS O. and WINGENDER J. R. A model of the interaction between regional 
financial markets and regional growth. Regional Science and Urban 
Economics, v. 23, p. 85-110, 1993. 
ASHEIM, B.T. Industrial districts as “learning regions”: A condition for prosperity? 
European Planning Studies, 4,4, 379-400, 1996. 
BECCATINI, G. The Marshallian industrial district as a socio-economic notion. In: 
PYKE, F.; BECCATINI, G.; SENGENBERGER, W. (Eds) Industrial districts 
and local economic regeneration, Geneva: ILO, International Institute for 
Labour Studies, 1990. 
BAGEHOT, W. Lombard Stret:a description of the money market, 14th ed. 
London: J. Murray 1915 [1873]. 
BERGER, A.N., DEYOUNG, R. The effects of geographic expansion on bank 
efficiency. Journal of Financial Services Research, v. 19, n. 2/3, p. 163-184, 
2001. 
BERGE, A.r & DeYOUNG. The Effects of Geographic Expansion on Bank Efficiency, 
Finance and Economics Discussion Series, 2001-03, Board of Governors of 
the Federal Reserve System (U.S.), 2001. 
 
168 
 
BIAS P. Regional financial segmentation in the United States, Journal of Regional 
Science, v.32, n.3, p.321-34 1992. 
BREVOOT, K. and HANNAN, T. Commercial Lending and Distance: evidence from 
community reinvestment act data, Journal of Money, Credit and Banking, 
v.38, n.8, p.1991-2012. 2006. 
BROTHWELL, J. The opening chapters of a 'second edition'. In: G. C. Harcourt, & P. 
A. Riach, A 'Second Edition' of the General Theory Londres: Routledge. p. 3 
– 19, 1997. 
 BOWRING, F. LETS: an eco-socialist initiative. New Left Review, 23, 1998, p. 91-
111. 
CARNEVALI. F. Between markets and networks: regional banks in Italy. Business 
History, 38 (3), 1996, p. 84-100 
CARLING, K. and LUNDENBERG, S. Asymmetric information and distance: an 
empirical assessment of geographical credit rationing, Journal of 
Economics and Business, v.57, n.1, p.39-59, 2005. 
CARVALHO, F. Mr. Keynes and the Post Keynesians. Brookfield: Edward Elgar, 
1992. 
CARVALHO, Carlos Eduardo; STUDART, Rogério; ALVES JR., Antônio José. 
Desnacionalização do setor bancário e financiamento das empresas: a 
experiência brasileira recente. Brasília: IPEA, 2002. 75p. (Texto para 
Discussão 882). 
CHICK, V. Macroeconomics After Keynes: a reconsideration of the General 
Theory, The MIT Press, Cambridge, Masssachusetts, 1983 
CHICK, V. The evolution of the banking system and the theory of of saving, 
investment and interest. In: On Money, Method and Keynes: selected papers 
of Victoria Chick. London: Mcmillan, 1992. 
CHICK, V., & DOW, S. The meaning of open systems. Journal of Economic 
Metodology, v. 12 n.3, pp. 363 – 381, 2005. 
CHICK, V. The evolution of the banking system and the Theory of the saving, 
investment and interest. In Arestis, P. and Dow, S (eds.) On Money Method 
and Keynes: selected essays of Victoria Chick. St. Martin’s Press, New 
York, 1992. 
CHRISTALLER, W. Central places in southerm Germany. New Jersey: Prentice-
Hall, 1966. 
CLARK, G. L. Pensions and corporate restructuring in American industry: a 
crisis of regulation. Baltimore: John Hopkins University Press, 1993. 
CROCCO, M. and FIGUEIREDO, A. Regional Banking Strategy: an introductory note 
for the Brazilian case, 10th International Post Keynesian Conference, 
Kansas. 2008. 
CROCCO, M. et al. The Behavior of Liquidity Preference of Banks and Public and 
Regional Development: The Case of Brazil, Journal of Post Keynesian 
Economics. V.28 n.2, p 217-40. Winter 2005-2006. 
 
169 
 
DALY, M.et al. Regional Economic Conditions and Aggregate Bank Performance. In: 
Chen, A. (ed) Research in Finance 24, Bingley, Emerald Group Publishing, 
p.103-27, 2008. 
DALY, M. C., KRAINER, J., and LOPEZ, J. Regional economic conditions and 
aggregate bank performance. Research in Finance, 2007. 
DAVIDSON, P. Money and the Real World, Londres, Macmillan, 1972. 
DAVIDSON, P. Reviving Keynes' revolution. Journal of Post Keynesian Economics , 
1984. 
DAVIDSON, P 'Rational Expectations: a fallacious foundation for studying crucial 
decision-making processes', Journal of Post-Keynesian Economics 5: 182-
98, 1982/1983. 
DAVIDSON, P 'Uncertainty in Economics', in Dow, S. and Hillard, J. (eds.) Keynes, 
Knowledge and Uncertainty, Aldershot: Edward Elgar,1995. 
DEMSETZ, R. and STRAHAN, P. Diversification, Size, and Risk at U.S. Bank Holding 
Companies, Journal of Money, Credit, and Banking, v.29, n.3, p.300-313, 
1997. 
DOSI, G. Technical change and industrial transformation. New York: St. Martin 
Press, 1984. 
DOW, S. The regional composition of the money multiplier process. Scottish 
Journal of Political Economy. v.19, n.1, 1982. 
DOW, S. Stages of Banking Development and the Spatial Development of Financial 
Systems. in MARTIN, R. (ed.). Money and the Space Economy. Wiley, p. 31-
48, 1999. 
DOW, S.. Money and the Economic Process, Aldershot, Elgar. 1993. 
DOW, S. European Monetary Integration, Endogenous Credit Creation and Regional 
Economic Development. In Vence-Deza, X. & Metcalfe, J. (eds) Wealth from 
Diversity: innovation and structural change and finance for regional 
development in Europe, Kluwer, p. 293-306, 1996. 
DOW, S. and RODRIGUEZ-FUENTES, C. Regional Finance: A Survey, Regional 
Studies. V.31 n.9, p. 903-20, December, 1997. 
DOW, S. and HILLARD, J. (eds.) Keynes, Knowledge and Uncertainty, Aldershot: 
Edward Elgar, 1995. 
DYMSKI, G. Exclusão e eficiência: a transformação global do core banking, um 
estudo para o Brasil, em De Paula, L. F. e Oreiro, J. (Org.) Sistema 
Financeiro: em análise do setor bancário brasileiro. 2007 
DYMSKY, G.; VEITCH, J. Financial transformation and the metropolis: booms, busts, 
and banking in Los Angeles. Environment and Planning A, 28, 1996, p. 
1233-1260. 
EMMONS, W. et al. Reducing the Risk at Small Community Banks: is it size or 
geographic diversification that matters? Journal of Financial Services 
Research, v.25, n.2, p.259-281, 2004. 
 
170 
 
EMMONS, W., Gilbert, A., and Yeager, T. Risk reduction at small community banks: 
Is it size of geographic diversification that matters? Journal of Financial, 
2004. 
FAINI, R.; GALLI, G.; GIANNINI, C. Finance and Development: The case of Southern 
Italy. In: GIOVANNINI, A. (ed.) Finance and Development: Issues and 
experience. Cambridge: University Press, 1993 
FURLONG, F.T., KRAINER, J. Regional economic conditions and the variability of 
rates of return in commercial banking, Federal Reserve Bank of St. Louis 
Review, 2007. 
GERTLER, M. e ROSE, A. Finance, Public Policy and Growth, in Caprio G., Atiljas, I. e 
Hanson, J.A. (eds) Financial Reform: Theory and Experience, Cambridge 
University Press, New York, p. 13-45, 1994. 
GOLDSMITH, R.W. Financial Structure and Development, New Haven, Yale 
University Press. 1969. 
GUISO, L. et al. Does Local Financial Development Matter? National Bureau of 
Economic Research Working Paper, 8922, 2002. 
HELMSING, A. H. Teoria de desarrollo industrial regional y políticas de segunda y 
tercera generación. Revista EURE , XXV v.75, p. 5 – 39, 1999. 
HICKS, J., (1967) ‘The Two Triads’, em Critical Essays in Monetary Theory, 
Claredon Press: Oxford 
HIRSCHMAN, A. The strategy of economic development. Forge Village: Yale 
University
Press, 1958. 
JACOBS, J. The Economies of the City. New York: Vintage Books. 1968. 
JAYARATNE, J.; STRAHAN, P. E. The finance-growth nexus: evidence from bank 
branch deregulation. Quartely Journal of Economics, v. 111, n. 3, p.639-
670, Aug. 1996. 
Jiménez, E. M. Nuevas enfoques teóricos, evolución de lãs políticas regionales 
e impacto territorial de la globalización. ILPES, Série Gestión pública 27, 
Santiago, 2002 
KALDOR, N. The case for regional policies, Scottish Journal of Political Economy, 
vol. 17, 1970 
KALDOR, N. The scourge of monetarism, Oxford: Oxford University Press, 1982, 
KEYNES, J. M. Relative movements of real wages and output v. 49, 1973 [1939]. 
KEYNES, J. M. The distinction between a co-operative economy and an 
entrepreneur economy. In: D. Moggridge, The General Theory and After: a 
supplement (Vols. Collected Writins, Vol. XXIX, pp. 76 - 111). Londres: 
Mcmillan Cambridge University Press. 1979. 
KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres: 
Macmillan. 1973 [1937]. 
 
171 
 
KLAGGE, B. & MARTIN, R. Decentralized versus centralized financial systems: is 
there a case for capital markets, Journal of Economic Geography, v.5 n.4, p. 
387-421, 2005. 
KREGEL, J. Constraints on the expansion of the output and employment: real or 
monetary?. Journal of Post Keynesian Economics, Vol. 7, p. 139-152, 1984-
85. 
KREGEL, J. The Past and Future of Banks, Ente Einaudi: Roma, 1997. 
KOO, J. & MOON, H. Regional Segregation of Financial Markets in Korea, The Bank 
of Korea Economic Papers, n. 46,2004. 
LEE, R. Moral money? LETS and the social construction of local economic 
geographies in Southeast England. Environment and Planning A, 28, 1996, 
p. 1377-1394. 
LEMOS, M. Espaço e Capital: um estudo sobre a dinâmica centro x periferia. 
Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, 
Campinas. 1988 
LEVINE, R. Finance and Growth: theory and evidence. NBER Working Papers 
Series, 10766, National Bureau of Economic Research, 2004. Disponível em: 
<http://www.nber.org/papers/w10766> Acesso em: 10 de abril 2010. 
LEYSHON, A. & THRIFT, N. Financial Exclusion and the Shifting Boundaries of the 
Financial System. Environment and Planning A, v. 28, p. 1150-1156, 1996. 
LEYSHON, A. & THRIFT, N. Money/Space: Geographies of Monetary 
Transformation. London: Routledge, 1997 
LEYSHON, A. & THRIFT, N. Geographies of financial exclusion: financial 
abandonment in Britain and the United States, Transaction of the Institute 
of British Geographers, New Serie, n. 20, p. 312-41, 1995. 
LEYSHON, A. Geographies of money and finance I, Progress in Human Geography, 
v.19, p. 531-543, 1995. 
LEYSHON, A. Geographies of money and finance II, Progress in Human 
Geography, v.21, p. 278-289, 1997. 
LEYSHON, A. Geographies of money and finance III, Progress in Human 
Geography, v. 22, p. 433-446, 1998. 
LEYSHON, A. Money and Finance em T. Barnes (Ed.) A Companion to Economic 
Geography, Oxford: Blackwell, p.432-449, 2000 
LEYSHON, A.; THRIFT, N, Financial exclusion and shifting boundaries of the 
financial system. Environment and Planning A, 28, 1996, p. 1150-1156. 
LEMTe, Laboratório de Estudos em Moeda e Território – CEDEPLAR – UFMG. 
LI, et al. Banking on social capital in the era of globalisation: Chinese ethnobanks in 
Los Angeles”, Environmment and Planning A, 33, 2001, p. 1923-1948. 
LÖSCH, A. The economics of location. Yale United Press: New Haven,, 1954. 
 
172 
 
LUNDVALL, B. Introduction. In: LUNDVALL, B. (ed.). National systems of 
innovation: towards a theory of innovation and interactive learning. 
London: Pinter, 1992. p 1-19 
Maillat, D., 1998. Innovative milieux and new generations of regional policies. 
Entrepreneurship & Regional Development, 10, 1-16. 
MARTIN, R. Stateless monies, global financial integration and national autonomy: 
the end of geography? In: CORBRIDGE, S.; THRIFT, N.; MARTIN, R. (Eds) 
Money, Power and Space, Oxford: Blackwell, 1994, 327-355. 
MARTIN, R. The new economic geography of money. In: R. Martin (Ed.), Money and 
the Space Economy New York, USA: John Willey & Sons, p. 3 – 27, 1999. 
MARTIN, R.. Money and the Space Economy, New York, John Wiley and Sons, 
1999. 
MARTIN, R; MINNS, R. Undermining the financia basis of regions: the spatial 
structure and implications of the UK pension fund industry. Regional 
Studies, 29, 1995, p. 125-144 
MASKELL, P. and MALMBERG, A., 1999. Localized learning and industrial 
competitiveness. Cambridge Journal of Economics, 23:167-185 pp. 
MEYER, A. and YEAGER, T. Are Small Rural Banks Vulnerable to Local Economic 
Downturns? Federal Reserve Bank of St. Louis Review, v.83, p. 25-38, 
2001. 
MINSKY, H. Stabilizing an unstable economy. Binghamton: Yale University Press, 
1986 
MIYAKOSHI T. and TSUKUDA, Y.. Regional Disparities in Japanese Banking 
Performance, Review of Urban & Regional Development Studies, v.16, n.1, 
p. 74-89, 2004. 
MOORE, B.. (1988) Horizontalists and Verticalists: the macroeconomics of 
credit money, Cambridge: Cambridge University Press, cap. 1. 
MOORE, C.L., and HILL, J.M. Interregional arbitrage and the supply of loanable 
funds. Journal of Regional Science, v. 22, p.499–512, 1982. 
MORGAN, D. and SAMOLYK Geographic Diversification in Banking and its 
Implications for Bank Portfolio Choice and Performance, mimeo. 2005. 
MURPHY, C.; TOOZE, R. Getting Beyond the “Common Sense” of the IPE Orthodoxy. 
In: MURPHY, C.; TOOZE, R. (Eds.) The New International Political 
Economy, Boulder, Lynne Rienner Pub., 1991, p. 11-31. 
MYRDAL, G. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. Rio de Janeiro: Saga, 
1965. 
MYRDAL, G. Economic Theory and Under-Developed Regions, London, Gerald, 
1957 
NORTH, D. Location Theory and Regional Economic Growth. The Journal of 
Political Economy ,v. 63 n.3, p. 243-258, Jun. 1955. 
 
173 
 
 NORTH, P. Exploring the politics of social movements through “sociological 
intervention”: a case study of local exchange trading systems. The 
Sociological Review, 46, 1999, p. 564-582. 
OZYILDIRIM and OLDER. Banking Activities and Local Output Growth: does 
distance from centre matter? Regional Studies, v.42, n.2, p. 229-244, 2008. 
Disponível em: 
<http://rsa.informaworld.com/srsa/title~content=t713393953~db=all~ta
b=issueslist~branches=42 >, Acesso em: 10 abril 2010. 
PARK, K. & PENNACCHI, G. Harming Depositors and Helping Borrowers: the 
disparate impact of bank consolidation, Review of Financial Studies, v.22, 
n.1, p.1-40, 2009. 
PARR, J., & BUDD, L. Financial services and the urban system: an exploration. 
Urban Studies , v.37 n.3, p. 593 – 610, 2000. 
PENIDO, M. O Brasil na era da globalização: condicionantes domésticos e 
internacionais ao desenvolvimento, mimeo. 2008. 
PURDUE, D.; et al. DIY culture and extended milieux: LETS, veggie boxes and 
festival. The Sociological Review, 45, 1997, p. 645-667 
RICHARDSON, H. Economia Regional. Rio de Janeiro: Zahar, 1975 [1969]. 
ROBERTS, R.B., and FISHKIND, H.H. The role of monetary forces in regional 
economic activity: an econometric simulation analysis. Journal of Regional 
Science, v.19, n.1, p.15–29, 1979. 
RODRIGUEZ-FUENTES, C. Regional Monetary Policy. Londres: Routledge, 2006. 
ROSENSTEIN-RODAN, P. Problems of industrialization of Eastern and South-
Eastern Europe, Economic Journal, V. 53, n. 210/211, p. 201-11, 1943. 
 ROUSSEAS, S. Post Keynesian Monetary Economics, Armonk, M. E. Sharp, 1986. 
RUNDLE, J. Paul Davidson and the Austrians: Reply to Davidson, Critical Review 7: 
381-97, 1993. 
RUSSO, P.; ROSSI, P. Credit constraints in Italian industrial districts. Applied 
Economics, 30 (11), 2001, p. 1469-1477. 
SAMOLYK, K. A. Banking conditions and Regional Economic Performance. Journal 
of Monetary Economics, v.34, p.259-278,
1994 
SANTOS, F. e CROCCO, M. Financiamento e desenvolvimento sob novas óticas. In: 
Carvalho, F. (ed.) A Arquitetura da Exclusão, Observatório da Cidadania 
nº10, Rio de Janeiro, IBASE, 2006. 
SANTOS, F. ; CROCCO, M. ; JAYME JÚNIOR, Frederico Gonzaga . Knowledge 
Externalities and Growth in Peripheral Regions. In: Philip Arestis; Michelle 
Baddeley; John McCombie. (Org.). Economic Growth: New Directions in 
Theory and Policy. 1 ed. Cheltenham; Massachusetts: Edward Elgar, 2006, 
v. 1, p. 223-237. 
SANTOS, F., CROCCO, M., e LEMOS, M., 2002. Sistemas produtivos locais em 
'espaços industriais periféricos': os casos de Nova Serrana e da rede FIAT de 
fornecedores. Revista de Economia Contemporânea, 6:147-180 pp. 
 
174 
 
SHACKLE, G. 'Time and Thought', British Journal for the Philosophy of Science 9: 
285-98. 1959 
 SHACKLE, G. Expectation, Enterprise and Profit, London: George Allen and 
Unwin Ltd., 1970. 
SOARES, Ricardo P. Evolução do crédito de 1994 a 1999: uma explicação. Rio de 
Janeiro: IPEA, 2001. 46 p. (Texto para discussão 808) 
STRANGE, S. States and Markets, London: Pinter, 1988. 
STORPER, M. Regional “Worlds” of Production: Learning and Innovation in the 
Technology, 1993. 
STORPER, M., 1995. The Resurgence of regional economies, ten years later: the 
region as a nexus of untraded interdependencies. European Urban and 
Regional Studies, 2:191-221 pp. 
STORPER, M., WALKER, R. The capitalist imperative: territory, technology and 
industrial growth. New York: Basil Blackwell, 1989. 
STULZ, R. Does Financial Structure Matter for Economic Growth? A Corporate 
Finance Perspective, In: A. Demirguc-Kunt and R. Levine. (eds) Financial 
Structure and Economic Growth: A Cross-Country Comparison of Banks, 
Markets, and Development, Cambridge, MA: MIT Press: p.143-188, 2001. 
TICKELL, A. Money and Finance. In: CLARK, G.; FELDMAN, M.; Gertler, M. (Eds) The 
Oxford Handbook of Economic Geography, Oxford University Press, New 
York, 2000. 
THRIFT, N. On the social and cultural determinats of international financial 
centers: the case of the City of London. In: CORBRIDGE, S.; THRIFT, N.; 
MARTIN, R. (Eds) Money, Power and Space, Oxford: Blackwell, 1994, p. 
327-355. 
THRIFT, N. Spatial Formations. London: Sage, 1996. 
THORNE, L. Local exchange trading systems in the United Kingdom, Environment 
and Planning A, 28, p. 1361-1376, 1996. 
USAI, S. and VANNINI, M. Banking Structure and Regional Economic Growth: 
lessons from Italy, The Annals of Regional Science, v.39, n.4, 691-714, 
2005. 
VALVERDE, S. & FERNÁNDEZ, F. The Finance–Growth Nexus: a regional 
perspective, European Urban and Regional Studies, v.11, n.4, p.339-354, 
2004. 
WILLIAMS, C. C. The potential of LETS in tacking social exclusion amongst young 
people. In: GARCIA, S. (Ed.) Inclusion Through Participation: Policies to 
Promote Social Inclusion. Brussels: European Commission, DG12, 1999. 
YEAGER, T. The Demise Of Community Banks? Local Economic Shocks are not to 
Blame, Journal of Banking and Finance, v.28, n.9, 2135-2153, 2004. 
ZYSMAN, John. Governments, markets and growth: financial systems and the 
politics of industrial change. Ithaca, NY, Cornell University Press, 1983. 
	Cat00001 Cod000674-moeda e desenvolvimento regional e urbano uma
	Cat00001 Cod000674-moeda e desenvolvimento regional e urbano uma-1

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?