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3. O PAEG e o “Milagre” Econômico II (1964-1973) Disciplina: Economia Brasileira Contemporânea UNIPAMPA - Graduação em Relações Internacionais Turma: 4RI (2º Semestre de 2012) Prof. Wilson Vieira 1. Introdução � Período 1964-1974: mandatos do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967), do General Arthur da Costa e Silva (1967-1969) e do General Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). � Período marcado pela continuidade no terreno político e no modelo de política econômica. � Modelo de política econômica (traçado no governo Castello Branco) formulado por Roberto Campos (Ministro do Planejamento) e Octávio Gouveia de Bulhões (Ministro da Fazenda), que permaneceram nos cargos somente no período Castello Branco, e que contava com os seguintes objetivos principais: combate gradual à inflação, expansão das exportações, retomada do crescimento. 1. Introdução � 1964-1967: fase de ajuste conjuntural e estrutural da economia através do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) e de importantes reformas estruturais (sistema financeiro, estrutura tributária, mercado de trabalho). � 1968-1973: fase caracterizada por uma política monetária expansiva e vigoroso crescimento da atividade econômica, gradual redução da inflação e desequilíbrio externo. Foi o período do chamado “milagre” econômico brasileiro. 2. O PAEG (1964-66): Diagnóstico e Estratégia de Estabilização � “Ao longo de 1963 e até o início de 1964, a economia brasileira operou em verdadeiro estado de ‘estagflação’ – estagnação da atividade econômica acompanhada de aumento da inflação” (HERMANN, 2011: 51). � O crescimento do PIB entre 1957 e 1962 foi de 8,8% ao ano em média e o de 1963 foi somente de 0,6%. E a inflação (medida pelo IGP) elevou-se da média de 32,5% (período 1957-1962) para 79,9% em 1963. � O PAEG e as reformas estruturais do período 1964-66 estão fundamentados no diagnóstico de Roberto Campos, segundo o qual a inflação era primordialmente causada pelos déficits governamentais e pela contínua pressão salarial. � “Os déficits alimentavam a expansão dos meios de pagamento que, por sua vez, sancionavam os aumentos de salários” (HERMANN, 2011: 51). 2. O PAEG (1964-66): Diagnóstico e Estratégia de Estabilização � Tal diagnóstico inspirou as principais medidas do PAEG (cf. HERMANN, 2011: 51-52): � I) Programa de ajuste fiscal com base em metas de aumento da receita (via aumento da arrecadação tributária e de tarifas públicas) e de contenção (ou corte, em 1964) de despesas governamentais. � II) Orçamento monetário com previsão de taxas decrescentes de expansão dos meios de pagamento. � III) Controle do crédito ao setor privado através da limitação do crédito total às mesmas taxas de expansão definidas para os meios de pagamento. � IV) Mecanismo de correção salarial através do salário real médio do biênio anterior acrescido de porcentagem correspondente ao aumento de produtividade. Regra aplicada inicialmente na administração pública e, a partir de 1966, também no setor privado. 2. O PAEG (1964-66): Diagnóstico e Estratégia de Estabilização � Estabelecimento de metas decrescentes de inflação (dentro de uma estratégia gradualista): 70% em 1964, 25% em 1965 e 10% em 1966. � Previsão de taxas reais de crescimento do PIB de 6% ao ano no biênio 1965-66. � “Nos governos Castello Branco e Costa e Silva, em particular, predominou a visão de que era possível conciliar taxas razoáveis de crescimento do PIB com o combate gradual à inflação. A ‘mágica’ dessa conciliação seria feita pela correção monetária” (HERMANN, 2011: 53). 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � As reformas estruturais focaram as estruturas tributária e financeira, além de uma importante mudança no mercado de trabalho através da criação do FGTS. � 3.1 A ReformaTributária � Objetivos explícitos: aumento da arrecadação do governo (via aumento da carga tributária da economia) e racionalização do sistema tributário. � Buscava-se a redução dos custos operacionais da arrecadação através da eliminação de impostos de pouca relevância financeira, além da definição de uma estrutura tributária capaz de incentivar o crescimento econômico. 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � Principais medidas implementadas: � I) Instituição da arrecadação através da rede bancária. � II) Extinção dos impostos do selo (federal), sobre profissões e diversões públicas (municipais). � III) Criação do ISS, a ser arrecadado pelos municípios. � IV) Substituição do imposto estadual sobre vendas, incidente sobre o faturamento das empresas, pelo ICM, incidente apenas sobre o valor adicionado a cada etapa de comercialização do produto. � V) Ampliação da base de incidência do imposto sobre a renda de pessoas físicas. � VI) Criação de uma série de mecanismos de isenção e incentivos a atividades consideradas prioritárias pelo governo à época (aplicações financeiras, investimentos em regiões e setores específicos). � VII) Criação do FPEM. 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � Resultados e características dessas medidas: � I) Significativo aumento da carga tributária do país (de 16% em 1963 para 21% do PIB em 1967). � II) Regressividade do ponto de vista distributivo. � III) Centralização, do ponto de vista federativo, com limitação ao direito dos estados e municípios legislarem sobre tributação, além de atribuir exclusivamente à União o poder de decisão sobre o percentual de transferências através do FPEM e o poder de ingerência sobre a alocação de parte desses recursos. � IV) Eliminação do princípio da anualidade. 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � 3.2 A Reforma Financeira � Estrutura do SFB até meados da década de 1960: i) bancos comerciais privados e financeiras; ii) caixas econômicas federais e estaduais; iii) bancos públicos (BB, BNDE); iv) instituições não bancárias. � Objetivo explícito das reformas de 1964-67: complementar o SFB através da constituição de um segmento privado de longo prazo no Brasil. � Objetivo central: “(...) dotar o SFB de mecanismos de financiamento capazes de sustentar o processo de industrialização já em curso, de forma não inflacionária” (HERMANN, 2011: 56). � Reorganização do funcionamento do mercado monetário através da criação do BACEN (executor da política monetária) e do CMN (normatizador e regulador do SFB). 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � Modelo de financiamento: segue o modelo segmentado dos EUA. � “Para viabilizar esse modelo, era necessário estabelecer regras claras de funcionamento do mercado de capitais e dotar as instituições financeiras, bem como as empresas interessadas no financiamento direto, de condições de acesso a recursos de longo prazo. As regras de funcionamento do mercado foram estabelecidas numa série de Leis e Resoluções do governo” (HERMANN, 2011: 56). � Problemas na captação de longo prazo, segundo Hermann (2011: 56): “(...) tanto a geração, quanto a alocação de poupança no Brasil eram prejudicadas pelo baixo retorno real dos ativos de longo prazo, em um contexto de inflação crescente e juros nominais limitados (ao teto de 12% ao ano pela Lei da Usura) e pela Cláusula Ouro (que impedia a indexação de contratos)”. � Vide Quadro 3.2 (p. 57). 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � Criação de mecanismos de proteção do retorno real dos ativos, bem como de incentivo à demanda, dada a opção do gradualismo no combate à inflação: � I) ORTN para os títulos públicos. � II) Emissão de diversos tipos de instrumentos financeiros com correção monetária para os ativos privados de renda fixa (títulos e empréstimos). � III) Reduções ou isenções de IR para as empresas emissoras de ações e para os poupadores, no caso dos ativos de renda variável (ações). � IV) Criação de novos mecanismos de captação de longo prazo, a partir de fundos especiais, formados por recursos das próprias autoridades monetárias ou por poupança compulsória, para os bancos públicos. 3. As Reformas Estruturais do Período 1964-67 � Ampliação do grau de abertura da economia ao capital externo, tanto de risco (investimentos diretos) quanto de empréstimo através das seguintes medidas: � I) Permissão de captação direta de recursos externos por empresas privadas nacionais. � II) Regulamentação da captação de empréstimos externos pelos bancos nacionais para repasse às empresas domésticas. � III) Facilitação das remessas de lucros ao exterior dos investidores estrangeiros através de mudança na legislação, a fim de tornar o mercado brasileiro mais competitivo na captação de investimentos diretos. � Justificativas da abertura financeira: � I) Contribuição ao aumento da concorrência e eficiência do SFB. � II) Captação de poupança externa, dada a carência estrutural do país de poupança interna. 4. A Economia Brasileira no Período 1964-67 � Recuperação da atividade econômica, mas com taxas moderadas de crescimento no período 1964-1967 (4,2% ao ano), especialmente no biênio 1964-65 (2,9% ao ano), como podemos observar na Tabela 3.2 (p. 59). � O PAEG não conseguiu cumprir as metas estabelecidas de inflação (segundo o IGP): 92% em 1964 (meta de 70%), 34% em 1965 (meta de 25%) e 39% em 1966 (meta de 10%). � As metas de expansão nominal dos meios de pagamento também foram ultrapassadas, mas o crescimento real dos meios de pagamento e do crédito privado oscilou bastante: negativo em 1964 e 1966, mas superou amplamente a meta em 1965 (mais especificamente no segundo semestre), como compensação da forte retração monetária até meados daquele ano, que se refletiu também no menor crescimento do PIB (2,4%) no período 1964-67.VideTabela 3.3 (p. 60). 4. A Economia Brasileira no Período 1964-67 � “Com relação ao ajuste fiscal, embora as metas fixadas no PAEG não tenham sido cumpridas à risca para as receitas e despesas separadamente, os déficits obtidos ficaram próximos do previsto para o biênio 1964-1965” (HERMANN, 2011: 60). � Política salarial do período: bastante restritiva. � “Em suma, as pressões inflacionárias de demanda e de custos, diagnosticadas no PAEG, foram efetivamente combatidas com políticas monetária, fiscal e salarial restritivas. Contudo, o sucesso do Plano foi parcialmente comprometido pelos aumentos atribuídos a outros custos básicos – impostos, tarifas públicas, câmbio e juros (este último, devido ao aperto monetário) – e pela criação da correção monetária para ativos e contratos em geral” (HERMANN, 2011: 61). 4. A Economia Brasileira no Período 1964-67 � “Na prática, o PAEG estabeleceu um mecanismo de seleção de custos que deveriam ser comprimidos, em nome da necessidade de conter o processo inflacionário, e daqueles que deveriam ser preservados, ou mesmo reajustados. No primeiro grupo estavam os salários reais. No segundo, os itens componentes da receita do governo, as tarifas das empresas estatais e os rendimentos reais do setor financeiro e dos rentistas em geral, protegidos pela correção monetária dos ativos e contratos” (HERMANN, 2011: 61). � Aumento dos saldos comerciais (expansão das exportações em 24% no período 1964-66 e retração das importações nem 27% no período 1964-65) devido ao nível adequado da taxa de câmbio e ao fraco crescimento econômico do biênio 1964-65 (média anual de 2,9%). 4. A Economia Brasileira no Período 1964-67 � Retorno do crescimento das importações a partir de 1966, acompanhando a recuperação da atividade econômica. � Saldo do BP favorecido também pela entrada de capitais voluntários (IED, basicamente) e por empréstimos de regularização (fator explicativo do superávit do BP no período 1964-67). � Os efeitos da reforma financeira foram lentos, só se tornando perceptíveis ao longo dos anos seguintes. � O principal efeito visível no curto prazo da reforma financeira foi a efetiva criação de um mercado de dívida pública no país, fato que viabilizou permanentemente o financiamento não monetário dos déficits do governo. 5. O Período de 1968-73: Recuperação e “Milagre” � 5.1 Características Gerais do “Milagre” � Início de uma nova fase de crescimento vigoroso em 1968 que se estendeu até 1973. � “O crescimento do período de 1968-73 retomou e complementou o processo de difusão da produção e consumo de bens duráveis, iniciado com o Plano de Metas” (HERMANN, 2011: 62). � O ritmo de crescimento foi acompanhado de queda da inflação (embora moderada) e de sensível melhora do BP. � Março de 1967: Delfim Netto assume o Ministério da Fazenda e manteve a linha de combate à inflação, mas com mudança de ênfase da política econômica em dois sentidos: i) ênfase do controle da inflação no componente de custos; ii) conciliação do combate à inflação com políticas de incentivo à retomada do crescimento econômico. 5. O Período de 1968-73: Recuperação e “Milagre” � Inflexão na política monetária: tornou-se expansiva após forte restrição de liquidez em 1966. � “Para compensar os possíveis efeitos da expansão monetária sobre a inflação, foram instituídos controles de preços, através de um órgão criado exclusivamente para esse fim – a CONEP (Comissão Nacional de Estabilização de Preços), mais tarde substituída pela CIP (Comissão Interministerial de Preços)” (HERMANN, 2011: 64). � O BACEN também tabelou os juros cobrados pelos bancos comerciais. � Lançamento do Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED) em meados de 1968. � Os investimentos públicos não poderiam comprometer o ajuste fiscal em curso. 5. O Período de 1968-73: Recuperação e “Milagre” � Radicalização do regime autoritário a partir de dezembro de 1968 com oAI-5. � 5.2 A Política Econômica e a Economia Durante o “Milagre” � Forte crescimento do PIB a partir de 1968. � Expansão dos meios de pagamento e do crédito. � Quatro fatores atuaram para conter a tendência ao aumento da inflação: i) capacidade ociosa da economia; ii) controle direto do governo sobre preços industriais e juros; iii) política salarial em vigor; iv) política agrícola implementada. � Esses fatores atuaram diretamente sobre os custos de produção. � A melhora das contas externas permitiu um controle maior sobre o câmbio apesar da política de minidesvalorizações cambiais adotada a partir de 1968. 6. Bibliografia � HERMANN, Jennifer. Reformas, endividamento externo e o “milagre” econômico (1964-1973). In: GIAMBIAGI, Fabio et al. (orgs.). Economia brasileira contemporânea (1945- 2010). 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. cap. 3, p. 49-72.