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RESUMO_A_DEFLAÇÃO_DOS_PREÇOS_DAS_COMMODITIES_EM_2011

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RESUMO: A DEFLAÇÃO DOS PREÇOS DAS COMMODITIES EM 2011*
Willian Kemp
4º Agro – Matutino
INTRODUÇÃO.
É o movimento de queda das cotações internacionais das commodities a partir do segundo trimestre de 2011 que ocorreu em duas “ondas” – a primeira mais suave, no bimestre maio-junho, e a segunda, mais intensa, em agosto – e, ao que tudo indica, se estendeu até dezembro último. 
Este artigo vai estudar os determinantes da deflação dos preços das commodities em 2011 e a evolução do índice de preços desses bens calculado pelo Banco Central do Brasil, o IC-Br.
A DEFLAÇÃO DE 2011.
Como detalhado em Prates (2011), as fases de alta dos dois ciclos de preços das commodities no século 21 – os ciclos pré-crise (2002-2008) e pós-crise (2009-2011) – foram condicionadas por alguns fatores comuns, como a financeirização do mercado de commodities e os desequilíbrios entre a oferta e a demanda (associados ao efeito-China e à crescente utilização de cereais na produção de biocombustíveis, dentre outros fatores). 
Essa fase terminou em dezembro de 2011, já que os dois principais índices de preços das commodities (o do Commodity Research Bureau, CRB, e o do Fundo Monetário Internacional, FMI) voltaram a se recuperar em janeiro de 2012. No entanto, ainda é cedo para afirmar se essa recuperação configura o início de um novo ciclo ou se foi somente um breve interregno da etapa de baixa do ciclo pós-crise.
A deflação de preços entre maio e dezembro de 2011 transparece na trajetória dos dois índices, mas foi intensa no caso do índice CRB, que recuou 18%, contra 12,4% no caso do índice do FMI. 
Na realidade, a perda de ritmo da atividade econômica nas economias avançadas (que ganhou força no segundo semestre) pode ser considerada tanto causa como efeito dessa crise. Isto porque a inversão de sinal das políticas fiscais (de expansionista para restritiva) a partir de junho de 2010 por vários países da União Européia, em resposta às pressões dos investidores ocorreu de forma prematura, num ambiente de fragilidade da demanda privada, abortando a recuperação jobless and wageless em curso (UNCTAD, 2011)e, assim, tornando o ajuste das contas públicas ainda mais difícil (ou mesmo impossível).
Já no âmbito dos países emergentes, a desaceleração foi provocada, principalmente, pelas políticas monetárias e fiscais restritivas, adotadas a partir de 2010, para conter o sobreaquecimento, as bolhas nos mercados de crédito e de ativos e as pressões inflacionárias que emergiram em função da superação rápida e bem sucedida do efeito-contágio da crise financeira global de 2008 (e, nesse último caso, da própria alta dos preços das commodities).
No âmbito financeiro, o aumento da aversão global aos riscos, decorrente da crise soberana da área do euro, provocou dois processos que também contribuíram para a queda dos preços das commodities. Por um lado, a apreciação do dólar decorrente do movimento de fuga para a qualidade. Por outro lado, a forte redução das posições dos investidores nos mercado financeiros vinculados às commodities, a qual envolveu todas as categorias, com destaque para petróleo e bens agrícolas.
A desalavancagem e a queda dos preços nos mercado financeiros vinculados às commodities precederam os mesmos movimentos nas demais classes de ativos financeiros, que ocorreram no segundo semestre de 2011. Essa precedência evidencia, mais uma vez, a influência decisiva da financeirização na dinâmica contemporânea dos preços das commodities.
No caso do petróleo, as expectativas de redução da demanda após o forte crescimento no segundo semestre de 2010 (decorrente da aceleração do crescimento da demanda chinesa devido a interrupções e cortes de energia) foram reforçadas por esses fatores e acabaram se confirmando.
No que se refere ao mercado de commodities metálicas, a deflação dos preços desses bens precedeu a queda nas demais categorias devido à maior influência da demanda da China, que responde por 40% do seu consumo global. A desaceleração da economia chinesa em consequência das medidas restritivas mencionadas acima atingiu, especialmente, o investimento fixo e, assim, os setores intensivos em metais. Ademais, a desova de estoques acumulados aos longo de 2009 e 2010 também contribuiu para a perda de ritmo das importação chinesas desses bens. 
A EVOLUÇÃO DO IC-BR.
O índice IC-Br, calculado pelo BCB, exprime a média mensal ponderada dos preços em reais das commodities relevantes para a dinâmica da inflação brasileira, desde 1998.
O IC-Br agrega de forma ponderada os indicadores relativos aos segmentos agropecuária, metal e energia, que incluem os seguintes produtos:
Segmento agropecuária: carne de boi, algodão, óleo de soja, trigo, açúcar, milho, café, arroz e carne de porco;
Segmento metal: alumínio, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, chumbo e níquel;
Segmento energia: petróleo Brent, gás natural e carvão;
O índice do FMI engloba mais de 40 produtos, distribuídos em oito subíndices, enquanto o IC-Br abrange somente as 19 commodities exportadas pelo Brasil que têm maior impacto na inflação brasileira.
Na fase de alta, enquanto o Índice do FMI avançou 104,7%, o IC-Br aumentou somente 29,3%, uma diferença de 75,4 p.p., em parte explicada pela apreciação nominal de 31,2% do real nesses período. 
Já na fase baixa, o Índice do FMI registrou uma deflação de 12,4% e o IC-Br uma pequena alta de 0,94%, resultado que sofreu influência da depreciação de 1,16% do real nesse período.
Assim, nos dois casos, a trajetória da taxa de câmbio do real (apreciação na fase de alta e depreciação na fase de baixa do ciclo de preços das commodities) contribuiu para atenuar o impacto das variações das cotações internacionais dos preços domésticos desses bens, mas a divergência entre os dois índices também decorreu das diferenças metodológicas em termos de composição e pesos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
A revisão das cotações das commodities não energéticas devem recuar 14% no ano corrente enquanto que as commodities energéticas ter uma variação menos expressiva – de uma variação negativa de 3,1% para 4,9% - devido aos crescente riscos geopolíticos que podem levar a uma ruptura na oferta de petróleo (sobretudo do Irã) e aos baixos níveis de estoques e de capacidade ociosa.
Se esse cenário se confirmar, os efeitos para a economia brasileira são contraditórios. Por um lado, as exportações de commodities (que respondem por mais de 50% da pauta) serão beneficiadas, contribuindo para um melhor resultado comercial e menos déficit em transações correntes. Por outro lado, a inflação de bens não duráveis – que cedeu no último quadrimestre de 2011 em função da queda dos preços desses bens, contribuindo para que o IPCA não ultrapasse o teto da meta (ver Boletim de Economia Fundap n.11 ) – deve voltar a subir. 
Fonte: 
Boletim de Economia Fundap nº 12, fev/12. Temas Setoriais. Grupo de Economia Fundap.

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