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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I Professor: Márcio do Nascimento 2013/02 PLANO DE ENSINO Disciplina DIREITO CONSTITUCIONAL I Professor: PROF. MÁRCIO DO NASCIMENTO Curso: DIREITO Período: Turma: Crédito: Carga horária: 2º PERÍODO 04 CRÉDITOS 72 HORAS/AULA Semestre letivo: 2013 - 2 1. Ementa: Teoria da Constituição. O Constitucionalismo. A evolução do Estado moderno: paradigmas. O Estado Liberal de Direito. O Estado Social de Direito. O Estado Democrático de Direito. O novo constitucionalismo. Constituição: conceitos, estudo de sua teoria e de sua tipologia, suas funções básicas. A Supremacia Constitucional. O Poder Constituinte: sua gênese constitucional. Norma Constitucional: normas e princípios. Hermenêutica Constitucional: interpretação, aplicação e concretização da Constituição. 2. Objetivos Gerais: - Refletir a respeito da importância do Direito Constitucional. - Identificar a origem e a formação do Estado. - Definir os fundamentos do Estado Moderno através da história. - Investigar os pressupostos e paradigmas do Estado Liberal, Estado Social e Estado Democrático de Direito. Específicos: - Analisar a formação do poder constituinte com a interface com o Estado Moderno. - Estabelecer compreensão dos variados conceitos e tipologia de Constituição. - Compreender a distinção entre princípios e normas constitucionais. - Discriminar os princípios de interpretação constitucional 3. Conteúdo Programático UNIDADE 1 – Teoria Geral do Estado 1. Teoria Geral do Estado 1.1 Origem da palavra Estado 2. Origem do Estado 3. Teorias que justificam a origem do Estado 3.1 Teoria Teológica 3.2 Teorias contratualistas 3.3 Teoria da Violência 3.4 Teoria Familiar 4 Evolução histórica do Estado 4.1 Estado Antigo 4.2 Estado grego 4.3 Estado romano 4.4 Estado medieval 4.5 Estado moderno 5 Elementos Constitutivos do Estado 5.1 Soberania 5.2 Território 5.3. Governo 5.4 Povo 5.5. Finalidade 6 Formação, modificação, extinção do Estado 7 Formas de Estado 7.1 Estado Unitário 7.2 Estado Composto 8 Formas de Governo 8.1. Sistema de Governo 8.2. Regime de Governo UNIDADE 2 – O Constitucionalismo 1. Antecedentes da Constituição Escrita 2. Constitucionalismo Antigo e moderno 2.1. Constitucionalismo Antigo 2.2. Constitucionalismo da Idade Média 2.3. Constitucionalismo Moderno 3. Constitucionalismo contemporâneo e globalizado 4. A evolução do Estado Moderno: Paradigma. O Estado Liberal de Direito, o Estado Social de Direito. O Estado Democrático de Direito. 4.1. O paradigma do Estado Medieval 4.1.1. A situação da Igreja 4.1.2. Caracteres fundamentais do sistema feudal 4.2. O paradigma do Estado Liberal de Direito 4.3. O paradigma do Estado Social de Direito 4.4. O paradigma do Estado Democrático de Direito. UNIDADE 3 – O Poder Constituinte: sua gênese constitucional 1. Considerações iniciais 2. Conceito de Poder Constituinte 3. Teorização do Poder Constituinte 4. Natureza 5. Titularidade e Exercício 5.1 Titularidade 5.2 Exercício 6. Poder Constituinte Originário e Derivado 6.1. Poder Constituinte Originário 6.1.1. Inicialidade 6.1.2. Ilimitação 6.1.3 Incondicionamento 6.2. Poder Constituinte Derivado Reformador e de Revisão 6.2.1. Derivação 6.2.2. Limitação 6.2.3. Condicionamento 6.3. Poder Constituinte Decorrente Institucionlizador 6.3.1. Derivação 6.3.2. Limitação 6.3.3. Condicionamento UNIDADE 4 – Teoria do Direito Constitucional e da Constituição 1. Direito Constitucional - Conceito 2. Direito Constitucional: Origem e Evolução 3. Direito Constitucional: objeto 4. Direito Constitucional: conteúdo científico 4.1. Direito Constitucional Especial (Interno, Positivo ou Particular) 4.2. Direito Constitucional Comparado 4.3. Direito Constitucional Geral 5. Teoria da Constituição e sua Tipologia 5.1. Constituição em sentido material e formal - Considerações iniciais 5.2. Conceito Material 5.3. Conceito Formal 5.4. Conceito Moderno 5.5. Concepções sobre as Constituições 5.5.1. Constituição em sentido político 5.5.2. Constituição em sentido sociológico 5.5.3 Constituição em sentido jurídico 6. Tipologia Constitucional 6.1 Quanto à forma 6.2 Quanto ao método de elaboração 6.3 Quanto à origem 6.4. Quanto ao Conteúdo 6.5. Quanto à estabilidade 6.6. Quanto à finalidade 6.7. Quanto à extensão 6.8. Quanto à correspondência com a realidade 6.9. Quanto à ideologia 6.10. Constituições nominalistas e semânticas 6.11. Quanto à sistematicidade 6.12. Constituições liberais (negativas) e sociais (dirigentes) 6.13. Classificação da Constituição do Brasil de 1988. 7. Supremacia constitucional UNIDADE 5. Norma Constitucional: normas e princípio – aplicabilidade - classificação. 1. Considerações iniciais 2. Normas Jurídicas Gerais 2.1. Considerações 3. Normas Constitucionais 3.1. Considerações 4. Normas Programáticas 4.1. Normas Programáticas e Normas Preceptivas 5. Princípios e Normas constitucionais 5.1. Normas Constitucionais 5.2. Normas e Princípios Constitucionais 5. Validez, Vigência e Eficácia das Normas Jurídicas em Geral 5.4. Validez, Vigência e Eficácia das Normas Constitucionais 6. Aplicabilidade das Normas Constitucionais 5.4. Classificação das Normas Constitucionais 6.1. Classificação Norte-Americana 6.2. Classificação de Azzaritti 6.3. Classificação de Crisafuli 6.4. Classificação de Luiz Roberto Barroso 6.5. Classificação de Maria Helena Diniz 6.6. Classificação de José Afonso da Silva 6.7. Normas Constitucionais de Eficácia Exaurida 7. Interpretação constitucional 7.1.Conceitos, classificações e métodos clássicos de interpretação. 7.2. Os métodos ou elementos clássicos de interpretação. 7.2.1. a interpretação gramatical 7.2.2. a interpretação histórica 7.2.3. a interpretação sistemática 7.2.4. a interpretação teleológica 7.3. A interpretação conforme à Constituição 4. Metodologia Geral: A metodologia de ensino a ser utilizada, além dos tradicionais recursos didáticos, consistirá em aulas expositivas, em que serão evidenciados os conteúdos desta disciplina, com oferecimento de conceitos fundamentais e questionamentos para reflexões dos graduandos, dentro do processo maiêutico. Serão ministradas atividades acadêmicas diversificadas para propiciar aos discentes a aquisição de habilidades relacionadas com o aprender a aprender, que lhes permitam ser cada vez mais autônomos em suas aprendizagens, estimulando a autoestima e o autoavaliação em relação às aprendizagens do conteúdo que se propõem. Para tanto, serão ministrados: - leitura de textos complementares apresentados em seminários, visando a interação da teoria com a prática para garantir a articulação da vida acadêmica com a realidade concreta da sociedade, suas necessidades, complexidades e avanços científicos, no contexto da disciplina tratada; - trabalhos cujos temas deverão ser relacionados às demais disciplinas do período, visando a troca de conhecimentos entre as disciplinas jurídicas para se efetivar a comunicação entre elas, levando o discente a refletir a Ciência do Direito como ciência una e integrada aos demais campos do conhecimento; - trabalhos de pesquisas além da sala de aula, objetivando a produção científica, como artigos jurídicos, resenhas e relatórios de leitura. 5. Sistema de avaliação: Serão utilizados como instrumentos de avaliação de desempenho do acadêmico os seguintes instrumentos, com atribuições de notas, expressas em graus numéricos de 0 (zero) a 100 (cem): - Avaliação individual escrita (P1 e P2); - Resolução de exercícios; - Participação do aluno no seminário; - Trabalho Discente Interdisciplinar-TDI e - Trabalho Discente Efetivo – TDE. TDI - TRABALHO DISCENTE INTERDISCIPLINAR: TDE – TRABALHO DISCENTE EFETIVO: Fazer uma pesquisa a respeito do Tema “Evolução dos Direitos Humanos”, que deverá ser entregue em forma de um artigo, devendo ser apresentado em até 12 laudos digitadas. O trabalho será realizado extra-sala. Tendo como carga horária de 12 horas/aula, que comporá a nora de P!. 6. Bibliografia básica: ARAÚJO, LUIZ Alberto David. Curso de Direito Constitucional, v. 1, 6.ed. São Paulo: SARAIVA, 2002. FERREIRA, Pinto. Curso de Direito Constitucional, 11.ed., São Paulo: SARAIVA, 2001. FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional, v.1, 28.ed., São Paulo: SARAIVA, 2002. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo – v-1. 20 ed., São Paulo: MALHEIROS, 2002. TEIXEIRA, J. H. Meirelles. Curso de Direito Constitucional, v.1 ed., Rio de Janeiro: FU, 1991. TEMER. Michel. Elementos de Direito Constitucional. v.1, 18.ed., São Paulo: MALHEIROS EDITORES, 2001. Bibliografia complementar AZKOUL, Marco Antônio. Teoria Geral do Estado. 1.ed., São Paulo: EDITORA JUARES DE OLIVERIA, 2002. BARROSO, Luiz Roberto. Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas, O. 16.ed., Rio de Janeiro, RENOVAR, 2002. __________, Interpretação e Aplicação da Constituição. 7ª Ed.. São Paulo : Saraiva, 2009. BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. v. 4 – Arts. 44º a 126, 4,2º, São Paulo, SARAIVA, 2001. ___________. Comentários Á Constituição do Brasil – v.6 – art. 156 a 169º, 6, 2º, São Paulo, SARAIVA, 2001. ___________, Hermenêutica e Interpretação Constitucional. 2ª ed. rev. e ampl. – São Paulo : Celso Bastos Editor : Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999. BONAVIDES, Paulo. A Constituição aberta – Temas políticos e constitucionais da atualidade, com ênfase no federalismo das regiões. v.1, 2.ed., São Paulo: MALHEIROS EDITORES, 1996. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2 ed. Ver. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2008. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional – Teoria do Estado e da Constituição, Direito Constitucional Positio. 14ª ed. rer. Atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. CLÉVE, Clémerson Merlin. Temas de Direito Constitucional e de Teoria do Direito, v.1, 1.ed., São Paulo: EDITORA ACADÊMICA, 1993. Constituição da República Federativa do Brasil. V, 1,29. Ed., São Paulo: SARAIVA, 2002. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 20.ed., São Paulo: SARAIVA, 1998. FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Comentários à Constituição Brasileira de 1998 – Arts. 104 a 250 – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, v.1 3.ed, São Paulo: SARAIVA, 2000. FERRAZ, Sergio Valadares. Curso de Direito Constitucional- Teoria, jurisprudência e 1.000 questões, 3.ed., Rio de janeiro: ESLSEVIER, 2007. HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha. v.1, 1.ed., Porto Alegre: SAFE, 1998. JUNIOR, Dirley da Cunha. Curso de Direito Constitucional. 5ª ed. Revista, ampliada e atualizada. Salvador : Editora Podium, 2011. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Constituição e Direitos Sociais dos Trabalhadores. V. 1, 1.ed., SÃO PAULO: LTR, 1997. MAXIMILIANO, Carlos. Comentários à Constituição Brasileira, v. 3 4.ed., São Paulo: FREITAS BASTOS, 1948. REALE JÚNIOR, Miguel. Caos de Direito Constitucional, v. 1 São Paulo: REVISTA DOS TRIBUNAIS, 1992. SILVA, Paulo Napoleão Nogueira. Constituição e Sociedade, v. 1, 1.ed., Rio de Janeiro: FORENSE, 2001. MENEZES, Aderson. Teoria Geral do Estado. 8.ed., Rio de Janeiro: 2005. MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição MORAES, Guilherme Peña de. Direito Constitucional – Teoria da Constituição, 4.ed., Rio de Janeiro: Editora Lumém Juris, 2007. MOTTA, Sylvio, BARCHET, Gustavo. Curso de Direito Constitucional, 1.ed., Rio de Janeiro: ELSEVIER, 2007. Apresentação Os apontamentos contidos nesta apostila têm como objetivo maior dar ao aluno um farto material bibliográfico, pois não foi extraído de um único livro, mas de diversos autores consagrados. São recortes de obras importantes no que diz respeito ao estudo do Direito Constitucional. Pretendemos com isto facilitar a vida universitária do aluno de Direito. Com certeza o estudo diário da disciplina Direito Constitucional I, será de fundamental importância para o desenvolvimento de todo o Curso de Direito. Assim, a apostila coloca a disposição do aluno o conteúdo que irá guiá-lo, não só na vida acadêmica, mas também durante sua vida profissional. Portanto, não despreze o estudo desta disciplina. Esta apostila contém textos complementares, que muito contribuirá na compreensão do conteúdo ministrado em sala de aula. A leitura destes textos precederá a elaboração de pequenos artigos. Também com o objetivo de fixação do conteúdo, ao final de cada unidade existem exercícios de fixação do conteúdo relativo a unidade estudada. Segue logo abaixo seis passos de como estudar Direito Constitucional extraídos da obra de Uadi Lammego Bulos, Curso de Direito Constitucional, que trazem dicas interessantes para o desenvolvimento do estudo da disciplina. 1º) Gostar de estudar: Estudar é hábito. É preciso cultivar uma disciplina feliz. O Contrário é perda de tempo. E como gostar de estudar? Tendo um objetivo na vida, sabendo querer para, desse, modo, centralizar a mente no alvo concreto a alcançar. 2°) Resumir a lição: Direito Constitucional é uma disciplina ampla. Envolve tudo, Só existe uma forma para absorvê-la: removendo-lhe o conteúdo. Repita, repita, repita, repita, que pega. Ler várias vezes a mesma coisa é atitude de sabedoria, porque as palavras tem vida. O significado delas depende da dimensão praxeológica e do nível teorético-científico que o autor lhe atribuiu. Por isso, é difícil captar, de um súbito, o conteúdo de uma lei, de uma decisão judicial ou de um texto doutrinário. Mas ruminar a lição não é decorá-la, sem entender a sua essência, e sim colocar na mente o cerne do assunto. Isso é algo diverso da cegueira, do mero utilitarismo prático, da unidimensionalização do saber jurídico que compromete o alicerçamento das leges artis da profissão. 3º) Fazer resumos: Resumir o assunto é um modo de evitar o sono durante o estudo porque o Direito Constitucional é uma disciplina densa. Por mais que se queira simplificá-lo, há momentos em que se tornar impossível fazê-lo sob pena de o tornar banal. Mas não basta fazer resumos, é preciso concentrar-se naquilo que se está lendo, precisamente para os pontos fortes da disciplina adentrarem no subconsciente, evitando os famosos “brancos” ou esquecimentos, na hora da prova. 4°) Não ter presa em aprender tudo de uma vez só: A ansiedade, a pressa, a agonia para estudar tudo de uma só vez gera angústia medo e depressão, criando quadros psicóticos profundos. Os apressados vivem uma eterna guerra de pensamento acelerado, sobrecarregam o córtex cerebral, escoando a energia vital do espírito. Andam tristes, agitados e esquecidos de tudo e de todos. Deixam de contemplar o belo, é, num processo inconsciente, perdem a alegria interior. Como não ser apressado? Gostando de si mesmo, pensando para viver, e não viver para pensar. Dinheiro, fama, status, cargo publico importante não compensam a sensação de ansiedade. Qualquer vitória só faz sentido se for obtida com esforço e em clima de festa. Esse é o único modo de reescrever o script de nosso destino, pois podemos ser felizes enquanto lutamos. Por isso é que o estudo do Direito Constitucional é uma oportunidade para reeducar hábitos. 5º) Descansar a mente: Ir a festas é ótimo quando se acha que não se está aprendendo mais nada. Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres, o príncipe da arte de gerenciar emoções e pensamentos, que não seguiu credo religioso algum, adorava socializar-se. Bebia vinho com os amigos e estava sempre alegre, mesmo sabendo o calvário que a ignorância humana iria proporcionar-lhe. Vivia em perigo constante, e não sofria antecipadamente. Sempre estava com o intelecto calmo e descansado. Foi à festa de Cana da Galileia, do tabernáculo, entre outras. Alguns de seus melhores ensinamentos foi durante as refeições, embora naquela época inexistissem restaurantes. Na realidade, é impossível absorver assuntos tão áridos, como os constitucionais, dentro de uma autocobrança lógica e rígida. Mais uma vez, recordemos do Carpinteiro do amor. Na hora da perseguição mais acirrada de sua vida, parou e disse: “olhais os lírios do campo”. Descansar a mente é atitude de enorme valia para quem deseja a verdadeira vitória: ter paz. 6º) Erigir Deus como o centro de tudo: Quando entregamos a nossa vida a Deus o estudo flui. Nem é preciso ter religião para fazer isso; basta quebrantar o coração, entregando-se a Ele. Ao reconheceremos que não somos nada sem a Sua presença tudo fica claro. Descobrimos que não estamos sozinhos nos embates da vida, pois a Divindade está conosco. Confiar em Deus, Amigo incondicional de todas as horas é compensar todo o esforço dispendido, coroando a nossa existência de luz, temperança e autodomínio. Dito tudo isto, mãos a obra, e vamos estudar o Direito Constitucional! UNIDADE 01 – TEORIA GERAL DO ESTADO Por que estudar uma Teoria Geral do Estado? A disciplina, a Teoria Geral do Estado, tem a finalidade de fornecer a compreensão do Estado como forma de organização política e de suas relações com o Direito. Muitos autores consideram, aliás, que a Teoria do Estado seja a “parte geral” do Direito Constitucional, porque ela estuda “o Estado”, abstratamente, enquanto que o Direito Constitucional se refere a “um Estado” determinado em particular. Por sua vez, Dalmo Dallari, enfatiza que o estudo da Teoria Geral do Estado diz respeito à necessidade de se preparar o profissional do Direito para ser mais do que um manipulador de um processo técnico, formalista e limitado a fins imediatos. E lembrando Edgar Bodenheimer, ressalta: “O de que mais se precisa no preparo de juristas de hoje é fazê-lo conhecer bem as instituições e os problemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o papel que representam na atuação daqueles e aprenderem as técnicas para a solução destes” E ainda, segundo Bodenheimer. “certas tarefas a serem cumpridas com relação a esse aprendizado terão de ser deixadas às disciplinas não-juridicas da carreira acadêmica do estudante de Direito”. Continua apontando Dallari o seguinte: “Há, nessa referência, três pontos que devem ser ressaltados: a) é necessário o conhecimento das instituições, pois quem vive numa sociedade sem consciência de como ela está organizada e do papel que nela representa não é mais do que um autômato, sem inteligência e sem vontade; b) é necessário saber de que forma e através de que métodos os problemas sociais deverão ser conhecidos e as soluções elaboradas, para que não se incorra no gravíssimo erro de pretender o transplante, puro e simples, de fórmulas importadas, ou a aplicação simplista de idéias consagradas, sem a necessária adequação às exigências e possibilidades da realidade social; c) esse estudo não se enquadra no âmbito das matérias estritamente jurídicas, pois trata de muitos aspectos que irão influir na própria elaboração do direito.” A noção da Teoria Geral do Estado, pode-se dizer que é uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça, como ressalta Dalmo Dallari. Nina Ranieri (2013, p. 2) responde a pergunta: “Para que serve uma teoria do Estado?” da seguinte forma: “As teorias tem função cognitiva: buscam capta o mundo, racionaliza-lo, explica-lo, domina-lo. A teoria geral do Estado (TGE) não foge a regra: visa a compreender o Estado como fenômeno social, politico e jurídico no qual nossa vida se desenvolve. Existem inúmeras teorias sobre o Estado nas diversas áreas do conhecimento humano. São doutrinas filosóficas, politicas, sociológicas, econômicas, históricas, etc., que se recortam na especificidade de sua metodologia e de seus campos de investigação e, sendo complementares, compõem um amplo quadro acerca das origens, da evolução e do desenvolvimento do Estado.” E complementa: “A TGE serve-se, dialeticamente, de todas aquelas fontes – dai ser uma teoria geral – com o objetivo de reunir, analisar e sistematizar conhecimentos uteis ao aperfeiçoamento da vida justa nas sociedades estatais. Incluem-se, portanto, entre seus problemas, o estudo das origens do Estado, de seu funcionamento, sua finalidades, características, tendencias, configurações futuras, etc. O que e o Estado? Qual a sua natureza? Para que serve? Quais são seus fins? Como surgiram os Estados? Todos são iguais? Como se evoluíram? Que formas assumiram? Que formas podem assumir?” Por fim, a autora Nina Ranieri (2013, p. 11) conclui: “Desde o inicio do século XXI estamos, em relação ao Estado moderno, diante de uma novidade fundamental que se expressa pela relativização da soberania do Estado Nacional e pela fundamentação axiológica do Direito e do Estado nos planos nacional e internacional. Essa novidade vem delineando uma nova modalidade do Estado moderno, que se caracteriza tanto por ser Estado internacional e democrático de direito, em razão da emergência do direito internacional publico, sob a orientação dos valores expressos na Carta das Nações Unidas de 1946 e na Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH -, de 1948, em virtude dos valores e princípios de justiça que constituem o núcleo do modelo axiológico da Constituição como norma. O desafio da teoria do Estado e compreender e explicar esse tipo de Estado, acompanhando sua evolução e induzindo mudanças nos paradigmas que o orientam, se necessário.” TEORIA GERAL DO ESTADO 1. Introdução Inicialmente é preciso compreender de que “Estado” iremos tratar. Observe esta frase: O Estado de Goiás faz parte do Estado brasileiro, que se constitui em uma federação de Estados, que segundo a Constituição de 1988 é uma República. Pois bem, a palavra “Estado” foi utilizada três vezes, sendo que na primeira “Estado de Goiás”, significa que “Goiás” faz parte da divisão territorial e administrativa do “Estado brasileiro”, ou seja, é a parte, portanto, é um “Estado-membro”. Assim, não é este o “Estado” que iremos estudar, ou seja, da parte, mas estudaremos o “Estado” como sendo o todo. No exemplo dado, o “Estado brasileiro”, adotou uma forma de Estado, que é uma Federação, mas existem outras formas de Estados, como iremos estudar logo mais. Segundo Nina Ranieri (2013, 12) a) O Estado e uma forma especifica de sociedade politica, organizada mediante regras e dotada de poder superior sobre seus membros; b) o Estado e uma pessoa jurídica de direito publico interno e internacional. O primeiro conceito indica, abstratamente, qualquer tipo assumido pelo Estado em seu desenvolvimento no tempo e no Espaço, independente de sua variações, considerando-se sociedade politica, sendo a definição de Bobbio a forma mais intensa e vinculante de organização da vida coletiva. O segundo conceito, também de forma abstrata, equipara Estado a conotação a palavra “Pais”. Em ambos, o Estado e visto como unidade político-jurídica, sendo este o seu sentido moderno. 1.1. ideia Racional de Estado Para a ciência, o que é afinal o Estado? Para muitos é uma ficção, uma entidade abstrata, criada pelos juristas e pelos filósofos, sem correspondente exato na realidade, para outros , uma ideia, uma imagem, para alguns um simples fato. Se considerarmos a manifestação concreta do que se chama Estado, isto é, homens que governam a outros homens, em um território determinado, o Estado é simplesmente um fato. Se procurarmos as causas e as relações, o motivo e os fins da coexistência dos governantes, teremos uma ideia, que é a representação mental da realidade e não a fantasia ou um mito. “O Estado não é a suprema encarnação da idéia”, como acreditava Hegel. O Estado não é uma espécie de super-homem coletivo; o Estado é um órgão habilitado a empregar o poder e a coerção, e dirigido por peritos e especialistas da ordem e do bem-estar do povo – um instrumento de serviço do homem.... Por outro lado, o Estado é obra da inteligência e da vontade dos membros do grupo social, ou dos que nele exercem o governo e sua influência. Na história de todas as sociedades “chegou um momento em que os homens sentiram o desejo, vago e indeterminado, de um bem que ultrapassa o seu bem particular e imediato e que ao mesmo tempo fosse capaz de garanti-lo e promovê-lo. Esse bem é o bem comum ou o bem público, e consiste em um regime de ordem, de coordenação de esforços e intercooperação organizada. Por isso o homem se deu conta de que o meio de realizar tal regime era a reunião de todos em um grupo específico, tendo por finalidade o bem público. Assim, a causa primária da sociedade política reside na natureza humana, racional e perfectível. No entanto, a tendência deve tornar-se um ato; é a natureza que impele o homem a instituir a sociedade política de outrora e de hoje. O instinto natural não era suficiente, foi preciso a arte humana” (Dabin, Doctrine génerale de L’État, pp. 89- 90). O Estado aparece, assim, aos indivíduos e à sociedade, como um poder de mando, como Governo e dominação. O Aspecto coativo e a generalidade são o que distingue as normas por eles editadas; suas decisões obrigam a todos os que habitam o seu território. 2. Origem do Estado Do exposto até aqui se apura que o Estado é uma sociedade política organizada sob a forma de governantes e governados, com território delimitado e dispondo de poder próprio para promover o bem de seus membros, isto é, o bem público Para atingir seu objetivo, o Estado estabelece e impõe normas e regras que orientam sua ação e disciplinam as atividades dos indivíduos e grupos que o compõem” (Darcy Azambuja, pág. 49/54). Mas, com surgiu o Estado? 2.2 ORIGEM DA PALAVRA ESTADO: A palavra Estado foi usada pela primeira vez por Nicolau Maquiavel, no livro O Príncipe, publicado em 1531, para designar uma sociedade política (“todos os Estados, todas as dominações que tiveram e tem o império sobre os homens foram e são republicas ou principados”). A partir daí a palavra, Estado passou a ser usada pelos italianos como cidade independente. Muito embora, alguns autores não aceitam que o Estado tenha existido antes do século XVI, apenas admitindo uso do nome Estado como concepção de sociedade política, quando dotado de certas características bem definidas, que serão estudadas logo adiante. Entretanto, a maioria dos autores admite que o Estado, como sociedade política, sempre existiu, mesmo antes do século XVI, embora com nomes diversos, pois sempre existiram sociedades políticas, que com autoridade superior, fixaram regras de convivência que eram observadas pelos seus membros. Exemplificando: a) Na Grécia: Havia delimitação das cidades-estados, a polis grega. Havia um conjunto de habitantes. Existia uma organização política, com diversas formas de governo. b) Em Roma: Existia a Civitas – comunidades de habitantes ou a res publica. A palavra status republicae, era utilizada para designar a situação, a ordem, o estado da coisa pública dos negócios do governo, assim considerados status familiae, status libertatis. Com o crescimento de Roma e sua expansão no mundo conhecido modifica-se o conceito de status romanus, e os juristas romanos passam a empregar a expressão status romanus, embora a palavra status não está nunca empregada de modo absoluto, sozinha, no sentido de Estado. c) Na idade Média: Com o sistema feudal, a noção de Estado não ganha força de sociedade política, devido a fragmentação dos reinos em feudos ou comunas. Contudo, percebe-se que estão presentes as figuras do rei, de uma população e um território. O certo é que do século XVI em diante, o termo italiano stato, conforme utilizada por Maquiavel, se incorpora à linguagem corrente, vai aos poucos tendo entrada na terminologia política dos povos ocidentais: É o État francês,o Staat alemão, em inglês State, e em português e em espanhol Estado. 3. ORIGEM DO ESTADO1: As teorias que buscam justificar ou explicar a época do aparecimento do Estado são inúmeras. Examinando as principais teorias que procuram explicar a formação originaria do Estado, estas podem ser reduzidas a quatro posições fundamentais: 1) O Estado tem origem em Deus, são as teorias teológicas, divididas em Doutrina do Direito Divino Sobrenatural e Doutrina do Direito Divino Providencial. 2) O Estado, assim, como a própria sociedade existiu sempre, pois desde que o homem vive sobre a terra, acha-se integrado numa organização social, dotado de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. (Teoria Familiar, Teoria Natural), 3) A sociedade humana, em algum momento existiu sem o Estado durante certo período. Depois por motivos diversos, o Estado surge para atender as necessidades ou conveniências dos grupos sociais. (Teoria Contratualista ou Pactuais). 4) O Estado como sociedade política, surgiu quando dotado de certas características muito bem definidas2, tais como: Governo, Território e Povo. 3.1. TEORIAS QUE JUSTIFICAM A ORIGEM DO ESTADO: Sobre a origem e justificação do Estado, existem diversas teorias, umas como matrizes do pensamento a respeito do tema, e outras como simples variações de estilo. Assim, serão apresentados três grupos de teorias mais gerais. 1º) O Estado é obra de Deus, por isso são chamadas doutrinas teológicas. Segundo esta teoria tudo foi criado por Deus, inclusive, o Estado, daí a sua origem divina. Podem ser divididas em duas: A) Doutrina do Direito Divino Sobrenatural: O Estado é obra imediata de Deus, uma manifestação direta de seu poder no universo, designando o próprio Deus a pessoa ou a família que, assim divinizada iria exercer a autoridade estatal. B) Doutrina do Direito Divino Providencial: O Estado é instituído pela Graça da providência divina, que o conduz indiretamente, isto é, pela direção providencial dos acontecimentos. Por esta doutrina os homens são dotados de livre-arbítrio, praticam atos e se organizam entre si, respondendo, no entanto, à onipresença de Deus. Segundo os teóricos das doutrinas teológicas, Deus delega aos reis a sua autoridade, por isso, sem muito esforço verifica-se que a doutrina teológica contribuiu para o fortalecimento da monarquia de caráter absoluta, ou o absolutismo monárquico. 1 Segundo Aderson de Menezes – Teoria Geral do Estado. 2 Segundo Dalmo Dallari, lembrando Balladore Pallieri, “a data oficial em que o mundo ocidental se apresenta organizado em Estados é a de 1648, ano em que foi assinada a paz de Westfália.” 2º) TEORIAS CONTRATUALISTAS: Também chamadas como convencionais ou pactuais. Para esta teoria o Estado tem a sua origem num acordo entre os homens. Justificando o seu poder com base no mútuo consentimento de seus integrantes. Foi a inteligência humana, em reciprocidade concordante, que contratou, convencionou, pactuou a sociedade política, num determinado local e num certo instante. Assim, o Estado é criação do homem. Esta teoria tem como principais representantes: Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau, entre outros. Embora, tenham partido do mesmo ponto (situação do homem vivendo em estado de natureza, divergiram quanto a esta situação e a finalidade do pacto). Para cada um dos autores citados acima o homem vivendo em estado de natureza é explicado de uma forma diferente, vejamos: PARA HOBBES (1588-1679): Hobbes teve uma origem familiar humilde, viveu em um tempo que a Inglaterra enfrentava serias crises sociais, políticas e religiosas. Para ele o homem vivendo em estado de natureza vive isolado, não tem noção de direito, vivem em constante estado de guerra, “O homem é o lobo do homem”. O homem vivendo em Estado de Natureza para Hobbes é irracional, não tendo limites. PARA JOHN LOCKE (1632-1704): John Locke diferente de Hobbes, embora fossem contemporâneos, nasceu em uma família, se não abastada, mas de origem burguesa, não era nobre de nascimento, é considerado um dos principais representantes do liberalismo político. Para Locke, o homem em estado de natureza vive em perfeita liberdade, guiado pela lei natural, a razão, todos são iguais e independentes. “Todos os homens participariam dessa sociedade singular que é a humanidade, ligando-se pelo liame comum da razão. No Estado natural todos os homens teriam o destino imediato de preservar a paz e a humanidade e evitar ferir os direitos dos outros.” (Coleção Os Pensadores, Nova Cultural, Vida e obra de Locke). PARA J. J. ROUSSEAU (1712-1778): Por sua vez, Rousseau, suíço de nascimento, ficou órfão de mãe ainda na infância, desenvolveu sua obra nos momentos que precederam a Revolução Francesa, contribuindo enormemente, principalmente com a publicação de seu livro “O Contrato Social”. Para Rousseau o homem em estado de natureza vive em pequenos grupos, vivendo para família e para os afazeres domésticos, felizes, sem problema, era o “bom selvagem inocente”, até o surgimento da propriedade privada3, dando origem ao estado de sociedade, na guerra de todos contra todos4. Soluções apontadas para os problemas criados pelo homem vivendo em estado de natureza, segundo os autores acima: PARA HOBBES: Para sair do estado de natureza os homens voluntariamente renunciam (o pacto é feito entre os homens) a seu direito de viver em liberdade, e entregam a um soberano, o Leviatã, encarregado de promover a paz, nem que para isso o soberano tenha que usar a espada. “Os pactos sem espada não passam de palavras”. (pacto da submissão). PARA JOHN LOCKE: Os homens viviam em perfeita liberdade e igualdade no estado natural, contudo, estariam expostos a certos inconvenientes. De modo que os homens fazem um pacto ou contrato, não entre governantes e governados, mas entre homens iguais e livres, para organizar a forma de convivência, desse pacto surge o poder político, tendo como forma o Estado 3 “A propriedade privada, que causou a miséria de uns e a riqueza excessiva de outros, o luxo, que criou os vícios; a instrução, que criou a ambição, as inquietações de espírito.” (Aderson de Menezes, pág. 86). 4 Esta situação parece a que foi retratada por Thomas Hobbes. como estrutura máxima. (pacto do consentimento). Neste caso, os homens não renunciam ao poder, mas entrega-o a um terceiro, e a qualquer momento pode reaver o poder, se o terceiro não desempenhar o exercício do poder de acordo com os interesses dos homens. PARA ROUSSEAU: Os homens vivendo em Estado de sociedade formularam um contrato, denominado Contrato Social, renunciam a liberdade natural e transferem a um terceiro – o soberano - para criar e aplicar leis – o contrato social cria a soberania (que para Rousseau pertencente ao povo é o pacto social), surge assim a sociedade política. Explicação da Teoria Contratualista, segundo seus autores 1. THOMAS HOBBES (1588- 1679), escreveu o livro “LEVIATÔ. O HOMEM VIVENDO EM ESTADO DE NATUREZA 2. JOHN LOCKE( 1632-1704), escreveu o livro “O Segundo tratado do Governo Civil. 3. J. J. ROUSSEAU (1712-1778) escreveu o livro “O Contrato Social”. O homem vive isolado, não tem noção de direito, o homem é mau, vive em estado de guerra O homem vive em liberdade, em paz, uns com os outros. O homem vive em pequenos grupos, cuidando da família e dos afazeres domésticos. Até que surge alguém e cerca um terreno e diz “é meu”, dando início a sociedade privada, e o Estado de Sociedade(Estado hobbesiano). O homem vivem em Estado de natureza Solução encontrada O homem renuncia a liberdade natural, faz um acordo entre eles, e renunciam e entregam a um terceiro que vai governar sobre eles. Os homens entregam o direito de viverem livres a um terceiro, porém não renunciam ao direito de viver em liberdade, podendo reassumir o poder. Os homens renunciam o direito da viverem livres e entregam a um terceiro, assim, cria o corpo político, este poder é chamado soberania, mas é uma soberania popular Justifica Poder absoluto dos reis Poder exercido tanto pelo rei como pelo parlamento Um poder democrático, com a participação do povo Pacto da submissão. Pacto do consentimento Pacto Social 3.2) O ESTADO É PRODUTO SOCIAL, DE ORIGEM HISTÓRICA E EVOLUTIVA: Esta teoria pode ser resumida em duas: A teoria familiar e a teoria natural (Teoria do impulso associativo). a) Teoria Familiar: O Estado se origina na família, e, por isso, mesmo, é denominada patriarcal, é na autoridade social do chefe familiar que encontra justificação o poder político da entidade estatal. Para Robert Filmer (contemporâneo de Hobbes), é apontado com um expoente desta teoria, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado. a) Teoria Natural: Para os defensores desta teoria, o Estado surge naturalmente, ou seja, a sociedade política se formou na ordem regular das coisas, em cujos meandros se firmou e legitimou o poder como decorrência da própria necessidade de vida em conjunto. OBSERVAÇÃO: Existem outras teorias que procuram justificar a origem do Estado. Dallari apresenta, ainda as seguintes: a) Origem em atos de força, de violência ou de conquista. Com pequenas variantes, essas teorias sustentam, em síntese, que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjugação de dominantes e dominados. Entre os adeptos dessa teoria situa-se Oppenheimer, que, afirmando ter sido criado o Estado para regular as relações entre vencedores e vencidos, acrescenta que essa dominação teve por finalidade a exploração econômica do grupo vencido pelo vencedor. b) origem em causas econômicas ou patrimoniais: Dentre os autores de maiores repercussões que justificam a origem do Estado por motivos econômicos foi e continua sendo a de Marx e Engels. 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO: Considerações: A história da civilização humana, compreendendo a evolução do Estado, proporciona conhecimentos da máxima importância, para que se tenha uma noção exata dos diversos tipos de Estados ou de organizações políticas, que através dos tempos se tem apresentado e funcionado a sociedade política, situando o homem em suas relações com a entidade à qual compulsoriamente está ligado. Para efeitos didáticos será apresentada, em sucessão cronológica esta evolução, evidenciando as características do Estado em cada época, para melhor compreensão do Estado Contemporâneo, servido ainda como um processo auxiliar para uma futura fixação de tipos de Estados. 4.1. ESTADO ANTIGO, ORIENTAL OU TEOCRÁTICO: Este modelo de Estado os autores se refere às formas de Estados mais recuados no tempo. São civilizações que surgiram no oriente e no Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado, a organização econômica formavam um conjunto confuso. Existindo duas marcas fundamentais: a) A natureza unitária: O Estado Antigo sempre aparece como uma unidade geral, não admitindo qualquer divisão interior, nem temporal, nem de funções, há uma confusão de papeis. b) Religiosidade5: A presença do fator religioso é tão marcante que muitos autores entendem que o Estado desse período pode ser qualificado como Estado Teocrático. Traços marcantes do Estado Antigo ou Oriental6: Teocracia, poder político sob forte influência do poder religioso; Forma monárquica, combinada com a teocracia, pois o monarca é adorado como um deus; Ordem desigual, hierárquica e sagrada da sociedade. É uma sociedade estratificada. Reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos; Larga extensão territorial e aspiração para constituir um império universal. Ilustram esse tipo estatal a antiga Pérsia, por volta do século V a.C.., o Egito a partir de 1.500 a.C., aproximadamente, assim, como a China e o Japão. 4.2. ESTADO GREGO: Embora seja comum a referência ao Estado grego, não se tem notícia de um único Estado grego. Pode-se falar de Estado grego pela verificação de certas características fundamentais: a) A Cidade-Estado – a polis – Apresenta-se como a sociedade política de maior 5 A influência predominante foi religiosa, afirmando-se a autoridade dos governantes e as normas de comportamento individual e coletivo como expressões da vontade de um poder divino. 6 Lugar à parte ocupa apenas Israel, firmado na crença monoteísta, na recusa da natureza divina dos reis e no princípio da submissão da vontade destes à lei ditada por Deus. expressão. O ideal visado era a auto-suficiência, a autarquia, ou seja, como diz Aristóteles “a sociedade constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si, tendo atingido por assim dizer, o fim a que se propôs.” b) O indivíduo tem uma posição peculiar – Há uma elite, que compõe a classe política, com intensa participação nas decisões do Estado, a respeito dos assuntos de caráter público. Entretanto, nas relações de caráter privado a autonomia da vontade individual é bastante restrita. Assim, mesmo quando o governo era tido como democrático isto significava que apenas uma faixa restrita da população – os cidadãos7 – é que participavam das decisões políticas, tomadas nas assembleias em praça pública, trata-se de um embrião da democracia direta. O restante da população (escravos e estrangeiros) não participavam das decisões tomadas nas assembleias. Traços essenciais da polis, do Estado, na Grécia são: Prevalência do fator pessoal - O Estado é a comunidade dos cidadãos, embora não sejam estes os únicos habitantes – também há os metecos8 e os escravos; Fundamento da comunidade dos cidadãos: a comunidade religiosa, unida no culto de antepassados (apesar de a autoridade não ter natureza divina e não predominar a casta sacerdotal). Relativa importância territorial, que pode ser percebida pela pequena extensão do território (O Estado tem caráter municipal, é a Cidade-Estado) Diversidade de formas de governo, sucessivamente ou com oscilações de Cidade para Cidade, e conforme a filosofia e as transformações políticas, internas e externas. 4.3. O Estado Romano (756 a. C a 565 d. C) Começou pela cidade, chamada civitas, formada por famílias e tribos que constituíam as gentes. “Teve início com um pequeno agrupamento humano, experimentou várias formas de governo, expandiu seu domínio por uma grande extensão do mundo...” (Dallari, pág. 62). Ampliou-se a cidade no seu aspecto estatal, conservando a família, no entanto, a sua importância primitiva, desde quando o governo residia numa assembléia de pater-familias, ao ponto mesmo de manter-se sempre os senadores romanos o tratamento usual de paters. Para fazer parte de uma gens9, era preciso pertencer a uma família, que compreendiam duas classes de pessoas: a) os patrícios; estes eram de raça nobre, livre de nascimento e descendentes de um pater, daí lhe advinha o nome. b) os clientes, eram meros servidores de cada grupo familiar, não podendo jamais se tornar proprietários. c) Havia outra classe ou, melhor, a espécie humana desqualificada, mas que exerceu marcante influência no processo histórico de Roma, composta pelos plebeus. De modo que, uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar da organização, havendo mesmo quem sustente que o primitivo Estado, a Civitas, resultou da união de grupos familiares (as gens). 7 Que não tinha o mesmo significado moderno do termo que damos na atualidade como “cidadão” 8 Estrangeiros residentes na polis grega. 9 Grupos familiares Peculiaridades do Estado Romano O desenvolvimento da noção de poder político, como poder supremo e uno, cuja plenitude – imperium, potestas, majestas – pode ou deve ser reservado a uma única origem e a um único detentor; A consciência da separação entre o poder público (Estado) e o poder privado (do pater familias) e a distinção entre o Direito Público e o Direito Privado; A consideração como direitos básicos do cidadão romano não apenas do jus suffragii (direito de eleger) e do jus honorum (direito de acesso às magistraturas), mas também do jus connubii (direito de casamento) e do jus commercii (direito de celebração de atos jurídicos). 4.4. ESTADO MEDIEVAL10: Com a decadência do império romano, instaura-se a Idade Média com novos elementos na vida política, tendo como características: a) O cristianismo: A doutrina cristã e a propagação da igreja cristã constituem influências importantes na marcha do pensamento político. O Cristianismo surge proclamando que os indivíduos adquirem um valor supremo pregando a igualdade de todos homens. Esta mensagem encontrou respaldo entre pessoas humildes e desprezadas. Cresce lentamente, e com a decadência do império romano, aumenta rapidamente a sua influência e no século IV, se constitui a religião das classes dominantes. O imperador Constantino com o Edito de Milão, do ano 313, através do qual assegurou a liberdade religiosa no império torna o Cristianismo a religião oficial do Estado Romano, As autoridades eclesiásticas angariam prestígio e poder, bem como riquezas. Na Idade Média 1/3 das terras pertenciam a Igreja. b) Os invasores bárbaros – As hordas bárbaras, esvalos, godos e principalmente os germanos, põem em relevo a importância do indivíduo em relação ao Estado, possuíam assembléias populares, composta de homens livres que elegiam os chefes das tribos. c) Feudalismo: Sistema de dependência territorial nas relações entre os homens, associado, na prática, à autoridade política e à influência religiosa. Os homens punham-se debaixo da proteção dos próprios homens, ficando, em troca, ligados ao solo e sujeitos à prestação de serviço. O feudalismo encerra uma instituição, em que os fortes e capazes podiam fazer guerras, cunhar moedas e firmar jurisdições. 4.5. ESTADO MODERNO: As deficiências da sociedade medieval determinaram as características do Estado moderno que são: a) O DECLÍNIO DO SISTEMA FEUDAL: Compreendendo uma estrutura econômica e social de pequenos produtores individuais, mas com o passar do tempo não davam conta da demanda proporcionada pelo crescimento das cidades. O surgimento da burguesia, que vai desempenhar um importante papel na evolução do Estado. 10 “No Estado Medieval “vai ocorrer sobretudo através de três institutos jurídicos, a confusão entre o setor público e o privado. Pela vassalagem os proprietários menos poderosos colocavam-se a serviço do senhor feudal, obrigando-se a dar-lhe apoio nas guerras e a entregar-lhe uma contribuição pecuniária, recebendo em troca proteção. Outra forma de estabelecimento de servidão era o benefício, contratado entre o senhor feudal e o chefe de família que não possuía patrimônio. Este último recebia uma faixa de terra para cultivar, dela extraindo o sustendo de sua família, além de entregar ao senhor feudal uma parcela da produção. Estabelecido o benefício, o servo era tratado como parte inseparável da gleba, e o senhor feudal adquiria, sobre ele a sua família, o direito de vida e de morte, podendo assim estabelecer as regras de seu comportamento social e privado. Por último, é importante considerar a imunidade, instituto pelo qual se concedida a isenção de tributos às terras sujeitas ao benefício. (Dallari, pág. 69). b) O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO: O fortalecimento do poder real11, a partir do século XIII, fazendo com que o rei enfeixasse em suas mãos todos os poderes. O confronto do reis12 com a igreja, reagindo a autoridade do papa, o fortalecimento da burguesia com a descoberta de novas rotas comerciais. c) OS MOVIMENTOS CULTURAIS E POLITICOS como a Renascença, o Iluminismo, e também o sacrifício imposto pelas guerras patrocinadas pelos reis, com a cobrança de impostos, e a ganância da burguesia, agora detentora do poder econômico, mas querendo o poder político, e os privilégios dos nobres que passou a ser contestado. Os fatores mencionados acima fazem surgir o Estado Constitucional, tendo como linhas mestras: Limitação da autoridade estatal, pelo delineamento da divisão do poder, na tripartição de suas funções executiva, legislativa e jurisdicional; A não intervenção do Estado no domínio econômico. Este fator favoreceu a burguesia. A garantia dos direitos individuais, devidamente assegurados e garantidos e disciplinado por um documento sócio-jurídico-político 5. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO: Quanto as notas características do Estado, que alguns autores preferem denominar de elementos essenciais ou constitutivos, por serem todos indispensáveis para a existência do Estado: São eles soberania, o território, o povo, e a finalidade, cujo síntese nos conduz a um conceito de Estado. Traremos inicialmente da Soberania. 5.1. Considerações iniciais a respeito da soberania: “Quando se diz que o Estado é soberano, deve-se entender que, na esfera da sua autoridade, na competência que é chamada a exercer para realizar a sua finalidade, que é o bem público, ela representa um poder que não depende de nenhum outro, nem é igualado por nenhum outro dentro de seu território” (Darcy Azambuja, pág, 90). Mas nem sempre foi assim, vejamos: Nos Estados da Antiguidade até o fim do Império romano, não se encontra qualquer noção que se assemelha ao conceito moderno de soberania. No império romano também não se tem qualquer noção que possa ser considerada semelhante ou análoga a soberania. Os termos majestas, imperium e potestas, usados em deferentes circunstâncias de poder, indicavam o poderio civil ou militar, ou revelava o grau de autoridade de um magistrado. Contudo, nenhum deles indicava poder supremo do Estado 11 “Sob o aspecto político entre reis e burgueses levará à consolidação das monarquias nacionais, fundadas na unidade de território, povo e governo. Do século XVI ao XVIII, a legitimação da soberania monárquica justifica o absolutismo real. Do ponto de vista econômico, a intervenção direta do Estado nos negócios particulares fortalece o mercantilismo.”(Maquiavel – A lógica da força. Maria Lúcia A. Aranha, 2ª ed.. ed. Moderna, p. 17). 12 “é preciso relacionar esses fatos a outros já analisados, tais como o surgimento da nova classe burguesa e os ideais de formação das nacionalidades. A busca do fortalecimento do poder dos reis e a formação das monarquias nacionais tornam inevitável a rejeição da supremacia papal e do universalismo da Igreja. Além disso, a Igreja, dona de cerca de um terço das terras da Europa, representava a manutenção da ordem feudal.” .”(Maquiavel – A lógica da força. Maria Lúcia A. Aranha, 2ª ed.. ed. Moderna, p. 19). em relação a outros poderes. Como o poder não admite vazio, com o declínio do império romano, o problema ganha importância com o surgimento de inúmeras ordenações independentes (feudos ou comunas), que detinham atividades de segurança, tributação, etc, e isto iria dar causa aos freqüentes conflitos entre as atribuições do Estado e estas entidades. Até o século XII, a situação continua mal definida, aparecendo referências a duas soberanias concomitantes no mesmo Estado, uma senhorial e outra de natureza real. No século XIII o monarca vai ampliando a esfera de sua competência exclusiva, afirmando- se soberano de todo reino, acima de todos os barões, adquirindo o poder supremo de justiça e de polícia e legislativo. Assim, é que o conceito de soberania, inicialmente relativo, adquire o caráter absoluto. No final da idade Média o conceito de soberania está amadurecido, recebendo tratamento teórico e sistemático13. 5.2. TEORICOS DA SOBERANIA a) Jean Bodin, em 1576 foi um dos primeiros a teorizar acerca do tema Soberania no livro Les Six livres de La République” (Os seis livros da República): Neste livro ele define soberania como um poder perpétuo e ilimitado, tendo limitação apenas na lei divina e na lei natural. Entende que a soberania deve ser concentrada em poder do rei. (portanto, ele é defensor do absolutismo e do direito natural). b) J. J. Rousseau: Este autor debate o tema soberania no livro “O Contrato Social”, publicado em 1762, dando ênfase no conceito de soberania, mas transferindo sua titularidade do governante para o povo. Surgindo, assim a teoria da Soberania Popular. Com a ascensão da burguesia, após a Revolução Francesa a idéia de Soberania passa a caminhar no sentido de soberania nacional. c) No século XIX, o termo soberania ganha a expressão de poder político, sem qualquer restrição jurídica. Trata-se de uma concepção puramente política de soberania d) No século XX, com o aperfeiçoamento da doutrina jurídica do Estado, a soberania passa a ser indicada como sua nota característica, desenvolvendo uma completa teoria jurídica de soberania. 5.3. CONCEPÇÕES E CONCEITO DE SOBERANIA: Procedendo a uma síntese de todas as teorias formuladas, o que se verifica é que a noção de soberania está sempre ligada a uma concepção de poder. Para Dalmo Dallari, o que realmente diferencia as concepções de soberania é uma evolução do sentido eminentemente político para uma noção jurídica de soberania. 5.3.1. Concepções de soberania a) Concepção em termos puramente político 13 Dalmo Dallari, diz que Jellinek observou que o fato da antiguidade não ter chegado a conhecer o conceito de soberania tem um fundamento histórico de importância, a saber, faltava ao mundo antigo o único dado capaz de trazer a consciência o conceito de soberania: a oposição entre o Poder do Estado e outros poderes. De fato, a atribuições muito específicas do Estado, que limitados exclusivamente aos assuntos ligados a segurança, não lhe davam condições para limitar os poderes privados. Sobretudo no âmbito econômico as intervenções verificadas eram apenas para assegurar a ordem estabelecida e arrecadar tributos, não havendo, pois a ocorrência de conflitos que tornassem necessário a hierarquização dos poderes sociais. (Dalmo Dallari, pág. 75). Concebida em termos puramente políticos, a soberania expressava a plena eficácia de poder, sendo conceituada como o poder incontrastável de querer coercitivamente e de fixar competências. Prevalece pela força. Por este conceito largamente difundido, verifica-se que o poder soberano não se preocupa em ser legítimo ou jurídico, importando apenas que seja absoluto, não admitindo confrontações, e que tenha meios para impor suas determinações. Baseia-se na supremacia do mais forte. Esta concepção estimulou um verdadeiro egoísmo entre os grandes Estados. Como a França e principalmente a Inglaterra, pois todos se afirmavam soberanos, favorecendo ao colonialismo do século XIX, sobretudo, nos países da África e Ásia. b) Concepção puramente jurídica Uma concepção puramente jurídica conduz ao conceito de soberania como o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas, vale dizer, sobre a eficácia do direito. Ou seja, com respeito a validade das normas. Como fica evidente, embora continuando a ser uma expressão de poder, a soberania é poder jurídico utilizado para fins jurídicos. A soberania continua sendo expressão de poder. Partindo do pressuposto, de que todos os atos dos Estados são passíveis de enquadramento jurídico, tem-se como soberano o poder que decide qual a regra jurídica aplicável em cada caso, podendo, inclusive, negar a juridicidade da norma. Segundo esta concepção não há Estados mais fortes ou mais fracos, uma vez que para todos a noção de direito é a mesma (igualdade entre os Estados sob o ponto de vista da soberania). A grande vantagem dessa conceituação jurídica é que mesmo os atos praticados pelos Estados mais fortes podem ser qualificados como antijurídicos, permitindo e favorecendo a reação de todos os demais Estados. Por exemplo: Condenando diplomaticamente, aplicando sanções econômicas. Ou seja, o estágio de desenvolvimento da civilização não admite mais o uso puro e simples da força. Embora esta atitude não está descartada. 5.3.2. Conceitos de Soberania Aderson de Menezes apresenta o conceito de soberania: “Como a qualidade que o Estado possui, na esfera de sua competência jurídica, de ser supremo, independente e definitivo, dispondo, portanto, de decisões ditadas em último grau pela sua própria vontade e que pode impor definitivamente pela força coativa.” Celso Ribeiro Bastas, conceituou soberania da seguinte maneira: “Soberania é a qualidade que cerca o poder do Estado. [....] indica o poder de mando em última instancia, numa sociedade política. [....] a soberania se constitui na supremacia do poder dentro da ordem interna e no fato de, perante a ordem externa, só encontrar Estado igual poder.” 5.4. CARACTERÍSTICAS DA SOBERANIA: Quanto as características da soberania, praticamente a totalidade dos estudiosos a reconhece como sendo UNA, INDIVISÍVEL, INALIENÁVEL e IMPRESCRITÍVEL. Vejamos cada uma delas: a) Una, porque não se admite num mesmo Estado a convivência de duas soberanias. Seja poder incontrastável, ou poder de decisão em última instância sobre a atributividade das normas, é sempre poder superior a todos os demais que existam no Estado, não sendo concebível a convivência de mais de um poder superior no mesmo âmbito. b) Indivisível, porque, além das razões que impõem sua unidade, a soberania se aplica à universalidade dos fatos ocorridos no Estado, sendo inadmissível, por isso mesmo, a existência de várias partes separadas da mesma soberania. c) Inalienável, “A soberania é inalienável, porque está excluída de seu conceito a possibilidade de transferência”. (Aderson de Menezes, pág. 157). d) Imprescritível, porque jamais seria verdadeiramente superior se tivesse prazo certo de duração todo poder soberano aspira existir permanentemente e só desaparece quando forçado por uma vontade superior. 5.5. JUSTIFICAÇÃO E TITULARIDADE: Isto tem haver com a legitimidade do poder soberano, ou quem tem a decisão em última instância dentro do âmbito de um território. De modo geral as teorias justificadoras do poder soberano podem ser divididas em dois grandes grupos com várias subdivisões: 5.5.1. TEORIAS TEOCRÁTICAS: Tiveram predomínio no final da Idade Média, quando surgia a clara conceituação de soberania, bem como no período absolutista do Estado Moderno. Tinha como ponto de partida a máxima do cristianismo, que “todo poder vem de Deus”, se divide em duas: a) Direto divino sobrenatural: quando afirma que o próprio Deus concedia o poder ao príncipe. b) Direito divino providencial: sustenta que a soberania vem de Deus, como todas as coisas terrenas, mas que diretamente ela vem do povo, razão pela qual apresenta imperfeições 14. MAS, EM AMBOS OS CASOS, O TITULAR DA SOBERANIA ACABA SENDO A PESSOA DO MONARCA. 5.5.2. TEORIAS DEMOCRÁTICAS: Sustenta que a soberania se origina do próprio povo. Apresenta três fases sucessivas bem distintas 14 “A doutrina do Direito Divino Providencial é mais sofisticada. É a doutrina segundo a qual todo poder vem de Deus, no sentido de que Deus é a providência e, portanto, o responsável pelo modo porque a Providência age. Assim, Deus não escolheu A ou B, em determinado instante, para ser o regente de determinado Estado, mas simplesmente dispôs as coisas de tal forma que isso iria ocorrer necessariamente no seu dado momento.” (Manoel Gonçalves Ferreira Filho, pa, 27). 1) Na primeira fase aparece como titular da soberania o próprio povo, como massa amorfa (massa incorpórea, inorgânica que vive em determinado momento), situada fora do Estado. Concepção defendida por Rousseau, ao dizer que a vontade popular é representada pela vontade geral. 2) Na segunda fase, adquire seu ponto de consolidação com a Revolução Francesa influindo sobre as concepções políticas do século XIX e início do século XX, a titularidade é atribuída a nação, que é o povo concebido numa ordem integrativa (nação é a encarnação de uma comunidade em sua permanência). Esta concepção é defendida por Emanuel Joseph Sieyès. 3) Por último, chega-se à afirmação de que o titular da soberania é o Estado, o que começaria a ser aceito na segunda metade do século XIX e ganharia prestígio no século XX (teoria alemã acerca da personalidade jurídica do Estado). “O povo mesmo concebido como nação. Não tem personalidade jurídica. Mas, como ele participa do Estado e é o elemento formador da vontade deste, a atribuição da titularidade da soberania do Estado atende às exigências jurídicas, ao mesmo tempo em que preserva o fundamento democrático.” (Dalmo Dallari, pág. 83). 5.6. OBJETO DA SOBERANIA: Quanto ao objeto e à significação da soberania, verifica-se que o poder soberano é exercido sobre os indivíduos, que são a unidade elementar do Estado, não importando que atuem isoladamente ou em conjunto, assim os cidadãos estão sempre sujeitos ao seu poder soberano (poder coercitivo). A) Relativamente aos que não são cidadãos do Estado, este exerce poder soberano quando se encontrem dentro de seu território, embora haja também alguns casos excepcionais, em que o estrangeiro não é atingido pela soberania de um Estado, mesmo que se ache em seu território (Embaixadas ‘representação política, e consulado ‘representação comercial’). B) A afirmação do poder soberano, significa que, dentro dos limites territoriais do Estado, tal poder é superior a todos os demais, tanto dos indivíduos quanto dos grupos sociais existentes no âmbito do Estado. E com relação aos demais Estados a afirmação de soberania tem a significação de independência, admitindo que haja outros poderes iguais, nenhum, porém, que lhe seja superior. Assim, a soberania do Estado é considerada geralmente sob dois aspectos: interno e externo: A soberania interna quer dizer que a autoridade do Estado, nas leis e ordens que edita para todos os indivíduos que habitam seu território e as sociedades formadas por esses indivíduos, predomina sem contraste, não pode ser limitada por nenhum outro poder. A soberania externa significa que, nas relações recíprocas entre os Estados, não há subordinação nem dependência, e sim igualdade.” (Darcy Azambuja, pág. 90). 5.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE SOBERANIA O conceito de soberania tem sido de índole exclusivamente política, na sua origem histórica, já se acha disciplinado juridicamente, quanto a sua aquisição, seu exercício, e a sua perda. De fato, apesar do progresso, a soberania continua a ser concebida de duas maneiras: a) Como sinônimo de independência, e assim tem sido invocado pelos dirigentes dos Estados que desejam afirmar, sobretudo, ao seu próprio povo, não serem submissos a qualquer potência estrangeira. b) Como expressão de poder jurídico mais alto significa, que, dentro dos limites da jurisdição do Estado, este é o poder de decisão em última instância, sobre a eficácia de qualquer norma jurídica. 6. TERRITÓRIO: A noção de território, como componente necessário do Estado, só apareceu com o Estado Moderno, embora, à semelhança do que ocorreu com a soberania, isso não queria dizer que os Estados anteriores não tivessem território. Segundo Nina Ranieri (2013, p. 115): A noção de território estatal e de origem moderna. Ate 1500, menos de 20% da superfície terrestre estafa dividida por fronteiras nacionais. Antes disso, a humanidade convivera com sociedades politicamente organizada sob o principio da personalidade que sustentava diferentes comunidades tribais, povos nomandes e suas esferas de competência; e alem do território do Império Romano, na direção da Asia, onde se situavam as rotas comerciais para o Oriente, tribos nômades controlaram caminhos e pessoas, independente de se organizarem politicamente sobre qualquer território. Foi justamente, a organização territorial dessas unidades de associação que apagou as diferenças entre tribos e criou um sentimento comum como se deu na formação das cidades da Idade Media. 6.1. Evolução da noção de território No Estado Grego: Na Cidade-Estado, o território era limitado a um centro urbano e a uma zona rural circunvizinha, não havendo ensejo para conflito de fronteiras. Assim, não chegou a surgir a necessidade de uma clara delimitação territorial. Na Idade Média: Com a multiplicação dos conflitos entre as ordens (feudos) e as autoridades (monarca), tornou-se indispensável a definição de território, e isto foi conseguida através de duas noções: a) soberania, que indicava o poder no mais alto grau, atuando no Estado; b) território, que indicava onde esse poder (soberano) seria efetivamente o mais alto. 6.2. CONCEITO DE TERRITÓRIO: O autor Ranelletti, superando as deficiências apresentadas por algumas teorias propõe que o território é o espaço dentro do qual o Estado exerce seu poder de império. Este poder se exerce sobre tudo, pessoas e coisas, que se encontre no território. O território é o elemento físico do Estado. “O território, em sua concepção elementar, pode ser definido como a base física, onde a soberania (qualidade intrínseca do Estado), é exercida em sua plenitude”. (Reis Friede, pág. 56). “O território é a base física, o âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade da sua ordem jurídica, conforme definiu Hans Kelsen. ”. (Reis Friede, pág. 56). Conclusões de caráter geral, sobre as quais se pode dizer que praticamente não há divergência: a) Não existe Estado sem território. No momento de sua constituição o Estado integra num conjunto indissociável, entre outros elementos, um território, que não pode ser privado sob pena de não ser mais Estado. b) O território estabelece a delimitação da ação soberana do Estado. Dentro dos limites territoriais a ordem jurídica do Estado é a mais eficaz, por ser a única dotada de soberania, dependendo dela admitir a aplicação dentro do âmbito territorial, de normas jurídicas provindas do exterior (os tratados internacionais, os acordos, as convenções, etc). Dos aspectos acima, pode-se extrair os seguintes conceitos: PRINCÍPIO DA IMPENETRABILIDADE: Face aos fundamentos anteriores a ordem jurídica estatal, atuando soberanamente em determinado território, está protegida pelo princípio da impenetrabilidade, o que significa reconhecer ao Estado o monopólio de ocupação de determinado espaço, sendo impossível que no mesmo lugar e ao mesmo tempo convivam duas ou mais soberanias. A definição espacial do território estatal delimita suas fronteiras e o âmbito de validade jurídica de suas normas na sociedade internacional de Estados. Tal delimitação produz dois efeitos jurídicos principais: a) submete tudo e todos que se encontrem no território estatal as suas normas (efeito positivo ou inclusivo); b) exclui, deste mesmo território, a possibilidade de vigência de outra ordem estatal soberana (efeito negativo ou excludente). 6.3. LIMITES TERRITORIAIS: É importante que se faça um estudo dos limites territoriais, sobretudo, tendo em conta a ampla utilização ou exploração econômica do mar, de seu solo e subsolo, bem como do espaço aéreo. a) Em terra firme, os Estados limítrofes estabelecem a delimitação ou as suas fronteiras, por linhas imaginárias, montanhas, acidentes geográficos, etc. b) Extensão territorial sobre o mar: Com a crescente utilização econômica do mar, de seu solo, subsolo marinho, a pesca, a fauna, (superando o critério do ‘tiro de canhão’) cresceu a importância do problema, esta faixa de mar passou a ser designada mar territorial. A solução adotada pelos países sul-americanos foi a fixação do mar territorial em 200 milhas náuticas, através de tratados internacionais e atos unilaterais. c) Alto mar: A Convenção sobre os direitos do Mar (1982) considera o alto mar comum da humanidade. Nenhum Estado pode reivindicar a propriedade do alto mar. d) A Antártida: Está sujeita a um tratado,desde 1959, pelo qual não se reconhece sobre ela qualquer pretensão territorial. e) O espaço aéreo: O problema foi acentuado após a 2ª guerra Mundial, sobretudo com o desenvolvimento da aeronáutica, e a utilização das aeronaves com meio de transporte de passageiros. A partir daí sentiu-se a necessidade do estabelecimento de regras para utilização do espaço aéreo. Considerou-se indispensável assegurar a passagem inocente, das aeronaves de transporte de passageiros. Isto ocorreu mediante uma convenção sobre aviação civil internacional, em Chicago em 1944, regulamentando o uso do direito da passagem inofensiva. Com a tecnologia das viagens espaciais, satélites lançados na estratosfera, tornou-se ineficaz a regra tradicional da extensão ilimitada, representada por uma coluna de ar que se estendia até o infinito. 7. ELEMENTO ESSENCIAL DO ESTADO – POVO: É unânime a aceitação da necessidade do elemento pessoal para a constituição e a existência do Estado, uma vez que sem ele não é possível existir Estado e é para ele que o Estado se forma. POPULAÇÃO: Há doutrinadores que designe como população esse elemento pessoal. Mas, esta designação não é a melhor, vez que a população é mera expressão numérica, demográfica, ou econômica, segundo Marcelo Caetano, que abrange: O conjunto das pessoas que vivem no território de um Estado ou mesmo que se achem temporariamente. Fazendo algumas distinções NAÇÃO: É outra expressão largamente usada com o sentido de povo e que tem sido causa de grande imprecisão, provocando confusão até mesmo na legislação. MAS O QUE NAÇÃO? • O termo NAÇÃO surgiu no século XVIII com a pretensão de ser a expressão do povo como unidade homogênea, o termo nação adquiriu grande prestígio durante a Revolução Francesa, sendo utilizado para externar tudo quanto se referisse ao povo. • NAÇÃO, expressão usada inicialmente para indicar origem comum, ou comunidade de nascimento, não perdeu de todo tal significado, indicando, segundo Miguel Reale, uma comunhão formada por laços históricos e culturais e assentada sobre um sistema de relações de ordem objetiva. • NAÇÃO pode ser vista como uma comunidade de base histórico-cultural, pertencendo a ela em regra, os que nascem num certo ambiente cultural feito de tradições e costumes, geralmente expresso numa língua comum, tendo um conceito idêntico de vida e dinamizado pelas mesmas aspirações de futuro e os mesmos ideais coletivos. “Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideais e aspirações comuns. Povo é uma entidade jurídica; Nação é muito mais do que povo, é uma comunidade de consciências, unidos por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o patriotismo” (Darcy Azambuja, pág. 58). Por tudo isto é que NAÇÃO não se confunde com POVO. 7.1. NOÇÃO JURÍDICA DE POVO: A noção jurídica de povo é uma conquista bastante recente. O indivíduo deixou de ser súdito do rei, para ser cidadão do Estado, portador de direitos constitucionalmente previstos. 7.2. Evolução do conceito de povo Na Grécia antiga indicava apenas o membro ativo da sociedade política, isto é, aquele que podia participar das decisões políticas, juntamente com estes existiam os homens livres não- dotados de direitos políticos e os escravos, que compunham a polis ou a Cidade-Estado. Assim, quando se fala em povo de Atenas só se incluem nessa expressão os indivíduos que tem certos direitos. Durante a Idade Média já menos precisa é a noção de povo, pois a extensão dos direitos e as novas camadas da população, bem como a maior mobilidade desta, até que se começassem a delinear os traços do Estado Moderno, tudo isso perturbou os padrões tradicionais. Enquanto povo de um mesmo Estado permanecia dividido em diferentes ordenações, sem um centro unificador eficaz, não pôde ser concebido como uma unidade. Durante o primeiro período do Estado Moderno, enquanto prevaleceu a monarquia absoluta, foi-se generalizando, sobretudo na França, a designação de cidadão, o que iria influir para que o conceito de povo também se ampliasse. Com a ascensão política da burguesia, através das revoluções do século XVIII, apareceria, inclusive, nos textos constitucionais a idéia de povo, livre de qualquer noção de classe, pretendendo-se mesmo impedir qualquer discriminação15 entre os componentes do Estado, como bem se percebe pela consagração do princípio do sufrágio universal, que significa o voto igual para todos. Portanto, o reconhecimento jurídico de povo se dá a partir do momento que os Estados passaram a ser organizados através de uma Constituição escrita que assegura ao mesmo tempo a limitação de direitos, bem como a presença de um rol mínimo de direitos aos cidadãos. 8. ELEMENTO ESSENCIAL DO ESTADO – GOVERNO: O governo é o órgão diretor, o aparelho de mando e coação exercitado pelo Estado. Este quarto elemento do Estado manifesta-se de maneira diversa, do território e povo, pois pressupõe para sua existência a presença daqueles dois. O governo integrado por pessoas, é extraído da população. Uma vez constituído, tem de localizar-se num território, onde vai manifestar a sua ação, atingindo o elemento humano que ocupam o território. 8.1. GOVERNO – Teor de independência O governo é órgão de autoridade, revela a soberania do Estado, isto é, põe-na (soberania) em ação. 15 Na verdade, as discriminações não desapareceriam na prática, mas, afirmado o princípio, iniciou-se um esforço doutrinário no sentido de efetivar, em termos jurídicos, a extensão plena de cidadania. Parafraseando Alexis Toccqueville: a cidadania não foi simplesmente a obra de alguns homens, mas sim a culminância de um processo histórico. Em sua complexidade estrutural e em sua diversidade formal, o governo é que, pressupondo já a população e o território, dá o caráter especial ao Estado como um poder de dominação, inconfundível e incontrastável. Seja pelo exercício da autoridade, seja pelo sistema de funções, o governo é expressão diretora, a impor-se soberanamente. NÃO SE DEVE CONFUNDIR GOVERNO COM SOBERANIA, EIS QUE ESTA É TÃO SOMENTE A SUBSTÂNCIA DAQUELE PARA EXPRIMIR O ESTADO PERFEITO. A soberania se expressa ou é a manifestada pelo governo. “O governo, como elemento diretivo que revela a soberania do Estado é seu veículo na consecução da felicidade pública tem de existir, especialmente agora neste apogeu da civilização, sob a égide do Direito”. (Aderson de Menezes, pág. 142). 9. ELEMENTO FINAL DO ESTADO: O BEM COMUM A finalidade é o elemento do Estado que diz respeito a fundamentação de sua ação. Tais fundamentos são simultaneamente teleológicos (isto é, são relativos aos fins do Estado) e axiológicos (relativos aos valores sob os quais se orienta a ação do Estado). A mais importante tarefa da politica esta, justamente, em dirigir o poder do Estado para a realização de fins considerados legítimos pelo povo. Não se admite a existência do Estado sem um fim específico: Que a doutrina identificou como “O bem comum”. A existência da sociedade política com território e população definidos, governo soberano e normas comportamentais não se justifica como um fim em si mesmo, mas, sim, para que se alcance o bem-estar da mesma população. Por isso, é que podemos conceituar bem comum como a realização global do ser humano, quer do ponto de vista biológico, quer do psíquico o que deve ser propiciado pelo Estado. CONCLUSÃO: Assim, “podemos dizer que o Estado realiza o bem comum à medida que mantém a segurança interna e externa de um povo (força, policiais armados, em última análise), constrói um Estado de Direito (pela aplicação efetiva das normas jurídicas e respeito aos direitos e garantias individuais) e atende ao bem-estar de todos.” (Manual de Teoria Geral do Estado e Ciência Política, José Geraldo Brito Filomeno, pág. 86). 10. CONCEITO DE ESTADO: Encontrar um conceito de Estado que satisfaça a todas as correntes doutrinárias é absolutamente impossível, pois sendo o Estado um ente complexo pode ser abordado sob diversos pontos de vista. Devido a dificuldade em conceituar o Estado, Dalmo Dallari, no seu livro Elementos da Teoria Geral do Estado, Ed. Saraiva, 20ª Ed, pág. 118, levando em consideração os elementos que o compõem: conceituou o Estado: “Como a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território.” 11. FORMA DE GOVERNO – FORMA DE ESTADO – REGIME DE GOVERNO – SISTEMA DE GOVERNO16 Inicialmente, faremos uma distinção entre “formas de governo”, “forma de Estado”, e “regime de governo” e “sistema de governo”, pois, não se pode confundi-los, pois cada um tem uma função especifica na compreensão do estudo das formas de governo. Forma de governo: Modo pelo qual o Estado se organiza e estrutura, com o objetivo de exercer o poder político. Regime de governo e sistema de governo: relações que podem existir entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo em determinado Estado, para o exercício do poder político. Forma de Estado: Tem por finalidade classificar os Estados nas suas relações com os seus elementos constitutivos: povo, território estatal, governo. 11.1. CONSIDERAÇÕES: Conceitualmente, formas de governo é o modo pelo qual o Estado se organiza e exerce a suas atividades, ou seja, as maneiras pelas quais o poder político se exterioriza, para exercer a suas atividades. Assim, as formas de governo expressam o modo de realização dos fins do Estado e do exercício do poder político. 11.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE GOVERNO: Segundo orientação preconizada por diversos autores é possível traçar uma genuína evolução histórica concernente às formas de governo, que teve o seu marco de surgimento na Grécia antiga. Neste período, vale mencionar nomes como Platão e Aristóteles, que foram os primeiros a apresentar conceitos concretos sobre a concepção binária Estado/Governo. a) Concepção de Platão O Estado seria conceitualmente o poder absoluto capaz de controlar a vida e a liberdade de cada cidadão. E governo, tendo sua função finalística, teria por base a filosofia, devendo ser entregue aos filósofos. Platão classifica as formas de governo em três diferentes grupos: Monarquia (governo de um só), incluindo a monarquia que poderia ser real, legal e a tirânica. Governo de um grupo, incluindo a aristocracia e a oligarquia, e a democracia, se apresentando em duas diferentes versões: legal e arbitrária. b) Concepção de Aristóteles O governo seria, tendo em vista a sua finalidade, a autoridade suprema do Estado, podendo ensejar a permanente possibilidade de deturpação no seu regular exercício. As formas “puras” de governo, são aquelas que o governante atende os interesses públicos: 16 Estas nomenclaturas não são unânimes na doutrina, quiçá na legislação. Por isso, utilizaremos neste tópico a nomenclatura utilizada por Reis Friede, no seu livro Curso de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. a) monarquia (governo de um) b) aristocracia (governo de um grupo minoritário) c) democracia (governo da maioria) As formas “impuras” de governo são aquelas em que o governante visa primeiro o interesse particular, esquecendo o interesse público. a) tirania, forma impura da monarquia. b) oligarquia, forma impura da aristocracia. c) demagogia, forma impura da democracia. c) Concepção de Políbio de Megalópoles Baseou-se nas magistraturas de Roma. Políbio conceituou as formas de governo, levando em consideração dados históricos, apontando como governo ideal a união da monarquia (quando exercida pelos cônsules), aristocracia (quando exercida pelo senado) e democracia (quando exercido pelo tribuno da plebe), reunidas estas formas de governo seriam capazes de promover o bem-estar social. d) Concepção de Maquiavel Em sua obra O Príncipe, surgiu a seguinte classificação contemporânea: a) monarquia, se caracteriza pela vitaliciedade da chefia estatal pelo monarca. b) república, é a forma de governo que tem como traço comum, o poder exercido pelos mandatos políticos, por tempo determinado. Na sua concepção política apregoava, um governo desassociado da moral (inaugurou a teoria da lógica do poder como independente da religião e da ética, e da ordem natural). Rejeitou a distinção entre formas puras e impuras de Aristóteles. e) Concepção de Montesquieu Investigando as leis que derivam diretamente da natureza do governo, diz existir três espécies: a) o republicano, b) o monárquico, e c) o despótico “O governo republicano é aquele que o povo, como um todo, ou somente uma parcela do povo, possui o poder soberano; a monarquia é aquela em que um só governa, mas de acordo com leis fixas e estabelecidas, enquanto, no governo despótico, uma só pessoa, sem obedecer a leis e regras, realiza tudo por sua vontade e seus caprichos”. 11.3. FORMAS DE GOVERNO CONTEMPORÂNEAS: Da doutrinação especial de Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu, resultaram nas formas de governo da atualidade, e foram reduzidas a duas vertentes básicas: monarquia e república. Contudo, a modificação conceitual decorreu, sobretudo, da ampla necessidade de: A) Estabelecer um critério mais preciso quanto ao aspecto de permanência temporal (aquisição - alternância) do governante no exercício do poder. B) ao mesmo tempo em que passou a ser necessário um critério para aferir o eventual grau de concentração do poder. (exercício). Nesse sentido, a expressão forma de governo passou a traduzir um conceito plural, de autêntico gênero, a incluir dois significados: Sistema de governo - avaliando a questão concernente, sobretudo, ao acesso e a sua permanência no poder. Regime de governo - avaliando a questão alusiva, especialmente, ao grau de concentração do poder. 11.3.1. SISTEMA DE GOVERNO: Não obstante, toda a evolução conceitual a respeito, contemporaneamente, conforme já foi demonstrada, dividem-se os sistemas de governo fundamentalmente em república e monarquia constitucional. A) Monarquia Foi o sistema de governo mais utilizado pela humanidade. A partir do Estado Constitucional foi perdendo prestígio, e atualmente está reduzida a poucos países que ainda adotam este sistema de governo. CONCEITO: Monarquia, é uma modalidade de sistema de governo, cujo conceito está vinculado ao seu próprio nome. Vem de monos = só, e arkhein = comando, que quer dizer etimologicamente governo de um. GENERALIDADES: Na realidade contemporânea, porém, a conceituação monárquica evoluiu e se modificou em certa profundidade jurídica, não admitem mais o governo individual no sentido de que se confundir a coisa pública e a pessoa do dirigente. O Estado patrimonialista deixou de existir com o surgimento do Estado Constitucional. FORMA DE ACESSO E PERMANÊNCIA AO GOVERNO: Pode ser o sistema de governo que a chefia do Estado é exercida por um soberano, rei ou imperador, cuja ascensão ao trono se faz por hereditariedade (acesso) e em caráter vitalício (permanência). Classificação de Aderson de Menezes: Monarquia absoluta ocorre quando o monarca é o titular único da soberania, com autoridade ilimitada por ser a suprema expressão de poder livre, pessoalíssimo é o chefe de Estado e chefe de governo. Monarquia constitucional ocorre quando o monarca, em sua autoridade superior, está limitado pela atuação de outros órgãos, que com ele participam do exercício da soberania , todos igualmente submetidos aos princípios vigentes de direito. É a chamada monarquia constitucional parlamentarista, o monarca é chefe de Estado e o governo é exercido pelo gabinete, chefiado por um Primeiro-ministro. B) REPÚBLICA: O surgimento da república, como sistema de governo, se deu com a Constituição Americana de 1787. Os convencionais de Filadélfia foram que idealizaram este sistema de governo sem precedentes na história da humanidade. Quando os antigos se referiam a “república” não tinha o mesmo significado que foi dado pela Constituição Americana. Como sistema de governo, o seu aparecimento se deu intencionalmente contrário à monarquia, à qual se opõe frontalmente. A república, por sua vez está vinculada ao nome que ostenta, de res = coisa, e pública = comum, para se ter logo a idéia perfeita do que expressa esse tipo governamental e se mostra oposto à monarquia. CARACTERÍSTICAS: a) Não hereditário, pois a escolha do governante se dá mediante eleição popular (ACESSO). b) Não vitalício o governo é escolhido para governar por tempo determinado (PERMANÊNCIA). CONCEITO: A república pode ser definida como: O sistema de governo em que a chefia do Estado ou chefia de Estado e de Governo é exercida por um presidente, eleito pelo parlamento ou pelo povo e empossado para o desempenho de funções periódicas. CLASSIFICAÇÃO 1) República democrática é aquela em que o povo tem a função suprema do governo, podendo todos os cidadãos participar da eleição dos governantes. 2) República aristocrática é aquela em que há o privilégio político de uma classe mais nobre, privilegiada por direitos de nascimento ou de conquista, apenas os seus membros podem eleger e ser eleitos para a função suprema do governo. Atenas e Veneza foram repúblicas aristocráticas. 11.3.2. REGIME DE GOVERNO: Os regimes de governo, com já assinalado, traduzem, em última instância, o grau de concentração de poder nas mãos do governante, e, particularmente, o grau de coesão e/ou independência das funções clássicas do poder estatal (executiva, legislativa e judiciária), associadas ou não a um poder de moderação. De um modo geral existem três formas distintas de regime de governo: A) Presidencialismo; B) Parlamentarismo; C) Colegiado: A) PRESIDENCIALISMO O presidencialismo, não foi produto de uma criação teórica, não havendo qualquer obra ou autor que tivesse traçado previamente suas características e preconizado sua implantação. Assim, não resultou de um longo e gradual processo de elaboração. Pode-se se afirmar com segurança que o presidencialismo foi uma criação americana do século XVIII. Os ex-colonos tenham uma péssima lembrança da atuação do monarca inglês, enquanto estiveram submetidos à coroa inglesa, somando a isto, a influência dos autores que se opunham ao absolutismo, especialmente Montesquieu, determinou a criação de um regime que, consagrando a soberania popular, adotava ao mesmo tempo um mecanismo de governo que impedia a concentração do poder. O presidencialismo caracteriza-se pela independência dos poderes, não só no sentido de separação, mas de distinção, não havendo subordinação de um ao outro. O Poder Executivo se encontra na pessoa do presidente eleito pelo povo, que o exerce de maneira autônoma, auxiliado pelos ministros ou secretários de Estado. O presidente é o chefe do Estado e do Executivo, traçando a política geral e dirigindo a Administração pública. CARACTERÍSTICAS DO PRESIDENCIALISMO: a) O Presidente da República é chefe de Estado e Chefe de Governo : Acumula as duas funções, exercendo o papel de vínculo moral do Estado e desempenhando as funções de representação, ao mesmo tempo em que exerce a chefia do poder executivo. A diferença entre Chefe de Estado e Chefe de Governo é no sentido de que o primeiro exerce funções de representação e o segundo exerce funções políticas, toma decisões. b) A chefia do executivo é unipessoal: a responsabilidade pela fixação das diretrizes do poder executivo cabe exclusivamente ao Presidente da República. Naturalmente por motivos de ordem prática, ele se apóia num corpo de auxiliares diretos, de sua inteira confiança para obter conselhos e informações. c) O Presidente é escolhido pelo povo, através do voto. d) O Presidente da República é escolhido por prazo determinado. e) O Presidente da República tem poder de veto, ou seja, pode rejeitar projetos de lei que foi aprovado pelo Poder legislativo, no caso do presidencialismo brasileiro. B) PARLAMENTARISMO Diferentemente do presidencialismo, o parlamentarismo passou por uma lenta evolução histórica, surgiu na Inglaterra a partir do século XIII. Evolução Histórica do Parlamentarismo - Em 1215 o Rei João Sem Terra, convocava 04 cavaleiros de cada condado para conversar sobre os assuntos do reino. Em 1265, Simon Montfort, de origem francesa, mas neto de uma inglesa, promove uma rebelião envolvendo os barões e eclesiásticos, contra o Rei Henrique III, dando um caráter político as reuniões, no ano de 1295 o Rei Eduardo I, oficializa as reuniões. Em 1332, começa a definir as duas casas do Parlamento: os barões continuavam fazer suas reuniões e os cavaleiros, cidadão e burgueses compuseram sua própria assembléia, dando origem a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. Depois de uma fase inicial de prestígio, o Parlamento sofreu as conseqüências da instalação do absolutismo monárquico, e foi perdendo autoridade, levando vários anos para se impor novamente. O certo é que a nobreza e a burguesia inglesa nunca aceitaram que o monarca pudesse governar com exclusividade. Em 1688, a Revolução Gloriosa, culminou com a expulsão de Jaime II, que foi substituído pelo Rei Guilherme de Orange e Maria. A partir desta data o Parlamento se impõe como maior força política, principalmente com o Bill of Rights. - Após o Reinado de Guilherme e Maria, a sucessora Rainha Ana, estabeleceu o hábito de convocar um “conselho de ministros”, que era um corpo restrito de conselheiros privados, eram consultados regularmente sobre assuntos de relações exteriores. - Com o falecimento da Rainha Ana, pelo fato de não deixar herdeiros, assume o príncipe Alemão Jorge, que não falava inglês, desconhecia a política inglesa, e quando se dirigia ao Parlamento era em latim. Deste fato resultou que o gabinete continuava reunindo-se, e logo um dos ministros se destacou (Roberto Walpole) e por ironia passou a ser chama de “primeiro-ministro17”. - Mais um passo seria dado, quando o Parlamento sentindo-se forte, começou a pressionar os ministros a se demitirem quando discordavam de sua política. De início foi utilizado o impeachment, a acusação era perante a Câmara dos Comuns. Reconhecida da culpa, reconhecido o impeachment, havia a perda do Ministério e a pena. Aos poucos os ministros perceberam que ela melhor deixar o cargo logo que manifestasse o descontentamento do Parlamento. Nasce assim a responsabilidade política, com a obrigatoriedade de se demitir sempre que recebe um voto de desconfiança. De modo que é possível asseverar: O parlamentarismo foi uma lenta criação da história da Inglaterra, onde se afirma em 1688 e, a partir desta data foi se aperfeiçoando, e passou a ser adotado por outros países da Europa. É o governo da maioria. O parlamentarismo, segundo muitos estudiosos, é o regime de governo mais perfeito, pois se baseia num típico e original sistema representativo, havendo paralelamente o exercício pleno da soberania popular. Apresenta, sob o ângulo funcional-orgânico, os três poderes clássicos (Executivo, Legislativo e Judiciário) acrescidos do Poder Moderador, representado pelo rei (em caso de Estado Monárquico) ou pelo presidente da República (em caso de Estado republicano). Tanto o rei quanto o presidente da República permanecem fora da articulação político- partidária, havendo, para o Primeiro-Ministro, um gabinete ou conselho de ministros que essencialmente dirige a política geral do país. CARACTERÍSTICAS DO PARLAMENTARISMO: a) Distinção entre Chefe de Estado e Chefe de Governo: O Chefe de Estado, um monarca ou Presidente da República, não participa das decisões políticas, exercendo uma função de representação do Estado e de moderação. Sendo secundária sua posição, em termos políticos, é normal nas repúblicas parlamentaristas que sua escolha seja feita por eleição do Parlamento e que seu mandato seja relativamente longo. O Chefe de Governo, por usa vez, é a figura política central 17 “Mas sua atuação teve importância decisiva para que, com a redução da participação e da autoridade do monarca nas decisões políticas, ficasse claramente delimitado um dos pontos básicos do parlamentarismo: a distinção entre Chefe de Governo, que passou a ser o Primeiro-Ministro e o Chefe de Estado, que continuou sendo o monarca” (Dallari, pág. 233). do parlamentarismo, pois é ele que exerce o Poder executivo, e só se torna Primeiro-Ministro, ou Chanceler, depois de obter a aprovação do Parlamento. b) Chefia do Governo com responsabilidade política: O Chefe do Governo, aprovado pelo Parlamento, não tem mandato com prazo determinado, podendo permanecer no cargo por alguns dias ou por muitos anos. Há dois fatores que podem determinar a demissão do Primeiro- Ministro e de seu Gabinete: 1) a perda da maioria do Parlamento; ou, 2) o voto de desconfiança, neste caso se um parlamentar desaprova no todo ou em parte a política desenvolvida pelo Primeiro-Ministro, propõe um voto de desconfiança, se este for aprovado pela maioria parlamentar, isso revela que o Chefe de Governo está contrariando a vontade da maioria do povo, de quem os parlamentares são representantes. Assim, deve demitir-se. c) Possibilidade de dissolução do Parlamento: Uma característica importante do sistema inglês é a possibilidade de ser dissolvido o Parlamento, considerando-se extinto o mandato da Câmara dos Comuns antes do prazo normal. Isso pode ocorrer quando o Primeiro-Ministro percebe que só conta com uma pequena maioria e acredita que a realização de eleições gerais irá resultar numa ampliação da maioria. Ou então, e isto se aplica mais aos sistemas pluripartidários, quando o Primeiro-Ministro recebe um voto de desconfiança, mas entende que o Parlamento é que está em desacordo com a vontade popular. Nesses casos ele pode pedir ao Chefe do Estado que declare extintos os mandatos e, pelo mesmo ato, convoque novas eleições gerais. Realizadas as eleições, seu resultado determinará a permanência do Primeiro-Ministro, se continuar com a maioria ou sua demissão, se contar com apenas a minoria dos novos representantes eleitos. C) COLEGIADO: Caracteriza-se pelo exercício do Poder Executivo por mais de uma pessoa todas eleitas pelo Legislativo. Dentre elas anualmente, uma é designada pelo presidente do Colegiado para chefiar o país. Este regime vigente atualmente na Suíça, e já foi há alguns anos utilizado pelo Uruguai. FORMAS DE GOVERNO Sistema de governo: Define a forma de acesso ao poder e a sua permanência. Monarquia absoluta constitucional Regime de governo: Define o grau de concentração de poder a disposição do governante. Parlamentarismo República Democrática Aristocrática Parlamentarista Presidencialista Hereditária e vitalícia O governante é eleito para exercer o poder por tempo determinado FORMAS DE GOVERNO DIAGRAMA PURA (O rei é chefe de Estado e de Governo É possível dissolver o Parlamento; O Presidente é o Chefe de Estado O Primeiro Ministro é escolhido pelo Parlamento, que é o chefe de Governo Existe coesão entre os Poderes Legislativo e o Executivo. Não é possível dissolver o Parlamento; O Presidente é o chefe de Estado e Chefe de Governo O Presidente escolhe o seus auxiliares Independência entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo. O rei é chefe de Estado e a chefia de governo é exercida pelo Gabinete TIPOS DE PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO PRESIDENCIALISMO PURO: Estados Unidos MISTO: Possui técnicas secundárias do parlamentarismo, por exemplo: Comparecimento de ministros de Estado no Parlamento. Compatibilidade do cargo de Ministro e congressista PARLAMENTARISMO DUALISTA: Quando o chefe de Estado exerce algumas funções políticas. MONISTA: O Parlamento é o responsável pela fixação da política do Estado. 11.4. FORMA DE ESTADO: As formas de Estado são as maneiras pelas quais se classificam os Estados de acordo com o relacionamento mantido entre seus elementos constitutivos (território, governo, povo, ordenamento jurídico). 11.4.1. Estado Unitário Definição: Estado unitário pode ser definido como o Estado em que o poder conserva uma unidade em sua estrutura, não possuindo mais que um só centro de poder, ou seja, um único Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, atuantes no território do Estado. Todas as autoridades executivas ou judiciárias que existem no território são delegações do poder central, tiram dele sua força, é ele que as nomeia e lhes fixa as atribuições. O Poder Legislativo de um Estado simples é único, não há nenhum outro órgão com atribuições de fazer leis nesta ou naquela parte do território. Nos Estados unitários o território é dividido em partes, que se denominam Região, província, municípios, comunas, departamentos, dependendo da nomenclatura que se utiliza. O Estado Unitário pode ser: Estado unitário centralizado É caracterizado por possuir um único corpo de serviços que cuidam da Saúde, Educação, transportes, etc., todos dependentes e subordinados a Autoridade Central. A Autoridade Central MONOPOLIZA o poder de mando e o exercício das funções ou serviços públicos, as ordens são dadas verticalmente de cima para baixo. Existe uma dependência hierárquica muito evidente. Estado unitário desconcentrado DESCONCENTRAR significa DELEGAR FUNÇÕES OU SERVIÇOS. As autoridades locais funcionam como delegações dos Órgãos Centrais. O Estado Unitário Desconcentrado é caracterizado por DELEGAÇÕES DE FUNÇÕES. Existe somente uma transferência do exercício das funções, mas a titularidade permanece com o órgão delegante. O órgão delegatório atua com a mesma personalidade jurídica do órgão delegante, com dependência hierárquica. Estado unitário descentralizado O processo de descentralização administrativa tende a repartir entre diversos órgãos administrativos secundários os poderes de decisão (descentralização administrativa) e a confiar a escolha desses órgãos aos corpos eleitorais locais (descentralização política). A descentralização pode ser regional ou geográfica, quando as circunscrições – municípios, departamentos, províncias, comunas, etc., tem autonomia para eleger seus administradores e gerir os serviços que lhes são peculiares. A descentralização é por serviços, quando são os serviços públicos dotados de certa autonomia, apenas fiscalizados pelo poder central. Distingue-se ainda a descentralização administrativa a descentralização política. A primeira é a de que falamos acima, refere-se especialmente aos serviços públicos. A segunda consiste na atribuição de funções políticas aos órgãos regionais ou locais, com o intuito de dar maior participação aos cidadãos nos poderes estatais. Descentralizar significa REPARTIR entre diversos órgãos administrativos e a confiar a escolha desses órgãos ao corpo de eleitores locais, Assim, é possível concluir: A descentralização administrativa significa que a descentralização é por serviços, caracterizado por se formarem novas pessoas jurídicas de Direito Público que são dotados de patrimônio próprio, e não possuir dependência hierárquica. A descentralização política consiste na atribuição de funções políticas aos órgãos regionais ou locais, com o intuito de dar maior participação aos cidadãos nos poderes locais. 11.4.2. FORMAS COMPOSTAS DE ESTADOS: Caracterizam-se: 1) pela existência de mais de uma fonte de poder político; 2) descentralização territorial, 3) com vigência de mais de um ordenamento jurídico. A) UNIÃO PESSOAL: Surge quando dois Estados se fundem sob a autoridade de um só governo. Trata-se de uma união temporária. Cada Estado permanece com sua própria soberania na esfera internacional, conservando cada Estado as suas próprias ordens jurídicas (leis). (Portugal e Espanha, entre 1580 a 1640) B) UNIÃO REAL: União de Estados soberanos, definitiva, embora distintos, em sua organização interna, mas formando uma única pessoal jurídica de direito internacional. (Império Austro-Húngaro). C) CONFEDERAÇÃO: União de Estados soberanos que se agregam para atingir determinado fim, normalmente de proteção contra ataques externos. A integração se faz por convenção, tratado, pacto. Os Estados não perdem sua soberania, podendo, se desejar sair da confederação. A Confederação é a união instável de Estados Soberanos. Temos como exemplo a Confederação Helvética, na Suíça, os cantões vieram a se confederar por vários séculos. Contudo, a mais famosa confederação surgiu das 13 colônias norte-americanas, após se emanciparem politicamente, vencendo a guerra da Independência, uniram-se pelos laços de Confederação, em 1777, assim permaneceram até o advento do Estado-Federal de 1787). Características da Confederação: a) É uma união de caráter precário, pois admite o direito de retirada; b) Os Estados confederados permanecem soberanos; c) A base jurídica da confederação é um pacto, tratado, ou convenção; d) Sua finalidade principal é a defesa da integridade territorial dos entes confederados de ataques exteriores e garantir no seu interior a paz coletiva. D) FEDERAÇÃO HISTÓRICO: A idéia de Federação nasceu nos Estados Unidos da América. Foi a forma de Estado escolhida pelos convencionais de Filadélfia, em 1787, objetivando a união dos Estados confederados de maneira estável e rígida, integridade essa que não permitisse qualquer movimento separatista. Criou-se a “União” como nova unidade política, representando todos os Estados- membros, na esfera internacional. Características: a) União estável de Estados não soberanos de forma rígida; b) não se admite o direito de retirada, sob pena de sofrer retaliação do Estado Federal; c) só o Estado Federal tem soberania, os Estados-membros possuem autonomia; d) No Estado Federal as atribuições da União e das unidades federadas são fixadas na Constituição, por meio de uma técnica de distribuição de competência. Assim, pode-se conceituar o Estado Federal como: “Uma organização formada sob a base de uma repartição de competências entre governo nacional e os governos estaduais, de sorte que a União tenha supremacia sobre os Estados-membros, e estes sejam dotadas de autonomia constitucional, perante a mesma União.” (Pinto Ferreira). Atributos dos entes federados: Os entes federados possuem as seguintes características: a) auto-organização: ter uma Constituição Estadual, uma Lei Orgânica, nos caso dos municípios e Distrito Federal, no caso da federação brasileira; b) Legislação: pode criar normas gerais e abstratas; c) auto-administração: manter e prestar serviços de sua competência; d) Autogoverno: capacidade de criar e organizar seus poderes e instituições, tais como: Poder Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Policias Civis e Militares, etc. D. 1) Federalismo brasileiro O federalismo brasileiro, inspirado no norte-americano, também admitiu os poderes da União para reservar todos os demais aos Estados-membros. Assim procederam a Constituição de 1891, de 1934, de 1937, de 1946, de 1967, Emenda n. 1, de 1969 e a Constituição de 1988. D. 2) Sistema bicameral Engendrou-se o sistema bicameral, estabelecendo que o Poder Legislativo do Estado Federal seria composto de duas Câmaras: a Câmara da República e a Casa do Senado. O Primeiro (Câmara da República ou Câmara dos Deputados) composta de pessoas eleitas pelo sistema proporcional são os representantes da Nação; A Segunda (Senado Federal) composta por pessoas eleitas pelo sistema majoritário, são os representantes dos Estados-membros, além de suas competências legislativas, tem os poderes de fiscalizar o Executivo, intervindo, na vida política – administrativa deste órgão. D. 3) Tipos de federalismo O Federalismo homogêneo significa número igual de representantes dos Estados- membros no Senado. O Federalismo heterogêneo significa número desigual de representantes dos Estados- membros, no Senado. A Constituição de 1891 sufragou o princípio do federalismo homogêneo. Cada Estado, independentemente de sua expressão, de sua importância econômica e densidade demográfica, se representaria no Senado com o mesmo número de delegados. Cada Estado elegerá três senadores. Traços marcantes do federalismo: a) Autonomia financeira, pois podem instituir tributos para viabilizar sua existência. b) Autonomia administrativa, criam seus serviços próprios. c) não- intervenção federal, que somente ocorrerá em situações preestabelecidas. 11.5. Outras formas de Estados A diferença básica entre o Estado Unitário descentralizado e o Estado Regional está no grau de descentralização ou no número de competências transferidas para as regiões, assim como quais tipos de competências são transferidas. Enquanto no primeiro só há transferências de competências administrativas, no Estado Regional, além destas, as regiões possuem crescentes competências legislativas ordinárias. O processo de descentralização que vem ocorrendo na Europa fundamenta-se não apenas na evolução da democracia e na busca de maior eficiência e celeridade dos serviços públicos, mas também na busca da manutenção da unidade territorial de Estados complexos como a Itália e a Espanha. 12. FORMAÇÃO E EXTINÇÃO DE ESTADOS: Classificação de A. Machado Paupérie de Lima: Originário: Ocorre quando o Estado surge diretamente do meio nacional, sem decorrer de nenhum outro Estado. Secundário: em que o Estado forma-se ainda do interior, decorrendo do meio nacional, mas por intermédio da união de vários Estados que almejam formar uma unidade com base em diferentes critérios (confederação, federação, união pessoal, união real), ou por meio de fragmentação das partes de um único Estado, que ganham independência (divisão nacional e divisão sucessorial), e; Derivado: em que o Estado forma-se a partir do exterior, através dos processos de descolonização (como a maioria dos países africanos), concessão dos direitos de soberania (como no caso do Canadá, Austrália, etc.), e ação direta de entidade supranacional (como no caso de Israel) ou ato de governo. Classificação de Aderson de Menezes 1. Pela emancipação de colônias, que se desligam da antiga metrópole; 2. Pela cisão de um Estado em duas ou mais porções, passando cada uma delas a constituir um Estado distinto; 3. Pela secessão de uma parte do território, com a respectiva população, de um Estado, para a formação de outro; 4. Pela reunião de dois ou mais Estados para o aparecimento de um só. Concluindo, no entanto, que independentemente do modo próprio de formação, é mister que o Estado, para sua plena caracterização, possua os pressupostos básicos (elementos constitutivos): povo (elemento humano), território fixo (elemento físico ou geográfico) e soberania (elemento abstrato de concreção). 12.1 . REQUISITOS DE CAPACIDADE: Trata-se de uma condição de juridicidade de um Estado recém-formado, imprescindível à sua ação e funcionamento regular, decorre do atendimento a certos requisitos, que lhe conferem a capacidade jurídica, que segundo Aderson de Menezes possuem os seguintes requisitos: REQUISITOS: 1. Autonomia – a faculdade de governa-se a si mesmo tem de ser inerente ao novo Estado, que há de escolher os seus dirigentes, fazer suas leis, distribuir sua justiça e gerir os negócios de sua economia, sob pena de não revestir o seu poder daquela forma especial, no seu grau máximo que se chama soberania. Só assim, sem a interferência de qualquer autoridade estranha, se pode falar de governo estatal, autônomo, soberano. 2. Auto-governo – Decorrente do primeiro requisito, a faculdade de organizar-se o novo Estado por si próprio, optando pelas instituições políticas mais convenientes e em consonância ao seu sistema cultural, dispondo de território exclusivo e de destino independente, formar uma organização estatal em bases compatíveis. 3. Princípio de identidade – Este característico é o de que o novo Estado deve sempre manter coerência à sua unidade e continuidade quaisquer que sejam as transformações ulteriores à sua formação, como depositário de tradições, titular de direitos responsável por deveres e encargos, assim na órbita interna, quanto aos seus jurisdicionados, como na esfera externa, com relação aos outros Estados. 4. Reconhecimento internacional – à guisa de título de sua admissão na sociedade internacional, o novo Estado deve obter o seu reconhecimento pelos outros Estados, notadamente pelas chamadas grandes potencias, que assim lhe reconhecem a personalidade exterior. Embora não seja ou complete um ato de sua própria estrutura, pois que é extrínseco, o reconhecimento dos demais Estados é sempre valioso, uma vez que integra o novo Estado no convívio internacional e lhe garante mesmo a possibilidade de apoio e segurança em face de situações difíceis, geralmente desenháveis à margem da formação de um Estado, por motivos óbvios 12.2. PROCESSOS DE EXTINÇÃO DOS ESTADOS: Como já mencionado anteriormente, a existência do Estado está jungida a reunião de seus elementos essenciais: povo, território e governo. Assim, basta perder um deles em sua constituição essencial para deixar de existir, extinguindo-se, portanto, a entidade estatal. Em muitos casos, entretanto, o Estado desaparece sob golpes de força, ao império da violência, submetendo, esfacelando-se a um poder alheio. Processos normais de extinção de Estados: 1. Ocupação do território: através de conquista da população ou submissão do governo por potências estrangeiras. 2. Anulação da capacidade jurídica: devido a eliminação de um dos requisitos desta ou todos eles conjuntamente, sempre com a intromissão de terceira autoridade. 3. Incorporação forçada ou espontânea de um Estado a outro. 4. Reunião de diversos Estados para a formação de um novo Estado. E não se deve esquecer que a extinção do Estado ainda pode ocorrer sponte sua, se lhe é conveniente perder a independência para entrar numa composição estatal. ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):_____________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. EXERCÍCIOS DA UNIDADE 01 ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P1, na nota da avaliação P1. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. 01. Quais são os grupos de teorias que procuram explicar ou justificar a origem do Estado? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 02. Qual o papel desempenhado pelo Governo em relação a soberania do Estado? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 03. Como os contratualistas explicam o surgimento do Estado? Dentre os contratualistas estudados que tipo de exercício do poder cada um deles procura justificar? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 04. Em relação a titularidade da soberania explique os dois grupos de teorias que foram estudados. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 05. A consolidação do conceito de soberania se deu na Idade Média. Então pergunta-se: De que forma isso foi possível? _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 06. A concepção de soberania no sentido puramente político repercutiu de que forma no século XIX? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 07. Qual o significado da concepção de soberania, no sentido puramente jurídico? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 08. Porque na Idade Média tornou-se indispensável a definição territorial do Estado? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 09. Explique porque nos limites territoriais de um Estado, a ordem jurídica do Estado é mais eficaz. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10. Como ocorreu a evolução da noção jurídica de povo? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11. Para a formação do Estado Moderno ocorreram vários eventos. Quais são estes eventos, e quais são as principais conseqüências decorrentes destes eventos? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 12. O que significa dizer que as aeronaves de passageiros tem direito a passagem inocente ou inofensiva, quando atravessa o espaço aéreo de um território? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 13. Por que a noção de cidadão no Estado grego não é a mesma na atualidade? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):_____________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. EXERCÍCIOS DA UNIDADE 01 ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P1, na nota da avaliação P1. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. 1. De acordo com a evolução dos tipos de Estado, assinale a assertiva correta: a. ( ) O Estado Moderno e caracterizado pelo feudalismo e o fortalecimento da burguesia. b. ( ) O Estado Medieval é caracterizado pela propagação da Igreja, e conseqüência do avanço do cristianismo, e com isso impondo a limitação da autoridade do monarca. c. ( ) O Estado Antigo, pode ser observado que o povo, ou pelo menos parte dele participavam das decisões políticas. d. ( ) No Estado Romano é que a soberania se afirma completamente com as expressões indicativas de imperium, potestas e majestas que indicam plena expressão de poder. e. ( ) nenhuma das alternativas anteriores. 02. Com relação ao Estado Unitário é correto afirmar: a. ( ) No Estado unitário centralizado existe uma repartição de funções e serviços. b. ( ) No Estado Unitário desconcentrado é possível criar serviços próprios que possuem autonomia perante a autoridade central. c. ( ) No Estado Unitário desconcentrado existe descentralização política. d. ( ) no Estado Unitário descentralizado sempre existirá descentralização política e administrativa. e. ( ) No Estado Unitário descentralizado nem sempre haverá descentralização política e administrativa. 03. Com relação aos Estados compostos assinale a frase verdadeira: a. ( ) tem como característica uma única fonte de poder político. b. ( ) A confederação como f orma de Estado nem sempre existiu, mas foi uma criação da Convenção de Filadélfia. c. ( ) A federação passou por um processo evolutivo e foi adotada pelos Estados Unidos da América, criada na Convenção de Filadélfia. d. ( ) Na confederação os Estados mantém a sua soberania, mas não podem se retirar do pacto confederativo. e. ( ) O tipo do federalismo brasileiro é homogêneo, por possuir o mesmo número de representantes eleitos ao Senado Federal. 04. Com relação ao Estado que adotar o regime de governo presidencialista ou parlamentarista, quem possui um alto grau de concentração de poder. a. ( ) o primeiro ministro, numa monarquia constitucional. b. ( ) o presidente, numa republica parlamentarista. c. ( ) o presidente, numa república presidencialista. d. ( ) o primeiro ministro numa república parlamentarista. 05. Quais são as características de um Estado Composto? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 06. Descreva as características de um Estado Unitário explicando cada uma delas? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 07. Tendo como referência os Estados Unitários explique o que é a descentralização administrativa e o que é a descentralização política. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 08. Quais são as características de uma federação? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 9. Formas de Governo é o modo pelo qual o Estado se organiza para exercer a sua atividade, para atingir suas finalidades. Quais os regimes de governo e sistemas de governo que existem atualmente para que os Estados cumpram suas finalidades? Explique cada um deles, sua forma de acesso ao poder, e o grau de concentração de poder. _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10. Em um sistema de governo republicano que adota o regime de governo parlamentarista. Qual é a função do presidente e qual é a função do Primeiro ministro, respectivamente. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11. Numa república presidencialista quem exerce o poder executivo? De que maneira ele exerce o poder político? Quem são os seus auxiliares? Como são escolhidos? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 12. Quais os modos de formação de Estados reconhecidos pela doutrina atualmente? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ UNIDADE 02 – CONSTITUCIONALISMO POR QUE DO ESTUDO DE UMA TEORIA DA CONSTITUIÇÃO? Segundo Dalmo de Abreu Dallari18, conhecer os fundamentos da Constituição e do Direito Constitucional é muito mais do que ter informações amplas e precisas sobre o processo técnico de elaboração de uma Constituição escrita e sobre os procedimentos formais relacionados com sua interpretação e aplicação. O conhecimento dos fundamentos do constitucionalismo implica, antes de tudo, a verificação das circunstâncias que, num dado momento histórico, despertaram a consciência da humanidade para o fato de que os seres humanos necessitam da convivência e de que esta, por sua vez, implica a necessidade de uma organização dotada de um governo. Isso para que, agindo juntos e ordenadamente, os integrantes do grupo que convive permanentemente possam satisfazer suas necessidades essenciais e defender-se de outros grupos humanos ou das forças da natureza que impedem ou dificultam a convivência pacífica. Assim, pois, pela importância fundamental das circunstâncias históricas, é muito importante conhecer com mais precisão, embora sem descer a minúcias, certos momentos e certos fenômenos da história da humanidade que foram especialmente significativos nessa evolução. Com acerto Dallari19 anota que a Constituição, no sentido de lei fundamental de um povo, abrangendo a totalidade da vida jurídica desse povo, surgiu apenas no século dezoito. É, portanto, uma criação moderna, embora se encontrem entre os povos da Antiguidade inúmeros documentos que, sob alguns aspectos, são semelhantes a uma Constituição. No sentido comum da palavra todos os povos sempre tiveram uma Constituição, assim, como se diz que todas as coisas formadas de diversas partes são constituídas dessas partes. Mas como a significação técnica, dada pelos políticos e pelos juristas, nem sempre os grandes monumentos legislativos da Antiguidade podem ser chamados de Constituição, pois esta tem certas particularidades de forma e de conteúdo que não se encontram em nenhum documento de antes do século dezoito. Não é por mera curiosidade que se deve procurar estabelecer com precisão qual foi o momento histórico em que surgiram as Constituições. Bem longe disso, o esclarecimento desse ponto é fundamental para que se possa conhecer o verdadeiro significado da Constituição, bem como para que se possa fixar com precisão qual sua origem, sua natureza e sua finalidade, como também para que se possa avaliar a legitimidade de uma Constituição. O constitucionalista português, Joaquim José Gomes Canotillo20, mestre da Faculdade de Direito de Coimbra ressalta a importância do estudo dos postulados históricos do constitucionalismo, lecionando o seguinte: A iluminação de muitos problemas jurídico-constitucionais carece de um background explicativo e justificativo que só pode ser fornecido por uma reflexão teórica sobre o próprio direito constitucional. Vários exemplos poderiam ser aqui trazidos à colação. Não é possível, por exemplo, discutir o conceito de constituição sem se falar em “teorias da constituição”. Seria medotologicamente empobrecedora uma análise dos direitos fundamentais sem uma exposição das “teorias dos direitos fundamentais”. No mesmo sentido, abordar o princípio democrático sem o suporte teórico das “teorias da democracia” implicaria o esquecimento da força 18 A Constituição na vida dos povos – Da Idade Média ao século XXI, Editora Saraiva, pág. 09. 19 Constituição e Constituinte, Editora Saraiva, pág. 03. 20 Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Editora Almedina, pág, 18 sinergética das “ideais sobre a democracia”. A necessidade da “dogmática” e da “teoria” não implica qualquer distanciação perante as necessidades da prática e da vida. Mas compreenda-se a mensagem aqui insinuada. Sem as teorias de Newton não se teria chegado à Lua – assim o diz e demonstra Sagan; sem o húmus teórico, o direito constitucional dificilmente passará de vegetação rasteira, ao sabor dos “ventos”, dos “muros” e da eficácia. Mas o inverso também tem os seus perigos: a hipertrofia teorética (e filosófica) pode insinuar a transformação de modelos teorético-constitucionais e filosóficos em verdadeiras normas jurídicas, esvaziando ou minando a efectividade e validade do direito constitucional. Por outras palavras: a fuga para o céu dos conceitos e teorias pode acarretar a diminuição da capacidade de reflexão do direito relativamente aos problemas concretos das mulheres, dos homens e de todos os seres vivos da nossa comunidade. Um “direito ex cathedra”, um direito reduzido a teorias abstractas, esquece que os problemas dos homens da polis se situam no terreno da experiência humana e não nas alturas abstractas de um “saber sábio” do direito. Em síntese: procura-se um direito “bem pesado” não dissolvido nem nas pressões utilitaristas de um “direito descartável” nem nas nebulosas abstractas das teorias que esquecem o lugar das coisas e o mundo dos homens.” O que se exige é que o jurista autêntico seja qual for seu campo de atuação, perceba a importância da Constituição, seu vínculo necessário com todas as áreas jurídicas e a necessidade de que ela seja sempre respeitada por todos, em sua integridade, sem estar sujeita a degradações impostas pelas conveniências dos governantes, de facções políticas ou de algum grupo social poderoso. Respeitar a Constituição é muito mais do que apegar-se a um legalismo formal, satisfazendo-se com a existência de uma Constituição escrita e com o reconhecimento de sua superioridade na hierarquia das leis. O verdadeiro respeito implica a exigência de legitimidade do poder constituinte e do poder reformador, um compromisso permanente com os princípios expressos e implícitos na Constituição e a preocupação permanente com sua efetividade em todas as relações sociais, tendo em conta, no momento de aplicação a situações concretas, a evolução social dos valores nela consagrados. Esse respeito é indispensável para a proteção da dignidade humana e a consecução de uma ordem social justa, na qual as relações políticas e sociais sejam pautadas pelo Direito, estando garantido o efetivo respeito aos direitos fundamentais de todos os seres humanos, como acentua Dalmo Dallari, no Livro A Constituição na vida dos povos, p. 11-13. Portanto, passemos ao estudo dos eventos e circunstâncias históricas que culminaram com o surgimento das Constituições escritas, começando estudando o movimento chamado constitucionalismo. 1. Constitucionalismo 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1) “A idéia de Constituição escrita, instrumento de institucionalização política não foi inventada por algum doutrinador imaginoso, é uma criação coletiva apoiada em preceitos históricos e doutrinários.” (Manoel G. Ferreira Filho). 2) A idéia de constitucionalismo como proteção de direitos fundamentais foi que incrementou substancialmente o constitucionalismo como movimento rumo a igualdade cada vez maior entre os homens. (Alexis Tocqueville). Portanto, a cidadania não foi obra simplesmente de um homem, mas uma obra coletiva, culminando em um processo histórico. 3) O surgimento da proteção aos direitos fundamentais tem caráter recente, apesar de que desde a Idade Antiga já havia preocupação em torno desses direitos consagrados nos mais diversos sistemas constitucionais. São ideias, modelos que procuravam assegurar algum direito. Estes documentos são considerados monumentos legislativos, como exemplo o Código de Hamurabi a Magna Carta das Liberdades da Inglaterra de 1215. 4) O constitucionalismo, em sua textura clássica surgiu com a Revolução Francesa. Embora, alguns insistam em alegar que o constitucionalismo tem origem inglesa. (Santi Romano). Por ser mais amplo do que a Revolução Francesa. O processo de consolidação do Estado Constitucional passa pela experiência inglesa. 5) A marca principal do constitucionalismo moderno é: 1º) a proteção dos direitos individuais; 2º) atuação contra a interferência do Estado. Surge assim, vinculado ao ímpeto (desejo) quanto a positivação dos direitos (criação de normas escritas) e garantias aptas a salvaguardar (proteger) os indivíduos contra o arbítrio do Estado. 6) O constitucionalismo moderno veio fundamentar a doutrina constitucionalista então existente na América do Norte, sendo seus princípios acolhidos pelos recém-emancipados Estados norte-americanos, que a partir da libertação de seus laços de dominação política, adotou integralmente a Constituição do tipo escrita, que consagrou o princípio da separação de poderes e os direitos fundamentais do homem. A Constituição Americana de 1787 teve como antecedente a Declaração de Virginia, em junho de 1776. 7) O constitucionalismo foi uma luta por liberdade em face do governo (na maior parte das vezes tirânico) e por um conjunto mínimo de direitos a serem respeitados não só pelos governantes, mas também pelos concidadãos. Essas pretensões deveriam ser agasalhadas em Constituições feitas a partir da vontade popular, mesmo que se submetendo a um rei. 8) Em termos históricos, os dois primeiros documentos constitucionais frutos do constitucionalismo são a Constituição norte americana de 1787 e a constituição francesa de 1791 . 9) Surgiu, assim, o constitucionalismo, um movimento nascido da vontade do homem de comandar seu destino político e de participar na vida do Estado, com a garantia de que os governantes respeitariam um rol mínimo de direitos. 10) Constitucionalismo é palavra recente revestida numa idéia remota. Para Kildare Gonçalves Carvalho, há uma perspectiva jurídica como sociológica: “...em termo jurídicos, reporta-se a um sistema normativo, enfeixado na Constituição, e que se encontra acima dos detentores do poder, sociologicamente, representa um movimento social que dá sustentação do poder, inviabilizando que os governantes possam fazer prevalecer seus interesses e regras na condução do Estado”. 2. SENTIDOS DO CONSTITUCIONALISMO: O termo constitucionalismo possui dois sentidos, um amplo e outro estrito. Conforme leciona Uadi Lammêgo Bulos: 2.1. Constitucionalismo em sentido amplo21: É o fenômeno relacionado ao fato de que todo Estado possui um “tipo de Constituição”, seja em qualquer época, independente do regime político adotado ou do perfil jurídico que se lhe pretende atribuir: o homem sempre foi regido por um sistema normativo: a) A ideia de constitucionalismo alcança amplitude considerável, ou seja, todos os Estados, seja qual for a época de evolução da humanidade, possuía uma constituição. Ou pelo menos, uma ideia de Constituição, por isso é possível falar em Constituição do Egito antigo, da China, etc. b) Os embates, as lutas na busca do reconhecimento dos direitos fundamentais, na história da civilização, culminaram com a Revolução Francesa, sempre foi o anseio da humanidade contra o processo de domínio das coletividades. c) Sempre existiu uma norma básica para conferir poderes ao soberano. Aqui não importa se o documento constitucional impõe limites, ou não, aos atos de governo, se é escrito ou consuetudinária, o que interessa, apenas, é a existência, explicita ou tácita, de um conjunto de princípios, preceitos, praxes, usos, costumes, etc., que ordenavam com supremacia e coercitivamente, a vida de um povo. d) É nessa vertente que desponta o sentido amplo de constitucionalismo, que não se confunde com aquela técnica jurídica de tutela das liberdades surgidas nos fins do século XVIII, e adotada pela maioria dos Estados para pôr fim ao governo absolutista. 2.2. Constitucionalismo em sentido estrito: É a técnica jurídica de tutela das liberdades surgidas nos fins do século XVIII, que possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em constituições escritas, os seus direitos e garantias fundamentais, sem que o Estado pudesse oprimir pelo uso da força e do arbítrio. Da ótica stricto sensu, o significado do constitucionalismo advém do movimento constitucionalista que o alçou a ponto de técnica jurídica das liberdades públicas. Expressão da ideologia liberal, baseada na implantação de um governo das leis e não dos homens. 2.2.1. CONCLUSÕES DO CONSTITUCIONALISMO EM SENTIDO ESTRITO 21 Assinala Karl Loewenstain, organizações políticas anteriores viveram sob governos constitucionais sem a necessidade de articular limites estabelecidos para o exercício do poder político: tais limitações se achavam tão enraizadas nas convicções da comunidade política e nos costumes nacionais que eram respeitados por governantes e governados. 1º) O movimento constitucionalista apregoava que todos os Estados deveriam possuir constituições escritas, que funcionariam como instrumentos assecuratórios dos direitos e garantias fundamentais. O marco de seu apogeu foi o fim do século XVIII, em oposição ao Ancien Régime. 2º) “A definição mais conhecida de constitucionalismo é a que o identifica com a divisão de poder ou, de acordo com a formulação jurídica, com a separação dos poderes. A favor desta identificação existe um precedente assaz respeitável, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que tão grande influência havia de ter nas mudanças constitucionais da Europa do século XIX” (Nicola Mateucci). 3º) Realmente, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 proclamou em seu art. 16 dispõe que: “Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos Direitos, nem determinada a separação dos Poderes, não tem constituição.” 4º) Portanto, como técnica jurídica de tutela das liberdades, o constitucionalismo foi um movimento criado para assegurar as prerrogativas inalienáveis do ser humano, permitindo ao povo exercer seus direitos fundamentais, previsto na Constituição 3. CONCEITUANDO O CONSTITUCIONALISMO: Considera-se o constitucionalismo um movimento jurídico e político levado a cabo pela burguesia européia emergente, nos séculos XVIII e XIX, no bojo de um movimento maior, o Iluminismo. Foi, portanto, produto da ideologia liberal. Seu objetivo era explícito; impor aos Estados absolutistas mecanismos de contenção do poder, o que seria atingido a partir da adoção de Constituições escritas que organizassem o Estado regulasse o exercício do poder e contemplassem os direitos e garantias fundamentais do homem. Ou seja: “... um movimento político-constitucional que pregava a necessidade da elaboração de Constituições escritas que regulassem o fenômeno político e o exercício do poder, em benefício de um regime de liberdades públicas.” (Dirley da Cunha Júnior). Ou como diz Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “Um movimento político e jurídico ..... visa estabelecer em toda parte regimes constitucionais, quer dizer governos moderados, limitados em seus poderes, submetidos a constituições escritas”. 4. CONTITUCIONALISMO ANTIGO: O significado antigo de constituição não se confunde com o encontrado nos fins do século XVIII, na Europa Ocidental, quando as constituições foram concebidas como instrumentos de limitação do poder, compostas de normas definidoras da organização fundamental do Estado. O que se sabe é que entre os antigos, o constitucionalismo já se apresentava, de modo geral, como técnica de limitação do poder. Exemplo de constitucionalismo antigo tem o constitucionalismo hebreu e grego. As primeiras notícias a um constitucionalismo, ainda tosco, datam de mais ou menos 2100 a. C., com o Código de Ur Mammu, editado por esse soberano assírio com o objetivo de instituir penas pecuniárias para punir delitos, em substituição às radicais punições previstas pela Lei de Talião. Gravado em monólito, tem 282 artigos e está hoje no Museu do Louvre em Paris. Neste constitucionalismo antigo e possível identificar o constitucionalismo hebreu e o grego. 4.1. Constitucionalismo hebreu: Nos primórdios do movimento constitucionalista surgiu entre os hebreus, através da Lei do Senhor, um Estado Teocrático, governado pela casta sacerdotal, logo existia um limite no poder político. Significa que quando o Estado de Israel passou a adotar a monarquia, o Rei deveria seguir os conselhos dos profetas, que recebiam as orientações de Deus. 4.2. Constitucionalismo grego: Posteriormente, teve-se o movimento do constitucionalismo nas cidades gregas, onde os cidadãos populares eram eleitos para cargos públicos, através de um regime de votação, peculiar na época. Ocorre que por mais primitiva que fosse essa votação, existia uma participação do povo na vida política, consolidando assim uma real democracia. Além destes dois exemplos podemos citar os importantes documentos da antiguidade tais A Lei das Doze Tabuas, entre os romanos, e o Cilindro de Ciro, de 538 a.C., Rei da Pérsia, que é um decreto que determinou a volta do povo hebreu que estava no cativeiro, que encontra-se no museu Britânico de Londres. 5. CONSTITUCIONALISMO NA IDADE MÉDIA E MODERNA: A Idade Média é marcada pela época do despotismo dos soberanos (governantes que não respeitavam as leis, e faziam suas próprias leis), pela soberania dos governantes tratados como deuses. Uma verdadeira forma absolutista de governar, vez que não existiam limitações a suas condutas, aplicavam penalidades e impunham condutas desumanas não previstas em leis, não havia um poder maior que o do próprio governante, logo esse estava imune de qualquer sanção. 5.1. Antecedentes das Constituições escritas: Os pactos, que tiveram lugar de destaque na Idade Média. Eram convenções entre o monarca e os membros da nobreza ou da burguesia, tendo por objeto, essencialmente, disposições acerca do modo de governo, dos direitos individuais e de suas respectivas garantias. 5.1.1. Principais pactos: a) O mais célebre de todos os pactos foi a Magna Carta, de 1215, celebrada entre o rei João Sem Terra e os nobres ingleses. Estes, insuflados principalmente por uma tentativa do monarca de tributar suas propriedades imobiliárias, pleitearam restrições à criação e cobrança de impostos, proteção da liberdade pessoal, reconhecimento do direito a um devido processo legal, garantia de inviolabilidade domiciliar entre outras. A declaração solene do rei João I da Inglaterra, que ficou conhecido por João Sem-Terra, perante o alto clero, os condes e os barões do reino atravessou séculos. Foi confirmada seis vezes por Henrique III. catorze vezes por Eduardo III, seis vezes por Ricardo III; três vezes por Henrique IV; uma vez por Henrique V; e uma vez por Henrique VI. Três das suas 63 cláusulas ainda vigoram na Inglaterra, com força de lei. Uma delas é a cláusula n. 1, que assegura a liberdade e os direitos da igreja inglesa. A outra é a cláusula n. 13, que defende os costumes da cidade de Londres e de outras cidades. Mas a mais conhecida é a cláusula n. 39: “Nenhum homem livre será preso, encarcerado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora da lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra.” Ela significa que o rei devia julgar os indivíduos conforme a lei, seguindo o devido processo legal, e não segundo a sua vontade, até então absoluta. b) A seguir, também na Inglaterra (onde foram celebrados os principais pactos), já na Idade Moderna, em 1628, outro pacto digno de menção foi o Pettion of Rights, pelo qual o monarca Carlos I concordou que as contribuições ao erário público só poderiam ser instituídas com a concordância geral dos súditos, No item “1”, dispõe o seguinte: “1. E considerando também que na carta designada por “Magna Carta das Liberdades da Inglaterra” se decretou e estabeleceu que nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado de seus bens, das suas liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado, a não sr por virtude de sentença legal dos seus pares ou da lei do pais”. No item “11” , quando trata da cobrança de tributos dispõe o seguinte: “11. Por todas estas razões, os lordes espirituais e temporais e os comuns humildemente imploram a Vossa Majestade que, a partir de agora, ninguém seja obrigado a contribuir com qualquer dádiva empréstimo ou benevolente e a pagar qualquer taxa ou imposto, sm o consentimento de todos, manifestado por ato do Parlamento.....” c) Ainda na Inglaterra, deve ser relembrado o Bill of Rights, (feito em 1688, fruto da Revolução Gloriosa) um pacto de conteúdo bastante amplo, que, além de afastar a dinastia Stuart do coroa inglesa, tratou de diversos direitos e garantias dos súditos, dentre eles a liberdade nas eleições e a regulamentação do direito ao porte de armas, bem como a afirmação do Parlamento perante o Rei, estabelecendo uma nova forma de organizar e governar os Estados. Conhecida como Declaração de Direitos é um documento elaborado pelo Parlamento que determinou, ente outras coisas, a liberdade, a vida e a propriedade privada, assegurando o doe da burguesia na Inglaterra. No seu texto encontramos o seguinte: “1. Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu cumprimento. 2. Que, do mesmo modo, é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para dispensar as leis ou o seu cumprimento, como anteriormente se tem verificado por meio de uma usurpação notória. ....................................... 4. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativas, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio. 5. Que os súditos tem direitos de apresentar petições ao rei, sendo ilegais as prisões vexações de qualquer espécie que sofram por esta causa.” 5.1.2. Outros documentos importantes22: 22 Os forais ou cartas de franquia, que se encontravam por toda Europa, tem em comum com os pactos a forma escrita Durante a Idade Média e Idade Moderna foram utilizados uma série de documentos que repercutiram no sentido do amadurecimento das constituições escritas, que tinha por finalidade garantir direitos e limitar o poder dos governantes, vejamos alguns deles: a) As cartas de franquias, que também tiveram lugar na Europa medieval, eram instrumentos formais pelas quais se permitiam às corporações de ofício desempenhar com autonomia suas atividades especificas, livres do jugo do rei ou da nobreza feudal. Instrumento que davam a burguesia a autonomia para exercer suas atividades. b) Os forais, celebrados no mesmo período histórico, eram documentos de alcance mais amplo, pois seu objeto era a concessão aos burgos de autonomia política e administrativa para se autogovernarem. c) Os contratos de colonização foram convenções celebradas entre os puritanos ingleses que chegavam à América do Norte, à época do domínio colonial da Inglaterra. Face à ausência na Colônia de um poder instituído, os próprios imigrantes acordaram regras de autogoverno. Vale ser mencionado, como exemplos: o pacto celebrado a bordo do navio Mayflower, em 1620, chamado de Compact, e as Fundamental Orders of Connecticut, pactuadas em 1639. Assim, pode-se afirmar que o maior legado deixado pela Idade Média, em relação ao constitucionalismo foi o fato de que todo poder político deve ser limitado em lei para que seja justo e democrático, respeitando as garantias e direitos individuais. Porém Nicola Matteucci assevera que: “O princípio da primazia da lei, a afirmação de que todo poder político tem de ser legalmente limitado, é a maior contribuição para a história do Constitucionalismo. Contudo, na Idade Média, ele foi um simples princípio, muitas vezes pouco eficaz, porque faltava um instituto legítimo que controlasse, baseando-se no direito, o exercício do poder político e garantisse aos cidadãos o respeito a lei por parte dos órgãos do Governo”. 5.1.3. Era das declarações: a) Declaração de Virgínia23: Em 12 de junho de 1776, o povo de Virginia divulgou um documento, escrito por Thomas Jefferson, que seria precursor da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Nessa declaração de independência surge pela primeira vez a afirmação do “direito á vida”, que só voltaria a aparecer no século XX. Também está nela o mandamento de que o poder deve repousar sobre o consentimento dos governados. É importante notar que a Declaração de Virgínia traz o reconhecimento de direitos inatos de toda pessoa humana e também o principio da igualdade de todos perante a lei, rejeitando privilégios de nascimento e hereditariedade dos cargos públicos, trata da limitação do poder adotando a separação do poder idealizada por Montesquieu. Está declaração foi feita em 1776. É um documento importante, pois serviu de base para a futura Constituição dos Estados Unidos da América, em 1787. Eis um trecho desta declaração: “Artigo 1º - Todos os homens nascem igualmente livres e independentes têm direitos certos, essenciais e naturais dos quais não podem, por nenhum contrato, e a matéria que é a proteção de direitos individuais.” 23 Outras Colônias inglesas na América fizeram declarações semelhantes. privar nem despojar sua posteridade; tais são o direito de gozar a vida e a liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedade, de procurar obter a felicidade e segurança. Artigo 2º - Toda a autoridade pertence ao povo e por conseqüência dela se emana; as magistraturas s]ao seus mandatários, seus servidores, responsáveis perante ele em qualquer tempo. Artigo 3º - O governo é ou deve ser instituído para o bem comum, para a proteção e segurança do povo, da nação ou da comunidade..... ...................................................... art. 5º - O pode legislativo e o poder executivo do estado devem ser distintos e separados da autoridade judiciária........ ....................................................... Artigo 12º - Todas as ordens de prisão são vexatórias e opressivas se forem expedidas sem provas suficientes e se a ordem ou requisições nelas transmitidas a um oficial ou a um mensageiro do estado para efetuar buscas em lugares suspeitos, deter uma ou várias pessoas, ou tomar seus bens, não contiver uma indicação e uma descrição especiais de lugares, das pessoas ou das coisas que dela forem objeto; semelhantes ordens jamais devem ser concedidas. ....................................................... Artigo 14º. – A liberdade de imprensa é um dos mais fortes baluartes da liberdade do Estado e só pode ser restringida pelos governos despóticos.” Logo em seguida foi feita a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, que é um também um importante documento histórico. Nesta Declaração há várias acusações feitas a Coroa inglesa, e reafirma os propósitos da Declaração de Virgínia. b) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: Elaborada em 1789 na França que determinou o fim de uma vez por todas o regime absolutista de governar, reconhecendo direitos individuais dos cidadãos, apontando para expressivos avanços sociais ao garantir direitos iguais para todos. Eis os seus pontos principais: “Art.1º. Os homens nascem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. ..................................................... Art. 5º A lei não proíbe as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e mingúem pode sr constrangido a fazer o que ela não ordene. ...................................................... Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas........ Art. 8º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão pro fará de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor necessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.” É importante ressaltar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão teve como principal mérito dar um caráter universal de seus termos, principalmente ao dispor no art. XVI: “Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem constituição.” Não foi esquecido o grande anseio da burguesia, ao seja, a defesa da propriedade, e no artigo 17, dispõe: “Art. 17. Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada e sob condição de justa e prévia indenização.” 6. CONSTITUCIONALISMO MODERNO: O constitucionalismo moderno surgiu em meados do século XVII com características próprias e com a ideologia de limitação do poder estatal preservando os direitos e garantias fundamentais, transcrevendo os anseios populares, na lei do povo - A Constituição Escrita. 6.1. Características: a) O constitucionalismo moderno24 rompe com as barreiras de garantias fundamentais limitadas pelos Estados Absolutistas, destruindo o paradigma de soberania e supremacia das forças estatais representado pelo poder dos monarcas. b) Trouxe o ideal de justiça, de direito igualitário e acima de tudo de organização na seara da política governamental, limitando o poder de atuação do Estado e descentralizando os poderes -executivo, legislativo e judiciário, pautando em um documento de lei - a Constituição. Portando, a principal característica do constitucionalismo moderno é a presença de uma Constituição escrita, e de leis gerais e abstratas, pautada nos princípios da legalidade e da segurança jurídica. 7. CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E GLOBALIZADO: Atualmente o constitucionalismo não se deu por pronto e acabado, está em constante desenvolvimento, sempre observando as necessidades dos cidadãos e o desenvolvimento socioeconômico. O constitucionalismo contemporâneo é marcado pela existência de documentos constitucionais amplos, analíticos, extensos, a exemplo da Constituição brasileira de 1988. Assim, no constitucionalismo contemporâneo que iremos ver, com notável nitidez, o robustecimento daquelas idéias extraídas na segunda metade do século XX, na etapa do constitucionalismo moderno, preconizados pelo ideário pós-positivista, responsável pelo florescimento de um constitucionalismo principialista ou de princípios. 24 A grande novidade do constitucionalismo moderno não foi propriamente especificar os princípios que deveriam integrar as constituições escritas, mas sim reconhecer-lhes a dimensão normativa que se lhes encontra subjacente, presentes desde a antiguidade em textos religiosos, filosóficos, jusnaturalistas e místicos, atravessaram milênios, influenciado a vida social. Na contemporaneidade, por exemplo, ocorreram avanços dignos de nota, os quais muitos se amoldam à realidade brasileira. É que, promulgada a Carta de 1988, com a redemocratização e reconstitucionalização do país, ocorreram mudanças significativas: Tentativa de buscar a eficácia social das constituições (efetividade); Prevalência do princípio da força normativa da Constituição; Aprimoramento da hermenêutica constitucional. 8. CARACTERÍSTICAS DO CONSTITUCIONALISMO Embora impulsionado por objetivos básicos, o constitucionalismo teve características diversificadas em cada Estado. Em alguns Estados o constitucionalismo serviu de implantação política de nova classe econômica, sofrendo influência do liberalismo. Em outros representou uma visão de reforma do Estado em sua estrutura, com limitação do poder do governo e do Estado. Certo é que para cada Estado o constitucionalismo apresentou uma característica que motivou sua implantação, todas, porém, basicamente, derivada das idéias consagradas no séc. XVIII de prevalência dos direitos individuais e limitação do poder do governante. 9. TOTALITARISMO CONSTITUCIONAL: Se o constitucionalismo contemporâneo avançou positivamente em determinados aspectos, consagrou, por outro lado, uma espécie de totalitarismo constitucional muito próximo à idéia de Constituição programática. Temas que muito bem se enquadrariam em leis comuns são postas nas constituições. É que nos textos constitucionais contemporâneos, o supérfluo e o acessório predominam (art. 242, § 2º e art. 13, § 1°). Em verdade, as constituições contemporâneas firmaram o compromisso entre o liberalismo capitalista e o intervencionismo estatal. Isso fez com que ocorresse um alargamento dos textos constitucionais. QUADRO COMPARATIVO Constitucionalismo é palavra recente revestida numa idéia remota. Para Kildare Gonçalves Carvalho, há uma perspectiva jurídica como sociológica: “...em termo jurídicos, reporta-se a um sistema normativo, enfeixado na Constituição, e que se encontra acima dos detentores do poder, sociologicamente, representa um movimento social que dá sustentação do poder, inviabilizando que os governantes possam fazer prevalecer seus interesses e regras na condução do Estado. Constitucionalismo antigo Constitucionalismo na Idade Média e Moderna Constitucionalismo moderno Constitucionalismo contemporâneo Ainda não existisse uma clara idéia definida como técnica de limitação de poder, é possível vislumbrar um constitucionalismo entre os povos antigos, sejam em modelos, praxes, usos, costumes, etc. Os Hebreus, tinham a Lei do Senhor, que era os livros escritos por Moisés, e impunham limites no poder político exercido pelos sacerdotes e reis. Também entre os gregos percebe-se que dispunham de um sistema eleitoral de escolha de pessoas para ocupar cargos públicos, embora restrito a uma pequena parcela da população. Na Idade Média, percebe-se como marca principal o exercício de governos despóticos, tiranos, uma verdadeira forma absoluta de governar, não tendo limitações em suas ações. Mas, é possível vislumbrar a celebração de pactos, convenções entre a nobreza, a burguesia com os monarcas, que de certa forma impunha limites ao soberano e o reconhecimento de direitos individuais. É possível perceber que os principais beneficiários seriam os proprietários de terras e a burguesia detentora do poder econômico, mas que não gozavam de privilégios de nascimento. O constitucionalismo moderno surge nos séculos XVII e XVIII, se afirmando definitivamente no século XIX, com características bem definidas, como técnica jurídica de tutela das liberdades públicas e técnica jurídica de limitação do poder. Assim, são preservadas as garantias fundamentais do cidadão, bem como a limitação do poder estatal, como contenção de poder, trazendo um ideal de justiça e igualdade. Sendo que estas garantais seriam inseridas em documento escrito, respeitado por todos, governantes e governados. O constitucionalismo está em constante desenvolvimento, estando atento as necessidades dos cidadãos e o desenvolvimento socioeconômico. A fase que estamos vivendo é a do constitucionalismo contemporâneo, marcado pela existência de documentos constitucionais amplos, analíticos, a exemplo da Constituição brasileira de 1988. É no constitucionalismo contemporâneo que iremos ver, com notável nitidez, o robustecimento daquelas idéias extraídas na segunda metade do século XX, na etapa do constitucionalismo moderno. C A R A C T E R Í S T I C A S - Cada comunidade regia-se por costumes próprios, quase sem contato com outros grupos. Esses costumes derivavam da observância geral. - Inexistência de Constituições escritas. - Predomínio dos meios de constrangimento para assegurar o respeito aos padrões de conduta da comunidade para se manter a coesão do grupo. - Existência de documentos garantidores de liberdades públicas, que funcionavam como autênticas constituições não escritas (pactos, forais, contratos de colonização). - necessidade de afirmar a igualdade dos cidadãos perante o Estado, excluindo todo poder arbitrário e abrindo caminhos para o amadurecimento do Rule of Law (caminho da lei). - As constituições passaram a serem escritas, dotados de coercibilidade, cujas normas devem integrar um código sistemático é único de todo o seu conteúdo. - Limitação das funções estatais, não apenas as executivas e as judiciárias, mas também legislativas. - Tutela reforçada dos direitos e garantias fundamentais. -fase marcada pela existência de documentos constitucionais amplos, analíticos, extensos, consagrando uma espécie de totalitarismo constitucional. - nas constituições contemporâneas, os direitos fundamentais refletem a vontade de uma sociedade melhor, justa e igualitária, ao mesmo que consagram instrumentos de proteção das liberdades públicas, que se somam aos mecanismos de defesa da própria Lex mater. Assim, as normas programáticas, cuja formulação doutrinária se iniciou no constitucionalismo moderno, mas encontram seu apogeu na contemporaneidade. Revestidas sob a forma de promessas e programas, as normas programáticas limitam-se a enumerar princípios a serem cumpridos pelos Poderes Legislativos, Executivo e Judiciário. Em vez de disciplinar diretamente a matéria que enunciam, deixam para os órgãos públicos a complexa tarefa de realizar os fins sociais do Estado. Esse particular aspecto do constitucionalismo contemporâneo diverge daquela orientação clássica, que procurava conceber as constituições como instrumentos de governo, dotados de imperatividade ou cogência absoluta, para definir os limites da ação política. E qualquer violação à força centrípeta dos comandos constitucionais demandaria a adoção de um sério e rígido controle de constitucionalidade. O certo é que, na contemporaneidade, a ampliação do conteúdo das constituições acabou desvalorizando-as. Elas não mais gozam daquele respeito de outrora. Foram banalizadas. Aliás, o marco inicial desse desprestígio deu-se com o término da Primeira Guerra Mundial, quando os constituintes, não se contentando em organizar o poder político, inseriram, na seara constitucional, normas econômicas e sociais. Desde então, nada escaparia à órbita constitucional. Formou-se a cultura do constitucionalismo exacerbado, erigido sob a máxima “coloca-se primeiro na constituição, para depois se tentar cumprir.” Como será visto na unidade 05, quando tratarmos das normas constitucionais programáticas, Até agora vimos o movimento chamado constitucionalismo que em todas as épocas vislumbravam uma forma diferente de organização política que pudesse reconhecer direitos aos cidadãos e ao mesmo tempo limitar a atuação do Estado. Vitoriosa a burguesia, está impõe a sua forma de organização política, baseada nas Constituições escritas, surgindo assim os modelos de Estados que passaremos a estudar, chamados: Estado Liberal de Direito, Estado Social de Direito e Estado Democrático de Direito. 10. O ESTADO LIBERAL DE DIREITO 10.1. A Evolução do Estado Moderno – Antecedentes a) Situação da igreja do século XI: A igreja na Idade Média era proprietária de grandes extensões de terras, os bispos e arcebispos que administravam as terras eclesiásticas, na maioria das vezes desfrutavam de grandes riquezas. Está realidade acabou por atrair muitas pessoas para aqueles cargos eclesiásticos que proporcionavam riquezas e poder. Por isso, os reis os senhores feudais interviam decisivamente na eleição dos dignitários da igreja para favorecer aqueles. b) Surgimento do sistema Feudal: Nos séculos IX e X a Europa foi alvo de muitas invasões de bárbaros que provocou uma desorganização política, contribuindo para a implantação do feudalismo, regime que dominou a Europa Ocidental a partir do século X. O Sistema Feudal foi uma transição para o Estado Absolutista. 10.2. O PARADIGMA DO ESTADO LIBERAL DE DIREITO: O exaurimento do paradigma medieval, sob a forte influência do Renascimento25 e do Iluminismo26, o fortalecimento da burguesia, a intensificação do comércio através da descoberta de 25 Renascimento: Designa-se com este termo o movimento literário, artístico e filosófico que começa no fim do século XIV e vai até o fim do século XVI, difundindo-se da Itália para outros países europeus. 26 Iluminismo: Linha filosófica caracterizada pelo empenho em entender a razão como crítica e guia a todos os novas rotas comerciais, e as constantes desavenças entre o poder real e o poder eclesiástico favorecem o nascimento do Estado Moderno. As bases teóricas do Estado Liberal foram lançadas por John Locke e Montesquieu, entre outros. Estes filósofos, cada um em sua época idealizaram uma nova forma de organização do Estado baseado na Separação dos Poderes, que tinha o nítido propósito de enfraquecer o poder dos reis absolutistas. 10.2.1. Estado Liberal possui as seguintes características a) difusão ou propagação da ideia de direitos individuais fundamentais; b) separação de poderes, dando origem a idéia da supremacia da Constituição como norma limitadora do poder governamental, bem como, do império das leis, próprias do movimento constitucionalista; c) não intervenção do Estado na economia; devido aos inúmeros instrumentos legislativos que protegiam a economia nacional. d) vigência do princípio da igualdade formal, acabando com o privilégio que gozavam os nobres de nascimento. 10.3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS QUE CULMINOU COM O ESTADO LIBERAL: O Estado Liberal de Direito institucionalizou-se após a Revolução Francesa de 1789, constituindo o primeiro regime jurídico-político da sociedade que materializava as novas relações econômicas e sociais, colocando de um lado os capitalistas (burgueses em ascensão) e do outro a realeza (monarca) e a nobreza (senhores feudais em decadência) . 10.3.1. Papel desempenhado pela burguesia A Revolução Francesa de 1789 foi uma revolta da burguesia, que se elevou do patamar de classe dominada e discriminada para dominante e discriminadora, destruindo os alicerces que sustentavam o absolutismo (Antigo Regime), pondo fim ao Estado monárquico autoritário. O lema dos revolucionários era “liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que resumia os reais desejos da burguesia. O que isto significava? a) liberdade individual para expansão de seus empreendimentos e a obtenção de lucro; b) igualdade jurídica com a aristocracia visando a abolição das discriminações e os privilégios de nascença ; c) fraternidade dos camponeses e sans-cullotes (sem-calças, população pobre de Paris, formada pela massa de artesãos, aprendizes, lojistas, desempregados, que tiveram uma importante participação nos acontecimentos de 1789 a 1794), no intuito de que apoiassem a revolução e lutassem por ela. 10.3.2. Estratégias adotadas pela burguesia A burguesia mercantil e industrial inconformada com os privilégios que os nobres de campos da experiência humana. nascimento tinham, paulatinamente vai fazendo com que suas ideias sejam aceitas, e para isso passou a desenvolver estratégias para que seus valores fossem aceitos. 1ª Estratégia – adoção do princípio da não intervenção do Estado na economia27: A classe burguesa emergente detinha o poder econômico, enquanto que o poder político estava sob o domínio da realeza e da nobreza. Logo, percebe-se que o princípio da não intervenção do Estado na economia defendido pelo Estado Liberal foi uma estratégia da burguesia para evitar a ingerência dos antigos monarcas e senhores feudais nas estruturas econômicas da época, garantindo a liberdade individual para a expansão dos seus empreendimentos e a obtenção do lucro. Dessa forma, os capitalistas em ascensão tinham liberdade para ditar a economia a seu favor, através da prática da auto-regulação do mercado, livre comércio e a concorrência. Pregava-se a mínima intervenção do Estado na economia, criando a figura do “Estado Mínimo”, defendendo a ordem natural da economia de mercado, com o escopo de expandir seus domínios econômicos. 2ª Estratégia – Defesa do princípio da igualdade DEFESA DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Outra característica do Estado Liberal é a defesa do princípio da igualdade, uma das maiores aspirações da Revolução Francesa. Porém, é preciso observar quais os fatores que influenciaram a burguesia em ascensão a pregar a aplicação de tal princípio. A igualdade é tão-somente formal, na qual se buscava a submissão de todos perante a lei, afastando-se o risco de qualquer discriminação. Logo, sob o manto de tal fundamento, todas as classes sociais seriam tratadas uniformemente, pois as leis teriam conteúdo geral e abstrato, não sendo específicas para determinado grupo social e tampouco regulando uma situação especifica. Trata-se de outra tática da burguesia, pois se sabe que o sistema feudal possuía uma estrutura estamental ou de ordens, isto é, era composto por várias classes sociais, a que correspondiam diferentes ordenamentos jurídicos. Essa pluralidade de textos legais vigentes representava que a lei e a jurisdição eram distintas, variando conforme o grupo social do destinatário da norma. Tal situação acabava fazendo com que a realeza e a nobreza tivessem uma série de privilégios, enquanto a burguesia era discriminada. 3ª Estratégia – Criação de um ordenamento único Os capitalistas idealizaram a criação de um único ordenamento jurídico, defendendo a igualdade formal, no qual todos eram iguais perante a lei, que possuía conteúdo geral e abstrato, aplicando-se indiscriminadamente a todos os grupos sociais, não permitindo o estabelecimento de prerrogativas para determinada classe em detrimento das outras28, surgindo o conceito de Estado de 27 Adam Smith publicou em 1776 a livro “A riqueza das Nações”, neste livro afirma que o mundo seria melhor, mais justo, racional, eficiente e produtivo, se houvesse a mais livre iniciativa, se as atitudes econômicas dos indivíduos e suas relações não fossem limitadas por regulamentos e monopólios garantidos pelo Estado ou pelas corporações de ofício. Pregava a necessidade de desregulamentar e privatizar as atividades econômicas, reduzindo o Estado as funções definidas, que delimitassem apenas três parâmetros bastante gerais para as atividades livres dos agentes econômicos. São três as funções do governo na argumentação de Smith: a manutenção, a segurança interna e externa, a garantia da propriedade e dos contratos e a responsabilidade por serviços essenciais de utilidade pública. 28 Surgem idéias como o exercício das liberdades individuais, de se poder fazer tudo que não for proibido em lei. Em contraposição à liberdade dos antigos, encarada como participação nas decisões políticas (liberdade de ser), faz nascer a liberdade dos modernos, vista como autonomia da conduta individual (liberdade de ter). (Kildare Direito e a figura da Constituição, que passava a limitar os poderes do governante, visando conter seus arbítrios, que preponderavam no Estado Monárquico, resumidos na conhecida frase de Luiz XIV, símbolo do poder pessoal: “I´État c’ést moi.” (O Estado sou eu). 10.3.3. O GOLPE DA BURGUESIA Uma vez detentora do controle político da sociedade, a burguesia não mais se interessa em manter como característica de todos os homens, a prática universal dos princípios filosóficos de sua revolta social. “Só de maneira formal os sustenta, uma vez que no plano de aplicação política eles se conservam, de fato, princípios constitutivos de uma ideologia de classe.” (BONAVIDES, Paulo). O que se percebe é que antes eram os senhores feudais e a nobreza que exploravam o povo. Quando a burguesia assume o poder, ela passa sozinha a desempenhar o poder de explorar o povo, tanto quanto foram aqueles, pois na prática as desigualdades permaneceram, sob o manto da igualdade puramente formal, que não se realizava na prática. Vitorioso o Estado burguês de Direito eleva os direitos das liberdades ao cume da ordem política. A liberdade era indispensável à manutenção do poder político e que, só nominalmente, se estendiam às demais classes. 10.3.4. SEPARAÇÃO DE PODERES29 NO ESTADO LIBERAL DE DIREITO: Uma das grandes aspirações do Estado Liberal de Direito era sem dúvida a Separação dos Poderes, que era uma técnica fundamental como garantia contra o abuso do poder estatal, fracionando as funções administrativas, legislativas e judiciais. A teoria da separação dos poderes tem origem remota (Aristóteles), podemos encontrar traços em Aristóteles, Cícero, mas coube a John Locke e Montesquieu dar os contornos necessários para está teoria. 10.3.4.1. DO PODER LEGISLATIVO Para John Locke, o legislativo era o poder supremo, os demais dele derivam e a ele estão subordinados. Ao Executivo cuja existência é perene, cabe a aplicação das leis. Inicialmente John Locke não contemplava expressamente o Poder Judiciário, e se refere a esse como atividade meio do Poder Executivo. Coube a Montesquieu a responsabilidade pela inclusão expressa do poder de julgar dentre os poderes fundamentais do Estado. Mas deve ser ressaltado é nítido o caráter secundário atribuído por ele a esse poder. 10.3.4.2 DO PODER JUDICIÁRIO Ao Poder Judiciário, cabe dirimir conflitos interparticulares ou, “conforme o modelo constitucional, entre esses e a Administração Pública, quando provocado, através dos procedimentos devidos, aplicando o direito material vigente de modo estrito” por intermédio de processos lógico- Gonçalves). 29 “Proposta esta ideia de maneira sistemática no século XVIII, com o fim exclusivo de proteção da liberdade, mais tarde seria desenvolvida e adaptada a novas concepções, pretendendo-se então que a separação dos poderes tivesse também o objetivo de aumentar a eficiência do Estado, pela distribuição de suas atribuições entre órgãos especializados. Foi a intenção de enfraquecer o poder do Estado, pela Constituição que impôs a separação de poderes como um dos dogmas do Estado Moderno, chegando-se mesmo a sustentar a impossibilidade de democracia sem aquela separação”. (Dallari, pág. 215). dedutivos de subsunção do fato à norma. Sob o preceito da igualdade formal, estando sempre vinculados ao sentido literal, numa evidenciada posição subalterna perante o poder legislativo, pois o Poder Judiciário ficava limitado a uma atividade mecânica, ou seja, em ser apenas no dizer de Montesquieu, La bouche de la loi, ou seja, o Poder Judiciário era considerado a boca da lei, devendo ocorrer a aplicação estrita da lei, não podendo interpretar as leis elaboradas pelo Poder Legislativo que era o poder por excelência . 10.3.4.3. DO PODER EXECUTIVO Por fim, ao Poder Executivo incumbe a tarefa de implementar o Direito, executar as leis “garantindo a certeza e a segurança jurídica e social, internas e externas, na paz e na guerra.” De modo que, o Poder Executivo, outrora representado pelo Rei foi esvaziado em seus poderes. 9.3.5. SISTEMA DE FREIO E CONTRAPESOS: Para equilibrar os poderes os americanos idealizam a teoria dos freios e contrapesos ou check and balances, no temor que o poder legislativo se tornasse um outro poder absoluto. No sistema de check and balances implementado pelo Estado Liberal de Direito, procurou por limites ao Poder Legislativo, pois a este competia a supremacia, por ser ele o elaborador das leis – fontes por excelência do Direito. No sistema de contenção, de freios e contrapesos, no qual o poder limitava o poder. 10.3.6. A CONSTITUIÇÃO ESCRITA É O INSTRUMENTO PARA EFETIVAR OS DIREITOS ALMEJADOS: A Constituição passa ser concebida como uma ordenação normativo-sistemática da comunidade política – o fundamento de validade do direito posto – organizado em razão do poder público (respeitando o comando principiológico da separação de poderes), modelada documentalmente e com vistas a garantir os direitos fundamentais dos indivíduos. Nessa esteira J. J. Canotilho a define como uma “ordenação sistemática e racional da comunidade política através de um documento escrito no qual se declaram as liberdades e os direitos e se fixam os limites do poder político.” Na perspectiva do paradigma do Estado Liberal de direito, todo aparato de garantias das liberdades individuais conta com o alicerce constitucional. A Constituição escrita passa a configurar, desde a Independência Americana e a Revolução Francesa, um pacto que representa esquemática e fundamentalmente o Estado burguês de direito.(pacto político). A Constituição é compreendida como instrumento de governo (instrument of goverment), “como estatuto jurídico-político fundamental da organização da sociedade política, do Estado”, no qual o poder político encontra limites e o Estado se juridifica legitimado pelo Direito e pela representação popular. De estado de Direito, erige-se à condição de Estado Constitucional. 10.3.7. O ESTADO LIBERAL DE DIREITO INAUGURA OS DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO: O Estado Liberal cria os chamados “direitos de primeira geração”, que decorrem da própria condição de indivíduo, de ser humano, situando-se, no plano do ser, de conteúdo civil e político, que exigem do Estado uma postura negativa30 em face dos oprimidos, compreendendo, dentre outros, as liberdades clássicas, tais como, a liberdade, propriedade, vida e segurança, denominados, também, de direitos subjetivos materiais ou substanciais. Como já foi afirmado os direitos de primeira geração exigiam do Estado uma conduta negativa, isto é, uma omissão estatal em não invadir a esfera individual do nacional que deixou de ser considerado mero súdito, elevando-se à condição de cidadão, detentor de direitos tutelados pelo Estado, inclusive contra os próprios agentes estatais. 11. O PARADIGMA DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO 11.1. Conseqüências advindas com o Estado Liberal de Direito A vivência das idéias abstratas que davam os contornos do paradigma do Estado liberal de Direito, mormente, o exercício das liberdades e a igualdade formal, bem como, a propriedade privada, culminou por fundamentar idéias e práticas sociais no período que ficou caracterizado na história como de maior exploração do homem pelo homem. A igualdade tão-somente formal aplicada e o absenteísmo do Estado Liberal em face das questões sociais, apenas serviram para expandir o capitalismo agravando a situação da classe trabalhadora, que passaram a viver sob condições miseráveis. O descompromisso com o aspecto social agravado pela eclosão da Revolução industrial, que submetia o trabalhador a condições desumanas e degradantes, a ponto de algumas empresas exigirem o trabalho diário do obreiro por doze horas ininterruptas, culminou com a Revolução Russa de 1917, conduzindo os trabalhadores a se organizarem com o objetivo de resistir a exploração. A ordem liberal é posta em xeque (passa-se a questionar seus postulados e princípios) com o surgimento de idéias socialistas, comunistas e anarquistas, que a um só tempo, “animam os movimentos coletivos de massa cada vez mais significativos e neles reforçada com a luta pelos direitos coletivos e sociais”. 11.2. Fatores que culminaram com o Estado Social de Direito: Os seguintes fatores contribuem para o surgimento do Estado Social de Direito. Desenvolvimento do movimento democrático (luta pelo sufrágio universal); O surgimento de um capitalismo monopolista; O aumento das demandas sociais e políticas; A Primeira Guerra Mundial. Faz nascer a crise da sociedade liberal, possibilitando o surgimento de uma nova fase do constitucionalismo – agora social – com alicerce na Constituição da República de Weimar, de 1919, e em razão disso, inaugura-se o paradigma constitucional do Estado social de direito. 30 Postura negativa significa uma posição de neutralidade, não interferindo na esfera individual do cidadão, neste sentido, em tese, garantia a liberdade individual de todos. 11.3. A burguesia muda de opinião A burguesia, agora detentora do poder político passou a defender o intervencionismo estatal no campo econômico e social, buscando acabar com a postura absenteísta do Estado, preocupando-se com os aspectos sociais das classes desfavorecidas, conferindo-lhes uma melhor qualidade de vida, como o único intuito de conter o avanço revolucionário. 11.4. Características do Estado Social de Direito a) intervenção do Estado na Economia, através de regras e mecanismos jurídicos e legislativos; b) aplicação do princípio da igualdade material; não se preocupava se as pessoas são abstratamente iguais, mas se preocupa com a realidade de fato. c) a realização da justiça social, tendo em vista um a nova postura do Poder Judiciário. 11.5. A igualdade material no Estado Social de Direito Para alcançar tal intento os capitalistas tiveram que substituir a igualdade formal, presente no Estado Liberal, que apenas contribuiu aumentar as distorções econômicas pela igualdade material, que almejava atingir a justiça social. O princípio da igualdade material ou substancial não somente considera as pessoas abstratamente iguais perante a lei, mas se preocupa com a realidade de fato, que reclama um tratamento desigual para as pessoas efetivamente desiguais, a fim de que possam desenvolver as oportunidades que lhes assegurava abstratamente, a igualdade formal. Surge, então a necessidade de tratar desigualmente as pessoas desiguais, na medida de suas desigualdades. Em razão da complexidade da sociedade, resultante no modelo paradigmático social ou de bem-estar-social, no qual o direito é materializado, o Estado vivencia um momento de ampliação extraordinária na sua seara de atuação, mormente pela necessidade de abranger tarefas vinculadas aos novos fins econômicos e sociais que lhes são atribuídos, e, via de conseqüência, reduzir a distância entre a realidade do senhor e do escravo à luz de uma igualdade material. 11.6. O Estado Social de Direito inaugura os direitos de 2ª Geração Assim, como o século XVIII foi marcado pelo advento dos direitos da primeira geração (direitos civis e políticos), o século XX foi caracterizado por uma nova ordem social. Com esta nova ordem social surge uma nova estruturação dos direitos fundamentais não mais sedimentados no individualismo puro do modelo anterior. Os direitos fundamentais da segunda geração se tornam tão essenciais quanto os direitos fundamentais da primeira geração, tanto por sua universalidade quando por sua eficácia. Assim, segundo Bonavides, os direitos fundamentais da segunda geração “são os direitos sociais, culturais, e econômicos, bem como os direitos coletivos ou de coletividade, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado Social...” Direitos de Segunda Geração são: Assistência Social, Educação, Direitos Trabalhistas, Cultura, Saúde, liberdade de sindicalização, Direito de greve, etc. Esses direitos buscam a realização do bem-estar social ou o chamado “welfare state”, estes direitos estão firmados no princípio da isonomia material. A natureza do comportamento perante o Estado serviu de critério distintivo, entre as gerações, eis que os de primeira geração exigiam do Estado abstenções (prestações negativas), enquanto os de segunda exigem uma prestação positiva. Então, na esfera dos direitos fundamentais da segunda geração, marca uma nova fase dos direitos fundamentais, não só pelo fato de estes direitos terem o escopo positivo, mas também de exercerem uma função prestacional Estatal para com o indivíduo. 11.6. Princípio da Separação dos Poderes no Estado Social de Direito: A releitura do paradigma anterior não ocorre tão-somente no âmbito dos direitos individuais, pois o princípio da separação de poderes (outro pilar do modelo liberal) também é reinterpretado. 11.6.1. O Poder Executivo são atribuídos novos mecanismos jurídicos e legislativos “de intervenção direta e imediata na economia e na sociedade civil, em nome do interesse coletivo, público, social ou nacional”. 11.6.2. O Poder Legislativo, por sua vez, além de sua atividade típica, compete o exercício de funções de controle, ou seja, “fiscalização e apreciação da atividade da Administração Pública e da atuação econômica do Estado”. 11.6.3. Do Poder Judiciário: Diferente do que ocorria no paradigma do Estado Liberal, no Estado social o Poder Judiciário não se limita a ser a la bouche de la loi, realizando, tão somente, uma tarefa mecânica de aplicação da lei subsumida automaticamente ao fato. Agora, exige-se que o juiz seja La bouche du droit, ou seja, a boca do direito, pois a hermenêutica jurídica estabelece métodos mais sofisticados como a análise teleológica, e sistêmica e a histórica, “capazes de emancipar o sentido da lei da vontade subjetiva do legislador na direção da vontade objetiva da própria lei, profundamente inserida nas diretrizes de materialização do direito que mesma prefigura, mergulhada na dinâmica das necessidades dos programas e tarefas sociais”. Do Poder Judiciário exige-se uma aplicação construtiva do direito material vigente de modo a alcançar seus fins últimos na perspectiva do ordenamento jurídico positivo. No paradigma do Estado Social, cabe ao juiz, no exercício da função jurisdicional, “uma tarefa densificadora e concretizadora do direito, a fim de se garantir, sob o princípio da igualdade materializada, a justiça no caso concreto”. 12. PARADIGMA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: O Estado Democrático de Direito surge como uma tentativa de corrigir falhas previstas no Estado Social. José Afonso da Silva ensina que a igualdade pregada pelo Estado Liberal, fundada num elemento puramente formal e abstrato, qual seja a generalidade das leis, como analisado anteriormente, não tem base material que se realize na vida concreta. A tentativa de corrigir isso foi a construção do Estado Social, que, no entanto, não conseguiu garantir a Justiça social nem a efetiva participação democrática do povo no processo político. O Estado Social, consoante os ensinamentos de Paulo Bonavides, não atendia efetivamente aos anseios democráticos, pois a fragilidade desse tipo de Estado é desnudada quando a manifestação de seu aspecto social não passava de mero paternalismo e este se encontra inserido em uma estrutura política concentradora de poder, autocrática, ou mesmo carecedora de legitimidade popular, como exemplo a Alemanha nazista, a Itália fascista, com Mussolini, a Espanha franquista, com o Generalíssimo Franco, em Portugal com Salazar, a Inglaterra de Churchil, bem como o Brasil de Vargas, tiveram esta estrutura política. 12.1. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E ESTADO LIBERAL DE DIREITO: O Estado Democrático de Direito que concilia duas das principais máximas do Estado contemporâneo, quais sejam: a origem popular de poder e a prevalência da legalidade. As diretrizes do Estado Democrático se conciliam com as do Estado de Direito, tendo em vista que formam uma forte relação de interdependência, brilhantemente observada por Norberto Bobbio, nos seguintes termos: “Estado Liberal e estado democrático são interdependentes em dois modos: na direção que vai do liberalismo à democracia, no sentido de que são necessárias certas liberdades para o exercício correto do poder democrático, e na direção oposta que vai da democracia ao liberalismo, no sentido de que é necessário o poder democrático para garantir a existência e a persistência das liberdades fundamentais. Em outras palavras: é pouco provável que um estado não liberal possa assegurar um correto funcionamento da democracia, e de outra parte e pouco provável que um estado não democrático seja capaz de garantir as liberdades fundamentais”. Assim, forma-se um vetor de mão dupla: o direito fundamental da liberdade, garantido pelo Estado Liberal de Direito, é necessário para regular exercício da democracia, a qual é condição singular para a existência, manutenção e ampliação desses direitos e garantias individuais, razão pela qual surge o Estado Democrático de Direito. 12.2. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO INAUGURA OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO: O Estado Democrático de Direito cria os “direitos de terceira geração”, que se situam o plano do respeito, de conteúdo fraternal, compreendendo: Os direitos naturalmente coletivos, isto é, os direitos difusos e os coletivos strict sensu, passando o Estado a tutelar, além dos interesses individuais e sociais, os transindividuais (ou metaindividuais), que compreendem, dentre outros como: o respeito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; a paz; a autodeterminação dos povos; e a moralidade administrativa. Paulo Bonavides, em precisa lição. Nos alerta sobre a existência dos “direitos de quarta geração”, ao ensinar que a “globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos de quarta geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado Social”, compreendendo, dentro outros, o direito a democracia, à informação e ao pluralismo político, étnico e cultural. 12.3. FUNDAMENTOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: 1º) O Estado Democrático de Direito, assenta-se nos pilares da democracia e dos direitos fundamentais, surge como uma forma de barrar a propagação de regimes totalitários que, adotando a forma de Estado Social, feriam garantias individuais, maculando a efetiva participação popular nas decisões políticas. 2º) No Estado Democrático de Direito coexistem o Princípio da Soberania Popular, aplicado através do regime democrático e da Legalidade, herança do Estado Liberal. 3º) Na busca de instaurar a plena incorporação do povo nos mecanismos de controle das decisões políticas, surge o Estado Democrático de Direito, através da fusão dos conceitos de Estados de Direito Democrático, aplicando, sob o crivo da legalidade, os ditames democráticos e garantindo, em sua plenitude, os direitos humanos fundamentais. 12.4. O PODER JUDICIÁRIO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: Neste paradigma o Princípio da Separação de Poderes ganha nova roupagem, na qual, o Poder Judiciário amplia sua participação no processo de concretização do Estado Democrático de Direito, haja vista que a ele compete viabilizar a promoção da legitimação do Estado democrático pelo procedimento da cidadania. 12.4.1. No Estado Democrático de Direito os Princípios ganham relevância Permite encontrar para as demandas complexas, uma solução de compromisso do Direito a luz das exigências do novo arquétipo estatal. Todo caso posto em discussão diante do Poder Judiciário é um caso difícil. Para solvê-lo, portanto, dos operadores de direito, principalmente do juiz, passa-se a exigir os atributos de Hércules. O formalismo/normativista de Kelsen não se mostra mais viável. Kelsen na sua Teoria Pura do Direito preconizava o esgotamento das possibilidades de soluções complexas por meio de produção normativa, pois por melhor que se apresente, a moldura normativa sempre deixará margem à atuação do interprete. No paradigma do Estado Democrático de Direito, antes de boas leis, devem existir bons operadores de direito. Nesse diapasão, requer-se do Poder Judiciário – no paradigma constitucional do Estado Democrático de Direito – decisões que, “ao retrabalharem construtivamente os princípios e regras construtivas do Direito vigente, satisfaçam, a um só tempo, a exigência de dar curso e reforçar a crença tanto na legalidade, entendida como segurança jurídica, como certeza do direito, quanto ao sentimento de justiça realizada, que deflui da adequabilidade da decisão as particularidades do caso concreto”. Entretanto, é preciso que o julgador tome ciência da transformação estrutural ocorrida no ordenamento jurídica. Diferentemente da sua formação positivista, consistente num mero conjunto hierarquizado de regras aplicáveis à base do tudo ou nada, na idade pós-positivista, consagrou-se uma superestrutura normativa, na qual as regras e os princípios se mostram como espécies normativas, muito embora não apresentem tal estrutura. (tarefas que o Estado deve cumprir). 12.5. O Estado Democrático de Direito na Constituição Republicana de 1988: O Estado Democrático de Direito foi proclamado pelo CRFB de 1988 em seu primeiro artigo que diz: “Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:” A Carta de Outubro, por meio do regime democrático, busca garantir a participação popular no processo político, estabelecer uma sociedade livre, justa e solidária, em que todo poder emana do povo, diretamente ou por representantes eleitos, respeitando a pluralidade de idéias, culturas e etnias, considerando o princípio da Soberania Popular como garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana. O legislador constituinte conferiu tamanha importância aos direitos e garantias individuais, que os enquadrou logo no título segundo da Constituição, no qual inclui o artigo quinto, que possui setenta e oito incisos, o mais extenso da Carta Constitucional. Carlos Ari Sundfeld defende que “o Estado brasileiro de hoje constrói a noção de Estado Social e Democrático de Direito, na medida em que a figura estatal, além de garantir a efetiva democracia e o respeito aos direitos e garantias fundamentais, deve atingir determinados direitos sociais, atribuído ao cidadão a possibilidade de exigi-los”. 13. CONCLUSÃO DOS TRÊS PARADIGMAS DE ESTADOS A Constituição Federal de 1988 enuncia em seu art. 6º alguns direitos sociais oponíveis ao Estado, como a educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social e assistência aos desamparados. Assim, podemos concluir que a atual organização da CRFB de 1988 em um Estado Social e Democrático de Direito reúne alguns fundamentos previstos nos três paradigmas de Estado que temos analisados: O Liberal, quando adota a supremacia da Constituição, limitando e regulando o Poder Estatal, e assegura o respeito aos direitos individuais dos cidadãos. O Social, na medida em que garante princípios e direitos sociais oponíveis ao Estado, exigindo-lhe postura positiva e dirigente. E o Democrático, tendo em vista que busca garantir efetivamente, a participação popular nas decisões políticas, repudiando qualquer forma de governo autoritário. ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):_____________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P1, na nota da avaliação P1. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DA UNIDADE 02 01. Explique o que foi o movimento denominado constitucionalismo. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 02. O que tinha em comum as revoluções burguesas do século XVIII? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 03. O maior legado deixado pela Idade Média em relação ao constitucionalismo foi que o poder político deveria ser limitado em lei. O que faltou para este princípio fosse efetivado? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 04. Explique a teoria da separação dos poderes? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 05. O Estado Liberal pregava a mínima intervenção do Estado na economia, este era um dos postulados defendidos pela burguesia. O que isto significou para a burguesia quando este principio foi colocado na prática? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 06. Quais são os conteúdos integrantes da Constituição do Estado de Direito? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 07. Explique o que foi o constitucionalismo moderno. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 08. Quais foram os reflexos da igualdade defendida pelos liberais no século XIX? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 09. Explique o que é a igualdade material? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10. O que representou para a humanidade a criação de uma Constituição escrita? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11. Como evoluiu o conceito de Estado Liberal de Direito? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 12. O que motivou o surgimento do Estado Democrático de Direito? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ UNIDADE 03 – PODER CONSTITUINTE DO PODER CONSTITUINTE 1. Poder Constituinte – Considerações iniciais 1º) Constituição escrita e poder constituinte são ideias que surgiram na cultura ocidental do século XVIII, associadas entre si, tendo como referência a ideologia revolucionária, depois denominada liberalismo individualista. “Seu desenvolvimento remonta ao advento do constitucionalismo moderno, em um ambiente dominado pelas aspirações de racionalidade do iluminismo, do jusnaturalismo e do contratualismo.” (Luiz Roberto Barroso, pág. 95). 2º Saber o que é uma Constituição não é mais importante do que saber quem pode fazer uma Constituição. Ou seja, verificar quem tem legitimidade para estabelecer as regras que vão ser incluídas na Constituição. 3º) O estabelecimento, ou a elaboração de uma Constituição é realizado por quem exerce o poder constituinte. 4ª) A expressão poder constituinte se refere tanto a faculdade (titularidade) ou aptidão jurídica-política para estabelecer uma constituição (poder-função), como ao órgão (exercício) que exerce esta faculdade (poder-pessoa). 5ª) O poder constituinte, numa primeira definição, é o poder de criar a Constituição, de instituir o ordenamento jurídico supremo do Estado, e, pois, o próprio Estado, juridicamente falando, e a cada manifestação constituinte surge um novo Estado. 2. Teorização do Poder Constituinte 2.1. Antecedentes: A França no século XVIII passava por uma situação econômica difícil. Inicialmente, o Rei Luiz XVI, aconselhado pelos seus ministros a aumentar a receita, e como os nobres e o clero não pagavam tributos, resolve convocar a Assembléia dos Notáveis, compostos por representantes da nobreza e do clero, com o objetivo de convencê-los a pagarem impostos. Como os nobres e o clero rejeitam esta proposta, o Rei Luiz XVI resolve convocar os Estados Gerais31, que era composto pela nobreza o clero e o Terceiro Estado, que eram aqueles que não pertenciam as duas classes primeiras. Nos intensos debates que sucederam nas reuniões, destacou a participação do Abade Emmanuel Joseph Sieyès, que escreveu o livro “O que é o Terceiro Estado”, fazendo três pergunta e ao mesmo tempo respondendo: O que tem sido o Terceiro Estado? Nada. Que é o Terceiro Estado? Tudo. O que pretende o Terceiro Estado? Alguma coisa. O abade Sieyès diagnóstica que a composição dos Estados Gerais não permitia a representação da nação, politicamente confundida com o Terceiro Estado, porquanto o direito ao voto era exercido por ordem, com a finalidade de privilegiar a nobreza e o clero, em detrimento da classe laboriosa. Devido a esta circunstância o abade Sieyès prognostica, ou seja, conclui que a convocação da Assembléia Nacional Constituinte possibilitaria a restauração da legitimidade do poder político, porque a Constituição seria promulgada pelos representantes da nação, em atenção à conjugação dos direitos de propriedade (voto censitário) e igualdade perante a lei (voto unitário), com o escopo de atender aos interesses do Terceiro Estado, neste caso representado pela burguesia mercantil, financeira e comercial. 31 O Estados Gerais era uma instância deliberativa que era convocada de tempos em tempos para Com a transformação dos Estados Gerais em Assembléia Nacional Constituinte, em 1789 é proclamada da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Em 1791 é proclamada a primeira Constituição Francesa, colocando fim ao Antigo Regime (absolutismo). Apesar disso, os americanos advogam serem os criadores do poder constituinte. Afinal, as 13 ex-colônias inglesas na América do Norte, recém-emancipadas, já tinham efetivamente exercido este poder durante a elaboração de seus textos constitucionais nos moldes propostos pelo abade, quando da independência americana do jugo colonial inglês. Os norte-americanos, tendo como expoente maior La Fayette, francês que lutou pela independência americana, sempre defenderam que a teoria do poder constituinte era de sua autoria, posição que evidentemente era refutada com veemência por Emmanuel Sieyès e pelos demais ideólogos da Revolução Francesa. O fato é que os franceses ganharam a disputa, e são considerados os criadores da teoria do poder constituinte. 3. PODER CONSTITUINTE - Conceito No decorrer da história sempre surgiram pessoas ou grupos que por seu poder foram capazes de criar e de se impor perante o restante do grupo social, que em última instância exerciam o poder constituinte (constitucionalismo em sentido amplo). Mas, como teoria de poder constituinte esta idéia é mais recente. O conceito de poder constituinte é contemporâneo ao movimento chamado constitucionalismo moderno, sendo considerado o poder de criar uma Constituição (constitucionalismo em sentido estrito). Nesse sentido, toda Constituição é fruto de um Poder Constituinte. CONCEITOS DE PODER CONSTITUINTE: O poder constituinte, com base na melhor doutrina, é conceituado como poder de produção das normas constitucionais, por meio do processo de elaboração e/ou reforma da Constituição, com o fim de atribuir legitimidade ao ordenamento jurídico do Estado. “Órgão Legislativo do Estado, dotado de autoridade política, cuja finalidade é o de criar a Constituição ou de revê-la, o que só ocorre nos casos de Constituição rígida.” (V. Cretella Júnior – Elementos de Direito Constitucional, pág. 91, Revista do Tribunais “É a soberania a serviço do sistema representativo, ou a caracterização diferente que a soberania toma ao fazer-se dinâmica e criadora de instituições.” (Paulo Bonavides, pág. 121 – Curso de Direito – Curso de Direito Constitucional. Editora Malheiros). O Poder constituinte tem o seguinte significado: “O Poder Constituinte é a potência que faz a Constituição, e, ao mesmo tempo, a competência que a modifica. Trata-se da força propulsora que, ao elaborar a Carta Magna, fornece as diretrizes fundamentais do Estado. Por isso, é a energia vital de criação, reforma, e também mutação das cartas políticas. A sua importância é tamanha que se ele inexistisse, não haveria constituição, e conseqüentemente, ordem jurídica. E a cada manifestação constituinte, emissora de atos constitucionais, inaugura-se um novo Estado.” (Uadi Lammêgo Bulos). 4. PODER CONSTITUINTE E PODERES CONSTITUÍDOS A distinção entre poder constituinte e poderes constituídos remonta a Sièyes, pois quando do surgimento da Constituição escrita era necessário firmar o entendimento da superioridade das normas constituições, perante a legislação comum. Por isso, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, O Poder Constituinte, pág. 16: “Igualmente Sieyès afirma que a Constituição é sempre superior aos poderes constituídos. De tal forma que qualquer manifestação dos poderes constituídos só é válida desde que se sujeite à Constituição. Isso para nós é óbvio. Evidentemente, isso não era o óbvio em 1788, quando a própria idéia de Constituição ainda era turva.” PODER CONSTITUINTE: Com relação ao Poder Constituinte é possível dizer que: a) É o Poder encarregado de estabelecer a Constituição de um Estado, de modo que cria poderes destinados a dirigir os interesses de uma comunidade política. b) É um Poder que não desaparece com sua obra realizada é transitório e intermitente. É um poder latente atemporal, contínuo, pois está pronto para ser acionado a qualquer momento. c) O Poder Constituinte é o criador, cria as normas constitucionais PODERES CONSTITUÍDOS: Com relação aos Poderes Constituídos podemos dizer: a) São poderes constituídos aqueles que são previstos na Constituição. b) Sua exteriorização (ação) é permanente e contínua, são revestidos de natureza jurídica, incumbidos do exercício das funções administrativas, legislativa e jurisdicional. c) Os poderes constituídos são o resultado da criação, cria as normas infraconstitucionais produzidas ordinariamente. d) Os poderes constituídos pressupõem para o seu exercício a presença de uma Constituição da qual emana ou deriva. PORTANTO: O Poder Constituído é o resultado da criação (do Poder Constituinte), são os poderes estabelecidos pela Constituição. ASSIM, PODEMOS CONCLUIR: Poder Constituinte é o criador. Poder Constituído é a criatura. Reconhece-se, a diferenciação hierárquica entre as normas constitucionais supremas, pois são fruto do Poder Constituinte, e as normas infraconstitucionais, produzidas ordinariamente pelo Poder Constituído. 5. Titularidade e exercício do Poder Constituinte a) titularidade: Diz respeito a quem tem legitimidade (decisão) para exercer o poder constituinte, estando vinculado ao conceito de soberania, por ser a mais alta expressão de poder político. Passou pelas seguintes fases: a) as teorias da soberania divina; b) a teoria da soberania nacional; c) a teoria da soberania popular. Atualmente, a doutrina moderna admite que a titularidade do poder constituinte pertence ao povo32. b) Exercício: Diz respeito a quem é atribuído o desempenho do poder constituinte. O exercício do poder constituinte pode ser de três formas: a) direto: exercida diretamente pelo povo, quando da aclamação em Revolução33, ou seja, do ponto de vista político significa mudanças e alterações profundas nas relações sociais e nos poderes; b) Indireto: quando o povo escolhe seus representantes para agirem em seu nome em uma Assembléia Constituinte; c) Mista: quando um grupo elabora uma constituinte, e submete o seu trabalho ao povo, através de plebiscito ou referendo. 6. PODER CONSTITUÍNTE ORIGINÁRIO Poder constituinte originário: É também chamado de inicial, inaugural ou de primeiro grau, pois é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica anterior. Pode ser de duas naturezas: a) Fundacional: cria a primeira constituição de um país. Ex. a Constituição brasileiro de 1824; b) Pós-fundacional: são as Constituições que surgem depois de elaborada a primeira Constituição de um Estado: As Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1937, 1945, 1967 e 1988. 6.1 Características do Poder Constituinte Originário 34 Inicialmente convém dizer que cada característica tem uma função. 32 O parágrafo único da Constituição brasileiro de 1998 dispõe expressamente: “Todo poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, e o Preâmbulo da Constituição inicia com a seguinte frase: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunido em Assembléia Nacional Constituinte....” representantes”. 33 Revolução esta palavra provêm do vocabulário da astronomia, significando o movimento circular completo que um astro realiza ao voltar ao seu ponto de partida. Revolução designa movimento circular cíclico, isto é, repetição contínua de um mesmo percurso (Convite a Filosofia, Marilena Chauí, pág. 404) 34 A doutrina ainda apresenta dois tipos de Poder Constituinte: 1) Poder Constituinte difuso: Pode ser caracterizado como um poder de fato e se manifesta por meio de mutações constitucionais. Trata-se de um processo informal de mudança da Constituição; 2) Poder Constituinte supranacional: Busca a sua fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania. a) Inicial: inaugura um novo ordenamento jurídico e deflagra o processo de produção do Direito Positivo, dando início a uma nova ordem jurídica. Portanto, a sua função é dotar o Estado de um novo ordenamento jurídico. b) Ilimitado : não se submete a restrições prescritas pelo Direito Positivo ou legislação em vigor, não encontra limites em sua obra. Portanto, sua função e dar liberdade de escolha de tudo que for colocado na Constituição. c) Incondicionado: não está sujeito a formas ou procedimentos previstos no Direito Positivo para o seu exercício. Não se submete a regras de forma, pois é o Poder Constituinte Originário que cria as regras e as formas a seu próprio modo, por isso não tem que seguir qualquer formalidade. Portanto, pressupõe que é o próprio Poder Constituinte originário que estabelece como que a Assembléia Constituinte ira se organizar para cumprir seu objetivo de elaborar a nova Constituição. 6.2. Efeitos da característica inicial ou inicialidade 1°) O efeito imediato da expressão do Poder Constituinte Originário é a revogação de todas as normas jurídicas inseridas na Constituição anterior, ou seja, ocorre a revogação completa da Constituição anterior. 2º) O efeito da expressão do Poder Constituinte Originário sobre a legislação anterior, significa que ao entrar em vigor uma nova Constituição, serão revogadas todas as leis incompatíveis com a nova Constituição. Se forem compatíveis com a nova Constituição pode ocorrer a RECEPÇÃO das normas infraconstitucionais anteriores a vigência da nova Constituição, desde que materialmente compatíveis com ela. 6.3 Princípio da recepção: Norberto Bobbio conceituou o princípio da recepção da seguinte forma: “Recepção é um ao jurídico com o qual um ordenamento acolhe, toma como suas as normas de outro ordenamento, onde tais normas permanecem materialmente iguais, mas não são mais as mesmas com respeito a forma, no sentido de que elas são válidas não mais com base na norma fundamental anterior do velho ordenamento, mas com base na forma fundamental do novo” De modo que, com a vigência de uma NOVA CONSTITUIÇÃO, ocorre a revogação de todas as normas infraconstitucionais que tinham fundamento de validade na VELHA CONSTITUIÇÃO. Mas, se as normas infraconstitucionais elaboradas com base na VELHA CONSTITUIÇÃO encontra fundamento de validade na NOVA CONSTITUIÇÃO, então está RECEPCIONA aquela norma, tomando com suas, embora, tenham sido elaboradas com base na VELHA CONSTITUIÇÃO. E agora passam a ter validade tendo como fundamento a NOVA CONSTITUIÇÃO. 6.3.1 Aplicação do princípio da recepção: Cessada a eficácia da Constituição anterior, tem como conseqüência a perda do fundamento de validade de toda ordem jurídica. Assim, a nova legislação teria que começar do zero, cada vez que uma nova Constituição entrasse em vigor. 1º) A recepção do direito anterior só é possível quando for compatível com as normas da nova Constituição. 2º) Se a nova Constituição dispõe, explícita ou implicitamente de modo diverso, é impossível a recepção infraconstitucional ensejando a sua revogação. Portanto, é possível concluir que cessada a eficácia da Constituição anterior, tem como conseqüência a perda do fundamento de validade de toda ordem jurídica. De modo que, a nova legislação teria que começar do zero, cada vez que uma nova constituição entrasse em vigor. Isto somente não ocorre, devido ao princípio da recepção. O QUE OCORRE QUANDO DA NÃO-RECEPÇÃO? Quanto ao efeito da não- recepção entre uma norma infraconstitucional e outra norma constitucional superveniente retirada da nova Constituição, o efeito da incompatibilidade entre norma infraconstitucional e norma constitucional superveniente é a REVOGAÇÃO. PORQUE? A jurisprudência do STF é fixada no sentido de que o efeito da não- recepção é a revogação. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição futura. A nova Constituição não torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes. CONSEQUENTEMENTE REVOGA-AS35. 6.4. Formas de Exercício do Poder Constituinte Originário O titular do Poder Constituinte Originário na atualidade é o povo, que exerce este poder de diversas formas, são as formas de manifestação ou exteriorização, também chamado de exercício do Poder Constituinte. a) Revolução: trata-se da substituição de uma ideia de Direito por outra. Significa mudanças profundas nas relações sociais e no poder. Sendo utilizada em casos extremos. Seria a forma direta do exercício do poder constituinte originário. b) Assembleia ou convenção nacional constituinte: o poder constituinte é expresso por representantes eleitos pelo povo, podendo ser: PURA, quando convocada apenas para elaborar a Constituição, dissolvendo em seguida, ou CONGRESSUAL, quando é convocada para elaborar a Constituição, bem como a legislação infraconstitucional. c) Plebiscito ou Referendo: Neste caso a validade da norma constitucional está condicionada à conduta popular anterior (plebiscito) ou posterior (referendo), o exercício do poder constituinte é realizado por quem não possui a legitimidade para elaborar uma Constituição, e por isso deve submeter a apreciação popular, que somente terá validade com a concordância de seu titular. 6.5. Meios de Expressão do Poder Constituinte Originário: Trata-se da fase complementar do procedimento de elaboração das normas constitucionais, pode ser: a) Meio autocrático: O Poder Constituinte Originário é exteriorizado sem a participação dos cidadãos, e assim, a Constituição é estabelecida por meio de outorga, isto é, uma declaração unilateral. Por isso se diz que é uma Constituição outorgada. (ex. as Constituições brasileiras de 1824 e 1937, 1967). b) Meio democrático: O Poder Constituinte Originário é exteriorizado com a 35 Existia a tese que a norma infraconstitucional incompatível com a nova Constituição era inconstitucional em face da nova Constituição. participação popular dos cidadãos, assim a Constituição é estabelecida por promulgação. Diz-se Constituição promulgada. Ex. as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988 7. PODER CONSTITUINTE DERIVADO36: O poder constituinte derivado é aquele que altera, formalmente, a Constituição. É também chamado de reformador, instituído, ou de segundo grau, e ainda de secundário. É o responsável pela função renovadora e atualizadora das Constituições. Portanto, sua tarefa é completar e atualizar a obra do constituinte originário ou de primeiro grau. Esta modalidade de poder constituinte é exercida37 pelo Poder Legislativo, por expressa disposição do Poder Constituinte Originário. O Poder Constituinte Derivado tem as seguintes espécies: REVISÃO: É o Poder de fazer uma revisão na Constituição em vigor (Art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). As emendas constitucionais de revisão são promulgadas pela Mesa do Congresso Nacional. Esta modalidade de poder constituinte derivado faz alterações profundas na Constituição. “Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.” (ADCT) REFORMA: É produzida por emenda constitucional, com procedimento diferenciado, pois exige um quorum qualificado para sua aprovação, promulgados pela Mesa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (art. 60, §§ 2° e 3º, da CF/88). Esta modalidade de poder constituinte faz alterações pontuais na Constituição. “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta : I – de um terço,no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II – do Presidente da República; III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestado-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º. A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º. A emenda à Constituição será promulgada pelas 36 “Enquanto o Poder Originário é a potência que funciona na etapa de primogeneidade constitucional, fazendo a Constituição, o poder derivado é a competência que atua na etapa de continuidade constitucional, reformando a carta magna” (Uadi Lammego Bulos, pág. 294) 37 “A titularidade do poder reformador pertence ao povo. Já o seu exercício bem demarcado na Constituição Federal. No Brasil, os agentes da competência reformadora são os deputados e senadores (CF, art. 60, § 2º), cumprindo os casos do Congresso Nacional, pelas Mesas da Câmara e do Senado, promulgar as emendas constitucionais (CF, art. 60, § 3)º” (idem, pág. 296). Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direito, secreto, universal e periódico; III – a separação de poderes; IV – os direitos e garantias individuais.” DECORRENTE: Denomina o poder de elaboração da Constituição do Estado-membro (Art. 25 da CRFB/88 e art. 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”. “Art. 11. Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta” (ADCT). Poder constituinte derivado decorrente de reforma estadual: designa o poder de reforma da Constituição do estado-membro. 7.1. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR E DE REVISÃO: O poder de reforma da Constituição da República é caracterizado pela derivação, limitação e condicionamento. Sendo que a revisão é mais ampla e a reforma é mais restrita. 7.2. Características do Poder Constituinte de Revisão ou Reforma A) DERIVAÇÃO: Significa que o poder constituinte reformador encontra fundamento de validade na Constituição. A reforma das normas constitucionais é preceituado no art. 60, caput, §§ 2º e 3º da CRFB, através de emenda Constitucional, bem como art. 3º do ADCT, através de emenda constitucional de revisão. B) LIMITAÇÃO: O poder constituinte derivado reformador é submetido às restrições no art. 60, § 1º e § 4º da CRFB, devido as limitações impostas pelo Poder Constituinte originário. As limitações são as seguintes: a) TEMPORAIS: Impede a reforma constitucional durante certo intervalo de tempo38. b) CIRCUNSTANCIAIS: Impede a reforma constitucional durante determinadas circunstâncias excepcionais39 c) MATERIAIS: também denominada cláusulas pétreas, impedem a reforma sobre determinadas matérias, razão pela qual a emenda ou revisão não podem recair sobre o cerne imodificável da constituição. As limitações materiais podem ser: - Limitações materiais explícitas art. 60, § 4°, da CRFB., e; 38 Apenas a Constituição de 1824, que previu esta limitação no art. 174. 39 Intervenção federal (art. 34, CF); Estado de sítio (art. 137/139, CF); Estado de defesa art. 136, CF). - Limitações materiais implícitas40. Parágrafo único do art. 1º e art. 60, §§ 2° e 3°, da CRFB. C) CONDICIONAL: Está submetido a regras impostas por uma Constituição em vigor, por isso é condicionado. Pois para alterar a constituição, condiciona-se aos limites nela previsto. O poder constituinte derivado reformador é submetido à exteriorização por meio de emenda ou revisão a partir da distinção entre processos formais e informais de mudança da constituição: a) Processos formais de mudança da Constituição: Há alteração do texto constitucional, segundo o procedimento de revisão e ou reforma, sob a designação de reforma constitucional, pode ser em razão da matéria ou de forma. Pos isso, é analisado sob o ângulo material e formal: - Sob o ângulo material a revisão é mais extensa, pode alcançar o texto constitucional globalmente, ressalvadas das limitações matérias implícitas ou explícitas, enquanto que a reforma é menos extensa, porque recai sobre matérias pontilhadas. - Sob o ângulo formal a revisão é precedida pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso nacional, em sessão unicameral, já a reforma é aprovada pelo voto de 3/5 dos membros da Câmara dos deputados e do Senado Federal, em sessões isoladas em dois turnos de discussão e votação e promulgadas pelas Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados (art. 60, § 2º da CRFB). b) Processos informais de mudança da Constituição: Ocorre sem que haja alteração no texto constitucional, a modificação ocorre no alcance e conteúdo da norma da Constituição sem contrariá-la, compreendendo a interpretação constitucional (legislativa, administrava e judicial), os usos e costumes. Como exemplo de um processo informal de alteração da constituição é a MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL: Significa que há alteração do contexto, sem que o texto constitucional seja modificado, pois a norma constitucional conserva o mesmo texto, apenas recebe uma significação diferente (ex. art. 5º, inciso XI, da CF). 8. PODER CONSTITUINTE DECORRENTE: É o poder de organizar o Estado Federado dotado de autonomia. É poder derivado, limitado e condicionado. Sua missão é estruturar a Constituição dos Estados-membros. É qualificado de decorrente porque, como o nome já diz, decorre da carta magna, ou seja, encontra a sua fonte de inspiração na obra do poder constituinte originário, que prevê seus limites e as linhas mestras de seu exercício. REGRA DE OURO: Toda e qualquer matéria colocada na constituição do Estado- membro deve acompanhar necessariamente o modelo federal. 8.1 CARACTERÍSTICAS: DERIVADO: Denomina que a Constituição da República brasileira de 1988 estabelece o modo de elaboração da Constituição do estado-membro, mediante a definição do órgão competente, procedimento adequado e declaração prescritiva a ser veiculada pelas normas constitucionais estaduais, à luz do art. 25 e 11 do ADCT. 40 As limitações materiais implícitas são extraídas do sistema constitucional, consistentes na titularidade do poder constituinte, originário e derivado, e no procedimento de reforma constitucional, de sorte que, embora não haja norma expressa a esse respeito, a emenda não pode atingir as regras vinculadas pelo arts. 1º, parágrafo único e 60, § 3º, da CRFB, respectivamente” (Guilherme Pena de Morais, pág. 34 e 35). O órgão competente para a elaboração da Constituição Estadual é a Assembléia legislativa respectiva de cada estado-membro, no prazo de um ano da promulgação da CFRB de 1988. CONDICIONAL: O condicionamento designa que a Constituição do estado-membro pode ser promulgada pela Assembléia Legislativa respectiva, investida em poder constituinte derivado decorrente estadual, no prazo de 01 (um) ano contado da promulgação da Constituição da República de 1988. LIMITADO: Denota que a Constituição da República estatui limitações ao poder de instituição estadual, divididos em princípios constitucionais: a) SENSÍVEIS ou ENUMERADOS: Previstos na Constituição da República na medida em que constituem o fundamento da organização jurídica do Estado federal, com o escopo de assegurar o equilíbrio federativo, sob pena de decretação de intervenção. É o cerne da Constituição. Tais como: Forma republicana, sistema federativo, regime democrático, direitos humanos, autonomia municipal, prestação de contas da administração direta e indireta (art. 34, VII, da CF/88). b) ESTABELECIDOS OU ORGANIZACIONAIS: São extraídos da Constituição da república, uma vez que contribuem para a limitação da auto-organização dos Estados federados. Funcionam como balizas reguladoras da capacidade de auto-organização41 dos Estados-membros, divididos em: a) Limitações expressas: Vem previstas de modo taxativos Mandatários (art. 37), Vedatórias (art. 19); b) Limitações implícitas: Não vem prevista, são inerentes ou tácitos, art. 21 e 22); c) Limitações decorrentes: São retirados do texto constitucional, art. 93, V) c) EXTENSÍVEIS: São normas de organização da União sujeita a aplicação obrigatória pelos estados membros. Ex. Forma de investidura nos cargos eletivos, art. 77, da CF/88 e o processo legislativo, art. 59, da CF, as constituições estaduais devem acompanhar estes modelos. ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 41 Significa que o Estado-membro possui uma Constituição Estadual, os Municípios possuem uma Lei Orgânica Municipal e o Distrito Federal possui uma Lei orgânica Distrital. FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):_____________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P2, na nota da avaliação P2. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. Exercício de fixação da Unidade 03 – poder constituinte e sua gênese constitucional 01. O que é o poder constituinte? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 02. Por que o Poder constituinte e poderes constituídos não se confundem? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 03. Quando surgiu uma teoria do poder constituinte? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 04. No Estado Liberal de Direito quem é o titular do Poder Constituinte, e no Estado Social de Direito quem possui a titularidade do poder constituinte? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 05. Quais as espécies de Poder Constituinte Derivado? Qual a missão de cada um deles? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 06. Quais as formas de exercício do poder constituinte originário? Explique cada uma delas. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 07. Quais as características do Poder constituinte originário? Explique cada uma delas. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 08. O que é uma cláusula pétrea? Qual o tipo de limitação que ela representa? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 09. Explique o que é o princípio da recepção e qual a sua importância? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10. Quais são as limitações do poder constituinte derivado reformador? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11. Qual a diferença entre assembléia ou convenção constituinte pura e convenção ou assembléia constituinte congressual? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ UNIDADE 04 – TEORIA DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DA CONSTITUIÇÃO TEORIA DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DA CONSTITUIÇÃO 1. Direito Constitucional - Conceito O Direito enquanto sistema normativo é usualmente subdividido, para fins didáticos, em duas grandes unidades estruturais, o Direito Público e o Direito Privado, que por sua vez, apresentam diversos desmembramentos, a que a doutrina denomina ramos da ciência jurídica. A) Direito público: Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Ambiental, Econômico, Financeiro, Urbanístico, Penal, Processual Civil, Processual Penal, internacional Público e Privado. A ênfase recai sobre o Estado nas suas relações com o particular B) Direito Privado: Direito Civil e Direito Comercial. Cabe ao Estado regular as relações envolvendo as questões entre particulares. C) Direito Social: Direito Trabalhista e Direito Previdenciário. Existe uma relação de simbiose entre o público e o privado. O Direito Constitucional se enquadra como o ramo por excelência do Direito Público, o principal ramo desta seara jurídica já que tem por objeto o estudo do ordenamento jurídico fundamental do Estado, o conjunto de regras e princípios básicos de uma sociedade politicamente organizada, os quais, em seu conjunto, compõem sua Constituição. Paulino Jacques ensina que: “Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que estuda os princípios e as normas estruturadas do Estado e garantidoras dos direitos e liberdades individuais”. Direito Constitucional pode ser visto como o ramo-mãe do Direito, o ramo jurídico do qual derivam todos os demais, não só aqueles que integram o Direito Público, mas também os que formam o Direito Privado (e o Direito Social, para os que reconhecem esta subdivisão). No Direito Constitucional se alicerçam e afloram todos os demais ramos jurídicos na atualidade. Assim, podemos considerá-lo como o ramo fundamental, num primeiro plano, do Direito Público e, num segundo plano, do Direito como um todo, comportando todas as suas subdivisões. Com a crescente intervenção do Estado em todas as instâncias da vida social, com o progressivo aumento de sua ação nas mais diversas áreas, públicas e privadas, temos um proporcional aumento da importância do Direito Constitucional, como ramo jurídico invocado para o estudo sistemático desse fenômeno. “O Direito Constitucional é o conhecimento sistemático da organização jurídica fundamental do Estado. Isto é, o conhecimento sistematizado das regras jurídicas relativas à forma de Estado, à forma de Governo, ao modo de aquisição, exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos limites de sua ação.” (Manoel Gonçalves Ferreira Filho) “É o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado.” (José Afonso da Silva). 2. Direito Constitucional: Origem e Evolução42 2.1. Primeira fase de evolução da Disciplina Direito Constitucional A origem mais próxima da disciplina Direito Constitucional é datada do século XVIII, desenrolando-se nos séculos XIX e, principalmente, no século XX, prossegue ininterrupto até os dias de hoje. Na sua formação (final do século XVIII e início do século XIX), o Direito Constitucional adotou os valores defendidos pela classe social então emergente, a burguesia, a qual, a partir da Revolução Francesa, conseguiu impor ao mundo seu modelo de organização política, o Estado Liberal. Essa forma de organização política (Estado Liberal) tinha como objetivo, em última análise, assegurar: a) autonomia do indivíduo, livre da estrutura do Estado absolutista. b) liberdade de cada um para se desenvolver. Estas finalidades se aproximam dos interesses da burguesia, classe detentora dos meios de produção, a mais apta para atingir um maior nível de “desenvolvimento”. Para assegurar tal autonomia individual era indispensável a imposição de limites ao poder do Estado Absolutista, o que seria obtido essencialmente, segundo os ideólogos liberais, pela previsão, na Constituição de: a) Princípio da separação dos poderes e de; b) Conjunto mínimo de direitos individuais. A ideia essencial para o surgimento do de uma nova organização estatal, era em si mesma simples: O pleno desenvolvimento do indivíduo que dependia de: a) uma nova organização do Estado, em substituição a Estado absolutista; b) uma estrutura e forma de funcionamento, com vistas à contenção de seu poder, c) à limitação da sua capacidade de ingerência na esfera privada. Isto seria obtido, no que toca ao Direito Constitucional, principalmente com a previsão do: a) princípio da separação dos poderes; b) garantia dos direitos individuais; c) Não intervenção do Estado na economia; d) Princípio da igualdade formal. Estes eram os grandes anseios da burguesia, mas para que isto fosse possível deveria ser inserido em um documento que seria respeitado por todos. Este documento passou a ser chamado de Constituição escrita, acabando de uma vez por todos com o absolutismo monárquico e surgindo o Estado Constitucional. Na verdade, o objetivo dos pensadores liberais, em sentido amplo, voltava-se para reestruturação do aparato estatal com um todo. Dentro desta perspectiva, a ênfase foi conferida à separação dos poderes e aos direitos individuais. Também identificados como direitos 42 Este será o tema ora analisado – a evolução do Direito Constitucional -, para isso nos valeremos, precipuamente, das lições de Paulo Bonavides. fundamentais de primeira geração. AS ESTRATÉRIAS DA BURGUESIA: Como vimos, a burguesia se valeu de estratégias para alcançar o seu objetivo. A burguesia não disse que tais valores (Separação de Poderes e Direitos Individuais) eram seus. Ao contrário, conferiu-lhes um caráter universal. Apresentou a separação de poderes e os direitos individuais como imposições oriundas da própria razão humana e, por conseguinte pertinentes ao gênero humano como um todo. Deste modo, os pensadores liberais alcançaram êxito em conferir um caráter abstrato e genérico aos princípios e direitos que constituíam principalmente o interesse da classe que representavam, ou seja, a burguesia. Ao triunfar seu intento, conferindo universalidade a tais valores a doutrinal liberal transformou o princípio da separação de poderes e os direitos individuais em elementos integrantes de um conceito genérico de Constituição, pressupostos indispensáveis à legitimidade de qualquer documento constitucional43. Dentro deste contexto, nasceu a disciplina Direito Constitucional, expressão adotada originariamente nas universidades do norte da Itália, no final do século XVIII, mais precisamente na Universidade de Ferrara, em 1797, daí migrando para Pavia e Bolonha. Chegando posteriormente à França, no ano de 1834, na Faculdade de Direito de Paris, por obra do Ministro Guizot, que inseriu a matéria no programa da instituição, com o objetivo de fornecer ao Estado os alicerces de sua estruturação, exatamente nos moldes propostos pela ideologia liberal, cujos valores à época já se admitiam como perenes, absolutos, imutáveis e universais . Desses países, a disciplina difundiu-se para o restante da Europa, atingindo depois os demais continentes. Direito Constitucional era concebido, sob uma tripla perspectiva: (1) era ferramenta científica para a análise da Constituição vigente; (2) servia de referencial teórico para a elaboração da Constituição vindoura; (3) exigia que a Constituição consagrasse certos valores dominantes naquele período. Dentro desta tríplice visão, efetiva-se a aplicação da disciplina Direito Constitucional sobre as Constituições em vigor à época. De modo que a Constituição escrita surgiu em um contexto socio-político que favoreceu a classe social emergente, a burguesia, que conseguiu impor um modelo de Estado que atendia, sobretudo, aos seus interesses. 2.2. Segunda fase de evolução da Disciplina Direito Constitucional Como já tivemos a oportunidade de estudar tal situação perdurou até a eclosão das crises sociais do século XX, quando então o núcleo individualista das Constituições de cunho liberal evidenciou sua fraqueza e incompletude ante as novas aspirações da sociedade, principalmente no que toca aos direitos humanos de segunda geração, que têm, não na liberdade, mas, respectivamente, na igualdade e na solidariedade, seus valores principais. Portanto, em um segundo momento de evolução da Disciplina Direito Constitucional, o 43 O art. 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, dispõe: “Não possui constituição toda sociedade na qual a garantia dos direitos não esteja assegurada nem determinada a separação dos poderes”. pensamento liberal, após predominar no final do século XVIII e tornar-se praticamente hegemônico no século XIX, veio a encontrar seu fracasso, ou ao menos um considerável enfraquecimento, no século XX, em decorrência das crises sociais, de fundo político, econômico e cultural, que atravessaram a sociedade naquele período. Diante deste contexto, como uma tentativa de resposta aos anseios promotores das crises sociais, o Estado liberal, individualista e propugnador do Estado mínimo é paulatinamente substituído pelo Estado social, marcadamente intervencionista no meio social. A partir de então, em face do abandono pelas Constituições dos valores restritos apregoados pelo pensamento liberal-burguês, com a ampliação do rol de matérias nelas constantes, passa a tratar de novos direitos e estabelecendo novos paradigmas de estruturação do Estado. Temos, então, uma ampliação significativa do conteúdo do Direito Constitucional, o que nos permite defini-lo, a partir daí, como ramo do Direito Público que trata das normas, princípios e instituições capitais de qualquer espécie de ordenamento político, independentemente de considerações valorativas sobre seu conteúdo específico, ou seja, não está restrito a uma ideologia específica. De modo que o Direito Constitucional desata-se, desvincula-se de qualquer conotação política específica, de qualquer diretriz ideológica obrigatória, passando a trabalhar sobre quaisquer normas e princípios integrantes de uma Constituição, sejam eles escritos ou costumeiros. 3. Direito Constitucional: objeto Como acabamos de perceber, o Direito Constitucional, no seu início, enquanto vinculado ao pensamento liberal, visava essencialmente à imposição de limites ao poder do Estado absolutista o que seria obtido por uma rígida previsão na Constituição, do princípio da separação dos poderes, de modo que cada uma das funções estatais – jurisdicional, legislativa e administrativa – ficasse a cargo de órgãos distintos, que atuariam de forma independente, sem predomínio de qualquer deles sobre os demais. A distribuição das funções estatais básicas, aliada à declaração de direitos, eram as bandeiras máximas da Revolução Francesa, em torno delas, foi que surgia a disciplina Direito Constitucional. Na atualidade, caiu por terra esta visão, como ensina Gabriel Dezen Júnior. “Modernamente, na esteira das transformações políticas e jurídicas profundas, dentre elas a derrocada do Estado burguês, adquiriu o Direito Constitucional uma feição nova, não mais centrada essencialmente liberalista, mas com as linhas de uma ciência das normas e instituições básicas de toda e qualquer modalidade de ordenamento político, ocupando-se assim de qualquer conjunto de normas que venham a governar a coletividade humana.” O que se tem agora, então, é o Direito Constitucional se ocupando de qualquer estrutura constitucional praticada em determinado Estado, mesmo que afastada do modelo tradicional inaugurado pela Revolução Francesa. Com isto, podemos seguramente afirmar que cabe ao Direito Constitucional o estudo das normas que compõem uma Constituição, qualquer que seja a matéria nelas prescritas. A tais matérias podemos acrescentar: • as normas referentes à ordem econômica, • à ordem social, • ao meio ambiente, • à cultura, • às relações internacionais, • às finalidades para a ação estatal, • bem como todas as demais consideradas fundamentais á organização do Estado. O complexo de normas e princípios da Constituição, qualquer que seja a matéria sobre a qual versem. É afinal, o objeto de estudo do Direito Constitucional na atualidade. 4. Direito Constitucional: conteúdo Científico A expressão “Direito Constitucional” alberga o Direito Constitucional Especial ou Positivo; Direito Constitucional Comparado; Direito Constitucional Geral. Podemos considerá-los subdivisões do Direito Constitucional, conforme o conteúdo científico próprio de cada um, ou como diferentes aspectos do Direito Constitucional. Cada um deles compondo uma disciplina, as quais, reunidas, correspondem à totalidade do conteúdo científico do Direito Constitucional. Portanto, existem várias metodologias de abordagem e de estudo do Direito Constitucional, senão vejamos: 4.1 . Direito Constitucional Especial ou Positivo Tem por objetivo de estudo a Constituição vigente no Estado, com a finalidade de: • analisar, • interpretar, • sistematizar e • criticar as normas e princípios nela prescritos. Trata-se de uma disciplina essencialmente positiva, porque se ocupa somente das normas e princípios que compõem a Constituição em vigor de dado Estado; pois seu intento é justamente fornecer elementos jurídicos úteis para sua aplicação. A análise da atual Constituição da República Federativa do Brasil, ou da Constituição francesa em vigor, é exemplo de objeto de estudo do Direito Constitucional Especial. 4.2 Direito Constitucional Comparado Não se trata do estudo específico da Constituição, mas de diversas Constituições, com o objetivo de a partir de sua análise conjunta, destacar e criticar suas semelhanças e dessemelhanças. Segundo Paulo Bonavides, podemos ter como critérios seletivos: (1) o critério temporal; (2) o critério espacial; e (3) o critério da mesma forma de Estado. a) Critério temporal: analisam-se as diversas Constituições de um mesmo Estado, os documentos constitucionais que se sucedem temporalmente, no transcurso do seu processo de evolução político-institucional, com a finalidade de serem compreendidas as alterações ocorridas nos institutos, instituições e princípios constitucionais selecionados. b) Pelo critério espacial: Como o próprio termo indica, faz-se análise comparativa das Constituições de diversos Estados, de entes soberanos em territórios diferentes, em regra localizados em áreas geográficas próximas ou contíguas. c) o critério da mesma forma de Estado: cotejam-se as Constituições (em regra, as Constituições em vigor) de países que adotam a mesma foram de Estado (confederação, federação, Estado unitário). 4.3 Direito Constitucional Geral O Direito Constitucional Geral “tem por fim delinear, sistematizar e dar unidade aos princípios, conceitos e instituições que se acham presentes em vários ordenamentos constitucionais, formando-se uma teoria geral de caráter científico”. (Vicente Paulo) O objetivo, como já referido pelo citado autor, é a definição e a sistematização de conceitos, princípios e instituições que se encontram em várias Constituições, a fim de reuni-los sob uma perspectiva unitária, e cujo conjunto compreende os elementos que compõem a “teoria geral do Direito Constitucional”. O Direito Constitucional Geral tem a finalidade de examinar as regras constitucionais de uma multiplicidade de ordenamentos jurídicos. Retira ele, com referência ao poder, e independente das contingências de tempo e lugar, uma série de princípios, indagações, conceitos e categorias que, unificados teoricamente, poderão compor uma teoria geral de caráter científico. Por fim, devemos ter claro que essas diferentes disciplinas não devem ser vistas como mutuamente excludentes, no sentido de que sua aplicação deve-se dar de forma isolada, independente, das demais. Mas estas metodologias de estudo do Direito Constitucional contribuem para a compreensão da organização política do Estado. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E SUA TIPOLOGIA O objetivo do estudo da teoria da constituição e sua tipologia é a apresentação e análise dos diversos conceitos de Constituição construídos ao longo da evolução do Direito Constitucional. 5. CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL E FORMAL 5.1 CONSIDERAÇÕES acerca do conceito material de Constituição 1º) O conceito material de Constituição aproxima-se do pensamento liberal-burguês que prevaleceu na Revolução Francesa, sendo o marco inicial do Direito Constitucional. O Estado Liberal de Direito previa a Separação dos Poderes, pregava as liberdades individuais e a adoção de uma constituição escrita. 2º) Enquanto os revolucionários franceses preocupavam-se essencialmente com a divisão de poderes e os direitos fundamentais, o conceito material de Constituição é mais abrangente, abarcando todos as matérias consideradas fundamentais para a organização política do Estado, por exemplo, a forma de Estado. 5.2 Conceito material A Constituição é o conjunto de normas pertinentes a organização do poder, à distribuição de competência, ao exercício da autoridade, a forma de governo, a forma de Estado, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais. Ou seja, tudo que for conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem política exprime o aspecto material da Constituição. Assim, do ponto de vista material, o que vai importar para definir se uma norma tem caráter constitucional ou não será o seu conteúdo. Norma constitucional material será aquela que defina e trate das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais (formas de estado, governo, seus órgãos etc.). É a própria substância da Constituição, aquilo que está consagrado nela como valor de expressão de um povo. CONCLUSÃO: A Constituição em sentido material diz respeito à matéria (conteúdo) das normas contidas na Constituição. Seja escrita ou não. Não, porém, toda e qualquer matéria. Mas, somente aquelas consideradas fundamentais à organização política da sociedade. 5.3. Conceito Formal O conceito formal de Constituição corresponde ao conjunto de normas prescritas na Constituição independente da matéria. É formal só pelo fato de constar no texto constitucional. Com base no critério formal as normas constitucionais serão introduzidas pelo poder soberano (poder constituinte) por meio de um processo legislativo complexo e diferenciado. Não mais interessará o conteúdo da norma, mas sim a forma através da qual ela foi introduzida no ordenamento jurídico. Normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder soberano, através de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento. 1) O conceito material toma por base o conteúdo da norma pouco importando se ela consta ou não de um documento solenemente considerado Constituição, ou mesmo se tal norma é escrito ou não-escrita. Portanto, é possível encontrar formas de organização do Estado, mesmo naqueles que não adotam uma Constituição escrita, como exemplo a Inglaterra que não possui uma constituição escrita. 2) O conceito formal toma por base somente o fato da norma constar no documento constitucional, irrelevante a matéria específica de que trate, contudo exige necessariamente que seja escrita. 3) Adotando o conceito formal, pode-se ter ao lado das normas que tratem de temas materialmente constitucionais, normas que versem sobre temas diversos, como a ordem econômica ou ordem social. 4) Assim, uma norma pode ser considerada formalmente constitucional por estar prescrita na Constituição, mas não ser materialmente constitucional, pois não abrange os temas essenciais à organização política da sociedade. Supremacia material e formal Deve ser ressaltado que ao adotarmos o conceito formal de constituição, todas as normas presentes no documento constitucional gozam da mesma dignidade, de mesmo status, encontrando- se em idêntico patamar hierárquico e gozando de superioridade sobre todas as demais normas integrantes do ordenamento jurídico, pelo simples fato de constar em uma Constituição. 5.4. Conclusões: 1ª) A Constituição compreendida no seu aspecto formal limita o conceito de Constituição às normas enxertadas no documento constitucional, independente de seu conteúdo, todas as demais têm peso infraconstitucional. Desse modo, em Estados que apresentem Constituições escritas e adotem o conceito formal, só há matéria constitucional no corpo da Constituição. 2ª) Contrariamente, em Estados com Constituição não-escrita, se adotada a concepção de Constituição, em sentido material, o que é indispensável (já que não há um documento que aglutine as normas constitucionais), serão consideradas constitucionais as normas que tenham como objeto as matérias consideradas de tal natureza (organização do poder, determinação de competência e diretos fundamentais, etc.), onde quer se sejam encontradas (numa lei, num costume, num regulamento). 3ª) Se tivermos uma Constituição escrita, mas a compreendermos em sentido material, o documento escrito não delimita o conceito de Constituição, pois tal caráter será atribuído a todas as regras que tratem dos temas tidos como constitucionais; inversamente, nem todos os dispositivos do documento escrito serão materialmente constitucionais, pois aqueles que tratarem de assuntos de natureza diversa serão constitucionais apenas formalmente, pois foi introduzida em um texto constitucional através de um processo complexo e diferenciado. 6.5. Conceito Moderno Em sentido jurídico, a Constituição, nada mais é do que o modo de ser, a forma de organização de um Estado, sua lei fundamental. Detalhando a definição: A Constituição é o conjunto de normas e princípios, escritos ou costumeiros, que estabelece e disciplina, a exemplo do meio ambiente, da ordem econômica e da ordem social. Este conceito é mais abrangente que o conceito material de Constituição antes exposto, que reconhece como matéria constitucional apenas os temas essenciais à organização política do Estado. Modernamente, como reconhece a doutrina, o objeto das Constituições sofreu larga expansão, abarcando todos os demais temas hoje considerados especialmente relevantes pelo corpo social, a exemplo da ordem econômica, da ordem social, da função social da propriedade, dentre outros. Como tais temas passaram a constar das Constituições modernas, obrigatoriamente passam a integrar o conceito moderno de Constituição. Concluímos que o conceito moderno abrange os conceitos material e formal de constituição. 7. CONCEPÇÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO: 7.1. : O conceito político de constituição foi elaborado por Carl Schmidt. Carl Schmitt entende que a Constituição como a decisão fundamental sobre o modo de ser essencial de um Estado abrangendo, por exemplo: sua estrutura, a representação dos poderes; o estabelecimento de competências dos seus diversos órgãos a forma de Estado; a forma de governo; o modelo de desenvolvimento econômico, entre outras matérias consideradas essenciais ao organismo estatal. ASSIM, todas as demais normas (que não tratem a respeito do perfil essencial do Estado) ou manifestações do Estado por ele editadas seriam fruto ou decorrência dessa manifestação política fundamental, ou seja, da CONSTITUIÇÃO PROPRIAMENTE DITA. CARL SCHMITT faz distinção entre CONSTITUIÇÃO e LEIS CONSTITUCIONAIS. CONSTITUIÇÃO: Corresponde à concreta decisão sobre o perfil essencial do Estado abrangendo as matérias descritas acima. LEIS CONSTITUCIONAIS: Seriam todos as demais normas que contidas no documento constitucional, que versem sobre matéria diversa, não contida no conteúdo da decisão política fundamental, podendo ser: Ordem econômica, Seguridade social, política fundiária, Ordem tributária, meio ambiente, entre outros assuntos não afetos a organização política do Estado EXEMPLIFICANDO: Para Carl Schmitt, uma norma que definisse o princípio da separação de poderes integraria a Constituição em sentido próprio, ou seja, a verdadeira Constituição. Já uma norma que disciplinasse certo aspecto da ordem econômica apesar de prescrita na Constituição seria meramente uma lei constitucional. 7.2. Concepção Sociológica Foi elaborada por Ferdinand Lassalle, que no ano de 1863, proferiu uma palestra para intelectuais e operários da antiga Prússia, que foi convertida no livro intitulado “A essência da Constituição”. Lassalle foi um defensor intransigente do sufrágio universal igual e direto para os operários, como forma de conquistar o Estado para implementar as reformas sociais. No prefacio da edição da obra “A essência da Constituição”, 8ª edição, Aurélio Wambier Bastos, menciona o seguinte: “De qualquer forma, e esta é a originalidade e a importância de seu texto, de todos os pensadores jurídicos do século XIX, Lassalle, neste pequeno trabalho, explicita com límpida clareza os fundamentos sociológicos das constituições; os fatores reais de poder. Para ele, constituem fatores reais de poder o conjunto de forças que atuam politicamente, com base na lei (na Constituição), para conservar as instituições jurídicas vigentes. Constituem estes fatores a monarquia, a aristocracia, a grande burguesia, os banqueiros e, com especificas e especiais conotações a pequena burguesia e a classe operária, e o que eles representam da ciência nacional.” Para Lassalle, a constituição é compreendida como o somatório dos fatores reais de poder de um Estado. Estes Fatores reais de poder são: fatores econômicos, políticos, culturais, militares, religiosos. Esses fatores devem ser atuantes no respectivo território. Para Lassalle, os fatores reais de poder seriam as forças existentes na comunidade que se encontra em condições de lutar pelo poder e de exercer alguma parcela dele. Nos embates havidos entre essas forças, principalmente no resultado é que se reconhece a Constituição real. O conjunto dos fatores reais de poder corresponde a verdadeira constituição e não o texto formalmente tido por constitucional. Para Lassalle, no Estado existe, a Constituição Real e uma Constituição Escrita. A Constituição escrita para ser detentora de eficácia social (respeitada pelos destinatários da norma), não seria apenas pelo fato de ser escrita e corresponder a norma suprema do Estado. Mas deve estar em conformidade (de acordo) com um ou alguns dos fatores reais de poder. Conclusões de Lassalle: 1) A Constituição escrita tem sua eficácia condicionada à constituição real, e não o contrário. 2) Havendo colisão entre a Constituição real e a Constituição escrita, a primeira deve prevalecer sobre a segunda, que passou a ser uma mera “folha de papel”. 3) O fato de determinado preceito constar no texto constitucional, não assegura por si só sua real eficácia. Esta somente produzirá efeitos jurídicos se estiver em sintonia com os fatores reais de poder. 4) Se houver conformidade entre a norma e os fatores reais de poder a Constituição escrita será efetivamente eficaz, caso contrário será “uma folha de papel”, um documento sem força política e social. 7.3 Concepção Jurídica – Constituição em sentido jurídico Esta concepção foi elaborada por Hans Kelsen que publicou o livro TEORIA PURA DO DIREITO, e definiu Constituição em dois significados: a) Como norma fundamental do Estado, que instaura o próprio Estado; b) Como norma fundamental que confere validade de todo ordenamento jurídico de determinado Estado. Devido ao fato que a partir da Constituição é que deflagra ou inicia o processo de produção das normas infraconstitucionais. Desses dois significados decorrem dois efeitos: 1. É pressuposto de validade de elaboração da legislação infraconstitucional ou ordinária; ou seja, as normas infraconstitucionais são elaboradas segundo as regras previstas na Constituição. 2. É requisito de validade da legislação infraconstitucional ou ordinária, ou seja, se não obedecer aos requisitos constitucionais de elaboração as normas infraconstitucionais não são válidas. Pode ser observado ainda que Kelsen definiu dois sentidos básicos de constituição: a) O Sentido Lógico-jurídico: Para Kelsen a Constituição é superior a toda as demais normas, mas não surge do nada, tem que se basear em algo tem que ter um fundamento que justifique a razão da obrigatoriedade de sua observância. Situa-se no nível do suposto, do hipotético. Este fundamento é a denominada norma fundamental hipotética, uma norma não expressa, mas meramente pensada, suposta (não instituída por qualquer autoridade), que imponha obediência aos mandamentos contidos na Constituição. Esta norma fundamental hipotética corresponde à Constituição em sentido lógico- jurídico. A norma hipotética fundamental é a categoria kelseniana criada para solucionar a questão do fundamento último de validade das normas jurídicas. Fabio Ulhoa Coelho, no livro “Para entender Kelsen”, explica a necessidade da norma fundamental hipotética da seguinte forma: “considerou-se o exemplo da negativa da licença da Prefeitura. Fundamentou-se a validade , em última análise, nos poderes constitucionais de que estavam investidos os elaboradores da Constituição Federal, Pois bem, o questionamento de validade poderia claramente ter prosseguimento, no sentido de se indagar pelo fundamento de validade da norma que atribuíra poderes constituintes aos parlamentares que votaram a Carta em questão. Prosseguir-se, no entanto, nesse questionamento significa não alcançar nenhum resultado sensato, pois a competência para editar normas jurídicas sempre decorre de outra norma, e esta, por sua vez, somente pode ter sido editada por uma autoridade competente. Estamos diante de uma regressão ao infinito, sem sentido racional. Para enclausurar o sistema jurídico, solucionando a questão em aberto. Kelsen lança mão de uma norma que deve sustentar o fundamento de validade da ordem jurídica como um todo, mas que necessariamente não tenha sido editada por nenhum ato de autoridade. Uma norma não posta, mas suposta.” b) O Sentido Jurídico-positivo: Partindo desta ideia a Constituição é um conjunto de normas que regula a criação de outras normas e é hierarquicamente superior a elas. Assim, Kelsen elaborou um fundamento puramente formal que servisse de base para a Constituição em sentido jurídico-positivo. No Direito percebe-se um verdadeiro escalonamento de normas, uma constituindo um fundamento de validade da outra numa verticalidade hierárquica. Uma norma de hierarquia inferior busca fundamento de validade na norma superior e esta, na seguinte, até chegar na Constituição, que é o fundamento de validade de todo sistema infraconstitucional. 7.3.1. Pirâmide normativa de Kelsen “A Pirâmide de Kelsen, consagra a verticalidade hierárquica das normas é a Constituição positivada como norma de validade de todo o sistema, e, assim, o princípio da supremacia da Constituição.” (Pedro Lenza). 7.3.2. Conclusões da concepção jurídica de Hans Kelsen 1) No significado LÓGICO-JURÍDICO, temos uma norma hipotética, suposta, não editada por qualquer autoridade, cuja função é servir de fundamento transcendental de validade da Constituição JURIDICO-POSITIVA que garante a supremacia da Constituição em relação as outras normas. 2) No significado JURÍDICO-POSITIVO, temos a Constituição enquanto norma posta, o documento constitucional, formalmente colocado em vigor, que consagra os preceitos fundamentais do Estado e prevalece hierarquicamente sobre todas as demais normas do ordenamento jurídico estatal, regulando seu processo de produção e, portanto, condicionando sua validade. Das três concepções (política, sociológica e jurídica) aqui apresentadas, a que mais importa para o Direito Constitucional, na atualidade, é concepção jurídica, que compreende a Constituição como norma fundamental do Estado, hierarquicamente superior a todas as demais normas. ANOTAÇOES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8.TIPOLOGIA CONSTITUCIONAL Ao longo da evolução do Direito Constitucional, a doutrina elaborou inúmeras classificações com base em inúmeros critérios distintivos, tais como. Quanto à Forma Quanto ao Conteúdo Quanto à Estabilidade Quanto à Origem Quanto à Extensão Entre outros. A compreensão dessa terminologia será essencial para a navegação no Curso de Direito Constitucional. A) Quanto à forma: CONSTITUIÇÕES ESCRITAS: São aquelas, cujas normas estão reunidas de forma sistemática em um único documento, solenemente promulgado em determinado momento como a Constituição de um certo Estado. CONSTITUIÇÕES NÃO-ESCRITAS44: São aquelas, cujas normas e princípios localizam-se em diversas fontes (não há reunião dos preceitos constitucionais em um único documento), todas de natureza constitucional e situadas em idêntico patamar hierárquico, sem precedência de qualquer uma sobre as demais.(tais como leis, costumes, jurisprudência, Convenções e Acordos). B) Quanto ao modo de elaboração45 CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA: Sempre escrita reunida em um só texto. É aquela elaborada em uma ocasião certa, por determinado órgão legislativo para tal tarefa competente (as Assembléias Constituintes), segundo um processo legislativo especial e solene, trazendo em seu texto a tradução dos valores e princípios dominantes no momento de sua produção, dos institutos jurídicos, políticos, filosóficos já sedimentados na doutrina, os quais, uma vez prescritos na Constituição, assumem o peso jurídico de dogmas, preceitos de observância obrigatória. Daí o termo, Constituição dogmática. Com a constituição dogmática ocorre a cristalização dos valores dominantes na sociedade em certo momento. CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA OU CONSUETUDINÁRIA: Necessariamente sempre não-escrita, é aquela que se forma a partir da lenta evolução histórica de uma sociedade, do lento processo de afirmação, alteração e solidificação de suas tradições, de seus valores fundamentais. Na época contemporânea a Constituição inglesa é citada como exemplo de Constituição histórica. C) Quanto à origem CONSTITUIÇÃO POPULAR: quando elaborada e posta a vigorar com a participação 44 O erro mais comum a ser evitado nesta classificação é considerar que a Constituição não-escrita é composta somente por normas não-escritas, o que é incorreto. 45 Há uma estreita relação entre as duas classificações, porque se conectam diretamente; num sentido, as constituições dogmáticas e as constituições escritas, como pondera José Afonso da Silva: “O conceito de constituição dogmática é conexo com o de constituição escrita, como o de constituição histórica com o de constituição não-escrita”. do povo, titular do poder constituinte seja elegendo os seus representantes no processo de formação da Constituição, seja aprovando o texto final, antes (plebiscito) ou depois (referendo) de sua votação pelo órgão legislativo, podendo ter a participação do povo em apenas um desses momentos: elegendo seus representantes na Assembléia Nacional Constituinte (o que é o mais comum) ou aprovando o texto final, antes ou após sua apreciação pelo órgão constitucional. CONSTITUIÇÃO OUTORGADA: É aquela que foi imposta ao povo pelo detentor do poder político, que é colocada em vigência por este sem a participação popular. É, enfim, uma Constituição elaborada e imposta ao povo por quem não recebeu poder e, portanto, não possui legitimidade para tanto, em regra um ditador ou um imperador. CONSTITUIÇÃO CESARISTA: um meio-termo à Constituição popular e à Constituição outorgada. Nela, o projeto de texto constitucional é elaborado pelo governante, em regra um ditador ou imperador, ou seja, o próprio detentor do poder político, e aí, então levado à aprovação do povo, mediante referendo. É efetivamente uma figura intermediária, pois nela há participação popular, já que o projeto é aprovado pelo povo, em referendo, mas tal documento não foi elaborado pelos seus representantes, e sim pelo atual detentor do poder. A aprovação popular é uma mera formalidade, pois pelo momento político, com o cerceamento das liberdades o povo não tem outra escolha senão aprovar o que foi feito por um ditador. CONSTITUIÇÃO PACTUADA: sendo assim denominadas as Constituições que nascem de um compromisso entre o rei ou monarca e o Poder Legislativo, com que o texto constitucional nasce baseado simultaneamente em dois princípios, o monárquico e o Poder Legislativo. Por exemplo, a Carta Magna de 1215, O Bill of Rights. Existe apenas como referência histórica. D) Quanto ao conteúdo MATERIAL: A Constituição é definida a partir do conteúdo, da substância de suas normas, correspondendo ao conjunto de normas que versem sobre os temas fundamentais do Estado, as matérias essenciais à organização política46. FORMAL: É a Constituição como um conjunto de normas inseridas no texto constitucional, só pelo fato de terem sido aí inseridas, mediante um procedimento especial de elaboração, independente de tratarem ou não de temas considerados indispensáveis à organização política47. E) Quanto à estabilidade CONSTITUIÇÃO IMUTÁVEL48: Quando simplesmente não admite alteração em qualquer de seus dispositivos. É lembrada meramente para fins didáticos, pois na realidade elas não existem CONSTITUIÇÃO RÍGIDA49: É aquela que estabelece um procedimento diferenciado 46 Assim, são constitucionais as normas referentes à organização do poder, ao exercício da autoridade, à distribuição de competências entre os entes estatais, à forma e ao regime de governo e aos direitos fundamentais do homem, entre outros considerados indispensáveis ao existir da comunidade. 47 A Constituição sob a perspectiva formal é apenas a que for escrita, ou seja, codificadas em um único documento. 48 O interesse nessa modalidade de Constituição é meramente teórico, uma vez que o requisito indispensável para a permanência da eficácia de uma Constituição é precisamente sua capacidade de constante adaptação às transformações ocorridas na sociedade, o que se torna impossível nesse modelo de Constituição. 49 Só pode se analisar a rigidez ou não de uma Carta Constitucional se a mesma for escrita (codificada num único documento), pois o procedimento especial, acaso existente, tem que abranger todas as normas constitucionais, o que não é possível se elas estiverem disseminadas por várias fontes (leis, decretos, costume, etc.). para a alteração dos seus dispositivos, de maior solenidade e complexidade que aquele fixado para a alteração da legislação ordinária. CONSTITUIÇÃO FLEXÍVEL: é aquela que pode ser modificada pelo mesmo processo legislativo instituído para a reforma da legislação infraconstitucional. CONSTITUIÇÃO SEMI-RÍGIDA (ou semi-flexível): É aquela que possui parte de seus preceitos alteráveis via processo legislativo ordinário, estando a alteração dos demais sujeitas a um regramento processual específico, que apresenta mais dificuldade e formalidades para ser exercitado. É, portanto, parcialmente flexível e parcialmente rígida. F) Quanto à finalidade CONSTITUIÇÃO GARANTIA50: Volta-se para o passado, pois objetiva assegurar os direitos, as garantias e as liberdades fundamentais já conquistados por uma sociedade, para o que estabelece mecanismos de contenção de poder estatal. CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE51: Estabelece metas, diretrizes, programas e planos de ação para os Poderes Públicos, bem como os valores que o ente estatal deve preservar na sua atuação. G) Quanto à extensão CONSTITUIÇÃO SÍNTETICA: É o exemplo a Constituição norte-americana, é aquela que só trata de temas materialmente constitucionais, pertinentes à organização fundamental do Estado. Nos Estados que adotam Constituições de modelo sintético, é muito mais amplo o leque de atuação do legislador ordinário, uma vez que o texto constitucional limita-se ao regramento básico do Estado. CONSTITUIÇÃO ANALÍTICA: Cuida de temas materialmente constitucionais e de temas formalmente constitucionais, sendo caracterizada também, pela presença de normas programáticas que fixam planos de ação e metas para o Estado. São desse modo, Constituições que descem a detalhes em termos de regramento jurídico contemplando grande número de normas. Nos Estados que adotam Constituições do tipo analítico a amplitude dos temas tratados no documento constitucional limita a atuação do legislador ordinário, o qual ao exercer sua função de editar a legislação complementar à Constituição, forçosamente terá que acatar os mandamentos constantes de seu texto, sob pena de nulidade do diploma legislativo elaborado. H) Quanto à ideologia CONSTITUIÇÕES ORTODOXAS: são as elaboradas com base em elementos fornecidos por uma única corrente ideológica, mantendo-se em todo o seu texto fiel a esta orientação. 50 É essencialmente uma Constituição de defesa ou, no dizer de José Afonso da Silva, uma Constituição negativa, instituidora de liberdade negativa, que busca reduzir o poder estatal a fim de preservar a esfera jurídica individual. 51 São também denominadas programáticas, porque contêm grande número de normas dessa natureza, isto é, normas que fixam programas de ação para o Estado. Traz um projeto de Estado, apresenta compromissos sociais e fornece meios para sua execução. (Ex. A Constituição portuguesa de 1976). CONSTITUIÇÕES HETERODOXAS: são formadas partindo de elementos fornecidos por diversas correntes ideológicas, buscando ao longo de seu texto normatizar suas diferenças num todo unitário, sistemático, de modo a obter-se um sentido harmônico da Constituição. I) Constituições Nominalistas e Semânticas – Alexandre de Morais CONSTITUIÇÃO NOMINALISTA: É aquela cujas normas são redigidas com elevado nível de clareza e precisão, de modo que o jurista, para aplicá-las aos casos em concreto, precisa apenas utilizar-se do método de interpretação literal (que se limita à análise da própria redação da norma), sem valer-se dos outros métodos hermenêuticos, a exemplo do sistemático, do lógico, do histórico ou do teleológico. CONSTITUIÇÃO SEMÂNTICA: É aquela cujas normas, em função de sua redação mais imprecisa, que se presta a mais de uma interpretação, não podem ter seu significado corretamente apreendido somente com o uso do método literal, sendo ao intérprete, então, indispensável recorrer aos demais métodos de interpretação jurídica, alguns deles citados anteriormente. J) Quanto ao conteúdo ideológico – André Ramos Tavares CONSTITUIÇÕES LIBERAIS OU NEGATIVAS: Resulta do sucesso do movimento liberal-burguês, que culminou no triunfo do Estado Liberal sobre o Estado Absolutista. Tais Constituições se propunham, basicamente, conter o poder até então do Estado Absolutista, encarnado na figura do monarca, assegurando uma esfera jurídica de liberdade individual, protegida contra a ingerência estatal. Tais direitos exigem essencialmente uma não-ação do Estado de respeitar as esferas jurídicas por eles protegidas. Daí, o outro nome que designa tais Constituições – negativa -, que salienta seu intento: construir um espaço de liberdade individual liberto da intervenção estatal. CONSTITUIÇÕES SOCIAIS OU DIRIGENTES: Exige uma atuação positiva do Estado. Tal modelo de Constituição parte do paradigma anterior que não assegurava plenas condições do desenvolvimento para os membros economicamente mais fracos do corpo social, o que impedia a fruição plena das liberdades asseguradas pela Constituição Liberal. Cabia ao Estado pôr em prática uma série de políticas que visassem justamente a conferir um mínimo de igualdade entre os membros da sociedade. Surgem os chamados direitos sociais ou de 2ª geração. Porque essas Constituições prescrevem políticas a serem implementadas pelo Estado, são denominadas também dirigentes. Dirigem, orientam norteiam e conduzem as ações a serem promovidas pelo Estado para a busca da igualdade real. ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):________________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P2, na nota da avaliação P2. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO UNIDADE 04 1) Explique como ocorreu o surgimento da disciplina Direito Constitucional? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 2) Como que a disciplina Direito Constitucional se desvinculou da ideologia liberal? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 3) O que é uma Constituição rígida? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 4) Explique o que são as regras ou normas materialmente constitucionais. Aonde podem ser encontradas? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 5) Explique porque não existe hierarquia entre uma norma constitucional em sentido material e uma norma em sentido formal. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 6) Qual o objeto do Direito Constitucional? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 7) No Direito Constitucional moderno quais as matérias que compõe o texto de uma Constituição? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 8) Explique a Constituição segundo a concepção política? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 9) Explique a Constituição segundo a concepção sociológica? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10) Como pode ser classificada a Constituição, quanto ao modo de elaboração? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11) Como, segundo Hans Kelsen, uma legislação infraconstitucional produzida no âmbito de um Estado possa ser considerada válida? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 12) Qual o significado do sentido lógico-jurídico, segundo Hans Kelsen? Com que objetivo Kelsen elaborou em sua teoria pura do direito a existência da norma fundamental hipotética? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 13) Explique o que significa a supremacia da Constituição? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ UNIDADE - 05 NORMAS CONSTITUCIONAIS 1. NORMAS CONSTITUCIONAIS 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS: Toda e qualquer norma jurídica possui imperatividade, ou seja, potencial jurídico para impor-se aos seus destinatários, produzindo efeitos jurídicos nas relações jurídicas da qual participam. A imperatividade não se manifesta com a mesma intensidade em todas as normas jurídicas: ou seja, as normas jurídicas, conforme sua categoria possui graus diversos de imperatividade. 2. NORMAS JURÍDICAS GERAIS As normas jurídicas em geral se dividem em duas categorias básicas: a) Norma cogente e b) norma dispositiva. NORMAS COGENTES: Possuem imperatividade em grau absoluto no sentido de que impõe aos seus destinatários independentemente de sua anuência. De nada adiante a vontade do sujeito, basta a situação em concreto da qual ele participe amolde-se à hipótese em abstrato previsto na norma jurídica, e esta incide automaticamente, disciplinando a relação jurídica. Possuem as seguintes subespécies: a) NORMAS COGENTES PRECEPTIVAS. Obrigam a certa conduta ou a certo comportamento. (Ex. Art. 1245, do Código Civil). “Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.” b) NORMAS COGENTES PROIBITIVAS: São as normas que proíbem determinado comportamento. (Ex. Art. 426, do Código Civil). “Não pode ser objeto de contrato herança de pessoa viva.” NORMAS DISPOSITIVAS: São aquelas que estabelecem uma regra, mas permitem que seus destinatários disponham de forma diversa da nela estabelecida. Percebe-se que a norma dispositiva goza de imperatividade em grau menor que a norma cogente. (Ex. Art. 427, do Código Civil). “A proposta de contrato vincula o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.” CONCLUÍNDO: A norma cogente incide sempre, independente da vontade das partes, ao passo que a norma dispositiva pode ter sua incidência afastada pela vontade individual. 2.1. Validade, vigência e eficácia das normas. Diz-se que uma norma é válida quando é editada em conformidade com o sistema jurídico a que pertence, isto é, a norma concordante, não contraditória com as demais normas do sistema, e isto no que diz respeito à observância dos requisitos de natureza subjetiva e objetiva (Regina Maria Macedo Nery Ferrari, p. 87). Segundo Regina Maria, lembrando Kelsen, este diz que uma norma vale quer significar que ela é vinculativa, isto é, que os indivíduos devem conduzir-se de uma determinada maneira, conforme a conduta prescrita na norma, de modo que a vigência normativa significa a existência específica da norma. Por eficácia deve-se entender a qualidade de a norma vigente produzir efeitos jurídicos, em relação à sua aplicação e observância pelas pessoas a quem se dirige. Portanto, importa saber se os destinatários da norma amoldam seu comportamento à prescrição normativa. 3. Normas Constitucionais Normas constitucionais são todas as regras que integram uma constituição rígida, tomando como conceito em sentido formal de constituição, sendo normas inseridas em um documento através de um processo diferenciado e solene. As normas constitucionais, em virtude de sua juridicidade, apresentam como traço característico, assim como todas as demais normas jurídicas, a sua imperatividade, ou seja, a obrigatoriedade da obediência de seus comandos por parte das pessoas à quais se dirigem, sem estas pessoas individuais, coletivas ou os próprios órgãos do Poder Público. A doutrina italiana analisando o tema, num estágio inicial dividiu as normas constitucionais em duas categorias. a) Normas constitucionais preceptivas: São as normas constitucionais que reconhecem efeitos jurídicos impositivos ou imperativos; b) Normas constitucionais programáticas: São normas constitucionais que instituem programas de ação para o Estado, na sua origem estas ações eram meramente indicativas. 4. Normas Programáticas – Evolução de seu conceito Inicialmente, na sua origem histórica, a doutrina italiana via as normas programáticas como simples orientações de conduta, sem mais efeito vinculante para os poderes públicos. Para Gaetano Azzaritti, apesar das normas programáticas constarem na Constituição, não seriam efetivamente normas jurídicas, pois destituídas de eficácia jurídica. Teriam valor de meros aconselhamentos, sem obrigar seus destinatários a agir nos termos por elas indicados. Mas esta concepção evoluiu com Vezio Crisafuli que passou a reconhecer que todas as normas constitucionais, qualquer que seja sua natureza e seu conteúdo, são detentoras de imperatividade, produzindo efeitos jurídicos aos seus destinatários e regulando as relações jurídicas que constituem seu objeto. Regina Maria Macedo Nery Ferrari, (p.173) menciona o seguinte: “Por sua vez, Vezio CRISAFULLI sustentou que as normas constitucionais que determinam apenas um esquema de atuação são tão preceptivas como qualquer outra, e isso porque, ao regularem comportamentos públicos destinados a incidir sobre determinadas matérias, são nessa medida vinculantes, de tal modo que as normas ordinárias contrárias a elas são inválidas, quando anteriores e inconstitucionais se posteriores e ao ditar comportamentos em razão de interesses, ao dispôs de limites, o faz do alto de sua imperatitivade suprema de Lei Fundamental e dentro de sua capacidade eficacial.” Assim, as normas programáticas evoluíram para uma construção teórica em que essa espécie normativa não consiste apenas em um aconselhamento, sendo também um comando, uma determinação a ser obedecida pelo ente estatal. Justamente pelo fato de constarem no estatuto jurídico supremo do Estado, São normas jurídicas propriamente ditas, de cumprimento obrigatório pelos seus destinatários. 3.1. Conceito de normas programáticas Para José Afonso da Silva normas programáticas são: “Aquelas normas constitucionais através dos quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traçar-lhe os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativo, Executivo e jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando a realização dos fins sociais do Estado”. Já Luis Roberto Barroso identifica as normas programáticas como aquelas “disposições indicadores de valores a serem alcançados. Seu objeto é o de estabelecer determinados princípios e fixar programas de ação”. Celso BASTOS e Carlos Ayres BRITO, analisando a capacidade de aplicação e interpretação das normas constitucionais, consideram que “normas programáticas são aqueles preceptivos constitucionais que se limitam a ensaiar um programa de ação estatal, ou a traçar uma direção teleológica à atividade legislativa, sem maiores preocupações com a indicação dos respectivos meios.” 3.2. Destinatários Outra característica da norma constitucional programática que deve ser analisada, é a que diz respeito a quem são elas endereçadas, o que não autoriza desconsiderar que, ao deixar liberdade de agir aos órgãos do Poder Público, pode propiciar, pela eleição da oportunidade de agir de acordo com a conveniência ou oportunidade, a caracterização de uma omissão inconstitucional, em virtude de uma dilação de tempo que ultrapasse o campo do razoável. Portanto, não é aceitável argumentar para o seu não cumprimento a falta de desenvolvimento socioeconômico. A obrigatoriedade da sua observância é imperativa, ainda quando o seu destinatário, originário e direto, seja o Poder Público e, com certeza, pelos menos os órgãos legislativos. Com relação a eficácia das normas programáticas, caso o destinatário não cumpra com a tarefa atribuída pelo constituinte originário poderá ser acionado através de uma ação de inconstitucionalidade por omissão e até mesmo por um mandado de injunção. 4. Princípios Constitucionais A constitucionalista Carmem Lúcia Antunes Rocha, no Livro Princípios Constitucionais na Administração Pública, p. 25, 26, discorreu sobre a natureza dos princípios constitucionais: “Os princípios constitucionais são os conteúdos primários diretores do sistema jurídico-normativo fundamental de um Estado. Dotados de originalidade e superioridade material sobre todos os conteúdos que forma o ordenamento constitucional, os valores firmados pela sociedade são transformados pelo Direito em princípios. Adotados pelo constituinte, sedimentam-se nas normas, tornando-se, então pilares do Estado. São eles, assim, as colunas mestras da grande construção do Direito, cujos fundamentos se afirmam no sistema constitucional (....)” Os princípios constitucionais, possui maior subjetividade e generalidade, ou dito de outra forma, o princípio tem menor concreção e densidade semântica (poucas palavras), por isso, permite maiores possibilidades de interpretação e aplicação pelo interprete da Constituição, decorrendo assim, um tempo de vida superior ao das normas. FINALIDADE DOS PRINCÍPIOS: Os princípios têm como finalidade verificar a constitucionalidade da legislação ordinária em vigor e a orientação da legislação ordinária futura, que deverá consagrar os valores neles corporificados. Os princípios constitucionais são de três espécies: a) Fundamentais, Gerais e Setoriais. 4.1. Princípios constitucionais fundamentais: Considera estes princípios como a síntese das normas constitucionais, com o objetivo de organizar o Estado. Formam o trinômio de atributos essenciais do Estado brasileiro. São eles: a) O princípio democrático; b) O princípio republicano; c) O princípio federativo. Os princípios fundamentais expressam as principais decisões essenciais no âmbito do Estado, aquelas que vão determinar sua estrutura essencial. Veiculam, assim, a forma, o regime e o sistema de governo, bem como a forma de Estado. De tais opções a configuração básica da organização do poder político. 4.2. Princípios Constitucionais Gerais: São os desdobramentos dos princípios fundamentais, que são irradiados pelo ordenamento constitucional. Com o objetivo de limitar o poder imanente ao Estado. Os princípios constitucionais gerais, embora não integrem o núcleo das decisões políticas que conformam o Estado, são importantes especificações dos princípios fundamentais. Tem eles menor grau de abstração, sendo mais facilmente determinável o núcleo em que operam como regras. Por tal razão prestam-se de modo corrente à tutela direta e imediata das situações jurídicas que contemplam. Por serem desdobramentos dos princípios fundamentais, irradiam-se por toda a ordem jurídica. Eis alguns exemplos: a) princípio da legalidade, em conformidade com o art. 5º, inciso II e 37, caput, da CF/88. Consiste na subordinação ou sujeição das pessoas, órgãos e entidades aos preceitos emanados do Poder Legislativo. b) Princípio da igualdade, em concordância com os arts. 3°, inciso III, 5º, caput e inc. I e XIII, art. 7º, XXX a XXXII, 14, caput, art. 37, incisos I e II, 226, § 5º, e 227, § 6º, da CF/88, corresponde à inadmissibilidade de diferenciações arbitrárias, exteriorizadas sob a forma de discriminações ou privilégio. c) Princípio da inafastabilidade do controle judicial, com fundamento nos arts. 5º inc. XXXV, e 217, § 1º, da CF/88, por este princípio nada pode ficar fora do alcance da apreciação judicial. d) Principio do devido processo legal, com fundamento no art. 5º, inc. LIV, da CF/88, significa que o Poder Público possui regras e procedimentos para alcançar a sua finalidade, de conteúdo formal, pois assegura a regularidade procedimental, tais como defesa, igualdade entre as partes, de maneira que cada questão submetida à apreciação jurisdicional deve ser resolvido através de um encadeamento lógico de atos tendentes ao provimento final. 4.3. Princípios Constitucionais Setoriais: informam um complexo de normas constitucionais afetas a um determinado ramo do Direito Positivo. 4.3.1. Princípios Constitucionais Especiais de Direito Administrativo. O Direito Administrativo, à luz do art. 37, caput, da CF//88, é informado pro cinco princípios constitucionais setoriais: a) legalidade (art. 5°, inc. II e 84, IV e VI; b) impessoalidade (art. 22, XXVII, art. 37, incs. II e XXI, e 173, § 1º, inc. III), c) moralidade (art. 15, inc. V e 37, § 4º); d) publicidade ( art. 5º, incs. XXXIII, XXXIV e LXXII; e) Eficiência (art. 37, § 3º e §8º). 4.3.2. Princípios Constitucionais Especiais de Direito Penal: O Direito Penal é informado por cinco princípios constitucionais setoriais: a) reserva legal (art. 5º XXXIX); b) irretroatividade da regra penal (art. 5º, inc. XL); c) responsabilidade pessoal ( art. 5º, inc. XLV); d) individualização da pena ( art. 5º, inc. XLVI); e) presunção de inocência (art. 5º, inc. LVII). 4.3.3 Princípios Constitucionais Especiais de Direito Processual. O Direito Processual é informado por cinco princípios, quais sejam: a) Contraditório (art. 5, inciso LV); b) proibição de prova ilícita (art. 5º, inc. LVI); c) publicidade dos atos processuais (art. 5º, inciso LX); d) motivação das decisões judiciais (art. 93, inc. IX); e) duplo grau de jurisdição (art. 105, inc. III). 5. Normas constitucionais em sentido estrito, ou regras constitucionais, em relação aos princípios. As normas constitucionais ou regras constitucionais objetivam tipos diversos de efeitos jurídicos. São caracterizados por uma maior concreção e densidade semântica, por um grau mais elevado de precisão e detalhamento, e por isso, oferecem menores possibilidades interpretativas, visa disciplinar uma situação em concreto. De maneira diferente dos princípios, a regra constitucional possui maior riqueza de detalhes, facilitando o trabalho do interprete. 6. Conclusões: 1) Os princípios constitucionais, de menor densidade semântica e maior grau de abstração, características que possibilitam ao jurista, amplas possibilidades de interpretação, assegurando-lhe uma maior longevidade. São úteis para orientação da legislação futura e verificação da compatibilidade da legislação anterior à Constituição. 2) As regras constitucionais, diferenciadas pela maior densidade semântica e menor nível de abstração, características que limitam suas possibilidades de interpretação e acarreta menor longevidade. Prestam-se principalmente para regulação da situação específica nela normatizada. Finalmente, cabe apenas ressaltar que todos os dispositivos constitucionais gozam de superioridade hierárquica sobre a legislação ordinária. No Brasil, acompanhando a tendência contemporânea, adotamos um conceito formal de supremacia da Constituição, de modo que todo e qualquer dispositivo, só pelo fato de estar prescrito em uma Constituição, goza de supremacia, de superioridade hierárquica sobre as demais normas integrantes de nosso ordenamento jurídico. 7. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS O direito constitucional, como os demais ramos do Direito, é produzido para ser aplicado com vistas à produção de efeitos concretos. A capacidade de incidir imediatamente sobre fatos regulados não é característica de todas as normas constitucionais. Algumas normas para que cumpram suas finalidades é preciso uma legislação intercalar, isto é, uma lei que se interpõe entre a norma constitucional e o fato que se pretende regular. De outro modo, algumas normas funcionam para atingir seus objetivos, independem de lei intercalar, denominadas por alguns como “norma de aplicação”. São normas de aplicação imediata, para as quais não há necessidade de legislação intermediária, ao contrário daquelas outras ditas de integração, em que uma lei aparece para integrar o comando de uma norma constitucional, cujo resultado será conferir-lhe plena aplicação. 7.1 Classificação das normas constitucionais e sua aplicabilidade 7.2. Classificação Americana a) Normas Constitucionais auto-aplicáveis ou auto-executáveis: São aquelas normas constitucionais que possuem todos os elementos necessários à integral produção de seus efeitos jurídicos, não requerendo para tanto complementação pela legislação ordinária. São normas que descem a um nível de precisão, de detalhamento que permite sua imediata aplicação, independente da edição de quaisquer outras normas infraconstitucionais. b) Normas constitucionais não auto-aplicáveis ou não auto-executáveis: São aquelas normas que requerem necessariamente complementação pela legislação ordinária como requisito para a integral deflagração de sua eficácia jurídica. São normas que não contam com todos os elementos estruturais de uma norma jurídica, o que impede a plena produção de seus efeitos até que venham a ser completado pela legislação ordinária. 7.3. Classificação de José Afonso da Silva a) Normas constitucionais de eficácia plena: São as normas constitucionais que desde a entrada em vigor na Constituição estão aptas a produzir na integralidade os efeitos jurídicos a que se predispõem. São normas, que trazem em si mesmas todos os elementos necessários à plena deflagração de seus efeitos, sem necessidade de normatização infraconstitucional posterior que as complemente, por isso, possuem aplicabilidade direta, imediata e integral. Exemplo: art. 44, art. 5º, da Constituição. b) Normas constitucionais de eficácia contida: São aquelas que possuem todos os elementos necessários a imediata produção de seus efeitos, mas, admitem que os mesmos sejam restringidos pela legislação infraconstitucional, por certos conceitos jurídicos nela mesma previstos ou mesmo por outras normas constitucionais, ex. art. 5º, XIII, da CF/88. c) Normas constitucionais de eficácia limitada: São aquelas que não foram elaboradas com todos os elementos indispensáveis à plena produção de seus efeitos, necessitando, para tanto, da edição de uma legislação infraconstitucional posterior que as complete. Enquanto não editada essa legislação, não estão aptas para a produção integral de seus efeitos jurídicos. Em função disso, sua aplicabilidade é indireta, mediata e reduzida. Exemplos: art. 18, §4º, art. 7º XIX, XX; art. 163; art. 194, parágrafo único, § 12º; art. 197; art. 201; art. 203, V, etc., da Constituição Federal. 7.4.Classificação de Luiz Roberto Barroso a) Normas constitucionais definidoras de direito: Tem por objeto a previsão dos direitos e garantias fundamentais. b) Normas constitucionais de organização: Tem por objeto o estabelecimento de regras relativas à organização do Estado e ao exercício do poder, tratando de temas como forma de Estado, forma e regime de governo, separação dos poderes, meios de aquisição e perda do poder, entre outros. c) Normas constitucionais programáticas: São aquelas que estabelecem finalidades para a ação estatal. 7.5. Classificação de Maria Helena Diniz a) Normas supereficazes ou com eficácia absoluta: Nas palavras de Gabriel Dezem Júnior, são aquelas “dotadas de efeito paralisante de toda a legislação infraconstitucional com elas incompatíveis, as quais vêm sendo identificadas nas cláusulas pétreas”. b) Normas com eficácia plena: São as normas constitucionais que não requerem complementação pela legislação ordinária, já possuindo todos os elementos indispensáveis para a produção imediata da totalidade de seus efeitos jurídicos. c) Normas com eficácia restringível: São as normas da Constituição que desde a sua entrada em vigor, já possuem todos os elementos necessários para a integral produção de seus efeitos jurídicos, admitindo, entretanto, que tais efeitos sejam restringidos pela legislação infraconstitucional. d) Normas de eficácia relativa complementável (subdivididas em normas de princípio institutivo e de princípio programático): Não possuem, por si só, condições para a integral produção de seus efeitos jurídicos, tornando indispensável a complementação pela legislação infraconstitucional. 7.6. Normas constitucionais de eficácia exaurida (Uadi Lammego Bulos) São aquelas normas que já produziram todos os efeitos jurídicos para os quais foram editadas, sendo encontradas no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Por exemplo, a norma contida no art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que prevê o processo de revisão constitucional, a ser instaurado uma só vez, após 5 anos da promulgação da Constituição ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):________________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P2, na nota da avaliação P2. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. QUESTIONÁRIO DA UNIDADE 05 – NORMAS CONSTITUCIONAIS 1. O que significa a expressão “Toda norma jurídica possui imperatividade”. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 2. Toda norma jurídica se manifesta com a mesma intensidade quando se refere a sua imperatividade? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 3. Qual a diferença entre norma cogente e norma dispositiva? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 4. Defina o que seja uma norma constitucional preceptiva e norma constitucional programática. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 5. O que seria um princípio constitucional e qual a sua importância? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 6. Quais as diferenças entre uma norma constitucional e um princípio constitucional? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 7. Estabeleça a diferença entre norma constitucional auto-aplicáveis e não auto-aplicáveis. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 8. Explique a norma constitucional programática na concepção de Gaetano Azzaritti e Vezio Crisafuli. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 9. Explique a classificação das normas constitucionais segundo José Afonso da Silva. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 10. Quais são as diferenças entre normas de eficácia plena e normas de eficácia limitada? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 11. A norma constitucional que depende de legislação integrativa, também entra em vigor na data da promulgação da Constituição? Explique. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 12. O que é uma norma constitucional de eficácia exaurida? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 1. A Hermenêutica e Interpretação jurídica52 A hermenêutica53 e a interpretação jurídica são fenômenos que não se confundem, apesar de compartilharem da mesma preocupação. Ambos se unem e se esforçam em torno do mesmo objetivo, que é proporcionar a todos a melhor compreensão do Direito. Carlos Maximiliano esclarece que a hermenêutica é a “teoria da arte de interpretar”, de modo que a interpretação é aplicação da hermenêutica, e a hermenêutica é a ciência que descortina e estabelece os princípios que regem a interpretação. Nas palavras do mestre: “ Hermenêutica Jurídica tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”. A hermenêutica, portanto, é o domínio da ciência jurídica que se ocupa em formular e sistematizar os princípios que subsidiarão a interpretação, enquanto a interpretação é atividade prática que se dispõe a determinar o sentido e o alcance dos enunciados normativos. A hermenêutica fornece as ferramentas teóricas que serão manejadas pelo interprete na busca da compreensão das disposições normativas. A hermenêutica ilumina o caminho a ser percorrido pelo interprete e isso demonstra a sua importância para o Direito, pois cumpre a ela teorizar os princípios de interpretação jurídica. Assim, podemos dizer que, apesar de inconfundíveis, há uma relação mútua de dependência entre hermenêutica e a interpretação jurídica, na medida em que sem a hermenêutica não se interpreta, e sem a interpretação a hermenêutica se torna inútil e desnecessária. No processo de compreensão do Direito, hermenêutica e interpretação são dois lados da mesma moeda. Mas a tarefa de explorar os textos normativos é atribuída à interpretação jurídica, não à hermenêutica. E por interpretação jurídica deve-se entender a atividade prática de revelar/atribuir o sentido e o alcance das disposições normativas, com a finalidade de aplicá-las a situações concretas, pois interpretar é determinar o conteúdo e significado dos textos visando solucionar o caso concreto. Não se interpreta em vão, ou por diletantismo, mas para resolver os problemas jurídicos concretos. A interpretação, portanto, envolve duas atividades – uma voltada a desvendar/construir o sentido do enunciado normativo e outra destinada a concretizar o enunciado - e, nesse sentido, apresenta-se também como uma técnica de redução da natural distância que existe entre a generalidade dos textos normativos e a singularidade do caso concreto. Assim, interpretar é também concretizar; e concretizar é aplicar o enunciado normativo, abstrato e geral, à situações particulares e concretas. 52 Curso de Direito Constitucional, Dirley da Cunha Júnior, pág. 194, , Editora Podium. 53 A ciência que estuda a interpretação é a hermenêutica: este domínio teórico e especulativo tem por objeto sistematizar critérios, métodos, regras, princípios científicos que possibilitem a descoberta do conteúdo, sentido, alcance e significado das normas jurídicas. Foi a hermenêutica, por exemplo, que formulou os diversos processos interpretativos usados para resolver dogmaticamente, os problemas do Direito (gramatical, sistemático, histórico, teleológico, lógico, autêntico, popular, etc). 2. Razões de imprescindibilidade da atividade interpretativa Segundo Celso Ribeiro Bastos54, entende a interpretação como a determinação do conteúdo exato das palavras, a imputação do significado à norma, sua explicitação em concreto, em face de determinado caso. É a reconstrução do conteúdo da norma. Para Javier Perez Royo, “A interpretação é a sombra que segue o corpo. Da mesma maneira que nenhum corpo pode livrar-se da sua sombra, o Direito tampouco pode livrar-se da interpretação,” E algum já disse: “Sem interpretação não há direito ou não há direito que não exija ser interpretado.” Isso porque como se sabe, as palavras, mesmo em Direito, revestem-se, invariavelmente, de certa imprecisão que surge em alguns casos como uma abstratividade exacerbada, ou como de conteúdo plúrimo. Com isto, sua exatidão é abandonada, restando vago seu teor. O conteúdo de cada expressão, embora definível, resta indefinido porque vários são os significados que um mesmo termo pode revelar. E a razão disso está principalmente no fato de que os preceitos normativos são sempre abstrações da realidade. Para que a lei cumpra seu propósito de disciplinar um número infindável de situações, faz-se necessário recorrer a um alto nível de generalidade e abstração, o que acarreta, inevitavelmente, a imprecisão terminológica. Dito de outra maneira, a linguagem, suporte físico da lei, é viciada por termos vagos e equívocos, e em muitos casos pela própria má utilização da própria linguagem. Mas não é apenas isso, como poderia parecer à primeira vista, o campo no qual a interpretação desenvolve-se. A interpretação é sempre um pressuposto necessário para a aplicação da regra jurídica. Constitui um ideal iluminista de aplicação mecanicista do Direito a aceitação de que os significados das palavras são (ou poderiam ser) tão evidentes que o intérprete cumpriria sua missão se lesse atentamente as disposições que interpreta. A interpretação é sempre devedora de suas concepções à idéia de Direito a qual comungue o intérprete. A visão positivista, v. g., tem suas regras interpretativas próprias. Assim, interpretar é imprimir um significado válido à norma interpretada. Produto da interpretação será uma decisão sobre a regulamentação jurídica de determinado caso concreto.Trata-se de alcançar o significado objetivamente válido de um preceito ou disposição jurídica. Já que os objetos culturais, em geral, são portadores de um sentido, não sendo a lei exceção, a essa regra, tem-se na interpretação a atividade que vai buscar a exata compreensão dessa lei. A interpretação deriva das dúvidas que a norma que se interpreta gera. Em outras palavras, a interpretação tem origem nas dúvidas suscitadas em face da letra da lei, entendida esta como o texto jurídico integrante de determinado ordenamento jurídico. A hesitação diante da letra da lei ocorre no momento de aplicação do Direito. Por isso é que se pode validamente dizer que, por meio da interpretação, busca-se fixar o conteúdo próprio da norma que será aplicada. Trata-se de um verdadeiro esclarecimento da norma jurídica com vistas à sua execução. 54 Hermenêutica e Interpretação Constitucional, 2ª Edição revista e ampliada, Celso Bastos Editor. Parece serem dois os níveis a ser discriminado. Num primeiro, situado no campo teórico, encontramos os textos secos da lei, que abarca num número indefinível de situações fáticas. Aqui poucas serão as dúvidas existentes. O texto assim posto vige, revogando as normas anteriores que lhe forem contrárias, e desde que se apresente de acordo com a norma jurídica que lhe dá suporte e validade, tudo em consonância com as regras e princípios constitucionais. Num segundo momento, há de se enfrentar o caso concreto, a fim de pô-lo em confronto com as normas jurídicas, Surgem assim as dúvidas interpretativas daquela regra abstrata em face do caso real, ou seja, se e como ela deverá ser aplicada. Além dessas incertezas, temos as já decorrentes da própria linguagem legal, bem como da má utilização desta. Não obstante isso, não se nega que também a própria interpretação em si gere suas hesitações, o que se deve ao fato de não se estar diante de um raciocínio lógico, matemático, mas sim diante de uma tomada de decisão, com vários sentidos passíveis de serem auferidos. E é justamente aqui que entram postulados, instrumentais e diretrizes interpretativas (estudados amplamente pela hermenêutica). Servem elas para delinear este conjunto de instrumentos que devem presidir a busca de um significado jurídico válido. Em virtude disso é que a fundamentação das decisões interpretativas é tão importante, imprescindível mesmo, constituindo atualmente mandamento constitucional expresso. Por fim, a interpretação no campo jurídico é, concluindo, indispensável e será tanto mais necessária quanto maior for o grau de abstratividade ou tanto mais esteja a norma voltada apenas a fins (como as normas constitucionais programáticas). E o intérprete nunca será absolutamente neutro, pois há uma defasagem entre a norma e o caso que a ele se submete. É exatamente esse vazio que deve ser preenchido pelo intérprete, que é preenchido em grande parte com preconceitos, valores e visões pessoais do aplicador da lei. O Direito é essencialmente voluntarista, vale dizer, necessita da vontade do intérprete. Mas só esta não legitima o seu uso. Na verdade, o mundo jurídico só aceita a legitimação que lhe é própria e que envolve a utilização do discurso jurídico-normativo. O certo é que, em havendo o exercício da personalidade no ato interpretativo, não se pode desdenhar o alto grau de possibilidade de chegar a resultados diversos. 3. O que é interpretar a Constituição? Interpretar a constituição é descobrir o significado, o conteúdo e o alcance dos símbolos lingüísticos escritos em seus artigos, parágrafos, incisos e alíneas. Mediante a interpretação ou exegese constitucional, encontramos: O conteúdo semântico dos enunciados normativos dispostos nos artigos, parágrafos, incisos e alíneas das constituições: Exemplo: a palavra casa, no art. 5, XI, da Constituição brasileira, possui um significado amplo, englobando o escritório do advogado, o consultório de um médico, uma imobiliária, e não apenas o domicílio civil – local onde se mantém residência com ânimo definitivo (STF, RT, 670:273). O sentido racional, lógico e justo para efetivar a vontade da constituição. Exemplo: a EC n. 40, de 29-05-2003, revogou o § 3º do art. 192, que limitava a taxa de juros. Nem por isso as instituições bancárias poderiam fazer o que fazem: cobrar juros sobre juros (anatocismo). O espaço de decisão (= campo de interpretação das normas constitucionais). Esse espaço pode ser ampliado, via exegese extensiva, ou diminuindo, por exegese restritiva. Exemplo: o art. 205 do texto de 1988 diz que o campo de exegese desse preceito programático abarca o dever de as emissoras de televisão primarem pela qualidade das matérias transmitidas. Sem embargo, a atividade interpretativa das constituições engloba momentos complementares, os quais equivalem a estágios componentes de uma mesma operação mental. Vejamos esse estágios: Construção – expediente supletivo, desenvolvido pela Suprema Corte norte-americana, por meio do qual se constrói ou recompõe o direito aplicável, nas circunstâncias de premência e necessidade, para suprir as deficiências ou imperfeições da manifestação constituinte originária, que pode ensejar mutações constitucionais. Concretização (ou densificação) – permite o preenchimento do campo de exegese da norma constitucional, de modo a tornar possível a resolução de problemas concretos. Aplicação – último estágio do processo interpretativo. 4. A quem compete interpretar a Constituição? Interprete, do latim interpres, é aquele que descortina o significado de uma norma jurídica, desentranhando a mensagem positivada nos textos legais. O interprete desvenda o significado das palavras contidas nos textos legais, esmiuçando-lhes a essência. Não são apenas os órgãos incumbidos de aplicar o Direito que podem interpretar as normas supremas do Estado. Ninguém tem o monopólio da interpretação constitucional, nem mesmo o Poder Judiciário, aplicador do Direito por excelência. Advogados, membros do Ministério Público, integrantes dos Poderes Executivo e Legislativo, juristas, doutrinadores, pareceristas, cidadãos, todos, enfim, que vivem sob a égide de uma carta magna, são os seus legítimos intérpretes. Essa foi a mensagem que Peter Häberle procurou transmitir com a tese da sociedade aberta dos intérpretes da constituição. Mas ao propalar que a interpretação das constituições não é evento exclusivamente estatal, Häberle não desprezou a interpretação judiciária, estágio antecedente à aplicação autoritativa do Direito ao caso concreto. Evidente que, no momento de aplicar, no caso sub judice, a carta suprema, são os titulares da jurisdição constitucional que determinam a exegese prevalente. É o Supremo Tribunal Federal quem profere a última palavra em matéria de interpretação da constituição. Isso em nada diminui a importância dos co-partícipes do processo exegético, que atuam como intérpretes indiretos ou pré-intérpretes, os quais podem influir, a longo prazo, na tomada de decisões. O que a tese häberliana sugere é abrir o rol cerrado ou fixado com numerus clausus de interpretes, para democratizar a exegese constitucional, de sorte que os casos de grande repercussão sejam, previamente, discutidos por todos, antes de serem sentenciados pelo Poder Judiciário. 5. Não há receita pronta e acabada para interpretar a Constituição A interpretação de qualquer norma jurídica é um ato de vontade associado a um ato de conhecimento. Dentre as várias possibilidades interpretativas, o Poder Judiciário escolhe a que melhor se amolda ao caso concreto. Decerto, todos os métodos, técnicas, processos e regras de exegese, até hoje elaboradas, conduzem sempre a um resultado apenas possível, mas não o único correto. Sobretudo, porque o ato de interpretar deriva do espírito humano e se este é imperfeito e falível, claro que não há exatidão nesse campo. Por isso, não existe critério matemático para levar o intérprete a dar relevância jurídica a alguns eventos e ignorar outros. Isso, entretanto, não descarta a enorme utilidade de todos os artifícios criados pelo homem para compreender o significado das normas constitucionais. Contudo, estes artifícios não são absolutos e não passam de simples propostas, retiradas da observação e vivência histórico-cultural dos seus adeptos. São relativos e complementares. Relativos, porque o contexto fático-normativo, no qual irão incidir, é variado, multifacetário e infinito, complementares, porque um complementa o outro. Logo, o intérprete, consciente da fragilidade de todos eles, deve, na exegese constitucional, utilizar todos os recursos que estiverem ao seu alcance. Quando a necessidade exigir, é preciso que se tenha uma visão restrita da norma constitucional. Noutros casos, porém, há de se considerar a totalidade do sistema, até porque é comum o constituinte desdobrar uma mesma norma em várias partes (dispositivos). Conclusão: Não existe um só caminho para interpretar a Constituição. Em matéria de interpretação da Constituição não há “método por excelência”. Tudo é bem-vindo. Dos métodos tradicionais aos contemporâneos. 6. Uso dos métodos tradicionais de exegese na interpretação constitucional Embora criados para interpretar as normas de Direito Civil, os métodos clássicos de exegese, definidos por Savigny, e aperfeiçoados com o tempo, afiguram-se utilíssimos ainda hoje, embora, como veremos, não sejam capazes de resolver a unanimidade dos problemas detectados nas constituições contemporâneas. São eles: o gramatical, o sistemático, o histórico, o teleológico, o lógico, o autentico, o popular, o doutrinário e o evolutivo. Significado de cada um: a) Gramatical: também chamado literal, semântico ou filológico, estriba-se em princípios de lingüística. Propõe o exame de cada termo normativo, observando-se a pontuação, a etimologia e a colocação das palavras. b) sistemático: busca o todo constitucional, destacando-se nas constituições dirigentes, amplas e analíticas, como a brasileira de 1988, em que um mesmo assunto vem repetido em vários preceitos. Mas isso não significa que este seja o “método por excelência”, pois, nos assuntos constitucionais, é impossível, estipular fórmulas prontas e definitivas de exegese. O método sistemático desempenha importante mister, pois as cartas supremas não são conglomerados de normas desconexas entre si. Ao invés, apresentam-se de modo coordenado, em feixes, orgânicos, procurando formar unidade de sentido. Os seus elementos mantêm vínculo de inter-relação e interdependência, em que tudo o mais se coloca sub specie do mesmo conjunto. Essa verídica constatação, todavia, não minora a importância das demais técnicas interpretativas. c) Histórico: investiga os projetos de lei, a justiticativa, a exposição de motivos, a discussão, as emendas, a aprovação, as condições culturais e psicológicas que resultaram no trabalho de elaboração normativa (occasio legis). d) Teleológico: também denominado sociológico, visa descobrir a finalidade da norma constitucional e os valores por ela perseguidos, adequando-os às exigências sociais. e) Lógico: procura a coerência e a harmonia das expressões constitucionais. Por meio de raciocínios dedutivos, sem considerar elementos de natureza exterior, perquire as normas em si, ou em conjunto. f) Popular: a atividade interpretativa é concretizada pela participação das massas, dos grupos de pressão, dos partidos políticos, dos sindicatos, das associações e entidades de classe mediante os mecanismos consagrados na ordem jurídica, como o plebiscito, o referendum, o recall, a iniciativa, o veto popular, o povo influencia no labor interpretativo das normas constitucionais. g) Doutrinário: consubstancia-se na doutrina, desenvolvida pela meditação dos juristas. h) Evolutiva: atribui às normas fundamentais do Estado novos sentidos, significados e alcances, outrora não salientados no momento de elaboração da constituição, Assemelha-se com o fenômeno da mutação constitucional. Esses métodos se efetivam mediante subsunção, que é o processo silogístico pelo qual o juiz trilha o seguinte roteiro: NORMA CONSTITUCIONAL (premissa maior) + FATO (premissa menor) = SENTENÇA (aplicação do conteúdo da norma ao caso concreto) Assim, pela técnica subsuntiva, o magistrado examina a norma em cotejo com os fatos para depois, então, decidir. Nesse processo silogístico, o juiz toma como base os métodos tradicionais de hermenêutica, que, combinados entre si, o em separado, revelam o sentido e o alcance das normas constitucionais. No exercício de subsunção dos fatos à norma, portanto, o magistrado combina o vernáculo (elemento literal), a logicidade do conteúdo (elemento lógico), o nascimento do preceito (elemento histórico), o contexto normativo (elemento sistemático), a meditação dos juristas (elemento doutrinário), as mudanças sociais (elemento evolutivo) e os anseios democráticos (elemento popular). Por isso a exegese constitucional clássica finca-se na idéia de que nenhum elemento exegético conduz isoladamente, a resultados líquidos. Somente a combinação de todos eles é capaz de revelar o significado das normas constitucionais. Por isso, Uadi Lammego Bulos, diz que, na subsunção clássica o juiz só reconhece o conteúdo preexistente na norma, sem ir adiante. Mesmo se for preciso, ele não constrói uma solução jurídica para o caso concreto, pois pela dogmática interpretativa tradicional, o magistrado é “a boca que pronuncia as palavras da lei”. E acrescenta: “Apenas revela o conteúdo presente nos comandos normativos, sem moderar-lhes a força e o rigor. Não empreende qualquer papel criativo. Estriba seu pensamento na cientificidade do Direito, empregando a lógica formal em busca de uma “pureza” teórica. Acredita no dogma da completude do ordenamento. Posta-se, muitas vezes, como um ser inanimado, um autômato de decisões, exercendo seu mister de modo mecânico ou puramente racional.” Assim, a exegese clássica das normas constitucionais, útil em diversas situações, não satisfaz, totalmente, os reclamos de justiça, a ponto de solver a unanimidade dos problemas interpretativos das constituições contemporâneas. Pois, os métodos tradicionais nem sempre realizam a vontade da constituição. Deve ser realçado que quando foram criados, no século XIX, as necessidades eram diferentes. Não se falava, por exemplo, em teoria da argumentação na exegese jurídica, ponderação de valores, dimensão principiológica das constituições, filtragem constitucional, etc. Contudo, vale reiterar, que os métodos tradicionais de interpretação ainda são valiosos na atualidade. Diversas situações em que o simples silogismo, a mera subsunção do fato à norma, resultando na sentença, ainda é a saída. Mas, é preciso frisar, nas constituições contemporâneas é preciso o intérprete ir além investigando as entranhas do texto legal, pois o mero ato de revelar o conteúdo preexistente na norma constitucional, sem qualquer criatividade nem sempre é capaz de realizar, finalisticamente, a vontade de cartas constitucionais prolixas, confusas, repetitivas e enormes, como a brasileira de 1988. 6.1 A nova Interpretação constitucional55 A idéia de uma nova interpretação constitucional liga-se ao desenvolvimento de algumas fórmulas originais de realização da vontade da Constituição. Não importa em desprezo ou abandono do método clássico – o subsuntivo, fundado na aplica de regras – nem dos elementos tradicionais da hermenêutica: gramatical, histórico, sistemático e teleológico. Ao contrário, continuam eles a desempenhar um papel relevante na busca do sentido das normas e na solução de casos concretos. Relevante, mas nem sempre suficientes. Mesmo no quadro da dogmática jurídica tradicional, já haviam sido sistematizados diversos princípios específicos de interpretação constitucional, aptos a superar as limitações da interpretação constitucional convencional, concebida, sobretudo em função da legislação infraconstitucional, e mais especialmente ao direito civil. A grande virada na interpretação constitucional se deu partir da difusão de uma constatação que, além de singela, sequer era original: não é verdadeira crença de que as normas jurídicas em geral – e as normas constitucionais em particular – tragam sempre em si um sentido único, objetivo, válido para todas as situações as quais incidem. E que, assim, caberia ao intérprete uma atividade de mera revelação do conteúdo preexistente na norma, sem desempenhar qualquer papel criativo na sua concretização. A nova interpretação constitucional assenta-se no exato oposto de tal proposição; as cláusulas constitucionais, por seu conteúdo aberto, principiológico e extremamente dependente da realidade subjacente, não se prestam ao sentido unívoco e objetivo que uma certa tradição exegética lhes pretende dar. O relato da norma, muitas vezes, demarca apenas uma moldura dentro da qual se desenham diferentes possibilidades interpretativas. À vista dos elementos do caso 55 Interpretação e aplicação da Constituição, Luís Roberto Barroso, 7ª Ed. Editora Saraiva. concreto, dos princípios a serem preservados e dos fins a serem realizados é que será determinado o sentido da norma, com vistas à produção da solução constitucionalmente adequada para o problema a ser resolvido. Portanto, ao se falar em nova interpretação constitucional, normatividade dos princípios, ponderação de valores, teoria da argumentação, não se está renegando o conhecimento convencional, a importância das regras ou a valia das soluções subsuntivas. Embora a história das ciências se faça, por vezes, em movimentos revolucionários de ruptura, não é disso que se trata aqui. A nova interpretação constitucional é fruto de evolução seletiva, que conserva muitos dos conceitos tradicionais, aos quais todavia, agrega idéias que anunciam novos tempos e acodem a novas demandas. 7. Técnicas de interpretação constitucional Técnicas de interpretação constitucional são ferramentas que auxiliam o intérprete na tarefa de descobrir o significado e as conexões de sentido das normas supremas do Estado. Quando combinadas entre si apresentam grande utilidade no trabalho interpretativo da Constituição, embora possam ser usadas isoladamente. As técnicas de interpretação constitucional servem para interpretar casos difíceis (hard cases), os quais exigem maior energia mental do exegeta, que atua num campo subjetivo, onde prevalece a discricionariedade na escolha da interpretação mais condizente com a situação prática. Por isso é que essas técnicas visam abrandar o formalismo estéril e o simples silogismo clássico, concretizando o sentido mais profundo das constituições analíticas, como a brasileira de 1988. Essas técnicas interpretativas marcam presença na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, embora nem sempre as vejamos explicitadas em seus julgados. Vejamos algumas: a) Técnica da máxima efetividade Também chamada de técnica de eficiência ou da interpretação efetiva. Sua finalidade é imprimir eficácia social ou efetividade às normas constitucionais, extraindo-lhes o maior conteúdo possível, principalmente em matéria de direitos fundamentais. A palavra de ordem e conferir às normas uma interpretação que as leve a uma realização prática, fazendo prevalecer os fatos e os valores nela consignados. Guilherme Pena de Moraes assevera: “Deveras, todas as normas constitucionais são providas de eficácia, embora possa haver diferenciação quanto à graduação desta, pelo motivo de que as normas constitucionais que pretendam conferir direitos subjetivos, expostos por prestações materiais, são revestidas de eficácia positiva, pois permitem que seus beneficiários ou destinatários exijam as prestações que constituem o objeto do direito subjetivo perante o Poder Judiciário, com o propósito de assegurar o mínimo existencial e atender à reserva do possível, ao passo que as normas constitucionais que pretendam delimitar os fins a serem alcançados pelo Estado e sociedade, sem a especificação dos meios para a obtenção das finalidades colimadas, são revestidos de eficácia negativa, porque não somente proíbem a implementação de políticas que contrariem as prescrições imanentes às normas constitucionais programáticas, como também invalidam a revogação de normas infraconstitucionais, que regulamentavam normas constitucionais programáticas, sem a determinação de política substitutiva ou equivalente, pelos Poderes Executivo e Legislativo, respectivamente, com a vedação do retrocesso. Uadi Lammêgo Bulos, por sua vez, lança crítica a timidez do Judiciário brasileiro, no tocante a aplicação desta técnica: “No Brasil, a técnica da máxima efetividade ainda é um sonho. Aqui a síndrome da inefetividade das constituições impede a sua realização plena. Não raro, tem prevalecido o argumento jurisprudencial de que uma dada norma não pode ser aplicada porque o legislador não a regulamentou, como se a criatividade do juiz e os reclamos de justiça inexistissem. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem-se mostrado tímida quanto à importância da técnica da máxima efetividade. Algumas decisões têm, até mesmo, contribuído para o seu completo esquecimento. Nesse particular, a polêmica cobrança de juros reais. Entendeu a Corte que o extinto § 3º do art. 192 da Carta de 1988 dependia de lei complementar para definir as minudências do assunto. Logo, não seria auto-aplicável.” b) Técnica da força normativa da constituição Numa perspectiva jurídica, ficou de há muito assentada a ideia de que a Constituição é norma jurídica e, como tal, dispõe de força normativa suficiente para vincular e impor os seus comandos. Quando duas ou mais interpretações possíveis surgirem, deve-se priorizar a que assegure maior eficácia, aplicabilidade e estabilidade às normas constitucionais. Nisso, é dado ao intérprete atualizar os preceitos constitucionais, tornando-os efetivos e estáveis; afinal, eles possuem força normativa, devendo ser cumpridos e aplicados. Por isso, as normas constitucionais, precisam se desenvolver, sair do texto, para regular a realidade com a qual deve manter íntima e constante relação. Cumpre ao intérprete a tarefa de preservar a força normativa da Constituição, através de um trabalho de atualização de suas normas, garantindo a sua íntima eficácia e permanência. c) Técnica da unidade da constituição O princípio da Unidade da Constituição serve para evitar contradições ou antinomias, harmonizando os espaços de tensão das normas constitucionais. Guilherme Peña de Moraes enfatiza que a Constituição atribui caráter sistemático ao ordenamento jurídico, uma vez que as normas constitucionais, revestidas da natureza de princípios (normas com alto grau de abstração, consagradoras de valores, pelo que é necessário a mediação concretizadora) ou regras (normas com pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios, pelo que é possível a aplicação coercitiva), com relação de fundamentação a partir daquelas até estas, consistem em fundamento de validade comum de todas as normas jurídicas que integram a mesma o ordem constitucional, de sorte que não há hierarquia normativa, pois são oriundas da mesma fonte de direito, sem embargo da possibilidade de existência de hierarquia axiológica, porque são informadas por valores diferentes, no processo de densificação principiologica, entre as normas constitucionais. Pela unidade da constituição, o texto maior não comporta hierarquia entre suas próprias normas, pois o que se busca, por seu intermédio, é o todo constitucional, e não preceitos isolados ou dispersos entre si. Por isso, em caso de confrontos normativos, a palavra de ordem é apaziguar os dispositivos conflitantes do sistema. A técnica da unidade, assim, privilegia o caráter uno das constituições, reforçando a unidade política do Estado, o pacto federativo, o vetor republicano e separação de Poderes. Se necessário, reduz ou amplia o alcance dos preceitos constitucionais, priorizando valores imprescindíveis, como a vida, a igualdade, a propriedade, as liberdades públicas, os princípios fundamentais, etc. d) Técnica da ponderação de valores ou interesses Técnica da ponderação de valores ou interesses é o recurso colocado ao dispor do interprete para que ele avalie qual o bem constitucional que deve prevalecer perante situações de conflito. Por seu intermédio, procura-se estabelecer o peso relativo de cada um dos princípios contrapostos. Como os bens constitucionais não são uns superiores aos outros, afinal integram um mesmo texto magno, e foram procriados pelo mesmo poder constituinte, apenas pelo estudo do caso concreto saberemos qual deve preponderar. À vista da situação prática, o interprete analisa qual o bem que deve ceder perante o outro, sempre buscando o resultado socialmente desejável. O exegeta faz concessões recíprocas, sacrificando determinado princípio a fim de priorizar o interesse mais racional para reger o caso concreto. Exemplos: - quebra do sigilo bancário x privacidade de dados – prevalece a quebra do segredo nos casos de macrocriminalidade, como na lavagem de dinheiro para manter o narcotráfico; aqui o combate ao crime organizado predomina no lugar dos valores albergados no art. 5º, X, da Carta Maior. - rodízio de automóveis x liberdade de locomoção – prevalece o rodízio, haja vista a garantia do meio ambiente saudável (art. 225); como se pode andar a pé, em transporte coletivo, bicicleta, moto, carona, etc., não há qualquer desrespeito ao direito constitucional de ir e vir (art. 5º, XV); - proibição de publicação atentatória à honra e à imagem x liberdade intelectual – prevalece a honra e a imagem, valores supremos, inalienáveis (art. 5º, X), que ultrapassam a liberdade intelectual e a proibição de censura (CF, art. 5º, IX); - farra do boi x proteção aos animais – prevalece a preservação da vida dos bois, e não a crueldade das formas primitivas de recreação (art. 225, § 1º, VII), tampouco o princípio que alberga manifestações populares (art. 215, § 1º). - direito social à moradia x penhorabilidade do bem de família – prevalece, no entendimento do Supremo Tribunal Federal, a impenhorabilidade da moradia do homem e sua família, direito fundamental de segunda geração. Mas a ponderação serve, também, para delimitar conceitos jurídicos indeterminados. Exemplo: no entendimento do que seja “valores éticos da pessoa e da família” (CF, art. 221, IV), é dado ao juiz ponderar qual o sentido que se deve atribuir a essa frase, escolhendo o significado que melhor se amolde ao caso concreto. Em nossos dias, a ponderação adquiriu lugar de destaque. Se, no passado, as normas constitucionais seguiam uma lógica unidirecional para serem entendidas e aplicadas pelo Poder Judiciário, hoje em dia prevalece a lógica multidirecional, em que o intérprete das constituições lida com programas normativos dialeticamente conflitantes. Basta ver que, pela dogmática clássica, quando o juiz se depara com leis conflitantes, utiliza os critérios hierárquico (a lei superior prevalece sobre a inferior), cronológico (a lei posterior prevalece sobre a anterior) e da especialização (lei específica prevalece sobre lei geral). Ora, esses critérios são insatisfatórios para dirimir colisões entre princípios constitucionais conflitantes numa mesma constituição, até mesmo os que consagram direitos fundamentais. O Texto de 1988, por exemplo, tutelou valores em rota de colisão, pois ao comparar suas normas, vemos situações potencialmente antagônicas. É o caso: - da livre iniciativa (art. 1º, IV) e da intervenção do Estado na economia (art. 174); - da liberdade de expressão (art. 5º, IX) e do direito à privacidade (art. 5º, X); - do direito de propriedade (art. 5º, XXII) e de sua função social (at. 5º, XXIII); e - o direito à honra (art. 5º X ) e da liberdade de informação (art. 220). Pelo silogismo clássico, não seria possível saber quais desses bens devem prevalecer. A simples soma da norma constitucional (premissa maior) com o fato (premissa menor) mostra-se insuficiente para sanar confrontos entre eles. Daí os estudiosos defenderem o uso da ponderação. Ela se distingue da interpretação clássica: Exegese tradicional Exame da norma + análise do fato = sentença Técnica da ponderação Identificação dos bens em conflito + exame conjunto das circunstâncias concretas e das normas aplicáveis ao fato + apuração dos pesos que devem ser atribuídos a cada um dos bens em disputa + escolha da norma que deve preponderar = sentença Como se vê, o exercício da ponderação é mais demorado e complexo do que a exegese convencional. Segundo Uadi Lammego Bulos, a ponderação, muito mais do que uma técnica decisória, constitui um valiosíssimo princípio de exegese, aplicável perante casos difíceis, impossíveis de ser resolvidos pelo silogismo convencional. Por seu intermédio, o exegeta realiza o dever de proporcionalidade, balanceando e sopesando bens em disputa, interesses, valores, princípios e normas colidentes. Ou seja, não é dado ao intérprete agir arbitrariamente, sem senso de proporção. Do contrário, a escolha de um dos interesses em jogo, com a respectiva anulação do outro violaria o texto constitucional. Assim, não se pode deixar de mencionar, no domínio da interpretação constitucional, o princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade. O princípio objetiva conter o arbítrio e viabilizar a moderação no exercício do poder, tendo em vista a proteção dos indivíduos. Assim, os atos do Poder Público devem ser adequados e proporcionais relativamente às situações que visem atender. Por isso o princípio da proporcionalidade visa coibir, o arbítrio do Poder Público, invalidando leis e atos administrativos abusivos, contrários aos valores abrigados pela Constituição. Se no domínio da atividade administrativa, o princípio da proporcionalidade visa controlar a compatibilidade dos atos da administração com os interesses coletivos tutelados, e a sua proporcionalidade, diante das restrições aos direitos dos administrados, no âmbito da atividade legislativa, o princípio, também conhecido como princípio da proibição do excesso, deve ser usado como parâmetro do controle da constitucionalidade, para impedir que o legislador estabeleça restrições desproporcionais, editando leis caprichosas, desarrazoadas e lesivas aos cidadãos. O poder de legislar não pode, desse modo, ir até o abuso, o excesso, o desvio. Conforme Luís Roberto Barroso, o princípio da proporcionalidade “permite ao Judiciário invalidar atos legislativos ou atos administrativos quando: a) não haja relação de adequação entre o fim visado e o meio empregado; b) a medida não seja exigível ou necessária, havendo meio alternativo para chegar ao mesmo resultado com menor ônus a um direito individual; c) não haja proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, o que se perde com a medida é de maior relevo do que aquilo que se ganha”. Por tudo isso é que, no âmbito da interpretação constitucional, o Poder Judiciário deve verificar, quando da aplicação do princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade, se a norma, para se conformar aos princípios: 1) revela-se apta para os fins a que se destina, ou seja, mostre-se adequada; 2) seja menos gravosa possível para que se atinjam tais fins; 3) cause benefícios superiores às desvantagens que proporciona. Destas características do princípio da proporcionalidade decorrem os subprincípios denominados pela doutrina alemã de adequação, necessidade ou exigibilidade e proporcionalidade em sentido estrito. A adequação, conhecida também como subprincípio da idoneidade, pertinência, conformidade ou aptidão, significa que a medida deve ser adequada aos motivos que a impulsionaram e ás finalidades que persegue. Há exigência de que a medida deva ser apta para a consecução do desiderato social eleito, e averigua-se a utilidade e a idoneidade do meio para atingir o resultado pretendido. A necessidade, também denominada de subprincípio da exigibilidade, proibição do excesso, intervenção mínima, indispensabilidade, quer dizer que a conduta estatal não deve exceder ao imprescindível para a realização do fim jurídico a que se propõe. Desse modo, o meio empregado há de ser o mais leve, o menos gravoso para os direitos fundamentais. Não se deve existir meio menos oneroso do que aquele escolhido para o atingimento da mesma ou semelhante finalidade. A proporcionalidade em sentido estrito implica no sopesamento dos interesses em jogo, isto é, a ponderação das tensões entre os princípios em concorrência: pesa-se as desvantagens dos meios em relação às vantagens dos fins. A providência adotada deve ser proporcional ao conjunto de interesses jurídicos em exame. O que se ganha com a medida deve ser mais lucrativo do que aquilo que se perde. Poderá-se o prejuízo relativamente ao benefício trazido, sendo que a vantagem do ato deve ser superior as eventuais desvantagens que dele resultam. 8. Princípios de Interpretação Constitucional A hermenêutica constitucional é a disciplina cientifica, cujo objeto precípuo é o estudo e a sistematização dos princípios de interpretação da Constituição, de sorte que esta consiste na aplicação daquela. Ante o exposto, a interpretação constitucional é informada por 06 (seis) princípios, a saber: 1) supremacia da Constituição. 2) unidade da Constituição; 3) interpretação conforme a Constituição; 4) presunção de constitucionalidade; 5) máxima efetividade, e 6) razoabilidade. Com já tratamos no tópico precedente os princípios da unidade da constituição, máxima efetividade e razoabilidade, trataremos neste tópico os princípios constitucionais restantes. 8.1. Princípio da Supremacia da Constituição O princípio da supremacia constitucional denota que a Constituição veicula as normas jurídicas de máxima hierarquia o sistema de Direito Positivo, figurando como fundamento de validade de todo ordenamento normativo. Acentua-se que a supremacia, sob os aspectos de forma e de matéria, é decomposta em supremacia formal e supremacia material. De um lado, a supremacia formal induz a relação de hierarquia entre a Constituição e as demais espécies normativas, eis que a primeira é produzida pelo poder constituinte originário, ao passo que as segundas são produzidas pelo pelos poderes constituídos, sendo aquele qualificado como anterior e superior em face destes. De outro lado, a supremacia material indica a maior importância das normas constitucionais. 8.2. Princípio da Presunção de Constitucionalidade O princípio da presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos exprime que as normas jurídicas são dotadas da presunção relativa de validade, que pode ser elidida ou convertida em presunção absoluta de validade, em razão da declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade, em razão da declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade, respectivamente, no exercício do controle difuso e concentrado. No controle de constitucionalidade difuso, o princípio da presunção de constitucionalidade é externado pela reserva de plenário, segundo a qual somente pelo voto da maioria absoluta dos membros do plenário ou órgão especial do tribunal exercente do controle incidental, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo pode ser declarada, ainda que argüida por membro do próprio colegiado, na forma do art. 97 da Constituição da República, assim como arts. 480 usque 482 do Código de Processo Civil. No controle de constitucionalidade concentrado, o princípio da presunção de constitucionalidade é exteriorizado pela atuação do Advogado-Geral da União, na condição de curador da presunção de constitucionalidade (defensor legis), com o desiderato de assegurar atendimento ao princípio do contraditório, e a concessão de medida liminar, com o escopo de suspender a eficácia da lei ou ato normativo impugnado até a decisão de mérito, pelo tribunal exercente do controle abstrato, nos termos dos arts. 102, inc. I, alínea “p”, e 103, § 3º, da Constituição da República, bem como arts. 8º e 10 usque 12 da Lei nº 9.868/99. 8.3. Princípio da Interpretação conforme a Constituição O princípio da interpretação conforme a Constituição expressa que a dúvida em relação à constitucionalidade de uma norma jurídica plurissignificativa é resolvida em favor de sua conservação. A interpretação conforme a Constituição pode ser apreciada como um princípio de interpretação e como uma técnica de controle de constitucionalidade. Como princípio de interpretação, decorre ele da confluência dos dois princípios anteriores: o da supremacia da Constituição e o da presunção de constitucionalidade. Com base na interpretação conforme a Constituição, o aplicador da norma infraconstitucional, dentre mais de uma interpretação possível, deverá buscar aquela que a compatibilize com a Constituição, ainda que não seja a que mais obviamente decorra do seu texto. Como técnica de controle de constitucionalidade, a interpretação conforme a Constituição consiste na expressa exclusão de uma determinada interpretação da norma, uma ação “corretiva” que importa em declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto. Em qualquer de suas aplicações, o princípio tem por limite as possibilidades semânticas do texto, para que o intérprete não se converta indevidamente em um legislador positivo. ANOTAÇÕES: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: MÁRCIO DO NASCIMENTO Turma:____________________________ ALUNO (A):________________________________________________________________________ Data da entrega: ____/____/2013. ORIENTAÇÕES: Este trabalho comporá a nota da prova de P2, na nota da avaliação P2. As questões subjetivas deveram ser manuscritas feitas pelo próprio aluno. Trabalho digitado não será aceito. QUESTIONÁRIO SOBRE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 1. Qual a importância da hermenêutica para a efetivação da interpretação jurídica? ________________________________________________________________________________