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slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Capítulo 11 A década perdida de 1980 © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. slide * slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Neste capítulo, abordaremos as seguintes questões: Quais as principais fases que podemos divisar na condução da política econômica durante o governo Geisel? Qual relação de continuidade o II PND mantinha com o I PND? E que inovações apresentava? Quais teriam sido as razões dos militares para encetar um plano tão ambicioso quanto o II PND, mesmo em um cenário externo e interno adverso? Como se caracterizou a fase heterodoxa da gestão econômica de Delfim Netto durante o governo Figueiredo? Por que a gestão de Delfim guinou radicalmente rumo à ortodoxia, e quais foram os resultados disso? slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Geisel: o fim de uma era A opção de Geisel pelo economista Mário Henrique Simonsen (assessor de Bulhões e Campos durante a implantação do PAEG) para ocupar a pasta da Fazenda parecia confirmar os novos ventos contracionistas. Seu governo entraria para a história como uma era de ufanismo e megalomania, sustentada por um crescente nível de “absorção de poupança externa”. O resultado foi uma trajetória do tipo “stop and go” (pare e siga), alternando um período de maior crescimento com outro de taxas mais comedidas. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * De 1974 a 1976: ambições do II PND Esse período ficou marcado pelo desejo de fazer jus à herança de crescimento deixada por Médici e, assim, dar continuidade ao projeto de “Brasil grande potência”. O componente da continuidade consistia na manutenção: a) da política de estímulo à agricultura e às exportações; b) da atitude de “portas abertas” ao capital estrangeiro, viesse ele na forma de investimentos estrangeiros diretos (IEDs), viesse na forma de empréstimos. Já o componente inovador do II PND estava no tratamento prioritário dado à indústria de bens intermediários e bens de capital (máquinas e equipamentos), que havia pressionado a pauta de importações durante o I PND. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Os projetos mais vistosos do II PND estavam exatamente nos setores de transportes e produção de energia. No campo dos transportes, destacaram-se: a) em 1975, o início da construção da Ferrovia do Aço; b) em 1976, o início das obras para o Porto de Sepetiba, em Itaguaí (RJ), e para a Estrada de Ferro Carajás. O investimento na geração de energia ganhou um caráter de urgência após a crise do petróleo. Era preciso aumentar a produção nacional do óleo e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. Em novembro de 1974 foi descoberta a Bacia de Campos, a maior província petrolífera do Brasil, hoje responsável por mais de 80% da produção nacional. Além disso, o II PND concebeu projetos grandiosos, que, embora tenham sofrido atrasos durante a execução, contribuíram para mudar a matriz energética brasileira. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Os maiores responsáveis por esses avanços foram os seguintes projetos, todos nascidos no seio do II PND: a Usina de Itaipu Binacional, a maior geradora de energia hidrelétrica do mundo; b) a Usina de Tucuruí, em plena selva amazônica; c) a continuação da construção da Usina de Angra 1 e a assinatura do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, que previa a construção de nada menos do que oito usinas nucleares; d) a criação do Programa Nacional do Álcool — Proálcool (Decreto nº 76.593, de 1975), que tinha como objetivo estimular a produção de cana-de-açúcar e sua transformação em álcool combustível. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Apesar dos seus inegáveis méritos, o II PND repetia os principais erros dos planos de industrialização que o precederam: continuava apostando no protecionismo frívolo, e não no protecionismo de aprendizagem. Assim, ao fim do ciclo de industrialização o Brasil possuía uma indústria cara e pouco produtiva, que alimentava a inflação e, duas décadas depois, revelaria sua fragilidade ao ter de enfrentar a concorrência estrangeira. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Por que arriscamos tanto? Outro ponto em que o II PND é facilmente atacável diz respeito à adversidade das conjunturas interna e externa à época de sua concepção. Além de todos os problemas (inflação, endividamento externo, recessão global), era preciso considerar que a indústria nacional operava muito próxima do limite de sua capacidade. Muita gente ainda temia o fantasma do PAEG, que tivera fortes efeitos recessivos e não conseguira baixar a inflação para menos de 30% ao ano. Além disso, o regime militar teria dificuldades políticas para abortar o projeto do “Brasil grande potência”. Outro motivo foi o resultado nas eleições de novembro de 1974. Aproveitando-se da recém-implantada propaganda pela TV, os oposicionistas impuseram uma significativa derrota ao regime. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Isso acendia um sinal amarelo para Geisel e, para calar todas essas vozes, o jeito era apostar, mais uma vez, num estrondoso crescimento econômico. Em 1974, ainda na esteira dos investimentos do “milagre”, o PIB cresceu 8,2%, e a inflação bateu em 34,5%. Ao longo do ano de 1975, à medida que os investimentos do II PND iam sendo liberados, a economia foi se reaquecendo, em um processo que desembocou, em 1976, no espantoso crescimento de 10,3%, que pegou de surpresa até o próprio governo. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * De 1976 a 1979: “desaceleração controlada” Esse ritmo frenético de crescimento era incompatível com a progressiva deterioração das contas externas. Por isso, Reis Velloso e Simonsen elaboraram uma proposta ao presidente. A ideia era perseguir uma “desaceleração controlada” da economia, para um patamar de crescimento de 5% ao ano, mas sem sacrificar os setores prioritários do II PND. Por que a inflação continuou subindo, apesar do desaquecimento na economia? As secas e geadas que prejudicaram a produção agrícola nesse período e obrigaram o país a importar até mesmo alimentos básicos. O endividamento externo aumentou no mesmo ritmo: de 1974 a 1978, a dívida bruta mais do que dobrou, passando de 20 para 52 bilhões de dólares. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Figueiredo: a crise da dívida Em março de 1979, o general João Batista Figueiredo assume a presidência da República em um clima sombrio. Ele decide manter o equilibrado Simonsen na equipe econômica e lhe dar plenos poderes para combater a inflação a seu modo. Figueiredo parecia, porém, dar mais ouvidos ao “canto das sereias” de Delfim Netto, que havia voltado ao ministério (na pasta da Agricultura) e afirmava ser possível, sim, retomar o crescimento. Sem apoio político para levar à frente seu plano, Simonsen pede demissão em agosto. Delfim entra no lugar de Simonsen e dá início à mais heterodoxa das suas atuações. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * De 1979 a 1980: a fase heterodoxa Com a volta de Delfim durante a gestão Figueiredo, a indexação formal virou, literalmente, a regra da economia. O primeiro passo nesse sentido foi a nova política salarial, adotada em 1979 em resposta às greves que convulsionavam o país desde o ano anterior. De acordo com a Lei nº 6.708, de outubro de 1979, os salários nominais passariam a ser reajustados semestralmente pelo recém-criado INPC. Delfim mandou tabelar a taxa de juros e aumentar a rigidez no controle de preços do CIP. Além disso, prefixou para o ano de 1980 a correção monetária em 45%, e a correção cambial em 40%. Tratava-se de um “golpe psicológico”, cuja intenção era diminuir a expectativa de inflação e amenizar o efeito inercial. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Medidas tomadas pela mesma equipe econômica acabaram estimulando a inflação por outros meios: ainda em 1979, veio à luz um pacote de pesados reajustes nas tarifas públicas. E, em dezembro de 1979, Delfim havia determinado a maxidesvalorização do cruzeiro que fez a moeda nacional perder 30% de seu valor de uma vez só. Uma terceira medida com potencial inflacionário foi a nova política de reajustes salariais. Esse conjunto de medidas um tanto contraditórias tomadas por Delfim no início da sua gestão teve sucesso na retomada do crescimento, que subiu para 9,2% em 1980. Contudo, seu efeito sobre o controle da inflação foi nulo: o IGP fechou o ano rompendo a terrível barreira dos três dígitos. O déficit comercial, somado ao déficit na balança de serviços e rendas, ficou tão grande que as reservas internacionais acumuladas no passado rapidamente se esvaíram. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * De 1981 a 1985: o retorno desesperado à ortodoxia O novo pacote de medidas de Delfim não poderia ser mais ortodoxo: liberação da taxa de juros; abandono da prefixação das correções monetária e cambial; liberação gradual de preços; nova alteração na política salarial, com redução dos indexadores para as faixas salariais mais altas (Lei nº 6.886/80); cortes substanciais no orçamento das estatais; restrição das importações; brutal redução na concessão de créditos pelos bancos oficiais. Porém, a crise foi maior e mais duradoura do que se pensava: de 1981 a 1983, o país viveu a mais típica estagflação (estagnação + inflação alta) e as torneiras do crédito internacional secaram totalmente no chamado “setembro negro” de 1982. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * O “setembro negro” A crise de setembro de 1982 começou no mês anterior, quando o México decretou moratória, confirmando os temores de que boa parte dos 700 bilhões de dólares emprestados aos países subdesenvolvidos na época das vacas gordas eram de “recebimento duvidoso”. Os credores internacionais rapidamente deixaram de financiar esses países. No Brasil, o “setembro negro” traduziu-se em uma queda abrupta na entrada de dólares. A equipe econômica executou os mais variados malabarismos para não recorrer ao FMI antes das eleições de novembro. No entanto, assim que as urnas foram fechadas, a corrida ao fundo foi imediata: o Brasil obteve um vultoso “empréstimo-ponte”, mas já em 1983 deveria liquidá-lo. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Em fevereiro, em uma tentativa desesperada de estimular as exportações — e, assim, garantir alguns milhares de dólares para acalmar os credores —, o governo pega o mercado de surpresa ao decretar a segunda maxidesvalorização do cruzeiro, que perde novamente 30% de seu valor. Isso tem um efeito inflacionário bem pior que o da primeira. Como a economia a essa altura já estava fortemente indexada, a brutal desvalorização da moeda espalhou a inflação como um rastilho de pólvora. Ainda em maio, o FMI considera o acordo descumprido e suspende as parcelas do empréstimo. Daí para a frente, a política econômica brasileira perdeu toda e qualquer capacidade de planejamento global. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * A recuperação de 1984 e 1985 Em 1984, um superávit recorde na balança comercial permitiu ao país desfrutar o primeiro superávit em transações correntes desde 1965. Também contribuíram para isso o relaxamento das restrições impostas pelo FMI; o aumento da produção nacional de petróleo; a recuperação das lavouras com relação às últimas secas e geadas; a entrada em funcionamento de alguns projetos do II PND, como a Usina de Itaipu. A folga no balanço foi suficiente para que as reservas internacionais começassem a se recompor, com um fluxo de 7 bilhões de dólares. Ao mesmo tempo, a economia interna se recuperava, chegando a uma expansão de 5,4%. Desse modo, a transição para a democracia no Brasil é marcada, também, pela chamada falência do Estado. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Pontos importantes Podemos divisar duas principais fases na condução da política econômica durante o governo Geisel. A primeira caracteriza-se pelo desejo de dar continuidade ao projeto do “Brasil grande potência”. Na segunda fase, o próprio governo admite que o crescimento vigoroso é incompatível com os graves desequilíbrios no balanço de pagamentos e estabelece um ritmo mais modesto. Em relação ao I PND, o II PND mantinha uma relação de continuidade no que diz respeito à política de estímulo à agricultura e às exportações e de abertura ao capital externo. Inovava, porém, ao retomar pontos do Plano de Metas. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * Podemos apontar como possíveis razões para os militares terem encetado um plano tão ambicioso quanto o II PND, o temor de reviver a recessão do PAEG, a dificuldade política do regime para desvencilhar-se do ideal do “Brasil grande potência” e a fragorosa derrota eleitoral sofrida em 1974. A fase heterodoxa da gestão econômica de Delfim Netto durante o governo Figueiredo durou de 1979 a 1980 e caracterizou-se pela tentativa de controlar a inflação e retomar o crescimento. O resultado foi a retomada do crescimento, mas também o aumento da inflação. slide * © 2011 Pearson Prentice Hall. Todos os direitos reservados. * No fim de 1980, o avassalador desequilíbrio no balanço de pagamentos obriga Delfim Netto a guinar radicalmente rumo à ortodoxia, mas as medidas recessivas não são suficientes para baixar a inflação nem reequilibrar o balanço. Após o “setembro negro” de 1982, o país é obrigado a recorrer ao FMI. A partir de então, assina sete acordos no período de dois anos, nenhum dos quais consegue cumprir. Quando o mandato de Figueiredo termina, a economia está começando a se recuperar, mas a inflação “estabilizou-se” na casa dos 200% ao ano.