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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO NEDTEC ESTRUTURAS DE MADEIRA PROFESSORA CYNARA FIEDLER BREMER Versão 02-2008 2 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Histórico das construções de madeira 2. Constituição e estrutura da madeira 3. Características físicas da madeira 4. Produtos comerciais das madeiras 5. Características mecânicas da madeira 6. Caracterização da madeira 7. Critérios de dimensionamento segundo a NBR7190/97 8. Dimensionamento à tração; 9. Dimensionamento à compressão; 10. Dimensionamento ao cisalhamento; 11. Dimensionamento à flexão simples; 12. Dimensionamento à flexão oblíqua; 13. Dimensionamento à flexão composta; 14. Estabilidade lateral de vigas; 15. Ligações; 16. Cálculo de uma estrutura (galpão ou telhado). BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1) Carrasco, E. V. M. – Estruturas usuais de madeira – Notas de aula para o curso de especialização em engenharia de estruturas 2) Hibbeler, R. C. – Resistência dos materiais 3) NBR7190/97 – Projeto de estruturas de madeira 4) Júnior, C. C.; Lahr, F. A., R. e Dias, A. A – Dimensionamento de elementos estruturais de madeira 5) Pfeil, W e Pfeil, M – Estruturas de madeira 6) Zenid, G. J. Madeiras e suas características - Tecnologias aplicadas ao setor moveleiro, Volumes I, II e III. AVALIAÇÕES • Prova 1 (P1=25 pontos), Prova 2 (P2=25 pontos), Prova 3 (P3=25 pontos), Listas (10 pontos) e Projeto Final (15 pontos) • Nota (N) = P1 + P2 +P3 + Listas + Projeto Final 3 1 HISTÓRICO DAS CONSTRUÇÕES DE MADEIRA 1.1 - Introdução A madeira é um dos materiais de construção mais utilizados pelo homem. Desde as construções mais primitivas até as atuais temos exemplos de sua utilização. As possibilidades arquitetônicas da madeira são ilimitadas, pois ela se adapta facilmente aos mais variados estilos de construção. Como qualquer material de construção, para se assegurar um bom desempenho e durabilidade das estruturas, são indispensáveis os projetos arquitetônico e estrutural, práticas adequadas de construção e manutenção periódica. É importante que as estruturas não sejam projetadas apenas para resistirem aos esforços solicitantes previstos para ocorrerem durante sua vida útil, mas que visem a durabilidade com manutenção mínima. A utilização mais racional de um material é conseguida com a exploração de suas qualidades e eliminação de seus pontos fracos. Apesar das vantagens evidentes da madeira, da sua já provada durabilidade e sua ampla utilização nos países desenvolvidos como Estados Unidos e Japão, a madeira ainda é muito pouco utilizada nas construções brasileiras. Nota-se certo preconceito a respeito da madeira como material estrutural e uma falta de informação da população em geral. Apesar do país apresentar matéria-prima em abundância e uma defasagem no setor da construção civil, a madeira ainda é pouco utilizada. Nas Figuras 1.1 a 1.6 são mostradas diversas construções em madeira. 4 Figura 1.1 - Pórtico com vigas curvas. Fonte: Glued Laminated Timber Construction Figura 1.2 - Pórtico espacial ”The Saumur National Horse Riding Institute, Saumur” Fonte: Glued Laminated Timber Construction Figura 1.3 – Parlamento europeu The European Glued Laminated Timber Industries Trade Association 5 Figura 1.4 – Pórtico em arco de madeira laminada colada. Fonte: The European Glued Laminated Timber Industries Trade Association Figura 1.5 – Escada em madeira laminada colada Fonte: Glued Laminated Timber Construction Figura 1.6 - Ponte em vigas de madeira laminada. Fonte: Glued Laminated Timber Structures 6 1.2 – Vantagens do uso da madeira A madeira possui virtudes peculiares que podem torná-la um material estrutural de primeira escolha em um número muito grande de situações. De inicio, é preciso salientar que a madeira é o único material estrutural renovável e cuja produção é não poluente e tem baixo consumo energético. Como material estrutural, algumas madeiras têm resistências superiores e rigidezes equivalentes às de um excelente concreto. O Jatobá, por exemplo, possui propriedades mecânicas similares às do aço. Como material construtivo, uma grande vantagem da madeira é a sua elevada resistência e baixa densidade. É inevitável, portanto, que as madeiras sejam consideradas como uma solução natural para certas estruturas de grandes vãos, nas quais a maior parte dos esforços decorre do seu peso próprio. Ainda como material construtivo, a usinagem da madeira é extraordinariamente mais simples do que a usinagem do concreto ou do aço. Conseqüentemente, os investimentos industriais necessários são muito menos onerosos e a qualificação da mão-de-obra a ser empregada é muitíssimo menos exigente. Mesmo em países desenvolvidos, a madeira ainda ocupa lugar de destaque no segmento industrial. Há previsão de que em 2010 a madeira se tornará o material líder no continente europeu, onde a indústria de base florestal emprega cerca de 2,7 milhões de pessoas e gera produtos que alcançam o valor anual de 165 bilhões de euros. 1.3 – Desvantagens do uso da madeira A madeira é um material heterogêneo, anisotrópico, assimétrico e, na maioria das vezes biologicamente perecível. O emprego racional da madeira exige portanto que tais deficiências sejam adequadamente levadas em consideração. A heterogeneidade da madeira, de árvore para árvore e mesmo dentro de uma dada tora, sugere que algo deverá ser feito para contornar esse problema. A anisotropia da madeira, inerente à sua origem biológica, confere resistências diferentes às diferentes direções relativas à posição das fibras. Sugere ainda que, na concepção das estruturas, a madeira não seja tratada como um material amorfo, sem estrutura interna como são corretamente tratados o concreto e o aço. 7 Além de anisotrópica, em cada direção são diferentes as propriedades da madeira à tração e à compressão. Essa assimetria de propriedades, que também existe no concreto, porém não no aço, sugere que as propriedades da madeira sejam devidamente investigadas nas diferentes direções relativas à posição das fibras, tanto à tração quanto à compressão. Na maioria das espécies, a natureza biológica da madeira torna-a suscetível a agressões por fungos e insetos. A secagem, a preservação, o respeito a certas regras de concepção do material e a associação a outros materiais nos locais mais sujeitos aos ataques dos microorganismos, tornam as estruturas da madeira tão duráveis quanto às de aço ou de concreto. 1.4 – Madeiras de reflorestamento Desde sua descoberta, o Brasil, país rico em florestas nativas, vem convivendo com a exploração destes recursos freqüentemente conduzida de maneira não racional. Isto provocou, a partir da segunda metade do século XX, crises ambientais, localizadas principalmente nas regiões sul e sudeste com o constante avanço da fronteira agrícola, dada a não reposição da cobertura florestal. Na região norte, mais recentemente, queimadas para a implantação de projetos agropastoris e de indústrias de mineração, tem ocasionado a destruição de extensas áreas de florestas, com sub-aproveitamento dos seus produtos. A exploração da madeira na Amazônia, na maioria dos casos, não obedece aos critérios de manejo florestal. Apresenta-se como atividade predatória, pois uma árvore ao cair derruba outras 5 ou 6, presas a ela por cipós. Além disso, dependendo de sua altura total e do diâmetro do tronco, ela arrasta consigo pequenas árvores, abrindo uma clareira de até 400 m2. Deve-se considerar também que a vegetação que compõe o sub-bosque também morre no lugar onde a árvore cai. Segundo a IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), para cada tronco que chega a uma serraria no Pará, 27 árvores foram derrubadas inutilmente. Falta fiscalização e a legislação em vigor é constantemente ignorada. Os movimentos ambientalistas mundiais1 exercem pressões que resultam no estabelecimento de leis que protegem os recursos naturais existentes, criando obstáculos à exploração indiscriminada e a comercialização de madeiras nativas tradicionais. A solução recomendada para uma exploração florestal ambientalmente correta é a da certificação da operação, que considera os seguintes princípios: • Sustentabilidade: perenização da produção de forma a provocar o menor impacto ambiental possível; 1 Como exemplo tem-se o grupo Greenpeace (www.greenpeace.org) 8 • Ser justa socialmente; • Ser economicamente viável. No Brasil essa possibilidade está disponível pelo sistema FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de manejo sustentável) e pelo INMETRO, através do selo CERFLOR – Sistema de Certificação Florestal Brasileiro. 1.5 – Valor estrutural da madeira O concreto e o aço têm características excelentes para a sua utilização em estruturas em geral. Bastante estudo e experimentação têm sido aplicados no mundo inteiro para se alcançar o sofisticado estágio atual de utilização desses materiais em estruturas. Muito pouco tem sido feito, comparativamente, para conhecer a madeira, tendo em vista tirar o máximo proveito das suas características inigualáveis para utilização estrutural eficiente. Na Tabela 1.1 são apresentados alguns dados relativos ao aço, ao concreto e à madeira de Maçaranduba (Paraju) , para exame comparativo sendo que o valor estrutural de um material pode ser definido como indicado na Equação 1.1, isto é, quanto mais resistente, mais leve e mais barato o material, mais elevado será seu valor estrutural. ( )custo específico peso admissível tensãoestruturalValor ⋅×= (1.1) Tabela 1.1 - Índices comparativos para avaliação do valor estrutural da madeira em relação ao aço e ao concreto Especificações Aço A-36 Concreto Armado Maçaranduba (Paraju) Tensão de referência σc (MPa) 253 15 82,9 Coeficiente de segurança médio 1,67 1,61 5 Tensão admissível σadm (MPa) 150 9,3 16,6 Peso específico γ (g/cm3) 7,80 2,50 1,14 Custo (U$/kg) 1,15 0,25 0,301 Valor estrutural 16,72 14,88 48,54 1 Neste valor já está incluído o custo de tratamento preservativo contra fungos e microorganismos (20% do valor total) 9 2 CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA DA MADEIRA 2.1 - Introdução A madeira é um material orgânico, de origem vegetal. É matéria prima inesgotável, pois é encontrada em contínua formação, aos milhões de metros cúbicos, em todas as partes do mundo, sob a forma de árvores em florestas naturais ou artificiais resultantes de reflorestamento racional. Na atual situação do desenvolvimento industrial, a maior parte da madeira consumida na fabricação de chapas de madeira aglomerada, chapas de fibras de madeira ou na fabricação de celulose e papel é proveniente de árvores de espécies selecionadas, plantadas com a finalidade de atender a essa utilização específica, num prazo determinado, geralmente compreendido entre quatro a oito anos de idade da árvore. Para a utilização da madeira roliça como estacas, postes e dormentes as árvores devem atingir os 15 anos de idade, tendo havido durante esse intervalo de tempo, alguns desbastes para eliminar as árvores defeituosas ou raquíticas dando melhores condições para o crescimento das restantes. No Brasil a utilização dos eucaliptos (saligna, grandis, alba, robusta, citriodora e outros) na fabricação de papel e de chapas de fibras de madeira explica o grande desenvolvimento que tem sido dado ao reflorestamento com essas espécies. Para o papel vem tendo grande aceitação também a madeira de Pinus eIliottii, Pinus taeda e outros já introduzidos no país. Tendo em vista a crescente utilização da madeira nas suas várias formas e produtos, é necessário conhecer bem as suas características, para poder utilizá-la adequadamente. 2.2 Classificação das árvores As árvores têm sua classificação botânica entre os vegetais do mais alto nível de desenvolvimento e da mais elevada complexidade anatômica e fisiológica. O conhecimento esquemático dessa classificação é útil para a compreensão do comportamento 10 de algumas espécies de madeira. a) Gimnospermas A classe mais importante das Gimnospermas é a Conífera, também designada na literatura internacional como madeiras moles “soft wood”. As árvores classificadas entre as coníferas apresentam folhas com formato de escamas ou agulhas, geralmente perenes e resistentes, mesmo ao inverno mais rigoroso. São árvores típicas de climas frios das zonas temperadas e frígidas, mas há também espécies consideradas tropicais. As coníferas constituem praticamente sozinhas, principalmente no hemisfério norte, grandes florestas e fornecem madeira das mais empregadas na construção civil e em outros setores. Na América do Sul há uma conífera típica: a Araucária angustifólia. Figura 2.1 – Araucária Outras espécies de coníferas como o Pinus elliottii (Slash Pine) nativo da Flórida, o Pinus taeda (Loblolly Pine) nativo da região do Atlântico e Golfo do México, nos EUA e o Pinus hondurenses, variedade caribenha, estão sendo introduzidos com sucesso no Brasil, com ampla aceitação na indústria de celulose e de chapas de madeira aglomerada. 11 Figura 2.2 - Pinus elliotti Figura 2.3 - Pinus taeda b) Angiospermas As angiospermas são plantas mais completas e organizadas que as gimnospermas. As angiospermas podem ser: monocotiledôneas ou dicotiledôneas. Entre as monocotiledôneas não há árvores propriamente ditas mas, encontram-se as palmas e as gramíneas. Muitas palmas têm grande utilidade pelos seus frutos. Algumas têm troncos longos, muito pesadas e difíceis de trabalhar, mas às vezes utilizados de modo satisfatório em estruturas temporárias como escoramentos e cimbramentos. O bambu é classificado entre as gramíneas, não é madeira no sentido usual da palavra, mas tendo em vista a sua boa resistência mecânica associada à sua baixa densidade, presta-se para a construção leve, típica de moradia no oriente. O bambu comum é da espécie botânica Bambusa arundinácea, o bambu da espécie (Bambusa brandisii) Dendrocalamus brandisii chega a atingir 25 cm de diâmetro e 38 m de altura. 12 Figura 2.4- Dendrocalamus brandisii Entre as dicotiledôneas - usualmente designadas na literatura internacional como madeiras duras “hard woods”- encontram-se as árvores de folhas comuns, largas, geralmente caducas. É extraordinariamente grande o número de espécies existentes principalmente na zona tropical. Algumas das “madeiras duras” mais comuns no Brasil são: a aroeira, o cumaru, o jatobá, a maçaranduba (parajú), os ipês, as cabriuvas, o guarantã, a sucupira, o pau marfim, as perobas, a caviúna, os jacarandás, as canelas, as imbuias, o cedro, o mogno, o jequitibá, o guapuruvu, o freijó, o anjico preto, o argelim pedra, etc. No reflorestamento destaca-se a introdução dos eucaliptos, dicotiledônea originária da Austrália, perfeitamente aclimatada no Estado de Minas Gerais, com ampla utilização como: postes, estacas, dormentes de estradas de ferro; na fabricação de chapas de fibras de madeira e de madeira aglomerada; na fabricação de celulose, papel, papelão e construção. 13 3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA MADEIRA 3.1 - Introdução Conhecer as propriedades físicas da madeira é de grande importância porque estas propriedades podem influenciar significativamente no desempenho e resistência da madeira utilizada estruturalmente. Podem-se destacar os seguintes fatores que influem nas características físicas da madeira: • Classificação botânica; • O solo e o clima da região de origem da árvore; • Fisiologia da árvore; • Anatomia do tecido lenhoso; • Variação da composição química. Devido a este grande número de variáveis que afetam as propriedades físicas da madeira, os valores indicativos das mesmas, obtidos em ensaios de laboratório, oscilam apresentando uma ampla dispersão, que pode ser adequadamente representada pela distribuição de Gauss. Entre as características físicas da madeira cujo conhecimento é importante para sua utilização como material de construção, destacam-se: • Umidade; • Densidade; • Estabilidade dimensional (retratibilidade); • Resistência ao fogo; • Durabilidade natural; • Resistência química. Outro fator a ser considerado na utilização da madeira é o fato de se tratar de um material anisotrópico (com simplificações um material ortotrópico), ou seja, com comportamentos diferentes em relação à direção de crescimento das fibras, Devido à orientação das fibras da 14 madeira e à sua forma de crescimento as propriedades variam de acordo com três eixos perpendiculares entre si: longitudinal, radial e tangencial, como pode ser visto na figura 3.1. Figura 3.1 – Orientação das fibras da madeira Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003) As diferenças das propriedades nas direções radial e tangencial são relativamente menores quando comparadas com a direção longitudinal. Comumente as propriedades da madeira são apresentadas, para utilização estrutural, somente no sentido paralelo às fibras da madeira (longitudinal) e no sentido perpendicular às fibras (radial e tangencial). 3.2 – Conceitos gerais a) Amostragem Para a investigação direta de lotes de madeira serrada considerados homogêneos, cada lote não deve ter volume superior a 12 m3. Do lote a ser investigado deve-se extrair uma amostra, com corpos de prova distribuídos aleatoriamente ao longo do lote, devendo ser representativa da totalidade do mesmo. Para isso não se devem retirar mais de um corpo de prova de uma mesma peça. Os corpos de prova devem ser isentos de defeitos e retirados de regiões afastadas das extremidades das peças de pelo menos 5 vezes a menor dimensão da seção transversal da peça considerada, mas nunca menor que 30 cm, ver figura 3.2. 15 O número mínimo de corpos de prova deve atender aos objetivos da caracterização: Caracterização simplificada: 6 corpos de prova; Caracterização mínima da resistência de espécies pouco conhecidas: 12 corpos de prova. ⎪⎭ ⎪⎬ ⎫ ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ × ≥ cm 30 5 ou b a Figura 3.2 - Esquema para extração de corpos de prova das peças. Fonte: NBR 7190/97 b) Valores característicos Os valores característicos das propriedades da madeira devem ser estimados pela expressão: 1,1 1 2 ... 2 1 2 21 × ⎟⎟ ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜⎜ ⎝ ⎛ − +++ ×= − n xxx x n wk (3.1) Os resultados devem ser colocados em ordem crescente xl ≤ x2 ≤ x3 ≤ ... ≤ xn, desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos de prova de prova for impar, não se tomando para xwk valor inferior a x1, nem a 0,7 do valor médio (xm). 3.3 - Umidade A quantidade de água existente influi grandemente nas demais propriedades da madeira. Sabe-se que a árvore, enquanto viva e mesmo após o corte, possui significativo teor de 16 umidade, que vai perdendo com o decorrer dos dias quando cortada. Inicialmente ocorre a perda de água de embebição ou água livre, contida no interior dos vasos ou traqueídes. A seguir, ocorre a evaporação da água de impregnação ou de constituição, contida nas paredes dos vasos, fibras e traqueídes. A água de embebição pode circular livremente nos interstícios dos elementos anatômicos básicos. Sua evaporação é rápida, provocando tensões capilares elevadas, sem alterar, contudo, as dimensões das peças de madeira. A água de impregnação está ligada às cadeias de celulose através das pontes de hidrogênio. É de evaporação mais difícil e vagarosa, seguida de variações nas dimensões da peça. Da existência de duas formas de água no interior da madeira nasce o conceito de ponto de saturação que é a umidade abaixo da qual toda a água existente é de impregnação, essa umidade gira em torno de 33%, ver figura 3.3. Á gu a Umidade Zero Umidade de Equilíbrio Ponto de Saturação das Fibras Umidade na Árvore Viva M ad ei ra S ól id a Á gu a (U m id ad e) Im pr eg na da Á gu a Li vr e Figura 3.3 - Umidade da madeira Paralelamente, é definida a umidade de equilíbrio, que é o teor de umidade em que se estabiliza a madeira, depois de algum tempo em contato com o ar atmosférico. A umidade de equilíbrio é função da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar. No Brasil, a umidade de equilíbrio varia entre 12 e 15%. A norma brasileira especifica a umidade de 12% como referência para a realização de ensaios e valores de resistência nos cálculos para fins de aplicação estrutural. 17 a) Determinação da umidade A umidade deve ser determinada experimentalmente de acordo com a NBR 7190/97. Para se ter uma ordem de grandeza da umidade, pode ser determinada através de aparelhos elétricos portáteis. a.1) Determinação experimental Define-se como teor de umidade (U) a relação: %100×−= s si m mm U (3.2) Sendo: mi = massa inicial úmida da madeira, em g. ms = massa da madeira seca, em g. A umidade é determinada, experimentalmente, através de corpos de prova de seção transversal retangular, com dimensões nominais de 2,0 cm x 3,0 cm e comprimento, ao longo das fibras, de 5,0 cm, como indicadas na figura 3.4. Figura 3.4 - Corpo de prova para determinação da umidade da madeira. A madeira pode ser considerada, esquematicamente, como sendo composto pela massa compacta de madeira e volume de vazios que poderá estar parte com água e parte com ar ou cheia de água. 18 Para a determinação da umidade, inicialmente, o corpo de prova úmido é pesado, determinando-se a massa inicial úmida com n% de umidade. Em seguida é colocado em uma estufa a temperatura constante de aproximadamente de 103º C ± 2º C e pesado a cada 6 horas, até que ocorra uma variação, entre duas medidas consecutivas, menor ou igual a 0,5% da última massa medida. Esta massa será considerada como massa seca da madeira, Aplicando a equação 3.1, obtém-se a umidade da madeira. a.2) Determinação através de aparelhos elétricos Um dos medidores de umidade mais utilizado está mostrado na figura 3.5. Ele opera pelo princípio de alta freqüência. A medição da umidade é feita por intermédio da interação do conjunto de sensores, localizados na face superior do medidor. O processo, além de não danificar a madeira, permite medição rápida e segura sobre grandes superfícies. Pode inclusive ser usado em peças com películas de acabamento, verniz ou plástico. Figura 3.5 - Aparelhos para medida e umidade b) Parâmetros de Projeto Segundo a NBR 7190/97, o projeto das estruturas de madeira deve ser feito admitindo-se uma das classes de umidade especificadas na tabela abaixo: Tabela 3.1 - Umidades de projeto Classes de umidade Umidade relativa ao ambiente (Uamb) Umidade de equilíbrio (Ueq) 1 ≤ 65% 12% 2 65%<Uamb≤75% 15% 3 75%<Uamb≤85% 18% 4 Uamb>85%(longos períodos) ≥ 25% 19 As classes de umidade têm por finalidade determinar as propriedades de resistências e de rigidez da madeira em função das condições ambientais onde permanecerão as estruturas. Estas também podem ser utilizadas para a escolha de métodos de tratamentos preservativos das madeiras. 3.4 – Estabilidade dimensional da madeira A diminuição ou o aumento da quantidade de água de impregnação provoca, respectivamente, a aproximação ou o afastamento entre as cadeias de celulose. Quando há pouca água de impregnação as cadeias de celulose se aproximam umas das outras ocorrendo a retração da madeira. Com o aumento da água de impregnação, as cadeias de celulose se afastam causando o inchamento. Devido a anisotropia da madeira, as retrações ou inchamento ocorrem diferentemente segundo as direções radial, tangencial e axial da peça, figura 3.6. Figura 3.6 - Direções principais - Retração. Fonte: Pfeil, W., Pfeil, M. (2003) A diferença entre as retrações nas três direções: tangencial, radial e axial, explica a maior parte dos defeitos que ocorrem com a secagem da madeira, rachaduras e empenamentos. Dependendo da regularidade ou não da direção das fibras de certas espécies de madeira, os empenamentos são ainda mais acentuados, ver figura 3.8. As madeiras mais estáveis quanto as suas dimensões, rachaduras e empenamentos são as que apresentam menores valores para as retrações e menores diferenças entre as retrações nas três direções consideradas. Em ordem decrescente de valores, encontra-se a retração tangencial com valores de até 10% de variação dimensional. Na seqüência, a retração radial com valores da ordem de 6% de variação dimensional e finalmente encontra-se a retração 20 longitudinal com valores de 0,5% de variação dimensional. Na figura 3.7, é apresentado um gráfico de retração em função da umidade. Notar que variações de umidade acima do ponto de saturação (33%) não acarretam retrações nas peças. Figura 3.7 - Retração x Umidade. Fonte:HELLMEISTER, J. C. (1974) Num processo inverso, também pode ocorrer, o inchamento, que se dá quando a madeira fica exposta a condições de alta umidade e ao invés de perder água, ela absorve, provocando um aumento nas dimensões das peças. Figura 3.8 – Retração e distorção em peças de seções variadas afetadas pela direção dos anéis de crescimento. Fonte: Wood Handbook (1999) 21 Figura 3.9 - Defeitos da madeira durante a secagem. Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003) Os corpos de prova para determinação da estabilidade dimensional devem ser como indicados na figura 3.4. E devem conter umidade acima do ponto de saturação das fibras. Quando o teor de umidade for menor que o ponto de saturação das fibras, deve-se reumidificar o corpo de prova. Devem ser determinadas as distâncias entre os lados do corpo de prova durante os processos de secagem e de reumidificação, com precisão de 0,01 mm. As distâncias devem ser determinadas com pelo menos 3 medidas em cada lado do corpo de prova. As deformações especificas de retração, εr, e de inchamento, εi, são consideradas como índices de estabilidade dimensional e são determinadas, para cada uma das direções preferenciais, em função das respectivas dimensões da madeira saturada e seca, sendo dados por: 100 ,1 sec,1,1 1, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= sat asat r L LLε 100 ,2 sec,2,2 2, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= sat asat r L LLε (3.3) 100 ,3 sec,3,3 3, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= sat asat r L LLε Encanoamento Arqueamento Encurvamento Torcimento 22 100 sec,1 sec,1,1 1, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= a asat i L LLε 100 sec,2 sec,2,2 2, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= a asat i L LLε (3.4) 100 sec,3 sec,3,3 3, ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −= a asat i L LLε 100 sec sec ×⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −=Δ a asat V VV V (3.5) 3.5 - Densidade Como as demais propriedades físicas da madeira, a densidade depende da espécie em estudo, do local de procedência da árvore, da localização do corpo de prova na tora e da umidade. O valor da densidade também oscila entre valores próximos aos valores médios da espécie. A norma brasileira apresenta duas definições de densidade a serem utilizadas em estruturas de madeira. A densidade básica e a densidade aparente. a) Densidade básica (ρbas) A “densidade básica” é uma massa específica convencional definida pela razão entre a massa e o volume saturado, sendo dada por: sat s bas V m=ρ (3.6) Onde: ms = massa seca da madeira, em kg; Vsat = volume da madeira saturada, em metro cúbico. O volume saturado é determinado pelas dimensões finais do corpo de prova submerso em água até que atinja massa constante ou com o máximo uma variação de 0,5% em relação à média anterior. A massa seca é determinada pelo mesmo procedimento apresentado quando a determinação da umidade. 23 b) Densidade aparente (ρap) A densidade aparente é determinada em diversos corpos de prova de cada espécie a estudar, sendo a razão entre o peso do corpo de prova e o seu volume aparente, figura 3.10. É um parâmetro importante quando se quer estimar a qualidade estrutural de determinada espécie de madeira. Quanto maior a densidade, melhor serão as suas características mecânicas. i i ap V m=ρ (3.7) Onde: mi = massa inicial úmida em kgf; Vi = volume de madeira úmida em metro cúbico. Figura 3.10 - Esquema para determinação da ρap 3.6 – Resistência ao fogo Tradicionalmente a madeira é considerada um material de baixa resistência ao fogo. Isto se deve principalmente à falta de conhecimento da resistência da madeira quando colocada sob ação do fogo, pois sendo bem dimensionada ela apresenta resistência ao fogo superiores a outros materiais estruturais. Uma peça de madeira exposta ao fogo torna-se um combustível para a propagação das chamas. Com o tempo, uma camada mais externa da madeira se carboniza bloqueando as chamas. Só que, esta mesma camada que retém o calor, tendendo a propagar as chamas, auxilia na contenção do incêndio desprendendo-se da peça de madeira não afetada pelas chamas. Isto evita que toda a peça seja destruída. A proporção de madeira carbonizada com o tempo varia de acordo com a espécie e as condições de exposição ao fogo. Entre a porção carbonizada e a madeira sã encontra-se uma região intermediária afetada pelo fogo mas não carbonizada, porção esta que não deve ser levada em consideração na resistência. Na figura 3.11, é mostrado um esquema da queima e o resultado de um ensaio de queima. 24 Figura 3.11 – Resistência ao fogo Fonte: Calil Jr., C., et al. (2003) Outra característica importante da madeira com relação ao fogo é o fato de não apresentar distorção, nas características mecânicas, quando submetida a altas temperaturas, como ocorre com o aço, dificultando assim a ruína da estrutura. 3.7 – Durabilidade natural A durabilidade da madeira, com relação à biodeterioração, depende da espécie e das características anatômicas. Certas espécies apresentam alta resistência natural ao ataque biológico enquanto outras são menos resistentes. Outro ponto importante que deve ser destacado é a diferença na durabilidade da madeira de acordo com a região da tora da qual a peça de madeira foi extraída, pois, como visto anteriormente, o cerne e o alburno apresentam características diferentes, incluindo-se aqui a durabilidade natural, com o alburno sendo muito mais vulnerável ao ataque biológico. A baixa durabilidade natural de algumas espécies pode ser compensada por um tratamento preservativo adequado às peças, alcançando-se assim melhores níveis de durabilidade, próximos dos apresentados pelas espécies naturalmente resistentes. 3.8 – Resistência química A madeira, em linhas gerais, apresenta boa resistência a ataques químicos. Em muitas indústrias é preferida em lugar de outros materiais que sofrem mais facilmente o ataque de agentes químicos. Em alguns casos a madeira pode sofrer danos devidos ao ataque de ácidos ou bases fortes. O ataque das bases provoca aparecimento de manchas esbranquiçadas decorrentes da ação sobre a lignina e a hemicelulose da madeira. Os ácidos também atacam a madeira causando uma redução no seu peso e na sua resistência. 25 4 PRODUTOS COMERCIAIS DA MADEIRA 4.1 - Introdução A madeira é matéria prima de vários produtos industriais. Estes produtos englobam tanto peças estruturais quanto não estruturais. Uma primeira classificação dos produtos derivados da madeira pode ser feita de acordo com a forma preponderante na sua fabricação: processos químicos ou mecânicos. Dentro dos produtos processados mecanicamente, existem vários critérios que podem ser usados para classificação destes produtos de madeiras. Um critério bem geral que engloba todas as madeiras processadas é baseado na forma das peças. Segundo este critério, são identificados dois grandes grupos: as peças lineares e os painéis. As peças lineares de madeira podem ser classificadas segundo as dimensões das peças de madeira utilizadas na sua fabricação: • Madeira roliça; • Madeira falquejada; • Madeira serrada; • MLC (Madeira Laminada Colada); • LVL (Laminated Veneer Lumber); • LSL (Laminated Strand Lumber); • PSL (Paralel Strand Lumber); • Vigas pré-moldadas de madeira. Os painéis de madeira também podem ser classificados segundo as dimensões das peças de madeira utilizadas na sua fabricação: • Madeira compensada; • Madeira aglomerada; 26 • Painéis de fibra de madeira: - Painéis de isolamento - MDF (Médium Density Fiberboard) - HDF (Hard-board) • OSB (Oriented Strand Board). Os produtos industrializados derivados da madeira passam por um processo de fabricação segundo a sua utilização final. O processo de fabricação pode ser dividido em 3 etapas que são comuns a todos os produtos industrializados de madeira. 1ª Etapa: Corte da árvore e transporte das toras 2ª Etapa: Processamento e tratamento da madeira 3ª Etapa: Verificação da qualidade e distribuição do produto 1ª Etapa: Corte da árvore e transporte das toras 2ª Etapa: Processamento e tratamento da madeira 3ª Etapa: Verificação da qualidade e distribuição do produto A primeira etapa deste processamento é o corte da árvore e o transporte das toras. A árvore dever ser abatida ao atingir a maturidade, pois nesta ocasião o cerne ocupa a maior parte do tronco, obtendo-se dessa maneira, madeira de melhor qualidade. O corte da árvore deve ser feito na época da seca para evitar muita concentração de umidade na madeira facilitando a sua secagem. A segunda etapa varia de acordo com o produto final, que deve sempre buscar uma utilização mais racional da madeira. A definição dos produtos finais e do processamento e tratamento da madeira (2ª Etapa) serão descritos a seguir. 4.2 – Processamento e tratamento da madeira a) MADEIRA ROLIÇA É utilizada com maior frequência como elemento estrutural sujeito apenas à esforços axiais (pilares, postes e estacas) ou em estruturas provisórias (escoramentos). Também pode estar solicitada à esforços de flexão. As madeiras roliças mais usadas no Brasil são o Pinho do Paraná e o Eucalipto. O corte da árvore deve ser feito preferencialmente na época da seca para evitar concentração de água na madeira. 27 Figura 4.1 – Toras de madeira Figura 4.2 – Construções com toras de madeira Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf O processamento das toras consiste na eliminação da casca e na secagem da madeira. Existem máquinas especiais para o descascamento e a secagem da madeira deve ser feita em lugar arejado e protegido do sol. Figura 4.3 – Descascamento das toras de madeira Quando a madeira utilizada não apresenta durabilidade natural satisfatória à sua condição de uso, ela pode ser tratada com produtos químicos, para maior durabilidade das peças. Um tratamento muito comum é a aplicação dos produtos químicos em autoclaves. O CCA (Arsenito de Cobre Cromatado), é o produto químico mais usado no mundo para tratar madeira. O 28 cromo funciona como fixador, o arsênio como agente inseticida e o cobre como fungicida. O CCA é aplicado à madeira em solução aquosa. O tratamento com a utilização da autoclave é descrito a seguir e ilustrado no esquema seguinte: Figura 4.4 – Processo de tratamento da madeira com autoclave Fonte: Revista da Madeira – Setembro 2001 Descrição do tratamento da madeira tratada por pressão em autoclave: 1- Operação de vácuo inicial, é retirado o ar das células da madeira; 2- Bomba de vácuo ligada, temperatura ambiente, a solução preservativa é transferida para a autoclave; 3- Com a utilização da bomba, é aplicada uma pressão no interior da autoclave; 4- A bomba é desligada para aliviar a pressão, uma válvula é aberta para permitir a saída da solução preservativa que não penetrou na madeira. Pode ser aplicado o vácuo novamente, para facilitar a retirada da solução preservativa; 5- Aplicação de pressão final. Figura 4.5 – Autoclave para tratamento da madeira Fonte: Revista da Madeira – Setembro 2001 A peça roliça é de diâmetro variado em forma de tronco de cone. No cálculo para o dimensionamento de peças estruturais é admitida uma peça cilíndrica de diâmetro igual ao de 1/3 do comprimento da peça a partir da extremidade mais fina. 29 ( ) 3 2 máxmín cal DD D +×= Figura 4.6 – Madeira Roliça b) MADEIRA FALQUEJADA É obtida de troncos por cortes de machado com seções transversais quadradas ou retangulares. Dependendo do diâmetro dos troncos, podem ser obtidas seções maciças falquejadas de grandes dimensões, como por exemplo (30 x 30) ou (60 x 60) cm. A seção que produz menos perda é a quadrada. A seção que dá maior momento de inércia é um retângulo com as dimensões apresentadas a seguir: b h d 2 d b = dh 2 3= Figura 4.7 – Seção de madeira com maior momento de inércia Existem máquinas especiais para o descascamento e o corte da madeira, conforme mostra a figura a seguir: Figura 4.8 – Picadores de madeira Quando a madeira utilizada não apresenta durabilidade natural satisfatória também pode ser tratada como descrito anteriormente para a madeira roliça. 30 c) MADEIRA SERRADA A madeira serrada é obtida pelo processo de desdobramento das toras de madeira em lâminas com dimensões variadas. O desdobramento do tronco em lâminas de madeira deve ser feito o mais cedo possível, após o corte da árvore, a fim de evitar defeitos decorrentes da secagem da madeira. Os troncos são cortados em serras especiais, na espessura desejada. Figura 4.9 – Tipos de desdobramento da madeira. Fonte: Johnson ,H. (1991) Outro processo de desdobramento é o processo no qual o tronco é dividido inicialmente em 4 partes. Estas partes podem ser desdobradas segundo a necessidade. Quando se faz o desdobro na direção radial, as lâminas são mais homogêneas, porém mais onerosas. O comprimento da tora é limitado por problemas de transporte e manejo, fixando em geral na faixa de 4 a 6 metros. Figura 4.10 – Desdobro da madeira Fonte: http://www.curdev-fe-ni.ac.uk/Wood%20Occupations/html/pdf/jobknowledge.pdf A madeira serrada antes de ser utilizada nas construções deve passar por um período de secagem. Essa secagem pode ser feita naturalmente empilhando a madeira, deixando um espaço entre elas para a circulação do ar, e deve estar abrigada contra a chuva. O tempo de secagem demora em tomo de 1 a 3 anos, dependendo da espécie, da espessura e da densidade da madeira. 31 Para acelerar essa secagem foram desenvolvidos métodos artificiais que consistem basicamente na circulação de ar quente com baixa umidade. O tempo de demora é geralmente de 5 a 10 dias para cada 5 cm de espessura. As madeiras serradas são vendidas com seções padronizadas, tabela 4.1. A PB-5 (padronização de madeira serrada) nos apresenta as dimensões comerciais. Tabela 4.1 - Bitolas comerciais em Minas Gerais Tipo Ipê Madeira de Lei* Caibro 7,5 x 4 7,5 x 4 Ripa 1,5 X 4 1,5 X 4 Tábua 30 x 4 30 x 4 Tábua 30 x 5 30 x 5 Tábua 30 x 7,5 30 x 7,5 Vigas 7,5 x12 7,5 x12 Vigas 7,5 x 15 7,5 x 15 Vigas 7,5 x18 7,5 x18 Vigas 7,5 x 20 7,5 x 20 Vigas 7,5 x 23 7,5 x 23 Vigas 7,5 x 30 7,5 x 30 Vigas 8 x 15 8 x 15 Vigas 8 x 12 8 x 12 Vigas 20 x 20 20 x 20 Vigas 15 x 15 15 x 15 *paraju, jatobá, angico vermelho, angelim pedra, roxinho, garapa amarelo. d) MADEIRA LAMINADA COLADA É um produto estrutural formado por associação de duas ou mais lâminas de madeira selecionadas e secas, coladas com adesivo. As fibras das lâminas têm, geralmente, direção paralela ao eixo das peças. A espessura das lâminas varia de 1,5 a 3,0 cm, podendo atingir até 5,0 cm. As lâminas são emendadas com adesivos formando peças de grandes dimensões e comprimentos. Os produtos estruturais industrializados de madeira laminada colada são fabricados sob rígido controle de qualidade. Um bom controle garante a preservação das características de resistência e durabilidade da madeira; permite também melhor controle da umidade das lâminas reduzindo efeitos provenientes da secagem irregular. Esse processo de associação de lâminas permite confeccionar peças de grandes dimensões, peças de eixo curvo como arcos, cascas, etc. Na figura 4.11, encontram-se algumas seções. 32 Figura 4.11 - Seções transversais de madeira laminada colada e) COMPÓSITOS ESTRUTURAIS DE MADEIRA (SCL – Structural Composite Lumber) Os compósitos estruturais de madeira são todas as peças formadas a partir da colagem de pequenos pedaços de madeira unidos com adesivos. Os principais compósitos de madeira são: LVL (Laminated veneer lumber) O LVL é formado a partir da colagem de lâminas finas de madeira com a direção das fibras de todas as lâminas orientadas na direção longitudinal da peças. Em peças de grandes espessuras, algumas lâminas podem ser posicionadas com a direção das fibras perpendiculares ao eixo da peça com o objetivo de reforçar a peça e aumentar sua estabilidade. As lâminas utilizadas (veneers) possuem espessura que variam entre 2,5 a 3,2 mm e são obtidas das toras de madeira pelo corte utilizando-se facas especiais, conforme a figura 4.12. Fonte: Johnson ,H. (1991) Figura 4.12 – Obtenção de lâminas fina de madeira Depois de cortadas, as lâminas finas de madeira são submetidas a secagem artificial ou natural. Na secagem natural as lâminas são abrigadas em galpões cobertos e bem ventilados. A secagem artificial se faz a temperatura de 80 a 100º C, impedindo os empenamentos com 33 auxílio de prensas. A secagem artificial é rápida podendo variar de 10 a 15 minutos para lâminas de 1 mm. Os adesivos utilizados são a prova d’água, geralmente formaldeídos e isocianetos. As emendas entre as folhas podem ser de topo, com as extremidades sobrepostas por uma determinada distância que assegure a transferência de carga. Pode haver um escalonamento entre as emendas ao longo da peça para minimizar seu efeito na resistência. A prensagem utilizada é normalmente a quente. A pressão de prensagem depende da resina e da densidade da madeira. A temperatura depende da resina e da umidade da lâmina. As peças são normalmente produzidas com larguras variando de 0,6 m a 1,2 m e espessura de 3,8 cm. A dimensão do comprimento pode ser ilimitada desde que a pressão aplicada seja continuamente. Depois de fabricados, eles podem ser cortados com as dimensões desejadas. As propriedades resistentes são elevadas e o material bem homogêneo, pois as características que diminuem sua resistência (como os nós) são dispersadas dentro das lâminas, tendo pouca influência nas suas propriedades resistentes. Figura 4.13 – SCL Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf LSL (Laminated Strand Lumber) É um produto fabricado a partir de uma extensão da tecnologia para se fabricar OSB. As tiras finas de madeira (strand) utilizadas são maiores do que as utilizadas no OSB e mais largas que as utilizadas no PSL, com um comprimento de aproximadamente 0,3 m. É fabricado com adesivos à prova d’água, sendo necessários um alto grau de alinhamento das tiras de madeira, alta pressão e temperatura. O produto final possui elevada densidade. 34 Figura 4.14 – Strand e LSL Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf PSL (Parallel Strand Lumber) O PSL é formado a partir da colagem de tiras longas e finas de madeira (strand) com adesivos a prova d’água, geralmente fenol-resorcinol formaldeídos. A aparência final do PSL é a de um “espaguete grudado”. As tiras são orientadas e distribuídas por um equipamento especial. A pressão aplicada na prensagem aumenta a densidade do material e a cura é feita com microondas. As dimensões das peças são normalmente 0,28m x 0,48m e podem ser serradas em dimensões menores. O comprimento é limitado apenas pelas condições de manejo das peças, desde que a pressão seja contínua. Pode utilizar restos das lâminas de LVL. Figura 4.15 - PSL Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf f) VIGAS PRÉ-FABRICADAS As vigas pré-fabricadas mais utilizadas são as de seção I normalmente com seção composta, sendo a alma de um painel estrutural e as mesas de compósitos estruturais de madeiras (SCL) ou MLC. São produzidas com diferentes dimensões. 35 Figura 4.16 – Vigas pré-fabricadas com seção I Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf Também são comuns as treliças pré-fabricadas de madeira com diferentes produtos de madeira e mesmo aço. Figura 4.17 – Treliças mistas pré-fabricadas de aço e LVL Fonte: http://www.awc.org/HelpOutreach/eCourses/MAT210/EWP.pdf g) PAINÉIS DE MADEIRA: COMPENSADO DE MADEIRA A madeira compensada é formada pela colagem de 3 ou mais lâminas finas de madeira (veneers), secas naturalmente ou artificialmente conforme descrito para a fabricação de LVL, sempre em numero ímpar. A direção das fibras da madeira nas lâminas adjacente é sempre ortogonal, conforme o esquema de fabricação na figura 4.18. 36 Figura 4.18 - Esquema de fabricação do compensado. A colagem é feita sob pressão, podendo ser utilizadas prensas à frio e à quente. Os compensados destinados a utilização em seco, como portas, armário, divisórias, etc., podem ser colados com colas de caseínas, solúvel em água. Os compensados estruturais, sujeitos a variações de umidade ou expostos ao tempo, devem ser fabricados com colas sintéticas: esses compensados fabricados com colas sintéticas não danificam no contato com a água. Podem ser fabricados em folhas grandes, com defeito reduzido. Com a disposição ortogonal das lâminas no compensado, obtém-se um produto aproximadamente isotrópico, com reduzida retração e inchamento na peça, e das trincas na cravação dos pregos. A madeira compensada apresenta vantagens sobre a maciça em estados de tensões biaxiais, que aparecem nas almas das vigas, nas estruturas de barras dobradas ou nas cascas. O painel de compensado é utilizado pela indústria da construção civil, pela indústria moveleira e como embalagens. Ë um produto, que no mercado mundial, vem sendo substituído pelos painéis de aglomerado e MDF, uma vez que vem sofrendo restrições ambientais, escassez de matéria-prima e elevação dos custos de produção. MADEIRA AGLOMERADA São geralmente feitos de fibras de madeira. A partir dos troncos, com um desfibrador, retiram- se as fibras que são lavadas e misturadas com produtos químicos que irão garantir sua durabilidade e permanência na água. A polpa já tratada sofre uma desidratação antes de ser 37 submetida à mistura com adesivo e à ação controlada do calor, pressão e umidade. A principal utilização da madeira aglomerada é na fabricação de móveis. A qualidade da madeira aglomerada depende da qualidade das matérias primas utilizadas: a madeira e o adesivo e da tecnologia do processo de fabricação. O painel de aglomerado pode ser pintado ou revestido com vários materiais, destacando-se papéis impregnados com resinas melamínicas, papéis envernizáveis, lâminas ou folhas de madeira natural. Figura 4.19 – Peças de madeira aglomerada Fonte: http://www.rautewood.com/products_services/end_product_applications_photo_gallery.html PAINÉIS DE FIBRA DE MADEIRA Esses painéis são produzidos a partir de fibras de madeira misturadas com adesivos e consolidadas com pressão e calor. Figura 4.20 – Fibras de madeira para a fabricação de painéis Fonte: Wood Handbook (1999) A fabricação destes painéis vem crescendo no mundo, pois se apresentam como solução para o aproveitamento de resíduos da indústria da madeira. A principal utilização dos painéis de fibra de madeira é na indústria moveleira, mas pode também ser usado nas estruturas. Os painéis de fibras de madeira são, normalmente, fabricados com três camadas. 38 As duas camadas externas são de maior densidade e formadas por partículas de madeira mais finas. A camada interna é de menor densidade, formada por partículas de madeira mais grossas e grande uniformidade. Esta característica destes painéis fornece maior dureza e menor absorção de tintas e solventes nas camadas externas, facilitando o seu revestimento e laminação. Como revestimentos podem ser utilizados vernizes, pinturas, lâminas de madeira ou de PVC. Existem três tipos de painéis de fibras de madeira que de acordo com a sua densidade: painéis de isolamento, MDF e HDF. PAINÉIS DE ISOLAMENTO São painéis de baixa densidade e utilizados como isolantes em geral. Depois de fabricados, alguns processos podem ser usados para melhorar a estabilidade dimensional e suas propriedades mecânicas, como por exemplo: - Tratamento a quente: reduz a absorção da água e melhora a colagem entre as fibras. - Temperados: é um tratamento a quente com a adição de óleos inicialmente. Melhora a aparência da superfície, a resistência à abrasão e à água. - Umidificação: adição de água para equilibrar o teor de umidade do painel com o ar. MDF (Médium Density Fiberboard) São painéis de média densidade e utilizados principalmente pela indústria moveleira. Normalmente, o MDF apresenta preço maior do que o painel de aglomerado e inferior comparativamente ao painel de compensado. HDF (Hard-board) São painéis de alta densidade e utilizados pela indústria da construção e pela moveleira. 39 OSB (Oriented Strand Board) É um painel estrutural fabricado com fibras de madeira finas, alinhadas e coladas com resina à prova d’água, pressionadas com elevada temperatura. São utilizados principalmente como painéis estruturais em pisos, telhados e paredes. A segunda etapa do processo de fabricação tem início com a chegada das toras à um tanque de alimentação do processo de fabricação. A água neste tanque é normalmente aquecida. As toras são encaminhadas para a fase seguinte onde são preparadas para o corte. Os pedaços finos de madeira (strand) são cortados com as dimensões adequadas e seguem para um depósito úmido. Neste depósito os pedaços de madeira são secos, misturados à cera e resina. É feita a orientação dos pedaços de madeira e formação das camadas. É importante notar que as camadas adjacentes são dispostas perpendicularmente. A seguir há prensagem do painel a elevada temperatura e cura da resina. Depois de prensado os painéis têm em média 1/8 da sua espessura inicial (antes da prensagem). Os painéis são cortados com as dimensões desejadas e são dados os acabamentos finais. É importante ressaltar ainda que o OSB é um produto muito uniforme, de elevada resistência mecânica e não agressivo ao meio ambiente. Devido a estas vantagens sua utilização vem aumentando. 40 Figura 4.21 - Processo de fabricação do OSB - Fonte: Wood Handbook (1999) A última etapa de fabricação engloba os métodos de controle de qualidade do produto e todos os cuidados para o transporte e distribuição das peças de madeira. Para evitar problemas futuros é importante que as peças depois de prontas sejam isoladas da umidade pela aplicação de algum produto químico ou mesmo pela utilização de embalagens isolantes. 41 5 CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DA MADEIRA 5.1 - Introdução A madeira é um material não homogêneo com muitas variações. Além disso existem diversas espécies com diferentes propriedades. Sendo assim é necessário o conhecimento de todas estas características para um melhor aproveitamento do material. Propriedades físicas e mecânicas são desta forma estudadas e servem de parâmetros para escolha e dimensionamento de peças estruturais. As propriedades físicas já foram objeto de análise no capítulo 3. No presente capítulo serão analisadas as propriedades mecânicas da madeira. As propriedades mecânicas são responsáveis pela resposta da madeira quando solicitada por forças externas. Para a determinação das propriedades da madeira são executados ensaios padronizados em amostras “sem defeitos” (para evitar a incerteza dos resultados obtidos em peças com defeitos). Os procedimentos para a caracterização completa da madeira e definição de parâmetros para uso em estruturas são apresentados no anexo B da Norma Brasileira (NBR 7190/97). Os métodos de ensaio para determinação das propriedades da madeira também são apresentados na Norma Brasileira. Para facilitar a descrição das propriedades mecânicas, as mesmas serão divididas em propriedades de elasticidade e de resistência. 5.2 - Propriedades elásticas Elasticidade é a capacidade do material, após retirada a ação externa que a solicitava, retornar à sua forma inicial, sem apresentar deformação residual. A madeira, apesar de não ser um 42 material elástico ideal, pois apresenta uma deformação residual após a solicitação, pode ser considerada como tal para a maioria das aplicações estruturais. As propriedades elásticas são descritas por três constantes: o módulo de elasticidade longitudinal (E), o módulo de elasticidade transversal (G) e o coeficiente de Poisson (ν). Como a madeira é um material ortotrópico, as propriedades de elasticidade variam de acordo com a direção das fibras em relação à direção da aplicação da força. a) MÓDULO DE ELASTICIDADE (E) De acordo coma a Norma Brasileira são usados três valores de módulo de elasticidade: o módulo de elasticidade longitudinal (E0), determinado através do ensaio de compressão paralela às fibras da madeira; o módulo de elasticidade normal (E90), que pode ser representado segundo a NBR 7190/97, como uma fração do módulo de elasticidade longitudinal pela seguinte expressão: 20 0 90 E E = (5.1) ou ser determinado por ensaio de laboratório; e o módulo de elasticidade na flexão (EM), que também pode ser determinado de acordo com o método de ensaio apresentado pela Norma Brasileira e pode ser relacionado com o módulo de elasticidade longitudinal através das expressões abaixo: para as coníferas 085,0 EEM = para as dicotiledôneas 090,0 EEM = (5.2) b) MÓDULO DE ELASTICIDADE TRANSVERSAL (G) Segundo a NBR 7190/97, pode ser estimado a partir do módulo de elasticidade longitudinal (E0), pela seguinte relação: 20 0EG = (5.3) c) COEFICIENTE DE POISSON (ν) A madeira como um material elástico, ortotrópico possui três direções principais de 43 elasticidade: longitudinal, radial e tangencial, ortogonais entre si, e relacionadas pelo coeficiente de Poisson (ν). A Norma Brasileira NBR 7190/97, não traz em seu texto nenhuma especificação a respeito dos valores dos coeficientes de Poisson para a madeira. 5.3 - Propriedades de resistência Estas propriedades descrevem a resistência de um material quando solicitado por uma força. Da mesma forma que o exposto anteriormente, as propriedades de resistências da madeira também diferem segundo os três principais eixos, embora com valores muito próximos nas direções tangencial e radial. Por isso as propriedades de resistência são analisadas segundo duas direções: paralela e normal às fibras. a) COMPRESSÃO Três são as solicitações a que se pode submeter a madeira na compressão: normal, paralela ou inclinada em relação às fibras. Quando a peça é solicitada por compressão paralela às fibras, as forças agem paralelamente à direção do comprimento das células. Desta forma as células, em conjunto, conferem uma grande resistência à madeira na compressão. Para o caso de solicitação normal às fibras, a madeira apresenta valores de resistência menores que os de compressão paralela, pois a força é aplicada na direção normal ao comprimento das células, direção esta onde as células apresentam baixa resistência. Os valores de resistência a compressão normal às fibras são da ordem de 1/4 dos valores apresentados pela madeira na compressão paralela. A figura abaixo mostra de maneira simplificada o comportamento da madeira quando solicitada a compressão. 44 Figura 5.1 Comportamento da madeira na compressão Fonte: Calil Jr., C. (2003) Compressão paralela: tendência de encurtar as células da madeira ao longo de seu eixo longitudinal. Compressão normal: comprime as células da madeira perpendicularmente ao seu eixo. Compressão inclinada: age tanto paralela como perpendicularmente às fibras. Figura 5.2 - Compressão na madeira Fonte: Calil Jr., C. (2003) 45 Já para solicitações inclinadas em relação às fibras da madeira adotam-se valores intermediários entre a compressão paralela e a normal, valores estes obtidos pela expressão de Hankison: θθθ 29020 900 cos×+× ×= cc cc c fsenf ff f (5.4) b) TRAÇÃO Duas solicitações diferentes de tração podem ocorrer em peças de madeira: tração paralela ou tração perpendicular às fibras da madeira. As propriedades da madeira referentes a estas solicitações diferem consideravelmente. A ruptura por tração paralela às fibras pode ocorrer de duas maneiras, por deslizamento entre as células ou por ruptura das paredes das células. Em ambos os modos de ruptura, a madeira apresenta baixos valores de deformação e elevados valores de resistência. Já na ruptura por tração normal às fibras a madeira apresenta baixos valores de resistência. Análogo ao caso da compressão normal às fibras, na tração os esforços agem na direção perpendicular ao comprimento das fibras tendendo a separá-las, alterando significativamente a sua integridade estrutural e apresentando baixos valores de deformação. Deve-se evitar sempre que possível, a consideração da resistência da madeira quando solicitada à tração na direção normal à fibras para efeito de projetos. Tração paralela: alongamento das células da madeira ao longo do eixo longitudinal Tração normal: tende a separar as células da madeira perpendicular aos seus eixos, onde a resistência é baixa, devendo ser evitada Figura 5.3 — Tração na madeira Fonte: Calil Jr., C. (2003) 46 c) CISALHAMENTO Existem três tipos de cisalhamento que podem ocorrer em peças de madeira. O primeiro se dá quando a ação age no sentido perpendicular às fibras (cisalhamento vertical). Este tipo de solicitação não é crítico na madeira, pois antes de romper por cisalhamento a peça já apresentará problemas de resistência na compressão normal. Os outros dois tipos de cisalhamento referem-se à força aplicada no sentido longitudinal às fibras (cisalhamento horizontal) e com a força aplicada perpendicular às linhas dos anéis de crescimento (cisalhamento “rolling”). O caso mais crítico é o do cisalhamento horizontal que leva a ruptura pelo escorregamento entre as células de madeira. Já o cisalhamento “rolling” produz uma tendência das células rolarem umas sobre as outras. Cisalhamento vertical: deforma as células da madeira perpendicularmente ao seu eixo longitudinal. Normalmente não é considerado, pois outras falhas irão ocorrer antes. Cisalhamento horizontal: produz a tendência das células da madeira de separar e escorregar longitudinalmente. Cisalhamento perpendicular: produz a tendência das células da madeira rolarem umas sobre as outras, transversalmente ao eixo longitudinal. Figura 5.4 - Cisalhamento na madeira Fonte: Calil Jr., C. (2003) d) FLEXÃO SIMPLES Quando a madeira é solicitada à flexão simples ocorrem quatro tipos de esforços: compressão paralela às fibras, tração paralela às fibras, cisalhamento horizontal e nas regiões dos apoios compressão normal às fibras. A ruptura em peças de madeira solicitadas pelo momento fletor ocorre pela formação de minúsculas falhas de compressão seguidas pelo desenvolvimento de 47 enrugamentos de compressão macroscópicas. Este fenômeno gera aumento da região comprimida e diminuição a região tracionada, a qual pode eventualmente romper por tensão de tração. Figura 5.5 - Flexão na madeira Fonte: Calil Jr., C. (2003) e) TORÇÃO As propriedades da madeira solicitadas por torção são muito pouco conhecidas. A Norma Brasileira recomenda evitar a torção de equilíbrio em peças de madeira em virtude do risco de ruptura por tração normal às fibras decorrentes do estado múltiplo de tensões atuante. f) RESISTÊNCIA DA MADEIRA EM FUNÇÃO DA VELOCIDADE DE CARREGAMENTO Esta propriedade da madeira é bastante peculiar. Através de ensaios experimentais conclui-se que a madeira aumenta a sua resistência a medida que diminui o tempo de aplicação de carga, chegando até a duplicar. Na figura 5.6 encontra-se um gráfico de resistência em função do tempo de duração da carga. Figura 5.6 – Gráfico Resistência x duração de carga 48 g) DEFORMAÇÃO LENTA Quando uma peça de madeira está solicitada a um carregamento de longa duração, nota-se um aumento das deformações (flechas) com o tempo, esse fenômeno é conhecido como deformação lenta. A figura 5.7 representa um ensaio típico de deformação lenta. Figura 5.7 - Resultado de um ensaio de deformação lenta Pode-se observar na figura 5.7 que o deslocamento final (df) é aproximadamente 50% maior que o deslocamento inicial elástico (d1). Por esse motivo a Norma Brasileira recomenda que para o carregamento permanente, seja adotado para o cálculo de flechas um módulo de elasticidade efetivo, sendo igual ao módulo de elasticidade multiplicado por coeficientes de modificação que levarão em conta estes fenômenos e mais alguns. 49 6 CARACTERIZAÇÃO DA MADEIRA 6.1 - Introdução A madeira é um material não homogêneo com muitas variações. Além disso, existem diversas espécies com diferentes propriedades. Sendo assim, é necessário o conhecimento de todas estas características para um melhor aproveitamento do material. Os procedimentos para caracterização destas espécies de madeira e a definição destes parâmetros são apresentados nos anexos da Norma Brasileira para projetos de Estruturas de Madeira, NBR 7190/97. Do ponto de vista estrutural, é necessário conhecer propriedades da madeira relativas à seguintes características. • Propriedades físicas da madeira: umidade, densidade, retratibilidade e resistência ao fogo; • Compressão paralela e normal às fibras; • Tração paralela às fibras; • Cisalhamento; • Módulo de elasticidade; • Embutimento. De maneira simplificada podemos afirmar que, para uma correta avaliação das propriedades físicas e mecânicas de uma peça de madeira, alguns critérios relativos à forma como a caracterização será feita devem ser considerados. Deve-se escolher, portanto, o tipo de avaliação a ser feita, que poderá ser: • Condição padrão de referência (para valores no intervalo entre 10% e 20% de umidade), onde serão admitidos os valores f12 e E12 correspondentes à classe de umidade 1; • Caracterização completa da resistência da madeira, onde serão avaliadas propriedades físicas e mecânicas dos corpos de prova ensaiados; 50 • Caracterização mínima da resistência de espécies pouco conhecidas onde serão avaliadas apenas algumas propriedades das espécies. (necessário um número mínimo de 12 amostras); • Caracterização simplificada para espécies usuais (necessário um número mínimo de 06 amostras). Aqui é tomado como referência o valor de fco,k e a partir daí são estabelecidas algumas relações com as demais propriedades; • Avaliação por meio de classes de resistências onde tem-se que fcok,ef > fcok,especif. ; • Estimativa das características tabeladas. Os valores obtidos experimentalmente são comparados a tabelas caracterizando-se assim a espécie. Os lotes investigados devem possuir um volume inferior a 12 m3. Deve-se cuidar ainda que sejam obedecidas as seguintes relações entre as resistências característica e média: fwk,12=0,70×fwm,12 e fwv,k=0,54×fwv,m. Todos os valores obtidos experimentalmente devem ser corrigidos para o teor de umidade de 12%. Uma descrição mais detalhada de cada uma dessas avaliações será feita a seguir aplicando-se conceitos já existentes. Porém antes serão definidas as propriedades a serem consideradas para na caracterização da madeira. Os procedimentos de caracterização descritos a seguir estão inteiramente baseados na NBR 7190/97. 6.2 – Propriedades a considerar As propriedades da madeira são condicionadas por sua estrutura anatômica, devendo distinguir-se os valores correspondentes à tração dos correspondentes à compressão, bem como os valores correspondentes à direção paralela dos correspondentes à direção normal às fibras. Devem também distinguir-se os valores correspondentes às diferentes classes de umidade, definidas no capítulo 3. A caracterização mecânica das madeiras para projeto de estruturas deve seguir os métodos de ensaio especificados no anexo B de NBR 7190/97. a) Densidade: O termo prático “densidade básica” da madeira é definido como a massa especifica convencional, obtida pela divisão da massa seca (determinada mantendo-se os corpos de prova em estufa a 103 0C até que a massa do corpo permaneça constante) pelo volume saturado (determinados em corpos de prova submersos em água até atingirem peso constante). w S V M=ρ (6.1) 51 onde, Ms = massa do corpo de prova seco e Vw = volume saturado A densidade aparente padrão é calculada para umidade a 12% (ρ12%). b) Resistência: A resistência é determinada pela máxima tensão que pode ser aplicada aos corpos de prova isentos de defeitos do material considerando até o aparecimento de fenômenos particulares do comportamento além dos quais há restrição do emprego do material em elementos estruturais. Estes fenômenos são os de ruptura e os de deformações específicas excessivas. Os efeitos da duração do carregamento e da umidade do meio ambiente são considerados por meio dos coeficientes de modificação Kmod (Kmod1 e Kmod2). c) Rigidez: A rigidez é determinada pelo valor médio dos módulos de elasticidade medidos na fase de comportamento elástico-linear. Na falta de verificação experimental permite-se adotar. 20 0 90 w w E E = (6.2) sendo: 0wE o módulo de elasticidade na direção paralela às fibras, medidos no ensaio de compressão paralela às fibras; 90wE o módulo de elasticidade na direção normal às fibras, medidos no ensaio de compressão normal às fibras. d) Umidade: Para projetos das estruturas de madeira devemos levar em conta as classes de umidade, que têm por finalidade determinar as propriedades da resistência e de rigidez da madeira em função das condições ambientais onde permanecerão as estruturas. Para escolha de métodos de tratamentos preservativos da madeira também devem ser consideradas as classes de umidade já citadas na tabela 3.1, do capítulo 3. 52 6.3 – Condições de referência a) Condição padrão de referência: Os valores especificados são os correspondentes à classe de umidade 1, que é a condição padrão de referência. Portanto resultados obtidos em ensaios realizados com valores no intervalo entre 10% a 20% devem ser apresentados com os valores corrigidos pelas expressões apresentadas a seguir: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −×+×= 100 )12%(3 1%12 U ff u (6.3) ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −×+×= 100 )12%(2 1%12 U EE u (6.4) Admite-se que a resistência e a rigidez da madeira sofram pequenas variações para umidade acima de 20% e podendo-se admitir desprezível sua influência em faixas de temperatura usuais de utilização de 100C a 600C. b) Condições especiais de emprego: Só será considerada a influência da temperatura na resistência da madeira quando as peças estruturais puderem ser submetidas por longos períodos de tempo à temperatura fora da faixa usual de utilização, que varia entre 100C a 600C. c) Classes de serviço: As classes de serviço das estruturas de madeira são determinadas pelas classes de carregamento (a serem definidos no capítulo 7), e pelas classes de umidade. 6.4 - Caracterização das propriedades da madeira a) Caracterização completa da resistência da madeira serrada: A caracterização completa da resistência da madeira é determinada pelos seguintes valores: • resistência à compressão paralela às fibras (fc0) a ser determinada em ensaios de compressão uniforme com duração total entre 3 e 8 minutos, de corpo de prova com seção transversal quadrada de 5 cm de lado e com 15 cm de comprimento; • resistência à tração paralela à fibras (ft0) a ser determinada em ensaios de tração uniforme com duração total de 3 a 8 minutos, de corpos de prova alongados, com trecho central de seção transversal uniforme da área de A8 com extremidades mais resistentes que o trecho central e com concordância que garantam a ruptura no trecho central; 53 • resistência à compressão normal às fibras (fc90) a ser determinada em ensaios de compressão uniforme, com duração de 3 a 8 minutos, de corpos de prova de seção transversal quadrada de 5 cm de lado e comprimento de 10 cm; • resistência à tração normal às fibras (ft90) a ser determinada por meios de ensaios padronizados. Para efeito de projeto é considerada nula a resistência à tração normal às fibras; • resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv0); • resistência de embutimento paralelo às fibras (fe0) e resistência de embutimento normal às fibras (fe90) determinados por meio de ensaios padronizados; • densidade básica e densidade aparente com os corpos de prova a 12% de umidade. b) Caracterização mínima da resistência de espécies pouco conhecidas: Para projeto estrutural a caracterização mínima de espécies pouco conhecidas deve ser feita por meio da determinação dos seguintes valores: • resistência à compressão paralela às fibras (fc0); • resistência à tração paralela às fibras (ft0); na impossibilidade da realização do ensaio permite-se admitir que esse valor seja igual ao da resistência à tração na flexão: • resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv0); • densidade básica e densidade aparente. c) Caracterização simplificada da resistência da madeira serrada: Para espécies usuais permite-se a caracterização simplificada da resistência a partir dos ensaios de compressão paralela às fibras. Para as resistências à esforços normais admite-se um coeficiente de variação de 18% e para resistências a esforços tangenciais um coeficiente de variação de 28%. Para espécies usuais na falta de determinação experimental, permite-se adotar as seguintes relações para os valores característicos das resistências: 77,0 ,0 ,0 = kt kc f f (6.5) 00,1 ,0 , = kt ktm f f (6.6) 25,0 ,0 ,90 = kc kc f f (6.7) 00,1 ,0 ,0 = kc ke f f (6.8) 54 25,0 ,0 ,90 = kc ke f f (6.9) Para coníferas: 15,0 ,0 ,0 = kc kv f f (6.10) Para dicotiledôneas: 12,0 ,0 ,0 = kc kv f f (6.11) d) Caracterização da rigidez da madeira: É feita por meio da determinação dos seguintes valores referidos à umidade de 12%: • valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras, Ec0m com no mínimo dois ensaios; • valor médio do módulo de elasticidade na compressão normal às fibras, Ec90m. Obs.: admite-se Ec0m = Et0m. Não podendo ser realizado o ensaio de compressão simples, pode-se avaliar o módulo de elasticidade Ec0m por meio de ensaio de flexão. Por este ensaio determina-se o módulo de elasticidade aparente na flexão Em, admitindo as relações: Coníferas: Em = 0,85×Ec0 Dicotiledôneas: Em = 0,90×Ec0 (6.12) e) Classes de resistências: As classes de resistências das madeiras têm por objetivo o emprego de madeiras com propriedades padronizadas, orientando na escolha de material para elaboração de projetos estruturais. Estão definidas em tabelas para coníferas e dicotiledôneas. O enquadramento de peças de madeira nas classes de resistência especificados nas tabelas 6.1 e 6.2 deve ser feito conforme as seguintes exigências: • as madeiras devem ser classificadas como de 1ª categoria somente quando forem classificadas como isentas de defeitos por meio de uma classificação visual e também mecânica. Quando não houver simultaneamente a classificação visual e mecânica, as madeiras serão consideradas como de 2ª categoria; • para enquadramento nas classes de resistência deve ser feita pelo menos a caracterização simplificada e sob a condição fc0k,ef > fc0k,esp. 55 Tabela 6.1 — Classe de resistência das coníferas Coníferas (Valores na condição padrão de referência U =12%) Classes fc0k (MPa) fvk (MPa) Ec0,m (MPa) ρbas,m (Kg/m3)* ρaparente (Kg/m3) C20 20 4 3500 400 500 C25 25 5 8500 450 550 C30 30 6 14500 500 600 (*) como definida em 2.1 Tabela 6.2 — Classe de resistência das dicotiledôneas Dicotiledôneas (Valores na condição padrão de referência U = 12%) Classes fc0k (MPa) fvk (MPa) Ec0,m (MPa) ρbas,m (Kg/m3)* ρaparente (Kg/m3) C20 20 4 9500 500 650 C30 30 5 14500 650 800 C40 40 6 19500 750 950 C60 60 8 19500 800 1000 (*) como definida em 2.1 f) Investigação direta da resistência: Para investigação direta dos lotes homogêneos, os mesmos não devem ter volume superior a 12m3. Os valores experimentais devem ser corrigidos para o teor de umidade de 12%. Deve-se fazer no mínimo 2 ensaios para se determinar a resistência média. Para a caracterização simplificada deve-se extrair uma amostra composta por pelo menos 6 exemplares retirados de modo aleatório distribuídos no lote. Para a caracterização mínima especificada para espécies pouco conhecidas, deve-se ensaiar no mínimo 12 corpos de prova para cada uma das resistências a determinar. 56 O valor característico deve ser calculado pela expressão: 1.1 1 2 ... 2 2 1 2 21 × ⎟⎟ ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜⎜ ⎝ ⎛ − − +++ = − n n wk fn fff f (6.13) Devendo os valores de f ficar em ordem crescente, desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos de prova for ímpar e não devendo tomar para fwk valor inferior a f1, nem a 0,70 do valor médio. 6.5 - Valores representativos a) Valores médios: O valor médio Xm das propriedades da madeira é determinado pela média aritmética dos valores correspondentes aos elementos que compõem o lote do material considerado. b) Valores característicos: Admite-se que o valor característico Xk seja o valor característico inferior Xk,inf, onde Xk,inf é o valor característico inferior, menor que o valor médio onde ocorre apenas 5% de probabilidade de não ser atingido em um dado lote de material. c) Valores de cálculo: O valor de cálculo Xd de uma propriedade da madeira é determinado pela expressão: w k d X KX γ×= mod (6.14) onde: γw é o coeficiente de minoração das propriedades da madeira e Kmod é o coeficiente de modificação que leva em conta influências não consideradas por γw. d) Coeficientes de modificação: Os coeficientes de modificação Kmod afetam os valores de cálculo das propriedades da madeira em função da classe de carregamento da estrutura, classe de carregamento admitida e do eventual emprego de madeira de segunda qualidade e é dado por Kmod = Kmod1 × Kmod2 × Kmod3 (6.15) O coeficiente parcial de modificação Kmod1 leva em conta a classe de carregamento e o tipo de material, e é dada pela tabela 6.3. 57 O coeficiente parcial de modificação Kmod2 leva em conta a classe de umidade e o tipo de material, e é dada pela tabela 6.4. O coeficiente parcial de modificação Kmod3 leva em conta se a madeira é de 1ª ou de 2ª categoria; a espécie e a forma da madeira (para laminada colada se é reta ou curva), e é dado pela tabela 6.5. No caso de madeira serrada submersa, admite-se o valor de Kmod2 = 0,65. Tabela 6.3 — Valores de Kmod1 Tipos de madeira Classes de Carregamento Madeira serrada Madeira laminada colada Madeira compensada Madeira recomposta Permanente 0,60 0,30 Longa duração 0,70 0,45 Média duração 0,80 0,65 Curta duração 0,90 0,90 Instantânea 1,10 1,10 Tabela 6.4 — Valores de Kmod2 Classes de umidade Madeira serrada Madeira laminada colada Madeira compensada Madeira recomposta (1) e (2) 1,0 1,0 (3) e (4) 0,8 0,9 58 Tabela 6.5 — Valores de Kmod3 Situação Kmod3 Madeira de 2ª categoria Madeira de 1ª categoria Coníferas Madeira Serrada (sempre) Madeira laminada colada reta Madeira laminada colada curva (t=espessura das lâminas , r = menor raio de curvatura) 0,8 1,0 0,8 1,0 1-2000 (t/r)2 A escolha dessa categoria não deve ser apenas na forma visual. e) Coeficientes de ponderação da resistência para estados limites últimos: Os coeficientes de ponderação para estados limites últimos γw têm os seguintes valores para tensões paralelas às fibras: γwc = 1,4 (tensão de compressão); γwt = 1,8 (tensão de tração); γwv = 1,8 (tensão de cisalhamento). f) Coeficientes de ponderação para estados limites de utilização: Tem valor básico γw = 1,0. g) Estimativa das resistências características: Para as espécies já investigadas por laboratórios idôneos, que tenham apresentado os valores médios das resistências fwm e dos módulos de elasticidade Ec0m, correspondentes a diferentes teores de umidade U% ≤ 20%, admite-se como valor de referência a resistência média fwm,12 correspondente a 12% de umidade. Admite-se ainda que essa resistência possa ser calculada pela expressão: ( )⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −×+×= 100 12%3 1%12 U ff u (6.16) Neste caso, para o projeto, pode-se admitir a seguinte relação entre as resistências características e média (tabelas 6.6 e 6.7) 12,12, 70,0 wmwk ff ×= mwvkwv ff ,, 54,0 ×= (6.17) 59 h) Estimativa da rigidez: Na verificação da segurança que dependem da rigidez da madeira, o módulo de elasticidade paralelamente às fibras deve ser tomado com o valor efetivo: Ec0,ef = Kmod1 × Kmod2 × Kmod3 × Ec0,m. (6.18) 60 Tabela 6.6 — Valores médios de madeiras dicotiledôneas nativas e de florestamento Nome comum (dicotiledôneas) Nome científico ρap (12%) (kg/m3 ) fc0 (MPa ) ft0 (MPa) ft90 (MPa ) fv (MPa ) Ec0 (MPa) n Angelim araroba Votaireopsis araroba 688 50,5 69,2 3,1 7,1 12876 15 Angelim ferro Hymenolobium spp 1170 79,5 117,8 3,7 11,8 20827 20 Angelim pedra Hymenolobium petraeum 694 59,8 75,5 3,5 8,8 12912 39 Angelim pedra verdadeiro Dinizia excelsa 1170 76,7 104,9 4,8 11,3 16694 12 Branquilho Termilalia ssp 803 48,1 87,9 3,2 9,8 13481 10 Cafearana Andira ssp 677 59,1 79,7 3,0 5,9 14098 11 Canafistula Cassia ferruginea 871 52,0 84,9 6,2 11,1 14613 12 Casca grossa Vochysia ssp 801 56,0 120,2 4,1 8,2 16224 31 Castelo Gossypiospermum praecox 759 54,8 99,5 7,5 12,8 11105 12 Cedro amargo Cedrella odorata 504 39,0 58,1 3,0 6,1 9839 21 Cedro doce Cedrella ssp 500 31,5 71,4 3,0 5,6 8058 10 Champagne Dipterys odorata 1090 93,2 133,5 2,9 10,7 23002 12 Cupiúba Goupia glabra 838 54,4 62,1 3,3 10,4 13627 33 Catiúba Qualea paraensis 1221 83,8 86,2 3,3 11,1 19426 13 E. Alba Eucalyptus alba 705 47,3 69,4 4,6 9,5 13409 24 E. camaldulensis Eucalyptus camaldulensis 899 48,0 78,1 4,6 9,0 13286 18 E. citriodora Eucalyptus citriodora 999 62,0 123,6 3,9 10,7 18421 68 E. cloeziana Eucaliptus cloeziana 822 51,8 90,8 4,0 10,5 13963 21 E. dunnii Eucalyptus dunnii 690 48,9 139,2 6,9 9,8 18029 15 E. grandis Eucalyptus grandis 640 40,3 70,2 2,6 7,0 12813 103 E. maculata Eucalyptus maculata 931 63,5 115,6 4,1 10,6 18099 53 E. maidene Eucalyptus maidene 924 48,3 83,7 4,8 10,3 14431 10 E. microcorys Eucalyptus microcorys 929 54,9 118,6 4,5 10,3 16782 31 E. paniculata Eucalyptus paniculata 1087 72,7 147,4 4,7 12,4 19881 29 E. propinqua Eucalyptus propinqua 952 51,6 89,1 4,7 9,7 15561 63 E. punctata Eucalyptus punctata 948 78,5 125,6 6,0 12,9 19360 70 E. saligna Eucalyptus saligna 731 46,8 95,5 4,0 8,2 14933 67 E. tereticornis Eucalyptus tereticornis 899 57,7 115,9 4,6 9,7 17198 29 E. triantha Eucalyptus triantha 755 53,9 100,9 2,7 9,2 14617 08 E. umbra Eucalyptus umbra 889 42,7 90,4 3,0 9,4 14577 08 E. urophylla Eucalyptus urophylla 739 46,0 85,1 4,1 8,3 13166 86 Garapa roraima Apuleia leiocarpa 892 78,4 108,0 6,9 11,9 18359 12 Guaiçara Luetzelburgia ssp 825 71,4 115,6 4,2 12,5 14624 11 Guarucaia Peltophorum vogelianum 919 62,4 70,9 5,5 15,5 17212 13 Ipê Tabebuia serratifolia 1068 76,0 96,8 3,1 13,1 18011 22 Jatobá Hymenaea ssp 1074 93,3 157,5 3,2 15,7 23607 20 Louro preto Ocotea ssp 684 56,5 111,9 3,3 9,0 14185 24 Maçaranduba Manilkara ssp 1143 82,9 138,5 5,4 14,9 22733 12 Mandioqueira Qualea ssp 856 71,4 89,1 2,7 10,6 18971 16 Oiticica amarela Clarisia racemosa 756 69,9 82,5 3,9 10,6 14719 12 Quarubarana Erisma uncinatum 544 37,8 58,1 2,6 5,8 9067 11 Sucupira Diplotropis ssp 1106 95,2 123,4 3,4 11,8 21724 12 Tatajuba Bagassa guianensis 940 79,5 78,8 3,9 12,2 19583 10 61 Coeficiente de variação para resistências a solicitações normais δ = 18% Coeficiente de variação para resistências a solicitações tangenciais δ = 28% Tabela 6.7 — Valores médios de madeiras coníferas nativas e de florestamento Nome comum (coníferas) Nome científico ρap (12%) (kg/m3 ) fc0 (MPa ) ft0 (MPa) ft90 (MP a) fv (MPa) Ec0 (MPa) n Pinho do paraná Araucaria angustifolia 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15225 15 Pinus caribea Pinus caribea var. caribea 579 35,4 64,8 3,2 7,8 8431 28 Pinus bahamensis Pinus caribea var. Bahamensis 537 32,6 52,7 2,4 6,8 7110 32 Pinus hondurensis Pinus caribea var. Hondurensis 535 42,3 50,3 2,6 7,8 9868 99 Pinus elliottii Pinus elliotti var elliottii 560 40,4 66,0 2,5 7,4 11889 21 Pinus oocarpa Pinus oocarpa shiede 538 43,6 60,9 2,5 8,0 10904 71 Pinus taeda Pinas taeda L. 645 44,4 82,8 2,8 7,7 13304 15 ρap(12%) = massa específica aparente a 12% de umidade fc0 = resistência à compressão paralela às fibras ft0 = resistência à tração paralela às fibras ft90 = resistência à tração normal às fibras fv = resistência ao cisalhamento Ec0 = módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras n = número de corpos de prova ensaiados Coeficiente de variação para resistências a solicitações normais δ = 18% Coeficiente de variação para resistências a solicitações tangenciais δ = 28% 62 7 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A NBR7190/97 7.1 - Introdução A verificação da segurança de peças estruturais de madeira deve obedecer à condição: Sd ≤ Xd onde Sd é a solicitação de cálculo decorrente da aplicação das ações estabelecidas para a verificação e Xd a resistência de cálculo da madeira. A resistência de cálculo Xd foi assunto no capítulo 6. Neste capítulo será apresentada a maneira de se determinar esta solicitação de cálculo, porém, antes serão apresentados alguns conceitos e definições necessárias para um bom entendimento. 7.2 - Consideracões iniciais A norma brasileira para projeto de estruturas de madeira especifica que um projeto é composto por memorial justificativo, desenhos e também por plano de execução quando há particularidades do projeto que interfiram na construção. O memorial justificativo deve conter os seguintes elementos: • Descrição do arranjo global tridimensional da estrutura; • Esquemas adotados na análise dos elementos estruturais e identificação de suas peças (sistemas estruturais); • Análise estrutural; • Propriedades dos materiais; • Dimensionamento e detalhamento esquemático das peças estruturais; • Dimensionamento e detalhamento esquemático das emendas, uniões e ligações. 63 Os desenhos devem estar de acordo com o anexo A da NBR 7190/97. Deve ser mantida coerência de nomenclatura entre o memorial justificativo, os desenhos e as relações entre os cálculos e detalhamentos. 7.3 - Hipóteses básicas de segurança As hipóteses básicas de segurança se relacionam com a verificação quanto aos estados limites, a partir dos quais a estrutura apresenta desempenhos inadequados às finalidades da construção. a) Estados Limites Últimos: Estados que por sua simples ocorrência determinam a paralisação, no todo ou em parte do uso da construção; usualmente caracterizados por: • Perda de equilíbrio, global ou parcial, admitida a estrutura como corpo rígido; • Ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais; • Transformação da estrutura, no todo ou em pane, em sistema hipostático; • Instabilidade por deformações; • Instabilidade dinâmica (ressonância). b) Estados Limites de Utilização: Estados que por sua ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos estruturais que não respeitam as condições especificadas para o uso normal da construção, ou que são indícios de comprometimento da durabilidade da construção, usualmente caracterizados por: • Deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção comprometam seu aspecto estético, prejudiquem o funcionamento de equipamentos ou instalações, ou causem danos aos materiais de acabamento ou às panes não estruturais da construção; • Vibrações de amplitude excessiva que causem desconforto aos usuários ou causem danos à construção ou ao seu conteúdo. 64 7.4 - Ações a) Definições: Ações são as causas que provocam o aparecimento de esforços ou deformações nas estruturas. Quando há aplicação de forças, diz-se que estas forças são ações diretas e quando há deformações impostas a uma estrutura, diz-se que estas deformações são ações indiretas. As ações podem ser dos seguintes tipos: • ações permanentes: são aquelas que ocorrem com valores constantes ou de pequena variação em torno de um valor médio, durante toda a vida da construção (ex: peso próprio); • ações variáveis: são aquelas cujos valores variam significativamente durante toda a vida da construção (ex: vento, sobrecarga); • ações excepcionais: são aquelas que têm duração extremamente curta e muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da construção, entretanto, devendo ser consideradas no projeto de determinadas estruturas (ex: explosão). Para a elaboração dos projetos as ações devem ser combinadas, com a aplicação de coeficientes sobre cada uma delas, para levar em conta a probabilidade de ocorrência simultânea. A aplicação das ações deve ser feita de modo a se conseguir as situações mais críticas para a estrutura. A fim de levar em conta o bom comportamento estrutural da madeira para ações de curta duração (vento), na verificação da segurança em relação a estados limites últimos, pode-se fazer uma redução de 25% sobre as solicitações. No caso da verificação de peças metálicas, inclusive nos elementos de ligação, deve ser considerada a totalidade dos esforços devidos à ação do vento. b) Classes de carregamento: Um carregamento é especificado pelo conjunto das ações que têm probabilidade não desprezível de ação simultânea. A classe de carregamento é definida pela duração acumulada prevista para a ação variável tomada como ação variável principal, na combinação considerada. Segue a tabela com tais classes de carregamento. 65 Tabela 7.1 — Classes de carregamento Ação variável principal da combinação Classe de carregamento Duração acumulada Ordem de grandeza da duração Permanente Permanente Vida útil da construção Longa duração Longa duração Mais de 6 meses Média duração Média duração 1 semana a 6 meses Curta duração Curta duração Menos de 1 semana Duração instantânea Duração instantânea Muito curta 7.5 - Carregamentos a) Carregamento normal: Um carregamento é dito normal quando inclui apenas ações decorrentes do uso previsto para a construção, é considerado de longa duração e deve ser verificado nos estados limites último e de utilização. Como exemplo podemos citar para coberturas a consideração do peso próprio e do vento e para pontes o peso próprio junto com o trem-tipo. b) Carregamento especial: Neste carregamento estão incluídas as ações variáveis de natureza ou intensidade especiais, superando os efeitos considerados para um carregamento normal. Como por exemplo, o transporte de um equipamento especial sobre uma ponte, que supere o carregamento do trem-tipo acumulado. A classe de carregamento é definida pela duração acumulada prevista para a ação variável especial. c) Carregamento excepcional: Na existência de ações com efeitos catastróficos o carregamento é definido como excepcional e corresponde à classe de carregamento de duração instantânea. Como exemplo temos a ação de um terremoto ou a ação de uma explosão. d) Carregamento de construção: Outro caso particular de carregamento de caráter transitório é o de construção, onde os procedimentos de construção podem levar a estados limites últimos, como por exemplo, o içamento de uma treliça. Determina-se a classe de carregamento pela duração acumulada da situação de risco. 66 7.6 - Situações de projeto As seguintes situações de projeto devem ser consideradas: situações duradouras, situações transitórias e situações excepcionais. Para cada estrutura particular devem ser especificadas as situações de projeto a considerar, não sendo necessário levar em conta as três possíveis situações de projeto em todos os tipos de construção. a) Situações duradouras: Situações duradouras são aquelas que podem ter duração igual ao período de referência da estrutura. São consideradas no projeto de todas as estruturas. Nas situações duradouras, para a verificação da segurança em relação aos estados limites últimos consideram-se apenas as combinações últimas normais de carregamento e, para os estados limites de utilização, as combinações de longa duração ou de média duração. b) Situações transitórias: Situações transitórias são aquelas que têm duração muito menor que o período de vida da construção. São consideradas apenas para as estruturas de construções que podem estar sujeitas a algum carregamento especial, que deve ser explicitamente especificado para o seu projeto. Em casos especiais pode ser exigida a verificação da segurança em relação a estados limites de utilização, considerando combinações de ações de curta duração (combinações raras) ou combinações de duração média (combinações especiais). c) Situações excepcionais: Situações excepcionais são aquelas que têm duração extremamente curta. São consideradas somente na verificação da segurança em relação a estados limites últimos. Devem ser consideradas somente quando a segurança em relação às ações excepcionais contempladas não puder ser garantida de outra forma, tal como o emprego de elementos físicos de proteção da construção, ou a modificação da concepção estrutural adotada. Devem ser explicitamente especificadas para o projeto das construções particulares para as quais haja necessidade dessa consideração. 67 7.7 - Valores representativos das ações a) Valores característicos das ações variáveis: Os valores característicos Fk das ações variáveis são os especificados por várias normas brasileiras referentes aos diferentes tipos de construção. Quando não existir regulamentação específica, um valor característico nominal deverá ser fixado pelo proprietário da obra ou por seu representante técnico. Admitir-se-á Fk como um valor característico superior. b) Valores característicos dos pesos próprios: Os valores característicos Gk dos pesos próprios da estrutura são calculados com as dimensões nominais da estrutura e com o valor médio do peso específico do material considerado. A madeira é considerada com umidade U=12%. c) Valores característicos de outras ações permanentes: Para outras ações permanentes que não o peso próprio da estrutura, podem ser definidos dois valores: o valor característico superior Gk,sup, maior que o valor médio Gm, e o valor característico inferior Gk,inf, menor que o valor médio Gm. Em geral, no projeto é considerado apenas o valor característico superior Gk,sup. O valor característico inferior Gk,inf é considerado apenas nos casos em que a segurança diminui com a redução da ação permanente aplicada, assim como quando a ação permanente tem um efeito estabilizante. d) Valores reduzidos de combinaçao (ψ0×fk): Os valores reduzidos de combinação são determinados a partir dos valores característicos através da expressão Ψo×FK e são empregados nas condições de segurança relativas a estados limites últimos, quando existem ações variáveis de diferentes naturezas. Os valores Ψo×FK levam em conta que é muito baixa a probabilidade de ocorrência simultânea de duas ações características de naturezas diferentes, ambas com seus valores característicos. Assim, em cada combinação somente uma ação característica variável é considerada como principal. A combinação que fornecer a maior solicitação de cálculo será a utilizada no projeto em questão. e) Valores reduzidos de utilização: Na verificação relativa aos estados limites de utilização as ações variáveis são consideradas com valores correspondentes às condições de serviço, empregando-se os valores freqüentes ou de média duração, calculados pela expressão Ψ1×FK e os valores quase permanentes ou de longa duração calculados pela expressão Ψ2×FK. f) Fatores de combinação e fatores de utilização: São coeficientes multiplicativos das ações nas 68 estruturas. Seus valores encontram-se especificados na NBR 7190/97 e estão apresentados na tabela 7.2. Tabela 7.2 — Fatores de combinação e de utilização Ações em estruturas correntes Ψ0 Ψ1 Ψ2 - Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local - Pressão dinâmica do vento 0,6 0,5 0,5 0,2 0,3 0 Cargas acidentais dos edifícios Ψ0 Ψ1 Ψ2 - Locais em que não há predominância de pesos de equipamentos fixos, nem de elevadas concentrações de pessoas. - Locais onde há predominância de pesos de equipamentos fixos ou de elevadas concentrações de pessoas - Bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens 0,4 0,7 0,8 0,3 0,6 0,7 0,2 0,4 0,6 Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos Ψ0 Ψ1 Ψ2 - Pontes de pedestres - Pontes rodoviárias - Pontes ferroviárias (ferrovias não especializadas) 0,4 0,6 0,8 0,3 0,4 0,6 0,2* 0,2* 0,4* * Admite-se Ψ2=0 quando a ação variável principal corresponde a um efeito sísmico g) Combinações de ações em estados limites últimos: g.1) Combinações últimas normais: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×++×= ∑∑ == n j kQjjkQ m i QkGiGid FFFF 2 ,0,1 1 , ψγγ Sendo FGi,k o valor característico das ações permanentes e as ações variáveis, neste caso, são divididas em dois grupos, a principal (FG1,k) e as secundárias (FG2,k) com os seus valores reduzidos pelo coeficiente Ψ0j , que leva em consideração a baixa probabilidade de ocorrência simultânea das ações variáveis. Para as ações permanentes, devem ser feitas duas considerações, a favorável e a desfavorável, por meio do coeficiente ΨGi. No caso de se ter o 69 vento como ação variável principal, para as peças de madeira, esta ação deve ser multiplicada por 0,75 referente a cargas rápida, isto é, 0,75×FQ1,k. Para as peças metálicas inclusive nos elementos de ligação não deve ser considerado este fator. g.2) Combinações últimas especiais ou de construção ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×++×= ∑∑ == n j kQjefjkQ m i QkGiGid FFFF 2 ,,0,1 1 , ψγγ Onde FGi,k representa o valor característico das ações permanentes, FQ1,k o valor característico da ação variável considerada como ação principal para a situação transitória e Ψ0j,ef é igual ao fator Ψ0j adotado nas combinações normais, salvo quando a ação principal FQi tiver um tempo de atuação muito pequeno, caso em que Ψ0j,ef pode ser tomado com o correspondente Ψ2j. g.3) Combinações últimas excepcionais ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×++×= ∑∑ == n j kQjefj m i QexcQkGiGid FFFF 1 ,,0 1 ,, ψγγ Onde FQ,exc é o valor da ação transitória excepcional e os demais termos representam valores efetivos. h) Combinações de ações em estados limites de utilização h.1) Combinações de longa duração ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×+= ∑∑ == n j kQjj m i kGi uti d FFF 1 ,2 1 , ψ As combinações de longa duração são consideradas no controle das deformações das estruturas. Nestas combinações todas as ações variáveis atuam com seus valores correspondentes à classe de longa duração. h.2) Combinações de média duração ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×+×+= ∑∑ == n j kQjj m i kQkGi uti d FFFF 2 ,2 1 ,11, ψψ 70 As combinações de média duração são consideradas quando o controle das deformações é particularmente importante, como no caso de existirem materiais frágeis não estruturais ligados à estrutura. Nestas condições a ação variável principal FQ1 atua com seu valor correspondente à classe de média duração e as demais ações variáveis atuam com seus valores correspondentes à classe de longa duração. h.3) Combinações de curta duração ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×++= ∑∑ == n j kQjj m i kQkGi uti d FFFF 2 ,1 1 ,1, ψ As combinações de curta duração, também ditas combinações raras, são consideradas quando, para a construção, for particularmente importante impedir defeitos decorrentes das deformações da estrutura. Nestas combinações a ação variável principal FQ1 atua com seu valor característico e as demais ações variáveis atuam com os seus valores correspondentes à classe de média duração. h.4) Combinações de duração instantânea ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ×++= ∑∑ == n j kQjj m i QespecialkGi uti d FFFF 1 ,2 1 , ψ As combinações de duração instantânea consideram a existência de uma ação variável especial FQ,especial que pertence à classe de duração imediata. As demais ações serão consideradas com valores que possam existir concomitantemente com a carga especialmente definida para esta combinação. Na falta de outro critério as demais ações podem ser consideradas com seus valores de longa duração. i) Coeficientes para as combinações de ações i.1) Combinações últimas: Para as combinações nos estados limites últimos são utilizados os seguintes coeficientes: γg = coeficiente para as ações permanentes; γQ = coeficiente de majoração para as ações variáveis; Ψ0 = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias; 71 Ψ0,ef = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias de longa duração. Os valores dos coeficientes apresentados pela norma são os seguintes: AÇÕES PERMANENTES (γg) Ações permanentes de pequena variabilidade A Norma Brasileira considera como de pequena variabilidade o peso da madeira classificada estruturalmente cuja densidade tenha coeficiente de variação não superior a 10% e especifica para este caso os seguintes valores: Tabela 7.3 – Ações permanentes de pequena variabilidade Para efeitos (*) Combinações desfavoráveis favoráveis Normais γg = 1,3 γg = 1,0 Especiais ou de construção γg = 1,2 γg = 1,0 Excepcionais γg = 1,1 γg = 1,0 (*) Podem ser usados indiferentemente os símbolos γg ou γG Ações permanentes de grande variabilidade Quando o peso próprio da estrutura não supera 75% da totalidade dos pesos permanentes, são adotados os valores apresentados na tabela 7.4. Tabela 7.4 – Ações permanentes de grande variabilidade Para efeitos Combinações desfavoráveis favoráveis Normais γg = 1,4 γg = 0,9 Especiais ou de construção γg = 1,3 γg = 0,9 Excepcionais γg = 1,2 γg = 0,9 72 Ações permanentes indiretas Para as ações permanentes indiretas, como os efeitos de recalques de apoio e de retração dos materiais, adotam-se os valores indicados na tabela 7.5. Tabela 7.5 – Ações permanentes indiretas Para efeitos Combinações Desfavoráveis favoráveis Normais γε = 1,2 γε = 0 Especiais ou de construção γε = 1,2 γε = 0 Excepcionais γε = 0 γε = 0 AÇÕES VARIÁVEIS (γQ) A Norma Brasileira especifica os seguintes valores para γQ em análise de combinações últimas: Tabela 7.6 — Ações variáveis Combinações Ações variáveis em geral incluídas as cargas acidentais móveis Efeitos de temperatura Normais γQ =1,4 γε = 1,2 Especiais ou de construção γQ = 1,2 γε = 1,0 Excepcionais γQ =1,0 γε = 0 AÇÕES VARIÁVEIS SECUNDÁRIAS (Ψ ) Este coeficiente varia de acordo com a ação considerada, como pode ser visto na tabela 7.2. AÇÕES VARIÁVEIS SECUNDÁRIAS DE LONGA DURAÇÃO (Ψef) O coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias (Ψ ef) é igual ao coeficiente de minoração para as ações variáveis (Ψ ) adotado as combinações normais, salvo quando a ação variável principal FQ1 tiver um tempo de atuação muito pequeno, caso este em que Ψ ef pode 73 ser tomado com o correspondente valor de Ψ2 , utilizado nas combinações de estados limites de utilização. i.2 ) Combinação de utilização Para as combinações nos estados limites de utilização são utilizados os seguintes coeficientes: Ψ = coeficiente para as ações variáveis de média duração Ψ2 = coeficiente para as ações variáveis de longa duração Os valores de Ψ e Ψ2 estão apresentados na tabela 7.2. 74 8 DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SOLICITADAS À TRAÇÃO PARALELA ÀS FIBRAS 8.1 - Introdução O dimensionamento de peças solicitadas a esforços de tração, corresponde ao caso mais simples, visto que, não apresentam fenômenos de instabilidade geral ou local. A madeira submetida à esforços de tração paralela às fibras geralmente aparece no banzo inferior, nos pendurais e nas diagonais das estruturas treliçadas. Para a verificação elástica destas barras, admite-se as tensões uniformemente distribuídas nas várias seções transversais ao longo do comprimento da peça, desprezando-se as concentrações de tensões devido às reduções de área, figuras 8.1 e 8.2. 75 Figura 8.1 - Seções enfraquecidas por elementos de ligação. Figura 8.2 - Seções enfraquecidas - Ligação dos banzos. 76 OBS.: Segundo a NBR 7190/97 o comprimento das peças tracionadas não pode exceder 50 vezes a menor dimensão, ou seja, L ≤ 50 × b ou λ ≤ 173. As tensões atuantes causadas por esforços de tração paralelos às fibras devem ser calculadas para a seção útil da peça, isto é, devem ser considerados todos os enfraquecimentos da seção, (furos para colocação de parafusos ou pregos, entalhes, defeitos na madeira, furos de insetos, etc. ou qualquer outro enfraquecimento). Assim, tem-se: u d td A F=σ dttd f ,0≤σ Sendo: Au = Abarra - Aenfraquecida Fd = Valor de cálculo das combinações das ações Au = Área útil da seção transversal OBS.: Os furos na zona tracionada das seções transversais das peças podem ser desprezados, desde que a redução da área resistente não supere 10% da área da peça íntegra. Nas tabelas 6.5 e 6.6 da NBR 7190/97 encontram-se agrupadas as resistências médias à tração para diferentes espécies de madeira. Na ausência desses valores adota-se: ft0,d = fc0,d 77 Exemplos de Aplicação: 1) Qual o esforço admissível à tração paralela às fibras em uma peça de Ipê de seção (7,5 x 15) cm, sendo 3 cm a altura da peça utilizada para entalhes e colocação de parafusos? OBS.: Considerar: Carregamento de longa duração Ação permanente de pequena variabilidade. Classe de umidade (2) Peças sem classificação mecânica 2) Dada a estrutura abaixo dimensionar a barra 1, sendo Madeira E. grandis, área de enfraquecimento ocasionada pelos furos igual a 10% da seção bruta. 78 Esforços: Ng = 20000 N (ação permanente de pequena variabilidade) Nw = 15000 N (ação do vento) Nq = 5000 N (ação acidental vertical) OBS.: Considerar: Situação de projeto duradoura Classe de umidade (2) Madeira não classificada mecanicamente 79 RESUMO a) Verificação Dada a seção transversal (Abarra), a área enfraquecida (Aenfraquecida) e o esforço solicitante já combinado (Fd), verificar a seção: Au = Abarra – Aenfraquecida u d dttd A F f =≤ ,0σ b) Dimensionamento Dado o esforço combinado (Fd) e a área total enfraquecida (Aenfraquecida), determinar a seção bruta: dt d u f F A ,0 ≥ daenfraqueci dt d barra Af F A +≥ 0 escolher seção comercial, obedecendo a restrição de que o comprimento da peça não deve exceder 50 vezes a menor dimensão.