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Proclamação da República do Brasil – Wikipédia a enciclopédia livre

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Proclamação da República do Brasil
Proclamação da República, 1893, óleo sobre tela de
Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca
Municipal de São Paulo
Participantes Deodoro da Fonseca
Quintino Bocaiuva
Benjamin Constant
Rui Barbosa
Campos Sales
Floriano Peixoto
Localização Rio de Janeiro, Brasil
Data 15 de novembro de 1889
(123 anos)
Resultado Extinção do Império do Brasil,
banimento da família imperial
brasileira e dos principais
políticos favoráveis à monarquia
constitucional parlamentarista e
criação do Governo Provisório
republicano.
Proclamação da República do Brasil
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Proclamação da República Brasileira foi um levante
político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 que
instaurou a forma republicana federativa presidencialista de
governo no Brasil, derrubando a monarquia constitucional
parlamentarista do Império do Brasil e, por conseguinte,
pondo fim à soberania do Imperador Dom Pedro II. Foi,
então, proclamada a República dos Estados Unidos do
Brasil.
A proclamação ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça
da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do
Império do Brasil, quando um grupo de militares do exército
brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca,
destituiu o imperador e assumiu o poder no país.
Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório
republicano. Faziam parte, desse governo, organizado na
noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da
Fonseca como presidente da república e chefe do Governo
Provisório; o marechal Floriano Peixoto como vice-
presidente; como ministros, Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales,
Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo
Wandenkolk, todos membros regulares da maçonaria
brasileira.
Índice
1 A Situação Política do Brasil em 1889
2 A Perda de Prestígio da Monarquia Brasileira
3 Antecedentes da Proclamação da República
4 A Crise Econômica
5 A Questão Abolicionista
6 A Questão Religiosa
7 A Questão Militar
8 A Atuação dos Positivistas
9 O Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889
10 As diferentes visões sobre Proclamação da
República
11 A Proclamação da República e a Manutenção
do Brasil como País Unido
12 Plebiscito de 1993
13 Referências
Alegoria da República, quadro de
Manuel Lopes Rodrigues pertencente
ao acervo do Museu de Arte da Bahia
Marechal Deodoro da Fonseca
14 Bibliografia
15 Ver também
16 Ligações externas
A Situação Política do Brasil em 1889
O governo imperial, através do 37º e último gabinete ministerial,
empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do presidente
do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis
Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal,
percebendo a difícil situação política em que se encontrava,
apresentou, em uma última e desesperada tentativa de salvar o
império, à Câmara-Geral, atual câmara dos deputados, um programa
de reformas políticas do qual constavam, entre outras, as medidas
seguintes: maior autonomia administrativa para as províncias,
liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do
Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado
Federal. As propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a
preservar o regime monárquico no país, mas foram vetadas pela
maioria dos deputados de tendência conservadora que controlava a
Câmara Geral. No dia 15 de novembro de 1889, a república era
proclamada.
A Perda de Prestígio da Monarquia
Brasileira
Muitos foram os fatores que levaram o Império a perder o apoio de
suas bases econômicas, militares e sociais. Da parte dos grupos
conservadores pelos sérios atritos com a Igreja Católica (na "Questão
Religiosa"); pela perda do apoio político dos grandes fazendeiros em
virtude da abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem a
indenização dos proprietários de escravos.
Da parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia
mantivera, até muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas
criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas ao
desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social, a
manutenção de um regime político de castas e o voto censitário, isto
é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de
ensino universal, os altos índices de analfabetismo e de miséria e o
afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do
continente, que eram republicanos.
Assim, ao mesmo tempo em que a legitimidade imperial decaía, a
proposta republicana - percebida como significando o progresso
social - ganhava espaço. Entretanto, é importante notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do
regime imperial: Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de dom Pedro II,
por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império. Nesse sentido, era voz corrente, na época,
que não haveria um terceiro reinado, ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de dom
Azulejo em São Simão em
homenagem à proclamação da
república brasileira
Homenagem da Revista Ilustrada à
proclamação da república brasileira
Pedro II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime
monárquico, seja devido ao repúdio público ao príncipe consorte,
marido da princesa Isabel, o francês Conde D'Eu.
Embora a frase de Aristides Lobo (jornalista e líder republicano
paulista, depois feito ministro do governo provisório), "O povo
assistiu bestializado" à proclamação da república, tenha entrado para
a história, pesquisas históricas, mais recentes, têm dado outra versão
à aceitação da república entre o povo brasileiro. É o caso da tese
defendida por Maria Tereza Chaves de Mello (A República
Consentida, Editora da FGV, EDUR, 2007), que indica que a
república, antes e depois da proclamação, era vista popularmente
como um regime político que traria o desenvolvimento, em sentido
amplo, para o país.
Antecedentes da Proclamação da
República
A partir da década de 1870, como consequência da Guerra do
Paraguai (também chamada de Guerra da Tríplice Aliança)
(1864-1870), foi tomando corpo a ideia de alguns setores da elite de
alterar o regime político vigente. Fatores que influenciaram esse
movimento:
O imperador dom Pedro II não tinha filhos, apenas filhas. O
trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais
velha, a princesa Isabel, casada com um francês, Gastão de
Orléans, Conde d'Eu, o que gerava o receio em parte da
população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do
Paraguai e, quando retornaram ao país, permaneceram como
escravos, ou seja, não ganharam a alforria de seus donos.
A Crise Econômica
A crise econômica agravou-se em função das elevadas despesas financeiras geradas pela Guerra da Tríplice
Aliança, cobertas por capitais externos. Os empréstimos brasileiros elevaram-se de 3 000 000 de libras
esterlinas em 1871 para quase 20 000 000 em 1889, o que causou uma inflação da ordem de 1,75 por cento
ao ano.
A Questão Abolicionista
A questão abolicionista impunha-se desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, encontrando viva resistência
entre as elites agrárias tradicionais do país. Diante das medidas adotadas pelo Império para a gradual extinção
do regime escravista, devido a repercussão da experiência mal sucedida nos Estados Unidos de libertação geral
dos escravos ter levado aquele país à guerra civil, essas elites reivindicavam do Estado indenizações
proporcionais ao preço total que haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. Estas indenizações
seriam pagas com empréstimo externo.
Com a decretação da Lei Áurea (1888), e ao deixar de indenizar esses grandes proprietários rurais, o império
perdeu o seu último pilar de sustentação. Chamados
de "republicanos de última hora" ou Republicanos do 13
de Maio, os ex-proprietários de escravos aderiram à causa republicana, não por causa de um sentimento, mas
como uma "vingança" contra a monarquia.
Na visão dos progressistas, o Império do Brasil mostrou-se bastante lento na solução da chamada "Questão
Servil", o que, sem dúvida, minou sua legitimidade ao longo dos anos. Mesmo a adesão dos ex-proprietários de
escravos, que não foram indenizados, à causa republicana, evidencia o quanto o regime imperial estava atrelado
à escravatura.
Assim, logo após a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, o único
senador do império que votou contra o projeto de abolição da escravatura, profetizou:
"A senhora acabou de redimir uma raça e perder um trono!"
— Barão de Cotegipe
A Questão Religiosa
Desde o período colonial, a Igreja Católica, enquanto instituição, encontrava-se submetida ao estado. Isso se
manteve após a independência e significava, entre outras coisas, que nenhuma ordem do Papa poderia vigorar
no Brasil sem que fosse previamente aprovada pelo imperador (Beneplácito Régio). Ocorre que, em 1872,
Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Antônio de Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém do Pará
respectivamente, resolveram seguir, por conta própria, as ordens do Papa Pio IX, que excluíam da igreja os
maçons, e como D. Pedro II e membros de alta influência no Brasil Monárquico eram maçons, a Bula não foi
ratificada.
Os Bispos se recusaram a obedecer ao imperador, sendo presos. Em 1875, graças à intervenção do maçom
Duque de Caxias, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, no
episódio, a imagem do império desgastou-se junto à Igreja Católica. E este foi um fator agravante na Crise da
Monarquia, pois o apoio da Igreja Católica era essencial.
A Questão Militar
Os militares do Exército Brasileiro estavam descontentes com a proibição, imposta pela monarquia, pela qual
os seus oficiais não podiam manifestar-se na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra. Os
militares não possuíam uma autonomia de tomada de decisão sobre a defesa do território, estando sujeitos às
ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos
generais. Assim, no império, a maioria dos ministros da guerra eram civis.
Além disso, frequentemente os militares do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados e desrespeitados. Por
um lado, os dirigentes do império eram civis, cuja seleção era extremamente elitista e cuja formação era
bacharelesca, mas que resultava em postos altamente remunerados e valorizados; por outro lado, os militares
tinham uma seleção mais democrática e uma formação mais técnica, mas que não resultavam nem em
valorização profissional nem em reconhecimento político, social ou econômico. As promoções na carreira
militar eram difíceis de serem obtidas e eram baseadas em critérios personalistas em vez de promoções por
mérito e antiguidade.
A Guerra do Paraguai, além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares essa desvalorização da
carreira profissional, que se manteve e mesmo acentuou-se após o fim da guerra. O resultado foi a percepção,
da parte dos militares, de que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que dava maior
atenção à Marinha do Brasil.
A Atuação dos Positivistas
Durante a Guerra do Paraguai, o contato dos militares brasileiros com a realidade dos seus vizinhos sul-
americanos levou-os a refletir sobre a relação existente entre regimes políticos e problemas sociais. A partir
disso, começou a desenvolver-se, tanto entre os militares de carreira quanto entre os civis convocados para
lutar no conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e pelo desenvolvimento econômico e social
brasileiro.
Dessa forma, não foi casual que a propaganda republicana tenha tido, por marco inicial, a publicação do
manifesto Republicano em 1870 (ano em que terminou a Guerra do Paraguai), seguido pela Convenção de Itu
em 1873 e pelo surgimento dos clubes republicanos, que se multiplicaram, a partir de então, pelos principais
centros no país.
Além disso, vários grupos foram fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro da Fonseca era maçom,
assim como todo seu ministério) e pelo positivismo de Auguste Comte, especialmente, após 1881, quando
surgiu a igreja Positivista do Brasil. Seus diretores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, iniciaram uma
forte campanha abolicionista e republicana.
A propaganda republicana era realizada pelos que, depois, foram chamados de "republicanos históricos" (em
oposição àqueles que se tornaram republicanos apenas após o 15 de novembro, chamados de "republicanos de
16 de novembro").
As ideias de muitos dos republicanos eram veiculadas pelo periódico A República. Segundo alguns
pesquisadores, os republicanos dividiam-se em duas correntes principais:
Os evolucionistas, que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não justificando uma luta
armada;
Os revolucionistas, que defendiam a possibilidade de pegar em armas para conquistá-la, com
mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora houvesse diferenças entre cada um desses grupos no tocante às estratégias políticas para a
implementação da república e também quanto ao conteúdo substantivo do regime a instituir, a ideia geral,
comum aos dois grupos, era a de que a república deveria ser um regime progressista, contraposto à exausta
monarquia. Dessa forma, a proposta do novo regime revestia-se de um caráter social revolucionário e não
apenas do de uma mera troca dos governantes.
O Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista, chefiasse
o movimento revolucionário que substituiria a monarquia pela república. Depois de muita insistência dos
revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em liderar o movimento militar.
O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia 14, os
conspiradores divulgaram o boato de que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de
Magalhães e Deodoro da Fonseca. Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Assim, os
revolucionários anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro iniciou o
movimento de tropas do exército que pôs fim ao regime monárquico no Brasil.
Os conspiradores dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente com dispneia, e[1]
convencem-no a liderar o movimento.
Com esse pretexto de que Deodoro seria preso, ao amanhecer do dia 15 de Novembro, o marechal Deodoro
da Fonseca, saiu de sua residência, atravessou o Campo de Santana, e, do outro lado do parque, conclamou
os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem
contra o governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu
e proclamou "Viva a República!". Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua
residência. A manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua Direita, atual rua 1º de Março, até o
Paço Imperial.
Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o
Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial, o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia tentando
resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, general
Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que havia, no local,
tropas legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a
Floriano Peixoto que este havia enfrentado
tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. Porém, o
general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim
justificou sua insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto:
Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos
brasileiros!
— Floriano
Peixoto
Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo
Visconde de Ouro Preto.
O único ferido no episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário que resistiu à ordem de prisão
dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador D. Pedro II e que
vacilava em suas palavras. Relatos dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue.
Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin Constant ao seu lado e que havia
alguns líderes republicanos civis naquele momento.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada
a República.
À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, o Rio de Janeiro, José do Patrocínio redigiu a
proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as
gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a
mudança do regime político do Brasil.
Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos
revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou ainda organizar
outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis,
foi informado e decidiu descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a queda
do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome para substituir o Visconde de Ouro Preto. No
entanto, como nada fora dito sobre República até então, os republicanos mais exaltados, tendo Benjamin
Constant à frente, espalharam o boato de que o Imperador escolheria Gaspar Silveira Martins, inimigo político
de Deodoro da Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul, para ser o novo chefe de governo. Com este
engodo, Deodoro da Fonseca foi convencido a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e,
[2]
desiludido, decidiu não oferecer resistência.
No dia seguinte, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro entregou a D. Pedro II uma comunicação,
cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar
conturbações políticas. A família imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao
Brasil na década de 1920.
As diferentes visões sobre Proclamação da República
É possível considerar a legitimidade ou não da república no Brasil por diferentes ângulos.
Do ponto de vista do Código Criminal do Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830, o crime
cometido pelos republicanos foi:
"Artigo 87: Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua
autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a
quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com
trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."
O Visconde de Ouro Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república fora um
erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da Ditadura Militar
no Brasil":
O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século,
manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país
atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-
americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do
Império, principalmente, devem três povos vizinhos deveram o desaparecimento do
despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte,
extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem,
segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país
algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de
reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca
vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros
praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo,
mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república
brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou
sobre os broqueis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa,
realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma
existência efêmera!
—
Visconde
de Ouro
Preto
O movimento de 15 de Novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a república, embora tenha sido o único
efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e
regionais quanto da população de um modo geral:
Em 1788-1789, a Inconfidência Mineira e Tiradentes não buscavam apenas a independência, mas
também, a proclamação de uma república na Capitania das Minas Gerais, seguida de uma série de
reformas políticas, econômicas e sociais;
Em 1824, diversos estados do Nordeste criaram um movimento independentista, dentre elas a
Confederação do Equador, igualmente republicana;
Em 1839, na esteira da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a República Rio-grandense e a
República Juliana, respectivamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Embora se argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o regime
monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve manifestações populares de apoio à
monarquia, ao imperador ou de repúdio ao novo regime.
Alguns pesquisadores argumentam que, caso a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à
república em seguida, além da Guerra de Canudos. Entretanto, segundo outros pesquisadores, o que teria
ocorrido foi uma crescente conscientização a respeito do novo regime e sua aprovação pelos mais diferentes
setores da sociedade brasileira. Versão oposta é dada pela pesquisadora, Maria de Lourdes Mônaco Janoti,
no livro Os Subversivos da República, no qual relata o medo que tiveram os republicanos, nas primeiras
décadas da república, em relação a uma possível restauração da monarquia no Brasil. Maria Janoti mostra
também, em seu livro, a repressão forte, por parte dos republicanos, a toda tentativa de se organizar grupos
políticos monárquicos naquela época.
Neste sentido, um caso notável de resistência à república foi o do líder abolicionista José do Patrocínio, que,
entre a abolição da escravatura e a proclamação da república, manteve-se fiel à monarquia, não por uma
compreensão das necessidades sociais e políticas do país, mas, romanticamente, apenas devido a uma dívida
de gratidão com a Princesa Isabel. Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito meses, José do Patrocínio
constituiu a chamada "Guarda Negra", que eram negros alforriados organizados para causar confusões e
desordem em comícios republicanos, além de espancar os participantes de tais comícios.
Em relação à ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um documento que teve
grande repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que fora testemunha ocular da proclamação da República,
no Diário Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia:
Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles,
deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu
àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso,
sem conhecer o que significava. Muitos
acreditaram seriamente estar vendo uma parada!
—
Aristides
Lobo
Na reunião na casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria um referendo
popular, para que o povo brasileiro aprovasse ou não, por meio do voto, a república. Porém esse plebiscito só
ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo segundo do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição de 1988.
Segundo historiadores a aristocracia cafeeira do oeste paulista e os militares foram os principais articuladores
da queda da monarquia, mas sem uma aliança formal.
A Proclamação da República e a Manutenção do Brasil como
País Unido
Com a proclamação da República, "segundo todas as probabilidades", acabaria também o Brasil, pensava, no
fim do século XIX, o escritor português Eça de Queirós. "Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas cartas
de Fradique Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de "Cartas Inéditas de Fradique Mendes",
e transcritas por Gilberto Freyre em sua obra "Ordem e Progresso":
O que foi o Império estará fracionado em Repúblicas independentes de maior ou
menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das províncias, as
rivalidades que entre elas existem, a diversidade do clima, do caráter e dos
interesses, e a força das ambições locais. [...] Por outro lado, há absoluta
impossibilidade de que São Paulo, a Bahia, o Pará queiram ficar sob a autoridade
do general fulano ou do bacharel sicrano, presidente, com uma corte presidencial
no Rio de Janeiro [...] Os Deodoros da Fonseca vão-se reproduzir por todas as
províncias. [...] Cada Estado, abandonado a si desenvolverá uma história própria,
sob uma bandeira própria, segundo o seu clima, a especialidade da sua zona
agrícola, os seus interesses, os seus homens, a sua educação e a sua imigração.
Uns prosperarão, outros deperecerão. Haverá talvez Chiles ricos e haverá
certamente Nicaráguas grotescas. A América do Sul ficará toda coberta com os
cacos de um grande Império.
— Eça de
Queirós
O sociológo Gilberto Freyre entendeu que Eça de Queirós errou redondamente:
Profecia que de modo algum se realizou. E não se realizou por lhe ter faltado quase
de todo consistência sociológica; ou ter se baseado apenas numa estreira
parassociologia, quando muito, política; e esta quase inteiramente lógica. Lógica e
de gabinete: nem sequer intuitiva no seu arrojo profético [...] O 'coração íntimo' dos
brasileiros da época que se seguiu à proclamação da República, se examinado de
perto [...] haveria de mostrar-lhe que existia entre a gente do Brasil, do Norte ao
Sul do país, uma unidade nacional já tão forte, quanto às crenças, aos costumes, aos
sentimentos, aos jogos, aos brinquedos dessa mesma gente, quase toda ela de
formação patriarcal, católica e ibérica nas predominâncias dos seus característicos,
que não seria com a simples e superficial mudança de regime político, que aquele
conjunto de valores e de constantes de repente se desmancharia!
—
Gilberto
Freire
Plebiscito de 1993
No dia 21 de abril de 1993, a opção "república" obteve 86 por cento dos votos válidos, conferindo, finalmente,
legitimidade popular ao regime republicano brasileiro. No mesmo plebiscito, o sistema presidencialista de
governo foi legitimado pelo voto popular.
Referências
1. ↑ Proclamação da República - O fim do Império (http://capa.gazetaoeste.com.br/index.asp?
modulo=flex_texto&conteudo=5858)
2. ↑ OURO PRETO, Visconde de, Advento da ditadura militar no Brasil, Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891
3. ↑ >"FREIRE, Gilberto, Ordem e Progresso, páginas 180 e 181, Editora Record, 5ª edição
4. ↑ FREIRE, Gilberto, Ordem e Progresso, página 180 e 181, Editora Record, 5ª edição
Bibliografia
PEIXOTO, Floriano, Floriano 1839-1939, Editora Graphicos Bloch, Rio de Janeiro, 1939.
FONSECA, Deodoro, Deodoro e a Verdade Histórica, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1939.
BARBOSA, Rui, Ditadura e República, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1932.
CALMON, A Vida de Dom Pedro II - O Rei filósofo, Blibioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro,
1975.
CAMPOS SALES, Dr. Manuel Ferraz de, Da Propaganda à Presidência, Edição Fac-similar, Senado
[3]
[4]
Federal, Brasília, 1998.
CHAVES DE MELLO, Maria Tereza, A República Consentida, Editora FGV, EDUR, Rio de Janeiro,
2007.
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco, Os Subversivos da República, Editora Brasiliense, São Paulo,
1986.
OURO PRETO, Visconde de, A Década Republicana, Editora da UNB, Brasília, 1986.
OURO PRETO, Visconde de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere F. Pichon,
Paris, 1891.
PRADO, Eduardo, Fatos da Dictadura Militar no Brazil, Editora Revista de Portugal, 1890.
Ver também
Deodoro da Fonseca
Benjamin Constant Botelho de Magalhães
República Velha
Segundo Reinado
Ligações externas
Podcast (Programa em áudio) sobre a Proclamação da República do Brasil (http://historica.com.br/?
p=7397) (em português)
Museu da República (http://www.museudarepublica.org.br)
A Proclamação da República - entenda este período da nossa história
(http://educaterra.terra.com.br/almanaque/datas/republica.htm)
Proclamação da República no Brasil - História - 15 de Novembro
(http://www.tg3.com.br/proclamacao/)
Proclamação da República - História do Brasil, 15 de novembro, fim da monarquia ...
(http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/proclamacaodarepublica.htm)
Terra - Almanaque - Proclamação da República
(http://educaterra.terra.com.br/almanaque/15novembro/proclamacao.htm)
A república que a revolução destruiu (http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/sertorio.html)
O Ensino Jurídico, a Elite dos Bacharéis e a Maçonaria do Séc. XIX
(http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/bachareis.pdf)
Presidentes Maçons (http://www.pael.com.br/Presidentes_Brasil_Macons.html)
Proclamação da República - 15 de novembro
(http://www.brasilescola.com/historiab/proclamacaodarepublica.htm)
Hino da Proclamação da República
(http://www.brasilescola.com/historiab/hinodaproclamacaodarepublica.htm)
Proclamação da República (15 de novembro) - História do Brasil
(http://www.historiadobrasil.net/proclamacaodarepublica/)
Precedido por
Segundo reinado
Proclamação da República
Brasileira
1889
Sucedido por
República Velha
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Categorias: 1889 no Brasil História do Brasil Republicano República da Espada
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