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Análise das causas de baixa penetração do microcrédito no Brasil uma proposta explicativa

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1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE ECONOMIA 
MONOGRAFIA DE BACHARELADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DAS CAUSAS DA BAIXA PENETRAÇÃO DO 
MICROCRÉDITO NO BRASIL: UMA PROPOSTA EXPLICATIVA 
 
 
 
 
 
 
 
ALEXANDER HERZOG CARDOSO 
matrícula nº: 097235599 
 
 
 
 
 
 
ORIENTADOR(A): Prof. René Louis de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE ECONOMIA 
MONOGRAFIA DE BACHARELADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DAS CAUSAS DA BAIXA PENETRAÇÃO DO 
MICROCRÉDITO NO BRASIL: UMA PROPOSTA EXPLICATIVA 
 
 
 
 
 
 
__________________________________ 
ALEXANDER HERZOG CARDOSO 
matrícula nº: 097235599 
 
 
 
 
 
ORIENTADOR(A): Prof. René Louis de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÇO DE 2003 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do(a) autor(a) 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a DEUS, cuja presença ocupou todos 
os meus espaços da existência, e aos meus pais e irmãos 
que são parte importante de minha esperança. 
 
 
 
 
5 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço a DEUS, pois em várias ocasiões de minha vida senti sua intervenção 
benéfica, e ao Prof° René Louis de Carvalho, cuja paciência "bíblica" e espírito humano, 
permitiram sentir-me livre, isto é, pensar, ser responsável com o processo e buscar o rigor na 
elaboração das idéias. 
 Agradeço também a Fagner Moura, cuja parceira se tornou em grande amizade e 
apreço pela sua pessoa por minha parte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
RESUMO 
O microcrédito é um importante instrumento na promoção de desenvolvimento, dentro 
do contexto maior das microfinanças, e objetiva fornecer crédito produtivo às camadas 
populares que desenvolvem atividades produtivas nos setores da indústria, comércio e 
serviços. Sua importância se expressa como elemento de combate as desigualdades e a 
pobreza, através uma proposta de financiamento da produção de microempreendedores de 
baixa renda, ou que possuem atividades que sobrevivem em estado de precariedade por não 
acessarem às vias tradicionais de financiamento. 
No Brasil, aponta-se que há uma demanda potencial de 8,2 milhões de 
microempreendimentos, com acesso restrito ou sem acesso ao setor bancário. As IMF's, que 
tem como objetivo o fornecimento de crédito e de outros serviços financeiros, conseguem 
obter somente 2% de penetração da demanda potencial estimada. Embora se aponte uma 
conjuntura promissora para o desenvolvimento das microfinanças no Brasil, o que se revela 
são dificuldades de se estabelecer experiências bem sucedidas que indiquem mecanismos e 
prática que resultem numa maior cobertura. 
O estudo das publicações sobre o assunto mostra que em grande parte as IMF's estão 
"fracas", isto é, funcionam com baixa escala de clientes e não conseguem funcionar com 
recursos gerados próprios, são dependentes de subsídios. 
Para explicar o fato, a literatura coloca cinco causas como as mais prováveis para 
explicar esse paradoxo entre um, aparente, quadro promissor e a demanda efetiva considerada 
muito baixa. 
Diante do fato da baixa penetração e das aparentes condições promissoras para o 
desenvolvimento do setor de microfinanças no Brasil, com ampla cobertura de uma demanda 
potencial e que muitas vezes escolhe outras vias de financiamento de suas atividades 
produtivas, vamos buscar na literatura existente sobre o assunto analisar o quadro ofertante e 
demandante das microfinanças no Brasil, a fim de entender como as possíveis causas 
interferiram no processo de desenvolvimento do setor ao longo dos anos, e que peso mostram 
ter no fato. 
 
 
 
 
7 
SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES 
 
 
 
BNDES Banco nacional de desenvolvimento Econômico e Social 
BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais 
PDI-BNDES Programa de Desenvolvimento Institucional do BNDES 
CUT Central Única dos Trabalhadores 
DESEP-CUT Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos da CUT 
CPP Crédito Produtivo Popular 
ONG Organização Não Governamental 
SCM Sociedade de Crédito ao Microempreendedor 
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 
PIB Produto Interno Bruto 
IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal 
IMF Instituição Microfinanceira 
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
MPE Micro e Pequenas Empresas 
IETS Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
 
 
 
8 
ÍNDICE 
 
 
 
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................9 
CAPÍTULO I - O MICROCRÉDITO E O BRASIL............................................................................................................11 
I.1.1- O QUE É MICROCRÉDITO................................................................................................................. 11 
I.1.2 - Seus caracteres fundamentais................................................................................................................. 12 
I.1.3 Seus objetivos........................................................................................................................................... 15 
I1.4 A quem se destina...................................................................................................................................... 17 
I.1.5 Microconclusão ........................................................................................................................................ 19 
I.2. QUAIS SÃO AS INSTITUIÇÕES E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS .................................. 20 
I.2.1 Bases Institucionais do Microcrédito ....................................................................................................... 20 
I.22 Tipos de Instituições de MIcrofinanceiras................................................................................................. 22 
I.2.2.1Instituições financeiras quanto a sua formalidade .................................................................................. 22 
I.2.2.2 Aleternativas Institucionais ................................................................................................................... 23 
I.2.2.2.1 Instituições de "Retaguarda" .............................................................................................................. 24 
I.2.2.2.2 Instituições de "Vanguarda" ............................................................................................................... 24 
I.2.2.2.3 Instituições da Sociedade Civil........................................................................................................... 25 
I.2.2.2.4 Instituições do Poder Público ............................................................................................................. 28 
I.2.2.2.5 Instituições da Iniciativa Privada........................................................................................................ 29 
I.2.2.3 As características minimalista e integrada............................................................................................. 31 
I.2.2.4 Microconclusão .....................................................................................................................................
33 
I..3 ANÁLISE GEOQUANTITATIVA............................................................................................................ 34 
I.3.1 Distribuição regional ................................................................................................................................ 35 
I.3.2 Microconclusão ........................................................................................................................................ 44 
CAPÍTULO II - AS CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA...............................................................................................45 
II.1 - AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO BRASIL .......................................................................... .45 
II.1.1 - Microconclusão..................................................................................................................................... 47 
II.2 - A DEMANDA QUANTIFICADA........................................................................................................... 48 
II.2.1 - A metodologia utilizada........................................................................................................................ 49 
II..2.2 - Os resultados obtidos .......................................................................................................................... .50 
II..2.3 - Setor informal: ênfase no trabalho ...................................................................................................... .52 
II.2.3.1 - Setor informal: discussão qualitativa ................................................................................................ .53 
II.2.3.2 - Setor informal: discussão quantitativa .............................................................................................. .54 
II.2.4 - O traço social da demanda: um conceito de pobreza e a situação dos microempreendimentos........... .59 
II.2.4.1 - A necessidade por serviços financeiros: para onde aponta a demanda ............................................. .63 
II.2.5 - Microconclusão.................................................................................................................................... .66 
CAPÍTULO III - BAIXA PENETRAÇÃO: CAUSAS E NATUREZA................................................................................70 
II.1 - A PENETRAÇÃO DO MICROCRÉDITO NO BRASIL ............................................................................... .71 
II.1.1 - Comparação com o microcrédito em alguns páises da América Latina............................................... .72 
II.1.2 - Que serviços financeiros são utilizados ................................................................................................ 74 
II.1.3 - Microconclusão.................................................................................................................................... .80 
II.2 - AS CAUSAS DA BAIXA PENETRAÇÃO: UMA ANÁLISE CRÍTICA ........................................................ .81 
II..2.1 - Os argumentos mais aceitos................................................................................................................ .84 
II.2.1.2 - Microconclusão: Uma análise crítica das causas .............................................................................. .95 
CONCLUSÃO ............................................................................................................................................................. ..........108 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................... ..........113 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
I - INTRODUÇÃO 
O microcrédito é instrumento financeiro (empréstimo) concedido em valor restrito a 
pequenos empreendedores informais e microempresas com restrições ou impossibilidades de 
acesso ao sistema financeiro tradicional. Esse crédito é caracteristicamente voltado a 
implantação, modernização, ampliação e/ou diversificação de atividade capazes de gerar ou 
manter negócios e atividades produtivos (emprego e renda), e é normalmente denominado de 
crédito produtivo popular (CPP). No Brasil o microcrédito é apontado como a semente das 
microfinanças, dado que é o serviço financeiro predominantemente utilizado entre as IMF's 
brasileiras. 
Segundo o BNDES, no Brasil há 122 instituições operando no país com microcrédito, 
as IMF's, com o total de 158.654 clientes ativos e um volume de carteira de mais de R$ 138 
milhões. Regionalmente, a distribuição das instituições de microfinanças (IMF's) se dá com 
42% do total no Sudeste, 26% no sul, 23% no Nordeste, 7% no Centro-Oeste e 2% no Norte. 
O número de clientes ativos concentra-se no Nordeste com 74% do total no Brasil, seguido de 
11% no Sudeste, 9% no Sul, 6% no Centro-Oeste e 0,4% no Norte. O Nordeste ainda 
concentra 50% da carteira ativa total do país, seguida do Sudeste com 21%, Sul com 20%, 8% 
no Centro-Oeste e 1% no Norte. Os dados mostram ainda que o Nordeste tenha o menor valor 
per capta de empréstimo, com cerca de R$ 598. No Sul o empréstimo per capta é de R$ 2010, 
sendo a maior média do Brasil. 
O debate sobre a importância do microcrédito centra-se em medidas que se utilizem 
deste instrumento como combate à pobreza. Em economias às voltas com a pobreza, 
percebeu-se que havia, de um lado, as necessidades de crédito para dar suporte ao aparato 
produtivo do empreendedorismo presente entre os pobres e, de outro, um modo operacional 
do sistema tradicional bancário incapaz de suprir essa demanda. Nesse extrato da economia, é 
possível enxergar um grande número de atividades de pequeno porte, com baixos requisitos 
de capital, tecnologia e qualificação de mão-de-obra, que nessas condições agregam valor à 
economia e são boas oportunidades de investimento. O microcrédito não é uma solução para 
todos os males da pobreza, mas pode ser uma alternativa eficaz no combate à pobreza. 
Em um país como o Brasil que aparenta ter boas condições para o desenvolvimento do 
sistema de microfinanças, particularmente o microcrédito. Existe uma grande demanda 
 
 
 
10 
potencial, um sistema bancário que tem ignorado a necessidade dos microempreendimentos e 
instituições com experiência em microfinanciamento. Porém, embora haja uma conjuntura 
promissora para o setor, a taxa de penetração da indústria de microfinanças no Brasil é baixa, 
estando em 2% da demanda potencial. É uma questão que carece de respostas. 
Este estudo tem como objetivo analisar as possíveis causas da baixa penetração dos 
programas de microcrédito, destacando o fato de que o setor de microfinanças, principalmente 
o microcrédito, encontrar-se pouco desenvolvido, apesar de haver condições propícias um 
maior aprofundamento entre a oferta e a demanda potencial. As causas mais pertinentes que 
se comenta na literatura são: o contexto macroeconômico anterior (inflação), a existente 
tradição do crédito dirigido no país, a estrutura jurídica para o setor e as condições "frágeis" 
com que se encontram as instituições de microcrédito. 
O primeiro capítulo tratará da oferta, definindo o objeto de estudo, o microcrédito, 
apresentando uma classificação institucional quantos às iniciativas de intervenção com este 
serviço financeiro, e uma análise da distribuição geográfica dos recursos atualmente 
movimentados pelas IMF's e efetivados frente ao público demandante. 
O segundo capítulo tratará da demanda de microcrédito, ressaltando o contexto 
econômico e social onde se encontra predominantemente insertos os microempreendimentos. 
Serão apresentadas as metodologias de estimação, as características do estrato econômico em 
que está inserida a demanda potencial, a informalidade e formalidade das microempresas e 
microempreendimentos, as condições operacionais de suas atividades produtivas, e o que 
representam em termos
de movimentação de renda para o país. 
No terceiro capítulo discutiremos as causas da baixa penetração das IMF's e 
analisaremos a importância dessas causas para o atual quadro das microfinanças no Brasil. 
Devemos observar que este trabalho se fundamenta na literatura publicada sobre o 
assunto, é uma resenha bibliográfica, e que o debate sobre o tema desenvolvido no Brasil, 
atualmente, é recente, carece de estudos mais aprofundados, tanto do quadro ofertante quanto 
das características da demanda, que dê respaldo empírico e conhecimento suficiente para que 
se busquem razões mais científicas sobre o atual quadro das microfinanças brasileiras. É uma 
análise que se propõe a aprofundar a discussão sobre as causas do baixo nível de penetração 
das microfinanças. 
 
 
 
11 
CAPÍTULO I - O MICROCRÉDITO E O BRASIL 
No Brasil, as IMF's oferecem basicamente microcrédito, onde este instrumento de 
financiamento é visto como a "semente" do setor de microfinanças. Portanto, ao utilizarmos o 
termo microfinanças em relação ao Brasil, estaremos nos remetendo ao microcrédito, porém 
microfinanças encerra num contexto mais amplo de serviços financeiros, que entre outros, 
estão a poupança e o seguro. A dimensão das microfinanças no Brasil é pequena (R$ 138,8 
milhões), se comparado, por exemplo, com o montante movimentado de crédito pessoal no 
valor total de R$ 60 bilhões, em 2001 (segundo os dados do mercado geral de crédito pessoal, 
não imobiliário, do Boletim do Banco Central do Brasil, de julho de 2002). Vamos apresentar, 
neste capítulo, a definição do microcrédito dentro do que ele é, o quadro institucional de 
acordo com as diferenças de objetivo de cada IMF e como se distribuem regionalmente os 
recursos, atualmente, movimentados por este setor. 
I.1 - O que é o microcrédito. 
O microcrédito é um instrumento financeiro (empréstimo) concedido em pequeno 
valor a pequenos empreendedores, formais e informais, e microempresas com restrições ou 
impossibilidades de acesso ao sistema financeiro tradicional. Esse crédito é 
caracteristicamente voltado à implantação, a modernização, a ampliação e/ou diversificação 
de atividades capazes de gerar ou manter negócios e atividades produtivas (trabalho e renda), 
e é normalmente denominado de crédito produtivo popular (CPP). 
No sentido estrito, o microcrédito é o crédito produtivo concedido em determinada 
faixa de valores que variam R$ 100,00 até R$ 10.000,00, geralmente, podendo chegar a 
valores superiores em casos especiais. O pagamento é efetuado no curtíssimo prazo, podendo 
ser renovado com valor crescente, sem que sua metodologia obedeça aos trâmites 
operacionais do sistema tradicional. Há o microcrédito em sentido mais amplo, em que o 
empréstimo também se volta para atividades produtivas, mas sua concessão fica condicionada 
à metodologia tradicional bancária, isto é, exigem-se garantias reais como base para análise e 
processo de sua aprovação e liberação. Seu valor máximo excede ao valor de crédito popular 
produtivo, chegando à R$ 50.000,00. 
Habitualmente o microcrédito é confundido com outros sistemas de atividades 
financeiras e conceitos mais abrangentes como as microfinanças. No entanto, segundo Joanna 
 
 
 
12 
Ledgerwood (1999, p. 239, edição em inglês), "microfinanças é a provisão de serviços 
financeiros a clientes de baixa renda, incluindo aqueles trabalhadores por conta própria1. Em 
adição à intermediação financeira, algumas instituições de microfinanças também provêem a 
intermediação de serviços sociais, incluindo a ajuda na formação de grupos e no 
desenvolvimento da autoconfiança, da aprendizagem, do linguajar financeiro e outros 
serviços". Portanto, microfinanças é a prestação de serviços financeiros (crédito, poupança, 
seguros, etc.) através de bancos, financeiras, SCM's, cooperativas, ONG's e OSCIPS, para 
indivíduos e empresas excluídas do sistema financeiro tradicional, enquanto que microcrédito 
é a concessão de empréstimos de relativamente pequeno valor, para atividade produtiva, no 
contexto das microfinanças. 
Há outras formas de microfinanciamento que operam com crédito de pequeno valor, 
porém o objetivo é distinto do crédito produtivo popular. Um exemplo é o crédito popular, 
cujo conceito é mais abrangente que o de microcrédito, compreendendo outras formas de 
oferta de crédito para população de baixa renda e diferentes fins, além das contempladas pelo 
microcrédito, como habitação popular e crédito educativo, entre outros. O crédito pessoal e o 
crédito parcelado são créditos em escala micro, mas voltados para o consumo (empréstimo da 
financeira, troca de cheque, cartão de crédito, crediário da loja, etc.) e não tem o objetivo 
específico de fornecer dinheiro para composição e aquisição de ativos para movimentação 
produtiva. 
I.1.2 Seus caracteres fundamentais 
O microcrédito possui aspectos que o caracterizam com uma metodologia própria. 
Alguns são fundamentais e indicam o modo diferencial desse instrumento quanto a sua 
constituição e finalidade. Reflete, também, algum contraste com as características intrínsecas 
no modelo tradicional (a maximização dos lucros e a dissolução, ao menos parcial, dos riscos 
diante de garantia reais de pagamento). São comentadas, abaixo, essas características: 
 
1
 Estes trabalhadores estão caracterizados por exclusão do sistema formal de fornecimento de crédito 
 
 
 
13 
O crédito produtivo 
O microcrédito se destina a fomentar os microempreendimentos formais e informais geridos 
por pessoas de baixa renda2. É um crédito voltado para o investimento produtivo em unidades 
econômicas de pequeno porte, e não para bens de consumo. 
A ausência de garantias reais 
Essa característica foi incorporada ao microcrédito como a forma mais clara de um 
esforço de adequação da oferta ao caráter da população potencialmente demandante. O 
microempreendedor precisa elaborar um plano de negócios e especificar os ativos em que vai 
investir. Normalmente o indivíduo já possui experiência anterior com o que deseja trabalhar. 
É comum, no Brasil, utilizar o aval solidário3 ou de um avalista (ou fiador) que seja 
compatível com as exigências das instituições ofertantes como formas de mecanismos de 
minimização de riscos quanto à efetivação dos pagamentos. 
Crédito adequado ao ciclo de negócios 
O objetivo do microcrédito é adequar suas operações às necessidades futuras de 
financiamento e aos prazos de realização de receitas em relação aos tipos de negócios. Alguns 
elementos de operação são comuns às instituições: 
• Empréstimos de baixos valores. No Brasil a média está em torno de R$ 900,00. 
• Prazos de pagamento curtos. Normalmente mensal, mas há pagamentos semanais e 
quinzenais. 
• Caracterização como linha de crédito e possibilidades de renovação em valores crescentes 
(de acordo com o teto de cada instituição), conforme a assiduidade do tomador em relação aos 
pagamentos e responsabilidades com a instituição. 
 
2
 Vamos caracterizar como baixa renda a faixa de rendimento de 2 a 3 salários mínimos, de acordo com a medida 
apresentada em "Brusky, Bonnie e Fortuna, João Paulo. 2002 . Entendendo a Demanda para as Microfinancas no 
Brasil: um Estudo Qualitativo de Duas Cidades, PDI/BNDES", em relação às cidades Recife e São Paulo. 
3
 O aval solidário se constitui na formação de grupos de três a cinco pessoas, em geral, com pequenos negócios e 
necessidade de crédito. Normalmente há uma relação de confiança entre os integrantes do grupo, onde eles 
assumem as responsabilidades mutuamente pelo crédito tomado por todos os integrantes. Vide: Yunus, 
Muhammad. 2000. O Banqueiro dos Pobres. 
 
 
 
14 
São medidas que visam estimular o tomador a cumprir seus prazos, podendo gozar do
benefício de renovar o empréstimo e tomar valores maiores de acordo com sua capacidade de 
pagamento e com a política de crédito da instituição. Podem também disciplinar o tomador 
em relação à condução de seu negócio, quanto à gerência eficaz e a possibilidade de 
crescimento. Para a instituição microcreditícia, pode significar aumento da escala de 
operações e sustentabilidade. 
A orientação ao tomador 
Frente ao caráter informal do tomador, a sua formação sócio-cultural, ao valor 
reduzido do empréstimo e à ausência de garantias reais; as instituições de microcrédito 
requerem certas medidas específicas para o processo de concessão do crédito produtivo. O 
tomador pode ter receio de endividar-se ou desviar o empréstimo para outras finalidades que 
não as produtivas. Portanto, o crédito é concedido sob observação do agente de crédito4. O 
agente de crédito é o ator institucional responsável pelo elo entre o tomador do empréstimo e 
a instituição concedente. Ele dirige-se até o cliente e é responsável pelo acompanhamento do 
empreendedor, diagnosticando sua situação financeira e os aspectos gerenciais de seu 
negócio. Ele está envolvido em todo o processo. Do pedido ao recebimento do empréstimo, 
na aplicação do capital concedido, no andamento do negócio e nas amortizações da dívida. 
Não é responsável pelos pagamentos. Ele visa o êxito do negócio entre a instituição 
fornecedora e o tomador do empréstimo. 
O baixo custo de transação e o elevado custo operacional 
Os clientes atribuem dificuldades para se deixar o local de trabalho e levantar 
documentos necessários para apresentar garantias. Assim, pode ser custoso, do ponto de vista 
do demandante, realizar uma transação. Algumas condições são necessárias para baixar o 
custo de transação, como a proximidade entre a instituição e o local de trabalho dos clientes, a 
minimização de medidas burocráticas e a rapidez entre solicitação e liberação do crédito. Pelo 
lado da instituição, os custos para operar nessas condições não são baixos, dados a 
necessidade de acompanhamento dos clientes no local e os riscos de que os pagamentos dos 
empréstimos não se efetivem. Requer eficiência administrativa e taxas de juros apropriadas. 
 
 
4
 As funções e procedimentos dos agentes de crédito são, em síntese, entrevistar no local do negócio, 
diagnosticar a situação financeira do demandante e as condições de administração do negócio. Dimensiona a 
viabilidade do crédito a ser concedido. Vide: Bruett, Tillman. 2002. Técnicas de Gestão Microfinanceira, 
PDI/BNDES. 
 
 
 
15 
Ação econômica com impacto social 
Há uma relação positiva entre o acesso continuado ao crédito e o fortalecimento 
econômico e financeiro dos empreendimentos5. Esse fato leva ao aumento da renda dos 
empreendedores e ao aumento do bem-estar de suas famílias. Os impactos irradiados no 
ambiente familiar se traduzem, muitas vezes, em melhoria na nutrição diária, aumento da 
escolaridade das crianças e das condições de moradia6. 
I.1.3 Seus objetivos 
Há duas discussões substanciais sobre os objetivos a que se propõe o microcrédito: em 
termos econômicos e sociais. Economicamente é um instrumento que visa o crescimento de 
unidades produtivas nos setores da indústria, comércio e serviços, inseridos em determinado 
estrato da economia, cuja principal característica é a baixa renda e exclusão do sistema 
financeiro tradicional, através do investimento e em pró da elevação da produtividade, da 
modernização, ampliação, diversificação e formalização dos microempreendimentos. Ao 
mesmo tempo em que se dirige às atividades produtivas desenvolvidas por empreendedores 
de baixa renda, ele se relaciona com um estrato social que está assinalado pela pobreza, ou 
baixo poder aquisitivo, com as funções de gerar oportunidades de trabalho e renda como uma 
forma de combatê-la. Ambos os aspectos contemplam a questão da sustentabilidade. 
Os objetivos do microcrédito divergem da visão sistêmica de moldes puramente 
mercadológicos, onde o lucro é a principal meta, e pretende o desenvolvimento das camadas 
sociais pouco favorecidas economicamente, através de um modelo apropriado de 
fornecimento de crédito7. Nessa perspectiva, o microcrédito é focado como instrumento de 
promoção do desenvolvimento de atividades produtivas e melhoria das condições de vida das 
pessoas de baixa renda. 
O microcrédito é uma forma de se combater a pobreza e desenvolver atividades 
microempreendedoras, na medida em que dispõe serviços financeiros e de apoio técnico - 
gerencial, através das instituições ofertantes, às populações pobres e/ou que estejam na 
 
5
 Tem-se a idéia de que se há a continuidade na tomada de empréstimos, possivelmente há investimento no 
negócio para sua manutenção e/ou ampliação, aumentando seus ativos e possibilitando vias de fomento 
financeiro ao seu capital de giro. 
6
 Yunus, Muhammad. O Banqueiro dos Pobres. 2000. 
7
 Para saber os objetivos sociais previstos em lei, vide BRASIL. Lei Nº 9.790 de 23/03/99. 
 
 
 
16 
iminência de se tornarem pobres8, aumentando suas oportunidades e possibilidades de 
melhoria da renda e da qualidade de vida. 
É um meio apropriado para dar impulso a "experimentação, não lucrativa, de novos 
modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e 
crédito" 9 que sejam suficientemente adequados às características e necessidades das 
populações de baixa renda. É facultar o estabelecimento de atividades capazes de gerar e/ou 
manter trabalho e renda, assim como seu aperfeiçoamento técnico, ampliação e diversificação, 
a fim de que se atinja a auto-sustentabilidade dessas pequenas economias10. Cria-se uma via, 
assim, para melhoria das condições de sobrevivência, auto-sustentabilidade, crescimento e 
formalização dos pequenos negócios11. 
 Diante dos objetivos apresentados acima, pretende-se oferecer uma forma de 
investimento fixo para microunidades produtivas, ou negócios, e capacitação técnico-
gerencial aos empreendedores dessas microunidades. Estas medidas visam a redução de riscos 
associados ao negócio, assim como privilegiam seu crescimento e futura formalização12. O 
aumento das facilidades econômicas13, desde que os indivíduos tenham acesso aos recursos 
econômicos, através dos seus negócios, pode perfeitamente se constituir em oportunidades de 
melhorias das condições de vida, como acesso aos serviços de saúde e educação, e à aquisição 
de determinados bens de consumo. 
I.1.4 A quem se destina 
O microcrédito é um sistema de crédito diferenciado, compromissado com setores 
econômicos característicos de escassez de recursos e excluídos dos sistemas tradicionais de 
 
8
 Cabe aqui notar que o conceito de linha de pobreza é que faz o corte entre quem está na iminência de estar na 
pobreza e que se encontra nesta faixa. No entanto, para efeito de objetivar o combate à pobreza com o 
instrumento de microcrédito, deve-se escolher um indicador que seja mais adequado a cada análise, pois há 
várias formas para se definir pobreza em relação a um mínimo de renda (1/4 de salário mínimo mês, 1 salário 
mínimo/mês, etc) ou a um mínimo de atendimento de necessidades básicas. Para definições sobre linha de 
pobreza Vide: Lustosa et al. 1989. 
9
 Vide: BRASIL. Lei Nº 9.790 de 23/03/99, art. 3 alínea IX. 
10
 Sugere-se que o crédito apropriado às unidades produtivas de pequenas escala seja um elemento de 
importância para sua inserção competitiva na economia quando aplicado em melhoria do seu capital e em bases 
tecnológicas de forma suficiente para lhe garantir sustentabilidade e crescimento, com reflexo na geração de 
renda e emprego na economia. 
11
 Esse ponto objetivado através do instrumento de microcrédito
visa o desenvolvimento dos pequenos negócios 
de forma escalonada, desde a fase incipinte até atingir condições de entrar e competir no mercado formal . 
12
 BRASIL. BNDES. Programa de Crédito Produtivo Popular. Rio de janeiro, 1996, pág. 3. Cartilha. 
13
 Com facilidades econômicas refiro-me às oportunidades que os indivíduos tem de utilizar recursos econômicos 
com propósito de consumo, produção e troca. Vide: Sem, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2000. 
 
 
 
17 
crédito. O público a que se destina essa modalidade de financiamento é composto de 
indivíduos que exercem alguma atividade produtiva que gere renda familiar e, geralmente, são 
trabalhadores dispensados e/ou aqueles sem chances de serem absorvidos pelo mercado 
formal de trabalho. São os microempreendedores formais ou informais, individuais ou 
coletivos, situados nos meios urbanos e rural sem acesso ao sistema financeiro tradicional. 
Segundo o Programa de Desenvolvimento Institucional do BNDES, o número de 
microempreendimentos14 no Brasil é de cerca de 16,4 milhões. Deste total, cerca de 76% é 
composto de empresas informais, enquanto a parcela formal tem cerca de 24%. A evolução do 
número de microempreendimentos mostra que de 1998 até 2002, segundo a estimativa do PDI 
-BNDES, houve um incremento no total de mais de 15% (Gráfico 1), e que "os 
microempreendimentos estão crescendo a uma taxa de 3,7% ao ano"15, com uma população 
potencial demandante, de microempreendimentos, no Brasil de 8,2 milhões em 2002. O 
crescimento estimado das vias microempreendedoras indica o aumento da necessidade do 
desenvolvimento do setor de microfinanças, particularmente o de microcrédito, no país. 
No Brasil, considerando o conceito de microempresas (empresas com até 19 
empregados no setor industrial com até 9 empregados nos setores de serviços e comércio, 
segundo o SEBRAE), observa-se que 90,7% do total de empresas são de ordem micro, sendo 
ainda responsável por 35% dos empregos16. 
O gráfico 1 refere-se ao total de microempreendedores estimados pelo PDI-BNDES, 
cujo conceito se restringe a empresas com 5 empregados, ou eventualmente 10 empegados17, 
e o seu crescimento entre 1998 e 2002. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14
 O conceito de microempreendimento considera o empreendimento com até 5 empregados. Essa concepção e 
os dados se aproximam com a nota nº 13. 
15
 Nichter et al. “Entendendo as microfinanças no contexto brasileiro”, 2002. Este ponto será discutido no 
Capítulo II. 
16
 Schonberger. Microfinance Prospective in Brazil. 2001. vide: Capítulo II desta monografia. 
17
 Nichter et al. 2002. Pág 29. 
 
 
 
18 
Gráfico 1: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Nichter et al. “Entendendo as microfinanças no contexto brasileiro”, 2002. 
Portanto, o microcrédito possui um universo de cerca de 17 milhões de 
microempreendimentos, dos quais 12,5 milhões são trabalhadores informais (4,3 milhões de 
pessoas ocupadas e 8,6 milhões trabalhando por conta própria), e que o setor informal 
movimenta cerca de 8% no PIB18. 
Muitas das pessoas, inseridas na informalidade, investem recursos de que não dispõe: 
assumem dívidas com agiotas, procuram ajuda entre amigos e parentes, ou procuram outras 
fontes; a fim de angariar recursos para capitalizar seus negócios. Há a intenção de que 
empreendendo uma atividade econômica qualquer, possa melhorar suas condições de vida, e 
de sua família, frente à ausência de oportunidades de emprego e renda no mercado formal de 
trabalho19. Elas não dispõem de conhecimento técnico e administrativo e recursos financeiros 
adequados ao desenvolvimento de seu negócio. 
Ao recorrerem ao setor tradicional de crédito, encontram várias barreiras operacionais 
que os impedem de conseguir um empréstimo, principalmente por não terem como oferecer 
garantias reais às instituições financeiras. Segundo o IBAM: "o trabalho de pesquisa junto às 
instituições operadoras de microcrédito revelou que este público chega a estas instituições 
com queixas sobre as dificuldades de se conseguir créditos oficiais, as taxas de juros 
 
18
 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Economia Informal Urbana – 1997 - Volume 4; Rio de Janeiro, 
1999. 
19
 Segundo o SEBRAE 2002: "O setor informal, que também faz parte da complexidade da economia real, abriga 
maioria dos empreendedores brasileiros. Muitos estão nessa condição por motivo de sobrevivência. Outros, por 
estratégias fiscais. Mas há os que estão lá porque forma simplesmente excluídos dos mecanismos de acesso à 
economia formal". 
Microempreendimentos no Brasil, formais e informais 
(1998-2002)
11,811,411,1 12,512,2
3,63,43,23,1
3,9
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1998 1999 2000(Est.) 2001(Est.) 2002(Est.)
Total (milhões)
Formal
Informal
 
 
 
19 
aplicadas, a burocracia que cerca o atendimento de concessão de crédito e as garantias 
exigidas." 21 
Uma característica importante deste estrato econômico é a sua heterogeneidade. São 
diversificadas as atividades, os tamanhos de cada unidade produtiva e a forma como se 
estruturam. Atuam nos setores de indústria, comércio e serviços. A maioria das pessoas 
aprendeu de forma empírica alguma profissão, não dispondo de conhecimento sobre negócios. 
Isso pode se traduzir em surgimento de formas muito peculiares de lhe dar com a realidade 
econômica que cerca esses pequenos empreendimentos. 
I.1.5 Microconclusão. 
O microcrédito é um importante instrumento através do qual se pode gerar impactos 
em nível macroeconômico, microeconômico e institucional. No entanto, a sustentabilidade e a 
eficiência dos programas são objetivos fundamentais que tornam possíveis o sucesso e a 
expansão dessa prática. Em nível macroeconômico, o microcrédito pode contribuir para o 
crescimento econômico sustentável e eqüitativo. Institucionalmente, é uma partícula da 
estrutura financeira necessária para o desenvolvimento das vias produtivas locais, capaz de 
levar às camadas mais desfavorecidas as benesses do crescimento econômico. Com relação ao 
aspecto microeconômico, os sistemas de crédito produtivo popular criam oportunidades para a 
melhoria do bem-estar dos seus tomadores e propiciam melhor aproveitamento das 
oportunidades econômicas no nível das firmas e das economias externas geradas pelo 
desenvolvimento dos sistemas produtivos locais. 
Socialmente, quer dizer dar aparato financeiro a uma camada da sociedade que através 
de uma relação estrutural se encontra em condições de pouca mobilidade. Outro ponto 
importante é que os instrumentos de microfinanças, aliados ao microcrédito, compõem o 
aumento das possibilidades de mudança do status quo da sociedade, pois o elemento 
poupança e seguros são práticas pouco difundidas entre os indivíduos que se reproduzem 
economicamente nas camadas mais empobrecidas22, e pode significar maior consistência no 
crescimento do negócio e aumento de suas rendas. 
 
21
 IBAM. 2001. Relatório Final. 
22
 A poupança, principalmente, é um mecanismo importantíssimo. Simplificando, um negócio que gere algum 
lucro em determinado período pode dividi-lo em partes segundo as necessidades de empreendedor. Se no caso, a 
cada período, e após satisfazer suas necessidades básicas, o indivíduo consegue poupar 20% (uma expectativa 
otimista) de seus lucros, e não houver emergências neste período, ele pode criar um pecúlio que, se conseguir 
 
 
 
20 
O microcrédito, no Brasil, é o elemento fundamental das microfinanças. Ele tem 
potencialidades para auxiliar no desenvolvimento
dos sistemas locais de produção. A par de 
toda discussão filosófica sobre o significado do microcrédito, deve-se atentar para os aspectos 
técnicos relacionados à sua utilização, levando em consideração a natureza dos seus 
problemas e suas causas, para que se proponham medidas que eficientize a atuação das 
instituições microcreditícias, e que seja conduzido de forma sustentável. Isto quer dizer 
aumentar sua penetração, já que no Brasil só se consegue que 2% da população 
potencialmente demandante efetive a utilização dos serviços de microfinanças, enquanto na 
Bolívia, por exemplo, chega a uma taxa de penetração no mercado de 163%23. Aumentar o 
acesso da população potencialmente demandante é um primeiro passo para o desenvolvimento 
do microcrédito no Brasil e das potencialidades produtivas das camadas mais pobres da 
população24. 
I.2 Quais são as instituições e suas principais características 
As IMF's no Brasil estão inseridas em vários setores quanto a formalidade, estão 
classificadas de acordo com a relação direta com o cliente ou com a relação de apoio 
financeiro e técnico às instituições que atuam nos locais onde trabalham os 
microempreendedores, e dispostas segundo os setores da vida econômico como iniciativas 
Privada, da Sociedade Civil ou do Poder Público. Eles são especializados na oferta de 
serviços financeiros ou complementam esta oferta com intervenções sociais, na comunidade, 
nos grupos de microempreendedores ou individualmente a cada negociante de baixa renda. 
Esse corte encerra a tipologia de instituições que atuam no setor microfinanceiro. Porém, seja 
qual for a inserção da IMF's ou objetivo de intervenção, há bases que são características gerais 
das instituições e buscam a solidez institucional de uma iniciativa de oferta de microcrédito. 
I.2.1 - Bases das Instituições de Microcrédito. 
Instituição microfinanceira é um conjunto de ativos - humanos, financeiros e outros - 
combinados para desempenhar atividades tais como conceder empréstimos e receber 
 
realizar o mesmo a cada ciclo operacional de sua microempresa, lhe dará segurança cumulativa, diminuindo os 
risco relacionados ao seu negócio. 
23
 Ver: Nichter et al. “Entendendo as microfinanças no contexto brasileiro”, 2002. 
24
 O artigo de Otaviano Canuto publicado pelo jornal "Valor Econômico" em 02/01/2001, o autor chama a 
atenção para o aumento de estoques de ativos dos quais os pobres participem como forma única de erradicar a 
pobreza, e coloca o microcrédito como um meio para incrementar os ditos ativos. Conclui dizendo que o 
microcrédito não é uma panacéia contra a pobreza. A respeito dos limites do microcrédito como instrumento de 
 
 
 
21 
depósitos a prazo fixo25. Sua natureza peculiar indica a existência de uma função e certa 
permanência no seu campo de atuação. A definição de sua função é muito importante e tem 
que estar bem clara. O grau em que as instituições estão estabelecidas e capacitadas para 
desempenhar suas funções de forma permanente reflete sua estabilidade e é de grande 
importância para eficiência e eficácia de seus programas, pois as populações demandantes de 
microcrédito necessitam de continuidade ao acesso de vias ofertantes adequadas. 
Uma instituição microfinanceira eficaz possui três atributos básicos. Elas 
proporcionam serviços financeiros adequados ao público relevante, deve proporcionar 
impacto positivo e identificável nos negócios e vida dos clientes e ser uma instituição estável 
e financeiramente sólida. 
Quando adequadas, as instituições de microcrédito26 oferecem seus serviços de forma 
que ajuste a oferta de microcrédito à demanda de seus clientes. Elas adotam tecnologia 
creditícia apropriada27 e determinam parâmetros importantes, como os requisitos de garantias, 
valor e o prazo de pagamento dos empréstimos, mecanismos contra atraso e inadimplência e 
outros, de acordo com as características e necessidades dos negócios e dos clientes. A gestão 
de IMF's deve dispor de técnicas que permitam arquitetar e distribuir serviços de alta 
qualidade, de modo que sejam atrativos e acessíveis ao público demandante. 
O microcrédito é voltado aos pequenos empreendedores e microempresários, com 
pouco ou nenhum acesso ao sistema formal de crédito, e que, geralmente, não desfrutam de 
boas condições de vida. Assim, economicamente, o microcrédito visa um impacto positivo 
nos negócios, melhorando suas condições de reprodução, permitindo seu crescimento e 
desenvolvimento. Os usuários dos serviços financeiros (microcrédito) podem aumentar sua 
renda através do crescimento de suas atividades produtivas, aumentar seu poder aquisitivo e 
utilizar recursos para promover melhorias em sua vida como melhorar sua alimentação, 
comprar medicamentos, eletrodomésticos, investir em sua moradia, etc. O acesso a esses bens, 
refletiria positivamente em sua auto-estima, estimulando-o a um convívio social mais 
participativo e sadio. 
 
desenvolvimento sócio-econômico ver Cláudio González-Vega in Seminário BNDES sobre Microfinanças, 2 e 3 
de maio. 2001. 
25
 Ledgerwood. 1999. Pág. 107 
26
 Deve-se lembrar que, dado que no Brasil as IMF's oferecem predominantemente microcrédito, o conceito de 
microcrédito é intercambiável ao de microfinanças. 
27
 Uma proposição detalhada sobre tecnologia e gestão de instituições que lidam com microfinanças 
(microcrédito), vide: Bruett, Tilmam; Reuben, Sumerllin; Sharon D'Onofrio. 2002. Técnicas de Gestão 
Microfinanceira. PDI-BNDES. (pág. 25 à 38) 
 
 
 
22 
A estabilidade e a sustentabilidade da instituição tem uma dimensão financeira. Ela 
deve prover fundos suficientemente para fomentar suas operações e realizar seus objetivos de 
intervenção. Devem operar com tecnologia eficiente e em escala significativamente grande de 
clientes para que todos os seus custos sejam minimizados e cobertos, obtendo graus 
sucessivamente reduzidos da dependência de doações e subsídios. A maioria das IMF's no 
mundo não é auto-suficiente28. Porém, a capacidade de se auto-gerar financeiramente é um 
atributo importante para a IMF que vise ser contínua e sólida, já que se pressupõe uma 
tendência crescente da demanda por serviços de microcrédtio e uma decrescente dos recursos 
doados. 
I.2.2. Tipos de Instituições Microfinanceiras 
Os tipos de IMF's serão apresentadas em três escalas. No primeiro item será 
considerada a sua existência num sentido mais amplo (instituições financeiras) e quanto à 
formalidade: formais, semiformais e informais. Posteriormente serão consideradas as 
alternativas institucionais de programas de microcrédito, classificando-as quanto a sua 
relação, direta ou n com o cliente final (chamadas instituições de "vanguarda" e "retaguarda") 
e quanto ao setor da vida econômica em que atuam, de acordo com sua finalidade e seu 
formato jurídico. E finalmente, as IMF's serão caracterizadas como minimalistas ou 
integradas. Para efeito de análise desenvolvida neste texto será enfatizada a relação que diz 
respeito às alternativas institucionais de programas de microcrédito com relação aos setores 
da vida econômica. 
I.2.2.1 As instituições financeiras quanto à sua formalidade 
Ao analisar as instituições financeiras quanto a sua formalidade, pode-se dividi-la em 
instituições formais, semiformais e provedores informais. O grau de formalidade diz respeito 
às ordens legais a que obedecem as instituições, quanto ao circuito geral jurídico e às 
regulamentações específicas do setor bancário. 
Instituições formais 
As instituições formais são aquelas que estão sujeitas às prescrições
do poder 
legislativo, às regulações gerais e a supervisão e regulação específicas do setor bancário. Seus 
 
28
 ver Ledgerwood, 1999. Pág 108 
 
 
 
23 
tipos mais usuais são os bancos de desenvolvimento público (de âmbito nacional e regional), 
os bancos de desenvolvimento privado, os bancos comerciais e as financeiras. 
No Brasil, o BNDES, um banco de desenvolvimento público federal, se dedica à 
capacitação, apoio técnico e provimento de recursos financeiros, sob a forma de empréstimos, 
às IMF's que trabalham diretamente com o público demandante. Em síntese, se dedicam à 
formação do funding, ao desenvolvimento institucional e a capacitação técnica dos recursos 
humanos das IMF's29. 
Instituições semiformais 
As instituições semiformais são aquelas definidas por uma delimitação entre o formal 
e o informal no que diz respeito à sua atuação e obrigações. Por um lado, estão sujeitas às leis 
gerais mais relevantes, incluindo as leis comerciais. Por outro lado, são informais, pois 
geralmente estão fora de sujeição às leis, às regulamentações e à supervisão próprias do setor 
bancário. São principalmente as ONG's financeiras, as OSCIP's, as cooperativas de crédito e 
cooperativas de múltiplos propósitos. 
Provedores informais 
São as fontes de fornecimento de crédito em que não se aplicam leis comerciais gerais 
nem leis bancárias específicas, tampouco estão sujeitos a alguma regulamentação formal. Em 
lugares pobres sua difusão como provedor de recursos financeiros é grande. Estão 
circunscritos nesse ramo os agiotas, os amigos familiares, fornecedores, associações de 
poupança e crédito rotativo, entre outros; que fornecem crédito sob a forma de dinheiro ou de 
tempo entre recebimentos e pagamentos. 
I.2.2.2 As alternativas institucionais de programas de microcrédito 
Dois blocos de instituições atuam complementarmente no setor de microfinanças. Eles 
atuam de formas diferentes quanto as suas finalidades em relação aos clientes. Há instituições 
de microcrédito que atuam diretamente com o cliente final, fornecendo-lhe o empréstimo e 
outros serviços complementares. São as instituições da Sociedade Civil, do Poder Público e da 
Iniciativa Privada. Chamaremos essas instituições de "vanguarda". Outras instituições 
 
 
 
24 
oferecem capacitação, apoio técnico e recursos financeiros, em condição de empréstimo, às 
instituições que trabalham diretamente com o público alvo. Denominaremos essas outras 
instituições de "retaguarda" 30. 
I.2.2.2.1 Instituições de "Retaguarda" 
As instituições de "retaguarda" se propõem atuar em pró da constituição dos fundos, 
no desenvolvimento institucional e na capacitação do corpo técnico das instituições de 
"vanguarda". Em relação aos fundos, elas emprestam recursos financeiros para sua 
constituição ou ampliação. Busca o desenvolvimento institucional das IMF's de "vanguarda" 
custeando a sua implantação e modernização tecnológica com o objetivo de contribuir para 
sua consolidação. Oferece capacitação técnica aos agentes de crédito, aos gestores das 
instituições de "vanguarda" e lideres locais. 
O SEBRAE criou o Programa SEBRAE de Microcrédito com o objetivo de dar 
suporte técnico às instituições que trabalham diretamente com o cliente final. O BNDES 
através do Programa de Crédito Produtivo Popular (PCPP) e do Programa de 
Desenvolvimento Institucional promove eventos técnicos sobre o assunto, fornece recursos 
financeiros para o desenvolvimento institucional e para a composição do funding das 
instituições de "vanguarda" além de apoio técnico administrativo aos programas. 
I.2.2.2.2 Instituições de "Vanguarda" 31 
As instituições de "vanguarda" são aquelas que trabalham diretamente com o cliente 
final. Elas representam as Organizações Não Governamentais, as Organizações da Sociedade 
Civil de Interesse Público, as Sociedades de Crédito ao Microempreendedor, os "Bancos do 
Povo" e demais agências do governo. Nesta seção elas serão divididas em instituições da 
 
29
 O BNDES criou o Programa de Crédito Produtivo Popular e o Programa de Desenvolvimento Institucional 
que se dedicam ao aprimoramento técnico das IMF's e ao provimento financeiro para os programas que 
desenvolvem atividades de microfinanças. Ver o site: http://www.bndes.gov.br 
30
 Os termos "retaguarda" e "vanguarda" são utilizado para designar uma oposição em termos de atuação em 
relação ao tomador potencial e efetivo de microcrédito. Vanguarda refere-se às instituições que atuam na frente 
dos programas com relação direta com o público tomador de microcrédito no local, analisando os pedidos, 
liberando os empréstimo e acompanhando-o. Retaguarda denomina as instituições que desempenham papel de 
apoio ao grupo que atua diretamente com o cliente final. É, apenas, uma relação de oposição entre o papel que 
cada instituição definida nesta linha assume frente ao público: se atua diretamente ou se atuam indiretamente. 
31
 Esta caracterização é a mais importante para efeito deste trabalho, pois visaremos as instituições que trabalham 
diretamente com o cliente final na elaboração da proposição explicativa sobre a questão da baixa penetração do 
microcrédito no Brasil. 
 
 
 
25 
sociedade civil, do poder público e da iniciativa privada, conforme sua origem e delimitação 
legal. 
I.2.2.2.3 As Instituições da Sociedade Civil 
O microcrédito no Brasil, diante de seu limiar histórico, confunde-se com iniciativas 
próprias da sociedade civil. Sua forma institucional se constituiu, primeiramente, de 
organizações não governamentais. Essas instituições atuam, em geral, exclusivamente na 
intermediação financeira (minimalistas), oferecendo crédito com fins produtivos ao pequeno 
empreendedor, ou outros serviços de intermediação social e de desenvolvimento dos negócios 
atrelados ao crédito32 (integradas). Hoje essa iniciativa se dá principalmente pelas 
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP's) e pelas Organizações Não 
Governamentais (ONG's). 
Essas instituições são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, 
sem fins lucrativos. Dada essas características, os lucros apurados após o resultado 
operacional de sua atividade fim é completamente revertido para instituição. Portanto, não há 
distribuição de lucro na forma de apropriação, mas um redirecionamento na forma de 
capitalização, contribuindo para a sustentabilidade econômico-financeira da instituição. 
Organizações Não Governamentais (ONG's) 
O setor de microfinanças no Brasil teve início com o trabalho desenvolvido por 
algumas ONG's33. Estas instituições muito concorreram para a multiplicação das iniciativas de 
microcrédito, estruturando as primeiras redes e prestando grande contribuição para a difusão 
desta atividade no país. 
A designação de ONG agrega uma grande diversidade de instituições, cujas 
características em comum são apenas a de serem de direito privado e sem fins lucrativos. O 
termo ONG é impreciso e análogo a várias instituições definidas sob a mesma sigla, porém de 
natureza e prática bastante distintas. Tratamos neste texto de ONG's que prestam serviços 
 
32
 A diferenciação entre as instituições que oferecem apenas a intermediação financeira (crédito), chamadas 
minimalistas, e as que oferecem além de crédito outros serviços de acompanhamento e desenvolvimento dos 
negócios, além de iniciativas sociais, chamadas integradas, será realizada na seção 2.3 deste texto. 
33
 A primeira experiência com microcrédito no Brasil foi desenvolvida pelo Programa Uno, em 1973, nos 
municípios de Recife e Salvador. Esse programa foi criado pela
iniciativa da ONG ACCION International, a 
qual ainda fornecia assistência técnica. 
 
 
 
26 
microfinanceiros, especializadas na concessão de crédito produtivo ou que ofertam outros 
serviços além do microcrédito. 
São ONG's de crédito, do tipo popular e produtivo, aquelas instituições que se 
dedicam ao financiamento de microempreendimentos, como objetivo maior, podendo oferecer 
outros serviços complementares aos clientes. Esses serviços complementares são oferecidos 
eventualmente e trata-se de capacitação e assessoria técnica aos microempreendedores, como 
forma indireta de minimizar os riscos do empréstimo, desenvolvendo o microempreendedor 
profissionalmente na relação com o crédito e com seu mercado. As ONG's com esse perfil são 
minimalistas. 
As ONG's podem ser não especializadas, desenvolvendo serviços sociais, apoiando 
movimentos e populações marginalizadas, serviços de apoio ao desenvolvimento dos negócio 
e buscam o desenvolvimento do capital social34 do local em que atuam , além da praticarem a 
intermediação financeira. A forma como oferecem todo esse aparato de serviços é feito de 
forma independente, aglutinando as todas as atividades. 
O grau em que uma ONG's é especializada ou não está relacionado com o nível de 
intermediação financeira. A maior capacidade de intermediação financeira está determinada 
pelas possibilidades de oferecer uma variedade de serviços à microempresa e alcançar a 
massificação dos serviços de crédito, inversão, poupança e operações à vista35. O parâmetro 
de comparação é o sistema financeiro tradicional. A capacidade de intermediação financeira é 
um ponto fundamental do debate sobre que estratégias institucionais são viáveis para o 
fortalecimento das ONG's de crédito ou se é mais apropriado deixar que os setores financeiros 
atuarem, de forma eficaz, na oferta de microcrédito. 
Se tratarmos o marco legal das ONG's, e seu desdobramento, há uma tendência de que 
estas instituições sejam reguladas pelo setor bancário. Os caminhos sugerem um conjunto de 
desenhos institucionais, com a transformação das ONG's de crédito em entidades reguladas 
pelos bancos centrais36. A idéia é buscar a sustentabilidade dos sistemas de fornecimento de 
serviços financeiros através dessas instituições para que o processo implantação do 
microcrédito tenha um desempenho eficiente, garantindo continuidade às intervenções que 
visam o desenvolvimento do setor de microfinanças e dos negócios de baixa renda. 
 
34
 vide: Abramovay, Ricardo. O Capital Social dos Territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia 
Aplicada, volume 4, n° 2, abril/junho, São Paulo, 2000. 
 
 
 
27 
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP's) 
As OSCIP's são instituições que se encontram sob em regime de controle e 
transparência intensivo, o que se deve, sobretudo, às determinações da Lei 9.790 que as 
obriga a publicar suas contas além de exigir que o patrimônio das OSCIP's esteja 
permanentemente sob o interesse público37. Conforme Ferrerazi et al, 2000: "O patrimônio de 
uma OSCIP também deve estar permanentemente no interesse público, devendo ser 
transferido a uma outra instituição, com a mesma qualificação, em caso de dissolução. Um 
outro fator a ser considerado é a obrigação de, após o transcurso de dois anos da lei, as 
instituições do 3º setor precisarem optar entre o título de OSCIP e a declaração de utilidade 
pública, o mesmo valendo para o certificado de fins filantrópicos que a partir de março de 
2001 não poderá mais "coexistir" com o título de OSCIP em uma instituição" 38. O termo de 
parceria, detalhado no Decreto n° 3.100, de junho de 1999, é um outro instrumento voltado 
para garantir que as relações entre Estado e OSCIP's sejam estabelecidas do modo mais 
transparente possível. Como pontos frágeis para a atuação do Estado nas microfinanças, via 
participação em OSCIP, temos a lentidão do processo de criação de uma OSCIP, e a 
necessidade de distanciamento entre o poder público e as instituições regidas pela Lei n° 
9.79039. 
A discussão sobre o modelo de estruturação para o terceiro setor vem sendo mediada 
pelo Governo Federal através da Comunidade Solidária. O objetivo principal é o 
fortalecimento da sociedade civil como um todo40. Como conseqüência do debate, constituiu-
se a Lei 9.790 de março de 1999 que, conjuntamente com o Decreto 3.100, de junho de 1999, 
estabeleceram a função social da OSCIP e sua parceria com o poder público. 
A Lei 9.790 serve como um divisor dentro do terceiro setor, ao determinar quais 
modalidades institucionais estariam aptas a se qualificarem como OSCIP. Segundo o artigo 2º 
da Lei 9.790, especificado das alíneas I à XIII, as associações criadas por órgão ou por 
fundação pública, cooperativas, sindicatos, partidos políticos e suas fundações, instituições 
religiosas, organizações sociais e organizações creditícias, que tenham quaisquer tipos de 
 
35
 IBAM. 2001. Relatório Final. 
36
 IBAM. 2001. Relatório Final. 
37
 IBAM. 2001. Relatório Final. 
38
 Ferrarezi, Elisabete, Rezende, Valéria. 2000. OSCIP – organização da sociedade civil de interesse público: a 
lei 9.790/99 como alternativa para o terceiro setor. Brasília: Comunidade Solidária 
39
 IBAM. 2001. Relatório Final. 
40
 Ferrarezi et al. 2000. 
 
 
 
28 
ligações com o Sistema Financeiro Nacional, entre outras, estão impedidas de obter a titulação 
de OSCIP. 
O chamado Termo de Parceria, criado pela Lei nº 9.790, é a relação contratual que 
pode ser estabelecida entre o Estado e as OSCIP's. Se por um lado as OSCIP's estão 
submetidas a requisitos legais rigorosos, por outro elas usufruem exclusividade nos concursos 
que forem estabelecidos na definição deste termo, o que pode propiciar às OSCIP's acesso à 
participação em programas dos quais estarão excluídas as demais organizações do terceiro 
setor41. 
O termo de parceria é um ponto que diferencia a OSCIP das ONG's. Ele é um 
instrumento exclusivo das OSCIP's e significa o mecanismo pelo qual a OSCIP se relaciona 
com o poder público. Havendo uma tendência cada vez maior da relação entre Estado e 
terceiro setor, esta será estabelecida preferencialmente pelo termo de parceria, o que levaria as 
ONG's sem título de OSCIP a serem excluídas de diversos programas do Governo. Segundo o 
Relatório Final do IBAM, 2001, "até o momento, no entanto, ainda são relativamente poucos 
os casos em que a preferência por OSCIP's tenha provocado um maior prejuízo às outras 
ONG's, muito embora esta tendência pareça vir se consolidando progressivamente". 
Com a criação das OSCIP's, dentro de seu marco legal, o setor de microfinanças 
recebe um grande impacto positivo devido à acessibilidade aos recursos destinados aos 
programas, à isenção da Lei da Usura42 e à possibilidade de efetivar o termo de parceria. Para 
instituições como as ONG's, tonar-se uma OSCIP's seria praticamente a única forma pela qual 
se poderia operar de forma sustentável. 
I.2.2.2.4 Instituições do Poder Público 
As iniciativas governamentais passaram a desempenhar um papel importante no 
desenvolvimento das intervenções centradas em microcrédito. Os governos estaduais e 
municipais estão implantando programas de microcrédito, centrados principalmente em 
"Bancos do Povo", como o Banco do Povo de São Paulo43, Banco do Povo de Santo André, 
 
 
41
 IBAM. 2001. Relatório Final 
42
 O Decreto 22.626, de 7 de abril de 1933, constitui a lei da usura e estipula juros máximos de 12% ao ano, 
consistindo a cobrança de juros usurários em crime contra a economia popular. Esta lei não se aplica a 
instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional, Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e 
Organizações da Sociedade Civil de Interesses Público. 
 
 
 
 
29 
Banco do Povo de Juiz de Fora, etc. Na esfera Federal, têm-se a atuação do Banco do 
Nordeste, responsável pelo programa CrediAmigo, o maior do país44. 
Em alguns casos, essas iniciativas não respeitam parâmetros técnicos de 
sustentabilidade, ligando-se muitas vezes aos objetivos dos programas motivações políticas. 
Muitos desses programas oferecem crédito a taxas de juros baixas e incapazes de fazer frente 
aos custos operacionais. Cresce, então, a dependência desses programas do apoio do governo 
para dar continuidade as suas operações. 
As instituições de "retaguarda" têm participação importante, principalmente no 
fomento financeiro dos programas, nos âmbitos federal, estadual e municipal, muitas vezes 
através de linhas de empréstimo para esses fundos a taxas de juros de longo prazo, na 
elaboração de estudos sobre os principais problemas do microcrédito e de sugestões para 
gestões eficientes e na capacitação de técnicos administrativos das instituições de 
"vanguarda". Temos como exemplo no Brasil o Banco Nacional de Desenvolvimento 
Econômico e Social (BNDES), O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), A 
Agência Catarinense de fomento (BADESC), etc. 
As iniciativas do Poder Público são diversas atuando como instituições de 
"retaguarda" e de "vanguarda", fazendo parcerias com instituições da sociedade civil (ONG's 
e OSCIP's) e, há pouco tempo, com a iniciativa privada. 
 
 
 
 
43
 O Banco do Povo de São Paulo é uma parceria entre os governos estadual e de alguns municípios do Estado de 
São Paulo, formado em 1998. Essa entidade oferece empréstimos a microempreendedores locais a uma taxa 
altamente subsidiada, de 1% por mês. O programa está crescendo rapidamente, embora o modelo escolhido não 
permita sua continuidade num contexto de mercado. Em menos de quatro anos de operação ele já atende a 9.521 
clientes ativos. O valor médio de empréstimo do Banco do Povo de São Paulo é de R$ 1.696. vide: Nichter et al. 
2002. 
44
 Segundo Nichter et al (2002): "O Banco do Nordeste é uma instituição federal de desenvolvimento regional, 
sediada no Ceará, que fornece mais de 70% do financiamento bancário na região Nordeste. Por intermédio de 
seu programa Crediamigo, de rápido crescimento, lançado em 1998, o banco atende a 54% dos atuais clientes de 
microfinanças no Brasil. O programa Crediamigo é voltado para clientes de baixa renda (com um valor médio de 
empréstimo de R$ 584) em áreas urbanas, utilizando uma metodologia de grupos solidários. O banco tem uma 
estratégia de crescimento agressiva e toma decisões com base comercial, dentro da estrutura de uma instituição 
de desenvolvimento regional". 
 
 
 
30 
I.2.2.2.5 As Instituições da Iniciativa Privada 
A iniciativa privada brasileira só recentemente vem atuando na área de microfinanças. 
Normalmente suas atividades nesse campo se dão através de doações para formação de capital 
próprio ou através de empréstimos às instituições de microcrédito da sociedade civil. 
A Lei 10.194 publicada em fevereiro de 2001 cria as Sociedades de Crédito ao 
Microempreendor (SCM), e confere novo formato jurídico a atuação da iniciativa privada. A 
Lei atribui perfil lucrativo às organizações que trabalhem no campo do microcrédito e 
resolvam tornar-se uma SCM45. Por outro lado, essas instituições, pessoas físicas ou jurídicas, 
ficam suscetíveis à supervisão do Banco Central do Brasil segundo as leis e regulamentações 
próprias do setor bancário. Seu caráter de instituição de microcrédito permanece o mesmo 
junto ao público demandante: é uma instituição financeira que oferta crédito de valor restrito 
junto ao público de baixa renda, adotando metodologia específica de microcrédito. 
Legalmente, ao se criar uma SCM, algumas condições são de destaque. Elas estão 
equiparadas às instituições financeiras, tendo sua "constituição, organização e funcionamento 
disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional" 46. Seu objetivo social é conceder 
financiamentos às pessoas físicas e jurídicas com fins produtivos47. Está sujeita à fiscalização 
do Banco Central do Brasil. Estão proibidas de realizar captação recursos junto ao público, 
sob de qualquer forma, inclusive emitir título mobiliários. 
O Conselho Monetário Federal editou e Resolução 2874/01, em julho de 2001, 
exigindo que na formação de uma SCM, esta tivesse patrimônio líquido mínimo de R$ 
100.000,00 e realizasse cada operação com o limite de R$ 10.000,00. Na mesma resolução, 
proibiu a utilização do substantivo "banco", a concessão de crédito para fins de consumo e 
vedou a participação societária do Poder Público nesta instituição. Por outro lado, permitiu à 
SCM realizar empréstimos junto ao Sistema Financeiro Nacional e atuar em todo território 
nacional. Outro ponto importante é que as OSCIP's podem exercer controle sobre uma SCM, 
mantidos seus objetivos sociais e a independência quanto ao setor público de suas atividades e 
gestão. 
 
45
 A natureza financeira e lucrativa, no entanto, justifica as SCM's serem isentas da lei da usura, consistindo 
assim em instituições com boa sustentabilidade, já que estão habilitadas a cobrar juros de mercado. Vide: IBAM. 
2001. Relatório Final. 
46
 vide: Lei 10.194, 14 de fevereiro de 2001, art. 1, alínea II. 
47
 Isto é, viabilização de empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial. vide: Lei 10.194, 14 
de fevereiro de 2001, art. 1, alínea I. 
 
 
 
31 
 Quadro 1: Tipos de IMF's segundo formalidade, contato com o tomador e segundo os setores da economia 
 
 
 Setores da vida econômica: 
 
 
 Instituições Financeiras (formalidade): 
 
 
 Contato com o cliente final: 
Um avanço que trás a resolução é em relação à criação de Postos de Atendimento de 
Microcrédito. Objetivam exclusivamente a operações destinadas ao microcrédito. Esses 
postos podem ser instalados em qualquer instituição financeira, sem exigência adicional de 
capital. Não se exige o aporte mínimo de capital para instalação dos postos. Há flexibilidade 
quanto à permanência (tempo), ao horário de funcionamento e à estrutura física dos postos. O 
aspecto positivo dessa medida é que se abriu a possibilidade para alongar o atendimento até 
populações isoladas. 
 
 
 (reformular) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I.2.2.3 As características minimalista e integrada 48 
A concepção de instituições microfinanceiras, particularmente de microcrédito no
Brasil, é a de que prestam serviços financeiros para uma população caracterizada por baixa 
renda e exclusão do sistema financeiro formal. As IMF's podem oferecer outros serviços com 
 
48
 A discussão sobre instituições minimalistas e integradas está baseada em Ledgerwood 1999. 
Instituições formais: 
• Bancos de Desenvolvimento 
Público (de âmbito nacional e 
regional) 
• Bancos de desenvolvimento 
privado 
• Bancos comerciais 
• SCM's 
• Financeiras 
 
Semiformal: 
• OSCIP's 
• ONG's 
•Cooperativas de crédito 
•Cooperativas de múltiplo 
propósito 
 
Informal: 
•Agiotas 
•Fornecedores 
•Familiares e amigos 
• Associações de crédito e 
poupança rotativos 
Vanguarda: 
• SCM's 
• OSCIP's 
• ONG's 
•Cooperativas de crédito 
•Cooperativas de múltiplo 
propósito 
 
Retaguarda: 
• Bancos de 
desenvolvimento Público 
 (ex: BNDES e BDMG) 
• Bancos de 
desenvolvimento privado 
• Bancos comerciais (ex: 
Unibanco) 
Instituições da 
Sociedade Civil: 
• OSCIP's 
• ONG's 
•Cooperativas de 
crédito 
•Cooperativas de 
múltiplo propósito 
Instituições do 
Poder Público: 
• Bancos do Povo 
• Bancos 
Comerciais (ex. 
Banco do Nordeste) 
• Bancos de 
Desenvolvimento 
 
Instituições da 
Iniciativa Privada: 
• Bancos de 
Desenvolvimento 
•Bancos 
Comerciais 
• SCM's 
Fonte: elaboração própria à partir das informações contidas no texto 
 
 
 
32 
o objetivo de melhorar a capacidade de seus clientes em gerir seus negócios e utilizarem os 
serviços financeiros disponíveis. 
O contexto mais amplo de microfinanças, inclusive o microcrédito, permite que sejam 
identificados quatro grupos de serviços que podem ser oferecidos: (i) intermediação 
financeira, (ii) intermediação social, (iii) serviços de desenvolvimento dos negócios e (iv) 
serviços sociais. 
A intermediação financeira é a prestação de serviços financeiros como poupança, 
crédito, seguros, cartões de crédito e um sistema de pagamentos. Praticamente todas as IMF's, 
no mundo, oferecem microcrédito, porém algumas oferecem outros produtos de 
intermediação financeira. 
A intermediação social visa à construção e desenvolvimento do capital humano e 
social necessário para que a intermediação financeira tenha condições de se tornar auto-
sustentável em camadas caracteristicamente mais pobres. Quando se trata de intermediação 
neste nível da sociedade requer um tempo mais prolongado, o quer dizer a necessidade de 
subsídio em tempo suficiente para se realizarem as mudanças de acordo com este objetivo. 
Quando os serviços oferecidos se propõem ao desenvolvimento dos negócios, não são 
serviços financeiros, mas capacitação empresarial aos microempreendedores. Incluem 
treinamento em gestão, em marketing, em desenvolvimento de habilidades, em tecnologias 
operacionais e análise de mercado. 
Os serviços sociais são serviços não financeiros que visam melhorar as condições de 
vida do microempreendedor. Esses tipos de serviços concentram-se em ampliar os 
acompanhamentos dos clientes nas áreas de saúde, educação, alimentação e alfabetização. 
Esses quatro tipos de serviços dão a dimensão de atuação da IMF. Ela pode se 
especializar em conceder unicamente serviços de intermediação financeira, ou englobar todos 
os serviços em sua carteira de atividades oferecidas às populações em que esteja intervindo. O 
grau em que cada instituição oferece cada um desses serviços define se sua abordagem é 
minimalista ou integrada. 
As IMF's que oferecem somente serviços de intermediação financeira, mas que 
oferecem ocasionalmente alguns serviços de intermediação social, são chamadas de 
 
 
 
33 
minimalista. As instituições minimalistas baseiam seu enfoque na premissa de que o crédito é 
a ferramenta capaz de alavancar os empreendimentos de baixa renda, fazendo-os crescer e 
seguir as vias do desenvolvimento. Estas instituições reconhecem sua vantagem comparativa 
ao se especializar somente na intermediação financeira. Assume-se que os outros serviços 
serão oferecidos por outras instituições de acordo com seu público alvo. Ao focalizar um 
único objetivo, as IMF's diminuem os custos e a dependência de subsídios, além de dar 
clareza quanto ao seu objetivo como instituição. 
A abordagem integrada adota uma visão que contempla, ou busca contemplar, todas 
as dimensões do seu cliente, e são próprias da IMF's que oferecem uma cesta diversificada de 
serviços que inclui intermediação financeira, intermediação social, serviços de 
desenvolvimentos dos negócios e serviços sociais. Nem todas as instituições oferecem todos 
os serviços expostos nos quatros grupos acima mencionados, mas podem aproveitar a 
proximidade com os seus clientes, baseados em seus objetivos, para oferecer aqueles serviços 
que são mais necessários e cujos custos são comparativamente mais vantajosos. 
Com base em seus objetivos, considerando as circunstâncias da oferta e da demanda 
na qual operam, as IMF's decidem se adotarão uma abordagem minimalista ou integrada. Há 
algumas dificuldades, potencialmente expressa, diante de uma escolha de abordagem 
integrada. As intermediações financeiras e não financeiras são distintas em essência e podem 
gerar pouca clareza quanto aos objetivos da instituição, além de objetivos conflitantes. Ao 
optar em trabalhar com vários serviços criam-se dificuldades em identificar e controlar os 
custos envolvidos nas operações. Os serviços não financeiros são custosos, tem alta 
dependência de subsídios e dificilmente são sustentáveis. Ao focalizar vários objetivos, a IMF 
pode incorrer em perdas de eficiência na condução de um programa que lide com a 
complexidade dessas operações. 
I.2.2.4 Microconclusão 
O item 2 deste capítulo apresentou uma classificação das instituições financeira 
inclusive as de microfinanças. A estrutura básica está divida segundo a formalidade, o contato 
com o cliente final e os setores da vida econômica. Em uma outra etapa, o conjunto de IMF's 
é divida entre aquelas especializadas em intermediação financeira e as que oferecem outros 
serviços além dos serviços financeiros, como intermediação social, capacitação em gestão dos 
negócios e serviços sociais. 
 
 
 
34 
Essa diferenciação coloca as IMF's atuantes no Brasil situadas, principalmente, entre 
as instituições formais e semiformais. Dessas instituições, parte opera diretamente com o 
cliente final concedendo microcrédito e outros serviços complementares. Outra porção 
trabalha concedendo recursos financeiros, sob a forma de doações ou empréstimos, e serviços 
de apoio técnico às instituições microfinanceiras em contato direto com o público demandante 
dos seus serviços. Denominamos instituições de "vanguarda" aquelas que lidam diretamente 
com o cliente final de microfinanças, e retaguarda aquelas que operam em pró da constituição 
dos fundos das instituições de "vanguarda" e do desenvolvimento de suas dimensões técnicas 
e institucionais. 
Circunscrito nas instituições de "vanguarda" e "retaguarda" estão as Instituições da 
Sociedade Civil, as Instituições do Poder Público e as Instituições da Iniciativa Privada. Essas 
categorias constituem o foco principal deste texto, em termos institucionais, pois especificam 
as instituições que operam com microcrédito de acordo com o setor da vida econômica 
nacional49 de que fazem parte. 
Entre as Instituições da Sociedade Civil destacamos principalmente as OSCIP's e as 
ONG's, como instituições de "vanguarda" sem fins lucrativos. As Instituições do Poder 
Público são de "vanguarda" e "retaguarda", e os principais atores são os "Bancos do Povo" e 
os bancos de desenvolvimento, como BNDES e BDMG. Não tem fins lucrativos e muitas 
vezes trabalham com programas subsidiados pelo governo local e federal. Quanto às 
Instituições da Iniciativa Privada, sua participação
é pequena e se concentra em empréstimos 
ou doações para constituição dos fundos das instituições de microcrédito, operando em 
parceria ou não. As SCM's criadas pela Lei 10.194 de fevereiro de 2002 são as principais 
operantes e possuem fins lucrativos. 
Por último, as IMF's podem ser minimalistas ou integradas, de acordo com sua 
especialização em intermediação financeira ou com o espectro de serviços ofertados aos 
clientes que vão desde intermediação financeira até serviços sociais, expressos no item 2.3. 
O marco institucional das IMF's no Brasil, de acordo com este texto, estabelece 
definições quanto a sua formalidade, a atuação direta ou indireta com o cliente final, de 
acordo com os setores da vida econômica nacional e segundo o espectro de serviços ofertados 
aos clientes. Os propósitos das instituições inseridas são diversificados e visam desde o 
 
 
 
35 
desenvolvimento dos negócios de baixa renda até o de sistemas produtivos locais e do capital 
social. As instituições de microcrédito têm objetivos lucrativos, no caso das SCM's, e não 
lucrativos, quando OSCIP ou ONG. 
I.3 Análise geoquantitativa 
As IMF's no Brasil, segundo dados do PDI-BNDES, apresentam-se distribuídas em 
todas as regiões brasileiras com expressiva concentração nas regiões Sul e Sudeste 
(aproximadamente 70%). Porém, a região Nordeste agrega grande parte do volume de carteira 
de empréstimos e de clientes efetivamente tomadores de microcrédito (aproximadamente 50% 
da carteira ativa total do país e 73% de todos os clientes ativos). Mesmo havendo um total de 
121 instituições operando no Brasil com microfinanças, especialmente microcrédito, apenas 9 
IMF's possuem mais de 2.000 clientes ativos. Esses dados não refletem o sucesso desses nove 
programas, mas sim capacidade de, no longo prazo, obterem viabilidade e melhorar os seus 
resultados. Outra característica intrigante é que há uma grande disparidade entre o empréstimo 
médio tomado pelos clientes nas grandes regiões (o Sul tem um empréstimo médio de cerca 
de R$ 2.010, enquanto o Nordeste tem cerca de R$ 600). Este item do capítulo 1, pertencido a 
esta monografia, apresentará um panorama da distribuição geográfica dos recursos aplicados 
em programas do microcrédito, com uma breve análise desse quadro. 
I.3.1 A distribuição regional 50 
Atualmente no Brasil o microcrédito está distribuído, de forma desigual, em todas as 
regiões. Há 121 instituições operando com microcrédito, um total de clientes ativos é de 
158.654 e um volume de carteira em movimentação de R$ 138,8 milhões. 
 
 
 
 
 
49
 Com setor da vida econômica nacional quero me referir aos setores público, privado e da sociedade civil (3º 
setor). 
50
 O dados apresentados neste item são estimados pelo PDI-BNDES, expostos em Nichter et al. “Entendendo as 
microfinanças no contexto brasileiro”, 2002. 
 
 
 
 
36 
Figura 1: Mercado de IMF's no Brasil. 
 
 
 
 
 
Fonte: Nichter et al. 2002. 
Analisando em termos percentuais, a região Sudeste é que concentra maior número de 
instituições operantes, com aproximadamente de 42%. A região Sul e Nordeste têm 26% e 
23% das IMF's totais operantes no país, respectivamente. As regiões Centro-Oeste e Norte são 
as que, em grande diferença, menos agregam IMF's: são, respectivamente, cerca de 7% e 2% 
(ver Gráfico 2). 
Gráfico 2: 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: elaboração própria á partir dos dados de Nichter et al. 2002. 
A região Sudeste possui o maior número de instituições, porém a maior concentração 
de clientes ativos se encontra no Nordeste brasileiro (cerca de seis vezes mais que no 
Sudeste). A região Nordeste tem, segundo o PDI-BNDES, 115.582 cliente ativos, cerca de 
Distribuição das IMF's por 
Região no Brasil
N
2% NE23%
SE
42%
S
26%
CO
7%
Nordeste 
N° de IMF's: 28 
Clientes Ativos: 15.582 
Carteira ativa: R$ 69.1 milhões 
Norte 
N° de IMF's: 3 
Clientes ativos: 653 
Carteira ativa: R$ 0.9 milhões 
Sul 
N° de IMF's: 32 
Clientes ativos: 14.127 
Carteira ativa: R$ 28.4 milhões 
Sudestet 
N° de IMF's: 50 
Clientes ativos: 18.197 
Carteira ativa: R$ 29.2 milhões 
Centro-Oeste 
N° de IMF's: 8 
Clientes ativos: 10.095 
Carteira ativa: R$ 11.1 
Brasil 
N° de IMF's : 121 
Clientes ativos: 158.654 
Carteira ativa: R$ 138.8 milhões 
 
 
 
37 
73% do total de clientes estimados no Brasil. O Sudeste agrega 18.197 clientes, mais de 11% 
do público efetivamente tomador de microcrédito no Brasil. As demais regiões Sul, Centro-
Oeste e Norte possuem respectivamente 14.127, 10.095 e 653 clientes participantes de seus 
programas, e somadas representam cerca de 15% do total no Brasil. Deve-se ressaltar que do 
total de clientes ativos no Nordeste 73,80% são clientes do programa Crediamigo do Banco 
do Nordeste, e que esse programa dispõe do uso da rede de agências do Banco distribuídas 
pela região Nordeste, certamente uma vantagem institucional para captação de clientes em 
relação às demais regiões. O Gráfico 3 apresenta os percentuais que cada região dispõe do 
total de clientes ativos no país. 
Gráfico 3: 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Nichter et al. 2002. 
O Nordeste é a região onde está contida a maior carteira ativa, com R$ 69,1 milhões. 
As regiões Sudeste e Sul possuem respectivamente R$ 29,2 milhões e R$ 28,4 milhões, e as 
regiões Centro-Oeste e Norte possuem carteiras ativas respectivas de R$ 11,1 milhões e R$ 
900 mil. Em termos percentuais, o Gráfico 4 ilustra qual a parcela de microcrédito 
movimentada em cada região do país. 
 
 
 
 
Clie nte s a tivos por re giã o no Bra sil
S
9%
CO
6%
NE
73%
S E
11,5%
N
0,5%
 
 
 
38 
Gráfico 4: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Nichter et al. 2002. 
Há uma dimensão quanto à distribuição dos recursos envolvidos nos programas 
desenvolvidos por IMF's que diz respeito ao valor médio de empréstimos que a população de 
clientes ativos alocada em cada região demanda em termos de valor. Como apresentado no 
Gráfico 3, maior carteira ativa se encontra na região Nordeste, seguido das regiões Sudeste, 
Sul, Centro-Oeste e Norte. As populações regionais de clientes ativos obedecem à mesma 
escala (Gráfico 4). Porém, a relação entre a carteira ativa e os clientes ativos de cada região 
indica que o empréstimo médio das regiões Sul, Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Nordeste se 
dão, nesta ordem, de forma decrescente. O Gráfico 5 ilustra o empréstimo médio em cada 
região. 
 
 
 
 
 
 
Carteira ativa por região do Brasil
N
1%
NE
50%
SE
21%
S
20%
CO
8%
 
 
 
39 
Gráfico 5: 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: elaboração própria a partir dos dados de Nichter et al. 2002. 
No contexto brasileiro o empréstimo médio é cerca de R$ 875. A região Sul tem 
empréstimo médio de R$ 2010, o maior do país. As regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste 
possuem respectivamente R$ 1.604, R$ 1.378 e R$ 1099. E a região Nordeste, que possui a 
maior parcela de clientes e carteira ativos do país, possui o menor empréstimo médio entre as 
regiões com o valor de aproximadamente de R$ 598. 
Ao observar as Contas Regionais do Brasil de 2000, elaborado pelo IBGE, percebe-se 
que o Sul é o segundo maior PIB per capita do país, e que a proporção do empréstimo médio 
nessa região em relação ao PIB regional per capita corresponde a 26,14%. O Sudeste possui 
uma proporção de 18,29% de empréstimo médio em relação ao seu PIB regional per capita. O 
Centro-Oeste
e Norte possuem a relação respectivamente de 16,76% e 35,28%. Porém a 
região Norte tem volume de carteira e clientes ativos, respectivamente, na proporção de 1% e 
0,5% do total do país. Esse pequeno valor da região Norte teria pouca relevância para se 
considerar em uma análise da relação entre empréstimo médio e PIB regional per capita, dado 
seu estado muito incipiente. Por último, temos a região Nordeste que possui uma proporção 
de 19,84%. 
 
 
 
0,00
500,00
1.000,00
1.500,00
2.000,00
2.500,00
Va
lo
r 
(R
$)
N NE SE S CO Brasil
Regiões
Empréstimo Médio 
 
 
 
40 
Tabela 1 
Proporção de Empréstimo Médio por Região do PIB Regional per capita (%) 
Indicadores N NE SE S CO Brasil 
Empréstimo médio E (médio) 1.378,25 597,84 1.604,66 2.010,33 1.099,55 874,23 
PIB regional per capta 3.907,00 3.014,00 8.774,00 7.692,00 6.559,00 6.473,00 
E (médio)/PIB per capta 35,28% 19,84% 18,29% 26,14% 16,76% 13,51% 
 
Fonte: Elaboração própria a partir das Contas Regionais do IBGE e dos dados de Nichter et al, 2002. 
Há uma idéia por de trás destas relações entre empréstimo médio por região e PIB 
regional per capita. A distribuição de valores médios de empréstimo espelha as diferenças 
regionais51, e embora a renda média per capita não explique completamente a variação de 
valor dos empréstimos de microcrédito no território brasileiro, ela pode influenciar o 
montante de empréstimo demandado dadas as características intrínsecas da dinâmica dos 
mercados de maior renda. O Sul possui renda per capita de R$ 7692 e o Nordeste de R$ 3014, 
segundo as Contas Regionais do IBGE para o ano de 2000. O valor médio do empréstimo 
pode significar, em parte, o tipo de negócio, em termos de ativos movimentados, que estão 
sendo desenvolvidos em cada região. Ou melhor, a demanda por microcrédito, em valor, pode 
ter uma relação com o perfil econômico dos microempreendimentos e/ou microempresas que 
estão sendo supridos por este instrumento, no setor comercial, industrial ou de serviços, e o 
quanto de investimento demandam para sua manutenção e desenvolvimento dentro de seu 
mercado local52. 
O segmento do setor ofertante de microcrédito, via instituições microfinanceiras do 
setor formal e semiformal, obteve significativo crescimento se comparar-mos os valores da 
estimativa do total de atividades de microfinanças no Brasil de 1999 no estudo de Goldmark53 
com os valores expressos neste item. Segundo Goldmark, em 1999 o número do IMF's no 
Brasil era de 47, a carteira de empréstimo estava estimada em R$ 43,40 milhões e o número 
de clientes ativos estava em 76.701. Recapitulando, o estudo mais atual de Nchter54 sobre o 
 
 
51
 Nichter et al. 2002. 
52
 Esta análise está centrada no campo das possibilidades. Embora não seja o objetivo primeiro deste texto, talvez 
seja necessário uma análise da demanda por crédito produtivo popular no que diz respeito ao valor, 
relacionando-o ao mercado em que está inserido o negócio e qual a qualidade dos ativos que movimenta para sua 
manutenção e desenvolvimento. Os diferentes perfis de negócios podem demandar mais recursos ou menos, e 
tipos específicos de produtos microfinanceiros, de acordo com a região onde estão inseridos e à dinâmica do 
mercado onde competem. 
53
 vide: Goldmark et al. "As situações das microfinanças no Brasil", 2000. 
54
 Nichter et al. 2002 
 
 
 
41 
mercado de microfinanças no Brasil em 2001 indica 121 IMF's operantes no país, com 
158.654 clientes ativos e carteira de empréstimos de R$ 138,80 milhões. 
A comparação entre esses dados revela que os clientes ativos aumentaram em mais de 
duas vezes, contabilizando um incremento de mais de 81 mil. Grande parte deste aumento se 
deve à penetração do Banco do Nordeste através do programa Crediamigo que de dezembro 
de 1999 a dezembro de 2001 aumentou o número de seus clientes de microcrédito de 35.332 
para 85.309. A carteira ativa mais que triplicou, com um incremento de cerca de R$ 95,00 
milhões, e que o número de IMF's operantes no Brasil passaram de 47 para o patamar de 121. 
O empréstimo médio passou de R$ 565 para R$ 875, em valores aproximados, que significa 
um aumento qualitativo para o setor. A este aumento dos empréstimos médios tem de ser 
computado a inflação para o calculo do aumento real do empréstimo médio, já que o Índice 
Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas (IGP-FGV) dos anos de 2000 e 2001 foi de 
9,81% e 10,40%, respectivamente. 
Apesar do aumento quantitativo da oferta de intermediação financeira, observando o 
quadro geral das IMF's operantes, poucas alcançaram uma escala significativa em número de 
clientes ativos. Segundo os dados apresentados pelo estudo Nichter et al (2002), das 121 
instituições distribuídas nas cinco regiões brasileiras, apenas 9 possuem mais de 2.000 
clientes. Essas instituições reunidas atendem a 79% dos clientes ativos totais do país e 
movimentam 66% da carteira ativa de todos os programas. Observando o Quadro 2, das 9 
instituições 6 estão situadas no Nordeste, uma no Sul , uma no Sudeste e uma no Centro-
Oeste. A Portosol, situada no Sul, possui o maior empréstimo médio com R$ 1.866, seguida 
pelo Banco do Povo de São Paulo, com R$ 1.696 e Banco do Povo de Goiás, com R$ 1.113. 
A média dos empréstimos médios das 6 instituições situadas no Nordeste é de R$ 642, valor 
bem inferior às demais, e que reflete a tendência das diferenças regionais discutidas na página 
37. 
O número de clientes e o volume de empréstimos em trânsito não indicam, 
necessariamente, que as instituições estejam gozando de sucesso em seus programas. Há 
outros indicadores que conjugados esclarecem melhor as bases em que estão estabelecidas 
estas instituições, como a qualidade da carteira, a sustentabilidade da instituição e a 
viabilidade a longo prazo do modelo de gestão utilizado em concretizar tais resultados. As 
iniciativas governamentais, como através dos "Bancos do Povo", poderiam colocar questões 
técnicas importantes em segundo plano, como a sustentabilidade, ao subsidiar a ampliação de 
 
 
 
42 
suas carteiras, comprometendo as intervenções a longo prazo. Portanto, mesmo reconhecendo 
esse aumento em termos quantitativos, a certeza a cerca da qualidade dos modelos de gestão 
das instituições ofertantes é uma análise à parte, onde podemos ter algumas informações a 
respeito, desagregando os dados globais por instituições atuantes: 
 "O programa Crediamigo do Banco do Nordeste, por exemplo, o maior programa de microfinanças do 
Brasil em termos de clientes ativos, deve ser visto dentro de seu contexto regional. Enquanto o CrediAmigo 
demonstrou um rápido crescimento nos seus primeiros anos de operação, isto tem se dado principalmente nas 
cidades secundárias onde opera. Esta expansão tem sido muito mais lenta nas áreas urbanas do litoral nordestino. 
Se dividida pelo número de agências (aproximadamente 70) a carteira do Banco do Nordeste, com uma média de 
1.218 clientes ativos por agência, revela um perfil não tão diferente das IMF's especializadas". (Nichter et al, 
2002) 
 Quadro 2: Instituições de microfinanças no Brasil com mais de 2.000 clientes ativos (2001). 
 
Ranking por número de 
clientes 
 
Tipo de IMF 
(Setor da vida econômica) Clientes ativos 
Carteira ativa 
(R$) 
Valor médio do 
empréstimo 
(R$) 
Banco do Nordeste (CE) Poder Público/banco 
comercial estatal. 
 
85.309 
 
49.847.600 
 
 
584 
 
Banco do Povo de São 
Paulo (SP) 
Poder Público/banco do 
povo 
 
9.521 
 
16.148.660 
 
 
1.696 
 
Banco do Povo de Goiás 
(GO) 
Poder Público/banco do 
povo 
 
7.535 
 
8.386.455 
 
1.113 
 
 
CEAPE (MA) Sociedade Civil/ OSCIP 
 
5.467 
 
2.985.111 
 
546 
 
 
CEAPE (RN) Sociedade
Civil/ ONG 
 
5.411 
 
4.030.880 
 
745 
 
 
CEAPE (PE) 
Sociedade Civil/ 
OSCIP 
 
4.527 
 
2.996.848 
 
 
662 
 
Visão Mundial 
(BA/MG/PE/RN) 
Sociedade Civil/ 
ONG 
 
2.583 
 
1.591.880 
 
616 
 
 
CEAPE (SE) Sociedade Civil/ OSCIP 
 
2.543 
 
1.826.593 
 
 
718 
 
 
Portosol (RS) Sociedade Civil/ OSCIP 
 
2.069 
 
3.860.355 
 
1.866 
 
 Fonte: adaptado de Nichter et al 2002. 
Alguns dados de Nichter divergem em pequena proporção dos apresentados em 
"Levando os serviços de microcrédito às pessoas de baixa renda: o Crediamigo no Brasil", in 
"Em Breve", n° 7, Banco Mundial, agosto de 2002. A análise sobre o programa Crediamigo 
 
 
 
43 
apresenta a distribuição de seu produto por meio de 164 das 174 agências do Banco do 
Nordeste. Seu público é composto de microempresários já estabelecidos, fornecendo meios de 
financiamento de seu capital de giro e para ativos fixos necessários. Não se exigem garantias, 
utilizando-se de aval solidário para concessão dos empréstimos a grupos formados de 3 a 5 
pessoas que garantem o empréstimo mutuamente. Seu prazo tem em média 3 meses de 
duração. Na primeira ocasião, os empréstimos restringem-se à faixa de R$ 300 à R$ 700, 
podendo chegar à R$ 4.000 por sucessivas renovações. A taxa de juros atualmente é de cerca 
de 3,5%. Há mecanismos de estímulo à adimplência, com abatimento de 15% sobre os juros, 
caso todas as parcelas sejam pagas em dia. O programa ainda cobre demandas individuais e 
de investimento. 
Entre 1998 e 2002 o Crediamigo apresenta expressiva penetração geográfica, número 
de clientes e extensão territorial ao seu alcance, com possuir cerca de 100.000 clientes ativos e 
uma carteira a receber de R$ 56 milhões distribuídos em 702 municípios do Nordeste. Sua 
estrutura permite reduzir significativamente os custos de transação aos clientes. É a maior 
instituição de microcrédito no Brasil. 
Essa análise revela o perfil estrutural que confere ao programa Crediamigo grande 
parte do seu sucesso em termo de penetração regional. Porém, se visto pelo número médio de 
clientes por agência, percebe-se que sua escala não difere muito das demais instituições. Se os 
dados são de Nichter et al; a escala por agência do programa é de 1218 clientes por agência, 
se os números são do artigo publicado pelo Banco Mundial, então sua escala fica em cerca de 
600 clientes por agência. O importante é que o número de clientes por agência reflete na 
viabilidade econômica e financeira dos programas quando se tem em mente que os custos 
globais do programa serão cobertos, em objetivos restritos, se houver uma escala mínima de 
clientes que movimente o necessário em recursos financeiros, e sejam cobrados juros e taxas 
administrativas, para garantir a sustentabilidade da rede distribuidora55. Essa aparente 
vantagem do Crediamigo em usar as instalações do Banco do Nordeste para obter estes 
resultados, pode mascarar a real viabilidade do programa se pensássemos em obter esses 
resultados através de outras formas estruturais disponibilizadas. 
Em fim, segundo a pesquisa de Nichter et al, das 112 IMF's operantes atualmente no 
Brasil oito atendem a pelo menos 1.000 clientes, enquanto 88 atendem a menos de 500 
 
 
55
 vale lembrar que os empréstimos médios são baixos, o que quer dizer uma maior clientela para movimentar 
uma massa necessária de recursos que viabilize o programa no curto, médio e longo prazos. 
 
 
 
44 
indivíduos. Mais detalhadamente, o Gráfico 6 mostra que 38% das instituições operam com 
menos de 100 clientes, 32% tem entre 100 e 500 clientes em seus programas, 16% agregam 
tem 500 ou mais clientes e menos de 1.000 e as IMF's que possuem clientes ativos de 1.000 à 
1.999 representa cerca de 7% do total do Brasil. O que prevalece no quadro institucional são 
as menores IMF's. 
Gráfico 6: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: adaptado de Nichter et al 2002. 
Se considerarmos as IMF's no Brasil com mais de 2.000 clientes ativos como 
"grandes", verificaremos que o segmento de microfinanças no Brasil se apresenta 
intensamente concentrado, com 9 instituições operando com 79% dos clientes ativos do país, 
e um parcela pulverizada com 112 instituições atendendo 21% da clientela ativa. No entanto, 
devemos ressaltar que o mais importante é saber se estas pequenas IMF's que prevalecem no 
quadro geral, em número, dispõem de condições para atender de forma sustentável e com 
tendência crescente uma parcela significativa da demanda potencial. Se elas trabalham 
atualmente com estratégias viáveis para, no médio e longo prazo, consolidarem uma porção 
de clientes ativos que signifique uma maior penetração na demanda potencial, hoje com 98% 
sem cobertura pelos programas de microcrédito, então significa uma desconcentração e 
desenvolvimento do setor de microfinanças no Brasil. 
I.3.2 Microconclusão 
Nos últimos dois anos o setor de microfinanças aumentou substancialmente no Brasil. 
Os clientes ativos aumentaram em 81 mil tomadores e a carteira de empréstimo total passou 
Distribuição de IMF's por n° de clientes
46 39
19 8 9
121
0
20
40
60
80
100
120
140
0-99 100-
499
500-
999
1000-
1999
2000 ou
+
Total
Faixa por n° de clientes
N
° 
de
 
IM
F'
s
 
 
 
45 
de R$ 43,4 milhões para R$ 138,8 milhões. Esse aumento tem um reflexo qualitativo no 
empréstimo médio, aumentando seu valor estimado em 55%. 
As atividades de microfinanças variam substancialmente nas regiões brasileiras. O 
Sudeste concentra a maior parte das IMF's, e o Nordeste possui as maiores parcelas de 
clientes e carteira ativos no país, com mais de 6 vezes clientes e mais de 2 vezes a carteira 
ativa do Sudeste. O Sul possui o maior empréstimo médio, com mais de três vezes o 
empréstimo médio do Nordeste. A renda pode ser um componente que reforce a tendência 
sulista em ter maior empréstimo, embora não explique completamente essa questão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
CAPÍTULO II - AS CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA 
O capítulo I apresentou uma visão sistêmica da oferta de microcrédito no Brasil, 
Primeiramente consideramos, com base nos dados apresentados em textos especializados, que 
o setor de microfinanças é predominantemente ofertante de microcrédito. Definimos o 
microcrédito de acordo com o seu significado, objetivo e destino, isto é, finalidade e público 
alvo. Apresentamos uma classificação dos meios institucionais que atuam no setor 
microfinanceiro e uma análise geoquantitativa da distribuição dos recursos envolvidos nos 
programas de microcrédito operantes no Brasil. 
Neste capítulo será apresentada uma contextualização da demanda de microcrédito 
com objetivo de especificar os demandantes potenciais em número, características 
econômicas, posição e peso na economia brasileira. Após será analisado a camada social em 
que está predominantemente inserta. Primeiro tratar-se-á dos micros e pequenos 
empreendimentos no Brasil, em termos das discussões conceituais e analíticas sobre o 
assunto. Na Segunda parte vamos tratar da quantificação da demanda, da metodologia 
utilizada no estudo que focalizamos para estimar a demanda potencial (PDI-BNDES), vamos 
especificar o setor informal numa discussão qualitativa e quantitativa, salientando a unidade 
produtiva informal e o trabalho que a compõe. Por último faremos uma breve apresentação do 
perfil social dos microempreendimentos, ressaltando a pobreza que é caracteristicamente 
presente entre aqueles que desenvolvem atividades microempreendedoras. Não dispensando, 
porém, os microempreendedores que, embora possuam algum tipo de precariedade em seus 
negócios, não são caracterizados
dentro da faixa de pobreza. 
II.1 As Micro e pequenas empresas no Brasil 
Do ponto de vista legal, entende-se por microempresa a pessoa jurídica ou firma 
individual que tem receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00 e por empresa de 
pequeno porte aquela que tem receita bruta anual superior a R$ 244.000,00 e inferior a R$ 
1.200.000,00 (Lei 9.841 de outubro de 1999 que estabelece o Estatuto da Microempresa). 
Quando se trata de linhas especiais de crédito essa classificação pode ser adequada. Mas para 
fins tributários a classificação mais adequada coloca a microempresa como organização 
produtiva que tenha receita bruta anual de até R$120.000,00 e por pequena empresa aquela 
 
 
 
47 
que possui receita bruta anual dentro dos limites R$ 120.000,00 (inferior) e de R$ 720.000,00 
(superior), respectivamente (Lei 9.317 de dezembro de 1996). 
Considerando pela mão-de-obra empregada, as microempresas são definidas como 
aquelas que empregam até 19 trabalhadores quando situada no ramo industrial ou até 9 
empregados quando situadas no setor de serviços ou de comércio. Pequenas empresas são 
aquelas que empregam de 20 até 99 trabalhadores, quando na indústria, ou de 10 a 49 
trabalhadores nos setores de comércio e serviço. Esta é uma definição dada pelo IBGE. 
Analisando a participação das micro e pequenas empresas (MPE) nos setores 
produtivos da economia brasileira percebe-se que elas constituem 98,8% de todas as empresas 
operantes na economia. As MPE's se compõem em 51% do setor comercial, 35% do setor de 
serviços e 14% do setor comercial. Elas empregam cerca de 44% dos trabalhadores, dos quais 
40% estão no comércio, 34% no setor de serviços e 26% estão empregados em atividades 
industriais. As MPE's empregam 78% de toda mão-de-obra do setor de comércio nacional. 
Pela ótica da distribuição dos salários e outras remunerações, as MPE's são responsáveis por 
17,4% da massa de salários e outras remunerações despendidas no país, um volume de cerca 
de R$ 36 bilhões. O setor de serviços é o que mais despende salários e demais remunerações 
entre as MPE's, com 38% do total. Os setores da indústria e comércio despendem 36% e 26% 
do total de salários entre as MPE's. Fazendo o cálculo das remunerações médias1 das MPE's, 
verifica-se que o valor chega à R$ 2926. Segregando o valor das remunerações médias por 
setor, a indústria é que possui maior média com R$ 3972 por trabalhador ocupado neste setor. 
O setor de serviços possui uma remuneração média de R$ 3237 e o comércio é o que possui o 
menor valor com cerca de R$ 1963, ou seja, 2 vezes menor que a remuneração média do setor 
industrial2. A distribuição da receita e valor bruto da produção industrial revela que as 
microempresas têm 13,40% de participação e as pequenas empresas têm 14,82%. Juntas 
representam mais de 28% do total produzido no país. No setor de comércio a parcela 
movimentada pelas MPE's agrega 45% da receita bruta do setor. Tendo em vista os dados 
apresentados acima, as MPE's são predominantemente voltadas para o setor de comércio, e 
empregam parcela significativa da mão-de-obra nos 3 setores e na produção nacional 
(Elaboração própria à partir dos dados contidos no ANEXO I, SEBRAE). 
 
1
 Remuneração média quer dizer, neste texto, o total de salários e outras remunerações das MPE's divididos pela 
população ocupada em atividades destas empresas. 
2
 Isso é explicado pelo fato dos setores de indústria e serviços empregarem trabalho mais qualificado em suas 
atividades. 
 
 
 
48 
Segundo Schonberger, as microempresas são parte substancial de todas as empresas 
que operam na economia nacional reunidas em 9,5 milhões de firmas e representando a 
proporção de mais de 90% de todas as empresas3. O estudo do SEBRAE "Políticas de 
Pequeña e Mediana Empresa en Brasil", diz que essas empresas de ordem micro são 
responsáveis por 60% da força de trabalho, 48% da produção nacional, 21 % do PIB, tendo 
relação de dependência direta com elas 45 milhões de pessoas4. Se considerarmos as firmas 
com no máximo 4 empregados, as microempresas figuram dentro dos setores de indústria, 
comércio e serviços com 46%, 78% e 82%, respectivamente, do total de firmas operantes5. 
Luiz Eduardo Galvão, em artigo publicado na revista Rumos, cita os estudos da 
FIBGE em que "os microempreendimentos, na forma de iniciativas individuais familiares e 
cooperativas, rurais e urbanas, com ênfase no setor de comércio e serviços, eram, em 1995, 
perto de 75% dos estabelecimentos existentes no país, a maior parte na informalidade, que 
então abrigava 55% dos 68 milhões de trabalhadores brasileiros, estimando-se que 25% da 
população economicamente ativa (12,5 milhões) tinham, então, como fonte de trabalho e 
renda o pequeno empreendimento" 1. 
As estimativas sobre as MPE's no Brasil nem sempre convergem para um ponto em 
comum. Além disso, os conceitos sobre microempreendimentos e microempresas não estão 
bem delimitados, quando observamos os dados disponíveis sobre as firmas desse porte em 
atividade no país. Porém, ao considerar uma análise sobre as causas da baixa penetração do 
microcrédito no Brasil, temos que selecionar o indicador mais adequado dos possíveis 
tomadores do crédito popular produtivo, a fim de estimar a demanda potencial no país, e 
comparar com o número de clientes ativos totais cobertos pelas IMF's operantes no Brasil. 
II.1.1 Microconclusão 
A análise apresentada acima revela a diversidade dos focos adotados nas discussões 
acerca do público a que se destina o microcrédito. Há definições quanto aos empreendimentos 
objetivados pelo crédito produtivo popular quanto à lei, que define de acordo com a receita 
bruta, há uma conceituação de acordo com o número de trabalhadores utilizados pelas 
 
3
 SEBRAE, 1997. in: Schonberger, Steven. "Microfinance Prospects in Brazil". Banco Mundial. 
4
 SEBRAE. Políticas de Pequeña e Mediana Empresa en Brasil. Documento apresentado à Mesa Redonda: 
POLÍTICAS Y PROGRAMAS PARA LA PEQUEÑA E MEDIANA EMPRESA. Washington, D.C, Banco 
Interamericano de Desenvolvimento, 1998. 
5
 Goldmark et al. 2000. 
1
 GALVÃO, Luís E. Crédito Popular: de grão em grão se faz o pão. Rumos, dezembro de 1998. 
 
 
 
49 
unidades produtivas, como a do IBGE, e outras também representativas. O conceito quanto ao 
microempreendimento sofre variações que revelam sensíveis diferenças em relação ao objeto 
de estudo quando focado na demanda potencial das microfinanças. São os 
microempreendedores, é certo, e eles compõem uma parcela significativa da economia 
brasileira, tanto na ótica da produção quanto na ótica do emprego. Porém, para clareza do que 
estamos procurando explicar, há a necessidade de estabelecer um conceito de demanda 
potencial que homogeneize o objeto em estudo neste capítulo, e de onde possa se determinar o 
que é essa demanda e quanto representa no Brasil, em número, e como está distribuída pelas 
grandes regiões. 
Diante dos dados apresentados e das estimativas existentes, dada a diversidade das 
discussões e pontos a que se referem, para efeito da análise a ser realizada neste texto vamos 
adotar as estimativas sobre o número de mcroempreendimentos no Brasil realizadas pelo PDI-
BNDES e através do estudo "Entendendo as Microfinanças no Brasil" de Nichter et al (2002). 
II.2 A demanda quantificada 
O PDI-BNDES desenvolveu um modelo abrangente para estimar o número de 
microempreendimentos no Brasil. Para isso utilizou diversos dados disponíveis através de 
publicações do IBGE sobre essas "populações", e determinou que a demanda potencial por 
serviços microfinanceiros partia inicialmente do fator "número de microempreendimentos". 
As pesquisas até então existentes utilizavam diferentes definições de microempreendimentos
e metodologias pouco transparentes, com resultados que apresentavam alguma diferença entre 
si. Em relação às definições, há diferenças sutis entre microempresa e microempreendimento. 
O SEBRAE apresenta suas estatísticas com base no conceito de microempresa e considera 
como tal aquela unidade produtiva que na indústria possui no máximo 19 empregados, ou 
com 9 empregados ou menos no setor de serviços ou comércio. Porém, segundo a 
metodologia do PDI-BNDES será considerado microempreendimento a organização que 
desenvolve suas atividades econômicas empregando menos de 5 trabalhadores ou que possui 
eventualmente 10 empregados. 
Os dados que consideraremos na análise desenvolvida neste texto sobre a baixa 
penetração do microcrédito no Brasil, serão os obtidos segundo a metodologia utilizada pelo 
PDI-BNDES, e apresentada em Nichter et al 2002, para estimar os números de 
microempreendimentos e a demanda potencial de serviços microfinanceiros no Brasil. 
 
 
 
50 
Quadro 3: modelo de estimação de microempreendimentos no Brasil. 
 
 
 Formalidade: 
 
 
 Corte urbano/rural: 
 
II.2.1 A metodologia utilizada 
Segunda a metodologia aplicada pelo PDI-BNDES, demanda potencial de 
microfinanças é a fração do número de microempreendimentos totais em operação num país 
que efetivamente demanda serviços microfinanceiros. Os microempreendimentos são 
definidos como unidades que desenvolvem atividades produtivas com menos de 5 
empregados, ou eventualmente com 10 empregados. Quando se refere à "fração que 
efetivamente demanda serviços financeiros", quer dizer que 50% do universo total de 
microempreendimentos são assumidos como potencialmente demandante. Essa metodologia é 
arbitrada por Peck Christen no texto “Commercialization and Mission Drift: The 
Transformation of Microfinance in Latin America”, publicado em 20017. Não há elementos 
que fundamentem esta escolha de Christen, e simplesmente esse parâmetro é admitido. A 
estimativa da real demanda por serviços microfinanceiros necessita de uma abordagem mais 
cautelosa que considere em fatores sócio-econômicos das localidades, nas diferenças 
regionais, na idiossincrasia do consumidor e na preferência relativa por cada produto ofertado. 
Porém, tendo em vista o objetivo de comparar a taxa de penetração das IMF's no Brasil com 
as experiências atualmente em funcionamento em outros países da América Latina, para 
termos uma avaliação mais ampla entre os principais programas, adotaremos os resultados 
obtidos pela metodologia descrita em Nichter et al (2002). 
Definido o objeto a ser estimado, o fluxograma inscrito no Quadro 3 ilustra modelo 
utilizado pelo PID-BNDES: 
 
 
. 
 
 
 
 Fonte: Retirado de Nichter et al, 2002. 
 
7
 Christen, Peck R. “Commercialization and Mission Drift: The Transformation of Microfinance in Latin 
America”, 2001. 
Número de 
Microempreendimentos 
no Brasil 
Empresas formais: 
4 empregados ou 
menos (1) 
 
Empresas informais 
Fazendas rurais de 
menos de 10 hectares 
(3) 
 
Empresas informais 
urbanas (2) 
 
 
 
51 
Os dados utilizados para realização da estimativa através deste modelo são retirados de 
estudos publicados pelo IBGE, relacionados aos quadros numerados. O quadro (1) refere-se 
às empresas formais, com 4 ou menos empregados. Foi utilizado o Cadastro Central de 
Empresas do IBGE para reunir informações sobre empresas com este perfil e registradas em 
cada região brasileira. Elas representam 24% dos microempreendimentos em 2002. O quadro 
(2) diz respeito às empresas urbanas informais. Para sua quantificação foi utilizado o Estudo 
de Empreendimentos Informais Urbanos, publicado em 1997 pelo IBGE. A metodologia deste 
estudo consiste numa pesquisa estatística em grandes áreas metropolitanas em todo o Brasil, 
objetivando estimar o nível de informalidade das atividades econômicas urbanas. Extraiu-se 
deste estudo a porcentagem da população economicamente ativa de cada região que 
desenvolve atividades na informalidade. Com os dados da população economicamente ativa 
de cada região (dados encontrados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do 
IBGE, de 1996 a 1999) determinou-se o número de pessoas trabalhando no setor informal 
urbano nos anos de 1996 a 1999. Dividiram-se esses últimos dados pelo tamanho médio das 
empresas informais para determinar o número de microempreendimentos urbanos informais, 
por região brasileira nos anos de 1996 a 1999. O resultado obtido foi de 58% de 
empreendimentos informais na área urbana, do total de microempreendimentos. O quadro (3) 
representa as fazendas rurais com menos de 10 hectares. Os dados foram obtidos do Censo 
Agrícola de 1995 do IBGE. Calculou-se a relação entre o número de fazendas de menos de 10 
hectares e a população economicamente ativa em cada região. O valor percentual gerado foi 
aplicado à população economicamente ativa de cada região a fim de determinar o número de 
fazendas menores que 10 hectares por região ao longo dos anos de 1996 a 1999. Somando-se 
todos os dados gerados, calculou-se o número de microempreendimentos por região de 1996 a 
1999. Calculando-se as taxas de crescimento compostas anuais de três anos, tomando como 
referência os dados de 1996 a 1999, estimamos os valores para os anos de 2000 a 2002. O 
resultado foi de 18% dos microempreendimentos em 2002. 
II.2.2 Os resultados obtidos 
O modelo utilizado pelo PDI-BNDES estimou a existência de 16,4 milhões de 
microempreendimentos atualmente no Brasil. Este universo estimado de 
microempreendimentos conglomera tanto o setor formal, quando se refere às unidades 
registradas com 4 empregados ou menos registradas, quanto o setor informal, considerando as 
microempresas urbanas informais e fazendas rurais com menos 10m hectares (18% dos 
microempreendimentos em 2002, segundos os resultados dessa estimativa). O setor informal 
 
 
 
52 
agrega 12,5 milhões de microempreendimentos, o que representa 77% do total estimado. De 
acordo com a estimativa deslocada no tempo, entre os anos de 1998 a 2002, o crescimento do 
setor se dá a uma taxa de 3,7% ao ano8. O setor formal foi o que obteve maior taxa de 
crescimento, com uma taxa média de 6,7%, e o setor informal aumentou à taxa de 3% ao ano9. 
Porém em números absolutos, houve um acréscimo de 800 mil microempreendimentos 
formais, enquanto ao setor informal foi estimado um incremento de 1,4 milhão de 
microempreendimentos. 
Segregando os dados por regiões brasileiras, verificam-se novamente as diferenças. Na 
região Sudeste se encontra a maior parte dos microempreendimentos brasileiros, somando o 
total de 6,4 milhões (39%), dos quais 70% funcionam na informalidade. Na região Nordeste, 
estão 5,3 milhões de microempreendimentos (ou 32% do total no país). No Sul estão cerca de 
17% e o norte e o centro-oeste juntos, e em igual parcela, possuem 12%. A região Nordeste é 
que possui o maior grau de informalidade, com 88% de microempreendimentos informais, 
enquanto no Brasil essa margem é de cerca de 76%. Na região Sudeste cerca de 70% dos 
microempreendimentos está na informalidade e na região Sul 63% são informais (Gráfico 7). 
 Gráfico 7: 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Adaptado de Nichter et al. “Entendendo as microfinanças no contexto brasileiro”, 2002.
8
 Baseado em Nichter et al, 2002. Ver Gráfico 1, desta monografia. 
9
 Silva e Barbosa citam no texto "O sentido do trabalho Informal na construção de alternativas 
socioeconômicas e o seu perfil no Rio de Janeiro.", o estudo da PREALC que de 1986 a 1990 os trabalhadores 
na informalidade passaram de 24% para 29% da PEA. 
Microempreendimentos formais e informais por região 
(2002)
1,7
4,5
0,90,8
4,6
0,10,2
1,9
0,7
1,0
0
1
2
3
4
5
6
7
SE NE S CO N
N° ME's 
(milhões) Formal
Informal
 
 
 
53 
As regiões ainda revelam o aprofundamento da sua população economicamente ativa 
(PEA)10 com as atividades microempreendedoras. Embora a região Sudeste possua a maior 
parcela de microempreendimentos, a região Nordeste é a que possui a maior cota de 
microempreendimentos em relação a sua PEA. No Sudeste encontram-se 6,4 milhões de 
microempreendimentos, dos quais 4,5 milhões são informais, e uma PEA de mais de 34 
milhões de pessoas. O Nordeste reúne 5,3 milhões de microempreendimentos, dos quais 4,6 
milhões são informais, para uma PEA de mais de 22 milhões de pessoas. Essa proporção da 
população economicamente ativa por região que desenvolve atividades microempreendedoras 
indica em que tipo de trabalho parte significativa da população emprega seu tempo, dadas as 
opções de emprego de seu trabalho. 
 De posse da estimativa do total de microempreendimentos, conforme a metodologia 
do PDI-BNDES, podemos calcular uma demanda potencial de 8,2 milhões 
microempreendimentos, segundo o fator descontado de 50%, do total de 16,4 milhões, 
adotado com o fim de permitir a comparação da taxa de penetração das microfinanças no 
Brasil com outros países latino-americanos. 
II.2.3 O setor informal: ênfase no trabalho 
O setor informal representa 76% do total de microempreendimentos estimados pela 
metodologia construída e aplicada pelo PDI-BNDES aos dados obtidos pelo IBGE sobre 
certos aspectos da população e economia no Brasil11. Os empreendimentos do setor informal 
não possuem uma diferenciação clara entre capital e trabalho, não aplicam técnicas gerenciais 
aos seus negócios, tem frágil estrutura organizacional, produtiva e comercial, 
conseqüentemente possuem baixos níveis de produtividade. Essas características refletem em 
muito a baixa qualificação do trabalho aplicado em suas atividades e determina a inserção 
dessas unidades produtivas no mercado como um todo. O perfil do trabalho informal, quanto 
a sua qualificação, reflete a estrutura organizacional dos microempreendimentos e a relação 
desse setor com opções de viabilização e capitalização de seus negócios existentes no 
mercado. Ele é caracteristicamente heterogêneo e seu modo de funcionalidade é pouco claro, 
possuindo riscos embutidos quanto à consecução de seus objetivos econômicos e à realização 
 
10
 A população economicamente ativa segue a definição adotada pelo IBGE: população com idade igual ou 
superior a quinze anos. Os dados relacionados à PEA foram tirados da Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios do IBGE, 1999. A PEA do Brasil é de 79.315.287. Na região Sudeste é de 34.422.715, no Nordeste 
22.344.532, no Sul de 13.150.894 e no Centro-Oeste de 5.749.675. Na região norte foi calculada a PEA da zona 
urbana (3.533.532). Esses dados foram retirados de DIEESE/2000-2001-ANUÁRIO DOS TRABALHADORES, 
com base na PNAD. 
 
 
 
54 
de possíveis obrigações com outras instituições. Explicitar algumas de suas características é 
necessário para entender a natureza microeconômica de uma parcela significativa da demanda 
potencial dos serviços financeiros especializados em microempreendimentos e as 
possibilidades de relação desses negócios com instrumento de financiamento de suas 
atividades. 
II.2.3.1 O setor informal: discussão qualitativa12 
A natureza da informalidade é bastante complexa e engloba diferentes categorias de 
trabalhadores com desenvolvimento de atividades bastante particulares. Na literatura pode-se 
definir o tipo de trabalho realizado no setor informal por duas perspectivas básicas. Uma diz 
respeito à delimitação legal que qualifica o trabalho como informal quando as atividades a ele 
ligadas são realizadas fora da lei trabalhista. Nessa categoria reúne-se os trabalhadores por 
conta própria, os sem carteira assinada, os não remunerados e os que não contribuem para 
previdência pública. Essa perspectiva considera o trabalho como informal com base na sua 
ilegalidade/precariedade. A outra perspectiva o define de acordo com o a dinâmica econômica 
das unidades produtivas informais onde se realizam as atividades. São estabelecimentos de 
natureza atípica ao capitalismo, com emprego reduzido de técnicas; pouca diferenciação entre 
capital e trabalho; baixos níveis de produtividade e caracterizado pela fragilidade estrutural e 
desorganização. 
O setor em que estão empregados os trabalhadores informais possui um sistema 
simples de produção de mercadorias e serviços, predominantemente familiar, funcionando em 
condições precárias e com distribuição de renda sem base nos parâmetros de assalariamento. 
O empregador se confunde com empregado, e quando são autônomos utilizam ajudantes não-
assalariados, como familiares, ou quando formam microempresas possuem geralmente no 
máximo 5 empregados com ou sem carteira assinada. 
De acordo com a dinâmica econômica das unidades produtivas, a geração de renda do 
setor informal é definida pelos movimentos de expansão e contração da demanda do setor 
formal da economia, desde que esteja vinculado às cadeias produtivas das empresas de 
 
11
 Ver os itens I.2.1 e I.2.2 . 
12
 Essa discussão se baseia nos textos: "O sentido do trabalho Informal na construção de alternativas 
socioeconômicas e o seu perfil no Rio de Janeiro.", de Silva e Barbosa, 200X; "Mapa do Trabalho 
Informal", de Jakobsen; Martins; Dombrowski; Paul e Pochmann, 1996 e "O Trabalho Informal no Brasil", 
publicado pelo DESEP/CAP - Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos/Centro de Apoio na web 
da CUT. 
 
 
 
 
55 
mercado ou ao consumo dos trabalhadores formais. Por exemplo, um microempreendedor 
pode fornecer brincos, pulseiras e cordões para uma empresa de bijuterias, ou um desenhista 
que faz painel para festas de aniversário pode vender seus serviços a um buffet. Portanto, uma 
característica do setor informal é a sua dependência dos setores mais dinâmicos da economia 
(setores do sistema capitalista), tanto de seus níveis de investimento quanto dos salários 
despendidos. 
A heterogeneidade é um atributo do caráter da informalidade. São autônomos que 
trabalham como vendedores e ofertam seus produtos e serviços às empresas do setor formal, 
como aqueles que lidam diretamente com o público12. Há as empresas de pequeno porte e 
familiares como padarias, restaurantes, bares, etc; que sobrevivem por possuírem uma 
clientela consolidada, normalmente, no bairro onde operam, e que assalariam seus 
empregados. Porém nem sempre a jornada de trabalho é estabelecida segundo a lei. Não há 
parâmetros que separem o lucro do rendimento do empregador. São empreendimentos que 
reúnem elementos próprios do setor formal e do informal. Portanto, são empreendimentos e 
trabalhadores que estão no ramo da indústria, serviço e comércio, que desenvolvem múltiplas 
atividades de transformação, confecção, artesanato, consertos e reparações, revendas, etc. 
I.2.3.2 O setor informal: discussão quantitativa13 
Dada a discussão anterior, a questão mais importante para analisar a relação dos 
demandantes de microcrédito, entre os serviços de microfinanças, com as instituições 
ofertantes é a natureza do microempreendimento
quanto a sua estrutura, organização e diretriz 
capitalista. Os empreendimentos informais não são estritamente capitalistas, pois não há uma 
divisão clara entre trabalho e capital, são poucos estruturados, possuem baixa produtividade e 
dinamismo econômico. 
Os dados elaborados pelo DESEP/CPA, da CUT, nos fornecem um panorama geral 
sobre os trabalhadores no Brasil e uma visão de como se situa o setor informal, do ponto de 
vista do emprego da mão-de-obra. Comparando o número total de empregados com ou sem 
carteira assinada, nos anos de 1992 e 1997, verifica-se uma redução de sua participação 
conjunta no total do Brasil, passando de 52,61% para 51,91% respectivamente. Embora em 
 
12
 Os primeiros são produtores que oferecem seus produtos às empresas demandantes como peças de confecção, 
bijuterias e outros; e os segundos são camelôs, ambulantes, pedreiros, etc. 
13
 Essa discussão se baseia na elaboração dos dados sobre trabalho informal realizados pelo DESEP/CAP-
Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos/Centro de Apoio, com base na Pesquisa Nacional por 
Amostra de Domicílios, IBGE, 1997. 
 
 
 
56 
termos absolutos o número de empregados tenha aumentado (carteira assinada aumentou em 
mais de 1 milhão, enquanto os sem carteira assinada em mais de 600 mil), a maior parcela do 
aumento líquido do total de trabalhadores se deu entre os trabalhadores doméstico, informal e 
empregadores. Com destaque para os trabalhadores informais14 (ver Tabela 2). Esses 
trabalhadores estão predominantemente situados nas grandes regiões metropolitanas, 
concentrando-se em áreas urbanas. Ao compararmos os dados divulgados no estudo do 
DESEP/CUT, verificaremos que aproximadamente 80% dos trabalhadores desenvolvem 
atividades não-agrícolas. Dado que nem todas as atividades que se desenvolvem na área rural 
são agrícolas, nem todos situados nesta margem de 80% são trabalhadores inseridos em áreas 
urbanas. 
Tabela 2 
Distribuição dos Trabalhadores (agrícolas e não-agrícolas) Segundo Posição na Ocupação 
(Brasil - 1992 e 1997) 
 
1992 1997 Classificação Nº % Nº % 
Aumento 
Líquido 
Empregado 
(Total) 32.630.436 52,61 34.343.755 51,91 1.713.319 
Empregado 
C/Carteira 23.332.075 37,61 24.377.445 36,84 1.045.370 
Empregado 
S/Carteira 9.298.361 14,99 9.966.310 15,1 667.949 
Trabalhador 
Doméstico 4.356.000 7,02 5.242.846 7,92 886.846 
Trabalhador 
informal 15.957.955 25,73 17.801.135 26,91 1.843.180 
Empregador 2.235.139 3,6 2.538.841 3,84 303.702 
Não 
remunerado15 6.848.893 11,04 6.230.992 9,42 -617.901 
Sem declaração 434 0 4.983 0,01 4.549 
Total 62.028.857 100 66.162.552 100 4.133.695 
 
Fonte: adaptado de DESEP/CPA/CUT a partir da PNAD/IBGE 
Em 1997, os empregados totais estão situados, em sua maior parte, na indústria de 
transformação com 19,46%. Os serviços sociais têm 15,86% do total de empregados. O 
comércio de mercadorias e a atividade agrícola têm mais de 12% cada, a prestação de serviços 
diversos e a administração pública empregam 10,50% e 8,65%, respectivamente, dos 
considerados empregados com carteira assinada ou não (ver Tabela 3). 
 
14
 O aumento em número absoluto dos trabalhadores totais, segundo o DESEP/CPA/CUT, foi de mais de 4 
milhões. Mais de 73% desse aumento foram distribuídos, principalmente, entre os trabalhadores domésticos, 
informais e empregadores. Dentre esses três tipos de trabalhadores, os informais tiveram a maior participação 
com mais de mais de 60%, e sobre o aumento total foi mais de 44%. 
15
 São basicamente ajudantes familiares de pequenas unidades produtivas. 
 
 
 
57 
Os trabalhadores autônomos do setor informal estão distribuídos nas mais diversas 
atividades. Elas se concentram principalmente nas atividades agrícolas, na prestação de 
serviços diversos16, no comércio de mercadorias e na indústria de construção com as 
participações de 28,18%, 22,06%, 19,42% e 11,65%, respectivamente (ver Tabela 3). 
Tabela 3 
Distribuição dos Trabalhadores (agrícolas e não-agrícolas) Segundo Atividade Econômica - 1997 
 
Atividades Empregado Conta-própria 
Agrícola 12,26 28,18 
Indústria de transformação 19,46 4,99 
Indústria da construção 6,43 11,65 
Outras atividades industriais 1,99 0,26 
Comércio de mercadorias 12,83 19,42 
Prestação de serviços 10,5 22,06 
Serviços auxiliares da atividade econômica 4,12 4,65 
Serviços de transporte e comunicação 5,22 4,82 
Serviços sociais 15,86 2,31 
Administração pública 8,65 0,04 
Outras atividades mal-definidas ou não-declaradas 2,68 1,63 
Total (%) 100 100 
 
 Fonte: DESEP/CPA/CUT a partir da PNAD/IBGE 
Observando a tabela, podemos perceber que os trabalhadores por conta-prórpia se 
concentram em atividades que exigem pouca qualificação, como o comércio de mercadorias, 
onde se encontram os camelôs, a prestação de "serviços diversos" (ver nota 14), e 
principalmente atividades agrícolas de baixa escala e rendimento. Ao contrário, grande parte 
dos trabalhadores classificados como empregados estão concentrados em atividades como a 
indústria de transformação, os serviços sociais e a administração pública, cujos postos de 
trabalho requerem qualidade e produtividade acima da média, geralmente. 
Um outro ângulo a ser explorado é o quanto está aprofundado o trabalho informal nas 
grandes regiões brasileiras, mais especificamente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde se 
concentra a maior parte do microempreendimentos conforme a estimativa do PDI-BNDES. 
As regiões analisadas possuem características próprias, quando visto pela inserção do 
trabalho informal. As regiões Sudeste e Sul possuem maior participação de empregados com 
carteira assinada, se comparados com a Região Nordeste. Como pode ser observado na Tabela 
 
16
 Com serviços diversos quer se dizer que são basicamente os serviços pessoais, que, assim como o comércio e a 
construção civil, são caracterizados pela oferta de postos de trabalho de baixa qualidade e produtividade, nos 
aspectos referentes à remuneração, qualificação exigida, estabilidade do vínculo, entre outros. 
 
 
 
58 
4, com dados de 1997, o Sudeste possui cerca de 45% de seus trabalhadores com carteira 
assinada, o Sul 39% e o Nordeste com aproximadamente 23%. O contraste com o 
aprofundamento do trabalho informal nas regiões indica que onde há maior dinamismo 
econômico e tendência em gerar maiores quantidades de emprego formais, o emprego 
informal da mão-de-obra tem menor participação. No Nordeste o trabalho informal representa 
33,6% dos trabalhadores desta região. O Sudeste tem 23,4% e o Sul tem 25,1%. Quanto ao 
emprego considerado formal, porém, sem carteira assinada, característica de precariedade, o 
Nordeste ainda possui a maior parcela em relação a sua população de trabalhadores, com 
17,9%. O Sul e o Sudeste possuem respectivamente 13,5% e 11,1%. 
Tabela 4: 
Distribuição dos Trabalhadores (agrícolas e não-agrícolas) Segundo sua posição na Ocupação nas regiões 
Sul, Sudeste e Nordeste - 1997. 
 
 Região Sudeste Região Sul Região Nordeste 
 Nº % Nº % Nº % 
Empregado (Total) 17.201.373 59,3 5.633.610 50,4 7.411.454 40,5 
Empregado 
C/Carteira 
13.271.021 45,7 4.395.561 39,3 4.136.311 22,6 
Empregado 
S/Carteira 
3.930.352 13,5 1.238.049 11,1 3.275.143 17,9 
Trabalhador 
doméstico 
2.557.630 8,8 809.243 7,2 1.160.666 6,4 
Trabalhador informal 6.797.484 23,4 2.803.121 25,1 6.145.813 33,6 
Empregador 1.261.561 4,4 529.691 4,7 451.970 2,5 
Não-Remunerado 1.208.710 4,2 1.408.657 12,6 3.116.648 17 
Total 29.030.948 100 11.185.115 100 18.286.551 100 
 
 Fonte: DESEP/CPA/CUT a partir da PNAD/IBGE
Quando visto pelo ângulo do rendimento, o trabalho informal em cada região revela 
diferenças. De acordo com O DESEP/CUT, 80% dos trabalhadores informais desenvolvem 
atividades econômicas por conta própria. Com base na Tabela 5, o rendimento médio dos 
trabalhadores por conta própria na região Sudeste excede os rendimentos dos empregados em 
12,5%. No Sul essa diferença fica na casa dos 4%, porém no Nordeste a renda média dos 
autônomos é aproximadamente 29% menor que a renda média dos empregados (de carteira 
assinada ou não). 
As regiões Sudeste e Sul são regiões com maior dinamismo econômico e 
desenvolvimento do mercado formal, se comparada ao Nordeste, e tem o maior rendimento 
médio dos autônomos do setor informal. Possuem maior renda per capta e ainda gozam de 
 
 
 
59 
estrutura empresarial, logística e financeira bem desenvolvida, em especial o Sudeste, que 
suplanta as demais regiões do Brasil. Utilizando o pressuposto de que "quanto maior a 
geração de emprego e renda no setor formal, comandado pela lógica capitalista, maior é o 
rendimento médio do trabalho informal" 17, dado que os indivíduos e agentes do setor formal 
compõem parte significativa da demanda do setor informal, tem-se um componente que 
reforça as diferenças entre os rendimentos médios do trabalhador autônomo do setor informal 
nas regiões. 
Tabela 5: 
Rendimento Médio dos Trabalhadores (agrícolas e não-agrícolas) por Categoria Ocupacional nas Regiões 
Sul, Sudeste e Nordeste - Setembro de 1997. 
 
 
Região Sudeste 
Rendimento médio 
(R$) 
Região Sul 
Rendimento médio 
(R$) 
Região Nordeste 
Rendimento médio 
(R$) 
Brasil 
Rendimento médio 
(R$) 
Empregado 566 480 301 481 
Doméstico 188 156 101 156 
Conta-própria 637 501 214 444 
Empregador 1.925,00 1.697,00 1.223,00 1.743,00 
Total 613 527 284 501 
 
Fonte: DESEP/CPA/CUT a partir da PNAD/IBGE 
O trabalho informal no Sudeste e Sul possui relação com um mercado consumidor de 
maior extensão e de relação de trocas mais intensa, e estão ligados, prioritariamente, às 
cadeias produtivas locais. No Nordeste, onde o mercado encontra-se menos dinâmico e de 
consumo mais limitado, o setor informal tende a se concentrar em serviços pessoais, de baixas 
produtividades e renda. 
II.2.3 O traço social da demanda: Uma conceituação da pobreza18 e a situação 
dos microempreendimentos 
O objetivo deste item é delinear a demanda de microcrédito considerando o contexto 
social em que se encontra predominantemente inserta, no que tange à pobreza. No entanto, 
este objetivo não visa tratar de forma pormenorizada o extrato social que guarda os 
microempreendedores. Mas considera alguns fatos que demonstrem a ligação entre 
 
17
 DESEP/CAP-Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos/Centro de Apoio, publicado na web da 
Central Única dos Trabalhadores (CUT). 
18
 Este item se baseia em LUSTOSA, T.Q. & FIGUEIREDO, J.B.B. Pobreza no Brasil: métodos de análise e 
resultados. Rio de Janeiro: UFRJ. Texto para discussão n° 205, 1989, e ROMÃO, M. C. Pobreza: conceito e 
mensuração. Brasília: IPEA, 1993. (Cadernos de economia, 13) 
 
 
 
60 
microempreendimentos, informalidade e pobreza. No Brasil, em grande parte as discussões 
que envolvem a problemática do microcrédito estão diretamente relacionadas com o que este 
instrumento de financiamento alternativo tem com o problema da desigualdade social e com a 
pobreza, como forma de combatê-la. 
Devemos observar que os microempreendimentos não são somente aqueles geridos 
por indivíduos que se encontram abaixo da linha de pobreza ou na iminência de se encontrar 
abaixo desta linha. Há microempreendimentos que são mais dinamicamente econômicos, e 
são administrados por pessoas de determinado nível educacional um pouco mais elevado, 
chegando, às vezes, a ter 15 anos de estudo formal e que vive com renda individual ou 
familiar per capta acima de R$ 113 (No Brasil a linha de pobreza é estimada em R$ 113. 
Vide: Análise Sócio-Econômica in Conhecimento e desigualdade, Rio de Janeiro Trabalho e 
Sociedade, IETS, Número Especial 2002. Ministério do Trabalho e Emprego, página 33). 
Essa camada representa os microempreendimentos mais modernos, com organização mais 
apurada, potencial de crescimento maior e mais fácil inserção no mercado formal. Têm-se 
ainda aqueles microempreendedores que dispõem de condições relativamente boas de gerar 
renda, porém, não dispõem de um mínimo de recursos financeiros para adquirir equipamentos 
ou materiais para produção de mercadorias, ou para aquisição de mercadoria para revenda, ou 
capital de giro para transformar os recursos de que dispõe em produção e renda. 
Portanto, fora o corte em que se focaliza as condições materiais em que sobrevivem os 
microempreendedores, potencialmente demandantes de microcrédito, e que os caracterizam 
dentro da pobreza, outros microempreendimentos possuem boas condições de gerar renda, 
não possuindo dinheiro para tornar viável sua produção através da compra de insumos 
necessários, e há aqueles que são mais modernos e dinamicamente mais econômicos, 
constituindo-se em unidades mais organizadas e que utilizam a mão-de-obra mais qualificada, 
por vezes com nível superior de educação formal. 
"No Brasil, em 2001, cerca de 14,6% da população pertencem às famílias com renda inferior à linha de 
extrema pobreza e 34% às famílias com renda inferior à linha de pobreza. Para uma população, pertencente a 
famílias em domicílios permanentes, de 165 milhões de pessoas, em 2001, o número de pessoas consideradas 
pobres é de cerca de 56 milhões enquanto que o de indigentes é de 23 milhões"19. 
 
 
19
 Conhecimento e Desigualdade, IETS, 2002. 
 
 
 
61 
A pobreza é a condição de carência em que vivem determinados indivíduos ou 
população de uma sociedade de satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, moradia, 
saúde, educação e vestuário, por viverem com uma renda insuficiente para aquisição, ou 
propiciar o acesso, desses bens ou por não haver uma oferta adequada de bens de consumo 
suficiente à saciedade das necessidades básicas. É a privação do indivíduo de participar do 
circuito de trocas em escala suficiente para que satisfaça não seus desejos de consumo mais 
amplo, mas de bens que conferem a ele a capacidade de sobreviver biologicamente, e de 
forma saudável, com acesso a oportunidades de obter conhecimento e preparo profissional e 
de um lugar em condições de habitação. Essa privação é conseqüência direta a escassez de 
meios de pagamento por parte dos classificados como pobres para realizar o circuito de trocas. 
A discussão acerca da natureza da pobreza realiza um corte conceitual em dois pontos 
básicos que a tratam como privação absoluta e privação relativa20. A privação absoluta refere-
se ao estado de pobreza em que haja carência de elementos reconhecidamente indispensáveis 
à sobrevivência, em termos de suas continuidade e qualidade. Não há um consenso sobre as 
necessidades essenciais, porém podemos considerá-las como fundamentalmente a quantidade 
de fontes alimentares - em calorias, vitaminas, sais minerais, etc - necessárias ao equilíbrio 
biológico e manutenção da saúde de cada indivíduo e consumidas por dia, conferida pelo 
conhecimento médico, o acesso ao tratamento e acompanhamento médico no caso de doenças, 
as condições de moradia que o afastem de perigos relacionados a sua vida21, tanto de doenças 
quanto de desastres, e aos conhecimentos que o possibilitam do entendimento de seu papel e 
participação sociais. 
A pobreza vista pela privação relativa diferencia grupos sociais que não tem acesso 
aos meios de subsistência de que
desfruta a maioria da população, e por isso são considerados 
como pobres. Uma situação em que os recursos destinados à manutenção da sobrevivência 
estão disponíveis para a maioria da população, mas há um grupo que não desfruta destes 
recursos então ocorre uma situação de desvantagem e o problema está na distribuição. A 
pobreza relativa aponta os grupos desfavorecidos por não acessarem os meios - determinado 
grau de consumo de bens pessoais, a qualidade dos serviços de educação e saúde ofertados, as 
oportunidades de emprego e condições de trabalho e as possibilidades de lazer, e a fração da 
 
20
 SEN, A. Three notes on the concept of poverty, world employment porgramme research Working. Genebra: 
I.L.O, 1978, citado por Lustosa et al, 1989. 
21
 Com isso quero dizer moradias em condições de saneamento básico adequadas e segundo os parâmetros 
aceitos de habitação no sentido físico-estrutural. 
 
 
 
62 
população que tem acesso a esses produtos, o que ainda depende da natureza da sociedade em 
avaliação - utilizados na determinação do padrão de vida médio da população22. 
“Para SEN (1978), a abordagem relativa complementa, em vez de competir com a noção absoluta. 
SZAL (1977) argumenta que desigualdade não necessariamente implica em pobreza: em uma distribuição de 
renda muito desigual, pode não haver privação absoluta, enquanto em uma região uniformemente pobre pode 
não haver desigualdade”. (LUSTOSA, 1989, p. 8) 
Em seu texto, Lustosa (1989) propõe que o padrão absoluto deve prevalecer em 
situações, locais, onde a maioria da população é carente. Nesse caso os valores médios dos 
atributos selecionados para a medida do bem-estar/pobreza podem não ser satisfatórios, pelo 
baixo nível de bem-estar em relação às outras regiões mais ricas. No caso em que o padrão de 
vida é mais alto, as medidas de pobreza relativa, ou privação relativa, se tornam mais 
apropriadas, dado o nível de bem-estar em que se encontra a maioria da população. 
Romão diz em seu texto "Pobreza: conceito e mensuração", que as discussões teóricas 
tradicionais de economia, mais especificamente a teoria neoclássica, a Economia Política 
clássica e a análise marxista, não incorporam explicitamente a questão da pobreza como 
categoria analítica específica23. 
A distribuição é uma questão determinada nas relações de troca, e um caso especial da 
teoria dos preços. A renda é explicada pelo caráter limitado dos fatores de produção 
pertencentes aos agentes econômicos, não importando como se dá a repartição da propriedade 
dos fatores. Se há o desnivelamento na distribuição da renda, é porque há falta de capacitação 
e esforço de trabalho dos indivíduos, o que explicaria a pobreza. Assim coloca os 
neoclássicos. Mas o livre jogo das forças de mercado, relação entre oferta e demanda, mesmo 
que explicasse a dotação fatorial, não seria um referencial explicativo completo para a questão 
da pobreza24. 
A Economia Política clássica considera a produção, a troca, a distribuição e a 
acumulação com processos interdependentes e interrelacionados. Cada classe tem 
participação no produto da economia e assim se dá a forma como se agrupam o capital, 
trabalho e terra. No entanto, Romão aponta o conceito de pobreza, nesse contexto teórico, 
como a simples ausência de propriedade de meios de produção por alguns indivíduos, não 
 
22
 Lustosa et al, 1989. 
23
 ROMÃO, M. C. Pobreza: conceito e mensuração. Brasília: IPEA, 1993. (Cadernos de Economia, 13) 
24
 Romão, 1993. 
 
 
 
63 
havendo uma distinção clara da pobreza como um fenômeno originado dentro destas relações 
econômicas25. 
A análise marxista concebe a distribuição do produto como uma conseqüência 
intrínseca da estrutura de produção, das relações de propriedade de das relações de classe. Os 
capitalistas se apropriam do excedente gerado na produção pelo monopólio que possuem dos 
meios de produção, e, assim, seu controle sobre o uso do trabalho. A renda da propriedade é 
gerada pelo valor do excedente da produção. O autor argumenta que na perspectiva marxista 
os trabalhadores, explorados pelos meios de produção, são os mais desfavorecidos pelo 
sistema capitalista, mas não há uma menção direta aos pobres. Conclui dizendo que a pobreza 
não constitui argumento essencial na teoria marxista26. 
Segundo Romão, é a subjetividade sobre o conceito de pobreza que constitui o 
principal entrave ao desenvolvimento da discussão sobre a questão27. E que deve procurar 
apurar quais são os níveis mínimos de necessidade que determinados segmentos da sociedade 
estariam demandando para apontar qual o nível mínimo de bem estar adequado, considerando 
a importância que atribui a sociedade em questão a estas necessidades28. 
No entanto, frente a todas as discussões, considera-se nesta monografia, de forma 
geral, que a questão da pobreza como a privação de recursos necessários à subsistência está 
vinculado à dinâmica do sistema sócio-econômico no qual está inserido, considerando o fator 
estrutural da sociedade ao longo da história no que tange à distribuição da propriedade e da 
renda, e nas relações de poder político e econômico caracteristicamente concentrado nas mãos 
de determinados estratos da sociedade. 
Os microempreendimentos são unidades produtivas que funcionam com baixo estoque 
de ativo e são caracteristicamente geridos por pessoas de baixa renda. Canuto coloca que "a 
única forma de erradicação da pobreza consiste em ampliar os estoques de ativos com os 
quais os pobres participam, quando entram, do processo econômico, paralelamente criando-se 
condições e estímulos para seu uso sustentável." 29 Nossa discussão central não é sobre 
formas de erradicação da pobreza, porém, o microcrédito, dentro do contexto das 
 
25
 Romão, 1993. 
26
 Romão, 1993. 
27
 “Onde impera a subjetividade em graus variados não se pode esperar que a base conceitual do fenômeno seja 
tratada de forma incontroversa”. Romão, 1993. 
28
 Romão, 1993. 
29
 Canuto, Ottaviano in "Doses de Microcrédito Contra a Pobreza", publicado jornal VALOR ECONÔMICO em 
02/01/2002. 
 
 
 
64 
microfinanças, é uma das formas de combate à pobreza servindo como ponte entre as 
necessidades de crédito para constituição material dos microempreendimentos, "uma gama de 
atividades de pequena escala, baixos requisitos de capital, tecnologia e qualificação de mão-
de-obra, que nem por isso deixam de ser agregadoras de valor e de constituir-se em 
oportunidades para pequenos investimentos" 30, e um sistema que confira crédito de forma 
adequada às características de econômicas e sociais dos microempreendedores, como pobreza, 
por exemplo, e aos negócios em si31. Devemos ainda ressaltar que "a ausência de garantias 
patrimoniais, as dificuldades de seleção e monitoramento das operações, as escalas mínimas 
de transação da instituição financeira típica etc., impedem o engajamento desta naquele 
mercado potencial." 32 E os trabalhadores operam em condições precárias, e vivem com 
insegurança financeira e baixa renda. 
A discussão sobre pobreza delineada neste item da monografia é uma base conceitual 
que define a situação em que se encontra grande parte dos microempreendimentos que 
demandam microcrédito, sendo os empreendedores pessoas em que estão situadas no estrato 
social que sofre de escassez de recursos, com ênfase na renda, e de reflexos como entraves 
nas oportunidades de participação no sistema social e econômico de forma efetiva, são pobres, 
e que constituem o perfil social amplamente configurado entre os demandantes potenciais de 
microcrédito. 
II.2.3.1 A necessidade por serviços financeiros: para onde aponta a demanda33 
Há uma série de necessidades por serviços financeiros
requeridas pela demanda 
potencial (microempreendedores de baixa renda ou não necessariamente nessa condição) não 
atendida. Os clientes, muitas vezes, se preocupam com a forma como os serviços são 
oferecidos. No Rio de janeiro, segundo um estudo realizado em comunidades de baixa renda34 
de duas cidades, os empreendedores apontam que a falta de recursos era a principal barreira 
ao crescimento de seus negócios. 
 
30
 Canuto, Ottaviano in "Doses de Microcrédito Contra a Pobreza", publicado jornal VALOR ECONÔMICO em 
02/01/2002. 
31
 Ofertar fontes de recursos para máquinas de costura, instrumentos para artesanato, equipamentos de cozinha, 
pequenos barcos de pesca, carroças, etc. 
32
 Canuto, Ottaviano in "Doses de Microcrédito Contra a Pobreza", publicado jornal "VALOR ECONÔMICO" 
em 02/01/2002 
33
 Esta seção se baseia em Brusky & Fortuna, 2002 , e Nichter et al, 2002, e Wright, Graham A.N. 2001. Market 
Research and Client-Responsive Product Development, Microsave-Africa. 
34
 Devemos novamente ressaltar que os estudo de Brusky & Fortuna, 2002, adotam baixa renda como a faixa de 
2 à 3 salários mínimos, com base nas classificações utilizadas pelas prefeituras de Recife e São Paulo em seus 
programas junto às população carentes. 
 
 
 
65 
Os microempreendedores, em geral, demandam acesso rápido aos recursos; poucas 
exigências de garantias, que a documentação exigida seja apropriada (simples) e que as 
instituições ofertantes estejam localizadas convenientemente, isto é, próximo ao local onde 
funcionam seus negócios e/ou moradia. 35 São preferências consistentes com a situação de 
precariedade em que vivem. Nichter et al, 2002, coloca que algumas preferências são 
peculiares à realidade brasileira. São elas: "comprar tempo e não dinheiro" e empréstimos 
com parcelas menores e prazos maiores. 
Com "comprar tempo e não dinheiro", quer dizer que os microempreendedores 
preferem o crédito direto do fornecedor, com base em datas específicas e pagamentos de 
acordo com suas condições financeiras em tempos apropriados36, do que recorrer aos 
empréstimos de pagamento único ou de parcelas fixas oferecidas pelas IMF's. Brusky e 
Fortuna, 2002, apontam que os microempreendedores de São Paulo (cidade) e Recife 
entendem que comprar a crédito é normal em suas vidas, porém tomar um empréstimo é 
considerado anormal37. Portanto, é importante entender qual a relação que os 
microempreendedores possuem com os mecanismos de financiamento, e o que significa, em 
termos de risco, seja pelo lado econômico e financeiro seja por "sujar" seu nome, adotar 
determinadas vias para aumentar seus investimentos no negócio ou gerar capital de giro para 
levar seu negócio adiante. 
No livro "O Banqueiro dos Pobres", de Yunus, os empréstimos aos pobres de 
Bangladesh eram feitos em pequenos montantes e os prazos eram curtíssimos, chegando a ser 
diário. Em muitos outros países, as IMF's oferecem os empréstimos com pagamentos 
semanais, em prazos de até quatro meses, geralmente. No Brasil, a preferência se dá por 
parcelas menores em prazos mais dilatados (normalmente entre 12 e 24 meses). Os prazos 
maiores diminuem as parcelas, significando maior facilidade para realizar os pagamentos. Ao 
obter parcelas menores, os microempreendedores podem combinar esta responsabilidade com 
o pagamento das parcelas de outros bens de consumo adquiridos, normalmente, no crediário 
de lojas. O que é próprio das economias familiares dos microempreendedores. 
 
35
 Vide: item I.1.2 do capítulo I desta monografia. Estas demandas são generalizadas em todas as situações 
referentes no mundo. 
36
 Normalmente de acordo com a realização de receitas, no presente ou futuro, e com o pagamento de outras 
dívidas não negociáveis. 
37
 Gallager et al, 2002, diz que em algumas populações pobres pesquisadas os microempreendedores, grupos 
entrevistados, "distinguiam entre comprar a crédito, que é considerado uma negociação sobre o tempo; e aceitar 
um empréstimo, que é considerado uma transação financeira". 
 
 
 
66 
 Há características que são particulares ao tipo de microempreendimento quanto as suas 
atividades desenvolvidas. Por exemplo, para os fazendeiros a rapidez em relação ao 
desembolso do crédito não é tão importante, já que a dinâmica de suas atividades exigia maior 
tempo para planejar a combinação dos elementos essenciais para plantar e colher sua 
produção. Ainda, os microempreendimentos rurais prefeririam casar os pagamentos a serem 
quitados com o seu fluxo de caixa. Em relação ao urbano, o meio rural apresenta maior 
tendência em trabalhar na configuração de grupos, seja associativismo, cooperativismo ou 
outras conformações. Mas no geral, a demanda rural por serviços financeiros no Brasil teria 
necessidades não atendidas. E segundo Nichter: "é interessante ressaltar que a maioria dos 
produtores rurais tinha experiência com tecnologias bancárias avançadas: os desembolsos 
mensais dos benefícios de assistência governamental de desemprego, distribuição de cestas 
básicas, auxílio escola e pensões são obtidos através de máquinas automáticas em agências 
locais de bancos, utilizando um cartão de débito." 38 
Se comparada às experiências de sucesso dos programas de crédito produtivo popular, 
dentro das microfinanças, desenvolvidos em países como Bolívia, Peru, Bangladesh, etc, os 
microempreendedores no Brasil possuem uma relação diferente com produtos financeiros. O 
interesse em que foi observado em Bangladesh, por exemplo, pelo instrumento de 
microfinanciamento não se aplica ao Brasil. 
Observando as fases existentes entre mercados mais ou menos desenvolvidos, com 
atenção aos clientes, podemos perceber os alguns aspectos39: 
(i) Os mercados incipientes de microfinanças têm cobertura e alcance limitados com 
poucos serviços ou produtos microfinanceiros comprovados, na possibilidade de 
existência. Os clientes têm consciência dos produtos financeiros que poderiam estar 
disponíveis, porém, tem pouco contato com instituições financeiras e com produtos 
financeiros formais. 
(ii) Os mercados em crescimento (situação meso) disponibilizam serviços 
microfinanceiros em tempo considerável, com serviços oferecidos de forma 
adequada, com uma demanda consolidada. Há métodos eficientes que possibilitam 
estender a oferta com relativa rapidez. Aumenta, nessa fase, a consciência da 
 
38
 Nichter et al, 2002. 
39
 Com base em Grant, William. 1999. Marketing in Microfinance Institutions: The State of the Practice. 
Development Alternatives International, citado por Nichter et al, 2002. 
 
 
 
67 
disponibilidade dos serviços financeiros, dos trâmites para obter o financiamento e 
das responsabilidades envolvidas por parte dos demandantes. Há uma difusão do que 
são os serviços financeiros em áreas ainda inacessíveis aos produtos. 
(iii) Nos mercados desenvolvidos as IMF's cobrem quase toda a demanda potencial, com a 
maioria das filiais desenvolvidas. Os clientes tomam conhecimento das possibilidades 
e diversidade de instituições e produtos microfinanceiros por elas ofertados, 
aumentando as relações competitivas do mercado (exigem mais qualidade do serviço, 
preços e vantagens mais atraentes). 
Nichter ainda coloca que "outros aspectos relevantes ao segmento microfinanceiro 
foram levantados pelos estudos de demanda urbana incluindo a falta de conhecimento sobre 
as IMF's existentes, a relativa importância da cultura popular influenciando o comportamento 
do consumidor (por exemplo, as novelas) e o fato de clientes de baixa renda estarem 
acostumados a comprar produtos e serviços associados a campanhas de marketing sofisticadas 
e redes de distribuição extensivas"40. E que há "relativamente alto
nível de exposição a 
técnicas de marketing e tecnologias avançadas dos clientes brasileiros, vis-à-vis o nível do 
desenvolvimento das microfinanças"41. Isto é, o mercado brasileiro possui "clientes 
sofisticados que podem ser muito exigentes com relação aos atributos do produto e que já 
estão familiarizados com tecnologias avançadas e técnicas de marketing"42. 
A esses fatores alie-se a baixa cobertura alcançada pelas IMF's (2% da demanda 
potencial), e temos uma mescla entre um mercado que reflete características de um mercado 
incipiente com um mercado mais desenvolvido em que os clientes sofisticados que podem 
exigir condições que confiram qualidade e adequação dos produtos frentes as suas 
preferências e necessidades. Essa característica é distintiva do mercado de microfinanças 
brasileiro, onde a IMF's tem a necessidade de estabelecer padrões operacionais e desenvolver 
formas para oferecer serviços com vista ao público que os demanda. 
II.3 Microconclusão 
 O estudo da demanda, com base na bibliografia sobre o assunto, deixa-nos 
muitas questões. A ausência de estudos mais aprofundados revela a forma incipiente em que 
 
40
 Nichter et al, 2002. 
41
 Nichter et al, 2002. 
42
 Nichter et al, 2002. 
 
 
 
68 
se encontra o campo de estudos sobre microfinanças no Brasil e a necessidade de mais 
pesquisas sobre as características das populações de microempreendedores, demandantes 
potenciais de microcrédito. 
 Os microempreendimentos brasileiros são predominantemente urbanos, com uma 
parcela de 82% do total. Eles se encontram em maior parte na região Sudeste, seguida do 
Nordeste, juntos agregam cerca de 71% dos microempreendimentos estimados. Os 
microempreendimentos informais são parte significativa, representando cerca de 76% do 
total. Os trabalhadores informais no Brasil representam grande parte dos trabalhadores 
Brasileiros, 25%, segundo os dados do DESEP/CUT. 
 A inserção dos microempreendimentos na informalidade é importante, pois aponta em 
que condições se desenvolvem a maioria dos negócios de baixa escala e em que estrato social 
está inserido a maioria dos microempreendedores. Os sistemas de produção são de forma 
simples, há a ausência de condições estruturais e organizacionais que caracterizam seu 
funcionamento de forma precária, obtendo baixos níveis de produtividade. 
 Quando estão ligados às cadeias produtivas do setor formal, os movimentos de 
expansão e contração possuem grande influência sobre a geração de renda dos 
microempreendimentos informais. A constituição do setor informal possui relação com a 
dinâmica econômica de cada grande região brasileira, como podemos observar nos dados 
apresentados, a região nordeste possui o maior percentual de trabalhadores informais entre o 
total de trabalhadores da região. Essas duas observações apontam a relação importante que o 
setor informal possui com o setor formal, tanto pela geração de renda quanto pela magnitude 
da informalidade de acordo com as oportunidades de emprego formal que cada oferece aos 
trabalhadores. 
 Esse aspecto é importante, dado que os movimentos de expansão e contração do 
mercado formal, tanto em termos de renda e emprego, refletem na dinâmica do setor informal 
e em suas necessidades de insumos, capital e financiamento dessas necessidades. Então se 
coloca uma questão: que alternativas o setor informal busca para suprir suas necessidades de 
financiamento? 
 Porém, os microempreendimentos não são somente os informais, embora seja a 
maioria, mas novamente levantamos esta questão de forma ampla: que alternativas de 
financiamentos produtivos possuem os microempreendimentos? 
 
 
 
69 
A análise sobre a demanda revela que os demandantes potenciais exigem condições 
mais apropriadas a sua precariedade para que acessem a serviços financeiros produtivos. Eles 
encontram impossibilidades de utilização do setor formal bancário, e buscam outras formas de 
financiamento como o crédito ao fornecedor, ao que parecem buscar flexibilidade prazos com 
adequação dos pagamentos às suas receitas auferidas, em datas e montante. Prazos adequados, 
parcelas menores e relação com o credor são importantes parâmetros para a decisão entro 
tomar um empréstimo ou não. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
70 
CAPÍTULO III - A BAIXA PENETRAÇÃO: CAUSAS E NATUREZA 
Os capítulos precedentes nos deram uma visão, do geral ao específico, sobre as 
características do quadro ofertante de microcrédito, dentro do contexto das microfinanças, e 
do público, a demanda potencial, a que se destina o instrumento microcreditício de apoio aos 
sistemas produtivos precários e de baixa renda. Porém, não é adequado pensar como os 
neoclássicos em que o mercado se reduz as relações entre oferta e demanda, dispensando todo 
processo de percepção do público em relação ao crédito produtivo popular, e o entendimento 
que as instituições operantes nesse setor têm de seu público alvo. Não basta ofertar produtos 
microfinanceiros para que se efetive uma demanda, que existe. Tampouco deve acreditar que 
a existência de uma demanda potencial de 8,2 milhões de microempreendimentos signifique, 
diante da oferta, uma procura que encontre no objeto "microcrédito" em si, a solução dos 
problemas de investimento e crescimento dos empreendimentos de escala micro. Há um hiato 
entre a estrutura ofertante e o reconhecimento da demanda, frente a todas as opções de 
crédito, de que os produtos microfinanceiros, especialmente o microcrédito, seja adequado e 
satisfatório aos anseios e necessidades dos pequenos e microempreendimentos. 
Ao que vimos, durante a discussão do texto, o Brasil tem condições para que se 
configure um quadro bem desenvolvido do setor de microfinanças, porém a penetração das 
IMF's no Brasil se encontra bem reduzida com 2% de cobertura de toda demanda potencial 
estimada, e revelada, segundo a metodologia utilizada pelo PDI-BNDES. O quadro é bastante 
significativo e, comparando com a consolidação dos programas ofertantes de microfinanças 
na América Latina, deixa algumas questões em aberto sobre "o que leva o Brasil, frente as 
suas condições propícias ao microfinanciamento, atingir tão baixa escala de demanda 
efetivada pelos produtos microfinanceiros, especialmente o microcrédito". Com condições 
propícias, em síntese, quer se dizer que há experiências ao longo de décadas de programas de 
microcrédito1 de IMF's, uma ampla base de clientes em potencial e um quadro estabelecido 
pelo setor bancário tradicional que reflete o esquecimento dos empreendimentos de baixas 
escala e renda. 
Este capítulo se propõe a uma reflexão sobre as causas da baixa penetração do 
microcrédito no Brasil, salientando que, no país, as IMF's oferecem predominantemente 
microcrédito. Iremos ainda mostrar como se encontram as penetrações em nível regional, as 
 
1
 No Brasil a introdução do crédito produtivo popular iniciou-se em 1973 com o Projeto Uno, tendo várias outras 
experiências desde então. 
 
 
 
71 
opções de serviços financeiros de que se utilizam as pessoas no geral, e que serviços são mais 
utilizados pelo público alvo do microcrédito. Na próxima etapa iremos apresentar as causas 
tidas como mais razoáveis na literatura e analisá-las criticamente, tentando estabelecer uma 
ordem de importância e relação existente entre elas como possível explicação do quadro atual 
do setor de microfinanças no Brasil. Vamos também propor algumas sugestões de quais 
aspectos são importantes do ponto de vista da abordagem das instituições diante da 
problemática em questão. Devemos ressaltar que o tema é ainda recente no debate econômico 
e que o que se tenta é esclarecer, senão cooperar para um avanço, sobre a natureza das 
discussões
e do quadro microfinanceiro brasileiro. 
III.1 A penetração do microcrédito no Brasil e nas grandes regiões. 
No Brasil as microfinanças, notadamente o microcrédito, atende a um público de 
158.654 clientes ativos e tem uma demanda potencial estimada de 8,2 milhões de 
microempreendimentos. No contexto das microfinanças a penetração é a taxa obtida pela 
relação entre a demanda efetiva de microfinanças e a demanda potencial por serviços 
microfinanceiros, especialmente o microcrédito no Brasil. 
 
Taxa de penetração = N° de clientes ativos x 100 
 demanda potencial 
 
 
Calculando essa relação, no Brasil a taxa de penetração das microfinanças é de cerca 
de 2% da demanda potencial. Isso significa que para 100 microempreendimentos que tem 
opção por contratar serviços financeiros e, portanto, elegíveis para tanto, apenas 2 são 
servidos por produtos microfinanceiros. Determinar a taxa de penetração no Brasil, significa o 
quanto o setor opera, vis-à-vis, com o mercado potencial considerado em sua magnitude total. 
Revela o grau de cobertura que o setor institucional voltado para microempreendimentos tem 
tornado efetivo, de acordo com seus objetivos e estratégias adotados. 
A taxa de penetração no Brasil tem diferenças expressas em cada região. O Nordeste, 
destacadamente a maior região operadora com clientes ativos, tem taxa de penetração de 
4,36% (basta ressaltar que a demanda potencial do Nordeste é de 2,65 milhões de 
microempreendimentos, enquanto o número de clientes ativos é de 115.582). Seguindo a 
região Centro-Oeste com cerca de 2%, a região Sul com 1,05%, o Sudeste com cerca de 0,6% 
 
 
 
72 
e o Norte com aproximadamente 0,2%. A Tabela 6 mostra os valores da demanda potencial e 
dos clientes ativos relacionados a cada região brasileira. 
Tabela 6 
 
Distribuição da demanda potencial e efetiva por região com taxa de penetração respectiva. 
 
 
Estimativas Região Nordeste 
Região 
Centro-Oeste 
Região 
Sul 
Região 
Sudeste 
Região 
Norte Brasil 
N° de ME's (milhões) 5,3 1 2,7 6,4 1 16,4 
Demanda potencial (milhões) 2,65 0,5 1,35 3,2 0,5 8,2 
Clientes ativos 115.582 10.095 14.127 18.197 653 158.654 
Taxa de penetração 4,36% 2,02% 1,05% 0,57% 0,13% 1,93% 
 
 Fonte: Elaboração própria à partir das estimativas do PDI-BNDES 
A taxa de penetração da região Nordeste, expressivamente maior que as demais, é 
conseqüência da entrada do Banco do Nordeste no setor de microfinanças através do 
programa Crediamgo. Considerando os dados apresentados em Nichter et al, 2002, o 
programa Crediamigo tinha em 2001 o total de 85.309 clientes, o que representava cerca de 
75% dos clientes ativos do Nordeste e 54% dos clientes ativos de todo o país. Segundo a 
publicação "Levando os serviços de microcrédito às pessoas de baixa renda: o Crediamigo 
no Brasil", in "Em Breve", n° 7, Banco Mundial, agosto de 2002, o número de clientes do 
programa Crediamigo está, atualmente, com mais de 100.000, distribuídos em 164 agências 
do Banco do Nordeste e atuando em 702 municípios do Nordeste. As outras instituições 
microfinanceiras não gozam das vantagens que programa Crediamigo possui através da rede 
de agências do Banco do Nordeste. Isto claramente significa maior alcance dos programas que 
destas vantagens dispõe, e que o alcance que uma IMF pode ter na região onde atua, em 
termos de municípios e distritos, parece indicar um fator limitante básico para as IMF's. É, 
pelo menos, um ponto de estrangulamento essencial do lado da oferta. 
III.1.1 Penetração no Brasil e em alguns países da América Latina 
Comparando-se as demais taxas de penetração de vários países situados na América 
Latina, o Brasil se encontra em patamar muito abaixo das taxas conseguidas nesses países. A 
Bolívia é o país com maior taxa de penetração, apresentando cerca de 163% da demanda 
potencial estimada neste país. A Nicarágua tem cerca de 72% de taxa de penetração, seguido 
de El Salvador, Paraguai, Peru e Chile com 69%, 33%, 39% e 27%, respectivamente2. O 
 
2
 Esses dados são retirados de Nichter et al, 2002, com base em Christen, Peck R. “Commercialization and 
Mission Drift: The Transformation of Microfinance in Latin America”, 2001. 
 
 
 
73 
Brasil possui 2% de penetração, e se encontra em posição consideravelmente inferior, em 
termos de penetração, no setor de microfinanças, em relação aos países da América latina 
apresentados. Ao observarmos o caso da Bolívia, por exemplo, sua demanda efetiva foi de 
mais de 63% maior que a demanda potencial estimada. (ver Quadro 3) 
 Quadro 3: Taxa de Penetração da Microfinanças no Brasil e em outros Países da América Latina 
País Demanda Potencial Estimada Clientes Ativos Taxa de Penetração 
Bolívia 232.353 379.117 163,16% 
Nicarágua 116.375 84.285 72,43% 
El Salvador 136.311 93.808 68,82% 
Paraguai 82.984 30.203 36,40% 
Peru 618.288 185.431 29,99% 
Chile 307.832 82.825 26,91% 
Brasil 8.200.000 158.654 1,93% 
 
 Fonte: Nichter et al, 2002. 
Se considerarmos que a demanda potencial da Bolívia é 100% dos 
microempreendimentos estimados, e não como 50% dos microempreendimentos dados como 
elegíveis de tomar serviços microfinanceiros, segundo Christen, sua penetração ainda seria 
alta, estando na faixa de 81% da demanda potencial. Essa discussão pode nos levar a escolher 
a proporção de microempreendimentos elegíveis3 como demanda potencial. Se a proporção no 
Brasil fosse de 20% dos microempreendimentos estimados, teríamos uma demanda potencial 
de 3,28 milhões de microempreendimentos, e mesmo assim chegaríamos próximo aos 5% de 
penetração, o que ainda seria baixo em relação às taxas dos países selecionados para 
comparação. 
Há argumentos específicos que procuram esclarecer a questão que encerra entre a 
existência de um ambiente propício para o desenvolvimento do setor microfinanceiro de apoio 
aos microempreendimentos brasileiros, e isso diz respeito, em síntese, ao quadro institucional 
existente e suas experiências, e a uma demanda potencial existente em larga escala esquecida 
 
3
 Microempreendimentos elegíveis são aqueles que estão na proporção arbitrada por Christen, e expresso na 
seção II.2.2 do capitulo 2 desta monografia, que significam 50%. Essa proporção pode ser mudada dependendo 
do foco da análise. 
 
 
 
74 
pelo sistema de crédito tradicional. Isso quer dizer que a demanda, tendo claramente 
necessidades de microfinanciamento de suas atividades produtivas, comporta-se de forma 
inelástica em relação à oferta existente, sabendo-se que a quantidade de recursos financeiros 
ofertados não tem se configurado como o principal problema da baixa cobertura do setor 
microfinanceiro4. Um ponto importante a ser analisado é o grau de substituição que os 
demandantes conferem aos produtos alternativos ao microcrédito disponíveis nos mercados 
formais, semiformal e informal de produtos financeiros. Portanto, para analisar o peso que 
outras vias de financiamento possui na satisfação das necessidades financeiras dos 
microempreendedores temos de analisar que alternativas de financiamento esses pequenos 
agentes encontram. 
III.1.2 Que serviços financeiros são utilizados 
Grande parte das camadas de baixa renda da população não tem acesso ao setor 
bancário formal5. Mas diante das barreiras encontradas neste setor, os microempreendedores 
encontram compensações nos mercados semiformal e informal para atender às suas 
necessidades financeiras. Os serviços financeiros ofertados pelos setores formal, semiformal 
ou informal, podem ser, por exemplo, sob a forma de crédito em dinheiro ou o crédito 
parcelado. Não é o interesse, deste texto, especificar os produtos em si, mas sim indicar as 
opções
mais comuns de serviços alternativos ao setor bancário formal e ressaltar a tendência 
do uso desses serviços pelos microempreendedores. 
Quando crédito em dinheiro, o setor formal oferece as modalidades de empréstimo 
bancário (com finalidade específica), crédito pessoal (bancário sob linha de crédito), 
adiantamento de dinheiro dos cartões de crédito (de bancos, lojas ou financeiras), empréstimo 
de financeiras, empréstimos das SCM's e a troca de cheque. Na forma de crédito parcelado 
oferece, em síntese, as opções de cartão de crédito, cheque comum ou especial (que podem 
ser utilizados com data pré-estabelecida para compensação) e o crediário de lojas. 
O setor semiformal quando oferece crédito em dinheiro adota as modalidades de 
empréstimo dado pelo empregador, empréstimos das OSCIP's, ONG's, Cooperativas de 
 
4
 Atualmente as IMF's não encontram obstáculos em obter recursos para operar no mercado de microcrédito, 
sejam obtidos por doações ou financiados por instituições financeiras. 
5
 Segundo a publicação McKinsey and Company. 1999. Produtividade no Brasil: A Chave do Desenvolvimento 
Acelerado,” Editora Campus (Adaptado por Míriam Leitão), 70% da população brasileira se encontra em total 
exclusão do sistema financeiro formal. 
 
 
 
75 
crédito e das Cooperativas de múltiplo propósito. Algumas ONG's realizam troca de cheques. 
Quando parcelado tem-se as modalidades de crediário da lojinha e crédito dos fornecedores. 
O setor informal possui as modalidades de empréstimo e troca de cheque com agiotas, 
empréstimo em caixinha de empresas e o empréstimo entre parentes e amigos. Quando crédito 
parcelado, as opções são o crédito do fornecedor (comprar tempo), o fiado (vulgo pendura), 
crediário dos outros e o sorteio. 
As condições estabelecidas por cada setor, formal, semiformal e informal, para 
liberação e pagamento do crédito, e de outros serviços microfinanceiros, são parâmetros 
importantes na determinação da procura por tais serviços, pois podem fazer com que o 
tomador potencial perceba-as como atrativas, do ponto de vista da facilidade para adquirir os 
serviços financeiros, ou podem fazer com que os demandantes potenciais busquem outras vias 
de aquisição para satisfazer suas necessidades (meios mais cômodos de acordo com sua 
localização comercial ou residencial, e menos exigentes quanto às garantias). O Quadro 4 
mostra as exigências geralmente aceitas por cada setor quanto ao grau de formalidade: 
Quadro 4: Condições exigidas pelos setores formal, semiformal e informal. 
Oferta de crédito Formal Oferta de Crédito Semiformal Oferta de Crédito Informal 
Exigências a serem cumpridas: 
• Cadastro de Pessoa Física (CPF); 
• Carteira de Identidade (RG); 
• Comprovante e/ou Declaração de 
Residência; 
• Comprovante de Renda e/ou Avalista 
(individual ou grupo); 
• Nome limpo6. 
Exigências a serem cumpridas: 
• Poucos documentos são pedidos (CPF, 
contracheque/crediário para a concessão 
do crédito). Há casos em que não se pede 
documentos; 
• Não se exige nome limpo7. 
Exigências a serem cumpridas: 
• Nenhum documento é exigido 
• Não há necessidade de ter nome limpo 
 
Relação contratual: 
Contratos, carnês, promissórios e recibos 
que registrem o recebimento, o 
reconhecimento da dívida e seu 
pagamento. 
Relação Contratual: 
Em geral, não há contratos escritos 
nem recibos que registrem as operações, 
ou são contratos sem valor jurídico. 
 
Relação contratual: 
Alguns agiotas exigem assinaturas em 
promissórias, mas geralmente não há 
contratos por escrito nem recibo ou outros 
documentos que registrem as transações. 
Montantes e condições de pagamento: 
• Valores: R$ 50 a valores maiores 
• Reembolso: geralmente mensal 
• Prazo: 1 - 36 meses 
• Juros (sem incluir multas, taxas e juros 
de mora): 0 - 16 % / mês. 
Montantes e condições de pagamento: 
• Valores: R$ 50 à R$ 5.000. 
• Reembolso: de semanal à ou mensal. 
• Prazo: geralmente de 1 a 4 meses. 
• Juros (sem incluir multas e juros de 
mora): 0 - 45%/mês. 
Montantes e condições de pagamento: 
• Valores: de R$ 10 a valores maiores. 
• Reembolso: de semanal à mensal. 
• Prazo: 1 mês 
• Juros: de 0 a 45% ao mês (desde o caso de 
fiado até agiotagem). 
 
Fonte: Brusky e Fortuna, 2000. 
É importante colocar o peso das exigências de documentação e garantias quanto às 
responsabilidades com obrigações passadas (adimplemento) no crédito ofertado pelos setores 
semiformal e informal. Isto quer dizer, por exemplo, que a situação de inadimplência de 
 
6
 Quer dizer não ter nome apontado nos serviços de proteção ao crédito (SPC, Telecheque, SERASA, etc.) 
7
 Não há consultas às instituições de proteção ao crédito como o SPC, SERASA, Telecheque, etc. 
 
 
 
76 
obrigações passadas não são verificadas, e a documentação também obedece às exigências de 
acordo com as possibilidades do cliente8. Há uma maior comodidade em adquirir os 
empréstimos por essas vias, dado que as relações entre os demandantes e ofertantes são mais 
simples e a liberação mais rápida. Assim mesmo analisar esta situação é muito complicado, 
pois não há como sabermos o quanto significa a elasticidade de substituição entres os 
diferentes tipos de serviços oferecidos, e se há uma relação consistente com as condições 
estabelecidas entres as exigências cobradas na oferta, escolha e o setor procurado para 
aquisição dos serviços microfinanceiros. No entanto, nos parece possível que a relação 
contratual não seria o fator de maior peso na decisão em adquirir o crédito pelas vias formal, 
semiformal ou informal. Mas sim a exigência de documentação e adimplência com obrigações 
financeiras anteriores, pois essa opção inviabilizaria grande parte dos tomadores potenciais de 
crédito produtivo popular. Por outro lado, a relação entre tomador e ofertante seria 
importante, pois os indivíduos em situação de precariedade poderiam preferir se relacionar 
com um ofertante que se colocasse de forma menos constrangedora, querendo saber menos 
sobre sua vida material, e efetivando a liberação em grande parte com base na confiança em 
sua palavra para realização do pagamento. 
Voltando à discussão sobre os serviços financeiros ofertados pelo setores formal, 
semiformal e informal, alguns tem de ser descritos para melhor entender a relação dos 
microempreendedores com as alternativas de financiamento de suas atividades produtivas. 
O setor bancário no Brasil é o mais desenvolvido da América Latina. Porém, o 
mercado de crédito tradicional no Brasil continua pouco desenvolvido9. A hiperinflação 
estimulou o setor bancário a aplicar os recursos sob seu domínio em atividades com ganhos 
relacionados à inflação. Com isso o crédito passou a ser uma atividade posta em detrimento, 
pelo custo de oportunidade entre outras atividades de maior ganho existente na situação. 
Durante o plano Real o crédito retoma o crescimento de suas operações de crédito, 
frente à tendência de estabilização da economia. A taxa de crescimento anual entre janeiro de 
1999 e abril de 2002 indica 50% para o crédito de consumo às pessoas físicas e 17% para o 
 
8
 Os setores semiformal exigem CPF e contra cheque, há casos que nem isso se exige, e o informal não há 
qualquer exigência de documentos. O nome não precisa estar nos serviços de proteção ao crédito. Esses setores 
ainda não exigem contrato formal para liberação do crédito. Os agiotas podem exigir assinaturas de notas 
promissórias,, porém a difusão desse ofertante de crédito é intensa entre as camadas populares, as quais mostram 
não se importa com os juros extorsivos que cobram. 
9
 Para uma discussão mais detalhada ver: Soares, Ricardo P., “Evolução do Crédito de 1994 a 1999: Uma 
Explicação”,
Texto para Discussão No. 808, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Brasília, julho 
2001. 
 
 
 
77 
crédito às empresas10. Lembrando que os bancos comerciais geralmente relutam em oferecer 
crédito aos micro e pequenos empreendedores. 
Diante dessa realidade os microempreendedores encontram outras formas para suprir 
suas necessidades de financiamento de investimento em capital produtivo. A abertura de 
contas bancárias que dê direito ao uso de cheques, simples ou especiais, pode ser via para 
financiar suas atividades produtivas, através da emissão de cheques pré-datados, dados como 
garantias a fornecedores e usados para compras parceladas. Porém, o acesso a esse recurso 
nos levaria a dificuldades impostas pelos requerimentos comprobatórios das condições de 
pagamento dos microempreendedores, e cairíamos na baixa procura dele por este meio. 
O crédito ao consumidor é oferecido pelas financeiras, na forma de empréstimos 
pessoais, e tem alto custo com taxas de cerca de 10% ao mês e prazos que variam de 1 a 12 
meses, geralmente. O crédito ao consumidor é mais simples de se obter se comparado ao 
microcrédito, com menor burocracia, exigências e liberação mais rápida. As empresas que 
oferecem este serviço e utilizam estratégias de marketing agressivas e apoio institucional 
adequado. Geralmente exige-se renda mínima de R$ 300,00 e documentos de identificação. 
Os cartões de crédito colocam em suas estratégias de expansão de seu mercado os 
clientes de baixa renda. É um meio financeiro bem difundido, que ao adquiri-lo, possui 
bastante fluidez nas negociações de compra. Gallagher, 2002, mostra que em uma região 
pobre do Rio de Janeiro, capital, muitos clientes potenciais de IMF's financiaram o início de 
seus negócios através do uso do cartão de crédito. Esse instrumento é um concorrencial da 
IMF's. Embora de boa utilidade, as empresas de cartão de crédito geralmente exigem 
documentos comprobatórios de renda e de identificação, como carteira de identidade, CPF e 
comprovante de residência. 
O crédito da loja tem importante efeito substituição sobre os produtos 
microfinanceiros, no Brasil. Os consumidores no país tornaram esse tipo de crédito uma 
forma universal de aquisição de bens de consumo, abrangendo todos os níveis de renda. 
Nichter et al, 2002, cita um estudo realizado pela Universidade de São Paulo e pela Federação 
de Comércio do estado de São Paulo, onde os cheques pré-datados forma utilizados em 36% 
de todas as transações comerciais. Essa forma de pagamento é utilizada por grande parte das 
lojas distribuídas pelo país. 
 
10
 Vide: Nichter et al, 2002. 
 
 
 
78 
O crédito ao fornecedor é um substituto em alto grau dos serviços microfinanceiro 
ofertados pelas instituições no Brasil, utilizados por negócios de vários portes. Essas 
condições de pagamento são utilizadas como estratégia para consolidar uma relação comercial 
com clientes atuais em um prazo mais longo, além de atrair novos clientes pelas boas 
condições que possa oferecer como renegociação sobre custo e prazo da obrigação pendente. 
Os agiotas requerem poucas exigências formais e se constitui em uma via de aquisição 
de crédito para todos os níveis de renda. Conforme as garantias apresentadas e os riscos 
relacionados, os juros cobrados, nesse caso, podem variar de 6% a 45% ao mês. 
As relações familiares e/ou entre amigos são outras alternativas de substituição do 
microcrédito. São empréstimos geralmente obtidos entre membros da família e do círculo de 
amizades. O montante emprestado tem valor restrito e é obtido através de cartões de crédito, 
crediário em lojas, etc. É uma fonte limitada de capital. 
Nas populações de Baixa renda estudada por Brusky e Fotuna, 2002, o crédito 
parcelado, categoria que engloba o cheque pré-datado, o fiado, o crediário da lojinha, por 
exemplo, e que possui diferentes taxas de juros, é a forma mais utilizada pelas populações de 
baixa renda. Mesmo existindo o reconhecimento e o entendimento de que a compra parcelada 
tenha no final das contas maior custo do que tomar um empréstimo, havendo a possibilidade 
de escolha entre as duas formas, a crédito parcelado é a opção geralmente escolhida. 
"Comprar a crédito significa ganhar um prazo suficiente para poder reunir as condições 
necessárias para efetuar os pagamentos. O que está sendo negociado é o tempo e, na cabeça 
da maioria dos microempreendedores, há pouca ou nenhuma correlação entre compras a 
crédito e operações financeiras. Pedir empréstimo, sim, é uma operação financeira, para os 
microempreendedores: o que está sendo comprado é o dinheiro, a ser pago em valor maior do 
que o que lhe foi dado (Para “comprar” R$ 1.000 , por exemplo, paga-se R$ 1.800 ou 
mais)"11. 
O crédito é visto como uma forma normal de adquirir uma dívida em troca de 
consumo presente, onde a cobertura das exigências é suficiente para ocorrer liberação. Os 
empréstimos, quando não automáticos, têm de ser justificados frente ao pedido, sendo mais 
complicado o processo de negociação. Essas razões reforçam a raridade com que essas 
 
11
 Brusky e Fortuna, 2002. (citando Gallagher et al, 2002) 
 
 
 
79 
populações recorrem ao empréstimo para o financiamento de seus desejos de consumo12. O 
que pode em parte ser explicado por uma perspectiva cultural, que reflete o valor atribuído 
pelos indivíduos às duas diferentes vias de financiamento. 
O crédito parcelado permite a imediata aquisição de bens de consumo. Há as 
necessidades de curtíssimo prazo, como compras de alimentos e de objeto de utilização 
contígua. A estabilização da economia propiciada pelo Plano Real, preços mais estáveis e 
juros relativamente mais baixos que permitem prever o valor das prestações e o horizonte de 
pagamentos, aquece a consumo e inclui as camadas da população brasileira com renda mais 
baixa no mercado, através das compras a crédito, especialmente o parcelado. 
O ponto importante discutido nesta seção é o espectro de produtos financeiros, 
especialmente o crédito, substitutos dos serviços microfinanceiros e como as populações 
encaram essas opções no momento da escolha de um produto financeiro dentre essa 
diversidade. 
"Enquanto alguns desses produtos estejam fora do alcance da maioria dos microempreendedores, outros 
estão especialmente focados na população de baixa renda. Manter este contexto em mente é fundamental, na 
medida em que o setor financeiro tem uma forte influência sobre mercado de microfinanças brasileiro. ... sobre a 
demanda, outros produtos não só se colocam como substitutos, mas moldam a percepção e expectativas dos 
clientes atuais e potenciais de microfinanças". (Brusky e Fortuna, 2002). 
Um ponto de vista a ser explorado é a elasticidade de substituição entre os produtos 
microfinanceiros disponíveis no mercado. Se o indivíduo confere determinado grau de 
facilidade na aquisição de um serviço combinada à utilidade que esse serviço financeiro 
agrega, em termos de satisfação de suas necessidade, isso expressa suas preferências e os 
valores que atribui a determinados produtos que lhe confere a preferência por um produto 
específico. Porém, a fundamentação de alguma certeza científica sobre o assunto requer 
determinado grau de informação disponível, além de pesquisas específicas sobre o tema, o 
que não há e foge ao escopo deste trabalho. 
No entanto, o confronto entre as possibilidades de serviços financeiros e o 
microcrédito, ou microfinanças em contexto mais amplo, reforça a baixa penetração deste 
 
12
 No sentido estrito, crédito significa formas facilitadas de pagamento de compras ou de serviços, que não 
envolvem transferências físicas de dinheiro da parte de quem concede para a parte de quem toma,
mas sim, 
ocorre uma negociação de bens ou serviços, com um custo embutido no preço da mercadoria. No sentido amplo, 
crédito ultrapassa os limites financeiros, a assume o sentido de hábito de cumprir os compromissos assumidos, 
qualquer que seja a natureza desses compromissos, financeiros ou não. Ou seja, confiança. Os empréstimos são 
estritamente a concessão de dinheiro do emprestador para o tomador. É uma compra de dinheiro por um valor 
 
 
 
80 
último nas populações potencialmente demandantes, ainda mais pela percepção do que 
significa empréstimo para os demandantes potenciais, já que o microcrédito é uma forma de 
empréstimo. Esta relação será mais explicitada nos próximos itens deste capítulo. 
Ficamos aqui com a idéia de que os demandantes de serviços financeiros, e que 
estariam entre os demandantes potenciais de microcrédito, são influenciados pelas exigências 
requeridas pelas instituições, pela relação direta com o emprestador e pela percepção do que é 
empréstimo, definindo um grau de substituição entre os produtos financeiros existentes e 
refletindo na resistência da população em acessar determinados serviços financeiros, em 
escala menor. Esses fatos se relacionam com as causas da baixa penetração do microcrédito 
no Brasil. 
III. 1.3 Microconclusão 
 Se comparado a alguns países da América Latina, o Brasil possui uma penetração 
muito baixa, com apenas 2% da demanda potencial estimada utiliza os serviços 
microfinanceiros através das IMF's. A literatura especializada no assunto não discute a 
questão da magnitude da demanda. Por exemplo, a média da demanda potencial estimada dos 
países apresentados no Quadro 3, excluindo o Brasil, é de 249.000, o que representa 3% da 
demanda potencial estimada no Brasil. O somatório da demanda potencial estimada de 
Bolívia, Nicarágua, El Salvador, Paraguai, Peru e Chile chegam à aproximadamente 1,494 
milhão, o que representa apenas 18% da demanda potencial brasileira. Uma observação que 
tem de ser feita é que, considerando que a estimativa do PDI-BNDES tenha sido uma boa 
aproximação do número de microempreendimentos no Brasil, em relação aos países da 
América Latina ela se encontra em tamanho muito superior. O que exige que a oferta seja 
estruturada o suficiente, em número de instituições e volume de recursos financeiros ofertados 
como microcrédito, para dar cobertura a uma demanda de tamanha magnitude. 
 Quanto aos serviços financeiros, há muitos serviços financeiros que as populações 
potencialmente demandantes utilizam como forma de financiar suas atividades econômicas. 
Os mais importantes são o crédito parcelado, o empréstimo com agiota e, em menor 
proporção, o empréstimo obtido junto á amigos e parentes. As populações de baixa renda de 
algumas regiões, e potencialmente demandantes de microcrédito, conforme alguns estudos 
publicados, conferem ao empréstimo um caráter "anormal", demonstrando resistência em 
 
mais alto do que o seu valor de face, onde o emprestador recebe no futuro o pagamento por abrir mão do uso do 
 
 
 
81 
utilizar essa alternativa financeira. A facilidade e rapidez para conseguir um empréstimo são 
elementos de grande importância, pois reflete na opção que um indivíduo demandante de 
crédito faz por um serviço específico ou outro. Essa relação determina o grau de substituição 
que a demanda confere aos demais serviços financeiros em relação ao microcrédito. A 
elasticidade de substituição entre os produtos financeiros, considerando as preferências e 
níveis de satisfação que os demandantes conferem a cada produto, é um fator importante a ser 
analisado, e não disponível nos textos sobre microfinanças, que revela quanto os demandantes 
estariam dispostos a adquirir um serviço em relação ao outro. 
 O mais importante é que existe uma demanda que acessa outros serviços financeiros 
em detrimento de empréstimos, o que também engloba o microcrédito, e que a magnitude da 
demanda potencial brasileira de microcrédito, 8,2 milhões de microempreendimentos, requer 
um sistema institucional ofertante capaz de oferecer serviços microfinanceiros adequados e 
suficientemente fortes para realizar a cobertura de tão grande demanda. O que poderia 
requerer investimento e políticas específicas para o setor 
III. 2. As causas da baixa penetração: uma análise crítica. 
No Capítulo I apresentamos as características da oferta de microcrédito e a atual 
situação em que se encontra no Brasil. Definimos o produto ofertado, o seu objetivo como 
instrumento de microfinanciamento de atividades produtivas populares e, de forma breve, 
como uma introdução ao Capítulo II, o público a que se destina. Apontamos uma classificação 
das instituições que oferecem serviços microfinanceiros dentro dos setores formal, semiformal 
e informal, e que operam em contato com os clientes finais de forma direta, as instituições de 
"vanguarda", oferecendo crédito diretamente no local onde se situam os 
microempreendimentos e tendo contato direto com eles, ou que atuam "em pró da constituição 
dos fundos, no desenvolvimento institucional e na capacitação do corpo técnico das 
instituições de "vanguarda" 13. Frisamos também as instituições quanto a sua especialização 
em serviços microfinanceiros, minimalistas, ou na intervenção que engloba mais serviços 
além dos microfinanceiros, como intermediação e serviços sociais, além de outros, chamadas 
integradas. Por fim, analisamos a distribuição dos recursos movimentados (número de 
instituições, carteira e clientes ativos) pelos programas vigentes das IMF's nas regiões 
brasileiras. 
 
dinheiro no presente. 
13
 Vide: item I.2.2.2.1 desta monografia. 
 
 
 
82 
No Capítulo II examinamos a demanda, efetiva e potencial, de microcrédito no Brasil. 
Apresentamos as diferentes abordagens existentes na literatura sobre as micro e pequenas 
empresas, além dos microempreendimentos. Optamos por adotar a quantificação da demanda 
estimada pela metodologia utilizada pelo PDI-BNDES, explicitando os parâmetros adotados 
para se chegar ao resultado: 8,2 milhões de microempreendimentos potencial demandantes. A 
razão para adotar esta estimativa é que ela propõe um tratamento conceitual homogêneo de 
microempreendimentos, utilizando os dados do IBGE, principalmente, para quantificá-las 
diante das várias perspectivas de estimativas. Discutimos o setor informal, parte 
representativa da demanda potencial de microcrédito, dando ênfase ao trabalho, em termos de 
informalidade, de forma quantitativa e qualitativa. Abordamos, ainda, a inserção dos 
microempreendedores no estrato social em que se situam, de acordo com a renda e condições 
de precariedade em que sobrevivem, ressaltando a existência daqueles que são mais 
dinâmicos economicamente e apresentam recursos (conhecimento, certa quantia de dinheiro e 
boas condições para crescerem e se desenvolverem) para o seu desenvolvimento, aqueles que 
possuem condições estruturais para gerar renda (conhecimento, tácito ou não, capitais fixos e 
mão-de-obra), porém necessitam de dinheiro para comprar equipamentos necessários à 
viabilização da produção (como bombas d'água para irrigar sua pequena plantação), e aqueles 
que dispõe de pouquíssimos recursos e por isso estão abaixo ou nas proximidades da linha de 
pobreza. Por último, discutimos a necessidade que a demanda, analisada nas seções 
anteriores, tem pelos serviços financeiros e que características esperam que a oferta tenha para 
satisfação de suas necessidades. 
Nos itens anteriores a este item, do Capítulo III, definimos a penetração e 
classificamos sua
taxa no Brasil como baixa comparando-a as demais taxas obtidas em alguns 
países da América latina, como Bolívia, Nicarágua, El salvador, Paraguai, etc. Apresentamos 
os serviços financeiros, insertos nos setores formal, semiformal e informal, disponíveis e mais 
usuais pelos microempreendedores brasileiros. Analisamos estes serviços mais procurados 
pela demanda e quais razões levam os demandantes a optar por um ou outro serviço 
financeiro, destacando a relação entre o crédito parcelado e empréstimo e a percepção, em 
termos de valores, que possuem por cada via de financiamento. 
As condições em que se encontra a oferta e a demanda de microcrédito no Brasil 
configuram, à primeira vista, um quadro promissor para o setor: "experiências em 
microfinanciamento, uma ampla base de clientes em potencial e um setor bancário que tem 
 
 
 
83 
tradicionalmente ignorado as micro e pequenas empresas" 14. No Brasil há cerca de 30 anos 
instituições atuam no fornecimento de microcrédito, inicialmente através do Projeto UNO15, 
com experiências desenvolvidas ao longo das décadas, a demanda potencial é estimada em 8,2 
milhões de microempreendimentos, utilizando serviços custosos e clandestinos e com uma 
ampla necessidade por financiamento, e dificuldades de acesso ao sistema bancário 
tradicional. 
Essas características do quadro ofertante e demandante de microcrédito, assim como a 
relação entre ambos, analisadas nos capítulos e seções precedentes a este item, são condições 
necessárias para se entender a atual conjuntura do setor de microfinanças no Brasil, 
predominantemente ofertante de microcrédito, e a situação de baixa penetração em que se 
encontra. Porém, essa questão está em aberto, e o aparato estatístico e analítico talvez não seja 
suficiente para responder as questões sobre: "se há boas condições para o desenvolvimento do 
setor microfinanceiro, entre uma base institucional forte e uma demanda significativa, por que 
a baixa efetivação da demanda de microcrédito no Brasil ?" 
Diante das discussões sobre a atual situação do microcrédito no Brasil, em termos de 
difusão e penetração entre o total de demandantes, a literatura apresenta argumentos que 
apontam cinco causas, tidas como as mais importantes. São elas: o ambiente 
macroeconômico, a regulação do setor, a tradição de crédito dirigido do país, a fraqueza das 
instituições existentes e a ausência de em "efeito demonstração". 
Nos próximos itens vamos apresentá-las e analisá-las no sentido de entender a 
importância que cada causa revela para a atual configuração do setor de microfinanças no 
Brasil, dentro do quadro geral da oferta e demanda de microcrédito no Brasil. Esta proposição 
trata não de uma explicação definitiva, ou uma tentativa de isolar uma causa, já que partimos 
do pressuposto de que uma causa isolada não explica a atual penetração que os programas de 
microcrédito, mas que são causas isoladas que se correlacionam e reforçam o atual quadro do 
setor de microfinanças no Brasil. Isto é, uma baixa penetração de 2% da demanda potencial, 
frente às condições tidas como propícias para uma maior efetivação da demanda e 
desenvolvimento do setor microfinanceiro. Devemos ressaltar também, que tal análise 
objetiva um "avanço", dentro das explicações até então formuladas, no sentido de entender 
como essas causas interferem no desenvolvimento do setor de microfinanças no Brasil, e não 
 
14
 Goldmark et al, 2000. 
15
 Vide: nota 33, do Capítulo I desta monografia. 
 
 
 
84 
formular uma explicação definitiva para situação. O assunto ganhou força recentemente no 
Brasil e carece de maior tempo para amadurecer. Ainda, devemos ressaltar que analisar as 
causas é um ponto importante para que estudos posteriores formulem sugestões de abordagem 
local baseada em microcrédito, caso seja o objetivo, para melhorias das condições de 
reprodução de microempreendimentos, microempresas e as de pequena escala, na geração de 
renda e emprego e promoção do desenvolvimento. 
III. 2.1 As causas da baixa penetração: argumentos mais aceitos. 
Vamos apresentar aqui, com base nas discussões publicadas sobre a situação do 
microcrédito no Brasil, os argumentos que considerados como mais aceitos como explicações 
da baixa penetração do microcrédito no Brasil frente às condições que se representariam como 
"boas" para que o microcrédito tivesse maior profundidade, atualmente, na relação com a 
grande demanda potencial existente. 
O Ambiente Regulatório16 
O ambiente regulatório é o conjunto de leis e normas que indicam às instituições 
financeiras os serviços que podem ofertados de acordo com suas finalidades específicas e em 
que condições podem fazê-lo. Há anos atrás, muitas instituições de microfinanças operavam 
às margens da lei. Entre outros obstáculos, a lei da usura impedia qualquer instituição 
financeira não regulada de cobrar mais de 1% de juros por mês17. Recentemente a regulação 
do setor financeiro brasileiro permitiu que as OSCIP's realizassem operações de empréstimo 
sem que incorresse na Lei da Usura18, sendo ainda criado o formulário institucional da 
SCM19. Porém, mesmo diante deste avanço, o ambiente regulatório é considerado com um 
entrave às IMF's no Brasil. 
"A regulamentação financeira no Brasil apresenta significativos controles prudenciais e é notoriamente 
caracterizada pela freqüência com que ela muda. Leis trabalhistas e tributárias são complexas e se somam à lista 
de incentivos negativos e restrições operacionais enfrentados pelas IMF's. Além disso, até então, não há 
informações claras disponíveis ao grande público sobre tais questões". (Nichter et al, 2002.) 
 
16
 Esta apresentação é baseada principalmente em Nichter et al, 2002, Goldmark et al, 2000, e Haus et al, 2002. 
17
 Citado de Goldmark et al, 2000. 
18
 Vide: item I.2.2.2.3 desta monografia. 
19
 Vide: item I.2.2.2.4 desta monografia. 
 
 
 
85 
As IMF's brasileiras sofrem de restrição, com base na lei, quanto aos serviços 
microfinanceiros que podem oferecer às populações demandantes, comparando às instituições 
do mesmo ramo que funcionam em outras partes do mundo. Esses produtos são 
principalmente poupança e seguros20. Essa restrição não significa necessariamente um entrave 
ao setor, porém, se focar-mos na visão estratégica de longo prazo de um programa, e 
administrativamente, o planejamento das IMF's fica restritamente focada no microcrédito, 
podendo-se comprometer o aprofundamento de sua relação com os clientes e a sua 
credibilidade no local21. Outro ponto importante, é que uma oferta mais diversificada de 
produtos microfinanceiros contribui para solidez, e sustentabilidade, das IMF's viabilizando 
economicamente sua atuação no local, além de suprir uma demanda com serviços financeiros 
mais adequados aos demandantes (empreendedores de baixa escala). Por exemplo, os 
depósitos são uma fonte de recursos de baixo custo financeiro para as IMF's, os quais 
poderiam ser revertidos em recursos para realização de mais empréstimos aos 
microempreendedores. O Quadro 5 aponta algumas restrições das IMF's, e dos bancos. 
Quadro 5: Serviços financeiros autorizados às IMF's 
 
Modalidade de crédito Bancos SCM OSCIP ONG 
Crédito produtivo popular SIM SIM SIM SIM 
Crédito ao consumidor SIM NÃO NÃO NÃO 
Troca de cheque* SIM NÃO NÃO NÃO 
Contas de poupança SIM NÃO NÃO NÃO 
Seguros SIM NÃO NÃO NÃO 
Serviços de penhora21 SIM NÃO NÃO NÃO 
Cartão de crédito NÃO NÃO NÃO NÃO 
Fonte: adaptação realizada de Haus et al, 2002. 
* algumas ONG's fazem trocas de cheques, embora seja proibido por lei. 
Operar com poupança requer maturidade institucional22, e um determinado número de 
clientes para torná-la viável, isso confere à IMF's um aspecto importante que aproximaria seu
perfil institucional dos bancos. Diante da lei, porém, "a legislação atual exige que grande 
 
20
 Em termos do desenvolvimento de novos produtos, é certo que prestar diretamente serviços de seguros, penhor 
ou empréstimos para habitação estaria fora de questão, do ponto de vista jurídico, para as instituições de 
microfinanças no Brasil, enquanto outras instituições no mundo, como os bancos Grameen, Bangladesh, e 
Rakyat, Indonésia, recebem depósitos e oferecem serviços de seguros. Vide: Goldmark et al, 2000. 
21
 No curto prazo, as IMF's não estão preparadas para oferecer serviços de poupança e seguros. Para ver mais de 
talhes sobre este parágrafo vide: Haus et al, 2002. 
21
 No Brasil, os serviços de penhora são monopólio concedida à Caixa Econômica Federal por lei. 
22
 Quer dizer que a instituição deve ter conhecimento e consolidação local, além de um aparato técnico 
administrativo de fundos de poupança para operam com segurança e fazer frente às responsabilidades de saques 
o recebimentos de depósitos. 
 
 
 
86 
proporção dos depósitos à vista e dos depósitos em poupança sejam usados em programas de 
crédito rural e habitacional" 23. 
"Os investidores estrangeiros podem ser desestimulados de investir na indústria brasileira das 
microfinanças, uma vez que deparam restrições monetárias e prolongados processos de registro". (Nichter et al, 
2002). 
Essa questão depende da relação que o Banco Central estabelece com as instituição 
financeiras que queiram investir no setor, principalmente entre financeiras que queiram 
investir em SCM's. Se assim o permite, e diante das exigências que se cobra para que estas 
instituições obtenham permissão, então o setor formal pode ver desestímulo para entrar no 
setor de microcrédito. 
No caso de inadimplência, ou atraso dos pagamentos, a IMF's tem de esperar cinco 
dias após a data de vencimento para realizar a cobrança das obrigações dos clientes. Algumas 
exigências legais proíbem as instituições microfinanceiras de apreender bens e retomar 
garantias, podendo ser realizadas somente com representantes do Poder Judiciário. 
No caso dos recursos humanos utilizados pelas IMF's, as leis trabalhistas são 
complexas e desestimulantes para as instituições que queiram contratar mais empregados e/ou 
mais qualificados, dado que existe os custos de contratação, por um lado, e os limites 
financeiros24, por outro lado. E mais: 
"... as leis trabalhistas complexas podem criar riscos para as instituições que pretendem usar incentivos 
financeiros para motivar os empregados. Atividades criativas às vezes permitem que as IMF's contornem os 
regulamentos: o Banco do Nordeste terceirizou muitas funções do programa CrediAmigo, em parte para facilitar 
o uso de incentivos financeiros para os funcionários da carteira de crédito". (Nichter et al, 2002) 
Com a legislação específica para as OSCIP's, isentando-a da Lei da Usura, e a criação 
do formulário institucional das SCM's; o ambiente regalório teve avanços consideráveis. Mas 
as restrições ainda existem, por exemplo, impedimento da criação de serviços de depósito. 
Quando se encontram maneiras de contornar as dificuldades, as IMF's necessitam de 
autorização para operar com qualquer atividade não prevista no padrão estipulado. Assim, 
mesmo os possíveis trâmites a serem seguidos para conseguir tais autorizações regulatórias 
 
23
 Nichter et al, 2002. 
24
 As IMF's não geram seus próprios recursos, estando dependentes, praticamente, de subsídios e doações. 
 
 
 
87 
são obscuros25. Isso pode significar um desestímulo, ao ser bem custoso construir meios para 
conseguir as autorizações para realizar outras atividades. Há dificuldades de as IMF's se 
autoprotegerem da responsabilidade jurídica, o que pode torná-las avessas ao risco, um 
desestímulo à entrada, e mais complicado identificar as mudanças necessárias no ambiente 
regulatório para conferir maior liberdade de atuação econômica das IMF's. 
O Ambiente Macroeconômico 
O Brasil passou por décadas de hiperinflação atingindo a estabilização da economia 
somente com a implantação do Plano Real, em 1994. Para o setor de microfinanças esse fato 
econômico foi significativo para seu desenvolvimento nos 20 primeiros anos de atuação das 
IMF's, afetando tanto a oferta quanto a demanda por produtos microfinanceiros. Se 
compararmos o crescimento de outros produtos creditícios, especialmente o crédito parcelado 
e empréstimo pessoal, o crescimento dos serviços microfinanceiros foi lento. 
As altas taxas de inflação, até 1993 a inflação anual foi de mais de 2.600% e em 1994 
de cerca de 1.700%, tornou as operações de financiamento inviáveis, com a perda rápida do 
valor dos empréstimos e gerando problemas de pagamento por parte dos devedores, frente ao 
crescimento em progressão geométrica dos juros cobrados. As pequenas empresas e os 
microempresários, os quais possuíam menos alternativas para proteger o valor de compra de 
seu dinheiro, solicitavam menos crédito para realização de atividades produtivas26. Por outro 
lado, outras atividades que não o empréstimo, como mercado de ações e aplicações em dólar, 
tornavam-se mais atrativas do ponto de vista financeiro, por causa da inflação, provocando 
redução em sua oferta. Esse período afetou, no sentido de limitar, tanto a oferta quanto à 
demanda de microcrédito. 
"As atividades relacionadas com a inflação em geral alcançavam um pico de 41,9% da receita dos 
bancos em 199227. Ao deslocar a atenção do setor financeiro das atividades creditícias — e ao reduzir a demanda 
de empréstimos dos microempresários — a hiperinflação tolheu o desenvolvimento da indústria de 
microfinanças". (Nichter et al, 2002) 
Com a implantação do Plano Real, em 1994, e de acordo com os dados do Banco 
Central, o Brasil experimentou uma taxa média de inflação anual de cerca de 11% e uma taxa 
de crescimento anual da economia de aproximadamente 2,5%, à partir de 1995. E 
 
25
 Haus et al, 2002. 
26
 Vide: Nichter et al, 2002. 
27
 Esses dados sobre a taxa de inflação são do Banco Central e baseados no IGP-M. 
 
 
 
88 
estabilização da economia proporcionou o fortalecimento, dentro relativo, das microfinanças 
no Brasil, embora comparado com outros serviços financeiros, como o empréstimo pessoal e 
o crédito parcelado, voltados predominantemente para o consumo, tenham alcançado escalas 
bem mais significativas28. Goldmark coloca que: "O crédito privado (ao consumidor) como 
percentual do PIB brasileiro subiu ligeiramente desde 1995, passando de 27% a 30% em 
1997, embora voltasse a cair para 28% em 1999, após a desvalorização e o subsequente 
aumento das taxas de juros. A tendência de aumento do crédito deve continuar. Embora a 
proporção do crédito privado para o PIB seja baixa em comparação com países como os 
Estados Unidos (63% em 1995 e 71% em 1999) ou Alemanha (123% em 1999), a proporção 
no Brasil é igual ou superior à da maioria dos países latino-americanos"29. Se comparada à 
taxa de crescimento anual do crédito ao consumidor com o crédito para capital de giro, no 
período de janeiro de 1999 a abril de 2002, o primeiro teve 50%, enquanto o segundo 17%30. 
A estabilização é posta como uma condição favorável ao crescimento do setor 
microfinanceiro, em número de clientes e volume de carteiras ativas, no entanto seu 
desenrolar foi tímido31. Esse fato sugere que outras causas têm papel importante no 
crescimento do setor. 
Nichter cita o estudo “Microfinance Program Clients and Impact: An Assessment of 
Zambuko Trust, Zimbabwe”, publicado por Carolyn Barnes, em que 11 instituições que 
construíram seu sucesso no setor cobravam juros suficientes para cobrir os custos envolvidos 
com
a atividade microfinanceira era estatisticamente mais importante que o ambiente 
econômico para explicar o desempenho dessas instituições. A sustentabilidade financeira das 
instituições é um fator de grande importância para o aprofundamento dos programas de 
microfinanças, porém, em uma situação de hiperinflação, onde "perde-se de vista" o horizonte 
de metas financeiras e torna-se complicado operar com empréstimos, dificultando o processo 
de amadurecimento institucional nos locais onde atuam. Porém Nichter ressalta: "a evidência 
do contexto internacional também sugere que, quando bem planejadas, as IMF's podem ser 
bem-sucedidas mesmo em ambientes inflacionários ou de crescimento reduzido, porquanto os 
 
28
 Segundo os dados do mercado geral de crédito pessoal do Boletim do Banco Central do Brasil, junho de 2002, 
o crédito pessoal, não imobiliário, atingiu a escala de R$ 60 bilhões, enquanto, até o mesmo período a carteira 
ativa das microfinanças atingiu R$ 138,8 milhões. Dimensão significativamente maior do crédito pessoal, 
considerando que este financiamento abrange clientes de todas as faixas de renda da população brasileira. 
29
 Citação de Goldmark et al, 2000, baseando-se em Steven Schonberger, "Microfinance Prospects in Brazil", 
2001, Gustavo Braga, num estudo apresentado no Fórum sobre Microcrédito no Rio de Janeiro, 24 de janeiro 
de 2000, e João Salima Neto, "O País dos Enforcados", publicada na revista VEJA, 9 de fevereiro de 2000. 
30
 Nichter et al, 2002, com base nos dados do Banco Central do Brasil. 
31
 Vide: item I.3 desta monografia. 
 
 
 
89 
microempresários são em geral altamente flexíveis32". "Por exemplo, quando as condições 
econômicas decadentes do Zimbábue levaram o país a uma taxa média de inflação de 44,5% 
entre 1997 e 2000, os clientes que necessitavam fazer frente aos pagamentos ajustaram suas 
empresas, muitas vezes diversificando seus produtos ou iniciando uma nova empresa"33. 
Portanto, as estratégias que adotam as IMF's, considerando o perfil de sua oferta e o público 
demandante, para operar em ambientes instáveis economicamente e de pouco crescimento é 
importante para o aprofundamento que estas IMF's consolidam em seus locais de atuação. 
Ainda assim, as características culturais são importantes, pois as experiências internacionais 
podem estar centradas em locais onde a relação do público com alternativas de crédito via 
IMF's podem não sofrer resistência e se desenvolver. Essa questão (cultural) é complexa e não 
compete a esta monografia analisá-la. 
As altas taxas de juros são freqüentemente apontadas como fator de desinvestimento 
na produção e inibição do crescimento econômico. Seu papel no desenvolvimento do setor 
microfinanceiro pode se dá de forma relativa, e conferir certa importância na expansão nas 
carteiras das IMF's. A viabilidade do negócio, com base no custo de oportunidade, pode ser 
sacrificada dado que os altos juros viabilizam outras oportunidades de negócio que superam 
as margens de lucro dos negócios em operação pelos microempreendedores. Internamente aos 
negócios, a viabilidade pode ser comprometida porque o negócio a que se destina o 
empréstimo, na forma de investimento e/ou composição do capital de giro, pode ter 
rentabilidade abaixo do custo do capital tomado como empréstimo. Pelo lado das instituições, 
quando se trata da parte técnica que indica a sustentabilidade (o custo do capital), altas taxas 
de juros tornam a captação mais cara, tendo a instituição que repassar esse custo ao tomador 
de empréstimo, ou incorrer em sucessivos custos por cobrarem taxas abaixo das do mercado. 
No longo prazo compromete o fortalecimento institucional, já que o objetivo é que as 
instituições tornem-se auto-sustentáveis. 
Em fim, o crescimento das IMF's, em valores de carteira e clientes ativos, se deu de 
forma lenta mesmo depois da estabilização econômica. Algumas experiências internacionais 
mostram que é possível ter crescimento considerável em ambiente de instabilidade e baixo 
crescimento. As altas taxas de juros comprometem a relação entre a demanda e a oferta de 
empréstimos micro para fins produtivos, pelos custos em que incorrem os negociantes e as 
 
32
 Nichter et al, 2002. 
33
 Nichter et al, 2002, citando McGuire, Paul B., Conroy, Jonh D. 1998. “ Effects on Microfinance of the 1997-
1998 Asian Financial Crises”, FDC Publications. 
 
 
 
90 
instituições. É uma causa da baixa penetração das microfinanças no Brasil, tendo que se 
relacionado a outros fatores para avançar na explicação desta situação. 
A Tradição das Linhas de Crédito (Público) Dirigido 
Parte significativa do total de financiamentos a prazos realizados no Brasil, em R$, é 
fornecida por bancos estatais por linhas de crédito dirigidas que especificam atividades 
econômicas ou procuram atingir determinados grupos insertos em estratos sociais e 
econômicos específicos34. 
Essas linhas de crédito do setor público são importantes para os microempreendedores 
rurais, dado que grande parte dos recursos movimentados por essas linhas se dirige às áreas 
rurais. "As linhas de crédito do setor público destinadas à agricultura são tão substanciais que 
abrangem uma parcela relativamente ampla da atividade bancária pública. Por exemplo, o 
Banco do Brasil (o maior banco público brasileiro) concede 49% de seus empréstimos ao 
setor agrícola, enquanto os bancos privados concedem apenas 15 a 20% ao setor" 35. São 
créditos subsidiados, com taxas negativas, em certas situações, já que para pagamentos 
antecipados reembolsa-se parte da amortização. O crédito Rural do PRONAF cobra taxas de 
juros de cerca de 6% ao ano. Se o crédito vai para investimento agropecuário, então cobra-se 
6% ao ano, acrescida da TJLP, podendo ainda ser descontado 50% dos encargos financeiros36. 
Nas estimativas do PDI-BNDES, as áreas rurais foram consideradas as fazendas com 
menos de 10 hectares e representam 18% dos microempreendimentos estimados. Portanto, 
grande parte dos microempreendimentos está no meio urbano, e essas linhas de crédito 
influem nas microfinanças do meio rural, e não comprometeram, em grande peso, o setor de 
microfinanças no Brasil. 
No Brasil, o setor público projeta as linhas de crédito como o Programa Nacional da 
Agricultura Familiar (PRONAF) e o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste 
(FNE) direcionado às áreas rurais. Esses programas "competem" com a oferta de microcrédito 
pela demanda, dado que é uma grande fonte de recursos que se inserem nas demandas rurais 
por financiamento de suas atividades, agrícolas no caso, determinando em parte a restrição do 
 
34
 Vide; Goldmark et al, 2000, e Schonberger, 2001. 
35
 Nichter et al, 2002, citando Brusky, Bonie. 2002. “ Prospecting the FUNDAF Market: An Overview of 
Demands, Competition, and Client Satisfaction”. 
36
 vide: Romano, Jorge O.; Buarque, Cristina M. 2001. Crédito e Gênero no Nordeste Brasileiro. Rio de Janeiro: 
AS-PTA. 
 
 
 
91 
fornecimento de microcrédito das IMF's nestas áreas. No confronto entre as ofertas do 
microcrédito e das linhas de crédito dirigido, este segundo ganha espaço pela estrutura de que 
dispõe, institucional e financeira, e pelos atrativos de pagamento dos empréstimos e a forma 
amena com que cobram as dívidas. 
As agências de fornecimento do crédito público são seletivas quanto aos projetos 
relacionados às atividades produtivas, fazendo muitas vezes com que os demandantes se 
enquadrem dentro das orientações dos programas, através da compra de determinados 
insumos, por exemplo, sob o custo de não conseguirem o financiamento. O microcrédito, 
porém, vem abrindo espaço em determinadas áreas, por serem mais flexíveis e atenderem
mais reivindicação dos produtores rurais37. 
Com a existência de uma grande disponibilidade de crédito barato do setor público, 
outras fontes de crédito para os empreendimentos rurais ficam em posição desprivilegiada na 
captação de clientes. Além do mais, as fracas políticas de cobrança fazem muitas vezes com 
que os devedores entrem em atraso e inadimplência, por relaxamento das obrigações, afetando 
seu comportamento com instrumentos de crédito, o que mais importante no caso do crédito 
público dirigido, e deteriorando o incentivo em cumprir sua parte através da viabilização 
econômica de seus pequenos negócios (trabalhar para pagar). Pode, ainda, haver desvio de 
finalidade da aplicação dos recursos tomados em empréstimos para compra de outros bens 
que não os produtivos (como carros, televisores, antenas, etc.). O afrouxamento das cobranças 
das responsabilidades financeiras dos tomadores faz com que haja problemas de pagamento e 
que os demandantes comparem as "boas condições" para se tomar um empréstimo, em seu 
ponto de vista, com as exigências e responsabilidades requeridas de outras vias de crédito 
produtivo, especialmente o microcrédito. Essas condições afetam a relação da demanda com o 
instrumento de crédito produtivo, inserindo dificuldades para as IMF's que operam, ou 
queiram operar, nas áreas rurais onde hajam os programas de crédito público, em lidar com 
seus clientes. É uma realidade que compromete a implantação e o fortalecimento da IMF's 
nessas áreas. 
As linhas de crédito do setor público se apresentam nas áreas urbanas em menor 
proporção, e, segundo Nichter, não parecem influenciar de grande forma as atividades de 
microfinanças38. Tem-se o Programa de Geração de Renda e Emprego, que atuam nas 
 
37
 Para uma discussão mais detalhada vide: Romano e Buarque, 2001. 
38
 Nichter et al, 2002. 
 
 
 
92 
cidades. Ainda assim, essas linhas elaboram processos burocráticos, longos e problemáticos, 
com várias análise de seus negócios e a obrigatoriedade na participação de cursos de 
treinamento, até a liberação dos empréstimos às microempresas, contraditoriamente à 
característica do microcrédito. Como foi dito no Capítulo II desta monografia, os 
empreendedores rurais podem esperar um prazo maior para liberação do empréstimo, dada a 
natureza do processo produtivo de suas atividades, porém, os empreendedores urbanos 
elegíveis dessas linhas de crédito não podem esperar tanto tempo, sob pena de perder 
oportunidades comerciais importantes para sobrevivência dos seus negócios. Devemos 
ressaltar, que os microempreendedores informais, com 4 ou menos empregados, tem acesso 
quase nulo a esses recursos39. 
Esses programas de crédito por vias públicas, podem comprometer o entendimento do 
público demandante do que é o microcrédito e a que objetivo se propõe diante da demanda. 
Pois, o PROGER, por exemplo, é conhecido como programa de "microcrédito", e pode 
remetê-lo a uma comparação direta com as IMF's, sem haver o discernimento das atitudes 
entres os programas de crédito produtivo do Governo e as IMF's, frente ao público 
demandante. 
Em fim, a influência das linhas de crédito do setor público parece ter mais importância 
nas áreas rurais, dado que 18% das microempresas são rurais, principalmente afetando o 
comportamento da população demandante e na imagem que o microcrédito pode ter aos 
microempreendedores, causando-lhes confusão em relação aos objetivos das IMF's. No meio 
urbano, sua influência se torna mais limitada, embora as linhas de crédito públicas existentes 
nesse meio devam ser avaliadas, a fim de se evitar problemas futuros com a imagem do 
microcrédito criada pelo público demandante. 
A Ausência de um "Efeito Demonstração" 
O "efeito demonstração" quer dizer o exemplo de uma experiência de sucesso que 
possua estratégias de intervenção e operação no local bem desenvolvidas, eficazes e 
comprovadas, que podem servir de modelo e se tirar lições. Aponta-se, nas discussões 
existentes, que essa ausência acarreta que as IMF's tornem-se estritamente experimentais, e 
isso é custoso, não se aproveitando de apontamentos técnicos capazes de lhes fazer 
adaptações de suas intervenções e operações nas localidades onde atuam. 
 
 
39
 Nichter et al, 2002. 
 
 
 
93 
No Brasil não há um efeito demonstração onde se possa avaliar com base técnica a 
realidade que cerca o sistema operacional das IMF's. Torna-se difícil aprender com as 
experiências se não há como analisar os resultados, separando as potencialidades e limites 
para que se formule um modelo mais eficaz de intervenção das IMF's através do microcrédito. 
Mesmo o Banco do Nordeste que possui parte significativa dos recursos efetivados com 
microcrédito (opera através do CrediAmigo 54% de todos os clientes ativos do país e 33% da 
carteira ativa total) não é considerado um efeito demonstração, pois, "a transparência limitada 
de seus resultados financeiros e do seu modelo operacional impede outras IMF's, instituições 
interessadas, de saberem se devem confiar no que o banco diz sobre seu próprio 
desempenho"40. Observando o contexto internacional das microfinanças, várias instituições 
possuem grande sucesso em sua atuação. Na América latina temos o BancoSol, na Indonésia 
temos o Banco Rakyat Indonésia, em Bangladesh o Banco Grameem, além de outros. São 
instituições de reconhecido desempenho financeiro, com potencial incentivador para o setor 
de microfinanças local. No entanto, as experiências internacionais não podem servir de 
exemplo para o Brasil, dado a nossa peculiaridade cultural, os indivíduos não mostram o 
tamanho interesse que os microempreendedores dessas localidades demonstram pelo 
microcrédito. Por outro lado, as características culturais heterogêneas que nosso país 
apresenta põem em vista estratégias diferenciadas para cada região e localidade. 
Talvez uma questão importante para o papel do efeito demonstrativo de uma 
experiência bem sucedida seria estimular o setor formal, público e privado, a estabelecer 
interesse direto pelo pelas microfinanças, cabendo a ele, por ser um setor forte e bem 
desenvolvido, conseguir meios para atingir a efetivação da demanda com maior profundidade 
nas diferentes regiões do Brasil. O Unibanco, através da Fininvest, volta-se para esse 
mercado, porém o crédito produtivo popular é visto com reservas, pelo baixo conhecimento 
que se tem das populações e da capacidade de efetivação da demanda, para que se exija com 
mais adequação requisitos de garantias e se desenvolvam processos para melhor servir os 
clientes, obtendo-se o melhor aproveitamento financeiro. 
O reconhecimento de uma experiência de sucesso, através de demonstrativos técnicos 
claros e realistas, poderia inspirar intervenções mais concretas com microcrédito. Quanto aos 
meios para intervir, os bancos formais tem larga vantagem sobre as demais IMF's, pois 
poderia se servir da rede de agências distribuídas por municípios do Brasil, utilizando-se da 
logística que faz parte de sua estrutura para obter melhores vantagens comparativas (custos 
 
40
 Nichter et al, 2002. 
 
 
 
94 
mais baixos em relação ás IMF's). Podem ainda, ter acesso a maior volume de recursos para 
implantar sucursais, de forma menos custosa, e desenvolver programas mais eficientes, 
obtendo maiores resultados. Como mostramos, uma demanda potencial existe e em massa. 
Porém, o setor formal encontra-se afastado das microfinanças, e a falta de uma experiência de 
sucesso pode ser o indicador de que as IMF's precisam estabelecer estratégias para efetivar 
uma demanda pelo acesso a um sistema de fornecimento de crédito produtivo popular 
adaptado e adequado às características do público demandante, dando maior cobertura
aos 
microempreendimentos no Brasil. 
Um "efeito demonstração" entre as IMF's brasileiras poderia contribuir, de forma 
considerável, para o setor de microfinaças no Brasil. Devemos ressaltar que dada as 
diferenças regionais, talvez um caso de sucesso em determinada região não seja suficiente 
para homogeneizar essa desenvolvimento em todas as regiões e localidades. A maior 
transparência dos resultados expressos em documentos técnicos confiáveis é um elemento 
universal que cooperar para as demais instituições, na forma de exemplo, em todo território 
nacional, dado que se constrói credibilidade e podendo mostra que é possível operar no setor 
de forma sustentável, estimulando outros agentes a desenvolver suas estratégias de 
intervenção com microcrédito nas localidades de sua maior conveniência econômica e 
financeira. As experiências internacionais são importantes, mas não aplicáveis à realidade 
brasileira, embora possam inspirar processos de abordagem da demanda no Brasil, através da 
aprendizagem com as lições. 
A "Fraqueza" das IMF's Brasileiras 
Como foi discutido acima, no Brasil não há um "efeito demonstração" entre as IMF's, 
com indicadores confiáveis que demonstrem a viabilidade das instituições. O Banco do 
Nordeste, através do programa CrediAmigo, tem significativa penetração na região Nordeste, 
porém seus dados são pouco claros, sobre o desempenho financeiro do programa. Acredita-se 
que o que o programa CrediAmigo mostrou é que há demanda no Nordeste, mas que não se 
tem certeza de um mercado que funcione com operações sustentáveis. Além do mais, esse 
banco se aproveitou de sua rede agências e logística, conferindo-lhe baixos custos e vantagens 
comparativas. As outras instituições, como o CEAPE-Pernambuco, são lucrativas, porém seus 
 
 
 
95 
dados não esclarecem detalhes sobre sua condição como instituição auto-sustentável41. Isso 
quer dizer que esses programas não são conhecidos como detentores das melhores práticas. 
Como mostrado no item I 3.1 desta monografia, a grande maioria das instituições (121 
instituições) operam com menos de 2.000 clientes, e que o número de instituições que operam 
com menos de 1.000 clientes é de 104 (ver Gráfico 6). Financeiramente, isto quer dizer, que a 
maioria não opera em escala suficiente para serem rentáveis e construir solidez institucional 
na situação, havendo uma prevalência de IMF's no quadro institucional do setor brasileiro. 
Se considerarmos seu funcionamento em nível comercial, a estrutura de cobrança de 
juros não se equipara aos custos, tornado-as mais vulneráveis as oscilações de quaisquer 
natureza que dificultem as captações seus recursos para operar. A inadimplência, embora 
considerada baixa, é maior que a médias das instituições da América Latina42. Padrões de 
acompanhamento técnico de suas carteiras não são utilizados, na maioria das instituições, 
como a avaliação de risco e processos de acompanhamento técnico de suas operações. 
Goldmark aponta a baixa produtividade dos agentes de crédito, afirmando que muitas vezes se 
encontra abaixo de 200 clientes por agente. Destaca o CEAPE-Pernanbuco, com 456 clientes 
por agente, com alguns ajustes, que lhe confere alto nível de produtividade. 
Esse quadro revela alguns aspectos que tornam as IMF's vulneráveis as análises mais 
rigorosas do comportamento técnico de seus processos. Porém, devemos ressaltar que pode 
ser necessário algum tempo de ajuste com a realidade de mercado, no sentido das 
demonstrações financeiros e profissionalização dos recursos humanos utilizados das IMF's, 
para que elas se tornem mais profissionais, sustentáveis e que ganhem maior solidez 
institucional. 
III. 2.1.3 Microconclusão: uma análise crítica das causas 
Conforme o apresentado no item III. 2.1., há cinco causas tidas como mais relevantes e 
que tentam explicar a baixa penetração do panorama institucional de microcrédito no Brasil 
frente às condições que seriam propícias para o desenvolvimento mais acentuado do setor, 
isto é, uma penetração maior que a de 2%. Não se determina o quanto seja essa penetração 
para confirmar o aprofundamento. Nem de que forma ela se dará, em valor médio do 
 
41
 Duvida-se que os programas de sucesso no Brasil funcionem a base do subsídio, e que não geram, com os 
próprios recursos capacidade se sustentar como instituição. 
42
 Goldmark et al, 2002. 
 
 
 
96 
empréstimo, número de clientes, sustentabilidade das instituições, etc. Somente temos a idéia 
de que uma relação sólida entre a alternativa de microcrédito como financiamento de camadas 
populares produtivas, que geram emprego e renda, passam por todos esses requisitos, pois a 
relação da demanda com o uso eficiente do microcrédito em suas atividades produtivas é tão 
importante quanto a eficiência administrativa que as IMF's promovem em suas operações e 
gestão de recursos de sua competência. 
As causas selecionadas na literatura são as seguintes: o ambiente macroeconômico, a 
regulação do setor, a tradição de crédito dirigido do país e a falta de um "efeito de 
demonstração" e a fraqueza das instituições existentes. Não vamos procurar determinar o grau 
em que essas causas interferem no crescimento do setor de microfinanças, pois o assunto é 
recente e precisa-se de pesquisas mais apuradas para que se construam conhecimentos mais 
aprofundados sobre esta realidade e se tire conclusões que se aproximem das explicações mais 
apropriadas. Portanto, o assunto é recente, e o que se tem em mente é procurar entender o 
contexto das microfinanças e apontar algumas características tidas neste texto como 
importantes. 
O que se fará é, diante dos dados e fatos expressos durante toda a monografia até antes 
deste item e retirados dos textos que tratam do assunto ou tem ligação com o assunto, tirar 
algumas conclusões que avancem no entendimento do que representa cada causa para a 
aceleração do crescimento do setor microfinanceiro, propondo um ordem de importância e 
eliminado algumas aceitas como causas. Portanto é uma proposição explicativa das causas e o 
que podem representar para a questão do crescimento das microfinanças no Brasil. 
Novamente vamos relembrar que os capítulos anteriores trataram de analisar a oferta e 
a demanda de microcrédito, no contexto maior das microfinanças, aprofundando nos aspectos 
da definição do objeto de estudo, da parte institucional que a oferta e como se encontra 
distribuída no país. Aprofundamos as questões relacionadas à demanda, ressaltando a 
quantificação da demanda, e a metodologia utilizada para isto, suas características e inserção 
social, organização produtiva e gerencial, e quais as relações entre necessidades a serem 
supridas e satisfação realizada. Para isso, mostramos o quanto se encontra descoberta essa 
demanda, principalmente pelo setor formal, e quais possíveis razões a levariam a não optar 
pela aquisição de um empréstimo produtivo para aplicação em seus negócios, escolhendo 
outras vias. A camada de microempreendimentos é muito heterogênea e o entendimento das 
 
 
 
97 
várias razões que levam os indivíduos potencialmente demandantes torna-se "improcessável", 
portanto, incompreensível diante da metodologia existente. 
Das cinco causas apresentadas como possíveis entraves no crescimento do setor de 
microfinanças no Brasil, diante da discussão apresentada anteriormente, adotamos como 
causas à rigor para esta situação a regulação do setor e o ambiente macroeconômico. As 
outras situações são ou conseqüência de alguma causa anterior ou variação de uma 
conseqüência, caso da "fraqueza" das IMF's e da ausência de um "efeito de demonstração". 
Vamos começar explicando as causas, ou seja, o ambiente macroeconômico e a regulação do 
setor. 
O ambiente macroeconômico é de fundamental importância, pois nele encontramos os
parâmetros (câmbio, juros, inflação, etc) para se decidir sobre o que fazer com os recursos de 
que dispomos, para emprestar ou tomar emprestado. Ou seja, quando há hiperinflação o 
ambiente é caracterizado por instabilidade, fazendo com que o planejamento orçamentário e 
financeiro se torne difícil de se construir em um horizonte de muitas mudanças, considerando 
que a maioria da população não dispõe de conhecimento das causas e conseqüências desse 
desequilíbrio. Quando se trata de recursos financeiros, focando o lado de quem toma 
emprestado, pegar emprestado numa situação de hiperinflação significa contrair uma 
obrigação, cujo valor cresce em progressão geométrica, frente à maioria da população que não 
faz sua renda crescer na mesma proporção. Assim como o setor financeiro encontra outras 
vias para aplicar seus recursos financeiros, com base no objetivo de maximizar seus lucros 
e/ou minimizar suas perdas, o risco pode ser um fator central que faz com que o demandante 
não contraia uma dívida, tornando-se avesso ao empréstimo que carrega o risco de que não 
consiga arcar com os custos dos juros e inflação incorporados dia-a-dia e de que este perca o 
valor de compra rapidamente. O mais importante nesta situação é que a hiperinflação deprecia 
as qualidades do crédito em pouco tempo e o transforma numa verdadeira "bola de neve" de 
obrigações financeiras. 
Pelo lado da instituição, formular estratégias para atrair os clientes pode requerer 
medidas que compensem esse risco (descrito no parágrafo acima), normalmente tornando o 
empréstimo mais barato. Porém, ao optar por esta estratégia incorre-se em elevados custos 
operacionais e de captação de recursos para constituir os fundos, os quais podem 
comprometer o andamento dos programas. Além do mais, as IMF's nessa situação adversa de 
 
 
 
98 
instabilidade tem de ter conhecimento de como operar com altas taxas de inflação, caso em 
que a sustentabilidade financeira pode se fragilizar com muito mais facilidade. 
O setor bancário volta-se totalmente para outras operações, como nos mercados 
financeiro e cambial, por exemplo, e não há incentivo que o faça se interessar pelo setor de 
microfinanças, além deste setor (microfinanças) ser descaracterizado como elegível tomador 
de empréstimo pelo setor bancário, por não cobrir exigências requeridas e possuir grandes 
riscos incorporados ao fornecimento de empréstimos a essa camada de produtores. 
Até a estabilização econômica no Brasil na década de 1990, as IMF's careciam de boas 
condições no ambiente econômico para se fortalecerem institucionalmente e aprofundar seus 
programas, isto é, alcançar maior cobertura da demanda na região onde operavam. Isso as 
deixa em situação incipiente e sem condições de no futuro próximo, isto é, em sua época, 
terem perspectiva de um crescimento mais seguro. Outros possíveis entrantes, diante dessas 
reações adversas de instabilidade econômica, se privam de investir no setor, por ele ser pouco 
atraente frente às várias oportunidades de ganho que se encontram no mercado. O que acaba 
por selecionar algumas instituições que trabalham com subsídio e doações recebidas para 
viabilizar o andamento dos programas. 
O nosso interesse não é aprofundar na análise da instabilidade econômica que viveu o 
Brasil até 1994, mas sim ressaltar que em um ambiente macroeconômico de variação de 
preços, alta dos preços, torna-se complicado fornecer e tomar crédito, ainda mais na forma de 
dinheiro. Ficam aqui algumas perguntas: Qual o perfil de investimento no setor 
microfinanceiro, dado o prolongado período de inflação, que viabilizaria tal medida pelo setor 
privado? Se a iniciativa fosse tomada pelo setor público, ele teria condições de estimular o 
setor de microfinanças? Uma resposta à primeira pergunta é que não haveria um perfil de 
investimentos que fossem atrativos e que fizesse com que o setor privado entrasse nesse setor 
com força suficiente para consolidá-lo, dadas as outras oportunidades de ganhos maiores. E a 
segunda é que se tornaria complicado pelo lado do Governo, pois se focarmos a década de 
1980, o Governo estava em situação delicada para fazer frente às suas dívidas, e os recursos 
externos estavam estancados desde a alta dos juros da economia americana no início da 
década e, posteriormente, pela moratória decretada pelo Governo mexicano. Portanto, mesmo 
as doações externas ficaram escassas pela situação de iliquidez em que vivia o mundo. Estes 
fatos reforçam a inoportunidade de se investir no setor de microfinanças, chegando as IMF's 
existentes em situação de fraqueza na "era da estabilização" da economia brasileira. 
 
 
 
99 
Quando na época da estabilização, consolidação a partir de 1995, as IMF's não 
possuíam aprofundamento de seus programas de microcrédito, estavam "fracas". Da 
implantação do Plano Real até o momento decorreram pouco mais de 8 anos, e a pergunta 
agora é: foi tempo suficiente para que as IMF's encontrassem formas e condições para 
expandir suas carteiras e clientes ativos? Tem-se a idéia que não, pois trabalhar com 
microcrédito é complicado, conforme analisamos durante a monografia, e leva algum tempo 
para que as IMF's amadureçam institucionalmente para que atinjam níveis de operação 
consideráveis, caso contrário ocorreria se houvesse um aquecimento do setor e os 
demandantes procurassem essa alternativa de financiamento produtivo, hipoteticamente 
colocando. Mas, assim mesmo, esbarraríamos no conhecimento do público sobre as IMF's, 
que conforme apresentado no Capítulo II desta monografia, elas não são conhecidas. 
Em relação às taxas de juros, conforme analisada no item anterior deste capítulo, elas 
continuaram altas após e estabilização o que dificultava as operações das instituições e seu 
fortalecimento financeiro e institucional, além de inibir as oportunidades das micro e 
pequenas empresas, desde o desaquecimento da economia até o aumento dos custos 
financeiros envolvidos na tomada de empréstimos. 
O entendimento até aqui é que toda a adversidade econômica vivenciada pela 
sociedade antes do Plano Real e a posterior estabilização não condicionaram às IMF's uma 
posição de fortalecimento institucional e financeiro, e conseqüente penetração em maior grau 
na demanda existente. As IMF's não buscaram operar de forma profissional, adotando padrões 
de gestão e administração dos recursos evolvidos diante das oportunidades que o setor 
apresentou de forma mais concreta. Esses fatos colocaram as instituições em situação de 
incipiência, isto é, decorridos cerca de 30 anos desde a primeira experiência, o Programa 
UNO, até o presente momento, analisando o quadro institucional, o volume das carteiras 
ativas atualmente e o número de clientes ativos em todo país, diante da demanda potencial 
considerada grande, o setor encontra-se em formação, mesmo tendo reconhecível avanço após 
a estabilização da economia43. Não se permitiu que o setor microfinanceiro tomasse 
determinada importância como alternativa de financiamento para as camadas produtivas 
populares, tanto para o mercado quanto pela sociedade, dada a inviabilização econômica de 
aplicação de recursos no setor que o "caos" financeiro impôs durante os períodos de alta 
inflacionária e a conseqüente concentração das iniciativas em aplicações mais rentáveis e/ou 
seguras. O setor encontra-se em reformação com a realidade brasileira atual, e o ambiente 
 
 
 
100 
macroeconômico adverso foi, possivelmente, a principal causa desse estado incipiente em que 
se encontram as microfinanças no Brasil atualmente, pela ausência de parâmetro financeiros e 
econômicos constantes para realização de planejamento dos agentes envolvidos para desenhar 
um sistema de financiamento alternativo que atendesse um crescente número de pequenas e 
microempresas que apareciam no cenário econômico nacional. Ledgerwood, 1998, apresenta 
em
sua publicação "Microfinance Handbook: An Institutional and Financial Perspective" uma 
série de produtos financeiro, além do microcrédito, que podem ser ofertados aos micro e 
pequenos negociantes, de baixa renda. Mostra ainda "desenhos" de produtos quanto a forma, 
objetivo e características que procuram a adequação às necessidades, condições e 
características pessoais da maioria dos empreendedores de baixa renda. Se a regulamentação 
do setor de microfinanças impõe uma série de restrições quanto à atuação das IMF's, 
principalmente em relação à diversidade de serviços financeiros que podem ser ofertados, essa 
adequação, a qual defendemos em toda monografia, fica em detrimento do fato de que a lei 
permite praticamente que as instituições ofertem apenas microcrédito. Essa determinação 
restringe as estratégias das IMF's, seu aprendizado sobre o processo de fornecimento de 
microfinanças, "empobrece" e enfraquece sua relação com a demanda e sua constituição 
institucional. 
A questão de regulamentação é importante, pois ela pode significar estímulos ou 
impossibilidades de certas práticas das IMF's no setor onde operam, o que interfere na relação 
das IMF's com os meios para atingir seus objetivos. Como discutimos acima, a 
regulamentação do setor deixa que as IMF's trabalhem praticamente com o microcrédito, 
impossibilitando-a de operar com seguros e poupança, por exemplo. Se considerarmos que 
outros serviços financeiros, no caso poupança e seguro, são formas complementares que 
aumentam a capacidade de captação e/ou movimentação de recursos de recursos financeiros 
por parte das instituições, quando se priva que elas trabalhem com estes serviços tolhe-se a 
capacidade de as IMF's aproveitarem as oportunidades de diversificação de serviços 
oferecidos aos clientes. Isto quer dizer que, primeiramente, a possibilidade de oferecer um 
maior número de serviços microfinanceiros lhe dá maior flexibilidade operacional e maior 
capacidade de angariar recursos com os quais se pode realizar mais empréstimos, por um 
lado, ou aumentar sua sustentabilidade financeira, por outro lado. De qualquer forma, se 
constitui numa ampliação da carteira ativa da instituição o que lhe confere maior solidez 
financeira. Em segundo, ao receber depósitos de poupança e prestar serviço de seguros, as 
 
43
 Os itens I.2 e I.3 discutem esses avanços no setor de microfinanças no Brasil, pelo lado da oferta. 
 
 
 
101 
IMF's cooperaram para o desenvolvimento dos negócios dos clientes, dando mecanismos de 
segurança financeira e física ao capital dos depositantes e segurados, além de poderem 
repassar os depósitos em valores de empréstimos àqueles negócios que demandam 
microcrédito. O limite quanto aos serviços oferecidos aos demandantes impedem que as 
instituições se fortaleçam como instituições de financiamento e conheçam seu mercado, 
fazendo com que as IMF's deixem de ampliar suas carteira e aproveitar oportunidades de 
crescimento. 
No entanto essa questão é sensível à crítica, pois operar com maior número de serviços 
financeiros não quer dizer que haja uma efetivação da demanda por estes serviços. Os 
negociantes podem procurar empresas especializadas em seguros, por exemplo, e proteger seu 
capital contra acidentes, roubos e outras perdas. Podem procurar o sistema de poupança no 
mercado formal para depositar seus ganhos e assim formarem suas reservas. Porém, ao olhar 
pelo prisma das restrições que a lei impõe, as experiências que as instituições podem agregar 
ao seu conhecimento podem estar comprometidas. Podem fazer com que se foque em um 
serviço e não aprendam, na prática, o que as populações estão dispostas a absorver como 
serviços financeiros alternativos ao setor formal e como é possível oferecer os serviços de 
forma mais adequada às necessidades dos demandantes. 
As IMF's poderiam ainda oferecer serviços de penhora ou troca de cheques, o que 
talvez fosse mais adequado do ponto de vista da demanda do que assinar um contrato, cujo 
conteúdo expressa uma infinidade de responsabilidades com a dívida adquirida. A Penhora, 
conforme dito no item acima, é monopólio concedido à Caixa Econômica pela lei, a troca de 
cheques também é uma restrição. Havendo uma demanda heterogênea, com razões próprias 
para não assumir uma dívida na forma de empréstimo44, então uma maior liberdade para 
oferecer outras formas de se negociar a concessão do empréstimo, é uma forma de se adequar 
à demanda e pode ser uma boa medida a fim de atrair mais clientes para as instituições, assim 
como maior aprofundamento da relação entre os microempreendedores e as instituições. 
Ao livrar as OSCIP's da Lei da Usura através da Lei 9.790, de março de 1999, e 
instituir a regulamentação das SCM's através da Lei 10.194, de fevereiro de 2001, abre-se 
espaço para que instituições tenham maiores oportunidades de se auto sustentarem, através da 
formação de parcerias, cobrança de juros mais adequados aos custos de operação e com a 
 
 
44
 Vide: item III.1.2 desta monografia. 
 
 
 
102 
finalidade de lucro, e que outras instituições que visem o lucro passem a operar no mercado 
de microfinanças45. Foi, sem dúvida, um avanço capaz de produzir interesse das instituições 
em atuarem, cada qual com seu fim lucrativo, no setor de microfinanças46. Porém, o tempo 
talvez não seja o bastante para avaliarmos com maior precisão se os efeitos de tais mudanças 
são suficientes para imprimir um maior crescimento do setor. 
No item I.3.1 desta monografia, apontamos que a comparação de dados sobre o 
número de IMF's operantes no Brasil de 1999 e 2001 revelava um incremento de cerca de 
157% no total de IMF's no país. Os dados de 1999 são de Goldmark et al, 2000, e os de 2001 
foram tomados de Nichter et al, 2002. No mesmo texto, Nichter apresenta no Box 1 que 
dados retirados do servidor público do Banco Central do Brasil apontam o total de 25 SCM's, 
as quais foram criadas pelo estímulo da lei, e 64 OSCIP's listadas no Ministério da Justiças. 
Não há como apontarmos quantas IMF's foram criadas como OSCIP's diretamente, sem 
passarem de ONG's. Mas o novo marco legal permitiu que cerca de 74% das instituições hoje 
operantes com microcrédito no Brasil se isentassem da Lei da Usura, através das "Leis", de 
acordo com seu desígnios lucrativos, isto é nulo ou positivo. E que houve desde 1999 um 
aumento das instituições que operam com microcrédito no Brasil. 
Esse aumento do número de instituições não sinal de que haja um aprofundamento 
significativo dos programas de microcrédito. Estamos considerando que a marco legal para as 
OSCIP's e para as SCM's criou condições para que surgissem parte das IMF's desde a criação 
das leis específicas para estas instituições. Os incrementos ocorridos desde 1999 até 2001 são 
analisados no item I.3.1 desta monografia, e houve de fato um aumento significativo do setor 
neste período. Porém, a maior parte do aumento do número de clientes ativos (61%) foi dada 
pela participação do Banco do Nordeste, um banco estatal comercial, e 13% do aumento da 
carteira ativa foi dada pela mesma instituição. Portanto, embora o número de IMF's criadas e 
legalizadas como SCM's e OSCIP's tenha aumentado o quadro institucional do setor 
microfinanceiro, isso não se traduziu em aprofundamento significativo da penetração do 
microcrédito no Brasil. 
Outro ponto importante é que o ambiente macroeconômico instável no Brasil 
dificultou o desenvolvimento do setor de microfinanças, fazendo com que chegassem em 
"estado de incipiência" na "era da estabilização", sendo visto com pouca relevância pela 
 
45
 Para rever a discussão sobre os objetivos
das IMF's existentes vide o item I.2.2.2 desta monografia. 
 
 
 
 
103 
sociedade. O quadro legal que compete ao setor microfinanceiro especificava a questão dos 
serviços alternativos de financiamento às camadas produtivas populares. Não havia estímulo 
para que se formulassem leis específicas que colocassem o setor dentro de linhas de 
tratamento jurídico que estimulasse, ou que não desestimulasse, as iniciativas a investir nas 
microfinanças brasileiras. Até a promulgação da Lei 9.790, de março de 1999, o país viveu 
períodos conturbados, entre instabilidade econômica e política, para que se concretizasse 
algum estímulo jurídico que desse a importância devida às IMF's que operam no setor, ainda 
mais que a importância do setor para a economia e sociedade brasileira não era reconhecida 
pelos agentes como meio possível e viável de alavancagem das microempresas. 
Cabe ressaltar que embora a lei estimule a entrada de IMF's no setor microfinanceiro, 
nos formatos de OSCIP e SCM, pela isenção da Lei da Usura e/ou pela possibilidade de se 
obter lucros com operações microfinanceiras, não é necessário para que se tenha um 
aprofundamento da relação entre o setor ofertante microfinanceiro e a demanda potencial 
existente. É necessário dar maior flexibilidade às IMF's para atuarem com formas alternativas 
de fornecimento de microcrédito e outros serviços microfinanceiros, e não esperar que o 
demandante vá até a instituição e assine um contrato com as responsabilidades da aquisição 
de uma dívida em dinheiro, e com outros serviços além do microcrédito, para que se amplie as 
visões estratégicas de longo prazo dos administradores de microfinanças no desenvolvimento 
de um conjunto flexível de produtos. 
A tradição do crédito dirigido é uma causa que atua com mais força no meio rural, 
conforme discutido acima. Segundo a estimativa que adotamos, do PDI-BNDES, de que 18% 
da demanda potencial de microfinanças são de microempreendimentos rurais, a maior parte 
do setor microfinanceiro brasileiro não sofreria conseqüências dessa causa que acarretasse 
baixa penetração. Cabe-nos ressaltar que o grande problema torna-se disciplinar, ou que, 
principalmente, as facilidades com que as instituições que administram essas linhas de crédito 
dão ao tomadores de empréstimo, seja nas condições de pagamento seja nas cobranças das 
obrigações previstas em contratos assinados pelos devedores. Outro problema está na 
"contaminação" que os programas de linhas de crédito produtivo públicas podem acarretar na 
imagem das IMF's, levando os demandantes a acreditarem que os programas públicos de 
oferta de crédito em pequena escala sejam o mesmo, em condições, que o realizado pelas 
IMF's. Porém, essa possibilidade não é viável, já que a proporção de crédito no meio urbano é 
 
46
 Muitas ONG's se tornaram OSCIP para se isentar da Lei da Usura e ter maior flexibilidade na cobrança de 
juros a fim de cobris seus custos de operação. 
 
 
 
104 
muito pequena e não teria resultado significativo no setor de microfinanças como um todo. 
Em fim, dada a grande concentração em áreas rurais das linhas de crédito público ao setor 
produtivo, e a pequena proporção da demanda potencial total estimada no Brasil estar nas 
áreas rurais, as linhas de crédito dirigido do setor público não afetaria tanto as condições de 
penetração do setor microfinanceiro. Seria uma causa que teria força na penetração do 
microcrédito em áreas rurais. 
Por tudo que falamos sobre as influências do ambiente macroeconômico e da 
regulamentação do setor microfinanceiro nas condições de crescimento das microfinanças no 
Brasil, caracterizamos a "fraqueza" das IMF's e a ausência de um "efeito demonstração" como 
conseqüências da conturbada vida econômica que viveu o país até 1994 e da existência de 
uma regulamentação desestimulante às iniciativas que quisessem atuar no setor de 
microfinanças. Essas causas levaram o setor a um quadro de incipiência que pode ser 
observado pela baixa penetração que as microfinanças atingem atualmente no Brasil: 2%. 
Se as IMF's são fracas por fatores internos a sua estrutura e por conseqüências 
externas, de âmbito econômico e jurídico, os quais impedem que estas instituições tenham 
ganhos de aprendizagem com a experiência e ampliação da carteira e clientes ativos, então 
essa "fraqueza" com que se qualifica uma instituição é um estado conseqüente de vários 
fatores. A partir desse ponto, pode-se dizer que o microcrédito, atualmente, não consegue 
maior penetração em parte por que as instituições são "fracas"47, mas ocorre que o estado de 
"fraqueza" como estão as instituições é conseqüência, fundamentalmente, do cenário 
econômico brasileiro de grande instabilidade e do quadro regulamentar que restringiu a 
atuação das iniciativas interessadas em atuar. 
Devemos lembrar que além do ambiente macroeconômico, externo as IMF's, tem-se a 
própria postura técnico administrativa das IMF's, onde a clareza dos resultados expressos em 
seus documentos técnicos é questionável pelos especialistas internacionais, não podendo se 
detectar em que magnitude os programas são dependentes de subsídios e esclarecer seus 
procedimentos, no local de atuação, para atingir seus resultados. 
A falta de um "efeito demonstração" é o que aparece desse quadro. Ao contrário de 
experiências como a dos bancos Grameen e Rakyat, onde se procura dar clareza às 
demonstrações contábeis e especificar as estratégias adotadas, as instituições de microcrédito 
 
 
 
105 
brasileiras são pouco organizadas e não se dispõe de uma fonte de dados segura para que se 
possa analisar seus desempenhos, até mesmo o Banco do Nordeste48. Portanto, essa carência 
emerge de toda situação que envolve a ausência de políticas voltadas para o setor e o quadro 
macroeconômicos dos últimos 20 anos, principalmente, onde as IMF's não conseguiram achar 
um meio para penetrar na grande demanda potencial de microcrédito existente. 
Da discussão até agora desenvolvida neste item da monografia, podemos ver que a 
causa fundamental do atual quadro incipiente do microcrédito no Brasil, e do setor 
microfinanceiro, foi a conturbada vida econômica do Brasil até 1994, com o descaso das 
autoridades competentes em reconhecer a importância de um sistema de financiamento 
adequado e alternativo as micro e pequenas empresas brasileiras, e de um sistema 
regulamentar financeiro que não permitiu que se enxergasse o setor como opção de iniciativas 
institucionais para concessão de crédito produtivo popular, desestimulando a entrada de 
possíveis instituições operadoras de microcrédito. As linhas de crédito subsidiado, por se 
concentrarem no meio rural, não teria influência no quadro de baixa penetração das 
microfinanças no Brasil. E argumentos que apontam a "fraqueza" das IMF's e a ausência de 
um "efeito demonstração" indicam, na verdade, conseqüências de uma correlação entre 
ambiente macroeconômico desfavorável e regulamentação desestimulante para o 
desenvolvimento das microfinanças no Brasil com taxas maiores de penetração. 
Cabe-nos ainda fazer duas observações. A primeira é que a "fraqueza" das IMF's é um 
desafio a ser enfrentado para que o setor encontre condições de se expandir. O mesmo pode 
ser dizer sobre o "efeito demonstração", que pode partir de uma instituição que consiga 
significativo avanço nos próximos anos e dê credibilidade às suas estratégias, expressando de 
forma clara os meios e procedimentos de que se utilizou para atingir determinado nível 
considerável. A regulamentação é muito importante, pois pode dar às instituições flexibilidade 
para atuarem de forma mais coerente com o meio e consistente com seus objetivos. No 
entanto, torna-se difícil apontar quais
mudanças a rigor seriam suficientes para promover o 
primeiro passo de forma segura. Lembrar-se que a demanda cresce a 3,7% ao ano e que a 
conjuntura econômica aponta o desemprego acentuado que atinge tanto pessoas com baixa 
educação formal, quanto com maior nível de educação formal. Isso significa potencialidades 
para o surgimento de microempreendimentos geridos por pessoas mais capazes de lhe dar 
 
47
 Para saber o que significa "fraqueza" das instituições, veja as seções do item III.2.1 deste capítulo que trata do 
assunto. 
48
 Vide: Nichter et al, 2002. 
 
 
 
106 
com o mercado e por pessoas menos preparadas, e que tais desafios devem ser encarados no 
sentido de aumentar a dinâmica do setor ofertante de microcrédito. 
A Segunda observação é que há uma situação em que a "fraqueza" das IMF's e a 
ausência de um "efeito demonstração" ganham teor de causa da baixa capacidade de cobertura 
das IMF's. O quadro macroeconômico justifica, em grande parte, a atual incipiência do setor 
de microfinanças no Brasil. A estrutura regulamentar dificulta as IMF's de operarem e a 
entrada de novas iniciativas no setor. Dentro desse quadro geral existem as IMF's que não 
possuem estrutura clara que justifique seus bons desempenhos financeiros, ainda são pouco 
desenvolvidas. À medida que se observa esse quadro, independentemente da regulamentação 
existente, os novos atores dispostos a entrarem sentem-se inseguros, esperando muitas vezes 
que surjam melhores esclarecimentos sobre as reais condições de viabilidade que se há para 
intervirem de fato. Então, enquanto o ambiente macroeconômico e a regulamentação 
determinaram o estado de incipiência do setor, ao mesmo tempo, e atualmente, o estado de 
fragilidade com que operam as instituições de microcrédito fornece um entendimento a quem 
observa o setor de que é extremamente difícil atuar neste campo (e pode até ser). O exemplo 
das IMF's que atuam com fragilidade, e dependente de subsídios, remete aos observadores do 
setor a idéia de que não há outra forma de atuar, ou que necessita-se de condições especiais, 
veja-se subsidiar custos, para que elas entrem no setor de microfinanças. A regulamentação 
desestimulante e a "fraqueza" das IMF's concorrem juntas, e se reforçam, para a manutenção 
do baixo desenvolvimento do setor de microfinanças no Brasil. Da herança institucional 
fincada pelas condições adversas do ambiente econômico de anos atrás no Brasil e do atual 
quadro regulamentar que restringe opções de operação com produtos microfinanceiros que 
poderiam se atraentes para IMF's entrantes e para a demanda potencial existente, surgiu a 
idéia dos obstáculos áridos que impõe o setor, e nesse sentido colocamos a heterogeneidade e 
a resistência da demanda discutidas no Capítulo II desta monografia. 
Em fim, o ambiente macroeconômico é o principal elemento causativo do atual 
quadro, com forte cooperação da regulamentação do setor que impõe restrições sérias às 
IMF's para operarem diante de uma demanda heterogênea e resistente ao atual modelo de 
concessão de microcrédito. As linhas de crédito dirigido por se concentrarem nas áreas rurais 
não tem peso de causa da baixa penetração do microcrédito no Brasil, e a "fraqueza" das 
IMF's, assim como a ausência de um "efeito demonstração", são conseqüências das causas 
tidas como mais importantes, entre outras possíveis para esta situação específica. Sendo o 
baixo desenvolvimento institucional existente na atualidade o principal desafio que o setor 
 
 
 
107 
tem de enfrentar a fim de que se reestruture um quadro ofertante capaz de atrair e cobrir, com 
um aparato sustentável de recursos e técnicas, uma demanda potencial existente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
CONCLUSÃO: 
O setor de microfinanças encontra-se incipiente no Brasil. Quando consideramos a 
oferta, observamos que, diante dos estudos e dados publicados, a cobertura das IMF's 
encontra-se extremamente baixa, com instituições "fracas" que não demonstraram utilizar 
estratégias eficientes e comprovadas, e que não disponibilizam informações confiáveis, claras 
e seguras, sobre suas práticas e resultados efetivados. Porém, ressaltamos a importância 
dessas iniciativas, pois os estudos indicam que atualmente estamos experimentando práticas e 
estratégias de abordagem da demanda de microfinanças. E que nos parece complicado 
desenhar modelos que seguramente atinjam resultados. Mesmo quando se cita suas limitações, 
alguns programas têm conseguido relativo sucesso em suas iniciativas. 
As discussões sobre o setor de microfinanças no Brasil encontram-se em fase inicial, 
carecendo de estudos sobre assuntos específicos relacionados às características da oferta e da 
demanda. Devemos considerar que o tema é recentemente estudado no país, e que, como 
qualquer outro estudo na mesma situação, carece de tempo e pesquisas focalizadas nos 
aspectos causativos da atual situação do setor microfinanceiro no país e da natureza de seu 
funcionamento, que tanto contemple o lado da oferta e quanto da demanda, para que se possa 
tirar conclusões mais consistentes sobre o seu comportamento a longo prazo. Isso diz respeito 
a estudos tanto do aspecto macro da questão, regulamentação, ambiente macroeconômico e 
outros, quanto das ordens micro das relações entre instituições e demanda, e demanda e 
alternativas de financiamento produtivo. Um ponto importante a se entender, por exemplo, é o 
grau de substituição que os microempreendedores atribuem aos serviços financeiros de que se 
utilizam para satisfazer suas necessidade de financiamento produtivo. Outro é saber qual a 
proporção mais adequada da demanda devemos considerar como elegível para tomar 
empréstimo. Esses pontos são importantes para se fundamentar estratégias de intervenção que 
sejam mais apropriadas a cada local considerável para intervenção. 
Ao analisar as causas tidas como mais importantes na literatura sobre o assunto, 
concluímos que a situação atual das microfinanças no Brasil, incipiência, se deu 
principalmente pelo contexto macroeconômico que viveu o país nos últimos 30 anos. Isto é, o 
período de instabilidade econômica crônica que perdurou até a implantação do Plano Real, 
tornou dificultoso o trabalho das IMF's em implantar sistemas de fornecimento de crédito bem 
sucedidos, em que aprofundasse a relação com os microempreendedores demandantes no 
sentido de consolidar uma a troca entre "tomada de empréstimos" e penetração considerável 
 
 
 
109 
das instituições na demanda. Mesmo que algumas experiências internacionais tenham sido 
bem sucedidas em ambientes economicamente instáveis, não serve como parâmetro para 
compararmos com as conseqüências da hiperinflação sobre as microfinanças brasileiras, dado 
que esses países possuíam uma economia muito menor e menos complexa que a brasileira, e 
que os exemplos apontam períodos inflacionários bem mais amenos que o ocorrido até 1995 
(no exemplo dado no texto refere-se à Zimbábue, cuja economia não se compara a do Brasil e 
que as taxas inflacionárias anuais chagavam à aproximadamente 45%). Mesmo que se pense 
que em determinadas economias uma taxa relativamente alta de inflação cause conseqüências 
sérias ao sistema econômico, ainda assim permanece a idéia de que é relativamente 
incomparável às conseqüências de uma taxa anual de cerca de 2.800%, como a do Brasil em 
1993, dada a magnitude "desnorteante", do ponto de vista econômico e financeiro de uma 
inflação tão alta quanto as atingidas pelo Brasil na década de 1980 e início da década de 1990. 
No mais, parece difícil planejar iniciativas financeiras nas circunstâncias descritas de 
hiperinflação
para uma demanda heterogênea, resistentes à tomadas de empréstimos e que 
encontra em outras formas de crédito menor peso em relação às responsabilidades assumidas 
numa dívida adquirida em dinheiro, como o crédito parcelado. Se num período de 
estabilização em que vivemos desde o meado da década de 1990 tornou-se complicado para a 
demanda encarar o crédito (empréstimo) como "normal", num período de hiperinflação, onde 
os preços das dívidas sobem em escala geométrica em prazos curtíssimos, parece mais 
complicado ainda, dada as perdas da qualidade do empréstimo e que as receitas auferidas por 
quaisquer atividades produtivas não se equiparavam às desvalorizações sucessivas impostas 
pela inflação, paralelamente. 
A legislação e regulamentação para o setor foram, e continua sendo, embora tenham 
ocorrido avanços, um entrave ao seu desenvolvimento. Principalmente pela inflexibilidade 
que dão as IMF's de oferecem outros serviços financeiros, além do microcrédito, e de 
dificultar outras operações fora das previstas e discutidas no último item do Capítulo III. Essa 
dificuldade se traduz em impedimento de desenvolver serviços mais adequados à demanda, 
dada as prescrições operacionais, prescritas pelas regulamentações e leis, em que são 
obrigadas as instituições a seguir. Como conseqüência vemos a manutenção da 
superficialidade com que as IMF's se relacionam com a demanda do local onde operam. 
Dessas duas influências, que pré-existiram à situação atual das microfinanças 
caracteristicamente subdesenvolvida, surge a conseqüente fragilidade com que se encontram 
 
 
 
110 
as IMF's no cenário das microfinanças brasileiras atualmente. Mesmo que tenha se passado 
cerca de 30 anos desde a primeira experiência, ao chegar na "era da estabilização" as IMF's, 
que não encontraram formas de se desenvolver dentro de um ambiente macroeconômico 
instável, apresentando-se como frágeis: não alcançaram escalas significativas, não geram os 
próprios recursos financeiros para dar andamento aos seus programas (são dependentes de 
subsídios e doações), na grande maioria. Isto quer dizer que não operam em escala 
significativa para cobrir seus custos e que é questionável seu perfil profissional e sua 
sustentabilidade. Até programas como o CrediAmigo do Banco do Nordeste que alcançou 
escala significativa, com aparente lucratividade e baixa dependência de subsídios, são 
questionados quanto as suas práticas e resultados pelos especialistas. Portanto, a adversidade 
econômica e o ambiente regulatório desestimulante contribuíram com mais força para 
manutenção da incipiência do setor de microfinanças ao longo dos anos. 
A "fraqueza" com que se encontram as IMF's atualmente, diante do cenário de relativa 
estabilidade econômica em que vivemos hoje, é uma conseqüência que se tornou a maior 
dificuldade de se levar o setor de microfinanças a um nível mais aprofundado de penetração 
entre os microempreendimentos e que leve o setor bancário a encará-lo como viável, 
estimulando-o a formular políticas e estratégias de “maior força” para atuar nesse ramo. 
Ao observar as instituições ofertantes de microcrédito, diante do que publicou, vemos 
que estas possuem experiência com as intervenções realizadas, porém acumularam 
experiência de sucesso relativo e questionável. As IMF's, observando seu quadro geral, são 
predominantemente pequenas, com maioria atendendo menos de 1.000 clientes (ver Capítulo 
I). Se partirmos do pressuposto de que a oferta cria sua procura, então podemos indicar que o 
quadro ofertante é pouco estruturado e insuficiente para atender tamanha demanda. 
Lembramos que a demanda estima da Bolívia, país com a maior penetração na América 
Latina, é de aproximadamente 232.353 ou cerca de 3% da demanda potencial total estimada 
no Brasil. A demanda potencial brasileira, estimada, é de uma imensa magnitude, e o quadro 
ofertante é "fraco" e, mesmo que houvesse uma corrida por parte dos microempreendedores 
às vias de financiamento através das IMF's, seria duvidável acreditar que ela conseguisse 
atender, no curto prazo, a uma massa de clientes dessa magnitude. Então a saída seria tomar 
medidas que estruturassem uma oferta suficientemente adequada ao quadro demandante 
brasileiro, e isso não quer dizer somente aumento em número, mas também em meios 
estratégicos e abordagens técnicas adequadas para atrair a demanda potencial e efetivá-la 
(mudança qualitativa). 
 
 
 
111 
No entanto como discutimos, a oferta se depara como uma demanda resistente ao 
empréstimo e que encontra em outras formas de financiamento suas fontes de sobrevivência, 
dando continuidade aos seus negócios. 
Entender a relação entre oferta e demanda no setor microfinanceiro é importante, pois 
"... não se pode pensar, como os neoclássicos, que o mercado se reduz a uma relação entre 
oferta e demanda e que as intervenções externas só dificultam ou impedem que suas forças 
internas alcancem o equilíbrio. A realidade tem demonstrado que a relação entre oferta e 
demanda é mediada por forças de poder. Em segundo, que estas relações de poder têm sido 
determinadas basicamente pelas grandes empresas e são norteadoras de políticas territoriais, 
que refletem políticas setoriais concentradoras, em que a oferta é organizada de forma 
vertical, de cima para baixo, a partir da demanda da grande empresa"1. Há explicações que 
estão além das cinco propostas apresentadas como causas e que são de grande importância, 
pois não é uma oferta existente e uma grande demanda que tornará o ambiente das 
microfinanças atrativo a ponto de as partes se "casarem" amigavelmente, como acomodam as 
forças da natureza os elementos no equilíbrio dos sistemas naturais. Várias coisas acontecem 
nesse meio tempo na relação entre ofertantes e demandantes potenciais de microcrédito, e não 
temos poder preditivo para indicar em que grau e quando vai efetivar essa demanda (isto quer 
dizer em 5, 10 ou 15 anos, como indicam alguns autores). O sistema que concerne as 
microfinanças está em fase de experimentação, ao que apontam os estudos publicados até o 
momento, e possuem grande potencial para atingir altos níveis de penetração e 
desenvolvimento. 
De qualquer forma, construir um sistema institucional ofertante forte para o setor nos 
perece fundamental para que se consiga maior penetração na demanda potencial. O setor 
financeiro privado parece não mostrar grande interesse, diante das condições atuais das 
microfinanças. As medidas mais fortes têm partido do Setor Público com iniciativas como a 
criação da Comunidade Solidária, O Programa de Credito produtivo Popular e o Programa de 
Desenvolvimento Institucional, ambos do BNDES, dos "Bancos do Povo", entre outros, se 
constituem em alternativas importantes para se desenrolar as microfinanças no Brasil. Porém, 
ainda são tímidas. O Terceiro Setor é outro importante ator, embora se ache duvidável que por 
ele mesmo se consiga atingir escalas consideráveis com as microfinanças no Brasil. 
 
1
 IBAM, 2001. 
 
 
 
112 
 As discussões sobre a problemática do crédito no Brasil apontam uma situação crônica 
e afeta todos os setores da economia. Para operar com microfinanças o problema torna-se um 
pouco mais complexo, pelas razões expressas nos Capítulos precedentes. Estabelecer 
condições para "casar" oferta e demanda, como dito acima, é complicado. Na ausência de 
atores que tenham condições de aprofundar a relação da demanda potencial com microcrédito 
no Brasil, e de setores com maior poder para tal realização, mas que não demonstra um 
interesse concreto nesse ramo, no curto prazo, para intervir com maior força, chamamos a 
atenção para o papel do Setor Público na iniciativa de se tomar medidas mais firmes e 
apropriadas para se conseguir melhores resultados. 
O arcabouço institucional e a realização de investimentos
por parte do Setor Público, 
na constituição da solidez do terceiro setor, das ONG's e OSCIP's, e da utilização de bancos 
públicos como a Caixa Econômica Federal, são medidas que ajudariam a se atingir maior 
cobertura da demanda potencial. Dado que o setor financeiro privado não demonstra 
suficiente interesse através de iniciativas de atuação no setor. A atuação do Governo, nas 
esferas Federal, Estadual e Municipal, torna-se um ponto fundamental de um setor que se 
volta aos milhões de microempreendimentos no Brasil e que possuem força econômica para 
alavancar uma população em que, na maioria, vive em condições fragilizadas de 
sobrevivência, e que, como vimos, cresce ao longo dos anos. Isso quer dizer desenvolver 
políticas públicas que visem alinhar o instrumento de microcrédito às necessidades dos 
microempreendedores, assim como conscientizá-los das benesses da utilização desse 
instrumento via IMF's. É um trabalho que não visa simplesmente conceder o microcrédito, 
mas estimular pequenos empreendimentos a tomar formato dinâmico e se inserirem no 
mercado com maior competitividade2. Não se vê a atuação massiva pelo setor privado no 
setor de microfinanças, talvez o governo torne-se mais uma vez a "peça chave" para o 
desenvolvimento de um importante setor, proporcionado aglutinar a esta iniciativa a 
sociedade civil organizada e, num futuro mais próximo, o setor privado. 
Portanto, existe uma demanda potencial de microfinanças representada pelo grande 
número de microempreendimentos que sobrevivem no Brasil. As condições impostas pelo 
ambiente macroeconômico instável, ao longo dos anos, foram impróprias para o 
fortalecimento institucional das operadoras de microfinanças no Brasil, sendo a principal 
 
2
 "A criação de um ambiente propício ao desenvolvimento dos pequenos negócios pode ser a mola mestra de 
uma modelo econômico menos excludente daquele que conhecemos no passado, é obra para muitos diferentes 
níveis de governo, sociedade civil organizada e setor privado". Citação de Urani, André. Um Rio que derruba 
mitos e tabus. IETS, 2002. 
 
 
 
113 
causa do atual quadro institucional e baixa penetração. Mesmo havendo a estabilização 
econômica a partir do segundo meado da década de 1990, a situação das IMF's era de 
"fraqueza", dada as baixas escalas de operação conseguidas conforme suas políticas e 
estratégias de intervenção. A legislação e regulamentação para o setor serviram de reforço 
para manutenção da situação de baixo desenvolvimento na medida em que restringiram 
atuação das IMF's e desestimularam novas iniciativas de atores interessados em entrar no 
setor. A "fraqueza" com que as instituições chegam atualmente é resultado dos entraves 
descritos acima, porém torna-se o obstáculo principal que o setor enfrenta hoje em dia para 
que se atinja maiores níveis de penetração. Esses três fatos seriam a cerne da questão da baixa 
penetração do microcrédito no Brasil. 
Diante da impossibilidade de atuação mais forte por parte do terceiro setor no ramo de 
microfinanças, e do fato de que o setor financeiro formal sempre tenha ignorado as micro e 
pequenas empresas, apontamos o papel do Governo como fundamental. Principalmente 
trabalhando em conjunto com os atores do Terceiro Setor. Nesse caso, a idéia é que o 
Governo intercale posições de apoio com estes atores na formulação de diagnósticos locais, 
estudos focalizados e formulação de estratégias de intervenção que considerem a 
idiossincrasia dos diferentes locais através de políticas públicas, focadas no microcrédito 
como instrumento de promoção de desenvolvimento, mais adequados aos meios heterogêneos 
onde se encontram insertos a maioria dos microempreendimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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121 
ANEXO

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