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Entendendo acerca do processo de substantivação O assunto que ora nos propomos a discutir revela o dinamismo pelo qual perpassa a língua, tornando-se materializado pelos muitos recursos dos quais o falante usufrui para construir seu discurso. De modo a compreendermos melhor acerca de tal prerrogativa, analisemos, pois, o enunciado subsequente: O olhar era misterioso. Atendo-nos ao termo em destaque, infere-se tratar de um verbo, o qual indica uma ação. Nesse sentido, temos que esse termo, mantendo-se intacto (abstendo-se de acréscimos ou supressões), passou a ocupar outra classe gramatical, ou seja, de verbo passou a substantivo, tendo em vista um contexto específico. Tal ocorrência revela a derivação imprópria, assim como neste outro exemplo: O não foi considerado como resposta. Temos que um advérbio se transformou em substantivo nesse caso, no qual se percebe que unidades lexicais mudam de sentido, divergindo-se do usual pelo simples fato de serem determinadas por um artigo, numeral ou pronome (nos exemplos citados, o determinante foi o artigo “o”). Mediante tais pressupostos, podemos afirmar que se trata do processo de substantivação, no qual o vocábulo substantivado, na maioria das vezes, poderá flexionar-se normalmente. Assim, com vistas a ampliar ainda mais essa noção, constatemos outros casos representativos: * Adjetivo – Partindo do pressuposto de que “ esforçado” ocupa a função de adjetivo, no exemplo a seguir ele recebe alterações, veja: O esforçado está em busca de crescimento pessoal. Tal vocábulo passou a ocupar a função de substantivo. * Pronome – Tendo em vista que “eu” se revela como pronome pessoal do caso reto, atente-se para o fato a seguir: Meu eu sempre está em busca de algo. Temos que o referido pronome, ora determinado por “eu” (pronome pessoal do caso reto), tornou-se substantivado. * Verbo – Em se tratando de alguns termos que indicam ações, bem como estados (de ser), conceituamo-los como verbos, contudo, constate algumas mudanças que neles ocorrem: O ter se sobrepõe ao ser. Constata-se que tais verbos, ora expressos no infinitivo, ocuparam a função de substantivo. * Numeral – Partindo da premissa de que “milhões” representa a classe em questão, observe: Os milhões já foram gastos. O termo, que na verdade integra uma dada classe gramatical, passou a ocupar outra – a de substantivo. * Advérbio – Sabendo-se que o advérbio tem por finalidade indicar a circunstância expressa pelo verbo, nesse caso, o “não”, considerado como advérbio de negação, tornou-se substantivado: O não foi considerado como resposta. * Preposições – O “contra” ocupa a função de preposição, mas de acordo com determinados contextos passa a exercer outra, como esta representada a seguir: Os contras e os prós foram devidamente analisados. (permite-se a flexão, tendo em vista o verbo em referência – expresso no plural) Representando, aqui, a função de substantivo. * Conjunção – Ao pronunciarmos discursos semelhantes a “não fomos porque estávamos trabalhando”, temos que se trata de uma conjunção subordinada adverbial causal. Contudo, em se tratando de determinados casos como esse abaixo representado, observe: O porquê de tudo já foi explicado. Tornou-se uma palavra substantivada. * Interjeição – Até mesmo elas podem receber tal transformação, quando acompanhadas de um determinante, como bem nos demonstra o exemplo a seguir: O psiu soou como uma afronta a todos. Observações dignas de nota: - Não devemos confundir substantivos acompanhados de artigos com palavras substantivadas, uma vez que nessa última esse artigo tem a função de modificá-las, e não de acompanhá-las, determinando-as. Quando as acompanha, temos: O aluno é estudioso. - Quando substantivados, muitos vocábulos, na condição de átonos (sem autonomia fonética), tornam-se tônicos, observe: Esse quê não recebe tal classificação. - Palavras normalmente invariáveis, na condição de substantivadas, podem ser flexionadas perfeitamente, constate: Os setes ficaram de fora. - O vocábulo substantivado pode ocupar funções sintáticas distintas, como por exemplo, a de sujeito e de complemento. Perceba: O não já foi dito. (sujeito) / Preciso dizer um sim. (objeto direto) Fonte: http://www.portugues.com.br/gramatica/morfologia.html Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte