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O RAPTO DE PERSÉFONE � Quando falamos de Deméter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e o culto a Deméter era o fato de ela ter perdido sua adorada filha Coré (donzela, em grego). A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente feminino dessa religião e constelação mitológica. Coré mais tarde passa a ser conhecida como Perséfone. O mais antigo documento que narra este mito é o belo "Hino à Deméter" homérico, que nos fala tanto da Deusa Deméter como de sua filha Coré. A jovem Coré, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando foi atraída por um narciso muito belo, mas ao estender a mão para pegá-lo, a terra se abriu e Plutão (Hades), senhor dos mortos, em sua carruagem de ouro puxada por dois cavalos negros, arrebatou-a e levou-a para ser sua noiva e rainha do subterrâneo. Coré lutou e gritou, mas nem os deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Deméter só pode ouvir o eco do apelo de sua filha e então se apressou para encontrá-la. Procurou sua filha por nove dias e nove noites, não parando para comer, dormir ou banhar-se, só andando errante pela terra, carregando em suas mãos tochas acesas. Porém, quando se apresentou pela décima vez a Aurora, encontrou-se com Hécate, deusa da lua escura, que lhe disse: “Soberana Deméter, dispensadora das estações, de esplendidos dons, quem dos deuses celestes ou dos homens mortais raptou Perséfone e afligiu teu animo?” Ouvi a sua voz, porém não vi com meus olhos quem era. “Em breve vamos desfazer esse engano". Assim falou Hécate que partiu com Deméter, levando em suas mãos as tochas acesas. As duas então chegaram até Hélio, o deus do sol, que compartilha esse título com Apolo. Assim, a mãe aflita perguntou: "Sol, respeita-me tu ao menos, como deusa que sou. A filha que pari encantadora por sua figura... Ouvi sua vibrante voz, como a de quem se vê violentada, mas não a vi com meus olhos. Porém, tu que sobre toda a terra e por todo o mar diriges desde o éter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teria visto a minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens mortais ousou capturá-la para longe de mim, contra sua vontade, pela força". Hélio então respondeu: "Filha de Rea... Pois é grande o meu respeito e compaixão que sinto por ti, aflita como estás por tua filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais é mais culpado que Zeus fazedor de nuvens, que a entregou a Hades para que se torne sua esposa... Assim que tu, deusa, dá fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade há de que tu, sem razão, guardes então um insaciável rancor." Deu a entender para a Deméter que ela deveria aceitar a violação de Perséfone, pois Hades, não era um genro tão sem valor, mas a Deusa não aceitou seu conselho e agora se sentia traída por Zeus. Deméter ordenou que fosse construído um templo só seu, e lá, permaneceu envolta em sua dor, não permitindo que nada germinasse na Terra. Zeus, tendo conhecimento da situação enviou sua mensageira Íris até Deméter, pedindo que Deméter retornasse ao Olimpo. Como não concordou um a um dos deuses olímpicos vieram até ela, trazendo dádivas e honras. Mas a cada um Deméter fez saber que de modo algum retornaria ao monte Olimpo, até que sua filha lhe fosse devolvida. Finalmente Zeus resolveu enviar seu mensageiro Hermes até Hades, lhe ordenando que trouxesse Perséfone de volta para que "quando sua mãe a visse com seus próprios olhos, abandonasse a sua raiva". Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentado próximo à Perséfone que se encontrava muito deprimida. O senhor dos mortos, antes de libertar Perséfone, deu-lhe uma semente de romã para comer, o que faria com que ela voltasse para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar para Deméter dois terços do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades. Com a satisfação de recuperar a filha perdida, Deméter fez com que os cereais brotassem novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores. Imediatamente mostrou esta feliz visão aos princípios de Elêusis, Triptolemo, Diocles e ao próprio rei Celeo e, além disso, revelou-lhes seus sagrados ritos e mistérios. O amor entre Deméter e Coré é um sentimento que somente uma mãe e uma filha podem realmente compartilhar. Não importa o quanto um pai ame e adore sua filha, jamais chegará perto do estreito vínculo que existe entre mãe e filha. Ao dar á luz, a mãe, vê a si mesma em pura inocência naquela pequena pessoinha. Jung nos diria que uma mãe vê em sua filha é a percepção de seu próprio "self" feminino transcendente, a perfeição do ser feminino. Podemos afirmar, com convicção, segundo Carl Jung, que "em toda mãe já existiu uma filha e em toda filha contêm sua mãe" e que, toda mulher se estende para trás em sua mãe e para frente em sua filha. A conscientização desses laços gera o sentimento de que a vida se estende ao longo de gerações e provocam a sensação de imortalidade. REFERÊNCIA:www.rosanevolpatto.trd.br/deusademeter.htm Acesso em: 05/01/2008 às: 19h: 14min. Cheila Szuchmacher� �