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A Locomotiva: São Paulo na Federação Brasileira – 1889-1930. Joseph Love 1. Introdução. A idéia fundamental de Love é definir três períodos da Primeira República e qualificar a influência que tiveram os cafeicultores sobre a condução da política em geral e da política econômica em particular em cada um deles. Baseado nisto postula a tese de que os paulistas não controlaram efetivamente, no sentido exíguo do termo, o governo durante a Primeira República, mas buscaram influir sobre o nível federal das decisões políticas apenas quando a atuação no âmbito do próprio estado era inviável ou insuficiente. 2. O Sistema Presidencial. O primeiro período analisado vai de 1889 a 1905. Marcado pela Proclamação da República e pelos dois primeiros governos militares, é nesse período que São Paulo elegerá os presides paulistas. Vale ressaltar que os paulistas não se opuseram ao modelo de caráter militarista de Deodoro porque seus objetivos haviam sido assegurados, ou seja, São Paulo agora desfrutava de um federalismo que lhes permitia ampla autonomia, inclusive financeira (em função dos impostos estaduais arrecadáveis sobre as exportações). Na seqüência, Floriano Peixoto “favoreceu o desenvolvimento de uma relação simbiótica com o PRP”. A eleição do paulista Prudente de Morais, lançado pelo PRF (Partido Republicano Federal), caracterizou-se pela hegemonia paulista frente àquela decisão de lançá-lo à presidência: não estiveram presentes à congregação do PRF nenhum representante de qualquer estado que não fosse São Paulo, excluindo-se, inclusive, mineiros e gaúchos. A transição para o paulista Campos Sales ocorreu sem maiores problemas. No entanto, como a preocupação deste era com o controle da dívida externa crescente, seus bem sucedidos esforços em fortalecer a moeda nacional acabariam por indispô-lo em relação aos interesses da cafeicultura paulista. Rodrigues Alves seria o terceiro presidente paulista, mantendo a ortodoxia fiscal que caracterizara o governo de seu predecessor. Com Rodrigues Alves termina a sucessão de presidentes paulistas. Afonso Pena, mineiro, favoreceu fortemente os interesses paulistas ao apoiar a política de valorização do café e criar a Caixa de Conversão. “Com a presidência de Afonso Pena, inicia-se a segunda fase da influência paulista na política federal, quando o PRP abriu mão do controle sobre o Executivo em troca do apoio federal ao setor cafeeiro. No entanto, a decisão de garantir a proteção aos cafeicultores paulistas e mineiros impediu a manutenção dos padrões de estabilidade fiscal, advogados pelos presidentes anteriores”. Hermes da Fonseca, militar, significaria nas eleições seguintes a quebra desta influência do PRP. Emergiam com o novo presidente militar a classe dos militares empenhados em desenfreada luta pelo poder a nível estadual. São Paulo defendeu-se como pôde, buscando reforçar seu próprio contingente militar contra uma possível intervenção e aguardando o fim daquele regime. Dado o fracasso da campanha anterior, São Paulo e Minas Gerais voltam a unir forças nas eleições seguintes e soerguem Wenceslau Braz à presidência. Ainda unidos, o PRP e o PRM conseguiram, nas eleições seguintes, eleger o paraibano Epitácio Pessoa, de quem esperavam compensações econômicas pelo sucesso nas eleições. E é inegável que estas não tardaram a chegar a São Paulo: em 1920, foi autorizada a emissão de 250.000 contos de réis para financiar a exportação do café (apesar da relutância inicial do presidente) e é neste governo que o executivo federal assume o compromisso formar de valorização do café. Dando continuidade ao esquema implementado entre São Paulo e Minas Gerais, elegeu-se na seqüência Artur Bernardes, mineiro, cujo governo, preocupado em arrumar fundos para honrar os compromissos do Funding Loan e para reforçar o exército frente às crescentes revoltas, representaria uma enorme decepção aos cafeicultores, já que com estes objetivos em primeiro plano, o programa de valorização do café seria interrompido em sua administração. Por fim, o último presidente da Primeira República seria o paulista Washington Luís. A A Grande Depressão, no entanto, marcaria o fim desta segunda fase e a emergência do governo provisório varguista. Neste novo ambiente nacional e internacional, seria impossível aos paulistas manterem os mesmos mecanismos de influência política e poder a nível estadual, principalmente porque as receitas tributárias advindas da exportação do café já não lhes poderia garantir a autonomia até então desfrutada em relação ao governo federal. É neste contexto que se expressa a imensa oposição paulista a Getúlio Vargas e se estende por todo o período de 1930-1937, até que os paulistas percebem como beneficiar-se da nova situação instaurada. Vale ressaltar que neste último período analisado, houve um aumento significativo do processo de industrialização do país. Não obstante, não se deve relacionar tal processo à vontade política de Vargas, uma vez que este negou-se a fornecer tarifas preferenciais à importação de bens de capital para a indústria (sua preocupação com a industrialização ocorreria apenas no Estado Novo, com a ligação da indústria aos programas de nacionalização e defesa nacional); no entanto, as novas características estruturais da economia favoreceram a emergência dos interesses industriais, que apesar de serem beneficiados até certo grau com algumas políticas dos cafeicultores, haviam estado até então apenas sob a sombra destes. 3. Representação no Governo Federal. Nesta seção, Love enfatiza o fato de São Paulo não ser maioria nos postos ministeriais, na presidência do Banco do Brasil que tanto influenciou as políticas de valorização do café e de concessão de crédito aos cafeicultores, no Supremo Tribunal (apesar de ser o Largo de São Francisco a principal origem dos Presidentes da República) e mesmo no Congresso e na Câmara. Apesar disso, os paulistas controlavam posições estratégicas no interior destas instituições ou tinham grande influência sobre os políticos nelas ativos; como afirma um autor mencionado por Love, John Wirth: “era como se a direção fosse continuamente dos paulistas já que, na maioria das vezes, os mineiros [estes sim em maior escala representados nos órgãos institucionais supracitados] limitavam-se a pôr em prática as orientações favorecidas por São Paulo”. Assim, a verdade é que “a influência de São Paulo no Congresso, como também a de Minas, era muito mais ampla do que o sugerido pelo resumo de sua participação nas comissões. Em geral, PRP e PRM uniam seus esforços no sentido de controlarem as demais delegações estaduais”. É interessante observar, ainda, que estes dois partidos buscavam influenciar a opinião pública por meio de subsídios a jornais como o Correio da Manhã, O Paiz e O Dia. 4. Conclusões[2: As subdivisões constam de modo diferenciado no texto, mas foram adaptadas aqui conforme a relevância para o resumo; além disso, não há uma “conclusão” ao final do capítulo, sendo aqui inserida para fins de sumarização das idéias. ] A influência paulista sobre a Primeira República pode ser basicamente dividida em três períodos. Inicialmente, de 1889 a 1905, há a construção republicana a partir do golpe militar e, na transição para o regime de governo civil, a preponderância dos paulistas à frente do Executivo Federal. Vale ressaltar, no entanto, que apesar de paulistas, tais presidentes nem sempre se subordinavam aos interesses da cafeicultora, como no caso de Campos Sales, cuja preocupação com o controle da dívida o indispôs aos objetivos da cafeicultura. O segundo período, de 1905 a 1930, é marcado pelo fim da hegemonia de presidentes paulistas. Neste contexto, a influência de São Paulo fazia-se sentir nas pressões realizadas pelos cafeicultores sobre presidentes geralmente eleitos com o apoio essencial do PRP. Aqui, apesar de não diretamente no poder com paulistas, São Paulo influía largamente a política nacional através de suas demandas políticas e suas relações político-partidáriascom os presidentes eleitos. Por fim, o colapso da Primeira República e o soerguimento varguista (terceiro período, 1930-1937) poriam fim a esta estrutura de influência, não sem forte oposição paulista à nova forma de governo, afinal o poder da cafeicultura começava a esmorecer.