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Ainda que a história mundial precise de muito tempo para des- cobrir o segredo do salário, em compensação nada é mais fácil de com- preender do que a necessidade, as raisons d’être,357 dessa forma de manifestação. O intercâmbio entre capital e trabalho apresenta-se de início à percepção exatamente do mesmo modo como a compra e a venda das demais mercadorias. O comprador dá determinada soma de dinheiro, o vendedor um artigo diferente do dinheiro. A consciência jurídica re- conhece aí no máximo uma diferença material, que se expressa nas fórmulas juridicamente equivalentes: Do ut des, do ut facias, facio ut des, e facio ut facias.358 Além disso: como valor de troca e valor de uso são em si e para si grandezas incomensuráveis, a expressão “valor do trabalho”, “preço do trabalho”, não parece ser mais irracional do que a expressão “valor do algodão”, “preço do algodão”. Acresce que o trabalhador é pago depois de ter fornecido seu trabalho. Em sua função como meio de pagamento, o dinheiro realiza posteriormente o valor ou o preço do artigo fornecido, portanto, no caso dado, o valor ou o preço do trabalho fornecido. Fi- nalmente, o “valor de uso” que o trabalhador fornece ao capitalista não é, na verdade, sua força de trabalho, mas sim a função dela, de- terminado trabalho útil, trabalho do alfaiate, trabalho do sapateiro, trabalho do fiandeiro etc. O fato de que esse mesmo trabalho, sob outro aspecto, é elemento geral criador de valor, o que o distingue das demais mercadorias, não está ao alcance da consciência ordinária. Coloquemo-nos sob o ponto de vista do trabalhador, que recebe por 12 horas de trabalho por exemplo o produto-valor de 6 horas de trabalho, digamos 3 xelins; para ele seu trabalho de 12 horas é de fato o meio de compra de 3 xelins. O valor de sua força de trabalho pode variar com o valor de seus meios de subsistência costumeiros de 3 para 4 xelins ou de 3 para 2 xelins ou, permanecendo igual o valor de sua força de trabalho, seu preço, em virtude da relação variável entre demanda e oferta, pode subir a 4 xelins ou cair a 2 xelins, mas ele sempre fornece 12 horas de trabalho. Cada variação na grandeza do equivalente que recebe aparece-lhe portanto necessariamente como variação do valor ou preço de suas 12 horas de trabalho. Essa circuns- tância induziu, pelo contrário, Adam Smith, que considera a jornada de trabalho grandeza constante,359 a afirmar que o valor do trabalho é constante, ainda que varie o valor dos meios de subsistência e que a mesma jornada de trabalho representa-se por isso em mais ou menos dinheiro para o trabalhador. Tomemos, por outro lado, o capitalista: o que ele, na verdade, OS ECONOMISTAS 170 357 Razão de ser. (N. dos T.) 358 Dou para que dês, dou para que faças, faço para que dês, e faço para que faças. (N. dos T.) 359 A. Smith só casualmente alude à variação da jornada de trabalho, ao tratar do salário por peça.