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norte. Era costume do mestre” (isto é, de ladrão de crianças)
“vestir, alimentar e alojar seus aprendizes numa casa de apren-
dizes, próximo à fábrica. Supervisores foram designados para vi-
giar-lhes o trabalho. Era de interesse desses feitores de escravos
fazer as crianças trabalharem ao extremo, pois sua remuneração
era proporcional ao quantum de produto que podia ser extraído
da criança. Crueldade foi a conseqüência natural. (...) Em muitos
distritos fabris, especialmente em Lancashire, foram aplicadas
torturas de dilacerar o coração, contra essas criaturas inofensivas
e sem amigos, que foram consignadas aos senhores de fábricas.
Elas foram exauridas até a morte por excesso de trabalho (...)
elas foram açoitadas, acorrentadas e torturadas com o maior re-
finamento de crueldade: elas foram, em muitos casos, esfomeadas
até só lhes restar pele e ossos, enquanto o chicote as mantinha
no trabalho. Sim, em alguns casos, elas foram impelidas ao sui-
cídio! (...) Os belos e românticos vales de Derbyshire, Notting-
hamshire e Lancashire, ocultos para o olho público, converteram-
se em pavorosos ermos de tortura e — freqüentemente de assas-
sinato! (...) Os lucros dos fabricantes eram enormes. Isso apenas
aguçava-lhes a voracidade de lobisomem. Eles iniciaram a prática
do trabalho noturno, isto é, após terem esgotado um grupo de
mãos pelo trabalho diurno, mantinham outro grupo já preparado
para o trabalho noturno; o grupo diurno ia para as camas que
o grupo noturno acabara de deixar e vice-versa. É tradição popular
em Lancashire que as camas jamais esfriavam”.766
Com o desenvolvimento da produção capitalista durante o período
manufatureiro, a opinião pública da Europa perdeu o que lhe restava
de sentimentos de vergonha e consciência. As nações se jactavam ci-
nicamente de cada infâmia que fosse um meio para acumular capital.
Leia-se, por exemplo, os ingênuos anais do comércio do probo A. An-
MARX
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766 FIELDEN, John. Op. Cit., pp. 5-6. Sobre as infâmias originárias do sistema fabril, comparar
dr. AIKIN (1795). Op. cit., p. 219; e GISBORNE. Enquiry into the Duties of Men. 1795. v.
II. Visto que a máquina a vapor transplantou as fábricas das quedas-d’águas rurais para
o centro das cidades, o extrator de mais-valia, sempre “pronto à renúncia”, encontrou à
mão o material infantil, sem a oferta forçada de escravos das Workhouses. — Quando Sir
R. Peel (pai do “ministro da plausibilidade”) apresentou bill em proteção das crianças, em
1815, F. Horner (lúmen do Bullion Committe e amigo íntimo de Ricardo) declarou na Câmara
dos Comuns: “É notório que junto com a massa falida, um bando, se me permitem essa
expressão, de crianças de fábrica foi anunciado e arrematado, em leilão público, como parte
da propriedade. Há dois anos” (em 1813) “chegou perante a King’s Bench um caso horroroso.
Tratava-se de certo número de garotos. Uma paróquia de Londres tinha-os consignado a
um fabricante, que os transferiu de novo a outro. Eles foram finalmente descobertos por
alguns filantropos, num estado de completa inanição (absolute famine). Outro caso, ainda
mais horroroso, chegou a meu conhecimento como membro do comitê parlamentar de in-
quérito. Há não muitos anos, uma paróquia londrina e um fabricante de Lancashire con-
cluíram um contrato, pelo qual foi estipulado que este, para cada 20 crianças sadias, teria
de aceitar uma idiota”.

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