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UNIFIEO – CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO >>ALUNO<< ATIVIDADES COMPLEMENTARES: Análise do filme: O Auto da Compadecida sob a ótica das Obrigações OSASCO 2018 UNIFIEO – CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO >>ALUNO<< ATIVIDADES COMPLEMENTARES: Análise do filme: O Auto da Compadecida sob a ótica das Obrigações Trabalho apresentado ao curso de Direito do Centro Universitário FIEO – UNIFIEO como parte da disciplina de Atividades Complementares. Orientador: Luiz Cesar Suman OSASCO 2018 Sumário 1. Introdução ....................................................................................................................... 4 2. Resenha ....................................................................................................................... 4 3. Análise sob a ótica das Obrigações ..................................................................... 7 3.1. A admissão de Chicó e João Grilo como funcionários da padaria .............. 7 3.2. O testamento da cachorra ....................................................................................... 7 3.3. Empréstimo ou tira de couro das costas do Chicó .......................................... 8 3.4. Pagamento do padre e do bispo ............................................................................ 8 3.5. O presente de casamento da Rosinha ................................................................. 8 4 O AUTO DA COMPADECIDA 1. Introdução Este trabalho visa aliar às cenas do filme “O Auto da Compadecida” às obrigações do estudadas no Direito Civil. Antes de começar a análise do filme em si, entretanto, é válido fazer uma breve explanação do conceito de obrigações. Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. 2. Resenha A história se desenrola em torno das trapaças do esperto João Grilo, descrito como “um amarelo muito safado” é um homem pobre e astuto que vive arranjando confusões e seu “fiel escudeiro” um mentiroso compulsivo e covarde, metido a valente e conquistador, Chicó. Grilo engana o seus superiores, o clero, a burguesia, o cangaço e até mesmo o diabo, tamanha são as proporções que seus atos tomam. Sabendo que o padeiro Eurico precisa de ajudantes, Chicó e João Grilo passam a trabalhar e morar na padaria. Enquanto Chicó se torna um dos amantes de Dora, a fogosa esposa do padeiro, João Grilo aproveita o emprego para comer de graça. As confusões começam quando Chicó e João Grilo tentam convencer o padre João a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro, uma mulher adultera que se diz santa. O padre João que chefia a paróquia de Taperoá e age conforme os interesses dos mais poderosos, é avarento e usa de sua autoridade religiosa para obter lucro material, se nega a benzer o cachorro. O cachorro morre sem a benção do padre e isso revolta a o padeiro e sua esposa que exigem que o padre faça o enterro do animal em latim. Para convencer o padre a enterrar a cachorra, João Grilo afirma que ela tem um testamento “passado em cartório”, o qual foi escrito pelo padeiro e a cachorra 5 “assinou” com a pata. e que lhe deixara dez contos de réis sendo três para o sacristão, caso rezassem o enterro em latim. Quando o bispo descobre, Grilo inventa que, na verdade, seis contos iriam para a arquidiocese e apenas quatro para paróquia. O bispo, assim como o padre, utiliza do cargo para obter lucro, fica satisfeito com o acordo e não arrumasse problemas O gato que “descome”: Depois de toda a confusão sobre o enterro do cachorro, João Grilo arma com Chicó para também tirarem vantagem da situação. Como havia perdido seu animal de estimação e também era interesseira, João resolve vender o gato que “descomia” dinheiro para a mulher do padeiro, o gato no qual Chicó tinha colocado moedas. Manda Chicó enfiar moedas em um gato... Quando o padeiro descobre, volta à igreja para brigar com João. Neste momento, estão reunidos todos na igreja, pois João estava entregando o dinheiro prometido ao padre, ao bispo e ao sacristão. Em meio a toda essa confusão aparece Rosinha, filha do major Antonio Moraes que vem de outra cidade e atrai a atenção dos homens, em especial dos amantes de Dora. O major Antonio Moraes é um tradicional latifundiário, ignorante e autoritário, que usa seu poder para amedrontar os mais pobres. Ele oferece a mão da moça a um pretendente valente e com bom dote. Rosinha, porém, se apaixona por Chicó que, além de covarde, não tem dinheiro e nem posses para se casar. João Grilo, mais uma vez, tem uma ideia para ajudar o amigo e, quem sabe, pôr as mãos no dinheiro do major e do presente que é prometido à Rosinha pela sua avó, mas apenas quando Rosinha se casasse. Chicó e João Grilo vão à casa do Major para que este conceda o casamento entre Chicó e Rosinha, contudo João Grilo mente sobre as condições financeiras de Chicó, afirmando que este é um homem muito rico, pois só assim o Major aprovaria o casamento. O Major manda Chicó pagar 10 contos de réis para a reforma da Igreja, alegando que está sem o dinheiro no momento, o Major Antônio Morais empresta o dinheiro, mas, como garantia, pede que João Grilo vá buscar a escritura da Fazenda Serra Talhada de Chicó, pois deverá dar a fazenda como garantia do empréstimo. João Grilo afirma que a palavra é muito mais importante do que a escritura e diz que Chicó dá como garantia uma tira de couro sua. Chicó carimba o dedo como assinatura do contrato e João Grilo também, como testemunha. 6 Como se não bastassem todas as encrencas que João Grilo estava metido ele ainda vai se meter com os dois valentões da cidade: o cabo Setenta e Vicentão e usa toda a sua lábia para provocar um duelo entre os dois. Na verdade, trata-se de um plano para que Chicó, por meio de uma série de imposturas, pareça valente diante de Rosinha e do major. A ideia dá certo e, mesmo sem condições financeiras, Chicó pede a mão da moça ao pai dela. O fazendeiro aceita, mas lhe propõe um pacto: no dia do casamento, ele terá de lhe entregar certa quantia de dinheiro. Caso contrário, perde a noiva e terá uma tira de pele arrancada das costas. Apesar de acuado, Chicó concorda. A gaita que ressuscita os mortos: João Grilo, mais uma vez tentando sair de uma confusão, decide livrar o amigo do acordo simulando a própria morte, mas é surpreendido pelo bando do cangaceiro Severino, que invade Taperoá no dia em que executaria o plano. O cangaceiro mata o padre, o bispo, Dora e Eurico, mas acaba vítima em mais uma artimanha de João Grilo. O sertanejo finge matar Chicó para, em seguida, anunciar que pode trazer de volta o amigo tocando sua gaita, benzida por Padre Cícero, de quem Severino é devoto fervoroso. Severino é um cangaceiro que encontrou no crime uma forma de sobrevivência, já que seus pais foram mortos pela polícia. Para o cangaceiro acreditar, João dá uma facada em Chicó e estoura a bexiga com sangue que eles haviam escondido embaixo da roupa momentos antes. Chicó cai e João Grilo toca a gaita enquanto o amigo levanta dançando no ritmo da música. O cangaceiro fica maravilhado quando vê Chicó “ressuscitar” e acredita estar diante da oportunidade de conhecer seu “padrinho” pessoalmente: basta morrer e, depois, reviver quando seu capanga tocar a gaita mágica. Severino, então, ordena a seu capanga que lhe dê um tiro e depois toque a gaita para que ele possa ir encontrar com Padre Cícero e depois voltar. O capanga obedece, atira, mas quando toca a gaita nada acontece. Chicó e João Grilo se atracam com o capanga e este leva uma facada. Quando os dois estão fugindo com o dinheiro que pegam do defunto Severino, o capanga reage e mata João Grilo. Assim é feito. Quando percebe que foi trapaceado, o capanga de Severino mata João Grilo e somente Chicó escapa da chacina. Os mortos são submetidos a um julgamento no Tribunal das Almas, para saber se vão para o céu ou para o inferno. O Encourado (o Diabo) e Jesus Cristo 7 apresentam as acusações e defesas. Emanuel, o próprio Jesus Cristo e também o juiz do povo, julgando sempre com sabedoria e imparcialidade, tem o dom da misericórdia e se compadece de seus filhos, mas o Diabo quer a condenação de todos. João Grilo implora por Nossa Senhora, a Compadecida e, graças à sua intervenção, todos escapam do inferno. O padre, o bispo, o sacristão, o padeiro e sua mulher são mandados para o purgatório. Severino e o seu capanga são absolvidos e enviados ao paraíso. João ganha uma nova chance e ressuscita. Quando retorna, vê Chicó lhe enterrando, levanta e dá um susto no amigo. Depois de conseguir fazer Chicó acreditar que está vivo, os dois se animam e fazem planos para o dinheiro do enterro. Até que Chicó se lembra da promessa que fez a Nossa Senhora, que daria todo dinheiro caso João sobrevivesse. Depois de uma discussão, decidem entregar todo o dinheiro à Igreja. No final, Chicó e Rosinha se casam, mesmo sem garantias de dinheiro. A única coisa que possuem é um cofre que pertenceu à bisavó da noiva. Mas, para decepção de todos, as moedas, antigas, não têm valor algum. Os três fogem da ira do major Antônio Morais e terminam dançando em pleno sertão, ao som da gaita de João Grilo. 3. Análise sob a ótica das Obrigações 3.1. A admissão de Chicó e João Grilo como funcionários da padaria Chicó e João Grilo, eles tinham que fazer não apenas os serviços da padaria, mas outros que fossem pedidos pelos patrões, não havia uma relação empregado-empregador formal, as condições eram semelhantes à escravidão colonial, onde o escravo fazia todo tipo de serviço que lhe fosse pedido. Os empregados saíam e davam recados, resolviam as coisas pessoais dos patrões, etc. Além disso, recebiam salários muito baixos, a cachorro da família tinha uma vida melhor que a dos empregados. 3.2. O testamento da cachorra Obrigação condicional 8 Apesar do testamento não ser válido, pode-se, entretanto, observar que o enterro em latim é uma condição para que o padre e o bispo recebam o valor deixado em testamento, sendo, portanto, uma condição suspensiva, já que a eficácia do ato fica suspensa até a realização do evento futuro e incerto. 3.3. Empréstimo ou tira de couro das costas do Chicó Obrigação facultativa: tem por objeto apenas uma obrigação principal e confere ao devedor a possibilidade de liberar-se mediante o pagamento de outra prestação prevista na avença. Primeiramente, existe um negócio jurídico, um contrato particular de empréstimo de dinheiro - para reforma da igreja - com garantia. A garantia, antes, era a suposta fazenda pertencente à Chicó, mas passa a ser “uma tira de couro” do mesmo. Ademais, de acordo com o atual Código Civil, não é possível a garantia com uma parte do corpo, pois este não é um bem disponível quando contrariar os bons costumes, logo o objeto da garantia não é lícito, atingindo o plano de validade do negócio jurídico. O patrimônio responde pelas obrigações e não mais o corpo como acontecia no passado. Além disso, no filme a obrigação não foi cumprida pois no contrato constava expressamente que seria uma tira de couro mas não continha a expressão sangue, sendo impossível retirar a tira de couro sem sangue, a obrigação não pode ser cumprida. 3.4. Pagamento do padre e do bispo Obrigações fracionárias: Pluralidade de devedores ou credores de forma que cada um deles responde apenas a uma proporcionalidade do crédito. 3.5. O presente de casamento da Rosinha Caracteriza-se, portanto, uma esponsal, uma promessa de casamento. Consiste, por conseguinte, uma obrigação condicionada (doação com condição), sendo uma condição suspensiva, pois a doação só ocorrerá se houver um casamento.