Quando da procedência de uma ADI, em regra, o efeito para tal é o "ex tunc", ou seja, retroagirá e atingirá as decisões e atos atingidos por tal lei inconstitucional, porém, quero saber, há excessão para tal regra? Por que de tal exceção? Existe algum fundamento previsto na CF/88 para tal exceção? Cite um precedente.
Expliquem ai, dêem o seu melhor. As melhores respostas receberão aprovação com certeza.
Ivan Mateus S. Freitas
há 12 anos
Muito bem, obrigado Lucas.
Lucas Rafael
há 12 anos
Oi Ivan, existe sim exceções a esta regra, como sempre no Direito. Via de regra espera-se que a Declaração de Inconstitucionalidade acarrete efeitos ex tunc, como você bem citou, ocorre que pode ocorrer o efeito ex nunc e ainda a modulação dos efeitos da Declaração de Incosntitucionalidade. Como procedente da ADI julgada procedente, mas com efeitos ex nunc ventilo a ADI 4546489 PR 0454648-9, de relatoria do Ministro José Mauricio Pinto de Almeida, em 03 de julho de 2009. Vejamos:
AÇÃO DECLARATÓRIA DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL. ILEGITIMIDADE ATIVA. INOCORRÊNCIA. DEMANDA INICIADA POR DEPUTADO ESTADUAL. LEGITIMIDADE CONFERIDA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, ART. 111. INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ART. 98 DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE NOVA CANTU E ART. 10 DO REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA MUNICIPAL DO MESMO MUNICÍPIO. PRAZO DO MANDATO DA MESA DIRETIVA DA CÂMARA MUNICIPAL FIXADO EM 1 (UM) ANO. CONFLITO COM O DISPOSTO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SIMETRIA. APLICAÇÃO DE EFEITOS EX NUNC A PRESENTE DECISÃO. ART. 27, DA LEI9.868/99. DEMANDA JULGADA PROCEDENTE.
1.Fixando os dispositivos da lei orgânica municipal e do regimento interno da Câmara Municipal de Nova Cantu, prazo de mandato dos seus membros, de modo diverso daquele estabelecido para o mandato da mesa diretiva da Assembléia Legislativa do Estado, (art. 61, § 3º, CE), evidente é a sua inconstitucionalidade material, por ofensa ao principio constitucional da simetria (art. 29 da CF).
2. "(...) Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido e em parte provido". (RE 197917, Relator (a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2002, DJ 07-05-2004 PP-00008 EMENT VOL-02150-03PP-00368) .
Já a Inconstitucionalidade Progressiva se dá quando o Supremo considera a Lei como inconstitucional, mas modula os efeitos da declaração de incompatibilidade com a Constituição. Isto é, via de regra a declaração de inconstitucionalidade deveria produzir seus efeitos de imediato, no entanto pode o STF determinar (modular) os efeitos de sua declaração com o decorrer temporal, assim a Lei se torna, aos poucos, inconstitucional. Logo, há circunstâncias fáticas, vigentes naquele momento, que justificam a manutenção da norma dentro do ordenamento jurídico, no entanto em tempo futuro, uma vez corrigida a situação observada na circunstancia fará com que a norma prega sua validade. Cita-se como a lei 1060/50 , art. 5º, parágrafo 5º, vejamos:
§ 5° Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos. (Incluído pela Lei nº 7.871, de 1989)
O STF entendeu no Habeas Corpus nº. 70514/SP que se justifica o prazo maior em razão das Defensorias Públicas não estarem aparelhadas como o Ministério Público atualmente está. A inconstitucionalidade progressiva nesse caso consubstancia-se no fato de que a norma somente é constitucional enquanto a defensoria carecer de aperfeiçoamento e aparelhamento. No momento em que o objetivo for alcançado instalar-se-á a inconstitucionalidade do dispositivo supracitado.
Outro exemplo de "inconstitucionalidade Progressiva" é o artigo 68 CPP, senão vejamos:
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
O Ministério Público defende que a atribuição de ingressar com a ação correspondente é da Defensoria Pública. No entanto, o STF decidiu mediante o RE 147.776, que enquanto não forem criadas Defensorias Públicas em todos os Estados da Federação o dispositivo continua constitucional, caso que o prejuízo será maior que o benefício. Dar-se-á a inconstitucionalidade progressiva, logicamente, quando a criação de Defensorias Públicas abranger todos os Estados. Espero ter ajudado. Abraços.