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Resenha : A Montanha dos 7 Abutres Ano : 1951 Diretor : Billy Wilder Autor : Ana Luísa Pereira Entra ano, sai ano, mas a história? É sempre a mesma. Billy Wilder foi um realizador de cinema estado-unidense.. Sua carreira de roteirista, cineasta e produtor estendeu-se por mais de 50 anos em mais de 60 filmes. Ele é lembrado como um dos mais brilhantes cineastas de sua época em Hollywood e vários de seu filmes foram aclamados tanto pelo público quanto pela crítica. Dentre seus filmes está o filme “ A montanha dos 7 abutres” , uma cruel alegoria sobre o mundo jornalístico e suas implicações nas vidas de quem, de uma hora para outra, se vê envolvido por ele. O filme quase vale por um curso de Jornalismo, por apresentar reflexões tão atuais que mal se pode acreditar que tenha sido feito no início da década de 50 (1951). Charles Tatum, interpretado por Kirk Douglas, é um jornalista que, após perder diversos empregos em jornais grandes, consegue se empregar no pequeno jornal de uma cidade interiorana chamada Albuquerque. Contudo, manter-se nesse jornal não é a meta de Tatum, que espera ansiosamente por um furo de reportagem que o recoloque na grande imprensa. Inescrupuloso e capaz de manipular, distorcer ou inventar fatos, Tatum está disposto a tudo para conseguir a grande matéria que o levará de volta para a sua antiga posição. É então, que após tanto esperar a desejada matéria chega, Leo Minosa, homem simplório dono de um posto de gasolina, fica preso na caverna da “montanha dos sete abutres”, que servira de tumba a antepassados indígenas. A partir daí, com um olho na montanha e outro no prêmio Pulitzer, Tatum arma um verdadeiro circo ao redor do fato, chantageando autoridades locais e retardando em seis dias um resgate que poderia ser feito em poucas horas. A Montanha dos Sete Abutres é também um bom exemplo de como o público pode reagir frente a situações de extrema comoção, especialmente quando veiculadas à exaustão pela mídia. À medida em que o fato ganhava importância, mais as pessoas se aglomeravam ao redor da montanha nos dias subseqüentes. Com isso, Billy Wilder percebe o processo de aproximação do público em relação à celebridade – no caso o homem preso na caverna. Todos se sentem amigos de Leo Minosa, apesar de o conhecerem apenas por uma foto de jornal. O marketing e o comércio, que invarialmente surgem nessas horas, é outro aspecto muito bem apanhado pelo filme: um parque de diversões se instala ao redor da montanha. O drama humano, as circunstâncias reais ou inventadas pelo repórter para a trama e a abordagem sensacionalista logo chamam a atenção do público. Aos poucos o repórter envolve tudo no enredo da sua história, manipula o xerife para ter acesso exclusivo às ruínas, controla a mulher da vítima para que ela a contragosto desempenhe um papel teatral como semi-viúva. Por fim, ele obriga o empreiteiro responsável pelo salvamento a adotar um método de resgate que demoraria uma semana, em vez de outro que libertaria a vítima em menos de 24 horas, pois precisa prolongar o espetáculo ao máximo. Quando estão próximos de serem salvos – o soterrado da caverna e o repórter do ostracismo provinciano – a vítima morre de pneumonia e acaba por provocar um surto de remorso no jornalismo. O que mais impressiona no filme, é como ele, sendo tão antigo consegue abordar temas tão atuais. A falta de caráter no jornalismo ( não generalizando, pois sem há exceções), o sensacionalismo, a mídia marrom. Interesses particulares sempre na frente do que é coletivo, a vida humana reduzida a interesses subjetivos. Talvez por isso o filme não tenha feito sucesso na época. Que tipo de espectador gostaria de se ver caricaturado dessa maneira? Que tipo de mídia apoiaria esse tipo de encenação de sua imagem? Mas fica claro, que o cineasta soube passar através dos anos, e se perpetuar em uma comovente história, que mais parece baseada em fatos reais.