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. ". セ エ
íJ TCC/Unõcamp 
G936e 
1337 FEF/13 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
Faculdade de Educação Física 
u n u セ a m d
Educação Física Escolar ou 
Esportivização Escolar? 
DJANE APARECIDA GUERIERO 
Campinas 
2004 
DJANE APARECIDA GUERIERO 
TCC/UNICAMP l 
G936e 6 1 
lllllllllllllllllllllllllllll 
1290001337 
Educação Física Escolar ou 
Esportivização Escolar? 
Monografia apresentada como 
exigência para obtenção do título de 
Licenciatura em Educação Física pela 
Universidade Estadual de Campinas, 
sob a orientação do Prof. Dr. Paulo 
Ferreira de Araújo. 
Unicamp 
2004 
4 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço, primeiramente, a meus pats, por toda dedicação que 
sempre tiveram na busca de promover a suas três filhas as melhores 
oportunidades em todos os sentidos da vida. Aproveito o momento 
para pedir desculpas a eles pelas ocasiões em que não retribui, ou 
não reconheci, os esforços que eles fizeram para que eu chegasse até 
aqut. 
Aos meus queridos professores, os quais me ajudaram a descobrir 
uma outra forma de entender e viver a Educação Física, dando 
assim, um significado muito maior a ela. 
Aos meus colegas de turma, os memoráveis alunos 00-Diumo, dos 
quais Jamats me esqueceret. 
Ao meu orientador, Paulinho, por toda compreensão e disposição em 
me ajudar sempre que precisei durante todos os anos de minha 
graduação. 
E finalmente, ao meu namorado, Rodrigo, pela paciência e amor a 
mim dedicados, neste um ano e meio de namoro. 
5 
"O aprofundamento não pode estar centrado somente nos 
interesses dos alunos e sim na possibilidade de realização de 
uma aprendizagem significativa, que articula 
simultaneamente a compreensão de si mesmo, do outro e da 
realidade sóciocultural ". 
(PCN Ed. Física, 1998, p.86). 
6 
RESUMO 
A Educação Física escolar tende a apresentar uma esportivização de seus conteúdos em 
algumas séries do ensino fundamental. Este caráter esportivizado, e aqui nos referimos a 
modalidades esportivas coletivas tradicionais sendo usadas sem uma fundamentação teórica 
que garanta o seu aproveitamento como conteúdos acadêmicos. Para esta comprovação, 
apresentaremos neste trabalho resultados de uma pesquisa de campo feita em aulas de 
Educação Física. Esta pesquisa consistiu-se em observações de aulas de sétima e oitava 
séries do ensino fundamental, nas quais coletamos dados referentes aos conteúdos aplicados 
em aula, ao desenvolvimento dos mesmos, e realizamos questionários aos professores 
buscando saber sobre: atuação ー イ ッ ヲ ゥ ウ ウ ゥ ッ ョ 。 セ escolha dos 」 ッ ョ エ ・  、 ッ ウ セ e planejamentos de 
aula. Após a análise dos resultados comprovamos a esportização das aulas de Educação 
Física, centrando nossa preocupação na forma como estas estão sendo ministradas. Kunz 
(1999), enfatiza a importância da maneira como o conteúdo esportivo deve ser 
desenvolvido, pois este deve formar pessoas que "[ ... ] quando se tomarem adultas, possam 
praticar esportes, movimentos e jogos como crianças". Por fim, concluímos a pesquisa com 
algumas discussões sobre pontos positivos e negativos observados, além de propor uma 
forma de facilitar a desesportivização das aulas, atraindo para a mesma os outros conteúdos 
da Educação Física. Daollio (2003), também comenta a necessidade de se formar 
indivíduos que"[ ... ] sejam capazes de praticar e apreciar atividades fisicas, esportivas ou de 
dança nas horas de lazer", mas explicando que para isto "[ ... ] deve-se assegurar que os 
alunos adquiram autonomia em relação aos esportes, danças, jogos e ginásticas". É 
importante salientar para o fato de que não há, neste trabalho, uma negação, ou aversão aos 
jogos desportivos coletivos como conteúdo escolar. Estamos investigando como este 
conteúdo está sendo trabalhado, buscando entender as razões para este quadro de 
esportivização das aulas de Educação Física. 
7 
SUMÁRIO 
1) IN'TRODUÇÃO o o 00 o o o o o o o o 00 00 00 00 00 00 00 o o o o o 00 o o o o 00 o o 00 00 00 00 o o o o o o o 00 00 00 O o 00 o o o O o 00 00 o o o 000 000000 09 
2) EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR o o o o o o o o o o o o o o o o o 00 00 o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o 00 o o o o o o o o o o o o o .. 11 
3) ESPORTE NA ESCOLA o ooooooooooooooooooooooooooo ooooooooooo·o·······ooooooo o ooooooooooooo ooo 0013 
4) REVISÃODALITERATURA •• o •••••• •• o.o·o·o·· o·······ooo···o•ooooooooooooo·o·······o·o oo oo l5 
5) JUSTIFICATIVA.o ••••••• o •• oooooooo·o·o··o··o·····o···oo·o···oooooooo o oooooooooooooooooooooooooooooo. l8 
6) RECURSOS METODOLÓGICOS oooooooooooooo·o···o··· ·o· ··o ·o··o· o·o ·ooooo ooooo oooo oooooo19 
6 .I) Universo da Pesquisa ........... ......... ........ o •••••• o ••••• o. o ••••••• • ••••••••• o. o •• o •• • 20 
7) APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................. ........ 022 
7.1) Sobre os Conteúdos Desenvolvidos nas 
Aulas de Educação Física ........... ............... ................................ . o o 022 
7 02) Desenvolvimento das atividades 
nas aulas observadas . o o o o o. o. o. o ••• o •••••••• o • • o o o •• o o. o . o o. o o. o. o. o o o • • o ••• o o o o o • • • o ••• • 24 
7.3) Questionário ao Professor ooooooooooooooooOOooooooooooo ooooo ooooooo ooOO oo oooooooooooo.3 3 
8) PROPOSTAS PARA AULAS EXTRACURRICULARES 000000000000000000000.39 
9) CONSIDERAÇÕES FINAIS o 00 o o o o o 00 o 00 00 0000 o o. o o o •• o. o. o 000 o o 00 00 00 o O o o o o o o o 00000 00 o o o 0000004 1 
10) BffiLIOGRAFIA oooo···· · o·o·o·ooooooooo·········· ····oo oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo46 
11) ANEXOS ooooooooooooooooooooooooooooooooooo o oooooooooooo•o··ooooooooo o ooooooooooooo ooooooooooooooooooooooo48 
8 
LISTA DE TABELAS 
I) CONTEÚDOS DESENVOLVIDOS EM AULA 
Tabela I .......................................................................... ..... ................ 23 
li) DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES E COMENT ÁRlOS 
Tabela 2- Observação n°l ......................... ... ..................... ................. 25 
Tabela 3 - Observação D0 2 ................................................. ........ ......... 26 
Tabela 4 - Observação o0 3 .................................................................. 27 
Tabela 5 - Observação 0°4 ................................................. ................. 28 
Tabela 6- Observação n°5 ................................................. ................. 29 
Tabela 7- Observação n°6 .. .. ............................................. ................ .30 
Tabela 8 - Observação n°7 ............ ......... .............................................. 31 
Tabela 9- Observação o0 8 ...... ....................................... ............. ........ .32 
9 
1) INTRODUÇÃO 
As reflexões sobre o corpo e sua cultura podem explicar as posturas corporais e as 
evoluções desde o homem primitivo até o atual. Desde a descoberta do primeiro 
instrumento de trabalho do homem considerado a mão, desde a postura bípede, das 
linguagens corporais, tudo pode se explicar através da diversidade dos movimentos e das 
necessidades do homem. Esta reflexão evolutiva pode ser trabalhada na Educação Física 
escolar através de expressões corporais como: "dança, jogos, lutas, exercícios ginásticos, 
esporte, malabarismo, contorcionismo, mímicas, e outros que podem ser identificados como 
formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem historicamente 
criados e culturalmente desenvolvidos"(Coletivos de Autores, 1992, p.50). 
Porém, a Educação Física escolar pode não estar sendo desenvolvida desta forma 
significativa com grande abordagem dos conteúdos. Estes, muitas vezes, são resumidos à 
prática desportiva, principalmente de esportes coletivos como カ ッ ャ ・ ゥ 「 ッ セ basquetebol, 
handebol e futebol, limitando a produção de conhecimento corporal e cultural do aluno. 
Esta possível tendência de desenvolvimento de modalidades desportivas coletivas no 
âmbito escolar, como única forma de entendimento da Educação Física, pode gerar vários 
problemas comoa possível caracterização das aulas de Educação Física como treinamento 
desportivo. 
A Educação Física escolar já foi confundida com o esporte de maneira equivocada entre 
as décadas de 60 e 70 atendendo a interesses políticos que visavam se beneficiar desta 
condição. Desta forma o esporte foi desenvolvido no âmbito escolar de maneira tecnicista 
sendo aplicado desde as primeiras séries do ensino fundamental (Kunz, 2001 ). Porém, já 
10 
naquele período, havia quem criticasse esta iniciação precoce ao jogo desportivo já que 
Educação Física era sinônima de esporte, e era obrigatória desde o ensino fundamental. 
E hoje, esta relação de esporte e aula de Educação Física, como é? Será que nestas 
décadas, mudou-se a forma de ensinar o esporte dentro da escola? Será que há espaço para 
os demais conteúdos da Educação Física? 
Esta pesquisa não tem a intenção de afastar o espotte do ambiente escolar, mas sim 
discutir o papel do esporte como conteúdo da Educação Física, observando como 
atualmente os conteúdos das aulas de Educação Física estão sendo desenvolvidos, inclusive 
os esportes coletivos, e a partir destas observações de aulas apresentar os dados coletados 
levantando as problemáticas e propondo soluções. 
11 
2) EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 
<'No ensino médio, deve-se assegurar que os alunos adquiram autonomia em relação aos 
esportes, danças, jogos e ginásticas. Isto porque ・ ウ ー ・ イ 。 セ ウ ・ que, mesmo sem aulas de 
Educação Física, em sua vida futura, eles SEjam capazes de praticar e apreciar atividades 
fisicas, esportivas ou de dança nas horas de lazer'' (Daollio, 2003, p.\28). A Educação 
Física escolar no ensino médio depende da forma como esta foi desenvolvida e vivenciada 
no ensino fundamental. As aulas de sa a ga séries devem abranger diversos conteúdos, com 
exploração do máximo de materiais possíveis para que as vivências futuras destes alunos 
não estejam presas a um conhecimento corporal restrito, a uma aprendizagem motora e 
culturallimitadss, pois certamente refletirá nas suas ações futuras. 
"A aula de Educação Física escolar deve objetivar o 
desenvolvimento global de cada aluno, procurando 
formá-lo como indivíduo participante; criativo e capaz, 
uma pesslXl verdadeiramente crítica e consciente, 
adequada à sociedade em que vive; mas esse objetiVo 
deve ser atingidn através de um trabalho também 
consciente do educador, que precisa ter uma visão 
aberta às mudanças necessárias do processo 
edncacional". (Piccolo, 1995, p.J2). 
O educador, no processo educativo. tem importância indiscutível. Seu envolvimento e 
comprometimento com o aluno e sua capacidade de se adaptar constantemente às alterações 
no processo educacional fazem com que o trabalho obtenha êxito ou não. Uma vez que o 
profissional em Educação Física não se envolve de maneira eficaz e comprometedora em 
12 
suas aulas, tanto no que se refere aos seus alunos quanto ao desenvolvimento dos conteúdos 
em aula, tem-se urna situação que pode questionar a importância da Educação Física dentro 
da escola. Deve haver, no professor, claramente, os objetivos que este quer alcançar com 
determinada atividade dentro de sua aula. O envolvimento e a motivação do aluno estarão 
focalizados na importância que o professor emprega à suas atividades e à forma corno o 
aluno a desenvolve. O professor deve saber seu valor quanto agente transformador dentro 
da sociedade. "Espera-se que o professor de educação motora responsável cumpra seu 
papel de educador, preparando seus alunos para o exercício da cidadania. É na perspectiva 
de participação na construção de uma nova sociedade que ele encontrará sentido para sua 
ação pedagógica". (Winsterstein in De Marco, 1995, p.l 08). 
13 
3) ESPORTE NA ESCOLA 
"Tradicionalmente, a Educação Física tem objetivado a aptidão fisica e o rendimento 
esportivo dos alunos. O problema é que poucos alunos atingem os níveis esperados, ao 
preço de uma maioria que, além de ficar alijada das aulas, passa a detestar qualquer 
atividade fisica" (Daollio, 2003, p.129). O modelo esportivo encontrado na escola, 
atualmente, está diretamente vinculado à busca de rendimento atlético e de talentos 
esportivos individuais e/ou coletivos. Não é este o objetivo da Educação Física escolar. Ou 
pelo menos não deveria ser. Nas observações realizadas para este trabalho pudemos 
perceber três formas de transmitir o conteúdo esportivo que nos permitem classificar os 
professores em: 1) professor-acomodado, aquele que entrega a bola e diz: «Dividam-se em 
times, dez minutos ou dois gols, depois troca" , referindo-se a uma partida de futebol 
durante a qual o professor fica apático, e 2) professor-técnico, este é aquele que divide os 
times, apita a partida, observa os destaques, e corrige tecnicamente seus jogadores. 
Logicamente, não estou dizendo que todos os profissionais têm agido desta fonna. Porém, 
a maioria das aulas de conteúdo esportivo não escapa destes modelos de profissionais. 
Encontramos também um terceiro, e raro modelo de professor: o professor -envolvido. 
Este é aquele que participa da aula, desde o planejamento até se final, aquele que provoca 
questionamentos dos alunos, que inova mesmo quando o conteúdo é conhecido, tomando 
suas aulas prazerosas e significativas. 
Outra preocupação deve-se ter quanto à abordagem significativa de qualquer conteúdo da 
Educação Física em qualquer ambiente em que esta estiver sendo trabalhada. No caso da 
escola, deve-se contextualizar o que será ensinado para que haja o aprendizado "Fazer e 
14 
compreender significam integrar, em educação motora, as ações do intelecto com as ações 
da prática corporal" (Freire, 1995). 
O esporte tem sua característica de socialização e interação entre seus praticantes, o que o 
torna um importante conteúdo a ser desenvolvido, mas não o único. Além desta 
característica, há outra que pode trazer maleficios no contexto escolar, que é a 
competitividade. A forma, muitas vezes, competitiva de desenvolver o esporte em aulas 
transfere, ao aluno, uma carga de responsabilidade muito alta quanto à obtenção de 
resultados, o que pode afetar a criança psicologicamente de uma maneira negativa. Assim, 
acredito que o esporte possa ser desenvolvido de forma lúdica através de atividades 
recreativas que promovam ao aluno a bagagem motora necessária para tal modalidade. A 
exemplo temos o jogo de queimada que remete aos gestos do arremesso do jogo de 
handebol, sem que seja uma atividade repetitiva e pouco atraente como se treinasse este 
fundamento separadamente. 
A busca de aptidão fisica no âmbito escolar procura formar o homem forte, ágil, e apto 
para que este possa disputar uma posição social privilegiada num mundo competitivo como 
o capitalista (Coletivo de Autores, 1992). E nesta busca pela máxima capacidade física, 
deparamo-nos com a prática de esportes. As modalidades desportivas escolhidas para a 
prática escolar são, geralmente, aquelas de maior proximidade aos alunos: voleibol, 
basquetebol, handebol e futebol. 
15 
4) REVISÃO DA LITERATURA 
Para a rea.lização deste trabalho procuramos buscar autores que discutem os objetivos da 
Educação Física Escolar e que alertam para o cuidado de colocá-la apenas como 
' 
aprendízagens esportivas caracterizando-as como treinamentos desportivos. Neste sentido, 
encontramos em «Metodologia do Ensino de Educação Física" (Coletivos de Autores, 
1992) abordagens que questionam este desenvolvimento de modalidades esportivas dentro 
da escola quando caracterizado como treinamento esportivo, além de toda a 
conceitualização sobre o currículo em Educação Física. Num momento da obra, os autores 
comentam que o treinamento desportivo como adaptabilidade do organismo ao esforço não 
é desenvolvido no âmbito escolar, e que o treinamento que eles citam está relacionado a um 
caráter completamente pedagógico. 
"Afirmou-se anteriormente que a escola deve promover a 
leitura da realidade, motivopelo qual o aluno deve se 
defrontar com o treinamento e apreendê-lo como um 
processo científico de preparação de determinadas 
atividades da cultura corporal. De posse desse 
conhecimento, o aluno poderá organizar sua prática 
esportiva fora da escola e/ou socializá-la com a sua 
comunidade". (Coletivos de Autores, 1992). 
Ainda nesta obra pode-se encontrar discussões sobre os jogos e a importância da inserção 
de regras, de maneira gradativa, nas atividades pedagógicas com crianças. Esta proposta 
também é revertida para as modalidades esportivas que necessitam de suas regras 
simplificadas e seus jogos adaptados para que o envolvimento dos alunos seja total, não 
havendo exclusões. 
16 
Em outra obra "Criatividade nas aulas de educação física", Celi Neuza Zulke Taffarel, 
que também faz parte do Coletivo de autores acima comentado, fala sobre a necessidade em 
se incluir o esporte, na Educação Física brasileira, de maneira adaptada a crianças, 
adolescentes, adultos, idosos, e aos excepcionais. Além deste desenvolvimento adaptado do 
esporte escolar, Celi Taffarel, também defende outros conteúdos, o estímulo à criatividade 
entre os alunos e a promoção do "Esporte para Todos". Corno no trecho: 
"(..) Em segundo lugar, a integração de todas as artes de 
movimento da cultura brasileira na educação física escolar, 
como a Capoeira, muitas danças e jogos regionais, etc. Em 
terceiro lugar, o desenvolvimento do agir criativo na 
educação física preparando o aluno para um esporte 
autônomo e organizado no tempo livre (nas tardes, nos fins 
de semana, nas férias), em qualquer lugar e local, com 
qualquer material, com a família, com amigos, colegas, etc.; 
em suma, no sentido de um 
Todos'. "(Taffarel,1985). 
'Esporte para 
A dissertação de mestrado apresentada por lrene Conceição Rangel Betti traz a temática 
"O prazer em aulas de educação fisica escolar: a perspectiva discente" e comenta os 
resultados de visitações a escolas e questionários aplicados aos alunos, no sentido de 
entender o que eles gostavam de fazer nas aulas. No capítulo que Betti fala sobre os 
conteúdos, ela coloca que: 
"O esporte, sem dúvida alguma é o conteúdo mais 
desenvolvido nas escolas e também o preferido dos alunos. 
(. . .) Os adolescentes sentem o esporte como uma imperiosa 
necessidade. É através do esporte que o corpo tem a chance 
de viver intensamente, em um sistema educacional que 
freqüentemente o negligencia. Mais de 80% dos escolares 
consideram a educação física segundo uma ótica esportiva" 
(Betti, 1992). 
17 
Além desta visão de "Educação Física igual a Esporte", Betti também verificou que 
alguns alunos preferem algumas modalidades a outras, por talvez não terem chance de 
vivenciar tal modalidade por haver classificações por gênero, esporte "de menina" ou "de 
menino", respectivamente se referindo ao voleibol e ao futebol. . Pode parecer uma visão 
antiquada da aula de Educação Física, mas não é. Numa das pesquisas realizadas por Betti, 
1992, ela constatou que: 
"Pela realidade de ser oferecido mais o basquetebol 
para os meninos e o voleibol para as meninas pode-se 
passar a idéia de um 'esporte masculino' e o outro 
'esporte feminino'. (. . .) Um dos meninos manifestou sua 
vontade em jogar voleibol, enquanto que na escola 
somente as meninas afaziam( . .)" (Betti, 1992). 
Há um grande interesse por parte da maioria dos alunos em desenvolver modalidades 
esportivas no ambiente escolar, por serem atividades prazerosas. Há também que se 
considerar o interesse da escola em formar equipes competitivas para atuarem em jogos 
interescolares. Sabe-se também que, a Educação Física escolar como parece estar hoje, 
resumida a estas práticas esportivas, toma-se repetitiva e pouco atraente uma vez que seu 
conteúdo se repete ano após ano letivo. 
18 
5) JUSTIFICATIVA 
A utilização de esporte como único conteúdo programático em Educação Física priva os 
alunos de vivenciarem e, assim ampliarem seu repertório motor, não propiciando a 
formação de indivíduos possuam autonomia para usufruir a cultura corporal. Isto ocorre 
quando nas aulas de Educação Física, além de se priorizar o conteúdo esportivo, o professor 
procura formar urna equipe competitiva, ou ainda pior, procura descobrir ''talentos 
esportivos", o que "ressaltaria" seu trabalho como professor de Educação Física. 
Esta hipotética esportização pode gerar desprazer nas aulas naqueles alunos que não 
gostam de determinadas modalidades desportivas coletivas, ou aos que não apresentam 
bom rendimento desportivo (Betti, 1992). Ao mesmo tempo, há uma preferência por parte 
dos alunos em desenvolverem este conteúdo nesta fase do ensino fundamental e, 
posteriormente, no ensino médio. Mas o que será que faz deste conteúdo o predileto e mais 
aplicado? O simples prazer de vivenciar as modalidades esportivas? Ou será o não 
conhecimento, por parte dos alunos, da existência de outros conteúdos? E o esporte como 
conteúdo, está sendo aplicado como prática coletiva ou treinamento desportivo a alguns 
alunos? Como está o planejamento de aula para as 78 e 88 séries? Esporte, esporte e mais 
esporte? Através desta pesquisa responderemos a estas questões. 
19 
6) RECURSOS METODOLÓGICOS 
Foram realizadas observações em aulas de Educação Física de r e ga séries a fim de se 
fazer uma leitura da realidade da Educação Física na escola atualmente. Este grupo foi 
escolhido em específico por entendermos que, se há esta esportivização das aulas de 
Educação Física, é nesta fase que ela se inicia consolidando-se no ensino médio. Um amplo 
conhecimento dos conteúdos da Educação Física durante o ensino fundamental implicará 
numa maior diversidade de experiências e vivências no ensino médio, e posteriormente na 
vida adulta. 
Foram selecionadas três escolas sendo uma particular e duas estaduais, para que se tenha 
o panorama geral da situação, não tornando este estudo específico para uma única rede. 
É importante que se mantenha sempre o mesmo grupo sendo observado para que não se 
perca a seqüência do conteúdo e das atitudes dos alunos ao longo das aulas observadas. 
Então, as observações serão em cada uma das escolas no mesmo dia da semana, e nos 
mesmo horários. 
As observações foram sistemáticas, pois "o observador sabe o que procura e o que carece 
de importância em determinada situação: deve ser objetivo, reconhecer possíveis erros e 
eliminar sua influência sobre o que vê ou recolhe" (Lak:atos, 1991, p.193). Utilizamos 
instrumentos para coletar dados que, no caso, foram anotações sobre o que estava 
acontecendo na aula. Um modelo da ficha de observação está no anexoU. Esta observação 
pode ser classificada também como não participante, pois "o pesquisador toma contato com 
a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora" 
(Lakatos, 1991, p.193). 
20 
Um aspecto importante a ser realçado é o da interação entre as múltiplas técnicas ou 
recursos de pesquisa. Referimo-nos especialmente às entrevistas e às anotações de 
observações e conversas em diário de campo. Inicialmente esta forma de recolher 
informações pode parecer ingênua, resumindo-se a uma ação simplesmente descritiva. 
Esta estratégia metodológica permitiu-nos, posteriormente, fazer comparações e cruzar 
elementos que nos forneceram respostas às questões levantadas inicialmente neste trabalho 
de pesquisa. 
Com o Diário de Campo, é possível equilibrar a pesquisa, pois permite comparar o fazer 
(aulas observadas) com o dizer (entrevistas e falas). Além dos registros da observação, o 
Diário de Campo contém ainda comentários, e explicações que encontramos de maneira 
informal, pelas falas, promovendo uma melhor leitura dos objetos observados. 
O período para observação destas aulas de Educação Física esteve compreendido entre os 
meses de abril e maio de 2004, sendo que a freqüência de visitações foi de uma aula 
semanal a cada escola selecionada, oque resultou em 24 aulas acompanhadas. Nestas 
observações visamos: 
L A estruturação da aula; 
11. A escolha dos conteúdos pelo professor; 
III. Como são desenvolvidos; 
IV. A motivação do aluno antes, durante e depois da atividade; 
V. Comentários feitos antes, durante e após a realização das atividades; 
Na última visitação a cada escola, após a realização das atividades da aula, realizamos 
um questionário ao professor com o objetivo de saber quantas aulas ele ministra por 
semana, se sua carga horária se restringe àquela escola, como foi realizado o planejamento 
21 
das aulas daqueles dois meses, como os conteúdos são escolhidos e quais os seus objetivos. 
O modelo deste questionário está no anexo I. Este questionário permitiu conhecer um 
pouco melhor a realidade de cada profissional para podermos correlacionar estas 
informações com o resultado das coletas das aulas observadas. 
A escolha deste tema e desta metodologia para este trabalho busca visualizar a atual 
situação da Educação Física escolar de 7a e ga séries confirmando, ou não, o caráter 
esportivizado dos conteúdos da Educação Física escolar. 
6.1) O Universo da Pesquisa 
As escolas visitadas nestes dois meses eram duas da rede estadual e uma da rede 
particular todas no município de Americana. Não irei aqui citar os nomes de cada uma 
delas, nem expor os nomes dos professores envolvidos na pesquisa. Esta tem objetivos que 
não implicam na necessidade de exposição de tais dados. Para facilitar na descrição dos 
dados coletados estarei adotando uma legenda quando fizer referência à escola e ao 
professor. Por exemplo, quando for citada escola 1, colocarei El, e a mesma legenda será 
utilizada para identificação do professor, ou seja, professor 3 será P3. Estarei sempre 
empregando a palavra professor, no masculino, independente do gênero real do indivíduo 
observado. 
22 
7) APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 
Neste capítulo estão expostos os dados coletados durante os dois meses de observações às 
aulas de Educação Física mencionadas no capítulo anterior. Para melhor visualização dos 
resultados encontrados nesta pesquisa, iremos dividir a apresentação dos dados coletados 
em: 
7.1) Conteúdos das aulas observadas; 
7 .2) Desenvolvimento das aulas e comentários; 
7.3) Respostas dos profissionais envolvidos na pesquisa. 
7.1) Sobre os conteúdos desenvolvidos nas 
Aulas de Educação Física 
Durante as aulas observadas para conclusão desta pesquisa foram registrados os conteúdos 
desenvolvidos em cada uma das aulas para que pudéssemos visualizar como está 
distribuído o conteúdo esportivo. 
Realizamos 8 observações nas aulas de Educações Física em cada uma das escolas, 
totalizando 24 sessões ao final da pesquisa. A Tabela 1 a seguir apresenta os conteúdos 
desenvolvidos em cada uma das aulas observadas. Os dados serão apresentados obedecendo 
à ordem das sessões, ou seja, a primeira observação de cada escola será apresentada na 
tabela correspondente e assim sucessivamente, esta forma, ao nosso ver, permite-se uma 
análise por sessão. 
23 
Tabela I -Escolha do conteúdo 
Observações El E2 E3 
I Futebol Futebol Material: Corda 
2 Taco Futebol Material: Corda 
3 Basquetebol Futebol Futebol 
4 Baseball Futebol Futebol/ Voleibol 
5 Futebol Futebol Jogos Cooperativos 
6 Voleibol Castigo' Alongarn./Relaxamento 
7 Livre Organização' Queimada 
8 Basquetebol Xadrez Futebol 
1 A aula teve este título "Castigo", pois o P2 deixou a turma de castigo "por estarem fazendo muita 
bagunça"; 
2 Este titulo "Organização", pois o P2 utilizou-se do tempo de aula para dis-cutir detalhes sobre a 
festa junina da escola 2. 
7.2) Desenvolvimento das atividades nas 
Aulas observadas 
24 
Quanto ao desenvolvimento das atividades é importante ressaltar alguns pontos. As E2 e 
E3 não apresentam tantos recursos quanto aos espaços e aos materiais para desenvolver 
atividades comparando-se com os recursos da El. Esta possui acesso a um espaço 
alternativo, fora dos perímetros da escola, porém próximo dela, que permite uma vivência 
diferenciada proporcionada pelo campo de futebol, pela pista de motocross, e pela trilha 
para caminhada. Cabe ao Pl explorar este espaço rico em potencialidades para atividades 
diferentes das tradicionais. Não colocarei nas Tabelas de Desenvolvimento das atividades o 
alongamento e o aquecimento, pois todas as aulas iniciaram nesta seqüência com 
pouquíssimas variações de uma aula para outra. 
Nestas Tabelas também constarão comentários sobre as aulas observadas. Durante as 
observações foram anotadas algumas falas de alunos, de professores que facilitaram o 
entendimento à cerca dos objetivos e sentimentos envolvidos durante as aulas. A partir 
desta observação das falas podemos comentar subjetivamente os acontecimentos da aula. 
Neste momento amplio o desenvolvimento da aula trazendo o que vi expressado pelos 
corpos durante as atividades, através das falas, da motivação, e das atitudes de alunos e 
professores durante as aulas. 
25 
Tabela 2- Observações de n° 1 
Escola Desenvolvimento da atividade 
I Futebol - Foram realizadas quatro partidas, duas femininas e duas 
masculinas, sendo que cada partida teve duração de 10 minutos e 
alternaram entre si. 
2 Futebol- O P2 forneceu-lhes bola de futebol, bola de vôlei, tabuleiro de 
xadrez, e bolinha e raquete de tênis de mesa. Neste momento da aula, na 
quadra tinha-se futebol no esquema "10 minutos ou dois gols" local 
onde algumas meninas estavam tentando treinar para o interclasse; no 
pátio tinha-se meninas conversando em roda; alguns meninos foram 
jogar tênis de mesa e outros alunos estavam no chamado ''vôlei de 
rodinha". 
3 Cordas - A sala foi dividida em seis grupos. Cada um destes recebeu 
uma corda para que pudessem explorá-la da forma que achassem 
melhor. Inicialmente, antes de distribuir o material, alguns meninos 
resistiram à atividade. Depois, já de posse do material a postura foi 
outra. Todos os alunos participaram desta atividade. 
Descrição e comentários das observações n° 1 
Na atividade da escola I (EI), durante o jogo dos garotos houve maior motivação pela 
atividade do que no jogo das meninas. No jogo delas, apenas três meninas apresentavam 
um pouco de habilidade para jogar futebol e por isso as outras não se envolviam tanto com 
a atividade. 
Na escola 2 (E2), outra aula de futebol, duas meninas alegaram dores no joelho para não 
participarem das atividades. O professor 2 (P2), após ter distribuído o material não se 
envolveu mais com os alunos. Ele se sentou e ficou somente observando. 
Fala de aluno: Uma aluna comentou após o jogo de futebol: "(..) estamos tentando treinar 
para o interclasses, jogando contra os meninos(. . .)" 
Já na escola 3 (E3), as atividades não estavam vinculadas a nenhum conteúdo esportivo, o 
que gerou uma repulsa inicial da tunna, mas depois todos os alunos participaram da aula de 
maneira motivada. O professor 3 (P3) se envolve bastante com o grupo estimulando-os a 
realizar as atividades. 
Fala de aluno: "Dança é educação fisica? ". Pergunta de uma menina que não entendia 
porque não se trabalhava a dança durante as aulas. 
26 
Tabela 3- Observações de n° 2 
Escola Desenvolvimento da atividade 
1 Taco - Foram organizadas três partidas numa quadra, sendo que cada 
partida acabava quando uma das duplas alcançasse doze pontos. Então, 
jogavam 12 alunos enquanto a maioria aguardava sua vez sentada. Ficaram 
30 minutos nesta atividade. 
2 Futebol -Montou-se dois times mistos para jogar futebol, porém as equipes 
ficaram muito grandes com oito alunos para cada lado. Este problema de 
lotação na quadra de futebol foi resolvido com uma bola de basquete, pois 
alguns alunos montaram times e foram para outro espaço jogar. Enquanto 
alguns jogavam futebol, e outros se contentavam com o basquete, os demais 
se distribuíram entre: tênis de mesa, jogos, xadrez, vôlei "de rodinha", ou 
ficaram sentados conversando. Enquanto isso P2 estava sentado,lendo ou 
conversando. 
3 Formou-se cinco grupos que foram posicionados nas extremidades da 
quadra e no centro. Feito isto, P3 distribuiu uma corda grande para cada 
grupo. Os alunos exploraram o material livremente por 20 minutos. Depois 
P3 conduziu as atividades realizadas dentro dos grupos, como: deslocar pela 
quadra com dois alunos batendo corda e um pulando; depois de costas; 
coma corda para a uma determinada altura, os alunos deveriam saltá-la, 
depois passar por baixo, sempre aumentando a dificuldade. 
Descrição e comentários das observações n° 2 
A aula da El foi desenvolvida no espaço alternativo. Pl deixou que o grupo se 
organizasse livremente para realizar o jogo de taco. Foi uma atividade estimulante por 
dois aspectos: espaço alternativo e atividade não convencional. 
Na aula da E2, a aula foi idêntica à observação 1. O P2 pouco se envolveu com as 
atividades realizadas pelos alunos, não os motivando, e fazendo com que várias alunas 
sentassem a minha volta para conversar e não fazer nada referente à aula. 
Mesmo realizando atividades com corda novamente, a aula da E3 foi tão bem sucedida 
quanto a primeira. A atuação ativa do P3 é fundamental para o sucesso de suas aulas. 
Fala de aluno: Uma aluna que estava com dispensa médica, comentou seu interesse em 
estar participando da aula: "Ai (. .. ), eu queria ta pulando corda também(. .. )". 
27 
Tabela 4- Observações de no 3 
Escola Desenvolvimento da atividade 
I Basquetebol - Foram formados trios para jogar basquete, dois trios cada 
meia quadra. A cada cinco pontos trocavam-se os times. 
2 Futebol - A atividade foi desenvolvida como nas duas aulas anteriores, 
distribuiu-se os materiais sendo a atividade principal o futebol no qual um 
terço da turma participou. 
3 Futebol- A turma foi dividida em casais, depois se formou times para jogar 
futebol, porém em duplas. Ao fmál da aula, houve uma discussão sobre as 
dificuldades encontradas durante a atividade. 
Descrição e comentários das observações n° 3 
No jogo de basquetebol da El, algumas meninas não participaram por estarem com 
dores nos joelhos, enquanto que as demais tentavam desenvolver a atividade sem saber 
ao certo qual era a linha lateral da quadra desta modalidade. O envolvimento de Pl 
limitava-se à troca de times que estavam jogando pelos que esperavam pouco ansiosos 
na beira da quadra. 
Fala de aluno: Uma menina disse: "(..)por mim, ficava aqui sentada". 
A aula na E2 foi idêntica à descrita no quadro anterior. 
A atividade na E3 apresentou uma necessidade de ajustamento entra as duplas que 
demorou a ser resolvida. Ao final da atividade o P3 conversou com os alunos dizendo 
que o objetivo da aula parecia ser futebol, porém ela buscava trabalhar também o "tato" 
entre eles, principalmente entre casais. 
28 
Tabela 5- Observações de n° 4 
Escola Desenvolvimento da atividade 
I Baseball - s ・ ー 。 イ ッ オ セ ウ ・ a turma em duas equipes e iniciou-se o jogo. A cada 
três alunos considerados "fora" ou ''não-salvos" trocava-se o time que 
estava rebatendo. 
2 Futebol - Foram distribuídos pelo P2: bolas de futebol, de voleibol, 
basquetebol, raquetes e bolinha de tênis de mesa para que os alunos 
jogassem e se organizassem como quisessem, porém neste bimestre o foco é 
o futebol. 
3 FuteboV Voleibol -Foram separa dos três times femininos para o jogo de 
futebol, enquanto que os meninos se separam entre os que jogaram futebol 
num campinho menor, e os que io_garam vôlei de rodinha. 
Descrição e comentários das observações n° 4 
Apenas uma menina não quis participar da aula na El. Foi muito motivante, pois Pl o 
tempo todo estava orientando na atividade, o espaço era alternativo (campo de futebol) 
e a atividade também fugia das modalidades esportivas coletivas que são vastamente 
exploradas durante o ano letivo. 
Na aula da E2, alguns alunos participaram de algumas das atividades, enquanto que, 
outros não fizeram atividade nenhuma. 
Fala de Professor: "Estou com uma gripe(. . .), nem o alongamento consegui 
puxar(...) ",justificando sua pequena participação naquela aula. Em seguida, P2 
comentou que há dificuldade em inserir "atividades diferentes", pois "o grupo é 
difícil(..)". 
Foi a primeira aula em que P3 utilizou-se da estratégia de distribuir as bolas para que se 
organizassem nos times. Ainda assim, não houve nenhum aluno que não participasse 
das atividades, o que demonstra a importância da atuação participativa e 
comprometedor deste professor. 
29 
Tabela 6- Observações de n° 5 
Escola Desenvolvimento da atividade 
1 Futebol - Separou-se dois times femininos e três masculinos para jogarem 
futebol. Cada time jogou duas partidas nas quais foram estritamente 
femininas ou masculinas. 
2 Futebol - As atividades foram desenvolvidas da mesma forma da aula 
passada. Materiais distribuídos para que se fizesse o que quisesse. 
3 Jogos Cooperativos - P3 desenvolveu uma brincadeira chamada "Pega-
pega-corrente" na qual há um pegador, e cada pessoa que este toca, 
permanece ao seu lado segurando em sua mão para que continuem pegando 
outras pessoas aumentando cada vez mais a corrente. Foram realizadas duas 
vezes esta atividade com dificuldade, mas bastante participação do grupo. 
Descrição e comentários das observações n° 5 
Na El, a partida de futebol das meninas foi desmotivante, pois as mais habilidosas 
detiveram a posse de bola por mais tempo, enquanto as outras caminhavam pela quadra. 
Na E2, novamente realizou-se uma atividade infundada, e pouquíssimo estimulante. A 
única diferença desta para as anteriores, foi a ausência do professor efetivo. Porém, o 
professor chamado de eventual não recebeu nenhuma orientação do que era para ser 
trabalhado naquela aula. Então, fez o mais cômodo. 
Na E3, a atividade com caráter cooperativo foi muito empolgante, porém houve uma 
demora para que o grupo conseguisse perceber que não se poderia sair correndo um 
para cada lado. Ao final da aula, P3, diferentemente dos outros professores, trouxe a 
discussão sobre a atividade desenvolvida na aula, fazendo com que os alunos 
refletissem sobre o que haviam feito. 
30 
Tabela 7- Observações de n° 6 
Escola Desenvolvimento da atividade 
1 Voleibol - Separou-se a turma em quatro times sendo dois masculinos e 
dois femininos, para realizarem partidas de vôlei. Cada time jogou duas 
partidas. 
2 "Castigo"- Nesta aula os alunos ficaram detidos em sala de aula, devido ao 
mau comportamento do grupo. Durante todo o tempo, eles deveriam 
permanecer em seus devidos lu.e;ares e permanecerem quietos. 
3 Alongamento/ Relaxamento - Nesta aula, P3 posicionou o grupo num 
grande círculo, cada aluno com um colchonete, para iniciar a aula. Foram 
desenvolvidos exercícios de alongamento de membros supenores e 
inferiores, e de tronco. Em seguida, o grupo foi dividido em duplas para 
realizar relaxamento articular e depois massagem. 
Descrição e comentários das observações n° 6 
A aula da El, de voleibol foi a mais desmotivante que assisti. Principalmente as 
partidas das meninas. Elas não se moviam em quadra, algumas não sabiam como 
realizar as trocas de posições, e outras permaneciam de braços cruzados quando a bola 
vinha em sua direção. Para que o jogo delas ''melhorasse", tirou-se a moça de braços 
cruzados e outra que não queria participar, para se colocar meninos para jogar. 
Na E2, não houve atividade nenhuma. As únicas solicitações que P2 fez sobre ficarem 
em seus lugares e quietos, não foram obedecidas. 
Fala do Professor: "Eles não param de fazer bagunça( .. ), se continuar assim, amanhã 
eles ficaram na sala de novo". 
Na E3, a atividade do P3 apresentou certa repulsa, inicialmente. Alguns alunos 
reclamavam que era dificil realizar aqueles movimentos, mas faziam. Durante o 
relaxamento e a massagem, que era em duplas, primeiro houve uma pequena 
dificuldade para se iniciar a tocar o colega, mas aos poucos as brincadeiras foram 
diminuindo e a atividade fluiu com sucesso. 
31 
Tabela 8- Observações de n° 7 
Escola Desenvolvimentoda atividade 
1 "Livre"- Os alunos podiam escolher qual atividade iriam desenvolver entre 
pimbolim, xadrez, damas, banco imobiliário, 'jogo do saquinho", ou não 
fazerem nada. 
2 "Organização"- Denominei esta aula com o tema organização, pois durante 
a maior parte dela houve uma discussão sobre a festa 'julhina" que ocorrerá 
na escola. Alguns irão dançar, enquanto outros alunos entregarão trabalhos 
escritos. Nos últimos vinte minutos de aula, foram todos para a quadra 
desenvolver atividades de forma livre como em outras aulas, 、 ゥ ウ エ イ ゥ 「 オ ゥ オ セ ウ ・
bolas de basquete, futebol, raquete e bolinha de tênis de mesa, peças e 
tabuleiros de xadrez, etc. 
3 Queimada- d ゥ カ ゥ 、 ゥ オ セ ウ ・ a tunna em duas equipes mistas para iniciar o jogo. 
Foram realizadas duas partidas de queimada sendo que a segunda foi mais 
rápida devido à melhoria no entendimento do jogo por uma das equipes. 
Descrição e comentários das observações D0 7 
Na El, as atividades foram adaptadas, pois a quadra estava molhada, pois havia 
chovido bastante. A aula foi realizada num espaço reservado à educação flsica, 
principalmente, em dias como aquele, chuvoso. 
Na E2, a discussão sobre o que ocorreria na festa era necessária, pois a participação na 
dança não é obrigatória. A segunda parte da aula, foi parecida com as demais aulas 
assistidas, onde os alunos ficaram soltos para fazer o que quisessem, até mesmo não 
fazer nada. 
Na E3, durante a atividade nenhum aluno ficou sem participar, exceto uma garota que 
não pode participar da aula por dispensa médica. Foi uma atividade dinâmica, prazerosa 
e que trazia conceitos e regras de ação de jogos desportivos coletivos, sem que este 
fosse especificado na aula. 
32 
Tabela 9- Observações de n° 8 
Escola Desenvolvimento da atividade 
I Basquetebol em trios ou "Street" -A turma foi dividida em cinco trios, três 
masculinos e dois femininos. Cada equipe jogou duas vezes. Foi utilizada 
apenas metade da quadra para o desenvolvimento da atividade, pois a outra 
metade estava bastante molhada. 
2 Xadrez Nesta aula forma distribuídos vários tabuleiros de xadrez e suas 
peças para que os alunos que quisessem jogar jogassem. Quem não quis 
'ogar ficou ouvindo música e conversando. 
3 Futebol - Foram separados dois times femininos para se jogar futeboL 
Enquanto isso, os meninos jogavam futebol no campinho atrás da quadra, e 
outros jogavam vôlei num espaça adaptado. Depois se inverteram as 
I posições: meninos para a quadra e meninas para o vôlei. 
Descrição e comentários das observações n° 8 
Durante a aula na El, enquanto seis alunos jogavam, o restante estava sentado sem 
fazer nada. Mesmo se todas as cinco equipes estivessem jogando ao mesmo tempo, 
ainda assim, teríamos metade da turma sem participar da atividade. A partida das 
meninas foi desmotivante para as alunas menos habilidosas, pois a bola só era passada 
entre aquelas que jogavam um pouco melhor. 
Na E2, o P2 faltou mais uma vez, e não havia professor eventual para que o 
substituísse. Então, a escola resolveu que um professor eventual de outra área ficaria 
responsável pela aula de educação fisica do professor ausente. Não é a primeira vez que 
o P2 não comparece para ministrar suas aulas, tendo em vista que quando da sua 
presença, esta não se faz ativa e tão pouco necessária. 
Na E3, o diferencial nas aulas de P3 é o seu comprometimento para que suas atividades 
sejam realizadas de forma eficiente e que seja interessante para seus alunos. Durante 
toda a aula, P3 mantém contato com seus alunos, orientando e mostrando que sua aula 
tem um conteúdo a ser desenvolvido e não simplesmente "despejado''. 
33 
7.3) Questionário ao professor 
O objetivo deste questionário foi de conhecer melhor o cotidiano e o planejamento dos 
profissionais cujas aulas foram observadas para buscar justificativas para a forma como 
ministram suas aulas. No anexo I temos o modelo de questionário que foi aplicado aos três 
profissionais responsáveis pelas aulas observadas Foram questionados a cerca de suas 
cargas horárias semanais, sobre o planejamento das aulas, e sobre a escolha dos conteúdos. 
Iremos expor as respostas de maneira simplificada, e comparando cada resposta e 
comentando para entendermos a conduta de cada profissional durante estes dois meses de 
estudo. 
O primeiro tópico do questionário aborda a identificação do profissional. Quanto ao 
tempo de atuação na instituição visitada, então temos que: 
Pl セ está há 9 anos; 
P2 - está há 1 ano; 
P3 セ está há 5 anos. 
Nesta primeira análise, podemos comparar a postura de Pl e P2 em suas aulas 
considerando o tempo de permanência na instituição. Sobre Pl, podemos constatar que, por 
estar a muitos anos na mesma escola, este se permiti uma acomodação quanto ao seu 
envolvimento durante as aulas. A estabilidade profissional pode estar lhe fornecendo esta 
postura descomprometida com a necessidade de se promover aulas cada vez melhores e 
inovadoras. Enquanto que P2, está há pouco tempo na escola e não apresenta interesse em 
se envolver com suas atividades, no sentido de trazer aos seus alunos, um momento de 
aprendizagem significativa e prazerosa. Este professor se apóia no discurso que seus alunos 
34 
não permitem a inclusão de atividades consideradas por ele "diferentes". Porém, posso 
afirmar que nestes dois meses de observações de aulas não houve em momento algum a 
intenção deste professor em promover qualquer mudança em sua estrutura de aula. 
Indagamos que, o tempo de permanência na instituição não diferenciou estes professores 
quanto a qualidade de suas aulas. 
Na segunda e terceira questões, ainda buscando uma identificação do profissional, 
perguntamos sobre o número de aulas que eram ministradas semanalmente naquela 
instituição por ele, e se o professor em questão, também ministrava aulas em outras 
instituições. Encontramos a seguinte situação: 
Pl - Ministra 20 aulas na instituição observada, e outras 20 aulas em mais 2 instituições, 
total de 40 aulas semanais; 
P2 - Ministra 26 aulas na instituição observada, e mais 7 aulas em outra instituição, total de 
33 aulas semanais; 
P3 -Ministra 28 aulas na instituição observada, e não ministra em outra instituição, total de 
26 aulas semanais. 
Podemos estabelecer uma comparação entre, os professores que ministram aulas em mais 
de uma instituição com o que ministra em apenas uma. Visto desta forma podemos dizer 
que a sobrecarga nos horários de Pl e P2 pode estar interferindo na qualidade de suas aulas 
e no planejamento das atividades podendo ser esta a razão para o pouco envolvimento 
destes em suas atividades. O P3 possui aparentemente maior tempo disponível para o 
planejamento de suas atividades, e por isso suas aulas possuem atividades mais variadas e 
mats prazerosas. 
Num segundo bloco de questões a temática foi o planejamento bimestral. Encontramos as 
seguintes respostas quanto à forma como este é feito e quem participa deste planejamento: 
35 
Pl - "O planejamento é feito com os professores da área que ministram aulas com turmas 
de 5° a 8° séries. Participa também o coordenador da área". 
P2 - "É feito com todos os professores da área e mesmas séries. Além dos professores, o 
diretor e o coordenador participam das reuniões de planejamento". 
P3 -"São planejamentos bimestrais e é composto por várias atividades não se prendendo às 
modalidades esportivas. Somente o professor participa do planejamento". 
Quanto ao planejamento podemos perceber que, apenas na E3 o professor tem liberdade 
para montar seu planejamento, enquanto que nas escolas I e 2 há um maior número de 
envolvidos na detenninação do planejamento bimestral. Esta individualidade na escolha 
dos conteúdos para organizar o planejamento pode ser perigosa. No caso observado, 
tivemos um exemplo ótimo de diversificação de conteúdos e de máxima participação dos 
alunos nas aulas de P3, porém se o professor não possui interesse em desenvolver o melhor 
trabalho possível e tema possibilidade de montar sozinho seu planejamento, encontraremos 
quadros caóticos nestas aulas de Educação Física. Nas aulas da E3, o professor possui uma 
capacidade de perceber dificuldades motoras nas quais ele pode interferir no sentido de 
alterar esta possível defasagem. Considerando que P3 possui maior tempo disponível 
durante a semana e que pode fazer seu planejamento bimestral sozinho, pode estar nesta 
combinação o sucesso de suas aulas. 
Ainda sobre o planejamento de aula, perguntamos se existia ume a interação entre os 
professores de diferentes áreas dentro da instituição e que temas eram abordados, nas três 
escolas há interação entre os professores, principalmente, quando a escola está 
desenvolvendo alguma temática especial como o tema "Água" da E2, e a "Sexualidade" na 
E3. 
36 
O último bloco de questões aos profissionais trouxe a temática "Conteúdos". Vejamos as 
respostas quanto à forma como é feita a escolha destes conteúdos e o que determina esta 
escolha: 
Pl - "O conteúdo é reorganizado semanalmente para não tornar as aulas maçantes. São 
distribuídas as modalidades esportivas semanalmente, combinando-se a ordem das 
modalidades com os alunos"; 
P2 - "É separado através dos 4 bimestres as modalidades esportivas (futebol, voleibol, 
basquetebol e handebol), podendo ser alterado durante o período letivo devido à possível 
falta de materiais, ou devido a alguma temática da atualidade. A escolha do conteúdo é feita 
a partir das possibilidades que se dispõem na escola". 
P3 - "Através de avaliações continuas sobre as necessidades da turma buscando a não 
monotonia nas aulas. O que determina esta escolha são esta avaliações continuas sobre as 
necessidades nas capacidades físicas dos alunos". 
Neste bloco de respostas sobre os conteúdos ficou ainda mais clara a diferença de postura 
do P3 em relação aos outros dois no sentido de buscar o melhor para seus alunos. Na El e 
E2 ocorre a detenninação dos conteúdos através da disposição semanal ou bimestral das 
modalidades esportivas coletivas tradicionais. Enquanto que, na E3 os conteúdos e suas 
escolhas não estão presas à determinação esportiva, mas sim às necessidades dos alunos 
avaliadas subjetivamente pelo professor. A preocupação com a motivação dos alunos 
durante as aulas não foi encontrada na resposta do P2, mas encontramos esta preocupação 
no discurso dos professores da El e E3. Esta situação já era esperada, pois o professor da 
E2 não se envolveu em nenhum momento de suas aulas no sentido de motivar seus alunos 
seja com as atividades, seja com seu envolvimento com elas. 
37 
A hipótese levantada inicialmente nesta pesquisa sobre a esportização das aulas estaria 
confmnada somente com questionários aos professores, necessitando somente que se 
aumentasse o número de entrevistados para validação dos resultados da pesquisa. 
Por fim, no último bloco de questões aos profissionais perguntamos sobre os objetivos 
dos conteúdos nas aulas observadas, e se há naquela instituição aulas extracurriculares. 
Vejamos as respostas: 
Pl -"É um aprimoramento dos movimentos das modalidades esportivas coletivas, que na 
5° e 6° séries era apenas uma vivência". Quanto às aulas extracurriculares: "Há sim. Temos 
futebol (campo e salão), vôlei, e basquete"; 
P2 - "Os objetivos são correr, saltar, desenvolver habilidades especificas da disciplina, 
como coordenação motora, velocidade". Quanto às aulas extracurriculares: "Não temos. 
Mas há a possibilidade de se iniciar o treinamento de voleibol, basquetebol e futebol. Há 
bastante procura por parte dos alunos para praticar estas modalidades"; 
P3 - "Busco trabalhar cooperação, solidariedade, união, da turma, melhoria no 
autoconhecimento através do toque". Quanto às aulas extracurriculares: "Sim tem. Há aula 
extracurricular de futebol de salão e voleibol". 
Nesta análise final sobre os conteúdos apresentados encontramos outro motivo para a 
priorização do conteúdo esportivo nas aulas da E2: a falta de aulas extracurriculares. Estas 
aulas promovem a o aprofundamento em determinada modalidade esportiva caracterizando· 
a como treinamento desportivo, e retirando das aulas este caráter de adestrar. Na E2, 
encontramos num discurso de uma aluna que ela, e suas colegas, utilizavam·se da aula de 
educação fisica para treinar futebol visando competir o interclasses. Talvez a saída para 
melhorar as aulas nesta instituição seja a implantação das aulas extracurriculares, como já 
38 
ocorre nas outras duas, permitindo assim, que as aulas de Educação Física possuam outros 
conteúdos, além de modalidades esportivas. 
8) PROPOSTA PARA AULAS EXTRACURRICULARES 
(AEs) 
39 
Uma das formas de facilitar a inclusão dos demais conteúdos da Educação Física no 
âmbito escolar, propomos a implantação de Aulas Extracurriculares (AEs) para o 
desenvolvimento de modalidades esportivas de maior interesse dos alunos num horário 
diferente da aula. Não tendo as AEs, caráter obrigatório, será um complemento do conteúdo 
das aulas de Educação Física àqueles alunos que buscam treimunento das modalidades 
esportivas coletivas. 
Desta forma, o conteúdo das aulas curriculares pode ser revisto, levando em consideração 
o atual quadro de esportização das aulas, situação comprovada neste trabalho. Com estas 
Aulas Extracurriculares podemos valorizar outros conteúdos bem como desenvolver o 
esporte de maneira lúdica e com caráter de vivência, não excluindo nenhum aluno da aula. 
Para realizar a implantação deste programa de aulas: 
I) Definir o grupo a participar do projeto (turma, período); 
2) Quantos alunos apresentam interesse por estas atividades ・ ク エ イ 。 」 オ イ イ ゥ 」 オ ャ 。 イ ・ ウ セ
3) Quais as modalidades esportivas a serem implantadas no programa; 
4) Qual o horário para realizar estas aulas extracurriculares; 
5) Montagem do cronograma (modalidade/turma); 
40 
Para determinar os itens 2, 3,e 4 acima, podemos adotar duas estratégias distintas: a 
primeira, e mais simples, consiste em passar um questionário em forma de pesquisa, 
fazendo questões relacionadas a interesse por participar das AEs, a modalidade que gostaria 
de praticar, e o horário. Assim já se saberia quais as atividades mais agradavam o grupo de 
alunos e quantos estariam participando da atividade. A segunda forma de selecionar as 
modalidades esportivas para as AEs, seria através de teste na própria aula extracurricular. 
Os alunos começariam a participar das aulas, nas quais haveria a aplicação de várias 
modalidades durante algumas semanas. Passado este período, pode-se separar em novos 
grupos mantendo estabelecida qual modalidade a ser desenvolvida em tal dia, e horário. 
Estas AEs serão realizadas num período diferente do estabelecido para as disciplinas 
obrigatórias, onde está incluída a aula de Educação Física. Para as turmas matriculadas no 
período da manhã, as AEs podem ser realizadas logo após o almoço ou no fim da tarde. 
Para os matriculados no período da tarde, serão realizadas no período da manhã. Havendo 
disponibilidade na escola, e interesse por parte dos alunos, pode-se estar formando turmas 
no período da noite. 
É sempre importante ressaltar que, estas atividades extracurriculares não têm o objetivo 
de retirar o esporte das aulas convencionais e obrigatórias, mas torna-lo um conteúdo 
prazeroso a todos os alunos. A forma como a Educação Física Escolar vem sendo abordada 
e desenvolvida nas últimas décadas, com grande identificação com o esporte, nos obriga a 
uma estratégia que permita gradativamente a inclusão de outros conteúdos da Educação 
Física. Acreditamos que a implantação destas aulas extracurriculares seja um facilitador 
deste processo de "desesportivização" das aulas, juntamente com o compromisso dos 
profissionais da área em realizar o melhor trabalho no sentido de se alcançar esta mudança 
do quadro atual. 
41 
9) CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Diante das observações realizadas nas oito sessões em cada umadas três escolas envolvidas em 
nossa pesquisa, fica evidente, como demonstrado na tabela 1, que os conteúdos da Educação 
Física escolar são, predominantemente, voltados à prática desportiva. Podemos destacar alguns 
pontos que nos dão sustentação para uma reflexão, no tocante à prática da Educação Física em 
ambientes escolares, como: 
1. A falta de conhecimento oor oarte dos alunos sobre os conteúdos que oodem e deveriam 
ser trabalhados nas aulas de educação rJSica. Esta falta de conhecimento por parte dos alunos 
pode ser atribuída ao descaso de como são tratados os conteúdos da Educação Física escolar 
pelos próprios profissionais da área. Falta o envolvimento do professor no momento de planejar 
suas aulas, de definir qual será sua participação durante as atividades aplicadas na aula, pois 
definirá a motivação dos alunos e, assim, a qualidade da mesma. Outro fator de relevância no 
tocante à "ignorância" destes alunos quanto aos possíveis conteúdos da Educação Física é o fato 
de que o professor muitas vezes não tem a possibilidade de se dedicar às suas aulas como 
deveria. Como observado nas respostas dos professores aos questionários, o P3 que possui a 
melhor estrutura de aula tanto no referente à variação de conteúdos quanto ao envolvimento do 
profissional durante as atividades, apresenta uma carga horária menor e está fixo somente a uma 
instituição escolar. Isto nos leva a entender que a qualidade da aula na E3 pode estar vinculada 
ao fato de que aquele professor dispõe de um periodo de tempo maior para o planejamento de 
suas aulas. 
42 
2. O interesse do aluno pelo conteúdo esportivo. Este interesse é conseqüência da situação 
descrita no item um. É dificil insistir no discurso da necessidade em se incluir outros conteúdos 
da Educação Física quando os alunos, se abordados sobre qual atividade querem desenvolver na 
aula de Educação Física, não apresentam interesse neste sentido. Esta preferência pela prática de 
modalidades desportivas coletivas na aula de Educação Física promove ao professor uma 
justificativa para sua atuação baseada neste conteúdo. 
Percebemos que o histórico de experiências em aulas de Educação Física não apresenta uma 
variação de conteúdos, o que leva a uma identificação da prática esportiva com a aula. Assim, se 
questionarmos aos alunos, qual a atividade que eles gostariam de desenvolver, a grande maioria 
será a favor de alguma modalidade desportiva coletiva. 
3. O comprometimento do profissional no sentido de não se excluir outras vertentes da 
cultura corporal das aulas de Educação Física. Podemos perceber que alguns profissionais se 
acomodam no discurso de que é dificil mudar esta característica esportizada das aulas, alegando 
que os alunos não permitem, e não querem esta mudança. O professor deve estar ciente de sua 
capacidade de transformação social, de sua intensa participação na formação de valores para o 
caráter de seus alunos. A acomodação e a falta de comprometimento com as obrigações como 
educador fazem com que aulas de Educação Física se tomem pouco significantes para a 
fonnação dos alunos, e assim, têm sua importância questionada no ambiente escolar. 
4. A forma como o conteúdo esportivo é desenvolvido. A maneira cômoda como este 
conteúdo é desenvolvido facilita o "trabalho" do professor uma vez que este apenas deve 
fornecer a bola para que os próprios alunos dividamMse em times e joguem. Das oito aulas 
43 
observadas na E2, cinco abordaram conteúdo esportivo. Nestas aulas, pior que a priorização 
de uma única modalidade esportiva, o futebol, a forma descomprometida, acomodada como 
a aula foi desenvolvida faz a Educação Física na escola tornar-se uma prática sem 
significado. As aulas na El, que abordaram as modalidades desportivas coletivas também 
tiveram estes conteúdos transmitidos de maneira alienada visando à reprodução de gestos 
técnicos. As aulas em que não foram enfatizados os jogos desportivos da forma 
institucional, a atividade proporcionou participação de todos de maneira significativa e 
motivante. Esta situação foi observada na aula 0°3, na E3, onde foi desenvolvida uma aula 
com o conteúdo futebol, mas que exigiu durante o jogo que as equipes mantivessem todos 
os jogadores separados em duplas, e preferencialmente em casais. Foi uma atividade 
bastante complicada no que se refere à necessidade constante de adaptação durante o jogo 
quanto à velocidade de corrida, quanto ao acréscimo de mais um elemento ao jogo, além da 
coordenação dos movimentos da dupla levando a uma e cooperação dentro da equipe. 
Quando a proposta para desenvolver a modalidade desportiva coletiva se mostra 
motivante aos alunos, uma experiência nova, na qual o professor se envolve e se 
compromete no sentido de dar àquele momento a importância que aquele realmente tem, é 
impossível não obter um resultado favorável tanto ao profissional quanto ao aluno. Nós, 
profissionais da área de Educação Física, temos que ter sempre em vista os objetivos aos 
quais queremos alcançar, conhecendo a nossa capacidade de transformação. Segundo 
Piccolo, 
"A aula de Educação Física escolar deve objetivar o 
desenvolvimento global de cada aluno, procurando 
formá-lo como individuo participante; criativo e capaz, 
uma pessoa verdadeiramente crítica e consciente, 
adequada à sociedade em que vive; mas esse objetivo 
44 
deve ser atingido através de um trabalho também 
consciente do educador, que precisa ter uma visão 
aberta às mudanças necessárias do processo 
educacional". (Piccolo, 1995, p.J2). 
A partir da demonstração de interesse do profissional, e da proposta diferenciada para o 
desenvolvimento de atividades já conhecidas pode-se devolver à aula de Educação Física o 
prazer e a importância quer lhe competem. 
O conteúdo esportivo possui sua importância no âmbito escolar, mas não precisa se 
acorrentar às técnicas e regras de cada modalidade sempre que esta for ser desenvolvida. 
Segundo Garganta o ensinamento dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC) precisa ser 
adaptado tanto no que se refere às regras do jogo quanto ao espaço a ser utilizado. ''Na 
seleção ou construção dos exercícios para o ensinamento dos JDC, deve exigir -se que eles 
sejam de acessível execução, de clara explicação e compreensão, de fácil e rápida 
organização e não muito exigentes do ponto de vista material". (Garganta, 1998, p.21). 
Quanto ao esporte escolar ele coloca que "[ ... ] ao nível dos JDC na escola, parece ser 
conveniente construir, nas fases iniciais de aprendizagem, uma metodologia que favoreça a 
assimilação dos princípios comuns aos JDC estrutural e funcionalmente semelhantes". 
(Garganta 1998, p.l6). 
Não negamos de forma alguma o esporte como conteúdo legítimo da Educação Física escolar. 
Também não ignoramos a grande paixão que há pela prática desportiva no ambiente escolar. 
Porém, acreditamos na riqueza que outros conteúdos podem promover no sentido de formar 
indivíduos que possam usufruir da cultura corporal de forma consciente, saudável e prazerosa. 
Então, que o: 
45 
"[ .. .] esporte que sai da condição do conteúdo 
prioritário ou exclusivo da organização das aulas, para 
ser tratado num âmbito de um programa que contempla 
o amplo acervo de conteúdos ou temas da cultura 
corporal, sem hierarquia. Um esporte que foge da 
ditadura dos gestos, modelos e regras, que tem suas 
normas questionadas e é adaptado à realidade social e 
cultural dos alunos. Um esporte desmistificado porque 
conhecido, praticado de forma prazerosa, com 
vivências de sucesso para todos. Um esporte adquirido 
como bem cultural, cuja prática passa a ser 
compreendida como direito" (Assis, 2001, p.l96). 
46 
10) BIBLIOGRAFIA 
ASSIS, Sávio. Reioventando o esporte: possibilidade da prática pedagógica, Campinas, 
SP: Autores Associados chancela editorial CBCE, 2001. 
BETTI, Mauro. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. 
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discente. Campinas [SP: s. n.], 1992. 
BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cad. 
CEDES, ago. 1999, vol.l9, no 48, p.69-88. ISSN 0101-3262. 
CAP ARROZ, F .E. Entre a educação íiSica. na escola e a educação íiSica da escola. 
Vitória: CEFD/Ufes, 1997. 
CASTELLANI FILHO, L. A educação ÍISica no sistema educacional brasileiro: 
Percurso, paradoxos e perspectivas._Tese de doutorado. Campinas: Faculdade de 
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CAVALCANTI, Kátia B. Esporte para todos: um discurso ideológico. São Paulo: !brasa, 
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Alguns apontamentos". lo: SOUSA, E.S. de e VAGO, T.M. (orgs.). Trilhas e partilhas; 
educação tísica na cultura escolar e nas práticas sociais. Belo Horizonte: Cultura, 1997, 
pp. 43-58. 
FERREIRA, V era L. C. Prática da Educação riSica no l 0 grau: modelo de reprodução 
ou perspectiva de transformação? São Paulo: Ibrasa, 1984. 
FREIRE, João Batista. "Antes de falar de educação motora". lo A De Marco (org.), 
Pensando a educação motora. Campinas: Papiros, 1995. 
47 
GARGANTA, J. "Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos". In: GRAÇA 
A.,OLIVEIRA. (ORGS.) O ensino dos jogos desportivos. 3a ed. Porto. Universidade do 
Porto, 1998. 
KUNZ, E. Educação física: Ensino & mudanças. ljuí: Unijuí, 1991. 
Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 
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LAKA TOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991. 
PAES, R.R. Educação Física Escolar: O esporte como conteúdo pedagógico do ensino 
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PICCOLO, Vilma L. Nista. Educação física escolar: Ser ... Ou não ter? Campinas, SP: 
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nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/ SEF, 1998. 
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2002. 
TAFFAREL, Celi N. Z. Criatividade nas aulas de educação física. Rio de Janeiro: ao 
livro técnico, 1985. 
48 
li) ANEXOS 
Anexo 1: 
Modelo de Questionário aos Professores 
QUESTIONÁRIO AO PROFESSOR 
Escola: I 2 3 
• Identificação do profissional 
1) Há quanto tempo você está nesta instituição? 
2) Quantas aulas semanais você ministra nesta escola? 
3) Você também trabalha em outra escola? Quantas aulas semanais você ministra? 
• Planejamento 
I) Como é feito o plaoejamento de aula? 
2) Quem participa deste plaoejamento (diretoria, outros professores)? 
3) Há interação entre o professor de Educação Física e outros professores da escola? 
4) Se houver, o que é discutido? Quais temáticas são abordadas? 
• Conteúdo 
1) Como é feita a seleção dos conteúdos através dos bimestres? 
2) O que determina a escolha do conteúdo? 
3) Quais os objetivos dos conteúdos das aulas observadas? 
Há aulas extracurriculares? Caso não haja, justificar. 
49 
Anexoll: 
Modelo de Ficha de Observações 
OBSERVAÇÃO DE AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
Escola: ............... . 
Série: ................. . Data: ................. . 
Atividade do dia: .......................................................................... ......................................... . 
Desenvolvimento da 
Atividade: ................................................................................................................................ . 
................................................................................................................................................... 
................................................................................................................................................... 
......... '' ................... ''' ............... ' .................... ''' .................. ''' ..................................................... . 
Comentários: .......................................................................................................................... . 
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