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O escuro é nosso amigo

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Enviado por Karen Huisen em

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<p>Viviane Silva</p><p>Maria Lucy Rodrigues</p><p>Ilustrações:</p><p>Viviane Silva</p><p>O escuro</p><p>é nosso amigo</p><p>Este projeto foi contemplado pelo PROGRAMA CULTURA CRIATIVA – 2021</p><p>PRÊMIO AMAZONAS CRIATIVO DO GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS</p><p>Viviane Silva</p><p>Maria Lucy Rodrigues</p><p>O escuro</p><p>é nosso amigo</p><p>SÓ NA ESCURIDÃO VOCÊ PODE VER AS ESTRELAS.</p><p>Martin Luther King</p><p>Pedrinho amava a luz do dia</p><p>e todas as luzes da cidade:</p><p>dos botões do elevador do prédio,</p><p>piscando rumo ao oitavo andar;</p><p>da vista noturna da varanda;</p><p>das vitrines das lojas do shopping</p><p>e as luzes coloridas dos jogos na telinha do celular...</p><p>4</p><p>Passava horas ali, esquecido do mundo.</p><p>O sol ia embora</p><p>e ele não queria sair.</p><p>Quando a noite chegava,</p><p>lá estava ele, desperto,</p><p>sem sono, agitado...</p><p>Mas uma nuvem com um vírus invisível</p><p>atingiu o mundo todinho.</p><p>Deixando o menino ainda</p><p>mais preso no quadradinho.</p><p>5</p><p>Os pais preocupados,</p><p>pensaram logo em uma solução:</p><p>- Já sei o que vamos fazer!</p><p>Levaremos Pedrinho para o sítio,</p><p>com vó Lica e vô João.</p><p>Lá tem muita natureza e bichos,</p><p>no município de Novo Airão.</p><p>6</p><p>Lá tem praias de areia fininha,</p><p>o Rio Negro corre caudaloso.</p><p>Tem beija-flor, cotia e boto;</p><p>castanhas, mangas e taperebás.</p><p>Mas o menino ao chegar estranhou tudo.</p><p>Cadê a Internet, meu vídeo, meu jogo?</p><p>Como faz para o tempo passar?</p><p>E escurecia muito cedo.</p><p>Pedrinho foi ficando com medo</p><p>da noite e dos barulhos da floresta.</p><p>7</p><p>Na escuridão, uma sinfonia invadia a casa.</p><p>Cantavam os sapos, os grilos, as cigarras.</p><p>Quando todos dormiam, a floresta acordava</p><p>e Pedrinho então se apavorava...</p><p>8</p><p>- Que barulho é esse, vó Lica?</p><p>Posso ir para a sua rede?</p><p>Que medo, que horror!</p><p>- Calma, meu neto querido! Esse é o som do guariba.</p><p>Um macaco que canta à noite;</p><p>anda em bando, come folhas, flores e frutos.</p><p>Tente controlar seu medo!</p><p>O Escuro é nosso amigo.</p><p>O medo nubla a nossa mente.</p><p>É preciso aprender a respirar, aconselhou.</p><p>Se a gente respeita a floresta,</p><p>ela então nos protege.</p><p>E com um espetáculo mágico</p><p>pode até nos presentear...</p><p>9</p><p>- Venha aqui na varanda!</p><p>Observe ali, ao longe</p><p>as cores e as luzes</p><p>bordando a noite.</p><p>- Vovó, parece que as</p><p>estrelas caíram do céu!</p><p>- São os vaga-lumes, Pedrinho!</p><p>Assim como as estrelas,</p><p>só podemos vê-los na escuridão.</p><p>Olhe aquela constelação.</p><p>Parece uma onça pintada;</p><p>e onde tem onça tem vida, tem água,</p><p>tem luz e tem floresta equilibrada.</p><p>10</p><p>- E sabe este som engraçado:</p><p>“Tic-tic-tic-tic-tic”?</p><p>É a Tixa, nossa lagartixa.</p><p>Ela nos protege de insetos,</p><p>mosquitos, carapanãs, baratas</p><p>e até do escorpião.</p><p>Ela também é noturna.</p><p>- Que lindo, Vovó!</p><p>- Viu, meu neto, quanta beleza</p><p>há na escuridão?</p><p>Quando estamos no escuro,</p><p>não classificamos com o olhar.</p><p>Então podemos ver muito além.</p><p>11</p><p>Amanheceu no sítio e vô João já está de pé.</p><p>Chama Pedrinho para cuidar dos animais,</p><p>após um delicioso café.</p><p>Tapioca, milho, tucumã, macaxeira,</p><p>suco de jenipapo docinho, colhido do pé.</p><p>Ele nunca tinha visto tanto bicho:</p><p>galinha, pato, cachorro e até preá.</p><p>Aos poucos, o menino foi se acostumando.</p><p>Fazendo amizade com os animais</p><p>e perdendo o medo do desconhecido.</p><p>12</p><p>A rotina foi mudando</p><p>e ficando mais tranquila.</p><p>Nas manhãs, à sombra escura</p><p>da imponente mangueira,</p><p>vó Lica, na cadeira de balanço,</p><p>abria livros e contava histórias.</p><p>Dessa vez, sobre</p><p>a vida das árvores.</p><p>O menino, agora atento,</p><p>criava suas próprias imagens.</p><p>13</p><p>- As árvores são seres</p><p>realmente majestosos, filho.</p><p>Elas se protegem</p><p>em uma teia invisível.</p><p>Raízes que se tocam delicadamente</p><p>no escurinho da terra.</p><p>Elas se comunicam para cuidar</p><p>umas das outras:</p><p>dos filhos, dos vizinhos,</p><p>de quem precisar.</p><p>E o oxigênio que elas liberam</p><p>nós podemos respirar.</p><p>14</p><p>Quando uma árvore-mãe morre,</p><p>todas as outras abraçam suas raízes.</p><p>Zelam por cada pedacinho que resta.</p><p>E assim sua existência perdura.</p><p>Árvore que quer se virar sozinha,</p><p>cresce com dificuldade.</p><p>É facilmente atacada por pragas.</p><p>- Eu não estou sozinho, vó!</p><p>Tenho minha família e vou cuidar de vocês</p><p>assim como cuidam de mim, disse o garoto.</p><p>15</p><p>Ao entardecer, é hora de se recolher.</p><p>Os animais retornam para suas casas.</p><p>A pata Leguminha atravessa a estrada,</p><p>feliz com seus patinhos enfileirados.</p><p>Após um lindo dia de sol,</p><p>diversão e banho de rio.</p><p>16</p><p>A papagaia Leca</p><p>não quer sair da mangueira.</p><p>Passou a tarde inteira</p><p>bicando o fruto amarelo,</p><p>limpando as plumas</p><p>verdes e tagarelando.</p><p>Pedrinho a pega gentilmente</p><p>e a coloca em seu poleiro.</p><p>Lili, a jabuti, tem conforto</p><p>e segurança no escuro casco.</p><p>A casinha é levada para todo o canto.</p><p>Segue com graça no passo sem pressa,</p><p>tranquila e livre de qualquer ameaça.</p><p>17</p><p>O sol rompe a floresta, refletido no rio.</p><p>Vô João quer ir ao arquipélago de Anavilhanas.</p><p>Chama os meninos “Nonoca”, “Positivo” e “Negativo”.</p><p>E os curumins seguem viagem em festa na lancha.</p><p>O conjunto de ilhas verdes faz caminhos de cobra</p><p>nas águas escuras do negro rio.</p><p>Uma paradinha para se refrescar...</p><p>mas Pedrinho fica na areia e não quer aprender a nadar.</p><p>18</p><p>Próxima parada:</p><p>flutuante dos botos.</p><p>Como os mamíferos</p><p>aquáticos são inteligentes!</p><p>Cantam, pulam, dançam e se exibem no ar...</p><p>emitindo tantos sons diferentes.</p><p>Pedrinho chega mais perto e vai até a beira.</p><p>Em um descuido, a chinela engata na fresta de madeira.</p><p>O menino escorrega e cai nas águas.</p><p>Ele enxerga pequenos tons de marrom, laranja e rosa.</p><p>Antes de perder o fôlego, sente o abraço das profundezas.</p><p>Dois botos vermelhos trazem</p><p>o menino de volta à superfície.</p><p>Todos aplaudem, chocados! Que sorte!...</p><p>19</p><p>Depois do susto, os meninos</p><p>chamam Pedrinho para brincar.</p><p>Na Praça do Dinossauro, o ponto turístico,</p><p>seguem a correr e pular.</p><p>Sobem no pescoço do “animal”</p><p>e magicamente voltam no tempo.</p><p>Então, novamente os gigantes</p><p>dominam a Terra e vivem livres na natureza.</p><p>A “viagem” é interrompida quando</p><p>o menino vê o carro dos pais passar.</p><p>A tristeza vai invadindo Pedrinho,</p><p>que já pensa em ter de retornar.</p><p>20</p><p>- Filho, que saudade!, diz a mãe,</p><p>com abraços e beijos.</p><p>Como é bom sentir o cheiro materno,</p><p>o cafuné do pai, o som dos sorrisos...</p><p>Pedrinho começa a contar suas aventuras</p><p>e os olhos da mãe saltam.</p><p>O pai fica orgulhoso ao ver o quanto</p><p>o filho cresceu nesse período.</p><p>- Pai, mãe, vô e vó, eu não quero mais voltar!</p><p>Aqui tem mais vida e liberdade. Descobri o meu lugar!</p><p>...</p><p>21</p><p>A aula virtual vai começar.</p><p>Câmera ligada para se apresentar.</p><p>- Sou Pedro, mas podem me chamar de Pedrinho.</p><p>Novo Airão é minha cidade.</p><p>Ao lado dele, vô João e vó Lica,</p><p>e sua deliciosa vitamina de abacate.</p><p>Os pais de Pedrinho decidiram ficar</p><p>e atravessar a ponte quando precisar.</p><p>O menino sabe que um dia</p><p>voltará para a cidade.</p><p>Uma semente nova germinou</p><p>no seu coração;</p><p>- Quando crescer,</p><p>quero ser pesquisador,</p><p>proteger a Floresta Amazônica,</p><p>essa será minha profissão!</p><p>22</p><p>Aos nossos avós, que são</p><p>nossas maiores bibliotecas.</p><p>Aos pesquisadores e cientistas</p><p>que trabalham diariamente</p><p>para cuidar e melhorar a vida no Planeta.</p><p>E aos moradores do município de Novo Airão.</p><p>SOBRE AS AUTORAS</p><p>MARIA LUCY RODRIGUES</p><p>Menina, mulher e mãe. Nascida em Manaus,</p><p>em 1983, é amiga dos igarapés, dos rios, das</p><p>árvores e dos animais. Escritora, poeta,</p><p>cantora e produtora cultural, é formada</p><p>em jornalismo pela Universidade Federal do</p><p>Amazonas (Ufam), com especialização em</p><p>Gestão Cultural Contemporânea pelo Itaú</p><p>Cultural e Instituto Singularidades (SP).</p><p>VIVIANE BANDEIRA DA SILVA</p><p>Psicóloga, ilustradora, cantora de jazz e rock.</p><p>Nascida em Manaus, em 1975, trabalhou durante</p><p>15 anos na área de Gestão de Pessoas, hoje</p><p>atua com psicologia clínica e projetos de arte</p><p>e música. É membro do Clube de Quadrinheiros</p><p>de Manaus, já participou ilustrando livros para</p><p>escritores e como co-autora no livro Mitos,</p><p>Medos e lendas.</p><p>© texto: Viviane Silva e Maria Lucy Rodrigues</p><p>© ilustrações: Viviane Silva</p><p>Capa, projeto gráfico e diagramação: Mário Lima</p><p>Revisão: Maria Lucy Rodrigues</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>(eDOC BRASIL,</p><p>Belo Horizonte/MG)</p><p>Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422</p><p>Silva, Viviane Bandeira da.</p><p>S586e O Escuro é nosso amigo [livro eletrônico] / Viviane Bandeira da</p><p>Silva, Maria Lucy Pereira Rodrigues; ilustrações Viviane Bandeira da</p><p>Silva. – Manaus, AM: Ed. do Autor, 2022.</p><p>Formato: PDF</p><p>Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader</p><p>Modo de acesso: World Wide Web</p><p>ISBN 978-65-5872-273-1</p><p>1. Ficção brasileira. 2. Literatura infantojuvenil. I. Rodrigues,</p><p>Maria Lucy Pereira. II. Título.</p><p>CDD 028.5</p><p>Com o surgimento da pandemia, os pais de Pedrinho decidem levá-lo</p><p>para o sítio dos avós, no município de Novo Airão, onde fica o arquipélago</p><p>de Anavilhanas, no Amazonas. Lá, o menino se vê em situações jamais</p><p>vividas e tem a oportunidade de enfrentar diversos medos. Com a</p><p>ajuda dos avós e das crianças da comunidade, ele começa a aprender</p><p>mais sobre a natureza. A obra, idealizada e concebida pela ilustradora</p><p>e psicóloga Viviane Silva e pela jornalista e escritora Maria Lucy</p><p>Rodrigues, busca mostrar de uma maneira divertida as maravilhas da</p><p>Amazônia, os animais, as plantas, as pessoas, a biodiversidade e todo</p><p>um universo que pode ser conhecido e explorado a partir do momento</p><p>em que as crianças ficam sem o celular. Serão muitas aventuras com</p><p>vó Lica, vô João e os novos amigos.</p>