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G2 – SOCIOLOGIA – RESUMO DOS TEXTOS Cidadania, Classe Social e Status – T. H. Marshall O Desenvolvimento da Cidadania até o Fim do Século XIX, na Inglaterra: Divide a cidadania em 3 elementos, o civil, político e social. O civil é composto pelos direitos necessários à liberdade individual e o direito à justiça. O político é o direito de participar no exercício do poder político. O social vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar totalmente da herança social e possuir uma vida civilizada de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. Antigamente, esses três elementos (direitos) estavam fundidos em um só. Na sociedade feudal, o status era a distinção de classe e a medida da desigualdade. Não havia um princípio acerca das desigualdades dos cidadãos contrastante ao das desigualdades de classes. A evolução da cidadania foi um processo duplo, de fusão geográfica e separação funcional. Primeiro passo: justiça real estabelecida, no século XII, como força efetiva para definir e defender os direitos civis do individuo. Quando esses 3 elementos se separaram, ficou possível separar sua ‘formação’ a séculos diferentes – primeiro os civis, no século XVIII, depois os políticos no XIX e finalmente os sociais no XX. Os direitos civis consistiram na adição gradativa de novos direitos a um status já existente e a que todos os membros adultos da comunidade já pertenciam. Já com os direitos políticos, o que ocorreu foi a doação de velhos direitos a novos setores da população. E a fonte dos direitos sociais foi a participação das pessoas nas comunidades locais e associações. O direito à educação é um direito social de cidadania genuíno, pois é um pré-requisito da liberdade civil. O dever de auto-aperfeiçoamento e autocivilização é um dever social e não somente individual, pois o bom funcionamento da sociedade depende da educação de seus membros. Cidadania: status concedido àqueles que são membros integrais de uma comunidade. Os que a possuem são iguais em direitos e deveres. Classe social: sistema de desigualdade. A igualdade implícita no conceito de cidadania reduziu a desigualdade do sistema de classes. Os direitos (civis) implícitos na cidadania eram necessários para a manutenção daquela determinada forma de desigualdade. O que acontece é que as desigualdades gritantes não são fruto de falhas nos direitos civis, mas da falta de direitos sociais, que, em meados do século XIX, não se expressavam ainda. Embora a cidadania, mesmo no final do século XIX, tivesse feito pouco para reduzir a desigualdade social, ajudou a guiar o caminho para as políticas igualitárias do século XX. A cidadania exige um sentimento direto de participação numa comundiade baseado numa lealdade a uma civilização que é um patrimonio comum. Seu desenvolvimento é estimulado tanto pela luta para adquirir tais direitos quanto pelo gozo dos mesmos, uma vez adquiridos. Brasileiro: Cidadão? – José Murilo de Carvalho Construção da cidadania brasileira. Na prática, não existe igualdade de todos perante a lei; quem a define é a polícia. Fala dos 3 grupos presentes na sociedade brasileira, em ordem de “classe” possuidora de direitos: o doutor, o crente e o macumbeiro. “Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros” essa frase se aplica ao doutor. É a pessoa capaz de defender seus direitos e ainda privilégios recorrendo a “contatos”. O crente é o pobre honesto, que não está, como o doutor, acima de qualquer suspeita, mas tem o benefício da dúvida. A polícia que decidirá quais dse seus direitos serão rspeitados ou violados. Ele não tem conhecimento profundo de quais são seus direitos civis. O macumbeiro tem seus direitos civis desrespeitados sistematicamente. Sociedade hierarquizada – “você sabe com quem está falando?” contrasta com a norte-americana – “quem você pensa que é?” Apesar da plenitude dos direitos políticos, nosso futuro democrático permanece inseguro. Uma das principais razões para esse fracasso republicano é o fato de os direitos políticos terem se desenvolvido mais que os civis. P.S: direitos políticos: votar, ser votado, organizar partidos, fazer reivindicações políticas. Voto esse que é tudo (mercadoria, lealdade pessoal, barganha) menos a afirmação da vontade cívica de participação no governo do país. Direitos civis: igualdade perante a lei, liberdade, propriedade. São a base sobre a qual devem se assentar os direitos políticos. A nossa cidadania não foi, como na Europa e nos Eua, um construída lentamente pela própria população, um sólido valor coletivo. Pelo contrário, surgiu quase sem luta, pelo ato de fundação da nacionalidade, numa transição pacífica da colônia para a independência. Corrupção é um fenômeno sociológico ligado aos traços profundos de nossa falta de cultura cívica. Os direitos sociais, os últimos da sequência clássica, se expandiram antes dos direitos políticos no Brasil. Foram introduzidos não através de luta política, mas durante um período de ditadura (“doação de leis trabalhistas pelo Estado”). Tudo isto = sintoma e reforço da precariedade da cidadania, da ausência da conquista dos direitos individuais e coletivos pela luta. O brasileiro, diferente de outros povos com maior consciência cívica, tem o senso da independência individual, mas não o da liberdade, pois este exige o senso de liberdade do outro. Cultura de “levar vantagem em tudo”, puro individualismo, falta de construção do espaço público, valores da escravidão. Porém, não se pode acreditar que essa situação será permanente. O exercício sustentado dos direitos políticos pode acabar desenvolvendo os direitos civis. Sem a garantia das leis civis, é ilusória a cidadania civil, e a esperança do fortalecimento da intependência pessoal, e a expectativa do ddesenvolvimento de um forte sentimento de lealdade nacional. Os direitos sociais evoluíram satisfatoriamente. É mais fácil um pobre entrar em juízo e reclamar hora extra não paga do que garantir a inviolabilidade do seu lar. Questão: será que a lentidão desse processo de formação do cidadão não se deve à falta de interesse em que essa cidadania se desenvolva? O cidadão esclarecido é sempre peça incômoda, reivindicadora. Porém, sem ela, nosso futuro como nação está comprometido. Movimentos Sociais – A construção da cidadania – Eunice Durham Multiplicação, no Brasil, de movimentos sociais de diferentes tipos; não era essa a expectativa que os estudiosos tinham sobre a forma como deveria ocorrer a transformação política da sociedade brasileira. Evitar a noção de que os m.s. são formas inferiores de mobilização, que devem evoluir para formas mais plenas de atuação política, como a partidária e a sindical. Esses m.s. são mais flexíveis e variados que partidos e sindicatos. Articulam-se em função de reivindicações coletivas definidas a partir de carências comuns. A passagem do reconhecimento da carência para a formulação da reivindicação é mediada pela afirmação de um direito. Isso pode ser visto como um processo de redefinição do espaço da cidadania. Dois modelos básicos de organização: formal e comunitário (evita a instituicionalização de representação e exige uma participação permanente dos membros). Aspecto fundamental dos m.s.: ênfase na liberdade, na constituição da coletividade. Face a mesma carência, todos se tornam iguais. Na vida urbana, o indivíduo só é reconhecido como pessoa na vida privada. Na esfera pública, tende a ser despersonalizado. Os movimentos são plenamente sociais não apenas devido às suas caractéristicas internas, mas pelo fato de estarem voltados “para fora”, estabelecendo novos canais de comunicação dos indivíduos com a sociedade e o Estado. M.s. tendem a apresentar uma face pública, que enfatiza a igualdade, e uma oculta, marcada por divergências e cisões. Assim, criam de um lado um espaço (restrito) para a vivência da igualdade utópica e elaboram direitos que definem uma nova cidadania. De outro, restringem a experiência democrática à prática da democracia direta nos pequenos grupos. Ação afirmativa na universidade: reflexão sobre experiências concretas Brasil – Estados Unidos “Ação compensatória “ visa a “discriminação historicamente sofrida pelos negros no Brasil. A ‘ação afirmativa’ não estaria diretamente ligada à discriminação sofrida pelos negros hoje, uma ‘ação antidiscriminatória’ serviria para compensar a discriminação do passado” -> ponto de vista dos movimentos negros da primeira metade da déc. de 1990 No Brasil, ao contrário dos EUA, as propostas já surgem como objeto de sérias controvérsias. Dúvida sobre se políticas como a ação afirmativa são compatíveis com a “tradição cultural brasileira”. Nos EUA, a ação afirmativa é legítima pois os negros lá são uma minoria racial, e ela foi uma conquista de um grande movimento social. Já no Brasil, a “lei de cota” foi uma forma de “ceder espaço”. Talvez uma melhor maneira de pensar a questão da ação afirmativa seja indagando-se sobre que ações promoveriam melhors condições de acesso à cidadania, aos recursos econômicos, políticos, sociais e culturais. 1ª hipótese que explicaria a dificuldade da efetivação da a.a. no Brasil: contrário aos EUA, não houve na história recente do país uma discriminação racial na lei (desde 1888 isso não acontece). Porém, essa inexistência não implica ausência de conflito racial nem de discriminação de fato. Mas uma vez que o Estado não a sanciona, é muito mais difícil a cobrança de responsabilidade do mesmo. Também há a imagem de harmonia racial, “democracia racial brasileira”. Importante: essas a.a. não devem ser tratados como “a favor” ou “contra”, e sim, deve-se tentar perceber seus efeitos e quais seriam os efeitos da sua ausência. Metade dos entrevistados vindos de PVNC da PUC-Rio disseram não participar de nenhum movimento social. Um ponto fundamental quando falamos do lugar desses alunos nas universidades é a importância do papel exercido pela universidade na constituição de novas formas de autoconsciência para esses jovens. A maioria deles são os primeiros de suas famílias a frequentar um curso superior, a maior parte dos pais não tem sequer o primeiro grau completo. Em um depoimento, estão expostas as aflições e os desentendimentos que as diferenças sociais e culturais podem trazer às pessoas quando interagem nesse novo contexto, a pressão de serem aceitas como iguais. Participação de uma parcela da sociedade que até bem recentemente não tinha oportunidade de frequentar uma universidade. A questão da aceitação não é apenas uma discussão sobre a diferença social e cultural entre grupos que se opõem, mas, principalmente, uma discussão a respeito de subjetividades que estão sendo criadas nesse novo contexto. Em um depoimento: “o papel do PVNC não é só colocar na universidade, mas fazer ela cumprir o seu papel lá dentro, de se assumir como negra, reconhecer seu valor”. Relação entre identidade e reconhecimento. Identidade da pessoa depende das relações dialógicas que ela mantém com os outros. Reconhecimento aparece em dois níveis, primeiro na esfera individual, pela formação dessa identidade, e segundo na esfera pública -> papel significativo das políticas de reconhecimento de igualdades, de a.a, movimentos sociais negros e religiosos. Essas novas subjetividades já estão sendo formadas antes da entrada dos estudantes no curso. Esses estudantes do PVNC tem que lidar com a diferença não apenas de nível de escolaridade mas também social e cultural. Religião como papel significativo na formação de uma nova subjetividade Nas universidades brasileiras, questão do mérito para esses estudantes: eles devem provar que podem continuar na universidade e se graduar. Se esforçam bastante para acompanhar os cursos, passam pela fase de adaptação, e também por problemas sociais, culturais e econômicos. A entrada desses estudantes no espaço universitário traz a possibilidade de renovação do espaço. Descoberta de que ser negro e pobre no Brasil não é impedimento para a educação. Noção de a.a. é usada a partir de dimensões ao mesmo tempo morais, políticas,religiosas, étnicas, jurídicas, econômicas, etc. Gênero, sexualidade e saúde – Maria Luiza Heilborn Gênero: construção social do sexo. Distinguir a dimensão biológica da social. Qualidade de ser homem e mulher é realizada pela cultura. Na ocidental, masculino – agressividade, feminino – suavidade. Área dos sentimentos também é socialmente construída. As idéias e os valores constituem uma realidade coletiva, autônoma e parcialmente inconsciente para os membros do grupo estudado. Caráter relacional das categorias de gênero. Parece “natural” que caiba ao sexo feminino uma série de tarefas associadas ao papel que a mulher ocupa no processo reprodutivo. Meninos gozam de uma relativa liberdade maior que as meninas. Palavra sexo desalojada do entendimento de elaboração cultural das condutas de homens e mulheres, palavra sexualidade como expressão de trocas eróticas. A sexualidade é uma forma moderna de arranjo e construção de representações e atitudes acerca do que seria uma orientação erótica espontânea, traduzindo uma dimensão interna do sujeito, ordenada pelo desejo. Relativização da sexualidade. A cultura é a grande responsável pela transformação de corpos sexuados em corpos socializados. É necessário neutralizar a crença da sexualidade existindo em si como um domínio da existência autonomizado, ela se integra a estratégias matrimoniais e de integração em uma rede social. Relação mulher e AIDS – uso do preservativo apenas quando o homem concede em usá-lo. “pessoa conhecida” – leia-se aquela que compartilha a princípio dos mesmos universos de valores – recaia fora do campo de uma possível contaminação. Recapitulando: gênero é um conceito que visa apontar para a não-continuidade entre o sexo físico e o sexo social. Comportamento esperado de uma pessoa de um determinado sexo é produto das convenções sociais acerca do gênero em um contexto social específico. Idéias sobre o que se espera de homens e mulheres são produzidas relacionalmente. Discurso sociológico/antropológico enfatizando que a atribuição de papéis e identidades para ambos os sexos forma um sistema simbólico concatenado. É preciso salientar que existe uma variedade significativa de formulações acerca do conceito de gênero.