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3 Integrais de Linha 3.1. Introdução A integral de linha é semelhante a uma integral simples, exceto que, em vez de integrarmos sobre um intervalo [a, b], integramos sobre uma curva C. Elas foram inventadas no começo do século XIX para resolver problemas envolvendo escoamento de líquidos, forças, eletricidade e magnetismo. As integrais de linha são definidas em termos de limites de somas de Riemann, de um modo semelhante à definição de integral definida. 3.2. Integral de Linha de Função Escalar Suponha-se uma curva C espacial lisa dada pelas equações paramétricas: x= x(t) y = y(t) z= z(t) a ≤ t ≤ b ou pela equação vetorial σr (t) = x(t) ir + y(t) jr + z(t) kr . Se f é uma função de três variáveis que é contínua em alguma região contendo C, então se define a integral de linha de f ao longo de C (com relação ao comprimento de arco) de modo semelhante ao feito para curvas planas: ∑∫ = ∗∗∗ ∞→= n 1i iiiinC s)z,y,x(flimds)z,y,x(f Δ (3.1) Calculando-se essa integral tem-se: dt dt dz dt dy dt dx))t(z),t(y),t(x(fds)z,y,x(f 222b a C ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛+⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= ∫∫ (3.2) Observe que as integrais podem ser escritas de modo mais compacto com notação vetorial dtttf b a ∫ )('))(( σσ (3.3) Para o caso especial quando f(x, y, z)= 1, tem-se: ∫ ∫ ==C b a Ldt)t('ds)z,y,x(f σr (3.4) onde L é o comprimento da curva C. Capítulo 3- Integrais de Linha 27 27 Defini-se também, integrais de linha ao longo de C com relação à x, y e z. Por exemplo, ∫ ∑ ∫ = ∗∗∗∞→ =Δ=C n i b a iiiin dttztztytxfzzyxfdszyxf 1 )('))(),(),((),,(lim),,( (3.5) Portanto, como para as integrais de linha no plano, podemos calcular integrais da forma ∫ ++C dzzyxRdyzyxQdxzyxP ),,(),,(),,( (3.6) escrevendo-se (x, y, z, dx, dy, dz) em termos do parâmetro t. Exercícios: 1) Calcule ∫C zdsseny onde C é a hélice circular dada pelas equações x= cos t, y= sen t, z= t, 0 ≤ t ≤ 2π. Solução: ∫∫ ⎟⎠⎞⎜⎝⎛+⎟⎠⎞⎜⎝⎛+⎟⎠⎞⎜⎝⎛= π2 0 222 sen)(sensen dt dt dz dt dy dt dxttdszy C dtttt∫ ++= π2 0 222 1cossensen π ππ 22sen 2 1 2 2 2 )2cos1(2 2 0 2 0 =⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −=−= ∫ ttdtt 3.2.1. Definição formal de Integrais de Linha de Função Escalar Sejam f : ℜ³ -ℜ uma função real e C uma curva em R3, definida pela função ]b,a[I: =σr → ℜ³ σr (t) = (x(t), y(t), z(t)) (3.7) Para motivar a definição de integral de linha de f ao longo de C, supõe-se que C representa um arame e f (x, y, z) a densidade (massa por unidade de comprimento) em cada ponto (x, y, z) ∈ C. Deseja-se calcular a massa total M do arame. Para isto, divide-se o intervalo I = [a, b] por meio da partição regular de ordem n a= t0<t1<...<ti<ti+1<tn=b, obtendo assim uma decomposição de C em curvas Ci definidas em [ti, ti+1] ,i = 0, . . . , n- 1]. Supondo que σr (t) é de classe C1, e denotando por ΔSi o comprimento da curva Ci ,tem- se: Capítulo 3- Integrais de Linha 28 28 ( )∫ + = 1it it si dtt'σΔ r (3.8) Pelo teorema do valor médio para integrais, existe ui ∈ [ti,ti+1 ] tal que ( ) ( ) ( ) iii1iiSi tu'ttu' ΔσσΔ rr =−= + (3.9) Onde Δti = ti+1 - ti. Quando n é grande, ΔSi é pequeno e f(x, y, z) pode ser considerada constante em Ci e igual a f(σ (ui)). Portanto, a massa total M é aproximada por: ( )( ) ( )∑− = = 1n 0i iiin tu'ufS Δσσ rr (3.10) A soma Sn é uma soma de Riemann da função ( )( ) ( )ii u'uf σσ rr no intervalo [a, b]. Logo, se f(x, y, z) é contínua em C, então: ( )( ) ( )∫= b a dtt'tfM σσ rr (3.11) Considerando-se uma curva C em ℜ³, parametrizada por σr (t) = (x(t),y(t),z(t)), t ∈ [a, b], onde σr é de classe C1, e f (x, y ,z) uma função real contínua em C. Definimos a integral de linha de f ao longo de C por: ( ) ( )( ) ( )∫ ∫∫ == C CC dtt'tfdsz,y,xffds σσ rr (3.12) Esta fórmula ainda é válida se σr é Cl por partes . Neste caso, a integral é calculada dividindo- se o intervalo [a, b] em um número finito de intervalos fechados. Exercício: 1) Calcule ∫ ++C 222 ds)zyx( onde C é a hélice definida por σr (t) = (cos t, sen t, t), 0 ≤ t ≤ 2π. Solução: σr ’(t) =(x’(t), y’(t), z’(t)) = (- sen t, cos t, 1). Portanto, σr é de classe C1 em [0,2π] e como f é contínua, então segue que: ∫ ∫ ∫ =+=++=++C 2 0 2 0 2222222 dt)t1(2dt2)ttsent(cosds)zyx( π π ( )22 0 3 43 3 22 3 tt2 ππ π +=⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ += Se pensarmos na hélice como um arame e f(x, y, z)= x² + y2 + z2 como a densidade de massa no arame, então a massa total do arame é: Capítulo 3- Integrais de Linha 29 29 ( )22 0 3 43 3 22 3 tt2M ππ π +=⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ += 3.2.2. Interpretação Geométrica das Integrais de Linha Um caso particular da integral de linha ocorre quando a curva C é uma curva no plano xy definida por uma função de classe C1 ondeσr (t)= (x(t), y(t)), a ≤ t ≤ b, é uma função real contínua definida em C. Neste caso, a integral de linha de f ao longo de C é: ∫ ∫ ∫==C C b a dt)t('))t(y),t(x(fds)y,x(ffds σr (3.13) Quando f(x, y) ≥ 0 em C, a fórmula acima tem como interpretação geométrica a “área de uma cerca” que tem como base a curva C e altura f (x, y) em cada (x, y).. Exercício: 1) A base de uma cerca é uma curva C no plano xy definida por x(t) = 30cos3 t, y(t) = 30sen3 t, 0 ≤ t ≤ 2π, e a altura em cada ponto (x, y) é dada por f(x, y)= 1+ 3 y (x e y em metros). Se para pintar cada m2 um pintor cobra p reais, quanto o pintor cobrará para pintar a cerca? Solução: A base da cerca no primeiro e segundo quadrantes é a porção de C dada por: σr (t)= (30 cos³t, 30 sen³ t), 0 ≤ t ≤ π, e a altura da cerca em cada ponto (x, y) é f(x, y)=1+y/3. Visto que σr (t) = (x’(t), y’(t)) = (-90 cos²t sen t, 90sen²t cos t), então σr é de classe C1 e tcostsen)90(tsentcos)90())t('y())t('x()t(' 24224222 +=+=σ = tttt cossen90cossen)90( 222 == Como f é contínua, a área da metade da cerca é: ∫ ∫ =+=⎟⎠⎞⎜⎝⎛ +C 0 3 dttcostsen)tsen101(90ds 3 y1 π = ⎥⎥ ⎥ ⎦ ⎤ ⎢⎢ ⎢ ⎣ ⎡ +−+= ∫ ∫2 0 2 44 tdtcos)tsen10t(sentdtcos)tsen10t(sen90 π π π 4502 2 1180tsen2 2 tsen180 2 0 5 2 =⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ +=⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ += π A área total da cerca é 2 x 450 m2 = 900 m2 e, portanto, o pintor cobrará 900p reais. Capítulo 3- Integrais de Linha 30 30 3.3. Integrais de Linha de Campos Vetoriais O trabalho feito por uma força → F (x) que move uma partícula de A até B ao longo do eixo x é W = ∫ba f(x) dx. Já o trabalho feito por uma força constante F para mover um objeto de um ponto P para outro ponto Q no espaço é W = → F . D, onde D = → PQ é o vetor deslocamento. Suponha agora que k)z,y,x(Rj)z,y,x(Qi)z,y,x(P)z,y,x(F rrrr ++= é um campo de força contínuo no IR3 (um campo de força em IR2 pode ser visto como um caso especial onde R = 0 e P e Q dependem apenas de x e y). Deseja-se calcular o trabalho exercido por essa força movimentando uma partícula ao longo de uma curva lisa C. Dividi-se C em sub-arcos Pi-1Pi com comprimentos sΔ i , dividindo-se o intervalo do parâmetro [a, b] em subintervalos de mesmo tamanho . Escolhe-se Pi*(xi*, yi*, zi*) no i-ésimo subarco correspondendo ao valor do parâmetro ti*. Se sΔ i é pequeno, o movimento da partícula de Pi-1 para Pi na curva se processa aproximadamente na direção de T(ti*), versor tangente a Pi*. Então, o trabalho realizado pela força → F para mover a partícula de Pi-1 para Pi é aproximadamente: → F (xi*, yi*, zi*) . [ sΔ i →T (ti*) ] = [ →F (xi*, yi*, zi*) . T(ti*) ] sΔ i (3.14) O trabalho total executado para mover a partícula ao longo de C é aproximadamente: ∑ = n i 1 [ → F (xi*, yi*, zi*) . → T (xi*, yi*, zi*) ] sΔ i (3.15) Onde → T (x ,y ,z) é o vetor unitário tangente ao ponto (x, y, z) sobre C. Intuitivamente podemos ver que essas aproximações devem ficar melhores quando n aumenta muito. Portanto definimos o trabalho W feito por um campo de força F como sendo o limite da soma de Riemman dada por: W = ∫c →F (x, y, z) . →T (x, y, z) ds = ∫c →F . →T ds (3.16) A equação (3.16) nos diz que o trabalho é a integral em relação ao comprimento de arco da componente tangencial da força. Se a curva C é dada pela equação vetorial σr (t) = x(t) ir + y(t) j r + z(t) k r , então → T (t) = σr ’(t) / |σr ’(t) |, e podemos reescrever a equação anterior como: W = ∫ba [ →F (r(t)) . σr ’(t) / | σr ’(t) | ] | σr ’(t) | dt = W = ∫ba →F (r(t)) . σr ’(t) dt (3.17) Capítulo 3- Integrais de Linha 31 31 Esta última integral é freqüentemente abreviada como ∫c →F . d →r e ocorre também em outras áreas da física . Portanto podemos definir a integral de linha para um campo vetorial contínuo qualquer. Definição : Seja → F um campo vetorial contínuo definido sobre uma curva lisa C dada pela função vetorial σr (t), a ≤ t ≤ b. Então a integral de linha ao longo de C é : ∫c →F . d →r = ∫ba →F (σr (t)) . σr ’ (t) dt = ∫c →F . →T ds (3.18) Quando se usa a definição anterior, deve-se lembrar que → F (σr (t)) é uma abreviação para → F = (x(t),y(t),z(t)), e calcula-se → F (σr (t)) tomando-se x = x(t), y = y(t) e z = z(t) na expressão de → F (x, y, z). Nota-se também que se pode formalmente escrever que dr =σr ’(t) dt . Apesar de ∫c →F .d →r = ∫c →F . →T ds e integrais em relação ao comprimento de arco não trocarem de sinal quando a orientação do caminho é invertida. É verdade que ∫c →F .d →r = - ∫− →→c rd.F porque o versor tangente T é substituído por seu negativo quando C é trocado por -C. Finalmente, nota-se relação entre integrais de linha de campos vetoriais e integrais de linha de campos escalares. Supõe-se que um campo vetorial F em ℜ3 seja dado sob a forma de componentes pela equação k)z,y,x(Rj)z,y,x(Qi)z,y,x(P)z,y,x(F rrrr ++= . Usa-se a definição para calcular sua integral de linha ao longo de C: ∫c →F .d →r = ∫ba ( →F (σr (t) . σr ’(t) ) dt = = ∫ba ( P →i + Q→j + R →k ). (x’(t) →i + y’(t) →j + z’(t) →k ) dt = = ∫ba [ P(x(t) + y(t) + z(t))x’(t) + Q(x(t) + y(t) + z(t))y’(t) +R (x(t) + y(t) + z(t))z’(t)] dt . (3.19) Mas esta última integral pode ser expressa como: ∫c →F .d →r = ∫c Pdx + Qdy + Rdz (3.20) onde k)z,y,x(Rj)z,y,x(Qi)z,y,x(P)z,y,x(F rrrr ++= . Por exemplo, a integral ∫c ydx + zdy + xdz poderia ser expressa como: ∫c →F .d →r (3.21) Capítulo 3- Integrais de Linha 32 32 Onde → F (x, y, z) = y → i + z → j + x → k . Definição: (consideremos uma curva C em ℜ3) parametrizada por σr (t) = ( x(t), y(t), z(t)), t ∈ [a,b] , onde σr é de classe C1, e →F (x, y, z) = ( P (x, y, z), Q (x, y, z), R (x, y, z) ) um campo vetorial contínuo definido em C. Definimos a integral de linha de → F ao longo de C por: ∫c →F .d →r = ∫ba ( →F (σr (t) . σr ’(t) ) dt (3.22) Se a curva C é fechada, isto é, se σr (b) = σr (a), a integral de linha é denotada por ∫c →F .d →r . Exercícios: 1) Calcule ∫c →F .d →r onde →F (x,y,z) = (x,y,z) e C é a curva parametrizada por σr (t)= ( sen t, cos t, t ), 0 ≤ t ≤ 2π. Solução: Como → F é contínua em ℜ³ e σ’(t)= (cos t, - sen t, 1) é contínua em [0,2π], temos ∫ ∫ =−=→→C 2 0 dt)1,tsen,t).(cost,tcos,t(senrd.F π ∫ ∫ ==+−= π π π 2 0 2 0 22tdtdt)ttcostsentcost(sen 2) Calcule a integral de linha do campo vetorial → F (x,y)= (x²-2xy, x³+ y) de (0,0) a (1,1) ao longo das seguintes curvas: a) O segmento de reta C1 de equações paramétricas x= t, y= t, 0 ≤ t ≤ 1. b) A curva C2 de equações paramétricas x= t², y= t³, 0 ≤ t ≤ 1. Solução: a) ∫ ∫ =⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ++−=++−=→→ 1C 1 0 243 3 1 0 2 12 5 2 t 4 t 3 tdt)ttt(rd.F Capítulo 3- Integrais de Linha 33 33 b) ∫ ∫ =⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +−=++−=→→ 2 1 0 1 0 976 5865 42 25 37 4 6 5)3342(. C tttdtttttrdF Este exemplo mostra que a integral de linha de um campo vetorial de um ponto a outro depende, em geral, da curva que liga os dois pontos. Calculando novamente o item b), usando uma representação paramétrica diferente para a curva C2. A curva C2 pode ser descrita pela função →β (t) = (t, t3/2), 0 ≤ t ≤ 1. ∫ ∫ =++−=→→→ 1 0 1 0 22 7 2 52 ) 2 3 2 32()(')).('( dtttttdtttF ββ Como ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ +−=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= →→→ 23325221 ,2))('(e 2 3,1)(' tttttFtt ββ , obtemos 42 25 3 t 7 t4 6 t5 1 0 2 9 2 73 =⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ +−= Verificamos no exemplo acima que o valor da integral é o mesmo para as duas parametrizações da curva C2. Esta é uma propriedade importante das integrais de linha que provaremos a seguir. É importante destacar que se σr (t) (a≤ t≤b) e →β (t) (c≤ t≤ d) são duas parametrizações equivalentes da curva C, então existe uma função h: [c, d] → [a, b], bijetora e de classe C1, tal que β (t)= σr (h(t)). Se h é crescente, dizemos que h preserva a orientação, isto é, uma partícula que percorre C com a parametrização →β (t) se move no mesmo sentido que a partícula que percorre C segundo a parametrização σr (t). Se h é decrescente, dizemos que h inverte a orientação. Teorema: Sejam σr (t) (a≤ t≤b) e →β (t) (c≤ t≤d) parametrizações de C1 por partes e equivalentes. Se h preserva a orientação, então: ∫ βC →F .d →r = ∫ σC →F .d →r (3.23) Se h inverte a orientação, então: Capítulo 3- Integrais de Linha 34 34 ∫ βC →F .d →r = - ∫ σC →F .d →r (3.24) ( C β e Cσ denotam a curva C parametrizada por →β (t) e σr (t) respectivamente). Demonstração: É suficiente provar o teorema para σr (t) e →β (t) de classe C1. Suponhamos que as parametrizações σr (t) e →β (t) estão relacionadas pela equação →β (t) = σr (h(t)), t ∈[c, d] (3.25) Então, ∫ →→βC rd.F = ∫ →dc F ( β (t)).βv ’(t) dt = ∫ →dc F (σv (h(t))).σv ’(h(t))h’(t) dt (3.26) Fazendo a substituição u = h(t), du = h’(t)dt, obtém-se : ∫ →→βC rd.F = ∫ →)d(h )c(h F (σr (u)). σr ’(u)du = = ∫ →ba F (σr (u)). σr ’(u)du = ∫ ∂→cF .d →r , se h preserva a orientação. = ∫ →ab F (σr (u)). σr ’(u)du = - ∫ ∂→cF .d →r , se h inverte a orientação. 3.4. Propriedades da Integral de Linha (i) Linearidade. ∫∫∫ →→→→→→→ +=⎟⎠⎞⎜⎝⎛ + CCC rd.Gbrd.Fard.GbFa (3.27) onde a e b são constantes reais. (ii) Aditividade. Se C admite uma decomposição num número finito de curvas C1,...,Cn ,isto é, C= C1 U ... U Cn, então: ∫ →→c rd.F =∑∫= →→n 1i i c rd.F (3.28) A prova destas propriedades segue imediatamente da definição de integral de linha. Capítulo 3- Integrais de Linha 35 35 Exercício: 1) Considere C a fronteira do quadrado no plano xy de vértices (0,0), (1,0), (1,1) e (0,1), orientada no sentido anti-horário. Calcule a integral de linha ∫ +C 2 xydydxx Solução: A curva é decomposta em quatro segmentos de reta que podem ser parametrizados do seguinte modo: C1 : σ1 (t) = (t, 0), 0 ≤ t ≤ 1 C2 : σ2 (t) = (1, t), 0≤ t ≤ 1 C3 : σ3 (t) = (-t, 1), -1≤ t ≤ 0 C4 : σ4 (t) = (0, -t) , -1 ≤ t ≤ 0 Assim, ∫ ∫ ==+1C 1 0 22 3 1dttxydydxx ∫ ∫ ==+2C 1 0 2 2 1tdtxydydxx ∫ ∫ − −=−=+ 3C 0 1 22 3 1dttxydydxx ∫ ∫ − ==+ 4C 0 1 2 0dt0xydydxx Logo, ∫ =+−+=+C 2 210312131xydydxx 3.5. Aplicações das Integrais de Linha As integrais de linha possuem vasta utilização em diversas áreas, sobretudo na física para ajudar a descrever alguns fenômenos e calculá-los. Apresenta-se algumas aplicações das integrais citadas na física, além de alguns exemplos resolvidos. a) Cálculo da Massa e Centro de Massa de um Fio Admitamos o seguinte problema descrito no exemplo abaixo onde os dados são os seguintes: Um fio extremamente delgado está identificado com as duas primeiras voltas do traço da hélice C em ℜ3 dada por →C (t) = [cos(t), sen(t), t], com t percorrendo o intervalo [0,4π]. A densidade linear em qualquer ponto (x, y, z) da curva é φ( x, y, z ) = 5x + z. Capítulo 3- Integrais de Linha 36 36 Com o uso de integrais de linha de campos escalares podemos calcular o centro de massa do fio. Primeiramente aproximamos a massa do fio por pequenos elementos de massa mi, concentrados nos pontos ( xi, yi, zi ). Massa ≅ iiiin 1i n 1i i s)z,y,x(densm Δ∑∑ == = (3.29) Logo, uma aproximação do momento de massa em relação ao plano "xy" do fio é dado por ∑ = = n 1i iiiixy s)z,y,x(densM Δ (3.30) Define-se então: ∫∑ == = ∞→ ds)z,y,x(zdenss)z,y,x(denslimM n 1i iiiinxy Δ (3.31) De maneira análoga definem-se os outros momentos de massa. Se M denota a massa total do fio então as coordenadas do centro de massa são dadas por: centro de massa = ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ M Mxy, M Mxz, M Myz (3.32) b) Momento de Inércia Seja L uma linha reta e designemos por dL(x) a distância do ponto x pertencente a ℜn a linha L. O momento de inércia da linha Γ relativo a reta L é a integral de linha da função φ(x) = α(x)d2L(x), ou seja, dt)t(g))t(g(Ld 2))t(g(I ' b a L ∫= α (3.33) c) Campo gravitacional Seja M uma massa pontual e situada na origem de IR3. O campo gravitacional gerado pela massa M é dado por ( ) rz,y,x 33 rGM),z,y,x(GM)z,y,x(F r r −=−= (3.34) Onde r = (x; y; z) e G é a constante universal da gravitação. Facilmente se verifica que o campo gravitacional é um gradiente e o seu potencial é a função zyx)z,y,x( 2 22 GM r 1GM),z,y,x(GM)z,y,x( ++ === rφ (3.35 (3.35) Capítulo 3- Integrais de Linha 37 37 A integral de linha de um campo gradiente não depende do caminho. Depende apenas do ponto inicial A e do ponto final B. Podemos aplicar então o teorema fundamental do cálculo para o cálculo da integral de linha: )()(.. abdgdgF φφφ −=∇=∫ ∫ Γ Γ (3.36) d) Campo Magnético Através da Lei de Ampère Em 1819, Oersted descobriu que uma corrente elétrica produz um campo magnético, e que para o caso de um fio retilíneo, as linhas de campo são círculos em planos perpendiculares ao fio, como ilustra a Figura (3.1). O sentido do campo é dado pela regra da mão direita: com o polegar no sentido da corrente, os outros dedos dão o sentido de B. Logo após a apresentação do trabalho de Oersted, em 1820, Ampère realizou outras experiências e formalizou a relação entre corrente elétrica e campo magnético. Ele mostrou que o campo produzido pela corrente, i, é dado pela lei que recebeu seu nome. →→→ =∫ ild.B 0μ (3.37) Onde μo é a permeabilidade magnética do vácuo. Em (3.37), a integral é realizada ao longo de uma linha fechada arbitrária, que alguns autores denominam linha amperiana, pela sua correspondência com a superfície gaussiana no caso da eletrostática, e através desta lei é possível calcular o campo magnético numa integral de linha. Figura 3.1- Ilustração para a dedução da lei de Ampère Capítulo 3- Integrais de Linha 38 38 Exercícios: 1) Seja Γ um fio de um material cuja densidade de massa é dada por yx 2 21 1)y,x( ++ =α e tem a configuração de uma espiral descrita pelo caminho g(t) = (t cos t; t sen t) ; 4π ≥ t ≥ 0 (vide figura abaixo). Então 1)t())t(g( g' =α e, portanto, a massa de Γ é dada por: πα ππ 41 1 1)())(( 2 4 0 2 4 0 ' =+ + == ∫∫ dtdtttgM t t g . A coordenada y do centro de massa é dada por: 1 4 4sen 4 1),(1 4 0 −=−=== ∫∫ Γ π π π πα tdttyxyMy 2) Seja Γ pertencente ao IR3 um fio de um material com densidade de massa α(x; y; z) = z e cuja configuração é a de uma hélice cilíndrica descrita pelo caminho g(t) = (cos t; sen t; t) ; 4π ≥ t ≥ 0 da figura abaixo: Então 2)(' =tg e o momento de inércia de Γ relativo ao eixo z é dado pela integral de linha ∫∫ ==+=Γ Γ π π4 0 222 282)()( tdtdsyxzIz Capítulo 3- Integrais de Linha 39 39