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Rio, 18 de agosto de 2010
Direito, psicologia e subjetividade
A modernidade reduziu todo o conhecimento a um tipo de experiência válida, o experimento. Tudo poderia ser, dessa forma, medido e matematizado. Isso é possível na química e na física. Porém, na vida social nem tudo pode ser reduzido a números. O comportamento humano não é sempre repetido da mesma forma como os fenômenos naturais. 
Assim, a modernidade errou em considerar que todo conhecimento poderia ser obtido da mesma forma que a física obtém seus resultados. Nem todas as áreas de conhecimento são passíveis de utilização dos métodos das ciências físico-matemáticas. 
Nas ciências humanas, pode-se criar uma descrição que funciona como uma experiência, assim criando uma teoria maior. A mesma experiência pode ser teorizada em quadros diferentes.
Um exemplo: quando os povos antigos indicaram que o sol girava em torno da terra mediante a observação dos fenômenos naturais. Depois de Galileu, percebeu-se que a terra gira em torno do sol. Dessa forma, o paradigma é alterado. 
Freud também muda um paradigma quando fala de um saber que não é cientifico e da existência de um psiquismo inconsciente. Surge uma metapsicologia. Freud utilizava categorias modernas, como é o caso do conhecimento advindo do experimento. O primeiro passo do conhecimento seria a observação.
A física quântica mostrou que a física newtoniana pode ser utilizada, porém ela não será aplicada sempre.
Entropia: indica que a matéria irá se organizar ao longo do tempo e tudo irá virar uma massa amorfa. A natureza não é mais vista como máquina atualmente, mas como organismo vivo. 
Questões básicas da concepção paradigmática
- Natureza e cultura. A modernidade e Freud vêem essa relação como dual e de dominação da cultura sobre a natureza. Eram dois pólos opostos e conflitivos. Todo o desenvolvimento industrial foi criado a partir dessa concepção. Muitas coisas negativas vieram disso, como os desastres ecológicos. O fato de a depressão ser uma das maiores doenças do mundo é culpa dessa concepção. 
A natureza, porém, é um produto de si mesma e não nosso produto. Cultura é nosso produto. A agricultura já faz parte da cultura.
Fazia-se relação da natureza com a mulher e da cultura com o homem, justificando-se assim a dominação do homem sobre a mulher.
Freud vai pensar o homem natural como um selvagem sem lei. Freud acredita que a cultura reprime certos atos desse homem selvagem. Entre os atos reprimidos destacam-se a agressão e o impulso sexual. A natureza seria domada pela cultura para que a vida social possa existir.
Esse modo de pensar está na base do direito penal repressivo (principalmente o direito penal do inimigo).
Winnicott (1896 – 1971) pensa a relação natureza-cultura como um continuo e não como uma oposição. Assim, a natureza humana estaria dotada de tendências. Ele acredita, segundo suas experiências, que há uma tendência a um desenvolvimento espontâneo de um sentimento ético. 
Para Freud, o sujeito não nasce com nenhuma tendência ou idéia ética. Assim, a noção de bem e de mal para a criança dependeria de sua criação. Os seres humanos dependem mais dos progenitores devido à passagem da razão dos pais aos filhos. O bem e o mal vêm da cultura onde as pessoas vivem.
Para Winnicott, há um sentimento ético inato. Para Rousseau, por exemplo, a compaixão é uma tendência natural. Repara-se que Winnicott não fala de determinações, mas sim de tendências. Exemplo: a criança tem uma tendência a ter um sentimento ético, porém isso depende de seu ambiente de criação. A tendência não se impõe de qualquer maneira como faz uma determinação, ela exige um ambiente para se desenvolver.
Movimento espontâneo, para Winnicott, é um movimento que pode se dar naturalmente, porém ainda necessita de um ambiente favorável, ou, ao menos, da ausência de um ambiente desfavorável.
Portanto, as concepções de Freud e Winnicott são radicalmente diferentes.
Como pensar a relação indivíduo-sociedade?
Para Hobbes, por exemplo, o indivíduo existiu antes da sociedade. Isso é uma ficção mas nos permite entender tanto o indivíduo quanto a sociedade. Freud acreditou nessa idéia, já que ele encontrou processos constitutivos dessa individualidade. 
Nos raros casos em que crianças humanas sobreviveram fora da sociedade, elas sobreviveram em termos biológicos, mas não desenvolveram humanidade. Mas para Freud o individuo existe antes da sociedade: cada individuo é um Narciso, ama a si mesmo, portanto a maneira de socialização entre os homens se dá apenas pela repressão ao narcisismo. Chamam isso de processo de castração. A onipotência do homem é “castrada”. A circuncisão simboliza a limitação da onipotência.
Winnicott diz que não há um Narciso que nasce. O ego não nasce, o ego se constrói. Uma psicose grave é um ego mal construído. A mãe (ou quem cria a criança) cria um ambiente favorável para criar o narcisismo. A mãe propicia a seu filho a ilusão de ser onipotente ao dar a ele o seio sempre que tiver fome. Depois, chega um momento que todo o narcisismo criado precisa ser limitado. Winnicott diz que a mãe, depois de criar a onipotência, começa a ter outros motivos de ação além do filho e nesse momento o filho percebe a limitação do narcisismo e o fato de existir outro além dele (alteridade).
A fantasia: nós somos seres de imaginação, de fantasia. A fantasia é anterior a realidade (construímos a realidade a partir da fantasia). Essa teoria de Winnicott é muito importante. Essa fantasia faz com que seja impossível o determinismo absoluto (se tudo fosse determinado, não existiria lugar para algo novo).
Para Freud, a fantasia seria uma compensação de uma frustração imposta pela realidade. Caso da noiva deixada no altar que se vestia de noiva todos os sábados. 
Winnicott chama a fantasia de Freud de devaneio. Fantasia utiliza a imaginação. Winnicott defende a capacidade de criação, permitindo à humanidade dar saltos qualitativos. A democracia, por exemplo, é uma criação cultural. Outro exemplo de criação é a linguagem, o mundo simbólico. 
Para próxima aula: Totem e Tabu. 
Recomendação: filme alemão “Fita branca”

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