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1 Os significados do vocábulo “direito”. Do ponto de vista da Ciência Jurídica, o direito é um conjunto de normas sociais obrigatórias que asseguram o equilíbrio do organismo social e que são impostas coercitivamente pelo Estado. Mas este é apenas um dentre os muitos significados possíveis da palavra “direito”. No texto abaixo, o vocábulo “direito” é empregado de diversas formas: O direito brasileiro (1) consagra muitos direitos (2). Entre eles, está a livre comunicação das opiniões e dos pensamentos, que é um dos direitos (3) mais preciosos do homem. Foi exatamente o que falou Zé Merreca quando o policial lhe retirou o direito (4) de continuar usando o megafone para convocar seus colegas de trabalho para a greve na porta da fábrica de sapatos de seu Galdêncio Honorino. Seu Raimundo, advogado aposentado que passava na hora, comentou: - Realmente, não parece direito (5) impedir um cidadão direito (6) de dar seu recado, pois ele tem os seus direitos (7). E veja, nem sempre foi assim. Somente com o passar do tempo, o estudo do direito (8) reconheceu esses direitos (9), transformando-os em direito (10). Questão: Identifique as formas em que a palavra direito está utilizada, correlacionando-as aos seguintes significados: direito de cada um, direito que está na norma, direito criado pelo Estado, justo, correto, e ciência jurídica. Gabarito sugerido: 1) Direito criado pelo Estado. 2) Direito que está na norma. 3) Direito de cada um. 4) Justo. 5) Correto. 6) Direito de cada um. 7) Ciência jurídica. 8) Direito de cada um. 9) Direito que está na norma. Função social do Direito Quando Paulo Roberto chegou, a aula já estava acabando. Silenciosamente, encaminhou-se para o fundo da sala, sentou-se e ficou ali ouvindo o professor que concluía uma aula de Introdução ao Direito, afirmando que aquela disciplina tinha 2 como principais objetivos abrir para os alunos as portas do Curso de Direito e despertá-los para o gosto e o entusiasmo pelo Direito e que um dos objetivos da Introdução ao Direito é estimular a reflexão do aluno sobre o que é o Direito e o papel que desempenha ou pode desempenhar dentro da estrutura social. Por fim, o professor deixou duas questões na lousa para os alunos responderem. Paulo Roberto pede, então, a você, seu colega de classe, que o ajude nesta tarefa. Vamos às questões: 1. O que é o Direito? É possível definir o termo “Direito” de maneira homogênea e definitiva? Gabarito sugerido: Para doutrina predominante, não é possível estabelecer uma única definição lógica de “Direito”. Este é empregado em diferentes acepções: Direito-Ciência (Ciência Jurídica ou Dogmática Jurídica); Direito-Norma (Direito Objetivo); Direito-Faculdade (Direito Subjetivo); Direito-Justo (Ideal de justiça); Direito Fato-Social (Fenômeno histórico-social); Direito existencial (Dignidade da pessoa humana); Direito natural; Direito positivo; Direitos humanos; Direito como ramo do conhecimento jurídico (Direito público, Direito privado, Direito misto). Pode-se, por um lado, a título provisório e aos olhos do homem comum, admitir que o “DIREITO É LEI E ORDEM”. Aqui, trata-se do Direito na acepção de lei ou norma (regra social obrigatória): Um conjunto de regras de conduta obrigatória, que garantem a convivência social pela coerção pública (REALE, 2000, p. 1). O Direito, por outro lado, é aceito como fato social e histórico, ou seja, fenômeno histórico e sociocultural, que se forma ao longo do tempo. Apresenta-se, nesse caso, sob múltiplas formas e campos de interesse, o que reflete em diferentes estruturas normativas e disciplinas jurídicas. Como se observa, não podemos reduzir o “Direito” à simples legislação, que se esgota na norma jurídica, até porque a lei não é a única fonte do Direito. 2. Seria o Direito mero instrumento de controle social e organização para manter a ordem? Ou seria o Direito um instrumento de proteção e defesa da pessoa e de transformação social? Seria o Direito mero instrumento de controle social e organização para manter a ordem? – ou seria o Direito um instrumento de proteção e defesa da pessoa e de transformação social? Gabarito sugerido: De fato, o direito sempre é visto como meio, como fim, como instrumento, seja para dominação ou libertação de classes/pessoas, seja para buscar e concretizar valores, como o da justiça, ou apenas refletir e formalizar uma pretensa realidade imutável. Todavia, há influência da superestrutura na infraestrutura social, ou seja, o direito pode e deve modificar condutas humanas, o que resulta na transformação da realidade, seja nas atitudes de cada indivíduo ou na significação dos valores. Exemplo claro da possibilidade de influência do direito, agora na acepção objetiva/subjetiva, está na aplicação do Código de Defesa do Consumidor, lei n. 8.078/90. Notou-se uma grande mudança na qualidade dos bens de consumo colocados no mercado após a validade e vigência desta lei. O consumidor brasileiro passou a exigir em maior grau um bom nível na qualidade dos produtos e uma conduta mais ética dos fornecedores desses bens. E 3 quando não adimplidas essas exigências, os juristas aplicaram as sanções previstas, o que terminou por modificar o meio social. Relação entre direito e moral (Teorias dos Círculos) e Teoria Tridimensional do Direito Thiago Souza, menor de idade, recorre à Justiça, requerendo alimentos em face de seus avós. Na oportunidade, a justificativa para tal pedido foi a de que teriam eles (avós) melhores condições financeiras do que os pais. Porém, a Justiça negou o pedido de alimentos requerido contra os avós, porque, com base no art. 1.698, CC/02, não ficou demonstrada a impossibilidade de os pais prestarem assistência ao filho menor. Alegou o juiz que a responsabilidade pelos alimentos é, em primeiro lugar, dos pais e filhos, e, secundariamente, dos avós e ascendentes em grau ulterior, desde que o parente mais próximo não possa fazê-lo. Nesta mesma direção, a Revista Jurídica CONSULEX – Ano VIII – n° 172, em 15/03/04, já informava que a responsabilidade de avós é complementar, valendo apenas nos casos em que os pais não estiverem em condições financeiras de prestar essa assistência alimentar ao filho. Diversos autores formularam teorias que buscam enfrentar um dos problemas mais complexos da Ciência do Direito: as diferenças entre a Moral e o Direito, que caracterizam os sistemas da moral e o jurídico. Pergunta-se: A solidariedade sempre foi considerada uma das características marcantes das relações familiares, seu verdadeiro alicerce. Qual das teorias dos círculos se aplica ao caso em questão, fundamentalmente no que se refere à obrigação de prestação de alimentos pelos pais e pelos avós? Sugestão de Gabarito: Inicialmente devemos lembrar aos alunos que o ato moral implica numa aceitação do espírito ao conteúdo da regra. Não é possível verificarmos o ato moral derivado da força. Logo, para realizar-se de forma automática, a Moral necessita contar com a adesão subjetiva e interior dos obrigados. No caso proposto, observa-se que a obrigação de alimentar concedida aos filhos e reclamada em face dos pais e avós apresenta como fundamento a denominada solidariedade familiar decorrente do vínculo de parentesco, regulado pelo Direito de Família. A mesma obrigação também encontra proteção no âmbito da Moral, pois o exercício das virtudes, aproximação do indivíduo, compaixão, solidariedade, dentre outros, são sentimentos incentivados pela Moral, social e individual. Nestes termos, a Teoria dos Círculos Secantes, defendida por Du 4 Pasquier, demonstra que a Moral e o Direito possuem uma faixa de competência comum, e, ao mesmo tempo, uma área particular independente, com matérias próprias da Moral, com exclusão do Direito e vice-versa. O caso proposto se enquadra na faixa de competência comum. É correto dizer que Direito e Moral são independentes? Justifique sua resposta, comentando, sucintamente, o caso concreto em exame, à luz das teorias que envolvem essa questão. Sugestão de Gabarito: Embora a Moral e o Direito representem campos próprios de atuação no controle dos comportamentos sociais, não estão completamente separados, ou seja: não exercem influência um sobre o outro. Pelo contrário, verifica-se em várias matérias a regulação da Moral e do Direito a um só tempo, como no caso proposto. A responsabilidade pelos alimentos dos pais pelos filhos, como narrado na questão, encontra respaldo tanto na Moral como no Direito, como podemos deduzir da Teoria dos Círculos Secantes, elaborada por Du Pasquier. Contudo, o eminente jurista Hans Kelsen apresenta um posicionamento diverso. Tal consideração pode ser examinada pelo texto de Rosivaldo da Cunha Oliveira, no texto Direito e Moral, extraído do site http://www.prt21.mpt.gov.br/dt_3_04.pdf “(...) KELSEN critica a afirmação de que o Direito prescreve uma conduta externa e a Moral uma conduta interna”. Para ele, as normas das duas ordens determinam as espécies de conduta e como exemplo diz que a virtude moral da coragem não consiste apenas num estado de alma onde predomina a ausência de medo, mas também numa conduta exterior condicionada por aquele estado. Quando uma ordem jurídica proíbe o homicídio, proíbe não apenas a morte de um homem causada pela conduta exterior de outro homem, mas também uma conduta interna, ou seja, a intenção de produzir tal resultado. Para KELSEN, o Direito e a Moral se distinguem pela forma como se proíbe determinada conduta. ”O Direito é concebido como uma norma de coação, isto é, como uma ordem normativa que procura obter determinada conduta humana prevendo um ato de coerção socialmente organizado contra a conduta que não corresponda a essa ordem. Já a Moral é uma ordem social que não estatui quaisquer sanções desse tipo, visto que suas sanções apenas consistem na aprovação da conduta conforme as normas e na desaprovação da conduta contrária às normas, nela não entrando sequer em consideração, portanto, o emprego da força física (...)”.