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1 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONALUNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2008 Lucinéia Felipin Woitchunas Marivane da Silva FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 2 2008, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: editora@unijui.edu.br www.editoraunijui.com.br Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Designer Educacional: Liane Dal Molin Wissmann Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí S586f Silva, Marivane da.. Fundamentos da gestão organizacional / Marivane da Silva, Lucinéia Felipin Woitchunas. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2008. – 128 p. – (Coleção educação a distância. Série li- vro-texto). ISBN 978-85-7429-662-3 1. Administração. 2. Processo administrativo. 3. Dinâ- mica de grupo. 4. Motivação. 5. Cultura organizacional. 6. Comunicação. I. Woitchunas, Lucinéia Felipin. II.Título. III. Série. CDU : 658 658.3 3 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL SumárioSumárioSumárioSumário CONHECENDO AS PROFESSORAS ...........................................................................................5 UNIDADE 1 – CLÁSSICOS DA ADMINISTRAÇÃO: Os Pioneiros ........................................7 UNIDADE 2 – ADMINISTRAÇÃO, TEORIAS E ÁREAS FUNÇÕES ...................................15 Seção 1 – Administração: concepções ........................................................................................15 Seção 2 – Origens da Administração: diferentes teorias da administração ..........................23 Seção 3 – Áreas Funções da Organização ou Funções Organizacionais .............................23 UNIDADE 3 – PROCESSO ADMINISTRATIVO E SEUS ELEMENTOS ............................55 UNIDADE 4 – DINÂMICAS DE GRUPO ..................................................................................71 Seção 1 – Grupos: conceitos e dimensões ..................................................................................71 Seção 2 – Grupos: procedimentos individuais nos grupos sociais ..........................................73 Seção 3 – Comportamentos em Grupo Versus Metas Organizacionais .................................74 Seção 4 – Técnicas de Dinâmicas de Grupos: o que são e para que servem? .......................75 Seção 5 – Os Elementos de uma Dinâmica de Grupo: passo a passo ....................................77 UNIDADE 5 – MOTIVAÇÃO ........................................................................................................79 Seção 1 – O Que é Motivação? Conceitos e principais abordagens ......................................79 Seção 2 – Teorias da motivação humana ...................................................................................83 Seção 3 – Reconhecimento, Frustração e Mecanismos de Defesa .........................................87 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 4 UNIDADE 6 – COMUNICAÇÃO .................................................................................................91 Seção 1 – O Que é Comunicação – o subsistema de comunicação e seus componentes ...............................................91 Seção 2 – Integração do Subsistema de Comunicação Com os Demais Subsistemas de Gestão ...................................................................96 Seção 3 – Algumas Limitações na Prática da Comunicação nas Organizações .................97 Seção 4 – Melhorando a Comunicação Interpessoal e Organizacional ...............................99 UNIDADE 7 – CONFLITOS E PODER ................................................................................... 101 Seção 1 – Conflito: o que é? ...................................................................................................... 101 Seção 2 – Os Tipos Mais Comuns e as Fontes de Conflitos ................................................. 104 Seção 3 – Estratégias para Gerenciar os Conflitos Organizacionais .................................. 105 Seção 4 – O Uso do Poder na Solução dos Conflitos ............................................................ 107 UNIDADE 8 – OUTRAS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................ 111 Seção 1 – Escola Estruturalista ................................................................................................ 111 Seção 2 – Desenvolvimento Organizacional (DO) ................................................................ 113 Seção 3 – Escola Sistêmica ....................................................................................................... 116 Seção 4 – Administração Por Objetivos (APO) ....................................................................... 119 Seção 5 – Abordagem Contingencial ....................................................................................... 120 UNIDADE 9 – NOVOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO ........................................ 123 Seção 1 – Aprendizagem Organizacional ............................................................................... 123 Seção 2 – Cultura Organizacional ........................................................................................... 125 Seção 3 – Outras Teorias Emergentes ...................................................................................... 127 5 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL LUCINÉIA FELIPIN WOITCHUNAS Nasci em Ijuí e, nesta cidade, cursei o Ensino Fundamental (antigamente se dizia primeiro grau) em uma escola estadual. De- pois concluí o Ensino Médio profissionalizante em um colégio cenecista, no qual recebi o título de Técnica em Contabilidade. Graduei-me em Administração no ano de 2000, na Unijuí. Em 2003 concluí o curso de Pós-graduação em Marketing, também na Unijuí e em 2005 recebi o título de mestre em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, novamente pela Unijuí. Desde jovem sempre conciliei meus estudos à noite com o trabalho durante o dia. Assim, aprendi bastante e fui conquistan- do meus espaços, acumulando experiências como: gerente de re- cursos humanos, administradora hospitalar, consultora de empre- sas (em especial de redes empresariais) e professora universitária. Minha monografia de Pós-Graduação teve como título: Pla- nejamento Estratégico em redes de pequenas empresas: o processo participativo na Rede Agivest e, a dissertação de Mestrado levou um longo título: Fatores críticos de sucesso no processo de forma- ção, desenvolvimento e manutenção de redes horizontais de coope- ração: um estudo multicaso. Em 2003 comecei a atuar como professora universitária na Unijuï e em outras instituições. Atuo com maior freqüência nas áreas de teorias administrativas, planejamento, estratégias, marketing e administração rural. Mais informações sobre publica- ções, prêmio recebido e experiências acumuladas podem ser obti- das no meu curriculum lat tes , acessando a página www.lattes.cnpq.br Casada desde 1994, em 2006 reduzi um pouco meu ritmo em função do nascimento de meu primeiro filho, Carlos Arthur, mas não abri mão de ministrar aulas na Unijuí. Em 2007, então, reto- mando minhas atividades, criei também o meu próprio negócio. Conhecendo as professorasConhecendo as professorasConhecendo as professorasConhecendo as professoras FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 6 Sempre gostei muito de aprender, ler, investigar, escrever, mas também aprecio muito as atividades práticas de gestão, em especi- al consultoria empresarial. Embora não seja fácil, sempre que pos- sível tento conciliar as duas coisas (aulas e gestão). Espero que você goste do que preparamos para você e se sinta muito motivado(a) para iniciarmos logo esta etapa. Desejo que você seja um aluno(a) virtual e um profissional “nota 10”. Sucesso! MARIVANE DA SILVA Tenho 33 anos, moro em Ijuí desde 1989, quando conclui o primeiro grau e cursei o segundo grau na Escola Estadual de 2º Grau Ruy Barbosa, nesta cidade. Minha trajetória acadêmica na Unijuí iniciou-se em 1993, quando ingressei na Graduação em Ad- ministração de Empresas. Em 1994 fui contratada como técnico- administrativo e de apoio no Departamento de Estudos da Admi- nistração da Unijuí, com atuação na área administrativa. Em 1998 senti vontade de continuar meus estudos e conhecer uma propos- ta diferenciada de Pós-Graduação. Decidida a conhecer outro Es- tado do país, cursei uma especialização na modalidade a distân- cia na Universidade Federal de Lavras – UFLA/MG –, na qual obti- ve o título de especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas. Considero-me uma apaixonada pela profissão e pela academia. A partir de 2000, comecei a participar do Conselho Re- gional de Administração – CRA/RS –, como forma de integrar a academia ao mundo empresarial. Sou professora horista da Unijuí desde 2002, com atuação nas áreas de Estágios e Teorias da Administração. Obtive recente- mente o título de mestre em Desenvolvimento pela Unijuí (2007). Além da docência, exerço função administrativa na Secretaria dos Conselhos da Unijuí. Sou “prata da casa na casa”, ou seja, nesta instituição de ensi- no constituí minha formação acadêmica e profissional. Posso dizer que sou feliz e realizada nas minhas escolhas. Espero poder contri- buir para a construção do seu conhecimento nesta sua caminhada! 7 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1 Clássicos da Administração – Os Pioneiros Lucinéia Felipin Woitchunas Os objetivos desta Unidade são: – Conhecer os principais autores clássicos da teoria da Administração e suas contribuições mais importantes. Se perguntássemos a você sobre quando surgiu a Administração, o que você respon- deria? Provavelmente diria que a Administração é tão antiga quanto a humanidade. Pois é, mas a Administração é uma atividade antiga apenas na prática, pois na teoria, ou enquan- to ciência, ela é muito recente. Você sabe dizer quando surgiu a Administração enquanto ciência? Pesquise esse fato (em livros, na Internet, etc.) e, com certeza, terá mais subsídios para compreender o que vamos expor a você nesta Unidade. Bem, a Teoria Clássica da Administração surgiu, enquanto ciência, no início do século 20. É isso mesmo, muito recentemente. O seu precursor foi Frederick Taylor, seguido por Henry Ford, Henri Fayol, Max Weber, Elton Mayo e outros... Vamos conhecer um pouco mais sobre esses autores? Frederick W. Taylor Frederick W. Taylor Frederick W. Taylor Frederick W. Taylor (1856-1917)1 Principal contribuição: Administração Científica Principal Obra: Princípios de administração científica (The principles of scientific management). Frederick Taylor era um engenheiro mecânico e inventor norte-americano. Teve gran- de influência no mundo do trabalho no século 20 e marcou a sua época. Quer saber por quê? 1 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederick_Winslow_Taylor>. Acesso em 18 jan. 2008. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 8 Conhecido como o inventor da Administração Científica, F. T. destacou-se como defensor da produção em grande escala e do comando, avaliação e controle. Segundo Crainer (1999, p. 248), “Taylor, enquanto traba- lhava e estudava, produziu uma série aparentemente interminá- vel de invenções e inovações. Ele mudou as regras do beisebol, alterando a forma de arremesso pelos jogadores, e obteve mais de cem patentes para suas múltiplas e variadas idéias. Foi também campeão de tênis”. Taylor era um homem de personalidade obsessiva pelo con- trole do ambiente, queria medir e avaliar tudo. Para ele, “o em- pregado humilde era encarado como um robô automático”, afir- ma Crainer (1999, p. 249). Não se importava com as iniciativas dos homens, pelo contrário, acreditava que o operário era pago para executar o trabalho da maneira ideal indicada para fazê-lo. Pensar seria perda de tempo, sua função era simplesmente exe- cutar o trabalho conforme exigido pelo gerente. Assim ele deli- neou um roteiro visando a um melhor desempenho dos trabalha- dores. Esse roteiro está no seu livro The principles of scientific management, escrito em 1911 e, de forma resumida, trata do se- guinte: 1. localizar os melhores homens especialmente aptos para reali- zar determinado trabalho (em torno de 15 homens de empre- sas e regiões diferentes); 2. estudar as séries de movimentos e operações de forma precisa e os instrumentos que cada um utiliza; 3. cronometrar o tempo necessário para cada atividade e a ma- neira mais rápida de realizá-las; 4. eliminar movimentos falsos, vagarosos e inúteis; 5. agrupar em uma série os movimentos mais rápidos e melhores e também os melhores instrumentos utilizados. Frederick Winslow Taylor cresceu na Filadélfia. Sua família possuía recursos. Quando adolescente, fez a tradicional viagem pela Europa. Não se tratava de uma mera viagem rápida pelo continente – sua permanência durou três anos. Aos 18 anos, após retornar aos Estados Unidos, trabalhou como aprendiz em uma indústria na Filadélfia que fabricava bombas a vapor, a Enterprise Hydraulic Works (ele não estudou em Harvard devido a problemas na vista, embora tenha sido aprovado no exame de admissão). O próximo passo em sua carreira ocorreu na Midvale Steel Company, onde se tornou engenheiro chefe. Depois, foi trabalhar nas fábricas de papel da Manufacturing Investiment Company, no Maine. Em 1893, mudou-se para Nova York e começou a atuar como engenheiro consultor (o cargo que antecedeu o de consultor gerencial). Taylor freqüentou o Stevens Institute of Technology, em Hoboken, nova Jersey (Crainer, 1999, p. 248). 9 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL E assim surgiu o “estudo dos tempos e movimentos” que marcaria para sempre a teo- ria da Administração. Amado por uns e odiado por outros, Taylor desenvolveu uma visão mecanicista do trabalho, na qual considerava que a única motivação humana era o dinhei- ro, enfatizando a visão do homos economicus. O sistema viria em primeiro lugar e a atuação dos trabalhadores era negada. Não permitia qualquer idéia ou senso de responsabilidade por parte dos empregados. A racionalização era levada ao extremo. Henry Ford (1863-1947)Henry Ford (1863-1947)Henry Ford (1863-1947)Henry Ford (1863-1947) 2 Principal contribuição: Produção em grande escala Principal Obra: My life and my work Você já ouviu falar de Ford? Pois é, todo mundo conhece esta “marca” não é mesmo? Mas quem foi Ford, mesmo? Ford foi um fabricante de carros norte-americano e consagrou sua imagem como o primeiro a utilizar a produção em grande escala. Segundo Crainer (1999, p. 68): Ford fez de tudo. Após passar algum tempo como aprendiz de torneiro mecânico, relojoeiro e mecânico, construiu seu primeiro carro, em 1896. Convencido do potencial comercial desse veículo, fundou sua própria empresa em 1903 (não havia nada de diferente nisso – entre 1900 e 1908, mais de 500 empresas norte-americanas foram criadas para produzir carros). O primeiro automóvel de Ford foi o modelo A. Um ano depois, vendia 600 veículos por mês. Em 1908, nasceu o Modelo T da Ford. Pelo uso pioneiro de técnicas de produção em larga escala, ele produziu 15 milhões de carros Modelo T entre 1908 e 1927. A fábrica da Ford em Highland Park, Michigan, era então a maior do mundo – mais de 14 mil pessoas trabalhavam em uma área de 23 hectares. Ford havia almejado filiais internacionais – a primeira foi inaugurada na França, em 1908; em 1911, a empresa começou a produzir carros no Reino Unido. Em 1919, produzia um carro por minuto. Em 1923 vendeu 2.120.898 unidades e sua participação no mercado ultrapassava os 57%. Renunciou ao cargo de presidente em 1919, passando-o para o seu filho. Ford ainda desenvolveu a produção em larga escala e acredita- va na produção em massa. Por isso, defendia preço acessível e bons salários para que as pessoas pudessem adquiri-los. 2 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Acesso em: 18 jan. 2008. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 10 Ford pensava primeiro no consumidor e depois na produção. O modelo T3 con- sistia em um automóvel de cor preta, de linhas simples e preço razoável. O “preti- nho básico”, como diziam alguns, por algum tempo foi um sucesso, um produto altamente padronizado. Enquanto ou- tras empresas, no entanto, investiam em acessórios, Ford se recu- sava a fazê-lo para não encarecer seu produto. Como resultado do excesso de rigidez da empresa no padrão estabelecido para o automóvel Modelo T, a empresa quase foi à falência. Ford impedia a comunicação entre setores e não queria que ninguém tomasse decisões sem sua permissão. Dono de métodos inflexíveis e rígidos, dizia: “Por que quando necessito de mão-de- obra, vem junto um ser humano?” Também introduziu o salário de cinco dólares para seus empregados, o que, na época, era apro- ximadamente o dobro no setor industrial. Dizem as “más línguas” que ele só agiu assim para possibilitar que os seus funcionários pudessem também comprar o Modelo T. Segundo Witzel (2005, p. 128), Ford dava, de um lado, aten- ção à qualidade, ao produto e às necessidades do mercado. De outro, ignorava a concorrência e concentrava as responsabilida- des em apenas uma pessoa: o administrador. Henri FayolHenri FayolHenri FayolHenri Fayol (1841-1925)4 Principal contribuição: Estudo das fun- ções, dos processos e dos princípios de Admi- nistração. Principal obra: General and industrial management (Administração industrial e geral). Henry Ford foi o homem mais associado à aplicação da Administração Científica, embora essa seja uma interpretação simplista da contribuição de Ford (...). Ford forneceu, em seu livro My life and work, um discernimento frio sobre a lógica imperdoável da Administração Científica. Ele calculava que a produção de um modelo T exigia 7.882 operações diferentes. Dessas, 949 requeriam “homens fortes e em condições físicas praticamente perfeitas” e outras 3.338 requeriam “força física comum”. As demais, disse Ford, poderiam ser executadas por “mulheres ou crianças mais velhas” e “670 poderiam ser realizadas por homens com as duas pernas amputadas, 2.637 por homens que possuíam somente uma perna, duas por homens sem braços, 715 por homens com apenas um braço e dez por cegos”. Embora isso rebaixas- se o ser humano, era a conclusão lógica da Adminis- tração Científica (Crainer, 1999, p. 250). 3 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford#Modelo_T>. Acesso em: 17 jan. 2008. 4 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Fayol>. Acesso em: 17 jan. 2008. 11 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Fayol foi um engenheiro e administrador francês. Afirma Crainer (1999, p. 60) que “...Ele estudou em Lyon, na França, e na Escola Nacional de Minas, em St. Etienne. Em 1860, formou-se engenheiro de minas e associou-se à empresa de mineração francesa Commentry-Fourchamboult-Décazeville. Desenvolveu ali toda sua carreira e foi CEO5 da empresa entre 1888 e 1918”. Paralelamente, Fayol (apud Crainer, 1999) desenvolveu sua carreira como teórico. Colocou a Administração no centro das atenções e dizia que essa ciência era crítica e uni- versal. Escreveu ele: “A administração desempenha uma parte muito importante no controle dos empreendimentos; de todos, sejam grandes, pequenos, industriais, comerciais, políticos, religiosos ou de qualquer outra natureza”. Outra contribuição de Fayol foi propor qual seria a melhor maneira de organizar uma empresa, e, então, indentificou seis funções necessárias a toda e qualquer organização: técnicas, comerciais, financeiras, contábeis, de segurança e administrativas. Criava-se as- sim, os primeiros elementos para formatar uma estrutura organizacional que, em boa medi- da, permanecem até hoje, sendo enriquecidas por outras funções, na medida em que outros estudos foram avançando. Para complementar a proposta, trabalhou também os processos e os princípios da Administração científica. Enquanto Taylor e Ford preocupavam-se com os processos de trabalho em âmbito operacional, buscando sucessivos aumentos de produção e produtividade, Fayol focalizou a estrutura organizacional, o papel da gerência e as aptidões necessárias para o desempenho da função. Max Weber Max Weber Max Weber Max Weber (1864-1920)6 Principal contribuição: Modelo burocrático de organização Principal obra: The theory of social and economic organization Max Weber foi um sociólogo alemão que descreveu a burocracia, defendendo uma estrutura e cultura corporativa rígida. Weber tornou-se “o rei da racionalidade científica”, segundo Crainer (1999, p. 284). Para Peters e Watermann (apud Crainer, 1999), “ele desprezava a liderança carismática e tinha uma idéia fixa pela burocracia; afirmava que sua forma impessoal, baseada em regras, constituía o único meio de assegurar a existência das organizações a longo prazo”. 5 CEO – Chief Executive Officer. É o cargo mais alto da empresa. É chamado também de presidente, principal executivo, diretor geral, entre outros... 6 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber>. Acesso em: 17 jan. 2008. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 12 Weber argumentava que a forma mais eficiente de organização parecia uma máquina, caracte- rizada por regras, controles e hierarquias rígidos e impulsionada pela burocracia. Denominou esse esquema “modelo racional-legal”. No extremo oposto, havia o modelo “carismático” e o “modelo tradicional”. No modelo carismático, uma única figura dominante dirigia a organiza- ção. Weber não aceitava esse esquema como solução de longo prazo – mais uma vez, ele foi o primeiro a discutir esse fenômeno e a examinar suas ramificações. Independente do que dizem Peters e Waterman, a História confirmou a visão de Weber – uma organização estruturada em torno de um único líder carismático é insustentável a longo prazo. (.. .) A última forma organizacional identificada por Weber era o modelo tradicional em que as coisas eram feitas sempre da mesma forma, do passado até hoje – tal como ocorre nas empresas familiares, onde o poder é transferido de uma geração à próxima (Crainer, 1999, p. 285). Para Weber, por meio de uma administração burocrática, em que o comando está centrado em uma única pessoa, obtém-se condições, de um ponto de vista técnico, de al- cançar um grau mais elevado de eficiência, constituindo o meio racional mais conhecido para exercitar o controle imperativo sobre os seres humanos. Ele escreveu: “Ela é superior a qualquer outra forma em termos de precisão, estabilidade, agilidade, rigor de sua disciplina e em sua confiabilidade”. Assim, era possível maior previsibilidade dos resultados, tanto para os dirigentes quanto para aqueles que possuíam relacionamento com ela. Elton Mayo Elton Mayo Elton Mayo Elton Mayo (1880 – 1949)7 Principal contribuição: Motivação e trabalho em equipe. Principal obra: The human problems of na industrial civilization Mayo ficou conhecido por ter contribuído com os experimentos de Hawthorne sobre a motivação humana na empresa. Esses estudos foram realizados na fábrica de Chicago (cidade nos EUA) da Western Eletric, entre 1927 e 1932, e forneceram importantes explicações sobre a motivação dos operários. Mayo foi um médico australiano que teve uma carreira diversificada. Segundo Crainer: (...) Ele estudou medicina em Londres e Edimburgo, passou um tempo na África, trabalhou em uma gráfica em Adelaide e lecionou na Universidade de Queensland. Atuou também, após a Primeira Guerra Mundial, na psicanálise de vítimas de bombas e chegou aos Estados Unidos em 1923, tendo ainda lecionado na Universidade da Pensilvânia antes de ir para Harvard. Foi nessa universidade que Mayo consolidou sua contribuição de longo prazo para o pensamento empre- sarial (1999, p. 159). 7 Imagem disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Elton_Mayo>. Acesso em: 18 jan. 2008. 13 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL O homem que até então era visto como máquina, passa a ser visto de outra forma, com emoções e sentimentos, embora existam críticas de que o estudo da motivação também ti- nha o fim de aumentar a produtividade e não o de apenas satisfazer os trabalhadores. A contribuição de Mayo, junto com outros pesquisadores, foi importante e traçou um novo rumo na teoria administrativa, ou seja, a visão de homos economicus dos tempos de Taylor, passa a ser questionada. Mayo defendeu também a importância do trabalho em grupo e da comunicação entre os níveis hierárquicos, especialmente entre a gerência e os operários. Agora que já foram apresentados os autores pioneiros da Teoria Clássica da Adminis- tração, vamos estudar um pouco mais sobre a trajetória da Administração clássica, na Uni- dade II? Vamos lá! Temos muito o que aprender e tantos outros autores para conhecer. REFERÊNCIAS CRAINER, Stuart. Os revolucionários da administração: um guia indispensável dos pensa- dores e suas idéias que criaram e revolucionaram a administração e o mundo dos negócios. São Paulo: Negócio Editora, 1999. WITZEL, Morgen. 50 grandes estrategistas de administração. São Paulo: Contexto, 2005. <www.wikipedia.org>. Clássicos da Administração. Acesso em: 17 jan. 2008. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 14 15 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2 Administração, Teorias e Áreas Funções Marivane da Silva Na Unidade 1 conhecemos alguns autores clássicos da teoria da Administração e quais foram suas principais contribuições. Nesta Unidade nossos objetivos são: a) entender como surgiu e o que é Administração. b) compreender a importância da teoria e da prática na Administração. c) compreender a diferença entre teoria administrativa e teoria organizacional. d) conhecer as teorias da Administração de um modo geral e aprofundar especificamente, até o estudo da escola burocrática (1940). Para tanto, esta Unidade será subdividida em seções: Seção 1 – Administração: concepções Seção 2 – Origens da Administração: diferentes teorias da Administração Seção 3 – Áreas funções da organização ou funções organizacionais Em seguida vamos resgatar fatos que levam você a compreender as concepções de Administração, a serem discutida na seção 2.1. – Seção 1 – Administração: Concepções A Administração e as atividades organizadas existem há milhares de anos. Você concorda com esta afirmação? Vamos fornecer algumas informações que permiti- rão a reflexão sobre essa questão, bem como sobre a história da Administração. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 16 Apesar de termos vários exemplos que mostram a existên- cia da Administração desde a Antiguidade, “apenas nos últimos cem anos que a Administração passou a ser objeto de investiga- ção sistemática, adquirindo corpo comum de conhecimento que a tornou uma disciplina de estudo formal” (Robbins, 2005, p. 488). Você saberia dizer qual o fato histórico que influenciou na origem da Administração? Vamos ajudar você a realizar essa des- coberta! Ora, a Revolução Industrial foi o grande marco histórico do fim do século 18, que substituiu a força humana pela energia da máquina, e esta revolução tornou o trabalho artesanal quase que substituível pelo trabalho industrial. Sendo assim, percebe-se que houve uma mudança significativa na forma de organização do trabalho: a divisão do trabalho, a preocupação com a eficiência e as habilidades gerenciais. Foi esse fato que “lançou a base de um novo tempo, trans- formando profundamente não só o mundo das organizações, mas toda a sociedade” (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 13). As contribuições do advento da industrialização e da pro- dução em massa levaram ao desenvolvimento das grandes em- presas, que exigiam práticas de administração formalizada. Nes- te sentido, tornou-se necessário uma teoria formal para orientar os gerentes a administrar as organizações. – Afinal, o que é uma teoria? – Administração é arte, ciência ou profissão? O que a teoria tem a ver com os gestores, que supostamente são práticos, pragmáticos e voltados à ação? (Caravantes et al, 2005). Para descobrir as contribuições da teoria ao gestor, vamos ini- cialmente compreender o conceito de teoria, e posteriormente, por- que a administração é entendida como arte, ciência e profissão. Para quem deseja conhecer mais sobre o que é teoria, indicamos as seguintes obras: MOTTA, P. R. A Ciência e a arte de ser dirigente. In: ______. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigen- te. 12. ed. Rio de Janeiro: Record. CARAVANTES, G. R.; PANNO, C. C.; KLOECKNER, M. C. Administração: teorias e processo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 17 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL A existência de dados isolados a respeito de um determina- do fato ou fenômeno é pouco significativo. Eles só começam a fazer sentido quando você estabelece relações e conexões entre eles. Nesse sentido, nos apoiamos em Caravantes et al (2005, p. 9) para conceituar teoria como “a tentativa de associar e inte- grar dados coletados através da experimentação e observação em um sistema explanatório compreensível”. Assim, a formulação de uma teoria inicia-se com observa- ções da realidade (prática), com graus diferentes de complexida- de. Quando fazemos essas observações adotamos uma postura científica; nós o fazemos de maneira ordenada, sistemática, com pesquisa e, possivelmente, mensurações. Além disso, também podemos utilizar as abordagens – indutivas e dedutivas – no cam- po da teoria administrativa. Sempre que decidimos ou agimos, lá no fundo existe uma teoria, muitas vezes precária, até sem fundamentação, mas exis- tem pressupostos de uma teoria presente. “Teoria e prática são sempre inseparáveis” (Caravantes et al, 2005, p. 40). Após entender o que é teoria, vamos estudar uma aborda- gem específica de teoria – a teoria organizacional. A teoria organizacional trata do estudo/observação de um objeto específico – as organizações. Bem, vários autores, por meio de seus pressupostos teóricos, valorizam a compreensão da orga- nização como um todo. É o que nós administradores também cha- mamos de uma visão sistêmica (você compreenderá melhor esta abordagem ao estudar a Unidade 8, na qual buscamos ter uma visão das partes de uma estrutura social mais ampla, que tem cau- sa, inter-relações e significados distintos, capazes de formar uma coerência sobre este objeto de análise – as organizações. Pergunto: Você tem uma concepção formada do que seja uma organização? Para poder conceituar organização, precisamos delimitá-la a um adjetivo formal, complexo ou burocrático. Complexidade Pode ser compreendida como qualidade que abrange ou encerra muitos elementos ou partes; observável sob diferentes aspectos. Indutiva Começa com a análise de observações específicas e a seguir procura generalizar para situações mais amplas. Dedutiva Inicia com uma infinidade de conceitos inter-relacionados e só então procura chegar a conclusões específicas sobre a realidade observada. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 18 Os autores clássicos da Administração, que melhor explicam o conceito de organiza- ção, são: a) Max Weber (que você conheceu na Unidade 1 e mais adiante esse estudo será aprofundado com as contribuições de Weber à escola burocrática); e b) Chester Barnard (que também abordaremos mais adiante em detalhes). Para Weber, organização é: Uma relação social que, ou é fechada ou limita à admissão de forasteiros através de regras, na medida em que essas normas ou regras são colocadas em prática pela ação de determinadas pessoas que ocupam posições de mando ou de chefia ou por staff administrativo (Caravantes et al, 2005, p. 42). Neste conceito Weber não entende que uma família seja uma organização. Já Chester Barnard tem uma percepção diferente, dado que para ele as organizações são “subsistemas de atividades ou forças, de duas ou mais pessoas, conscientemente coordenadas” para um objetivo comum (Caravantes et al, 2005, p. 42). Uma das concepções mais conhecidas sobre organização, trazida por Caravantes (2005), argumenta que: Organizações são unidades sociais (ou grupos humanos) deliberadamente construídos e reconstruídos para atingir objetivos específicos. Corporações, exércitos, escolas, hospitais, igre- jas e prisões estão aí incluídas; tribos, classes, grupos étnicos, grupos de amizade e família estão excluídos (p. 43). Após uma revisão conceitual da expressão teoria organizacional é importante com- preender a distinção entre teoria da Administração, que abordaremos mais adiante, e teoria gerencial e teoria organizacional, posto que muitos autores tratam do tema com diferentes dimensões conceituais. É comum encontrar nos livros publicados na área de Administra- ção, que aprofundam o estudo das teorias referentes às organizações, as três expressões anteriormente citadas: Teoria Gerencial é uma teoria da prática; que prescreve o que fazer para chegar a um determina- do resultado ou para evitar que uma determinada condição indesejável venha a ocorrer. Teoria organizacional é descritiva e/ou preditiva. Ela se preocupa com aquilo que uma organiza- ção é e o que ocorrerá sob certas espécies de arranjos interpessoais ou estruturais-interpessoais. Ela nos diz o que é e o que será. Ela não nos diz o que fazer (p. 48). 19 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Existe, porém, um momento da história da Administração em que ocorreu a transição da teoria da Administração para a teoria organizacional. Esse fato é explicado por Motta (2001, p.11), dizendo que foi “a tentativa de estudar o sistema social em que a administração se exerce com vistas à sua maior eficiência em face das determinações estruturais e comportamentais”. Essa fase de transição foi marcada com a publicação do livro de March e Simon, em que a preocupação com a produtividade dá lugar à preocupação com a eficiência do sistema. Talvez você esteja se perguntando: mas no fundo, o que muda mesmo da teoria da Administração para a teoria das organizações? É o objeto de estudo que muda, passando de uma abordagem ampla para uma mais específica, das organizações, com a articulação de diversos fatores estruturais e comportamentais, do qual a teoria procura dar conta – o desenvolvimento do sistema social. Você ainda poderá encontrar na literatura uma distinção entre teoria da Administração e Teoria Geral da Administração. Para esclarecer esta diferenciação recorremos a Maximiano (2002, p. 29) para explicar: Teorias da administração são conhecimentos organizados, produzi- dos pela experiência prática das organizações. Teoria geral da admi- nistração é o conjunto dessas teorias, que são designadas por meio de diferentes termos – teorias, enfoque, escola, modelo de gestão, mode- lo de organização, doutrina, técnica, ou seja, a mesma idéia pode ser, e normalmente é, designada de diferentes maneiras, dependendo do seu contexto histórico e da própria situação da organização. Após entender as diferentes percepções sobre teorias, volta- mos ao foco central de estudo – a Administração. A concepção da Administração sempre foi analisada sob três perspectivas e que atualmente são agregadas às competências do gestor: a) um conjunto de funções; b) uma série de papéis, e c) a aplicação de certas habilidades específicas. Teorias –Teorias são explica- ções, interpretações ou proposi- ções sobre a realidade. Por exemplo: teoria da burocracia, teorias da motivação. A própria definição de administração como processo de planejar, organizar, executar e controlar é uma teoria. Enfoque – também chamado de pensamento, abordagem ou perspectiva, é um aspecto particular das organizações ou do processo administrativo, selecio- nado para o estudo e produção de conhecimentos. É uma forma de interpretar as organizações e o processo administrativo. Ex: enfoque comportamental e enfoque sistêmico. Escola –é uma linha de pensamento ou conjunto de autores que usaram o mesmo enfoque, escolheram o mesmo aspecto específico para analisar, ou adotaram o mesmo raciocí- nio: escola de relações huma- nas. A escola do processo administrativo, às vezes chamada de escola funcional, compreende os autores que adotam a definição de Fayol. Modelo de gestão – (ou de administração) é um conjunto de características que definem organizações e a forma como são administradas. Modelo de administração é o produto de utilização de determinadas doutrinas e técnicas: Por exemplo: modelo burocrático (ou mecanicista). Doutrina – (ou preceito) é um princípio de conduta que contém valores, implícitos e explícitos. As doutrinas recomendam como agir, orientando os julgamentos e as decisões dos administrado- res. Ex.: o movimento da administração científica tinha uma doutrina de eficiência dos recursos; o movimento da qualidade tem um doutrina de satisfação do cliente. Técnicas – são soluções para problemas. Exemplos: organogramas, metodologias de planejamento, estudos de tempos e movimentos e sistemas de controle. Princípios – são permanentes, ao passo que as técnicas tendem a serem transitórias (Maximiano, 2002, p. 29-30). MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução industrial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 20 Hoje, entretanto, é perceptível que as abordagens não são independentes uma das outras. Os profissionais empregam as teorias administrativas para as tomadas de decisão nos seus esforços diários de planejar, organizar, dirigir e controlar a produtividade organizacional. Estes profissionais adquirem conhecimento teórico e experiência prática ao mesmo tempo, talvez por meio de programas de trabalho-estudo-capacitação, conforme ilustra a Figura 1 sobre o processo de construção de conhecimentos para administrar as organi- zações. Figura 1: Processo de construção do conhecimento teórico e prático Fonte: Silva (2002, p. 5) Administrar uma organização requer ter conhecimentos (teoria), habilidades (prática) e atitudes, ou seja, Conhecimentos (C) + Habilidades (H) + Atitudes (A) resulta no que chamamos de CHA. Sendo assim, na Figura 1 explicamos o processo de como construir a teoria e a prática, entendendo que a integração de ambas permite administrar uma organi- zação. Ao evoluir no estudo da Administração, cabe entender a origem desta palavra. “Ad- ministração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediên- cia) e significa aquele que realiza uma função sob o comando de outrem, ou seja, aquele que presta um serviço a outro” (Chiavenato, 2003, p. 11). Enquanto campo de estudos, a Administração é entendida como ciência, arte também profissão. Sugerimos pesquisar na literatura específica a fundamentação de conceitos que busquem compreender a Administração como uma ciência, uma arte e uma profissão. • Experiência simulada • Casos para estudo • Participação em eventos específicos • Integração sistemática da teoria e prática nos meios significativos e úteis da administração • Definições • Fatos relevantes • Conceitos • Técnicas • Orientações • Palestras e seminários TEORIA Aquisição da habilidade de administrar PRÁTICA 21 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Segundo Motta (1998, p. 9), “para que um determinado campo de conhecimento seja considerado ciência, é necessário que tenha um objeto próprio e isso a Administração possui”. Ten- do como referência as fundamentações de Andrade e Amboni (2007, p. 7) vamos entender que: A administração é uma ciência pois lida com fenômenos comple- xos, sobre os quais o administrador tem pouco conhecimento. Por ser uma ciência inexata, o administrador toma decisões com base em informações incontroláveis, devido aos limites cognitivos de racionalidade e por serem os negócios altamente mutáveis e cir- cunstanciais. A Administração enquanto ciência recebe influências de diferentes ciências e vice-versa, como da Filosofia, da Psicologia, da Sociologia, da Economia, etc. Andrade e Amboni, no entanto, também argumentam que: Partindo do pressuposto de que arte é conseguir um resultado desejado por meio da aplicação de habilidades, pode-se dizer que a Administração é uma arte no sentido de proporcionar o desen- volvimento por meio do treinamento educativo das habilidades necessárias para que o administrador realize com desenvoltura as atividades nas organizações. Neste sentido, Administração é a arte de liderar pessoas e gerir recursos escassos e valiosos dentro e fora das organizações (Andrade; Amboni, 2007, p. 8). Nesse sentido, Administração enquanto arte significa en- tender que: (...) o profissional do campo de Administração tem de ter a capa- cidade/habilidade de saber fazer (arte) para traduzir todo o co- nhecimento (saber) em ações práticas que proporcionem resulta- dos significativos para as organizações e sociedade (p. 8). Para aprofundar seus estudos sobre a Administração como ciência, arte e profissão, nossas sugestões de leitura são: ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria Geral da Aadministração: das origens às perspectivas contemporâne- as. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007. Cap. 1. FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p. 17. LACOMBE, F.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. Cap. 1. MOTTA, P. R. Gestão contempo- rânea: a ciência e a arte de ser dirigente. 12. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001. Cap. 2. SILVA, R. O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Cap. 1. Essa discussão é polêmica entre os autores, mas por meio das leituras indicadas você poderá ter uma posição clara sobre a concepção de Administração. Outra dica de leitura para entender a Administração enquanto ciência é: GRÜN, A. A sabedoria dos monges na arte de liderar pessoas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Inexata Falta de exatidão; que não é precisa. Treinamento Particularmente a palavra Treinamento sugiro substituir por capacitação das habilida- des, para sermos mais coerentes com a concepção humanista. • • • • • • • • • ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIA: ARTE: PROFISSÃO: FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 22 Como salientamos no início desta discussão, para o(a) administrador(a) “praticar a arte (fazer), ele deve ter diferentes capacidades/habilidades” (Andrade; Amboni, 2007, p. 9), tais como: criatividade, senso de humor, persistência, visão/intuição, saber ouvir e falar; ter paixão pelo que faz; paciência; coragem para enfrentar os desafios. Isso, porém, não é tudo. Como afirmamos no início desta Unidade, Administração também é profissão: A administração enquanto profissão, iniciou-se, no Brasil, a ser disseminada em 1931, pelo Instituto de Organização Racional do Trabalho – Idort, em São Paulo. Em 1938, com a criação do De- partamento Administrativo do Serviço Público – Dasp, foram di- fundidos os métodos administrativos, visando principalmente à capacitação do servidor público (...). O processo de industrialização no Brasil ocorrido nos anos 30 e a necessidade de procedimentos administrativos no setor público moti- varam a criação da Fundação Getúlio Vargas, em 1844, e em seguida, a implantação da Escola Brasileira de Administração Pública – EBAP no Rio de Janeiro, em 1952, e da Escola de Administração de Empre- sas de São Paulo – Eaesp, em 1954. Todas essa evolução fomentou a criação da profissão do Administrador no Brasil, que se deu com a edição da Lei nº 4.769, de 09/09/1965 (Andrade; Amboni, 2007, p. 9). No entendimento de Maximiano (2002, p. 41), as mudanças em todos os tipos de ambientes – competitivo, tecnológico, econô- mico, social – levaram ao surgimento de novos conceitos e técnicas para administrar as organizações. Essas novidades atuais da teoria e na prática são chamadas de novos paradigmas de administração. Você sabe o que é um paradigma? Se você está interessado em conhecer os novos paradigmas da Administração, não deixe de ler: DRUCKER, P. F. Os novos paradigmas da administração. Exame, São Paulo, p. 34-53, 24 fev. 1999. Paradigma = modelo. Paradigmas são realizações reconhecidas durante algum tempo por uma comunidade científica específica, proporcionando os fundamentos para sua prática. Thomas Kuhn Thomas Kuhn (1992) 23 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Aproveito a explicação de Kuhn (1992) para mais uma vez lembrá-lo sobre a impor- tância da teoria para a vida das organizações e para a sociedade. Na seqüência vamos estudar as origens da administração. – Seção 2 – Origens da Administração: Diferentes Teorias da Administração Com base nas teorias da Administração é possível compreender as suas origens e a dimensão histórica das diferentes abordagens e contribuições dos pensadores da área, com suas respectivas contribuições. Repare o Quadro 1. Quadro 1: Escala hierárquica das abordagens da Administração Fonte: Adaptado de Andrade; Amboni (2007). O objetivo deste Quadro é orientar seus estudos sobre a seqüência das diferentes escolas da Administração e as abordagens correspondentes que focam especificamente as teorias. 2.1 – ABORDAGEM DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA O ano de 1911 foi marcado pela publicação da obra Os princípios da Administração Científica. Nela Frederick Winslow Taylor descreve a teoria da Administração científica, ou seja, o emprego do método científico para definir a melhor maneira de um trabalho ser rea- lizado. Taylor é considerado o pai da Administração Científica. Administração Científica Teoria Clássica Abordagem clássica Escola Burocrática Teoria Transitiva Escola de Relações Humanas Abordagem humana e comportamental Escola Comportamentalista Escola Estruturalista Abordagem estruturalista e do Desenvolvimento organizacional Escola do Desenvolvimento Organizacional (DO) Escola Sistêmica Administração por Objetivos (APO) Teorias Integrativas Abordagem contingencial Aprendizagem organizacional Cultura organizacional Perspectivas contemporâneas Outras FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 24 Vocês já tiveram alguma informação sobre quem foi Taylor na Unidade anterior, certo? Então, vamos avançar na explicitação das suas contribuições para a Administração. Taylor baseou seu sistema no estudo de tempos e movimen- tos, cronometrando os tempos e movimentos de operários siderúr- gicos com o objetivo de desenvolver estudos a respeito de técni- cas de racionalização do trabalho. O foco da abordagem da Administração Clássica é interno e estrutural, ou seja, os principais teóricos focaram sua análise no aperfeiçoamento de regras e estruturas internas da organiza- ção. Os estudiosos da época consideravam que o aperfeiçoamen- to dos sistemas garantia por si só os resultados desejados. Seus pressupostos são caracterizados pela racionalidade absoluta, em que houve uma separação do trabalho intelectual do braçal. As idéias centrais do movimento são: a) homo economicus: o homem é um ser essencialmente racional, ao tomar uma decisão conhece todos os cursos de ação dispo- níveis, bem como as conseqüências de escolher sempre a me- lhor alternativa e maximizar os resultados de sua decisão. In- centivos financeiros adequados, constante vigilância e treina- mento eram ações consideradas suficientes para garantir uma boa produtividade. Em outras palavras, as emoções eram igno- radas no processo de gestão. b) enfoque mecanicista do ser humano: o homem é considerado uma mera engrenagem no corpo da empresa, tendo desrespei- tada sua condição de ser humano. A organização era compa- rada a uma máquina, por isso Morgan (1996) utilizou-se da metáfora da máquina para explicar a forma mecânica, com a tendência a operar de maneira rotineira, eficiente, confiável e previsível. c) abordagem fechada: a Administração não considera o ambien- te da organização, está desvinculada do mercado – público- alvo. Uma boa sugestão de leitura sobre o enfoque mecanicista que estamos estudando nesta Unidade é o livro Imagens da Organização, escrito pelo próprio Gareth Morgan (São Paulo: Atlas, 1996). 25 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL d) superespecialização do operário: a fragmentação das tarefas, interpretada no filme “Tempos Modernos” por Charles Chaplin, em que o operário passa a desenvolver cada vez mais tarefas repetitivas, monótonas e desarticuladas do processo como um todo. Como conseqüência da superespecialização tem-se a ali- enação do trabalhador. e) exploração dos empregados: além do estímulo a sua alienação (Ferreira; Reis; Pereira, 2002), a falta de consideração de seu aspecto humano e da precariedade das condições sociais da época legitima a exploração do trabalhador em prol dos inte- resses patronais. Embora tenhamos muitas críticas aos estudos minuciosos de Taylor em tempos e métodos do processo produtivo, é necessá- rio ressaltar que suas conclusões continuam sendo válidas e apli- cáveis em muitas organizações. Cabe destacar que outros autores e pesquisadores contri- buíram com as idéias de Taylor em seus estudos e práticas admi- nistrativas. Vamos estudar alguns deles. a) Henry Ford (1863 -1947) Ford foi um dos responsáveis pelo grande salto qualitativo no desenvolvimento da atual organização empresarial e também ficou conhecido como o “pai” do carro popular. Como você já estudou sobre Ford na Unidade 1, vamos tratar das suas contri- buições às funções gerenciais da época: – invenção da linha de montagem móvel e mecanizada na indús- tria; – impulsionou o consumo em massa, lançando os princípios para agilizar a produção nas fábricas automobilísticas, diminuindo custos e tempos de fabricação; – integração vertical e horizontal, respectivamente, que significa produção integrada, da matéria-prima ao produto final acaba- do; e uma rede de distribuição; Você já assistiu o filme “Tempos Modernos”, estrelado por Charles Chaplin? Assista-o e você vai entender as origens e as idéias centrais da Escola Clássica da Adminis- tração e do Movimento da Administração Científica. “Metrópolis” é outro filme indicado para o aprendizado da Administração Científica. É um filme alemão de ficção científica produzido em 1927, realizado pelo cineasta austríaco Fritz Lang. Ele foi, à época, a mais cara produção até então filmada na Europa, e é considerado por especialistas um dos grandes expoentes do expressionismo alemão. Lang escreveu também o roteiro, em parceria com Thea von Harbou, com base em romance desta última. Imagem disponível em: <www.filmesraros.com/loja/ images/temposmod02. jpeg>. Acesso em: 20 Jan. 2008. Para obter outras informações sobre o taylorismo você não pode deixar de ler: HELOANI, R. Tempos moder- nos: o contexto socioeconômico gerador do Taylorismo. In: ______. Gestão e organização no capitalismo globalizado. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24-40. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 26 – padronização: propiciava agilidade e redução de custos; – controle altamente burocratizado; – origem da especialização gerou a discussão dos direitos dos tra- balhadores, tais como oito horas de trabalho diário e duplicou o valor do salário na época. – economicidade: redução dos estoques e agilização na produção. O movimento fordista foi importante para a indústria auto- mobilística, assim como o toyotismo e o volvismo. Se voltarmos à leitura da obra de Morgan (1996) vamos nos deparar com o pensamento da autora para compreender a organização e a administração. A partir de metáforas busca ex- plicar o caráter complexo e paradoxal da vida organizacional: a) Fordismo = máquina; b) Toyotismo = organismo; c) Volvismo = cérebro. A imagem das organizações vistas como máquinas colocam as pessoas nesta mesma metáfora e moldam o trabalho com prin- cípios mecânicos; horários rígidos; rotinas predeterminadas; ta- refas repetitivas; estreito controle e, findando, o processo de pro- dução manual. O toyotismo pode ser associado à metáfora do organismo, pois compreende as relações entre a organização e o meio, enfocando a sobrevivência, valorizando a inovação e a busca pela harmonia entre estrutura, tecnologia e dimensões humanas. Já o volvismo está mais vinculado à metáfora do cérebro, porque chama a atenção para o processamento de informações, aprendizagem e inteligência, caracterizando o contexto organizacional com alto grau de flexibilidade e inovação. Sendo assim, na verdade podemos a partir destes três “ismos” – Fordismo, Toyotismo e Volvismo – fornecer uma rápida visão do processo de transformação da indústria automobilística e da Administração, que marcou o período de 1950 a 1970. Toyotismo É um sistema japonês de gerenciamento do modelo da indústria automobilística do engenheiro japonês, dos anos 50, chamado Eiji Toyoda e de seu especialista em produção, Taichi Ohno, que devido aos nomes teve esta denominação. Neste sistema de produção as mercadorias deveriam ter um giro rápido, eliminando estoques e adotando o conceito de produção flexível. Foi assim que nasceu a mais eficiente empresa automobilística – Toyota. Volvismo Também se trata de um modelo de produção, que se assemelha a um cérebro e cria ao mesmo tempo: a) conectividade e redundância; b) especialização e generalização. A organização é vista como um sistema de processamento de informa- ções; um sistema holográfico (consiste na reconstrução de ondas, o que possibilita uma espécie de fotografia inteira e tridimensional – Crema, 1989) e com capacidade de auto- regulação. O objetivo do modelo é dotar a organização do máximo de flexibilidade e capacidade de inovação. Deste modelo surgiu a empresa automobilística Volvo. CREMA, R. Introdução à visão holística. São Paulo: Summus, 1989. Vamos sugerir a leitura de dois artigos que tratam do toyotismo e do volvismo para você aprofundar seus estudos, caso haja interesse. WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo. In: ______. Mudança organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 32, n. 4, set./out. 1992. 27 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL b) Frank Gilbreth (1868 – 1924) e Lilian Gilbreth (1878 – 1972) Este casal fez grandes contribuições ao desenvolvimento dos sistemas administrati- vos. Também foram contemporâneos de Taylor. Frank seguiu uma trajetória semelhante, embora independente de Taylor. Tornou-se aprendiz de pedreiro e, dez anos depois, aos 27 anos, tornou-se superintendente-chefe da Whidden Company, uma empresa de construção. Defensor de grande parte dos princípios da Administração científica, como a divisão do trabalho, seu objetivo era descobrir a melhor forma de trabalhar e eliminar os desperdícios impulsionando a produtividade por meio do estudo dos movimentos. Lilian, após casar-se com Frank, em 1904, mudou seus interesses acadêmicos para a Psicologia e desenvolveu seus estudos acerca do homem na indústria para acompanhar o trabalho do marido. Sua preocupação era com o ambiente e as oportunidades oferecidas aos trabalhadores, essenciais para aprimorar a produtividade. O trabalho mais importante que desenvolveu por meio de suas pesquisas foi o estudo da fadiga humana, que buscou desco- brir uma maneira de realizar a atividade e aumentar a eficiência do operário. c) Henry Gantt (1861-1919) Gantt obteve reconhecimento por atuar como engenheiro mecânico. Trabalhou com Taylor (que na época era engenheiro-chefe de produção) na Midvale Steel Company, como assistente no Departamento de Engenharia e, posteriormente, ambos foram trabalhar na Bethlehem. Anos depois apresentou um trabalho no qual descreveu um método gráfico de acompanhar os fluxos de produção, que ficou conhecido no mundo todo como Gráfico de Gantt, a mais importante das técnicas de planejamento e controle. Também apresentou um sistema de tarefa/bonificação. Na Figura 2 vamos revelar as principais preocupações de Gantt para a realização do trabalho eficiente. Figura 2: As contribuições de Gantt ao trabalho TEMPO CUSTO PLANEJAMENTO REALIZAÇÃO DO TRABALHO GRÁFICO DE GANTT FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 28 Na verdade a Figura 2 representa os elementos que controlam o desempenho atual de um sistema em relação ao planejado, assim como o tempo e o custo. Tem comprovado a sua validade enquanto controle das atividades e projetos, de forma gráfica, atualmente adapta- da para sistemas computacionais sofisticados. 2.2 – TEORIA CLÁSSICA Paralelamente aos estudos de Taylor, que apresentava nos Estados Unidos a Adminis- tração Científica, surgiu na França (1916) a Teoria Clássica, caracterizada pela ênfase na estrutura e na busca de eficiência. Seu fundador foi o engenheiro francês Henri Fayol (1841 – 1925), que publicou sua teoria no livro Administração Industrial e Geral, que tratava das seguintes idéias: – a organização deve ser visualizada como um todo; – deve-se enfocar a universalidade dos princípios, a serem aplicados às funções administra- tivas, em todas as formas de trabalho; – não existe nada rígido ou absoluto quando se trata de problemas de administração; – organizar significa arrumar a estrutura, material e humana, no empreendimento. Para Fayol, toda organização pode ser dividida em seis funções: técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, contábeis e administrativas, que serão mais bem detalhadas na Unidade 3. Fayol relacionou 14 princípios sob a sua ótica empresarial (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 22-23): 1. divisão do trabalho: especialização de toda a hierarquia da organização; 2. autoridade e responsabilidade: dar ordens e verificar se serão cumpridas; 3. unidade de comando: receber ordens de apenas um superior, evitando contra-ordem; 4. unidade de direção: execução de plano para grupos de atividades com os mesmos objetivos; 5. disciplina: normas de conduta e de trabalho. Sua ausência leva ao caos. 6. prevalência de interesses gerais: estes devem prevalecer sobre os interesses pessoais. 7. remuneração: suficiente para garantir o desempenho dos funcionários e da organização; 8. centralização: importante para a organização e autoridade; 29 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 9. hierarquia (cadeia escalar): respeito à autoridade fixa e estrutura hierárquica. 10. ordem: garantia da ordem material e social; 11. eqüidade: a justiça deve prevalecer no ambiente de trabalho, justificando a lealdade e a devoção dos funcionários à empresa; 12. estabilidade dos funcionários: permite controlar a alta rotatividade; 13. iniciativa: capacidade de estabelecer um plano e cumpri-lo; 14. espírito de equipe: deve ser um trabalho conjunto, com interação da comunicação. Além dos 14 princípios gerais expressos anteriormente, Fayol apresentou, na gestão, as funções administrativas que formam o processo administrativo. A idéia de processo inclui o aspecto dinâmico da relação entre os diferentes elementos do processo administrativo: planejamento, organização, comando, coordenação e controle. O estudo aprofundado deste tema “processo administrativo” também será realizado na Unidade 3. Enquanto isso, vamos instigar você a refletir sobre a seguinte questão: Você acha que existe diferença entre as funções administrativas e as funções organizacionais? Pense, reflita e pesquise (se necessário). São distinções importantes no campo da gestão, e como muitos autores empregam tais expressões vamos fornecer o conceito de função administrativa e função organizacional. As funções administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar) diferenciam-se das funções organizacionais (marketing, operações, finanças, recursos humanos). A soma de todas as fun- ções administrativas se constitui no processo de administração e infere-se que são aplicáveis a qualquer das funções organizacionais. (...) da mesma forma que os elementos básicos constituin- tes da organização estão intrinsecamente relacionados, naturalmente as funções administrati- vas também estão (Pereira; Santos, 2001, p. 41). Neste sentido, cabe destacar que as funções organizacionais e/ou áreas funções serão tratadas na seção 2.3. Contrapondo as funções gerenciais de Fayol aos princípios científicos de Taylor, va- mos apresentar um quadro síntese (Quadro 2) que mostra as distintas preocupações e enfoques dos seus precursores. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 30 Quadro 2: Comparativo entre a administração científica x clássica Fonte: Ferreira; Reis; Pereira (2002, p. 25) 2.3 – ESCOLA BUROCRÁTICA Max Weber (1864 – 1920) foi um dos fundadores da Sociologia moderna e estudou a organização como um contexto social, influenciado pelas mudanças sociais, econômicas e religiosas da época. É a partir dos estudos de Weber que o modelo burocrático surgiu como uma proposta de estrutura administrativa para organizações complexas, dotada de caracte- rísticas próprias, eficiente na sociedade industrial emergente do século 19. O que você deve estar se perguntando agora é: O que é a teoria da burocracia? Segundo Ferreira et al (2002, p. 65), “o advento da burocracia ocorreu com base na evolução da sociedade, com o esgotamento da forma tradicional de autoridade”, com carac- terísticas patriarcais e patrimonialistas e a necessidade do aspecto institucional. A esfera que primeiro necessitou e adotou o modelo foi a governamental, ou seja, teve influência fundamental no estudo da Administração Pública. No modelo em questão passam a ”predominar as normas impessoais e a racionalidade dos processos decisórios” (Ferreira et al, 2002, p. 65) e o poder está concentrado no cargo e não na pessoa que o ocupa. As decisões são fundamentadas em critérios racionais e objetivos. Com o passar do tempo e o surgimento das grandes corporações, no entanto, o modelo burocrático passou a ser adotado pelas organizações privadas. Na organização burocrática, “a ordem interna deve ser estabelecida de acordo com critérios técnicos, privilegiando a eficiência e a qualidade” (Ferreira et al, 2002, p. 65). ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA PRECURSOR Frederick Taylor Henri Fayol ORIGEM Chão de fábrica Gerência administrativa ÊNFASE - adoção de métodos racionais e padronizados; - máxima divisão de tarefas. - estrutura formal da empresa, - adoção de princípios administrativos pelos altos escalões. ENFOQUE Produção Gerência 31 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Os pressupostos fundamentais da burocracia foram transpostos para o campo da Ad- ministração na forma de um modelo de gestão adotado pelas organizações em geral. O objetivo do modelo burocrático é organizar detalhadamente e dirigir rigidamente as atividades da organização, com maior eficiência. As características da escola burocrática, tendo como orientação Ferreira et al (2002) são: – separação entre propriedade e administração: existe a transferência de autoridade, possi- bilitando que as organizações possam ser geridas por profissionais especializados, desig- nados pelos proprietários; – instituição de normas para regulamentar cada procedimento administrativo ou operacional da organização; – obediência restrita à hierarquia, devendo cada empregado limitar-se ao relacionamento com seu chefe imediato no ambiente organizacional; – impessoalidade nas relações, excluindo a possibilidade de existirem privilégios para deter- minados grupos ou pessoas; – rotinas e procedimentos padronizados nas tarefas a serem executadas na esfera pública e privada; – competência técnica e meritocracia, ou, em outras palavras, o merecimento está vincula- do à qualificação técnica e capacidade, sendo a base para recompensas e promoção. Agora que você conheceu as características do modelo burocrático, você lembrou de alguma organização que segue este modelo? A partir do conceito de Muniz e Faria (2007, p. 56) é possível entender burocracia como “um sistema social organizado mediante normas escritas, visando à racionalidade e à igualdade no tratamento do seu público”. Cabe destacar que a instabilidade das emoções e os comportamentos aleatórios eram vistos como perniciosos ao bom desempenho organizacional. Aos poucos as práticas informais foram aparecendo no cenário das organizações, que adotavam um modelo burocrático e nitidamente revelavam uma distância enorme entre o mundo da organização formal (da racionalidade e do cálculo) e da organização informal (relacionado aos sentimentos e afetividade) que estavam constantemente produzindo disfunções, por não seguir a lógica da eficiência prescrita pela “melhor maneira”. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 32 Apesar de todas as ponderações e críticas da escola burocrática ou modelo weberiano, o mesmo “firmou-se como o modelo de gestão básico da maioria das organizações do século XX, pelo fato de atender às diversas necessidades das empresas” (Ferreira et al, 2002, p. 68) da era industrial. Como todas as escolas, o modelo weberiano é alvo de críticas e disfunções, identificadas pelos autores como sendo: a) inflexibilidade: excesso de normas e de padronização de rotinas, rigidez hierárquica; b) visão fragmentada: não permite a compreensão da organização como um todo, pela divi- são de tarefas; c) excessiva concentração das decisões na alta administração, gerando lentidão e, muitas vezes, inadequação do processo decisório; d) despersonalização do relacionamento: as relações limitam-se entre ocupantes de cargos e não entre indivíduos, desestimulando os relacionamentos interpessoais e intergrupais, que tendem a surgir no âmbito organizacional. Muito presente a falta de sensibilidade para os incidentes ou problemas pessoais; e) descomprometimento, pela falta de autonomia, e tendem a não se sentirem responsáveis pelo trabalho realizado; f) formalismo excessivo: só tem valor o que é instituído formalmente em normas e regula- mentos; g) substituição dos objetivos pelas normas estabelecidas, em vez de focar resultados; h) a proliferação de barreiras burocráticas favorece a disseminação da corrupção; i) formação de corporativismos, em função de se voltar para o cumprimento de sua missão, a organização passa a se preocupar basicamente com seus próprios interesses; da mesma forma protecionismo entre colegas faz com que os erros e as atitudes desonestas não sejam descobertos. Analisando a literatura, podemos orientá-lo no sentido de que o modelo burocrático é inadequado diante da realidade contemporânea, pois dificulta atingir os objetivos organizacionais exigidos no novo contexto da gestão, posto que considera o todo organizacional. As exigências da gestão por inovação, satisfação dos clientes, iniciativa própria e priorização do trabalho integrado e em equipe limitam a adoção do modelo buro- crático. 33 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Cabe destacar, porém, que apesar de todos os problemas e críticas relacionados à burocracia, esta permanece imperando em muitas organizações de trabalho formal, em especial as organi- zações de grande porte. E, justamente pelo fato de que as orga- nizações crescem em tamanho e complexidade, foi necessário des- cobrir um modelo de organização racional que abrangesse mui- tas variáveis. Apesar de terem se desenvolvido de maneira independente, o enfoque proposto pela administração científica, a teoria admi- nistrativa (clássica) e a burocrática são três abordagens da pers- pectiva clássica; e nessas escolas as organizações têm sido vistas como estruturas mecanicistas. Embora tenhamos trazido informações gerais sobre a teoria da burocracia, podemos afirmar que o estudo não se esgotou por aqui, temos vários outros modelos complementares ao de Weber para serem explorados e que trouxeram contribuições importan- tes à Administração, tais como: de Merton (que identificou as anomalias de funcionamento do processo de Weber), de Selzinck (estudou a delegação de autoridade), e de Gouldner (defende que existem diferentes graus de burocratização). Na próxima seção passaremos ao estudo de outra abordagem, a Humana e Comportamental (reveja o Quadro 1, na página 23). 2.4 TEORIA TRANSITIVA OU DE TRANSIÇÃO A Teoria Transitiva integra, junto com a Escola de Relações Humanas e a Escola Comportamentalista, a abordagem Huma- na e Comportamental, posterior à abordagem Clássica. Levando em conta que vários autores apresentam a teoria transitiva, Andrade e Amboni (2007, p. 87) explicam que a ex- pressão teorias transitivas “designa um conjunto de autores (cujos nomes mais expressivos são Mary Parker Follett e Chester Barnard) que fizeram a transição entre a Administração Científica e a Teo- ria Clássica e a Escola de Relações Humanas”. Se você quer saber mais sobre a Teoria Burocrática, leia: SILVA, R. O. da. Teoria da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p. 158-180. Além disso, os filmes “O processo” e “Brazil” permitem aprender sobre os conceitos da teoria sobre a burocracia. O Processo Joseph K. (Anthony Perkins) é um homem reservado, que vive na pensão da senhora Grubach (Madeleine Robinson) e se dá bem com todos os demais moradores do local. Um dia ele é acordado por um inspetor de polícia (Arnoldo Foà), que lhe informa que está preso, mas não o leva sob custódia. Durante o processo Joseph segue com suas atividades normais, tendo apenas que ficar à disposição das autoridades a qualquer hora do dia. Incomodado por não saber do que está sendo acusado, ele decide investigar em busca de uma resposta. Disponível em: <http://www.interfilmes.com/ filme_14253_O.Processo- (Le.Proces).html>. Acesso em: 20 jan. 2008. Brazil Em um futuro caótico e perturbador, uma cidade inteira é monitorada por meio de computadores e leis burocráti- cas ao extremo. É nesse infeliz mundo que Sam Lowry se apaixona por Jill, uma terroris- ta local. Disponível em: <http://cineplayers.com/ filme.php?id=99>. Acesso em: 20 jan. 2008. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 34 Na verdade, Follett (1868 -1933) e Barnard (1886 – 1961) apresentaram contribuições importantes ao pensamento administrativo, “antecipando a compreensão de como a orga- nização formal e as relações humanas poderiam ser integradas, introduzindo novos elemen- tos no campo das relações humanas e da estrutura organizacional” (Silva, 2002, p. 187). Objetivamente, ambos mostram que a organização é um sistema social e que a produ- ção é um sistema cooperativo, que depende da participação de todos os envolvidos no pro- cesso. Follett chamou a atenção para o papel da Psicologia Administrativa (reconciliar os indivíduos e a organização) e da Administração (compreender as pessoas, os grupos e a comunidade em que está inserida a organização, o que significa dizer que foi a primeira estudiosa a analisar a motivação humana, partindo dos valores individuais e sociais). É atribuído a ela a modificação do conceito tradicional de liderança. Defendia que a ênfase maior deve ser dada aos fatos e não às pessoas. “Incentivou os contatos diretos nas relações interpessoais entre o superior e o subordinado, modificando o princípio de coordenação” (Andrade; Amboni, 2007, p. 88), afirmando que essa coordena- ção poderia ser obtida por meio do inter-relacionamento vertical e horizontal das pessoas que compõem a estrutura organizacional. Mary Follett mostrava preocupação com o modo como as organizações resolviam os conflitos. Ela entendia que o “conflito é um fato da vida, e, em vez de ser escondido ou ignorado, deve ser reconhecido e usado a nosso favor; deve ser visto como a legítima expres- são das diferenças”, e que se deveria usá-lo de forma construtiva (Andrade; Amboni, 2007, p. 89). Você conseguiu compreender o conceito de conflito como algo construtivo?! Perceba que o conflito não é visto como algo sempre negativo. Existe a possibilidade de ser visualizado como algo que possibilita aprendizado e construção. Outro elemento atribuído a Follett foi a antecipação em “mais de um século, da gestão participativa, os círculos de qualidade, as estruturas hierárquicas horizontais, as noções de equipe como esforços sinérgicos e as soluções adaptativas às situações” (Andrade; Amboni, 2007, p. 89). Apesar das contribuições positivas que apresentou, suas idéias foram tão originais que levaram tempo para se popularizarem entre os estudiosos de Administração e serem reconhecidas como mereciam. Também foi uma das três mulheres (juntamente com Lilian Gilbreth e Joan Woodward) que abraçaram a causa da Administração nos anos 60. 35 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Já Barnard inspirou-se nos estudiosos da época e desenvolveu estudos sobre a análise lógica da estrutura da organização e aplicação de conceitos sociológicos na Administração, ou seja, estudo das organizações como sistema social cooperativo, que exigem objetivos construídos no coletivo. Outra questão levantada pelos estudos de Barnard e que se antecipa à Escola de Rela- ções Humanas é a “concepção de que não são apenas os incentivos monetários que movem o homem no trabalho” (Andrade; Amboni, 2007, p. 90). Você consegue imaginar como os indivíduos se sentiam e se colocavam no espaço organizacional dessa época? Cabe destacar que quando Barnard menciona cooperação, está supondo não unica- mente a ocorrência da cooperação entre as pessoas, mas a interação com outras variáveis relacionadas com o ambiente da organização. Da mesma forma, Barnard desenvolveu o conceito de autoridade, bem como definiu os conceitos de estrutura (o indivíduo, o sistema cooperativo, a organização formal e informal) e dinâmica (a vontade, a cooperação, a comunicação, a autoridade e o processo decisório) da organização. Em sua obra “As funções do executivo”, postulou três funções que o executivo deveria realizar (Silva, 2002, p. 194): a) criar um sistema de comunicação; b) promover a garantia dos esforços pessoais; c) formular e definir os objetivos da organização. É com a Escola de Recursos Humanos, no entanto, que é enfatizado o estudo da abordagem humanística, em que a teoria administrativa passa por uma revolução conceitual – a transferência da ênfase na tarefa e na estrutura para a ênfase nas pessoas que trabalham ou participam das organizações (Chiavenato, 2006). A preocupação com os aspectos técni- cos e formais cede lugar para os aspectos psicológicos e sociológicos. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 36 2.5 – ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS A abordagem humanística ocorre, de fato, com o apareci- mento da Teoria de Relações Humanas (ou Escola Humanística da Administração), nos Estados Unidos, a partir da década de 30 do século 20, em decorrência da onda de desemprego resultante da crise de 29, e foi impulsionada pelos resultados da pesquisa desenvolvida na Western Electric, uma fábrica de equipamentos telefônicos, no bairro de Hawthorne de Chicago. É importante ressaltar que A escola nasceu da necessidade de corrigir a forte tendência à desumanização no trabalho, pela aplicação de métodos excessi- vamente rigorosos, pautados em estudos científicos precisos pe- los quais os funcionários eram submetidos, sendo impedidos de dar a sua contribuição (Oliveira; Silva, 2006, p. 80). A experiência foi realizada por George Elton Mayo (1880 – 1949) e seus colaboradores, entre 1927 e 1932, em uma fábrica de Chicago, com o objetivo inicial de conduzir experimentos re- lacionados à luminosidade no ambiente de trabalho com a efici- ência dos operários medida pela produção. Andrade e Amboni (2007, p. 95), que recuperaram os fatos ocorridos nesse período, afirmam que “a partir dos primeiros re- sultados, a pesquisa se estendeu ao estudo da fadiga, dos aci- dentes de trabalho, à rotação de pessoal e ao efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos operários”. A experiência de Hawthorne teve quatro fase: a) os estudos da iluminação; b) os estudos da sala de teste de montagem de relés; c) o programa de entrevistas; d) os estudos da sala de observação de montagem de terminais. Maiores detalhes sobre a Escola de Relações Humanas você pode pesquisar nas referências bibliográficas fornecidas no item 2.2.5. Da mesma forma, pode assistir ao filme A classe operária vai ao paraíso, que permite aprender sobre conceitos da teoria das relações humanas. A Classe Operária vai ao Paraíso Adorado por seus superiores por ser um trabalhador extremamente dedicado, e odiado pelo mesmo motivo por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos sonhos de consumo da classe média, alienado em meio aos movi- mentos de protesto de sua classe, até que um aconteci- mento põe em xeque suas opiniões. Disponível em: <http://melhoresfilmes.com.br/ filmes/ a-classe-operaria-vai- ao-paraiso>. Acesso em: 20 jan. 2008. 37 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL As conclusões decorrentes das experiências são: a) o nível de produção não é determinado pela capacidade física do trabalhador, mas pela integração social, ou seja, “o homem é um ser social que necessita de outros para dialogar, trocar amor e carinho” (Andrade; Amboni, 2007, p. 97); b) o comportamento do indivíduo está apoiado no grupo e condi- cionado a normas e padrões sociais; c) o surgimento de grupos informais, que demonstrou ser um fa- tor determinante para o estabelecimento de relações de confi- ança entre os companheiros de trabalho; d) a interação social é importante, porque são seres humanos com sentimentos; e) conteúdo e natureza do trabalho devem estar de acordo com as aptidões dos trabalhadores, para que estes não se sintam frustrados e desmotivados; f) as emoções precisam ser consideradas no âmbito da organização. Como você avalia estes pontos apresentados a partir de uma observação empírica? Percebeu que estamos falando de uma prá- tica que se transformou em teoria a partir da observação para explicar ou compreender a realidade da organização, objeto de estudo? Na verdade, foram esses conhecimentos, construídos a partir da investigação da prática, que fundamentaram a teoria da escola de relações humanas! No entendimento de Motta e Vasconcelos (2006), as idéias centrais da Escola de Relações Humanas se resumem em três: a) homem social: é um ser complexo, cujo comportamento preci- sa ir além do esquema simples e mecanicista, considerando o sistema social em que o trabalho deve ser visto como processo coletivo e como uma atividade cooperativa; motivado a agir por necessidades biológicas e psicossociais; Grupos informais São aqueles que surgem espontaneamente nas organi- zações por questões de amizade, identificação e objetivos comuns. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 38 b) grupo informal: emerge dentro da organização quando as interações informais entre um determinado número de indivíduos começam a se intensificar pelo inter-relacionamento pessoal, de conduta e interesses pessoais; c) participação nas decisões: preocupada com a relação entre a moral e produtividade, colo- cou na motivação a grande possibilidade de levar o indivíduo a trabalhar para atingir os objetivos da organização formal, ou seja, poderia opinar sobre o próprio trabalho, contri- buindo para o seu aperfeiçoamento, bem como estaria sujeito a um controle por resulta- dos e não por supervisão cerrada. Agora vamos descobrir quem são os outros colaboradores de Elton Mayo no desenvol- vimento da Escola de Relações Humanas. a) Oliver Sheldon: apresentou, em 1923, uma filosofia de Administração enfatizando as responsabilidades sociais da empresa. b) Alfred J Marrow: introduziu os métodos de pesquisa da Psicologia aplicada à solução dos problemas organizacionais, defendendo a criação de um ambiente de trabalho capaz de atender às necessidades dos trabalhadores. c) Ordway Tead: defendia a compreensão do comportamento administrativo a partir de co- nhecimento da natureza humana. d) Mary Parker Follett (1868 – 1933): autêntica precursora da Escola de Relações Huma- nas, chamada de “profeta do gerenciamento” pelo fato de ter sustentado idéias muito à frente do seu tempo em relação à gerência, em especial às formas de liderança e traba- lho em equipe. Seus escritos são anteriores aos estudos de Hawthorne. Sua preocupa- ção acadêmica também voltava-se aos conflitos industriais e mostrou que a unidade da sociedade não se encontrava nos indivíduos, mas sim nos grupos sociais. Follett defen- dia que existem três formas de se lidar com o conflito: a dominação, a conciliação e a integração. e) Roethlisberger e Dickson: pelo imenso legado descritivo das primeiras experiências dessa escola. Ambos propuseram um modelo de organização como sistema social, contemplan- do a eficiência técnica e a social. f) Chester Barnard: sua contribuição foi o deslocamento da análise da organização formal para os grupos informais. Da mesma forma, enfatizou em sua obra as tensões entre o indivíduo e a organização. 39 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Assim como as demais abordagens e respectivas escolas, a Escola de Relações Huma- nas também recebeu suas críticas: a) O interesse da Administração nos problemas de cooperação é conseqüência da especiali- zação, mas a ciência de RH tem sido encarada como responsável pela justificativa ideo- lógica da estrutura institucional vigente, desviando a atenção para o ajustamento da estrutura individual. b) O movimento de relações humanas veio resolver, no plano teórico, o problema do conflito por meio de sua simples negação. c) Crítica é de natureza analítica. Tende a priorizar um campo muito pequeno de variáveis e a estudá-las sem levar em conta as demais. d) Concepção de homem é uma concepção estreita – continua sendo passivo e controlável por meio de estímulos, um ser simples e previsível. e) O mesmo tipo de lógica de análise que se refere à organização do trabalho da Escola Clássica. f) Cria uma dualidade em sua análise: a organização formal e lógica x a organização infor- mal e afetiva, que posteriormente são integradas em estruturas formais e informais da organização. g) A experiência de Hawthorne é limitada, pois não permite que seus resultados sejam gene- ralizados para outras empresas do setor por possuírem culturas e histórias diferentes. h) Ênfase excessiva nos grupos informais e pouco foco no trabalho. i) A participação dos funcionários nas decisões foi burlada pela empresa no intuito de espi- onar idéias e insatisfações do grupo funcional. Alguns autores afirmam que serviu como um lubrificante para reduzir a resistência à autoridade formal para atingir as metas organizacionais. j) Não apresentou uma visão socioeconômica realista das relações empresa-funcionário e não forneceu critérios de gestão claros para a obtenção de resultados. k) Os estudos de Hawthorne sugeriam que “empregados felizes serão empregados produti- vos”. Esta relação entre felicidade e satisfação no trabalho é inadequada porque repre- senta uma visão simplista da natureza do homem. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 40 l) A teoria falhou em reconhecer o conflito como uma força criativa da sociedade; os estudi- osos acreditavam que o conflito era ruim e devia ser minimizado. A ênfase era dada no alcance da paz e da cooperação. O conflito existe e se adequadamente tratado pode trazer ajustes e resultados mais eficazes. Desta forma, mesmo com erros e distorções, e ainda que formando uma corrente de oposição à abordagem clássica, a teoria das relações humanas nos apresenta uma série de enfoques novos, igualmente importantes, tanto quanto as contribuições de Taylor, Fayol e Weber. Posteriormente a teoria apresentada mereceu uma revisão em seus conceitos e funda- mentos, sendo apresentada como Teoria Comportamental. As críticas à concepção ingênua e romântica do funcionário e a ênfase exagerada nos grupos informais colaboraram rapida- mente para que ela fosse repensada e, nesse sentido, a administração das relações humanas precisou passar por uma reelaboração, concretizada a partir da Administração comportamental. Bem, aí nos perguntamos: – Afinal, o que aconteceu depois? Como a gestão era vista e desencadeada a partir desta problemática explicitada anteriormente? Vamos estudar isso na seção 2.2.6. 2.6 – ESCOLA COMPORTAMENTALISTA A abordagem ou Escola Comportamentalista, também denominada de novas relações humanas ou behaviorista da Administração, tem como origem um desdobramento da teoria das relações humanas e uma tentativa de consolidar o enfoque das relações humanas nas teorias das organizações, na década de 40 do século 20. Considerando as falhas na abordagem da escola de relações humanas e nas suas su- posições citadas nas críticas, que adotaram uma orientação mais psicológica, com foco no ajustamento pessoal do trabalhador nas organizações e nos efeitos dos relacionamentos intergrupais e estilos de liderança, ou seja, o foco era o estudo dos indivíduos e grupos nas organizações, surge a Escola Comportamentalista, ampliando a discussão e aperfeiçoando-a. A contribuição mais importante trazida para a Escola Comportamentalista foi do ale- mão Kurt Lewin (1890 – 1947), que se constituiu na passagem das relações humanas para um novo movimento dedicado à Administração e à Psicologia industrial na década de 60. 41 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Em 1935 lançou seu primeiro livro, intitulado Teoria dinâ- mica da personalidade, no qual desenvolveu vários pontos da di- nâmica de grupo. Lewin realizou estudos e conduziu experimen- tos de grupo para medir a atmosfera da liderança (nos três estilos – autocrática, liberal e democrática). Foi pioneiro nos estudos sobre a eficácia dos estilos gerenciais, defendendo o sistema participativo como sendo o mais eficaz. Esta temática será abor- dada na Unidade 4. Silva (2002) revela que os estudiosos apontaram para duas li- nhas dentro do comportamentalismo, associadas a alguns autores: a) ênfase no aspecto sociológico: Chester Barnard, Herbert Simon e Philip Selznick; b) ênfase no aspecto psicológico: Elton Mayo, Chris Argyris e Amitai Etzioni. Além destes, outros nomes importantes desenvolveram es- tudos que serão abordados mais adiante. O comportamentalismo pode ser definido como uma doutrina psico-sócio-filosófica, que visa explicar os fenômenos sociais por meio do comportamento dos indivíduos e o estudo das causas que influenciam tal comportamento (Silva, 2002, p. 220). Isto significa o rompimento com os enfoques normativos e prescritivos das escolas anteriores. O pesquisador de maior des- taque dessa escola foi Herbert Alexander Simon (1916 – 2001), cuja meta principal foi tentar desenvolver uma ciência do com- portamento humano isenta da consideração de valores, sendo apresentado pelo sistema de decisão. A publicação, em 1947, do seu livro O comportamento administrativo foi importante para impulsionar a abordagem comportamental. Outras figuras expoentes da Escola Comportamentalista são: Abraham Maslow e Fre derick Herzberg (teorias motivacionais), Douglas McGregor (Teoria X e Y), William Ouchi (Teoria Z) e Rensis Likert (estilos de Administração e sistemas de Administração). Teorias X e Y Procuram comparar dois estilos opostos e antagônicos de administrar, ou seja, de um lado, a concepção da teoria tradicional (Teoria X) e, de outro, um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento humano (Teoria Y). A Teoria X valoriza a abordagem clássica de Administração e a Teoria Y defende que administrar representa um processo de criar e revitalizar oportunidades internas e externas para facilitar o alcance de objetivos (Andrade; Amboni, 2007, p. 126). ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria Geral da Adminis- tração: das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007. Teoria Z É um modelo de administração participativa, que proporcionou a base para todo o programa de Administração orientado para os recursos humanos das organizações. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 42 Os estudos da Escola Comportamental desencadearam uma série de abordagem, tais como: motivação, sistemas de adminis- tração, processo de tomada de decisão, comunicação, liderança. Alguns desses temas serão tratados nas Unidades subseqüentes. A Escola Comportamentalista ressalta o “homem adminis- trativo”, que procura a maneira satisfatória e não a ótima ou a melhor maneira para fazer algo. Este se comporta apenas com relação a um conjunto de dados característicos de determinada situação, porém procura enfatizar os aspectos teóricos e os práti- cos; o ambiente interno e externo para a análise das pesquisas; os aspectos da organização formal e informal; os aspectos cognitivos e afetivos. Como visualizamos no Quadro 1, ainda temos outras esco- las para conhecer e aprender. Considerando a profundidade das temáticas, entretanto vamos optar por apresentar a discussão das demais escolas em outra Unidade. Vamos, contudo, apresentar no Quadro 3 uma síntese das abordagens, com seus principais autores e suas contribuições para que você possa compreender o todo da teoria da Administração. Quadro 3: Quadro síntese das abordagens da Administração Fonte: Autora (2007). Se tiver oportunidade assista ao filme “Laranja mecânica” e poderá visualizar os conceitos da teoria comportamental. O anti-herói do filme é Alex DeLarge, um jovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica. Tem por diversão bater, estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as leis ou o senso humanitário. Quando finalmen- te é pego pela polícia, sofre um tratamento duro de reabilita- ção. Quando Alex volta às ruas, totalmente regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes eram as vítimas. Disponível em: <http://cineplayers.com/ filme.php?id=362>. Acesso em: 20 jan. 2008. Abordagens da Administração Principais autores Foco de discussão Administração Científica 1890 a 1925 Taylor Ford Estudo dos tempos e movimentos – aperfeiçoamento das regras e estruturas internas da organização – tarefas. Clássica 1890 a 1925 Fayol Centralização, divisão do trabalho, estrutura, em funções: POCC – planejamento, organização, coordenação e control e, normas e princípios. Relações Humanas – 1927 Elton Mayo Fatores emocionais interferem na eficiência do trabalho Comportamento Humano ou Behaviorismo 1932 a 1940 Simon McGregor Kurt Lewin Os indivíduos e grupos participam, tomam decisões e resolvem problemas. Teoria da Burocracia 1940 Max Weber Padronização, racionalidade burocrática, administração impessoal da organização como todo. Estruturalismo 1950 Etzioni Blau e Scott Argyris e Schein Retoma o estudo do conflito do indivíduo na organização. Analisa a organização como um fato social. Sistemas 1951 Ludwig Von Bertalanffy, Katz e Kahn Buscar a eficiência e eficácia em sistemas abertos e complexo. Administração por Objetivos (APO) ou Neoclássica – 1954 Peter Drucker Alinhar metas pessoais com a est ratégia do negócio, atividades fins – resultados. Desenvolvimento Organizacional (DO) – 1962 Thompson e Bates, Bennis, Schein Processo sistemático, administrado e planejado de mudança de cultura, sistemas e comportamentos. Contingencial – 1972 Lawrence e Lorsch, Thompson Estruturas e práticas administrativas situacionais. Variáveis: ambiente e tecnologia. 43 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL – Seção 3 – Áreas Funções da Organização ou Funções Organizacionais As áreas funções evoluíram com o tempo, conforme podemos observar no quadro a seguir, principalmente no que se refere às mudanças de concepções. A linha do tempo nos permite analisar as mudanças ocorridas ao longo da história da administração. Quadro 4: Linha do tempo em relação às áreas administrativas Fonte: Adaptado de Kwasnicka (2006, p. 102) Cabe ressaltar que são expressões e terminologias empregadas por Kwasnicka (2006) para expressar as mudanças de percepções no âmbito das organizações; o que não significa que outros autores não possam denominar de forma diferente das apresentadas no Quadro 4. Para aprofundar o estudo das áreas funções da organização, vamos nos reportar às contribuições de Santos (2007), que as organiza em seis: 1) marketing; 2) vendas; 3) gestão financeira; 4) gestão de pessoas; 5) gestão da produção e 6) função administrativa. Inicialmente vamos utilizar a didática da exposição das idéias centrais de cada uma das áreas para, posteriormente, fazermos uma interação maior com cada Unidade, a partir da indica- ção de obras que podem ser de grande valia para seu conhecimento. Além disso, convém lembrar que o componente curricular “Administração de Vendas” também abordará esses assuntos. De 1922 a 1945 De 1945 a 1998 A partir de 1999 Administração ---------� Política de negócios ----� Liderança nos negócios Pessoal ---------� Recursos humanos -----� Administração de pessoas Vendas ---------� Vendas e marketing-----� Vendas e marketing Produção ---------� Operações -----� Valor adicionado Contabilidade ---------� Contabilidade -----� Medida de resultados Finanças ---------� Finanças -----� Finanças FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 44 1) Marketing: seu objetivo é estimular a demanda no mercado pelos produtos e serviços oferecidos pelas organizações. Da mesma forma, despertar o interesse e atrair os consu- midores potenciais, visando aos objetivos organizacionais. São quatro as orientações es- pecíficas do marketing, a que chamamos os 4 Ps: Produto – Preço – Promoção – Praça. O marketing pode ser analisado sob três diferentes óticas: a) filosófica: a satisfação do consumidor é a chave para alcançar os objetivos organizacionais e os lucros resultarão deste esforço realizado; b) funcional: satisfazer os consumidores e gerar os resultados econômicos desejados; c) administrativa: envolve quatro preocupações essenciais ao gestor – analisar, planejar, programar e controlar ações mercadológicas, ou seja, busca eficiência (obter e alocar re- cursos adequadamente) e eficácia (gerar os resultados esperados). Na prática, o marketing tem de responder à pergunta clássica: – Qual é o seu negócio? O processo e as ações de marketing se iniciam com o entendimento de quem é o po- tencial consumidor e continuam com a segmentação (escolha do cliente) e o posicionamento na arena competitiva. A próxima etapa seria a definição e a combinação do conjunto dos 4 Ps –produto, preço, promoção e praça/distribuição. Assim sendo, a gestão do processo requer coordena- ção, programação, controle e avaliação de esforços e resultados. 2) Vendas: o vendedor cabe concretizar negócios para a empresa e contribuir com os esfor- ços de marketing. É responsável pela conquista, desenvolvimento e retenção de clientes. A importância da ação de vendas para as organizações é significativa, e o valor alocado para custear estas atividades demanda parte considerável dos recursos aplicados nas ativi- dades de marketing. Cabe à equipe de vendas: a) informar aos clientes potenciais quanto à oferta feita pela organização; b) persuadi-los para que adquiram a oferta; c) construir relacionamentos sólidos entre a organização e sua clientela, e d) manter contatos pessoalmente com os clientes. 45 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Atualmente os recursos tecnológicos disponíveis e os sistemas de informações gerenciais conectadas e compartilhados permitem acumular informações sobre os clientes, processo importante para as tomadas de decisão e também para o aprimoramento dos relacionamen- tos com a clientela. Com isso, percebemos uma mudança radical no papel do profissional de vendas, que passa de vendedor para conselheiro do cliente, de “tirador de pedidos” a um profissional que é responsável pela manutenção do relacionamento com a clientela. Visualize na Figura 3 o esquema apresentado por Santos (2007) para explicar o papel do profissional de vendas. Figura 3: Papel do profissional de vendas Fonte: Santos (2007, p. 74) Na fase de prospecção é recomendável que o profissional de vendas seja ousado e exceda limites. Impactar o cliente desde o primeiro momento é a ordem. Na fase da abordagem o vendedor deve conquistar seus clientes com entusiasmo e empenho. Especialistas dizem que o vendedor que faz o que gosta e se dedica com o coração à atividade, faz o cliente acreditar e sentir-se atraído à oferta. A terceira etapa de levantamento de necessidades é ouvir o cliente sobre o que ele precisa e deseja. O vendedor deve estabelecer as relações que existem entre as necessidades e os desejos revelados pelo cliente e visualizar soluções que a organização poderia oferecer a este cliente. Resumindo, o vendedor deve estar preocupado em satisfazer os interesses de ambas as partes – cliente e organização. Prospectar clientes Preparar a visita Visitar clientes potenciais e atuais Fechar a venda Apresentar a proposta e lidar com objeções Identificar os profissionais da empresa e os decisores Acompanhar o pós-venda e conquistar a preferência do cliente FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 46 A fase da negociação ocorre quando o vendedor procura concluir o esforço empreen- dido nas fases anteriores. No processo de negociação está presente o pedido de concessão e este deve ser claro, pois envolve trocas de ambas as partes que negociam, vendedor e cliente. A etapa seguinte é o fechamento da proposta ou negócio, e precisam ser evitadas situ- ações que possam comprometer a sua conclusão. Na etapa do pós-venda, ou seja, depois de concluída a venda, o profissional de vendas volta a fazer contato com o cliente com o objetivo de identificar sua satisfação sobre o produto adquirido ou o serviço prestado e estreitar os vínculos, fidelizando o cliente para a organização. 3) Gestão financeira: os principais objetivos da área são – obter o montante adequado de capital para a continuidade do negócio; conservar o capital e saber obter lucro com o uso desse capital, para que os investimentos continuem fluindo. Existe uma distinção na função de finanças empresariais referente às atividades de controle que são desenvolvidas na área de controladoria (envolve conceitos e técnicas rela- cionadas ao processamento e à geração e preparação de informações para apoiar as toma- das de decisão financeiras) e às atividades envolvendo movimentações financeiras, inseridas na tesouraria, que são desenvolvidas pela área financeira mesmo. Você sabe o que faz a área de controladoria nas organizações? Giacometti (apud San- tos, 2007, p. 87) explica que essa área é responsável pela gestão e formação de custos, pela contabilidade gerencial, a gestão de informações e o planejamento de tributos e auditorias internas. Para as empresas de pequeno e médio porte um dos controles mais importantes refere- se ao fluxo de caixa projetado, em que as previsões de entradas e saídas de caixa são acom- panhadas rigorosamente, com seus desvios corrigidos de acordo com seus objetivos. No sentido de esclarecer melhor para você as principais atividades da função de finan- ças empresariais, vamos apresentar a Figura 4, que sintetiza suas atribuições. Não vamos nos deter nas concepções específicas apresentadas na figura, até porque os componentes específicos da área irão aprofundar os estudos, e este não é nosso objeto de estudo. 47 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Figura 4: Principais atividades da função de finanças empresariais Fonte: Autora com base em Santos (2007). Informações gerenciais contábeis e extracontábeis Contabilidade gerencial Contabilidade financeira Balanço Patrimonial – BP Demonstração de resultados do exercício – DRE Demonstração das mutações patrimoniais Demonstrações das Origens e Aplicações de Recursos Relatório da administração Sistemas contábeis Contabilidade na base caixa Contabilidade na base de competência Sistemas de administração de custos Sistemas tradicionais: encomenda e processo contínuo Custo padrão Custo meta Sistema de custo direto e variável Custo com base em atividade – ABC Sistema CMS – Sistema de gerenciamento de custos Formação de preços Co n tr o le = co n tr ol a do ri a M o vi m en to fin an ce ir o = G es tã o fin a n ce ir a Orçamento e fluxo de caixa Planejamento de lucros Planejamento e orçamento Análise financeira Análise de risco e crédito Avaliações de ativo Administração do capital de giro Avaliação de investimentos Obtenção de financiamento FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 48 Neste momento é suficiente você ter uma idéia global do que trata a área função de finanças, expresso na Figura 4. Em linhas mais simplificadas podemos adiantar que as prin- cipais atividades que afetam a área financeira são: a) contabilidade (geral, fiscal, de custos e gerencial); b) tesouraria (caixa e relações bancárias); c) orçamentos e planos operacionais expressos em valores financeiros; orçamentos ou fluxo de caixa (recebimentos e pagamentos); orçamento operacional (vendas, custos e resulta- do); orçamento de investimentos (capital) ou imobilizações; d) análise de diversos tipos para fundamentar decisões sobre atividades da empresa que implicam obtenção ou aplicação de recursos. 4) Gestão de Pessoas: conceituada como sendo “o conjunto de práticas e ações que envol- vem o planejamento, a organização, direção e controle de atividades administrativas per- tinentes à obtenção da mão-de-obra necessária à organização” (Kwasnicka, 2006, p. 177), independentemente do seu porte ou tipo. A administração de recursos humanos tem tido uma preocupação em dar à área maior status, tornando-a mais destacada e um modelo de gestão de pessoas está surgindo com a concepção de capital intelectual na organização. A transformação do departamento de recursos humanos em parceria entre o RH e a estratégia corporativa representa a concentração de atenção à eficiência organizacional, ou seja, no gerenciamento do capital humano. Como esclarece Kwasnicka (2006, p. 177), a área, herdeira do departamento de pesso- al, passa a ganhar outros nomes, como gestores de pessoas, administradora de talentos, etc. A área de recursos humanos nas organizações pressupõe um novo redirecionamento nas questões relacionadas às políticas de gestão de recursos humanos. As organizações deverão ajudar as pessoas a desenvolver suas habilidades e a autoconfiança necessária para um ambiente competitivo e em mudanças constantes. Significa achar “o homem certo, no lugar certo e no momento certo” (Kwasnicka, 2006, p. 177). Santos (2007) apresenta um quadro de diferenciação entre o modelo tradicional de RH e o novo modelo de RH – de Gestão de Pessoas. Este permitirá a você refletir sobre essas diferentes concepções, explicitadas no Quadro 5. 49 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Quadro 5: Diferenciação entre os modelos de Recursos Humanos Fonte: Santos (2007, p. 197). A evolução do modelo de gestão de pessoas baseou-se em princípios tayloristas, oriun- dos do próprio modelo industrial existente na época e importado também pelo mercado brasileiro. Observe, porém, no Quadro 6 as mudanças de responsabilidade da área ao longo dos anos. Quadro 6: Responsabilidade da área de Gestão de Pessoas Fonte: Adaptado de Santos (2007, p. 201). Modelo tradicional de Recursos Humanos Novo modelo de Gestão de Pessoas Recrutamento e seleção Remuneração Registros legais Treinamento e Desenvolvimento (T&D) Segurança e saúde Avaliação e desempenho Desligamento Recolocação Planejamento de pessoas Atração de pessoas Socialização e aclimatação de pessoas Reposicionamento das pessoas Recolocação das pessoas Liderança de pessoas Até 1950 De 1950 a 1970 De 1970 até 1999 Controle de freqüência Faltas ao trabalho Pagamentos Admissões e demissões Cumprimento da CLT Controle de freqüência Faltas ao trabalho Pagamentos Admissões e demissões Cumprimento da CLT Serviços gerais Medicina e higiene Segurança patrimonial Segurança industrial Leis trabalhistas Cargos e salários Benefícios Recrutamento e seleção Treinamento Controle de freqüência Faltas ao trabalho Pagamentos Admissões e demissões Cumprimento da CLT Serviços gerais Medicina e higiene Segurança patrimonial Segurança industrial Leis trabalhistas Cargos e salários Benefícios Recrutamento e seleção Treinamento Avaliação de desempenho Qualidade de vida Desenvolvimento gerencial Relações trabalhistas Sindicalismo Desenvolvimento organizacional Estrutura organizacional FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 50 O Quadro 6 tem como objetivo revelar a evolução do modelo de gestão de pessoas, que em sua versão tradicional era mais simplificado e restrito, organizado para tratar tradicio- nalmente do recrutamento, da seleção, da integração e do treinamento, enquanto que com a industrialização e a ampliação das organizações foi se complexificando o trabalho da área. Como é possível verificar, o novo modelo de gestão de pessoas implica mais estágios: planejamento de pessoas, atração de pessoas, socialização e aclimatização de pessoas, reposicionamento das pessoas, recolocação e liderança das pessoas. Hoje, as pessoas bus- cam nas organizações a possibilidade de crescimento profissional e pessoal, incorporando a dimensão do comportamento organizacional. Conceber novos modelos de gestão de pessoas implica oferecer políticas e práticas de gestão que consideram as peculiaridades da dinâmica indivíduo-organização. Sendo assim, as atividades de Gestão de Pessoas cumprem o papel de captar, reter e desenvolver pessoas de talento, que farão o diferencial das organizações. Figura 5: Contribuições das áreas do conhecimento à gestão de pessos Fonte: Adaptado de Santos (2007). Motivação Liderança Trabalho em equipe Conflito e poder Cultura organizacional Clima organizacional Comunicação Interpessoal Valores Atitudes Percepção Diferenças individuais - Psicologia – Personalidade e aprendizagem - Sociologia – Grupos sociais (comunicação, redes de relacionamento e distribuição de poder). - Antropologia – homem – biológica e cultural dos grupos - Ciência Política – a direção dos negócios públicos e do Estado - História – narração e discussão dos acontecimentos e fatos notáveis da vida dos povos - Filosofia – compreensão da realidade na totalidade Contribuição das áreas 51 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Questões como motivação, liderança, trabalho em equipe..., atualmente são também preocupações da Administração, que considera os aspectos huma nos presentes no ambiente organizacional. Para aprofundar seus estudos a administração busca auxílio em outras áreas do conhecimento, como indica a Figura 5, e que trazem suas contribuições para o comportamento organizacional: a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, Ci- ência Política, a História e a Filosofia. 5) Gestão da Produção: é responsável pela transformação de ma- téria-prima, energia e informação em bens e/ou serviços. Por meio da Figura 6 vamos conhecer o modelo sistêmico da fun- ção produção. Figura 6: Modelo sistêmico da função produção Fonte: Kwasnicka (2006, p. 120). Para obter uma visão do sistema global da função de produ- ção, apresentamos a Figura 6, mostrando-a como um sistema aber- to (aprofundaremos esse assunto na Unidade 8) que possui entra- das, processamento e saídas. No processamento interno existem três subsistemas essenciais – a engenharia do produto, o planejamento da produção e a engenharia do processo, que por sua vez abrangem outros subsistemas menores para a monitoração do processo e a geração de novos produtos, serviços ou tecnologias novas. Caso tenha interesse em aprofundar os estudos na área de gestão de pessoas conheça a Série Gestão de Pessoas, publicada pela Editora da Fundação Getúlio Vargas <http://www.editora.fgv.br>, que trata justamente dos temas abordados na Figura 5, da Unidade 2. ENTRADA Tecnologia Força de trabalho Capital Necessidades de mercado SAÍDA Produto/serviço Sucata Nova tecnologia Energia degradada Nome do Processo Planejamento e controle de produção Engenharia do produto Engenharia do processo Planejamento Programação Controle Projeto do produto Especificação do produto Especificação do processo Layout Desenvolvimento do processo Serviços de apoio Feedback/monitoração FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 52 Além desses modelos tradicionais expressos na Figura 6, a partir da década de 90 outros modelos tornaram-se conhecidos e com base em Kwasnicka (2006) elencamos al- guns, seguidos de um breve conceito. a) KAIZEN: melhora gradual e constante da produção, que deve ser sempre contínua e obtida com o aprendizado dos erros e acertos. b) CICLO PDCA ou RODA DE DEMING: uma seqüência de atividades que são percorridas de maneira cíclica para melhorar as atividades. c) TQM (Total Quality Management): é uma filosofia, uma forma de pensar e trabalhar, que se preocupa com o atendimento das necessidades e expectativas dos consumidores. A qualidade torna-se a preocupação de todos na organização. d) QFD (Quality Function Deployment): é uma ferramenta empregada para analisar os re- quisitos do cliente, verificar alternativas e projetar sistemas dentro do produto que aten- dam aos requisitos. e) CEP (Controle Estatístico de Processo): é uma ferramenta para controlar a qualidade dos diversos processos durante sua realização, corrigindo eventuais problemas em sua origem. f) 5 Ss ou housekeeping: processo com o objetivo de estabelecer um ambiente propício para a criação de produtos e serviços de qualidade. O “5 Ss” são: seiri (organização, classifica- ção, identificação); seiton (ordenação por tipo, utilização, descarte), seiso (limpeza, eli- minação de poeira, graxa, detritos e embelezamento), seiketsu (asseio, higiene, cumpri- mento de normas, manutenção da limpeza), shisuke (disciplina, manutenção do hábito). g) RCM (Manutenção Centrada na Confiabilidade): é um conceito que foca a função do equipamento em processo de produção. h) TPM (Manutenção Produtiva Total): é a base da administração das fábricas de produção seriada – “Zero defeito, perda zero”. i) JIT (just in time): é uma filosofia que visa atender à demanda instantaneamente, com qualidade perfeita e sem desperdícios. j) KANBAN: é um método de operacionalização do sistema de planejamento e controle pu- xado, que controla a transferência de um material de um estágio para o outro da opera- ção. É a operacionalização do conceito de JIT. k) GIVE AWAY (Perdas por): significa fornecer ao cliente exatamente o que foi prometido. O cliente não deseja pagar o excedente. 53 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 6) Função administrativa: são as funções do administrador, a saber: planejar, organizar, lide- rar, prover recursos humanos, coordenar e controlar – embora independentes umas das outras, interagem entre si. O estudo mais detalhado será apresentado na Unidade 3. Resumindo, o subsistema funcional apresenta a configuração da Figura 7. Figura 7: Subsistema funcional de uma organização A Figura 7 sintetiza as seis áreas funções apresentadas nesta seção e que repercutem nas grandes áreas da empresa: administração, produção e logística, financeira, vendas e marketing e recursos humanos ou gestão de pessoas. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria geral da administração: das origens às perspecti- vas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007. CARAVANTES, G. R.; PANNO, C. C.; KLOECKNER, M. C. Administração: teorias e proces- so. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. CHIAVENATO, I. Administração geral e pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. CREMA, R. Introdução à visão holística. São Paulo: Summus, 1989. FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. ADMINISTRAÇÃO PRODUÇÃO E LOGÍSTICA FINANCEIRA VENDAS E MARKETING RECURSOS HUMANOS/ GESTÃO DE PESSOAS SU BS IS TE M A S FU N CI O N AI S FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 54 KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 3. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992. KWASNICKA, E. L. Introdução à Administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. LACOMBE, F.; HEIBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução industrial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. MOTTA, F. C. P. Teoria das organizações: evolução e crítica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. de. Teoria Geral da Administração. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. MOTTA, F. C. P. Teoria Geral da Administração: uma introdução. 22. ed. ampl. São Paulo: Pioneira, 1998. MUNIZ, A. J. de O.; FARIA, H. A. Teoria Geral da Administração: noções básicas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. OLIVEIRA, J. F. de.; SILVA, E. A. da. Gestão organizacional: descobrindo uma chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Saraiva, 2006. PEREIRA, M. I.; SANTOS, S. A. dos. Modelo de gestão: uma análise conceitual. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2005. SANTOS, R. da C. (Org.). Manual de Gestão Empresarial: conceitos e aplicações nas empre- sas brasileiras. São Paulo: Atlas, 2007. SILVA, R. O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. TACHIZAWA, T.; CRUZ JUNIOR, J. B. da; ROCHA, J. A. de O. Imagens da organização. In: ______. Gestão de Negócios: visões e dimensões empresariais da organização. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006. 55 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3 Processo Administrativo e Seus Elementos Marivane da Silva Esta Unidade está organizada com o objetivo de analisar um contexto organizacional empregando uma das ferramentas da Administração – o processo administrativo. Na Unidade 2 você conheceu um pouco sobre a Administração, agora vamos aprofundar nossos estudos a respeito de uma das ferramentas de gestão – o processo administrativo. Vamos lá, os autores nos ajudarão a entender melhor o que significa fazer a gestão nas organizações! Um administrador de empresas lida com pessoas que executam o trabalho/serviço para os quais foram contratadas. Ao coordenar o trabalho dessas pessoas, o administrador de- sempenha suas funções pelo menos por meio de quatro elementos do processo administrati- vo: planejamento, organização, direção e controle. Em outras palavras, “ele planeja, organiza, dirige pessoas, gere e controla recursos materiais, financeiros, de informação e tecnologia visando à realização de determinados objetivos” (Chiavenato, 1999, p. 9). Henri Fayol e Taylor, dois clássicos importantes (que você já estudou nas Unidades 1 e 2), pertenceram à época do grande desenvolvimento industrial do século 19 e contribuíram significamente para a história da Administração. Fayol, nessa época, conceituou administrar como sendo uma seqüência de prever, or- ganizar, comandar, coordenar, controlar. Ele entendia que o conjunto das funções de toda a empresa poderia ser dividido em seis grupos, a saber: – funções técnicas (produção, fabricação, transformação); – funções comerciais (compras, vendas, permutas); – funções financeiras (procura e gerência de capitais); – funções de segurança (proteção de bens e de pessoas); FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 56 – funções de contabilidade (inventários, balanços, preços de custos, estatística, etc.); – funções administrativas (previsão, organização, direção, coordenação e controle). Esses seis grupos de funções essenciais existem em qualquer organização, sejam elas simples ou complexas, pequenas ou grandes. Mentalmente, tente lembrar das organizações que você conhece para verificar essa teoria. Você conseguiu identificar, nessa realidade organizacional, as funções sendo exercidas? Bem, esperamos que sim. Vamos agora exerci- tar e refletir sobre esses conceitos. O destaque deste estudo é a função administrativa. Você percebe, na realidade da organização em que trabalha ou de uma organização que conhece, as seis funções citadas por Fayol? Tente identificá-las exemplificando. Na moderna literatura os autores abordam as funções organizacionais como sendo as áreas funcionais, dentre as quais se destacam: a função da produção, a função financeira, a função de marketing, a função de recursos humanos e a função administrativa. A função administrativa ou o processo administrativo é composto dos elementos: a) planejamento; b) organização; c) comando/direção; e d) controle. Antes de prosseguir a lei- tura, contudo, vamos explorar e tentar identificar seus conceitos sobre cada um destes ele- mentos. Lembre-se que ao escrever você está organizando e testando seus conhecimentos, portanto não siga adiante antes de cumprir esta tarefa! Conceitue planejamento Seu entendimento E sc ol h a a lg u n s au to re s e tr a n sc re va o c on ce it o d e p la n ej am en to Exemplifique como se dá na empresa em que trabalha, estuda ou conhece Conceitue planejamento 57 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Agora que você já preencheu o quadro anterior a partir de seus conceitos, vamos des- cobrir o quanto eles estão adequados com relação ao que propõe a literatura da área de Administração! a) Planejamento Embora o planejamento não esteja formalizado, documentado e explícitado nas ativi- dades da organização, ele existe e é extremamente importante para seu sucesso. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam planejar como: Pensar antecipadamente o que se deseja alcançar e determinar os meios e recursos para concre- tizar esse desejo. Isto envolve coletar informações e diagnosticar a situação; estabelecer objeti- vos para orientar as decisões; elaborar e implantar planos, programas e projetos para alcançar as metas e montar seus respectivos cronogramas para acompanhar a execução. Manter-se sem- pre informado de modo a atualizar permanente o diagnóstico. No planejamento definem-se: visão, missão, objetivos, metas, estratégias e alternati- vas, políticas, análise do ambiente interno e externo, instituição dos planos de ação e reali- mentação. Enfim, tomam-se as decisões do que fazer e como fazer. Dependendo da abrangência e do impacto que têm sobre a empresa, os planos podem ser classificados em diferentes níveis, quais sejam: a) estratégico, b) tático, e c) operacional. Salientamos que alguns autores dão muito destaque ao planejamento estratégico, enquanto outros centram suas discussões no planejamento operacional. O planejamento tático trata do planejamento estabelecido nas áreas funcionais: finanças, marketing, recur- sos humanos, tecnologia e produção. Por se tratar da função administrativa, vamos focar nossa atenção no planejamento estratégico, que possui seis etapas: a) determinação dos objetivos empresariais; b) análise das condições ambientais externas (conhecer as necessidades, as oportunidades, os recursos disponíveis, as dificuldades e restrições, as ameaças, as coações e as contin- gências); c) análise organizacional interna (recursos financeiros, materiais, humanos, mercadológicos e administrativos, estrutura organizacional e suas características, envolvendo os sistemas internos; as tecnologias utilizadas na empresa, seja para produção de produtos ou servi- FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 58 ços ou consumo próprio; as pessoas, suas habilidades, capaci- dades e a ptidões; o esti lo de administração; cultura organizacional; clima organizacional; estilos de liderança, ou seja, descrever os pontos fracos e fortes da empresa); d) formulação de alternativas estratégicas (a partir dos objetivos organizacionais, analisando as oportunidades e riscos da em- presa, forças e fraquezas da empresa, são definidas as estraté- gias); e) o planejamento volta-se para o “como fazer” tendo em vista o diagnóstico do ambiente e da empresa; f) instituição do planejamento estratégico por meio de planos tá- ticos e operacionais. Se você estivesse desafiado a construir o planejamento es- tratégico de sua organização, você teria de fazê-lo utilizando como diretriz as seis etapas. Destacam-se alguns instrumentos empregados para elabo- rar o planejamento, entre eles: procedimentos (entre os quais se destacam os diagnósticos, o tratamento de dados, a análise); os programas (estabelecimento de orçamentos, calendários, gráfico de Gantt, Pert/CPM), as regras e regulamentos, etc. Agora vamos estudar o segundo elemento da função admi- nistrativa. b) Organização Na função da administração, o elemento organização im- plica criar as condições para que a empresa compreenda melhor a si mesma, como está organizada e estruturada, reunindo as pessoas e os equipamentos necessários ao trabalho. Ou seja, é a atividade de organizar a organização. Estabelecer as bases de como organizar as tarefas, as estruturas, as pessoas e a tecnologia no contexto da empresa. Gráfico de Gantt Constitui um método esquemático que fornece informações relativas à programação da produção, à carga nos departamentos ou máquinas individuais e à qualidade de pessoal e equipamentos. Também serve para descrever atividades. PERT/CPM É um conjunto de processos e técnicas para planejamento, programação e controle de um projeto que indica, entre as várias seqüências operacionais, aquela que possui duração máxima, além de graus de prioridade relativos, a distribuição de recursos e a interdependência entre as ações. 59 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Vamos testar, novamente, os seus conhecimentos? Então, realize o mesmo procedi- mento anterior, porém tendo como objetivo definir o que é organização. Agora conheça como alguns autores conceituam organização. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam organizar como... processo de identificar, dividir e alocar o trabalho. Isto envolve identificar, dividir e grupar o trabalho a ser realizado; definir responsabilidades e autoridades e estabelecer as relações entre os grupos de modo a possibilitar que as pessoas trabalhem eficazmente para atingir os objetivos. Nesse sentido, estudar o elemento organização significa entender a estrutura e o pro- cesso da empresa. “A estrutura consiste em uma rede de relacionamento específico entre indivíduos, posições e tarefas. Processo refere-se às funções gerenciais pelas quais as orga- nizações são criadas, adaptadas e mudadas continuamente” (Kwasnicka, 1995, p. 185). Segundo Moraes (2001, p. 89), no desempenho do elemento organização, o adminis- trador deve: – listar o trabalho que precisa ser realizado para alcançar os objetivos da empresa – divisão do trabalho; – dividir o trabalho em tarefas que possam ser realizadas de modo lógico e eficiente, por indivíduos ou grupos – especialização; – agrupar as tarefas segundo um critério determinado, criando as unidades organizacionais (órgãos) chamadas de departamentalização. Conceitue organização Seu entendimento E sc ol h a al g u n s au to re s e tr an sc re va o co n ce it o d e or g an iz aç ão Exemplifique como se dá na empresa em que trabalha, estuda ou conhece Conceitue organização FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 60 – criar mecanismos de integração de esforços dos indivíduos, grupos e órgãos da empresa para facilitar o alcance dos objetivos. Desse modo, seria estabelecida a hierarquia, quando essa integração envolvesse a determinação de relações de autoridade, e a coordenação, quando interligasse unidades organizacionais do mesmo nível hierárquico. Em outras palavras, Chiavenato (1999) explica que o elemento organização implica a distribuição da estrutura organizacional entre todos os níveis: a) institucional – estabelece o desenho organizacional de toda a organização; b) intermediário – estabelece o desenho departamental para cada uma das unidades organizacionais; c) operacional – estabelece o desenho de cargos e tarefas de cada atividade, cada qual dentro de sua competência para atingir os objetivos estabelecidos. O desenho organizacional retrata, de um lado, a configuração estrutural da organiza- ção e seu funcionamento; o que representa os órgãos que compõem a empresa e as relações de interdependência; de outro, o seu funcionamento exige atividade, pessoas e coordena- ção para atingir os objetivos propostos. Uma das características da estrutura organizacional diretamente relacionada com a divisão do trabalho é a diferenciação, que, por sua vez, é classificada de três maneiras: diferenciação horizontal (as divisões ou departamentos), diferenciação vertical (a hierarquia) e diferenciação em tarefas especializadas. O desenho departamental, também conhecido como departamentalização ou divisionalização, pode apresentar a diferenciação horizontal da organização – divisão, fili- ais, unidades regionais, subsidiárias e similares, assim como os departamentos divididos em funções organizacionais, tais como marketing, produção, financeira e recursos humanos. Partindo desse desenho, para organizar a empresa são utilizados organogramas, fluxogra- mas e layouts. Existem cinco abordagens de desenho departamental. As abordagens tradicionais são a departamentalização funcional, a divisional e a matricial, nas quais a cadeia de comando define agrupamentos departamentais e relações de subordinação na hierarquia da empresa. As outras duas abordagens são mais contemporâneas, que são o emprego de equipes e de redes, que surgiram para atender às necessidades das organizações em um ambiente global altamente competitivo. 61 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Segundo Chiavenato (1999), as cinco abordagens do desenho departamental citadas anteriormente são: a) funcional (as pessoas são agrupadas em departamentos pelas suas habilidades similares e atividades comuns de trabalho. Ex: departamento de contabilidade, de compras, enge- nharia ou finanças); b) divisional (os departamentos são agrupados em divisões separadas e auto-suficientes, baseadas em um produto comum, projeto, programa ou região geográfica; está baseada em habilidades conjuntas, em produtos/serviços, clientes e em processos); c) matricial (as cadeias de comando funcional e divisional são instituídas simultaneamente e se sobrepõem umas às outras nos mesmos departamentos; as pessoas se subordinam a dois chefes); d) de equipes (a empresa cria equipes multifuncionais para cumprir tarefas específicas e coordenar grandes departamentos); e) de redes (a organização torna-se um pequeno centro intermediário, conectado eletroni- camente a outras organizações que desempenham funções vitais ao negócio; os departa- mentos são independentes para contratar serviços ao intermediário e podem estar situa- dos em qualquer lugar do mundo). Caro(a) aluno(a), a partir desses conceitos, tente identificar qual estrutura se enqua- dra na organização em que você trabalha ou conhece. Estrutura da organização analisada Resta analisar o desenho de cargos e tarefas, que segundo Chiavenato (1999) refere-se à especificação do conteúdo, métodos e relações de cargos, no sentido de satisfazer requisi- tos tecnológicos, organizacionais, sociais e pessoais dos indivíduos que trabalham na em- presa. Desenhar um cargo significa prescrever papéis que o indivíduo deverá desempenhar no âmbito da estrutura organizacional. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 62 O estilo gerencial de seus administradores pode ser classifi- cado como: centralizadores x descentralizadores (delegação de autoridade); formalizados x informais; integradores x dispersivos. c) Comando/Direção A direção corresponde ao terceiro elemento que compõe o processo administrativo e está relacionada com a maneira pelo qual os objetivos devem ser alcançados, por meio das atividades das pessoas e da aplicação de recursos de que dispõe a organi- zação. Após definir os objetivos, traçar as estratégias para alcançá- los, estabelecer o planejamento e estruturar a organização, cabe às atividades e aos processos de direção colocar tudo isso para funcionar, de forma eficaz. Na visão de Chiavenato (1999, p. 478), dirigir significa in- terpretar os planos para as pessoas e dar as instruções e orienta- ções sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos. O mesmo autor define como bom administrador aquele que: a) pode explicar e comunicar as tarefas às pessoas que as reali- zam bem; b) prontamente orientá-las e sanar todas as dúvidas possíveis; 3) impulsioná-las, liderá-las e motivá-las adequadamen- te; o que poderíamos chamar de fazer uma gestão humanizada. Numa visão mais participativa e descentralizadora seria criar as condições para que as pessoas decidam conjuntamente. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49-50) conceituam: Prover recursos humanos é formar uma equipe competente, inte- grada e motivada, disposta a agir para o conjunto. Isto inclui saber recrutar, selecionar e treinar as pessoas certas, capazes de assumir responsabilidades para atingir os objetivos. Inclui ainda a avaliação dessas pessoas e o esforço para manter alta a moral do grupo, de modo a ter sempre as pessoas certas nos lugares certos. Empresa Humanizada Entende-se por empresa humanizada aquela que, voltada para seus funcionários e/ou para o ambiente, agrega outros valores que não somente a maximização do retorno para os acionistas. Realiza ações que, no âmbito interno, promovem a melhoria na qualidade de vida e de trabalho, visam à construção de relações mais democráticas e justas, mitigam as desigual- dades e diferenças de raça, sexo ou credo, além de contribuírem para o desenvol- vimento das pessoas sob os aspectos físico, emocional, intelectual e espiritual (Vergara; Branco, 2002, p. 21). VERGARA, S. C.; BRANCO, P. D. Empresa humanizada: a organização necessária e possível. RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 20- 30, abr./jun. 2001. 63 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Liderar é conduzir um grupo, influenciando seu comportamento, para atingir objetivos e metas de interesse comum do grupo, de acordo com uma visão do futuro baseada num conjunto coeren- te de idéias e princípios. O líder empresarial deve ser capaz de alcançar objetivos por meio dos liderados e, para isso, conforme o tipo de liderado e ocasião, age de diferentes maneiras: ordena, comanda, motiva, persuade, compartilha dificuldades e ações, ou delega e cobra resultados, alterando a forma de agir conforme a necessidade de cada momento e o tipo de liderado, visando a alcançar os objetivos da empresa. Coordenar é cooperar com todas as demais unidades da organização para que as atividades sejam executadas de forma: balanceada (equilibrada, isto é, na quantidade correta); sincroniza- da (isto é, no momento certo) e integrada (isto é, na direção certa). Para tornar este estudo mais proveitoso, continue refletindo e explique o que pensa/ sabe sobre direção/comando e registre. Estimular as pessoas a encontrarem os motivos ou necessidades que despertem a ação, tornando-as comprometidas e motivadas para o trabalho é um desafio do gestor das organi- zações, assim como gerir os processos de comunicação e liderança de forma eficaz, de modo que os objetivos da organização sejam contemplados por meio da direção/comando. Adotando a mesma metodologia de estudo, conceitue o que você entende como ele- mento de direção, tendo por base uma empresa. Conceitue direção Seu entendimento E sc ol h a al g u n s au to re s e tr an sc re va o c on ce it o d e d ir eç ã o Exemplifique como se dá na empresa em que trabalha, estuda ou conhece Conceitue direção FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 64 Cabe destacar que os elementos do processo administrativo – motivação e comunicação – serão tratados nas Unidades 5 e 6. Como já salientamos, o entendimento do elemento direção/ comando implica gerir a liderança, a motivação e a comunicação no âmbito das organizações. Requer também entender o signifi- cado do poder e do gerenciamento dos conflitos (que serão traba- lhados na Unidade 7) no espaço organizacional. No atual contexto globalizado e competitivo, as organiza- ções são obrigadas a aprimorar seus processos e, especialmente, qualificar o processo de comunicação, estudar seus tipos e suas formas de comunicar: O processo de comunicação começa como um estímulo (objetivo) para uma ou mais pessoas (emissor) que irão procurar interagir com outra(s) pessoa(s) (receptor). O emissor vai transmitir algo (mensagem) utilizando um ou mais recursos (meio) e espera que o receptor compreenda a mensagem no sentido correto (significa- do) e adote o comportamento (resposta) esperando por ele, emis- sor. Todo processo de comunicação acontece em circunstâncias peculiares (situação), com certa duração (tempo) e exige investi- mentos e gastos (custos) (Arantes, 1994, p. 265). Dentro da organização de uma empresa, o processo de liderança tem as características de um gerente, posto que o mesmo influencia os subordinados a atingirem os objetivos definidos pela alta gerência. Existem dois tipos diferentes de liderança em qualquer or- ganização – líderes formais e informais – e três abordagens teóri- cas a respeito da liderança. Primeiro, no entanto, é necessário entender a natureza do poder dentro de uma organização, pois o uso eficaz do poder individual é a base da liderança. Conceitue comunicação Conceitue liderança Conceitue motivação Duas indicações interessantes para suas leituras sobre liderança são: HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. GRÜN, A. A sabedoria dos monges na arte de liderar pessoas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. 65 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Assim como a comunicação e a liderança, “a teoria e a prá- tica da motivação têm estado conosco por muito tempo. A moti- vação pode causar aumentos substanciais na produtividade e na satisfação no trabalho, além de substanciais reduções de faltas, atrasos e agravos” (Montana; Charnov, 1998, p. 203). A motivação está relacionada com o sistema cognitivo do indivíduo, sendo a cognição tudo aquilo que está ligado ao co- nhecimento a respeito de si ou do ambiente. Nesse sentido, é importante conhecer e entender algumas teorias básicas da mo- tivação e como podem ser aplicadas. Das oito teorias referidas pelos autores, a mais conhecida e explicitada por eles é a teoria da hierarquia das necessidades apresentada por Maslow, que tam- bém será aprofundada na Unidade 5. Lembramos que os conflitos entre os indivíduos, os grupos ou as organizações fazem parte do ambiente organizacional mo- derno. As pessoas e os grupos competem pelos recursos dentro das organizações, e estas competem entre si pelo mercado. Ainda é preciso mencionar que a maioria dos autores inclui a coordenação como uma das atividades inerentes à direção. Outros nem mesmo citam-na em seus estudos. O próprio Fayol encontrou dificuldades ao fazer tal distinção. A coordenação é vista como um elemento que está presen- te, integra e ativa todos os demais elementos do processo admi- nistrativo, visando a dinamizá-los e ativá-los. Daí o entendimen- to de que é uma atividade típica de direção. A coordenação requer, como passo inicial, a definição dos objetivos da empresa, uma vez que estes representam o primeiro e fundamental meio de coordenação, visto como um instrumento interno da organização. E, conforme a metodologia adotada até então, abordar- se-á o último dos elementos da função administrativa – o con- trole. Para aprofundar seus estudos sobre motivação, as sugestões de leitura que oferecemos são: FAVA, R. Caminhos da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Obra que explica em forma de historinha, avaliada como muita boa e de fácil compreen- são. Seu texto é divertido. Vale a pena ler! RODRIGUES, C. M. C.; SILVA, W. R. da. Motivação nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007. Disponível em: <http:// www.editoraatlas.com.br>. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 66 d) Controle Kwasnicka (1995) destaca que o planejamento e o controle estão muito vinculados, em função de ser o planejamento um processo por meio do qual o gestor sabe que as ativida- des efetivas estarão de acordo com as que foram planejadas: Planejamento e controle estão sempre tão relacionados que chega a ser difícil identificar onde um termina e outro começa. Um planejamento representa a antecipação da ação, que é um processo passivo, enquanto que o controle é um processo ativo que procura manter o planeja- mento dentro de seu curso inicial (p. 262). Lacombe e Heilborn (2003, p. 50) entendem que controlar seja ... assegurar que as atividades da organização levam-na em direção aos objetivos. Isto envolve medir o desempenho, compará-lo com o desejado, e tomar as medidas corretivas necessárias. Seu último desafio nesta Unidade é completar o quadro a seguir, assim como já fez com os outros elementos, com o objetivo de recapitular o conteúdo e sistematizar sua com- preensão sobre eles. Como vimos anteriormente, o planejamento é um dos principais processos na adminis- tração das organizações. Como estas, entretanto, não operam na base da improvisação e nem do acaso, elas precisam ser devidamente controladas. Elas requerem um esforço de controle em suas várias operações e atividades. Conceitue controle Seu entendimento E sc ol h a al g u n s au to re s e tr an sc re va o c on ce it o d e co n tr ol e Exemplifique como se dá na empresa em que trabalha, estuda ou conhece Conceitue controle 67 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Montana e Charnov (1998, p. 240-241) fazem as seguintes considerações: O processo pelo qual a administração implementa seus planos e avalia as realizações organizacionais para medir o sucesso ou o fracasso é o controle. O controle consiste em ações seqüenciais tomadas pela administração para estabelecer os padrões de desempenho, medir e avaliar o desempenho, e tomar ações corretivas quando necessário. Ele é absolutamente essencial para o planejamento eficaz. A administração precisa saber de seu desempenho para poder fazer uso eficiente dos recursos organizacionais. Deve avaliar como os recursos são usados, tomar ações corretivas quando necessário e planejar eficazmente para usar os recursos com mais eficiên- cia no futuro. Existem três pontos principais no que diz respeito à importância do controle: • O controle é necessário para medir e avaliar o desempenho organizacional; • O controle é um processo dinâmico e contínuo; • O controle envolve todas as facetas da organização. O processo de controle, portanto, é praticado por todas as áreas funcionais (institucional, finanças, produção, mercadológica e gestão de pessoas) e níveis da adminis- tração (estratégico, tático e operacional) da empresa. Chiavenato (1999) complementa que a finalidade do controle é assegurar que os re- sultados do que foi planejado, organizado e dirigido se ajustem tanto quanto possível aos objetivos previamente estabelecidos. A essência do controle consiste em verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os objetivos ou os resultados desejados. Nesse sentido, o controle consiste basi- camente de um processo que guia a atividade exercida para um fim previamente determina- do. O processo de controle apresenta quatro etapas ou fases: a) estabelecer objetivos e padrões de desempenho (padrões de quantidade, qualidade, tem- po, custo); b) avaliar o desempenho atual; c) comparar o desempenho atual com os objetivos ou padrões; d) adotar a ação corretiva quando necessário. Você já ouviu falar dos instrumentos de controle da administração? Não? Então co- nheça alguns deles. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 68 Os instrumentos de controle adotados no âmbito das orga- nizações são basicamente os mesmos empregados no planejamen- to, porém cabe salientá-los: gráficos, tabelas, controle de retorno sobre ativos, gráfico de Gantt, PERT e CPM, análise do ponto de equilíbrio, ponto econômico do pedido, sistema ABC de custeio, desvio-padrão, análise de variância, cronograma, orçamentos, flu- xogramas, relatórios contábeis, auditoria, observação pessoal, ins- peção, controle por relatórios, avaliação de performance, políti- cas, desempenho humano, sistema de informação, etc. A integração dos elementos da função administrativa pode ser compreendida da seguinte forma: o planejamento serve para definir os objetivos, traçar as estratégias para alcançá-los e esta- belecer os planos de ação. A organização serve para estruturar as linhas de poder e decisão, divisão do trabalho, fluxos de comunicação e recursos, de maneira a se trabalhar de forma organizada e racional. A direção/comando/coordenação mostra os rumos, dinami- za os espaços de atuação e incentiva as pessoas para que utili- zem os recursos da melhor maneira possível. Já o controle serve para garantir que tudo funcione da maneira certa e no tempo certo, com acompanhamento constante e corretivo. É importante que você construa a sua metodologia de estu- do, ou seja, encontre a forma de criar as condições adequadas para melhor assimilar o que está sendo estudado. Como sugestão propomos a elaboração de um pequeno texto sobre cada temática em estudo para melhorar o seu aprendizado e também identificar suas dúvidas. Bom trabalho!! Referênciais ARANTES, Nélio. Sistemas de gestão empresarial: conceitos perma- nentes na administração de empresas válidas. São Paulo: Atlas, 1994. CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Fluxogramas São gráficos que representam o fluxo ou seqüências de procedimentos e rotinas. 69 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL FAYOL, Henri. Administração industrial e geral. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1989. KWASNICKA, Eunice Lacava. Introdução à Administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1995. LACOMBE, Francisco; HEILBORN, Gilberto. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. MONTANA, Patrick J.; CHARNOV, Bruce H. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998. MORAES, Anna Maris Pereira de. Iniciação ao Estudo da Administração. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Makron Books, 2001. VERGARA, S. C.; BRANCO, P. D. Empresa humanizada: a organização necessária e possí- vel. In: Gestão Empresarial: o fator humano. São Paulo: Atlas, 2002. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 70 71 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 4Unidade 4Unidade 4Unidade 4 Dinâmicas de Grupo Lucinéia Felipin Woitchunas Nossos objetivos para esta Unidade são: a) definir um conceito para grupo. b) compreender a dinâmica dos grupos e os reflexos desse processo na administração. c) conhecer algumas técnicas de dinâmicas de grupo. d) conhecer os elementos de uma dinâmica de grupo. Para tanto, vamos subdividir a Unidade em cinco seções, a saber: Seção 1 – Grupos: conceitos e dimensões Seção 2 – Grupos: procedimentos individuais nos grupos sociais Seção 3 – Comportamentos em grupo versus metas organizacionais Seção 4 – Técnicas de dinâmicas de grupos: o que são e para que servem? Seção 5 – Os elementos de uma dinâmica de grupo: passo-a-passo. – Seção 1 – Grupos: conceitos e dimensões Nesta sessão, vamos falar sobre grupos e a dinâmica destes nas organizações. Para início de conversa, vamos definir melhor: o que é um grupo? FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 72 Podemos afirmar que, enquanto indivíduos, pertencemos a diferentes grupos: da famí- lia, de atividades esportivas, de vizinhos, de trabalho... Cada grupo tem significados e obje- tivos diferentes que permeiam nossa vida. Para Kast e Rosenzweig: Grupo é um ajuntamento, multidão ou agregado de pessoas que entre si se relacionem de alguma forma ou que estejam unidos por laços ou interesses comuns – uma classe, uma raça ou uma profissão, por exemplo. Na psicologia e na sociologia, dá-se ênfase aos inter-relacionamentos entre os membros: não se realça a conotação de agregação (1970). Logo, um simples aglomerado de pessoas formado casualmente, como passageiros que lotam um avião, por exemplo, não se constituem como grupo psicológico porque seus inte- grantes não interagem ou mantêm inter-relações entre si. Nas organizações podemos identificar os pequenos grupos que se formam em função da divisão de tarefas, por exemplo. Então um departamento ou setor pode ser um grupo. Estes grupos se inter-relacionam com outros e é necessário que haja coerência entre os objetivos organizacionais (o que a empresa, representada por seus diretores, deseja) e pes- soais (o que as pessoas desejam, enquanto membros do grupo e indivíduos), a fim de evitar frustrações e/ou conflitos e assegurar que as metas organizacionais sejam cumpridas. Os grupos podem ser caracterizados como formais ou informais: Grupos formais são aqueles estabelecidos pela estrutura organizacional e reconheci- dos pela empresa. Nestes, os papéis são bem definidos, como: o gerente de produção e sua equipe; o departamento financeiro; outros. Grupos informais: são aqueles formados em função de afinidades pessoais ou caracte- rísticas convergentes entre os membros, que acabam se aproximando. Exemplo: time de futebol; turma do “samba” ou do “churrasco”. Adiantamos que podem ser de dois tipos os pequenos grupos: os de caráter permamente (a família e os grupos de trabalho que se constituem em empresas estáveis e tendem a ser fechados – de difícil acesso) e os de caráter temporário (equipes de projeto ou forças-tarefa para atividades específicas que tendem a ser mais abertos – de fácil acesso). Quando existe comunicação entre os membros de um grupo (escrita, verbal, gesticu- lada, etc.) denotando uma interação, que geralmente resulta em relações de mudança e de ajuste entre os seus membros, podemos concluir que está ocorrendo um processo dinâmico, ou seja, uma dinâmica de grupo. 73 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Os pequenos grupos desempenham um papel importante de integração e mediação entre o indivíduo e a organização. Compreender como se dá a dinâmica destes grupos é de fundamental importância para um administrador, uma vez que o comportamento e a moti- vação dos indivíduos que pertencem a estes grupos se refletem no desempenho organizacional. Agora reflita sobre a prática organizacional: Você pertence a que grupos? Identifique pelo menos 5 grupos no seu ambiente de trabalho ou em uma outra organização: Pronto? Então vamos adiante, para a seção 2. – Seção 2 – Grupos: procedimentos individuais nos grupos sociais Como podemos compreender os procedimentos individuais nos grupos sociais? Kast e Rosenweig apresentam três maneiras: 1. atividade – quanto mais as pessoas participarem de atividades conjuntas, maior será a probabilidade de interação; 2. interação – o envolvimento em uma atividade leva à outra, as pessoas vão se conhecendo, desenvolvendo sentimentos comuns e, assim, aumentando a interação; FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 74 3. Sentimentos – quanto maior a participação em atividades conjuntas, maior o conheci- mento do outro e, assim, desencadeia-se a desencadear um envolvimento sentimental entre os membros de um grupo. Todo esse envolvimento pode levar a resultados melhores para o grupo, mas também pode estender-se muito a questões pessoais, e, com isso, desvirtuar os interesses legítimos do próprio grupo. Então, podemos considerar que os procedimentos individuais inter-relacionados den- tro de um pequeno grupo vão determinando o “clima” organizacional. Esta seção foi bem curtinha, né? Pois então vamos logo para a seção 3, na qual trata- remos sobre a relação entre comportamentos em grupo e metas organizacionais. – Seção 3 – Comportamentos em Grupo Versus Metas Organizacionais Certamente você pertence a alguns grupos permanentes (família, universidade, traba- lho), e, também, já participou de outros grupos com os quais, hoje, não tem mais contato, certo? Em um grupo existem indivíduos com personalidades diversas, valores e crenças dife- rentes e isso interfere tanto na conduta individual quanto no comportamento do grupo, certo? Pois é, então, faça uma lista, diagnosticando alguns atributos ou características pre- sentes em um grupo do qual você participa (ou tenha participado) e escreva quais são essas características e esses atributos em termos de comportamento de alguns integrantes e os reflexos dos mesmos no grupo: Pensou e anotou? Então vamos adiante... 75 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Geralmente, em um grupo as pessoas querem ser aceitas. Existem pessoas que conse- guem gerar uma atração e empatia no grupo, o que facilita a interação. Por outro lado, também há pessoas que conseguem gerar repulsa e, com isso, o ambiente grupal fica de certo modo fragilizado, quando o que se busca é a coesão dos seus membros para desenvol- ver suas atividades. Então, alguns grupos podem apresentar coesão e integração, enquanto outros podem apresentar falta de coesão e difusão. Todos os esforços dos grupos devem ser direcionados para atingir os resultados organizacionais, mas as propensões de cada indivíduo levam a um grau de variação que torna esse processo muito mais complexo, o que vai se refletir na produtividade, causando motivação ou descontentamento, este último podendo levar aos conflitos (tema que vamos abordar na Unidade 5). Observe que: 1. os grupos individuais encontrados dentro de uma organização podem ser: funcionais, de tarefa, de interesse, de pares e comitês formais; 2. a administração não pode nem deve tentar regular grupos de amizade. Os gerentes, no entanto, podem influenciar esses grupos ao limitar o tempo disponível para socialização durante o expediente; 3. o status de um grupo de trabalho é determinado pela importância da tarefa designada, pelo grau de êxito do grupo, pelo status dos indivíduos que o compõem, pela natureza das recompensas que a organização oferece aos membros do grupo e pelo status externo per- cebido do grupo. Na seção a seguir você vai conhecer algumas dinâmicas para trabalhar com esses grupos. – Seção 4 – Técnicas de Dinâmicas de Grupos: o que são e para que servem? O ser humano possui uma inclinação natural à sociabilidade. O processo de dinâmica de grupo dá destaque aos relacionamentos face a face e à interação, ou seja, o relaciona- mento entre os indivíduos. Por isso, a comunicação é um fator preponderante e o contínuo ajustamento das variações entre indivíduos também. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 76 Nós vivemos em grupos (na família, na escola, na igreja, no futebol, no clube...). Estamos sempre percebendo o comportamento das pessoas, como elas se relacionam, como agem, encontramos virtudes e defeitos nos outros. Dificilmente, porém, percebemos como nós, de fato, agimos. E podemos descobrir que nem sempre a nossa conduta condiz com o que o grupo de fato deseja. É justamente nesse momento que se pode lançar mão de uma dinâmica de grupo. Você sabe o que é uma T. D. G.? Técnicas de dinâmica de grupo são instrumentos que estão dentro de um processo de formação e transformação. Para que servem? Para melhorar a eficiência e a eficácia da organização por meio da elaboração do nível das pessoas e dos pequenos grupos. Segundo Fritzen (2002, p. 8), as técnicas ou exercícios de dinâmicas de grupos são utilizadas nas organizações para ... melhorar as relações dos diretores, chefes, gerentes, líderes em geral, com os subordinados, colegas e superiores hierárquicos. É preciso criar um clima de relações verdadeiramente huma- nas do indivíduo, dos indivíduos entre si, do grupo com os outros grupos, do chefe ou líder com o grupo ou com o indivíduo do grupo com o chefe ou líder, do indivíduo com o chefe ou líder e do chefe ou líder com o indivíduo. Servem ainda... – para buscar um maior conhecimento tanto pessoal quanto dos outros; – melhorar o inter-relacionamento pessoal e aumentar a integração grupal; – para responder a questões como: o que pensam as pessoas, o que sentem, o que vivem e o que sofrem; – para solucionar problemas incidentes na relação indivíduo-grupo; – para facilitar a modificação de atitude, comportamento dos membros de um grupo e o relacionamento interpessoal; – “para desinstalar a pessoa do seu individualismo, do seu egoísmo, e relacioná-la com outros” (Frtizen, 2002); – para desenvolver um processo coletivo de discussão e reflexão; – para ampliar o conhecimento individual, coletivo, enriquecendo seu potencial; Você sabe que existem elementos que compõem uma dinâmica de grupo? Conheça-os na seção a seguir. 77 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL – Seção 5 – Os Elementos de uma Dinâmica de Grupo: passo a passo Cada exercício em uma dinâmica grupal tem uma finalidade. Assim, podemos definir alguns passos importantes: 1. objetivos – quem vai aplicar a dinâmica deve ter claro o que deseja alcançar. Por exemplo: aumentar a cooperação entre grupos; 2. tamanho do grupo – devemos conhecer o número de participantes para definirmos o espa- ço físico necessário, a quantidade de material a ser empregado e o tempo necessário ou possível para cada atividade; 3. tempo exigido – devemos controlar o tempo de início, meio e fim das atividades; 4. ambiente físico – o local deve ser preparado para possibilitar a aplicação da dinâmica (claro, escuro, fechado, amplo...); 5. materiais/recursos utilizados – para auxiliar na aplicação e execução da dinâmica (TV, vídeo, som, papel, canetas, tintas, tarjetas, retroprojetor...); 6. processo – a maneira como vai ocorrer a dinâmica, a operacionalização; 7. avaliação – deve permitir um resgate da experiência, avaliar o que foi feito, os sentimen- tos, o aprendizado, a síntese final, avaliar atitudes e propor o encaminhamento final. Agora vamos para a Unidade 5, na qual abordaremos sobre a motivação no trabalho, ou o que move os grupos e indivíduos. Referências FRITZEN, Silvino José. Exercícios práticos de dinâmica de grupo. 33. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. v. 1 e 2. KAST; ROSENZWEIG. Organização e Administração: um enfoque sistêmico. SP: Pioneira, 1970. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 78 79 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 5Unidade 5Unidade 5Unidade 5 Motivação Lucinéia Felipin Woitchunas A partir desta Unidade os objetivos que nos propomos a atingir são: a) definir um conceito para motivação no trabalho. b) conhecer as diferentes teorias motivacionais e suas conseqüências. c) conhecer o processo motivacional. d) compreender a relação entre motivação e desempenho no trabalho. Para alcançar esses objetivos vamos dividir o conteúdo em 3 seções, a saber: Seção 1 – O que é motivação – conceitos e principais abordagens; Seção 2 – Principais teóricos; Seção 3 – Reconhecimento, frustração e mecanismos de defesa. – Seção 1 – O Que é Motivação? Conceitos e principais abordagens Vamos começar este capítulo refletindo um pouco sobre o significado da palavra moti- vação. Responda sucintamente às questões a seguir, para iniciarmos a discussão sobre este assunto a partir da sua percepção. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 80 1. O que significa motivação para você? 2. E o que significa estar motivado? 3. Existem alguns fatores que o deixam mais ou menos motivado no trabalho? E na vida? Quais são eles? Agora que já vimos o que você pensa sobre a motivação, vamos ver o que alguns autores pensam? Para Klering (1990, p. 242), “a motivação é um fenômeno interno que nasce de uma necessidade ou carência interna”. Ainda segundo este autor, a motivação nasce da necessida- de humana (endógeno), enquanto que os fatores de satisfação são extrínsecos (exógenos). Ex.: se alguém diz “eu necessito de água”, o fator de satisfação é a água; já a sede é a necessidade ou motivação. Para ir em busca da água, cria-se no interior de uma pessoa energia a ser liberada de dentro para fora, desenvolvendo um es- tado de carência interna. Essa pessoa dispara um comportamen- to espontâneo e típico de conduta de busca, que culmina com aquilo que se chama de ato instintivo, no momento em que há o confronto entre a necessidade e os determinados fatores de satis- fação existentes no meio ambiente. Endógeno Processo interno, de dentro para fora. Exógeno Processo externo, de fora para dentro. 81 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL É importante salientar que, satisfeito esse estado de carência, outra necessidade (ou motivação) virá à tona. Além disso, cabe ressaltar que diferentes pessoas, com diferentes carências internas, desenvolvem também diferentes condutas de busca. Então, toda essa complexidade angustia os administradores que se vêem desafiados a identificar e a satisfazer as necessidades dos seus colaboradores, a fim de melhorar o seu desempenho. É possível um gestor motivar alguém? O que você acha? Bergamini (2002-2008) acredita que não. Segundo ela, “ninguém motiva ninguém. O potencial motivacional já existe dentro de cada um. O importante é não desperdiçá-lo”. A autora argumenta que Muitos executivos ainda acreditam que é possível gerar motivação condicionando os comporta- mentos por meio de prêmios e punições. Mas a verdadeira motivação nasce das necessidades interiores e não de fatores externos. Não há fórmulas que ofereçam soluções fáceis para motivar quem quer que seja. O líder não pode motivar seus liderados. Sua eficácia depende de sua com- petência em liberar a motivação que os seus liderados já trazem dentro de si (p. 63). E aí? o que você acha desta afirmação? Concorda ou não? Então vamos ver o que outra autora diz a respeito? Veja o que Vergara (2003, p. 42) afirma: ... a motivação é intrínseca, quando autores de determinados best-sellers falam em automotivação, estão cometendo um pleonasmo, uma redundância, um equívoco. A palavrinha auto está sobran- do. Porque a motivação é intrínseca, também não podemos dizer que motivamos os outros a isso ou àquilo. Ninguém motiva ninguém. Nós é que nos motivamos, ou não. Tudo o que os de fora podem fazer é estimular, incentivar, provocar nossa motivação. Dito de outra maneira, a diferen- ça entre motivação e estímulo é que a primeira está dentro de nós e o segundo, fora. É ilustrativo o caso de Romário e de Marcelinho Carioca. Em 2003, ambos receberam propostas milionárias de times do Qatar (Al Saad e Al Ettehad, respectivamente) para ficarem por lá alguns meses. Romário aceitou e foi; Marcelinho não aceitou e ficou no Brasil. Embora admita-se a existência de estímulos secundários (fama, poder, por exemplo), um é evidente: dinheiro. Um jogador sen- tiu-se motivado a ir para o Qatar com esse estímulo; o outro não. É comum gerentes não entenderem porque determinada pessoa não se sente motivada para fazer alguma coisa quando ele, gerente, se sente. É... queremos que todos sejam à nossa imagem e semelhança. Que pena! FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 82 E agora? Qual é a sua opinião a respeito? Eu concordo com as autoras. Vamos continuar, para conhecer a opinião de outros autores? Para Spector (2002, p. 198), ... a motivação é geralmente descrita como um estado interior que induz uma pessoa a assumir determinados tipos de comportamento. Vista por uma perspectiva ela tem a ver com a direção, intensidade e persistência de um comportamento ao longo do tempo... Vista por outra perspectiva, a motivação refere-se ao desejo de adquirir ou alcançar algum objetivo, ou seja, a motivação resulta dos desejos, necessidades ou vontades. Já Aguiar (1981, p. 155), afirma que “o termo motivação é usado comumente para designar um problema do indivíduo isolado. No entanto, para compreender a motivação no trabalho é necessário conhecer as causas pelas quais o organismo é ativado, bem como a forma de ação e a direção da motivação. É necessário, portanto, identificar as condições que a determinam”. Para explicar a teoria motivacional podemos dizer que existem comportamento moti- vado e comportamento não motivado? Sim, é isso mesmo. A seguir vamos relacionar algumas abordagens da motivação, bem apresentadas na obra de Aguiar (1981) que seguem na seção 2, quando são apresentados os estudos de outros teóricos. 1. Princípio do hedonismo – postula que os indivíduos buscam o prazer e afastam-se do sofrimento. Assim, em cada situação com que as pessoas se deparam elas selecionam alternativas de ação que podem aumentar o prazer e minimizar o sofrimento. 2. Abordagem behaviorista – postula um determinismo do passado, ou seja, o que motiva o comportamento são as conseqüências dos efeitos produzidos pelo comportamento passa- do do indivíduo: a recompensa ou punição recebidas. 3. Abordagem cognitivista – pressupõem que os indivíduos possuam valores, opiniões e ex- pectativas em relação ao mundo que os rodeia, então, sustentam que os indivíduos se empenham em atingir coisas atrativas e tentam afastar-se das coisas negativas. Para Kurt Lewin 1 , o comportamento é visto como algo dependente de eventos que ocorrem para o indivíduo no momento em que o comportamento ocorre. 1 Dentre os cognitivistas Lewin um dos que trouxeram maior contribuição para o estudo da motivação. 83 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 4. Abordagem freudiana – para Freud, são os instintos que fornecem uma fonte contínua e fixa de estimulação: os indivíduos podem aprender a atingir certos objetivos que possibi- litem a liberação de tensões, mas nem sempre têm consciência de suas motivações reais. A investigação da motivação parte das inferências sobre as origens do comportamento dos indivíduos. A Administração Científica, que você estudou na Unidade 2, baseava-se na con- cepção de homo economicus, a qual sustentava que o comportamento do homem é moti- vado exclusivamente pela busca do dinheiro e pelas recompensas materiais e salariais do trabalho. A experiência de Hawthorne (já descrita na Unidade 4) demonstrou que o homem não é motivado apenas por estímulos salariais e econômicos, mas por recompensas sociais e simbólicas. Chiavenato (2003, p. 329) lembra que os autores behavioristas constataram que o administrador precisa conhecer as necessidades humanas para melhor compreender o com- portamento humano e utilizar a motivação como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida dentro das organizações. Como dá para perceber, existem muitos estudos sobre a motivação humana e é impos- sível esgotarmos este assunto (também não é minha intenção). Precisamos, no entanto, conhecer alguns autores e suas respectivas teorias, posto que foram marcantes para a com- preensão do processo de motivação nas organizações. Isso, porém, fica para a próxima se- ção, certo? – Seção 2 – Teorias da motivação humana O texto a seguir busca, de forma resumida, apresentar as teorias desenvolvidas por alguns autores que marcaram de forma significativa os estudos para a compreensão da motivação humana, embora existam muitos outros além dos que aqui apresentaremos. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 84 2.1 – TEORIA DA MOTIVAÇÃO HUMANA (MASLOW) A hipótese central da teoria de Maslow é a existência de uma hierarquia e das neces- sidades humanas, constituída por necessidades biológicas, psicológicas e sociais. As dife- rentes necessidades estão divididas por ele em: necessidades fisiológicas, de segurança, so- ciais, de estima e de auto-realização. Veja a Figura 1 e saiba mais: Figura 1: A hierarquia das necessidades humanas, segundo Maslow Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2003 Agora que você já conhece a famosa “pirâmide de Maslow”, vamos entender um pouquinho mais sobre cada uma dessas necessidades? 1. Necessidades fisiológicas – são as necessidades mais básicas do ser humano e as mais preponderantes também. São instintivas e já nascem com o indivíduo. Ex.: alimento, re- pouso, abrigo, sexo. Comportamento resultante: encontrar alívio da pressão para o orga- nismo. 2. Necessidades de segurança – constituem o segundo nível e surgem quando as necessida- des fisiológicas já estão satisfeitas. Ex.: segurança, proteção contra o perigo, doença, incerteza, desemprego. 3. Necessidades sociais – surgem no comportamento, quando as necessidades mais baixas estão relativamente satisfeitas. Ex.: relacionamento, amizade, aceitação, afeição, com- preensão, consideração. Necessidades Fisiológicas Necessidades de segurança Necessidades sociais Necessidades de estima Necessidades de auto- realização Necessidades primárias Necessidades secundárias 85 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 4. Necessidades de estima – relacionam-se com a maneira como o indivíduo se vê e se avalia. Ex.: satisfação do ego, orgulho, status e prestígio, auto-respeito, reconhecimento, confi- ança, progresso, apreciação, admiração dos colegas. 5. Necessidades de auto-realização – são as necessidades humanas mais elevadas e que estão no topo da hierarquia. Ex.: realização de nosso próprio potencial, excelência pesso- al, competência, expertise, tarefas desafiadoras. Segundo Maslow (apud Chiavenato, 2003), somente quando um nível inferior de ne- cessidade está satisfeito é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento da pessoa. Lembrete: a satisfação e a frustração andam muito perto uma da outra e devemos nos preo- cupar com isso enquanto gestores, pois ambas afetam o desempenho no trabalho de forma positiva ou negativa. Então observe a Figura 2 e compreenda um pouco mais sobre os fatores de satisfação e não-satisfação apresentados por Chiavenato a partir dos estudos de Maslow. Figura 2: A satisfação e a não-satisfação (frustração) das necessidades humanas básicas Fonte: Chiavenato (2003, p. 333) Fisiológicas Segurança Sociais (amor) Estima (ego) Auto- realização (auto- atualização) • Confinamento do local de trabalho • Remuneração • Tipo de trabalho e ambiente de trabalho mal-estruturados •Políticas da empresa imprevisíveis • Baixa interação e relacionamento com colegas, chefia e subordinados • Baixo status • Baixo salário • Sensação de iniqüidade • Insucesso na profissão •Desprazer no trabalho NÃO-SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO Frustrações podem ser derivadas de: • Sucesso na profissão • Prazer no trabalho • Interação facilitada pelo arranjo físico • Prestígio na profissão • Elevada interação e relacionamento com colegas, chefia e subordinados • Remuneração adequada para a satisfação das necessidades básicas FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 86 Agora que já constatamos o que Maslow pensava, vamos conhecer a visão de Herzberg? 2.2 – TEORIA DOS DOIS FATORES (HERZBERG) A teoria da motivação no trabalho, de Herzberg, distingue satisfação e motivação. Os fatores denominados de higiênicos são aqueles que levam à satisfação e estão relacionados com as condições em que o trabalho é realizado. Já os fatores motivacionais estão direta- mente relacionados com a tarefa ou o trabalho, e influenciam diretamente sobre a produtivi- dade dos indivíduos na organização. 1. Fatores Higiênicos – estão localizados no ambiente organizacional que circunda a tare- fa e estão fora do controle das pessoas. Ex.: salário, benefícios sociais, tipo de chefia ou supervisão, condições físicas e ambientais de trabalho, políticas e diretrizes da empresa, clima de relacionamento entre a empresa e funcionários, regulamentos, etc. São fatores exógenos, do contexto do ambiente, externo ao indivíduo. O trabalho era considerado uma tarefa desagradável e então apelava-se para incentivos salariais, prêmios, supervi- são, etc, para fazer com que as pessoas trabalhassem mais. As pesquisas de Herzberg, contudo, revelaram que quando os fatores higiênicos são ótimos, eles apenas evitam a insatisfação, e, se elevam a satisfação, não a mantêm por muito tempo. Se, entretanto, os fatores chamados higiênicos forem precários, eles provocam a insatisfação dos empre- gados. 2. Fatores motivacionais – são fatores intrínsecos, pois se relacionam com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que a pessoa executa. Estão sob o controle do indiví- duo, pois se relacionam com a atividade que este desempenha. Envolve sentimentos de crescimento individual, reconhecimento profissional e auto-realização. 2.3 – TEORIA DE MCCLELLAND McClelland argumenta que existem três tipos de necessidades: poder (refere-se a rela- ções com pessoas, status, prestígio, posições de influência), afiliação (afeto) e realização (auto-estima e realização). Segundo ele, não nascemos com tais necessidades, elas são apren- didas socialmente. 87 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 2.4 – TEORIA DA EXPECTATIVA Relaciona desempenho com recompensa. Exemplo: se você acha que fazer algo fora do esperado pelo chefe vai reverter em elogio e você quer isto, então vai fazer. Por outro lado, se souber que isto não vai fazer diferença, então você não fará. 2.5 – TEORIA DA EQÜIDADE Tem a ver com a justiça e igualdade nas relações de trabalho. Neste caso, sendo um fator de motivação, pode transformar-se em desmotivação, caso se perceba injustiça e favo- ritismo. Agora, vamos refletir um pouco sobre tudo que estudamos e como a motivação pode nos ajudar enquanto gestores? Você não está se perguntando, então: se não é possível motivar as pessoas, como po- demos conseguir que elas se sintam, realmente, motivadas para o trabalho? É o que vamos estudar na próxima seção. – Seção 3 – Reconhecimento, Frustração e Mecanismos de Defesa Nas seções anteriores (1 e 2) vimos alguns conceitos sobre motivação e teorias que tentam explicar as diferentes necessidades humanas e como estas implicam a motivação dos indivíduos. Agora, vamos refletir um pouco sobre o comportamento dos gestores dian- te disso. Em primeiro lugar, acredito que quando as pessoas realizam um trabalho, seja ele qual for, colocam ali suas diferentes capacidades física, mental, emocional, etc. Despendem o maior tempo diário nesta atividade e, por isso, “vivem o trabalho”. Se esta atividade for prazerosa, vai gerar satisfação e pode ser uma importante fonte motivacional, resultando em maior e melhor desempenho no trabalho. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 88 Os fatores que tornam o trabalho prazeroso ou não são os mais diversos (como vimos nas seções anteriores) e diferem de indivíduo para indivíduo. Por exemplo: para alguns, o cargo que ocupam é importante, pois gera status, prestígio, etc.; para outros, mesmo desem- penhando uma atividade simples, gostam do que fazem e se sentem seguros desempenhan- do bem o seu papel. A verdade é que todos procuram reconhecimento, gostam de se sentir importantes, e, assim, vivem buscando a recompensa pelo que fazem. E, muitas vezes, não sabemos muito bem como recompensar, não é verdade? Quando vem o reconhecimento, porém, segundo Vergara (2003, p. 51) “... nós somos capazes de liberar potencialidades, talentos, características pessoais, que nem nós não dá- vamos conta de que possuíamos”. De onde vem o reconhecimento? Pode vir: – do chefe, da equipe, dos fornecedores ou dos clientes; – do mercado consumidor quando aprova um produto ou serviço; Como manifestamos o reconhecimento? – por promoções de salário ou novo cargo, viagem-prêmio, uma palavra, um gesto, enfim, de várias formas. E quando o reconhecimento não vem? Aí surge a frustração, o vazio, e o indivíduo, para preencher este vazio, desenvolverá (mesmo inconscientemente) mecanismos de defesa. Estes mecanismos de defesa podem ser, segundo Vergara (2003, p. 50): 1. Sociológicos – dizem respeito ao meu estar em sociedade. Se estou deprimido, posso exa- gerar no consumismo exacerbado. Posso gastar demais, inclusive me endividando; 2. Químicos – são concernentes ao uso de drogas, fumo, álcool; 3. Tecnológicos – uso em excesso da tecnologia. Em outras palavras, mecanismos de defesa funcionam como meios de fugas. 89 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Como você sabe (pois já falamos disso antes), a motivação é um fator intrínseco, está dentro de cada um. Você também sabe que não podemos simplesmente motivar, mas pode- mos provocar a motivação. Para encerrar, conheça algumas formas de provocar a motiva- ção, apresentadas por Vergara (2003, p. 69): – desafie as pessoas a alcançarem seu padrão de excelência. Afinal, todos nós temos um potencial, que está pronto a desabrochar; – explicite os padrões empresariais desejados. Se eles não forem comunicados, que rumos as pessoas poderão tomar?; – comunique. Como dizia o velho Chacrinha, “quem não se comunica, se trumbica”. – estimule as pessoas a sentirem orgulho do que fazem. A auto-estima precisa ser “massageada”; – reconheça, você mesmo, o trabalho realizado e explicite esse reconhecimento. Às vezes, basta um Parabéns! – elogie, incentive, confie, aposte nas pessoas; – eduque, sobretudo pelo exemplo; – nunca constranja uma pessoa na frente de outra. Isso dói muito, humilha, fere a auto-estima; – faça com que seu discurso corresponda a sua ação. Referências AGUIAR, Maria Aparecida F. Psicologia aplicada à Administração. São Paulo: Atlas,1981. BERGAMINI, Cecília W. Motivação: uma viagem ao centro do conceito. In: RAE Executivo: fator humano, vol. 1, n. 2, p. 63-67, nov. 2002 a jan. 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. KLERING, Luís Roque. Motivação: mitos e enfoques atuais. In: Análise. Porto Alegre, v. 1, n. 3, p. 241-248, 1990. SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2002. VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 90 91 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 6Unidade 6Unidade 6Unidade 6 Comunicação Lucinéia Felipin Woitchunas Os objetivos de aprendizagem desta Unidade são: a) definir a importância da comunicação no ambiente de trabalho; b) conhecer o processo de comunicação; c) conhecer os principais problemas decorrentes do processo de comunicação em uma orga- nização; d) definir alguns fatores para melhorar a comunicação interpessoal e organizacional Nesta Unidade vamos subdividir nosso estudo em seções, as quais apresentamos a seguir: – Seção 1– O Que é Comunicação – o subsistema de comunicação e seus componentes A comunicação é um fator importante em qualquer situação, tanto na vida pessoal como na organização em que trabalhamos. Independentemente da atividade que executa- mos é importante que consigamos nos comunicar com eficácia. Quando exercemos o papel de gerente e/ou de líder, então, a importância aumenta, pois o gestor precisa comunicar o que ele ou a empresa esperam dos indivíduos, ao mesmo tempo que os colaboradores preci- sam compreender o que a empresa espera deles no local de trabalho. Como professora, gosto de desafiar os alunos para a apresentação dos trabalhos de- senvolvidos, muitas vezes sob protesto, mas no final todos compreendem que devemos apro- veitar ao máximo as oportunidades que temos de manifestar nossas idéias ou o resultado de FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 92 um trabalho importante, e o ambiente acadêmico proporciona isso, seja por meio da expres- são oral ou escrita. Quando não temos este ambiente, devemos buscar outras oportunida- des para praticar a comunicação. COMUNICAÇÃO – O QUE É? Primeiro vou pedir para você escrever uma definição pessoal para o termo comunica- ção. Faça isso nas linhas a seguir: Pensou? E escreveu? Então vamos lá! De forma genérica, podemos afirmar que comunicação é o intercâmbio de informações entre sujeitos ou objetos. Especificamente sobre a comunicação humana podemos dizer que é um processo que envolve a troca de informações e se utiliza de sistemas simbólicos para este fim. Nesse pro- cesso existem diversas maneiras pelas quais a comunicação pode ocorrer. Podemos exemplificar algumas: duas pessoas conversando “cara a cara”, ou gesticulando com as mãos, mensagens via Internet, a fala, a escrita e outras. O autor Jean-François Chanlat ressalta que: Como o ser humano dialoga, e todo o comportamento humano é comunicação, toda interação, qualquer que seja, supõe por definição, um modo de comunicação, isto é, um conjunto de dispo- sições verbais e não-verbais que se encarregam de exprimir, traduzir, registrar, em uma palavra, de dizer o que uns querem comunicar aos outros durante uma relação. Ao mesmo tempo, locutor, ouvinte e interlocutor, todo indivíduo exprime no quadro da interação ao mesmo tempo o que ele é, o que faz, o que pensa, o que sabe, o que deseja, o que gosta; assim agindo, ele se coloca cada vez mais como pessoa (1992, p. 37). Arantes (1994, p. 260), referindo-se à comunicação na dimensão empresarial, diz que é essencialmente um processo de interação humana que busca o entendimento comum nas relações entre os indivíduos, fundamental para a sobrevivência, o crescimento e a continuidade da empresa. Somente com a ajuda da comunicação é possível que as tarefas distribuídas entre as várias pessoas 93 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL que integram a empresa sejam realizadas corretamente e estejam dirigidas aos mesmos objetivos. A comunicação também auxilia e complementa os demais instrumentos de gestão. Ela é, por exemplo, um requisito importante para formular os planos, implementá-los e avaliar os resultados de sua execução. A comunicação é também uma excelente ferramenta para ampliar nosso campo de conhecimento, seja através de programas de educação, seja pelo contato direto entre os colabo- radores. A comunicação cria, altera, mantém a relação entre a execução das operações. Chiavenato (2003, p. 128) afirma que “comunicação é a troca de informações entre pessoas. Significa tornar comum uma mensagem ou informação. Constitui um dos proces- sos fundamentais da experiência humana e da organização social”. Prossegue o autor enfatizando que “a comunicação requer um código para formular uma mensagem, enviá-la na forma de sinal (como ondas sonoras, letras impressas, símbolos), por meio de um canal (ar, fios, papel), a um receptor da mensagem, que a decodifica e interpreta seu significado”. Então podemos afirmar que existe um subsistema de comunicação, composto por quatro elementos (ilustrados na Figura 1): o emissor, o receptor, a mensagem e o meio. O processo da comunicação acontece quando há interação entre estes elementos. Figura 1: Os componentes do sistema de comunicação Fonte: Arantes (1994, p. 263) O emissor é o agente do processo de comunicação: é ele quem vai tomar a iniciativa de promover a comunicação com uma ou mais pessoas. O receptor é a quem a comunicação é dirigida. Pode estar situado no ambiente interno ou externo. Pode ser um superior, um subordinado, um cliente, um fornecedor ou outro. É ele quem vai responder ao estímulo provocado pelo emissor. A mensagem é o que vai ser comunicado pelo emissor ao receptor. É composta pelo conteúdo, significado e forma. O meio é o recurso a ser empregado pelo emissor para transmitir a mensagem ao recep- tor. Ex. carta, reunião, telefone, Internet, etc. Emissor Receptor MensagemMeio SUBSISTEMA DE COMUNICAÇÃO Emissor Receptor MensagemMeio SUBSISTEMA DE COMUNICAÇÃO FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 94 Esses quatro componentes são comuns a qualquer subsistema de comunicação, mas devemos prestar atenção para entender como se dá a integração entre estes componentes, os quais, em conjunto, formam o processo de comunicação. Outros elementos, contudo, são importantes na dinâmica do processo de comunica- ção. Elencamos, a seguir, alguns deles, bem como vamos explicá-los sucintamente. OBJETIVOS – no processo de comunicação, devemos ter clareza sobre os objetivos que buscamos alcançar. A falta de definição pode gerar, por exemplo, reuniões improdutivas, manuais obsoletos... EMISSOR – deve ter credibilidade e demonstrar coerência entre o discurso que faz e a sua prática. MENSAGEM – deve estar adequada ao receptor. Ex.: se a mensagem que emitimos está adequada ao nível cultural, técnico e hierárquico do receptor. Devemos nos preocupar, ainda, com o conteúdo (o que comunicar) e com a forma do mesmo (como comunicar). MEIO – é a escolha do canal a ser utilizado (verbal ou não verbal). Devemos escolher um meio que evite ruídos. RUÍDO – é qualquer interferência que prejudica a recepção e o entendimento da men- sagem pelo receptor. FILTRAGEM – é a alteração de uma mensagem enquanto atravessa as personalidades ou do emissor ou do receptor: os filtros fazem parte tanto do emissor quanto do receptor. O processo de filtragem também é de natureza psicológica e um preconceito pode causar Elementos importantes na dinâmica do processo de comunicação: objetivos emissor mensagem meio ruído filtragem receptor resposta significado situação tempo custo 95 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL distorção na comunicação. Ex.: um gerente que tem algum pre- conceito contra mulheres no local de trabalho pode ter esse pre- conceito influenciando a natureza de sua comunicação com suas funcionárias. RECEPTOR – é aquele que recebe o estímulo, ou mensa- gem. É o alvo do processo de comunicação; é com ele que quere- mos nos comunicar e é dele que esperamos uma resposta. RESPOSTA – é o que o emissor espera conseguir com o pro- cesso de comunicação. Pode ser a compra de um produto, a acei- tação de uma decisão, etc. É preciso haver feedback. Alguns ge- rentes pedem um feedback ao enviar uma mensagem para ter a certeza de que ela foi compreendida da forma como gostaria, ou seja, de que sua mensagem não foi entendida de forma distorcida. SIGNIFICADO – é o entendimento comum entre o emissor e o receptor. A mensagem a ser transmitida é codificada pelo emis- sor e decodificada pelo receptor. SITUAÇÃO – devemos considerar a situação em que o re- ceptor se encontra, pois isso pode interferir de forma favorável ou desfavorável na interpretação da mensagem. Ex.: uma comuni- cação favorável (aumento de vendas) em uma situação desfavo- rável (greve). TEMPO – o processo de comunicação ocorre num horizonte de tempo, e este tempo deve ser dimensionado de acordo com a extensão e a complexidade da mensagem e do conhecimento do significado por parte do receptor. Na prática, nem sempre se re- serva o tempo adequado para as comunicações. O mais normal é que as empresas façam comunicações rápidas, que não queiram perder tempo com as comunicações para não atrapalhar o traba- lho. Isso, no entanto, pode resultar em processos incompletos, mensagens não entendidas e outras limitações que impedem a eficácia da comunicação. CUSTO – o processo de comunicação exige investimentos e despesas. Ex.: campanhas publicitárias, telefone, Internet... Feedback Realimentação, retroalimentação. Volta a um sistema, de parte que ele eliminou, de forma a obter-se algum controle sobre essa eliminação. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 96 – Seção 2 – Integração do Subsistema de Comunicação Com os Demais Subsistemas de Gestão Segundo Arantes (1994, p. 276), “o subsistema de comunicação afeta e é afetado pe- los outros subsistemas do Sistema de Gestão”. Veja na Figura 2 os principais aspectos desta inter-relação. Figura 2: Integração do subsistema de comunicação com os demais subsistemas de gestão Fonte: Adaptado de Arantes (1994, p. 276) Por isso, é importante a compreensão de que existe uma inter-relação entre os subsistemas e, que eles podem afetar e serem afetados constantemente durante o processo de comunica- ção. Assim, compreender e conseguir enviar mensagens com eficácia é vital para o bom anda- mento de uma organização. Com freqüência há distorções neste processo, gerando verdadei- ras ondas de “telefone sem fio”, ou seja, a mensagem sai de um departamento com um signi- ficado e chega de forma muito diferente a outro, prejudicando os negócios. 97 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Você já vivenciou de um processo assim? Falou uma coisa e o receptor entendeu ou- tra? Ou viveu uma situação em que no caminho ocorreram ruídos que modificaram sua mensagem? Certamente, já passamos por isso! Podemos observar ainda que nas empresas existem diferentes tipos de comunicação, as quais podem ser classificadas em: descendentes, ascendentes e laterais. Vamos ver como acontecem estes processos? Ascendente – “de cima para baixo”, ou seja, a comunicação é estabelecida no sentido superior-subordinado. Descendente – “de baixo para cima”, ou seja, parte do subordinado para o superior. Laterais – são as comunicações estabelecidas entre pessoas do mesmo nível hierárquico. – Seção 3 – Algumas Limitações na Prática da Comunicação nas Organizações Podemos constatar ainda que a prática da comunicação nas organizações pode apre- sentar algumas limitações, as quais podem interferir no fluxo de informações. Vamos conhe- cer algumas? • Sobrecarga de mensagens: várias mensagens chegam simultaneamente, competindo pela atenção do leitor ou receptor. Então, pode ocorrer que nenhuma mensagem seja decodificada, ou aquelas que são decodificadas com muita pressa, são distorcidas. Pouca informação é ruim para um gerente, mas informações em demasia (gerando sobrecarga de mensagens) perdem a eficácia; • complexidade da mensagem: o papel do emissor é reduzir a complexidade da mensagem, sempre que possível; • falta de atenção: pode decorrer da diferença na velocidade na qual uma pessoa fala e outra escuta; • avaliação precipitada: quando o receptor completa a mensagem antes de recebê-la por intei- ro e acaba avaliando seu conteúdo de forma precipitada. Isso pode levar o receptor a tirar falsas conclusões e presumir que a mensagem seja algo diferente do que ela realmente é; FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 98 • falta de comunicação: é um dos problemas mais freqüentes nas empresas e é o que gera conseqüências mais graves. A falta de comunicação causa interpretações incorretas sobre o que está acontecendo na empresa, constituindo uma boa fonte para boatos. As pessoas sentem que alguma coisa está ocorrendo, mas enquanto não souberem exatamente o que é, fazem suas deduções; • excesso de comunicação – causado geralmente por processos não planejados, pode gerar proliferação de papéis, reuniões inúteis; é quando o processo é redundante, não gera re- sultados eficazes e perde-se tempo; • comunicação incompleta: o processo é tão rápido que “queima etapas” e deixa os colabo- radores inseguros ou com possibilidades de múltiplas interpretações; • comunicação “burocrática”: fala-se o que poderia ser escrito e perde-se a oportunidade em um evento que poderia ser utilizado para motivar os funcionários, por exemplo, para apre- sentar procedimentos burocráticos; • falta de clareza e objetivos: quando saímos de uma reunião com a sensação de que não entendemos porque ela aconteceu, nem porque fomos convocados, tampouco entende- mos o assunto discutido; • o texto fora do contexto: quando se comunica apenas o acontecido e não são divulgadas as razões que levaram a tal. O desconhecimento do contexto pode nos levar a versões erradas e interpretações distorcidas. Ex.: quando lemos uma notícia incompleta em um jornal, de uma fábrica que vai fechar, por exemplo, mas não sabemos em que contexto isso está ocorrendo, podemos pensar que é um acontecimento ruim, um decreto de falência, entretanto pode ser que a empresa esteja investindo em outro local; • a falta de rituais: comunicações “frias”, “burocráticas”, no processo de comunicação po- dem não dar a ênfase necessária para uma decisão importante, por exemplo. Cada vez mais, empresas estão investindo nos rituais envolvendo o público interno e externo, como encontros entre empresas, seus clientes e fornecedores, buscando aprimorar as relações; • restrição pela estrutura organizacional: é quando o processo de comunicação é estruturado pelos níveis hierárquicos. Ex.: reuniões de diretoria, reuniões dos supervisores, etc. Este processo é cada vez menos usado e está sendo substituído por reuniões em que a posição formal e a função dos participantes são heterogêneas e eles são escolhidos de acordo com o assunto em questão. Nesse sentido, é importante estar atento a todas essas questões, pois são “detalhes” que podem significar a diferença entre alcançar ou não um objetivo. 99 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL – Seção 4 – Melhorando a Comunicação Interpessoal e Organizacional Agora que você já tem noções de como funciona o processo de comunicação em uma empresa, e a complexidade que ele envolve, incluindo as barreiras que os gerentes enfren- tam e precisam superar, vamos estudar o que Montana e Charnov (1998) nos sugerem para melhorar a comunicação interpessoal. 1. o processo de comunicação deve começar com a formulação de uma mensagem clara e concisa. Ao saber exatamente o que você quer comunicar, será mais fácil fazê-lo. 2. Use palavras que façam parte do vocabulário do indivíduo com o qual você deseja se comunicar. Você deve levar em conta que grupos diferentes têm vocabulários diferentes. Nesse sentido, você deve estar preparado caso necessite mudar seu vocabulário. A mesma mensagem pode ser comunicada de jeitos diferentes para grupos diferentes, para facilitar uma comunicação eficaz. 3. Após enviar uma mensagem, teste sua precisão: peça ao indivíduo com o qual você está se comunicando para repetir a mensagem. Seja cauteloso, porém, em concluir que a co- municação foi eficaz se a mensagem for repetida na mesma linguagem em que foi trans- mitida originalmente. 4. Tente não se comunicar com pressa. Gaste tanto tempo quanto for necessário para se comu- nicar com eficácia. Transmita a mensagem de várias formas diferentes se achar que não teve êxito em um dos formatos. Lembre-se: a meta é comunicar com eficácia, e não com rapidez. 5. Escute seus funcionários. Preste atenção às mensagens não-verbais que são transmitidas simultaneamente, tanto na emissão quanto na recepção delas. 6. Ouvir é uma habilidade tão importante que muitas empresas se adaptaram a essa exigên- cia oferecendo treinamento formal nesta área. 7. Para mensagens extensas ou de longo prazo, mantenha um registro por escrito. E então, conseguiu perceber a importância da comunicação ou de um processo eficaz de comunicação em uma empresa? Pois é, então espero que você aumente sua competência na comunicação e fique sempre alerta para este assunto, que é de fundamental importância para o bom funcionamento de qualquer organização. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 100 Referências ARANTES, Nélio. Como promovemos as relações e o entendimento: o subsistema de comu- nicação. In: ______. Sistemas de Gestão Empresarial: conceitos permanentes na Administra- ção de empresas válidas. São Paulo: Atlas, 1994. p. 259-286. 658/A662S. CHANLAT, Jean François (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992. v. II. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. MONTANA, Patrick J.; CHARNOV. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998. 101 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 7Unidade 7Unidade 7Unidade 7 Conflitos e Poder Lucinéia Felipin Woitchunas A presente Unidade tem como principais objetivos: a) oferecer uma definição para conflito nas organizações; b) definir os tipos de conflitos encontrados em uma empresa e conhecer as principais fontes de conflito; c) conhecer estratégias para gerenciar os conflitos organizacionais; d) compreender como o poder pode interferir nos conflitos organizacionais. E para nos ajudar a atingir esses objetivos dividimos a Unidade em 4 seções: Seção 1 – Conflito: o que é? Seção 2 – Os tipos mais comuns de conflitos e as fontes de conflitos Seção 3 – Estratégias para gerenciar os conflitos organizacionais Seção 4 – O uso do poder na solução dos conflitos – Seção 1 – Conflito: o que é? Olá, vamos falar um pouquinho sobre conflitos? A propósito, você já teve algum con- flito com um colega de trabalho, com um chefe ou com algum ente querido? Desconheço alguém que não tenha tido, em algum momento de sua vida, um pequeno conflito que seja. Embora pareça que os conflitos acontecem com freqüência, normalmente associamos con- flitos com algo negativo, não é mesmo? FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 102 Pois então vamos desmistificar um pouco isso, esclarecendo para você algumas coisas sobre os conflitos nas organizações. A palavra conflito, no dicionário Luft, aparece com o seguinte significado: “luta arma- da, choque, colisão (de idéias, jurisdições, direitos, etc.)”. Se olharmos a palavra conflituoso encontraremos a seguinte definição: “relativo a conflito, briguento”. Da mesma forma, conflitar é “estar em oposição; colidir (idéias, direitos, etc.)”. E então? Essas afirmações corroboram com a versão de que conflito é algo negativo, certo? Por outro lado, o que dizem os demais autores, em especial aqueles relacionados à área da Administração? Morgan (1996, p. 159-160) afirma que: O conflito aparece sempre que os interesses colidem. A reação natural ao conflito dentro do contexto organizacional é vê-lo comumente como uma força disfuncional que pode ser atribuída a um conjunto de circunstâncias ou causas lamentáveis. “É uma questão de perso- nalidade.” “Existem rivais que estão sempre colidindo.” “O pessoal da produção e o pessoal de marketing não conseguem jamais conviver.” “Os auditores e os contadores são detestados por todos.” O conflito é visto como um estado de infortúnio que em circunstâncias mais favoráveis desapareceriam. Caso a análise feita na seção anterior esteja correta, então o conflito sempre estará pre- sente nas organizações. O conflito pode ser pessoal, interpessoal, entre grupos rivais e coalizões. Pode ser construído dentro das estruturas organizacionais, nos papéis, nas ati- tudes e nos estereótipos, ou surgir em função de recursos escassos. Pode estar explícito ou implícito. Qualquer que seja a razão e qualquer que seja a forma que assuma, a sua origem reside em algum tipo de divergência de interesses percebidos ou reais. Para Rondeau (1996), “dir-se-á que existe um conflito em uma organização quando uma parte (um indivíduo ou um grupo) perceber um outro como um obstáculo à satisfação de suas preocupações, o que provocará nele um sentimento de frustração, que poderá levá- lo, posteriormente, a reagir em face de outra parte” O autor afirma que esta ainda é uma visão limitada do conflito, mas valoriza as características geralmente associadas a sua exis- tência: “a interdependência das partes que os associam mutuamente a sua satisfação res- pectiva; a incompatibilidade, percebida por uma delas, sobre objetivos ou comportamentos do outro, que serve de elemento detonador do conflito e, enfim, em alguns casos, da interação que isto provoca entre elas”. 103 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Montana e Charnov (1998) afirmam que o conflito se dá entre uma ou mais partes, sejam elas indivíduos, grupos, departamentos, divisões, organizações, partidos políticos, ou até mesmo entre nações. O que você acha? Concorda com os autores? Então vamos analisar um pouco mais sobre o modo de tratar os conflitos na evolução do pensamento administrativo, a partir da contribuição de Rondeau (1996, p. 207-212). EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO EM RELAÇÃO À NOÇÃO DO CONFLITO Para o modelo racional (Taylor, Fayol, Gulick, Urwick e outros) o conflito é mau por- que afeta a eficiência organizacional e, nesta perspectiva, os autores se esforçaram para reduzir, mediante diferentes mecanismos estruturais, as possibilidades de ocorrência do con- flito no ambiente de trabalho. Ex.: a redução das interfaces e a concentração do poder. O modelo das relações humanas acredita na dimensão psicossocial do trabalho, to- mando consciência das normas e valores sociais e do processo de socialização que influen- cia o comportamento individual nas organizações. Considera o conflito essencialmente mau. Ele aparece a seus olhos como imoral, porque prejudica as exigências de colaboração que devem marcar o comportamento individual num conjunto organizado. Alguns autores des- ta escola (Selznick, Deal Kennedy) sugerem a instituição de mecanismos que favorecem a adesão e a identificação dos indivíduos com o sistema de valores e de cultura da empresa. Outros, como Argyris e Mohrman Lawler, consideram que o conflito se reduzirá à medida que a organização conseguir criar mecanismos que permitam a cada um veicular suas pre- ocupações e influenciar as decisões que lhe concernem. No modelo político o conflito aparece como um elemento natural nas organizações. Reconhece-se a importância de relatar mecanismos de gestão de conflito, tais como negoci- ações permanentes ou fórmulas de arbitragem. Já no modelo sistêmico o conflito aparece ao mesmo tempo como inevitável e plena- mente funcional, pois a organização é submetida a um processo de constante adaptação. Neste caso pode ser eficaz aplainar as diferenças ou encorajar as divergências suscetíveis de melhorar a solução final. Alguns teóricos reconhecem o caráter inevitável e por vezes dese- jável do conflito organizacional, sobretudo se ele servir para estimular os membros da orga- nização e se o choque de idéias divergentes conduzir a resultados positivos. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 104 – Seção 2 – Os Tipos Mais Comuns e as Fontes de Conflitos Nesta seção vamos analisar os tipos mais comuns de conflitos encontrados nas orga- nizações, e, em seguida, identificar algumas de suas fontes. a) Conflito interno – ocorre quando um único indivíduo tem duas opiniões opostas (ex.: um gerente que prega ética em uma empresa na qual vale tudo para vencer), ou quando um indivíduo tem dois caminhos para seguir e assim chegar ao objetivo. – Ponto negativo: esse conflito tem o poder de interromper o fluxo e a eficácia da comuni- cação organizacional; – Ponto positivo: o conflito interno provoca a criatividade dos indivíduos. b) Conflito entre indivíduos – ocorre por diferença de personalidade. É o produto das funções organizacionais atribuídas a cada indivíduo. É a luta por espaço e recurso. c) Conflito entre indivíduos e grupos – o indivíduo que não concorda com as normas do grupo ou com a cultura da organização estará em conflito com o grupo e/ou com toda a organização. Indivíduo em conflito com a organização ou grupo dificulta a comunica- ção; desta forma nem ele nem a empresa passarão as informações para a boa adaptação. d) Conflito entre grupos – ocorre por dois fatores inevitáveis para conflitos em uma organiza- ção: a) a competição pelos recursos; b) os estilos gerenciais diferentes necessários para a operação eficaz de departamentos diferentes. e) Conflitos entre organizações – competição vigorosa pelo dinheiro do consumidor. As orga- nizações que não competem eficiente e eficazmente sofrem financeiramente. ALGUMAS FONTES DE CONFLITO: 1 – Diferença nas Metas: a alta gerência determina as metas políticas da empresa e estrutura essas metas em termos gerais; a gerência intermediária escolhe as metas estratégicas e táticas e os gerentes no nível inferior supervisionam as operações diárias conforme as metas. 105 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 2 – Competição pelos Recursos: uma das tarefas da alta gerência é alocar recursos entre os departamentos e setores organizacionais. Esta nem sempre é uma tarefa fácil, uma vez que cada departamento acredita que sua reivindicação é a mais válida. 3 – Falha na Comunicação e má Interpretação da Informação: a própria especialização dos departamentos faz com que grupos diferentes disponham de informações distintas. A informação é usada na tomada de decisão, e uma vez que a informação de um departa- mento pode ser desconhecida por outro departamento, as decisões tomadas por um muitas vezes não são entendidas pelo outro. 4 – Divergências Sobre os Padrões de Desempenho: os departamentos dentro das grandes organizações contemporâneas estão altamente inter-relacionados. Uma vez que o de- sempenho de uma visão pode ter um impacto sobre o de outra, é importante que os padrões de desempenho de cada uma delas seja compatível. 5 – Incongruências de Estrutura Organizacional: a estrutura organizacional em si também pode ser uma fonte de conflito. Pensemos na diferença de poder existente entre os fun- cionários da linha de produção e os funcionários do departamento de pessoal dentro de uma organização. – Seção 3 – Estratégias para Gerenciar os Conflitos Organizacionais Como os conflitos parecem ser inevitáveis, precisamos conhecer quais são as estratégi- as mais comuns aplicadas para gerenciá-los nas empresas. a) Abstenção • reconhece que o conflito existe, porém ignora as suas causas; • a administração deve estar disposta a ignorar as causa do conflito; • o conflito não deve ser vital; • observar o “grau de perigo” do conflito. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 106 b) Falta de Atenção • procura ignorar o conflito; • nunca trata suas causas; • falta de atenção = outro conflito. c) Separação Parcial • não ignora a existência de conflito; • procura minimizar o conflito; • limita o contato entre as partes; • não trata das causas, apenas dos sintomas. d) Separação Total • é o último recurso de abstenção; • total separação das partes envolvidas; • é viável quando não é necessária a interação entre setores; • pode reforçar a tensão entre as partes (fofocas). e) Abrandamento • reconhece que existe um problema; • o conflito é “abrandado” pela administração; • “Harmonia e paz dentro da organização”; • enfatiza similaridades. f) Dominação e Intervenção do Poder • gerente de nível mais alto impõe resolução; • é o meio mais rápido de resolução de conflitos; • acata e confirma a estrutura de poder existente; • não trata as causas do conflito; • interpretação de “intromissão” pelos envolvidos. 107 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL g) Acordo ou concessão mútua • procura satisfazer, pelo menos parcialmente, a posição de cada parte; • nenhum dos grupos competidores ficará completamente satisfeito; • não busca as causas, concentra-se apenas em achar uma solução; • se um grupo é significativamente mais habilidoso do que o outro, é improvável que haja concessão mutua. h) Confronto • as causas do conflito são consideradas; • considera a organização como um todo; • o confronto é útil quando ambas as partes estão dispostas a entrar no processo e houver uma troca de idéias; Antes de concluir essa seção não esqueça destes lembretes: – Em todas as organizações existem conflitos; – Conflitos = sofrimentos e benefícios; • Consomem energia gerencial; • Podem ser fonte de liberação de energia criativa e inovadora. – Seção 4 – O Uso do Poder na Solução dos Conflitos Segundo Morgan (1996, p. 163), “o poder é o meio através do qual conflitos de inte- resses são, afinal, resolvidos. O poder influencia quem consegue o quê, quando e como”. O autor apresenta, então, 14 fontes de poder nas organizações, como sendo as mais importan- tes, a saber: FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 108 1. Autoridade formal: um tipo de poder legitimado que é respeitado e conhecido por aqueles com quem interage. O poder pode ser exercido pelo carisma, pela tradição (proprietário fundador ou que pertence à família fundadora) e pela lei (burocracia). 2. Controle sobre recursos escassos – refere-se à habilidade de exercer o controle sobre um recurso escasso e isso confere poder. Ex.: acesso a clientes ou fornecedores especiais, ou a um programa de computador ou nova tecnologia. 3. Uso da estrutura organizacional, regras e regulamentos – as pessoas utilizam-se da rigi- dez e inércia da estrutura organizacional para se protegerem com este poder; bem como regras e regulamentos podem ser usados como vantagem por alguém. 4. Controle do processo de tomada de decisão – as pessoas podem influenciar os resultados dos processos decisórios, evitando que decisões cruciais sejam tomadas, bem como podem favorecer a alguém. Depende da possibilidade que o indivíduo tem de tomar decisões. 5. Controle do conhecimento e da informação – controlando estes recursos-chave, uma pes- soa pode sistematicamente influenciar a definição das situações organizacionais e criar padrões de dependência. 6. Controle dos limites – uma pessoa pode monitorar e controlar as transações de interface bilaterais, ou seja, pode tanto encorajar quanto bloquear certas transações. 7. Habilidade de lidar com a incerteza – Ex.: quando ocorre um problema de manutenção em uma fábrica, a equipe ou o indivíduo que resolve estes problemas, com conhecimentos e habilidades requeridos, ganha poder e status como resultado da capacidade que possui de restaurar a normalidade das operações. 8. Controle da tecnologia – o domínio das tecnologias, nas organizações, é um instrumento de poder, aumentando as habilidades humanas de manipular, controlar e impor-se sobre o ambiente. 9. Alianças interpessoais, redes e controle da “organização informal” –, amigos altamente colocados, patrocinadores, mentores, coalizões com pessoas preparadas para transacionar apoio e favores para promover os fins individuais das pessoas, bem como redes informais de consulta às bases, sondagens, ou simples bate-papos. 10. Controle das contra-organizações – Ex.: sindicatos, governo e outras agências regula- doras. 109 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 11. Simbolismo e administração do significado – reside na habilidade que tem uma pessoa de persuadir os demais a idealizar realidades. Liderança define a realidade para os de- mais. Uso de imagens, do teatro e arte de vencer sem romper as barreiras do jogo. 12. Sexo e administração das relações entre os sexos – organizações dominadas por valores relacionados a um dos sexos que distorcem a vida organizacional a favor de um sexo em relação a outro. 13. Fatores estruturais que definem o estágio da ação – poder tão aberto, amplo e variado que as relações de força acabam por se equilibrar; 14. O poder que já se tem – poder como investimento; trocas sutis de favores; acordos tácitos. Morgan esclarece que essas fontes de poder dão aos membros da organização uma variedade de meios para ampliar os seus interesses, resolvendo ou perpetuando os conflitos organizacionais. Referências LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002. MONTANA, Patrick J.; CHARNOV, Bruce H. Conflito: dimensões organizacionais e pesso- ais. In: ______. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 321-339. MORGAN, Gareth. Interesses, conflitos e poder – as organizações vistas como sistemas po- líticos. In: Imagens da Organização, São Paulo: Atlas, 1996. RONDEAU, Alain. A gestão dos conflitos nas organizações. In: CHANLAT, J. F. (Org.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 110 111 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 8Unidade 8Unidade 8Unidade 8 Outras Teorias da Administração Marivane da Silva Na Unidade 2 conhecemos as teorias de Administração e as abordagens clássica, hu- mana e comportamental (década de 40). Nesta Unidade 8 vamos dar continuidade ao estu- do das demais teorias, considerando: a) a abordagem estruturalista e do desenvolvimento organizacional; b) teorias integrativas: sistêmicas e contingenciais. Para melhor entendimento, essa Unidade será subdividida em quatro seções: Seção 1 – Escola Estruturalista Seção 2 – Desenvolvimento Organizacional (DO) Seção 3 – Escola Sistêmica Seção 4 – Administração Por Objetivos (APO) Seção 5 – Abordagem Contingencial – Seção 1 – Escola Estruturalista A Escola Estruturalista surgiu em decorrência do declínio do movimento das relações humanas, no final da década de 50 do século 20. O impasse criado pela Escola Clássica e pela de Relações Humanas não foi superado pela teoria da burocracia. Surge então a Esco- la Estruturalista, pelas seguintes razões, explicitadas por Andrade e Amboni (2007, p. 139): FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 112 a) oposição entre os aspectos formais e informais, valorizados pelas escolas anteriores; b) necessidade de visualizar a organização como um todo, e não de forma compartimentada e isolada, considerando seus aspectos internos e externos; c) repercussão dos resultados dos estudiosos estruturalistas na compreensão das organiza- ções como um todo integrado e complexo. Embora tenhamos apresentado as razões do surgimento da Escola Estruturalista, você deve estar se perguntando: o que é mesmo o estruturalismo? Estruturalismo é uma modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas humanas (...). Os estruturalistas se preocupam com as rela- ções e interconexões das partes na constituição e na compreensão do todo. O estruturalismo está alicerçado na totalidade e na reciprocidade para facilitar o entendimento de que o todo é maior que a simples soma das partes (Andrade; Amboni, 2007, p. 140). O francês Claude Lévi-Strauss é um expoente importante da Escola Estruturalista, com apresentação de modelos abstratos representando a realidade empírica. O fundador da escola, porém, foi o sociólogo Amitai Etzioni, que anunciou a origem da teoria estruturalis- ta pela ótica humanista, por visualizar a organização como uma unidade social grande e complexa, na qual interagem muitos grupos sociais. Etzioni (apud Ribeiro, 2003, p. 97) relaciona as mudanças do ambiente organizacional às mudanças havidas na sociedade. Ferreira, Reis e Pereira (2002) corroboram apresentando as características do estruturalismo: a) submissão do indivÍduo à socialização. Devido ao desejo de obter recompensas materiais e sociais o indivíduo aceita desempenhar vários papéis sociais em seu trabalho; b) conflitos entre os interesses dos funcionários e os objetivos da empresa; c) a hierarquia é vista como negativa à comunicação dentro da empresa; d) visto de uma forma global, os incentivos materiais e sociais são importantes para os trabalha- dores. Outros estruturalistas deram suas contribuições, tais como: a) Blau & Scott, com o estudo das organizações formais focadas no grupo (o clima estabele- cido no grupo pode mudar as atitudes de seus membros, assim como a atitude prevalecen- te no grupo pode alterar as atitudes de seus componentes, independentemente de suas 113 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL próprias atitudes individuais), criaram um esquema de classificação para as organiza- ções, a partir da natureza do comportamento, baseada no controle (dos que têm o poder e sob os quais ele é exercido): coercitivas, utilitárias e normativas. b) Thompson atribui ao modelo burocrático a falta de compreensão da organização como um todo. c) Perrow, segundo o qual o ambiente da organização é influenciado pelas outras organiza- ções e pela sociedade em que se insere, por isso considera importante a incorporação da análise do ambiente ao elaborar os objetivos da organização. Na verdade, você percebeu que a Escola Estruturalista procurava integrar o formal e o informal, mas que ainda busca o equilíbrio entre, as formas organizativas e sua interação com o ambiente. Etzioni entendia que existiam apenas dois modos de conceber uma organização: pelo racional (como um sistema fechado) ou pelo natural (sistema aberto). Neste sentido, passa a utilizar a abordagem do sistema aberto, tendo como base o modelo natural da organiza- ção. Da mesma forma, acreditava que os conflitos são os elementos gerados pelas mudanças e pelo desenvolvimento organizacional. Arriscamos afirmar que a Escola Estruturalista faz a ponte da teoria de transição para a teoria de sistemas, na qual se definiu o conceito de homem organizacional, ou seja, o homem que desempenha papéis em diferentes organizações. Em seguida vamos tentar entender o que foi o Desenvolvimento Organizacional. – Seção 2 – Desenvolvimento Organizacional (DO) Entendido como uma teoria por Andrade e Amboni (2007, p. 157) como: (...) uma resposta da organização às mudanças, que implica em mudanças de atitudes, compor- tamentos e estrutura da organização, de tal maneira que esta possa se adaptar melhor às novas conjunturas, mercados, tecnologias, problemas e desafios que estão surgindo na economia globalizada. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 114 O DO como um processo de mudança envolve a organização como um todo e o seu ambiente direto ou indireto. Ele não surgiu, como a maioria das outras escolas, do trabalho de um único autor, mas de um conjunto de idéias e estudos que envolveram modelos de diagnósticos e ação para a mudança planejada, trabalhando alterações estruturais, tecnológicas e comportamentais na organização formal. Podemos, entretanto, citar alguns nomes que se destacaram, tais como: a) Warren G. Bennis; b) Blake; c) Edgard Schein; d) Chris Argrys; e) Lawrence; f) Willian J. Reddin. Há duas tendências que definem a priori a orientação a ser dada a um Programa de Desenvolvimento Organizacional, segundo Ferreira, Reis e Pereira (2002): a) orientação para os processos de relacionamento entre as pessoas e grupos dentro da orga- nização (Bennis, Schein e Walton); b) orientação para a necessidade de uma cultura organizacional adequada à consecução dos objetivos de eficiência e lucros empresariais (Blake & Mouton) e para a necessidade de organizar o trabalho e os relacionamentos humanos, em função de fatores intrínsecos às tarefas e de fatores externos à organização (Lawrence & Lorsch). Desse modo, toda organização pode ser entendida e analisada sob três aspectos que configuram a sua atividade empresarial: a) Estrutura – envolve a hierarquia administrativa, os sistemas e processos de trabalho inter- no, o fluxo de comunicação e a definição da missão, objetivos e políticas organizacionais; b) Tecnologia – são os sistemas operacionais adotados, equipamentos, engenharia do pro- cesso e do produto, desenvolvimento de pesquisa, métodos de trabalho; c) Comportamento – são os procedimentos adotados na administração de recursos humanos da organização, que implicam em tratar dos conhecimentos, das habilidades e das atitu- des das pessoas que fazem parte do contexto organizacional, assim como do relaciona- mento interpessoal estabelecido entre elas. Os estágios de instituição do DO são apresentados na forma de um modelo que tem o objetivo de diagnosticar e de resolver problemas da organização de maneira holística (visão do todo). Esse modelo é baseado na abordagem de Lewin & Schein e envolve uma seqüência de três etapas: a) Descongelamento/diagnóstico – é a avaliação da situação e a descrição de uma adequada estratégia de mudança. Significa tornar a mudança tão evidente que propicie uma redu- ção da resistência a ela pela ajuda das pessoas que compreendem a necessidade para tal e os benefícios obtidos com a referida mudança. 115 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL b) A implantação das mudanças desejadas no comportamento/intervenção – obtenção de uma visão das atividades e informações da organização sob um enfoque do “todo”, com suas implicações e restrições; e as demonstrações de situações em que os novos valores e atitudes (aprendidos e internalizados) são mais adequados e apresentam melhores re- sultados para efetivar a mudança. c) Recongelamento/acompanhamento – é uma tentativa sistemática de correção de uma de- ficiência organizacional descoberta pelo diagnóstico, e por meio da intervenção visa a consolidar o novo padrão de comportamento, por meio de mecanismos de reforço apoia- dos no resultado e benefícios obtidos com a mudança efetivada. Tendo como base as informações apresentadas por Silva (2002), a realização do diag- nóstico do desenvolvimento organizacional é uma tarefa difícil, porque deve ser realizada tanto com as informações visíveis quanto com as “escondidas”. O autor faz uma analogia da organização com um iceberg (Figura 1). Figura 1: O iceberg organizacional e os elementos de análise no diagnóstico Fonte: Silva (2002, p. 414) O objetivo de apresentar esta figura é ilustrar os elementos visíveis e invisíveis que devem ser observados na organização ao realizar o diagnóstico do D.O. Aspectos visíveis: • objetivos • políticas • tecnologia • estrutura e autoridade • canais de comunicação • procedimentos e regras • desempenho Aspectos escondidos • atitudes e opiniões • valores • sentimentos • política e poder • conflitos pessoais • conflitos intergrupais • problemas técnicos e de comportamento FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 116 É importante salientar que nesse processo deve ser feita uma análise da cultura e do clima organizacional. Silva (2002) contribui definindo de cultura como um sistema de valo- res, crenças, normas e hábitos compartilhados, que rege a interação dos elementos de uma organização; clima organizacional como uma atmosfera psicológica, resultante dos com- portamentos, dos modelos de gestão e das políticas empresariais, refletida nos relaciona- mentos interpessoais para conectar ao seu objetivo principal – a mudança planejada, pen- sada e articulada. Outra conclusão que podemos fazer deste modelo é que este se apóia nos princípios da teoria de sistemas e na teoria contingencial, que trabalharemos a seguir. Você, então, pode- rá fazer a sua análise desta afirmação. Dando continuidade a nossa aprendizagem das teorias, vamos abordar a Escola Sistêmica. – Seção 3 – Escola Sistêmica A Escola Sistêmica ou abordagem sistêmica da Administração, é a primeira aborda- gem das Teorias Integrativas (ver Quadro 1 da Unidade 2), que enfoca três escolas no seu conjunto: cibernética e administração, teoria matemática da administração e a teoria de sistemas. A cibernética é uma ciência criada por Norbert Wiener entre os anos de 1943 e 1947, justamente na época em que surgiu o primeiro computador de que se tem notícia, assim como a teoria de sistemas. Esta abordagem tem por objetivo compreender os fenômenos naturais e artificiais por meio dos processos de comunicação e controle, explicados a partir da noção de informação. A teoria matemática da administração é mais conhecida como pesquisa operacional, que enfatiza o processo decisório e procura tratá-lo de modo lógico e racional, por meio da abordagem quantitativa, ou seja, do ponto de vista estatístico e matemático, baseado na mensuração. 117 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Estas abordagens não serão aprofundadas neste livro, posto que temos como objetivo apresentar maiores informações sobre a teoria dos sistemas, que molda o mundo das organi- zações de uma forma mais intensa. Caso você tenha interesse em aprofundar seus estudos poderá obter maiores informações na bibliografia. A teoria de sistemas ou teoria geral de sistemas foi elaborada pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalannffy, por volta da década de 50, com característica interdisciplinar capaz de transcender a todas as ciências com princípios e modelos gerais. Essa teoria é totalizante, pois se baseia na compreensão da dependência recíproca de todas as disciplinas e da neces- sidade de sua integração. A teoria geral de sistemas não busca solucionar problemas ou tentar soluções práti- cas, mas sim produzir teorias e formulações conceituais que possam criar condições de apli- cação na realidade empírica (Andrade; Amboni, 2007, p. 172). Afinal, o que é sistema? Antes de explicar a fundo a teoria, é necessário ter a compre- ensão de que sistema é um todo organizado e/ou complexo; uma combinação de coisas ou partes, formando um todo complexo, unitário. Os fundamentos da teoria, explicados por Faria (2002, p. 133), são: a) existem siste- mas dentro de sistemas; b) os sistemas são abertos, e são muitas as interferências externas; as funções dependem da estrutura do sistema, que é concebido como sendo um conjunto de elementos que interagem e se interligam, formando um todo organizado. Como curiosidade, o termo sistema é parte das diversas ciências, em especial da Administração. Vamos recuperar, nas escolas já estudadas, a forma como era apresen- tada: – Escola Científica – Taylor enfatizou o sistema homem-máquina; – Escola de Relações Humanas – Mayo estabeleceu o sistema humano; – Escola Comportamental – apresenta o sistema de decisões; – Escola Estruturalista – concebeu a empresa como um sistema social. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 118 Os tipos de sistemas são classificados quanto: a) constituição – podem ser concretos (equipamentos, máquinas, componentes físicos – hardware) ou abstratos (conceitos, pla- nos, hipóteses e idéias – software); b) natureza – podem ser abertos (relações com o ambiente) ou fechados (sem considerar o ambiente), conforme Figura 2. Figura 2: Sistema organizacional Fonte: Andrade; Amboni (2007, p. 176) Os parâmetros dos sistemas são: a) entrada ou insumo (input): partida do sistema; b) processamento: é o tratamento da entrada que, após transfor- mada, resulta nos produtos; c) saída ou resultado (output); d) retroação ou retroalimentação (feedback): é a comparação dos resultados com critérios pré-estabelecidos; ambiente: é o meio que envolve o sistema, exteriormente. Hardware Indica os componentes físicos do sistema em sua totalidade; sinônimo de “equipamento”. Software Indica o conjunto de progra- mas e instruções, sinônimo de “manejo”. 119 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL A partir da integração dos elementos do sistema apresentado na Figura 2 tem-se a configuração do sistema organizacional em funcionamento, do tipo aberto. Katz e Kahn foram os primeiros estudiosos a defender a causa da Teoria de Sistemas Abertos nos estudos organizacionais. Escreveram o livro A Psicologia Social das Organiza- ções”, nos anos 60, apresentando uma primeira visão das organizações a partir de uma perspectiva social. O conceito da organização como um sistema sociotécnico volta a atenção para o pro- cesso de transformação, bem como para uma série de atividades e interações entre os fatores psicológicos e sociais, humanos, estruturais e tecnológicos, por meio dos quais a organiza- ção tenta alcançar seus objetivos. Este estudo foi realizado pelo Instituto Tavistock de Rela- ções Humanas, conhecido como sistema sociotécnico de Tavistock. A seguir vamos propiciar a você a leitura da Administração Por Objetivos, segunda das Teorias Integrativas. – Seção 4 – Administração Por Objetivos (APO) A Administração Por Objetivos (APO) é: (...) uma tentativa de alinhar metas pessoais com estratégia do negócio, por meio do aumento da comunicação e percepções compartilhadas entre a gerência e os subordinados, seja como indiví- duos ou como um grupo, pela conciliação do conflito quando este existir (Silva, 2002, p. 432). A APO dá atenção à conciliação dos objetivos dos colaboradores e da própria organi- zação, de forma a contribuir com um estilo de administração mais participativo e colaborativo. A expressão Administração Por Objetivos foi desenvolvida em 1954 Peter Drucker. Silva (2002, p. 433) define Administração Por Objetivos como um “estilo ou sistema de administração que relaciona as metas organizacionais com o desempenho e desenvolvimen- to individual, por meio do envolvimento de todos os níveis administrativos”. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 120 As fases do processo de Administração Por Objetivos são: a) estabelecimento de metas e objetivos organizacionais, por escrito, para posterior acom- panhamento; b) desenvolvimento do plano e ação de forma participativa, incluindo o planejamento da APO; c) revisão periódica do desempenho, por meio de reuniões entre o gerente e seu pessoal, em intervalos para confimação ou reavaliação e mesmo alteração dos objetivos; d) avaliação de desempenho após cada período de um ano de estabelecimento de metas/ objetivos, analisando o previsto/realizado. A APO está focalizada nos objetivos e resultados organizacionais. Sintetizando a idéia da APO, podemos concluir que “é uma técnica participativa de planejamento e avaliação, por meio da qual superiores e subordinados estabelecem conjuntamente os objetivos que são sistematicamente acompanhados” (Neto, 2001, p. 133). Na seqüência seguida, vamos tentar entender da abordagem contingencial. – Seção 5 – Abordagem Contingencial Última das teorias integrativas, a Abordagem Contingencial é uma das mais recentes teorias administrativas e marca um passo além da Escola Sistêmica. Suas origens remontam a uma série de pesquisas que estudaram a relação da organização com e dentro do seu ambiente. Seu objetivo básico era aplicar os conceitos das principais teorias administrativas em situações gerenciais concretas. Esta abordagem enfatiza que nada é absoluto nas organizações, “tudo depende”, ou seja, procura explicar que nada é absoluto nos princípios da organização, uma vez que estas precisam ser sistematicamente ajustadas às condições ambientais. 121 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Oliveira e Silva (2006) apresentam as pesquisas que contribuíram para a abordagem: a) Alfred Chandler fez um estudo comparativo entre quatro grandes empresas americanas – Du Pont, General Motors, Standard Oil Co. e Sears Roebuck & Co –, demonstrando que a estrutura organizacional delas foi continuamente adequada e ajustada a sua estratégia. Para Chandler, a estrutura organizacional pode ser definida como o design da organização. b) Tom Burns e Stalker pesquisaram 20 indústrias inglesas para verificar a relação existente entre as práticas administrativas e o ambiente externo; descobriram os diferentes processos administrativos adotados por elas, classificando-os como sistema mecânico e orgânico. c) Joan Woodward, socióloga industrial, organizou uma pesquisa para descobrir se os prin- cípios de Administração propostos pelas diversas teorias administrativas se relacionavam com o êxito do negócio, quando colocados em prática. d) Paul Lawrence e Jay Lorsch preocuparam-se com as características que as empresas deve- riam ter para enfrentar com eficiência as diferentes condições externas, tecnológicas e de mercado. Na medida em que os sistemas aumentam de tamanho, diferenciam-se em par- tes e o funcionamento dessas partes separadas tem de ser integrados para que o sistema inteiro funcione adequadamente. Os precursores, após a realização das pesquisas, concluíram que os resultados eram diferentes porque as situações eram diferentes, baseadas na incerteza de que algo pode ou não ocorrer. A fundamentação da abordagem contingencial está na teoria dos sistemas, pensando um sistema aberto, que estabelece uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas, apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organiza- ção; ou seja, as organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às condições ambientais. Esta abordagem apresenta ênfase em tecnologia. Do final dos anos 90 até hoje ela é valorizada pela sua incorporação como ferramenta de gestão, importante na estrutura ad- ministrativa flexível. Segundo Ferreira, Reis e Pereira (2002), a teoria contingencial é considerada mais como uma visão de mundo do que como um modelo em si, pela concepção de ter sempre um continuum entre teorias posicionadas em extremos opostos. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 122 Com a Teoria Contingencial, novos desenhos organizacionais estão sendo implementados pelas organizações, justamente para poderem tirar proveito das tendências relevantes apontadas para o século XXI, bem como para acompanharem as transformações paradigmáticas, as metáforas e os ciclos de vida (p. 13). Agora que concluímos o estudo das teorias da Administração já consagradas, vamos informá-lo sobre os novos paradigmas da Administração. Referências ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria Geral da Administração: das origens às perspecti- vas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007. FARIA, J. C. Administração: teorias & aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. NETO, J. P. de B. Teorias da Administração: curso compacto. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. OLIVEIRA, J. F. de.; SILVA, E. A. da. Gestão organizacional: descobrindo uma chave de sucesso para os negócios. São Paulo: Saraiva, 2006. RIBEIRO, A. de L. Teorias da Administração. São Paulo: Saraiva, 2003. SILVA, R. O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. 123 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Unidade 9Unidade 9Unidade 9Unidade 9 Novos Paradigmas da Administração Marivane da Silva Lucinéia Felipin Woitchunas Esta Unidade trata dos novos paradigmas ou enfoques teóricos pós-contingenciais da Administração que ainda não foram incorporados em um número significativo de organiza- ções, mas que representam importantes contribuições à sociedade contemporânea. Para tanto, essa Unidade será subdividida em três seções: Seção 1 – Aprendizagem organizacional Seção 2 – Cultura organizacional Seção 3 – Outras teorias emergentes Vamos iniciar com a discussão dos enfoques teóricos pós-contingenciais, especifica- mente pela temática da aprendizagem organizacional. – Seção 1 – Aprendizagem Organizacional Embora Leavitt já houvesse defendido a idéia de que organizações, como sistemas vivos, também têm a capacidade de aprender, adquirir novas habilidades e desenvolver com- portamentos, foi somente na década de 80 que se disseminou a abordagem da aprendiza- gem e do conhecimento, quando Peter Senge lançou o best-seller A quinta disciplina. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 124 Senge fundamentou seu livro na idéia de que o mundo não tinha forças isoladas e tentava convencer os líderes de que as organizações evoluem como instituições sociais, fazendo parte de um todo maior e interligado. Para comprovação desta sua idéia, identificou cinco disciplinas (Tabela 1) que deveriam estar pre- sentes nas pessoas e nas organizações para garantir a aprendiza- gem e a realização. Na verdade Senge formulou o conceito de aprendizagem organizacional e organizações em aprendizagem (learning organization) como resultado das mudanças tecnológicas e sociais. Tabela 1: As cinco disciplinas de Senge Fonte: Neto (2001, p. 122) A partir das cinco disciplinas, Senge acreditava que era possível ter aprendizagem com base no pensamento sistêmico, que integra todas as demais disciplinas, fundindo-se em um cor- po coerente de teoria e prática, que propicia uma nova forma de os indivíduos se perceberem e ao seu mundo. Para quem tem interesse de aprofundar seus estudos nas cinco disciplinas, reco- mendamos a leitura das seguintes obras: SENGE, P. M. A quinta disciplina. São Paulo: Bester Seller, 1990. STARKEY, K. P. L. Como as organizações aprendem: relatos do sucesso DISCIPLINA CONTEÚDO Domínio pessoal Capacidade de concentrar energias no que é importante. Modelos mentais Paradigmas, idéias arraigadas na mente, difíceis de mudar. Objetivo comum União em torno de objetivos, valores e compromissos comuns. Aprendizado grupal Capacidade de raciocinar em grupo. Raciocínio sistêmico Quinta disciplina, tudo está ligado no mesmo esquema. 125 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL – Seção 2 – Cultura Organizacional Nosso objetivo é definir um conceito para cultura organizacional. Cultura organizacional: o que é? Se olharmos no Minidicionário Luft (2002, p. 209), vamos encontrar como significado para o termo “cultura”, entre outros: o ato ou efeito de cultivar; Desenvolvimento intelectu- al; saber; ilustração. (Antrop.) conjunto de experiências humanas (conhecimentos, costu- mes, instituições, etc.) adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos povos através do tempo. Para Morgan (1996, p. 115-116), ... Ao falar-se de cultura, refere-se tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido nos siste- mas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais quotidianos. A palavra é também habitualmente usada para fazer referência ao grau de refinamento evidente em tais sistemas de crenças e práticas. Ambos os usos derivam das observações do século XIX a respeito das socieda- des “primitivas” ao transmitir a idéia de que diferentes sociedades manifestam diferentes níveis de padrões de desenvolvimento social. Nos dias de hoje, todavia, o conceito de Cultura não carrega necessariamente esta antiga postura de avaliação, sendo usada mais genericamente para significar que diferentes grupos de pessoas têm diferentes estilos de vida. Podemos afirmar, então, que cultura é tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo, de uma nação ou então de grupos na sociedade. Ela nasce por meio de métodos e formas que cada um estabelece no seu trabalho, pelos costumes, filosofias, necessidades da organização, crenças e valores ... A cultura não nasce pronta, mas já construída a partir da história da caminhada da organização. Assim, uma cultura organizacional é o conjunto de valores, conhecimentos, hábitos e costumes de determinada organização, conjunto esse que, acrescido à finalidade essencial desta coletividade de pessoas, leva os sistemas e as pessoas que dela fazem parte a se com- portarem de determinada maneira em todos os principais atos, funções ou tarefas. Entender suas concepções, práticas, costumes, símbolos, manifestações, idiomas, é interpretar aquilo que faz o ser presente, passado ou futuro. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 126 Podemos afirmar então que a cultura está presente em todas as organizações. Ela é resultado de sua história particular, podendo ser tradicional ou recente, dependendo da longevidade desta organização no contexto em que está situada. Chanlat (1992, p. 46) apresenta sua versão sobre cultura organizacional: Na realidade, a identificação ao trabalho só é possível com a superação da alienação, isto é, com a ruptura com a ausência de percepção de si mesmo que vive continuamente o trabalhador da indús- tria: esta ruptura deveria levar o trabalhador a assumir o ato de trabalhar como seu ato, como sua reabilitação enquanto sujeito. Este sujeito é o ator, o parceiro ativo, construindo sua história e a história da empresa. Cultura e identidade passam por esta transformação radical das relações de trabalho. Nisto eu me junto à reivindicação de Sainsaulieu (Sainsaulieu, 1983, p. 201) por um acesso ao único caminho possível para atingir a realização da identidade: “uma relação social fundamentada no reconhecimento de novos atores” capaz de fazer com que os integrantes do grupo dominante revejam suas próprias escalas de valores. Evidentemente, nada disto está presente na corrente gerencial da “cultura de empresa”. “...a cultura é algo muito vasto, muito importante, inscrita muito profundamente nas estruturas sociais, na história, no inconsciente, na experiência vivida e no vir a ser coletivo humano, para ser tratada, de maneira tão trivial, como uma variável dependente cujos fatores e componentes podem ser isolados, medidos tratados e construídos. Retomando o que pensa Morgan (1996, p. 125) a respeito do “fenômeno reconhecido como cultura organizacional”, temos que: As organizações são minissociedades que têm os seus próprios padrões distintos de cultura e subcultura. Assim, uma organização pode ver-se com um grupo bem integrado ou família que acredita no trabalho conjunto. Outra pode estar impregnada pela idéia de que “nós somos os melhores da indústria e pretendemos continuar assim”. Outra, ainda, pode ser grandemente fragmentada, dividida em grupos que pensam sobre a realidade de formas muito diferentes, tendo diferentes aspirações a respeito daquilo que a organização deveria ser. Tais padrões de crenças ou significados compartilhados, fragmentados ou integrados, apoiados em várias nor- mas operacionais e rituais, podem exercer influência decisiva na habilidade total da organiza- ção em lidar com os desafios que enfrenta. A escolha por determinada profissão ou área para trabalhar expressa o direcionamento que cada um dá à forma de encontrar seu lugar. O ingresso em uma determinada empresa diz de uma escolha e de um investimento que exprime a crença de que ali sua realização será possível. Esse investimento revela a significação que existe na relação que o sujeito estabelece com a empresa mediante de sua identificação com esta. A forma como o trabalhador vê a empresa vai determinar a forma como vai investir nesta. Assim sendo, conhecer a organização, os seus princípios e a sua história permite uma construção mais verdadeira, menos imaginária e equivocada, de sua importância. Desconhecê- la pode significar um investimento aleatório e passageiro. 127 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL A cultura organizacional também tem relação com o estilo de liderança. Os grupos formais e informais exercem influência na criação de uma cultura organizacional. Os pri- meiros utilizam-se de sua posição para desenvolver sistemas de valores e códigos de compor- tamento, pois podem recompensar e punir os que seguem ou ignoram seus líderes. Já os do segundo grupo, os líderes informais, podem influenciar as pessoas pelas suas opiniões ou modo de agir. Segundo Morgan (1996, p. 131), “nas organizações existem freqüentemente sistemas de valores diferentes que competem entre si e que criam um mosaico de realidades organizacionais em lugar de uma cultura corporativa uniforme...” . A cultura organizacional pode ser fonte tanto de vantagem estratégica quanto de bar- reiras ao bom funcionamento e/ou crescimento das empresas. Por fim, podemos concluir que a cultura organizacional 1. ... é incapaz de ser reproduzida. 2. ... e ainda que é importante conhecê-la, posto que ela pode ser fonte de motivação ou de resistência às mudanças estratégicas. – Seção 3 – Outras Teorias Emergentes Muitas outras teorias emergentes foram apresentadas ao longo do século 20 e inclusi- ve no século 21 e merecem ser estudadas, entretanto não será possível, neste momento, aprofundar as discussões sobre as diferentes abordagens apresentadas por Ferreira et al (2005), mas entendemos ser pertinente listar algumas teorias com base em Ferreira et al (2005) para que possam aprofundar os estudos dependendo do seu interesse: a) teoria crítica: contribui com a percepção do caráter manipulativo e dominador encontra- do nos modelos de gestão baseados na racionalidade instrumental. Surgiu do trabalho desenvolvido por pesquisadores reunidos no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, Alemanha, criado em 1923. Após o exílio, Jürgen Habermas incorporou-se ao grupo de pesquisa e deu continuidade aos estudos da Escola Frankfurt em Chicago. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 128 b) adhocracia: proposta inversa à burocracia, baseada em arranjos transitórios e não na permanência e continuidade. A grande contribuição teórica foi dada por Mintzberg, que representou uma quebra de paradigma em relação ao modelo de gestão clássica, pois é adequada a ambientes tanto complexos quanto dinâmicos. c) teoria do caos: revolucionou a Física e contribuiu para a formação de novos paradigmas em diversas outras ciências, incluindo a Administração. Teve como precursor Edward Lorentz, em 1962, que procurou desenvolver um modelo matemático para o estudo da meteorologia. d) teoria da complexidade, cujo expoente foi Edgar Morin, que destaca que a maioria dos pro- blemas encontrados na sociedade é de natureza polidisciplinar, transversal e multidimensional. Defende que a lógica que percebe o mundo é passível de ser estudada sob a perspectiva da construção de certezas, herdada da tradição cartesiano-newtoniana, que busca explicações racionais para os fenômenos naturais e sociais, a partir da sua complexidade. e) gestão libertária e economia de comunhão, com bases opostas ao utilitarismo e às rela- ções de dominação e exploração que predominam na sociedade e nas organizações de trabalho, entre outras. Referências CHANLAT, Jean-François (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992. V. 1. FERREIRA et al. Modelos de gestão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002. MONTANA, Patrick J.; CHARNOV, Bruce H. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998. MORAES, Anna Maris Pereira de. Iniciação ao estudo da Administração. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Makron Books, 2001. MORGAN, Gareth. Interesses, conflitos e poder – as organizações vistas como sistemas po- líticos. In: Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. NETO, J. P. de B. Teorias da administração: curso compacto. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. SENGE, Peter M. A quinta disciplina. São Paulo: Best Seller, 1990.