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o SistemaSensorial Somático INTRODUÇÃO TATO MECANORRECEPTORESDA PELE Vibraçãoe o CorpúsculodePacini Discriminaçãodedoispontos AXÔNIOS AFERENTES PRIMÁRIOS A MEDULA ESPINHAL OrganizaçãoSegmentardaMedulaEspinhal . Quadro12.1 DeEspecialInteresse:Herpes Zoster,Cobreiro e Dermátomos OrganizaçãoSensorialdaMedulaEspinhal AVIA COLUNA DORSAL-LEMNISCO MEDIAL . Quadro 12.2 Alimentopara o Cérebro: Inibição Lateral AVIATÁCTIL TRIGEMINAL CÓRTEX SOMATOSSENSORIAL SomatotopiaCortical PlasticidadedoMapaCortical . Quadro12.3ARotadaDescoberta:QuandoosMapasCerebraisColidem,por VilayanurS.Ramachandran O CórtexParietalPosterior DOR . Quadro12.4DeEspecialInteresse:A MisériadaVidaSemDor OSNOCICEPTORESEATRANSDUÇÃODOSESTíMULOSDOLOROSOS TiposdeNociceptores . Quadro12.5DeEspecialInteresse:QuenteeApimentado Hiperalgesia AFERENTESPRIMÁRIOS E MECANISMOS ESPINHAIS VIASASCENDENTES DA DOR A Via da Dor Espinotalâmica A Via da Dor Trigeminal O Tálamoe o Córtex A REGULAÇÃO DA DOR RegulaçãoAferente RegulaçãoDescendente OsOpióidesEndógenos. Quadro12.6DeEspecialInteresse:Dor eEfeitoPlacebo TEMPERATURA TERMORRECEPTORES AVjA DATEMPERATURA CONSIDERAÇÕES FINAIS " .., I . I I II 388 CAPíTULO 12 " . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO r INTRODUÇÃO o sistemasensorial somáticonos permite apreciaralgumasdasexperiências mais agradáveis,como tambémalgumasdasmais desagradáveis.A sensação sornática permitequeo nossocorposintao contato,a dor,o frio equesaibare- conhecero quefazemasdiferentespartesdo corpo.O corpoésensívelamuitos tiposdeestímulos:à pressãode objetoscontraa pele,à posiçãodasarticulações e dosmúsculos,à distensãodabexigae à temperaturadosmembrose do pró- prio tecidoneural. Quando osestímulostornam-setãointensosquepodemser lesivos,a sensaçãosomáticatambémé responsávelpor uma sensaçãodesagra- dável,porémdevital importância,a dor. O sistemasensorialsomáticodifere de outros sistemassensoriaisde duas maneirasinteressantes.Primeiro, seusreceptoresestãodistribuídospor todo o corpo ao invés de estaremconcentradosem locais restritos,especializados. Segundo,pelo fato de essesistemarespondera muitos diferentestiposdeestí- mulos,podemosconsiderá-Iocomoum grupo de,pelomenos,quatrosentidos, em vez deapenasum: os sentidostátil, da temperatura,da dor e daposiçãodo corpo. Essesquatro sentidospodem ser,por suavez, subdivididosem muitos outros. O sistemasensorialsomáticoé, defato, um nome abrangente,umaca- tegoriacoletivaparatodasassensaçõesque nãosejamvisão,audição,gustação, olfaçãoeo sentidovestibulardo equilíbrio.A concepçãopopulardequepossuí- mosapenascincosentidosé, obviamente,muito simplória. Se algo toca o seu dedo, você pode determinar com precisãoo local,a pressão,a agudeza,a texturae a duraçãodo toque.Sefor um alfinete,não ha- verácomoconfundi-10comum martelo.Seo loque sedeslocardesuamãopara o punho e subir pelo braçoatéo ombro, vocêpoderáacompanharsuaveloci- dadee posição.Seassumirmosque vocênão estejaolhando, essainformação deverásertotalmentedescritapelaatividadedosnervossensoriaisdeseubraço. Um único receptorsensorialpode codificarascaracterísticasdo estímulo,como a intensidade,a duração,a posiçãoe, algumasvezes,a direção.No entanto, um único estímulo ativa normalmentemuitos receptores.O sistemanervoso centralinterpretaa atividadedeum vastoconjunto dereceptoreseutilizaessas informaçõesparagerarpercepçC'Jescoerentes. Nestecapítulo,dividiremosnossadiscussãoacercadasensaçãosomáticaem duaspartesprincipais:o sentidotátil e o sentidoda dor. Como veremos,essas categoriasdistintasdependemde receptorese viasaxonaisdiferentes.Também discutiremosbrevementecomo sentimosas modificaçõesda temperatura.A discussãoda sensaçãodaposiçãodo corpo, chamadade propriocepção,estáre- servadapara o Capítulo 13, onde estudaremoscomo essetipo de informação sensorialsomáticaé utilizadoparacontrolaros reflexosmusculares. , TATO A sensaçãotátil começana pele (Figura 12.1).Os dois tipos principaisdepele são chamadosdepilosa(compêlos) eglabra (sempêlos), como,por exemplo, o dorso e a palma de sua mão, respectivamente.A pele possui uma camada externa,a epiderme,e uma camadamais interna, a derme.A pele realizauma função protetora essenciale evita a evaporaçãodos fluidos corporaisno am- biente secoem que vivemos. Contudo, a pele tambémfornecenossocontato mais direto com o mundo - de fato,a peleé o maiorórgãosensorialque possuímos.Imagine a praia semsentira areiaentre seusdedosdo pé, ou con- sidereter de olharum beijo em vez de experimentá-Iovocê mesmo.A peleé suficientementesensívelpara que um ponto salientemedindo apenas0,006 mm de altura e 0,04 mm delargurapossaser sentidoquando for tocadopela ponta de um dedo. Para servir de comparação,um ponto na escritaBraille é 167vezesmaior do que isso. Nestaseção,veremoscomoum toquena peleé transduzidoemsinaisneu- rais, como essasinformaçõesseguempara o sistemanervosocentrale comoo cérebrorealizaapercepçãodelas. Disco de Merkel ~ I I I I I I I I I I Pelepilosa ~- Peleglabra~ I I I I I I I I I I I I- - -~ ---------- Epiderme Limite epiderme-derme IITUI I {, Derme;, . " . \1 1 . \ 1I I J Lu U- , -- I Terminação nervosa livre Corpúsculo deMeissner Receptor do lolículo piloso Corpúsculo dePacini Terminação deRultini Mecanorreceptoresda Pele A maioriados receptoressensoriais'do sistemasensorialsomáticoé constituída por mecanorreceptores,os quaissãosensíveisà deformaçãofísicacomo fle- xãoou estiramento.Presentesem todo o corpo,elesmonitoramo contatocom a pele,assimcomo a pressãono coraçãoe nos vasossangüíneos,dilataçãodos órgãosdigestivose dabexigaurinária, alémda forçaaplicadacontraos dentes. Na porção central de cadamecanorreceptor,estãoterminaçõesaxonais não- mielinizadas.Essesaxôniospossuemcanaisiônicosmecanossensíveis,cujaabertura dependedeestiramentoou mudançasna tensãodamembranacircundante. OsmecanorreceptoresdapelesãomostradosnaFigura 12.1.A maioriadeles foi designadaem homenagemaoshistologistasalemãese italianosque os des- cobriramno séculoXIX. O receptormaioremaisbemestudadoéo corpúsculo de Pacini, situadona camadaprofunda da derme.Ele pode apresentar2 mm decomprimentoe quase1mm de diâmetro- grandeo suficienteparaservisto a olho nu. As terminaçõesdeRuffini,encontradastanto na pele pilosacomo na glabra,sãolevementemenoresdo que os corpúsculosde Pacini. Os corpúsculos deMeissnersãocercadeum décimodo tamanhodoscorpúsculosdePacini e es- tãolocalizadosentreaspapilasdérmicasdapeleglabra(sãosaliênciasdérmicas queacompanhamasreentrânciasda epiderme,como suasimpressõesdigitais, porexemplo).Localizadosjunto à epiderme,osdiscosdeMerckel consistemem umaterminaçãonervosaeem umacélulaepitelial,não-neural,achatada.Nesse caso,a célulaepitelialpoderepresentarapartemecanicamentesensível,porque fazumajunção semelhanteà sinapsecoma terminaçãodo neurito. Nos bulbos terminaisdeKrause,situadosnas regiõeslimítrofesentrea pelesecae a mucosa (aoredordoslábiose nosgenitais,por exemplo),asterminaçõesseassemelham anovelosdebarbantecomnós. A pele pode sofrervibraçãoou pressão,ser aguilhoadaou alisada,e seus pelospodemser dobradosou puxados.Essassãoformasdiferentesde energia mecânica,asquaispodemossentirindividualmentee,ainda, discriminá-Iasfa- cilmente.Portanto,temosmecanorreceptoresque sedistinguemquanto a fre- qüênciasde estímuloe pressõespreferenciaise tamanhosdoscamposrecepti- vos.O neurocientistasuecoÂke Vallboe seuscolegasdesenvolverammétodos pararegistroeletrofisiológicode.axôniossensoriaisisoladosno braçohumano, demaneiraque elespudessemmedira sensibilidadedosmecanorreceptoresna mão e,simultaneamente,avaliar aspercepçõesproduzidaspor vários estímulos mecârticos(Figura 12.2a).Quando se utilizou uma sonda estimuladorapara T TATO 389 FIGURA 12.1 Receptores sensoriais somáticos na pele. A peleglabrae a pelepilosa possuemumavariedadede receptores sensoriaisnascamadasdérmicae epidérmica.Cadareceptorpossuium axônio,e,comexceçãodasterminações nervosaslivres,todaspossuemtecidosnão- neuraisassociados. 390 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO , 1111111111111 I (a) Corpúsculos de Meissner (b) Corpúsculos de Pacini FIGURA 12.2 Testando os campos receptivos dos receptores sensoriais humanos. (a) Coma inserçãode um microeletrodo no nervo mediano do braço, é possível registrar os potenciais de ação de um único axônio sensorial e mapear seu campo receptivo na mão com uma fina sonda estimuladora.(b) Os resultados mostram que os campos receptivos podem ser relativamente pequenos, como no caso dos corpúsculos de Meissner,ou grandes,como no caso dos corpúsculos de Pacini.(Fonte:Adaptado de Vallbo e Johansson, 1984.) tocara superfíciedapelee movimentar-sena região,o camporeceptivodeum único mecanorreceptorpôde ser mapeado.Os corpúsculosde Meissner e os discosde Merckel mostrarampossuir camposreceptivospequenos,de apenas uns poucosmilímetrosde extensão,enquantooscorpúsculosdePacinieaster- minaçõesdeRuffini apresentaramcamposreceptivosgrandesqueseestendiam por um dedointeiro ou por metadedapalmadamão (Figura 12.2b). Osmecanorreceptorestambémvariamquantoà persistênciadesuasrespos- tasa estímulosde longa duração.Se uma sondaestimuladoraé pressionadade formarepentinacontraa pele,dentrode um camporeceptivo,algunsmecanor. receptores,comooscorpúsculosdeMeissneredePacini,respondeminicialmente de formarápida,mas,a seguir,paramde dispararimpulsos,emborao estímulo continue;essesreceptoressãoditosdeadaptaçãorápida.Outrosreceptores,como osdiscosdeMerckel e asterminaçõesdeRuffini, sãoreceptoresdeadaptaçãolenta, poisgeramuma respostamaissustentávelduranteum estímulolongo.A Figura 12.3resumeascaracterísticasdosquatromecanorreceptoresdapele,quantoao tamanhodo camporeceptivoe aotipo deadaptaçãoa um estímulocontínuo. Os pêlosfazemmais do que adornarnossacabeçae manterum mamífero aquecidono inverno. Muitos pêlossãopartede um sistemareceptorsensorial. Para demonstrarisso,dobreapenasum pêlo do dorsode seubraçocoma ponta' deum lápis;é comoa sensaçãodeum mosquitoirritante.Paraalgunsanimais,os pêlosrepresentamum dosprincipaissistemassensoriais.Imagineum ratopassan- do furtivamentepor corredorese becosescuros.O ratoseorientaempartepelo movimentodesuasvibrissasfaciais("bigodes")paratatearo ambientelocaleobter informaçõessobreatextura,a distânciae o formatodosobjetosqueo cercam. FIGURA 12.3 Variações dos campos receptivos e das velocidades de adaptação para cada um,dos quatro mecanorreceptoresda pele. (Fonte: AdaptadodeVallboe Johansson,1984.) Movimento do estímulo aplicado Disparos axonais Tamanhodocamporeceptivo Pequeno Grande Corpúsculode Meissner Corpúsculode Pacini Rápida -- o 1m I1111 I I I 11om 15. m Disco de Merkel Terminação de Rullini"O« Lenta 1111111111111I1111 I 111111111111111 UFPA Instituto de Ciências da Saúde BIBLIOTECA Os pêlos crescema partir de folículosinseridos na pele; cadafolículo está ricamenteinervadopor terminaçõesnervosaslivres, que seenrolam ao redor deleou alinham-sea ele (Figura 12.1).Existemváriostiposdefolículospilosos, incluindo algunscom músculospiloeretores (essenciaispara mediar as estra- nhas sensaçõesque chamamosde arrepios, que levam à erição dos pêlos) e apresentandotiposdiferenciadosde inervação.Para todosessestipos,o dobra- ~ento do pêlo causauma deformaçãono folículo e em tecidoscircunvizinhos. Isso,por suavez, leva ao estiramento,inclinação ou achatamentodas termi- naçõesnervosasdessaregião,aumentandoou diminuindo, dessaforma, a fre- qüênciade disparosde potenciaisde ação.Os mecanorreceptoresdosfolículos pilosospodemsertantode adaptaçãolentacomoderápida. As diferentessensibilidadesmecânicasdosmecanorreceptorespromovem diferentessensações.Os corpúsculosdePacini sãomaissensíveisa vibraçõesde cercade200a 300Hz, enquantooscorpúsculosdeMeissnerrespondemmelhor em torno de 50 Hz (Figura 12.4). Posicione sua mão contra um alto-falante, enquantoescutasua música favorita em alto volume; vocêpoderá "sentir" a música,em grandepartepelos seuscorpúsculosde Paccini. Sevocê deslizara pontadeseusdedossobrea telaprotetoraásperado alto-falante,cadaponto da peleseráestimuladocomum nível defreqüênciaótimoparaa ativaçãodoscor- púsculosdeMeissner.Vocêteráa sensaçãode uma texturarugosa.A estimula- çãoemfreqüênciasaindamaisbaixaspodeativarasterminaçõesdeRuffini eos corpúsculosdeMeissner,produzindouma sensaçãodepalpitação. Vibração e o Corpúsculo de Pacini. A seletividadedeum axônio mecanor- receptivodependebasicamenteda estrutura de sua terminaçãoespecial.Por exemplo,os corpúsculosde Pacini possuemuma cápsulaem forma debola de futebol americano,com 20 a 70 camadasconcêntricasde tecido conjuntivo, como as camadasde uma cebola, com uma terminaçãonervosa dispostano centro(ver Figura 12.1).Quando a cápsulaé comprimida,a energiaé transfe- ridaà terminaçãonervosa,suamembranaé deformada,e os canaismecanos- sensíveisseabrem.A correntequeflui atravésdoscanaisgeraum potencialno receptor,que é despolarizante(Figura 12.5a). Sea despolarizaçãofor suficien- Sondaesti- muladora . . t Axônio ~ Cápsula ~ Corpúsculo ~intacto tt Potencial doreceptor Tempo . (a) Axônio ~ . t. Corpúsculo desprovido dacápsula Potencial doreceptor Tempo . (b) ~ TATO 391 Ê ~ Q) Qj o.. .ro1.000ro "O ro .~ ~ 100 O .ro (/) (/) ~ 10o.. ro ~ro o.. CorpúsculodeMeissner (ij 'E :::i 10 50 100 3001.000 Freqüênciado estímulo(Hz) FIGURA 12.4 Sensibilidade à freqüência para os dois mecanorreceptores de adaptação rápidadapele. Oscorpúsculosde Pacinisãomaissensíveisaestímulosdealta freqüência,e os corpúsculosde Meissner sãomaissensíveisa estímulosde baixa freqüência.A pelefoiestimuladapor meio de umasonda,queexerciapressãoemvárias freqüênciasenquantoerafeitoo registrono nervo.Aamplitudedo estímuloaplicadofoi aumentadaatéseremgeradospotenciasde ação;o limiarfoi medidocomoa quantidade de depressãodapeleemmicrômetros(~m). (Fonte:Adaptadode Schmidt,1978.) FIGURA12.5 Adaptaçãodocorpúsculode Pacini. UmúnicocorpúsculodePacini foi isoladoe estimuladoporumasonda,' queexerciaumabrevepressãosobreele. O potencialdo receptorfoi registradoem umaporçãodo axôniopróximaaoestímulo. (a) No corpúsculointacto,umgrande potencialdereceptorfoigeradono início e nofimdo estímulo:durantea pressão contínua,o potencialreceptordesaparece. (b) A encapsulaçãoemformadecebolafoi dissecada,deixandoumaterminaçãoaxonal desnuda.Quandoessafoipressionadapela sonda,foigeradonovamenteumpotencial do receptor,deformaquea cápsulanão . é necessáriaparaa mecanorrecepção.No entanto,enquantoo corpúsculointacto respondiasomenteno inícioe nofinalde umapressãocontínua,aversãodesprovida decápsulaforneceuumarespostamuitomais prolongada.Suafreqüênciadeadaptação passoua serlenta.Aparentemente,é acápsula quetornao corpúsculoinsensívela estímulos debaixafreqüência. 392 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO Dedão Panturrilha 42mm Antebraco FIGURA12.6 Discriminaçãode doispontosna superfíciecorporal. Os paresde pontosmostramadistânciamínima necessáriaparadiferenciarentredois pontosqueestejamtocandoo corpo simultaneamente.Observea sensibilidade dapontadosdedosquandocomparada comado restodo corpo. FIGURA 12.7 Os nervosperiféricos. tementeintensa, o axônio irá dispararum potencial de ação.As camadasda cápsula,no entanto,sãoescorregadias,por conterum fluido viscosoentreelas. Sea pressãodo estímulofor mantidaconstante,ascamadasdeslizamumasso- breasoutrase transferema energiado estímulo,detal formaquea terminação axonal não mantéma deformaçãoda membrana,e o potencialdo receptorse dissipa.Quandoa pressãoé aliviada,oseventosocorremdemaneirainversa;a terminaçãodespolarizanovamenteepodedispararoutro potencialdeação. Na décadade 1960,Werner Loewenstein e seuscolegas,da Universidade de Columbia, retiraramascápsulasde corpúsculosisoladose observaramque a terminaçãoaxonal desnudatornou-se muito menos sensívelaos estímulos vibratóriose maissensívelàpressãoestática(Figura12.5b).Evidentemente,éa cápsulaem camadas(e não algumapropriedadedaterminaçãonervosaemsi) quetorna o corpúsculodePacini especialmentesensívelà vibração,ou estímu- los de altafreqüência,e quasenão respondendoàpressãoestática. Discriminação de Dois Pontos. A capacidadeparadiscriminarmoscaracterís- ticasdetalhadasdeum estímulovariaconsideravelmenteaolongodocorpo.Uma medidasimplesda resoluçãoespacialé o testede discriminaçãode doispontos. Vocêpode fazerem si mesmo,usandoum clipepara papeldobradona forma de um U. Comececomaspontasdistanciadasentresi doisa trêscentímetrose encoste-asna pontadeum dedodamão;vocênão terádificuldadeemdizerque duaspontasseparadasestãotocandoseudedo.Aproxime, agora,um poucoas duaspontasdo aramee encoste-asnovamentena pontade seudedo.Repitao testeatéobservarquala distânciaemquedevemestaressaspontasparaquevocê aspercebacomoum único ponto. (Essetestefica melhor sefor feito comduas pessoas,umatestandoe a outra sendotestadasemolhar.)Tentedepoisno dorso damão,emseuslábios,na suapernaou emqualqueroutrolugarquelheinteres- sar.Compareseusresultadoscomaquelesapresentadosna Figura 12.6. A capacidadede discriminaçãodedoispontospodevariar em,pelomenos, vintevezesao longodo corpo.As pontasdosdedosdamãosãoasáreasdemaior resolução.Ospontosda escritaBraille têm 1mm dealturae sãoseparadospor uma distânciade2,5mm;até6pontoscompõemumaletra.Um leitorexperien- te em Braille podepercorrercom o dedoindicadoruma páginacompontossa- lientese ler aproximadamente600letraspor minuto, o queé aproximadamente tãorápidoquantoler emvoz alta.Existemváriasrazõesparaexplicarpor quea pontadosdedosémuito melhorparaler emBrailledo que,digamos,o cotovelo: (1) existeuma densidademuito maior de mecanorreceptoresna peledaponta dosdedosdamãodoqueemoutraspartesdocorpo;(2) aspontasdosdedostêm um maior número de receptorescom camposreceptivospequenos;(3) existe mais tecido cerebral(e, portanto,um maior poder de computaçãoresultante) destinadoao processamentoda informaçãosensorialdecadamilímetroquadra-, do dapontado dedodamãodo quedeoutroslocais,e (4) podehavermecanis- mosneuraisespeciaisdestinadosàsdiscriminaçõesdealtaresolução. Axônios Aferentes Primários A pele é ricamente inervada por axônios que percorremuma vastarede de nervosperiféricosem seutrajetoem direçãoao sistemanervosocentral (SNC) (Figura 12.7). Os axônios que levam a informação dos receptoressensoriais somáticosà medula espinhal ou ao tronco encefálicosão os axôniosaferentes primáriosdo sistemasensorialsomático.Os axôniosaferentesprimáriosentram na medula espinhalatravésdasraízesdorsais;seuscorposcelularesestãonos gângliosdaraizdorsal(Figura12.8). Os axôniosaferentesprimáriosapresentamdiâmetrosvariados,e seusta- manhos correlacionam-secom o tipo de receptorsensorialao qual estãoliga- dos.Infelizmente,a terminologiaparaos diferentestamanhosdeaxôniosbeira o absurdo,pois utiliza dois conjuntosde nomes,com letrasgregasearábicase numeraisromanos.Conformemostradona Figura 12.9,por ordemdecrescente detamanho,osaxôniosdosreceptoressensoriaisdapelesãocomumentedesig- nadospor Ao.,A~,Ao e C; os axôniosdetamanhosimilar,masque inervamos Substância branca " , 'nzenta Raiz dorsal Sob""",,a" ~ - , . da raiz dorsal.. ..~ Gângllo \ " I ,""""ai I " \~ ~. é-~..1' kRaiz ventral Nervo espinhal músculose tendões,sãochamadosde gruposI, n, III e IV. Observeque os ner- vossensoriaisdapelenão possuemo grupodemaior tamanho(Aa). Osaxônios do grupo C (ou IV) são, por definição, não-mielinizados, enquanto todos os demaissãomielinizados. Há uma questãointeressantee fundamentalpor trásdessesváriosnomesde axônios.Lembre-seque o diâmetrodeum axônio,juntamentecoma quantida- dede mielina, determinasuavelocidadede conduçãodo potencialde ação.Os axôniosmenores,as chamadasfibrasC, não possuemmielina e têm diâmetro menordoque 1mm. As fibrasC transmitema sensaçãodedor edetemperatura esãoos axôniosmais lentos,conduzindoa uma velocidadede cercade 0,5 a 2 m/s.Parater uma idéiadequãolento é isso,dêum passogrande,conteatédois e,então,dê outro passo.Essaé, grossomodo, a velocidadede propagaçãodos potenciaisde açãoao longo das fibras C. Por outro lado, assensaçõesde tato, Axônios dapele Aa Axônios dos músculos GrupoI A~ cAo 11 IV111 0,2-1,5 0,5-2 Temperatura, dor, prurido 'r TATO 393 FIGURA 12.8 As estruturas de um segmento da medula espinhal e suas raizes. FIGURA 12.9 Os vários tamanhos dos axônios aferentes primários. Osaxônios estãodesenhadosemescala,porémsão mostrados2,000vezesmaioresdo queo tamanhoreal.O diâmetrode umaxônio estácorrelaClonadocomsuavelocidade de conduçãoe como tipo de receptor sensorialaoqualestáconectado. DiâmetroI 13-20 (Jlm) Velocidade I 80-120 (m/s) Receporesl Proprioceptores sensbnals do músculo esquelético 6-12 1-5 35-75 5-30 Mecanorreceptores Dor, da pele temperatura 394 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO transmitidaspelosmecanorreceptarescutâneos,são conduzidaspelosaxônios A(3relativamentegrandes,osquaispodemconduziravelocidadesdeaté75m/s. Considere,como comparação,que um bom lançadarprofissionalde beisebol podearremessarumabola rápidaa cercade 144km/h, queé apenas40 m/s. A MedulaEspinhal A maioriadosnervosperiféricoscomunica-secomosistemanervosocentralvia medulaespinhal,aqualestáenvoltapelacolunavertebralóssea. Organização Segmentar da Medula Espinhal. O arranjo dasraízesdor- saise ventraisem paresestámostradona Figura 12.8e se repete30 vezesao longo da extensãoda medulaespinhalhumana. Cadanervo espinhalconsiste em axôniosdaraizdarsale daraiz ventral,quepassamatravésdo farameentre asvértebrasda coluna.Existeo mesmonúmero denervosespinhaisqueosde farames entre as vértebras.Conforme mostradona Figura 12.10,os 30 seg- mentos espinhais estãodivididosemquatrogrupos,e cadasegmentorecebea Medula cervical Medula torácica Medula lombar Medula sacral Medulaespinhal Vertebra I CervicalI I TorácicaI [LombarI SacralI FIGURA 12.10 Organização segmentar da medula espinhal. A medulaespinhalestádivididaem porçõescervical,torácica,lombare sacral(esquerda).O ladodireitomostraa medulaespinhal dentrodacolunavertebral.Os nervosespinhaissãodenominadospelonívelemque.emergem damedulaespinhale numeradosseguindoumaordemdo maisrostralaomaiscaudal. 1 2 3 4 5 6 7 8 - 1 T1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 5 Nervosespinhais C5 C6 C7 C8 S1 Cervical Torácico Lombar Sacral T TATO 395 C6 C7 C8 L5 S1 S2 L3 L4 FIGURA 12.11 Dermátomos. Essasilustraçõesmostramo mapeamentoaproximadodosterritóriosdos dermátomosno corpo. denominaçãodavértebraseguinteadjacenteà origemdo nervo: cervical(C) 1 a 8, torácico(T) 1 a 12,lombar (L) 1 a 5 e sacral(S) 1a 5. A organizaçãosegmentardos nervos espinhaise a inervaçãosensorialda peleestãorelacionadas.A áreadapeleinervadapelasraízesdorsais,direitaees-. querda,deum único segmentoespinhalsechamadermátomo; existe,portan- to, uma correspondênciade um-para-um entreosdermátomose ossegmentos espinhais.Ao seremmapeados,osdermátomosdelineiamuma organizaçãoem bandasdasuperfíciecorporal,comovisualizadona Figura 12.11.A organização dosdermátomosé maisbemvisualizadaem um corpoinclinado comambasas mãose ospésapoiadosno chão (Figura 12.12).Presume-seque essaorganiza- çãosejaum reflexodenossaremotaancestralidadequadrúpede. 396 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO Cervical Torácico FIGURA12.12 Dermátomosem umapessoacom o troncocurvado,de quatro. Quando uma raiz dorsal é seccionada,o dermátomocorrespondentedo lado da lesãonão perdetodaa sensação.A sensaçãosomáticaresidualé expli- cadapelo fato de que asraízesdorsaisadjacentesinervam áreassobrepostas. Para perder,portanto, toda a sensaçãoem um dermátomo,três raízesdorsais adjacentesdevemser seccionadas.Entretanto, a pele inervadapelos axônios de uma raiz dorsalpode serplenamentereveladaem uma condiçãopatológi- ca chamadaherpeszoster(cabreiro),quando todososneurônios de um único gângliodaraiz dorsalsãoinfectadoscomum vírus (Quadro 12.1). Observena Figura 12.10queamedulaespinhaldosadultosterminaaproxi- madamenteno nível daterceiravértebralombar.Os feixesdenervosespinhais que seguemna direçãocaudaldentro da coluna vertebrallombare sacralsão chamadosde caudaeqüina(emlatim para "caudade cavalo").A caudaeqüina percorrea coluna vertebralem direçãocaudal,envolvidapor uma cápsulade dura-máter,preenchidacomlíquido cefalorraquidiano(LCR). No procedimento chamadopunçãolombar,utilizadona coletadeLCR paradiagnósticomédico, uma agulhaé inseridana linha médiadessacisternapreenchidapor LCR. En- tretanto,sea agulhafor inseridaum poucofora do centro,um nervopoderáser atingido.Não serásurpreendenteseissocausaruma sensaçãodedor agudano dermátomosupridopor aquelenervo. Organização Sensorial da Medula Espinhal. A anatomiabásicadamedula espinhalfoi introduzida no Capítulo 7. A medula espinhalestáconstituídade um núcleocentraldesubstânciacinzenta,circundadapor um espessoenvoltório detractosdesubstânciabranca,freqüentementedenominadosdecolunas.Cada metadedasubstânciacinzentaespinhaldivide-seemumcornodorsal,umazona HerpesZoster,CobreiroeDermátomos Quandocrianças,muitosde nósforaminfectadospelovírus herpeszoster;comumenteconhecidocomovaricelaou ca- tapora.Após cercade umasemanacobertoscommanchas vermelhase pruriginosasemnossapele,nosrecuperávamos. Entretanto,aquiloquenãovemosaindapodeestaremnos- socorpo.O víruspermaneceemnossosneurôniossensoriais primários,dormente,masviável.A maioriadaspessoasnunca maistemnotíciasdo vírusnovamente,mas,emalgunscasos, o vírusrevivedécadasmaistarde,infligindoumasériacomo- çãono sistemasensorialsomático.O resultadoé o cabreiro, umacondiçãoquepodeapresentarfortesdoresnevrálgicas durantemesesouatémesmoduranteanos.O vírusreativado aumentaa excitabilidadedosneurôniossensoriais,levandoà diminuiçãodo limiardedisparoscomo,também,favorecendo aatividadeespontânea.A doré comoumaardênciaconstan- te,acompanhadadeeventuaisdoresintensassúbitase agudas, deixandoa peleespecialmentesensívela qualquerestímulo. As pessoascomcobreiroprocuramevitaro usode roupas devidoa suahipersensibilidade.A peleficainflamadae com bolhasqueformamcrostaseescamamquandosecam,porisso o nome(herpesemlatimsignifica"querasteja",alusãoaosrép- teisescamosos)(FiguraA). Felizmente,o herpevírus,viade regra,torna-sereativo apenasnosneurôniosde umgânglioda raizdorsal(ou do gângliotriger:rinal).lssosignificaqueossintomasficamrestritos à peleinervadapelosaxôniosdaraizdorsalafetada.O vírus r Ut- . j .J. FIGURAA Lesõescutâneas causadaspelo cobreiro(Herpes zoster),confinadasao dermátomoL4 do ladoesquerdo. realizaparanós,defato,umexperimentodemarcaçãoanatô- mica,tornandobemdefinidoo territórionapelecorrespon- dentea umdermátomo.Praticamente,qualquerdermátomo podeserafetado,emboraasáreastorácicae facialsejamas maisfreqüentementeatingidas.As análisesdasáreasafetadas deváriospacientescomherpeszosterforamrealmenteúteis nomapeamentodosdermátomos(verFigura12.11). Os neurocientistasestãoagoraaprendendoa tirarvan- tagemdautilizaçãodo herpese deoutrosvírus.Os vírussão ferramentasdepesquisavaliosas,poispodemserutilizadosna introduçãodenovosgenesnosneurônios. T TATO 397 Colunas dorsais Xi,,'. r~ f>' . / \0: . .\, ~f ,--. -- Zona - .A - -- ..-/ - intermedia ' ' - .:.~- ria C ~orno ventral FIGURA12.13 O trajeto dosaxôniosAp sensíveisao tato na medulaespinhal. intermediáriaeum cornoventral(Figura12.13).Osneurôniosquerecebemaferên- dassensoriaisoriundasdosneurôniosaferentesprimáriossãochamadosdeneu- rôniossensoriaisdesegundaordem.A maioriadosneurôniossensoriaisde segunda ordem(ou secundários)damedulaespinhallocaliza-senoscornosdorsais. OscalibrososaxôniosmielinizadosAI3,queconduzema informaçãotátilda pele,entramno corno dorsal e se ramificam.Um ramo faz sinapsecom neu- rônios sensoriaisde segundaordem na parteprofunda do corno dorsal.Essas conexõespodemdesencadearou modificaruma variedadederespostasreflexas rápidase inconscientes.O outro ramo do axônio aferenteprimário AI3ascen- de diretamentepara o encéfalo.Essaaferênciaascendenteé responsávelpela percepção,tornando-nos capazesde fazerjulgamentos complexosacercados estímulostáteisna pele. AVia Coluna Dorsal-lemnisco Medial A informaçãosobreo tato ou a vibraçãodapele segueuma via em direçãoao encéfaloqueé totalmentedistintadavia em queseguemasinformaçõesacerca dador e datemperatura.A via do tatoé chamadadevia coluna dorsal-Iem- nisco media!, por razõesque veremosa seguir.A organizaçãodessavia está resumidana Figura 12.14. O ramo ascendentedosaxôniossensoriaiscalibrosos(AI3)entrana coluna dorsal ipsilateralda medulaespinhal,o tractode substânciabrancamedial ao cornodorsal(verFigura 12.13).As colunasdorsaislevaminformaçãoacercada sensaçãotátil (edaposiçãodosmembros)emdireçãoao encéfalo.Sãoconstitu- ídasdeaxôniossensoriaisprimários,comotambémde axôniosde segundaor- demdeneurôniosdasubstânciacinzentaespinhal.Os axôniosdacolunadorsal terminamnosnúcleos da coluna dorsa!, que estãosituadosno limite entrea medulaespinhale o bulbo. Observequealgunsdosaxôniosqueterminamnos núcleosda coluna dorsal,na basede suacabeça,originam-sede áreasda pele tãodistantesquantoa do dedãodeseupé!Essaéumavia diretarápidaqueleva informaçãodapeleao encéfalosemsequeruma sinapseno trajeto. Nesseponto da via, a informação ainda estárepresentadaipsilateralmen- te, ou seja,a informação tátil do lado esquerdodo corpo estárepresentadana atividadedas células dos núcleos da coluna dorsal esquerda.Entretanto, os axônios dos neurônios dos núcleos da coluna dorsal fazem uma curva em direçãoaobulboventralemediale. então,decussam.A partirdesseponto,o sistemasensorialsomáticodeumladodoencéfaloestárelacionadocomassensações originadasdoladoopostodocorpo. Osaxôniosdosnúcleosda colunadorsalascendempor um tractoconspícuo desubstânciabranca.chamadolemnisco media!. O lemniscomedialsobeatravés dobulbo,daponteedomesencéfalo,e seusaxôniosfazemsinapsecomneurônios 398 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO ,.' @ Axôniosde grandecalibre da raizdorsal Córtex somatossensorial primário(81) o......-- Medula espinhal FIGURA 12.14 A viacolunadorsal-Iemniscomedial. Esta é a principalviapelaqualo tatoe a informação proprioceptivaascendemaocórtexcerebral. donúcleoventralposterior(VP) dotálamo.Estejaatentoparao fatodeque nenhumainformaçãosensorialseguediretamenteaoneocórtex,semantesfazer sinapsenotálamo.OsneurôniostalâmicosdonúcleoVPprojetam-se,porsuavez, pararegiõesespecíficasdocórtexsomatossensorialprimárioouSI. É tentadorsuporquea informaçãosensorialsejatransferidasimplesmente semmodificaçõespelosnúcleosdotroncoencefálicoedotálamonoseutrajeto aocórtexequeoprocessamentorealmenteocorraapenasno córtex.Defato, essepressupostoimplicouaterminologianúcleosrelê(comoodispositivoelétrico queintervémnapassagemdecorrente)ounúcleosderetransmissão,termosesses quesãofreqüentementeutilizadosparadescreverosnúcleossensoriaisespecí- ficosdotálamo,comoéocasodonúcleoVP.Estudosneurofisiológicostêm,en- tretanto,demonstradoo oposto.Tantonosnúcleosdacolunadorsalcomonos talâmicos,ocorreumatransformaçãoconsideráveldainformação.Comoregra, cadavezquea informaçãopassaporumconjuntodesinapsesdosistemaner- vosocentral,elapodeseralterada.Em especial,asinteraçõesinibitóriasentre osgruposadjacentesdeaferências,quechegampelaviacolunadorsal-Iemnisco medial,aumentamasrespostasaosestímulostáteis(Quadro12.2).Comove- T TATO 399 Inibição Lateral A informaçãoé geralmentetransformadaàmedidaquepassa de umneurônioao seguinte,ao longode umaviasensorial. Umatransformaçãocomumé aamplificaçãodediferençasna atividadeemrelaçãoa neurôniosvizinhos,fenômenoconhe- cido,também,comoaumentodocontraste.Já vimosissonos camposreceptivosdacélulaganglionardaretina(verCapítulo 9).Setodososfotorreceptoresquefornecemsinaisaferentes paraumacélulaganglionarfossemigualmenteiluminados,acé- luladificilmentedistinguiriaos sinais.Contudo,seexisteuma bordadecontraste- umadiferençadeiluminação- dentrodo camporeceptivocelular,a respostadacélulaseráintensamen- te modulada.O aumentodo contrasteé umacaracterística comumdo processamentoda informaçãonasviassensoriais, inclusiveparao sistemasensorialsomático.Um mecanismo geralsubjacenteaoaumentodecontrasteéa inibiçãolateral, noqualumacélulavizinhainibea outra.Vamosvercomoisso ocorre,utilizandoummodelosimples. ConsidereasituaçãodaFiguraA.Os neurôniosdogânglio daraizdorsal,marcadoscomletrasde a a g, retransmitem (relésináptico)a informaçãoaosneurôniosmarcadosdeA a G, no núcleodacolunadorsal.Vamosassumirqueo sinalde saídadascélulasdo núcleodacolunadorsalé simplesmente o sinaldeentradapré-sinápticomultiplicadoporumfatorde ganhoiguala I.Seaatividadedosinalqueentradacélulad for 1O,aatividadequesaidacélulaD tambémserá1°.Essaforma simplesde retransmissãonãoaumentaemnadaa diferença entreo neurôniomaisativo,d,e osdemais. Considere,agora,asituaçãodaFiguraB,ondeinterneurô- niosinibitóriosqueforamadicionadosprojetam-selateralmente parainibircadaumadascélulasvizinhas.O ganhosinápticodas sinapsesinibitórias(triângulospretos)é-I, e o ganhodassinap- sesexcitatóriasfoiajustado,comomostradonafigura.Calculea atividadedecadacélulacomamultiplicaçãodosinaldeentrada emcadasinapsepeloseuganhosinápticoe,então,someoefeito detodasassinapsessobreacélula.Sevocêrealizaressecálculo, veráqueexisteumaumentosignificativodecontraste:adiferen- çaentreaatividadedacélulad emrelaçãoassuasvizinhasfoi consideravelmenteampliflcadanosinaldesaídadacélulaD. remosa seguir,algumassinapsesnessesnúcleos tambémpodem ter sua efi- ciênciamodificada,dependendodesuaatividaderecente.Neurônios tanto dos núc~osdo tálamocomo dosnúcleosda coluna dorsalsãocontrolados,ainda, poraferênciasdo córtexcerebral.Conseqüentemente,a eferênciacorticalpode influenciara aferênciaparao próprio córtex! +++++ HflItJIf\t +++++ ++++ Sinaisde entrada, Sinaisde saída, Sinaisde entrada, emdisparaspor emdisparaspor emdisparaspor segundo 0 segundo segundo+++++5 1X0--- 5 +++++ +++++5 +++++5 $ 1X@--- 5 +++++ +++++5 +++++5 (0 1X@-- 5 +++++ +++++5 {Estímulo ( Estímulotttttttttt1o CV 1X@---- 10 tttttttttt tttttttttt1o +++++5 0 1X@--- 5 +++++ +++++5 +++++5 Q) 1Xcv---- 5 +++++ +++++5 +++++5 1X@--- 5 +++++ +++++5 FIGURAA FIGURA B 400 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO A ViaTáctilTrigeminal Até esteponto, descrevemosapenasapartedo sistemasensorialsomáticoque entra na medula espinhal. Seexistisseapenasessaparte, não teríamossensa- çõesna face.As sensaçõessomáticasdafacesãosupridasprincipalmentepelos grandesramosdo nervo trigêmeo (nervo cranianoV). o qual chegaao encé- falo pelaponte. (O termo origina-se do latim: tria, "três";geminus,"gêmeo".) O nervo trigêmeodivide-se,de cadalado, em trêsnervosperiféricosque iner- vam a face, a regiãobucal, os dois terçosexternosda língua e a dura-máter que recobreo encéfalo.As sensaçõesda pele em torno dasorelhas,da região nasal e da faringesãofornecidaspor outros nervos cranianos:o facial (VII). o glossofaríngeo(IX) e o vago (X). As conexõessensoriaisdo nervo trigêmeosãoanálogasàquelasdasraízes dorsais.Os axônios sensoriaisde grande diâmetro do nervo trigêmeolevam informaçãotátil dos mecanorreceptoresda pele.Eles fazemsinapsecomneu- rônios de segundaordemdo núcleo trigeminalipsilateral,que é análogoa um núcleo da colunadorsal (Figura 12.15).Os axôniosdo núcleo trigêmeodecus- same seprojetampara a partemedial do núcleo VP do tálamo.A partir desse núcleo,a informaçãoé retransmitidaparao córtexsomatossensorial. Córtex somatossensorial primário(81) Núcleosensorial principaldonervo trigêmio / ,'r- J.. " . r .' ~ . ~'~ ,,', .F \' ,~~ -~lY/ r- ",. '\ ~)@ ... j.~" ..,~ 1,\... "r @ -- -( Tálamo (núcleoVP) Axônios mecanoceptores degrandecalibre daface ./' FIGURA 12.15 A viado nervotrigêmeo. Essaé a via pelaquala informaçãosomatossensorialdaface alcançao córtexcerebral. Nervotrigêmio (nervocranianoV) Córtex somatossensorial (áreas 1, 2, 3a, 3b) Córtex parietal posterior (áreas 5, 7) FIGURA 12.16 Áreas sensoriais somáticas do córtex. Todasasáreasilustradas localizam-seno lobo parietal.Ailustração inferiorrepresentao giropós-centralque contémSI, áreas3b. Córtex Somatossensorial Assimcomoparatodososdemaissistemassensoriais,osníveismaiscomplexos doprocessamentosomatossensorialocorremno córtexcerebral.A maior parte do córtexrelacionadacom o sistemasensorialsomáticoestálocalizadano lobo parietal(Figura 12.16).A áreadeBrodmann 3b,reconhecidaatualmentecomo o córtexsomatossensorialprimário (S1), é fácil de serlocalizadaem humanos porqueestásituadano giro pós-central (logo atrásdo sulco central). Junto à SI, estãooutrasáreascorticaisque tambémprocessama informaçãosensorial somática.Essasincluem asáreas3a, 1 e 2 no giro pós-centrale áreas5 e 7 no córtex parietal posterior adjacente(verFigura 12.16). A área3bé o córtexsensorialsomáticoprimárioporque(1) recebeum grande númerodeaferênciasdo núcleoVP do tálamo;(2)seusneurôniossãomuito res- ponsivosaosestímulossomatossensoriais(masnãoa outrosestímulossensoriais); (3) lesõesnessaáreaprejudicama sensaçãosomática,e (4) a aplicaçãode estí- muloselétricosnessaárearesultaem experiênciassensoriaissomáticas.A área3a tambémrecebeumadensaaferênciado tálamo;essaregião,entretanto,estámais relacionadacomasinformaçõesacercadaposiçãodo corpodo quecomasacerca dotato. As áreas1e2 recebemdensainervaçãodaárea3b.A projeçãodaárea3bpara aárea1enviaprincipalmenteinformaçãosobretextura,enquantoaprojeçãopara aárea2 enfatizatamanhoeforma.Pequenaslesõesrestritasàsáreas1ou 2 produ- zemdeficiênciasesperadasna discriminaçãodatextura,dotamanhoedaforma. O córtexsomatossensorial,comooutrasáreasdoneocórtex,é umaestrutura organizadaem camadas.Assim comopara os córticesauditivo e visual,asafe- rênciastalâmicasparaSI terminamprincipalmentena camadaIV. Osneurônios dacamadaIV projetam-se,por suavez,paraascélulasdeoutrascamadas.Outra importantesimilaridadecomasoutrasregiõescorticaisé queosneurôniosdeSI quepossuemaferênciase respostassimilaresficam dispostosverticalmenteem colunasqueseestendemao longo dascamadascorticais(Figura 12.17).O con- T TATO 401 D1 FIGURA 12.17 , Organização colunar de S I. Cada dígito (D I-D3) está representado em uma área adjacente do córtex. Na área de representação de cada dígito,existem colunas alternadas de célulascom respostas sensoriais de adaptação rápida (verde) e de adaptação lenta (vermelho). (Adaptado de Kaasetai.,198I,Figura8.) 402 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO ceitodecolunavertical,tãobrilhantementeelaboradopor HubeleWieselparao córtexvisual,foi, defato,descritopelaprimeiravezparao córtexsomatossenso- rial pelocientistaVernonMountcastle,daUniversidadeJohn Hopkins. Somatotopia Cortical. Estimulaçãoelétricada superfíciede 51 pode causar sensaçõessomáticaslocalizadasem umaparteespecíficado corpo.A movimen- taçãodo estimuladorde forma sistemáticapor 51 resultaráem sensaçõesao longo do corpo. O neurocirurgiãocanadenseWilder Penfield,da Universidade McGill, utilizou essemétodode estimulação,entreasdécadasde 1930a 1950, para mapearo córtexde pacientesduranteneurocirurgias.(É interessanteob- servarque essasoperaçõescerebraispodemserrealizadasempacientesacorda- doscomanestesialocalapenasno escalpo,poisostecidosneuraisemsi nãopos- suemreceptoresparasensaçõessomáticas.)Outra maneirademapearo córtex somatossensorialé registrara atividadede um único neurônio e determinaro local de seucamporeceptivosomatossensorialno corpo. Os camposreceptivos dosneurônios de 51produzemum mapaordenadodo corpono córtex.O ma- peamentodassensaçõesdasuperfíciecorporalemuma áreado sistemanervoso centraléchamadodesomatotopia. Vimosanteriormentequeo cérebropossui mapasde outrassuperfíciessensoriais,como,por exemplo,daretinasensívelà luz (retinotopia)e dacócleasensívelà freqüênciano ouvido interno (tonotopia). Os mapassomatotópicosgeradospor métodosde estimulaçãoe deregistro da atividadeelétricasãosimilarese lembramgrosseiramenteum trapezistade cabeçaparabaixo, com os joelhos tlexionadosno topo do giro pós-central,as pernasna direçãodo córtexmedial,entre os dois hemisférios,e com a cabeça na direçãooposta,na extremidadeinferior do giro (Figura 12.18).Um mapa somatotópicoé chamadoalgumasvezesde homúnculo(para o diminutivo de "homem" emlatim; o pequenohomemno cérebro). Podemosperceberdois aspectosóbviosao observarmoso mapasomatotó- pico. Primeiro, o mapanão é contínuo, masfragmentado.Observena Figura 12.18que a representaçãoda mão separaasrepresentaçõesdafacedaporção ..o 0,<: ~ <:».... O~o t'VQ07;:' f::: /..éi6. qc& ~o$ v/)&r; 101' l.ábiO$ Lábio inferior Dentes Gengiva Maxilar () ~ tP g. cn ~ (t) o~ .o .go \!J o ::;Io;:,o o , I ~ ., Pé Artelhos Genitais --- ... \ ~e ~-i-'~ .~~ oo<f ,~ ~'l> ,<c' rFIGURA 12.18Um mapa somatotópico da superfíciecorporal no córtex somatossensorialprimário. Estemapaé umasecçãotransversaldo giropós-central(mostradoacima). Os neurôniosdecadaáreasãomaisresponsivos àquelaspartesdo corpoilustradasjuntoaelas. (AdaptadodePenfielde Rasmussen,1952.) \..í~9Ua. posteriordacabeça,enquantoosgenitaisestãomapeadosnasáreasmaisocultas deSI, abaixo da representaçãodos dedosdospés. Segundo,o mapanão está deacordocom a escalado corpo humano. Em vez disso,o mapapareceuma caricaturahumana (Figura 12.19):a boca, a língua e os dedosdasmãos são absurdamentegrandes,enquanto o tronco, os braçose aspernas sãopeque- nos.O tamanhorelativodaáreado córtexdedicadoa cadapartedo corpoestá correlacionadocoma densidadedasaferênciassensoriaisquerecebedaquelade- terminadaregião.O tamanhono mapatambémestárelacionadoà importância dasaferênciassensoriaisde determinadaparte do corpo;a informaçãode seu dedoindicadoré maisútil do que aquelade seucotovelo.A importânciada in- formaçãotátil denossasmãose dedosé óbvia,masporquededicartantopoder decomputaçãocorticalà boca?As duasprováveisrazõessãoque assensações táteissãoimportantesna produçãodafalae que seuslábiose língua (sensações somáticas,alémdo paladar)sãoa última linha dedefesaquandosedevedecidir seum certobocadoé um alimentonutritivo e deliciosoou é algoque poderia sufocá-Io,quebrarseudenteou arranharsua faringe.Como veremosa seguir, aimportânciadeuma aferênciae o tamanhodesuarepresentaçãocorticaltam- bémsãoreflexosdafreqüênciacomqueessainformaçãoé utilizada. A importânciade umapartedo corpopodevariar consideravelmenteentre asdiferentesespécies.Por exemplo, as grandesvibrissasfaciais (bigodes)dos roedoresrecebemuma áreaenormeem SI paraseuprocessamento,enquanto osdígitosdaspatasrecebemuma árearelativamentepequena (Figura 12.20). Deformanotável, os sinaissensoriaisde cadafolículo devibrissaseguempara umagrupamentobem definido de neurônios de SI; tais grupossãochamados debarris.O mapasomatotópicodasvibrissasdos roedorespode ser facilmente visualizadoem secçõeshistológicasde SI; as cinco fileiras de barris corticais coincidemprecisamentecomascinco fileirasdevibrissasfaciais. A somatotopiano córtexcerebralnão estálimitadaa um único mapa.Exa- tamenteda mesmaforma que o sistemavisual constróimúltiplos mapasreti- Vibrissas Folículos ,I! ,\. (a) FIGURA 12.20 Um mapa somatotópico das vibrissas faciais no córtex cerebral do camundongo. (a) A posiçãodasprincipaisvibrissas naface.(b) Um mapasomatotópicodentrode SI no cérebro decamundongo.(c) Os barrisdeSI. Foramfeitasfinassecções histológicasdo córtexparalelasà superfíciee coradascomatécnica deNissl.O quadromenormostrao padrãodadisposiçãodos barrisemcincofileiras;comparecomascincofileirasdevibrissasna fotografiadapartea. (AdaptadodeWoolseyeVanderLoos,1970.) (c) 1mm ... TATO 403 FIGURA 12.19 O homúnculo. Barris em81 ..~~,.,S~,~- !!i:e1".-iS:~~... 404 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO FIGURA 12.21 Mapas somatotópicos múltiplos. Registrosobtidosdeáreas3be I deummacaco-da-noite.(a) Os registros mostramquecadaáreapossuio seupróprio mapasomatotópico.(b) Examedetalhado daárea(jamãomostraqueosdoismapas sãocomoimagensespeculares.As regiões sombreadasrepresentama superfície dorsaldasmãose dospés:asregiõesnão- sombreadasrepresentamassuperfícies ventrais.(Fonte:Adaptadode KaasetaI., 1981.) Perna Planta dopé Coxa Tronco Braço Pulso Palma Queixo Vibrissa caudal Lábio inferior Lábio superior Dentes Área Área 1mm (a) (b) Dedos notópicos,o sistemasensorialsomáticopossuiváriosmapasdo corpo.A Figura 12.21mostraa somatotopiadetalhadadeSI emum macaco-da-noite(Aotus sp.). Comparecuidadosamenteosmapasdasáreas3b e 1;elesrepresentamas mesmaspartesdo corpo,literalmenteemparaleloao longo defaixasadjacentes do córtex.Os doismapassomatotópicosnão sãoidênticos,masum é a imagem especulardo outro, como fica clarono esquemaampliadodasduasregiõesda mão (Figura 12.21b). Plasticidade do Mapa Cortical. O que acontece ao mapa somatotópico no córtex quando for removida uma aferência,como, por exemplo,a deum dedo? A "área do dedo" no córtex ficaria simplesmentesem utilidade? Ela atrofiaria? Ou essetecido passariaa ser utilizado pelas aferênciasoriginadas de outros locais? As respostasa essasquestõespoderiam ter implicaçõesim- , portantesparaa recuperaçãodeuma função apóslesãonervosaperiférica.Na décadade 1980,o neurocientistaMichael Merzenich e seuscolaboradores,da Universidade da Califórnia em São Francisco,iniciaram uma sériede experi- mentosparatestaressashipóteses. OsprincipaisexperimentosestãoresumidosnaFigura12.22.Primeiro,asre- giõesdeSI quesãosensíveisàestimulaçãodamãoemummacaco-da-noiteadulto foram cuidadosamentemapeadascommicroeletrodos.Então, um dedoda mão (dígito3)foi cirurgicamenteremovido.Apósváriosmeses,o córtexfoinovamente mapeado.O queseregistrou?O córtexoriginalmentedestinadoao dígitoamputa- dopassouaresponderàestimulaçãodosdígitosadjacentes(Figura12.22c).Houve umaevidentereorganizaçãodacircuitariasubjacenteà somatotopiacortical. No experimentoda amputação,o motivo da reorganizaçãodo mapafoi a ausênciadeaferênciasdo dígitoque estavafaltando.O queacontecequandoa atividadeaferentede um dígito estáaumentada?Para responderessaquestão, os macacosforam treinadospara utilizar dígitosespecíficospara realizaruma tarefa,pela qual eles recebiamum alimento como recompensa.Após várias semanasde treino,os experimentosdemapeamentocommicroeletrodosmos- traram que a representaçãodos dígitosestimuladostinha sido expandidaem comparaçãoà dos dígitosadjacentes,não-estimulados(Figura 12.22d).Esses "";;:; T TATO 405 "'\' "R Ari.,;";:~::O~~~/ pnmano 30rial ~ (a) L~calizaçãodo mapa da maoesquerdano hemisfério direitodo córtexdo macaco Superfíciedorsal Dígito5 Dígito4 Dígito3 Dígito2 Dígito1 (Polegar) Superfíciedorsal (b) Mão normal,superfíciepalmar Detalhesdo mapa cortical 02 (e) Reorganizaçãodo mapa corticalapós remoção cirúrgicadoterceirodígito(D3) Após reorganização do córtex somatossensorial (d) Reorganizaçãodo mapa corticalapós treinode discriminaçãocomas pontas de doisdedos FIGURA 12.22 Plasticidade do mapa somatotópico. (a, b) Os dedosdamãode ummacaco-da- noite estãomapeadosnasuperfíciedocórtexemSI.(c) Seo dígito3forremovido,com opassardotempo,o córtexsereorganizademaneiraqueasrepresentaçõesdosdígitos 2e4 seexpandem.(d) Seosdígitos2e 3foremestimuladosdeformaseletiva,suas representaçõescorticaistambémseexpandem. experimentosrevelaramqueos mapascarticaissãodinâmicose que seuajuste dependeda quantidadede experiênciasensorial.Experimentossubseqüentes emoutrasáreasdo córtex(visual,auditiva,motara)têmmostradoqueessetipo deplasticidadedomapacorticalé comum. Os relatosacercadaplasticidadedo mapanos animaislevaramà buscade alteraçõessimilaresno encéfalohumano. Um exemplointeressantefoi obtido de estudoscom amputados.Uma experiênciacomum entre os amputadosé a percepçãode sensaçõesque se originariam do membro que estáfaltando, quando,na verdade,outraspartesdo corpo sãotocadas.V.S. Ramachandran, daUniversidadeda Califórnia em SanDiego, demonstrouque essassensações de "membrofantasma"são causadasusualmentepela estimulaçãode regiões dapele, cujasrepresentaçõessomatotópicasfazemlimite com as do membro faltante;por exemplo,a sensaçãopodesercausadaem um braçofantasmame- diantea estimulaçãoda face (Quadro 12.3).Métodos de captaçãode imagens 406 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO QuandoosMapas CerebraisColidem Apósterpassadoosprimeiros15anosdeminhacarreiraenvol- vidocomo estudodavisãohumana,volteiaatençãoàneurologia comportamental- minhaprimeirapaixão.Possopensaremao menosduasrazõesparaisso.Primeiro,naneurologiaaindaépos- sívelfazerpesquisacompoucatecnologia,partindodeprincípios básicos,tipo"SherlockHolmes",e chegararespostassurpreen- dentesparaquestõesimportantes.Segundo,comosereshuma- nos,nadanosé maisfascinantedoquenósmesmos,e aneuro- logiaéa disciplinaquenoslevadiretoaoâmagodaquestãode quemsomosnós.Aindalembrodoprimeiropacientequeatendi nafaculdadedemedicina;eletinhaparalisiapseudobulbareficava alternandoentregargalhadasexplosivase surtosdechoroem questãodeminutos.Tratava-semeramentede lágrimasdecro- codiloe derisadasforçadas?Ou o pacienterealmentesentia-se tristeealegre,alternadamente,comoacontececomumpaciente maníaco-depressivo,masemumaescaladetempomenor? Umdosprimeirosexperimentosquerealizeifoiemumpa- cientecomsensaçãodo braçoesquerdofantasmaapóssuaam- putação.Inspiradopelotrabalhonosmacacos,eusimplesmente toqueiasváriaspartesdeseucorpoefacecomumahastedeal- godão,Imagineaminhasurpresaquandoeutoqueisuabochecha esquerda,e eledissequesentiao toqueemsuamãofantasma! Testesadicionaisrevelaramummapacompletodamãonaparte inferiordaface.Porqueissoacontece?Eusabiaquehaviaum mapasistemático,topograficamenteorganizadodasuperfíciecor- poralinteiraesquerdanaárea3bdogiropós-centraldireito.O mapaécontínuo,excetopelofatosingulardequeafaceestáre- presentadamaispróximadaáreadamãodoquedopescoço,Isso medeuumadica.Comoaregiãodamãonocórtexestavaagora privadadeaferências(devidoàamputação),elaestava"faminta" pornovasaferências,assim,asaferênciassensoriaisqueeramdes- tinadasexclusivamenteparaaregiãoadjacenteàdamãopassa- ram,então,a"invadir"o territóriovago,Assim,umtoquenaface erainterpretadoerroneamentepeloscentrossuperiorescomo tendoseoriginadodamão,Obtivemos,então,imagensfuncionais docérebrodessemesmopacientee descobrimosqueo estímu- lotátildafaceativava,defato,aáreadamãonocórtex;essafoia primeirademonstraçãodeumareorganizaçãoemgrandeescala demapassensoriaisnocórtexdehumanosadultos. Muitospacientesquesentemmembrosfantasmasquei- xam-sequeo membrofantasmaestá"paralisado"ou conge- ladoem umaposiçãodesagradávele dolorosa.Euescorava verticalmenteumespelhonamesa,defrenteparao paciente e o faziaolharparao reflexodamãonormalno espelho,de modoqueo levavaà ilusãodequeo membrofantasmatinha sidoressuscitadovisualmente.Curiosamente,seelemovesse a mãonormal,a mãofantasmanãoapenaspareceriaestarse movendocomoeletambémsentiriacomosea estivessemo- vendo- pelaprimeiravezemanos.Mesmoempacientescom umbraçointacto,masparalisadoporumacidentevascularce- rebral(AVC),o espelhogerailusõesvívidasdemovimento. porVilayanurS.Ramachandran Essasduasdescobertas- o "mapa"sobreafaceeamobi- lidadedosmembrosfantasmascomo usodeespelhos- reali- zadasnoiníciodadécadade 1990levaramaoreconhecimento dequeexistiaumaextraordináriaquantidadede plasticidade latentenocérebroadulto,A utilizaçãoclínicadessefenômeno necessitadeumaavaliaçãocuidadosa,masosprincípiosgerais queestabelecemos- quea aferênciade umsistemasenso- rialintactopodeserutilizadaparaacessare recrutarcircuitos neuraisdormentesemoutrasregiõescorticais- semantême possibilitamumaabordagemcompletamentenovananeurolo- giaparaa reabilitação. Posteriormente,eumedediqueià sinestesia,umacondi- çãocuriosanaqualumapessoaconsideradanormalenxerga osnúmerosindividualmentecomotendosempreumacores- pecífica;porexemplo,o 5 évermelho,e o 2 é azul.A condição é hereditáriaeésetevezesmaiscomumentreartistas,poetase romancistas.Pormaisde 100anos,a sinestesiahaviasidorejei- tadacomosendoumatapeaçãooubaseadaemconfabulação. Trabalhamoscompsicofísicadeformasistemáticaparamos- trarqueasinestesiaé umefeitosensorialgenuíno- aspessoas realmentevêemascores.Sugerimos,então,queelaresulta,de maneirasimilaraospacientescommembrosfantasmas,daati- vaçãocruzadaanormalentreosneurôniosquecodificamacor e osneurôniosdaáreaqueprocessanúmeros,ambososquais estãosituadosnogirooccipitotemporallateral.Experimentos subseqüentescomressonânciamagnéticafuncionalconfirma- ramnossasuspeita.Quandocomeçamosaspesquisasacerca dasinestesia,em 1997,issoeraconsideradoumpoucomaisdo quecuriosidade,mas,atualmente,existemmuitosgruposreali- zandotrabalhosestimulantes. Sugerimos,também,queseo "gene(ougenes)dasineste- sia"fosseexpressodeformadifusaemtodososlocaisdocórtex, issopoderiaresultaremumamaiorativaçãocruzadaportodo o córtexcerebral.Devidoaofatodeasconcepçõesemnível superiorpoderemestarrepresentadas,também,emmapascere- brais,o resultadofinalseráumamaiorpropensãoparaassociar conceitosaparentementenão-relacionados,o quechamamosde metáforas.Issoexplicaamaiorincidênciadesinestesiaemartis- tase poetas.Essaseriaprovavelmentearazãopelaqualgenes,a princípiosemutilidade,tenhamsobrevivido;éo programaoculto paraprocessarinformaçãodeformaquepermitacriatividadee pensamentoabstrato.Nessecaso,pode-secomeçarcomaabor- dagemgenéticae seguirpelaneuroanatomiaatéapsicofísicasis- temática,atéacriatividadeeopensamentoabstrato- tudoisso como estudod~ssa"curiosidade",asinestesia. Essatemsidoa minhaestratégiade investigaçãoemter- mosgerais:revivero interesseemsíndromesneurológicasan- tigas,trazendo-asdo contextoclínicoparao laboratório.Fre- qüentementeissoé comoumacaçadamaluca,masdevezem quandovocêsedeparacomalgorealmenteexcitante,e issoé o quecompensatodaajornada. funcionaisdo cérebrorevelamqueasregiõescorticaisoriginalmentedestinadas aosmembrosfaltantesficam ativadascom a estimulaçãoda face. Apesar do significadoadaptativodessaplasticidade,no sentidode que o córtexnão fique ocioso,a correlaçãoequivocadaentrea estimulaçãoe a percepçãonosamputa- dosindicaque issopossalevarà confusãona interpretaçãodossinaisem S1. Apesardo fato dequepossuircórtexa maisparao processamentosensorial deumapartedo corpopodenão sernecessariamentebenéficoaosamputados, aparentementeo é paraos músicos.Os violinistase outrosmúsicosque tocam instrumentosde cordadevemdedilharcontinuamenteascordascom suamão esquerda;os dedosda outra mão, a que segurao arco,recebemconsideravel- mentemenos estimulaçãoindividual. A imagemfuncional de S1 mostraque a quantidadede córtex dedicadaaos dedosda mão esquerdaé bem maior em músicoscomoosviolinistas.É provávelque essasejauma versãoexageradade umprocessoderemapeamentocontínuo, que ocorreno córtexdecadapessoa, deacordocomasexperiênciasvividas. Os mecanismossubjacentesa essestipos de plasticidadedo mapanão são compreendidos.Entretanto,comoveremosno Capítulo 25, elespodemenvol- verprocessosrelacionadosao aprendizadoe àmemória. o Córtex Parietal Posterior. Como vimos, a segregaçãodos diferentestipos deinformaçãoé umaregrageralparaossistemassensoriais,e o sistemasensorial somáticonão é exceção.Entretanto,a informaçãodosdiferentestipossensoriais nãopodepermanecersegregadaparasempre.Quandoapalpamosumachaveem nossobolso,comumentenão a sentimoscomoumalistadecaracterísticas:deter- minadostamanhoe forma,bordasestruturadase polidas,superfícieplana lisa, duraeum certopeso.Em vezdisso,sempensarmuitonosdetalhes,simplesmen- teconfirmamoscomnossosdedostratar-sedeuma "chave",e nãouma "moeda" ouuma"caixinhadegomademascarvelha".As característicasseparadasdeum estímulosãointegradas,semesforçoalgum,para a percepçãodo objetoem si. Conhecemosmuito pouco acercada maneiracomo issoocorrebiologicamente emumsistemasensorial,muitomenosquandoenvolvemaisdeum sistemasen- sorial.Afinal, muitos objetospossuemaparência,som,toqueeodor distintos,e afusãodessassensaçõesé necessáriaparaa imagemmentalcompletadealguma coisa,comoo seugatodeestimação,por exemplo. O que sabemosé que as característicasdos camposreceptivosneuronais tendema mudar à medida que a informação passapelo córtex, e os campos receptivosficammaiores.Por exemplo,osneurôniossubcorticaise osdasáreas 3ae 3bnão sãosensíveisà direçãodo deslocamentodo estímulona pele,mas ascélulasdasáreas1 e 2 são.Os estímulosprocessadospreferencialmentepe- losneurôniosvão setornando cadavez maiscomplexos.Certasáreascorticais parecemseros locaisonde fluxos de informaçãosensorialsegregadae simples convergemparagerarrepresentaçõesneuraisespecialmentecomplexas.Quan- dodicutimoso sistemavisual, vimos issoocorrer nos camposreceptivoscom- plexosda área IT. O córtex parietal posterior também é uma área para essa finalidade.Seusneurôniospossuemcamposreceptivosgrandes,comestímulos preferenciaismuito difíceisde seremcaracterizadospor seremmuito elabora- dos.Além disso,essaáreaestárelacionadanão apenascoma sensaçãosomática, mastambémcomestímulosvisuaise como planejamentodo movimento. Lesõesdo córtexparietalposteriorpodemcausaralgunsdistúrbiosneurológi- cosbizarros.Pode-secitar,entreesses,a agnosia, a incapacidadeem reconhecer objetos,apesardeascapacidadessensoriaissimplespareceremnormais.As pessoas comestereognosianãoconseguemreconhecerobjetoscomunspelotato(comono exemploda chave),apesarde a sensaçãotátil sernormal soboutrosaspectose poderem,inclusive,nãoterproblemasparareconhecero objetopela.visãooupelo som.Osdéficitssãofreqüentementelimitadosao ladocontralateralà lesão. As lesõesno córtexparietaltambémpodemcausaruma síndrome de ne- gligência, na qualuma partedo corpoou uma partedo mundo (todoo campo visualà esquerdado ponto de fixação,por exemplo)é ignoradaou suprimida, e suaprópria existênciaé negada(Figura 12.23).O neurologistaOliver Sacks descreveuum dessespacientesem "O Homem que Caiu da Cama".Após sofrer Modelo Á --:r- J T TATO 407 Cópia do paciente /'/ >ri' \-I-d \~ )~ d~ FIGURA 12.23 Um exemplo de síndrome de negligência. Foisolicitadoa umpaciente queteveumderramenocórtexparietal posteriorquecopiasseosdesenhosdos modelos(acima,àdireita),maselefoi incapaz de reproduzirmuitasdascaracterísticasdo ladoesquerdodosmodelos.(Fonte:Springer e Deutsch,1989,p. 193.) 408 CAPíTULO 12 - !!! ~ . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO um AVC que presumivelmentedanificou seucórtex,o homempassoua insis- tir que alguémestavafazendouma brincadeiramacabracom ele,escondendo uma pernaamputadasobseucobertor.Quandoeletentavaremoverapernade suacama,elee a pernaacabavamno chão.Naturalmente,a pernaem questão era sua própria, plenamente ligada ao corpo, no entanto ele era incapazde reconhecê-Iacomoumapartedeseucorpo.Um pacienteheminegligentepode ignorar o alimento de uma metadede seu prato, ou tentar vestir apenasum lado deseucorpo.Síndromesdenegligência(ou heminegligência)sãomaisco- muns apóslesãodo hemisfériodireitoe, felizmente,elasnormalmentealiviam ou desaparecemcomtempo. Em termosgerais,o córtex parietal posterior pareceser essencialparaa percepçãoe interpretaçãodas relaçõesespaciais,a noção exatado corpoe o aprendizadodastarefasqueenvolvema coordenaçãodo corpono espaço.Essas funções envolvemuma complexaintegraçãoda informaçãosomatossensorial coma deoutrossistemassensoriais,especialmentecomo sistemavisual. T DOR Além dos mecanorreceptores,a sensaçãosomáticadependede maneiramui- to importantedosnociceptores, as terminaçõesnervosaslivres, ramificadas, não-mielinizadas que sinalizam quando o tecido corporal estásendo lesado ou em risco de sofrer uma lesão. (O termo origina-sedo latim, nocere,"ferir", "nocivo".) A informação dos nociceptoressegueuma via para o cérebroque é muito distintada via pela qual seguea informação dosmecanorreceptores; conseqüentemente,a experiênciasubjetivacausadapela ativaçãodessasduas vias é diferente.A ativaçãoseletivadosnociceptorespode levarà experiência conscientededor.A nocicepçãoe a dor sãoessenciaisà vida (Quadro 12.4). Entretanto,é importanteserenfatizadoquea nocicepçãoe a dor não sãoa mesmacoisa.Dor é a sensaçãoou a percepçãode sensaçõestão diversascomo irritação, inflamação,fisgada, ardência,latejo,ou sensaçõesinsuportáveisque surgemdeuma partedo corpo.Nocicepçãoé o processosensorialque forneceos sinais que desencadeiama experiênciada dor. Enquanto os nociceptorespo- dem disparardeforma violentae contínua,a dor pode aparecere desaparecer. E o opostotambémpode acontecer.A dor pode seragonizante,mesmosema atividadedos nociceptores.Mais do que qualquer outro sistemasensorial,as qualidadescognitivasdanocicepçãopodemsercontroladasinternamente,pelo próprio encéfalo. Os Nociceptorese aTransduçãodos EstímulosDolorosos Os nociceptoressãoativadospor estímulosquetemo potencialdecausarlesão nos tecidos.Danos aos tecidospodem resultar de estimulaçãomecânicafor- te, temperaturasextremas,privaçãode oxigênio e exposiçãoa certosagentes químicos, entre outrascausas.As membranasdosnociceptorescontêmcanais iônicosquesãoativadospor essestiposde estímulos. Considere,por exemplo,oseventosquesesucedemquandovocêpisasobre uma tachinha(lembredo Capítulo3). O simplesestiramentoou dobramentoda membranado nociceptorativa os canaisiônicos mecanossensíveis,que levam à despolarizaçãoda célula e ao disparode potenciaisde ação.Além disso,as célulasdanificadasno localda lesãopodemliberaruma sériedesubstânciasque provocamaaberturadoscanaisiônicosnasmembranasdosnociceptores.Como exemplosde substânciasliberadasestãoasproteases(enzimasque degradam proteínas),ATP e íons K+.As proteasespodemclivarum peptídeoextracelular abundante,chamadocininogênio,formando o peptídeobradicinina.A bradici- nina liga-sea uma moléculareceptoraespecífica,que aumentaa condutância iônica dealgunsnociceptores.De maneirasimilar,o ATP causaa despolarização dosnociceptorespor meio da ligaçãodiretaa canaisiônicos que dependemdo ATP para suaativação.E, comoaprendemosno Capítulo 3, o aumentoda [K+] extracelulardespolarizadiretamenteasmembranasneuronais. T DOR 409 Quadro 12.4 ~ D E ES P EC I A L I N T E R ESSE.. A Miséria de uma Vida Sem Dor A dor nosensinaa evitarsituaçõesprejudiciais.Elaprovocares- postasreflexasde retiradado corpo dos estímulosnocivos.Ela nos induza manterem repousoumaparte lesionadade nosso corpo.A dor é vital.Os argumentosmaisconvincentesparaos benefíciosfuncionaisda dor são os casosmuito raros de pes- soasquenasceramsema capacidadede sentirdor Elaspassam a vida inteiraem constanteperigo de autodestruição,pois não conseguemse darcontadasconseqüênciasprejudiciaisde seus atos.Essaspessoasfreqüentementemorrem precocemente. Uma canadensenascidacom insensibilidadea estímulos dolorosos não possuíaqualquer outro déficit sensoriale era inteligente.Apesar de umtreinamentodesde cedo paraevitar situaçõesdanosas,ela desenvolveudegeneraçãoprogressiva de suasarticulaçõese da coluna vertebral, levandoà defor- maçãode seuesqueleto,degeneração,infecçãoe, finalmente, àmorte aos 28 anos. Aparentemente, baixos níveis de atividadenociceptiva são importantesdurantesastarefascotidianasparanos avisar quando um determinado movimento ou uma postura pro- longadaestiverforçando muito nosso corpo. Mesmo durante o sono,a nocicepçãopode ser o estimulodeterminantepara que mudemosde posiçãonacamafreqüentemente,parapre- vinirescarasou excessode tensãosobre o esqueleto. Pessoascom ausênciade dor congênitanos revelamque a dor é uma sensaçãoparticulare não simplesmenteum ex- cesso de outras sensações.Taispessoaspossuemusualmente uma capacidadenormal para perceber os demaisestímulos sensoriaissomáticos.Entreas possíveiscausasestáumafalha no desenvolvimentoperiférico dos nociceptores,ou, ainda, transmissãosinápticaalteradanasviasmediadorasda sensa- ção de dor no SNC. Sejacomo for;a vidasemdor nõoé uma bênção. Considere,agora,umasituaçãoemquealguémse encostaa um fogão quente.O caloracimade43°Cqueimaostecidos,eoscanaisiônicossensíveis aocalordasmembranasdosnociceptoresabremnessatemperatura.Obviamen- te,tambémsentimoso calornão-doloroso,quandoapeleéaquecidaentre37 e43°C.Essassensaçõesdependemdostermorreceptoresnão-nociceptivosede suasconexõesno SNC.queserãodiscutidasemumaseçãoposterior.Entretan- to,porora,saibaqueassensaçõesdeaquecimentoedequeimaçãosãomedia- daspormecanismosneuraisdistintos. Imaginequevocêsejaumcorredordemeia-idadepercorrendooúltimoqui- lômetrodeumamaratona.Quandoo níveldeoxigêniotecidualfor inferiorà demandadeoxigênio,suascélulasutilizarãoometabolismoanaeróbicoparagerar ATP.Umaconseqüênciadometabolismoanaeróbicoéa liberaçãodeácidolático. OacúmulodeácidoláticolevaaumexcessodeíonsH+nofluidoextracelular. EssesíonsativamcanaisiônicosdependentesdeH+nosnociceptores.Essemeca- nismoéresponsávelpeladorcrucianteassociadaao exercíciomuito intenso. Uma abelhao ferroa. Sua pele e seu tecido conjuntivo contêm mastócitos, umcomponentedo sistemaimunitário. Os mastócitospodemserativadospela exposiçãoa substânciasexógenas(comoo venenodaabelha).queprovocama liberaçãodehistaminapelosmastócitos.A histaminapodeseligar a receptores desuperfícieespecíficosno nociceptor,que causama despolarizaçãoda mem- brana.A histaminatambémaumenta a permeabilidadedos capilaressangüí- neos,o que levaao edemae à vermelhidãono local da lesão.Pomadasconten- dofármacosque bloqueiam os receptoreshistaminérgicos(anti-histamínicos) podemauxiliar tantono alívio dador quanto no do edema. TiposdeNociceptores.A transduçãodosestímulosdolorososocorrenaster- minaçõesnervosaslivresdasfibrasnão-mielinizadasC enaspobrementemieli- nizadasAõ.A maioriadosnociceptoresrespondeaosestímulosmecânicos,tér- micosequímicosesãochamados,portanto,denociceptorespolimodais.Contudo, assimcomoosmecanorreceptores,muitosnociceptoresmostramseletividade emsuasrespostasaosdiferentesestímulos.Assimsendo,existem,também,noci- ceptoresmecânicos,querespondemseletivamentea pressõesintensas;nociceptores térmiços,que mostram respostasseletivasao calor ou frio extremos (Quadro 12.5),e nociceptoresquímicos, responsivosseletivamenteà histaminae a outros agentesquímicos. Pesquisadores descobriram recentemente que as menores das 410 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO ---- QuenteeApimentado Sevocêgostadecomidaapimentada,vocêprovavelmentesabe queo ingredienteativode umaamplavariedadedepimentas quenteséacapsaicina(FiguraA),Essaspimentassão"quentes" porquea capsaicinaativanociceptorestérmicos,quetambém sinalizamelevaçõestérmicasquecausamdor(acimade43°C), Naverdade,foio fatopeculiardeessesneurôniosnociceptivos seremseletivamenteativadospelacapsaicinaquelevouàdes- cobertadomecanismodetransduçãoparaasensaçãodecalor. DavidJulius,daUniversidadedaCalifórniaemSãoFrancisco, observouque,emalgumascélulasdosgângliosdaraizdorsal,a capsaicinaativaumcanaliônicoespecífico,denominadoTrpvI, o qualtambémé ativadoporaumentodatemperaturaacima de43°C.Essecanaliônicopermitea entradade Ca+2e Na+, o queocasionadisparosdo neurônio,O TrpvI é ummembro deumagrandefamniadecanaisTrp relacionados,identificados originalmentenosfotorreceptoresdamosca-das-frutasDroso- philo(Trprepresentatronsientreceptorpotentiol,potencialde receptortransitório).Vemsendodemonstradoquediferentes canaisTrpcontribuemparamuitostiposdistintosdetransdu- çãosensorialdesdeorganismosunicelularesatéhumanos. Porqueumcanaliônicodependentedetemperaturatam- bémseriasensívelàspimentasquentes?A capsaicinaparece imitaro efeitodesubstânciasendógenasliberadasportecidos lesados.Essassubstâncias(eacapsaicina)provocamaabertura do canalTrpvI emtemperaturasmaisbaixas,o queexplicaa sensibilidadeaumentadadeáreaslesadasdapeleaaumentos detemperatura.De fato,a hiperalgesiatérmicainduzidapela inflamaçãoestáausenteem umalinhagemde camundongos geneticamentemodificados,naqualfaltao canalTrpvI,Enquan- to todososmamíferosexpressamnormalmenteo canalTrpvI, asavesnãoo expressam,o queexplica,portanto,o motivode asavespoderemconsumiramaisfortedaspimentas.Essefato tambémexplicaporqueassementesparaaves,acrescidasde capsaicina,podemserconsumidasporelasseminterferência do ataquedeesquilos. Alémdaproteçãodaraçãoparaavese do amplousona culinária,acapsaicinatemumaaplicaçãoclínicaaparentemente paradoxal.Quandoaplicadaemgrandesquantidades,elacausa analgesia,ausênciadedor.Acapsaicinadessensibilizaasfibras nociceptivase depletao neuropeptídeosubstânciaP deseus terminaisaxonais.Atualmente,aterapiacomcapsaicinaé utili- zadacomoumdostratamentosparaadorassociadaàartrite, mastectomiae herpeszoster(verQuadro12.1). 6 Pimentavermelha Pimenta Habanero Pimenta Jalapeno O CH3° XY'N~I # H IHO FIGURAA Aspimentasquecontêmcapsaicinaeaestruturaquímicadessa molécula. fibras C (velocidadede condução::;0,5 m/s) são seletivamenteresponsivasà histaminae causama percepçãodo prurido. Os nociceptoresestãopresentesna maioriados tecidosdo corpo,incluindo apele,osossos,osmúsculos,amaioriadosórgãosinternos,osvasossangüíneos e o coração.Eles estãonotadamenteausentesno sistemanervoso em si, mas estãopresentesnasmeninges. Hiperalgesia. Os nociceptoresnormalmente respondemapenasquandoos estímulossãosuficientementeintensosparalesionaros tecidos.No entanto,to- dosnós sabemosquepele,articulaçõesou músculosquejá estãolesionadosou inflamadosestãomaissensíveisdo queo normal. Um toquelevee condoídode umamãesobreuma áreaqueimàdadapeledeseufilho podedesencadeargritos de dor cruciante.Essefenômenoé conhecidocomohiperalgesia e é o exem- plo maisfamiliarda capacidadecorporaldeautocontroledador.A hiperalgesia pode ser um limiar reduzidoà dor, uma intensidadeaumentadadosestímulos dolorososou, atémesmo,dor espontânea.A hiperalgesiaprimáriaocorrenaárea ... DOR 411 II(J r nocivo / I I Substância P ;. ~ ~ Medula espinhal FIGURA 12.24 Mediadores químicos periféricos responsáveis pela sensação de dor e pela hiperalgesia. dotecidolesado,masostecidosqueenvolvema regiãoda lesãotambémpodem setornar supersensíveis,peloprocessodehiperalgesiasecundária. Muitos mecanismosdistintospodem estarenvolvidosna hiperalgesia,al- gunsperifericamenteno nociceptorou no tecidoa seuredor e outrosno SNC. Como foi comentadoanteriormente,várias substânciassãoliberadasno mo- mentoem que a pele é lesada.Váriasdessassubstânciasquímicasmodulam a excitabilidadedos nociceptores,tornando-osmais sensíveisaos estímulostér- micosou mecânicos(ver Quadro 12.5).Exemplosde substânciassensibilizado- rassãoa bradicinina,asprostaglandinase a substânciaP (Figura 12.24). A bradicininafoi apresentadaanteriormentecomoumadassubstânciasque despolarizamdiretamenteosnociceptores.Além desseefeito,a bradicininaes- timulamudançasintracelularesdelongaduração,quetornammaissensíveisos canaisiônicosativadospor calor.As prostaglandinassãosubstânciasproduzidas pelaclivagemenzimáticadoslipídeosda membranacelular.Apesarde aspros- taglandinasnão causaremdor em si, elasaumentammuito a sensibilidadedos nociceptoresa outros estímulos.A aspirina e outras drogasantiinflamatórias não-esteroidessãoum tratamentoutilizado para tratara hiperalgesia,porque inibemasenzimasnecessáriasà síntesedeprostaglandinas. A substânciaP é um peptídeosintetizadopelosprópriosnociceptores.A ati- vaçãodeum ramo do neuritoperiféricodo nociceptorpodelevarà secreçãode substânciaP por outrasramificaçõesdessemesmonociceptornasárea"svizinhas dapele.A substânciaP causavasodilatação(aumentodo diâmetrodoscapilares sangüíneos)e a liberaçãodehistaminadosmastócitos.A sensibilizaçãode ou- trosnqciceptores,nasvizinhançasda lesão,por açãodasubstânciaP é uma das causasdahiperalgesiasecundária. 412 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO r o "C '" "C Q) "C'" "C '00 C Q) E t Estímulo nocivo Tempo- FIGURA 12.25 Dor primária e secundária. A sensação dedorprimáriaqueresultadaestimulação nocivaé mediadapelasfibrasAÓ,maisrápidas, A sensaçãodedorsecundária,de longa duração,é mediadapelasfibrasC, lentas, Mecanismosdo SNC tambémcontribuemà hiperalgesiasecundária.Após a lesão,a ativaçãodosaxôniosmecanorreceptivosAj3por um toquelevepode resultarem dor.Portanto,outro mecanismodehiperalgesiaenvolveumalinha cruzadaentrea via do tatoe a via dador na medulaespinhal. AferentesPrimários e MecanismosEspinhais As fibrasAo e C levaminformaçãoao SNC a velocidadesdiferentes,emfunção dasdiferençasem suasvelocidadesdeconduçãodospotenciaisdeação.Conse- qüentemente,a ativaçãodosnociceptoresdapeleproduz duaspercepçõesdis- tintasde dor, uma dorprimária,rápidae aguda,seguidade uma dorsecundária, lenta e contínua. A dor primária é causadapela ativaçãodas fibrasAo; a dor secundáriaé causadapelaativaçãodasfibrasC (Figura 12.25). Assim como as fibras mecanossensoriaisAj3, as fibras depequenocalibre possuemseuscorposcelularesnos gângliosdaraiz dorsalsegmentare entram no corno dorsal da medula espinhal. As fibras logo seramificam,percorrem uma curta distâncianos sentidosrostral e caudalna medula, em uma região chamadatractodeLissauer,fazendo,depois,sinapseem célulasdaparteexter- na do corno dorsal, em uma regiãoconhecida como substância gelatinosa (Figura 12.26). Acredita-seque o neurotransmissordosaferentesnociceptivossejao glu- tamato;entretanto,comofoi mencionadoanteriormente,essesneurôniostam- bémpossuemo peptídeosubstânciaP (Figura 12.27).A substânciaP localiza-se em grânulosde secreçãonas terminaçõesaxonais (ver Capítulo 5) e podeser liberadapor salvasdepotenciaisde açãode alta freqüência.Experimentosre- centesdemonstraramque a transmissãosinápticamediadapela substânciaP é necessáriaparaa sensaçãodedor moderadaeintensa. É interessanteobservarque osaxôniosdenociceptoresvisceraisentramna medula espinhalpelo mesmotrajetoque os denociceptorescutâneos.Na me- dula espinhal,ocorreuma misturasubstancialdainformaçãodessasduasfontes de aferências.Essalinha cruzadaorigina o fenômenodor referida, no quala ativaçãodo nociceptorvisceralé percebidacomo uma sensaçãocutânea.Um exemploclássicode dor referidaé a angina,que ocorrequando o coraçãonão recebeoxigênio em quantidadesuficiente.A dor é localizadafreqüentemen- te pelo pacientena paredesuperior do tórax e no braço esquerdo.Um outro exemplocomumé a dor associadaà apendicite,que é referida,em seuestágio inicial, na paredeabdominalao redordo umbigo (Figura 12.28). FIGURA 12.26 Conexões espinhais dos axônios nociceptivos. ViasAscendentesdaDor Vamosressaltar,brevemente,algumasdiferençasqueencontramosentreasvias dotato e da dor. Primeiro, essasvias diferem em relaçãoas suasterminações nervosasna pele.A via do tatocaracteriza-sepor possuirestruturasespecializa- dasna pele;a via da dor possui apenasterminaçõesnervosaslivres. Segundo, elasdiferem em relaçãoao diâmetro de seusaxônios.A via do tato é rápida, porconstituir-sede fibrasAI3 mielinizadas;a via da dor é lenta e utiliza fibras depequenocalibreAo, pobrementemielinizadas,e fibras C não-mielinizadas. Terceiro,asviasdiferemem relaçãoassuasconexõesna medulaespinal.Osra- mosdosaxôniosAI3terminamno corno dorsalprofundo;asfibrasAI3e C rami- ficam-se,seguempelo tractode Lissauere terminamna substânciagelatinosa. Veremos,ainda,que asduasviastambémdiferemsubstancialmentequantoao trajetoutilizadoparatransmissãoda informaçãoao encéfalo. A Via da Dor Espinotalâmica. A informação sobrea dor (comotambéma temperatura)corporal é conduzida da medula espinhal ao encéfalopela via espinotalâmica. Diferenteda via coluna dorsal-lemniscomedial,os axônios dosneurônios de segunda ordem decussamimediatamentee ascendematra- vésdo tractoespinotalâmicoao longo da superfícieventral da medula espinhal (compareasFiguras 12.13e 12.26).De acordocom o nome, as fibrasespino- talâmicasascendempelamedula espinhal,passampelobulbo,ponte emesen- céfalosemfazer sinapse,até alcançaremo tálamo (Figura 12.29). À medida queosaxônios espinotalâmicospercorremo tronco encefálico,posicionam-se aolongo do lemnisco medial, mas permanecemcomo um grupo axonal dis- tintodavia mecanossensorial. Pele Gânglioda raizdorsal Víscera Gânglio simpático do SNV Axônio aferente primário FIGURA 12.28 A convergênciadaaferênciade nociceptoresvisceraise dapele. T DOR 413 FIGURA 12.27 Localizaçãoimunocitoquímicada substânciaP namedulaespinhal. A setaapontaparaaregiãodemaior quantidadedesubstânciaPnasubstância gelatinosa.(Fonte:Mantyhetai.,1997.) 414 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO @ Axôniosde pequenocalibre daraizdorsa Córtex somatossensorial primário(81) Bulbo Tracto espinotalâmico Medula espinhal FIGURA12.29 A viaespinotalâmica.Essaéaprincipal rotapelaqualasinformaçõesdadoreda temperaturaascendemaocórtexcerebral. A Figura 12.30resumeasdiferentesviasascendentesparaa informaçãodo tatoe da dor.Observequeasinformaçõesacercado tatoascendeipsilateralmen- te,enquantoasinformaçõesda dor (e da temperatura)ascendemcontralateral- mente.Essaorganizaçãopode levara um curioso,ainda que previsível,tipo de déficit em situaçõesde danosao sistemanervoso.Por exemplo,seum ladoda medula espinhalsofrer lesão,certosdéficitsde mecanossensibilidadeocorrem no mesmolado da lesãoespinhal:insensibilidadeao tato leve, àsvibraçõesde um diapasãosobrea pele e à posiçãode um membro.Por outro lado, déficits desensibilidadeàdoreàtemperaturaocorrerãonoladodocorpoopostoaoda lesãoespinhal. Outros sintomas,como a deficiênciamotora e o mapeamento exatodosdéficitssensoriais,forneceminformaçõesadicionaisacercado localda lesãomedular.Por exemplo,osmovimentosficarãodificultadosno lado ipsila- teral. O conjunto de sintomassensoriaise motoresque seseguema uma lesão em um lado damedulaespinhalé chamadodesíndromedeBrown-Séquard. .., DOR 415 Via espinotalâmica Via coluna dorsal - lemnisco medial Córtex cerebral Bulbo Medula espinhal Tracto espinotalâmico lateral Axônioda' raizdorsal (AO,C) Linha média Tato, vibração, discriminação de dois pontos, propriocepção Dor, temperatura, algum tato FIGURA 12.30 Um resumo das duas principais vias ascendentes sensoriais somáticas. A Via da Dor Trigeminal. A informaçãodador (edatemperatura)dafaceedo terçoanteriordacabeçasegueumavia aotálamo,análogaàviaespinhal.As fibras depequenodiâmetrodo nervotrigêmiofazema primeirasinapsecomosneurô- niossensoriaissecundáriosno núcleoespinhaldotrigêmiono troncoencefálico.Os axôniosdessascélulasdecussame ascendemaotálamopelo lemniscotrigeminal. Além dasviasespinotalâmicae trigeminotalâmica,outrasviasrelacionadas dador (edatemperatura)enviamaxôniosparaumavariedadedeestruturas,em todososníveisdo troncoencefálico,antesqueelesalcancemo tálamo.Algumas dessasviassãoespecialmenteimportantesparafornecersensaçõesdedorlenta, dequeimaçãoe agonizante,enquantooutrasestãoenvolvidasno alerta. o Tálamoeo Córtex. O tractoespinotalâmicoe osaxôniosdo lemniscotrige- minalfazemsinapseem uma regiãomaisextensado tálamodo que osaxônios dolemniscomedial.Algunsdosaxôniosterminamno núcleoVP comoo fazem osdolemniscomedia!,emboraossistemasparaadoreparao tato aindaper- maneçamsegregados,ocupandoregiõesdistintasdessenúcleo.Outrosaxônios espinotalâmicosterminamnospequenosnúcleosintralaminaresdo tálamo (Figu- ra 12.31). A partir do tálamo, as informações de dor e temperatura projetam-se paraváriasáreasdo córtex cerebral.Assim como fazemno tálamo, essas vias cobremumterritóriomuitomaisextensodoqueasconexõescorticaisdavia colunadorsal-lemniscomedial. A RegulaçãodaDor o fatodequeapercepçãodadorévariávelestábemestabelecido.Dependendo daatividadesimultâneadeaferênciassensoriaisnão-dolorosase do contexto comportamenta!,o mesmonível deatividadedo nociceptorpodeproduzirmais oumenosdor.É muito importantecompreenderessacapacidadedemodulação Lemnisco medial Núcleos dacoluna II idorsal ,, Coluna -r-l!dorsal ,,,,, Axônioda-- I\>,iraizdorsal (Aa, A, AO) Linha média 416 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO FIGURA 12.31 Núcleos sensoriais somáticos no tálamo. Alémdo núcleoventral posterior(VP),osnúcleosintralaminares fazema retransmissãodainformação nociceptivaa umagrandeextensãodo córt«xcerebral. -I " :r., I ".," IJ !<, ", I"~,".''.~, r,' Anterior Núcleosintralaminares Posterior da dor, pois pode oferecernovas estratégiaspara o tratamentoda dor crônica, urna condiçãoqueafligeaté20% dapopulaçãoadulta. Regulação Aferente. Vimos que um toque levepode causardor pelomeca- nismodahiperalgesia.Entretanto,a dorcausadapelaatividadedosnociceptores tambémpodeserdiminuídapelaatividadesimultâneaemmecanorreceptoresde baixo limiar (fibrasAI)). Presumivelmente,isso explicaa sensaçãoagradável que sesentequando semassageiaa caneladepoisde contundi-Ia. Essemeca- nismo tambémpode explicar o efeito de um tratamentoelétricopara alguns tipos de dor crônica, intratável.Fios condutoressãofixos à superfíciedapele, e, quandoo pacientesimplesmenteligaum estimuladorelétricoplanejadopara ativaraxôniossensoriaisdegrandediâmetro,a dor é suprimida. Nos anos 1960,Ronald Melzack e Patrick Wall, do MIT (Instituto Temo- lógico de Massachusetts),propuseramurna hipótesepara explicaressesfenô- menos.A teoriadoportãodadorpropostapor elesestabeleceque determinados neurônios dos cornos dorsais,os quais projetam seusaxônios pelo tractoes- pinotalâmico. são excitadostanto por axônios sensoriaisde grandediâmetro cornopor axônios não-mielinizadosde nociceptores.O neurônio de projeção (secundário)tambémé inibidoporum interneurônio,eesseé tantoexcitado por axônios sensoriaiscalibrososcorno inibidopelo axônio nociceptivo (Figu- ra 12.32).Por meio dessecircuito, a atividadeapenasdo axônio nociceptivo resultariaem excitaçãomáxima do neurônio de projeção,permitindo queos sinaisnociceptivosalcancemo cérebro.Contudo, seosaxôniosdemecanorre- ceptoresdispararemconjuntamente,elesativarãoo interneurônio que supÜ- mirá os sinaisnociceptivos. Regulação Descendente. Há inúmerashistóriassobresoldados,atletaseví- timas de tortura que sofreramferimentos terríveis.mas aparentementenão sentiram dor. Emoções fortes, estresseou determinaçãoestóicapodem su- primir demaneira poderosaassensaçõesdolorosas.Váriasregiõesencefálicas estãoenvolvidasna supressãoda dor (Figura 12.33).Urna delasé urna região contendo neurônios no mesencéfalo,chamadade substância cinzenta pe- riaquedutal (PAG. periaqueductalgraymatter).Estimulação elétricada PAG pode causaranalgesiaprofunda quetem sido,algumasvezes,exploradaclini- camente. A PAG recebe,normalmente, aferênciasde váriasestruturasdo encéfalo, muitas dasquais responsáveispela transmissãode informaçõesrelacionadas ao contexto emocional. Os neurônios da PAG enviam axônios descendentes a várias regiõeslocalizadasna linha média do bulbo, especialmentepara os núcleosda rafe (cujos neurônios usam o neurotransmissorserotonina). Esses neurônios bulbaresprojetam os axônios, por sua vez, para os cornos dorsais da medula espinhal. onde podem deprimir de maneira eficientea atividade dosneurônios nociceptivos. FIGURA 12.32 Teoria do portão da dor. A retransmissão sinápticadasinformaçõesnociceptivaspelos neurôniosde projeçãoé controladapela atividadede uminterneurônioinibitório. AxônioAa ouA~ (mecanoceptores não-nociceptivos) Neurônio deprojeção Para o tracto espinotalâmico Os Opióides Endógenos. O ópio era conhecido, provavelmente,pelos an- tigossumérios,por volta de4.000 a.C. Seupictogramaparaa palavrapapou- la traduz-se, grossomodo, por "planta da alegria". No século XVII, o valor terapêuticodo ópio já eraincontestável.O ópio, osseusingredientesnarcóti- cosativose seusanálogos- incluindo a morfina, a codeína e a heroína - são hoje amplamente usados e abusados,na maioria das culturas. Os opióides =q-ÁPAGI'I ' l Mesencélalo , ~ "" ," .,,", \ @\ "'G) I I' 1 Bulbo ------- @ Núcleos da rale T DOR 417 FIGURA 12.33 Vias descendentes de controle dador. Váriasestruturas encefálicas, muitasdas quais são afetadaspelo estado comportamental, podem influenciar a atividadeda substânciacinzenta periaquedutal (PAG) do mesencéfalo.A PAG pode influenciaros núcleos da rafe do bulbo, que, por suavez,modulam o fluxo de informação nociceptiva nos cornos dorsais da medula espinhal. 418 CAPíTULO 12 . O SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO Dor eEfeitoPlacebo Paratestaraeficáciadeumanovadroga,testesclínicossãofre- qüentementeconduzidosde maneiraqueumgrupode par- ticipantesrecebea droga,enquantooutrogruporecebeuma substânciainerte.Ambososgruposdepessoasacreditamesta- remrecebendoadroga.Surpreendentemente,osparticipantes muitasvezesatribuemàsubstânciainerteosefeitosesperados deumadrogasobreaqualforaminformados.O termoplocebo é utilizadoparadescrevertaissubstâncias(Ia pessoado futu- ro indicativodo verboemlatimplocerequesignifica"agradar", "agradarei"),e o fenômenoé chamadodeefeitoplocebo. Os placebospodemser analgésicosaltamenteeficazes. Grandepartede pacientessofrendode dor pós-operatória relataramobteralíviode umainjeçãode soluçãofisiológica estéril!Issosignificaqueessespacientesestariamapenasima- ginandosuasdores?De formaalguma.O antagonistado re- ceptoropióide,naloxona,podebloquearo efeitoanalgésico do placebo,exatamentecomoantagonizaosefeitosdamor- fina,umanalgésicoreal.Aparentemente,a crençade queo tratamentofuncionarápodesersuficienteparacausarativação de sistemasendógenosencefálicosde alívioà dor.O efeito placeboé umaexplicaçãoprovávelparao sucessodeoutros tratamentosparaa dor,comoacupuntura,hipnosee,paraas crianças,umbeijocarinhosodamãe. produzem intensa analgesiaquando administradosde forma sistêmica.Eles tambémpodem produzir alteraçõesdehumor, sonolência, confusãomental, náusea, vômito e constipação.A décadade 1970 trouxe as impressionantes descobertasde que essescompostosatuamligando-sedeforma firme e espe- cífica a vários tipos de receptores opióides no sistemanervoso, e dequeo próprio sistemanervoso produz substânciasendógenassemelhantesà morfi- na, chamadascoletivamentede endorfinas. As endorfinas sãopeptídeos. As endorfinas e seusreceptoresestãoamplamentedistribuídosno SNC, mas estãoparticularmenteconcentradosem áreasque processamou modu- lam a informaçãonociceptiva.Pequenasquantidadesde morfina ou endorfi- nas injetadasna PAG, nos núcleosda rafeou no corno dorsalpodemproduzir analgesia.Pelo fato de esseefeito ser suprimido com a administraçãodeum bloqueadorespecíficodereceptoresopióides,naloxona,asdrogasinjetadasde- vem ter agidoligando-sea receptoresopióidesnessasáreas.A naloxona tam- bém pode bloquear os efeitosanalgésicosinduzidos pela estimulaçãoelétrica dessasáreas.No âmbito celular,asendorfinasexercemmúltiplos efeitos,que incluem supressãoda liberaçãode glutamatodasterminaçõespré-sinápticase inibição dos neurônios pela hiperpolarizaçãodasmembranaspós-sinápticas. Em geral,os extensossistemasdeneurônios quecontêmendorfinasna medu-, Ia espinhal e no tronco encefálicoreduzema passagemde sinaisnociceptivos no corno dorsale nosníveis encefálicossuperiores,onde é geradaapercepção da dor (Quadro 12.6). T TEMPERATURA Assim comopara o tatoe a dor, assensaçõestérmicasnão-dolorosasoriginam- sedereceptoresna pele (entreoutroslocais)e dependemdoprocessamentono neocórtexparaa apreciaçãoconsciente.Descreveremosbrevementecomoestá organizadoessesistema. Termorreceptores Como a velocidadede uma reaçãoquímica dependeda temperatura,o fun- cionamento de todasas célulasé sensívelà temperatura.Entretanto, os ter- morreceptores sãoneurônios especialmentesensíveisà temperatura,devido a mecanismosespecíficosde sua membrana.Por exemplo,podemosperceber mudançastão mínimas quanto 0,0I DCna temperaturamédiada pele. Grupos deneurôniossensíveisà temperaturano hipotálamoe na medulaespinhalsão importantespara as respostasfisiológicasque mantêma temperaturacorporal estável,mas são os termorreceptoresda pele que aparentementecontribuem paranossapercepçãodatemperatura. A sensibilidadeà temperaturanão estádistribuídauniformementeemtoda apele.Vocêpodefazerum testecomum pequenobastãoaquecidoou resfriado emapeara sensibilidadedapeleàsmudançasde temperatura.Pequenasáreas dasuperfície,decercade 1mm dediâmetro,podemsersensíveisao calorouao frio,masnão aambos.O fatodea localizaçãoparaa sensibilidadeao calorou ao frio serdiferentedemonstraquereceptoresdistintosfazema transduçãodessas sensações.Além disso,pequenasáreasdapelesituadasentreospontoscapazes depercebercalorou frio sãorelativamenteinsensíveisà temperatura. A sensibilidadede um neurônio sensoriala uma mudançade temperatu- radependedostipos de canaisiônicos que o neurônio expressa.A descoberta doscanaisiônicos que respondema um aumento na temperaturaacima de 43°C,que leva à sensaçãodolorosa (ver Quadro 12.5), levou os pesquisado- resa investigarseoutros canaisrelacionadospoderiamestarsintonizadospara perceberoutrasfaixasde temperatura.Assim como o ingredienteativo daspi- mentas"quentes"foi utilizadoparaidentificaraproteínareceptorapara"calor", chamadaTrpvl, o ingredienteativo da hortelãfoi utilizadopara identificarum receptorde "frio". Foi observadoque o mentol, que produz uma sensaçãore- frescante,estimulaum receptorchamadoTrpmS,o qual tambémé ativadopor diminuiçõesnão-dolorosasna temperatura,abaixode25°C. Atualmente,sabemosque existemseistiposdistintosde canaisTrpnos ter- morreceptores,que conferemsensibilidadesdiferentesde temperatura(Figura 12.34).Como regra,osneurônios termorreceptoresparecemexpressarapenas um tipo de canal,o que explicaria,então,como diferentesregiõesda pelepo- ~ . ' . ,;;' @ti' ~ Anktm1 (a) uuu_--- Cij o:: ro () o" <D"ro" .:;: ~ '\................ Anktm1\. \. 'o 10 20 30 40 50 (b) Temperatura (OC) T TEMPERATURA 419 FIGURA 12.34 Os canais termorreceptores Trp sintonizados para detectar diferentes temperaturas. (a) O arranjodas moléculasconhecidasde proteínasem canaisTrp termossensíveisnamembrana neuronal.Trpm8eTrpvI respondemao mentole à capsaicina,respectivamente. (b) Essegráficorepresentao nívelde ativaçãodosvárioscanaisemfunção de diferentestemperaturas.As linhas tracejadasindicamasrespostasesperadas queaindanãoforamdemonstradas experimentalmente.(Adaptadode Patapoutian et 01.,2003, Figura3.) 420 CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO FIGURA 12.35 Adaptaçõesdostermorreceptores. As respostasdosreceptoresdefrioede calorsãomostradasduranteumperíodo dereduçãodatemperaturadapele. Ambososreceptoresrespondemmelhor amudançasrepentinasdetemperatura, masadaptam-seapósalgunssegundosde temperaturaconstante. dem mostrarsensibilidadesdistintasà temperatura.Exceçõesà regraparecem seralgunsreceptoresdefrio quetambémexpressamTrpv1e,portanto,também são sensíveisa aumentosde temperaturaacima de 43°C. Se um calor desse nível for aplicadoa amplasáreasdapele,elenormalmenteserádoloroso;mas seo calor for restritoa pequenasregiõesda peleinervadaspor um receptorde frio, eleproduziráuma sensaçãoparadoxaldefrio. Essefenômenoenfatizauma questãoimportante:o SNC não sabequaltipo deestímulo(no caso,o calor)re- sultouno disparodo receptor,mascontinuaa interpretartodaaatividadedesse receptordefrio comouma respostaao frio. Da mesmaforma que os mecanorreceptores,as respostasdos termorre- ceptoresadaptam-sedurante estímuloscontínuosde longa duração.A Figura 12.35mostraque uma quedarepentinana temperaturadapelefaz comqueo receptorparafrio disparedemodo intenso,enquantosilenciaum termorrecep- tor para calor.Contudo, apósuns poucossegundosa 32°C,o receptorparafrio diminui a freqüênciade seusdisparas(masaindadisparamaisrápido do quea 38°C),enquantoo receptorparacaloraceleralevementea emissãodeimpulsos. Observeque um retorno à temperaturaquente inicial da pelecausarespostas opostas- o silênciotransitóriodo receptorparafrio e um pico de atividadedo receptorpara calor - antesde ambosretornaremassuasfreqüênciasestáveis, adaptadas.Portanto,asdiferençasentre asfreqüênciasde respostasdosrecep- toresde calore de frio sãomaioresduranteou logo apósmudançasde tempe- ratura.Nossaspercepçõesdetemperaturafreqüentementerefletemasrespostas dessesreceptoresna pele. Tenterealizarum experimentosimples.Encha doisbaldescomágua,sen- do um comáguafria e o outro com águaquente (masnão queimando).Mer- gulhe, então, suamão direitapor um minuto em cadaum dessesbaldes,um por vez. Observeasnítidas sensaçõesde calor e de frio que ocorremem cada troca, mas note, também, como são transitórias essassensações.Para a ter- morrecepção,assimcomo para a maioria dos demaissistemassensoriais,é a variaçãorepentinana qualidadede um estímuloque geraasrespostasneurais e perceptivasmais intensas. . A Via da Temperatura A estaaltura,vocêpodeficaraliviadoemsaberquea organizaçãodaviada temperaturaépraticamenteidênticaàdaviadador,já descrita.Osreceptores parafrioestãoligadosafibrasAo eC,enquantoosreceptoresdecalorestãoli- gadosapenasafibrasC.Comojá aprendemos,osaxôniosdepequenodiâmetro fazemsinapsenasubstânciagelatinosadocornodorsal.Osaxôniosdosneurô- niosdesegundaordemdecussamemseguidae ascendempelotractoespino- 38° 38° Temperatura da pele(°e)\ 32° Receptor de frio Receptor de calor 58 talâmicocontralateral.Dessaforma,seamedulaespinhalfor seccionadaemum lado,haveráuma perda da sensibilidadeà temperatura(bem como à dor) do ladoopostodo corpo,especificamentedaquelasregiõesdapeleinervadaspelos segmentosespinhaisque estãoabaixodo nível dasecção. ... CONSIDERAÇÕES FINAIS Issoencerranossadiscussãosobreossistemassensoriais.Apesardecadaum de- lesterevoluídoparasera interfaceentreo sistemanervosoe formasdiferentes deenergiado ambienta,ossistemassãonotoriamentesimilaresemorganização efuncionamento.Os diferentestiposde informaçãosensorialsomáticasãone- cessariamentemantidossegregadosnosnervosespinhais,poiscadaaxônio está conectadoa somenteum tipo de terminaçãoreceptorasensorial.A segregação dostipossensoriaiscontinua dentro da medulaespinhale é mantidana maior partedo caminhoatéo córtexcerebral.Dessaforma,o sistemasensorialsomá- ticorepeteum temacomum a todo o sistemanervoso:vários fluxos de infor- maçãorelacionada,mas distinta,seguemem paralelo atravésde uma sériede estruturasneurais.A misturadessesfluxos ao longo dasvias ocorreapenasde maneirajudiciosa,atéalcançarosníveissuperioresdeprocessamentono córtex cerebral.Vimos outrosexemplosde processamentoem paraleloda informação sensorialnossentidosquímicos,na visãoe na audição. Exatamentecomo os fluxos paralelosde informaçãosensorialsão combi- nadosparaformara percepção,imagense idéiasainda continuasendocomo a buscado SantoGraalnasneurociências.Assim,a percepçãodequalquerobjeto manipulado envolve a coordenaçãosem falhas de todas as facetasda infor- maçãosensorialsomática.A avena mão é arredondada,morna, maciae leve quantoao peso;seusbatimentoscardíacospalpitamem seusdedos;suasgar- rasarranham,e suasasascomum texturaparticularroçamem suapalma.De algumaforma, seucérebrosabetratar-sede um pássaro,mesmosemvê-Io ou ouvi-Io, e nunca seráconfundido com uma rã. Nos capítulosque seseguem, descreveremoscomo o encéfalocomeçaa utilizar a informaçãosensorialpara planejare coordenaro movimento. ,~-=- ~~ Introdução sensaçãosomática(p.388) núcleoventralposterior(VP)(p. 398) córtexsomatossensorialprimário (5I) (p.398) nervotrigêmeo(p.400) córtexparietalposterior(p.40I) somatotopia(p.402) agnosia(p.407) síndromedenegligência(p.407) I LU V» ~~ o::: I >u~ ...J ~c.. Tato mecanorreceptor(p.389) corpúsculodePacini(p.389) segmentoespinhal(p.394) dermátomo(p.395) viacolunadorsal-Iemniscomedial (p.397) colunadorsal(p.397) núcleodacolunadorsal(p.397) lemniscomedial(p.397) Dor nociceptor(p.408) analgesia(p.41O) T CONSIDERAÇÕES FINAIS 421 hiperalgesia(p.41O) substânciagelatinosa(p.412) dor referida(p.412) viaespinotalâmica(p.413) substânciacinzentaperiaquedutal (PAG) (p.416) receptoropióide(p.418) endorfna(p.418) Temperatura termorreceptor(p.418) 422 rlf, -,lLJ V)ouJ 0 1«1 V).....- V» ww :JO::: 0« o::: «a.. CAPíTULO 12 . O SISTEMASENSORIAL SOMÁTICO I. Imagine-sefriccionandoa pontadosdedosao longode umvidro lisoe depoisem umtijolo.Que tiposde receptoresdapeleo ajudama distinguirasduassuperfícies?Qual é a diferençaentreasduassuperfíciesdo pontodevistado seusistemasensorialsomático? 2. Qualé o motivodaexistênciadeenvoltóriosemalgumasdasterminaçõesnervosassensoriaisnapele? 3. Sealguémarremessarparavocêumabatataquenteevocêaapanhar,qualinformaçãoalcançaráo seusistema nervosocentralprimeiro:a informaçãorelativaaofatode a batataestarquenteou de elaserrelativamente lisa?Por quê? 4. Emqualníveldo sistemanervososeencontramasrepresentaçõesdo ladocontralateralde todosos tipos de informaçãosensorialsomática:namedulaespinhal,no bulbo,naponte,no mesencéfalo,notálamoou no córtex? 5. Qualo lobodocórtexquecontémasprincipaisáreassensoriaissomáticas?Ondeficamessasáreasemrela- çãoàsáreasvisuaiseauditivasprincipais? 6. Emquepartedocorpoadorpodesermoduladaeo quecausasuamodulação? 7. Paraonde,noSNC,convergemasinformaçõessobreo tato,aforma,atemperaturaeador? 8. Imagineo seguinteexperimento:enchadoisbaldescomágua,sendoumrelativamentefrioeo outroquente. Enchaumterceirobaldecomáguaemumatemperaturaintermediária.Coloquesuamãoesquerdanaágua quentee amãodireitanafriaduranteumminuto.Logoemseguida,mergulheambasasmãosnaáguade temperaturaintermediária.Atenteparaasensaçãotérmicaqueemcadamão.Elassentemamesmatempe- ratura?Porquê? 6d V) V) «- 0:::« :JZ 0 wU~- O « ---- CesareP,McNaughtonP.1997.Peripheralpain mechanisms.Current.OpinioninNeurobiology 7(4):493-499. FieldsH.2004.State-dependentopioidcontrolof pain.NotureReviewsNeuroscience5(7):565-575. Garcia-Anoverosj,CoreyDP.I997.Themoleculesof mechanosensation.Annuo/ReviewofNeuroscience 20:567-594. johnsonKo. 200I.Therolesandfunctionsof cutaneousmechanoreceptors.CurrentOpinionin Neurobi%gyI 1(4):455-461. juliusD,BasbaumAL.200I. Molecularmechanismsof nociception.Noture413:203-210. MountcastleVB. I997.Thecolumnarorganizationof the neocortex.BroinI20:70I-722. 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