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Constitucional_Descomplicado4.ªp5.ªed

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NOTA À 5ª EDIÇÃO 
Nesta edição, registramos e comentamos uma significativa quantidade de 
alterações legislativas e jurisprudenciais, as mais importantes apontadas nos 
parágrafos seguintes. 
No tocante às alterações legislativas, destacamos: 
a) as recentes Emendas Constitucionais nos 58 (alteração da composição das 
Câmaras Municipais), 59 (alteração de dispositivos do Título VIII – “Da Ordem 
Social”, relativos à educação), 61 (alteração da composição do Conselho Nacional 
de Justiça – CNJ), 62 (novo regramento do regime de pagamento de dívidas, 
pelas Fazendas Públicas, mediante precatórios judiciais), 63 (disposições acerca 
do piso salarial profissional nacional e diretrizes para os planos de carreira de 
agentes comunitários de saúde e de agentes de combate às endemias) e 64 
(inclusão da “alimentação” como direito social); 
b) a nova lei do mandado de segurança individual e coletivo (Lei nº 
12.016/2009); e 
c) a regulamentação do processo da ação direta de inconstitucionalidade por 
omissão – ADO (Lei nº 12.063/2009). 
Dentre os entendimentos firmados pelo Supremo Tribunal Federal, citamos: (a) 
o afastamento da exigência do diploma de jornalista para o exercício do 
jornalismo; (b) o reconhecimento da revogação integral da antiga Lei de Imprensa, 
editada ao tempo do regime militar; (c) a vedação ao Tribunal de Contas da União 
de manter em sigilo a autoria de denúncia a ele apresentada contra administrador 
público; (d) a nova orientação sobre a atuação do Advogado-Geral da União no 
controle abstrato perante a Corte Máxima; e (e) a aprovação de importantes 
Súmulas Vinculantes, sobre variadas matérias constitucionais. 
Aproveitamos, ainda, para aperfeiçoar alguns pontos doutrinários e 
jurisprudenciais, a exemplo do poder constituinte formal e material, da sucessão 
do chefe do Poder Executivo no caso de dupla vacância determinada pela Justiça 
Eleitoral e significativa ampliação do Capítulo 14, no tocante à Segurança Pública. 
Por fim, o Caderno de Questões foi integralmente refeito, passando a 
apresentar itens extraídos de provas realizadas pelas bancas ESAF, CESPE e 
FCC nos anos de 2007 a 2009. No intuito de permitir um estudo segmentado, 
todos os itens são apresentados por capítulo e por banca examinadora. 
Os Autores.
 
 
 
PONTOS DO LIVRO “DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO” 
QUE, EM VIRTUDE DE ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS OU 
JURISPRUDENCIAIS OCORRIDAS DESDE A 4ª EDIÇÃO, FORAM OBJETO DE 
ATUALIZAÇÃO NA 5ª EDIÇÃO DA OBRA. 
 
CAPITULO 3 
 
1) A parte final do item 2.5. passou a ser esta, transcrita abaixo: 
 
2.5. Características 
...................... 
Diretamente relacionado a essas características é o entendimento 
jurisprudencial de que são imprescritíveis as ações que visem a reparar violação 
aos direitos humanos ou aos direitos fundamentais da pessoa humana. Com 
efeito, a jurisprudência pátria reconhece que violações a tais direitos ensejam 
ação de reparação imprescritível, sob o fundamento de que“a exigibilidade a 
qualquer tempo dos consectários às violações dos direitos humanos decorre do 
princípio de que o reconhecimento da dignidade humana é fundamento da 
liberdade, da justiça e da paz, razão por que a Declaração Universal inaugura seu 
regramento superior estabelecendo no art. 1.º que todos os homens nascem livres 
e iguais em dignidade e direitos". 1 
Para mais dessas características, deve-se registrar que Canotilho enfatiza o 
fato de serem os direitos fundamentais normas abertas (princípio da não tipicidade 
dos direitos fundamentais), o que permite que se insiram novos direitos, não 
previstos pelo constituinte por ocasião da elaboração do Texto Maior, no âmbito 
de direitos já existentes. 
Enfim, deve-se entender que não existe uma lista taxativa de direitos 
fundamentais, constituindo eles um conjunto aberto, dinâmico, mutável no tempo. 
Essa característica dos direitos fundamentais encontra-se expressa no § 2.º do 
art. 5.º da CF/88, nos termos seguintes: “os direitos e garantias expressos nesta 
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela 
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil 
seja parte”. 
 
2) O item 2.8. passou a ter a redação abaixo: 
 
2.8. Relações privadas 
 
1
 REsp 959904 / PR, rel. Min. Luiz Fux, 23.04.2009. 
Os direitos fundamentais regulam, precipuamente, as relações entre o Estado 
e o particular. Como regra, representam direitos – de índole positiva ou negativa – 
conferidos ao particular frente ao Estado. Regulam, dessarte, as chamadas 
relações verticais. 
Questão enfrentada pela doutrina e jurisprudência pátrias diz respeito à 
incidência, ou não, dos direitos fundamentais nos negócios celebrados entre 
particulares, haja vista que nestes, em regra, prepondera o princípio da autonomia 
da vontade. Trata-se do exame da chamada eficácia horizontal (privada ou 
externa) dos direitos fundamentais. 
A Constituição Federal de 1988 não foi expressa no tocante à incidência dos 
direitos fundamentais nas relações horizontais, isto é, nos negócios privados.2 
Limitou-se, o atual texto constitucional, a estabelecer que os direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata (art. 5º, § 1º). 
Há hipóteses, porém, em que resta clara a incidência dos direitos 
fundamentais nas relações privadas no vigente texto constitucional, como no caso 
dos direitos dos trabalhadores, arrolados no art. 7º da Constituição da República. 
Com efeito, como os destinatários dos direitos constitucionais trabalhistas são, por 
excelência, os empregados e empregadores privados, resulta indiscutível, nesse 
caso, a vinculação deles aos direitos fundamentais. Diga-se de passagem, é de 
suma importância essa vinculação, tendo em conta o histórico de medidas 
discriminatórias e de condutas violadoras de direitos constitucionais fundamentais 
dos trabalhadores, adotadas por empresas privadas em relação a seus 
empregados. 
Assim, na celebração de um contrato de trabalho entre empresa privada e 
empregado, os sujeitos atuam sob o princípio da autonomia da vontade, no ajuste 
das respectivas cláusulas. Entretanto, não poderão afastar os direitos 
fundamentais incidentes sobre o negócio, por exemplo, estabelecendo cláusula 
em que o obreiro renuncie ao exercício do seu direito fundamental à liberdade de 
greve (CF, art. 9.º). Caso ocorresse tal ajuste, o contrato de trabalho seria válido, 
mas a cláusula obstativa do direito de greve não teria nenhuma validade frente ao 
ordenamento jurídico. 
Além dos direitos fundamentais dos trabalhadores, há, ainda, outras situações 
em que a própria Constituição expressamente impõe aos indivíduos, nas relações 
entre eles (privadas), o respeito a direitos fundamentais. É o que se observa, por 
 
2
 Diferentemente, a Constituição Portuguesa, de 1976, dispõe 
expressamente, sem seu art. 18: “Os preceitos constitucionais respeitantes 
aos direitos, liberdades e garantias são directamente aplicáveis e vinculam 
as entidades púublicas e privadas”. 
 
exemplo, no inciso V do art. 5.º, que assegura o direito de resposta, proporcional 
ao agravo (o sujeito passivo será o órgão de imprensa, privado). 
Ademais, mesmo naquelas situações em que não há uma expressa imposição 
constitucional, o entendimento doutrinário dominante, no constitucionalismo pátrio, 
é de que os direitos fundamentais aplicam-se, também, às relações privadas. 
Segundo essa orientação, não podem os particulares, com amparo no princípio da 
autonomia da vontade, afastar livremente os direitos fundamentais. 
Enfim, o entendimento dominante em nosso país é de que não só o Estado 
deve respeitar os direitos fundamentais, mas também os particulares, nas relações 
entre si. Desse modo, os direitos fundamentais
vinculam o Estado – incluindo o 
legislador, os órgãos administrativos e o Poder Judiciário –, bem como os 
particulares. 
Na jurisprudência do STF, já foi reconhecida como obrigatória a observância 
do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório no caso de exclusão 
compulsória de associado de uma cooperativa3, bem como no caso de 
afastamento de associados em uma sociedade civil4, deixando assente a nossa 
Corte Maior que 
“as violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das 
relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre 
pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais 
assegurados pela nossa Constituição vinculam diretamente não apenas os 
poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em 
face dos poderes privados”. 
..................... 
 
3) O item 4.5. passou a ter a redação abaixo (reprodução integral do item): 
4.5. Liberdade de expressão (art. 5.º, IV, V, IX, XIV) 
Neste tópico, analisaremos quatro incisos do art. 5.º da Constituição que estão, 
direta ou indiretamente, relacionados ao direito à liberdade de expressão. 
Nos termos do inciso IV do art. 5.º, “é livre a manifestação do pensamento, 
sendo vedado o anonimato”. Trata-se de regra ampla, e não dirigida a 
destinatários específicos. Qualquer pessoa, em princípio, pode manifestar o que 
pensa, desde que não o faça sob o manto do anonimato. 
Conforme ensina o Prof. Alexandre de Moraes, “a proteção constitucional 
engloba não só o direito de expressar-se, oralmente, ou por escrito, mas também 
o direito de ouvir, assistir e ler”. 
 
3
 RE 158.215/-RS, rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 07.06.1996. 
4
 RE 201.819/RJ, rel. Min. Ellen Gracie, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, 11.10.2005. 
Em respeito à ampla liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal 
afastou a exigência do diploma de jornalismo e do registro profissional no 
Ministério do Trabalho como condição para o exercício da profissão de jornalista. 
Para o Tribunal, essa exigência fere a liberdade de imprensa e contraria o direito à 
livre manifestação do pensamento inscrita no artigo 13 da Convenção Americana 
dos Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San Jose da Costa 
Rica. Conforme deixou assente o relator, Ministro Gilmar Mendes, “o jornalismo é 
a própria manifestação e difusão do pensamento e da informação de forma 
contínua, profissional e remunerada”, e, portanto, “o jornalismo e a liberdade de 
expressão não podem ser pensados e tratados de forma separada”.5 
A vedação ao anonimato, que abrange todos os meios de comunicação, tem o 
intuito de possibilitar a responsabilização de quem cause danos a terceiros em 
decorrência da expressão de juízos ou opiniões ofensivos, levianos, caluniosos, 
difamatórios etc. Merece transcrição esta lição do Min. Celso de Mello, proferida 
em seu voto na questão de ordem suscitada no Inquérito 1.957/PR, julgado em 
11.05.2005: 
Sabemos, Senhor Presidente, que o veto constitucional ao 
anonimato, nos termos em que enunciado (CF, art. 5.º, IV, “in 
fine”), busca impedir a consumação de abusos no exercício da 
liberdade de manifestação do pensamento e na formulação de 
denúncias apócrifas, pois, ao exigir-se a identificação de seu 
autor, visa-se, em última análise, com tal medida, a possibilitar 
que eventuais excessos derivados de tal prática sejam tornados 
passíveis de responsabilização, a posteriori, tanto na esfera civil 
quanto no âmbito penal, em ordem a submeter aquele que os 
cometeu às conseqüências jurídicas de seu comportamento. 
(...) 
Torna-se evidente, pois, Senhor Presidente, que a cláusula 
que proíbe o anonimato – ao viabilizar, a posteriori, a 
responsabilização penal e/ou civil do ofensor – traduz medida 
constitucional destinada a desestimular manifestações abusivas 
do pensamento, de que possa decorrer gravame ao patrimônio 
moral das pessoas injustamente desrespeitadas em sua esfera de 
dignidade, qualquer que seja o meio utilizado na veiculação das 
imputações contumeliosas. 
A vedação ao anonimato impede, também, como regra geral, o acolhimento de 
denúncias anônimas (delação apócrifa), conforme se constata das seguintes 
conclusões, que encerram o voto do Min. Celso de Mello no Inquérito 1.957/PR 
(questão de ordem): 
(a) os escritos anônimos não podem justificar, só por si, desde 
que isoladamente considerados, a imediata instauração da 
 
5
 
RE 511.961, rel. Ministro Gilmar Mendes, 17.06.2009 
 
persecutio criminis, eis que peças apócrifas não podem ser 
incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais 
documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando 
constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como sucede com 
bilhetes de resgate no delito de extorsão mediante seqüestro, ou 
como ocorre com cartas que evidenciem a prática de crimes 
contra a honra, ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que 
materializem o crimen falsi, p. ex.); 
(b) nada impede, contudo, que o Poder Público, provocado por 
delação anônima (“disque-denúncia”, p. ex.), adote medidas 
informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação 
sumária, “com prudência e discrição”, a possível ocorrência de 
eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o 
objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, 
em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal 
instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa 
desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças 
apócrifas; e 
(c) o Ministério Público, de outro lado, independentemente da 
prévia instauração de inquérito policial, também pode formar a 
sua opinio delicti com apoio em outros elementos de convicção 
que evidenciem a materialidade do fato delituoso e a existência de 
indícios suficientes de sua autoria, desde que os dados 
informativos que dão suporte à acusação penal não tenham, 
como único fundamento causal, documentos ou escritos 
anônimos. 
Em aresto ulterior, reiterou essa orientação o Supremo Tribunal Federal, ao 
deferir habeas corpus para trancar, por falta de justa causa, notícia-crime 
instaurada, por requisição do Ministério Público Federal, com base unicamente 
em denúncia anônima. Asseverou então a Corte Suprema que a instauração de 
procedimento criminal originada apenas em documento apócrifo seria contrária à 
ordem jurídica constitucional, que veda expressamente o anonimato, ofenderia a 
dignidade da pessoa humana, permitindo a prática do denuncismo inescrupuloso, 
e impossibilitaria eventual indenização por danos morais ou materiais, 
contrariando os princípios consagrados nos incisos V e X do art. 5.º da Carta da 
República.6Os direitos da pessoa que sofra um dano em razão de manifestação 
indevida por parte de outrem estão explicitados no inciso V do art. 5.º da 
Constituição, nestes termos: 
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao 
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à 
imagem; 
O direito de resposta está orientado pelo critério da proporcionalidade, isto é, a 
 
6
 HC 84.827/TO, rel. Min. Marco Aurélio, 07.08.2007. 
 
resposta deve ser assegurada no mesmo meio de comunicação em que o agravo 
foi veiculado, e deve ter o mesmo destaque e a mesma duração (se em meio 
sonoro ou audiovisual) ou tamanho (se em meio escrito). Deve-se ressaltar que o 
direito de resposta não afasta o direito à indenização. 
O direito de resposta e o direito à indenização por danos morais e materiais – 
anote-se que essas indenizações são cumuláveis – aplicam-se tanto às pessoas 
físicas quanto às pessoas jurídicas que sejam ofendidas pela expressão indevida 
de juízos ou opiniões.
Segundo o Prof. Alexandre de Moraes, esses direitos são 
cabíveis “até mesmo em relação às coletividades (interesses difusos ou 
coletivos)”. 
 Considerando esse dispositivo, entre outros, nossa Corte Suprema firmou 
entendimento de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não pode manter 
em sigilo a autoria de denúncia a ele apresentada contra administrador 
público.7 
Com efeito, apontando como fundamento os incisos IV, V, X, XXXIII e XXXV 
do art. 5º da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal declarou a 
inconstitucionalidade da expressão "manter ou não o sigilo quanto ao objeto e à 
autoria da denúncia", constante do § 1º do art. 55 da Lei Orgânica do TCU (Lei 
8.443/1992), bem como do disposto no Regimento Interno do TCU, no ponto em 
que estabelece a permanência do sigilo relativamente à autoria da denúncia. 
Considerou a nossa Corte Maior que a manutenção do sigilo por parte do 
Poder Público impediria o denunciado de adotar as providências asseguradas pela 
Constituição na defesa de sua imagem, inclusive a de buscar a tutela judicial, 
salientando, ainda, o fato de que apenas em hipóteses excepcionais é vedado o 
direito das pessoas ao recebimento de informações perante os órgãos públicos 
(art. 5º, XXXIII). 
Complementando as normas antes vistas acerca do direito à liberdade de 
expressão, o inciso IX do art. 5.º estabelece a garantia de vedação à censura 
prévia, nestes termos: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, 
científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. 
A liberdade de expressão, mesmo com o fim da censura prévia, não dispõe 
de caráter absoluto, visto que encontra limites em outros valores protegidos 
constitucionalmente, sobretudo, na inviolabilidade da privacidade e da intimidade 
do indivíduo e na vedação ao racismo. 
Conforme salienta Alexandre de Moraes, a liberdade de expressão deve ser 
exercida com responsabilidade e o seu desvirtuamento para o “cometimento de 
fatos ilícitos, civil ou penalmente, possibilitará aos prejudicados plena e integral 
indenização por danos materiais e morais, além do efetivo direito de resposta”. 
 
7
 MS 24405/DF, rel. Min. Carlos Velloso, 3.12.2003. 
 
Com fundamento nesse dispositivo constitucional, entre outros, o Supremo 
Tribunal Federal considerou integralmente revogada, por incompatibilidade 
material com a Constituição Federal de 1988, a antiga Lei de Imprensa, editada 
ao tempo do regime militar (Lei 5.250, de 09.02.1967). Para o Tribunal, as 
disposições de tal lei eram incompatíveis com o padrão de democracia e liberdade 
de imprensa concebido pelo legislador constituinte de 1988, que se apóia em dois 
pilares: (a) informação em plenitude e de máxima qualidade; e (b) transparência 
ou visibilidade do poder, seja ele político, econômico ou religioso. 8 
Por fim, merece nota o inciso XIV do art. 5.º, na dicção do qual “é assegurado 
a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário 
ao exercício profissional”. 
Consoante afirmado acima, o direito fundamental de acesso à informação, 
como ocorre com todos os demais, não é absoluto. Ele se refere, essencialmente, 
a informações que possam ser de interesse público ou geral, não cabendo dele 
cogitar quando se trate de informações que digam respeito exclusivamente à 
intimidade e à vida privada do indivíduo, as quais são objeto de proteção 
constitucional expressa (art. 5.º, X). Por outras palavras, todos têm o direito de 
acesso a informações que possam ser de interesse geral, mas não existe um 
direito de acesso a informações que só interessem à esfera privada de 
determinada pessoa. Conforme sintetiza o Prof. Alexandre de Moraes, há 
“necessidade de distinguir as informações de fatos de interesse público, da 
vulneração de condutas íntimas e pessoais, protegidas pela inviolabilidade à vida 
privada, e que não podem ser devassadas de forma vexatória ou humilhante”. 
A proteção ao sigilo da fonte, assegurada na parte final do inciso XIV do art. 
5.º, tem como mais importantes destinatários os profissionais do jornalismo, uma 
vez que possibilita que estes obtenham informações que, sem essa garantia, 
certamente não seriam reveladas. Com efeito, o fato de o sigilo da fonte ser 
estabelecido como uma garantia fundamental permite que o indivíduo que possua 
informações que julgue devessem ser tornadas públicas, mas se reveladas 
diretamente por ele colocariam em risco sua segurança, ou trariam para ele 
qualquer outra espécie de prejuízo, transmita essas informações a um jornalista 
em quem confie, para que este as torne públicas, sem declinar o nome de sua 
fonte. Bastará que o informante confie na palavra do jornalista (ou em outro 
profissional que trabalhe com divulgação de informações), porque sabe que existe 
a garantia constitucional de que o Estado não terá possibilidade de impor qualquer 
sanção ao jornalista que se recuse a revelar a fonte de sua informação. 
Note-se que a garantia do sigilo da fonte não conflita com a vedação ao 
anonimato. O jornalista (ou profissional que trabalhe com divulgação de 
informações) veiculará a notícia em seu nome, e está sujeito a responder pelos 
eventuais danos indevidos que ela cause. Assim, embora a fonte possa ser 
sigilosa, a divulgação da informação não será feita de forma anônima, de tal sorte 
que não se frustra a eventual responsabilização de quem a tenha veiculado – e a 
finalidade da vedação ao anonimato é exatamente possibilitar a responsabilização 
 
8
 ADPF 130, rel. Min. Carlos Ayres Britto, 30.04.2009. 
da pessoa que ocasione danos em decorrência de manifestações indevidas. 
 
4) A parte final do item 4.21. passou a ser esta, transcrita abaixo: 
 
4.21. Princípio da inafastabilidade de jurisdição (art. 5.º, XXXV) 
................... 
Segundo orientação do Supremo Tribunal Federal, esse princípio não impede 
a imposição, por lei, de restrições à concessão de medidas cautelares e de 
liminares em ações judiciais, desde que haja razoabilidade para tal limitação. 
Dessa forma, por exemplo, a Lei 12.016/2009, que regula o mandado de 
segurança, veda a concessão de liminar que tenha por objeto a compensação de 
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a 
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento 
ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza (art. 7º, § 2º). 
Outra decorrência desse princípio é que, no Brasil, em regra, o esgotamento 
da via administrativa não é condição indispensável para a busca da tutela perante 
o Poder Judiciário (a regra é a inexistência da denominada “jurisdição 
condicionada” ou da “instância administrativa de curso forçado”). Significa dizer 
que o indivíduo não precisa, necessariamente, valer-se do processo administrativo 
para, somente depois de indeferida administrativamente sua pretensão, recorrer 
ao Poder Judiciário. Poderá, de pronto, sem necessidade de exaurir (ou mesmo 
de utilizar) a via administrativa, ingressar com a ação judicial cabível. 
É oportuno, não obstante, anotar a existência de pelo menos três hipóteses em 
nosso ordenamento jurídico nas quais se exige o exaurimento, ou a utilização 
inicial da via administrativa, como condição para acesso ao Poder Judiciário, a 
saber: 
a) só são admitidas pelo Poder Judiciário ações relativas à disciplina e às 
competições desportivas depois de esgotadas as instâncias da “justiça 
desportiva” (CF, art. 217, § 1º); apesar do nome “justiça desportiva”, trata-se de 
órgãos de natureza administrativa; 
b) o ato administrativo, ou a omissão da Administração Pública, que contrarie 
súmula vinculante só pode ser alvo da reclamação ao STF prevista no § 3º do 
art. 103-A da Constituição depois de esgotadas as vias administrativas
(Lei 
11.417/2006, art. 7º, § 1º); 
c) é indispensável para caracterizar o interesse de agir no habeas data “a 
prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou 
da omissão em atendê-lo; sem que se configure situação prévia de pretensão, há 
carência da ação constitucional do habeas data” (STF, HD 22/DF, rel. Min. Celso 
de Mello, 19.09.1991). 
Quanto à utilização simultânea das vias administrativa e judicial, o Supremo 
Tribunal Federal considerou constitucional previsão legal que estabelece que a 
opção pela via judicial implica renúncia tácita ao processo administrativo (Lei n.º 
6.830/1980, art. 38, parágrafo único).9 Entendeu a Corte Suprema que a 
presunção de renúncia tácita à possibilidade de recorrer administrativamente ou 
de desistência do recurso já interposto na esfera administrativa não implica 
afronta à garantia constitucional da jurisdição, mas sim regra de economia 
processual, que informa tanto o processo judicial quanto o administrativo. 
Desse modo, caso o administrado esteja questionando certa matéria no âmbito 
de um processo administrativo e decida, simultaneamente, ajuizar ação perante o 
Poder Judiciário a fim de discutir a mesma matéria, essa opção implicará renúncia 
tácita à via administrativa, com extinção imediata de seu processo administrativo, 
na fase em que estiver. 
Vale ainda anotar que, segundo o Supremo Tribunal Federal, viola a garantia 
constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o 
valor da causa (Súmula 667). O fundamento para esse entendimento da Corte 
Maior é que, caso fosse permitida a fixação de taxa judiciária incidente sobre o 
valor da causa, sem limite, essa medida terminaria por quebrar a relativa 
equivalência que deve existir entre o valor cobrado pelo Estado e o custo da 
prestação jurisdicional, criando restrição desarrazoada ao acesso à tutela do 
Poder Judiciário. Como exemplo, suponha-se uma taxa judiciária fixada em 
percentual incidente sobre o valor de uma causa estimada em dez bilhões de 
reais. Certamente, o valor apurado – resultante da aplicação do percentual da taxa 
sobre o valor da causa – seria demasiado vultoso, inviabilizando o acesso ao 
Poder Judiciário – além de não guardar correspondência razoável com o custo 
estimado da prestação jurisdicional oferecida pelo Estado. 
Por último, é importante registrar que o Supremo Tribunal Federal consagrou o 
entendimento de que viola o inciso XXXV do art. 5º da Constituição (e também a 
garantia de ampla defesa) a exigência de depósito como condição para o 
ajuizamento de ação em que se discuta a imposição de tributo. Tal orientação está 
sedimentada na Súmula Vinculante 28, abaixo transcrita: 
“28 – É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de 
admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de 
crédito tributário.” 
 
5) Ao item 4.30 foi acrescentado o subitem 4.30.1, conforme abaixo 
(reprodução integral do subitem): 
 
4.30. Extradição (art. 5.º, LI e LII) 
............. 
4.30.1. Procedimento 
 
9
 RE 233.582/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, 16.08.2007. 
 
No Brasil, o processo de extradição obedece, em síntese, a três fases 
distintas: 
a) recebimento, pelo Poder Executivo, do pedido de extradição, por via 
diplomática; 
Nessa fase, o Poder Executivo decide com plena discricionariedade se dará 
seguimento, ou não, ao pedido do Estado estrangeiro. Se a decisão for pelo 
seguimento, o Ministério das Relações Exteriores encaminhará o pedido ao 
Ministério da Justiça, que o submeterá ao Supremo Tribunal Federal. 
b) julgamento do pedido pelo Supremo Tribunal Federal, em caráter definitivo, 
do qual não cabe recurso; 
c) adoção, pelo Poder Executivo, das providências administrativas necessárias 
à extradição, ou seja, à entrega do extraditando ao Estado requerente; em regra, o 
Poder Executivo comunica ao Estado estrangeiro a decisão autorizativa do 
Supremo Tribunal Federal, para que o seu nacional seja recolhido no prazo de 60 
dias. 
Questão importante enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal diz respeito a 
essa terceira fase, no tocante à vinculação, ou não, do Presidente da República à 
decisão do STF que autorizou a extradição. Enfim, caso o STF autorize a 
extradição, por entender preenchidos os requisitos para tanto, o Presidente da 
República estará obrigado a entregar o extraditando ao Estado requerente, ou ele 
dispõe de discricionariedade? 
Depois de autorizar a extradição de Cesare Battisti para a Itália, por considerar 
que os crimes imputados a esse cidadão italiano não tiveram conotação política, o 
Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu que o Presidente da República não 
está vinculado à decisão da Corte, haja vista que poderá entregar, ou não, o 
extraditando ao governo italiano. Entretanto, segundo o mesmo Tribunal, não se 
trata de ato discricionário do Presidente da República, porque este terá de agir 
nos estritos termos do tratado de extradição específico, firmado entre o Brasil e o 
Estado requerente (a Itália, nesse caso). 
Significa que o Presidente da República não se vincula à decisão do Supremo 
Tribunal Federal que autoriza a extradição – haja vista que há a possibilidade de 
ele decidir pela não entrega do extraditando ao Estado requerente –, mas essa 
sua decisão não é discricionária, porque é regrada pelas disposições do 
correspondente tratado internacional de extradição entre os Estados. “O 
Presidente da República extradita ou não, mas nos estritos termos do tratado”, 
observou o ministro Eros Grau (EXT 1.085, rel. Min. Cezar Peluso, 16.12.2009). 
 
6) A parte final do item 4.34 passou a ter a redação abaixo: 
 
4.34. Princípio da presunção da inocência (art. 5.º, LVII) 
.............. 
Esse princípio impede, também, a prisão do réu antes do trânsito em 
julgado da sentença penal condenatória. Deve-se ressalvar, todavia, a 
possibilidade de prisão preventiva processual, desde que fundamentada em algum 
dos pressupostos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal (garantia da 
ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal e 
garantia da aplicação da lei penal).10 
Com efeito, em julgado sobremaneira relevante, o Supremo Tribunal Federal 
reconheceu o direito de o réu, já condenado em primeira ou segunda instâncias, 
recorrer em liberdade até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.11 
Desse modo, embora o recurso especial (perante o STJ) e o recurso 
extraordinário (perante o STF) não possuam efeito suspensivo, a interposição 
deles assegura ao réu o direito de permanecer em liberdade até o trânsito em 
julgado da sentença. 
Na mesma linha, nossa Corte Suprema decidiu que é incompatível com a 
Carta de 1988 o art. 595 do CPP, segundo o qual, se o réu condenado fugisse 
depois de apelar de sua condenação, a apelação não deveria ser analisada pela 
Justiça.12 Cabe registrar que o art. 594 do CPP – o qual estatuía que “o réu não 
poderá apelar sem recolher-se à prisão” – foi revogado pela Lei 11.719/2008. 
Vale lembrar que as prisões cautelares anteriores à fase processual (em 
flagrante e temporária) continuam sendo admissíveis, desde que fundamentadas 
concretamente nos pressupostos previstos na legislação penal pertinente.13 
Em resumo, a partir desse novo entendimento do Supremo Tribunal Federal, a 
regra no nosso ordenamento passa a ser o acusado ter direito a recorrer em 
liberdade e a prisão só ocorrer depois do trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória; no entanto, excepcionalmente, poderá haver prisão cautelar – em 
flagrante, temporária ou preventiva –, desde que obedecidos os pressupostos 
exigidos pela legislação penal respectiva. 
Por derradeiro, ainda em decorrência
do postulado da presunção da inocência, 
o Supremo Tribunal Federal entende que a simples existência de investigações 
policiais ou de persecuções criminais em curso, sem o trânsito em julgado, não 
basta, só por si, para a caracterização de maus antecedentes do réu. Na lição do 
Ministro Celso de Mello, “processos penais em curso, ou inquéritos policiais em 
andamento, ou, até mesmo, condenações criminais ainda sujeitas a recurso não 
 
10
 “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por 
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do 
crime e indício suficiente de autoria.” 
 
11
 HC 84.078/MG, rel. Min. Eros Grau, 05.02.2009. 
 
12
 HC 85.961/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 05.03.2009; HC 98.987 QO/RS, rel. Min. Cezar Peluso, 
13.05.2009. 
13
 A prisão em flagrante está disciplinada no art. 301 do Código de Processo Penal; a prisão temporária, no art. 1.º da Lei 
n.º 7.960/1989. 
 
podem ser considerados, enquanto episódios processuais suscetíveis de 
pronunciamento judicial absolutório, como elementos evidenciadores de maus 
antecedentes do réu”.14 
 
7) O item 4.45. passou a ter a redação abaixo (reprodução integral do item, 
com todos os seus subitens): 
 
4.45. Mandado de segurança (art. 5.º, LXIX e LXX) 
Reza a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5.º, inciso LXIX: 
“LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e 
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável 
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa 
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;” 
Incorporado ao texto constitucional desde a Constituição Federal de 1934, 
atualmente o mandado de segurança é regulamentado pela Lei 12.016, de 
07.08.2009. Nos parágrafos seguintes, sem a pretensão de esgotar o assunto, 
destacamos os principais aspectos desse regramento legal, complementando-os 
com entendimentos doutrinários e da jurisprudência dominante do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
4.45.1. NATUREZA JURÍDICA 
O mandado de segurança é ação judicial, de rito sumário especial, a ser 
utilizada quando direito líquido e certo do indivíduo for violado por ato de 
autoridade governamental ou de agente de pessoa jurídica privada que esteja no 
exercício de atribuição do Poder Público. 
O mandado de segurança é ação de natureza residual, subsidiária, pois 
somente é cabível quando o direito líquido e certo a ser protegido não for 
amparado por outros remédios judiciais (habeas corpus ou habeas data, ação 
popular etc.). 
É sempre ação de natureza civil, ainda quando impetrado contra ato de juiz 
criminal, praticado em processo penal. 
 
4.45.2. CABIMENTO 
 
14
 HC 96.618-MC/SP, Min. Celso de Mello, 04.11.2008. 
 
Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, 
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou 
com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver 
justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam 
quais forem as funções que exerça. 
Como se vê, o mandado de segurança é cabível contra o chamado “ato de 
autoridade”, entendido como qualquer manifestação ou omissão do Poder Público, 
no desempenho de suas atribuições. Ressalte-se que não só as manifestações 
positivas, comissivas, são consideradas “atos de autoridade”, pois as omissões 
das autoridades também podem violar direito líquido e certo do indivíduo, 
legitimando a impetração do mandado de segurança. 
Equiparam-se às autoridades públicas, quanto à prática de atos reparáveis via 
mandado de segurança, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os 
administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas 
jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, 
somente no que disser respeito a essas atribuições. 
 
4.45.3. DESCABIMENTO 
Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: 
I – de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, 
independentemente de caução; 
II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; 
III – de decisão judicial transitada em julgado. 
A vedação constante do inciso I foi abrandada pela jurisprudência pátria. Com 
efeito, entende os nossos tribunais que o que é vedado é o administrado impetrar 
o mandado de segurança enquanto está pendente de decisão o recurso 
administrativo com efeito suspensivo que ele próprio apresentou. Entretanto, 
mesmo que seja cabível o recurso administrativo com efeito suspensivo, se o 
administrado simplesmente deixar escoar o prazo sem apresentar esse recurso, 
não fica impedido de ajuizar o mandado de segurança (desde que, evidentemente, 
não tenha transcorrido o prazo decadencial de cento e vinte dias para a 
impetração). 
É interessante observar que, na hipótese de o mandado de segurança ser 
impetrado contra uma omissão ilegal, descabe por completo a aplicação da 
restrição vazada nesse inciso, uma vez que não pode ser cogitada a existência de 
um recurso administrativo com “efeito suspensivo” de um ato que justamente 
deixou de ser praticado. 
Quanto ao inciso III, é oportuno registrar que a impossibilidade de ajuizar 
mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado é ponto há 
muito consagrado pela jurisprudência.15 Decisões judiciais transitadas em julgado, 
na esfera cível, devem ser atacadas, se for o caso, mediante ação própria: a ação 
rescisória (CPC, art. 485). Já na esfera penal, a ação adequada para desfazer 
uma decisão transitada em julgado, se for o caso, é a revisão criminal (CPP, art. 
621). 
Também não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial 
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de 
economia mista e de concessionárias de serviço público. 
Essa vedação tem por fim excluir o cabimento do mandado de segurança 
contra atos de natureza comercial praticados pelos administradores das 
mencionadas empresas, haja vista que, nesse caso, a atuação deles se equipara 
à atuação de agente privado, e não à de autoridade pública. 
Por fim, não cabe mandado de segurança contra lei em tese, salvo se 
produtora de efeitos concretos.16 Somente as leis de efeitos concretos são 
passíveis de impugnação mediante mandado de segurança, pois estas equivalem 
a atos administrativos, e, por terem destinatários certos, podem violar, 
diretamente, direitos subjetivos. Para a fiscalização da constitucionalidade das 
“leis em tese” existe a via própria – ação direta de inconstitucionalidade –, no 
âmbito do nosso sistema de controle abstrato de normas. 
 
4.45.4. DIREITO LÍQUIDO E CERTO 
Nem todo o direito é amparado pela via do mandado de segurança: a 
Constituição Federal exige que o direito invocado seja líquido e certo. 
Direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano, de acordo com o direito, 
e sem incerteza, a respeito dos fatos narrados pelo impetrante. É o que se 
apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser 
exercitado no momento da impetração. 
Se a existência do direito for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver 
delimitada; se seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, 
não será cabível o mandado de segurança. Esse direito incerto, indeterminado, 
poderá ser defendido por meio de outras ações judiciais, mas não na via especial 
e sumária do mandado de segurança. 
Por essa razão, não há dilação probatória no mandado de segurança; as 
provas devem ser pré-constituídas, em regra documentais, levadas aos autos do
processo no momento da impetração. 
 
15
 STF, Súmula 268: “Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com 
trânsito em julgado.” 
 
16
 STF, Súmula 266: “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.” 
Segundo a orientação dominante, a exigência de liquidez e certeza recai sobre 
a matéria de fato, sobre os fatos alegados pelo impetrante para o ajuizamento do 
mandado de segurança. Estes, sim, necessitam de comprovação inequívoca, de 
plano. 
A matéria de direito, por mais complexa e difícil que se apresente, pode ser 
apreciada em mandado de segurança. É essa a jurisprudência do STF, segundo a 
qual a alegação de “grande complexidade jurídica” do direito invocado não é 
motivo para obstar a utilização da via do mandado de segurança. 
 
4.45.5. LEGITIMAÇÃO ATIVA 
Têm legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança (sujeito ativo): 
a) as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou 
não no Brasil; 
b) as universalidades reconhecidas por lei, que, embora sem personalidade 
jurídica, possuem capacidade processual para defesa de seus direitos (o espólio, 
a massa falida, o condomínio de apartamentos, a herança, a sociedade de fato, a 
massa do devedor insolvente etc.); 
c) os órgãos públicos de grau superior, na defesa de suas prerrogativas e 
atribuições; 
d) os agentes políticos (governador de estado, prefeito municipal, magistrados, 
deputados, senadores, vereadores, membros do Ministério Público, membros dos 
tribunais de contas, ministros de estado, secretários de estado etc.), na defesa de 
suas atribuições e prerrogativas; 
e) o Ministério Público, competindo a impetração, perante os tribunais locais, 
ao promotor de justiça, quando o ato atacado emanar de juiz de primeiro grau de 
jurisdição. 
Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer 
delas poderá requerer o mandado de segurança. 
 
4.45.6. LEGITIMAÇÃO PASSIVA 
Têm legitimidade passiva em mandado de segurança: 
a) autoridades públicas de quaisquer dos Poderes da União, dos estados, do 
Distrito Federal e dos municípios, sejam de que categoria forem e sejam quais 
forem as funções que exerçam; 
b) os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de 
entidades autárquicas (incluídas as fundações governamentais com personalidade 
jurídica de direito público); 
c) os dirigentes de pessoas jurídicas de direito privado, integrantes ou não da 
administração pública formal, e as pessoas naturais, desde que eles estejam no 
exercício de atribuições do Poder Público, e somente no que disser respeito a 
essas atribuições. 
Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado 
ou da qual emane a ordem para a sua prática. 
Em mandado de segurança, em se tratando de atribuição delegada, a 
autoridade coatora será o agente delegado (que recebeu a atribuição), e não a 
autoridade delegante (que efetivou a delegação).17 
Desse modo, a competência para o processo e julgamento do mandado de 
segurança, quando se tratar de ato praticado por autoridade delegada, tendo sido 
a delegação efetivada no próprio âmbito das entidades políticas – União, estados 
e municípios – será do juízo ou tribunal competente para apreciar os atos da 
autoridade delegada. Assim, se Ministro de Estado pratica um ato por delegação 
recebida do Presidente da República, o tribunal competente para apreciar 
mandado de segurança impetrado contra tal ato do ministro será o Superior 
Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, “b”), não o Supremo Tribunal Federal (que 
seria o tribunal competente se o ato tivesse sido praticado pelo próprio Presidente 
da República, nos termos do art. 102, I, “d”, da Constituição). 
Cabe à autoridade coatora a atribuição de prestar as informações ao 
magistrado, carreando a este elementos e informações que auxiliem na formação 
de sua convicção sobre o conflito. 
Com efeito, ao despachar a petição inicial, o juiz ordenará a notificação da 
autoridade coatora do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via 
apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) 
dias, preste as informações. 
Além da notificação da autoridade coatora, para que sejam prestadas as 
informações, o juiz ordenará também que se dê ciência do feito ao órgão de 
representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial 
sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito. 
Desse modo, por exemplo, caso seja impetrado um mandado de segurança 
em face de ato coator praticado por Delegado da Polícia Federal (autoridade 
federal), além da notificação a este para que, no prazo de dez dias, preste as 
informações, será também dada ciência ao Advogado-Geral da União 
 
17
 STF, Súmula 510: “Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o 
mandado de segurança ou a medida judicial.” 
(representante judicial da União, nos termos do art. 131 da Constituição Federal) 
para que, querendo, ingresse no processo. 
 
4.45.7. MEDIDA LIMINAR 
Ao despachar a inicial, o magistrado apreciará o pedido de medida liminar, e 
concederá esta, ordenando que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, 
quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a 
ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do 
impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar eventual 
ressarcimento à pessoa jurídica. 
Medida liminar é uma ordem judicial proferida prontamente, mediante um juízo 
sumário, porém precário, ou seja, não definitivo, de plausibilidade das alegações e 
de risco de dano de difícil reparação, se houvesse demora na prestação 
jurisdicional. 
Os pressupostos de uma liminar, portanto, são a plausibilidade jurídica do 
pedido (fumus boni juris) e o risco de dano irreparável ou de difícil reparação em 
decorrência da demora na prestação jurisdicional definitiva (periculum in mora). 
Presentes esses pressupostos, a medida liminar deve ser concedida, mas isso 
não impede, de maneira nenhuma, que a decisão judicial definitiva (decisão de 
mérito), ainda que prolatada pelo mesmo juiz que antes concedeu a liminar, seja 
contrária ao impetrante, isto é, seja pela improcedência do pedido (ou mesmo que 
a liminar seja revogada ou cassada ainda antes de ser julgado o mérito da causa). 
Ademais, a lei passou a facultar ao magistrado a exigência ao impetrante de 
prestação de caução, fiança ou depósito como condição para a concessão da 
medida liminar. Essa possibilidade tem recebido duras críticas da doutrina, devido 
à sua potencialidade de dificultar, ou mesmo impedir ao impetrante, a obtenção 
dessa medida acauteladora de seu direito, quando não tiver condições 
econômicas para o cumprimento de tal exigência. 
Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento. 
Assegura-se, aqui, prioridade de julgamento àqueles mandados de segurança em 
que tenha sido deferida a medida liminar, com o fim de evitar que o conflito 
permaneça regido durante longo período por uma medida precária (medida 
liminar). 
Os efeitos da medida liminar persistirão até a prolação da sentença de mérito, 
salvo se revogada (pelo próprio magistrado que a concedeu) ou cassada (por 
instância superior). 
 
4.45.8. VEDAÇÃO À CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR 
Não será concedida medida liminar que tenha por objeto: 
a) a compensação de créditos tributários; 
b) a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior; 
c) a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de 
aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. 
Observe que é possível que as mencionadas matérias sejam objeto de 
mandado de segurança
e que o pedido formulado seja, ao final, no julgamento de 
mérito, reconhecido. O que não se permite é que tais providências sejam 
determinadas em decisão precária, mediante a concessão de medida liminar. 
Cabe destacar que nessas hipóteses em que é vedada a concessão de 
medida liminar, caso seja, ulteriormente, no julgamento de mérito, concedida a 
segurança, não será admitida a execução provisória da sentença concessiva. 
Por exemplo: é vedada a concessão de medida liminar para determinar o 
pagamento de vantagem a servidor público; essa medida poderá, porém, ser 
determinada pelo juiz na sentença de mérito (sentença concessiva da segurança); 
entretanto, caso a sentença do magistrado de primeiro grau seja concessiva da 
segurança, determinando o pagamento de vantagem a servidor público, o servidor 
não poderá executá-la provisoriamente. 
 
4.45.9. PRAZO PARA IMPETRAÇÃO 
O prazo para impetração do mandado de segurança é de cento e vinte dias, 
a contar da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser 
impugnado (publicação do ato na imprensa oficial, por exemplo). 
Trata-se, conforme orientação do STF, de prazo decadencial, não passível de 
suspensão ou interrupção. Nem mesmo o pedido de reconsideração administrativo 
interrompe a contagem desse prazo.18 
Se o ato impugnado é de trato sucessivo (pagamento periódico de 
vencimentos, prestações mensais de determinado contrato etc.), o prazo de cento 
e vinte dias renova-se a cada ato. 
 
18
 STF, Súmula 430: “Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o 
mandado de segurança.” 
 
Se o mandado de segurança é do tipo preventivo, não há que se falar em 
prazo decadencial de cento e vinte dias para sua impetração, porque não há um 
ato coator apto a marcar o termo inicial de contagem. 
Uma vez denegado o mandado de segurança, o pedido poderá ser renovado 
dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o 
mérito. 
 
4.45.10. COMPETÊNCIA 
A competência para julgar mandado de segurança é definida pela categoria da 
autoridade coatora e pela sua sede funcional. Desse modo, se a autoridade 
coatora é federal e desempenha suas atribuições em Fortaleza – CE, o juízo 
competente será a Justiça Federal nessa cidade, seja qual for a matéria discutida. 
Com efeito, é irrelevante, para fixação da competência, a matéria a ser 
discutida em mandado de segurança, uma vez que é em razão da autoridade 
coatora da qual emanou o ato dito lesivo que se determina o juízo a que deve ser 
submetida a ação. 
Segundo o STF, não lhe cabe julgar, originariamente, mandados de segurança 
contra atos praticados por outros tribunais e seus órgãos.19 Os próprios tribunais é 
que têm competência para julgar, originariamente, os mandados de segurança 
contra os seus atos, os dos respectivos presidentes e os de suas câmaras, turmas 
ou seções. Assim, mandado de segurança contra ato do Superior Tribunal de 
Justiça (STJ), do seu Presidente e de seus órgãos (turmas, seções) será julgado 
pelo próprio STJ; se o mandado de segurança é contra ato do Tribunal Superior 
do Trabalho (TST), do seu Presidente ou de suas Turmas, a competência para o 
julgamento será do próprio TST, e assim sucessivamente. 
No âmbito da Justiça Estadual, caberá aos próprios estados-membros cuidar 
da competência para a apreciação do mandado de segurança contra ato de suas 
autoridades, por força do art. 125 da Constituição Federal. 
 
4.45.11. RECURSOS 
 
19
 STF, Súmula 624: “Não compete ao supremo tribunal federal conhecer originariamente de mandado de 
segurança contra atos de outros tribunais.” 
 
Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá 
agravo de instrumento.20 
Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação. 
Quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber 
originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão 
competente do tribunal que integre. 
Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação. 
Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou 
do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à 
economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do 
respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e 
da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 
(cinco) dias. 
Indeferido esse pedido de suspensão ou provido o mencionado agravo, caberá 
novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de 
eventual recurso especial ou extraordinário. 
Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá 
agravo ao órgão competente do tribunal que integre. 
Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos 
tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos, e 
recurso ordinário, quando a ordem for denegada. 
Não cabe, no processo de mandado de segurança, a interposição de 
embargos infringentes. 
 
4.45.12. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo 
grau de jurisdição (reexame necessário). 
Significa que, no mandado de segurança, a sentença de primeira instância, 
quando concessiva da ordem, fica sujeita a reexame obrigatório pelo tribunal 
respectivo. Se a pessoa de direito público vencida não apelar, ou se o seu recurso 
 
20
 Essa regra, prevista no § 1º do art. 7º da Lei nº 12.016/2009, implicou a suplantação da Súmula 622 do 
STF: “Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandado 
de segurança”. 
 
não for admissível, porque intempestivo, ou por não atender a qualquer 
formalidade, haverá a remessa dos autos, de ofício, para o tribunal. 
A obrigatoriedade de duplo grau de jurisdição, todavia, não impede que a 
sentença de primeiro grau seja executada provisoriamente, salvo nos casos em 
que for vedada a concessão da medida liminar. 
Ademais, não há duplo grau de jurisdição obrigatório se a decisão foi proferida 
por tribunal do Poder Judiciário, no uso de competência originária. 
 
4.45.13. PAGAMENTO A SERVIDOR 
O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em 
sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da 
administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será 
efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do 
ajuizamento da inicial. 
Evita-se, com essa regra, que o mandado de segurança seja utilizado como 
ação substitutiva de cobrança.21 Significa dizer que a concessão de mandado de 
segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os 
quais deverão ser reclamados administrativamente, ou pela via judicial própria. 22 
Exemplificando: imagine-se que o Poder Público esteja realizando desconto 
indevido na remuneração mensal do servidor Antônio desde o mês de dezembro 
de 2004. Antônio, porém, só ajuizou o mandado de segurança em março de 2005. 
Em setembro de 2005, é prolatada a sentença, reconhecendo a ilegitimidade de 
tal desconto. 
Nessa situação, embora a sentença tenha reconhecido a ilegalidade do ato, a 
ordem mandamental, em relação aos efeitos pecuniários (descontos 
indevidamente realizados), somente alcançará as prestações relativas ao período 
posterior à impetração (de março a setembro). Os descontos realizados em 
período anterior ao ajuizamento do writ (dezembro a fevereiro) não serão 
devolvidos por força da sentença mandamental; deverão ser reclamados na via 
própria,
judicial ou administrativa. 
 
21
 STF, Súmula 269: “O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.” 
 
22
 STF, Súmula 271: “Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a 
período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.” 
 
 
4.45.14. DESCABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Não cabe, no processo de mandado de segurança, a condenação ao 
pagamento dos honorários advocatícios (ônus de sucumbência),23 sem prejuízo da 
aplicação de sanções no caso de litigância de má-fé. 
 
4.45.15. DESISTÊNCIA 
O mandado de segurança admite desistência em qualquer tempo e grau de 
jurisdição, independentemente do consentimento do impetrado, mesmo que já 
tenha sido proferida decisão de mérito, desde que, evidentemente, ainda não 
tenha ocorrido o trânsito em julgado.24 
 
4.45.16. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO 
O mandado de segurança coletivo constitui remédio constitucional previsto no 
art. 5.º, LXX, da Constituição Federal direcionado à defesa de direitos coletivos e 
individuais homogêneos, contra ato, omissão ou abuso de poder por parte de 
autoridade. 
O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de 
seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária; ou 
b) por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos 
líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na 
forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, 
dispensada, para tanto, autorização especial. 
Anote-se que a exigência de um ano de constituição e funcionamento destina-
se apenas às associações, não se aplicando às entidades sindicais e entidades de 
classe. 
 
23
 STF, Súmula 512: “Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de 
segurança.” 
 
24
 RE 231.509 AgR-AgR/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 13.10.2009; RE 231.671 AgR-AgR/DF, rel. Min. Ellen 
Gracie, 28.04.2009; MS 24.584 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão, Min. Ricardo 
Lewandowski, 09.08.2007. 
No mandado de segurança coletivo, o interesse invocado pertence a uma 
categoria, agindo o impetrante – partido político, organização sindical, entidade de 
classe ou associação – como substituto processual na relação jurídica. 
Com efeito, a legitimação das entidades acima enumeradas, para a segurança 
coletiva, é extraordinária, ocorrendo, em tal caso, substituição processual. Não 
se exige, por isso, a autorização expressa dos titulares do direito,25 diferentemente 
do que ocorre no caso do inciso XXI do art. 5.º da Carta Política, que contempla 
caso de representação (e não de substituição). 
Assim, se uma associação pleitear judicialmente determinado direito em favor 
de seus associados por outra via que não seja a do mandado de segurança 
coletivo, será necessária a autorização expressa, prescrita no art. 5.º, XXI, da 
Constituição (caso de representação). Entretanto, na hipótese de esse mesmo 
direito vir a ser defendido pela associação por meio do mandado de segurança 
coletivo, não haverá necessidade da autorização expressa dos associados (caso 
de substituição). 
Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser: 
I – coletivos, assim entendidos os transindividuais, de natureza indivisível, de 
que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica básica; 
II – individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem 
comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos 
associados ou membros do impetrante. 
Os partidos políticos podem defender, mediante mandado de segurança 
coletivo, direitos relativos a seus integrantes ou direitos relacionados à finalidade 
partidária; a legitimação das demais entidades é mais restrita, uma vez que elas 
só podem defender direitos dos seus membros ou associados – e desde que 
esses direitos sejam pertinentes às finalidades da entidade (exigência esta 
introduzida pela lei, não expressa no texto constitucional). 
É importante frisar que os direitos defendidos por organização sindical, 
entidade de classe ou associação não precisa ser um direito de todos os seus 
membros; pode ser um direito de apenas parte dos membros da entidade26 Assim, 
o sindicato dos Delegados de Polícia Federal, que congrega servidores ativos e 
inativos, poderá ajuizar um mandado de segurança coletivo na defesa de interesse 
exclusivo dos Delegados inativos (parte da categoria, portanto). 
 
25
 STF, Súmula 629: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos 
associados independe da autorização destes.” 
 
26
 STF, Súmula 630: “A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a 
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.” 
 
No caso de mandado de segurança coletivo impetrado contra autoridade 
vinculada a pessoa jurídica de direito público, a liminar só poderá ser concedida 
após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica, que deverá se 
pronunciar no prazo de setenta e duas horas. 
Por fim, vale observar que o mandado de segurança coletivo não é sucedâneo 
da ação popular.27 
Com efeito, o mandado de segurança coletivo deve defender direito subjetivo, 
líquido e certo, que, embora seja tutelado coletivamente, é de titularidade definida 
– o direito tutelado, seja um direito coletivo, seja um direito individual homogêneo, 
é de titularidade dos substituídos processuais, significa dizer, das pessoas 
determinadas cujos interesses o autor da ação, na qualidade de substituto 
processual, está defendendo. A ação popular, diversamente, visa a anular ato 
administrativo lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio 
ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural, independentemente de o ato 
impugnado ocasionar lesão direta a quem quer que seja. Os direitos defendidos 
mediante ação popular pertencem, em regra, a titulares indeterminados, isto é, 
são direitos difusos, os quais não foram contemplados na Lei 12.016/2009 para 
tutela mediante mandado de segurança coletivo. 
 
8) No item 4.47 foi acrescentado o parágrafo abaixo, em azul: 
4.47. Habeas data 
.......... 
Portanto, o habeas data poderá ser impetrado: 
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do 
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades 
governamentais ou de caráter público; 
b) para a retificação desses dados, quando não se prefira fazê-lo por 
processo sigiloso, judicial ou administrativo; 
c) para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação 
ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob 
pendência judicial ou amigável. 
É relevante anotar que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal, o habeas data não é instrumento jurídico adequado para pleitear o 
acesso a autos de processos administrativos.28 
Ademais, o direito a receber dos órgãos públicos informações de interesse 
 
27
 STF, Súmula 101: “O mandado de segurança não substitui a ação popular.” 
 
28
 HD 90/DF, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, unânime, 18.02.2010. 
próprio, em sede de habeas data, não se reveste de caráter absoluto, cedendo 
passo quanto aos dados protegidos por sigilo, em prol da segurança da sociedade 
e do Estado. 
........... 
 
9) No item 5.1, a redação do art.
6º da Constituição Federal passou a ser esta, 
abaixo transcrita: 
5. DIREITOS SOCIAIS 
5.1. Noções 
Estabelece o art. 6.º da Constituição Federal: 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à 
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.29 
..................... 
 
 
 
CAPÍTULO 4 
 
1) O item 6.3. passou a ter a seguinte redação (reprodução da parte do item 
que contém as alterações): 
 
6.3. Municípios 
................. 
O município reger-se-á por Lei Orgânica, votada em dois turnos, com o 
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da 
câmara municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos na 
Constituição Federal, na Constituição do respectivo estado e os seguintes 
preceitos (CF, art. 29): 
a) eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos vereadores, para mandato 
de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o 
País; 
b) eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo 
 
29
 Redação dada pela EC nº 64/2010. 
de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, 
aplicadas as regras para eleição do Presidente da República, no caso de 
municípios com mais de duzentos mil eleitores; 
c) posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1.º de janeiro do ano 
subseqüente ao da eleição; 
d) perderá o mandato o Prefeito que assumir outro cargo ou função na 
Administração Pública Direta ou Indireta, ressalvada a posse em virtude de 
concurso público, hipótese em que será afastado do seu cargo, emprego 
ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração, mantendo-se a 
contagem do tempo de serviço para todos os efeitos legais, exceto para 
promoção por merecimento (CF, art. 29, XIV); 
e) os subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos secretários 
municipais devem ser fixados por lei de iniciativa da câmara municipal; 
f) o total da despesa com a remuneração dos vereadores não poderá 
ultrapassar o montante de cinco por cento (5%) da receita do município; 
g) inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos no 
exercício do mandato e na circunscrição do município; 
h) as proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, devem 
ser similares, no que couber, ao disposto na Constituição Federal para os 
membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo estado 
para os membros da assembléia legislativa; 
i) organização das funções legislativas e fiscalizadoras da câmara 
municipal; 
j) cooperação das associações representativas no planejamento 
municipal; 
k) deve ser prevista iniciativa popular de projetos de lei de interesse 
específico do município, da cidade ou de bairros, mediante manifestação 
de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado. 
O subsídio dos vereadores será fixado pelas respectivas câmaras municipais 
em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe a Constituição 
Federal, os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes 
limites máximos, fixados como percentuais do subsídio dos deputados estaduais: 
 
Nº de habitantes 
do Município 
Subsídio máximo 
do Vereador (em % 
do subsídio dos 
deputados estaduais) 
Até 10.000 20% 
De 10.001 a 30% 
50.000 
50.001 a 100.000 40% 
100.001 a 
300.000 
50% 
300.001 a 
500.000 
60% 
Acima de 500.000 75% 
 
A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita 
com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus vereadores. 
A EC 58/2009 deu nova redação ao inciso IV do art. 29 da Constituição 
Federal, aumentando o número de vereadores por municipalidade, mediante a 
criação de vinte e quatro novos limites máximos para a composição das Câmaras 
Municipais. De acordo com o novo regramento constitucional, passaram a ser os 
seguintes os limites máximos para a composição das Câmaras Municipais, 
considerada a população local: 
 
Nº de habitantes do Município Limite máximo de vereadores 
Até 15.000 9 
De 15.001 a 30.000 11 
De 30.001 a 50.000 13 
De 50.001 a 80.000 15 
De 80.001 a 120.000 17 
De 120.001 a 160.000 19 
De 160.001 a 300.000 21 
De 300.001 a 450.000 23 
De 450.001 a 600.000 25 
De 600.001 a 750.000 27 
De 750.001 a 900.000 29 
De 900.001 a 1.050.000 31 
De 1.050.001 a 1.200.000 33 
De 1.200.001 a 1.350.000 35 
De 1.350.001 a 1.500.000 37 
De 1.500.001 a 1.800.000 39 
De 1.800.001 a 2.400.000 41 
De 2.400.001 a 3.000.000 43 
De 3.000.001 a 4.000.000 45 
De 4.000.001 a 5.000.000 47 
De 5.000.001 a 6.000.000 49 
De 6.000.001 a 7.000.000 51 
De 7.000.001 a 8.000.000 53 
Mais de 8.000.000 55 
 
A referida EC 58/2009 determinou, também, a incidência retroativa desses 
novos limites, dispondo que eles seriam aplicáveis a partir do processo eleitoral de 
2008, a fim de que fossem refeitos os cálculos relativos ao quociente eleitoral das 
eleições realizadas em 2008, para a posse dos vereadores suplentes. 
Entretanto, essa determinação – esdrúxula e oportunista – de aplicação 
retroativa desses novos limites máximos de vereadores às eleições realizadas em 
2008 foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal, mediante a concessão de 
medida liminar em ação direta de inconstitucionalidade.30 
Importante destacar que, ao determinar a suspensão da eficácia do inciso I do 
art. 3º da referida emenda, que determinava a aplicação retroativa de tais novos 
limites às eleições ocorridas em 2008, o Supremo Tribunal Federal concedeu, 
expressamente, efeitos retroativos (ex tunc) à sua decisão, para o fim de invalidar 
as posses de vereadores suplentes já ocorridas até a respectiva data. 
Essa mesma EC 58/2009 deu, também, nova redação ao art. 29-A da 
Constituição Federal, fixando novos percentuais máximos do total de despesas 
para as Câmaras Municipais, válidos a partir de 1º de janeiro de 2010. Desse 
modo, a partir de 1º de janeiro de 2010, o total da despesa do Poder Legislativo 
municipal, incluídos os subsídios dos vereadores e excluídos os gastos com 
inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório 
da receita tributária e das transferências constitucionais tributárias, efetivamente 
realizado no exercício anterior: 
 
Nº de habitantes Percentual máximo de despesa 
Até 100.000 7% 
De 100.001 a 300.000 6% 
De 300.001 a 500.000 5% 
De 500.001 a 3.000.000 4,5% 
De 3.000.001 a 8.000.000 4% 
Acima de 8.000.001 3,5% 
 
Estabelece a Constituição Federal que o Prefeito será julgado perante o 
Tribunal de Justiça (CF, art. 29, X). 
Entretanto, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a 
competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes 
de competência da justiça comum estadual. Nos demais casos, a competência 
originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau (Súmula 702). 
 
30
 ADI 4.307 e ADI 4.310, rel. Min. Cármen Lúcia Antunes Rocha, 11.11.2009. 
...................... 
 
 
 
CAPÍTULO 6 
 
1) A parte final do item 4 passou a ter a seguinte redação: 
4. NORMAS CONSTITUCIONAIS SOBRE INGRESSO NO SERVIÇO 
PÚBLICO 
............. 
O inciso IX do art. 37 da CF/88 prevê uma outra forma de admissão de pessoal 
pela Administração Pública, diversa do preenchimento de cargos efetivos e 
empregos públicos mediante concurso público, e diversa da nomeação para 
cargos em comissão. Trata-se da contratação por tempo determinado, para 
atender necessidade temporária de excepcional interesse público. 
O pessoal admitido com base no inciso IX do art. 37 do Texto Magno não
ocupa cargo público. Eles não estão sujeitos ao regime estatutário a que se 
submetem os servidores públicos titulares de cargos efetivos e os servidores 
públicos ocupantes de cargos em comissão. 
Embora os agentes públicos temporários tenham um contrato com o Poder 
Público, não se trata do “contrato de trabalho” propriamente dito, previsto na 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Aliás, o pessoal temporário da 
administração pública, em qualquer esfera da Federação, somente se sujeita à 
CLT nos termos em que determine a lei específica que os reja – caso tal lei o faça. 
De toda sorte, frise-se, o regime jurídico dos agentes públicos contratados por 
tempo determinado não é trabalhista, isto é, não são eles empregados celetistas, 
mas sim agentes públicos estatutários, embora tenham o seu próprio estatuto de 
regência (isto é, a lei que determina o seu regime jurídico), diferente do estatuto 
que regula as relações entre a administração pública e os servidores públicos 
titulares de cargos efetivos e comissionados. 
Podemos dizer que os agentes públicos contratados por tempo determinado 
exercem função pública remunerada temporária, tendo o seu vínculo funcional 
com a administração pública caráter jurídico-administrativo, e não trabalhista. 
Eles não têm um “contrato de trabalho” em sentido próprio; o contrato que firmam 
com a administração é um contrato de direito público, que não descaracteriza a 
sua condição de agentes públicos estatutários. 
O regime de previdência social a que estão sujeitos os agentes públicos 
contratados por tempo determinado é o regime geral (RGPS), aplicável a todos os 
trabalhadores civis, com exceção dos ocupantes de cargos públicos efetivos. 
É relevante registrar que o Supremo Tribunal Federal, em inúmeros julgados, 
envolvendo diversos entes federados, firmou a orientação de que as lides entre o 
Poder Público contratante e os agentes públicos temporários contratados com 
base no inciso IX do art. 37 da Constituição da República não são da 
competência da Justiça do Trabalho, e sim da Justiça Comum, federal ou 
estadual (ou do Distrito Federal), conforme o caso.31 Por outras palavras, os 
agentes públicos temporários federais, quanto às causas relacionadas à sua 
relação funcional com a administração pública federal, têm foro na Justiça Federal; 
os agentes públicos temporários estaduais, municipais ou distritais, quanto às 
lides atinentes à sua relação funcional com a administração pública do respectivo 
ente federado, têm foro na Justiça Estadual (ou do Distrito Federal). 
Na esfera federal, a contratação por prazo determinado encontra-se 
disciplinada na Lei 8.745/1993, bastante alterada por diversas leis posteriores. O 
âmbito de aplicação dessa lei restringe-se aos órgãos da administração direta 
federal, às autarquias e às fundações públicas federais. 
A contratação temporária na esfera federal não é feita mediante concurso 
público, mas sim por meio de processo seletivo simplificado sujeito a ampla 
divulgação, inclusive no Diário Oficial da União. É dispensado processo seletivo na 
hipótese de contratação para atender às necessidades decorrentes de 
calamidade pública e de emergência ambiental. Em alguns casos, como no de 
contratação de professor e pesquisador visitante estrangeiro, a Lei 8.745/1993 
permite a seleção baseada somente em análise de currículo que demonstre 
notória capacidade técnica ou científica do profissional. 
Em diversos julgados, o Supremo Tribunal Federal tem afirmado que o inciso 
IX do art. 37 da Constituição deve ser interpretado restritivamente, porque 
configura exceção à regra geral que estabelece o concurso público como o meio 
idôneo à admissão de pessoal no serviço público, verdadeiro corolário do princípio 
republicano.32 Conforme deixou assente em mais de uma oportunidade, a 
observância cumulativa de quatro requisitos é necessária para que se considere 
legítima essa contratação temporária, em todos os níveis da Federação, a saber: 
a) os casos excepcionais devem estar previstos em lei; b) o prazo de contratação 
deve ser predeterminado; c) a necessidade deve ser temporária; e d) o interesse 
público deve ser excepcional.33 
 
2) O item 5.8. passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item): 
 
 
31
 Vide, entre outros, RE 573.202/AM, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.08.2008; CC 7.201/AM, rel. orig. Min. Marco 
Aurélio, rel. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 29.10.2008; Rcl 4.489 AgR/PA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ 
o acórdão Min. Cármen Lúcia, 21.08.2008; Rcl 6.667/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 05.12.2008; Rcl 4.464/GO, rel. orig. 
Min. Carlos Britto, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 20.05.2009. 
 
32
 ADI 1500/ES, rel. Min. Carlos Velloso, 19.06.2002; ADI 890/DF, rel. Min. Maurício Corrêa, 11.09.2003. 
33
 ADI 2.229/ES, rel. Min. Carlos Velloso, 09.06.2004, unânime; ADI 3.210/PR, rel. Min. Carlos Velloso, 
11.11.2004, unânime; ADI 3.430/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.08.2009, unânime; vide Informativo 
555 do STF. 
5.8. Direitos trabalhistas atribuídos pela Constituição aos servidores 
públicos 
O art. 39, § 3.º, da Constituição, alterado pela EC 19/1998, concede aos 
“servidores ocupantes de cargo público” (estatutários) os seguintes direitos 
trabalhistas, previstos no art. 7.º da Carta Política: 
a) salário mínimo; 
b) garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem 
remuneração variável; 
c) décimo terceiro; 
d) remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; 
e) salário-família; 
f) duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e 
quarenta e quatro semanais; 
g) repouso semanal remunerado; 
h) remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 
cinqüenta por cento à do normal; 
i) férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que 
a remuneração normal; 
j) licença à gestante; 
k) licença-paternidade; 
l) proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos 
específicos, nos termos da lei; 
m) redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de 
saúde, higiene e segurança; 
n) proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de 
critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. 
As principais alterações introduzidas ao § 3º do art. 39 pela EC 19/1998 foram: 
(i) a supressão da referência ao inciso IV do art. 7º, que trata da 
irredutibilidade do salário dos trabalhadores em geral, uma vez que já 
existe regra específica, no art. 37, XV, assecuratória da irredutibilidade dos 
vencimentos dos servidores públicos; 
(ii) a supressão da referência ao inciso XXIII do art. 7º, que garante aos 
trabalhadores em geral “adicional de remuneração para as atividades 
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei”. Portanto, para os 
servidores públicos não há um direito constitucionalmente assegurado a 
esses adicionais, muito embora não exista óbice a que o legislador de 
quaisquer dos entes federados os conceda; e 
(iii) autorização para que a lei estabeleça requisitos diferenciados 
de admissão aos cargos públicos, quando a natureza do cargo assim exija, 
isto é, quando haja razoabilidade para a discriminação. Seria exemplo a 
realização de concurso público para a contratação de servidora para 
ocupar o cargo de agente carcerária numa penitenciária de mulheres. 
Trata-se, essa ressalva, de uma suavização da regra citada no item “n” 
acima, vedatória do estabelecimento de diferenças nos critérios de 
admissão de servidores públicos. Evidentemente, diferenças puramente 
discriminatórias serão sempre inconstitucionais, sendo mesmo 
desnecessária regra que explicite essa obviedade. 
O item “a”, acima, merece um comentário. O Supremo Tribunal Federal já 
afirmou que a Constituição garante ao servidor público o direito
ao salário mínimo, 
nacionalmente unificado, conforme assegurado aos trabalhadores da iniciativa 
privada (CF, art. 39, § 3º), mas que, para o fim de obediência ao postulado 
constitucional, há que se observar a remuneração do servidor, e não o seu 
vencimento básico. Vale dizer, não há necessidade de que o vencimento básico 
corresponda ao salário mínimo; basta que a remuneração do servidor (vencimento 
básico + vantagens pecuniárias permanentes) perfaça o valor do salário mínimo. 
Essa orientação está, hoje, sedimentada na Súmula Vinculante 16, cuja 
redação segue transcrita: 
“16 – Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/98), da 
Constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor 
público.” 
Assunto relacionado ao que acabamos de expor, a merecer breve análise, é 
abordado na Súmula Vinculante 15. É o seguinte o seu enunciado: 
“15 – O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público 
não incide sobre o abono utilizado para se atingir o salário mínimo.” 
As situações que deram origem à Súmula Vinculante 15, em linhas gerais, 
podem ser assim descritas: determinados entes federados têm leis que garantem 
que, na hipótese de o vencimento básico de algum de seus cargos públicos ser 
inferior ao salário mínimo a que se refere o inciso IV do art. 7º da Constituição do 
Brasil, será devido um abono que complementará o valor desse vencimento 
básico, de tal forma que o somatório do abono com o vencimento básico seja igual 
ao valor do referido salário mínimo. Essas mesmas leis, usualmente, proíbem que 
gratificações e outras vantagens pecuniárias integrantes da remuneração total 
sejam calculadas sobre o valor desse somatório – “vencimento básico + abono”. 
Vale dizer, essas leis normalmente determinam que as gratificações e outras 
vantagens pecuniárias incidam unicamente sobre o valor do vencimento básico. 
Diversos servidores, então, ajuizaram ações questionando essa exclusão do 
abono no cálculo das gratificações e outras vantagens integrantes de suas 
remunerações totais, alegando que o abono, uma vez recebido, passaria a 
integrar o próprio vencimento básico e, por isso, não faria sentido calcular os 
adicionais sobre um valor que não mais existiria (o valor do vencimento básico 
sem o abono). 
Pois bem, o Supremo Tribunal Federal decidiu que seria inconstitucional a 
incidência das gratificações e outras vantagens pecuniárias sobre o valor 
representado pelo somatório “vencimento básico + abono”. 
Isso porque, sendo esse valor (“vencimento básico + abono”) igual ao do 
salário mínimo, a incidência dos adicionais sobre ele acarretaria, no fim das 
contas, vinculação do valor das gratificações e outras vantagens ao valor do 
salário mínimo (toda vez que o salário mínimo aumentasse, as gratificações e 
vantagens pecuniárias aumentariam também, automaticamente). Ocorre, porém, 
que qualquer vinculação de valores ao valor do salário mínimo é expressamente 
proibida pelo art. 7º, IV, da Carta Política. 
Em suma, o raciocínio desenvolvido pelo STF foi o seguinte: toda vez que o 
salário mínimo for reajustado, o valor do abono também será alterado, a fim de 
que o binômio “vencimento básico + abono” iguale o salário mínimo; assim sendo, 
se as gratificações e vantagens fossem calculadas sobre o valor do conjunto 
“vencimento básico + abono”, o reajuste do salário mínimo acarretaria, 
automaticamente, também, a alteração do valor das gratificações e vantagens. 
Por isso, conforme o literal entendimento do STF, “a incidência de gratificações 
e outras vantagens sobre o resultado da soma do vencimento com o abono – este 
utilizado para se atingir o salário mínimo – contraria o art. 7º, IV, da CF, por 
implicar vinculação nele vedada”. 
Anote-se que não existe, na esfera federal, previsão de “abono” destinado a 
complementar o vencimento básico, a fim de que este alcance o valor do salário 
mínimo. O vencimento básico de cargos federais, cumpre repetir, pode 
perfeitamente ser menor do que o salário mínimo; o que não pode ser menor do 
que o salário mínimo, em nenhum ente federado, é a remuneração do servidor 
público (vencimento básico + vantagens pecuniárias permanentes). 
 
 
 
CAPÍTULO 7 
 
1) O item 7.4. passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item): 
 
7.4. Desobrigação de testemunhar 
Estabelece a Constituição que os deputados e senadores não serão obrigados 
a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício 
do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam 
informações (art. 53, § 6.º). 
Como se vê, a norma constitucional não é impositiva, fixando, apenas, uma 
faculdade ao congressista, que poderá, se entender conveniente para o interesse 
público e para o bom desempenho de suas atribuições congressuais, ocultar as 
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, bem 
assim sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. 
Nada o impede, portanto, de abrir mão dessa prerrogativa constitucional e revelar 
tais informações. 
Essa prerrogativa não abrange a sua obrigação de testemunhar quando 
convocado na condição de cidadão comum, sobre fatos que nada tenham a ver 
com o exercício da atividade congressual, no interesse de instrução penal ou civil. 
Nessa hipótese, assim como qualquer do povo, terá o parlamentar o dever de 
testemunhar. 
Os congressistas dispõem, ainda, da prerrogativa processual de serem 
inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e a autoridade 
competente, quando arrolados como testemunhas ou quando ostentarem a 
condição de ofendidos (vítimas). 
Supremo Tribunal Federal tem reiterado, no entanto, que essa prerrogativa 
não se estende ao parlamentar quando indiciado em inquérito policial ou quando 
figurar como réu em processo penal. Assim, o congressista, na qualidade de 
indiciado ou réu, tem apenas, como qualquer outra pessoa, o direito à 
observância, por parte do Poder Público, das garantias individuais fundadas na 
cláusula do devido processo legal (due process of law), podendo, inclusive, 
invocar o privilégio constitucional contra a auto-incriminação, a fim de recusar-se a 
responder ao interrogatório policial ou judicial. 
Por fim, vale lembrar que, por força da imunidade processual de que dispõe 
(art. 53, § 2º), o membro do Congresso Nacional, quando ostentar a condição 
formal de indiciado ou de réu, não poderá sofrer condução coercitiva, ainda que 
determinada pelo Supremo Tribunal Federal, se deixar de atender à convocação 
para responder a interrogatório. 
 
 
 
 
2) As partes inicial e final do item 8.1. passaram a ter a seguinte redação 
(reprodução dos trechos que contêm todas as alterações havidas no item): 
 
8.1. Tribunal de Contas da União 
Os tribunais de contas são órgãos vinculados ao Poder Legislativo, que o 
auxiliam no exercício do controle externo da administração pública, sobretudo o 
controle financeiro. Não existe hierarquia entre as cortes de contas e o Poder 
Legislativo. 
Os tribunais de contas não praticam atos de natureza legislativa, mas tão-
somente atos de fiscalização e controle, de natureza administrativa. 
Não obstante recebam a denominação de “tribunais”, as cortes de contas não 
exercem jurisdição, isto é, não dizem com definitividade o direito aplicável a um 
caso concreto litigioso; suas decisões não fazem “coisa julgada” em sentido 
próprio. 
Acerca da posição constitucional dos tribunais de contas no Brasil, merece 
transcrição, pela sua marcante clareza, este excerto da decisão proferida pelo 
Ministro Celso de Mello, em 01.07.2009, na ADIMC 4.190/RJ, da qual é relator 
(grifamos): 
“Cabe enfatizar, neste ponto, uma vez mais, na linha da 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que inexiste qualquer 
vínculo de subordinação institucional dos Tribunais
de Contas ao 
respectivo Poder Legislativo, eis que esses órgãos que auxiliam o 
Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas, a Câmara Legislativa 
do Distrito Federal e as Câmaras Municipais possuem, por expressa 
outorga constitucional, autonomia que lhes assegura o autogoverno, 
dispondo, ainda, os membros que os integram, de prerrogativas 
próprias, como os predicamentos inerentes à magistratura. 
Revela-se inteiramente falsa e completamente destituída de 
fundamento constitucional a idéia, de todo equivocada, de que os 
Tribunais de Contas seriam meros órgãos auxiliares do Poder 
Legislativo. 
Na realidade, os Tribunais de Contas ostentam posição eminente na 
estrutura constitucional brasileira, não se achando subordinados, por 
qualquer vínculo de ordem hierárquica, ao Poder Legislativo, de 
que não são órgãos delegatários nem organismos de mero 
assessoramento técnico.” 
O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no 
Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território 
nacional, podendo exercer, no que couber, as atribuições administrativas do art. 
96 da Constituição, outorgadas aos tribunais do Poder Judiciário. 
 
.................... 
 
Entretanto, o Tribunal de Contas da União – e, em decorrência da simetria, as 
demais Cortes de Contas – não dispõe de competência para determinar a quebra 
do sigilo bancário das pessoas submetidas ao seu controle. Com efeito, conforme 
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, embora as atividades do Tribunal 
de Contas da União, por sua natureza – verificação de contas e até mesmo o 
julgamento das contas das pessoas enumeradas no artigo 71, II, da Constituição 
Federal –, justifiquem a eventual quebra de sigilo, não houve essa determinação 
na lei específica (Lei Complementar n.º 105/2001) que tratou do tema, não 
cabendo a interpretação extensiva, mormente porque há princípio constitucional 
que protege a intimidade e a vida privada (CF, art. 5º, X), no qual está inserida a 
garantia ao sigilo bancário.34 
Não pode o Tribunal de Contas da União, tampouco, alterar determinações 
constantes de decisão judicial transitada em julgado, ainda que a decisão judicial 
implique a concessão de benefício a servidor ou a administrado e destoe daquilo 
que venha sendo decidido, em casos análogos, pelo Supremo Tribunal Federal.35 
Assim é porque a autoridade da coisa julgada não pode ser contrastada por 
nenhuma decisão administrativa – e as decisões das cortes de contas têm 
natureza administrativa. Sentença judicial transitada em julgado, em matéria cível, 
só pode ser validamente desconstituída, se for o caso, mediante ação rescisória. 
É oportuno registrar que o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 
Vinculante 3, acerca da abrangência do direito ao contraditório e ampla defesa 
nos processos que tramitam no TCU, cujo enunciado transcrevemos a seguir: 
3 – Nos processos perante o Tribunal de Contas da União 
asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da 
decisão puder resultar anulação ou revogação de ato 
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a 
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de 
aposentadoria, reforma e pensão. 
A fim de assegurar efetividade ao desempenho de suas atribuições, dispõe a 
Constituição que as decisões do Tribunal de Contas da União de que resulte 
imputação de débito ou multa têm eficácia de título executivo, isto é, 
consubstanciam instrumento idôneo para instruir e subsidiar o processo de 
execução do devedor perante o Poder Judiciário (art. 71, § 3.º). 
 Vale lembrar, ainda, que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal, os Tribunais de Contas, no desempenho de suas atribuições, podem 
realizar o controle de constitucionalidade das leis,36 isto é, no exame de um 
processo submetido à sua apreciação, podem afastar a aplicação de uma lei ou 
ato normativo do Poder Público por entendê-lo inconstitucional (controle 
incidental). 
 
34 MS 22.801, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 17.12.2007. 
 
35
 MS 28.150 MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 08.09.2009 (vide Informativo 561 do STF). 
36 STF, Súmula 347: “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis 
e dos atos do Poder Público.” 
 
Essa declaração de inconstitucionalidade pelos Tribunais de Contas deverá 
ser proferida por maioria absoluta de seus membros, por força da cláusula 
“reserva de plenário”, estabelecida no art. 97 da Constituição Federal. 
Por fim, cabe ressaltar que, em atenção ao direito de resposta, proporcional ao 
agravo, e à inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas, cuja lesão enseja 
indenização por dano moral ou material (CF, art. 5º, V e X), o Supremo Tribunal 
Federal firmou entendimento de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não 
pode manter em sigilo a autoria de denúncia a ele apresentada contra 
administrador público.37 
Com efeito, apontando como fundamento os incisos IV, V, X, XXXIII e XXXV 
do art. 5º da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal declarou a 
inconstitucionalidade da expressão "manter ou não o sigilo quanto ao objeto e à 
autoria da denúncia", constante do § 1º do art. 55 da Lei Orgânica do TCU (Lei 
8.443/1992), bem como do disposto no Regimento Interno do TCU, no ponto em 
que estabelece a permanência do sigilo relativamente à autoria da denúncia. 
Considerou a nossa Corte Maior que a manutenção do sigilo por parte do 
Poder Público impediria o denunciado de adotar as providências asseguradas pela 
Constituição na defesa de sua imagem, inclusive a de buscar a tutela judicial, 
salientando, ainda, o fato de que apenas em hipóteses excepcionais é vedado o 
direito das pessoas ao recebimento de informações perante os órgãos públicos 
(art. 5º, XXXIII). 
 
 
 
CAPÍTULO 8 
 
1) Foi acrescentado o parágrafo abaixo ao final do item 3.1.5: 
 
3.1.5. Iniciativa dos tribunais do Poder Judiciário 
............... 
Por fim, cabe destacar que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal, a iniciativa legislativa, no que respeita à criação de sistema de conta 
única de depósitos judiciais e extrajudiciais, cabe ao Poder Judiciário, sendo 
 
37
 MS 24.405/DF, rel. Min. Carlos Velloso, 3.12.2003. 
 
inconstitucional a deflagração do processo legislativo pelo chefe do Poder 
Executivo.38 
 
2) Foi acrescentado ao item 3.2. o subitem abaixo, renumerando-se os 
subsequentes (reprodução integral do subitem): 
 
3.2.4. Irrepetibilidade (relativa) de matéria rejeitada 
Estabelece o art. 67 da Constituição Federal o princípio da irrepetibilidade, 
na mesma sessão legislativa,
 
de matéria rejeitada em projeto de lei, nos termos 
seguintes: 
“Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá 
constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta 
da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso 
Nacional.” 
 Anote-se que essa irrepetibilidade é relativa, haja vista que a matéria poderá 
constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, desde que ocorra 
solicitação de maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do 
Congresso Nacional. Não há, também, qualquer vedação à repetição da matéria 
em novo projeto de lei em sessão legislativa distinta daquela em que se deu a 
rejeição. 
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, essa regra aplica-se 
unicamente aos casos de novos projetos gerados no âmbito do Poder Legislativo, 
não limitando a iniciativa advinda de órgãos externos a este, por exemplo, do 
Presidente da República, dos tribunais do Poder Judiciário e do Ministério 
Público.39 
Importante destacar, ainda de acordo com a jurisprudência
do Supremo 
Tribunal Federal, que a regra do art. 67 da Constituição Federal – que prevê a 
irrepetibilidade (relativa) dos projetos rejeitados na mesma sessão legislativa – 
não impede o Presidente da República de submeter à apreciação do Congresso 
Nacional, reunido em convocação extraordinária, projeto de lei versando, total ou 
parcialmente, idêntica matéria que tenha sido objeto de medida provisória 
rejeitada pelo mesmo parlamento, em sessão legislativa anterior. 
No entanto, o Presidente da República não pode, sob pena de ofensa ao 
princípio da separação de poderes e de transgressão à integridade da ordem 
democrática, valer-se de medida provisória para disciplinar matéria que já tenha 
 
38
 ADI 3.458, rel. Min. Eros Grau, 21.02.2008 
 
39
 ADI 2.010-2/DF, rel. Min. Celso de Mello, 12.04.2002. 
sido objeto de projeto de lei anteriormente rejeitado na mesma sessão 
legislativa. 
 
 
3) O item 7.2.5. passou a ter a seguinte redação em sua parte final: 
 
7.2.5. Trancamento de pauta 
................. 
Assim, se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias 
contados de sua publicação (não computados os períodos de recesso do 
Congresso Nacional), ocorrerá o trancamento de pauta, ficando sobrestadas todas 
as demais deliberações da Casa Legislativa, até que se ultime a votação da 
medida provisória. 
Esse instituto – trancamento da pauta das Casas Legislativas em decorrência 
de medida provisória não apreciado no prazo constitucional de quarenta e cinco 
dias –, combinado com o número elevado de medidas provisórias editadas pelo 
Presidente da República, ocasionou, nos últimos anos, uma considerável paralisia 
do Poder Legislativo brasileiro, que teve a pauta de suas Casas Legislativas 
trancada em percentual significativo do total de sessões. 
Em face dessa realidade, o constitucionalista Michel Temer, na qualidade de 
Presidente da Câmara dos Deputados, desenvolveu uma tese jurídica segundo a 
qual o trancamento de pauta em decorrência da não apreciação de medida 
provisória só implicaria o sobrestamento de matérias no âmbito das sessões 
ordinárias daquela Casa Legislativa, que ocorrem naquela Casa legislativa de 
terça a quinta-feira. O mencionado sobrestamento não impediria a apreciação, em 
sessões extraordinárias (que ocorrem de sexta à segunda-feira, ou nos períodos 
noturnos), daquelas matérias vedadas à espécie normativa medida provisória. 
Assim, em sessões extraordinárias, seria possível a apreciação de projetos de lei 
complementar, decreto legislativo, resoluções, emenda à Constituição, bem como 
todas as matérias vedadas à espécie normativa medida provisória, indicadas no § 
1º do art. 62 da Constituição Federal. 
Em síntese, a tese jurídica desenvolvida por Michel Temer implica interpretar a 
expressão constitucional “ficando sobrestadas todas as demais deliberações” (art. 
62, § 6º) como “ficando sobrestadas todas as demais deliberações no âmbito das 
sessões ordinárias, sem prejuízo da apreciação, em sessões extraordinárias, 
daquelas matérias que não podem ser disciplinadas por medida provisória”. 
Na prática, se perfilhado esse entendimento, o sobrestamento de pauta em 
razão da não apreciação de medida provisória alcançaria todas as deliberações no 
âmbito das sessões ordinárias, mas, em se tratando de sessões extraordinárias, 
apenas aquelas deliberações sobre matérias vedadas à medida provisória. 
Essa tese jurídica, advogada por Michel Temer, foi referendada, liminarmente, 
pelo Supremo Tribunal Federal.40 
Com efeito, ao denegar a medida liminar em mandado de segurança 
impetrado por congressistas – impugnando a adoção da mencionada tese pelo 
Presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer –, o Ministro Celso de Mello 
deixou assente que a decisão de Temer “teria, aparentemente, a virtude de fazer 
instaurar, no âmbito da Câmara dos Deputados, verdadeira práxis libertadora do 
desempenho da função primária que, histórica e institucionalmente, sempre lhe 
pertenceu: a função de legislar”, encontrando-se “apoiada em estrita construção 
de ordem jurídica, cujos fundamentos repousam no postulado da separação de 
poderes”. 
 
 
 
CAPÍTULO 10 
 
1) Foi acrescentado ao item 4. o subitem 4.1., abaixo reproduzido (reprodução 
integral do subitem): 
 
4.1. Sucessão do Chefe do Executivo no caso de dupla vacância 
determinada pela Justiça Eleitoral 
Conforme visto no item precedente, dispõe o art. 81 da Constituição Federal 
que vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República far-se-á 
nova eleição, observando-se o seguinte: 
a) caso a vacância ocorra nos dois primeiros anos do mandato, a eleição será 
direta, noventa dias depois de aberta a última vaga; 
b) ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a 
eleição (indireta) para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última 
vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. 
Por sua vez, o art. 224 do Código Eleitoral, ao regulamentar essa matéria, 
estabelece o seguinte: 
“Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas 
eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do 
município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações 
e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 
(quarenta) dias.” 
 
40
 
MS 27.931, rel. Ministro Celso de Mello, 27.03.2009. 
 
Por força desse dispositivo legal, temos que, nas eleições por ele 
especificadas, sempre que a nulidade determinada pela Justiça Eleitoral atingir a 
mais de metade dos votos, na respectiva circunscrição, será considerado 
prejudicado todo o pleito eleitoral, e convocada nova eleição. 
Acontece, porém, que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é 
firme no entendimento de que esse dispositivo legal só se aplica às hipóteses em 
que o governante cassado pela Justiça Eleitoral tenha sido eleito no primeiro 
turno.41 Isso porque, nesse caso, a decretação, pela Justiça Eleitoral, da nulidade 
dos votos do candidato vencedor já implica, por si, a nulidade de mais da metade 
dos votos válidos, satisfazendo, portanto, o requisito legal para a nulidade de todo 
o pleito eleitoral e realização de nova eleição, nos termos do transcrito art. 224 do 
Código Eleitoral. 
Em se tratando de cassação de mandato de candidato eleito no segundo 
turno, o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral é de que não se aplica esse 
mesmo regramento. Com efeito, nos termos do entendimento prevalente no TSE, 
os votos do candidato eleito no segundo turno, anulados por decisão judicial, são 
excluídos do universo dos votos válidos no primeiro turno. Em seguida, faz-se o 
novo cálculo e se apura se o segundo colocado obteve a maioria absoluta dos 
votos válidos no primeiro escrutínio. Em caso positivo, o segundo colocado deve 
ser proclamado eleito. Em caso negativo, deve-se proceder a um novo segundo 
turno com a participação dos dois candidatos mais votados no primeiro. 42 
Assim, em se tratando de vacância da chefia do Poder Executivo determinada 
pela Justiça Eleitoral, temos o seguinte: 
a) se o governante houver sido eleito em primeiro turno, aplica-se o 
regramento do art. 224 do Código Eleitoral: far-se-á nova eleição, obedecendo-se 
às regras básicas previstas no art. 81 da Constituição Federal (isto é, a eleição 
será direta, caso a vacância ocorra nos dois primeiros anos do mandato; e 
indireta, pelo Poder Legislativo local, caso a vacância ocorra nos dois últimos anos 
do mandato); 
b) se o governante houver sido eleito em segundo turno, não se aplica o 
regramento do art. 224 do Código Eleitoral, observando-se o seguinte: os votos do 
candidato cassado são excluídos do universo dos votos válidos
no primeiro turno; 
em seguida, faz-se o novo cálculo e se apura se o segundo colocado obteve a 
maioria absoluta dos votos válidos no primeiro escrutínio; em caso positivo, o 
 
41
 Acórdão 21.320, rel. Min. Luiz Carlos Madeira, 09.11.2004. 
 
42
 Consulta 1.657/PI, Rel. Min. Eliana Calmon, 19.12.2008. 
 
segundo colocado deve ser proclamado eleito; em caso negativo, deve-se 
proceder a um novo segundo turno com a participação dos dois candidatos mais 
votados no primeiro. 
Para ilustrar, vejamos, a seguir, algumas situações ocorridas em nosso país na 
sucessão de Governadores de Estado que tiveram seu mandado cassado pela 
Justiça Eleitoral. 
Nas eleições de 2006, para Governador do Estado do Maranhão (MA), o 
candidato Jackson Lago (PDT) foi eleito no segundo turno, na forma do art. 77, § 
3º, da Constituição Federal. Em 2009, o seu mandato foi cassado pela Justiça 
Eleitoral, por abuso de poder político e econômico. Não houve nova eleição no 
Estado; no lugar de Jackson Lago, assumiu o mandato a segunda colocada nas 
eleições, Roseana Sarney (PMDB), proclamada eleita pela justiça eleitoral. Por 
quê? Ora, porque com a cassação de Jackson Lago, todos os votos por ele 
obtidos no primeiro turno das eleições foram excluídos do universo dos votos 
válidos e, depois disso, foram refeitos os cálculos, a fim de se verificar se Roseana 
Sarney obteria a maioria absoluta dos votos válidos no primeiro escrutínio 
(desconsiderados os votos de Jackson Lago, que foram excluídos, por nulidade). 
Como se apurou que, quando excluídos os votos (nulos) de Jackson Lago, 
Roseana Sarney alcançou a maioria absoluta dos votos válidos no primeiro turno, 
ela foi proclamada eleita pela justiça eleitoral. 
Vale registrar que, caso, com a exclusão dos votos de Jackson Lago do 
universo dos votos válidos do primeiro turno, a segunda colocada, Roseana 
Sarney, não tivesse obtido a maioria absoluta dos votos válidos, far-se-ia um novo 
segundo turno, com a participação dos dois candidatos mais votados no primeiro 
(isto é, haveria um novo segundo turno entre Roseana Sarney e o outro candidato 
mais votado no primeiro turno). 
Já no Estado de Tocantins (TO), nas mesmas eleições de 2006, o candidato 
Marcelo Miranda (PMDB) foi eleito Governador no primeiro turno, por ter obtido a 
maioria absoluta dos votos válidos, na forma do § 2º do art. 77 da Constituição 
Federal. Em 2009, o seu mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral, por abuso de 
poder político. O candidato segundo colocado não assumiu o mandato; foi 
determinada pela Justiça Eleitoral a realização de eleição indireta, pela 
Assembleia Legislativa. Por quê? Porque, nesse caso, como o governador 
cassado havia sido eleito no primeiro turno, foi decretada a nulidade de todo o 
processo eleitoral, em razão da declaração da nulidade de mais da metade dos 
votos válidos (votos do governador cassado), com fundamento no art. 224 do 
Código Eleitoral, bem como determinada a realização de eleição indireta, pela 
Assembleia Legislativa, com fulcro no art. 81, § 1º, da Constituição Federal. Com 
efeito, foi realizada eleição indireta pela Assembleia Legislativa, sendo eleito o 
candidato Carlos Henrique Gaguim (PMDB), tendo em vista que a cassação 
ocorreu no penúltimo ano do mandato (se essa cassação pela Justiça Eleitoral 
houvesse ocorrido nos dois primeiros anos do mandato, far-se-ia eleição direta, na 
forma do caput do art. 81 da Constituição Federal). 
Ainda sobre esse assunto, no tocante ao procedimento para a realização de 
eleição indireta, pela Assembleia Legislativa, para escolha do Governador de 
Estado, entende o Supremo Tribunal Federal que “o Estado-membro dispõe de 
competência para disciplinar o processo de escolha, por sua Assembléia 
Legislativa, do Governador e do Vice-Governador do Estado, nas hipóteses em 
que se verificar a dupla vacância desses cargos nos últimos dois anos do período 
governamental”.43 Para o Tribunal, considerando que a Constituição Federal é 
silente a respeito, os estados-membros têm autonomia, inclusive, para estabelecer 
que a mencionada eleição indireta, pela Assembleia Legislativa, dar-se-á mediante 
votação aberta, e não secreta.44 
Por fim, cabe registrar que, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal, compete exclusivamente ao município legislar sobre a vocação 
sucessória dos cargos de prefeito e vice-prefeito, no caso de dupla vacância, 
tendo em vista sua competência constitucional para legislar sobre assuntos de 
interesse local (art. 30, I). Não pode a Constituição Estadual dispor sobre essa 
matéria, sob pena de ferir a autonomia desses entes locais, mitigando-lhes a 
capacidade de auto-organização e de autogoverno.45 
 
 
 
CAPÍTULO 11 
 
1) Foram acrescentados ao item 7 os parágrafos abaixo: 
 
7. VEDAÇÕES 
................... 
 
43
 ADI 1.057/BA, rel. Min. Celso de Mello, 20.04.2004. 
 
44
 ADI 4.298/TO, rel. Min. Cezar Peluso, 07.10.2009. 
 
45
 ADI 3.549/GO, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.09.2007. 
 
Em relação ao exercício do magistério, o Supremo Tribunal Federal firmou 
entendimento de que é permitido aos juízes exercer mais de uma atividade de 
magistério, desde que compatíveis com o exercício da magistratura. Para o 
Tribunal, a Constituição Federal não impõe uma única atividade de magistério, 
mas sim o exercício desta função compatível com a de magistrado, para impedir 
que a acumulação autorizada prejudique, em termos de horas destinadas ao 
ensino, o exercício da magistratura.46 
Ademais, entende a Corte Maior que não há vedação a que a atividade de 
magistério seja desempenhada pelos juízes no horário do expediente do juízo ou 
tribunal, “tendo em vista que o magistrado que eventualmente lecionar pelas 
manhãs, ou mesmo à tarde, certamente poderá compensar as suas atividades 
jurisdicionais de diversas outras maneiras, sem comprometimento quanto à 
prestação judicial”.47 
Os magistrados não podem, porém, atuar na Justiça Desportiva, haja vista 
que a eles só é constitucionalmente permitida a acumulação da atividade judicante 
com o magistério (art. 95, parágrafo único, I).48 
 
2) A parte inicial do item 9. passou a ter a redação abaixo: 
 
9. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
A Emenda Constitucional n.º 45/2004 criou o Conselho Nacional de Justiça, 
órgão integrante da estrutura do Poder Judiciário, com sede na Capital Federal, 
com a incumbência de realizar o controle da atuação administrativa e financeira do 
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. 
O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com 
mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: 
I – o Presidente do Supremo Tribunal Federal; 
II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo 
respectivo tribunal; 
 
46
 ADI 3.126, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.02.2005. 
47
 ADI 3.508, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.06.2007. 
 
48
 MS 25.938, rel. Min. Cármen Lúcia, 24.04.2008. 
 
 
III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo 
respectivo tribunal; 
IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo 
Supremo Tribunal Federal; 
V – um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; 
VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior 
Tribunal de Justiça; 
VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; 
VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo 
Tribunal Superior do Trabalho; 
IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do 
Trabalho; 
X – um membro do Ministério Público da União, indicado pelo 
Procurador-Geral da República; 
XI – um membro do Ministério Público estadual,
escolhido pelo 
Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão 
competente de cada instituição estadual; 
XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem 
dos Advogados do Brasil; 
XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, 
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. 
O Conselho Nacional de Justiça será presidido pelo presidente do Supremo 
Tribunal Federal e, nas suas ausências ou impedimentos, pelo Vice-Presidente 
desse Tribunal (art. 103-B, § 1º).49 
A EC 61/2009 afastou a submissão dos nomes do Presidente e do Vice-
Presidente do Supremo Tribunal Federal à aprovação da maioria absoluta do 
Senado Federal como condição prévia para a nomeação para o Conselho, haja 
vista que eles, como ministros da Alta Corte, já foram anteriormente submetidos a 
essa aprovação legislativa, por ocasião de sua nomeação para este cargo, por 
força do art. 101, parágrafo único, da Constituição Federal. 
Os demais membros do Conselho Nacional de Justiça continuam sendo 
nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela 
maioria absoluta do Senado Federal (art. 103-B, § 2º). 
 
49
 Redação dada pela EC nº 61/2009. 
 
A EC 61/2009 afastou, também, os limites de idade – mínimo e máximo – para 
os membros do Conselho Nacional de Justiça (anteriormente, esses limites eram 
de trinta e cinco e sessenta e cinco anos, respectivamente) e excluiu a vedação à 
distribuição de processos ao Presidente do Conselho.50 
Note-se que, embora seja órgão integrante do Poder Judiciário, o Conselho 
Nacional de Justiça possui membros alheios ao corpo da magistratura – 
representantes do Ministério Público, da advocacia e da sociedade, estes últimos 
indicados pelo Legislativo –, o que, segundo o entendimento do Supremo Tribunal 
Federal, “além de viabilizar a erradicação do corporativismo, estende uma ponte 
entre o Judiciário e a sociedade, permitindo a oxigenação da estrutura burocrática 
do Poder e a resposta a críticas severas”.51 
O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-
Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, 
competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da 
Magistratura, as seguintes: 
...................... 
 
3) Foram acrescentados ao item 14 os parágrafos abaixo, em azul: 
 
14. JUSTIÇA DO TRABALHO 
.............. 
Em relação ao inciso I do art. 114, o Supremo Tribunal Federal firmou 
entendimento de que a competência da Justiça do Trabalho não alcança o 
julgamento de ações entre o Poder Público e servidores públicos com vínculo 
estatutário, investidos em cargo efetivo ou em cargo em comissão, haja vista que 
o vínculo jurídico de natureza estatutária vigente entre servidores públicos e a 
administração é estranho ao conceito de relação de trabalho.52 Assim, as ações 
envolvendo servidores públicos federais regidos por regime estatutário, ou seja, 
pela Lei 8.112/1990, continuam sob a competência da Justiça Federal.53 
Também entende o Supremo Tribunal Federal que, com fundamento no inciso 
II do art. 114 da Constituição, a Justiça do Trabalho é competente para processar 
 
50
 Anteriormente, o § 1º do art. 103-B vedava, expressamente, a distribuição de processos 
ao Presidente. 
51 ADI 3.367/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 13.04.2005. 
 
52 ADI 3.395, rel. Min. Cezar Peluso, 05.04.2006. 
 
53 Por sua vez, as ações envolvendo servidores públicos estatutários estaduais e municipais e as respectivas 
Administrações Públicas também não são julgadas pela Justiça do Trabalho, mas sim pela Justiça comum estadual. 
 
e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve 
pelos trabalhadores da iniciativa privada.54 
No tocante ao inciso VI do art. 114, o Supremo Tribunal Federal firmou 
entendimento de que, após a promulgação da Emenda Constitucional n.º 
45/2004, as ações de indenização, inclusive por dano moral, propostas por 
empregado contra empregador (ou ex-empregador), fundadas em acidente do 
trabalho, são da competência da Justiça do Trabalho, e não da Justiça comum 
estadual.55 Frise-se que o Tribunal Maior decidiu que, nessa hipótese – ações de 
indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, 
movidas pelo empregado contra seu empregador – o marco temporal da 
competência da Justiça trabalhista é o advento da EC n.º 45/2004. A nova 
orientação alcançou os processos em trâmite pela Justiça comum estadual, desde 
que ainda não proferida sentença de mérito. Essas ações, cujo mérito ainda não 
fora apreciado, foram remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se 
encontravam, com total aproveitamento dos atos praticados até então. 
Diferentemente, as ações que tramitavam perante a Justiça comum dos estados, 
com sentença de mérito anterior à promulgação da EC 45/2004 (publicada em 
31.12.2004), lá continuaram até o trânsito em julgado e correspondente execução. 
Esse entendimento da Corte Máxima restou consolidado no enunciado da 
Súmula Vinculante 22, nestes termos: 
“22 – A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de 
indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho 
propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não 
possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da 
Emenda Constitucional nº 45/04.” 
Esclarecemos, porém, que esse entendimento – competência da Justiça do 
Trabalho – é restrito às ações propostas por empregado contra empregador (ou 
ex-empregador), visando à obtenção de indenização pelos danos oriundos de 
acidente de trabalho, não se aplicando às ações, ajuizadas contra o INSS, em que 
seja pleiteado benefício previdenciário decorrente de acidente do trabalho. 
Nestas – ações contra o INSS buscando o recebimento de benefício 
previdenciário decorrente de acidente de trabalho –, a competência é da Justiça 
comum estadual, por força da ressalva constante da parte final do art. 109, inciso 
I, da Constituição, que afasta a competência da Justiça Federal, não obstante ser 
o INSS uma autarquia federal. 
................. 
 
 
54
 Súmula Vinculante 23: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória 
ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.” 
 
55 CC 7.204/MG, rel. Min. Carlos Britto, 29.06.2005. 
 
4) O item 22 passou a ter a seguinte redação (reprodução integral do item, 
com todos os seus subitens): 
 
22. PRECATÓRIOS JUDICIAIS 
 O art. 100 da Constituição Federal estabelece a regra para o pagamento das 
dívidas das Fazendas Públicas decorrentes de decisões judiciais, submetendo-as 
ao regime dos precatórios, nos seguintes termos (redação dada pela EC 62/2009): 
“Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, 
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão 
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta 
dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas 
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.” 
Para o cumprimento desse regime de pagamento, as entidades de direito 
público estão obrigadas a incluir nos seus respectivos orçamentos verba 
necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em 
julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, 
fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus 
valores atualizados monetariamente (art. 100, § 5º). 
O regime dos precatórios estabelece um cronograma
para o pagamento dos 
débitos das Fazendas Públicas decorrentes de sentenças judiciais, cronograma 
esse que pode, em síntese, ser assim entendido: conforme transitam em julgado 
ações judiciais reconhecedoras de débitos da Fazenda Pública, são expedidos 
precatórios, que são apresentados à Fazenda Pública, em ordem cronológica, 
para pagamento; anualmente, a Fazenda Pública tem a obrigação de fazer 
constar da sua lei orçamentária verba necessária ao pagamento de seus débitos, 
consignados nos precatórios judiciais apresentados até 1º de julho, que deverão 
ser quitados até 31 de dezembro do ano seguinte. 
 
22.1. Exceção ao regime de precatórios 
O regime de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações 
definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas Públicas devam fazer 
em virtude de sentença judicial transitada em julgado (art. 100, § 3º). Com efeito, 
trata-se de uma única hipótese em que deverá ser feito o pagamento direto pela 
Fazenda, sem seguir a sistemática de precatórios: obrigações de pequeno valor, 
definidas em lei de cada ente federado. 
Para esse fim, leis dos diferentes entes federados – União, estados, Distrito 
Federal e municípios – poderão fixar valores distintos, segundo suas capacidades 
econômicas, ou seja, as “obrigações de pequeno valor” sujeitas a pagamento 
direto, sem precatórios, poderão ter valores diferentes para cada ente federado, 
tendo em vista suas realidades econômicas específicas, desde que seja 
observado, por todos os entes federados, na fixação desse valor, um teto mínimo, 
equivalente ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social 
– RGPS (CF, art. 100, § 4º). 
Se as leis dos respectivos entes federados que estabelecerão a definição de 
“obrigação de pequeno valor”, para o fim de pagamento direto de dívidas 
reconhecidas em sentença judicial transitada em julgado, não forem publicadas 
em até 180 dias, contados da data de publicação da EC 62/2009 (10.12.2009), 
será considerado em relação aos estados, Distrito Federal e municípios 
devedores, omissos nessa regulamentação, o valor de: quarenta salários-mínimos 
para os estados e o Distrito Federal e trinta salários-mínimos para os municípios 
(ADCT, art. 97, § 12). 
Entendemos que os entes da Federação têm liberdade para definir, em suas 
leis próprias, o valor de seus débitos de pequeno valor em patamar inferior a 
esses fixados pelo § 12 do art. 97 do ADCT. Entretanto, repita-se, essa autonomia 
do ente federativo deverá respeitar o limite mínimo estabelecido pelo art. 100, § 
4º, da Constituição Federal, qual seja, o valor do maior benefício do regime geral 
de previdência social – RGPS. 
 
22.2. Ordem de pagamento 
Conforme vimos, os débitos oriundos de sentenças judiciais, constantes de 
precatórios apresentados até 1º de julho, deverão ser pagos pela Fazenda 
Pública até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados 
monetariamente (art. 100, § 5º). 
Segundo o regime de pagamento instituído pela EC 62/2009, a Fazenda 
Pública deverá efetuar o pagamento de seus débitos inscritos em precatórios 
observando-se a seguinte ordem: 
a) primeiro, os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 
(sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam 
portadores de doença grave, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para 
“obrigação de pequeno valor”, admitido o fracionamento para essa finalidade; 
b) segundo, os demais débitos de natureza alimentícia; 
c) por último, os débitos de natureza não alimentícia. 
Essas diferentes categorias de créditos – créditos dos idosos ou portadores de 
doença grave, créditos de natureza alimentícia e créditos de natureza não 
alimentícia – não concorrerão entre si; haverá concorrência somente dentro de 
cada categoria, em função da ordem cronológica de apresentação dos precatórios. 
Assim, em primeiro lugar, deverão ser pagos os créditos de natureza alimentícia 
dos idosos e portadores de doença grave até o valor equivalente ao triplo do 
fixado em lei para “obrigação de pequeno valor” (obedecida a ordem cronológica 
de sua apresentação), depois, os demais créditos de natureza alimentícia 
(obedecida a ordem cronológica de sua apresentação) e, por último, os demais 
créditos, de natureza não alimentícia (obedecida a ordem cronológica de sua 
apresentação). 
Em resumo, a sistemática prevista nos §§ 2º e 3º do art. 100 da Constituição 
resulta na formação de três “filas”, uma só de precatórios relativos a créditos de 
natureza alimentícia para os idosos e portadores de doença grave até o valor 
equivalente ao triplo do fixado em lei para “obrigação de pequeno valor”, uma dos 
demais créditos de natureza alimentícia e uma terceira, de precatórios relativos a 
créditos de natureza não alimentícia. Cada “fila” é organizada, separadamente, 
com base na ordem cronológica de apresentação dos respectivos precatórios. Em 
qualquer caso, os precatórios da primeira “fila” devem ser pagos antes dos da 
segunda, e estes antes dos da terceira. 
Para o fim de preferência no pagamento dos precatórios, consideram-se 
débitos de natureza alimentícia aqueles decorrentes de salários, vencimentos, 
proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e 
indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em 
virtude de sentença judicial transitada em julgado (art. 100, § 1º). 
 
22.3. Atualização monetária e juros 
A partir da promulgação da EC 62/2009, a atualização monetária de valores de 
requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente 
de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta 
de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no 
mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando 
excluída a incidência de juros compensatórios (art. 100, § 12). 
Em resumo, o pagamento de débitos oriundos de sentenças transitadas em 
julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, 
obedece à seguinte sistemática: 
a) se o pagamento for efetuado pela Fazenda Pública dentro do prazo 
constitucional, isto é, até o final do exercício seguinte, o crédito será atualizado 
monetariamente, pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de 
poupança, e não haverá incidência de juros; 
b) se houver atraso no pagamento, isto é, se o pagamento for efetuado em 
data posterior ao final do exercício seguinte, além da atualização monetária pelo 
índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, o crédito será 
acrescido de juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a 
caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de quaisquer outros juros 
compensatórios. 
Enfim, não são devidos juros moratórios no período compreendido entre a 
data de expedição e a do efetivo pagamento de precatório judicial, no prazo 
constitucionalmente estabelecido, à vista da não caracterização, na espécie, de 
inadimplemento por parte do Poder Público. Nessa situação, sendo o pagamento 
realizado dentro do prazo constitucionalmente previsto (até 31 de dezembro do 
ano seguinte), será devida apenas a atualização monetária. Só haverá incidência 
cumulativa de atualização monetária e juros de mora se o pagamento for realizado 
após o prazo constitucionalmente previsto, ou seja, após 31 de dezembro do 
exercício seguinte àquele em que se deu a inscrição do crédito. 
 
22.4. Sequestro de valor 
As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados 
diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a 
decisão exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento 
do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de 
precedência ou de não alocação orçamentária
do valor necessário à satisfação do 
seu débito, o sequestro da quantia respectiva (art. 100, § 6º). 
Anote-se que o art. 100 da Constituição Federal autoriza o sequestro de 
quantia necessária ao pagamento de créditos inscritos em precatórios em duas 
hipóteses: 
a) preterimento do direito de precedência; 
b) não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do débito. 
Nenhuma outra situação, por mais grave que seja, autoriza o sequestro de 
verbas públicas para o pagamento de precatórios, ressalvadas as hipóteses, de 
cunho transitório, previstas nos arts. 78 e 97 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias – ADCT. 
Por fim, cabe anotar que, segundo entendimento firmado pelo Supremo 
Tribunal Federal, quando dois precatórios judiciais têm como devedoras pessoas 
jurídicas de direito público distintas, ainda que no âmbito do mesmo ente federado 
(por exemplo, duas autarquias municipais, ou uma autarquia federal e a União), o 
pagamento de um desses precatórios, de data mais recente, antes do outro, de 
data mais antiga, não caracteriza quebra de precedência na ordem cronológica, 
para o fim de determinação do sequestro a que alude o § 6º do art. 100 da 
Constituição Federal.56 
 
 
56
 Rcl 3.138/CE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 04.03.2009. 
22.5. Decretação de intervenção 
Em situações de não pagamento de débitos oriundos de sentenças transitadas 
em julgado constantes de precatórios judiciários devidamente inscritos poderá 
restar configurada a desobediência a ordem judicial, o que autorizará a decretação 
da intervenção federal, nos termos dos arts. 34, VI, e 36, II, da Constituição 
Federal. 
Entretanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou o 
entendimento de que a desobediência judicial a pagamento de precatório que 
autoriza a intervenção é somente a dolosa, intencional, sem justificativa razoável. 
Por outras palavras, em razão das inúmeras prestações sociais que a Constituição 
impõe aos diversos entes federados, muitos deles, sobretudo os estados-
membros, enfrentam efetiva falta de recursos para atender a todas elas, honrar 
seus outros compromissos financeiros (folha de pagamento de pessoal, gastos 
com previdência de seus servidores inativos, investimentos em infraestrutura etc.) 
e, ainda, efetuar o pagamento das dívidas judiciais constantes de precatórios. 
Assim, se um estado-membro deixa de pagar os precatórios inscritos para não 
deixar de prestar serviços públicos essenciais à população, a ele impostos pelo 
ordenamento jurídico, não se pode dizer que haja uma desobediência deliberada, 
intencional, dolosa. Nesses casos, em que há uma justificativa razoável para o 
não pagamento dos precatórios, não se caracteriza a desobediência, tornando 
incabível cogitar intervenção federal no ente federado. 
O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo, 
retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em crime de 
responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional de Justiça 
(art. 100, § 7º). 
 
22.6. Vedação ao fracionamento 
Para evitar fraude à regra de que a única exceção ao sistema de precatórios 
são os pagamentos das “obrigações de pequeno valor”, definidas em lei, o § 8º do 
art. 100 proíbe a expedição de precatórios complementares ou suplementares de 
valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da 
execução que pudesse acarretar o pagamento da dívida pela Fazenda, em parte, 
diretamente, fora do sistema de precatórios, e, em parte, mediante expedição de 
precatório. 
Imagine-se, por exemplo, que a lei de determinado ente federado estabeleça 
em R$ 10.000,00 as dívidas de “pequeno valor”, para efeito de pagamento direto, 
previsto no § 3.º do art. 100. O que a regra do § 8.º proíbe é que, por exemplo, 
uma pessoa obtivesse sentença transitada em julgado reconhecendo contra esse 
ente federado um crédito de R$ 24.000,00, e a execução desse valor fosse 
fracionada, de forma que R$ 10.000,00 fossem pagos diretamente, e se expedisse 
um precatório com o valor restante de R$ 14.000,00. 
Essa vedação ao fracionamento, porém, não alcança a hipótese de pagamento 
preferencial, sob o regime de precatórios, dos débitos de natureza alimentícia aos 
titulares que tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição 
do precatório, ou que sejam portadores de doença grave, prevista no § 2º do art. 
100 da Constituição Federal. Com efeito, nesse caso, poderá ocorrer o 
fracionamento do valor da execução, para o fim de efetuar-se o pagamento, em 
parte, com preferência sobre todos os demais débitos (até o triplo daquele fixado 
em lei, pelo respectivo ente federado, como “obrigação de pequeno valor), e o 
restante na ordem cronológica de apresentação do precatório. 
 
22.7. Compensação de créditos 
No momento da expedição dos precatórios, independentemente de 
regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor 
correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e 
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas 
parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja 
suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial (art. 100, § 9º). 
Em face dessa determinação constitucional, temos que, por exemplo, se 
reconhecido em sentença judicial transitada em julgado crédito em favor de João 
no valor de R$ 100.000,00 em face da União, e João for devedor dessa Fazenda 
Pública federal (débitos de impostos federais, por exemplo) no valor de R$ 
70.000,00, será obrigatória a efetivação da compensação de créditos, ou seja, dos 
R$ 100.000,00 deverá ser abatido o valor de R$ 70.000,00, expedindo-se o 
precatório no valor de R$ 30.000,00. 
Para o fim de efetivar a mencionada compensação de créditos, antes da 
expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para 
resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, 
informação sobre os eventuais débitos do credor originário (art. 100, § 10). 
Ficam convalidadas todas as compensações de precatórios com tributos 
vencidos até 31 de outubro de 2009 da entidade devedora, efetuadas na forma do 
disposto no § 2º do art. 78 do ADCT, realizadas antes da promulgação da EC 
62/2009 (EC 62/2009, art. 6º). 
 
22.8. Uso e cessão de valor consignado em precatório 
É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei da entidade federativa 
devedora, a entrega de créditos em precatórios para compra de imóveis públicos 
do respectivo ente federado (art. 100, § 11). 
O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a 
terceiros, independentemente da concordância do devedor (art. 100, § 13). 
Entretanto, caso seja efetivada a cessão, o cessionário não se beneficiará do 
recebimento preferencial dos débitos de natureza alimentícia a que se refere o § 
2º do art. 100 da Constituição Federal (ordinariamente aplicável ao maior de 
sessenta anos ou portador de doença grave), tampouco do pagamento direto, sem 
sujeição ao regime de precatórios (na hipótese de a cessão referir-se a quantia 
que seria ordinariamente enquadrada como “obrigação de pequeno valor”). 
A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por 
meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora (art. 
100, § 14). 
Ficam convalidadas todas as cessões de precatórios efetuadas antes da 
promulgação da EC 62/2009, independentemente da concordância da entidade 
devedora (EC 62/2009, art. 5º). 
 
22.9. Regras transitórias e matérias legadas ao legislador ordinário 
Sem prejuízo do regime de precatórios estabelecido pelo art. 100 da 
Constituição Federal, anteriormente explicado, lei complementar poderá 
estabelecer
regime especial para pagamento de crédito de precatórios de estados, 
Distrito Federal e municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente 
líquida e forma e prazo de liquidação (art. 100, § 15). 
Até que seja editada essa lei complementar pelo Congresso Nacional, o art. 97 
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT estabelece um 
detalhado regime para que os estados, o Distrito Federal e os municípios efetuem 
os pagamentos de seus precatórios vencidos até a data da publicação da EC 
62/2009, afastando, em relação a esses pagamentos, a aplicação do disposto nos 
2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14 do art. 100 da Constituição Federal. 
A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá assumir débitos, 
oriundos de precatórios, de estados, Distrito Federal e municípios, refinanciando-
os diretamente (art. 100, § 16). 
 
 
CAPÍTULO 12 
 
1) A parte final do item 2.4. passou a ter a seguinte redação: 
 
2.4. Funções do Ministério Público 
...................... 
Quanto à competência para promover, privativamente, a ação penal pública, é 
relevante observar que o Supremo Tribunal Federal possui farta jurisprudência 
reconhecendo que essa atuação do Ministério Público não pressupõe a 
instauração prévia de inquérito policial, não depende de prévias investigações 
penais promovidas pela polícia judiciária. Por outras palavras, o Ministério Público, 
como titular privativo da ação penal pública (ressalvada a hipótese de cabimento 
da ação penal privada subsidiária da pública, em face de inércia indevida do 
Parquet – CF, art. 5.º, LIX), pode oferecer a denúncia diretamente, sem que tenha 
havido, previamente, inquérito policial, contanto que, desde logo, disponha de 
elementos mínimos de informação, seja evidente a materialidade do fato 
alegadamente delituoso e estejam presentes indícios de sua autoria.57 
Muito se discute sobre o poder de investigação do Ministério Público, tendo 
em vista a reserva constitucional de competência à polícia judiciária para a 
apuração de infrações penais, exceto as militares (CF, art. 144, § 1º, IV e § 4º). 
Há, no Supremo Tribunal Federal, processo em andamento no qual se discute 
essa importante matéria, não tendo o Plenário daquele Tribunal, até esta data, 
firmado sua posição. Embora seja certo que o Pleno do STF ainda não tem 
posição firmada, é importante registrar que, na Segunda Turma dessa Corte, há 
entendimento incisivo pela legitimidade de exercício do poder de investigação pelo 
Ministério Público, conforme se constata, por exemplo, pela leitura da decisão 
exarada no HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, em 20.10.2009. 
De nossa parte, pensamos ser plena a legitimidade constitucional do Ministério 
Público para realizar investigações. Com efeito, entendemos que a Constituição 
Federal, ao conferir ao Ministério Público relevantes atribuições institucionais, 
dentre as quais a competência para exercer o controle externo da atividade policial 
(art. 129, VII), reconheceu a ele, também, a competência para realizar 
investigações, ainda que para isso tenha de instaurar procedimento investigatório 
próprio. 
A Constituição Federal determina que as funções do Ministério Público só 
podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca 
da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. Determina, 
também, que a distribuição de processos no Ministério Público será imediata.58 
 
 
 
57 São exemplos, dentre muitos outros: RTJ 76/741, rel. Min. Cunha Peixoto; AI AgR 266.214/SP, rel. Min. Sepúlveda 
Pertence; HC 63.213/SP, rel. Min. Néri da Silveira; HC 77.770/SC, rel. Min. Néri da Silveira; RHC 62.300/RJ, rel. Min. 
Aldir Passarinho; RTJ 101/571, rel. Min. Moreira Alves; HC 80.405/SP, rel. Min. Celso de Mello. 
 
58 CF, art. 129, §§ 2.º e 5.º. 
 
2) Ao final do item 2.10. foi acrescentado o parágrafo abaixo: 
 
2.10. Ministério Público junto aos tribunais de contas 
............... 
Em consonância com esse entendimento – de que os Ministérios Públicos que 
atuam junto aos Tribunais de Contas constituem órgãos autônomos, organizados 
em carreiras próprias –, o STF firmou orientação de que membros de outras 
instituições (por exemplo, do Ministério Público comum, ou da Procuradoria da 
Fazenda) não podem exercer perante as Cortes de Contas a função daquele 
Ministério Público.59 
 
 
3) O final do item 3. passou a ter a seguinte redação: 
 
3. ADVOCACIA PÚBLICA 
................ 
Aos procuradores dos estados e do Distrito Federal é assegurada estabilidade 
após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante 
os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. 
Conforme anteriormente exposto, o cargo de Advogado-Geral da União é de 
livre nomeação e exoneração pelo Presidente da República, cuja escolha poderá 
recair em profissional estranho à carreira da advocacia pública (art. 131, § 1º). 
Já a forma de nomeação do Procurador-Geral do Estado não foi prevista na 
Constituição Federal (art. 132). Em face desse silêncio, entende o Supremo 
Tribunal Federal que essa competência se insere no âmbito de autonomia de cada 
estado-membro, que poderá defini-la na Constituição estadual. Entretanto, ao 
disciplinar a matéria, o estado-membro não poderá subtrair do Governador a 
prerrogativa de nomear e exonerar, livremente, o Procurador-Geral do Estado.60 
Especificamente no tocante à atuação dos advogados públicos, o Supremo 
Tribunal Federal firmou entendimento de que o fato de emitirem pareceres 
jurídicos que subsidiarão a tomada de decisão pelos administradores públicos não 
autoriza a sua responsabilização solidária com estes pela prática do ato 
administrativo, salvo na hipótese de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão 
praticado com culpa, em sentido amplo.61 
Assim é porque, para a Corte Excelsa, o parecer da advocacia pública não é 
 
59
 ADI 328, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 02.02.2009. 
60
 ADI 2.682, rel. Min. Gilmar Mendes, 12.02.2009. 
 
61 MS 24.073-3/DF, rel. Carlos Velloso, 06.11.2002. 
 
ato administrativo propriamente dito, mas sim ato de “administração consultiva”, 
que visa, tão somente, a informar, elucidar, sugerir providências administrativas a 
serem posteriormente adotadas mediante atos de administração ativa. 
Por exemplo, se um advogado público emite parecer favorável à contratação 
de certo serviço sem a realização de licitação pública, por entender que se trata de 
hipótese de inexigibilidade, não poderá ser ulteriormente responsabilizado 
solidariamente com o administrador pelo ato de contratação, salvo se ficar 
demonstrado que houve erro grave, inescusável, na emissão do parecer, ou ficar 
demonstrada atuação dolosa ou culposa do advogado público. 
Entende a Corte Suprema, também, que a multa pessoal a suposto litigante de 
má-fé não pode ser imposta a advogado de órgão público, mas apenas à entidade 
a que pertença o órgão que ele defende.62 
 
 
4) A parte final do item 4. passou a ter a redação abaixo: 
 
4. ADVOCACIA 
...................... 
O Supremo Tribunal Federal reconheceu, ainda, o direito de os advogados 
terem acesso a provas já documentadas em autos de inquéritos policiais que 
envolvam seus clientes, inclusive os que tramitam em sigilo. Esse 
entendimento está consolidado no enunciado da Súmula Vinculante 14, nos 
termos seguintes: 
14 – É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso 
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, 
digam respeito ao exercício do direito de defesa. 
Por fim, cabe destacar que, em importantíssimo julgamento, o Supremo 
Tribunal Federal
examinou a constitucionalidade de diversos dispositivos do 
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB (Lei 8.906/94). Devido à 
importância da matéria, apresentamos, abaixo, os dispositivos do Estatuto da OAB 
que tiveram a sua constitucionalidade questionada e as respectivas decisões 
firmadas pela nossa Corte Maior.63 
“Art. 1º São atividades privativas de advocacia: 
 
62
 RCL 5.133, rel. Min. Cármen Lúcia, 20.05.2009. 
 
63
 ADIs 1.127 e 1.105, rel. Min. Marco Aurélio , 17.05.2006. 
 I – a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados 
especiais;” 
O Tribunal declarou a inconstitucionalidade da expressão “qualquer” contida 
nesse inciso I, sob o fundamento de que não se pode impedir o acesso da 
população aos juizados especiais, à Justiça trabalhista e na apresentação de 
habeas corpus e ações revisionais penais que não exigem a atuação de 
advogados, e que, ademais, não é absoluta a vedação ao legislador de dispensar 
a participação do advogado em determinadas causas, sujeita essa dispensa aos 
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
“Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. 
.............. 
§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e 
manifestações, nos limites desta lei.” 
Esse dispositivo teve a sua constitucionalidade confirmada pelo Supremo 
Tribunal Federal. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
.............. 
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, 
difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício 
de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares 
perante a OAB, pelos excessos que cometer.” 
O Tribunal declarou a inconstitucionalidade da expressão “ou desacato”, 
contida nesse dispositivo. Portanto, a imunidade de que gozam os advogados, no 
exercício de sua atividade, não mais alcança o crime de desacato. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
.............. 
II – ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional, a 
inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus arquivos e dados, de 
sua correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins, salvo 
caso de busca ou apreensão determinada por magistrado e acompanhada de 
representante da OAB;” 
O Tribunal declarou a constitucionalidade da expressão “e acompanhada do 
representante da OAB”, contida nesse inciso II do artigo 7º, do Estatuto da OAB. 
Os ministros deixaram assente, porém, que o juiz poderá comunicar a OAB para 
que seja designado representante para acompanhar o cumprimento de mandado 
de busca e apreensão em caráter confidencial para ser garantida a eficácia das 
diligências. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por 
motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob 
pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da 
OAB;” 
O Tribunal declarou a constitucionalidade desse dispositivo, mantendo a 
necessidade de representante da OAB para a prisão em flagrante de advogado 
por motivo relacionado ao exercício da advocacia. Ressalvaram, porém, que se a 
OAB não enviar um representante em tempo hábil, mantém-se a validade da 
prisão em flagrante. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
.................. 
V – não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão 
em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim 
reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar;” 
O Tribunal declarou a inconstitucionalidade da expressão "assim reconhecidas 
pela OAB" constante desse dispositivo. Com isso, a OAB não dispõe mais da 
prerrogativa de atestar a natureza condigna das instalações e comodidades para o 
recolhimento dos advogados. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
................ 
 IX – sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas 
sessões de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou 
administrativa, pelo prazo de quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido;” 
Esse inciso foi julgado inconstitucional pela Corte, ou seja, foi afastada a 
possibilidade de o advogado fazer sustentação oral após o voto do relator. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
................... 
§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de 
exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no 
inciso IV deste artigo.” 
Esse dispositivo foi julgado integralmente constitucional. Para o Tribunal, esse 
regramento legal é plenamente compatível com as normas em vigor, no que 
restringe a prisão em flagrante em caso de crime inafiançável e determina que, 
então, deve haver a comunicação prevista no inciso IV do artigo 7º à OAB e a 
lavratura do auto, presente representante da classe. 
“Art. 7º São direitos do advogado: 
............... 
§ 4º O Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os 
juizados, fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais 
permanentes para os advogados, com uso e controle assegurados à OAB.” 
Nesse dispositivo, o Tribunal declarou a inconstitucionalidade da expressão “e 
controle”, ou seja, firmou o entendimento de que a OAB não deve controlar as 
salas especiais destinadas a advogados nos órgãos públicos. 
“Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as 
seguintes atividades: 
.................. 
II – membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos 
tribunais e conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes 
classistas, bem como de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos 
de deliberação coletiva da administração pública direta e indireta;” 
Nesse dispositivo, o Tribunal firmou entendimento de que a possibilidade de 
membros do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e conselhos de 
contas, dos juizados especiais e da justiça de paz advogar é inconstitucional. Já 
os juízes eleitoriais – não togados – e seus suplentes podem advogar. 
“Art. 50. Para os fins desta lei, os Presidentes dos Conselhos da OAB e das 
Subseções podem requisitar cópias de peças de autos e documentos a qualquer 
tribunal, magistrado, cartório e órgão da Administração Pública direta, indireta e 
fundacional.” 
O Tribunal conferiu interpretação conforme a Constituição a esse dispositivo, a 
fim de firmar o entendimento de que os presidentes dos Conselhos da OAB e das 
Subseções, ao “requisitar” cópias de peças de autos e documentos a qualquer 
tribunal, deve motivar o pedido, desde que seja compatível com as finalidades da 
lei, além de se responsabilizar pelos custos da requisição, ressalvados os 
documentos cobertos por sigilo. 
 
5) A parte final do item 5 passou a ter a seguinte redação: 
 
5. DEFENSORIA PÚBLICA 
..................... 
As Defensorias Públicas serão organizadas em cargos de carreira, providos, 
na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a 
seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia 
fora das atribuições institucionais (CF, art. 134, § 1.º). 
A Lei Complementar 132, de 07.10.2009, estabelece importantes disposições 
acerca da organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos 
Territórios, além de prescrever normas gerais para sua organização nos estados-
membros. 
 Essa lei complementar estatui que a Defensoria Pública é instituição 
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como 
expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação 
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em
todos os graus, judicial 
e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos 
necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da 
Constituição Federal 
Ainda segundo a nova lei, os defensores públicos da União passam a ser 
chamados defensores públicos federais e seu chefe, o defensor público geral 
federal, será nomeado pelo Presidente da República, dentre membros estáveis da 
carreira e maiores de 35 anos, escolhidos em lista tríplice formada pelo voto 
direto, secreto, plurinominal e obrigatório de seus membros, após aprovação de 
seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado. 
A Emenda Constitucional 45/2004 trouxe regra de fortalecimento da autonomia 
das defensorias públicas estaduais, assegurando-lhes autonomia funcional e 
administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites 
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.64 Essa ampliação da autonomia 
administrativa e orçamentária, porém, só foi conferida às defensorias públicas 
estaduais, não alcançando a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e 
Territórios. 
Por fim, determina a Constituição que, assim como os servidores integrantes 
da carreira da advocacia pública (isto é, integrantes da Advocacia-Geral da União 
e dos órgãos a ela vinculados), os servidores das defensorias públicas serão 
remunerados na forma de subsídio (art. 135). 
 
 
CAPÍTULO 13 
 
 
64 CF, art. 134, § 2.º, introduzido pela EC n.º 45/2004. 
 
1) Foi acrescentado ao item 12.2. o subitem 12.2.10. (foram renumerados os 
demais), abaixo transcrito (reprodução integral do subitem): 
 
12.2.10. Suspeição e impedimento de Ministro 
Não cabe arguição de suspeição65 nos processos do controle abstrato, tendo 
em vista a natureza objetiva das ações que o integram.66 Segundo o Supremo 
Tribunal Federal, as exceções de suspeição são típicas do processo subjetivo – 
aquele em que está em jogo interesse específico de pessoas ou grupos 
determinados. 
Não há, portanto, razão para cogitar o cabimento de exceção de suspeição nos 
processos que questionam abstratamente a constitucionalidade de normas, haja 
vista que nestes a Corte aprecia a legitimidade da norma em tese, sob o aspecto 
objetivo, no âmbito de um processo sem sujeitos, destinado pura e simplesmente 
à defesa da integridade do ordenamento constitucional. 
Porém, é possível a alegação de impedimento,67 nos casos em que o Ministro 
do Supremo Tribunal Federal tenha atuado anteriormente no processo na 
condição de Procurador-Geral da República, Advogado-Geral da União, 
requerente ou requerido. 
 
 
65 CPC, art. 135: “Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando: I – amigo íntimo ou 
inimigo capital de qualquer das partes; II – alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu 
cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau; III – herdeiro presuntivo, 
donatário ou empregador de alguma das partes; IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o 
processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às 
despesas do litígio; V – interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.” 
 
66
 AS 37, rel. Min. Gilmar Mendes, 06.03.2009. 
 
67 CPC, art. 134: “É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário: I - de 
que for parte; II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão 
do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha; III - que conheceu em primeiro grau de 
jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; IV - quando nele estiver postulando, como advogado da 
parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até 
o segundo grau; V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta 
ou, na colateral, até o terceiro grau; VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa 
jurídica, parte na causa.” 
 
 
2) O item 12.2.12 (renumerado), passou a ter a seguinte redação (reprodução 
integral do item): 
 
12.2.12. Admissibilidade de amicus curiae 
Entidades e órgãos que não possuem legitimação para a propositura de ação 
direta de inconstitucionalidade poderão pedir ao relator da ação em curso perante 
o Supremo Tribunal Federal para manifestarem-se sobre a questão constitucional 
discutida. É o que dispõe o art. 7.º, § 2.º, da Lei n.º 9.868/1999, nos termos 
seguintes: 
§ 2.º O relator, considerando a relevância da matéria e a 
representatividade dos postulantes, poderá, por despacho 
irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo 
anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades. 
Esse dispositivo, consoante têm assinalado de modo homogêneo a doutrina e 
o próprio Supremo Tribunal Federal, introduziu entre nós a figura do amicus curiae 
(literalmente, “amigo da corte”). Trata-se da possibilidade de ser admitida no 
processo manifestação formal de órgãos ou entidades, que efetivamente 
representem interesses passíveis de serem afetados pelo resultado do julgamento 
da ADI. Embora haja alguma divergência acerca dos limites dessa participação, 
não há dúvida de que se trata de possibilidade de manifestação formal e que essa 
inclui, pelo menos, a juntada de documentos, pareceres, ou memoriais, auxiliando 
o Tribunal a vislumbrar aspectos técnicos ou concernentes aos eventuais reflexos 
da declaração da inconstitucionalidade da norma atacada. 
A instituição do amicus curiae, embora não chegue a conferir caráter 
contraditório ao processo, sem dúvida colabora para aumentar a participação de 
setores organizados da sociedade, tornando mais democrático e pluralista o 
controle abstrato em nosso País. Ademais, tendo em vista o fato de que tais 
processos, sendo objetivos, têm causa de pedir aberta (o STF, na apreciação do 
pedido, não está limitado aos fundamentos ou argumentos apresentados, devendo 
apreciar todos os aspectos que possam ser relevantes para a verificação da 
compatibilidade entre a norma impugnada e a Constituição), a participação do 
amicus curiae reveste patente importância por reduzir sobremaneira a 
possibilidade de o Tribunal Constitucional deixar de apreciar argumentos ou 
consequências relevantes que possam vir a modificar a posição que, sem eles, 
teria sido adotada. 
Além da apresentação de memoriais com informações e argumentos, o 
Supremo Tribunal Federal passou a admitir a possibilidade excepcional de 
sustentação oral pelo amicus curiae, afastando o entendimento de que sua 
manifestação somente poderia se dar por escrito.68 Atualmente, a manifestação do 
amicus curiae está disciplinada no Regimento Interno do STF, que admite a 
 
68
 ADI 2.675/PE, rel. Min. Carlos Velloso e ADI 2.777/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 26 e 27.11.2003. 
 
sustentação oral do interveniente pelo prazo máximo de quinze minutos, e, ainda, 
se houver litisconsortes não representados pelo mesmo advogado, pelo prazo 
contado em dobro.69 
Quanto ao momento de admissão da intervenção do amicus curiae no 
processo, o Supremo Tribunal Federal entende que o ingresso do amigo da Corte 
deverá ocorrer até a entrada do processo em pauta de julgamento. Depois que é 
concluída a instrução, ouvida a Procuradoria Geral da República e encerrada a 
participação do relator, com o encaminhamento do processo para ser incluído em 
pauta, não cabe mais o ingresso de amigos da Corte.70 Entretanto, sua 
manifestação poderá ocorrer posteriormente à instrução, já na fase do julgamento, 
haja vista que o STF passou a aceitar, em casos determinados, a sustentação oral 
do amicus curiae
durante a sessão de julgamento.71 
Cabe ressaltar que os órgãos e entidades interessados não têm direito 
subjetivo à intervenção no processo de ação direta na qualidade de amicus curiae. 
Poderão eles solicitar a intervenção ao Ministro relator, mas cabe a este deferir 
(ou não) o pedido, em despacho irrecorrível, levando em conta a relevância da 
matéria e a representatividade dos requerentes. 
Ademais, segundo a jurisprudência do STF, a admissão de terceiros na 
qualidade de amicus curiae não lhes assegura o direito à interposição de recursos 
no respectivo processo de ação direta de inconstitucionalidade. Para o Tribunal, 
“não são cabíveis os recursos interpostos por terceiros estranhos à relação 
processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade, nesses 
incluídos os que ingressam no feito na qualidade de amicus curiae”.72 Portanto, os 
não legitimados intervenientes no processo de ação direta, na condição de amicus 
curiae, não poderão, por exemplo, interpor embargos de declaração em face da 
decisão definitiva de mérito prolatada pelo Supremo Tribunal Federal. 
O ingresso de órgãos e entidades não legitimados pelo art. 103 da Constituição 
Federal, na qualidade de amicus curiae, tem sido largamente admitida pelo 
Supremo Tribunal Federal nos processos de natureza abstrata, dada a sua 
natureza eminentemente objetiva. 
Ademais, o Tribunal já admitiu a intervenção de amicus curiae em recurso 
extraordinário, no âmbito do controle incidental. Segundo o Tribunal, a admissão 
de amicus curiae no controle incidental tem fundamento, especialmente, na Lei n.º 
10.259/2001 (arts. 14, § 7.º, e 15), que autoriza, em recurso extraordinário, a 
manifestação de eventuais interessados, ainda que não sejam partes no 
 
69
 RISTF, art. 131, § 3.º. 
 
70
 ADI 4.071, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 22.04.2009. 
 
71
 ADI 2.548/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.10.2005. 
 
72
 ADI-ED 3.615/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.03.2008. 
 
processo.73 
Cabe destacar, ainda, que o legislador ordinário passou a prever a 
possibilidade de manifestação de amicus curiae no exame da repercussão geral, 
requisito exigido para a interposição de recurso extraordinário, bem como no 
procedimento de aprovação de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal 
Federal. 
Enfim, o processo normativo abstrato instaurado perante o Supremo Tribunal 
Federal não comporta a intervenção de terceiros, instituto processual disciplinado 
pelo Código de Processo Civil (CPC). Porém, admite a atuação de órgãos e 
entidades interessados na qualidade de amicus curiae, como colaborador informal 
da Corte, situação que não configura, tecnicamente, hipótese de intervenção de 
terceiros. 
 
 
3) O item 12.2.13 (renumerado), passou a ter a seguinte redação (reprodução 
integral do item): 
 
12.2.13. Atuação do Advogado-Geral da União 
Decorrido o prazo das informações, serão ouvidos, sucessivamente, o 
Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, que deverão 
manifestar-se, cada qual, no prazo de quinze dias. 
A atuação do Advogado-Geral da União está regulada pelo art. 103, § 3.º, da 
Constituição, que determina a sua citação quando o Supremo Tribunal Federal 
apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, para 
que defenda o ato ou texto impugnado. 
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento segundo o qual o Advogado-
Geral da União, nesses processos, não atua na sua função ordinária, prevista no 
art. 131 da Constituição, como órgão de representação, consultoria e 
assessoramento da União. O parágrafo 3.º do art. 103 lhe dá uma competência 
especial: a defesa da constitucionalidade da norma que, em tese, é inquinada de 
inconstitucional, o que implica dizer que a Constituição lhe atribui o papel, nesses 
processos objetivos, de verdadeiro curador da presunção da constitucionalidade 
da lei atacada (defensor legis). 
Inicialmente, o Supremo Tribunal Federal havia firmado entendimento de que o 
Advogado-Geral da União estava, sempre, obrigado a se manifestar em defesa do 
ato questionado, em razão da redação imperativa do texto constitucional, segundo 
o qual o Advogado-Geral da União “defenderá o ato ou texto impugnado” (CF, art. 
103, § 3º). 
Essa posição do Supremo Tribunal Federal, reiteradamente criticada pela 
 
73 RE 416.827/SC e RE 415.454/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.09.2005. 
 
doutrina, terminava por obrigar o Advogado-Geral da União a defender a norma 
legal ou ato normativo impugnado, federal ou estadual, a todo preço, em qualquer 
caso e circunstância, mesmo que a inconstitucionalidade da norma seja irrefutável, 
salte aos olhos de forma gritante. 
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal alterou a sua jurisprudência sobre o 
papel a ser desempenhado pelo Advogado-Geral da União no controle abstrato de 
normas, passando a entender que este pode deixar de defender a 
constitucionalidade de norma questionada perante aquela Corte.74 
Significa dizer que, de acordo com a novel jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal, o Advogado-Geral da União dispõe de plena autonomia para agir, e 
poderá escolher como se manifestará – pela constitucionalidade, ou não, da 
norma impugnada –, de acordo com sua convicção jurídica. Poderá ele, portanto, 
deixar de defender a constitucionalidade da norma impugnada, segundo, 
exclusivamente, seu entendimento jurídico sobre a matéria. 
 O Supremo Tribunal Federal entende que a audiência do Advogado-Geral da 
União, prevista no citado art. 103, § 3.º, da Constituição, é necessária tão somente 
em sede de ação direta de inconstitucionalidade – ADI e arguição de 
descumprimento de preceito fundamental – ADPF, o mesmo não ocorrendo na 
ação declaratória de constitucionalidade – ADC. 
Segundo o Tribunal, a desnecessidade da atuação do Advogado-Geral da 
União em ação declaratória de constitucionalidade justifica-se porque, nessa ação, 
não há ato ou texto impugnado, uma vez que o autor da ação pleiteia o 
reconhecimento da constitucionalidade da norma (e não de sua 
inconstitucionalidade). Não haveria, portanto, contraditório a ser assegurado, em 
razão da ausência de ato a ser defendido. 
Pelo mesmo fundamento – ausência de contraditório –, entendia o Supremo 
Tribunal Federal que não cabia a atuação do Advogado-Geral da União em sede 
de ação direta de inconstitucionalidade por omissão – ADO, porquanto nessa ação 
não há norma inquinada de inconstitucional (a ação é proposta, justamente, em 
face da ausência de norma regulamentadora de direito constitucional). 
 Esse entendimento, porém, restou suplantado pela edição da Lei 12.063/2009, 
que acrescentou à Lei 9.868/1999 a disciplina do procedimento da ação direta de 
inconstitucionalidade por omissão perante o Supremo Tribunal Federal. Com 
efeito, essa lei estabelece que, em se tratando de ação direta por omissão, o 
relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá 
ser encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias. Cabe ao relator, portanto, a 
decisão de ouvir, ou não, o Advogado-Geral da União em ação direta de 
inconstitucionalidade por omissão. 
Por fim, vale lembrar que o Advogado-Geral da União não é legitimado ativo 
para instaurar o controle abstrato, vale dizer, não dispõe de legitimidade para 
propor ao Supremo Tribunal Federal nenhuma das ações diretas existentes. 
 
74
 ADI 3.916, rel. Min. Eros Grau, 07.10.2009. 
 
 
4) Foi acrescentado ao item 12.3. o subitem 12.3.5 (renumerados os demais), 
abaixo transcrito (reprodução integral do subitem): 
 
12.3.5. Procedimento 
A petição deverá indicar a omissão inconstitucional, total ou parcial, quanto ao 
cumprimento de dever constitucional
de legislar ou quanto à adoção de 
providência de índole administrativa, bem como o pedido, com suas 
especificações. 
A petição inicial inepta, não fundamentada, e a manifestamente improcedente 
serão liminarmente indeferidas pelo relator, cabendo, contra essa decisão, agravo. 
Assim como as demais ações do controle abstrato perante o Supremo 
Tribunal, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão submete-se ao 
princípio da indisponibilidade, ou seja, uma vez proposta a ação, não se 
admitirá desistência. 
Proposta a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, os demais 
legitimados pelo art. 103 da Constituição Federal poderão manifestar-se, por 
escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis 
para o exame da matéria, no prazo das informações, bem como apresentar 
memoriais. 
Nos demais aspectos, estabelece a lei que se aplicam ao procedimento da 
ação direta de inconstitucionalidade por omissão, no que couber, as regras 
relativas ao procedimento da ação direta de inconstitucionalidade genérica (Lei 
9.868/1999, art. 12-E, acrescentado pela Lei 12.063/2009). 
 
 
5) Os itens 12.3.6., 12.3.7. e 12.3.8. (renumerados) passaram a ter a seguinte 
redação (reprodução integral): 
 
12.3.6. Atuação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da 
República 
Inicialmente, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afastou a 
necessidade de citação do Advogado-Geral da União – AGU no processo de ação 
direta de inconstitucionalidade por omissão, uma vez que, nessa ação, não há 
norma legal impugnada, a ser defendida. 
Entretanto, suplantando essa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – 
segundo a qual o Advogado-Geral da União não seria ouvido nas ações direitas 
de inconstitucionalidade por omissão, para o fim do disposto no § 3º do art. 103 da 
Constituição Federal –, a Lei 9.868/1999, que disciplina o procedimento da ação 
direta de inconstitucionalidade por omissão perante o Supremo Tribunal Federal, 
passou a dispor que o relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral 
da União, que deverá ser encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias (art. 12-F, 
acrescentado pela Lei 12.063/2009). 
Observa-se, assim, que a oitiva do Advogado-Geral da União em ação direta 
de inconstitucionalidade por omissão continua não sendo obrigatória, podendo o 
relator ouvi-lo, ou não. 
Já a manifestação do Procurador-Geral da República, nas ações diretas de 
inconstitucionalidade por omissão em que não for autor, é obrigatória. Com 
efeito, estabelece a mencionada lei que o Procurador-Geral da República, nas 
ações em que não for autor, terá vista do processo, por 15 (quinze) dias, após o 
decurso do prazo para informações (art. 12-E, § 3º, com a redação dada pela Lei 
12.063/2009). 
Anote-se que a lei suprimiu do Procurador-Geral da República o direito de 
manifestação nas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão que ele 
tenha proposto no uso da legitimação que a Constituição Federal lhe confere (art. 
103, VI). 
 
 
12.3.7. Concessão de medida cautelar 
A Lei 9.868/1999 estabelece que em caso de excepcional urgência e 
relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus 
membros, desde que presentes à sessão de julgamento pelo menos oito ministros, 
poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades 
responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo 
de 5 (cinco) dias (art. 12-F, acrescentado pela Lei 12.063/2009). 
A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato 
normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de 
processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra 
providência a ser fixada pelo Tribunal. 
No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral 
aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos 
responsáveis pela omissão inconstitucional, na forma estabelecida no Regimento 
do Tribunal. 
Essa previsão legal para a concessão de medida cautelar em ação direta de 
inconstitucionalidade por omissão, trazida pela Lei 12.063/2009, torna superada 
jurisprudência consagrada do Supremo Tribunal Federal, que entendia ser 
incabível tal medida em sede de ADO. 
 
12.3.8. Efeitos da decisão de mérito 
Declarada a inconstitucionalidade por omissão, por decisão da maioria 
absoluta de seus membros, desde que presentes à sessão de julgamento pelo 
menos oito ministros, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das 
providências necessárias (Lei 9.868/1999, art. 12-H, acrescentado pela Lei 
12.063/2009). 
Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências 
deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser 
estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias 
específicas do caso e o interesse público envolvido. 
É sobremaneira relevante destacar que essa natureza mandamental é 
percebida com maior intensidade em relação a órgão administrativo, para o qual 
deverá ser fixado o prazo de trinta dias para sanar a omissão, ou outro prazo 
razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as 
circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido. 
Assim, se a omissão for de um dos Poderes do Estado não há que se falar 
em fixação de prazo para a edição da norma faltante. Porém, se a omissão for de 
um órgão administrativo (subordinado, sem função política, meramente executor 
de leis ou políticas públicas), será fixado um prazo de trinta dias, ou outro prazo 
razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, para sua atuação 
visando a suprir a omissão inconstitucional. 
Nos demais aspectos, determina a lei que se aplicam à decisão da ação direta 
de inconstitucionalidade por omissão, no que couber, as disposições referentes ao 
procedimento da ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADI) e da ação 
declaratória de constitucionalidade (ADC), a seguir explicitados, com as 
adequações devidas (Lei 9.868/1999, art. 12-H, § 2º, acrescentado pela Lei 
12.063/2009). 
Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a 
inconstitucionalidade da omissão ou da norma impugnada, no caso de omissão 
parcial, se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis 
Ministros. 
Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade 
ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa 
influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento 
dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da 
decisão num ou noutro sentido. 
A decisão em ação direta de inconstitucionalidade por omissão é irrecorrível, 
ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, 
ser objeto de ação rescisória. 
Tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse 
social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus 
membros, modular os efeitos temporais de sua decisão em ação direta por 
omissão, restringindo os efeitos daquela declaração ou decidindo que ela só tenha 
eficácia a partir de seu trânsito em julgado (ex nunc) ou de outro momento que 
venha a ser fixado. 
As decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em ação direta de 
inconstitucionalidade por omissão têm eficácia contra todos (erga omnes) e efeito 
vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública 
federal, estadual e municipal. 
 
 
CAPÍTULO 15 
 
1) A parte final do item 3.3. passou a ter a seguinte redação: 
 
3.3. Taxas 
................. 
Esse entendimento está, hoje, cristalizado na Súmula 670: 
670 – O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado
mediante taxa. 
Pelas mesmas razões, conquanto não haja súmula, o STF considera 
inconstitucional a instituição de taxa de limpeza pública e de conservação de vias 
e logradouros públicos.75 
De outra parte, há tempo o Pretório Excelso assentou que os serviços públicos 
de coleta domiciliar de lixo, bem como de tratamento ou destinação de lixo ou 
resíduos provenientes de imóveis determinados são específicos e divisíveis, 
possibilitando, portanto, a cobrança de taxas para sua remuneração. 
É necessário, entretanto, que a taxa a ser instituída para remunerar esses 
serviços públicos, que são específicos e divisíveis, não tenha por fato gerador, 
também, a prestação de outros serviços públicos, que sejam gerais e indivisíveis, 
tais quais a limpeza de ruas e logradouros públicos ou a remoção de lixo de ruas e 
logradouros públicos. 
Foi exatamente para explicitar esse ponto que o Supremo Tribunal Federal, 
editou a Súmula Vinculante 19, em cujo enunciado da consta que a usualmente 
denominada “taxa de lixo” deve ter por fato gerador exclusivamente serviços 
públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos 
provenientes de imóveis, mas não, simultaneamente, outros que sejam gerais e 
indivisíveis, a exemplo dos serviços públicos de conservação e limpeza de 
logradouros e bens públicos (praças, calçadas, vias, ruas, bueiros). É o seguinte o 
texto da Súmula Vinculante 19: 
 
75 RE 188.391/SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 15.06.2000. 
 
“19 – A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de 
coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de 
imóveis não viola o art. 145, II, da CF.” 
Em alguns precedentes que deram origem à Súmula Vinculante 19, municípios 
haviam instituído taxas cujos fatos geradores eram, simultaneamente, a coleta 
domiciliar de lixo (o que seria legítimo) e a limpeza e conservação de logradouros 
públicos (o que é ilegítimo). Nessas situações, o Supremo Tribunal Federal decidiu 
que a taxa era integralmente inconstitucional, porque era impossível separar a 
parcela legítima da parcela ilegítima de seu fato gerador (a parte inconstitucional 
do fato gerador “contaminou” a totalidade do tributo). 
 Quanto ao conceito de utilização efetiva ou potencial, diz o CTN que os 
serviços públicos consideram-se utilizados pelo contribuinte: 
a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; 
b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à 
sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo 
funcionamento. 
No uso potencial, o sujeito passivo será devedor mesmo que não utilize o 
serviço. Para isso, é imprescindível que exista lei estabelecendo que aquele 
serviço público é de utilização obrigatória (geralmente são os serviços 
relacionados à saúde pública, como a coleta domiciliar de lixo e o esgotamento 
sanitário). 
O § 2.º da Constituição, reproduzido no início deste tópico, estabelece que “as 
taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos”. Esse dispositivo 
consagra vetusta lição da doutrina, segundo a qual necessariamente deve haver 
um liame lógico entre a hipótese de incidência de um tributo e sua base de 
cálculo. Com efeito, a base de cálculo de um tributo é o padrão ou critério 
quantitativo que permite dimensionar financeiramente o fato econômico eleito pela 
lei como gerador da obrigação tributária. 
Teoricamente, a base de cálculo de uma taxa deve guardar relação com o 
custo da atividade estatal que ensejou a sua instituição, ou seja, o valor 
despendido com a prestação do serviço público ou com a atividade de polícia deve 
ser o parâmetro para a cobrança da taxa. Não existe, todavia, estrita 
correspondência entre os valores despendidos e os arrecadados. A base de 
cálculo da taxa deve, simplesmente, traduzir um critério de proporção: os 
elementos integrantes da base de cálculo devem levar à presunção de que a sua 
variação para mais ou para menos afeta o montante exigido da atividade estatal 
correspondente ao fato gerador da taxa. 
É muito importante registrar que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 
está consagrada quanto à legitimidade de utilização de alguns elementos que 
integrem a base de cálculo de um determinado imposto pela lei que estabeleça a 
base de cálculo de uma taxa. Entende a Corte que só o que não pode é haver 
coincidência completa entre a base de cálculo da taxa e a de um determinado 
imposto. A matéria está cristalizada no enunciado da Súmula Vinculante 29, 
abaixo reproduzido: 
“29 – É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais 
elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não 
haja integral identidade entre uma base e outra.” 
 
 
2) Foram acrescentados ao item 4.4. os dois parágrafos abaixo: 
 
4.4. Princípio da anterioridade do exercício financeiro 
............... 
Também merece registro a orientação adotada pelo Supremo Tribunal Federal 
no julgamento da ADIMC 4.016/PR, segundo a qual a lei que reduza ou extinga 
um desconto legalmente previsto para o pagamento de tributos em determinadas 
condições pode ter aplicação imediata, não cabendo alegar ofensa ao princípio da 
anterioridade.76 
Por outras palavras, entende nossa Corte Excelsa que a redução de um 
desconto previsto, por exemplo, para o pagamento antecipado de um tributo não 
configura majoração desse tributo. Assim, supondo que determinada lei estadual 
previsse um desconto de quinze por cento no valor do IPVA devido, na hipótese 
de o contribuinte pagar antecipadamente o imposto, e outra lei, posterior, 
reduzisse esse desconto para dez por cento (ou mesmo extinguisse o desconto), a 
nova lei poderia ser exigida imediatamente, descabendo cogitar observância do 
princípio da anterioridade do exercício financeiro (tampouco da noventena 
estabelecida no art. 150, III, “c”, da Carta Política). 
............... 
 
 
CAPÍTULO 17 
 
1) Foi acrscentado ao item 1.1. o parágrafo abaixo: 
 
1.1. Saúde (arts. 196 a 200) 
......... 
Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, 
as diretrizes para os planos de carreira e a regulamentação das atividades de 
agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à 
 
76
 ADIMC 4.016/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 01.08.2008. 
União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos 
estados, ao Distrito Federal e aos municípios, para o cumprimento do referido piso 
salarial. (art. 198, § 5º, com a redação dada pela EC 63/2010). 
........ 
 
2) O item 2.3. passou a ter a seguinte redação (reprodução integral): 
 
2.3. Deveres do Estado em relação ao ensino 
Estabelece o art. 208 da Constituição Federal que o dever do Estado com a 
educação será efetivado mediante a garantia de: 
 
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) 
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela 
não tiveram acesso na idade própria (redação dada pela EC 59/2009); 
II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; 
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, 
preferencialmente na rede regular de ensino; 
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos 
de idade; 
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de cada um; 
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 
VII – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas 
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência 
à saúde (redação dada pela EC 59/2009). 
 
 
A garantia
de educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 
(dezessete) anos de idade, bem como sua oferta gratuita para todos os que a ela 
não tiveram acesso na idade própria (art. 208, I), deverá ser implementada 
progressivamente, até 2016, nos termos do plano nacional de educação, com 
apoio técnico e financeiro da União (EC 59/2009, art. 6º). 
 
O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. Assim, o 
não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, 
importa responsabilidade da autoridade competente. 
 
 
3) O item 2.8. passou a ter a seguinte redação (reprodução integral): 
 
2.8. Plano nacional de educação 
A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o 
objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e 
definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar 
a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e 
modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes 
esferas federativas que conduzam a: 
 
I – erradicação do analfabetismo; 
II – universalização do atendimento escolar; 
III – melhoria da qualidade do ensino; 
IV – formação para o trabalho; 
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País; 
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação 
como proporção do produto interno bruto. 
 
4) Ao item 7., depois da transcrição, foi acrescentado o parágrafo abaixo: 
 
7. MEIO AMBIENTE (ART. 225) 
............... 
Em respeito ao art. 225 da Constituição Federal – que assegura a todos o 
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado –, o Supremo Tribunal 
Federal declarou a constitucionalidade da legislação brasileira que proíbe a 
importação de pneus usados, tendo em conta que a incineração e o depósito de 
pneus velhos representa uma relevante ameaça ao meio ambiente. Conforme 
asseverou o Ministro Carlos Ayres Britto, os pneus usados importados para o País 
"não passam de um lixo ambiental que se exporta, fazendo do Brasil uma espécie 
de quintal do mundo".77 
............. 
FIM 
 
77
 ADPF 101, rel. Min. Cármen Lúcia, 24.06.2009.

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