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CC RR II MM II NN OO LL OO GG II AA II II Prova II Seminário: Reintegração Social Ressocialização pressupõe adaptação às normas e regras da sociedade. Para uma criança, a direção natural do desenvolvimento se dá no seguinte sentido: integração social – a criança primeiro se integra no lar; depois de recebida, acolhida e amada, ela se mostra apta a aderir as normas da família. Com o cárcere, o que acontece é o oposto, já que desde o início o preso é excluído. A prisão sob uma perspectiva psicológica Há “benefícios” do cárcere para a sociedade: i) ocorre exclusão do indivíduo que cometeu crime ou que é doente mental; ii) por meio de uma cisão, o inconsciente se “purifica”, já que condena no outro o mal inerente a si mesmo. Essa projeção se deve ao fato de o superego apresentar dificuldades em superar esse lado ruim. Ex.: Caso Nardoni – não era justiça o que o povo queria, mas sim vingança. Há a formação de dois grupos: os bons e os maus. Essa cisão faz com que a sociedade se aliene cada vez mais de seus conflitos internos. Há, no preso, os efeitos da autocensura e da culpa: a prisão tem efeito punitivo. Assim, o preso projeta sua culpa na vítima, na sociedade ou em um terceiro, não havendo, portanto, superação/elaboração. A reintegração propõe que sociedade se aproxime de cárcere e este se torne mais próximo da sociedade. A partir desta aproximação acontece o processo de diálogo – algo menos vingativo. A necessidade de reintegração não se restringe ao ambiente carcerário, podendo se estender para qualquer grupo que viva em situação de antagonismo. Há a perspectiva do entendimento do outro – que é uma perspectiva pouco concretizada. No cárcere, ela propõe o descurtinamento dos problemas, reconhecê-los e passar a enfrentá- lo, tentando entender a história de vida do criminoso. Sociedade exclui o criminoso > o preso não consegue lidar com a culpa; difícil elaboração > reintegração social como solução dialética (sociedade e preso devem ter papel ativo). *** Privação Emocional e Delinqüência Winnicott e John Bowlby: estudo com crianças abandonadas pelos pais. Aspectos da mente infantil Amor e Ódio: A criança já nasce com os sentimentos de amor e ódio. São sentimentos intensos, primários, fundamentais e fundidos – a criança não os distingue. Tudo é turvo, confuso, instável, e até paranóico. A maturação psicológica é tanto maior quanto a capacidade de separação desses dois sentimentos. O objetivo do bebê não é amar ou odiar; é um estado tensional, de excitação orgânica, sendo que para a criança não há muita diferenciação entre físico e psíquico; a criança só quer dar vazão a essas energias instintivas. Mas não há uma objetivação do que se ama ou se odeia. Os sentimentos são relativos a dois verbos – amar e odiar. São verbos transitivos diretos, exigindo complemento. Na mente infantil os verbos são intransitivos, não existindo um complemento. São amor e ódio fisiológicos. A fusão entre o amor e o ódio é ilustrada pelo verbo comer – quando se come algo é porque se gosta. Mas comendo se acaba com o que se gosta. Se como, acabo com o que gosto, se não como, não desfruto do que gosto. Dinheiro – se gastar, fico sem, se não gastar, ele não vai servir para nada. O verbo comer é usado pela gíria sexual. Para o professor essa gíria sexual é muito rica, pois expressa o que há no fundo do ser humano – o sexo junta a agressividade com a libido. Psicopata – criança que não cresceu, predomina a mente infantil, destrói a quem ele ama – seu sexo costuma ser altamente destrutivo. Este amor primitivo é fixado na mente infantil. Maturidade: definição de objetivos; maior estabilidade emocional. A instabilidade emocional é infantil, e também própria do delinqüente – não de forma determinista, mas porque sua própria vida o torna assim (sua vida é repleta de imprevisibilidade). As relações emocionais com a mãe são estruturantes para a criança começar a diferenciar seus sentimentos, para saber quando está amando ou odiando e o que ama ou odeia. A mãe é a administradora da vida psíquica da criança. Se houver privação emocional, um transtorno nestas relações emocionais fundamentais da criança com a mãe, isso poderá comprometer o desenvolvimento da capacidade de diferenciação dos sentimentos. Freud: nada existe no adulto que não tenha existido na criança, ao menos em potencial. Não há como criar coisas novas, apenas como desenvolver. Agressividade e Confiabilidade do Lar: A agressividade é a objetivação do ódio – é energia que se expande. A criança passa por uma experiência de perda, de separação com o mundo. O bebê de início sente que ele e o mundo são uma coisa só: narcisismo primário, as sensações são derivadas de si mesmo. Começa a rebeldia quando começa essa objetificação, já que a descoberta de que não se é fundido com o mundo é dolorosa. Existem três formas de lidar com a agressividade: i. Manifestação espontânea e sadia: orientada aos seus objetivos legítimos; a criança reivindica o que é seu. ii. Timidez: se recolher, ameaçar de chorar. Repressão. Essa agressividade não manifesta terá reflexos orgânicos e complicações. iii. Manifestação livre e descontrolada: não é legitima e sadia, pois não está voltada ao seu objetivo legitimo; é uma inquietação sem objetivo, a criança não sabe administrar a agressividade. A espontaneidade sadia depende da confiabilidade da mãe e, por extensão, do lar. Confiabilidade é a mãe que aceita, ama e compreende o filho em sua totalidade, mesmo enquanto agressivo. Não é aceitar a agressividade, mas o filho enquanto agressivo. É necessário viver e dimensionar a agressividade, sentindo efeitos e reflexos dela para aprender a administrá-la. Esta confiabilidade não existe fora do lar, é típica da mãe e do ambiente familiar. Conseqüências da privação emocional: vão comprometer a confiabilidade do lar, a capacidade de administração da agressividade, a objetivação e a diferenciação dos sentimentos. Capacidade de envolvimento vs. Sentimento de culpa: a capacidade de assumir a responsabilidade (pelos impulsos e não somente pela autoria dos atos) é o desenvolvimento. Capacidade de ter consciência do desdobramento de seus atos e avaliar o contexto de sua vida. O sentimento de culpa traz a auto-reprovação, e pode ser suportável ou não. É importante para o desenvolvimento da ética. A criança só consegue manifestar esta capacidade construtiva quando é aceita, quando há confiabilidade do lar. Se a mãe tiver problemas não resolvidos de sua infância, não permitirá essa individualização, o que criará um vínculo mórbido. Se a mãe tiver capacidade de distanciamento, distinção, de reconhecer a identidade do filho, mas permanecendo disponível e acessível à criança, essa vê que a mãe continua confiável. Tipos de privação emocional (deficit primordial nas relações fundamentais entre a criança e a mãe, o pai e o lar) i. Por relações insuficientes: É uma relação insuficiente do ponto de vista quantitativo ou/e qualitativo. Todos nós sofremos algum grau de privação emocional, principalmente nas sociedades de hoje, em que é muito comum as mães trabalharem fora. A atenção para o filho pequeno diminui muito. A solução é a mãe deixar sua profissão e ficar em casa? Não, o lar depende do trabalho da mãe e ela tem todo direito à profissão, a mãe também não pode ser privada de seus direitos, então, não adianta querer ser perfeito. Há a solidão psicológica, que é referente à privação emocional, déficit nas relações emocionais primordiais entre a mãe e a criança. A insuficiência é por causa do pouco tempo que a mãe dedica à criança ou porque não dá atenção para a criança, dando outras coisas (presentes, liberdade desmedida) para suprir a falta de afeto. A qualidade do momento de afeto, em geral, facilmente supre a falta de quantidade. ii. Por relações descontinuas: Interrupção na convivência com os pais, ou por doença, durante um período de tempo variável, por viagens, por separação dos pais – é provável que acarrete conseqüências. A morte também priva. iii. Por relações distorcidas: algumas são evidentes, como violência física, moral, psicológica (com chantagens, ameaças). Há outros tipos difíceis de se reconhecer e identificar – relações contaminadas que os pais, sobretudo a mãe, têm com o filho. A mãe sofre com a rejeição e projeta isso no filho. Esta não é uma relação saudável, não tranqüiliza a criança, pelo contrário: além dos próprios conflitos, vai ter os conflitos da mãe. Há mães que transformam os seus filhos em objeto de realização pessoal – querem o filho perfeito e não aceitam que o filho tenha problemas: essa será uma relação exigente, transformando o filho em objeto de sua realização pessoal. Pais que proíbem os filhos de fazer algumas coisas porque não querem ter preocupações: estes são os maiores problemas de delinqüência, pois há repressão. Mãe que superprotege o filho quer que o filho continue criança no seu colo, porque pra ela o filho adulto é agressivo: o filho cresce problemático, porque a criança não se sente segura. Formas de solução da privação emocional - Elaboração psíquica: maturação psíquica, suturação da ferida com novas amizades construtivas, psicoterapia superação do problema; - Reconforto por meio de objetos: tendência a criação de vínculo de dependência sujeito a recaídas (podem surgir os crimes passionais). A pessoa pode ter relacionamentos normais, mas numa relação de dependência. Se ambos foram dependentes, a relação será difícil, mas aparentemente resolve a privação emocional. Posteriormente, pais carentes jogarão sua privação emocional sobre seus filhos; - Substituição da privação por objetos: não existe emoção, são objetos - o dinheiro, a profissão, o estudo... a pessoa isola as emoções e se dedica às coisas para não entrar em contato com o mundo problemático, sendo a obsessividade uma característica. Nada satisfaz o compulsivo, sentirá uma solidão e continuará a perseguir o objeto fundamental. A pessoa é capaz de amar, mas não de viver o amor, de expressá-lo; - Luto/tristeza: a melancolia, perda das energias, a depressão; drogas, buscando solução aos problemas. Os caminhos perdem o sentido depressão. Ocorre a retração do EGO, continua sofrendo, mas continua vivendo o problema, podendo chegar ao suicídio, uma forma extrema de solução; - Drogas: o indivíduo pode se utilizar de drogas para tentar para solucionar a lacuna que há dentro de si. Por isso as drogas viciam – elas se apresentam como soluções, ainda que aparentes, de certas motivações básicas da vida, que estão frustradas. No caso de drogas são muito freqüentes os problemas de privação. As drogas resolvem motivações frustradas mais ou menos intensamente a depender da privação emocional. Há três grupos de drogas: i) psicolépticas, ii) psicoanalépticas, iii) psicodislépticas. A primeira motivação para usar drogas é o desejo de tranqüilidade, de total equilíbrio. As drogas psicolépticas satisfazem o desejo de tranqüilidade, como a maconha e, de início, a bebida alcoólica (que tem o “efeito chicote” fazendo com que depois a pessoa caia em depressão). Há os ansiolíticos, receitados pelo médico (antidepressivos), que viciam porque acabam com a ansiedade. É o introversivo. Outra motivação é a excitação, a energia, a vitalidade, a realização, busca de estímulos, o agito. É o extroversivo. Usam-se drogas psicoanalépticas, como a cocaína e o crack, que são drogas energizantes; há as anfetaminas, usadas por caminhoneiros, que aumentam a energia. Estas drogas viciam porque ilusoriamente satisfazem as motivações de excitação. Depois de passa o efeito da droga, é preciso uma dose maior, já que o indivíduo vai sofrendo tolerância. Drogas psicodislépticas, despersonalizantes ou alucinógenas – a terceira motivação é a se tem de mudar, de ser outra pessoa, de ter vivências diferentes. O turismo descansa porque a pessoa não utiliza seus papeis diários, a pessoa se sente outra. Permite-se ser diferente, comportar-se de forma diferente. As drogas dislépticas permitem algo difente – LSD, que vai proporcionar as “viagens”. Há os opiáceos, como a heroína e a morfina. O crack e o ecstasy também são um pouco assim; - Delinqüência: privação emocional por relação descontínua na família, por relações insuficientes e distorcidas. Privação emocional é a perda do objeto que ocasiona falta de estabilidade e confiabilidade no ambiente, sentindo-se a criança insegura. É uma forma de solução da privação emocional como as drogas são. A delinqüência é uma espécie de grito do adolescente para a sociedade, chamando a atenção para ele. Há dois tipos de crime e duas motivações. É como se a delinqüência fosse i) a busca do objeto em si ou ii) a da estabilidade ou confiabilidade. Na busca do objeto em si, há crimes contra o patrimônio – furto, roubo, estelionato, tráfico. É a busca incansável do dinheiro, por exemplo. Na busca de estabilidade, é como se o adolescente buscasse uma norma, uma segurança, e vai fazê- lo por crimes que chamem a atenção, que alardeiam. São os crimes contra a vida, crimes de lesão corporal, crimes de depredação. Nem toda a delinqüência, no entanto, tem a ver com a privação emocional. *** Crime e Conflito Todo crime, salvo raras exceções, é expressão de um conflito. Pode-se verificar três tipos de conflito: i. conflito pontual: tem a ver com a vítima em particular; nada tem a ver com a história pregressa ou com a sociedade. Ex.: homicídio, a menos que seja um homicida serial ou com vários conflitos internos. ii. conflito inter-individual: não é pontual, é histórico, conflito com a sociedade, com o ambiente que é atualizado na vítima. Ex.: crimes contra o patrimônio. Os delinqüentes estão em conflito com os trabalhadores. iii. conflito intra-individual: o crime é expressão do que está dentro do indivíduo, tendem a ter características mais mórbidas, notórias, violentas. O prognóstico é melhor em relação ao primeiro tipo de conflito, eles têm maiores chances de se “recuperar” – não são os verdadeiros “bandidos”. Depois, o inter-individual, pois com ele se pode dialogar melhor do que em relação ao intra-individual. Quem sofre de conflito inter-individual consegue discutir o âmago do seu problema; no intra-individual é necessário terapia. Maturação psicológica Todos aspiramos à maturidade; a maturação psicológica é uma caminhada de conflitos, que vai do Ato ao Pensamento. Os conflitos têm uma solução – a qual tem o ato (respostas imediatas) e os pensamentos (respostas mediadas pela simbolização). Freud se utiliza da seguinte alegoria: as hordas primitivas mataram o pai, porque todos se sentiram dominados por ele. Depois, os filhos se arrependeram do que fizeram, refletiram, mas não era possível voltar no tempo. Depois do arrependimento, criaram um culto ao pai, no qual repetiam o parricídio e confirmavam sua independência em relação ao pai – assim a explicação do ritual do culto ao pai, à missa – no rito, simbolicamente se sacrifica o pai. Quanto mais se desvincular do ato e partir para o pensamento, mais maduro se está. O antagonismo entre as duas formas de encarar o conflito é imanente. Um dos critérios para se aferir a maturidade psicológica é a forma como o indivíduo soluciona seus conflitos, quanto mais infantil é o sujeito, mais se recorre aos atos para a solução dos conflitos; quanto mais adulto, mais se recorrem ao pensamento, para se resolver os problemas. Para a criança não há substantivo brinquedo: o que há é o verbo brincar, a ação, por isso vai direto ao ato. O conflito fundamental O conflito fundamental, que segundo Freud já existe na humanidade, é a rivalidade entre pais e filhos – luta pelo poder. É uma luta sofrida, pois se dá entre pessoas que se amam, mas necessária para ambos os lados (com isso os filhos vão construindo sua autonomia e os pais vêem que o filho não é uma continuidade de si mesmo) e saudável. Este conflito é um paradigma dos grandes conflitos sociais (na interpretação de Bergeret sobre o complexo de Édipo – que matou o seu pai e apossou-se de seu leito, não foi para apossar-se). É uma forma de a psicanálise ler os conflitos sociais, na base dos quais estaria sempre a luta pelo poder. Para Freud, no cerne do conflito está a libido, é isto que esta sendo recalcado. Já para Bergeret o pivô do conflito é a rivalidade como tal, é o poder, a agressividade. A libido para ele não é núcleo do conflito, mas uma via de solução. Bergeret -> Dahrendorf: domínio -> conflito -> mudança (conflito: processo natural na sociedade, tal como o complexo de Édipo no indivíduo) No caso dos conflitos fundamentais e dos demais que ocorrem, simplificando, temos dois tipos de solução: a solução satisfatória e a insatisfatória. No entanto, nenhuma das duas é plenamente real, existem soluções mais ou menos satisfatórias, mas se utiliza a classificação simplificada para fins didáticos. Solução não satisfatória de conflito fundamental: É preciso lembrar que não há solução completamente satisfatória – somente opções mais ou menos satisfatórias. Se há uma fixação no conflito fundamental, há respostas irracionais, com ênfase no ato – ocorre porque o indivíduo não superou o conflito, não conquistou autonomia, continuando em uma relação de dependência, e, enquanto dependente, se ama e se odeia, pois ninguém gosta de depender (o amor maduro existe quanto mais independente da pessoa se é). O conflito é predominantemente intra-individual. Os crimes que resultam de conflito intra-individual costumam ser respostas desviadas dos objetivos legítimos (conflitos irrealísticos – Coser e Simmel); e o crime é válvula da escape. Art. 59, CP – avaliação do objetivo é diferente da avaliação dos meios. Querer ter dinheiro é legítimo, o meio, tomando-o de outro, não. Emprego de sadismo: seu objetivo é maltratar a vítima, torturá-la e encontra prazer nisso – seu objetivo é encontrar prazer no sofrimento do outro, isso não é legítimo. Os crimes de homicídio são expressão de conflito intra-individual intenso – a recuperação desta pessoa é diferente em relação aos crimes que se originam de conflito inter- individual. O conflito inter-individual é realístico. Solução satisfatória do conflito fundamental: Não há fixação nos conflitos, as respostas são racionais. O conflito, quando existir, é inter-individual. Quando houver crime, os objetivos são legítimos – roubar para ter dinheiro, assaltar para ter dinheiro. O conflito é realístico. O crime se mostra como tradução de uma inabilidade de solucionar conflitos (sociais) atuais: estado de vulnerabilidade, história de marginalização e deterioração). Crime de estupro – objetivo é o prazer sexual. É legítimo? Ninguém tem direito de ter prazer sexual quando o outro não quer. Mas o objetivo do estupro é o prazer sexual ou a violência? Para Freud, o sexo é amalgama entre libido e agressividade – quanto mais predominar o primeiro, mas maduro o ato sexual, se predominar o segundo, mais cruéis são os atos sexuais. Não é legítimo ter prazer sexual com base no sofrimento do outro. O estupro supõe violência, porém, pode acontecer de a violência ser apenas instrumento para dominar o outro. Se a garota resolve ceder, não há mais estupro. Se a garota resolve ceder, mas o prazer para o sujeito está na violência, ele não vai estuprar, vai perder a vontade. Neutralização do Crime A vítima é afastada do direito penal, o crime chega ao tribunal desvestido do caráter de conflito. O crime é tido hoje como i) infração a uma norma penal e ii) dívida perante o Estado. O conflito em si continua em aberto. Como pensar, assim, uma execução penal? Deslocamento do foco de atenção Para Baratta, o crime é resposta individual para os conflitos reais. Só uma resposta coletiva vai resolver o problema real. Zaffaroni defende que a cadeia agrava o estado de vulnerabilidade e deterioração. É necessário trabalhar com o estado de vulnerabilidade. Súmula de Propostas i. Deve-se buscar o fortalecimento psíquico da pessoa para os conflitos inter- individuais; ii. Deve-se estabelecer reaproximação gradativa entre cárcere e sociedade; iii. Programas de recompensa – encontro entre vítima, agressor e sociedade. O enfrentamento do conflito pontual vai refletir sobre o conflito histórico; iv. Estimular o pensamento, a reflexão e a simbolização. O preso não pode apenas se sentir objeto. Deve ser colocado de frente com o conflito realístico, discuti-lo. *** Delinqüência Caracterológica A combinação entre o caráter e o temperamento é responsável pela formação da personalidade do indivíduo. Diferentemente do temperamento, o caráter é dinâmico, evolui, sendo moldado pelo temperamento e pelas experiências individuais. A delinqüência por uma “falha” no caráter tem um péssimo prognóstico. Temperamento Dimensão heteroconstitucional da personalidade. O temperamento é herdado – agressivo ou passivo. Bagagem psicológica constitucional da pessoa. Há teorias que o relacionam com o tipo físico. Relaciona-se com o ID: potencial energético, instintos. É mais estável que o caráter (que evolui, sendo a adaptação da personalidade). Caráter Aspecto evolutivo e adaptativo da personalidade. Produto da adaptação do indivíduo ao meio (mesma “casa” sempre, mas que pode ser reformada). Reflete o desenvolvimento do ser humano, como o EGO e o SUPEREGO. A vontade e a ética estão no caráter. Estátua de gesso: o todo é a personalidade. A matéria prima é o temperamento. A forma é o caráter. Mas é importante lembrar que gesso e forma não se dissociam. Vontade: Capacidade de determinação, de direcionar certa conduta. É diferente de desejo, impulso. Capacidade de dizer sim e não. Fonte de apaziguação dos desejos. Ex.: na hora da aula, você gostaria de estar no Porão, mas sua vontade fez com que você ficasse na aula. Ética: Capacidade de internalização dos valores, das regras de disciplina que regem a sociedade. Depende, quanto à aprendizagem, da inteligência. Quanto à internalização, depende do caráter. Defeito nas bases do caráter: pode dar lugar a uma personalidade psicopática (defeito constitucional do caráter). O psicopata não tem instância de controle – não há SUPEREGO. A ética não é internalizada (não significa nada para ele). Mecanismos de defesa Vêm da parte inconsciente do EGO, vez que esse reprime o sentimento de inferioridade. Projeção: atirar no mundo o sentimento de inferioridade. Jung: toda guerra (e todo ódio) acontece por projeção no outro. Todos temos um lado sombrio. O que não passa pelo crivo do SUPEREGO vai pra sombra. O Psicopata Defeito no temperamento que se manifesta no caráter. A psicopatia existe em graus. O psicopata não necessariamente comete crimes, mas não tem consideração por ninguém (nem pela própria mãe). Não há sentimento de culpa. É caracterizada no Código Internacional de Doenças (CID-10) como um problema de personalidade (assim, o psicopata é semi-imputável). Não tem domínio da vida instintiva (vontade fraca). É imediatista na busca por soluções dos problemas e joga com as regras do jogo a favor dele, mentindo. Total ausência de afeto. Rousseau: o “bom selvagem”. O homem é desvirtuado pela sociedade. AMOR DE SI COMPAIXÃO Melanie Klein: o pressuposto de que o psicopata não tem superego é questionável. Haveria razões ligadas à infância que determinariam seu comportamento (grande sentimento de culpa; tudo que surge parece errado). INFERIORIDADE ACANHAMENTO SOCIAL EGOÍSMO NARCISISMO FALTA DE EMPATIA/HOSTILIDADE Personalidades Dissociais Trata-se de um desvio ético-formativo do caráter: o caráter é bom, mas se desvia dos valores por experiências/vivências em grupos. Assim, a ética e a vontade ficam comprometidas, vez que têm sua sede no caráter. É um desvio de formação, não de constituição. O indivíduo com personalidade dissocial é capaz de internalizar a ética, porém, como o ambiente no qual vive é outro, sua ética e seus valores são diferentes daqueles da sociedade. Esse desvio se deve ao fato de os indivíduos provirem de lares carentes de afeto, valores e disciplina. O indivíduo é abandonado. Uma criança com lar desestruturado se torna fragilizada. Há maior possibilidade de se tornar dissocial por sua maior vulnerabilidade Carência de Afeto: não significa que não haja amor. O problema está na manifestação e na vivência desse. Pode ser cultural: famílias muito pobres não têm tempo para viver o amor; já famílias muito ricas acabam atribuindo a terceiros o cuidado e o tempo dos filhos (motoristas, babás). Pessoas com carência afetiva são fragilizadas, se sentem solitárias e pouco aceitas, são críticas de si mesmas, precisam de um grupo para se fortalecerem. Carência de Valores: os valores não são expressos pela família, não há exemplos de conduta. A família não valoriza os direitos do outro (até a falta de higiene se enquadra, caso não tenha sido um valor ensinado pela família). Carência de Disciplina: Se a disciplina se baseia em valores, ela tem seu fundamento. Se não, ela é totalitária e tirana (caso em que a disciplina não está voltada para o bem do outro, mas para o bem dos pais). Ex.: as críticas vindas da escola não são aceitas. O EGO providencia mecanismos de defesa ao sentimento de rejeição. Compensação: busca por grupos sociais com os quais o indivíduo se identifica. Ele busca ter uma função, um papel nesse grupo, para que sinta que tem uma identidade. Como o grupo o valoriza, ele adere aos valores do grupo. Pode apresentar excesso de extroversão, ditatorialismo, para passar a imagem de que tem controle de tudo. Assim, ele supera o sentimento de inferioridade. Os grupos, com seus valores próprios e antagônicos aos da sociedade em geral, ostentam condutas de hostilidade/enfrentamento/negação da sociedade. São as chamadas “personalidades delinqüentes”, não por uma estrutura de personalidade, mas porque levam uma vida delinqüente delinqüência social (as personalidades psicopáticas, por sua vez, não se caracterizam por uma vida delinqüente, já que não necessariamente cometem crimes). O individuo dissocial não se encaixa no ambiente escolar; para ele, o que a escola transmite não tem sentido, já que ele não consegue se adaptar à disciplina. Participam de grupos marginalizados voltados à atividade predatória, que cometem, via de regra, crimes contra o patrimônio, vandalismos. O indivíduo é fiel ao grupo, orientando-se por sua lógica, aceitando e internalizando sua ética (o psicopata não tem isso; sua aparente fidelidade somente existe para que ele tire proveito da situação). O SUPEREGO do indivíduo dissocial é mal desenvolvido, desviado. Ele internaliza uma lei perversa. São imputáveis: há a capacidade de entendimento e determinação. Boa parte da população carcerária apresenta personalidade dissocial, sendo difícil a ressocialização. Solução: diálogo de co-responsabilidade para reintegração social. Proposta do GDUCC. *** Exame criminológico e de Personalidade Exame Criminológico: Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.(LEP) Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução. (CP) Exame de Personalidade: Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do processo, poderá: I - entrevistar pessoas; II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do condenado; III - realizar outras diligências e exames necessários.(LEP) Com esses exames, visa-se a: i. Formular um programa de “tratamento” – programa individualizador de execução de pena. Hoje se fala em reintegração em vez de “tratamento”, visando a ressocializar. ii. Seguir a execução do tratamento e controlar seus resultados. Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. (LEP) A classificação é feita por uma Comissão Técnica de Classificação (CTC) com um exame de personalidade, após um exame criminológico de entrada [nada disso é feito], que então elaborará o programa individualizador do tratamento, devendo acompanhar esses programas ao longo da execução. Tudo isso nada mais é do que as 3 linhas básicas de preocupação: o diagnóstico, o prognóstico (complicado – se tenta retirar isso da criminologia clínica) e o tratamento.