Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Geometria anal´ıtica - 2011 Alexandre Teixeira Be´hague Suma´rio 1 G.A., Um pouco da nomenclatura da Geometria plana . . . . . . . . . . . 4 2 G.A., Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.1 G.A., Soma de vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.3 G.A., Soma de ponto com vetor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.4 G.A., Dependeˆncia linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.5 G.A., Bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.6 G.A., Mudanc¸a de bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.7 G.A., Produto interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.8 G.A., Orientac¸o˜es no espac¸o R3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.9 G.A., Produto vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.10 G.A., Produto misto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3 G.A., Sistemas de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.1 G.A., Mudanc¸a de sistema de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.2 G.A., O conceito topolo´gico de distaˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.3 G.A., O conceito de distaˆncia atrave´s de vetores . . . . . . . . . . . . . . . 53 Liberte´, Se´curite´, et Justice. L’ide´al affiche´ est celui de la liberte´ de chacun dans le respect de tous, du droit des peuples a` disposer d’eux-meˆmes, d’institutions faites pour garantir le bien-eˆtre social. (Liberdade, seguranc¸a e justic¸a. O ideal alardeado e´ aquele da liberdade de cada um em respeito a todos, do direito dos povos de dispor deles mesmos, das instituic¸o˜es agirem para garantir o bem estar social.) ’Nascemos matema´ticos, na˜o nos tornamos matema´ticos.’ Poincare´. 1 Suma´rio Suma´rio Fonte bibliogra´fica Geometria Anal´ıtica, um tratamento vetorial, Camargo, Ivan de; Boulos, Paulo, Pearson Prentice Hall. Ca´lculo com Geometria Anal´ıtica, Vol. 1, Swokowski, Earl W., Makron Books do Brasil Editora Ltda. Ler Cap´ıtulo 1, pg. 1 ate´ pg. 47. Nota sobre avaliac¸a˜o Essa disciplina na˜o e´ fa´cil, exige tanta dedicac¸a˜o quanto o Ca´lculo diferencial e inte- gral, por isso sera˜o disponibilizadas algumas listas de exerc´ıcio e se espera que os alunos procurem o professor, fora do hora´rio de aula, para eliminar du´vidas. Sera˜o feitas 3 provas, a primeira sobre segmentos orientados, operac¸o˜es vetoriais, equac¸o˜es de retas, equac¸o˜es de planos, posic¸o˜es espec´ıficas, sistema de coordenadas no espac¸o; a segunda sobre coˆnicas e a terceira sobre qua´dricas. O crite´rio de avaliac¸a˜o para essa disciplina e´ o oficial: 1. Esta´ aprovado o(a) aluno(a) que obtiver me´dia M := P1 + P2 + P3 3 ≥ 7 2. Caso 4 ≤M < 7, faz prova final e e´ aprovado quem obter me´dia final Mfinal := M + Pfinal 2 ≥ 5 isto e´, Pfinal ≥ 10−M . 3. Caso M < 4, esta´ reprovado. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 2 Geometria anal´ıtica - 2011 Suma´rio Suma´rio Introduc¸a˜o A esmagadora maioria da populac¸a˜o mundial na˜o sabe que cieˆncia e´ conhecimento exato e racional de coisa determinada, e´ sistema de conhecimentos com um objeto determinado e um me´todo pro´prio. Matema´tica e´ a cieˆncia exata por exceleˆncia, se ocupa de ide´ias e resultados demon- strados rigorosamente. Muitas pessoas acham que Geometria e´ a parte da Matema´tica que se ocupa com desenhos, triaˆngulos, c´ırculos, etc., Geometria e´ muito mais do que isso, e´ uma cieˆncia exata com nomenclatura e procedimentos pro´prios, que se subdivide em va´rios ramos teo´ricos, de acordo com o objeto de estudo. Existem, entre outras: Geometriaeuclidiana Geometriadescritiva Geometriaprojetiva GeometriadeLobatchevski-Bolyai GeometriadeRiemann Teoriageométricadafolheações Sistemasdinâmicos Topologiadiferencial Topologiaalgébrica Análiseemumaouváriasvariáveis,reaisoucomplexas Teoriadegrupos CálculodiferencialeintegralGeometriaanalítica Álgebraelementarevetorial Geometriadiferencial Topologiageral Geometriariemanniana Coube a Rene´ Descartes (1596-1650), matema´tico e filo´sofo franceˆs, fundador do racionalismo moderno, cr´ıtico da auseˆncia de fundamentos teo´ricos no ensino das cieˆncias, introduzir o procedimento de associac¸a˜o de equac¸o˜es aos entes geome´tricos, o chamado me´todo cartesiano, e fundar a Geometria anal´ıtica. Mais tarde, Gottfried Wilhelm Leibniz (alema˜o, 1646-1716)1 em 1684 e Isaac Newton (ingleˆs, 1642-1727) em 1687 apresentaram os princ´ıpios fundamentais do Ca´lculo Infinites- imal, fazendo forte uso da Geometria anal´ıtica e do conceito de limite. 1 Matema´tico e filo´sofo alema˜o, considerado como um dos esp´ıritos mais brilhantes do 17o se´culo, contribuiu com as matema´ticas descobrindo, em 1675, os princ´ıpios fundamentais do ca´lculo infinitesimal. Esta descoberta foi realizada independentemente da de Newton, que inventou seu sistema de ca´lculo em 1666. O sistema de Leibinz foi publicado em 1684, o de Newton em 1687, e´poca na qual o me´todo de notac¸a˜o imaginado por Leibinz, bastante influenciado pelos trabalhos de Descartes, foi universalmente adotado A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 3 Geometria anal´ıtica - 2011 1 G.A., Um pouco da nomenclatura da Geometria plana 1 G.A., Um pouco da nomenclatura da Geometria plana Conjunto e´ uma colec¸a˜o de coisas fundamentais (em Geometria sa˜o chamados pontos, em A´lgebra sa˜o chamados elementos), indivis´ıveis, minimais, na˜o constitu´ıdos de nada menor e que possuem todos uma mesma propriedade matema´tica, que pode ser nume´rica (quantitativa), ou na˜o nume´rica (qualitativa). A nomenclatura usual e´ ’s´ımbolo do conjunto’ = {’propriedade que um elemento qualquer do conjunto verifica’} Um subconjunto Y de um dado conjunto X e´ uma colec¸a˜o de pontos particulares de X com uma determinada propriedade comum P, escreve-se Y = {pontos A ∈ X; A verifica P} leia ’Y e´ formado dos pontos A que pertencem a X tais que A verifica P’ Usa-se a notac¸a˜o Y ⊂ X (leia ’Y esta´ contido em X’, ’Y e´ subconjunto de X’) para indicar que cada ponto de Y e´ tambe´m ponto de X. A ide´ia de igualdade em Matema´tica na˜o e´ ta˜o simples com muitos acham: quando se diz ’X e´ igual a Y’, quer-se dizer que todos os pontos do conjunto X sa˜o pontos do conjunto Y, e todos os pontos de Y sa˜o tambe´m pontos de X. Nesse caso, escrevemos X = Y. Mas, basta um ponto de X na˜o ser ponto de Y para que esses dois conjuntos na˜o sejam iguais, da´ı escrevemos X 6= Y. Com dois conjuntos podemos formar treˆs tipos especiais de conjuntos: 1) A unia˜o de X e Y e´ o conjunto X∪Y = {pontos A; A ∈ X ou A ∈ Y} 2) A intersec¸a˜o entre X e Y e´ o conjunto X∩Y = {pontos A; A ∈ X e A ∈ Y} Quando X∩Y = ∅, ou seja, quando X e Y na˜o teˆm ponto comum, diz-se que X e Y sa˜o disjuntos. Mas cuidado, em Matema´tica a palavra ou na˜o significa ’ou e´ P ou e´ Q’, pode ocorrer ’e´ P e e´ Q’. 3) O produto cartesiano de X e Y e´ o conjunto X×Y = {(x, y); x ∈ X e y ∈ Y} (leia ’X vezes Y’) de pares ordenados, onde os conjuntos X e Y podem ter mesma natureza ou na˜o, um pode ser nume´rico e o outro na˜o nume´rico. Segmento de reta AB e´ o conjunto de todos os pontos alinhados (colineares) com A e B e que esta˜o entre A e B. Aqui a ide´ia de alinhamento e´ intuitiva. A B .. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 4 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores Semi-reta −→ AB e´ o conjunto AB ∪ {pontos P ; B esta´ entre P e A} . . A B com um in´ıcio, a origem A, e que se estende infinitamente (indefinidamente) com uma determinada direc¸a˜o. Reta ←→ AB e´ a reunia˜o −→ AB ∪ −→BA, conjunto infinito formado de infinitos pontos. . . A B Treˆs pontos sa˜o colineares se ha´ uma reta que os conte´m; sa˜o na˜o-colineares se na˜o esta˜o simultaneamente em uma mesma reta. A intersecc¸a˜o de duas retas pode ser, no ma´ximo, um u´nico ponto e, nesse caso, as retas determinam um plano, se retas r e s teˆm ponto comum A, escolha B ∈ r, C ∈ s e o plano que conte´m r e s, o plano que conte´m A,B e C na˜o-colineares, e´ a reunia˜o {retas que passam por A e um ponto de BC} ∪ {retas que passam por B e um ponto de AC} ∪ {retas que passam por C e um ponto de AB}. . . .C A B Dados uma reta r e um ponto P 6∈ r, existe um u´nico plano Π (pi maiu´sculo, ’P’) que os conte´m. Duas retas sa˜o paralelas quando sa˜o coplanares (esta˜o em um mesmo plano) e sa˜o disjuntas. Dois planos sa˜o paralelos quando sa˜o disjuntos, infinitos planos paralelos determinam o espac¸o, muitas vezes denotado pelo s´ımbolo R3, ou V3. Dados um plano Π e um ponto P 6∈ Π, existe um u´nico plano Σ (sigma maiu´sculo, ’S’) que conte´m P e e´ paralelo a Π. 2 G.A., Vetores Existem grandezas (tudo o que se pode comparar, aumentar ou diminuir) associadas a um nu´mero e a uma unidade dimensional; por exemplo, a frase ’leite vem em uma embalagem contendo 1 litro’ esta´ completa, na˜o da´ espac¸o para ma´ interpretac¸a˜o e na˜o faz A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 5 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores diferenc¸a a posic¸a˜o da embalagem, nem onde esta´. Outras grandezas necessitam tambe´m de uma direc¸a˜o e de um sentido; essas sa˜o as grandezas vetoriais e sa˜o extremamente importantes em F´ısica, quando falamos de forc¸a, velocidade, pressa˜o, etc. Voltando a` ide´ia de segmento de reta, A B .. quando se desenha AB com uma re´gua, na˜o faz diferenc¸a se trac¸amos o segmento desde A ate´ B, ou de B ate´ A. Muitas pessoas acham saber o que e´ um vetor, acham que vetor e´ como uma flecha, no entanto o conceito e´ bem mais complicado do que isso e necessita de uma sequ¨eˆncia de ide´ias que passamos a estudar agora. Apo´s termos desenhado AB, pode ser interessante fixar um ’comec¸o’ e um ’fim’. Definic¸a˜o 1. Dois pontos A e B da˜o origem sempre a dois segmentos orientados, um desenhado de A ate´ B e denotado pelo s´ımbolo (A,B), outro desenhado de B ate´ A e denotado pelo s´ımbolo (B,A). A primeira letra no par ordenado representa a origem do segmento orientado, a segunda letra representa a extremidade. • Cuidado, (A,B) na˜o deve ser confundido com um elemento de um produto cartesiano, na˜o e´ um par de pontos, mas sim um infinidade de pontos alinhados. Agora note bem, dois pontos A e B da˜o origem sempre a dois segmentos de reta e a dois segmentos orientados, sendo que: 1) AB = BA, 2) (A,B) 6= (B,A). Um par do tipo (A,A) e´ chamado segmento orientado nulo. Definic¸a˜o 2. (A,B) e (C,D) sa˜o ditos de mesmo comprimento se os respectivos segmentos de reta AB e CD teˆm mesmo comprimento. Diz-se que (A,B) e (C,D) sa˜o de mesma direc¸a˜o, que teˆm mesma direc¸a˜o, quando AB e CD sa˜o paralelos (i.e. ←→ AB e ←→ CD sa˜o coplanares e disjuntas). Se (A,B) e (C,D) de mesma direc¸a˜o forem na˜o-colineares, diz-se que sa˜o de mesmo sentido quando AC ∩BD = ∅, e sa˜o de sentido contra´rio quando AC ∩BD 6= ∅. Mas, se (A,B) e (C,D) forem colineares, enta˜o tomamos E 6∈ ←→AB(=←→CD) e F de tal sorte que (E,F ) tenha mesmo sentido de (A,B). Enta˜o, (A,B) e (C,D) sa˜o de mesmo sentido se (C,D) e (E,F ) sa˜o, e (A,B) e (C,D) sa˜o de sentido contra´rio quando (C,D) e (E,F ) sa˜o. • Definic¸a˜o 3. (A,B) e (C,D) sa˜o equipolentes quando: 1) Sa˜o nulos, ou, 2) Sa˜o na˜o-nulos e teˆm mesma direc¸a˜o, mesmo sentido e mesmo comprimento. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 6 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores Descartes introduziu o s´ımbolo (A,B) ∼ (C,D) para indicar a equipoleˆncia entre (A,B) e (C,D), vamos utiliza´-la frequ¨entemente. Cuidado, e´ errado dizer ’(A,B) e´ igual a (C,D)’, pois frequ¨entemente esses conjuntos teˆm pontos diferentes. O correto e´ dizer ’(A,B) e´ equipolente a (C,D)’, ou ’(A,B) e (C,D) sa˜o equipolentes’. Proposic¸a˜o 1. A equipoleˆncia possui as seguintes propriedades: E1) (A,B) ∼ (A,B). E2) (A,B) ∼ (C,D)⇒ (C,D) ∼ (A,B). E3) (A,B) ∼ (C,D) e (C,D) ∼ (E,F )⇒ (A,B) ∼ (E,F ). Demostrac¸a˜o. O segmento orientado (A,B) compartilha direc¸a˜o, sentido e comprimento com ele mesmo, logo e´ equipolente a ele mesmo e esta´ provado E1. E2) Temos que (A,B) e´ paralelo a (C,D), AC ∩ BD = ∅ e a distaˆncia de A ate´ B e´ igual a` distaˆncia de C ate´ D. Essas informac¸o˜es matema´ticas na˜o levam em conta a ordem em que as letras (pontos) sa˜o apresentados, portanto podemos escrever (C,D) e´ paralelo a (A,B), BD ∩ AC = ∅ e a distaˆncia de C ate´ D e´ igual a` distaˆncia de A ate´ B. Assim (C,D) ∼ (A,B). E3) Por um lado, (A,B) e´ paralelo a (C,D), AC ∩BD = ∅ e a distaˆncia de A ate´ B e´ igual a` distaˆncia de C ate´ D. Por outro lado, (C,D) e´ paralelo a (E,F ), CE ∩DF = ∅ e a distaˆncia de C ate´ D e´ igual a` distaˆncia de E ate´ F . Segue claramente que (A,B) e´ paralelo a (E,F ), AE ∩ BF = ∅ e a distaˆncia de A ate´ B e´ igual a` distaˆncia de E ate´ F , ou seja, sa˜o equipolentes os segmentos orientados (A,B) e (E,F ). • Proposic¸a˜o 2. Se (A,B) ∼ (C,D), enta˜o (A,C) ∼ (B,D). Demostrac¸a˜o. Desenhamos AC e BD e o resultado e´ um paralelogramo, de sorte que AC e´ paralelo a BD, AB ∩CD = ∅ e a distaˆncia de A ate´ C e´ igual a` distaˆncia de B ate´ D. Segue o resultado. • Chegamos finalmente a` ide´ia de vetor: Definic¸a˜o 4. A classe de equipoleˆncia de (A,B) e´ o conjunto de todos os segmentos ori- entados (em nu´mero infinito) que sa˜o equipolentes a (A,B). Outros nomes para esse conjunto sa˜o vetor AB e vetor que e´ representado por (A,B). Tal conjunto e´ denotado pelo s´ımbolo −→ AB. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 7 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores A vetor B AB . . Evidente que (A,B) pertence a` sua classe de equipoleˆncia. Tambe´m, se (A,B) ∼ (C,D), enta˜o −→ AB = −−→ CD (verifique!). Algumas observac¸o˜es: 1) E´ errado dizer ’ −→ AB e −−→ CD sa˜o equipolentes’, o correto e´ dizer ’ −→ AB e −−→ CD sa˜o iguais’, ou ’ −→ AB e´ igual a −−→ CD’. 2) Muitas vezes na˜o e´ interessante destacar qualquer segmento orientado para indicar um vetor, usamos enta˜o letras minu´sculas com uma seta superior tal como −→a ,−→b ,−→v , etc. 3) Se ocorre de −→v ser representado por (A,B), enta˜o −→v = −→AB. E´ muito comum vermos em textos matema´ticos a ilustrac¸a˜o v que deve ser interpretada com cuidado: o s´ımbolo −→v ao lado do segmento orientado (flecha) esta´ nos lembrando que esse segmento orientado e´ um dos infinitos representantes do vetor. So´ isso! Bem ao contra´rio do que muitos acham, na˜o podemos desenhar um vetor, simplesmente porque vetor na˜o e´ um segmento de reta. O conceito de vetor pode parecer complicado, mas e´ bastante u´til e fa´cil de manipular; por exemplo, dados −→v e A quaisquer, e´ fa´cil ver que existe um u´nico B tal que (A,B) ∈ −→v , isto e´, −→ AB = −→v : basta aplicar o 5o postulado de Euclides (Postulado das paralelas), escolha (P,Q) ∈ −→v e considere a reta r que conte´m A e e´ paralela a PQ. Agora e´ fa´cil encontrar B ∈ r tal que (A,B) ∼ (P,Q). Antes de avanc¸armos para as operac¸o˜es vetoriais, torna-se necessa´rio estabelecer dois tipos particulares: 1) Por vetor nulo, vetor zero, entende-se qualquer vetor que admite um representante segmento orientado nulo. Ja´ e´ tradicional escrever −→ 0 , −→ AA, etc., para indicar vetores nulos. 2) Seja (A,B) um representante de −→v . Por vetor oposto de −→v entende-se o vetor que tem (B,A) como um representante. Ja´ e´ cla´ssico escrever −−→v ,−−→AB e −→BA para indicar o vetor oposto de −→v . E´ deixado como importante exerc´ıcio a verificac¸a˜o de que: 1) −→v = −(−−→v ), A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 8 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.1 G.A., Soma de vetores 2) −→v = −−→v se, e somente se, −→v = −→0 . Voltando a` definic¸a˜o 4, e´ fa´cil aplicar aos vetores as ide´ias ’ser paralelo’, ’ser de mesma direc¸a˜o’, ’ser de mesmo sentido’, ’ser de sentido contra´rio’. Por exemplo, se −→a e −→b sa˜o na˜o-nulos, enta˜o esses sa˜o de mesma direc¸a˜o quando um representante (logo qualquer) de −→a e´ paralelo a algum representante (logo qualquer) de −→b . Por uma questa˜o de ajuste teo´rico, −→ 0 e´ paralelo a qualquer outro. Podemos verificar facilmente va´rias consequ¨eˆncias, por exemplo a seguinte: suponha que −→a e −→b sa˜o de mesmo sentido e que −→ b e −→c tambe´m sa˜o de mesmo sentido; enta˜o −→a e −→c sa˜o de mesmo sentido (verifique!). Definic¸a˜o 5. A norma de −→v e´ igual ao comprimento de qualquer um de seus representantes. Indica-se esse comprimento por |−→v |. • E´ o´bvio que |−→0 | = 0. E se |−→v | = 1, −→v e´ chamado vetor unita´rio. Proposic¸a˜o 3. Sejam −→a e −→b na˜o-nulos. Ocorre −→a = −→b se, e somente se, ambos vetores sa˜o de mesma direc¸a˜o, de mesmo sentido e de mesma norma. Demostrac¸a˜o. Partimos da hipo´tese −→a = −→b e essa implica que qualquer representante de −→a e´ tambe´m representante de −→b , pois se (A,B) ∈ −→a , enta˜o (A,B) ∈ −→b , e vice-versa. Portanto, automaticamente temos que os representantes de −→a e de −→b sa˜o todos de mesma direc¸a˜o, de mesmo sentido e de mesma norma. Isso se reflete, por definic¸a˜o, nos vetores que sa˜o enta˜o de mesma direc¸a˜o, de mesmo sentido e de mesma norma. Reciprocamente, suponhamos que −→a e −→b sejam vetores de mesma direc¸a˜o, de mesmo sentido e de mesma norma. Quaisquer representantes (A,B) de −→a e (C,D) de −→b sa˜o de mesma direc¸a˜o, de mesmo sentido e de mesma norma, essa equipoleˆncia implica que ambos pertencem a` mesma classe de equipoleˆncia, logo −→a = −→b . • 2.1 G.A., Soma de vetores De agora em diante, R3 indica o conjunto da Geometria anal´ıtica onde encontramos pontos, retas, segmentos orientados, vetores, planos, c´ırculos, esferas, etc. Esse conjunto e´ chamado espac¸o cartesiano real de dimensa˜o 3, espac¸o para encurtar, possui duas estru- turas matema´ticas importantes (sistemas de coordenadas e a dos espac¸os vetoriais reais) e suporta algumas operac¸o˜es vetoriais. A primeira que se define e´ a operac¸a˜o de adic¸a˜o vetorial, adic¸a˜o de vetores, +: R3×R3 → R3, (−→u ,−→v ) 7→ −→u +−→v assim pensada: sendo (A,B) um representante de −→u , toma-se um representante de −→v com origem em B, digamos (B,C), e o vetor soma −→u +−→v sera´ aquele representado por (A,C). Ou seja, −→u +−→v = −→AB +−−→BC = −→AC. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 9 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.1 G.A., Soma de vetores C + . A . u v u v u v B . Exerc´ıcio 1. Por queˆ a adic¸a˜o vetorial pode ser definida desse modo?• Resposta: o Postulado das paralelas garante que podemos encontrar um representante de −→v com ponto inicial igual a` extremidade do representante escolhido para −→u . Exerc´ıcio 2. Prove que a adic¸a˜o vetorial esta´ bem definida, isto e´, −→u +−→v independe dos representantes. • Resposta: se for trocado (A,B) por (X,Y ), e (B,C) por (Y, Z), enta˜o −→u + −→v =−−→ XZ = −→ AC, pois (X,Z) ∼ (A,C). Verifique graficamente! Do ponto de vista das ilustrac¸o˜es, existem duas opc¸o˜es equivalentes: 1) Desenhamos (A,B) e, em seguida, (B,C). Desse modo, (A,C) e´, por definic¸a˜o, um representante de −→u +−→v (Desenho acima). 2) Apo´s desenhar (A,B), desenhe um representante de −→v com origem em A, digamos (A,C). Fica definido um paralelogramo e a diagonal vinculada a A representa −→u +−→v . C + . A . u v u v u v B . . A manipulac¸a˜o de vetores opostos conduz a` diferenc¸a de −→u por −→v , definida por −→u −−→v = −→u + (−−→v ) . . . _ u v v _ vu A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 10 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor Proposic¸a˜o 4. O adic¸a˜o entre vetores possui as seguintes propriedades: A1) Associativa, (−→u +−→v ) +−→w = −→u + (−→v +−→w ),∀−→u ,−→v ,−→w ∈ R3. A2) Comutativa, −→u +−→v = −→v +−→u ,∀−→u ,−→v ∈ R3. A3) Existeˆncia de elemento neutro, −→v +−→0 = −→0 +−→v = −→v ,∀−→v ∈ R3. A4) Existeˆncia de elemento oposto, dado qualquer −→u ∈ R3, existe um −→v ∈ R3 tal que −→u +−→v = −→0 . Escrevemos −→v = −−→u . Demostrac¸a˜o. Seja (A,B) representante de −→u . Existe representante de −→v com origem B, digamos (B,C). Existe tambe´m representante de −→w com origem em C, digamos (C,D). Enta˜o, (−→u +−→v ) +−→w = −→AC +−−→CD = −−→AD. Por outro lado, (B,D) representa −→v +−→w , de sorte que −→u + (−→v +−→w ) = −→AB +−−→BD = −−→AD. Isso prova A1. A2) Imaginamos (A,B) e (B,C) como duas de quatro arestas de um paralelogramo �ABCD. Claro que (A,B) ∼ (D,C), (A,D) ∼ (B,C) implicam que −→AB +−−→BC = −→AC =−−→ AD + −−→ DC e segue o resultado. A3) Supondo −→v = −→AB, segue claramente que −→v +−→0 = −→AB +−−→BB = −→AB. Tambe´m,−→ AA + −→ AB = −→ AB. A4) Sendo −→u = −→AB, podemos somar a esse o vetor que tem (B,A) como um repre- sentante. Logo, −→u +−→BA = −→AB +−→BA = −→AA = −→0 . • 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor A multiplicac¸a˜o de nu´mero real por vetor consiste na operac¸a˜o R×R3 → R3 (a,−→v ) 7→ a−→v munida das seguintes propriedades: P1) a = 0 ou −→v = −→0 ⇒ a−→v = −→0 , P2) a 6= 0 e −→v 6= −→0 ⇒ a−→v e −→v sa˜o de mesma direc¸a˜o, sendo que sa˜o de mesmo sentido quando a > 0 e sa˜o de sentido contra´rio, caso a < 0. P3) |a−→v | = |a| |−→v |. v v2 1 2 _ v _ O nu´mero a e´ chamado escalar e a−→v e´ lido ’o produto de a por −→v ’, ’o mu´ltiplo escalar de −→v ’, ’a vezes −→v ’. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 11 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor Note que a > 1 ou a < −1 implicam |a−→v | > |−→v |. Tambe´m, −1 < a < 1 implica |a−→v | < |−→v | (verifique!). No caso particular em que a = 1 b , e´ comum escrever −→v b , em vez de 1 b −→v . Mas cuidado, −→v b na˜o e´ um quociente, uma frac¸a˜o. O vetor −→v |−→v | e´ conhecido como versor de −→v . Nota 1. Na verdade, por norma entende-se qualquer func¸a˜o | | : (V, +, .) → R, definida em um espac¸o vetorial (V, +, .), tal que sa˜o va´lidos os seguintes axiomas: N1) |−→0 | = 0 e |−→v | > 0 se −→v 6= −→0 ; N2) |x−→v | = |x| |−→v |, ∀x ∈ R,∀−→v ; N3) |−→u +−→v | ≤ |−→u |+ |−→v |, ∀−→u ,−→v . De todas as normas que podem ser imaginadas em R3, considera-se apenas a norma euclidiana induzida pela distaˆncia da soma dos quadrados e definida sob a forma |(x, y, z)| = √ x2 + y2 + z2 Mas existem outras. • Exerc´ıcio 3. Prove que se (A,B) ∼ (C,D), enta˜o, para qualquer a ∈ R, tem-se a−→AB = a −−→ CD. • Exerc´ıcio 4. Prove que o versor de −→v e´ unita´rio, isto e´, de norma 1. Mostre tambe´m que−→v e seu versor sa˜o sempre de mesma direc¸a˜o e de mesmo sentido. • Proposic¸a˜o 5. A multiplicac¸a˜o de escalar por vetor possui as seguintes propriedades: P4) a(−→u +−→v ) = a−→u + a−→v ,∀a ∈ R,∀−→u ,−→v ∈ R3. P5) (a + b)−→v = a−→v + b−→v ,∀a, b ∈ R,∀−→v ∈ R3. P6) Para qualquer −→v ∈ R3, vale 1−→v = −→v . P7) a(b−→v ) = (ab)−→v = b(a−→v ). Demostrac¸a˜o. P1 estabelece que se o escalar e´ zero, ou se o vetor e´ nulo, enta˜o o produto e´ vetor nulo. Assim, P4, P5, P6 e P7 sa˜o automaticamente verificados. Suponha agora escalares e vetores na˜o-nulos. Comec¸amos por escolher um representante (A,B) para −→u , e (B,C) para −→v . Caso a > 0. Sejam D ∈ ←→AB e E tais que (A,D) representa a−→u , (D,E) representa a−→v . u vB C D E A ua va A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 12 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor Visto que ÂBC e ÂDE sa˜o de mesma medida, conclu´ımos que ∆ABC e ∆ADE teˆm raza˜o de semelhanc¸a igual a a, A,C e E sa˜o colineares e (A,E) representa a −→ AC. Portanto,−→ AE = a(−→u +−→v ) = a−→u + a−→v . Caso a < 0. Existe D ∈ ←→AB tal que (A,D) e (A,B) sa˜o de sentido contra´rio e |−−→AD| = |a| |−→AB|. Existe E tal que (D,E) e (B,C) sa˜o de sentido contra´rio e |−−→DE| = |a| |−−→BC|. u vB C D E A ua va Veˆ-se que ∆ABC e ∆ADE teˆm raza˜o de semelhanc¸a igual a a, (A,E) e (A,C) sa˜o colineares de sentido contra´rio e |−→AE| = |a| |−→AC|. Em consequ¨eˆncia, −→AE = a(−→u +−→v ) = a−→u + a−→v . Isso demonstra P4. P5) Seja (A,B) um representante de −→v . No caso em que a, b > 0, temos C ∈ ←→AB tal que −→ AC = a−→v , bem como D ∈ ←→AB tal que −−→CD = b−→v . v B C D A va vb Claro que −−→ AD = (a + b)−→v e −−→AD = −→AC +−−→CD = a−→v + b−→v . O caso a, b < 0 e´ ana´logo. Sejam agora a > 0 e b < 0. Existem C,D ∈ ←→AB tais que −→AC = a−→v e −−→CD = b−→v . v B C D A va vb Enta˜o, −−→ AD = (a + b)−→v e −−→AD = −→AC +−−→CD = a−→v + b−→v . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 13 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor P6) Claro que 1−→v e −→v sa˜o de mesma direc¸a˜o e mesmo sentido (por P2). Tambe´m, |1−→v | = |1| |−→v | = |−→v |, portanto 1−→v = −→v . P7) a(b−→v ), (ab)−→v e b(a−→v ) sa˜o todos de mesma direc¸a˜o. Tambe´m, |a(b−→v )| = |a| |b−→v | = |a| |b| |−→v | = |ab| |−→v | = |(ab)−→v |. Como |ab| = |ba|, segue que |a(b−→v )| = |b(a−→v )|. Nos casos a, b > 0 e a, b < 0, temos ab > 0 e enta˜o os treˆs vetores sa˜o de mesmo sentido. E no caso a > 0, b < 0, os treˆs vetores teˆm sentido oposto ao de −→v . Isso tudo nos leva a` conclusa˜o pela veracidade de P7. • As propriedades demonstradas implicam que podemos operar vetores como se fossem nu´meros, e existem va´rios fatos curiosos. Por exemplo: 1) (−a)−→v = −(a−→v ); 2) a(−−→v ) = −(a−→v ); 3) (−a)(−−→v ) = a−→v . A verificac¸a˜o e´ simples. (−a)−→v = (−1a)−→v P7= −1(a−→v ) = −(a−→v ); Segue imediata- mente que −1−→v = −−→v . Tambe´m, a(−−→v ) = a(−1−→v ) = (−1a)−→v = −1(a−→v ) = −(a−→v ). E (−a)(−−→v ) = (−a)(−1−→v ) = (−a)(−1)−→v = a−→v . Proposic¸a˜o 6. −→u ,−→v 6= −→0 sa˜o paralelos se, e somente se, existe algum escalar na˜o-nulo a ∈ R tal que −→u = a−→v . Demostrac¸a˜o. Suponhamos −→u representado por (A,B) e −→v por (C,D), tais que ←→AB ∩←→ CD = ∅. O 5o postulado de Euclides nos garante que existe um E ∈ ←→CD tal que (A,B) ∼ (C,E). v B C D A u E . Quando −−→ CE = −→u e −→v sa˜o de mesmo sentido, |−−→CE| = |a−→v | = |−→u | ⇒ a |−→v | = |−→u | ⇒ a = | −→u | |−→v | . E se −→u e −→v sa˜o de sentido contra´rio, enta˜o a = − |−→u ||−→v | . Desse modo, em qualquer caso temos −→u = a−→v para algum nu´mero na˜o-nulo a. E´ ana´logo o procedimento para a situac¸a˜o −→u e −→v colineares. • Exemplo 1. Considerando um paralelogramo �ABCD, mostre que vale |−→AC|2 + |−−→BD|2 = 2|−→AB|2 + 2|−−→AD|2 assim conhecida como a identidade do paralelogramo. Soluc¸a˜o. E´ sempre poss´ıvel trac¸ar segmentos perpendiculares com relac¸a˜o a`s arestas adjacentes, formando o desenho seguinte. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 14 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor a b x y-z z w A B C D z Enta˜o, a2 = (y+z)2+w2 = y2+z2+w2+2yz, b2 = (y−z)2+w2 = y2+z2+w2−2yz ⇒ a2 + b2 = 2y2 + 2(z2 + w2) = 2y2 + 2x2. Exemplo 2. Mostre a regra de cancelamento −→u +−→v = −→u +−→w ⇒ −→v = −→w . Soluc¸a˜o. Podemos somar o oposto de −→u em ambos os membros da igualdade, assim−→u +−→v +(−−→u ) = −→u +−→w +(−−→u )⇒ −→u −−→u +−→v = −→u −−→u +−→w ⇒ −→0 +−→v = −→0 +−→w ⇒−→v = −→w . • Proposic¸a˜o 7. Se −→u e −→v sa˜o na˜o paralelos (na˜o-nulos), enta˜o a−→u + b−→v = −→0 implica que a = b = 0. Tambe´m, a1 −→u + b1−→v = a2−→u + b2−→v implica que a1 = a2 e b1 = b2. Demostrac¸a˜o. Suponhamos que vale a−→u + b−→v = −→0 . Se a = 0, b 6= 0, enta˜o a−→u + b−→v =−→ 0 + b−→v = b−→v = −→0 ⇒ −→v = −→0 , absurdo. Idem para a 6= 0, b = 0. Agora, se a, b 6= 0, enta˜o as propriedades operacionais que aprendemos recentemente nos permitem manipular a equac¸a˜o vetorial do seguinte modo: a−→u + b−→v = −→0 ⇒ a−→u + b−→v +(−b−→v ) = −→0 +(−b−→v )⇒ a−→u +−→0 = −→0 − b−→v ⇒ a−→u = −b−→v ⇒ 1 a a−→u = 1 a (−b−→v )⇒ 1−→u = −→u = − b a −→v ⇒ (proposic¸a˜o anterior) −→u e −→v sa˜o paralelos, um absurdo. Portanto, a, b = 0. Quanto a` segunda parte (unicidade de combinac¸a˜o linear), a1 −→u +b1−→v = a2−→u +b2−→v ⇒ a1 −→u +b1−→v +(−a2−→u ) = a2−→u +b2−→v +(−a2−→u )⇒ a1−→u −a2−→u +b1−→v = a2−→u −a2−→u +b2−→v ⇒ (a1 − a2)−→u + b1−→v = −→0 + b2−→v ⇒ (a1 − a2)−→u + b1−→v + (−b2−→v ) = b2−→v + (−b2−→v ) ⇒ (a1 − a2)−→u + (b1 − b2)−→v = −→0 ⇒ a1 − a2 = 0 e b1 − b2 = 0. • Portanto, a−→u + b−→v com a, b 6= 0 e´ um vetor na˜o-nulo e so´ existe uma maneira de descreveˆ-lo. Exemplo 3. Se −→ AB + −→ AC = −−→ BC, prove que A = B. Soluc¸a˜o. Somando −−→ BC, membro a membro, teremos −→ AB + −→ AC + −−→ BC = −−→ BC + −−→ BC ⇒−→ AB + −−→ BC + −→ AC = 2 −−→ BC ⇒ −→AC + −→AC = 2−−→BC ⇒ 2−→AC = 2−−→BC ⇒ 1 2 2 −→ AC = 1 2 2 −−→ BC ⇒ 1 −→ AC = 1 −−→ BC ⇒ (A,C) ∼ (B,C)⇒ A = B. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 15 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.2 G.A., Produto de nu´mero real por vetor Exemplo 4. Ocorre −→u +−→v = −→w se, e somente se, −→u = −→w −−→v . Soluc¸a˜o. De fato, −→u + −→v = −→w ⇒ −→u + −→v + (−−→v ) = −→w + (−−→v ) ⇒ −→u + −→0 = −→u =−→w −−→v . Reciprocamente, −→u = −→w −−→v ⇒ −→u +−→v = −→w −−→v +−→v = −→w +−→0 = −→w . • Exemplo 5. Mostre que −(−→u +−→v ) = −−→u −−→v . Soluc¸a˜o. Claro que −→u +−→v + [−(−→u +−→v )] = −→0 . Tambe´m, −→u + (−−→u ) +−→v + (−−→v ) =−→ 0 ⇒ −→u +−→v + (−−→u −−→v ) = −→0 . Segue o resultado pela comparac¸a˜o das igualdades. • Exemplo 6. Suponha a 6= 0. Enta˜o a−→v = −→w implica −→v = −→w a . Soluc¸a˜o. De fato, a−→v = −→w ⇒ 1 a (a−→v ) = 1 a −→w ⇒ ( 1 a a)−→v = 1 a −→w ⇒ 1−→v = −→v = −→w a . • Exemplo 7. Verifique se vale a implicac¸a˜o a−→v = −→0 ⇒ a = 0 ou −→v = −→0 . Soluc¸a˜o. Suponha a 6= 0. Enta˜o, 1 a (a−→v ) = 1 a −→ 0 ⇒ ( 1 a a)−→v = −→0 ⇒ −→v = −→0 . Suponha agora −→v 6= −→0 . Enta˜o, a−→v + −→v = −→0 + −→v ⇒ (a + 1)−→v = −→v = 1−→v ⇒ a + 1 = 1⇒ a = 0. O caso trivial a = 0, |−→v | = 0 e´ o´bvio. • Exemplo 8. Resolva a equac¸a˜o vetorial 3−→u + 2(−→v +−→w ) = 5(−→w −−→v ) na inco´gnita −→w . Soluc¸a˜o. O objetivo e´ bem simples, aplicar quaisquer propriedades operacionais a fim de isolar −→w na equac¸a˜o. Com isso em mente, 3−→u + 2(−→v + −→w ) = 5(−→w − −→v ) ⇒ 3−→u + 2−→v + 2−→w = 5−→w − 5−→v ⇒ 3−→u + 2−→v + 2−→w + (−2−→w ) = 5−→w − 5−→v + (−2−→w ) ⇒ 3−→u + 2−→v + −→0 = 5−→w − 2−→w − 5−→v ⇒ 3−→u + 2−→v = 3−→w − 5−→v ⇒ 3−→u + 2−→v + 5−→v = 3−→w − 5−→v + 5−→v ⇒ 3−→u + 7−→v = 3−→w +−→0 ⇒ 1 3 (3−→w ) = 1 3 (3−→u + 7−→v )⇒ 1−→w = 1−→u + 7 3 −→v e temos −→w = −→u + 7 3 −→v . • Exemplo 9. Resolva o sistema de equac¸o˜es vetoriais nas inco´gnitas −→x e −→y . −→x − 3−→y = −10−→v −→x +−→y = 7−→u − 6−→v Soluc¸a˜o. 1o me´todo. Isolar uma das inco´gnitas em uma das equac¸o˜es e substitui-la na outra equac¸a˜o. Vamos isolar −→x em −→x − 3−→y = −10−→v : −→x − 3−→y + 3−→y = −10−→v + 3−→y ⇒−→x + −→0 = −→x = −10−→v + 3−→y . Substitu´ındo −→x por −10−→v + 3−→y na segunda equac¸a˜o, (−10−→v + 3−→y ) +−→y = 7−→u − 6−→v ⇒ −10−→v + 4−→y = 7−→u − 6−→v ⇒ −10−→v + 4−→y + 10−→v = 7−→u − 6−→v + 10−→v ⇒ −10−→v + 10−→v + 4−→y = 7−→u + 4−→v ⇒ −→0 + 4−→y = 7−→u + 4−→v ⇒ 1 4 4−→y = 1 4 (7−→u + 4−→v )⇒ 1−→y = 7 4 −→u + 1−→v e enta˜o −→y = 7 4 −→u +−→v . Por fim, substitua −→y por 7 4 −→u + −→v em −→x = −10−→v + 3−→y , ou seja, −→x = −10−→v + 3(7 4 −→u +−→v ) = −10−→v + 21 4 −→u + 3−→v = 21 4 −→u − 10−→v + 3−→v = 21 4 −→u − 7−→v . Portanto, a resposta e´ −→x = 21 4 −→u − 7−→v e −→y = 7 4 −→u +−→v . 2o me´todo. Multiplicamos os membros de uma das equac¸o˜es por um dado nu´mero e depois somamos ambas equac¸o˜es, membro a membro. Por exemplo, multiplicando a primeira equac¸a˜o por −1, teremos { −−→x + 3−→y = 10−→v −→x +−→y = 7−→u − 6−→v ⇒ − −→x + −→x + 3−→y + −→y = A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 16 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.3 G.A., Soma de ponto com vetor 10−→v + 7−→u − 6−→v ⇒ −→0 + 4−→y = 7−→u + 10−→v − 6−→v ⇒ 4−→y = 7−→u + 4−→v ⇒ 1 4 4−→y = 1 4 (7−→u + 4−→v )⇒ 1−→y = 7 4 −→u + 1−→v ⇒ −→y = 7 4 −→u +−→v . Agora, substitua −→y por 7 4 −→u +−→v em qualquer uma das duas equac¸o˜es originais e resolva com antes. Outra opc¸a˜o e´ multiplicar a 2a equac¸a˜o por 3, somar as equac¸o˜es e proceder como acima. • Exemplo 10. Mostre que −→v 6= −→0 e a−→v = b−→v implicam a = b. Soluc¸a˜o. a−→v = b−→v ⇒ a−→v + (−b−→v ) = b−→v + (−b−→v )⇒ a−→v − b−→v = −→0 ⇒ (a− b)−→v =−→ 0 ⇒ a− b = 0⇒ a = b. • Exemplo 11. Seja −→u = a−→v . Mostre que se |−→v | 6= 0, enta˜o |a| = |−→u ||−→v | . Soluc¸a˜o. De fato, |−→u | = |a−→v | = |a| |−→v | ⇒ 1|−→v | |−→u | = 1|−→v | |a| |−→v | ⇒ | −→u | |−→v | = |a| | −→v | |−→v | = |a|1 = |a|. • Exemplo 12. Suponha −→u e −→v paralelos na˜o-nulos. Enta˜o, |−→u +−→v |2 6= |−→u |2 + |−→v |2. Soluc¸a˜o. Existe a ∈ R \{0}, tal que −→u = a−→v . Enta˜o, |−→u +−→v |2 = |a−→v +−→v |2 = |(a + 1)−→v |2 = (a+1)2|−→v |2 = (a2 +2a+1)|−→v |2. Por outro lado, |−→u |2 + |−→v |2 = |a−→v |2 + |−→v |2 = a2|−→v |2 + |−→v |2 = (a2 + 1)|−→v |2. • 2.3 G.A., Soma de ponto com vetor Considere A,B e C em uma reta, no espac¸o esta´ fixado O. B C . . O . A . Existe a ∈ R tal que −→AC = a−→AB (prove!) e podemos escrever −→AC = −→AO + −→OC =−→ OC −−→OA e −→OC = −→OA+ a−→AB. Esse procedimento e´ de suma importaˆncia e retornaremos a ele mais adiante. Veremos agora outro procedimento igualmente u´til e associado. Sendo (A,B) ∈ −→v , B e´ dito a soma de A por −→v e se escreve B = A +−→v Note que A + −→v = B, A + −→AB = B e −→AB = −→v sa˜o equivalentes. Essa operac¸a˜o matema´tica nos permite pensar movimento, podemos imaginar A + −→v como um ponto material se deslocando sobre a reta que conte´m A e tem direc¸a˜o igual a` de −→v . Na verdade podemos ir mais ale´m e pensar que, para cada P ∈ ←→AB, existe um u´nico escalar p tal que P = A + p−→v . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 17 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear Proposic¸a˜o 8. Para quaisquer A,B,−→u e −→v , valem: S1) (A +−→u ) +−→v = A + (−→u +−→v ). S2) A +−→u = A +−→v ⇒ −→u = −→v . S3) A +−→v = B +−→v ⇒ A = B. S4) (A−−→v ) +−→v = A. Demostrac¸a˜o. Sejam B = A + −→u e C = B + −→v . Enta˜o (A + −→u ) + −→v = B + −→v = C e A + (−→u +−→v ) = A +−→AC = C. Isso prova S1. S2) Se A + −→u = A + −→v , enta˜o os representantes de −→u e de −→v , com origem A, teˆm mesma extremidade. Logo, os vetores sa˜o iguais. S3) Se pudesse A 6= B, enta˜o teriamos dois representantes de −→v com mesma extrem- idade A + −→v = B + −→v , mas com origens distintas. Isso e´ imposs´ıvel, logo deve valer A = B. S4) (A−−→v ) +−→v = (A + (−−→v )) +−→v S1= A + (−−→v +−→v ) = A +−→0 = A. • Exemplo 13. Para qualquer A, se A + −→v = A, enta˜o −→v = −→0 . Soluc¸a˜o. Bem simples, A +−→v = A⇒ A +−→v + (−−→v ) = A + (−−→v )⇒ A +−→0 = A = A−−→v ⇒ −→v = −→0 . • Exemplo 14. Se A +−→u = B +−→v , enta˜o −→u = −→AB +−→v , quaisquer que sejam os pontos e os vetores. Soluc¸a˜o. De fato, A+−→u = B+−→v ⇒ A+−→u +(−−→v ) = B+−→v +(−−→v )⇒ A+(−→u −−→v ) = B + −→ 0 = B ⇒ −→u −−→v = −→AB ⇒ −→u −−→v +−→v = −→AB +−→v ⇒ −→u +−→0 = −→u = −→AB +−→v . • 2.4 G.A., Dependeˆncia linear O conceito de dependeˆncia linear e´ muito u´til no estudo de paralelismo entre retas, entre planos, e entre retas e planos. Lembremos que: 1) −→ AB e −−→ CD sa˜o paralelos, quando (A,B) e (C,D) sa˜o de mesma direc¸a˜o; 2) −→ AB, −−→ CD e −→ EF sa˜o paralelos a um mesmo plano, quando (A,B), (C,D) e (E,F ) sa˜o coplanares, ou sa˜o paralelos a um mesmo plano. Definic¸a˜o 6. Com relac¸a˜o aos vetores em R3, dois vetores sa˜o linearmente dependentes (L.D.) quando admitem representantes paralelos; mas se os representantes sa˜o na˜o par- alelos, enta˜o os vetores sa˜o ditos linearmente independentes (L.I.). Treˆs vetores sa˜o L.D. quando admitem representantes que sa˜o paralelos a um mesmo plano; caso esses na˜o sejam paralelos a um mesmo plano, diz-se que sa˜o vetores L.I. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 18 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear E F A B u C v Dw A ilustrac¸a˜o indica vetores L.I. Quatro ou mais vetores sa˜o sempre L.D. • Cuidado, quando sa˜o tratados vetores em um espac¸o mais amplo do que o R3, isto e´, em R4 ⊂ R5 ⊂ ... ⊂ Rk (espac¸o euclidiano real de dimensa˜o k), ocorre perfeitamente de 4 ou mais vetores serem L.I. Mas isso na˜o e´ objeto de estudo nesse curso. Considerando-se k ∈ N, −→v1 , ...,−−→vk−1,−→vk na˜o-nulos, podemos multiplicar −→vj (1 ≤ j ≤ k) por um escalar real aj e somar as parcelas, o que resulta em um vetor da forma −→v = a1−→v1 + a2−→v2 + ... + aj−→vj + ... + ak−1−−→vk−1 + ak−→vk = k∑ j=1 aj −→vj Nessa situac¸a˜o, diz-se que −→v e´ uma combinac¸a˜o linear de −→v1 , ...,−→vk , ou que −→v e´ gerado por −→v1 , ...,−→vk . Os nu´meros reais a1, ..., ak sa˜o os coeficientes da combinac¸a˜o linear. E´ muito dif´ıcil testar se dados vetores sa˜o paralelos a um mesmo plano, por isso, tem destaque o seguinte resultado. Proposic¸a˜o 9. (Fundamental) Supondo −→u e −→v L.I., enta˜o −→u ,−→v e −→w sa˜o L.D. se, e somente se, −→w e´ gerado por −→u e −→v . Demostrac¸a˜o. Sejam −→u ,−→v e −→w L.D. Se −→w for paralelo a −→u , enta˜o −→w = a−→u , para algum a ∈ R, e podemos escrever −→w = a−→u + 0−→v . Se −→w for paralelo a −→v , vale −→w = 0−→u + b−→v , para algum b ∈ R. Se −→w na˜o for paralelo nem a −→u , nem a −→v , fixamos A,B,C,D tais que (A,B) ∈−→u , (A,C) ∈ −→v e (A,D) ∈ −→w . Note que A,B,C,D sa˜o coplanares, pois −→u ,−→v e −→w sa˜o L.D., e que A,B,C sa˜o na˜o-colineares, visto que −→u e −→v sa˜o L.I. Agora e´ fa´cil, a reta trac¸ada por D e paralela a ←→ AC interceptara´ ←→ AB em E, a reta trac¸ada por D e paralela a ←→ AB interceptara´ ←→ AC em F . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 19 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear A B C D E F Visto que −→u ,−→v 6= −→0 , existem a, b ∈ R, tais que −→AE = a−→u e −→AF = b−→v . Logo, −→w = −−→AD = −→AE +−−→ED = −→AE +−→AF = a−→u + b−→v . Reciprocamente, seja −→w combinac¸a˜o linear de −→u e −→v , isto e´, −→w = a−→u + b−→v , com a, b ∈ R. Se for −→w = −→0 , esta´ demonstrado. Se for −→w 6= −→0 , tomamos A,B,C,D com−→ AB = −→u ,−→AC = −→v ,−−→AD = −→w e existem treˆs opc¸o˜es: 1) a = 0 implica −→w paralelo a −→v . Como A,B e C sa˜o na˜o colineares, temos que −→u ,−→v e −→w devem ser coplanares, logo L.D. 2) b = 0 implica −→w paralelo a −→u e temos −→u ,−→v e −→w L.D. 3) a, b 6= 0. Visto que −→w = a−→u + b−→v , conclu´ımos que A,B,C,D sa˜o coplanares, logo−→u ,−→v e −→w sa˜o L.D. • No caso n = 2, −→u e −→v L.D. implica que a−→u +b−→v = −→0 e´ satisfeito para alguns a, b 6= 0 e enta˜o podemos escrever −→u = x−→v , com x = − b a . . u v a=2 b=3 No caso n = 3, −→u ,−→v e −→w L.D. implica que a−→u + b−→v + c−→w = −→0 se verifica atrave´s de alguns a, b, c na˜o todos nulos. Supondo c 6= 0, podemos escrever −→w = x−→u + y−→v , em que x = −a c e y = − b c . . u v a=-1,b=??,c=2 2 __3 w A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 20 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear Proposic¸a˜o 10. −→u ,−→v e −→w sa˜o L.D. se, e somente se, um dos vetores e´ gerado pelos outros dois. Demostrac¸a˜o. Suponhamos os vetores L.D. Se −→u e −→v sa˜o L.I., aplicamos a proposic¸a˜o anterior e −→w = a−→u + b−→v , para alguns a, b ∈ R. Se −→u e −→v sa˜o L.D., enta˜o −→u = a−→v , com a 6= 0, e assim −→u = a−→v + 0−→w . Reciprocamente, suponhamos que −→w e´ gerado por −→u e −→v . Se esses dois sa˜o L.I., enta˜o−→u ,−→v e −→w devem ser L.D., pela proposic¸a˜o anterior. Mas, se −→u e −→v sa˜o L.D., enta˜o esses e −→w devem ser L.D., vejamos: sejam −→u =−→ AB,−→v = −→AC e −→w = −−→AD. A,B,C sa˜o colineares e assim A,B,C e D sa˜o coplanares, portanto, −→u ,−→v e −→w sa˜o L.D. • A negativa do resultado e´ igualmente importante: −→u ,−→v e −→w sa˜o L.I. se, e somente se, nenhum desses vetores e´ gerado pelos outros dois. Isto significa, em func¸a˜o dos resultados demonstrados, que x−→u + y−→v + z−→w = −→0 ⇔ x = y = z = 0 Exemplo 15. Vamos ver que −→a = 2−→u + 4−→v +−→w , −→b = −−→u + 1 2 −→v + 3 4 −→w e −→c = −→v + 1 2 −→w sa˜o L.D., quaisquer que sejam −→u ,−→v e −→w . A equac¸a˜o x−→a + y−→b + z−→c = −→0 equivale a x(2−→u + 4−→v +−→w ) + y(−−→u + 1 2 −→v + 3 4 −→w ) + z(−→v + 1 2 −→w ) = 2x−→u + 4x−→v + x−→w − y−→u + y 2 −→v + 3y 4 −→w + z−→v + z 2 −→w = (2x− y)−→u + (4x + y 2 + z)−→v + (x + 3y 4 + z 2 )−→w = −→0 , logo 2x− y = 0 4x + y 2 + z = 0 x + 3y 4 + z 2 = 0 Obte´m-se y = 2x e z = −5x, para cada x ∈ R, logo x(−→a + 2−→b − 5−→c ) = −→0 nos leva a −→a = −2−→b + 5−→c . • Exerc´ıcio 5. Fac¸a o mesmo no caso em que −→a = −→u + 2−→v − −→w , −→b = 2−→u − 3−→v + −→w e−→c = 7−→v − 3−→w . • Exemplo 16. Considere −→a = −→u + −→w ,−→b = 2−→u + −→v − −→w e −→c = −→v − 2−→w , com −→u ,−→v e −→w aleato´rios. Vejamos que −→u ,−→v e −→w sa˜o L.I. se, e somente se, −→a ,−→b e −→c sa˜o L.I. De fato, x−→a + y−→b + z−→c = −→0 ⇒ x(−→u + −→w ) + y(2−→u + −→v − −→w ) + z(−→v − 2−→w ) = x−→u +x−→w +2y−→u +y−→v −y−→w + z−→v −2z−→w = (x+2y)−→u +(y + z)−→v +(x−y−2z)−→w = −→0 . Se −→u ,−→v e −→w sa˜o L.I., enta˜o o sistema de equac¸o˜es x + 2y = 0 y + z = 0 x− y − 2z = 0 A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 21 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear so´ admite a soluc¸a˜o trivial x = y = z = 0 (verifique!) e segue que −→a ,−→b e−→c devem ser L.I. Reciprocamente, comec¸amos por resolver as equac¸o˜es −→a = −→u +−→w ,−→b = 2−→u +−→v −−→w e −→c = −→v − 2−→w nas inco´gnitas −→u ,−→v e −→w . Primeiro, −→a + −→b = 3−→u + −→v e −→c − 2−→b = −−→v − 4−→u , assim −→v = −→a +−→b − 3−→u = −−→c + 2−→b − 4−→u implica em −→u = −−→a +−→b −−→c . Desse modo, −→v = −→a + −→b − 3(−−→a + −→b − −→c ) = 4−→a − 2−→b + 3−→c e −→w = −→a − −→u = −→a − (−−→a +−→b −−→c ) = 2−→a −−→b +−→c . Se −→a ,−→b e −→c sa˜o vetores L.I., enta˜o −→0 = x−→u + y−→v + z−→w = (−x + 4y + 2z)−→a + (x− 2y− z)−→b + (−x + 3y + z)−→c admite a u´nica soluc¸a˜o poss´ıvel x = y = z = 0 (verifique!). • A grande importaˆncia de termos treˆs vetores L.I. em R3 esta´ no fato de que qualquer vetor de R3 toma a forma de uma combinac¸a˜o linear envolvendo aqueles vetores L.I. De fato, Proposic¸a˜o 11. (Fundamental) Se −→u ,−→v e −→w sa˜o L.I., enta˜o dado −→a existem u´nicos x, y, z ∈ R tais que −→a = x−→u + y−→v + c−→w . Demostrac¸a˜o. Existeˆncia. O resultado e´ bem o´bvio na situac¸a˜o em que os vetores encontram- se sobre um plano (verifique!). Vamos enta˜o supor que −→u ,−→v e −→w sa˜o na˜o-coplanares. Fixamos A,B,C,D,E tais que (A,B) ∈ −→u , (A,C) ∈ −→v , (A,D) ∈ −→w e (A,E) ∈ −→a . A reta que passa por E, paralela a ←→ AD, intercepta o plano de A,B,C em E ′; as retas por esse ponto, paralelas a ←→ AB e ←→ AC, definem F e G. Por fim, a reta por E que e´ paralela a ←→ AE ′ vai interceptar ←→ AD em H. u v w A B C D F H . . . E E’ a G . Enta˜o, existem nu´meros x, y, z ∈ R tais que −→AF = x−→u ,−→AG = y−→v e −−→AH = z−→w . Claro que −→a = −→AF +−−→FE ′ +−−→E ′E = −→AF +−→AG +−−→AH = x−→u + y−→v + z−→w . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 22 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear E´ fa´cil ver que o procedimento continua va´lido nos casos particulares em que −→a e´ paralelo a −→u , ou −→v , ou −→w , ou esta´ no plano que conte´m A,B,C, ou no plano que conte´m A,B,D, ou no plano que conte´m A,C,D. Unicidade. Suponhamos, por absurdo, que a1 −→u + b1−→v + c1−→w = a2−→u + b2−→v + c3−→w , com a1 6= a2, b1 6= b2 e c1 6= c2. Enta˜o, (a1 − a2)−→u + (b1 − b2)−→v + (c1 − c2)−→w = −→0 ⇒−→u = b2−b1 a1−a2 −→v + c2−c1 a1−a2 −→v e os treˆs vetores sa˜o L.D.; essa contradic¸a˜o nos obriga a tomar a1 = a2, b1 = b2 e c1 = c2. • Pore´m, n ≥ 4 vetores −→v1 , ...,−→vn em R3 sa˜o sempre L.D.: de fato, se −→v1 ,−→v2 ,−→v3 forem L.I., enta˜o (proposic¸a˜o anterior) −→vn = a−→v1 + b−→v2 + c−→v3 + 0−→v4 + ... + 0−−→vn−1, para alguns a, b, c reais na˜o todos nulos. Mas, se −→v1 ,−→v2 ,−→v3 sa˜o L.D., enta˜o um desses deve ser combinac¸a˜o linear dos dois outros, digamos −→v1 = a−→v2 + b−→v3 , e ocorre −→v1 = a−→v2 + b−→v3 + 0−→v4 + ... + 0−→vn. Exerc´ıcio 6. Prove que −→u e −→v sa˜o L.I. se, e somente se, −→u +−→v e −→u −−→v sa˜o L.I. • Exerc´ıcio 7. Calcule a, b ∈ R sabendo que −→u e −→v sa˜o L.I. e que (a − 1)−→u + b−→v = b−→u − (a + b)−→v . • Exemplo 17. A seguir sa˜o indicadas operac¸o˜es com vetores −→u ,−→v e −→w L.I. que resultam em treˆs novos vetores. Esses sa˜o L.I. ou L.D.? 1) Multiplica-se os vetores por um escalar a ∈ R. 2) Substitui-se cada um dos vetores dados pela soma dos outros dois. 3) Soma-se a cada um dos treˆs vetores um mesmo −→a . 4) Somam-se aos vetores, respectivamente, −→a ,−→b e −→c supostos L.I. Soluc¸a˜o. Considere A,B,C,D ∈ R3 tais que −→u = −→AB,−→v = −→AC e −→w = −−→AD. Se a > 0, enta˜o o que difere −→ AB de a −→ AB = −→ AE e´ a norma, nunca a direc¸a˜o e o sentido. O mesmo vale para −→ AC e a −→ AC = −→ AF , e para −−→ AD e a −−→ AD = −→ AG tambe´m. E se a < 0, enta˜o somente a norma e o sentido sa˜o alterados, nunca a direc¸a˜o. A B C D a=2 E F G A B C D a=-2 E F G Desse modo, −→u ,−→v e −→w L.I.⇔ a−→u , a−→v e a−→w L.I. Agora (2). Seja −→ AE = −→u +−→v ,−→AF = −→u +−→w e −→AG = −→v +−→w . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 23 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.4 G.A., Dependeˆncia linear B C D E F A G Visto que os representantes de −→u e −→v sa˜o coplanares, segue-se que (A,E) esta´ no mesmo plano de (A,B), (A,C). Igualmente, (A,F ) e´ coplanar com relac¸a˜o a (A,B) e (A,D), tambe´m (A,G), (A,C) e (A,D) sa˜o coplanares. Pore´m, a condic¸a˜o −→u ,−→v e−→w L.I. obriga (A,E), (A,F ) e (A,G) serem na˜o-coplanares, ou seja −→u ,−→v e −→w L.I.⇔−→u +−→v ,−→u +−→w e −→v +−→w L.I. (3). Seja E no espac¸o tal que −→a = −→AE, (A,F ) representa −→u + −→a , (A,G) representa−→v +−→a e (A,H) representa −→w +−→a . B D F A E G H C Como (A,B), (A,C) e (A,D) na˜o podem ser coplanares, conclui-se facilmente que (A,F ), (A,F ) e (A,H) tambe´m na˜o podem ser coplanares. Portanto, −→u ,−→v e −→w L.I.⇔−→u +−→a ,−→v +−→a e −→w +−→a L.I. (4). Sejam −→a = −→AE,−→b = −→AF,−→c = −→AG, (A,H) representante de −→u + −→a , (A, I) representante de −→v +−→b e (A, J) um representante de −→w +−→c . B D A Ca b c I F E G H J Os vetores soma −−→ AH, −→ AI e −→ AL somente podem ser L.D. se seus represententes forem coplanares, mas isto obriga −→u ,−→v ,−→w ,−→a ,−→b ,−→c serem L.D., o que na˜o ocorre. Portanto, −→u ,−→v e −→w L.I.⇔ −→u +−→a ,−→v +−→b e −→w +−→c L.I. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 24 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.5 G.A., Bases 2.5 G.A., Bases Ate´ aqui temos tratado vetor como um conjunto de segmentos equipolentes, mas a proposic¸a˜o 11 permite pensar vetor numericamente e a ide´ia seguinte e´ essencial. Definic¸a˜o 7. Por uma base de R3 (em R3) entende-se um terno ordenado, uma tripla ordenada, −→e1 ,−→e2 ,−→e3 de vetores L.I. e vamos denota´-la por ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} (ε: e´psilon, ’e’ latino). Uma base ortonormal de R3 e´ uma base formada de vetores unita´rios e ortogonais dois a dois. • Claro que −→u e −→v sa˜o ortogonais quando os representantes de um sa˜o ortogonais a todos os representantes do outro. Em s´ımbolos, −→u ⊥ −→v . Fixada ε, a proposic¸a˜o 11 garante que, para cada −→v em R3, ficam definidos biunivo- camente a, b, c ∈ R, tais que −→v = a−→e1 + b−→e2 + c−→e3 Os nu´meros a, b e c sa˜o, na ordem, a 1a coordenada, a 2a coordenada e a 3a coordenada de −→v em relac¸a˜o a` base ε, isso nos permite pensar −→v como uma tripla ordenada e escrever−→v = (a, b, c)ε, ou −→v = (a, b, c) quando ε estiver subentendida. Mas cuidado, a igualdade −→v = (a, b, c) e´ um tremendo abuso de linguagem, pois−→v e´ um conjunto na˜o nume´rico e a, b, c sa˜o nu´meros. Tambe´m e´ cr´ıtico a ordem das coordenadas, (2, 4,−5) significa 2−→e1 + 4−→e2 − 5−→e3 , enquanto que (4, 2,−5) e´ a combinac¸a˜o linear 4−→e1 + 2−→e2 − 5−→e3 , claramente distinta da primeira. As ide´ias de base e de coordenadas se adaptam perfeitamente bem a`s operac¸o˜es veto- riais ja´ vistas, e outras que veremos mais adiante. De fato, vale: Proposic¸a˜o 12. Para quaisquer nu´meros reais a, a1, a2, a3, b1, b2, b3, temos: C1) (a1, a2, a3) + (b1, b2, b3) = (a1 + b1, a2 + b2, a3 + b3). C2) a(a1, a2, a3) = (aa1, aa2, aa3). Demostrac¸a˜o. Qualquer que seja a base ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3}, vale (a1, a2, a3) + (b1, b2, b3) = (a1 −→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 ) + (b1−→e1 + b2−→e2 + b3−→e3 ) = (a1 + b1)−→e1 + (a2 + b2)−→e2 + (a3 + b3)−→e3 = (a1 + b1, a2 + b2, a3 + b3), isso prova C1. Quando a C2, a(a1, a2, a3) = a(a1 −→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 ) = aa1−→e1 + aa2−→e2 + aa3−→e3 = (aa1, aa2, aa3). • Exemplo 18. Quais sa˜o as coordenadas de −→a = 5−→u − 3−→v , se −→u = (3,−2, 7)ε e −→v = (−1, 4,−6)ε? Soluc¸a˜o. Simples, −→a = 5−→u +(−3)−→v = 5(3,−2, 7)+(−3)(−1, 4,−6) = (15,−10, 35)+ (3,−12, 18) = (18,−22, 53). • Exemplo 19. Pode −→u = (4, 5,−2)ε ser combinac¸a˜o linear de −→v = (5, 4, 1)ε e −→w = (21 2 , 3, 21 2 )ε? A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 25 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.5 G.A., Bases Soluc¸a˜o. Deve-se procurar por a, b ∈ R tais que −→u = a−→v +b−→w , (4, 5,−2) = a(5, 4, 1)+ b(21 2 , 3, 21 2 ) e isso equivale a 5a + 21 2 b = 4 4a + 3b = 5 a + 21 2 b = −2 Um ca´lculo direto determina a = 3 2 e b = −1 3 (verifique!).• Lembremos que det u1 v1 w1u2 v2 w2 u3 v3 w3 e´ o nu´mero u1 det ( v2 w2 v3 w3 ) − v1 det ( u2 w2 u3 w3 ) + w1 det ( u2 v2 u3 v3 ) = u1(v2w3 − v3w2)− v1(u2w3 − u3w2) + w1(u2v3 − u3v2). Proposic¸a˜o 13. −→u = (u1, u2, u3)ε,−→v = (v1, v2, v3)ε e −→w = (w1, w2, w3)ε sa˜o L.D. se, e somente se, det u1 v1 w1u2 v2 w2 u3 v3 w3 = 0 Demostrac¸a˜o. Ja´ sabemos que −→u ,−→v e −→w L.D. equivale a a−→u + b−→v + c−→w = −→0 , com a, b, c ∈ R na˜o todos nulos, a(u1, u2, u3) + b(v1, v2, v3) + c(w1, w2, w3) = (0, 0, 0) e enta˜o au1 + bv1 + cw1 = 0 au2 + bv2 + cw2 = 0 au3 + bv3 + cw3 = 0 Aqueles vetores sa˜o L.D. se, e somente se, o sistema de equac¸o˜es acima tem soluc¸a˜o na˜o-trivial; pela Regra de Cramer, isso e´ o mesmo que det u1 v1 w1u2 v2 w2 u3 v3 w3 = 0. • Exerc´ıcio 8. Verifique se −→u = (2, 3, 4)ε,−→v = (5, 6, 7)ε e −→w = (8, 9, 1)ε sa˜o L.D. • Proposic¸a˜o 14. Uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para que −→u e −→v sejam ortogonais e´ que |−→u +−→v |2 = |−→u |2 + |−→v |2. Demostrac¸a˜o. Fixamos A,B = A + −→u e C = B +−→v a fim de formar um triaˆngulo. O Teorema de Pita´goras estabelece que AB ⊥ BC se, e somente se, |−→AC|2 = |−→AB|2 + |−−→BC|2. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 26 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.6 G.A., Mudanc¸a de bases Proposic¸a˜o 15. Sobre uma base ortonormal ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3}, a norma de −→a = x−→e1 +y−→e2 + z−→e3 e´ simplesmente igual a |−→a | = √ x2 + y2 + z2 Demostrac¸a˜o. Sejam A,B,C,D,E no espac¸o tais que (A,B) ∈ −→a , (A,C) ∈ x−→e1 , (A,D) ∈ y−→e2 e (A,E) ∈ z−→e3 . A reta que passa por B com a direc¸a˜o de ←→AE intercepta o plano que conte´m A,C,D em B′. A B C . . . E B’ a D . e 1 2 3 e e Segue-se que −→a = −−→AB′ +−−→B′B = (−→AC +−−→CB′) +−−→B′B = (x−→e1 + y−→e2 ) + z−→e3 e´ a soma de dois vetores ortogonais e, proposic¸a˜o anterior, |−→a |2 = |x−→e1 + y−→e2 |2 + |z−→e3 |2. Mas, x−→e1 ⊥ y−→e2 implica |x−→e1 +y−→e2 |2 = |x−→e1 |2 + |y−→e2 |2 e enta˜o |−→a |2 = |x−→e1 |2 + |y−→e2 |2 + |z−→e3 |2 = |x|2 |−→e1 |2 + |y|2 |−→e2 |2 + |z|2 |−→e3 |2 = x2 + y2 + z2. • Exemplo 20. Considere ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} ortonormal e −→a = (3,−1, 5). Visto que −→e1 = 1−→e1 +0−→e2 +0−→e3 ,−→e2 = 0−→e1 +1−→e2 +0−→e3 e −→e3 = 0−→e1 +0−→e2 +1−→e3 , podemos escreve −→e1 = (1, 0, 0),−→e2 = (0, 1, 0) e −→e3 = (0, 0, 1). Assim, −→a = (3,−1, 5) = (3, 0, 0)+(0,−1, 0)+(0, 0, 5) = 3(1, 0, 0)−(0, 1, 0)+5(0, 0, 1) = 3−→e1−−→e2+5−→e3 ⇒ |−→a |2 = |(3−→e1−−→e2 )+5−→e3 |2 = |3−→e1−−→e2 |2+|5−→e3 |2 = |3−→e1 |2+|−−→e2 |2+|5−→e3 |2 = 32|−→e1 |2 + | − 1|2 |−→e2 |2 + 52|−→e3 |2 = 35⇒ |−→a | = √ 35. • 2.6 G.A., Mudanc¸a de bases Considere bases ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} e ϕ = {−→f1 ,−→f2 ,−→f3} (ϕ: phi, ’f’ latino); visto que −→f1 ,−→f2 e −→ f3 sa˜o combinac¸o˜es dos elementos de ε, eles se escrevem sob as formas −→ f1 = a11 −→e1 + a21−→e2 + a31−→e3 −→ f2 = a12 −→e1 + a22−→e2 + a32−→e3 A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 27 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.6 G.A., Mudanc¸a de bases −→ f3 = a13 −→e1 + a23−→e2 + a33−→e3 para determinados valores aij, 1 ≤ i, j ≤ 3. Para qualquer −→a em R3, existem u´nicos x1, y1, z1, x2, y2, z2 ∈ R tais que −→a = x1−→e1 + y1 −→e2 + z1−→e3 = x2−→f1 + y2−→f2 + z2−→f3 . Agora tudo se reduz a determinar os x1, y1, z1 em func¸a˜o de x2, y2, z2, o que e´ bem simples: −→a = x2−→f1 + y2−→f2 + z2−→f3 = x2(a11 −→e1 + a21−→e2 + a31−→e3 ) + y2(a12−→e1 + a22−→e2 + a32−→e3 ) + z2(a13−→e1 + a23−→e2 + a33−→e3 ) = (a11x2 + a12y2 + a13z2) −→e1 + (a21x2 + a22y2 + a23z2)−→e2 + (a31x2 + a32y2 + a33z2)−→e3 e assim x1 = a11x2 + a12y2 + a13z2 y1 = a21x2 + a22y2 + a23z2 z1 = a31x2 + a32y2 + a33z2 E´ comum pensar ε como ’a base antiga’, ϕ como ’a nova base’ e transcrever os ele- mentos da base antiga como elementos da nova base. Por sua facilitac¸a˜o visual, usaremos a notac¸a˜o matricial e o sistema de equac¸o˜es anterior toma a forma x1y1 z1 = a11 a12 a13a21 a22 a23 a31 a32 a33 x2y2 z2 = Mεϕ x2y2 z2 em que Mεϕ e´ a chamada matriz de mudanc¸a de base, de ε para ϕ, da base antiga para a nova base. E´ muito importante notar que a j-e´sima coluna de Mεϕ e´ formada das coordenadas de −→ fj na base antiga, j = 1, 2, 3. E uma vez que os vetores de qualquer base sa˜o L.I., fica assegurado det Mεϕ 6= 0 e a existeˆncia de matriz inversa, isto e´, matriz M−1εϕ tal que Mεϕ.M −1 εϕ = M −1 εϕ .Mεϕ = Id = 1 0 00 1 0 0 0 1 A existeˆncia de M−1εϕ permite calcular x2, y2, z2 em termos dos x1, y1, z1. De fato, Mεϕ x2y2 z2 = x1y1 z1 ⇒M−1εϕ .Mεϕ x2y2 z2 = Id x2y2 z2 = x2y2 z2 = M−1εϕ x1y1 z1 Proposic¸a˜o 16. Se ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3}, ϕ = {−→f1 ,−→f2 ,−→f3} e γ = {−→g1 ,−→g2 ,−→g3} (γ: gama, ’g’ latino) sa˜o bases, enta˜o Mεϕ.Mϕγ = Mεγ . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 28 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.6 G.A., Mudanc¸a de bases Demostrac¸a˜o. Fixemos as notac¸o˜es Mεϕ = (aij),Mϕγ = (bij),Mεγ = (cij), −→ fj = 3∑ i=1 aij −→ei e −→gk = 3∑ j=1 bjk −→ fj = 3∑ i=1 cik −→ei . Enta˜o, −→gk = 3∑ j=1 bjk( 3∑ i=1 aij −→ei ) = 3∑ j=1 3∑ i=1 bjkaij −→ei = 3∑ i=1 ( 3∑ j=1 aijbjk) −→ei implica cik = 3∑ j=1 aijbjk e isso se reflete em Mεγ = Mεϕ.Mϕγ . • Uma ana´lise do assunto faz suspeitar que M−1εϕ deve determinar a mudanc¸a da base nova para a antiga e isto e´ verdade! Corola´rio 1. Mϕε = M −1 εϕ . Demostrac¸a˜o. Mϕε = Mϕε. Id = Mϕε.Mεϕ.M −1 εϕ = Mϕϕ.M −1 εϕ = Id .M −1 εϕ = M −1 εϕ . • Exemplo 21. Considere −→ f1 = 2 −→e1 −−→e2 + 3−→e3 , −→f2 = 4−→e1 +−→e2 + 5−→e3 ,−→f3 = 6−→e1 −−→e2 + 9−→e3 e vamos escrever −→a = 4−→e1 + 7−→e2 − 3−→e3 em termos da nova base. Pelo estabelecido, x1y1 z1 = Mεϕ x2y2 z2 = 2 4 6−1 1 −1 3 5 9 x2y2 z2 e temos duas opc¸o˜es: 1a. Desenvolver o sistema de equac¸o˜es x1 = 2x2 + 4y2 + 6z2 (a) y1 = −x2 + y2 − z2 (b) z1 = 3x2 + 5y2 + 9z2 (c) Calculando 2(b)+(a), temos x1+2y1 = 6y2+4z2 e z2 = 1 4 (x1+2y1−6y2); 3(b)+(c) leva a 3y1+z1 = 8y2+6z2 e z2 = 1 6 (3y1+z1−8y2). Logo, y2 = 32x1−z1 e z2 = −2x1+ 12y1+ 32z1. Voltando a (b), x2 = 7 2 x1 − 32y1 − 52z1. As coordenadas de −→a na base antiga sa˜o x1 = 4, y1 = 7, z1 = −3 e assim −→a = x2 −→ f1 + y2 −→ f2 + z2 −→ f3 = 11 −→ f1 + 9 −→ f2 − 9−→f3 . Portanto, −→a = (4, 7,−3)ε = (11, 9,−9)ϕ. 2a. Desenvolver a equac¸a˜o matricial 2 4 6−1 1 −1 3 5 9 M−1εϕ = 2 4 6−1 1 −1 3 5 9 a b cd e f g j k = 2a + 4d + 6g 2b + 4e + 6j 2c + 4f + 6k−a + d− g −b + e− j −c + f − k 3a + 5d + 9g 3b + 5e + 9j 3c + 5f + 9k = 1 0 00 1 0 0 0 1 Obte´m-se a = 7 2 , b = −3 2 , c = −5 2 , d = 3 2 , e = 0, f = −1, g = −2, j = 1 2 e k = 3 2 (verifique!) e enta˜o x2y2 z2 = M−1εϕ x1y1 z1 = 72 −32 −523 2 0 −1 −2 1 2 3 2 x1y1 z1 A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 29 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.7 G.A., Produto interno conduz a` x2 = 7 2 x1− 32y1− 52z1, y2 = 32x1− z1 e z2 = −2x1 + 12y1 + 32z1. Como na 1a opc¸a˜o, um ca´lculo direto estabelece −→a = (4, 7,−3)ε = (11, 9,−9)ϕ. Por fim, as colunas de M−1εϕ = Mϕε indicam que −→e1 = 72 −→ f1 + 3 2 −→ f2−2−→f3 ,−→e2 = −32 −→ f1 + 1 2 −→ f3 e −→e3 = −52 −→ f1 −−→f2 + 32 −→ f3 . • Exerc´ıcio 9. Suponha bases ε = {−→e1 ,−→e2} e ϕ = {−→f1 ,−→f2} tais que −→e1 = 3−→f1 − 5−→f2 e−→e2 = −8−→f1 +2−→f2 . Determine Mεϕ,Mϕε e as expresso˜es dos −→fj em termo dos −→ej , j = 1, 2.• 2.7 G.A., Produto interno Os matema´ticos idealizaram uma operac¸a˜o vetorial, a mais importante de todas, que permite calcular ra´pido e facilmente o aˆngulo entre dois vetores, o aˆngulo entre uma reta e um plano, a projec¸a˜o ortogonal de um vetor sobre outro, me´tricas, etc. Dados −→u e −→v na˜o-nulos, tomamos um representante (A,B) de −→u , um (A,C) de −→v e por medida angular entre −→u e −→v entende-se a medida do aˆngulo definido pelas semi-retas−→ AB e −→ AC, tambe´m a medida definida por AB e AC. Usaremos o s´ımbolo ang(−→u ,−→v ) para indicar esse nu´mero, por vezes se diz ’aˆngulo entre −→u e −→v ’, um abuso de linguagem, querendo dizer ’a medida do aˆngulo entre −→u e −→v ’. O ca´lculo de ang(−→u ,−→v ). Suponha uma base ortonormal ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} por meio da qual se tem |−→u | =√ u21 + u 2 2 + u 2 3 e |−→v | = √ v21 + v 2 2 + v 2 3. Independentemente da medida α = ang( −→u ,−→v ) (α: alfa, ’a’ latino), vale |−→u −−→v |2 = |−→u |2 + |−→v |2− 2|−→u | |−→v | cos α e tambe´m |−→u −−→v |2 = (u1− v1)2 +(u2− v2)2 +(u3− v3)2 = u21− 2u1v1 + v21 +u22− 2u2v2 + v22 +u23− 2u3v3 + v23 = u21 + u 2 2 + u 2 3 + v 2 1 + v 2 2 + v 2 3 − 2(u1v2 + u2v2 + u3v3). Portanto, |−→u | |−→v | cos α = u1v2 + u2v2 + u3v3 e cos α = u1v1 + u2v2 + u3v3√ u21 + u 2 2 + u 2 3 √ v21 + v 2 2 + v 2 3 Exemplo 22. Qual e´ a medida do aˆngulo formado por −→u = (3,−4, 7)ε e −→v = (−1, 2,−3)ε? |−→u | = √ 32 + (−4)2 + 72 = √74 e |−→v | = √ (−1)2 + 22 + (−3)2 = √14 e cos α = 3(−1)+(−4)2+7(−3)√ 74 √ 14 = − 32√ 1036 . Com aux´ılio de uma calculadora cient´ıfica obte´m-se α = arccos− 32√ 1036 = 173, 82o. • Projec¸a˜o ortogonal de um vetor sobre outro. Imagine −→u e −→v representados por (A,B) e (A,C), respectivamente. Por B passa uma u´nica reta perpendicular a` ←→ AC e fica definido D. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 30 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.7 G.A., Produto interno u A B C v D A B C D u v α α pi−α Tanto no caso agudo (α < pi 2 ), quando no caso obtuso (pi 2 < α < pi) (pi: pi, ’p’ latino)2, (A,D) representa um vetor paralelo a` −→v chamado a projec¸a˜o ortogonal de −→u sobre −→v e denotado por proj−→v −→u . Define-se proj−→u−→v do mesmo modo. Lema 1. Para quaisquer −→a ,−→b e −→v vale proj−→v (−→a + −→ b ) = proj−→v −→a + proj−→v −→ b . Demostrac¸a˜o. Considerando −→a = −→AB,−→b = −→AC,−→v = −−→AD e −→a +−→b = −→AE, as projec¸o˜es de B,C,E sobre ←→ AD sa˜o pontos F,G,H. A D B C E F G H Claro que −→ AF = proj−→v −→a ,−→AG = proj−→v −→ b e −−→ AH = proj−→v ( −→a +−→b ), mas (B,E) ∼ (A,C) implica que (F,H) ∼ (A,G) e −−→AH = −→AF +−−→FH = −→AF +−→AG. • O produto interno euclidiano3 e´ a operac¸a˜o vetorial . : R3×R3 → R (−→u ,−→v ) 7→ −→u .−→v = |−→u | |−→v | cos α 2 Ao contra´rio do que indicam muitos livros, na˜o foi Leibniz quem determinou pi como a soma de uma se´rie, mas sim o matema´tico indiano Mawda (cidade de Kerala) que, no se´culo 15, mostrou que pi = 4 − 4 3 + 4 5 − 4 7 + 4 9 − ... + (−1)2n 4 2n−1 . A ide´ia e´ se aproximar de pi por excesso e por falta; S1 = 4 > pi, S2 = 4 − 43 < pi, S3 = 4 − 43 + 45 > pi... A sequ¨eˆncia das somas parciais S2, S4, S6, ... < pi e´ crescente e limitada; a sequ¨eˆncia das somas parciais S1, S3, S5, ... > pi e´ decrescente e limitada, logo existe a = lim n→+∞ S2n e b = lim n→+∞ S2n−1. Visto que S2n < pi < S2n−1,∀n ∈ N, conclui-se que a = b = pi 3 Produto interno, no sentido geral, sobre um espac¸o vetorial V e´ uma func¸a˜o <,> : V ×V → R que, a cada par −→u ,−→v ∈ V, faz definir um nu´mero < −→u ,−→v > que tem a propriedade linear, sime´trica e positiva definida. Produto escalar e´ o nu´mero < −→u ,−→v > igual a n∑ j=1 ujvj A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 31 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.7 G.A., Produto interno em que α = ang(−→u ,−→v ), cujo resultado e´ conhecido com produto escalar. As principais propriedades do produto escalar sa˜o: Proposic¸a˜o 17. Para quaisquer vetores na˜o-nulos, valem: PI1) −→u ⊥ −→v se, e somente se, −→u .−→v = 0. PI2) −→u .−→v = −→v .−→u (e´ comutativo). PI3) x(−→u .−→v ) = x−→u .−→v = −→u .x−→v ,∀x ∈ R (e´ associativo com respeito a` multiplicac¸a˜o por escalares). PI4) (−→u +−→v ).−→w = −→u .−→w +−→v .−→w e −→u .(−→v +−→w ) = −→u .−→v +−→u .−→w (e´ distributivo com respeito a adic¸a˜o de vetores). PI5) −→u .(x−→v + y−→w ) = x(−→u .−→v ) + y(−→u .−→w ),∀x, y ∈ R (e´ bilinear). PI6) |−→u | = √−→u .−→u . PI7) |−→u .−→v | ≤ |−→u | |−→v | (Desigualdade de Cauchy-Bunyakowski-Schwarz). PI8) |−→u +−→v | ≤ |−→u |+ |−→v | (Desigualdade triangular). Note que nenhuma base esta´ fixada. Demostrac¸a˜o. PI1. Supondo −→u ⊥ −→v , enta˜o α = 90o, cos α = 0 e −→u .−→v = 0. Reciproca- mente, −→u .−→v = |−→u | |−→v | cos α = 0 implica cos α = 0 e α = 90o (ou = 270o). PI2. E´ obvio, −→u .−→v = |−→u | |−→v | cos α = |−→v | |−→u | cos α = −→v .−→u . PI3. Existem treˆs situac¸o˜es: se for x = 0, enta˜o 0(−→u .−→v ) = 0−→u .−→v = −→u .0−→v = 0; se for x > 0, enta˜o |x| = x e x(−→u .−→v ) = x|−→u | |−→v | cos α = |x| |−→u | |−→v | cos α = |x−→u | |−→v | cos α = x−→u .−→v ; se for x < 0, enta˜o β = ang(x−→u ,−→v ) = 180o−α (β: beta, ’b’ latino) e x(−→u .−→v ) = x|−→u | |−→v | cos α = −x|−→u | |−→v |(− cos α) ∗= |x| |−→u | |−→v | cos(180o − α) = |x−→u | |−→v | cos β = x−→u .−→v . ∗: sen(x− y) = sen x cos y − cos x sen y e cos(x− y) = cos x cos y + sen x sen y Em qualquer caso, |x| |−→u | |−→v | cos α = |−→u | |x| |−→v | cos α leva a x−→u .−→v = −→u .x−→v . PI4. (−→u + −→v ).−→w = |−→u + −→v | |−→w | cos ang(−→u + −→v ,−→w ) = |−→w | |−→u + −→v | cos ang(−→u + −→v ,−→w ) = |−→w | |proj−→w (−→u +−→v )| lema= |−→w | |proj−→w−→u +proj−→w−→v | ∗∗= |−→w |(|proj−→w−→u |+|proj−→w−→v |) = |−→w | |proj−→w−→u |+ |−→w | |proj−→w−→v | = −→u .−→w +−→v .−→w . ∗∗ : vetores colineares. Do mesmo modo, −→u .(−→v +−→w ) = |−→u | |−→v +−→w | cos ang(−→u ,−→v +−→w ) = |−→u | |proj−→u (−→v +−→w )| = |−→u | |proj−→u−→v +proj−→u−→w | = |−→u | |proj−→u−→v |+ |−→u | |proj−→u−→w | = −→u .−→v +−→u .−→w . PI5. Basta combinar PI3 e PI4. PI6. E´ o´bvio, −→u .−→u = |−→u | |−→u | cos 0o = |−→u |2. PI7. |−→u .−→v | = | |−→u | |−→v | cos α | = |−→u | |−→v | | cos α| ≤ |−→u | |−→v |. PI8. |−→u + −→v |2 PI6= (−→u + −→v ).(−→u + −→v ) PI4= −→u .−→u + −→u .−→v + −→v .−→u + −→v .−→v = |−→u |2 + 2−→u .−→v + |−→v |2 ≤ |−→u |2 + 2|−→u .−→v | + |−→v |2 PI7≤ |−→u |2 + 2|−→u | |−→v | + |−→v |2 = (|−→u | + |−→v |)2 e segue o resultado. • Exerc´ıcio 10. Demonstre a proposic¸a˜o anterior para o caso particular −→a = (3, 2,−5),−→b = (−1, 4,−7) e −→c = (9, 6,−2) em uma base ortonormal. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 32 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.7 G.A., Produto interno Exemplo 23. Sejam −→u = (3,−5, 6),−→v = (a, b, c) e −→w = (7, 2, 2) tais que −→u .−→w = −→v .−→w . E´ tentador ’cancelar’ −→w e escrever −→u = −→v , pore´m isso na˜o e´ va´lido ja´ que na˜o existe divisa˜o de vetor por vetor. O que podemos fazer e´ −→u .−→w = −→v .−→w ⇒ −→u .−→w −−→v .−→w = 0⇒ (−→u −−→v ).−→w = 0⇒ (3− a,−5− b, 6− c).(7, 2, 2) = 23− 7a− 2b− 2c = 0⇒ c = 23−7a−2b 2 . Tomando a = 1, b = 2, vale c = 6. E se a = 3, b = −5, enta˜o c = 6. Perceba que a igualdade −→u .−→w = −→v .−→w admite infinitas soluc¸o˜es. • Tambe´m e´ um absurdo ’cancelar’ −→w em −→u .−→w−→v .−→w , pois o resultado seria −→u−→v , algo que na˜o foi e na˜o sera´ definido. Inclinac¸o˜es de um vetor. Sendo ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} uma base ortonormal, valem −→e1 .−→e1 = −→e2 .−→e2 = −→e3 .−→e3 = 1 −→e1 .−→e2 = −→e1 .−→e3 = −→e2 .−→e3 = 0 e e´ fa´cil calcular os aˆngulos que −→a = a1−→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 forma com os −→ej . De fato: 1— −→a .−→e1 = (a1−→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 ).−→e1 = a1 = |−→a | |−→e1 | cos α⇒ α = arccos a1|−→a | . 2— −→a .−→e2 = (a1−→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 ).−→e2 = a2 = |−→a | |−→e2 | cos β ⇒ β = arccos a2|−→a | . 3— −→a .−→e3 = (a1−→e1 + a2−→e2 + a3−→e3 ).−→e3 = a3 = |−→a | |−→e3 | cos γ ⇒ γ = arccos a3|−→a | . Curioso que −→a = (−→a .−→e1 )−→e1 + (−→a .−→e2 )−→e2 + (−→a .−→e3 )−→e3 . E´ certo que podemos fixar qualquer base no espac¸o, e em qualquer plano, mas se os vetores da base sa˜o na˜o-ortogonais dois a dois, enta˜o cada um desses se projeta no plano dos dois outros e determina um vetor na˜o-nulo. Essa situac¸a˜o e´ ruim do ponto de vista do ca´lculo nume´rico, como se veˆ no seguinte exemplo. Exemplo 24. Em uma base ortonormal, tem-se −→u = 2−→e1 + 3−→e2 − −→e3 ,−→v = −→e1 + 2−→e2 + 3−→e3 ,−→w = −3−→e1 +−→e2 + 2−→e3 e −→a = 5−→u + 3−→v + 7−→w . O determinante de 2 1 −33 2 1 −1 3 2 e´ na˜o-nulo (verifique!), logo ϕ = {−→u ,−→v ,−→w } tambe´m e´ uma base. Pore´m, |−→u +−→v |2 = |(3, 5, 2)|2 = 38 6= |−→u |2+|−→v |2 = 28 mostra que os vetores de ϕ sa˜o na˜o-ortogonais entre si. Tem-se −→a = (5, 3, 7)ϕ e −→a = 5(2, 3,−1)+3(1, 2, 3)+7(−3, 1, 2) = (−8, 28, 18)ε. Agora as inclinac¸o˜es de −→a com relac¸a˜o a −→u ,−→v e −→w : 1) cos ang(−→a ,−→u ) = −→a .−→u|−→a | |−→u | = 5 −→u .−→u +3−→v .−→u +7−→w .−→u√ 1172 √ 14 = 5.14+3.5+7.(−5)√ 1172 √ 14 = 50√ 1172 √ 14 indica 67,024o. 2) cos ang(−→a ,−→v ) = −→a .−→v|−→a | |−→v | = 5 −→u .−→v +3−→v .−→v +7−→w .−→v√ 1172 √ 14 = 5.5+3.14+7.(5)√ 1172 √ 14 = 102√ 1172 √ 14 indica 37,222o. 3) cos ang(−→a ,−→w ) = −→a .−→w|−→a | |−→w | = 5 −→u .−→w+3−→v .−→w+7−→w .−→w√ 1172 √ 14 = 5.(−5)+3.5+7.14√ 1172 √ 14 = 88√ 1172 √ 14 indica 46,607o. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 33 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.8 G.A., Orientac¸o˜es no espac¸o R3 Deve-se notar que a projec¸a˜o de −→u sobre −→v e −→w na˜o e´ vetor nulo, idem para os dois outros casos. Ja´ na base ortonormal, a projec¸a˜o de −→e1 sobre −→e2 e −→e3 e´ o vetor nulo, idem para os dois outros casos, e assim sa˜o mais simples os ca´lculos das inclinac¸o˜es de −→a com relac¸a˜o a −→e1 ,−→e2 e −→e3 : 1) cos ang(−→a ,−→e1 ) = −→a .−→e1|−→a | = − 8√1172 indica 103,514o. 2) cos ang(−→a ,−→e2 ) = −→a .−→e2|−→a | = 28√1172 indica 35,126o. 3) cos ang(−→a ,−→e3 ) = −→a .−→e3|−→a | = 18√1172 indica 58,28o. • Sera´ que existe uma base ortonormal {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} tal que −→a = x−→e1 +y−→e2 +z−→e3 coincida com (x, y, z) e |−→a | = √ x2 + y2 + z2? Vejamos: qualquer vetor em R3 se escreve como combinac¸a˜o linear u´nica dos −→e1 ,−→e2 ,−→e3 , inclusive esses, assim −→e1 = a11−→e1 + a12−→e2 + a13−→e3 ,−→e2 = a21−→e1 + a22−→e2 + a23−→e3 e −→e3 = a31 −→e1 + a32−→e2 + a33−→e3 . Enta˜o, −→a = x−→e1 + y−→e2 + z−→e3 = (a11x + a21y + a31z, a12x + a22y + a32z, a13x + a23y + a33z) = (x, y, z) implicam que a11x + a21y + a31z = x a12x + a22y + a32z = y a13x + a23y + a33z = z O mais o´bvio a se fazer e´ tomar aij = δij = { 1, se i = j 0, se i 6= j (Delta de Kroneker) e enta˜o −→e1 = (1, 0, 0),−→e2 = (0, 1, 0) e −→e3 = (0, 0, 1). 2.8 G.A., Orientac¸o˜es no espac¸o R3 Quando e´ necessa´rio escolher um vetor ortogonal a dois outros, existem dois sentidos poss´ıveis. a v b u A B C E D O que diferencia −→a de −→b , ale´m do sentido? Vamos considerar −→u = (u1, u2, u3),−→v = (v1, v2, v3), −→a = (a1, a2, a3) = −−→b = −(b1, b2, b3) em uma base qualquer (note que a A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 34 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.8 G.A., Orientac¸o˜es no espac¸o R3 condic¸a˜o |−→a | = |−→b | na˜o atrapalha a ide´ia). Enta˜o det u1 v1 a1u2 v2 a2 u3 v3 a3 = det u1 v1 −b1u2 v2 −b2 u2 v3 −b3 = − det u1 v1 b1u2 v2 b2 u2 v3 b3 6= 0 mostra que a troca de −→a por −→b muda o sinal do determinante, mas na˜o o valor. Exerc´ıcio 11. Calcule os dois determinantes no caso em que −→u = (2, 3, 4),−→v = (−5, 6,−7) e −→a = (11,−1, 3) = −−→b .• Existe uma infinidade de bases em R3 e, a cada par (ε, ϕ), Mεϕ tera´ determinante diferente de zero. Veremos como o sinal do determinante separa todas as bases em R3. Definic¸a˜o 8. Quando det Mεϕ > 0, diz-se que ε e ϕ sa˜o bases concordantes, que ε e´ concordante com ϕ. E quando det Mεϕ < 0, diz-se que ε e ϕ sa˜o bases discordantes, que ε e´ discordante de ϕ. • A fixac¸a˜o de uma base qualquer ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} em R3 estabelece naturalmente os conjuntos C = {bases que concordam com ε} e D = {bases que discordam de ε}. Quatro observac¸o˜es: 1a. C 6= ∅. Tem-se det Mεε > 0, logo ε ∈ C. 2a. D 6= ∅. Tomamos ϕ = {−→e2 ,−→e1 ,−→e3}, de sorte que −→e2 = 0−→e1 + −→e2 + 0−→e3 ,−→e1 = −→e1 + 0−→e2 + 0−→e3 ,−→e3 = 0−→e1 + 0−→e2 + −→e3 levam a det Mεϕ = det 0 1 01 0 0 0 0 1 = −1, ou seja, ϕ ∈ D. 3a. Para qualquer ϕ ∈ C, vale det Mεϕ > 0 e enta˜o ϕ 6∈ D; para qualquer γ ∈ D, vale det Mεγ < 0 e γ 6∈ C. Isso mostra que C ∩ D = ∅, isto e´, C e D sa˜o conjuntos disjuntos. 4a. Se ϕ, γ ∈ C, ou se ϕ, γ ∈ D, enta˜o det Mϕγ = det(Mϕε.Mεγ) = det Mϕε. det Mεγ > 0 e ϕ e´ concordante com γ. Reciprocamente, sejam ϕ e γ bases concordantes e suponhamos que pode ϕ ∈ C e γ ∈ D. Teremos det Mεϕ > 0, det Mεγ < 0 e det Mϕγ < 0, o que contradiz o fato de ϕ ser concordante com γ. Portanto, ou se tem ϕ, γ ∈ C, ou se tem ϕ, γ ∈ D. O que acabamos de ver prova a seguinte Proposic¸a˜o 18. Todas as bases em R3 formam dois conjuntos na˜o-vazios disjuntos, sendo que duas bases esta˜o em um mesmo conjunto se, e somente se, sa˜o concordantes. Cada um dos conjuntos C e D e´ chamado uma orientac¸a˜o de R3. Fixada uma ori- entac¸a˜o de R3 (isto e´, escolhido C ou D), diz-se que R3 esta´ orientado e que a orientac¸a˜o escolhida e´ uma base positiva. Qualquer base que na˜o esteja na orientac¸a˜o de R3 sera´ chamada uma base negativa. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 35 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial Uma base ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} na orientac¸a˜o de R3 obedece a` regra da ma˜o direita quando, posicionados o dedo indicador sobre o representante de −→e1 e o dedo me´dio sobre o repre- sentante de −→e2 , o dedo polegar pode se sobrepor ao representante de −→e3 . Vamos voltar a` ilustrac¸a˜o do in´ıcio dessa sec¸a˜o, mas agora com R3 orientado segundo a regra da ma˜o direita. Essa orientac¸a˜o (essa base) elimina qualquer ambigu¨idade, so- mos obrigados a escolher a base {−→u ,−→v ,−→a } que e´ concordante com a orientac¸a˜o. Ja´ {−→u ,−→v ,−→b } e´ discordante. Isso resume o conceito da orientac¸a˜o (para mais detalhes leia todo o ca´pitulo e o ape´ndice sobre orientac¸a˜o no livro indicado). 2.9 G.A., Produto vetorial Va´rios problemas matema´ticos sa˜o resolvidos com o aux´ılio da fixac¸a˜o de um vetor que e´ ortogonal a um dado conjunto (reta, plano, esfera, etc.), os matema´ticos definiram uma operac¸a˜o vetorial que elimina a dificuldade de se encontrar um tal vetor; essa operac¸a˜o tambe´m e´ importante para a resoluc¸a˜o de muitos problemas f´ısicos. De agora em diante R3 esta´ orientado e qualquer base associada a` essa orientac¸a˜o deve obedecer a` regra da ma˜o direita. O produto vetorial em R3 e´ a operac¸a˜o ∧ : R3×R3 → R3 (−→u ,−→v ) 7→ −→u ∧ −→v cujo vetor resultante −→u ∧−→v , chamado produto vetorial de −→u por −→v , apresenta as seguintes caracter´ısticas: PV1— |−→u ∧ −→v | = |−→u | |−→v | sen α, em que α = ang(−→u ,−→v ). PV2— −→u ∧ −→v ⊥ −→u e −→u ∧ −→v ⊥ −→v . PV3— (−→u ,−→v ,−→u ∧ −→v ) e´ uma base concordante com a orientac¸a˜o de R3. Claro que α = 0o, 180o significa −→u e −→v L.D. e enta˜o −→u ∧ −→v = −→0 . A condic¸a˜o PV1, puramente geome´trica, significa que a norma de −→u ∧−→v coincide com a a´rea do paralelogramo cujas arestas sa˜o (A,B) ∈ −→u e (A,C) ∈ −→v . A condic¸a˜o PV2 obriga −→u ∧−→v ter representantes paralelos a` reta r que conte´m A e e´ perpendicular ao plano que conte´m A,B,C. Em r existem D,E que distam exatamente |−→u | |−→v | sen α de A, a regra da ma˜o direita (i.e., a orientac¸a˜o fixada) leva a` escolha de D e enta˜o (A,D) e´ um representante de −→u ∧ −→v . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 36 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial e 1 2 3 e e r E . D u < v u B A v C e a Ale´m disso, existe um u´nico −→e unita´rio com a direc¸a˜o de r tal que {−→u ,−→v ,−→e } e´ uma base em C. Assim, podemos escrever −→u ∧ −→v = (|−→u | |−→v | sen α)−→e . Exerc´ıcio 12. Mostre que −→u ,−→v e −−→AD = −→u ∧ −→v sa˜o L.I., que −→u ,−→v e −→AE = −(−→u ∧ −→v ) tambe´m sa˜o. Mostre que esses dois ternos ordenados formam bases discordantes.• Proposic¸a˜o 19. Para quaisquer vetores, valem: PV4— −→u ∧−→v = −→0 se e somente se (1) ao menos um dos vetores e´ nulo ou (2) se sa˜o L.D. PV5— −→u ∧ −→v = −(−→v ∧ −→u ) (e´ anti-comutativo). PV6— k−→u ∧ −→v = −→u ∧ k−→v = k(−→u ∧ −→v ) (e´ associativo com relac¸a˜o a` multiplicac¸a˜o por escalar). PV7— −→u ∧ (−→v + −→w ) = −→u ∧ −→v + −→u ∧ −→w e (−→u + −→v ) ∧ −→w = −→u ∧ −→w + −→v ∧ −→w (e´ distributivo com relac¸a˜o a` soma de vetores). Demostrac¸a˜o. PV4 e´ bem o´bvio, −→u ∧ −→v = (|−→u | |−→v | sen α)−→e = −→0 ocorre se, e somente se, |−→u | = 0, ou |−→v | = 0, ou sen α = 0 (isto e´, α = 0o ou 180o). PV5. −→u ∧ −→v e −→v ∧ −→u sa˜o ortogonais a −→u e a −→v , tambe´m vale |−→u ∧ −→v | = |−→u | |−→v | sen α = |−→v | |−→u | sen α = |−→v ∧ −→u |. E a orientac¸a˜o de R3 (PV3) implica que−→u ∧ −→v e −→v ∧ −→u devem ser de sentidos contra´rios, ou seja, −→u ∧ −→v = −(−→v ∧ −→u ). PV6. Se k = 0, as igualdades sa˜o o´bvias. Se k 6= 0, k−→u ∧ −→v = (|k−→u | |−→v | sen α)−→e = (|k| |−→u | |−→v | sen α)−→e = (|−→u | |k| |−→v | sen α)−→e = (|−→u | |k−→v | sen α)−→e = −→u ∧ k−→v . Tambe´m, k−→u ∧ −→v = |k|(−→u ∧ −→v ) = k(−→u ∧ −→v ) se for k > 0. Caso k < 0, enta˜o k−→u tem sentido oposto de −→u , k(−→u ∧ −→v ) tem sentido oposto de −→u ∧ −→v . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 37 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial D E u B A v C u < v k<0 u < vk (?????) k u Pela regra da ma˜o direita, deve valer k−→u ∧ −→v = k(−→u ∧ −→v ). PV7. Fixados representantes (A,B) ∈ −→u , (A,C) ∈ −→v , (A,D) ∈ −→w , existem duas situac¸o˜es. 1a. −→u ortogonal a −→v e −→w . D u B Av C u < v w u < w E F G H a b a b Fica claro que (A,F ) ⊥ (A,C), (A,G) ⊥ (A,D), (A,H) ⊥ (A,E), ang(−→v ,−→w ) = ang(−→u ∧ −→v ,−→u ∧ −→w ) e, por fim, −→u ∧ (−→v + −→w ) e´ representado por (A,H). Portanto, −→u ∧ (−→v +−→w ) = −−→AH = −→u ∧ −→v +−→u ∧ −→w . 2a. −→u na˜o-ortogonal a −→v e a −→w . Podemos escrever (decompor) −→v = −→v1 + −→v2 , com−→v1 ⊥ −→u e −→v2//−→u , e −→w = −→w1 +−→w2, em que −→w1 ⊥ −→u e −→w2//−→u . D uB vC w A v v w w 1 2 1 2 a b Veˆ-se que |−→v1 | = |−→v | cos(90o − α) ∗= |−→v | sen α, logo |−→u ∧ −→v | = |−→u | |−→v | sen α = |−→u | |−→v1 | = |−→u | |−→v1 | sen 90o = |−→u ∧ −→v1 |. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 38 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial ∗: sen(x− y) = sen x cos y − cos x sen y e cos(x− y) = cos x cos y + sen x sen y A orientac¸a˜o de −→u ∧−→v1 e´ a mesma de −→u ∧−→v , portanto −→u ∧−→v1 = −→u ∧−→v . Do mesmo modo vale −→u ∧−→w1 = −→u ∧−→w e, em consequ¨eˆncia, −→u ∧(−→v +−→w ) = −→u ∧(−→v1 +−→v2 +−→w1+−→w2) = −→u ∧ (−→v1 +−→w1) 1 a = −→u ∧ −→v1 +−→u ∧ −→w1 = −→u ∧ −→v +−→u ∧ −→w . A segunda parte (−→u +−→v ) ∧ −→w = −→u ∧ −→w +−→v ∧ −→w e´ provada do mesmo modo. • Exemplo 25. Desenvolver (3−→u − 5−→v ) ∧ (−5−→u +−→v ). Aplicando os fatos demonstrados, 3−→u ∧(−5−→u +−→v )−5−→v ∧(−5−→u +−→v ) = 3−→u ∧(−5−→u )+ 3−→u ∧−→v −5−→v ∧ (−5−→u )−5−→v ∧−→v = −15(−→u ∧−→u )+3(−→u ∧−→v )+25(−→v ∧−→u )−5(−→v ∧−→v ) = 3(−→u ∧ −→v )− 25(−→u ∧ −→v ) = −22(−→u ∧ −→v ). • Os produtos escalar e vetorial se relacionam pela expressa˜o |−→u ∧ −→v |2 + (−→u .−→v )2 = |−→u |2|−→v |2 De fato, (−→u .−→v )2 = |−→u |2 |−→v |2 cos2 α e |−→u ∧ −→v |2 = |−→u |2|−→v |2 sen2 α, logo |−→u ∧ −→v |2 + (−→u .−→v )2 = |−→u |2|−→v |2(cos2 α + sen2 α) = |−→u |2|−→v |2. Exemplo 26. Determinar |−→u ∧ −→v | para −→u = (3, 4, 2) e −→v = (−5, 2, 7) em uma base ortonormal (concordante com a orientac¸a˜o fixada em R3). Dois modos: 1o. Pela definic¸a˜o, |−→u ∧ −→v | = |−→u | |−→v | sen α = √29 √78 √1− cos2 α =√ 29 √ 78 √ 1− ( 7√ 29 √ 78 )2 = √ 29 √ 78 √ 29.78−49 29.78 = √ 2213. 2o. Pela expressa˜o relacionando produto escalar e vetorial, |−→u ∧−→v | = √29.78− 49 =√ 2213. • O passo seguinte e´ obter as coordenadas de −→u ∧−→v em termos das coordenadas de −→u e −→v , como feito com o produto escalar. Sejam −→u = (u1, u2, u3)ε e −→v = (v1, v2, v3)ε em uma base ortonormal ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} associada a` orientac¸a˜o fixada em R3. Verifica-se facilmente que −→e1 ∧ −→e1 = −→e2 ∧ −→e2 = −→e3 ∧ −→e3 = −→0 −→e1 ∧ −→e2 = −→e3 , −→e2 ∧ −→e3 = −→e1 , −→e3 ∧ −→e1 = −→e2 −→e2 ∧ −→e1 = −−→e3 , −→e3 ∧ −→e2 = −−→e1 , −→e1 ∧ −→e3 = −−→e2 Desenvolvendo −→u ∧ −→v tem-se, (u1−→e1 + u2−→e2 + u3−→e3 ) ∧ (v1−→e1 + v2−→e2 + v3−→e3 ) PV7= u1 −→e1 ∧ (v1−→e1 + v2−→e2 + v3−→e3 ) + u2−→e2 ∧ (v1−→e1 + v2−→e2 + v3−→e3 ) + u3−→e3 ∧ (v1−→e1 + v2−→e2 + v3−→e3 ) = u1 −→e1 ∧ v1−→e1 + u1−→e1 ∧ v2−→e2 + u1−→e1 ∧ v3−→e3 + u2−→e2 ∧ v1−→e1 + u2−→e2 ∧ v2−→e2 + u2−→e2 ∧ v3−→e3 + u3 −→e3 ∧ v1−→e1 + u3−→e3 ∧ v2−→e2 + u3−→e3 ∧ v3−→e3 PV6= u1v1−→e1 ∧ −→e1 + u1v2−→e1 ∧ −→e2 + u1v3−→e1 ∧ −→e3 + u2v1 −→e2 ∧ −→e1 + u2v2−→e2 ∧ −→e2 + u2v3−→e2 ∧ −→e3 + u3v1−→e3 ∧ −→e1 + u3v2−→e3 ∧ −→e2 + u3v3−→e3 ∧ −→e3 = u1v2 −→e3 + u1v3(−−→e2 ) + u2v1(−−→e3 ) + u2v3−→e1 + u3v1(−→e2 ) + u3v2(−−→e1 ). A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 39 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial Logo, −→u ∧ −→v = (u2v3 − u3v2)−→e1 − (u1v3 − u3v1)−→e2 + (u1v2 − u2v1)−→e3 . Essa com- binac¸a˜o linear e´ demasiada complexa para ser memorizada, mas pode ser encarada como o determinante da seguinte ’matriz simbo´lica’ (na˜o e´ matriz!): −→u ∧ −→v = det −→e1 −→e2 −→e3u1 u2 u3 v1 v2 v3 Exemplo 27. Vamos calcular (3−→u −7−→w )∧(2−→v +9−→w ), sabendo que −→u = (6,−2,−4),−→v = (3, 4, 5) e −→w = (9,−3, 1) sa˜o dados em uma base ortonormal associada a` regra da ma˜o direita. Existem duas opc¸o˜es. 1a. 3−→u ∧ 2−→v + 3−→u ∧ 9−→w − 7−→w ∧ 2−→v − 7−→w ∧ 9−→w = 6(−→u ∧ −→v ) + 27(−→u ∧ −→w ) − 14(−→w ∧−→v ) = 6 det −→e1 −→e2 −→e36 −2 −4 3 4 5 +27 det −→e1 −→e2 −→e36 −2 −4 9 −3 1 −14 det −→e1 −→e2 −→e39 −3 1 3 4 5 = 6(6,−42, 30) + 27(−14,−42, 0)− 14(−19,−42, 45) = (−76,−798,−450). 2a. Tome −→a = 3−→u − 7−→w = (−45, 15,−19),−→b = 2−→v + 9−→w = (87,−19, 19) e enta˜o −→a ∧ −→b = det −→e1 −→e2 −→e3−45 15 −19 87 −19 19 = (−76,−798,−450). • Exerc´ıcio 13. Demonstre todos a proposic¸a˜o anterior atrave´s de −→a = (3, 2,−5),−→b = (−1, 4,−7) e −→c = (9, 6,−2). • Uma interessante aplicac¸a˜o geome´trica do produto vetorial ocorre na projec¸a˜o de a´reas. Na ilustrac¸a˜o, S e´ a a´rea do paralelogramo gerado por (A,B) ∈ −→u e (A,C) ∈ −→v , B e C sa˜o projetados no plano que conte´m A,X, Y , que conte´m A, Y, Z e que conte´m A,X,Z, o que faz surgir paralelogramos de a´reas S12, S13 e S23. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 40 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.9 G.A., Produto vetorial D E e 1 2 3 e e X Y Z .. . . . . . v u B C . A F G H I . . S S 12 S 13 S 23 vu v a A projec¸a˜o de −→u = (u1, u2, u3) sobre o plano que conte´m A,X, Y e´ a soma das projec¸o˜es de −→u sobre −→e1 e −→e2 , e´ −→u 12 = proj−→e1−→u + proj−→e2−→u = (−→u .−→e1 )−→e1 + (−→u .−→e2 )−→e2 = u1 −→e1 + u2−→e2 . A projec¸a˜o de −→v = (v1, v2, v3) sobre o mesmo plano e´ −→v 12 = (−→v .−→e1 )−→e1 + (−→v .−→e2 )−→e2 = v1−→e1 + v2−→e2 . Teˆm destaque os seguintes fatos: 1— −→u 12 ∧ −→v 12 = 4 det −→e1 −→e2 −→e3u1 u2 0 v1 v2 0 = (u1v2 − v1u2)−→e3 = det ( u1 u2 1 v2 ) −→e3 e S12 = |−→u 12 ∧ −→v 12| = | det ( u1 u2 v1 v2 ) |. 2— −→u ∧−→v .−→e3 = |−→u ∧−→v | cos α = S cos α = [(u2v3−u3v2)−→e1−(u1v3−u3v1)−→e2 +(u1v2− u2v1) −→e3 ].−→e3 = u1v2 − u2v1, logo S| cos α| = |u1v2 − u2v1| = S12. 3— De modo ana´logo define-se as projec¸o˜es −→u 13 e −→v 13 sobre o plano que conte´m A,X,Z, bem como −→u 23 e −→v 23 sobre o plano que conte´m A, Y, Z. Como antes, S13 = | det ( u1 u3 v1 v3 ) | e´ a a´rea do quadrila´tero associado a −→u 13 e −→v 3, S23 = | det ( u2 u3 v2 v3 ) | 4 Lembre-se que a base deve ser ortonormal para que seja poss´ıvel escrever o determinante A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 41 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.10 G.A., Produto misto e´ a a´rea do quadrila´tero associado a −→u 23 e −→v 23, −→u 13 ∧ −→v 13 = − det ( u1 u3 v1 v3 ) −→e2 e −→u 23 ∧ −→v 23 = det ( u2 u3 v2 v3 ) −→e1 . Tambe´m, sendo β = ang(−→u ∧ −→v ,−→e2 ) e γ = ang(−→u ∧ −→v ,−→e3 ), tem-se S13 = S| cos β| e S23 = S| cos γ|. 4— S2 = |−→u ∧ −→v |2 = |(u2v3 − u3v2)−→e1 − (u1v3 − u3v1)−→e2 + (u1v2 − u2v1)−→e3 |2 = |(u2v3 − u3v2)−→e1 |2 + |(u1v3 − u3v1)−→e2 |2 + |(u1v2 − u2v1)−→e3 |2 = (u1v3 − u3v1)2 + (u1v3 − u3v1) 2 + (u1v2 − u2v1)2 = S212 + S213 + S223. Note que todo o ca´lculo feito na˜o leva em conta a posic¸a˜o relativa de (A,B) e (A,C), ou seja, tanto faz se o quadrila´tero de a´rea S e´ horizontal, e´ vertical ou tem outra disposic¸a˜o. Exerc´ıcio 14. Leve em considerac¸a˜o−→u = (4, 3,−1),−→v = (−2, 4, 3) e determine S12, S13, S23, α, β, γ e S. • Outra importante aplicac¸a˜o geome´trica do produto vetorial esta´ na definic¸a˜o da chamada equac¸a˜o geral de um plano. Isso sera´ visto mais adiante. 2.10 G.A., Produto misto Suponhamos −→u ,−→v e −→w L.I. representados por (A,B), (A,C) e (A,D), respectiva- mente. Pode-se encarar esses segmentos orientados como treˆs arestas de um paralelep´ıpedo que se apo´ia em um plano (mesa, cha˜o) pela face que conte´m A,B,C. E v D w C B u proj w u < v u < v A A Geometria me´trica (parte da Geometria euclidiana) nos ensina que o volume asso- ciado a esse so´lido e´ o nu´mero V = S h, onde S e´ a a´rea de uma fase e h e´ a distaˆncia dela ate´ a fase paralela. Considerando-se a fase que conte´m A,B,C, tem-se S = |−→u ∧−→v | e h = |proj−→u ∧−→v −→w |. O s´ımbolo −→u ∧−→v .−→w indica o produto escalar de −→u ∧−→v por −→w , na˜o pode ser o produto vetorial de −→u por −→v .−→w (por queˆ?). E ja´ vimos que −→u ∧ −→v .−→w = |−→u ∧ −→v | | proj−→u ∧−→v −→w | (certo?), logo V = |−→u ∧ −→v | |proj−→u ∧−→v −→w | = |−→u ∧ −→v | | −→u ∧−→v .−→w | |−→u ∧−→v | = |−→u ∧ −→v .−→w |. Definic¸a˜o 9. O nu´mero −→u ∧ −→v .−→w e´ conhecido como produto misto de −→u ,−→v por −→w . • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 42 Geometria anal´ıtica - 2011 2 G.A., Vetores 2.10 G.A., Produto misto Proposic¸a˜o 20. Se −→u = (u1, u2, u3)ε,−→v = (v1, v2, v3)ε e −→w = (w1, w2, w3)ε, onde ε e´ uma base ortonormal concordante com a orientac¸a˜o em R3, enta˜o −→u ∧ −→v .−→w = det u1 u2 u3v1 v2 v3 w1 w2 w3 Demostrac¸a˜o. E´ bem simples, −→u ∧ −→v .−→w = det −→e1 −→e2 −→e3u1 u2 u3 v1 v2 v3 .(w1, w2, w3) = (u2v3 − v2u3,−u1v3+v1u3, u1v2−v1u2).(w1, w2, w3) = w1(u2v3−v2u3)−w2(u1v3−v1u3)+w3(u1v2− v1u2) = det u1 u2 u3v1 v2 v3 w1 w2 w3 . • Uma consequ¨eˆncia imediata e u´til e´ o fato de −→u ,−→v ,−→w serem L.D. se, e somente se,−→u ∧ −→v .−→w = 0 (verifique!). Proposic¸a˜o 21. 1— Se ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3}, ϕ = {−→f1 ,−→f2 ,−→f3} e γ = {−→g1 ,−→g2 ,−→g3} sa˜o bases, ε e´ ortonormal e concorda com a orientac¸a˜o de R3, enta˜o det Mεϕ = −→ f1 ∧ −→f2 .−→f3 e det Mϕγ = −→g1 ∧ −→g2 .−→g3−→ f1 ∧ −→f2 .−→f3 2— (a−→u1 + b−→u2) ∧ −→v .−→w = a(−→u1 ∧ −→v .−→w ) + b(−→u2 ∧ −→v .−→w ), −→u ∧ (a−→v1 + b−→v2).−→w = a(−→u ∧−→v1 .−→w ) + b(−→u ∧−→v2 .−→w ) e −→u ∧−→v .(a−→w1 + b−→w2) = a(−→u ∧−→v .−→w1) + b(−→u ∧−→v .−→w2) (i.e., o produto misto e´ trilinear). 3— −→u ∧ −→v .−→w = −(−→v ∧ −→u .−→w ) = −→v ∧ −→w .−→u = −(−→u ∧ −→w .−→v ) = −→w ∧ −→u .−→v = −(−→w ∧ −→v .−→u ) (o produto misto e´ alternado). 4— −→u ∧ −→v .−→w e´ invariante se for somado a um dos vetores uma combinac¸a˜o dos dois outros. Demostrac¸a˜o. Escrevendo −→ f1 = (f11, f21, f31)ε, −→ f2 = (f12, f22, f32)ε e −→ f3 = (f13, f23, f33)ε, enta˜o det Mεϕ = det f11 f12 f13f21 f22 f23 f31 f32 f33 = det f11 f21 f31f12 f22 f32 f13 f23 f33 = −→f1 ∧ −→f2 .−→f3 . E det Mϕγ = det Mϕε. det Mεγ = (det Mεϕ) −1. det Mεγ = det Mεγ det Mεϕ = −→g1∧−→g2.−→g3−→ f1∧−→f2.−→f3 . Isso mostra (1). 2— Basta utilizar as va´rias propriedades ja´ demonstradas sobre o produto escalar e o produto vetorial, (a−→u1 + b−→u2)∧−→v .−→w = (a−→u1 ∧−→v + b−→u2 ∧−→v ).−→w = (a−→u1 ∧−→v ).−→w + (b−→u2 ∧ A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 43 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas −→v ).−→w = a(−→u1 ∧ −→v ).−→w + b(−→u2 ∧ −→v ).−→w = a(−→u1 ∧ −→v .−→w ) + b(−→u2 ∧ −→v .−→w ). Assim se verifica as outras expresso˜es. 3— −→u ∧ −→v .−→w = −(−→v ∧ −→u ).−→w = −(−→v ∧ −→u .−→w ) = − det v1 v2 v3u1 u2 u3 w1 w2 w3 = det v1 v2 v3w1 w2 w3 u1 u2 u3 = −→v ∧ −→w .−→u = − det u1 u2 u3w1 w2 w3 v1 v2 v3 = −(−→u ∧ −→w .−→v ) = det w1 w2 w3u1 u2 u3 v1 v2 v3 = −→w ∧ −→u .−→v = − det w1 w2 w3v1 v2 v3 u1 u2 u3 = −(−→w ∧ −→v .−→u ). 4— Substituindo-se −→u em−→u ∧−→v .−→w por−→u +a−→v +b−→w , tem-se (−→u +a−→v +b−→w )∧−→v .−→w = [−→u ∧−→v +a(−→v ∧−→v )+b(−→w∧−→v )].−→w = −→u ∧−→v .−→w +b(−→w∧−→v .−→w ) (3)= −→u ∧−→v .−→w−b(−→w∧−→w .−→v ) =−→u ∧ −→v .−→w . Algo similar ocorre se substituirmos −→v ou −→w . • Para mais informac¸o˜es, leia com atenc¸a˜o o cap´ıtulo 12 do livro indicado, onde esta˜o va´rios exemplos. 3 G.A., Sistemas de coordenadas Uma vez que ponto e´ o elemento minimal da Geometria, isto e´, na˜o e´ formado por nada menor, e´ necessa´rio estabelecer um mecanismo atrave´s do qual ponto e´ associado a nu´meros. Imagine A e B sobre uma reta r; para qualquer C ∈ r, existe um u´nico a ∈ R que satisfaz a` equac¸a˜o vetorial −→ AC = a −→ AB (certo?). Sendo O um ponto qualquer, vale −→ AC = −→ AO + −→ OC = −→ OC −−→OA. B r . O . C . A . Portanto, a −→ AB = −→ OC − −→OA implica em −→OC = −→OA + a−→AB e a interpretac¸a˜o e´ que, fixados A,B ∈ r (i.e., fixado −→AB), cada nu´mero real a define um u´nico C sobre r. Definic¸a˜o 10. Sejam O um ponto e ε = {−→e1 ,−→e2 ,−→e3} uma base concordante com a orientac¸a˜o de R3. O par ordenado (O, ε) e´ chamado (um) sistema de coordenadas em R3, de origem O e base ε. Se for ε ortonormal, enta˜o (O, ε) e´ um sistema de coordenadas ortogonal em R3, de origem O e base ε. • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 44 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas Note que ao falar em sistema de coordenadas (O, ε) ficam pre´-estabelecidos dois fatos: 1— Os representantes de −→e1 ,−→e2 e −→e3 sa˜o segmentos orientados com origem em O. 2— Cada ponto P ∈ R3 estabelece o segmento orientado (O,P ), o vetor −→OP , e torna-se enta˜o natural emprestar as coordenadas de vetores para pontos, e vice-versa. Definic¸a˜o 11. Sendo −→ OP = x−→e1 + y−→e2 + z−→e3 = (x, y, z)ε, as coordenadas de P sa˜o os nu´meros x, y e z e se escreve P = (x, y, z). O nu´mero x e´ a abscissa de P , y e´ a ordenada de P e z e´ a cota de P . • Duas observac¸o˜es: 1a. Esta´ errado concluir que −→ OP = (x, y, z) e P = (x, y, z) sa˜o iguais; um e´ um conjunto de segmentos orientados, o outro e´ um ponto! Embora sejam associados biunivocamente aos mesmos treˆs nu´meros, sa˜o objetos matema´ticos diferentes. 2a. Deve-se interpretar −→ OP = (x, y, z) como uma indicac¸a˜o de que todos os segmentos orientados em −→ OP sa˜o equipolentes a (O,P ) com P = (x, y, z). So´ isso! Exemplo 28. Determinar as coordenadas de B sabendo que (A,B) representa −→v = (4, 7, 1), onde A = (3,−4, 5). Soluc¸a˜o. Temos (A,B) ∼ (O,P ), com P = (4, 7, 1). Enta˜o, B = A+−→v = (3,−4, 5)+ (4, 7, 1) = (7, 3, 6). • Logo adiante veremos que −→ AB se escrever como (e´ igual a) −−→ OB − −→OA = (7, 3, 6) − (3,−4, 5) = (4, 7, 1), logo e´ igual a −→OP . Assim, sendo −→AB tem a mesma norma e as mesmas inclinac¸o˜es de −→ OP . Por eixo coordenado entende-se qualquer reta munida de uma unidade de distaˆncia entre seus pontos e que e´ paralela a um dos representantes de um dos vetores de ε. O eixo dos x, ou eixo das abscissas, denotado por Ox, e´ aquele eixo coordenado que conte´m o representante de −→e1 com origem em O. O eixo dos y, ou eixo das ordenadas, denotado por Oy, conte´m o representante de −→e2 com origem em O. O eixo dos z, ou eixo das cotas, denotado por Oz, conte´m o representante de −→e3 com origem em O. Cada plano formado por dois eixos coordenados e´ um plano coordenado e existem treˆs, o plano Oxy, o plano Oxz e o plano Oyz. A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 45 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas e1 2e 3 e . eixo Oy Ozeixo Oxeixo plano Oxy P . O Oxzplano Oyzplano . abscissade P . cotade P . ordenadade P E´ muito fa´cil saber a posic¸a˜o espacial de P = (x, y, z): 1— P = (x, 0, 0) ⇒ P ∈ Ox; um ponto esta´ no eixo das abscissas, quando tem ordenada e cota nulas. 2— P = (0, y, 0) ⇒ P ∈ Oy; um ponto esta´ no eixo das ordenadas, quando tem abscissa e cota nulas. 3— P = (0, 0, z)⇒ P ∈ Oz; um ponto esta´ no eixo das cotas, quando tem abscissa e ordenada nulas. 4— P = (x, y, 0)⇒ P ∈ Oxy; um ponto esta´ no plano Oxy, quando tem cota nula. 5— P = (x, 0, z) ⇒ P ∈ Oxz; um ponto esta´ no plano Oxz, quando tem ordenada nula. 6— P = (0, y, z)⇒ P ∈ Oyz; um ponto esta´ no plano Oyz, quando tem abscissa nula. 7— P = (x, y, z), x 6= 0, y 6= 0, z 6= 0 ⇒ P na˜o esta´ em nenhum eixo coordenado ou plano coordenado. Por exemplo, P = (2, 5, 3). A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 46 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas . Ox Oy Oz Oxy Oxz Oyz . . . . . . 0,5,3 2,5,3 0,5,0 2,5,0 2,0,0 2,0,3 0,0,3 P=(????) P=(????) P=(????) P=(????) P=(????) P=(????) P=(????) Falta apenas mais um detalhe, como associar coordenadas a um vetor qualquer −→ AB, quando A 6= O e B 6= O? Proposic¸a˜o 22. Esta´ fixado um sistema de coordenadas (O, ε) em R3. SC1— Se A e B teˆm coordenadas xA, yA, zA e xB, yB, zB, respectivamente, enta˜o −→ AB e´ igual ao vetor de coordenadas xB − xA, yB − yA e zB − zA. SC2— Se A = (xA, yA, zA), −→v = (v1, v2, v3) e p ∈ R, enta˜o A + p−→v e´ o ponto de coordenadas xA + pv1, yA + pv2 e zA + pv3. SC3— Se for (O, ε) ortogonal e as coordenadas de A e B sa˜o xA, yA, zA e xB, yB, zB, respectivamente, enta˜o a distaˆncia euclidiana entre A e B e´ o nu´mero d(A,B) = √ (xA − xB)2 + (yA − yB)2 + (zA − zB)2 Demostrac¸a˜o. Diz-se que xA e´ a abscissa, yA e´ a ordenada e zA e´ a cota de A simplesmente porque −→ OA = (xA, yA, zA). Do mesmo modo, B = (xB, yB, zB) porque −−→ OB = (xB, yB, zB). Assim, −→ AB = −−→ OB − −→OA = (xB, yB, zB) − (xA, yA, zA) C1= (xB − xA, yB − yA, zB − zA) e isso prova SC1. SC2— A + p−→v e´ um ponto B = (xB, yB, zB) e, pela definic¸a˜o de soma de ponto com vetor, isso significa que −→ AB = p−→v C2= (p v1, p v2, p v3). Mas, por SC1, −→AB = (xB − xA, yB − yA, zB − zA) e enta˜o B = (xA + p v1, yA + p v2, zA + p v3). SC3— Observando ∆ABO, claro que d(A,B) e´ a extensa˜o de (A,B), igual a |−→BA| = |−→OA − −−→OB| C1= |(xA − xB)−→e1 + (yA − yB)−→e2 + (zA − zB)−→e3 | = [|(xA − xB)−→e1 |2 + |(yA − yB) −→e2 |2 + |(zA − zB)−→e3 |] 12 . • A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 47 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas A propriedade SC1 merece um esclarecimento: se −→ AB na˜o irradia da ou para a origem O, na˜o se pode escrever automaticamente −→ AB = a−→e1 + b−→e2 + c−→e3 . Pore´m, existe um u´nico P tal que (A,B) ∼ (O,P ) e vetores do tipo −→OP sa˜o associados imediatamente a` treˆs coordenadas, pois, via projec¸o˜es, −→ OP = p1 −→e1 + p2−→e2 + p3−→e3 (em que pj = −−→ OP.−→ej |−→ej |2 ). A equipoleˆncia garante que (A,B) e (O,P ) formam os mesmos aˆngulos α, β, γ com os eixos coordenados, logo cos α = p1 |−→OP | = xB − xA |−→AB| cos β = p2 |−→OP | = yB − yA |−→AB| cos γ = p3 |−→OP | = zB − zA |−→AB| Ainda pela equipoleˆncia, tem-se |−→OP | = |−→AB| e enta˜o p1 = xB − xA, p2 = yB − yA e p3 = zB − zA. E´ exatamente esse procedimento geome´trico que nos autoriza escrever−→ AB = (xB − xA, yB − yA, zB − zA), a demonstrac¸a˜o de SC1 na˜o deixa claro esse fato. Exemplo 29. Se −→ OA = (4,−3, 6),−−→OB = (2, 8, 1),−→v = (3,−4, 5) e p = −5, vamos deter- minar as coordenadas de A, de B, de −→ AB e de A + p−→v , bem como o valor de d(A,B) (o sistema de coordenadas e´ ortogonal). Com efeito, A herda as coordenadas de −→ OA, logo A = (4,−3, 6); B herda as coorde- nadas de −−→ OB, logo B = (2, 8, 1). Por SC1, −→ AB = (−2, 11,−5). Por SC2, o ponto A + p−→v tem coordenadas (4,−3, 6) + (−5)(3,−4, 5) C1, C2= (−11, 17,−19). Por fim, d(A,B) = |−→AB| = √ (−2)2 + 112 + (−5)2 = √150 = 5√6. • Exemplo 30. Sabendo que A = (3, 9,−3),−→u = (5,−4, 3) e −→v = (2, 0, 2), determine as inclinac¸o˜es que o vetor de origem A e extremidade A + 4−→u − −→v forma com os eixos coordenados de um sistema de coordenadas ortogonal. De fato, A + 4−→u − −→v = [(3, 9,−3) + 4(5,−4, 3)] − (2, 0, 2) = (21,−7, 7) = B, logo−→ AB = (18,−16, 10) esta´ inclinado de α = arccos 18√ 680 = 46, 35o com relac¸a˜o a Ox, de β = arccos −16√ 680 = 127, 85o com relac¸a˜o a Oy e γ = arccos 10√ 680 = 67, 45o. • Exemplo 31. O objetivo e´ calcular as coordenadas das projec¸o˜es de P = (3, 4, 5) sobre Ox,Oy,Oz,Oxy,Oxz e Oyz, onde (O, ε) e´ ortogonal. Pela definic¸a˜o, escreva P = (3, 4, 5) porque −→ OP = (3, 4, 5) e as projec¸o˜es desse sobre os eixos coordenados sa˜o: 1— projOx −→ OP = −−→ OP.−→e1 |−→e1|2 −→e1 = 3−→e1 = 3−→e1 + 0−→e2 + 0−→e3 , A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 48 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.1 G.A., Mudanc¸a de sistema de coordenadas 2— projOy −→ OP = −−→ OP.−→e2 |−→e2|2 −→e2 = 4−→e2 = 0−→e1 + 4−→e2 + 0−→e3 , 3— projOz −→ OP = −−→ OP.−→e3 |−→e3 |2 −→e3 = 5−→e3 = 0−→e1 + 0−→e2 + 5−→e3 . 4— projOxy −→ OP = projOx −→ OP+ projOy −→ OP = 3−→e1 + 4−→e2 + 0−→e3 . 5— projOxz −→ OP = projOx −→ OP+ projOz −→ OP = 3−→e1 + 0−→e2 + 5−→e3 . 6— projOyz −→ OP = projOy −→ OP+ projOz −→ OP = 0−→e1 + 4−→e2 + 5−→e3 . Como sa˜o os vetores que emprestam coordenadas aos pontos (desde que os vetores irradiem da origem), tem-se projOxP = (3, 0, 0), projOyP = (0, 4, 0), projOzP = (0, 0, 5), projOxyP = (3, 4, 0), projOxzP = (3, 0, 5) e projOyzP = (0, 4, 5). Na pra´tica pode-se responder de modo mais direto e ra´pido: se P = (3, 4, 5), enta˜o projOxP = (3, 0, 0), projOyP = (0, 4, 0), projOzP = (0, 0, 5), projOxyP = (3, 4, 0), projOxzP = (3, 0, 5) e projOyzP = (0, 4, 5). • 3.1 G.A., Mudanc¸a de sistema de coordenadas A abscissa, ordenada e cota de P , relativamente a um sistema de coordenadas (O, ε), sa˜o emprestadas da 1a, 2a e 3a coordenadas de −→ OP , respectivamente. Se for trocado O por A, mas mantida a base original, enta˜o as novas coordenadas de P , com relac¸a˜o ao novo sistema de coordenadas (A, ε), sa˜o agora emprestadas das coordenadas de −→ AP . e 1 23 ee e 1 23 ee A . O. P . Exemplo 32. Leve em conta (O, ε), A = (1,−2, 1) e P = (3, 4,−2). Ao se passar para o novo sistema de coordenadas (A, ε), a abscissa, ordenada e cota de P na˜o sa˜o mais 3, 4 e −2, sa˜o agora as coordenadas de −→AP . Como −→AP = −→OP −−→OA = (3, 4,−2)− (1,−2, 1) = (2, 6,−3), segue-se que a nova abscissa de P e´ 2, a nova ordenada de P e´ 6 e a nova cota de P e´ −3. • Note bem, o ponto P e´ o mesmo, na˜o se move, o que mudou foi a origem do sistema de coordenadas. O pior que pode ocorrer e´ serem trocados simultaneamente as origens e as bases. Exemplo 33. Tomando a mudanc¸a de (O, ε) para (A,ϕ = {−→f1 ,−→f2 ,−→f3}), com −→ f1 = 3 −→e1 +−→e2 −−→e3 −→ f2 = 2 −→e1 + 3−→e2 −−→e3 −→ f3 = −→e1 + 5−→e2 + 7−→e3 A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 49 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.1 G.A., Mudanc¸a de sistema de coordenadas As coordenadas antigas x1 = 3, y1 = 4, z1 = −2 e as novas coordenadas x2, y2, z2 de P sa˜o vinculadas atrave´s da equac¸a˜o matricial 3− 14− (−2) −2− 1 = 3 2 11 3 5 −1 −1 7 x2y2 z2 Isso leva ao sistema de equac¸o˜es lineares 3x2 + 2y2 + z2 = 2 x2 + 3y2 + 5z2 = 6 − x2 − y2 + 7z2 = −3 cuja soluc¸a˜o e´ x2 = −1156 , y2 = 7528 , z2 = −5956 (verifique!). Portanto, as coordenadas de P no antigo sistema de coordenadas sa˜o obtidas de −→ OP = (3, 4,−2), enquanto que as novas coordenadas de P no novo sistema de coordenadas sa˜o obtidas de −→ AP = (−11 56 , 75 28 ,−59 56 ). • E´ interessante desenvolver o procedimento de modo abstrato, livre de nu´meros. De in´ıcio, existe um sistema de coordenadas com origem A = (xA, yA, zA), base α = {−→a1 ,−→a2 ,−→a3} e sa˜o fixados outra origem B = (xB, yB, zB) e outra base β = {−→b1 ,−→b2 ,−→b3}, tais que −→ b1 = a11 −→a1 + a21−→a2 + a31−→a3 ,−→b2 = a12−→a1 + a22−→a2 + a32−→a3 e −→b3 = a13−→a1 + a23−→a2 + a33−→a3 . Note que as coordenadas da nova origem sa˜o as coordenadas de −→ AB! A 1a 3a 2a 1 b 3 b 2 b . B . X . Qualquer X ∈ R3 se escrever sob a forma X = (x1, y1, z1) e X = (x2, y2, z2), onde x1, y1, z1 esta˜o associados ao primeiro sistema de coordenadas, x2, y2, z2 esta˜o associados ao segundo. Por definic¸a˜o, X = (x2, y2, z2) ocorre porque −−→ BX = (x2, y2, z2)β A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 50 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.2 G.A., O conceito topolo´gico de distaˆncia Por outro lado, −−→ BX = −−→ AX−−→AB = (x1−xA, y1−yA, z1−zA)− (xB−xA, yB−yA, zB− zA) ⇒ −−→BX = (x1 − xB, y1 − yB, z1 − zB)α e a mudanc¸a de bases, ja´ vimos em sala de aulas, conduz a x1 − xBy1 − yB z1 − zB = Mαβ x2y2 z2 onde Mαβ = a11 a12 a13a21 a22 a23 a31 a32 a33 . Como naturalmente se deseja os valores x2, y2, z2 em func¸a˜o de x1, y1, z1, torna-se necessa´rio recorrer a` matriz inversa e trabalhar com x2y2 z2 = Mβα x1 − xBy1 − yB z1 − zB Um u´ltimo detalhe, o que vimos esta´ associado a`s chamadas mudanc¸as lineares de coordenadas. O tipo mais geral, no entanto, e´ a mudanc¸a na˜o linear de coordenadas, que faz uso de derivadas parciais e na˜o e´ estudado na graduac¸a˜o. 3.2 G.A., O conceito topolo´gico de distaˆncia 5O conceito de me´trica (fundamental no estudo da topologia6 dos espac¸os me´tricos) foi um grande avanc¸o na histo´ria da Matema´tica, somente sendo definido rigorosamente no se´culo 19 (com Cantor, Volterra, Arzela`, Hadamard, Ascoli, Hausdorff, Fre´chet). Con- sidere um conjunto qualquer M na˜o vazio e uma func¸a˜o real d : M×M→ R (A,B) 7→ d(A,B) leia d(A,B) a distaˆncia de A a B, que satisfaz aos axiomas seguintes: M1— d(A,A) = 0 e d(A,B) > 0 se A 6= B; M2— d(A,B) = d(B,A); M3— d(A,B) ≤ d(A,C) + d(B,C). Qualquer func¸a˜o que verifica essas propriedades e´ chamada uma me´trica em M e esse conjunto e´ um espac¸o me´trico. 5 Essa sec¸a˜o foi feita somente para os alunos do curso de Matema´tica e a t´ıtulo de curiosidade 6 Topologia e´ a extensa˜o da Geometria que estuda a estrutura fina e global dos espac¸os, estabelece a teoria de conjuntos mas ampla que existe ao considerar na˜o so´ os conjuntos de pontos, mas tambe´m os conjuntos de func¸o˜es. As func¸o˜es cont´ınuas sa˜o definidas, estudadas e usadas com vigor em Topologia a fim de se entender as sutilizas presentes em superf´ıcies e suas propriedades invariantes por transic¸o˜es cont´ınuas A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 51 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.2 G.A., O conceito topolo´gico de distaˆncia Exemplos t´ıpicos: 1— A reta real R e´ um espac¸o me´trico munido da me´trica d(a, b) = |a− b| A distaˆncia, por exemplo, de A = 4 a B = −2 e´ |4− (−2)| = 6. 2— O plano cartesiano R2 e´ um espac¸o me´trico, pois pode-se definir d(A,B) = d((xA, yA), (xB, yB)) = √ (xA − xB)2 + (yA − yB)2 (me´trica euclidiana) ou ds(A,B) = |xA − xB|+ |yA − yB| (me´trica da soma) ou dm(A,B) = max{|xA − xB|, |yA − yB|} (me´trica do ma´ximo) entre outras. Por exemplo, A = (3,−1), B = (2, 5) distam √37 pela me´trica euclidiana, 7 pela me´trica da soma e 6 pela me´trica do ma´ximo. 3— O espac¸o cartesiano R3 e´ me´trico como se veˆ definindo a distaˆncia euclidiana d(A,B) = d((xA, yA, zA), (xB, yB, zB)) = √ (xA − xB)2 + (yA − yB)2 + (zA − zB)2 ou as me´tricas da soma e do ma´ximo, entre outras. Os pontos A = (1, 2, 4), B = (2,−3,−1) distam √51, 11 e 5 pelas treˆs me´tricas tradi- cionais. A troca de uma me´trica por outra produz um forte efeito na forma dos conjuntos definidos via distaˆncia. Como se sabe, por c´ırculo em Oxy de centro P e raio r > 0 entende-se o conjunto {X ∈ Oxy; d(X,P ) = r}. Abaixo seguem as formas do c´ırculo de centro P = (1, 3) e raio 2 nas me´tricas euclidiana, da soma e do ma´ximo. P PP . .. De fato, sendo X = (x, y), ds(X,P ) = |x − 1| + |y − 3| = 2. Para x ≥ 1, y ≥ 3 vem que y = −x + 6 (reta inclinada de 135o). Para x ≥ 1, y < 3 tem-se y = x (reta inclinada de 45o). Com x < 1, y ≥ 3 a equac¸a˜o e´ igual a y = x + 4 (reta inclinada de 45o) e para A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 52 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.3 G.A., O conceito de distaˆncia atrave´s de vetores x < 1, y < 2 obte´m-se y = −x+2 (reta inclinada de 135o). Note que as arestas do c´ırculo na˜o medem 2 (quanto medem?). Por fim, usando dm(X,P ) = max{|x − 1|, |y − 3|}, temos quatro casos: dm(X,P ) = |x− 1| = 2⇒ x = 3 e x = −1 (retas verticais); dm(X,P ) = |y − 3| = 2⇒ y = 5 e y = 1 (reta horizontal). Define-se o ı´nfimo de X ⊂ R como o ponto (nu´mero real) a = inf X que verifica os seguintes axiomas: 1— a ≤ x,∀x ∈ X; 2— Se a < b, existe um x ∈ X tal que x < b. Esta propriedade pode ser reformulada assim: 2— Se b ≤ x,∀x ∈ X, enta˜o b ≤ a. Em poucas palavras, o ı´nfimo de X e´, dentre os pontos sobre R que esta˜o a` esquerda de X, aquele ponto que se encontra infinitamente pro´ximo de X; em notac¸a˜o nume´rica, o ı´nfimo de X e´ o maior dos nu´meros que sa˜o menores ou iguais a qualquer um dos nu´meros que formam X. Apo´s a ide´ia de distaˆncia entre pontos vem a ide´ia de distaˆncia de ponto a conjunto que utiliza ı´nfimo. Sejam r uma reta e P 6∈ r um ponto qualquer. Para cada X ∈ r, fica definido o nu´mero d(X,P ) (no conjunto imagem de uma me´trica) e a distaˆncia de P a r e´, por definic¸a˜o, o nu´mero d(P, r) = inf{d(X,P ); X ∈ r}. A distaˆncia de um ponto P a um plano Π e´ o nu´mero d(P, Π) = inf{(d(X,P ); X ∈ Π}. E assim com outras espe´cies de conjuntos. 3.3 G.A., O conceito de distaˆncia atrave´s de vetores De agora em diante esta´ fixado um sistema de coordenadas (O, ε) onde ε e´ ortonormal positiva. A distaˆncia enclidiana (no sentido da proposic¸a˜o 22, a u´nica que sera´ usada nesse curso) se justifica porque em R3 a linha mais curta ligando dois pontos quaisquer e´ o segmento de reta limitado por aqueles pontos. A fim de se estender esse conceito para conjuntos, a Geometria euclidiana nos ensina que e´ necessa´rio e suficiente utilizar retas perpendiculares: 1— Seja A = (xA, yA, zA) na˜o contido em r : (x, y, z) = B + b −→r = (xB, yB, zB) + b(r1, r2, r3). E´ fa´cil ver que, dentre os segmentos AX (X ∈ r), o mais curto e´ AA′ tal que←→ AA′ ⊥ r. Existem duas opc¸o˜es, uma exige determinar A′, outra na˜o. A′ e´ tal que{ A′ = (xB + ar1, yB + ar2, zB + ar3)−−→ A′A.−→r = 0 Desenvolva o sistema de equac¸o˜es e encontre o valor do escalar a, logo das coordenadas de A′. Agora e´ fa´cil calcular d(A,A′) que e´ a distaˆncia de A ate´ r. Note que o ponto B e´ irrelevante, se for trocado por outro D ∈ r, a distaˆncia na˜o varia! A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 53 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.3 G.A., O conceito de distaˆncia atrave´s de vetores A A’ X B C r Sem fazer uso de A′, seja C = B + −→r . A a´rea de ∆ABC e´ igual a 1 2 |−→BA ∧ −−→BC| e a 1 2 |−−→BC|d(A,A′), logo d(A,A′) = |−→BA ∧ −→r | |−→r | Note que B e C sa˜o irrelevantes, se forem trocados por outros D,E ∈ r, a distaˆncia na˜o varia! 2— Seja A = (xA, yA, zA) na˜o contido em Π: (x, y, z) = B+p −→u +q−→v = (xB, yB, zB)+ p(u1, u2, u3) + q(v1, v2, v3). O racioc´ınio e´ ideˆntico ao do item (1): dentre os segmentos AX, com X ∈ Π, o mais curto e´ AA′ tal que ←→AA′ ⊥ Π. O A′ e´ tal que −−→ A′A e −→w sa˜o L.D., onde esse u´ltimo e´ escolhido dentre os que sa˜o normais a Π. Basta enta˜o resolver o sistema{ A′ = (xB, yB, zB) + a1(u1, u2, u3) + a2(v1, v2, v3)−−→ A′A = k−→w e calcular d(A,A′) que e´ a distaˆncia de A ate´ Π. w . A A’ B C X . . . P A fim de evitar determinar A′, escolha B ∈ Π e um vetor qualquer −→w normal a Π, com origem em B. Enta˜o a projec¸a˜o de −→ BA sobre −→w mede d(A,A′) = |proj−→w −→ BA| = | −→ BA.−→w | |−→w | Claro que −→w = −→u ∧−→v e´ uma excelente escolha e enta˜o d(A,A′) = | −→ BA.−→u ∧−→v | |−→u ∧−→v | . Em ter- mos de coordenadas, A = (xA, yA, zA), B = (zB, yB, zB), −→u = (u1, u2, u3),−→v = (v1, v2, v3), A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 54 Geometria anal´ıtica - 2011 3 G.A., Sistemas de coordenadas 3.3 G.A., O conceito de distaˆncia atrave´s de vetores ocorre de d(A,A′) = |a(xA−xB)+b(yA−yB)+c(zA−zB)|√ a2+b2+c2 = |ax+by+cz+d|√ a2+b2+c2 , onde a, b, c, d sa˜o os coefi- cientes da equac¸a˜o geral de Π. Algumas consequ¨eˆncias: 1— A distaˆncia entre retas paralelas distintas r e s e´ obtida escolhendo um A ∈ r, um B ∈ s e calculando | −→ BA∧−→r | |−→r | . 2— A distaˆncia entre retas reversas r e s. Ha´ um u´nico plano Π que conte´m r e e´ paralelo a s, ocorre enta˜o de −→r ∧ −→s ser normal a Π. Escolha A ∈ s, B ∈ r e calcule |−→BA.−→r ∧−→s | |−→r ∧−→s | . AB . . P s r . v r s r s 3— A distaˆncia entre planos paralelos Π e Σ e´ obtida escolhendo A ∈ Π, B ∈ Σ e calculando | −→ BA.−→u ∧−→v | |−→u ∧−→v | . A. T. Be´hague - Prof. Doutor IME/UERJ 55 Geometria anal´ıtica - 2011