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Visões de Mundo e as Teorias e sistemas em psicologia Diversas concepções de homem, mundo e realidade se construíram através da história, permeadas pelo contexto sócio- histórico, pelas condições de observação e pelos instrumentos tecnológicos disponíveis em cada época. A primeira delas admite homem e mundo como dois elementos distintos, separados, e a realidade como objetiva, única e, portanto, apenas passível de ser apreendida pelo homem, de forma adequada ou distorcida. O conhecimento seria proveniente, como nos propõe John Locke, “[...] da experiência, quer através dos sentidos, quer através da reflexão sobre os dados sensoriais” (MARX e HILLIX, 1993, p. 125). Seria a simples apreensão do mundo tal como este se apresenta, caracterizando uma visão empirista. Uma segunda abordagem, que também concebe homem e mundo como elementos separados, considera a razão como o único lugar em que o mundo se efetiva, sendo este, então, fruto da consciência humana, na qual estaria contido, como em uma caixa. Dessa maneira, o conhecimento se daria exclusivamente em função da consolidação da razão, que seria responsável pelo desenvolvimento e realização da humanidade, configurando uma posição racionalista. Esta posição, fortemente respaldada pela concepção de ciência decorrente das idéias de Decartes, que se desenvolvem a partir da metáfora do mundo funcionando como um relógio, consolida a visão mecanicista de mundo, isto é, a percepção do mundo e da realidade, incluindo aí o homem, funcionando como uma máquina. Esta visão adquire força ainda maior com o desenvolvimento da física newtoniana, quando Isaac Newton apresenta um modelo matemático que torna possível a explicação de todos os fenômenos físicos observáveis, permitindo também sua previsão. Os estudos mais atuais, resguardadas as diferenças, partem da perspectiva de que homem e mundo se dão simultaneamente, sendo um a condição de existência do outro. Dessa forma, toda consciência é sempre consciência de algo e todo objeto é sempre objeto percebido, lembrado, imaginado, rememorado etc., sendo que é na consciência de alguém que esse objeto adquire sentido. No dizer de Edmund Husserl, apud Mondin (1983, p. 186), o sujeito “[...] não é algo preexistente, que se ligue ao objeto num segundo tempo. A Relação do sujeito para o objeto constitui o fenômeno verdadeiramente primeiro; é nele que sujeito e objeto se encontram”. A realidade seria construída, então, na relação homem-mundo, dotada da subjetividade do sujeito, e limitada pelas condições de objetividade do mundo. Define-se, assim, a Fenomenologia Existencial e, com ela, o eixo da compreensão do processo de conhecimento desloca-se da sensação e da razão para a relação. Isto é, o conhecimento se construiria nas interações do sujeito com o mundo. Segundo Mondin (1987, cf. 188-189), Heidegger, um dos principais expoentes da Fenomenologia Existencial, define o homem como um “ser-no-mundo”, mas também como o que ele chama de Daisen, um “ser-em-situação”, envolvido num “[...] círculo de interesses, de preocupações, de desejos, de afetos, de conhecimentos [...]” (idem, p. 188). Por outro lado, é também um ser do “vir-a-ser”, isto é, que não está preso à situação na qual se encontra, mas aberto e pronto para novas possibilidades. Em outras palavras, compreende a existência do homem num determinado contexto, no qual ele já se encontra, portanto, permeado pelo passado, mas também orientado para um futuro, para o que ele pretende se tornar, consubstanciado na utilização das coisas que o cercam, isto é, no presente. Nesse sentido, o homem e seus processos, inclusive a aprendizagem, têm suas existências no fenômeno, que é esse “encontro de águas” entre o passado e o futuro, e que surge na consciência como a presentificação da realidade. Os defensores desta perspectiva chamam-na de visão sistêmica ou ecológica, pois concebe o mundo e a realidade como um organismo vivo, um sistema de relações, em que não se explica nada a partir de fragmentos, por análise, mas a partir das próprias relações significativas. Para saber um pouco mais sobre estas visões de mundo você pode ler os textos de Fritjof Capra, particularmente o livro “O Ponto de Mutação (CAPRA, 1997). Pode, ainda, ter uma noção do exposto no livro, através do filme de Bernt Capra, produzido a partir das idéias do livro, ou, ainda, do comentário sobre o filme, consultando o site http://www.moodleufal.com.br/mod/resource/view.php?id=534. Porém, não é só na Filosofia que a Psicologia tem suas raízes. A Fisiologia também possui uma grande contribuição no surgimento da ciência psicológica. De fato, podemos localizar o nascimento da Psicologia como ciência no final do século XIX, quando os fisiologistas começavam a utilizar métodos científicos para estudar o cérebro, os nervos e os órgãos dos sentidos. Como destaque, citamos Gustav Fechner que, no intuito de encontrar cientificamente uma relação entre o mental e o físico, iniciou estudos sobre o limiar da percepção humana. Aproximadamente vinte anos depois Wilhelm Wundt fundou uma disciplina que deu o nome de Psicologia e, em 1879, fundou o primeiro laboratório de Psicologia experimental, fazendo surgir assim a Psicologia como ciência e dando origem ao estruturalismo. A partir daí, cinco movimentos básicos consolidaram a Psicologia enquanto ciência, favorecendo a criação da Psicologia moderna. O primeiro deles foi o ESTRUTURALISMO, que surge a partir do próprio Wundt, mas tem como principal expoente e líder um discípulo seu: Edwuard Titchener. Segundo os estruturalistas, como toda ciência, a Psicologia deveria, para ser considerada como tal, ter seu ponto de partida na experiência. Sob este ponto de vista, em termos de objeto de estudo, ela se diferenciaria da física, por exemplo, apenas no fato de que a física estuda a experiência sem considerar o homem, enquanto a psicologia estuda a experiência em relação ao sujeito experienciante. Dentro destes parâmetros, caberia à psicologia, através da introspecção em laboratório, realizada por introspeccionistas treinados, estudar a consciência humana, analisando a experiência concreta (real) em seus componentes mais simples, descobrir como esses elementos se combinam e correlacioná-los com as suas condições fisiológicas. Os estruturalistas, portanto, não lidavam com a psicologia infantil nem animal, não aceitando que a psicologia aplicada se constituísse em ciência. Em oposição ao estruturalismo, surge William James que, apesar de não se identificar com nenhum sistema, deu origem, com suas idéias, a um movimento chamado FUNCIONALISMO. Para ele, a consciência é pessoal, permanentemente mutável, contínua, seletiva e evolui com o tempo, possuindo a função primordial de adaptar as pessoas aos seus ambientes. Considerava, ainda, que esta não pode ser vista como distinta do corpo, introduzindo a noção de ação ideomotora (toda idéia conduz à ação). James manteve como método a introspecção, porém de maneira diferente daquela concebida pelos estruturalistas, admitindo-a como o exercício de um dom natural, a rápida e segura apreensão de uma impressão, realizada, não em laboratório por introspeccionistas treinados, mas por um observador sensível e perspicaz. As idéias de James influenciaram diversos psicólogos nas Universidades de Chicago e Colúmbia e, embora estes funcionalistas discordassem entre si em muitos pontos, compartilhavam as opiniões de que a psicologia deveria estudar o "funcionamento" dos processos mentais através da introspecção informal e métodos objetivos, e que os conhecimentos obtidos deveriam ser aplicados a coisas práticas. Abre-se assim o espaço para o estudo da psicologia infantil, animal, diferencial etc. e sua aplicação na educação, no direito e em muitas outras áreas. Da insatisfação com as práticas adotadas até então pelos dois movimentos anteriores, e em virtude das mudanças sócio-econômico-culturais pelas quais o mundo passava entre 1880 e 1920, que reclama que a psicologia abandone a simples reflexão sobre o homem e passe a encontrar maneiras de intervir sobre ele, surgem as idéias de John Watson e, com elas, o BEHAVIORISMO. Segundo sua concepção, para que a psicologia pudesse se tornar uma ciência respeitável deveria estudar o comportamento observável e adotar métodos objetivos. Isto não era possível através da introspecção, pois os fatos da consciência não podiam ser testados e reproduzidos por todos os observadores, sendo dependentes de impressões e idiossincrasias de cada um. Para os behavioristas, os psicólogos devem estudar os eventos ambientais e o comportamento observável, sendo a experiência uma influência mais importante no comportamento, nas aptidões e nos traços, do que a hereditariedade. Devem também visar à descrição, explicação, predição e controle do comportamento. Com isto, o behaviorismo abre um espaço ainda maior para a psicologia aplicada. Concomitantemente, outro movimento importante surgia na Alemanha: a psicologia da GESTALT. A Gestalt se contrapunha, fundamentalmente, à prática de se reduzir experiências complexas a elementos simples. Para os gestaltistas, o todo é diferente da soma de suas partes, e estas têm que ser vistas em termos de sua localização, papel e função em relação à própria totalidade, o que ficou demonstrado no experimento sobre o movimento ilusório realizado por Max Wertheimer. Daí a conclusão de que os dados primários da percepção são tipicamente estruturas (gestalten), e que não podem ser decompostos em seus elementos, como queriam os psicólogos da época, sem que se perca o todo. Ou seja, a percepção do todo estaria ligada à percepção subjetiva das pessoas. Então, a psicologia deveria estudar as experiências subjetivas conscientes dos indivíduos, embora devesse usar também métodos objetivos. Desenvolvendo-se numa outra direção, surgiu a PSICANÁLISE. Preocupado, não com a construção de uma psicologia acadêmica, mas em ajudar as pessoas com problemas de desordens psíquicas, Sigmund Freud desenvolveu um método que chamou de "associação livre". Para ele, estas desordens resultavam de problemas não resolvidos que se encontravam no inconsciente, e que a melhor terapêutica seria trazê-los à consciência, o que seria obtido com este novo método. De acordo com os psicanalistas, a personalidade é formada durante a primeira infância, devendo os psicólogos estudar as leis e os determinantes desta e elaborar os métodos de tratamento para suas desordens. A melhor forma de realizar isto seria no contexto de um relacionamento íntimo e prolongado entre paciente e terapeuta, sendo essencial a exploração das lembranças dos primeiros cinco anos de vida. Destes cinco movimentos básicos surgiu o que hoje designamos psicologia moderna.