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DIREITO CIVIL II Prof. Carlos Roberto Gonçalves.php.php. 1 PARTE GERAL

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DIREITO CIVIL
Prof. Carlos Roberto Gonçalves
03/02/03
1 PARTE GERAL
2 DAS PESSOAS NATURAIS
Conceito de pessoa natual – é o ser humano considerado como sujeito de 
direitos e deveres. Para ser pessoa natural, basta existir.
Personalidade – é a aptidão genérica para ser titular de direitos.
Capacidade – é a medida da personalidade. Pode ser:
Capacidade de direito (de aquisição ou de gozo de direitos) – é a que todos 
possuem, inclusive chamados incapazes, como os loucos, os recém-nascidos,
etc., que podem, por exemplo, herdar.
Capacidade de fato (de exercício do direito) – é a aptidão para exercer, por si 
só, os atos da vida civil. Nem todos possuem esta capacidade.
OBS: 1) Capacidade plena x capacidade limitada – quem tem as duas espécies 
de capacidade, tem capacidade plena. Quem só tem a de direito, tem 
capacidade limitada e necessita de outra pessoa que substitua ou complete a 
sua vontade, sendo por isso chamados de incapazes.
2) Capacidade x legitimação – capacidade não se confunde com legitimação, 
pois esta é a aptidão genérica para a prática de determinados atos jurídicos. 
Assim, o ascendente é genericamente capaz, mas só estará legitimado a 
vender a um descendente se o seu cônjuge e os demais descendentes 
expressamente o consentirem (art. 496).
Incapacidade – no direito brasileiro não existe incapacidade de direito, porque 
todos se tornam, ao nascer, capazes de adquirir direitos (art. 1º). Existe, 
portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício, donde se conclui que 
incapacidade é a restrição legal ao exercício de atos da vida civil, e pode ser de 
duas espécies:
Incapacidade absoluta – art. 3º - acarreta a proibição total do exercício, por si 
só, do direito. O ato simente poderá ser praticado pelo representante legal do 
incapaz, sob pena de nulidade (art. 166, I). A incapacidade absoluta é suprida 
pela representação, em que o incapaz não participa do ato, que é praticado 
somente por seu representante legal. São absolutamente incapazes:
Menores de 16 anos – a lei entende que o ser humano, até atingir essa idade, 
não alcançou ainda o discernimento para distinguir o que lhe convém ou não, 
de sorte que, desprezando sua vontade, impede que atue pessoalmente na 
vida jurídica. O que se leva em conta na fixação desse limite é o 
desenvolvimento mental do indivíduo, em nada se vinculando com a 
maturidade sexual, apesar de serem chamados de menores impúberes.
Os privados do necessário discernimento por enfermidade ou deficiência 
mental – o CC usa expressão genérica ao se referir à falta de discernimento 
para os atos da vida civil, compreensiva de todos os casos de insanidade 
mental, permanente e duradoura, caracterizada por graves alterações das 
faculdades psíquicas. OBS: 1) Intervalos lúcidos – a nossa lei não admite os 
chamados intervalos lúcidos. Assim, se declarado incapaz, os atos praticados 
pelo privado de discernimento serão nulos, não se aceitando a tentativa de 
demonstrar que, naquele momento, encontrava-se lúcido. A incapacidade 
mental é considerada um estado permanente e contínuo. 2) Interdição e 
nulidade dos atos praticados – é nulo o ato praticado pelo enfermo ou 
deficiente mental depois da interdição. Entretanto, como é a insanidade mental 
e não a sentença de interdição que determina a incapacidade, uma corrente 
sustenta que é sempre nulo, também, o ato praticado pelo incapaz antes da 
interdição. Outra corrente, porém, inspirada no direito francês, entende que 
deve ser respeitado o direito do terceiro de boa-fé, que contrata com o privado 
de discernimento sem saber das suas deficiências psíquicas, somente se 
admitindo a nulidade se era notório o estado de loucura. 3) Velhice ou 
senilidade – não é causa de limitação da capacidade, salvo se motivar um 
estado patológico que afete o estado mental.
Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua vontade – a 
expressão também genérica não abrange as pessoas portadoras de deficiência 
mental permanentes, referidas no inciso anterior, mas apenas as que não 
puderem exprimir sua vontade por causa transitória ou em virtude de alguma 
patologia (ex.: paralisia, etc.). É nulo, assim, o ato jurídico praticado pela 
pessoa de condição psíquica normal, mas que se encontrava impossibilitada de 
exprimir validamente a sua vontade no momento em que o praticou. OBS: 
Causa transitória x interdição – não se pode interditar alguém por causa 
transitória, pois o art. 1767, II, que trata das pessoas sujeitas a curatela, só se 
refere aos que por causa duradoura não puderem exprimir a sua vontade.
Incapacidade relativa – art. 4º - permite que o incapaz pratique atos da vida 
civil, desde que assistido, sob pena de anulabilidade (art. 171, I). Na 
incapacidade relativa há assistência; reconhece-se ao incapaz certo 
discernimento, razão pela qual ele é quem pratica o ato, mas não sozinho, e 
sim acompanhado, isto é, assistido por seu representante legal. São 
relativamente incapazes:
Maiores de 16 e menores de 18 anos – são os menores púberes, que devem 
praticar atos da vida civil assistidos por seus representantes legais. OBS: 1) 
Exceções – o maior de 16 anos e menor de 18 anos pode praticar certos atos 
sem a assistência de seu representante legal, como ser testemunha (art. 228, 
I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento (art. 1860, § único), ser eleitor, 
etc. 2) Ocultação dolosa da idade – se o maior de 16 e menor de 18 anos 
oculta dolosamente a sua idade, no ato de se obrigar, perderá a proteção que a 
lei confere aos incapazes e não poderão anular a obrigação ou eximir-se de 
cumpri-la (art. 180), desde que o erro da outra parte seja escusável. Se não 
houve malícia por parte do menor, anula-se o ato para protegê-lo, ficando o 
menor desobrigado de restituir o que recebeu, salvo se a outra parte provar 
que o pagamento se reverteu em benefício dele (art. 181). 3) Responsabilidade 
civil – os pais respondem pelos prejuízos causados pelos filhos menores que 
estiverem sob sua autoridade e em sua companhia, bem como o tutor pelos 
pupilos que se acharem nas mesmas condições. Se as pessoas responsáveis 
pelos menores não tiverem a obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios 
suficientes (art. 928), o menor ficará obrigado a pagar a indenização, que será 
eqüitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que 
dele dependem.
Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os deficientes mentais de 
discernimento reduzido – relativamente aos ébrios habituais e os viciados em 
tóxicos, vale notar que somente os alcoólatras e os toxicômanos, isto é, os 
dependentes de substâncias alcoólicas ou entorpecentes, são considerados 
relativamente incapazes. Os usuários eventuais que, por efeito transitório 
dessas substâncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente a sua vontade 
estão incluídos no rol dos absolutamente incapazes (art. 3º, III). Os deficientes 
mentais de discernimento reduzido, por sua vez, são os fracos da mente ou 
fronteiriços. OBS: 1) Privados do necessário discernimento por deficiência 
mental x deficientes mentais de discernimento reduzido – a lei estabeleceu 
uma gradação para a debilidade mental, de sorte que quando privar totalmente 
o amental do necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil, 
acarretará a incapacidade absoluta; ao passo que quando causar apenas a sua 
redução, acarretará a incapacidade relativa. 2) Interdição – pronunciada a 
interdição dos deficientes mentais, dos ébrios habituais e dos viciados em 
tóxicos, o juiz assinalará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do 
interdito, os limites da curatela, que poderão se limitar à privação do direito de, 
sem curador, praticar atos que possam onerar ou desfalcar o seu patrimônio 
(arts. 1772 e 1782).
Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo – o CC declara 
relativamente incapazes não apenas os surdos-mudos,
mas todos os 
excepcionais sem desenvolvimento completo. Se o excepcional recebeu 
educação adequada e puder exprimir plenamente a sua vontade (ex.: surdos-
mudos treinados e educados para se comunicar com o mundo exterior), será 
capaz. OBS: Interdição – aplicam-se aos excepcionais, da mesma forma que 
aos deficientes mentais, dos ébrios habituais e dos viciados em tóxicos, o 
disposto nos arts. 1772 e 1782 (vide comentários no item anterior).
Os pródigos – pródigo é o indivíduo que dissipa o seu patrimônio 
desvairadamente. Trata-se de um desvio de personalidade e não, 
propriamente, de um estado de alienação mental. OBS: 1) Interdição –
legitimidade – a interdição do pródigo pode ser promovida pelos pais ou 
tutores, pelo cônjuge ou companheiro, ou por qualquer parente, já que ao 
contrário da orientação do CC 1916, a interdição do pródigo não visa mais 
favorecer o cônjuge ou os herdeiros, mas sim protegê-lo. 2) Interdição – limites 
– o pródigo só ficará privado de praticar, sem curador, atos que extravasam a 
mera administração (esta ele poderá exercer) e implicam em comprometimento 
do patrimônio, como emprestar, transigir, dar quitação, alienar, etc. Pode 
praticar validamente e por si só todos os demais atos da vida civilque não 
envolvam o seu patrimônio, a exemplo de fixar dar autorização para casamento 
dos filhos, etc.
Os índios – índios ou silvícolas são os habitantes das selvas, não integrados à 
civilização. Segundo o CC (art. 4º, § único), a capacidade dos índios será 
regulada por lei especial. A lei que atualmente regula a situação jurídica dos 
índios é a Lei 6001/73 (Estatuto do Índio), proclamando que ficarão sujeitos à 
tutela da União até se adaptarem à civilização. Referida lei considera nulos os 
negócios celebrados entre um índio e pessoa estranha à comunidade indígena, 
sem a participação da FUNAI, enquadrando-o como absolutamente incapaz. 
Entretanto, declara que se considerará válido tal ato se o índio revelar 
consciência e conhecimento do ato praticado e, ao mesmo tempo, tal ato não o 
prejudicar. Desta forma, nas comunidades não integradas à civilização, o índio 
já nasce sob tutela, independentemente de qualquer medida judicial, sendo 
incapaz desde o nascimento até que se preencha os requisitos legais (1 - idade 
mínima de 21 anos, 2 - conhecimento da língua portuguesa, 3 - habilitação 
para o exercício de atividade útil à comunidade nacional, 4 - razoável 
compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional) e seja liberado por 
ato judicial, diretamente, por ato da FUNAI homologado pelo órgão judicial ou 
por decreto do Presidente da República, que nesta última hipótese poderá 
declarar a emancipação de uma comunidade indígena e de seus membros. 
OBS: Justiça Federal – é a competente para cuidar das questões referentes 
aos índios.
OBS: 1) Sistema protetivo da teoria dos incapazes – o legislador, ao arrolar 
entre os incapazes determinadas pessoas, procura protegê-las, incluindo-as 
num regime legal privilegiado, capaz de proteger seus interesses. Em vários 
dispositivos constata-se a intenção do legislador em protegê-los, como, por 
exemplo, nos capítulos destinados ao poder familiar, à tutela, à prescrição, à 
nulidades e outros.
2) Benefício da restituição (retitutio in integrum) – existia no Direito Romano e 
consistia ena possibilidade de se anular o negócio jurídico válido, mas que se 
revelou prejudicial ao incapaz. Hoje, se o negócio foi validamente celebrado, 
não se poderá pretender anulá-lo se, posteriormente, mostrar-se prejudicial ao 
incapaz.
3) Interdição e eficácia erga omnes – para assegurar a eficácia erga omnes da 
sentença declaratória de interdição, ela deve ser registrada em livro especial no 
1º Cartório de Registro Civil da comarca em que for proferida e publicada por 
três vezes na imprensa oficial e local.
Cessação da incapacidade – a incapacidade cessa:
Quando cessar a sua causa – cessa, portanto, quando não houver mais a 
enfermidade mental, a menoridade, etc... OBS: Cessação da menoridade – a 
menoridade cessa aos 18 anos completos (no dia do aniversário), sendo certo 
que se nascer no dia 29/02 de ano bissexto, completa a maioridade no dia 
01/03.
Emancipação – é a aquisição da capacidade civil antes da idade legal. Pode 
ser de três espécies:
Voluntária – é a concedida pelos pais se o menor tiver no mínimo 16 anos 
completos. OBS: 1) Ambos os pais - a emancipação voluntária deve ser 
concedida por ambos os pais, ou por um deles na falta do outro. A 
impossibilidade de qualquer deles participar do ato, por se encontrar em local 
ignorado ou qualquer outro motivo relevante, deve ser devidamente justificada 
em juízo. Se divergirem entre si, a divergência será dirimida pelo juiz. 2) Forma 
– instrumento público – é expressamente exigido o instrumento público, 
independentemente de homologação judicial. 3) Emancipação x 
responsabilidade civil dos pais – esta espécie de emancipação só não produz o 
efeito de desobrigar os pais de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados 
pelo menor emancipado, para evitar emancipações maliciosas (STF).
Judicial – é a concedida por sentença, ouvido o tutor, em favor do tutelado que 
já completou 16 anos. O menor deve requerê-la diretamente ao juiz, que a 
concederá por sentença depois de verificar a conveniência do deferimento para 
o bem do menor. O tutor não pode emancipá-lo, evitando-se com isso 
emancipações destinadas apenas a livrar o tutor dos ônus da tutela.
Legal – é a que decorre das seguintes hipóteses expressamente previstas em 
lei:
Casamento – não é razoável que as graves responsabilidades da vida 
doméstica sejam assumidas pela intervenção ou sob a fiscalização de um 
estranho, isto é, do pai ou tutor. Desta forma, o casamento válido produz o 
efeito de emancipar o menor, sendo certo que se logo depois o casamento se 
dissolver pela viuvez ou separação judicial, não retornará o indivíduo à situação 
de incapaz. OBS: Nulidade ou anulabilidade do casamento – proclamada a 
nulidade ou anulabilidade do casamento, retorna o emancipado à condição de 
incapaz, salvo se o contraiu de boa-fé, hipótese em que o casamento será 
putativo em relação a ele e produzirá todos os efeitos de um casamento válido, 
inclusive a emancipação.
Exercício de emprego público efetivo – o fato de ter sido admitido no serviço 
público já denota maturidade e discernimento, principalmente quando a simples 
relação de emprego, com estabelecimento de economia própria, é suficiente 
para a emancipação, como adiante se verá. Predomina o entendimento de que 
o dispositivo legal exige tratar-se de emprego efetivo, afastando-se os interinos, 
contratados, diaristas, mensalistas, etc. Entretanto, há julgados abrandando o 
rigor da lei, entendendo que deve prevalecer o status de servidor público.
Colação de grau em instituição de ensino superior – o preceito, de absoluta 
justiça, é hoje de certo modo obsoleto, sendo praticamente impossível o 
aparecimento de hipótese nele configurada (graduação no ensino superior 
antes dos 18 anos).
Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha 
economia própria – a iniciativa do menor, nesse sentido, revela maturidade 
adequada para passar ao rol dos capazes. Aliás, seria ilógico que, para cada 
um dos atos que tivesse que praticar, apresentasse ou devesse apresentar 
autorização de seus representantes legais. A subordinação aos pais, nestes 
casos, acarretaria dificuldades na gestão dos negócios ou no exercício do 
emprego particular. Além disso e ao mesmo tempo, tutela-se os interesses de 
terceiros que estabelecerem relações comerciais de boa-fé com o menor.
OBS: Irrevogabilidade– a emancipação, em qualquer de suas formas, é 
irrevogável.
Começo da personalidade natural – a personalidade civil começa do 
nascimento com vida (art. 2º), o que pode ser
constatado por diversos meios 
(respiração, corrente sangüínea, etc.). Não se exige o corte do cordão umbilical 
e nem que a pessoa seja viável (tenha perspectivas de viver) ou tenha forma 
humana.
OBS: 1) Nascituro – não é pessoa natural e, portanto, a lei não lhe concede a 
personalidade, mas põe a salvo seus interesses desde a concepção, tomando 
medidas para salvaguardar os direitos que, com muita probabilidade, em breve 
serão seus. Os direitos assegurados ao nascituro encontram-se em estado 
potencial, sob condição suspensiva. Neste sentido, o art. 130 permite ao titular 
de um direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, o 
exercício de atos destinados a conservá-lo, como requerer a suspensão do 
inventário do pai morto, etc. Vários dispositivos do CC protegem o nascituro 
(ex.> 542, 1609 §ún., 1779, etc.).
2) Natimorto – o natimorto é registrado, com os elementos que couberem. Se 
morrer na ocasião do parto, tendo porém nascido com vida, serão feitos dois 
assentos: o de nascimento e o de óbito.
3) Obrigatoriedade do registro – são obrigados a fazer o registro, pela ordem: 
pais, parente mais próximo, administradores de hospitais, médicos e parteiras, 
pessoa idônea da casa em que ocorrer o parto e a pessoa encarregada da 
guarda do menor (art. 52 LRP).
Extinção da personalidade natural – somente com a morte termina a existência 
da pessoa natural. Doutrinariamente, pode-se falar em:
Quando cessar a sua causa – cessa, portanto, quando não houver mais a 
enfermidade mental, a menoridade, etc... OBS: Cessação da menoridade – a 
menoridade cessa aos 18 anos completos (no dia do aniversário), sendo certo 
que se nascer no dia 29/02 de ano bissexto, completa a maioridade no dia 
01/03.
Emancipação – é a aquisição da capacidade civil antes da idade legal. Pode 
ser de três espécies:
Morte real – art. 6º - sua prova faz-se pelo atestado de óbito ou pela 
justificação, em caso de catástrofe e não encontro do corpo (art. 88 LRP).
Morte simultânea ou comoriência – art. 8º - se dois ou mais indivíduos 
falecerem na mesma ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se 
podendo averiguar qual deles morreu primeiro, presumir-se-ão 
simultaneamente mortos. Não há transferência de bens entre comorientes, de 
sorte que se morrem em acidente casal sem descendentes e ascendentes, 
sem se saber qual deles morreu primeiro, um não herda do outro, de tal arte 
que os colaterais da mulher ficarão com a meação dela, enquanto que os 
colaterais do marido ficarão com a meação dele.
Morte civil – existente no Direito Romano, especialmente para os que perdiam 
a liberdade (escravos), ainda remanesce entre nós no art. 1816, que trata do 
herdeiro afastado da herança por indignidade, como se ele “morto fosse antes
da abertura da sucessão”. Mas somente para afastá-lo da herança, 
conservando a personalidade para os demais efeitos.
Morte presumida – pode ocorrer com ou sem declaração de ausência:
Com declaração de ausência – presume-se a morte, quanto aos ausentes, nos 
casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6º, 2ª parte).
Sem declaração de ausência – o art. 7º permite a declaração de morte 
presumida, para todos os efeitos, sem decertação de ausência:
Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.
Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado 
até dois anos após o término da guerra.
OBS: 1) Buscas e averiguações – a declaração de morte presumida nestes 
casos somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e 
averiguações.
2) Fixação da data provável da morte na sentença – a sentença deverá fixar a 
data provável do falecimento.
Individualização da pessoa natural – a pessoa identifica-se no seio da 
sociedade pelo nome, pelo estado e pelo domicílio.
Nome – é a designação pela qual a pessoa identifica-se no seio da família e da 
sociedade. A palavra nome, como elemento individualizador da pessoa natural, 
é empregada em sentido amplo, indicando o nome completo. OBS: 
Pseudônimo – os criadores intelectuais muitas vezes identificam-se pelo 
pseudônimo, que nos termos do art. 19, empregado em atividades lícitas, goza 
da mesma proteção que se dá ao nome.
Natureza jurídica – é direito da personalidade, sendo portanto inalienável e 
imprescritível.
Proteção jurídica – sem autorização, não se pode usar o nome alheio em 
propaganda comercial (art. 18). Além disso, o nome da pessoa não pode ser 
empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao 
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória (art. 17). OBS: 
Morto – Legitimidade – em se tratando de morto, terá legitimidade para a 
adoção das medidas cabíveis o cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em 
linha reta ou colateral até o quarto grau.
Aspectos:
Público – é disciplinado pelo Estado, que tem interesse na perfeita identificação 
das pessoas.
Individual – o direito ao nome (art. 16 – prenome e sobrenome), que abrange o 
de usá-lo e defendê-lo contra usurpação (direito autoral) e contra exposição ao 
ridículo. Basta o interesse moral (vide arts. 17 e 18).
Elementos do nome completo –
Prenome – pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o 
filho ao ridículo (art. 55 LRP). Irmãos não podem ter o mesmo prenome, a não 
ser que seja duplo, estabelecendo a distinção (art. 63 LRP). O prenome pode 
ser simples ou composto (duplo, triplo, quádruplo, como nas famílias reais).
Sobrenome ou apelido familiar ou nome – sinal que identifica a pessoa, 
indicando a sua filiação ou estirpe. Adquire-se-o com o nascimento, portanto 
não é escolhido. Mesmo que a criança seja registrada somente com o 
prenome, o sobrenome faz parte, por lei, de seu nome completo, podendo o 
escrivão lançá-lo de ofício adiante do prenome escolhido pelos pais (art. 55 
LRP). Assim, o registro com indicação do sobrenome, que pode ser do pai, da 
mãe ou de ambos; tem caráter puramente declaratório. OBS.: 1) Filhos havidos 
fora do casamento – não será lançado o sobrenome do pai no registro sem que 
este expressamente autorize. 2) Agnome – sinal que distingue pessoas de uma 
mesma família (ex.: Jr., Filho, Sobrinho, Neto, etc.)
Imutabilidade do nome – o prenome é imutável, admitindo-se, todavia, a sua 
substituição nas seguintes hipóteses (LRP e jurisprudência):
Por apelidos públicos notórios
Em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a 
apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido 
o MP
Evidente erro gráfico
Caso o nome exponha seu portador ao ridículo
Tradução de nomes estrangeiros
Adoção (nestes casos pode alterar o prenome e o sobrenome)
Em outros casos, desde que não prejudique o prenome (que em princípio é 
definitivo e imutável, salvo as exceções mencionadas) e o sobrenome.
OBS: 1) Procedimento administrativo x processo judicial – no primeiro ano após 
atingida a maioridade civil, pode o titular alterar o nome por via administrativa. 
Após este prazo decadencial, somente por meio de ação judicial.
2) Alteração do nome completo – o nome completo também pode sofrer 
alterações, como no casamento, no reconhecimento de filho, na união estável, 
na separação judicial e no divórcio.
Estado – é a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a 
produzir efeitos jurídicos. É o seu modo particular de existir.
Aspectos – o estado apresenta três aspectos:
Estado individual – é o modo de ser da pessoa quanto a idade, sexo, cor, 
altura, saúde (são ou insano e incapaz), etc.
Estado familiar – é o que indica a sua situação na família, em relação ao 
matrimônio (solteiro, casado, etc.) e ao parentesco (pai, filho, etc.).
Estado político – é a qualidade jurídica que advém da posição do indivíduo na 
sociedade política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) e estrangeiro.
Características – as principais características ou atributos do estado
são:
Indivisibilidade – ninguém pode ser, simultaneamente, casado e solteiro, maior 
e menor, etc. O estado é uno e indivisível, regulamentado por normas de 
ordem pública. OBS: Dupla nacionalidade – é uma exceção à regra da 
indivisibilidade do estado.
Indisponibilidade – trata-se de bem fora do comércio, sendo inalienável e 
irrenunciável. Isso não impede a sua mutação, diante de determinados fatos e 
preenchidos os requisitos legais: solteiro pode passar a casado, este pode 
tornar-se viúvo, etc.
Imprescritibilidade – não se perde nem se adquire o estado pela prescrição. É 
elemento integrante da personalidade e, assim, nasce com a pessoa e com ela 
desaparece.
Domicílio – é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para os 
efeitos de direito, onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos. É 
o local em que responde por suas obrigações. Para o CC, domicílio é o lugar 
em que a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo (art. 70). 
São espécies de domicílio:
Voluntário–
Comum – fixado livremente.
Especial – fixado com base no contrato, podendo ser:
Do contrato – relativamente ao cumprimento de obrigações e direitos dele 
decorrentes (art. 78).
De eleição – relativamente à competência para conhecer e julgar ações 
oriundas do contrato (art. 111 CPC). OBS: 1) Ação proposta no foro do 
domicílio do réu - a parte, se quiser, pode abrir mão do foro de eleição e 
demandar o réu no foro de seu domicílio. 2) Contrato de adesão – não tem se 
admitido foro de eleição nos contratos de adesão, salvo demonstrando-se a 
inexistência de prejuízo ao aderente.
Necessário ou legal – é o determinado pela lei, em razão da condição ou 
situação de certas pessoas. Têm domicílio necessário (arts. 76 e 77):
Incapaz – domicílio de seu representante legal.
Servidor público – tem por domicílio o lugar em que exerce permanentemente 
as suas funções, não perdendo, contudo, o domicílio voluntário, se o tiver 
(admite-se a pluralidade domiciliar).
Militar em serviço ativo – domicílio no local em que serve, e, sendo da Marinha 
ou da Aeronáutica, na sede do comando a que se encontra imediatamente 
subordinado.
Marítimo – é o local em que o navio está matriculado.
Preso – o lugar em que se encontra cumprindo a sentença.
Agente diplomático – se, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem 
designar onde tem domicílio no país, será demandado no Distrito Federal ou no 
último ponto do país onde o teve.
OBS: 1) Pluralidade domiciliar – o CC admite a pluralidade domiciliar, bastando 
para tanto que a pessoa tenha diversas residências em que alternadamente 
viva (art. 71).
2) Domicílio profissional – é também domicílio da pessoa natural, quanto às 
relações concernentes à profissão, o lugar em que esta é exercida, admitindo-
se a pluralidade de domicílios profissionais, caso a pessoa exercite a profissão 
em diversos locais, configurando-se cada um desses locais o domicílio para as 
relações que lhe corresponderem.
3) Domicílio sem residência – é possível alguém ter domicílio sem residência, 
como os ciganos, andarilhos, caixeiros viajantes; que passam a vida em 
viagens e hotéis e, por isso, não têm residência habitual, considerando-se 
domicílio o lugar onde forem encontrados (art. 73).
4) Domicílio da pessoa jurídica – art. 75 – o domicílio da União é o DF; dos 
Estados e Territórios, as respectivas capitais; e do Município, o lugar onde 
funcione a administração municipal. O das demais pessoas jurídicas, é o lugar 
onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde 
elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. Diversos 
estabelecimentos: tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em 
lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele 
praticados. Administração ou Diretoria no exterior: se a administração ou a 
diretoria tiver sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica o 
lugar do estabelecimento no Brasil a que a obrigação corresponda.
Direitos da personalidade – são os direitos subjetivos da pessoa de defender o 
que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio 
corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo 
vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria 
científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, imagem, 
recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social). 
Os direitos de personalidade, por não terem conteúdo econômico imediato e 
não se destacarem da pessoa de seu titular, distinguem-se dos direitos de 
ordem patrimonial, pois os direitos de personalidade são inerentes à pessoa 
humana, estando a ela ligados de maneira perpétua. Os direitos da 
personalidade não podem sofrer limitação voluntária.
Características – os direitos da personalidade são:
Intransmissíveis
Irrenunciáveis
Inalienáveis
Imprescritíveis
OBS: Admite-se, no entanto, o uso do direito por seu titular (ex.: cessão de 
direitos de imagem). O que não se admite é a transmissão, alienação do direito 
a terceiros.
Disciplina no Código Civil –
Atos de disposição do próprio corpo – salvo por exigência médica, é defeso 
dispor do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade 
física ou contrariar os bons costumes, exceto na hipótese de transplante. OBS:
1) Disposição do corpo para depois da morte – é válida, com objetivo científico 
ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para 
depois da morte, admitindo-se a revogação do ato de disposição a qualquer 
tempo (art. 14). 2) Lei 9434/97 – Transplantes – permite que a pessoa 
juridicamente capaz disponha gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do 
próprio corpo vivo para fins de transplante, desde que o ato não represente 
risco para a sua integridade física e mental e não cause mutilação ou 
deformação inaceitável. 3) Comercialização de órgãos – é expressamente 
vedada pela CF (art. 199, §4º). 4) Transexuais – pela redação do art. 13 CC, é 
vedada a ablação de órgãos do corpo humano realizada em transexuais, 
embora a norma seja razoavelmente inócua, na medida em que a legitimidade 
para reclamar do ato e de suas conseqüências, em juízo, seja exclusivamente 
do paciente, que dispõe do próprio corpo e poderá dar-se por satisfeito com o 
resultado.
Tratamento médico de risco – ninguém pode ser constrangido a submeter-se, 
com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica (art. 15). A 
regra obriga os médicos, nos casos mais graves, a não atuarem sem prévia 
autorização do paciente, que tem a prerrogativa de se recusar a se submeter a 
um tratamento perigoso, sob pena de responder pelo ato praticado e seu 
resultado.
Direito ao nome – vide tópico próprio no item “Individualização da Pessoa 
Natural”.
Proteção à palavra e à imagem – a divulgação de escritos, a transmissão da 
palavra ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma 
pessoa poderão ser proibidas, a requerimento do autor e sem prejuízo da 
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama, a 
respeitabilidade ou se se destinarem a fins comerciais. OBS: 1) Exceção –
admite-se exceção a esta regra se autorizado pelo titular, ou se necessário à 
administração da Justiça ou da ordem pública. 2) Morto – Legitimidade – nesta 
hipótese, são partes legítimas para requerer a proteção apenas o cônjuge, os 
ascendentes ou os descendentes.
Proteção à intimidade – a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a 
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir 
ou fazer cessar ato contrário a essa norma (art. 21). O dispositivo, em 
consonância com o art. 5º, X, CF, abrange todos os aspectos da intimidade da 
pessoa.
Pessoa jurídica – aplica-se à pessoa jurídica, no que couber, a proteção dos 
direitos de personalidade
(art. 52).
Proteção jurídica dos direitos de personalidade – pode-se exigir que cesse a 
ameaça ou a lesão a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos, sem 
prejuízo de outras sanções previstas em lei (art. 12). OBS: Morto –
Legitimidade – em se tratando de morto, terá legitimidade para a adoção das 
medidas cabíveis o cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta ou 
colateral até o quarto grau.
Ausência –
Conceito de ausente – ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio 
sem deixar um representante ou procurador para administrar-lhe os bens (art. 
22). OBS: Declaração de ausência x existência de procurador - também será 
declarada a ausência caso o procurador não queira, não possa administrar os 
bens ou se os seus poderes forem insuficientes.
Procedimento – nos casos de ausência, o juiz, a requerimento de qualquer 
interessado ou do MP, declarará a ausência e nomear-lhe-á curador.
Curador – será preferenciamente o cônjuge, sempre que não esteja separado 
judicialmente ou de fato por mais de 2 anos antes da declaração de ausência. 
Na falta de cônjuge, a escolha recairá, em ordem preferencial, nos 
ascendentes e nos descendentes, precedendo os mais próximos aos mais 
remotos. Na falta de qualquer das pessoas mencionadas, o juiz nomeará 
curador dativo.
Fases da ausência – a situação do ausente passa por três fases:
Curadoria do ausente – nesta primeira fase, subseqüente ao desaparecimento, 
o ordenamento jurídico procura preservar os bens deixados pelo ausente, para 
a hipótese de seu eventual retorno. É a fase em que o curador cuida de seu 
patrimônio. Assim, comunicada a ausência ao juiz, este determinará a 
arrecadação dos bens do ausente e os entregará à administração do curador 
nomeado. A curadoria do ausente prolonga-se pelo período de um ano, durante 
o qual serão publicados editais, de dois em dois meses, convocando o ausente 
a reaparecer (art. 1161 CPC). Após este prazo de um ano e decorridos mais 
três anos sem que o ausente reapareça, tenha notícia de sua morte ou da 
existência de procurador, poderão os interessados requerer a abertura da 
sucessão provisória. Cessa a curadoria:
pelo comparecimento do ausente.
pela certeza da morte do ausente.
pela abertura da sucessão provisória.
Sucessão provisória – na segunda fase, prolongando-se a ausência, o 
legislador passa a preocupar-se com os interesses de seus sucessores, 
permitindo a abertura da sucessão provisória. Determinada a abertura da 
sucessão provisória por sentença, que só produzirá efeito 180 dias depois de 
publicada pela imprensa, os bens serão entregues aos herdeiros e legatários 
(se houver), procedendo-se à abertura de testamento (se houver) e ao 
inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido (art. 28). Os 
bens serão entregues aos herdeiros em caráter provisório e condicional, de 
sorte que deverão prestar garantias de restituição deles, mediante penhores ou 
hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. Se não o fizerem, não serão 
imitidos na posse, ficando os respectivos quinhões sob a administração do 
curador ou de outro herdeiro designado pelo juiz e que preste dita garantia. 
Entretanto, os descendentes, ascendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua 
qualidade de herdeiros, poderão entrar na posse dos bens do ausente 
independentemente de garantia (art. 30). Os imóveis do ausente só se poderão 
alienar ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína, 
ressalvada a hipótese de desapropriação, que é admitida (art. 31). O 
descendente, o ascendente ou o cônjuge que for sucessor provisório do 
ausente fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que couberem a 
este; os outros sucessores deverão capitalizar metade desses frutos e 
rendimentos. Se o ausente aparecer, ficando provado que a ausência foi 
voluntária e injustificada, perderá ele em favor do sucessor a sua parte nos 
frutos e rendimentos (art. 33). Se o ausente aparecer ou se lhe provar a 
existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão desde logo as 
vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando obrigados a tomar medidas 
assecuratórias precisas até a entrega dos bens a seu dono (art. 36). Cessará a 
sucessão provisória pelo comparecimento do ausente. Por outro lado, 
converter-se-á em definitiva:
quando houver certeza da morte do ausente.
10 anos depois de transitada em julgado a sentença de abertura da sucessão 
provisória. OBS: Não esquecer que a sentença só produz efeitos 180 dias 
depois de prolatada.
Quando o ausente contar com 80 anos de idade e houverem decorrido 5 anos 
das últimas notícias suas.
Sucessão definitiva – finalmente, depois de longo período de ausência, é 
autorizada a abertura de sucessão definitiva, nas hipóteses já mencionadas. 
Assim, os interessados requererão a abertura da sucessão definitiva e o 
levantamento das cauções prestadas. Os sucessores deixam de ser 
provisórios, adquirindo o domínio dos bens, mas resolúvel, porque se o 
ausente regressar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou 
algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os 
bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar 
ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos 
bens alienados depois daquele tempo. Se entretanto, o ausente não regressar 
nestes 10 anos e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens 
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se 
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da 
União quando situados em território federal (art. 39).
3 DAS PESSOAS JURÍDICAS
Teorias sobre a natureza jurídica das pessoas jurídicas – várias teorias 
procuram explicar esse fenômeno, pelo qual um grupo de pessoas passa a 
constituir uma unidade orgânica, com individualidade própria reconhecida pelo 
Estado e distinta das pessoas que a compõem. As teorias podem ser reunidas 
em dois grandes grupos:
Teorias da ficção – pode ser da “ficção legal”, para a qual a pessoa jurídica 
constitui uma criação artificial da lei; ou da “ficção doutrinária”, para a qual a 
pessoa jurídica é uma criação dos juristas, da doutrina. Crítica – ambas não 
são aceitas e a crítica que se lhes faz é a de que o Estado é uma pessoa 
jurídica. Dizer-se que o Estado é uma ficção é o mesmo que dizer que o direito 
que dele emana também o é.
Teorias da realidade – opõem-se às do primeiro grupo e dividem-se em:
Teoria da realidade objetiva – sustenta que a pessoa jurídica é uma realidade 
sociológica, um ser com vida própria que nasce por imposição das forças 
sociais. Crítica – a crítica que se lhes faz é a de que os grupos sociais não têm 
vida própria, personalidade, que é característica do ser humano.
Teoria da realidade jurídica ou institucionalista ou de Hauriou – assemelha-se à 
da realidade objetiva, considerando as pessoas jurídicas como organizações 
sociais destinadas a um serviço ou ofício, e por isso personificadas. Crítica –
merece a mesma crítica feita à teoria da realidade objetiva, nada esclarecendo 
sobre as sociedades que se organizam sem a finalidade de prestar um serviço 
ou de preencher um ofício.
Teoria da realidade técnica – sustenta (especialmente Ihering) que a 
personificação dos grupos sociais é expediente de ordem técnica, a forma 
encontrada pelo direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos 
que se unem na busca de fins determinados.
Conceito – são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a 
serem sujeitos de direitos e obrigações.
OBS: Patrimônio como elemento não essencial – exceto nas fundações, em 
que o patrimônio é essencial, nas demais pessoas jurídicas não é obrigatória a 
existência de patrimônio.
Requisitos para a constituição da pessoa jurídica – são três:
Vontade humana criadora – intenção de criar uma entidade com personalidade
distinta da de seus membros. A vontade humana materializa-se no ato de 
constituição (estatuto, contrato social ou escritura pública / testamento, estes 
no caso das fundações).
Observância das condições legais – instrumento particular ou público, registro, 
autorização ou aprovação do Governo, etc.
Objeto lícito – objetos ilícitos ou nocivos constituem causa de extinção da 
pessoa jurídica.
OBS: Patrimônio como elemento não essencial – exceto nas fundações, em 
que o patrimônio é essencial, nas demais pessoas jurídicas não é obrigatória a 
existência de patrimônio. Assim, para que a pessoa jurídica exista não é 
necessário que tenha patrimônio, basta-lhe a possibilidade de vir a tê-lo. 
Ademais, dependendo da finalidade social, a existência de patrimônio não é 
essencial, pois a pessoa jurídica exaurir-se independentemente da sua 
existência. Logo, não se deve confundir capacidade patrimonial com a 
existência de um patrimônio. Toda a pessoa jurídica tem capacidade 
patrimonial, mas não necessariamente patrimônio.
Classificação da pessoa jurídica – as pessoas jurídicas podem ser classificadas 
da seguinte forma:
Quanto a nacionalidade:
Nacional – considera-se nacional a sociedade que tem sede no Brasil e 
organiza-se de acordo com a lei brasileira, independentemente da 
nacionalidade dos sócios ou da origem do capital (art. 1126).
Estrangeira – quando a sociedade não tem sede no Brasil e não se organiza de 
acordo com as leis do nosso país, é considerada estrangeira, e seu 
funcionamento depende de autorização do governo federal, por meio de 
decreto do Presidente da República (art. 1134).
Quanto a estrutura interna:
Universitas personarum ou corporações – são as que tem como elemento 
subjacente o homem, isto é, as que se compõem pela reunião de pessoas, tais 
como as associações e as sociedades. Estas sociedades visam à realização de 
fins internos, estabelecidos pelos sócios., ou seja, seus objetivos são voltados 
para o bem de seus membros. O patrimônio, nestas sociedades, é um 
elemento secundário, pois é apenas um meio para a realização de um fim.
Universitas bonorum ou fundação – são as que se constituem em torno de um 
patrimônio destinado a um fim, isto é, as fundações. As fundações têm 
objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor, sendo certo que o seu 
patrimônio é elemento essencial.
Quanto a órbita de sua atuação:
Direito Público Externo – são os Estados estrangeiros e todas as pessoas que 
forem regidas pelo direito internacional público, a exemplo das várias nações, a 
Santa Sé, a ONU, etc. (art. 42)
Direito Público Interno – são a União, os Estados-membros, o DF, os 
Territórios, os Municípios, as autarquias e as demais entidades de caráter 
público criadas por lei (art. 41, IV e V).
Direito Privado – são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44):
Associações – são agrupamentos de indivíduos sem finalidade lucrativa, como 
os clubes esportivos, os centros culturais, as entidades pias, etc.
Requisitos do estatuto – sob pena de nulidade, o estatuto conterá (art. 54):
A denominação, os fins e a sede da associação.
Os requisitos para admissão, demissão e exclusão dos associados.
Os direitos e deveres dos associados.
As fontes de recursos para sua manutenção.
O modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos e 
administrativos.
As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a 
dissolução.
Direitos do associado – os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto
poderá instituir categorias com vantagens especiais (art. 55).
Exercício de direitos ou de função – nenhum associado poderá ser impedido de 
exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser 
nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto (art. 58)
Transmissibilidade da condição de associado – em regra, a qualidade de 
associado é intransmissível, salvo se o estatuto dispuser o contrário (art. 56). 
OBS: Associado titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação –
se o associado for titular de quota ou de fração ideal do patrimônio da 
associação, a transferência daquela não importará, de per si, ba atribuição da 
qualidade de associado ao adquirente ou herdeiro, salvo disposição diversa no 
estatuto (art. 56, § único).
Exclusão do associado – a exclusão do associado só é admissível havendo 
justa causa, obedecido o disposto no estatuto. Sendo o estatuto omisso, 
poderá também ocorrer se for reconhecida a existência de motivos graves, em 
deliberação fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes à assembléia 
geral especialmente convocada para esse fim (art. 57). OBS: Recurso – da 
decisão do órgão que, de conformidade com o estatuto, decretar a exclusão, 
caberá sempre recurso à assembléia geral (art. 57, § único).
Assembléia geral – é o órgão deliberativo máximo das associações.
Convocação – a convocação da assembléia geral far-se-á na forma do 
estatuto, garantindo a 1/5 dos associados o direito de promovê-la (art. 60).
Competência – compete privativamente à assembléia geral (art. 59):
Eleger e destituir os administradores
Aprovar as contas
Alterar o estatuto.
Dissolução da associação – dissolvida a associação, o remanescente do seu 
patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações 
ideais titularizadas pelos associados, será destinado à entidade de fins não 
econômicos designada no estatuto ou, omisso este, por deliberação dos 
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou 
semelhantes. Não existindo no Município, Estado, DF ou Território em que a 
associação tiver sede, instituição nas condições mencionadas, o que 
remanescer de seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do DF ou da 
União. Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos 
associados, podem estes, antes da destinação do remanescente já referida, 
receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que 
tiverem prestado ao patrimônio da associação (art. 61 e §§).
Sociedades – são agrupamentos de indivíduos com escopo de lucro. Podem 
ser:
Sociedades simples – são as pessoas jurídicas de direito privado que têm por 
objeto atividades econômicas específicas distintas das de empresário (ex.: 
escritório de advocacia, de engenharia, etc.). O regime jurídico das 
associações é aplicado subsidiariamente às sociedades simples (art. 44, § 
único).
Sociedades empresárias – são pessoas jurídicas de direito privado que têm por 
objeto social o desenvolvimento de uma atividade típica de empresário, isto é, 
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou 
serviços
Fundações – as fundações constituem um acervo de bens, que recebe 
personalidade para a realização de fins determinados. Compõem-se de dois 
elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e não lucrativo). 
Somente poderão constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de 
assistência (a limitação, inexistente no CC 1916, visa evitar a constituição de 
fundações para fins menos nobres). Os bens da fundação são inalienáveis, 
mas a inalienabilidade não é absoluta, na medida em que comprovada a 
necessidade de alienação, pode ser esta autorizada pelo juiz competente, com 
audiência do MP, aplicando-se o produto da venda na própria fundação, em 
outros bens destinados à consecução de seus fins. Assim, ultimada sem 
autorização judicial, a alienação é nula. Mas com autorização judicial sempre 
pode ser feita, ainda que a inalienabilidade tenha sido imposta pelo instituidor.
Constituição – a constituição das fundações passa por quatro fases:
Ato de dotação ou de instituição – é o ato pelo qual o instituidor especifica os 
bens livres que comporão o acervo da fundação e os fins a que se destinam. 
Faz-se por escritura pública ou testamento. Se quiser, o instituidor poderá 
declarar a maneira de administrar a fundação.
Elaboração
dos estatutos – a elaboração pode ser direta ou própria (pelo 
próprio instituidor) ou fiduciária (por pessoa de sua confiança, por ele 
designada). Se o instituidor não elabora os estatutos, não indica quem deva 
faze-lo, ou ainda, se a pessoa designada não cumprir o encargo no prazo de 
180 dias, o MP poderá tomar a iniciativa de elaborar os estatutos.
Aprovação dos estatutos – os estatutos são encaminhados ao MP para 
aprovação, que verificará se: a) o objeto é lícito; b) se foram observadas as 
bases fixadas pelo instituidor; c) se os bens são suficientes. O MP, em 15 dias, 
aprovará o estatuto, indicará as modificações que entender necessárias ou lhe 
denegará aprovação. Nos dois últimos casos, pode o interessado requerer ao 
juiz o suprimento da aprovação (art. 65). O juiz, antes de suprir a aprovação, 
poderá também fazer modificações no estatuto, a fim de adaptá-lo aos fins 
pretendidos pelo instituidor (art. 1201 CPC). Qualquer alteração nos estatutos 
deve ser submetida ao MP, devendo-se observar os requisitos dos arts. 67 CC 
e 1203 CPC.
Registro – indispensável o registro, que se faz no Registro Civil das Pessoas 
Jurídicas. Só com ele começa a fundação a ter existência legal.
Extinção – as fundações extinguem-se em dois casos:
Se a sua finalidade se tornar ilícita (nociva), impossível ou inútil.
Se vencer o prazo de sua existência.
Destinação dos bens na hipótese de extinção – na hipótese de extinção da 
fundação, o patrimônio terá o destino previsto pelo instituidor, no ato 
constitutivo. Se não for feita essa previsão, o art. 69 determina que seja 
incorporado em outra fundação (municipal, estadual ou federal – art. 61), 
designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. OBS: 
Inexistência de outra fundação com fins iguais ou semelhantes – a lei não 
esclarece qual o destino do patrimônio, se não existir nenhuma fundação de 
fins iguais ou semelhantes. Nesse caso, entende a doutrina que os bens serão 
declarados vagos e passarão, então, ao Município ou ao Distrito Federal, se 
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da 
União quando situados em território federal, aplicando-se por analogia o 
disposto no art. 1822 CC.
OBS: Empresas públicas e sociedades de economia mista – sujeitam-se ao 
regime próprio das pessoas jurídicas de direito privado, por força do disposto 
no art. 173, §1º, CF.
Grupos com personificação anômala, entes despersonalizados ou pessoas 
formais – há determinadas entidades com muitas das características das 
pessoas jurídicas, mas que não chegam a ganhar a sua personalidade. 
Constituem um simples agrupamento, sem que haja a affectio societatis, 
porque são formados independentemente da vontade de seus membros ou por 
ato jurídico que vincule um corpo de bens. Assim, faltam-lhes requisitos 
imprescindíveis à personificação, embora, na maioria das vezes, tenham 
representação processual, podendo figurar no processo como partes ativas ou 
passivas. São os principais:
Massa falida – passa a ter existência no mundo jurídico após a sentença 
declaratória de falência, trazendo como conseqüência para o devedor a perda 
do direito à administração e disposição de seus bens. A massa falida, portanto, 
substitui o falido como figura eminentemente processual, embora possa agir 
dentro do campo que a lei estipula. É representada por um síndico, que é o 
administrador da massa e age processualmente por ela.
Herança jacente e herança vacante – são fenômenos paralelos ao espólio. 
Ambas são representadas por curador. A herança será jacente quando o “de 
cujus” não tiver herdeiros conhecidos. Neste caso, o juiz, tomando 
conhecimento por qualquer meio da existência do espólio, determinará a 
arrecadação dos bens para evitar seu perecimento e nomeará um curador para 
representar a herança jacente. Feita a arrecadação, o juiz manda publicar 
editais convocando os eventuais herdeiros. Se após um ano da publicação do 
primeiro edital não aparecer nenhum herdeiro, a herança que até então era 
jacente será considerada vacante. Uma vez considerada vacante a herança e 
passados 5 anos da abertura da sucessão (morte do “de cujus”), os bens 
passarão ao Município.
Espólio – é o conjunto de direitos e deveres pertencentes à pessoa falecida, ao 
de cujus. É simples massa patrimonial que permanece coesa até a atribuição 
dos quinhões hereditários aos herdeiros. É o inventariante quem representa o 
espólio. Surge com a abertura do inventário e a nomeação e compromisso do 
inventariante. Até que o inventariante preste compromisso, o espólio fica na 
administração de um “administrador provisório” (art. 985 CPC) que o 
representará ativa e passivamente (art. 986 CPC).
Sociedade em comum – são as sociedades de fato ou irregulares. São as 
pessoas jurídicas que ainda não atenderam aos requisitos legais que lhes 
autorizam a vida jurídica regular, ou por falta o registro, que é essencial, ou por 
este registro ser irregular. O CPC (art. 12, VII), diz que as sociedades serão 
representadas no processo pela pessoa a quem couber a administração de 
seus bens. Assim, existindo a sociedade como realidade fática, o direito não 
pode abstrair todos os seus efeitos jurídicos., de forma que sem estabelecer a 
personalidade jurídica, o ordenamento reconhece efeitos práticos na existência 
dessa entidade. Nessa esteira, o art. 987 dispõe que os sócios, nas relações 
entre si ou com terceiros, somente podem provar a sua existência por escrito, 
mas os terceiros podem prova-la de qualquer modo. O fato é que essa 
sociedade, enquanto não registradas, não podem regularmente adquirir direitos 
e assumir obrigações. Mesmo assim, se essas pessoas atuaram na esfera 
jurídica, não se pode negar-lhes certos efeitos jurídicos, mormente na defesa 
de terceiros de boa-fé. Nesse sentido, dispõe o CC (art. 990) que todos os 
sócios respondem, em princípio, solidária e ilimitadamente pelas obrigações 
sociais. O CPC, por sua vez, também protege terceiros ao dispor que as 
sociedades sem personalidade jurídica, quando demandadas, não podem opor 
a irregularidade de sua constituição (art. 12 CPC). OBS: Lapso de tempo entre 
o ato constitutivo e o registro – entre o ato constitutivo e o registro pode haver 
um período mais ou menos longo em que a pessoa vive como sociedade em 
comum. Feito o registro, ela regulariza-se e ganha personalidade jurídica. 
Entretanto, o registro não retroage, isto é, não purifica os atos praticados 
durante o estágio irregular.
Condomínio – entende-se por condomínio a propriedade, ao mesmo tempo e 
sobre o mesmo bem, de mais de um proprietário. Pode tratar-se de condomínio 
simples ou tradicional (arts. 1314 e ss.) ou de condomínio edilício (art. 1331 e 
ss.). Naquele (condomínio simples ou tradicional), não há dúvida de que não se 
trata de uma pessoa jurídica, já neste (condomínio edilício) há maiores pontos 
de contato do condomínio com a sociedade. Entretanto, não se trata de 
sociedade, pois falta-lhe completamente a affectio societatis: o vínculo jurídico 
que congrega os condôminos não é pessoal, mas real. A lei admite-lhe apenas 
a personalidade processual (art. 12, IX, CPC), dispondo que será representado 
ativa e passivamente pelo seu síndico.
Desconsideração da personalidade jurídica – o ordenamento jurídico confere 
às pessoas jurídicas personalidade distinta da dos seus membros. Essa regra, 
entretanto, tem sido mal utilizada por pessoas inescrupulosas, com a intenção 
de prejudicar terceiros, as quais se utilizam da pessoa jurídica como uma 
“capa” ou “véu” para proteger os seus negócios escusos. A reação a esses 
abusos ocorreu no mundo todo, dando origem à teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica (disregard doctrine). O novo CC dispõe em seu art. 50 
que, em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento
da 
parte ou do MP quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de 
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Da redação do 
artigo em questão verifica-se que a desconsideração da personalidade jurídica, 
no CC, não decorre somente do desvio dos fins estabelecidos no contrato 
social ou atos constitutivos, podendo o abuso consistir na confusão entre o 
patrimônio social e o dos sócios ou administradores. Os seus efeitos são 
meramente patrimoniais e sempre relativos a obrigações específicas, na 
medida em que a pessoa jurídica não entra em processo de liquidação. Por fim, 
vale destacar que o emprego da expressão “relações de obrigação” demonstra 
que o direito do demandante tanto pode ser fundado em contrato como em um 
ilícito civil (para estudo mais aprofundado do tema, ver desconsideração da 
personalidade jurídica em Direito Comercial).
Responsabilidade civil das pessoas jurídicas – no tocante à responsabilidade 
civil das pessoas jurídicas, podemos subdividi-la em duas espécies:
Responsabilidade contratual – é a responsabilidade que decorre de relação 
contratual. Assim, no que tange à responsabilidade contratual, as pessoas 
jurídicas de direito privado em geral, desde que se tornem inadimplentes, 
respondem por perdas e danos (art. 389). Entretanto, vale notar que as 
pessoas jurídicas de direito público têm regras próprias, previstas da Lei de 
Licitações (Lei 8666/93).
Responsabilidade extracontratual – na esfera extracontratual, as pessoas 
jurídicas de direito privado respondem civilmente pelos atos causados por 
culpa ou dolo de seus prepostos, tenham ou não fins lucrativos (arts. 186 e 
932, III). Por outro lado, por força do art. 37, §6º, CF, as pessoas jurídicas de 
direito público respondem, independentemente de dolo ou culpa de seus 
prepostos, pelos danos que causarem a terceiros. A responsabilidade é 
objetiva, mas na modalidade do risco administrativo (não do risco integral, em 
que o Estado respondem em qualquer circunstância). Assim, a vítima não tem 
mais o ônus de provar culpa ou dolo do funcionário, mas o Estado se 
exonerará da obrigação de indenizar se provar culpa exclusiva da vítima, caso 
fortuito, força maior ou fato exclusivo de terceiro. Veja que o preceito 
constitucional foi reafirmado pelo CC, que em seu art. 43 determina que as 
pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por 
atos de seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, 
ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por 
parte destes, culpa ou dolo (SE O PROF. NÃO DER, COMPLEMENTAR O 
TEMA RESP. CIVIL DO ESTADO, QUE É IMPORTANTE, INCLUSIVE COM 
AS QUESTÕES ABORDADAS NO VOL. 1 DA SINOPSE E DO PROF. 
VENOSA).
Transformações da pessoa jurídica – a pessoa jurídica pode passar por uma 
série de mutações, sem que seja extinta. A esse propósito, pontua o art. 1113 
que “o ato de transformação independe da dissolução ou liquidação da 
sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição 
próprios do tipo em que vai converter-se”. Embora os fenômenos ocorram mais 
freqüentemente com sociedades, nada impede que também associações e 
fundações se valham de transformação.
Extinção da pessoa jurídica – termina a existência da pessoa jurídica por 
qualquer das seguintes causas (art. 54, VI e 1033 e s.):
Convencional – por deliberação de seus membros, conforme quorum previsto 
nos estatutos ou na lei.
Legal – em razão de motivo determinante em lei (art. 1034).
Adminsitrativa – quando a constituição da pessoa jurídica depende de 
autorização do Poder Púbilco para funcionar e pratica ato nocivo ou contrário 
aos seus fins ou à lei, levando à cassação da autorização. A cassação pode 
ser provocada por qualquer do povo ou pelo MP.
Natural – decorre da morte de seus membros, se não ficou estabelecido no ato 
constitutivo da pessoa jurídica que esta prosseguirá com os herdeiros.
Judicial – quando se configura algum dos casos de dissolução previstos em lei 
ou no estatuto e a sociedade continua a existir, obrigando um dos sócios a 
ingressar em juízo para judicialmente extinguir a pessoa jurídica.
4 DO DOMICÍLIO
Conceito – é a sede jurídica da pessoa: onde ela se presume presente para 
efeitos de direito, onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos, 
onde responde por suas obrigações.
Domicílio da pessoa natural – é o lugar onde a pessoa estabelece a sua 
residência com ânimo definitivo (art. 70). Extraem-se, portanto, dois elementos 
do conceito de domicílio da pessoa natural:
Elemento objetivo – é a residência.
Elemento subjetivo – é o ânimo definitivo.
OBS: 1) Domicílio x habitação ou moradia – enquanto o domicílio é o lugar 
onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo, a habitação 
ou moradia é o local que a pessoa ocupa esporadicamente (ex.: casa de praia, 
casa de campo, etc.).
2) Pluralidade domiciliar – como vimos, uma pessoa pode ter um só domicílio e 
várias residências. Pode ter também mais de um domicílio, pois o CC admite a 
pluralidade domiciliar. Para tanto, basta que tenha várias residências onde 
alternadamente viva (art. 71).
3) Domicílio profissional – é também domicílio da pessoa natural, quanto às 
relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72).
4) Pluralidade de domicílio profissional – se a pessoa exercitar a profissão em 
lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe 
corresponderem.
5) Domicílio sem residência – é possível também alguém ter domicílio sem 
residência. É o caso dos ciganos e andarilhos, ou de caixeiros viajantes, que 
passam, a vida em viagens e hotéis e, por isso, não têm residência habitual, 
isto é, com ânimo definitivo. Nestes casos, considera-se domicílio o lugar em 
que forem encontrados (art. 73).
6) Mudança de domicílio – a mudança de domicílio caracteriza-se pelo animus 
ou intenção de mudar, como diz o art. 74 CC. Portanto, não é qualquer 
ausência de determinado local que caracterizará a mudança de domicílio. A lei 
exige a intenção de mudança. O par. único do art. 74 apresenta elementos 
objetivos para caracterizar esse animus de mudar, ao estatuir que “a prova da 
intenção resultará do que declarar a pessoas às municipalidades dos lugares 
que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria 
mudança, com as circunstâncias que a acompanharem”. Raramente a pessoa 
fará declarações às autoridades municipais, de forma que o que deve 
caracterizar, de fato, a mudança são os atos exteriores, visíveis, que permitem 
perceber que houve a transferência do domicílio.
Domicílio da pessoa jurídica –
União – é o Distrito Federal.
Estados e Territórios – as respectivas Capitais.
Municípios – o lugar onde funcione a administração municipal.
Demais pessoas jurídicas de direito público ou provado – o lugar onde 
funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem 
domicílio especial nos seus atos constitutivos.
OBS: 1) Pluralidade domiciliar – tendo a pessoa jurídica diversos 
estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado 
domicílio para os atos nele praticados.
2) Administração ou diretoria no exterior – se a administração ou diretoria da 
pessoa jurídica tiver sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa 
jurídica, no tocante às obrigações contraídas por qualquer de suas agências, o 
lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
Espécies de domicílio – o domicílio pode ser:
Voluntário – é o escolhido pela parte. O domicílio voluntário pode ser:
Comum – fixado livremente.
Especial – fixado com base em contrato. Pode ser:
Foro do contrato – nos contratos escritos, os contratantes podem especificar 
domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações
dele 
resultantes (art. 78).
Foro de eleição – as partes podem eleger em contrato o foro perante o qual 
tramitarão todas as demandas que tenham por base o ajuste escrito. OBS: 
Possibilidade de demandar no foro do domicílio do réu – ainda que exista foro 
de eleição, se o credor preferir, pode valer-se da regra geral, demandando no 
domicílio do réu, pois a regra geral a este favorece.
Necessário ou Legal – é o estabelecido pela lei, em razão da condição ou 
situação de certas pessoas. Assim, as pessoas abaixo têm o seguinte domicílio 
necessário:
Incapaz – o de seu representante legal ou assistente.
Servidor público – o local em que exerce permanentemente as suas funções, 
não perdendo contudo o domicílio voluntário, se o tiver (admite-se a pluralidade 
domiciliar).
Militar em serviço ativo – o lugar onde serve, e, sendo da Marinha ou da 
Aeronáutica, na sede do comando a que se encontra imediatamente 
subordinado.
Marítimo – o local em que o navio está matriculado.
Preso – o lugar em que se encontra cumprindo sentença.
Agente diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar 
extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio – poderá 
ser demandado no DF ou no último ponto do território brasileiro em que teve 
domicílio.
5 DOS BENS
Conceito – bens são coisas materiais ou concretas, úteis aos homens e de 
expressão econômica, suscetíveis de apropriação.
OBS: 1) Coisa x bem – no CC 1916 não distinguia bens de coisas, ora usando 
a palavra coisa, ora usando o vocábulo bem. O novo CC, ao contrário, utiliza 
sempre a expressão bens, evitando a expressão coisa, que é conceito mais 
amplo do que bem. Com efeito, coisa é gênero do qual bem é espécie. A 
diferença específica está no fato de esta última (bem) inclui na sua 
compreensão a idéia de utilidade e raridade, ou seja, a de ter valor econômico. 
Assim, coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem (ex.: 
sol, lua, animais, etc.). Já bens são coisas que, por serem úteis e raras, são 
suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico.
2) Bens corpóreos e bens incorpóreos – os romanos faziam a distinção entre 
bens corpóreos e bens incorpóreos. Tal classificação, contudo, não foi acolhida 
pela nossa legislação. Bens corpóreos são os que têm existência física, 
material e podem ser tangidos pelo homem. Bens incorpóreos são os que têm 
existência abstrata, mas valor econômico, como o direito autoral, a sucessão 
aberta, o crédito. Os primeiros (bens corpóreos) podem ser objeto de compra e 
venda e os segundos (bens incorpóreos), somente de cessão. Ambos integram 
o patrimônio da pessoa.
3) Patrimônio – em sentido amplo, é conjunto de bens, de qualquer ordem, 
pertencentes à pessoa. Em sentido estrito, tal expressão abrange apenas as 
relações jurídicas ativas e passivas de que a pessoa é titular, aferíveis 
economicamente. Restringe-se, assim, aos bens avaliáveis em dinheiro, não se 
inserindo no conceito de patrimônio as qualidades pessoais, o conhecimento, 
etc., porque são considerados simples fatores de obtenção de receitas, quando 
utilizados para esses fins, apesar da sua lesão poder acarretar a devida 
reparação.
4) Coisas comuns – certas coisas, insuscetíveis de apropriação pelo homem, 
são chamadas de coisas comuns (ex.: o ar atmosférico, o mar, etc.). Não 
podem ser objeto de relação jurídica, salvo sendo possível a sua apropriação 
em porções limitadas, hipótese em que tornam-se objeto do direito (gases 
comprimidos, água fornecida pela Administração Pública, etc.).
5) Res nullius – são as coisas sem dono, porque nunca foram apropriadas (ex.: 
caça solta, peixes no mar, etc.), podem sê-lo, pois acham-se à disposição de 
quem as encontrar ou apanhar, embora essa apropriação possa ser 
regulamentada (ex.: leis de proteção ambiental).
6) Res derelicta – é a coisa móvel abandonada, que foi objeto de relação 
jurídica mas o seu titular a lançou fora, com a intenção de não mais tê-la para 
si. Nesse caso, pode ser apropriada por qualquer outra pessoa.
Classificação – a classificação dos bens é feita segundo critérios de 
importância científica, pois a inclusão de um bem em determinada categoria 
implica a aplicação automática de regras próprias e específicas, visto que não 
se podem aplicar as mesmas regras a todos os bens.
Bens considerados em si mesmos – sob esta ótica, podem ser:
Bens móveis e imóveis – é a mais importante classificação, fundada na efetiva 
natureza dos bens:
Bens imóveis –
Conceito – para Clóvis Beviláqua, bens imóveis são as coisas que não podem 
ser removidas de um lugar para outro sem destruição. Esse conceito, porém, 
não abrange os imóveis por determinação legal. Para o CC (art. 79), bens 
imóveis são o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente, 
bem como os que a lei assim considerar (art. 80).
Classificação – os bens imóveis em geral podem ser classificados da seguinte 
forma:
Imóveis por natureza – a rigor, somente o solo, com sua superfície, subsolo e 
espaço aéreo, é imóvel por natureza. Tudo o mais que a ele adere deve ser 
classificado como imóvel por acessão. OBS: Subsolo e espaço aéreo – embora 
se considerem propriedade o subsolo e o espaço aéreo, tais pontos apenas se 
consentirão presos à propriedade na medida de sua utilização pelo proprietário 
do solo. A utilização do solo e do espaço aéreo não pode ser ilimitada. A lei só 
ampara o direito de propriedade enquanto de utilidade para o titular. Nesse 
sentido, o art. 1229 dispõe que “a propriedade do solo abrange a do espaço 
aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu 
exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam 
realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele 
interesse legítimo em impedi-las”.
Imóveis por acessão natural – incluem-se nessa categoria as árvores e os 
frutos pendentes, bem como todos os acessórios e adjacências naturais. OBS: 
1) Árvores destinadas ao corte – são considerados bens móveis por 
antecipação. 2) Árvores plantadas em vasos – são considerados bens móveis, 
porque removíveis.
Imóveis por acessão artificial ou industrial – acessão significa justaposição ou 
aderência de uma coisa a outra. Acessão artificial ou industrial é a produzida 
pelo trabalho do homem. São as construções e plantações. É tudo quanto o 
homem incorporar permanentemente ao solo, de modo que se não possa 
retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano. Logo, nesse conceito não 
se incluem as construções provisórias, que se destinam a remoção ou retirada, 
como os circos e parques de diversões, as barracas de feiras, pavilhões, etc. 
Entretanto, não perdem o caráter de imóveis: a) as edificações que, separadas 
do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local 
(casas pré-fabricadas); b) os materiais provisoriamente separados de um 
prédio para nele se reempregarem (art. 81).
Imóveis por determinação legal – o art. 80 assim considera:
Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram – os direitos são 
bens imateriais e, destarte, não poderiam ser entendidos como coisas móveis 
ou imóveis. Contudo, para maior segurança das relações jurídicas, a lei 
considera os direitos sobre imóveis (enfiteuse, servidões, usufruto, uso, 
habitação, rendas constituídas sobre imóveis, penhor, anticrese e hipoteca, 
além da propriedade) como imóveis, e, como tal, as respectivas ações, que são 
a própria dinâmica desses direitos (ações de reivindicação, confessória e 
negatória de servidão, hipotecárias, pignoratícias, de nulidade ou rescisão de 
compra e venda, etc.).
O direito à sucessão aberta – o direito à sucessão aberta é o complexo 
patrimonial transmitido pela pessoa falecida a seus herdeiros. É considerado 
bem imóvel, ainda que a herança seja composta apenas de móveis. Não cogita 
a lei das coisas que compõem a herança, porém do direito a elas.
Somente 
com a partilha e sua homologação judicial deixa de existir a herança, passando 
os bens a serem encarados individualmente. A sucessão aberta abarca tanto 
os direitos reais como os pessoais. Dessa ficção legal deflui que a renúncia da 
herança é renúncia de imóvel, devendo ser feita por escritura pública ou termo 
nos autos, conforme art. 1806, mediante autorização do cônjuge, se o 
renunciante for casado. Da mesma forma, sua cessão configura transmissão 
de direitos imobiliários sujeita a tributação respectiva (ITBI).
OBS: 1) Imóveis por acessão intelectual ou destinação do proprietário – assim 
eram denominados, no regime do CC 1916, aqueles bens que o proprietário 
imobilizava por sua vontade, mantendo-os intencionalmente empregados em 
sua exploração industrial, aformoseamento, ou comodidade, como as 
máquinas (inclusive tratores) e ferramentas, os objetos de decoração, os 
aparelhos de ar-condicionado, etc. No art. 79 do novo CC, entretanto, não há 
alusão a estes bens. A razão é que o novo CC acolhe, seguindo a doutrina 
moderna, o conceito de pertença, que se encontra no art. 93.
2) Imobilização de partes cujo proprietário é distinto do proprietário do solo –
nem sempre a imobilização das partes que se aderem ao solo serão de 
propriedade do titular do domínio do solo. Habitualmente ocorre isso. Assim, 
pode acontecer que a semente lançada ao solo seja de proprietário diverso, 
assim como os materiais de construção do edifício. Nesse caso, haverá perda 
dos móveis em favor do proprietário do solo, com direito à indenização a quem 
construiu ou plantou em terreno alheio de boa-fé (art. 1254), ou sem nenhum 
direito em caso de má-fé.
Bens móveis –
Conceito – o art. 82 considera móveis os bens suscetíveis de movimento 
próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da 
destinação econômico-social.
Espécies – os bens móveis dividem-se em:
Propriamente ditos – são os que admitem remoção por força alheia, sem dano, 
como os objetos inanimados, não imobilizados por sua destinação. OBS: 
Navios e aviões – são bens móveis, entretanto, são imobilizados para fins de 
hipoteca (art. 1473, VI e VII).
Semoventes – são os que se movem por força própria (ex.: animais).
Classificação – os bens móveis podem ser classificados:
Móveis por determinação legal – são bens incorpóreos ou imateriais que 
adquirem a qualidade de bens móveis por expressa previsão em lei. Estes 
bens estão enumerados no art. 83, a saber:
As energias que tenham valor econômico.
Os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes.
Os direitos pessoais de caráter patrimonial e as ações correspondentes (ex.: 
créditos, direito de autor, etc.).
Móveis por antecipação – são os bens incorporados ao solo, mas com a 
intenção de separá-los oportunamente e convertê-los em móveis (ex.: árvores 
destinadas ao corte), ou então os que, por sua ancianidade, são vendidos para 
fins de demolição.
Importância prática da distinção entre bens móveis e imóveis – os principais 
efeitos práticos da distinção são:
Quanto a aquisição:
Móveis – são adquiridos por simples tradição, independentemente de outorga 
uxória.
Imóveis – demandam escritura pública e registro no Cartório de Registro de 
Imóveis e dependem, em regra, de outorga uxória (salvo se o regime for o da 
separação de bens, em que a outorga uxória é dispensada).
Quanto ao prazo para usucapião – a usucapião de bens imóveis exige prazos 
maiores do que o de bens móveis.
Quanto ao direito de superfície – só os imóveis são sujeitos à concessão da 
superfície (art. 1369).
Quanto ao direito real de garantia:
Móveis – o penhor é reservado aos bens móveis.
Imóveis – a hipoteca é destinada aos bens imóveis.
Quanto aos efeitos tributários:
Móveis – estão sujeitos ao ICMS.
Imóveis – estão sujeitos ao ITBI.
Bens fungíveis e infungíveis –
Bens fungíveis – são os móveis que podem ser substituídos por outros da 
mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85), como os metais preciosos, o 
dinheiro, os cereais, etc.
Bens infungíveis – são os que não têm o atributo de poderem ser substituídos 
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade; porque são encarados 
de acordo com as suas qualidades individuais, como o quadro de um pintor 
célebre, uma escultura famosa, etc.
Importância prática da distinção entre bens fungíveis e infungíveis – os 
principais efeitos práticos da distinção são:
Mútuo x comodato – o mútuo só recai sobre bens fungíveis, ao passo que o 
comodato tem por objeto bens infungíveis.
Compensação – a compensação só se efetua entre dívidas líquidas, vencidas e 
de coisas fungíveis (art. 369).
OBS: 1) Excepcionalidade da fungibilidade de bens imóveis – a fungibilidade é 
característica dos bens móveis, como menciona o art. 85. Pode ocorrer, no 
entanto, em certos negócios, que venha a alcançar os imóveis, como por 
exemplo no ajuste entre sócios de um loteamento, sobre eventual partilha em 
caso de desfazimento da sociedade, quando o que se retira receberá certa 
quantidade de lotes. Enquanto não lavrada a escritura, será ele credor de 
coisas determinadas apenas pela espécie, qualidade e quantidade.
2) Fungibilidade ou infungibilidade como resultado da vontade das partes – a 
fungibilidade ou infungibilidade resultam não só da natureza do bem, como 
também da vontade das partes. A moeda é um bem fungível. Determinada 
moeda, porém, pode tornar-se infungível para um colecionador. Da mesma 
forma, um boi emprestado a um vizinho para serviços de lavoura é infungível e 
deve ser devolvido. Se, porém, foi destinado ao corte, poderá ser substituído 
por outro da mesma espécie e qualidade. Como último exemplo, uma cesta de 
frutas é bem fungível, mas emprestada para ornamentação, transforma-se em 
infungível. Vale destacar, no entanto, que há autores que sustentam que não é 
possível que um bem infungível se torne fungível. Sustentam, pois, que a 
fungibilidade resulta da própria coisa, de seu sentido econômico e não físico e 
do número de coisas iguais encontráveis. Para esta corrente, a fungibilidade é 
qualidade objetiva da própria coisa e não é dada pelas partes, que não podem 
arbitrariamente alterar a natureza dos objetos.
3) A falta de conceituação de bem infungível no novo CC – o novo CC adotou a 
orientação de só conceituar o indispensável, não fazendo alusões a noções 
meramente negativas, como as de bens infungíveis, inconsumíveis e 
indivisíveis. Não é, porém, pelo fato do art. 85 só haver definido bem fungível 
que, por isso, deixam de existir os bens infungíveis, mesmo porque se define o 
bem fungível para distingui-lo do infungível.
Bens consumíveis e inconsumíveis – levam em consideração o sentido 
econômico dos bens.
Bens consumíveis – podem ser:
Consumíveis de fato, natural ou materialmente consumíveis – são os bens 
móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância (ex.: 
gêneros alimentícios).
Consumíveis de direito – são os destinados à alienação (ex.: dinheiro).
Bens inconsumíveis – são os que admitem uso reiterado, sem destruição de 
sua substância (ex.: liquidificador, batedeira, televisão, rádio, etc.).
Importância prática da distinção entre bens consumíveis e inconsumíveis – os 
principais efeitos práticos da distinção são:
Usufruto impróprio ou quase-usufruto – certos direitos não podem recair, em 
regra, sobre bens consumíveis. É o caso do usufruto. Quando, no entanto, tem 
por objeto bens consumíveis, passa a chamar-se “usufruto impróprio” ou 
“quase-usufruto”, sendo neste caso o usufrutuário obrigado a restituir, findo o 
usufruto, os que ainda existirem e, dos outros, o equivalente em gênero, 
qualidade e quantidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estimado ao 
tempo da restituição (art. 1392, §1º).
OBS: 1) Possibilidade do bem ser consumível ou inconsumível por força da 
vontade das partes – pode um bem consumível tornar-se inconsumível pela 
vontade das partes, como
um comestível ou uma garrafa de bebida rara 
emprestados para uma exposição.
2) Possibilidade de um bem inconsumível ser consumível de direito – um bem 
inconsumível pode transformar-se em juridicamente consumível, como os livros 
(que não desaparecem pelo fato de serem utilizados) colocados à venda nas 
prateleiras de uma livraria.
Bens divisíveis e indivisíveis –
Bens divisíveis – são divisíveis os bens que se podem fracionar sem alteração 
na sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que 
se destinam (art. 87). São divisíveis, portanto, os bens que se podem fracionar 
em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito.
OBS: Critério da diminuição considerável do valor – o novo CC introduziu, na 
indivisibilidade dos bens, o critério da diminuição considerável do valor, 
seguindo a melhor doutrina e por ser, socialmente, o mais defensável, no dizer 
da Comissão Revisora, cujo relatório adverte: “Atente-se para a hipótese de 10 
pessoas herdarem um brilhante de 50 quilates, que, sem dúvida, vale muito 
mais do que 10 brilhantes de 5 quilates; se esse brilhante for divisível (e, a não 
ser pelo critério da diminuição sensível do valor, o será), qualquer dos 
herdeiros poderá prejudicar todos os outros, se exigir a divisão da pedra”.
Bens indivisíveis – podem ser:
Indivisíveis por natureza – são os que se não podem fracionar sem alteração 
na sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que 
se destinam. A indivisibilidade, nesse caso, é física ou material.
Indivisíveis por determinação legal – são aqueles que a lei não admite divisão 
(ex.: as servidões, as hipotecas, etc.). A indivisibilidade, nessa hipótese, é 
jurídica.
Indivisíveis por vontade das partes – são os transformados em indivisíveis por 
convenção das partes. Nessa caso, a indivisibilidade é convencional e o acordo 
tornará a coisa indivisa por prazo não superior a 5 anos, suscetível de 
prorrogação ulterior (art. 1320, §1º). Se a indivisão for estabelecida pelo doador 
ou testador, não poderá exceder de 5 anos (art. 1320, §2º).
OBS: A divisão dos bens indivisíveis (condomínio) – devemos ter em mira, no 
entanto, que uma coisa material ou legalmente indivisível pode ser dividida em 
partes ideais (pro indiviso), mantendo-se as partes em condomínio, sem 
ocorrer a decomposição.
Importância prática da distinção entre bens divisíveis e indivisíveis – os 
principais efeitos práticos da distinção são:
Direito das obrigações – as obrigações são divisíveis ou indivisíveis, conforme 
a natureza das prestações; cada caso dirá se a prestação pode ser fracionada 
(art. 259).
Condomínio – na extinção do condomínio, se divisível o bem, cada consorte 
receberá o seu quinhão, mas se indivisível, ante a recusa de os comunheiros 
adjudicarem o bem a um só deles, indenizando os demais, o bem será vendido 
e o preço repartido entre eles (art. 1322). Na venda, o condômino em coisa 
indivisível não poderá vender a sua parte sem dar direito de preferência aos 
demais condôminos (art. 504), obrigação que não persiste se a coisa for 
divisível.
Bens singulares e coletivos –
Bens singulares – são os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, 
independentemente dos demais (art. 89).
Bens coletivos – são os resultantes da união de diferentes objetos, em um só 
todo, sem que desapareça a condição particular de cada um. São chamados 
também de universais ou universalidades e abrangem as universalidades de 
fato e as universalidades de direito. Estas constituem um complexo de direitos 
ou relações jurídicas.
Universalidade de fato – é a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à 
mesma pessoa, tenham destinação unitária (ex.: rebanho, biblioteca, etc.) (art. 
90). Os bens que formam a universalidade de fato podem ser objeto de 
relações jurídicas próprias (art. 90, § único).
Universalidade de direito – é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, 
dotadas de valor econômico (ex.: herança, patrimônio, fundo de comércio, 
etc.).
Bens reciprocamente considerados – depois de haver classificado os bens 
considerando-os em si mesmos, muda o legislador de ponto de vista e os 
separa, tendo em conta a relação entre uns e outros. Sob esta ótica, podem 
ser:
Principal – é o bem que tem existência própria, que existe por si só, abstrata ou 
concretamente (ex.: solo – existe por si, concretamente, sem qualquer 
dependência; contratos de locação e compra e venda – existem por si só) (art. 
92).
Acessório – é aquele cuja existência depende do principal (ex.: árvore – é 
acessório porque sua existência supõe a do solo onde foi plantada; fiança e 
cláusula penal – são acessórios porque derivam, dependem de um contrato 
principal). Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se:
Produtos – são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a 
quantidade, porque não se reproduzem periodicamente (ex.: pedras que se 
extraem das pedreiras, minerais que se extraem das minas, etc.).
Frutos – são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e 
renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte (ex.: 
café, cereais, frutos das árvores, leite, crias dos animais, etc.). Dividem-se:
Quanto a origem:
Naturais – são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em 
virtude da força orgânica da própria natureza (ex.: frutas, leite, cria dos animais, 
etc.).
Industriais – são os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem 
em razão da atuação do homem sobre a natureza (ex.: produção de uma 
fábrica).
Civis – são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude de sua utilização 
por outrem que não o proprietário (ex.: juros, aluguéis, etc.).
Quanto ao estado:
Pendentes – consideram-se pendentes os frutos enquanto unidos à coisa que 
os produziu.
Percebidos ou colhidos – consideram-se percebidos ou colhidos os frutos 
depois de separados da coisa que os produziu. OBS: 1) Terminologia 
“percebido” e “colhido” – emprega-se o temo “percebido” para os frutos civis 
(ex.: juros aluguéis), ao passo que se utiliza o temo “colhido” para os frutos 
naturais (ex.: frutas, leite, cereais). 2) Momento em que se reputam colhidos ou 
percebidos os frutos – os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e 
percebidos tão logo sejam separados; os civis reputam-se percebidos dia a dia 
(art. 1215).
Estantes – são os frutos separados e armazenados ou acondicionados para 
venda.
Percipiendos – são os frutos que deviam ser mas não foram colhidos ou 
percebidos.
Consumidos – são os frutos que não existem mais porque foram utilizados.
Benfeitorias – são obras ou despesas feitas na coisa, para o fim de conservá-
la, melhorá-la ou embelezá-la. Portanto, são obras decorrentes da ação 
humana, excluindo-se da sua noção os acréscimos naturais ou cômodos, que 
se acrescem à coisa sem intervenção humana (art. 97). As benfeitorias podem 
ser:
Necessárias – são as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se 
deteriore (ex.: reparos na coluna de um edifício). Além disso, consideram-se 
necessárias as benfeitorias destinadas a permitir a normal exploração 
econômica do bem (ex.: adubação, esgotamento de pântanos, etc.).
Úteis – são as que aumentam ou facilitam o uso do bem (ex.: aumento de área 
de estacionamento em um edifício).
Voluptuárias – são as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso 
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor 
(ex.: substituição de um piso comum de um edifício por mármore).
OBS: 1) Necessidade de avaliação casuística para classificação – a 
classificação das benfeitorias em necessárias, úteis ou voluptuárias não tem 
caráter absoluto, dependendo de análise casuística, pois uma mesma 
benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo das 
circunstâncias (ex.: uma piscina pode ser considerada benfeitoria voluptuária 
numa casa residencial, mas útil
ou necessária numa escola de natação).
2) Benfeitorias x acessões industriais ou artificiais – as benfeitorias não se 
confundem com acessões industriais ou artificiais, previstas nos arts. 1253 a 
1259 e que constituem construções e plantações. Benfeitorias são obras ou 
despesas feitas em bem já existente. As acessões industriais são obras que 
criam coisas novas e têm regime jurídico diverso, sendo um dos modos de 
aquisição da propriedade imóvel.
Pertenças – o novo CC incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou 
seja, os bens móveis que, não constituindo partes integrantes (como o são os 
frutos, produtos e benfeitorias), estão afetados por forma duradoura ao serviço, 
uso ou ornamentação de outro (ex.: trator destinado a uma melhor exploração 
da propriedade agrícola, os objetos de decoração de uma residência, as 
máquinas utilizadas numa fábrica, etc.). Assim, as pertenças conservam a sua 
identidade e não se incorporam à coisa a que se juntam. OBS: 1) Pertença x 
parte integrante – pertença e parte integrante (frutos, produtos e benfeitorias) 
distinguem-se porque a pertença não completa a coisa, por isso a coisa 
principal não se altera com a sua separação. 2) Regime jurídico próprio da 
pertença – contrariamente ao que ocorre com as partes integrantes (frutos, 
produtos e benfeitorias), os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem 
principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da 
manifestação de vontade das partes ou das circunstâncias do caso concreto 
(art. 94).
OBS: 1) Regime jurídico dos frutos e produtos – dispõe o art. 95 que, apesar de 
ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto 
de negócio jurídico.
2) Exceções que não configuram acessórios – não se consideram bens 
acessórios: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-prima 
e a escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima que os 
recebe, considerando-se o maior valor do trabalho em relação ao do bem 
principal (art. 1270, §2º).
A regra segundo a qual o bem acessório segue o principal, aplicável somente 
às partes integrantes (frutos, produtos ou benfeitorias) – como a existência do 
acessório supõe a do principal, tem-se por conseqüência que o bem acessório 
segue o principal. Para que tal não ocorra, é necessário que tenha sido 
convencionado o contrário (ex.: venda de um veículo, convencionando-se a 
retirada de alguns acessórios), ou que de modo contrário estabeleça algum 
dispositivo legal (ex.: art. 1284, pelo qual os frutos pertencem ao dono do solo 
onde caíram e não ao dono da árvore). As principais conseqüências da regra 
são:
A natureza do acessório é a mesma do principal (ex: se o solo é imóvel, a 
árvore a ele anexada também o é).
O acessório acompanha o principal em seu destino (ex: se é extinta a 
obrigação principal, extingue-se também a acessória; mas o contrário não é 
verdadeiro).
O proprietário do principal, salvo exceção legal ou convencional, é proprietário 
do acessório (como corolário da acessoriedade, presume-se que o proprietário 
do principal seja também dono do acessório, embora essa presunção admita 
prova em contrário – ex: art. 1232)
Bens quanto ao titular do domínio – podem ser:
Bens públicos – são os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito 
público interno (art. 98). Os bens públicos podem ser classificados segundo a 
sua destinação, da seguinte forma:
Bens de uso comum do povo – são os que podem ser utilizados por qualquer 
um do povo, sem formalidades (ex.: rios, mares, estradas, ruas, praças, etc.). 
Não perdem essa característica se o Poder Público regulamentar o seu uso, ou 
torná-lo oneroso (ex.: instituição de pedágio nas rodovias) (art. 103). A 
Administração pode também restringir ou vedar o seu uso, em razão da 
segurança nacional ou de interesse público (ex.:interdição de rodovia, proibição 
de trânsito em determinado local, etc.). O povo somente tem o direito de usar 
tais bens, mas não tem o seu domínio. O domínio pertence à pessoa jurídica 
de direito público. Mas é um domínio com características especiais, que lhe 
confere a guarda, administração e fiscalização dos referidos bens, podendo 
ainda reivindicá-los. Segundo alguns autores, não haveria propriamente um 
direito de propriedade, mas um poder de gestão.
Bens de uso especial – são os que se destinam especialmente à execução dos 
serviços públicos (ex.: edifícios em que se encontram instaladas as repartições 
públicas, escolas, secretarias, ministérios, etc.). São utilizados exclusivamente 
pelo Poder Público. Assim, distinguem-se dos bens de uso comum do povo 
porque o Poder Público não tem apenas a titularidade, mas também a sua 
utilização. Seu uso pelos particulares é regulamentado, e a Administração tanto 
pode permitir que os interessados ingressem em suas dependências, como 
proibir.
Bens dominicais – são os que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas 
de direito público, como objeto de direito pessoal ou real de cada uma dessas 
entidades (art. 99, III). Sobre eles o Poder Público exerce poderes de 
proprietário (ex.: terras devolutas, estradas de ferro, oficinas e fazendas 
pertencentes ao Estado, etc.). Se nenhuma lei houvesse estabelecido normas 
especiais sobre esta categoria de bens, seu regime jurídico seria o mesmo que 
decorre do CC para os bens pertencentes aos particulares, pois enquanto os 
bens de uso comum e de uso especial são bens do domínio público do Estado, 
os dominicais são do domínio privado do Estado. OBS: Art. 99, § único – não 
dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às 
pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito 
privado.
OBS: 1) Característica dos bens de uso comum do povo e dos bens de uso 
especial – inalienabilidade – os bens de uso comum do povo e os de uso 
especial apresentam a característica da inalienabilidade e, como conseqüência 
desta, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de 
oneração. Mas a inalienabilidade não é absoluta, a não ser com relação 
àqueles bens que, por sua própria natureza, são insuscetíveis de valoração 
patrimonial, como os mares, as praias, os rios, etc. Os suscetíveis de valoração 
patrimonial podem perder a inalienabilidade que lhes é peculiar pela 
desafetação (na forma que a lei determinar – art. 100)
2) Característica dos bens dominicais – alienabilidade – os bens dominicais, 
por sua vez, não estado afetados a finalidade pública específica, podem ser 
alienados por meio de institutos de direito privado ou de direito público, 
observadas as exigências da lei (art. 101). Contudo, a alienabilidade não é 
absoluta, porque podem perdê-la pelo instituto da afetação (ato ou fato pelo 
qual um bem passa da categoria de bem do domínio privado do Estado para a 
categoria de bem do domínio público).
3) Impossibilidade de se usucapir qualquer espécie de bem público – nenhum 
bem público, nem mesmo o dominical, está sujeito a usucapião (art. 102 e 
Súmula 340 STF).
Bens particulares – são definidos por exclusão pelo art. 98: “todos os outros 
são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”.
Bens quanto a possibilidade de serem ou não comercializados – embora o 
novo CC não tenha dedicado um capítulo aos bens que estão fora do comércio, 
como o fizera o CC 1916 no seu art. 69, encontram-se nessa situação:
Bens naturalmente indisponíveis – são aqueles insuscetíveis de apropriação 
pelo homem (ex.: a totalidade do ar atmosférico, as águas dos mares, o sol, 
etc.).
Bens legalmente indisponíveis – são aqueles que normalmente poderiam ser 
alienados, mas a lei proíbe (ex.: bens públicos de uso comum do povo, os bens 
públicos de uso especial, os bens de incapazes, etc.). Além destes, incluem-se 
na categoria de legalmente indisponíveis os direitos de personalidade, 
preservados em respeito à dignidade humana, como
a liberdade, a honra, a 
vida, etc (art. 11), bem como os órgãos do corpo humano, cuja comercialização 
é expressamente vedada pela CF (art. 199, §4º).
Bens indisponíveis pela vontade humana – são aqueles bens aos quais se 
apõe a cláusula de inalienabilidade, em virtude de doações ou testamentos. 
Ninguém pode gravar os próprios bens; só nos atos de disposição 
mencionados (doação e testamento) o interessado poderá gravá-los. Prescreve 
o art. 1911 que a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de 
liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade (vide também 
Súmula 49 STF). OBS: 1) Limite temporal da cláusula de inalienabilidade –
essa cláusula tem como limite temporal a vida do herdeiro ou do donatário; não 
pode ultrapassar esse lapso, mas pode ser fixada para tempo menor. 2) 
Exigência de justa causa para estabelecimento de cláusula de inalienabilidade 
sobre a legítima – é uma novidade do novo CC e tem como objetivo evitar 
abusos, exigindo que o testador decline expressamente a justa causa para a 
decisão de gravar os bens com a cláusula de inalienabilidade (art. 1848). 3) 
Exceções em que não é respeitada a cláusula de inalienabilidade – a alienação 
dos bens gravados com cláusula de inalienabilidade só é admitida nos casos 
de desapropriação, hipótese em que o quantum da indenização fica sub-rogado 
na cláusula até que os interessados adquiram novo bem que ficará clausulado; 
no caso de execução de dívidas referentes ao próprio bem (ex.: tributárias, 
condomínio, etc.), hipótese em que, se houver saldo na alienação judicial, este 
ficará sub-rogado na cláusula; e, finalmente, mediante autorização judicial e 
havendo justa causa, podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se 
o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados no ônus da inalienabilidade 
(art. 1848, §1º e 1911, § único).
OBS: Bem de família – não mais consta da Parte Geral, como constava do CC 
1916. Agora, no novo CC, é tratado no Livro IV, Do Direito de Família, arts. 
1711 a 1722 (ver Venosa, vol. I, pg. 345 a 364).
6 DOS FATOS JURÍDICOS
Conceito – fato jurídico é todo acontecimento da vida relevante para o direito, 
mesmo que seja ilícito. Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser 
classificados em:
Fatos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito) – são os fatos que decorrem 
da natureza. Dividem-se em:
Ordinários – nascimento, morte, maioridade, decurso do tempo, etc.
Extraordinários – terremoto, raio, tempestade e outros fatos que se enquadram 
na categoria do fortuito ou força maior.
Fatos humanos (atos jurídicos em sentido amplo) – são os fatos que decorrem 
da atividade humana. Assim, são as ações humanas que criam, modificam, 
transferem ou extinguem direitos, dividindo-se em:
Lícitos – são os atos humanos a que a lei defere os efeitos almejados pelo 
agente. Praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, produzem 
efeitos jurídicos voluntários, queridos pelo agente. Dividem-se em:
Ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito – no ato jurídico em sentido 
estrito, o efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei, não 
havendo, por isso, qualquer dose de escolha da categoria jurídica (ex.: 
notificação que constitui em mora o devedor, reconhecimento de filho, tradição, 
percepção de frutos, uso de algum bem, etc.). Assim, com a prática do ato 
jurídico em sentido estrito não se cria nada de novo, apenas se obtém o efeito 
que já está previsto em lei. É sempre unilateral porque se aperfeiçoa com uma 
única manifestação de vontade. De modo geral, no ato jurídico o destinatário 
da manifestação da vontade a ela não adere, como na notificação, por 
exemplo. Às vezes, nem existe destinatário, como na transferência de 
domicílio. É, também, potestativo porque permite que o agente interfira na 
esfera jurídica de outra pessoa sem que esta possa impedir. A ação humana se 
baseia não numa vontade qualificada, mas em simples intenção (ex.: alguém 
fisga um peixe, dele se tornando proprietário graças ao instituto da ocupação –
o ato material dessa captura não demanda a vontade qualificada que se exige 
para a formação de um contrato). Por esta razão, nem todos os princípios do 
negócio jurídico, como os vícios do consentimento e as regras sobre nulidade e 
anulabilidade, aplicam-se aos atos jurídicos em sentido estrito. Dessa forma, 
um garoto de sete anos de idade torna-se proprietário dos peixes que pesca, 
pois a incapacidade, no caso, não acarreta nulidade ou anulação, ao contrário 
do que sucederia se essa mesma pessoa celebrasse um contrato de compra e 
venda. Isto porque, na hipótese de ocupação, a vontade exigida pela lei não é 
a vontade qualificada, necessária para a realização do contrato; basta simples 
intenção de tornar-se proprietário da res nullius, que é o peixe, e essa intenção 
podem tê-la todos os que possuem consciência dos atos que praticam. 
Verifica-se, assim, que o ato jurídico é menos rico de conteúdo e pobre na 
criação de efeitos. Não constitui exercício da autonomia privada e a sua 
satisfação somente se concretiza pelos modos determinados na lei.
Negócio jurídico – no negócio jurídico, a ação humana visa diretamente a 
alcançar um fim prático permitido na lei (ex.: compra e venda de um bem), 
dentre a multiplicidade de efeitos possíveis, ou seja, permite a criação de 
situações jurídicas novas. Por essa razão, é necessária uma vontade 
qualificada, sem vícios. Fundamentalmente, o negócio jurídico consiste na 
manifestação de vontade que busca produzir determinado efeito jurídico 
permitido pela lei. Em regra, é bilateral, mas há exceções, isto é, negócios 
jurídicos unilaterais, que se aperfeiçoam com uma única manifestação de 
vontade e permitem a obtenção de múltiplos efeitos (ex.: testamento, instituição 
de fundação, renúncia de herança, etc. A doação não é unilateral, mas sim 
bilateral, pois depende da aceitação do donatário). No negócio jurídico há uma 
composição de interesses, um regramento geralmente bilateral de condutas, 
como ocorre na celebração de contratos. A manifestação da vontade tem 
finalidade negocial, que em geral é criar, adquirir, transferir, modificar, extinguir 
direitos, etc.
Ato-fato jurídico ou fato jurídico em sentido estrito – ao contrário do que ocorre 
nos dois primeiros (ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico), em que 
se exige uma manifestação de vontade, no ato-fato jurídico não se leva em 
consideração a vontade do agente. O ato-fato jurídico é um fato jurídico 
qualificado pela ação humana. Nesse caso, é irrelevante para o direito se a 
pessoa teve ou não a intenção de praticá-lo. O que se leva em conta é o efeito 
resultante do ato que pode ter repercussão jurídica. Muitas vezes o efeito do 
ato não é buscado nem imaginado pelo agente, mas decorre de uma conduta e 
é sancionado pela lei, como a pessoa que acha casualmente um tesouro. A 
conduta do agente não tinha por fim imediato adquirir-lhe a metade, mas tal 
acaba ocorrendo por força do disposto no art. 1264, ainda que se trate de um 
louco. É que há certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem levar 
em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente, 
demandando apenas o ato material de achar. Assim, o louco, pelo simples 
achado do tesouro, torna-se proprietário de parte dele. Essas ações são 
denominadas pela doutrina atos-fatos jurídicos ou fatos jurídicos em sentido 
estrito. No ato-fato jurídico ressalta-se a conseqüência do ato, o fato resultante, 
sem se levar em conta a vontade praticá-lo.
Ilícitos – os ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito no 
ordenamento jurídico, repercutem na esfera do direito, produzindo efeitos 
jurídicos involuntários, impostos por esse ordenamento. Em vez de direitos, 
geram obrigações (ex.: obrigação de reparar o dano – art. 927). Logo, 
modernamente, admite-se que integrem a categoria dos atos jurídicos pelos 
efeitos
que produzem.
OBS: Os atos jurídicos e os negócios jurídicos no novo CC – o novo CC 
substituiu a expressão genérica “ato jurídico”, que se encontrava no CC 1916, 
pela designação específica “negócio jurídico”, porque somente este é rico em 
conteúdo e justifica uma pormenorizada regulamentação, aplicando-se-lhes os 
preceitos constantes do Livro III. E, com relação aos atos jurídicos lícitos que 
não sejam negócios jurídicos, abriu-lhes um título, com artigo único (Título II, 
art. 185), em que se determina que se lhes apliquem, no que couber, as 
disposições disciplinadoras do negócio jurídico.
O negócio jurídico –
Elementos –
Essenciais – alguns elementos do negócio jurídico podem ser chamados de 
essenciais porque constituem requisitos de existência e de validade do negócio 
jurídico, a saber:
Requisitos de existência – são os elementos estruturais do negócio jurídico, 
não havendo uniformidade na sua enumeração pela doutrina. Faltando 
qualquer deles, o negócio não existe. São eles:
Manifestação de vontade – a vontade é pressuposto básico do negócio jurídico 
e é imprescindível que se exteriorize. A manifestação da vontade pode ser:
Expressa – é a palavra escrita ou falada, gestos, mímica, etc.
Tácita – é a que se infere da conduta do agente.
OBS: 1) Manifestação de vontade nos contratos – nos contratos, a 
manifestação de vontade pode ser tácita, quando a lei não exigir que seja 
expressa.
2) Silêncio – dispõe o art. 111 que “o silêncio importa anuência, quando as 
circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de 
vontade expressa”. Portanto, o silêncio pode ser interpretado como 
manifestação tácita da vontade quando a lei der a ele tal efeito (ex.: doação 
pura – art. 539, mandato – art. 659), ou quando tal efeito ficar convencionado 
em contrato, ou ainda, resultar dos usos e costumes (art. 432).
3) Reserva mental – prescreve o art. 110 que “a manifestação de vontade 
subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que 
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. Ocorre a reserva 
mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é, 
quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo 
enganar o outro contratante ou declaratário. Se este, entretanto, não soube da 
reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o declarante não desejava. A 
reserva, isto é, o que se passa na mente do declarante é indiferente ao mundo 
jurídico e irrelevante no que se refere à validade e eficácia do negócio jurídico. 
Se o declaratário conhece a reserva, a solução é outra. No sistema do atual 
CC, configura-se hipótese de ausência de vontade, considerando-se 
inexistente o negócio jurídico.
4) Princípio da Autonomia da Vontade – pelo tradicional Princípio da Autonomia 
da Vontade, as pessoas têm liberdade de, em conformidade com a lei, celebrar 
negócios jurídicos, criando direitos e contraindo obrigações. Esse princípio 
sofre algumas limitações pelo Princípio da Supremacia da Ordem Pública, pois 
muitas vezes, em nome da ordem pública e do interesse social, o Estado 
interfere nas manifestações de vontade, especialmente para evitar a opressão 
dos economicamente mais fortes sobre os mais fracos. Em nome desse 
princípio surgiram diversas leis: Lei do Inquilinato, Lei da Economia Popular, 
CDC, etc.
5) Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos (pacta sunt servanda) – a 
vontade, uma vez manifestada, obriga o contratante. Esse princípio é o da 
obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda) e significa que o contrato 
faz lei entre as partes, não podendo ser modificado pelo Judiciário. Destina-se, 
também, a dar segurança aos negócios em geral. Opõe-se a ele o Princípio da 
Revisão dos Contratos ou da Onerosidade Excessiva, baseado na cláusula 
rebus sic stantibus e na teoria da imprevisão, e que autoriza o recurso ao 
Judiciário para se pleitear a revisão dos contratos, ante a ocorrência de fatos 
extraordinários e imprevisíveis.
Finalidade negocial – a finalidade negocial ou jurídica é a vontade de criar, 
conservar, modificar ou extinguir direitos. Sem essa intenção, a manifestação 
de vontade pode desencadear determinado efeito, preestabelecido no 
ordenamento jurídico, praticando o agente, então, um ato jurídico em sentido 
estrito e não um negócio jurídico. Com efeito, a existência do negócio jurídico 
depende da manifestação de vontade com finalidade negocial, isto é, com a 
finalidade de produzir os efeitos jurídicos mencionados.
Idoneidade do objeto – a idoneidade do objeto é necessária para a realização 
do negócio que se tem em vista. Assim, se a intenção é celebrar um contrato 
de mútuo, a manifestação de vontade deve recair sobre coisa fungível. No 
comodato, o objeto deve ser coisa infungível. Para a constituição de uma 
hipoteca, é necessário que o bem dado em garantia seja imóvel, navio ou 
avião, pois os demais bens são inidôneos para a celebração de tal negócio.
Requisitos de validade – são os requisitos para que o negócio jurídico seja 
válido. Os requisitos de validade podem ser de caráter geral ou específico:
Requisitos de validade de caráter geral – são aqueles comuns a todo e 
qualquer negócio jurídico. Sem qualquer destes requisitos, o negócio jurídico 
não é válido, independentemente de qual seja o negócio. São eles (art. 104, I a 
III):
Capacidade do agente (condição subjetiva) – a capacidade do agente é a 
aptidão para intervir em negócios jurídicos como declarante ou declaratário. A 
capacidade aqui é a de fato ou de exercício de direito, necessária para a 
prática dos atos da vida civil. Esta incapacidade é suprida pelos meios legais: a 
representação e a assistência (art. 1634, V). Os absolutamente incapazes não 
participam do ato, sendo representados pelos pais, tutores ou curadores. Já os 
relativamente incapazes participa, do ato, junto com os referidos 
representantes, que assim os assistem.
OBS: Incapacidade x falta de legitimação – a incapacidade não se confunde 
com a falta de legitimação. Enquanto aquela é a inaptidão para exercer os atos 
da vida civil, a falta de legitimação é a incapacidade para a prática de 
determinados atos. O ascendente não estará legitimado a vender bens a um 
descendente enquanto não obtiver o consentimento do seu cônjuge e dos 
demais descendentes (art. 496), embora não seja um incapaz, genericamente, 
para realizar negócios jurídicos. A proibição imposta ao tutor de adquirir bens 
do pupilo, mesmo em hasta pública, cria um impedimento ou falta de 
legitimação que não importa em incapacidade genérica.
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável –
Objeto lícito – a validade do negócio jurídico requer, ainda, objeto lícito, que é 
aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Quando o 
objeto do contrato é imoral, os tribunais por vezes aplicam o princípio de direito 
de que ninguém pode valer-se da própria torpeza, também aplicado pelo 
legislador, por exemplo, no art. 150, que reprime o dolo ou torpeza bilateral.
Objeto possível – o objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o 
negócio é nulo. A impossibilidade do objeto pode ser:
Impossibilidade física – é a que emana de leis físicas ou naturais. Deve ser 
absoluta, isto é, atingir a todos, indistintamente. A impossibilidade relativa, que 
atinge o devedor mas não outras pessoas não constitui obstáculo ao negócio 
jurídico (art. 106).
Impossibilidade jurídica – a impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o 
ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de 
determinado bem (ex.: herança de pessoa viva – art. 426, alguns bens fora do 
comércio, etc.).
Objeto determinado ou determinável – o objeto do negócio jurídico deve ser, 
também, determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou 
suscetível de determinação no momento da execução). Admite-se, assim, a 
venda de
coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade (art. 
243), que será determinada pela escolha; bem como a venda alternativa, cuja 
indeterminação cessa com a concentração (art. 252).
Forma prescrita ou não defesa em lei – o terceiro requisito de validade do 
negócio jurídico é a forma, que deve ser prescrita ou não defesa em lei. Em 
regra, a forma é livre (art. 107). As partes podem celebrar o contrato por escrito 
público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para 
dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou 
particular. É nulo o negócio jurídico quando não revestir a forma prescrita em 
lei ou for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua 
validade (art. 166, IV e V). Em alguns casos, a lei reclama também a 
publicidade, mediante o sistema de Registros Públicos (art. 221). Podem ser 
distinguidas as seguintes espécies de formas:
Forma livre, especial e contratual:
Forma livre – é a predominante no direito brasileiro. É qualquer meio de 
manifestação da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (palavra 
escrita ou falada, escrito público ou particular, gestos, mímicas, etc.).
Forma especial ou solene – é a exigida pela lei, como requisito de validade de 
determinados negócios jurídicos. Em regra, a exigência de que o ato seja 
praticado com observância de determinada solenidade tem por finalidade 
assegurar a autenticidade dos negócios e garantir a livre manifestação da 
vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua prova. A forma 
especial ou solene pode ser:
Forma única – é a que, por lei, não pode ser substituída por outra (ex.: art. 108, 
que considera a escritura pública essencial à validade das alienações 
imobiliárias, não dispondo a lei em contrário; art. 1964, que autoriza a 
deserdação somente por meio de testamento; os arts. 1535 e 1536, que 
estabelecem formalidades para o casamento, etc.).
Forma múltipla ou plural – diz-se quando o ato é solene mas a lei permite a 
formalização do negócio por diversos modos, podendo o interessado optar 
validamente por qualquer um deles (ex.: art. 1609 – o reconhecimento 
voluntário dos filhos, que pode ser feito de quatro modos; art. 842 – a 
transação, que pode efetuar-se por termo nos autos ou escritura pública; art. 62 
– a instituição de uma fundação, que pode ocorrer por escritura pública ou por 
testamento; art. 1806 – a renúncia da herança, que pode ser feita por escritura 
pública ou termo judicial; etc).
Forma contratual – é a convencionada pelas partes. O art. 109 dispõe que, no 
“negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento 
público, este é da substância do ato”. Os contratantes podem, portanto, 
mediante convenção, determinar que o instrumento público torne-se necessário 
para a validade do negócio.
Forma “ad solemnitatem” e “ad probationem tantum”:
Ad solemnitatem – diz-se que a forma é ad solemnitatem quando é da 
substância do ato, indispensável para que a vontade produza efeitos (ex.: art. 
108 – escritura pública na alienação de imóveis, art. 1609 – modos de 
reconhecimento de filhos; etc.).
Ad probationem tantum – diz-se que a forma é ad probationem tantum quando 
destina-se a facilitar a prova do ato. Exemplo clássico é a lavratura do assento 
de casamento no livro de registro (art. 1536), pois destina-se a facilitar a prova 
do casamento, embora não seja essencial à sua validade.
Requisitos de validade de caráter específico – são aqueles pertinentes a 
determinado negócio jurídico específico (ex.: na compra e venda, são 
elementos essenciais a coisa, o preço e o consentimento).
Acidentais – outros elementos são chamados de acidentais porque não 
exigidos pela lei, mas introduzidos pela vontade das partes. Assim, além dos 
elementos essenciais, que constituem requisitos de existência e validade do 
negócio jurídico, pode este conter outros elementos meramente acidentais, 
introduzidos facultativamente pela vontade das partes, não necessários à 
essência do negócio. Uma vez convencionados, passam porém a integrá-lo, de 
forma indissociável, constituindo requisitos de eficácia do negócio. São eles (a 
enumeração não é taxativa, porque muitos outros elementos acessórios podem 
ser apostos ao negócio jurídico, segundo a conveniência das partes e 
necessidade do mundo jurídico):
Condição – é a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, 
subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto (art. 121). OBS: 
Importância da expressão “derivando exclusivamente da vontade das partes” –
a expressão “derivando exclusivamente da vontade das partes” afasta do 
terreno das condições em sentido técnico as condições impostas pela lei. Não
foi repetido no novo CC o art. 117 do CC 1916, que dispunha que “não se 
considera condição a cláusula que não derive, exclusivamente, da vontade das 
partes, mas decorra, necessariamente, da natureza do direito a que acede”. 
Enfatizava o dispositivo que a condição deve derivar da vontade das partes. 
Como vimos, este aspecto foi incluído na própria definição de condição no novo 
CC (art. 121). A condição deve ser proposta por um dos contraentes e aceita 
pelo outro. É esse justamente o sentido (Clóvis Beviláqua tece o seguinte 
exemplo: alugo uma casa se o locador me garantir o seu uso pacífico, durante 
o tempo do contrato – aqui, não se trata de condição, mas de obrigação 
inerente ao contrato de locação).
Requisitos – são requisitos da condição:
Futuridade – não se considera condição o fato passado ou presente, mas 
somente o futuro.
Incerteza – o evento a que se subordina o negócio deve ser incerto. Se for 
certo, como a morte por exemplo, não haverá condição, mas sim termo.
Espécies – há várias espécies de condições que podem ser classificadas:
Quanto à licitude:
Lícitas – dispõe o art. 122 que são lícitas, em geral, todas as condições não 
contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes.
Ilícitas – a contrario sensu, serão ilícitas todas as que atentarem contra 
proibição expressa ou implícita do ordenamento jurídico, a moral ou os bons 
costumes (vide tópico acerca de condições ilícitas abaixo).
Quanto à possibilidade:
Possíveis – são as que podem ser cumpridas.
Impossíveis – estas podem ser:
Fisicamente impossíveis – são as que não podem ser cumpridas por nenhum 
ser humano (ex.: colocar toda a água de um oceano num copo). Não se 
consideram fisicamente impossíveis se a impossibilidade não atingir a toda e 
qualquer pessoa, indistintamente.
Juridicamente impossíveis – é a que esbarra em proibição expressa do 
ordenamento jurídico, ou fere a moral e os bons costumes (ex.: adotar pessoa 
da mesma idade, realizar negócio que tenha por objeto herança de pessoa 
viva, etc.).
Quanto à fonte de onde promanam:
Causais – são as que dependem do acaso, do fortuito, de fato alheio à vontade 
das partes (ex.: dar-te-ei tal quantia se chover amanhã).
Potestativas – são as que decorrem da vontade de uma das partes. Podem 
ser:
Puramente potestativas – são as que sujeitam todo o efeito do ato ao puro 
arbítrio de uma das partes, sem a influência de qualquer fato externo (ex.: se 
eu quiser, se eu entender conveniente, se eu assim decidir, etc.). É uma 
condição ilícita (art. 122).
Simplesmente potestativas – dependem não só da manifestação de vontade de 
uma das partes como também de algum acontecimento ou circunstância 
exterior que escapa ao seu controle (ex.: se eu viajar a tal lugar, se eu vender a 
minha casa, etc.). Estas condições não são consideradas ilícitas.
Mistas – são as condições que dependem simultaneamente da vontade de uma 
das partes e da vontade de um terceiro (ex.: dar-te-ei tal quantia se casares 
com fulano, se constituíres sociedade com beltrano, se for eleito deputado, 
etc.).
Quanto ao modo de atuação:
Suspensiva – impede que o ato produza efeitos até a realização do evento 
futuro
e incerto (ex.: dar-te-ei tal bem se lograres tal feito). Assim, não se terá 
adquirido o direito enquanto não se verificar a condição suspensiva (art. 125). 
O titular tem apenas situação jurídica condicional, mera expectativa de direito. 
Verificada a condição suspensiva, o direito é adquirido. OBS: 1) Princípio da 
Retroatividade das Condições – a retroatividade ou irretroatividade das 
condições é um tema bastante controvertido na doutrina. Prescreve o art. 126 
que “se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente 
esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a 
condição, se com ela forem incompatíveis” (ex.: doação sob condição
suspensiva e posterior oferecimento do bem em penhor a terceiro pelo 
donatário – realizada a condição, extingue-se o penhor). Assim, com o 
implemento da condição, os seus efeitos retroagem à data do negócio, 
maculando todo o negócio jurídico posterior que seja incompatível com a 
condição. Este princípio vem reafirmado no art. 1359: “resolvida a propriedade 
pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também 
resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em 
cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a 
possua ou detenha”. Quem adquire domínio resolúvel está assumindo um 
risco, não podendo alegar prejuízo se advier a resolução. Em regra, extinguem-
se os direitos constituídos pendente conditione, valendo apenas os atos de 
administração, bem como os de percepção de frutos (art. 1214 e s.). A 
retroatividade da condição suspensiva não é aplicável, contudo, aos direitos 
reais, uma vez que só há transferência do domínio após a entrega do objeto 
sobre o qual versam ou após o registro da escritura. Na verdade, vê-se que os 
efeitos das condições são relativamente retroativos, pois respeitam todos os 
atos de gestão feitos na pendência da cláusula que não interfiram no 
cumprimento da prestação dele decorrente, e invalidam, por outro lado, todos 
os atos de disposição que sejam incompatíveis com o cumprimento da 
obrigação, uma vez implementada a condição. 2) Transmissibilidade da 
condição e impossibilidade de resilição/retratação – vale lembrar que o ato sob 
condição suspensiva está formado, perfeito. Já não podem as partes retratar-
se, porque o vínculo derivado da manifestação de vontade está estabelecido. 
Desse modo, o direito condicional, desde que o negócio jurídico não seja intuitu 
personae, é transmissível, inter vivos e causa mortis, mas é transmissível com 
a característica de direito condicional, pois ninguém pode transferir mais 
direitos do que tem.
Resolutiva – é a que extingue, resolve o direito transmitido pelo negócio, 
ocorrido o evento futuro e incerto (ex.: o beneficiário da doação, depois de 
recebido o bem, casa-se com a pessoa que o doador proibira, tendo este 
conferido ao eventual casamento o caráter de condição resolutiva). Em outras 
palavras, é a condição cujo implemento faz cessar os efeitos do ato ou negócio 
jurídico. Logo, até que seja implementada a condição, vigorará o negócio 
jurídico, podendo exercer-se desde o momento deste o direito por ele 
estabelecido (art. 127). OBS: 1) Condição resolutiva e negócio jurídico de 
execução continuada ou periódica – o art. 128 deixa claro que, o implemento 
da condição resolutiva, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto 
aos atos já praticados, que se reputam válidos para todos os fins e efeitos de 
direito, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e 
conforme os ditames da boa-fé. 2) A “cláusula resolutiva tácita” – a condição 
resolutiva pode ser expressa ou tácita. O atual CC suprimiu a referência que o 
§ único do art. 119 do CC 1916 fazia à condição resolutiva tácita, por não se 
tratar propriamente de condição em sentido técnico, considerando-se que esta 
só se configura se aposta ao negócio jurídico. E a denominada condição 
resolutiva expressa – que é, juridicamente, condição – opera, como qualquer 
outra condição em sentido técnico, de pleno direito. No entanto, em qualquer 
caso, a resolução precisa ser judicialmente pronunciada (em sentido contrário, 
Venosa sustenta que se houver cláusula resolutiva expressa, não há 
necessidade de pronunciamento judicial para a resolução do contrato, 
tampouco notificação ou interpelação). A regra do CC 1916, contudo, foi 
repetida pelo art. 475, pelo qual em todos os contratos bilaterais ou 
sinalagmáticos presume-se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, que 
não é propriamente condição e depende de interpelação, sendo denominada 
conditiones juris.
OBS: Possibilidade do titular do direito sob condição suspensiva ou resolutiva 
praticar atos destinados a conservar o seu direito – o CC estatui em seu art. 
130 que “ao titular do direito eventual, no caso de condição suspensiva ou 
resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo”. Nessa 
hipótese, pode o titular desse direito, sob condição suspensiva geralmente mas 
também sob condição resolutiva, lançar mão das medidas processuais 
necessárias para fazer valê-lo no futuro. No caso de medida cautelar, parece 
que nesta hipótese, o prazo de 30 dias para a propositura da ação principal 
deve ser sobrestado até o implemento da condição, ou melhor, até 30 dias 
após o implemento da condição ou sua frustração.
Quanto ao estado:
Pendente – a condição encontra-se pendente enquanto não se verifica o 
evento futuro e incerto.
Implementada – diz-se implementada a condição quando se verifica a 
ocorrência do evento futuro e incerto, isto é, quando o evento efetivamente 
ocorre.
Frustrada – diz-se frustrada a condição quando não se verifica a ocorrência do 
evento futuro e incerto, ou seja, quando o evento definitivamente não tem mais 
a possibilidade de ocorrer.
Condições que invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados e 
condições que se reputam não escritas –
Condições que invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados – se 
pactuada qualquer das condições abaixo, tanto a condição como o negócio 
jurídico serão nulos:
Condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas –
consideram-se impossíveis as condições que violam as leis naturais ou o 
direito expresso. No primeiro caso, dizem-se fisicamente impossíveis; no 
segundo, juridicamente impossíveis. Estas, quando suspensivas, são inválidas, 
assim como os negócios jurídicos que lhes são subordinados.
Condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita – o CC considera ilícitas as seguintes 
condições (art. 122), tornando-as inválidas e anulando também o negócio 
jurídico a que são subordinadas (art. 123, II):
Condições contrárias ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes -
serão ilícitas todas as que atentarem contra proibição expressa ou implícita do 
ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes (ex.: cláusula que obriga 
alguém a mudar de religião, por contrariar a liberdade de credo assegurada 
pela CF; cláusula que obriga alguém a entregar-se à prostituição, etc.). Em 
geral, as cláusulas que afetam a liberdade das pessoas só são consideradas 
ilícitas quando absolutas, como a que proíbe o casamento ou exige a 
conservação do estado de viuvez. Sendo relativas, como a de se casar ou de 
não se casar com determinada pessoa, não se reputam proibidas.
Condições perplexas - são as que privam de todo efeito o negócio jurídico. 
Neste caso, há uma impossibilidade lógica.
Condições puramente potestativas - diz-se potestativa a condição quando a 
realização do fato, de que depende a relação jurídica, subordina-se à vontade 
de uma das partes, que pode provocar ou impedir a sua ocorrência. Nem todas 
as condições potestativas são ilícitas. Só o são as puramente potestativas, isto 
é, aquelas em que a eficácia do negócio fica ao inteiro arbítrio de uma das 
partes sem a interferência de qualquer fator
externo; é a cláusula si voluero, ou 
seja, se me aprouver. As condições simplesmente potestativas diferem das 
acima mencionadas porque, embora sujeitas à manifestação de vontade de 
uma das partes, dependem, por igual, de algum acontecimento que escapa à 
sua alçada.
Condições incompreensíveis ou contraditórias condições incompreensíveis são 
aquelas cujo teor não se pode compreender, ao passo que contraditórias são 
aquelas que trazem alguma incompatibilidade lógica em seu texto.
Condições que se reputam não escritas – as condições abaixo enumeradas, 
sempre que pactuadas, se reputarão não escritas, mantendo-se, contudo, a 
validade e eficácia do negócio jurídico a elas subordinado. Assim, somente as 
condições ficam prejudicadas. São elas:
Condições impossíveis, quando resolutivas – reputam-se não escritas porque, 
na hipótese, sendo impossíveis, jamais se implementarão e, portanto, o 
negócio jurídico em vigor jamais será resolvido, permanecendo válido e eficaz.
Condições que imponham a obrigação de não fazer coisa impossível – sendo 
impossível, é óbvio que jamais será feito, de forma que tal condição é 
totalmente inócua, razão pela qual se reputa não escrita.
Implemento ou não-implemento das condições por malícia do interessado – de 
conformidade com o art. 129 CC, reputa-se verificada, quanto aos efeitos 
jurídicos, a condição, cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte, a 
quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição 
maliciosamente levada por aquele a quem aproveita o seu implemento”. O CC 
pune, em ambas as situações, que, impede e quem força, respectivamente, a 
realização do evento em proveito próprio (ex.: condição de pagar somente se 
as ações de determinada empresa alcançarem certo valor e posterior 
manipulação na Bolsa de Valores, pelo interessado, para evitar que o valor 
estipulado se verifique). A malícia, ou seja, o dolo, é requisito expressamente 
exigido pelo art. 129 para verificação da hipótese, não bastando, pois, por 
vontade do legislador, simples culpa (no caso de culpa, tem-se a condição por 
verificada ou não, conforme o caso, mas nem por isso deixa de ser aplicável a 
regra da responsabilidade decorrente da violação das obrigações, 
responsabilidade que se traduz no dever de ressarcimento das perdas e danos 
causados, não se aplicando o art. 129, que exige o dolo). Presentes os 
pressupostos do dispositivo, o dano é ressarcido de modo específico, 
considerando-se verificada a condição obstada e não verificada aquela cujo 
implemento foi maliciosamente causado pela parte interessada. Entretanto, a 
execução específica da avença não impede que a parte prejudicada pela 
malícia pleiteie perdas e danos se ocorrerem os requisitos.
OBS: 1) Condição imprópria ou condição legal – é um pressuposto do negócio 
jurídico, exigido pela lei, sendo impropriamente chamado de condição (ex.: 
exigência de escritura pública na alienação de imóvel).
2) Negócios jurídicos que não admitem condição – geralmente, todos os atos 
com conteúdo econômico permitem a pactuação de condição. Há, contudo, 
certos negócios jurídicos que não a admitem. São exemplos os direitos de 
família puros e os direitos personalíssimos.
Termo – é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. 
É sempre um evento futuro e certo. O termo pode ser
Termo certo e termo incerto –
Termo certo – quando se reporta a determinada data certa do calendário ou a 
determinado lapso de tempo
Termo incerto – é o termo que, embora certo quando a sua ocorrência (por isso 
não é uma condição), é incerto quanto a sua data (ex.: morte – a morte é uma 
certeza, mas a data não).
Termo inicial ou suspensivo (dies a quo) e termo final ou resolutivo (dies ad 
quem):
Termo inicial ou suspensivo (dies a quo) – é aquele a partir do qual se pode 
exercer o direito.
Termo final ou resolutivo (dies ad quem) – é aquele no qual termina a produção 
de efeitos do negócio jurídico
OBS 1) Exercício e aquisição do direito em face de termo inicial – o termo 
inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito (art. 131). Assim, 
ao contrário da condição suspensiva, em que não se adquire o direito a que o 
ato visa; no termo inicial, pelo contrário, não se impede a aquisição do direito, 
mas se retarda seu exercício.
2) Termo inicial ou suspensivo x condição suspensiva – em ambos o exercício 
do direito está suspenso até o implemento do termo ou condição. A diferença 
entre ambos é que a condição suspensiva, além de suspender o exercício do 
direito, suspende também a sua aquisição. O termo inicial ou suspensivo não 
suspende a aquisição do direito, mas apenas protela o seu exercício. Em 
outras palavras, na condição, enquanto não se verifica seu implemento, não se 
adquire o direito a que o ato visa; no termo inicial, pelo contrário, não se 
impede a aquisição do direito, apenas se retarda seu exercício. Além disso, no 
termo o evento é futuro e certo, ao passo que na condição é futuro e incerto. 
Por isso é correto dizer que na condição há direito eventual, pois o direito 
poderá jamais se cristalizar, ao passo que no termo é incorreto o emprego 
desta terminologia, devendo-se dizer que no termo há direito deferido, pois o 
direito a que o termo se refere será inexoravelmente do credor.
3) Aplicação subsidiária das disposições relativas às condições suspensivas e 
resolutivas aos termos inicial ou suspensivo e final ou resolutivo – em razão da 
semelhança entre os institutos, apontada no item anterior, o CC (art. 135) 
manda aplicar ao termo inicial ou suspensivo e final ou resolutivo, no que 
couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
4) Possibilidade do titular do direito sob termo de praticar atos destinados a 
conservar o seu direito – em razão do referido art. 135, que manda aplicar no 
que for compatível as regras referentes à condição resolutiva e suspensiva, 
conclui-se que o termo, ainda que inicial ou suspensivo, não obsta o exercício 
dos atos destinados a conservar o direito a ele subordinado (ex.: interrupção de 
prescrição, rechaçar atos de esbulho ou turbação, etc.).
Termo de direito, convencional, judicial e de graça:
Termo de direito – é o que decorre da lei.
Termo convencional – é o que decorre da vontade das partes.
Termo judicial – é o fixado por decisão judicial.
Termo de graça – é a dilação de prazo concedida ao devedor.
OBS: 1) Termo x prazo – enquanto termo é o dia em que começa ou se 
extingue a eficácia do negócio jurídico, prazo é o intervalo entre o termo “a quo” 
e o termo “ad quem”. Logo, os dois institutos não se confundem, sendo certo 
que o CC regulamenta o prazo nos seus arts. 132 a 134.
2) Prazo certo e incerto – diz-se que o prazo é certo se op ato é a termo certo, 
e prazo incerto se o ato é a termo incerto.
3) Contagem do prazo – na contagem dos prazos, exclui-se o dia do começo e 
inclui-se o do vencimento (art. 132). Se este cair em feriado, considerar-se-á
prorrogado o prazo até o dia útil seguinte (art. 132, §1º). Se cair em sábado, 
fica igualmente prorrogado até o dia útil subseqüente, por força do art. 3º da Lei 
1408/51 e Lei 4178/62.
4) Contagem do prazo em meses e anos – os prazos de meses e anos expiram 
no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata 
correspondência (ex.: ano bissexto) (art. 132, §3º).
5) Contagem do prazo em horas – os prazos fixados por hora contar-se-ão de 
minuto a minuto (ex.: pedido de falência) (art. art. 132, §4º).
6) Prazo nos testamentos – nos testamentos, presume-se o prazo em favor do 
herdeiro (art. 133). Assim, se o testador fixar prazo para a entrega do legado, 
entender-se-á que foi estabelecido em favor do herdeiro, obrigado ao 
pagamento, e não do legatário.
7) Prazo nos contratos – nos contratos, presume-se o prazo em favor do 
devedor (art. 133). Desse modo, pode o devedor renunciar ao prazo e 
antecipar o pagamento
da dívida, para livrar-se, por exemplo, de um índice de 
atualização monetária que estaria vigorando na data do seu vencimento, sem 
que o credor possa impedi-lo. No entanto, se do teor do instrumento, ou das 
circunstâncias, resultar que o prazo se estabeleceu a benefício do credor (ex.: 
contrato de depósito) ou ambos os contratantes, tal renúncia não poderá 
ocorrer (art. 133, 2ª parte), salvo se a avença for regida pelo CDC, que permite, 
sem qualquer distinção, a liquidação antecipada do débito, com redução 
proporcional dos juros (art. 52, §2º, CDC).
8) Negócios jurídicos sem prazo pactuado para sua execução – dispõe o art. 
134 que os negócios jurídicos entre vivos, para os quais não se estabeleça 
prazo, são exeqüíveis desde logo. A regra, entretanto, não é absoluta, como 
ressalva o próprio art. 134, pois alguns atos dependem de certo tempo, seja 
porque terão de ser praticados em lugar diverso, seja pela sua própria 
natureza. Assim, se a execução do negócio jurídico tiver de ser feita em lugar 
diverso ou depender de tempo (ex.: empreitada, contrato de fornecimento, 
etc.), os negócios jurídicos, ainda que sem prazo pactuado, não serão 
exeqüíveis desde logo. De qualquer modo, a expressão “desde logo” não deve 
ser entendida ao pé da letra: temos que entender que o negócio jurídico deve 
ser realizado em tempo razoável, ainda que exeqüível desde logo, isto é, deve 
haver prazo razoável para que o ato seja realizado.
Encargo ou modo – trata-se de cláusula acessória às liberalidades (doações, 
testamentos), pela qual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário. É 
admissível, também, em declarações unilaterais da vontade (ex.: na promessa 
de recompensa). É comum nas doações feitas ao município, em geral com a 
obrigação de construir um hospital, escola, creche ou algum outro 
melhoramento público; e nos testamentos, em que se deixa a herança a 
alguém, com a obrigação de cuidar de determinada pessoa ou de animais de 
estimação. Em regra, é identificada pelas expressões “para que”, “a fim de 
que”, “com a obrigação de”. Destarte, o encargo apresenta-se como restrição à 
liberdade, quer estabelecendo uma finalidade ao objeto do negócio, que 
impondo uma obrigação ao favorecido, em benefício do instituidor ou de 
terceiro, ou mesmo da coletividade. Não deve, porém, o encargo se configurar 
em contraprestação; não pode ser visto como contrapartida ao benefício 
concedido. Se houver contraprestação típica, a avença deixa de ser liberal para 
ser onerosa, não se configurando o encargo. O fato é que ninguém é obrigado 
a aceitar a liberalidade. Se o faz, sabendo ser gravada com encargo, fica 
sujeito ao seu cumprimento. Embora o encargo não se possa configurar em 
contraprestação, não há para ele limitação quantitativa: a instituição pode 
deixar intacto o montante do benefício (ex.: doação de uma área à 
Municipalidade com a obrigação de esta colocar o nome do doador em uma 
das vias públicas); ou pode a disposição abater parte do benefício (ex.: doação 
de quantia a alguém com o ônus de o donatário pagar pensão aos pobres do 
lugar); ou pode até a instituição esgotar todo o benefício (ex.: legado com a 
obrigação do legatário erigir um túmulo ao testador que absorva toda a quantia 
legada). Em nenhum caso, no entanto, o encargo pode constituir 
contraprestação.
OBS: 1) O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito – nos 
termos do art. 136, o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do 
direito. Assim, por exemplo, aberta a sucessão, o domínio e a posse dos bens 
transmitem-se desde logo aos herdeiros nomeados, com a obrigação, porém, 
de cumprir o encargo a eles imposto. Se esse encargo não for cumprido, a 
liberalidade poderá ser revogada.
2) Execução do encargo – dispõe o art. 553 que “o donatário é obrigado a 
cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, 
ou do interesse geral”. Acrescenta o parágrafo único: “Se desta última espécie 
for o encargo, o MP poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se 
este não tiver feito”. O art. 1938 acresce que ao legatário, nos legados com 
encargo, aplica-se o disposto quanto às doações de igual natureza, o mesmo 
acontecendo com o substituto, por força do art. 1949. O instituidor e o 
beneficiário também podem reclamar o cumprimento do encargo. O MP só 
poderá fazê-lo depois da morte do instituidor, se este não tiver feito e se o 
encargo foi imposto no interesse geral.
3) Revogação da liberalidade por descumprimento do encargo – o art. 562 
prevê que a doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se 
o donatário incorrer em mora. Tal dispositivo aplica-se, por analogia, às 
liberalidades “causa mortis”. O terceiro beneficiário pode exigir o cumprimento 
do encargo mas não está legitimado a propor ação revocatória. Esta é privativa 
do instituidor, podendo os herdeiros apenas prosseguir na ação por ele 
intentada, caso venha a falecer depois do ajuizamento.
4) Encargo x condições suspensiva e resolutiva – em que pese a aparente 
semelhança, o encargo não se confunde com a condição. O encargo é 
coercitivo, o que não ocorre com a condição, uma vez que ninguém pode ser 
obrigado a cumpri-la. O encargo difere da condição suspensiva porque esta 
impede a aquisição do direito, enquanto aquele não suspende a aquisição nem 
o exercício do direito. Entretanto, o encargo pode ser imposto como condição 
suspensiva e com efeitos próprios deste elemento acidental, desde que tal 
disposição seja expressa (art. 136, 2ª parte). Difere também da condição 
resolutiva, porque não conduz, por si só, à revogação do ato. O instituidor do 
benefício poderá ou não propor a ação revocatória, cuja sentença não terá 
efeito retroativo.
5) Encargo ilícito ou impossível – preenchendo lacuna do antigo CC, o novo 
disciplina o encargo ilícito ou impossível, dispondo, no art. 137: “considera-se 
não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo 
determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico”.
Representação – geralmente é o próprio interessado, com sua vontade, que 
atua em negócio jurídico. Dentro da autonomia privada, o interessado contrai 
pessoalmente obrigações e, assim, pratica seus atos da vida civil. Contudo, há 
a possibilidade de outro praticar atos da vida no lugar do interessado, por meio 
da representação. Entretanto, para que esta situação ocorra, é necessário, 
primeiramente, que o ordenamento jurídico a permita e, em segundo lugar, que 
os requisitos desse mesmo ordenamento tenham sido cumpridos.
Espécies de representação – há duas espécies de representação (art. 115):
Representação legal – ocorre quando a lei estabelece a representação em 
certas situações (ex.: incapazes, tutela, curatela, etc.). Nesses casos, o poder
de representação decorre diretamente da lei, que estabelece a extensão do 
âmbito da representação, os casos em que é necessária, o poder de 
administrar e quais as situações em que se permite dispor dos direitos do 
representado.
Representação voluntária – é baseada, em regra, no mandato, cujo 
instrumento é a procuração. A figura da representação não se confunde com a 
do mandato.
Regras gerais relativas a representação –
A manifestação de vontade do representante, no limite de seus poderes, 
vincula o representado – a vontade do representado é materialmente refletida 
pela declaração do representante, de tal arte que fica aquele fica vinculado às 
manifestações de vontade exaradas por este, nos limite dos poderes que lhe 
foram outorgados (art. 116).
Anulabilidade do contrato consigo mesmo ou autocontrato, salvo se o permitir a 
lei ou o representado – ocorre o chamado contrato consigo mesmo ou 
autocontrato em duas situações: a) as duas partes têm o mesmo 
representante; b) o representante de uma das partes é a outra parte. Como o 
contrato, por definição, é um acordo de vontades, não se admite
a existência 
de contrato consigo mesmo, sendo este anulável, salvo se o permitir a lei (ex.: 
mandato em causa própria - art. 685) ou o representado (art. 117).
OBS: 1) Súmula 60 STJ – “é nula a obrigação cambial assumida por 
procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste”. A 
razão é que tal situação configura modalidade de contrato consigo mesmo. 
Observe-se que pela nova sistemática do CC, a obrigação cambial será apenas 
anulável.
2) Substabelecimento e contrato consigo mesmo – a lei cuida da hipótese em 
que os poderes tenham sido substabelecidos pelo representante a um terceiro, 
aduzindo no § único do art. 117 que “tem-se como celebrado pelo 
representante o negócio realizado por aquele em que os poderes houverem 
sido substabelecidos”.
Anulabilidade dos atos praticados contra o interesse do representado – outro 
dispositivo inovador e bastante útil é o que cogita de atos pelo representante 
contra o interesse do representado. Aqui se trata de atos praticados pelo 
representante, em nome do representado, objetivamente legais, mas que 
prejudicam este último. Estamos, na hipótese, na presença de dois interesses 
possivelmente antagônicos: de um lado, o interesse do representado, que se 
almeja proteger, pois a idéia é de que o representante deva atuar na defesa do 
interesse do representado; de outro, o interesse do terceiro de boa-fé, que 
contratou com o representante, na persuasão de que este atuava de acordo 
com as suas instruções. O CC, em seu art. 119, protege os interesse do 
terceiro de boa-fé, tornando anulável o negócio apenas se o fato era ou devia 
ser do conhecimento do terceiro, pois nesta hipótese não existe mais a figura 
do terceiro de boa-fé. Eis a redação do art. 119: “É anulável o negócio jurídico 
concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se 
tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou”.
Obrigatoriedade de provar a condição de representante – segundo dispõe o art. 
118, “o representante é obrigado a provar às pessoas com quem tratar em 
nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob 
pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederam”. Assim, 
sem que o terceiro tenha plena ciência da representação, sua extensão e 
qualidade, seja ela voluntária ou legal, o dito representante responderá perante 
este terceiro pela prática de atos que excederem os poderes.
Interpretação – não só a lei, mas também o negócio jurídico, deve ser 
interpretado. Muitas vezes sua execução exige, antes, a interpretação de suas 
cláusulas, nem sempre muito claras. O CC traz algumas regras importantes 
para a interpretação:
Teoria da Vontade – a vontade das partes exterioriza-se por meio de sinais e 
símbolos, dentre os quais as palavras. Nos contratos escritos, a análise do 
texto conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. Parte-se, 
portanto, da declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes. 
Quando, no entanto, determinada cláusula mostra-se obscura e passível de 
dúvida, alegando um dos contratantes que não representa com fidelidade a 
vontade manifestada por ocasião da celebração da avença, e tal alegação 
resta demonstrada, deve-se considerar a efetiva vontade das partes. Neste 
sentido, o art. 112 declara que, nas declarações de vontade, atender-se-á mais 
à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
Portanto, o CC brasileiro deu prevalência à teoria da vontade sobre a da 
declaração.
Boa-fé, usos e costumes – preceitua o art. 113 que os negócios jurídicos 
devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar da celebração. 
Deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que 
tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e 
deviam eles entender razoável, segundo a regra da boa-fé. A boa-fé, portanto, 
se presume; a má-fé, ao contrário, deve ser provada. Além disso e nos termos 
do referido art. 113, devem ser considerados na interpretação do negócio 
jurídico os usos e costumes de cada localidade.
Interpretação estrita dos negócios jurídicos benéficos e da renúncia – dispõe o 
art. 114 que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se 
estritamente. Benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade: 
somente um dos contratantes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um 
benefício (ex.: doação pura). Devem ter interpretação estrita porque 
representam renúncia de direitos.
Interpretação restritiva da transação – a transação interpreta-se restritivamente 
(art. 843).
Interpretação restritiva da fiança – a fiança não admite interpretação extensiva 
(art. 819).
Interpretação mais favorável ao aderente nos contratos de adesão – quando 
houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á 
adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423).
Interpretação da cláusula testamentária passível de diferentes interpretações –
sendo a cláusula testamentária suscetível de interpretações diferentes, 
prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 
1899).
Interpretação de cláusulas em contratos de consumo – as cláusulas contratuais 
serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (art. 47 CDC).
OBS: Algumas regras práticas – algumas regras práticas podem ser 
observadas no tocante à interpretação dos contratos. A melhor maneira de 
apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual vinham 
executando o contrato, de comum acordo. Deve-se, ainda, interpretar o 
contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor. Por fim, as 
cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em 
conjunto com as demais.
Classificação – os negócios jurídicos podem ser classificados em:
Unilaterais, bilaterais e plurilaterais –
Unilaterais – são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de 
vontade (ex.: testamento, codicilo, instituição de fundação, aceitação e 
renúncia da herança, promessa de recompensa, etc.). São de duas espécies:
Receptícios – são aqueles em que a declaração de vontade tem de se tornar 
conhecida do destinatário para produzir efeitos (ex.: denúncia ou resilição de 
um contrato, revogação de mandato, etc.).
Não receptícios – são aqueles em que o conhecimento por parte de outras 
pessoas é irrelevante (ex.: testamento, confissão de dívida, etc.).
Bilaterais – são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, 
coincidentes sobre o objeto. Essa coincidência chama-se consentimento mútuo 
ou acordo de vontades (contratos em geral). Podem existir várias pessoas no 
pólo ativo e também várias no pólo passivo, sem que o contrato deixe de ser 
bilateral pela existência de duas partes. Em outras palavras, o que torna o 
contrato bilateral é a existência de dois pólos distintos, independentemente do 
número de pessoas que integre cada pólo.
Plurilaterais – são os contratos que envolvem mais de duas partes, ou seja, 
mais de dois pólos distintos (ex.: contrato social de sociedades com mais de 
dois sócios).
Gratuitos, onerosos, neutros e bifrontes –
Gratuitos – são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou 
benefícios (ex.: doação pura).
Onerosos – são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens, às 
quais, porém, corresponde uma contraprestação (ex.: compra e venda, 
locação, etc.). Conclui-se, portanto, que todo o negócio oneroso é bilateral, 
mas a recíproca não é verdadeira (ex.: doação, comodato). Os negócios 
jurídicos onerosos podem ser:
Comutativos – quando as prestação de uma parte depende de uma 
contraprestação da outra, que é equivalente, certa e determinada.
Aleatórios – quando a prestação de uma das partes depende de 
acontecimentos incertos e inesperados. A álea, a sorte, é elemento do negócio 
(ex.: contrato de seguro).
Neutros – há negócios que não podem
ser incluídos na categoria dos 
onerosos, nem dos gratuitos, pois lhes falta atribuição patrimonial. São 
chamados de neutros e se caracterizam pela destinação dos bens. Em geral, 
coligam-se aos negócios translativos, que têm atribuição patrimonial, como por 
exemplo a instituição das cláusulas de inalienabilidade e incomunicabilidade.
Bifrontes – são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a 
vontade das partes (ex.: mútuo, mandato, depósito, etc.).
OBS: Conversão de negócio jurídico gratuito em oneroso e vice-versa – a 
conversão só se torna possível se o contrato é definido na lei como negócio 
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar um contrato oneroso 
em gratuito, uma vez que subverteria a sua causa. Frise-se que nem todos os 
contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por convenção das 
partes. A doação e o comodato, por exemplo, ficariam desfigurados, se tal 
acontecesse, pois se transformariam, respectivamente, em venda e locação.
“Inter vivos” e “Mortis causa” –
“Inter vivos” – destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as 
partes ainda vivas (ex.: promessa de venda e compra).
“Mortis causa” – são os negócios jurídicos destinados a produzir efeitos após a 
morte do agente (ex.: testamento).
Principais e acessórios –
Principais – são os negócios jurídicos que têm existência própria e não 
dependem da existência de qualquer outro para produzir efeitos (ex.: compra e 
venda, locação, etc.).
Acessórios – são os que têm sua existência subordinada a um negócio jurídico 
principal (ex.: cláusula penal, fiança, etc.), de forma que seguem o destino do 
principal (nulo este, nulo também será o negócio acessório, sendo que a 
recíproca não é verdadeira).
Solenes ou formais e não solenes ou de forma livre –
Solenes ou formais – são os negócios jurídicos que devem obedecer à forma 
prescrita em lei para que se aperfeiçoem. Quando a forma é exigida como 
condição de validade do negócio, este é solene e a formalidade é “ad 
solemnitatem”, isto é, constitui a própria substância do ato (ex.: escritura 
pública na alienação de imóvel, no testamento público, etc.). Mas determinada 
forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso, se diz tratar-se 
de uma formalidade “ad probationem tantum” (ex.: assento do casamento no 
livro de registro – art. 1536).
Não solenes ou de forma livre – são os negócios jurídicos de forma livre. Como 
a lei não reclama nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, podem 
ser celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal (art. 107).
Simples, complexos e coligados –
Simples – são os negócios que se constituem por ato único.
Complexos – são os que resultam da fusão de vários atos com eficácia 
independente. Compõem-se de várias declarações de vontade, que se 
completam, emitidas pelo mesmo sujeito ou diferentes sujeitos, para a 
obtenção dos efeitos jurídicos pretendidos na sua unidade (ex.: alienação de 
um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso 
de compra e venda, e se completa com a outorga da escritura definitiva). O 
negócio jurídico complexo é único e não se confunde com o coligado.
Coligados – são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos 
distintos (ex.: arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo 
instrumento ao contrato de locação das bombas, de comodato de área para 
funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de 
financiamento, etc.).
Defeitos do negócio jurídico – a vontade é a mola propulsora dos atos e dos 
negócios jurídicos. Essa vontade deve ser manifestada de forma idônea para 
que o ato tenha vida normal na atividade jurídica e no universo negocial. Se 
essa vontade não corresponder ao desejo do agente, o negócio jurídico é 
defeituoso. O CC menciona e regula seis defeitos: erro, dolo, coação, estado 
de perigo, lesão e fraude contra credores. No art. 171, II, diz ser anulável o 
negócio jurídico que contenha tais vícios. Os referidos defeitos, exceto a fraude 
contra credores, são chamados de vícios do consentimento porque provocam 
uma manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e verdadeiro 
querer do agente. Criam uma divergência, um conflito entre a vontade 
manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou. A fraude contra credores 
não conduz a um descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua 
declaração. A vontade manifestada corresponde exatamente ao seu desejo. 
Mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros. Por essa razão, a 
fraude contra credores é considerada vício social (a simulação também é um 
vício social, mas é tratada no capítulo que versa sobre da invalidade do 
negócio jurídico, já que o CC reputa nulo o negócio jurídico simulado, 
subsistindo porém o dissimulado, se válido for na substância e na forma).
Vícios do consentimento – são cinco:
Erro – no erro, o agente engana-se sozinho. Quando é induzido em erro pelo 
outro contratante ou por terceiro, caracteriza-se o dolo. Poucas são as ações 
anulatórias ajuizadas com base no erro, porque difícil se torna penetrar no 
íntimo do autor para descobrir o que se passou em sua mente no momento da 
celebração do negócio. Por isso, são mais comuns as ações fundadas no dolo, 
pois o induzimento pode ser comprovado e aferido objetivamente. O CC 
equiparou os efeitos do erro à ignorância. Erro é a idéia falsa da realidade. 
Ignorância é o completo desconhecimento da realidade. Não é, porém, 
qualquer espécie de erro que torna anulável o negócio jurídico. Para tanto, o 
erro deve ser substancial (ou essencial), escusável e real:
Erro substancial ou essencial – é o erro sobre circunstâncias e aspectos 
relevantes do negócio. Há de ser a causa determinante, ou seja, se conhecida 
a realidade, o negócio não seria celebrado. Segundo o art. 139, é o que:
Interessa à natureza do negócio (“error in negotio”) – ex.: o contrato é de 
compra e venda e o adquirente imagina tratar-se de doação; interessa ao 
objeto principal da declaração (“error in corpore”) – ex.: aquisição de um 
terreno que se supõe valorizado porque situado em rua importante mas que na 
verdade tem pouco valor, pois se situa em rua do mesmo nome, porém de 
outra localidade; interessa a alguma das qualidades essenciais do objeto (error 
in substantia) – ex.: aquisição de candelabros prateados, mas de material 
inferior, como se fosse de prata.
Diz respeito à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira 
a declaração da vontade (error in persona), desde que tenha influído nesta de 
modo relevante – ex.: doação ou deixa testamentária a pessoa que o doador 
imagina, equivocadamente, ser seu filho natural ou quem lhe salvou a vida.
Sendo de direito (error juris) e não implicando recusa à aplicação da lei, for o 
motivo único ou principal do negócio jurídico – ex.: pessoa que contrata a 
importação de determinada mercadoria ignorando existir lei que proíbe tal 
importação. Como tal ignorância foi a causa determinante do ato, pode ser 
alegada para anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja 
descumprida (art. 3º LICC – “ninguém se escusa de cumprir a lei” – se não 
existe a intenção de descumprir a lei, admite-se o erro). Portanto, quem é 
levado a falso entendimento, por ignorância da lei cogente, não está 
desobedecendo-a. Logo, em nossa sistemática, nada impede que se alegue 
erro de direito se seu reconhecimento não ferir norma de ordem pública ou 
cogente e servir para demonstrar descompasso entre a vontade real do 
declarante e a vontade manifestada.
Erro escusável – é o erro justificável, desculpável, exatamente o contrário de 
erro grosseiro, de erro decorrente do não emprego da diligência ordinária. O 
art. 138 adotou um padrão abstrato, o do “homem médio”, para a aferição da 
escusabilidade. Adotou, assim, o critério de comparar a conduta do agente com 
a da média das pessoas.
Erro real – é o erro
efetivo, causador de real prejuízo para o interessado. 
Assim, o erro sobre o ano de fabricação do veículo adquirido (1994 em vez de 
1999) é substancial e real, porque, se o adquirente tivesse conhecimento da 
realidade, não o teria comprado. Tendo-o adquirido, sofreu grande prejuízo. No 
entanto, se o erro dissesse respeito somente à cor do veículo (preto em vez de 
azul escuro), seria acidental e não tornaria o negócio anulável.
OBS: 1) Erro acidental – é o erro que se opõe ao substancial e real, porque se 
refere a circunstâncias de somenos importância e que não acarretam efetivo
prejuízo. Refere-se, portanto, a qualidades secundárias do objeto ou da 
pessoa, de tal arte que, ainda que conhecida a realidade, mesmo assim o 
negócio seria realizado.
2) Erro acidental na indicação de pessoa ou coisa – segundo dispõe o art. 142, 
o erro na indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de 
vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas 
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. No direito das 
sucessões há regra semelhante (art. 1903). Por exemplo, o doador beneficia o 
seu sobrinho Antônio. Na realidade, não tem nenhum sobrinho com esse nome. 
Apura-se, porém, que tem um afilhado de nome Antônio, a quem sempre 
chamou de sobrinho. Essa pessoa receberá o bem doado.
3) Equiparação da transmissão defeituosa da vontade ao erro – o CC equipara 
o erro à transmissão defeituosa da vontade (art. 141). Se o declarante não se 
encontra na presença do declaratário e se vale de um intermediário (interposta 
pessoa ou núncio) ou de um meio de comunicação (fax, telégrafo, internet, etc.) 
e a transmissão da vontade, nesses casos, não se faz com fidelidade, 
estabelecendo-se uma divergência entre o querido e o que foi transmitido 
erroneamente, caracteriza-se o vício que propicia a anulação do negócio 
jurídico.
4) Motivos – o motivo do negócio não precisa ser mencionado pelas partes. 
Motivos são as idéias, as razões subjetivas, interiores, consideradas acidentais 
e sem relevância para a apreciação da validade do negócio. Em uma compra e 
venda, os motivos podem ser diversos: a necessidade de venda, investimento, 
edificação de moradia, etc. São estranhos ao direito e não precisam ser 
mencionados. O CC não se refere a eles, a não ser, excepcionalmente, no art. 
140, ao prescrever que “o falso motivo só vicia a declaração de vontade 
quando expresso como razão determinante”. Quando expressamente 
mencionados como razão determinante, os motivos passam à condição de 
elementos essenciais do negócio. O art. 140 permite, portanto, que as partes 
promovam o erro acidental a erro relevante. Os casos mais comuns são as 
deixas testamentárias, com expressa declaração do motivo determinante (ex.: 
filiação, parentesco), que entretanto se revelam, posteriormente, falsos.
5) Erro quanto às qualidades essenciais do objeto x vício redibitório – embora a 
teoria dos vícios redibitórios se assente na existência de um erro e guarde 
semelhança com este quanto às qualidades essenciais do objeto, não se 
confundem os dois institutos. O vício redibitório é o erro objetivo sobre a coisa, 
que contém um defeito oculto que a torna imprestável ao uso a que se destina. 
O seu fundamento é a obrigação que a lei impõe a todo alienante de garantir 
ao adquirente o uso da coisa. Provado o defeito oculto, não facilmente 
perceptível, cabem as ações edilícias (redibitória e “quanti minoris” ou 
estimatória), respectivamente para rescindir o contrato ou pedir abatimento do 
preço, sendo decadencial e exíguo o prazo para a sua propositura (30 dias se 
se tratar de bem móvel e 1 ano se imóvel). O erro quanto às qualidades 
essenciais do objeto é subjetivo, pois reside na manifestação da vontade. Dá 
ensejo ao ajuizamento de ação anulatória, sendo de 4 anos o prazo 
decadencial. Se alguém adquire um relógio que funciona perfeitamente, mas 
não é de ouro como o adquirente imaginava (e somente por essa circunstância 
o adquiriu), trata-se de erro quanto à qualidade essencial do objeto. Se, no 
entanto, o relógio é mesmo de ouro mas não funciona em razão do defeito de 
uma peça interna, a hipótese é de vício redibitório.
6) Erro de cálculo – o art. 143 é expresso no sentido de que o erro de cálculo 
apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
7) Aceitação da manifestação de vontade errônea pelo declaratário – o art. 144 
preceitua que o “erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a 
pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-
la na conformidade da vontade real do manifestante”. Tal oferta afasta o 
prejuízo do que se enganou, deixando o erro de ser real e, portanto, anulável.
8) Interesse negativo – questão pouco comentada, quando se estuda o erro, é 
a relativa ao interesse negativo, que decorre do fato de o vendedor ver-se 
surpreendido com uma ação anulatória, julgada procedente, com os 
consectários da sucumbência, sem que tenha concorrido para o erro do outro 
contratante – o que se configura injusto, máxime já tendo dado destinação ao 
numerário recebido. O Código alemão prevê, para esses casos, o que a 
doutrina chama de “interesse negativo”, uma compensação para o contratante
que não concorreu para o erro. O CC brasileiro não prevê a hipótese, mas ela 
decorre dos princípios gerais do direito, especialmente o que protege a boa-fé. 
Poderá, porém, o declaratário, como mencionado, evitar a anulação 
oferecendo-se para executar a avença na conformidade da vontade real do 
manifestante, se lhe for possível (art. 144).
Dolo – é o induzimento malicioso de alguém à prática de um ato que lhe é 
prejudicial, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro.
Requisitos – parte da doutrina enumera os requisitos do dolo baseados em 
Eduardo Espínola:
Intenção de induzir o declarante a praticar o ato jurídico.
Utilização de recursos fraudulentos graves.
Que esses artifícios sejam a causa determinante da declaração de vontade.
Que procedam do outro contratante ou seja por este conhecidos como 
procedentes de terceiros.
Dolo principal e dolo acidental ou incidental –
Dolo principal – assim se diz do artifício ou manejo que possa ser a causa 
determinante do ato jurídico (“dolus causam dans”). Mostra-se, assim, a série 
de manobras, que, viciando o consentimento da parte, a induz à prática do ato 
jurídico, de que resulta prejuízo para si. Nesta hipótese, o negócio jurídico é 
anulável.
Dolo acidental ou incidente – assim se diz do que, sem ter tido influência 
decisiva sobre a manifestação da vontade, visto que, a despeito dele, o ato se 
teria praticado, embora de outro modo, forçou, entretanto, a pessoa a consentir 
na prática do ato em forma mais onerosa para ela. O dolo acidental (“dolus 
incidens”), dito também de dolo incidente, não tem a propriedade de viciar o 
ato, a ponto de torná-lo anulável, pois a seu despeito o negócio seria realizado, 
embora por outro modo. Mas, evidenciado, só obriga à satisfação de perdas e 
danos, pelos prejuízos que tenham advindo ao prejudicado ou enganado (art. 
146).
Dolus bonus e dolus malus –
Dolus bonus – é o dolo tolerável no comércio em geral. É considerado normal, 
e até esperado, o fato de os comerciantes exagerarem as qualidades das 
mercadorias que estão vendendo. Não torna anulável o negócio jurídico, 
porque de certa maneira as pessoas já contam com ele e não se deixam 
envolver, a menos que não tenham a diligência que se espera do homem 
médio. O dolus bonus não vicia o ato.
Dolus malus – somente vicia o ato o dolus malus, exercido com o propósito de 
causar prejuízo.
Dolo por omissão, dolo negativo, reticência ou omissão dolosa – pode, o dolo, 
tanto ser praticado por ação (dolo positivo) como por omissão. O último é 
definido, no art. 147 do CC, como o silêncio intencional de uma das partes a 
respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado. Provando-se
que, sem a omissão, o negócio não se teria celebrado, pode ser pleiteada a 
sua anulação. Esteia-se tal dispositivo no princípio da boa-fé, que deve nortear 
todos os negócios. Tal princípio é reiterado em outros dispositivos que cuidam 
de hipóteses de omissão dolosa, como os art. 180 e 766 CC.
Dolo do representante – é tratado no art. 149, que distingue o representante 
legal do convencional. Torna, também, anulável o negócio jurídico se constituir 
a sua causa determinante. Se o dolo for acidental, só obrigará à satisfação de 
perdas e danos, respondendo o representante pela indenização, como autor do 
dolo. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o 
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve. Se 
o dolo for do representante convencional, o representado responderá 
solidariamente com ele por perdas e danos (art. 149), por ter escolhido mal o 
mandatário.
Dolo bilateral – o dolo pode ser, também, bilateral, isto é, de ambas as partes 
(art. 150). Nesse caso, se ambas têm culpa, uma vez que cada qual quis 
prejudicar a outra, nenhuma delas pode alegá-lo para anular o negócio ou 
reclamar indenização. Há uma compensação, porque ninguém pode valer-se 
da própria torpeza (“nemo auditur propriam turpitudinem allegans”).
Dolo de aproveitamento – o chamado dolo de aproveitamento constitui o 
elemento subjetivo de outro defeito do negócio jurídico, que é a lesão. 
Configura-se quando alguém se aproveita da situação de premente 
necessidade ou da inexperiência do outro contratante para obter lucro 
exagerado, manifestamente desproporcional à natureza do negócio (art. 157).
Dolo de terceiro – o dolo pode ser proveniente do outro contratante ou de 
terceiro, estranho ao negócio (art. 148). O dolo de terceiro, no entanto, 
somente ensejará a anulação do negócio se a parte a quem aproveite dele 
tivesse ou devesse ter conhecimento. Se o beneficiado pelo dolo de terceiro 
não adverte a outra parte, está tacitamente aderindo ao expediente astucioso, 
tornando-se cúmplice. Entretanto, se a parte a quem aproveita não soube do 
dolo de terceiro, não se anula o negócio. Mas o lesado poderá reclamar perdas 
e danos do autor do dolo (art. 148, 2ª parte), pois este praticou um ato ilícito.
OBS: 1) Erro x dolo – o erro mostra-se à vista de todos, da mesma forma que o 
dolo, ou seja, como representação errônea da realidade. A diferença é que no 
erro o vício da vontade decorre de íntima convicção do agente, enquanto no 
dolo há induzimento ao erro por parte do declaratário ou de terceiro.
2) Fraude x dolo – a fraude é processo astucioso e ardiloso tendente a burlar a 
lei ou convenção preexistente ou futura. O dolo, por seu lado, surge 
concomitantemente ao negócio e tem como objetivo enganar o próximo. O dolo 
tem em mira o declaratário do negócio. A fraude, que na maioria das vezes se 
apresenta de forma mais velada, tem em vista burlar dispositivo de lei ou 
número indeterminado de terceiros que travam contrato com o fraudador. A 
fraude geralmente visa à execução do negócio, enquanto o dolo visa à sua 
própria conclusão. Desse modo, pode-se exemplificar: há dolo quando alguém 
omite dados importantes para elevar o valor do seguro a ser pago no caso de 
eventual sinistro; há fraude se o sinistro é simulado para o recebimento do 
valor do seguro.
Coação – é toda ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, 
contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. O que 
caracteriza a coação é o emprego da violência psicológica para viciar a 
vontade.
Requisitos – nem toda ameaça, entretanto, configura coação. O art. 151 
especifica os requisitos para que a coação possa viciar o consentimento:
Deve ser a causa do ato – deve haver uma relação de causalidade entre a 
coação e o ato extorquido, ou seja, o negócio deve ter sido realizado somente 
por ter havido grave ameaça ou violência, que provocou na vítima fundado 
receio de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Sem ela, o 
negócio não se teria concretizado.
Deve ser grave – a coação deve ser de tal intensidade que efetivamente incuta 
ao paciente um fundado temor de dano a bem que considera relevante. Para 
aferir a gravidade ou não da coação, segue-se o critério do caso concreto (e 
não do homem médio), ou seja, o de avaliar, em cada caso, as condições 
particulares ou pessoais da vítima. Algumas pessoas, em razão de diversos 
fatores, são mais suscetíveis de se sentir atemorizadas do que outras. Por 
essa razão, determina o art. 152 que, no apreciar a coação, “ter-se-ão em 
conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e 
todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela”. OBS: 
Simples temor reverencial não é coação – o art. 153, 2ª parte, não considera 
coação “o simples temor reverencial”. Assim, não se reveste de gravidade 
suficiente para anular o ato o receio de desgostar os pais ou outras pessoas a 
quem se deve obediência e respeito, como os superiores hierárquicos. O 
emprego do vocábulo “simples” evidencia que o temor reverencial não vicia o 
consentimento quando desacompanhado de outros atos de violência. Pode, 
entretanto, ter tal conseqüência se acompanhado de ameaças ou violências 
(ex.: pais que ameaçam castigar a filha se ela não se casar com determinada 
pessoa).
Deve ser injusta – deve ser ilícita, contrária ao direito, abusiva. OBS: Exercício 
regular de direito – prescreve, com efeito, o art. 153, 1ª parte, que “não se 
considera coação a ameaça do exercício normal de um direito”. Assim, não 
constitui coação a ameaça feita pelo credor de protestar ou executar o título de 
crédito. O referido dispositivo emprega o adjetivo “normal”, referindo-se ao 
exercício do direito. Desse modo, configura-se a coação não apenas quando o 
ato praticado pelo coator contraria o direito, como também quando sua 
conduta, conquanto jurídica, constitui exercício anormal ou abusivo de um 
direito. Assim, é injusta a conduta de quem se vale dos meios legais para obter 
vantagem indevida (ex.: credor que ameaça proceder à execução da hipoteca 
contra sua devedora caso esta não concorde em desposá-lo).
Deve ser de dano atual ou iminente – a lei refere-se ao dano próximo e 
provável, afastando, assim, o impossível, remoto ou eventual. Tem em vista 
aquele prestes a se consumar, variando a apreciação temporal segundo as 
circunstâncias de cada caso.
Deve acarretar justo receio de dano – não mais se exige que este seja igual, 
pelo menos, ao decorrente do dano extorquido, visto que essa proporção ou 
equilíbrio entre o sacrifício exigido e o mal evitado, prevista no CC 1916, era 
alvo de críticas e não consta em outras legislações.
Deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima, ou a 
pessoas de sua família – o termo “família” tem hoje acepção ampla, 
compreendendo não só a que resulta do casamento, como também a 
decorrente de união estável. Também não se faz distinção entre parentesco 
legítimo ou ilegítimo ou decorrente da adoção, qualquer que seja a sua espécie 
(art. 227, §6º, CF). Para os fins de intimidação, incluem-se também as 
ameaças a parentes afins, como cunhados, sogros, etc. OBS: Pessoa não 
pertencente à família – o novo CC consignou, no parágrafo único do art. 151, 
que, se a coação “disser respeito a pessoa não pertencente à família do 
paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação”. O 
texto é bastante amplo, abrangendo inclusive pessoas não ligadas ao coacto 
por laços de amizade.
Coação absoluta, física ou “vis absoluta” e coação relativa, moral ou “vis 
compulsiva” –
Coação absoluta, física ou “vis absoluta” – na coação absoluta, não ocorre 
qualquer consentimento ou manifestação da vontade. A vantagem pretendida 
pelo coator é obtida mediante o emprego de força física (ex.: a colocação da 
impressão digital do analfabeto em contrato, agarrando-se à força o
seu braço). 
Trata-se, neste caso, de inexistência do negócio jurídico, por ausência do 
primeiro e principal requisito de existência, que é a vontade.
Coação relativa, moral ou “vis compulsiva” – esta é a coação que constitui vício 
da vontade e torna anulável o negócio jurídico. Nesta, deixa-se uma opção ou 
escolha à vítima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as 
conseqüências da ameaça por ele feita. Trata-se, portanto, de uma coação 
psicológica.
Coação principal e acidental – embora o CC não faça a distinção, a doutrina 
entende existir coação principal e acidental, como no dolo. Aquela seria causa 
determinante do negócio; esta influenciaria apenas as condições da avença, ou 
seja, sem ela o negócio assim mesmo se realizaria, mas em condições menos 
desfavoráveis à vítima A coação principal constitui causa de anulação do 
negócio; a acidental somente obriga ao ressarcimento do prejuízo.
Coação exercida por terceiro – a coação vicia o ato, ainda quando exercida por 
terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, 
e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos (art. 154). 
Subsistirá, no entanto, o negócio jurídico se a coação decorrer de terceiro, sem 
que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o 
autor da coação responder por todas as perdas e danos que houver causado 
ao coacto (art. 155). A disciplina é similar à do dolo exercido por terceiro.
Estado de perigo – configura-se o estado de perigo quando alguém, premido 
da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano 
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. O 
estado de perigo ocorre, assim, quando alguém se encontra em situação 
equiparada ao “estado de necessidade” e, por isso, assume obrigação 
excessivamente onerosa (o exemplo clássico é o da pessoa que está se 
afogando e, desesperada, promete toda a sua fortuna para ser salva).
Elementos – o estado de perigo compõe-se de dois elementos:
Objetivo – é a assunção de obrigação excessivamente onerosa.
Subjetivo – caracterizado pelo constrangimento de “salvar-se” ou “salvar 
pessoa de sua família” do risco grave existente. Este último elemento deve ser 
complementado pela adesão da parte beneficiada ao desvio psicológico, que 
há de ser conhecedora do grave perigo por que passa o declarante.
OBS: 1) Estado de perigo e pessoa não pertencente à família – tratando-se de 
pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as 
circunstâncias (art. 156, § único). Considerou o legislador que, na prática, 
podem ocorrer vínculos de afetividade que atuem psicologicamente de forma 
tão intensa como a do parentesco (ex.: noiva, amigo de infância, etc.). Deixou, 
então, ao juiz a tarefa de verificar, no exame do caso concreto, a ocorrência ou 
não de liame similar ao que normalmente se presume existir entre os membros 
da família.
2) Estado de perigo x coação moral – sustenta uma parte da doutrina que o 
estado de perigo se aproxima da coação moral, pois a vítima não se encontra 
em condições de declarar livremente a sua vontade. Não se confundem, 
contudo, esses dois vícios do consentimento. No estado de perigo não ocorre a 
hipótese de um dos contratantes constranger o outro à prática de determinado 
ato ou a consentir na celebração de determinado contrato.
3) Críticas – se, por uma lado, a nova lei merece elogios por ter trazido ao 
ordenamento a conceituação que faltava ao CC 1916, por outro lado, o fato de 
permitir aparentemente a anulação do ato em estado de perigo merece críticas. 
Melhor seria a solução aceita pela doutrina de manter o ato, mas reduzir o valor 
do pagamento ao justo limite pelo serviço prestado. Na solução do novo CC, 
em tese, uma vez anulado o negócio, só restaria ao agente recorrer à ação de 
enriquecimento sem causa para haver o pagamento. Contudo, ao estampar o 
conhecimento do estado de perigo por parte do beneficiário (“grave dano 
conhecido da outra parte”), entende o legislador que houve abuso da situação; 
o agente valeu-se do terror incutido a outra parte para realizar o negócio, tendo 
cessado a boa-fé. Nesse caso, o negócio não poderia subsistir. Nada impede, 
porém, e se harmoniza com o sistema, a solução de o juiz manter a validade do 
negócio, atendendo às circunstâncias do caso, determinando que a prestação 
seja reduzida ou reconduzida a seu justo valor, a exemplo do que a nova lei 
alvitra para o caso de lesão (art. 157, §2º).
Lesão – configura-se quando alguém obtém um lucro exagerado, 
desproporcional, aproveitando-se da inexperiência ou da situação de 
necessidade do outro contratante. Segundo o art. 157, ocorre o referido vício 
do consentimento “quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor 
da prestação oposta”.
Elementos – a lesão compõe-se de dois elementos:
Objetivo – consistente na manifesta desproporção entre as prestações 
recíprocas, geradora de lucro exagerado. Não se contenta o art. 157 com 
qualquer desproporção: há de ser manifesta. OBS: Avaliação da desproporção 
– exige-se, ainda, que a avaliação da desproporção entre as prestações seja 
feita “segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio 
jurídico” (art. 157, §1º).
Subjetivo – caracterizado pela “inexperiência” ou “premente necessidade” do 
lesado.
OBS: 1) Desnecessidade do conhecimento, pelo contratante, das condições de 
premente necessidade ou inexperiência do outro – o contrato é anulável porque 
foi viciado o consentimento da parte prejudicada, mesmo que o outro 
contratante não tenha tido conhecimento das suas condições de necessidade 
ou inexperiência, pois o CC brasileiro não se preocupa em punir a atitude 
maliciosa do favorecido. Malgrado a parte beneficiada tire vantagem da 
situação (alguns denominam “dolo de aproveitamento”), não se exige tenha 
induzido a vítima a celebrar o contrato lesivo, nem que tivesse ciência da sua 
premente necessidade ou inexperiência. Diversamente do que ocorre no dolo, 
o contratante não induz o outro à prática do ato lesivo, mas apenas tira proveito 
de sua situação.
2) Suplementação da contraprestação ou redução do proveito e validade do 
negócio – o CC considera a lesão um vício do consentimento, que torna 
anulável o negócio (art. 178, II). Faz, porém, uma ressalva: não se decretará a 
anulação do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte 
favorecida concordar com a redução do proveito (art. 157, §2º). O lesado 
poderá, assim, optar pela anulação ou pela revisão do contrato. Mesmo que 
escolha a anulação, será facultado ao outro contratante ilidir a pretensão de 
ruptura do negócio, mediante o referido suplemento, suficiente para afastar a 
manifesta desproporção entre as prestações e recompor o patrimônio daquele.
3) Lesão x estado de perigo – não se confunde a lesão também com o estado 
de perigo, pois exige desequilíbrio das prestações, enquanto este último pode 
conduzir a negócios unilaterais em que a prestação assumida seja unicamente 
da vítima (ex.: promessa de recompensa, doação, etc.). A lesão ocorre quando 
não há estado de perigo, decorrente da necessidade de salvar-se. A “premente 
necessidade” mencionada no art. 157 pode ser a de obter recursos. No estado 
de perigo alguém se obriga a uma prestação de dar ou fazer, por uma 
contraprestação sempre de fazer. Por essa razão, não é admirida a 
suplementação da contraprestação para validar o negócio. O §2º do art. 157, 
ao disciplinar a lesão, admite a referida suplementação. Tal fato demonstra que 
ela só ocorre em contratos comutativos (e não nos aleatórios, pois nestes as 
prestações envolvem risco e, por sua própria natureza, não precisam ser 
equilibradas), em que a contraprestação é um dar, e não um fazer. Além disso, 
não se exige, para a caracterização
da lesão, que a outra parte saiba da 
necessidade ou da inexperiência do lesado, enquanto no estado de perigo tal 
ciência é considerada requisito essencial para a sua configuração.
Vício social –
Fraude contra credores – a fraude contra credores é vício social. Não é vício do 
consentimento porque não há vício algum na manifestação da sua vontade. 
Com efeito, a fraude contra credores é praticada com o intuito de prejudicar 
terceiros, ou seja, os credores. A sua regulamentação jurídica assenta-se no 
princípio do direito das obrigações segundo o qual o patrimônio do devedor 
responde por suas obrigações. Se ele o desfalca maliciosa e substancialmente, 
a ponto de não garantir mais o pagamento de todas as dívidas, tornando-se 
assim insolvente, com o seu passivo superando o ativo, configura-se a fraude 
contra credores.
Elementos –
Anterioridade do crédito – a anterioridade do crédito em face da prática 
fraudulenta está expressamente prevista no art. 158, §2º. É facilmente 
perceptível a razão dessa exigência. Quem contrata com alguém já insolvente 
não encontra patrimônio garantidor. Os credores posteriores não encontram a 
garantia almejada pela lei. Sua obrigação é certificar-se da situação patrimonial 
do devedor. OBS: 1) Sub-rogação e novação – uma hipótese a ser enfocada é 
a sub-rogação de crédito, quando esta é posterior ao ato fraudulento. Como a 
dívida é anterior, existe a anterioridade; a sub-rogação ou a cessão de crédito 
não desnaturam essa característica. O mesmo não se pode dizer da novação, 
em que há extinção da obrigação anterior e constituição de uma nova. 2) 
Créditos condicionais – quanto aos créditos condicionais, no que tange ao 
crédito sob condição resolutiva, não há dúvida de que o ato fraudulento o 
atinge. Com relação aos créditos sob condição suspensiva, há divergências na 
doutrina, pois, sendo seu implemento futuro, resta saber como colocar o 
requisito da anterioridade do crédito. Mesmo no caso de suspensividade da 
condição, há direito eventual do credor; existe, portanto, anterioridade e a 
proteção legal.
Consilium fraudis ou conluio fraudulento – é a má-fé do terceiro adquirente, isto 
é, a ciência deste da situação de insolvência do alienante. Ao tratar da fraude 
contra credores, o legislador teve de optar entre proteger os interesses dos 
credores ou o do adquirente de boa-fé. Preferiu proteger o interesse deste. 
Assim, se ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para 
conhecê-la, conservará o bem, não se anulando o negócio. Não se exige, no 
entanto, que o adquirente esteja mancomunado ou conluiado com o alienante 
para lesar os credores deste. Basta a prova da ciência da sai situação de 
insolvência. OBS: Má-fé presumida – a lei (art. 159) presume a má-fé do 
adquirente quando a insolvência do alienante for notória (títulos protestados, 
várias execuções em andamento) ou quando houver motivo para ser conhecida
do primeiro (parentesco próximo, preço vil, continuação dos bens alienados na 
posse do devedor, etc.).
Eventus damni – é o prejuízo decorrente da insolvência. Assim, só se 
caracteriza a fraude contra credores se o devedor já for insolvente à época da 
alienação, ou se ele se tornou insolvente em razão do desfalque patrimonial 
promovido. Se for solvente, isto é, se o seu patrimônio bastar, com sobra, para 
o pagamento de suas dívidas, ampla é a sua liberdade de dispor de seus 
bens.
Outras hipóteses legais – não só nas transmissões onerosas pode ocorrer 
fraude aos credores. O CC regulamenta, também, a ocorrida em atos de 
transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, no pagamento antecipado 
de dívidas vincendas e na constituição de garantias a algum credor 
quirografário:
Transmissão gratuita de bens (doações) ou remissão de dívida (perdão) – o art. 
158 declara que poderão ser anulados pelos credores quirografários os atos de 
transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, quando os pratique 
devedor já insolvente ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o 
ignore. Nesses casos, os credores não precisam provar o conluio fraudulento 
(“consilium fraudis”), pois a lei presume a existência do propósito de fraude. 
Tendo de optar entre o direito dos credores, que procuram evitar um prejuízo, e 
o dos donatários (em geral, filhos ou parentes próximos do doador insolvente), 
que procuram assegurar um lucro, o legislador desta vez preferiu proteger os 
primeiros, que buscam evitar um prejuízo. A remissão de dívida também 
constitui uma liberalidade, que reduz o patrimônio do devedor. Daí a sua 
inclusão no aludido dispositivo legal.
Pagamento pelo devedor já insolvente a credor quirografário de dívida ainda 
não vencida – a intenção da lei é colocar em situação de igualdade todos os 
credores. Presume-se, na hipótese, o intuito fraudulento e o credor beneficiado 
ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o 
concurso de credores, aquilo que recebeu (art. 162). Se a dívida já estiver
vencida, o pagamento será considerado normal.
Concessão de garantias de dívidas pelo devedor já insolvente a algum credor –
também se presume o intuito fraudulento na concessão de garantias de dívidas 
(hipoteca, penhor, anticrese) pelo devedor já insolvente a algum credor, 
colocando-o em posição mais vantajose do que os demais, em detrimento da 
igualdade que deve existir entre os credores (art. 163). O que se anula, na 
hipótese, é somente a garantia, a preferência concedida a um dos credores 
(art. 165, § único). Continua ele, porém, como credor, retornando à condição de 
quirografário.
OBS: 1) Validade dos negócios ordinários indispensáveis à manutenção de 
estabelecimento mercantil, rural ou industrial, ou à subsistência do devedor e 
de sua família – presumem-se de boa-fé e valem os negócios ordinários 
indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural ou industrial, 
ou à subsistência do devedor e de sua família (art. 164). Assim, o dono de uma 
loja não fica, só pelo fato de estar insolvente, impedido de continuar a vender 
as mercadorias expostas nas prateleiras de seus estabelecimento. Não poderá, 
contudo, alienar o próprio estabelecimento.
2) Depósito judicial do preço como forma de evitar a consumação da fraude 
contra credores e a anulação do negócio – admite-se, também, que o 
adquirente dos bens do devedor insolvente, que ainda não tiver pago o preço e 
desde que este seja, aproximadamente, o corrente, evite a consumação da 
fraude e a anulação do negócio, depositando-o em juízo, com a citação de 
todos os interessados, bem como que possa conservá-los, se o preço for 
inferior ao corrente, depositando em juízo a quantia que corresponda ao valor 
real (art. 160, § único).
Ação pauliana ou revocatória – a ação anulatória do negócio celebrado em 
fraude contra os credores é chamada de “pauliana” (em atenção ao pretor 
Paulo, que a introduziu no direito romano) ou revocatória. O novo diploma civil 
manteve o sistema do anterior, segundo o qual a fraude contra credores 
acarreta a anulabilidade do negócio jurídico. Não adotou, assim, a tese de que 
se trataria de ineficácia relativa, defendida por grande parte da doutrina, 
segundo a qual, demonstrada a fraude ao credor, a sentença não anulará a 
alienação, mas simplesmente, como nos casos de fraude a execução, 
declarará a ineficácia do ato fraudatório perante o credor, permanecendo o 
negócio válido entre os contratantes, o devedor alienante e o terceiro 
adquirente. O STJ adotou a tese de anulabilidade, não admitindo a alegação de 
fraude contra credores em embargos de terceiro (Súmula 195 STJ – em 
embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores).
Legitimidade ativa – só estão legitimados a ajuizar ação pauliana os credores 
quirografário e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta (art. 158, 
caput, e §2º). Os que se tornaram credores depois da alienação já encontraram
desfalcado o patrimônio do devedor e mesmo assim negociaram com ele. Nada 
podem, pois, reclamar. Os credores com garantia real não podem, em 
princípio, ajuizá-la porque já existe um bem determinado especialmente 
afetado à solução da dívida. Se for alienado, o credor privilegiado poderá 
exercer o direito de seqüela, penhorando-o nas mãos de quem quer que esteja. 
Poderão propô-la, no entanto, se a garantia se tornar insuficiente (art. 158, 
§1º).
Legitimidade passiva – a ação pauliana deve ser proposta contra o devedor 
insolvente e também contra a pessoa com quem ele celebrou a estipulação 
considerada fraudulenta, bem como contra terceiros adquirentes que hajam 
procedido de má-fé (art. 161). Embora o dispositivo legal use o verbo “poderá”, 
que dá a impressão de ser uma faculdade do credor propor a ação contra 
todos, na verdade ele assim deverá proceder para que a sentença produza 
efeitos em relação também aos adquirentes (art. 472 CPC). De nada adianta 
acionar somente o alienante se o bem se encontra em poder dos adquirentes.
Fraude contra credores x fraude à execução – a fraude contra credores não se 
confunde com a fraude à execução pelos seguintes motivos:
A fraude contra credores visa à anulação e a fraude à execução, à declaração 
de ineficácia da alienação fraudulenta em relação ao credor, permanecendo o 
negócio válido entre os contratantes (devedor alienante e terceiro adquirente).
A fraude contra credores é defeito do negócio jurídico regulado no CC. A fraude 
à execução é incidente do processo disciplinado pelo direito público.
A fraude contra credores caracteriza-se quando ainda não existe nenhuma 
ação ou execução em andamento contra o devedor, embora possam existir 
protestos cambiários. A fraude a execução pressupõe demanda em 
andamento, capaz de reduzir o alienante à insolvência (art. 593, II, CPC). A 
jurisprudência dominante nos tribunais é no sentido de que esta somente se 
caracteriza quando o devedor já havia sido citado, na época da alienação. A 
doutrina, entretanto, considera fraude à execução qualquer alienação efetivada 
depois que a ação fora proposta (distribuída, segundo o art. 263 CPC). Sem 
dúvida, esta é a corrente mais justa, por impedir que o réu se oculte, enquanto 
cuida de dilapidar o seu patrimônio, para só depois então aparecer para ser 
citado, e a que mais se ajusta às expressões do art. 593, II, CPC (“quando ao 
tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de 
reduzi-lo a insolvência”).
A fraude contra credores deve ser pronunciada em ação pauliana ou 
revocatória, enquanto a fraude à execução pode ser reconhecida mediante 
simples petição, nos próprios autos.
A caracterização da fraude contra credores, nas alienações onerosas, depende 
de prova do “consilium fraudis”, isto é, da má-fé do terceiro (prova esta 
dispensável quando se trata de alienação a título gratuito ou de remissão de 
dívida), enquanto a referida má-fé é sempre presumida na fraude a execução. 
Aduza-se que, se o adquirente, porventura, já transferiu o bem a outra pessoa, 
não se presume a má-fé desta, a qual deve, então, ser demonstrada, salvo se 
a alienação se deu depois do registro da penhora do bem.
Decadência – art. 178, I e II – é de 4 anos o prazo de decadência para pleitear-
se a anulação do negócio jurídico, contado: a) no caso da coação, do dia em 
que ela cessar; b) no caso do erro, dolo, fraude contra credores, estado de 
perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico.
Invalidade do negócio jurídico – a expressão “invalidade” abrange a nulidade e 
a anulabilidade do negócio jurídico. É empregada para designar o negócio que 
não produz os efeitos desejados pelas partes, o qual será classificado pela 
forma mencionada (nulidade ou anulabilidade) de acordo com o grau de 
imperfeição verificado.
Negócio jurídico inexistente – o negócio é inexistente quando lhe falta algum 
elemento estrutural, como o consentimento (manifestação da vontade), por 
exemplo. Se não houve qualquer manifestação de vontade, o negócio não 
chegou a se formar; inexiste, portanto. A teoria do negócio jurídico inexistente 
é, hoje, admitida em nosso direito. Por se constituir em um nada no mundo 
jurídico, não reclama ação própria para combatê-lo, nem há necessidade de o 
legislador mencionar os requisitos de existência, visto que o seu conceito 
encontra-se na base do sistema dos fatos jurídicos. Às vezes, no entanto, a 
aparência material do ato apresenta evidências que enganam, justificando-se a 
propositura da ação para discutir e declarar a sua inexistência. Para efeitos 
práticos, tal declaração terá as mesmas conseqüências da declaração de 
nulidade.
Negócio jurídico nulo – o negócio é nulo quando ofende preceitos de ordem 
pública, que interessam à sociedade. Assim, quando o interesse público é 
lesado, a sociedade o repele, fulminando-o de nulidade, evitando que venha a 
produzir os efeitos esperados pelo agente. São as hipóteses legais de 
nulidade, considerando-se nulo o ato quando:
Praticado por pessoa absolutamente incapaz (art. 166, I).
For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto (art. 166, II).
O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito (art. 166, III).
Não revestir a forma prescrita em lei (art. 166, IV).
For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua 
validade (art. 166, V).
Tiver por objetivo fraudar a lei imperativa (art. 166, VI).
A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar 
sanção (art. 166, VII) – algumas vezes, a lei expressamente declara nulo 
determinado negócio (ex.: arts. 489, 548, 549, 1428, 1475, 1548, etc.). Nesses 
casos, diz-se que a nulidade é expressa ou textual. Outras vezes a lei não 
declara expressamente a nulidade do ato mas proíbe a sua prática ou submete 
a sua validade à observância de certos requisitos de interesse geral. Utiliza-se, 
então, de expressões como “não pode” (arts. 426 e 1521), “não se admite” (art. 
380), “ficará sem efeito” (arts. 483 e 485), etc. Em tais hipóteses, dependendo 
da natureza da disposição violada, a nulidade será subentendida, sendo 
chamada de virtual ou implícita.
For simulado, subsistindo o que se dissimulou, se válido for na substância e na 
forma (art. 167).
Negócio jurídico anulável – o negócio é anulável (nulidade relativa) quando 
ofende interesse particular. Quando a ofensa atinge o interesse particular de 
pessoas que o legislador pretendeu proteger, sem estar em jogo interesses 
sociais, faculta-se a estas, se desejarem, promover a anulação do ato. Trata-se 
de negócio anulável, que será considerado válido se o interessado se 
conformar com os seus efeitos e não o atacar, nos prazos legais, ou confirmar. 
A anulabilidade visa à proteção do consentimento ou refere-se à incapacidade 
do agente. Assim, o CC declara que, além dos casos expressamente previstos 
em lei, é anulável o negócio jurídico por:
Incapacidade relativa do agente (art. 171, I).
Vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra 
credores (art. 171, II).
Nulidade x anulabilidade (nulidade relativa) – Principais diferenças –
A anulabilidade é decretada no interesse privado da pessoa prejudicada. Nela 
não se vislumbra o interesse público mas a mera conveniência das partes. A 
nulidade é de ordem pública e decretada no interesse da própria coletividade.
A anulabilidade pode ser suprida pelo juiz, a requerimento das partes (art. 168, 
§ único, a contrario sensu), ou sanada, expressa ou tacitamente, pela 
confirmação (art. 172). Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de 
autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente (art. 176). A 
nulidade não pode ser sanada pela confirmação nem suprida pelo juiz.
A anulabilidade não pode ser pronunciada de ofício. Depende de provocação 
dos interessados (art. 177) e não opera antes de julgada por sentença.
O efeito 
de seu reconhecimento é, portanto, “ex nunc” (o negócio produz efeitos até o 
momento em que é anulado). A nulidade, ao contrário, deve ser pronunciada 
de ofício pelo juiz (art. 168, § único) e seu efeito é “ex tunc”, pois retroage à 
data do negócio, para lhe negar efeitos. A manifestação judicial nesse caso é, 
então, de natureza meramente declaratória. Na anulabilidade a sentença é de 
natureza desconstitutiva, pois o negócio anulável vai produzindo efeitos até ser 
pronunciada a sua invalidade. A anulabilidade, assim, deve ser pleiteada em 
ação judicial. A nulidade quase sempre opera de pleno direito e deve ser 
pronunciada de ofício pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos 
seus efeitos e a encontrar provada (art. 168, § único). Somente se justifica a 
propositura de ação para esse fim quando houver controvérsia sobre os fatos 
constitutivos da nulidade (dúvida sobre a existência da própria nulidade). Se tal 
não ocorre, ou seja, se ela consta do instrumento, ou se há prova literal, o juiz 
a pronuncia de ofício.
A anulabilidade só pode ser alegada pelos interessados, isto é, pelos 
prejudicados (o relativamente incapaz e o que manifestou a vontade viciada), 
sendo que os seus efeitos aproveitam apenas aos que a alegaram, salvo o 
caso de solidariedade ou indivisibilidade (art. 177). A nulidade pode ser 
alegada por qualquer interessado, em nome próprio, ou pelo Ministério Público, 
quando lhe couber intervir, em nome da sociedade que representa (art. 168).
Ocorre a decadência da anulabilidade em prazos mais ou menos curtos. 
Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo 
para pleitear-se a anulação, será este de 2 anos, a contar da data da conclusão 
do ato (art. 179). Negócio nulo não se valida com o decurso do tempo, nem é 
suscetível de confirmação (art. 169). Mas a alegação do direito pode esbarrar 
no usucapião consumado.
OBS: O ato nulo não produz nenhum efeito? Deve-se ponderar a afirmação de 
que o ato nulo nenhum efeito, pois ela não tem sentido absoluto e significa, na 
verdade, que o ato é destituído dos efeitos que normalmente lhe pertencem. 
Isto porque, algumas vezes, determinadas conseqüências emanam do ato 
nulo, como ocorre no casamento putativo. Outras vezes, a venda nula não 
acarreta a transferência do domínio mas vale como causa justificativa da posse 
de boa-fé. No direito processual, a citação nula por incompetência do juiz 
interrompe a prescrição e constitui o devedor em mora (art. 219 CPC).
Confirmação ou ratificação – é cabível somente nas hipóteses de anulabilidade. 
A confirmação pode ser expressa ou tácita e retroage à data do ato. Expressa 
quando há uma declaração de vontade que contenha a substância do negócio 
celebrado, sendo necessário que a vontade de mantê-lo seja explícita (art. 
173), devendo observar a mesma forma do ato praticado. Tácita quando a 
obrigação já foi cumprida em parte pelo devedor, ciente do vício que a 
inquinava (art. 174), ou quando deixa consumar-se a decadência de seu direito. 
Expressa ou tácita, importa a extinção de todas as ações ou exceções de que 
dispusesse o devedor contra o negócio anulável (art. 175). A confirmação não 
poderá, entretanto, ser efetivada para prejudicar terceiro (art. 172). Seria a 
hipótese, por exemplo, da venda de imóvel feita por relativamente incapaz, sem 
estar assistido, e que o vendeu também a terceiro, assim que completou a 
maioridade. Nesse caso, não poderá confirmar a primeira alienação para não 
prejudicar os direitos do segundo adquirente.
Conversão do negócio jurídico - o negócio jurídico nulo não é suscetível de 
confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo, como se viu. Porém, se 
o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o 
fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem 
previsto a nulidade, conforme preceitua o art. 170. Trata-se de hipótese em que 
o negócio jurídico nulo não pode prevalecer na forma querida pelas partes, mas 
seus elementos são suficientes para caracterizar outro. Analisa-se a 
pressuposição das partes. É a transformação de um negócio jurídico nulo em 
outro de natureza diversa. Não será fácil sua existência, na prática. Aproveita-
se a finalidade do ato desejado pelas partes sempre que for possível e não for 
obstado pelo ordenamento. Trata-se da denominada conversão substancial do 
negócio jurídico, quando o negócio vale, em síntese, em sua substância, em 
seu conteúdo formal (ex.: uma escritura pública nula de compra e venda de 
imóvel poderia ser admitida como compromisso de compra e venda, para o 
qual não existe necessidade de escritura; uma nota promissória nula por não 
conter os requisitos formais pode ser convertida em uma confissão de dívida 
plenamente válida; etc.). Para viabilidade da conversão há necessidade de 
requisitos que a doutrina aponta: identidade de substância e de forma entre os 
dois negócios (nulo e convertido), isto é, identidade de objeto num e noutro e 
adequação do negócio substitutivo à vontade hipotética das partes. Na 
conversão do negócio jurídico, vê-se um fenômeno posto à disposição das 
partes, no sentido de que seja aproveitada a manifestação de vontade que 
fizeram, desde que não seja contrariada sua intenção.
Disposições especiais –
Anulado o negócio jurídico por nulidade ou anulabilidade, restituir-se-ão as 
partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível 
restituí-las, serão indenizadas com o equivalente – art. 182 – a parte final 
aplica-se às hipóteses em que a coisa não mais existe ou foi alienada a terceiro 
de boa-fé. Exceção – o CC, no art. 181, abre uma exceção em favor dos 
incapazes, ao dispor que “ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação 
anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a 
importância paga”. Provado que o pagamento nulo reverteu em proveito do 
incapaz, determina-se a restituição, porque ninguém pode locupletar-se à custa 
alheia. Sem tal prova, mantém-se inalterada a situação. O ônus da prova 
incumbe a quem pagou.
Relativamente incapaz que oculta dolosamente a sua idade – art. 180 – o 
menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar 
a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, 
no ato de obrigar-se, espontaneamente declarou-se maior, perdendo, por isso, 
a proteção da lei.
A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico, sempre que este 
puder provar-se por outro meio – art. 183 – assim, por exemplo, a nulidade da 
escritura de mútuo de pequeno valor não invalida o contrato, porque pode ser 
ele provado por testemunhas. Mas será diferente se a escritura pública for da 
substância do ato, como no contrato de mútuo com garantia hipotecária.
A invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, 
se esta for separável – art. 184 – trata-se da aplicação do princípio “utile per 
inutile non vitiatur”. Assim, por exemplo, se o testador, ao mesmo tempo em 
que dispôs dos seus bens para depois da sua morte, aproveitou a cédula 
testamentária para reconhecer filho havido fora do casamento, invalidada esta 
por inobservância das formalidades legais, não será prejudicado o referido 
reconhecimento, que pode ser feito até por instrumento particular, sem 
formalidades (art. 1609, II). A invalidade da hipoteca também, por falta de 
outorga uxória, impede a constituição do ônus real, mas é aproveitável como 
confissão de dívida.
A invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a 
destas não induz a da obrigação principal – art. 184 – a regra consiste em 
aplicação do princípio “accessorium sequitur suum principale”. Assim, a 
nulidade da obrigação principal acarreta a nulidade da cláusula penal e a da 
dívida acarreta a da hipoteca. Mas a nulidade da obrigação acessória não 
importa a da
obrigação principal.
Simulação – é uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar 
um negócio diverso do efetivamente desejado. Negócio simulado é, assim, o 
que tem aparência contrária à realidade. A simulação é produto de um conluio 
entre os contratantes, visando obter efeito obter efeito diverso daquele que o 
negócio aparenta conferir. É um vício social porque objetiva iludir terceiros e 
fraudar a lei. Pelo regime do novo CC, a simulação (absoluta ou relativa) 
acarreta a nulidade do negócio simulado. Se relativa, subsistirá o negócio 
dissimulado, se válido for na forma e substância (art. 167). Ressalvam-se os 
direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico 
simulado (art. 167, §2º)
Simulação absoluta e relativa – a simulação pode ser:
Absoluta – na simulação absoluta, as partes na realidade não realizam nenhum 
negócio. Apenas fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem 
que na verdade desejem o ato. Em geral, destina-se a prejudicar terceiro , 
subtraindo os bens do devedor à execução ou partilha (ex.: a falsa confissão de 
dívida perante amigo, com concessão de garantia real, para esquivar-se da 
execução de credores quirografários).
Relativa – na simulação relativa, as partes pretendem realizar determinado 
negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Para escondê-lo ou dar-lhe 
aparência diversa, realizam outro negócio. Compõe, pois, de dois negócios: um 
deles é o simulado, aparente, destinado a enganar; o outro é o dissimulado, 
oculto, mas verdadeiramente desejado. O negócio aparente, simulado, serve 
apenas para ocultar a efetiva intenção dos contratantes, ou seja, o negócio real 
(ex.: partes passam escritura por valor menor para burlar o fisco; homem 
casado que, para contornar a proibição legal de fazer doação à concubina, 
simula a venda a um terceiro que transferirá o bem àquela; etc.).
Hipóteses legais de simulação –
Por interposição de pessoa – é a hipótese do negócio que aparenta conferir ou 
transmitir direitos a pessoa diversa daquela à qual realmente se confere ou 
transmite (ex.: homem casado que, para contornar a proibição legal de fazer 
doação à concubina, simula a venda a um terceiro que transferirá o bem 
àquela).
Por ocultação da verdade na declaração – outra hipótese é a do negócio que 
contenha declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira (ex.: 
partes passam escritura por valor menor para burlar o fisco)
Por falsidade de data – é a hipótese do instrumento particular ser antedatado 
ou pós-datado.
OBS: 1) Simulação x dolo – a simulação difere do dolo porque neste a vítima 
participa da avença, porém sendo induzida em erro. Na simulação, as vítimas 
são os terceiros iludidos pelo negócio, que dele não participaram (daí porque 
trata-se de um vício social e não de um vício do consentimento).
2) Simulação x dissimulação – a simulação não se confunde com a 
dissimulação, embora em ambas haja o propósito de enganar. Na simulação, 
procura-se aparentar o que não existe; na dissimulação, oculta-se o que é 
verdadeiro. Na simulação há o propósito de enganar sobre a existência de 
situação não verdadeira; na dissimulação, sobre a inexistência de situação 
real.
3) Prova – tendo em vista a dificuldade para se provar o ardil, expediente 
astucioso, admite-se a prova da simulação por indícios e presunções (arts. 332 
e 335 CPC).
4) Negócio jurídico fiduciário x negócio jurídico simulado – no negócio 
fiduciário, o meio excede o fim. Verifica-se, por exemplo, quando alguém 
transfere a propriedade ou titularidade de um bem ou direito a outra pessoa, 
para determinado fim (em geral, de administração), com a obrigação de restituí-
la ou transmiti-la a terceiro. Trata-se de negócio lícito e sério, perfeitamente 
válido, e que se desdobra em duas fases. Na primeira, ocorre verdadeiramente 
a transmissão da propriedade. Na segunda, o adquirente fiduciário se obriga a 
restituir o bem ao fiduciante. Esses negócios compõem-se de dois elementos: a 
confiança e o risco. A transmissão da propriedade é ato verdadeiro, tanto que 
se o fiduciário recusar-se a restituir o bem, caberá ao fiduciante somente 
pleitear as perdas e danos, como conseqüência do inadimplemento da 
obrigação de o devolver. Não é considerado negócio simulado, malgrado a 
transferência da propriedade seja feita sem a intenção de que o adquirente se 
torne verdadeiramente proprietário do bem. Não há a intenção de prejudicar 
terceiros ou fraudar a lei. Já o negócio simulado, por sua vez, é o que tem 
aparência contrária à realidade. Embora neste ponto haja semelhança com o 
negócio fiduciário, as declarações de vontade são falsas. As partes aparentam 
conferir direitos a pessoas diversas daquelas a quem realmente os conferem. 
Ou fazem declarações não verdadeiras, para fraudar a lei ou o fisco. O negócio 
simulado é nulo (art. 167).
7 DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Introdução à prescrição – o decurso do tempo tem influência na aquisição e na 
extinção de direitos. Distinguem-se, pois, duas espécies de prescrição: a 
extintiva e a aquisitiva (usucapião). O CC regulamentou a prescrição extintiva 
na Parte Geral (arts.189 a 196) e seus prazos (arts. 205 e 206), dando ênfase à 
força extintora do direito. No direito das coisas, na parte referente aos modos 
de aquisição do domínio, tratou da prescrição aquisitiva, em que predomina a 
força geradora. Em um e outro caso, no entanto, ocorrem dois fenômenos: 
alguém ganha e, em conseqüência, alguém perde. Como o elemento “tempo” é 
comum às duas espécies de prescrição, dispõe o art. 1244 que as causas que 
obstam, suspendem ou interrompem a prescrição também se aplicam à 
usucapião.
Finalidade da prescrição – o instituto da prescrição é necessário para que haja 
tranqüilidade na ordem jurídica, pela consolidação de todos os direitos. 
Dispensa a infinita conservação de todos os recibos de quitação, bem como o 
exame dos títulos do alienante e de todos os seus sucessores, sem limite de 
tempo. Com a prescrição da dívida, basta conservar os recibos até a data em 
que esta se consuma,, ou examinar o título do alienante e os de seus 
predecessores imediatos, em um período de 10 anos, apenas.
Prescrição extintiva – é a perda da pretensão pelo não exercício de um direito 
durante certo lapso de tempo. Hoje predomina o entendimento, na moderna 
doutrina, de que a prescrição extingue a pretensão, que é a exigência de 
subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio. O direito material 
violado dá origem à pretensão (art. 189), que é deduzida em juízo por meio da 
ação. Extinta a pretensão, não há ação. Portanto, a prescrição extingue a 
pretensão, atingindo também a ação.
Requisitos – a prescrição tem como requisitos:
A inércia do titular, ante a violação de um direito seu.
O decurso do tempo fixado em lei.
Prazos prescricionais –
Prazo geral – art. 205 – é de 10 anos, quando a lei não fixar prazo especial 
menor.
Prazos especiais – art. 206 – prescreve:
Em 1 ano –
A pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a 
consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou 
dos alimentos.
A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, 
contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade 
civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta 
pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do 
segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da 
pretensão.
A pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros 
e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários.
A pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a 
formação do capital da sociedade anônima, contado da publicação da ata da 
assembléia que aprovar o laudo.
A pretensão dos credores não pagos contra
os sócios ou acionistas e os 
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da 
liquidação da sociedade.
Em 2 anos –
A pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se 
vencerem.
Em 3 anos –
A pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos.
A pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou 
vitalícias.
A pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, 
pagáveis, em períodos não maiores de 1 ano, com capitalização ou sem ela.
A pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa.
A pretensão de reparação civil.
A pretensão de restituição dos lucros e dividendos havidos de má-fé, correndo 
o prazo da data em que foi deliberada a distribuição.
A pretensão contra as pessoas em seguida indicadas, por violação da lei do 
estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos 
constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores ou fiscais, da 
apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação 
tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deve tomar 
conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral 
posterior à violação.
A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do 
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial.
A pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no 
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
Em 4 anos –
A pretensão, relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
Em 5 anos –
A pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público 
ou particular.
A pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, 
curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão 
dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato.
A pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.
Termo de início de contagem do prazo prescricional – a prescrição se inicia no 
momento em que há violação do direito (art. 189).
Causas que impedem ou suspendem a prescrição – o CC agrupou as causas 
que suspendem ou impedem a prescrição em uma mesma seção, entendendo 
que estão subordinadas a uma unidade fundamental. As mesmas causas ora 
impedem, ora suspendem a prescrição, dependendo do momento em que 
surgem. Se o prazo ainda não começou a fluir, a causa ou obstáculo impede 
que comece. Se, entretanto, o obstáculo surge após o prazo ter-se iniciado, dá-
se a suspensão. Nesse caso, somam-se os períodos, isto é, cessada a causa 
de suspensão temporária, o lapso prescricional volta a fluir somente pelo tempo 
restante (diferentemente da interrupção, que será estudada a seguir, em que o 
período já decorrido é desconsiderado e o prazo volta a correr novamente por 
inteiro). A justificativa para a suspensão da prescrição está na consideração 
legal de que certas pessoas, por sua condição ou pela situação em que se 
encontram, estão impedidas de agir. Assim, não corre a prescrição (arts. 197, 
198 e 199):
Entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal.
Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar.
Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou 
curatela.
Contra os absolutamente incapazes – não corre prescrição contra os 
absolutamente incapazes, ou seja, quando teriam o direito de propor a ação; 
mas corre prescrição a favor dos absolutamente incapazes, isto é, quando 
poderiam ser acionados).
Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos 
Municípios e contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em 
tempo de guerra. – o CC buscou proteger pessoas que se encontram em 
situações especiais
Pendendo condição suspensiva – o direito ainda não se tornou exigível, não 
sendo possível falar, pois, em prescrição.
Não estando vencido o prazo – o direito ainda não se tornou exigível, não 
sendo possível falar, pois, em prescrição.
Pendendo ação de evicção – se terceiro propõe ação de evicção, fica suspensa 
a prescrição até o seu desfecho final. Nesse dispositivo, observa-se a 
aplicação do princípio da “actio nata”, pelo qual somente se pode falar em 
fluência de prazo prescricional desde que haja uma ação a ser exercitada, em 
virtude da violação do direito. Enquanto não nasce a pretensão, não começa a 
fluir o prazo prescricional. É da violação do direito que nasce a pretensão, que 
por sua vez dá origem à ação. E a prescrição começa a correr desde que a 
pretensão teve origem, isto é, desde a data em que a violação do direito se 
verificou.
Outras hipóteses legais e jurisprudenciais – outros casos de suspensão foram 
criados por leis especiais (ex.: art. 440 CLT, art. 147 da Lei de Falências, etc.). 
A jurisprudência admite a suspensão da prescrição em caso de obstáculo 
judicial (ex.: greve dos servidores).
OBS: 1) Fatos que devam ser apurados no juízo criminal – tendo em vista que 
a sentença penal condenatória constitui título executivo judicial (art. 935 CC e 
art. 584, II, CPC), prescreve o art. 200 que, quando a ação se originar de fato 
que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da 
respectiva sentença definitiva.
2) Suspensão da prescrição e solidariedade – dispõe o art. 201 que, “suspensa 
a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros 
se a obrigação for indivisível”. A prescrição é benefício pessoal e só favorece 
as pessoas taxativamente mencionadas, mesmo na solidariedade. Assim, 
existindo três credores contra devedor comum de importância em dinheiro, 
sendo um dos credores absolutamente incapaz, por exemplo, a prescrição 
correrá contra os demais credores, pois a obrigação de efetuar pagamento em 
dinheiro é divisível, ficando suspensa somente em relação ao menor. Se se 
tratasse, porém de obrigação indivisível (ex.: entregar um animal), a prescrição 
somente começaria a fluir, para todos, quando o incapaz completasse 16 anos. 
Sendo o direito indivisível, a suspensão aproveita a todos os credores.
Causas que interrompem a prescrição – a interrupção da prescrição depende, 
em regra, de um comportamento ativo do credor. Qualquer ato de exercício ou 
proteção ao direito interrompe a prescrição, extinguindo o tempo já decorrido, 
que volta a correr por inteiro. O efeito da interrupção é instantâneo: “a 
prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, 
ou do último ato do processo para interromper (art. 202, § único). Sempre que 
possível a opção, ela se verificará pela maneira mais favorável ao devedor. 
Além disso, os efeitos da prescrição são pessoais. Em conseqüência, a 
interrupção da prescrição feita por um credor não aproveita aos outros, assim 
como aquela promovida contra um devedor não prejudica os demais 
coobrigados (art. 204). Essa regra, porém, admite exceção: a interrupção por 
um dos credores solidários (solidariedade ativa) aproveita aos outros; assim 
como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e 
seus herdeiros (solidariedade passiva). A interrupção operada contra um dos 
herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores 
(o prazo para estes continuará a correr), a não ser quando se trate de 
obrigações e direitos indivisíveis. Nesse caso, todos os herdeiros ou devedores 
solidários sofrem os efeitos da interrupção da prescrição, passando a correr 
contra todos eles o novo prazo prescricional. Anote-se, ainda, que a 
interrupção da prescrição somente poderá ocorrer uma vez (art. 202). A 
restrição é justificável para que não se eternizem as interrupções da prescrição. 
A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado (art. 203), como, 
por exemplo, o próprio titular do direito em via de prescrição, quem legalmente 
o represente ou, ainda, terceiro que tenha legítimo
interesse (herdeiros do 
prescribente, seus credores e o fiador do devedor). O art. 202 indica as causas 
que interrompem a prescrição:
Despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o 
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual – pelo sistema 
do vigente estatuto processual civil, a prescrição considera-se interrompida na 
data da distribuição, onde houver mais de uma vara, ou do despacho inicial, 
nas comarcas de vara única. Mas não é este nem aquela que a interrompem, 
mas sim a citação, operando, porém, retroativamente à referida data. O efeito 
interruptivo decorre, pois, da citação válida, que retroagirá à data da 
distribuição ou despacho inicial, conforme o caso, se promovida no prazo e na 
forma estabelecida no CPC, isto é, nos 10 dias seguintes à prolação do 
despacho inicial. Frise-se que a parte não pode ser prejudicada por obstáculo 
judicial para o qual não tenha concorrido, isto é, pela demora imputável 
exclusivamente ao serviço judiciário. Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará 
o prazo até o máximo de 90 dias. Efetuada a citação nos 10 dias ou nos 90 da 
prorrogação, a interrupção da prescrição retroagirá. De acordo, porém, com o 
art. 202, I, CC, que é lei posterior, a interrupção retroagirá à data do despacho. 
Mas, proposta a ação no prazo fixado para seu exercício, a demora na 
obtenção do despacho ou na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da 
Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência 
(Súmula 106 STJ). Se os prazos legais de 10 e 90 dias forem ultrapassados, 
nem por isso a citação valida deixa de produzir seus efeitos regulares, exceto 
quanto ao efeito de interromper a prescrição retroativamente. Se o prazo 
prescricional já decorreu, haver-se-á por não interrompida a prescrição, não se 
efetuando a citação nos aludidos prazos. A citação ordenada por juiz 
incompetente interrompe a prescrição, para beneficiar aqueles que de boa-fé 
peticionam perante juiz incompetente. Não se admitem, porém, abusos. É 
preciso, também, que seja válida, isto é, não seja nula por inobservância das 
formalidades legais. OBS: Interrupção da prescrição e citação em processo 
anulado – tem-se entendido que a citação em processo anulado é idônea para 
interromper a prescrição, não tendo a nulidade sido decretada exatamente por 
vício de citação. Assim, decretada a nulidade do processo, sem ser atingida a 
citação, houve interrupção e continua eficaz. A Comissão Revisora do Projeto 
do Novo Código Civil observou que: “o efeito interruptivo não se dá em atenção 
à sentença, mas decorre da citação. A propositura da ação demonstra 
inequivocamente que o autor, cujo direito diz violado, não está inerte. Se o 
simples protesto judicial basta para interromper a prescrição, por que não 
bastará a citação em processo que se extinga sem julgamento de mérito?”. A 
referida Comissão acrescentou que “a interrupção da prescrição, pelo Projeto, 
se dá com a inequivocidade de que o titular do direito violado não está inerte”. 
Se há nulidade processual, nem por isso se deve desproteger o titular do direito 
violado, que demonstrou não estar inerte, para beneficiar o violador do direito.
Protesto judicial, ainda que ordenado por juiz incompetente – trata-se do 
protesto judicial, medida cautelar autorizada pelo art. 867 CPC, ainda que 
ordenado por juiz incompetente.
Protesto cambial – é o protesto efetivado nos Cartórios de Protestos e que 
indica, inequivocamente, que o titular do direito violado não está inerte.
Apresentação de título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de 
credores – a habilitação do credor em inventário, nos autos da falência ou da 
insolvência civil, constitui comportamento ativo que demonstra a intenção do 
titular do direito em interromper a prescrição.
Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor – diante da 
generalização, inclui-se na hipótese toda manifestação ativa do credor, em 
especial a propositura de medidas cautelares, notadamente notificações e 
interpelações.
Qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento 
do direito pelo devedor – esta é a única hipótese em que a interrupção da 
prescrição ocorre sem a manifestação volitiva do credor. Incluem-se, nesses 
atos de reconhecimento de dívida, por exemplo, pagamentos parciais, pedidos 
de prorrogação de prazo ou de parcelamento, pagamento de juros, etc.
Outras causas previstas em leis especiais – ressalte-se que outras causas 
interruptivas da prescrição são previstas em leis especiais.
OBS: Interrupção da prescrição do devedor principal x fiador – dispõe o art. 
204, §3º, que a interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o 
fiador. Como a fiança é contrato acessório, e este segue o destino do principal, 
se a interrupção foi promovida apenas contra o principal devedor ou afiançado, 
o prazo se restabelece também contra o fiador, que fica, assim, prejudicado. O 
contrário, entretanto, não é verdadeiro: a interrupção operada contra o fiados 
não prejudica o devedor, pois o principal não segue o destino do acessório.
Pretensões imprescritíveis – a pretensão é deduzida em juízo por meio da 
ação. À primeira vista, tem-se a impressão de que não há ações 
imprescritíveis, na sistemática do CC, pois a prescrição ocorre em prazos 
especiais, discriminados no art. 206, ou no prazo geral de dez anos, previsto no 
art. 205. Entretanto, a doutrina aponta várias pretensões imprescritíveis, 
afirmando que a prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade, a exceção. 
Assim, não prescrevem as seguintes pretensões:
As que protegem os direitos da personalidade, como direito à vida, à honra, à 
liberdade, à integridade física ou moral, etc.
As que se prendem ao estado das pessoas, como estado de filiação, qualidade 
de cidadania, condição conjugal, etc. Não prescrevem, assim, as ações de 
separação judicial, de interdição, de investigação de paternidade, etc.
As de exercício facultativo ou potestativo, assim entendidas as pretensões cuja 
existência não depende de direito violado, como as destinadas a extinguir o 
condomínio, a de pedir meação no muro vizinho, etc.
As referentes a bens públicos de qualquer natureza, que são imprescritíveis.
As que protegem o direito de propriedade, que é perpétuo (reivindicatória).
As de reaver bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor 
ou mandato.
Renúncia da prescrição – o CC não admite a renúncia prévia da prescrição, 
isto é, antes que se tenha consumado (art. 191). Não se admite a renúncia 
prévia nem de prescrição em curso, porque o referido instituto é de ordem 
pública e a renúncia tornaria a ação imprescritível por vontade da parte. 
Entretanto, poderá haver renúncia da prescrição desde que:
A prescrição já esteja consumada.
A renúncia não prejudique terceiros (terceiros eventualmente prejudicados são 
os credores, pois a renúncia à possibilidade de alegar a prescrição pode 
acarretar a diminuição do patrimônio do devedor).
Disposições legais específicas sobre prescrição –
A exceção prescreve nos mesmos prazos da pretensão – art. 190 – o que se 
quer evitar é que, prescrita a pretensão, o direito com pretensão prescrita 
possa ser utilizado perpetuamente a título de exceção como defesa.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes – art. 
192 – a prescrição em curso não cria direito adquirido, podendo o seu prazo 
ser reduzido ou ampliado por lei superveniente, ou transformado em prazo 
decadencial. Não se admite, porém, ampliação ou redução de prazo 
prescricional pela vontade das partes. No primeiro caso, importaria renúncia 
antecipada da prescrição, vedada por lei (art. 191). A possibilidade de se 
reduzir o prazo, que constituída questão polêmica, foi afastada pelo art. 192.
A prescrição pode ser alegada pela parte a quem aproveita em qualquer grau 
de jurisdição – art. 193 – a prescrição
pode ser alegada em qualquer fase ou 
estado da causa, em primeira ou em segunda instância. Pode, portanto, ser 
alegada em qualquer fase do processo de conhecimento, ainda que o réu 
tenha deixado de invocá-la na contestação, não significando renúncia tácita a 
falta de invocação na primeira oportunidade em que falar no processo. 
Considera-se que, se essa defesa não foi, desde o primeiro momento, 
invocada, é porque o réu, provavelmente, teria confiado nos outros meios de 
defesa, o que não tolhe o efeito da prescrição. A única conseqüência da tardia 
alegação diz respeito aos ônus da sucumbência: são indevidos honorários 
advocatícios em favor do réu, se este deixou de alegar a prescrição de 
imediato, na oportunidade da contestação, deixando para fazê-lo somente em 
grau de apelação (art. 22 CPC). OBS: 1) Inadmissibilidade de invocação da 
prescrição na fase de liquidação de sentença – na fase de liquidação de 
sentença, é inadmissível a invocação de prescrição, que deve ser objeto de 
deliberação se argüida na fase cognitiva do processo. A que pode ser alegada 
mesmo na fase de execução é a prescrição superveniente à sentença (art. 741, 
VI, CPC). 2) Inadmissibilidade de invocação da prescrição em Resp e RE se a 
matéria não foi ventilada anteriormente – se a prescrição não foi suscitada na 
instância ordinária (primeira e segunda instância), é inadmissível a sua 
argüição no recurso especial, perante o STJ, ou no recurso extraordinário, 
interposto perante o STF, por faltar o prequestionamento exigido nos 
regimentos internos desses tribunais.
O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a 
absolutamente incapaz – art. 194 – não pode o juiz, portanto, conhecer da 
prescrição, se não foi invocada pelas partes, salvo em benefício de 
absolutamente incapaz. Essa ressalva, que não favorece o relativamente
incapaz, constitui inovação, pois não constava no CC 1916.
Direito de regresso dos relativamente incapazes e pessoas jurídicas contra os 
seus assistentes ou representantes legais que deram causa à prescrição – art. 
195 – os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os 
seus assistentes ou representantes legais que deram causa à prescrição ou 
não a alegaram oportunamente. Se o tutor do menor púbere, por exemplo, 
culposamente, permitir que a ação do tutelado prescreva, deverá indenizá-lo
pelo prejuízo ocasionado. Trata-se de uma regra de proteção dos incapazes e 
das pessoas jurídicas em geral, que reafirma o art. 186. Entretanto, não 
abrange os absolutamente incapazes porque contra estes não corre a 
prescrição (art. 198, I).
A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu 
sucessor – art. 196 – é a chamada “accessio praescriptionis”. Assim, o herdeiro 
do “de cujus” disporá apenas do prazo faltante para exercer a ação, quando 
esse prazo iniciou-se com o autor da herança. O prazo, desse modo, não se 
inicia novamente, com a morte deste. Não só o prazo contra mas também a 
favor do sucessor, que tanto pode ser inter vivos como causa mortis, a título 
universal (herdeiro) como a título singular (legatário), continua a correr.
Prescrição e institutos afins –
Preclusão – consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sido 
exercida no momento próprio. Impede que se renovem as questões já 
decididas, dentro da mesma ação. Só produz efeitos dentro do próprio 
processo em que advém.
Perempção – consiste na perda do direito de ação pelo autor contumaz, que 
deu causa a três arquivamentos sucessivos (art. 268, § único, CPC). Não 
extingue o direito material nem a pretensão, que passam a ser oponíveis 
somente como defesa.
OBS: Retroatividade da lei prescricional – com respeito à retroatividade da lei 
prescricional, preleciona Câmara Leal: “Estabelecendo a nova lei um prazo 
mais curto de prescrição, essa começará a correr da data da nova lei, salvo se 
a prescrição iniciada na vigência da lei antiga viesse a completar-se em menos 
tempo, segundo essa lei, que, nesse caso, continuaria a regê-la, relativamente 
ao prazo”. O CDC, por exemplo, estabeleceu prazo prescricional de cinco anos 
para as ações pessoais. Os prazos vintenários do CC 1916 que estavam em 
curso, referentes a relações de consumo, recomeçaram a correr por cinco 
anos, a contar da nova lei, nos casos em que o tempo faltante era superior. 
Quando a lei nova estabelece um prazo mais longo de prescrição, a 
consumação se dará ao final desse novo prazo, contando-se, porém, para 
integrá-lo, o tempo já decorrido na vigência da lei antiga. Nas “Disposições 
Transitórias”, o novo CC estabeleceu a seguinte regra: “Serão os da lei anterior 
os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em 
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei 
revogada”.
Decadência – é a perda de um direito pela falta de seu exercício no prazo 
assinalado em lei. O CC 1916 não se referia, expressamente, à decadência. 
Englobava, indiscriminadamente, em um mesmo capítulo, as causas devidas à 
fluência do tempo, aparecendo todas sob a denominação genérica de 
prescrição. O novo CC, contudo, optou por uma fórmula segura de distinção, 
considerando prescricionais somente os prazos taxativamente discriminados na 
Parte Geral, nos arts. 205 (regra geral) e 206 (regras especiais), sendo 
decadenciais todos os demais, estabelecidos como complemento de cada 
artigo que rege a matéria, tanto na Parte Geral como na Especial. Na 
decadência, que é instituto de direito substantivo, há a perda de um direito 
previsto em lei. O legislador estabelece que certo ato terá de ser exercido 
dentro de determinado tempo, fora do qual ele não poderá mais efetivar-se 
porque dele decaiu o seu titular. A decadência se consubstancia, pois, no 
decurso infrutífero de um termo prefixado para o exercício do direito. O tempo 
age em relação à decadência como um requisito do ato, pelo que a própria 
decadência é a sanção conseqüente da inobservância de um termo. Quando 
um direito potestativo não é exercido, extrajudicialmente ou judicialmente, 
conforme o caso, dentro do prazo para exercê-lo, ocorre a decadência desse 
direito potestativo. Ora, os direitos potestativos são direitos sem pretensão, 
pois são insuscetíveis de violação, já que a eles não se opõe um dever de 
quem quer que seja, mas uma sujeição de alguém (o meu direito de anular um 
negócio jurídico não pode ser violado pela parte a quem a anulação prejudica, 
pois esta está apenas sujeita a sofrer as conseqüências da anulação decretada 
pelo juiz, não tendo, portanto, dever algum que possa descumprir). Assim, se a 
hipótese não é a de violação de um direito (quando se exerce, judicialmente, o 
direito de anular um negócio jurídico, não se está pedindo condenação de 
ninguém por violação de direito, mas, apenas, exercendo um direito por via 
judicial), mas há prazo para exercer esse direito, prazo esse que não é nem do 
art. 205, nem do art. 206, mas se encontra em outros artigos, esse prazo é de 
decadência.
Decadência legal e decadência convencional – a decadência pode resultar da 
lei (decadência legal), ou do contrato ou testamento (decadência 
convencional). Quando a decadência é legal, o juiz está obrigado a conhecê-la 
de ofício (art. 210), ainda que se trate de direitos patrimoniais. Já se a 
decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em 
qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação (art. 211).
Inaplicabilidade à decadência das normas que impedem, suspendem ou 
interrompem a prescrição – art. 207 – prescreve o CC, em seu art. 207, que, 
“salvo disposição em contrário, não se aplicam à decadência as normas que 
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição”. Em princípio, pois, os 
prazos decadenciais são fatais e peremptórios, pois não se suspendem, nem 
se interrompem. A inserção da expressão “salvo disposição
em contrário” no 
aludido dispositivo tem a finalidade de definir que tal regra não é absoluta, bem 
como de esclarecer que não são revogados os casos em que um dispositivo 
legal, atualmente em vigor (ex.: art. 26, §2º, CDC), determine, para atender a 
hipótese especialíssima, a interrupção ou suspensão do prazo de decadência. 
Tal ressalva também tem o condão de acentuar que a regra do art. 207 é de 
caráter geral, só admitindo exceções por lei, e não pela simples vontade das 
partes quando a lei não lhes dá tal faculdade.
Direito de regresso dos relativamente incapazes e pessoas jurídicas, e não 
fluência do prazo decadencial contra absolutamente incapazes – art. 208 – o 
art. 208 determina que se aplique à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, 
I, que dizem respeito a incapazes. Assim, assegura-se aos relativamente 
incapazes e pessoas jurídicas o direito de ação contra seus assistentes ou 
representantes legais que deixarem fluir o prazo decadencial ou não o 
alegarem oportunamente. Além disso, não flui o prazo decadencial contra os 
absolutamente incapazes.
Impossibilidade de renúncia à decadência fixada em lei – art. 209 – proclama o 
art. 209 que “é nula a renúncia à decadência fixada em lei”. A irrenunciabilidade 
decorre da própria natureza da decadência. O referido dispositivo, contudo, 
considera irrenunciável apenas o prazo de decadência estabelecido em lei, e 
não os convencionais, como o pactuado na retrovenda, em que, por exemplo, 
pode-se estabelecer que o prazo de decadência do direito de resgate seja de 
um ano a partir da compra e venda e, depois, renunciar-se a esse prazo, 
prorrogando-se-o até 3 anos, que é o limite máximo estabelecido em lei.
Prescrição x decadência – para diferenciar ambos os institutos, pode-se afirmar 
que:
A prescrição não corre contra determinadas pessoas, enquanto a decadência 
corre contra todos.
A prescrição pode suspender-se ou interromper-se, enquanto a decadência 
tem curso fatal, não se suspendendo ou interrompendo pelas causas 
suspensivas ou interruptivas da prescrição, só podendo ser obstada a sua 
consumação pelo efetivo exercício do direito de ação, quando esta constitui o 
meio pelo qual deve ser exercido o direito (há uma exceção em que se admite 
a suspensão de prazo decadencial no CDC).
A prescrição atinge diretamente a ação e, por via oblíqua, faz desaparecer o 
direito por ela tutelado (o que perece é a ação que protege o direito). A 
decadência, ao contrário, atinge diretamente o direito e, por via oblíqua, 
extingue a ação (é o próprio direito que perece).
A prescrição resulta exclusivamente da lei, enquanto a decadência pode 
resultar da lei, do contrato e do testamento.
Prazos de prescrição são unicamente os taxativamente discriminados na Parte 
Geral, nos arts. 205 (regra geral) e 206 (regras especiais), sendo de 
decadência todos os demais, estabelecidos como complemento de cada artigo 
que rege a matéria, tanto na Parte Geral como na Especial.
8 OBRIGAÇÕES
Introdução – o direito pode ser dividido em dois grandes ramos: do dos direitos 
não patrimoniais, referentes à pessoa humana (direito à vida, à liberdade, ao 
nome, etc.), e dos direitos patrimoniais, de valor econômico, que por sua vez se 
dividem em reais e obrigacionais.
Direitos obrigacionais x direitos reais – o direitos obrigacionais diferem dos 
reais:
Quanto ao objeto – os direitos reais incidem sobre uma coisa, enquanto os 
obrigacionais visam ao cumprimento de determinada prestação.
Quanto ao sujeito – nos direitos reais, o sujeito passivo é indeterminado (o 
direito pode ser exercido “erga omnes”, ou seja, são sujeitos passivos todas as 
pessoas do universo, que deve abster-se de molestar o titular), enquanto nos 
obrigacionais o sujeito passivo é determinado ou determinável.
Quanto ao exercício – os direitos reais são exercidos diretamente sobre a 
coisa, sem a necessidade da existência de um sujeito passivo, enquanto o 
exercício dos direitos obrigacionais exige uma figura intermediária, que é o 
devedor.
Quanto à ação – nos direitos reais, a ação pode ser exercida contra quem quer 
que detenha a coisa, ao passo que a ação, no direito obrigacional, é dirigida 
somente contra quem figura na relação jurídica como sujeito passivo.
Quanto à duração – os direitos reais são perpétuos, não se extinguindo pelo 
não-uso, mas somente nos casos expressos em lei (ex.: desapropriação, 
usucapião, etc.), enquanto os pessoais são transitórios se extinguem pelo 
cumprimento ou por outros meios.
Quanto à formação – os direitos reais só podem ser criados pela lei, sendo o 
seu número limitado e regulado por esta (o rol é “numerus clausus”), ao passo 
que os obrigacionais podem resultar da vontade das partes, sendo ilimitado o 
número de contratos inominados (o rol é “numerus apertus”).
Conceito de obrigação – é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito 
ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de 
determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de 
crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo 
objeto consiste numa prestação economicamente aferível. É o patrimônio do 
devedor que responde por suas obrigações, constituindo ele, pois, a garantia 
do adimplemento com que pode contar o credor. A obrigação nasce de 
diversas fontes e deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não 
ocorre e sobrevém o inadimplemento, surge a responsabilidade.
OBS: 1) Obrigação x responsabilidade – não se confundem, pois, obrigação e 
responsabilidade. A responsabilidade só surge se o devedor não cumpre 
espontaneamente a obrigação. A responsabilidade é, pois, a conseqüência 
jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.
2) Obrigação sem responsabilidade e responsabilidade sem obrigação –
malgrado a correlação entre obrigação e responsabilidade, uma pode existir 
sem a outra. As dívidas prescritas e as de jogo constituem exemplos de 
obrigação sem responsabilidade. O devedor, nestes casos, não pode ser 
condenado a cumprir a prestação, isto é, ser responsabilizado, embora 
continue devedor. Como exemplo de responsabilidade sem obrigação pode ser 
mencionado o exemplo do fiador, que é responsável pelo pagamento do débito 
somente na hipótese de inadimplemento da obrigação por parte do afiançado, 
este sim originariamente obrigado ao pagamento dos aluguéis, por exemplo.
Elementos constitutivos da obrigação – a obrigação compõe-se de três 
elementos essenciais:
Sujeitos ativo e passivo (credor e devedor) – os sujeitos da obrigação podem 
ser pessoa natural como jurídica, de qualquer natureza, bem como as 
sociedades em comum (ou de fato). Devem ser determinados ou, ao menos, 
determináveis (ex: no contrato de doação, o donatário, às vezes, é 
indeterminado, mas determinável no momento de seu cumprimento, pelos 
dados nele constantes – o vencedor de um concurso, o melhor aluno de uma 
classe, etc.). Se não forem capazes, serão representados ou assistidos por 
seus representantes legais, dependendo, ainda, em alguns casos, de 
autorização judicial.
Vínculo jurídico – é o vínculo existente entre o credor e o devedor. O vínculo 
jurídico resulta de diversas fontes e sujeita o devedor a determinada prestação 
em favor do credor. Divide-se em: a) débito ou vínculo espiritual ou pessoal – é 
o vínculo que une o devedor ao credor e exige que aquele cumpra 
pontualmente a obrigação; b) responsabilidade ou vínculo material – confere ao 
credor não satisfeito o direito de exigir judicialmente o cumprimento da 
obrigação, submetendo àquele os bens do devedor. Há portanto, de um lado o 
dever da pessoa obrigada (“debitum”), e de outro a responsabilidade, em caso 
de inadimplemento. O sujeito passivo deve e também responde, de forma 
coativa, pelo cumprimento da obrigação. Pode existir, no entanto, o 
desmembramento desses elementos, como no caso da fiança
(responsabilidade sem débito) e na dívida de jogo (débito sem 
responsabilidade).
Objeto – o objeto da relação jurídica é sempre uma conduta humana (dar, fazer 
ou não fazer) e chama-se prestação ou objeto imediato. O objeto da prestação 
(que se descobre indagando: dar, fazer ou não fazer o quê?) é o objeto 
mediato da obrigação. Há de ser lícito, possível, determinado ou determinável 
(art. 104, II) e suscetível de apreciação econômica (obrigações jurídicas, mas 
sem conteúdo patrimonial, como o dever de fidelidade entre os cônjuges e 
outros do direito de família, são excluídas do direito das obrigações).
OBS: Causa – aduza-se, por fim, que a causa, embora referida de forma 
indireta em alguns dispositivos (arts. 140, 373, 876), não foi incluída em nosso 
ordenamento como elemento constitutivo da relação obrigacional.
Fontes das obrigações – fonte da obrigação é o seu elemento gerador, o fato 
que lhe dá origem, de acordo com as regras de direito. Indagar das fontes do 
direito é buscar as razões pelas quais alguém se torna credor ou devedor de 
outrem. O CC considera fontes de obrigações: a) contratos; b) declarações 
unilaterais de vontade; c) atos ilícitos, dolosos e culposos. Há obrigações, 
entretanto, que resultam diretamente da lei, como a de prestar alimentos a 
parentes (art. 1694), a de indenizar os danos causados por seu empregado 
(art. 932, III), a “propter rem” imposta aos vizinhos, etc. Mesmo no caso do 
contrato, da declaração unilateral da vontade e do ato ilícito, a lei aparece 
como fonte primária, pois os referidos atos e negócios jurídicos somente geram 
obrigações porque assim dispõe a lei. Pode-se afirmar, pois, que a obrigação 
resulta da vontade do Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, 
manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática de um ato 
ilícito. No primeiro caso, a lei é a fonte imediata da obrigação; no segundo, a 
mediata.
Modalidades das obrigações –
Classificação quanto ao seu objeto – o CC brasileiro, inspirado na técnica 
romana, classifica as obrigações, quanto a seu objeto, em três espécies: a) 
obrigação de dar; b) obrigação de fazer; c) obrigação de não fazer. Portanto, 
duas positivas (de dar e de fazer) e uma negativa (de não fazer). Todas as 
obrigações que venham a se constituir na vida jurídica compreenderão sempre 
alguma dessas condutas, que resumem o objeto da prestação. Em alguns 
casos, elas caminham juntas (ex.: contrato de empreitada, em que a obrigação 
de fazer pode abranger a de dar – art. 610, parte final). Diverso é o processo 
de execução de sentença, conforme se trate de execução para entrega de 
coisa certa (obrigação de dar), regida pelos arts. 621 a 631 CPC, ou de 
execução das obrigações de fazer e de não fazer, reguladas pelos arts. 632 a 
645 do mesmo diploma.
Classificação quanto aos seus elementos – em relação aos elementos 
constitutivos da obrigação (sujeitos ativo e passivo, vínculo jurídico e objeto), 
dividem-se as obrigações em:
Simples – são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo 
e um único objeto, ou seja, com todos os elementos no singular.
Compostas ou complexas – são aquelas em que um de seus elementos 
(sujeitos ativo e passivo, vínculo jurídico e objeto) se apresenta no plural. 
Assim, basta que um deles esteja no plural para que a obrigação se denomine 
composta ou complexa, podendo ser:
Composta pela multiplicidade de objetos – é aquela em que a obrigação tem 
mais de um objeto. Por exemplo: “José obrigou-se a entregar a João um 
veículo e um animal” (dois objetos). Essas obrigações podem ser:
Cumulativas ou conjuntivas – nestas, os objetos apresentam-se ligados pela 
conjunção “e”, como na obrigação de entregar um veículo e um animal, ou seja, 
os dois, cumulativamente. Efetiva-se o seu cumprimento somente pela 
prestação de todos eles.
Alternativas ou disjuntivas – nas alternativas, os objetos estão ligados pela 
disjuntiva “ou”, podendo haver duas ou mais opções. Assim, se a obrigação for 
de entregar um veículo ou um animal, o devedor libera-se da obrigação 
entregando apenas um deles e não ambos. Tal modalidade de obrigação 
exaure-se com a simples prestação de um dos objetos que a compõem. A 
obrigação alternativa extingue-se somente com o perecimento de todos os 
objetos, e será válida se apenas uma das prestações estiver eivada de vício, 
permanecendo eficaz a outra. OBS: Obrigação facultativa – os doutrinadores 
costumam mencionar uma espécie “sui generis” de obrigação alternativa, a que 
denominam facultativa. Trata-se da obrigação simples, em que é devida uma 
única prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, e só a ele, exonerar-se 
mediante o cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É obrigação 
com faculdade de substituição. O credor só pode exigir a prestação obrigatória, 
mas o devedor se exonera cumprindo a obrigação facultativa. Embora 
apresente semelhança com a obrigação alternativa, pode assim ser 
considerada somente quando observada pela ótica do devedor. Visualizada 
pelo prisma do credor, é obrigação simples, de um só objeto. Se este perece, 
sem culpa do devedor, resolve-se o vínculo obrigacional, não podendo aquele 
exigir a prestação acessória. A obrigação facultativa restará totalmente inválida 
se houver defeito na obrigação principal, mesmo que não o haja na acessória.
Composta pela multiplicidade de sujeitos – é a obrigação que ostenta mais de 
um sujeito ativo e passivo, concomitantemente ou não. Podem ser:
Divisíveis – são aquelas cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos. Nas 
obrigações divisíveis, cada credor só tem direito à sua parte, podendo reclamá-
la independentemente do outro. E cada devedor responde exclusivamente pela 
sua quota. Assim, se duas pessoas se obrigam a entregar duas sacas de café 
a um terceiro, este, o credor, só poderá exigir de um dos devedores a entrega 
de uma delas. Se quiser as duas, deve exigi-las dos dois devedores (art. 257).
Indivisíveis – são aquelas cujo objeto não pode ser dividido entre os sujeitos. 
Nas obrigações indivisíveis, cada devedor só deve, também, a sua quota-parte. 
Mas, em razão da indivisibilidade física do objeto (ex.: um cavalo), a prestação 
deve ser cumprida por inteiro. Se dois são os credores, um só pode exigir a 
entrega do animal, mas somente por ser indivisível, devendo prestar contas ao 
outro credor (arts. 259 e 261).
Solidárias – a solidariedade independe da divisibilidade ou indivisibilidade do 
objeto da prestação, porque resulta da vontade das partes ou da lei. Pode ser, 
também, ativa ou passiva. Se existirem vários devedores solidários passivos, 
cada um deles responde pela dívida inteira. O devedor que cumprir sozinho a 
prestação pode cobrar, regressivamente, a quota-parte de cada um dos co-
devedores (art. 283).
Quanto aos elementos acidentais – o negócio jurídico, além dos elementos 
essenciais, pode conter cláusulas acessórias, pelas quais as partes modificam 
seus efeitos naturais, como a condição, o termo e o encargo ou modo, 
denominados elementos acidentais. Quanto a estes, as obrigações classificam-
se em:
Puras e simples – são as não sujeitas a condição, termo ou encargo.
Condicionais – são aquelas cujo efeito está subordinado a um evento futuro e 
incerto, isto é, a uma condição.
A termo – são aquelas cuja eficácia está subordinada a um evento futuro e 
certo, a determinada data.
Modais ou com encargo – são as oneradas com algum gravame.
Quanto ao momento em que devem ser cumpridas – quando ao momento em 
que devem ser cumpridas, as obrigações classificam-se em:
Momentâneas ou de execução instantânea – são as que se consumam num só 
ato, sendo cumpridas imediatamente após a sua constituição, como na compra 
e venda à vista.
De execução diferida – são aquelas cujo cumprimento deve ser realizado 
também em um só ato, mas em momento futuro (ex.: entrega, em determinada 
data, do objeto alienado).
De execução continuada ou de trato sucessivo – é a que se cumpre por meio 
de atos reiterados, como ocorre na prestação de serviços, na compra e venda 
a prazo ou em prestações periódicas, etc.
Obrigações de meio e de resultado –
Obrigações de meio – diz-se que a obrigação é de meio quando o devedor 
promete empregar seus conhecimentos, meios e técnicas para a obtenção de 
um determinado resultado, sem no entanto se responsabilizar por ele. É o caso 
dos advogados, que não se obrigam a vencer a causa, mas a bem defender os 
interesses dos clientes; bem como o dos médicos, que não se obrigam a curar, 
mas a tratar bem os enfermos, fazendo uso de seus conhecimentos científicos. 
Se a obrigação assumida por esses profissionais fosse de resultado, seriam 
eles responsabilizados civilmente se a causa não fosse ganha ou se o paciente 
viesse a falecer.
Obrigações de resultado – quando a obrigação é de resultado, o devedor dela 
se exonera somente quando o fim prometido é alcançado. Não o sendo, é 
considerado inadimplente, devendo responder pelos prejuízos decorrentes do 
insucesso. Exemplo clássico de obrigação dessa natureza é a assumida pelo 
transportador, que promete tacitamente, ao vender o bilhete, levar o passageiro 
são e salvo ao seu destino. Costuma ser mencionada, também, a obrigação 
assumida pelo cirurgião plástico quando realiza trabalho de natureza estética, 
assumindo o risco do resultado.
Obrigações civis e naturais –
Obrigações civis – são as que encontram respaldo no direito positivo, podendo 
seu cumprimento ser exigido pelo credor, por meio de ação.
Obrigações naturais – nas obrigações naturais o credor não tem o direito de 
exigir a prestação, e o devedor não está obrigado a pagar. Em compensação, 
se este, voluntariamente, efetua o pagamento, não tem o direito de repeti-lo. 
Não cabe o pedido de restituição da importância paga, em razão da “soluti 
retentio” (expressão usada no direito romano e que significa retenção do 
pagamento) existente em favor do credor. A referida retenção é o único efeito 
que o direito positivo atribui à obrigação natural. O CC refere-se à obrigação 
natural em dois dispositivos: o art. 882 (“não se pode repetir o que se pagou 
para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”) e o 
art. 564, III (não se revogam por ingratidão as doações “que se fizerem em 
cumprimento de obrigação natural”). Os casos de obrigação natural no CC são 
dois: dívidas prescritas (art. 882) e dívidas de jogo (art. 814). Em todos eles 
encontram-se presentes os elementos caracterizadores da referida espécie de 
obrigação: inexigibilidade do cumprimento, inexistência do dever de prestar e 
inadmissibilidade de repetição em caso de pagamento voluntário. Não é 
possível revitalizar obrigação natural por novação, nem se admite possa ser 
objeto de compensação, que ocorre somente entre dívidas vencidas, isto é, 
exigíveis. Não comporta fiança nem ônus reais, e não tem eficácia a simples 
promessa de cumpri-la Seu pagamento parcial não autoriza o credor a 
reclamar o cumprimento do restante.
Obrigações líquidas e ilíquidas –
Líquida – é a obrigação certa quanto a sua existência e determinada quanto ao 
seu objeto. É expressa por uma cifra, por um algarismo.
Ilíquida – é a que depende de prévia apuração, pois o seu valor, o montante da 
prestação, apresenta-se incerto.
Obrigações principais e acessórias – reciprocamente consideradas, as 
obrigações dividem-se em:
Principais – são as que subsistem por si, sem depender de qualquer outra (ex.: 
a obrigação de entregar a coisa no contrato de compra e venda).
Acessórias – são as que têm a sua existência subordinada a outra relação
jurídica, ou seja, dependem da obrigação principal (ex.: fiança, cláusula penal, 
juros, etc.). Por esta razão, a nulidade da obrigação principal implica a das 
obrigações acessórias, mas é recíproca não é verdadeira, pois a destas não 
induz a da principal (art. 184, 2ª parte).
Obrigações com cláusula penal – são aquelas em que há a cominação de uma 
multa ou de uma pena para o caso de inadimplemento ou de retardamento do 
cumprimento da avença. A cláusula penal tem caráter acessório, e como 
principal função servir como meio de coerção. Pode ser:
Compensatória – quando a cláusula penal for estipulada para o caso de total 
inadimplemento da obrigação.
Moratória – quando a cláusula penal se destinar a garantir o cumprimento de 
alguma cláusula especial ou simplesmente evitar a mora.
Obrigações “propter rem” ou ambulatórias – as obrigações “propter rem” ou 
ambulatórias pertencem à categoria das obrigações híbridas, assim 
denominadas por constituírem um misto de direito pessoal e de direito real, ou 
por se situarem entre o direito pessoal ou real. Nessa categoria podem ser 
incluídas, também, as com ônus reais e as com eficácia real. Assim, obrigação 
“propter rem” é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito 
real. Só existe em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio 
ou de detentor de determinada coisa (ex.: obrigação imposta aos proproetários 
e inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o sossego e a 
saúde dos vizinhos – art. 1277; a obrigação do condômino de contribuir para a 
conservação da coisa comum – art. 1315; a do condômino, no condomínio em 
edificações, de não alterar a fachada do prédio – art. 1336, III; a dos donos de 
imóveis confinantes, de concorrerem para as despesas de construção e 
conservação de tapumes divisórios – art. 1297, §1º; etc.). OBS: 1) Obrigações 
com ônus reais – são as obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, 
constituindo direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis “erga omnes” (ex.: 
renda constituída sobre imóvel). 2) Obrigações com eficácia real – são as que, 
sem perder seu caráter de direito a uma prestação, transmitem-se e são 
oponíveis a terceiro que adquira direito sobre determinado bem (ex.: art. 576 –
a locação pode ser oposta ao adquirente da coisa locada).
Obrigações de dar coisa certa – na obrigação de dar coisa certa, obriga-se o 
devedor a dar coisa individualizada, que se distingue por características 
próprias, móvel ou imóvel. Por essa razão, o credor de coisa certa não pode 
ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. O devedor não pode, 
assim, modificar unilateralmente o objeto da prestação (art. 313). A recíproca 
também é verdadeira: o credor não pode exigir coisa diferente, ainda que 
menos valiosa. Por isso é que a dação em pagamento (entrega de um objeto 
em pagamento de dívida em dinheiro), por exemplo, depende do expresso 
consentimento do credor (art. 356). O referido art. 313 afasta a possibilidade de 
compensação nos casos de comodato e depósito (art. 373, II), porque o credor 
tem direito à restituição da própria coisa emprestada ou depositada, bem como 
impede que o devedor se desobrigue por partes, se assim não convencionado.
Conteúdo – no tocante ao seu conteúdo, a obrigação de dar coisa certa confere 
ao credor simples direito pessoal, e não real. Aperfeiçoado o contrato de 
compra e venda, por exemplo, o vendedor não transfere desde logo o domínio: 
obriga-se apenas a transmiti-lo (art. 481). Não cumprida a obrigação, não pode 
o adquirente reivindicar a coisa, por não ter-lhe o domínio. Terá de contentar-se 
com a ação de perdas e danos e com a resolução da avença (arts. 389 e 475).
Extensão – quanto a extensão da obrigação, prescreve o art. 233 que “a 
obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não 
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do 
caso”. É uma decorrência da regra geral de que o acessório segue o principal. 
Nada obsta que se convencione o contrário. No silêncio do contrato quanto a 
este aspecto, a venda de um terreno com árvores frutíferas inclui os frutos 
pendentes; a alienação de um imóvel inclui, como acessório, o ônus dos 
impostos;
a de um veículo abrange os acessórios colocados pelo vendedor; 
etc. Pode o contrário não só resultar de convenção como de circunstâncias do 
caso. Por exemplo: embora o alienante responda pelos vícios redibitórios, 
certas circunstâncias podem excluir tal responsabilidade, como o conhecimento 
do vício por parte do adquirente.
Tradição – cumpre-se a obrigação de dar coisa certa mediante entrega (como 
na compra e venda) ou restituição (como no comodato). Esses dois atos 
podem ser resumidos numa palavra: tradição. Como no direito brasileiro o 
contrato, por si só, não transfere o domínio, mas apenas gera a obrigação de 
entregar a coisa alienada, enquanto não ocorrer a tradição a coisa continuará 
pertencendo ao devedor “com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos 
quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor 
resolver a obrigação” (art. 237). Assim, por exemplo, se o objeto da obrigação 
for um animal e este der cria, o devedor não poderá ser constrangido a 
entregá-la. Pelo acréscimo, tem o direito de exigir aumento do preço, se o 
animal não foi adquirido juntamente com a futura cria. Também os frutos 
percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes (art. 237, § 
único)
Perecimento e deterioração da coisa – no geral, não havendo culpa, resolve-se 
a obrigação, sendo as partes repostas ao estado anterior, sem direito a perdas 
e danos. Havendo culpa, são devidas as perdas e danos, respondendo o 
culpado, ainda, pelo equivalente em dinheiro da coisa. Neste sentido:
Perecimento – em caso de perecimento (perda total) da coisa antes da 
tradição, é preciso, primeiramente, verificar se o fato decorreu de culpa ou não 
do devedor. Não tendo havido culpa do devedor ou pendente condição 
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, que voltam à 
primitiva situação, tanto na obrigação de entregar como na de restituir (arts. 
234, 1ª parte, e 238). Assim, se o vendedor já recebeu o preço da coisa, que 
veio a perecer sem culpa sua (ex.: em razão de caso fortuito ou da força 
maior), deve devolvê-lo ao adquirente, em virtude da resolução do contrato, 
não estando obrigado a pagar perdas e danos. Se o perecimento ocorreu 
pendente condição suspensiva, não se terá adquirido o direito a que o ato visa 
(art. 125), e o devedor suportará o risco da coisa. Quem sofre o prejuízo, na 
obrigação de entregar, é o próprio alienante, pois continua sendo o proprietário 
até a tradição. Segundo o princípio que vem do direito romano, a coisa perece 
para o dono (“res perit domino”). Na obrigação de restituir coisa certa ao 
credor, o prejudicado será este, na condição de dono (“res perit domino”). 
Assim, se o animal objeto de comodato não puder ser restituído, por ter 
perecido devido a um raio, resolve-se a obrigação do comodatário, que não 
responderá por perdas e danos (exceto se estiver em mora, conforme art. 399), 
suportando a perda o comodante, “ressalvados os seus direitos até o dia da 
perda” (art. 238). A culpa acarreta a responsabilidade pelo pagamento de 
perdas e danos. Neste caso, havendo perecimento do objeto, tem o credor 
direito a receber o seu equivalente em dinheiro, mais as perdas e danos 
comprovadas, tanto na obrigação de entregar como na de restituir (arts. 234, 2ª 
parte, e 239).
Deterioração – em caso de deterioração (perda parcial), também importa saber, 
preliminarmente, se houve culpa ou não do devedor. Se o devedor não teve 
culpa, na obrigação de entregar, poderá o credor resolver a obrigação, por não 
lhe interessar receber o bem danificado, voltando as partes, neste caso, ao 
estado anterior, ou aceitá-lo no estado em que se acha, com abatimento do 
preço proporcional à perda (art. 235). Na obrigação de restituir, recebe-o no 
estado em que estiver, sem direito a qualquer indenização (art. 240). Havendo 
culpa pela deterioração, na obrigação de entregar, as alternativas deixadas ao 
credor são as mesmas do art. 235 (resolver a obrigação, exigindo o equivalente 
em dinheiro, ou aceitar a coisa, com abatimento), mas com direito, em qualquer 
caso, à indenização das perdas e danos (art. 236). Na obrigação de restituir, o 
credor também poderá exigir o equivalente em dinheiro mais perdas e danos 
(art. 240, 2ª parte).
Obrigações de dar coisa incerta – a expressão “coisa incerta” indica que a 
obrigação tem objeto indeterminado, mas não totalmente, porque deve ser 
indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. É, portanto, indeterminada, 
mas determinável. Falta apenas determinar a sua qualidade. Se faltar também 
o gênero ou a quantidade, a indeterminação será absoluta, e a avença com tal 
objeto não gerará obrigação. Assim, não pode ser objeto de prestação a de 
“entregar sacas de café”, por faltar quantidade; bem como a de entregar “dez 
sacas”, por faltar o gênero. Mas constitui obrigação de dar coisa incerta a de 
“entregar dez sacas de café”, porque o objeto é determinado pelo gênero e 
pela quantidade, faltando determinar somente a qualidade do café. Enquanto 
tal não ocorre, a coisa permanece incerta. A determinação dá-se pela escolha. 
Feita esta e cientificado o credor, acaba a incerteza e a coisa torna-se certa, 
vigorando, então, as normas da seção anterior do CC, que tratam das 
obrigações de dar coisa certa (art. 245). O ato unilateral de escolha denomina-
se concentração. Para que a obrigação se concentre em determinada coisa 
não basta a escolha. É necessário que ela (escolha) se exteriorize pela 
entrega, pelo depósito em pagamento, pela constituição em mora ou por outra 
ato jurídico que importe a cientificação do credor. Rege-se a obrigação de dar 
coisa incerta pelo disposto nos arts. 629 a 631 CPC. O direito de escolha 
competirá ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação (art. 
244). Portanto, só competirá ao credor se o contrato assim dispuser. Sendo 
omisso, pertencerá ao devedor. Referido dispositivo estabelece, no entanto, 
limites à atuação do devedor, dispondo que “não poderá dar a coisa pior, nem 
será obrigado a prestar a melhor”. Deve, portanto, guardar o meio-termo entre 
os congêneres da melhor e da pior qualidade. Podem as partes convencionar 
que a escolha competirá a terceiro estranho à relação obrigacional, aplicando-
se, por analogia, o disposto no art. 1930. Determinada a qualidade, torna-se a 
coisa individualizada, certa. Antes da escolha (a definição somente se completa 
com a cientificação do credor), “não poderá o devedor alegar perda ou 
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito” (art. 246), 
pois o gênero nunca perece (“genuns nunquan perit”). Assim, se alguém, por 
exemplo, obriga-se a entregar dez sacas de café, não se eximirá da obrigação, 
ainda que se percam todas as sacas que possui, porque pode obter, no 
mercado, o café prometido. Entram nessa categoria também as obrigações em 
dinheiro, pois o devedor não se exonera se vem a perder as cédulas que havia 
separado para solver a dívida. Diferente será a solução se se tratar de gênero 
limitado, ou seja, circunscrito a coisas que se acham em determinado lugar 
(ex.: animais de determinada fazenda, cereais de determinado depósito, etc.). 
Sendo delimitado dessa forma o “genus”, o perecimento de todas as espécies 
que o componham acarretará a extinção da obrigação.
Obrigações de fazer – nas obrigações de fazer, a prestação consiste em atos 
ou serviços a serem executados pelo devedor.
Obrigação de fazer personalíssima (intuitu personae), infungível ou imaterial –
arts. 247 e 248 – quando for convencionado que o devedor cumpra 
pessoalmente a prestação, ou a própria natureza desta impedir a sua 
substituição, estaremos diante de uma obrigação de fazer personalíssima. A 
infungibilidade pode decorrer da própria natureza da prestação, ou seja, das 
qualidades artísticas ou profissionais do contratado (ex.: famoso pintor, 
consagrado cirurgião plástico, etc.), sendo
neste caso subentendida; ou do 
contexto da avença, por convencionado que o devedor a cumpra 
pessoalmente.
Obrigação de fazer impessoal, fungível ou material – art. 249 – quando não há 
a exigência de que o devedor cumpra pessoalmente a prestação, nem se trata 
de ato ou serviço cuja execução depende de qualidades pessoais do devedor, 
podendo ser realizado por terceiro, diz-se que a obrigação de fazer é 
impessoal.
Inadimplemento – a impossibilidade de o devedor cumprir a obrigação de fazer, 
bem como a recusa ou mora em executá-la, acarretam o inadimplemento 
contratual.
Impossibilidade – se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do 
devedor, resolver-se-á a obrigação (art. 248), desde que a impossibilidade seja 
absoluta (art. 106). Se decorrer de culpa deste, ou seja, se o próprio devedor 
criou a impossibilidade, responderá ele por perdas e danos (art. 248, 2ª parte). 
Como ninguém pode fazer o impossível (“impossibilia nemo tenetur”), resolve-
se a obrigação, sem conseqüências para o devedor sem culpa, e com a 
responsabilidade pela satisfação das perdas e danos, para o culpado. Assim, o 
ator que fica impedido de se apresentar em determinado espetáculo em razão 
de acidente a que não deu causa, ocorrido no trajeto para o teatro, sendo 
hospitalizado, não responde por perdas e danos. Mas a resolução do contrato o 
obriga a restituir eventual adiantamento da remuneração. Responde por elas, 
no entanto, se a impossibilidade foi por ele criada, ao viajar para local distante 
às vésperas da apresentação contratada.
Recusa ou mora –
Obrigação de fazer personalíssima – em caso de recusa do devedor em 
cumprir a prestação a ele só imposta no contrato ou por ele só exeqüível 
devido a suas qualidades pessoas (obrigação personalíssima), haverá a 
responsabilização por perdas e danos (art. 247). A recusa voluntária induz 
culpa. O cantor que se recusa a se apresentar no espetáculo contratado 
responde pelos prejuízos acarretados aos promotores do evento. A recusa ao 
cumprimento de obrigação de fazer impessoal resolve-se, tradicionalmente, em 
perdas e danos, pois não se pode constranger fisicamente o devedor a 
executá-la. No entanto, admite-se a execução específica das obrigações de 
fazer, como se pode verificar pelos arts. 287, 461 e 644 CPC, que contemplam 
meios de, indiretamente, obrigar o devedor a cumpri-las, mediante a cominação 
de multa diária (astreinte). Atualmente, portanto, a regra quanto ao 
descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer é a da execução 
específica, sendo exceção a resolução em perdas e danos.
Obrigação de fazer impessoal – em se tratando de obrigação de fazer 
impessoal, que pode ser executada por terceiro, “será livre ao credor mandá-lo 
executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da 
indenização cabível”. Em caso de urgência, “pode o credor, 
independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o 
fato, sendo depois ressarcido” (art. 249 e § único). Para o credor, não importa 
que a prestação venha a ser cumprida por terceiro, às expensas do substituído. 
Interessa-lhe o cumprimento, a utilidade prometida (art. 634 CPC).
OBS: 1) Obrigações de fazer x obrigações de dar – as obrigações de fazer 
diferem das obrigações de dar, principalmente porque o credor pode, conforme 
as circunstâncias, não aceitar a prestação por terceiro, enquanto nestas se 
admite o cumprimento por outrem, estranho aos interessados (art. 305).
2) Obrigação de emitir declaração de vontade – a obrigação de fazer pode 
consistir em emitir declaração de vontade, como, por exemplo, outorgar 
escritura definitiva em cumprimento a compromisso de compra e venda, 
endossar o certificado de propriedade de veículo, etc. Caso se trate de 
compromisso de compra e venda de bem imóvel, irretratável e irrevogável, 
vendido em prestações, o inadimplemento dá ensejo à propositura da ação de 
adjudicação compulsória, de rito sumário (art. 1418 CC; DL 58/37; Lei 649/49; 
Lei 6766/79), em que o juiz, substituindo-se ao devedor inadimplente, adjudica 
o imóvel compromissado ao credor. O STJ vem admitindo a propositura da 
aludida ação com base em compromisso de compra e venda irretratável, 
mesmo não estando registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Se o objeto 
for bem móvel, cabe ação de obrigação de fazer, fundada no art. 641 CPC. A 
sentença, neste caso, tem como pressuposto a fungibilidade jurídica da 
atividade a ser exercida pelo devedor, pois não pode o juiz sub-rogar-se ao 
devedor nas prestações infungíveis.
Obrigações de não fazer - a obrigação de não fazer ou negativa impõe ao 
devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente 
fazer, se não se houvesse obrigado. O adquirente que se obriga a não 
construir, no terreno adquirido, prédio além de certa altura, ou a cabeleireira 
alienante que se obriga a não abrir outro salão de beleza no mesmo bairro, por 
exemplo, devem cumprir o prometido. Se praticam o ato que se obrigaram a 
não praticar, tornar-se-ão inadimplentes, podendo o credor exigir o 
desfazimento do que foi realizado, “sob pena de se desfazer à sua custa, 
ressarcindo o culpado perdas e danos” (art. 251). Assim, ou o devedor desfaz 
pessoalmente o ato, ou poderá vê-lo desfeito por terceiro, por determinação 
judicial. Em ambas as hipóteses sujeita-se ao pagamento de perdas e danos, 
como conseqüência do inadimplemento. Nada impede que o credor peça 
somente o pagamento destas. Há casos em que somente lhe resta esse 
caminho, como na hipótese de alguém divulgar um segredo industrial que 
prometer não revelar. Feita a divulgação, não há como pretender a restituição 
das partes ao “statu quo ante”. Tal como ocorre nas obrigações de fazer, 
“extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se 
lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar” (art. 250). 
Assim, por exemplo, não pode deixar de atender à determinação de autoridade 
competente, para construir muro ao redor de sua residência, o devedor que 
prometera manter cercas vivas, assim como será obrigado a fechar a 
passagem existente em sua propriedade, por ordem de autoridade, aquele que 
prometera não obstar seu uso por terceiros. Preceitua o art. 251, § único, que 
“em caso de urgência”, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer o ato, 
“independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento 
devido”.
Obrigações alternativas ou disjuntivas – trata-se de obrigações compostas pela 
multiplicidade de objetos. Têm, assim, por conteúdo duas ou mais prestações, 
das quais somente uma será escolhida para pagamento ao credor e liberação 
do devedor.
Direito de escolha – o direito pátrio, seguindo a tradição romana, conferiu o 
direito de escolha ao devedor, “se outra coisa não se estipulou” (art. 252). 
Portanto, para que a escolha caiba ao credor é necessário que o contrato 
assim o determine expressamente. Pode, ainda, a opção ser deferida a 
terceiro, de comum acordo. Se este não puder ou não quiser aceitar a 
incumbência, “caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes” 
(art. 252, §4º). Cientificada a escolha, dá-se a concentração, ficando 
determinado, de modo definitivo, sem possibilidade de retratação unilateral, o 
objeto da obrigação. As prestações “in obligatione” reduzem-se a uma só e a 
obrigação torna-se simples. Segundo o §1º do art. 252, não pode o devedor 
obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra, pois deve 
ser uma ou outra. Se se obriga a entregar duas sacas de café ou duas sacas 
de arroz, por exemplo, não poderá compelir seu credor a receber uma saca de 
café e uma de arroz. Todavia, quando a obrigação for de prestações 
periódicas, “a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período” (art. 
252, §2º). Poderá, assim, em um deles, entregar somente sacas de café, e no 
outro somente sacas de
arroz, e assim sucessivamente. Também nesta 
hipótese não poderá dividir o objeto da prestação. OBS: Prazo para a opção –
o contrato deve estabelecer o prazo para a opção. Se não o fizer, o devedor 
será notificado, para efeito de sua constituição em mora. Esta não o priva, 
entretanto, do direito de escolha, salvo se a convenção dispuser que passa ao 
credor. Quando a eleição compete a este, e o contrato não fixa o prazo, será 
ele citado para, em 5 dias, exercer o direito, ou aceitar que o devedor o faça a 
escolha (art. 894 CPC), depositando-se a coisa. A execução do título que 
consagra obrigação alternativa rege-se pelo art. 571 CPC. No caso de 
pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, “decidirá o 
juiz, findo o prazo por este assinalado para a deliberação” (art. 252, §3º).
Impossibilidade das prestações –
Impossibilidade material –
Impossibilidade material de apenas uma das prestações – se uma das duas 
prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível (ex.: 
não se fabrica mais a coisa que o devedor se obrigou a entregar), “subsistirá o 
débito quanto à outra” (art. 253). Assim, se uma das obrigações não puder ser 
cumprida em razão de impossibilidade material, será alternativa apenas na 
aparência, constituindo, na verdade, uma obrigação simples. Quando a 
impossibilidade de uma das prestações é superveniente e inexiste culpa do 
devedor, dá-se a concentração da dívida na outra, ou nas outras. Assim, por 
exemplo, se alguém se obriga a entregar um veículo ou um animal, e este 
último vem a morrer depois de atingido por um raio, concentra-se o débito no 
veículo. Mesmo que o perecimento decorra de culpa do devedor, competindo a 
ele a escolha, poderá concentrá-la na prestação remanescente. Entretanto, Se 
a escolha for do credor e o perecimento decorrer de culpa do devedor, aquele 
poderá exigir ou a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e 
danos (art. 255). Neste caso, o credor não é obrigado a ficar com o objeto 
remanescente, pois a escolha era sua. Pode dizer que pretendia escolher 
justamente o que pereceu, optando pode exigir seu valor, mais perdas e 
danos.
Impossibilidade material de todas as prestações – se a impossibilidade for de 
todas as prestações, sem culpa do devedor, “extinguir-se-á a obrigação, por 
falta de objeto, sem ônus para este” (art. 256). Se houver culpa de sua parte, 
cabendo-lhe a escolha, ficará obrigado “a pagar o valor da que por último se 
impossibilitou, mais perdas e danos que o caso determinar” (art. 254). Isto 
porque, com o perecimento do primeiro objeto, concentrou-se o débito no que 
por último pereceu. Mas, se a escolha couber ao credor, pode este exigir o 
valor de qualquer das prestações (e não somente da que por último pereceu, 
pois a escolha é sua), além das perdas e danos.
Impossibilidade jurídica – se a impossibilidade é jurídica, por ilícito um dos 
objetos (ex.: praticar um crime), toda a obrigação fica contaminada de nulidade, 
sendo inexigíveis ambas as prestações.
OBS: 1) Obrigações alternativas x obrigações cumulativas ou conjuntivas –
distinguem-se as obrigações alternativas das cumulativas ou conjuntivas, em 
que também há uma pluralidade de prestações, mas todas devem ser solvidas, 
sem exclusão de qualquer delas, sob pena de se não haver por cumprida (ex.: 
obrigação de entregar o cavalo e o boi).
2) Obrigações alternativas x obrigações de dar coisa incerta – diferem as 
obrigações alternativas das de dar coisa incerta, malgrado tenham um ponto 
em comum, que é a escolha, em ambas necessária. Nas alternativas, há vários 
objetos, devendo a escolha recair em apenas um deles; nas de dar coisa 
incerta, o objeto é um só, apenas indeterminado quanto à qualidade. Nas 
primeiras, a escolha recai sobre um dos objetos “in obligatione”, enquanto nas 
últimas, sobre a qualidade do único objeto existente.
Obrigações divisíveis e indivisíveis – as obrigações divisíveis e indivisíveis são 
compostas pela multiplicidade de sujeitos. Tal classificação só oferece 
interesse jurídico havendo pluralidade de credores ou de devedores, pois 
havendo um único devedor obrigado a um só credor a obrigação é indivisível, 
ou seja, a prestação deverá ser cumprida por inteiro, seja divisível ou indivisível 
seu objeto. Obrigações divisíveis são aquelas cujo objeto pode ser dividido 
entre os sujeitos, o que não ocorre com as indivisíveis, ou seja, a obrigação é 
divisível quando é possível ao credor executá-la por partes, e indivisível no 
caso contrário. Nesse sentido, proclama o CC que “a obrigação é indivisível 
quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de 
divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão 
determinante do negócio jurídico”. Assim, se dois devedores prometem 
entregar duas sacas de café, a obrigação é divisível, devendo cada qual uma 
saca. Se, no entanto, o objeto for um cavalo ou um relógio, a obrigação será 
indivisível, pois não podem fracioná-los. A indivisibilidade decorre, em geral, da 
natureza das coisas (indivisibilidade natural), mas os bens naturalmente 
divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei (indivisibilidade 
legal – ex.: art. 1386 CC – indivisibilidade das servidões prediais), em 
decorrência da vontade das partes (indivisibilidade intelectual), ou ainda, por 
determinação judicial (indivisibilidade judicial – ex.: obrigação de indenizar nos 
acidentes do trabalho, cuja indenização deve ser paga por inteiro à mãe, 
embora o pai não a pleiteie).
Divisibilidade e indivisibilidade nas obrigações da dar, fazer e não fazer –
Obrigações de dar – a obrigação de dar será divisível ou indivisível, 
dependendo da natureza do objeto. Se este for divisível (ex.: entregar dez 
sacas de café a dois credores, sendo cinco para cada um), a obrigação 
também o será. Se no entanto, a coisa a ser entregue for indivisível (ex.: um 
animal), será ela indivisível.
Obrigação de fazer – também será divisível ou indivisível. A de fazer uma 
estátua é indivisível, mas será divisível se o escultor for contratado para fazer 
dez estátuas, realizando uma a cada cinco dias.
Obrigação de não fazer – em geral, é indivisível. Se alguém, por exemplo, 
obrigar-se a não construir além de certa altura, bastará que inicie a construção 
além da altura convencionada para que se torne inadimplente. Poderá, no 
entanto, ser divisível, se o devedor obrigou-se a não praticar determinados 
atos, completamente independentes, como não vender e não alugar.
Efeitos da divisibilidade e da indivisibilidade –
Obrigação divisível – se a obrigação é divisível, presume-se esta dividida em 
tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores (art. 
257). Cada devedor só deve a sua quota-parte. A insolvência de um não 
aumentará a quota dos demais. Havendo vários credores e um só devedor, 
cada credor receberá somente a sua parte. Assim, se alguém se obriga a 
entregar duas sacas de café a dois credores, cada credor receberá uma saca.
Obrigação indivisível – quando a obrigação é indivisível (ex.: entregar um 
animal) e há pluralidade de devedores, cada um será obrigado pela dívida toda 
(art. 259). Mas somente porque o objeto não pode ser dividido, sob pena de 
perecer. Por isso, o que paga a dívida “sub-roga-se no direito do credor em 
relação aos outros coobrigados (art. 259, § único), dispondo de ação regressiva 
para cobrar a quota-parte de cada um deles. Se a pluralidade for dos credores, 
poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se 
desobrigarão, pagando: a) a todos conjuntamente; b) a um, dando este caução 
de ratificação dos outros credores (art. 260). Se um só dos credores receber a 
prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em 
dinheiro a parte que lhe caiba no total (art. 261). Desse modo, se um só dos 
credores receber sozinho
o objeto da prestação (ex.: um animal), poderá cada 
um dos devedores exigir dele a parte que lhe competir, na coisa recebida, em 
dinheiro.
Remissão de dívida por um dos credores na obrigação indivisível – se um dos 
credores remir (perdoar) a dívida, não ocorrerá a extinção da obrigação com 
relação aos demais credores. Estes, entretanto, não poderão exigir o objeto da 
prestação se não pagarem a vantagem obtida pelos devedores, ou seja, o valor 
da quota do credor que a perdoou. Assim, se o animal vale R$ 30.000,00 e três 
são os credores, a quota do credor remitente é de R$ 10.000,00. Os outros 
dois somente poderão exigir a entrega daquele se pagarem R$ 10.000,00 ao 
devedor. É o teor do art. 262: “se um dos credores remir a dívida, a obrigação 
não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, 
descontada a quota do credor remitente”. É criticado o emprego da expressão 
“descontada a quota do credor remitente”, por ser impossível o desconto no 
caso de prestação de coisa indivisível. O correto seria dizer: “reembolsando o 
devedor pela quota do credor remitente”. Aduz o § único do art. 262 que “o 
mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou 
confusão”.
Obrigação indivisível que se resolve em perdas e danos por culpa do devedor –
perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e 
danos, em caso de perecimento com culpa do devedor (art. 263). No lugar do 
objeto desaparecido o devedor entregará seu equivalente em dinheiro, mais 
perdas e danos (estas também em dinheiro). O objeto, transformado em 
dinheiro, pode agora ser dividido. Se houver culpa de todos os devedores, 
responderão todos por partes iguais (art. 263, §1º). Como a culpa é meramente 
pessoal, se for de um só, somente ele ficará responsável pelo pagamento das 
perdas e danos, ficando exonerados dessa responsabilidade os demais, não 
culpados, que responderão, no entanto, pelo pagamento de suas quotas (art. 
263, §2º).
Obrigações solidárias – nas obrigações solidárias, havendo vários devedores, 
cada um responde pela dívida inteira, como se fosse o único devedor. O credor 
pode escolher qualquer deles e compeli-lo a solver a dívida toda. Se a 
pluralidade for de credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, 
como se fosse único credor (art. 264). A solidariedade não se presume; resulta 
da lei (ex.: art. 942, § único) ou da vontade das partes (art. 265). Como a 
solidariedade deve resultar da lei ou do contrato, a obrigação não será solidária 
se tal qualidade não for expressamente estabelecida, mas divisível ou 
indivisível, dependendo da natureza do objeto. Pode-se dizer que somente a 
solidariedade passiva resulta da lei ou da vontade das partes. A ativa resulta 
praticamente só desta última fonte, pois nosso ordenamento prevê um único 
caso de solidariedade ativa “ex lege”, no art. 12 da Lei 209/48, que dispõe 
sobre a forma de pagamento dos débitos dos pecuaristas. Havendo pluralidade 
de credores ou devedores solidários, uns podem obrigar-se pura e 
simplesmente, e outros, sob condição ou a termo. O lugar e o tempo do 
pagamento podem ser iguais ou diferentes para todos os interessados (art. 
266). Também a causa pode ser diferente para os diversos coobrigados. A 
solidariedade pode advir de ato separado e posterior, desde que faça 
referência à obrigação originária. Nos títulos de crédito origina-se, em regra, de 
atos distintos e autônomos, como o aceite, o aval e o endosso.
Características – as obrigações solidárias apresentam as seguintes 
características:
Pluralidade de credores, de devedores ou de uns e outros – verifica-se que a 
solidariedade pode ser ativa (pluralidade de credores), passiva (pluralidade de 
devedores) ou recíproca ou mista (pluralidade de credores e de devedores).
Integralidade da prestação – qualquer devedor responde pela dívida toda e/ou 
qualquer credor pode exigi-la integralmente.
Co-responsabilidade dos interessados – satisfeita a obrigação devida, liberam-
se todos os co-devedores perante o credor. Mas o que solve pode reaver dos 
demais as quotas de cada um (co-responsabilidade). Da mesma forma, o 
credor que recebe sozinho o pagamento fica obrigado perante os demais, aos 
quais deve prestar contas, pelas quotas de cada um.
Solidariedade x indivisibilidade – a solidariedade assemelha-se à 
indivisibilidade por um único aspecto: em ambos os casos, o credor pode exigir 
de um só dos devedores o pagamento da totalidade do objeto devido. Diferem, 
no entanto, por várias razões:
Primeiramente, porque cada devedor solidário pode ser compelido a pagar, 
sozinho, a dívida inteira, por ser devedor do todo. Assim, o avalista escolhido 
pelo credor para responder pela execução pode ser condenado a pagar a 
dívida inteira, mesmo havendo um devedor principal e outros avalistas. Esta é 
a principal característica da solidariedade. Contudo, nas obrigações 
indivisíveis, o co-devedor só deve a sua quota-parte. Pode ser compelido ao 
pagamento da totalidade do objeto somente porque é impossível fracioná-lo. 
Assim, o co-devedor do animal, embora deva apenas a sua quota, pode ser 
obrigado a responder, sozinho, por sua entrega, se escolhido pelo credor, 
somente em razão da indivisibilidade do objeto da prestação, sub-rogando-se 
no direito deste.
Por outro lado, perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em 
perdas e danos (art. 263). Se o animal for substituído pelo equivalente em 
dinheiro, além das perdas e danos, também em dinheiro, a obrigação perderá 
sua qualidade de indivisível, fazendo-se o rateio entre as partes. Entretanto, na 
solidariedade tal não ocorre. Mesmo que a obrigação venha a se converter em 
perdas e danos, continuará indivisível seu objeto no sentido de que não se 
dividirá entre todos os devedores, ou todos os credores. Cada devedor 
continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do 
objeto perecido; e o culpado, pela solução das perdas e danos. Assim, se no 
contrato constar que a obrigação assumida por dois devedores, de entregar um 
animal, é solidária, mesmo que este venha a perecer por culpa de algum deles, 
ou de ambos, subsistirá a solidariedade, podendo qualquer deles ser compelido 
a pagar, sozinho, o equivalente em dinheiro do animal. Mas as perdas e danos 
serão pagas somente pelo culpado (art. 263, §2º).
Solidariedade ativa – na solidariedade ativa, concorrem dois ou mais credores, 
podendo qualquer deles receber integralmente a prestação devida (art. 267). O 
devedor libera-se do pagamento pagando a qualquer dos credores, que, por 
sua vez, pagará aos demais a quota de cada um. É muito raro, hoje, encontrar 
um caso de solidariedade ativa no mundo dos negócios, por oferecer alguns 
inconvenientes: o credor que recebe pode tornar-se insolvente; pode, ainda, 
não pagar aos consortes as quotas de cada um. Na conta bancária conjunta (a 
conta-corrente “e/ou”) encontramos um exemplo dessa espécie, por permitir 
que cada correntista saque todo o dinheiro depositado. Nossa lei não prevê 
casos de solidariedade ativa, salvo a hipótese já mencionada do art. 12 da Lei 
209/48, que dispõe sobre a forma de pagamento dos débitos dos pecuaristas. 
Os poucos que existem decorrem de convenção das partes. Tem sido utilizado, 
com vantagem, o sistema de outorga de mandato entre os credores conjuntos, 
porque pode a todo o tempo ser revogado.
Pagamento – enquanto algum dos credores solidários não demandar o devedor 
comum, qualquer deles poderá este pagar (art. 268). Cessa esse direito, 
porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele 
o pagamento deve ser efetuado. O pagamento feito a um dos credores 
solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago (art. 269). Se, 
também, um dos credores nova, compensa, remite ou transige, com isso 
exonera o devedor do pagamento aos demais sujeitos ativos.
Morte
de um dos credores solidários – vindo a falecer um dos credores 
solidários, deixando herdeiros, cada um deles só terá direito a exigir e receber 
a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a 
obrigação for indivisível (art. 270). Assim, os herdeiros do credor falecido não 
podem exigir a totalidade do crédito, mas apenas a própria quota no crédito 
solidário de que o falecido era titular, juntamente com outros credores. Mas, se 
este deixou um único herdeiro, ou se todos os herdeiros agirem conjuntamente, 
ou se indivisível a prestação, pode ser reclamada a prestação por inteiro.
Conversão da prestação em perdas e danos – convertendo-se a prestação em 
perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271). 
Fixado o seu valor, cada credor continua com direito a exigir a sua totalidade.
Remissão da dívida ou recebimento do pagamento por um credor solidário – o 
credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento, responderá aos 
outros pela parte que lhes caiba (art. 272), podendo sofrer ação de regresso 
por estes movida.
Solidariedade passiva – na solidariedade passiva, o credor tem o direito de 
exigir de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida 
comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores 
continuam obrigados solidariamente pelo resto. Em outras palavras, o 
pagamento total extingue não só a solidariedade como a própria obrigação. O 
parcial extingue em parte a obrigação em mantém a solidariedade no tocante 
ao remanescente. Embora o art. 275 use a expressão “receber de um ou 
alguns dos devedores”, pode o credor exigi-la de todos os devedores, sendo 
esta uma característica da solidariedade passiva. Ademais, não importará 
renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou 
alguns dos devedores (art. 275, § único). Desse modo, o credor, propondo 
ação contra um dos devedores, não fica inibido de acionar os outros.
Direito de regresso do devedor solidário que cumpre a obrigação – reza o art. 
283: “o devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um 
dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do 
insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os 
co-devedores”. Se um avalista paga toda a dívida, tem ação regressiva contra 
os outros avalistas, para receber a quota de cada um. Sendo três os avalistas, 
cada um, no final, terá pago um terço do total devido pelo emitente do título. Se 
um deles for insolvente, a quota deste reparte-se entre os demais, 
aumentando, assim, a quota dos solventes. Assim, o avalista que pagou 
sozinho o débito poderá, no exemplo dado, cobrado do avalista solvente a 
quota deste (um terço), mas a metade da pertencente ao insolvente. Participam 
do rateio da quota do devedor insolvente entre os co-devedores também os 
exonerados da solidariedade pelo credor (art. 284).
Dívida solidária que interessa exclusivamente a um dos devedores – se a 
dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, ou seja, ao 
emitente de nota promissória, por exemplo, responderá este por toda ela para 
com aquele que pagar (art. 285). Se um dos avalistas saldá-la sozinho, terá 
ação regressiva contra o referido emitente, podendo dele cobrar todo o valor 
pago. Mas dos co-avalistas só poderá cobrar a quota de cada um, segundo 
dispõe o art. 283.
Alteração posterior do contrato que agrave a situação dos demais devedores 
solidários – qualquer alteração posterior do contrato, estipulada ente um dos 
devedores solidários e o credor, que venha a agravar a situação dos demais, 
só terá validade se for efetivada com a concordância destes (art. 278).
Oposição de exceções pelo devedor solidário – dispõe o art. 281 que o devedor 
demandado pode opor ao credor as exceções (defesas) que lhe forem 
pessoais (ex.: vício do consentimento, incapacidade, etc.) e as comuns a todos 
(ex.: ilicitude do objeto). Não lhe aproveitam, porém, as pessoais a outro co-
devedor (ex.: coação).
Prestação que se torna impossível – se a prestação se tornar impossível, pelo 
perecimento do objeto, por exemplo, sem culpa dos devedores, extinguir-se-á a 
obrigação. Havendo culpa destes, todos responderão pelo equivalente em 
dinheiro da coisa, mais perdas e danos. Se a culpa for de apenas um dos 
devedores solidários, “subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; 
mas pelas perdas e danos só responde o culpado” (art. 279), pois a culpa é 
sempre pessoal.
Morte de um dos devedores solidários – se morrer um dos devedores 
solidários, deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a 
quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for 
indivisível, caso em que responderá por toda ela, porque nesta hipótese o 
objeto não poderá fracionar-se. Mas todos os herdeiros, em conjunto, serão 
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores 
(art. 276).
Renúncia da solidariedade pelo credor – o art. 282 permite ao credor, sem abrir 
mão de seu crédito, “renunciar a solidariedade em favor de um, de alguns ou 
de todos os devedores”. Se a renúncia for total, cada devedor passa a 
responder somente por sua quota. Se parcial, ocorrerá divisão da obrigação em 
duas partes: uma pela qual responde o devedor favorecido; e a outra pela qual 
respondem os demais, que continuam solidários (art. 282, § único).
9 DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
Cessão de crédito – é negócio jurídico bilateral pelo qual o credor transfere a 
outrem seus direitos na relação obrigacional. Trata-se de um dos mais 
importantes instrumentos da vida econômica atual, especialmente na 
modalidade de desconto bancário, pelo qual o empresário transfere seus 
créditos a uma instituição financeira. O crédito constitui, pois, bem de caráter 
patrimonial suscetível de transferência. O instituto em estudo pode configurar 
tanto alienação onerosa como gratuita, preponderando, no entanto, a primeira 
espécie. Pode caracterizar, também, dação em pagamento (datio in solutum), 
quando a transferência é feita em pagamento de uma dívida. A alienação 
onerosa assemelha-se a uma venda, desempenhando papel idêntico a esta. A 
cessão, contudo, tem por objeto bem incorpóreo (crédito), enquanto a compra e 
venda destina-se à alienação de bens corpóreos. O credor que transfere os 
seus direitos denomina-se cedente. O terceiro a quem são eles transmitidos, 
investindo-se na sua titularidade, é o cessionário. O terceiro personagem, o 
devedor ou cedido, não participa necessariamente da cessão que pode ser 
realizada sem a sua anuência. Deve ser, entretanto, dela comunicado para que 
possa solver a obrigação ao legítimo detentor do crédito. Como a cessão 
importa alienação, o cedente há de ser pessoa capaz e legitimada a praticar 
atos de alienação. O pai, no exercício da administração dos bens dos filhos 
menores, não pode realizá-la sem prévia autorização do juiz (art. 1691) Para 
ser efetuada por mandato, deve o mandatário ter poderes especiais e 
expressos (art. 661, §1º). O tutor e o curador não podem constituir-se 
cessionários de créditos contra, respectivamente, o pupilo e o curatelado.
Objeto – em regra, todos os créditos podem ser objeto de cessão, constem de 
título ou não, vencidos ou por vencer, salvo se a isso se opuser “a natureza da 
obrigação, a lei ou a convenção com o devedor” (art. 286). Pela sua natureza, 
não podem ser objeto de cessão relações jurídicas de caráter personalíssimo e 
as de direito de família (ex.: alimentos). Por lei, não pode haver cessão do 
direito de preferência ou preempção (art. 520), do benefício da justiça gratuita 
(art. 10 da Lei 1060/50), da indenização derivada de acidente do trabalho, etc. 
Por convenção das partes, pode ser, ainda, estabelecida a incessibilidade do 
crédito. A cessão pode ser total ou parcial, e abrange todos os acessórios do 
crédito,
como os juros e os direitos de garantia (art. 287). Assim, por exemplo, 
se o pagamento da dívida é garantido por hipoteca, o cessionário torna-se 
credor hipotecário; se por penhor, o cedente é obrigado a entregar o objeto 
empenhado ao cessionário.
Formas – em regra, a cessão convencional não exige forma especial para valer 
entre as partes, salvo se tiver por objeto direitos em que o instrumento público 
seja da substância do ato. Neste caso, a cessão efetuar-se-á também por 
escritura pública. Nessa consonância, a escritura pública deverá ser utilizada 
na cessão de crédito hipotecário ou de direitos hereditários, por exemplo. 
Entretanto, para valer contra terceiros, o art. 288 exige “instrumento público, ou 
instrumento particular revestido das solenidades do §1º do art. 654”. O 
instrumento particular deve conter, assim, a indicação do lugar onde foi 
passado, a qualificação do cedente e do cessionário, a data e o objetivo da 
cessão com a designação e a extensão dos direitos cedidos, e ser registrado 
no Cartório de Títulos e Documentos (art. 221 CC; art. 129, §9º da Lei 
6015/73). Tais formalidades somente são exigidas para a cessão valer contra 
terceiros, sendo desnecessárias, porém, em relação ao devedor cedido. O 
cessionário hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do 
imóvel (art. 289).
Notificação do devedor – dispõe o art. 290 que “a cessão do crédito não tem 
eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por 
notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou 
ciente da cessão feita”. Qualquer dos intervenientes, cessionário ou cedente, 
tem legitimidade para efetuar a notificação, que pode ser judicial ou 
extrajudicial. Mas o maior interessado é o cessionário, pois o devedor ficará 
desobrigado se, antes de ter conhecimento da cessão, pagar ao credor 
primitivo (art. 292). Se não foi notificado, a cessão é inexistente para ele, e 
válido se tornará o pagamento feito ao cedente. Mas não se desobrigará se a 
este pagar depois de cientificado da cessão. Ficará desobrigado, também, no 
caso de lhe ter sido feita mais de uma notificação, se pagar ao cessionário que 
lhe apresentar o título comprobatório da obrigação. Se a obrigação for solidária, 
devem ser notificados todos os co-devedores. Tem-se entendido que a citação 
para a ação de cobrança equivale à notificação da cessão, assim como a 
habilitação de crédito na falência do devedor produz os mesmos efeitos de sua 
notificação. Alguns créditos dispensam a notificação, porque sua transmissão 
obedece a forma especial (ex.: títulos ao portador, que se transferem por 
simples tradição).
Oposição de exceções pelo devedor ao cessionário – o devedor pode opor ao 
cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento 
em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente (art. 294). 
Se o devedor, notificado da cessão, não opõe, nesse momento, as exceções 
pessoais que tiver contra o cedente, não poderá mais argüir contra o 
cessionário as exceções pessoais que eram cabíveis contra o primeiro (ex.: 
pagamento da dívida, compensação, etc.). Mas, se dela não foi notificado, 
poderá opor ao cessionário as exceções pessoais que tinha contra o cedente, 
antes da transferência. Já as exceções oponíveis diretamente contra o 
cessionário podem ser argüidas a todo tempo, tanto no momento da cessão 
como no de sua notificação, pois se apresenta ele ao devedor como um novo 
credor. E todo devedor tem a faculdade de opor qualquer exceção contra a 
pretensão de seu credor.
Responsabilidade do cedente – preceitua o art. 295 que, “na cessão por título 
oneroso, o cedente, ainda que se não responsabilize, fica responsável ao 
cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma 
responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de 
má-fé”. A responsabilidade imposta pela lei ao cedente não se refere à 
solvência do devedor. Por esta o cedente não responde, correndo os riscos por 
conta do cessionário, salvo estipulação em contrário (art. 296). Se ficar 
convencionado expressamente que o cedente responde pela solvência do 
devedor, sua responsabilidade limitar-se-á ao que recebeu do cessionário, com 
os respectivos juros, mais as despesas da cessão e as efetuadas com a 
cobrança (art. 297). Assim, por exemplo, se o crédito era de R$ 20.000,00 e foi 
cedido por R$ 16.000,00, o cessionário só terá direito a esta última importância, 
com os referidos acréscimos, e não o valor do crédito. Na realidade, a 
obrigação imposta ao cedente pelo art. 295 diz respeito somente à existência 
do crédito ao tempo de sua cessão. Se o cedente transferiu onerosamente um 
título nulo ou inexistente, deverá ressarcir os prejuízos causados ao 
cessionário. Se a cessão tiver sido efetuada a título gratuito, o cedente 
responde só se tiver procedido de má-fé. Quando a transferência do crédito se 
opera por força da lei, o credor originário não responde pela realidade da 
dívida, nem pela solvência do devedor. Nos casos de transferências impostas 
pela lei, não se pode exigir do cedente que responda por um efeito para o qual 
não concorreu. OBS: Penhora – edita o art. 298 que o crédito, uma vez 
penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento 
da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica 
exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. O 
crédito, uma vez penhorado, deixa de fazer parte do patrimônio do devedor. 
Por isso, não poderá ser cedido, tornando-se indisponível.
OBS: 1) Cessão de crédito x cessão de contrato – a cessão de crédito não se 
confunde com a cessão de contrato, em que se procede à transmissão, ao 
cessionário, da inteira posição contratual do cedente. Como exemplo, pode ser 
mencionada a transferência a terceiro, feita pelo promitente comprador, de sua 
posição no compromisso de compra e venda de imóvel loteado, sem anuência 
do credor. Na hipótese, o cedente se libera das obrigações contratuais, que 
são transferidas ao cessionário, juntamente com os direitos relativos ao imóvel, 
especialmente a posse.
2) Cessão de crédito x novação subjetiva ativa – a cessão de crédito distingue-
se, também, da novação subjetiva ativa, porque nesta, além da substituição do 
credor, ocorre a extinção da obrigação anterior, substituída por novo crédito. 
Naquela, porém, subsiste o crédito primitivo, que é transmitido ao cessionário, 
com todos os seus acessórios (art. 287).
3) Cessão de crédito x sub-rogação legal e convencional – não se confunde, 
ainda, com a sub-rogação legal. O sub-rogado não pode exercer os direito e 
ações do credor além dos limites de seu desembolso, não tendo, pois, caráter 
especulativo (art. 350). A cessão de crédito, embora excepcionalmente possa 
ser gratuita, em geral encerra o propósito de lucro. A sub-rogação 
convencional, porém, na hipótese do art. 347, I, será tratada como cessão de 
crédito (art. 348).
4) Endosso – a cessão de títulos de crédito é feita mediante endosso. O 
posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anterior (art. 920). A 
aquisição de título à ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão 
civil de crédito (art. 919).
Assunção de dívida ou cessão de débito – é o negócio jurídico pelo qual o 
devedor transfere a outrem a sua posição na relação jurídica. Ocorre 
freqüentemente na venda do fundo de comércio, em que o adquirente declara 
assumir o passivo, e na cessão de financiamento para aquisição de casa 
própria. A assunção de dívida ou cessão de débito constitui novidade 
introduzida pelo novo CC. Embora não regulada pelo CC 1916, nada impedia a 
sua celebração, em face da autonomia da vontade e da liberdade contratual, 
desde que houvesse aceitação do credor. Assim, prescreve o art. 299 que “é 
facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,
com o consentimento 
expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao 
tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Requer, portanto, 
anuência expressa do credor, mas qualquer das partes pode assinalar-lhe 
prazo para que consinta, “interpretando-se o seu silêncio como recusa” (art. 
299, § único). Com a assunção da dívida por terceiro, extinguem-se as 
garantias especiais originariamente dadas pelo devedor primitivo ao credor, 
salvo se expressamente assentir em sua manutenção (art. 300). Anulada a 
substituição do devedor, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, 
salvo as prestadas por terceiro, exceto se este conhecia o vício que maculava 
a obrigação (art. 301). O novo devedor não pode opor ao credor as exceções 
pessoais que competiam ao devedor primitivo (art. 302). O adquirente de 
imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido. 
Na hipótese, entender-se-á concordado o credor se, notificado, não impugnar, 
em 30 dias, a transferência do débito (art. 303).
OBS: Assunção de dívida x novação subjetiva – haverá novação subjetiva e 
não assunção de dívida se o negócio jurídico acarretar a criação de obrigação 
nova e a extinção da anterior. Na assunção de dívida, muda-se o devedor sem 
alteração na substância da relação obrigacional, como nos exemplos citados 
da cessão de financiamento para aquisição da casa própria e da alienação de 
fundo de comércio.
10 DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
Pagamento – o principal efeito das obrigações é gerar para o credor o direito 
de exigir do devedor o cumprimento de uma prestação, e para este o dever de 
prestar. As obrigações têm, também, um ciclo vital: nascem de diversas fontes 
(lei, contrato, declarações unilaterais e atos ilícitos), vivem e desenvolvem-se 
por meio de suas várias modalidades (dar, fazer, não fazer); e, finalmente, 
extinguem-se. A extinção dá-se, em regra, pelo seu cumprimento, que o CC 
denomina pagamento. Embora essa palavra seja usada, comumente, para 
indicar a solução em dinheiro de alguma dívida, o legislador a empregou no 
sentido técnico-jurídico de execução de qualquer espécie de obrigação. Assim, 
paga a obrigação o escultor que entrega a estátua que lhe havia sido 
encomendada, bem como o pintor que realiza o trabalho solicitado pelo cliente. 
Assim, pagamento é cumprimento ou adimplemento da obrigação. O 
pagamento normal pode ser direto ou indireto. Entre os diversos meios 
indiretos encontram-se o pagamento por consignação, a novação, a 
compensação, a transação, etc. Além do meio normal, que é o pagamento, 
direto ou indireto, a obrigação pode extinguir-se também por meios anormais, 
isto é, sem pagamento, como no caso de impossibilidade de impossibilidade de 
execução sem culpa do devedor, do advento do termo, da prescrição, da 
nulidade ou anulação, etc. O pagamento, por sua vez, pode ser efetuado 
voluntariamente ou por meio de execução forçada, em razão de sentença 
judicial.
Natureza jurídica – predomina o entendimento na doutrina de que o pagamento 
tem natureza contratual. Corresponde a um contrato, por também resultar de 
um acordo de vontades, estando sujeito a todas as suas normas. Há 
entendimento minoritário sustentando que a natureza jurídica do pagamento é 
de fato jurídico, e para outros um ato não livre ou um ato devido.
Requisitos de validade – para que o pagamento produza seu principal efeito, 
que é o de extinguir a obrigação, devem estar presentes os seus requisitos 
essenciais de validade, que são:
A existência de um vínculo obrigacional – o pagamento pressupõe um vínculo 
obrigacional. Se este não existe, não há o que pagar, o que extinguir. Qualquer 
pagamento será, então, indevido, obrigando à restituição do que recebeu.
O ânimo de solvê-lo (“animus solvendi”) – o “animus solvendi” também é 
necessário. Não basta, por exemplo, entregar certo numerário ao credor, com 
outra intenção que não a de solver a obrigação.
O cumprimento da prestação – naturalmente, o cumprimento da prestação é 
fundamental para a extinção da obrigação.
A pessoa que efetua o pagamento (“solvens”) – o cumprimento da prestação 
deve ser feito pelo devedor (“solvens”), por seu sucessor ou por terceiro (arts. 
304 e 305).
A pessoa que recebe o pagamento (“accipiens”) – exige-se, ainda, a presença 
do credor (“accipiens”), de seu sucessor ou de quem de direito os represente 
(art. 308), pois o pagamento efetuado a quem não desfruta dessas qualidades 
não extingue a obrigação, caracterizando-se como indevido e propiciando o 
direito à repetição.
Quem deve pagar –
Devedor e terceiro interessado – preceitua o art. 304 que “qualquer interessado 
na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios 
conducentes à exoneração do devedor”. Só se considera interessado quem 
tem interesse jurídico na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao 
contrato, como o fiador, o avalista, o solidariamente obrigado, o herdeiro, o 
adquirente do imóvel hipotecado, o sublocatário, etc., que podem ter seu 
patrimônio afetado caso não ocorra o pagamento. O principal interessado na 
solução da dívida, a quem compete o dever de pagá-la, é o devedor. Mas os 
que se encontram em algumas das situações mencionadas (fiador, 
sublocatário, etc.) a ele são equiparados, pois têm legítimo interesse no 
cumprimento da obrigação. A recusa do credor em receber o pagamento 
oferecido pelo devedor ou por qualquer outro interessado lhes dá o direito de 
promover a consignação.
Efeito do pagamento feito por terceiro interessado – como vimos, ao terceiro 
interessado assiste o direito de efetuar o pagamento, hipótese em que ficará 
sub-rogado, de pleno direito, nos direitos do credor (art. 346, III). A sub-rogação 
transfere-lhe todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo credor, 
em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores (art. 349).
Terceiro não interessado – entretanto, não é somente o devedor e o terceiro 
interessado quem pode efetuar o pagamento. Podem fazê-lo, também, 
terceiros não interessados, que não têm interesse jurídico na solução da dívida, 
mas outra espécie de interesse (art. 304, § único), como o moral (caso do pai, 
que paga dívida do filho, pela qual não podia ser responsabilizado), o 
decorrente de amizade, de relacionamento amoroso, etc. Podem até mesmo 
consignar o pagamento, em caso de recusa do credor em receber, desde que, 
porém, o façam em nome e por conta do devedor, agindo assim como seu 
representante ou gestor de negócios. Trata-se de hipótese de legitimação 
extraordinária, prevista na parte final do art. 6º do CPC. Não podem consignar 
em seu próprio nome por falta de legítimo interesse.
Efeito do pagamento feito por terceiro não interessado – o terceiro não 
interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito de 
reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor (art. 
305). E, se efetuar o pagamento antes de vencida a dívida, só terá direito ao 
reembolso no vencimento (art. 305, § único). O pagamento de dívida que não é 
sua, efetuado em seu próprio nome, apesar de revelar o propósito de ajudar o 
devedor, demonstra também a intenção de obter o reembolso, por meio da 
ação de “in rem verso”, específica para os casos de enriquecimento sem 
causa. Entretanto, por não fazer parte da relação jurídica, e também para evitar 
que um terceiro mal-intencionado pretenda formular contra o devedor 
exigências mais rigorosas que as do credor primitivo, não pode substituir o 
credor por ele pago. Somente, pois, o terceiro interessado que efetua o 
pagamento sub-roga-se nos direitos do credor. Como o referido art. 305 só dá 
direito a reembolso ao terceiro não interessado que paga a dívida em seu 
próprio nome, conclui-se que não desfruta desse direito o que a paga em nome 
e por conta do devedor. Entende-se que, neste caso, quis
fazer uma 
liberalidade, uma doação, sem qualquer direito a reembolso.
Admissibilidade do pagamento por terceiro – o credor não pode recusar o 
pagamento de terceiro, por implicar a satisfação de seu crédito, salvo se 
houver, no contrato, expressa declaração proibitiva, ou se a obrigação, por sua 
natureza, tiver de ser cumprida pelo devedor (personalíssima). Por outro lado, 
é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida por terceiro 
não interessado, se o credor desejar receber. Só há um meio de evitar tal 
pagamento: é o próprio devedor antecipar-se. Mas, se credor e devedor 
acordaram em não admitir pagamento por terceiro não interessado, não poderá 
este pretender fazer desaparecer a dívida, por sua iniciativa. Não havendo tal 
acordo, admite-se o pagamento por terceiro, apesar da oposição ou 
desconhecimento do devedor. Se o devedor tiver meios para ilidir a ação, 
totalmente, como a argüição de prescrição ou decadência, compensação, 
novação, etc., não ficará obrigado a reembolsar aquele que pagou (art. 306). O 
terceiro só terá direito a reembolso até a importância que realmente aproveite 
ao devedor. Assim, se a dívida era de R$ 100,00, por exemplo, mas o devedor, 
por outro negócio entre as mesmas partes, tornou-se credor de R$ 50,00, a 
dívida reduziu-se à metade, em virtude da compensação parcial operada. Se o 
terceiro não interessado pagar os R$ 100,00 contra a vontade do devedor, só 
terá direito a reembolsar-se de R$ 50,00, correspondentes ao benefício 
auferido por este.
Pagamento que importa transmissão da propriedade – art. 307 – dispõe o art. 
307 que “só terá eficácia o pagamento que importar em transmissão da 
propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto, em que ele 
consistiu”. Aduz o § único: “se se der em pagamento coisa fungível, não se 
poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda 
que o solvente não tivesse direito de aliená-la”. Nem sempre o pagamento 
consiste na entrega de dinheiro ao credor. Como tal locução tem o significado 
de “cumprimento ou adimplemento de obrigação”, pode consistir na entrega de 
algum objeto, seja porque assim foi estipulado, seja porque o credor concordou 
com a dação em pagamento proposta pelo devedor. Segundo dispõe o aludido 
art. 307, o pagamento só terá eficácia, nestes casos, quando feito por quem 
tinha capacidade para alienar. O § único, porém, abre uma exceção: se a coisa 
entregue ao credor for fungível, e este a tiver recebido de boa-fé e a 
consumido, o pagamento terá eficácia, extinguindo-se a relação jurídica, ainda 
que o devedor não fosse o dono. Só resta ao verdadeiro proprietário voltar-se 
contra quem a entregou indevidamente.
A quem se deve pagar – o pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de 
direito o represente, sob pena de não extinguir a obrigação (art. 308). Deve-se 
acrescentar que pode também ser efetuado aos sucessores daquele, que o 
substituíram na titularidade do crédito, a título universal (herdeiro e o legatário) 
ou a título particular (ex.: cessionário, sub-rogado). Nem sempre, contudo, 
quem paga mal paga duas vezes, como diz conhecido adágio, pois o art. 308, 
na segunda parte, considera válido o pagamento feito a terceiro ser for 
ratificado pelo credor (se este confirmar o recebimento por via do referido 
terceiro ou fornecer recibo) ou se reverter em seu proveito.
Representantes do credor – há três espécies de representantes do credor:
Legal – é o que decorre da lei, como os pais, tutores e curadores, 
respectivamente representantes legais dos filhos, tutelados e curatelados.
Judicial – é o nomeado pelo juiz, como o inventariante, o síndico da falência, o 
administrador da empresa penhorada, etc.
Convencional – é o que recebe mandato outorgado pelo credor, com poderes 
especiais para receber e dar quitação. OBS: Mandato tácito – o art. 311 
considera portador de mandato tácito quem se apresenta ao devedor portando 
quitação assinada pelo credor, “salvo se as circunstâncias contrariarem a 
presunção daí resultante”. Trata-se, portanto, de presunção relativa (“juris 
tantum”), que admite prova em contrário, pois não se descarta a hipótese de ter 
sido extraviado ou furtado o recibo.
Credor putativo – será válido, também, o pagamento feito ao credor putativo, 
isto é, àquele que se apresenta aos olhos de todos como o verdadeiro credor. 
Recebe tal denominação, portanto, quem aparenta ser credor, como é o caso 
do herdeiro aparente. Se, por exemplo, o único herdeiro conhecido de uma 
pessoa abonada, e que veio a falecer, é seu sobrinho, o pagamento a ele feito 
de boa-fé é válido, mesmo que se apure, posteriormente, ter o “de cujus”, em 
disposição de última vontade, nomeado outra pessoa como seu herdeiro 
testamentário. Prescreve, com efeito, o art. 309 que “o pagamento feito de boa-
fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor”. Pode 
ser ainda lembrada, como exemplo de credor putativo, a situação do locador 
aparente, que se intitula proprietário de um apartamento e o aluga a outrem. 
Provada a boa-fé deste, os pagamentos de aluguéis por ele efetuados serão 
considerados válidos, ainda que aquele não seja o legítimo dono. A boa-fé tem, 
assim, o condão de validar atos que, em princípio, seriam nulos. Ao verdadeiro 
credor, que não recebeu o pagamento, resta somente voltar-se contra o 
“accipiens”, isto é, contra o credor putativo, que recebeu indevidamente, 
embora também de boa-fé, pois o “solvens” nada mais deve.
O pagamento deve ser efetuado a pessoa capaz de fornecer quitação – o 
pagamento deve ser efetuado a pessoa capaz de fornecer a devida quitação, 
sob pena de não valer. Dispõe o art. 310 que “não vale o pagamento 
cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em 
benefício dele efetivamente reverteu”. A quitação reclama capacidade e sem 
ela o pagamento não vale. No entanto, provado que reverteu em proveito do 
incapaz, cessa a razão da ineficácia. Note-se que o pagamento feito a pessoa 
incapaz de quitar pode ser confirmado pelo representante legal ou pelo próprio 
credor, se relativamente incapaz, cessada a incapacidade (art. 172). Há quem 
entenda que essa solução somente se aplica ao relativamente incapaz, sendo 
sempre nulo o pagamento feito ao absolutamente incapaz. No entanto, o 
dispositivo legal mencionado não faz tal distinção. E também não se justifica a 
exigência de novo pagamento a este, se o primeiro reverteu em seu benefício. 
Além do empobrecimento do “solvens”, acarretaria enriquecimento indevido do 
“accipiens”. Como o citado art. 310 considera inválido somente o pagamento 
cientemente feito ao credor incapaz, será válido o ato se se provar erro 
escusável do devedor, por supor estar tratando com pessoa capaz, ou dolo do 
credor, por ocultar maliciosamente a idade.
Hipótese em que o pagamento ao verdadeiro credor não vale – há uma 
hipótese em que, mesmo sendo feito ao verdadeiro credor, o pagamento não 
valerá. Isso ocorre quando o devedor é intimado da penhora feita sobre o 
crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros (art. 312). Quando a 
penhora recai sobre um crédito, o devedor é intimado a não pagar ao credor 
mas a depositar em juízo o valor devido. Se mesmo assim pagar ao credor, o 
pagamento não valerá contra o terceiro exeqüente ou embargante, “que 
poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o 
regresso contra o credor”.
Objeto do pagamento – o objeto do pagamento é a prestação.
Disposições gerais – o credor não é obrigado a receber outra prestação, 
“diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” (art. 313). Ainda que a 
obrigação tenha por objeto prestação divisível, o pagamento não pode ser 
efetuado por partes, se assim não se ajustou, nem o devedor é obrigado a 
receber dessa forma (art. 314).
Pagamento em dinheiro – na seção que trata especificamente do objeto do 
pagamento,
o CC disciplina o pagamento em dinheiro, que é a forma mais 
importante e na qual todas as demais podem transformar-se. Preceitua o art. 
315 que as dívidas em dinheiro “deverão ser pagas no vencimento, em moeda 
corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes, que 
prevêem a possibilidade de corrigi-lo monetariamente.
Princípio do nominalismo – o CC adotou o princípio do nominalismo, pelo qual 
se considera como valor da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no 
ato da emissão ou da cunhagem. De acordo com o referido princípio, o devedor 
de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda 
mencionada no contrato ou título da dívida, e em curso no lugar do pagamento, 
ainda que desvalorizada pela inflação para a compra dos mesmos bens que 
podiam ser adquiridos, quando contraída a obrigação.
Cláusula de escala móvel – desde o CC 1916 e com o passar dos tempos,
buscaram os credores outros meios para fugir aos efeitos ruinosos da inflação, 
dentre eles a adoção da cláusula de escala móvel, pela qual o valor da 
prestação deve varia segundo os índices de custo de vida. Surgiram, assim, os 
diversos índices de correção monetária, que podiam ser aplicados sem limite 
temporal, até a edição da Medida Provisória nº 1106/95 (posteriormente 
convertida na Lei 10192/01), que, pretendendo desindexar a economia, 
declarou “nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção 
monetária de periodicidade inferior a um ano” (art. 2º, §1º).
Aumento progressivo de prestações sucessivas – dispõe o CC que “é lícito 
convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas” (art. 316).
Pagamento em ouro e em moeda estrangeira – prescreve o art. 318 que “são 
nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem 
como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, 
excetuando-se os casos previstos na legislação especial”. A Lei 9069/95, que 
dispõe sobre o Plano Real, recepcionou o Decreto-lei 857/69, que veda o 
pagamento em moeda estrangeira, mas estabelece algumas exceções, das 
quais se destacam a permissão de tal estipulação nos contratos referentes a 
importação e exportação de mercadorias, e naqueles em que o credor ou 
devedor seja pessoa residente e domiciliada no exterior. Deve, entretanto, ser 
efetuada a conversão de seu valor para a moeda nacional por ocasião do 
pagamento ou de sua cobrança.
Dívida em dinheiro x dívida de valor – distingue-se a dívida em dinheiro da 
dívida de valor. Na primeira, o objeto da prestação é o próprio dinheiro, como 
ocorre no contrato de mútuo, em que o tomador do empréstimo obriga-se a 
devolver, dentro de determinado prazo, a importância levantada. Quando, no 
entanto, o dinheiro não constitui o objeto da prestação, mas apenas representa 
seu valor, diz-se que a dívida é de valor. A obrigação de indenizar, decorrente 
da prática de um ato ilícito, constitui dívida de valor. Se o prejuízo consiste no 
amassamento da porta do veículo da vítima, por exemplo, o “quantum” orçado 
é a medida do valor da referida porta. Sempre se entendeu que, nas dívidas de 
valor, a correção monetária incide desde a data do fato, porque seu montante 
deve corresponder ao do bem lesado. Ademais, correção monetária não é 
pena e não constitui nenhum “plus”. Apenas atualiza o valor do débito, evitando 
o enriquecimento sem causa do devedor. Outros exemplos dessa espécie de 
dívida podem ser mencionados, como a decorrente da desapropriação (o 
montante da indenização corresponde ao valor da coisa desapropriada) e a 
resultante da obrigação alimentar (cujo valor representa a medida da 
necessidade do alimentando).
Moeda de curso legal x moeda de curso forçado – toda moeda, admitida pela 
lei como meio de pagamento, tem curso legal no País, não podendo ser 
recusada. Quando o CC 1916 entrou em vigor, o dinheiro brasileiro tinha curso 
legal, mas não forçado, porque o devedor podia liberar-se pagando em 
qualquer moeda estrangeira. A partir do Decreto 23501/33, instaurou-se o 
curso forçado, não podendo o pagamento ser efetuado em outro padrão 
monetário, salvo algumas exceções, como consignado no Decreto-lei 857/69. 
já mencionado. Moeda de curso forçado, portanto, é a única admitida pela lei 
como meio de pagamento no País.
Pagamento por medida ou peso – se o pagamento se houver de fazer por 
medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que “aceitaram os do 
lugar da execução” (art. 326).
Teoria da imprevisão – a esse propósito, preceitua o art. 317: “quando, por 
motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção entre o valor da prestação 
devida e do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da 
parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”. 
Assim, a teoria da imprevisão poderá ser aplicada pelo juiz quando fatos 
extraordinários e imprevisíveis tornarem excessivamente oneroso para um dos 
contratantes o cumprimento do contrato, e recomendarem a sua revisão.
Despesas com o pagamento e a quitação – presumem-se a cargo do devedor 
as despesas com o pagamento e a quitação, mas, se ocorrer aumento por fato 
do credor, suportará este a despesa acrescida (art. 325).
Prova do pagamento – a regra dominante em matéria de pagamento é a de 
que ele não se presume. Prova-se-o pela regular quitação fornecida pelo 
credor.
Requisitos da quitação – os requisitos que a quitação deve conter encontram-
se especificados no art. 320:
O valor e a espécie da dívida quitada.
O nome do devedor ou por quem esse pagou.
Tempo e o lugar do pagamento.
Assinatura do credor ou de quem o represente.
Quitação sempre por escrito – tendo em vista os requisitos da quitação, esta 
deverá ser dada por escrito, público ou particular. Segundo dispõe a primeira 
parte do aludido art. 320, a quitação “sempre poderá ser dada por instrumento 
particular”. Desse modo, ainda que o contrato de que se originou tenha sido 
celebrado por instrumento público, valerá a quitação dada por instrumento 
particular.
Quitação sem a observância dos requisitos – sem os referidos requisitos, 
“valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido 
paga a dívida (art. 320, § único).
Direito de retenção e consignação do pagamento pelo devedor se não lhe for 
dada quitação – o devedor tem o direito de exigir a quitação, podendo reter o 
pagamento e consigná-lo, se não lhe for dada (arts. 319 e 335, I).
Presunções legais que facilitam a prova do pagamento – o CC estabelece três 
presunções, que facilitam a prova do pagamento, dispensando a quitação:
Quando a dívida é representada por título de crédito, que se encontra na posse 
do devedor – dispõe, com efeito, o art. 324: “a entrega do título ao devedor 
firma a presunção do pagamento”. Aduz o parágrafo único que, porém, “ficará 
sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em 60 dias, a falta de 
pagamento”. Extinta a dívida pelo pagamento, o título que a representava deve 
ser restituído ao devedor, que pode exigir sua entrega, salvo se nele existirem 
co-devedores cujas obrigações ainda não se extinguiram. A presunção de 
pagamento é, entretanto, relativa (“juris tantum”), pois o credor pode provar, no 
prazo legal, que o título se encontra indevidamente em mãos do devedor (ex.: 
furto, extravio, conluio com o encarregado da cobrança, etc.). OBS Título 
perdido – se o título foi perdido, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento , 
declaração do credor que inutilize o título desaparecido (art. 321). Como tal 
declaração, entretanto, não é oponível ao terceiro detentor de boa-fé, melhor 
se mostra a observância do procedimento do art. 907 CPC, referente à ação de 
anulação e substituição de títulos ao portador, citando-se o credor e eventual 
detentor, e, por edital, terceiros interessados, julgando-se, a final, ineficaz o 
título reclamado, ordenando o juiz que outro seja lavrado, em substituição.
Quando o pagamento é feito em quotas periódicas, existindo quitação da última 
– preceitua o art. 322: “quando o pagamento for em quotas periódicas, a 
quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem 
solvidas as anteriores”. Assenta-se a regra na idéia de que não é natural o 
credor concordar em receber a última prestação sem haver recebido as 
anteriores. Mas a presunção é relativa, admitindo prova em contrário. Algumas 
vezes, por exemplo, condôminos de edifícios pagam as despesas condominiais 
do último mês e deixam de solver as do mês anterior, porque pretendem 
discutir em juízo a validade de sua cobrança. Neste caso, a administração 
recebe a última, ressalvando no recibo o não-pagamento da prestação anterior. 
Não feita a ressalva, a presunção poderá ser elidida pelos meios de prova em 
geral.
Quando há quitação do capital, sem reserva dos juros, que se presumem 
pagos – estabelece o art. 323: “sendo a quitação do capital sem reserva dos 
juros, estes presumem-se pagos”. Como os juros não produzem rendimento, é 
de supor que o credor imputaria neles o pagamento parcial da dívida, e não no 
capital, que continuaria a render. Determina a lógica, portanto, que os juros 
devem ser pagos em primeiro lugar. Em regra, quando o recibo está redigido 
em termos gerais, sem qualquer ressalva, presume-se ser plena a quitação.
Lugar do pagamento – dispõe o art. 327: “efetuar-se-á o pagamento no 
domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se 
o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias”. As 
partes podem, ao celebrar o contrato, escolher livremente o local em que a 
obrigação deverá ser cumprida. Da mesma forma, a lei também pode contrariar 
a presunção estabelecida em favor do domicílio do devedor. Lei municipal que 
crie determinado tributo, por exemplo, pode determinar que o pagamento seja 
efetuado na Prefeitura ou em determinado banco com ela conveniado. A 
legislação sobre títulos de crédito também contém regras especiais sobre o 
lugar do pagamento. Outra exceção à regra geral decorre da natureza da 
obrigação, como acontece, por exemplo, nos despachos de mercadoria por via 
férrea, com frete a pagar, em que este deve ser solvido na estação de destino, 
pelo destinatário, por ocasião de sua retirada. Algumas vezes, circunstâncias 
especiais determinam o pagamento, tornando inaplicável a regra que privilegia 
o domicílio do devedor. É o que ocorre, por exemplo, nos contratos de 
empreitada, em que a prestação prometida só poderá ser cumprida no local em 
que se realiza a obra, ou nos contratos de trabalho. Se as partes não 
pactuarem diversamente em contrato, nem a lei dispuser de forma distinta, ou 
se o contrário não resultar das circunstâncias, nem da natureza da obrigação, 
efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor. Neste caso, diz-se que a 
dívida é “quérable”, expressão traduzida como “quesível”, devendo o credor 
buscar, procurar o pagamento no domicílio daquele. O referido art. 327 
constitui, pois, norma supletiva da vontade das partes, caso não concorram os 
outros fatores mencionados. Sendo o benefício instituído em seu favor, pode o 
devedor a ele renunciar, efetuando o pagamento no domicílio do credor. 
Quando se estipula, no local do cumprimento da obrigação, o domicílio do 
credor, diz-se que a dívida é “portable” ou portável, pois o devedor deve levar e 
oferecer o pagamento nesse local. A regra geral é que as dívidas são 
quesíveis, devendo ser pagas no domicílio do devedor. Para serem portáveis, é 
necessário que o contrato expressamente consigne o domicílio do credor como 
o local do pagamento. No silêncio do contrato, aplica-se o princípio geral. Fatos 
posteriores podem transformar em portável uma dívida quesível, e vice-versa. 
É muito comum, em contratos de locação, estabelecer-se o domicílio de um 
dos contratantes como local de pagamento, e ocorrer tacitamente a posterior 
mudança em razão dos reiterados pagamentos efetuados no domicílio do 
outro. A propósito, dispõe o art. 330: “o pagamento reiteradamente feito em 
outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no 
contrato”.
Dois ou mais lugares de pagamento designados – se dois ou mais lugares de 
pagamento forem designados, cabe ao credor escolher entre eles (art. 327, § 
único).
Motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar determinado –
ocorrendo motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar 
determinado (ex.: doença, acidente, greve), “poderá o devedor fazê-lo em 
outro, sem prejuízo para o credor” (art. 329).
Pagamento consistente na tradição de imóvel ou em prestações relativas a 
imóvel – prescreve o art. 328 que, se “o pagamento consistir na tradição de um 
imóvel ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o 
bem”. Prestações relativas a imóvel devem ser entendidas como serviços, 
reparações, construções, etc., não abrangendo, porém, os aluguéis, que 
podem ser pagos em outro local.
Tempo do pagamento – interessa tanto ao credor como ao devedor saber a 
data exata do pagamento, porque não pode este ser exigido antes, salvo nos 
casos em que a lei determina o vencimento antecipado da dívida. Não pode o 
credor reclamar pagamento no último dia do prazo, pois o devedor dispõe 
desse dia por inteiro. O CC regulamenta o tempo de pagamento nas 
obrigações puras, distinguindo-as das condicionais. Trata, também, 
separadamente, das dívidas cujo vencimento foi fixado no contrato e das que 
não contêm tal ajuste.
Obrigações puras
Com estipulação de data para pagamento – as obrigações puras com 
estipulação de data para o pagamento devem ser solvidas nesta ocasião, isto 
é, no vencimento, sob pena de inadimplemento. A falta de pagamento constitui 
em mora o devedor de pleno direito, segundo a máxima “dies interpellat pro 
homine” (o dia do vencimento interpela pelo homem), reproduzida no art. 397. 
Não há necessidade de notificação ou interpelação do devedor, pois a chegada 
do vencimento corresponde a uma interpelação. Desse modo, o 
inadimplemento constitui em mora de pleno direito. A regra de que a obrigação 
deve ser cumprida no vencimento sofre duas exceções:
Antecipação do vencimento – dispõe o art. 333 que “ao credor assistirá o direito 
de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado 
neste Código”:
No caso de falência do devedor ou de concurso de credores.
Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por 
outro credor.
Se cessarem, ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, 
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
OBS: Outras hipóteses legais – outros dispositivos legais consignam hipóteses 
de vencimento antecipado da dívida, como o art. 1425 CC, art. 25 da Lei de 
Falências, art. 751, I, CPC, etc.
Pagamento antecipado – nos contratos, o prazo se presume estabelecido em
favor do devedor (art. 133). Desse modo, se o desejar, poderá abrir mão do 
favor concedido pela lei, antecipando o pagamento. Mas, se o prazo for 
estipulado em favor do credor, pode este não aceitar o pagamento antecipado, 
por preferir, por exemplo, continuar recebendo os juros fixados a uma taxa 
conveniente, até o dia do vencimento da obrigação. Será obrigado a aceitá-lo, 
porém, e com redução proporcional dos juros, se o contrato for regido pelo 
CDC (art. 5º, §2º).
Sem estipulação de data para pagamento – se não se ajustou época para 
pagamento, o credor pode exigi-lo imediatamente, salvo disposição especial do 
CC (art. 331), que estabelece, efetivamente, alguns prazos especiais, como, 
por exemplo, para o comodato, que se presumirá o necessário para o uso 
concedido, se outro não se houver fixado (art. 581). Deve ser lembrado que, 
não havendo prazo avençado, é necessário que o devedor seja informado do 
propósito do devedor de receber, pois nas
obrigações sem estipulação de 
prazo para o seu cumprimento, a mora do devedor só começa depois da 
interpelação judicial ou extrajudicial. Inúmeros julgados, no entanto, proclamam 
que a citação para a causa é a mais enérgica das interpelações, podendo o 
pagamento ser efetuado no prazo da contestação. O art. 134 demonstra que 
nem sempre os atos sem prazo são exeqüíveis desde logo, ou desde que feita 
a interpelação, pois ressalva expressamente as hipóteses em que a execução 
tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. Se alguém, por 
exemplo, obriga-se a entregar a outrem determinado objeto que se encontra 
em local distante, não se pode exigir o cumprimento imediato da prestação, 
pois o devedor necessitará de tempo suficiente para buscá-lo. Se a obrigação, 
em outro exemplo, for a de entregar o produto de determinada lavoura, deve-se 
aguardar a época certa para a colheita.
Obrigações condicionais – as obrigações condicionais “cumprem-se na data do 
implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência 
o devedor” (art. 332). Refere-se o dispositivo à condição suspensiva, pois a 
resolutiva não impede a aquisição do direito desde logo (art. 127). Porém, este 
se extingue ocorrendo evento futuro e incerto.
Pagamento em consignação – o pagamento em consignação consiste no 
depósito, pelo devedor, da coisa devida, com o objetivo de liberar-se da 
obrigação. É meio indireto de pagamento, ou pagamento especial, incluindo-se 
nessa categoria, também, o pagamento com sub-rogação, a imputação do 
pagamento e a dação em pagamento. Pagar não é apenas um dever, mas 
também um direito do devedor. Se não for possível realizar o pagamento 
diretamente ao credor, em razão de recusa injustificada deste em receber, ou 
alguma outra circunstância, poderá valer-se da consignação em pagamento, 
para não sofrer as conseqüências da mora. Segundo o art. 334, “considera-se 
pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento 
bancário da coisa devida, nos casos e forma legais”. Ao usar a expressão 
“coisa devida”, o aludido dispositivo permitiu a consignação não só de dinheiro 
como também de bens móveis ou imóveis. O credor, por exemplo, que se 
recusar a receber os móveis encomendados só porque não está preparado 
para efetuar o pagamento convencionado dá ensejo ao marceneiro de 
consigná-los judicialmente. O dispositivo legal alude, ainda, ao depósito judicial 
ou em estabelecimento bancário. Portanto, se o devedor, sem justa causa, 
recusa-se a receber o pagamento em dinheiro, poderá o devedor optar pelo 
depósito extrajudicial ou pelo ajuizamento da ação de consignação em 
pagamento. Esta não é mais considerada, como outrora, ação executiva 
inversa, somente admissível quando a dívida fosse de valor líquido e certo, 
mas sim de natureza declaratória, podendo ser ajuizada também quando 
houver dúvida sobre o exato valor da obrigação. É o que ocorre, com 
freqüência, com os mutuários do SFH, que consignam judicialmente o valor da 
prestação, que consideram devido, diverso do pretendido pelo agente 
financeiro. A ação é proposta para que se declare o valor correto das 
prestações. Só não cabe a consignação, por sua natureza, nas obrigações de 
fazer e de não fazer. A consignação, por sua natureza, é instituto de direito 
material e de direito processual. O CC menciona os fatos que autorizam a 
consignação. O modo de fazê-lo é previsto no diploma processual.
Fatos que autorizam a consignação – o art. 335 apresenta um rol não taxativo 
dos casos que autorizam a consignação. Outros são mencionados em artigos 
esparsos, como nos arts. 341 e 342, bem como em leis avulsas (art. 17, § 
único, do Decreto-lei 58/37; arts. 19 e 21, III, da Lei 492/37; etc.) e no Código 
Comercial (art. 437).
Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou 
dar quitação na devida forma – só a recusa injusta, não fundada em motivo 
legítimo, a autoriza. Se o locador, por exemplo, não quiser receber o aluguel 
porque o inquilino não incluiu aumento autorizado por lei, não haverá lugar para 
a consignação. O motivo apresentado para a recusa é justo, pois ninguém é 
obrigado a receber menos do que lhe é devido. Se, no entanto, não houver 
base legal para o acréscimo pretendido, a consignação será procedente. 
Observe-se que a consignação ainda terá lugar se o credor concordar em 
receber o pagamento, mas recusar-se a fornecer a quitação, ou se não puder 
recebê-lo nem fornecê-lo, porque se trata de meio liberatório do devedor. A 
hipótese legal contempla caso de dívida “portable”, em que o pagamento deve 
ser efetuado no domicílio do credor. É necessário que tenha havido oferta real, 
efetiva, incumbindo ao autor prová-la, bem como a recusa injustificada do 
credor. A este incumbe, ao contrário, o ônus de provar a existência de justa 
causa para a recusa.
Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição 
devidos – trata-se de dívida “quérable”, em que o pagamento deve efetuar-se 
fora do domicílio do credor, cabendo a este a iniciativa. Permanecendo inerte, 
faculta-se ao devedor consignar judicialmente a coisa devida, ou 
extrajudicialmente a importância em dinheiro, para liberar-se da obrigação.
Credor incapaz de receber, desconhecido, ter sido declarado ausente ou residir 
em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil – o incapaz, em razão de sua 
condição, não deve receber o pagamento. A exigência da lei é que o devedor 
pague ao seu representante legal. Mas se, por algum motivo, o pagamento não 
puder ser efetuado a este (ex.: por inexistência momentânea, por ser 
desconhecido, ou se recusar a recebê-lo sem justa causa; etc.), a solução será 
consigná-lo. Em geral, as obrigações são contraídas com pessoas conhecidas. 
Mas pode o “accipiens”, por fato posterior, tornar-se desconhecido, como, por 
exemplo, na hipótese de sucessão decorrente da morte do credor originário ou 
da transferência de título ao portador. Ausente é a pessoa que desaparece de 
seu domicílio, sem dar notícia de seu paradeiro nem deixar um representante 
ou procurador para administrar-lhe os bens (art. 22). Como a ausência há de 
ser declarada por sentença, caso em que se lhe nomeará curador, dificilmente 
se caracterizará a hipótese descrita na lei, pois o pagamento pode ser feito ao 
referido representante legal do ausente. E dificilmente será este desconhecido, 
podendo o seu nome ser apurado no processo de declaração de ausência. A 
residência em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil, constitui também 
circunstância que enseja a consignação, pois não se pode exigir que o devedor 
arrisque a vida para efetuar o pagamento.
Se houver dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do 
pagamento – se dois credores mostram-se interessados em receber o 
pagamento, e havendo dúvida sobre quem tem direito a ele, deve o devedor 
valer-se da consignação para não correr o risco de pagar mal, requerendo a 
citação de ambos. É o caso, por exemplo, de dois municípios que se julgam 
credores de impostos devidos por determinada empresa, que tem 
estabelecimentos em ambos. Somente se justifica a consignação se houver 
dúvida quanto a quem seja o credor legítimo. Inexistindo, será decretada a 
carência da consignatória, por falta de interesse de agir. Comparecendo mais 
de um pretendente ao crédito, o devedor é excluído do processo, declarando-
se extinta a obrigação. O processo prossegue entre os credores. Se 
comparecer apenas um pretendente, terá o direito de levantar a quantia 
depositada. Não comparecendo nenhum, converter-se-á o depósito em 
arrecadação de bens de ausentes (art. 898 CPC).
Se pender litígio sobre o objeto do pagamento – estando o credor e terceiro 
disputando em juízo o objeto do pagamento, não deve o devedor antecipar-se 
ao pronunciamento judicial e entregá-lo a um deles, assumindo o risco (art. 
344), mas
sim consigná-lo judicialmente, para ser levantado pelo que vencer a 
demanda.
Requisitos de validade – para que a consignação tenha força de pagamento, 
preceitua o art. 336, “será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, 
modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento”.
Pessoas – em relação às pessoas, o pagamento deve ser feito pelo devedor ao 
verdadeiro credor, sob pena de não valer, salvo se ratificado por este ou se 
reverter em seu proveito (arts. 304 e s., 308 e 376).
Objeto – quanto ao objeto, exige-se a integralidade do depósito, porque o 
credor não é obrigado a aceitar pagamento parcial.
Modo – o modo será o convencionado, não se admitindo, por exemplo, 
pagamento em prestações quando estipulado que deve ser à vista.
Tempo – quanto ao tempo, deve ser, também, o fixado no contrato, não 
podendo efetuar-se antes de vencida a dívida, se assim foi convencionado. A 
mora do devedor, por si só, não impede a propositura da ação de consignação 
em pagamento, se ainda não provocou conseqüências irreversíveis, pois tal 
ação pode ser utilizada tanto para prevenir como para emendar a mora.
Regulamentação –
Lugar do depósito – o depósito requerer-se-á no lugar do pagamento. Sendo 
quesível a dívida, o pagamento efetua-se no domicílio do devedor; sendo 
portável, no do credor (art. 327), podendo haver, ainda, foro de eleição.
Juros e riscos da coisa – uma vez ultimado o depósito, cessa para o 
depositante os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente 
(art. 337).
Imóvel e coisa certa – se a coisa devida for imóvel ou corpo certo (coisa certa) 
que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o 
credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada (art. 341).
Coisa incerta ou indeterminada – em se tratando de coisa indeterminada (coisa 
incerta), faltando a escolha da qualidade e se esta competir ao credor, o 
devedor não será obrigado a permanecer aguardando indefinidamente que ela 
se realize, podendo citá-lo para esse fim, sob cominação de perder o direito e 
ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha por este, 
proceder-se-á como no depósito de coisa certa (art. 342).
Levantamento do depósito pelo devedor depositante – o art. 338 autoriza o 
devedor a levantar o depósito, pagando as respectivas custas, enquanto o 
credor não declarar que o aceita, ou não o impugnar. Se ocorre o 
levantamento, a obrigação subsiste, com todas as suas conseqüências.
Levantamento do objeto depositado, depois de julgado procedente o depósito, 
se houverem outros devedores – o art. 339 trata da impossibilidade de 
levantamento do objeto depositado, depois de julgado procedente o depósito, 
mesmo havendo anuência do credor, quando existirem outros devedores e 
fiadores. Procura-se, dessa forma, resguardar os direitos destes, pois a 
procedência da ação extingue a obrigação, acarretando a exoneração dos 
devedores solidários. Se estes, no entanto, concordarem com o levantamento, 
deixará de existir o impedimento legal.
Prestações periódicas – o art. 892 CPC permite, quando se trata de prestações 
periódicas, a continuação dos depósitos no mesmo processo, depois de 
efetuado o da primeira, desde que se realizem até 5 dias da data do 
vencimento.
Alegação de insuficiência do depósito e indicação do montante devido – o art. 
896 CPC obriga o demandado que alegar insuficiência do depósito a indicar o 
montante que entende devido.
Pagamento com sub-rogação – sub-rogação é a substituição de uma pessoa, 
ou de uma coisa, por outra pessoa, ou outra coisa, em uma relação jurídica. No 
primeiro caso, a sub-rogação é pessoal; no segundo, real. Nesta, a coisa que 
toma o lugar da outra fica com os mesmos ônus e atributos da primeira (ex.: 
sub-rogação do vínculo da inalienabilidade, em que a coisa gravada pelo 
testador ou doador é substituída por outra, ficando esta sujeita àquela restrição 
– art. 1911, § único). Na sub-rogação pessoal, ocorre a transferência dos 
direitos do credor para aquele que solveu a obrigação, ou emprestou o 
necessário para solvê-la. Assim, o avalista que paga a dívida pela qual se 
obrigou solidariamente, sub-roga-se nos direitos do credor, ou seja, toma o 
lugar deste na relação jurídica. É desta espécie de sub-rogação que trata o 
capítulo referente ao pagamento com sub-rogação. O instituto em estudo 
constitui uma exceção à regra de que o pagamento extingue a obrigação. A 
sub-rogação é uma figura jurídica anômala, pois o pagamento promove apenas 
uma alteração subjetiva da obrigação, mudando o credor. A extinção 
obrigacional ocorre apenas em relação ao credor, que nada mais poderá 
reclamar depois de haver recebido do terceiro interessado (avalista, fiador, 
coobrigado, etc.) o seu crédito. Nada se altera, porém, para o devedor, visto 
que o terceiro, que paga, toma o lugar do credor satisfeito e passa a ter o 
direito de cobrar a dívida. A sub-rogação pode ser:
Sub-rogação legal – é a que decorre da lei. Encontra-se regulamentada no art. 
346 e se opera de pleno direito em três casos:
Credor que paga dívida do devedor comum – cogita o dispositivo da hipótese 
de o devedor ter mais de um credor. Se um deles promover a execução judicial 
de seu crédito, preferencial ou não, poderá o devedor ficar sem meios para 
atender aos compromissos com os demais credores. Qualquer destes pode, 
então, pagar ao credor exeqüente, sub-rogando-se em seus direitos, e 
aguardar a melhor oportunidade para a cobrança de seu crédito. Pode o 
credor, com segunda hipoteca sobre determinado imóvel do devedor, preferir 
pagar ao titular do crédito garantido por primeira hipoteca sobre o mesmo bem, 
sub-rogando-se nos direitos deste, para posteriormente executar os dois 
créditos hipotecários e não ter de aguardar a execução do primeiro, e apenas 
contentar-se com o que restar.
Adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como 
terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel –
pode, eventualmente, alguém adquirir imóvel hipotecado, porque faltam poucas 
prestações a serem pagas ao credor, pelo alienante. Se este, no entanto, deixa 
de pagá-las, pode o adquirente efetuar o pagamento, para evitar a excussão do 
imóvel hipotecado, sub-rogando-se nos direitos daquele. Estando o imóvel 
onerado por mais de uma hipoteca, o adquirente, que paga a primeira, sub-
roga-se no crédito hipotecário satisfeito, adquirindo preferência em relação aos 
demais credores hipotecários. Pode valer-se dessa posição para dificultar a 
execução que estes pretendam promover.
Terceiro interessado que paga dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no 
todo ou em parte – terceiro interessado é o que pode ter seu patrimônio 
afetado caso a dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga. É o que 
acontece com o avalista, com o fiador, com o coobrigado solidário, etc.; que 
pagam dívida pela qual eram ou podiam ser obrigados. Sub-rogam-se, 
automaticamente, nos direitos do credor. Embora extinta para este a dívida, 
subsiste ela em relação ao devedor, que deverá saldá-la ao terceiro 
interessado, que a pagou, investindo-se, em virtude desse pagamento, em 
todos os direitos e garantias do primitivo credor. Esta terceira hipótese é a mais 
comum, mas favorece apenas o terceiro interessado. O terceiro não 
interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, malgrado tenha direito de 
reembolsar-se do que pagou, não se sub-roga nos direitos do credor (art. 305). 
Sendo estranho à relação obrigacional, não lhe assiste tal direito.
Sub-rogação convencional – a regulamentação da sub-rogação convencional 
está contida no art. 347, que prevê duas hipóteses:
Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe 
transfere todos os seus direitos – o terceiro interessado já se sub-roga, 
automaticamente, nos direitos do credor. Não necessita, pois, dessa 
transferência
feita pelo credor. Cuida o dispositivo, pois, da hipótese de terceiro 
não interessado. A transferência, por vontade do credor, pode ser feita sem a 
anuência do devedor. É uma espécie de cessão de crédito, muito embora não 
se confunda com esta, que tem características próprias. Mas, do ponto de vista 
puramente legal, ambas se regulam pelos mesmos princípios, dispondo o art. 
348 que, nesta hipótese, vigorará o disposto quanto à cessão de crédito.
Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a 
dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do 
credor satisfeito – é o que ocorre, com freqüência, nos financiamentos 
regulados pelo SFH, em que o agente financeiro (ex.: CEF) empresta ao 
adquirente da casa própria (mutuário) a quantia necessária para o pagamento 
ao alienante, sob a condição expressa de ficar sub-rogada nos direitos deste. O 
devedor paga seu débito com a quantia que lhe foi emprestada, transferindo 
expressamente ao agente financeiro os direitos do credor (alienante) satisfeito. 
Assim, o adquirente da casa própria não é mais devedor do alienante, e sim do 
terceiro (agente financeiro), que lhe emprestou o numerário.
Efeitos – a sub-rogação “transfere ao novo credor todos os direitos, ações, 
privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor 
principal e fiadores” (art. 349). O efeito translativo da sub-rogação é, portanto, 
amplo. O novo credor será um credor privilegiado se o primitivo o era. O 
avalista, que paga a dívida, sub-rogando-se nos direitos do primitivo credor, 
poderá cobrá-la também na forma de execução. O dispositivo em tela aplica-se 
às duas modalidades de sub-rogação, legal e convencional. Nesta, porém, 
devido a sua natureza contratual, podem as partes limitar os direitos do sub-
rogado. OBS: 1) Limitação na sub-rogação legal – na sub-rogação legal, o sub-
rogado não pode reclamar do devedor a totalidade da dívida, mas só aquilo 
que houver desembolsado (art. 350). Assim, quem pagar soma menor que a do 
crédito sub-roga-se pelo valor efetivamente pago, e não pelo daquele. Na sub-
rogação convencional, em que predomina a autonomia da vontade e o caráter 
especulativo, como na cessão de crédito, pode ser estabelecido o contrário, ou 
seja, que haverá sub-rogação total, mesmo não tendo havido desembolso 
integral da importância necessária à satisfação do credor primitivo. Apesar da 
controvérsia existente a respeito do tema, não nos parece razoável entender 
que, no silêncio do contrato, a sub-rogação convencional será total, mesmo 
não tendo havido desembolso integral. 2) Preferência do credor originário em 
relação ao sub-rogado, na hipótese de pagamento parcial – dispõe o art. 351 
que “o credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-
rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem 
para saldar inteiramente o que a um e outro dever”. Assim, na execução do 
patrimônio do devedor, terá preferência, pelo saldo, o credor originário, que não 
foi pago integralmente, sobre o sub-rogado que, por ter efetuado pagamento 
parcial, sub-rogou-se apenas em parte do crédito deste.
OBS: 1) Pagamento com sub-rogação x cessão de crédito – malgrado a 
semelhança existente ente pagamento com sub-rogação e cessão de crédito, 
os dois institutos não se confundem. O aspecto especulativo, o fim de lucro, é 
elementar nesta, mas não o é na sub-rogação. A cessão de crédito é feita, em 
geral, por valor diverso deste, enquanto a sub-rogação legal ocorre na exata 
proporção do pagamento efetuado. Neste, ocorre pagamento, enquanto a 
cessão de crédito é feita antes da satisfação do débito.
2) Pagamento com sub-rogação x novação subjetiva – o pagamento com sub-
rogação também não se confunde com novação subjetiva por substituição do 
credor, por lhe faltar o “animus novandi”. Trata-se, na realidade, de instituto 
autônomo e anômalo, em que o pagamento promove apenas uma alteração 
subjetiva da obrigação, mudando o credor. A extinção obrigacional ocorre 
somente em relação ao credor, que fica satisfeito. Nada se altera para o 
devedor, que deverá pagar ao terceiro, sub-rogado no crédito.
Imputação do pagamento – consiste na indicação ou determinação da dívida a 
ser quitada, quando uma pessoa se encontra obrigada, por dois ou mais 
débitos da mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento não 
suficiente para saldar todas elas. É o que ocorre quando alguém é devedor de 
várias importâncias em dinheiro ao mesmo credor. Há três espécies de 
imputação:
Imputação do devedor – preceitua o art. 352 que “a pessoa obrigada por dois 
ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a 
qual deles oferece o pagamento, se todos forem líquidos e vencidos”.
Pressupostos – diante da definição legal supra, podemos extrair os seguintes 
pressupostos da imputação do pagamento pelo devedor:
Identidade de credor e devedor.
Existência de dois ou mais débitos.
Dívidas da mesma natureza (se uma das dívidas for em dinheiro e a outra 
consistir na entrega de algum bem, havendo o pagamento de certa quantia não 
haverá necessidade de imputação do pagamento).
Dívidas líquidas e vencidas (como, entretanto, em geral, o prazo para 
pagamento é estipulado em favor do devedor – art. 133 –, poderá este imputar 
o pagamento em dívida não vencida)
A importância entregue ao credor a título de pagamento deve ser suficiente 
para extinguir ao menos uma das diversas dívidas (do contrário, estar-se-ia 
constrangendo o credor a receber pagamento parcial, a despeito da proibição 
constante do art. 314).
Limitações – a imputação do pagamento por vontade ou indicação do devedor 
é assegurada a este no art. 352, pelo qual a pessoa obrigada tem o direito de 
escolher qual débito deseja saldar. Esse direito sofre, no entanto, algumas 
limitações:
O devedor não pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida se o 
prazo se estabeleceu a benefício do credor (art. 133). Como, em geral, é 
convencionado em favor do devedor, pode este, em princípio, renunciá-lo. Mas 
a imputação em dívida não vencida não se fará sem consentimento do credor 
(art. 352, “in fine”).
O devedor não pode imputar o pagamento em dívida cujo montante seja 
superior ao valor ofertado, salvo acordo entre as partes, pois pagamento 
parcelado do débito só é permitido quando convencionado (art. 314).
O devedor não pode pretender que o pagamento seja imputado no capital, 
quando há juros vencidos, “salvo estipulação em contrário, ou se o credor 
passar quitação por conta do capital” (art. 354).
Imputação do credor – a imputação por indicação do credor ocorre quando o 
devedor não declara qual das dívidas quer pagar. O direito é exercido na 
própria quitação. Com efeito, dispõe o art. 353 que, “não tendo o devedor 
declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, 
se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a 
imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou 
dolo”.
Imputação legal – dá-se a imputação por determinação legal se o devedor não 
fizer a indicação do art. 352 e a quitação for omissa quanto à imputação. 
Verifica-se, assim, que o credor que não fez a imputação no momento de 
fornecer a quitação não poderá fazê-lo posteriormente, verificando-se, então, a 
imputação legal. Os critérios desta são os seguintes:
Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos 
(art. 354).
Entre dívidas vencidas e não vencidas, a imputação far-se-á nas primeiras.
Se algumas forem líquidas e outras ilíquidas, a preferência recairá sobre as 
primeiras, segundo a ordem de seu vencimento (art. 355).
Se todas forem líquidas e vencidas, ao mesmo tempo, considerar-se-á paga a 
mais onerosa (art. 355). Mais onerosa é, por exemplo, a que rende juros, 
comparativamente à que não os produz; a cujos
juros são mais elevados, em 
relação à de juros módicos; a sobre a qual pesa algum gravame, como 
hipoteca ou outro direito real, relativamente à que não contém tais ônus; a que 
pode ser cobrada pelo rito executivo, comparada à que enseja somente ação 
ordinária; a garantida por cláusula penal, em relação à que não prevê nenhuma 
sanção; etc.
OBS: Todas as dívidas líquidas, vencidas ao mesmo tempo e igualmente 
onerosas – não prevê o CC solução para a hipótese de todas as dívidas serem 
líquidas, vencidas ao mesmo tempo e igualmente onerosas. Não tem a 
jurisprudência, nestes casos, determinado a imputação na mais antiga, como 
pretendem alguns, mas aplicado, por analogia, a regra do art .433, IV, do 
Código Comercial, pelo qual “sendo as dívidas da mesma data e de igual 
natureza, entende-se feito o pagamento por conta de todas em devida 
proporção”.
Dação em pagamento – é um acordo de vontades entre credor e devedor, por 
meio do qual o primeiro concorda em receber do segundo, para exonerá-lo da 
dívida, prestação diversa da que lhe é devida. Em regra, o credor não é 
obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (art. 313). No entanto, 
se aceitar a oferta de uma coisa por outra, caracterizada estará a dação em 
pagamento. Tal não ocorrerá se as prestações forem da mesma espécie. 
Preceitua o art. 356 que “o credor pode consentir em receber prestação diversa 
da que lhe é devida”. Essa substituição conhece várias modalidades. A “datio in 
solutum” (dação em pagamento) só não pode ter por objeto dinheiro de 
contado. Pode haver, mediante acordo, substituição de dinheiro por bem móvel 
ou imóvel, de coisa por outra, de coisa por fato, de dinheiro por título de crédito, 
de coisa por obrigação de fazer, etc.
Natureza jurídica – verifica-se, pela redação do art. 356, que a dação em 
pagamento é considerada uma forma de pagamento indireto. Entre nós, 
diferentemente do que ocorre no direito francês, não constitui novação objetiva, 
nem se situa entre os contratos.
Regulamento –
Quando o objeto da prestação é dinheiro e houver substituição por outra coisa 
– de acordo com o art. 357, “determinado o preço da coisa dada em 
pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato 
de compra e venda”. Como ocorre uma verdadeira compra, e sendo idênticas 
as regras, responde o alienante pela evicção (art. 359). Se quem entregou bem 
diverso em pagamento não for o verdadeiro dono, o que o aceitou tornar-se-á 
evicto. A quitação dada ficará sem efeito e perderá este o bem para o legítimo 
dono, restabelecendo-se a relação jurídica originária, inclusive a cláusula 
penal, ou seja, o débito continuará a existir, na forma inicialmente 
convencionada. Na aplicação dos princípios da compra e venda, tem a 
jurisprudência proclamado a nulidade da dação em pagamento de todos os 
bens do devedor (art. 548), bem como sua anulabilidade quando feita pr 
ascendente a descendente sem o consentimento dos outros descendentes e 
do cônjuge do alienante (art. 496).
Quando o objeto da prestação não é dinheiro e houver substituição por outra 
coisa – se o objeto da prestação não for dinheiro e houver substituição por 
outra coisa, não haverá analogia com a compra e venda, mas com a troca ou 
permuta. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência 
importará em cessão (art. 358). O fato deverá ser, por essa razão, notificado ao 
cedido, nos termos do art, 290.
Novação – é a criação de uma obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a 
substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. Ocorre, por 
exemplo, quando o pai, para ajudar o filho, procura o credor deste e lhe propõe 
substituir o devedor, emitindo novo título de crédito. Se o credor concordar, 
emitido o novo título e inutilizado o assinado pelo filho, ficará extinta a primitiva 
dívida, substituída pela do pai. A novação não produz, como o pagamento, a 
satisfação imediata do crédito, sendo, pois, modo extintivo não satisfatório.
Natureza jurídica – tem natureza contratual, pois opera-se em conseqüência de 
ato de vontade dos interessados, jamais por força de lei.
Requisitos – são requisitos da novação:
Existência de obrigação anterior – o primeiro requisito consiste na existência de 
obrigação jurídica anterior, visto que a novação visa exatamente à sua 
substituição. É necessário que seja válida a obrigação a ser novada. Dispõe, 
com efeito, o art. 367: “salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não 
podem ser objeto de novação as obrigações nulas ou extintas”. Não se pode 
novar o que não existe, nem extinguir o que não produz efeitos jurídicos. A 
obrigação simplesmente anulável, entretanto, pode ser confirmada pela 
novação, pois tem existência, enquanto não rescindida judicialmente. Podendo 
ser confirmada, interpreta-se a sua substituição como renúncia do interessado 
ao direito de pleitear a anulação. OBS: 1) Obrigações naturais não comportam 
novação – as obrigações naturais não comportam novação, porque seu 
pagamento não pode ser exigido compulsoriamente. Não se pode revitalizar ou 
validar relação obrigacional juridicamente inexigível. A matéria, entretanto, é 
controvertida, havendo entendimentos contrários a este. 2) Obrigações 
condicionais comportam novação – as obrigações condicionais podem ser 
novadas. A nova dívida poderá ser pura e simples, ou também condicional. No 
último caso, a validade da novação dependerá do implemento da condição 
estabelecida.
Constituição de nova obrigação – o segundo requisito é a constituição de nova 
dívida para extinguir e substituir a anterior. A novação só se configura se 
houver diversidade substancial entre a dívida anterior e a nova. Não há 
novação quando se verificam alterações secundárias na dívida (ex.: exclusão 
de uma garantia, alongamento ou encurtamento de prazo, estipulação de juros, 
etc.). A nova obrigação há de ser válida. Se for nula, ineficaz será a novação, 
subsistindo a antiga. Se anulável e vier a ser anulada, restabelecida ficará a 
primitiva, porque a extinção é conseqüência da criação da nova. Desfeita esta, 
a anterior não desaparece.
Intenção de novar (“animus novandi”) – o terceiro requisito diz respeito ao 
“animus novandi”. É imprescindível que o credor tenha a intenção de novar, 
pois importa renúncia ao crédito e aos direitos acessórios que o acompanham. 
Quando não manifestada expressamente, deve resultar de modo claro e 
inequívoco das circunstâncias que envolvem a estipulação. Na dúvida, 
entende-se que não houve novação, pois esta não se presume. Dispõe, com 
efeito, o art. 361: “não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas 
inequívoco, a segunda obrigação confirma apenas a primeira”. Coexistem a 
duas dívidas que, entretanto, não se excluem. Não ocorre novação, por 
exemplo, quando o credor simplesmente concede facilidades ao devedor, como 
a dilatação do prazo, o parcelamento do pagamento ou ainda a modificação da 
taxa de juros, pois a dívida continua a mesma, apenas modificada em aspectos 
secundários.
Espécies – há três espécies de novação:
Novação objetiva – nesta, altera-se o objeto da prestação. Dá-se novação 
objetiva “quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e 
substituir a anterior” (art. 360, I). Ocorre, por exemplo, quando o devedor, não 
estando em condições de saldar a dívida em dinheiro, propõe ao credor, que 
aceita, a substituição da obrigação por prestação de serviços. Pode haver 
novação objetiva mesmo que a segunda obrigação consista também no 
pagamento em dinheiro, desde que haja alteração substancial em relação à 
primeira. É muito comum a obtenção, pelo devedor, de novação da dívida 
contraída junto ao banco, mediante pagamento parcial e renovação do saldo 
por novo prazo, com emissão de outra nota promissória, nela se incluindo os 
juros do novo período, despesas bancárias, correção monetária, etc.; e com a 
quitação do
título primitivo. A novação objetiva pode decorrer de mudança no 
objeto principal, da obrigação, em sua natureza ou na causa jurídica (ex.: 
quando alguém deve a título de adquirente e passa a dever a título de 
mutuário).
Novação subjetiva – nesta, ocorre a substituição dos sujeitos da relação 
jurídica, no pólo passivo ou ativo. Pode ocorrer por substituição do devedor 
(“quando novo devedor sucede o antigo, ficando este quite com o credor” – art. 
360, II), ou por substituição do credor (“quando, em virtude de obrigação nova, 
outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este” – art. 
360, III). A novação subjetiva por substituição do devedor (novação passiva) 
“pode ser efetuada independente de consentimento deste” (art. 362), e, neste 
caso, denomina-se expromissão. Pode ser efetuada, ainda, por ordem ou com 
o consentimento deste, havendo neste caso um novo contrato de que todos os 
interessados participam, dando o seu consentimento, hipótese em que o 
fenômeno recebe o nome de delegação. O fenômeno da delegação não foi 
mencionado no CC, por desnecessário, já que este autoriza a substituição até 
mesmo sem o consentimento do devedor. Assim, o pai pode substituir o filho,
na dívida por este contraída, com ou sem o consentimento deste. Na novação 
subjetiva por substituição do devedor ocorre o fenômeno da cessão de débito, 
especialmente quando se trata de delegação, em que o devedor indica terceira 
pessoa para resgatar seu débito (mudança de devedor e também da obrigação. 
Mas a referida cessão pode ocorrer sem novação, ou seja, com a mudança do 
devedor e sem alteração na substância da relação obrigacional (ex.: cessão de 
financiamento, cessão de fundo de comércio), hipótese essa disciplinada no 
CC, denominada assunção de dívida (arts. 209 a 303). Na novação ativa (por 
substituição do credor) ocorre um acordo de vontades, pelo qual muda a 
pessoa do credor. Mediante nova obrigação, o primitivo credor deixa a relação 
jurídica e outro lhe toma o lugar. Assim, o devedor se desobriga para com o 
primeiro, estabelecendo novo vínculo para com o segundo, pelo acordo dos 
três (ex.: A deve para B, que deve igual importância para C. Por acordo entre 
os três, A pagará diretamente a C, sendo que B se retirará da relação jurídica. 
Extinto ficará o crédito de B em relação a A, por ter sido criado o de C em face 
de A). Não se trata de cessão de crédito, porque surgiu dívida inteiramente 
nova. Extinguiu-se um crédito por ter sido criado outro. De certa forma se 
configurou uma assunção de dívida. Todavia, a hipótese não se confunde com 
a disciplinada no CC, por ter havido novação. O CC, relativamente à novação 
subjetiva pos substituição do devedor, traz algumas regras específicas:
Insolvência do devedor por conta e risco do credor que o aceitou, salvo má-fé –
diz o art. 363: “se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o 
aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a 
substituição”. A insolvência do novo devedor corre por conta e risco do credor, 
que o aceitou. Não tem direito a ação regressiva contra o primitivo devedor, 
mesmo porque o principal efeito da novação é extinguir a dívida anterior. Mas, 
em atenção ao princípio da boa-fé, que deve sempre prevalecer sobre a 
malícia, abriu-se uma exceção, deferindo-se ao credor ação regressiva conta o 
devedor primitivo, se este, ao obter a substituição, ocultou, maliciosamente, a 
insolvência de seu substituto na obrigação. A má-fé deste tem, pois, o condão 
de reviver a obrigação anterior, como se a novação fosse nula.
Exoneração dos devedores solidariamente responsáveis pela extinta obrigação 
– o art. 365 prescreve a exoneração dos devedores solidariamente 
responsáveis pela extinta obrigação, estabelecendo que só continuarão 
obrigados se participarem da novação. Operada a novação entre o credor e 
apenas um dos devedores solidários, os demais, que não contraíram a nova 
obrigação, ficam por esse fato exonerados. Assim, extinta a obrigação antiga, 
exaure-se a solidariedade. Esta só se manterá se for também convencionada 
na última. Da mesma forma, “importa exoneração do fiador a novação feita sem 
seu consenso com o devedor principal” (art. 366).
Novação mista – nesta, ocorrem, simultaneamente, mudança do objeto e 
substituição das partes. A novação mista é expressão da doutrina, não 
mencionada no CC. Decorre da fusão das duas primeiras espécies e se 
configura quando ocorre, ao mesmo tempo, mudança do objeto da prestação e 
de um dos sujeitos da relação jurídica obrigacional (ex.: pai assume dívida em 
dinheiro do filho – mudança de devedor –, mas com a condição pagá-la 
mediante a prestação de determinado serviço – mudança de objeto).
Efeitos – são dois efeitos:
Extinção da primitiva obrigação e constituição de uma nova – o principal efeito 
da novação consiste na extinção da obrigação original, substituída por outra, 
constituída exatamente para provocar a referida extinção.
Extinção dos acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver 
estipulação em contrário – art. 364 – a novação extingue os acessórios e 
garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Entre os 
primeiros encontram-se os juros e outras prestações cuja existência depende 
da dívida principal. Nas garantias incluem-se as reais, como o penhor, a 
hipoteca e a anticrese; e as pessoais, como a fiança. Incluem-se também os 
privilégios. Aduz o referido art. 364, a segunda parte, que “não aproveitará, 
contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens 
dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação”.
Compensação – é meio de extinção de obrigações entre pessoas que são, ao 
mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Acarreta a extinção das duas 
obrigações cujos credores são, simultaneamente, devedores um do outro. É 
modo indireto de extinção de obrigações, sucedâneo do pagamento, por 
produzir o mesmo efeito deste. Prescreve, com efeito, o art. 368: “se duas 
pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas 
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem”. A compensação visa 
eliminar a circulação inútil de moeda, evitando duplo pagamento.
Espécies – a compensação pode ser:
Total e parcial –
Total – quando extingue totalmente os créditos dos credores recíprocos.
Parcial – quando extingue parcialmente os créditos de um dos credores 
recíprocos.
Legal, convencional e judicial –
Legal – é a que decorre de lei. Opera-se automaticamente, de pleno direito. No 
mesmo instante em que o segundo crédito é constituído, extinguem-se as duas 
dívidas. O juiz apenas reconhece, declara sua configuração, desde que 
provocado, pois não pode ser proclamada de ofício. Pode ser argüida em 
contestação, em reconvenção e até mesmo em embargos à execução (art. 
741, IV, CPC). Nesta última hipótese, exige-se que a compensação seja 
fundada em execução aparelhada. Não existindo ação ou execução em 
andamento, pode ajuizar ação declaratória o devedor que desejar fazer 
reconhecer a compensação legal, que depende de alguns requisitos, como se 
verá adiante.
Convencional – é a que resulta de um acordo de vontades, incidindo em 
hipóteses que não se enquadram nas de compensação legal. As partes, de 
comum acordo, passam a aceitá-la, dispensando alguns de seus requisitos, 
como, por exemplo, a identidade de natureza ou a liquidez das dívidas. Pela 
convenção celebrada, dívida ilíquida ou não vencida passa a compensar-se 
com dívida líquida ou vencida, dívida de café com dívida de dinheiro, etc. Sem 
ela, inocorreria compensação, pelo não-preenchimento de todos os seus 
requisitos.
Judicial – é a determinada pelo juiz, nos casos em que se acham presentes os 
pressupostos legais. Ocorre principalmente nas hipóteses de procedência da 
ação e também da reconvenção. Se o autor cobra do réu a importância de R$ 
100,00,
e este cobra, na reconvenção, R$ 110,00, e ambas são julgadas 
procedentes, o juiz condenará o autor a pagar somente R$ 10,00, fazendo a 
compensação. O art. 21 CPC também determina que, se casa litigante for em 
parte vencedor e vencido, sejam compensados entre eles os honorários 
advocatícios e as despesas.
Requisitos da compensação legal e da judicial – os requisitos da compensação 
legal, que valem também para a judicial, são:
Reciprocidade das obrigações – o primeiro requisito é, pois, a existência de 
obrigações e créditos recíprocos, isto é, entre as mesmas partes, visto que a 
compensação provoca a extinção de obrigações pelo encontro de direitos 
opostos. Assim, a compensação só pode extinguir obrigações de uma das 
partes ante a outra, não se incluindo obrigações de terceiros. A lei abre, no 
entanto, uma exceção em favor do fiador, permitindo que se alegue, em seu 
favor, a compensação que o devedor (afiançado) poderia argüir perante o 
credor (art. 371, 2ª parte). Preceitua o art. 376 que uma pessoa, obrigando-se 
por terceiro, “não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe 
dever”. A regra não se confunde com a do citado art. 371, e se aplica 
precipuamente aos contratos com estipulação em favor de terceiro. Assim, 
quem se obriga (ex.: seguradora) em favor de terceiro (beneficiário) não lhe 
paga o que lhe prometeu, mas sim o que prometeu ao estipulante (contratante). 
É em virtude de obrigação contraída com este que a seguradora realiza o 
pagamento ao terceiro. Não há, pois, reciprocidade entre a seguradora e o 
beneficiário. Referido dispositivo aplica-se igualmente à hipótese de o 
mandante dever ao credor, que por sua vez deve ao mandatário. Inexiste a 
reciprocidade dos débitos.
Liquidez e exigibilidade das dívidas – dispõe o art. 369 que “a compensação 
efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis”. Quanto à 
liquidez, somente se compensam dívidas cujo valor seja certo e determinado, 
expresso por uma cifra. Não pode o devedor de uma nota promissória opor 
compensação com base em crédito a ser futuramente apurado, se vencer ação 
de indenização que move contra o exeqüente. Não basta, porém, que as 
dívidas sejam líquidas. Exige-se que estejam vencidas. OBS: 1) Obrigações 
condicionais e a termo – nas obrigações condicionais, só é permitida a 
compensação após o implemento da condição. E, nas obrigações a termo, 
somente depois do vencimento deste. 2) Prazos de favor – os prazos de favor, 
embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação legal (art. 
372).
Fungibilidade das prestações – é necessário que as obrigações sejam 
fungíveis, isto é, da mesma natureza. Não basta que as obrigações tenham por 
objeto coisas fungíveis (ex.: dinheiro, café, milho, etc.). É necessário que sejam 
fungíveis entre si. Assim, dívida em dinheiro só se compensa com outra dívida 
em dinheiro; dívida consistente em entregar sacas de café só se compensa 
com outra dívida cujo objeto também seja a entrega de sacas de café. Não se 
admite a compensação de dívida em dinheiro com dívida em saca de café. A 
restrição legal vai além: “embora sejam da mesma natureza as coisas 
fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que 
diferem na qualidade, quando especificada no contrato” (art. 370). Nessa 
conformidade, se uma das dívidas for de café tipo “A” (qualidade especificada), 
só se compensará com outra dívida também de café tipo “A”.
Dívidas não compensáveis – em alguns casos especiais, não se admite a 
compensação. A exclusão pode ser:
Convencional – neste caso, o obstáculo é criado pelas próprias partes. De
comum acordo, credor e devedor excluem-na (exclusão bilateral, permitida no 
art. 375, 1ª parte). Admite-se, também, a renúncia unilateral. Com efeito, não 
cabe compensação havendo renúncia prévia de um dos devedores (art. 375, 2ª 
parte), ou seja, quando uma das partes abre mão do direito eventual de argüir 
a compensação. É necessário, porém, que os requisitos da compensação não 
estejam ainda presentes, Caso contrário, já estará concretizada. Mesmo assim, 
qualquer dos devedores ainda pode renunciar aos seus efeitos, respeitados os 
direitos de terceiros.
Legal – a exclusão legal decorre, em alguns casos, da causa de uma das 
dívidas, e, em outros, da qualidade de um dos devedores. Em regra, a 
diversidade de causa não impede a compensação das dívidas. Se ambas são 
da mesma natureza (ex.: em dinheiro, líquidas e vencidas), compensam-se 
ainda que a causa de uma delas seja o mútuo e a da outra uma compra e 
venda. O art. 373, que traz essa regra, consigna, no entanto, algumas 
exceções:
Se provier de esbulho, furto ou roubo – nesta primeira hipótese, a razão é de 
ordem moral: esbulho, furto e roubo constituem atos ilícitos.
Se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos – nesta hipótese, a 
razão está na causa do contrato: comodato e depósito baseiam-se na 
confiança mútua, somente se admitindo o pagamento mediante restituição da 
própria coisa emprestada ou depositada. Ninguém pode apropriar-se da coisa 
alegando compensação, pois a obrigação de restituir não desaparece. Além 
disso, as dívidas não seriam homogêneas, mas de natureza diversa. As 
alimentares, obviamente, não podem ser objeto de compensação porque sua 
satisfação é indispensável para a subsistência do alimentando. Permiti-la seria 
privar o hipossuficiente do mínimo necessário a seu sustento.
Se uma for de coisa não suscetível de penhora – por último, não se opera a 
compensação se uma das dívidas se relaciona a coisa insuscetível de penhora. 
É que a compensação pressupõe dívida judicialmente exigível. Não se 
compensa, por exemplo, crédito proveniente de salários, que são 
impenhoráveis, com outro de natureza diversa.
Dívidas fiscais – dispunha o art. 1017 do CC 1916 que não podiam ser objeto 
de compensação as dívidas fiscais da União, dos Estados e dos Municípios, 
exceto autorização prevista nas leis e regulamentos. O art. 170 CTN repete a 
regra, afirmando que a lei pode atribuir à autoridade administrativa poderes 
para autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e 
certos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública, nas condições e sob as 
garantias que estipular. O novo CC, contudo, em seu art. 374, admitiu a 
compensação de dívidas fiscais e parafiscais, todavia referido dispositivo foi 
revogado pela Lei 10677/02, de forma que o tema continua sendo regulado 
pelo art. 170 CTN. Não se tratando de dívidas fiscais, mas de natureza diversa, 
do sujeito passivo contra a Fazenda Pública, a compensação é amplamente 
admitida.
Compensação em prejuízo do direito de terceiro – também não se admite 
compensação em prejuízo do direito de terceiro. O devedor que se torne credor 
de seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao 
exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia (art. 380). 
Sendo modo abreviado de pagamento, a compensação não pode prejudicar 
terceiros estranhos à operação.
Regras específicas –
Compensação nas obrigações solidárias – o art. 1020 do CC 1916 tratava da 
compensação nas obrigações solidárias e dispunha: “o devedor solidário só 
pode compensar como credor o que este deve a seu coobrigado, até o 
equivalente da parte desta na dívida comum”. Admitia, assim, que o devedor 
solidário, cobrado, compensasse com o credor o que este devia a seu 
coobrigado, mas só até o limite da quota deste na dívida comum. Embora, no 
débito solidário, cada devedor responda pela dívida inteira perante o credor, 
entre eles, no entanto, cada qual só deve a sua quota. O legislador, no 
dispositivo em questão, levou em consideração o princípio da reciprocidade, 
que deve existir entre os coobrigados solidários, pois o escolhido pelo credor 
tem ação regressiva contra os demais, para cobrar de cada um a respectiva 
quota. Malgrado o novo CC não contenha dispositivo
igual a esse, o princípio 
da reciprocidade, acolhido pelo novo diploma, bem como as normas atinentes 
às obrigações solidárias (arts. 264 a 285), autorizam a solução de casos 
futuros com base na referida regra. Desse modo, se o credor cobra, por 
exemplo, R$ 90,00 do devedor solidário A, este pode opor compensação com 
aquilo que o credor deve ao coobrigado C: R$ 50,00, por exemplo. Como, no 
entanto, a quota de cada devedor solidário (A, B e C) na dívida comum é de R$ 
30,00 (R$ 90,00 dividido por três), a compensação é circunscrita a esse valor 
(R$ 30,00), pois cessa a reciprocidade das obrigações no que excedê-lo. 
Assim, o coobrigado A, cobrado, pagará ao credor somente R$ 60,00 (R$ 
90,00 - R$ 30,00).
Compensação na cessão de crédito – o art. 377 trata da compensação na 
cessão de crédito, prescrevendo: “o devedor que, notificado, nada opõe à 
cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao 
cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao 
cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao 
cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente”. O 
devedor, que pode contrapor compensação ao credor, ao ser notificado por 
este da cessão do crédito a terceiro (cessionário), deve opor-se a ela, 
cientificando o cessionário da exceção que iria apresentar ao cedente. Como 
não há reciprocidade de débitos entre o devedor e o cessionário, se não se 
opuser à cessão, que lhe é notificada, estará o primeiro tacitamente 
renunciando ao direito de compensar. Assim acontecendo, passará a ser 
devedor do cessionário, embora continue credor do cedente.
Desconto das despesas ocorridas em compensação de débitos, quando não 
forem pagáveis no mesmo lugar – o art. 378 autoriza o desconto das despesas 
ocorridas em compensação de débitos, quando estes não forem pagáveis no 
mesmo lugar.
Pluralidade de débitos suscetíveis de compensação e aplicação das normas 
fixadas para imputação do pagamento – o art. 379 determina a aplicação das 
normas fixadas para imputação do pagamento, quando houver pluralidade de 
débitos suscetíveis de compensação.
Confusão – na confusão, reúnem-se numa só pessoas as duas qualidades, de 
credor e devedor, ocasionando a extinção da obrigação. A obrigação 
pressupõe a existência de dois sujeitos: o ativo e o passivo. Credor e devedor 
devem ser pessoas diferentes. Se essas duas qualidades, por alguma 
circunstância, encontrarem-se numa só pessoa, extingue-se a obrigação, 
porque ninguém pode ser juridicamente obrigado para consigo mesmo ou 
propor demanda contra si próprio. Em razão desse princípio, dispõe o art. 381: 
“extingue-se o obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as 
qualidades de credor e devedor”. Em geral, a confusão resulta da herança. O 
caso mais comum é o do filho que deve ao pai e é sucessor deste. Morto o 
credor, o crédito transfere-se ao filho, que é exatamente o devedor. Opera-se, 
neste caso, a confusão, desaparecendo a obrigação. Mas a confusão pode 
resultar, também, da cessão de crédito, do casamento pelo regime da 
comunhão universal de bens e da sociedade. O fenômeno ocorre, igualmente, 
em outros ramos do direito, embora às vezes com outra denominação. No 
direito das coisas significa a reunião de coisas líquidas (art. 1272) e é causa de 
extinção das servidões, pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma 
pessoa (art. 1389, I), bem como extingue o usufruto, pela consolidação (art. 
1410, VI), quando o usufrutuário adquire o domínio do bem, por ato “inter vivos” 
ou “causa mortis”.
Espécies – a confusão pode ser (art. 382):
Total ou própria – quando a confusão verifica-se a respeito de toda a dívida.
Parcial ou imprópria – quando a confusão verifica-se a respeito de parte da 
dívida. Nesta, o credor não recebe a totalidade da dívida (ex.: sucessores do 
credor são dois filhos e o valor da quota recebida pelo descendente devedor é 
menor do que o de sua dívida).
Efeitos – a confusão extingue não só a obrigação principal como também os 
acessórios, como a fiança, por exemplo. Mas a recíproca não é verdadeira. A 
obrigação principal, contraída pelo devedor, permanece se a confusão operar-
se nas pessoas do credor e do fiador. Extingue-se a fiança, mas não a 
obrigação. Igualmente se houver confusão entre fiador e devedor: desaparece 
a garantia, mas subsiste a obrigação principal. Porém, “cessando a confusão, 
para logo se restabelece com todos os seus acessórios, a obrigação anterior” 
(art. 384). O fenômeno pode acontecer, por exemplo, no caso de abertura da 
sucessão provisória em razão da declaração de ausência e posterior 
aparecimento do presumidamente morto, ou ainda em caso de anulação de 
testamento já cumprido. Nestas hipóteses, não se pode falar que a confusão 
efetivamente extinguiu a obrigação, mas que somente a neutralizou ou 
paralisou, até ser restabelecida por um fato novo.
Confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário – a confusão 
operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até 
à concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo, quanto 
ao mais, a solidariedade (art. 383). Em se tratando de obrigação solidária 
passiva, e na pessoa de um só dos devedores reunirem-se as qualidades de 
credor e devedor, a confusão operará somente até à concorrência da quota 
deste. Se ativa a solidariedade, a confusão será também parcial ou imprópria, 
permanecendo, quanto aos demais, a solidariedade.
Remissão das dívidas – remissão é a liberalidade efetuada pelo credor, 
consistente em exonerar o devedor do cumprimento da obrigação. É o perdão 
da dívida. Nesse sentido dispõe o art. 385: “a remissão da dívida, aceita pelo 
devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro”. Aduz o art. 386 
que “a devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito 
particular, prova a desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for 
capaz de alienar, e o devedor, capaz de adquirir”. Incumbe ao devedor provar 
que foi o próprio credor quem espontaneamente lhe efetuou a entrega. Embora 
o art. 324 declare que a entrega do título ao devedor firma a presunção de 
pagamento, sua posse, na hipótese de ter havido remissão, não é suficiente, 
devendo ser complementada pela prova da entrega voluntária, efetuada pelo 
credor ou por quem o represente, e não por terceiro.
Espécies – a remissão pode ser:
Expressa – é a que resulta de declaração do credor, em instrumento público ou 
particular, por ato “inter vivos” ou “causa mortis”, perdoando a dívida.
Tácita – é a que decorre do comportamento do credor, incompatível com sua 
qualidade de credor. Resulta, por exemplo, da “devolução voluntária do título 
da obrigação” ao devedor, conforme preceitua o art. 386 já transcrito.
Regras específicas –
Restituição voluntária do objeto empenhado – a restituição voluntária do objeto 
emprenhado prova a renúncia do credor somente à garantia real, mas não a 
extinção da dívida (art. 387). Assim, se o credor devolve ao devedor o trator 
dado em penhor, entende-se que renunciou somente à garantia, não ao 
crédito.
Remissão e dívida solidária – a remissão concedida a um dos co-devedores 
“extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda 
reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o 
débito sem dedução da parte remitida” (art. 388).
Remissão e obrigação indivisível – preceitua o art. 262 que, sendo indivisível a 
obrigação, se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta 
para com os outros; mas estes só a poderão exigir descontada a quota do 
credor remitente.
OBS: Remissão x renúncia – a remissão é espécie do gênero renúncia. 
Embora esta seja unilateral, aquele se reveste de caráter convencional, porque 
depende de aceitação. O remitido pode recusar o perdão e consignar o 
pagamento. A renúncia é,

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