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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – FACULDADE DE DIREITO LUIDGI SILVA ALMEIDA TRABALHO DE HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA MACAÉ – 2013 A) É possível falar em discricionariedade do interprete, no sentido atribuído por Kelsen, a partir da leitura do caso apresentado (levando em consideração os argumentos utilizados pelos Ministros). B) O direito à liberdade de expressão versus a vedação ao anonimato podem ser considerados direitos morais no sentido atribuído por Dworkin? C) A utilização de algum cânone da interpretação poderia ter sido manejada para solucionar o caso concreto? A Constituição Federal da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, garante, em seu art. 5º, VI o direito a liberdade de expressão. No entanto, conforme demonstrado pelo pensamento de Ronald Dworkin, não existe direito XXXXX, de modo que essa liberdade de expressão é relatividade, de modo a se evitar a agressão a outros direitos, também constitucionalmente estabelecidos, como a vedação ao anonimato, que possui, face à liberdade de expressão, o intuito de permitir a responsabilização pelo direito de resposta. Os julgadores, portanto, ao exercerem sua profissão deixam de serem considerados pessoas individuais, personificando, desse modo, o próprio Estado enquanto órgão aplicador da norma jurídica, de modo que agentes públicos são todos aqueles que, a qualquer título, executam uma função pública com o prepostos do Estado. Em face disso, Kelsen, em sua obra Teoria pura do Direito, deixa claro que há dois tipos de interpretação; a interpretação do direito feita pelo órgão que o aplica e a interpretação do direito que não é realizado por um órgão jurídico, mas por uma pessoa privada, interpretando por meio da ciência jurídica, o que não é observado no tipo de interpretação, adstrito à norma. Desse modo, o segundo tipo de interpretação não é criador de direito, já que não atua vinculadamente à norma positivada, não podendo, desse modo, ser levado em consideração pelo agente público. Como a norma em questão, um artigo constitucional, é integrante, portanto, da parte superiormente hierárquica do ordenamento jurídico, não haveria uma vinculação do agente público a determinado não há critério de vinculação a uma ou outra intepretação normativa, ficando, desse modo, dos referidos aplicadores, desde inseridas em parâmetros de razoabilidade, estabelecidos pela denominada, no pensamento kelseniano, como moldura limitadora do direito. No momento em que uma pessoa individual, assume as vezes de Estado, de modo a tornar-se a “bouche de la loi” aplicando a norma jurídica de acordo com o ordenamento ele seria, desse modo, a personificação do Estado e de suas leis, deixando assim de lado sua identidade individual. “A interpretação de uma lei não deve necessariamente conduzir a uma única solução, como sendo a única correta, mas varias soluções. Porem só um sentido tomará valor positivo no ato do órgão aplicador do direito.” (KELSEN, 1999, P. 390). Dworkin acredita que o Estado faz as leis já prevendo que algumas podem ser desrespeitadas, ou seja, você pode não concordar que seja vedado determinada conduta que venha a majorar um direito constitucionalmente garantido, como é o anonimato face à liberdade de expressão. O Estado até aceita que você não concorde com as leis, porém cabe a ele, em nome da segurança jurídica, tentar impor suas leis, de modo a garantir a eficácia e validade do ordenamento jurídico. Caso o Estado permitisse aos seus cidadãos a escolha em cumprir, ou não, determinadas leis a serem seguidas, a democracia se transformaria em anarquia, de modo que cria-se a dúvida de se “a Constituição, mesmo corretamente interpretada, reconhece todos os direitos morais que os cidadãos têm, e não nos diz se, como muitos supõem, os cidadãos têm o dever de obedecer à lei mesmo quando esta infringe seus direitos morais.” (DWORKIN, 2002 P. 285). Desse modo, após a avaliação que se expressar anonimamente pode gerar danos morais a outrem, o Estado, para garantir a felicidade geral de uma maioria, pondera a liberdade de expressão, vedando o anonimato, que poderia que perturbar o bom funcionamento social, de modo a garantir, em oposição, o também constitucional, direito de resposta. A respeito dos cânones da argumentação, Robert Alexy, em sua Teoria da Argumentação Jurídica, prescreve certos cuidados, já que os cânones são prescritos apenas quando os casos estão bem fundamentados, pois cada cânone, por consistir um modo diferente de interpretação, levaria a um resultado diferente. No entanto, os cânones podem ser usados, mas não devem ser considerados como regras a serem sempre seguidas nos julgamentos jurídicos. Alexy acredita que ao invés de estabelecer um sistema de regras justificatórias, deve-se estabelecer um sistema de proposições, de modo a possibilitar a avaliação de validade das normas, verificadas a partir dessa série de pressupostos. Dentre todos os cânones estabelecidos em sua teoria, recomenda-se, no caso concreto, recomenda-se, a utilização do cânone, que leva em conta todo o ordenamento jurídico, considerando, desse modo, não somente normas infraconstitucionais, mas também os mandamentos e princípios constitucionais, positivados ou não no texto constitucional.