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 Plano de Aula: 13 - ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: INTERVENÇÃO FEDERAL DIREITO CONSTITUCIONAL I TÃtulo 13 - ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: INTERVENÇÃO FEDERAL Número de Aulas por Semana 2 Número de Semana de Aula 13 Tema ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: INTERVENÇÃO FEDERAL Objetivos Compreender a medida excepcional ao equilÃbrio federativo, intervenção federal; Identificar em que circunstâncias seria cabÃvel a implementação da intervenção federal. Estrutura do Conteúdo 1.  Intervenção 1.1.     Parte geral 1.2.     Intervenção federal 1.3.     Quadro geral 1.4.     Hipóteses 1.5.     Procedimento de intervenção federal 1.6.     Intervenção estadual nos municÃpios  Intervenção Federal                A doutrina[1] brasileira sobre a intervenção federal a apresenta enfatizando três elementos. 1)   Conceituar a intervenção federal como o último remédio ou ratio para se manter a integridade nacional e da ordem jurÃdica constitucional; 2)   Narrar um processo de continuidade histórica do instituto desde a primeira Constituição republicana de 1891, e a sua elaboração por Ruy Barbosa; 3)   Apresentar as espécies de intervenção federal: a espontânea e a provocada[2];               Curioso é notar que todo este discurso é organizado em perspectiva referencial ao texto legal constitucional. Em outras palavras, a doutrina, simplesmente, apresenta o texto constitucional, sem trazer qualquer informação que não seja a discussão da natureza jurÃdica do instituto e a reprodução dos artigos da Constituição. Assim, a perspectiva polÃtica do instituto, como também dos exemplos jurisprudências que servem para ilustrá-lo não é apresentada. Como não mencionar a natureza polÃtica de um instituto que atinge diretamente o poder polÃtico de um ente federado? Como não contextualizar tais decisões histórica e politicamente? É de se estranhar...               Como já foi mencionado no inÃcio deste capÃtulo a doutrina jurÃdica brasileira tem caracterÃstica marcadamente prescritiva e, por isso, trabalha no plano ideal do ‘dever-ser’. A despeito das experiências autoritárias[3], seja da República Velha, seja da Era Vargas ou da ditadura militar pós-1964[4], concebe a intervenção federal como um instituto jurÃdico-constitucional, conhecido como garantee clauses pelo direito norte-americano e como execução federal pelo direito germânico (AGRA, 2007:297), de exceção ao princÃpio federativo presente em nossa ordem jurÃdica nacional, desde a Constituição de 1891. Ignora, porém, que tais institutos são concebidos em contextos históricos e polÃticos complemente diferentes da sociedade oligárquica, patriarcal e pouco democrática na qual nasceu a Constituição brasileira de 1891.                Segundo a doutrina brasileira, já citada, a intervenção federal nada mais é do que o afastamento temporário da autonomia de um ente federal que tem por objetivo a preservação da própria federação. Assim sendo, trata-se de instrumento de direito constitucional de exceção, pois priva o ente federado de sua caracterÃstica essencial: a autonomia. Por ser forte medida coercitiva, só pode ser usada estritamente nas situações determinadas taxativamente pelo constituinte originário, nos arts. 34 a 36 da CRFB/88.               Nos casos em que o pedido de intervenção federal se fundamenta em descumprimento de ordem judicial, na maior parte das vezes está envolvido grave desrespeito aos direitos de cidadania, uma vez que tais ordens judiciais, no mais das vezes protegem direitos do cidadão.               Nestes casos a intervenção deixa de ser ato discricionário do Presidente da República, pois fica o tribunal prolator da ordem desobedecida obrigado a comunicar a desobediência ao Supremo Tribunal Federal, que requisitará a intervenção se julgar conveniente.               A intervenção federal, vale se repetir, trata de exceção no equilÃbrio federativo da autonomia polÃtica dos entes, a partir da ingerência de uma entidade em assuntos próprios de outra, quando diante de uma das circunstâncias taxativas extremas que atentam ao pacto federativo e a supremacia constitucional.               Segundo AGRA (2007:297) a intervenção federal é  o remédio tÃpico da forma de Estado federativa, constituindo-se no instrumento cabÃvel para a sua manutenção, de utilização necessária todas as vezes que um Estado-Membro ou um MunicÃpio desrespeitar os princÃpios constitucionais federativos ou provocar uma instabilidade na normalidade jurÃdica.                          Já nas palavras de José Afonso da SILVA (1997:460):  A Intervenção Federal é ato polÃtico que consiste na incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta. Constitui o ‘puctum dolens’ do Estado Federal, onde se entrecruzam as tendências unitaristas e as tendências desagregantes.                Humberto Peña de MORAES (2005:229) define que a intervenção federal é:  instituto tÃpico da estrutura do Estado Federal, repousa a intervenção no afastamento temporário da atuação autônoma da entidade federativa sobre a qual a mesma se projeta.                A doutrina classifica que a intervenção federal pode se operar em duas espécies: a intervenção espontânea e a intervenção provocada. A primeira é uma discricionariedade, juÃzo de oportunidade e conveniência, do Presidente da República, ou seja, ato exclusivo da vontade do Chefe do Poder Executivo que deverá obter posterior aprovação por parte do Congresso Nacional, e que na atualidade constitucional, está prevista no art. 34, incs. I, II, III e V da CRFB/88.               A intervenção federal será provocada, hodiernamente, nos casos descritos no art. 34, incs. IV, VI e VII por solicitação do Executivo e do Legislativo estaduais, e, por requisição, por parte dos órgãos do Judiciário[5].              Em ambas as espécies deve ser expedido um decreto presidencial interventivo especificando a abrangência (os Estados-Membros que serão atingidos pela medida); a amplitude (os poderes que serão cerceados); e o tempo (prazo de duração da medida especificado). Deve o Presidente, segundo os arts. 90, I e 91 §1º da CRFB/88[6] ouvir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional para decretação. “Havendo a omissão do tempo determinado para a sua realização, a falta de indicação de cláusula suspensiva, a intervenção deverá ser considerada inconstitucional pelo Poder Judiciárioâ€� (AGRA, 2007:300).               O decreto deve, ainda, justificar as razões de sua amplitude, abrangência e tempo. Após a sua redação pelo Presidente da República o decreto será publicado gerando automaticamente os seus efeitos e remetido a apreciação do Congresso Nacional.              Quanto à função do Poder Legislativo ao controle do ato interventivo não lhe é permitido emendar o direito expedido, mas tão somente rejeitá-lo ou aprová-lo integralmente por decreto legislativo.  Não cabe apreciação do Legislativo quando for de acinte aos princÃpios sensÃveis e para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial – arts. 34, incisos VI e VII. Nesses casos, descabe apreciação por parte do Legislativo porque os critérios são essencialmente técnico-jurÃdicos, ocorrendo o controle jurÃdico do processo interventivo. Ele somente se inicia se houver requisição dos órgãos judiciais ou se houver o provimento da representação do Procurador-Geral da República. No caso de descumprimento de lei federal, o pedido partirá do Supremo Tribunal Federal; nos casos de descumprimento de ordem ou decisão judicial, os pedidos poderão partir do Tribunal Superior Eleitoral, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal; no caso de quebra dos princÃpios sensÃveis, o pedido será encaminhado pelo STF. Portanto, nos casos de acinte aos princÃpios sensÃveis e para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial, não há necessidade de apreciação pelo Poder Legislativo. Entretanto, se o pedido partir do STF para assegurar o livre exercÃcio das funções do Poder Judiciário de quaisquer das unidades judiciárias estaduais, segundo o art. 34, inciso IV, terá de haver aprovação por parte do Poder Legislativo. (grifos nossos) (AGRA, 2007:299-300).               Três são, então, as conseqüências do ato apreciado pelo Poder Legislativo, segundo as palavras de LEWANDOWSKI (1994:132):  a)os parlamentares podem aprová-lo, autorizando a continuidade da intervenção até o atingimento de seus fins; b)podem, de outro lado, aprová-lo, suspendendo de imediato a medida, situação que gerará efeitos ex nunc; c)podem, por fim, rejeitá-lo integralmente, suspendendo a intervenção e declarando ilegais, ex tunc, os atos de intervenção.                Nas situações que podem ser caracterizadas ou estabelecidas por questões meramente da seara jurÃdica, tais sejam, a inexecução de lei federal, ordem ou decisão judicial (art. 34, IV da CRFB/88), ou o desrespeito aos princÃpios constitucionais sensÃveis (34, VII da CRFB/88), ficará dispensada a apreciação por parte do Poder Legislativo do decreto presidencial, se for suficiente a expulsão da norma jurÃdica que esteja conturbando a supremacia constitucional.               Finalmente, quando as razões que justificaram a intervenção tiverem cessado, as autoridades afastadas dos entes federativos, não havendo impedimento de nenhuma ordem, retornarão aos seus cargos.              Quanto a figura do interventor, é interessante observar o trecho de AGRA (2007:301):  O alcance da intervenção e das prerrogativas do interventor não pode descurar dos princÃpios constitucionais impostos pelo ordenamento jurÃdico. Não há, como no estado de sÃtio e no estado de defesa, uma flexibilização dos direitos fundamentais ou uma excepcionalidade dos direitos e garantias constitucionais. O Estado Democrático de Direito é mantido em sua inteireza, ocorrendo apenas a limitação da autonomia do ente federativo que sofreu a intervenção. Os limites da intervenção são expostos preponderantemente pela Constituição Federal e pelo decreto presidencial que a estabelece.               A intervenção federal, diz ainda a doutrina, possui duas caracterÃsticas: a natureza polÃtica e a provisoriedade. Importante ressaltar que a doutrina ao se referir a natureza polÃtica da intervenção federal a reduz a uma questão de discricionariedade, não discutindo, portanto, as implicações e a contextualização polÃtica do ato.              SILVA NETO (2007:260) explica:  Quando se defende a natureza polÃtica do processo de intervenção, está-se a firmar, por outro prisma, o entendimento de que os critérios sobre os quais se movimenta a autoridade responsável pela expedição do decreto são essencialmente polÃticos. Utiliza-se, portanto, do juÃzo da conveniência e oportunidade da medida. Conveniência é signo que importa na aferição de juÃzo de valor polÃtico acerca da efetiva necessidade no adotar-se a providência. Oportunidade, por outro lado, significa examinar o momento polÃtico da sua execução. A autoridade responsável pelo inÃcio da intervenção não usa um ou outro, mas os dois. Entrecruzam-se conveniência e oportunidade para tornar o mais acertado possÃvel a decisão polÃtica atinente à intervenção. Outrossim, o §4º do art. 36 salienta que ‘cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal’. É a caracterÃstica referente à provisoriedade da intervenção. Medida excepcionalÃssima que vulnera as autonomias estadual e municipal, o procedimento interventivo deve durar rigorosamente o tempo apto ao retorno da normalidade institucional da entidade federativa atingida.               É importante ressaltar que a decretação deste instituto jurÃdico representa um momento de crise institucional tão sério, que ela configura um limite circunstancial ao Poder Constituinte Derivado de emendar a Constituição (art. 60, §1º da CRFB/88[7]).              Esta medida de exceção não estabelece uma hierarquia entre os entes federativos. Quando a União intervém nos Estados-Membros, o Congresso Nacional referenda, ou não, através de um Decreto Legislativo (art. 49, IV da CRFB/88[8]), o decreto de intervenção (art. 84, X da CRFB/88[9]) do Presidente da República. Por simetria ocorre o mesmo na intervenção estadual (art. 35 da CFRB/88) (AGRA, 2007).              A Intervenção Federal diferentemente dos institutos do Estado de Defesa (art. 136 da CRFB/88[10]) e do Estado de SÃtio (arts. 137 a 141 da CRFB/88[11]) não é uma excepcionalidade ao Estado Democrático de Direito visto que a Constituição não prevê para aquele instituto a possibilidade de suspensão de direitos ou garantias fundamentais. A intervenção será uma restrição a autonomia federativa de um ente (AGRA, 2007).              Ocorre, porém, que nada impede o ordenamento constitucional que sendo insuficiente a intervenção, passem a ser decretados os Estados de Defesa e de SÃtio.              Segundo a doutrina, já citada, as formas de controle da intervenção são de duas espécies: polÃtica e jurÃdica. A primeira refere-se aquele realizado pelo Poder Legislativo dos atos interventivos postos a sua apreciação. A segunda, efetuada pelo Poder Judiciário, ocorre pela verificação do respeito a autonomia federativa e dos mandamentos constitucionais. [1] Como exemplo de doutrinadores podemos citar: BARROSO (1998), BONAVIDES (2005), FRANCO (1968), LEWANDOWSKI (1994), MORAES (2006), SILVA (2006), AGRA (2007), CRETELLA JR (1998), HORTA (1995), LENZA (2006), TAVARES (2007) e ZIMMERMANN (2002). [2] Em relação à lógica taxonômica que estrutura as categorias da doutrina jurÃdica brasileira, significa dizer que a organização dos institutos jurÃdicos apropria-se dos princÃpios das ciências biológicas dos séculos XVIII e XIX, que se preocupava em conhecer a natureza dos animais e das plantas, classificando-os em Reinos, Ordens, Classes, Gêneros e Espécies. Sendo assim no discurso dogmático jurÃdico temos como Reino o Sistema JurÃdico brasileiro, como Ordem o Direito Constitucional, como Classe a Federação, como Gênero a Intervenção Federal e como Espécies a Espontânea e a Provocada, o que mais uma vez remonta o pensamento selvagem em seu discurso totêmico, segundo Claude Levy Strauss, ao naturalizar o discurso mÃtico LÉVY-STRAUSS (1976:56-97). [3] De acordo com CAMARGOS E ANJOS (2009:93): “Na história do federalismo brasileiro é possÃvel notar que a intervenção, notadamente por ser medida excepcional, foi utilizada com muita parcimônia, principalmente no perÃodo em que vivemos certa normalidade polÃtica e democrática. Entretanto, na ditadura de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, e durante a ditadura militar, de 1964 a 1984, a intervenção foi utilizada com maior freqüência.â€� [4] Sobre esta experiência histórica autoritária interessante a passagem de AGRA (2007:297): “Na história dos textos constitucionais brasileiros, o instituto da intervenção sempre respeitou os princÃpios do Estado Democrático de Direito. Contudo, o Ato Institucional 5 (AI-5) extrapolou os limites da intervenção, tornando-a um instrumento de coação do regime militar. Pelo AI-5 foi permitido ao Presidente da República, alegando interesse nacional, intervir nos Estados-membros e nos MunicÃpios sem respeitar as barreiras legais firmadas pela Constituição. [5] Retratando a discussão quanto ao papel do Presidente da República na intervenção federal informa-nos AGRA (2007:301-302): “Controvertida é a questão de saber se o Presidente da República tem obrigatoriedade ou não de decretar a intervenção quando houver pedido. Na questão acerca da intervenção no governo da Bahia, em 1920, Rui Barbosa afirmava que a intervenção dependeria do poder discricionário do Presidente, e Epitácio Pessoa defendia a tese de que o pedido vincularia o Chefe do Executivo, cabendo a ele apenas decretar a intervenção. A tese hoje preponderante é a de que o Presidente pode ou não decretar a intervenção diante do caso concreto. O pedido não o vinculará, cabendo a ele, pelas circunstâncias especÃficas do caso, analisar a conveniência ou não da decretação. Todavia, quando o objetivo da intervenção for o de prover à execução de lei federal, ordem ou decisão judicial e de assegurar a observância dos princÃpios sensÃveis, a doutrina predominante se posiciona no sentido de que o pedido se torna vinculante, obrigatório, porque os motivos são eminentemente de cunho jurÃdico. Os mesmos parâmetros valem para a intervenção nos MunicÃpios, nos mesmos casos pertinentes aos Estados-membros.â€� [6] “Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sÃtio; II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. § 1º - O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério. § 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República. Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como membros natos: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - o Ministro da Justiça; V - o Ministro de Estado da Defesa; VI - o Ministro das Relações Exteriores; VII - o Ministro do Planejamento. VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. § 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional: I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição; II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sÃtio e da intervenção federal; III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo; IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. § 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional.â€� [7] “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mÃnimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sÃtio.â€� [8] “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sÃtio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;â€� [9] “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: X - decretar e executar a intervenção federal;â€� [10] “Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. § 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. § 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual perÃodo, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação. § 3º - Na vigência do estado de defesa: I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado fÃsico e mental do detido no momento de sua autuação; III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. § 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. § 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. § 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. § 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.â€� [11] “Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sÃtio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sÃtio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta. Art. 138. O decreto do estado de sÃtio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas especÃficas e as áreas abrangidas. § 1º - O estado de sÃtio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira. § 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sÃtio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. § 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas. Art. 139. Na vigência do estado de sÃtio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifÃcio não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicÃlio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens. Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os lÃderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sÃtio. Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sÃtio, cessarão também seus efeitos, sem prejuÃzo da responsabilidade pelos ilÃcitos cometidos por seus executores ou agentes. Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sÃtio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.â€� 2.3.1.  ADIN Interventiva                           A ação direta de inconstitucionalidade interventiva (art. 36, III da CRFB/88[1]) é uma modalidade de controle de constitucionalidade concreto e concentrado para um conflito federativo, proposta no nÃvel federal pelo chefe do Ministério Público Federal, o Procurador Geral da República, quando um dos Estados-membros desrespeita lei federal ou um dos princÃpios constitucionais sensÃveis (art. 34, VII da CRFB/88[2]). (MENDES, 2008).              Apesar de o texto constitucional falar em “representaçãoâ€�, trata-se de verdadeira ação. Por isso que hoje se chama ação direta interventiva.               A ação direta interventiva não desencadeia um processo objetivo, ou seja, a análise da constitucionalidade da lei em tese. Mas sim, a jurisdição para solucionar um conflito federativo entre a União e os Estados (ou Distrito Federal).              A função do Supremo Tribunal Federal não é a de responder uma consulta (ou afastar lei em tese), mas de decidir um caso concreto (MENDES, 2008).              É importante observar que a conseqüência do provimento da representação (ou procedência da ação direta interventiva) não é a nulidade do ato contaminado, o que se quer é a decretação da intervenção federal no Estado.   O legitimado para figurar no pólo ativo é a União Federal representada pelo Procurador Geral da República. No pólo passivo, o legitimado é o Estado menbro ou Distrito Federal.              Hoje, o procedimento da ação interventiva está regulado pela Lei n. 4337/64. O Procurador Geral da República – PGR, ao ter conhecimento do ato que viola os princÃpios constitucionais sensÃveis pode propor a ação direta interventiva. Caso seja mediante representação do interessado e o PGR entender ser relevante, tem ele o prazo de 30 dias para ingressar com a ação direta interventiva perante o Supremo Tribunal Federal.              Proposta a ação, o relator ouve em 30 dias os órgãos que elaboraram ou praticaram o ato. Após a oitiva dos órgãos, o relator tem 30 dias para apresentar o relatório, que remeterá a todos os Ministros. O julgamento será feito pelo Pleno, podendo fazer uso da palavra o Procurador Geral da República e o órgão que emitiu o ato.              Se a decisão for pela inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal comunica aos órgãos interessados e requisita ao Presidente da República a decretação da intervenção federal, estando este obrigado a cumpri-la, sob pena de responder por crime de responsabilidade com base no art. 12 da Lei 1079/50[3].               A Lei 4337/64 expressamente proÃbe a concessão de liminar. Tal provimento é incompatÃvel com a ação interventiva, porque a suspensão liminar do ato impugnado transformaria em ação direta de inconstitucionalidade, o que é fiscalização abstrata e não concreta (MENDES, 2008).               Este é, portanto, o escopo doutrinário da intervenção federal no Brasil, ou seja, instituto jurÃdico de manutenção da supremacia constitucional diante de desequilÃbrios federativos e desrespeitos aos princÃpios fundamentais a cidadania.               Esse é, pois, o panorama do que a doutrina constitucional brasileira, e como tal o campo jurÃdico brasileiro representa acerca do federalismo e da intervenção federal. [1] “Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.â€� [2] “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII - assegurar a observância dos seguintes princÃpios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mÃnimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.â€� [3] “Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 1 - impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder Judiciário; 2 - Recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que depender do exercÃcio das funções do Poder Executivo; 3 - deixar de atender a requisição de intervenção federal do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral; 4 - Impedir ou frustrar pagamento determinado por sentença judiciáriaâ€�. Aplicação Prática Teórica Caso concreto: Um governador de estado decidiu decretar intervenção em municÃpio situado no território de seu estado sob a alegação de que não foi aplicado o mÃnimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino, conforme exige a Constituição Federal.  Diante dessa situação hipotética, discorra sobre a intervenção em municÃpios, respondendo à s seguintes perguntas:  a)A intervenção poderia se realizar pelo estado-membro, ou deveria ter sido decretada apenas pela União? b)É adequado dizer que a citada intervenção, para se concretizar, depende de prévia autorização judicial? c)Qual a forma pela qual a intervenção deverá se concretizar (resolução, decreto legislativo, decreto governamental, lei estadual ou lei federal, decisão judicial)? d)No caso apresentado, é necessário que o Poder Legislativo estadual aprecie o ato de intervenção? Se sua resposta for afirmativa, essa apreciação deve ser a priori ou a posteriori?  1 - Não constitui causa de intervenção da União nos estados e no DF a necessidade de:  a) garantir a aplicação do mÃnimo exigido da receita na segurança pública. b) manter a integridade nacional. c) prover a execução de ordem judicial. d) assegurar o princÃpio da autonomia municipal.  2 - Assinale a opção correta quanto à disciplina sobre a intervenção federal:  a) Se houver, por parte de estado-membro, ameaça ao livre exercÃcio de qualquer dos poderes, o pedido de intervenção federal dependerá de requisição do STF. b) A União só poderá intervir nos estados após prévia anuência do Congresso Nacional. c) O estado só poderá intervir em seus municÃpios se a assembléia legislativa, por maioria absoluta, aprovar a decretação da intervenção. d) No caso de descumprimento, por algum estado-membro, dos princÃpios constitucionais sensÃveis, a decretação de intervenção dependerá de provimento, pelo STF, de representação do procurador-geral da República.