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Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE “ Se não somos capazes de perceber que há um certo grau, não arcaico devendo ser posto em algum lugar no nível do nascimento, mas estrutural, no nível do qual os desejos são, propriamente falando, loucos, se para nós o sujeito não inclui em sua definição, em sua articulação primeira, a possibilidade da estrutura psicótica, então não passaremos nunca de alienistas.” J.Lacan, Seminário: A Identificação, 2 de maio de 1962 “ Não é louco quem quer”. Lacan escreveu este enunciado na sala de plantão e, ele pode ser lido como “ Só é louco quem pode. ” Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO Estas frases lacanianas prenunciam a postura psicanalítica diante da loucura: abordar a psicose como algo específico e determinado, que tem sua lógica e seu rigor. Trata-se de considerar a psicose como uma estrutura clínica diferente da neurose e da perversão, sendo a referência ao Édipo e à castração o divisor de águas entre esses campos clínicos. Não há uma definição propriamente psicanalítica da psicose. Coube à psicanálise o esforço de esclarecer os mecanismos psíquicos que levam à psicose, através de suas elaborações teóricas. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO Para a psicanálise, em especial na abordagem lacaniana, a psicose é uma estrutura clínica na qual não há inscrição do significante primordial, o Nome-do-Pai, responsável por interditar a relação dual mãe-bebê, operando um corte cujas conseqüências são: o reconhecimento da incompletude tanto do bebê quanto da mãe, e o direcionamento do seu caminhar guiado pelo desejo. O sujeito psicótico é aquele fora-dos-discursos, do laço social. O psicótico não faz laço, Ele vive em uma outra realidade para além daquela socialmente estabelecida. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO O sujeito dito louco não se reconhece como louco e entende o seu comportamento como perfeitamente normal e explicável em função de seus delírios que se apresentam, para ele, com um caráter de veracidade incoercível. Em virtude de sua estrutura, ele cria uma nova realidade para dar conta do que lhe ocorre intrapsiquicamente. Freud propõe ser a psicose fruto de um distúrbio na relação do ego com o mundo externo, cujo resultado ressoa sobre a dinâmica de o sujeito ser invadido por um real de acontecimentos que ele concebe como verídico, mas que os outros não conseguem perceber. São construções delirantes que visam dar um sentido subjetivo as idéias, sentimentos e percepções que o invadem. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO Em resumo, a psicose é um processo de defesa que se desenvolve no lugar, e em vez de, uma simbolização não realizada. Trata-se de uma organização da subjetividade na qual Freud vê uma forma específica de perda da realidade com regressão da libido para o eu e, eventualmente a construção de um delírio como tentativa de cura, de reconstrução da relação com a realidade. Esse novo lugar em que vai se constituindo o saber da psicose, coloca gradativamente o sujeito à margem da realidade, bem como do grupo social. Por conta disto, o psicótico é banido da sociedade e pode ser levado a instituições psiquiátricas cujo objetivo versa, predominantemente, sobre a reinserção social do psicótico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO A psicose não é um fenômeno novo, pelo contrário, foi constatado há anos, sendo tratado de diversas formas ao longo dos tempos. Apesar de se tratar de um fenômeno antigo, nem a sociedade, nem a comunidade científica, nem a rede de saúde mental do território e nem a família, no particular, estão preparadas totalmente para dar conta dessa problemática. A clínica das psicoses é um campo que demanda acentuado investimento dos profissionais, inclusive pelo estreitamento do limiar normal x patológico, o que pode mobilizar naqueles que não estejam bem trabalhados para este tipo de serviço. Esta questão do normal e do patológico remete à escolha por uma concepção de diagnóstico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO Para a psicanálise, a identificação das estruturas clínicas tem um papel central, em função da influência que elas exercem na direção do tratamento. Desde o início, o profissional deve chegar a algum diagnóstico, uma vez que isso o ajuda em termos do lugar que ele deve ocupar frente ao seu cliente e da melhor forma de conduzir o tratamento. Essa questão do diagnóstico não é simples, visto que a psicanálise não adota uma visão determinista, classificatória como a que resulta de diagnósticos feitos em outros campos do saber, a exemplo da medicina e mais especificamente, da psiquiatria. A psicanálise compreende que o diagnóstico tem apenas uma dimensão potencial, hipotética, que só pode ser confirmada no a posteriori. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO As estruturas clínicas são formas de organização defensiva do psiquismo para atuar no mundo frente à falta e à castração. São o modo singular encontrado pelo sujeito para lidar com esses fatos essenciais da vida humana. É importante ressaltar uma diferença fundamental entre a psicanálise e a psiquiatria, no que se refere ao diagnóstico e às estruturas clínicas: A psiquiatria leva em consideração o quadro sintomatológico apresentado pelo paciente para definir o seu diagnóstico. Por exemplo, se há ou não presença de delírios, alucinações, alterações do curso do pensamento, a expressão afetiva, etc., sem, contudo, singularizar ou se utilizar de elementos interpretativos que subjetivem os fenômenos naquele sujeito específico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO A psicanálise preocupa-se com o fator topológico: uma espécie de organização e lugar que o sujeito ocupa perante seu desejo e perante à falta, uma vez que se configura a partir da relação que o sujeito trava com a função fálica, enfatizando sempre a vivência singular e subjetiva. O critério de distinção no que se refere à hipótese diagnóstica é que para a psiquiatria é a presença de sintomatologias agrupadas que, por si só, direcionam sua hipótese diagnóstica. A única possibilidade de obter algo que se assemelhe ao que pode ser chamado de cura neste campo do saber, implica a remissão dos sintomas. É significativo o fato de predominar, neste saber, o olhar para a patologia, deixando de lado o sujeito em questão e a sua singularidade. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE INTRODUÇÃO A psicanálise, por sua vez, traz justamente a questão do sujeito como fator central, defendendo que a sintomatologia não é suficiente para a determinação da estrutura clínica, tendo em vista que o mesmo sintoma pode surgir em diversas estruturas. Existem outros fatores que influenciam, os quais se organizam a partir da especificidade da configuração de seus elementos. A psicose é vista como a expressão mórbida da tentativa desesperada que o eu faz para se preservar, para se livrar de uma representação inassimilável que, à maneira de um corpo estranho, ameaça sua integridade. Que mecanismos são estes que isolam o sujeito da realidade, levando-o à psicose? Qual a relação dos elementos edipianos nas psicoses? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Na perspectiva freudiana, a psicose é, inicialmente, pensada a partir de reflexões sobre o conflito defensivo em ação sobre a sexualidade. Considera necessário investigar os mecanismos atuantes na dinâmica relacional do sujeito com o mundo externo sob a ótica de uma rejeição radical para fora da consciência nos casos de confusão alucinatória ou ainda uma espécie de projeção originária da recriminação para o exterior. . Para Freud, ocorreria uma rejeição violenta da representação inconciliável para fora do eu. O eu expulsaria uma idéia que se tornou intolerável para ele, por ser demasiadamente investida e, com isso, separava-se também da realidade externa da qual essa idéia é a imagem psíquica. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Desta forma, o eu fica impotente e, às cegas, amputa uma parte de si mesmo. Isto significa que uma representação psíquica, já demasiadamente investida pelo eu, fica privada de qualquer significação. A partir de sua primeira teoria das pulsões e de sua primeira tópica, Freud retoma a questão sob o ângulo da relação entre os investimentos libidinais (sexuais) e os investimentos das pulsões do ego (interesse) no objeto. Seu primeiro estudo sobre a psicose, o caso Schreber, se dá sob esta ótica. Nesse momento inicial, ele denomina a psicose de neurose narcísica em função de um mecanismo parecido, o narcisismo, descrito por ele anteriormente, em que predomina a retirada da libido do mundo externo e seu direcionamento para o ego. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Com a elaboração da segunda tópica, Freud formula as três instâncias, o Id, o Ego e o Superego, visando demonstrar o funcionamento do psiquismo. Sustenta que o Id seria a única formada desde o nascimento, consistindo em uma instância exigente, cheia de desejos e pulsões e pouco afeita a influências decorrentes do mundo externo. O ego estaria localizado na superfície do Id e seria direcionado para a realidade, buscando a satisfação das necessidades mediante estratégias admissíveis pelo meio social. O ego teria suas raízes fincadas no Id, recebendo dele sua energia. A função do ego seria, portanto, viabilizar a realização dos desejos, mediando-os com o mundo externo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Já o superego surgiria da censura, em função das leis e padrões culturais do contexto no qual está inserido o sujeito. Embora derive do ego, é independente deste e finca suas raízes no Id. Inicialmente o superego, por advir de interdições da autoridade parental, manifesta-se em função do exterior, passando posteriormente, a atuar a partir do interior. O superego é moldado a exemplo do superego dos pais e carrega interdições introjetadas a partir do processo civilizatório. As instâncias ideais são o destino da libido narcisista e desempenham um importante papel nas psicoses, tendo em vista a predominância do narcisismo nesta patologia. É importante diferenciar o ego ideal, o ideal de ego e o superego para melhor entender a dinâmica de forças prevalentes no conflito psicótico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Em geral, a psicose implica uma severa deterioração das funções egóicas de forma a causar prejuízo no contato do sujeito com o mundo externo, com a realidade. Nesta estrutura, o Princípio do Prazer se sobressai em detrimento do Princípio de Realidade. Com as funções do ego lesadas , o sujeito psicótico mantém um contato restrito com o mundo exterior, como se este fosse limitado ao seu universo interpsíquico de forma que se estabelece uma dinâmica na qual parece que o mundo é só seu. Até então, Freud propunha que, na psicose, mediante o processo de retirada da libido de objetos e pessoas do mundo e o seu direcionamento para o eu, sem nenhuma substituição por outros na fantasia, que tal conteúdo, sendo abolido do interior do sujeito, retornaria do exterior. Quando o sujeito consegue substituir algo, o processo parece ser secundário e se daria através de construções delirantes, uma espécie de tentativa de recuperação, de cura. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE O processo psicótico caracteriza-se, portanto, por dois momentos: o super-investimento pelo eu de uma representação psíquica, tornando-a, assim, incompatível com as outras normalmente investidas, e a rejeição violenta e maciça dessa representação e, por conseguinte, a abolição da realidade da qual a representação era a cópia psíquica. A esses dois momentos cabe acrescentar um terceiro que é a percepção pelo eu do pedaço rejeitado, sob a forma de delírio, ou de alucinação. Para Freud, o eu da psicose divide-se em duas partes: uma rejeitada e perdida, como um pedaço arrancado, e outra que alucina este pedaço como uma nova realidade. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Quando um psicótico sofre de alucinações auditivas, a voz que o insulta é um pedaço errante de seu eu. O processo psicótico começa, então, pela expulsão brutal de um pedaço do eu e culmina com a percepção alucinada do pedaço rejeitado, transformado numa nova realidade, numa realidade alucinada. No lugar de uma realidade simbólica abolida aparece uma nova realidade compacta, alucinada, que coexiste no mesmo sujeito com outras realidades psíquicas não afetadas pelo mecanismo denominado por Lacan de foraclusão e por Freud de recusa. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE O psicótico não é globalmente afetado por suas crises, pois, fora dos acessos delirantes, preserva uma relação sadia com o seu meio. Inversamente, o sujeito dito normal pode viver um episódio delirante, sem que por isso se deva qualificá-lo de psicótico. . A marca da psicose é, justamente, o distanciamento do eu - que estaria a serviço do Id - e a realidade, cuja dinâmica do sujeito seria caracterizada pelo predomínio do Id e não do princípio de realidade sobre o eu. Para o psicótico e para o neurótico, o movimento retroativo é o mesmo. Exatamente como o sujeito alucinado, o analisando neurótico ouve a voz de seu inconsciente, mas a vivência é radicalmente diferente. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA FREUDIANA DA PSICOSE Enquanto o neurótico fica surpreso, admirado diante do seu inconsciente que fala através dele e que é o seu agente involuntário, o psicótico, por sua vez, repleto de certeza, tem a convicção dolorosa e inabalável de ser vítima de uma voz tirânica que o aliena. Lacan condensou a aproximação entre a psicose e o inconsciente na seguinte frase: ”o psicótico é o mártir do inconsciente, no sentido de ser sua testemunha.” De fato, quem pode atestar melhor a força irredutível e devastadora do inconsciente? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE Freud afirma que na totalidade dos casos , das neuroses e psicoses, o sujeito encontra-se diante da incapacidade do eu de se defender de uma representação psíquica intolerável; diferencia no entanto, seus mecanismos e efeitos sobre a estrutura clínica. No que se refere à perda da realidade, na neurose, o afrouxamento da relação com a realidade deve ser visto como uma reação contra o recalcamento, ou como um fracasso desta defesa. A perda da realidade é secundária ao estabelecimento da neurose, quer provenha do combate do eu contra o sintoma, quer seja constituída pela predominância da fantasia sobre a realidade, como uma espécie de compensação à parte lesada do Id. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE Esse processo que Freud chama de rejeição, Lacan o toma no sentido de abolição simbólica. Para articular essa questão, ele diz que no começo da vida psíquica, por uma condição de anterioridade lógica, o ser do sujeito deverá ser colocado no mundo do símbolo, onde habitará. Antes mesmo de nascer, o sujeito é inserido num universo simbólico onde falam dele, onde já existe um projeto parental para ele. A cadeia simbólica o antecede e ele é chamado a ocupar nela um lugar. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE Nessa aproximação com a linguagem, vão se constituir três campos de influência sobre o sujeito: de um lado, o simbólico, que se organiza como estrutura para dar lugar aos elementos que se ordenam na dimensão do inconsciente, representado pelo significante. Do outro, como função, o imaginário, que tem prevalência no nível do pré-consciente, representado pela significação; E, do outro, o real, que é exatamente o discurso feito realmente na dimensão diacrônica, histórica, mas inaccessível, impossível de ser apreendido. Trata-se daquilo que existe, que produz efeitos, mas que não é nomeável. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE Os mecanismos da neurose, o recalcado e o retorno do recalcado (o sintoma), são ambos de natureza simbólica. O retorno de uma representação ainda é uma representação que continua a fazer parte do eu. Um sintoma neurótico é um retorno da mesma natureza simbólica e está tão integrado ao eu quanto a representação recalcada. Na neurose, o recalcado e o retorno do recalcado são homogêneos, não há perda da relação simbólica. Todo sintoma é uma palavra que se articula e que é endereçada a alguem; a relação com a realidade não é obturada por uma foraclusão. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE: Freud e Lacan Quanto à psicose, o que ocorre é efetivamente uma perda. Esta perda, segundo Lacan, que não se trata da realidade externa, ou dos elementos do imaginário, mas da própria ordem simbólica. Diz ele: “Aquilo que é foracluído no plano simbólico, retorna de fora sob a forma de real”. Verifica-se que há uma alteração de consistência: o que é foracluído e o que retorna não são constituídos da mesma argila, o que sai é simbólico , o que retorna é real. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE No que se refere aos mecanismos da psicose, o repúdio ou a abolição da representação intolerável, aquilo que é repudiado e o que retorna são de naturezas profundamente heterogêneas. A imagem repentina e alucinada não tem nenhuma das propriedades simbólicas de uma representação: é captada pelo eu sem nenhum afeto e percebida com a nitidez de uma realidade inegável, mas que lhe é estranha. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE NEUROSE E PSICOSE Na psicose, a perda da realidade é primária, constituindo a própria doença. O desligamento parcial da realidade é o mais freqüente, servindo de preâmbulo ao desligamento total. O segundo tempo da psicose tem um caráter de reparação: o delírio aparece como uma peça que é posta no lugar em que, inicialmente, produziu-se uma rachadura na relação do eu com o mundo externo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA LACANIANA DAS PSICOSES O conceito lacaniano de inconsciente foi forjado a partir da compreensão psicanalítica do fenômeno psicótico. Fortemente influenciado pela idéia de automatismo mental defendida por seu mestre, Clérambault, Lacan articulou o inconsciente com os fenômenos de automatismo mental do delirante que leva o sujeito a produzir uma sucessão de pensamentos, palavras e atos que lhe escapam. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE PERSPECTIVA LACANIANA DAS PSICOSES O ser falante, psicótico ou não, é um ser falado: falado por um Outro presente em nós, que nos transcende para além do nosso querer e do nosso saber consciente. É assim que fala o inconsciente: escapa ao sujeito, para voltar a seu ouvido e surpreendê-lo. O psicótico alucinado, às voltas com vozes acusadoras, as ouve com a dupla certeza de que elas vêem de fora e só se dirigem a ele. A partir de 1953, Lacan explica as psicoses segundo duas leis: a primeira, explicita a primazia do simbólico sobre o imaginário ao dizer que é o significante que explica, como causa, as significações. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Este significante fundamental é o Nome-do-Pai. Só este significante introduz a exclusão recíproca que é a diferença entre as gerações e o interdito do incesto. A segunda lei sustenta que na falta deste significante, há proliferação de significações que visam suprir esta falta. Essas significações funcionam como muletas imaginárias que, por um tempo, possibilita ao sujeito compensar a ausência deste significante. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Lacan retoma os pontos de vista freudianos sobre o narcisismo, que alicerça a sua concepção da psicose, e o mecanismo da foraclusão para construir a sua teoria do fracasso da instalação da metáfora paterna como fundamento de todo o processo psicótico. O narcisismo não é apenas a libido investida sobre o próprio corpo, mas uma relação imaginária, central nas relações inter-humanas: ama-se no outro o que existe nele de identificação erótica, ao mesmo tempo em que, como todo processo de diferenciação, de desligamento, implica uma tensão agressiva. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Para que seja possível compreender nos psicóticos a formação, ou não, da imagem do eu, efeito do estádio do espelho, é preciso situar o ponto de partida num tempo anterior ao nascimento do sujeito. A sua história não começa com ele, ela o precede, e esse período prévio é fortemente responsável por aquilo que será seu futuro. Todo sujeito vem ocupar um lugar no mito familiar: esse mito, cuja importância é demonstrada pelo lugar que ocupará na fantasia fundamental, designa-lhe um papel na tragicomédia de sua vida, que determina, de antemão, os discursos que começam a ser dirigido não a ele, mas ao personagem que ele encarna na cena familiar, e que tenderão a constituí-lo como sujeito. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Esta é a primeira ambigüidade fundamental que o discurso impõe ao homem: ele traz um nome escolhido em função desse lugar no qual sua subjetividade se encadeia (nome pelo qual é chamado e não seu nome legal). Ao mesmo tempo, é o discurso, que é o lugar da fala, nesse início, alienante por definição, que testemunha a inserção daquele sujeito, numa cadeia significante, única condição de sua inserção simbólica. A análise de psicóticos obriga o analista a interrogar sobre a essência desse Outro, desse lugar da fala, a fim de decifrar porque o sujeito só pôde responder a esse discurso pela alienação. O ego do psicótico está engolfado numa falha, numa brecha real no Outro ( a mãe ). Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Lacan formula a constituição do Édipo em três tempos lógicos. No primeiro tempo lógico, a mãe seria o Outro absoluto, que a tudo detém, domina e governa, e o bebê estaria identificado ao falo, cuja equivalência simbólica (bebê-falo) já havia sido indicada por Freud. Neste âmbito, a mãe seria a personagem principal da maternagem do bebê, é quem acalenta, quem sacia todas as suas necessidades e atribui significações a elas. O bebê torna-se a concretização do desejo da mãe. Tanto a mãe atribui a ele este estatuto, quanto ele próprio se coloca nesse lugar, respondendo a este chamado. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE No segundo tempo lógico do Édipo, ocorreria a instituição da simbolização por parte do bebê. Isto é confirmado tanto pela capacidade da criança de representar a mãe no jogo do carretel – o famoso fort – da freudiano, como também pela utilização de fonemas e balbucios, ensaio de palavras num momento ainda remoto do desenvolvimento. Tais aspectos marcam a entrada da criança no mundo da linguagem, do simbólico. Com a possibilidade da criança simbolizar a mãe, esta atinge o estatuto de signo, em detrimento do de objeto primordial de onde até então respondia. A linguagem atua, assim, enquanto mediação simbólica que vem cortar a imediatez da dualidade da relação mãe-bebê. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Esta mediação, no entanto, não se dá por si só. É necessário que haja intervenção de um terceiro que venha barrar o desejo da mãe, bem como o do filho, e que introduza a lei da interdição, operando um corte na reintegração da criança por parte da mãe, e impedindo que o bebê continue a responder do lugar de objeto de desejo materno. É então que a instância paterna atua como metáfora, cuja incidência deve advir no próprio discurso da mãe, ou seja, o significante Nome-do-Pai, evocado no discurso materno, implica que o desejo da mãe se encontra dirigido também para outro lugar e que ela própria é submetida a uma lei. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE O significante Nome-do-Pai não apenas demarca uma lei para a mãe, mas perpassa o discurso materno e atinge a criança que se apercebe que também ela está submetida a uma lei. O Nome-do-Pai é o significante que viabiliza a simbolização da mãe. Em suma, num primeiro tempo lógico, a mãe ocupa o lugar de Outro absoluto e, em seguida, o Nome-do-Pai vem interditar esse Outro onipotente, instalando a lei em seu lugar, mediante uma nova configuração, permitindo a entrada da criança no simbólico. O falo, que ocupava o lugar de objeto imaginário do desejo da mãe, atinge o estatuto de significante do desejo do Outro e, a partir de então, inscreve-se a castração no Outro e o inconsciente se constitui barrado. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Neste contexto, a metáfora paterna convoca a significação do falo no imaginário do sujeito, contudo, o fato do falo assumir o caráter de significante se dá ao preço do desaparecimento do mesmo. Sendo assim, a castração simbólica tem como conseqüência seu surgimento no imaginário enquanto falta. O significante do falo permite ao sujeito conferir significações aos seus significantes, bem como se situar no universo simbólico e na partilha dos sexos como homem e como mulher. O sujeito sai, assim, de um lugar, no qual ele estava identificado ao falo, para uma posição de falta-a-ser, na qual será confrontado pela dialética não mais do ser ou não ser o falo, mas do ter ou não tê-lo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE O terceiro tempo lógico proposto por Lacan remonta ao declínio do Complexo de Édipo, no qual o sujeito, o menino, por exemplo, assumiria a posição de ter o falo, podendo se apropriar de várias significações de seu pênis, provisoriamente confundido com o falo. A inscrição do significante Nome-do-Pai propicia o advento do significante do desejo, baliza a entrada do sujeito no simbólico e o desenrolar de sua cadeia significante no inconsciente, que remete a questões referentes à existência e ao sexo. Na psicose, a inscrição do Nome-do-Pai não se instala e o sujeito fica colado à mãe que continua a ocupar o lugar de Outro absoluto. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE A operação do Nome-do-Pai é o fenômeno que propicia a significação fálica que, por sua vez, permite a significação do desejo da mãe: o falo é o significante do desejo materno. Como no sujeito psicótico não se inscreve este fenômeno, é possível pensar que ele não deseja, pois não se reconhece em falta, permanecendo eternamente submetido à fantasia de uma completude e aos caprichos e desejos de sua mãe, como um apêndice da mesma. Não se trata apenas de não reconhecer o Nome-do-Pai, e sim de sua exclusão. Não é algo que o psicótico nega, pois até para negar é preciso que haja um reconhecimento, como se dá com o perrverso. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Esse processo de exclusão do Nome-do-Pai recebe o nome de foraclusão, tornando-se o mecanismo por excelência da psicose. A foraclusão equivale à abolição da lei simbólica, favorecendo, no psicótico, distúrbios no mundo dos discursos. O que ele fala, é. Não faz metáfora, o significante vem colado à palavra e assume um estatuto de verdade absoluta em contraponto à dúvida inerente ao neurótico. O psicótico assume eternamente uma posição estrutural de objeto de uso e de gozo do Outro – não barrado – em função da não inscrição do significante do Nome-do-Pai. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Para adquirir o estatuto de sujeito, sujeito da linguagem, do inconsciente e do desejo é preciso pagar um preço ao valor do Édipo e, a partir de então, estar fadado a cumprir a sentença da falta, da castração simbólica. Não pagar este preço de comprometimento simbólico leva ao campo das psicoses. Em função da falha no advento da metáfora paterna, em decorrência da foraclusão do Nome-do-Pai, uma série de problemas acontecem na vida do psicótico. Dentre eles, as alterações psíquicas que, em grande parte, decorrem de alterações da percepção ou do pensamento. Seriam as alucinações e os delírios comuns aos transtornos psicóticos. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE A relação mãe-filho não espera o parto para acontecer: o ponto de partida dessa relação remonta ao momento em que começa sua história biológica, na fecundação. Esse momento é definidor do lugar que a criança ocupará, enquanto objeto de desejo, no inconsciente materno. O início da gravidez coincide com, ou acentua, a instalação de uma relação imaginária na qual a criança não é representada pelo que é na realidade, um embrião em vias de desenvolvimento, mas por um corpo imaginado, um corpo completo e unificado, dotado de todos os atributos necessários para isso. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE É sobre essa imagem, suporte imaginário do embrião que se despeja a libido materna. Durante a gestação, há, portanto, de um lado, no nível biológico, esse lento devir que transforma a célula em ser humano. Por outro lado, no plano relacional, essa célula, desde o começo, é representada pelo corpo imaginado que acompanha e precede a criança. A possibilidade dessa primeira inserção da criança no imaginário materno enquanto “corpo imaginado”, testemunha o fato de que a mãe pôde simbolizar seu discurso em torno de um significante correspondente à ordem humana na qual ela própria se insere, mas que reconhece como lhe sendo pré-existente e independente de sua própria existência. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Essa dimensão histórica materna é indispensável para que o sujeito seja reconhecido como um elo que vem se inserir numa cadeia significante da qual ele é o fim e cujo prosseguimento ele tem que garantir. A mãe do psicótico não é alguém que faz a lei, ela é a lei. Esse tipo de mães poderiam ser chamadas de fora de lei e não de mães fálicas. Mulher fálica é um sujeito para quem o falo e fazer a lei são duas entidades indissolúveis: é porque se identifica com o homem que a possui, que ela entra em conflito de rivalidade com ele, tentando impor-lhe sua lei. No entanto, no plano social, essas mulheres são hiper- rígidas: reconhecem a lei fálica e procuram apropriar-se dos emblemas reconhecidos por essa lei. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Com as mães de psicóticos, as coisas são de uma ordem completamente diferente: jamais aceitaram as regras do jogo e nem os compromissos correspondentes. Elas estipulam suas próprias regras. Se elas não são psicóticas, se suas defesas lhes permitem um tipo de aparente adaptação ao real, por outro lado, a própria ahistoricidade delas, sua má inserção social, suas exclusão na ordem da lei é algo sempre presente. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE É possível, e provável, que o filho seja fator desencadeante de uma brusca descompensação ao nível das suas defesas (o que explicaria porque é justamente na relação com seus filhos que se concretiza aquilo que nelas é da ordem de uma perversão ao nível da lei). Por outro lado, o filho lhes permite tamponar essa mesma brecha fazendo do corpo da criança o escudo que acolhe e fixa qualquer erupção do recalcado mal contido. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Esse tipo de mulher é a única que tem uma relação com a criança real enquanto embrião. O embrião é a testemunha de que a mãe é a lei, de que não tem nenhuma simbolização possível, fálica ou não, nem nenhum emblema através do qual seja possível reconhecê-la e nomeá-la. Não tem outro ponto de referência a não ser a de uma onipotência, que pretende manter através da prova de sua eficácia, a manutenção da exclusão e do não reconhecimento de tudo quanto for da ordem da lei simbólica. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE O que é narcisicamente investido ao nível do embrião é o significante da onipotência materna, que marca a mãe enquanto ser humano em sua relação com a lei. A presença dessa única relação implica para o filho uma primeira castração maciça; tudo o que, em seu corpo lembrar a contribuição paterna, é negado e anulado: em primeiro lugar, tudo aquilo que poderia fazer lembrar que ele é fruto de uma união sexual e que, enquanto ser sexuado, ele é também filho do pai. A foraclusão do Nome-do-Pai tem aqui sua origem. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE A gravidez pode, nesse sentido, ser causa de um retorno maciço do recalcado, retorno que, se não acaba numa psicose, torna todavia, psicogênica sua relação com a criança. Parece existir para essas mães um tipo de impossibilidade para representar imaginariamente à criança que virá: a relação parece dar-se entre a mãe e uma massa no interior de si mesma, uma espécie de enchimento corporal, de órgão acrescentado que, nela ,e graças a ela, se desenvolve. Esse tipo de mulher é a única que tem uma relação com a criança real enquanto embrião. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE Se normalmente a presença do corpo imaginário é o que permite, desde o início, um investimento libidinal da criança enquanto corpo separado, nesse caso, assistimos não a um desinvestimento do narcisismo em favor da futura criança, mas a um sobreinvestimento narcisista daquilo que é sentido como uma produção endógena, como algo que se acrescenta ao próprio corpo. Parece existir, para essas mães, um tipo de impossibilidade para representar imaginariamente a criança que virá. A relação entre elas parece ser entre a de uma mãe e uma massa no interior de si mesma, uma espécie de enchimento corporal, de órgão acrescentado que, nela, e graças a ela, se desenvolve. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE No plano da dinâmica libidinal esse “corpo real” aparece, então, como um simples prolongamento do narcisismo materno, razão porque o parto corre o risco de ser vivido como uma experiência de luto, a perda insuportável de um objeto investido narcisicamente, podendo causar uma psicose puerperal. O “corpo real” da criança não terá outro reconhecimento, ou outra razão de ser, se não permanecer testemunha da onipotência da função materna. Por essa razão, esse investimento só pode recair sobre aquilo que na criança é suporte e meio da demanda e jamais do desejo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE O cuidado com o estado dos órgãos, o bom andamento das funções que ela controla, lhe asseguram a onipotência. Antes de ser um corpo despedaçado, a criança é um corpo feito de pedaços, pois só assim pode continuar como testemunha da lei materna: separada da mãe espacialmente, permanece indissoluvelmente ligada a ela ao nível daquilo que é da ordem da funcionalidade. Neste contexto, só a metáfora paterna convocaria a significação do falo no imaginário do sujeito, permitindo o corte com esta relação dual com a mãe. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PERSPECTIVA LACANIANA DA PSICOSE A constituição do sujeito humano é inerente à relação com a sua imagem. Essa imagem é a base da formação do seu eu. Assim, por um lado, a imagem lhe permite diferenciar sua própria imagem da imagem do outro; por outro lado, evita a luta erótica, ou agressiva, provocada pelo conflito não intermediado de um com o outro, no qual a única escolha possível é “ele, ou eu”. Nessa ambigüidade essencial, em que pode estar o sujeito, a função do terceiro é a de regular essa instabilidade fundamental do equilíbrio imaginário com o outro. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR O encontro com o ego especular, antes de mais nada, é descrito por seu caráter jubilatório: aquilo que surge no espelho é essa imagem na qual me vejo com o corpo inteiro, independente, corpo que domino até poder fazê-lo desaparecer e renascer para mim e para o Outro. Ao assumir o corpo imaginário como minha imagem, investindo sobre ele a minha libido, ele se torna meu ego ideal, suporte de meu narcisismo. A partir daí, será ele que terá que me assegurar que meu corpo existe como outra coisa independente e não apenas um continente de necessidades vindas de outro lugar. O que permite esse reconhecimento é o movimento através do qual a criança se volta para aquele que a sustenta para pedir o seu consentimento. Através do viés do reconhecimento do Outro, a criança se reconhece. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR Desde o início, a criança foi reconhecida como corpo imaginário, por esta razão ela pode reconhecer no ego especular seu ego ideal. O ego especular já é um objeto cobiçado por ser investido pela libido materna.Transforma-se, então, em ego ideal (objeto do narcisismo primário). É preciso considerar que essa imagem do ego ideal é ilusória pois, nesta época, a criança ainda é imatura em sua motricidade e depende do Outro para poder perceber-se como inteira. Com o psicótico passa-se outra coisa: o que ele vê no espelho o deixará para sempre siderado de terror, pois o que lhe aparece é seu corpo tal como em sua realidade é visto pelo Outro: conjunto muscular mantido unido, pelos braços que o aprisionam ou o sustentam: o que se desenha no espelho é ela mais o Outro, porém o Outro enquanto agente da castração e ele como lugar dessa castração. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR O que o espelho lhe remete, indefinidamente, é ele enquanto lugar da castração. É preciso acrescentar que aquilo que se reflete no espelho enquanto ego especular, fecha, para sempre, para o psicótico, toda possibilidade e toda via de identificação. A foraclusão desse mecanismo essencial é o que estruturalmente caracteriza o fenômeno psicótico enquanto tal. Qualquer relação imaginária com o Outro, por se apoiar sobre o ego especular, se torna impossível e como toda assunção do desejo pressupõe a identificação do eu com seu ego especular, será o desejo que estará para sempre interditado para o psicótico: é essa dialética insolúvel que está na base dessa relação com o seu real. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR A partir desse momento, o sujeito terá duas percepções possíveis: a nível da demanda percebe uma dimensão de realidade bruta, que nega ao objeto qualquer significação libidinal, chocando-se com ele e reconhecendo-o ao modo de um cego; ou percebe exclusivamente seu valor significante, mas esse valor é tal que não pode ordenar a realidade que o cerca, de qualquer modo que seja. A psicose ensina que na falta do significante, o real emerge plenamente em sua condição de estar fora do processo de significação. O mundo aparece como estranho e o sujeito fica colocado numa relação contígua à própria cadeia significante. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR Conseqüências: Não se realiza a metáfora paterna, e ao não se constituir a condição básica para o recalque primário, o psicótico se vê radicalmente impossibilitado de usar a linguagem em sua dimensão simbólica (sofre o rebote real da linguagem), tornando-se impossibilitado de negar algo no plano de um discurso onde tudo se afirma para ele. Outra conseqüência: o mundo deixa de ser um mundo de aparências, perde-se a representação das coisas e a imagem fornecida pelo fantasma desaparece. Estabelecem-se as condições para os fenômenos alucinatórios. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR Conseqüências ( continuação ) O sujeito recebe as mensagens de forma imperativa, favorecendo os fenômenos de passagem ao ato. Cada significante se transforma isoladamente num enigma para o psicótico, podendo ter uma quantidade inumerável de significações e reproduzir os graves distúrbios de linguagem da psicose. Após o mergulho na loucura, começam a aparecer manifestações produtivas, que mostram a importância com que esses doentes investem nas palavras numa tentativa vã de cura e de reconstrução do mundo. Esta reconstrução, que pode se ocupar dos mais variados temas, busca dar uma significação a esse novo mundo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ESTRUTURA PSICÓTICA E O EGO ESPECULAR Na regressão à fase do espelho, a imagem do corpo próprio se fragmenta e modifica radicalmente a relação do sujeito com o seu corpo. Essa regressão possibilita explicar os vários fenômenos somáticos da psicose, assim como as alterações em relação ao tempo e ao espaço. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE FORACLUSÃO A posição teórica de Lacan a propósito da foraclusão varia conforme os seus textos e a época de sua elaboração teórica. A foraclusão se elabora a partir da distinção em três partes, que Lacan estabelece entre o mito da atribuição universal do pênis a todos os seres humanos (o Todo universal), a descoberta da criança de que existe pelo menos uma pessoa castrada, a mãe, que constitui uma exceção à universalidade do mito (o Um da existência) e o fato da própria falta. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE FORACLUSÃO Ele ressalta, portanto, três elementos, o Todo universal, o Um da existência e a falta em si. Essa tríade do Todo de uma ilusão, do Um de uma exceção e da falta, constitui uma matriz que Lacan considera segundo uma perspectiva lógica e segundo uma perspectiva edipiana. A primeira perspectiva define a dimensão simbólica e a segunda define a tríade pai, mãe e filho. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE FORACLUSÃO Quer se trate de uma ou de outra dessas perspectivas, o que está em jogo é sempre este tripé de base: o Todo, o Um e a falta, sobre o qual atuará a foraclusão. A operação foraclusiva pode incidir sobre o Todo, sobre o Um da existência ou sobre a falta. Diferentemente de Lacan, Freud focalizou a foraclusão num único elemento, o da representação intolerável, que equivale ao Um da tríade lacaniana. Nos textos mais tardios, Lacan adotou uma outra posição teórica, que se converteu em sua posição definitiva, segundo a qual a foraclusão incide não sobre o Todo, mas sobre um significante que seria desenvolvida à luz do mito edipiano. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE FORACLUSÃO Esta primeira tríade simbólica do Todo, do Um e da falta, converte-se, então, na figura ternária do todo da mãe onipotente, do Um, dos significantes do Nome-do-Pai, e da falta representada pelo desejo da mãe. A foraclusão se exercerá exclusivamente sobre o significante do Nome-do-Pai. O Nome-do-Pai, expressão de origem religiosa, não é o equivalente ao nome patronímico de um pai em particular, mas designa a função paterna como é internalizada e assumida pela própria criança. É qualquer expressão simbólica produzida pela mãe, ou pelo filho, que represente a instância terceira, paterna, da lei da proibição do incesto. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE FORACLUSÃO O Nome-do-Pai, entendido como expressão do desejo da mãe ou do desejo do filho, é qualificado por Lacan de metáfora paterna, ou seja, metáfora do desejo da criança perpassada pelo desejo da mãe. O Nome-do-Pai não designa alguma coisa objetiva, localizável, nomeável, mas é qualquer expressão significante que venha ocupar o lugar da metáfora do desejo da criança ou do desejo da mãe. Um sintoma, um gesto, uma palavra, uma decisão, uma ação, todos são em sua diversidade, exemplos de significantes do Nome-do-Pai, sendo cada um deles uma expressão singular do desejo. O lugar do Nome-do-Pai é sempre um, mesmo que os elementos que o ocupem sejam múltiplos. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI O que define acima de tudo o Nome-do-Pai é o seguinte fato: o significante do Nome-do-Pai é a resposta sempre renovada a um apelo proveniente de um outro, de um semelhante externo ao sujeito. A foraclusão consiste precisamente na suspensão de qualquer resposta ao apelo dirigida a um sujeito, de ter que fornecer uma mensagem, praticar um ato ou instituir um limite. Por isso, a foraclusão é a não vinda do significante do Nome-do-Pai no lugar e no momento em que ele é chamado a advir. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI Diferentemente do neurótico que resolveu confiar na função paterna e está referido a um saber organizado ao redor de um pólo central ao qual se devem e se medem todas as significações, falta ao sujeito psicótico uma amarragem, uma organização centralizada do seu saber que lhe dê as significações do mundo. O certo é que não haverá uma significação que seja a mesma para todos os psicóticos, como a fálica é para os neuróticos. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI No momento em que a injunção chega, o que era um saber para o psicótico entra em estado crepuscular, não vale mais. O sujeito, mesmo quando entra nesse estado crepuscular, fica sem nenhum tipo de significação. Para entendermos melhor: O saber do sujeito psicótico fora de crise está organizado de uma forma específica, segundo referências imaginárias, sem uma amarragem central homóloga à função paterna na neurose. Uma injunção não negociável bate no sujeito, exigindo que ele se refira a uma função paterna. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI De repente o seu saber se crepusculariza e a forma específica desse saber aparece como falta no simbólico da instância evocada pela injunção: foraclusão, ou abolição da função paterna. Os significantes evocados pela injunção falam no real porque a função mesma que eles são chamados a ocupar não está simbolizada pelo sujeito. O psicótico constrói a metáfora delirante, como uma tentativa de substituir a metáfora paterna. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI O desencadeamento de uma crise é relativo a uma injunção, alguma coisa chega ao sujeito fazendo um apelo a uma referência à função paterna. Referir-se a uma função paterna significa organizar-se como sujeito e obter sua significação de sujeito em relação a uma amarragem fixa, central, que organizaria seu saber. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI Essa metáfora é considerada delirante, não pelo fato de ser inverossível, mas por uma razão estrutural, pois o lugar central dessa amarragem não está simbolizado por ser algo que não estava no saber do sujeito e que vai ficar no real. É importante considerar que o que é foracluído é a função organizadora do Nome-do-Pai, é a amarragem enquanto tal, não é que o paciente psicótico não disponha de significantes para falar de seu pai, de sua família, que não existam significantes relativos ao quadro edípico. O problema é que esses significantes não têm a função de amarragem central como na metáfora neurótica. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI Trata-se da foraclusão de uma função: o que vai falar no Real e não está simbolizada é a função paterna. Por exemplo, o que vai produzir-se no Real, sob a forma de alucinação auditiva, é a função paterna. Essa função paterna vai surgir com significantes que já estavam no saber do sujeito. O pai com o qual o psicótico vai lidar no Real para poder constituir uma metáfora delirante, não é um pai abstrato, surge a partir da constelação significante paterna inerente à sua dinâmica familiar. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO – APELO AO NOME-DO-PAI O fato de haver foraclusão do Nome-do-Pai para um sujeito psicótico não implica que não haja uma história de uma certa forma edípica, o problema é que essa história edípiana não produziu uma metáfora do tipo neurótico. Os significantes paternos dessa história fazem parte do saber do sujeito como qualquer outro significante. O que não é simbolizável é a função central desse significante. É porque essa função central vai ser imposta pela injunção que esses significantes vão voltar para o sujeito no Real. A metáfora delirante é uma metáfora para-paterna, pseudopaterna, que responde à necessidade para o sujeito psicótico de estruturar-se como o neurótico. É uma a resposta à injunção. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A INJUNÇÃO: UM APELO AO NOME-DO-PAI A psicose é vista por Lacan como uma decorrência de uma contingência do acontecimento: um encontro com o Real, funcionando como uma injunção, pode romper as significações que compensavam a falta da metáfora paterna. Por exemplo, uma paternidade, uma revelação religiosa, uma traição conjugal, um falecimento inesperado, uma falência profissional, uma derrota política, etc. Diante de uma nova verdade, o saber falta e a interrogação permanece suspensa. Qual vai ser a resposta psicótica a essa interrogação? Para que o psicótico venha dar uma resposta, é preciso haver coincidência, o encontro fortuito de duas eliminações: uma do imaginário e uma do simbólico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO PSICÓTICO A Elisão ou Eliminação do Imaginário: - O imaginário que servia de suporte e de ponto de referência na prepsicose falha um dia. Há uma descompensação em conseqüência de uma escolha a fazer. A Elisão ou Eliminação do Simbólico: - Uma psicose se desencadeia quando a essa falha do Imaginário vem se acrescentar uma segunda pelo encontro de um outro acontecimento: o apelo a um significante de base, apelo vindo de uma autoridade dita paterna e dirigida ao sujeito. - Essa invocação situada no Outro, lugar dos significantes primordiais, não é recebida pelo sujeito porque está foracluída, abolida, sem afirmação possível. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO PSICÓTICO Uma psicose se desencadeia a partir da coincidência de dois furos: de um lado, no imaginário, e do outro, no simbólico, pela ausência de apelo ao Nome-do-Pai. Desses furos, que é na verdade único, vai engendrar-se um desencadeamento da fala conforme dois tempos sucessivos: o da perplexidade e o da convicção. - Perplexidade: Falas se impõem ao sujeito como vindas do exterior sob forma de vozes, como ecos do pensamento, como enunciações de atos a cumprir ou como comentários deste. Após um acontecimento novo diante do qual o sujeito não sabe o que fazer, ele sente como se sinais lhe fossem pessoalmente dirigidos: tal frase ouvida que se repete, etc. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO PSICÓTICO Há intrusão do significante: isso fala sozinho, automaticamente, conforme uma sonoridade específica, com o sentimento do sujeito de que ele mesmo tem a ver com isso, isso fala para ele. O discurso interior não pára. - Convicção: o delírio tem por função dar resposta ao enigma: é uma tentativa de reconstrução do universo do psicótico de modo a que ele possa pelo menos viver lá de novo. - O delírio dá significações às vozes já que os significantes estão reduzidos à mera função de exprimi-los. No lugar onde falta a metáfora paterna vem outra metáfora: a da impregnação, a da fecundação feminina em vista da procriação de uma nova humanidade, ou qualquer outra. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO PSICÓTICO Essas significações são atribuídas ao outro: é o outro quem tem a iniciativa, seja qual for o delírio. O outro é implicado pelo psicótico e não o inverso. Na medida em que a um certo apelo o sujeito não pôde responder, o delírio vem recobrir a relação com o Outro por uma abundância imaginária de modo de seres que são igualmente relações com o pequeno outro. O outro é poderosamente afirmado, mas sob o modo da relação dual, imaginária, por uma proliferação de significações. Assim, a estrutura imaginária acaba por ser restaurada. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO PSICÓTICO Freud, em sua análise de Schreber, faz questão de sustentar que o objeto delirante seja do mesmo sexo do psicótico. Lacan vai dizer, no entanto, que o que Freud designa por homossexualidade é a relação com o semelhante como imagem, aquele que é conhecido. O heteros do Outro sexo escapa por definição. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE DIFERENCIAÇÃO DAS PSICOSES NEUROSE PSICOSE HISTERIA pai que retorna no Real - dificuldade de constituição pai enfraquecido / castrado do delírio - pobreza de alucinações auditivas - riqueza de alucinações não auditivas Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE DIFERENCIAÇÃO DAS PSICOSES NEUROSE PSICOSE OBSESSÃO pai incastrado / não castrado - facilidade de constituição pai completo / sem falhas do delírio - alucinações auditivas - pobreza de alucinações não auditivas Tereza Dubeux Na paranóia, a constelação paterna que volta no Real é o pai não castrado. Por essa razão é possível encontrar facilidade de constituição do delírio, riqueza de alucinações auditivas, riqueza de manifestações do pai no Real e escassez de alucinações não auditivas. O êxito da constituição do delírio funciona como uma defesa efetiva do sujeito, sustentando-o numa significação. As alucinações cenestésicas surgem freqüentemente no quadro paranóico como uma tentativa de sexuação do sujeito. Essas alucinações poderiam ser pensadas como alucinações auditivas na medida em que seriam manifestação de uma tentativa de sexuação Real pelo pai (efeitos de sua voz). Elas teriam a ver com a transformação do sexo do sujeito (transexualismo). Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE DIFERENCIAÇÃO DAS PSICOSES NEUROSE PSICOSE FOBIA pai constitucionalmente - abandono objetal à insuficiente demanda do Outro (depressão) - excesso de significação pai terrificante (mania) - riqueza de alucinações não auditivas Tereza Dubeux PSICOSE MANÍACO DEPRESSIVA A fobia apresenta sempre duas faces. Por um lado, existe a fobia de significantes, como a dos objetos cortantes, dos animais etc. Por outro lado, as fobias do espaço, que são propriamente fobias relativas à posição de objeto do sujeito, fobias de ser punido pelo outro, aspirado no seu gozo. A referida oscilação dar-se entre um esforço para produzir um excesso de pai, esforço este que nunca se apaga, e a queda imediata desse esforço, um risco objetal que produz uma fobia de espaço ou ainda uma posição depressiva. Esse tipo de constelação paterna produziria na psicose uma oscilação entre um excesso de significação do lado da mania e um abandono objetal do lado da depressão. Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Segundo Freud, a esquizofrenia é uma entidade clínica que se distingue, no interior do grupo das psicoses, por uma fixação numa fase muito precoce do desenvolvimento da libido; por caracterizar-se por uma desarticulação das diversas funções psíquicas e por um mecanismo particular de formação dos sintomas: O investimento excessivo das representações da palavra, ocasionando transtornos da linguagem e das representações de objeto, causando as alucinações. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA A esquizofrenia não é um conglomerado de sintomas. Ser esquizofrênico é mais do que ter esquizofrenia. É possível dizer que a esquizofrenia se mantém um passo adiante do esquizofrênico, o qual se sente vítima passiva do que lhe acontece, como se os seus sofrimentos viessem do exterior. A esquizofrenia não é um estado de coisas, é um acontecimento puro da irrupção de um dizer que se mantém sempre um passo adiante de tudo o que o esquizofrênico exprime, e sempre marca um passo adiante de tudo que dele pode ser dito. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Esse passo adiante é, nesse caso, a própria estrutura: a esquizofrenia é um distúrbio da emergência, um excesso incontrolável de um dizer anárquico, que não pode se apoiar num dito. Esse passo adiante é também um não foraclusivo que furta a superfície de inscrição sob cada inscrição a vir. Esse não antecipado é a recusa de Freud ou a foraclusão de Lacan. Trata-se de uma incapacidade de impor um não pensamento no lugar do pensamento. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Tanto Freud quanto Lacan dedicaram poucos trabalhos teóricos relativos à esquizofrenia. Foi apenas por motivos de estrutura que Freud foi levado a conservar a unidade clínica da esquizofrenia no campo das psicoses, e também para distingui-la da paranóia. Ele questionava a pertinência deste termo para designar esta patologia. O mecanismo do recalcamento era visto como o mesmo nos dois casos, diferenciando o campo das psicoses do das neuroses, sendo sua característica principal o desapego da libido do mundo exterior e sua regressão para o eu (não como objeto fantasmático como nas neuroses). Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Freud distingue a esquizofrenia da paranóia por suas características: por um lado, a localização diferente da fixação predisponente e, por outro, a um mecanismo diverso do retorno do recalcado ( a formação dos sintomas). O que ele entende por isso? Inicialmente, sempre há um investimento, pelo sujeito de um objeto sexual, apego da libido ao objeto. É, em uma perspectiva fálica imaginária que o sujeito aborda a realidade; a satisfação que obtém dela, mesmo que seja sempre limitada, depende, em compensação, de determinações simbólicas inconscientes. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Quando essas determinações correspondem a uma situação de inacabamento do complexo de Édipo, de não assunção da castração pelo sujeito, desencadeia-se um conflito. Freud põe em oposição o investimento do objeto sexual, pelo sujeito, a uma terceira instância, edipiana, uma referência paterna, ou seja, à própria realidade, pois são esta instância e essa referência que a sustentam, que são seus elementos organizadores. Esse conflito provoca um fracasso, uma frustração na realidade, obrigando o sujeito a desligar sua libido do mundo externo. O recalque permitiria esse desligamento. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Nesta etapa, Freud faz intervir a fixação predisponente, que constitui a dimensão passiva do recalque, que reside no fato de que um componente da libido não cumpre a evolução normal prevista, permanecendo imobilizado em uma fase infantil. É dessa localização da fixação, variável, que irá depender a importância da regressão da libido. A libido, desligada do objeto pelo processo de recalcamento, fica livre e é levada a reforçar o componente da libido que ficou para trás e a romper “ os diques no ponto mais fraco do edifício”. Freud vê nessa ruptura a manifestação do fracasso do recalque e o surgimento dos sintomas ( retorno do recalcado). Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Essas manifestações sintomáticas, que se toma, em geral, pela doença, são, para Freud, “tentativas de cura”. Na esquizofrenia, levando em conta a evolução menos favorável do que na paranóia, Freud deduz que a regressão não se limita a atingir a fase do narcisismo (que se manifesta no delírio de grandeza), mas que ela vai até o completo abandono do amor objetal e o retorno ao auto-erotismo infantil. O segundo critério que distingue a esquizofrenia da paranóia, para Freud, refere-se à natureza do mecanismo posto em ação na formação dos sintomas. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Na esquizofrenia, a tentativa de cura não utiliza o mecanismo da projeção nem do delírio, como na paranóia, para tentar reinvestir os objetos, mas o da alucinação. Além disso, ele acrescenta, posteriormente, há o investimento excessivo nas palavras que corresponde aos transtornos de linguagem observados na esquizofrenia. Alguma dessas alterações da linguagem tais como:- confusão entre significante e significado em que se inscreve o não acesso do sujeito à ordem simbólica, como no discurso decorado e no uso inadequado de palavras que o sujeito não entende. É comum também o uso de neologismos, a desorganização sintática, o caráter rebuscado e maneirista da expressão verbal e outras extravagâncias. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Lacan fez alguns progressos no estudo desta psicose, ao poder contar com os instrumentos da lingüística moderna. O progresso feito por ele, leva em conta a referência à cadeia significante e sua tese de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Assim, a perda do poder metafórico das palavras poderia estar relacionado com uma carência fundamental , que constitui a definição da psicose: a falta da metáfora paterna. De fato, só esta metáfora permite transpor as coisas da ordem real para a ordem simbólica, tornando o sujeito humano capaz de lidar com sua ausência, ou seja, com a sua presença simbólica. A esquizofrenia ilustra esse poder de irrealização Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA Perturbações no triângulo edipiano – a foraclusão do Nome-do-Pai promove a substituição do triângulo edípico por uma relação bi-polar que tende a auto-anular-se: o sujeito ocupa o lugar do pai , excluindo-o. Tende a fundir-se e ,a confundir-se, com a mãe. É como se houvesse o desejo de ser pai de si mesmo com a própria mãe. Por essa razão, trata-se de um pseudo triângulo edipiano. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A ESQUIZOFRENIA A esquizofrenia ilustra bem esse poder de irrealização pela importância da irrupção do símbolo no Real, sob a forma de cadeia rompida, alucinatória ou neológica. Lacan chega a afirmar que, para o esquizofrênico, todo símbolo é real. Outros fenômenos identificáveis na esquizofrenia são: Identificação do nascimento à morte Prevalência da bissexualidade : não consegue situar-se frente à diferença dos sexos. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Definição A paranóia é uma psicose que se caracteriza por um delírio sistematizado em que predomina a interpretação, e pela ausência de enfraquecimento intelectual. Freud inclui na paranóia os delírios de perseguição, a erotomania, o delírio de ciúme e o delírio de grandeza. A grande contribuição da psicanálise ao estudo da paranóia foi pôr em evidência os mecanismos psíquicos que estão em jogo nessa psicose e a parte irrefutável da psicogênese na sua etiologia. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Histórico A hipótese inicial de Freud era de que ele podia abordar as manifestações psíquicas da paranóia à luz dos conhecimentos que a psicanálise tinha adquirido sobre as neuroses, pois ele acreditava que elas decorriam dos mesmos processos gerais da vida psíquica. Já em 1894, Freud escrevia que as idéias delirantes deviam ser classificadas ao lado das idéias obsessivas, sendo ambas distúrbios puramente intelectuais; a paranóia situa-se ao lado do distúrbio obsessivo na qualidade de psicose intelectual. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Continuando, ele diz que se as obsessões são atribuídas a algum distúrbio afetivo e demonstram que devem sua força a um conflito, portanto, a mesma explicação deve ser válida para as idéias delirantes. Freud afirma que: “essas pessoas se tornam paranóicas porque não podem tolerar certas coisas, mas é necessário ainda que seu psiquismo tenha uma disposição particular para isso”. Em 1896, ele descreve o desenvolvimento do processo paranóico na seguinte ordem: incidente, lembrança, desprazer, retirada da crença (desconexão) e recalque. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Em conseqüência desse processo, o paranóico presume que o outro imputa a ele o traço ou o desejo que ele renega. No ano seguinte, surge o primado da organização edipiana e, sem dúvida, a paranóia contribuiu para a descoberta desta organização na mesma medida em que a elucidação do Édipo exerceu influência sobre a análise da paranóia. A paranóia põe em evidência um tipo de defesa que implica a renegação da crença, a relação do sujeito com o outro. O Édipo sela essa investigação na medida em que confere a essa experiência suas dimensões normativas. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Em 1897, data em que ocorre a virada decisiva no desenvolvimento da psicanálise, os seguintes temas pareciam estabelecidos: O elemento que mobiliza a projeção paranóica provém da intolerância do paranóico do fato de que os outros conheçam deles o que eles mesmos ignoram. As características gerais dessa doença: a importância atribuída à voz, ao gesto e ao tom, traduzem a cisão entre o alter ego e a lembrança recalcada. A paranóia é a estrutura que menos depende das determinações infantis. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Em 1899, Freud vai se preocupar com os determinantes da ‘escolha das neuroses’. Ele começa afirmando que entre as camadas sexuais, a mais profunda é a do auto erotismo, que não tem nenhum fim psicossexual em si, e exige somente uma sensação capaz de satisfação localizada. Mais tarde, o aloerotismo (homo e hetero) toma lugar, mas o auto erotismo persiste sob a forma de uma corrente independente. As neuroses (histeria e neurose obsessiva) são aloeróticas e se manifestam por uma identificação com a pessoa amada. A paranóia desfaz a identificação e restabelece todas as pessoas amadas na infância, cindindo o eu em várias pessoas estranhas. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Por esta razão, Freud considera a paranóia como uma irrupção de uma corrente auto erótica, como um retorno a uma situação infantil, modificando a sua tese anterior. No caso Schreber, ele evidencia três vias: a função da projeção, a homossexualidade e o papel da fixação no eu. Quanto à homossexualidade, constata que o perseguidor do delírio paranóico é sempre uma pessoa amada. Na projeção, uma percepção interna é recalcada e seu conteúdo, após sofrer uma deformação, retorna ao consciente sob a forma de uma percepção vinda do exterior. No delírio de perseguição, a deformação consiste na transformação do afeto: o que deveria ser sentido como amor é percebido externamente como ódio. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Essa projeção possibilita ao sujeito evitar assim o perigo no qual o colocaria a irrupção, em sua consciência, de seus desejos homossexuais. Perigo considerável, devido à fixação desses doentes na fase do narcisismo, o que faria da ameaça de castração uma ameaça vital de destruição do eu. O delírio surge, portanto, como um meio para o paranóico assegurar a coesão do seu eu, ao mesmo tempo em que tenta reconstruir o seu universo. Ressalta, ainda, que a projeção não desempenha o mesmo papel em todas as formas de paranóia, nem se manifesta exclusivamente no curso da paranóia. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Sustenta que quatro tipos de funcionamento da projeção permitem distinguir os grandes tipos clínicos da paranóia: a persecutória, a de ciúmes, a erotomaníaca e a megalomaníaca, que correspondem respectivamente aos deslocamentos do verbo, do sujeito e do objeto do enunciado e à totalização da enunciação implicitamente formada pelo paciente. Como exemplo, ele cita o enunciado de base homossexual: “eu, um homem, amo um homem”; primeiro sua negação: “eu não o amo, eu o odeio”, depois a inversão das pessoas: “ele me odeia”. No entanto, a projeção não fornece o fundamento da doença. Para chegar a ele, é preciso referir-se à interrupção do desenvolvimento libidinal que é a fixação do sujeito no eu. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A problemática da identificação foi reconhecida, por Freud, como móbil do processo paranóico. Essa questão remete à própria gênese da identidade, a essa matriz de identificação que é a integração num mesmo corpo, das zonas erógenas anteriormente dispersas. Na tentativa de entender o papel dos desejos homossexuais na gênese da paranóia, Freud propõe um estádio que a libido atravessa no curso de sua evolução do auto erotismo até o amor objetal, chamado de narcisismo. Esse estádio consiste na reunião, pelo indivíduo, das pulsões sexuais numa unidade que toma, em seguida, a si mesmo, ao seu próprio corpo, como objeto de amor antes de passar à escolha de uma outra pessoa como escolha objetal. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA É essencialmente em torno da relação erótica homossexual e de um ponto de fragilidade que se encontraria em algum lugar das fases do auto erotismo e do narcisismo que Freud fundamenta sua explicação da paranóia. Essa referência ao narcisismo será melhor esclarecida a partir de 1914, quando ele distinguirá mais claramente a libido de objeto da libido narcisista, ao lado da qual colocará a psicose, em seu conjunto. Tanto nos esquizofrênicos quanto nos paranóicos, ele pressupõe um desaparecimento da libido de objeto, em favor do investimento do eu e o delírio teria como função reconduzir a libido ao objeto. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Ao tomar a si mesmo como objeto de amor, os órgãos genitais desempenham uma atração importante. A etapa seguinte conduz à escolha de um objeto dotado de órgãos genitais semelhantes aos próprios, isto é, à escolha homossexual de objeto. Só mais tarde, é possível fazer uma escolha heterossexual. Freud vai chamar a atenção para o papel desempenhado pelo pai na paranóia. Analisando o caso Schreber, diz que o pai aí intervém como um objeto de fixação homossexual. Diz, ainda, que se essa relação se enraíza numa fixação narcísica, isso ocorre na medida em que esse pai foi, para ele mesmo, um objeto de amor, um objeto libidinal. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA Com a introdução dos conceitos de superego e da pulsão de morte a clínica e a teoria da paranóia consolidam a importância do pai e a sua articulação com a gênese do social. Assim, se o grande homem é um substituto do pai, como Freud coloca em “Moisés e o Monoteísmo”, é possível admitir o papel que o superego desempenha na psicologia coletiva. Vale ressaltar que, neste texto, Freud evoca o nome do pai, mas vai caber a Lacan determinar a sua função. Se Freud, no caso Schreber, insistia sobre a integração das zonas erógenas numa totalidade orgânica, a elaboração de Lacan se faz em torno das noções do corpo despedaçado e da identificação iterativa, ilustrada no estádio do espelho. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Retomando os textos freudianos, Lacan introduz um dado essencial para compreender o que Freud chama de “complexo paterno” no neurótico, e o que o distingue daquilo que é encontrado no psicótico, esclarecendo, ao mesmo tempo, o que significa a pretensa homossexualidade do paranóico. Esse novo dado é a metáfora paterna, ou a função simbólica, designada sob o termo de Nome-do-Pai, que convém distinguir do pai real, pelo fato de que ela resulta do reconhecimento, por uma mãe, não apenas da pessoa do pai, mas, sobretudo, de sua palavra, de sua autoridade, do lugar que ela reserva à função paterna simbólica, na promoção da lei. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Com a formulação da metáfora paterna, Lacan confere ao pai uma certa transcendência. No paranóico, a metáfora paterna não funciona. Nele, entra em ação o mecanismo próprio às psicoses, a foraclusão. No lugar do Nome-do-Pai há um furo, que produz, no sujeito, um furo correspondente no lugar da significação fálica. Quando ele é confrontado com essa significação fálica, entra na mais completa confusão. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Baseando-se na leitura freudiana do caso Schreber, Lacan diz que o Freud chama de homossexualidade, trata-se, mais exatamente, de uma posição transexual, isto é, de uma feminilização do sujeito, subordinado não ao desejo de um outro homem, mas à relação que sua mãe mantém com a metáfora paterna e com o falo. Nesse caso, que é de foraclusão da metáfora paterna, a criança é tida como sendo esse falo materno. Este fato permite concluir que “à falta de poder ser o falo que falta à mãe, resta-lhe a solução de ser a mulher que falta aos homens, ou ainda, ser a mulher de Deus”. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia A foraclusão da metáfora paterna interdita assimilar este ser a mulher a uma posição feminina na homossexualidade, ou àquela mais geral do Édipo invertido. A ameaça de castração, neste caso, faz falta completamente ao paranóico. O pai de Schreber ilustra bem como foi possível ser uma figura imponente e respeitada na realidade e, ao mesmo tempo, pelo fato de se prevalecer de uma posição de legislador ou de servir a uma obra, estar em posição de fraude em relação a esses ideais, isto é, de excluir o Nome-do-Pai de sua posição no significante. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia A vertente paranóica das psicoses se caracteriza pelo desnudamento da relação imaginária apaixonada do sujeito com o seu eu, tal como se constituiu para cada ser humano na fase do espelho. A imagem especular de eu é o objeto de uma paixão erótica e agressiva, ao mesmo tempo em que ela tende a se tornar autônoma, sob a forma de perseguidores. Essa imagem pode ver seus próprios elementos se dissociarem. É a manutenção de uma relação imaginária com o semelhante que separa a paranóia da esquizofrenia. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia O Nome-do-Pai é o significante ao qual é atribuída a introdução do falo como significação última do desejo do Outro. O falo inclui a dimensão de falta no simbólico e um lugar possível para o sujeito. O sujeito paranóico se vê privado do gozo desse lugar, quando se acha engajado em uma situação real que implique o pai. Tratava-se, para Lacan, de formalizar a incidência dessa carência do Nome-do-Pai sobre a estrutura do inconsciente. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Visando a elaboração do processo paranóico, Lacan formulou a confrontação de dois diagramas , dos quais o primeiro, o diagrama da normalidade, insere o campo da realidade entre os domínios respectivos do imaginário e do simbólico e o segundo, permite assistir à deriva das posições anteriormente fixadas em torno das hiâncias em que se consomem o falo imaginário e o pai simbólico. Ao apresentar seus “Escritos”, em 1966, Lacan escreveu que foi com sua tese de 1932, sobre Aimée, que ele introduziu a noção de conhecimento paranóico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Para ele, o conhecimento é essencialmente da ordem da visão e a bipolaridade ver-ser visto é de ordem paranóica. O ego humano se constitui por identificação graças à visão do objeto e conforme a mesma bipolaridade. O ego tem, portanto, uma estrutura paranóica. Para definir este conhecimento, é preciso distinguir cinco traços fundamentais. Visibilidade De acordo com a fase do espelho, é pelo olhar da criança que a imagem do corpo do outro funda a imagem unificada do corpo próprio para além do despedaçamento. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia A partir da fase do espelho, Lacan inventa a noção de complexo de intrusão, situado entre dois complexos freudianos: o de desmame e o de Édipo. Unidade e Fixidez A intrusão do semelhante funda a unidade do eu em seu narcisismo de objeto unificado. Há confusão entre identificação e amor de si. Confusão que deve ser mantida para a estabilidade da personalidade. O conhecimento humano está sob o signo da estagnação das formas corporais: estrutura que constitui o ego e os objetos sob os atributos de permanência, de identidade e de substancialidade. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva Lacaniana da Paranóia Por um lado, a erotômona se deu ao trabalho de produzir um saber, saber promovido à dignidade de verdade, mesmo quando o parceiro se recusa a confessar este amor; por outro lado, este saber visa se impor ao parceiro, ponto essencial, comum com a estrutura delirante do presidente Schreber, na qual é a ordem do universo que é suposta reger as relações de Deus com as criaturas. Clérambault dizia que mais do que o amor, era a confissão de amor que a erotômana solicitava. Essa lógica da ocasião perdida aparece de modo enganador, como uma segunda chance, enquanto que, para ela não houve nenhuma primeira vez Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia O esquecimento de si A estrutura do ego é paranóica: o sujeito nega a si mesmo e responsabiliza o outro. Ele se desconhece como é fácil observar no transitivismo da criança; “Não sou eu, é ela”. O objeto do desejo O conhecimento paranóico institui uma tríade imaginária do outro, do eu e do objeto. O interesse por um determinado objeto nasce a partir do desejo do outro por este objeto. Assim, uma alteridade primitiva está inclusa no objeto, uma vez que ele é primitivamente o objeto de rivalidade e de concorrência. A competição, a rivalidade, o ciúme são a gênese e o arquétipo dos sentimentos sociais. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Um duplo movimento O traço decisivo mas problemático da paranóia é a manutenção de uma bipolaridade irredutível. Há, ao mesmo tempo: - inclusão, com fascinação e alienação na imagem do outro por identificação; e – exclusão recíproca: “É você ou sou eu”. Cada pólo remete sem fim ao seu contrário. Esses cinco traços definem o que Lacan vai chamar de relação imaginária, nem simbólica, nem real. No entanto, acontece que o último traço é deficiente: há inclusão com captura da imagem do outro, mas a exclusão recíproca está ausente. Psicose sem delírio ou pré-psicose? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia A Erotomania, uma das formas de delírio da paranóia, é uma posição delirante que consiste na convicção de ser para o outro um objeto de amor sensual. Psicose de prevalência feminina, a erotomania apresenta um aspecto clínico que corresponde a um quadro rigoroso que se organiza em torno de um postulado fundamental: é o objeto que começou, que mais ama, que ama sozinho (em geral, o objeto é alguém que ocupa um posto elevado); a esse postulado se associam temas diversos dele derivados: o objeto não pode ser feliz sem o amado, o objeto é livre, seu casamento não é válido, etc. que indicam uma conduta paradoxal do objeto. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE ALGUNS TIPOS DE PSICOSE: A PARANÓIA A perspectiva lacaniana da paranóia Longe de ser provocada pela benevolência do objeto, a especulação erotomaníaca começa e se alimenta das marcas de sua rejeição. Ela vê nesta rejeição o testemunho incontestável do amor, mas também razão para esperar e produzir novos argumentos. A rejeição de seu parceiro imaginário são imputadas à sua própria insuficiência, por sua falta, por não ter, a tempo, compreendido o que ele esperava dela. Apesar da conduta paradoxal do seu parceiro, ela deve manter a sua fé, pois é a esta prova à qual ela está submetida. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Para Lacan, a mania é um pecado mortal, uma covardia, no sentido de significar ceder em seu desejo de saber, de saber sobre o inconsciente que determina o sujeito. É um pecado contra “o dever de bem dizer, ou de referenciar o inconsciente, na estrutura”; é pecado contra o dever freudiano que convida o sujeito à coragem da verdade, segundo este seu enunciad0: “Ali onde isso era, o eu deve advir”. A mania é mortal no sentido estrito da palavra já que pode levar à morte. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA O debate sobre a doença mental entre a psiquiatria e a psicanálise não é de hoje. Evidentemente, nem uma, nem outra são a mesma. Ambas evoluíram e assimilaram novos recursos para o tratamento específico defendido por seus campos de trabalho. A psiquiatria deu um salto à frente com a invasão dos conhecimentos biológicos, e os medicamentos passaram a funcionar, pelo menos em parte, como instrumentos de discriminação. Por outro lado, foi perdendo os pontos de contato que antes mantinha com as “humanidades”. Essa evolução mostra que o avanço desta ciência significou a foraclusão do sujeito e a redução da doença mental a uma doença do organismo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A psicanálise, contrapondo-se à esta perspectiva, insiste em demonstrar a presença do sujeito nas realidades das psicoses. Ao tratar da mania em seu artigo “Televisão,”Lacan a define como pecado-mortal, lembrando, assim, que ela não está fora do campo da ética. A psicose maníaco-depressiva é um tipo de psicose que se expressa por acessos de mania, de melancolia, ou de ambos, com ou sem intervalo de uma aparente normalidade. Conhecida como um transtorno biológico da regulação do humor, como um tipo de doença endógena, ou mesmo hereditária, essa psicose corresponde a uma dissociação entre a economia do desejo e a do gozo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA Histórico Embora Freud tenha abordado a psicose maníaco-depressiva, suas teses sobre a melancolia foram mais elaboradas do que sobre a mania. Os testos dedicados por ele a esta problemática são pouco numerosos:”Luto e Melancolia”, “Psicologia de Massas e Análise do Eu” e “O ego e o Id”. Além disso, são textos inacabados. Em “Luto e Melancolia, por exemplo, Freud enuncia o problema da mania, porém não o resolve, e renuncia à explicação do mecanismo implicado neste processo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA Histórico Em “O ego e o id” repensa o problema da melancolia em função da pulsão de morte e do superego, sem reformular as suas teses sobre a mania. Freud propõe situar a psicose maníaco-depressiva numa moldura específica, a das neuroses narcísicas, na qual o conflito patogênico surge entre o ego e o superego, ao passo que na neurose está situado entre o ego e o id, e na psicose, entre o mundo externo e ego. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA Histórico A interrogação que o melancólico ou o maníaco coloca parece desenrolar-se no interior do mundo comum a todos nós. A falha radical presente nas estruturas psicóticas já discutidas: o fracasso do recalcamento primário, a falta de acesso ao simbólico, a foraclusão do nome do pai, a exclusão do terceiro-testemunha não estão presentes no maníaco-depressivo. É, com freqüência, questionado se a melancolia seria uma psicose autônoma ou uma fixação na fase depressiva de uma PMD. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA Na mania, o sujeito lida com a exigência paterna no Real. O encontro com esta exigência vale para produzir significação para o sujeito tanto mais quanto mais a exigência se manifesta como implacável. Este encontro pode ser pensado como a busca de um referencial que lhe dê sustentação. Na melancolia, o sujeito se identifica ao objeto da demanda do Outro, mas sua entrega ao gozo do Outro é identificatória e não alucinatória. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA A mania foi abordada pela psicanálise em suas relações com a melancolia: uma e outra dependeriam de “ um mesmo processo ao qual o eu sucumbiu às pressões do superego na melancolia, ao passo que, na mania, o dominou ou o afastou.” (Freud, “Luto e Melancolia”). Ele considerava a mania como uma defesa contra a melancolia, em que confluiriam o eu e o ideal do eu, ocasionando uma imagem de triunfo do ego sobre o superego. Freud descreve o estado de humor maníaco, no plano do afeto, como uma alegria e um júbilo aparentemente não motivados e, no plano da conduta, como uma suspensão de qualquer inibição. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA A tese freudiana faz da mania o simétrico da melancolia: o luto, referindo-se à tristeza melancólica e a festa, à euforia maníaca. Assim, o júbilo da transgressão torna-se a chave da mania, tal como a dor da perda, a da melancolia. A festividade maníaca é concebida pela a exclusão da censura, em prol da afirmação narcísica e triunfante das exigências pulsionais. O toque jubilatório da alegria maníaca não pode ser explicado apenas pela satisfação pulsional. Por exemplo, a transgressão metódica de Sade não é alegre, é sombria. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Para Freud, o júbilo maníaco seria efeito da eliminação do gasto psíquico exigido pelo recalque, convertendo-se em afeto a energia liberada. Só em 1924, Freud pode completar sua formulação e dizer sobre o que triunfava o sujeito maníaco, reconhecendo no ideal do eu, ligado à figura do pai, aquilo que o sujeito da mania teria suplantado. No entanto, essas elaborações freudianas sobre a mania não conseguiram integrar a sua noção de que o superego é menos um princípio de limitação do que um princípio de excesso, a serviço da exigência de gozo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Com sua idéia de que a mania é uma festa, Freud não explicou o risco mortal que é inerente a ela. O maníaco não é o cínico nem o amante da boa vida, tampouco é o homem da paixões. É preciso distinguir a estranha vitalidade que lhe é própria, e que ameaça sua vida, da afirmação assumida e sem entraves das pulsões. Alguns autores seguiram Freud e não conseguiram estabelecer a distinção correta que seria imposta pela incidência da foraclusão. Foi o caso de Abraham, que fez do maníaco um ser dominado pelas pulsões orais, entregue a uma embriaguez de liberdade, força e grandeza em razão das fraquezas do recalcamentio. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Melanie Klein foi talvez a única a ressaltar que as manifestações da mania deviam ser referidas a algo na postura do sujeito. Sua idéia de defesa maníaca e, mais ainda, sua formulação de que a mania se apoiaria numa “negação da realidade psíquica” vão nesta direção. Apesar de alguns dos seus conceitos não terem o rigor necessário, a sua idéia de negação da realidade psíquica veicula a intuição de uma causa subjetiva, quase uma escolha, que agiria na base da mania. Além disso, ela articula explicitamente a realidade psíquica com o efeito depressivo da perda e a mania com uma negação da depressão. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA O rechaço do inconsciente, ou o rechaço da linguagem, não passa de outro nome da foraclusão, um nome que tem a vantagem de implicar a causalidade subjetiva. O sintoma característico da crise maníaca é a fuga das idéias. O maníaco não consegue mais se concentrar em nada de preciso e, não sendo capaz de controlar sua atenção, se deixa invadir por uma sucessão incessante de idéias, o que o faz passar de uma para outra rapidamente e sem distinção. Mas como este sintoma implica um retorno no real daquilo que foi foracluído? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Partilhando com o melancólico a impressão de nivelamento que engloba pessoas e coisas, o sujeito manifesta a impressão de falta de relevo, desvitalização do mundo, nesta fuga de idéias. De que modo essa famosa fuga das idéias, a anarquia e a desorientação da intencionalidade, e também a desregulação dos ritmos vitais, são suficientemente fundamentadas por essa idéia única de retorno no real? Para entender essa questão é necessário distinguir a estrutura e sua tradução fenomenológica. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA No que se refere à estrutura, a definição é bastante precisa: o retorno no real é uma ruptura da cadeia significante. Apresenta-se toda vez que um elemento da linguagem se emancipa da estrutura binariamente ordenada de toda mensagem, impondo-se em sua presença de “um”. A fuga de idéias, por exemplo, essa logorréia em que se perde a intenção de significação, em prol de uma justaposição de ditos desorientados, não é um impedimento ao sentido do discurso? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Essa fala só parece festiva e despreocupada, assim como desorientada, por estar livre das restrições da semântica, emancipada do real que entra em jogo na gramática. Lacan falou, no seu seminário sobre a angústia,em a não função do objeto a que está implícito na constituição de qualquer mensagem. Ele é o real que está em jogo na gramática. Se a língua é a condição do sentido, o objeto é a sua causa. A linguagem humana implica um movimento de retroação para o encontro da significação. A linguagem maníaca baseia-se na antecipação sem voltar para uma formulação do sentido. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Há uma diferença entre esse tipo de retorno no real e o que se passa no modelo usado na alucinação. Na mania, não é possível dizer que do sujeito maníaco que o nome do seu ser de gozo lhe retorna no real do xingamento ouvido, nem tampouco, por outro lado, que ele dispersa no delírio. Esse nome se dispersa no infinito da linguagem que o perpassa, no automatismo dos signos de que ele é marionete. Falta-lhe o significante mestre, como referência, e a metonímia, como lugar da deriva do mais-de-gozar. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA O ataque no nível do discurso também é um ataque da regulação do gozo. A excitação maníaca é um exemplo disso, pois ela não é apenas um desenfrear da fala e uma desordem da historicidade, mas também o abalo da homeostase do ser vivo, que reduz as necessidades vitais do corpo, que o torna infatigável, insone, movido pr uma vida paradoxal que leva à morte, com tanta certeza quanto o suicídio melancólico. A linguagem certamente perturba o corpo vivo, afetando o seu gozo, negativizando-o, mas o discurso também o regula, sobretudo quando o Nome-do-Pai está no seu lugar. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA A excitação maníaca é o gozo que não é regulado pela função fálica e, no qual, o um do corpo é obsedado pelos múltiplos uns da linguagem no real, até que, depois da morte do sujeito, siga-se a morte do ser vivo. É possível reconhecer no maníaco o afeto fronteiriço que surge para um sujeito reduzido a seu vazio pelo destacamento das identificações na articulação de afastamento com um objeto, que é reduzido pelo processo de idealização, e em processo de ser evacuado. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Diferentemente das condições normais do humor, o maníaco vive um triunfo completo sobre a castração, ignorando os constrangimentos do imaginário (o sentido), e do real (o impossível). Cumpriria, assim, na ordem simbólica, uma relação bem sucedida com o Outro, por meio de uma consumação desenfreada, tornada possível pela riqueza inesgotável de sua nova realidade. No entanto, esta relação surge mais como uma devoração pela ordem simbólica do que uma apropriação das satisfações de um festim. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A MANIA Essa devoração não significa fixação ou regressão à fase oral. Trata-se de um levantamento geral do mecanismo de inércia que alimenta o funcionamento normal das pulsões, a castração. Os orifícios do corpo perdem, então, sua especificidade para tornar presente, indiferentemente, a grande goela do Outro, a falha estrutural do simbólico, desmascarada pelo desenodamento do real e do imaginário. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Lacan distingue o conceito de perda do conceito de falta. Se a falta é constitutiva do desejo subjetivo (só se deseja porque há falta), a perda faz vacilar o desejo, pois ela dá ao sujeito o sentimento de que o objeto perdido é aquele que ele desejava verdadeiramente, isto é que ele torna presente o objeto da falta, o objeto a, que preenche, assim, a falta e obtura o desejo. É possível dizer que o objeto perdido do melancólico é aquele que nunca lhe fez falta na medida em que é aquele que ele possui em nome de sua própria perda e cuja posse sufoca todo desejo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia O termo melancolia evoca, na psicanálise, duas noções distintas: a de uma entidade clínica diferenciada e a de um estado psíquico bastante particular para esclarecer, por caminhos diversos, certas características da própria subjetividade. Enquanto entidade clínica é situada no grupo das neuroses narcísicas e se define como uma depressão profunda e estrutural, marcada pela extinção do desejo e um desinvestimento narcisista extremo. Trata-se de uma doença do desejo, constituída em torno de uma perda narcisista grave. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Enquanto estado psíquico, a melancolia remete à instalação dos conceitos de libido, de narcisismo, de eu, de objeto, de perda, etc. Distingue-se do estado de luto ao revelar claramente as estreitas relações existentes entre o eu e o objeto, entre o amor e a morte, e mostra, finalmente, dentro e nas extremidades por onde carrega o sujeito, como este se estrutura em relação à falta, e o quanto esse ser subjetivo se constitui sobre um fundo de não ser. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Histórico Inicialmente, Freud constrói uma teoria sobre a melancolia baseada na teoria energética que opunha a energia sexual somática à energia sexual psíquica e na necessidade de transformar uma em outra. Ele emite, então, a hipótese de que a melancolia resultaria de uma falta de descarga de energia sexual psíquica, do mesmo modo que a angústia provinha de uma falta de descarga de energia somática. A melancolia era incluída por ele, nesta época, nas neuroses de angústia, uma vertente das neuroses atuais. A melancolia corresponderia a uma “hemorragia libidinal”. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Histórico Vinte anos depois, tendo introduzido o conceito de narcisismo, Freud faz um remanejamento geral da teoria das pulsões. O eu torna-se o primeiro objeto de amor, possibilitando uma compreensão melhor das psicoses. As psicoses passam a ser entendidas como produto da retirada da libido para o eu o que provocaria: a difração da libido na esquizofrenia, e o seu inchamento exagerado na paranóia. Na melancolia, haveria uma engolição libidinal, seguido por um esgotamento da libido, e uma perda do eu. O objetivo de um trabalho psíquico, neste caso, seria permitir ao sujeito renunciar ao objeto perdido. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Histórico Se, num primeiro momento, parece que o luto corresponderia à melancolia, logo se torna evidente que sua diferença não é apenas de ordem quantitativa, que a melancolia não é apenas um luto patológico que não pôde ser elaborado, mas também qualitativa. A melancolia incide sobre a natureza do objeto perdido que Freud aponta como sendo o próprio eu. Lacan também situa a melancolia como uma psicose e se refere à posição que nela ocupa o sujeito: a de dor em estado puro, da dor de existir, o que faz da melancolia uma paixão de ser. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Um outro conceito introduzido por Lacan foi o desenvolvimento que ele dá ao amor, em sua vertente oposta ao desejo, e colocado em perspectiva com a morte. Neste sentido, a melancolia na da mais é que do que o extremo do enamoramento, desse estado em que o sujeito não é nada, em comparação ao tudo do objeto amado idealizado, um extremo que perdura impulsionado o sujeito para à órbita da pulsão de morte. O terceiro conceito é aquele do ato de deixar cair no qual Lacan vê a marca da falência do discurso e do qual o suicídio melancólico é o principal exemplo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia O suicídio indica o ponto em que não há mais fala possível, não há mais endereçamento ao Outro, não há mais do que esse instante em que o sujeito, chegado ao extremo de não ser, cai e se encontra, enfim, em sua própria queda, em seu casamento melancólico consigo mesmo, na morte. A vertente delirante do melancólico decorre de uma apropriação de culpa que se traduz em fenômenos de auto-recriminações, de auto-difamação, enfim no delírio de inferioridade. Neste quadro, também é prioritário uma inibição vital: anorexia, insônia, abulia, indiferença e de uma convicção potente e dolorosa de perda. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Essa perda é essencial e irremediável, sempre passível de se atualizar nas múltiplas perdas que a vida impõe a todos. Qual a natureza desta perda tão penosa? Freud, ao longo de seus trabalhos, atribuiu vários nomes a estes fenômenos: perda da libido, perda do objeto, perda da auto-estima, perda da pulsão vital, etc. Estes fenômenos se distinguem das elaborações delirantes que eles motivam. Trata-se de fenômenos de retorno no real. Não de um retorno no real do automatismo mental, nem de vozes alucinadas, tampouco de algo que retorne por meio do Outro. É algo que se passa no próprio local do sujeito. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Se a tristeza neurótica tem por motivo o não querer saber nada do inconsciente, é possível conceber que a rejeição do inconsciente na psicose, que é totalmente diverso, surta os chamados efeitos de humor. A postulação da culpa pelo melancólico que chega até o delírio de indignidade já é uma elaboração desses fenômenos primários da doença. Essa atribuição de culpa tem diversas manifestações entre elas convém distinguir o delírio de pequenez do delírio de infâmia. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia O delírio de pequenez exibe toda a gama da falta a ter e da falta a valer, e pressupõe sempre a medida dos significantes ideais do Outro. O delírio de infâmia traz uma censura mais radical, não sujeita aos valores do Outro, e que visa algo diferente: o próprio cerne invisível da “Coisa”, das Ding. O melancólico é aquele que se reconhece como infame. Ele se considera uma exceção nesta indignidade. O paradoxo é que esta hiperculpa livra, por princípio, o melancólico de todos os seus deveres. Como é possível definir um dever que não se confunda com as normas do Outro? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Em geral os deveres se definem em relação aos três “is” do Outro: a interdição, o ideal, e o imperativo. A interdição que limita; o ideal que prescreve as formas corretas de gozo; e o imperativo que impõe a obrigação. No entanto, a psicanálise define um dever sem o Outro, porque onde o Outro não responde, no gozo, somente o sujeito pode responder, e é a ele que compete a responsabilidade pelo gozo. Se a foraclusão implica a rejeição da regulação fálica e da castração do gozo que ela supõe, surge a questão de saber o que o sujeito psicótico faz com o gozo assim liberado, sobre o qual o Outro não exerce uma barra. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE A PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA A Melancolia Na psicose melancólica, o delírio de indignidade em si, que é tudo o que resta de elaboração simbólica na melancolia, coloca-se na fixidez cristalizada da consciência culpada, cuja inércia contrasta com o dinamismo interpretativo do delírio paranóico. Se o estupor petrificado e a inibição silenciosa identificam o melancólico com o inanimado, se a passagem ao ato suicida o realiza como restos inúteis da linguagem, a culpa de existir que o oprime confere-lhe a imagem ambígua do supliciado em que a dor se junta ao gozo. Daí o paradoxo de uma culpa tão absoluta que é ao atingir seu estado mórbido que ela se confunde com a própria falta que aponta: a do gozo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O CASO SCHREBER Em 1903, foi publicado um livro significativo para o entendimento da psicose: Memórias de um doente dos nervos, pelo Doutor P.D. Schreber. Em 1909, Freud, estudando este texto, encontrou os fundamentos de sua teoria das psicoses (1911), ao perceber que o psicótico retirava, dos objetos libidinais e do mundo em geral, uma grande parte de seus investimentos, passando a viver em seu espaço interno. Através desse estudo, Freud visava embasar mais solidamente a teoria das pulsões; elaborar sua teoria do narcisismo e construir sua teoria sobre a psicose. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O CASO SCHREBER Daniel Paul Schreber nasceu em 1842, numa família protestante burguesa. Sobre sua vida, sabe-se que seu pai, um médico ilustre e também educador, exercia um verdadeiro terrorismo pedagógico através de sua invenção de uma“ginástica terapêutica,” que consistia em um treinamento cuja finalidade era erradicar tudo o que estivesse errado na postura e reprimir o que pertencesse à ordem do desejo. Ao mesmo tempo, ele foi promotor do movimento, de inspiração social-democrata, em prol dos loteamentos ajardinados para operários que continua até hoje, conseguindo notoriedade por suas criações. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Um irmão mais velho de Schreber, que sofria de uma psicose, suicidou-se aos 38 anos com um tiro. Sua irmã mais nova morreu de doença mental Sua vida conjugal, aparentemente feliz, foi abalada pela ausência de filhos. Pessoalmente, Schreber era um intelectual brilhante, doutor em direito e juiz-presidente da Corte de Apelação da Saxônia. Era, evidentemente um homem incomum, por sua grande cultura, sua curiosidade viva e sua capacidade de observação e de análise. Esses elementos apresentam interesse para a lógica do seu processo mórbido. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE Caso Schreber ( continuação ) A psicose de Schreber desencadeou-se em 1893 quando ele foi nomeado presidente da Corte de Apelação, apesar de sua doença ter começado nove anos antes, quando foi hospitalizado pela primeira vez. Esta crise foi diagnosticada como hipocondria grave. Recuperado, demonstrou imensa gratidão pelo Doutor Flechsig, que o havia tratado. Antes de assumir as funções para as quais tinha sido nomeado, sonhou diversas vezes que estava novamente doente. Certa manhã, em estado de semi-vigília, a idéia de que deveria ser uma coisa realmente bela ser uma mulher submetendo-se ao coito, se impôs a ele. Essa idéia foi prontamente rechaçada com extrema indignação. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O CASO SCHREBER ( continuação ) Meses depois da nomeação, um segundo desmoronamento anunciou-se, acompanhado por insônias que foram-se agravando e sensações de amolecimento cerebral. Schreber chegou a desejar a morte e, em várias ocasiões, tentou suicidar-se. Com o tempo, as idéias delirantes coloriram-se de misticismo: relações diretas com Deus e aparições milagrosas. Esses mal-estares psíquicos foram interpretados como perseguições exercidas pelo doutor Flechsig, o mesmo que o havia tratado e curado anteriormente, a quem agora acusava de assassinato da alma. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O CASO SCHREBER ( continuação ) Em seguida, apareceram idéias de perseguição e de morte iminente, assim como uma extrema sensibilidade ao barulho e à luz. Mais tarde surgiram alucinações visuais e auditivas:”ele se via morto, decomposto, atingido pela peste e pela lepra, com o corpo submetido a manipulações repugnantes e sofrendo os mais assustadores tratamentos.” Essas manifestações o faziam mergulhar por horas a fio num estado de sideração e de estupor alucinatório. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Schreber ficou internado numa casa de saúde até 1902, quando entrou na justiça para não ser interditado a escrever seu livro. O julgamento que lhe deu liberdade contém o resumo de seu sistema delirante: “Ele se considerava como chamado a salvar o mundo, devolvendo-lhe a felicidade perdida, mas só poderia fazê-lo, depois de se transformar em mulher.” Schreber julgava ter um papel redentor a desempenhar, ao preço de sua emasculação, para se tornar mulher de Deus, procriando uma nova humanidade, um mundo schreberiano, pois esse Deus, substituto de Flechsig, estava cercado apenas por cadáveres. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Observando que o perseguidor apontado, o doutor Flechsig, tinha sido antes objeto de amor de Schreber e de sua esposa, Freud situa, na origem da doença, a hipótese de uma crise de homossexualidade. Apóia-se no fato de que o doutor Flechsig fôra, para o paciente, um substituto de seus objetos de amor infantis: o pai e o irmão, ambos falecidos. Na explosão do delírio, o fantasma dos desejos por esses objetos infantis, transformaram-se em conteúdo de perseguição. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Os desenvolvimentos teóricos de Freud definem o ponto fraco dos paranóicos na fixação na fase do auto-erotismo, do narcisismo e da homossexualidade. Esta etapa é obrigatória de toda construção libidinal da criança que toma por objeto de amor alguém semelhante a si mesmo, detentor de órgãos genitais iguais aos seus, pois ama primeiro a si mesmo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Para Freud, os psicóticos possuem uma libido voltada essencialmente para o próprio corpo. De modo geral, a libido é sublimada nas relações sociais, mas é algo perigoso para o psicótico que, sempre fora de si, não tem de lidar senão com uma duplicação de si mesmo, que ele desconhece. A genialidade freudiana consistiu em enfatizar que nos diferentes delírios que se constituem, tudo iria contradizer uma única proposição: “ eu, um homem, amo ele, um homem”, esgotando as diferentes formas clínicas dos delírios, todos os modos possíveis de formular essa contradição. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) A análise lingüística que Freud fez sobre o caso, mostra três formas de contradizer a proposição: a contradição do sujeito, do verbo, e do objeto. Por exemplo, o delírio de perseguição opera uma inversão do verbo: “eu não o amo, ele me odeia, eu o odeio porque ele me persegue”; Na erotomania, o objeto é recusado :” não é ele que eu amo , eu amo ela”, que se transforma em “ é ela que eu amo porque ela me ama”; Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) No ciúme delirante, o sujeito não é reconhecido, transformando a proposta em “não sou eu que amo o homem, é ela que o ama”. Freud acrescenta ainda que a proposição pode ser rejeitada em bloco: “eu não amo ninguém, eu amo apenas a mim”, tratando-se, então, de um delírio de grandeza, típicos tanto da paranóia quanto da mania. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Foi neste contexto que Freud fez uma observação extremamente importante de que aquilo que havia sido abolido do dentro, retorna de fora. Depois de elaborar sua segunda tópica, Freud iria delimitar o campo da psicose, como sendo um conflito entre o eu e o mundo exterior e o da neurose, como sendo um conflito entre o eu e o id. A perda da realidade, observada em ambos os quadros, seria um dado de partida da psicose, sendo melhor dizer que um substituto da realidade ocupou o lugar de alguma coisa foracluída, ao passo que na neurose, a realidade é reorganizada em um registro simbólico. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) É possível pensar um fio condutor que impulsionava Schreber e que define a função da doença: tratava-se, para ele, de atingir 3 objetivos correlatos: dar sentido a uma experiência de desmoronamento que, a princípio, deixou-o aniquilado; descobrir um vínculo possível com o outro, alí onde este parecia ter desaparecido; e restabelecer uma forma de temporalidade, ali onde o abismo extra temporal o deixara como morto. Todo o delírio de Schreber é uma tentativa de compreender e de restaurar uma forma de temporalidade e de realidade, através da busca contínua do sentido a ser dado à experiência que o ultrapassa. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) O problema teórico a ser resolvido por Freud é esclarecer os vínculos entre os mecanismos de projeção e recalcamento, pois, para Freud, na economia da paranóia, é recalcada uma percepção interna, chegando em seu lugar uma percepção vinda do exterior. A questão do mecanismo específico da psicose fica ainda em aberto. Apoiando-se na convicção delirante de Schreber da iminência do fim do mundo, convicção freqüente na paranóia, Freud julga que o recalque consistiria numa retirada dos investimentos libidinais feitos sobre objetos antes amados e que a produção mórbida delirante seria uma tentativa de reconstrução desses mesmos investimentos, espécie de tentativa de cura. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Esses foram os principais mecanismos identificados por Freud na paranóia: a projeção, em que uma percepção interna vem de fora como percepção externa, mas também deturpada, o recalcamento e o narcisismo. Embora, num primeiro momento, Freud considerasse a projeção como o mecanismo formador da paranóia, este mecanismo não tem como ser suficiente para especificar o campo das psicoses. Na verdade, os mecanismos projetivos encontram-se em todas as configurações, patológicas ou não, ainda que seja possível perceber na paranóia um caráter particularmente cego na imputação ao outro do que é próprio. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) Freud pôs à prova o mecanismo central das neuroses, o recalcamento. No entanto, sua teoria do recalcamento não se aplicava do mesmo modo à paranóia. Ele construiu uma teoria que misturava recalcamento e narcisismo. Na paranóia, o recalcamento consistiria num desligamento da libido e no retorno dessa libido para o eu. Freud insistiu na fixação narcísica, que desempenharia o papel de um movimento que atrairia a libido que ficou livre para o eu. É esta fixação narcisista, aliada ao seu retorno da libido para o eu, que daria lugar à ampliação ilimitada do eu. O delírio megalomaníaco seria uma se suas expressões clínicas. Trata-se, nesse caso, de um eu que não leva em conta a realidade, o outro, de uma espécie de eu auto-gerado. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O Caso Schreber ( continuação ) A catástrofe que rompe o vínculo com o outro, que obriga a responder, a encontrar um sentido, é a retirada da libido. Freud esclarece que essa retirada não elimina o mundo externo, mas o despoja de interesse libidinal. Schreber continua a ver os outros, mas eles já não passam de sombras de homens “feitos às pressas”. Todo trabalho consiste em restabelecer as ligações libidinais. É isso que os raios do delírio exprimem. O delírio dispõe e combina: ele organiza. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES A questão que convém fazer no que diz respeito ao tratamento das psicoses é: qual o lugar possível ao analista no fora do discurso da psicose? Lacan indica que a direção do tratamento do neurótico opera a distinção entre alienação e separação. Ao propor essas duas operações como alternando-se numa pulsação, ele descreve uma temporalidade do tratamento. O sujeito busca a análise por um contratempo, porque alguma coisa vem abalar sua instalação num discurso: quando a verdade do sujeito se manifesta, irrompe, seja porque uma identificação é questionada, seja porque uma irrupção do gozo vem abalá-lo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES Um dos eixos da psicanálise é o eixo da alienação: o da associação livre. Quando um sujeito se dirige ao psicanalista, ele recorre ao sujeito suposto saber. O apelo ao sujeito suposto saber é o apelo de encontrar sentido no que se afigurou, a princípio, como não senso: logo é uma demanda de restabelecimento da homeostase das significações estabelecidas para tamponar o real do sintoma. No entanto, há uma outra vertente: o analisando, tal como o infans, depara-se com o desejo do Outro. Este desejo do Outro aparece justamente pelo silêncio, pelos buracos do sentido, pela ausência. Na metáfora paterna, o desejo da mãe é simbolizado por sua ausência. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES No tratamento, o desejo do analista aparece, não na continuidade do sentido, mas no rompimento com o sentido, transversal a ele. No Seminário 11, Lacan insiste na necessidade de que o desejo do analista funcione como um enigma graças ao qual o analisando possa efetuar sua separação e, elaborando sua fantasia, descobrir sua equivalência ao que ele é como objeto. Uma coisa é manter o sujeito do sentido no eixo da alienação na cadeia, e outra é conseguir manter a dimensão de enigma, de fora de sentido, em relação ao qual o analisando elaborará suas fantasias. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES O tratamento do psicótico constitui um problema na medida em que falta o eixo da separação. É preciso saber que vínculo o analista estabelece com esses sujeitos psicóticos e que lugares o analista pode vir a ocupar na estrutura do significante e das relações com o objeto. No que concerne ao discurso do analista no caso da neurose, o analista fica no lugar de objeto, uma vez que sustenta a transferência de saber. Quanto à psicose, é difícil estabelecer uma resposta universal: é possível que seja necessário estabelecer diferenças entre as diversas formas de psicose. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES No caso do paciente psicótico em crise, é possível identificar duas posições transferênciais que não são, em si, exclusivas: Uma primeira posição é o lugar paterno que, para este paciente, voltou no Real. O que está foracluído para o psicótico é a função paterna, mas o tecido que volta no Real é um tecido simbólico e imaginário. Neste sentido, há uma possibilidade de trabalhar analiticamente sobre esse lugar. A segunda posição é a encarnação do Outro imaginário, enquanto sendo o Outro ao qual o paciente vai ser entregue na medida em que a metáfora delirante não conseguir ser estabelecida. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES Como estas duas posições não são exclusivas, o analista pode, continuamente, encontrar-se oscilando de uma posição à outra. A exigência de constituição da metáfora, mesmo que esta seja delirante, é uma exigência de defesa contra a demanda do Outro, à qual o crepúsculo do saber expôs o sujeito. Deste ponto de vista, não há diferença entre neurose e psicose, na medida em que se trata em ambos os casos de uma operação de defesa. No caso da psicose em crise, trata-se de uma operação secundária de defesa porque a primeira defesa se crepuscularizou. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES De qualquer modo, trata-se de uma defesa impossível, considerando que o gozo do Outro, a satisfação de sua demanda imaginária, seja impossível é uma conseqüência deste Outro não ter estatuto real nenhum, ser apenas um efeito imaginário da estrutura da linguagem. Deste ponto de vista, se o analista tem uma tarefa, ela é a mesma na psicose e na neurose: ele tem que destituir esta demanda imaginária do Outro e, então garantir que o paciente faça a experiência de que a defesa que o sustenta é uma defesa contra o impossível. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRATAMENTO DAS PSICOSES O caminho de um fim da análise para um psicótico parece ter que passar por uma experiência “Real” da contingência da exigência paterna ou diretamente talvez do esvaziamento da demanda imaginária do Outro. Seria uma experiência Real no quadro da transferência, como se fosse necessário um encontro no qual o analista tenha a possibilidade acidental de destituir a exigência paterna ou o Outro imaginário, que ele encarnaria. Devido a este caráter efetivamente contingente da experiência, é difícil, e mesmo prematuro, tentar formalizar o que seria realmente o fim da análise numa psicose. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO A diferença entre a identidade sexual e a sexuação permite reconhecer, por um lado, os transexuais, em quem a identidade sexual está foracluída e que são,portanto, “fora de sexo”, e por outro, os transexualistas, nos quais a identidade está assegurada, mas que permanecem num impasse no que diz respeito à sexuação. Esta diferença estabelece o nível em que se situa a impossibilidade, ou a recusa inicial, que acarretam, em retorno, o aparecimento do transexualismo como sintoma. O transexualismo apresenta particularidades clínicas que lhe conferem um lugar singular tanto na clínica quanto na terapêutica. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO A medicina reconhece como sofrendo de transexualismo o indivíduo que expressa seu desacordo com o sexo de seu corpo e o papel social assumido pelas pessoas do seu sexo. Esta definição deixa ao próprio indivíduo o encargo de definir sua patologia e o que a determina, colocando em suspensão sua dor e seu delírio. Ele seria o fundador, portanto, de sua própria clínica. Além de definir sua patologia, o sujeito vai também decidir os procedimentos terapêuticos que melhor atendam à sua demanda explícita: modificação da aparência sexual e mudança do estado civil, gestos que são alegados como os únicos capazes de aliviar seu sofrimento e de curar a sua patologia. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO A utilização pelos profissionais, médicos ou juristas, de uma terapêutica cujos obstáculos e seu caráter irreversivelmente mutilantes não desconhecem, parece se sustentar num apelo ao bem, numa atitude de compaixão. Para a psicanálise, não é na compaixão, com os efeitos de cegamento que ela engendra, que se pode apreciar com razão os procedimentos terapêuticos. A decisão dos tribunais quanto à mudança de sexo é considerada pelos profissionais como parte integrante da terapêutica, a título da demanda que a anima, a de um reconhecimento simbólico e social: antes de tudo, o transexualismo é uma questão de identidade, portanto, não seria adequado praticar intervenção cirúrgica se ela não puder ser seguida por uma modificação de estado civil. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO Essas singularidades fazem do transexualismo uma síndrome à parte na clínica, em que a articulação das posições respectivas do paciente e do médico é inabitual a ponto de acabar invertida. Se é verdade que o transexualismo está ficando banal, em razão do avanço das técnicas médicas co-cirúrgicas e da fascinação que exerce no corpo social pelos meios de comunicação interpostos, em retorno ele exige da medicina, da cirurgia e da justiça uma submissão sem falhas às suas exigências, de que ele decide sozinho não apenas as justificações, mas também as conseqüências. O que significa admitir, a priori, o exercício sem limites de uma demanda que só aceita uma resposta em espelho? Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO Para a psicanálise, o transexualismo se articula clinicamente sobre dois eixos. O primeiro concerne à identidade sexual em sua vertente identitária e sua vertente sexual: é o eixo Real, ou é, essencialmente, a impossibilidade de articulação do Real pelo sujeito que está em jogo. O segundo concerne ao individual e ao social: é o eixo egóico pois é ele que concerne à posição do transexual em seu reconhecimento, não mais identitário no sentido mais restrito do termo, mas social. Neste reconhecimento social, o peso da imagem, logo do imaginário, é considerável e tende, em nossas culturas a se tornar preponderante. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO Os quatro pólos determinados por esses eixos: o identitário, o sexual, o individual e o social não são independentes. Cada um se articula com o outro. O transexualismo é, antes de tudo, uma problemática de identidade: o indivíduo diz não se reconhecer tal como é; pretende ser outro que é, e é a esse título que reclama uma modificação em seu corpo e uma mudança de identidade. Esse não reconhecimento de si mesmo concerne principalmente ao sexual: o indivíduo não se reconhece no sexo que é o seu, e é neste sexo que vão ser feitas as modificações que ele deseja. É preciso se perguntar sobre a natureza desse sexo reivindicado pelo transexualismo. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO Esta natureza difere conforme a estrutura do sujeito? Nesse sexual, interessa em primeiro lugar o corpo, o aspecto exterior, a aparência, isto é, o imaginário, ou o nome, a maneira como o sujeito é reconhecido pelos outros, isto é, o simbólico? A conjugação destes dois elementos iniciais, o identitário e o sexual, constitui a 1ª especificidade estrutural do transexualismo. A clínica revela que a feminilidade em questão nesta problemática é uma feminilidade totalizante, que não tem nada a ver com aquela que a divisão subjetiva, instaurada pela castração simbólica, estabelece na mulher. O “fora de jogo” do Falo proíbe os sujeitos transexuais o acesso à realidade de uma identidade sexual estabelecida. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO O drama do transexual , segundo Lacan, é confundir o órgão com o significante. Por não resolver esse drama no significante, ele vai tentar eliminar o órgão: versão psicótica de uma expulsão do objeto que não pôde fazer no início. Por falta de nodulação do Real e do imaginário pelo simbólico que implica a identidade sexual, é impossível para um ser falante vir a ocupar uma posição, por menos que seja, apoiada na comunidade de seus semelhantes. No que diz respeito à identidade, o transexual não tem escolha a não ser entregar-se à fragilidade de identificações não mais simbólicas, mas regradas pelo imaginário e, neste, prevalecerá o imaginário do corpo, da aparência, com as conseqüências que lhe são inerentes. Tereza Dubeux Clique para editar o estilo do título mestre Clique para editar o estilo do subtítulo mestre * * * PSICOSE O TRANSEXUALISMO Tereza Dubeux