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1 DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL 31 U N ID A D E 2 OS FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Nesta unidade, estudaremos a Política Nacional do Meio Ambiente do ponto de vista de seus fundamentos, isto é, daquilo em que se funda para tornar-se eficaz. Reforçaremos o conceito de Meio Ambiente em associação aos subconceitos de Biodiversidade, Ecossistema e Biosfera. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Consolidar o conceito de Meio Ambiente para o qual concorrem os subconceitos de Biodiversidade, Ecossistema e Biosfera, entre outros. • Identificar o direito constitucional ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e as garantias jurídicas à efetividade desse direito. • Verificar no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente, as formas de atuação e intervenção do Poder Público de acordo com disposições da Constituição brasileira de 1988, visando à eficácia da execução da Política Nacional do Meio Ambiente. • Estabelecer conexão entre o conceito de Meio Ambiente, como “bem de uso comum do povo” e o Direito ao Meio Ambiente. Analisar o termo “uso” visando à delimitação de direitos em matéria ambiental. • Evidenciar outros instrumentos e mecanismos que, decorrentes da Política Nacional do Meio Ambiente em seus fundamentos, destinam-se a contribuir para o equilíbrio ecológico, a saber: a desapropriação direta e indireta; as funções sociais da cidade e da propriedade rural e a reserva legal. PLANO DA UNIDADE: • Meio Ambiente. • A Lei 6.938/81. • O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. • Meio Ambiente / Direito ao meio ambiente. • Bem ambiental: bem de uso comum do povo. • Desapropriação direta e indireta. • Funções sociais da cidade e da propriedade rural. Bons Estudos! UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 32 MEIO AMBIENTE A Lei n. 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, define-o: “Art. 3º: (............) Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” Para os fins desta definição, condições são fatores determinantes do modo como a vida se desenvolve e evolui; leis são leis naturais; influências, fatos naturais de que pode resultar uma conseqüência; e interações representam, no caso, a maneira pela qual agem uns sobre os outros, os elementos químicos, físicos e biológicos. A definição de meio ambiente, expressa no artigo 3º da Lei n. 6938/ 81, dá idéia precisa da totalidade de todos os elementos naturais e de suas mutações na configuração da vida; mas não incorpora o sentido de relações, que será examinado mais à frente do ponto de vista de relações do homem com o ambiente. Em conexão com a definição de meio ambiente incluímos, principalmente, sem, é claro, exclusão de outras, as definições de biodiversidade, ecossistema e biosfera: A Política Nacional do Meio Ambiente se relaciona à totalidade de todos os elementos de caráter físico, químico e biológico e suas interações (uns agindo sobre os outros em constantes mutações) sob condições, leis e influências que os determinam em relação, sobretudo, com matérias referentes à biodiversidade, ecossistema e biosfera: DIREITO AMBIENTAL 33 Você, agora, tem os elementos necessários ao domínio do conceito de Meio Ambiente. Meio Ambiente, em sentido próprio, é um bem ou um valor indispensável à vida, resultante de elementos naturais, de suas combinações ou interações e de suas mutações. Mas é um bem extremamente sensível a alterações provocadas artificialmente que, sem critérios de contenção, o degradam. Qualquer interferência ou intervenção que o retire de seu equilíbrio natural modifica, para pior, as condições de vida. Então, você deve ter em vista que as premissas para a legislação ambiental se encontram na constatação de que a questão do Meio Ambiente é a da violação de suas leis (naturais) pelo homem e da necessidade de proteção do Meio Ambiente no interesse do próprio homem e do equilíbrio do meio em que vive. UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 34 Observe que o § 1º, do art. 225, da Constituição Federal de 1988, dispõe sobre incumbências ao Poder Público para assegurar a efetividade do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. E o Direito se torna efetivo, uma vez observadas as regras de seus incisos I a VI. Estes dispositivos terão grande importância para a determinação de regras e disposições de Direito Ambiental e é fácil avaliá-los pelo que significam, examinando-se atentamente o quadro sinótico anteriormente apresentado. O interessante é que, nas suas várias dimensões, o disposto nos incisos I a VI revelam incumbências diferenciadas que podem se expressar pelos verbos preservar e restaurar; fiscalizar; definir; exigir, controlar e promover. Trata-se, pois, de regras para tornar o direito ao meio ambiente efetivo, todas elas, em conjunto, se contemplando. A LEI 6.938/81 A Lei n. 6938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, dispõe sobre “os fins, mecanismos de sua formulação e aplicação”. Funda-se nos incisos VI e VII, do artigo 23 e no artigo 235 da Constituição brasileira de 1988: “Art. 23: É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII – preservar as florestas, a fauna e a flora.” Na proteção de que trata o artigo 23, no inc. VI, supra a CF/88 estabelece a tutela jurídica do meio ambiente como um todo, associada ao combate à poluição, que é degradação da qualidade ambiental causada por atividade humana, a que nos referiremos com base na Lei n. 6938/81. A preservação, por sua vez, consiste em “conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à proteção a longo prazo de habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais”. “Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” A constituição brasileira de 1988 refere-se a um direito de todos - portanto, de toda a sociedade – ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. E impõe, a todos, o dever – referente, portanto, ao exercício consciente da cidadania como algo de que ninguém pode se eximir – de DIREITO AMBIENTAL 35 defendê-lo (em face de agressões) e de preservá-lo (uma vez equilibrado ou reequilibrado, deve ser mantido em sua integridade). E é um dever consubstancial ao Poder Público. “§ 1º: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e dos ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas a pesquisas e manipulação do material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará publicidade2; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” A Lei n. 9.795, de 27/04/1999, “dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. No artigo 1º diz em que consiste a educação ambiental; no artigo 2º, a destaca como componente essencial e permanente da educação nacional; no artigo 3º, coloca-a como parte do processo educativo”. O § 1º, antes reproduzido, estatui o que incumbe ao Poder Público a fim de assegurar a efetividade do direito aplicado ao meio ambiente. Trata- se de instrumentos e mecanismos de intervenção e atuação do Poder Público a partir da constatação de que é indispensável “verificar se os princípios e normas relativos ao meio ambiente estão, realmente, sendo cumpridos (...)”. É imprescindível sua real aplicação. Em última análise, sua efetividade que, no dizer de Luiz Roberto BARROSO, é “o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social” (Freitas, 2002, p. 11). O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO O artigo 225 da Constituição brasileira de 1988 assegura a todos “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 36 Em associação ao direito ao meio ambiente, há o termo ecologia, cujo significado deriva da palavra grega oikos, que quer dizer “casa” ou “lugar onde se vive”. Em sentido literal, ecologia é o estudo dos organismos em sua casa. Em sua acepção técnica, como entendida atualmente, ecologia “é a ciência que estuda a dinâmica dos ecossistemas, ou seja, os processos e as interações de todos os seres vivos entre si e destes com os aspectos morfológicos, químicos e físicos do ambiente, incluindo os aspectos humanos que interferem e interagem com os sistemas naturais do planeta. É o estudo do funcionamento do sistema natural como um todo e das relações de todos os organismos vivendo no seu interior.” (LIMA E SILVA, e outros, 1999)3. No âmbito da ecologia cultural, deve ser considerado dado importante que veio a determinar o perfil do Direito ao Meio Ambiente. DIREITO AMBIENTAL 37 O art. 225, da Constituição brasileira de 1988, fala em equilíbrio ecológico. O Direito Ambiental busca manter o equilíbrio ou o reequilíbrio do que, no meio ambiente, esteja desequilibrado. Você pode notar que a expressão “equilíbrio ecológico” reforça, em nós, o entendimento de que o conceito de ecologia se enquadra ao conceito e ao campo de aplicação do Direito Ambiental. Mas esse enquadramento se dá, com mais propriedade, se se tem em vista os subconceitos de ecologia humana e cultural. Você poderá levantar outros subconceitos de ecologia que podem interessar ao Direito Ambiental, mas secundariamente, e não em caráter principal. MEIO AMBIENTE / DIREITO AO MEIO AMBIENTE Pode-se ter, agora, visão esquemática de associações entre definições técnicas e os respectivos campos de aplicação. De um lado, há associações ao conceito de meio ambiente e, de outro, à idéia inicial do direito ao meio ambiente: UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 38 BEM AMBIENTAL: BEM DE USO COMUM DO POVO O art. 225 da Constituição Brasileira de 1988 também declara que o meio ambiente é “bem de uso comum do povo”. Em que sentido se pode entendê-lo como bem? E bem de uso comum do povo? Sobre “bem ambiental” observa Sirvinskas (2006, p. 30-31)4 “Bem ambiental é aquele definido constitucionalmente (art. 225, caput) como sendo de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Qual é o bem do uso comum do povo? Bem ou recurso ambiental é aquele definido no art. 3º, V, da Lei n. 6.938/81, ou seja, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. É, em outras palavras, o meio ambiente ecologicamente equilibrado... O bem ambiental não pode ser classificado como bem público nem como privado (art. 98, CC), ficando numa faixa intermediária denominada bem difuso. Difuso é o bem que pertence a cada um e, ao mesmo tempo, a todos. Não há como identificar o seu titular e seu objeto é insuscetível de divisão...”. (2003, p. 30- 31) E quanto ao termo uso? Esclarece Bessa Antunes (2004, p.67-68)5 “(...) não estamos diante de um bem que possa ser incluído entre aqueles pertencentes a uma ou outra pessoa jurídica de direito público, pelo contrário, o meio ambiente é integrado por bens pertencentes a diversas pessoas jurídicas, naturais ou não, públicas ou privadas. O que a Constituição fez foi criar uma categoria jurídica capaz, a todos quantos se utilizarem de recursos naturais, de impor uma obrigação de zelo para com o meio ambiente. Trata-se de uma modalidade de intervenção econômica que visa garantir a todos o acesso aos bens ambientais. Não se olvide, contudo, que o conceito de uso comum do povo rompe com o tradicional enfoque de que os bens de uso comum só podem ser bens públicos. Não, a Constituição Federal estabeleceu que, mesmo no domínio privado, podem ser fixadas obrigações para que os proprietários assegurem a fruição, contudo, é mediata, e não imediata. O proprietário de uma floresta permanece proprietário da mesma, pode estabelecer interdições quanto à penetração e permanência de estranhos no interior de sua propriedade. Entretanto, está obrigado a não degradar as características ecológicas que, estas sim, são de uso comum, tais como a beleza cênica, a produção do oxigênio, o equilíbrio térmico gerado pela floresta, o refúgio de animais silvestres etc.” (2004, p. 67-68). DIREITO AMBIENTAL 39 Em resumo: O bem é que é de uso, de tal modo que todos a ele têm direito, em condições de usufruir de sadia qualidade de vida. Assim, mesmo que uma área rural ou urbana seja de propriedade particular, o proprietário tem o dever – dever, e não mera obrigação – de não degradá-la ou poluí-la. E todos podem ser afetados pela degradação ou poluição que na propriedade ocorra. Se um bem ambiental é lesado – exemplos: água, ar, solo, fauna, flora – o prejuízo afeta mesmo os que ali, na propriedade, não estejam. No Direito Ambiental brasileiro, O DIREITO PÚBLICO AO MEIO AMBIENTE SE SOBREPÕE AO INTERESSE PRIVADO. Você precisa atentar bem para o termo uso. O uso, para nós, em matéria ambiental, se relaciona a um critério de necessidade. É o que utilizo diretamente (o ar, a água, por exemplo) ou de que em benefício indiretamente (solo, fauna e flora, se não estou em relação direta com eles, mas só para exemplificar). Você não deve perder de vista o comentário de Bessa Antunes sobre o significado da expressão “uso comum do povo”. Nem todos têm a propriedade ou a posse de certos bens ambientais, mas sua danificação pode ser lesiva a todos. Em sentido positivo, pois, uso é o direito de todos, proprietários, possuidores ou não de serem beneficiados, direta ou indiretamente, pelo bom estado do bem. E, em sentido negativo, é o direito de todos de não serem prejudicados pelo mau estado ou mau uso de bens ambientais da vida. DESAPROPRIAÇÃO DIRETA E INDIRETA O Poder Público, na salvaguarda do meio ambiente, pode expropriar áreas para dar, a elas, destinação ambiental: é a chamada desapropriação direta: “Segundo Flávio Dino da Costa (Revista de Direito Ambiental, 18, Doutrina Nacional, p. 139-145) ensejam desapropriação direta por ato do poder público (certamente mediante prévia e justa indenização) a criação de: DICA UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 40 a) Estações Ecológicas como áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista (art. 1º, da Lei n. 6.902/81, cujo art. 2º prevê sua criação por Estados e Municípios); b) Reservas Extrativistas (Lei n. 7.804/89, que altera a Lei n. 6.938/ 81) destinadas à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por população extrativista (art. 1º, Decreto n. 98.897/90) cabendo, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), promover as desapropriações necessárias à sua implantação, sendo a exploração, pela população destinatária, autorizada por concessão real de uso, a título gratuito, que será rescindida quando houver quaisquer danos ao meio ambiente ou a transferência de concessão inter-vivos; e c) Hortos Florestais (Decreto n. 4.439/39), Jardins Botânicos e Zoológicos.” (Lei n. 7173/83). Há, também, a hipótese de desapropriação indireta: “Caracteriza-se por ato do Executivo que impõe, a determinada área, destinação ambiental. É o chamado apossamento administrativo.” Questão importante é a que se refere à indenização ao proprietário em caso de desapropriação indireta em que se verifica o apossamento administrativo de espaço da propriedade privada para submetê-lo à destinação ambiental. Caso, por exemplo, em que certa área, tendo características ambientais relevantes, precisa ser especialmente protegida. Decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), no Recurso Extraordinário n. 134.297-8, de que foi relator o Ministro Celso de Mello: “Ementa – Recurso Extraordinário – Estação ecológica – reserva florestal na Serra do Mar – patrimônio nacional (CF, artigo 225, § 4º). Limitação administrativa que afeta o conteúdo econômico do direito de propriedade. Direito do proprietário à indenização. Dever estatal de ressarcir os prejuízos de ordem patrimonial sofridos pelo particular. RE não reconhecido. Incumbe ao Poder Público o dever constitucional de proteger a flora e de adotar as necessárias medidas que visem a coibir práticas lesivas ao equilíbrio ecológico. Esse encargo, contudo, não exonera o Estado da obrigação de indenizar os proprietários cujos imóveis venham a ser afetados, em sua potencialidade econômica, pelas limitações impostas pela Administração Pública.” Observe o seguinte: Na desapropriação direta, considerando as hipóteses em que permitida, o bem se transfere do domínio privado ao domínio público mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Na indireta, o Poder Público se apossa de determinada área de propriedade para dar, a ela, destinação ambiental, o que, na decisão transcrita anteriormente, obriga o Poder Público a indenizar os proprietários. DIREITO AMBIENTAL 41 Então, você entende, claramente, que, na desapropriação direta, é toda uma área que tem o seu domínio transferido; na indireta, dá-se algo como, por exemplo, uma reserva de espaço à sua utilização para fins ambientais. Na direta, o direito de propriedade cessa em função do interesse público; na indireta, dá-se limitação ao direito de propriedade que deixa de ser objeto de fruição e gozo em sua plenitude. FUNÇÕES SOCIAIS DA CIDADE E DA PROPRIEDADE RURAL No interesse de toda a sociedade, a propriedade deve exercer função social. E por função social entende- se, também, a função social ambiental. Significa que há limitações e restrições ao direito de propriedade privada para que ela se subordine a uma função social – também ambiental – observando exigências e requisitos relacionados ao meio ambiente. Como disse Bessa Antunes, nestas hipóteses o proprietário continua proprietário, mas à propriedade se atribui função que, no interesse de todos, torne o bem ambiental privado de “uso comum do povo”. Exemplos básicos de função social: Propomos, a você, o exame ou o reexame, na doutrina, do conceito de função social – sem qualquer requinte doutrinário e para fins didáticos, podemos dizer que consiste numa função, atribuída a um bem ou a uma coisa, que deve ser exercida no interesse da sociedade. Uma empresa desativada ou uma propriedade rural improdutiva não desempenham função social porque deixam de gerar riqueza (valores; circulação de produtos ou mercadorias; empregos; impostos). Em matéria ambiental, deixa-se de exercer função social quando o bem ou a coisa não estão em conformidade com os propósitos de preservação de qualquer influência que os comprometa. Sendo o meio ambiente “bem de uso comum do povo”, o uso deve ser resguardado de qualquer efeito prejudicial a todos e o exercício de função UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 42 social ambiental assegura a integridade do bem ou da coisa, evitando-se os efeitos de sua degradação ou poluição. CONCLUINDO Os fundamentos da Política Nacional do Meio Ambiente, como se pode concluir, são constitucionais. A Constituição brasileira de 1988 os estabelece e dispõe sobre como assegurar a efetividade do direito ao “meio ambiente ecologicamente equilibrado” como “bem de uso comum do povo”. Dispõe, para a eficácia da Política Nacional do Meio Ambiente, acerca da atuação e intervenção do Poder Público em matéria ambiental. Esta unidade tem particular importância sob vários aspectos, mas um deles se refere à conexão Meio Ambiente e Direito ao Meio Ambiente. Este, o Direito ao Meio Ambiente “ecologicamente equilibrado” como “bem de uso comum do povo” enseja a distinção entre proteção ao meio ambiente através de tutela geral e proteção a bens de que se compõe o Meio Ambiente ou recursos ambientais por meio de tutela específica. Delineiam-se, assim, no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente e da legislação a ela aplicada, as bases para um conceito de Direito Ambiental. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, vamos estudar as Diretrizes , Princípios, Objetivos e Finalidades da Política nacional de Meio Ambiente. Até lá!! NOTAS 1 A lei faz distinção conceitual entre Degradação e Poluição. A Lei n. 6.938/71 dispõe em seu art. 3º; “Para os fins previstos nesta lei, entende-se: I – (...); II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.” Recorde-se, com referência à biota, que biótico é tudo o que pertence ou se relaciona a organismos vivos. 2 Entre os institutos jurídicos e políticos previstos na Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto das Cidades), que regulamentou os artigos 182 e 183 da CF/88, destacam-se no artigo 4º: “VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV)”. 3 LIMA E SILVA. Dicionário brasileiro de ciências ambientais. 1ª edição. R>J.Thex, 1999, 253p. 4 SIRVINSKAS, L.P. Manual de direito ambiental. 2ª edição: Saraiva, 2006,422 p. 5 ANTUNES, P. de Bessa. Direito ambiental. 8ª edição, 2004. 988p.