Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Formação econômica do Brasil colonial Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja capaz de: Descrever o contexto econômico em que ocorreu a expansão comercial européia nos séculos XV e XVI. Caracterizar a ocupação portuguesa do Brasil nos séculos XVI e XVII. Identifi car as principais características da economia canavieira no Nordeste brasileiro. 1 ob jet ivo s A U L A Meta da aula Apresentar a dinâmica da empresa colonial agrícola no Brasil nos séculos XVI e XVII, destacando a economia canavieira no Nordeste como modelo de atividade típica. 1 2 3 Aula1.indd 7 1/12/2006, 1:04:39 PM 8 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial INTRODUÇÃO O estudo da formação econômica do Brasil é muito importante para um curso de graduação em Administração, porque permite o conhecimento da estrutura econômica e dos negócios que sustentaram o país em sua etapa inicial de desenvolvimento. Ao analisar o contexto econômico e os negócios mais rentáveis em cada período histórico, você, estudante de Administração, desenvolve a habilidade de identifi car as relações entre o ambiente econômico, a presença – apoio –, em maior ou menor grau do governo, o desenvolvimento tecnológico e o mercado de trabalho. Na disciplina Formação Econômica do Brasil (FEB), você estudará o período que vai da chegada dos portugueses à Colônia até o início dos anos 1960, quando a economia brasileira deixou de estar sustentada nas ATIVIDADES PRIMÁRIAS, tornando-se uma economia industrial. Você analisará a dinâmica atual na disciplina Economia Brasileira Contemporânea. Não por acaso, o nome desta disciplina é homônimo de uma das principais obras de CELSO FURTADO, o mais importante economista brasileiro do século XX. Em 1959, foi publicada a primeira edição de Formação Econômica do Brasil, livro considerado uma das mais infl uentes interpretações da história do Brasil, analisando desde a ocupação da Colônia, no século XVI, até a relação entre a crise da economia cafeeira e as origens da indústria, na primeira metade do século XX. Nesta primeira aula, você verá, antes de tudo, que a ocupação econômica da América foi uma das conseqüências da expansão comercial da Europa. Vamos tratar um pouco deste tema, com ênfase à colonização portuguesa e ao Brasil. Você iniciará uma viagem pela história econômica da maior colônia portuguesa, identifi cando como a EMPRESA AGRÍCOLA, implantada pelos colonos portugueses no Nordeste, foi importante para a expansão mercantilista européia nos séculos XVI e XVII e quais suas conseqüências para o desenvolvimento da economia colonial em nosso país. AT I V I D A D E S P R I M Á R I A S Ao estudar os efeitos do progresso técnico sobre o desenvolvimento econômico, o economista Colin Clark identifi cou três tipos de atividades: as primárias (agricultura); as secundárias (indústria) e as terciárias (serviços). Países muito dependentes das atividades primárias, isto é, dos seus recursos naturais, são menos desenvolvidos do que aqueles que se sustentam mais nas atividades secundárias e terciárias. (1920-2004) Nascido na Paraíba, o economista Celso Furtado infl uenciou mais de uma geração de economistas preocupados com o desenvolvimento econômico na América Latina, no Brasil e na estagnada Região Nordeste. Sua infl uência manifesta- se por meio de sua vasta produção bibliográfi ca e no exercício de importantes cargos públicos, aliando a teoria à prática em prol do desenvolvimento econômico com justiça social. EM P RE S A (C O L O N I A L) A G R Í C O L A Modelo econômico de colonização adotado por países europeus nos séculos XV e XVI. Consistia em transformar a colônia em produtora de especiarias, que não podiam ser obtidas na Europa, principalmente devido ao clima: açúcar, cacau, canela, por exemplo. Segundo este modelo, toda a produção colonial estava destinada à metrópole, que a comprava a baixos preços e a revendia na Europa, acumulando os lucros desta transação. Aula1.indd 8 1/12/2006, 1:04:41 PM C E D E R J 9 A U LA 1 COMO SURGIU A EMPRESA COLONIAL AGRÍCOLA? A empresa colonial agrícola, iniciada com a introdução da monocultura do açúcar no Nordeste pelos portugueses, foi uma experiência de grande sucesso e única durante o século XVI. Para que você possa entendê-la, vamos situar o contexto em que ela se desenvolve. A expansão comercial européia, iniciada em fi ns da Idade Média, rompeu com o isolamento econômico típico do PERÍODO FEUDAL. O mar Mediterrâneo tornou-se a mais importante rota de comércio, benefi ciando, principalmente, as cidades italianas, dentre elas Gênova e Veneza. Dado o elevado custo de transporte e de risco do empreendimento comercial, apenas a comercialização de produtos de grande valor de mercado – com pouco volume e peso, como as especiarias orientais (pimenta-do-reino e canela, por exemplo) – era economicamente viável. PE R Í O D O F E U D A L/ F E U D A L I S M O Chamamos feudalismo ou sistema feudal o modo com que a vida em sociedade estava organizada na Europa durante a Idade Média. Esta organização variou muito segundo a época e o local. Em linhas gerais, podemos dizer que a sociedade feudal tinha como bases o poder descentralizado, a economia agropastoril e o trabalho dos servos. Em termos de organização social, havia três estamentos: clero, nobreza e servos. As relações entre estes grupos eram extremamente desiguais. Clero e nobreza ditavam as regras sociais e econômicas, bastante desfavoráveis para os servos. A Igreja Católica controlava as idéias religiosas da época e os reis ainda não eram fi guras fortes, seu poder era muito descentralizado. Saiba mais sobre o feudalismo em http:// www.saberhistoria.hpg.ig .com.br/feudalismo1.htm Feudalismo hoje Em junho de 2004, a Estação Ciência, da Universidade de São Paulo (USP), reabriu a exposição O Castelo Medieval e o Feudalismo, disponível em: http://www.eciencia.usp.br/Exposicao/feudalismo/. Leia, na apresentação da exposição, o texto do Prof. Hilário Franco Junior, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP). Ele afi rma que alguns tipos de relação social característicos do feudalismo, como o favorecimento de amigos em detrimento da lei, perduram até hoje. !! Figura 1.1: Você pode verifi car que a tomada de Constantinopla difi cultou o acesso ao Oriente pelo Mediterrâneo, levando à busca por rotas alternativas, o que favoreceu os povos ibéricos em sua rota através do oceano Atlântico. VenezaVeneza GênovaGênova JerusalémJerusalém ConstantinoplaConstantinopla PortugalPortugal EspanhaEspanha Aula1.indd 9 1/12/2006, 1:04:44 PM 10 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial A tomada de Constantinopla (atualmente Istambul, Turquia) pelos turcos, em 1453, difi cultou a manutenção da rota comercial que ligava as cidades mediterrâneas às fontes de especiarias. Os turcos passaram a controlar o comércio na região, impedindo o acesso de portugueses e espanhóis, desestruturando o comércio de longa distância e estimulando- os a descobrir novas rotas comerciais. Iniciou-se, assim, uma nova etapa da história mundial: 1453 é considerado o ano que marca o fi m do feudalismo (396-1453) e o início da era moderna (1453-1789). PORTUGAL ENTRA EM CENA Desde meados do século XV, os portugueses já vinham explorando a rota do Atlântico, estabelecendo-se em algumas localidades da costa africana, onde cultivavam a cana-de-açúcar. Seu objetivo, porém, era alcançar os fornecedores de especiarias localizados nas Índias utilizando a rota do oceano Atlântico. Para isso, aprimoraram a tecnologia de construção de navios, o que lhes permitiu vencer a travessia daquele que era chamado “mar Tenebroso”, que ganhou este nome por ser muito mais difícil de navegar do que as águas calmas do Mediterrâneo. Essa conquista ocorreu durante o século XV, auge do império marítimo português – que marcou profundamente a cultura do país, como exemplifi ca o poema Mar Portuguez, do poeta Fernando Pessoa (1888-1935). Você deve estar se perguntando por que Portugal foi o primeiro país a desenvolver a tecnologia naval necessária para grandes navegações. O primeiro motivo está relacionado à atividade econômica: a necessidade de pesca para alimentar a população. A organização do grupo de estudos chamado Escola de Sagres – integrando cientistas e navegadores de diversos credos e formações – foi, segundo os historiadores, outra razão para o pioneirismo português. ?? Aula1.indd 10 1/12/2006, 1:04:45 PM C E D E R J 11 A U LA 1 Para saber mais sobre a tecnologia desenvolvida para as grandes navegações, veja os itens: Razões do Pioneirismo e Os Instrumentos dos Pilotos, em http://novaescola.abril.uol.com.br/ed/118_dez98/ html/multi.htm. Agora, se você quiser saber as diferenças entre caravelas, galeras e naus, viaje até http: //educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/ br_descoberta9.htm. !! Navegando com Fernando Pessoa O poeta português Fernando Pessoa imortalizou a façanha de seus conterrâneos na conquista dos mares em poemas como este: Mar Portuguez Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos fi lhos em vão resaram! Quantas noivas fi caram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, Mas nelle é que espelhou o céu. Identifi que duas passagens em que o poeta indica a difi culdade do empreendimento marítimo português. Relacione-as com as circunstâncias da época que levaram os portugueses a enfrentarem o desafi o da navegação a mar aberto. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Versos como “Quanto do seu sal são lágrimas de Portugal” ou “Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor” sugerem a difi culdade do empreendimento pela dor que causou. Essa difi culdade seria justifi cada pela perspectiva dos ganhos comerciais que o descobrimento de novas rotas mercantis poderia proporcionar aos controladores da nova rota comercial para as Índias. Na verdade, se você prestar atenção, verá que, em quase todos os versos, revela-se a difi culdade desse empreendimento português. Atividade 1 Aula1.indd 11 1/12/2006, 1:04:46 PM 12 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial GR A N D E S NA V E G A Ç Õ E S Este é o nome consagrado pela historiografi a para referir-se à expansão marítima ocorrida nos séculos XV e XVI que ampliou as rotas comerciais, unindo a Europa à África e Ásia. As Grandes Navegações tiveram por maior conseqüência a ocupação do continente americano, então chamado “Novo Mundo”. ME RC A N T I L I S M O Política econômica de caráter protecionista, o mercantilismo se desenvolveu na Europa ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Sua base é o acúmulo de capital – representado, naquele período, por metais preciosos (ouro e prata, principalmente), protecionismo alfandegário e balança de comércio favorável. Com o absolutismo, formava os alicerces do Antigo Regime. Segundo o pensamento que vigorava àquela época, os governos precisavam crescer, expandir-se, ir além das fronteiras nacionais. Para isto, era preciso acumular recursos. Como os países europeus não dispunham de ouro e prata, planejaram conquistar outros territórios para obtê-los, as colônias. Lá, poderiam também manter sua balança comercial favorável, forçando o monopólio e mantendo taxas elevadas de comércio para suas colônias. Foi o que aconteceu com Portugal, Espanha, França e Inglaterra, entre outros países. A OCUPAÇÃO PORTUGUESA NA COLÔNIA O descobrimento do Brasil foi uma etapa da conquista do oceano Atlântico, fazendo parte do grande movimento expansivo defl agrado pelas GRANDES NAVEGAÇÕES. A partir do século XV, o Mediterrâneo perdeu a centralidade no comércio mundial, que se deslocou para o Atlântico. Portugal era, a essa época, uma monarquia absolutista. Era um dos vários estados absolutistas europeus que surgiram como a estrutura política que a burguesia – que ascendia no cenário econômico – encontrou para garantir o apoio ofi cial a seus interesses comerciais. Esses interesses caracterizaram o MERCANTILISMO, garantindo os lucros do comércio por meio de um modelo de comércio exterior protecionista. Figura 1.2: O Monumento aos Descobrimentos foi construído à beira do rio Tejo, em Lisboa, em 1960, como homenagem a D. Henrique, patrono das navegações. Segundo os historiadores, desse lugar saiu, em março de 1500, a esquadra comandada por Cabral que chegaria ao Brasil em 22 de abril do mesmo ano. GR A N D E S NA V E G A Ç Õ E S Este é o nome consagrado pela historiografi a para referir-se à expansão marítima ocorrida nos séculos XV e XVI que ampliou as rotas comerciais, unindo a Europa à África e Ásia. As Grandes Navegações tiveram por maior conseqüência a ocupação do continente americano, então chamado “Novo Mundo”. ME RC A N T I L I S M O Política econômica de caráter protecionista, o mercantilismo se desenvolveu na Europa ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Sua base é o acúmulo de capital – representado, naquele período, por metais preciosos (ouro e prata, principalmente), protecionismo alfandegário e balança de comércio favorável. Com o absolutismo, formava os alicerces do Antigo Regime. Segundo o pensamento que vigorava àquela época, os governos precisavam crescer, expandir-se, ir além das fronteiras nacionais. Para isto, era preciso acumular recursos. Como os países europeus não dispunham de ouro e prata, planejaram conquistar outros territórios para obtê-los, as colônias. Lá, poderiam também manter sua balança comercial favorável, forçando o monopólio e mantendo taxas elevadas de comércio para suas colônias. Foi o que aconteceu com Portugal, Espanha, França e Inglaterra, entre outros países. Aula1.indd 12 1/12/2006, 1:04:46 PM C E D E R J 13 A U LA 1 Um dos compositores mais polêmicos da década de 1980 no Brasil, Cazuza trata do tema em sua música "Burguesia". Entre outras afi rmações, está a de que “enquanto houver burguesia não vai haver poesia.” E você, o que acha? Estados absolutistas Ao fi nal da Idade Média, o crescimento da população, o desenvolvimento do comércio e das cidades, assim como a ausência dos senhores feudais – então nas Cruzadas – provocaram o enfraquecimento do poder local e o fortalecimento do poder dos reis. Os estados absolutistas foram a nova organização política a partir do século XV. Alicerçados no poder do rei e da Igreja, tiveram como características a centralização do poder, o crescimento do nacionalismo e a unifi cação territorial. A burguesia comercial foi uma importante aliada neste processo, apoiando política e fi nanceiramente os monarcas. Em troca, estes criaram um sistema administrativo mais organizado, unifi cando moedas e impostos, o que proporcionou, à burguesia, facilidades no comércio. Burguesia Classe social que surgiu, na Europa, com o renascimento comercial e das cidades ao fi m do período feudal. Os que mais tarde foram chamados burgueses – médicos, artesãos, comerciantes, entre outros – viviam em aglomerados à volta dos castelos medievais, os burgos. Segundo os historiadores, ao longo de toda a sua história, a burguesia esteve associada ao poder. Aliada aos reis das nações que começavam a formar-se no século XV, ajudou a diminuir a infl uência do clero e da nobreza na sociedade. Financiou, entre outras realizações, as grandes navegações do século XVI e as atividades artísticas do século XVII (Renascimento). A burguesia passou a dominar a vida social, política e econômica após a Revolução Francesa, no século XVIII, ocasião em que viu atendido seu principal interesse de classe: a garantia dos direitos de propriedade, fundamento de uma sociedade capitalista. ?? Um dos compositores mais polêmicos da década de 1980 no Brasil, Cazuza trata do tema em sua música "Burguesia". Entre outras afi rmações, está a de que “enquanto houver burguesia não vai haver poesia.” E você, o que acha? Aula1.indd 13 1/12/2006, 1:04:47 PM 14 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial PA C T O CO L O N I A L “Conjunto de relações econômicas e políticas que subordinavam a colônia à metrópole. No plano político, a dominação era exercida por meio da presença de autoridades civis nomeadas pela metrópole e cujo desempenho era assegurado pela ocupação militar. No campo econômico, o Pacto Colonial signifi cava uma série de obrigações de compra e venda da colônia para com a metrópole, sendo os mecanismos desse comércio controlados de forma monopolista pelas companhias de comércio”. Paulo Sandroni – Novíssimo Dicionário de Economia. A consolidação de Portugal como Estado Nacional moderno ocorreu no século XVI. O governo absolutista lusitano fi nanciou as grandes navegações, conquistando novos territórios e submetendo-os ao PACTO COLONIAL. A ocupação do Brasil no período colonial (1500 a 1822) está intimamente ligada à expansão comercial e colonial européia. Inicialmente, esta era uma disputa que envolvia os países ibéricos. Segundo Celso Furtado (1971), a luta entre Espanha e Portugal pelas terras americanas foi muito difícil em função da quantidade de terras a defender. A Espanha encontrou ouro e prata em suas colônias, o que lhe permitiu fi nanciar a defesa contra possíveis invasões estrangeiras. Seu sistema de defesa estendia-se da Flórida à embocadura do rio da Prata. Mesmo com a abundância dos recursos de que dispunha, a Espanha não conseguiu evitar que seus inimigos invadissem as Antilhas e o norte do continente sul-americano, onde ingleses, franceses e holandeses estabeleceram-se, fundando as Guianas Inglesa e Francesa e o Suriname (ex-Guiana Holandesa). PA C T O CO L O N I A L “Conjunto de relações econômicas e políticas que subordinavam a colônia à metrópole. No plano político, a dominação era exercida por meio da presença de autoridades civis nomeadas pela metrópole e cujo desempenho era assegurado pela ocupação militar. No campo econômico, o Pacto Colonial signifi cava uma série de obrigações de compra e venda da colônia para com a metrópole, sendo os mecanismos desse comércio controlados de forma monopolista pelas companhias de comércio”. Paulo Sandroni – Novíssimo Dicionário de Economia. Figura 1.3: No Museu do Ouro, em Bogotá (Colômbia), podemos observar como os povos indígenas que habitavam a América espanhola trabalhavam a riqueza mineral ali existente. Aula1.indd 14 1/12/2006, 1:04:47 PM C E D E R J 15 A U LA 1 A divisão do continente americano Espanhóis e portugueses disputaram as terras do novo continente americano. Essa disputa foi mediada pelo papa – que, àquela época, tinha autoridade equivalente à da Organização das Nações Unidas (ONU) para dirimir confl itos internacionais. O resultado dessa negociação foi a assinatura do tratado de Tordesilhas (1494). Com esse documento, convencionou-se que as terras a oeste do meridiano que corta o Brasil desde o Pará até Santa Catarina fi cavam sob o domínio espanhol. Já os portugueses fi cavam com as terras situadas a leste dessa linha imaginária. Assinado seis anos antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, parecia que o tratado tinha benefi ciado os espanhóis, quanto às terras americanas. Estes imaginavam estar cedendo apenas oceano aos portugueses. Entretanto, o fato de os portugueses terem assinado o tratado pode ser considerado um indicador de que eles já deviam ter indícios da existência do Brasil. ?? Figura 1.4: O Tratado de Tordesilhas dividia, com uma linha vertical, o Novo Mundo entre Espanha (à esquerda da linha) e Portugal (à direita). Repare que a parte reservada para Portugal era muito menor do que a área destinada à Espanha. Será que os portugueses teriam aceito essa divisão totalmente desigual sem reclamar ou sem saber que havia outras terras além das conhecidas pelos espanhóis? O mapa à esquerda é um planisfério de 1545, disponível no site da Biblioteca Nacional de Lisboa. Repare que a linha do tratado passava bem no meio do que hoje é o território brasileiro. Compare as fi guras. No mapa à direita, constam algumas cidades que ainda não existiam. Não se assuste, isto é só para você ter uma noção de por onde passava a linha do tratado. Fonte da fi gura à esquerda: http://bnd.bn.pt/ed/viagens/brasil/iconografi a/antecedentes/ tratado_tordesilhas/index.html Fonte da fi gura à direita: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Tordesilhas Aula1.indd 15 1/12/2006, 1:04:48 PM 16 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial Por não encontrar metais preciosos em seus novos domínios, Portugal enfrentou mais dificuldades para defender seu território americano, o Brasil. Como não tinha recursos sufi cientes, precisou implantar uma atividade muito lucrativa para fi nanciar a defesa da própria colônia, além de permitir a transferência de lucros mercantis para a metrópole. Assim, introduziu o cultivo de um produto tropical, a cana-de-açúcar, que já vinha explorando em ilhas do Atlântico Sul e era um produto que contava com um mercado em expansão na Europa. O elemento que assegurou a lucratividade do empreendimento foi o monopólio comercial, determinado pela metrópole. Analisando o sistema de exploração colonial na etapa da expansão comercial européia, o historiador Fernando Novais (1990), argumenta que: o monopólio do comércio das colônias pela Metrópole defi ne o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem a sua função histórica, isto é, respondem aos estímulos que lhes deram origem, que foram a sua razão de ser, enfi m, que lhes dão sentido. CARACTERÍSTICAS DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL A empresa colonial agrícola introduzida na colônia não se reduzia a extrair riquezas naturais para revenda nos mercados europeus. Era um empreendimento muito mais complexo, que envolvia o desenvolvimento de uma atividade agrícola que seria explorada segundo critérios que proporcionassem o máximo de lucratividade possível aos portugueses. Quer ler o tratado de Tordesilhas na íntegra? Ele está disponível no site da Biblioteca Nacional de Lisboa: http://bnd.bn.pt/ed/viagens/brasil/obras/ tratado_tordesilhas/index.html. Vale a pena dar uma olhada. Repare a linguagem utilizada e como é forte a presença de referências religiosas, marca da época em que foi !! Aula1.indd 16 1/12/2006, 1:04:50 PM C E D E R J 17 A U LA 1 O historiador Fernando Novais (1990) destaca as principais diferenças entre a instalação da empresa colonial agrícola no Nordeste brasileiro e as tradicionais feitorias, entrepostos comerciais que funcionavam como pontos de apoio dos comerciantes metropolitanos ao longo das costas africana e asiática, onde eles recolhiam os produtos nativos da região para serem revendidos na Europa. Em suas palavras: A atividade colonizadora dos povos europeus na época moderna, inaugurada com a ocupação e utilização das ilhas atlânticas, e logo desenvolvida em larga escala com o povoamento e valorização econômica da América, distingue-se da empresa de exploração comercial que desde o século XV já vinham realizando os portugueses nos numerosos entrepostos do litoral atlântico-africano e no mundo indiano. Efetivamente, a empresa colonial é mais complexa, envolvendo povoamento europeu, organização de uma economia complementar voltada para o mercado metropolitano. Em outras palavras, pode-se dizer que nos entrepostos africanos e asiáticos a atividade econômica dos europeus (pelo menos nesta primeira fase) se circunscreve nos limites da circulação de mercadorias: a colonização promoverá a intervenção direta dos empresários europeus no âmbito da produção (p. 47). O sentido da colonização era cultivar produtos tropicais de forma lucrativa para o comércio europeu, de modo a não competir com as culturas de clima temperado existentes na Europa. Os produtos seriam tropicais porque a produção colonial deveria ser complementar, e nunca competitiva, à produção européia. O sentido da colonização Deve-se ao historiador Caio Prado Junior a noção de sentido da colonização. Em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo: colônia (1969), cuja primeira edição data de 1942, ele defende a tese de que a estrutura da economia colonial, baseada em três elementos principais – o latifúndio, a monocultura e o trabalho escravo –, foi pensada com um único sentido: fornecer gêneros tropicais ao comércio europeu. ?? Aula1.indd 17 1/12/2006, 1:04:50 PM 18 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial A lucratividade da empresa colonial agrícola estava assentada em três elementos principais, que asseguravam os baixos custos de produção: o latifúndio: necessário para permitir o crescimento extensivo da produção, uma vez que a atividade não se expandia com base no aumento da produtividade, mas sim no uso extensivo de terra. A grande propriedade era, além disso, importante para atrair colonos portugueses, que viam a colônia como uma possibilidade de enriquecimento, mas não como local para se estabelecer defi nitivamente, como nas colônias de povoamento; a monocultura: como a empresa colonial agrícola visava à lucratividade comercial, era mais interessante para o colonizador mobilizar recursos para o produto a ser exportado do que diversifi car a produção considerando o mercado interno (praticamente inexistente, dada a baixa circulação de dinheiro na economia colonial, como você vai ver mais adiante no boxe explicativo sobre economia de subsistência x economia mercantil); o trabalho escravo: a difi culdade de acesso à mão-de-obra barata diante da necessidade de conter custos de produção levou à introdução da escravidão na colônia, ainda que estivesse em vias de desaparecimento na Europa. O recurso à escravidão decorria de: a) inexistência de excedentes populacionais em Portugal; b) insufi ciência de trabalhadores indígenas; c) ambiente desfavorável na Colônia, fazendo com que os salários necessários para atrair trabalhadores europeus fossem elevados demais, o que comprometeria a lucratividade do empreendimento; d) uma experiência lucrativa do tráfi co de escravos oriundos das colônias africanas, o que levou à utilização dessa espécie de mão-de-obra como relação básica de produção na empresa colonial agrícola. Aula1.indd 18 1/12/2006, 1:04:50 PM C E D E R J 19 A U LA 1 ECONOMIA CANAVIEIRA: ELEMENTO-CHAVE NO SUCESSO DA EMPRESA COLONIAL AGRÍCOLA O sucesso da empresa colonial agrícola implantada no Nordeste no século XVI está relacionado à introdução da cultura da cana-de- açúcar, especiaria cultivada em clima tropical que contava com grande mercado consumidor na Europa. A cultura da cana foi o maior êxito experimentado pela economia colonial agrícola. Ela permitiu associar a experiência portuguesa do cultivo da cana nas ilhas do Atlântico Sul à utilização da mão-de-obra escrava nas colônias africanas, e ao uso de terras férteis da costa do Nordeste para produção de uma cultura tropical que desfrutava de crescente mercado consumidor na Europa. Um elemento fundamental que explica esse sucesso foi a implan- tação de uma rota comercial entre as colônias da Coroa portuguesa, criando uma interdependência entre dois negócios: a exploração de produtos primários na colônia brasileira voltados para o mercado externo, e a exportação de escravos pelas colônias africanas. A existência da escravidão caracteriza a colonização do Brasil como feudal? O uso de trabalho escravo na economia colonial agrícola não pode ser interpretado como uma manifestação da existência de relações feudais de produção. O Brasil nunca foi feudal, ainda que sua ocupação estivesse associada à empresa colonial agrícola, sustentada no trabalho escravo. O sentido da colonização foi proporcionar lucros mercantis aos comerciantes metropolitanos, favorecendo o acúmulo de capitais na Europa e a afi rmação da burguesia. A utilização do trabalho escravo tinha a fi nalidade de baratear os custos de produção, o que permitia à burguesia comercial ampliar seus lucros mercantis. O conceito de produtividade e o uso extensivo de recursos O crescimento da produção pode ocorrer em decorrência de dois fatores: aumento da produtividade, pelo uso mais efi ciente dos recursos ou aumento extensivo dos recursos, isto é, utilização de mais trabalhadores, mais capital ou mais terras. Esse foi o caso do Brasil. A empresa colonial agrícola contava com terras abundantes, o que lhe permitia aumentar a produção pela simples incorporação de territórios, em vez de tornar mais efi ciente o uso dos recursos. ?? Aula1.indd 19 1/12/2006, 1:04:50 PM 20 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial Em uma época (séculos XVI e XVII) em que a navegação dependia do regime de ventos e correntes marítimas, um fato fundamental a considerar é que, em função das correntes marítimas, era mais fácil a comunicação entre o Nordeste brasileiro e a costa africana, do que entre estas regiões e outras partes dos respectivos continentes. Tal proximidade estimulou um novo fl uxo comercial entre as colônias portuguesas. Ampliavam-se, assim, as receitas resultantes dos tributos cobrados pela Coroa, somando-se os tributos cobrados de duas de suas colônias: a venda de escravos africanos e a venda do açúcar brasileiro. Além disso, os colonos do Brasil tinham de se sujeitar à metrópole por causa do suprimento de mão-de-obra, dado o controle exercido pelo reino sobre o comércio de escravos nas colônias africanas. Figura 1.5: O fl uxo de navios entre o Nordeste brasileiro e as colônias por- tuguesas na África foi favorecido pelos ventos e pelas correntes marítimas. Por esta razão, era mais fácil a comunica- ção entre estas duas regiões do que dentro dos próprios continentes. A proximidade entre Brasil e África, apesar do Oceano Atlântico, ainda hoje está presente no imaginário popular, como atesta uma recente propaganda da cerveja Nova Schin, na qual um homem sedento entra em um bar africano, pede uma cerveja e o balconista lhe diz que o produto está em falta, mas que ele pode encontrar a cerveja em um bar “logo ali em frente” (no Brasil). O homem, então, entra no mar e nada em direção ao bar brasileiro. A partir da metade do século XVI, a produção de açúcar passou a ser cada vez mais um empreendimento conjunto entre portugueses e holandeses. Estes recolhiam o produto em Lisboa, refi navam-no e o distribuíam por toda a Europa. Participavam também do fi nanciamento da atividade, que dependia da mobilização de capital para implantar o engenho de açúcar e adquirir os escravos (FURTADO, 1971). Os gastos operacionais, entretanto, eram bem modestos, já que as fazendas de cana-de-açúcar eram praticamente auto-sufi cientes. Aula1.indd 20 1/12/2006, 1:04:51 PM C E D E R J 21 A U LA 1 Cana-de-açúcar no Nordeste: um negócio rentável? Descreva o modo de produção de açúcar no Nordeste do Brasil, considerando: 1. a comercialização do produto (mercado interno ou externo?); 2. a lucratividade do negócio, tendo em vista os custos de produção e os ganhos obtidos; 3. o tipo de terreno (fértil ou não) e de que tamanho (grandes ou pequenas extensões de terra); 4. a mão-de-obra utilizada. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Produzir açúcar no Nordeste do Brasil era, de fato, uma atividade lucrativa para os donos de terras na nova colônia. Em primeiro lugar, porque os custos de produção eram baixos: em grandes parcelas de terra, cultivava-se cana utilizando mão-de-obra escrava para o plantio e a colheita, além de gado como força motriz dos engenhos. O solo era fértil, não precisando de cuidados especiais, e o clima – tropical –, favorável. Em segundo lugar, os lucros eram altos, já que a produção estava voltada para o mercado externo, onde o açúcar era uma especiaria, alcançando preços elevados. Daí provinha o lucro. Para a metrópole, ainda era vantajoso pela possibilidade de articular os interesses da Coroa portuguesa ao tornar interdependentes a cultura do açúcar no Nordeste brasileiro e o abastecimento de mão-de-obra escrava das colônias africanas. Atividade 2 2 3 A parceria com os holandeses terminou com a anexação de Portugal pela Espanha (1580-1640). Lutando contra a Espanha, que não reconhecia sua independência, a Holanda resistiu à perda do negócio do açúcar e invadiu o Brasil em 1630, estabelecendo-se no Nordeste. A expulsão dos holandeses, em 1654, trouxe conseqüências econômicas graves e duradouras, já que, com os conhecimentos adquiridos na cultura da cana, eles estabeleceram um empreendimento concorrente nas Antilhas, acabando com o monopólio na oferta do produto pelos colonos do Nordeste brasileiro. Aula1.indd 21 1/12/2006, 1:04:51 PM 22 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial Você sabia que as primeiras moedas do Brasil foram cunhadas pelos holandeses, quando ocuparam o Nordeste? A economia da colônia, então, era mais pautada por trocas do que por metal circulante.!! Conseqüências econômicas da expulsão dos holandeses O economista Celso Furtado afi rmou que as conseqüências econômicas da expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro, em 1654, foram muito mais duradouras do que as conseqüências da vitória militar. Em sua opinião, quais as razões que o levaram a sustentar essa afi rmativa? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada As conseqüências econômicas seriam mais duradouras, porque a expulsão dos holandeses resultou na implantação de outra área agroexportadora de cana-de- açúcar nas Antilhas, o que quebrou o monopólio do açúcar nordestino. A quebra do monopólio destruirá um dos pilares sobre os quais estava sustentada a economia colonial agrícola no Nordeste do Brasil. Atividade 3 A partir de meados do século XVII, com o declínio do preço da cana no mercado externo –devido ao aumento da oferta, com a produção antilhana –, a economia canavieira deixou de ser lucrativa. Os baixos custos operacionais permitiram apenas manter o negócio, mas não ampliá-lo. A crise da economia canavieira não foi superada. Até que a mineração substituísse a cultura de cana-de-açúcar como principal fonte de renda de exportações, no século XVIII, a Colônia enfrentou uma crise provocada pela queda dos preços da cana, enfraquecendo a economia da metrópole. Essa incapacidade de superação da crise da economia canavieira esteve relacionada à forma como circulava a renda gerada pela atividade canavieira. A lucratividade do negócio estava na comercialização, e não na produção da cana. O comércio (e o transporte) da cana era controlado por comerciantes portugueses, associados aos holandeses, os maiores benefi ciários da economia canavieira. Aula1.indd 22 1/12/2006, 1:04:52 PM C E D E R J 23 A U LA 1 Nesse negócio, a renda interna fi cava extremamente concentrada nas mãos dos grandes proprietários fundiários. Esses proprietários mantinham uma produção alimentar de subsistência, adquirindo apenas animais e madeira no mercado interno. Tratava-se, assim, de uma atividade em que prevalecia a pouca circulação de dinheiro – o que lhe conferia alto grau de resistência a crises. Assim, mesmo enfrentando declínio dos preços internacionais da cana, o produto seguia sendo cultivado, pois os gastos monetários para manter em operação o engenho eram modestos (animais e madeira). Economia de subsistência x economia mercantil Economia de subsistência, como o próprio nome sugere, é aquela produzida para autoconsumo, em que o produtor não se distingue do consumidor, sendo desnecessário o uso de dinheiro. Economia mercantil, ao contrário, é aquela em que o produto é direcionado ao mercado; a conseqüente separação entre produtores e consumidores torna necessária a intermediação monetária. Uma família de pequenos proprietários de terra pode produzir verduras para sua alimentação, mas essa cultura será de pequenas proporções, já que voltada apenas para o consumo da família. Não estará sujeita, portanto, a crises econômicas, porque não haverá produção excedente para ser vendida em mercado. A economia colonial caracterizou-se pela baixa circulação interna de dinheiro, já que a empresa que produzia a monocultura para exportação era auto- sufi ciente, produzia quase todos os bens necessários para sua operação, demandando apenas madeira e animais no mercado interno. Portanto, os colonos que não fossem latifundiários agroexportadores, mas simples criadores de gado, por exemplo, recebiam uma parte muito pequena da renda que circulava na Colônia, resultante das compras internas animais e madeira). A maior parte da renda fi cava concentrada nas mãos dos colonos latifundiários (os senhores de engenho), o que permitia que eles consumissem produtos de luxo importados. Esta divisão não favorecia a circulação de moeda, nem tampouco a produção mercantil. ?? Aula1.indd 23 1/12/2006, 1:04:52 PM 24 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial Ainda assim, a economia colonial mergulhou em uma crise da qual só saiu quando houve a descoberta de ouro e diamante, no século XVIII, na região correspondente ao atual Estado de Minas Gerais. Do mesmo modo que a economia canavieira, tampouco a mineradora logrou gerar condições para o surgimento de uma atividade sustentável. O mesmo ocorreu com outros produtos, como o algodão e a borracha, que conheceram o auge dinamizados pela renda das exportações. Na sua decadência, o desenvolvimento da região onde eles se situavam retrocedia, declinando o grau de monetização (de circulação de dinheiro), resultando em transferência de recursos para a economia de subsistência, de baixa produtividade. A percepção desse padrão, que perdurou durante todo o período colonial, levou os historiadores a identifi car o desenvolvimento da economia colonial como uma sucessão de ciclos. A noção de ciclos de produtos coloniais tem caráter apenas descritivo; entretanto, tem o mérito de sugerir que, esgotada a potencialidade de um produto colonial, retoma-se o processo de desenvolvimento praticamente do mesmo ponto de partida. A estrutura socioeconômica permaneceu a mesma, baseada no latifúndio, na monocultura e no trabalho escravo. Essa foi a natureza da economia colonial, incapaz de suscitar a sua superação e o advento de outra estrutura econômica internamente mais dinâmica. CONCLUSÃO Você iniciou o estudo da história econômica do Brasil desde a chegada dos portugueses, no século XVI. Inicialmente, você acompanhou o empreendimento da economia canavieira, que se tornou o paradigma da empresa colonial agrícola instalada na colônia pelos portugueses. Nas duas próximas aulas, continuaremos analisando a economia colonial no período que se estende até 1822. Aula1.indd 24 1/12/2006, 1:04:52 PM C E D E R J 25 A U LA 1 Decidindo novos rumos para o seu reino Europa, séculos XV e XVI. Imagine que você é um monarca e que precisa decidir sobre os rumos do seu reino. Notícias de outras terras chegam até você. Surgem novas nações: Portugal, Espanha, França, Inglaterra... Unifi cadas, elas criam exércitos, defendem seus territórios e buscam expandir-se. Você sabe, porém, que organizar uma expansão territorial desse porte não é tão simples quanto possa parecer. Está lançado o desafi o. De acordo com as idéias da sua época, os estados nacionais deveriam se expandir, levando a salvação e a maneira européia de viver a outras partes do mundo. Que tipo de investimento você considera necessário para: 1. manter o seu Estado-Nação e defendê-lo de invasores; 2. enviar exploradores de seu país para a busca e a conquista de novas terras; 3. ocupar e colonizar os territórios conquistados; 4. proteger a nova terra da invasão por estrangeiros; 5. possibilitar o crescimento da colônia e fazer dela um negócio lucrativo. Neste momento, lembre-se de levar em conta o mercantilismo, política econômica de sua época. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _______________________________________________ Atividade Final 2 31 Aula1.indd 25 1/12/2006, 1:04:52 PM 26 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Como um bom soberano, dotado de direito divino, primeiramente você deve ter pedido ajuda a Deus para orientá-lo neste trabalho. Em segundo lugar, ao avaliar a situação em sua época, você deve ter pensado nos pontos a seguir: 1. com o surgimento dos estados nacionais, era preciso organizar e defender sua nação (criação de exércitos). Uma ideologia que unisse os estamentos (veja o boxe sobre feudalismo) ao redor de uma só figura ou personalidade, como a do rei, também ajudaria bastante; 2. com a “casa” arrumada, você já pode pensar em expandir os seus domínios. Para isso, você vai precisar de caravelas que possam enfrentar o mar Tenebroso sem afundar. Instrumentos de navegação também serão úteis, e aperfeiçoá-los é uma medida prudente, já que o mar, bravio e misterioso, “não estava para peixe”. Navegadores bem preparados são fundamentais, e a idéia de uma escola de navegação pode ser interessante; 3. feito tudo isto, rumo à expansão! As colônias, territórios desconhecidos e ainda sem dono, principalmente em outras regiões do mundo, são ideais para expandir seus domínios; 4, 5. lá, você poderia encontrar produtos para explorar – como os metais preciosos – ou desenvolver monoculturas para exportação. No caso do Brasil, o que os portugueses buscaram, em primeiro lugar, foi ouro e prata. Por não terem encontrado esse tipo de riqueza, estabeleceram, no território conquistado, a empresa colonial agrícola. São exemplos dessa exploração o pau-brasil (da mata nativa), e a cana-de-açúcar (monocultura desenvolvida pelos colonos portugueses), em um primeiro momento. O Pacto Colonial garantiria os lucros para a metrópole. Para desenvolver as atividades agrícolas que vão trazer dividendos para a metrópole, é necessário morar no território, o que resolve em parte o problema de proteger as terras conquistadas. Fortificações em locais estratégicos também são fundamentais. Os fortes construídos pelos portugueses em várias partes do país são, atualmente, atrações turísticas. Para todas estas realizações, era necessário dispor de capital. Que política você iria adotar para acumular o capital necessário? O mercantilismo, apoio econômico do regime absolutista, deve ter sido a resposta que você encontrou para a pergunta anterior. Por meio de acumulação de capitais, protecionismo alfandegário e a busca por uma balança de comércio favorável em um primeiro momento, e pela procura de metais preciosos – principalmente ouro e prata – em uma segunda etapa, era possível conseguir os recursos necessários para expandir sua nação. A burguesia desempenharia um papel fundamental, fornecendo o apoio financeiro para sua empreitada. Aula1.indd 26 1/12/2006, 1:04:53 PM C E D E R J 27 A U LA 1 INFORMAÇÕES SOBRE AS PRÓXIMAS AULAS Nas aulas seguintes, você vai conhecer os setores e as regiões da economia colonial em que as atividades predominantes foram voltadas para o incipiente mercado interno, com pouca importância em termos de participação na geração de renda quando comparados à economia canavieira, porém resultaram muito importantes na ocupação do interior da Colônia. Você vai ver também que o enfraquecimento econômico causado pela crise na economia açucareira levou a Coroa portuguesa a assinar acordos com a Inglaterra, com conseqüências negativas duradouras para Portugal e também para a Colônia brasileira. Na terceira e última aula deste bloco, discutiremos as razões da crise da economia colonial, bem como a incapacidade da metrópole de sustentar o modelo de desenvolvimento vigente. A ocupação do Brasil colonial foi uma das conseqüências da expansão marítima portuguesa. O sentido da colonização brasileira foi produzir especiarias e produtos tropicais (como a cana-de-açúcar) para comercialização na Europa. Os principais elementos da formação econômica colonial são o latifúndio, a monocultura e o trabalho escravo. Alicerçada nesses três pilares, surgiu, no Nordeste brasileiro, a economia canavieira, que teve seu auge entre os séculos XVI e XVII. Esse modelo econômico entrou em crise após a invasão holandesa, que terminou em 1654. Expulsos do Nordeste, os holandeses utilizaram, em suas colônias nas Antilhas, os conhecimentos que haviam adquirido na produção de açúcar, provocando a quebra do monopólio brasileiro na oferta do açúcar no mercado mundial. R E S U M O Aula1.indd 27 1/12/2006, 1:04:53 PM 28 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Formação econômica do Brasil colonial INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES Você pode ainda ampliar seus conhecimentos sobre o período colonial lendo obras importantes, como Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre. Uma importante fonte adicional de consulta sobre a economia colonial pode ser encontrada no Dicionário do Brasil Colonial, organizado pelo historiador Ronaldo Vainfas e publicado pela Editora Objetiva. Além disso, você poderá consultar os sites de História do Brasil disponíveis na internet, bastando para isso acessar um site de busca (Google ou Cadê), digitar o nome da pessoa ou do evento a ser pesquisado para que, em segundos, você receba indicações sobre onde a informação está disponível. Uma boa sugestão é a entrevista do historiador Fernando Novais (lembra-se dele? Lemos um trecho de um de seus livros nesta aula) ao jornal Folha de S.Paulo em http://www1.uol.com.br/fol/brasil500/entre_16.htm Aula1.indd 28 1/12/2006, 1:04:53 PM